011 IV FTR 011 balanço (2)

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Balanço paulo_michelotto@uol.com.br Depois de ir ver Zôo, de Albee, levantei-me hoje e me senti um inseto.Não pela pesada interpretação de João Lima.Vou tentar me explicar. Se é que insetos o conseguem.Cheguei correndo ao Hermilo - uma vez que estava no Sesc e quase não dá tempo para se sair de um espetáculo e se entrar em outro- esse Festival é uma correria que parece Fazenda Nova... Claro que tenho crachá de imprensa, mas estava acompanhado e fui humildemente comprar o ingresso. Venderam uns 3 e fecharam. Lotado. Bem eu não ia deixar quem me acompanhava esperando do lado de fora durante uma hora e meia.Mas aí, ó surpresa, aparece alguém e informa sobre um problema no ar condicionado e pede desculpas pois não haveria espetáculo, que se refizesse a fila para devolução de ingressos e... Aí aparece o ator e grita que vai haver espetáculo, que esse festival era uma mentira, que se precisar tirem a camisa para agüentar o calor - no que lhe dei toda razão.E foi o que acabou acontecendo. Voltei humildemente à bilheteria, já que agora eu poderia comprar ingresso dos desistentes e enfrentar o Zöo de Albee- sem nem pedir redução no preço pela falta de ar. Só tinha a 10 reais! Apesar de ser da classe, minha acompanhante só entraria por $10 reais. Já acho esse preço um assalto feito por quem escreve, no Programa, que um dos objetivos é a democratização da cultura. Não acredito que J.Paulo pense, como FHC, que o povo nada em bufunfa como nadam os governos. Estamos vendo bom teatro, mas democratização não... Deixem-me dizer mais. Querem democracia na cultura? Invistam na formação de técnicos e no treinamento dos funcionários. Um plano de luz que se deixa pronto em 4 horas no Rio Grande do Sul, aqui se faz em dois dias. A Companhia chegou às oito da manhã e o encarregado local algumas horas depois. Essa outra foi com XPTO.Cansaram de avisar que teriam que voltar no domingo, já que tinham espetáculo agendado. “Ah , dá tempo para se apresentar às 18:30 e pegar o avião!”.O espetáculo – uma jóia de profissionalismo e rara beleza que já rodou meio mundo - acabou tendo que ser adiantado e lá estava um imenso Teatro do Parque quase vazio. Porque podemos chamar o público até de senhora gordacomo o impolido Nelson Rodrigues –mas não podemos chamá-lo de adivinho. Jornais existem para essas coisas. “Mídia”, mídia é para isso.Mas ninguém se lembrou que os jornalistas estávamos ali à mão, vigilantes como cães de guarda da cultura. Bastava abrir a boca sobre mudanças de horário que publicaríamos. Mas a única boca que se abriu foi a da sonolëncia. E o pobre do Xpto ficou numa sala vazia, que envergonhava a todo o povo pernambucano. Posso acrescentar que depois do espetáculo, ninguém, nem uma viv’alma, foi dar uma mãozinha para desmontar o cenário, tendo a pobre companhia que lá ficar, carregando todo


o material, cansada após ter dado um espetáculo, retardando o merecido almoço e descanso por mais uma hora. Eu estava lá com eles. Mais? Duas pobres gaúchas- gente de teatro que veio aqui nos mostrar a beleza de seu trabalho - que queriam saber como sair do Apollo para ir correndo para o Sesc Sto Amaro. Convidei-as a vir no horrendo önibus do Morro da Conceição conosco.Tiveram um pouco de medo dos 4 trombadinhas dependurados na entrada. Nem sei se chegaram. Mas amanhã se aparecerem nas folhas policiais, nem me falem de turistas desavisados. Porque precisa ter uma equipe que acolha o pessoal de fora e locais onde possam ter toda informação necessária, por exemplo de como sair do Sesc Sto Amaro às 23 horas da noite e atravessar aquela praça escura de peito aberto. No próximo Festival, por favor, programem espetáculos para que o pessoal da área de Sto Amaro e Casa Amarela possa também ver teatro, sem ter que se deslocar à noite para o centro. Agora, colocar ali, à noite, peças que só podem ser vistas ali, é um ato de crueldade. Claro, não para com as autoridades, pois autoridade tem carro à disposição. Isso nada tem a ver com PT ou política partidária. Pois o discurso de que “ tem que se ter paciëncia, que isso aí leva um certo tempo e coisa e tal”, nós ouvimos por anos. E foi o que quisemos mudar com nosso voto. Então vamos começar as mudanças. O Teatro agradece.


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