Revista genderqueer

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Carta da edição

G

ênero, sexo, identidade de gênero... Temas tabus, que só agora começam a ganhar os canais midiáticos, em pleno século XXI. Temas que rendem uma boa conversa, com a mente aberta, desconstruindo preconceitos. Pensando no público LGBT de Minas Gerais e em seus anseios e demandas, criamos a revista GenderQueer. Somos comunicadores engajados nessa discussão e queremos ouvir e dialogar com essa parcela da população ainda tão carente de visibilidade e valorização. Queremos levar informação para o seu empoderamento. Queremos trocar ideias com você. Esta primeira edição sai do forno já chamando para o debate. Como ainda existem muitas dúvidas, trazemos um Glossário de Termos LGBT, para colocar todos os pingos nos “is”. É importante a gente se entender e, mais, saber que tem gente que entende que cada ser é único, especial. Nosso editorial de moda está um show, trazendo o melhor da moda afropunk, de uma marca que desenvolve seus trabalhos em parceria com grafiteiros. Você vai ver também que as discussões sobre o mundo trans está no Youtube levando informação e, por que não, entretenimento para o mundo todo. Tem também a seção Fala, Meninxs!, para que você possa abrir seu coração, falar o que sente e pensa. Diálogo é sempre necessário, afinal, como já dizia nosso saudoso Chacrinha, “Quem não comunica se trumbica.” Fica então o convite. Vamos falar disso? Leia, compartilhe, curta, siganos nas redes sociais. Pode criticar, pedir, sugerir, falar o que quiser. Estamos abertos à prosa. Então, boa leitura e até a próxima! Equipe da GenderQueer

Editor chefe: Conrado Moreira Jornalista responsável: Márcia Romano (MG 10325 JP) Capa: Luíza Amaral Diagramação: Diego Siuves Fotos: Luiza Amaral Infográficos: Diego Siuves Textos: Conrado Moreira, Diego Siuves, Luiza Amaral e Márcia Romano Revisão de textos: Márcia Romano Tiragem: 20 mil exemplares Impresso em: Formato Gráfica – Belo Horizonte/MG


Sumário COMPORTAMENTO PARA ORIENTAR SEM GENERALIZAR

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FALA MENINXS

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MODA EDITORIAL: THIS IS AFROPUNK

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CONECTIVIDADE YOUTUBE: COMPARTILHANDO QUEBRANDO TABUS MANDY CANDY

LORELAY FOX

E

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MÚSICA MÚSICA QUE ROMPE A BARREIRA DOS GÊNEROS

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COMPORTAMENTO

a r a P

, r a t n e i r o

m e s s a m r a z i l a r e n e g

S

eres humanos são complexos, intensos, cheios de incoerências e surpresas. Não dá para generalizá-los. Não dá também para enquadrar todos em padrões, seja de pensamento, formas de comportamento, seja em padrões físicos e estéticos. Não dá nem para dividi-los em duas categorias: homens e mulheres. Essas são classificações conservadoras, que servem a um paradigma dominador que é paternalista, machista e etnocentrista, além de outros “istas”. Nos dias de hoje, é consenso a necessidade de se pensar as questões de gênero, sexo e orientação sexual. É preciso se informar, a fim de compreender essas questões e superar os preconceitos, para que o outro – seja ele quem for – possa ser tratado com todo o respeito. Para ser tratado como ser humano. Gays, lésbicas, homossexuais, transgêneros... São muitos os termos, pois são muitas as definições e muitas as “orientações”, por assim dizer. Abaixo segue a explicação de vários desses termos, de forma resumida. Mas, antes, é interessante que você saiba um pouco sobre a teoria que dá nome à nossa revista, a Teoria Queer.


A

Teoria Queer começou a ser desenvolvida sobretudo nos Estados Unidos, a partir do final dos anos de 1980 por pesquisadores e ativistas de diversas áreas, oriundos do movimento feminista de segunda onda, do movimento negro do sul dos Estados Unidos e do movimento gay que, nessa época, num contexto de epidemia de Aids, passou a ser apontado como a queer nation (nação queer, apontada como responsável pela contaminação). A expressão então, foi ressignificada e passou a reunir aqueles que estabeleciam, em seus trabalhos, críticas a todo esse regime que visava inferiorizar pessoas. Entre os autores que desenvolveram trabalhos sob uma perspectiva queer estão Adrienne Rich, Guy Hocquenghem, Gayle Rubin, Nestor Perlongher, Judith Butler, Eve Kosofsky Sedwick e Beatriz Preciado. Mas o que é o queer? É o diferente, que não se adapta a padrões. De acordo com Louro (2004, p. 38), “Queer pode ser traduzido por estranho, talvez ridículo, excêntrico, raro, extraordinário”. A partir disso, os teóricos se apropriaram dessa forma de tratamento pejorativa e a ressignificaram, transformando-a em força, em fator positivo, de reconhecimento para as pessoas. Queer passou então a ser entendido como uma prática de vida que se coloca contra as normas socialmente aceitas. Não se trata de um modelo “queer” de mundo. A Teoria Queer questiona o que entendemos como verdade, as noções de uma essência do masculino, de uma essência do feminino, de uma essência do desejo. E seu intuito é empoderar os seres humanos transviados no sentido de que eles ocupem o seu espaço e se afirmem. No sentido de questionar os processos de normatização e subalternização dos corpos, nos quais as pessoas são rotuladas como “traveco”, “viadinho”, “sapatona”. É preciso ter em mente que as noções de homem e de mulher são construções sociais, históricas, culturais, familiares, que têm intrínseca relação com o grupo social, a idade, a etnia, a cor, a religião, entre outros fatores relacionados ao ser social.

COMPORTAMENTO

“Estranho, excêntrico, raro”

Glossário de termos

Gênero: conceito formulado para distinguir as dimensões biológicas e sociais. Gênero difere de sexo, é produto da realidade social, não da anatomia dos corpos. Uma pessoa não se identifica, necessariamente, com o mesmo gênero designado na hora do nascimento. É o caso de pessoas transexuais, por exemplo. Identidade de gênero: experiência individual do gênero de cada pessoa – que pode, ou não, corresponder ao sexo atribuído no nascimento, incluindo o senso pessoal do corpo (que pode envolver, por livre escolha, modificação da aparência ou função corporal por meios médicos, cirúrgicos ou outros). A identidade de gênero inclui também outras expressões de gênero, como vestimenta, modo de falar e maneirismos. Sexo biológico: conjunto de informações cromossômicas, órgãos genitais, capacidades reprodutivas e características fisiológicas secundárias que diferenciam machos e fêmeas. Não é o mesmo que gênero. Sexualidade: engloba os modos pelos quais as pessoas expressam e vivem seus desejos e seus prazeres corporais, em sentido amplo. Em geral, diz respeito à vida privada. Identidade sexual: conjunto de características sexuais que diferenciam cada pessoa das demais e que se expressam pelas preferências sexuais ou atitudes em relação ao sexo. É o sentimento de masculinidade ou feminilidade, que nem sempre está de acordo com o sexo biológico ou com a genitália da pessoa e pode mudar ao longo da vida. Orientação sexual, não “opção”: é a capacidade de cada pessoa de ter uma profunda atração emocional, afetiva ou sexual por indivíduos de gênero diferente, do mesmo gênero ou de mais de um gênero, assim como ter relações sexuais com essas pessoas. Homossexualidade, não homossexualismo: homossexualidade é o termo correto. É quando há atração afetiva e/ou sexual por uma pessoa do mesmo sexo. O sufixo “ismo” dá a ideia de doença e está incorreto.Desde 1992, a homossexualidade não está inclusa na Classificação Internacional de Doenças (CID). Heterossexual: pessoa que se relaciona sexual e/ou afetivamente com pessoas do sexo/gênero diferente do seu. Lésbicas/homossexuais: mulheres que se relacionam afetiva

e sexualmente com outras mulheres. O termo lésbica é dito, inclusive, como posicionamento político, pois essas sofrem um estigma maior que alguns gays – como no caso de homens heterossexuais, que enxergam a sexualidade das lésbicas como um fetiche. O “l” de “lésbicas” está agora à frente da sigla LGBT, como forma de garantir mais visibilidade. Gays/homossexuais: homens que se relacionam afetiva e sexualmente com outros homens. Em alguns países, assumir-se gay tem uma conotação política, portanto, cria uma diferenciação em relação ao homossexual. Bissexual: pessoa que se relaciona sexual e/ou afetivamente com quaisquer gêneros/sexos. Pansexual: o termo em geral é tratado como polêmico, mas se refere a pessoas cujo desejo sexual é abrangente, podendo se dirigir inclusive a objetos. Homoafetivo: adjetivo que começou a ser utilizado como eufemismo para transitar no meio jurídico. Visa generalizar a multiplicidade de relações homoafetivas. Portanto, nem sempre, o termo homoafetivo é o mais adequado – afinal, não se trata do indivíduo, nem todas as relações são afetivas/amorosas. LGBT, não GLS: a sigla GLS não é mais utilizada, pois entendese que ela é excludente. Em LGBT, lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais são contemplados. Em GLS, apenas gays, lésbicas e simpatizantes. LGBTI: abrange também pessoas identificadas como “intersex”. A sigla é utilizada por organizações como a ONU e a Anistia Internacional como um padrão. LGBTQI: apesar de a sigla LGTB ser a mais utilizada no Brasil, nos Estados Unidos se incluem também o Q e o I, representando as palavras “Queer” e “Intersex”. Heteronormatividade: termo que descreve o conjunto de normas sociais que associam o comportamento heterossexual ao “padrão”. É a ideia de que o comportamento heterossexual é o único válido socialmente ou, em alguns casos, o único existente. Intersexual/intersexuado/hermafrodita: o termo hermafrodita caiu em desuso. O correto é usar intersexual, para o caso de pessoas com uma variedade de condições genéticas e/

Adaptado do blog Gemis: Gênero, Mídia e Sexualidade. <http://ggemis.blogspot.com.br/p/glossario-lgbt.html>

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COMPORTAMENTO

ou somáticas, com anatomia reprodutiva e sexual que não se ajusta às definições típicas do feminino ou do masculino. Androginia: termo genérico usado para descrever pessoas que assumem postura social (também relacionada à vestimenta), comum a ambos os gêneros (feminino e masculino). Drag Queen: pessoa identificada com o gênero masculino (neste caso, não interessa a orientação sexual da pessoa) que se veste com roupas femininas de forma satírica e extravagante para o exercício da profissão em shows e outros eventos. Não deixa de ser um tipo de “transformista”, pois o uso das roupas está ligado a questões artísticas. Drag King: versão “masculina” da Drag Queen. Ou seja, quando uma mulher se veste com roupas masculinas para fins artísticos/de trabalho. Crossdresser: pessoa que apenas se veste como o que é socialmente aceito como “do outro” sexo ou gênero. Assim, na rotina diária, sua vida é condizente com as expectativas sociais do sexo biológico/nascimento. Podem ser tanto hetero, homo, bi ou pansexuais. Pessoas trans: expressão usada para se referir às travestis e às pessoas transexuais. Para englobar a variedade de identidades, é utilizada também a grafia trans* (com asterisco). Transexual: pessoas que se identificam, por meio de nominação, vestimenta e transformações corporais, como pertencentes ao gênero diferente do “sexo” atribuído no nascimento e querem ser reconhecidas socialmente no gênero que desejam. Denominase mulher trans a pessoa que se apresenta de acordo com características associadas social e culturalmente ao gênero feminino; transexual masculino, ou homem trans são pessoas que se apresentam de acordo com as características associadas ao gênero masculino. Travesti: termo tipicamente brasileiro e utilizado em alguns países da América Latina. Designa pessoas que se assumem com características físicas, sociais e culturais de gênero diferentes do seu “sexo” atribuído no nascimento. Isso não significa negação do sexo genital. Essas pessoas podem modificar seu corpo fazendo

Imagem retirada do Youtube

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uso de silicone, cirurgias, hormonização e malhação. Por anos, transexuais e travestis foram “diferenciadas” pela questão da cirurgia de redesignação sexual (ou “troca de sexo”). Transgênero: expressão que pode englobar as pessoas que transitam entre os gêneros, tanto as travestis quanto as pessoas transexuais. O termo não é tão utilizado no Brasil. Cisgênero: expressão bastante recente no âmbito dos estudos de gênero e dos movimentos sociais. São pessoas que se identificam com o gênero que lhes foi atribuído ao nascer, o que configura uma concordância entre a identidade de gênero e o sexo biológico de um indivíduo e o seu papel considerado socialmente aceito para esse sexo. Homem trans/Mulher trans: quando uma pessoa nasceu com as características que definem seu sexo como masculino, mas se se considera uma pessoa do gênero feminino, essa pessoa é uma mulher trans. Mas, quando uma pessoa nasceu com características que definem seu sexo como feminino, mas se considera uma pessoa do gênero masculino, essa pessoa é um homem trans. Desejo/prática/identidade: uma pessoa pode ter um desejo (por exemplo, relacionar-se com alguém do mesmo sexo) e barrá-lo, não tendo práticas ou identidades semelhantes a ele. O contrário também pode ocorrer: na prática, uma pessoa pode se relacionar com alguém do mesmo sexo, mas não se identificar como homossexual ou bissexual. A prática pode ser homossexual (como no caso de condições específicas, a exemplo de presídios, albergues ou trabalhos sexuais), mas a identificação segue heterossexual. HSH/MSM: siglas utilizadas pelos profissionais da saúde, principalmente para dar conta de questões como prevenção de HIV/Aids, sem entrar em questões culturais, de identidade de gênero ou orientação sexual. HSH, ou “homens que fazem sexo com homens” e MSM, ou “mulheres que fazem sexo com mulheres” identificam o comportamento/prática das pessoas para fins de promoção de saúde.




MODA








COMPORTAMENTO

“ “ 18

Fala Meninxs Meu nome é Ariel Moura, tenho 19 anos e sou uma menina trans. Eu não me lembro de um momento específico em que eu me olhei no espelho e pensei ‘Eu sou uma menina trans’, até porque quando eu era criança as pessoas não falavam sobre transexualidade como falam hoje. Eu sabia que algo estava errado com meu corpo, só não sabia o que era, então comecei a pesquisar a respeito e encontrei algumas comunidades no Orkut em que várias meninas trocavam experiências. Foi a partir daí que comecei a entender mais sobre o que se passava comigo. Conversando com várias outras meninas eu comecei a minha terapia hormonal sem receita médica nem nada, até hoje eu tomo por conta própria. Ainda não passei por nenhum processo cirúrgico. Embora eu tenha vontade, tenho outras prioridades. Hoje em dia eu me sinto muito bem comigo mesma, tenho uma família que me acolheu e me apoiou desde o começo e amigos que me ajudam a enfrentar as coisas ruins do dia a dia. No meu meio de trabalho, também é tudo muito tranquilo; trabalho em uma agência de modelos com profissionais de mente bem aberta.

” ”

No meu caso, o processo de descoberta e aceitação não foi simples. Quando adolescente, tinha medo que as pessoas próximas descobrissem que sou gay, mas, ao mesmo tempo, com a ajuda de amigos e das famílias deles, consegui entender melhor a situação. Aprendi que não é o fato de se relacionar com homem ou mulher que me faz alguém melhor ou pior, pois caráter não depende de sexualidade. Hoje, sinto-me bem com a minha sexualidade e com as minhas relações familiares, amorosas e com os meus amigos. Aprendi a respeitar mais e a fazer com que me respeitem.

Eu me descobri lésbica aos 13 anos. No começo eu vivia em negação, primeiro porque imaginava que iria magoar meus pais, depois porque sentia vergonha do resto das pessoas, sentia que era algo errado. O tempo foi passando e fui tendo maior contato com outras pessoas que também eram gays e lésbicas e fui me sentindo melhor comigo mesma. Aos 15 anos me mudei para BH e conheci muitas pessoas novas. Um mundo novo se abriu pra mim. Um dia, uma pessoa do meu círculo de amizades, alguém que eu julgava ser confiável, acabou se mostrando extremamente homofóbico. Ele contou sobre minha orientação sexual para a mãe, que, sendo evangélica e fundamentalista, julgou-se não só no direito, mas no dever de ligar para a minha casa e arruinar minha vida. Foi um tempo de trevas. O primeiro impacto foi fortíssimo para minha mãe, ela não conseguiu processar bem. Ela acabou compartilhando o ‘problema’ com minhas tias, que também eram ignorantes e homofóbicas, e minha vida ficou bem ruim. Em pouco tempo toda a minha família estava ciente da minha orientação sexual e me julgava por isso. Obrigaram-me a viajar para o interior, para a casa dos meus avós, e enquanto isso jogaram todas as minhas roupas e objetos pessoais fora. Quando retornei desse retiro forçado já cheguei em outro apartamento, com um guarda-roupa todo renovado e novos objetos. Não eram minhas roupas, eu não tinha escolhido nada daquilo. Passaram uma borracha no meu passado. Não tinha celular, nem fotos, nem livros, nada. Minha vida ficou controlada, do cursinho para casa, de casa para o cursinho. Fui proibida de conversar com amigos e não tinha mais direito ao acesso à internet. Quis desistir da vida? Sim, diversas vezes. Mas aguentei firme e fui em frente. Isso que aconteceu comigo foi terrível, mas sei que muitas pessoas passam por coisas muito piores. Muitas pessoas não sobrevivem. Muitas são mortas por pessoas da própria família. Hoje sou assumida em casa, no trabalho, na vida. Demorei 15 anos para conseguir me impor e não precisar da aceitação de ninguém. Transformei minha revolta em ativismo. Sou feminista e luto por um mundo menos ignorante, com mais igualdade e respeito à diversidade.”


CONECTIVIDADE

: e b u t u o Y

e o d n a h l i t r a p m s Co u b a T o d n a r b e u Q D

écadas atrás era inimaginável uma plataforma em que você pudesse gerar conteúdo em forma de vídeo, compartilhar com outras pessoas e em que cada usuário pudesse criar seu próprio canal, sua própria televisão, o you tube (seu tubo/sua televisão). O YouTube é uma rede social desenvolvida em 2005 por três estudantes da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, mas foi a partir de 2006, quando a empresa Google comprou a plataforma, que ela começou a ser fortemente difundida pelo mundo. Atualmente, ela deixou de ser apenas mais uma plataforma de vídeos e se tornou um canal midiático com enorme poder e relevância. A sua característica mais marcante é a democratização do conteúdo, já que o usuário pode atuar como consumidor e gerador de conteúdo. Hoje, o YouTube é uma das principais ferramentas de geração de conteúdo do mundo e o terceiro site com mais acessos, perdendo apenas para o Google e o Facebook. Ele possui mais de um bilhão de usuários (cerca de 1/3 dos usuários de internet no mundo). Por dia, o site possui mais de quatro bilhões de vídeos visualizados, e o tráfego nele corresponde a cerca de 20% do tráfego total na internet. O site possui tanto material, que se estima que, se nenhum vídeo novo fosse adicionado à sua rede, uma pessoa precisaria mais de mil anos para ver todo o conteúdo presente no site. Atualmente, o Brasil é o segundo país que mais consome vídeos na plataforma, perdendo apenas para os Estados Unidos.


CONECTIVIDADE

Influenciadores Digitais

H

oje, estamos na Era dos Influenciadores Digitais, um mundo dominado por jovens capazes de influenciar grande variedade de pessoas. Eles usam de sua reputação na internet para expor sua opinião, alavancar novas discussões e, em parcerias comerciais, eles passam credibilidade e influenciam no aumento da venda de produtos, serviços e eventos, tanto de forma on-line quanto no mundo real. Na cultura Queer e no mundo andrógino, diversos youtubers aparecem como agentes transformadores, educadores e influenciadores. Eles se apresentam ao mundo para expor sobre esse universo, desmistificar fatos, falar sobre curiosidades, transição, aceitação, preconceitos, entre diversos outros temas.

Mandy Candy Amanda Guimarães, jovem gaúcha de 28 anos, moradora atualmente de Hong Kong, região administrativa da China, ficou nacionalmente conhecida como Mandy Candy, por causa do seu canal no YouTube Mandy para Maiores. Seu canal no YouTube funciona como um vlog, no qual ela faz vídeos contando mais sobre sua vida, seu dia a dia, fazendo brincadeiras, etc. Nele ela fala de maneira descontraída e inteligente sobre transexualidade, ela conta sobre sua transexualidade, como foi o processo para a cirurgia de readequação de gênero, sobre questões familiares, como o dia em que ela contou para a mãe que era trans, e questões amorosas, sendo que um dos vídeos mais populares dela é “Conto Que Sou Trans para o Boy?”, vídeo que retrata como ela contou para seu namorado que era trans.Atualmente, o canal da Mandy tem extrema importância no sentido de quebrar tabus, romper preconceitos e principalmente ajudar jovens que passaram e estão passando pelo mesmo que ela vivenciou, e também por informar sobre o processo de transição. Hoje, Mandy, quando não está trabalhando como garçonete no restaurante de um amigo, é uma das youtubers mais badaladas, com mais de 300 mil inscritos em seu canal e mais de 200 mil fãs em suas redes sociais. Tornouse escritora e, em 2015, publicou Meu Nome é Amanda, livro que conta como foi sua transição. O livro se tornou um dos destaques da 24ª Edição da Bienal Internacional do Livro, em São Paulo.

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Imagem retirada da página da Mandy Candy no Facebook


CONECTIVIDADE Lorelay Fox

Imagem retirada da página da Lorelay Fox no Facebook

Lorelay Fox é o nome de uma das drag queens mais famosas da atualidade no país, ele é dona do canal Para Tudo, origem de sua fama. Sua característica mais marcante é seu ativismo em relação à desmistificação de preconceitos contra o mundo drag e gay. Apesar de o movimento drag ser uma expressão artística, ela fala em seus vídeos de forma sutil, mas séria, sobre androginia, transgeneridade, preconceitos existentes na sociedade e dentro do universo LGBT. Em diversos momentos ela fala sobre causas sociais, como feminismo, sendo que um dos vídeos que viralizou é o que ela fala da música Formation, da cantora norte-americana Beyoncé, abordando o racismo presente na sociedade e o feminismo negro. Seu canal é feito em forma de vlog, em que ela compartilha suas reflexões de maneira intimista – isso faz com que seus vídeos se pareçam com um bate-papo ou uma conversa com seus seguidores. Além desses aspectos sociais, ela dá excelentes dicas de maquiagens. Atualmente, Lorelay Fox possui um papel tão ativo e importante na sociedade e na comunidade gay, que em 2015 ela foi convidada para falar e expor seu conhecimento no Ted Talks Brasil, um dos maiores circuitos de palestras realizados em São Paulo, com especialistas e influenciadores nos mais diversos segmentos.

Imagem retirada da entrevista que a Lorelay deu ao portal G1

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MÚSICA

Música Que Rompe a Barreira dos Gêneros

J

ovem de apenas 21 anos, natural de Araraquara (SP), negro, pobre, dono de uma voz rouca poderosa e um estilo único, registrado com nome de um famoso jogador de futebol britânico, Liniker, por meio de sua arte, vem quebrando diversos tabus por onde passa. Novo talento na música, é sempre marcado pela mistura do black com o soul e vem se “Sou negro, pobre e destacando com suas apresentações e seu estilo singular, nas quais ele aparece com saia, brincos, batom, colar, turbante e bigode. Seu canal oficial no YouTube é um sucesso, com gay e tenho potência mais de nove milhões de visualizações. Quando questionado sobre gênero em entrevista dada ao portal G1, o cantor afirma ser livre também” El País. e não saber se é “o” ou “a” Liniker: “Quando me questionam sobre gênero, eu falo que eu não sei quem eu sou e eu acho que é importante viver essa dúvida também. Eu não preciso ter uma certeza de ‘sou homem’ ou ‘sou mulher’, meu corpo é livre, meu corpo é um corpo político, ele merece a liberdade dele e eu preciso caminhar com isso, aceitar que eu sou assim.” Mesmo fazendo parte de uma família de músicos, Liniker tinha vergonha de mostrar que cantava, assim, quando sua mãe descobriu, foi uma agradável surpresa. Ele traz consigo referências musicais da família, como Banda Black Rio, Clube do Balanço e Paula Lima; as suas, com Nina Simone, Etta James, Amy Winehouse, Tim Maia e Bebeto, e as inquietações que o levam à arte. Quando questionado sobre o futuro, ele disse que está em mutação e que não consegue imaginar como será, no entanto, ele apresentou uma curiosa definição para o seu presente: “O que eu sei é que eu sou bicha, preta, pobre e estou aí, batalhando por um povo. E acho que é isso, é a descoberta, é realmente mergulhar de cabeça em alguma coisa que é tão sua. Eu não sei explicar, acho que estou passando pelo momento ainda, não parei de me transformar, não”.

Referências da matéria “Liniker”, entrevistas feitas pelo portal G1 e pelo jornal EL País: <http://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2015/12/de-batom-e-brincos-cantor-linikertem-1-milhao-de-acessos-com-clipes.html>. <http://brasil.elpais.com/brasil/2015/11/12/cultura/1447331706_038108.html>.

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