03 razões para se ler leibnitz no IAC

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pedro alencar •no princípio:

• era a busca estética; •depois, as conotações político-sociológicas. • no meio: • as pesquisas realizadas no I AC fundamentadas no construtivismo; • depois vieram tábuas, emplastros sabiá, zinco, alumínio. arames pregos: todos, materiais usados.

• no fim

um universo áspero , belo e emocional. “ ao juntar pedaços de materiais diversos foi surgindo a obra com os aspectos políticos inevitáveis. “ •... tudo que nos acompanha desde que nascemos, esse patchwork meio caótico de “jeitinhos’ : emendas/ remendos na Constituição, nas paredes, nas ruas, nos buracos”...


Ah, Sofia

!

•Mônadas não têm janelas •pelas quais algo possa entrar ou sair, •nem buracos, •nem portas. [ Leibnitz, Carta à Prince sa Sophie

06/1700 ]

Ø Pelo princípio monádico de Leibnitz, deve-se invocar a linha de inflexão infinita, que vale por uma superfície, como a encontrada em Pollock ou Rauschenberg. Ø A superfície do quadro, neste último, deixava de ser

uma janela aberta para o mundo, para tornar-se uma tábua opaca de informação à obra na qual se inscreve a linha cifrada [Leo Steinberg, Other Critéria, N.York]

Ø Em Leibnitz, Pollock & Rauschemberg , Ø o quadro janela é substituido pela tabulação. Ø os buracos são substituidos por dobras. Ao sistema janela-campo, opõe-se o par cidade-tábua de informação. Que cifras podem conter essas tábuas? Dou-lhes uma: Um brasil como um imenso emplastro sabiá dobrado por sobre um buraco, na boa metáfora do autor para conter o estado de nossa polis. Dou-lhes duas: Buraco que é negro, acrescentará a obra de Vasconcelos. É sob tais sistemas que se organiza o presente trabalho de Pedro Alencar.

carlos vasconcelos


A mônada leibnitziana seria uma dessas tábuas-pedro-alencar . Ou ela poderia ser também a câmara escura dos Nouveaux Essais, guarnecida por uma tela distendida e diversificada por dobras moventes, viventes. E se não reconhecêssemos aqui o texto de Gilles, seríamos tentados a julgar que fosse a descrição, em grandes linhas, da obra de Carlos Vasconcelos. Da mônada, o essencial é ter um fundo sombrio: dele ela tira tudo, e nada vem de fora ou vai para fora. E assim, posta sua descrição, podemos começar a ler as grandes superfícies em dobras, consumindo luz e obras, em Carlos Vasconcelos . Ele esculpe com fogo materiais do interior de um buraco negro. Uma arte que tenta retrabalhar a geografia calcinada do mapa territorial de nossos eco-sistemas poluidos. Aqui se opera mais uma vez a informação leibnitziana tipo : tábua - cidade X tábua - campo , que já vimos na obra de Pedro Alencar. Onde, porém, estão as tábuas de salvação de Alencar? Boiando no universo líquido-barroso de Breno?? Ou abrasadas, no universo calcinado, já que instaladas numa geopolítica brasileira? Vasconcelos opta pela segunda. Por uma Geopolítica que compreende não somente um brasil em estado beligerante, em permanente guerrilha urbana. Compreende também um sistema educacional de escrituras & leituras desfeito em pó, uma cidadania em desuso... Trabalhar com materiais em desuso; já filosofou também Alencar, sabiamente nos caminhos de Schwitters … Tentar conter o estado de nossa polis. Já que o analfabetismo de nossa elite governante traduziu polis = poluição; calcinando tudo, matas, ar, águas, crianças, passado & futuro. A partir disso, construir... • “inicio meu trabalho com a utilização dos materiais. • interfiro nos elementos para criar tensão. • surgem então, as possibilidades compositivas / expressivas da obra e sua condução. “


A terceira razão?

breno v. de melo •

Breno interfere na história, relendo dois barrocos: o portugues e o brasileiro. Não alusiva, não alegorica, não carnavalizadamente como se marcou todo um “gosto” que encontrou o termo russo belo e justo para se tornar irresponsável. Mas apenas onde ele dobra em Pernambuco. Em Breno, por uma vez, o lugar das cosmogêneses se dá numa curvatura de Koch, onde sua obra é ponto porto entre dimensões, acontecimento à espera de acontecimentos. Breno cuida da alma e do que nela se deposita em séculos:


6 ou sete elementos simples: luz de carne rósea, odor, vazar, reter, ligar, religar ( de religião), conter. Todos elementos formais do barroco do setecentos ao de nossa alma contemporânea. • Thon deu-nos outros nomes para os mesmos acontecimentospadrão: dobras, rugas, borboletas [casulo], caudas [ caldas], umbigos. • Breno nos dá Singularidades barrocas, projetadas em catástrofe dentro de nós, tónéis de segredos: a parcimônia em pequenas colheradas, a alegria espumosa e borbulhante, o recolhimento enfunilado, o receptáculo esgarçado medofêmea, a cúpula ogival quase peniana como melhor forma de penetração em fluidos, como definiram Leibnitz & Newton... • Ir nesse rumo é se instalar, preencher uma arquitetura, um espaço inicialmente dado como fechado, como objeto-suporte da arte. Breno lê Leibnitz e nos faz penetrar num “ conceito instalado”, também ele ao modo de Schwitters, reabrindo os tonéis usados do barroco instalado em nossa pequena alma lusobrasileira. Sua obra é alma-mônada possuida. Nela se instalam corpos-entre-sombra da revolução caravaggiana, Nela se projetam tecidos macios e interiores rasgados das tábuas de Pedro Alencar. Tábuas-corpo, fragmentos daquela Anna Blumme poema: (...)” criatura simples num vestido cotidiano, bemamado animal verde “ (...) Nela, alma brasileira mônada barrocamente possuida, Breno ouve retorcerem- se tóneis quais pássaros- calcinados dos Sete dias da Criação como se registram na sagrada escritura de Cummings:

(...) “Birds( here, inven ting air Breno nos dá enfim, a suprema e única grande lição do barroco. Sim, porque o barroco, como toda coisa bela é simples ( Schwitters já o afirmara do vestido de Anna Flor! ).


Grande mestre, Breno não confunde barro/oco com o ronco/oco, mero canto de galo, rococócócó. Esse último certamente, não é o canto que inventam os pássaros roucos de Cummings. Mestre Breno sabe bem e aqui o instala na alma do IAC: a grande lição e princípio singular do barro/oco é que somos

seres singulares!...

{ ... Somos mônadas ... }

Como singular é a Terra contida entre o céu e a terra. Aquela dentro da qual se estala a obra barrenta de Breno. Aquela, matéria de onde talvez possa vir a se criar o homem. Aquela, Terra, da qual também já falava Heidegger. E apenas dessa; onde se instala, enfim, a nossa arte.


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