Gênesis
1ª EDIÇÃO • VOLUME 1
Edifício vivo
POR ARTHUR DIAS SILVEIRA
Autor/Editor: Arthur Dias
Orientador:
Diogo Carvalho
EDITORIAL Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil +55 31 98439-2477 | diasart.arquitetura@gmail.com Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Rua Dom José Gaspar, 500, Coração Eucarístico | +55 31 3319-4444 https://diasart.pb.gallery
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Índice 6 7
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Apresentação
Impactos cerebrais Natureza no espaço Padrões de aplicabilidade Estudo de caso 03 (AMATA, Urban Forest - Triptyque Architecture)
O contexto O desenvolvimento urbano e as Smart Cities A pressão por desenvolvimento Produção em larga escala e seus reflexos Marginalização espacial
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O lugar A produção arquitetônica e a perda de identidade Rua Guaicurus Museu do sexo e das putas Inserção harmoniosa
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Biomimética e o aprendizado com a natureza
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Arquitetura de uso misto Conceituação e desafios Para toda a cidade Hierarquia e organização Estudo de caso 04 (Valley MVRDV)
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Organismos vivos e seu funcionamento Inspiração natural: Histórico Forma x função Estudo de caso 01 (Tao Zhu Yin Yuan Tower - Vincent Callebaut)
A busca pela real sustentabilidade
Design biofílico
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A proposta
As imediações Os ocupantes Condicionantes O incentivo à cultura e seu impacto no espaço A busca por evolução Programa simplificado Conclusão
Referências bibliográficas
Breve histórico Cidades sustentáveis Arquitetura eficiente Energia, água e materialidade Estudo de caso 02 (Shenzhen Terraces - MVRDV)
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Lista de ilustrações
Figura 01 -
Tuberculosis patients from St. Thomas’ Hospital rest in their beds in the open air by the River Thames, opposite the Houses of Parliament, May 1936 - Fox Photos/Getty Images - Página 06
Figura 02 -
Sketch desenvolvimento urbano - Secretaria de Gestão Urbana da Prefeitura de São Paulo - Página 07
Figura 03 -
Biblioteca paramétrica da Bulgária - Emanuil Albert (EDITADA) - Página 08
Figura 04 -
The Rainbow Tree - Vincent Callebaut Architectures (EDITADA) - Página 09
Figura 05 -
Brown Hourglass on Brouwn Wooden Table - Mike, Pexels (EDITADA) - Página 10
Figura 06 -
Black Trash Bin With Full of Trash - Markus Spiske, Pexels (EDITADA) - Página 11
Figura 07 -
White Concrete Building - Supannika Amaracheewa, Pexels (EDITADA) - Página 11
Figura 08 -
Manifestação em Caracas, Venezuela - Ivan Alvarado/Reuters (EDITADA) - Página 12
Figura 09 -
Igreja São Franscisco de Assis - Casa Vogue (EDITADA) - Página 13
Figura 10 -
Monochrome Photo of Building - David Underland, Pexels (EDITADA) - Página 14
Figura 11 -
Rua Guaicurus - Edição da foto original de Embaúba Filmes - Página 15
Figura 12 -
Capa do livro "A Cortesã das Ruas" - Fernanda Lhama - Página 16
Figura 13 -
Esquina da Rua Guaicurus, em Belo Horizonte - Thiago Fonseca - Página 16
Figura 14 -
O Maravilhoso reino de Hilda Furacão - Revista Ágora, 2015 - Página 17
Figura 15 -
Complexo Teatro Castro Alves, inserção urbana, Salvador, 1º lugar concurso - Estúdio América - Página 18
Figura 16 -
Mountain Villa - Vincent Callebaut Architectures - Página 19
Figura 17 -
Biomimética: Metodologia e ferramentas - Site biomimética.com.br - Página 20
Figura 18 Figura 19 Figura 20 -
Ecovila na orla do rio de Janeiro inspirada na estrutura fisiológica de águas vivas - Vincent Callebaut - Página 21
Figura 21 -
Tao Zhu Yin Yuan Tower - Vincent Callebaut Architectures - Página 22
Figura 22 -
Estrutura Tao Zhu Yin Yuan Tower - Vincent Callebaut Architectures - Página 23
Formas e padrões que inspiram - Sustentarqui - Página 21
ICD/ITKE Research Pavilion - Collection FRAC Centre, Orléans - Página 21
Figura 23 -
Varanda Tao Zhu Yin Yuan Tower - Vincent Callebaut Architectures - Página 23
Figura 24 Figura 25 -
Maquete eletrônica Tao Zhu Yin Yuan Tower - Vincent Callebaut Architectures - Página 24
Figura 26 Figura 24 Figura 27 Figura 28 -
Croquis Tao Zhu Yin Yuan Tower - Vincent Callebaut Architectures - Página 24 Circulação vertical Tao Zhu Yin Yuan Tower - Vincent Callebaut Architectures - Página 24 Planta, corte e diagramas Tao Zhu Yin Yuan Tower - Vincent Callebaut Architectures - Página 25 Reportagem Arquitetura Suntentável, Márcia Souza, Ciclo Vivo - Garrett Rowland - Página 26 The residential complex Bosco Verticale in the Expo-city of Milan is the first vertical "forest" in the world. Sebastian Grote - Página 27
Figura 29 -
Mandragore: Arquitetos Propõem A Torre Mais Alta Do Mundo Que Reduzirá A Quantidade De Carbono No Ar Rescubika - Página 28
Figura 30 -
Mandragore, Vista interior - Rescubika - Página 29
Figura 31 -
Eficiência energética dos edifícios tem novas regras a partir de 1 de julho de 2021 - Fernanda Cerqueira - Página 29
Figura 32 -
Tecnologias proporcionam economia de água na construção civil - Obra 24Horas - Página 30
Figura 33 -
Impactos de carbono no concreto - Ugreen - Página 30
Figura 34 -
Preservação e valorização dos recursos naturais é indispensável para nossa sobrevivência - CEBDS - Página 31
Figura 35 -
Impactos ambientais causados pela Construção Civil - Daniara Citadin, Sienge - Página 32
Figura 36 -
O Manual da Reforma Sustentável - Ugreen - Página 32
Figura 37 -
Fachada principal, Shenzhen Terraces - MVRDV © atchain - Página 33
Figura 38 -
Biblioteca, Shenzhen Terraces - MVRDV © atchain - Página 34
Figura 39 -
Jardins, Shenzhen Terraces - MVRDV © atchain - Página 34
Figura 40 Figura 41 -
Diagramas Espaços, Shenzhen Terraces - MVRDV © atchain - Página 35 Programa, Shenzhen Terraces - MVRDV © atchain - Página 35
Figura 42 Figura 43 -
Biblioteca e interna, Shenzhen Terraces - MVRDV © atchain - Página 35
Figura 44 -
Praça da Apple, Macau - Foster + Partners - Página 38
Figura 45 -
Cafeteria com móveis em madeira e jardim vertical - Projeto Archibox - Página 39
Figura 46 -
Projeto marquise do Minhocão pelo escritório Triptyque - Site Galeria da Arquitetura - Página 40
Figura 47 -
O Design Biofílico além do óbvio: como implementar um projeto não tradicional - Blog Castelatto - Página 40
Figura 48 -
Fachada principal AMATA, Urban Forest - Triptyque Architecture - Página 41
Figura 49 -
Planta, corte, entrada e vista lateral AMATA, Urban Forest - Triptyque Architecture - Página 42
Figura 50 -
Maquete física, isométrica, vista lateral AMATA, Urban Forest - Triptyque Architecture - Página 43
Figura 51 -
Co-office - Yupp Dong, Sungkyunkwan University - Página 44
Figura 52 -
Cidade Matarazzo, São Paulo - Alexandre Allard - Página 45
Noturna e externa, Shenzhen Terraces - MVRDV © atchain - Página 35
Figura 53 -
Diagrama Timmerhuis - OMA - Página 46
Figura 54 -
Fachada princiipal Valley - MVRDV - Página 47
Figura 55 -
Vistas da rua Valley - MVRDV - Página 48
Figura 56 -
Diagramas de volumetria, corte e vista interna Valley - MVRDV - Página 49
Figura 57 -
Diagramas, Planta 15º pavimento, vista aérea Valley - MVRDV - Página 50
Figura 58 Figura 59 Figura 60 Figura 61 Figura 62 Figura 63 Figura 64 Figura 65 Figura 66 Figura 67 Figura 68 Figura 69 Figura 70 Figura 71 Figura 72 Figura 77 Figura 74 Figura 75 -
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05 Lote de implantação - Google earth editado - Página 51 Logo Aprosmig - Fundo Brasil - Página 52
Morador de rua tenta se proteger do frio na zona sul de SP após a madrugada mais fria dos últimos anos - Bruno Rocha/Fotoarena/Agência O Globo - Página 52 Cooperativa de catadores de SP participa de congresso internacional - Julio Ottoboni - Página 53
Vendedores ambulantes da capital inspiram mostra - Produção de Giulliana Santos e Maitê Louzada, sob orientação de Luíza Glória, UFMG - Página 53 Operação Urbana OUC ACLO - http://oucbh.indisciplinar.com - Página 54 Mapa uso e ocupação do solo - Elaboração própria - Página 55 Mapa imóveis tombados - Elaboração própria - Página 56 Mapa zoneamento - Elaboração própria - Página 57 Mapa arborização - Elaboração própria - Página 58
Mapa circulação viária - Elaboração própria - Página 58
Mulheres mineiras fazem história no grafite - Anna Rocha - Página 59
A lobotomia da fé - Supremassivo - Página 60
Diagrama 01, Programa simplificado - Elaboração própria - Página 61 Diagrama 02, Programa simplificado - Elaboração própria - Página 62 Diagrama 03, Programa simplificado - Elaboração própria - Página 63
Diagrama 04, Programa simplificado - Elaboração própria - Página 63
ZHA vence concurso para construir a Torre C na Baía de Shenzhen - Tower C . Image © Brick Visual, courtesy of ZHA - Página 64
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APRESENTAÇÃO
O MANIFESTO Considerando um contexto de rápido desenvolvimento tecnológico e industrial, o desenvolvimento urbano vem cada vez mais se afastado dos reais preceitos de cidade ideal. Mas o que de fato seria a cidade ideal? Segundo dados da ONU, atualmente mais da metade da população mundial vive nos grandes centros urbanos, e esse número tende a ultrapassar os dois terços em 2050. Aliada à promessa de mudança de patamar, a vida na cidade traz consigo uma necessidade de estar sempre em constante movimento, e isso traz consequências. Ao mesmo tempo em que o antigo problema da distância física se torna praticamente inexistente, dão lugar a ele reflexos como os índices de poluição que alcançam níveis antes inimagináveis, o surgimento zonas marginalizadas, a gentrificação do espaço e patologias psicológicas em função da constante necessidade de evolução cada vez mais presentes. Mas a cidade não é apenas um antro de doenças contagiosas. Como matriz da civilização, é o lugar onde nasceram o conhecimento e o pensamento científico, que permitiram ao ser humano manter sob controle o efeito devastador de antigas problemáticas. A cidade é, antes de tudo, contato, regulação, intercâmbio e comunicação. Essa é a base em que seus componentes se baseiam. O essencial na cidade é a interação dos cidadãos com suas atividades, instituições e meio ambiente.
"derivada do grego génesis.eos, possui o o sentido de origem, criação, geração, nascimento"
Quando finalmente entendermos que nossos prédios e cidades, da forma como estão projetados, contribuem muito para o aumento de problemas bioclimáticos e geram modelos de trabalho que estimulam patologias psicológicas, finalmente buscaremos soluções mais humanas e que possam funcionar em harmonia com os ecossistemas que habitam. O objetivo é dentro desse contexto oferecer uma pausa, o incentivo à cultura, à busca por conhecimento e reviver espaços com enorme potencial. Daí nasceu Gênesis. Um manifesto em busca de descobrir o que seria a verdadeira arquitetura do futuro. Contra o frustrado fato de saber que esse conhecimento existe e mesmo assim não é comummente aplicado, em favor de um estilo de vida que insiste em separar o meio natural e o urbano, quando a junção dos dois mundos deixa de ser possível e passa a ser necessária. Um manifesto por uma arquitetura realmente eficiente. Um edifício realmente vivo.
INTRODUÇÃO
O contexto
O DESENVOLVIMENTO URBANO E AS SMART CITIES
Ao longo dos anos, a população mundial cresce cada vez mais, e a tendência é que esses números só aumentem. No Brasil esse crescimento segue a mesma linha, e a ocupação se vê cada vez mais predominante nos grandes centros urbanos. Com isso, o crescimento desses centros ocorre muitas vezes de forma descontrolada e gera impactos nos âmbitos ambientais e sociais, atingindo até mesmo o campo da saúde mental de seus usuários. Ao analisar que as estratégias de planejamento e gestão da cidade são extremamente similares às utilizadas nos séculos passados é compreensível elas muitas vezes sejam impraticáveis ou simplesmente não funcionem, já que não consideram o desenvolvimento acelerado da vida urbana. A forma como a cidade deveria crescer é um tema extensamente discutido entre pesquisadores e urbanistas, desde o controle desse crescimento ao estímulo à verticalização. Essa discussão se vê cada vez mais importante, já que os impactos causados por um desenvolvimento desordenado são muitas vezes irreversíveis e a busca por soluções sustentáveis e que pensem nos usuários atuais passa a ser necessária.
Sendo assim, falamos então de um conceito relativamente recente, mas que vêm ganhando espaço em discussões em todo o mundo: Smart Cities, sistemas de pessoas que utilizam das camadas que compõe a cidade de forma inteligente, a fim de aplicar o uso da tecnologia no desenvolvimento e melhorar a praticidade e qualidade da vida nos centros urbanos. Essas camadas passam a ser consideradas inteligentes porque utilizam a infraestrutura, serviços, informação e comunicação de maneira estratégica com objetivos específicos para atender as necessidades sociais e econômicas da sociedade. Outro aumento incontestável das últimas décadas tem sido o aumento das patologias físicas e psicológicas provenientes do caos da vida urbana. Mesmo com a melhoria das condições de saúde e de vida, doenças infecciosas deram lugar a uma extensa variedade de transtornos mentais, muitas vezes diretamente relacionados a esse estilo de vida. Em busca de evolução e de soluções para estes desafios, diversas cidades tendem à tentativa de implementar iniciativas
para se tornarem de fato Smart Cities e otimizar processos arquitetônicos, urbanos, entre outros. Mesmo parecendo um contexto extremamente distante e muitas vezes impossível já está presente no cotidiano de algumas cidades do mundo, como é o caso de Amsterdã. Na busca pela valorização da participação dos residentes da cidade, a capital holandesa desenvolveu uma iniciativa que foi fruto da parceria entre o governo, empresas, estudantes e cidadãos com o objetivo de transformar a cidade em um lugar melhor para se viver, com projetos de habitação, espaços públicos, mobilidade e eficiência energética. Todos esses objetivos levam em consideração o fator sustentabilidade, como por exemplo o estímulo ao uso das bicicletas como meio de transporte, além do incentivo aos veículos mecânicos elétricos em toda a cidade. Uma cidade inteligente pode e deve ser vista nas mesmas dimensões de uma cidade tradicional, porém com implicações diferentes. Em relação à economia, por exemplo, se dá por meio da remodelação e estímulo à digitalização por meio de avanços tecnológicos, enquanto no ponto de vista social, se torna uma maneira de promoção de comunidades online e expansão de oportunidades de conexão e interação de acordo com os objetivos dos usuários. Outro fator que não pode ser deixado de lado são as questões políticas existentes quando falamos desse tema, já que o acesso mais fácil à
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informação promove cada vez mais o envolvimento e participação dos cidadãos nos processos de tomada de decisão e os faz cada vez mais conscientes do que se passa nesse meio. Em relação à tecnologia, o alto desempenho torna cada vez mais comum o uso mais eficiente de infraestruturas e processos por meio de ferramentas digitais, tarefas que antes eram ocupadas por pessoas. Acerca dos principais desafios na transição para esse modelo, deve ser analisada minimamente a gestão do impacto social que essas grandes mudanças geram na vida dos cidadãos, para que o uso inteligente não se limite ao sistema de produção, mas também na busca por compreensão dos impactos reais da cidade e buscas melhores soluções para quem de fato às utiliza. É de extrema importância a análise da implementação desse conceito já que, ao pensar em uma cidade futurística, vem-se em mente um espaço otimizado, tanto em relação tecnológica quando em otimização do uso de recursos e sustentabilidade para alcançar a real eficiência tanto citada. Considerando o contexto de evolução tecnológica no meio arquitetônico surgem conceitos como a arquitetura paramétrica. Nela, o processo de projeto é tomado pela utilização de parâmetros que ditarão os objetivos reais do produto final, tais como incidência solar, área das aberturas, tipos de materiais e estrutura. Uma vez definidos são
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ultrapasse o ambiente estético, provocando verdadeiras sensações e mudanças na vida das pessoas que ali vivem, trabalham simplesmente estão de passagem. A criação desse modelo de cidade que se alia no contexto de evolução permite o desenvolvimento de espaços mais atrativos e com boas infraestruturas. Na realidade, essa evolução estimula à reflexão sobre o modelo convencional de se fazer a cidade e o direito a ela. O sucesso da implementação será intrinsicamente relacionado ao engajamento social e acesso à informação da camada mais importante: os usuários, também chamados de Smart Citizens. Na camada mais popular, fatores relativamente simples como pontos de wi-fi gratuitos e temporizadores que estimam o tempo do transporte público já causam mudanças gigantescas no dia-a-dia dessa população. Leonardo da Vinci, no final do século XV acreditava que a sociedade ideal seria vista como organismo vivo, onde a estética e a funcionalidade seriam combinados em busca da solução das reais necessidades da população. Sendo assim, esta análise torna-se impossível sem considerar os diversos pontos de vista daqueles que sofrerão os reais impactos dessas mudanças, permitindo a exploração de novas aplicações e utilizações.
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combinados com o conhecimento dos seus impactos a fim de realizar projetos cada vez mais completos e alcanças resultados antes inimagináveis. As inúmeras possibilidades oferecidas pelo desenvolvimento de softwares permitem um aumento significativo no nível do domínio do projeto do autor, ajudando a tirar projetos desafiadores apenas do campo das teorias, como foi o caso do Heydar Aliyev Center, famoso exemplo de arquitetura paramétrica do escritório Zaha Hadid Architects. Mas ao contrário do que muitos pensam esse método já foi utilizado por muitos outros profissionais, como Norman Foster, Jean Nouvel, Frank Gehry e Santiago Calatrava. Se a evolução tecnológica nos permitiu alcançar resultados revolucionários no campo da execução, qual a possibilidade de trazê-la na busca por sanar ou ao menos amenizar os problemas provenientes do modelo de produção arquitetônica atual? Fazer com que o impacto desses projetos
Este trabalho tem o intuito de incentivar o desenvolvimento de espaços realmente pensados e preparados, utilizando conceitos já conhecidos, a fim de atingir mudanças reais em âmbito interno e externo e proporcionar um uso muito mais saudável ao ambiente construído. A metodologia utilizada para desenvolver os objetivos da pesquisa inclui um referencial teórico que visa esclarecer as informações necessárias para compreender e realizar um projeto que apliquem os conceitos abordados. Para tanto, foi desenvolvida uma revisão bibliográfica com consultas em livros, artigos, teses, dissertações em busca de desenvolver ainda mais novas teorias, além de colocar, reunir, avaliar criticamente e sintetizar os resultados de diversos estudos primários para o desenvolvimento da proposta de um edifício multifuncional vivo no coração de belo horizonte.
A PRESSÃO POR DESENVOLVIMENTO Não é incomum conhecer alguém que passa ou passou por problemas psicológicos em relação às perspectivas de futuro. Com as inovações tecnológicas e maior exigência do mercado a competitividade se torna cada vez mais presente no meio profissional, fazendo com que a pressão psicológica por resultados cresça na mesma velocidade. Sendo assim, os índices de estresse no meio urbano (que já são altos por inúmeros fatores como a poluição sonora) ultrapassa níveis preocupantes a cada dia. Situações de extrema pressão podem levar ao desenvolvimento de doenças físicas, psicológicas e até mesmo ao suicídio. Vale lembrar que em tempos de crise, como é o caso do Brasil há alguns anos, a pressão por desenvolvimento com menos recursos tende a crescer ainda mais, resultado em acúmulo de afazeres, redução de salários e chegando até mesmo no conceito de escravidão moderna. Jornadas de trabalho desumanas, servidão por dívida e trabalho doméstico forçado são apenas alguns exemplos. A tendência das novas grandes empresas tem sido demonstrar que, em meio à tanta pressão, o clima organizacional deve ser leve e descontraído, com o intuito de contribuir para a maior produção de seus funcionários, já que a queda deles significa a queda da empresa. Entrando no campo da Arquitetura e Design, a evolução estética ao longo dos anos é notável, porém ir além do projeto e analisar o usuário daquele espaço como único, buscar entender suas reais necessidades e objetivos torna-se cada vez mais essencial, afinal, já que a tendência é passar cada vez mais tempo em determinados espaços, que eles sejam de fato pensados. Espaços humanizados, que atendam às necessidades físicas e psicológicas de seus usuários. . O psicólogo Kurt Lewin (18901947) concluiu em sua teoria de campo que o comportamento de cada indivíduo depende da interação com o meio físico e não apenas de características pessoais. Além de influenciar diretamente na motivação e produtividade no ambiente de trabalho, o ambiente construído tem total impacto frente à onde são realizados tratamentos de saúde, por exemplo, melhorando o desempenho e recuperação de pacientes e humani-
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zando espaços já caracterizados por causarem estresse e desconforto. No conceito de Design Thinking, o usuário sempre é o principal ponto de apoio. Dessa maneira, todo produto final converge para atender às reais necessidades dele. Se analisamos os fatores que delimitam as necessidades e objetivos de determinado espaço como parâmetros podemos desenvolver formas de pensar e projetas voltadas para a resolução de problemas, causando reais impactos nos usuários.
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O CONTEXTO
PRODUÇÃO EM LARGA ESCALA E SEUS REFLEXOS Aliadas às importantes mudanças que surgiram após as Revoluções Industriais e globalização, o ritmo de produção e consumo exacerbados acarreta a degradação ambiental de forma cada vez mais acelerada, colocando em risco a sociedade como um todo. A utilização ineficiente de recursos naturais em busca do abastecimento de um estilo de vida também acelerado fez com que impactos ambientais irreversíveis viessem à tona. Felizmente, nos últimos anos a discussão a respeito desse cenário de hiperconsumo cresceu, fazendo com que novas perspectivas acerca do modelo de produção da cidade e suas consequências conquistem espaço. Sendo assim, em termos futurísticos (ou nem tanto) a tendência da lógica de mercado deve ser determinar o consumo exagerado baseando-se na necessidade de sustentabilidade levando o cidadão a seguir esses novos padrões. O atual sistema urbano em todos seus setores, da construção ao transporte, é um grande consumidor de energia e o produto das ações humanas que maior deterioração ambiental causa (CUNHA, 2006). Mais da metade da energia utilizada em países como os Estados Unidos e China é consumida pelo setor da construção civil, sem falar do desperdício de recursos e produção de agentes poluidores. Com o objetivo de responder a esse caos, o equilíbrio entre o crescimento da população e extensa prática de produção, infraestrutura e serviços se torna um fator imprescindível para que a evolução urbana ocorra de forma harmoniosa e com menor impacto possível no meio ambiente. Além do chamado boom populacional, a área dos centros urbanos também cresceu muito ao longo dos últimos anos, na busca por novas áreas agrícolas, de produção ou moradia. O crescimento da população nesses centros, aliado à diversos fatores sociais, estimula problemáticas nos campos de locomoção, acesso à moradia e infraestrutura, prejudicando o antes citado direito à cidade e criando barreiras invisíveis. Outro fator decorrente desse crescimento é a verticalização da cidade, que cria áreas cada vez mais densas como resposta a uma maior demanda por território. Essa verticalização produz inúmeros efeitos, incluindo as interferências regulatórias que carrega para acontecer. Sendo assim cidades que já apresentam diversos problemas como déficit habitacional e poluição recebem cada vez mais habitantes, gerando áreas de risco e colapso de infraestrutura, além de zonas insalubres e marginalizadas.
MARGINALIZAÇÃO ESPACIAL A relação entre o ambiente construído e a criminalidade de determinada região nos permite a análise de como surgem as áreas consideradas marginalizadas na cidade. Nova York, por exemplo, na década de 1990 passava por um período onde os índices de violência na cidade se encontravam em níveis alarmantes. Na busca pela compreensão dos motivos desses índices, uma discussão entre a prefeitura e representantes de comunidades que se encontravam nesses espaços demonstrou várias reclamações acerca dos espaços vazios, degradados e sem iluminação, que criava espaços apavorantes. A partir daí surgiram propostas de reformas e intervenções como a criação de praças, escolas e novos usos que proporcionaram vida a esses espaços, e o surpreendente resultado foi a redução dos índices de criminalidade e violência onde a metodologia foi aplicada (ARRUDA, 2007). Outro exemplo é o Complexo Residencial Pruitt-Igoe, no estado de Missouri, Estados Unidos. Após receber diversas manifestações e críticas populares sobre a criação de vazios entre suas torres de construção originando zonas de criminalidade foi demolido na década de 70. A deterioração espacial cria uma imagem de abandono e acentua a tendência à espaços serem mitificados como lugares perigosos. A verdade é que a cidade tradicional é cada vez menos utilizada em sentido de socialização através de espaços públicos, com interação, contato com a diversidade ou a simples intenção de aproveitar espaços públicos num fim de tarde.
Com a redução da interação e troca, aumenta o sentimento de individualidade e reduz o de segurança, já que antigamente os próprios vizinhos olhavam uns pelos outros. Com o avanço da globalização a setorização da cidade contemporânea passou a se desenvolver de acordo com o consumo e produção que ocorre nesses espaços, convertendo zonas centrais em cenários de conflitos sociais no encontro de diferentes polos da cidade em um só lugar e acentuando ainda essa polarização: um lado inseguro e violento, outro seguro e bonito. Os enormes precipícios entre esses polos estimulam a criminalização do excluído, diretamente relacionada com as leis de mercado entre vencedores e perdedores e se expressam evidentemente no espaço público. As zonas centrais, abandonadas pela alta classe revelam a tendência do ser humano de isolar cada vez mais de espaços considerados públicos, e os configurá-los como perigosos, proporcionando exatamente as condições necessárias para que essa criminalidade de fato se desenvolva. O próprio mercado dessas áreas se desenvolve baseado nesses estigmas: ambulantes, prostituição e subempregos. O problema é que as classes mais altas optam por negligenciar as problemáticas desses espaços e desenvolvem sua vida em outras áreas, enquanto outros são obrigados a se evoluir em meio à um produto criado pela própria evolução.
“Se as janelas quebradas de um prédio não forem consertadas, as pessoas (...) vão admitir que ninguém se preocupa com seus atos indelicados e vão continuar quebrando mais janelas e outras regras de convivência” (Farias, 2007, sp).
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O lugar A PRODUÇÃO ARQUITETÔNICA E A
Com o surgimento de uma extensa gama de materiais e métodos construtivos surgem novas soluções, padrões e consequentemente problemas. É evidente que o processo de industrialização transformou os padrões de vida e proporcionou a disseminação de diferentes formas de se fazer arquitetura, de estações de metrô à arranha-céus, gerando também, novos centros de poder. As novas correntes de pensamento arquitetônico buscavam a criação do novo e genuíno, na tentativa de se distanciar dos estilos passados. Essas novas correntes deram origem à uma mudança e surgimento de teorias, ideias e modelos no processo de produção arquitetônica brasileiro, ainda que o processo de construção digital, por exemplo, ainda caminha a passos lentos no país. Segundo Silva (2009) a tecnologia se encontra disponível em diversas partes, mas o desconhecimento por parte dos profissionais torna sua incorporação uma tarefa complexa. Sendo assim, o lento processo de aplicação dessa evolução tecnológica no meio arquitetônico prejudica sua própria evolução. Oscar Niemeyer, ainda nos anos 40, já utilizava dos avanços das técnicas construtivas em sua concepção projetual, o que proporcionou uma revolução no modernismo brasileiro, com a inserção de curvas em concreto armado na Igreja da Pampulha, por exemplo. O próprio complexo da Pampulha é considerado um marco em relação às suas formas livres e materiais, caracterizando a arquitetura local até hoje. Em contrapartida, a arquitetura contemporânea é baseada na premissa de que seu funcionalismo deve ditar sua plasticidade, o que muitas vezes se torna um fator limitante. Niemeyer então nos proporciona uma reflexão acerca do funcionalismo da arquitetura, e que sua forma não deve moldar-se baseada somente nele. Isso não significa que a plasticidade das formas orgânicas no meio arquitetônico deve ser feita de maneira aleatória, mas sim que a função estética deve ser levada em consideração como algo além do simples produto do formalismo estrutural. Com o processo de mecanização do trabalho após as revoluções industriais ficou cada vez mais evidente a desvalorização das diferenças arquitetônicas. Isso reflete na replicação de projetos que imitam padrões fixos, que foram criados em épocas diferentes por diferentes motivos e que não necessariamente se encaixam nos dias atuais.
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PERDA DE IDENTIDADE
Dessa maneira, é comum observar em diferentes partes do mundo cidades com arquiteturas semelhantes, sem identidade, se distinguindo completamente do passado, onde era evidente o reflexo da cultura e vida de um povo em sua arquitetura, a tornando única. Um exemplo disso são os cada vez mais comuns edifícios corporativos envidraçados presentes tanto em grandes cidades, como Belo Horizonte como nas menores, como São Carlos, no interior Paulista. Se a padronização arquitetônica por si só já é problemática, imagine quando o modelo padrão também é um problema. Em uma pesquisa de doutorado realizada no Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU) da USP realizada por Rosilene Regolão Brugnera foi constatado o imenso impacto ambiental causado por esse tipo de edificação desde a construção ao uso. Foram analisados fatores como sistema de ventilação, fachadas e materiais utilizados, onde todos influenciam diretamente no consumo de energia, impactos ambientais e custo. Mesmo que sejam inúmeros os elementos que tornam esse tipo de arquitetura prejudicial, vamos estabelecer uma análise voltada para seu material característico, o vidro Em busca de soluções mais rentáveis e práticas no processo construtivo as famosas fachadas de cortina de vidro foram sendo incorporadas como algo inovador e revolucionário. Realizando uma análise mais profunda não é difícil perceber que na verdade esse tipo de fachada proporciona a necessidade de um consumo energético muito maior que o convencional, fazendo com que os gastos a longo prazo sejam evidentemente superiores. A verdade é que esse modelo se tornou bastante comum em países mais desenvolvidos, como os estados Unidos ou o Emirados Árabes, e foi adotado no Brasil como um estilo internacional de arquitetura. Durante o lançamento do acordo ambiental The Green New Deal, em abril de 2019 o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, realizou um pronunciamento em que explicitava sua vontade de banir da cidade arranha-céus de vidro e aço, alegando sua intensa contribuição para problemáticas como o aquecimento global. O impacto que esse tipo de arquitetura exerce em seu entorno se estende até mesmo à fauna presente ali. Só nos EUA, todos os anos, centenas de milhões de pássaros morrem ao colidirem em prédios devido, quase que exclusivamente, às estruturas de vidro. Após o movimento moderno a utilização de materiais
espelhados na construção civil se tornou algo cada vez mais comum. Mie Van der Rohe, por exemplo, era um grande defensor da transparência na arquitetura. Seu legado serviu de base para um novo nível de simplicidade e arquitetura reconhecida como “pele e osso”. Dito isso, passa também a ser metodologia de estudo na cidade o questionamento acerca dos resultados do movimento moderno em sua produção, com o empobrecimento do ambiente urbano e a perda da identidade arquitetônica, evidenciando a necessidade da aplicação de novas abordagens que estabeleçam conexão com as variáveis estruturas urbanas ao longo da cidade. Ao analisar a forma da cidade devem ser considerados os diversos campos disciplinares que a caracterizam, evidenciando que a cidade não deve ser mero produto de contextos econômicos, políticos ou sociais. O reflexo da produção arquitetônica deve se dar em resultado de teorias, posições estéticas e culturais. Esse tipo de estudo é o que rompe os métodos de funcionalismo que reduzem o projeto e o conhecimento da cidade à produtos tão simples.
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O LUGAR
Rua Guaicurus
Em homenagem aos indígenas do vale do Rio Paraguai, a Rua dos Guaicurus foi uma das vias planejadas na planta original da cidade de Belo Horizonte. Fazia parte de um dos primeiros polos industriais no chamado baixo-centro, marcado pelos estabelecimentos comerciais, diversidade de serviços prestados e extensa variedade social e cultural características da cidade. A própria caracterização “baixocentro” por si só já pode ser considerada excludente, já que para este local ficaram voltados os tipos de comércio considerados populares, a zona boêmia, hotéis, prostíbulos e cabarés sendo evidentes os diferentes tipos de hierarquia presentes na zona central de BH. Regressando alguns anos, a Guaicurus era considerada um porto seco da cidade, já que ali era onde se concentrava o comércio e onde circulavam grande parte dos trabalhadores. Por questões sexistas era um ambiente majoritariamente masculino, o que fazia com que se tornasse propícia a instalação de bares e prostíbulos. A prostituição, assim como as prostitutas, era condenada, enquanto havia certa tolerância em relação aos frequentadores desses espaços. Era considerada um mal necessário já que a sexualidade masculina e sua satisfação era algo que deveria ser entendida como tal.
O desenvolvimento da cidade foi controlado em meio à princípios de higienização que orientaram reformas na cidade. Sendo assim, Belo Horizonte tenta manter a prostituição de maneira “controlada” e concentrada naquele local. Aquela região passa a ser caracterizada por formas marginais toleráveis e mistura de classes, que durante as reformas urbanas do século XIX são ameaçadas de ser excluídas. O planejamento urbano feito por Aarão Reis em 1894 buscava destinar às zonas centrais as classes médias e altas, expulsando aos poucos os mais pobres para as zonas suburbanas, carentes de infraestrutura. No caso dessa região, sua permanência e diversidade socioeconômica evidenciam ainda mais a caracterização da necessidade desse espaço com seus específicos usos. Nos dias atuais a rua se caracteriza por ambiente pouco arborizado e sujo, o que reflete em altas temperaturas em época de calor. A presença de arte urbana e grafite é evidente, porém a falta de cuidado para com aquele espaço propicia uma sensação de zona perigosa e marginalizada. Os hotéis onde ocorrem as atividades sexuais passam a impressão de algo secreto e perigoso, com janelas fechadas e seguranças com detectores de metal em todas as portas.
A quantidade de moradores em situação de rua também é extensa, e a sensação de invasão a um local que possui sua própria maneira de funcionamento toma conta daqueles que não estão acostumados a caminhar pelas ruas do Hipercentro. Em meio aos característicos hotéis surge um grande prédio espelhado que evidencia possíveis futuras relações potenciais de conflito naquele local, já que os reflexos de uma construção nada característica em uma zona tão tradicional gigantescos, ou melhor, ameaçadores. A diferença entre clima, odores e usos entre esse espaço e outras zonas da cidade proporciona uma reflexão acerca das diversas formas de ocupação da cidade. Ao mesmo tempo em que existe uma grande proximidade em relação aos diversos acontecimentos característicos de uma zona central existem características próprias, com diversas cicatrizes de um processo evolutivo que se deu baseado em seu uso, onde lixo e degradação revelam um espaço ignorado, esquecido ou camuflado. É um local palco de diversas manifestações culturais e ponto de encontro de diferentes tribos urbanas, sendo ponto de referência em eventos como a Virada Cultural. Faz parte agora de um projeto de preservação e valorização dessa parte histórica da capital, compondo o chamado Distrito Guaicurus, que busca evidenciar e valorizar a arquitetura, gastronomia e cultura desse local. Na verdade, muito além disso. A ideia é resgatar a memória afetiva dos usuários daquele espaço, dando um novo significado à região. As raízes de um local considerado inteiramente pertencente à prostituição fizeram com que muitas pessoas deixassem de conhecer e ocupar os espaços pertencentes à Guaicurus pelo tabu e relação com a falta de segurança naquele local. Sendo assim, a revitalização daquele espaço vai em busca de um resgate histórico, com estímulo à cultura e ao uso daquele espaço, buscando também a evolução de sua infraestrutura.
Com a intenção de contar um pouco da história daquele local, além de promover uma manifestação cultural na região, um casarão abandonado da década de 1920 abrigará o Museu do Sexo e das Putas, no coração da Rua dos Guaicurus. A Associação das Prostitutas de Minas Gerais (Asprosmig) reúne cerca de 3500 garotas de programa que exercem atividades ao longo da rua anunciou a reforma da edificação para a implantação do museu e abriu solicitações para levantamento monetário a fim de alcançar a viabilidade do projeto.
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Museu do sexo e das putas
A organização espacial e projeto arquitetônico daquele local foram desenvolvidos baseados nos lemas de evolução e rompimento com o passado. Belo Horizonte deveria ser símbolo de modernidade e progresso, onde foram estabelecidos locais específicos para o desenvolvimento de atividades, separados em residências, locais de trabalho, zonas de comércio, lazer entre outros. Dito isso, o desenho da cidade determinava muito além da função espacial, mas também seus ocupantes. Com o passar dos anos e a mudança de necessidades e gostos da sociedade a arquitetura passava a buscar soluções sim decorativas, porém úteis, com uso de materiais como o vidro e ferro, citados anteriormente, porém, ressignificados em busca de beleza e harmonia. No casarão tombado como patrimônio histórico da cidade já existiu uma das primeiras casas de prostituição da Guaicurus, a chamada “Casa de massagens de Florinda”, que funcionou no local até a década de 1980 e desde então o imóvel encontrava-se abandonado. Localizado próximo à estação rodoviária, à estação principal dos BRTs, estações de ônibus, metrô e à principal avenida de Belo Horizonte, pode e deve ser considerado no coração da cidade. Por ali passam milhares de pessoas de todos os tipos e classes ao longo do dia e noite. A Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte aprovou a intervenção no local, e a Prefeitura de Belo Horizonte incluiu o projeto no Plano de Reabilitação do Hipercentro. O objetivo do Museu é quebrar o tabu que abrange a prostituição e contar a história da região, realizando um movimento cultural que também prevê a construção de uma biblioteca pública voltada para a população que comummente não possui acesso a tal entretenimento. Segundo Cida Vieira, uma das líderes e idealizadoras da Asprosmig o museu é também uma maneira de mostrar a real necessidade de direitos e políticas públicas voltadas às profissionais do sexo. "É um direito delas de serem vistas como mulheres trabalhadoras. [...] É com esta renda que elas sustentam a casa, os filhos e a família.”
Inserção harmoniosa A intervenção direta em um espaço urbano pode acontecer em diferentes dimensões, desde simples alterações em um lote até grandes operações urbanas. Em ambos os casos a intervenção espacial só é justificada quando realizada de maneira adequada e respeitosa, em contextos histórico espaciais. Intervir conscientemente na cidade então, significa o mantenimento do contexto de memória coletiva, garantindo a estabilidade e prolongamento da identidade daquele local. A escolha de projetar uma nova arquitetura em um contexto extremamente característico não significa replicar as edificações que ali existiram, de maneira contextualista, até porque o contraste é aquilo que evidencia a individualidade daquele local, permitindo um diálogo entre o novo e o preexistente de maneira harmoniosa. Retomando o contexto de impacto ambiental, a aplicabilidade de uma nova forma arquitetônica que considere seus condicionantes se vê urgente e atual. Obviamente os aspectos éticos nessa relação novo-antigo são fundamentais e fomentam a discussão a respeito das novas formas de se fazer arquitetura, diante dos diversos problemas presentes no meio urbano. A inadequação da nova edificação no entorno que a envolve por exemplo faz com que seja comum a utilização de métodos mecânicos ou artificiais para corrigir tal inadequação, como é o caso dos novos edifícios comerciais. Em relação à legislação, é comum se deparar no ambiente da construção civil com novas edificações que por meio das chamadas “gentilezas urbanas” atuam como obstruções muitas vezes de características ambientais e sociais positivas. No âmbito socioambiental encontra-se o desenvolvimento de um novo traçado urbano que ignora as potencialidades do clima local em detrimento de modelos gerados pela lógica capitalista. A ideia de sistematizar a relação entre o Antigo/Novo faz com que seja necessária a compreensão acerca da relação entre os dois mundos naquele local, investigando as situações de inserção não prejudicial de novas edificações em áreas que abarcam um grande contexto histórico e social, onde qualquer mínima mudança pode significar a proximidade ou exclusão daquilo que ali um dia existiu. A cidade, muitas vezes caracterizada por uma arquitetura espetacular e exibicionista deve dar lugar à uma arquitetura cuja real beleza exista em equilíbrio com o uso e os usuários do espaço, bem como o entorno que o cerca.
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Biomimética
E O APRENDIZADO COM A NATUREZA
ORGANISMOS VIVOS E SEU FUNCIONAMENTO Ainda sobre harmonia na implantação arquitetônica, por que não estabelecer uma conexão direta com o desenvolvimento dos sistemas biológico e tecnológico a fim de alcançar melhor resultado, já que ao longo dos anos esse desenvolvimento se deu em busca da melhor adaptação possível ao contexto. Por que não utilizar como respaldo essa mudança de paradigma em todas as etapas do processo projetual? O conceito de biomimética trata-se da conexão entre os ambientes natural e artificial, não limitando-se apenas à área da arquitetura, em busca de utilizar de ecossistemas e estruturas biológicas de organismos vivos como fonte de inspiração para solucionar problemas ou simplesmente ampliar a funcionalidade de novos protótipos. Sendo utilizada de maneira estratégica é possível realizar uma análise profunda de como esses organismos se comportam em determinados contextos afim de alcançar resultados similares em sua relação com o espaço e objetivo de uso, já que para alcançar tal eficiência passaram por anos de evolução e adaptação. Devido aos avanços computacionais a análise desses dados se torna cada vez mais completa, possibilitando sua aplicação em diferentes escalas. Um exemplo é o caso dos trajes de natação desenvolvidos pela Speedo para as olim-
píadas de 2008 que se baseavam na estrutura das escamas dos tubarões afim de alcançar menor atrito possível com a água e aumentar a performance de seus usuários. No mesmo contexto, porém com outro foco, o Centro Aquático Nacional de Beijing, desenvolvido para abrigar as provas dessa mesma olimpíada utilizou de uma estrutura semelhante às células vegetais e bolhas de água, o que proporcionou uma queda de 30% de consumo energético para iluminação e aquecimento, já que esse tipo de estrutura permite maior passagem de luz e calor. Sendo assim, mudanças de paradigma e a ampliação da utilização de conceitos já conhecidos tornam possíveis a transposição e evolução do meio arquitetônico a um patamar muito além da geometria estética, alcançando níveis de funcionalidade e eficiência extraordinários. Não se trata apenas da replicação das formas naturais, mas também da compreensão das regras que as conduzem, de maneira que a natureza passa a ser mais do que uma fonte de recursos e matéria-prima, tornando-se uma biblioteca de exemplos bem sucedidos. Os materiais passam a ser estudados em nível de componentes e sua análise feita com de acordo com os objetivos de resultados em sua aplicabilidade. Trata-se da arquitetura em sua maior conjuntura.
INSPIRAÇÃO NATURAL: HISTÓRICO Quando começamos a debater temas com esse nível de complexidade a tendência é acreditar que eles surgiram recentemente, porém, o termo Biomimetics, derivado do grego bios (vida) e mimesis (imitação), teve sua primeira aparição ainda em 1950, com estudos do engenheiro biomédico Otto H. Schmitt. Inicialmente se limitava às áreas da biomedicina com objetivos a busca por soluções na área, se apoiando em conceitos naturais pré-existentes. Já em 1958 Jack Ellwood Steele cunhou o termo Biônica, que se baseava na utilização de características de sistemas naturais para o funcionamento de novos sistemas, caracterizando-se como uma ciência. Com o tempo esses conceitos foram comummente associados às áreas de inovação tecnológica e sua expansão fez com que passassem a se fazer presentes em diversos ambientes, da indústria bélica à bioengenharia, com a substituição de órgãos e membros humanos. Por fim, esses e outros estudos possibilitaram a consolidação do novo termo denominado Biomimicry na década de 1970 com o casal John Todd e Nancy Jack-Todd do grupo The New Alchemy Institute. Esse novo contexto buscava explorar as vertentes da biomimética em busca de também encontrar soluções mais sustentáveis dada a evolução de estudos que citavam os impactos causados pelo sistema de produção no planeta, apoiando-se na ecologia e biologia. Essa visão envolve uma análise minuciosa dos princípios que compõe a sustentabilidade de determinado ecossistema, traduzindo-os em conceitos proejtuais. Sendo assim, os objetivos por trás do conceito se expandiram de maneira que a ordem natural das coisas fizesse com que a associação harmoniosa entre o meio natural e artificial trouxesse benefícios a curto, médio e longo prazo. O princípio base é que a natureza passe a ser modelo e guia no processo de concepção, já que a vida está presente em seu processo de evolução na terra a 3,85 bilhões de anos, criando soluções realmente eficientes. Sendo assim, passa a ser lógico utilizar desse princípio nas diversas etapas de um projeto arquitetônico, já que os sistemas atuais que são considerados ineficientes muitas vezes seguem princípios contrários aos da natureza. Uma curiosidade é que a biomimética também aborda questionamentos éticos, sendo considerada inconcebível a sua utilização na indústria bélica, contrariando seu termo antecessor. Em 2011 o Biomimicry Group estabeleceu os chamados “Princípios da vida”, em busca de desenvolver etapas de processo que visem além do produto final, mas também sua relação exterior, gerenciamento e um resultado mais inteli-
gente e eficiente. Dos seis princípios, o primeiro trata sobre gerenciamento de informações e processos, chamado de Evoluir para sobreviver. Neste são listadas estratégias para a identificação de problemas e busca de soluções alternativas com base em sistemas de sucesso anteriores. O princípio de Adaptar-se às condições de mudanças baseia-se na inclusão de soluções voltadas para melhoria de desempenho do sistema existente considerando a pluralidade de aspectos que impactam o produto. Ser atento e responsivo às condições locais trata sobre a utilização materiais e processos locais, além da análise de fenômenos que ali acontecem para tirar proveito disso, como é o caso do clima, por exemplo. Em Integrar conhecimento e crescimento a ideia é a criação de sistemas que permitam a evolução do simples ao complexo, criando condições para que todos os componentes se conectem com motivos e razões, deixando de lado soluções que não solucionam nada e que todo o organismo seja um só. Ser eficiente e responsável é sobre minimizar os impactos gerados durante todo o ciclo de vida de um produto, antes, durante e após sua criação. Buscar soluções que integrem a elegância ao desempenho. Por fim, ao Utilizar química nociva à vida são citados elementos e processos que não sejam tóxicos, baseando-se no princípio de utilizar poucos elementos de maneira elegante. Todos esses princípios anteriormente citados têm como objetivo a otimização das etapas de processo de projeto, de maneira que a integração com o ambiente e estruturas naturais seja feita criando condições favoráveis à vida e proporcionem sempre a inovação.
FORMA X FUNÇÃO Após explicar a conceituação por trás da biomimética é possível considera-la então como uma metodologia que se baseia em estruturas naturais. Levando pro lado arquitetônico caracteriza-se na mimetização da natureza para a criação de projetos mais sustentáveis, eficientes e modernos, em busca de evoluir a maneira que a construção civil funciona e a aplicação pode ser feita com base nas funções, formas ou partes de determinados elementos naturais. Baseandose na mimetização da função o foco é voltado para a adaptação ao local de implantação, considerando fatores climáticos, energéticos e ambientais a fim de causar menor impacto negativo possível.
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Desse modo, a utilização de materiais e componentes específicos fazem com que o funcionamento da nova edificação seja feito de maneira sustentável e adaptativa e a forma então surgirá da consequência desses fatores aliada ao programa pré-existente. Contudo, ao mimetizar as formas da natureza que se desenvolveram em ambientes similares é possível compreender os motivos que ditaram aquela plasticidade, incorporando estruturas baseadas no princípio de tentativa e erro da natureza. Formas orgânicas que são praticamente vivas e dialogam com seu entorno e comportam todas os componentes necessários do programa do novo produto. A metodologia de aplicabilidade atual é bastante variável, já que depende dos estudos que realizam a tradução de sistemas vivos para compreensão de seu funcionamento. Dito isso, Gruber (2013) cita que um fator determinante na biomimética é a necessidade de abordagens transdisciplinares, de forma que áreas distintas possam compartilhar seus conhecimentos e resultados em ambientes diferentes, ou seja, o que não serve para um, muitas vezes pode ser determinante para outro. Uma possibilidade seria o uso de protótipo biológicos para a criação de estruturas sintéticas que aproveitem dessas propriedades, resultando em sistemas e formas equilibradas e fazendo com que o “artificial” seja cada vez menos impactante.
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ESTUDO DE CASO 01
Tao Zhu Yin Yuan Tower No município de Taipei, em Taiwan surge uma proposta caracterizada como “árvore habitada”, desenvolvida pelo escritório francês Vincent Callebaut Architectures após comissão aprovada em um concurso da cidade em 2010. Dentro da cidade, a construção foi feita no Distrito de Xinyi e tinha como objetivo a criação de um fragmento da paisagem que possuísse menor consumo energético possível e incentivasse a absorção de carbono pela edificação. Na busca pela simbiose entre o ser humano e a natureza está inserido em um conceito de floresta vertical habitada e cultivada pelos próprios moradores. Em busca de reduzir a temperatura local e amenizar os efeitos resultantes do aquecimento global diversas empresas participaram juntamente com incentivos governamentais em busca de alcançar esse resultado em diversas etapas do projeto, da concepção ao uso. A filosofia de Li de Fan aplicada no projeto trata do mundo como uma comunidade, onde os benefícios da edificação buscam impactar não somente nos seus usuários, mas em toda a cidade. Inspirada na estrutura de dupla hélice do DNA a torre busca ser autossuficiente energeticamente, com fontes elétrica, térmica e alimentar. Cada andar é composto por duas unidades habitacionais compondo 20 níveis, onde cada nível gira no eixo central de circulação 4,5 graus, totalizando a torção de 90 graus ao final e, quando vista de diferentes ângulos, se transforma em uma hélice. Os critérios utilizados para essa torção não foram aleatórios, mas seguiam alguns princípios e objetivos, como alcançar os recuos urbanos exigidos pela Municiplaity de Taipei e gerar cascatas de jardins suspensos que não faziam parte da área útil da edificação, possibilitando o aumento da área das varandas. Além disso, essa forma helicoidal permitiu a cada morador vistas panorâmicas da cidade sem bloqueios nos eixos de visão ou interferências de vizinhos, o que também aumentava os níveis de intimidade e confidencialidade de cada apartamento. Por fim, foi possível com isso desenvolver níveis padrões que só se diferenciavam em seu grau de torção em relação ao eixo, o que tornou mais prática e modular sua metodologia de construção.
O plantio de aproximadamente 23.000 árvores, arbustos e plantas em todos os pavimentos da edificação possibilita uma absorção anual de cerca de 130 toneladas de carbono, e isso não se limita apenas às varandas. Foi criado um parque artístico de 6600m² com árvores de grande estatura e copa, criando uma floresta exuberante em sua base. Essa vegetação foi escolhida por botânicos e paisagistas com o objetivo de contribuir com a proteção e qualidade do ar, aumentando os níveis de umidade e reduzindo a reverberação de ruídos no entorno. A construção também foi recuada das calçadas mais do que o obrigatório pela legislação local, fornecendo calçadas de 5 a 6,5 metros que possuem espaço verde público. A fim de garantir a sobrevivência e adaptação da vegetação em grandes alturas foi feita uma extensa análise de luz solar, análise térmica e testes de vento e chuva para simular diversão situações possíveis. É importante destacar que sua eficiência foi pensada tanto para o verão quanto para o inverno, onde a vegetação funciona como isolante térmico no frio e calor. Em relação à poluição, foi desenvolvido um sistema de chaminé vertical, onde o núcleo central possui fachada dupla em vidro, que ao receber o ar pelo nível térreo o guia para uma série de filtros e só libera o ar purificado no topo, reduzindo os índices de poluição local. Além disso, seu projeto estrutural foi pensado com base no corpo de um esquiador, onde as colunas laterais são os bastões e o núcleo central é o corpo. Foi utilizado um sistema de treliças Vierendeel que transfere e distribui seu peso dos pavimentos para o núcleo central de circulação vertical, chegando na fundação. Foi feito dessa maneira para alcançar alta resistência a terremotos se assimilando qua-
se aos níveis de uma usina nuclear. Por fim, para alcançar altos níveis de sustentabilidade, o edifício foi ecoconcebido baseado no bem-estar dos usuários e de seu entorno em todo seu ciclo de vida. Foram utilizados materiais biológicos e recicláveis no interior e exterior, além de ventilação natural em todos os pavimentos, incluindo o estacionamento e o núcleo central cria um sistema de ventilação cruzada entre a base e o topo, passando por todos os andares. Os sistemas principais de energia são solar e eólica, fornecendo eletricidade inclusive para outros espaços públicos e toda a iluminação é feita em LED. Com relação ao uso da água, todas as torneiras, descargas e mangueiras possuem sistemas reguladores que possibilitam menor desperdício, além de possuir um sistema de reciclagem da água da chuva para utilização nos jardins e outras atividades. Um edifício que coexiste com o meio ambiente, uma verdadeira árvore gigante no meio da cidade que absorve carbono e busca o combate ao aquecimento global. Tao Zhu Yin Yuan representa o futuro da arquitetura e das cidades.
FICHA TÉCNICA
Arquitetura: Vincent Callebaut Architectures, SARL Paris Design de Interiories: Wilson & Associates (WA), Los Angeles Localização: 110, Taiwan (ROC), Taipei City, Xinyi District, Songyong Rd Equipe de Projeto VCA: Emilie Diers, Frederique Beck, Jiao Yang, Florence Mauny, Volker Erlich, Philippe Steels, Marco Conti Sikic, Benoit Patterlini, Maguy Delrieu, Vincent Callebaut Cliente: BES Engineering Corporation, Taipei Engenharia Estrutural: King Le Chang & Associates, Taipei Instalações Elétricas, Mecânicas e Hidráulicas: Sine & Associates, Taipei Paisagismo: SWA, Sausalito, São Francisco, Horizon & Atmosphere (H&A), Taipei Iluminação: L'Observatoire International, Nova York, Unolai Design, Taipei Certificações: U.S. Green Building Council, LEED Ouro + Low Carbon Building Alliance, Nível Diamante Prêmios: Finalista Projeto Inovador do Council on Tall Buildings and Urban Habitat (CTBUH), Chicago 2015 + Highly Commented Award, Future Residential Project, World Architectural Festival, Singapore 2015 + Vencedor do International Architecture Award 2014, Chicago Atheneum, New York Área: 4.233.534 m² Ano do projeto: 2017
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A BUSCA PELA REAL SUSTENTABILIDADE E SUAS CARACTERÍSTICAS
OCIRÓTSIH EVERB
Não é de hoje que o tema sustentabilidade é levado para debates em âmbitos nacional e internacional, apesar de que se trata de um conceito extremamente complexo e que vem se tornando além de inovador, necessário. Durante a Crise do Petróleo, por volta de 1972 os debates sobre edifícios energeticamente eficientes que pudessem se estruturar com fontes renováveis se tornou mais frequente, dada a preocupação com o futuro das fontes energéticas. No mesmo ano foi colocado em pauta na primeira conferência da Organização das Nações Unidas no intuito de expandir a conscientização da sociedade em relação ao presente x futuro e como o desenvolvimento atual poderia ser feito sem comprometer as próximas gerações, dando origem ao conceito de ecodesenvolvimento, que veio a se consolidar apenas em 1987 no relatório da ONU por Brundtland, Noruega intitulado “Our Common Future”. A ideia do relatório era promover discussões a respeito das consequências posteriores dadas em virtude das transformações na cidade e no modo de viver, além de orientar políticas
ambientais na maior parte dos países relacionando o ecodesenvolvimento à eficiência econômica/energética e equidade social.
“O desenvolvimento sustentável requer que as sociedades atendam às necessidades humanas tanto pelo aumento do potencial produtivo como pela garantia de oportunidades iguais para todos.” (Relatório Brundtland, “Nosso Futuro Comum, 1999, np”)
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A análise a respeito do nível de consumo da parcela da população de baixo nível social também é fator imprescindível para que se desenvolvam novas estratégias e mecanismos para o desenvolvimento sustentável. Uma problemática é que quando debatido em conferências mundiais, esses temas carregam consigo disputas ideológicas e econômicas, que se tornam fator limitante em assuntos que deveriam ser pautados de outra maneira. Desse modo, diversas alternativas muitas vezes consideradas revolucionárias se veem estagnadas e limitadas em debates que estão enraizados em divergências anteriores. Em um contexto mais recente, em 2015, a sede da ONU em Nova York promoveu uma reunião entre representantes de diversos países em busca da definição dos novos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODM) que se dispõe de novas estratégias que levam em consideração particularidades de diferentes contextos, adaptando-se em diferentes países, cidades e regiões. O mais importante desses novos objetivos é que sua maleabilidade permite adaptação ao longo dos tempos e integram diferentes áreas do conhecimento, utilizando do desenvolvimento tecnológico para promover modelos que solucionem ou amenizem os principais problemas ambientais ainda atendendo às necessidades dos cidadãos e em momento algum detendo o desenvolvimento ali presente.
CIDADES SUSTENTÁVEIS
Levando para o lado do projeto arquitetônico, o produto desenvolvido e inserido nesse modelo de cidade sustentável ultrapassa questões de conforto ambiental interno, carregando consigo a necessidade de criação de um modelo que cause um impacto real em seu entorno em todo o ciclo de vida da edificação. Nesse contexto a concepção projetual feita de maneira inteligente além de evitar desperdícios faz com que seja maior o desempenho da nova edificação, minimiza seus impactos e evita a necessidade de soluções mecânicas para sanar problemas que muitas vezes são criados pelo próprio projeto. O desenvolvimento econômico está atrelado a isso, já que é necessário que este seja consequência dos novos modelos de se fazer e participar da cidade, reorganizando espaços e aumentando a qualidade de vida daqueles que ali se inserem. Sendo assim, o planejamento urbano deve ser combinado com o planejamento das novas edificações, buscando não tratar casos de maneira isolada, mantendo firme o conhecimento a respeito da expansão x esgotamento, otimizando espaços e levando padrões de sustentabilidade para o espaço público e privado para que haja uma relação de harmonia entre os dois, misturando suas funções e multiplicando suas assertividades. A remodelação da cidade necessita da associação dos novos territórios urbanos com os novos processos de inovação, regenerando os territórios existentes e proporcionando o aumento da sua eficiência e não preocupar somente com a substituição de um modelo que apresenta falhas.
"Uma cidade sustentável é muito mais do que um desejável conjunto de construções sustentáveis. Ela deve incorporar parâmetros de sustentabilidade no desenvolvimento urbano e privado." (LEITE, 2012, p.132) A extensa e muitas vezes vista como inalcançável busca por um modelo de cidade ideal e sustentável faz, de uma maneira ou de outra, que a conscientização acerca das interferências humanas no meio natural seja colocada em pauta. Apoiada em uma visão crítica do desenvolvimento urbano, o amplo crescimento da população e sua migração para a cidade estimula o caráter consumista e cria barreiras sociais entre povos, que em condições precárias não podem ser separados dos problemas ambientais e do tão sonhado desenvolvimento sustentável. Ao analisar esses fatores no âmbito multidisciplinar essas barreiras influenciam diretamente no descarte de resíduos e até mesmo na reciclagem, que para diversos povos ainda pode ser considerada desconhecida já que existem preocupações em nível superior na realidade em que se inserem.
A arquitetura sustentável pode ser entendida como uma conceituação revisa- da da arquitetura em respostas aos novos interesses contemporâneos sobre os efeitos das atividades humanas. (WILLIAMSON, T., RADFORD, A., BENNETTS, H., 2003, np)
A transformação da natureza de acordo com as necessidades humanas fez com que o uso energético de fontes naturais para fins urbanísticos, como transporte e serviços ultrapassasse 50%, mostrando ainda que o setor da construção a civil é responsável por 40% da emissão de poluentes (SJOSTROM, 2000, apud JOHN 2001). A nova arquitetura só será realmente eficiente quando levar como premissa os novos paradigmas que compõe a cidade, levando em consideração que as atividades humanas daqui pra frente deverão ser realizadas analisando seu impacto ambiental e integrando as classes menos favorecidas nesse contexto. A utilização de sistemas inovadores em colaboração com mudanças comportamentais traz reduções revolucionárias no contexto de desperdício e uso inteligente de recursos, além de aumentar a eficiência energética e reduzir os gastos de mantimento da nova edificação, demonstrando vantagens em diversos contextos. Como citado anteriormente, os debates acerca da sustentabilidade das novas cidades e edificações também envolvem a complexidade social, cultural e econômica, e assim devem ser pensados nas diversas esferas das atividades humanas, com seus riscos e impactos. Para que esse conceito saia apenas do meio das teorias e passe a ser aplicado de maneira efetiva a reformulação do desenho levando em virtude os preceitos do ecodesenvolvimento deve estar presentes nas diversas disciplinas ensinadas nas escolas e universidades, já que em uma análise futurística eles são os criadores do futuro “mercado sustentável”, e aumentarão a fluidez do diálogo necessário entre as multidisciplinaridades desse meio. Falando agora do contexto de aplicabilidade, as diversas áreas de pesquisa que abarcam esse conceito conduzem ao ciclo de vida de materiais, componentes construtivos e da própria construção. A aplicação de soluções tecnológicas possibilita testes que demonstram sua aplicabilidade inteligente nos ambientes de construção civil. Com isso surgem novas certificações de materiais, produtos e até mesmo projetos, que estimulam uma “competição” saudável e fazem com que o número de soluções e alternativas presentes no mercado cresça exponencialmente. Esses novos produtos passam por sistemas de avaliação em diferentes quesitos e contextos, possibilitando a separação por níveis de desempenho, que vão desde sua resposta ao consumo energético até impactos ambientais causados durante seu uso. Certificações como o BREAMM (Building Research Establishment Environmental Assessment Method), no
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Arquitetura eficiente
Reino Unido e o LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), nos Estados Unidos, entre muitas outras não citadas, são exemplos de certificações que realizam a análise da eficiência e impactos de novas edificações seguindo uma série de parâmetros e exigências que caracterizam projetos que buscam esses selos. Esses critérios servem como premissa para a criação de projetos que busquem tais características e fornece ao menos um ponto de partida para aqueles que buscam esse novo mercado mas não sabem por onde começar. No Brasil, a Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA) e o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS) levam como base características como o máximo aproveitamento das condições naturais do terreno e entorno, além da integração do novo com o existente e suas respostas em relação à ele, qualidade ambiental, gestão de utilização, descarte e desperdício de recursos, uso de fontes renováveis e de menor impacto, menor consumo energético e de água, reciclagem, inovação tecnológica e a conscientização e educação daqueles envolvidos no processo, para que a produção desse modelo se torne algo além da antiga forma mecanizada de se fazer arquitetura. Em um outro ponto de vista, apesar dessas certificações e normas existirem, a criação de um modelo arquitetônico eficiente vai muito além de simplesmente seguir uma receita de bolo. Não existe um modelo único de arquitetura perfeita que integre todos os diversos elementos da sustentabilidade, mas o conceito da “tentativa e erro” antes visto nos estudos de biomimética nos possibilita o aprendizado para a utilização de respaldos sobre as respostas de determinados produtos em diferentes contextos. Portanto, aquilo que tratamos no texto como Arquitetura realmente eficiente se trata nada mais do que uma arquitetura experimental, que ainda está em construção e desenvolvimento, uma vez que os fatores que a compõem, sejam políticos, econômicos e culturais são altamente mutáveis ao longo dos tempos.
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O CONTEXTO
Não é incomum a presença da discussão sobre a proximidade do esgotamento de recursos naturais e a busca por alternativas em múltiplas áreas, não limitando-se somente à arquitetura. O setor da construção civil é um dos muitos que desenvolve e compõe a cidade, influenciando diretamente na sua prosperidade e/ou destruição. Dito isso, para o desenvolvimento de novas edificações que se insiram no contexto sustentável ocorra é imprescindível que haja a incorporação dos princípios de qualidade ambiental em todo o processo de concepção, além dos princípios organizacionais e funcionais do espaço no meio urbano, já que estamos falando de uma problemática que se insere no contexto entre os padrões de vida do passado, presente e futuro. Se tratando de eficiência energética, sua conceituação baseia-se na ideia de economia de energia e desempenho. Presente em etapas como a iluminação e climatização permite melhor desempenho de edificações nas antigas e novas construções por exemplo no maior aproveitamento da luz solar e aberturas para ventilação natural. O conforto térmico, visual e acústico quando aliado ao baixo consumo incorpora os pilares da eficiência energética, sendo utilizadas como fatores que tornam um edifício mais ou menos eficientes que outro. No livro “Eficiência Energética na Arquitetura” o autor (Eletrobrás) cita como exemplo o triângulo de Vitrúvio, que possui seus três pontos de eficiência. O primeiro se trata da escolha de materiais que proporcionem menor consumo de energia e o segundo da relação disso com a funcionalidade da edificação, reduzindo a necessidade de interferências mecânicas. Por fim, o último ponto trata da harmonia estética criada pelos dois primeiros, sendo consequência e não guia. Dito isso, a adequação ao clima local é o que proporciona estratégias naturais, de iluminação, ventilação e temperatura que reduzem a necessidade de correções posteriores caracterizam um edifício eficiente. O desenvolvimento do ciclo biológico de todas as espécies se deu em torno da água, que atualmente não é distribuída de maneira igualitária na sociedade (o que é até mesmo irônico já que se trata de um recurso natural e não privado). O uso indiscriminado desse recurso por muitos anos fez com que problemas irreparáveis como a poluição de lençóis freáticos, rios e oceanos despertasse preocupação em todo o mundo. Felizmente, a implantação de novas tecnologias como de reutilização das águas da chuva, tratamento de esgotos e sistemas
ENERGIA, ÁGUA E MATERIALIDADE
31 reguladores de uso faz com que surja esperança de maneiras de utilização que não contribuam com o antigo modelo destrutivo ainda muito presente. Porém, o aproveitamento de água, por exemplo, não é algo novo, tendo relatos de sua utilização desde a Grécia Antiga em sistemas de irrigação. O consumo de água atual é realizado comummente de maneira ineficiente em todo o ciclo de uma nova edificação, na produção de elementos construtivos como o aço, nos inúmeros desperdícios no canteiro e na má utilização proporcionada por acessórios como louças e metais que não levam esses fatores em consideração, sem deixar de lado os usuários, responsáveis por grande parte desse desperdício por descaso ou falta de conhecimento. O conceito de reutilização das chamas águas cinza (Carvalho, 2015), baseia-se no reaproveitamento de águas originárias máquinas de lavar, lavatórios e chuveiros, filtrando e destinando-as às áreas desde a limpeza ou construção civil até, no melhor dos casos, na reutilização em seu próprio local de origem, seja uma residência ou centro de comércio. Sendo assim, a importância captação e reutilização de águas reflete na melhoria e menor impacto do meio ambiente, proporcionando economia de recursos e dinheiro e reduzindo a demanda das águas de superfície e subterrâneas. Chegando no contexto de escolha de materiais, antigamente era comum que os novos projetos não descrevessem sua materialidade completa, muitas vezes escolhidos durante sua construção por fatores econômicos e estéticos, sem levar em consideração seus
reflexos a longo prazo. Com o aumento da disponibilidade de materiais no mercado e a possibilidade de importação não limitando-se apenas aos recursos locais surgiu maior necessidade de detalhamento e descrição das funções e características de cada material. Essa escolha no contexto atual varia de acordo com diversos fatores como o peso, que impacta diretamente na estrutura, reverberação de som, refletividade e luminância, além dos impactos causados na sua produção e uso. A extensa busca por materiais de baixo custo e fácil aplicação proporciona a utilização de novas tecnologias que já levam em consideração fatores ambientais, como é o caso do vidro Ornilux, da empresa Arnold Glass, que utiliza preceitos da biomimética mas que também podem ser considerados sustentáveis. A empresa Alemã desenvolveu o vidro com o intuito de reduzir o impacto gerado por edifícios de vidro nos pássaros, que todos os anos colidem em grandes arranha-céus causando extenso número de mortes por colisão e alterando a fauna e biodiversidade local. O vidro foi baseado na estrutura da teia de aranha, que apesar de transparente pode ser vista pelos pássaros com uma coloração diferente, possibilitando que desviem sua rota e evitando impacto. As etapas de impacto de um material vão desde sua produção e uso até seu descarte no momento da demolição. Elementos de alto impacto em sua produção ou obtenção depredam áreas, poluem águas e ocasionam um alto gasto energético, problemáticas que devem ser levadas em consideração no momento de escolha dos materiais a fim de alcançar a anteriormente caracterizada eficiência. A racionalização dos usos também impacta na sustentabilidade,
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aliada ao planejamento da obra, já que de nada adianta utilizar de elementos naturais de maneira exagerada e não pensada, para que só assim possam ser analisados os diversos fatores que compõem os materiais e seus comportamentos. A escolha deve ser feita baseada em estudos comprovados, já que é habitual encontrar pesquisas distorcidas com o objetivo de venda e divulgação de produtos, baseando-se em fatos incompletos e que não possuem significado relevante. Torna-se então uma tarefa complexa porém indispensável a análise completa de todo seu ciclo de vida levando em consideração os objetivos de aplicação e fatores como modo de fabricação, manutenção, durabilidade, eficiência energética e produção de resíduos. Esses elementos podem e devem ser analisados com auxílio de ferramentas de análise de desempenho, que nos proporcionam até mesmo estimativas da produção de elementos danosos ao meio ambiente por meio desses materiais. Por fim, tendo em vista que a construção civil consome grande parcela de recursos naturais, a maior parte deles não renováveis, e que a produção, transporte e uso desses materiais agrava ainda mais seu impacto, o desafio de se desenvolver estratégias de planejamento da edificação de maneira completa e minuciosa é mais um dos fatores que nos guiam ao desenvolvimento de cidades sustentáveis.
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ESTUDO DE CASO 02
Shenzhen Terraces - MVRDV O escritório holandês MVRDV em colaboração com os paisagistas da Openfabric apresentaram uma proposta de complexo multiprogramático na Universidade de New Town, no distrito de Longgang, Shenzhen. Com o nome de Shenzhen Terraces, seu objetivo é a criação de um enorme espaço de uso público (cerca de cem mil metros quadrados) compostos de 20 espaços com diferentes programas e usos. Porém, o maior diferencial da edificação não é em seu uso ou local, mas nos padrões de sustentabilidade utilizados em sua concepção. Em um contexto de urbanismo acelerado, comum em diversas grandes cidades chinesas, Shenzhen cresceu de maneira inesperada em um curto espaço de tempo, se tornando uma das maiores cidades do país no século XXI. Quando isso ocorre, os novos projetos e processos de urbanização devem considerar os espaços pré-existentes naquele local, tanto naturais, quando os que ali se inseriram ao longo dos anos. Para isso, os arquitetos buscaram criar espaços que incentivassem os usuários e pessoas que ali transitam a conviver e se relacionar com o meio natural e as paisagens. Uma cidade amplamente impactada por arranha-céus e um estilo de arquitetura fordista fez com que o MVRDV propusesse uma série de edificações que valorizassem as linhas horizontais com formas que se assemelham à paisagem. Sua inserção em platôs e jardins orgânicos fez com que sua integração com o meio o tornasse praticamente um bairro natural em diálogo com a cidade, com todas as normas de acessibilidade e integração com os sistemas de transporte da região. Seu edifício central realiza esse núcleo de ligação com a cidade, sendo composto por um terminal de ônibus, centro de exposições e outras atividades. Nele foram desenvolvidas estratégias de hierarquização de circulação, fazendo com que a integração dos edifícios à malha urbana fosse algo contínuo, evitando as ideias de barreiras. Com o foco em sustentabilidade, foi criada uma relação entre os espaços verdes e atividades com espaços como teatro, biblioteca, museu e centro de varejo, no intuito de tornar o local um centro de aprendizado, lazer e cultura, proporcionando também a sensação de relaxamento em meio à cidade.
Até mesmo a biblioteca da construção também caracteriza o conceito buscado em sua concepção. Para não criar um bloco ou entidade separada ela foi desenvolvida como espaço de transição entre dois contextos. De um lado, programas educacionais e do outro programas comerciais, interligados por um parque de livros, centro de empreendedorismo e centro de atividades juvenis. Para aumentar ainda mais sua relação com o entorno foram propostas pontes que ligam os terraços aos empreendimentos ali em volta. As manchas de vegetação propostas pela Openfabric assemelham o espeço à vegetação local, imitando florestas naturais da região e criando jardins que se assemelham a colinas, piscinas reflexivas e zonas de atividades ao ar livre como escalada. O sistema construtivo utilizado é composto por concreto reciclado, que juntamente à grande quantidade de painéis fotovoltaicos e extensa área verde proporcionam o controle da temperatura e umidade local. Além disso, seu formato estratégico proporciona maior permeabilidade, o que reduz o impacto na biodiversidade local e permite a criação de jardins de captação e filtragem das águas da chuva para reutilização no próprio centro, auxiliando também nos sistemas de drenagem da região. Sua estrutura funciona também como beirais das próprias edificações, protegendo-as da incidência direta do sol, porém permitindo grandes aberturas e exaltando a relação interior-exterior e as formas circulares contribuem para o fluxo de ventilação natural. Vale comentar também que os terraços se tornam locais de vegetação e bacias aquáticas, que reduzem a temperatura das varandas e demais ambientes abaixo. No projeto foram propostas diversas conexões entre os variados pavimentos e edifí-
cios, o que torna mais fluida a inter-relação entre diferentes espaços e traz experiências únicas, como a de sair de um auditório fechado, por exemplo, o usuário ser acolhido por uma praça ou parque. Essa relação se vê também nas fachadas que ao serem recuadas aumentam a imponência das entradas e guiam os visitantes ao longo do percurso. A integração entre o espeço público e a paisagem caracterizam Shenzhen Terraces como um exemplo de harmonia da nova arquitetura mesmo em cidades densas. Espaços que nos proporcionam a fuga do caos urbano e que além de tudo ainda reduzem a necessidade de intervenções mecânicas como ventiladores ou ares-condicionados são de fato uma arquitetura futurística. Se trata de um parque que proporciona aos alunos e demais usuários a possibilidade de sentir o exterior em espaços antes demarcados por paredes e barreiras e se torna ponto de encontro e inter-relações.
FICHA TÉCNICA
Arquitetura: MVRDV Paisagismo: Openfabric Cost Calculation: Shanghai Xinyuan Construction Engineering Consulting Co., Ltd Localização: Shenzhen, China Sócio responsável: Winy Maas Diretor: Gideon Maasland Diretor de projeto: Gijs Rikken Equipe de projeto: Sanne van Manen, Irgen Salianji, Shengjie Zhan, Luca Beltrame, Katarzyna Maria Ephraim, Cas Esbach, Hengwei Ji, DongMin Lee, Yannick Macken, Giuseppe Mazzaglia, Siyi Pan, Sen Yang, Jiani You, Daan Zandbergen Programas: Educacional, uso misto, escritórios, varejo, cultural Área: 95.000 m² Ano do projeto: 2019
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Design biofílico
IMPACTOS CEREBRAIS Situações de fuga para ambientes naturais em períodos de férias ou descanso são comuns entre os usuários da cidade, com o objetivo de minimizar os impactos sofridos pela vida corrida. Ao analisar a evolução do cérebro humano em diferentes períodos é perceptível que ele inicialmente foi programado para sobreviver e se desenvolver na natureza, já que, antes do surgimento dos primeiros assentamentos, quando não havia organização espacial definida, os seres vivos se viam em um contexto em que foi necessário prosperar por um longo período de tempo totalmente imersos no meio natural, e dessa maneira conclui-se que a vida na cidade é um contexto relativamente recente. Sendo assim, são notórios os estímulos e reações positivas causadas pelo contato com a natureza, já que a adaptação nesse contexto se torna muito mais propícia. A austeridade do ambiente e a carência de recursos naturais mesmo que visualmente acabam por gerar sentimentos de insatisfação e prejudicar o desempenho e produção dos usuários de um espaço, podendo dar origem à situações de estresse ocupacional, colocando em risco o bem estar dos indivíduos (ELGALY E MEJIA, 2016).
Nos últimos anos cresceu exponencialmente o número de estudos e pesquisas acerca dos inúmeros benefícios proporcionados pelo contato direto ou indireto com a biodiversidade, além dos impactos que a privação desse contato tende a criar. Patologias conhecidas como doenças do século como a depressão e ansiedade são obviamente são estimuladas pelo estilo de vida que se desenvolve na cidade, além do elevado número de pessoas que se tornam cada dia mais dependentes de substâncias como o Metilfenidato (Ritalina), ou Alprazolam (Frontal) em busca de amenizar essas problemáticas. Isso que nos leva a uma reflexão inserida em todo o contexto desse trabalho: Seria possível então desenvolver espaços que causem estímulos positivos na vida dos usuários e da cidade, em nível de amenizar os impactos causados pelo contexto em que ela se insere? Até onde a arquitetura pode influenciar nesses aspectos? Após as revoluções industriais, ambientes que possuíssem de fato elementos naturais inseridos em sua construção se tornaram cada vez mais inabituais, remodelando a maneira como o ser humano interrelaciona-se com a natureza.
O conceito de design biofílico aborda a teoria de trazer de volta para o meio construído o ambiente em que o cérebro humano se adaptou e evoluiu. Levando em consideração que passamos a maior parte do dia em ambientes fechados a aplicação de conceitos de biofilia em espaços de trabalho pode resultar até mesmo no aumento da produtividade dos funcionários e redução do risco de desenvolvimento de doenças, já que envolve o bem estar físico e psicológico (WILSON e FONSECA, 2009). A verdade é que o distanciamento da estrutura que se tornou convencional de se trabalhar, consumir e interagir proporciona sentimentos de mudança e fuga do contexto cinza que abarca as grandes cidades, ou melhor, faz alusão mesmo que de maneira imperceptível à retomada a um contexto antes natural.
NATUREZA NO ESPAÇO Quando se trata da aplicação de conceitos naturais em espaços construídos relaciona-se sua presença de forma direta ou indireta, física e efêmera ou até mesmo da sua reprodução de maneira artificial na busca pela conexão com seus componentes. Esse vínculo proporciona impulsos multissensoriais que envolvem entre outras áreas a memória e remetem a sensações de tranquilidade e distensão. Dessa forma, o enriquecimento de detalhes se relaciona ao minimalismo da natureza maquinalmente, demonstrando que aspectos como textura, odores e reverberação de som diferenciam o design biofílico do simples ato de aplicar vegetação no espaço. Essa integração direta sem dúvidas estabelece conexão positiva, porém a junção de elementos que envolvem cor, temperatura, ar, e a presença de iluminação natural impactam ritmos biológicos como o ciclo circadiano que nada mais é do que a influência da luz solar no relógio biológico, e que vem sendo afetada pela evolução da iluminação artificial. Um trabalho inteligente com luz e sombra, por exemplo, pode criar condições semelhantes às que transcorrem na natureza e o maior número de aberturas além de proporcionar conexões sensoriais previne a propagação de inúmeras doenças. A sensação de insegurança presente nas grandes metrópoles incentiva o surgimento de espaços cada vez mais fechados, que reduzem aos poucos o contato com o meio externo todos os dias. Estudos comprovam que a conexão visual com o horizonte em uma pausa do trabalho propicia a produção de serotonina, auxiliando na regulação do sono, apetite e coordenando as principais funções cerebrais. Materiais como a madeira e bambu possuem padrões de textura, odor e forma que espelham a pluralidade de elementos orgânicos vivenciados em áreas isoladas da cidade que geralmente são relacionadas à tranquilidade, materiais que, se usados de maneira inteligente, podem originar produções arquitetônicas que
se inserem de maneira muito mais harmônica no ambiente. Dessa maneira, o objetivo da aplicação da biofilia na produção do ambiente construído prevê que a conexão com a natureza seja feita até mesmo de maneira não visual, na busca pelas sensações proporcionadas por esses espaços e de aprender com eles, para consequentemente compreender seu impacto no corpo humano e utilizá-la a nosso favor.
PADRÕES DE APLICABILIDADE O desenvolvimento urbano e aumento da densidade populacional nas cidades demonstra a inevitabilidade de intervenções cada vez mais humanizadas, como é o caso do design biofílico. Obviamente, cada contexto possui suas particularidades, para as quais existem inúmeras possibilidades, o que nos leva a análise das principais perfectivas que envolvem situações comuns. Apesar de existirem certos padrões de aplicabilidade, vale lembrar que nada deve ser tratado como fórmula ou receita, mas sim como respaldo para o desenvolvimento de projetos que levem em consideração conceitos e conexões com estudos de ambientes naturais e seus impactos. Da mesma maneira que aspectos culturais ou fatores climáticos devem ser utilizados objetivamente no processo projetual de maneiras distintas os padrões do design biofílico possuem diversas variáveis, o que significa que soluções universais não devem ser adotadas, pois a solução de um espaço e suas respostas não necessariamente serão as mesmas em outro contexto. Em busca de melhorar a experiência do usuário devem ser levados em consideração fatores como o uso pretendido do espaço, já que uma sala de aula possui necessidades diferentes de um estádio de futebol, por exemplo. A conexão visual busca explorar a visualização do espaço e ativar lembranças de espaços e elementos naturais por meio dos olhos, utilizando paredes verdes, vegetação, estratégias de layout que reduzem os bloqueios às vistas externas ou até mesmo imagens que fazem alusão a esses espaços. A questão principal está nos detalhes e especificidades de implantação dessas in-
tervenções, já que até mesmo seu posicionamento possui influência direta. Essa conexão pode ser feita também de forma não visual, onde por meio de estímulos auditivos, hápticos ou olfativos ocorre a reminiscência á sistemas vivos ou processos naturais. Mudanças na temperatura, umidade ou fluxo de ar também são viáveis em busca de simular essas situações, já que até mesmo um câmbio sutil no microclima ambiente impacta no estado das superfícies e seres vivos ali presentes. A presença de água no espaço é uma estratégia de design biofílico relativamente simples, que traz consigo sons, odores e temperaturas extremamente características e que geralmente causam a sensação de tranquilidade. Assim como ela, outros elementos causam essas sensações e simulam processos comuns na natureza, como o uso inteligente da luz, com diferentes intensidades variáveis com o tempo assim como ocorre na natureza. Padrões combinados costumam gerar resultados mais benéficos já que a natureza possui uma extensa variedade de elementos, o que também aumenta as chances de adaptação à diferentes usos e usuários. Espaços antes caracterizados por ambientes de estresse e medo, como hospitais e presídios podem utilizar desses conceitos para causar impactos psicológicos positivos naqueles que ali passam e amenizar um pouco seus efeitos. A soma das propriedades desses locais demonstra como afetarão sua qualidade do ar, conforto térmico ou acústica, favorecendo ou não a saúde física e psicológica dos impactados. Tendo como exemplo um edifício, frequentemente em seu processo de concepção são negligenciados seus trabalhadores noturnos, comummente privados de experiências biofílicas, a pesar de passaram grande tempo nesses espaços e serem responsáveis por grande parte de seu funcionamento. Casos como esse demonstram o papel do projetista de trabalhar com o máximo potencial e responsabilidade da sua criação baseados em perspectivas, experiências e expectativas, a fim de desenvolver zonas estimulantes, propiciar a integração entre pessoas, melhoria de saúde, estética e desempenho. Um bom projeto vai além, sem fugir da funcionalidade
ESTUDO DE CASO 03
AMATA, Urban Forest Triptyque Architecture O primeiro edifício totalmente em madeira do Brasil foi feito pelo escritório franco-brasileiro Tryptyque Architecture em São Paulo, com previsão de término da construção para 2022. Em colaboração com a empresa florestal AMATA foi proposto em um terreno de 1.025m² uma torre escalonada de 13 pavimentos, possuindo múltiplos usos, do comercial ao residencial. Sua estrutura foi feita em CLT, sistema baseado em várias camadas de madeira maciça coladas em diferentes direções. Além do material que faz alusão à uma floresta vertical e proporciona experiências sensoriais e biofílicas inovadoras possui o diferencial da sua rápida construção e longa durabilidade, além de alto desempenho estrutural, termoacústico e resistência ao fogo. O objetivo de integrar-se a vegetação é visível no projeto, onde seu formato se assemelha à topográfica do seu local de inserção, o bairro Vila Madalena, em São Paulo. Paredes e lajes são projetadas e confeccionadas com as dimensões necessárias e levados ao canteiro, onde são montadas e coladas como uma espécie de lego. A madeira escolhida foi o pinus, que possui um ciclo de crescimento estimado de 18 anos, demora cerca de 8 semanas para produção após a colheita e é reflorestada logo após sua utilização. São aplicados diversos produtos químicos na madeira para garantir sua eficiência contra chuva ou infestação de insetos e pragas, além da prevenção contra incêndios que expõe a necessidade da criação de uma margem de queima para cada peça, para que dessa forma as partes que sofram com o fogo estejam afastadas da estrutura e que essa sofra apenas o último impacto. Algo que pouco se sabe é que a madeira de reflorestamento no Brasil é um composto relativamente caro, já que não é tão comum como o concreto, mas segundo arquitetos do projeto a economia com a menor quantidade de material, tempo e insumos, além do impacto ambiental compensa em curto período de tempo. Indo mais afundo à estrutura da madeira, um grande benefício é na absorção de dióxido de carbono, já que a indústria da construção civil é uma das principais poluidoras do mundo.
A experiência sensorial do prédio busca trazer a calmaria das florestas para espaços corridos, possuindo influência dos odores e texturas da madeira, além do uso de vegetações específicas que se adaptam ao clima da região e reduzam a temperatura local, além de auxiliar nas vedações e proteções contra a insolação de maneira muito mais eficiente que soluções artificiais. Os benefícios dos materiais utilizados vão até mesmo na concentração dos usuários por meio do estímulo da produção de serotonina que ambientes florestais proporcionam. Trata de uma revolução na arquitetura brasileira e mundial, demonstra a criação de uma arquitetura sustentável e alternativa, traz benefícios da natureza para o meio urbano e demonstra o futuro dessa indústria e das especializações. Profissionais cada vez mais capacitados, canteiros de obra cada vez mais limpos, cidades e pessoas cada vez mais saudáveis.
FICHA TÉCNICA
Arquitetura: Triptyque Architecture Localização: São Paulo, Brasil Cliente/Proprietário: Amata Área: 4700m² Área do terreno: 1.025m² Ano: 2020 Uso: Misto, comercial Equipe: Gregory Bousquet, Carolina Bueno, Guillaume Sibaud, Olivier Raffaëlli, Nicolas François, Catia Gottiniaux, Bianca Coelho, Alan Coelho, Beatriz Almeida, Maria Eugênia Gorga
ARQUITETURA DE USO MISTO CONCEITUAÇÃO E DESAFIOS A necessidade da criação de novas soluções está cada vez mais presente nas grandes metrópoles. Apesar de aparentar ser um novo conceito, as edificações de uso misto datam de tempos antigos, se adaptando ao longo dos anos e oferecendo uma alternativa de ocupação do cada vez mais valioso espaço. Dessa maneira, atendem aos principais pilares que estruturam a cidade: habitar, locomover, produzir, entreter e relacionar-se. Integrando diferentes usos como trabalho, habitação e lazer traz também a necessidade de adaptação e diálogo entre diferentes espaços, e contestam o conceito de planejamento urbano segmentado, onde cada “pedaço” da cidade possuía seus diferentes setores e usos delimitados. Dado o contexto de cidade segmentada anteriormente citado, diversos moradores são obrigados a deslocar-se por longos percursos para realizar atividades rotineiras, como trabalho e estudo, o que aliado à outros fatores do desenvolvimento urbano, faz com que a cidade se torne cada vez mais hostil aos cidadãos e seja pensada já considerando necessária essa extensa circulação de veículos. Dessa maneira ocorre uma otimização no processo de mobilidade urbana que reflete diretamente na gestão de tempo do cidadão, onde o tempo gasto com deslocamento talvez seja aproveitado de diferentes maneiras. Com isso, o aproveitamento do solo urbano para diferentes usos em um mesmo local contribui para o adensamento urbano e faz com que o uso do espaço seja feito de maneira muito mais inteligente e acolhedora. Além disso, o uso da infraestrutura urbana também é aprimorado, já que as redes de transporte, limpeza, entre outras são obrigadas a se nessas novas centralidades que recebem maior fluxo de pessoas em diferentes horários. Para que esse tipo de empreendimento seja de fato benéfico deve ser analisada primeiramente sua área de implantação, para que além de confortável e atraente, a nova edificação seja funcional e dialogue com seu entorno, evitando que se torne mais uma barreira.
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Dessa maneira, surgirão pouco a pouco ainda mais novas edificações que despertem nas pessoas o desejo de permanência e participação daquele espaço. Indo acerca dos desafios encontrados nesse processo, um deles é sobre a maneira com que os tão diferentes usos e espaços dialogarão nesse contexto, e qual linguagem será utilizada para realizar tal diálogo.
“Projetos [de uso misto] abrigam, em um espaço de uso público e de gerenciamento privado, condições próximas ao ideal do que se deveria ter nas ruas dos centros urbanos civilizados desse planeta” Jorge Königsberger
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Como incentivo, diferentemente dos anos passados, os novos mecanismos de legislação urbana vêm proporcionando uma série de benefícios para estimular o desenvolvimento desse modelo de edificação. De fato, o uso misto se torna uma maneira de progresso no direito à cidade. Demonstra e estimula as relações urbanas em seu caráter mais natural, e faz com que diferentes demandas dialoguem entre si quebrando o paradigma de cidade rotulada.
PARA TODA A CIDADE A necessidade de criação de modelos de edificações que proporcionem mais atividades e infraestrutura em um só espaço faz com que o design para que esses espaços funcionem seja necessariamente cada vez mais elaborado, para que não se torne um simples aglomerado desorganizado de atividades. É imprescindível que as necessidades dos usuários sejam pensadas tanto no presente como em futuras expansões ou modificações, assim como o impacto que causará nas adjacências de forma positiva ou negativa, ou seja, em como o público da área poderá usufruir também do empreendimento. Com o desequilíbrio entre oferta e demanda no meio urbano geralmente acaba surgindo a necessidade pela implantação de equipamentos de saúde ou educação, por exemplo, para preencher essa necessidade em locais que houveram um crescimento não planejado. Se tratando de um projeto previamente planejado, os benefícios vão desde o campo da sustentabilidade, proporcionando menor deslocamento com uma extensa quantidade de serviços no mesmo lugar, até a regeneração e mantenimento de espaços antes degradados ou abandonados e sua maior integração com os serviços urbanos, visto que maior quantidade de pessoas passa a usufruir daquela área. É de extrema importância que sejam analisados os usos no contexto em que a nova edificação será inserida, e nesse caso os estudos são similares à lei da oferta e da procura. Como exemplo, em uma região extremamente residencial, toda a infraestrutura local, seja de comércio ou até mesmo transporte público é voltada para esse tipo de usuário, sendo assim não seria inteligente a implementação de um complexo de hotéis, já que não existe demanda para isso naquela área. Obviamente o programa é variável de acordo com as ambições dos envolvidos, porém seu sucesso depende dessa compreensão. Porém, esse não é um fator limitante do surgimento de novas propostas que saem um pouco da curva. Uma nova ideia pode muitas vezes transformar uma zona que possui principal funcionamento noturno em uma área extremamente instigante durante o dia, reunir pessoas e fomentar o direito à cidade ou fornecer áreas verdes em zonas extremamente áridas. Retomando a questão daqueles que já constituíam o território, o impacto pode e deve servir como fator estimulante dos comércios ou residências ali presentes, já que com o aumento da infraestrutura e público cresce também o valor da terra e dos produtos. Em locais de alta densidade como as zonas centrais, onde o fluxo de pessoas é intenso e os usos variados, a oferta por espaços de descanso, lazer e cultura em meio ao reflexo do caos urbano ainda anda a passos curtos, mas pode transformar o estilo de vida de todos aqueles inseridos nesse contexto. Por fim, a ligação de todos esses fatores também vai auxiliar no momento de decisões de organização das diferentes funções ali presentes, no posicionamento no terreno e na hierarquia de usos.
HIERARQUIA E ORGANIZAÇÃO
Ao combinar diferentes usos como residencial, cultural e comercial em um mesmo edifício deve-se levar em consideração a implicação de usuários heterogêneos frequentando os mesmos espaços. Já que cada um desses usuários possui diferentes particularidades e necessidades, incluindo até mesmo seus horários de uso, é imprescindível que todas essas perspectivas se conectem no produto final, ou ao menos se relacionem de maneira harmoniosa, a fim de evitar que determinado grupo seja priorizado ou excluído. Sendo assim, é imprescindível que os acessos às diferentes instalações do edifício sejam fundamentalmente analisados, onde um acesso único pode muitas vezes não funcionar, já que o fluxo de pessoas em ambientes de salas comerciais é completamente diferente de usos recreativos ou residenciais, o que resultaria em um descontrole de acesso. A conexão entre esses acessos também deve ser feita de maneira inteligente para que não haja aglomerações ou engarrafamento de pessoas e todas possam chegar a locais para os quais desejam e são permitidas. Dito isso, é comum ver nesse tipo de edificação sistemas de controle de acesso em elevadores automatizados, ou na própria entrada com portaria. Um sistema de elevadores inteligentes pode evitar que pessoas comuns cheguem a espaços de acesso restrito a funcionários por exemplo, ou até mesmo a disposição de mobiliários, uso de cores e objetos podem estimular mesmo
que involuntariamente as pessoas a seguirem determinados caminhos de maneira rápida, caso seja o objetivo. No modernismo era habitual que a setorização de espaços de acordo com seus usos fosse extremamente demarcada e que cada espaço ocupasse estritamente determinada função específica. Em decorrência disso, nos momentos em que essas funções não estavam em exercício grandes partes dos edifícios se tornavam zonas inseguras por não haver circulação de pessoas. Nos dias atuais é de interesse das novas empresas que esses usos sejam mesclados a fim de compartilhar infraestrutura e gastos, proporcionando ambientes vivos durante todo seu ciclo. Para tanto, é importante que diferentes tribos sejam estimuladas a frequentarem ambientes semelhantes, em busca da interrelação entre elas, mas caso essa interação não seja o objetivo, que seus fluxos e espaços não sejam conflitantes. Essa promoção de conexões permite novas perspectivas de aprendizado e descobertas, além de promover a evolução do ambiente e usuários como um todo, tornando o edifício mais dinâmico, seguro e realmente eficiente.
ESTUDO DE CASO 04
Valley - MVRDV Em busca de incorporar os valores de sustentabilidade, eficiência e bem-estar, o escritório holandês MVRDV desenvolveu uma proposta revolucionária no coração de Amsterdã. Batizado de Valley, o edifício de uso misto foi estudado para se desenvolver em uma zona comercial da cidade, possuindo no total 75.000m² que incluem unidades residenciais, salas de escritórios, bares, restaurantes e espaço cultural. A ideia é inserir vida em uma zona antes monótona, altamente impactada pelo distrito que a envolve, caracterizado como principal centro de negócios internacional e provar que é possível existir um edifício tão grande sem que este seja uma barreira. Seu formato baseia-se no antes visto em outros projetos do escritório empilhamento de módulos que criam diferentes pontos de altura máxima e se assemelham a um verdadeiro vale coberto por telhados verdes. A forma da fachada principal possui estrutura paramétrica projetada com o auxílio de softwares especializados em colaboração com a empresa Arup, que possibilitaram entrada de luz e ventilação em todos os apartamentos, além de controlar fatores como a privacidade. Isso faz com que cada unidade habitacional seja única e as sensações e experiências obtidas em cada espaço mais ainda.
“É a prova de que um equilíbrio saudável entre a vida e trabalho pode ser alcançado em um só lugar. Você sai de um edifício corporativo, como os que você conhece em todo o planeta, para um ambiente humano e verde, formando uma transição literal e visual para a cidade do amanhã: uma cidade verde e acessível, densa e humana.” Winy Maas.
O edifício é composto por três diferentes alturas, possuindo o ponto mais alto certa de 100m do nível da rua, o que proporciona vistas panorâmicas de toda a cidade. Esse espaço é ocupado pelo Sky Bar, aberto ao público em determinados horários. O restante do programa é composto por 196 apartamentos, 7 pavimentos de escritórios, 375 vagas de estacionamento subterrâneo e diversos módulos comerciais e culturais no nível da rua, que se conecta com o restante dos diferentes espaços por meio de duas grandes escadas. A parte central é revestida em pedra e se assemelha a uma gruta e possui outros elementos naturais, como água e entrada de luz por meio de claraboias. Esse espaço funciona como ambiente de transição e/ou lobby tanto para os residentes como para as outras atividades, garantindo ali o fluxo de pessoas durante todo o dia. As zonas residencial e de escritórios possuem grandes janelas piso-teto, proporcionando maior visão externa possível, além de acessos à espaços abertos na área externa. A materialidade da edificação também reflete esse contraste entre o corporativo/natural, onde ao mesmo tempo que se vê vidro, terraços e varandas de pedra com vasos e lagos dispostos sob sua estrutura tomam conta das áreas abertas. O paisagismo foi projetado por Piet Ouldolf com o objetivo de pensar em tipos de vegetação que mantivessem o edifício verde em todas as estações do ano. A transição entre os diferentes setores das ruas ao edifício reflete a intenção de respeito à vizinhança, mas que não deixa de lado o conceito de inovação. Para isso, foram entrevistados e incorporados no processo projetual diversos possíveis inquilinos, moradores e trabalhadores da área. Dentro, os volumes residenciais são dispostos sob um pedestal de acesso público que guia toda a circulação do edifício e traz um convite aos transeuntes ao setor corporativo e mostram sua conexão com aquela área. Na realidade todo o edifício baseia-se na contraposição entre polos opostos, na disposição objetiva residencial x corporativo e nas diferentes dimensões e alturas que revelam o grandioso x humano. Os variados terraços convidam o contato de diferentes públicos, flores e plantas, relações ao ar livre que se diferem das zonas comerciais comuns do distrito de Zuidas. O conceito que a empresacliente buscava era o de evolução da vida no meio urbano, criando espaços inspiradores e inovadores que refletissem os valores da corporação. Além disso, possui classificação de sustentabilidade BREEAM-NL, caracterizando-o como equipamento de baixo impacto ambiental. O desejo de desenvolvimento de um bairro urbano mais habitável em um local antes com baixíssimo foco residencial e sua localização na fronteira entre zonas de usos distintos demonstram a necessidade de mudança.
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FICHA TÉCNICA
Arquitetura: MVRDV Localização: Amsterdam, Holanda Ano: 2015 Área: 75.000m² Cliente: EDGE Technologies Investidor: RJB Group of Companies Contratante: G&S Bouw BV e Boele & Van Eesteren BV Programas: Uso misto, Escritórios, Residencial, Cultural, Bar-restaurante Equipe de design: Gijs Rikken, Gideon Maasland, Guido Boeters, Wietse Elswijk, Saimon Gomez Idiakez, Rik Lambers, Javier Lopez Menchero, Sanne van Manen, Stephanie McNamara, Thijs van Oostrum, Frank Smit, Boudewijn Thomas, Maria vasiloglou, Laurens Veth, Winy Maas, Jacob van Rijs, Nathalie de Vries Paisagismo: DeltaVorm Groep & Piet Oudolf, Utrecht, Holanda Engenharia: Inbo, Amsterdã, Holanda Projeto paramétrico: ARUP, Amsterdã, Holanda Design gráfico: PlusOne, Amsterdã, Holanda
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MVRDV
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A proposta
AS IMEDIAÇÕES A área escolhida para implementação da proposta que compreende esse trabalho foi a anteriormente citada Rua Guaicurus, mais especificamente nos lotes 011, 009 e 007, que compreendem as esquinas com Rua Rio de Janeiro e Avenida Santos Dummont. Áreas de grande importância na cidade compõem as suas imediações, como a Lagoinha, Praça da Estação e Rodoviária, locais que expressam as características e manifestações do município de Belo Horizonte. Essa área foi caracterizada por uma região industrial, sendo prevista para ser um polo desse setor nas fases iniciais da cidade, além de ser ali que se instala ou se “mascara” sua principal zona de prostituição. Sua proximidade com a Lagoinha possibilitou o caráter de zona boêmia e estimula os usos comerciais na área, além de diversas opções de lazer como bares e restaurantes. Entre as décadas de 1970 e 1980 ocorreu um considerável aumento nos fluxos da região, que recebiam pessoas de toda a cidade se tornando um trecho de circulação essencial, além de fazer parte da ligação para o sistema de transporte público em uma situação conturbada, onde praticamente todas as partes da cidade se interconectavam em linhas sobrepostas (Pimenta, 2019). Junto ao extenso número de pessoas que por ali transitam, diversas motivações, culturas e desejos caminham por aquelas ruas, alguns para as escadas dos hotéis, outros para
trabalhar, àqueles que utilizam da rua como casa e ainda aqueles simplesmente de passagem, com o objetivo de chegar a outros setores da cidade ou até mesmo à outras cidades. Sendo assim, podemos caracterizar essa zona como um espaço transitivo daqueles que compõem o município, e por esses transeuntes podemos ver os reflexos dos processos da estrutura de Belo Horizonte e das grandes cidades. Atualmente esse espaço ainda pode ser considerado com caráter comercial e de serviços, porém devido ao contexto histórico e a priorização dos investimentos em zonas “nobres” seu foco é mais voltado para as camadas de baixa renda. Apesar da zona central possuir uma grande densidade populacional a área possui incontáveis imóveis subutilizados, muitos deles sendo dedicados à estacionamentos (Práxis, 2007). Essa porção da cidade possui uma infraestrutura urbana abundante, principalmente nos setores de serviços, comércio, transporte e lazer, mas o alto valor das terras e a carência de políticas públicas nesse quesito (também decorrente dessas infraestruturas) reduzem a perspectiva de uso habitacional, situação também agravada pelas questões de associação da área à uma zona marginalizada devido às suas cicatrizes culturais e contexto histórico anteriormente citados, que reduzem os estímulos para investimentos no setor.
OS OCUPANTES AS PROSTITUTAS
Conforme dados da última atualização do cadastro da Aprosmig, aproximadamente 3500 profissionais do sexo utilizam daquela área como espaço de trabalho, algumas nos hotéis e outras nas ruas. Com o contexto pandêmico muitas delas passaram por situações desumanas e sem alternativa à não ser voltarem para as ruas. Grande parte delas não são da cidade e vivem aqui à trabalho, e nessas situações não conseguem nem ao menos retornar às suas cidades natais. Sendo assim, é claramente visível a necessidade de desenvolvimento de espaços que possibilitem certas infraestruturas básicas para essas profissionais, além de instrumentos que possam regularizar, especializar e conscientizar essa população acerca de seus direitos. A necessidade de moradias acessíveis nessa área é nítida e pode se tornar uma oportunidade para a colaboração com políticas públicas de habitação para criar mecanismos e espaços de interesse social, melhorando a situação precária de diversas profissionais.
MORADORES EM SITUAÇÃO DE RUA
Obviamente, pessoas nessa situação dificilmente se mantém exclusivamente nos mesmos espaços, se movendo conforme suas necessidades de sobrevivência, o que torna complexo quantificar os moradores em situação de rua presentes naquele espaço. Segundo dados da Universidade Federal de Minas Gerais, essa população é composta aproximadamente por 9.200 pessoas, sendo a maioria delas na região central. Dito isso, é de extrema relevância e dever para com a região central a criação de um centro de atenção à essa população, em busca de capacitar, oferecer infraestrutura e perspectiva de futuro onde muitas vezes não existe. É imprescindível que as áreas de uso comum sejam um convite á cidade, e que sejam abastecidas com sanitários e bebedouros públicos, equipamentos que possuem quantidade claramente insuficiente em Belo Horizonte. Recentemente, casos como a instalação de obstáculos em espaços públicos para afastar a possibilidade de permanência de moradores em situação de rua refletem um ciclo de expulsão e tentativa de esconder um problema derivado da estrutura urbana segregadora que atinge às grandes cidades.
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CATADORES
Muitas vezes desconhecida por grande parte da população, a importância do trabalho dos chamados catadores de material reciclável e sucata na manutenção, limpeza e sustentabilidade da cidade é incontestável. Com as últimas crises os sistemas de coleta oficial foram paralisados e esse tipo de ocupação ainda conta com raros auxílios governamentais. Outro ponto a se destacar é o recente incêndio na associação de catadores mais próxima da área de estudo, a Asmare, que resultou em perdas de material, infraestrutura e consequentemente futura renda. A situação desses trabalhadores é, na maioria dos casos, totalmente precária, e com sua frequente presença na Guaicurus muitos deles se abrigam em edifícios em péssimas condições que fornecem diversos riscos. Sendo assim, mostra-se objeto de grande potencial a implementação de uma nova sede para auxílio a esses trabalhadores, fornecendo além de infraestrutura opções de espaços para reunião, cursos de capacitação, espaços para depósito e também, que eles se incluam nas políticas sociais de habitação, assim como os grupos anteriormente citados. VENDEDORES AMBULANTES
Não é novidade que a quantidade de comerciantes populares presentes nas ruas da cidade só vem crescendo, mesmo com as inúmeras tentativas de marginalizar o serviço pela por parte da prefeitura/sociedade. Esse trabalho é mais um reflexo das crises econômicas e possui renda extremamente variável, essa que também sofreu impacto das consequências da crise do coronavírus. De qualquer maneira, são cidadãos que transformam as ruas com diversas formas de interação em busca de vender seus produtos. Tentativas de operações urbanas de relocação desse público para os shoppings populares – com baixa infraestrutura, superlotação e monopólio por empresas privadas – simplesmente desconsideram as áreas de venda específica dos usuários, que muitas vezes preferiram retornar às ruas por não conseguirem atingir os rendimentos esperados ou por dificuldade de sustentar os custos de mantenimento nos shoppings. Essa é mais uma tentativa de migrar com o problema para zonas mais afastadas, ao invés de propor soluções, tratando-se de uma limpeza urbana por baixo dos panos.
OPERAÇÕES URBANAS Áreas como a da Guaicurus e outras regiões com características similares sofrem grande pressão imobiliária por seu potencial, e seus atuais ocupantes e usos são claramente ameaçados em relação à possíveis futuros empreendimentos que podem mudar suas características de ocupação, o que afetaria o comércio e as classes mais baixas. Nesse contexto, a Operação Urbana OUOC-ACLO compreende a área de intervenção e é caracterizada por previsões de incentivos para atrair investimentos de iniciativa privada, o que acaba muitas vezes por substituir características locais e colocar em risco os grupos sociais que compreendem aquele espaço. O chamado Plano de Reabilitação do Hipercentro divulgado em meados de 2007 demonstrou alguns dos propósitos por parte do poder público para a área em colaboração com possíveis investidores. O prefeito da época, Fernando Pimentel e a atual Secretária de Política Urbana, Maria Caldas, expuseram que o plano era de revitalização daquela área, tanto da Rua Guaicurus como na Avenida Santos Dumont, com um processo de análise dos locais de maior debilidade e passíveis de intervenção. Infelizmente a característica desse tipo de discurso revela uma intenção de expulsão da parte considerada suja e perigosa da cidade para zonas periféricas, como aconteceu e acontece nas grandes metrópoles, trazendo um público totalmente diferente e descaracterizando a área.
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“A ideia não é expulsar ninguém, mas a tendência é que os hotéis queiram ir para outra região.” Maria Caldas, Secretária de Política Urbana, 2007
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CONDICIONANTES
USO E OCUPAÇÃO Como anteriormente analisada, é evidente o quase inexistente caráter residencial da área (que não deixa de ser uma necessidade), possuindo características de um polo comercial com alto valor da terra, dado seu contexto histórico. Também como reprodução desse contexto, a questão da procura por habitação na área é pouco considerada e associada à um espaço periculoso e ilegal, possuindo edifícios abandonados e espaços subutilizados. Com característica residencial impactante, a Ocupação Carolina de Jesus, na Rua Rio de Janeiro comprova a carência de elementos de habitação social na área, que claramente prioriza os veículos às pessoas, com inúmeros estacionamentos que são tratados como elementos comuns à zona central. A zona que oferece uso cultural mais próxima á a Praça da estação, e a parte da Rodoviária e seu entorno desempenham papel de distribuidores de fluxo, sendo esses dois polos grandes elementos que caracterizam a ocupação e direito ao espaço público, sendo uma zona extremamente ativa durante o dia e noite. A Avenida Santos Dumont, é caracterizada pelo corredor do MOVE, implementado para a Copa do Mundo de 2014. Pode ser considerada uma zona de alto impacto na área por ser responsável pela entrada e saída de um grande número de pessoas pelos BRTs além de ser uma das poucas da área com uma malha urbana mais estável. Ruas como a Rio de Janeiro são caracterizadas por edificações com o uso térreo prioritariamente comercial e as que possuem pavimentos superiores caracterizam esses em depósitos, lojas ou escritórios, e revelam o habitual uso para fins comerciais e de serviço da área. Os conhecidos hotéis da Rua Guaicurus não são chamativos durante o dia, dando um caráter diferente à área no período noturno, porém não limitando seu funcionamento somente a ele. Possuem fachadas que sofreram certa degradação com o tempo e não são possuem características de manutenção recente. Um elemento intrigante da área é o enorme prédio espelhado finalizado recentemente na esquina da rua Rio de Janeiro e Avenida do Contorno. Também foi proposto para um hotel, porém completamente destoante do restante das construções daquele entorno, revelando possíveis futuros conflitos em relação ao contexto ali presente. Esse e alguns outros empreendimentos são resultado de uma busca de investidores em agregar valor àquele espaço durante o período da Copa. As diversas edificações abandonadas ou subutilizadas possuem domínios público e privado, sendo essas as que possuem maior caráter de degradação e baixo estado de conservação. Algumas de domínio público recebem propostas para o Tribunal Regional do Trabalho e possíveis habitações de interesse social.
CONDICIONANTES
IMÓVEIS TOMBADOS
TOMBADO EM PROCESSO DE TOMBAMENTO
Em decorrência da importância histórica da área em questão e da extrema relevância de suas edificações para o município toda a área de análise faz parte de um Conjunto Urbano Protegido. Essa característica é fundamentada pela Diretoria de Patrimônio Cultural e Arquivo Público, e assim pode ser considerada por possuir coerência com os valores arquitetônicos e culturais da cidade desde seu planejamento original, além de possuir múltiplos usos (FMC, 2020). Analisando os bens tombados da área é possível perceber que todos seguem linhagens similares, sendo pontos de fluxo intenso e com determinada relevância histórica para com o município. Alguns exemplos são a Praça da Estação e Museu de Artes e Ofícios, a Praça Sete de Setembro e certas edificações no perímetro da Praça da Rodoviária. Esses se tratam de elementos chave na delimitação de trânsito da região central, porém existem ainda diversas edificações com processo de tombamento característico, levando em consideração características arquitetônicas e contexto local, como o Centro Cultural da UFMG (antiga escola de engenharia) e outros edifícios icônicos, como o anteriormente citado Museu do Sexo e das Putas, que participou de eventos históricos na Rua dos Guaicurus.
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O chamado Baixo Centro de Belo Horizonte e o lote de estudo compreendem, de acordo com o Novo Plano Diretor da cidade, um espaço caracterizado como Ocupação Preferencial 3 (OP-3). Isso significa que o processo de ocupação dessa área deve ser incentivado, possui baixas interferências topográficas e/ou da paisagem, e diversos pontos positivos, como presença de infraestrutura de transporte e serviços. CAb = 1 | CAmáx = 5 | Mínimo de 1 vaga de garagem para cada 5 unidades habitacionais A ideia do novo Plano Diretor é estimular que as novas edificações sejam desenvolvidas com preceitos sustentáveis e desacelerar as ocupações periféricas por meio de estímulos a ocupações em áreas subutilizadas, como é o caso da área de estudo. Zonas próximas ao lote, como a Rodoviária e o Cine 104 são demarcadas como Áreas de Grandes Equipamentos de Uso Coletivo, porém são escassos os espaços destinados a novos empreendimentos, geralmente em zonas mais afastadas. É possível perceber características de ocupação desordenada e ocupações em péssimo estado de conservação, além de problemas de acessibilidade.
CONDICIONANTES
CONDICIONANTES
ARBORIZAÇÃO Por se tratar de um polo comercial e possuir um intenso fluxo de pessoas as ruas e os pontos de ônibus sempre estão cheios, o que aliado a falta de camada vegetal expressiva na Rua dos Guaicurus causa sensações desconfortáveis e características de uma zona árida. As partes com maior quantidade de sombra e vegetação são mais concentradas nas proximidades da Praça da Estação e Avenida Afonso Pena. Nesse sentido, além de ser de grande interesse no tema do trabalho se torna expressiva a necessidade de sistemas de espaços abertos como praças e outras áreas verdes, que além de promover maior uso e ocupação possam interferir na arborização da região. Uma arquitetura com extensa quantidade de vegetação também é imprescindível, além de outras características que possam causam impactos positivos no microclima local.
Em relação à infraestrutura viária é possível analisar características comuns à uma cidade cuja preocupação maior são os veículos, como calçadas em péssimas condições e com frequente presença de obstáculos. Ainda assim, possuem melhor situação que de grande parte da região do centro, pela presença de grande quantidade de comércio e proximidade com a Rodoviária. A grande maioria das ruas da região e principalmente as ruas que interferem nos lotes utilizados (Rua Guaicurus, Rio de Janeiro e Avenida Santos Dummont) são caracterizadas no Plano Diretor como vias arteriais, o que significa a presença de interseções em nível e acessibilidade às vias locais, possibilitando o deslocamento entre outras regiões. Esse fato expressa a necessidade de um afastamento frontal mínimo de 4m e pela área estar localizada próxima à divisa com um patrimônio tombado (Museu) existe a necessidade de afastamento dele de no mínimo 5m. Os afastamentos laterais e de fundo se dão de acordo com a Regra do H, caracterizada nesse caso no Plano diretor como (af = 2,3 + (H - 12,0) / 8). Se considerarmos a altura máxima permitida de acordo com a informação básica de 33m, chegamos à necessidade de 4,925m de afastamento.
CIRCULAÇÃO VIÁRIA
Um fator importante a se considerar em questões de infraestrutura viária é a grande oferta de transporte público nessa área, o que demonstra o potencial da área de implantação, e sua proximidade com as estações de metrô, MOVE e diversos pontos de ônibus que levam para praticamente toda a cidade faz com que a área seja de fácil acesso, além da implantação de ciclovias juntamente com os corredores do MOVE, a pesar de não comporem um sistema fechado, o que desestimula os usuários já que não possui ligação com outros espaços, se iniciando na Avenida Santos Dummont e terminando na Avenida Paraná.
O INCENTIVO À CULTURA E SEU IMPACTO NO ESPAÇO
ATSOPORP A
Uma região altamente influenciada pelas raízes culturais e sociais que caracterizam Belo Horizonte e seus usuários, mas que ao mesmo tempo se vê aos poucos influenciada pelos processos de urbanização contemporânea, pela era da evolução digital e industrial. A verdade é que a cultura compõe toda a interrelação entre passado, presente e futuro, caminhando das crenças à arquitetura, da arte aos costumes e se adapta com o todo, trazendo consigo novas tradições e ideologias. Dito isso, a implantação de equipamentos culturais pode refletir em uma área como essa desejos e sonhos daqueles que ali vivem, além de fornecer informação e alimentar a conscientização de povos que sofrem consequências do desenvolvimento da cidade que muitas vezes nem entendem. Evidentemente, deve ser considerada a necessidade da implementação de manifestações e equipamentos culturais que condizem com seu entorno, a fim de desenvolver o senso crítico dos usuários sem danificar a identidade cultural ali existente. Os incentivos culturais por meio do poder público ou privado devem buscar o impulsionamento do
desenvolvimento da sociedade e possível solução ou atenuação de problemas. Esse fator configura oportunidades para locais que buscam se tornar mais atrativos, como a Guaicurus, e promove um modelo de desenvolvimento que reduz a sensação de insegurança ou obscenidade.
“Depois do tempo dos deuses, do tempo do corpo e do tempo das máquinas, entramos no tempo dos símbolos, difundidos globalmente na forma de informações. (...) Um dos traços mais marcantes do atual período histórico é, pois, o papel verdadeiramente despótico da informação” (SANTOS, 2000:25).
A BUSCA POR EVOLUÇÃO Como visto em Biomimética e o aprendizado com a natureza (Página 17), a associação de edificações a organismos vivos os considera como elementos que se modificam e adaptam com seu contexto, o que se trata basicamente das relações na cidade e se revela uma necessidade no contexto da área. Além disso, sabe-se que prevenir possíveis problemáticas futuras em uma nova proposta é notoriamente mais fácil e consequentemente mais barato do que solucioná-las depois de executada. A tendência é que com a evolução das cidades em detrimento da evolução tecnológica as maneiras de se fazer arquitetura sejam transformadas e, consequentemente, as maneiras de interagir com ela também. A harmonia entre os ambientes externo e interno pode e deve ser potencializada utilizando de inovações tecnológicas, mas também do próprio conhecimento e aproveitamento do contexto existente, influenciando na eficiência energética e nos impactos das novas construções. Sendo assim, a antecipação de ações naturais de caráter climático ou social faz com que a adaptação dos futuros usuários seja feita de maneira mais fluida. Dito isso, existem inúmeros motivos para levar em consideração a madeira como elemento chave da metodologia construtiva a ser utilizada nesse trabalho. Começando pelo seu baixo impacto ambiental e por ser um dos poucos materiais construtivos renováveis, as estruturas em madeira causam impacto positivo na qualidade de ambientes interior e exteriormente, causando sensações de aconchego e acolhimento. Na pesquisa Survey of International Tall Wood Buildings, apresentada em 2014 pela Forest Innovation Investment foram expostos dados comparativos em que elementos pré-fabricados de madeira saíram em vantagem nos quesitos de tempo de construção, redução de custos, menos necessidade de espaço para armazenagem de componentes, melhor desempenho térmico e possuem maior estabilidade ao fogo se comparadas às estruturas de aço. Além de tudo isso, cortes precisos possibilitam menor passagem de ar e maior vedação, resultando em isolamentos termoacústicos de maior eficiência e auxiliando também no desempenho energético de edificações. Acerca dos impactos ambientais, a madeira é um dos elementos com maior capacidade de incorporação de carbono da atmosfera, problema que preocupa todo o globo devido ao aquecimento global acelerado, ainda mais em contextos de ambientes extremamente urbanizados. Afim de se propor uma reflexão acerca da evolução arquitetônica e estabelecer uma relação com o que seria a arquitetura no futuro das cidades é fundamental que sejam pensados espaços saudáveis, que garantam qualidade de vida e bem-estar. Além disso, que a natureza seja utilizada como respaldo e as condições pré-existentes sejam aproveitadas ao máximo, mas para isso devem ser levados em consideração recursos e tecnologias que potencializem os benefícios de elementos naturais e a reutilização dos mesmos para um uso realmente inteligente em um contexto de extensa geração de lixo, demasiadamente presente nas grandes cidades. Por fim, fontes renováveis de energia e materiais nocivos ao meio ambiente são elementos de caráter tecnológico e grandes aliados na intenção de desenvolver produtos artificiais que se adaptem com o entorno natural. Finalmente, edifícios verdes ou quase em sentido literal, edifícios vivos, são capazes de contribuir além da saúde ambiental de um espaço, adentrando aos campos da saúde física e psicológica de seus usuários. Sendo assim, a mimetização de elementos e processos naturais em busca de atingir melhor desempenho nos resultados de implantação de novas edificações faz com que possamos utilizar das centenas, milhares ou milhões de anos de contexto evolutivo para prever possíveis soluções positivas e evitar possíveis obstáculos ao interferir no espaço, propondo soluções mais humanas e mais vivas.
PROGRAMA SIMPLIFICADO SETOR CULTURAL
É importante deixar claro que essa etapa do trabalho compreende apenas uma versão simplificada do programa pensado para o edifício em questão, já que para um programa completo serão analisados outros fatores mais a fundo ao longo do projeto. Nesse caso serão expostos os principais usos e objetivos que compreenderão a edificação, a fim de evidenciar sua proposta. Como anteriormente citado, a área em questão possui grande relevância no contexto cultural da cidade, além de que a potencialização desse setor pode contribuir para a melhoria de questões de infraestrutura e periculosidade da área em si. Deverão ser previstos espaços que possibilitem a expressão de manifestações culturais características da área em espaços de exposição além de biblioteca pública e teatro.
ÁREA DE EXPOSIÇÃO
Além de ser uma maneira de valorizar e disseminar a cultura dos artistas, as áreas de exposição podem se tornar uma alternativa de extensão da edificação às ruas, incentivando a ocupação e uso daquele espaço. Também devem promover locais para eventos e ações de caráter informativo e educativo em conjunto com praças abertas e áreas verdes, munidas de equipamentos como sanitários e bebedouros públicos, extremamente carentes nessa região. BIBLIOTECA PÚBLICA
Os principais objetivos na implantação de uma biblioteca pública compreendem o estímulo do desenvolvimento crítico e intelectual de povos, além da conscientização acerca de sua situação e prever melhores perspectivas de futuro. Deve também, preservar a cultura local, sendo composto por áreas de acervo, leitura e pesquisas, além de fornecer acesso à internet (importantíssimo em contextos de inclusão social), audiovisual, processamento técnico e depósito. TEATRO
Por se tratar de uma antiga forma de manifestação cultural, também pode ser visto como oportunidade de espaço para artistas locais se expressarem, além de possibilitar o acesso de pessoas muitas vezes com carência cultural a obras de diversos possíveis artistas convidados. É uma forma de protesto e forma de abordagem de assuntos muitas vezes polêmicos, sendo caracterizado também como atividade intelectual e artística.
SETOR INFRAESTRUTURA
RESTAURANTE POPULAR
Dada a situação precária do atual Restaurante Popular localizado próximo ao Ribeirão Arrudas, deve ser proposta uma nova sede para esse equipamento. A área apresenta grande potencial para sua implantação, que seria mais uma maneira de incentivar os fluxos e usos daquele espaço. ESPAÇO DE APOIO À PROSTITUIÇÃO
Como abordado em diversas etapas do trabalho, a questão do Mercado do Sexo na Guaicurus faz parte daquele contexto desde a setorização da área, e com a evolução da era da informação, aos poucos essa população vem se conscientizando acerca de seus direitos e sobre qualidade de vida e trabalho. Porém atualmente, a sede da Associação das Prostitutas de Minas Gerais se localiza nos fundos de um estacionamento e proposta de uma nova sede que comporte espaços de reunião, administração, atenção à saúde, apoio legal, e áreas de capacitação dessas profissionais para o futuro com ambientes para cursos e palestras seria uma maneira de interagir com o futuro Museu do Sexo e dar mais sentido ao novo espaço no contexto em que se encontra.
ASSOCIAÇÃO DOS CATADORES DE MATERIAL RECICLÁVEL
A presença de catadores de papel e materiais recicláveis ou reutilizáveis na Rua Guaicurus se dá devido à presença de alguns serviços de coleta e triagem de material em sua extensão. Como a atual sede da Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável (Asmare) localizada na Avenida do Contorno foi atingida pelo incêndio causado por um curto circuito seria interessante a proposta de uma nova sede com espaços para armazenamento e salas de reunião e capacitação dos trabalhadores. CENTRO DE ATENÇÃO À POPULAÇÃO DE RUA
O centro da cidade é o local com maior concentração de pessoas em situação de rua de Belo Horizonte, sendo o local ideal para instalação desse equipamento, podendo desempenhar funções de capacitação, apoio à saúde e infraestrutura básica para essa população.
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SETOR RESIDENCIAL
Se tratando de um equipamento de uso misto em uma região apresenta escassez de elementos de caráter residencial, é evidente que a possibilidade para tal uso apresenta grande potencial. Considerando os usuários e problemáticas da região, é importante que esse setor seja voltado, principalmente, para habitações de interesse social, proporcionando moradia acessível em uma região com abundância de infraestrutura. É necessário que sejam estabelecidos grupos prioritários de acordo com as demandas de vulnerabilidade existente.
63 SETOR COMERCIAL
Para incentivo e realocação dos comerciantes daquele espaço de maneira a evitar sua expulsão das imediações deve ser proposto um setor comercial que trabalhe em conjunto com as políticas públicas relacionadas ao tema. Além de receber comerciantes de rua, também poderia possibilitar uma alternativa de geração de renda para a população local, expondo seus produtos e serviços em um local com infraestrutura e visibilidade.
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CONCLUSÃO
Nos últimos anos o grande desenvolvimento e crescimento das cidades fez com que surgissem aos poucos projetos esteticamente revolucionários, mas que perdessem suas funções produtivas ou descaracterizassem seu entorno, sendo basicamente reflexos de um sistema capitalista que delimita barreiras. Esse sistema também é uma das principais causas da preocupante deterioração climática e ambiental, e que é claramente reproduzido nas novas construções. Sendo assim, áreas que possuem cicatrizes desse modelo de desenvolvimento, ao receberem intervenções que buscam o estímulo à potencialidade da área, mantendo suas características e raízes, possibilitam novos sentidos em seu uso, caracterizando fenômenos de revitalização urbana. Nesse contexto, apesar de parecer um pouco complexo e arriscado, se vê necessário repensar a maneira de se utilizar e conceber o espaço em detrimento da crise ambiental que nos assola. A ideia é estimular os esforços populares e criar um modelo que incentive o surgimento de novas construções que levem em consideração eficiência e menor impacto no ambiente, como a cultura da absorção de carbono por meio de materiais e vegetação. Um edifício saudável representa o cuidado com seus ambientes externo e interno, com a segurança dos que ali vivem ou trabalham e até mesmo daquele que por ali estão só de passagem.
Aos poucos, conjuntos de ação que evoluem a maneira de apropriação do espaço transformam ambientes verdes e atribuem a eles características sociais, culturais e saudáveis, caracterizando um novo cotidiano urbano, possibilitando experiências e sensações em diferentes espaços e, quem sabe no futuro, mudando a estrutura geral. É importante compreender que os profissionais dessa curiosa área que é a arquitetura não se resumem a pessoas simplesmente preocupadas com linhas e formas, mas também com a satisfação e evolução de uma sociedade. Esse projeto pretende expandir a visão acerca do que de fato seria o cenário futurístico em que o natural e o construído se mesclam, em conjunto com a interação pública no espaço e revitalização de áreas degradadas. Consequentemente, nos mantemos então, na incessante busca pela não tão distante arquitetura do futuro.
"Um mundo (...) onde os momentos humanos não serão substituídos pela rapidez das máquinas, mas a interação homem-máquina começa a desenvolver um novo conjunto de vocabulários para perceber o espaço e visualizar a arquitetura." (Plataforma de Movimento / Nusrat Jahan Mim, Arman Salemi)
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Autor/Editor: Arthur Dias
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Diogo Carvalho
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