Jul/Ago/Set 2011

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greenpeace.org.br

julho - agosto - setembro | 2011

Revista

40 anos olhando para o futuro

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© Greenpeace / Robert Keziere

sumário 4 40 anos fazendo história 8 O novo xerife dos mares 10 Paraíso cercado de petróleo 13 Entrevista: José Truda Palazzo Jr. 1 4 Futuro imperfeito 16 A nova cara do Greenpeace

© Greenpeace/Danielle Bambace

carta aos colaboradores

Revista

greenpeace.org.br

40 anos olhando para o futuro

julho - agosto - setembro | 2011

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capa

E

sta edição celebra os 40 anos de Greenpeace no mundo. Fundado no Canadá pela união de 12 pessoas movidas pelo idealismo e a vontade de fazer um mundo melhor, elas se lançaram ao mar numa traineira no dia 15 de setembro de 1971 para tentar impedir um teste nuclear dos americanos no Alaska. A data virou oficialmente o dia de nascimento do Greenpeace. Ao longo dos anos, o Greenpeace ganhou força. Crescendo a cada dia com a adesão de novos colaboradores e ativistas conscientes, ele hoje está presente em mais de 40 países. Já neste próximo ano de 2012, vamos comemorar 20 anos de ativismo e vitórias da organização no Brasil. Mas, para continuarmos esse crescimento mundial e cada vez mais ganharmos força em nossa luta pela preservação do meio ambiente, faz-se necessário um estruturado trabalho de captação de recursos, uma vez que somos a única organização sem fins lucrativos que não recebe doações de empresas, governos e partidos políticos. Graças às doações de pessoas, assim como você, conseguimos colocar nas ruas e na pauta da discussão ambiental a preocupação com a preservação da região de Abrolhos. Nessa edição, contaremos a história da ameaça que se estende sobre esse paraíso de enorme biodiversidade e local de reprodução das baleias, e a luta que estamos travando com grandes empresas para salvá-la. A campanha contra as mudanças do Código Florestal também será retomada nas próximas páginas. Os adiamentos nas votações fazem parte da vitória do Greenpeace e vale à pena acompanhar como anda a discussão. Por fim, trazemos uma reportagem sobre uma doação inusitada para todos nós do Greenpeace. Contamos a história da paranaense Dona Yvelise, que pretende incluir em seu testamento uma doação para a organização. Ela é uma professora aposentada que sempre se preocupou com a preservação ambiental, além de ser ativista nata e apaixonada pelos animais. Espero que aproveitem a leitura da nossa revista trimestral e possam colaborar na divulgação das nossas iniciativas. Boa leitura!

nas ruas

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Um legado para a natureza Greenpeace pelo mundo

André Bogsan Diretor de Marketing e Captação de Recursos Greenpeace Brasil

Foto oportunidade

O Greenpeace é uma organização global e independente que promove campanhas para defender o meio ambiente e a paz, inspirando as pessoas a mudarem atitudes e comportamentos. Nós investigamos, expomos e confrontamos os responsáveis por danos ambientais. Também defendemos soluções ambientalmente seguras e socialmente justas, que ofereçam esperança para esta e para as futuras gerações e inspiramos pessoas a se tornarem responsáveis pelo planeta. O Greenpeace não aceita dinheiro de governos, partidos ou empresas. Ele existe graças às contribuições de milhões de colaboradores em todo o mundo. São eles que garantem a nossa independência. |3


institucional

40 anos fazendo história

A profecia Cree s que

Ana Galli

Por um mundo verde e pacífico, 12 ativistas zarparam de Vancouver num velho barco rumo à ilha Amchitka para impedir testes nucleares. Assim nascia o Greenpeace

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ma viagem pela vida e pela paz. Foi com esse pensamento que um grupo de ecologistas, jornalistas e hippies planejaram zarpar do porto de Vancouver, no Canadá, rumo ao Ártico, com um velho barco de pesca chamado Phyllis Cormack. O ano: 1971. O plano: impedir que os Estados Unidos levassem a cabo testes nucleares em uma pequena ilha chamada Amchitka, no arquipélago das Aleutas, costa ocidental do Alasca. Dois anos antes, mais de 10 mil pessoas já haviam tentado impedir testes e bloquearam o maior posto de fronteira entre o Canadá e os

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Estados Unidos, carregando faixas que diziam: “Não faça onda!”, em referência aos maremotos causados pelas explosões. Para Jim Bohlen e Irving Stowe, líderes do protesto, era preciso fazer algo além de colocar faixas na fronteira. O ato do pequeno grupo de 12 ativistas que embarcou num barco que literalmente fazia água marcou a fundação do Greenpeace, hoje uma das maiores organizações ambientalistas da história. O Phyllis Cormack, interceptado antes de chegar à ilha, não impediu que os Estados Unidos detonassem a bomba. Ainda assim, a viagem despertou a atenção

da opinião pública, muito mais do que os próprios organizadores poderiam imaginar. Naquele mesmo ano os testes foram suspensos em Amchitka, que foi declarada santuário de aves. A ideia de que alguns indivíduos podiam fazer a diferença por um planeta mais verde e pacífico se tornou realidade e amealhou uma legião de seguidores em todos os continentes. Aos 40 anos de idade, completados no dia 15 de setembro, o Greenpeace comemora não só as inúmeras vitórias colecionadas por quatro décadas mas também a parceria com seus mais de 3 milhões de colaboradores.

o Por acas

r da maio O nome o çã organiza sta do li ta n ie amb rgiu por u s o d n mu ladas aso. Iso puro ac o eira d na band ia ue segu q , barco a, k it h c Am rumo à n ras Gree as palav eace P (verde) e abiam c o (paz) nã n vendido o tt u num b dar a para aju fundos ar arrecad iagem. A v a ra pa r foi junta solução . s ra v pala as duas cia o as Assim n ace. e p n Gree

ista um dos 12 ativ Robert Hunter, mchitka, A à o expediçã da am ar ip ic rt pa bre lendas em um livro so leu durante viag cial trecho em espe indígenas. Um a a previsão a tripulação. Er impressionou lha índia a tes por um ve an os an 0 20 feita , sobre o Olhos de Fogo a ad am ch e, Cre eta: futuro do plan Os pássaros a vai adoecer. cer e os “Um dia a terr es vão escure ar m os u, cé rrentezas cairão do mortos nas co ão er ec ar ap peixes ar, os índios esse dia cheg o nd ua Q s. rio dos vão recuperá-lo u espírito. Mas se o ão er rd pe a reverência homem branco s para ensinar ao todas as raça terra. Aí, então, ra pa is -ír pela sagrada co ar b o símbolo do vão se unir so á o tempo er S . ão iç ru st a de terminar com ” s do Arco-Íris. dos Guerreiro “Guerreiro pois, o nome de os an s un lg A r, em inglês) ainbow Warrio do Arco-Íris” (R o no casco amente pintad seria orgulhos ace e viraria vio do Greenpe do famoso na tal. ivismo ambien sinônimo de at

© Greenpeace / Robert Keziere

© Greenpeace / Pierre Gleizes

Primeira expedição do time fundador do Greenpeace, em 1971

Livros que contam a história do Greenpeace

Guerreiros d o Arco-Íris: Uma crônica do movimen to Greenpeace, de Bob Hunte r Greenpeace III: Viagem at éa bomba, de D avid McTagga rt A história do Greenpeace, de John May e Michael Brow n Testemunha Greenpeace: Vinte e cinco anos na linha de frente am biental Leia mais em nosso site: > Perfil dos fu ndadores > A frota de navios do Greenpeace > As principai s vitórias da organização

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França põe fim a testes nucleares no Pacífico Sul

Rodrigo peace /

Não à soja produzida em área desmatada

A situação era cada vez mais chocante. Na década de 1970, a população de baleia azul diminuiu drasticamente para menos de 6 mil em todo o mundo, consequência direta da pesca baleeira agressiva. O fato chamou a atenção do Greenpeace, que logo após sua fundação decidiu aderir à defesa das baleias. Em 1973, as embarcações do Greenpeace iniciaram investidas contra barcos baleeiros. Cenas de baleias mortas içadas chocaram o mundo. Após dez anos de campanha, O Greenpeace conquistou sua maior vitória: em 1982, finalmente, a Comissão Baleeira Internacional anunciou a moratória de caça às Baleias.

peace

Acordo acaba com legalidade da comercialização de baleias

Na década de 1990, a Shell decidiu que a Brent Spar – plataforma de 14 mil toneladas instalada no Mar do Norte – não tinha mais serventia e pediu ao governo britânico autorização para despejar a instalação inteira no Oceano Atlântico. Com a permissão do Reino Unido, a companhia de petróleo provavelmente seguiria com seus planos se não fosse o Greenpeace. No dia 30 de abril de 1995 ativistas invadiram a plataforma. Cenas dramáticas de voluntário sendo atingidos por fortíssimos jatos de água durante a ação repercutiram no mundo. O abuso que seria cometido pela petroleira e a invasão protagonizada pelo Greenpeace motivaram inúmeros protestos espontâneos por toda a Europa, onde postos da Shell registraram até 50% de queda nas vendas. Sem saída, a então maior companhia de petróleo do mundo e aceitou desmontar a plataforma e reciclá-la em terra.

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© Greenpe

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Cunningha

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O oceano não é um lixo a céu aberto

© Jiri Rez

© Greenpe

Marie Hor ace / Ann-

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Na década de 1960, a França elegeu o Pacífico Sul como local para promover testes nucleares. O país deu continuidade aos planos até 1972, quando o governo francês decidiu ampliar a área afetada englobando território marítimo internacional. A decisão chamou a atenção de David McTaggart, canadense que prontamente renomeou seu barco como Greenpeace III e se juntou à organização. A bordo da embarcação, no mesmo ano McTaggart e ativistas navegaram rumo ao Pacífico Sul, fazendo com que os testes fossem suspensos. Expulso pela França, McTaggart voltou à área um ano depois. Antes de ser novamente expulso, McTaggart foi agredido pelo Exército da França. O fato rendeu um processo na Justiça contra o governo francês e chamou a atenção do mundo para o programa nuclear. A pressão pública obrigou a França a anunciar, em 1974, o fim dos testes.

© Green

© Green

Com quatro décadas de ativismo, o Greenpeace tem muita história para contar e vitórias para colecionar. Acompanhe a seguir as principais conquistas da organização.

Baleia

G Waltraud peace /

institucional

Vitórias

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Após longa negociação, o Greenpeace e outras ONGs ambientalistas conseguiram uma importante vitória para a preservação da floresta brasileira. Em julho de 2006 as principais traders em atividade no Brasil assinaram a Moratória da Soja, que estabelece o compromisso dessas corporação não mais comprarem soja produzida em áreas recém desmatadas. Quatro traders e membros da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais aderiram ao acordo. Juntos, esses conglomerados são responsáveis por 95% da soja comercializada no Brasil, país vicelíder na produção mundial do grão. A moratória, que permanece até os dias de hoje, é considerada internacionalmente uma das mais importantes vitórias do Greenpeace no mundo.

Menos KitKat significa mais floresta

Em uma longa investigação, o Greenpeace descobriu que o óleo de palma utilizado pela Nestlé para fazer o KitKat, um dos chocolates mais apreciados mundo afora, era fornecido pela Sinar Mas, conglomerado conhecido por destruir as florestas tropicais da Indonésia. Foram oito semanas de intensa campanha do Greenpeace contra a fabricante de chocolates. O apoio de centenas de milhares de pessoas de vários países fez toda a diferença, com envio de e-mails, divulgação via Facebook e Twitter e até ligações para a empresa pedindo o fim dos negócios com entre Sinar Mas e Nestlé, que chegou a censurar um vídeo produzido pelo Greenpeace com mais de 1,5 milhão de acessos. Não restou outra alternativa à Nestlé a não ser concordar em não mais comprar óleo de palma de fontes que destroem as florestas tropicais da Indonésia.

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Adeus ao velho guerreiro

Após mais de duas décadas de bom companheirismo, o navio Rainbow Warrior II dá adeus ao Greenpeace e passa o leme para seu moderno, e sustentável, substituto

© Dykstra & Partners

O Rainbow Warrior III foi projetado sob medida para o Greenpeace e com selo de sustentabilidade

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ombardeado por criminosos, interceptado por governos, acossado pela polícia, perseguido por baleeiros, mas, acima de tudo, adorado pelo público. Após 21 anos de trabalhos prestados para o Greenpeace, o mítico Rainbow Warrior II cede lugar a um novo navio, construído inteiramente à medida para o Greenpeace e com o selo da sustentabilidade. O novo guerreiro dos mares será uma embarcação única no mundo. Idealizado com propósitos ambientais e planejado para o trabalho de campanhas, ativismo e educação, o Rainbow Warrior III fará jus aos mais altos padrões de sustentabilidade, com reduzida emissão de carbono. Em lugar dos combustíveis fósseis, seu principal motor será a força dos ventos. Sua operação por motores só será acionada em caso de condições climáticas adversas. Mesmo assim, seu casco foi desenhado para reduzir ao máximo o uso de combustíveis. O calor dos geradores será reutilizado no aquecimento da água a bordo, em cabines e banheiros, e para o pré-aquecimento das máquinas. O Rainbow Warrior III também foi projetado para enfrentar as adversidades de todos os mares, seja em águas quentes e revoltas dos trópicos ou no gelo dos pólos. Para isso, contará com o mais moderno equipamento de comunicação por satélite, capaz de enviar imagens,

transmitir protestos e encaminhar denúncias em questão de minutos, de qualquer lugar do mundo e a qualquer momento. O navio contará ainda com um heliporto para facilitar trabalhos aéreos e com robustos guindastes que deslocarão equipamentos para diversas atividades. Seus mastro de 50 metros de altura permitirá também avistar barcos pesqueiros ilegais de uma distância de até 20 km. A nova embarcação também será responsável por importantes avanços da ciência marinha, com espaço reservado para que cientistas de todo o mundo conduzam seus estudos. Acima de tudo, seus engenheiros pensaram em tornar o Rainbow Warrior III um novo lar para ativistas, voluntários e cientistas que dedicam suas vidas em longas e solitárias jornadas, em busca de justiça ambiental e social pelo mundo. “O Rainbow Warrior III é o primeiro navio construído com a cara do Greenpeace e terá papel fundamental em nossa missão de evitar a destruição ambiental e promover soluções sustentáveis, permitindo à organização seguir no testemunho de crimes e na tomada de ações para impedi-los”, diz Urlich Von Eitzen, Diretor de Operações de Navios do Greenpeace Internacional. “Este é o presente que o Greenpeace recebe em comemoração a seus quarenta anos, concluidos em setembro de 2011.”

© Athit Perawongmetha / Greenpeace

© Dykstra & Partners

Juliana Tinoco

O Greenpeace já se despediu de seu velho companheiro. O Rainbow Warrior II agora está sob os cuidados da ONG Friendship, de Bangladesh, que o transformará em um hospital flutuante. Ele ganhará novo nome: Rongdhonu, que em bengali significa arco-íris, e atenderá à zona costeira de Bangladesh e à baía de Bengali, fornecendo apoio a comunidades carentes e sem acesso à assistência médica. Acompanhando a organização praticamente desde sua fundação, o navio recebe uma missão à altura de sua trajetória, diferente do destino do Rainbow Warrior I. O primeiro navio do Greenpeace, que levantou âncoras pela primeira vez em 1978, hoje, jaz no fundo do mar da Ilha Cavalli, na Nova Zelândia, como recife artificial. Sua trajetória inclui o mais dramático episódio já vivido pela organização. Na noite de 10 de julho de 1985, em águas neozelandesas, O Rainbow Warrior I foi a pique, graças a um atentado planejado pelo governo francês para impedir uma viagem contra testes nucleares no Pacífico-Sul. Bombardeado em noite de festa, na comemoração do aniversário de seu capitão, Steve Sawyer, o Rainbow afundou levando consigo o fotógrafo português Fernando Pereira. Em substituição ao primeiro, o Rainbow Warrior II foi comprado pelo Greenpeace em 1987 e passou dois anos em reforma para se tornar uma embarcação própria para ações. Sua primeira e única visita ao Brasil aconteceu durante a Eco-92, no Rio de Janeiro, para a abertura do escritório da organização no país. “O nome Rainbow Warrior tem origem em uma antiga profecia, que se acredita feita por uma índia Cree, no Canadá”, conta Kumi Naidoo, diretorgeral do Greenpeace. “Nela está dito que chegará um tempo em que Terra estará doente, momento em que pessoas de diversas tribos e culturas se reunirão em torno de atos, não palavras, para salvá-la. Estes serão os guerreiros do arco-íris (rainbow warriors, em inglês)”, conta Kumi. “Deu para imaginar o tamanho da responsabilidade que este navio carrega?”

© Oliver Tjaden / Greenpeace

institucional

O novo xerife dos mares

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© Greenpeace / Alcides Falanghe

energia

Paraíso cercado de petróleo

Área de moratória para petróleo e gás em Abrolhos

Leonardo Medeiros

Em Abrolhos há mais de 7 mil anos, o coral cérebro é exclusivo do Brasil

empresas, prontas para começar as perfurações. Mas qualquer acidente pode ser fatal para Abrolhos, habitat de baleias jubarte, de recifes de corais de 7 mil anos de idade e outras 1.300 espécies, incluindo tartarugas, peixes, aves e mamíferos marinhos. Para evitar que se repitam desastres como do Golfo do México – quando uma plataforma explodiu e espalhou óleo pela região, afetando uma área de 229 mil quilômetros quadrados – em Abrolhos e destruam essa biodiversidade singular, o Greenpeace pede uma moratória de 20 anos da exploração de gás e petróleo em uma área aproximada de 93 mil km2, ao redor do banco dos Abrolhos. A moratória afetaria também blocos terrestres localizados junto a bacias hidrográficas que

correm para o mar. A extensão desta moratória foi estabelecida com base em estudos de 2005, da ONG Conservação Internacional, que determinaram a área ecologicamente sensível a um possível vazamento de óleo nas vizinhanças de Abrolhos. “A moratória é uma construção política, que depende de um acordo entre as empresas e o governo”, analisa Leandra Gonçalves, coordenadora da campanha. “Pela extensão conhecida atualmente da biodiversidade de Abrolhos, muito superior à área delimitada pelo parque, seria necessário aumentar em 20% a área de proteção integral. Como este é um processo complicado, a moratória é uma via mais rápida e efetiva.”

Abrolhos abriga 45 espécies ameaçadas, como a baleia jubarte © Greenpeace / Danielle Bambace

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m 1832, a bordo da expedição que o ajudaria décadas depois a elaborar a revolucionária Teoria da Evolução das Espécies, um jovem Charles Darwin avistou um pequeno arquipélago já próximo à costa brasileira. Tratava-se de Abrolhos, que chamou a atenção pelo “verde brilhante” e pelos “enormes corais” do entorno. Em seu relato, Darwin descreve a grande quantidade de ratos no arquipélago, introduzidos acidentalmente por navios europeus. De lá para cá, o local nunca deixou de sofrer com a influência humana. Quase 180 anos depois, a ameaça agora vem da indústria petrolífera. Treze blocos de exploração de óleo e gás foram licitados pelo governo e estão sob concessão de dez

© Luciano Candisani

A indústria do petróleo marcha em direção ao mar e põe em risco o maior banco de corais do Atlântico Sul

Cerca de 20 mil pessoas vivem da pesca artesanal em Abrolhos. Operadoras dos blocos

Legenda Parque Nacional Marinho dos Abrolhos Área de moratória 1 Unidades de Conservação

Hoje se sabe que a biodiversidade do banco dos Abrolhos é muito mais extensa que a área delimitada pelo Parque em 1983

Recifes

Blocos sob concessão

Áreas prioritárias para biodiversidade Mamíferos aquáticos Tartarugas

1 - Petrobras 2 - Petrobras, Vale e Shell 3 - Petrobras, Vale e Repsol 4 - Vipetro 5 - Perenco e ogx 6 - Sonangol e Petrobras 7 - Cowan e HRT

Categorias de Unidades de Conservação RESEX PN REBIO FN APA RVS

Reserva Extrativista Parque Nacional Reserva Biológica Floresta Nacional Área de Proteção Ambiental Refúgio da Vida Silvestre

Peixes

© Greenpeace / Lunaé Parracho

Aves

1 - Área de moratória: área ecologicamente sensível à exploração de petróleo, segundo estudos que identificam o impacto de vazamentos.

Para evitar que qualquer vazamento impacte a biodiversidade de Abrolhos, é necessária uma área de 93 mil km² livre da atividade petrolífera. 10

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Entorno vulnerável Da passagem de Darwin até que Abrolhos fosse considerado parque nacional marinho, foram 150 anos. Um decreto de 1983 determinou a proteção de uma área de 913 km², que envolve o recife dos Timbebas e o arquipélago dos Abrolhos, com exceção da ilha de Santa Bárbara, sob controle da Marinha. Hoje se sabe, porém, que a importância da região não se resume ao parque, já que todo o banco dos Abrolhos compreende 46 mil km2. Isso significa que uma ampla zona continua vulnerável às mais diversas atividades humanas, inclusive a petrolífera. A incrível biodiversidade da região se deve, principalmente, a dois ecossistemas muito sensíveis à poluição, e que garantem a reprodução de milhares de espécies.

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Baleias ativistas

© Greenpeace / Alexandre Cappi

Pedindo respostas das petroleiras à proposta de moratória na região de Abrolhos, ativistas do Greenpeace se vestiram de baleias e foram bater na porta da multinacional Perenco, no Rio. Sem serem recebidas por representantes da empresa, as baleias nadaram em “petróleo” – na verdade, água com tinta preta – na porta

Veja imagens do protesto e assine a petição por uma moratória em Abrolhos em www.greenpeace.org.br/revista.

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entrevista

Imagem manchada a petróleo Juliana Tinoco

José Truda Palazzo Jr., atual presidente da Rede Costeiro-

Cadê o plano de segurança? Não é só no Brasil que as companhias petrolíferas ameaçam o ambiente. Em Edimburgo, vinte ativistas do Greenpeace, fantasiados de ursos polares, foram presos em julho por ocupar o escritório da petroleira Cairn Energy. O motivo do protesto pacífico era forçar a empresa a divulgar seu plano de segurança em caso de vazamento de óleo. A Cairn tem operações de exploração de petróleo no Ártico, próximo à costa da Groenlândia. O documento só foi divulgado em agosto. Entretanto, pouco tinha a acrescentar às informações oficiais do governo britânico, obtidas pelo Greenpeace, que revelam que é praticamente impossível limpar um vazamento no Ártico. Com ou sem plano de segurança, os mais altos padrões tecnológicos e operacionais estão sujeitos a falhas. Foi o que a Shell sentiu na pele em agosto passado. Um problema em uma de suas plataformas no Mar do Norte, a 180 km de Aberdeen (Escócia), resultou no vazamento de mais de 200 toneladas de óleo. Foi o maior acidente de petróleo registrado no Reino Unido na última década.

Marinha e Hídrica do Brasil (REMA), fundador do projeto Baleia-franca, atua há anos na militância ambiental em favor deste mamífero. Nesta entrevista, no entanto, ele fala em nome não só das baleias, mas também de corais, aves e outras espécies do banco dos Abrolhos, na Bahia, alvo da ganância de petroleiras, que têm concessão de exploração no local. Na conversa, Truda alerta para os riscos reais de grandes acidentes. Mas também chama a atenção para os pequenos vazamentos, algo corriqueiro e com potencial de aniquilar o ecossistema local. Quem sairá com a imagem manchada, garante, é o Brasil.

Arquivo pessoal

do edifício. O protesto pacífico e bem humorado contou com o apoio de quem passava pelo local. No dia seguinte, foi a vez de a OGX, do empresário Eike Batista, receber a visita das baleias ativistas. Os manifestantes se acorrentaram na entrada da sede da empresa até que a direção os recebesse. A empresa, porém, apenas divulgou um comunicado vago, que mostrou desconhecimento científico sobre o impacto que um vazamento pode causar sobre todo o banco dos Abrolhos – por isso, os ativistas ali permaneceram solicitando uma audiência. A OGX ainda foi truculenta e fechou os ativistas dentro do edifício, sem contato com quem estava fora. Uma lona preta cobriu os vidros do saguão para impossibilitar o registro de imagens. Alimentos e água foram impedidos de entrar. A luz foi cortada e todos ficaram no escuro. Após nove horas de resistência, o protesto terminou com a invasão policial. A Tropa de Choque retirou os ativistas à força, arrastando-os ao camburão. Na confusão, até integrantes da imprensa foram levados à delegacia.

© Felix Clay / Greenpeace

energia

Estimativas conservadoras dão conta de 73 km² de manguezais na região de Abrolhos, incluindo as áreas de Prado, Alcobaça, Caravales/ Nova Viçosa e Mucuri. Ali também está o maior banco de recifes de corais do Brasil, com uma extensão de aproximadamente 6 mil km2. Das 22 espécies de corais identificadas nos recifes brasileiros, 21 estão presentes em Abrolhos. Oito delas são exclusivas do país, como o coral cérebro, principal construtor de recifes da região. Abrolhos tem ainda um importante papel na regulação do clima mundial, pois abriga o maior banco de algas calcárias do mundo. Essas algas são capazes de absorver a mesma quantidade de CO2 por metro quadrado que as florestas tropicais.

Revista do Greenpeace Explorar petróleo na região dos Abrolhos é perigoso para a região? José Truda O que estamos vendo é que não existe a tão propalada segurança das operações offshore (em alto mar). Acidentes têm se sucedido. No caso de Abrolhos, trata-se de colocar em risco um dos maiores bancos de coral do Atlântico Sul, com espécies endêmicas, concentração de baleias, importância sócio-econômica para a população local, turismo. Na balança entre os riscos com os impactos, a exploração torna-se inaceitável.

ciamento são tratados dentro dos gabinetes, sem nenhum acesso da população. Para completar, a presidente Dilma Rousseff acaba de anunciar que o licenciamento ambiental deixará de ser feito caso a caso para cada plataforma e passará a ser feito por região, o que dificultará ainda mais a identificação das características de operação de cada plataforma e, consequentemente, seus riscos. Trata-se de uma conjunção perversa: uma indústria arriscada, aliada ao samba do crioulo doido que é a gestão ambiental no Brasil, com falta de fiscalização e transparência.

Quais os riscos? Vazamentos são absolutamente rotineiros e significam aniquilação total do ecossistema local. Uma sucessão de acidentes pequenos já seria suficiente para exterminar fisicamente os corais e provavelmente também as aves. Fiscalizações recentes do Ministério Público Federal em plataformas da Petrobras revelaram que não existe esforço de manutenção constante como as empresas alegam. A fiscalização é irregular, os processos de licen-

Qual a parcela de responsabilidade do governo? Em 2008, o país decretou santuário de preservação de baleias em toda a sua zona econômica exclusiva. Se o petróleo chegar ao arquipélago em temporada de reprodução de jubartes, você dizima boa parte da população. Como ficará a cara do Brasil em relação aos seus compromissos internacionais? A simples ideia de submeter Abrolhos a este risco vai contra décadas de construção de políticas e não passará desperce-

bida aos olhos de fora. O descaso com Abrolhos expõe a hipocrisia do governo brasileiro: assume compromissos na Conferência Internacional de Biodiversidade, de adotar uma meta de conservação de 10% em ecossistemas marinhos até 2020. Mas, não só está longe da meta, como submete áreas como Abrolhos à degradação. Governo e empresas ganham em seguir explorando petróleos em Abrolhos? A posição do governo federal é vergonhosa, ao ser cúmplice de grandes corporações, colocar Abrolhos em risco e degradar nossa matriz energética, investindo em petróleo e não em alternativas sustentáveis. No caso das empresas, elas ainda não se deram conta do tamanho do dano que este posicionamento pode trazer para sua imagem institucional. Na medida em que o problema se tornar internacionalmente conhecido, vão se arrepender. A solução que vejo é reverter esta histeria da exploração offshore e passar a investir em energias alternativas. O Brasil não pode ficar na contramão da história.

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amazônia

Depois de três anos de queda, desmatamento voltou a subir produção agrícola imensa e um dos principais líderes nas reuniões internacionais sobre clima, o Brasil sairá perdendo em todos os aspectos caso os anseios dos ruralistas se tornem lei. “O país passa a perder esse papel se o projeto for aprovado. Vai perder em potencial econômico e político, em biodiversidade e na produção, que depende da floresta para continuar forte”, previu Claudio Maretti, superintendente de conservação da WWF, num workshop para jornalistas sobre o Código Florestal que o Greenpeace organizou com outras ONGs em agosto. “O Brasil tem potencial de liderar um novo modelo econômico do século 21. Mas, com esse novo Código Florestal, nunca vamos chegar lá.”

© Greenpeace / Rodrigo Baleia

Ciência? Que ciência?

Futuro imperfeito Bernardo Câmara

Após emplacar uma derrota às florestas na Câmara, os ruralistas movem o trator no Senador para aprovar um novo Código Florestal à medida de seus interesses

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epois de muitas águas – e críticas – rolarem na Câmara dos Deputados, o projeto que desfigura o Código Florestal foi aprovado. Mas a história está longe do fim. Agora no Senado, o texto passa por mais uma série de audiências públicas e avaliações em comissões e vai a plenário para que os senadores 14

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deem seus votos. Se houver mudanças no texto, ele voltará a ser apreciado na Câmara e só então chegará ao colo da presidente Dilma Rousseff, para sanção ou veto. O caminho é longo. E, pelo visto, vai continuar pedregoso. Enquanto os ruralistas ocupam-se fazendo lobby para que seus interesses sejam

atendidos, fora do Congresso a realidade dá o recado. Na Amazônia, o período de monitoramento do desmatamento 2010/2011 acaba de ser fechado. E, depois de três anos consecutivos de queda, os alertas indicam que o Brasil pegou a contramão: a derrubada da floresta voltou a subir.

“Com o projeto que derruba o Código Florestal, os ruralistas passaram a mensagem de que desmatar vale a pena, que o crime será recompensado e que a destruição será incentivada”, diz Paulo Adario, diretor da Campanha Amazônia do Greenpeace. “O resultado disso, como a gente pode ver, foi imediato no campo.” As consequências não são poucas e nem são restritas ao presente. Dono de uma das mais ricas biodiversidades do mundo, de uma

Durante os debates da Câmara, os ruralistas invocaram o discurso de que a legislação precisava de ciência. Tanto pediram que as principais instituições científicas resolveram falar. E os ruralistas então decidiram fechar os ouvidos. “Se a lei hoje não é consensual, qual o sentido de trocar por outra sem consenso – e, pior, sem ciência?”, questionou o pesquisador Antônio Nobre, numa coletiva de imprensa onde falou em nome da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e Academia Brasileira de Ciências (ABC). Principais instituições científicas brasileiras, a SBPC e a ABC soltaram um estudo dizendo que o Brasil já tem 61 milhões de hectares de terras degradadas que poderiam ser recuperadas e usadas na produção de alimentos. E que, portanto, não é preciso abrir novas áreas, como sugere o projeto. Além disso, pediram dois anos de debates e estudos para

que um novo texto de lei fosse construído. Assim na pressa, dizem, não dá. O Greenpeace concorda. “É preciso separar o que são demandas justas da agricultura familiar – e atendê-las –, ganhando tempo para uma análise profunda, à luz da ciência, do projeto ruralista aprovado pela Câmara”, frisa Paulo Adario. Até porque o texto atual está longe do consenso. Uma pesquisa da Datafolha mostrou que 79% dos brasileiros são contra o perdão das multas a quem desmatou ilegalmente. E é justamente essa uma das principais propostas dos ruralistas. No texto, a anistia surge por todos os cantos. Assim como abertura para que a produção continue avançando sobre as matas. Quem fez a análise foi o advogado Gustavo Trindade, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Segundo ele, esses dois aspectos aparecem em vários trechos do projeto de lei em discussão hoje no Senado. Como o que diz que pequenos lagos e lagoas naturais deixam de ser áreas de preservação permanente; quando afirma que o poder público não precisa mais autorizar intervenções nessas áreas; ou quando define que a reserva legal de propriedades – áreas de floresta que devem ser conservadas – de até quatro módulos passa a ser só o que restou de floresta até 2008. Daqui a menos de um ano, o mais importante evento ambiental da comunidade internacional dos próximos anos, a Rio +20, será sediada aqui mesmo, em terras brasileiras. Após se comprometer mundialmente com a redução de nossas emissões de gases-estufa, proveniente principalmente do desmatamento e das queimadas, a presidente Dilma terá que explicar esse fantasma. Parte da explicação, como se vê, está no Congresso.

Acompanhe as notícias sobre o Código Florestal em www.greenpeace.org.br, no Twitter em @greenpeacebr e no Facebook, na página do Greenpeace Brasil.

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Danielle Bambace

Renovada, equipe do Diálogo Direto traz novos colaboradores para a organização e garante a independência do Greenpeace Se você ainda não conhece essa turma, é bem provável que cedo ou tarde tope com ela nas ruas. Com uniforme do Greenpeace e prancheta na mão, a equipe do Diálogo Direto (ou DDs, como são carinhosamente conhecidos) convida o público a conhecer e apoiar as causas da organização. A maioria deles são jovens estudantes que não só acreditam na causa, mas fazem dela o motor do seu trabalho diário. A equipe atual entrou em ação em agosto passado, completamente renovada e capacitada. Representantes do Greenpeace Internacional, com mais de 40 anos de experiências bem sucedidas na Suécia e no Canadá, vieram ao Brasil treinar os novos 24 captadores. Inicialmente, o time de DDs delimitou São Paulo como centro de suas ações, em locais já carimbados como o centro ou a Avenida 16

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Paulista. A idéia é desenvolver o modelo de trabalho nesta cidade, antes de expandir para outras partes do país. Em busca de apoio e recursos a causas ambientais urgentes, os DDs agora podem filiar novos colaboradores e receber doações no ato, por meio de cartões de débito ou crédito. “São essas contribuições que asseguram a liberdade de ação do Greenpeace. Somos uma instituição independente, que não aceita doações de governo, empresas ou partidos políticos”, afirma Nicole Oliveira, coordenadora do programa Diálogo Direto. É essa independência econômica que garante transparência, liberdade de posicionamento e expressão, permitindo que a organização assuma riscos e confronte alvos, comprometendo-se exclusivamente com os indivíduos e a sociedade civil.

Experiência internacional A captação direta está nas raízes da organização. A modalidade “porta a porta” já era realizada em alguns países quando, em 1993, o escritório da Áustria decidiu inovar. A ideia era ter uma equipe preparada para abordar possíveis colaboradores em locais públicos como praças, parques ou mesmo ruas de grande circulação. A iniciativa deu mais que certo: em pouco tempo, os escritórios nacionais estavam seguindo o modelo austríaco e trazendo milhares de colaboradores para uma participação efetiva na maior organização de proteção ambiental do mundo. No Brasil, além de levar informação ao público nas ruas, a equipe do Diálogo Direto é responsável, atualmente, por 60% dos novos colaboradores da organização.

Bernardo Câmara

Foram 75 anos de vida dedicados à defesa dos animais. Mas, preocupada com a posteridade, Yvelise pretende incluir o Greenpeace em seu testamento

A

primeira paixão aconteceu aos seis anos. “Coloquei ele no carrinho de boneca e levei para casa”, lembra a professora aposentada Yvelise Szaniawski, 75. O nome dele? Popy, um gatinho abandonado. “Minha paixão pelos animais nasceu com o Popy. E persiste vida afora”. E até depois dela, diga-se. Mês passado, Yvelise procurou o Greenpeace com a pretensão de incluir, futuramente, a organização em seu testamento: “Ao proteger florestas, rios e mares, vocês protegem a vida animal”. No escritório brasileiro do Greenpeace, é a primeira vez que alguém manifesta essa intenção. Conversando com Yvelise, uma senhora de voz tão firme quanto suas convicções, fica fácil entender sua atitude. “Acho fascinante ver jovens arriscando a vida pela causa”, conta. “Eu jamais teria coragem de entrar num barquinho e enfrentar um navio como vocês. Amo quem faz isso. Mas prefiro trabalhar na retaguarda”. Pura humildade. Baiana de berço, Yvelise fincou raízes em Curitiba na época da faculdade de letras. E, nesta cidade, dedicou a vida à bandeira ambientalista. Filiou-se à Sociedade Protetora dos Animais, recolheu das ruas animais feridos e entregou-os à adoção, foi homenage-

ada na Câmara dos Vereadores, chegou a ligar para o governador de São Paulo para que ele desse jeito num leão de circo que sofria maus tratos – e ele deu – e, durante as aulas, não sossegava enquanto seus alunos não aprendessem a importância do meio ambiente. Eles aprenderam. “Certa vez, um aluno mais novo veio dizer: ‘Se um dia eu for prefeito, essa rua vai se chamar professora Yvelise, porque a senhora ajuda a salvar as árvores”, conta entre risos. “Ela é uma militante. Se dedicou a isso de corpo e alma”, diz Juril do Nascimento, amiga de longa data. Companheiro de causa desde 1973, quando se casou com Yvelise, o advogado Elimar Szaniawski já chegou a se jogar em um esgoto para salvar um gato. Natural do Paraná, terra das araucárias, Elimar queixa-se da crescente escassez desta espécie de árvore com o correr dos anos. Na chácara onde mantem 13 gatos e 11 cachorros, eles já plantaram um monte de araucárias. “Tem uma que precisa de seis pessoas para abraçar”, diz, orgulhoso. Sobre a intenção da esposa de incluir uma organização ambiental no testamento? “Se ela vai ficar feliz, eu também vou”, garante Elimar. “E outra: é possível que eu vá fazer a mesma coisa”.

Arquivo pessoal

© Greenpeace / Rodrigo Paiva

institucional

A nova cara do Greenpeace nas ruas

Um legado para a natureza

Saiba mais sobre o legado Já comum em outros países, esta é a primeira vez que alguém manifesta, no Brasil, a intenção de incluir o Greenpeace em seu testamento. Chamado de legado, este processo é diferente da herança porque precisa ser registrado em cartório. A herança é a transmissão natural de todos os bens aos familiares (nesta ordem: filhos e cônjuges ou, na ausência deles, pais, irmãos ou sobrinhos). No caso do legado, a pessoa indica quais bens deseja deixar a outras pessoas ou organizações por meio de uma escritura pública certificada por um tabelião diante de duas testemunhas. Esta é a forma mais segura de evitar que o testamento seja contestado no futuro. Uma vez registrado o testamento, somente o testador pode alterá-lo ou anulá-lo. O testamento é particularmente importante quando não existem herdeiros legais. Neste caso, quando a pessoa não manifestou em cartório como deseja repartir seus bens, o patrimônio é transferido ao governo municipal.

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cartas Título da carta

D

os EUA à China, as ações do Greenpeace tem dado o que falar mundo afora. Acompanhe a seguir as notícias das principais campanhas internacionais e a pressão da organização contra empresas que poluem o meio ambiente ou ajudam a devastar as florestas.

Ken e Barbie dão um tempo

© Rodney Dekker / Greenpeace

Ana Galli

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Você também pode mandar seu comentário, dúvida ou sugestão.

Conselho diretor

© Kristian Buus / Greenpeace

Presidente Conselheiros

Diretor executivo Diretor de campanhas Diretor da campanha da Amazônia Diretor de comunicação Diretor de marketing e captação de recursos

Rachel Biderman Fabio Feldmann Marcelo Estraviz Marcelo Takaoka Maria Alice Setubal Marcelo Furtado Sérgio Leitão Paulo Adario Manoel F. Brito André Bogsan

REVISTA DO GREENPEACE É uma publicação trimestral do Greenpeace

Editor Editora de fotografia Redatores

Designer gráfico Prepress e impressão

Leonardo Medeiros (MTb 39511) Danielle Bambace Ana Galli Bernardo Camara Caroline Donatti Danielle Bambace Juliana Tinoco Leonardo Medeiros Karen Francis W5 Criação e Design Hawaii Gráfica & Editora

Este periódico foi impresso em papel reciclado em processo livre de cloro. Tiragem: 30 mil exemplares. www.greenpeace.org.br

© Greenpeace / Teresa Novotny

Após um ano de pesquisa, o Greenpeace concluiu que fornecedores chineses de grandes marcas esportivas como Adidas, Nike e Puma vem poluindo os rios do país com rejeitos químicos. O estudo revela que a indústria têxtil na China é a principal responsável pela alta concentração de poluentes extremamente perigosos nas águas de grandes rios do país. Mas o problema não fica apenas restrito ao território chinês. As substâncias tóxicas já viajaram para além das fronteiras chinesas, tendo sido identificadas até no organismo de ursos polares. Para desafiar os ícones mundiais do esporte a mudar esta triste realidade, ativistas do Greenpeace amanheceram no dia 13 de julho na porta das maiores lojas da Adidas e Nike em Pequim, capital da China, com cartazes que diziam: Desintoxique!

Níobe Coelho, por email

ASSOCIAÇÃO CIVIL GREENPEACE

O lado negro da Volkswagen

Desintoxique, já!

John Quigley, renomado artista plástico conhecido por suas obras de arte gigantes que só podem ser visualizadas do céu, recriou a obra de da Vinci sob o título “O Homem Vitruviano em derretimento”. “Criamos essa arte para mostrar, a partir do famoso esquema do corpo humano, que as mudanças climáticas estão engolindo nossa civilização pouco a pouco", diz Quigley. A obra foi realizada com o apoio da tripulação do navio Arctic Sunrise, durante expedição ao Ártico.

REVISTA DO Greenpeace Rua Alvarenga, 2331 Cep: 05509 006 - São Paulo SP

A personagem mais famosa e luxuosa do mundo dos brinquedos levou um fora dia 8 de julho, quando Ken descobriu que o papelão das embalagens da Barbie provocam o desmatamento de florestas tropicais da Indonésia. Um estudo do Greenpeace revelou que a maior fabricante de brinquedos do mundo compra matéria-prima de suas embalagens da companhia Asia Pulp and Paper (APP), subsidiária do grupo Sinar Mas, o mais notório destruidor de florestas da Indonésia. Esta devastação põe em risco o Tigre de Sumatra que, sem seu habitat natural, se aproxima cada vez mais de assentamentos humanos.

No início do ano, uma campanha da Volkswagen levou 40 milhões de pessoas ao Youtube mostrando um personagem do Star Wars fazendo mágicas em frente a um carro. Só que o feitiço virou contra o feiticeiro. No dia 28 de junho, a propaganda foi parodiada pelo Greenpeace para mostrar o lado negro da montadora. Além de estar muito atrás de outros fabricantes de veículos no que diz respeito à redução de petróleo em seus carros, a Volkswagen está promovendo um pesado lobby na Europa contra leis ambientais. O protesto do Greenpeace foi lançado simultaneamente em dez países.

O Homem Vitruviano

O selo FSC® garante que este produto foi impresso em papel feito com madeira de reflorestamentos certificados de acordo com rigorosos critérios sociais, ambientais e econômicos estabelecidos pela organização internacional FSC® (FOREST STEWARDSHIP COUNCIL® / Conselho de Manejo Florestal).

ATENDIMENTO telefone 11 3035 1151 e-mail

relacionamento@greenpeace.org

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© Nick Cobbing / Greenpeace

pelo mundo

Greenpeace pelo mundo

“A obstinação de suas lutas contra a degradação do meio ambiente [...] tem sido um importante e imprescindível trabalho de conscientização. Particularmente, também faço meu dever de casa, reaproveitando água da lavagem de louça, utilizando moto em vez de carro, diminuindo tempo de banho, utilizando o máximo possível de material reciclado e divulgando sempre as campanhas que recebo eletronicamente ou por outros meios.”


© Jiri Rezac / Greenpeace

RAINBOW WARRIOR

Antes que vire água O navio Artic Sunrise está em expedição pelo pólo norte, junto com cientistas da Universidade de Cambridge. O objetivo é determinar o impacto da mudança climática sobre o gelo. Importante regulador da temperatura planetária, o gelo ártico atingiu neste ano sua segunda menor extensão histórica.

© Greenpeace / Mike Fincken

ESPERANZA

ARCTIC SUNRISE

Petróleo e Ártico não combinam A bordo do Esperanza, ativistas passaram o mês de junho escalando enormes plataformas de petróleo no Ártico. Entre a tripulação, estava Kumi Naidoo, o diretor executivo do Greenpeace mundialmente. Sob jatos de água gelada, Kumi subiu em uma das plataformas com 50 mil assinaturas contra a exploração de petróleo na região. Ele foi preso e retornou à liberdade depois de passar o Dia dos Pais atrás das grades.

Para acompanhar o paradeiro dos navios em imagens ao vivo acesse: www.greenpeace.org/international/en/multimedia/ship-webcams

Nova missão, velho guerreiro Vinte e dois anos depois de cruzar oceanos pelo meio ambiente, o Rainbow Warrior II se aposentou. Mas não vai descansar. O Greenpeace doou o navio para a ONG Friendship, que faz atendimento médico a comunidades vulneráveis na zona costeira de Bangladesh. O velho guerreiro, portanto, continua com missões nobres e com arco-íris no nome, rebatizado em bengali de Rongdhonu. Em seu lugar, vem aí o Rainbow Warrior III, para que o legado de seus antecessores não seja apagado (mais informações na página 10).

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© Nick Cobbing / Greenpeace


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