TRANSGRESSÃO

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Hoje não dará tempo de responder. Mas apenas perguntar. Tentar situar, dar um situs, um locus, um topos, à transgressividade teatral. IHistória Interna A transgressão moderna se deu 01. no campo da escritura dramática, seguindo toda a mudança da própria literatura.O texto caminhou cada vez mais para a Poética, cada vez menos para a Retórica.S.Beckett e Koltès sào excelentes exemplos de uma Dramaturgia que se afasta radicalmente de toda história anterior. Um texto com marcas fundamentais de leitura (= para ser lido ou na melhor das hipóteses "falado" migrou para a posição de um texto com marcas fundamentalmente visuais(= para ser 'visto' ). Problema maior dos clássicos franceses por exemplo, Corneille, Racine, ótima dramaturgia para ser lida. 02. no campo da posição do teatro como espetáculo Nascimento da Direção, Nascimento da Produção 03. no campo da performance,do trabalho do ator, a compreensão de seu movimento bio-mecãnico via Meyerhold, a absorçào da precisão e linguagem Katakali via Artaud, a assunção do Gestus distanciador via Brecht. 04. A função poética re-inscrevendo o campo da cenografia,iluminação,sonoplastia, figurino, maquiagem: O cenário desocupando o espaço da descrição,pela invenção dos praticáveis, a Luz e o Som tornandose definitivamente Objetos de Cena, seguindo regras de geometria espacial e não mais geometria plana . Aquela que os definia como "auxiliares " de cena, auxiliares da performance..breve: auxiliares, segundos, ocasionais. Fenömeno semelhante se passando ao mesmo tempo com o Figurino e maquiagem não mais como "anexos" ao corpo do ator, mas partes de sua performance. Alguns desses aprendizados nos vindo pelo contato com outras formas de Teatro como o Khatakali, o Kabuki, o Nó etc 05. 06. ss 07. IIHistória Externa Cinco caminhos parecem transgredir a História externa do teatro, ou a sua público, uma sociedade, um tempo. 01. Quebra do Palco Italiano: o music-hall 02. Saída do Palco Italiano: o Teatro de rua dos anos 60 03. A especialização do Público 04. A especialização do Ator 05. Aa especialização do texto

01. Onde está sua origem? De que lugar estamos falando?

história de relaçào com um


Transgressão: 1. 2. 3.

regressão progressão agressão

02. O quë ou Como transgride o teatro? 1. trasngride uma época? 2. transgride uma moral? 3. transgride uma ética? 4. transgride uma linguagem?( liguto Marchuschi) ( necessidade de um "espaço" para a linguagem transgredir, uma sintaxe, uma gamática, uma verdade.) O pragmatismo pode talvez nos indicar um desses espaços internos à linguagem onsde ela se realiza como transgressão: no conceito de verdade como "üso") 5. transgride um topos semiótico? (magia das palavras( "eu sou Dyonisios"/hipostasias de signos) teatro de sublimaçào de Artaud/teatro de Gestus( brecht) 03. Quem transgride o quë? 1. A "gens" dos Transgressores: Autor, Ator, Diretor,Cenógrafo, Sonoplastas... 2. Os "coletivos" ä. A Companhia e seu Palco Italiano b. A tropa medieval (arte-educação/ grupos confessionais\ teatro político) c. A tribo da Rua (festival de rock) d. A Gang do Improviso- o fazer ao acaso. A verdade da linguagem pelo seu uso O Acaso e a Necessidade. (Nietzsche) 3. O Público ( favor desligar os celulares) 04. O teatro compreende,como toda arte, ao menos uma origem, ao menos uma obra, ao menos um artista e ao menos um público. Como pode uma origem ser transgressora? Como pode a Obra ser trasngressora? Como pode o artista ser transgressor? Como podem os receptores ser trasgressores?


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das origens ou porque leio Bacantes e Medéia juntos.

Transgressão em Artes cênicas é apenas uma idéa orientadora e não um conceito no sentido estrito do têrmo.Além do mais está limitado à tragédia e está registrado por Aristóteles em sua Poética como hamartia.Eixo da hamartia é que um herói não comete uma falta por causa de sua perversidade, mas por causa de um outro êrro que ele tenha cometido efetivamante no passado.( Poética $ 1453 a ) Alguns autores como Verant (1972:38) e Pavis ( Pavis:1987: 187 ) vêm essa colocação com uma certa extranheza e ambiguidade. Vernant vai religar a hamartia a duas visões. Uma, religiosa, mais antiga, da falta-como-sujeira. Na qual hamartia era o delírio enviado pelos deuses, que levava ao crime. A segunda, mais recente ( para os gregos, claro) em que hamartia é definida como adikia, onde quem comete um delito o comete tendo sido levado a isso, deliberadamente. Da hamartia–delírio temos bom exemplo no assassinato de Pentasileus nas Bacantes. Que aí ,ou em qualquer tragédia , hamartia tenha algo a ver com a noção religiosa de culpa-sujeira, é um pouco exagerado. A Grécia, sobretudo essa do incitado e retórico Aristóteles, um século após suas melhores descobertas artísticas, não é uma Grécia tão religada assim às suas antigas origens religiosas. O autor desse delírio que é as Bacantes , não se deve esquecer, é do mesmo tempo que escreveu a anti-Bacantes, ou Medéia. Sei que de vez em quando voce encontra uma Medéia em nossos palcos cheia de antiga piedade religiosa e movida por uma fúria que parece o delírio. Mas certamentre essa não é a de Eurípedes. Nunca é demais lembrar: a hybris é essa marca da ação do herói trágico, um “ orgulho ou arrogância funesta” que o leva a enfrentar os deuses, determinando assim sua própria perda.


A hibris é também essa marca de duplo – palavra artaudiana mais bem informada que “dúbio”, apesar de ambas literalmente significarem a mesma coisa. De que duplo se trata, no caso do personagem, senão do fato de serem inicialmente, como Dionisos e Medéia, semi-deuses? O que se trata em ambas tragédias portanto nada mais é que a perda,a falta, o êrro dos próprios deuses. Dionisos erra por insistir em ser reconhecido Deus. Medéia , por insistir em , pelo menos uma vez em sua vida agitadamente criminosa enquanto “híbrida” , não usar de seus poderes divinos. Ou alguém ai que pretenda conhecer psicologia feminina, ainda dirá que o mais belo ( e mortal ) vestido de Medéia, foi mesmo presente dela à pobre de sua jovem rival! Não seria mais justo atribuir esse plot inteiramente à rival? O foco de Medéia é ela mesma.É sua hibridez, não mais aceita. A cobiça , a inveja, para terminar de vez com toda essa história pessoal, finalmente não são mais suas características. Medéia está purificando-se, se quisermos usar a linguagem religiosa antiga- e não cabae nela mais nenhuma falta. É o que ela pensa e espera. E aí poderemos entender melhor a esseência do trágico naquela decisão- consciente-e naquele peso que pesava sua mão quando pegou no punhal e o dirigiu contra seus próprios filhos.Ou contra si- mesma, convenhamos! Temos mesmo, portanto, que considerar que foi enorme o esforço dos helenos para se livrar dos antigos deuses nesse pouco espaço de tempo de um século, do V ao VI aonde vamos encontrar nosso testemunha dessas coisas todas e meu amigo pessoal, o sr Aristóteles. Ora, se acharmos tão estranha a visão de Aristóteles, certamente acharemos extranho também Freud , que está mais para Aristóteles da Poética que o Aristóteles da Retórica, de onde Vernant tira sua adikia..


2 como é bão ser moderno! Essa olhada para a transgressão contudo, advém como uma das consequências trágicas para as ciências humanas e outras mais desumanas do state of art dos estudos linguísticos antes do advento da moderna linguística com F. Saussure(1). Dos estudiosos dessa linhagem que o precederam- dos quais temos dois admiráveis exemplares nas figuras de Nietzsche e Heidegger - que acabaram , para nossa sorte, se dedicando à filosofia e não a seus estudos iniciais. Não sem deixarem suas filosofias profundamente marcadas por isso também.

_________________________________ (1) Saussure , como sabemos todos, fundeou uma linguística à base fonológica e ancorada no nascente modelo estrututralista.


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