9 minute read

Vida Presbiteral

Next Article
Voz do Pastor

Voz do Pastor

Padre Cristiano Aparecido de Sousa

Representante dos Presbíteros

Advertisement

Para que rezar pelos padres? A santidade do sacerdote é impulso ainda maior para a santidade dos fiéis.

Instituído pelo Papa João Paulo II, no ano de 1995, o dia mundial de oração pela Santificação dos sacerdotes é celebrado por ocasião da solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Esta solenidade tem um significado especial para a vida de todos os sacerdotes até mesmo porque no Coração de Jesus os sacerdotes encontram o sentido de ser. O sacerdote que perscruta os segredos do Coração de Jesus pode experimentar a fecundidade de seu ministério. É na proximidade com o Sagrado Coração de Jesus que o sacerdote compreende como a sua ação pastoral deve conduzir o rebanho ao pastoril de Cristo Jesus. Ao contemplarmos a imagem do Coração de Jesus, vemos o seu Coração exposto. O sacerdote, por sua vez, expõe o seu coração através de suas ações que santificam o povo e, ao mesmo tempo, santifica-se. Seu coração se torna o ostensório que expõe as virtudes do coração de Jesus. Ao contemplar os sacerdotes em seu serviço de entrega e de amor, a comunidade vê presente Cristo Jesus. Recordo-me aqui das palavras do Santo Cura d’Ars “quando verdes um sacerdote, pensai em nosso Senhor”. Até aqui, porém, apresentamos somente o histórico e a espiritualidade do dia mundial de oração pelos sacerdotes... a resposta à pergunta colocada no início se faz exigência neste momento. Por que rezar pelos sacerdotes? Todos os fiéis, movidos de uma consciência reta, trazem consigo o desejo de que seus sacerdotes sejam santos. Por isso, a oração pelos sacerdotes é uma das formas de cooperar pela santificação deles. Queres Padres Santos? Reze por eles! A oração tem o poder de transformar a vida daqueles que, chamados por Deus e configurados a Cristo, fazem as vezes do próprio Cristo. A santidade do sacerdote é impulso ainda maior para a santidade dos fiéis. Uma comunidade, que reza pelos

seus sacerdotes, acolheu com clareza a ordem de nosso Senhor “pedi e recebereis” (Mt 7,7). Em muitos casos, a aversão à oração pelos sacerdotes se dá por aqueles que, vendo as debilidades do sacerdote, não compreendem as palavras do apóstolo Paulo “trazemos tesouros em vasos de barro” (2Cor 4,7). Se você se deparou com a fragilidade do seu sacerdote, reze por ele. Ele está na mesma busca que você, a busca pela santidade. Os frutos colhidos pela oração aos sacerdotes não estão relacionados estritamente a eles, mas também àquele que reza. Como poderia entrar eu em oração intercedendo pelo outro e não ser beneficiado daquela oração? Poderia eu entrar em um rio e sair de lá sem me molhar? Ao rezar pelos sacerdotes você também é beneficiado. A conversão do sacerdote te beneficia e a oração que fazes por ele também. Por isso, convido-te a, com firme decisão, empreender uma jornada de oração pelos sacerdotes. Não espere o próximo dia de oração pela Santificação dos sacerdotes. Quem ama a Igreja, ama também os sacerdotes e reza por eles. Por meio desses homens, chegam até nós os tesouros valiosos dos sacramentos, eficazes meios de salvação! Louvo a Deus que, em nossas comunidades paroquiais, existem muitos leigos que amam os seus sacerdotes e rezam por eles. A estes, eu exorto, permaneçam fiéis. Aqueles que ainda não rezam pelos sacerdotes, eu suplico, rezem por nós! Durante esse tempo de pandemia, também estamos à frente deste grande combate: nas visitas aos hospitais, no atendimento das confissões, no atendimento aos mais necessitados. É grande também a luta dos sacerdotes! Ajude-nos como o povo que ajudou Moisés sustentando suas mãos cansadas. Sustente seu sacerdote pelas suas orações!

Liturgia

Padre Jair Costa

Comissão Diocesana de Liturgia

A dinâmica e a espiritualidade do Tempo Comum

Neste distanciamento social, muita coisa mudou... Celebrações online, sem a presença da assembleia. Equipes de liturgia e canto reduzidas... Como participar da liturgia com proveito? Lembremos as palavras de Jesus: Estou convosco todos os dias, até o fim do mundo... Se este é um tempo de “fim de mundo”, também aqui o Senhor está conosco, e nos ensina a viver a novidade do seu Reino! Por isso, mesmo isolados em casa, ao nos reunirmos para celebrar, é fundamental construir esta atitude de ir ao encontro do Senhor e da comunidade. A presença do Senhor, na palavra proclamada e na oração comunitária, é presença real, mesmo mediada por tecnologias. O que vai fazer a diferença é a nossa postura, de ir ao encontro de Deus e do irmão. A dinâmica litúrgica pede uma abertura de coração, para o compromisso com Cristo e com seu Evangelho. Estamos vivendo o tempo comum: tempo de celebrar a missão de Jesus, e assumir que somos aprendizes nesta missão. A cada domingo, vamos meditar no caminho que Jesus faz para anunciar o Reino. A oração eucarística 6 – C nos convida a contemplar com o Pai o rosto de Jesus: “Ele é o caminho que conduz para vós, a verdade que nos liberta e a vida que nos enche de alegria. Por vosso Filho, reunis em uma só família os homens e as mulheres, criados para a glória de vosso nome, redimidos pelo sangue de sua cruz e marcados com o selo do vosso Espírito”. E Jesus quer nos envolver no seu caminho. Nos evangelhos do tempo comum, vemos que Jesus não se conforma à situação: muda suas estratégias, fala às multidões, repreende os discípulos, está atento às necessidades das pessoas. Ele só não muda seu objetivo: anunciar o Reino do Pai. Especialmente neste mês de julho, os domingos apresentam o Evangelho de Mateus, narrando as parábolas do Reino. Quando Jesus fala do Reino em parábolas, ele faz uma revisão da missão realizada, e reapresenta o ideal a ser cumprido por todos nós, discípulos e discípulas. O Reino de Deus é semente, que cai em terra dura, cheia de pedras, espinhos, ou terra boa... e o semeador não desiste... O Reino é ainda como o fermento, como o tesouro, como a rede... e nós, respondendo à teimosia de Deus, que não se cansa de fazer o bem, respondemos: Sim Senhor, nossas mãos vão plantar o teu Reino... (Louvai, 956) No tempo comum, comparando os textos bíblicos do domingo e as orações litúrgicas, vemos o chamado para viver a aliança com Deus, em Cristo. As orações litúrgicas que acompanham os domingos de julho destacam este compromisso com o Reino anunciado na palavra e no Evangelho: “Ó Deus, dai aos que professam a fé abraçar tudo que é digno do nome de cristãos” (oração

inicial do domingo 12 de julho) “multiplicai em nós a vossa graça, para guardarmos fielmente os vossos mandamentos” (19 de julho) “Redobrai vosso amor para conosco, para abraçarmos os bens que não passam” (26 de junho). Antes de participar da celebração online, medite, reze os textos bíblicos e litúrgicos... deixe o Senhor te tocar pelas palavras que serão rezadas. Faça do domingo seu dia de renovar a aliança de amor com Jesus, pessoalmente e comunitariamente. Para concluir, vamos nos apropriar, de novo, da Oração eucarística 6 – C: Ó Pai, “Fazei que todos os membros da Igreja, à luz da fé, saibam reconhecer os sinais dos tempos e empenhe-se, de verdade, no serviço do evangelho. Tornai-nos abertos e disponíveis para todos, para que possamos partilhar as dores e as angústias, as alegrias e as esperanças, e andar juntos no caminho do vosso reino”.

Bíblia

Padre Antônio Carlos Frizzo

Vigário da Paróquia Santa Rita de Cássia – Jardim Cumbica

Ler Sirácida 13, em tempos de crise social

Aatividade profética não terminou com o exílio babilônico, em 587 a.C. Cremos que ela continuou por meio de novas vozes, pessoas, grupos. Adquiriu novos contornos em novos ambientes. Eis a temática central deste texto ao apresentar uma reflexão sobre o capítulo 13 do livro de Sirácida ou Eclesiástico, na ótica do comportamento entre o pobre e o rico.

Em nossa interpretação, apostamos que temos nessas páginas bíblicas uma profecia. Uma profecia de cunho sapiencial que se espalhou em outros livros, na época pós-exílica (Sabedoria, Salmos, Jó, Cantares e Provérbios). Ela adquire novos contornos entre acrósticos, poemas, provérbios e sentenças. Buscamos contextualizar a época do surgimento do livro de Sirácida, para em seguida, analisar as propostas sociais da narrativa.

Um regime de governo teocrático se instalou na Palestina, após os persas terem realinhado toda região do “Além- -Eufrates” aos seus interesses. Os fatos ocorridos, após o edito do rei Ciro, possivelmente publicado no ano de 538 a.C., por mais de dois séculos, garantirão aos persas o controle hegemônico na conturbada região. Aos vários povos exilados na Babilônia não faltarão propostas políticas de retorno às terras de seus ancestrais. Aos grupos levados cativos nas guerras de 597 e 587 a.C., por ocasião da política expansionista, liderada por Nabucodonosor, o retorno a Sião, foi visto como gesto de bondade da parte de Javé e manifestação das suas vontades na pessoa do monarca Ciro. É chegado o momento de cada um ir ao seu irmão, ao seu companheiro e dizer “Coragem” (Is 41,6): “Que digo a Ciro: “Meu pastor.” Ele cumprirá toda a minha vontade, dizendo a Jerusalém: “Tu serás reconstruída”, e ao Templo: “Tu serás restabelecido” (Is 44,28)

No ano de 199 a.C., os gregos selêucidas controlam o corredor comercial ligando o Egito aos países do Norte, liderados por Antíoco III, também autoproclamado, o Grande. Uma política feita com mãos de ferro será a causa de um total descontrole social na região. O controle total da cidade de Jerusalém será uma das estratégias para manter a ordem e domínio militar. Mas, ontem como hoje, qualquer império cria estratégias às suas metas no desejo de aperfeiçoar e perpetuar seu estilo de imperar. É nesse desejo de dominar os mais fracos que surge o texto de Sirácida 13. O capítulo divide-se em duas partes. Numa primeira, podemos perceber o lugar social do nosso mestre. Seus olhos parecem constatar o aumento dos pobres. Elevadas taxas de impostos, as constantes guerras, as necessidades, cada vez mais necessária, da mão de obra escrava, as sistemáticas perdas do direito à posse da terra (v. 1-14), explicam o aumento da pobreza. Numa segunda parte, nosso autor mostra as consequências de um sistema de exploração: a destruição do tecido social. As relações diretas, os espaços sociais de criação, a manutenção das tradições clânicas, o interesse pelo auxílio mútuo, bem como, a comunhão de ideias desaparece dando lugar a um grupo de privilegiados, chamados de ricos (v. 15-23).

Sirácida é mestre e seu desejo é acenar o caminho da felicidade, da vida feliz aos seus concidadãos. O termo pobre é citado em contraposição ao termo rico. A narrativa tem seu destaque no comportamento do rico apresentado como alguém que sempre leva vantagem. Utiliza-se de sua riqueza para definir seu lugar no estrato social e sua supremacia diante do pobre. Sirácida apela a seus interlocutores a terem prudência: 1. Não se deixar levar por um relacionamento utilitarista, diante do rico (v. 4); 2. A proteção de seu patrimônio, diante de uma contenda com o rico (v. 5); 3. Apelo para não se deixar levar por um certo tipo de malandragem do rico.

This article is from: