ATLAS Presença-ausência LGBTQIA+ no Centro Novo de São Paulo
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ARQUITETURA, URBANISMO E DESIGN CURSO DE ARQUTIETURA E URBANISMO
ATLAS Presença-ausência LGBTQIA+ no Centro Novo de São Paulo
MURILO AUGUSTO PERDIGÃO MARTINS ORIENTADORA: PROFA. DRA. KARINA OLIVEIRA LEITÃO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO SÃO PAULO 2020
Agradecimentos À minha professora, orientadora e amiga Karina Leitão, que sempre me causou admiração e gratidão por poder aprender tanto com a pessoa maravilhosa que é.
À querida Vanessa, que aceitou participar da banca. Obrigado por ter me ensinado tanto no ano que estivemos juntos no DPH. Você tem um lugar guardado dentro de mim.
À querida professora doutora Flávia, que aceitou participar da banca. Suas disciplinas foram de grande importância para minha a construção profissional e pessoal.
À minha mãe, Angela, que sempre esteve ao meu lado, em todos os momentos altos e baixos que esta faculdade me proporcionou. Sem você, eu não conseguiria chegar onde cheguei.
Ao Walter, meu companheiro de todos os dias, que deu todo o suporte que eu precisava em diversos momentos da minha graduação. Você faz parte de quem eu sou.
À Julia e ao Renan, que estão há anos comigo e sei que levarei a amizade de vocês para sempre.
À Bianca e ao Lyon, que tiveram convivência intensa comigo durante minha formação na FAU e hoje são amigos pessoais. Sei que posso contar com vocês para todas as minhas dificuldades, assim como estarei aqui para vocês sempre que precisarem.
À todos os meus grandes amigos que conquistei na FAU. Vocês foram incríveis e, se estiverem lendo isso, é porque são extremamente importantes para mim. Sem cada um de vocês, eu não conseguiria finalizar este ciclo.
À minha equipe da Atec, que esteve comigo na reta final da graduação e se tornaram amigos pessoais.
À todos os meus professores que, em algum momento, foram responsáveis por me fazer crescer como estudante, profissional e ser humano.
À todos aqueles que participaram da minha trajetória e estiveram comigo quando foi preciso. Muito obrigado.
Sumário 10 13 21 27 33 65 71 111 114
Resumo Introdução Contracartografia O Centro Novo de São Paulo História LGBTQIA+ em São Paulo no Século 20 Sintetizando histórias e lugares Desbravando o Atlas Referências Imagens
Resumo Neste trabalho final de graduação (TFG), você encontrará um Atlas sobre a história da população LGBTQIA+ no Centro Novo de São Paulo desde o início do século XX. Como morador da cidade de São Paulo desde o meu nascimento e membro da comunidade LGBTQIA+, me senti motivado a traduzir minha vivência em finalização da minha graduação. Para sua realização, foi necessário entender como produzir um Atlas que explore diferentes contextos de transformação social, política e econômica, em momentos de crise, de conflito e de resistência. Também foi necessária a compreensão das dinâmicas da população LGBTQIA+ ao longo do século passado, compreendendo seus locais de sociabilidade, de luta, de presença, de ausência e de comemorações. Com estas informações, foi possível pensar neste objeto que sintetiza imagens, mapas, fotos, ilustrações, jornais, etc. O observador pode, com o Atlas junto deste caderno, apreciar fragmentos da história da população LGBTQIA+ na cidade de São Paulo. O Atlas permite o livre trajeto com o olhar, buscando pontos de interesse, que chamem atenção ou instiguem curiosidade. A leitura pode ser livre, sem linearidades preestabelecidas, pois esta desordem é equivalente à história da população LGBTQIA+ no Centro Novo: em um momento comemorando, em outro sentindo as dores - ou ambos ao mesmo tempo. 10
Abstract In this Final Degree Project, it is going to be presented an Atlas of the LGBTQIA+ history in São Paulo’s New Downtown from the beginning of the 20th century to nowadays. As a resident of the city of São Paulo since my birth and a member of the LGBTQIA+ community, I felt motivated to do a research about it and initiate this project. For its realization, it was necessary to understand how to create an Atlas that explores different contexts of social, political and economic transformation, in moments of crisis, conflict and resistance. It was also necessary to understand the dynamics of the LGBTQIA+ population over the past century, including their places of sociability, struggle, presence, absence and celebrations. With this information, it was possible to synthesizes images, maps, photos, illustrations, newspapers, etc. With the Atlas next to this notebook, the observer can appreciate fragments of the LGBTQIA+ history in São Paulo city. The Atlas allows you to look around freely, looking for points of interest that attract attention or instill curiosity. The reading can be free, without pre-established linearities, as this disorder is equivalent to the LGBTQIA+ history in New Downtown: one time celebrating, another feeling the pain - or both at the same time.
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Introdução Minha intenção com este trabalho foi executar uma síntese de estudos que realizei durante a minha formação na FAUUSP a respeito da comunidade LGBTQIA+ em São Paulo. Entende-se por LGBTQIA+: Lésbicas (mulheres que tem relações sexuais e/ ou amorosas com outras mulheres), Gays (homens que tem relações sexuais e/ou amorosas com outros homens), Bissexuais (homens ou mulheres que tem relações sexuais e/ou amorosas com homens e mulheres), Transgêneros (pessoas que não se identificam com o gênero designado ao nascer), Queer (pessoas que não se identificam com os padrões heteronormativos da sociedade), Intersexuais (pessoas com anatomia reprodutiva ou sexual que não corresponde às definições típicas de “mulher” ou “homem”), Assexuais (pessoas que não sentem/sentem raramente atração sexual e/ou amorosa por outras) e o “+”, responsável por englobar todos os outros aspectos de gênero, sexualidade e condições biológicas não correspondentes ao padrão heterossexual e cisgênero1. Como integrante dessa comunidade e morador da cidade de São Paulo desde meu nascimento, sempre me interessei pelas histórias e conquistas que meus semelhantes realizaram. Também sempre me perguntei como aqueles locais de presença LGBTQIA+ que frequento chegaram ali: se sempre existiram, se são novos, se deixaram de existir e passaram a existir novamente. Ou, então, quais locais não frequento hoje, mas outros frequentavam quando eu ainda não era nascido. 13
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Mais informações a respeito de gênero, sexualidade e condição biológica disponíveis em https:// www.grupodignidade.org.br/wpcontent/uploads/2018/05/manualcomunicacao-LGBTI.pdf. Acesso em junho de 2020.
O meu interesse por este campo de pesquisa me levou a participar do coletivo PISA: cidade+pesquisa, antigamente conhecido como “SP Safari”. Junto a outros pesquisadores e ao professor doutor Renato Cymbalista, desenvolvemos percursos urbanos explorando a história da comunidade LGBTQIA+ no Centro Novo de São Paulo. O projeto rendeu parcerias com a prefeituras de São Paulo e o Sesc (Serviço Social do Comércio). Durante a realização das pesquisas que levaram à execução dos percursos, entrei em contato com livros, revistas, jornais, fotos, ilustrações etc. a respeito do assunto. Essa riqueza, por assim dizer, me despertou o desejo de, no meu trabalho final de graduação, sintetizá-las em algum material até então desconhecido. Com a orientação da querida professora doutora Karina Leitão, entrei em contato com diversas ferramentas que poderiam me ajudar nesta síntese. Entre elas, estava o “Atlas Mnemosyne”, de de Aby Warburg (1866-1929). Naquele momento, decidimos que a realização de um Atlas seria a maneira mais interessante de executar este trabalho de finalização. Ele seria responsável por unir fragmentos de histórias, imagens e registros em formato panorâmico, causando um novo entendimento sobre a memória das pessoas e da cidade. Mas o que significa um “Atlas”? E por que escolhê-lo para sintetizar tantas camadas de história da população LGBTQIA+? Para responder estas perguntas, parti do compreendimento do trabalho de Aby Warburg, historiador das artes, antropólogo e conhecido como o pai da iconologia moderna. Na fachada de sua biblioteca em forma elíptica, edificada em 1926, estava gravado a palavra “Mnemosyne”, a mesma que intitula seu trabalho de maior orgulho. 14
O “Atlas Mnemosyne”, iniciado em 1924, discute as intermitentes perspectivas de significados e símbolos presentes na arte ocidental. O interesse de Aby Warburg (2012) pela Antiguidade Clássica e pelo Renascimento guiaram a execução do trabalho. Agrupado por temáticas, o Atlas contava com 63 painéis, executados pelo antropólogo até seus últimos dias de vida. A obra reuniu cerca de 900 imagens (principalmente fotografias em P&B), sendo todas reproduções fotográficas. Dentre as obras reproduzidas estão pinturas, esculturas, monumentos, edifícios, afrescos (pintura feita diretamente sob o gesso ou cal ainda úmidos), baixos-relevos (esculturas realizadas pela subtração de material em paredes e fachadas), gravuras, grisailles (pinturas monocromáticas) e iluminuras (arte realizada sob a primeira letra de um parágrafo, geralmente presente em pergaminhos medievais). Além destas reproduções, a obra incluía recortes de jornais, selos postais e moedas com efígies (representações de uma pessoa). Warburg organizou este conteúdo sob painéis de madeira, cobertos por tecidos pretos. As imagens não estavam dispostas necessariamente em ordem cronológica nem em ordem linear de leitura. Talvez este seja um dos pontos que faz deste Atlas uma obra única. A interpretação dos painéis está a cargo do espectador. Imagens, que a princípio não se conectam, passam a fazer sentido quando unidas em uma mesma obra. As imagens por si só não são capazes de nos passar sua complexidade cultural e social. Mas a junção, feita por Warburg, é capaz de fazer com que nos deparemos com reflexões antes não reveladas; contrastes e complementaridade até então 15
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desconhecidas. As imagens entram em diálogo no tempo e no espaço de uma longa história da cultura ocidental. Até a década de 1920, poucos eram os trabalhos que cobiçavam unir tantas ferramentas de linguagem em uma única obra. Tal ineditismo trouxe à Aby Warburg o título de “pai da iconologia moderna”, reconhecido pelos mais diversos historiadores e antropólogos contemporâneos. O “Atlas Mnemosyne” passa a ser peça fundamental para a elaboração do trabalho aqui proposto. Seria impensável da parte de qualquer pesquisador, ao propor a realização de um Atlas, não olhar para a obra de Aby Warburg. São as relações entre signos, propostas na obra, que nos abrem portas para expor relações sociais de precariedade, subjugação, exclusão e marginalização. O Atlas proposto traz a tentativa de revelar como as imagens podem produzir pensamento. Como ferramenta de execução, o Atlas une diversos meios de comunicação humana com outros modos lógicos de se pensar o mundo e de se organizar socialmente. Ou seja, aqui se coloca a tentativa de dar conta de um universo de perspectivas sobre um mundo ou uma sociedade por meio do uso de ferramentas de comunicação: imagens, textos, desenhos, mapas, etc. Entretanto, essas ferramentas não podem ser colocadas aleatoriamente, muito menos sem um significado próprio. Em outra direção, mas ainda se tratando de um Atlas, está o livro de Jorge Luis Borges com María Kodama (1984), intitulado “Atlas”. 17
No livro, Borges narra diversas viagens que realizou com sua companheira, Kodama, pelo globo. A descrição realizada pelo autor é curta, com poucas palavras, mas condensada em sentido. Como Borges havia perdido a visão antes de começar suas viagens, suas narrativas são inconvencionais se comparadas com as de videntes. A ausência iconográfica implica em uma maior precisão do material verbal. A precisão e a densidade de Borges, no entanto, são responsáveis por causar a reflexão: “será que não sou eu o cego, incapaz de ver além do que meus olhos me oferecem?” Borges nos lembra que a imagem, mesmo que exaltada dentro da formação de arquiteto e urbanista, pode ter a mesma força interpretativa que outros elementos presentes em um Atlas. Portanto, Borges tem papel fundamental no entendimento do papel verbal do Atlas. Este caderno, assim como as legendas que acompanham o Atlas, são responsáveis por complementa-lo, ao mesmo tempo que introduz o tema ao observador. Em outra mão, o estudo de Aby se torna essencial para que a iconografia seja coerente e assertiva, dando conteúdo e qualidade ao desenvolvimento deste Atlas.
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Contracartografia Como a história da população LGBTQIA+ não é uma história compartilhada, ou seja, não é uma história conhecida e divulgada, a construção de uma cartografia minimamente representativa não deve seguir padrões hegemônicos. Para a realização das cartografias existentes neste Atlas, é necessário compreender o conceito da contracartografia.
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MESQUITA, André. Contracartografia e a experiência de mapear o poder. São Paulo, 2017. Disponível em http://www. ct-escoladacidade.org/
Uma contracartografia tem como papel confrontar mapas geopolíticos, a fim de expor as relações de domínio e exploração capitalista e os movimentos de libertação presentes no território observado. Ela é capaz de traçar diagramas, ligando protagonistas das redes globais de poder, empresas e transações financeiras da sociedade informacional, podendo ir além da geografia física. Todos estes fatores fazem da contracartografia um instrumento útil, e muitas vezes necessário, para estudar e compreender espaços de precarização e zonas afetadas por uma série de problemáticas sociais e econômicas, tais quais áreas de presença e ausência da população LGBTQIA+ em São Paulo. Como objetivo deste Atlas, está o enfraquecimento de interpretações rasas e hegemônicas quanto à sociabilidade do grupo estudado na cidade. Desta maneira, torna-se possível incluir lógicas políticas, sociais e econômica, para desvendar contradições e invisibilidades dentro da área abrangida. Como descrito pelo historiador André Luiz Mesquita, “uma contracartografia é 21
contracondutas/editorias/mapasimagens-e-intervencoes-praticasde-oposicao/contracartografia-e-aexperiencia-de-mapear-o-poder/. Acesso em julho de 2020.
menos um objeto visual que acumula informações, e mais uma oportunidade de ir além da própria representação dos mapas tradicionais para gerar diálogos e descobertas”2. 3
Assim como diversos recursos visuais, os mapas apresentam uma antítese complexa - eles podem ser usados como ferramentas de dominação e opressão, assim como ferramentas para construir uma sociedade mais justa. A prática da contracartografia está diretamente associada à criação de mapas que desafiam padrões e suposições espaciais dominantes, criando um novo modo de mapeamento. O Grupo de Arte Callejero (GAC)3, coletivo fundado em Buenos Aires em 1997, é um objeto de estudo rico para a compreensão do impacto das contracartografias. Sua atuação manteve-se em torno das denúncias de agentes coercivos previamente invisíveis. Em conjunto com o H.I.J.O.S. (Grupo formado por filhos de desaparecidos e exilados durante o período de “Guerra Suja” do terrorismo de Estado do regime militar argentino), o GAC desenvolveu um mapeamento capaz de levar à condenação social e ao constrangimento público os torturadores anônimos da Ditadura Militar argentina (1976-1983). O combustível para o desenvolvimento desta contracartografia foi o sentimento de impunidade, causado pela ausência de julgamento legal aos colaboradores do regime. O mapa desenvolvido pelo GAC mostrava os nomes e os endereços de centenas de genocidas participantes da Ditadura Militar. Ele foi exposto anonimamente em ruas de Buenos Aires, sendo constantemente atualizado por 5 anos. Em depoimento dado por um dos integrantes do 22
Informações e trabalhos do coletivo disponíveis em https:// grupodeartecallejero.wordpress. com/. Acesso em janeiro de 2020.
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GAC ao documentário “No reconciliados” (EXPÓSITO, 2009), fica claro o desdobramento e impacto causado pela contracartografia: “quando [este mapa] apareceu na rua, as pessoas se amontoaram ao redor [dele] para olhar, para buscar quem morava perto de suas casas”. Este registro cartográfico, utilizando ferramentas visuais como instrumento de compilação e denúncia, foi denominado pelo GAC de “mapa de acumulação de ações e lutas”. Uma contracartografia pode também contar com a dinâmica colaborativa, ou seja, com a ajuda de outros agentes sociais. Este é o caso do coletivo chamado “Iconoclasistas”4, formado em Buenos Aires em 2006 pela comunicadora Julia Risler e por um ex-integrante do GAC, o desenhista Pablo Ares. O coletivo combina pesquisa teórica e artes gráficas em oficinas de mapeamento com estudantes e movimentos sociais. A partir de relatos coletivos ou problemáticas locais, as oficinas são realizadas a fim de gerar panoramas visuais, nas quais o olhar pela cidade transita por diferentes focos e polarizações entre corporações e cidadãos, entre consumo e participação política, entre a exploração de recursos naturais e fontes alternativas de energia. Contracartografias produzidas coletivamente criam instâncias de participação popular, tornando os mapas mais heterogêneos. Os agentes envolvidos, sejam eles habitantes locais, frequentadores da região observada ou coletivos envolvidos nas causas estudadas, podem sugerir diferentes dados relevantes para o mapa, a fim de desenvolver uma nova estética de mapeamento cognitivo e a discussão de novos assuntos a serem cartografados. 25
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Informações e trabalhos do coletivo disponíveis em https:// iconoclasistas.net/. Acesso em janeiro de 2020.
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O Centro Novo de São Paulo O Centro Novo de São Paulo corresponde ao que conhecemos como o distrito da República, limitado municipalmente pelas avenidas Duque de Caxias, Prestes Maia, Vinte e Três de Maio, pelo viaduto Júlio de Mesquita Filho e pela rua Amaral Gurgel (TOLEDO, 1996). Como é no Centro Novo que a comunidade LGBTQIA+ dá seus primeiros sinais de existência na cidade de São Paulo (GREEN, 2005), este é o recorte espacial utilizado no Atlas. Está região não só é onde aparece publicamente pela primeira vez a comunidade LGBTQIA+, como também é um dos locais mais frequentados por ela até a execução deste trabalho.
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Os textos escritos fazem parte de um compilado chamado “Histórias dos Bairros”, disponível em: http:// jornadadopatrimonio.prefeitura. sp.gov.br/abertura_2020/index. php/bairros/. 6
Entende-se por triângulo históricos a região formada pelas ruas Direita, São Bento e 15 de Novembro.
Torna-se necessário, portanto, o entendimento prévio das dinâmicas espaciais dessa região. Assim, compreendemos o território como ele é: um acúmulo de camadas, sendo algumas mais visíveis e conhecidas do que outras. Durante meu estágio no Departamento de Patrimônio Histórico da cidade de São Paulo, em conjunto com Vanessa Correa, escrevemos textos5 a respeito de diversas regiões da cidade e, entre elas, o Centro Novo de São Paulo. Tal conhecimento possibilitou a redação desta parte do caderno. O surgimento de outras centralidades em São Paulo, para além da região do triângulo histórico6 da cidade, se deu a partir do século 19, no qual São Paulo passou por um rápido crescimento (BEM, 2006). A produção cafeeira no interior paulista impulsionou o crescimento e a importância política da 27
cidade. A chegada de imigrantes, da ferrovia e o capital acumulado do café permitiram o início da industrialização. Também foi a época de construção de prédios icônicos e a modernização da paisagem paulistana. Naquele momento, São Paulo passou por dois movimentos ao mesmo tempo: expansão e verticalização (BEM, 2066). Atravessar o vale do rio Anhangabaú era uma necessidade e para isso foram construídos o primeiro Viaduto do Chá, em 1892, e o Viaduto Santa Efigênia, em 1913 (SEVCENKO, 2000). Concomitantemente, ocorreram uma série de intervenções que visavam modernizar e embelezar a cidade. O Theatro Municipal, inaugurado em 1911, se tornou o símbolo de modernidade e foi responsável pela formação de um novo eixo cultural. Sua construção estimulou o crescimento do Centro Novo, ampliando-se comércio e serviços, como hotéis luxuosos, a exemplo do antigo Hotel Esplanada, e dos desativados Hotéis Central e Britânia. Localizados na avenida São João, estes foram erguidos na década de 1910 com arquitetura eclética inspirada no barroco francês. Em 1925, foi fundada a Biblioteca Municipal de São Paulo, hoje Biblioteca Mário de Andrade, importante referência cultural dessa área (SEVCENKO, 2000). Outro marco no desenvolvimento do Centro Novo é a Praça da República. Sua história se inicia no século 18, quando era chamada de Praça das Milícias e utilizada para treinamento militar. No século seguinte foi palco de touradas e cavalhadas. Recebeu o nome atual em 1889, após a Proclamação da República. Logo depois, em 1894, foi construída a Escola Normal Caetano de Campos e, desde 1978, o edifício abriga a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (TOLEDO, 2007). 28
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No início do século 20, com a expansão da cidade, foram propostos diversos projetos urbanísticos que objetivavam organizar seu crescimento. Entre os mais conhecidos está o Plano de Avenidas, da década de 1940, implantado pelo urbanista e prefeito Prestes Maia. O plano visava modernizar e preparar a cidade, em meados do século 20, para receber o novo modelo de transporte que se intensificava: o automóvel. Ele foi responsável por abrir e alargar diversas avenidas, entre elas as Avenidas Ipiranga, São Luís, Dona Maria Paula e Senador Queiroz (TOLEDO, 1996). O Plano de Avenidas foi importante na consolidação da região da República, Consolação e uma parte da Bela Vista como uma centralidade comercial e verticalizada. Incentivou-se, também, a construção de galerias comerciais, edifícios de uso misto e torres altas ao longo das vias arteriais. Eram nesses locais que a população da cidade se reunia no início do século 20. Pertencente a esta população, a comunidade LGBTQIA+ também os frequentavam mesmo que, inicialmente, camuflada (TREVISAN, 2004). Já em meados do século, a comunidade passa a ser notabilizada publicamente (PERLONGHER, 1987). Encontros e reuniões, antes ocultos, se tornam parte da paisagem e assim permanecem até os dias atuais, justificando a execução deste trabalho.
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História LGBTQIA+ em São Paulo no Século 20 Para a execução do Atlas foram escolhidos fragmentos de histórias presentes em pontos que condensam e narram a complexidade da população LGBTQIA+ no Centro Novo de São Paulo no século 20. Outros países da América também passavam pela mesma situação que o Brasil. A partir da metade do século passado, grupos homossexuais e transexuais passaram a se reunir publicamente, marcando presença em grandes metrópoles (TREVISAN, 2004). Entretanto, assim como aqui, essa presença foi e é marcada pela resistência constante do setor público e civil, expressa por todas as formas possíveis de violência: física, verbal, emocional, etc7.
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Segundo pesquisa feita pela ONG “Grupo Gay da Bahia”, em 2018, uma pessoa LGBTQIA+ morreu a cada 20 horas no Brasil por motivos discriminatórios. Pesquisa completa em: https:// grupogaydabahia.files.wordpress. com/2019/01/relat%C3%B3riode-crimes-contra-lgbt-brasil-2018grupo-gay-da-bahia.pdf. Acesso em maio de 2020. 8
Felizmente, a comunidade LGBTQIA+ não foi vencida pelo conservadorismo. Em 28 de junho de 1969, gays, lésbicas, travestis e drag queens frequentadoras do bar Stonewall Inn., nos Estados Unidos, se cansaram da repressão policial contundente feita pela polícia. Após mais uma batida policial com o objetivo de apreender membros da comunidade, frequentadores começaram com pequenas desobediências que terminaram em uma rebelião. Pelos seguintes seis dias, milhares de manifestantes tomaram as ruas em busca de justiça e respeito à população LGBTQIA+8. Este episódio é considerado o marco zero do movimento LGBTQIA+ contemporâneo (CARTER, 2004) e, por isso, o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+ é comemorado em 28 de junho. 33
Notícia detalhada do evento disponível em: https://www.bbc. com/portuguese/geral-48432563. Acesso em maio de 2020.
Quanto à presença da população LGBTQIA+ no Centro Novo de São Paulo, já na década de 1990, o que antes poderia se chamar de “gueto” se transformou em um mercado mais sólido (FRANÇA, 2006). Além das casas noturnas direcionadas ao público, já presente antes de 1990, surgem também atividades mercantis envolvendo uma mídia segmentada, festivais de cinema, agências de turismo, livrarias, programas de televisão, canais a cabo, inúmeros sites, lojas de roupas, etc. Junto deste mercado, cunha-se o termo “GLS”, utilizado principalmente para definir um grupo consumidor. Originário do “friendly” americano (FACCHINI, 2005), o S da sigla indica “simpatizantes”, numa intenção de expandir as fronteiras do “gueto”, abraçando também consumidores que não se identificam como gays (G) ou lésbicas (L) mas que, de alguma forma, poderiam usufruir desse universo. A sigla pretendia abarcar o maior número de consumidores e usuários potenciais. Esta intenção também é um dos motivos pelo qual essa sigla caiu em desuso, na tentativa de desassociar diretamente a comunidade homossexual, bissexual e transexual de conceitos mercadológicos e consumistas. Já a pesquisadora Isadora Lins (2006), em seu livro “Cercas e Pontes”, reconhece a região da Praça da República e adjacências como área frequentada pela até então chamada “comunidade GLS”, reunindo opções de lazer e servindo de ponto de encontro para este público. A região teve seu momento de “refloreio” em meados da década de 1990, após ter passado pelos turbulentos anos de 1980, em que a pandemia de HIV/AIDS chegou ao Brasil e causou o esvaziamento do território. Já em meados dos anos 2000, a região se popularizou novamente dentro da comunidade LGBTQIA+ paulistana, tornando-se referência na cidade de São Paulo.
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Porém, os primeiros relatos da presença da comunidade nesta região são bem anteriores a 1990. Em seu livro “Além do Carnaval”, o historiador James N. Green (2000) utilizou fontes do Instituto de Criminologia de SP para localizar áreas que, nas primeiras décadas do século XX, eram caracterizadas pela presença de homens em busca de contato sexual com outros homens. James passa a associar a área como uma “mancha”, envolvendo regiões como o Vale do Anhangabaú e a Praça da República - ambos, pertencentes ao Centro Novo da cidade de São Paulo. Segundo o antropólogo José Guilherme C. Magnani (2002), o conceito de “mancha” define-se pelo entendimento, no imaginário popular, de que uma região é frequentada por um grupo específico unido por nacionalidades, religiões, gêneros, orientações sexuais ou qualquer outra característica que motive tal união. A mancha do Centro Novo se tornou o local em que conviviam (e ainda convivem) diversos tipos de estabelecimentos destinados a atrair a comunidade LGBTQIA+. A maior parte destes estabelecimento teve como limite, de um lado, o Largo do Arouche e toda a extensão da Avenida Vieira de Carvalho, até a Praça da República, ocupando também suas travessas, como a Rua Aurora e a Rua Vitória, onde disputavam espaço com cinemas de sexo explícito e botecos não apropriados pelo público LGBTQIA+. Esta região também se tornou o foco central desta comunidade na metade da década de 2000 (FRANÇA, 2006), expandindo seus braços para a Rua Rego Freitas, com três casas noturnas e um “Shopping GLS”, o “Victor, Victória”; para a Rua Marquês de Araújo, com a casa “ABC Bailão”, marcada por seus frequentadores mais velhos; para a região das ruas Santo Antônio e Martinho 37
Prado, que contam com bares e danceterias destinadas a lésbicas, como o “Quero Mais” e “Êxtase”, e que já abrigou o primeiro bar de frequência lésbica da cidade, o “Ferro’s Bar”; e para a Avenida São João e Ipiranga, com cinemas que exibem filmes de sexo explícito entre homens. Também havia, na Avenida Amaral Gurgel, a casa “Blackout - Club de Orgias Gay”, um estabelecimento em que só era permitida a entrada de homens e oferecia como principal atrativo a possibilidade de sexo grupal. Desde o início do século XX, esta mancha ocupa quase a mesma localização geográfica, estando já incorporada ao cotidiano do Centro Novo de São Paulo. Um dos locais mais conhecidos dessa mancha é o Largo do Arouche e seus arredores. Durante a década de 1970, as classes sociais mais abastadas da sociedade paulistana frequentavam o Largo e seus estabelecimentos: restaurantes e bistrôs como o “Gato que Ri” e o “La Carosella”, o mercado de flores, hotéis, bares, etc. Nos arredores do Largo também estavam presentes bordéis, pontos na rua de prostituição feminina e, no centro do Largo, um enorme banheiro público. Juntos, estes fatores favoreceram a presença da comunidade no Arouche, marcando-o como um dos mais importantes locais de sociabilidade LGBTQIA+ de São Paulo. Primeiro, era na alta sociedade paulistana (também conhecida por “boemia paulistana”) que alguns membros da comunidade conseguiram o mínimo de aceitação a partir de 1960 (GREEN, 2005). A classe social, neste contexto, “falava mais alto” que a sexualidade, permitindo que pessoas LGBTQIA+ participantes das elites pudessem dividir e compartilhar os espaços de convivência predominantemente heterossexuais. Enquanto isso, fora dessa bolha, a opinião pública e o senso comum ainda apontavam a homossexualidade como algo anormal, pervertido. Apenas em 1990 a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da lista 38
de doenças internacionais9. Enquanto isso, a transexualidade deixou de ser considerada internacionalmente como doença apenas em 2018, após anos de luta desta comunidade10. 9
Com relação à prostituição feminina, ela atuava como fachada para homens que não queriam ser lidos como homossexuais (PERLONGHER, 1987). Caso um rapaz estivesse frequentando o Largo pela sociabilidade homossexual e algum conhecido ou indesejado o avistasse, ele facilmente poderia entrar em algum bordel e “limpar” qualquer desconfiança de que ele fosse homossexual. Assim, é no meio do ambiente heterossexual que mais se tornava fácil não parecer homossexual. O banheiro do Largo era considerado como um dos locais de maior destaque (PERLONGHER, 1987). Nele, a prática do cruising (relação sexual que acontece geralmente em locais públicos em que as partes não se conheciam previamente) foi responsável por deixá-lo conhecido pela cidade toda. Relatos presentes do livro de Perlongher comparam o banheiro do Largo do Arouche à “sodoma”, cidade marcada historicamente pela libertinagem sexual. Da mesma forma que o banheiro do Arouche ficou conhecido pelo sexo, outros tantos lugares da cidade foram marcados pela prática. Banheiros como os da Praça da República, Praça da Sé e Largo do Paissandú fizeram tanto sucesso quanto (GREEN, 1999). Hoje, estes banheiros não existem mais pois foram desativados pelo Estado. O Largo do Arouche abrigou boêmios, artistas e homossexuais que, no contexto cultural, encontraram um ponto de referência para papos, bebidas, paqueras e encontros. Daí surgiu, em 1960, o famoso bar Caneca de Prata, 39
Matéria sobre 30 anos da retirada da homossexualidade da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID) disponível em: https://www. cartacapital.com.br/diversidade/ ha-30-anos-oms-retiravahomossexualidade-da-lista-dedoencas/. Acesso em maio de 2020. 10
A Organização Mundial da Saúde (OMS) deixou de considerar a transexualidade como um transtorno mental segundo a edição de 2018 do CID. Disponível em: https://brasil.elpais.com/ brasil/2018/06/18/internacional/ 1529346704_000097.html. Acesso em janeiro de 2020
conhecido, hoje, por ser um bar frequentado pelo público de mais de 45 anos (possivelmente, frequentado pelas mesmas pessoas desde sua inauguração)11. Desde os anos 1970, na extensão da rua Vieira de Carvalho, surgiram bares noturnos de frequência heterossexual que, com o passar das décadas, foram tomados por gays. Até os dias de hoje, tardes de domingos são conhecidas por bares lotados. Muitos chamam aquele espaço de “Praia do Arouche”, onde a “pegação” e “ferveção” é intensa.
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Matéria sobre atuais proprietários do bar disponível em: https:// revistaladoa.com.br/2019/09/ noticias/bar-de-casal-gay-deidosos-completa-mais-de-75-anos-
Até o começo deste ano, o Largo contava com uma frequência de cerca de 1000 jovens aos domingos, pois este é um dos poucos locais públicos em que o consumo não é necessário para que ele seja utilizado, abrangendo um estrato social mais amplo do que alguns locais direcionados ao vetor jardins. Além disso, o Largo oferece Wi-Fi grátis, com capacidade de 250 usuários simultâneos. Na data de conclusão deste trabalho12, o espaço do Largo do Arouche se mantinha esvaziado, devido às políticas de isolamento social vigentes na cidade de São Paulo em decorrência da pandemia de Covid-1913. Os “ursos” também marcam presença na mancha do Centro Novo de São Paulo. Este grupo é assim denominado por seu tamanho e quantidade de pelos se assemelhar aos ursos. Na década de 1980, homens homossexuais que não se enquadravam nos padrões de beleza vigentes dentro da cultura homossexual (magros ou musculosos, sem pelos e sem barba) passaram a se identificar e a adotar costumes, códigos e expressões próprias (FRANÇA, 2006). Por anos, a comunidade ursa exaltou a masculinidade como um aspecto essencial para a identificação de um de seus membros. Hoje, com o crescente debate acerca das questões de gênero, sexualidade e identidade, há uma luta, por 40
de-funcionamento-em-sao-paulo/. Acesso em fevereiro 2020. 12
Trabalho finalizado em julho de 2020. 13
A região do Largo do Arouche foi considerada um dos locais com maior concentração de casos de Covid-19 de acordo com estudo realizado pela FAUUSP. Mais informações disponíveis em: https://g1.globo.com/sp/ sao-paulo/noticia/2020/06/09/ estudo-da-usp-aponta-que-centrode-sp-teve-maior-numero-demoradores-hospitalizados-por-covid19-e-sindrome-respiratoria.ghtml. Acesso em julho de 2020.
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parte de integrantes da comunidade, de desassociá-la a características de “masculinidade” e “virilidade”14. A rua Vieira de Carvalho foi ocupada pela comunidade “ursina” desde sua formação (FRANÇA, 2006). Do lado de cá da rua, em direção à Consolação, estavam eles: os ursos e os homens mais velhos, bebendo cervejas em bares como o Caneca de Prata. Do outro lado da rua, estavam os mais novos, descobrindo a cena gay no centro de São Paulo15. Poucos são os “novinhos” (como são chamados pela turma do lado de cá da rua) que se arriscam em atravessar a Vieira. Quando deste lado, os novinhos podem assumir a imagem de “chasers” ou de “sugar babies”. Chasers são aqueles que, mesmo não adequados aos padrões corporais da comunidade ursa, buscam relacionamento amoroso ou sexual com ursos. Os “sugar babies” são aqueles que estão em algum relacionamento com um “sugar daddy” - representado pelo homem mais velho, dotado de grande porte financeiro. Esta dinâmica espacial pode ser observada até a data da realização deste trabalho. Nas proximidades está a boate “ABC Bailão”, localizada na rua Marquês de Itu, que ocupa hoje o espaço onde funcionava uma das boates gays mais conhecidas da década de 1980, a “Homo Sapiens”. A ABC se diferencia da maioria das boates do circuito - suas luzes são menos vibrantes, o som é menos alto, a prática mais adotada é a de “dançar coladinho” e a música vai do pop ao forró (FRANÇA, 2006). Nela, os homens são proibidos de tirarem suas camisetas - prática comum em boates como a The Week, localizada na Barra Funda e considerada uma das maiores baladas gays do Brasil16. No desativado site de relacionamentos “Orkut”, na comunidade 43
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Com base em observação e vivência própria do autor, inserido em ambientes virtuais destinados à comunidade ursina. 15
Informação verbal adquirida por entrevista realizada com o ativista Beto de Jesus, em 2016. 16
Considerada “a maior do Brasil” em 2014 de acordo com matéria da revista Época disponível em: https://epoca.globo.com/ colunas-e-blogs/bruno-astuto/ noticia/2014/09/andre-almadacomemora-os-10-anos-da-weekmaior-boate-gay-do-brasil.html. Acesso em maio de 2020.
da “ABC Bailão”, a proibição de se tirar a camisa, expressa através de uma placa no estabelecimento, foi tema de discussões acaloradas. Os maiores frequentadores da casa são gays com mais de 40 anos, chamados popularmente de “maduros” ou, atualmente, chamados também de “daddies” ou “granddaddies” - do inglês, “papais” e “vovôs”. O lugar onde funcionava a “Blackout” também foi o local da primeira casa noturna de São Paulo que se notabilizou pela presença majoritária de travestis, a “Prohibidus” (GREEN, 1999). Criada pela empresária travesti Andréa de Mayo, a boate recebia este público que, muitas vezes, era (e continua sendo) marginalizado até mesmo dentro da comunidade LGBTQIA+. Os frequentadores saiam de outros clubes e terminavam a noite na Prohibidu’s, assistindo shows que se iniciavam às quatro horas da manhã e iam até as nove horas. A casa era conhecida por ser o “after”, ou a saideira, recebendo também funcionários de outras boates que ainda queriam aproveitar a noite (ou a manhã). Antes da Prohibidus, Andréa já era conhecida como cafetina e cuidadora de travestis que se prostituíam na rua Amaral Gurgel, sendo temida pelos traficantes e ladrões da região. Andréa conquistou até mesmo o respeito da polícia que, na época, abordava violentamente travestis, transexuais, gays e lésbicas. Sua antiga boate, conhecida como Val Improviso, foi palco de incansáveis shows de Cazuza, regados a bebida e com muito churrasco17. Assim como a imensa maioria de travestis e transexuais no Brasil, Andréa teve sua morte e sepultamentos marcados pela tragédia. Após uma cirurgia de retirada de próteses industriais em 2000, Andréa entrou em coma e veio a falecer. Cansada do badalo de São Paulo, seu plano era morar em uma 44
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Erika Palomino escreveu matéria sobre a boate Val Paraíso para o jornal Folha de São Paulo em 2000, disponível em: https:// www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/ fq1905200034.htm. Acesso em junho de 2020.
propriedade no interior do estado. Em sua lápide, estava gravado seu nome de batismo. Apenas em 2016, o professor doutor da USP, Renato Cymbalista, pagou por uma nova placa em sua lápide - esta, contendo o nome pelo qual era reconhecida: Andréa de Mayo (CYMBALISTA, 2017). A cerimônia para a mudança ocorreu à luz do dia e contou com coral de drag queens. Entre as primeiras boates de São Paulo (e do Brasil), está a boate Medieval, fundada em 1971 (FRANÇA, 2006). A aclamada empresária Elisa Mascaro, inspirada em espetáculos de cabarés franceses, fundou a casa com a intenção de trazer um novo atrativo à cidade: uma “boate gay”. Sendo a primeira, teve sucesso instantâneo. Seus shows temáticos eram protagonizados por transformistas, mulheres transexuais e homens gays - todos com carteira assinada. A sofisticação da casa atraiu todos os tipos de públicos, não só aqueles interessados em uma “boate gay”. Figuras famosas como Dercy Gonçalves e Elke Maravilha frequentavam fervorosamente o local. De acordo com o diretor cinematográfico Lufe Steffen, “havia um clima de glamour e sofisticação nas baladas gays da época”. Lufe é conhecido pelo seu trabalho cinematográfico de temática LGBTQIA+ e tem, como seu maior trabalho, o longa “São Paulo em Hi-Fi”, utilizado intensamente na realização deste trabalho. Após anos de sucesso, a boate Medieval ganhou a concorrência com a Homo Sapiens, na Rua Marquês de Itu, e entrou em decadência no fim da década, fechando em agosto de 1984. Já viúva, Elisa inaugurou a Boate Corintho, em Moema, ao lado do Shopping Ibirapuera, em 1985 (BÉRTOLI, 2019). Utilizando toda a experiência que havia ganho com a Medieval, a empresária criou um império com a Corintho. 45
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A boate contava com palco muito maior que de sua antiga casa, escadarias luminosas e megashows com 24 bailarinos e bailarinas. Frequentadores comparavam o luxo da casa apenas com os espetáculos da Broadway. Festas lendárias de Carnaval, de Réveillon e à fantasia, multidão na porta e pegação nas ruas próximas da boate marcaram a era da Corintho em São Paulo. Em 1991, a boate encerrou suas atividades e, em 2019, Elisa faleceu, levando milhares de amigos, antigos clientes e admiradores a prestarem homenagens a uma das mulheres mais importantes para a noite LGBTQIA+ em São Paulo18. Hoje, o local em que funcionava a Corintho é ocupado por uma igreja evangélica. Apesar da Corintho e Medieval não estarem inseridas no Centro Novo de São Paulo, cabe suas citações pelo impactante destaque que tiveram na sociabilidade LGBTQIA+ entre 1970 e 1990. A própria Medieval, localizada na Rua Augusta, se consolida como uma expansão da mancha do Centro Novo. Tanto o desenvolvimento e o mercado de trabalho de São Paulo se deslocaram para o eixo Paulista-Jardins quanto os locais de sociabilidade e convivência - sejam eles LGBTQIA+ ou não (JUNIOR, 2000). Outras provas deste deslocamento são o bar e a boate d’A Louca e o shopping Frei Caneca, todos frequentados pela comunidade LGBTQIA+ a partir dos anos 1990 e localizados entre as ruas Frei Caneca e Augusta (PUCCINELLI, 2013). Ainda entre os atrativos da região próxima à Marquês de Itu, Arouche e Vieira de Carvalho, está a oferta de serviços sexuais (PERLONGHER, 1987). Em 1986, Nestor Perlongher defendeu seu mestrado que também é o primeiro estudo antropossociológico a respeito da comunidade LGBTQIA+ de São 47
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Matéria de Manuela Ferraro em homenagem a Elisa Mascaro disponível em: https://www1.folha. uol.com.br/cotidiano/2019/05/ mortes-empresaria-acolheu-gays-etransformistas-durante-a-ditadura. shtml. Acesso em: junho de 2020.
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Paulo. Sua dissertação, que posteriormente se transformou no livro “O Negócio do Michê”, nos conta um pouco sobre como eram os serviços sexuais oferecidos no Centro Novo. 19
O termo “michê”, utilizado comumente na década de 1970 e que dá nome ao livro, é empregado com dois sentidos19. Um, como o ato da prostituição em si, como na frase “vou fazer michê”. Outro, como nome dado genericamente a homens que se prostituem. A partir desta compreensão, conseguimos entender “subcategorias” invisíveis, porém tangíveis, nas quais os michês estavam elencados. Elas estão divididas quase em uma faixa “degradê”, em que suas pontas são representadas, por um lado, pela figura do homem viril, e por outro, a figura da travesti. O entendimento da diferença entre sexualidade e identidade de gênero é uma conquista recente, dos últimos 20 anos. Até então, mesmo estudos acadêmicos embasados, como o de Nestor, consideravam pessoas transexuais como uma espécie de homossexual. Neste caso, uma mulher trans seria considerada um gay muito afeminado, e não uma mulher. Por este fato, a palavra “travesti” foi, por anos, tratada como sendo um substantivo masculino, quando na verdade deve ser empregada como substantivo feminino20. Hoje, passamos a compreender a homossexualidade como orientação sexual, enquanto transexualidade como identidade de gênero. Caso você se pergunte: sim, uma pessoa pode ser, ao mesmo tempo, transexual e homossexual21. Na década de 1970, o mundo gay era marcado pela dicotomia entre expressões de gênero. O macho, ou bofe, era um homem homossexual 50
Até fim dos anos 1990 a região ainda recebia diversos michês em buscas de cliente, como exibido na matéria do jornal Folha de São Paulo em 1998, disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ folhatee/fm02029812.htm. Acesso em: maio de 2020. 20
O debate chegou até a ser citador pelo professor Pasquale, referência em assuntos da língua portuguesa. Em 2017, o professor afirmou que o uso correto deve ser “a travesti”, em contraste ao gênero utilizado no passado para designa-las. Matéria disponível em: https:// observatoriog.bol.uol.com.br/ noticias/professor-pasquale-explicaque-o-correto-e-falar-a-travesti. Acesso em: maio de 2020.
conhecido como um “varão” que, sem abrir mão do protótipo másculo, se relacionava sexualmente com as “bichas”, consideradas como homens homossexuais afeminados. Este se tornou o tipo de relacionamento sexual “clássico no Brasil”, altamente hierárquico, presente na comunidade gay. O dito popular da década era: “a bicha é a sola do sapato do macho”. Ou seja, a degradação da figura feminina aparece intensamente no discurso popular.
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O Centro Nacional de Igualdade Transgênero, localizado em Washington, reuniu informações sobre pessoas transgênero e o movimento trans, afim de esclarecer
Esse modelo, na década de 1980, passou a concorrer com outro, mais “igualitário”, por assim dizer (FRY, 1982). Neste, um sujeito dito homossexual ou “entendido”, se relacionava de igual para igual com outro sujeito homossexual. Este modelo também era conhecido por “modelo gay/gay”. No entanto, para os michês, observa-se que a expressão de gênero do grupo passa por um espectro “continuum”. Ou seja, um mesmo michê poderá ser macho em um contexto, e bicha em outro. Para entender melhor, destaca-se a fala de um michê contida no livro “O Negócio do Michê”: “cheguei na festa com um cliente que eu transava; aí tinha boys (bofes, michês) e mariconas. Mas eu bebi demais e comecei a desmunhecar, ter trejeitos femininos, virei bicha. Aí a bicha que estava comigo virou macho e começou a me disputar com outros michês que queriam me comer” (PERLONGHER, 1987, p. 23). Gabar heterossexualidade garantiria pontos perante os clientes que, em grande parte, procuravam rapazes que não fossem homossexuais. O discurso heterossexual está mais presente no mundo dos michês do que a prática, visto que a presença de mulheres “clientes” era tão baixa que se tornou insignificante para que pudesse ser realizada uma leitura e análise 51
dúvidas comuns a respeito. Informações disponíveis em https:// transequality.org/issues/resources/ frequently-asked-questions-abouttransgender-people. Acesso em: maio de 2020.
nas décadas de 1970 e 1980 (PERLONGHER, 1987). Assim, a feminilidade e a masculinidade tornam-se moeda de troca, desejo e argumento. Os que exerciam a prostituição costumavam ter entre 15 e 25 anos, enquanto os clientes costumavam ter, pelo menos, 35 anos. Como a realização de desejos pedófilos estava sendo desestimulada a partir de 1980 com leis de proteção à criança e ao adolescente, a prostituição se tornou o único covil para que se pudesse satisfazer o desejo hediondo. Tal associação, entre homossexualidade e pedofilia, nas práticas da prostituição, foi uma das causas responsável pela criação do estigma ostensivo de que gays fossem uma espécie de pedófilo e vice-versa. Embora estas práticas fossem observadas na área do centro da cidade de São Paulo, foi na avenida Ipiranga, São Luís, Marquês de Itu, Largo do Arouche e adjacências em que o ato estava mais explícito. A prostituição se proliferou em locais como: casas de massagens, bordéis, saunas, serviços a domicílio, etc. Esta forma de prostituição foi uma maneira de legalizar ou, ao menos, semi-legalizar as práticas que, quando realizadas na rua, se tornavam clandestinas. A descrição aqui posta sobre as relações entre michês e clientes se extravasa para além do contexto da prostituição. Na verdade, estas relações estão colocadas exatamente por serem apenas um reflexo social. Fora do mundo da prostituição, tais condutas se assemelham e são observáveis até os dias de conclusão deste trabalho. Assim como a já citada “Blackout”, outras boates direcionadas ao conteúdo sexual funcionaram e funcionam na região. Em 2000, estreou a boate “Planet G”, inovando seu repertório e mantendo um de seus andares ainda como cinema de sexo explícito, antes ali localizado. Nela, dividiam os mesmos espaços o público 52
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que buscava dança, filmes pornográficos e sexo grupal. Hoje, a boate Planet G deu lugar à boate “The Sensation”, dedicada às mesmas intenções de sua precursora. Um dos eventos mais famosos realizados no local é a festa “PopPornParty”, na qual seus frequentadores são recompensados ao ficarem nus. Festas como a “Kevin” e a “Dando” seguem o padrão da PopPorn. Estas tem sido algumas das festas mais recentes e populares no contexto sexual do mundo gay22. Além das recompensas pela nudez, os usuários são livres para fazerem sexo pela boate e contam com atrações envolvendo performances, shows e apresentações. Como são festas, podem ocorrer em mais de uma boate, não tendo, necessariamente, um ponto fixo de realização. Dentre as boates que recebem este tipo de evento estão a Zig Club e Zig Duplex na rua Álvaro de Carvalho, a já citada The Sensation na rua Rego Freitas e a Casa dos Criadores, também na Álvaro de Carvalho. Todas estas casas fazem parte do Centro Novo de São Paulo, demonstrando que o circuito de casas noturnas direcionadas ao sexo ainda vive e sobrevive na região. Com o presente cenário de pandemia e isolamento social, me indaguei a respeito de como estas festas, que dependem do contato físico e sexual, estão se reinventando (ou não). Para obter mais informações, consultei organizadores dessas festas que tenho contato em redes sociais. Com a aliança entre artistas, tecnologia e desejo, as festas têm conseguido assumir a forma digital, cobrando ingresso para participar de videoconferências em aplicativos como o “Zoom” e o “Google Meets”. O local, antes físico, presente na paisagem urbana, passou a ser virtual. Cada frequentador, em sua 54
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As festas renderam uma matéria no blog do site jornalístico Uol, disponível em: https:// paulosampaio.blogosfera.uol.com. br/2017/04/18/criador-da-festado-pelados-sucesso-no-centro-desp-diz-que-roupa-e-uma-prisao/. Acesso em: julho 2020.
própria casa, desfruta de sua própria bebida, música exclusiva mixada ao vivo, shows interativos e sexo virtual. Ainda é incerto se, nos próximos meses, com a retomada gradual do contato social físico, este formato virtual ainda sobreviverá ou dará lugar novamente ao formato físico, favorecendo o contato de pele com pele. Nem só pela sociabilidade é contada a história da comunidade LGBTQIA+ no Centro Novo de São Paulo. No dia 07 de fevereiro de 2000, Edson Neris foi assassinado na Praça da República. O motivo? Passava pela praça de mãos dadas com seu namorado, Dario Pereira Netto (FRANÇA, 2008). Bastou isso para que mais de trinta “carecas”, munidos de correntes e socos ingleses, os atacassem. Dário (seu namorado) conseguiu fugir, mas Edson foi espancado até a morte. Um vendedor ambulante que estava no local e presenciou a barbaridade seguiu o grupo até um bar no bairro do Bexiga, onde tranquilamente tomavam cervejas. Ele telefonou para a polícia que, ao chegar, cercou o bar e prendeu cerca de vinte dos integrantes do “Carecas do ABC”. O grupo tem como lema principal as palavras “Deus, pátria e família”, inspiradas no lema da Ação Integralista Brasileira, grupo fascista criado por Plínio Salgado em 1932. Dos vinte presos, apenas três foram condenados, sendo dois deles a vinte e um anos de prisão. O promotor Dr. Marcelo Milani foi quem ofereceu a denúncia contra os três réus23. Durante todo o processo, Milani conduziu a ação afirmando que o crime praticado pelos carecas era considerado “crime de ódio”, tipologia criminal até então inexistente no Brasil. A estratégia utilizada pelo promotor foi essencial para o sucesso da ação criminal e a futura condenação de alguns dos participantes. 55
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Matéria do jornal Folha de São Paulo em 2001, disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ cotidian/ff1502200101.htm. Acesso em: julho de 2020.
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O crime percorreu manchetes de jornais e revistas24. O ativismo representado por grupos de militância LGBTQIA+, partidos políticos de esquerda e indivíduos particularmente indignados pelo crime foram destaque nas mídias. Seis dias após o crime, um grupo de quinhentas pessoas se reuniu na Praça da República para uma vigília em memória de Edson Néris. De acordo com o escritor João Silvério Trevisan, um dos organizadores do protesto, a vigília atraiu caravanas das cidades de Goiânia (GO) e Campinas (SP) (CYMBALISTA, 2017). A pauta principal exigida pelo grupo era “o fim das injustiças e o direito à liberdade de escolha”25. O evento contou com as presenças de Marta e Eduardo Suplicy (ambos do Partido dos Trabalhadores na época do evento), do jornalista Leão Lobo, da atriz Elke Maravilha e da cantora Vange Leonel. Como homenagem a Edson, seu nome foi dado ao Centro de Cidadania LGBTQIA+ Edson Néris26. O Centro é uma iniciativa da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, por meio da Coordenação de Políticas para LGBTQIA+. No mesmo sítio do assassinato também foi fundado o Museu da Diversidade, dirigido por Reinaudo Franco, localizado no subsolo da Praça da República, junto ao Metro da República27. Por muito tempo tentou-se erguer um monumento em homenagem à Édson, porém questões burocráticas inviabilizaram sua realização.
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Matéria do jornal O Estado de São Paulo a respeito do julgamento dos acusados, disponível em: https://brasil.estadao.com.br/ noticias/geral,comeca-julgamentode-acusados-da-morte-de-edsonneris,20010213p17022. Acesso em maio de 2020. 25
Matéria do jornal Diário do Grande ABC, publicada em 2000, disponível em: https://www.dgabc. com.br/Noticia/123509/vigiliacontra-discriminacao-reune-400em-sp. Acesso em maio de 2020. 26
Além deste, São Paulo conta com outros três centros de cidadania LGBTQIA+. http://www.capital.
Assim como Édson foi reprimido e assassinado em 2000, centenas de outros e outras sofreram dos mesmos males durante a Ditadura Militar Brasileira (1964-1985). O delegado José Wilson Richetti, com respaldo da Secretaria de Segurança Pública e do Governador do Estado (Paulo Maluf), intensificou 57
sp.gov.br/noticia/cidade-conta-comquatro-centros-de-cidadania-lgbti. Acesso em maio de 2020.
as rondas policiais com o objetivo de, como declarado a jornais da época, “limpar a cidade dos assaltantes, prostitutas, traficantes, homossexuais e desocupados” (TREVISAN, 1980). A operação ganhou o nome de “Operação Limpeza” e utilizou como método as batidas policiais em locais frequentados pela comunidade LGBTQIA+. Richetti apreendia cerca de 300 pessoas por noite que, após serem levadas à delegacia na rua Aurora, sofriam torturas e saques. A saída só era possível após o pagamento de fiança por aqueles que iriam em busca do resgate. Contra a operação, ativistas do Grupo de Afirmação Homossexual (SOMOS), do Grupo de Ação Lésbica Feminista (Galf) e do Movimento Negro Unificado (MNU), distribuíram panfletos para divulgar o que então seria a primeira passeata LGBTQIA+ na história da cidade de São Paulo (TREVISAN, 1980). No dia 13 de junho de 1980, a passeata saiu da escadaria do Theatro Municipal e seguiu em direção às ruas do Centro Novo da cidade28. A pesquisadora Marisa Fernandes, ativista do movimento LGBTQIA+ na década de 1980 e liderança da passeata, declarou em entrevista: “Nós distribuímos panfletos, chegamos antes para poder convidar a população ali e deixar claro para todos que aquela passeata era contra a polícia e a favor das vítimas, contra o abuso dos policiais que ofendiam os nossos sentimentos mais íntimos, nossos corpos e nos feriam moralmente”29.
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Site do Museu disponível em: http://www.mds.org.br/. Acesso em maio de 2020. 28
Página sobre o protesto disponível no site “Memorial da Democracia”, disponível em: http:// memorialdademocracia.com.br/ card/lgbt-e-prostitutas-denunciamviolencia. Acesso em maio de 2020. 29
Declaração dada por Marisa Fernandes à Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”, disponível da página 18 do “Tomo I - Parte II - Ditadura e Homossexualidades”, disponível em: http://comissaodaverdade. al.sp.gov.br/relatorio/tomo-i/parte-
Ainda hoje, a reivindicação de direitos e o sentimento de orgulho são responsáveis por manifestações em forma de passeata. A Parada do orgulho LGBTQIA+ de São Paulo é, atualmente, a maior passeata em orgulho à comunidade no mundo30, contando com 3 milhões de participantes 58
ii-cap7.html. Acesso em maio de 2020.
anualmente31. Ela é conhecida por tomar a Avenida Paulista e a Consolação com dezenas de trios elétricos. Entretanto, sua origem, em 1996, aconteceu na Praça Roosevelt, ao lado da Igreja da Consolação, no Centro Novo de São Paulo32. Após a conferência do ILGA (International Lesbian, Gay, Bisexual, Trans And Intersex Association) em 199533, no Rio de Janeiro, ativistas e militantes voltaram a São Paulo disposto a realizar encontros anuais em homenagem à diversidade sexual e de gênero e à reivindicação de direitos. Foi este desejo que deu origem ao primeiro ato, contando com 500 pessoas na Roosevelt. A partir do ano seguinte, em 1997, todos os atos passaram a sair da Avenida Paulista com destino à consolação, terminando na Praça Roosevelt.
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Disponível em https:// g1.globo.com/sp/sao-paulo/ noticia/2019/06/29/23a-paradalgbt-movimentou-r-403-milhoesem-sao-paulo-diz-prefeitura.ghtml. Acesso em maio de 2020. 31
Dado divulgado pelo jornal G1, disponível em: https://
Nas primeiras edições, havia o constante medo da visibilidade e de represálias, com altíssimas chances de perder o emprego caso seja flagrado neste tipo de manifestação34. Além das mazelas sociais, havia também o medo físico, associado principalmente à onda Skinhead, com forte presença cultural na década de 1990 na região metropolitana de São Paulo (FRANÇA, 2008). Todos estes medos levavam centenas de participantes a usarem máscaras nas passeatas, muito antes deste ser um acessório essencial para interação pública. Para melhorar as condições da manifestação e angariar cada vez mais participantes, organizadores passaram a trabalhar com a técnica da “visibilidade massiva”, na qual quantos mais visíveis, mais seguros estariam. O êxito da técnica foi responsável pelo crescimento exponencial na Parada, que se tornou a maior do mundo já na década passada.
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g1.globo.com/sp/sao-paulo/ noticia/2019/06/23/mel-c-agitaa-parada-lgbt-com-classicos-dasspice-girls-sp-e-um-lugar-quesempre-foi-muito-generoso-comigo. ghtml. Acesso em maio de 2020. 32
Informação disponível em entrevista dada por participantes ao site Vice, disponível em: https://www.vice. com/pt_br/article/pge47g/primeiraparada-lgbt-do-brasil. Acesso em maio de 2020.
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As informações passadas aqui são responsáveis por dar base para o entendimento do Atlas e não dizem respeito a uma hierarquia de “melhores lugares” ou “histórias mais importantes”. Ou seja, outras histórias e outros locais não destacados aqui podem ser tão importantes quanto os descritos anteriormente. A escolha de quais descrever foi feita pensando mais na potencialidade de agrupamento de diversas narrativas, importantes para a execução deste trabalho, do que por um grau de importância dado por instâncias governamentais ou grupos ativistas. Para a execução do Atlas foram escolhidos fragmentos de histórias presentes em pontos que condensam e narram a complexidade da população LGBT no Centro Novo de São Paulo.
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O evento foi noticiado em edição de 1995 do jornal Folha de São Paulo, disponível em: https://www1. folha.uol.com.br/fsp/1995/6/13/ cotidiano/2.html. Acesso em maio de 2020. 34
Disponível em: https://www.vice. com/pt_br/article/pge47g/primeiraparada-lgbt-do-brasil. Acesso em maio de 2020.
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Sintetizando histórias e lugares A dimensão escolhida para a realização do Atlas foi pensada para que este pudesse ser impresso. Portanto, o tamanho A0 da norma ISO 216 mostrouse o mais eficiente por caber a quantidade de conteúdo selecionado e, ainda sim, ser impresso em gráficas. Nos títulos deste caderno utilizei a fonte Gilbert, criada em homenagem a Gilbert Baker, artista plástico idealizador da bandeira do orgulho LGBTQIA+. Gilbert foi ativista pelas causas da comunidade e faleceu em 2017. Em sua homenagem, escolhi a fonte de seu nome para que o caderno também tenha relação direta com a história em eterna construção da comunidade LGBTQIA+. Para o corpo, utilizei a fonte Futura. Para a execução do Atlas, utilizei fotografias de eventos, festas, passeatas, encontros, fachadas, monumentos, praças, banheiros, pontes, viadutos, largos, ruas, avenidas, bares, etc. Utilizei também cartões postais, trechos de jornais, tabloides e revistas, cartas, anúncios, flyers, etc. Cada uma das imagens selecionadas conta com uma descrição detalhada mais adiante neste caderno. Todo este conteúdo foi organizado para que o observador possa compreender relações até então incompreendidas por meio de associações por proximidade ou distanciamento. A interpretação, entretanto, fica a cargo daquele que as observa.
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As partes destacadas em cores primárias e secundárias tem como intenção, na macro escala, formar as cores da bandeira do orgulho LGBTQIA+, conectando os elementos e nos lembrando que, mesmo estes se diferenciando em forma e conteúdo, ainda fazem parte de um mesmo universo. Para a parte iconográfica, fiz a seleção pela internet. Em cada uma das legendas coloquei o link direto à origem da figura, seja ela um trecho de jornal, uma foto ou um anúncio. O momento de isolamento social causado pela pandemia de Covid-19, presente por meses da execução deste trabalho, impossibilitou que eu pudesse fazer registros fotográficos. Entretanto, me muni de material necessário para a realização das montagens. Toda a iconografia escolhida está relacionada ao universo LGBTQIA+ do Centro Novo de São Paulo, mesmo que indiretamente. São fotografia de eventos que marcaram uma época (como o levante de Stonewall), de locais que eram cenário para a sociabilidade LGBTQIA+ (como a praça da República) ou mesmo atividades sendo executadas no próprio Centro Novo (como fotos da boate Homo Sapiens).Os temas destinados a cada cor não foram escolhidos aleatoriamente. Eles são responsáveis por abarcar uma grande parcela de eventos, influências culturais, repressões e vivências pela qual a comunidade LGBTQIA+ passou no Centro Novo. São registros que vão desde a tragédia à comemoração; da repressão à liberdade; do cinema à literatura; do indivíduo à multidão. Após a curadoria, classifiquei cada arquivo entre seis categorias, relacionando cada uma delas a uma das cores da bandeira do Orgulho LGBTQIA+. São elas: 66
Vermelho: eventos históricos e momentos marcantes que tiveram impacto sociocultural;
Laranja: conteúdo relacionado à cinema, literatura, jornalismo e artes como um todo;
Amarelo: referência à bares, restaures, galerias, etc; 67
Verde: ações em local público como ruas, praças e largos;
Azul: conteúdo sensível ou socialmente controverso, como nudez e opressão;
Roxo: cenas e eventos relacionados a boates, danceterias, shows, festas, etc; 68
Os temas destinados a cada cor não foram escolhidos aleatoriamente. Eles são responsáveis por abarcar uma grande parcela de eventos, influências culturais, repressões e vivências pela qual a comunidade LGBTQIA+ passou no Centro Novo. São registros que vão desde a tragédia à comemoração; da repressão à liberdade; do cinema à literatura; do indivíduo à multidão. Feita a seleção e classificação, passei a editar o material no software Photoshop. Escolhi manter todas as imagens em preto e branco, afim de criar unidade visual. Também assinalei em cores correspondentes àquelas da classificação os fragmentos que pudessem exemplificar tais categorias. Em trechos de jornal, palavras chave. Em fotografias, elementos de destaque visual. Em paisagens, elementos de destaque. Já com as imagens recortadas e coloridas, passei a uni-las em minha prancha, aproximando as imagens de mesmo tema e sobrepondo umas às outras. Assim, criou-se relações de diálogo entre cada um dos elementos, sendo eles referenciados àqueles que estão próximos e aos que estão distantes. Reservei a direita do Atlas para criar um mapa contracartográfico. Com a ajuda de softwares de georreferenciamento, Google Maps e Photoshop, localizei e assinalei alguns dos locais mais frequentados pela comunidade LGBTQIA+ no Centro Novo de São Paulo. Os ícones estão enumerados e divididos pelas mesmas categorias cromáticas das imagens à esquerda. A legenda no canto inferior direito acompanha o mapa e conta com o nome dos locais assinalados, informações geográficas e créditos.
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Desbravando o Atlas Chegou a hora de apreciar o Atlas e entender mais da história LGBTQIA+ no Centro Novo de São Paulo. Sugiro que, a partir de agora, você abra o Atlas e, junto das legendas a seguir, passeie com seu olhar e absorva um pouco da nossa história.
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Para melhor visualizar o conteúdo e suas devidas legendas, optei por segmentar o Atlas em 17 setores. A seguir, você encontrará as informações correspondentes a cada setor.
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Autor desconhecido. Franco Reinaudo, diretor do Museu da Diversidade, em frente ao mesmo. 2017. 1 fotografia. 2400 x 1500 pixels. Disponível em: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/ direitos_humanos/lgbti/noticias/?p=243084. Acesso em: jul. 2020. Autor Desconhecido. Primeira parada Parada do Orgulho LGBTQIA+ em São Paulo. Na época, apenas “Parada gay”. 1997. 1 fotografia. 700 x 400 pixels. Disponível em: https://tab.uol.com.br/noticias/ redacao/2020/06/28/orgulho-lgbt-sem-estar-na-rua-movimento-discutememoria-e-esquecimento.htm. Acesso em: jul. 2020. Acervo Antonio Ricardo Soriano. Fachada do Cine Art Palácio. 1980 circa. 1 fotografia. 650 x 400 pixels. Disponível em: https://vejasp.abril.com. br/blog/memoria/18-cinemas-antigos-do-centro-de-sao-paulo/. Acesso em: jul. 2020. Autor Desconhecido. Priscila Quartier na primeira Parada do Orgulho LGBTQIA+ de São Paulo. 1997. 1 fotografia. 700 x 400 pixels. Disponível em: https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2020/06/28/ orgulho-lgbt-sem-estar-na-rua-movimento-discute-memoria-e-esquecimento. htm. Acesso em: jul. 2020. ALBUQUERQUE, Chico. Avenida Ipiranga e Praça da República. 1955 circa. 1 fotografia. 500 x 400 pixels. Disponível em: http://201.73.128.131:8080/portals/#/detailpage/13525. Acesso em: jul. 2020. Recorte do autor. Fragmentos de poema “Memória da militância homossexual negra brasileira” do “Grupo Adé-Dudu”. Poema escrito em 1981. 2020. 1 recorte de poesia. 300 x 200 pixels. Disponível em: http://acervobajuba.com.br/poema-do-grupo-ade-dudu-memoria-damilitancia-homossexual-negra-brasileira/. Acesso em: jul. 2020.
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Autor desconhecido. Protesto realizado após a revolta de Stonewall. 1969. 1 fotografia. 1200 x 600 pixels. Disponível em: https:// hamiltonhistoricalrecords.com/2019/06/28/the-50th-anniversary-of-thestonewall-riots/. Acesso em: jul. 2020. Recorte do autor. “Demissão, processo, perseguições. Mas qual é o crime de Celso Curi?”. Título de matéria sobre Celso Curi na edição 0 do jornal “Lampião da Esquina”, publicada em abril de 1978. Na época, Curi escrevia para uma coluna no jornal “Última Hora”, na qual dissertava sobre homossexualidade. 2020. 1 recorte de jornal. 1200 x 200 pixels. Disponível em: https://www.grupodignidade. org.br/projetos/lampiao-da-esquina/. Acesso em: jul. 2020. Autor Desconhecido. Marilyn Du Morro e Kaká di Polly na primeira Parada do Orgulho LGBTQIA+ de São Paulo. No início do evento, Kaká simulou um desmaio para chamar a atenção das autoridades e permitir que a passeata se iniciasse. 1997. 1 fotografia. 700 x 400 pixels. Disponível em: https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2020/06/28/ orgulho-lgbt-sem-estar-na-rua-movimento-discute-memoria-e-esquecimento. htm. Acesso em: jul. 2020. Acervo Rita Lee. Cantora Rita Lee, responsável por influenciar diversos grupos culturais, incluindo a comunidade LGBTQIA+. 1970 circa. 1 fotografia. 400 x 500 pixels. Disponível em: https://immub. org/noticias/nos-70-anos-do-maracana-relembramos-artistas-nacionais-quese-apresentaram-no-estadio. Acesso em: jul. 2020. Acervo Estadão. Vista da Praça Roosevelt, no centro de São Paulo, na década de 50. Local era utilizado como estacionamento. 1960. 1 fotografia. 500 x 500 pixels. Disponível em: https://acervo.estadao.com.br/ noticias/lugares,praca-roosevelt,8294,0.htm. Acesso em: jul. 2020.
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GAUTHEROT, Marcel. Edifício Copan, projetado por Oscar Niemeyer, localizado no Centro Novo. 1967 circa. 1 fotografia. 700 x 700 pixels. Disponível em: http://201.73.128.131:8080/portals/#/detailpage/13525. Acesso em: jul. 2020. Recorte do autor. Primeira manifestação no Brasil contra a violência contra a população LGBTQIA+. A passeata aconteceu em São Paulo, em 13 de junho de 1980. Na foto, integrantes do GALF (Grupo de Ação Lésbica Feminista) liderando passeata que saiu da escadaria do Theatro Municipal. Imagem vinculada à edição número 26 do jornal “Lampião da Esquina” publicada em 1980. 2020. 1 recorte de jornal. 800 x 500 pixels. Disponível em: https://www. grupodignidade.org.br/projetos/lampiao-da-esquina/. Acesso em: jul. 2020. Recorte do autor. “Além de tudo um símbolo sexual?” A brincadeira foi realizada durante entrevista de Lula à edição número 14 do “Lampião da Esquina”, publicada em 1979. O Lampião foi um jornal homossexual brasileiro que circulou durante os anos de 1978 e 1981. Nasceu dentro do contexto de imprensa alternativa na época da abertura política de 1970, durante o abrandamento de anos de censura promovida pelo Golpe Militar de 1964. O jornal discutia assuntos considerados “polêmicos” até os dias de hoje. 2020. 1 recorte de jornal. 800 x 400 pixels. Disponível em: https:// www.grupodignidade.org.br/projetos/lampiao-da-esquina/. Acesso em: jul. 2020. GAENSLY, Guilherme. Theatro Municipal de São Paulo. 1910. 1 fotografia. 4200 x 2800 pixels. Disponível em: http://brasilianafotografica. bn.br/brasiliana/handle/20.500.12156.1/4255. Acesso em: jul. 2020.
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Arquivo Pessoal de James Green. Primeira manifestação no Brasil contra a violência contra a população LGBTQIA+. A passeata aconteceu em São Paulo, em 13 de junho de 1980. Na foto, pintor Darcy Penteado lendo carta aberta. 1980. 1 fotografia. 1000 x 600 pixels. Disponível em: https://oglobo.globo.com/sociedade/nos-50-anos-destonewall-descubra-historia-menos-contada-do-marco-da-luta-pelos-direitoslgbti-no-brasil-1-23768599. Acesso em: jul. 2020.
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MAIO, Adriana de. Maior Parada do Orgulho LGBTQIA+ do mundo. O evento tem início na avenida Paulista e termina em frente à praça Roosevelt. 2014. 1 fotografia. 3500 x 2300 pixels. Disponível em: https://artsandculture.google.com/story/3AXRpaSRRD5uUw. Acesso em: jul. 2020.
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AQUINO, Edson. Imagem panorâmica do Centro Novo. Ao fundo: Edifício Itália, Copan, Eiffel e Hotel Hilton. 1970. 1 fotografia. 500 x 350 pixels. Disponível em: http://jornadadopatrimonio.prefeitura.sp.gov.br/abertura_2020/index. php/centro-2-consolacao-republica-bela-vista-2-regiao-da-paulista-jardim-paulista-1inclui-os-bairros-de-cerqueira-cesar-jardim-paulista-e-paraiso/. Acesso em: jul. 2020. CALLINS, Tom. Freddie Mercury em cima de Darth Vader. Freddie, em sua passagem pelo Brasil, frequentou a boate Homo Sapiens. 1980. 1 fotografia. 900 x 1200 pixels. Disponível em: https://music.avclub.com/the-story-of-freddiemercury-getting-a-piggyback-ride-f-1798284060. Acesso em: jul. 2020. Autor Desconhecido. Ativista transexual Marsha P. Johnson. Marsha foi uma das responsáveis por iniciar a revolta e os subsequentes protestos de Stonewall. 1965 circa. 1 fotografia. 800 x 450 pixels. Disponível em: https://www. nytimes.com/2017/10/05/movies/the-death-and-life-of-marsha-p-johnson-review. html. Acesso em: jul. 2020. ROSENTHAL, Hildegard. Mulher fazendo compras no Mercado de Flores do Largo do Arouche. 1940 circa. 1 fotografia. 700 x 500 pixels. Disponível em: http://201.73.128.131:8080/portals/#/detailpage/9166. Acesso em: jul. 2020. Acervo Antonio Ricardo Soriano. Fachada do Cine Metrópole. Os cinemas se tornaram um famoso local de paquera e pegação para a comunidade gay. Os encontros aconteciam nos andares mais altos ou em locais próximos aos banheiros. 1960 circa. 1 fotografia. 600 x 400 pixels. Disponível em: https:// vejasp.abril.com.br/blog/memoria/18-cinemas-antigos-do-centro-de-sao-paulo/. Acesso em: jul. 2020. Acervo Pessoal Miss Biá. Miss Biá, uma das primeiras drag queens do Brasil, ao lado da atriz e cantora Rogéria. 2000 circa. 1 fotografia. 600 x 460 pixels. Disponível em: https://revistatrip.uol.com.br/trip/E-tudo-nostro. Acesso em: jul. 2020.
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MORAES, Rodrigo. Fachada do bar Soda Pop, localizado na rua Vieira de Carvalho. O bar é frequentado principalmente por homens da “comunidade ursina”. 2013. 1 fotografia. 500 x 300 pixels. Disponível em: https://pt.foursquare.com/v/soda-pop-bar/4ccb881c7c2ff0 4d1144937e?openPhotoId=51296a7ee4b089fc3d9e67c7. Acesso em: jul. 2020. ARCHANJO, Sebastião. Cantora Wanderléa posando no Rio de Janeiro. Músicas da cantora eram favoritas em boates e bares da cena LGBTQIA+ em São Paulo. 1960 circa. 1 fotografia. 700 x 400 pixels. Disponível em: https://universoretro.com.br/um-breve-panoramasobre-os-acontecimentos-marcantes-dos-anos-60-e-suas-revolucoes/. Acesso em: jul. 2020. Acervo Antonio Ricardo Soriano. Fachada do Cine Windsor. 1970 circa. 1 fotografia. 400 x 400 pixels. Disponível em: https://vejasp.abril.com.br/ blog/memoria/18-cinemas-antigos-do-centro-de-sao-paulo/. Acesso em: jul. 2020. Acervo Kaká Di Polly. Drag queen Kaká di Polly com admiradora. 2000 circa. 1 fotografia. 600 x 500 pixels. Disponível em: http://www.kakadipolly. com.br/p/fotos.html. Acesso em: jul. 2020. Recorte do autor. “Lésbicas e Família”. Fragmento da capa da edição número 7 do boletim “Chanacomchana”, vendido em bar no Centro Novo de São Paulo. publicado em abril de 1985. 2020. 2 recortes de jornal. 500 x 600 pixels. Disponível em: http://acervobajuba. com.br/chanacomchana-07/. Acesso em: jul. 2020.
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Autor Desconhecido. Levante no Ferro’s Bar. Após a proibição da venda do boletim “Chanacomchana” pelo dono do Ferro’s, militantes leram o manifesto contra a repressão e pelos direitos das mulheres lésbicas. O levante resultou em pedido de desculpas e liberação da venda dos panfletos. Por tal ato, o dia 19 de agosto se tornou o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica. 1983. 1 fotografia. 800 x 450 pixels. Disponível em: https:// aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/levante-ao-ferros-bar-o-stonewallbrasileiro.phtml. Acesso em: jul. 2020. Recorte do autor. Capa da edição número 4 do boletim “Chanacomchana”, publicado em setembro de 1983. O levante ocorrido no Ferro’s Bar foi o destaque da edição. 2020. 1 recorte de jornal. 400 x 600 pixels. Disponível em: http://acervobajuba.com.br/chanacomchana-edicao-4/. Acesso em: jul. 2020. Autor Desconhecido. Fachada do Ferro’s Bar. 1980 circa. 1 fotografia. 500 x 500 pixels. Disponível em: https://musicnonstop.uol.com.br/uma-viagem-pela-cenanoturna-lgbt-de-sao-paulo-nos-ultimos-100-anos/. Acesso em: jul. 2020. Recorte do autor. Poesia escrita por uma das leitoras do boletim Chanacomchana e publicada na Edição número 4 em setembro de 1983. 2020. 1 recorte de jornal. 500 x 300 pixels. Disponível em: http://acervobajuba.com. br/chanacomchana-edicao-4/. Acesso em: jul. 2020. Recorte do autor. Escritora Cassandra Rios em fragmento da capa da edição número 5 do “Lampião da Esquina”, publicada em 1978. Cassandra Rios foi a primeira escritora brasileira a vender 1 milhão de exemplares e, também, a escritora mais censurada durante o período da Ditadura militar brasileira. 2020. 1 recorte de jornal. 800 x 500 pixels. Disponível em: https://www. grupodignidade.org.br/projetos/lampiao-da-esquina/. Acesso em: jul. 2020. MCDARRAH, Fred. Frequentadores ao lado de fora do Stonewall Inc. 1969. 1 fotografia. 1300 x 2000 pixels. Disponível em: https://www.nytimes. com/2019/05/30/arts/design/stonewall-exhibitions-review.html. Acesso em: jul. 2020.
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LAMAS, Olívio. José Wilson Richetti em sua delegacia. Richetti também apreendia material pornográfico vendido por jornaleiros. 1980. 1 fotografia. 500 x 700 pixels. Disponível em: https://oglobo.globo.com/sociedade/nos-50-anos-de-stonewall-descubra-historiamenos-contada-do-marco-da-luta-pelos-direitos-lgbti-no-brasil-1-23768599. Acesso em: jul. 2020. Recorte do autor. “A Igreja e o Homossexualismo (20 anos de repressão)”. Fragmento de capa da edição número 26 do “Lampião da Esquina”, publicada em 1980. A Matéria principal da edição explorou as relações entre homossexualidade e a igreja católica. 2020. 1 recorte de jornal. 700 x 300 pixels. Disponível em: https://www. grupodignidade.org.br/projetos/lampiao-da-esquina/. Acesso em: jul. 2020. CASTRO, Sérgio. Pessoas em situação de rua dormindo na Praça da República, um ano após a revitalização do local. 2007. 1 fotografia. 1000 x 300 pixels. Disponível em: https:// acervo.estadao.com.br/noticias/lugares,praca-da-republica,8239,0.htm. Acesso em: jul. 2020. SANTOS, Edy. Interior do bar “Caneca de Prata”. 2019. 1 fotografia. 800 x 500 pixels. Disponível em: https://www.google.com/maps/uv?hl=pt-BR&pb=!1s0x94ce584f8517e255%3A0 xdb68403dea854d71!3m1!7e115!4shttps%3A%2F%2Flh5. Acesso em: jul. 2020. SEIXAS, Fernando. Grupo musical “Secos e Molhados”. O grupo explorava questões de gênero e sexualidade em suas performances. 1973. 1 fotografia. 800 x 500 pixels. Disponível em: https://www.uai.com.br/app/noticia/artes-e-livros/2019/07/09/noticias-artes-elivros,248605/jornalista-conta-em-livro-trajetoria-do-secos-molhados.shtml. Acesso em: jul. 2020. Autor Desconhecido. Grupo teatral Dzi Croquettes. Tiveram forte influência cultural para a comunidade LGBTQIA+. 1972. 1 fotografia. 700 x 600 pixels. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/diversidade/exilado-nos-anos-70-ator-diz-precisamos-nos-unirpara-fazer-revolucao/. Acesso em: jul. 2020. SANTANA, Guilherme. Beto de Jesus erguendo o braço em sinal de orgulho. Beto foi sócio fundador da Associação da Parada, responsável por organizar e realizar a Parada do Orgulho LGBTQIA+. Beto esteve presente no primeiro encontro que originou a parada, em 1996, na Praça Roosevelt. 2016. 1 fotografia. 1000 x 600 pixels. Disponível em: https://www.vice.com/pt_br/article/pge47g/primeira-parada-lgbt-do-brasil. Acesso em: jul. 2020. 91
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Recorte do autor. Trecho do texto “A Função do Homossexual da Sociedade”, publicado na Edição número 4 do boletim “Chanacomchana” em setembro de 1983. 2020. 1 recorte de jornal. 500 x 500 pixels. Disponível em: http://acervobajuba.com.br/chanacomchana-edicao-4/. Acesso em: jul. 2020. Acervo TV Cultura. Caetano Veloso durante entrevista ao programa “Vox Populi”. Caetano compôs o icônico trecho sobre “quando cruza a Ipiranga e Av. São João”. Seria este trecho uma referência à população LGBTQIA+ que frequentava intensamente a esquina? 1978. 2 frames de vídeo. 1000 x 700 pixels. Disponível em: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/ reportagem/os-bastidores-do-meme-de-caetano-veloso.phtml. Acesso em: jul. 2020. Recorte do autor. “Travestis! (Quem atira a primeira pedra?)”. Fragmento da capa da edição número 4 do “Lampião da Esquina”, publicada em 1978. 2020. 1 recorte de jornal. 1000 x 500 pixels. Disponível em: https://www. grupodignidade.org.br/projetos/lampiao-da-esquina/. Acesso em: jul. 2020. MARTINS, Juca. Travesti sendo imobilizada pelas forças policiais comandadas por Wilson Richetti. 1980. 1 fotografia. 1000 x 700 pixels. Disponível em: https://dialogospoliticos.wordpress.com/2015/04/06/onde-estavamas-travestis-durante-a-ditadura/. Acesso em: jul. 2020. Arquivo pessoal de James Green. Membros do Grupo Somos de Afirmação Homossexual em São Paulo. 1980. 1 fotografia. 1000 x 600 pixels. Disponível em: https://oglobo.globo.com/sociedade/nos-50-anos-de-stonewall-descubrahistoria-menos-contada-do-marco-da-luta-pelos-direitos-lgbti-no-brasil-1-23768599. Acesso em: jul. 2020. RIBEIRO, Domingos de Miranda. Estátua na Praça da República com Edifício Itália ao fundo. 1966. 1 fotografia. 700 x 700 pixels. Disponível em: http://201.73.128.131:8080/portals/#/detailpage/6377. Acesso em: jul. 2020.
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DAVIES, Diana. Marsha Johnson com sua amiga e colega ativista Sylvia Rivera. Elas estão do lado de fora da prefeitura de Nova York em manifestação pelos direitos da população LGBTQIA+. 1973. 1 fotografia. 1500 x 2000 pixels. Disponível em: https://www.nytimes.com/interactive/2018/ obituaries/overlooked-marsha-p-johnson.html. Acesso em: jul. 2020. Autor desconhecido. Fachada do bar Vermont, localizado na rua VIeira de Carvalho. O bar é frequentado pela população LGBTQIA+ desde sua inauguração, em 2000. 2016. 1 fotografia. 500 x 300 pixels. Disponível em: https://www.tripadvisor.com.br/Restaurant_Review-g303631-d6910013-ReviewsVermont_Republica_Cafe-Sao_Paulo_State_of_Sao_Paulo.html. Acesso em: jul. 2020. Acervo Elisa Mascaro. Wilza Carla chega à boate Medieval montada em elefante. 1976. 1 fotografia. 400 x 600 pixels. Disponível em: https://www1. folha.uol.com.br/cotidiano/2020/06/miss-bia-foi-drag-queen-pioneira-e-hebedas-gays.shtml. Acesso em: jul. 2020.
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MARTINS, Juca. José Wilson Richetti com sua equipe prendendo uma travesti. 1980. 1 fotografia. 900 x 600 pixels. Disponível em: https://www. ladobi.com.br/2017/05/ditadura-militar-renan-quinalha/. Acesso em: jul. 2020. GAENSLY, Guilherme. Avenida São João com bonde. 1902. 1 fotografia. 1000 x 800 pixels. Disponível em: http://brasilianafotografica.bn.br/ brasiliana/handle/20.500.12156.1/2572. Acesso em: jul. 2020. Acervo Elisa Mascaro. Transformistas posando juntas na boate Medieval. 1975 circa. 1 fotografia. 1000 x 750 pixels. Disponível em: https://vejasp.abril. com.br/blog/miguel-barbieri/noite-gay-paulistana-das-decadas-de-70-e-80-etema-de-filme/. Acesso em: jul. 2020. MAIA, Rafael. Festa Kevin, em que o uso de roupas não é obrigatório. 2017. 1 fotografia. 800 x 500 pixels. Disponível em: https://paulosampaio. blogosfera.uol.com.br/2017/04/18/criador-da-festa-do-pelados-sucesso-nocentro-de-sp-diz-que-roupa-e-uma-prisao/. Acesso em: jul. 2020. Acervo Elisa Mascaro. Transformista chegando em boate. 1975 circa. 1 fotografia. 680 x 450 pixels. Disponível em: https://vejasp.abril.com.br/culturalazer/boate-medieval-gay-memoria/. Acesso em: jul. 2020.
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Recorte do autor. Fragmento de texto da da edição número 4 do “Lampião da Esquina”, publicada em 1978. O texto em questão tratava sobre a vida de travestis em São Paulo. 2020. 1 recorte de jornal. 700 x 300 pixels. Disponível em: https://www.grupodignidade.org.br/projetos/ lampiao-da-esquina/. Acesso em: jul. 2020. Acervo Pessoal Miss Biá. Dupla conhecida na noite paulistana: Drag Queen com Gogoboy. 1990 circa. 1 fotografia. 300 x 500 pixels. Disponível em: https://revistatrip.uol.com.br/trip/E-tudo-nostro. Acesso em: jul. 2020. Acervo Condessa Mônica. Palco da boate Homo Sapiens com dançarinos e transformistas. 1987. 1 fotografia. 800 x 500 pixels. Disponível em: https:// www.facebook.com/condessamonica/. Acesso em: jul. 2020. KEYSTONE Pictures. Avenida Prestes Maia e Viaduto Santa Ifigênia. 1972. 1 fotografia. 990 x 750 pixels. Disponível em: https://www.alamy. com/nov-11-1972-indisciplined-brazilians-dodge-the-cars-in-sao-paulo-saoimage69469593.html. Acesso em: jul. 2020.
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MORAES, Fernando. Fachada do Edifício Esther, à esquerda, e Caetano de Campos, à direita, na Praça da República. 2018. 1 fotografia. 1000 x 500 pixels. Disponível em: https://vejasp.abril.com.br/ estabelecimento/praca-da-republica/. Acesso em: jul. 2020.
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Acervo Condessa Mônica. Interior da boate Homo Sapiens. 1970 circa. 1 fotografia. 900 x 500 pixels. Disponível em: https://www. facebook.com/condessamonica/. Acesso em: jul. 2020. Autor Desconhecido. “Ferveção” na noite da boate Homo Sapiens. 1970 circa. 1 fotografia. 700 x 1000 pixels. Disponível em: https:// musicnonstop.uol.com.br/uma-viagem-pela-cena-noturna-lgbt-de-sao-paulonos-ultimos-100-anos/. Acesso em: jul. 2020.
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Acervo Kaká Di Polly. Kaká di Polly, Sergio Kalil e Dimmy Kieer. Sergio foi diretor artístico da boate Corintho e marcou a noite paulistana a frente de muitas outras casas. 2000 circa. 1 fotografia. 600 x 450 pixels. Disponível em: http://www.kakadipolly.com.br/p/fotos.html. Acesso em: jul. 2020. Acervo Condessa Mônica. Aglomeração em frente à boate Medieval. 1975 circa. 1 fotografia. 900 x 550 pixels. Disponível em: https://www. facebook.com/condessamonica/. Acesso em: jul. 2020. Recorte do autor. Trecho de carta enviada por leitor para a edição número 26 do “Lampião da Esquina”, publicada em 1980. A carta aborda a discriminação sofrida por homens gays mais velhos entre os mais novos. 2020. 1 recorte de jornal. 600 x 300 pixels. Disponível em: https://www.grupodignidade.org.br/projetos/lampiao-da-esquina/. Acesso em: jul. 2020.
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