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Origem history
architecture
culture
180 years of german immigration in santa catarina
cities
memory
folklore
180 anos da imigração alemã em Santa Catarina
Especial:
TRADIÇÃO QUE UNE GERAÇÕES GENERATIONS BONDED BY TRADITION
O resgate da culinária colonial Colonial cuisine revisited
carta ao leitor
180 anos de integração cultural 180 years of cultural integration
Gilmar Knaesel
Origem
180 anos da imigração alemã em Santa Catarina
Secretário de Estado de Turismo, Cultura e Esporte santa catarina's secretary of tourism, sports and culture
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A história dos municípios colonizados pelos imigrantes alemães tem um ingrediente cultural fascinante: a gastronomia. A tradição culinária trazida por esses imigrantes e o encontro com os produtos das novas terras fizeram nascer a comida típica alemã que conhecemos. Assim, raízes como a mandioca, frutas, legumes e verduras encontrados aqui pelos imigrantes foram incorporados naturalmente a receitas que passam de geração em geração, mantendo viva a tradição alemã à mesa em nosso Estado. Eventos como a Oktoberfest, de Blumenau, a maior e mais famosa festa alemã do Brasil; como a Festa Pomerana, de Pomerode, cidade mais alemã do Brasil; e como a Oktobertanz, de São Pedro de Alcântara, que recebeu a primeira leva de imigrantes alemães no Estado, colocam a gastronomia em evidência, incrementando a diversidade cultural oferecida por Santa Catarina a seus visitantes. Experimentar pratos típicos alemães e degustar uma cerveja artesanal catarinense é conhecer os hábitos de um povo que se orgulha das suas tradições europeias, mas soube respeitar e extrair o que há de melhor das terras que ocupou. Também significa entrar em contato com uma cultura que se caracteriza pela disciplina na organização social, pela religiosidade e pelo espírito de solidariedade. Santa Catarina é um Estado reconhecido mundialmente pelos traços europeus de sua gente, pelas suas belezas naturais e pela cultura preservada em suas regiões turísticas. Assim fomos, por dois anos consecutivos, eleitos o Melhor Destino Turístico do Brasil, somos referência nacional em programas do Ministério do Turismo como o de Regionalização Turística, e em programas do Ministério da Cultura como o dos Roteiros de Imigração. A presente publicação é um convite a uma deliciosa viagem pela tradição alemã que comemora 180 anos em nosso Estado, e se soma a mais de uma centena de ações que deflagramos nessa comemoração em 2009 por meio dos fundos de incentivo – Funcultural, Funturismo e Fundesporte.
The History of the cities and towns colonized by Germanic settlers has a fascinating cultural ingredient: the Gastronomy. The culinary tradition brought by these immigrants and the discovery of different products in this new land generated the typical Germanic food as we know. Therefore, roots as the manioc, fruits and vegetables found here by the immigrants were naturally combined with the recipes that are being kept through generations, feeding this Germanic tradition in Santa Catarina. Events like Oktoberfest, in Blumenau, the biggest and most famous Germanic festival in Brazil; Festa Pomerana, in Pomerode, the most Gemanic town in the country; and Oktobertanz, in São Pedro de Alcântara, where the first immigrants were settled in the State, have put the Gastronomy in a distinction place, incrementing the cultural diversity offered by Santa Catarina to its visitors. To taste typical Germanic plates and enjoy a local artisanal beer is to know better the habits of a people that are proud of their European traditions, but that have known how to respect and take what this land have offered as best. It also means to get in touch with a culture that features social organization and discipline, with devout people with a great solidarity spirit. Santa Catarina is a State known worldwide by its people's European traces, by its natural landscapes and by the preservation of the culture in its tourist destinations. Thus, we were elected twice in a row the Best Touristic Destination in Brazil and are a national reference in some Tourism Ministry programs as the Tourist Regionalization and in programs such as the Immigration Routes, promoted by the Ministry of Culture. The present publication is an invitation for a delicious journey through the Germanic tradition which celebrates 180 years in Santa Catarina, in addition to hundreds of actions that we initiated on this celebratory year of 2009 through incentive funds linke Funcultural, Funturismo and Fundesporte.
Rosa Maria Lôndero Rupp Diretora Acadêmica do Instituto Recriar - Santa Catarina academic director of instituto recriar - santa catarina
É com satisfação que apresentamos a revista comemorativa Origem – 180 anos da imigração alemã em Santa Catarina. Esta publicação especial é resultado do Projeto Ações na Gastronomia, promovido pelo Instituto Recriar/SC. Tratase de uma homenagem aos imigrantes alemães e seus descendentes que, desde a segunda metade do século 19, têm deixado sua marca em diversas atividades sociais, culturais e econômicas da Terra Barriga-Verde. Uma delas é a gastronomia. Reconhecer um pedaço da nossa história nas receitas herdadas dos antepassados é uma forma de reconhecer que a cultura está também no alimento, como sinônimo de comunhão, de amizade e de vida. Ao entender as práticas culinárias trazidas da Europa e sua adaptação às terras brasileiras, passamos a valorizar ainda mais o forte elo que existe entre essas duas culturas. Além da culinária, seria desnecessário ressaltar a relevância histórica e cultural das famílias imigrantes em Santa Catarina. Para se ter uma ideia da importância da etnia alemã na formação da identidade catarinense, basta saber que 164 municípios no Estado possuem traços da imigração germânica – mais da metade das 293 cidades catarinenses. É por isso que, além de destacar a riqueza da gastronomia de origem germânica, a presente edição faz um apanhado da história destes imigrantes no Estado. Nas páginas seguintes você vai saber um pouco mais sobre a fundação das primeiras comunidades alemãs em Santa Catarina, a herança colonial deixada na arquitetura e nas manifestações folclóricas, a preservação das raízes em diversos museus especializados, além de um perfil atual de algumas das cidades surgidas de antigas colônias. Por fim, deixamos nosso agradecimento a todos aqueles que generosamente contribuíram para tornar possível este trabalho: à Comissão Executiva dos 180 Anos da Imigração Alemã, aos chefs de gastronomia presentes nesta edição, ao grupo Styllus, à Venturi Assessoria Publicitária, à Editora Empreendedor e ao Governo do Estado de Santa Catarina, através da Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte. Boa leitura e bom apetite! Ou, em alemão, guten appetit!
180 anos da imigração alemã em Santa Catarina
A homage to the German family
It is with great satisfaction that we introduce Origem – 180 years of German immigration in Santa Catarina. This publication is a result of the Gastronomy Actions Project, promoted by the Instituto Recriar/SC. It is a true homage to the German immigrants and their descendants who, since the second half of the 19th century, have been contributing to develop several social, cultural and economical activities in our State. One of them is Gastronomy. To recognize a piece of our History on the recipes inherited from ancestors is a way to recognize that culture is also represented on food as a synonym of sharing, friendship and life. If we understand the culinary practices brought from Europe and its adaptation to the Brazilian lands, we can give even more value to the link that exists between these two cultures. Besides Gastronomy, it is unnecessary to highlight the cultural and historic relevance of these immigrant families in Santa Catarina. The fact that 164 cities and towns in Santa Catarina have at least some Germanic immigration traces shows how important Germanic people are in the development of the State identity. That is more than 50% of the 293 cities in Santa Catarina. And that is the reason why, as well as giving prominence to the richness of the culinary created by the first settlers, this magazine tells the History of these immigrants in this State. On the following pages you will get to know more about the foundation of the first Germanic communities in Santa Catarina, the colonial heritage that can be seen on the architecture and folk demonstrations, the preservation of their roots in several specialized museums, as well as an updated profile of some of the cities and towns that have growth from the ancient colonies. At last, we leave our compliments to all of them that generously contributed to this issue: the Executive Committee of the 180 years of Germanic Immigration, the chefs present in this magazine, Grupo Styllus, Venturi Assessoria Publicitária, Editora Empreendedor and Santa Catarina's Government by means of the Tourism, Culture and Sports Office. Have a nice reading and enjoy your meal! Or, as the Germans say, guten appetit!
Origem
Homenagem à família germânica
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História: a saga dos imigrantes alemães History: the saga of German immigrants
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Cidades: herança colonial nos centros urbanos Cities: the colonial heritage in urban centers Brasil-Alemanha: laços duradouros Brazil-Germany: long lasting bonds
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Gastronomia: da comida típica à alta cozinha Gastronomy: from typical food to haute cuisine
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Origem
180 ANOS DA IMIGRAÇÃO ALEMÃ EM SANTA CATARINA
Receitas coloniais: delícias germânicas resgatadas Colonial recipes: German delicacies reviewed
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Cerveja: o sabor único da produção artesanal Beer: the unique taste of artisan production Memória: de volta ao passado nos museus coloniais Memory: back to the past inside the colonial museums Grupos folclóricos: tradição em música e dança Folk Groups: tradition in music and dance
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Origem
ARQUIVO EMPREENDEDOR
Diretor de Comercialização e Marketing Geraldo Nilson de Azevedo geraldo@empreendedor.com.br Planejamento e Coordenação Diógenes Fischer diogenes@agenteinforma.com.br Apoio Institucional
Instituto Recriar – Santa Catarina Rua das Azaléias, 46 Carvoeira – Florianópolis – SC (48) 3233 1405 | recriar.sc@terra.com.br
EDITORA EMPREENDEDOR Escritório São Paulo Rua Sabará, 566 9º andar - conjunto 92 - Higienópolis 01239-010 - São Paulo - SP (11) 3214 1020 Escritório Florianópolis Av. Osmar Cunha, 183 - Ceisa Center Bloco C - 9º andar - Centro 88015-900 - Florianópolis - SC Fone: (48) 2106 8666 Escritórios Regionais Rio de Janeiro: (21) 3231 9017 Brasília: (61) 3322 2034 Rio Grande do Sul: (51) 3340 9116 Paraná: (41) 3079 4666 Pernambuco: (81) 3327 3384 Minas Gerais: (31) 2125 2900 PATROCINADORES
180 ANOS DA IMIGRAÇÃO ALEMÃ EM SANTA CATARINA
Diretor-editor Acari Amorim acari@empreendedor.com.br
Equipe de Produção Edição geral: Diógenes Fischer Projeto gráfico e edição de arte: Wilson Williams Textos: Leo Laps, Marlon Aseff e Luciana Zonta Fotografia: Leo Laps, Ingo Penz, Arquivo Histórico e Arquivo Editora Empreendedor Foto da capa: Leo Laps Revisão: Lu Coelho Tradução: Leo Laps e Diógenes Fischer Impressão e acabamento: Coan Indústria Gráfica Ltda Colaboração: Rosa Maria Lôndero Rupp e Acemi Fiuza (Instituto Recriar/SC); Daniel Silveira (Secretaria de Cultura de São Pedro de Alcântara); Ingo Penz (fotos e pesquisa); Alzir Francisco Krauss (Casa das Tortas); 2a turma do Curso Técnico de Turismo e Hotelaria do SENAI/FIESC - 1998 (resgate da culinária dos imigrantes alemães); Telmo Lauro Müller (autor do livro Os Imigrantes alemães e sua cozinha); Ademir Pfiffer (Fundação Cultural de Jaraguá do Sul); Prof. João Klug (depto. de História da Ufsc); Edeltraud Rueckl (ex-presdidente da Fundação Cultural de São Bento do Sul); Helcio Hermes Hoffmann (Associação Cultural Freundeskreis); Fred Ulrich (radialista)); Carlos Cézar Hoffmann (sociólogo e pesquisador); Sra. Ellen Weege Vollmer e Ellen Annuseck Bona (Museu Wolfgang Weege); Arquivo Histórico de Blumenau.
Origem
Produção e Edição Editora Empreendedor
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Origem
180 anos da imigração alemã em Santa Catarina
história
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O nascimento de uma cultura The birth of a culture
arquivo histórico de blumenau
Origem
zona rural de blumenau, no final do século 19 settlement in blumenau countryside by 19th century
180 anos da imigração alemã em Santa Catarina
Os primeiros anos não foram fáceis, mas o trabalho duro nas colônias germânicas deu origem a dezenas de cidades The initial years were filled with hardships, but the hard work in German settlements gave rise to dozens of cities
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A maioria dos cerca de 250 mil alemães que imigraram para o Brasil superou grandes dificuldades para se estabelecer Most of the 250 thousand Germans that immigrated to Brazil had to overcome a great deal of hardships to settle in theses lands
Origem
180 anos da imigração alemã em Santa Catarina
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anta Catarina é reconhecida em todo o Brasil como um dos melhores exemplos dos bons frutos gerados pela colonização alemã. Mas nem sempre foi assim. No início do século 19, quando as primeiras famílias de camponeses alemães aqui chegaram, o território era inóspito e o trabalho árduo. O império brasileiro, que no início propagava uma explícita xenofobia aos imigrantes, aos poucos foi adotando uma política de incentivo, aliada aos seus interesses imediatos de proteção de fronteiras e ocupação de vazios demográficos. Os primeiros lances da imigração alemã em Santa Catarina aconteceram a partir de 1815, período posterior às guerras napoleônicas e se aceleraram até a Primeira Guerra Mundial. Ao chegar aqui, no entanto, as famílias alemãs encontravam muito pouco do que tinha sido prometido, além de terras. Depois de uma viagem marítima cansativa, onde muitos pereciam, não encontravam uma infraestrutura mínima, nem liberdade religiosa fora do catolicismo e ainda tinham que enfrentar doenças tropicais desconhecidas e o ataque dos chamados “bugres”, os índios locais. A maioria dos cerca de 250 mil alemães que imigraram para o Brasil teve de superar grandes dificuldades para se estabelecer com suas famílias. Nas primeiras décadas do século 19, Santa Catarina era pouco povoada, ocorrendo um grande vazio demográfico entre o planalto e o litoral. Entre a faixa litorânea e o planalto dos campos de Lages, o vazio demográfico associado à população branca era uma realidade que o Império tinha como meta superar. Em um primeiro momento, o governo brasileiro tinha interesse em angariar soldados estrangeiros para a formação de postos de defesa de suas fronteiras, e para isso buscou alistar na Europa, convulsionada por mudanças econômicas e políticas, homens dispostos a uma nova e definitiva empreitada. Passados os conflitos da Guerra Cisplatina e em torno da independência brasileira, os soldados germânicos, arregimentados na Confederação Alemã, foram entregues aos núcleos coloniais recém-criados.
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anta Catarina is well known in all the country as one of the best examples of the good seeds generated by the Germanic colonization. However, it was not always like that. In the beginning of the 19th century, when the first farmer families arrived from Germany, the land was dangerous and the work was really hard. The Brazilian Empire, which in a first moment gave incentive to an explicit xenophobia against the immigrants, gradually started to encourage them to come as soon as it became important to protect the country's boundaries and take possession of empty spaces inside its territory. The first moves of the Germanic immigration in Santa Catarina happened from 1815, right after the Napoleonic Wars, and then speeded up until the I World War. Nevertheless, when the Germanic families arrived in Brazil, they found not much of what had been promised to them, besides land. After an exhausting sea trip, in which a lot of them would die, these immigrants did not find any infrastructure or religious freedom (Catholicism was the only religion allowed in Brazil) and, further, they had to face unknown tropical diseases and indigenous attacks. Most of the 250 thousand Germans that immigrated to Brazil had to overcome great difficulties to establish their families in this new land. In the first decades of the 19th century, Santa Catarina was not very populated, with a demographic emptiness from the upland to the coast. Between the Atlantic Ocean and the plateau of Lages, this not used space associated with a white population was a reality that the Empire had as a goal to overcome. At first, the Brazilian government was interested on drafting foreign soldiers to work on its frontier defence posts, and looking it went to a Europe convulsed by economical and political changes to find young men who were keen for a new and definite challenge. When the conflicts of the Cisplatine War and the Brazilian Independence finished, Germanic soldiers, convoked by the German Confederation, where delivered to the recently built colonial hubs created in Brazil.
são bento do sul
mafra
canoinhas porto união
corupá
São francisco do sul
joinville jaraguá do sul
pomerode
timbó Indaial
blumenau gaspar
itapiranga
chapecó
itajaí camboriiú
brusque joaçaba
tijucas
curitibanos ituporanga
campos novos
angelina
antônio carlos
são pedro de alcântara
florianópolis
alfredo wagner
Núcleos de colonização germânica em Santa Catarina German colonization areas in Santa Catarina
águas mornas
lages
grão-pará são joaquim orleans
são ludgero laguna Tubarão
criciúma
araranguá
COLÔNIAS fundadas entre 1829 e 1900
EXTENSão ou subdivisão FUNDADOR Extension or subdivision Founder
São Pedro de Alcântara Sede de Colônia Governo Provincial/Imperial São Pedro de Alcântara Santa Filomena Núcleo Espontâneo São Pedro de Alcântara Colônia Itajahy Governo Provincial São Pedro de Alcântara Vargem Grande Núcleo Espontâneo São Pedro de Alcântara Leopoldina Seridan Telghuís Santa Isabel Sede de Colônia Governo Provincial//Imperial Piedade Sede de Colônia Provincial/Imperial Blumenau Sede de Colônia Hermann Blumenau Blumenau Rio do Testo Núcleo Espontâneo Blumenau Indaial Núcleo Espontâneo Blumenau Benedito - Timbó Friedrich Donner Dona Francisca Sede de Colônia Sociedade Colonizadora de Hamburgo Dona Francisca Jaraguá Emílio Carlos Jourdain Dona Francisca São Bento do Sul Sociedade Hamburguesa de Colonização Col. Militar Santa Teresa Sede de Colônia Governo Provincial/Imperial Itajahy - Brusque Sede de Colônia Maximiliano de Schneeburg Teresópolis Sede de Colônia Governo Provincial/Imperial Teresópolis Quadro Braço do Norte Núcleo Espontâneo Col. Nacional Angelina Sede de Colônia Governo Provincial Grão-Pará - Joaquim Caetano Pinto Júnior Hansa - Humbold Sede de Colônia Sociedade Colonizadora Hanseática Hansa - Hamônia Sede de Colônia Sociedade Colonizadora Hanseática
FUNDAÇÃO
CIDADE / MUNICÍPIO ATUAL
Foundation date
City/town nowadays
1º/03/1829 São Pedro de Alcântara 1830 São Pedro de Alcântara 5/05/1835 Gaspar e Brusque 1837 Águas Mornas 1848 Antônio Carlos 1847 Águas Mornas e Rancho Queimado 1847 Governador Celso Ramos 2/09/1850 Blumenau e Região 1860 Pomerode 1866 Indaial 1869 Timbó 9/03/1851 Joinville e Região 1876 Jaraguá do Sul 1873 São Bento do Sul 8/11/1853 Alfredo Wagner 1860 Brusque e Região 3/06/1860 Águas Mornas e São Bonifácio 1873 São Ludgero e Região 10/12/1860 Angelina 2/12/1882 Grão-Pará 1897 Corupá 1897 Ibirama e Região Fonte: Toni Vidal Jochem [www.tonijochem.com.br]
Origem
NOME DA COLÔNIA
Settlement's name
180 anos da imigração alemã em Santa Catarina
settlements founded between 1829 and 1900
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arquivo empreendedor
Os grandes núcleos da colonização alemã só iriam prosperar a partir de 1850, com a fundação de Blumenau The greatest hubs of German colonization only managed to prosper by 1850, with the foundation of Blumenau arquivo pessoal
Origem
180 anos da imigração alemã em Santa Catarina
A família hille, que imigrou em 1886 para santa catarina hille family immigrated to santa catarina in 1886
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Johann Otto Louis Niemeyer
Casa de Oração Protestante na Colônia Dona Francisca em 1866 protestant church in dona francisca settlement by 1866
A partir da década de 1840, a crise na Europa e em particular nos estados alemães forneceu novo impulso para a imigração ao Brasil. Em 1847 chegaram os mais expressivos grupos de alemães a Santa Catarina, favorecidos pela lei imperial que encaminhava as terras devolutas – cerca de 9.600 hectares – para as novas áreas de colonização. Essas terras eram proibidas ao trabalho escravo, destinadas à criação de uma classe rural branca. Em Santa Catarina, esse impulso colonizador foi facilitado pela característica do Estado, avesso ao latifúndio escravagista. A primeira colônia alemã expressiva em Santa Catarina foi criada em São Pedro de Alcântara, no dia 1º de março de 1829, por 146 famílias de camponeses que se somaram a 112 ex-soldados de batalhões estrangeiros dissolvidos. A colônia não progrediu como se esperava devido à falta de assistência governamental e à má qualidade das áreas escolhidas para os assentamentos. O efeito disseminador da primeira colônia, no entanto, deu impulso a novos estabelecimentos nas áreas próximas ao Itajaí-Açu e Itajaí-Mirim. Nos anos seguintes novos colonos iriam se estabelecer em colônias próximas ao litoral, como Santa Izabel e Piedade (1847), Leopoldina (1852) e Teresópolis (1860).
From the 1840's, the European crisis, especially in the Germanic States, gave a new push on the immigration to Brazil. In 1847 arrived in Santa Catarina the most expressive Germanic groups, favoured by an Imperial Law that would give unoccupied land about 9.600 hectares - to the new settlement areas. Slaves were prohibited in these lands with the will of creating a white rural class. In Santa Catarina, this specific colonization impulse was facilitated by the characteristics of the region, contrary to the slavery latifundium. The first expressive Germanic colony in Santa Catarina was founded in São Pedro de Alcântara on the 1st of March, 1829, by 146 rural families that joined 112 former soldiers of the dissolved foreign legions. The settlement did not develop as it was expected because of the lack of governmental assistance and the bad quality of the land chosen for it. The spreading effect of this first colony, however, gave new strength to the formation of other settlements in areas close to the Itajaí-Açu and Itajaí-Mirim rivers. In the following years, farmers would place their families in areas close to the coast like Santa Izabel and Piedade (1847), Leopoldina (1852) and Teresópolis (1860).
arquivo histórico blumenau
The Santa Izabel colony, founded in 1847, would have to constitute a new population hub, this time near the road that connected Desterro, the province Capital, to Lages. This colony was divided in six lines: Linha Scharff, Rancho Queimado, Rio Bonito, Morro Chato, Taquaras and Segunda Linha. The colony's products like beans, corn, potato, leather, eggs and pork fat were sold at Desterro market. In 1869, Santa Izabel became a São José district. At the same time, Leopoldina was expanding its lands to Biguaçu and Tijucas Grande, in areas that had about 30 hectares each settlement. The colonies that made border with Santa Catarina's Island (where the Capital is), like Teresópolis and Santa Izabel, in spite of a partial prosperity, did not developed because of its irregular topography, insulation and properties smaller than the ideal to allow an economical growth to the families that were living there. The Germanic colonization biggest hubs would just thrive in Santa Catarina from 1850, with the foundation of Blumenau and Joinville, in 1951. This new colonization stage success owes a lot to the efforts of Dr. Hermann Bruno Otto Blumenau and the 1849
A colônia Santa Izabel, fundada em 1847, deveria se constituir em um novo núcleo populacional, desta vez às margens da recém-criada estrada que unia Desterro, a capital provincial, a Lages. Esta colônia se dividiu em seis linhas: Linha Scharff, Rancho Queimado, Rio Bonito, Morro Chato, Taquaras e Segunda Linha. Os produtos coloniais, como feijão, milho, batata, couro curtido, ovos e banha eram vendidos no mercado de Desterro. Em 1869, Santa Izabel passou a distrito municipal de São José. Ao mesmo tempo, a colônia Leopoldina expandia-se para terras de Biguaçu e Tijucas Grande, em áreas que compreendiam cerca de 30 hectares por assentamento. As colônias que faziam fronteira com a Ilha de Santa Catarina, como Teresópolis e Santa Izabel, apesar de desfrutarem de uma parcial prosperidade, não alcançaram êxito devido a uma topografia acidentada, isolamento e lotes menores do que o necessário para o crescimento econômico das famílias ali estabelecidas. Os grandes núcleos da colonização alemã em Santa Catarina só iriam prosperar a partir de 1850, com a fundação de Blumenau, e Joinville, em 1851. O sucesso dessa nova etapa da colonização se deve muito aos esforços do colonizador Dr. Hermann Otto Bruno Blu-
180 anos da imigração alemã em Santa Catarina
A rua xv de novembro, no centro de blumenau, no ano de 1900 xv de novembro street, at the central area of blumenau, in 1900
Origem
Indústria de blumenau nos anos 1930 blumenau industry in the 1930s
arquivo histórico blumenau
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Traços das primeiras residências dos imigrantes ainda podem ser encontrados em diferentes localidades rurais Traces of the first immigrant residences can still be found in many rural localites around the State Hamburg's Colonization Society. The good commercial relationship between Brazilian Empire and the city of Hamburg, after the country's Independence, accelerated this process. Many immigrants were making a counterpoint to Germany's balance of trade deficit. Germans were buying coffee and sugar from Brazil, but were also having a profit on the way back to America by selling tickets to the immigrants. In 1859, Dona Francisca's colony, that would later become Joinville, was experiencing a textile success only compared to São Leopoldo, in Rio Grande do Sul. Dona Francisca fast expansion generated new colonies in the Itajaí-Açu and ItajaíMirim valleys. In the following decades, the Germanic immigrant presence would consolidate new colonies that would later become cities and towns like Pomerode, São Bento do Sul, Itajaí, Brusque, Indaial, Timbó, Gaspar and Guabiruba.
Origem
180 anos da imigração alemã em Santa Catarina
menau e à “Sociedade Colonizadora de 1849 em Hamburgo”. A boa relação comercial do Império com Hamburgo, após a independência, acelerou essa relação. Muitos imigrantes faziam o contraponto a uma balança comercial deficitária para os alemães, que compravam café e açúcar do Brasil, mas que na hora de fazer a rota inversa buscavam o lucro nas passagens vendidas aos imigrantes. Em 1859, a colônia de Dona Francisca, embrião do município de Joinville, já experimentava um êxito fabril só igualado por São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. A rápida expansão de Dona Francisca gerou novas colônias no Médio Vale do Itajaí-Açu e Vale do Itajaí-Mirim. Nas décadas seguintes, a presença da imigração alemã iria se consolidar em novas colônias, que dariam origem a cidades como Pomerode, São Bento, Itajaí, Brusque, Indaial, Timbó, Gaspar e Guabiruba.
zona rural na região sul de santa catarina, em 2009 countryside at southern santa catarina, in 2009
14 foto ingo penz
são pedro de alcântara
Berço da imigração
Origem
180 anos da imigração alemã em Santa Catarina
São Pedro de Alcântara
The cradle of immigration
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A
pacata cidade de São Pedro de Alcântara, situada a apenas 32 quilômetros da Capital catarinense, guarda as histórias do primeiro marco imigratório da colonização alemã no Estado. Foi nesse pequeno município que, há 180 anos, as primeiras famílias de imigrantes fixaram as bases de uma cultura que rapidamente iria se espalhar por toda Santa Catarina. Até hoje o município conserva a herança dos primeiros anos da colonização, seja na arquitetura que remete aos antepassados alemães – como a Igreja Matriz, construída em comemoração aos 100 anos da colonização –, seja na produção de uma aguardente de excelente qualidade, vertida em engenhos centenários. Se o município não se desenvolveu como os grandes centros urbanos fundados posteriormente pelos alemães, foi devido às grandes dificuldades que os pioneiros ali encontraram, além das terras pouco férteis. Essas condições levaram os imigrantes a buscar outros locais para estabelecer novos núcleos coloniais. Mas São Pedro de Alcântara garantiu seu lugar na história devido à tenacidade das primeiras famílias que para lá foram enviadas. Mesmo sem as mínimas condições de trabalho, saúde ou educação, ergueram em poucos
T
he placid São Pedro de Alcântara, only 32 kilometers from Santa Catarina’s Capital city Florianópolis, keeps the history of the first Germanic settlement in Santa Catarina. It was on this small town that, 180 years ago, the first immigrant families placed the base of a cultural influence that would quickly spread all over the State. Up until today, their descendants preserve much of their colonial heritage: from an architecture connected to the German ancestors – like the Mother Church, built to homage the 100 years of settlement – to the production of a high quality cachaça (traditional Brazilian liquor), distilled in century-old mills. If São Pedro de Alcântara has not developed as other big urban cities founded later by Germans, it was mainly due to the many hardships that the pioneers had to fight against in the region, besides not having very fertile lands. These conditions forced the immigrants to find other places to develop new settlements. But the town has guaranteed its place in History thanks to the tenacious mind of the first families sent to the region. Even without minimal working, health and educational conditions, they
AS ruas ainda guardam o mesmo ar pacato da colônia que recebeu os primeiros imigrantes alemães em 1929 the streets still mantain their colonial atmosphere in the place where german immigrants first settled in 1929
fotos leo laps
Origem
180 anos da imigração alemã em Santa Catarina
construído em 1920, o casarão da família Kretzer foi tombado como patrimônio Histórico brasileiro built in 1920, kretzer family's house is Registered as a historic site by the naTIONal Heritage Council
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A primeira colônia alemã em Santa Catarina foi fundada em 1829 The first German settlement in Santa Catarina was found in 1829
Origem
180 anos da imigração alemã em Santa Catarina
Fachada de uma escola municipal facade of a municipal school
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as antigas moradas dos imigrantes ainda podem ser visitadas na área rural the immigrant's former residences still can be seen at the countryside
anos uma cidade de notável estrutura comunitária. Quando os cerca de 600 imigrantes alemães ali chegaram, a província de Santa Catarina constituía-se de não mais de uma cidade, a capital Desterro, e três vilas: Laguna, Lages e São Francisco do Sul. São Pedro de Alcântara, assim batizada em homenagem à família imperial, foi criada para fortalecer a ocupação do território que ligava Desterro a Lages. Enquanto essa rota durou, São Pedro de Alcântara experimentou um crescimento econômico sensível. Poucos anos depois, no entanto, o governo provincial construiu uma nova estrada em direção a Lages, via Santo Amaro da Imperatriz e Águas Mornas, que acabou isolando o município e gerando uma estagnação econômica. O distrito de colonização alemã iria experimentar pelas décadas seguintes um incipiente desenvolvimento econômico, mas a emancipação político-administrativa só viria em 1997. Nos dias atuais, o município de São Pedro de Alcântara revela-se um aprazível destino turístico, onde a marca do pioneirismo alemão pode ser vista em cada rua. Distante da agitação dos grandes centros urbanos, ali é possível desfrutar tranquilamente da sombra na Praça Leopoldo Francisco Kretzer, em frente à Prefeitura, depois de ter percorrido os antigos casarões erguidos pelos imigrantes e provado a famosa aguardente local.
have built up a town with a notable communitarian structure. When about 600 Germanic immigrants arrived, Santa Catarina Province had no more than one city, Desterro (today Florianópolis), and three villages: Laguna, Lages and São Francisco do Sul. São Pedro de Alcântara, which name comes from Portugal’s Imperial Family, was founded to reinforce the occupation of the territory that connected Lages to Desterro. While this ancient route lasted, São Pedro de Alcântara experienced an expressive economic growth. However, a few years later, with the construction of a new road to Lages by the provincial government, through Santo Amaro da Imperatriz and Águas Mornas, the town became insulated and economically stagnant. The German colonized district would see for the next decades a modest economic expansion, but the political-administrative emancipation came just in 1997. Nowadays, São Pedro de Alcântara town is a pleasant touristic destination, where the German pioneer marks can be sighted on every single street. Far away from the busy urban centres, in this place it is possible to serenely enjoy the shades of Leopoldo Francisco Kretzer Square trees, in front of the town’s council, after seeing old mansions built up by the first settlers and taking a taste of the famous local cachaça.
Origem
a Praça Leopoldo Francisco Kretzer, no centro da cidade leopoldo Francisco Kretzer square, at the center of town
180 anos da imigração alemã em Santa Catarina
a imponente igreja matriz, construída em comemoração ao centenário da imigração The stately MOTHER CURCH, built to homage the first centenary of german immigration
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blumenau
Dinâmica e acolhedora A busy and cozy city
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Blumenau
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ercada pelos morros cobertos de verde do Vale do Itajaí, Blumenau é um lugar onde o interiorano e o moderno convivem em harmonia. Mais de um século e meio depois de sua fundação e com uma população de cerca de 250 mil habitantes, a cidade ainda conserva uma atmosfera que remete a paisagens do interior europeu. Os traços culturais da colonização germânica estão por toda parte: nas ruas adornadas com flores, nas fachadas de casas antigas em estilo colonial, nos sabores únicos da comida típica e das cervejas artesanais, no espírito trabalhador e hospitaleiro de sua população. Desde sua fundação, a cidade sempre esteve ligada ao Rio Itajaí-Açu. Cortando o Centro de Blumenau, as águas por onde chegaram os barcos com as primeiras famílias de imigrantes alemães em 1850 correm por uma imensidão de nascentes e ribeirões. Subindo cada um deles, o que se vê hoje são bairros que preservam muito bem o passado colonial, a natureza e um estilo de vida mais simples. Ao norte, na Vila Itoupava, casas construídas em técnica enxaimel e uma paisagem rural são cenário para conversas em alemão entre os moradores. Ao sul, a Nova Rússia preserva diversas nascentes e é um dos principais destinos dos habitantes da cidade nos
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urrounded by the beautiful green hills of Itajaí Valley, rural landscapes coexist in harmony with modern life in Blumenau. After more than one and a half century of its foundation, with a population of about 250.000, the city still preserves an atmosphere resembling the European countryside. The cultural traces of German influence in these lands are everywhere: in the streets decorated with flowers, in the facades of colonial-style houses, in the unique flavors of typical food and artisanal beer, in the hard working but friendly character of its people. Since its foundation, the city has always been connected to the Itajaí-Açu river. Snaking downtown, the waters that brought the boats with the first immigrant families from Germany in 1850 still run through uncountable streams and creeks. By going up a few of them, we find suburbs that still preserve the simple lifestyle, natural sceneries and the immigrant legacy. Up North, at Vila Itoupava, houses built with the fachwerk technique in a rural landscape are the scenery for chats in German between neighbors. To the South, Nova Rússia concentrates many clear water creeks that are a major destination during the summer holidays in the Valley. Even right down-
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ACIMA: rua xv de novembro e av. beira-rio, no centro histórico da cidade. AO LADO: AS coloridas fachadas da vila germânica. No detalhe: a sede da prefeitura municipal com a ponte de ferro ao fundo ON TOP: XV de Novembro Street and beira-rio avenue, at the city's historic center. LEFT: the colorful facades of vila germânica. ABOVE: the city hall with the iron bridge on the background
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A cidade recebe turistas do mundo todo e preserva com orgulho suas raízes coloniais The city receives tourists from all over the world and proudly keeps its colonial roots
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fins de semana quentes do verão. Voltando para o Centro, o passado se funde ao presente em antigos casarões, praças e monumentos históricos. Seja na bela Avenida das Palmeiras – a primeira rua de Blumenau – ou na movimentada Rua XV de Novembro, um passeio a pé por esta parte da cidade revela tesouros como o Museu da Família Colonial, o Moinho do Vale e o Teatro Carlos Gomes. Dos primeiros anos da colônia até os dias atuais, a força do povo blumenauense já foi testada inúmeras vezes pela própria natureza que embeleza a região. A última delas foi em novembro de 2008, quando cheias e deslizamentos de terra, devido a meses de chuva ininterrupta, causaram grandes perdas humanas e materiais. Mais uma vez, a cidade se reergueu com vigor. Da mesma forma que fez em 1984, quando, após dois anos seguidos de enchentes, seus moradores buscaram conforto na tradição germânica e organizaram a primeira Oktoberfest. Criada para animar a comunidade depois de uma tragédia, a festa acabou se tornando um dos maiores símbolos de Blumenau e a combinação de gastronomia alemã, chope gelado,
town, the past merges with present time in old colonial buildings, squares and historic sites. Either through the beautiful palm trees of Duque de Caxias Avenue, Blumenau’s first street, or at the busy XV de Novembro Street – a walk through this part of town reveals treasures such as the Colonial Family Museum, the Moinho do Vale and the Carlos Gomes Theather. From the first years of colony until now, the strenght of Blumenau residents have been put to the test by the same nature that adorns the city. The last one of them was a big flood in November, 2008, caused by two months of unstopping rain. Overcoming several casualties and damages, the city has been rebuilt with a lot of hard work. Just like 1984 – when, after two years of floods in a row, its residents looked for confort in the german tradition, by creating a local Oktoberfest. First launched to cheer up the whole community, the festival soon became one of Blumenau’s greatest attraction. The combination of German food, ice cold beer, welcoming people, folk music and dances granted the city with the status of great
a arquitetura colonial na bucólica vila itoupava colonial architecture at the bucolic vila itoupava
belos cenários urbanos em um passeio pelo centro a walk downtown reveals beautiful urban scenes
a musicalidade está no sangue do blumenauense music runs in the blood of blumenau residents
fachadas em estilo colonial são mantidas com capricho germânico colonial-style facades are preserved and kept with germanic care
ENTRADA Do teatro carlos gomes, construÍdo em 1936 entrance of carlos gomes theatre, built in 1936
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tourist destination in Brazil and worldwide. Besides attracting tourists, the city also attracts capital. Since the 1960s, Blumenau has been positioned as and important productive center in brazilian industry, excelling in several manufacturing activities. This position is the result of the same entrepreneurial spirit that drove small brickworks, flour mills, microbreweries and condiment factories to thrive more than a century ago. At thar time, the immigrants’ perseverance to work and tackle the difficulties of the first years of settlement sowed the seeds of an entrepreneurship tradition that today moves the local economy. Two decades after its settlement, Blumenau colony already had more than 200 factories working. Today, the city holds an industrial estate that exports every year more than US$ 500 million in textile, technologic, steel and crystal products. Growing but not forgetting the past, the city is an example of how it is possible to mix tourism and industry with the preservation of its cultural roots and natural beauties.
canteiros floridos embelezam as ruas comerciais da cidade gardens with flowers adorn the commercial streets
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gente hospitaleira, música e danças folclóricas ganhou fama como destino turístico no Brasil e no exterior. Além de atrair turistas, a cidade também atrai investimentos. Desde a década de 1960, Blumenau mantem um importante papel na produção industrial brasileira, se destacando em diversos setores manufatureiros. Essa posição é fruto do mesmo espírito que impulsionou as olarias, os engenhos e as fábricas de cerveja e de condimentos há mais de cem anos, quando a perseverança dos imigrantes para sobreviver às dificuldades dos tempos coloniais fez surgir uma tradição empreendedora que hoje impulsiona a economia local. Vinte anos depois de ser fundada, a colônia de Blumenau já tinha mais de 200 fábricas em atividade. Hoje, a cidade possui um parque industrial responsável por mais de US$ 500 milhões anuais de exportação em produtos têxteis, de informática, metalurgia e cristais. Crescendo sem esquecer o passado, Blumenau mostra como é possível unir turismo e indústria preservando suas raízes culturais e belezas naturais.
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Pomerode
Um pedacinho da Pomerânia A little corner of Pomerania
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Pomerode
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limpeza das calçadas e os jardins impecáveis das casas não deixam dúvidas sobre a influência germânica do lugar. Basta um olhar mais atento ao centro de Pomerode para entender porque seus 25 mil habitantes ostentam com orgulho o título de “cidade mais alemã do Brasil”. Do conjunto arquitetônico enxaimel bem conservado ao hábito de falar alemão em casa ou nos clubes de caça e tiro, Pomerode é o retrato fiel dos hábitos de imigrantes vindos da Pomerânia – região norte da Alemanha. Nas escolas muncipais, o ensino da língua alemã virou disciplina obrigatória desde o final da década de 1990 e mesmo professores de outras disciplinas às vezes se comunicam com os alunos em alemão. Ligando o rádio, é possível ouvir Opa Rudibert, o irreverente personagem criado pela Rádio Pomerode que carrega no sotaque ao contar histórias típicas da cidade em seu programa diário. A rádio local é provavelmente a única no país a transmitir, aos sábados, um programa com duas horas de duração apenas com músicas típicas germânicas. Quando o assunto é qualidade de vida, os números se equivalem aos melhores índices europeus. A educação e a economia são os principais destaques do lugar. O analfabetismo beira a zero e a taxa de desemprego
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he tidy footpaths and the impeccable gardens leave no doubt about the German influence of this place. It takes just a close look at the well-groomed Pomerode’s downtown to understand why its 25.000 inhabitants proudly bears the title of being the “most Germanic city in Brazil”. From the preservation of its architectonic legacy to the habit of chatting in German at home or at the traditional clubs, the community’s everyday life keeps a lot of the customs brought by the immigrants that came from Pomerania (Pommern), on Northern Germany, in the 19th century. At the town’s schools, learning the German Language is an obligatory subject since the end of the 1990s and even Chemistry or Math teachers sometimes address the students using the idiom. Turning the radio on, it is possible to hear Opa Rudibert, a character with a heavy accent that hosts a daily show at the Pomerode Radio, filled with curious stories about the region. The station is probably the only one in the country to have, every Saturday, a two hour show playing only Germanic songs. When it comes to quality of life, numbers in Pomerode are similar to the best European standards, especially on the educational system and the economy. Illiteracy is
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AO CRUZAR O PORTAL NA ENTRADA DA CIDADE (ESQ.), surgem cenas que lembram O INTERIOR DA ALEMANHA Through the portal at the city entrance (LEFT), scenes that resemble the german countryside
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A cidade combina elevados índices de qualidade de vida com raízes germânicas bem preservadas The city combines high quality of life quotients with carefully preserved German roots
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não passa de 4,82%, menor que a muitos dos países mais ricos do mundo. A diversificação da indústria – especialmente com os parques têxtil, metal-mecânico e de brinquedos – garantem posição de destaque entre as 20 melhores cidades em arrecadação de impostos de Santa Catarina. Mas é na área rural da cidade onde a cultura alemã se torna mais evidente. A região guarda um dos mais belos conjuntos arquitetônicos coloniais do Vale do Itajaí, concentrados no roteiro turístico-cultural Rota do Enxaimel. São quase 70 casas, muitas delas centenárias, que foram ocupadas pelos imigrantes europeus no período colonial. Cercadas pela paisagem bucólica da localidade de Testo Alto, muitas delas são habitadas até hoje por seus descendentes. Assim como todo o Vale do Itajaí, Pomerode também é famosa pelas delícias da culinária germânica. Do tradicional marreco recheado às irresistíveis cucas e bolachas caseiras, a gastronomia local é um capítulo à parte e pode ser desfrutada em restaurantes típicos da cidade. A cidade ainda conserva a tradição dos grupos folclóricos, bandinhas típicas, corais e sociedades de caça e tiro, prática que chegou com os primeiros imigrantes alemães. Em janeiro, parte desta tradição ganha destaque nacional durante a Festa Pomerana, que atrai famílias e turistas em férias pelo litoral de Santa Catarina.
doces e conservas com sabor colonial colonial taste: pickles and marmalades
o passado e o presente convivem nas ruas past and future mingle in the city streets
next to zero and the unemployment rate is 4.82%, lower than in many rich countries in the world. The industry diversity – textile, metallurgic and toys beign its highlights – guarantee to Pomerode the distinction of being one of the 20 bigger tax collectors in Santa Catarina. However, it is in the rural areas that the Germanic culture gets more evident. The region keeps one of the best colonial architectonic sites in the Itajaí Valley, most of it concentrated in the touristic and cultural Enxaimel Route. It comprises almost 70 houses, some of them centenaries, which were used by the immigrants in the first decades of the colony. Surrounded by the bucolic scenery of Testo Alto suburb, many of these houses are still used by the descendants of the settlers. Like other cities in the Itajaí Valley, Pomerode is famous for its delicious Germanic food. From the traditional stuffed drake to irresistible cakes and homemade cookies, local cuisine is an extra attraction that can be tasted in many restaurants. The citizens also preserve the tradition of the folk groups, the choirs and the hunting and shooting societies, activities that came with the first immigrants. In January, this legacy earns national fame during the Festa Pomerana, a celebration that lures families and tourists visiting Santa Catarina's shore.
a bicicleta é um transporte popular na região bicycles are a Popular mean of transportation
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180 anos da imigra巽達o alem達 em Santa Catarina
AO lado, o monumento em homenagem ao imigrante. Abaixo: uma vis達o geral da tranquila pomerode TO the left, a monument honoring the immigrant. BELOW: an overview of pomerode's peaceful neighborhoods
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joinville
Gigante em meio ao verde A giant amidst the green
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Joinville
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om uma população próxima dos 500 mil habitantes, Joinville é hoje a maior cidade de Santa Catarina e a quarta da Região Sul. Tudo começou em 1852, quando 124 imigrantes chegaram da Alemanha dispostos a povoar e desenvolver uma região coberta de mata virgem. Chamada inicialmente de Dona Francisca, a colônia foi rebatizada no ano seguinte em homenagem ao príncipe de Joinville, filho do rei da França Luís Felipe I, que havia recebido as terras como dote ao se casar com a irmã do imperador Dom Pedro II, Dona Francisca de Bragança. Contudo, a grande responsável pelo projeto de colonização foi mesmo a Sociedade Colonizadora Hamburguesa, que adquiriu parte do dote diretamente das mãos do príncipe, falido e refugiado em Hamburgo após o golpe de estado que derrubou o rei francês em 1848. Desde aquela época, o talento para os negócios e o foco no desenvolvimento econômico sempre foram característica marcantes da colônia, que em pouco tempo se tornou uma das mais bem-sucedidas de Santa Catarina. Graças à disposição para o trabalho e ao espírito empreendedor herdados dos imigrantes, a cidade construiu ao longo dos anos um sólida base industrial e ostenta hoje o posto de terceiro maior polo manufatureiro do Sul do Brasil. Conhecida como a
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ith a population of about 500.000 people, Joinville is Santa Catarina’s biggest city and the fourth one in the South of Brazil. This entire story started in 1852, when 124 immigrants came from Germany with the will of populating and developing a region covered by a tropical forest. Initially called Dona Francisca, the colony was renamed just one year later in homage to Joinville’s Prince, son of King Louis Phillip I, from France, that had received these lands as a gift when he married the Portuguese Emperor Dom Pedro II’s sister, Dona Francisca de Bragança. Anyway, the great responsible for the colony project was the Hamburg Colonization Society, that bought part of the prince’s gift right from his hands, when he was broken and fugitive in Hamburg after the coup d’état that overthrew the French king in 1848. Since that period, the talent for business and the focus on economical development have always been a strong characteristic of this colony that in no time became one of the most successful in Santa Catarina. Thanks to the disposition to work and the entrepreneurism mind inherited from the immigrants, the city have built along the years a solid industrial base and currently it holds the third biggest manufacturing estate
do mirante do morro da boa vista é possível avistar parte da cidade com a baía da babitonga ao fundo from the lookout at boa vista's hill, a partial view of the city with babitonga bay behind it
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inaugurada em 1906, a estação ferroviária foi restaurada em 2008 opened in 1906, the city's railroad station was restored in 2008
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Cercada pela natureza, a maior cidade de Santa Catarina preserva suas raízes germânicas Surrounded by nature, Santa Catarina's largest city keeps its german roots well preserved
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a colonização alemã deixou como legado um rico patrimônio arquitetônico a rich architectural heritage is one of the legacies of german colonization
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“Manchester Catarinense”, destaca-se como importante centro produtor nos setores metal-mecânico, plástico, químico e têxtil. Além da vocação para a indústria, Joinville guarda ainda uma série de traços históricos e culturais da colonização germânica. O cuidado com a urbanização tornou-a famosa como a “Cidade das Flores”, graças às ruas e avenidas adornadas com canteiros. Os casarões do século 19 embelezam locais turísticos como a estação ferroviária, na Rua Leite Ribeiro, ou os prédios comerciais na esquina das ruas XV de Novembro e do Príncipe. O passado é preservado nos raros artefatos reunidos no Museu Nacional da Colonização e Imigração, em um prédio originalmente construído para hospedar o príncipe de Joinville e sua esposa, que nunca chegaram a visitar a cidade. No segmento cultural, Joinville herdou da etnia alemã o gosto pela música, a dança e as artes plásticas. Todos os anos, esse legado é celebrado em eventos como a Festa das Flores, o Festival de Dança – considerado o maior do mundo no gênero –, a Coletiva de Artistas e o Joinville Jazz Festival. Os espaços culturais multiplicamse pela cidade, fomentando a produção artística em locais como o Centreventos Cau Hansen, o Mercado Público e a Cidadela Cultural Antarctica. A área rural também reserva belas surpresas, em propriedades coloniais onde são produzidas verdadeiras delícias herdadas da culinária alemã, como bolos, biscoitos e até cachaça. O verde da mata atlântica cerca toda a cidade, conferindo uma beleza ímpar, que pode ser apreciada em toda a sua extensão do mirante do Morro da Boa Vista, de onde se pode ver as casas em estilo enxaimel, cercadas pela floresta e com a grande cidade ao fundo.
museu nacional da imigração e colonização immigration and colonization national museum
in the South of Brazil. Known as the Brazilian Manchester, it has prominence on the metal-mechanic, plastic, chemical and textile sectors as an important producing hub. Besides its industrial spirit, Joinville still preserves cultural and historical traces of the Germanic immigration. The careful urbanization made the city famous also as the City of Flowers, thanks to its streets and avenues garnished with gardens. The 19th century mansions and houses adorn touristic sites like the rail station, on Leite Ribeiro Street, or the commercial buildings on the corner of XV de Novembro and Príncipe streets. History is kept in the rare artefacts collected by the Immigration and Colonization National Museum, in a building originally put up to host Joinville’s prince and his wife, that actually never visited the city. Culturally, Joinville inherited from the Germanic ethno a taste for the music, dance and arts. Every year, this legacy is celebrated in events such as the Flowers Party, the Dance Festival (considered the world’s biggest), the Artists Collective and the Joinville Jazz Festival. The cultural spots thrived through the city, feeding the artistic activity in places like the Centreventos Cau Hansen, the Public Market and the Antarctica Cultural Citadel. The rural area also reserves beautiful surprises, in colonial properties that produce Germanic culinary delicacies like cakes, cookies and even cachaça. The forest green surrounds the entire city, giving to it a unique beauty, that can be enjoyed from the Boa Vista’s Hill viewpoint, from where is possible to see houses in the fachwerk technique surrounded by trees, with the big city on the background.
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joinville é hoje um dos maiores polos industriais do sul do brasil joinville is one of the greatest industrial hubs in southern brazil
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ACIMA: a rua das palmeiras, um dos símbolos da cidade ABOVE: rua das palmeiras is one of the city's symbols
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jaraguá do sul
Herança empreendedora
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Jaraguá do Sul
An entrepreneurial heritage
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s casas em estilo colonial, os cabelos loi ros e as receitas culinárias típicas do inte rior da Alemanha não deixam dúvidas sobre a identidade germânica de uma das cidades mais prósperas de Santa Catarina. Coloniza da por descendentes de imigrantes alemães já estabelecidos em Joinville e no Vale do Itajaí, Jaraguá do Sul preserva com carinho suas raízes históricas. Mas é na força da in dústria têxtil que a marca dos europeus se faz mais presente no dia a dia local. Com forte vocação para a área têxtil, Ja raguá do Sul possui centenas de tecelagens e confecções que mantêm a tradição de uma atividade cujas origens remontam ao final do século 19, quando empresários alemães trouxeram os primeiros teares para Santa Catarina. Até a década de 1960, pequenos teares de fundo de quintal eram uma espécie de laboratório do que se tornaria, 50 anos mais tarde, um dos mais importantes polos da indústria têxtil no Brasil. Aos poucos, os antigos equipamentos fo ram sendo substituídos pelos maquinários de tecelagem e por confecções. A experiên cia e o conhecimento técnico trazido pelos alemães e a construção da ferrovia que liga Jaraguá ao Porto de São Francisco do Sul, no Litoral Norte do Estado, foram funda mentais para o rápido crescimento da ativi
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olonial-style buildings, blonde-haired people and typical cuisine. There is no doubt about the German identity of one of the wealthiest cities in Santa Catarina. Built by the descendants of immigrants already settled in other places like Joinville and the Itajaí Valley, Jaraguá do Sul carefully pre serves its historical roots in monuments and buildings. But it is in the strength of its industry that the European traces are more evident on the everyday life of the city. With a great textile vocation, Jaraguá do Sul contains hundreds of factories and manufacturers that keep the tradition of an activity that started at the end of the 19th century, when German businessmen brought the first textile machines to Santa Catarina. By the 1960s, these small and rudimentary machinery formed a kind of lab to what would become, 50 years later, one of the most important textile hubs in Brazil. Little by little, the old equipment was re placed by modern machines. The experience and technical knowledge brought by the Germans and the construction of a railway connecting Jaraguá to the port in São Fran cisco do Sul, on the Northern shore of the State, were essential for the quick growth of the textile industry founded by the immi grants. Today, it corresponds for 22% of the
a estação ferroviária no centro histórico, construída em 1909 e restaurada em 2008 the railroad station at the historic city center was built in 1909 and restored in 2008
A casa da família rux, datada de 1915, FOI tombada como patrimônio histórico nacional The rux house, built in 1915 and declared a historic site by the national heritage council
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museu histórico municipal emílio da silva emílio da silva municipal history museum
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Importante polo têxtil nacional, Jaraguá do Sul cresceu impulsionada pelo trabalho dos imigrantes A national textile hub, Jaraguá do Sul owes its wealth to the immigrant's hard working ethics
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varanda da casa rux casa rux's porch
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dade. Hoje, a indústria têxtil erguida pelos imigrantes responde por 22% do PIB muni cipal e faz de Jaraguá uma das 50 cidades brasileiras com maior oferta de emprego. Um exemplo desta tradição empreendedo ra foi a Firma Weege, empresa do ramo de queijaria e açougue, fundada em 1906 pelo casal de imigrantes Wilhelm e Bertha Karsten Weege. Seis décadas depois, seus descenden tes decidiram redirecionar a produção para o ramo têxtil e criaram a marca Malwee, uma contração das palavras Malharia Weege. Hoje, a empresa produz 36 milhões de peças por ano e emprega 6 mil pessoas. A relação da empresa com a cidade resul tou na criação do Parque da Malwee, uma área de 1,5 milhão de metros quadrados, com lagos artificiais, trilhas para caminha das e churrasqueiras. Um imenso jardim público bem cuidado, que remete ao hábito germânico de zelar pelo seu quintal – mas um quintal aberto à comunidade, que serve como ponto de encontro das famílias nos fi nais de semana. A herança germânica de Jaraguá do Sul também pode ser percebida na arquitetura das casas, na gastronomia, no modo de vi ver, nas festas e celebrações. A principal de las é a Schützenfest, que acontece todos os anos desde 1989. Trata-se da única festa de atiradores do Brasil, que celebra uma tradi ção mantida até hoje pelos 20 clubes de caça e tiro existentes na cidade. os museus locais contam a história da imigração e da industrialização local museums tell the history of both colonization and industrialization
city’s gross municipal product and makes of Jaraguá one of the 50 brazilian cities with the greatest number of job offers. One example of entrepreneurial tradition is the Firma Weege, a foodstuff company founded in 1906 by an immigrant couple, Wilhelm and Bertha Karsten Weege. Six decades later, their descendants decided to change the business direction and created Malwee, a contraction of the words Malhar ia (textile factory, in Portuguese) and Weege. Nowadays, the company employs 6.000 people and produces 36 million of pieces of clothes every year. The relationship between the company and the community resulted on the cre ation of the Malwee Park, an area with 1.5 million square meters with artificial lakes, tracks among nature and barbecue spots. It is a huge and impeccable public garden that brings back the German habit of taking care of their own yards. It is a leisure place open to the citizens, used by families on week ends as a meeting place. The German legacy in Jaraguá do Sul can also be noticed in the city’s architecture, in its gastronomy, in its way of life, in its parties and celebrations. The biggest of them is the Schützenfest, that happens every year since 1989. It is the only party in Brazil dedicated to the shooting tradition brought from Eu rope and it is kept until the present days by traditional clubs and associations.
O parque da Malwee, em Jaraguá do sul, é uma área privilegiada de preservação e UM testemunho ÀS belezaS NATURAIS DA REGIÃO MALWEE PARK, IN JARAGUÁ DO SUL: A private PRESERVATION AREA THAT TESTIFIES the beauty of THE REGION's wilderness
brasil-alemanha
Parceria duradoura Germany and Brazil: a long lasting partnership
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milhares de alemães viram no H áSul180doanos, 1 Brasil uma chance de recomeçar a
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vida em uma terra nova. Hoje, entidades como a Casa Alemã (Deutsche Haus), em Blumenau, querem mostrar para os brasileiros as oportunidades que o país europeu oferece. Os dois países são fortes parceiros comerciais desde a década de 1930, e a Alemanha esteve presente em diversas fases do desenvolvimento industrial e da infraestrutura brasileira durante o século 20. Atualmente, o Brasil é o maior destino de investimentos alemães na América Latina. Em 2007, as exportações da Alemanha para o Brasil somaram 6,8 bilhões de euros, enquanto o país europeu contribuiu com as importações brasileiras com um valor de 8,3 bilhões de euros. Mas não é só no mundo do comércio que os dois países têm muito a crescer juntos. “A Alemanha já chegou a ultrapassar os Estados Unidos como maior investidor no Brasil, e hoje volta a demonstrar um forte interesse no país, principalmente em áreas como tecnologia e sustentabilidade. Nosso grande desafio hoje é mostrar as oportunidades que a Alemanha está oferecendo, seja economicamente ou através da educação”, afirma o cônsul honorário da Alemanha em Blumenau, Hans Dieter Didjurgeit. Segundo Dieter, só em Santa Catarina há 7 mil pessoas com dupla cidadania, a maior média entre todos os estados brasileiros. Do-
80 years ago, thousands of Germans saw in the South of Brazil a chance to begin a new life in a new land. Nowadays, entities like the German House (Deutsche Haus), in Blumenau, are trying to show to Brazilians all the opportunities that the European country has to offer. Both countries are solid commercial partners since the 1930’s, and Germany has been involved in many stages of the Brazilian industrial and infra-structure development during the 20th century. Today, Brazil is the main destination of German investments in Latin America. In 2007, importation from Germany to Brazil totalized about 6.8 billions of Euros, while the European country contributed with an amount of about 8.3 billions of Euros in the Brazilian exportation balance. However, it is not only in the commercial area that these two countries have a lot to develop together. “In the past, Germany even left behind the USA as the biggest international investor in Brazil. Now, it is showing again a strong interest in our country, especially in areas such as technology and sustainable development. Our great challenge is to present the opportunities that Germany is offering to us, either economically or through education” says the Germany Honorary Consul in Blumenau, Hans Dieter Didjurgeit. According to the Consul, Santa Catarina has itself 7 thousand people with dual citi-
arquivo empreendedor
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A bela deutsches haus (Casa alemã), sede do consulado honorário da alemanha em blumenau The beautiful deutsches haus (german house) hosts blumenau's honorary german consulate
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A relação comercial entre os dois países vem se intensificando desde a década de 1930 The business relationship between both countries has been growing since the 1930s
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minado o idioma alemão, as oportunidades se multiplicam. Uma das ações das quais a Casa Alemã (que abriga o Consulado Honorário da Alemanha, uma filial da Câmara de Comércio Brasil-Alemanha e entidades ligadas ao German Business Center) participa é o Parceiros para o Futuro, que ensina alemão para jovens. Blumenau já conta com 15 alunos, e mais dois municípios catarinenses devem ser contemplados este ano. “Aqui em Santa Catarina, a velha Alemanha colonial já está preservada. Agora, é hora de mostrar o que é novo para os jovens. Para evoluirmos nessa relação com a Alemanha, saber a língua deles é essencial”, argumenta o cônsul honorário de Blumenau. Já o Encontro Brasil-Alemanha, que este ano terá a 27ª edição em Vitória, no Espírito Santo, é o mais importante evento bilateral na área econômica. O objetivo do encontro, que acontece um ano na Europa e outro no Brasil reunindo centenas de empresários, é ampliar as relações comerciais entre os dois países através de novos contatos. Blumenau sediou o encontro com muito sucesso em 2007, tratando de assuntos como agrobusiness, infraestrutura e energia elétrica, biocombustíveis, entre outros. divulgação
blumenau sediou o encontro brasil-alemanha em 2007 brazil-germany business meeting in blumenau, 2007
endereços addresses Consulados Honorários da República Federal da Alemanha em Santa Catarina Federal Republic of Germany's Honorary Consulates in Santa Catarina BLUMENAU Cônsul: Hans Dieter Didjurgeit (didjurgeit. consul@terra.com.br) Rua Hermann Hering, 1 - Bom Retiro CEP 89010-600 (47) 3322 1172 | 3222 0222 JOINVILLE Cônsul: Udo Döhlerkonsul@dohler.com.br (konsul@dohler.com.br) Rua Alexandre Döhler, 78 - Centro CEP 89201-260 (47) 3433 8679
zenship, the best average in all the Brazilian States. If the person has fluency in German, chances thrive even more. One of the actions in which the German House (that sites the Germany Honorary Consulate, as branch of the Brazil-Germany Commerce Chamber and others entities connected to the German Business Centre) takes part is the program Partners To The Future, that teaches German to young people. Blumenau has already a class with 15 students, and two other Santa Catarina’s cities must have courses starting this year. “In Santa Catarina, the old colonial Germany is already preserved. Now it is time to show to the young ones what is new. To evolve in our relationship with Germany, it is crucial to know how to speak their language” argues Mr. Dieter. The Brazil-Germany Meeting, which this year will have its 27th edition in Vitória (ES) is the most important bilateral event in the economics area. The goal of the event, that happens one year in Europe and one year in Brazil, is to amplify the commercial relationship between the two countries through business contacts. Blumenau was the successful host of the meeting in 2007, when the main subjects where agribusiness, infra-structure and electrical energy, biofuels, and more.
gastronomia
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marreco recheado acompanhado de purê de MaçÃ, EM POMERODE stuffed drake sided by apple puree, in pomerode
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Sabores germânicos Germanic flavors
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A herança dos imigrantes deu origem a uma rica cultura gastronômica, onde o colonial se mistura à alta cozinha The immigrant's heritage originated a rich gastronomic culture, where the colonial mixes with haute cuisine
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A culinária alemã inspira chefs de cozinha e atrai turistas para a região German cuisine inspires chefs and attracts tourists to Santa Catarina
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iscoitos recém-tirados do forno perfumam todos os cômodos da casa. Ao invés de margarina industrializada, a banha de porco confere um sabor genuíno à receita, aquela mesma que a “oma” (avó) fazia aos netos e bisnetos assim que chegou da Alemanha. Cento e oitenta anos depois dos primeiros imigrantes pisarem em terras catarinenses em busca de melhores condições de vida, ainda é possível encontrar a autêntica culinária germânica adaptada ao clima subtropical. Em comunidades rurais de municípios do interior é possível encontrar dezenas de pratos simples e saborosos, com nomes praticamente impronunciáveis. Receitas como a hühnergeschmoren (galinha caipira de panela) e o roladen fleich revelam a criatividade e capacidade de adaptação dos colonos alemães que povoaram o Estado no século 19. O prato é preparado até hoje pela família Hermann Hasse, oriunda da Alemanha em 1889, e mostra bem a adaptação dos colonos alemães à sua nova terra. Nas colônias, ingredientes bem brasileiros – como aipim, taiá e arroz crioulo – passaram a fazer parte do cardápio como acompanhamentos.
J
ust taken out of the oven, the cookies’ scent fills every room of the house. Instead of industrialized butter, pork fat adds a genuine flavor to the recipe, the same one that “opa” (grandma, in German) used to make for her grandsons and greatgrandsons since she came to Brazil from Germany. Today, 180 years after the foundation of the first settlements in Santa Catarina, it is still possible to find the authentic German cuisine adapted to the subtropical climate. In rural communities in the countryside towns it is easy to find dozens of simple and tasty plates with practically unspeakable names. Recipes like the hühnergeschmoren (chicken cooked in a big pan) and the roladen fleich show the creativity and adaptive capacity of the Germanic immigrants that populated the State in the 19th century. Preparing this meal is still a tradition to the Hermann Hasse Family, which came from Germany in 1889 and shows how those settlers adapted very well to the new land. In the colonies, typical Brazilian ingredients like manioc, taiá and creole rice soon became part of the menu as sides.
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Roladen Fleich
por Guilhermina Grüetzmacher - jaraguá do sul Ingredients l 1 kg of topside beef l 300 g of bacon l 2 onions l 2 tomatoes l 2 tablespoons of olive oil l Salt according to taste
Aipim frito l 1 kg de aipim l 200 g de bacon l Sal a gosto
Fried manioc l 1 kg of manioc l 200 g of bacon l Salt according to taste
Cenoura agridoce l 1 cenoura l 1 limão l 2 colheres de sopa de açúcar
Bittersweet carrot l 1 carrot l 1 lime l 2 tablespoons of sugar
Preparo Cortar a carne em fatias, salgar a gosto. Cortar o bacon em tiras. Enrolar na forma de rolos e amarrar com fio para não soltar. Coloque o azeite na panela de ferro e doure a carne. Junte as cebolas e os tomates picados e refogue mais um pouco. Juntar água e cozinhar até amaciar bem. Cozinhar o aipim com sal, cortar em pedacinhos e fritar com o bacon. Esfarelar o queijo, misturar o bicarbonato e deixar em descanso por duas horas. Numa panela de ferro colocar a nata, o queijo com o bicarbonato, o sal e o leite. Cozinhar em fogo baixo até desmanchar tudo. Decore o prato a gosto.
Kochkaese l 1 kg of white cheese l 1 tablespoon of baking soda l 1 of tablespoon of cream l 1 teaspoon of salt l 1 cup of milk Preparation Slice the beef and salt according to taste. Slice the bacon in strips, roll it together with the beef and tie them up with butcher string. Put the oil in an iron pan and brown the meat. Add chopped onions and tomatoes and smother it a little longer. Add water and cook until it is tender. Boil the manioc with salt, cut it in pieces and fry them together with the bacon. Crumble the cheese, add the baking soda and let rest for two hours. In a iron pan, put the cream, the cheese with baking soda, salt and milk. Cook it at low heat until it is all liquified. Decorate the plate as you like.
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Kochkaese 1 kg de queijo branco l 1 colher de sopa de bicarbonato de sódio l 1 colher de sopa de nata l 1 colher de chá rasa de sal l 1 xícara de leite l
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Ingredientes 1 kg e coxão mole l 300 g de bacon l 2 cebolas l 2 tomates l 2 colheres de sopa de azeite l Sal a gosto para temperar l
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Receitas tradicionais são ensinadas de mãe para filha nas comunidades rurais Traditional recipes are passed from mother to daughter in the rural communities
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Este patrimônio cultural-gastronômico vem sendo resgatado de forma gradual por instituições de ensino e prefeituras de interior, como a de São Pedro de Alcântara, primeira colônia alemã de Santa Catarina. No local, a maioria das receitas identificadas difere dos tradicionais eisbein (joelho de porco) e marreco recheado com repolho roxo comumente encontrados em restaurantes típicos do Vale do Itajaí. No interior, é possível aprender receitas simples, passadas de mãe para filha e que resistem à industrialização alimentar. A cuca de fermento de pão, ou Streuselkuchen, por exemplo, leva ingredientes como açúcar mascavo, raspa de limão, canela e banha de porco. Muitos destes sabores tradicionais vêm sendo catalogados pelo Instituto Recriar, entidade sem fins lucrativos que desenvolve uma série de ações para comemorar os 180 anos de imigração alemã em Santa Catarina. O objetivo desta iniciativa é resgatar detalhes sobre o uso e manuseio dos ingredientes nos tempos coloniais, além das histórias de eisbein pratos feitos pelas mães, avós e bisavós de origem germânica. Pratos mais tradicionais da culinária alemã, no entanto, podem ser encontrados em restaurantes típicos espalhados por todo o Estado, que ganharam fama e respeito ao longo dos anos. O exemplo mais clássico atende pelo nome de Abendbrothaus e é referência em gastronomia germânica no Estado. Situado na Vila Itoupava, bairro afastado 25 quilômetros do Centro de Blumenau e administrado pela família Jensen, o local abre apenas aos domingos e tem apenas uma opção no cardápio: marreco recheado com repolho roxo e purê de maçã. O eisbein (joelho de porco) é outro prato bastante famoso introduzido pelos imigrantes alemães no
This cultural-gastronomic heritage is being retored gradually by schools and city councils in countryside towns like São Pedro de Alcântara, first German settlement in Santa Catarina. In this place, most of the identified recipes diverge from the traditional einsbein (pork knees) and stuffed drake with red cabbage, commonly found on the menu of several restaurants in Itajaí Valley region. In the country, it is possible to learn simple recipes, which are transmitted from mother to daughter as a counterpoint to an evergrowing food industry. The Streuselkuchen (bread leavening pie), for example, is made of ingredients such as brown sugar, lemon zest, cinnamon and pork fat. Many of these traditional flavours are being catalogued by the Instituto Recriar, a non-profit entity that is promoting a series of events to celebrate the 180 years of Germanic settlement in Santa Catarina. The institution main goal is to research traditional practices of using and handling ingredients available in colonial times, as well as to collect stories about special plates made by German mothers, grandmothers and great-grandmothers. Nevertheless, more traditional meals of German cuisine are available throughout the State at several typical restaurants that became famous and respected along the years. Abendbrothaus being the most classical example. A gastronomy reference in Santa Catarina, it is located at Vila Itoupava, 25 kilometres away from Blumenau’s downtown and managed by the Jensen family. The restaurant opens only on Sundays and has just one option on its menu: delicious stuffed drake with red cabbage and mashed apple puree. The einsbein (pork knees) is another famous meal introduced by Germans in the Itajaí Valley.
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Bolachas de mel
Honey cookies
por Maria Verônica Berkendrock Feuser - São Martinho
Glacê de cobertura l 2 claras em neve l 400 g de açúcar de confeiteiro l Um pouco de suco de limão l Corante na cor desejada Bater bem. Decorar e deixar secar.
Preparation Mix the first four ingredients in a pan and put it to heat, stirring until the mixture melts. Take out the pan from the flame. Add the next six ingredients, plus the eggs and 300 g of flour and mix it all. Let rest for at least two hours or from one day to the other. After that, add the remaining flour and knead well. Roll the dough out and mold the cookies. Bake at medium heat. Topping l 2 whipped egg whites l 400 g of powdered sugar l A little bit of lemon juice l Food colorant
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Preparo Juntar os 4 primeiros ingredientes numa panela, levar ao fogo mexendo sempre até derreter. Retire do fogo. Acrescente os próximos 6 ingredientes, os ovos e 300 g de trigo, mexer bem. Deixe descansar no mínimo duas horas, ou de um dia para o outro. Após o descanso acrescentar o restante do trigo, amassar bem. Abrir com rolo e moldar as bolachas. Assar em forno médio.
Ingredients l 110 g of sugar l 80 g of molasses l 210 g of butter l 100 g de butter l 10 g of ground chocolate l 10 g of baking soda l 5 g of ammonium chloride l 1 pinch of ground cloves l 1 pinch of ground cinnamon l 1 pinch of ground nutmeg l 650 g of white wheat flour l 3 eggs
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Ingredientes 110 g de açúcar l 80 g de melado l 210 g de manteiga l 100 g de manteiga l 10 g de chocolate em pó l 10 g de bicarbonato de sódio l 5 g de sal amoníaco l 1 pitada de cravo-da-índia em pó l 1 pitada de canela em pó l 1 pitada de noz-moscada ralada l 650 g de farinha de trigo l 3 ovos l
Whip it well. Decorate and let it dry.
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O resgate criativo de técnicas e pratos coloniais cria surpresas deliciosas The creative revival of colonial dishes and techniques creates delicious surprises
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Vale do Itajaí. Embora presente no cardápio da maioria dos restaurantes típicos da região, é em Pomerode que o eisbein atrai turistas de todo o Brasil em busca de novos sabores. O Restaurante Siedlertal, no Centro da cidade, é um dos especializados em joelho de porco preparado sob os padrões da culinária alemã.
Present on most local restaurant's menus, the plate attracts tourists from all over the country looking for new savours. In Pomerode, Siedlertal Restaurant, rigght in the middle of the town, delivers one of the best einsbein prepared under the German culinary standards.
Toque contemporâneo
A contemporary touch
Com criatividade e ousadia, mesmo pratos tão tradicionais podem ganhar uma leitura contemporânea. A convite do Instituto Recriar, quatro renomados chefs de cozinha no Estado utilizaram ingredientes da culinária alemã para criar novas e sofisticadas receitas, que misturam tradição com alta cozinha. É o caso do Gemüse, à base de batatas e folhas de couve, sugerido pela chef de cozinha e pesquisadora na área de alimentação e cultura Silvana Graudenz Muller. Ela propõe o resgate da receita preparada em panela de ferro, que costumava ser servida aos domingos depois da missa. O Gemüse leva ainda costelinha de porco defumada e pimenta dedo-de-moça, o que confere uma personalidade marcante ao prato. Heiko Grabolle, chef alemão e professor de gastronomia radicado em Florianópolis, sugere uma variação das Pfannkuchen mit Räucherlachs (panquecas de salmão). Além do peixe, a receita também leva cream cheese, limão siciliano e ervas para temperar as panquecas. Já o chef Leno Dürrewald, do tradicional Styllu’s Buffet, sugere um risoto de marreco, que ganha um toque de sofisticação com arroz arbóreo, marreco desfiado e cebola brunoise, tudo temperado com salsão, anis estrelado, manteiga e azeite de oliva. Lombo de porco, raiz forte e batata rösti foram a aposta do chef Daniel André Lopes, professor do curso de Gastronomia do Senac, para uma receita alemã contemporânea. O prato leva dois quilos de lombo de porco, que acompanham também maçãs glaceadas na manteiga e açúcar. O resultado é um prato bonito e sofisticado, digno de um jantar especial.
With lots of creativity and daringness, even very traditional meals can be subject to a contemporary interpretation. Instituto Recriar invited four Santa Catarina`s renowned chefs to create new and sophisticated recipes using Germanic culinary ingredients, mixing traditional and modern gastronomy. One of the results is the Gemüse, made with potatoes and cabbage leaves, suggested by food and culture researcher Silvan Graudenz Muller. She proposes a return to the recipe prepared in an iron pan and usually served on Sundays, after church. In addition, the dish also comes with smoked pork ribs and lady finger pepper, which adds lots of personality to the recipe. Heiko Grabolle, a German chef and Gastronomy teacher living in Florianópolis, suggests a variation of the Pfannkuchen mit Räucherlachs (salmon pancakes). Besides the fish, the recipe also takes cream cheese, lemon and herbs to spice the pancakes. Chef Leno Dürrewald, from the traditional Styllu’s Buffet, proposes a drake risotto, which gets a sophisticated touch with arborio rice, pulled drake and brunoise onions spiced with celery, star anise fruit, butter and olive oil. Pork loin, horseradish and rösti potatoes are the suggestion of chef Daniel André Lopes, Senac Gastronomy Course professor, for a contemporary Germanic recipe. The plate takes two kilos of pork loin with butter and sugar glazed apples. The result is a wonderful and exquisite meal, made for a very special dinner.
Chef Daniel André Lopes
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Chef Heiko grabolle
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Chef Silvana Graudenz Muller
Gemüse por chef silvana Graudenz Muller O Gemüse é ainda um dos poucos pratos típicos que continua fazendo parte da alimentação dos descendentes dos imigrantes alemães. É um prato tão simples quanto os hábitos alimentares das primeiras colônias em terras catarinenses. Costumava-se prepará-lo com certa antecedência, mantendo-o na panela de ferro entre cobertores para guardar o calor, sendo servido aos domingos, depois da missa. A origem da receita é antiga – datando do início do século 20 – e é encontrada de forma semelhante em várias cidades, onde a cultura germânica está presente. Atualmente seu preparo é mais usual, e é encontrado com facilidade em Santa Rosa de Lima, na Região Sul de Santa Catarina. A cidade é sede da Gemüsefest, que acontece a cada dois anos, sempre no mês de maio. Mantém-se ainda o hábito de prepará-lo no fogão a lenha, demonstrando a valorização e o respeito que os descendentes alemães têm com suas raízes teuto-brasileiras.
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Ingredientes 2 kg de batata-inglesa descascada e cortada ao meio l 20 folhas de couve cortada em tiras finas l 2 cebolas picadas l 6 alhos picados l 600 g de costelinha de porco defumada l Meia pimenta dedo-de-moça picada sem semente l Sal a gosto
Preparo Coloque em uma panela as batatas e a costelinha e cubra só o necessário com água. Por cima arrume a couve, a cebola, o alho e a pimenta. Coloque para cozinhar em fogo baixo por três horas. Após o cozimento (quando estiver sem água), retire a carne e amasse o restante com um socador de madeira, formando um purê. Sirva com a carne ao lado e pimenta de decoração. Receita para 6 pessoas
Gemüse is one of the few typical colonial dishes remainig in the alimentary culture of the descendants of German immigrants in Brazil. It is a recipe as simple as the dietary habits were at the time of the first settlements in Santa Catarina. Its preparation used to be a slow process, keeping the iron pan among blankets to hold the heat longer. The meal was traditionally served on Sundays after mass. The recipe's origins date back to the beginnig of the 20th century, being found with slight variations in a great number of cities where German culture is prominent. Nowadays its preparation is more usual, especially in the whereabouts of Santa Rosa de Lima, southern Santa Catarina. The city is the home of Gemüsefest, which takes place every two years always in May. The tradition to cook it on a wood stove is still maintained, showing the respect and value given by the German descendants to their teuto-brazilian roots. Ingredients 2 kg of peeled potatoes cut in half l 20 collard greens sliced into strips l 2 chopped onions l 6 chopped garlic bulbs l 600 g of smoked pork ribs l half a lady's finger pepper chopped without the seeds l Salt according to taste l
Preparation Put the potatoes and the pork ribs in a pan and fill it with water just enough to cover it all. On top, arrange the collard greens, the onions, the garlic and the pepper. Cook it at low heat for three hours. After cooking (when the water has evaporated), take off the meat and mash the rest with a wood pestle, turning it into a purée. Serve it sided by the meat and use pepper as decoration. Serves 6 people
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Lombo de Porco ao Molho de Raiz Forte acompanhado de Batata Rösti e Maçãs Glaceadas Pork loin in horseradish sauce, rösti potatoes and glazed apples por chef daniel André lopes Ingredientes Carne l 2 kg de lombo de porco cortado em fatias l Sal e pimenta a gosto l 30 g de manteiga l Óleo de soja
Ingredients Meat l 2 kg of sliced pork loin l Salt and pepper according to taste l 30 g of butter l Soybean oil
Molho 100 g de cebola picada l 20 g de manteiga l 200 ml de vinho branco seco l 300 ml de caldo de frango l 150 g de raiz forte (meerrettich) l 200 g de creme de leite fresco
Sauce l 100 g of chopped onions l 20 g of butter l 200 ml of dry white wine l 300 ml of chicken broth l 150 g of horseradish (meerrettich) l 200 g of fresh cream
Batata rösti 700 g de batatas cozidas al dente (deixar resfriar por 12 horas) l Sal e pimenta l 30 g de manteiga l Óleo de soja l 50 g de cebola ralada bem fina
Rösti potatoes l 700 g of potatoes boiled "al dente" (let them cool for 12 hours) l Salt and pepper l 30 g of butter l Soybean oil l 50 g of thinly sliced onions
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Maçãs glaceadas l 10 maçãs cortadas em quatro pedaços e torneadas l 30 g de manteiga l 50 g de açúcar Preparo Carne Tempere com sal e pimenta e grelhe em uma frigideira préaquecida com manteiga e óleo. Para não fazer muita sujeira ou fumaça em casa, doure a carne rapidamente e termine de assar no forno a 160°C coberta com papel laminado. Molho Refogue as cebolas e acrescente o vinho. Deixe ferver e junte o caldo. Assim que levantar fervura, retire do fogo e coe em uma peneira, para retirar toda a cebola. Volte a panela ao fogo e acrescente a raiz forte. Deixe ferver até dar consistência. Junte o creme de leite fresco e deixe reduzir.
Glazed apples l 10 apples cut in four pieces and tourned l 30 g of butter l 50 g of sugar Preparation Meat Season with salt and pepper and grill it in a preheated pan with butter and oil. To avoid filling the kitchen with smoke, brown the meat slightly and finish cooking it in an oven at 160°C covered with foil. Sauce Smother the onions and add the wine. Let it boil and add the chicken broth. When it begins to boil, take it off the flame and sift to remove the onions. Put the pan back onto the flame and add the horseradish. Simmer until it thickens. Add the fresh cream and let it reduce.
Rösti potatoes Take the precooked and cooled potatoes, grate them on the thick side of the grater. Season with salt, pepper and grated onions. In a anti-adherent coated frying pan, melt the butter, add the soybean oil and fry the potato until it is brown in both sides.
Maçãs glaceadas Descasque as maçãs e corte em quatro pedaços cada. Pegue cada pedaço e faça o torneado. Se preferir, pode deixar apenas cortadas em quatro. Derreta a manteiga e coloque as maçãs para refogar. Salpique o açúcar por cima para que fiquem levemente caramelizadas.
Glazed apples Peel the apples and cut them in four pieces each. Take the pieces and tourn them. You can just cut them in four, if you wish. Melt the butter and put the apples to smother. Sprinkle sugar on top to make them slightly caramelized.
Montagem do prato Corte a batata em quatro triângulos e coloque-os de um lado do prato. Do outro lado coloque a carne em forma de leque. Regue o molho sobre a carne e coloque as maçãs sobre as batatas. Quatro pedaços por prato. Decore com ramos de dill e um ramo de alecrim.
Assembling the dish Cut the potato in four triangular shapes and place them in one side of the plate. On the other side, place the meat in a fan-like pattern. Pour the sauce over the meat and put the apples over the potatoes, four pieces per plate. Decorate with dill branches and a rosemary branch.
Receita para 10 pessoas
Serves 10 people
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Batata rösti Pegue as batatas previamente cozidas e resfriadas, e rale na parte grossa do ralador. Tempere com sal, pimenta e a cebola ralada. Em uma frigideira antiaderente, derreta a manteiga, acrescente o óleo e frite a batata, até ficar dourada de ambos os lados.
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Pfannkuchen mit Räucherlachs
Salmon pancakes
(Panquecas de Salmão)
por chef heiko grabolle Ingredientes 130 g de farinha de trigo l 280 ml de leite l Uma pitada de sal l 2 ovos l 1 bandeja de surubim defumado l 2 bandejas de salmão defumado l 100 ml de cream cheese l 1 limão siciliano l Temperos e ervas frescas
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Modo de preparo Misturar o leite com os ovos e acrescentar lentamente a farinha de trigo peneirada. Derreter um pouco de manteiga (1 colher de chá) e adicionar à massa. Deixar descansar por 30 minutos. Pôr um pouco de manteiga na frigideira e aquecer em fogo moderado até espumar. Despejar o excesso de manteiga derretida numa tigela. Depois, com uma concha, pôr a massa, começando no centro da frigideira. Inclinar a frigideira para espalhar a massa na base e chegar até as bordas. Verificar se é necessário acrescentar mais massa. Fritar por cerca de um minuto até dourar embaixo e aparecerem bolhas. Soltar e virar. Fritar o outro lado e reservar. Misturar o cream cheese com um pouco de suco de limão e sal e misturar até formar uma massa homogênea. Abrir a panqueca e passar o creme fino por cima. Cobrir com uma fatia de salmão defumado e uma fatia de surubim defumado. Embrulhar a panqueca e reservar em filme plástico. Deixar descansar por 30 minutos antes de servir.
Ingredients l 130 g of white wheat flour l 280 ml of milk l A pinch of salt l 2 eggs l 1 tray of smoked surubim fish l 2 trays of smoked salmon l 100 ml of cream cheese l 1 lemon l Spices and fresh herbs Preparation Mix the milk and the eggs, slowly adding the wheat flour with a sifter. Melt one teaspoon of butter and add it to the dough. Let rest for 30 minutes. Put a bit of butter in a frying pan and set the flame to medium, heating until it foams. Pour the excess of melted butter into a bowl. Then, using a pouring spoon, put the dought in the pan starting from its center. Incline the pan to spread the dough until it gets to the borders. Check to see if it needs more dough. Fry it for about one minute until it gets brown below and little bubbles start to appear. Turn it, fry the other side and reserve. Mix the cream cheese with a bit of lemon juice and salt and stir until it turns into an uniform dough. Open the pancak and spread the fine cream over it. Cover it with a slice of smoked salmon plus a slice of smoked surubim. Roll the pancake and reserve in plastic film. Let rest for 30 minutes before serving. Serves 4 people
Receita para 4 pessoas
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Risoto de Marreco
Drake risotto
por chef leno Dürrewald Ingredientes 500 g de arroz arborio l 500 g de carne de marreco cozido e desfiado l 200 g de cebola em pedaços l 300 g de cenoura em pedaços l 100 g de salsão em pedaços l 2 unidades de anis estrelado l 3 dentes de alho l 3 litros de água l 80 g de cebola brunoise l 100 g de manteiga gelada l 200 ml de vinho branco l Caldo do cozimento do marreco
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Modo de preparo Dourar o marreco em uma panela grande, acrescentar cebola, cenoura, salsão, anis estrelado e alho. Dourar um pouco mais e acrescentar água. Deixar cozinhar até a carne ficar macia. Desfiar a carne, descartando pele e nervos, e reservar. Em outra panela, colocar 50 g de manteiga, juntar a cebola e levar ao fogo. Quando a cebola estiver transparente, juntar o arroz e deixar refogar. Acrescentar o vinho branco, deixar evaporar e juntar a carne. Colocar o caldo aos poucos, mexendo sempre em fogo médio até o arroz estiver al dente. Finalizar com a manteiga restante para ficar cremoso. Servir imediatamente regado com azeite de oliva e queijo parmesão ralado. Receita para 4 pessoas
Ingredients 500 g of arborio rice l 500 g of cooked and pulled drake meat l 200 g of chopped onions l 300 g of chopped carrots l 100 g of chopped celery l 2 dried star anise fruits l 3 cloves of garlic l 3 liters of water l 80 g of brunoise onions l 100 g of cold butter l 200 ml of white wine l Broth from the drake's cooking l
Preparation Brown the drake in a big pan and add onions, carrots, celery, star anise fruits and garlic. Wait a little more and then add the water. Let it boil until the meat is tender. Pull the meat, discarding skin and nerves, and reserve. In another pan, heat 50 g of butter with the onions. When the onions start to get transparent, add the rice and let it smother. Add the white wine, letting it evaporate, and then add the meat. Pour the broth little by little, stirring constantly at medium heat until the rice is "al dente". Finalize with the remaining butter and serve right away, drizzled with olive oil and grated parmesan cheese. Serves 4 people
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Receitas coloniais Hühnergeschmoren
(Galinha caipira de panela)
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Ingredientes l Galinha caipira cortada em pedaços. l Sal à gosto l Banha de porco l Cebola de cabeça l Alho l Tomatinho crioulo l 2 gemas de ovo l Pimenta moída l Cebolinha e salsinha l Aipim cozido l Macarrão feito em casa l Taiá cozido l Arroz crioulo
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Preparação Fritar a galinha temperada com sal, na banha de porco aquecida em uma panela. Depois de uns 30 minutos, adicionando a cebola de cabeça o alho e o tomatinho crioulo cortado, acrescentar água quente para formar molho e não deixar queimar. Separadamente, bater as duas gemas, misturando com a pimenta, a cebolinha e a salsinha. Adicionar essa mistura à galinha um pouco antes de servir, acompanhada de aipim cozido, macarrão feito em casa, taiá cozido ou arroz crioulo. Origem da receita Um dos mais gostosos e tradicionais sonntagsessen (“pratos de domingo”, em alemão) dos nossos imigrantes era preparado pela família Hermann Hasse nos 40 e 50. Eram tios do Sr. Olavo Diogo da Silva – que colaborou com esta pesquisa – e vieram da Alemanha no ano de 1889, alojando-se em Lontras (SC). Este prato mostra bem a adaptação dos colonos alemães à sua nova terra, pois exigiu que fizessem uso dos ingredientes aqui disponíveis: aipim, taiá, arroz crioulo, e macarrão caseiro. O prato era preparado em panelas de ferro fundido sobre fogões à lenha.
Hühnergeschmoren (Organic chicken in a pan)
Ingredients l Organic chicken cut in pieces l Salt according to taste l Pork grease l 1 onion l 1 garlic head l Organic tomatoes l 2 egg yolks l Grinded pepper l Parsley and scallion l Cooked manioc l Homemade pasta l Cooked Taiá (another kind of manioc) l Creole rice Preparation Fry the chicken seasoned with salt in a hot pan with pork grease. After around 30 minutes, after adding the onion, the garlic head and chopped tomatoes, pour hot water to form a sauce and prevent from searing. In another bowl, beat the egg yolks with pepper, scallion and parsley. Add this mix to the chicken just before serving, sided by cooked manioc, homemade pasta, cooked taía or creole rice. Recipe’s origin One of the tastier and most traditional sonntagsessen (“Sunday meals”, in German) of our immigrants was prepared by Hermann Hasse’s family in the 1940s and 50s. They were uncles of Mr. Olavo Diogo da Silva – who collaborated with this culinary research – and came from Germany in 1889, settling in Lontras (SC). This dish shows the adaptative capacity of the German settlers to their new home, imposing the use of ingredients that were locally available: manioc, taiá, creole rice and homemade pasta. The recipe was prepared in iron pans over wood stoves.
Preparação Cozinhe separadamente a raiz e o repolho, até que amoleçam. Amasse a raiz juntamente com o repolho. Acrescente a gordura, a pimenta e o sal. Origem da receita A Sra. Alice Sengel aprendeu com suas tias em meados de 1923. Geralmente é servida acompanhado carne suína.
Kochkäse
(Queijo cozido)
Ingredientes l 3 litros de leite l 1 colher de margarina l 1 pitada alcarávia (Kümmel) Preparação Deixar azedar o leite por 2 dias até coalhar. Retirar a nata e aquecer um pouco, sem ferver. Deixar escorrer dentro de um pano fino até sair todo o soro, por aproximadamente um dia. Após isto esfarelar em uma bacia e tampar com pano para ficar com cheiro forte de queijo envelhecido (fauler käse). Pegar uma panela e colocar a margarina e logo em seguida colocar o queijo por cima. Misturar com colher de pau. Acrescentar o cominho. Servir com pão fresco, de preferência caseiro. Origem da receita A Sra. Modesta Hausmann, moradora de Pomerode (SC), aprendeu esta receita com sua mãe Alinda Rux em 1954.
Ingredients l ¼ of a cabbage l 2 kg of taiá l Water l 1 tablespoon of pork grease or l bacon l Salt l Pepper
(Taiá purée)
Preparation Boil the cabbage and the taiá in separate pans until soft. After boiling, mash both in the same container. Add the grease, pepper and salt. Recipe’s origin Mrs. Alice Sengel learned this recipe with her aunts, in 1923. It is usually served with pork meat.
Kochkäse (Queijo cozido)
Ingredients l 3 liters of milk l 1 tablespoon of margerine l A pinch of carway (kümmel) Preparation Leave the milk to sour for about 2 days until it becomes curdle. Take the cream off and heat a little, without boiling. Let it exude inside a thin fabric until all the whey gets out, for about one whole day. After that, crumble it in a bowl and cover with a cloth until it starts to smell strongly like an aged cheese (fauler käse). Put the margerine in a pan and the cheese over it. Stir with a wood spoon. Add the carway. Serve with fresh baked bread, preferably homemade. Recipe’s origin Mrs. Modesta Hausmann, of Pomerode (SC), learned this recipe with her mother Alinda Rux in 1954.
180 anos da imigração alemã em Santa Catarina
Ingredientes l ¼ de repolho l 2 kg de taiá l Água l 1 colher de sopa de gordura de porco ou bacon l Sal l Pimenta do reino
Taiá Brei
(Purê de taiá)
Origem
Taiá Brei
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Receitas coloniais Schwademage (Pork Cheese) Boil a pork skin and the meat of its head. Pass it through a meat grinder, together with green spices and salt according to taste. Put this mix inside a carefully washed pork stomach. Sew it shut and boil for around 60 or 70 minutes. After that, with the stuffed stomach still hot, place it over a table and put a heavy cutting board over it. Let it cool, take off the board and cut in slices. Eat it with corn bread and with doors closed, so no one will bother when you’re savoring your schwademage.
Zwiebelkuchen (Bolo de Cebola) Ingredientes da massa 250 g de farinha de trigo l ½ copo de leite l 3 colheres de sopa de azeite l 3 colheres de chá de fermento de bolo Sal a gosto Ingredientes Cobertura l 750 g de cebola l 80 a 100 g de toucinho l 3 colheres de farinha de trigo l Alcarávia (Kümmel) l ½ colher de chá de sal l 3 a 4 ovos l ¼ litro de nata azeda
Origem
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Preparação Fritar a cebola e o toucinho, mas não deixar dourar. Deixar esfriar e juntar os ovos, sal, trigo e a nata; a alcarávia a gosto. Fazer uma massa com o trigo, o leite, o azeite o fermento e o sal. Deixar descansar por 10 minutos. Colocar a massa em uma forma refratária, cobrir com a massa de cebola e toucinho, levar ao forno por 1 hora. Servir quente.
Schwademage (queijo de porco) Cozinhar uma pele de porco e a carne da cabeça. Passar na máquina de moer, juntamente com temperos verdes e sal a gosto. Lavar bem um estômago de porco e colocar a mistura dentro. Costurar a parte aberta e ferver durante 60 a 70 minutos. Em seguida, ainda quente, colocar o estômago cheio em cima de uma mesa ou tábua e, por cima, outra tábua pasando entre 3 e 4 quilos. Deixa-se esfriar, depois é só tirar e cortar em fatias. Comer frio com pão de milho e fechar as portas para ninguém incomodar quando estamos a saborear o nosso “schwademage”.
Zwiebelkuchen (Onion cake) Ingredients – dough l 250 g of wheat flour l ½ glass of milk l 3 tablespoons of oil l 3 teaspoons of powder yeast l Salt according to taste Ingredients – Topping l 750 g of onions l 80 a 100 g of bacon l 3 tablespoons of wheat flour l Caraway (kümmel) l ½ teaspoon of salt l 3 to 4 eggs l ¼ liter of sour cream Preparation Fry the onion and the bacon, without browning. Let cool and add the eggs, salt, flour and sour cream; caraway according to taste. Make a dough with flour, milk, oil, yeast and salt. Let rest for 10 minutes. Put the dough in a pyrex, cover with the onion and bacon paste and bake it in the oven for 1 hour. Serve hot.
Ingredientes da cobertura l Sal l Noz moscada l 200 g de carne l 1 colher de chá de trigo l 1 cebola l purê de tomate
Kartoffelnester l
Ingredients – dough 750 g of cooked potatoes l 50 g of shortening l Grated cheese l 3 eggs
Ingredients – topping Salt l Nutmeg l 200 g of chopped meat l 1 teaspoon of wheat flour l 1 chopped onion T l omato purée
Preparação Cozinhar as batatas no dia anterior com sal. Amassar a batata com a noz moscada, gordura vegetal, queijo ralado e os ovos batidos. Em seguida preparar o recheio misturando a carne em pedaços com sal, o trigo, cebola picada e o purê de tomate. Fazer ninho de batata e colocar. Levar ao forno pouco antes de servir por alguns minutos. Origem da receita Está receita foi passada de geração a geração, em torno dos fogões à lenha. Érica Stingelin conta que aprendeu a prepará-la com sua mãe e com sua avó aproximadamente em 1938.
(Potato nest) Preparation Cook the potatoes with salt in the previous day. Mash the potatoes with nutmeg, shortening, grated cheese and whipped eggs. Then prepare the filling mixing the meat with the salt, the flour, the onion and the tomato purée. Make a “nest” with the potatos and put the mix inside. Just before serving, put it back in the oven for a few minutes. Recipe’s origin This recipe was transmitted through generations, around old wood stoves. Érica Stingelin recalls learning it from her mother and grandmother around 1938.
180 anos da imigração alemã em Santa Catarina
Ingredientes da massa l 750 g de batatas cozidas l 50 g de gordura vegetal l Queijo ralado l 3 ovos
(Ninhos de batatas)
Origem
Kartoffelnester
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Receitas coloniais Grundrezept für Hefeteig (Receita base para cuca alemã) Ingredientes 500 g de trigo l 100 g de manteiga l Uma pitada de sal l 75 g de açúcar l 3/16 litro de leite (1/4 de copo) l 40 g de fermento biológico l
Preparação Colocar a farinha de trigo numa bacia previamente aquecida e fazer uma cavidade no centro. Misturar o fermento com um pouco de leite aquecido, uma colher de chá açúcar e o sal e colocar na cavidade. Misturar aos poucos até dar consistência. Polvilhar a massa com farinha e deixar em lugar aquecido por 15 minutos para crescer. Depois juntar a manteiga e o resto do leite aquecido ao açúcar e à farinha e fazer uma massa leve. Bater até que a massa faça bolha. Deixar crescer por 20 minutos. Levar ao forno para assar.
Origem
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Cuca de Nata
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Ingredientes 2 colheres de sopa de manteiga l 2 xícaras de açúcar l 2 ovos l 1 copo de leite l 4 xícaras de farinha de trigo l 1 colher de sopa de fermento em pó l
Grundrezept für Hefeteig (base recipe for Kuchen )
Ingredients l 500 g of wheat flour l 100 g if butter l A pinch of salt l 75 g of suger l 3/16 liters of milk (1/4 of a glass) l 40 g of baker’s yeast Preparation Put the flour in a preheated bowl and make a cavity in the center. Mix the yeast with a little bit of heated milk, a teaspoon of sugar and a pinch of salt and pour it inside the cavity. Stir until smooth. Sprikle flour over the dough and let rest in a heated place for 15 minutes, so it can grow. Then add butter and the remaining milk to the sugar and flour mix to make a soft dough. Whip until it starts to bubble up. Let grow for 20 minutes. Bake it in the oven.
Cream Kuchen Ingredients l 2 tablespoons of butter l 2 cups of sugar l 2 eggs l 1 cup of milk l 4 cups of wheat flour l 1 tablespoon of yeast powder
Preparação Bater as gemas com açúcar e manteiga, juntar os demais ingredientes e, por último, as claras em neve. Levar para assar.
Preparation Beat the egg yolks with sugar and butter. Add the rest of the ingredients and, lastly, the whipped egg whites. Take it to the oven.
Receita de Vera Lúcia Z. Schell Clube de Mães da Comunidade Rural Santa Filomena, São Pedro de Alcântara (SC)
Recipe by Vera Lúcia Z. Schell Santa Filomena Rural Community's Mothers Club São Pedro de Alcântara (SC)
Casa das Tortas’ Kuchen
Preparação Bater o açúcar, a manteiga, depois às gemas com as raspas e suco de laranja, misturar o fermento e o trigo manualmente e por ultimo as claras em neve tomando o cuidado de misturar o tempo necessário. Esta massa é para uma forma de 26 cm de diâmetro. Recheio e cobertura As frutas ou doces das cucas deverão ser colocados junto pra assar com a massa. Para essa cuca, a indicação é um recheio de doce caseiro de mamão com coco e cobertura de nata fresca.
Waffles Ingredientes l 4 ovos l ¼ de litro de leite l 10 g de fermento l 250 g de farinha de trigo l 125 g de manteiga l Sal e açúcar a gosto Modo de fazer Misturar todos os ingredientes em vasilhame apropriado, despejando o conteúdo (massa mole) em forma própria. Receita de Marli Bruch Schvambach Clube de Mães da Comunidade Rural Santa Filomena, São Pedro de Alcântara (SC)
Preparation Beat the sugar and the butter with the egg yolks, the zests and the orange juice. Add the yeast and the flour, beating by hand, and then carefully add the whipped egg whites, stirring as long as necessary. This dough fits in a 26 cm tray. Filling and topping The fruits and jams used in the kuchen must be baked together with the dough. A good suggestion for the recipe above is a homemade coconut and papaya jam filling and a fresh cream topping.
Waffles Ingredients l 4 eggs l ¼ liter of milk l 10 g of yeast l 250 g of wheat flour l 125 g of butter l Salt and sugar according to taste Preparation Mix all the ingredients in a bowl and pour the resulting soft dough in a proper pan. Recipe by Marli Bruch Schvambach Santa Filomena Rural Community's Mothers Club São Pedro de Alcântara (SC)
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Ingredientes 125 g de manteiga l 125 g açúcar l 2 ovos inteiros l 250 g de farinha de Trigo l Raspa de limão e laranja (a gosto) l 1 colher de sobremesa de fermento químico l 1/2 xícara de suco de laranja. l
Origem
Cuca da Casa das Tortas
Ingredients l 125 g of butter l 125 g of sugar l 2 eggs l 250 g of wheat flour l Lime and orange zest (according to taste) l 1 dessert spoon of yeast powder l 1/2 cup of orange juice
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Receitas coloniais Licor de Casca de Tangerina Ingredientes l 1 litro de cachaça l Cascas de oito tangerinas l 3 xícaras (chá) de xarope * l 1 colher (chá) de baunilha Preparação Limpar bem as cascas e retirar a pele branca. Cortar em tiras. Deixar em infusão por dez dias. Coar. Misturar a baunilha com xarope. * Receita do xarope Ingredientes l 4 xícaras de chá de açúcar l 2 xícaras de chá de água
Tangerine Peel Liquor Ingredients l 1 liter of cachaça l 8 whole tangerine peels l 3 cups of syrup* l 1 teaspoon of vanilla essence Preparation Wash the peels and take off all the white parts Cut into stripes. Immerse the peels in syrup for ten days Sift. Add the vanilla essence to the syrup * Syrup recipe
Origem
180 anos da imigração alemã em Santa Catarina
Preparação Misturar o açúcar com a água numa panela e levar ao fogo. Não mexer. Quando ferver, abaixar o fogo e cozinhar levemente, até o açúcar dissolver completamente e formar uma calda. Deixar esfriar antes de misturar com o licor.
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Receita de Marli Bruch Schvambach Clube de Mães da Comunidade Rural Santa Filomena, São Pedro de Alcântara (SC)
Ingredients l 4 cups of sugar l 2 cups of water Preparation Mix the sugar and the water in a pan and boil without stirring. When it boils, lower the heat and cook until the sugar dissolves completely and starts to caramelize. Let it cooll before adding the liquor. Recipe by Marli Bruch Schvambach Santa Filomena Rural Community's Mothers Club, São Pedro de Alcântara (SC)
Zucker Chimíer (Chimia de Açúcar)
Zucker Chimíer
(Chimia de Açúcar)
Ingredientes l 3 ovos caipiras l 1 xícara de açúcar l 1 colher de sopa de manteiga Preparação Coloca-se os ingredientes em uma panela. Leva-se ao fogo baixo misturando-os constantemente até começar a ferver. Iniciado o ponto de fervura, manter por mais um minuto no fogo. Está pronto para ser servido. Utilizado para passar em fatias de pães, queijos, etc. Receita de Marli Bruch Schvambach Clube de Mães da Comunidade Rural Santa Filomena, São Pedro de Alcântara (SC)
Ingredients l 3 organic eggs l 1 cup of sugar l 1 tablespoon of sugar Preparation Put all the ingredients in a pan Heat at low flame, stirring constantly until it starts to boil. After reaching boiling point, leave it in the flame for one minute more. It is ready to be served. Used smeared over bread loaves, cheese, etc. Recipe by Marli Bruch Schvambach Santa Filomena Rural Community's Mothers Club, São Pedro de Alcântara (SC)
Gefüllte Bratäpfel (Maçãs recheadas assadas)
Origem da receita Com essas maçãs recheadas, as longas noites de inverno na região de Berlim tronavam-se mais aconchegantes. De acordo com Dona Marli, “essa receita vem do tempo de nossas bisavós, foi passada adiante e é usada até hoje”.
(Baked filled apples)
Ingredients l 1 or 2 apples per person l Raspberry jam l 50 g of butter l 50 g of sugar l ¼ liter of fruit liquor Preparation Cut the apples in half and take off the seeds. Put the fruits in a tray and pour half of the liquor over them, with bits of solid butter on top that will melt when heated. Bake in a preheated oven for 30 minutes
and then pour the remaining liquor. Before serving, when they are still hot, fill with raspberry jam and sprinkle with sugar. Recipe’s origin These filled apples made the long cold winter nights in Berlin more cozy. According to Mrs. Schvambach, “it is a recipe from the times of our great grandmothers that was passed along and it is used until today”.
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Preparação Cortar as maçãs ao meio e tirar as sementes. Colocá-las em uma forma e regá-las com a metade do licor e colocar alguns pedaços de manteiga em cima para derreter. Assar em forno pré-aquecido por 30 minutos e depois regá-las novamente com o licor. Ates de servi-las, ainda quentes, rechear com a geléia de framboesa e polvilhar com açúcar
Gefüllte Bratäpfel
Origem
Ingredientes l 1 ou 2 maçãs por pessoa l Geléia de framboesa l 50 g de manteiga l 50 g de açúcar l ¼ litro de licor de frutas
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cerveja
Um brinde artesanal
Origem
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A toast to the artisan taste
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Indispensáveis em qualquer colônia alemã, as cervejarias locais fazem sucesso até hoje Indispensable in every German settlement, the local breweries remain a success to this day
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Origem
a história da bebida em santa catarina é contada em detalhes no museu da cerveja de blumenau the history of the beverage in santa catarina Is displayed in full detail at the beer museum in blumenau
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A lei de pureza alemã continua sendo seguida por muitas microcervejarias Most of the microbreweries still follow the German Purity Law of production
Origem
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a extensa bagagem cultural trazida pelos imigrantes no século 19, não poderia faltar uma tradicional paixão do povo germânico: a cerveja. Apreciada desde a Idade Média na Alemanha, a bebida começou a fermentar em terras catarinenses logo nos primeiros anos de existência de cada colônia. No início, dezenas de pequenas cervejarias foram criadas, com gestão basicamente familiar e tecnologias rudimentares de produção. As fábricas de cerveja locais se mantiveram ativas por apenas algumas décadas, quando muitas delas começaram a ser vendidas e renomeadas, incorporadas a grandes indústrias do ramo. No entanto, os últimos 12 anos testemunharam o ressurgimento de várias microcervejarias em Santa Catarina, agora revitalizadas pelo empreendedorismo dos proprietários e pela qualidade do produto, reconhecida até em competições internacionais. Tanto nos primeiros anos das colônias como na atual retomada das microcervejarias, há um elemento essencial em comum: a Lei de Pureza (Reinheitsgebot) instituída na região da Bavária, em 1516, pelo Duque Wilhelm IV. De acordo com suas diretrizes, a cerveja deve ser feita somente com estes elementos: malte de cevada, lúpulo e água. Nada de conservantes ou corantes. Cerveja pura. E água, quanto mais pura, melhor. E isso havia de sobra em Santa Catarina durante os primeiros anos da imigração. Os primeiros mestres-cervejeiros das colônias catarinenses traziam o conhecimento necessário da própria Alemanha ou então aprendiam nas fábricas do Rio de Janeiro, onde já se fazia cerveja desde o começo do século. Aos 30 anos, em 1858, Heinrich Hosang chegou a uma jovem Blumenau, que não possuía mais de 200 famílias, a maioria vivendo em ranchos improvisados. Dois anos depois, a cidade – que é hoje sede da maior Oktoberfest das Américas – provava sua primeira cerveja local, saída dos barris de Hosang. Outras fábricas, como a Rischbieter Brauerei e a Cervejaria Jennrich, logo surgiriam para aumentar o leque de opções para os consumidores.
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nside the cultural baggage brought to Brazil by the immigrants in the 19th century, beer – a traditional passion of the German people – surely couldn’t lack. Enjoyed since the Middle Ages in Germany, the drink started fermenting in Santa Catarina right after the first years of the colonies. In the beginning, dozens of small breweries were founded, usually run by families and using rudimentary techniques of production. The local breweries were kept in activity just for a few decades, when most of them started to be incorporated to bigger companies and renamed. However, the last 12 years witnessed the booming of a few microbreweries in Santa Catarina, now strengthened by the entrepreneurism of its owners and by the high quality of its products, recognized in many international competitions. The common trace linking the first years of the colonies with present times is the Purity Law (in German, Reinheitsgebot), created in Baviera in 1516 by the Duke Wilhelm IV. According to it, beer must be made only with barley malt, hops and water. No conservatives nor artificial colours. The purer the water the better the beer. And pure water was something that Santa Catarina had in abundance 180 years ago. The first Master Brewers to work in the colonies brought their know-how from Germany or from the factories in Rio de Janeiro, where the drink was being made since the beginning of the 19th century. By the age of 30, in 1858, Heinrich Hosang arrived in a young Blumenau inhabited by no more than 200 families, most of them living in improvised shelters. Two years later, the colony – now a city that hosts the biggest Oktoberfest in the Americas – would taste its first local beer out of Hosang’s barrels. Other factories, as the Rischbieter Brauerei and the Cervejaria Jennrich, would soon appear broadening the options to the colony`s customers. However, being the first Germanic brewer in Santa Catarina, Hosang was not the pioneer in the State. Six years before, in Joinville, a Swiss named Gabriel
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Origem
a produção nas colônias dependia de equipamentos, matéria-prima e know-how importados da alemanha brewers at colonial times depended on imports of equipment, ingredients and know-how from germany
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Origem
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A técnica alemã e a qualidade da água fizeram a fama das cervejas locais The German technique and the water quality made the local beers famous
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Mesmo sendo a primeira cervejaria de origem germânica, a Hosang não foi a pioneira na fabricação da bebida em Santa Catarina. O título cabe a um suíço, Gabriel Schmalz, que instalou em 1852 uma pequena fábrica em Joinville, onde hoje é a Rua Visconde de Taunay. Sem o compromisso com a lei de pureza germânica, na falta de cevada ele decidiu utilizar milho na fórmula. Ao longo da segunda metade do século 19, outras localidades foram ganhando suas cervejarias. Os nomes? Bavaria, Vitoria, Deliciosa, Joinvillense, Mulatinha, Catharinense, Bock, Salvador, Clarinha, Cerveja 33... São quase uma centena de rótulos que hoje se transformaram em objetos de colecionador. Fabricadas com produtos importados, eram distribuídas inicialmente por meio de carroças e, mais tarde, em pequenos caminhões. Perto da virada do século, por volta de 1898, Blumenau veria surgir a sua cervejaria de maior longevidade. Fundada na Vila Itoupava, a Cervejaria Feldmann resistiu bravamente até 1978, quando fechou suas portas, já com o nome de Kranapel. Boa parte dos equipamentos da fábrica, como máquinas manuais e automáticas, pode ser visto hoje no Museu da Cerveja de Blumenau. São peças únicas que contam a história da paixão da cidade pela bebida. Já a pioneira Joinville ficou famosa por sediar, até 1998, a fábrica que produzia a melhor Cerveja Antarctica do Brasil. A filial da grande fabricante possuía equipamentos mais antigos e contava com água de excelente qualidade. A cerveja fabricada ali ganhou fama no País e logo muita gente se habilitou a olhar com atenção para as informações na tampa das garrafas. Se elas viessem de Joinville, o happy hour teria um sabor especial. As microcervejarias haviam praticamente desaparecido do mapa catarinense até que, em 1996, Brunhard Borck concretizou um sonho e abriu, em Timbó, a cervejaria que leva o seu nome. Mas foi apenas seis anos depois, com a fundação da Eisenbahn, em Blu-
Schmalz started a small factory where Visconde de Taunay Street is today. Without commitment with the Germanic Purity Law, he used corn in his formula instead of barley. Through the second half of the 19th century, other communities started to have their own breweries. The brands? Bavaria, Vitoria, Deliciosa, Joinvillense, Mulatinha, Catharinense, Bock, Salvador, Clarinha, Cerveja 33... There were almost one hundred of labels that today are collector items. Produced with imported ingredients, the beer was distributed first with carts and later by little trucks. About the turn of the century, in 1898, Blumenau saw the arising of its first brewery that would last for many decades. Built in Vila Itoupava, the Cervejaria Feldmann lasted bravely until 1978, when it was finally shut down, already bearing the name Kranapel. Most of its equipments, dozens of automatic and manual machines, can be seen today at the Blumenau’s Beer Museum, whose unique pieces tell the history of the city’s passion for beer. Joinville, in its turn, became famous not just by its Swiss pioneer, but specially for being the city where, until 1998, was produced the best Antarctica beer in the whole country. A branch of Brazil’s biggest beverages company, it had old and trustable equipments plus top quality water, which resulted in a very special beer. At bars all over the country, it became an usual thing to check where the beer ordered was produced. If the lead said Joinville, the happy hour would have then a special flavour. The microbreweries were almost extinct in Santa Catarina until 1996, when Brunhard Bock made a dream come true through the foundation of the Cervejaria Borck in Timbó. But it was only six years later, with the release of the Cervejaria Eisenbahn, in Blumenau, that the real boom happened. The factory achieved world fame thanks to its products’ quality and especially to the hands of the experienced German Master Brewer Gerhard Beutling. The success was
equipamento em exposição no museu da cerveja old brewer equipment on display at the beer museum
menau, que o verdadeiro boom das microcervejarias ocorreu no Estado. A fábrica blumenauense alcançou fama mundial graças à qualidade dos produtos e à mão do experiente mestre-cervejeiro alemão Gerhard Beutling. Tanto que acabou sendo adquirida recentemente por uma grande fabricante brasileira. Mas a ideia já estava no ar – ou melhor, nos barris. Em Blumenau, além da Eisenbahn, hoje fabricam cerveja artesanal a Bierland e a Wunderbier. A Opa Bier foi fundada em Joinville em 2006. Em Gaspar, há a Das Bier; em Indaial, a Heimat; em Brusque, a Zehn Bier; e em Pomerode, a Schornstein. Isso sem contar os diversos fabricantes amadores, amigos que se reúnem para produzir cerveja apenas por prazer, mantendo viva a tradição cervejeira trazida pelos imigrantes.
so huge that recently Eisenbahn was negotiated to a big Brazilian company. However, the idea was already in the air – or inside the barrels. Today in Blumenau, besides Eisenbahn, there are two factories brewing artisanal beer: Bierland and Wunderbier. In 2006, Opa Bier was founded in Joinville. In Gaspar, there is Das Bier; in Indaial, Heimat; in Brusque, Zehn Bier and in Pomerode, Schornstein. And we are not counting here many amateur producers that get together with friends to make beer only as a hobby, keeping alive the brewing tradition brought by the immigrants.
MEMÓRIA
Viagem ao passado A journey to the past
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Museus coloniais em Santa Catarina retratam a vida diária dos primeiros imigrantes alemães Santa Catarina's colonial museums portray the everyday life of the first German immigrants
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QUARTO DE UMA FAMÍLIA DE IMIGRANTES REPRODUZIDO nO museu histórico Emílio da silva, em jaraguá do sul The bedroom of an immigrant family reproduced in emílio da silva history museum, jaraguá do sul
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Um acervo de móveis, roupas e objetos domésticos conta a história das famílias que povoaram parte do Estado no século 19 A collection of furniture pieces, clothes and homeware tell the history of the families that settled in the State by the 19th century
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elo lado de fora, a arquitetura por si só já resgata a ambientação dos tempos coloniais. Passando pela porta, o visitante se depara com fotografias desgastadas, engenhos de madeira que representam os primeiros passos da indústria catarinense, roupas que só eram vestidas aos domingos para ir à missa, camas rústicas com colchões de palha, louças de porcelana com dizeres em alemão e outros milhares de objetos preciosos. Em Santa Catarina, a memória da colonização alemã é preservada com uma riqueza ímpar em uma série de museus onde é possível encontrar desde delicados broches pintados à mão até engenhosas máquinas que ocupam um cômodo inteiro. Montados em antigas casas rurais construídas em técnica enxaimel ou em prédios que já abrigaram prefeituras e mansões, os museus da região são peças fundamentais para conhecer as origens das cidades fundadas pelos imigrantes alemães em Santa Catarina. Para os habitantes locais, os museus revelam um novo sabor, um novo jeito de olhar as ruas do seu município. Para o turista, mostram em detalhes como aquelas colônias construídas no meio da Mata Atlântica acabaram se transformando em importantes núcleos urbanos. Em Pomerode, uma das cidades que melhor mantém preservadas as tradições dos primeiros colonos, um dos destaques é a Casa do Imigrante Carl Weege, cercada por uma paisagem bucólica, com dezenas de casas centenárias e uma velha igreja luterana. Reconstruída em 1998 pela Malwee, empresa têxtil de Jaraguá do Sul gerida pelos herdeiros de Weege, a casa é uma réplica da construção original de 1900. Ela foi montada no mesmo lugar onde o imigrante pomerano – que chegou ao Brasil em 1868, aos 12 anos de idade – desenvolveu seu patrimônio através da agricultura e do comércio. Construído na harmoniosa técnica enxaimel, com
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n the outside, the buildings themselves are able to evoke the spirit of colonial days. Walking through their doors, one finds old photographs, wooden mills that represent the first steps of Santa Catarina’s industry, clothes that were wore just on Sundays at church, rudimentary beds with straw-filled mattresses, pottery bearing messages in German and thousands of other precious objects. In Santa Catarina, the memory of old German settlements is preserved in all of its many forms at museums displaying a wide range of objects, from delicate hand-painted brooches too ingenious machines that take up an entire room. Assembled in old rural houses built with the fachwerk (framed work, in German) technique or in buildings that once were city halls or mansions, the regional museums are a must see for anyone interested in the origins of the cities founded by German immigrants in Santa Catarina. To the locals, these museums unveil a new way to look at their towns and city`s streets. To the visitors, they tell the story of how those small villages constructed in the middle of a tropical forest have ended up as important urban hubs. In Pomerode, one of the cities that most strongly preserves its immigrant traditions, a must-see is Carl Weege’s Immigrant House, surrounded by a pastoral scenery composed of dozens of centenary houses and an old Lutheran church. Reconstructed in 1998 by Malwee, a Jaraguá do Sul textile company owned by Weege’s descendants, the museum is located inside a reproduction of the original house dated from 1900. It was rebuilt on the same place where the Pommeran immigrant – who arrived in Brazil in 1868, at the age of 12 – conquered his patrimony trough agriculture and commerce. Built with the harmonious fachwerk technique, with red little bricks and crossed wood beams on
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Origem
a DECORAÇÃO AUSTERA E A funcionalidade DAVAM O TOM DO AMBIENTE doméstico NAS COLÔNIAS. NA FOTO MAIOR: MUSEU DA FAMÍLIA COLONIAL (BLUMENAU). ACIMA: museu carl weege (pomerode). à esq.: museu nacional da imigração (joinville) austere ambiance and functionality set the tone of the domestic life in the colonies. On the bigger picture: Colonial family museum (blumenau). Above: carl weege museum (pomerode). left: immigration national museum (joinville)
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Equipamentos das primeiras indústrias e antigos meios de transporte mostram o desenvolvimento urbano da região Machinery from its first industries and old transportation means show the urban development on the region
Origem
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carruagens e carroças no museu nacional da imigração, em joinville carts and carriages at the immigration national museum in joinville
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tijolos vermelhos e vigas de madeira cruzada, o museu possui uma convidativa varanda, três quartos (um no sótão), cozinha e sala. Dentro dele, mais de 500 objetos doados por familiares foram cuidadosamente dispostos para reconstruir com fidelidade o ambiente da época em que Carl e sua esposa Caroline Auguste Sophie Grüetzmacher ali viviam. Ao redor da casa, jardins floridos e uma lagoa com uma antiga roda d’água formam um bem-cuidado cenário colonial. Numa construção separada, uma atafona de madeira – máquina utilizada para produzir farinha de milho – ocupa dois andares e ainda funciona. Já no rancho nos fundos da propriedade, um velho engenho resiste ao tempo. Vizinha a Pomerode, Timbó também sabe valorizar o passado colonizador. O Museu do Imigrante, parte do Complexo Turístico Jardim do Imigrante, foi inaugurado em 2003 no Centro da cidade, em uma casa da década de 1920 que pertenceu à família Benz. A aconchegante construção ainda preserva as paredes em enxaimel em seu interior e mostra como era a vida em Timbó em uma época bem mais alemã que a atual. Fotografias revelam o rosto dos primeiros habitantes da colônia. Uma velha vitrola, máquinas de costu-
the walls, the museum has a welcoming porch, three rooms (one of them in the attic), a kitchen and a living room. Inside it, more than 500 objects donated by relatives are carefully arranged to reproduce every aspect of the daily life led by Carl Weege and his wife Auguste Sophie Grüetzmacher. Around the house, gardens filled with flowers and the small lake with an old water mill create a true colonial atmosphere. In a separated building, a huge flour mill takes up two floors and still works. At the back of the propriety, another old mill resists the ravages of time. Pomerode’s neighbour Timbó also values its colonial past. The Immigrant Museum, one of the attractions of the Immigrant’s Garden Touristic Complex, was founded in 2003. Located in the heart of the city, the house that sites the museum was built in the 1920s and belonged to the Benz Family. The cozy building still preserves fachwerk walls in its inside and shows how was life in Timbó almost a century ago. Portraits revealing the first settlers’ faces and an old record player share the room with sewing machines, pottery adorned with paintings, milk churns and other objects, each one telling its part of
acima: uma antiga atafona no museu carl weege em pomerode above: the atafona (corn mill) at carl weege museum in pomerode
ra, louças ornadas com guirlandas de flores, leiteiras, cada objeto conta uma história. Para completar o clima colonial, atrás da casa passa o belo Rio Benedito, que preserva em suas margens uma natureza exuberante. Em Jaraguá do Sul, o Parque Malwee, fundado em 1978, guarda uma das melhores coleções sobre a vida do imigrante alemão na região. O Museu Wolfgang Weege, batizado em homenagem ao criador do Parque, é formado por um conjunto de duas casas e um grande salão. Logo na entrada, uma locomóvel – máquina a vapor com rodas para gerar energia elétrica – está exposta em frente a uma casa enxaimel que guarda velhas máquinas de escrever e computadores. A parte do acervo focada na história dos imigrantes fica mais adiante. De instrumentos musicais a antigas poltronas para as horas de lazer, passando por um velho alambique e pelo equipamento de marcenaria, o museu exige algum tempo para olhar tudo com calma. Nas paredes, várias bicicletas mostram a importância de um meio de transporte muito utilizado até hoje na cidade. O Museu da Família Colonial não poderia estar em lugar mais conveniente: na Alameda Duque de Ca-
Origem
the story. The final touch is outside of the museum: the lovely view of the Benedito River, its banks surrounded by a stunning natural scenery. Founded in 1978, Malwee Park in Jaraguá do Sul has one of the best collections about the everyday life of German immigrants. The Wolfgang Weege Museum, named as a tribute to the man who created the park, is formed by a two house and one hall complex. Right at the entrance, the “locomobile” – a steam machine equipped with wheels and used to generate power – is on display in front of a fachwerk house that keeps old typing machines and computers in its inside. Further, in the other buildings, stands the immigrants history. From musical instruments to century-old armchairs for the leisure hours, going through carpentry instruments and aged wood barrels used to make cachaça (a Brazilian distilled drink), Wolfgang Weege’s Museum demands time to be enjoyed with no rush. On the walls, dozens of old bicycles are hanged to show the importance of a means of transportation still popular in the city. In Blumenau, The Colonial Family Museum could not be in a more convenient place: on Duque de
180 anos da imigração alemã em Santa Catarina
o museu nacional da imigração exibe diferentes tipos de engenho usados nos tempos coloniais the immigration national museum displays several kinds of mills used in colonial times
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xias, a primeira rua de Blumenau. Conhecida popularmente como Rua das Palmeiras, guarda um verdadeiro complexo de museus e prédios antigos, como o Parque Horto-Botânico Edith Gaertner, o Museu da Cerveja e o Mausoléu Dr. Blumenau, onde estão há mais de um século os restos mortais do fundador da cidade e de seus familiares. Das três casas que formam o Museu da Família Colonial, duas estão entre as mais antigas de Blumenau. Em uma delas, construída em 1858, oito anos após a chegada do Dr. Hermann Bruno Otto Blumenau à região, vivia o secretário e guardalivros do fundador da colônia, chamado Hermann Wendeburg. A casa guarda móveis centenários de diversas famílias que colonizaram a cidade. A segunda residência mais antiga data de 1864 e pertenceu a um cônsul, sobrinho-neto do Dr. Blumenau, Ronaldo Gaertner. Nela, o visitante encontra algumas salas temáticas, com objetos indígenas, instrumentos musicais e maquinário antigo da indústria local.
Caxias Avenue, the city’s very first street. Commonly called Palm Trees Street, this avenue holds a true complex of museums and centenary buildings like the Edith Gaertner’s Botanic Garden, the Beer Museum and the Dr. Blumenau’s Mausoleum, keeping for more than one hundred years the mortal remains of the city’s founder and his relatives. Two of the three houses that form the Colonial Family Museum are among the oldest ones in Blumenau. The first, built in 1858, only eight years after the arriving of Dr. Hermann Bruno Otto Blumenau, was the house of the city`s founder secretary and book keeper, Hermann Wendeburg. It has centenary furniture owned by many of the families that built the city. The second was constructed in 1864 and belonged to Ronaldo Gaertner, a consul that was also Dr. Blumenau’s grandnephew. Inside it, there are some thematic rooms with indigenous objects, musical instruments and old machinery of the first factories in the city.
endereços ADDRESSES blumenau
Jaraguá do Sul
Museu da Família Colonial Colonial Family Museum
Casa do Colonizador Settler's House
Alameda Duque de Caxias, 78 - Centro (47) 3322 1676 www.fcblu.com.br
Museu da Cerveja Beer Museum
Origem
180 anos da imigração alemã em Santa Catarina
Rua XV de Novembro, 160 - Centro (47) 9963 3791
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Pomerode Museu Pomerano Pommeran Museum
Rua Hermann Weege, 111 - Centro (47) 3387 2626 fcp@pomerode.sc.gov.br
Casa do Imigrante Carl Weege Carl Weege’s Immigrant House
Rua Leopoldo Blaese, 11 - Km 4 (acesso pela SC418) - Pomerode Fundos (47) 3387 2613 museu@malwee.com.br
Museu do Marceneiro Carpenter Museum
Rua Alfredo Hoge, 525 - Centro (47) 3387 2072 | 3387 2073 www.behling.ind.br
Museu Casa do Escultor Erwin Teichmann Erwin Teichmann`s Scupltor House Museum Rua XV de Novembro, 791 - Centro (47) 3387 0282
and Colonization National Museum Rua Barão do Rio Branco, 229 - Centro (47) 3433 3736 www.museunacional.com.br
Av. Prefeito Waldemar Grubba, s/n° - Baependi (47) 3275 2146
Rio do Sul
Museu Wolfgang Weege Wolfgang Weege Museum
Museu Histórico Cultural de Rio do Sul Rio do Sul’s History Museum
Museu Histórico de Jaraguá do Sul Emílio da Silva Jaraguá do Sul’s Emílio da Silva History Museum
timbó
Rua Wolfgang Weege, 770 – Parque Malwee (47) 3376 0114 www.malwee.com.br
Avenida Marechal Deodoro da Fonseca, 247 Centro (47) 3371 8346 | 3372 2770 www.jaraguadosul.com.br/museu
Museu WEG WEG Museum
Avenida Getúlio Vargas, 667 - Centro (47) 3372 4551 | 3275 0941 www.museuweg.com.br
Joinville Museu da Bicicleta Bicycle Museum
Rua Leite Ribeiro s/n° (Estação Ferroviária) Anita Garibaldi (47) 3455 0372 www.museudabicicleta.com.br
Museu Nacional da Imigração e Colonização Immigration
Rua Oscar Barcelos, s/n° (antiga estação ferroviária) - Centro (47) 3522 6746 cultural.museu@riodosul.sc.gov.br
Museu do Imigrante Immigrant Museum
Avenida Getúlio Vargas, 211 - Centro (47) 3382 9458 www.fundaçãoculturaldetimbo.com.br
Museu da Música Music Museum
Rua Edmundo Bell, s/n° - Rodovia SC-477, Km 05 - Dona Clara (47) 3399 0419 www.fundacaoculturaldetimbo.com.br
são bento do sul Museu Municipal Dr. Felippe Maria Wolff Dr. Felippe Maria Wolff Municipal Museum Avenida Argolo, 245 - Centro (47) 3633 5924 museu@saobentodosul.sc.gov.br
grupos folclóricos
No ritmo da tradição
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Into the rhythm of tradition
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Nos grupos folclóricos, as danças e músicas típicas germânicas são passadas de geração a geração Folk groups have been passing along typical dances and songs to generations of german descendants
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180 anos da imigração alemã em Santa Catarina
Regenwalde Tanzgruppe (jaraguá do Sul)
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grupo 25 de julho (Blumenau)
grupo alle tanzen (guabiruba)
Além das danças tradicionais, o repertório dos grupos inclui apresentações de teatro e canto Adding to the traditional dances, the groups include theater and choir to their performances grupo 25 de julho (Blumenau)
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o som de uma animada polca, os casais sorriem o tempo inteiro enquanto giram pelo salão. Nos pés – ou melhor, no corpo todo – eles mantêm viva a tradição das antigas danças alemãs em Santa Catarina. Resgatados após o boom turístico da década de 1980, quando a Oktoberfest de Blumenau deu início a uma série de festas ligadas à cultura germânica no Estado, os grupos de dança folclórica hoje espalham sua alegria em restaurantes, bailes e desfiles ao ar livre. Com coloridos trajes representando as diferentes regiões de onde vieram os imigrantes que há 180 anos começaram a colonizar as terras catarinenses, os grupos relembram, com passos rápidos e bem ensaiados, os costumes centenários de seus antepassados. Suas apresentações costumam atrair multidões de turistas, encantados pela perícia dos dançarinos. Muitos grupos folclóricos vão além das danças típicas e incluem peças teatrais e corais de canto em seu repertório, sempre seguindo a tradição germânica. Assim, repassam para as novas gerações as histórias e músicas cantadas pelos antepassados. A formação dos grupos folclóricos de Santa Catari-
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he music is a joyful polka. Couples smile all the time while they spin trough the dance hall. With their feet – actually, with their whole body – they keep alive in Santa Catarina the tradition of the ancient Germanic dances. Rediscovered with the State’s tourism boom in the 1980s, when Blumenau’s Oktoberfest originated a series of parties related to the German culture in Santa Catarina, today the folk dancing groups spread happiness at restaurants, balls and street parades. Wearing colourful costumes representing the different European regions from where the immigrants came 180 years ago, these groups remember with fast and well rehearsed movements their ancestor’s centenary tradition. Their presentations use to attract groups of tourists, enchanted by the dancers’ expertise. Many folk groups go beyond dancing and include in their repertory theatre plays and choral music. That way, they also pass along to the younger generations the old stories and songs taught by their grands. The developing of folk groups in Santa Catarina
cada grupo Tem SEUS PRÓprIOS TRAJES TÍPICOS, QUE REPRESENTAM REGIÕES ESPECÍFICAS DA ALEMANHA EACH folk GROUP HAS ITS OWN TYPICAL COSTUMES, REPRESENTING different REGIONS FROM GERMANY
grupo 25 de julho (Blumenau)
owns quite a bit to the work of Gramado’s Youth House, in Rio Grande do Sul. Founded in 1966 to choir classes, German Language, music and acting classes, the entity started in the 1980s to graduate folk group coordinators and research the history of European dances. Nowadays, it has about 3.000 dances of several ethnic groups, being one of the biggest sources of material to the Santa Catarina’s folk groups. The Tradição Dança e Canto Prosit Group was the first one to appear in the State, according to Carlos César Hoffmann, one of the most prominent researchers of folk groups in Santa Catarina. The group was founded in 1968 in Itapiranga, that one decade later would become home of the first Oktoberfest in Brazil, seven years before Blumenau’s fest. By the same year, in Pomerode, the Alpino Germânico Group was taking its first steps on the dance hall, inspired by a Bavarian group that had been invited to perform in a beer fest in Blumenau. One of the qualities of Pomerode’s group is to mix traditional dances with performances showing the cus-
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na deve muito ao trabalho da Casa da Juventude de Gramado, no estado vizinho do Rio Grande do Sul. Fundada em 1966 oferecendo cursos de canto em coral, língua alemã, música e teatro, a entidade passou a formar coordenadores de grupos folclóricos a partir da década de 1980 e a pesquisar a história da dança europeia. Atualmente, conta com um acervo de 3 mil danças de várias etnias e é uma das principais fontes de referência para os grupos folclóricos catarinenses. O Grupo de Tradição Dança e Canto Prosit foi primeiro do Estado, segundo o pesquisador Carlos César Hoffmann, um dos maiores conhecedores de grupos folclóricos em Santa Catarina. O grupo nasceu em 1968 no município de Itapiranga, que uma década depois seria o berço da primeira Oktoberfest do Brasil, criada sete anos antes da festa de Blumenau. Em Pomerode, o Grupo Alpino Germânico também dava os primeiros passos naquele mesmo ano de 1968, inspirado em um grupo da Bavária que havia se apresentado na Festa da Cerveja de Blumenau. Um dos diferenciais do grupo catarinense é misturar as danças tradicionais com representações do cotidiano
180 anos da imigração alemã em Santa Catarina
Regenwalde Tanzgruppe (jaraguá do sul)
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180 anos da imigração alemã em Santa Catarina
Os grupos folclóricos são atrações imperdíveis nas festas de cultura germânica em Santa Catarina The folk groups are a must-see attraction during Santa Catarina's celebrations of German culture
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dos colonos alemães. Entre elas está a divertida “Dança do Lenhador”, na qual os homens, entre saltos e sapateados, serram lenha em pleno palco, com machados e serrotes. Em Blumenau, os primeiros passos só foram ensaiados com o advento da Oktoberfest. Em 1984, o Grupo 25 de Julho, até hoje um dos mais ativos do Estado, fez sua primeira aparição durante um desfile pelo Centro da cidade. Encantou a população e os turistas e gerou uma onda de resgate da dança folclórica em toda a região do Vale do Itajaí, inspirando a criação de importantes grupos locais como Teutônia, Germânia e Grünes Tal. Em Jaraguá do Sul, o primeiro grupo folclórico nasceu em 1988 com o nome Grupo Nascente de Tradições Germânicas. Em seguida, adotou o nome Neue Heimat Trachtengruppe. Quatro anos mais tarde, a agremiação cresceu e se tornou em centro cultural, fortalecendo o trabalho de divulgação e preservação da cultura alemã na cidade. O Neue Heimat ensina dança para 40 crianças do Colégio Estadual de Ensino Básico Alvino Tribes e este ano começou a oferecer aulas de teatro, música e canto. Dois anos depois do surgimento do Neue Heimat, a indústria têxtil Malwee criou o Regenwalde Tanzgruppe, um grupo de danças folclóricas que, além de preservar as tradições germânicas, integra os funcionários da empresa – agora também dançarinos – com a comunidade. A ideia deu tão certo que hoje o grupo conta com cerca de 100 dançarinos de todas as idades.
o Regenwalde Tanzgruppe oferece aulas de dança a 40 crianças de uma escola estadual regenwalde Tanzgruppe offer dance classes to 40 children from a local state school
toms of the Germanic settlers. A good example is the Lumberjack Dance, in which men jump, tap dance and cut a large piece of wood on stage using real axes and saws. In Blumenau, the initial impulse came only with the first edition of Oktoberfest. In 1984, the 25 de Julho Group, one of the most active in the whole State nowadays, made its first appearance during a street parade downtown. The beauty of the dancing and costumes excited tourists and inhabitants alike. The group originated a wave of interest for folk dances throughout the region, inspiring the rise of many important local groups such as Teutônia, Germânia and Grünes Tal. In Jaraguá do Sul, the first folk group – Nascente de Tradições Germânicas Group – , was founded in 1988. A few years later, it changed its name to Neue Heimat Trachtengruppe. In 1992, the entity grew and became a cultural centre, strengthening the preservation of the Germanic culture in the city. Today the group members teach dancing to 40 children at the Alvino Tribes State School. In 2009, it started to offer acting, music and singing classes. Two years after the Neue Heimat, Malwee – a textile company in Jaraguá do Sul – created the Regenwalde Tanzgruppe. In addition to preserve German traditions, the folk group took in Malwee’s employees to become dancers too. The idea worked out so fine that today the group has about 100 members from all ages.
Danke Schรถn Obrigado