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Um acampamento que virou cidade
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ão é por acaso que Santa Maria tem hoje o segundo maior contingente militar do Brasil.Essa marca registrada começou nas origens do município. O início do povoamento, por volta do ano 1797, deu-se graças à presença de militares portugueses. Portugal e Espanha haviam dividido a América do Sul por meio do Tratado de Santo Idelfonso e assinaram o Tratado Preliminar de Restituição Recíproca, que previa a devolução de terras ocupadas ilegalmente por ambas as partes. A futura Santa Maria ficava bem em cima dessa divisa imaginária. Para demarcar a área, foram enviadas as chamadas partidas – uma espécie de comissão mista formada por militares espanhóis e portugueses e profissionais de diversas áreas. O grupo acampou às margens do Arroio dos Ferreiros, perto de onde hoje fica a Cohab Tancredo Neves. Em 1801, a comissão foi desfeita e teve ordem para retornar à Europa. Porém, alguns portugueses já tinham constituído família e decidiram ficar por aqui. O grupo mudou de endereço e começou a derrubar a mata para erguer pequenos ranchos nos arredores da atual Praça Saldanha Marinho, início do Calçadão e da Rua do Acampamento. Foram construídos ainda um depósito para guardar armamento e materiais, um escritório, o quartel e a primeira capela do, então, Rincão de Santa Maria. O templo religioso atraiu estancieiros da região, e a população começou a aumentar. Onze anos depois, a capelinha, que pertencia a Cachoeira do Sul, foi promovida à Capela Curata e ganhou autonomia para realizar batizados, casamentos e distribuir a hóstia durante a celebração. No primeiro recenseamento, feito em 1826, quando Santa Maria ainda era distrito de Cachoeira do Sul, foram contabilizados 304 construções e 2 mil habitantes. Durante a Revolução Farroupilha, a história da localidade foi marcada por dois acontecimentos importantes. Em 1838, foi criada a primeira escola pública da então Freguesia de Santa Maria da Boca do Monte, chamada 1ª
FOTOS REPRODUÇÃO
Aula Pública. Em 1840, a vila de Cachoeira sentiu-se abandonada pelas forças republicanas, e o arquivo de correspondência do Governo Republicano (os farroupilhas) foi queimado em praça pública por uma Brigada Legalista (os imperiais).Todos os documentos, exceto um livro de atas, foram reduzidos a cinzas. Santa Maria foi elevada à categoria de Vila em 16 de dezembro de 1857. A população era de 5.110 habitantes. A emancipação político-administrativa ocorreu em 17 de maio de 1858, quando foi criado o novo município e instalada a Primeira Câmara Municipal. Ela funcionou em uma casa alugada, e uma assembléia paroquial elegeu os primeiros vereadores. O mais votado – Coronel José Alves Valença – ficou com o cargo de vereador-presidente, uma espécie de prefeito da época da monarquia. Entre as primeiras atribuições, da Câmara estavam a criação do código de posturas e a demarcação dos limites da cidade.
Curiosidades – Dois fatos curiosos marcaram as últimas décadas do século 19 em Santa Maria. Um foi em 1859, quando o vigário Antônio Gomes Coelho do Vale liderou um abaixo-assinado para a construção de um cemitério na cidade. A população tinha aumentado tanto que não havia mais espaço para o sepultamento dos mortos nos fundos da capela e no cemitério Santa Cruz, que ficava onde hoje está a Igreja do Rosário. Outro registro foi a chegada da luz elétrica. Anoiteceu no tão esperado 15 de novembro de 1898, quando os santa-marienses planejavam se despedir dos lampiões a querosene e entrar para a história como primeira cidade do interior gaúcho com luz elétrica. No Clube Caixeiral, a nata da sociedade aguardava ansiosa. A luz chegou ao som de uma valsa tocada por uma orquestra. A população ainda comemorava quando um problema no motor do gerador deixou tudo às escuras. A revolta foi geral, e o povo não teve dúvidas: foi até a usina atrás do gerente, que fugiu pelos fundos. Na noite seguinte, a luz voltava a iluminar a cidade que faz 150 anos neste 17 de maio de 2008.
A procissão de São Cristovão, realizada no dia 6 de outubro de 1957
Uma das primeiras fotos da Praça Saldanha Marinho que se tem registro, do século 19
Batalhão Flores da Cunha, do colégio Santa Maria, às ordens do Irmão Robertão, em formatura de maio de 1932
Um trecho da Avenida Rio Branco registrado em foto no começo do século 20
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Um presente
ara tornar os 150 anos uma data inesquecível para Santa Maria, o Diário preparou esta revista de 80 páginas em formato especial. A idéia de eleger os 150 orgulhos da cidade que figuram neste suplemento comemorativo nasceu em uma ouvidoria que o jornal promoveu em agosto passado, com representantes da sociedade. O objetivo da iniciativa é mostrar que os santamarienses – nascidos aqui ou que elegeram esta terra para morar – têm muitos motivos para se orgulhar e comemorar o aniversário da cidade. Para dar este presente a Santa Maria, o Diário contou com a ajuda de seus leitores. Dos dias 1º a 14 de março, o jornal divulgou diariamente cupons que colheram até cinco sugestões de orgulhos. A participação também ocorreu na Internet – no site do Diário e por e-mail. Para chegar aos 150 grandes símbolos
da cidade, o Diário reuniu as centenas de sugestões dos leitores, dos próprios jornalistas da casa e também contou com a ajuda de uma comissão de historiadores e conhecedores da história de Santa Maria. O grupo participou de duas reuniões para discutir e eleger os orgulhos que preenchem as páginas desta revista. Integraram a comissão Aristilda Rechia (vicepresidenta da Academia Santa-Mariense de Letras e autora do livro Santa Maria Panorama Histórico-Cultural), Therezinha de Jesus Pires Santos (coordenadora da Casa de Memória Edmundo Cardoso), Cirilo Costa Beber (empresário e ex-presidente da Câmara do Comércio, Indústria e Serviços/Cacism), Diorge Konrad (professor adjunto do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Maria e doutor em História Social do Trabalho pela Unicamp) e Máximo Trevisan (presidente do Fórum das Entidades
Culturais de Santa Maria). A confecção do caderno envolveu toda a redação do Diário e começou há mais de quatro meses. O texto de cada orgulho foi submetido à consulta de um especialista ou conhecedor de sua história. A capa do caderno que revela o nome da cidade homenageada foi feita a partir de letras sugeridas por prédios, templos e lugares de Santa Maria (veja abaixo). O resultado deste grande, porém, recompensador trabalho está sendo entregue aos leitores nesta edição comemorativa. Confira os 150 orgulhos numerados em um índice, na página 5 desta revista. Os orgulhos foram divididos por eixos determinados pela comissão e não estão numerados ou separados de acordo com a importância. Aliás, todos eles são orgulhos que merecem ser celebrados e guardados para sempre na memória e no coração de cada santa-mariense. FOTOS JULIANO MENDES, ESPECIAL
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150 50 orgulhos DIÁRIO DE SANTA MARIA Editora-chefe: Andreia Fontana Coordenação e edição: Fabiana Sparremberger Pesquisa e textos: Andreia Fontana, Bruna Porciúncula, Bianca Backes, Carolina Carvalho, Caroline Kleinübing, Deni Zolin, Eduardo Silva, Fabiana Sparremberger, Fernanda Mallmann, Francisco Dalcol, Homero Pivotto Jr., Iara Lemos, Jaqueline Silveira, Julia Pitthan, Luiz Roese, Marcos Fonseca, Mariângela Recchia, Marilice Daronco, Mauren Rigo, Priscila Martini, Ramiro Guimarães, Renata Bianchini, Ricardo Ceratti, Silvana Silva, Tatiana Py Dutra e Thaise Moreira Projeto gráfico: Paulo Chagas Diagramação: Diego Borges, Izaur Monteiro, Maurício Franco, Paulo Chagas e Paulo Ricardo Silva
O ‘S’ surgiu da vista dos trilhos no viaduto da Rua Assis Brasil, no bairro Itararé
‘A’ janela O ‘N’ é uma da igreja armação que evangélica, segura uma placa entre a Barão na rótula perto do e a Niederauer Trevo da Uglione
‘M’ encontrado no Carmelo da Rua Dr. Luiz Malo, 33, no bairro Itararé
‘A’ revelado no altar da Catedral Diocesana
O ‘T’ veio da Garganta do Diabo, ou Vale do Menino Deus, como quer a lei
‘R’ da antena da RBS TV, que fica no Morro das Antenas
‘I’ no alto do prédio Hugo Taylor
Mais um ‘A’ surgiu na fachada do Royal Plaza Shopping
Tratamento de imagens: Fernando Bastos, Gustavo Freitas e Lidiane Marques Fone: (55) 3220-1851
O último ‘A’ vem da Igreja de Fátima
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OS ORGULHOS E AS SUAS PÁGINAS Página EDUCAÇÃO 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21
Universidade Federal de Santa Maria Vestibular da UFSM José Mariano da Rocha Filho Formaturas universitárias As faculdades Congregação das Irmãs Franciscanas A rede escolar Os Irmãos Maristas Colégio Manoel Ribas Maria Rocha Colégio Maria Rocha Instituto e Seminário São José Instituto Estadual de Educação Olavo Bilac Pão dos Pobres Planetário Centenário Cilon Rosa Agueda Brazzale Leal Margarida Lopes Alda Saldanha Fontoura Ilha
MILITARES 22 23 24 25
Base Aérea Exército Brigada Militar Colégio Militar
CULTURA 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56
Feira do Livro de Santa Maria Santa Maria Vídeo e Cinema Santa Maria em Dança Concurso Literário Felippe D’Oliveira Concurso fotográfico Santa Cena Carnaval de rua Minuano da Canção Nativa Academia Santa-Mariense de Letras Casa do Poeta Associações culturais Conselho Municipal de Cultura Museu Vicente Palotti Museu Gama d’Eça Museu Treze de Maio Casa de Memória Edmundo Cardoso Memorial Mallet Arquivo Histórico Orquestra Sinfônica de Santa Maria Grupo de Percussão Grupo Suzuki Grupos de danças folclóricas e tradicionalistas Cineclubes João Cezimbra Jacques Roque Callage Moysés Vellinho Felippe D’Oliveira Chico Ribeiro João Daudt Filho Eduardo Trevisan João Belém
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Página 57 58 59 60 61 62
Prado Veppo Pedro Freire Jr. Edmundo Cardoso Artistas famosos atuais Padre Lauro Trevisan Armindo Trevisan
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MEMÓRIA E PATRIMÔNIO HISTÓRICO 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78
Monumentos Vila Belga Gare Calçadão Praça Saldanha Marinho Edifício Taperinha Clube Caixeiral Prédio da Caixa Casa de Mariano da Rocha Câmara de Vereadores 6ª Brigada de Infantaria Blindada Theatro Treze de Maio Itaimbé Palace Hotel Residência Dátero Maciel Escola Hugo Taylor Biblioteca Pública Municipal
36 37 37 38 38 39 39 39 42 42 42 43 43 43 44 44
Página 107 108 109 110 111 112 113 114 115
A imprensa Vida noturna Feisma Expofeira Rede hoteleira Feira do Cooperativismo Cacism SUCV A Viação Férrea
COOOPERATIVISMO 116 Coopfer 117 Cesma
59 59 60 60 61 61 62 62 63
64 64
SAÚDE 118 119 120 121 122
Hospital de Caridade Casa de Saúde Pesquisa em células-tronco Hospital Universitário Centro de Transplante de Medula Óssea
65 65 66 66 66
NATUREZA GASTRONOMIA 79 80 81
O galeto Lanches rápidos Pastel gigante
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RELIGIÃO 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99
Romaria da Medianeira Festa de Santo Antão Ecumenismo Catedral Diocesana Diocese Santuário-Basílica da Medianeira Igreja do Rosário Igreja das Dores Igreja Evangélica Luterana (IECLB) Santuário de Schoenstatt Catedral do Mediador Sinagoga Yitzhak Rabin Dom Ivo Lorscheiter Diácono Pozzobon Irmão Estanislau, o Padre das Cabras Mariazinha Penna Padre Caetano Pagliuca Dom Antônio Reis
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ECONOMIA 100 101 102 103 104 105 106
Comércio Indústria Serviços Casas Eny Cyrilla Planalto Expresso Mercúrio
55 56 56 57 57 58 58
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Os morros Garganta do Diabo Barragem do DNOS Estrada do Perau As riquezas fósseis Criadouro São Braz Parque Itaimbé
67 68 68 68 69 69 69
SOCIEDADE E VALORES 130 131 132 133 134 135 136 137 138
As mulheres bonitas Exportadora de cérebros Solidariedade Hospitalidade Lideranças do movimento estudantil As etnias A juventude organizada Movimentos sindicais Projeto Esperança/Cooesperança
70 71 71 71 72 72 72 73 73
ESPORTE, LAZER E RECREAÇÃO 139 140 141 142 143 144 145 146 147 148 149 150
Os clubes Os balneários Centro Desportivo Municipal Inter-SM Riograndense Corintians Tênis Handebol Mercocycle Bocha Canoagem Lideranças políticas que fazem história
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A UFSM abriga oito centros de ensino no campus (foto). A área territorial total da universidade, incluindo Cesnors e Unipampa, é de quase 2 mil hectares
CHARLES GUERRA
Universidade Federal de Santa Maria
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á um mundo à parte que é apresentado para quem entra e segue pela Avenida Roraima, no bairro Camobi. É nesse endereço que pode ser encontrada a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), um lugar que reúne conhecimento, produz desenvolvimento e realiza sonhos. A UFSM foi criada em 1960 e implantada em 1961, graças à obstinação do seu fundador, José Mariano da Rocha Filho. Naquele ano, com apenas um curso, o de Farmácia, as aulas começaram a ser ministradas em um casarão na Rua Floriano Peixoto, onde hoje fica a antiga reitoria e ainda funcionam alguns cursos. A falta de uma sede adequada e de laboratórios equipados não foi obstáculo suficiente para que a idéia de criar uma instituição de Ensino Superior pública em Santa Maria não vingasse. Pelo
contrário. O projeto deu certo e ainda foi pioneiro: a UFSM foi a primeira universidade federal instalada no país fora de uma capital. O que foi uma ousadia para a época, hoje é uma realidade sólida, comprovada em números. A Federal tem, atualmente, 66 cursos de graduação presenciais e seis oferecidos na modalidade a distância. Eles são o principal motivo de ser da universidade e a motivação que leva, todos os anos, milhares de candidatos de todo o Brasil a disputar uma vaga no seu vestibular. Na pós-graduação, também há números expressivos: são 12 doutorados, 24 mestrados e 17 especializações. A UFSM mantém ainda as escolas de
de 16,5 mil estudantes, a maior parte deles – 12,3 mil – da graduação. São os alunos que fazem uso do Restaurante Universitário (RU), que testam o que aprenderam em aula nos 538 laboratórios da universidade e que integram os cerca de 2,5 mil projetos de pesquisa e extensão em andamento hoje. São os estudantes que ajudam no hospital-escola da UFSM, o Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), e que se valem da biblioteca com mais de 176 mil livros. Todo o trabalho é conduzido com a ajuda de cerca de 1,5 mil professores Os números – Somando-se os níveis e 2,5 mil servidores. de ensino, a UFSM contabiliza mais Há ainda os números do passado, capazes de contar a história da universidade. Um dos mais simbólicos é o de alunos que passaram pela instituição. Até o início deste ano, a Federal já havia formado 54.356 profissionais que exercem seus ofícios em áreas sem fronteiras, assim como o conhecimento.
Ensino Médio e Tecnológico. Em Santa Maria, a universidade abriga o Colégio Politécnico de Santa Maria e o Colégio Técnico Industrial de Santa Maria (Ctism). Já o Colégio Agrícola, também sob responsabilidade da instituição, desenvolve suas atividades em Frederico Westphalen. Fora de Santa Maria, a UFSM também criou, em 2005, o Centro de Educação Superior do Norte do Rio Grande do Sul (Cesnors), que disponibiliza cursos superiores nos campi de Frederico Westphalen e de Palmeira das Missões.
A UFSM foi a primeira universidade federal instalada no país fora de uma capital
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Vestibular da UFSM
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CHARLES GUERRA
Neste ano, a UFSM fez seu primeiro vestibular no sistema de cotas. Em 2009, vai oferecer 20 cursos novos
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homem que foi o grande responsável por Santa Maria ser conhecida como Cidade Universitária não era de medir esforços para alcançar o que queria. José Mariano da Rocha Filho entrou na luta para trazer o Ensino Superior à cidade e só saiu dela quando conseguiu, em 1960, fundar a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). A instituição, que foi a primeira federal implantada no interior do país, começou a ser projetada na cabeça de Mariano muitos anos antes, quando ele ainda era aluno de Medicina da Universidade de Porto Alegre (UPA), na década de 30. Naquela época, fundou e presidiu a Federação dos Estudantes Universitários de Porto Alegre (Feupa) e organizou a Casa do Estudante Universitário. Muitos o achavam um sonhador, já que, vez ou outra, convidava os melhores colegas para dar aulas na sua “futura universidade”. Anos depois, foi professor da Faculdade de Farmácia de Santa Maria, fundada e dirigida por seu tio Francisco Mariano da Rocha. Quando assumiu a direção da faculdade, começou uma batalha para anexá-la à UPA (que virou Universidade Federal do Rio Grande do Sul), só conseguindo em 1945, após anos de tentativa. Mariano teve Santa Maria é Cidade a mesma profis- Universitária graças à são do pai, José luta de um homem que Mariano da Rocha, que formou- acreditava na educação se em Medicina na Bahia. Para conseguir dinheiro que permitisse voltar a Santa Maria, ele empalhava cadeiras nas horas de folga. Mariano da Rocha Filho teve 12 filhos com a caçapavana Maria Zulmira Dias. O fundador e primeiro reitor da UFSM foi vitimado por um ataque cardíaco no dia 15 de fevereiro de 1998, exatamente três dias após completar 83 anos. O corpo foi velado na reitoria da UFSM, lugar onde ele passou grande parte do tempo buscando convênios e ampliando a atuação e os cursos da universidade que criou com tanto carinho e dedicação.
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REPRODUÇÃO
odos os anos, geralmente entre a primeira e a segunda semana de janeiro, Santa Maria ganha presenças especiais. Isso porque chegam à cidade pessoas de todo o Rio Grande do Sul e do Brasil interessadas em algo um tanto concorrido. Elas buscam uma vaga na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e a possibilidade de começar a construir o seu futuro profissional. Em dias de vestibular, há mais jovens na rua, os hotéis e pousadas ficam lotados, e os cursinhos pré-vestibulares reúnem centenas de jovens atrás da última dica, aquela que pode fazer a diferença no ponto de corte e, quem sabe, garantir a aprovação. Segundo a Associação de Hotéis, Restaurantes, Bares, Agências de Viagem e Similares (AHTurr), há um incremento de 75% na ocupação dos hotéis e de 30% no setor de alimentação. Conseguir uma vaga numa instituição de Ensino Superior pública é uma conquista de poucos. Neste ano, por exemplo, foram 16.896 candidatos, mas só 1.979 estudantes conseguiram entrar na Federal. Uma das novidades do vestibular da UFSM em 2008 foi a implantação das cotas. Pela primeira vez na história, a Federal reservou vagas para estudantes formados em escola pública, afro-brasileiros, pessoas com necessidades especiais e indígenas. Para o próximo ano, a novidade promete ser os novos cursos. Graças ao Programa de Apoio de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), a UFSM passará das 66 opções de curso para 86. Serão 20 cursos a mais, entre eles, as graduações em Engenharia Ambiental, Cinema, Museologia e Relações Internacionais. Todas essas mudanças estarão no vestibular 2009 da UFSM que, aliás, já tem data marcada: entre 13 e 16 de janeiro. Será a semana de Santa Maria receber os candidatos a conquistar a vaga que vale uma profissão.
José Mariano da Rocha Filho
Formaturas universitárias
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vocação educacional de Santa Maria – a cidade tem sete instituições de Ensino Superior (sem citar as que oferecem cursos a distância) – produziu pelo menos dois fenômenos sociais. Um é a multiplicação de cursinhos pré-vestibulares. O outro é mais ligado ao glamour: as festas de formatura. Expressões como “colação de grau” e “baile de formatura” fazem parte do vocabulário da cidade desde 1931, quando foi fundada a Faculdade de Farmácia e Odontologia. Com a criação da Universidade Federal de Santa Maria, em 1960, o fenômeno cresceu.As primeiras graduações foram o estopim para uma temporada de festas tão aguardada quanto o Carnaval. A estimativa é que o mercado de formaturas movimente, a cada semestre, cerca de R$ 5 milhões na cidade. A conta leva em consideração apenas custos com filmagens, decoradores, floristas, músicos e banqueteiros, e não inclui cerimônias organizadas por alunos dos Ensinos Médio e Técnico. No ano passado, cerca de 1,8 mil alunos se formaram na UFSM e 976 na Unifra, a maior entre as particulares. Cada formando economiza, em média, R$ 1 mil por ano de curso para realizar o sonho de viver momentos como a entrega do diploma, a valsa com os pais e o início de uma nova fase da vida. Aos olhos da História e da Antropologia, um “rito de passagem”, ato que simboliza o final de um ciclo e o início de outro. No Clube Dores, um dos locais onde mais ocorrem formaturas, já não há mais vagas para 2010. No Park Hotel Morotin, hoje, há três turmas marcadas para 2011. Como esses momentos marcam uma mudança de posição social, exigem grande reconhecimento público. Por isso, são feitos para que a comunidade tenha a consciência da transformação. E por ter tanta importância aos santa-marienses, que valorizam a educação, a sociedade responde ao apelo dos bailes de formatura comparecendo a eles. Em troca, cada convidado leva para casa memórias de uma noite de intensa felicidade dos promissores jovens que nossa cidade forma.
Com 30 cursos e cerca de 6,5 mil alunos, a Unifra é a segunda maior instituição de Ensino Superior CHARLES GUERRA
As faculdades
V Os formandos do Ensino Superior em Santa Maria gastam R$ 5 milhões a cada semestre em filmagens, decoração, músicos e banquetes
ocê já deve ter escutado. Quando alguém fala de Santa Maria, não raro se refere a ela como a Cidade Universitária. O título ganha força pelo município ter uma das três instituições de Ensino Superior federal do interior do Estado: a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Mas a referência também se justifica por, além da UFSM, a cidade ter outras seis instituições de Ensino Superior. A história do Ensino Superior em Santa Maria começou há 77 anos. O precursor foi o curso de Farmácia e Bioquímica, que foi fundado em 1931, sendo o primeiro curso superior em cidade do interior do Estado no Brasil, denominado, então, como Faculdade de Farmácia e Odontologia. Em 1948, foi sancionada, pelo governo de Estado, a incorporação da faculdade à Universidade de Porto Alegre, hoje Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Em 1960, com a criação da Universidade Federal de Santa Maria, houve a incorporação da Faculdade de Farmácia e Odontologia. Depois vieram aqueles cursos oferecidos pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Imaculada Conceição (FIC), em 1955. Dois anos mais tarde, surgiu a Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora da Medianeira (Facem). Essas duas instituições unificadas deram origem às Faculdades Franciscanas (Fafra). O número de cursos cresceu e, em 1998, as faculdades foram transformadas num centro universitário, conhecido hoje como Centro Universitário Franciscano (Unifra). A Unifra é hoje a segunda maior instituição de Ensino Superior de Santa Maria, com 30 cursos e cerca de 6,5 mil alunos. Já a Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), fundada em 2002 na cidade, tem 514 alunos em oito cursos. Santa Maria tem ainda faculdades recentes, criadas nos últimos 10 anos. Constam nessa relação a Faculdade Metodista (Fames), a Faculdade Palotina (Fapas), a Faculdade de Direito de Santa Maria (Fadisma) e a Faculdade Santa Clara (Fascla). Esta última passa por um momento delicado. Juntas, as sete instituições somam 118 cursos e cerca de 22,5 mil estudantes.
JULIANO MENDES, ESPECIAL
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DIÁRIO DE SANTA MARIA
SÁBADO E DOMINGO, 17 E 18 DE MAIO DE 2008 ■ PÁGINA 11
A rede escolar E
Congregação das Irmãs Franciscanas
Os Irmãos Maristas
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CLAUDIO VAZ
Instituto Padre Caetano é um dos 39 colégios estaduais
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o Centro, nos bairros ou na zona rural. Não é preciso procurar muito em Santa Maria para se encontrar uma escola. A cidade possui aproximadamente 170 colégios, entre particulares, federais, estaduais e municipais. Mas nem sempre foi assim. O primeiro registro de uma escola em Santa Maria foi em 1838, no Governo Republicano. Foi no dia 22 de agosto daquele ano que foi realizada a 1ª Aula Pública, que correspondia à inauguração da primeira escola. Dali para a frente, outros colégios foram surgindo, instituições que existem até hoje e são reconhecidas pela tradição de ensino. Em 1901, foi criada pelo Estado, a Escola Elementar, que, em 1962, passou a se chamar Instituto de Educação Olavo
Bilac. Em 1905, surgiram os colégios Sant’Anna e Santa Maria. Hoje, a rede municipal é a que reúne o maior número de escolas. Ao todo, são 86, somando cerca de 2 mil professores e 19 mil estudantes na Educação Infantil e no Ensino Fundamental. Na rede estadual são quase 29,5 mil alunos, em 39 escolas. Já as particulares somam 42 colégios e cerca de 14,2 mil estudantes. No Ensino Médio, as escolas de Santa Maria também se destacam. Na última avaliação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) – uma prova formada por questões objetivas e redação avaliando o desempenho de alunos que estão terminando ou que concluíram o Ensino Médio –, a cidade teve três escolas entre as 20 melhores colocadas no Estado.
O Colégio Sant’Anna, fundado em 1905, tem 2 mil alunos
Colégio Santa Maria começou funcionando com 106 alunos FRANCIELI REBELATTO, ESPECIAL
LAURO ALVES
epois de 105 anos, é possível dizer que a trajetória da Congregação das Irmãs Franciscanas se mistura facilmente com a história da cidade. Inspirado no ideal de vida e na espiritualidade de São Francisco de Assis, o grupo de religiosas foi fundado na Holanda, em 1835. Em 1872, chegou ao Rio Grande do Sul e, 33 anos depois, aportou em Santa Maria para atender os serviços de enfermagem no Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo. Em 1905, as franciscanas fundaram sua primeira escola na cidade: o Colégio Franciscano Sant’Anna. A escola contava, na época, com uma turma de 30 estudantes. Hoje, o Sant’Anna tem 2 mil alunos e mais de cem professores. A proposta educativa e as atividades de ensino são acompanhadas pela vivência dos valores evangélico-franciscanos. A Educação Infantil e os Ensinos Fundamental e Médio implementados pelas religiosas se tornaram ainda mais importantes em 1955. Foi nesse ano que a congregação expandiu sua atuação para o Ensino Superior, com a criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Imaculada Conceição (FIC) e da Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora Medianeira (Facem). Em 1996, as duas instituições se uniram formando as Faculdades Franciscanas (Fafra). Dois anos depois, Santa Maria passa a contar com o Centro Universitário Franciscano (Unifra), que, hoje, oferece 30 cursos de graduação e cerca de 20 de pós-graduação.
m 1905, Santa Maria era uma jovem cidade no coração do Estado. Com uma localização estratégica e uma perspectiva de crescimento acelerado, já atraía pessoas das mais diferentes áreas. Entre os forasteiros, um grupo de irmãos maristas, que vieram da França. Logo que chegaram à cidade, os religiosos deram início a uma trajetória de fé e educação. O Colégio Marista Santa Maria, inaugurado no dia 12 de fevereiro de 1905, foi um marco na construção da trajetória dos religiosos na cidade. Em mais de cem anos, diversas gerações passaram pelos bancos do colégio. A escola, que começou com 106 estudantes, hoje tem cerca de mil, distribuídos entre Educação Infantil e Ensinos Fundamental e Médio. Os estudantes têm à disposição uma infra-estrutura ampla, com laboratórios equipados e contam com aulas interdisciplinares com o objetivo de colocar em prática o lema Educar Para Toda a Vida. Outro grande passo dado pelos maristas em nome da educação foi a fundação, em 7 de março de 1998, do Colégio Marista Santa Marta, na comunidade da Nova Santa Marta, na Zona Oeste. Lá, além de formar gratuitamente os quase 900 alunos nas turmas que vão da Educação Infantil à 7ª série, os professores atuam em projetos que vão de aulas de arte e dança a melhorias das condições de vida da comunidade. O objetivo é promover uma educação integral visando a melhoria da qualidade de vida, o resgate da auto-estima e a transformação social.
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Colégio Manoel Ribas
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ra década de 50, e Santa Maria precisava de uma escola estadual que oferecesse o ensino ginasial – que hoje corresponde ao final do Ensino Fundamental, do 5° ao 9° anos. Para atender aos anseios da comunidade, foi criado, no dia 10 de outubro de 1953, o Ginásio Estadual de Santa Maria. Mas foi no dia 13 de maio do ano seguinte que a escola recebeu o nome oficial de Colégio Estadual Manoel Ribas, em homenagem àquele que construiu o prédio onde a instituição funciona hoje. De lá para cá, uma bela história de educação e cultura vem sendo construída, com direito a uma trilha sonora especial. A Banda Marcial Manoel Ribas, carinhosamente conhecida como a Banda do Maneco, dá o tom do que é a escola: uma alegria para a cidade. O Maneco foi tombado como patrimônio histórico municipal em 1995 e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae) em 2000. Em 55 anos de atividades edu-
Maria Rocha
A cacionais, já foi considerado colégiopadrão do Rio Grande do Sul. Na área desportiva, teve projeção considerável, conquistando muitos títulos e troféus. Muitos de seus alunos também se tornaram importantes lideranças políticas, como os atuais ministros Tarso Genro e Nelson Jobim. O prédio da escola com elementos neoclássicos é uma bela e imponente construção que foi totalmente restaurada em 1998. Hoje, oferece amplas salas de aula, laboratórios, biblioteca e sala de teatro para os mais de 1,9 mil alunos, 116 professores e 29 funcionários. E se, com toda essa infra-estrutura e beleza, o prédio é patrimônio histórico, a Banda do Maneco, hoje com 120 integrantes, é patrimônio cultural. Mas nem só de educação e música se faz o Maneco. Ele também é sinônimo de história. O Memorial do Maneco, que fica em uma sala da escola, abriga arquivos, objetos, mobiliários, fotografias e vídeos. É o acervo de uma história digna de orgulho. CLAUDIO VAZ
O Maneco já foi considerado colégio-padrão do Rio Grande do Sul. O prédio foi todo restaurado em 1998
REPRODUÇÃO
paixão por ler e ensinar se manifestou muito cedo em Maria Manuela Rocha. Nascida em 23 de novembro de 1904, em São Martinho da Serra, na época 8º distrito de Santa Maria, ela era a mais nova entre 14 filhos de Bertholina e Manuel. Foi com a mãe, que era professora, que Maria Rocha aprendeu as primeiras letras. Em casa, a filha caçula era responsável pela parte lúdica das reuniões: contava histórias, criava e declamava poemas. Conforme o personagem, modelava a voz e descrevia o lugar onde transcorria a trama. Mais tarde, o talento natural que tinha para ensinar foi aperfeiçoado. Em 1926, ela terminou os estudos na Escola Complementar de Porto Alegre e recebeu o diploma de professora. De volta a Santa Maria, passou a lecionar no Colégio Elementar, hoje Instituto Estadual de Educação Olavo Bilac. Além da escola, Maria Rocha sempre se mostrou preocupada com os presidiários que, enquanto cumpriam pena, tinham de ficar longe dos es-
Educadora nascida em 1904 criou uma escola e alfabetizou os presos tudos. Assim, ela criou a Escolinha São Francisco, onde trabalhou com a alfabetização de detentos. Extrovertida, alegre e simpática, Maria Rocha alfabetizou e, mais do que isso, cativou muitos alunos. Apesar do carinho daqueles a quem ela ensinou e da vontade de vencer a doença, Maria Rocha não resistiu ao câncer e morreu em 1958. Uma escola estadual da cidade carrega seu nome.
Colégio Maria Rocha
FRANCIELI REBELATTO, ESPECIAL
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uando foi criado, o Colégio Estadual de Ensino Médio Professora Maria Rocha funcionava como ginásio, junto com a Escola Olavo Bilac. Só após 22 anos, no fim de 1962, foi reconhecido como escola, ganhou o nome da educadora Maria Rocha e, em 1979, passou a oferecer o então 2° grau, hoje Ensino Médio. Em todos esses anos de mudanças, uma característica sempre se manteve: a proposta de estimular os alunos a desenvolver uma atitude crítica da realidade socieconômica, política e cultural, com o objetivo de atender às necessidades da comunidade. Hoje, o Maria Rocha, que oferece aulas nos três turnos, conta com cerca de 150 professores e 1.458 alunos. Além do Ensino Médio, a escola também oferece educação profissionalizante em nível pós-médio, com os cursos de contabilidade, informática e secretariado. O ob-
Escola vai abrigar Centro Tecnológico Estadual. Inauguração será em breve jetivo é acolher aqueles estudantes que não conseguiram ingressar no Ensino Superior ou que desejam seguir se aperfeiçoando. Por sediar estes cursos, em 2001, a escola foi contemplada com a assinatura da implantação do Centro Tecnológico Estadual de Santa Maria. A busca pela implementação do projeto começou em 1996 e, de acordo com a direção, agora falta muito pouco para a inauguração. Em mais de 66 anos, muitos já passaram pelo Maria Rocha e levam a lembrança de uma escola que prepara para a vida.
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Instituto e Seminário São José LAURO ALVES
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Escola mais antiga e tradicional de Santa Maria é de 1901. Nela, deram aulas professores que emprestaram o nome a outros colégios da cidade
Instituto Estadual de Educação Olavo Bilac
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Em 1965, quando o seminário se mudou para o Cerrito, abrigava aproximadamente 200 seminaristas
ma história que se confunde com a trajetória da devoção a Medianeira na cidade. Foi no Seminário São José, sob a motivação do padre Ignácio Rafael Valle e a fervorosa fé dos seminaristas, que nasceu a Romaria da Medianeira. A primeira ala do seminário foi construída em 1914, com dom Miguel de Lima Valverde. Durante muitos anos, funcionou onde hoje é a Basílica da Medianeira.A primeira sede era toda de madeira e não resistiu à ação dos cupins. No ano de 1965, mudou-se para a sede atual, no bairro Cerrito, onde abrigaria, na época, aproximadamente 200 seminaristas. As mudanças foram acontecendo, e o seminário não ficou para trás. Em 1966, o local que só recebia alunos passou a integrar alunas. Com um grande espaço físico e a procura cada vez menor de seminaristas, em 1980, começou a se tornar um espaço para promover eventos. Atualmente, o Instituto e Seminário São José é um grande complexo que abriga escola, hotel e centro de eventos, mas sem nunca perder o princípio básico, a formação de padres. Os quase cem anos de história são marcados pela formação de religiosos que assumiram paróquias e dioceses em todo o Brasil. Quem passa pelo seminário, seguindo a vocação religiosa ou não, sai com a consciência para ser, antes de católico e religioso, uma pessoa que pauta a vida pelos valores de Cristo, da ética e do bem comum.
m lugar que respira educação. Palco onde desfilaram grandes mestres que marcaram a história de Santa Maria. A escola mais antiga e tradicional da cidade construiu sua trajetória, atuando como vanguarda nas discussões educacionais. Inaugurado no dia 20 de setembro de 1901 com o nome de Colégio Distrital, abrigou durante algum tempo aulas dos colégios Maria Rocha e Manoel Ribas. O primeiro nome proposto foi Colégio Rui Barbosa, tanto que um busto do intelectual foi enviado para a escola, mas como o poeta e jornalista Olavo Bilac estava em evidência na época, ele foi o escolhido para batizar a instituição. Por ela, já passaram nomes conhecidos na educação santa-mariens, como Marieta D’Ambrósio, Adelmo Simas Genro, Maria Rocha e Margarida Lopes. Ao todo, são 14 mestres que lecionaram ou dirigiram o Olavo Bilac e dão nome a outras escolas
Pão dos Pobres
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da cidade. Mas, não é só de um passado glorioso que vive a instituição. O popularmente conhecido colégio Olavo Bilac ostenta o título de instituto por ser uma das poucas escolas que oferecem o Curso Normal em Nível Médio. Além disso, oferta aos alunos Educação de Jovens e Adultos (EJA), Ensino Fundamental, o carro-chefe da instituição, Educação Infantil e turmas de Educação Especial. Além da estrutura, o que torna realmente o Instituto Estadual de Educação Olavo Bilac (IEEOB) especial são as pessoas. Não raro ex-alunos voltam ao prédio, passeiam pelos corredores, buscam antigos professores. Profissionais que já trabalharam por lá retornam para rever amigos. Quem passa ou passou pelo Olavo Bilac sempre terá uma relação maior do que aluno, professor ou funcionário. Uma relação de amor que não se apaga com o tempo.
FERNANDO RAMOS
Instituição tem hoje 290 crianças e adolescentes
7º centenário do aniversário da morte de Santo Antônio foi o principal motivo para um casal santa-mariense fundar uma instituição para ajudar crianças pobres em Santa Maria, em 1931. Até hoje, o Pão dos Pobres Santo Antônio atende meninos e meninas em situação de risco social, oferecendo a eles
alimentação, ensino (na escola de Ensino Fundamental, administrada pela prefeitura e que funciona em sua sede) e atividades extracurriculares. A entidade administrada pelos idealizadores Alaydes Pereira Peixoto e Carlos Martins funcionava no Patronato Antônio Alves Ramos. Em 1935, recebeu uma sede, onde hoje é a paróquia
Perpétuo Socorro. Em 1956, foi para a Avenida Borges de Medeiros. O Pão dos Pobres atende hoje 290 crianças e adolescentes, que fazem as refeições, recebem ajuda pedagógica e participam de oficinas.Os mais velhos freqüentam cursos de idiomas e profissionalizantes. A obra é dirigida pela Congregação Servos da Caridade.
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Planetário
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nspirado nas universidades européias que visitou, José Mariano da Rocha Filho, o idealizador da UFSM, pensou em incluir no projeto da futura instituição um planetário. E não pensou em pouca coisa. Procurou ninguém menos que Oscar Niemayer, o maior arquiteto do país, para colocar a idéia em prática. Em 1960, Mariano da Rocha teria conseguido com Niemayer um primeiro esboço na folha de um guardanapo de restaurante, segundo informa o atual diretor, Francisco José Mariano da Rocha. Os rabiscos vieram acompanhados por um pedido de desculpas do grande arquiteto, que não pôde abraçar o projeto. Mariano da Rocha correu atrás de outros profissionais e, em dezembro de 1971, Santa Maria ganhava o primeiro planetário do Rio Grande do Sul e o quarto do Brasil. Até hoje, o espaço é referência de arquitetura na cidade e um centro de conhecimentos
astronômicos. É por lá, que não só a comunidade universitária, mas a população de Santa Maria descobre e conhece mais sobre o universo. O céu artificial, os instrumentos eletroópticos-mecânicos ajudam a compreender os avanços da Astronomia e da Astronáutica modernas. Somente em 2007, o planetário de Santa Maria recebeu a visita de 15 mil pessoas, sendo que 14,3 mil eram alunos dos Ensinos Fundamental e Médio. A maioria dessas visitações ocorre de graça. Essa proximidade com a população é um dos orgulhos do planetário, que figura entre os mais importantes da América Latina. Para reforçar essa integração com a comunidade, em julho de 1998, foi criado o Museu Interativo de Astronomia (MASTR), um centro de ciência interativo em que os questionamentos sobre astronomia são incentivados entre os jovens. Uma iniciativa de dar orgulho a qualquer um.
FRANCIELI REBELATTO, ESPECIAL
Inaugurado em 1971, é o primeiro planetário do Rio Grande do Sul e o quarto do Brasil
Centenário
FOTOS FERNANDO RAMOS
Instituto Metodista Centenário começou a ser erguido em 1922 e hoje abriga 1,8 mil alunos
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história do Colégio Metodista Centenário começou a ser escrita em 27 de março de 1922. As protagonistas eram sete alunas, que assistiam às aulas em um pequeno chalé. Elas foram as primeiras a receber os conhecimentos de duas missionárias norte-americanas miss Eunice Andrew e miss Louise Best, que trouxeram para a cidade a filosofia da Igreja Metodista dos Estados Unidos. No final do mesmo ano, 50 estudantes já freqüentavam as aulas, e a pequena escola deu lugar a um prédio. A obra, que é patrimônio histórico da cidade, começou a virar realidade em setembro de 1922 pelo engenheiro norte-americano Willey Clay. O prédio recebeu o nome de Eunice F. Andrew, em homenagem à fundadora.
Em abril de 1998, passou a funcionar, junto com a escola, a Faculdade Metodista de Santa Maria (Fames). A instituição oferece cursos de graduação – Administração, Direito, Educação Física, Letras e Sistemas de Informação – e de pós-graduação. Juntos, Fames e Centenário formam o Instituto Metodista Centenário (IMC) e atendem cerca de 1,8 mil alunos da Educação Básica ao Ensino Superior. Desde 2006, o instituto integra a Rede Metodista de Educação do Sul. No dia 16 de maio de 2007, quando parte do IMC pegou fogo, a comoção tomou conta da comunidade escolar. Mas a tristeza de ver as ruínas, entre as ruas Doutor Turi e Acampamento, transforma-se em esperança com a reconstrução do prédio, que deve ocorrer este ano.
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Cilon Rosa
s tempos e os costumes eram outros quando foi criada uma das hoje maiores escolas públicas de Santa Maria, a Escola Estadual de Ensino Médio Cilon Rosa. Sua história teve início com os cursos de corte e costura, rendas e bordados, em 1946. Na época, funcionava no prédio do Colégio Manoel Ribas. Depois de 1957, a instituição mudou de nome (Escola Industrial Cilon Rosa) e de sede (passou a funcionar em um prédio alugado da Cooperativa de Consumo dos Empregados da Viação Férrea) em 1957. Tinha, então, mais de 700 alunos e formava três turmas por ano na Aprendizagem Industrial. Em 1963, passou a ser Colégio Cilon Rosa. Oferecia o 1º ciclo (Ginásio Industrial) e o 2º ciclo (Colégio Técnico) com cursos de decoração de interiores e edificações. Só em 1966 ganhou sede própria (onde está até hoje). Hoje, o Cilon tem mais de 1,8 mil alunos do Ensino Médio em 56 turmas. Com 128 professores, é uma das escolas que mais aprovam no vestibular da Universidade Federal de Santa Maria.
Escola hoje tem 56 turmas de Ensino Médio
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Agueda Brazzale Leal
N A professora, hoje com 94 anos, dedicou a vida à educação dos santa-marienses
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Margarida Lopes
igura marcante de mulher, avançada para o seu tempo, educou mais de uma geração de santa-marienses. Assim foi Margarida Lopes. Nascida em Rio Pardo em 3 de setembro de 1865, filha do major Manuel Lopes da Silva e de Josepha Lopes da Silva, diplomou-se pela Escola Normal em 1893 e veio para Santa Maria em 1901, como professora do Colégio Distrital, inaugurado naquele ano. Em 1916, fundou a Escola 14 de Julho para alfabetização gratuita de alunos. Foi nomeada diretora da Escola Complementar em Santa Maria em 1929 e manteve-se no cargo até 1935. Trabalhou na educação da juventude santa-mariense por 34 anos e foi diretora do hoje Instituto Estadual de Educação Olavo Bilac por 29 anos. Educadora por vocação, aposentou-se aos 70 anos, mas continuou dando aulas particulares. Mudou-se para Porto Alegre, onde morreu em 1949 e foi sepultada. Em 1967, seus restos mortais foram trazidos para o Cemitério Municipal de Santa Maria e sepultados no Mausoléu Maçônico. Em 1912, recebeu o diploma de benemérita da Ordem Maçônica na Loja Luz e Trabalho. Era exímia pianista e se apresentava com freqüência nos espetáculos artísticos e beneficentes da cidade. A comunidade santa-mariense, em colaboração com a Maçonaria, colocou, como homenagem póstuma, um monumento na Avenida Rio Branco. A educadora também dá nome à Escola Estadual de Educação Básica Professora Margarida Lopes, em Camobi.
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inguém ousaria desligá-la da história da educação de Santa Maria. Quem não foi aluno da professora Agueda Brazzale Leal, 94 anos, pelo menos, já ouviu falar dela. Nascida em Santa Maria, formou-se professora primária em 1931 na antiga Escola Complementar, que, mais tarde, daria espaço ao Instituto Estadual de Educação Olavo Bilac. O começo da vida dedicada à educação foi na Escola Rui Barbosa, instituição em que muitos filhos de ferroviários aprenderam a ler e a escrever. Foi nesse universo ligado à ferrovia que Agueda cresceu. A infância foi na Vila Belga e boa parte da juventude,
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nos corredores da Escola Santa Terezinha – no auge da atividade ferroviária, era onde as meninas estudavam. Nessa escola, Agueda foi aluna, professora e se casou, na capelinha, com o economista José João Leal. A trajetória da professora se confunde com a de muitas professoras que hoje atuam na cidade. Somente no Olavo Bilac, Agueda lecionou por quase 25 anos e ajudou na formação de centenas de moças que ingressavam no curso Normal, o magistério de hoje. Neste colégio, foi diretora por duas vezes, mas nunca deixou a sala de aula, o contato direto com os alunos. Entre os cargos de comando
Alda Saldanha
vida da professora Alda Saldanha foi dedicada à educação, em especial ao Instituto Estadual de Educação Olavo Bilac (IEEOB). Foi nos tempos em que Alda Saldanha esteve à frente da direção da escola, que o Bilac recebeu grande projeção e se tornou a escola que é hoje. Na sala do Acervo Histórico do IEEOB, uma foto sua estampa a galeria dos ex-diretores. Alda foi a terceira diretora da escola, no período de 1935 a 1946. Nos 11 anos de direção, ela chegou a morar na escola, tamanha era sua dedicação ao trabalho. Como a Escola Professora Maria Rocha foi criada por meio de um decreto em 1941, funcionando como ginásio junto ao Olavo Bilac, Alda Saldanha também foi a primeira diretora da escola. Foi na gestão da diretora Alda, em 1938, que foi inaugurado o prédio central da instituição. Em 1941, foi entregue à comunidade escolar o pavilhão de Educação Física, hoje conhecido como Salão de Festas Edna May Cardoso. Foi a professora também quem se mobilizou para trazer à escola a primeira turma de jardim de infância, que teve início em 1938. O lema da professora, que morreu na Capital, era Para Diante, Sempre. A frase foi escolhida pelos professores para ser o lema do Olavo Bilac.
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na área de ensino, a professora foi delegada de Educação de 1975 a 1980, época em que se aposentou. O posto equivale ao hoje coordenador regional de Educação. A aposentadoria, de maneira alguma, representou o distanciamento do conhecimento e das aulas. De 1980 a 1990, Agueda deu aulas particulares a vestibulandos. Criou até um método para espantar o medo dos alunos da temida redação. Hoje, a professora acompanha de longe as mudanças na educação, mas, mesmo distante das salas de aula, não deixa de refletir sobre o ofício de professora, para o qual dedicou, com muito entusiasmo, boa parte de sua vida.
Fontoura Ilha
intenção do jovem Antônio Fontoura Ilha, no início de seus estudos, era se formar engenheiro. Mas as condições financeiras não permitiram, e a cidade perdeu um engenheiro para ganhar um educador. Fontoura Ilha nasceu em março de 1888, filho de Gabriel Francisco Ilha e Celestina Ilha. Ficou órfão de pai aos 12 anos e, muito cedo, foi obrigado a se separar da mãe, que era professora e foi nomeada para o município de Jari. Na época, o filho permaneceu em Santa Maria, estudando no Colégio São Luiz. As boas notas do estudante revelavam o talento e a disposição para trabalhar com educação. Em 1916, aos 28 anos, ele fundou o Colégio Fontoura Ilha, que, na época, funcionava na Rua do Acampamento. Também foi autor de diversos livros. Entre suas obras se destacaram Gramática Portuguesa e Breves Noções de Aritmética Comercial. Em 1936, aos 48 anos, Fontoura Ilha morreu. Em 1952, a rede municipal de ensino incorporou o colégio, criando o Grupo Escolar Fontoura Ilha. A Escola Municipal de Ensino Fundamental que leva o seu nome e também o seu ideal funciona há mais de 30 anos no bairro Patronato.
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Exército
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FOTOS CLAUDIO VAZ
Base Aérea
anta Maria e o Exército Brasileiro têm uma relação direta e sólida. A fundação da cidade passa pelos acampamentos militares aqui estabelecidos ainda no século 18.Eram tropas que vinham com a missão de demarcar as fronteiras gaúchas. De lá para cá, a guarnição não parou de crescer, tornando-se uma referência para todo o Brasil. Tanto que Santa Maria possui, atualmente, o segundo maior contingente militar do país. No topo da hierarquia, está a 3ª Divisão de Exército. Criada em 1908 em Santa Maria, ela tem origem da 3ª Brigada Estratégica, fundada pelo governo imperial. Na Guerra da Tríplice Aliança, sob o comando do coronel Antônio de Sampaio, a então 3ª Divisão de Infantaria (3ª DI) teve uma destacada atuação, sendo reconhecida pela sua grande resistência aos ataques inimigos. Por causa das suas atuações, a 3ª DI passou a ser chamada de Divisão Encouraçada. A atual denominação veio em 1972.Outro símbolo do Exército em Santa Maria é a 6ª Brigada de Infantaria Blindada. Criada em 1945, a unidade recebeu a atual denominação em 1977, quando a sede deixou Porto Alegre e veio para Santa Maria. O nome da unidade, Brigada Niederauer, tem outra forte ligação com a cidade. O coronel João Niederauer Sobrinho nasceu em 1827 no litoral norte do Estado, mas logo se tornou santa-mariense. Entrou no Corpo de Cavalaria da Guarda Nacional e conquistou glórias em batalhas no Uruguai e no Paraguai. Foi três vezes vereador de Santa Maria, chegando a presidir a Câmara. Subordinados à 6ª Brigada, estão outras 12 unidades: 7º Batalhão de Infantaria Blindado, 29º Batalhão de Infantaria Blindado, 3º Grupo de Artilharia de Campanha Auto-Propulsado, 1º Regimento de Carros de Combate, 4º Regimento de Carros de Combate, 4º Batalhão Logístico, 6º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado, Centro de Instrução de Blindados, 6ª Bateria de Artilharia Antiaérea, 12º Batalhão de Engenharia de Combate Blindado, 3ª Companhia de Engenharia Blindada e 26º Pelotão de Polícia do Exército. Junto à 3ª DE, estão subordinados o Parque Regional de Manutenção da 3ª Região Militar, a 13ª Companhia de Depósito de Armamento e Munições e o Hospital da Guarnição de Santa Maria.
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construção de uma pista de pousos e decolagens de aviões no Boi Morto, nos idos de 1921, foi o marco inicial para que Santa Maria entrasse para o mundo da aviação militar. Naquele ano, uma área no bairro tradicionalmente conhecido por sediar quartéis na cidade foi escolhida para abrigar a sede do Parque de Aviação Militar do Exército. Começava ali a história da Aeronáutica por estas bandas. A pista acabou desativada em 1930. Só depois que estourou a 2ª Guerra Mundial, o assunto voltou a ter destaque entre os governantes. No fim da década de 40, o então presidente da República, o gaúcho Getúlio Vargas, decidiu reforçar o contingente militar em Santa Maria por a cidade ser considerada ponto estratégico no Estado, pela sua localização central. Assim, em 1945, no fim da 2ª Grande Guerra, era inaugurada a primeira sede do que viria a ser a Base Aérea de Santa Maria, já em Camo-
bi. Na prática, o local tinha só pista de pouso e decolagem e um hangar. A partir da inauguração, começou o processo de transformação do aeródromo (que recebia aviões civis e militares) em uma base aérea, com a construção de prédios para sediar as partes administrativas e operacionais. A inauguração foi em 15 de outubro de 1971 e contou com a presença do presidente do Brasil, o general Emílio Garrastazu Médici. Desde aquele dia, Santa Maria entrava de vez para o cenário da aviação brasileira. No ano de sua inauguração, a Base Aérea, apelidada de Sentinela Alada do Pampa (cujo símbolo é um quero-quero), contava apenas com um esquadrão, 19 aeronaves e cerca de 200 militares. Quase 27 anos depois, a Basm é sede de três esquadrões aéreos (5º Esquadrão do 8º Grupo de Aviação, 1º e 3º Esquadrões do 10º Grupo de Aviação), tem cerca de 30 aviões e mais de 1,3 mil militares.
CHARLES GUERRA
Sentinela Alada dos Pampas, cujo símbolo é o quero-quero, tem cerca de 30 aviões e mais de 1,3 mil militares
Santa Maria tem o segundo maior contingente militar do Brasil e a maior tropa blindada do país
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Brigada Militar
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Rio Grande do Sul tem uma característica peculiar, entre tantas, que o diferencia dos demais Estados – a sua polícia militar carrega um nome especial: Brigada Militar. Criada em 1837, ela ficou responsável pela segurança interna dos gaúchos. Em Santa Maria, está a sede do Comando Regional de Polícia Ostensiva Central, abrangendo 29 cidades da região. Entre as unidades que se destacam na BM em Santa Maria, está o 1º Regimento de Polícia Montada (1º RPMon). Ele foi fundado em 1892 e é a mais antiga unidade de cavalaria da Brigada Militar. Por certo tempo, ficou conhecido pelos abas largas, policiais montados que usavam um fardamento inspirado na Polícia Real Montada do Canadá. Era missão destes policiais a luta contra ladrões de gado pelo interior do Rio Grande do Sul. Uma das importantes atuações da BM em Santa Maria ocorreu em novembro de 1926, quando os brigadianos do 1º RPMon enfrentaram tropas do Exército Brasileiro que se movimentaram contra a posse do presidente Washington Luís. Além do 1º RPMon e do CRPO-Central, também fazem parte da Guarnição Coração do Rio Grande, como é denominada a Brigada Militar em Santa Maria, o 4º Comando Regional de Bombeiros, o Batalhão de Operações Especiais, o 2º Batalhão Ambiental, a Escola Técnica de Polícia Militar, o Hospital da Brigada Militar e a 2ª Companhia do 2º Batalhão Rodoviário. Só em Santa Maria, a Brigada Militar reúne um efetivo de 1,2 mil PMs.
Bombeiros – Até 1955, quando ocorria um incêndio em Santa Maria, o caminhão-pipa da prefeitura, que recebia ajuda da BM e da própria população, era o responsável por controlar as chamas. Isso durou até aquele ano, quando o tenente Vitor Hugo Lopes de Castro foi designado para servir aqui. Junto com outros 17 praças e munido de um caminhão e um jipe, instalou em Santa Maria a primeira sede da Estação de Bombeiros, que funcionava em um prédio na Rua Vale Machado. Passados 11 anos de sua criação, foi inaugurada a sua atual sede, na esquina das ruas Coronel Niederauer e Visconde de Pelotas, sob o comando do então capitão Lenine Barbosa Maia. As novas instalações ficam ao lado da Praça Tenente Menna Barreto, mas o local passou a ser conhecido como Praça dos Bombeiros. Somente em 1974, a Estação de Bombeiros começou a ser chamada de 4º Grupamento de Combate a Incêndio. Em 1998, uma reestruturação da instituição rebatizou a sede de 4º Comando Regional de Bombeiros. Uma das unidades mais antigas do Estado, o quartel de Santa Maria é responsável por 34 cidades da Região Central, o que representa cerca de 660 mil habitantes. Para isso, o comando conta com unidades em outros oito municípios (São Pedro do Sul, São Sepé, São Gabriel, Faxinal do Soturno, Agudo, Restinga Seca, Caçapava do Sul e Santiago), além das três unidades em Santa Maria – na Rua Niederauer, no bairro Camobi e no Parque Pinheiro Machado. Na região, são 216 bombeiros.
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O 1º Regimento de Polícia Montada é a mais antiga unidade de cavalaria da Brigada Militar no Estado
Colégio Militar
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vocação educacional de Santa Maria não é novidade. Entre tantos estabelecimentos de ensino, uma escola se destaca. Além de aulas de português e matemática, um detalhe no método faz com que o Colégio Militar de Santa Maria (CMSM) seja diferenciado. Ele segue valores, costumes e tradições do Exército. Já é de longa data que a cidade é a segunda maior guarnição militar do Brasil – ficando atrás apenas do Rio de Janeiro. Porém, Santa Maria demorou a contar com um colégio militar. A idéia surgiu em 1957, quando o então tenente Luiz Prates Carrion publicou artigo sugerindo a criação de uma escola. O projeto virou realidade em 1994. Inicialmente, o colégio foi instalado
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em um pavilhão do Parque Regional de Manutenção – a pedra fundamental do prédio foi lançada em 1996. Com o passar do tempo e o aumento de alunos, o colégio acabou inovando em relação ao espaço físico. O que mais chamou a atenção foi a utilização de dois vagões, cedidos pela Rede Ferroviária Federal, que foram usados como salas de aula. Daí, vem o apelido Colégio do Vagão. Em 1998, o CMSM foi inaugurado para abrigar os mais de 700 alunos, sendo que cerca de 60% são dependentes de militares – o colégio também recebe civis. O colégio oferece turmas de 5ª a 8ª série do Ensino Fundamental e de 1º a 3º ano do Médio, além do ensino para o ingresso na Escola Preparatória de Cadetes do Exército.
Escola inaugurada oficialmente em 1998 abriga mais de 700 alunos, sendo que cerca de 60% deles são dependentes de militares
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Feira do Livro de Santa Maria
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Feira do Livro de Santa Maria nasceu praticamente de uma conversa de bar. Foi na Rua Venâncio Aires que um grupo de estudantes de Comunicação Social da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) se reuniu e começou a dar vida ao evento, em 1973. Na época, o Brasil vivia o regime militar. Foi justamente naqueles tempos silenciosos que os alunos perceberam a necessidade de criar um evento cultural para a cidade, no qual as pessoas pudessem encontrar armas para se defender da repressão intelectual. Daí, surgiu a 1ª Feira Universitária do Livro (Funil), nome oficial da edição pioneira, organizada por alunos e que contou com 10 barraquinhas instaladas perto do chafariz da Praça Saldanha Marinho. Embora não houvesse escolha de patrono, shows e atrações artísticas, a feira já oferecia o tradicional desconto de até 20%, mantido até as edições atuais. Um dos autores mais vendidos da primeira feira, que foi uma chance de ver e comprar obras que não estavam nas livrarias da cidade, foi Werneck Sodré, historiador brasileiro de pensamento marxista e dono de títulos como A História Militar do Brasil. Os estudantes também levaram à praça exemplares de jornais de esquerda. A partir daí, a cidade continuou a organizar o evento. Porém, de 1992 a 1994, e em 2000, a praça não recebeu a visita dos livros por uma série de fatores, entre eles a falta de apoio. Em 1995, a feira ganhou novas parcerias, como a prefeitura, que começou a ser atuante em sua organização. Também foi a primeira vez que a feira teve um patrono – José Mariano da Rocha Filho. Depois dele, outras pessoas foram escolhidas, como Prado Veppo, Adelmo Genro, Armindo Trevisan e Edmundo Cardoso. Em 1996, o evento contou com a presença de livreiros de Santa Maria, pois antes
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O evento cultural mais tradicional e que reúne mais público na cidade nasceu de uma conversa de bar as obras vinham de Porto Alegre. Os organizadores da feira também passaram a escolher um homenageado por ano. A edição de 1981 foi a primeira a trazer um escritor convidado. Esteve em Santa Maria o santiaguense Caio Fernando Abreu, que, na época, escrevia Morangos Mofados, livro de contos lançado em 1982. Já o ano de 2003 foi especial para o evento, pois foi retomada a Feira do Livro Infantil, fundada nos anos 80 e que estava abandonada por mais de 10 anos. Hoje, é ela que atrai centenas de crianças ao mundo da literatura. A idéia dos alunos de Comunicação lá em 1973 continua dando frutos, e o
No mês de maio, a Praça Saldanha Marinho é dos livros. São cerca de 30 bancas, que vendem com o tradicional desconto de 20%
evento tem sido um sucesso a cada ano. Em 2007, a feira bateu recorde, com mais de 36 mil exemplares vendidos. Por ela, passaram mais de 160 mil pessoas e foram comercializados 36.520 exemplares. Foram 112 lançamentos (sendo 10 de livros infantis) e 29 bancas (quatro dedicadas às crianças).
Atual edição – Este ano, a Feira do Livro, que vai até 18 de maio, tem como patrono o escritor e cronista do Diário, José Bicca Larré, e a escritora Selma Feltrin, como patrona da Feira do Livro Infantil.O homenageado do evento é o escritor, pesquisador e historiador João Belém (1874-1935).
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150 Santa Maria Vídeo e Cinema 150
CHARLES GUERRA
cinema
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Evento promove exibições gratuitas de filmes na Praça Saldanha Marinho
Santa Maria Vídeo e Cinema surgiu em 2002, um ano em que a cidade assistia a um boom da produção audiovisual. Sérgio de Assis Brasil (1947-2007) estava envolvido com as gravações do longa Manhã Transfigurada (que deve ser lançado neste ano). Até então, a única experiência em longa-metragem remetia a 1962, quando a produtora carioca Lupa Filmes filmou aqui o faroeste Os Abas Largas, com atores da Escola de Teatro Leopoldo Fróes, comandada por Edmundo Cardoso. Além disso, diversos curtas foram produzidos por universitários e profissionais da área, resgatando a energia de uma produção que encontrava eco entre os anos 60 e 70, protagonizados pela geração Super-8. Ao contrário de eventos como o Festival de Gramado, caracterizados pelas celebridades, o Santa Maria Vídeo e Cinema nasceu com a idéia de democratizar o cinema e popularizar o acesso aos filmes, bandeira que segue em pé até hoje. Assim, o evento surgiu com exibições gratuitas, sessões na Praça Saldanha Marinho, oficinas e debates. Em suas seis edições, recebeu nomes de dimensão, como Lucélia Santos, Jorge Furtado, João Batista de Andrade, João Moreira Salles, Carlos Reichenbach e o santa-mariense radicado em Brasília Geraldo Moraes. O festival teve inscrições de dezenas de curtas de todo o país e também de muitos trabalhos de Santa Maria, especialmente produzidos pelo curso de Comunicação Social da Unifra e pelo Curso de Extensão em Cinema Digital da UFSM, que, em 2009, deve dar lugar ao curso de graduação Imagem e Som – Cinema.
LAURO ALVES
Santa Maria em Dança
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uando se aproxima setembro, Santa Maria começa a respirar dança. Isso porque, na cidade, o mês da primavera também se tornou o mês da dança. Há quase 15 anos, nesta época do ano, bailarinos de vários lugares do Estado, do país e até do Exterior desembarcam por aqui para participar do festival que se firmou como uma das maiores e mais importantes competições de dança não só em Santa Maria, mas no Brasil: o Santa Maria em Dança. O festival, que começou em 1995, no Itaimbé Palace Hotel, foi resultado de uma iniciativa de artistas locais com o objetivo de popularizar a arte da dança. De lá para cá, a mostra competitiva foi crescendo, e o ginásio do Clube Recreativo Dores se transformou no tablado oficial para a performance de dançarinos de diferentes gêneros. Dos 250 bailarinos do 1º Santa Maria em Dança para os mais de 4 mil das últimas edições, o salto foi grande. De forma pioneira no país, o festival manteve a preocupação em democratizar o aces-
Alunos, como os do colégio Edson Figueiredo (foto), concorrem no Dança Estudantes
so à dança. Dentro da sua programação, abriu espaço para grupos diferenciados. Em 1998, criou o Dança Estudantes, envolvendo grupos de dança de alunos dos Ensinos Fundamental e Médio. Dois anos depois, lançou o Dança Universitários, para grupos de dança de acadêmicos de universidades. E, em 2001, apresentou o Dança Terceira Idade. Além de premiar grupos e escolas de dança, o evento ainda promove cursos e oficinas com profissionais locais e de fora da cidade. Outra característica que chama a atenção no Santa Maria em Dança é a sua identidade visual. Desde a edição de 1997, as pinturas da artista plástica Marília Chartune são usadas para dar cara ao festival. A 14ª edição do Santa Maria em Dança, programada para acontecer de 10 a 14 de setembro deste ano, já conta com mais de 900 bailarinos inscritos. Entre as presenças confirmadas, está a do coreógrafo e bailarino Carlinhos de Jesus, que se apresentará na noite de abertura.
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Concurso Literário Felippe D’Oliveira homenageia o poeta santa-mariense que publicou dois livros entre 1911 e 1936, e morreu, na França, de acidente de carro. Foi criado por meio de lei municipal, de 7 de junho de 1977, durante o governo do prefeito Osvaldo Nascimento da Silva. Desde seu início, o concurso premia os três melhores textos nas categorias conto, crônica e poesia, estimulando e revelando talentos. Também há o prêmio incentivo local e menções honrosas. A temática é livre, e as inscrições são abertas a todos autores brasileiros. No começo, o concurso revelou diversos talentos locais. Com os anos, passou a receber inscrições de todo o país. A coordenação é da Secretaria de Cultura, por meio da Biblioteca Pública. A premiação, com valores em dinheiro, ocorre todos os anos, durante agosto, o Mês da Cultura em Santa Maria. Em 1989, o Concurso Literário Felippe D’Oliveira passou a publicar um livro com os textos vencedores em cada edição. Atualmente, jovens talentos, muitos ligados à universidade, têm encontrado reconhecimento e espaço por meio do concurso. Alguns nomes conhecidos já ganharam destaque na premiação, como o poeta Luiz Guilherme do Prado Veppo (1932-1999) e o ministro da Justiça, Tarso Genro.
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Concurso Fotográfico Cidade de Santa Maria deu destaque nacional à cidade. Em suas edições anuais, são inscritos trabalhos de fotógrafos dos mais diversos Estados brasileiros. Entre os premiados, sempre se destacam talentos de Santa Maria, o que demonstra a qualidade dos trabalhos produzidos por aqui. Promovido pela prefeitura, por meio da Secretaria de Cultura, o Concurso Fotográfico Cidade de Santa Maria
premia trabalhos nas categorias profissional e amador, nas modalidades cor e preto-e-branco. A comissão avaliadora é formada por profissionais e especialistas na área. O Concurso Fotográfico Cidade de Santa Maria foi criado pela lei municipal em 28 de abril de 1978, durante o governo de Osvaldo Nascimento. A premiação ocorre no final do mês de agosto, junto com a do Concurso Literário Felippe D’Oliveira.
FOTOS MARINA CHIAPINOTTO, ESPECIAL
Concurso Literário Felippe D’Oliveira
Concurso fotográfico
‘A Banda’, de Marina Chiapinotto, conquistou o primeiro lugar no ano passado na categoria profissional colorido
Luiz Carlos (a partir da esq.), Fabrício, Uilian e Daniel, os vencedores de 2007, no busto do poeta, na Saldanha Marinho
EMERSON SOUZA, BANCO DE DADOS
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Santa Cena
ma das poucas cidades do interior do Estado que oferece curso de graduação em Artes Cênicas, Santa Maria tem um histórico rico na arte da interpretação. Não é de hoje que a cidade vive a efervescência do teatro, e a produção local ganhou destaque por meio de uma iniciativa que abriu vitrina para talentos daqui. O Festival Santa Cena, idealizado pela Associação Santa-Mariense dos Profissionais de Artes Cênicas (Aspac), surgiu em 2002, como forma de valorizar o trabalho dos artistas da cidade. Para isso, o projeto foi dividido em duas fases, com atividades que acontecem em vários locais, como o Theatro Treze de Maio, a Casa de Cultura, o Teatro Universitário Independente (TUI), clubes e shoppings. Na primei-
ra etapa – a Mostra Estudantil de Teatro e Dança –, crianças e adolescentes dos Ensinos Fundamental e Médio, alunos de escolas estaduais, municipais e particulares da cidade mostram seus dotes nas artes cênicas e na dança. A mostra estudantil serve como aquecimento à segunda fase do evento: o Festival Municipal de Artes Cênicas, que leva ao palco a arte de grupos de teatro profissional, amador e universitário. Mas não são só os espetáculos teatrais que movimentam o Santa Cena. O evento conta com palestras, oficinas e exposições inspiradas na temática do festival, que propõe sempre algo diferente a cada edição. Sem premiações, é uma mostra que procura instigar a produção teatral, abrindo espaço a talentos e formando platéias.
Festival busca incentivar a produção teatral, revelando talentos e formando platéias
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Carnaval de rua
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RAFAEL HAPPKE, ESPECIAL
Em 2008, pela primeira vez, a Barão do Itararé se sagrou campeã do Carnaval
Minuano da Canção Nativa
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concurso de música tradicionalista reafirmou a presença de Santa Maria na rota dos festivais do gênero no Estado. A primeira edição do Minuano da Canção Nativa, realizada em maio de 2002, fez a cidade recordar a antiga Tertúlia Musical Nativista, reunindo centenas de apaixonados pela cultura do Rio Grande. O evento veio para ocupar a lacuna deixada pelo final da Tertúlia, que, durante os anos 80, colocou Santa Maria no auge do movimento nativista. De 1980 até o final da década de 90, a Estância do Minuano organizou 17 edições da Tertúlia, idealizada por Amaury Dalla Porta e inspirada na Califórnia da Canção Nativa, de Uruguaiana. Revigorado e batizado de Minuano, o festival, promovido pela Associação Nativista Minuano, nasceu com a força do sucesso da Tertúlia. Longe da calmaria do campo e perto do asfalto e da velocidade urbana, o Minuano chega, em 2008, a sua 7ª edição, transformando o Centro Desportivo Municipal
que começou com a folia de blocos e ranchos carnavalescos na década de 20, hoje é um dos eventos mais esperados do ano por milhares de moradores de Santa Maria. O Carnaval de rua, que caiu nas graças da população de um modo geral depois da década de 70, não passava de uma espécie de concentração para os bailes de Carnaval nos salões. Agora, as oito escolas de samba da cidade se apresentam na Avenida Liberdade a cada ano (exceto, claro, quando o evento não ocorre por falta de entendimento entre as entidades e o Executivo, como ocorreu em 2007). Toda uma estrutura com arquibancadas, banheiros, praça de alimentação e camarotes é montada no local para a realização da festa, que reúne milhares de pessoas nas noites de apresentação das escolas de samba atuais. Cada uma das entidades carnavalescas – Vila Brasil, Unidos do Itaimbé, Barão do Itararé, Trevo de Ouro, Mocidade Independente das Dores, Imperatriz Academia do Samba, Unidos de Camobi e Império da Zona Norte – reúne mais de cem colaboradores, que trabalham como famílias para proporcionar aos espectadores um espetáculo de beleza e criatividade e, claro, lutar pelo título de campeã do Carnaval de rua. Até um tempo nem tão remoto, não era costume moradores brancos e negros festejarem o Carnaval ou outras datas nos mesmos clubes da cidade. Comemorar a folia nas ruas e participar de escolas de samba, via de regra, eram hábitos apenas dos negros. Com o enfraquecimento das entidades formadas por negros e a ampla divulgação do Carnaval carioca, na década de 70, é que a festividade, na rua, acabou caindo no gosto de todos.
CHARLES GUERRA
Délcio Tavares cantou a música vencedora em 2005
(CDM) em um grande galpão para a cultura gaúcha. No palco do evento, que sempre acontece na semana do aniversário de Santa Maria, nomes conhecidos do nativismo se consagraram ao conquistar o Troféu Minuano. Entre intérpretes e compositores que já receberam os aplausos do público estão os irmãos Vinícius e Tuny Brum, vencedores em 2007, e Érlon Péricles, ganhador do primeiro Minuano, além de Cristiano Quevedo, Gujo Teixeira, Sabani de Souza, Jairo Lambari, Mauro Marques, Vaine Darde, entre outros destaques. São talentos que registraram seu trabalho no CD do Minuano, disco lançado a cada edição do evento e que traz as 13 composições finalistas do festival. No ano passado, uma nova aposta marcou o amadurecimento do concurso. O 1º Minuaninho, em que crianças e adolescentes mostraram seus dotes na música nativista, surgiu como palco novo para ajudar a descobrir talentos e também incentivar a participação dos jovens no tradicionalismo.
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Academia Santa-Mariense de Letras
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mbora já fosse conhecida pelo seu potencial intelectual, social e cultural, Santa Maria reforçou o talento para a literatura ao criar a Associação Santa-Mariense de Letras (ASL). Fundada em 21 de agosto de 1986, a entidade sempre reuniu nomes importantes das letras que movimentam o cenário literário local. Um dos grandes motivos de orgulho para os membros da associação foi quando ela se transformou em Academia Santa-Mariense de Letras. Na cerimônia que marcou a mudança, em 15 de dezembro de 2006, 15 associados começaram a ser chamados de imortais. A entidade passou a ter um estatuto próprio e a seguir algumas normas de suas “irmãs mais velhas”, a Academia Rio-Grandense de Letras e a Academia Brasileira de Letras (ABL). O tradicional fardão verde-escuro com folhas bordadas a ouro da ABL – traje usado pelos imortais em cerimônias solenes da academia – foi substituído por uma pelerine (espécie de capa) de cetim preta, com detalhes dourados. A transformação foi um reconhecimento ao trabalho da entidade que, em 20 anos, promoveu a edição de 45 obras (livros individuais, antologias e revistas). Por enquanto, a academia tem apenas 14 membros, mas editais deverão selecionar novos acadêmicos
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para ocupar, progressivamente, as 26 cadeiras restantes (ao todo, são 40). Após o preenchimento de todas as vagas, só haverá nova escolha após a morte de algum membro da academia. Como é o caso do ex-detentor da cadeira nº1 (patrono Luiz Carlos de Barbosa Lessa),Antonio Augusto Ferreira, que morreu em março. Será feito um edital especial para decidir quem assumirá a sua vaga.
No dia 15 de dezembro de 2006, 15 imortais (na foto) tomaram posse na Academia
No ano passado, a academia promoveu diversas sessões públicas em que os membros fizeram palestras sobre a vida e a obra dos patronos de suas cadeiras. Para este ano, a entidade, que tem como atual presidenta a escritora Lígia Militz da Costa, pretende organizar uma série de debates, seminários, concursos, oficinas literárias, lançamentos de livros e recitais.
Casa do Poeta
m lugar para os amantes da literatura e da poesia colocarem em prática seu gosto pelo mundo das letras. Assim é a Casa do Poeta de Santa Maria (Caposm), que tem como objetivo juntar artistas e admiradores que, muitas vezes, não têm espaço para debater o tema. Tudo começou com reuniões despretensiosas em um café da cidade. Lá, eram realizados encontros poéticos uma vez por mês. Trocando informações sobre escritores preferidos e mostrando trabalhos de autoria própria, os autores exercitavam sua paixão pelo universo literário. Como eram poucos participantes, os encontros seguiram assim por um bom tempo. Porém, a idéia foi ganhando adeptos. Em junho de 2002, incentivados por escritores locais
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importantes, como o professor Orlando Fonseca, os freqüentadores dos cafés poéticos resolveram criar uma entidade para consolidar o trabalho que vinham desenvolvendo. Nascia a Casa do Poeta. Com cerca de 30 pessoas, a assembléia de fundação foi presidida por Fonseca. Nela, foram eleitos os dirigentes e o patrono da Casa. Para apadrinhar oficialmente a instituição, foi escolhido o médico e escritor Prado Veppo, um dos nomes fundamentais da cultura em Santa Maria. Entre as ações da Casa do Poeta, estão a publicação de livros, oficinas, palestras e estudos sobre o universo literário. Atualmente, as reuniões acontecem às quartas-feiras, às 18h, na sala 13 da Casa de Cultura. Para participar, basta gostar de literatura.
FRANCIELI REBELATTO, ESPECIAL
No ano passado, vários autores da Casa do Poeta de Santa Maria (foto) lançaram livros infantis
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Associações culturais
FOTOS LAURO ALVES
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m Santa Maria, uma característica dos movimentos culturais é a reunião. Todas as formas e manifestações de arte se organizam em entidades, com o objetivo de defender ideais e lutar por ações, oportunidades e reconhecimento. Em 8 de outubro de 2007, foi criado o Fórum das Entidades Culturais de Santa Maria, uma grande associação das associações. Foi idealizado pelo Conselho Municipal de Cultura e busca organizar esforços para a formulação de políticas públicas e projetos culturais.A discussão é uma das principais motivações da associação de entidades, que reúne Artes Cênicas, Artes Plásticas, Comunicação, Cinema e Vídeo, Dança, Folclore e Tradição, Letras, Música, Memória e Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural. A sede fica na Associação dos Professores Universitários (Apusm). Outro destaque é a forma como voluntários abraçam a cultura e se integram em organizações de amigos, como a Associação de Amigos do Theatro Treze de Maio, os Amigos da Casa de Cultura e os Amigos da Biblioteca Pública Municipal. Dentre as 22 entidades integrantes do Fórum, destacam-se a Associação dos Artistas Plásticos, a Associação Orquestra Sinfônica, a Associação de Museus, a Associação de Dança e a Casa do Poeta de Santa Maria. Um Museu de Artes é a principal aspiração dos artistas plásticos, que não têm um local específico e apropriado para expor suas obras. Transformar a Casa de Cultura em um Centro de Cultura é o projeto maior do Fórum das Entidades Culturais, que quer organizar um espaço para todas as expressões artísticas de Santa Maria.
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Fórum das Entidades Culturais quer tornar a Casa de Cultura (foto) um centro que abrigue todas as expressões artísticas da cidade
Conselho Municipal de Cultura
oucas cidades gaúchas têm um conselho municipal de cultura. Santa Maria está entre as privilegiadas. O Conselho Municipal de Cultura de Santa Maria foi criado em 26 de junho de 1998, por uma lei municipal, começando a atuar dois anos após, com a nomeação dos conselheiros. É de competência do grupo discutir e propor uma política cultural para a cidade, bem como possíveis formas de captação de recursos. Ele também elabora e apresenta um Plano Municipal de Cultura, examina e emite pareceres, com caráter normativo quando necessário, sobre questões técnico-culturais.
Integram o conselho membros indicados pela Secretaria Municipal de Cultura, representantes das instituições de Ensino Superior da cidade e de segmentos culturais. A eleição da diretoria é feita anualmente, e as reuniões são na Casa de Cultura, na Praça Saldanha Marinho. O conselho promove diversos eventos de repercussão cultural, além de desenvolver projetos como o “Construtores da Cultura de Santa Maria”, que editou DVDs sobre Prado Veppo e Eduardo Trevisan. A obra Santa Maria, Cidade Cultura, assinada por 60 autores, é uma edição do conselho, identificando o passado e o presente da cultura da cidade.
As reuniões do grupo são numa sala da Casa de Cultura
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Museu Vicente U Pallotti Com 40 mil peças, é um dos maiores e mais ecléticos museus do Rio Grande do Sul
m lugar onde você pode ver animais e árvores fossilizados, imagens sacras, coleção de armas, minerais, entre outras peças, algumas com mais de 600 milhões de anos. Esse lugar existe, fica em Santa Maria, e o visitante não paga nada para passear por toda essa história. O Museu Vicente Pallotti é um dos maiores e mais ecléticos do Estado. Com cerca de 40 mil peças, é fonte de pesquisa para alunos e pesquisadores estrangeiros. Seu acervo está dividido em salas, que trazem coleções de mineralogia, zoologia, paleontologia, arqueologia, material bélico, etnografia e arte sacra. Um quati empalhado deu início, em 1935, ao museu. Especialistas em taxidermia (processo de empalhar animais), os padres José Pivetta e Valentim Zamberlan deram os primeiros passos, ainda em Vale Vêneto, rumo à criação do estabelecimento. Só em 1959 é que ele foi transferido para Santa Maria, no Colégio Máximo Palotino. O padre Daniel Cargnin teve importante participação no museu. Ele arrecadou boa parte do acervo paleontológico e foi o responsável por transportar o museu do Colégio Máximo para a sede atual. Quando recebeu o primeiro fóssil, em 1965, e até 1994, o museu era um “grande depósito” de objetos. De 1994 a 1998, houve a primeira fase de organização. Até 2010, o museu passará pela segunda etapa. O Vicente Pallotti pertence e é mantido pela Sociedade Vicente Pallotti e fica na Avenida Presidente Vargas, 115, bairro Patronato. As visitas individuais ou para grupos de até 50 pessoas são agendadas no (55) 3220-4565.
LAURO ALVES
Museu Gama d’Eça
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O prédio que hoje abriga tanta história foi um dos primeiros palacetes de Santa Maria
atual sede do Museu Gama d’Eça fica num dos primeiros palacetes de Santa Maria, na Rua do Acampamento. O prédio foi concluído em 1913, a pedido de Astrogildo de Azevedo, que morava e tinha seu consultório médico no local. Sem dúvida, um dos prédios mais bonitos e de arquitetura mais marcante na cidade. A porta principal é de madeira esculpida por Antônio Marques de Carvalho, com linhas curvas e figuras em relevo. No final da década de 40, o local ganhou um pequeno zoológico e duas piscinas, as primeiras da cidade. As obras foram empreendidas por Ester de Azevedo, filha de Astrogildo de Azevedo, e seu marido, Miguel Beleza, fazendeiro
de Uruguaiana. Com a morte do casal, o palacete foi herdado por sobrinhos. No fim da década de 60, a prefeitura se instalou no local, ficando ali até 1984. Após uma grande reforma, terminada em dezembro de 1985, o prédio foi adquirido pela UFSM. O local se tornou então sede do Museu Gama d’Eça, que já havia incorporado o Museu Victor Bersani, pertencente à Sociedade União dos Caixeiros Viajantes (SUCV). O museu educativo foi criado por José Mariano da Rocha Filho em 23 de julho de 1968, mas foi planejado junto com o projeto de implantar a UFSM. O nome homenageia José Maria da Gama Lobo Coelho d’Eça, o Barão de Saican, oficial que comandou as tropas brasileiras na
Guerra do Paraguai. Mais de 12 mil peças compõem o acervo, que é dividido em três áreas: história, artes e ciências. O museu oferece exposições temporárias e permanentes, retratando temas diversos, entre eles o que trata do fundador da UFSM, de arqueologia rio-grandense, sala de máquinas e numismática (moedas, cédulas e medalhas de todo o mundo), sala de zoologia, entre outras.
Das peças, destacam-se a cômoda e a carruagem do Conde de Porto Alegre Manoel Marques de Souza. Também há um exemplar do Scaphonix fischeri – fóssil símbolo do museu – encontrado na cidade em 1902. O museu fica na Rua do Acampamento, 81. Abre de segunda a sexta, das 8h ao meio-dia e das 14h às 18h. Nos sábados, as visitas são marcadas. Escolas e grupos devem agendar pelo telefone (55) 3220-9306.
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Museu Treze de Maio
tendência. No mundo inteiro, prédios antigos que tenham relação com a história ou à cultura de uma cidade ou uma região são restaurados e reaproveitados para fins culturais. Em Santa Maria, há um exemplo dessa prática. O antigo Clube 13 de Maio, que fechou as portas nos anos 90 – depois de longa agonia e decadência – foi revitalizado como um museu comunitário. O prédio, que está sendo reformado desde fevereiro do ano passado, ainda não está aberto ao grande público. Atualmente, o espaço abriga oficinas de dança afro e capoeira. Serve também para pesquisas de alunos dos cursos de História e Arquivologia da UFSM e Turismo da Unifra, que atuam junto à equipe técnica do museu enquanto colaboradores na organização do acervo. Mas a promessa de seus administradores é que, quando a reforma for concluída, o local vire referência em história e cultura, especialmente em relação à raça negra da cidade. O foco em uma etnia específica não é obra do
FOTOS CHARLES GUERRA
acaso. A Sociedade Cultural Ferroviária 13 de Maio foi fundada, em 1903, por funcionários negros da extinta Viação Férrea, numa época em que não existiam opções de cultura e lazer para os negros – que eram proibidos de freqüentar clubes de brancos. Pela ousadia de seus fundadores e por tudo o que representou para os descendentes de africanos da cidade e da região, o velho 13 é considerado, hoje, um espaço de resistência negra, patrimônio e potencial. Para que esse passado não seja esquecido – e para que toda a comunidade santa-mariense possa entender mais sobre a cultura negra – quando abrir as portas, em definitivo, o Museu Treze de Maio oferecerá oficinas, biblioteca com literatura africana e afro-brasileira, um espaço para degustar pratos típicos da cultura negra, além de um acervo fotográfico e tridimensional sobre a cultura africana no Brasil. A proposta é ambiciosa: ser referência em todo o Rio Grande do Sul. Até o final de 2008, esse sonho poderá se tornar realidade.
Após a reforma, que está em andamento, local deve ser uma referência para a raça negra
Casa de Memória Edmundo Cardoso
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casarão histórico que fica na esquina da Rua Riachuelo com a Pinheiro Machado abriga um patrimônio cultural importantíssimo para a cidade. Nesse endereço, funciona a Casa de Memória Edmundo Cardoso. Um espaço que traz material sobre a história de Santa Maria e sobre pessoas que ajudaram a construir sua trajetória cultural. Logo ao entrar, dá para perceber que não se trata de um lugar comum. São móveis antigos, quadros de gente famosa, como o restinguense Iberê Camargo, Juan Amoretti e Eduardo Trevisan, e fotos do próprio Edmundo e de figuras indispensáveis no desenvolvimento cultural da cidade. Segundo familiares, Edmundo sempre teve vontade criar um acervo que recuperasse a história local, mostrando a importância de preservar o passado para se aproveitar melhor o futuro. Porém, foi só em 1944 que o sonho do escritor, teatrólogo, cronista, repórter e radialista, nascido em 1917, começou a se concretizar. Foi neste ano que Edmundo comprou a residência na qual passou o resto
de seus dias. No local, conseguiu espaço físico suficiente para guardar inúmeros livros, documentos, quadros e fotos. Antes de morrer, em 2005, ele já havia acumulado um patrimônio histórico-cultural considerável, referência para universitários, pesquisadores e curiosos sobre a história do município. Logo depois de sua morte, em 2002, sua esposa, Therezinha de Jesus Pires Santos, hoje coordenadora da casa, e a filha Gilda May Cardoso Santos, resolveram dar continuidade ao trabalho iniciado por Edmundo. Conforme Gilda, não foi nada programado. Tudo aconteceu naturalmente, com o objetivo de não finalizar de maneira precoce uma iniciativa tão louvável. A partir daí, as duas passaram a organizar o acervo. Para isso, dedicaram um tempo precioso para montar a biblioteca, o arquivo e a parte museológica, que ainda precisa de ajustes. O acervo da Casa de Memória já possibilitou a edição de três livros, sendo que o último foi lançado na Feira do Livro 2008. As pesquisas no local devem ser agendadas pelo (55) 3221-3154.
Poucos lugares em Santa Maria abrigam tanta história da cidade
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Memorial Mallet
vinda dos restos mortais do marechal Emílio Luiz Mallet do Rio de Janeiro para Santa Maria marcou a inauguração do Memorial Mallet, junto ao 3º Grupo de Artilharia de Campanha Auto-Propulsado (3º GAC AP). No quartel, ainda funciona o mausoléu, dois museus e o carro do Duque de Caxias (vagão que transportou o patrono do Exército). O espaço cultural, com cerca de 1,5 mil peças, retrata grande parte da história militar brasileira. Logo na entrada do museu, é possível conhecer os patronos e patriarcas do Exército. Em outra sala, estão expostos diversos tipos de armamentos, desde garruchas e revólveres a metralhadoras de várias épocas. Há espaço reservado para uma mostra da evolução da artilharia no mundo – desde a catapulta até canhões mais modernos. Equipamentos e armas usados pela Marinha e pela Aeronáutica também têm lugar no museu. No segundo andar, ficam objetos, uniformes, fotos e outros itens de diversas épocas do Exército, desde a Revolução Farroupilha até a 2ª Guerra Mundial. Algumas salas são temáticas, dedicadas exclusivamente a um fato histórico em especial. Há uma em homenagem à Força Expedicionária Brasileira (FEB), outra para a Guerra da Tríplice Aliança. Nesta, existe uma maquete que reconta a Batalha de Tuiuti, considerada a maior e mais sangrenta batalha campal da América Latina. A família do marechal Mallet também ganhou um espaço no local onde é contada parte de sua história. O museu a céu aberto apresenta exemplares originais de vários armamentos pesados, como canhões usados em tempos
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Canhões antigos do Exército são atrações do museu a céu aberto
antigos pelo Exército. Um destaque é o La Hitte, de 1864, que era puxado por bois. No mausoléu, estão guardados os restos mortais do marechal Mallet e de sua mulher, Joaquina Castorina de Medeiros Mallet. O memorial funciona de terça a domingo, das 8h às 17h. A visitação é de graça. Grupos grandes, como de escolas, devem agendar as visitas no (55) 3212-3388, ramal 230.
Arquivo Histórico FRANCIELI REBELATTO, ESPECIAL
Fotografias com imagens de Santa Maria e da região estão guardadas nas paredes do arquivo, que foi criado em 1958
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o centro de Santa Maria, há um lugar que serve de referência para a construção da memória da cidade. Pelo menos no que diz respeito à documentação de jornais, revistas, livros, fotos e outros registros que ajudam a contar a trajetória contemporânea do município. Este lugar é o Arquivo Histórico Municipal, criado por meio de uma lei, em 1958. As coleções de jornais contam com exemplares locais e de circulação nacional atuais e que têm mais de cem anos. Entre os principais estão edições A Federação, A Nação, A Reforma, A Razão, A Tribuna, Correio da Serra, Correio do Povo, Diário do Interior, Diário de Santa Maria e o Diário Oficial do Estado. Também fazem parte do acervo documentos oficiais dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, de 1858 a 1975, além de livros que falam principalmente sobre a história da cidade e mais de cem fotografias com imagens de cenários locais e da região. Qualquer pessoa pode consultar o material na Rua Appel, s/nº, nos fundos da Biblioteca Pública Municipal. Para garantir a integridade das coleções, não são permitidos empréstimos aos usuários. O atendimento é de segunda a sexta-feira, das 8h ao meio-dia e das 13h30min às 17h30min.
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150 Orquestra Sinfônica de Santa Maria 150
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á 42 anos, a Orquestra Sinfônica de Santa Maria é responsável por divulgar a música e a cultura da região. Fundado em 7 de abril de 1966, data de sua primeira apresentação, o então Grupo de Câmara, como era chamada a orquestra na época, ecoava seus acordes com a regência do professor Frederico Richter, um dos fundadores. Intimamente ligada à história do curso de Música da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e que hoje serve como laboratório para os estudantes, o grupo que começou com oito músicos foi crescendo e ganhando projeção na cidade e no Estado. À medida que o curso de Música se ampliava, o Grupo de Câmara atraía novos integrantes. Os instrumentos de corda e piano passaram a dividir espaço no palco com flauta doce e violão, que, tradicionalmente, não fazem parte de uma orquestra. Foi a partir daí, em 1978, que o Grupo de Câmara passou a se chamar Orquestra Possível. E o nome mudaria mais uma vez, com a criação da Associação Amigos da Orquestra Sinfônica em 1988. Foi nesse ano que o maestro Enio Guerra assumiu a regência da Orquestra Sinfônica de Santa Maria, tornando-a, definitivamente, uma referência no Rio Grande do Sul. Atualmente com 52 integrantes, a Orquestra Sinfônica de Santa Maria emociona o público em seus concertos pelo Estado e leva o nome da cidade por onde sua sinfonia é ouvida.
Grupo de Percussão
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FOTOS LAURO ALVES
Poucas cidades gaúchas têm o privilégio de ter uma sinfônica
JULIANO MENDES, ESPECIAL
m dos grandes destaques do curso de Música da UFSM é o Grupo de Percussão, que tem uma trajetória de apresentações e prêmios pelo Brasil. Ele foi fundado por Rose Braunstein, em 1983, três anos depois da criação do bacharelado em Percussão na Federal. Nos primeiros anos, contou com instrumentistas Graças ao grupo, muitos de diversas áreas. Em 1987, o músicos vêm a Santa Maria grupo entrou em uma nova para estudar percussão fase, com a direção do professor Ney Rosauro, que retornava da Alemanha, onde havia feito o mestrado em Percussão. Com sua regência e estilo, a formação passou a incluir só alunos do bacharelado de Percussão. Obras de grandes compositores passaram a fazer parte do repertório. O Grupo de Percussão trouxe destaque nacional à UFSM em 1994 e 1996, quando realizou duas edições do Encontro Latino-Americano de Percussão, com participações de Brasil, Uruguai, Argentina, Chile, Alemanha e Estados Unidos. Com os eventos, Santa Maria entrou para o cenário mundial da percussão. O encontro resultou no primeiro CD do grupo. Hoje, com a coordenação do professor doutor Gilmar Goulart, destaca-se por ser um dos poucos existentes no Brasil.
Grupo Suzuki
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oi do outro lado do mundo que veio um som que encantou os santamarienses na década de 70. O Grupo Suzuki de violinos, como se tornou conhecido na cidade, baseado no método japonês, levou sua música para vários lugares de Santa Maria e de outras cidades. No auge do grupo, chegaram a ser feitas entre 20 e 30 apresentações por ano. Em Santa Maria, os concertos ocorreram, entre outros locais, no Theatro Treze de Maio. Graças à iniciativa de uma irmã de Schoenstatt, a austríaca Maria Wilfried, Santa Maria se tornou pioneira no Brasil, ao ser a primeira cidade a implantar o Método Suzuki, em 1974. Inicialmente, a técnica começou a ser ensinada só para crianças, a partir dos 3 anos. Mais tarde, adolescentes e adultos foram aprendendo. Para aperfeiçoar o método, professores daqui fizeram cursos no Chile, no Peru, nos Estados Unidos e no Japão. Mas também ocorreu o contrário: professores dos Estados Unidos e do Peru vieram para cá dar cursos.As aulas do projeto Suzuki são no antigo Hospital Universitário, numa parceria entre a Associação Suzuki e o Curso Extraordinário de Música da UFSM. O grupo já teve 80 integrantes na cidade. Hoje, são cerca de 40.
Os violinos encantam a cidade
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Cineclubes Grupos de danças O folclóricas e tradicionalistas
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anta Maria cai literalmente na dança quando o assunto são grupos folclóricos e tradicionalistas. São muitas as etnias representadas na cidade que, por meio da dança, manifestam suas origens e preservam seus valores culturais. Com passos e ritmo próprio, alemães, italianos e afro-brasileiros se esforçam para que suas raízes continuem firmes na cidade. Dentre os alemães, o grupo de danças folclóricas Edelweiss reúne seus componentes para ensaios semanais. São cerca de 40 participantes, que se apresentam em festas e eventos típicos. Junto à Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, sediada em Santa Maria, dança, desde 1984, o Immer Lustig. O grupo alemão reúne cerca de 30 pessoas todas as quartas e aos domingos. Ele também ajudou na fundação de outros grupos de cultura alemã como o Freudige Hertzen, em São Pedro do Sul, e o Goldland, de São Sepé. A Itália é representada pelo Ricordi D’Itália, grupo de arte e cultura italiana, que busca não deixar morrer a história. A afrodescendência também é expressada pela dança das meninas do Ewá Dandaras. O grupo é ligado à Associação do Museu Treze de Maio, onde acontecem os ensaios. As Dandaras mantêm ligação histórica com a Paróquia do Rosário. Quando o assunto é tradicionalismo, são muitos os grupos de danças. Entre os tantos que fazem sucesso nos galpões, estão os do CTG Sentinela da Querência, do CPF Piá do Sul, do Departamento Tradicionalista Querência das Dores, do Departamento de Tradições Gaúchas Avenida Tênis Clube e do CTG Farroupilhas. As danças gauchescas trouxeram muitos prêmios para Santa Maria. Criado no início dos anos 60, o CPF Piá do Sul conta com quatro invernadas artísticas: mirim, juvenil, adulta e xiru. Em 2007, a invernada juvenil conquistou o primeiro lugar no Ju-
LAURO ALVES
CPF Piá do Sul foi campeão do JuvEnart ano passado. Abaixo, o Ewá Dandaras
cineclubismo é uma tradição de mais de meio século em Santa Maria. Na década de 50, o teatrólogo Edmundo Cardoso (1917-2002) implantou o Clube de Cinema. Durante 10 anos, promoveu sessões e criou um ponto de encontro de debatedores e apreciadores da arte cinematográfica. As sessões ocorriam no Theatro Treze de Maio, que, na época, estava fechando, dando lugar à Biblioteca Pública. O Clube de Cinema foi o primeiro registro de um local de encontro para cinéfilos. Nas décadas de 60 e 70, alguns cineclubes organizados por estudantes tiveram vida curta. Entre o final da década de 70 e a década de 90, dois cineclubes confirmam a vocação da cidade para a tradição. Um lanterninha do Cinema Imperial emprestou, em 1978, seu nome ao Cineclube Lanterninha Aurélio. Ligado à Cooperativa dos Estudantes de Santa Maria (Cesma), o Aurélio promovia sessões, ciclos e mostras especiais, privilegiando os filmes que não eram exibidos nos cinemas tradicionais. A abertura política e a aproximação das eleições diretas refletiam-se no Aurélio, com a preocupação de compreender o momento político da época. Em 1995, foi criado o Otelo Cineclube, que reuniu mais de 500 associados em quatro anos. O cineclube promoveu mostras e seminários, como o 1º Encontro de Cinema de Santa Maria, que contou com a presença do cineasta gaúcho Jorge Furtado. Também impulsionou a produção em super-8 com o curta O Nº que Você Discou. Entre 2001 e 2002, a TV OVO manteve o Cineclube Porão, com sessões aos domingos. A iniciativa contava com o fanzine Porão. Em 2003, o Cineclube Lanterninha Aurélio voltou à ativa e hoje promove sessões nas quartas, no auditório da nova sede da Cesma.Ao lado dele, a tradição do cineclubismo em Santa Maria é mantida pelo Cineclube Unifra, que exibe filmes nos sábados à tarde, também com sessões grátis. A preocupação é promover sessões e o debate sobre a arte cinematográfica, procurando democratizar o acesso do público.
FRANCIELI REBELATTO, ESPECIAL
vEnart, principal prêmio de dança juvenil no Estado. O grupo adulto conquistou o terceiro lugar, em 2007, na categoria danças tradicionais do Enart. No CTG Sentinela da Querência, as invernadas artísticas surgiram em 1984. Hoje, o CTG conta com invernadas mirim, juvenil adulta e xiru, além do projeto de dança para a terceira idade, Cupinxas de Prata. No início da década de 90, os integrantes das invernadas do CTG Farroupilhas começaram a dar os primeiros passos nas danças tradicionalistas. Hoje, o CTG conta com um grupo mirim, um juvenil e um adulto. O Departamento Tradicionalista Querência das Dores também faz bonito. Sempre participando de eliminatórias do Enart, já ficou classificado como o oitavo melhor do Estado. O DT conta com um grupo adulto, um mirim, um juvenil e um xiru. O mais novo dos grupos é o do CTG Avenida Tênis Clube – o grupo adulto foi criado em 2007. E já no primeiro ano, vieram as alegrias. Pela primeira vez, foi classificado para participar do Enart.
O Lanterninha Aurélio, ligado à Cooperativa dos Estudantes de Santa Maria, promove suas sessões às quartas-feiras
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João Cezimbra Jacques CHARLES GUERRA
le foi o primeiro escritor santa-mariense a lançar um livro e escreveu obras fundamentais para a cultura gaúcha. Os feitos de João Cezimbra Jacques (1849-1922) fazem com que sua memória seja reverenciada por todos os tradicionalistas do Estado. O militar que lutou na Guerra do Paraguai, condecorado com medalhas de vários países, era um apaixonado pela história gaúcha. Major reformado, conferencista e indigenista, criou grupos de caráter nativista, o que lhe rendeu o título de Patrono do Tradicionalismo Gaúcho. Em 1883, Cezimbra Jacques estreou na literatura com Ensaios Sobre os Costumes do Rio Grande do Sul, tornando-se o primeiro santa-mariense a ter uma obra publicada. Movido pelo sentimento de manter o passado vivo, fundou, em 25 de maio de 1898, o Grêmio Gaúcho, em Porto Alegre, marcando o início de um movimento que se expandiu em todo o Estado, e que mais tarde passou a ser conhecido como Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG).
Cezimbra Jacques falava guarani e caingangue. Pesquisador permanente, escreveu sobre política, sociologia, vocábulos indígenas e crônicas. Em Assuntos do Rio Grande do Sul (1912), lançou a lenda da índia Imembuy. Mais tarde, perdeu a autoria do conto indígena, quando seu texto foi transformado na Lenda de Ymembui, o mito da formação de Santa Maria divulgado por João Belém no livro História do Município de Santa Maria (1933). Além de escritor, Cezimbra Jacques foi sociólogo, político e professor. Participou da criação do Partido Republicano, em 1880, e integrou o grupo que fundou a Academia Rio-Grandense de Letras. Foi patrono da cadeira 19. Órfão, foi criado pelos avós e viu a mulher e os três filhos morrerem. Acabou esquecido e morreu sozinho, no Rio de Janeiro. Em 2001, um busto dele foi colocado na Praça General Osório, que também leva o nome de Largo Cezimbra Jacques, em frente ao Regimento Mallet, na Avenida Liberdade. O Colégio Militar deu o nome de Cezimbra Jacques ao seu auditório.
Busto do primeiro santa-mariense a lançar um livro fica na Praça General Osório, no Largo Cezimbra Jacques
Roque Callage
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uitas pessoas conhecem a Rua Roque Callage, que fica no centro da cidade, mas nem todos sabem quem dá nome a ela. É uma homenagem ao escritor santa-mariense Roque Callage (1888-1931), que começou suas atividades literárias, ainda na juventude, fundando os semanários O Estudante e O Boêmio. Ainda em sua trajetória na imprensa, foi redator dos jornais Correio do Povo e fundador do jornal Diário de Notícias, em Porto Alegre. Trabalhou nos jornais O Popular, O Viajante, O Estado e O Combatente e morou em Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Gabriel e Rio Grande. Aos 22 anos,teve publicado Prosas de Ontem, livro que mais tarde repudiou, recolhendo o maior número de exemplares que pôde. Dois anos depois, escreveu Escombros, quando revelou seu devotamento à terra gaúcha. Roque Callage foi sócio-fundador do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul e membro da Academia Rio-Grandense de Letras. Morreu em Porto Alegre, em 1931, de uma crise de asma.
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Escritor foi membro da Academia Rio-Grandense de Letras
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Moysés Vellinho
ma das figuras culturalmente mais representativas do Rio Grande do Sul, Moysés Vellinho foi autor de uma extensa obra histórica e literária. Nascido em 6 de janeiro de 1901, em Santa Maria, começou cedo a se dedicar às letras e às artes. Com pouco mais de 20 anos, tinha seu nome respeitado na Porto Alegre da época. Foi diretor da Revista do Globo e editor da famosa revista Província de São Pedro, que durou de 1945 a 1950, marcando época na vida cultural do Estado. Foi crítico literário, escritor, ensaísta, historiador, jornalista e sociólogo, além de bacharel em Direito. Atuou como promotor de Justiça, deputado estadual e conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. Foi membro do Conselho Federal de Cultura, presidente da Ospa, vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Estado e sócio-correspondente da Academia Portuguesa. Morreu em 26 de agosto de 1980, em Porto Alegre, vítima de câncer.
Santa-mariense foi editor de uma revista que marcou época no Estado
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Chico Ribeiro
Felippe D’Oliveira
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m menino nascido 12 dias após a morte do pai é considerado o poeta santa-mariense de maior projeção nacional. Praticante no esporte e atuante na indústria e na política, foi com as letras que Felippe D’Oliveira se tornou um dos mais representativos intelectuais de sua época. Consagrado como poeta, escreveu também em prosa e para o teatro. Seus primeiros versos, quando ainda menino, ganharam publicação no jornal O Combatente, de Santa Maria. No Rio de Janeiro, colaborou na revista Fon-Fon e em diversos jornais. Em 1911, escreveu seu primeiro livro, Vida Extinta. Influenciado pelo Simbolismo, integrou o difusor dessa corrente no Estado, o Grupo dos Sete. Com o seu segundo livro, Lanterna Verde (1926), passou a incorporar elementos modernistas. Felippe D’Oliveira nasceu em agosto de 1890. Com 12 anos, mudou-se para Porto Alegre. Foi morar junto do tio materno, o farmacêutico João Daudt Filho. Na capital gaúcha, em 1908, terminou a faculdade de Farmácia. Mais tarde, tio e sobrinho partiram para o Rio de Janeiro. Em 1930, Felippe D’Oliveira trabalhou politicamente para a vitória da Aliança Liberal. Dois anos mais tarde, aderiu à Revolução Constitucionalista de São Paulo, o que lhe valeu o exílio na França. Foi em Auxerre, a cerca de 170 quilômetros de Paris, que o escritor morreu, em 17 de fevereiro de 1933, vítima de um acidente de automóvel. Para cultuar a memória do santa-mariense e estimular novos talentos, foi fundada no Rio de Janeiro, seis meses depois de sua morte, a Sociedade Literária Felippe D’Oliveira. Faziam parte da entidade Assis Chateaubriand, Alceu de Amoroso Lima, Afonso Arinos de Melo Franco e Manuel Bandeira. A sociedade durou 10 anos. Mas há homenagens que o eternizam. Em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Santa Maria, Felippe D’Oliveira dá nome a ruas. A sua cidade natal ostenta, desde 1935, um busto do poeta, esculpido por Victor Brecheret. O monumento em bronze fica na Praça Saldanha Marinho.
s lidas campeiras serviram de inspiração para o poeta santa-mariense Francisco Ribeiro, o Chico Ribeiro (1901-1996). Foi em São Martinho da Serra, onde morou, que acumulou conhecimentos campeiros que foram parar em seus poemas regionalistas. Alguma Cousa da Botica do Rio Grande, Filosofia Campeira e Versos de Campo Aberto são algumas de suas obras nesse gênero. Publicou também Anto- O poeta sabia logia Poética, onde apresenta os encantar com seus gêneros lírico, satírico, de louvor poemas regionalistas e também regionalista. O Rincão das Pandorgas é um poema inspirado na infância que passou na Rua Vale Machado. Antes de se aposentar, o poeta trabalhou por 27 anos na Cooperativa de Consumo dos Empregados da Viação Férrea. Em 1964, virou diretor da Biblioteca Pública Municipal, que funcionava no Theatro Treze de Maio. Hoje, a atual biblioteca, na Avenida Presidente Vargas, há vários pertences do poeta na Sala do Escritor Santa-Mariense, como sua máquina de escrever, cadeira e escrivaninha. Chico foi um dos fundadores da Associação Santa-Mariense de Letras e presidente honorário, desde 1986. Após sua morte, em 1996, passou a ser o patrono da entidade. Sua bagagem literária e a participação em eventos culturais lhe renderam muitas homenagens. Em 2005, foi homenageado na 32ª Feira do Livro de Santa Maria.
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João Daudt Filho
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O santa-mariense ganhou projeção nacional com suas poesias e dá nome a ruas em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Porto Alegre e em Santa Maria
uem hoje freqüenta o Theatro Treze de Maio, no coração de Santa Maria, deve o prazer da arte cênica e de tantas outras artes, apresentadas neste palco, a João Daudt Filho. O santa-mariense, descendente de alemães, nascido em 20 de junho de 1858, liderou um grupo de amigos, idealizadores de um teatro na cidade. Também foi dele a organização de uma sociedade dramática, onde atuou com ator e diretor, ajudando na arrecadação de fundos para a construção e a manutenção do Theatro. João Daudt Filho foi tio materno e pai adotivo do poeta Felippe D’Oliveira. Segundo cidadão santa-mariense diplomado, foi dele a criação do primeiro dispensário, espécie de ambulatório, para tratar de casos de sífilis, em Santa Maria. Em Porto Alegre, foi um dos fundadores da
Ator e diretor, ele encampou a luta por um teatro na cidade Faculdade de Medicina e Farmácia. Foi gerente da Companhia de Gás do Rio Grande do Sul. Como farmacêutico, abriu sua primeira farmácia na cidade, em 1882. Em Porto Alegre, teve uma nova farmácia que se transformou em indústria. Um dos motivos para o sucesso foi o uso da publicidade moderna, pela qual foi considerado um dos pioneiros no país.
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Adorador de Santa Maria, o pintor e desenhista recusou vários trabalhos em outros Estados e até fora do país
uando se fala em cultura produzida em Santa Maria é quase impossível não lembrar de Eduardo Trevisan, um dos nomes mais importantes das artes visuais na cidade. Descendente de italianos e alemães, nasceu no dia 1° de fevereiro de 1920, na Rua do Acampamento. Aos 4 anos, já rabiscava seus primeiros traços. Entre desenhos de pequenos animais, arriscava perfis humanos feitos enquanto seus familiares conversavam.
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Eduardo Trevisan
O primeiro retrato que fez foi do tio João, quando tinha só 8 anos. Aos 10, desenhou líderes políticos da época e cenas da Revolução de 1930. Com 12 anos, passou a fazer aulas particulares de artes. Quando tinha 14, fez uma imagem do bispo dom Antônio Reis, que, contente com a homenagem, matriculou o artista precoce no Instituto de Belas Artes e no Colégio Anchieta de Porto Alegre. Em 1939, trabalhou como desenhista na seção de artes da Editora
Globo. Ainda jovem se casou com Zari Vicenta Nunes, companheira e grande incentivadora da arte que produzia. Com ela, teve quatro filhos; Mariza, Tasso, Zanoni e Flamarion. Em 1944, ao lado de Garibaldi Poggetti, fundou o Instituto Municipal de Belas Artes. Nele, foi professor até 1960. Atuou como fotógrafo e teria revelado suas primeiras fotos dentro de um armário, por falta de uma sala escura adequada. Adorador de sua cidade natal, recusou servi-
ços em outros Estados e até fora do país. Seu maior legado foi a produção como pintor e desenhista. Registrou mais de 2 mil retratos, inclusive de autoridades da cidade, do Estado e de todo o país. Sua produção artística é marcada pela temática social, religiosa, aspectos históricos e tradicionalistas, sempre usando traços fortes e linhas impactantes. Morreu aos 63 anos, deixando uma vasta obra encontrada em museus, coleções particulares e instituições do país e do Exterior.
João Belém
omenageado com nome de rua, de prédio e de escola, João Belém deixou uma profunda marca na história de Santa Maria. Apesar de ter nascido em Porto Alegre, em 4 de março de 1874, foi Santa Maria que Belém adotou no coração e, por muitas vezes, nela se inspirou para escrever. Seu espírito criativo deixou de presente para a cidade diversas obras, como Aerólitos (com edições em 1891 e 1901), Páginas Perdidas (1916), Musa Ferina (1922), Santa Maria Pitoresca (1930, escrita com Luiz Schmidt Filho) e a mais conhecida delas, História do Município de Santa Maria (1933). Belém pesquisou por 10 anos a trajetória da cidade para escrever este livro, que é considerado uma referência sobre o assunto. O porto-alegrense chegou ao coração do Estado em 1900, para trabalhar nos escritórios da Viação Férrea. Nas horas de folga, desenvolveu outras habilidades: foi pesquisador, historiador, professor, jornalista, conferencista, teatrólogo e escritor. Por ter o teatro como paixão, escreveu mais
de 20 peças, como A Professorinha, A Comédia da Vida e Corações Gaúchos (publicada em livro, em 1931). Como jornalista, trabalhou diversos jornais, como O Estado e Jornal de Notícias. Também dirigiu O Viajante, A Tribuna (1887) e 14 de Julho (1911). Em 1902, foi nomeado tesoureiro do município, cargo que manteve até 1922, quando foi promovido a secretário, no governo do intendente (o prefeito da época) Ernesto Marques da Rocha. E de tanto apreciar Santa Maria, acabou desistindo do cargo de juiz distrital em Gravataí, para o qual foi nomeado em 1905. O escritor, que foi um dos sócios-fundadores do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, teve alguns trabalhos publicados por meio da instituição. Ficou famoso por usar tudo o que é tipo de local para escrever suas idéias, como guardanapo, folha de jornal, carteira de cigarro, toalhas de mesas de café, livros contábeis, entre outros. Este grande apaixonado pela cidade morreu há 73 anos, no dia 24 de junho de 1935.
O porto-alegrense que adotou Santa Maria passou 10 anos estudando a história da cidade para publicar um livro, em 1933
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Prado Veppo
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edutor. Esta é a melhor palavra para definir Luiz Guilherme do Prado Veppo como poeta, conforme amigos e admiradores. O que chamava atenção era sua forma peculiar, não só de escrever, mas de recitar as poesias, o que deixava os ouvintes extasiados. Porto-alegrense de nascimento e santa-mariense de coração, era médico psiquiatra. Formou-se na primeira turma da Faculdade de Medicina da UFSM, onde também foi professor. Em 1985, a cidade concedeu-lhe o
título de Cidadão Santa-Mariense. Nas letras, dedicou-se à poesia. Em 1986, foi um dos fundadores da Associação Santa-Mariense de Letras, hoje Academia. Morreu aos 67 anos, em 1999. Em 2002, foi lançado o livro Prado Veppo: A Obra Completa. MÁRCIO TEIXEIRA, BANCO DE DADOS
Prado Veppo encantava a todos pela forma de declamar seus versos
Pedro Freire Jr.
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Edmundo Cardoso
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le é conhecido como um dos maiores nomes do teatro que Santa Maria já teve. Edmundo Cardoso fez história com seu trabalho e sua paixão pela cidade. Foi um grande amante da movimentação cultural santa-mariense, ajudando a divulgar e a difundir vários movimentos. Dos anos 30 até a década de 90, esteve presente em praticamente todas as manifestações artísticas. Foi criador do Grêmio Literário Castro Alves, na década de 30, do Ateneu Graça Aranha e do Clube de Cinema. Porém, o grande feito de sua trajetória profissional foi a criação da Escola de Teatro Leopoldo Fróes. Por mais de 40 anos, a entidade movimentou o meio das artes cênicas santa-marienses. Edmundo era tão apaixonado pelo teatro que foi o responsável por dirigir mais de 50 espetáculos, entre dramas, comédias e revistas. Essas obras foram apresentadas, entre outros locais, no Cine Teatro Imperial, no Cine Independência e no auditório do Insti-
tuto de Educação Olavo Bilac. Na literatura, também foi reconhecido. É membro da Academia RioGrandense de Letras, na cadeira que tem como patrono João Belém. Também atuou como repórter em alguns jornais locais, memorialista e como radialista, além de escrever crônicas sobre história da cidade, cinema, teatro e personalidades. Foi reconhecido por sua obra recebendo diversas distinções, entre elas a de patrono da Feira do Livro de Santa Maria de 2001. Também foi teatrólogo e parceiro de renomados artistas da região, como o restinguense Iberê Camargo. Foi casado com Edna Mey Cardoso, com quem teve dois filhos: Gilda e Cláudio. Gilda chegou a participar de encenações ao lado da mãe, todas sob a direção de Edmundo. Claudinho é um figura conhecida dos santa-marienses, sempre passeando sorridente no Centro. Depois, casou-se com Terezinha de Jesus Pires Santos, com quem viveu até a morte, em 2002. ARQUIVO PESSOAL
m dezembro do ano passado, Santa Maria se despediu de um dos grandes nomes do teatro local. O ator e diretor Pedro Freire Jr., 73 anos, morreu devido a problemas pulmonares. Mas o brilho e o talento de um dos precursores das artes cênicas na cidade ficarão na história. Em sua trajetória, Freire Jr. carimbou seu nome em 99 espetáculos teatrais. Nascido em São Borja, construiu sua vida aqui. Foi advogado, radialista e secretário de Administração. Envolveuse com o teatro aos 20 anos. Ao lado de Wilde Quintana, impulsionou o teatro de arena na cidade. No começo dos anos 60, foi alicerce para o Teatro Universitário (TU), hoje Teatro Universitário Independente (TUI). Enfrentou a repressão da ditadura militar e não se deu por vencido, continou fazendo o que mais gostava: atuar. Em 1968, criou o Grupo Presença, que virou referência no teatro amador da região. Foram 79 montagens e muitos prêmios. Deixou família, amigos, fãs e admiradores, além de uma trajetória de sucesso, no palco e na coxia.
Um dos maiores nomes que o teatro da cidade já conheceu, Edmundo era um apaixonado por Santa Maria
Freire Jr. foi um dos precursores das artes cênicas na cidade MARINA CHIAPINOTTO, ESPECIAL
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Artistas famosos atuais
Padre Lauro Trevisan
LUIZA DANTAS, DIVULGAÇÃO
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lashes, entrevistas, o rosto estampado na TV, em capas de revista, autógrafos... Santa Maria tem representantes legítimos no quadro das estrelas. Bianca Castanho, Carmo Dalla Vecchia, Flávio Bauraqui e Manuela do Monte são as nossas celebridades da atualidade. Os 25 anos de carreira, 15 filmes e 50 peças do ator santa-mariense Flávio Bauraqui, 42 anos, que vive no Rio há mais de 15, marcam uma trajetória bemsucedida. Mas a popularidade veio mesmo no ano passado, com Evaldo, na novela Paraíso Tropical, da Globo. Em 2008, Bauraqui continua na telinha, como o evangélico Ezequiel de Duas Caras, novela das oito da Globo. Outro rostinho que os espectadores podem ver durante a semana é o de Bianca Castanho, 29 anos, que está na novela Amor e Intrigas, da Record, emissora com a qual tem contrato até 2010. Antes disso, Bianca encantou com o jeitinho angelical de Florinda, em Terra Nostra (1999), na Globo, onde também carimbou passaporte em Uga Uga (2000), Malhação (2001) e O Beijo do Vampiro (2002). No SBT, protagonizou três novelas. Carmo Dalla Vecchia, 36 anos, que nasceu em Carazinho e se criou em Santa Maria, colhe frutos do sucesso na TV, no teatro e no cinema. A estréia na telinha foi na minissérie Engraçadinha (1995), na Globo. Passou por novelas da Band, do SBT e da Record para, em 2004, voltar à Globo e fazer sucesso como Tenório, de Começar de Novo, e, em 2006, consagrar-se em Cobras&Lagartos, como Martin, ao lado de Cléo Pires. Em Começar de Novo, também estava Manuela do Monte, a Branca. Estrela do filme Manhã Transfigurada, estreou em rede nacional com Joana, da Casa das Sete Mulheres (2003). Foi umas da campeãs de correspondência da Globo com Luísa, de Malhação (2003). Atuou na minissérie JK (2006), e mais recentemente em Páginas da Vida (2006), como Nina. ESTEVAM AVELLAR, DIVULGAÇÃO
Nossas estrelas na telinha: Flávio Bauraqui (foto acima), Bianca Castanho (a primeira, no alto), Carmo Dalla Vecchia e Manuela do Monte
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um padre que não usa batina, não reza missa e que tem em seu patrimônio mansão, carro importado, editora, livraria e um parque-balneário. Padre Lauro Trevisan, 73 anos, vive uma realidade inimaginável para a maioria dos religiosos católicos, mas nem por isso é desrespeitado. Pelo contrário. Muita gente – daqui e do Exterior – quer ouvir o que ele pensa e seguir os seus passos. Não é por menos. Padre Lauro ficou conhecido por pregar que a felicidade pode ser atraída com o poder da mente, nos primórdios da literatura de auto-ajuda, há mais de 30 anos. Em 82 obras (entre livros, CDs e DVDs), ensina que “a vida é uma festa” e que o pensamento positivo é o segredo para o sucesso, a prosperidade e a cura. Formado em Filosofia, Psicologia e Jornalismo, foi ordenado padre em 1959. Em 1975, passou a estudar a ciência do poder da mente. Cinco anos depois, lançaria O Poder Infinito de Sua Mente que, segundo ele, vendeu um milhão de cópias. Dali por diante, o padre que foi proibido de rezar missas se tornaria uma referência na América Latina como escritor e conferencista. Um dos santa-marienses mais famosos de nosso tempo.
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CLAUDIO VAZ
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Padre Lauro conquistou seus leitores em 82 obras
Armindo Trevisan
s livros fazem parte da vida do escritor Armindo Trevisan desde muito cedo. A primeira obra era da época de seminarista. O reconhecimento do trabalho de escritor também veio cedo. Em 1964, o santa-mariense, que foi padre, ganhou o Prêmio Nacional de Poesia Gonçalves Dias, da União Brasileira de Escritores. Um dos principais estudiosos da obra de Mário Quintana, de quem era amigo, Armindo tem mais de 20 livros publicados e muitos prêmios. Entre eles, o Fato Literário de 2005, promovido pela RBS e Banrisul. O poeta também foi patrono da Feira do Livro de Porto Alegre, em 2001, e de Santa Maria, em 1998. Mesmo pedindo dispensa dos votos religiosos, em 1970, continua um homem de fé. Ela está presente em boa parte de seus livros, como no ensaio comentado O Rosto de Cristo – A Formação do Imaginário e da Arte Cristã, de 2003. Formado em Teologia em Santa Maria e doutor em Filosofia em Friburgo, na Suíça,Armindo, foi para a sala de aula repassar seus conhecimentos. Primeiro, na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e depois, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Com 74 anos, mora em Porto Alegre com a família, mas não esquece do bairro Dores, onde nasceu.
Escritor já tem mais de 20 livros publicados
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Monumentos
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LAURO ALVES
ma aula de história ao ar livre e ao alcance de todos. É o que um passeio pelas ruas de Santa Maria poderá proporcionar. Os monumentos espalhados por praças, avenidas e largos, apesar da depredação, podem contar fatos importantes da história não só da cidade, mas também do Brasil. Um dos monumentos homenageia o poeta santa-mariense Felippe D’Oliveira, morto em 1933. Localizado na Praça Saldanha Marinho, o busto é a única obra assinada por Victor Brecheret – um dos mais importantes escultores brasileiros – que há no Rio Grande do Sul. Já na Praça Roque Gonzales, há o monumento a Champagnat. A estátua faz referência a Marcelino Champagnat, fundador da Congregação dos Irmãos Maristas, canonizado em 1999. Inaugurado em 1940, o monumento lembra do trabalho dos irmãos maristas, fundadores de instituições de ensino como o Colégio Santa Maria. Na esquina da Avenida Rio Branco com a Rua Silva Jardim, o monumento homenageia Irineu Evangelista de Souza, conhecido como Barão de Mauá, o responsável pela implantação da ferrovia no Brasil. Em outro canto da cidade, no bairro Itararé, está uma parte da história da viação férrea. Para chegar ao Monumento ao Ferroviário, construído em 1935, é preciso enfrentar 130 degraus. Do alto, se tem uma vista panorâmica de Santa Maria. Nas comemorações do centenário da ferrovia do Rio Grande do Sul, em 1974, o obelisco foi restaurado. Na Avenida Presidente Vargas se encontra outra parte da história dos ferroviários. No local, está a Locomotiva, símbolo do transporte ferroviário no Rio Grande do Sul no começo do século passado. Instalada em 1968, sobre uma base de concreto, a máquina, de origem francesa, é uma homenagem aos dirigentes e funcionários da Viação Férrea do Estado.
Homenagens – Em frente ao Regimento Mallet, está um dos maiores monumentos urbanos de Santa Maria. Tratase de uma lembrança do cinqüentenário da participação da Força Expedicionária Brasileira na 2ª Guerra Mundial. Ainda há espalhados pela cidade outros monumentos que retratam fatos da história do país: a reprodução da carta-testamento do ex-presidente Getúlio Vargas, a estátua de bronze do Padre Caetano, o monumento em referência a Leopoldo Fróes, o mapa do Brasil, em homenagem aos expedicionários que participaram da 2ª Guerra Mundial, a Carta Geral do Brasil, a escultura que marca os 79 anos do Colégio Centenário, além da Intentona Comunista.
Espalhados em praças e avenidas, eles guardam a história da cidade e do país
O Monumento ao Ferroviário, no bairro Itararé, é marco da riqueza que passou pelos trilhos de Santa Maria
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D Vila Belga
As 84 casas formam a primeira vila operária do Rio Grande do Sul
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O prédio tombado como patrimônio histórico do Estado em 2000 é hoje usado para sediar atividades culturais
iariamente, centenas de pessoas chegam a Santa Maria vindas dos mais diversos pontos do Estado. No século 19, não era diferente. Porém, o ponto de embarque e desembarque dos passageiros em nada lembra os atuais locais. A gare foi um dos lugares mais freqüentados na cidade. Santa Maria fazia parte da linha que vinha de Uruguaiana e seguia até Porto Alegre. A estação começou a ser erguida por autorização de um decreto imperial de 1873. A data certa da inauguração, porém, ainda é discutida. Alguns autores trazem como sendo 1885, mas também aparecem 1899 e 1900. O estilo do prédio é eclético, projetado pelo engenheiro Teixeira Lopes, com influência das arquiteturas belga e inglesa. O terreno foi doado por Ernesto Beck. Inicialmente, a gare contava com o prédio central de dois andares e um anexo, que não existe mais. No começo de 1920, quando a rede ferroviária era administrada pela Viação Férrea do Rio Grande do Sul (VFRGS), foram construídas a plataforma coberta de embarque e desembarque e alguns dos armazéns. A gare de Santa Maria foi tombada como patrimônio histórico do Estado em 2000. Mas, ao longo dos anos, a estação enfrentou a ação do tempo e de grandes incêndios. O primeiro ocorreu em 1923. O fogo começou nas oficinas e se alastrou. Como não havia bombeiros, Brigada Militar e voluntários tiveram de apagar as chamas por dois dias. Em 1996, o transporte de passageiros foi extinto, e a gare acabou abandonada por alguns anos. Em 1999, um novo incêndio quase destruiu as instalações, quando a prefeitura firmou um convênio com o Estado para utilizar o espaço com atividades culturais. Em 2007, um projeto com a Caixa Econômica Federal deu início às obras de reforma na gare. A primeira fase já foi concluída e incluiu a revitalização do sobrado – onde as passagens eram vendidas. O projeto pretende transformar a gare no Centro Ferroviário de Cultura, com espaços para exposições (que já funcionam), oficinas e o Museu do Ferroviário. Um domingo por mês, a gare também abriga o Brique da Estação, que reúne artesãos e diversos artistas. FRANCIELI REBELATTO, ESPECIAL
oucas construções de Santa Maria guardam tanta história entre quatro paredes como as 84 casas da Vila Belga. Considerada a primeira vila operária construída no Rio Grande do Sul, ela foi erguida para abrigar os funcionários da Compagnie Auxiliaire de Chemins de Fer au Brésil, concessionária dos serviços ferroviários no Estado. A data de inauguração está longe de ser um consenso. O certo é que foi no início do século passado. De paredes robustas e altas, com peças e aberturas grandes e porões espaçosos, as casas no estilo artnouveau estão em quatro ruas: Manoel Ribas, Ernesto Beck, Dr. Vauthier e André Marques. Das 84, 40 são geminadas (conjugadas) e têm portas na fachada. Nas casas individuais, a porta é lateral. Elas têm formatos semelhantes, só as fachadas receberam tratamento diferente. Por isso, é pouco provável que existam duas residências iguais em todo o conjunto. Nenhuma delas conserva a cor original, cinza. As casas foram feitas para abrigar os trabalhadores que construíram a via férrea – as maiores eram dos funcionários de alto escalão. Depois, serviram para os operários que, a qualquer momento, eram chamados para atender acidentes e outras eventualidades. Muitos se inscreviam para ter direito a morar nas casas, e uma seleção determinava quem seriam os contemplados. Segundo o livro Memória Cidadã Vila Belga, os moradores só saíam das residências quando morriam, eram transferidos, aposentados ou demitidos. As casas eram cedidas pela Viação Férrea por meio de comodato ou aluguel. Aos moradores, competia o pagamento de uma taxa, equivalente a 6% do salário. Em novembro de 1997, o casario foi arrematado em um leilão, que deu preferência aos moradores. Mais recentemente, o Ministério Público acionou prefeitura e moradores numa ação que, segundo o MP, tem o objetivo de tentar garantir a preservação do patrimônio do conjunto habitacional.
Gare
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Calçadão
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esde os tempos em que ainda era a Rua do Comércio, não se sabe bem sob o efeito de que magia, é na primeira quadra da Rua Doutor Bozano que os santa-marienses colocam a fofoca em dia, fazem suas compras e encontram os conhecidos. Aglomerar-se por essas bandas é hábito antigo na cidade. Foi nesse espaço efervescente que em 1979 foi inaugurado o Calçadão Salvador Isaia – batizado assim em homenagem ao dono das Casas Eny, que se mobilizou para que a primeira quadra da Bozano fosse fechada para o trânsito de carros e se tornasse um espaço de lazer para a comunidade. Lugar de manifestações culturais e sociais, o Calçadão, na opinião de quem o freqüenta, reina absoluto como o lugar mais democrático da cidade. O Calçadão de Santa Maria foi inspirado no Calçadão de Curiti-
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ba, o primeiro do país. O arquiteto Luiz Gonzaga Binato de Almeida foi quem assinou o projeto, que previa luminárias arredondadas, piso geométrico e canteiros de flores. Esse leiaute já não freqüenta mais o cotidiano dos santa-marienses. Em 2003, a prefeitura reformou, pela primeira vez, o espaço. Algumas mudanças teriam sido sugeridas pelos próprios lojistas. Certos aspectos da restauração causaram polêmica, como a iluminação, considerada ineficiente. No ano passado, as luminárias foram novamente substituídas. Independentemente das cores do concreto, do formato das floreiras, o Calçadão é o coração do Coração do Rio Grande. Por ali se trabalha, contam-se histórias, discute-se política, criam-se personagens reais e imaginários, festejam-se vitórias. É o lugar onde a cidade celebra, todos os dias, uma festa.
Inaugurado em 1979, o coração do Coração do Rio do Grande é considerado o espaço mais democrático de Santa Maria
Praça Saldanha Marinho
CHARLES GUERRA
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e pensarmos rapidamente em alguns pontos de referência da cidade, a Praça Saldanha Marinho certamente estará entre eles. Até porque ela nasceu junto com Santa Maria, segundo historiadores. Mesmo sem estar nos seus melhores dias, o local continua guardado no coração dos santa-marienses. Sempre foi assim. Inclusive em 1819, quando ainda se chamava Praça da Conceição ou da Igreja ou da Matriz. Na época, ela se estendia até a metade da Rua Doutor Bozano. A área, menor do que a atual, era um pequeno conjunto de árvores cobertas de capim e macegas, “onde o gado pastava livremente”, conforme escreveu o pesquisador João Daudt. O desenvolvimento desse cartão-postal de Santa Maria se acelerou em 1889, quando o lado oeste foi estendido até a Avenida Rio Branco e alinhado com a Rua do Acampamento. Nesse período, o local ganhou pavimen-
tação de ladrilhos portugueses. Os dois principais ícones da praça – o chafariz e o coreto, tombados pelo patrimônio histórico municipal em 2002 – só foram instalados nos anos 30, e eram um pouco diferentes das estruturas atuais. A Saldanha Marinho está em sua quarta reforma dos últimos 30 anos. Nesse período, ganhou um tanto de tranqüilidade com o fechamento da rua que passava em frente à Casa de Cultura. Mas também se tornou um pouco insegura, com a evolução da criminalidade ao longo dos tempos. Mesmo que ela não tenha o charme que a acompanhava no início do século passado, continua sendo ponto de encontro dos santa-marienses e motivo de orgulho. No aniversário da cidade, a praça deve estar nova de novo. Pronta para ser, por mais alguns séculos, cenário do bate-papo dos amigos e dos namoros dos casais.
A praça nasceu junto com a cidade e já está na sua quarta reforma dos últimos 30 anos
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Edifício Taperinha
Com 14 andares, prédio já foi o mais alto da cidade
Clube Caixeiral
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ificilmente algum morador de Santa Maria não tenha ouvido falar nos tradicionais bailes do Clube Caixeiral. A instituição é uma das mais antigas da cidade e já foi palco de noites inesquecíveis. O prédio da Rua do Acampamento é um dos orgulhos do clube e uma referência arquitetônica para Santa Maria. O Clube Caixeiral nasceu em 1886, com um grupo de 14 caixeirosviajantes. No mesmo ano, teve sua primeira sede, em um prédio da esquina da Rua Doutor Bozano com a Duque de Caxias. Depois de 10 anos passando por lugares alugados, teve sua primeira sede própria onde hoje está o Centro de Ciências Sociais e Humanas (CCSH) da UFSM, na Rua Floriano Peixoto. A pedra fundamental do prédio atual foi lançada em 1921, e a obra, inaugurada em 1926. Desde aquela época, o Caixeral mantém a fachada original, com
FOTOS FERNANDO RAMOS
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edifício de 14 andares, erguido na esquina da Rua do Acampamento com a Alberto Pasqualini, é até hoje ponto de referência para quem anda pelo centro de Santa Maria. Construído na década de 50, foi, durante muitos anos, o mais alto da cidade – hoje, o título está com aquele que deve ser o novo shopping da cidade, o Royal Plaza. Por causa das dimensões, existia até uma brincadeira. Quando uma criança crescia muito, recebia o apelido de “Taperinha”. Quem conta é Vani Foletto, artista plástica que, junto com outras três autoras, escreveu o livro Apontamentos Sobre a História da Arquitetura em Santa Maria. O Taperinha marcou época, não só por adotar o mesmo estilo arquitetônico em voga nas grandes cidades brasileiras, mas porque investiu em forte campanha publicitária para vender seus 72 apartamentos. O anúncio circulou em jornais e revistas da época. A propaganda chamava a atenção para os privilégios que os futuros moradores teriam: restaurante próprio, lavanderia, playground e salão de festas. Ela era voltada para famílias de alto poder aquisitivo com filhos estudantes e universitários. A obra levou quatro anos para ser concluída – de 1955 a 1959 – e foi feita pela construtora Tedesco, de Porto Alegre. A primeira moradora teria sido a senhora Duzolina Aralde.
Clube nasceu em 1886. Prédio atual é de 1921 exceção das figuras em relevo, retiradas na década de 70. O Caixeiral ainda é conhecido pelos bailes: a sexta-feira dançante, a boate street dance no sábado e o domingo gaúcho. Os mais de cem associados podem desfrutar de biblioteca, sinuca, bolão, dança da terceira idade e estacionamento. O clube abriga restaurante terceirizado, aluga salas para bares e o salão principal para eventos sociais.
Construção foi erguida em 1918 para sediar o pioneiro Banco Nacional do Comércio
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Prédio da Caixa
le fica em um dos principais cartões-postais da cidade. Sede da primeira instituição financeira de Santa Maria e um dos mais belos prédios, a agência central da Caixa Econômica Federal, no Calçadão, virou um marco na arquitetura local. É impossível não se impressionar com a beleza e a imponência do imóvel. A estrutura foi construída em 1918, para abrigar a nova sede do Banco Nacional do Comércio, o pioneiro na cidade. A instituição, que tinha a matriz em Porto Alegre, mantinha filiais pelo interior do Estado e se instalou em Santa Maria no ano de 1910. O prédio começou a se transformar no que é hoje em 1976, quando foi comprado pela Caixa Econômica Federal. Um ano mais tarde, a construção foi a segunda da cidade a ser considerada um patrimônio histórico. Porém, como abrigava a estrutura de um banco, adequações foram ne-
cessárias com o passar dos anos. Durante muito tempo, discutiu-se sobre a demolição ou não do prédio. A decisão sobre o destino da estrutura saiu no ano de 1982, quando teve início uma grande reforma. As obras duraram quatro anos, e o imóvel foi entregue com muitas modificações. Na parte interna, a estrutura precisou passar por adequações, já que iria receber uma nova instituição financeira, com mobiliários e equipamentos para atender o público. Como o prédio era tombado pelo patrimônio histórico e as alterações estruturais tinham limitações, a parte externa foi mantida. Pesaram na decisão também a beleza da fachada e a riqueza de detalhes. Atualmente, a estrutura, conhecida como prédio da Caixa, abriga a agência Santa Maria, uma das quatro que a instituição mantém na cidade. Lá, trabalham mais de cem pessoas, entre funcionários e terceirizados.
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Casa de Mariano da Rocha
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casarão da família Mariano da Rocha não é só um exemplo de grandeza e beleza. Construído no final do século 19, ele é um ponto de referência arquitetônico, histórico e cultural de Santa Maria. Instalado na Rua Venâncio Aires, entre a Avenida Rio Branco e a Rua Floriano Peixoto, a residência é uma das mais antigas da cidade e que ainda sobrevive intacta aos sinais do tempo. Foi nela que, em 1915, nasceu o fundador da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o reitor José Mariano da Rocha Filho. O primeiro morador da casa foi José Maria da Gama Lobo Coelho D’Eça, o Barão de Saican. Em homenagem a ele, Mariano da Rocha deu o seu nome ao museu da universidade, que fica na Rua do Acampamento. Supõe-se que a casa tenha sido projetada por Maria Manuela Marques de Souza, neta do barão e filha de Manoel Mar-
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ques de Souza, o Conde de Porto Alegre. Ela foi avó de José Mariano da Rocha Filho. Parte do mobiliário da residência foi trazida da França e de Portugal. Alguns móveis foram fabricados nas oficinas da Escola de Artes e Ofícios (Hugo Taylor). Pelo casarão cor-de-rosa – que conserva um estilo eclético, com pilastras neoclássicas e estruturas em formas de arcos, próprias do estilo gótico – passaram diversas autoridades que ajudaram Mariano a criar a primeira universidade federal do interior do Brasil. A família do ex-reitor guarda um museu no casarão. Com móveis centenários, tem uma vasta biblioteca, uma espécie de capela e retratos e diplomas de Mariano. Hoje, moram no local a mulher de Mariano, Maria Zulmira, e Antônio Manoel, o mais novo dos 12 filhos. São feitas manutenções constantes para manter a casa bonita e onipotente. Para os Mariano, não existe futuro sem uma história preservada.
Câmara de Vereadores
6ª Brigada de Infantaria Blindada FOTOS LAURO ALVES
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prédio da Câmara de Vereadores é um dos mais antigos de Santa Maria. Local que abriga o Legislativo, destaca-se não só pela importância política, mas pela arquitetura. A instituição Câmara nasceu muito antes do prédio. A história do poder legislativo santa-mariense começou no 17 de maio de 1858, quando foi criado o novo município e instalada a Primeira Câmara Municipal. Sua primeira sede foi numa casa alugada da então Rua do Comércio (atual Doutor Bozano), em 1858. Com o advento da República, o intendente José Abreu Vale Machado, em dezembro de 1894, lançou a pedra fundamental para construção do prédio da Intendência, a prefeitura da época. A inauguração da obra, que hoje é o prédio da Câmara, foi em 1895. O Casarão da Vale Machado, como era conhecido, somente passou a acolher os vereadores em 1973. O atual plenário e as novas instalações destinadas aos gabinetes foram reinaugurados em 1987. Dois anos mais tarde, foi restaurada a fachada e modificado o hall de entrada, que passou a acolher a Sala de Exposições Eduardo Trevisan. A escada e os ladrilhos portugueses foram conservados. Em 2005, com a redução do número de vereadores, houve reformulação nos gabinetes. A última reforma foi em 2007, quando o tamanho das salas foi ampliado.
O prédio que hoje abriga os representantes do povo já foi prefeitura em 1895
Casarão onde nasceu o fundador da UFSM, na Rua Venâncio Aires, guarda um verdadeiro museu em seu interior
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O quartel começou a ser erguido em 1910, numa coxilha rodeada de fazendas
a ponta do Calçadão, quem olha em direção à Rua Doutor Bozano avista, mesmo de longe, no horizonte, a imagem de um prédio imponente. À medida que se desce pela via, a construção que mais lembra um castelo ganha forma. É a sede do quartel-general da 6ª Brigada da Infantaria Blindada – Brigada Niederauer, uma construção quase centenária, que chama a atenção de quem passa na Avenida Borges de Medeiros. O prédio começou a ser erguido no começo do século passado, em 1910, por determinação do então presidente da República, Hermes da Fonseca. Em dezembro daquele ano, começava a nascer o quartel, no alto de uma coxilha rodeada por fazendas de descendentes de imigrantes alemães. Em 21 de abril de 1913, o quartel foi inaugurado, e sua sede ficou aberta durante todo o dia para que a população pudesse conhecê-la. A torre de comando centralizada do prédio, modelo até então inédito em Santa Maria, passou a ser adotado por outros quartéis na época. A obra, que ocupa um quarteirão, conta com 20 pavilhões. O prédio foi sede do antigo 7º Regimento de Infantaria (atual 7º Batalhão de Infantaria Blindado, sediado em Santa Cruz do Sul e passou a ser o quartel-general da 6ª Brigada em 1987.
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Theatro Treze de Maio
nstalado na Praça Saldanha Marinho, o Theatro Treze de Maio faz parte do cenário urbano do centro de Santa Maria. Além de ser um patrimônio arquitetônico da cidade, o prédio é responsável por apresentar as mais diversas expressões artísticas em seu palco. Sua história é cheia de lutas e dificuldades. No ano passado, o Theatro celebrou 10 anos de reabertura. Em 1997, o espaço voltou a funcionar como casa de espetáculos após uma série de esforços iniciada nos anos 80. Em 1876, o projeto urbanístico da cidade previa um teatro para abrigar os espetáculos. João Daudt Filho comprou o terreno e, em janeiro de 1889, criou uma sociedade anônima para a construção da casa. O nome Treze de Maio presta homenagem à abolição da escravatura, assinada pela princesa Isabel em 13 de maio de 1888. Em 1890, um ano após o início das obras, o Treze foi inaugurado. A casa funcionou até 1913 no mesmo prédio, recebendo inúmeras companhias francesas, alemãs, italianas e espanholas. Quando a Intendência (hoje prefeitura) comprou o prédio, a magia das apresentações acabou. Nos 80 anos seguintes, o local foi sede de jornal, do Fórum, da Biblioteca Pública, do Centro Cultural. Chegou aos anos 90 sem suas características originais. Entre tantos atores que pisaram no palco, estão nomes como Tony Ramos, Paulo Autran e Nathália Timberg. Em 2002, o arquiteto e cenógrafo José Carlos Serroni fez um levantamento com os mais de 800 teatros do Brasil e catalogou todos em um livro. O Treze de Maio foi incluído, ficando ao lado das melhores casas do país. Hoje, é dirigido por Ruth Péreyron e mantém projetos como Manutenção e Melhorias, que busca a conservação e a qualificação da infraestrutura, e o Treze: O Palco da Cultura, que seleciona espetáculos para se apresentar sem custos de aluguel. O Treze tem 340 poltronas fixas nos dois andares, com possibilidade de 10 cadeiras extras.
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150 Itaimbé Palace Hotel FOTOS CHARLES GUERRA
O prédio já foi sede de jornal, do Fórum, da Biblioteca Pública e do Centro Cultural
Residência Dátero Maciel
Rua Venâncio Aires, no centro de Santa Maria, é passagem para milhares de pessoas diariamente. Pouco delas sabem que o casarão número 1.663, quase na esquina com a Floriano Peixoto, é marca do pioneirismo arquitetônico na cidade. Em 1936, quando a residência foi encomendada pelo tenente Dátero Maciel ao construtor Luiz Bollick, não havia no Brasil construções puramente modernistas. O movimento recém havia começado no país. Prova disso é que, na mesma época, estava sendo erguido o Palácio Capanema, no Rio de Janeiro, que marcou a implantação do modernismo em solo brasileiro. As características arquitetônicas modernistas podem ser observadas da rua, basta olhar para o casarão.
A construção puramente modernista fica na Rua Venâncio Aires, bem no Centro Construído mais elevado que a calçada, ele conserva até hoje a ausência de cobertura com telhas, janelas de canto no encontro das paredes, o que antes não era comum, e a falta de adornos gratuitamente aplicados na edificação – a beleza resulta mesmo do seu jogo de volumes planos e nas suas curvas contruídas. Uma das poucas mudanças feitas na estrutura da casa foi a pintura. O branco original das paredes externas foi trocado pelo amarelo claro.
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Prédio inaugurado em 1976 conserva a arquitetura moderna
eceber bem é uma tarefa santamariense que, desde a década de 70, tem sido realizada também pelo Itaimbé Palace Hotel. Os fundadores foram Pedro César Saccol, Ilídio Antônio Biachi, Paulo Rubens Danesi, Alcides Brum e Pedro Marum, em 1968. A construção do maior hotel da região na época levou oito anos, e sua inauguração aconteceu em 1976. Em maio de 2008, o hotel, localizado de frente para o Parque Itaimbé, comemora 31 anos. A estrutura compreende 20 mil metros quadrados, com 12 andares, 160 quartos, dois salões com capacidade para 1,5 mil pessoas, sete salas para convenções, piscinas, sala de ginástica e estacionamento. Em média, 96 pessoas passam por dia pelo Itaimbé. Desde 2002, é parte do grupo Obino e, dois anos depois, integra-se à rede de hotéis gaúcha Versare. Uma tendência que a empresa acompanha é a convergência de serviços. No hotel, há bar e restaurante, empresa de eventos e espaço especializado em festas infantis. O Itaimbé já recebeu personalidades como os cantores Roberto Carlos e Ed Motta, os presidentes Emílio Garrastazu Médici e Luiz Inácio Lula da Silva, e os atores Gracindo Júnior, Vera Holtz e Paulo Autran. Seu prédio é exemplo da arquitetura moderna em Santa Maria. O projeto é dos arquitetos José Reyes Peinado, Jaime Mazzuco e Paulo Adolpho Abicht.
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Escola Hugo Taylor
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m prédio histórico que abriga um centro comercial. Desde que a rede francesa Carrefour abriu seu hipermercado em Santa Maria, essa é realidade de um dos edifícios mais pomposos da Avenida Rio Branco. Hoje, a antiga Escola Hugo Taylor abriga aproximadamente 28 mil itens espalhados pelas prateleiras, além de uma livraria e uma farmácia. Já a tradicional capela, onde eram celebradas missas, foi restaurada e se transformou em uma cafeteria. Mas as mudanças feitas na estrutura para receber a multinacional não apagaram a história do prédio de mais de 85 anos. Comprado pela Intendência Municipal, o terreno seria destinado à construção do teatro municipal. O projeto não passou do lançamento da pedra fundamental, em 1910. Isto porque a cidade já tinha o Theatro Treze de Maio, e em 1911, foi inaugurado o Theatro Coliseu. Como o projeto acabou não saindo do papel, a intendência colocou o terreno à venda. A Cooperativa de Consumo dos Empregados da Viação Férrea (Coopfer) se tornou dona do local, erguendo o prédio, que é símbolo do passado ferroviário. Construído em 1922, o edifício, que mescla os estilos neoclássico, barroco e art-noveau, abrigou, primeiro, a Escola de Artes e Ofícios, com 124 alunos. Em 1929, o colégio comprou o terreno da esquina da
CLAUDIO VAZ
Rua dos Andradas para erguer o internato. Iberê Camargo foi um dos ilustres alunos da escola. Em 1943, o colégio mudou de nome, passando a se chamar Escola Industrial Hugo Taylor. Um duro golpe veio em 1954, quando um incêndio destruiu o internato. Mais tarde, em 1960, as salas foram reformadas com a ajuda do governo. Mas os problemas prosseguiram. O inter-
nato acabou fechando, e na década de 70, a Coopfer se obrigou a fechar a Hugo Taylor. De lá pra cá, o prédio já abrigou cursinho pré-vestibular, shopping e boate. De propriedade da família Saccol, a estrutura do prédio resistiu a um segundo incêndio, nos anos 90. Em janeiro de 2007, o Carrefour alugou o edifício e, após alguns meses de obras, abriu as portas, em 31 de outubro.
Biblioteca Pública Municipal CHARLES GUERRA
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Prédio que recebeu o nome de Henrique Bastide guarda mais de 40 mil obras
ma Cidade Cultura que se preze tem de ter um espaço privilegiado para receber os amantes da boa leitura. Pois, em Santa Maria, esse local se chama Biblioteca Pública Municipal Henrique Bastide. Em uma cidade com muitas livrarias e sebos, é o prédio de arquitetura moderna, na Avenida Presidente Vargas, junto ao Largo da Locomotiva, que pode se orgulhar de ser aquela que merece o título de casa santa-mariense dos livros. Mas, para entender um pouco melhor a trajetória dessa biblioteca que recebe cerca de 200 leitores por dia, é preciso voltar um pouco no tempo. Setenta anos, para ser mais exato. A idéia nasceu em 1938, quando um grupo de amigos, liderado por Henrique Bastide, reuniu-se para criar a primeira biblioteca pública de Santa Maria. O movimento ganhou força e, no dia 11 de junho daquele ano, o então prefeito Antônio Xavier da Rocha oficializou a criação. Depois de
No prédio em que Iberê Camargo estudou, funciona hoje um hipermercado
alguns meses funcionando no prédio da Sociedade Italiana, na Rua do Acampamento, a biblioteca transferiu o seu acervo para o local onde hoje funciona o Theatro Treze de Maio, na Praça Saldanha Marinho. A mudança de sede ocorreu em 12 de outubro, data que em que é comemorado o aniversário da Biblioteca Municipal. Já o batismo foi feito em 24 de setembro de 1956, em uma homenagem ao seu idealizador e primeiro diretor, Henrique Bastide. Em 16 de maio de 1992, a biblioteca passou a funcionar na Avenida Presidente Vargas, onde permanece até hoje. Com o objetivo de criar e fortalecer os hábitos de leitura, apoiar a educação e garantir aos cidadãos o acesso à informação, a Biblioteca Pública Municipal Henrique Bastide conta com um acervo de cerca de 40 mil obras científicas, técnicas e literárias, além de revistas e jornais à disposição de toda a população.
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O galeto
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vida e cerca de 600 gramas, preparado com vinagre branco, ervas e temperos e servido com polenta e radite. O sucesso da receita se refletiu no sucesso do seu restaurante, o Vera Cruz. De lá para cá, muita coisa mudou. O Vera Cruz pertence agora à família Seabra, e seu Augusto tem o restaurante que leva o seu nome, mas que hoje está sob a direção de seu filho e genro. Após 50 anos, o que não mudou em ambos os restaurantes, porém, foi o carro-chefe. Continua sendo o galeto. Os dois estabelecimentos figuram no Guia Quatro Rodas e seguem tradicionais pontos de encontro de famílias e grupos. Não é à toa que o prato já foi propagandeado por ilustres que o provaram, como o político Leonel Brizola, a atriz Aracy Balabanian e o comentarista e narrador esportivo Galvão Bueno.
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prato servido pela primeira vez em Santa Maria no fim de 1957 ainda é o mais tradicional da cidade. O pequeno galeto temperado com ervas perfumadas leva o nome do município para todo o Brasil e também para o Exterior. O português Augusto Martins, criador da receita, conta que, aos 21 anos, veio para o Brasil atrás do pai, Manoel Martins. Ao chegar, decidiu montar seu próprio negócio e passou a visitar restaurantes gaúchos. Ele conheceu em Porto Alegre e Caxias do Sul um galeto de cerca de um quilo e 200 gramas. O frango era cortado em pequenos pedaços e tinha uma receita parecida com a servida hoje. Mas seu Augusto quis ousar. Passou a servir o Galeto ao Primo Canto (ao primeiro canto), um frango com poucos dias de
O frango de 600 gramas é preparado com vinagre, ervas e temperos e servido com polenta e radite
Lanches rápidos
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Pizza gigante (foto), xis e cachorro-quente fazem sucesso na cidade
anta Maria, Coração do Rio Grande. Cidade Cultura. Cidade Universitária. Lugar de gente ocupada, que tem o cotidiano atribulado por causa das aulas, do serviço e de diversos outros afazeres. Talvez por esse motivo, locais com atendimento ágil e facilitado conquistem um público numeroso e cativo. É o caso dos lanches rápidos, como lanchonetes, pastelarias, pizzarias, bares e muitos outros estabelecimentos. Segundo o setor de cadastro mobiliário da Secretaria de Finanças, existem pelo menos 103 bares e 267 lancherias registradas na prefeitura. Para quem mora aqui, já é uma espécie de tradição. Para os forasteiros, literalmente, um prato cheio. Além dos restaurantes de ótima qualidade, o público santa-mariense tem à disposição uma gama variada de opções enquadradas como lanche. Além dos pastéis gigantes (veja ao lado),
FOTOS MARINA CHIAPINOTTO, ESPECIAL
há as enormes pizzas. Basta dar uma olhada na lista de pizzarias e perceber a diversidade de serviços. Destaque para o tamanho das massas, que chegam a medir até 60cm de diâmetro. Além disso, há os churrasquinhos, que foram aprimorados e, hoje em dia, vêm cheios de acompanhamentos, como pão, temperos e recheios variados. Não podemos esquecer dos famosos xis e cachorros-quentes, vendidos em traileres, vans e lancherias. Adorados em praticamente todos os cantos do país, em Santa Maria, o que se sobressai, além da variedade, é a qualidade. Uma cultura de alimentação que, apesar de não ser das mais saudáveis se consumida em excesso, pode ser muito prazerosa.
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Pastel gigante
arinha, água, sal, um recheio “tudo de bom” (doce ou salgado) e óleo para fritura. São simples os ingredientes básicos da fabricação de um dos quitutes mais famosos da cidade: o pastel gigante. A iguaria, vendida em casas especializadas locais há duas décadas, acabou se tornando parte da identidade santa-mariense por não ser encontrada em muitas cidades, causando espanto nos comensais de primeira viagem. Muitos desavisados caem no “erro” de pedir dois pastéis e, em seguida, deparar com um duplo prato com massa de 30cm de comprimento e 10cm de largura. O gigantismo da massa é acompanhado por um generoso recheio cujos sabores variam para agradar a todos os gostos: peixe com vegetais, camarão com queijo, goiabada, frango com frutas e outras misturas imaginativas. A criatividade e o sabor oferecidos pelos restaurantes fizeram com que a cidade assistisse a uma febre de pastelarias no início dos anos 90. Hoje, só as fortes sobrevivem: há cerca de 10 na cidade, sendo que as mais antigas são Pastelão e Bom Recheio. E a receita – do sucesso, não da massa – mistura variedade, qualidade e bom atendimento. Curiosamente, ninguém sabe dizer qual foi a “mutação” que transformou um prato pequenino num gigante saboroso. Sabese que o pastel é derivado do rolinho primavera japonês, popularizado por aqui após a 2ª Guerra Mundial. Mas, até então, o tamanho do quitute não ultrapassava as fronteiras do prato. Nem da gula.
O prato típico é servido em cerca de 10 locais
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Romaria da Medianeira A procissão que celebra a padroeira do Rio Grande do Sul começou em 1930, com 23 senhoras Quem hoje acompanha as romarias que atraem milhares de fiéis talvez não saiba que a procissão começou em 1930, com 23 senhoras. Elas pediam algo ainda atual: paz. O temor de então era de que Santa Maria fosse invadida durante a revolução que estava sendo comandada por Getúlio Vargas, que queria
tomar o poder do então presidente da República, Washington Luiz. Diante da possibilidade de um conflito entre a Brigada Militar, que havia tomado a cidade, e o Exército, que não tinha aderido ao movimento, o povo rezou para a Medianeira. Como a guerra que era dada como certa não aconteceu, cada vez mais pessoas começaram a participar da peregrinação, que sai da frente da Catedral e vai até o Santuário que fica na Avenida Medianeira. Em 1942, os bispos consagraram Medianeira como a padroeira do Estado e, no ano seguinte, a romaria se tornou estadual. Hoje, farmácias, estabelecimentos comerciais, capelas funerárias, uma avenida e dezenas de santa-marienses levam o nome da padroeira. Além disso, em volta do Santuário, foi criado um parque com cerca de nove hectares que, em época de romaria, fica pequeno para tanta fé.
CHARLES GUERRA
á 64 anos, um mar de semblantes emocionados, rezando para a Mãe Medianeira, toma conta de Santa Maria a cada novembro. A enorme procissão, que começou na década de 30 e foi impulsionada quando o evento se tornou estadual, em 1943, aumenta a cada ano. É considerada a mais importante do Estado. E não é para menos, afinal, a cidade foi o berço da fé na padroeira do Rio Grande do Sul. A devoção na Medianeira surgiu na Bélgica, com o cardeal Desidério Mercier,mas foi em Santa Maria, onde ela chegou pelas mãos do padre Ignácio Rafael Valle, que ganhou força. A fé fez seu ninho no antigo Seminário São José (onde hoje está o Santuário). Era ali, desde 1928, que o padre falava a seus alunos sobre as graças que a Mãe é capaz de proporcionar.
Os nove hectares do Parque da Medianeira, onde é rezada a missa da romaria, ficam pequenos para abrigar tantas demonstrações de fé
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Festa de Santo Antão MARINA CHIAPINOTTO, ESPECIAL
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o ano em que Santa Maria completa seu sesquicentenário, uma celebração religiosa também tem muito a comemorar. Afinal, são 160 anos de tradição. A festa de devoção a Santo Antão, que deu nome ao distrito onde ela ocorre, é peculiar e sagrada: os fiéis sobem o morro para pegar a imagem de seu padroeiro e levá-la até a capela. Depois, passam o dia reunidos para celebrar. Em Santa Maria, a fé no santo começou em 1848, quando o monge italiano João Maria trouxe a imagem das reduções jesuíticas do Estado. Ele viveu na localidade de Santo Antão e começou a curar pessoas com a água de uma fonte que teria poderes medicinais. A imagem foi colocada no alto do morro e, no início de janeiro, ocorriam os festejos.A procissão anual virou uma tradição, principalmente entre os agricultores da região. Santo Antão era um monge eremita que morava no deserto do Egito e só se deslocava até a cidade quando a comunidade enfrentava guerras, pestes ou pragas. A festa em sua homenagem retrata esse isolamento: a imagem do santo fica solitária, no alto do morro, e só é trazida à capela no início das festividades. Considerado o Protetor dos Campos e dos Animais, Santo Antão tem uma celebração que orgulha até mesmo quem não é devoto seu. Sinal de que, por muito tempo, a fé tem seu lugar garantido no distrito de Santa Maria.
Celebração religiosa mais antiga de Santa Maria, a Festa de Santo Antão ocorre há 160 anos no distrito que leva o nome do homenageado
Ecumenismo
PASTOR ROINOLDO GLÜCK NEUMANN, ARQUIVO PESSOAL
Celebrações ecumênicas que reúnem padres e pastores são freqüentes. Uma delas é a Semana da Oração (foto)
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religião em Santa Maria é um assunto que merece destaque não apenas pela exuberância das igrejas e templos, mas também pela diversidade. A maior parte das religiões do mundo tem um espaço garantido no coração santa-mariense. A diversidade é comprovada com a existência de mais de 185 igrejas, 50 templos, 215 grupos, cinco capelas, 38 casas espíritas e 700 terreiros espalhados pelas mais diversas partes da cidade. A estimativa é de que mais de 35 mil fiéis não-católicos e outros cerca de 130 mil católicos freqüentem esses lugares. Não é para menos que o maior cemitério de Santa Maria tem ecumênico no nome. O Cemitério Ecumênico Municipal recebe a maioria dos santa-marienses que chegam ao fim da vida, independentemente da religião que seguem.
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Catedral Diocesana
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FOTOS LAURO ALVES
ilhares de pessoas, de Santa Maria e de fora da cidade, buscam na Catedral Diocesana, ao longo do ano, um refúgio para as suas orações. Só por esse motivo, a igreja matriz já merece a atenção de quem passa pela Avenida Rio Branco e depara com o templo de 1909. Mas a Catedral não é apenas uma guardiã da fé. A história dela se mistura à de Santa Maria. A Catedral foi transformada em patrimônio histórico e cultural em 2002. O título confirmou as intenções dos idealizadores de sua construção que, ao lançarem a pedra fundamental, em 8 de dezembro de 1902, queriam que a cidade tivesse na Catedral um símbolo de sua religiosidade. Para erguer a matriz, foram gastos 150 contos de réis – uma fortuna na época. A inauguração marcou o fim de um antigo templo da cidade, a Capela do Império do Divino, a matriz de Santa Maria desde 1889, que ficava ao lado de onde hoje está a Catedral, e que foi demolida em 1937. Ir até a Catedral não significa apenas acompanhar missas. Passear pela igreja permite conhe-
cer afrescos do pintor italiano Aldo Locatelli, que retratam, na nave central e sobre o altar, quatro momentos da vida de Nossa Senhora. Também é possível conhecer a arte de Emilio Sessa, que decora arcos e pilares do interior do prédio. A arte que embeleza a Catedral foi restaurada em 2003, com a tecnologia usada na Capela Sistina, na Itália, e no museu do Louvre, na França. Em uma das torres, a mesma do relógio, fica guardado um mistério: um sino, bem mais antigo que a própria cidade. Ele foi fundido por jesuítas da missão de São Nicolau em 1684, muito antes do surgimento do povoado da Rua do Acampamento que deu origem à cidade. Nele, há a inscrição Santa Maria. O sino deveria ter sido levado para uma missão no Paraguai que teria esse nome. Ninguém sabe explicar como e por que ele veio parar no coração do Estado. Outro convite para visitar a Catedral é o Museu de Arte Sacra, que abre todas as tardes e expõe obras restauradas pelo artista plástico Juan Amoretti, como uma Nossa Senhora esculpida em madeira, imagens da Paixão de Cristo e bustos do Menino Jesus.
Templo da Rio Branco foi inaugurado em 1909 e transformado em patrimônio histórico e cultural em 2002
É Criada em 1910, a Diocese abriga 37 paróquias em 26 cidades da Região Central
impossível falar da história de Santa Maria sem citar os laços estreitos que os seus moradores sempre tiveram com a religiosidade. E não há como refletir sobre a fé em toda a região central do Estado sem mencionar a Diocese de Santa Maria. Criada em 1910, ela representa a presença do catolicismo em 26 cidades da região, com 37 paróquias. Antes mesmo da construção da igreja que se tornaria a Catedral Diocesana, na Avenida Rio Branco, no começo do século passado, a população já clamava pelo fortalecimento da religião católica na cidade. A construção de uma
Diocese igrejinha chamada Capelinha dos Índios, onde hoje está o Hospital de Caridade, na época das missões jesuíticas, é um exemplo desse anseio. Depois, foram construídas outras duas igrejas na Avenida Rio Branco, demolidas mais tarde porque corriam risco de ruir. Com a chegada dos imigrantes italianos, em 1877, ocorreu a ampliação das comunidades cristãs na cidade. A criação da Diocese se tornou providencial com o passar dos anos e com a inauguração da Catedral, em 1909. A atuação dos mais de 500 religiosos de diversas congregações,
que atuam especialmente na área da educação, e a jurisdição de três seminários (Instituto São José, Seminário Maior Mãe do Redentor e Seminário Maior Diocesano São João Maria Vianey) também tornam a Diocese um grande berço de vocações sacerdotais e religiosas. Foi na Diocese que nasceram importantes trabalhos sociais feitos por meio do Banco da Esperança e do projeto Esperança/Cooesperança. Além disso, importantes órgãos de imprensa como a Rádio Medianeira AM e FM e o jornal O Santuário também são mantidos e administrados por ela.
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Santuário-Basílica da Medianeira com muito suor dos voluntários que trabalhavam nos eventos beneficentes que a construção ganhou forma. Depois de 15 anos da segunda etapa da obra, muita gente doou materiais para construção e gêneros alimentícios para as promoções beneficentes. O envolvimento da comunidade é tão grande que até hoje voluntários doam mão-de-obra à basílica, para que sejam arrecadados fundos para melhorias no local. No Santuário, religiosidade e arte se confundem. Os vitrais resgatam o surgimento da devoção a Medianeira. E é na Basílica que está a imagem original da Medianeira, uma pintura feita pela irmã franciscana Angelita Stefani, na década de 30. Há muito, o Santuário-Basílica é um marco de turismo religioso, não só em tempos de romaria. Muita gente vem conhecer o templo e marcos como os túmulos do bispo emérito de Santa Maria, dom Ivo Lorscheiter, e do padre Ignácio Rafael Valle, que iniciou o movimento da Medianeira na cidade.
Igreja das Dores
Igreja do Rosário
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LAURO ALVES
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oda igreja é um lugar para abrigar a fé. Porém, algumas delas, seja por suas arte, veneração, beleza artística ou história, acabam ganhando distinção entre as demais. Esse é o caso do Santuário-Basílica Menor de Nossa Senhora Medianeira, o único no Estado com o título que é concedido pelo Vaticano. O maior templo religioso de Santa Maria foi inaugurado em 15 de agosto de 1985, diante de uma multidão de mais de 5 mil fiéis e 18 bispos que vieram homenagear a padroeira gaúcha. A idéia de fazer o santuário surgiu bem antes, na década de 30. Na época, o terreno foi escolhido e começou a terraplenagem. Mas a falta de dinheiro fez com que, dos anos 40 até os 70, a construção parasse. Muitos acreditavam que, para a obra seguir em frente, só um milagre. Em 1970, com dinheiro de campanhas comunitárias e da venda de doces, churrascos e risotos durante as romarias, as obras recomeçaram. Foi
Inaugurado em 1985, é o maior templo religioso da cidade
igreja dedicada a Nossa Senhora do Rosário tem valor inestimável, em especial à comunidade negra. Sua origem data de 1854, com a criação do Cemitério da Santa Cruz, o segundo da cidade, que ficava no local onde hoje está a igreja. O campo santo caiu no abandono quando foi criado o Cemitério Municipal.A comunidade das redondezas da Silva Jardim, que na época era periferia, ergueu uma igreja no velho terreno. Em 1873, criou-se a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, grupo formado para catequizar os negros. Dois anos depois, a organização foi dissolvida devido ao descaso dos patrões com seus escravos. Com o fim da escravidão, em 1888, os negros reorganizaram a irmandade, oficializada pela Diocese no ano seguinte. Em 1890, foi lançada a pedra fundamental da capela. O templo foi erguido com restos dos muros do cemitério, e a imagem da padroeira veio de Roma, benzida pelo Papa Pio 12.A capela durou até 1942, quando começou a construção de um templo. Em 1959, surgia o prédio atual da Igreja Nossa Senhora do Rosário. Pessoas ligadas a patrimônio e ao movimento negro defendem o tombamento do prédio para a história não cair no esquecimento.
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CHARLES GUERRA
Templo foi construído com restos do muro do segundo cemitério de Santa Maria
FRANCIELI REBELATTO, ESPECIAL
oi a união da comunidade que originou uma das igrejas mais conhecidas de Santa Maria. Em 15 meses, pedras foram transformadas em um prédio de 450 metros quadrados e 18 metros de altura. Com a ajuda de pedreiros italianos e a orientação do construtor Alfredo Grassi, descendentes italianos do bairro Dores ergueram o templo que tanto desejavam. Em 1937, a Igreja Nossa Senhora das Dores era inaugurada, com as bênçãos do padre Caetano Pagliuca e do bispo dom Antônio Reis. Em uma das avenidas mais movimentadas, o templo chama a atenção pelo cinza. As paredes são de pedra coberta com areia e cal. A igreja tem características da arquitetura românica da Itália medieval com resquícios do estilo barroco. Um Jesus Cristo de braços abertos – esculpido por Hermenegildo Morotto – figura no ápice de uma das torres. Na parte interna, tão observada por quem vai a missas, batizados, casamentos e missas de formaturas, destaca-se a pintura das paredes, do altar, do coro e do teto. Obra do pintor Angelo Lazzarini, de 1959, as figuras sacras foram restauradas pelo artista plástico Juan Amoretti. Em 2007, a equipe comandada pelo artista refez a pintura. Na igreja, são realizados cursos de informática para comunidades pobres, oficinas de geração de renda e moradia.
Igreja foi erguida pelos moradores do bairro e inaugurada em 1937
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Igreja Evangélica Luterana (IECLB)
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badalar dos sinos é tão normal nas igrejas de Santa Maria que, muitas vezes, o som passa quase despercebido. Hoje, é assim, mas em 1886, o sino não precisava nem tocar para virar caso de polícia. Bastava a instalação para se tornar um problema. Foi o que ocorreu com a Comunidade Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. Vivendo em um período em que só a religião católica era reconhecida, os imigrantes alemães conseguiram, após enfrentar muitos obstáculos, um terreno para erguer a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). Em 1873 – 37 anos após a chegada dos primeiros imigrantes a Santa Maria –, o templo, de estilo germânico, foi inaugurado. A comunidade passou a ter um local para as celebrações, que ocorriam até então nas casas. Com a tão sonhada igreja erguida, era hora de partir para a segunda etapa da obra: a construção das torres e a instalação dos sinos. Quando tudo estava pronto para os sinos, vindos da Alemanha, tocarem pela primeira vez, em 1887, a polícia impediu. Os integrantes da comunidade evangélica, chamados de hereges, foram multados em 20 mil réis cada um – moeda da época – por violar a Constituição do Império. Isso porque só podiam funcionar templos católicos. A comunidade desencadeou manifestações em defesa da liberdade de crença. Foi então que o templo, até hoje instalado entre as ruas Barão do Triunfo e Coronel Niederauer, virou referência no país como símbolo de luta para mudar as leis do Império. A igreja não foi fechada, mas os sinos não puderam tocar. Em 1888, os protestos surtiram efeito: os evangélicos conseguiram autorização para cultuar sua religião. Enfim, os primeiros sinos não-católicos vindos para o Brasil tocaram. Na 2ª Guerra Mundial, voltaram a se calar. A Igreja foi invadida, e boa parte da história da comunidade, destruída. Superado o problema, os sinos voltaram a badalar e nunca mais pararam.
Templo abriga os primeiros sinos não-católicos do Brasil
Há 60 anos, o movimento criado na Alemanha construiu o primeiro santuário do Brasil. Foi em Santa Maria
Santuário de Schoenstatt
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anta Maria é o berço do movimento de Schoenstatt no Brasil. Na cidade, ficava a primeira casa central das irmãs que vieram da Alemanha, em 1935. Aqui também foi erguido o primeiro santuário deste tipo no país. Em 1947, o padre José Kentenich, que criou o movimento na Alemanha, esteve na cidade e escolheu o local onde queria que fosse erguido um santuário igualzinho ao que encantava quem chegava na pequena cidade alemã de Schoenstatt. Um ano depois, em 11 de abril de 1948, o padre voltou a Santa Maria, desta vez para a inauguração do templo. Em alemão, a palavra Schoenstatt significa lugar bonito. E foi justamente esse o interesse de Kentenich ao instalar o santuário na Avenida João Luiz Pozzobon que, na época, era um lugar muito tranqüilo, silencioso e cercado de campos. O movimento, que começou sin-
gelo, atualmente reúne mais de 1,5 mil representantes na cidade. No Brasil, o número ultrapassa 1 milhão. Isso sem contar os fiéis que visitam os santuários e abraçam os seus ideais. O movimento defende que as pessoas devem viver o catolicismo no seu dia-a-dia, dedicandose a Deus, como fez Maria. As pessoas podem pedir à Mãe, Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schoenstatt qualquer graça. Porém, elas são convidadas a dar algo em troca. Não se trata de uma doação material ou simplesmente de uma prece e, sim, de uma mudança de comportamento visando a uma harmonia maior com Deus. Neste ano, o Santuário de Schoenstatt completou seus 60 anos. Uma programação especial fez parte das comemorações. Uma das partes mais importantes do evento foi uma peregrinação que reuniu cerca de 5 mil pessoas.
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Catedral do Mediador
F Com 102 anos, prédio da Igreja Anglicana é um dos mais antigos da cidade
oi a chegada de James Watson Morris, em 1899, que marcou o início do anglicanismo em Santa Maria. Em uma sala alugada, na Rua do Comércio – onde hoje é o Calçadão –, ele instalou uma casa de oração no início de 1900. O espaço chamado de Capela do Mediador foi o primeiro estágio da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil no coração do Rio Grande. Hoje está ali a Catedral do Mediador. O prédio em estilo neogótico, na Avenida Rio Branco, é um dos mais antigos da cidade, com 102 anos. A construção tem 16 metros de comprimento por 9m50cm. Quando a igreja foi inaugurada, a torre de 26 metros era adornada por uma grande cruz iluminada com diversos focos de luz amarela, e tinha um sino que havia sido importado dos Estados Unidos. As badaladas podiam ser ouvidas a mais de 10 quilômetros de distância. Hoje, o sino foi substituído, mas a peça pode ser admirada por quem passa em
frente à Catedral. O antigo sino repousa em um monumento construído especialmente para ele, ao lado esquerdo da igreja. Sob o lema Há um só Mediador entre Deus e o homem, Jesus Cristo, que estava escrito no arco do presbitério, a igreja foi inaugurada em 11 de novembro de 1906. Mais de 200 pessoas participaram da cerimônia. Em 1950, a igreja foi elevada ao status de Catedral. Hoje, além de representar um marco importante para a história do anglicanismo no Estado, a catedral centenária também pode ser admirada por seu legado arquitetônico. A construção já é patrimônio histórico de Santa Maria, e a igreja trabalha para tornar o tombamento reconhecido pelo governo estadual. Seja pela beleza da fachada, com arcos em formato ogival, ou pela coleção de 14 vitrais que transformam a nave da Catedral em um espaço abençoado para a meditação, ou pelo valor histórico, a Catedral do Mediador é um orgulho para a nossa cidade.
Sinagoga Yitzhak Rabin
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Coração do Estado, que acolheu 38 famílias em 1904, deu início à primeira imigração organizada de judeus que se tem registro no Brasil. Em agosto daquele ano, após uma longa viagem desde a Europa, eles desembarcaram no porto de Rio Grande. Em seguida, vieram de trem para Santa Maria, onde enfrentariam um grande desafio: construir um novo lar. De acordo com documentos da Casa de Memória Edmundo Cardoso, descobertos por Rosane de Andrade, pesquisadora voluntária do Instituto Marc Chagall, os primeiros imigrantes vinham da cidade de Pruth Dniester, na região da Bessarábia, onde hoje é a Moldávia, na Europa. A adaptação na área de 5.767 hectares, ba-
FRANCIELI REBELATTO, ESPECIAL
Um dos marcos da colonização judaica no Brasil
tizada como Colônia Philippson – uma homenagem a Franz Philippson, à época vice-presidente da Jewish Colonization Association (JCA) – não foi fácil. Desacostumados com as atividades agrícolas, os imigrantes passaram muito trabalho até conseguir retirar as pedras e limpar a terra para o cultivo. Aos poucos, abandonaram o campo e foram para a cidade, onde instalaram seus comércios e voltaram a exercer atividades de profissionais liberais. Assim, os imigrantes iam se adaptando ao novo país e encontrando maneiras de exercer seus cultos e divulgar suas crenças. Em 1919, é fundada a Sociedade Beneficente Israelita de Santa Maria. É a partir daí que surge o
projeto da sinagoga, na Rua Otávio Binato, 49. Batizada com o nome do primeiroministro de Israel assassinado em 1995, a sinagoga é considerada um dos marcos da colonização judaica do país. A arquitetura original do prédio – patrimônio histórico do município desde 2002 – foi trazida pelos imigrantes de sua terra natal e ressalta os elementos geométricos e a simetria na fachada principal. Restaurado em 1997, graças a uma campanha da comunidade judaica, teve os traços originais e as cores preservados. Hoje, a sinagoga é referência não só para as famílias de origem judaica que vivem na cidade, mas para os judeus de todo o país.
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Dom Ivo Lorscheiter
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em mais que um nome gravado em uma lápide, na cripta da Basílica da Medianeira, o bispo diocesano dom Ivo Lorscheiter ficou na lembrança de muitos santa-marienses. Ele, que foi um dos religiosos mais marcantes da história da cidade, por seus inúmeros projetos sociais, teve também atuação decisiva no combate aos excessos cometidos pela ditadura militar, na década de 1970. Além disso, comandou a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) por oito anos, de 1979 a 1986. Por isso tudo, foi considerado um dos 20 religiosos brasileiros mais importantes do século 20, em uma eleição da revista Isto É. O guri arteiro, nascido em 1927 no interior de São Sebastião do Caí, partiu para o seminário aos 11 anos. Depois disso, foi uma vida toda dedicada à Igreja Católica. Estudou em Roma, conheceu vários papas e saiu do anonimato em 1966, quando foi ordenado bispo auxiliar de Porto Alegre. De
1971 a 1979, assumiu como secretário-geral da CNBB, ao lado dos bispos mais influentes do país, tornando-se então presidente da entidade até 1986. Foi nessa época que dom Ivo negociou com presidentes da República, como Emílio Garrastazu Médici e João Figueiredo. A ligação de dom Ivo com a cidade começou em 1974, quando se tornou bispo da Diocese de Santa Maria – cargo que ocupou por 30 anos. Sua atuação na área social foi marcante, com a criação do Banco da Esperança e do Projeto Esperança/Cooesperança, que beneficiam centenas de famílias. Após deixar o comando da Diocese, em 23 de maio de 2004, tornou-se bispo emérito e continuou o trabalho como pastor – ficou conhecido como o Profeta da Esperança. Já com a saúde comprometida, acabou morrendo em 5 de março de 2007, aos 79 anos. Mas deixou exemplos de garra e esperança. – Não que eu goste de luta, mas não fujo dela – disse dom Ivo, certa vez.
Bispo foi considerado um dos 20 religiosos mais importantes do Brasil no século 20
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Diácono Pozzobon
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Pozzobon caminhou 140 mil quilômetros carregando a imagem da Mãe Peregrina
ano era 1950. A missão, algo que para muitos poderia parecer impossível: caminhar quilômetros e quilômetros com uma imagem da Mãe Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schoenstatt, que pesava 11 quilos, nos ombros. Mas, para o diácono João Luiz Pozzobon, a difícil tarefa, que lhe foi repassada pelo movimento de Schoenstatt, transformou-se em grande orgulho. Ele deu muitos passos em nome da fé. Foram mais de 140 mil quilômetros percorridos com a imagem da Mãe Peregrina para que ela fosse conhecida nas casas e em hospitais, presídios e escolas. O diácono rezava o terço e convidava as pessoas a rece-
ber a imagem da Mãe com carinho. Inspirada na rotina de Pozzobon, surgiu a Campanha do Terço, presente hoje em 96 países. O homem simples, nascido em São João do Polêsine em 1904, conquista cada vez mais admiradores. Todos os anos, centenas de fiéis, até mesmo de fora do país, vêm a Santa Maria para conhecer a casa onde ele morou e que foi transformada em um museu. Em 27 de junho de 1985, aos 80 anos, Pozzobon morreu atropelado quando ia para uma missa no santuário. Há um movimento muito forte pedindo a sua canonização. Quando o papa Bento 16 esteve no Brasil, no ano passado, recebeu um
manifesto que comprovava que, só na Argentina, haviam sido rezados 1,8 milhão de terços pela santificação. Durante 13 anos, relatos, fotografias, manuscritos e documentos foram reunidos. O material seguirá para Roma ainda em 2008. Para chegar a beato – um degrau antes da santidade – será preciso um milagre. Atualmente, 10 relatos de graças alcançadas estão sendo avaliados. O segundo milagre – que poderá garantir ao Brasil seu segundo santo – terá de acontecer após a beatificação. Pozzobon dá nome a uma escola, a um bairro e a uma avenida na cidade. Sua história é contada por sete livros traduzidos em diversos idiomas.
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Irmão Estanislau, o Padre das Cabras
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uitos não sabiam ao certo seu nome, mas o apelido pode soar como um velho conhecido dos santa-marienses. O Padre das Cabras, apesar de ser alemão, dedicou grande parte da vida a Santa Maria e até recebeu o título de Cidadão Santa-Mariense, pelo trabalho que desenvolveu com pobres e ferroviários. Batizado de Karl Joseph Gold, nasceu em 9 de novembro de 1886, na Alemanha. Quando veio ao Brasil, aos 20 anos, como irmão marista, adotou o nome de Estanislau José, ou ainda, Irmão Estanislau. Passou por Uruguaiana, Montenegro e Porto Alegre, onde lecionou e dirigiu o Colégio Jesuíta São José. Mais tarde, foi
diretor de um colégio em São Leopoldo, e, em 1927, voltou à Europa para trabalhar em um povoado italiano. No seu retorno, dirigiu o Juvenato do Instituto Champagnat, em Porto Alegre. Seu destino o trouxe a Santa Maria quando foi criada a companhia que instalou a linha férrea na cidade. Em 1932, o Irmão Estanislau foi contratado pela cooperativa dos ferroviários, onde atuou como inspetor geral dos colégios e foi morar na Escola de Artes e Ofícios (Hugo Taylor). Na área educacional, fundou 95 escolas turmeiras ao longo das linhas de trem. As matrículas anuais dessas instituições não baixavam de 4 mil alunos, todos filhos de ferroviários. Ali, diversos
REPRODUÇÃO
ofícios eram ensinados. O religioso organizou e custeou cursos de economia doméstica para mulheres, incluindo culinária, corte e costura, primeiros socorros, bordado, tricô e arranjo do lar. O irmão ficou famoso por distribuir a cada família uma cabra leiteira, que ele chamava de a “vaca dos pobres” (já que a vaca era muito cara). Foi dessa brincadeira que surgiu o apelido de Padre das Cabras. Estanislau trouxe da Europa as primeiras sementes de soja e introduziu seu cultivo no Estado. Este incansável religioso trabalhou por 35 anos na Viação Férrea até se aposentar, em 1967. Em 20 de agosto deste ano, 34 anos de sua morte serão celebrados.
Na área educacional, fundou 95 escolas turmeiras ao longo das linhas de trem
ma santa consagrada pelo povo está enterrada no túmulo mais visitado do Cemitério Ecumênico Municipal de Santa Maria. Maria Zaira Cordova Penna, a Mariazinha Penna, uma jovem que morreu vítima de câncer aos 20 anos, não foi canonizada pela Igreja, mas, para seus devotos, concede graças, atende pedidos e intercede em nome dos que sofrem. A devoção do povo não surgiu porque Mariazinha supostamente curava pessoas ou porque teria se destacado por obras de caridade. A fé veio diante do comportamento da jovem nos dois longos anos da doença. Ao invés de revoltar-se com o câncer terminal, Maria Zaira fazia o que parecia inconcebível a qualquer mortal: agradecia a Deus. – Tudo por Jesus e Maria. Pela conversão dos pecadores. Tudo por vós, Sagrado Coração de Je-
Túmulo da jovem que morreu aos 20 anos é o mais visitado no Cemitério Municipal
sus – proclamava, aos gritos ouvidos em todo o quarteirão onde morava, na Rua Floriano Peixoto, onde está hoje o edifício Minuano. Nove dias antes de sua morte, quando já estava cega, pediu à mãe que rezasse uma novena para que Nossa Senhora viesse buscá-la. No último dia da novena,
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Mariazinha Penna seu pedido foi atendido. Conforme conta Leyda Tubino Abelin, em seu livro Mariazinha Penna, a Predestinada, a dor insuportável na perna teria se transformado em perfume de flores. Um mês após a morte da jovem, o povo começava a fazer seus pedidos. Por causa do grande número de velas no túmulo, a família comprou mais um lote no cemitério e fez uma capela. Em suas paredes, há um grande número de placas de agradecimento. Os fiéis chegaram a organizar um grupo para promover celebrações em frente ao túmulo uma vez por semana. Em outubro de 2003, Santa Maria lembrou dos 50 anos da morte e 70 anos do nascimento da santa popular com missas e celebrações. Em sua homenagem, a cidade batizou uma praça em 1988. A Praça Mariazinha Penna fica junto ao Ginásio Oreco, na Cohab Tancredo Neves.
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Padre Caetano Pagliuca
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s novas gerações, provavelmente, têm padre Caetano apenas como referência de nome de uma escola. Mas devem haver motivos para que um lugar onde a educação é prioridade tenha sido objeto de homenagem a um religioso. E há vários. Padre Caetano Pagliuca (1874-1957) assumiu a paróquia de Santa Maria em 1900, quando a Capela do Divino ainda era a matriz da cidade, e tornou-se uma figura singular na vida social, educativa e religiosa de Santa Maria no começo do século passado. Padre Caetano nasceu na Itália e, aos 12 anos, mudou-se para Porto Alegre, cidade em que tornou-se sacerdote em 1897. Mas foi em Santa Maria que o religioso deixou um legado. Foi o ideali-
zador da construção da Catedral Diocesana, trabalhou para a fundação do Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo, da Escola São Luiz, do Ginásio Santa Maria e do Colégio Sant’Anna. Na Catedral, ficou quase quatro décadas, antes de ser transferido para a Igreja Nossa Senhora das Dores, onde permaneceu até 1944. Além de visitar cidades vizinhas, nas quais era responsável pela vida religiosa, atuou como jornalista e dirigiu dois jornais. Por problemas de saúde, afastou-se da vida social e educativa da cidade, mas nunca deixou de ser referência para projetos de educação religiosa e exemplo de integração eficaz da igreja com as comunidades. O religioso morreu em 1957, aos 83 anos. Em sua homenagem, duas escolas, uma
estadual e outra municipal, receberam seu nome. Em frente à Catedral, uma imagem em bronze relembra os esforços do padre. O Conjunto Residencial Padre Caetano foi construído em terras que pertenciam ao religioso.
FOTOS REPRODUÇÃO
O religioso foi o idealizador da construção da Catedral Diocesana
Dom Antônio Reis
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terceiro bispo de Santa Maria é destacado por quem com ele conviveu como o bispo da bondade. Dom Antônio Reis não media esforços para levar aos corações necessitados a caridade que tinha de sobra. Também foi conhecido como bispo da Medianeira, por causa da grande peregrinação que fazia com o quadro de Nossa Senhora pelas paróquias da cidade. Dom Antônio Reis nasceu em 28 de outubro de 1885 em Linha Nova, entre Santa Cruz do Sul e Monte Alverne. Ingressou no Seminário Episcopal Nossa Senhora Madre Deus, de Porto Alegre, em 1899, e, 11 anos mais tarde, foi ordenado padre. Foi vigário paroquial, pároco, cônego auxiliar e capelão. Durante 11 anos, atuou na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre. Foi ordenado
bispo em 13 de dezembro de 1931, na Cripta da Catedral Diocesana de Porto Alegre. Padre Serafim Serafini Neto, que escreveu um livro sobre a vida de dom Antônio Reis, conta que a chegada a Santa Maria e a cerimônia de posse foram em meio a muita festa. Celebrações também não faltaram para marcar o jubileu de prata do bispo, em dezembro de 1956. No ano seguinte, começou uma sucessão de problemas de saúde. Em 14 de setembro de 1960, dois meses antes de completar 50 anos de ordenação sacerdotal, o bispo foi achado morto em uma poltrona, com o rosário nas mãos. O sepultamento foi na Catedral Diocesana. Dom Antônio Reis dá nome a um bairro da cidade (o Parque Dom Antônio Reis) e a uma escola estadual, no bairro Salgado Filho.
Conhecido como bispo da Medianeira, foi ordenado em 1931
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Comércio
FERNANDO RAMOS
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O setor representa grande parte do Produto Interno Bruto (PIB) e é um dos que mais empregam em Santa Maria. O Calçadão concentra grande parte das lojas
ligação de Santa Maria com o comércio é tão antiga quanto a própria história da cidade. Das pequenas bodegas que abasteciam os militares no século 18 com tecidos, farinha de mandioca, sal, ervamate, rapadura e cachaça, às redes de lojas que levam o nome da cidade para todo o Estado, a evolução deste segmento da economia é notável e enche de orgulho os santa-marienses. Além de representar grande parte do Produto Interno Bruto (PIB) da cidade, o comércio é um dos setores que mais empregam, geram riquezas e impostos para o município. O que hoje é um orgulho para a cidade não foi obra de apenas um nome. De acordo com o historiador Romeu Beltrão, os primeiros alemães que chegaram em Santa Maria, em 1829, representaram um forte avanço para o setor comercial. Esses imigrantes montaram fortes casas comerciais e começaram a fornecer mercadorias inclusive para lugares distantes, como Alegrete e São Borja. No final do século 19, o comércio já estava em um estágio avançado, com a presença de
comerciantes italianos egressos da ex-colônia Silveira Martins. Mais tarde, libaneses e israelenses da Colônia Philipson também vieram para o Centro instalar as suas lojas. O legado dos primeiros comerciantes favoreceu o trabalho dos que vieram depois. No início do século 20, muitas lojas que hoje carregam o nome de Santa Maria começavam a dar os primeiros passos. Entre as mais antigas – que continuam em funcionamento – estão a Casa Macedo, referência em brinquedos desde 1915, a Eny Calçados, fruto da ação empreendedora de Salvador Isaia e Luiz Andrade em 1924, e a cinqüentona Gaiger, fundada em 1947 por Luiz Gaiger. O início do século 20 foi marcado também pela fundação das Casas Roth, em 27 de novembro de 1918. Em 16 de novembro de 1950, foi inaugurado o prédio na Rua Doutor Bozano, hoje Calçadão
Salvador Isaia, onde está a Galeria Roth. Outros estabelecimentos comerciais também fazem parte da história de edifícios que atualmente são referência para Santa Maria. A Farmárcia Rizzato, que foi o embrião do Edifício Taperinha, e a loja Elegância Feminina, que deu origem ao shopping center instalado na esquina da Doutor Bozano com a Rua Floriano Peixoto, são exemplos concretos disso.
As entidades – Assim como a história do comércio de Santa Maria foi marcada pela atuação de empreendedores e lojas consagradas, ela também foi construída pela participação das entidades representativas do setor. Hoje estão entre as mais fortes a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), fundada em 1964 e que congrega 800 lojas da cidade; o Sindilojas, fundado em 1950, que é o sindicato patronal do setor; o Sindicato dos Empregados no Comércio de Santa Maria, que desde 1932 representa os trabalhadores e a Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Santa Maria (Cacism), que, desde 1897, reúne importantes lideranças empresariais da cidade.
No início do século 20, surgiram muitas das empresas que até hoje carregam o nome da cidade
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esponsável por 15% da economia de Santa Maria, o setor industrial ainda luta para se desenvolver. Apesar de não ter um grande parque fabril, a cidade tem várias indústrias de médio porte que se destacam, inclusive fabricando produtos para exportação, levando o nome de Santa Maria para dezenas de países. Até a década de 1960, havia poucas fábricas em Santa Maria, a maioria no setor de alimentação, como a Corrieri (massas e biscoitos), a Cyrilla (refrigerantes), os Moinhos Ipiranga e o Moinho Santa Maria (farinha de trigo), a Marzari, a Fighera e a Primo Berleze (arroz), além da Kipper (cerâmica) e da Palotti (cerâmica e gráfica). O número começou a crescer a partir da década de 1970, principalmente nos setores de alimentação e metalurgia. Nesse período, foram criadas várias metalúrgicas, como Agrimec, Cofelma, Idema, Silenkar, Thor Máquinas e Montagens, Hünninghausen, SR Agroindustrial e Polo Electro, muitas delas no próprio Distrito Industrial. Na área de alimentação, estão entre as principais representantes a fabricante dos produtos Coca-Cola CVI Refrigerantes, criada em 1977, e a Colônia/Rayzes, que produz sucos, chás e cerveja, aberta na década de 90. Nos últimos anos, as principais indústrias a se instalarem em Santa Maria foram também nessas áreas: a Pádua Alimentos, do grupo catarinense Parati, e a Santa Fé Vagões, numa parceria entre a América Latina Logística e um grupo indiano. Outro pólo que se destaca é o moveleiro, com pequenas indústrias, mas que investem em produtos de alta qualidade. Há também várias pequenas e médias fábricas de confecções. O Distrito Industrial, criado em 1977, é um exemplo da luta para desenvolver o setor. A avenida principal só foi asfaltada em 2006, na véspera de fazer 30 anos. Agora, universidades e entidades planejam a criação de um pólo tecnológico, para fomentar a criação de indústrias de ponta, usando alta tecnologia.
Indústria
CHARLES GUERRA
Santa Fé Vagões, uma parceria entre a América Latina Logística e um grupo indiano, está entre as indústrias de destaque de Santa Maria
Serviços
Cidade é referência em saúde na região, com suas clínicas, hospitais (na foto o da Brigada Militar) e profissionais
O
principal motor da economia de Santa Maria é o setor de serviços, responsável por cerca de 70% das riquezas geradas na cidade. Os destaques são as áreas de saúde, de educação e o serviço público. Além de ser pólo regional educacional já reconhecido pela presença de várias universidades e escolas técnicas, atraindo milhares de jovens de fora todos os anos, Santa Maria também é referência na Região Central na área de saúde. Por terem especialistas de ponta, hospitais e clínicas de várias áreas atendem pacientes de toda a região e até de cidades mais distantes. Gente que vem atrás do apoio de profissionais atualizados e até renomados. O setor público, com várias unidades do Exército e da Aeronáutica, além de delegacias e escritórios regionais de dezenas de órgãos públicos, também empre-
ga milhares de santa-marienses, prestando os mais diversos tipos de serviços. Esse caráter regional de Santa Maria é que acabou fortalecendo o setor de prestação de serviços. E não é de hoje. Na época do auge da ferrovia, a rede hoteleira, na Avenida Rio Branco, foi uma das primeiras a ganhar força. Eram os hotéis atendendo às necessidades de quem passava por Santa Maria para fazer negócios. Com o declínio da Rede Ferroviária Federal, foi a vez de a educação, de a saúde e de o serviço público ganharem força. Além desses três setores mais consolidados, a cidade conta com empresas e prestadores de serviços pulverizados pelas mais variadas áreas, desde cabeleireiros até oficinas mecânicas. É por isso que esse setor é tão importante para a economia local e ajuda a destacar Santa Maria na região.
CLAUDIO VAZ
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150 CLAUDIO VAZ
Uma das maiores redes de calçados do Estado tem hoje 13 lojas
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Casas Eny
a década de 20, muitas damas da sociedade gaúcha se orgulhavam em exibir um belo par de sapatos Eny. Era uma das mais tradicionais marcas da época, feitas pela antiga fábrica Propício Cunha Fontoura, de Porto Alegre. A empresa foi extinta, porém, o nome de seu mais famoso produto segue até hoje na moda. Agora, Eny é o nome de uma das maiores redes de calçados do Rio Grande do Sul. Eny era uma das marcas vendidas pela modesta loja do comerciante Luiz Andrade, na então pequena Santa Maria, que contava com apenas 22 mil moradores. Aberta em 7 de outubro de 1924, a casa comercial era um negócio simples, que ganhou impulso com a chegada dos calçados Eny. Embalada pela elegância da marca, a loja viu suas vendas crescerem. Em retribuição, o estabelecimento passou a adotar o nome de Casas Eny, e um slogan bastante apropriado: “A mais barateira”. Grandes fabricantes nacionais passaram a revender seus produtos na loja de Santa Maria. Além de bons artigos, as Casas Eny contavam
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CHARLES GUERRA
Cyrilla
aranjada. Gazoza. Cyrillinha. Os santa-marienses mais antigos lembram bem desses nomes. A fábrica de bebidas Cyrilla é um referencial de Santa Maria desde 20 de setembro de 1910, quando foi fundada pelo químico Ernesto G. Geys e pelo caixeiro-viajante Frederico Diefenthaeler no mesmo local onde hoje ainda funciona, na Rua Marechal Deodoro, no bairro Itararé. A Gazoza (um refrigerante de limão) foi um dos seus mais conhecidos e apreciados produtos. Ao longo das décadas, a população da cidade foi crescendo ao sabor dos refrigerantes da marca. Os adultos também apreciavam os licores preparados por Ernesto Geys a partir de ervas de hortelã, banana, cacau, laranja e anis. Entre eles, estava o licor Ouro Potável, mistura de 20 ervas que trazia os dizeres “Licor Higiênico”. Imigrantes alemães, Geys e Diefenthaeler tropeçaram na língua portuguesa ao fazer o rótulo. Na verdade, o licor tinha propriedades digestivas – deveria se chamar Licor Digestivo. Mesmo pequena e diante das dificuldades da época,a Cyrilla ganhou o respeito dos gaúchos por ser a primeira fábrica de refrigerantes do Estado e a terceira no país. Além da gasosa, dos licores, também produzia água tônica, água mineral, guaraná e a famosa laranjada Cyrillinha, vendida em garrafas de vidro de 190 ml. No ano do Centenário da Independência, em 1922, a Cyrilla cruzou as divisas do Pampa e foi ao Rio de Janeiro, onde o sabor de seus produtos agradou aos juízes da 2ª Exposição Internacional. A empresa santa-mariense ganhou voto de louvor e o grande prêmio da exposição, promovida para mostrar ao mundo os avanços da indústria brasileira. Um dos piores momentos no passado da Cyrilla ocorreu em 1945, durante a 2ª Guerra Mundial. Em guerra contra a
com a dedicação de um jovem e promissor gerente chamado Salvador Isaia. Filho de um imigrante italiano, Salvador Isaia nasceu em 1909, em Santa Maria. Ele ajudou a consolidar a loja, da qual assumiu a direção em 1939. Casado com Edith Cechella, teve sete filhos – dois deles administram a empresa até hoje, além de um irmão. Atualmente, a Eny Calçados tem 13 lojas em Santa Maria, Santa Cruz do Sul, Cachoeirinha e Porto Alegre. Vende 800 mil pares de calçados por ano – volume que daria para distribuir dois pares de sapatos para cada morador da Santa Maria de 83 anos atrás. Salvador Isaia morreu em março de 1992.Além de empresário, ele foi um apoiador da cultura local. Numa justa homenagem da cidade ao homem que fez a Eny crescer e tanto contribuiu com a sociedade santa-mariense, o Calçadão foi batizado com seu nome. Agora, quando a cidade completa 150 anos, é a vez de a Eny Calçados retribuir. A direção da empresa está restaurando a fachada do antigo Cinema Imperial, na Doutor Bozano, prédio onde funciona a loja infanto-juvenil.
Empresa que nasceu em 1910 continua produzindo a tradicional Cyrillinha Alemanha, os brasileiros passaram a hostilizar os imigrantes e a depredar empresas, lojas e casas germânicas por aqui. A fábrica da Cyrilla foi um dos alvos na cidade: o prédio foi totalmente destruído em um incêndio criminoso. Mas a Cyrilla se refez. Ganhou ajuda do governo, reconstruiu a fábrica e foi ampliando a produção e a qualidade dos refrigerantes e licores. Em 1983, mudou de dono, mas seguiu com o mesmo nome. Porém, a concorrência com as multinacionais e a falta de incentivos dos governos foram corroendo o empreendimento. Em 1995, a Cyrilla parou com os licores. Mas segue hoje com a produção de refrigerantes, água mineral, água tônica, gasosa e a tradicional Cyrillinha.
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EMERSON SOUZA, BANCO DE DADOS
Planalto
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m 1948, Santa Maria comemorou 90 anos. Naquele mesmo ano, uma pequena empresa de ônibus era criada em Santo Ângelo. Como se estivesse predestinada, a primeira viagem da Empresa Rodoviária Planalto era para Santa Maria. O percurso foi feito em um pequeno ônibus de 25 lugares, que levou 10 horas para percorrer os 235 quilômetros entre as duas cidades. Quatro anos depois, almejando um futuro melhor para a família, o dono da Planalto, José Moacyr Teixeira, mudou-se para Santa Maria a fim de que seus filhos pudessem estudar. Aqui, fixou residência e a matriz da empresa. No Coração do Estado, a família Teixeira fez raízes que, ao longo dos anos, tornaram-se cada vez mais profundas e sólidas. A cidade alimentou os sonhos de José Moacyr e da mulher, Norma Helga Teixeira, professora e braço-direito do marido na administração da empresa. A Planalto começou a crescer. A frota de ônibus foi sendo ampliada para atender aos novos destinos, que incluíam cidades como
Porto Alegre e São Gabriel. Desde 1952, Santa Maria e a Planalto foram crescendo juntas. Hoje, passadas seis décadas, a cidade se orgulha da empresa de transportes que viu crescer e que este ano também comemora uma data importante: 60 anos de fundação. Atualmente, a Planalto tem 850 empregados, uma frota de mais de 200 ônibus e faz viagens nacionais e internacionais, sendo atualmente a maior do setor em faturamento no Rio Grande do Sul. A Planalto faz parte do Grupo JMT, dono de uma empresa de transporte de cargas, de estações rodoviárias do interior do Estado, de revenda de caminhões e de agência de turismo. O grupo santa-mariense também resgatou a aviação comercial no Interior, ao fundar a mais nova companhia aérea gaúcha, a NHT, em 2006. A empresa foi batizada com as iniciais de Norma Helga Teixeira, que morreu em 2006. Hoje, sem a Varig – companhia gaúcha vendida para a Gol –, a NHT é a única empresa área comercial registrada no Rio Grande do Sul.
CHARLES GUERRA
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Empresa que completa 60 anos tem 200 ônibus e 850 funcionários
Expresso Mercúrio
onta a mitologia que o mensageiro dos deuses era um ser com asas nos pés e no capacete. Com a imagem relacionada à velocidade, Mercúrio virou símbolo do comércio para os romanos. E se a rapidez é sinônimo de desenvolvimento no mundo moderno, merecida homenagem ganhou o deus mitológico no Coração do Estado ao batizar uma das maiores empresas de transporte do país. A trajetória da Expresso Mercúrio teve início em 13 de setembro de
1946. A tradicional família Fração fundava em Santa Maria uma transportadora que nascia pequena, mas com grandes objetivos. Em uma época em que viajar, mesmo por pequenas distâncias, virava uma aventura, fazer o transporte de mercadorias era tarefa difícil. A Mercúrio passou a fazer esse papel, aproximando produtores e consumidores da região. Com os anos, a Expresso Mercúrio foi crescendo e se modernizando. Ampliou sua rede de distribuição e passou a atender a todas as cidades
das regiões Sul, Sudeste e Nordeste do país. Os negócios não ficaram só em território nacional. Nos anos 70, a empresa entrou no setor internacional. No ano passado, a Expresso Mercúrio deixou suas raízes santa-marienses para se unir a um dos maiores grupos de transporte do mundo, a TNT Express. Atualmente, como integrante da TNT, a Mercúrio tem uma frota de mais de 2 mil veículos – sendo 1,3 mil próprios –, que transportam mercadorias para 4 mil cidades do Brasil e do Mercosul.
Hoje, empresa que nasceu em Santa Maria, em 1946, está unida a um dos maiores grupos de transporte do mundo
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A imprensa
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Vida noturna REPRODUÇÃO TV IMEMBUÍ
ão antiga quanto Santa Maria é a presença dos meios de comunicação na cidade. A história da imprensa santa-mariense se divide em dois momentos: o da tipografia e o da tecnologia. Por muitos anos, os jornais dominaram o cenário local. Até porque a imprensa escrita era o único meio existente para levar informações aos santa-marienses. Em geral, os jornais eram mantidos por políticos, funcionando como elo entre os partidos e a população. Em 1883, começou a circular o primeiro jornal do Coração do Estado, a Gazeta do Norte, fundado por José Ferreira Camboim Filho. Daí em diante, novos impressos foram surgindo. Entre eles, estava o Diário do Interior (1909), o primeiro com circulação diária. Em 9 de outubro de 1934, surge o A Razão, que hoje é o mais antigo em circulação. Fundado pelo jornalista Clarimundo Flores, o jornal pertenceu à rede Diários e Emissoras Associados, de Assis Chateaubriand. Em 1982, foi comprado por Luizinho e Maria Zaira De Grandi. O segundo momento da imprensa surge com a invenção do rádio. Transmitir o som pelo ar foi algo extraordinário. O rádio mudou a história mundial, por aproximar as pessoas de diferentes continentes. A nova tecnologia desembarcou em Santa Maria no quente verão de 1942. Em fevereiro daquele ano, os santa-marienses passaram a ouvir os sons transmitidos pela Rádio Imembuí, que teve origem no sistema de auto-falantes de rua usados para propaganda. O rádio deu forte impulso à cultura, à atividade econômica e, principalmente, à informação. Atu- A coroação da imprensa de Santa Maria almente, há cinco veio no final de 1969 com a criação da emissoras de rádio TV Imembuí, canal 12, hoje RBS TV AM (Santamariense, Guarathan, Medianeira, Universidade e Imembuí) e seis de FM (Atlântida, Itapema, Antena 1, Nativa, Medianeira e Rede Aleluia). A tecnologia não parou de avançar e, no final de 1969, o som se aliou à imagem. Surgiu em Santa Maria a primeira emissora de televisão: a TV Imembuí, canal 12. Era a coroação da imprensa santa-mariense. A proeza coube a batalhadores pelo desenvolvimento da cidade, o engenheiro civil Wilson Aita e os empresários Salvador Isaia e Antônio Abelin. Além de emissoras de rádio e jornais, a população passou a ser abastecida por informações sobre a cidade por meio de telejornais e programas de TV feitos aqui, com olhar local. No começo, toda a programação era ao vivo. Em agosto de 1973, a TV Imembuí passa a integrar o Grupo RBS. Mais tarde, surgiu a TV Pampa Santa Maria, também com telejornal local. A imprensa de Santa Maria passou a viver novo momento a partir de 2002, com a fundação do Diário de Santa Maria, na época, o sexto jornal do Grupo RBS com foco principal nas notícias da cidade e da região. É a primeira experiência multimídia do Sul do país, unindo as redações do jornal e da RBS TV Santa Maria. Devido ao crescimento da imprensa local, foi criada a Associação dos Veículos de Comunicação de Santa Maria, que busca defender os interesses do setor.
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om tanto público jovem, não é de se estranhar que Santa Maria tenha uma vida noturna agitada. E são tantos bares e boates, que eles abrem, fecham, mudam de nome e de endereço com uma rapidez difícil de acompanhar. Nem a prefeitura tem registro de quantos estabelecimentos do tipo há hoje em Santa Maria. Por isso, festejar aniversários é uma conquista de poucos locais. Entre os bares, o Ponto de Cinema é uma referência para quem mora e para quem já viveu aqui. Localizado na esquina da Rua Riachuelo, abre as portas há 17 anos. O nome é uma referência ao antigo Cine Glória, grande cinema de rua que existiu em Santa Maria até a década de 1990. O Ponto oferece música ao vivo e estimula o “bom papo” de professores, funcionários públicos e profissionais liberais. Para quem quer dançar, o Absinto Hall está entre os principais nomes. Surgiu a partir de uma casa de sinuca e, em 2008, completa sete anos. O subsolo do Monet Plaza Shopping é o ambiente propício para a música eletrônica e para os shows do pop-rock local e estadual. Outros espaços interessantes que a cidade oferece estão localizados na subida da serra, que leva a Itaara. Duas propostas diferentes aliam a beleza da vista a um clima temperado. O Eventual Bar, é, há 15 anos, jovem e moderno. Um detalhe interessante é que ele é aberto ao público só no verão. Desde 2000, bem em frente ao Eventual, foi aberto o Corujão, para atender os que gostam de um arrasta-pé durante todo o ano. Entre o público mais alternativo, o Macondo tem conquistado destaque, principalmente pelas atrações nacionais. Estudantes universitários são o público-alvo de vários locais, que mudam a cada estação, levando em consideração a diversidade de tantos gostos. As boates universitárias – uma das mais antigas é a do DCE – são marca em Santa Maria e entram no clima e na moda de cada geração. JULIANO MENDES, ESPECIAL
Não é possível falar em bares em Santa Maria sem lembrar do Ponto de Cinema, que existe há 17 anos
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Expofeira
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ore dolor illam autpat. Ut autatinci tismod te ming eniate feugait la consenit iute mod du
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CHARLES GUERRA
Tinci teUt acipisisl ipiscin ut lute tie delis et lumsandipis augueraesent wisi ercilla cons nons nibh eugue enit, sed tetueros diam, con henim nullute conse delit verat vercipit nulla adio do commolor ad tinci te exera 1978, e a ro categoria con vercili industrial smodiamet, de Sanquis ea feuisasdel ut inisit lobore ta Maria lançava bases do que hojemod é a eum irilitdo nonumsandit nulput Por ipit lupmaior multifeira Centro do Estado. la alis et, sustie min heiniciativa do tat Clube dosnum Diretores de Emnisimead dolut alismol orperit presas Industriais (CDEI) apoio daaut atual Câmara laoreet ing el de dunt praestrud de Comércio, Indústria e Serviços Santa Maria ent incieblaorer iure tede dolobore (Cacism), da prefeitura do Conselho Desen- corhent aliquis do era exeriliquat. volvimento de Santation Maria (Codesma), lançamodolore tio et aliquat da a Mostra IndustrialUstie de Santa Maria (Mostrisexero eu faccummy ma). Foram aquelasiril 40 ing empresas a mostrar seusnulla venit lortin produtos no Colégiocon Cilon Rosa que utpat, deramconse iníciodunt nulla alit lum doluptat. Ro à Feisma – Multifeiravullut de Santa Maria. elenim volorer De lá para cá, passaram-se 30 anosostrud e, com odiat. tem-Cum eu facin voluptat vel incipsu msanpo, a Feisma foi se reinventando até chegar ao fordio estrud tisidas tetummy nullan mato atual. A periodicidade foi uma principais utpat, vullan velit, con alterações por qual passou a multifeira: emveliquatem 1995, vullut inci te vero ming el ela deixou de ser realizada de dois emodolore dois anos doloboreet ilit la faciliquat, para se transformarilem um evento anual. Além con ut wisit, quiscidunt adit, pasqui blam disso, a feira que ocorria no outono até 1992 volore eugue vulluptat, sou a respirar os areszzrilisim da primavera. feum Ainda na década summodip de 90 e noetue início doszzrit, anosquamconum dunt exeraesto 2000, a Feisma se consolidou comoat.o Ud palco de ex nacional. ercipisit, Em velesed shows com artistasodit de wiscip destaque exer ipis num anim luptatin 2004, o foco das atenções passou ser quat a indúsmodiamet, velessecte tria, o comércio e volore a prestação de serviços dasmagnibh erciliq uipisi tisciduntpor illutat. empresas de Santa Maria e região, pontuado Ut luptat at.e opções de gasapresentações de artistas locais Uscilit wiscidunt wismolum el tronomia. Esse redirecionamento da multifeira diat, core dolumsan alterou o perfil do público, hojecortie formado por pes-ulput commodite comprar. adio commosoas interessadas emvendrero ver as novidades am, commodo Tendo outubro comodolorem o mês oficial, e o Centro luptatem Desalisi. como casa, a Feisma se portivo Municipal (CDM) Elis eugiatmais nostrud et loborper consolidou como um dos eventos aguardados adip Mais ercipde ectet adigna no calendário municipal. 310 utpat estandes, di- augue te eugiatinim ilit landigna vididos em quatro pavilhões cobertos,vel chegam a corperil enissequis atrair cerca de 110 mil visitantes em novenon diasesequat. de Et praessi. evento. Com paisagismo e decoração temáticos, Onsequisi. Uptat. Nonsequisim iluminação e cenários reproduzindo diversos estiex eugiamum zzriuscidunt ut voleslos, a Feisma cria anualmente mundo à parte trud magnis no coração do Rio Grande do Sul.ate molorti onsectem el iriureet ad et, susto consequisisl dolenibh eriure commy nonse
LAURO ALVES
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Feisma C
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pecuária em alta, o quase fechamento de uma feira de bovinos de Porto Alegre e a vontade de trazer o evento para Santa Maria, unidos ao desejo de fortalecer a agropecuária da região. No final década de 60, esse era o cenário ideal para criar uma feira do setor em Santa Maria. E assim se fez. Fruto da união de três entidades – Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), prefeitura e Associação Rural –, em outubro de 1968, foram abertos os A maior multifeira da portões do Centro de Eventos Francisco Viterbo Borregião central do Estado ges, na universidade, para receber diferentes raças de é organizada em mais de verostio310 endio odolent irit la feu bovinos, eqüinos, ovinos, cavalos, suínos, caprinos estandes e chega a faci tissi blam augait wismoloree aves de cabanhas da cidade e da região. Era a prisomar 110 mil visitantes et, consequisl eui ex eugait lorem meira edição da Expofeira, que acabou se tornando a iure magnis num dolor am at demaior do gênero na região e uma das mais importanlenissit lummy nulput at, ver acil tes do Rio Grande do Sul. iure conulla faccum velisl utpat. A Expointer, que era em Porto Alegre, acabou não Unt velesequam iuscipit, consevindo para Santa Maria – mudou-se para Esteio.Apequam adit nisl ullamet lutat, quissar disso, os idealizadores da Expofeira foram adianse consequip ercidunt wissequis te. Ano após ano, trouxeram mais cabanhas, mais nos nonsed dolorpero cons nulluanimais, mais raças e mais público. Novos setores tet atincidunt dolor sim veriuscin foram se agregando à feira: o comércio, a indústria, ullamet iliquipit augue dunt wisl o artesanato, os grandes shows artísticos e atrações utatet lorperos ero eum vel ute dit para o público em geral. aliquipit in hendip enim quamcon Em 2007, a feira completou 40 anos e também sectem vel irit lorerat luptate eufestejou todos os seus recordes: 48,6 mil pessoas gait dolore dolor illam autpat. Ut passaram pelo centro de eventos, 720 animais foram autatinci tismod te ming eniate vendidos nas pistas de leilões e remates, e R$ 3,734 feugait la consenit iuscilis alit lomilhões circularam em dinheiro nos negócios feitos rem delenibh elismol oreetuer irino evento. Mais do que números, a Expofeira reprelismod eugiam, si blaore euguerci senta desenvolvimento. No evento, são fechados nebla con vulla core veliquamet pragócios importantes, cabanhas compram e vendem te mod duisisc iduipis modignis et reprodutores para melhorar a qualidade genética vel ulputat aliquat No ummodiamet dos rebanhos.Além disso, a própria competição, com ano passado, a t wissequis nos nonsed de dolorpero cons nullutet atinci-a iriustrud et alit,Expofeira, con utat. Ut prat premiação animais, incentiva os pecuaristas que ocorre wis am, v no centro de eventos aperfeiçoar ullame as raças e ajuda a divulgar as cabanhas dunt da dolor sim veriuscin melhores animais. t iliquipit dunt wisl utatet lorperos ero eum vel ute UFSM, completou 40 anos auguecom
olore feuisi.
Ros nonullam verosto od te facidunt lortis alit prat. Ud tet vendipsum nons del ut veliquissisi bla faccum diametum zzrit ea aciliqu iscipit aut pratue tin exeriure dunt lam ad magnisis num et, sed tie magna facip eriure mod estrud dunt utat. Gue modolor sit lamcons dolesto consequ amcorem zzrit adigniat. Duis duipsum sandre modoluptat vendion sequisl ent nonsenibh eugait ut ulput ing eu feum er sumsan utpat aut augait eugue consecte modignis augiam autetum am iustions enis duipit adigna feuissisi. Re ea facin voloreetuero el ut velisi er sequisit augue ercipissed magna facipit prat irit atis eumsan vullam ver sit, quisi.
dit aliquipit in hendip enim ❚uamcon sectem vel irit lorerat luptate eugait dolore dolor illam autpat. Ut autatinci t ❚ ismod te ming eni – ate feugait la consenit iuscilis alit lorem delenibh elismol oreetuer irilismod eugiam, si blaore euguerci bla con vulla core veliquamet prate mod duisisc iduipis
DIÁRIO DE SANTA MARIA 60
MIX ZZ E ZZ DE MÊS DE 2007 | XX
150 Rede hoteleira
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ma das marcas mais conhecidas de Santa Maria é sua hospitalidade. E essa característica está muito ligada a sua posição geográfica, no coração do Estado, antiga rota de carreteiros e caixeiros-viajantes. Sempre foi uma necessidade dar pouso a tanta gente de fora. Fato que segue até hoje. Por isso, a rede hoteleira ganha papel de destaque na história santa-mariense. Santa Maria sempre investiu em bem-receber. No final dos anos 30, a cidade ganhava um dos mais elegantes e tradicionais hotéis do Estado, o Jantzen, construído por José Carlos Cauduro e administrado por Sílvio Jantzen. Era um empreendimento novo, moderno, que deixou muitos hóspedes admirados pela exuberância do seu prédio, o primeiro de quatro andares da cidade. O Edifício Cauduro, na esquina da Avenida Rio Branco com a Rua Venâncio Aires, abrigou o Jantzen até os anos 80. Com o passar dos anos e o crescimento da cidade, novos hotéis foram sendo construídos. O comércio se destacava na região, atraindo consumidores de outras cidades. A instalação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), nos anos 60, deu impulso ao setor hoteleiro, pois novas acomodações se faziam necessárias para abrigar professores, pesquisadores e estudantes. O setor segue em crescimento, embalado pelo turismo de eventos e religioso. Hoje, há pelo menos 21 estabelecimentos, que oferecem 3 mil leitos. Entre os mais tradicionais, estão o Morotin (com dois hotéis), o Itaimbé e o Continental, além de pousadas e aparthotéis. Até mesmo a modelo mais badalada do mundo, a brasileira Gisele Bündchen, viu potencial na cidade para construir aqui o Palladium Executive Flat, com 24 apartamentos.
FRANCIELI REBELATTO, ESPECIAL
Morotin, com dois hotéis, está entre os 21 estabelecimentos que oferecem 3 mil leitos na cidade. É investimento no bem-receber
Feira do Cooperativismo
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oi por acreditar que o comércio pode se estabelecer como uma relação justa, ética e solidária, que o Projeto Esperança/Cooesperança e a Diocese de Santa Maria, com o apoio do Banco da Esperança e da Cáritas-RS, uniram esforços para realizar a 1ª edição da Feira do Cooperativismo. Tudo começou em 1º de julho de 1994, com a participação de 27 empreendimentos solidários, vindos de 13 cidades da região. O evento daquele ano reuniu cerca de 4 mil pessoas. Quando a Feira do Cooperativismo começou, há 14 anos, não houve praticamente participação governamental. De acordo com a irmã Lourdes Dill, coordenadora do Projeto Esperança/ Coosperança, aquela foi uma luta de poucos que, com o passar do tempo, foi conquistando apoiadores. A feira sempre foi realizada no terminal de comercialização direta, que fica nos fundos do Santuário da Medianei-
CHARLES GUERRA
Grupos vendem a produção no evento que ganhou importância na América Latina
ra. Hoje, leva o nome de Centro de Referência de Economia Solidária Dom Ivo Lorscheiter. Apesar de não ter mudado de endereço, a Feira do Cooperativismo foi ampliando os seus limites geográficos. Desde 1998, ela ganhou cunho estadual. Em 2000, tomou contorno nacional e, em 2005, passou a abranger todo o Mercosul. A partir de 2007, a feira ganhou importância em todo o continente latino-americano. Para a irmã Lourdes, a Feira do Cooperativismo de Santa Maria “é uma experiência aprendente e ensinante, importante para a articulação da economia solidária não só na região, mas no mundo”. Ano a ano, a participação de representantes de outros continentes tem crescido – em 2007, houve participantes da Ásia, da Europa e da América Latina, ao todo 18 países – e, em seu crescimento, a Feira do Cooperativismo reforça a idéia de que outra economia é possível.
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FERNANDO RAMOS
Há 110 anos, a entidade ajuda Santa Maria a crescer e se desenvolver
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Cacism Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Santa Maria
ascida em 1897, antes mesmo de a cidade completar 40 anos, a Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Santa Maria (Cacism) tem uma ligação estreita com o Coração do Rio Grande. Mais do que representar os empresários, nesses 110 anos, os líderes da entidade ajudaram os governantes locais na luta pelo desenvolvimento da cidade. O trabalho da Cacism ajudou na criação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), da Feisma e do Distrito Industrial. Contribuiu nas ampliações do Centro Desportivo Municipal (CDM) e na vinda do Colégio Militar e de unidades do Sebrae, Se-
nai e Sesi. O asfaltamento de estradas da região, a ampliação da rede de esgoto e a instalação de uma central telefônica estão entre as “brigas” encampadas ou apoiadas pela Cacism. Durante todo esse tempo, a entidade empresarial mais antiga da cidade teve várias mudanças de nome. Começou como Praça do Comércio. Em 1918, virou Associação Comercial e teve outras trocas até se chamar Cacism. Nos anos 70, a entidade construiu sua atual sede, na Rua Venâncio Aires, no Edifício Cirilo Costa Beber, em homenagem ao ex-presidente que mais batalhou por sua construção. Com o aluguel de salas co-
merciais do prédio, a Cacism obtém renda para ajudar na organização da Feisma e também em projetos sociais, como o Parceiros Voluntários. A Cacism mantém programas para despertar o empreendedorismo em jovens, como o Junior Achievement, além de outros que ajudam a qualificar empresários. O projeto mais recente é em parceria com a prefeitura. O Executivo está construindo o centro de eventos no CDM, que permitirá a ampliação da Feisma e do espaço para esportes, além da realização de outras feiras. Em troca, a entidade constrói o Parque da Nonoai, com pista de caminhada e área de lazer.
SUCV Sociedade União dos
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FRANCIELI REBELATTO, ESPECIAL
Caixeiros-Viajantes
otivados pela ausência de um sistema oficial de previdência, 57 caixeirosviajantes se reuniram em 1913, em Santa Maria, para criar uma entidade voltada à defesa dos interesses da classe e ao amparo de suas famílias. A sede da União dos Caixeiros-Viajantes do Estado não poderia ser mais estratégica: no coração do Estado, onde se encontravam as principais rotas ferroviárias, o que tornava a cidade parada obrigatória para os viajantes. Nas palavras de Cândido de Souza, um dos idealizadores da sociedade, “todos os caminhos levam a Santa Maria e à união da classe”. Criada a Sociedade União dos Caixeiros-Viajantes (SUCV), o próximo passo era providenciar um lar para a entidade. Um espaço nobre no centro de Santa Maria, precisa-
mente na Rua Venâncio Aires, 1.934, foi o local escolhido para abrigar o prédio. Há mais de uma versão sobre os autores da obra, mas o certo é que foi construído sob a presidência de João Fontoura Borges, nome com o qual foi batizado o edifício. Uma das versões diz que a Companhia Construtora de Santos, que tinha escritório desde 1922 em Santa Maria, seria a responsável pelo projeto e pela execução da obra, inaugurada em 20 de setembro de 1926. Outra defende que Alfredo Haessler teria assinado o projeto. Há ainda uma terceira hipótese levantada pelos historiadores de que Theodor Wiedersphan – com o qual Haessler trabalhou em Porto Alegre – seria o autor do projeto. O que existe de concreto é a beleza do prédio, que resistiu há mais de 80 anos e registra passagens
importantes na história da cidade. Foi na sacada do prédio do SUCV que Getúlio Vargas proferiu um discurso de campanha, em 1930. Considerada uma obra de estilo eclético, que reúne diferentes correntes arquitetônicas, o prédio tem quatro andares, além da mansarda (cobertura), ocupada pelo Clube Comercial durante 25 anos. A parte interna é temática em relação à atividade dos caixeiros-viajantes: no hall de entrada, estão as estátuas de Mercúrio (Deus do Comércio) e Ceres (Deusa da Agricultura), além de vitrais, no patamar da escadaria, em alegoria ao comércio e aos mercadores. Em 1993, o edifício foi considerado patrimônio histórico da cidade. Hoje, no segundo andar do prédio, há uma casa de câmbio. No térreo, uma farmácia de manipulação, uma loja e uma imobiliária.
Foi nas sacadas do prédio que Getúlio Vargas discursou em campanha de 1930
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A Viação Férrea
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barulho do trem ainda ronda a cidade, mas já não tem o charme da época em que o transporte de passageiros era o que movimentava a Viação Férrea de Santa Maria. A nossa estação faz parte da linha Porto Alegre – Uruguaiana, e sua construção foi autorizada em 1873. A idéia era criar uma estrada de ferro que ligasse o litoral e a Capital com as fronteiras (por isso, na mesma época, foi liberada a construção da linha Rio Grande – Bagé). No mesmo ano, foram aprovadas as condições para exploração e estudos da linha e foi assinado o contrato entre o governo imperial e os conselheiros. As obras começaram em 1877, na margem direita do Rio Taquari, rumo à fronteira oeste do Estado. Na época, o percurso até Porto Alegre era completado por transporte fluvial, pelo Rio Jacuí, em uma extensão de aproximadamente 60 quilômetros. Em 1883, o primeiro trecho estava pronto. Dois anos depois, foi a vez de inaugurar a segunda fase da obra, que ligava Santa Maria a Cachoeira do Sul e contava com as estações Ferreira, Jacuí, Estiva, Arroio do Só, Camobi, Otavio Lima e Santa Maria. E foi em 1885 que a estrada de ferro alcançou a cidade, que já apresentava uma estrutura urbana razoável, mas que, a partir daí, ganhou grande impulso, entrando no maior período de desenvolvimento de sua história. Para se ter uma idéia, em 20 anos, a população urbana de Santa Maria saltou de 3 mil para 15 mil habitantes. O número de prédios subiu de 400 para 1,5 mil, e novas ruas, hotéis e lojas foram abertos. A Avenida Rio Branco foi um dos pontos da cidade onde o desenvolvimento foi mais visível. Nos arredores dela, muitas famílias, vindas de toda a região, passaram a viver. Construções peculiares, como a Vila Belga, surgiram nessa época. A população aumentou e ficou ainda mais heterogênea quando, em 1898, a companhia belga, que arrecadou parte das estradas de ferro,
JULIANO MENDES, ESPECIAL
instalou seus escritórios em Santa Maria. Diversas famílias vindas da Bélgica e da França fixaram residência aqui, o que acabou provocando um impulso na vida social e na assimilação da cultura européia. O tráfego de passageiros começou em 1938. Daqui, era possível ir para Santana do Livramento, Santiago, São Borja, São Luiz Gonzaga, Cerro Largo, Santo Ângelo, Cacequi, Rio Grande, Bagé, Pelotas, Cruz Alta, Santa Rosa, Passo Fundo, Caxias do Sul, Gramado e até São Paulo. A viagem de Santa Maria até a capital paulista durava três dias e três noites. O trem tinha restaurante e vagões que ofereciam camas para que o passageiro viajasse confortavelmente e chegasse “inteiro” ao fim da linha.
Museu – Em 1996, o tráfego de passageiros foi extinto, mas a época de ouro das estradas de ferro em Santa Maria será lembrada em um espaço que pretende contar essa história. É o Museu do Ferroviário, projeto que foi lançado em 2003 com o objetivo de homenagear o ciclo ferroviário que trouxe o desenvolvimento urbano para Santa Maria. Uma sala na gare, que agora é Centro Ferroviário de Cultura, foi destinada ao museu. Além disso, foram levados para a antiga estação ferroviária de Santa Maria uma locomotiva a vapor, um locomóvel (máquina de vapor sobre rodas) e um vagão antigo. A idéia do museu é reunir acervo que conte a história da implantação da ferrovia em Santa Maria e o legado que o ciclo ferroviário deixou. Isso inclui fotos, reportagens e réplicas de trens e do modelo de vila ferroviária, que era construída para dar estrutura aos trabalhadores envolvidos na implantação dos trilhos.Atualmente, parte do acervo está na sala do Museu do Ferroviário na gare, que pode ser visitada nas quintas-feiras à tarde. A idéia é resgatar a imagem do ferroviário e a memória de uma época que sempre terá de ser lembrada quando o assunto for a história e o desenvolvimento de Santa Maria.
Em 20 anos, população passou de 3 mil para 15 mil habitantes
Os trilhos trouxeram um desenvolvimento ímpar à cidade. A história desse passado está guardada numa sala que vai virar museu
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CLAUDIO VAZ
B Coopfer FRANCIELI REBELATTO, ESPECIAL
uem hoje entra no belo prédio da Cooperativa dos Estudantes de Santa Maria (Cesma), na Rua Professor Braga, para comprar um livro por um preço mais em conta, locar um bom filme nacional, assistir a uma sessão do Cineclube Lanterninha Aurélio ou mesmo tomar um café com os amigos, talvez não faça idéia da importância que essa instituição tem para a história da Cidade Universitária. Tudo começou em 1978 em um período em que qualquer junção de pessoas poderia ser considerada subversiva aos olhos dos militares. Um grupo de 212 jovens se reuniu para lançar a pedra inaugural do que hoje é a Cesma. A primeira preocupação era criar uma alternativa para que estudantes da UFSM tivessem como comprar material didático, já que a cidade tinha apenas quatro livrarias que vendiam os livros autorizados pelos censores da época. Mas o que se seguiu a partir daquela reunião em 16 de junho de 1978, foi algo muito mais grandioso do que qualquer um daqueles universitários poderia imaginar. Da primeira sede, improvisada no Centro de Ciências Rurais, e com somente dois livros – Manual de Entomologia e Manual de Fitopatologia – até o atual prédio, com quase 3 mil metros quadrados e aproximadamente 30 mil títulos, a Cesma construiu uma trajetória sólida e fundamental para o movimento estudantil na cidade. Ao longo de três décadas, algumas mudanças aconteceram, mas a essência da instituição permanece a mesma daqueles difíceis anos de chumbo. Entre políticos de projeção nacional e bixos, são mais de 36 mil associados que ainda hoje encontram na Cooperativa dos Estudantes de Santa Maria um porto seguro para a liberdade intelectual. Exatamente o que se buscava em 1978.
Cooperativa reunia 17 armazéns, 15 farmácias, um hospital e 120 escolas
Cesma
em mais do que ser dona da Casa de Saúde, como é conhecida hoje, a Cooperativa de Consumo dos Empregados da Viação Férrea do Rio Grande do Sul (Coopfer) figurou por décadas entre as maiores e mais promissoras empresas do Estado. A Coopfer ajudou Santa Maria a se tornar uma referência no Estado com seus 23 mil associados, 1,5 mil funcionários, 17 armazéns e 15 farmácias nas principais cidades gaúchas, um complexo industrial, um hospital, dois colégios de formação profissional e 120 escolas espalhadas às margens das ferrovias. Filhos de ferroviários vinham estudar na cidade, nas escolas da cooperativa (Hugo Taylor e colégio Santa Terezinha, transferido mais tarde para o prédio do Colégio Manoel Ribas, construído pela Coopfer). Quem chegava de trem a Santa Maria encontrava um grande centro comercial da cooperativa na Rua Manoel Ribas, na Vila Belga. Além do comércio, a entidade tinha fábricas de sabão e bolachas, entre outras, abastecendo seus armazéns. Criada em 1913, a Coopfer vendia com desconto aos ferroviários. Estudos revelam que a expansão da ferrovia só foi possível graças ao apoio da cooperativa, que levava mantimentos e educação às famílias, nas localidades mais distantes. O império construído em seis décadas desmoronou entre os anos 70 e 80, quando a ferrovia começou a declinar. Mesmo com a inflação alta, a Coopfer seguiu vendendo com até 60 dias de prazo. Quando recebia, os valores estavam defasados. Resultado: a cooperativa ficou endividada e se desfez de quase todo o seu patrimônio. Prédios foram dados em pagamento a ex-funcionários que tinham ações trabalhistas. Um dos poucos que restaram foi a Casa de Saúde. No final de 2007, a prefeitura entrou com uma ação de desapropriação do prédio, para tentar salvar o hospital – o caso ainda tramita na Justiça. O outro prédio remanescente é o da sede da Coopfer, na Rua Manoel Ribas, que faz parte do complexo ferroviário tombado como patrimônio histórico e cultural pelo município e pelo Estado.
A Cooperativa dos Estudantes de Santa Maria começou em 1978 e hoje tem 36 mil associados
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Hospital de Caridade
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ospital de Caridade Dr. Astrogildo Cesar de Azevedo. A história do primeiro hospital de Santa Maria se confunde com a do seu primeiro diretor, que ocupou o cargo durante 43 anos. O médico nascido em Porto Alegre veio para Santa Maria ainda jovem. Aqui se casou e fez carreira. Pela profissão, preocupava-se com a saúde pública. Um acidente envolvendo dois trens, em fevereiro de 1890, deflagrou a vontade já latente de construir o hospital. Um funcionário da rede ferroviária ficou gravemente ferido e precisou amputar a perna. A cirurgia ocorreu como todas as demais da época, em condições precárias, nos fundos de uma farmácia. Oito anos depois, o médico, junto com outros 36 moradores, fundou a Sociedade de Caridade Santamariense, com objetivo de juntar dinheiro, para cons-
truir e manter um hospital que atendesse de graça a população pobre de Santa Maria. No dia 7 de setembro de 1903, o primeiro pavilhão do hospital foi inaugurado, dando início a uma era médica na cidade. Conquistou status de hospital regional, com uma área física de mais de 22 mil metros quadrados e mais de 450 médicos. Conta com serviço de prontosocorro, bloco cirúrgico com nove salas de cirurgias, UTI Adulta, Coronariana e Neonatal. Tem ainda 310 leitos, fora os 17 da maternidade. Por ser um hospital filantrópico sem fins lucrativos, 20% dos atendimentos são destinados a pessoas pobres. É administrado por 40 sócios, pessoas da comunidade que se reúnem periodicamente para eleger, dentre os membros, uma diretoria que administra e prevê fundos para a manutenção do hospital.
Casa de Saúde Segundo maior hospital público, é o que mais faz partos na cidade
Maior hospital particular de Santa Maria surgiu em 1903. Hoje, tem mais de 450 médicos em seu corpo clínico
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FOTOS CHARLES GUERRA
segundo maior hospital público da cidade e um dos maiores da região – a Casa de Saúde - foi inaugurado em 24 de abril de 1931. Inicialmente, atendia apenas ferroviários e seus familiares. Naquela época, os moradores de Santa Maria e da região onde atuava a Compagnie Auxiliaire des Chemis de Fer au Brésil, concessionária da Viação Férrea, não contavam com sistema público de saúde. Só existiam hospitais e postos de saúde privados. Os trabalhadores contribuíam com associações de classe, cooperativas e outros órgãos – os sindicatos não existiam. Como aconteciam muitos acidentes – principalmente no conserto de vagões e trilhos – a Cooperativa de Consumo dos Empregados da Viação Férrea (Coopfer) resolveu abrir um hospital a seus associados. Para isso, usou o dinheiro que os sócios pagavam a ela. Mais tarde, acabou abrindo as portas do hospital a toda a comunidade. O hospital se especializou em partos – atualmente é o que mais faz partos normais na cidade – e ficou conhecido e premiado pelo tratamento diferenciado. No final da década de 90, o hospital entrou em crise devido a problemas financeiros. Por mais de uma vez, ameaçou fechar as portas. Uma das crises mais graves foi em 2000, quando a Casa suspendeu as internações e, depois, foi reaberta numa parceria entre a cooperativa com prefeitura, Universidade Federal de Santa Maria e Estado. Em abril de 2006, não resistiu e fechou as portas. Só voltou a funcionar no mês seguinte, numa parceria com o Hospital de Caridade. Em dezembro de 2007, a prefeitura pediu a desapropriação do prédio. O processo está na Justiça. Em março deste ano, a prefeitura fez um acerto com o Ministério Público do Trabalho, e quem passará a administrar o hospital, por 10 anos, será o Caridade. A promessa é que os 76 leitos sejam ampliados e que o hospital faça cirurgias eletivas pelo Sistema Único de Saúde.
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Pesquisa em células-tronco
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ão precisa viajar longe para ter acesso às novidades quando o assunto é uso de células-tronco para o tratamento de algumas doenças. No Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), pesquisas com esses organismos já ocorrem há mais de 10 anos. Pacientes de doenças como leucemias agudas e tumores sólidos têm a oportunidade de usar as células-tronco do próprio corpo para tentar, pelo menos, uma qualidade de vida melhor. Já foram pelo menos 80 pessoas beneficiadas com transplantes de medula óssea pagos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Na área de Medicina Veterinária, os estudos com células-tronco também já avançam por aqui. Há pesquisas de alunos do mestrado e do doutorado que tentam compreender como essas células atuam na regeneração de tecidos nos animais, como recuperação de tecido ósseo, de córneas e de tendões.
FOTOS FRANCIELI REBELATTO, ESPECIAL
Centro de Transplante de Medula Óssea
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Hospital Universitário de Santa Maria (Husm) deveria ter sua atenção voltada principalmente para o ensino e a pesquisa em saúde. Mas ele espelha a situação da saúde pública no país e faz muito mais do que deveria: é a referência para cerca de 2 milhões de habitantes de 45 cidades da região. Fundado em 1970, teve sua primeira sede na Rua Floriano Peixoto, no Centro. A partir de 1982, passou a desenvolver suas atividades no campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no bairro Camobi. E elas não são poucas: tem uma média mensal de 16 mil consultas (especializadas e no pronto-atendimento), 70 mil exames e mil internações. O fundador da UFSM, José Mariano da Rocha Filho, já vislumbrava o hospital desde 1960 no projeto da Cidade Universitária. Ele já projetava a instituição como referência regional, mas ela foi além: é o maior hospital público do interior do Estado. Um verdadeiro exército cuida de tudo: são 1.280 funcionários do quadro, 300 bolsistas, 350 terceirizados, 89 residentes e 140 professores. Os atendimentos feitos à comunidade são realizados em mais de 300 leitos da unidade de Internação e da Unidade de Tratamento Intensivo, além de salas de ambulatório, emergência, centro cirúrgico e centro obstétrico. Mesmo com todos os problemas vindos da alta procura por atendimento e da falta de investimentos federais ao longo dos anos, o Husm continua cumprindo sua missão de formar novos profissionais e, ao mesmo tempo, de salvar vidas. Vida longa a um hospital que orgulha não só sua cidade, mas todos aqueles que ainda têm esperança na saúde pública.
LAURO ALVES
Estudos avançam na área da Medicina Veterinária da UFSM
Hospital Universitário
O maior hospital público do interior do Estado fica no campus da UFSM
oi uma grande, mas recompensadora luta que deu ao Hospital Universitário de Santa Maria o quarto centro de transplante de medula óssea do Brasil. Em 1986, começava o treinamento da equipe de 15 profissionais, entre médicos e enfermeiros, que transformariam o sonho de salvar vidas em realidade. Quatro anos depois, em 1990, o grupo fez o primeiro transplante, já na unidade do Hospital Universitário. Mas o Centro de Transplante de Medula Óssea (CTMO) foi inaugurado oficialmente apenas em 1995. O sonho virou realidade com um investimento de cerca de R$ 1 milhão, vindo de doações de bancos (Bradesco e Banco do Brasil), do governo do Estado e da União. Hoje, o CTMO briga pela vida de seus pacientes realizando de três a quatro transplantes de medula óssea por mês. O centro já soma quase 200 transplantes nesses 18 anos de luta pela saúde. Da operação de número 40 até a 140 – ou seja 100 transplantes – nenhum paciente morreu nos primeiros três meses após o procedimento, o que é motivo de muita comemoração na unidade. É uma comprovação da segurança e da qualidade do atendimento oferecido pelo centro de transplante que atende pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Trabalham hoje no CTMO cinco médicos, seis enfermeiras, além de psicólogo, fisioterapeuta e outros profissionais técnicos. A unidade tem seis apartamentos e capacidade para abrigar, simultaneamente, 12 pacientes transplantados.
O quarto centro de transplante de medula óssea no Brasil já fez quase 200 transplantes
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Os morros
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CLAUDIO VAZ
uem gosta dos lugares altos e de suas belas paisagens tem pouco ou quase nada para se queixar em Santa Maria. A cidade é cercada por morros que, além de oferecerem visões únicas, são cenários perfeitos para o lazer e o esporte. Se começarmos pelo Norte, não dá para deixar de lembrar do Morro de Santo Antão, localizado a seis quilômetros do Centro, com acesso pela estrada para São Martinho da Serra. O local é mais conhecido pelas celebrações ao santo que empresta seu nome. As nascentes de águas que estão sobre o morro, inclusive, são consideradas milagrosas por muitos fiéis. Na vizinhança dele, está o Morro das Antenas (da Caturrita ou da Embratel). Ele até pode ter uma subida íngreme, mas tudo isso é compensado pela vista panorâmica da cidade e por uma rampa de asa-delta. Também na Região Norte, o Morro do Cechella está localizado no bairro Itararé, a dois quilômetros do Centro. A vegetação, aliada à vista privilegiada, torna o morro um passeio agradável, mas, ao mesmo tempo, perigoso por causa dos assaltos. Problema que pode ser resolvido no futuro, já que, para o morro, é planejada a construção de um monumento a Nossa Senhora Medianeira, com o acréscimo da infra-estrutura e da segurança.
O que não faltam são belas vistas e paisagens exuberantes
Natureza generosa – Continuando o passeio ao redor de Santa Maria, temos o Morro do Cerrito, no bairro Nossa Senhora de Lourdes, a três quilômetros do Centro. Ele é conhecido internacionalmente por causa dos seus fósseis. É o local onde estão o Seminário São José e o Centro Marista de Eventos. Ao lado do Cerrito, está o Morro do Mariano ou do Abraão, que abriga uma imagem da padroeira da cidade, Nossa Senhora da Conceição. Em área particular, está o Morro do Elefante, na Região Leste. A nove quilômetros do Centro, é possível observar de seu topo boa parte da cidade. É um local mais propício para trilhas e leva esse nome por causa do formato de um elefante. Numa parte mais urbana de Santa Maria, fica o Morro do Monumento ao Ferroviário, no bairro Itararé. Concluída em 1934, a construção que homenageia a categoria tem uma escada de acesso com 130 degraus. O que não faltam são belas vistas e boas oportunidades de aventuras com os morros de Santa Maria. Mas a beleza e a diversão nunca devem deixar de lado os cuidados com a segurança. Dessa forma, continuará sobrando orgulho desses locais privilegiados pela natureza.
Morro do Cechella, no Itararé, oferece uma visão privilegiada da cidade. Nele deve ser erguido um monumento a Medianeira
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m toda a lista de cartões-postais de Santa Maria que se preze, lá está o suntuoso viaduto da BR-158, que separa Santa Maria de Itaara. Em 2002, o local recebeu um novo nome, Viaduto sobre o Vale do Menino Deus, mas é como Garganta do Diabo que sua beleza chega aos quatro cantos do Estado. Com 245 metros de extensão e a uma altura de 72 metros, a ponte é uma das paisagens mais belas da cidade. O viaduto começou a ser construído em 1950, mas a empresa que tocava a obra entrou em falência e, então, a Empresa Sul-
FOTOS CLAUDIO VAZ
Garganta do Diabo Brasileira de Engenharia Ltda assumiu a construção, que foi inaugurada em 1961. Há pesquisas que garantem que o nome Garganta do Diabo teria sido coisa dos trabalhadores que ergueram a ponte. Um dos motivos para as referências ao “capeta” seria a dificuldade de trabalhar no local, que, além de alto, era escuro e assustador. O viaduto mudou o caminho dos santamarienses em direção ao norte do Estado. Antes dele, para ir a Itaara, a Estrada do Perau era a única alternativa. A inauguração contou com toda a pompa, com presença de políticos e nomes ilustres da época.
Estrada do Perau
Barragem do DNOS
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rês milhões e 800 mil metros cúbicos de água. O volume que movimenta o lago da Barragem do DNOS dá uma idéia da importância que a represa tem para Santa Maria. Criada para abastecer o Distrito Industrial (DI), anteriormente projetado para o bairro Camobi, a barragem acabou perdendo sua utilidade quando o DI ganhou um novo local, a Zona Oeste. Foram mais de 10 anos desativada até que a barragem, um verdadeiro cartão-postal nos contornos do bairro Campestre do Menino Deus, passou a abastecer parte da cidade. Alimentada pelas águas do Rio Vacacaí-Mirim, a Barragem do DNOS – que leva esse nome devido ao extinto Departamento Nacional de Obras e Saneamento – socorreu Santa Maria na maior seca já vivida pela cidade, em 1986. Com a construção da primeira adutora ligando a represa à estação de tratamento na Vila Vitória, as águas que embelezam o pé do morro começaram a servir, então, para o abastecimento público. Responsável por matar a sede e sanar tantas outras necessidades de 37% da população, o líquido precioso que flutua pela barragem também serviu de motivação para a prática de um esporte pouco tradicional em nossa região: a canoagem. Foram as condições propícias da Barragem do DNOS que levaram à criação do projeto social Canoagem na Escola.
A passagem que começou a ser construída em 1950 recebeu o nome, em lei, de Viaduto sobre o Vale do Menino Deus
MARINA CHIAPINOTTO, ESPECIAL
paisagem exuberante da Estrada do Perau, tão apreciada por quem escolhe subir a serra entre Santa Maria e Itaara por ela, não foi o que motivou sua abertura, por volta de 1840. Na época, a picada de cerca de 10 quilômetros em curva facilitava o deslocamento das tropas do governo que lutavam na Revolução Farroupilha. O caminho encurtava a distância de Santa Maria, ainda uma freguesia de Cachoeira do Sul, para os Campos de Cima da Serra. Só em 1856, a picada em meio à vegetação foi alargada para garantir a passagem de carretas. Onze anos mais tarde, colonos alemães da região de Pinhal, atual Itaara, pediram à Câmara Municipal de Santa Maria a construção da estrada do Pinhal, hoje Estrada do Perau. No início da década de 40, em plena 2ª Guerra Mundial, a Estrada do Perau foi calçada com paralelepípedos para facilitar o desloca-
mento de contingentes militares para o restante do país. Um fato curioso ocorreu no final do século 19.A Câmara de Vereadores de Santa Maria encaminhou à Assembléia Provincial, em Porto Alegre, um pedido para que o pedágio que vinha sendo cobrado na estrada fosse extinto. A cobrança dificultava o trabalho dos carreteiros, que não tinham condições de pagar o tributo. Seria o primeiro pedágio da história da região. Na década de 70, por causa da conclusão da BR-158, o Perau deixou de ser a principal ligação da cidade com as regiões Norte, Nordeste e Noroeste do Estado. Depois disso, a estrada assumiu um caráter mais turístico, que deve ser intensificado com a primeira revitalização, projeto que ainda está no papel prevê mirantes, pista de caminhada, pórticos, colocação de iluminação, áreas de convivência e estacionamento.
Reservatório que abastece 37% da população da cidade é usado também na prática da canoagem Foi nesta estrada, aberta por volta de 1840, que foi instalado o primeiro pedágio da Região Central
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150 NABOR GOULART, BANCO DE DADOS
As riquezas
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fósseis
oucas cidades do Brasil e até do mundo têm um passado enterrado tão rico como Santa Maria. Cada barranco avermelhado por aqui costuma ser, em potencial, uma área que pode levar a novas descobertas fósseis. Isso porque a cidade está na região que tem um dos principais cemitérios de ossadas de animais do mundo do período Triássico (246 milhões a 206 milhões de anos atrás) da era Mesozóica (246 milhões a 65 milhões de anos atrás). Os fósseis são restos ou vestígios de animais ou vegetais que foram preservados em rochas. Só na zona urbana de Santa Maria, há pelo menos 21 locais considerados sítios fossilíferos (áreas em que há um grande número de fósseis). Neles, foram achados fósseis de animais vertebrados, invertebrados e vegetais. São duas as principais formações geológicas (tipos de rochas da região) em que foram encontrados fósseis. Na formação Caturrita, foram achados coníferas (espécie de pinheiro) e dicinodontes (animais de quatro patas que chegavam a atingir 3 metros de comprimento). Essas fauna e flora existiam há cer-
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ca de 210 milhões a 200 milhões de anos atrás. Lenhos permineralizados (a chamada madeirapedra), como os que estão em frente à Igreja Santa Catarina, no bairro Itararé, eram comuns. Já a formação Santa Maria é dividida em Membro Alemoa e Membro Passo das Tropas. No primeiro, entre 220 milhões e 210 milhões de anos atrás, os animais mais comuns eram os rincossauros (animais de quatro patas que chegavam a atingir 3 metros de comprimento, reproduzido abaixo); os cinodontes (tinham o formato do crânio e o esqueleto parecidos com o de um cachorro) e os tecodontes (tinham quatro patas, atingiam até 6 metros do focinho à cauda e podiam pesar mais de uma tonelada). No Membro Passo das Tropas, de 230 milhões a 220 milhões de anos atrás, foi encontrada a flora Dicroidium, que são impressões vegetais em rochas, além de escamas e peixes. É o elo que permite dizer que um dia existiu o supercontinente Pangéia, onde todas as massas de terra do planeta eram uma só, e os animais e vegetais podiam livremen- Barrancos avermelhados às te se movimentar de um margens de rodovias costumam levar a novas e ricas descobertas lado a outro.
Criadouro São Braz
canto de um casal de pássaros caboclinhos seduziu Santos Braz. Daí, nasceu a paixão pela fauna brasileira. Hoje, o homem que é conhecido na cidade como protetor dos animais vive na companhia de 426 bichos de 131 espécies, incluindo felinos de grande porte como um puma e uma onça-pintada. Desde a autorização do Ibama para o funcionamento do criadouro conservacionista já se passaram 12 anos. Neste intervalo, em 2000, o local deixou o bairro Passo D’Areia, onde funcionava no pátio de casa, e ganhou uma área de 26 hectares, no distrito de Boca do Monte, cedida pelo empresário Ari Glock. O ano de 2006 foi o mais difícil e um dos mais marcantes na história do São Braz. Com a campanha“Adote um Amigo”, o criadouro conseguiu que 98% dos animais tivessem a alimentação garantida pela comunidade – o que impediu que ele fosse transferido para Gramado por falta de condições para se manter.
CHARLES GUERRA
Com mais espaço, foi possível deEscolas senvolver projetos voltados para agendam educação ambiental. Escolas de visitas todo o Estado podem fazer paspara seios monitorados. Um dos espaços conhecer o mais comentados é o Monumento lugar, que da Liberdade, onde 1.863 gaiolas tem até foram empilhadas em uma espécie tigre de portal. Cada gaiola representa uma ave que o criadouro tratou, recuperou e devolveu à liberdade. O criadouro ainda serve de local para estagiários de medicina veterinária, biologia e zootecnia do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.
Parque Itaimbé
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iversão para toda a família a poucos metros do Centro. Este bem que poderia ser o slogan do Parque Itaimbé, o maior e um dos mais tradicionais espaços públicos de lazer do Coração do Rio Grande. Do final da Rua Ernesto Becker até o entroncamento com a Avenida Dores, são 1.115 metros de muita área verde. Um belo cenário que faz do Parque Itaimbé o lugar ideal para buscar refúgio, seja nos dias abafados de verão ou naqueles domingos de frio na Boca do Monte. Inaugurado em 1969, o parque, que surgiu da canalização do Arroio Itaimbé, tem cinco quadras poliesportivas e uma cancha de areia para prática de futsal, futebol de areia, vôlei, basquete e handebol, além de outros esportes como skate e ciclismo. O parque é sinônimo de esporte, mas não só disso. Palco de diversos shows musicais e
FRANCIELI REBELATTO, ESPECIAL
São 1.115 metros de área verde para praticar esportes apresentações artísticas, abriga dois espaços importantíssimos para a cultura: a Concha Acústica, por onde passaram as principais bandas da cidade nas últimas duas décadas, e o Centro de Atividades Múltiplas Juan Poggetti, o Bombril, que recebe diversas atividades culturais, principalmente, paras os alunos de escolas públicas.
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CHARLES GUERRA
As mulheres bonitas
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beleza da mulher santa-mariense tem fama dentro e fora do Estado e até no Exterior. Basta citar o nome da cidade para as “adversárias” de concursos de beleza se arrepiarem. O medo da concorrência não é à toa. As meninas de Santa Maria costumam se destacar nos maiores concursos realizados no Estado e no país. No Miss Brasil, por exemplo, das nove gaúchas que ganharam a seleção nacional, duas eram representantes de Santa Maria – Juliana Borges, em 2001, e Rafaela Zanella, em 2006. No maior concurso de beleza do Estado, o Garota Verão, Santa Maria também se destaca. Elegeu Karen Kohler, em 1998, Rafaela Zanella, em 2003, e Luana Baggio, no ano passado. Se incluirmos na lista a campeã de 2001, Priscila Conrado Flores, que venceu representando Itaara em 2001 porque não acreditou que venceria pela cidade em que morava, Santa Maria, o coração do Rio Grande é o município que mais elegeu soberanas no Garota Verão. Não há estudos científicos que indiquem por que Santa Maria é um celeiro de beldades. Segundo estudiosos da genética, beleza é algo relativo, que depende do tempo e do lugar. Já houve o tempo das gordinhas, depois das magérrimas e, com o medo da anorexia, agora é a vez das mulheres com curvas. Mas por que, então, Santa Maria é conhecida como “a Venezuela brasileira”? A miscigenação é apontada como o fator mais determinante para a beleza das mulheres desta terra. E são vários os tipos de beleza. Não é uma cidade só de loiras ou só de morenas... Só de gente de olho claro. Há espaço para várias belezas. Além disso, a área de estética é considerada por especialistas como bastante evoluída. Na cidade, existem excelentes e atualizados profissionais em academias, centros de estética, salões de beleza e clínicas médicas.
GABRIEL PAIVA, O GLOBO
Em 2001, Juliana Borges venceu o maior concurso de beleza do país
Santa-marienses arrematam títulos estaduais e nacionais As jovens que disputam esses concursos costumam sair muito preparadas de Santa Maria. Carlos Corrêa Camargo, que é o cabeleireiro preferido da maioria das misses, diz que além da beleza, os ensaios que fazem e a educação da candidata são fundamentais. As santa-marienses vão às seleções bastante seguras. A participação desde pequenas de concursos que põe à prova a beleza infantil serve de ensaio para muitas concorrentes. Conforme Carlos, na disputa, chama a atenção a desenvoltura da santa-mariense. Além disso, as candidatas quase sempre contam com importantes patrocínios de clubes, entidades e empresas da cidade. Meios de comunicação e órgãos como prefeitura e Câmara também dão apoio para as representantes. Mas a beleza da santa-mariense não está só nas passarelas. As mulheres daqui não saem de casa de qualquer jeito. Escolhem uma boa roupa e costumam desfilar maquiadas pelas ruas da cidade. Basta passear pelo Calçadão, pelo shopping, pelos clubes. Para o lado em que se olhar, você conseguirá comprovar que a mulher bonita da cidade está em todos os lugares.
Rafaela Zanella foi eleita Miss Rio Grande do Sul e, depois, Miss Brasil em 2006 RAFAEL HAPPKE, ESPECIAL
Luana Baggio venceu o Garota Verão em 2007. Santa Maria é a cidade que mais levou títulos no concurso
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Exportadora de cérebros
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ou estudar em Santa Maria.’ Milhares de jovens já repetiram essa frase nas últimas décadas, e outros tantos ainda vão pronunciá-la. Depois de formada, a maioria costuma ir embora em busca de oportunidades. Aliados a eles, há os milhares de santa-marienses que se formam e deixam a cidade atrás de emprego ou especialização. Santa Maria não consegue absorver o grande contingente de profissionais formado e que cresce a cada ano. Por esse perfil educacional, a cidade é conhecida por ser uma “exportadora de cérebros”. Só a UFSM já graduou 54.356 profissionais, desde que foi fundada, em 1960. O número de pessoas formadas aqui é bem maior, levando em conta as dezenas de faculdades, escolas técnicas e profissionalizantes e colégios locais. Em avaliações do Ministério da Educação, vários cursos superiores se destacam, alguns entre os melhores do país. Grandes empresas sabem do potencial da cidade e vêm buscar talentos. É o caso da fábrica de motores elétricos e equipamentos Weg, de Santa Catarina, que já contratou dezenas de engenheiros e técnicos formados na UFSM. A multinacional norte-americana Halliburton, do setor petrolífero, também faz seleção na universidade para suas filiais no Brasil. Além disso, há profissionais daqui atuando na maioria das grandes empresas presentes no país e mesmo no Exterior, além de artistas e pesquisadores de ponta em diversas universidades nacionais e internacionais. Essa tradição de exportar cérebros surgiu em 1922, com a Escola de Artes e Ofícios (chamada mais tarde de Hugo Taylor), que formava filhos de ferroviários de todo o Estado em áreas como eletricidade, fundição, marcenaria e alfaiataria. A escola fechou, mas várias instituições assumiram esse papel e seguem lapidando talentos até hoje.
O Chimarrão é um dos símbolos da acolhida rio-grandense e santa-mariense
Estender a mão ao outro é uma atitude muito freqüente entre os santa-marienses
FOTOS CHARLES GUERRA
Pesquisadores de ponta que se formam aqui vão atuar em empresas do país e até no Exterior
Hospitalidade
Coração do Rio Grande não é o só o centro geográfico do Estado. Santa Maria também pode ser chamada de Coração do Rio Grande pela hospitalidade com que recebe seus visitantes. Uma acolhida tão calorosa, que contribui para que muitos passageiros se tornem santa-marienses de coração. Desde o início do século 19, viajantes da Alemanha, da França e da Itália falavam de impressões de “amabilidade” e levavam para além-mar a forma como eram tratados por aqui. Vários fatores são apontados como a causa de Santa Maria ter a virtude de receber bem. A própria hospitalidade gaúcha, que aliás tem fama internacional, é um deles. Costumes e tradições como a roda de chimarrão, tão comum em nossas ruas, parques e praças, fazem com que quem visita a cidade sinta-se em casa. Mas Santa Maria costuma ser considerada até mais hospitaleira do que outras cidades do Estado. A Viação Férrea, a UFSM e as unidades militares foram decisivas para o cosmopolitismo. A presença de muitos jovens, de “cabeça aberta”, é apontada como barreira a preconceitos com os de fora. Trata-se de uma hospitalidade que pode ser comprovada até em ambientes competitivos como o de grandes empresas. Profissionais que vêm de outros lugares contam que os próprios colegas do novo emprego costumam ajudar na escolha da residência. Para quem tem dúvidas, experimente chegar. Aqui, todos são de casa.
Solidariedade
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aço ou vínculo recíproco de pessoas ou coisas independentes; adesão ou apoio a causa; sentido moral que vincula o indivíduo à vida, aos interesses e às responsabilidades de um grupo social, de uma nação, ou da própria humanidade; relação de responsabilidade entre pessoas unidas por interesses comuns; dependência recíproca. Muitas são as descrições trazidas pelos dicionários para a palavra solidariedade. E todas elas podem ser resumidas em: “estender a mão ao outro”. Ajudar um idoso a subir no ônibus, dar alimento a quem precisa, realizar o sonho de Natal de uma criança que enviou uma cartinha ao Papai Noel e socorrer vítimas de uma tragédia são algumas formas de ser solidário.E há muitas outras, como demonstra o povo santa-mariense. Segundo entidades e igrejas, sempre que a comunidade é chamada a ajudar, a resposta vem. Uma ajuda que chega naturalmente e costuma crescer edição após edição de eventos como o Papai Noel dos Correios e a Missa da Solidariedade, que recolhe alimentos no terceiro fim de semana de cada mês, na Igreja Santa Catarina. Na cidade coração do Rio Grande, há mais de 60 instituições assistenciais que têm como missão ajudar o outro. Em casos de tragédias pessoais ou catástrofes coletivas, o socorro costuma chegar rápido e não parte só de quem tem a responsabilidade de fazê-lo. É quando a cidade prova que a solidariedade está espalhada por ela. Vem de muitas pessoas, mas também de empresas, entidades e de órgãos públicos. As demonstrações de solidariedade do povo santa-mariense chamam a atenção. Quem está acostumado a presenciá-las conta que o povo, mesmo o mais simples, com uma situação financeira desfavorável, nunca se nega a ajudar. A religiosidade e a fé também são apontadas como impulsos a esse valor. Afinal, as igrejas pregam: “não basta rezar, é preciso fazer pelo outro”.
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Lideranças do movimento estudantil
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á 28 anos, milhares de jovens tomaram as ruas do país com um discurso ímpar pelas Diretas Já. O discurso em cima do direito de votar acendeu a faísca de mudanças e arremessou os jovens às ruas. Estudantes, de vários níveis, uniram-se em prol do pedido do voto. Nos anos 90, foi a vez de os caras-pintadas voltarem às ruas, agora não mais para pedir pela eleição do presidente, mas para sedimentar a renúncia de Fernando Collor de Mello. Movimentos de força e união que, em boa parte, formaram-se entre os bancos escolares. Um tradicional berço de formação política de jovens, tanto em Santa Maria quanto no restante do país, mas que acabou perdendo espaço na formação de lideranças no decorrer dos anos da abertura política. Dos movimentos estudantis dos anos 80, vários líderes locais seguiram na política, entre eles os deputados federais Paulo Pimenta (PT) e Cezar Schirmer (PMDB) e os ex-deputados Marcos Rolim e João Gilberto Lucas Coelho. Dos líderes jovens que atuaram no Movimento Fora Collor, entre outros tantos, o deputado estadual Fabiano Pereira (PT) e o vereador Tubias Calil (PMDB).
Caras-pintadas foram às ruas pedir o impeachment de Fernando Collor
BANCO DE DADOS
A juventude organizada
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As etnias
o contrário de muitas cidades gaúchas, que foram colonizadas por uma etnia predominante, Santa Maria tem a cara da mistura – assim como o Brasil. Pelo menos 10 povos contribuíram para a cidade ser o que é hoje. Como se sabe, os primeiros a chegar foram os indígenas. Mais tarde, vieram ondas sucessivas de imigrantes. Em 1787, militares lusitanos que integravam uma comissão demarcatória da Coroa Portuguesa dariam origem ao vilarejo de Santa Maria da Boca do Monte. Em 10 anos, mais de 400 famílias moravam no local. Entre os moradores, possivelmente, muitos negros escravizados – teoria impossível de provar pela falta de documentação (o primeiro documento de um negro emitido aqui é uma certidão de nascimento de 1801, quando, provavelmente, centenas de escravos já haviam dado seu sangue por essa terra). Os alemães começaram a chegar em 1829. A maioria fazia parte de batalhões militares contratados para defender o Estado de invasões. Boa parte casou por aqui e acabou ficando para ver a chegada dos italianos vindos da Quarta Colônia, ao lado de Santa Maria. Não há certeza da data da chegada, mas sabe-se que, em 1895, os editais da intendência municipal
eram publicados também em italiano. Também foi no fim do século 19 que os primeiros árabes chegaram por aqui. A primeira leva foi formada por libaneses que fugiam da opressão do Império Turco-Otomano. A segunda, formada por palestinos, chegaria a partir de 1950, após o fim da 2ª Guerra Mundial e da criação do Estado de Israel. Franceses e belgas chegaram à cidade a partir de 1900, como funcionários da Compagnie Auxiliaire de Chemins de Fer au Brésil. Em 20 anos, foram embora, deixando-nos a Vila Belga como herança. Os judeus também chegaram nos primeiros anos do século 20, na antiga Fazenda Philippson (que hoje fica em Itaara). A última grande leva de imigrantes veio para Santa Maria na década de 1950. Eram 27 famílias japonesas contratadas para trabalhar em uma fazenda de Uruguaiana, que acabaram vindo para Santa Maria ao deparar com as péssimas condições de trabalho oferecidas por lá. A integração de povos e raças na cidade é festejada na Festa das Etnias. O evento, realizado há sete anos na cidade, reúne amostras da arte e da gastronomia de mais de 20 nações – não apenas as que fizeram Santa Maria, mas também das que tornaram o Brasil uma das nações culturamente mais ricas do mundo.
As etnias ajudaram Santa Maria a crescer e se desenvolver
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anta Maria tem fama de Cidade Universitária. Por conta disso, manifestações ligadas ao meio juvenil são tão arraigadas na cidade. Uma delas é o movimento estudantil. Mas não é só no meio acadêmico que os estudantes mostram sua força. Os secundaristas também tem seu valor na trajetória de lutas importantes. Uma das mais conhecidas é a que busca manter o preço justo das passagens de ônibus. Quem representa os interesses dos estudantes são os Diretórios Centrais de Estudantes (DCEs) e os grêmios das escolas de Ensino Fundamental e Médio. No caso deste último, há ainda a União Santa-Mariense dos Estudantes (USE) e a União dos Estudantes da Região Centro (Uerc), que, atualmente, estão unidas e representam o desejo de praticamente todos os alunos dos Ensinos Médio e Fundamental. Já em relação às universidades, o responsável é o DCE. Cada instituição tem o seu. Um dos mais tradicionais é o DCE da UFSM. Por ser o mais antigo, a entidade fez história revelando lideranças políticas que viriam a se tornar nomes reconhecidos. Como a cidade reúne jovens e adolescentes com expressividade, outros movimentos também se destacam, principalmente no meio cultural. São grupos de teatro, música e literatura que lutam para conquistar seu espaço e mostrar sua arte.
FOTOS CHARLES GUERRA
DCE da UFSM, cuja sede fica na Professor Braga, faz história e revela lideranças
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Movimentos sindicais
repressão imposta pela ditadura militar não conseguiu calar a voz dos sindicalistas na luta por melhores salários e condições de trabalho. Nos anos 60, um sindicato se destacava no centro do Estado: o dos ferroviários. Como era o principal entroncamento ferroviário do Rio Grande do Sul, as greves da categoria brotavam aqui, espalhando-se depois para outros municípios. Os movimentos grevistas de 1917, 1936 e 1945 estão entre os mais expressivos ocorridos na cidade. A greve de 1917 deixou um saldo negativo. Três mortos em um confronto entre manifestantes, Brigada Militar e Exército, na Avenida Rio Branco. Outro sindicato que se destacou na cidade em defesa de sua categoria foi o dos Empregados do Comércio de Santa Maria. Em 1930, quando o grupo começou a se organizar tinha outro nome: União dos Caixeiros-Viajantes. Uma das atuações mais importantes da entidade sindical ocorreu em 1989, dando respaldo à greve feita pelos funcionários do antigo Supermercado Real. Os bancários também mostraram sua força, ao longo do tempo, espraiando a mobilização para
outros municípios, uma vez que era o sindicato de Santa Maria que organizava as entidades da Região Central. Sob a influência da Igreja Católica, foram organizados na cidade os Círculos Operários. Criada em 1932, em Pelotas, a entidade, que se espalhou pelo Estado, agregava trabalhadores de outros sindicatos atuando paralelamente às categorias mais combativas da época. Os sindicatos ligados à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) também construíram uma história na cidade. Até 1988, devido à ditadura, os funcionários não podiam se organizar em sindicatos. Por esse motivo, atuavam como associações. Após a Constituição Federal, foram criados o Sindicato dos Docentes da UFSM (Sedufsm) e a Associação Sindical dos Servidores (Assufsm). De lá para cá, as entidades têm papel fundamental na mobilização das categorias para as greves. Ainda são referência em Santa Maria na luta em defesa dos direitos de suas categorias: Cpers/Sindicato, Sindicato dos Rodoviários, da Alimentação, dos Professores Municipais, dos Trabalhadores Rurais e dos Metalúrgicos.
FOTOS CLAUDIO VAZ
Professores municipais, que vão às ruas pedir reajuste salarial, têm sindicato atuante
Projeto Esperança/ Cooesperança
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m 1980, um grupo de sonhadores começava a tornar realidade um desejo idealizado pelo então bispo dom Ivo Lorscheiter. Começavam os estudos para viabilizar, na região, o Projeto Esperança/Cooesperança, ligado à Diocese de Santa Maria. Em 1985, foram criados os primeiros projetos para proporcionar alternativas de trabalho e renda para pessoas pobres, tanto do campo como da cidade. Dois anos depois, o projeto era criado oficialmente, com nome e marca registrados. A construção de um novo modelo de desenvolvimento solidário e sustentável já beneficia diretamente 4,5 mil famílias e, indiretamente, cerca de 20 mil pessoas.A parceria da Diocese com diversas instituições, entre elas a Universidade Federal de
Santa Maria e o Centro Universitário Franciscano (Unifra), tornou palpáveis a inclusão e uma vida melhor para milhares de moradores da região. Com um modelo elogiado por estudiosos de diversos cantos do mundo, o Projeto Esperança/Cooesperança tem 230 grupos funcionando em 30 cidades que trabalham com a capacitação e a orientação a famílias que queiram apostar em um novo modelo de desenvolvimento. Entre os integrantes, 65% deles são mulheres, a maioria desenvolvendo atividades nas áreas de artesanato, confeitaria, reciclagem de resíduos, confecção e lanches.Para os idealizadores, é a própria consolidação do lema do projeto, que diz que “muita gente pequena, em muitos lugares pequenos, fazendo coisas pequenas, mudarão a face da Terra”.
Iniciativa que nasceu em Santa Maria reúne hoje 230 grupos em 30 cidades. Na foto, uma padaria formada em Caçapava
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Os clubes
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Clube Recreativo Dores (na foto, a sede campestre), com seus 11 mil sócios, é um dos 15 maiores do Brasil
m Santa Maria, a interação social e a prática de esportes acontecem também dentro de clubes. São mais de seis entidades que reúnem sócios de toda a região. O maior deles, o Clube Recreativo Dores, foi fundado em 26 de dezembro de 1980, por Celestino Da Cás. Na época, não havia nenhum sócio, hoje, são mais de 11 mil associados e 14 mil dependentes. Os investimentos anuais ultrapassam a cifra de R$ 2 milhões, e o clube está entre os 15 maiores do país. Além de se destacar na estrutura e no lazer, o Clube Dores apresenta um bom desempenho nos esportes, com destaque para a bocha pentacampeã brasileira. Outra instituição destaque é o Avenida Tênis Clube, criado por um grupo de meninas, em 7 de setembro de 1916. O objetivo era abrir um lugar, pioneiro no Estado, para a prática do tênis. O esporte continua com espaço privilegiado, mesmo com a abertura
de outras modalidades esportivas. Entre os clubes mais antigos está a Sociedade Concórdia Caça e Pesca (Socepe), resultado da união da Sociedade Concórdia, fundada por alemães em 1866, e do Clube de Caça e Pesca, aberto em 1959. Durante a 2ª Guerra Mundial, a Sociedade Concórdia foi tomada por militares, transformando-se em um Clube Militar. A fusão, que deu origem à Socepe, aconteceu em 1966.O escotismo e os esportes aquáticos são os destaques do clube, que possui, na sede campestre, em Itaara, um lago de 12 hectares. Com 88 anos, o Clube de Atiradores Esportivo nasceu a partir de uma Linha de Tiros, que existiu até 1978. Também fundado pelos alemães, mantém até hoje um Departamento de Cultura Alemã. Outras entidades se destacam, por diferentes esportes e atrações, como o Corintians Atlético Clube, no basquete, o Clube Santamariense, com seus bailes, e o Clube Comercial.
Os balneários
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uem mora em Santa Maria sabe dizer o quanto são escaldantes os dias de verão na cidade. O clima abafado e a geografia do município deixam a sensação térmica nas alturas. Porém, a cidade apresenta algumas boas opções para quem quer fugir da selva de pedras. Os balneários do Zimmerman e Ouro Verde, em Três Barras, e o do Passo do Verde, na BR392, são a pedida para quem quer espantar o calor e encontrar um recanto em meio à natureza. As águas calmas e cristalinas são os principais atrativos destes locais. Zimmerman e Ouro Verde são balneários particulares que desfrutam do mesmo rio e das mesmas belezas naturais. Vizinhos, apresentam churrasqueiras, quadras de esporte e lancherias para receber os moradores de Santa Maria e região durante o verão. Já o Passo do Verde é democrático. Não precisa pagar para entrar nem para acampar. A estrutura – churrasqueira, quadras de areia, cancha de bocha e bar – está à disposição.
RAFAEL HAPPKE, ESPECIAL
Ouro Verde oferece águas calmas e cristalinas e muita natureza para curtir
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Centro Desportivo Municipal
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rincipal complexo desportivo de Santa Maria, o Centro Desportivo Municipal tem sua história ligada ao crescimento da cidade. Foi Miguel Sevi Viero, prefeito entre 1960 a 1963, quem plantou a primeira semente para a construção do centro. Ele doou à prefeitura a área para a construção do Centro Desportivo Municipal, que foi batizado com o nome do prefeito, ainda no final dos anos 50. Na época, o local foi destinado para a construção do Centro de Educação Física e Cidade OlímpiCDM vai se ca. Mas foi apenas nos anos 80, sob a administornar um grande tração do então prefeito José Haidar Farret, que o CDM ganhou os contornos atuais. Por esse centro de eventos motivo, recebeu o apelido popular de Farrezão. de Santa Maria O nome oficial, contudo, surgiu em 1986: Centro Desportivo Municipal Santa-Mariense, determinado por lei. Hoje, o prédio passa por mudanças. A pista de caminhada recebeu uma camada de britas, e o espaço como um todo promete mudar de feições em breve. Por meio de uma parceira entre prefeitura e Cacism, está sendo construído no CDM o centro de eventos. As obras começaram em fevereiro de 2007, e não há previsão de inauguração.
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Inter-SM
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A torcida tem muito a comemorar. O clube revelou o único campeão mundial de futebol nascido na cidade
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nternacional Foot-Ball Club. Foi com a grafia em inglês que o mais representativo clube de futebol de Santa Maria saiu do papel para se tornar um orgulho da cidade. Fundado em 16 de maio de 1928, aquele que mais tarde passou a se chamar Esporte Clube Internacional surgiu para fazer frente ao então hegemônico Riograndense, que se tornaria seu maior rival. Poucas informações são confirmadas a respeito da criação do colorado santa-mariense. Há quem diga que a inspiração partiu de um grupo de torcedores do Internacional de Porto Alegre. Outros, que a cor vermelha do time era uma homenagem aos maragatos. Há ainda quem sustente as duas teses ou que, simplesmente, credite sua idealização a Victorino Pereira da Silva, na época, funcionário do já extinto Café Guarani. Ele queria criar um clube que fizesse frente ao Riograndense. Suas idéias teriam influenciado os fundadores Olavo Castanha, Érico Weber, Romano Franco e Antônio Lozza. Independentemente de sua origem, o que se materializou foi um clube vencedor, que revelou o único campeão mundial de futebol nascido em Santa Maria: Waldemar Rodrigues Martins, o Oreco, vencedor da Copa de 1958, na Suécia. Que
chegou a receber em seu estádio, o Presidente Vargas (ou Baixada Melancólica), o Vasco e seus craques Mazaropi e Roberto Dinamite. Que travou duelos históricos, como os clássicos Rio-Nais, a conhecida “Batalha de Sarandi” e os confrontos com a dupla Gre-Nal. E que ergueu muitas taças. Chegou ao seu primeiro grande feito estadual em 1968, ao conquistar a chamada Zona B do Ascenso e, assim, garantir presença na primeira divisão. Em 1981, o Inter-SM montou um time que mais parecia uma orquestra afinada. O técnico Tadeu Menezes, antes ídolo como jogador, trucidou os adversários e se sagrou campeão do Interior, além de ter participado da Taça de Prata, o equivalente à Série B do Brasileirão. A conquista credenciou o clube a disputar a Taça de Ouro em 1982, a elite do futebol brasileiro. Em 1984, foi terceiro colocado na Taça CBF. Entre as passagens pela Série A do Campeonato Gaúcho – foram quatro ascensos, em 1968, 1991, 1998 e 2007 –, a mais recente ainda rende frutos. Neste ano, o Inter-SM ficou em terceiro lugar no Gauchão e garantiu vaga para disputar a Série C do Brasileirão. Com 80 anos de história, promete escrever outros tantos capítulos de gloriosa trajetória.
Riograndense
progresso que passava pelos trilhos da Região Central deixou um legado até hoje saudado nos gramados do Estado. Enquanto o apito do trem impulsionava a economia e a cultura de Santa Maria, o futebol que nasceu em berço de ferroviários fazia vibrar uma cidade que torcia pela camisa pintada de verde, vermelho e branco. Assim foi criado o Riograndense Futebol Clube, em 7 de maio de 1912, e que experimentou, ao longo de sua história, conquistas estampadas no concreto erguido em meio a uma floresta de eucaliptos. É lá, na fachada do Estádio dos Eucaliptos, construção inaugurada em 1935, que o Periquito, como é chamado carinhosamente, gravou sua maior conquista: o vice-campeonato gaúcho de 1921 (o título de campeão ficou com o Grêmio). Em 1958, a equipe se sagrou campeã do Centenário da cidade, título garantido sobre seu maior rival, o Inter-SM. Já faz tempo, é verdade, mas a paixão pelo clube da Rua Pedro Gauer passou de geração em geração, alternando bons e maus momentos e, em 96 anos de história, levou junto o nome de Santa Maria por onde passou. Por causa de sua origem, o Riograndense também sofreu com a decadência da viação férrea. Chegou a fechar as portas após disputar, pela última vez, a primeira divisão do campeonato estadual, em 1979, a chamada Divisão Especial. Feito conquistado graças ao título assegurado no ano anterior, o de campeão da Divisão de Acesso em 1978. Depois disso, viveu dias difíceis. Ficou sem futebol até 1983.Voltou à ativa, mas novamente sucumbiu diante da crise. Parou mais um período, de 1986 a 1999. E foi graças a sua apaixonada torcida que o Riograndense retomou suas atividades, com o pensamento de voltar a figurar entre os grandes times do Estado. Foi vice-campeão da extinta Série C em 2003 e, agora, tenta rescrever uma história grandiosa enquanto caminha para o seu centenário.
FERNANDO RAMOS
Erguido em 1912, num lugar que abrigava uma floresta, o estádio guarda uma história gloriosa para contar
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Corintians
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oi um desafio, quase uma provocação, que deu origem ao Corintians Atlético Clube. No início de 1932, a equipe da Associação Cristã de Moços (ACM), de Porto Alegre, grande potência do basquete gaúcho na época, aproveitou a sua passagem pela Região Central para disputar uma partida amistosa contra um combinado de atletas de Santa Maria. Sem tomar conhecimento do favoritismo do time da Capital, a seleção improvisada de Horst Puhlmann, Dalton Couto e seus amigos venceu a partida disputada na quadra do Colégio Centenário por quatro pontos de diferença, dando início à história do que hoje é o clube Corintians. Ao longo de 76 anos, são inúmeros títulos e glórias que colocaram o nome do Corintians definitivamente no hall da fama do basquete do Rio Grande do Sul. Quando
completou 15 anos de fundação, o clube conquistou o seu primeiro título estadual na categoria adulta. Dez anos se passaram até que viessem o segundo troféu e o marco inicial da geração de ouro que comandou o basquete gaúcho na década de 60. Foram quatro títulos do Campeonato Gaúcho (1960, 1961, 1962 e 1965), deixando para trás as grandes equipes de Porto Alegre, como Vasco da Gama, Internacional e Petrópolis. Depois disso, dificuldades financeiras e falta de incentivo no esporte acabaram fazendo com que o Corintians não conseguisse formar times fortes para as competições estaduais. O resultado é um jejum de títulos que já dura 33 anos na categoria adulta. Mas a esperança é de dias melhores. Em dezembro do ano passado, o time infantil do Corintians venceu o campeonato gaúcho.
Tênis
No ano passado, o time infantil venceu o campeonato gaúcho
JULIANO MENDES, ESPECIAL
Handebol
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o hall de modalidades esportivas que colocaram o nome de Santa Maria em destaque no Estado e no país, o tênis, com certeza, merece referência mais do que especial. Foram das quadras de saibro que vieram importantes títulos do esporte santa-mariense nas últimas décadas. A história do tênis na cidade começa em 1917, ano da fundação do Avenida Tênis Clube (ATC), na época chamado Sociedade Sportiva Avenida Tennis Club, a primeira agremiação de Santa Maria a ter as suas atividades voltadas prioritariamente ao tênis. Não que os outros clubes não tenham revelado bons tenistas, mas é que eles costumam investir esforços mais em competições internas. Além disso, foi do ATC que veio a primeira tenista da cidade a se destacar nas quadras brasileiras, Carmen Brenner Paz, que faturou o pentacampeonato estadual em 1953. A atleta venceu ainda por duas vezes o campeonato brasileiro, em 1950 e 1953. Mais recentemente, a cidade conseguiu colocar atletas no topo do ranking desde as categorias de base até os veteranos. Entre os que conquistaram títulos nacionais, Rodrigo e Simone Jardim, Eliza Rocha, Luciana Aita de Oliveira, Bruna Martins e Vitória Antoniazzi.
LAURO ALVES
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Bruna Martins está entre os atletas premiados nacionalmente
anta Maria teve papel fundamental na consolidação do handebol no Estado e no país. Nos anos 80 e 90, a cidade tinha diversas equipes que participavam de torneios em nível nacional e até internacional, e também fornecia atletas para as seleções gaúcha e brasileira. O primeiro título nacional foi conquistado em 1977, com a equipe juvenil masculina do Corintians. Uma das provas da importância que Santa Maria tem para o esporte é que a sede da Federação Gaúcha de Handebol fica na cidade, que já recebeu a Copa Mercosul da modalidade duas vezes. Em 2000, a seleção brasileira feminina que foi à Olimpíada de Sydney treinou na cidade. Nas conquistas coletivas, o Clube Dores faturou o título estadual em 1995. Na década de 80, a equipe da Adufsm foi pentacampeã brasileira (1981, 1982, 1983, 1985 e 19886) e tetra sul-americana (1982, 1983, 1985 e 1986). Atualmente, em Santa Maria, a Ulbra tem conquistado importantes títulos em torneios estaduais e nacionais.
Em 2000, a seleção feminina treinou em Santa Maria para ir à Olimpíada
JÂNIO SEEGER, ESPECIAL
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S MARINA CHIAPINOTTO, ESPECIAL
Bocha NABOR GOULART, BANCO DE DADOS
Em maio de 1999, a equipe do Clube Dores foi pentacampeã brasileira e desfilou na cidade
Canoagem CHARLES GUERRA
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espírito aventureiro chega com o ronco dos motores, os milhares de capacetes e o preto das roupas de couro. Há 12 anos, é assim. Em outubro, uma legião de motociclistas deixa vários países da América Latina e Estados brasileiros rumo a Santa Maria. E foi de uma grande aventura, protagonizada por quatro amigos – Edson Steglich, Adauto Firpo Mello, Gilnando Castellan e Rudinei Cielo – que surgiu a idéia de reunir apaixonados por motos na cidade. O ano era 1997. Cerca de 300 motociclistas acamparam por três dias na Rua Venâncio Aires. Onze anos depois, o evento se consolidou como um dos mais importantes do gênero na América Latina. Trocou de sede – ocorre hoje no Centro Desportivo Municipal (CDM) –, ganhou lugar no calendário oficial de eventos da cidade e do Estado e, todos os anos, atrai cerca de 8 mil pessoas, que vão conferir de perto a paixão de cerca de 2,5 mil motociclistas por suas máquinas maravilhosas. Assim como o Mercocycle, o grupo que o organiza cresceu e criou um vínculo profundo com a cidade. O Gaudérios do Asfalto ajuda na campanha de arrecadação de agasalhos, no Natal, no combate às drogas e na conscientização sobre o trânsito.
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eis vezes campeã nacional, a cidade que já foi chamada de capital brasileira da bocha tem muita história para contar quando o assunto diz respeito às canchas. Trazida para o Estado pelos imigrantes italianos, a bocha encontrou no Coração do Rio Grande um celeiro farto para conquistas. Basta que se visite as galerias de troféus de tradicionais equipes da cidade, como as do Clube Recreativo Dores (responsável por cinco títulos nacionais), da Estância do Minuano (um título nacional), do Piratini e do Centro de Pesquisas Folclóricas Piá do Sul, por exemplo, para que as vitórias venham à tona. A bocha de Santa Maria não respeitou fronteiras brasileiras. Ganhou o mundo. Entre os muitos campeões, João Carlos Oliari, o Carlinhos. Dono de mais de 50 troféus e 320 medalhas, garantiu para Santa Maria o título de campeão mundial em 1995, jogando pelo Clube Dores. A maioria dos adeptos da bocha já não é mais ligada a federações, mas existem cerca de 15 equipes atreladas a entidades, número que aumenta para 80 se forem considerados os bochófilos eventuais. Por lazer, por hobby ou com a gana de empilhar troféus, nossos bochófilos não desperdiçam chance de mostrar perícia nos arremessos que ajudaram a tornar esta terra sinônimo de vitórias.
Mercocycle
Em outubro, os motociclistas ganham as ruas de Santa Maria
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s condições para lá de apropriadas de uma barragem localizada ao pé do morro despertaram o interesse. A boa vontade de um grupo de pessoas que se aliou a um projeto social deu força à idéia. Então, foi só uma questão de tempo para que Santa Maria também passasse a ser conhecida por suas remadas. E que remadas. Daqui, saíram nomes dispostos a escrever um capítulo da história da canoagem brasileira. Naiane Pereira, Jonatan Maia e os irmãos Givago e Gilvan Ribeiro são alguns exemplos do sucesso da nossa canoagem. Os três primeiros carimbaram uma inédita participação nos Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio de Janeiro. Sem medalhas no Pan, é verdade, mas merecidamente aplaudidos por todos os santa-marienses. O último, assim como os companheiros, já rodou o mundo remando pelo país. Mas tantos outros passaram dias a fio sobre as águas da barragem do DNOS em busca de uma oportunidade que só o esporte poderia lhes oferecer. E foi assim, por meio do projeto Canoagem na Escola, uma iniciativa que uniu prefeitura e instituições como o Clube Comercial e o Santa Maria Kayak Cross Clube, que a cidade descobriu talentosos canoístas. A prática da canoagem é, sim, motivo de orgulho para Santa Maria e incentivo para quem busca um lugar no alto do pódio.
Projeto Canoagem na Escola revelou talentos que conquistaram o alto do pódio
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Lideranças políticas que fazem história CHARLES GUERRA
FOTOS REPRODUÇÃO
Santa-mariense de coração, Tarso Genro comanda a Justiça CHARLES GUERRA
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Paulo Lauda (ao centro na janela da foto acima e observado pelos eleitores da foto ao lado) venceu as eleições para prefeito em 1963. Ficou apenas cinco meses no cargo
ólo de formação acadêmica, Santa Maria sempre teve e tem peso importante quando o assunto é a formação de lideranças políticas. E são inúmeros os nomes de destaque, seja no cenário nacional, estadual ou municipal. A participação na política nacional é um reflexo dessa importância. Dos 23 ministérios do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, três são comandados por santa-marienses: o da Defesa, com Nelson Jobim, o do Desenvolvimento Agrário, com Guilherme Cassel, e o da Justiça, com Tarso Genro que, apesar de não ter nascido em Santa Maria, começou aqui a sua vida política como vereador, nos anos 60. Se considerarmos que o Brasil todo tem 5.561 municípios, Santa Maria, é, sem dúvida, uma cidade de destaque. Ainda mais se contabilizarmos outros nomes, como o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Eros Grau, e o diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, ambos de Santa Maria. Localmente, a política também é formada por lideranças que ajudaram a construir
Dos 23 ministérios de Lula, três são comandados por santa-marienses a história de Santa Maria de forma determinante. E a do Rio Grande do Sul e do Brasil também. Quando o regime militar foi instituído, em 31 de março de 1964, Santa Maria vivia o começo do seu então primeiro governo de esquerda. As eleições diretas de novembro de 1963 haviam garantido a vitória a Paulo Lauda, prefeito, e a de Adelmo Simas Genro, ambos pelo PTB. Seguidores dos ideais políticos de João Goulart, Lauda, Adelmo e toda a equipe de governo se propuseram a fazer um mandato voltado para o povo, segundo lembrava Adelmo, que morreu em setembro de 2003. A dupla é citada no projeto Brasil-Nunca Mais, que hoje integra
os arquivos da Universidade Estadual de Campinas, em São Paulo. O arquivo é tido como o maior centro de documentação da América Latina.
Direitos cassados – Lauda e Adelmo ficaram cinco meses no governo, com uma atuação que rendeu motivos de sobra para a deposição imposta pelos militares, em maio de 1964. As duas lideranças, juntamente com outros integrantes do governo, tiveram os direitos políticos cassados. Um dos problemas alegados pelos militares da cidade, na época, foi a aproximação do Executivo com os ferroviários, considerados como foco das idéias comunistas. Prefeito e vice atuavam no Movimento Nacionalista, liderados por Lauda. Os encontros eram na sede da associação da categoria, na época instalada no prédio do antigo Instituto Hugo Taylor, na Avenida Rio Branco. Entre seus integrantes, estava o comunista Jorge Mottecy, vereador na época, e que morreu em 2004. Os grupos foram considerados pelos militares como um perigo para a nação. Mottecy chegou a ficar 17 meses preso. A atuação deles na política de Santa Maria, contudo, ficou na história.
Nelson Jobim é o ministro da Defesa do governo Lula UBIRAJARA MACHADO, DIVULGAÇÃO
Guilherme Cassel cuida do Desenvolvimento Agrário no país
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