Jan/Fev/Mar 2010

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greenpeace.org.br

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Revista

Quem sĂŁo os nossos voluntĂĄrios



Montagem Gabi Juns

sumário

Voluntários

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Entre a conversa e o confronto

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Entrevista: Marc Dourojeanni

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Voluntários da nossa ‘pátria’

13 Um passo para a frente 14 O futuro chegou

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Em ação

16 O preço subiu e a ficha caiu

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Onde mora a esperança

© Greenpeace/Rodrigo Baleia

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Revista

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umi Naidoo, o sul-africano que desde novembro é o novo diretor-executivo do Greenpeace Internacional, desembarcou no Brasil para uma viagem de dez dias no início de março. Passou na Amazônia e depois em São Paulo e Brasília. Kumi cumpriu uma agenda carregada, como se pode comprovar pela reportagem que começa na página 4. Na Amazônia falou com lideranças indígenas sindicais e do movimento social. Em São Paulo e Brasília, avistou-se com os candidatos à Presidência, Marina Silva, Dilma Roussef e José Serra. Todos estão com seu discurso ambiental afiado. De Marina, ouviu sobre o Brasil do século 21 e que, para ganhar, precisa apenas do estilingue, a pedra e o alvo certo. Mas Serra e Dilma andaram fazendo o dever de casa na área ambiental. Os três se comprometeram a lutar contra mudanças no Código Florestal, promover as energias renováveis e a investir em uma economia mais limpa no país. Pode ser apenas papo de candidato. Cabe a nós do Greenpeace, e aos eleitores, aproveitar essa oportunidade e pressionar para que o assunto não acabe esquecido ao longo da campanha e depois da posse. Essa edição da revista, aliás, toca numa série de temas que bem poderiam fazer parte do debate eleitoral. Na página 13, Danielle Bambace conta que Caetité, no interior da Bahia, vive entre a cruz e a caldeirinha ambiental. Lá, a única mina de urânio em funcionamento do Brasil segue convivendo com a falta de ação da INB em relação aos pontos de água contaminados que servem a populações pobres locais. Mas é lá também que fica o novo projeto de um parque eólico em solo baiano. Esse choque entre o passado e o futuro também se aplica à Amazônia. Em entrevista, Marc Dourojeanni, ex-vice-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), conta que o Peru quer tocar nos seus 76 milhões de hectares de floresta um modelo de desenvolvimento que no Brasil, há 40 anos, empurra a fronteira da devastação na direção da parte que nos cabe da Amazônia. Há muito a fazer para mudar nosso modelo de desenvolvimento – e para isso devemos agradecer muito aos voluntários do Greenpeace, que doam tempo de suas vidas a esse processo de transformação. A gente conta com eles dentro e fora do escritório. São os voluntários, munidos de muita informação e treinamento de não-violência, que ajudam a levar nossas mensagens e campanhas para as ruas. Se você vir um banner do Greenpeace pendurado, uma ação para parar uma votação pró-motosserra no Congresso ou alguém vestido de vaca pedindo assinaturas na rua, pode apostar que ali há um voluntário. A maioria é formada por mulheres, mais da metade solteiros. Quase um terço vem do mundo multimídia, e tem muita gente que faz teatro. Todos esses dados fazem parte de uma pesquisa que o Greenpeace conduziu ao longo de dois meses sobre esse pessoal. Ela é a base da nossa reportagem de capa. É essa turma que faz o coração do Greenpeace bater pelo mundo afora. greenpeace.org.br

Voluntários que mantêm o trabalho do Greenpeace

carta aos colaboradores

capa

18 Green na web 19 Foto oportunidade

Marcelo Furtado Diretor Executivo Greenpeace Brasil

O Greenpeace é uma organização global e independente que promove campanhas para defender o meio ambiente e a paz, inspirando as pessoas a mudarem atitudes e comportamentos. Nós investigamos, expomos e confrontamos os responsáveis por danos ambientais. Também defendemos soluções ambientalmente seguras e socialmente justas, que ofereçam esperança para esta e para as futuras gerações e inspiramos pessoas a se tornarem responsáveis pelo planeta. O Greenpeace não aceita dinheiro de governos, partidos ou empresas. Ele existe graças às contribuições de milhões de colaboradores em todo o mundo. São eles que garantem a nossa independência. |3


© Greenpeace/Rodrigo Baleia

amazônia

Entre a conversa e o confronto Bernardo Camara e Kiko Brito

Em visita ao Brasil, o novo diretor-executivo do Greenpeace Internacional se encanta com a Amazônia e ressalta o papel da organização de tirar governos e empresas da inércia.

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á quase três meses sem voltar para casa, Kumi Naidoo chegou ao Brasil com as malas extraviadas. Ele nem ligou: calçou short e chinelo e adentrou o escritório do Greenpeace em Manaus vestindo uma blusa com preceitos ecológicos do Padre Cícero. “Nos últimos meses, estive em países muito frios. Apesar de não parar de suar, estou muito feliz por estar de volta a um país quente”, brincou, com um largo sorriso. Desde que assumiu a diretoria executiva do Greenpeace Internacional, em novembro, Kumi já visitou mais de 20 escritórios da organização mundo afora. Sua passagem por aqui começou no dia 1º de março e se estendeu

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por dez dias. Antes de seguir para São Paulo e Brasília, a primeira parada foi a Amazônia, onde viu exuberância e destruição – o bom, o ruim e o péssimo, como ele chamou. “Estou encantado com a enorme beleza e biodiversidade da natureza”, afirmou, num passeio pelo rio Negro. “Mas é trágico saber que o desmatamento avança. Defender a Amazônia é urgente. Não só pelos povos do Brasil, mas por todos nós, pelo mundo.” À vontade em solo amazônico, o sul-africano provou comidas típicas – “fantásticas” – e reuniu o time de Manaus e de São Paulo para uma conversa sem formalidades. “Vim aqui para aprender. Gostaria muito mais de

Kumi Naidoo viu “o bom, o ruim e o péssimo” da floresta.

ouvir ideias que falar”, avisou. Ele ouviu. Mas também falou. Ressaltou a importância que os países em desenvolvimento têm nas ações locais contra as mudanças climáticas e afirmou que o Greenpeace deve continuar a questionar empresas e governos, para que eles não fiquem de braços cruzados. “Fui a Davos (no Fórum Econômico Mundial) antes de entrar para o Greenpeace e nenhum diretor de grandes empresas quis sentar comigo para conversar. Quando voltei, já como Greenpeace, todos me procuraram”, contou. “As empresas têm medo, pois sabem que, se não negociarem com a gente, vão virar nosso alvo de ação.”


Os “alvos” potenciais abriram espaço para ouvir Kumi, em um café da manhã com empresários em São Paulo. E questionaram qual é a fronteira entre a negociação e o confronto. O diretor foi claro: o objetivo é salvar o planeta e tal resgate deve ser feito o mais rápido possível – se o caminho mais curto é sentar para conversar, muito bem; se for chutar a canela, o Greenpeace também o fará. Línguas verdes Em Brasília, o diretor-executivo ouviu um pouco do que tem tudo para se tornar uma ótima discussão da campanha eleitoral. Ele esteve com três dos candidatos à Presidência da República e testemunhou que por enquanto, o ambiente está na ponta de suas línguas. Na de Marina Silva (PV), justiça seja feita, a intimidade com o assunto e a militância é antiga e ela continua firme na defesa do ambiente. Sua carreira se ergueu em torno deles. José Serra (PSDB) e Dilma Roussef (PT), no entanto, são notoriamente neófitos nessa arena que fizeram o dever de casa – ou uma parte dele. Kumi esteve primeiro com o governador paulista no Palácio dos Bandeirantes, em 8 de março. No dia seguinte, viajou para a capital federal e avistou-se com a ministra da Casa Civil de Lula no Centro Cultural do Banco do Brasil, onde o governo se instalou enquanto o Planalto passa por reformas. Com a viagem à Amazônia fresca na mente, ele questionou e escutou de todos os candidatos que pretendem, se eleitos, investir em atividades econômicas verdes e apoiarem a passagem no Congresso da Lei de Energias Renováveis. Também prometeram que lutarão contra mudanças no Código Florestal, arquitetadas pela bancada da motosserra. Os três têm uma visão parecida da situação política que cerca do ataque à legislação ambiental. O

Nesta imagem de satélite, a área delimitada é uma fazenda de soja do Mato Grosso. As partes em verde são florestas, a cor rosa representa o desmatamento e a área tracejada é a reserva legal da propriedade.

Enquanto isso, no campo Está todo mundo de olho no compromisso que os frigoríficos assumiram no ano passado de parar de comprar gado de fazendas com áreas recém-desmatadas na Amazônia. Ambientalistas, formadores de opinião e os compradores de couro do Brasil querem acompanhar de perto se as promessas da Bertin, JBS-Friboi, Marfrig e Minerva, os maiores frigoríficos do mundo, vão para frente. A tarefa é árdua. Um dos pilares do compromisso é mapear todas as fazendas de gado que ficam dentro da Amazônia. No Pará e no Mato Grosso, são mais de 280 mil propriedades entre fazendas, sítios e lotes rurais. No entanto, não há dados sobre mais de 90% delas. Entre agosto de 2008 e julho de 2009, cerca de 6 mil km2 de floresta desapareceram. Apesar dos satélites mostrarem o local e o tamanho do desmatamento, é difícil saber quem derruba. Há pouca informação sobre a localização das terras privadas na Amazônia e

sobre seus donos, e isso é crucial para responsabilizar e punir os culpados pelo desmatamento. O compromisso dos frigoríficos pretende resolver essa equação. Assim, a partir de abril, eles só devem comprar gado das fazendas que informarem às secretarias de meio ambiente dos Estados a localização geográfica exata da propriedade e quanto de floresta cada uma ainda mantém. Com o Cadastro Ambiental Rural será possível saber se há áreas desmatadas nessas fazendas e quem infringiu a lei. Atualmente, é proibido desmatar mais de 20% da área das propriedades da Amazônia. Vários projetos de lei em trâmite no Congresso, no entanto, tentam aumentar esse índice para 50%. Grande parte das fazendas na Amazônia tem mais de 60% da área desmatada – em muitas delas esse valor chega a 100%. Caroline Donatti Mais sobre o impacto da pecuária na Amazônia em www.greenpeace.org/brasil/ amazonia/noticias

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De olho no clima Dilma e Serra expressaram uma preocupação a Naidoo com o futuro das discussões sobre o controle do aquecimento global. As dúvidas de Dilma vêm de sua experiência nas negociações da COP-15, que aconteceu em Copenhague no fim do ano. Ela contou que viu tentativas explícitas e veladas dos países desenvolvidos de detonar qualquer proposta de acordo que incluísse metas. “Os países desenvolvidos querem mesmo acabar com o Protocolo de Kyoto. Eles terão imensas dificuldades para adaptar suas matrizes energéticas às necessidades de redução das emissões de CO2”, afirmou. Os industrializados tiveram de engolir um resultado não tão bom para eles. Mas conseguiram botar água suficiente no chope para produzir o que Dilma qualificou como “um acordo ruim”. A ministra revelou também que, ao contrário do que circulou depois 6

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© Greenpeace/Masi Torres © Greenpeace/Felipe Barra

contexto no Congresso está radicalizado. “Numa situação dessas, o potencial para fazer besteira é imenso”, resumiu o governador de São Paulo. Dilma lamentou a súbita aliança do deputado federal Aldo Rebelo (PC do B-SP), relator da Comissão Especial que examina mudanças no Código Florestal, com a bancada da motosserra. “O Aldo é um bom homem”, disse. Marina foi mais direta. Melhor não tocar no código independente se é ou não ano eleitoral.

Kumi conversou com os presidenciáveis Serra, Dilma e Marina nos dias 8 e 9 de março.

© Greenpeace/Felipe Barra

Se pudesse, mudaria o escritório do Greenpeace Internacional para cá.

de Copenhague, foi com o Brasil, e não com a China, que a discussão sobre o mecanismo de MRV – para monitorar e auditar a redução de emissões de gases-estufa – emperrou. “(O presidente americano Barack) Obama contou ao Lula que o monitoramento seria feito em moldes semelhantes ao que o FMI faz em países com dificuldades econômicas.” Lula ouviu as três letras e amarrou a cara. “Ele disse ao Obama que isso seria muito intrusivo e portanto inaceitável”, revelou ela. Serra contou que pretende fazer de São Paulo, que tem uma lei sobre mudanças climáticas com metas de redução, um laboratório para ajudar o Brasil a enfrentar o assunto. “Nós estamos para anunciar a criação de um fundo de R$ 800 milhões para financiar a adaptação de pequenas e médias empresas”, contou. O governador disse ainda que o desmatamento não é um problema tão espinhoso para ser resolvido, pelo menos não do seu ponto de vista de economista. “O desmatamento não produz riqueza. É uma questão de vontade para enfrentá-lo e acabar com o problema.” Ele despediu-se de Naidoo com uma brincadeira. Pediu o eventual apoio do Greenpeace a sua candidatura à Presidência. Ouviu de volta que isso era impensável, pois a organização é apartidária. “Eu sei”, disse. “De qualquer maneira, gostaria de ouvi-los sobre o tema ambiental do meu programa.” Entre ribeirinhos, políticos e representantes do empresariado, Kumi ainda achou tempo para conversar com representantes de ONGs e mídia. A agenda apertada não foi desculpa para deixar ninguém sem um aperto de mão e um sorriso. Antes de partir, deixou claro que o Greenpeace Brasil não sairá de sua cabeça tão cedo: “Se pudesse, mudaria o escritório do Greenpeace Internacional para cá”.


entrevista

A ‘outra’ Amazônia Dezenas de hidrelétricas, quilômetros de asfalto e petróleo à vontade. Dono de 76 milhões de hectares de mata, o Peru adentrou o século abrindo sua porção amazônica para o “progresso”. A conta é do peruano Marc Dourojeanni, que comandou o setor de Florestas do país, publicou livros sobre o assunto e preside a Fundação ProNaturaleza. Há 15 anos no Brasil, Marc acaba de lançar “Amazonía peruana em 2021: Explotación de recursos naturales e infraestructuras”, denunciando o enorme canteiro de obras que a Amazônia vizinha deve virar nos próximos anos. Segundo ele, com a bênção das empresas brasileiras. Marc espera que o Brasil entenda que a Amazônia é uma só. E que, cedo ou tarde, os estragos de lá vão desaguar aqui.

Revista do Greenpeace Como está a Amazônia peruana hoje, em termos de preservação? Marc Dourojeanni Muito mal. As cifras oficiais mencionam 10 milhões de hectares desmatados (13% da Amazônia peruana). Estimativas não oficiais dizem ser o dobro. A degradação das florestas é enorme, a contaminação ambiental é severa por causa da exploração petrolífera, da mineração, da agricultura e dos assentamentos. Embora existam unidades de conservação e territórios indígenas sobre 25% da região, nenhuma área é adequadamente manejada ou dispõe de recursos suficientes. Em seu livro, o senhor aponta inúmeros projetos voltados para a região e um futuro espantoso para a floresta. As informações sobre mega-projetos para a Amazônia revelam um inacreditável total de 52 projetos de hidrelétricas, 53 lotes petrolíferos sobre 70% da Amazônia, 4.500 quilômetros de estradas, 7 projetos de ferrovias, 4.200 km de hidrovias etc. Muitas obras já estão encaminhadas e a maioria não conta com estudos de impacto. Em 2041 se terá desmatado até 25 milhões de hectares e a degrada-

O Brasil deveria aplicar seus padrões ambientais, e não se aproveitar das debilidades institucionais de seus vizinhos. ção da floresta poderá alcançar de 16 a 31 milhões de hectares. O Brasil tem participação nesses números? O país é o terceiro parceiro econômico mais importante do Peru. As principais obras são estudadas, financiadas e serão operadas por empresas privadas e públicas brasileiras. As grandes hidrelétricas existiriam essencialmente para satisfazer a demanda do Brasil. O país também está presente na exploração de petróleo, madeira e na mineração. Nada há de errado que Brasil e Peru unam forças para desenvolver a região. Mas, por falta de planejamento das autoridades peruanas, a intervenção brasileira é um desastre. Qual é a postura dos órgãos ambientais do Peru? Nem os altos funcionários do

Arquivo pessoal de Marc Dourojeanni

Bernardo Camara

governo têm noção exata de tudo o que está planejado para a Amazônia peruana. Cada setor aprova seus estudos de impacto ambiental e cada governo regional planeja suas obras. O Ministério do Meio Ambiente tem apenas dois anos. O Peru tem uma espécie de Funai (Fundação Nacional do Índio do Brasil) absolutamente inoperante. O Brasil deveria aplicar seus padrões ambientais, e não se aproveitar das debilidades institucionais de seus vizinhos. O Brasil também perde com a devastação da Amazônia peruana? A Amazônia é uma unidade ecológica. Nada do que aconteça na Amazônia andina deixará de ter impacto no território amazônico brasileiro. A fertilidade das suas várzeas depende dos aportes andinos que agora podem ser retidos nas barragens. O ciclo hidrológico alterado acentuará secas e inundações, os recursos pesqueiros serão afetados e a savanização, acelerada. O que o Brasil prevê fazer no Peru agravará esses impactos. E, nesse caso, não poderá se queixar do problema aos peruanos. Leia a íntegra em www.greenpeace.org.br/revista

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Conhecimento e satisfação inspiram e motivam os voluntas.

Voluntários

da nossa ‘pátria’ Danielle Bambace

Quem é e o que faz a turma que limpa banheiro de navio, ajuda em tarefas administrativas e se pendura em cordas durante os protestos do Greenpeace.

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as muitas forças que tornam o Greenpeace reconhecido internacionalmente, o trabalho voluntário é um dos mais importantes. Desde tarefas não tão nobres, como limpar o banheiro dos nossos navios, até atividades consideradas mais heróicas, como a participação em protestos, todas têm as digitais dos “voluntas”, apelido carinhoso que eles têm dentro da organização. No mundo, eles formam um contingente de 20 mil pessoas que dedicam parte de sua vida e de seu trabalho à proteção ambiental e à promoção da paz. No Brasil, são 250, distribuídos em oito capitais: Belo Horizonte, Brasília, Manaus, Porto Alegre, Rio, Recife, Salvador e São Paulo, com diferentes histórias de vida e muita coisa em comum.

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Os temas que mais interessam nossos voluntários, por ordem de relevância, são ecologia e meio ambiente, marketing, artes e tecnologia.

76% dos voluntários têm a música

60%

como lazer preferido e

69% adoram cinema. Dani Miranda Papu

80%.

© Greenpeace/Rodrigo

Em Recife, o índice sobe para

Baleia

são mulheres

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Daniele Miranda, 22, é estudante de biologia, mora em Salvador com os pais, é solteira e não tem filhos. Tânia Pires, 58, é casada, dona-decasa em Porto Alegre, faz enxovais, trabalha com decoração de interiores e tem dois netos. Apesar de vidas muito diferentes, Daniele e Tânia têm em comum o voluntariado no Greenpeace e muita história para contar. Daniele foi marinheira por seis meses no navio Arctic Sunrise e Tânia coordenou o grupo local de Porto Alegre por cinco anos. Para saber o perfil de ambas e de seus colegas que dedicam tempo à organização no Brasil, o Greenpeace conduziu durante o segundo semestre de 2009 uma pesquisa, que será usada para aprimorar o trabalho com os grupos espalhados pelo país. O levantamento contou com a participação de 229 voluntários atuantes. Os resultados mostram certa diversidade em idade, gênero e habilidades, geralmente bem segmentados por região. Mas prevalece o perfil de mulheres entre 20 e 30 anos, solteiras, sem filhos e estudantes de curso superior. A maior parte da turma é recém-

chegada. Do total, quase metade foi selecionada e ingressou no Greenpeace em 2009. “Isso demonstra um processo de amadurecimento dos grupos, com os coordenadores locais mais organizados, mantendo um trabalho de gestão constante e direcionado”, afirma Maria Claudia Kohler, ex-coordenadora de voluntários do Greenpeace Brasil, responsável pela pesquisa, que durou dois meses para ser finalizada. Um dos principais desafios do Greenpeace hoje é ir para as ruas. Atingir o público e levar conteúdo até o cidadão comum é tarefa complexa em um mundo repleto de informações. É nesse momento que o voluntário exerce papel fundamental, atrelando a mobilização ao trabalho técnico e de campo. “Hoje os grupos trabalham integrados aos escritórios, sempre alinhados às campanhas. A Semana de Mobilização pelo clima realizada em setembro de 2009 foi um grande exemplo disso”, avalia Marcelo Furtado, diretorexecutivo do Greenpeace Brasil. Nesse período, todos os oito grupos participaram de nove dias de atividades na rua.

Quase todos os voluntários do Greenpeace são solteiros. E poucos têm filhos. É essa, por exemplo, a situação civil de Ricardo Martins Monge, o Papu, 29. Ele já doava dinheiro para o Greenpeace quando resolveu dedicar parte de seu tempo à organização. Começou no grupo do Rio, coordenou o mesmo por três anos, fez parte da tripulação do navio Arctic Sunrise em 2009 e foi assistente de campanha no escritório de Manaus. Sua última aventura foi como ativista em um protesto no Canadá, contra a exploração de betume nas florestas boreais. Solteiros, sem filhos

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85% dos voluntários do Brasil

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Marco

é Parracho © Greenpeace/Luna

“Viva o urânio!” é o bordão do Caveira Guy, antiherói da energia nuclear. Com vídeos bem humorados, a personagem faz uma sátira do programa nuclear brasileiro. Quem dá vida ao Caveira é Marco Calil, 20, voluntário de Salvador e estudante de artes cênicas. “A idéia ganhou cada vez mais espaço dentro da campanha, e acabou se tornando um veículo interessante de divulgação”, conta. Para conhecê-lo, entre em www.youtube.com/greenbr

Maíra

Os talentos de cada um © Greenpeace/Ricardo Beliel

30%

fotografia

28%

palestras

27%

Maíra Guarabyra, a primeira voluntária do Greenpeace no Brasil, prepara um protesto realizado durante a Convenção da Diversidade Biológica, em 2006.

computação

>>

25%

pintura de faces

5%

teatro

3%

primeiros socorros

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Nos últimos anos, as atividades se diversificaram para aprimorar o contato com o público. Em São Paulo, por exemplo, os voluntários formam um grupo de teatro que se apresenta durante algumas atividades. Em Salvador, o diferencial é a pintura de faces e recreação infantil; o pessoal de Porto Alegre é capacitado para atendimento de primeiros socorros e realiza um trabalho político direcionado para algumas campanhas, como transgênicos e energia. Em Belo Horizonte, o grupo apóia a captação feita pelo Diálogo Direto. A pesquisa também mostra que,

em todas as cidades, há formação de voluntários palestrantes, para atender demandas institucionais e de campanhas. Todas essas experiências são essenciais para mobilizar a população. “Nossa intenção é expandir ainda mais os grupos locais porque é a partir deles que a organização cresce também”, diz Pedro Henrique Torres, novo coordenador de voluntários do Greenpeace Brasil.

Memória Essa é a primeira pesquisa realizada no Brasil sobre os voluntários do Greenpeace. A história deles está


© Greenpeace

Jimena

Rosi Ventura, 44, começou seu voluntariado no Greenpeace há sete anos por acidente. Quem queria ser voluntario era seu sobrinho, Rafael Ventura, na época com 13 anos, ainda longe da idade mínima exigida. “Emilio Pompeo, coordenador de voluntários na época, me convidou para entrar no grupo. Disse que assim eu poderia levar o Rafael para determinadas atividades", conta Rosi. Hoje ela é coordenadora do grupo de São Paulo. Rafael, que tão logo fez 18 anos oficializou sua situação no voluntariado do Greenpeace, acaba de voltar do Acampamento da Juventude, organizado durante a Conferência do Clima em Copenhague, em dezembro. Rosi também faz trabalho voluntário para a ONG Visão Global e a Cruz Vermelha.

A maioria é mulher e estudante

Para alguns, o voluntariado abriu oportunidades de trabalho. Jimena Herrera, 23, começou como delegada do programa “Kids For Forests” do Greenpeace na reunião da Convenção de Diversidade Biológica em 2006. De lá pra cá, participou de muitas atividades e liderou o grupo de voluntários de Manaus por dois anos. Em 2010 surgiu a oportunidade de trabalhar como assistente financeiro no escritório de Manaus.

“Sinto que de alguma forma estou fazendo minha parte” Adriana Imparato

Tânia

© Greenpeace/Jefferson Bernardes

Rosi

© Greenpeace/Vivian Zanatta

intimamente ligada à própria história da organização no país, como mostra a carioca Maíra Guarabyra. Em 1992, com apenas 12 anos de idade, ela queria ser voluntária. A organização ainda nem tinha aberto seus escritórios no Brasil oficialmente e ela já estava lá, levantando a mão para ajudar. “Depois de receber várias cartas com a mensagem ‘abriremos em breve’, resolvi aparecer no escritório. Aí ninguém sabia direito o que fazer comigo”, brinca Maíra. Ela acabou fazendo de tudo um pouco e é hoje memória viva do Greenpeace. Boa parte dos esforços necessários para a estruturação no país, como o de Maíra, veio de trabalho voluntário.

“Não queria que as pessoas me perguntassem, no final da minha vida, por que eu não tinha feito nada para mudar esse mundo”, conta Tânia Pires, voluntária de Porto Alegre. Foi ao completar 50 que ela resolveu trabalhar como voluntária na organização.

“Resolvi que meus próximos 50 anos de vida seriam colaborando na recuperação do que eu mesma tinha, por ignorância, ajudado a destruir.” Em Porto Alegre, estão os mais velhos

de idade. O grupo de Os voluntários têm, em média, de 20 a 30 anos anos. 12 têm mais de Porto Alegre é diferente. Dos 21 voluntas,

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Voluntariado além do Greenpeace

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voluntários cidades, pelo menos já trabalharam ou trabalham com outra ONG.

Em todas as

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Verônica

Muitas histórias de vida se cruzam com o voluntariado. Os compromissos e responsabilidades são sempre intercalados com momentos de amizade, parceria e aprendizado. “O Greenpeace é uma grande família. Seja no Brasil ou em qualquer outro lugar do mundo, você vai sempre se sentir em casa”, conta Verônica Rameck, 24, voluntária do Rio que viveu muitas aventuras. Trabalhou na Amazônia, acampou na beira de uma mina de carvão na Polônia em pleno inverno, se acorrentou com outros cem ativistas em Roterdã, na Holanda, para paralisar as obras de uma usina térmica e ficou pendurada a 80 metros do mar na ponte Rio-Niterói, em um protesto que pressionou o G20 para incluir o clima na pauta de sua reunião de 2009. Tudo isso, voluntariamente.

Escolher ser voluntário é, sem dúvida, um ato de vontade. Mas é certo que todos os que formam a equipe, apesar de diferentes, se complementam na realização de um trabalho reconhecido no mundo todo, que inspira as pessoas a agirem e mudarem seu comportamento diário pela preservação do ambiente. Durante a preparação desta reportagem, André Luís Santos Silva, 24, voluntário querido de Salvador, faleceu vítima de câncer. Vai deixar muitas saudades. André estava no grupo desde 2007 e era dos mais dedicados. Morava em Candeias, cidade a 55 km de Salvador, mas a distância nunca o impediu de participar ativamente das ações e reuniões do grupo da capital baiana.

© Greenpeace/Ivo Gonzales

>>

Ativistas são detidos após pendurarem uma faixa de 40 por 30 metros na ponte Rio-Niterói no ano passado.

“Vi uma realidade muito diferente do meu cotidiano. Foi sem dúvida, uma experiência única” Dani Bambace

Carol

© Greenpeace/Lunaé Parracho

Para participar Foi no sertão da Paraíba, no Vale do Piancó, que Carol Coenga, 21, pode acompanhar o trabalho de campo da organização. Voluntária em Recife, em agosto de 2009 ela participou da documentação do cultivo de arroz vermelho, variedade ameaçada com a potencial liberação do arroz transgênico.

Muito bicho novo

2008 2007 12

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2009 49 31

2009 foi o ano com a maior entrada de novos voluntários na organização.

Quem quer virar voluntário do Greenpeace passa por um processo seletivo, que acontece duas vezes por ano ou de acordo com as possibilidades e as necessidades locais. Quem não mora nas cidades onde existem grupos formados, há outras maneiras de participar, tornando-se um ciberativista ou um colaborador. Saiba mais em nosso site.

Veja os dados completos da pesquisa e uma linha do tempo da história dos voluntários do Greenpeace Brasil em www.greenpeace.org.br/revista


nuclear

Um passo para a frente Danielle Bambace

Sai a licença ambiental de parque eólico em Caetité (BA) e região. É o contraponto da história de terror que a exploração de urânio feita na cidade leva à população.

© Greenpeace/Lunaé Parracho

A

mesma Caetité que sofre com as consequências de uma mina de urânio em suas imediações será uma das cidades envolvidas na construção de parques eólicos na Bahia. A decisão, anunciada em março de 2009, agora está mais próxima de virar realidade. Em fevereiro, o Conselho Estadual do Meio Ambiente (Cepram) concedeu a licença para o Parque Eólico Caetité, Guanambi e Pindaí, com capacidade instalada de 594 MW (megawatts) distribuídos em 24 parques eólicos. A estimativa do potencial baiano é de 17,5 GW, o equivalente a uma usina como Itaipu, segundo o professor Osvaldo Soliano, da Universidade Salvador (Unifacs). A opção eólica é especialmente relevante no Nordeste porque pode ser usada de forma complementar à geração hidrelétrica da bacia do Rio São Francisco. A notícia é muito boa, mas ainda há muito a ser feito. Uma semana antes da visita dos especialistas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) à mina de urânio de Caetité (BA), o Instituto de Águas da Bahia (Ingá) determinou a suspensão imediata do uso da água nos poços da cidade onde se detectou a presença de radioatividade além do permitido pelo Ministério da Saúde. Em um dos pontos, o nível chegou a 40 vezes o recomendado. Quatro dias após essa determinação, os poços continuavam abertos. Para cobrar providências, o Greenpeace realizou no dia 26 de

Ativistas do Greenpeace, em protesto em Caetité (BA), chamam a atenção para a contaminação por urânio da água consumida na cidade.

fevereiro um protesto na Secretaria de Recursos Hídricos de Caetité, órgão responsável pelo controle e funcionamento desses poços. No dia seguinte, uma surpresa: um dos poços foi lacrado com data retroativa. O Greenpeace esteve no local um dia antes da atividade e registrou o funcionamento normal do poço. Mas a incerteza pairou sobre o terreno da INB: no dia 27 de fevereiro cinco ativistas estenderam, no portão da mina, uma faixa com a frase “Área de contaminação”, cobrando análises independentes sobre a origem da contaminação. Os pontos encontrados nessa última análise se somam a outros 17 pontos de água no município em que aná-

lises realizadas desde 2005 detectaram níveis altos de radiação. Há fortes suspeitas de que a operação de mina da INB esteja provocando a contaminação. A estatal nega ser a responsável, alegando que a radioatividade encontrada na água consumida na zona rural de Caetité é consequência da presença de urânio no solo da região. Os motivos para cessar os investimentos na exploração de urânio são muitos. Além da insegurança e de problemas como o descarte do lixo nuclear, de acordo com o Atlas Eólico Nacional, elaborado pelo governo federal, o potencial de geração de energia eólica do Nordeste chega a 75 gigawatts (GW).

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clima

O futuro chegou Juliana Tinoco

São Paulo sofre aquecimento galopante de temperatura e habitantes pagam a conta com temporais e enchentes atípicos. Alagamento é rotina na vida do profissional de manutenção Boaventura Carvalho, colaborador do Greenpeace e morador do Jardim Romano, zona leste de São Paulo. Nada do que ele já passou, no entanto, compara-se às chuvas do começo de 2010. A rua próxima a sua casa passou mais de 50 dias debaixo d’água. “Vi peixe, cobra d’água e até onda”, conta Boaventura, que só não teve muito prejuízo porque vive preparado para o caso de enchentes. 14

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“Eu nunca investi muito na minha casa”, revela. “Mas meu irmão e primos perderam tudo que tinham.” Essa é a São Paulo 2,5°C mais quente do que em 1930, com chuvas, secas, invernos e verões mais intensos e frequentes. Esse quadro aparece em modelos climáticos para uma cidade atingida pelo aquecimento global, realidade prevista para as próximas décadas. Porém, as características da capital paulista se somaram ao efeito estufa. Na Paulicéia,

o futuro chegou mais cedo. “O aumento do índice de chuvas em São Paulo está relacionado à mudança climática que a cidade impõe”, diz Carlos Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Excesso de concreto e cimento, expansão imobiliária descontrolada, falta de vegetação e poluição ocasionam a formação do que os cientistas chamam de ilha de calor. A falta de vegetação para absor-


© Greenpeace/ Teresa Osorio

Protesto do Greenpeace no México, onde acontecerá a próxima Conferência do Clima, retrata um mundo sujeito a extremos climáticos.

ver o calor deixa o ar mais quente e seco. “Quando todo esse ar quente sobe e a corrente fria vinda do oceano entra no continente, ocorrem tempestades muito violentas. Já a poluição pode interferir no trabalho das nuvens, aumentando o nível de descargas elétricas”, explica Augusto Pereira Filho, professor do Departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP). Pereira publicou, com colegas, um trabalho que descreve os fatores climáticos que fazem de São Paulo um exemplo pungente do que será o mundo mais quente – e, nessa conta, o aquecimento global já entra. Como resultado da combinação, entre janeiro e fevereiro choveu 75% do que era previsto para o ano todo. A média de 17 enchentes no ano foi superada já nos dois primeiros meses, com mais de 20. E não para por aí: a previsão é do ano ser o mais chuvoso da história da cidade. “O aumento global de temperatura é de 0,76°C nos últimos 150 anos. Imagine 2,5°C em oito décadas”, descreve Nobre. “São Paulo está sujeita a temporais mais inten-

Não adianta agora plantar algumas árvores. A atmosfera vai produzir coisas inéditas e de grande impacto.

sos, duradouros, frequentes e de grave consequência. Isso é um ótimo exemplo do que pode vir a se tornar a realidade global em uma perspectiva de aumento de temperatura desta magnitude.” Com a população submersa já em 2010, a Prefeitura de São Paulo fala em adaptação. É a palavra de ordem do secretário do Verde, Eduardo Jorge. “A mudança climática é um fato e os temporais têm a ver com ela”, garante. Ações como arborização, proteção das margens de rios e várzeas e construção de parques fazem parte dos planos da prefeitura. O objetivo é aumentar a capacidade de drenagem e escoamento do volume crescente de água. A visão do cientista da USP, no entanto, é pessimista. “Não adianta agora plantar algumas árvores. A atmosfera vai produzir coisas inéditas e de grande impacto”, afirma Pereira. A solução, segundo ele, passa por minimizar os dramas. “Trabalhamos para aprimorar os sistemas de previsão de grandes tempestades, para que possamos alertar à população de áreas de risco e evitar grandes tragédias.” Tragédia como a que vive o também colaborador do Greenpeace Rafael da Silva. Apesar de não morar na capital, ele também sofreu com uma tempestade que destruiu sua cidade, São Luiz do Paraitinga, interior de São Paulo, em janeiro – enchente nos moldes das previstas pelos climatologistas. Biólogo e funcionário do Parque Estadual da Serra do Mar, Silva realizou quase 800 resgates com um bote. A família perdeu 3 dos 5 empreendimentos que tinham e viu a equipe, antes de 30 funcionários, se reduzir a 7. “Todos foram embora”, conta. “Hoje passo meus fins-de-semana fazendo limpeza e retirando entulho.”

Equipe do Diálogo Direto “invade” empresa em São Paulo.

Invasão marinha Os funcionários da empresa de telemarketing Teleperformance, em São Paulo, não podiam acreditar em seus olhos. Uma estrela-do-mar e um polvo caminhavam entre as baias de trabalho, enquanto uma baleia jubarte de 15 metros recepcionava quem chegava ao prédio. Era a equipe do Diálogo Direto do Greenpeace, que pela primeira vez realizou a captação de novos colaboradores dentro de uma empresa. O foco eram as pessoas, não a companhia em si – o Greenpeace mantém sua política de não aceitar recursos de empresas e governos. Em quatro dias de atuação na Teleperformance, em fevereiro, 47 pessoas entraram no rol de colaboradores do Greenpeace. Agora eles fazem parte de um time que não para de crescer – os defensores do planeta.

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transgênicos

Grãos de soja convencional são misturados aos transgênicos durante o armazenamento, causando contaminação.

© Greenpeace/ Rodrigo Baleia

O preço subiu e a ficha caiu Juliana Tinoco

Contaminação da soja por transgênico gera pagamento indevido e leva agricultores a processarem Monsanto.

S

ojicultores do Mato Grosso quebraram a paz por anos selada com a Monsanto, multinacional detentora da tecnologia das sementes transgênicas. A Aprosoja (Associação dos Produtores do Estado do Mato Grosso) entrou com ação judicial contra a própria mão que a alimenta, questionando royalties e método de cobrança. A armadilha montada pela Monsanto para extorquir seus próprios aliados, os produtores rurais, começa a ter a corda roída. Malsucedida nas tentativas de acordo, a associação cobra uma explicação sobre que tipo de patente está sendo taxada e sobre a forma e os valores de cobrança. Os produtores calculam que, hoje, cada hectare plantado deixe R$ 15 no bolso da Monsanto, que abocanha royalties sobre a tecnologia da semente RR (Roundup Ready) – recém reajustado de R$ 0,36 para R$ 0,45 por saca. E tem mais: a empresa cobra uma multa de 2% sobre a produção quando detecta sinais de sementes transgênicas em uma mercadoria que não deveria contê-la. Essa briga é fracasso certo para o agricultor. O problema é que os

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grãos convencionais são misturados aos transgênicos na hora do armazenamento e do transporte, ocasionando o que se chama de contaminação. “Colocar o grão convencional e o transgênico separados custaria muito caro. No fim eles se misturam e o produtor convencional paga pelo transgênico”, conta Rafael Cruz, coordenador da campanha de transgênicos do Greenpeace. “A Monsanto tem parceria com as cooperativas de soja, responsáveis pelo armazenamento e transporte dos grãos. São elas que realizam a fiscalização”, afirma Cruz. O teste é feito com soja batida no liquidificador e uma tira de papel que indica a sua procedência. O jogo virou Milagrosamente despertos para o problema, o setor agora critica essa forma de cobrança, que faz com que 2% a 3% da safra resulte em pagamento de patente. Em nota à imprensa, Glauber Silveira, presidente da Aprosoja, vai além: “Temos informações de que a Monsanto está induzindo as sementeiras do Estado a produzir somente transgênicas”, denuncia. Graças a este cenário, produto-

Cálculo duvidoso

Recentes dados divulgados pelo Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (ISAAA) elevam o Brasil ao segundo lugar no ranking de produção de transgênicos no mundo, índice impulsionado especialmente pelo aumento na plantação de milho. Apesar do alarde, os dados são imprecisos, como mostra a ação da Aprosoja contra a Monsanto (leia ao lado). “O ISAAA é uma organização de pesquisa e divulgação sobre transgênicos criada e financiada pelas próprias empresas de biotecnologia”, diz Rafael Cruz. “Por esse motivo, consideramos os dados divulgados parciais e de baixa credibilidade”, afirma. J.T.

res do Mato Grosso, onde o cultivo convencional ainda é mais lucrativo, acabam na mão dos transgênicos. A insegurança é total. Enquanto isso, em outras regiões do país, a soja livre de transgenia é comprada a peso de ouro, para revenda no mercado internacional – opção certeira livre das amarras comerciais da Monsanto.


esperança Cristina Amorim

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sol se punha em Curaçao quando achamos o Esperanza. O maior e mais novo navio do Greenpeace abria suas portas para funcionários de escritórios das Américas – quatro do Brasil – para um curso de capacitação. Ancorado havia poucas semanas no Caribe, o Esperanza é muito mais do que um navio-escola. Com 72 metros de comprimento, ele é capaz desde realizar tarefas que exijam velocidade a passar temporadas em áreas polares, como fez em 2008 na Antártida para afastar baleeiros. Estávamos ansiosos pelo início do curso. Porém, a ansiedade deu lugar a um misto de apreensão e felicidade ao sermos informados que o curso seria cancelado. O navio partiria para o Haiti. Cinco dias antes, um terremoto de 7 pontos na escala Richter devastara Porto Príncipe, capital do país mais pobre das Américas. Milhares morreram, milhões estavam desabrigados e todos os serviços básicos, como fornecimento de água e comida, deixaram de existir. Frente ao drama humano que assolava os haitianos, o Greenpeace colocou o Esperanza, o navio então mais próximo do local, à disposição da ONG

Médicos Sem Fronteira (MSF). Era preciso abrir espaço para a equipe da MSF, portanto os participantes do curso teriam de deixar o navio e voltar a seus países. Mas ninguém abandonou o barco antes de carregar o Esperanza com os suprimentos que o Greenpeace reuniu em parcos dias: 1.500 cobertores, 6,5 mil baldes e sete toneladas de sabonete – praticamente tudo o que existia estocado na ilha. Cada um naquele navio vinha de um lugar do mundo e todos trabalhavam sob a linguagem universal da solidariedade. A missão no Haiti durou cinco dias. Todos os suprimentos foram distribuídos e o MSF utilizou o Esperanza, até montar uma logística segura de trabalho em solo. Não há data para a remarcação do curso de capacitação. Tudo bem. A satisfação de ver o Greenpeace agir rapidamente para ajudar os mais necessitados é sem dúvida a maior lição que a organização poderia conceder a esse pequeno grupo de brasileiros. Escute o depoimento do marujo brasileiro Davison Durin, tripulante do Esperanza na missão no Haiti em www.greenpeace.org.br/revista

oceanos

© Greenpeace/Cristina Amorim

Onde mora a

Sinônimo de natureza, saúde e beleza, a região costeira é uma alternativa aos centros urbanos no período das férias. Mas o que poucos sabem é que a falta de governança e proteção dos oceanos ameaça a qualidade de vida e o equilíbrio do clima no planeta. Por isso, o Greenpeace decidiu por o pé na estrada com o projeto “De praia em praia”, informando a população e os veranistas sobre a situação dos oceanos e o que fazer para evitar sua degradação. Foram cinco cidades visitadas (Caraguatatuba, Ilha Bela, Paraty, São Sebastião e Ubatuba) entre janeiro e fevereiro, milhares de pessoas informadas e 180 novos colaboradores. De longe, o Greenpeace era identificado pela “Regina”, uma baleia jubarte inflável de 15 metros de comprimento, e um iglu inflável que abrigou projeções de filmes, palestras e uma peça teatral. Uma Kombi colorida, com motivos marinhos, carregava placas solares. A exposição fotográfica sobre os impactos das mudanças climáticas nos oceanos e a tenda com atividades para crianças completavam o cenário. Nem mesmo as fortes chuvas que destruíram o iglu fizeram o projeto acabar antes da hora. Um filme temático foi exibido em praça pública, o que reuniu ainda mais gente. O Greenpeace compensou totalmente as emissões de gás carbônico geradas durante a atividade – na verdade, chegou a 158% do que foi emitido. Laura Fuser

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green n@ web

Bonito, útil, moderno

Ilustração © Edu Santaela

cartas A equipe do novo site: Elcio Figueiredo (esq.), desenvolvedor de web, Eduardo Santaela, coordenador do projeto, e Laura Fuser, redatora.

Seja bem-vindo à realidade “Assim que soube que a INB pretendia explorar o urânio em Caetité e que o Greenpeace, em conjunto com a paróquia da cidade e um órgão da Justiça, trabalhavam contra essa empresa, estou acompanhando o processo. Sou dessa região e a INB é uma grande preocupação minha. Devo dizer que a população ainda não tem noção dos perigos que a radiação traz.” Maria de Fátima Teixeira Santos, No fórum da área de colaboradores no site do Greenpeace

Laura Fuser

O site do Greenpeace passa por uma reforma radical – mais do que fonte de informação, vira um espaço de mobilização social em defesa do ambiente.

Você também pode mandar seu comentário, dúvida ou sugestão. REVISTA DO Greenpeace Rua Alvarenga, 2331 Cep: 05509 006 São Paulo SP

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O Greenpeace África foi o primeiro escritório a implantar o novo site.

ntra no ar em abril o novo site do Greenpeace Brasil. Moderno e bonito, a proposta melhora a navegação e disponibiliza a informação de forma mais rápida e lógica. Facilitar a divulgação de conteúdo e a participação nas ações da organização também orienta o novo desenho. A estrutura de navegação foi pensada para que, à medida que o interesse sobre um tema cresça, o internauta chegue a informações mais profundas e atuais, que possam ser compartilhadas e comentadas. Redes sociais fazem parte desse pacote, para que o usuário rapidamente difunda as idéias de preservação ambiental do Greenpeace. Fotos e vídeos recheiam o site, com chamadas para atividades on-line e off-line. O objetivo é proporcionar uma nova experiência de participação e mobilização, mais próxima da organização. Logo na página principal do site aparece a última atividade dos usuários – se doaram ou participaram de uma petição on-line, por exemplo. Ali eles também podem assinar um novo boletim, aberto a todos os visitantes, com o resumo das notícias da semana. O boletim de colaboradores também muda. Será quinzenal, com uma nova cara e conteúdo específico. No site, a área exclusiva se mantém. Já os ciberativistas terão muito mais campo para atuar. No segundo semestre, mais uma novidade: o internauta poderá criar um perfil, que abrigará as informações personalizadas, incluindo iniciativas locais de mobilização. O site será uma comunidade em si.

ASSOCIAÇÃO CIVIL GREENPEACE Conselho diretor

Presidente Conselheiros

Diretor executivo Diretor de campanhas Diretor de campanha da Amazônia Diretor de comunicação Diretora de marketing e captação de recursos

Marcelo Sodré Eduardo M. Ehlers Marcelo Takaoka Pedro Leitão Raquel Biderman Furriela Marcelo Furtado Sérgio Leitão Paulo Adario Manoel F. Brito Clélia Maury

REVISTA DO GREENPEACE É uma publicação trimestral do Greenpeace

Editora Editora de fotografia Redatores

Designer gráfico Prepress e impressão

Cristina Amorim (MTb 29391) Danielle Bambace Bernardo Camara Caroline Donatti Danielle Bambace Juliana Tinoco Laura Fuser Gabi Juns D’lippi

Este periódico foi impresso em papel reciclado em processo livre de cloro. Tiragem: 33 mil exemplares. www.greenpeace.org.br

O selo FSC garante que este produto foi impresso em papel FSC.

ATENDIMENTO telefone 11 3035 1151

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e-mail

relacionamento@greenpeace.org


Auckland, Nova Zelândia

© Greenpeace/Henri Ismail

© Greenpeace/Nigel Marple

© Greenpeace

Tóquio, Japão

Jacarta, Indonésia

Justiça para eles Protestos mundiais, como os dispostos nesta página, pedem justiça para Junichi Sato e Toru Suzuki, os “Tokyo Two”. Os ativistas interceptaram carne de baleia contrabandeada e apresentaram ao Ministério Público japonês como prova de uma rede de corrupção que envolve governo, baleeiros e o Instituto de Pesquisa de Cetáceos do país. A denúncia reverteu-se contra os ativistas, que agora lutam em um processo judicial repleto de contradições e mentiras sem precedentes na história do Greenpeace. Se condenados, podem passar de 10 a 30 anos na cadeia. O veredito sai em junho.

Aomore, Japão

Helsinque, Finlândia

Paris, França

© Greenpeace/S. Ibrahim

© Greenpeace/Nicolas Chauveau

Brasília, Brasil

© Greenpeace/Jeremy Sutton-Hibbert

Estocolmo, Suécia

© Greenpeace/Matti Snellman

© Greenpeace/Christian Åslund

© Greenpeace/Felipe Barra

Participe da petição on-line em prol de Junichi e Toru em www.greenpeace.org/brasil/participe/ciberativismo

Atenas, Grécia

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© Greenpeace/Jiri Rezac

Nos primeiros três meses do ano, os navios passaram por um meticuloso processo de manutenções e agora se prepararam para partir em expedição. Nesta edição em homenagem aos voluntários, três ativistas brasileiros, que embarcaram para destinos diferentes em épocas e navios diversos, contam um pouco sobre sua experiência a bordo e o que cada navio tem de mais interessante.

“O Esperanza é o maior dos navios do Greenpeace e carrega consigo todo um histórico de ativismo em defesa das baleias dos caçadores japoneses em áreas geladas e remotas. Quando estamos navegando o melhor lugar é a proa, onde seguramente você pode observar a navegação, o gelo quebrando e os maravilhosos icebergs, que parecem ter vida. Como na Antártida não tem noite, podemos facilmente ser surpreendidos por mais de 40 baleias se alimentando na proa. É inesquecível!” Leandra Gonçalves é a coordenadora da campanha de Oceanos e passou quatro meses trabalhando no navio em uma viagem à Antártida em 2008.

ESPERANZA

“O que diferencia o Rainbow Warrior dos outros barcos do Greenpeace são suas velas. Existe alguma mágica em ver os “panos” cheios de vento impulsionando seu casco verde silenciosamente pelo oceano azul. Pode-se realmente escutar o som do mar esfregando-se no casco desse simpático barquinho. Estar sentado a 40 metros de altura em um dos mastros, enquanto o barco deixa o porto e entra de cabeça no horizonte vazio e infinito, deve ser uma das melhores sensações que um marinheiro pode experimentar. Essas são apenas algumas das razões pelas quais esse amigo não sai da cabeça de quem já o navegou.” Daniel Mayakot trabalha nos navios do Greenpeace desde 2004 e agora cursa a escola náutica na Austrália para obter uma licença de oficial.

Para acompanhar o paradeiro dos navios em imagens ao vivo entre em: http://www.greenpeace.org/international/photosvideos/ship-webcams

ARCTIC SUNRISE

RAINBOW WARRIOR

© Greenpeace/Rodrigo Baleia

“Embarcar em um navio do Greenpeace é poder ver a palavra utopia ficar no porto, é enfrentar seus medos e principalmente exercitar a relação humana. Lá a lógica vivida no dia-a-dia de cada um de nos é diferente, lá os problemas são resolvidos e não varridos para debaixo do tapete. Um navio do Greenpeace é o único em que pisei onde a pessoa que está no comando tem 100% de respeito de seus subordinados, talvez pelo fato de que cada um se sinta cuidado, amparado e respeitado pelo seu superior. Ali aprendi que respeito não se impõe, se conquista.”

Rodrigo Baleia é fotógrafo e embarcou cinco vezes em viagens para a Amazônia, Chile, Argentina e Índia.

Os navios são plataformas fundamentais para o trabalho do Greenpeace. Essa frota verde viaja pelos quatro cantos do mundo e funciona como um verdadeiro escritório móvel – para expor e confrontar os responsáveis pelos crimes ambientais ou documentar as agressões em áreas remotas do planeta.

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© Greenpeace/Nick Cobbing


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