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greenpeace.org.br

De olho nas florestas da IndonÊsia janeiro - fevereiro - março | 2013

Revista



© Xavier Walker / Alamy

© Greenpeace / Caio Paganotti

carta aos colaboradores

De olho nas florestas da Indonésia

greenpeace.org.br

Revista

janeiro - fevereiro - março | 2013

capa

sumário

4 Esperança para as florestas da Indonésia

6 Quando o crime compensa 7 O fim do exílio Xavante 8 Comida na mesa e floresta em pé 9 Entrevista:

“Soluções para zerar o desmatamento”

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Um desafio à indústria da moda Passarela livre de tóxicos Os vilões do clima A conta da irresponsabilidade Ártico se livra da Shell. Por enquanto Botando fé no desmatamento zero De volta à terra o que a terra dá Nossa pioneira

Caro colaborador,

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ão é só no Brasil que o Greenpeace trabalha para preservar as florestas tropicais. Seja na Amazônia, no Congo ou na distante Indonésia, nossa missão é salvar o que restou dessa rica biodiversidade, proteger o lar de milhares de espécies e ainda contribuir para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Agora, essa luta começa a render frutos. Nesta edição da revista Greenpeace você saberá como anos de campanhas fizeram a fabricante de papel e celulose APP (Asia Pulp&Paper), conhecida como a maior desmatadora da Indonésia, aderir a uma política de produção sem desmatamento. Para chegar a esse resultado, o Greenpeace foi a campo mostrar como as ações da APP devastam as florestas tropicais indonésias e ameaçam de extinção espécies como o tigre-de-Sumatra, que ilustra a capa desta edição. Além disso, fizemos campanha contra marcas que compravam embalagens de papel desta empresa, como Mattel, KFC, Pizza Hut, Danone, Lego, Disney. Milhares de pessoas em todo o mundo apoiaram nosso trabalho, inclusive aqui no Brasil. Não foi à toa que, uma a uma, as grandes marcas romperam contrato ou exigiram políticas mais sustentáveis da APP. Por fim, não restou outra alternativa a esta empresa além de aderir a uma produção que respeite o meio ambiente. As promessas são alentadoras, mas por enquanto são apenas promessas. Por isso, o Greenpeace vai acompanhar de perto cada passo da empresa e garantir que seus compromissos sejam cumpridos. Outra boa notícia foi a decisão da Shell de cancelar seus planos de perfurar poços de petróleo no Ártico em 2013. Após uma série de trapalhadas e acidentes com suas plataformas, a empresa entendeu que a operação naquela região fria do planeta é bem mais difícil do que ela imaginava. Por outro lado, a Shell cedeu à pressão de milhões de pessoas em todo o mundo que demonstraram apoio à campanha do Greenpeace para transformar o extremo norte do planeta em um santuário livre da indústria do petróleo e da pesca predatória. Até o momento, mais de 2,8 milhões de ciberativistas assinaram nossa petição – 280 mil apenas do Brasil. Mas atenção: essa vitória não é definitiva. Nada impede que a multinacional retome seus planos no ano que vem. Vamos continuar nossa campanha até que a Shell abandone de vez o Ártico. Esses são apenas dois exemplos de como você é importante nessa mudança rumo a um planeta mais verde. Todas as nossas conquistas são compartilhadas com você, colaborador, que nos apoia com doações, assinando nossas petições, participando de nossas mobilizações ou usando seu direito de escolha para boicotar marcas que desrespeitam o meio ambiente. Muito obrigado por estar a nosso lado.

Greenpeace pelo mundo Foto oportunidade Marcelo Furtado Diretor-Executivo Greenpeace Brasil

O Greenpeace é uma organização global e independente que promove campanhas para defender o meio ambiente e a paz, inspirando as pessoas a mudarem atitudes e comportamentos. Nós investigamos, expomos e confrontamos os responsáveis por danos ambientais. Também defendemos soluções ambientalmente seguras e socialmente justas, que ofereçam esperança para esta e para as futuras gerações e inspiramos pessoas a se tornarem responsáveis pelo planeta. O Greenpeace não aceita dinheiro de governos, partidos ou empresas. Ele existe graças às contribuições de milhões de colaboradores em todo o mundo. São eles que garantem a nossa independência. |3


florestas © Kemal Jufri / Greenpeace

Floresta de turfa devastada pela indústria da celulose na Indonésia

Esperança para as florestas da Indonésia Bernardo Camara

Após anos de pressão do Greenpeace, uma das maiores desmatadoras da Indonésia anuncia plano de produção sustentável. Agora queremos resultados

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ano começou com uma boa notícia na Indonésia. Uma das maiores empresas da indústria de papel e celulose do mundo, a APP (Asia Pulp & Paper) anunciou, no início de fevereiro, planos de excluir o desmatamento de sua cadeia de produção no país. O compromisso veio publicado em sua nova “Política de Conservação de Florestas” após uma década de pressão pública e recentes negociações com o Greenpeace, que recebeu a notícia com entusiasmo. Se cumpri-

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do à risca, será um grande avanço na proteção das florestas. “Aplaudimos os planos da APP de acabar com o desmatamento. Mas o que conta é o que está acontecendo no campo, e vamos continuar monitorando de perto esse processo. Se a APP realmente colocar em prática sua nova política, isso vai representar uma dramática mudança de direção, depois de anos de devastação”, disse Bustar Maitar, que coordena a campanha de florestas do Greenpeace no país.

As florestas da Indonésia são habitat de espécies ameaçadas, como o tigre-de-Sumatra, além de abrigar milhares de comunidades. Segundo o governo, a indústria de papel e celulose é o principal vetor de desmatamento no país, junto com o setor de óleo de palma. O avanço nas políticas da APP é resultado de anos de pressão feitas por ONGs nacionais e internacionais, que vêm desafiando a empresa a superar os impactos ambientais e sociais causados por sua produção.


Ativista vestido de tigre protesta em frente a um dos restaurantes da rede KFC

Histórico Adidas, Danone, Lego, Mattel Nestlé, Unilever, Xerox... Nos últimos anos, mais de cem marcas famosas que compravam papel produzido pela APP quebraram laços com a companhia – ou exigiram uma política mais séria de conservação. O movimento começou quando o Greenpeace passou a expor mundialmente o protagonismo da APP no desmatamento na Indonésia. Abaixo, você confere alguns passos mais recentes dessa campanha.

Julho 2010 Relatório ‘Pulping the planet’ mostra que o desmatamento gerado pela APP ameaça de extinção animais como o tigre-de-Sumatra. E que multinacionais como KFC e Pizza Hut, usam papel produzido pela companhia em suas embalagens.

© Greenpeace / Gerard Til

Outubro 2010 Navio Rainbow Warrior, do Greenpeace, é impedido, pelo governo, de entrar na Indonésia, onde iria apoiar a campanha contra o desmatamento.

Ao longo de todos esses anos, o Greenpeace também manteve uma forte campanha mundial nesse sentido, investigando, expondo crimes ambientais e pressionando grandes companhias que compram os produtos da APP. A pressão teve resultado: mais de cem marcas globais que usam papel produzido pela APP em suas embalagens, como Adidas, Mattel, Nestlé e Unilever exigiram que a empresa tivesse uma produção limpa. Algumas chegaram a cancelar contratos. O anúncio da nova política é consequência dessas manobras. E chega em boa hora: no próximo mês de maio, termina a moratória de desmatamento que o presidente do país decretou em 2011. “A iniciativa da APP é um ótimo momento para que o governo estenda a moratória e fortaleça suas políticas. As leis florestais da Indonésia precisam ser reforçadas com urgência, para que empresas como a APP

Junho 2011 Relatório “Toying with

tenham condições de implementar suas políticas de conservação”, afirma Maitar. “A ameaça de extinção de animais como o tigre-de-Sumatra só vai ser superada quando governo, indústrias e sociedade civil unirem suas forças e ações pelas florestas.” Em solo brasileiro, esse movimento não é novo. Pressionada pelo Greenpeace e por outras organizações da sociedade civil, uma parte das indústrias de soja e da pecuária também já se comprometeram em tirar o desmatamento de sua cadeia de produção. E, no ano passado, o Greenpeace, junto com outras organizações da sociedade civil, colocou nas ruas o projeto de lei de iniciativa popular do Desmatamento Zero. A exemplo do projeto do Ficha Limpa, a ideia é reunir o maior número de assinaturas possível para que a proposta chegue ao Congresso. Até agora, quase 800 mil pessoas já aderiram.

Destruction” mostra que grandes companhias da indústria de brinquedo usam papel da APP – produzido com desmatamento – em suas embalagens. Greenpeace lança campanha global contra Mattel, fabricante da boneca Barbie, e pede à Disney e à Lego que se comprometam com uma política sem desmatamento.

Outubro 2011 Mattel cancela contrato com APP

Março 2012

National Geographic, Xerox e Mondi se comprometem a não comprar papel da APP.

Abril 2012

Danone cancela contrato com APP e se compromete a desenvolver uma política contra o desmatamento.

Maio 2012 Relatório “Junking the Jungle” revela que embalagens da KFC são produzidas com papel produzido com desmatamento, da APP. Greenpeace lança campanha global para que a KFC tire o desmatamento de sua cadeia de suprimento. Julho 2012 KFC Indonésia cancela contrato com APP

Outubro 2012 KFC no Reino Unido e na Irlanda cancelam contrato com APP Fevereiro 2013

APP anuncia política que exclui o desmatamento | 5de sua cadeia de produção.


amazônia

Quando o crime compensa Ximena Leiva

Conheça a história de Leo Andrade, fazendeiro que derrubou 12.500 ha de floresta, anistiado pelo novo Código Florestal

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á sete anos, Leo Andrade Gomes liderava o ranking dos maiores desmatadores da Amazônia, segundo levantamento do MMA (Ministério do Meio Ambiente). Suas motosserras derrubaram 12.500 hectares de floresta nativa em sua fazenda, o que lhe rendeu uma multa de R$ 18 milhões. Desmatador identificado e devidamente autuado. Muito bem até aqui, certo? Não, nada certo. O Ibama nunca conseguiu localizar Leo Andrade. Seu CPF foi cancelado pela Receita Federal e ninguém sabe dizer se ele é um “fantasma” ou se está foragido. O que intriga neste caso é que o advogado de Leo apresentou sua defesa ao Conama (Conselho Nacional de Meio Ambiente), alegando que, na época do desmatamento, seu cliente não era dono da fazenda Cachoeira Alta, no Pará. A dona seria Elizabete Guimarães que, por sua vez, apresentou certidão de compra

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e venda da propriedade confirmando a propriedade de Leo na época da derrubada da floresta. No fim das contas, o fazendeiro acabou ficando com a multa, mas nunca pagou um centavo sequer. Mas a história não para por aí. Cinco anos depois, em setembro de 2011, Elizabete recebeu da Secretaria de Meio Ambiente do Pará uma Licença de Atividade Rural para uma fazenda de mesmo nome – Cachoeira Alta. Afinal de contas, a fazenda é dela? O que foi feito da multa? Ninguém consegue decifrar o mistério, muito menos o governo. Achou tudo muito confuso? Calma. Há um ponto sobre o qual não restam dúvidas: a multa de Leo será perdoada pelo novo Código Florestal, que dá anistia para quem desmatou sem autorização até 2008. Pronto, simples assim. “Este caso demonstra a que ponto chegou a falta de governança na Amazônia. Multas não pagas aca-

bam caducando e os desmatadores ficam livres para continuar devastando a floresta”, afirma Danicley de Aguiar, da campanha Amazônia do Greenpeace. “A que conclusão podemos chegar? De que o crime compensa nesta parte do Brasil.” É para reverter esse jogo que o Greenpeace, junto com outras organizações da sociedade civil estão com uma campanha pela lei de iniciativa popular do desmatamento zero no Brasil. O caminho para o fim da destruição da floresta é longo e complexo, mas não podemos aceitar que criminosos ponham a perder um patrimônio natural que é de todos nós e ainda sejam recompensados. Quanto mais pessoas assinarem a petição, mais chances o projeto terá de ser aprovado pelo Congresso. Assine e compartilhe a petição: www.ligadasflorestas.org.br. Veja o video sobre este caso no canal do Greenpeace no YouTube: bit.ly/ZBNC8D


© Greenpeace / Rodrigo Baleia

Índios Xavante com pintura tradicional para a guerra

O fim do exílio Xavante Leonardo Medeiros

Fazendeiros que ocupavam ilegalmente a Terra Indígena Marãiwatsédé, no Mato Grosso, foram retirados por decisão da Justiça. Mas 75% da floresta já desapareceu

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pós quase 50 anos, os índios Xavante finalmente voltaram a suas terras. Após longa batalha judicial, os posseiros que ainda ocupavam ilegalmente a Terra Indígena Marãiwatsédé, no nordeste do Mato Grosso, deixaram a região no início deste ano. Mas o rastro de destruição de desmatamento ficou para trás – 75% do que era floresta já não existe. Síntese do desrespeito aos direitos humanos e ambientais que afetam a Amazônia, a história começou ainda nos anos 50, quando a fazenda Suiá-Missú se instalou em território Xavante e formou um dos maiores latifúndios do país, com 800 mil hectares. Para tirar os índios do caminho, o governo militar resolveu intervir. Em 1966, os Xavante foram transferidos em aviões da FAB para a missão São

Marcos, no sul do Estado. Foi apenas às vésperas da Eco92, histórica conferência ambiental que aconteceu no Rio de Janeiro, em 1992, que a FUNAI (Fundação Nacional do Índio) reconheceu Marãiwatsédé como território dos Xavante. A então proprietária do latifúndio, a empresa italiana Agip, concordou em devolver as terras aos índios. Mas, contrariados, os pecuaristas decidiram reagir e mantiveram em seu poder quase 165 mil hectares de terras. Apesar das promessas, a história foi se arrastando. Somente em 1998, um decreto presidencial homologou a Terra Indígena Marãiwatsédé. Ainda assim, choveram recursos judiciais de manutenção de posse, o que só se resolveu com a retirada completa dos fazendeiros neste ano. “Esperamos que este seja o exem-

plo de que uma outra Amazônia é possível”, disse Marcio Astrini, coordenador da Campanha da Amazônia do Greenpeace. “Uma Amazônia em que os direitos indígenas e de populações tradicionais sejam respeitados, onde o desenvolvimento ocorra sem desmatamento, protegendo esse bem tão valioso que é a floresta.”

Em 2010, o Greenpeace esteve na região e documentou a situação dos Xavante, a devastação da floresta e como a carne produzida ilegalmente naquela região acabava nas gôndolas dos supermercados. Quer saber mais? Assista ao vídeo: bit.ly/WK1u0s

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Nathália Clark

Estudo do Imazon mostra que é possível atender à demanda de carne da próxima década usando apenas áreas já abertas. Só é preciso investimento. E vontade

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mais do que fato: não é preciso derrubar nenhuma árvore para que o Brasil siga crescendo. Melhorando a produtividade de aproximadamente 6,7 milhões de hectares já desmatados, o país conseguiria atender à demanda de carne bovina projetada para 2022. Quem comprova isso é a ONG Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), em novo estudo divulgado no início de fevereiro sobre como desenvolver a economia rural sem destruir ainda mais a Amazônia. Para chegar a esta conclusão, os pesquisadores cruzaram as áreas já desmatadas com as terras com bom potencial agrícola, mapeadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Segundo o estudo, aumentando a produtividade em apenas 24% dessas áreas já abertas seria o suficiente para suprir a demanda do mercado para os próximos dez anos. A tarefa exige investimento de tempo, pessoal e de dinheiro. Mas, no fim, acaba sendo mais lucrativa para o bolso do produtor. Para isso, é necessário um montante de pelo menos R$ 1 bilhão por ano. Parece muito? De acordo com a pesquisa, a conta fecha fácil com o volume de crédito rural que chega para a Amazônia. “Este nível de investimento é viável, considerando que seria equivalente a cerca 70% do crédito rural anual médio concedido no bioma para a pecuária entre 8

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2005 e 2009”, aponta o estudo. Paulo Barreto, pesquisador sênior do Imazon e um dos autores do documento, lembra que o investimento deve vir de dois lados: em infraestrutura e em treinamento (veja intrevista ao lado). Isso geraria, de quebra, cerca de 39 mil novos empregos. Mas não basta só o esforço do produtor. O governo também tem que direcionar melhor os recursos e as políticas para a região. “Para a coisa acontecer numa escala regional, é necessário reforçar as políticas de combate ao desmatamento, e tirar as amarras das políticas de investimento na melhoria da produtividade”, afirmou. Se esses investimentos não forem feitos, a retomada do desmatamento – que nos últimos anos esteve em queda – será inevitável. O estudo

aponta que, nesse caso, mais de 12,7 milhões de hectares precisariam ser desmatados para atender à demanda de carne nos próximos dez anos, jogando para o alto os compromissos públicos do governo na redução da devastação. “A taxa de desmatamento média anual até 2022 seria de aproximadamente 3,4 vezes maior do que a meta estabelecida pelo governo federal até 2020”, aponta a pesquisa. Além da vantagem de cumprir com os compromissos assumidos internacionalmente, de acordo com o estudo, o aumento da produção sem desmatamento permitiria um aumento nos lucros da produção pecuária em R$ 4,16 bilhões até 2022, o equivalente a 16% do valor total da produção agropecuária em 2010. Quer melhor negócio do que esse?

© Greenpeace / Rodrigo Baleia

amazônia

Comida na mesa e floresta em pé


Foto divulgação

entrevista

Soluções para o zerar o desmatamento Nathália Clark

Paulo Barreto é engenheiro florestal e mestre em ciências florestais pela Universidade de Yale, nos Estados Unidos. Pesquisador sênior do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), ele atua na Amazônia há décadas, estudando maneiras sustentáveis de se preservar a floresta. Nessa entrevista, ele explica como é possível aumentar a produtividade de áreas já desmatadas, sem a necessidade de derrubar mais árvores. Revista do Greenpeace A agropecuária é o principal vetor atual de desmatamento na Amazônia. Quais os procedimentos necessários para aumentar a produção sem desmatar mais? Paulo Barreto Nem tudo que foi desmatado tem um bom potencial para produção. O primeiro exercício que deve ser feito é o recorte das áreas que têm, de fato, esse potencial e então capacitar os trabalhadores, investir em infraestrutura e tratar o solo, fazendo reposição de nutrientes. Por exemplo: normalmente, o gado só usa 50% do capim disponível ou se acomoda em apenas uma parte do local. Então é preciso fazer uma boa repartição da área já aberta, dar acesso à água e colocar o gado para comer eficientemente no ambiente. Se é viável aumentar a produção em áreas já desmatadas, por que o desmatamento continua e a produtividade da pecuária ainda é tão baixa? Há um conjunto de fatores: um deles é a capacitação, outro é a regularização fundiária. A questão fundiária é uma prioridade

urgentíssima. A falta de controle das terras públicas também é um problema grave. Temos muitos exemplos de posseiros que ocupam áreas que não são legalmente suas e não querem investir dinheiro sem ter certeza se vão receber a documentação depois. Há também o problema da lavagem de dinheiro em áreas ociosas, uma prática que premia a baixa produtividade. O governo tem que tratar do tema do imposto de renda rural e do combate à lavagem de dinheiro no campo. Como convencer os grandes produtores rurais de que o caminho proposto é mais benéfico para o meio ambiente e mais rentável economicamente? O que vemos no campo é uma elite que adota as melhores técnicas, busca regularidade e produtividade. É importante que esse produtor, que já está mais avançado, converse com os outros. O produtor médio é mais conservador e resiste à mudança. Mas se ele visita um outro produtor, que já está utilizando a tecnologia e está tendo sucesso e lucro, isso é um grande incentivo. O contexto

do mercado e das políticas públicas é também importante. Se o mercado ou o governo afrouxam, eles vão regredir. Sabem que o investimento em tecnologia e capacitação é grande. Se veem que há uma alternativa mais fácil, eles preferem esse caminho. Por isso é importante ser firme nas leis de incentivo à produtividade e na fiscalização e combate ao desmatamento. Na prática, a impunidade vigora no campo. Como você vê a atuação do governo mudando esse cenário na Amazônia? Acho que o governo já melhorou bastante em termos de uso do solo e tecnologia, mas é preciso melhorar muito mais a fiscalização e controle. Uma coisa que ajudou foi o Ibama estabelecer o embargo de áreas desmatadas ilegalmente. Mesmo assim, ainda não é suficiente, já que o órgão continua arrecadando menos de 1% das multas que emite. Na última década, por exemplo, foram emitidas mais de 10 mil multas por ano. Com esse dinheiro, nós já deveríamos estar com o Desmatamento Zero.

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moda

Um desafio à indústria da moda

Ativista caminha em passarela vertical durante a Semana de Moda de Milão

Nathalia Clark

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á conferiu se seu guarda-roupas é ambientalmente correto? Não? Então já pode começar. Sem que você saiba, seu sapato favorito, daquela grife chiquérrima que custou os olhos da cara, pode estar contaminado pela destruição da Amazônia. Para facilitar seu trabalho, o Greenpeace divulgou, no início de fevereiro, um ranking classificando as políticas ambientais das maiores marcas da alta costura internacional. A maioria se mostrou irregular. E poucas apresentaram intenções de mudança. Foi lançado um desafio para que essas empresas limpem suas cadeias de produção, deixando de contribuir com o desmatamento de florestas tropicais ou com a contaminação das águas com produtos tóxicos. O duelo da moda começou com a grife Valentino liderando a lista das marcas mais verdes. Até o fechamento dessa edição, a empresa italiana figurava em primeiro lugar por ter se comprometido a eliminar todos os lançamentos de produtos químicos e a adotar o desmatamento zero em toda a sua cadeia de fornecimento. Enquanto isso, seis diferentes marcas como Chanel, Hermès e Dolce & Gabbana aparecem no fim da lista por não tomarem qualquer decisão sobre melhorias em suas políticas ambientais. 10

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“As marcas que falharam na classificação, como a Louis Vuitton, são tendências globais da moda, mas elas também têm agora uma oportunidade para se tornarem líderes ambientais. Elas devem tomar medidas urgentes e transparentes para eliminar a liberação de substâncias químicas perigosas ao longo de sua cadeia de suprimentos e colocar em prática medidas concretas para evitar a destruição florestal”, disse Chiara Campione, do Greenpeace Itália. Ao todo, 15 empresas italianas e francesas foram classificadas, com base na transparência de suas cadeias de abastecimento, suas políticas ambientais e sua vontade de fazer um compromisso real pelo Desmatamento Zero e pela eliminação zero de produtos químicos perigosos. Foram analisadas três seções de suas cadeias de fornecimento global: couro, papel e celulose, e poluição tóxica da água. A indústria têxtil é uma das principais fontes de poluição da água em países como China e México. Além disso, florestas de valor insubstituível estão sendo transformadas em embalagens descartáveis, enquanto que, na Amazônia, grandes áreas são destruídas para dar lugar ao gado, utilizado posteriormente para a produção de sapatos, bolsas e cintos de couro.

© Matteo Nobili / Greenpeace

Desafiamos grandes marcas de luxo a adotarem práticas sustentáveis de produção

Desfile nas alturas A cidade de Milão, na Itália, é considerada a capital mundial da moda. Costuma ser por lá que as grandes marcas da alta costura ditam as tendências que influenciam o visual das pessoas de todo o mundo. Se estas mesmas empresas aderirem a políticas mais verdes, quem ganha são as florestas e os rios do planeta. Foi por isso que, aproveitando a Semana da Moda de Milão, ocorrida em fevereiro, o Greenpeace montou uma passarela vertical de 12 metros de comprimento na fachada do castelo Sforzesco, um dos cenários do evento. Nela, uma ativista representando uma modelo pediu às empresas que aceitem participar do Duelo da Moda, com políticas de maior respeito ao meio ambiente. Dedos cruzados para que essa moda pegue. Veja no YouTube o vídeo do protesto: http://youtu.be/F1eExwiZHec


O Greenpeace agradece a adesão da Levis à campanha Detox, em Copenhague

O RANKING DA MODA LIMPA

Enviamos um questionário às principais marcas para saber se seus produtos luxuosos estão manchados pelo desmatamento da Amazônia ou substâncias tóxicas. Esse é o ranking de acordo com as respostas.

© Christian ijlund / Greenpeace

Quer saber quais grandes marcas da moda respeitam o planeta?

Passarela livre de tóxicos Marina Yamaoka

Depois da Zara, foi a vez da Levi’s, da Uniqlo, da Benetton e da Limited Brands se desintoxicarem

A

Bom

Insatisfatório

Médio

Reprovado

campanha Detox seguiu o fio tóxico da moda e pressionou grandes marcas da moda a aderirem ao compromisso de eliminar as substâncias tóxicas de suas roupas, de seus fornecedores e de toda a cadeia de produção até 2020. O Greenpeace descobriu que algumas das maiores marcas estão vendendo roupas contaminadas com produtos químicos perigosos. Após oito dias de protestos e o apoio de 320 mil pessoas à campanha, a Zara foi a primeira a lavar sua roupa suja. Mas os manequins não se deram por satisfeitos e se revoltaram também contra a Levi’s, famosa por seus jeans. Mais de 700 pessoas protestaram diante de lojas em 80 cidades do mundo. Após uma semana, a Levi’s se comprometeu a pedir a 15 de suas maiores fornecedoras na China, no México e em outras par-

tes do mundo a revelar publicamente quais substâncias utiliza em seus processos de fabricação até junho de 2013. “Mais do que nunca, vemos marcas como a Levi’s escutarem o clamor público por uma moda sem tóxicos. Agora é apenas uma questão de tempo para que outras empresas como Calvin Klein e GAP se juntem à iniciativa”, disse Marietta Harjono, da campanha de Tóxicos do Greenpeace Internacional. A pressão pública também fez com que a Uniqlo, a Benetton e a Limited Brands – responsável pela Victoria’s Secret e a La Senza – se comprometessem com a campanha. Ainda tem espaço na passarela para outras marcas desfilarem. A indústria têxtil não pode continuar a tratar os cursos-d’água públicos como seus esgotos particulares.

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© Jiri Rezac / Greenpeace

energia

Os vilões do clima

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Nathália Clark

Relatório do Greenpeace revela os 14 maiores projetos de energias sujas do mundo e seus impactos no aquecimento global

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á limites que, caso atingidos, não dão chance de retorno. Olha que, no caso das emissões de gases do efeito estufa – aqueles responsáveis pelo aquecimento do planeta –, esse limite é grande. Mesmo assim, estamos a um passo de cruzar a fronteira do bom senso. Para alertar os governos mundiais para a iminência de uma crise climática, o Greenpeace Internacional lançou um relatório que identifica os 14 maiores projetos de energias sujas planejados para as próximas décadas. Entre eles está o pré-sal brasileiro. Chamado de “Caminho sem Volta” (tradução livre do inglês “Point of no Return”), o estudo mostra a quantidade de CO2 a ser emitido por cada um dos projetos. Ocupando a nona posição no ranking, o petróleo extraído das camadas profundas do oceano, menina dos olhos do atual governo no Brasil, irá contribuir com a emissão de nada menos do que 330 milhões de toneladas de carbono por ano até 2020.

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Alternativas

“Com um potencial abundante de geração renovável como eólica, solar e biomassa, o Brasil perde a chance de inovar e de se posicionar como uma das economias mais sustentáveis e limpas do planeta”, afirma Ricardo Baitelo, da campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil. “Infelizmente, o governo insiste em investir uma enormidade de recursos [só a Petrobras vai investir US$ 53 bilhões em atividades de exploração e produção até 2015] em uma exploração arriscada do ponto de vista técnico e altamente danosa para o clima.” Entre os maiores projetos de energias sujas listados no relatório estão a enorme expansão da exploração de carvão na China, a grande expansão das exportações de carvão da Austrália, Estados Unidos e Indonésia, e a exploração não convencional de petróleo nas areias betuminosas no Canadá, no Ártico, no Iraque, no Golfo do México e no

Cazaquistão. Além disso, também consta na lista a produção de gás natural na África e no Mar Cáspio. Segundo a pesquisa, esses novos projetos acrescentarão, juntos, um total de 300 bilhões de toneladas de novas emissões de CO2 equivalente para a atmosfera até 2050, a partir da extração, produção e queima de 49 bilhões de toneladas de carvão, 29 trilhões de metros cúbicos de gás natural e 260 bilhões de barris de petróleo. No Brasil, o setor de transportes é o maior emissor de CO2 fóssil. “Se os regulamentos sobre a eficiência de combustível fossem melhorados e fontes alternativas de energia limpa fossem desenvolvidas no Brasil e no mundo, a demanda por petróleo poderia ser drasticamente reduzida, eliminando a necessidade de embarcar no caminho perigoso da exploração do pré-sal”, alerta Baitelo. Quer ler o relatório na íntegra? Acesse: bit.ly/XuAG7m (em inglês)


© Daniel Mueller / Greenpeace

A conta da irresponsabilidade

Equipe de pesquisa do Greenpeace verifica níveis de radiação em Fukushima

Marina Yamaoka

Relatório do Greenpeace Internacional revela que a indústria nuclear é protegida por governos. Em caso de desastres, custos são repassados para as populações atingidas possível que um pouco de radiação tenha escapado.” Essa foi a frase que Yukiko Kameya escutou dos oficiais de saúde pública após o terremoto e o tsunami responsáveis pelo desastre nuclear de Fukushima. Ela é uma das 7.400 pessoas que moravam no distrito de Futaba, em Fukushima, quando o acidente aconteceu. O que vazou da planta nuclear foi mais do que um pouco de radiação, mas Kameya afirma não ter sido informada sobre mais nada. Ela foi forçada a se mudar para o subúrbio de Tóquio, há dois anos, onde mora até hoje em alojamento provisório e sem receber corretamente as indenizações. A história de Yukiko é apenas uma entre muitas que o Greenpeace Internacional mostra em seu relatório “Fukushima Fallout: Nuclear business makes people pay and suffer”, (do inglês “As consequências de Fukushima: a indústria nuclear faz as pessoas pagarem e sofrerem”). A conclusão é que passa-

dos quase dois anos do desastre de Fukushima, os prejuízos foram repassados ao bolso dos contribuintes japoneses, enquanto a indústria foi poupada. Além de contar como as vítimas do acidente ainda lutam para obter uma compensação justa, o relatório avalia as regulamentações do Japão e de diversos países sobre a indústria nuclear. Em caso de desastres, as fabricantes de reatores nucleares seriam completamente poupadas. Já as operadoras das centrais teriam que desembolsar entre € 350 milhões e € 1,5 bilhão para cobrir os prejuízos – cifra bastante inferior aos US$ 250 bilhões necessários para cobrir os custos de Fukushima.

Memória curta

Apesar do exemplo recente de Fukushima, o governo brasileiro quer tirar da gaveta um projeto de ampliação da matriz elétrica nuclear. “O desastre no Japão desmontou a farsa do discurso de segurança da

indústria nuclear e teve um enorme impacto ambiental, social e econômico”, disse Ricardo Baitelo, da campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil. “Mesmo assim, o Brasil, na contramão de outros países que decidiram desligar suas usinas, quer retomar os planos de construir novos reatores.” A desculpa para voltar a se discutir esse projeto foi a ameaça de racionamento devido ao baixo nível dos reservatórios no início do ano, o que forçou o governo a ligar usinas térmicas, mais caras e poluentes. “Não aprendemos mesmo com as lições. Com tanto potencial para gerar energia limpa e segura, como a solar, eólica e biomassa, o Brasil parece querer apostar na decisão mais perigosa”, lamenta Baitelo. “Resta perguntar: a quem interessa a energia nuclear?” Acesse a íntegra do relatório (em inglês): bit.ly/10g0YGG

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Ártico se livra da Shell. Por enquanto Marina Yamaoka

Depois de enfrentar problemas com suas plataformas nas águas geladas do polo norte, a Shell entendeu que não está preparada para perfurar o Ártico

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urso polar comemorou, mas sabe que ainda não está a salvo. Após uma série de trapalhadas com suas plataformas, a Shell deu o braço a torcer e desistiu de perfurar no Ártico em 2013. Por um lado, a petroleira entendeu que não está preparada para enfrentar as dificuldades técnicas dessa operação. Por outro, acabou cedendo à pressão de mais de 2,8 milhões de pessoas de todo o mundo que apoiaram a campanha do Greenpeace para transformar esse frágil e rico ecossistema em um santuário internacional, livre da exploração de petróleo e da pesca predatória. Até chegar a essa decisão, a Shell enfrentou vários acidentes. Navios-sonda encalharam, motores pegaram fogo e equipamentos fundamentais apresentaram falhas de segurança. O problema mais recente aconteceu com a plataforma Kulluk, que encalhou em janeiro quando estava sendo rebocada

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ao porto de Seattle, nos Estados Unidos. Uma tempestade quebrou as linhas de reboque e fizeram com que a plataforma ficasse à deriva e atingisse a costa perto do Alasca. A história não termina aí. Poucas semanas depois, dois rebocadores colidiram quando realizavam manobras perto da plataforma. Parece que enquanto a Shell não desistir do plano de perfurar no Ártico a lista de acidentes só vai crescer. “A plataforma pode ter desencalhado, mas depois desse incidente a reputação da Shell foi muito danificada. Está claro que a prospecção de óleo no Ártico não pode ser realizada de uma forma segura. Chegou o momento de o governo dos EUA agir e pedir que a Shell pare de explorar petróleo no polo norte”, afirmou Ben Ayliffe, da campanha do Ártico do Greenpeace. Devido as condições climáticas adversas, com temperaturas bem abaixo de zero, a exploração de petróleo só acontece no verão do

hemisfério norte, entre o meses de junho e setembro, quando o gelo derrete. Isso não vai acontecer em 2013, mas nada impede que a Shell retome seus planos no verão de 2014.

Oscar inglório Não teve tapete vermelho ou roupa de gala, nem os tambores rufaram para anunciar a Shell como vencedora do Public Eye Award, mais conhecido como o Oscar da vergonha. Das sete indicadas para a premiação que escolheu a corporação com pior atuação socioambiental em 2012, a petroleira anglo-holandesa foi eleita pelo público com 41.800 votos online. Sua grande façanha foi ter tentado explorar petróleo no Ártico durante 2012. A lista dos impactos socioambientais que a corrida maluca pelas últimas gotas de petróleo do planeta provoca não é pequena. Com sua atuação, a Shell coloca em risco um dos últimos paraísos naturais da Terra, ameaça 4 milhões de pessoas que vivem na região e ainda pode sujar o lar de ursos polares, raposas do Ártico e outros animais.

© Greenpeace / Christian ijlund

ártico

Protesto em Estocolmo com ativista vestido de urso polar. A placa diz: “Desabrigado. Por favor ajude, #Salve o Ártico”


Botando fé no desmatamento zero Danielle Bambace

Voluntários do Greenpeace levam a mensagem do desmatamento zero e da preservação das florestas a evento de jovens católicos de Curitiba de grafite. Os participantes também receberam esclarecimentos sobre os prejuízos causados pelo desmatamento e a importância da conservação das florestas e dos recursos hídricos. "Os jovens paranaenses compareceram aos milhares, renovaram as esperanças pela edificação da paz e demonstraram muita disposição para defender as florestas e a

natureza”, concluiu Marlon Roza, coordenador nacional da Juventude Palotina do Brasil e um dos organizadores do Bote Fé Curitiba. Você também está convidado a apoiar a proposta de lei pelo fim do desmatamento no Brasil. Quer saber mais? Acesse: www.ligadasflorestas.org.br

© Greenpeace

A

proposta de lei do desmatamento zero só precisa de 1,4 milhão de assinaturas de eleitores brasileiros para poder ser apresentada ao Congresso Nacional. Mas a gente sabe que ela só será aprovada pelos políticos de Brasília quando os mais diversos setores da sociedade fizerem pressão para mostrar que desejamos preservar as florestas de nosso país. Foi para angariar o apoio dos jovens católicos à proposta de lei do desmatamento zero que um grupo de voluntários do Greenpeace aterrissou em Curitiba nos dias 23 e 24 de fevereiro para participar do Bote Fé. Contando com a presença de 30 mil pessoas, o evento foi uma prévia da JMJ (Jornada Mundial da Juventude), que será realizada no Rio de Janeiro, em junho, com a participação do papa Francisco I. Juntamente com nossos voluntários, 18 jovens trabalharam na coleta de assinaturas para a campanha que pretende aumentar a proteção às florestas brasileiras. “Os voluntários da JMJ se prontificaram a coletar mais assinaturas em suas universidades, colégios, empresas e com seus familiares e amigos”, disse Paula Collet, coordenadora de voluntários do Greenpeace Brasil. “Tudo isso torna o evento ainda mais especial, porque aumentaremos o engajamento dos curitibanos em relação ao desmatamento zero.” Durante o evento foram realizadas palestras educativas, debates, shows musicais, apresentações teatrais, gincanas e até mesmo oficinas

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Danielle Bambace

Saiba como as composteiras domésticas podem ser uma solução prática para a redução de sua pegada ecológica a natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.” Com a ajuda das minhocas... sim, aqueles bichinhos que a maioria das pessoas só lembra quando vai à pescaria, essa velha máxima está deixando os livros de ciências para se tornar realidade em muitos lares. Com as composteiras domésticas, parte do lixo orgânico produzido em casa se transforma em adubo– um processo completamente natural e que ajuda a reduzir a imensa quantidade de resíduos que as cidades geram hoje em dia. Tudo é feito no próprio local, economizando recursos públicos de transporte desse lixo até os aterros sanitários e aliviando os impactos ao meio ambiente As composteiras mais comuns no mercado são fabricadas em PVC e podem ser facilmente alocadas em casa ou apartamento. Dentro delas, é possível colocar sobras de comida como cascas de frutas e restos de legumes. As minhocas e as bactérias se encarregam do resto e produzem húmus fresquinho a cada trinta dias para adubar o jardim. “A ideia é reduzir o impacto am16

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biental do lixo que não tem destino correto, diminuindo a pegada no ambiente urbano”, explica Clarissa Alminhana, bióloga e consultora de vendas da Morada da Floresta – uma empresa que comercializa soluções de compostagem. “Ter uma composteira é adquirir um novo hábito, uma nova visão do impacto que as ações individuais têm no coletivo”, complementa. A composteira é formada por três caixas empilhadas, com furinhos na base para permitir o fluxo das minhocas e do chorume (veja gráfico ao lado). As minhocas utilizadas são do tipo californianas, “especialistas” em restos orgânicos. Mas o estômago dos bichinhos é sensível: restos de carne, lácteos, alimentos salgados, frutas cítricas ou fezes de animais não podem entrar na compostagem. O preço de um kit de compostagem varia de R$ 170 a R$ 278, de acordo com o tamanho – famílias numerosas precisarão de composteiras maiores para dar conta de reciclar os resíduos produzidos. Quer saber mais? Acesse: www.moradadafloresta.org.br

Como funcion a a composteir a

fotos © Greenpeace

mundo green

De volta à terra o que a terra dá

1 Na caixa superior da composteira

doméstica é depositado o lixo orgânico, sempre coberto com serragem. Quando estiver cheia, essa caixa desce para o segundo patamar, à espera que os resíduos se decomponham. Já a segunda caixa, que está vazia, vai para o topo e passa a receber os resíduos. Lácteos, cítricos, carne e fezes de animais podem matar as minhocas, por isso não entram na compostagem.

2 Conforme os restos orgânicos se

transformam em húmus, as minhocas migram para a caixa de cima em busca de mais alimento. O adubo, então, está pronto para uso. A caixa é esvaziada e novamente volta para o patamar de cima. O processo se repete uma vez ao mês.

3 Na terceira caixa se acumula o

líquido resultante da decomposição dos alimentos. Esse “chorume do bem” é rico em nutrientes e pode ser utilizado como fertilizante para plantas.


colaboradores © Greenpeace

Nossa pioneira Bernardo Camara

Quando o Greenpeace chegou ao Brasil, a arquiteta Claudia Grahber se tornou uma das primeiras a contribuir com a organização. E continua conosco até hoje ão há município onde não tenha um ambientalista doido querendo fazer alguma coisa”. A constatação de Claudia Grahber tem razão de ser. Natural de São Paulo, a arquiteta de 59 anos já passou por vários municípios antes de fincar raízes em Vinhedo, no interior paulista. Por onde passou, conheceu e mobilizou gente pelo meio ambiente. “Ia mudando de cidade em cidade. Tinha que fazer alguma coisa, senão ia acabar mudando de planeta”, brinca. Foi com essa mentalidade que, há cerca de 21 anos, Claudia assinou um dos primeiros cheques de doação que chegaram ao Greenpeace no Brasil. Era época da Eco-92, uma das mais marcantes conferências ambientais da História, sediada no Rio de Janeiro. O país fervilhava com a chegada de dezenas de chefes de Estado para discutir sobre preservação e desenvolvimento. E o Greenpeace aportava com seus ativistas: 800 cruzes foram enterradas no pátio da usina nuclear de Angra, simbolizando os mortos

no acidente de Chernobyl. Foi a primeira ação em terras brasileiras. Desde então, a organização não arredou mais o pé do Brasil. E Claudia não saiu mais do nosso lado. “O Greenpeace era o movimento com atuação mais ativa, que chamava atenção para os problemas. Vocês descobrem e denunciam coisas que estão acontecendo no mundo inteiro e que nós, mortais, nunca saberíamos”, justifica ela, que já conhecia a organização pelas ações feitas ao redor do planeta. “Desde jovem, sempre estive ligada a movimentos, organizações, lia o que era publicado a respeito. Eu nasci com essa preocupação ambiental. Sempre achei que tinha que fazer alguma coisa”, diz. E ela sempre fez. A colaboração com o Greenpeace é só uma das ações da arquiteta pelo meio ambiente. Em cada cidade que morou, deu sua contribuição. Começou plantando árvores, organizou caminhadas para conscientizar as pessoas, fez campanha dentro de condomínios para organizar a reciclagem, deu aulas de educação

ambiental e fundou, com amigos, a organização não governamental Elo Ambiental. Com 18 anos de estrada, a ONG tem como foco a preservação de mananciais e já ganhou mais de dez prêmios, entre eles um pelo vídeo Elos da Água, que é usado por universidades e governos para conscientizar a população. Pioneira nas iniciativas em Vinhedo e pioneira no Greenpeace Brasil, Claudia está com a agenda cheia. Mas não pensa em parar. “Acho maravilhoso o trabalho do Greenpeace, por isso contribuo até hoje. Quanto mais pessoas ajudarem, mais credibilidade a organização têm”, afirma. “O Greenpeace não fala por si, fala por milhares de pessoas.”

Este é um espaço para conhecer você, que contribui

para o Greenpeace e acredita em nosso trabalho. Se você tem alguma história ligada à nossa organização ou à defesa do meio ambiente, escreva para a gente: relacionamento@greenpeace.org.br

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internacional

cartas Minha parte

Greenpeace pelo mundo

“Já conheço as ações do Greenpeace há muitos anos e sempre agradeço por ela existir. Caso contrário, o futuro desse planeta estaria realmente comprometido. Em 2011 passei a fazer parte dessa organização com uma pequena doação mensal que, com certeza, faz a diferença. Ajudem essa organização a se tornar cada vez mais forte. O mundo e o futuro precisam!”

Brunno Marchetti

E agora, Obama?

Leandro Fernandes Colaborador de Vitória (ES)

© Shayne Robinson / Greenpeace

Durante a primeira visita oficial de Barack Obama a Israel, ativistas do Greenpeace escalaram uma famosa ponte do arquiteto espanhol Calatrava em Jerusalém e estenderam um banner gigante com a mensagem “Obama, pare a perfuração do Ártico”. A ação faz parte de um apelo mundial ao presidente dos Estados Unidos para rever a autorização de exploração de petróleo no Alasca. Oito ativistas foram presos.

Luci Lawless nos tribunais No mês de fevereiro teve fim o julgamento de sete ativistas do Greenpeace, entre eles a atriz Lucy Lawless (atriz da série “Xena, a Princesa Guerreira”). Ano passado, o grupo ocupou o navio-plataforma Noble Discoverer, da Shell, que se preparava para rumar ao Ártico e iniciar a exploração de petróleo na região. Os ativistas terão que pagar uma indenização de R$ 8.644 e prestar 120 horas de serviços comunitários. A petroleira anglo-holandesa reclamava na Justiça um valor de mais de R$ 1 milhão.

Você também pode mandar seu comentário, dúvida ou sugestão. REVISTA DO Greenpeace Rua Alvarenga, 2331 Cep: 05509 006 - São Paulo SP ASSOCIAÇÃO CIVIL GREENPEACE Conselho diretor Presidente Rachel Biderman Conselheiros Laura Valente Leda Machado Marcelo Estravitz Marcos Nisti Oskar Metsavaht Diretor-executivo Marcelo Furtado Diretora de campanhas Annette Cotter Diretor de políticas públicas Sérgio Leitão Diretora de mobilização e comunicação Lisa Gunn Diretor de marketing e captação de recursos André Bogsan Diretora do organizacional Karla Battistella REVISTA DO GREENPEACE É uma publicação trimestral do Greenpeace

China sem ar

No início de janeiro, uma densa névoa seca de poluição cobriu a cidade de Pequim, capital da China. Com índices de poluição até 45 vezes superiores aos níveis de segurança, o governo recomendou à população permanecer em casa. País altamente industrializado, a China começa a despertar para seus graves problemas ambientais. O próprio presidente Hu Jintao já afirmou que é necessário reverter a deterioração ecológica e construir uma bela China.

Editor Editora de fotografia Redatores

Designer gráfico Prepress e impressão

Leonardo Medeiros (MTb 39511) Danielle Bambace Bernardo Camara Brunno Marchetti Danielle Bambace Leonardo Medeiros Marina Yamaoka Nathália Clark Ximena Leiva Karen Francis W5 Criação e Design Hawaii Gráfica & Editora

Este periódico foi impresso em papel reciclado em processo livre de cloro. Tiragem: 32 mil exemplares.

© Greenpeace / Wu Di

www.greenpeace.org.br

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O selo FSC® garante que este produto foi impresso em papel feito com madeira de reflorestamentos certificados de acordo com rigorosos critérios sociais, ambientais e econômicos estabelecidos pela organização internacional FSC® (FOREST STEWARDSHIP COUNCIL® / Conselho de Manejo Florestal).


Um personagem inusitado interrompeu uma audiência pública na Câmara Municipal de São Paulo em que se discutia as mudanças na inspeção veicular. “Robin Haddad, aquele que tira dos ônibus para dar aos carros” lembrou aos presentes que a prefeitura faz o Robin Hood às avessas ao usar dinheiro público para isentar os motoristas da taxa de R$ 47,44. Apesar do protesto, as mudanças foram aprovadas no dia seguinte. Agora, só carros com mais de dez anos farão a inspeção anualmente.

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© Greenpeace / Paulo Pereira

Robin Hood às avessas


© Pat Roque / Greenpeace

ARCTIC SUNRISE

Esperanza A embarcação transportou recursos de ajuda humanitária às comunidades da ilha de Mindanao, nas Filipinas. A região foi devastada pelo tufão Bopha que atingiu o sudoeste asiático no mês de dezembro do ano passado, deixando mais de cinco milhões de desabrigados.

© Nigel Marple / Greenpeace

ESPERANZA

RAINBOW WARRIOR

Arctic Sunrise Ancorado no arquipélago norueguês de Svalbard, o Arctic Sunrise testemunhou o verão mais quente de todos os tempos na região. A expedição no Mar do Norte está documentando a região como apoio à campanha para transformar o Ártico em um santuário livre da pesca predatória e da exploração de petróleo.

Para acompanhar o paradeiro dos navios em imagens ao vivo acesse: www.greenpeace.org/international/en/multimedia/ship-webcams

Rainbow Warrior Após meses circundando a costa da África e oceano Índico, período em que apontou a necessidade de leis mais rígidas contra a pesca predatória na região, o veleiro chegou à Nova Zelândia. Em sua passagem pelas ilhas, visitou pela primeira vez a baia de Matauri, local onde repousa o primeiro Rainbow Warrior, afundado em 1985 após ser bombardeado por agentes do serviço secreto francês.

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© Greenpeace / Daniel Beltrá


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