011 Colossenses

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INTRODUÇÃO

COLOSSENSES Autoria Os pais da igreja já consideravam Paulo como autor dessa carta à liderança da Igreja em Colossos. No século XIX, entretanto, alguns pensadores, entendendo que a heresia tratada pelo apóstolo, no capítulo dois, seria o gnosticismo do segundo século, levantaram suspeitas quanto à originalidade da autoria paulina. Contudo, uma análise ainda mais profunda deixa claro que a heresia combatida por Paulo era uma espécie de embrião do que viria a ser o gnosticismo delineado durante os séculos II e III pelos mestres gnósticos. A própria epístola aos Colossenses declara ter sido escrita por Paulo (1.1), e está cravejada pelas marcantes verdades e idéias paulinas. Propósitos A Igreja em Colossos ainda alimentava uma preocupação errônea e exagerada em relação à guarda religiosa e cerimonial dos ritos tradicionais judaicos do passado. Além disso, os cristãos de Colossos eram muito vulneráveis às crenças místicas e superstições de todos os tipos. Essa falta de confiança absoluta na fé cristã e no senhorio de Cristo criou um ambiente fértil para o surgimento de uma heresia que juntava elementos judaicos com teorias e doutrinas de um gnosticismo ainda em formação. Paulo trata do problema dessa fé dúbia e volúvel dos colossenses, afirmando-lhes o incomparável caráter de Jesus Cristo, o Messias e Filho de Deus. Em uma passagem notável, ele faz veemente referência à obra de Cristo em relação à redenção e reconciliação do ser humano caído a Deus. O apóstolo, ainda, defende a preeminência do Senhor, e afirma que Cristo é a perfeita imagem do Deus invisível, por meio do qual tudo fora criado. Ele é o cabeça da Igreja. Cristo, portanto, é totalmente suficiente e satisfatório. Dele, o crente recebe a plenitude do Seu Espírito (2.10). Em absoluto contraste, a heresia que se difundia na comunidade cristã de Colossos era uma filosofia totalmente insatisfatória, obscura, insegura e inverídica (2.8), sem a menor capacidade de corrigir a inclinação maléfica do ser humano caído (2.23). Sendo assim, o tema central de Colossenses pode ser resumido na plena suficiência de Jesus Cristo, em oposição às limitações e incapacidades de qualquer filosofia ou crença produzida pelos seres humanos. Data da primeira publicação Assim como as cartas destinadas aos efésios, filipenses e a Filemom, esta epístola aos colossenses também foi escrita durante o primeiro período de prisão de Paulo, por volta do ano 60 d.C., em Roma,, onde ppassou ppelo menos dois anos em pprisão domiciliar jjunto à gguarda ppretoriana local ((At 28.16-31). Alguns teólogos modernos sugerem que Paulo poderia ter escrito Colossenses em Éfeso ou mesmo em Cesaréia, entretanto, a maior parte das evidências confirma a cidade de Roma como o lugar onde o original foi produzido pelo apóstolo, a exemplo do que ocorreu com todas as chamadas “cartas da prisão”: Efésios, Colossenses, Filipenses, 2 Timóteo e Filemom. Esboço geral de Colossenses 1. Saudação e ação de graças (1.1-8) 2. Oração de Paulo pelos colossenses (1.9-12) 3. Exposição da obra de Deus em Cristo (1.13-23) A. Quanto à nossa absoluta redenção (1.13,14) B. A perfeita excelência de Cristo (1.15-19) C. A total reconciliação com Deus (1.20-23) 4. O ministério do apóstolo Paulo (1.24 – 2.3)


5. Paulo expõe e reprova os falsos ensinos (2.4-23) A. Caminhando diariamente com Cristo (2.4-7) B. A obra concluída de Cristo (2.8-15) C. Censura contra o cerimonialismo (2.16-23) 6. Como viver a vida cristã (3.1 – 4.6) A. Os ressuscitados devem buscar o alto (3.1-11) B. O exercício cotidiano das virtudes cristãs (3.12-17) C. Os relacionamentos familiares e sociais (3.18 – 4.1) D. Exortação à oração e à prática da sabedoria (4.2-6) 7. Saudações finais (4.7-18) A. A missão de Tíquico (4.7-9) B. Saudações dos companheiros (4.10-17) C. Saudação pessoal e bênção apostólica (4.18)


COLOSSENSES Prefácio e saudações Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, por vontade de Deus, e o irmão Timóteo, 2 aos santos e leais irmãos em Cristo que estão em Colossos: graça e paz a vós outros, da parte de Deus, nosso Pai.1

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A fé e o amor dos colossenses 3 Damos graças a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, rogando sempre por vós, 4 desde que ouvimos falar da vossa fé em Cristo Jesus, e do amor que tendes por todos os santos, 5 por causa da esperança que vos está reservada no céu, da qual já ouvistes pela Palavra da Verdade, o Evangelho, 6 que vos alcançou, e da mesma forma está chegando em todo o mundo, frutificando e se espalhando, assim como ocorreu entre vós, desde o dia em que ouvistes e conhecestes a graça de Deus na verdade;2 7 segundo fostes instruídos por Epafras, nosso amado conservo, leal ministro de Cristo em nosso favor. 8 Ele também nos contou do amor que tendes no Espírito.3 A oração de Paulo pelos fiéis 9 Por esse motivo, também nós, desde o

momento em que soubemos desse fato, igualmente, não deixamos de orar por vós e de suplicar que sejais cheios do pleno conhecimento da vontade de Deus, com toda a sabedoria e entendimento espiritual. 10 E tudo isso, com o propósito de que possais viver de modo digno do Senhor, agradando-lhe plenamente, frutificando em toda boa obra, crescendo no conhecimento de Deus, 11 sendo fortalecidos com todo o poder, segundo a maravilhosa força da sua glória, para que, com alegria tenhais absoluta constância e firmeza de ânimo, 12 dando graças ao Pai que nos tornou dignos de participar da herança dos santos no reino da luz. A suprema pessoa de Cristo 13 Ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o reino do seu Filho amado,4 14 em quem temos a plena redenção por meio do seu sangue, isto é, o perdão de todos os pecados. 15 Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito sobre toda a criação;5 16 porquanto nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou dominações,

1 A expressão “santo” é usada somente por causa da morte vicária de Jesus Cristo, o Filho de Deus, em benefício eterno de todo aquele que crê (crente, cristão) que, portanto, passa a ser abençoado pela habitação do Espírito Santo em sua alma, seu Advogado e Conselheiro. O Espírito de Cristo é também a nossa garantia (marca, selo) de filiação a Deus, e santificador do crente, separando-o dia a dia (processo de santificação) das garras desse sistema mundial dominado por Satanás e seus comandados. Portanto, “santo”, assim como “perfeito”, tem a ver com a maneira como Deus, nosso Pai, nos vê a partir da pessoa e da obra do Senhor Jesus, além de serem alvos para nossas vidas cristãs (Jo 1.12; 14.16-24; 10.10; 1Co 13.13; 1Ts 1.3). 2 Paulo usa uma figura de linguagem (hipérbole), com o objetivo de destacar a rápida propagação das boas novas do evangelho por todas as partes do vasto Império Romano, em apenas três décadas após o Pentecoste (v.23; At 2.1-4; Rm 1.8; 10.18; 16.19). Mais de 2000 anos depois, o cristianismo se tornou, de fato, a maior religião do planeta, e Jesus Cristo continua a fazer discípulos em todo mundo por meio da graça do Espírito de Deus (Mt 28.18-20). 3 Paulo sempre demonstrou grande consideração por todos os seus cooperadores; apreciava chamá-los de “conservos”, apresentando dessa maneira aqueles que compartilhavam com ele das bênçãos e lutas no ministério (v.4.7). Epafras estabeleceu as igrejas de Colossos, Laodicéia e Hierápolis, durante a jornada do apóstolo em Éfeso (4.13; Fm 23; Ap 3.14; At 19.10). O amor cristão, em toda a sua exuberância, somente é possível a partir da ação poderosa do Espírito Santo na vida do cristão humilde. 4 No original grego, a expressão “domínio ou império das trevas” tem a ver com o “poder total do Diabo e suas hostes malignas” (Lc 22.53; Ef 2.2; 6.12; Gl 1.4). 5 Jesus Cristo é o nosso redentor, pois foi ele quem pagou, com sua morte vicária, o alto preço do resgate exigido pela Lei de Deus para a absolvição de todo pecador que crê sinceramente na pessoa e obra de Cristo. Paulo usa um conhecido hino da igreja


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sejam governos ou poderes, tudo foi criado por Ele e para Ele.6 17 Ele existe antes de tudo o que há, e nele todas as coisas subsistem. 18 Ele é a cabeça do Corpo, que é a Igreja; Ele é o princípio e o primogênito dentre os mortos, a fim de que em absolutamente tudo tenha a supremacia. 19 Porquanto foi do agrado de Deus que nele habitasse toda a plenitude,7 20 e por intermédio dele reconciliasse consigo todas as coisas, tanto as que estão na terra quanto as que estão nos céus, estabelecendo a paz pelo seu sangue vertido na cruz. 21 E a vós outros também que, no passado, éreis estranhos e inimigos de Deus conforme demonstrado pelas obras más que praticáveis, 22 agora, entretanto, Ele vos reconciliou no corpo físico de Cristo, por meio da morte, para vos apresentar santos, inculpáveis e absolvidos de qualquer acusação diante dele, 23 se de fato permaneceis na fé, alicerçados e firmes, sem vos afastar da esperança do Evangelho que ouvistes e que está sendo pregado a todas as pessoas em todo o mundo, do qual eu, Paulo, me tornei ministro.

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O ministério do apóstolo 24 Agora me alegro nos meus sofrimentos por vós e completo no meu corpo o que resta das aflições de Cristo, em benefício do seu Corpo, que é a Igreja,8 25 da qual me tornei servo de acordo com a convocação de Deus, que me foi outorgada para convosco, a fim de tornar completamente conhecida a Palavra de Deus, 26 o mistério que esteve oculto durante séculos e gerações, mas agora foi revelado aos seus santos,9 27 a quem Deus, entre os que não são judeus, aprouve dar a conhecer as riquezas da glória deste mistério, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória!10 28 A Ele, portanto, proclamamos, aconselhando e ensinando a cada pessoa, com toda a sabedoria, para que apresentemos todo homem perfeito em Cristo.11 29 E para cumprir esse propósito, eu me esforço arduamente, lutando conforme o seu poder que opera eficazmente em mim. A luta para pregar o Evangelho Portanto, gostaria que soubésseis como é grande a luta que enfrento por vós, pelos que estão em Laodicéia e

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primitiva (vv.15-20; 3.16) para ensinar sobre a supremacia de Cristo na Criação e na Redenção. Alguns teólogos, com base nesse texto, têm ensinado erroneamente que Cristo foi criado. Ele, entretanto, é o próprio Criador; a expressão exata do ser de Deus, sua imagem perfeita e resplendor, refletidos na pessoa do seu Filho, Deus-homem, o primogênito de toda a criação (herdeiro de todas as coisas). Paulo usa a antiga tradição cultural oriental, para demonstrar que assim como o filho primogênito tinha certos direitos e privilégios, semelhantemente Cristo, o Filho amado de Deus, herdou absoluta prioridade, preeminência e soberania (Gn 1.27; Mt 22.20; Rm 8.29; Cl 3.10; 2Co 4.4; Hb 1.3; Jo 1.18; 14.9). 6 Paulo ressalta a supremacia de Cristo sobre o universo, o tempo e tudo o que há, referindo-se aos direitos do Criador como absoluto dono e mestre, em contraste com a doutrina herética sobre anjos ministradores que os pensadores gnósticos tentavam ensinar aos colossenses, insistindo que Cristo era um anjo de luz de alto escalão na hierarquia angelical (Jo 1.1,2; 8.58). 7 A expressão grega pleroma era um termo técnico usado na filosofia, especialmente pelos gnósticos, para indicar a “plena deidade”, cujo sentido era a soma total das forças sobrenaturais que controlavam o destino das pessoas. Paulo usa parte do vocabulário gnóstico para afirmar que “plenitude”, na verdade, é a pessoa do Filho de Deus, Jesus Cristo (2.9). 8 Paulo não está dizendo que havia alguma falta no sacrifício expiatório de Cristo. Pelo contrário, o apóstolo está reafirmando seu compromisso em cumprir sua cota de sacrifício, como cristão, para proclamar o Evangelho a um mundo hostil para com Deus e a verdade. 9 O mistério cristão não é um “conhecimento secreto”, exclusivo dos iniciados como nas seitas pagãs ou ordens gnósticas. É a revelação de verdades divinas, antes ocultas (especialmente aos não judeus), mas, agora, em Cristo, proclamada abertamente para todos os povos e nações (Rm 16.25; Ef 1.9; 3.9). 10 O mais importante mistério revelado é o fato de Cristo morar nos corações dos não judeus (gentios) por intermédio do Espírito Santo de Deus, que é a absoluta garantia da glória do céu (Ef 3.6). 11 Os gnósticos usavam a expressão grega teleios, “perfeito”, para distinguir os filósofos que haviam passado a conhecer e praticar os grandes segredos da seita. Entretanto, Paulo assevera que todo cristão sincero tem a constante presença do Espírito de Deus junto à sua alma, e portanto, é um dos “perfeitos” em Cristo (Mt 28.19-20).


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por todos que ainda não me conhecem pessoalmente.1 2 Esforço-me a fim de que o coração deles seja animado, estando vós unidos em amor e juntos alcanceis toda a riqueza do pleno entendimento, para que possais conhecer perfeitamente o mistério de Deus, a saber, Cristo.2 3 Nele estão ocultos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. 4 Falo dessa forma para que ninguém vos engane com argumentos interessantes, porém falsos. 5 Porquanto, apesar de estar fisicamente distante de vós, estou convosco em espírito, e me sinto feliz ao verificar que estais vivendo em plena ordem, e como está firme a vossa fé em Cristo. Cristãos livres do legalismo Sendo assim, da mesma forma como recebestes a Cristo Jesus, o Senhor, também andai nele, 7 alicerçados e edificados nele, transbordando em gratidão. 8 Tende muito cuidado para que ninguém vos escravize a vãs e enganosas filosofias, que se baseiam nas tradições humanas e 6

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na falsa religiosidade deste mundo, e não em Cristo.3 9 Pois somente em Cristo habita corporalmente toda a plenitude de Deus. 10 Assim como, em Cristo, estais aperfeiçoados. Ele é o Cabeça de todo poder e autoridade.4 11 Nele também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos humanas, mas com a circuncisão feita por Cristo, que é o despojar da carne pecaminosa. 12 Isso aconteceu quando fostes sepultados com Ele no batismo, e com Ele foram ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos.5 13 E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne; vos deu vida juntamente com Ele, perdoando todos os nossos pecados; 14 e cancelou a escrita de dívida, que consistia em ordenanças, e que nos era contrária. Ele a removeu completamente, pregando-a na cruz;6 15 e, despojando as autoridades e poderes malignos, fez deles um espetáculo público, triunfando sobre todos eles na cruz.7

1 A expressão grega original agõna, que significa “grande batalha”, descreve bem a vida de oração e a dedicação ministerial do apóstolo de Cristo por todas as igrejas sob sua responsabilidade direta. Essa carta tinha o propósito de ser lida publicamente, como de costume, também diante da Igreja em Laodicéia, que ficava a apenas 9 km de Colossos, numa região da Turquia, conhecida atualmente como Denizli. 2 Muitos pensadores gnósticos haviam se infiltrado na crescente comunidade cristã em Colossos, e tentavam influenciar os crentes, gabando-se de suas doutrinas secretas, reservadas apenas aos iniciados. Paulo os confronta com a verdade bíblica e assevera que toda a verdade está em Cristo, e portanto, perfeitamente acessível a todos (1.28). 3 A expressão “tradições humanas e na falsa religiosidade deste mundo”, ou “a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo”, como aparece em algumas versões, significa os “ensinos religiosos simplistas, falsos e mundanos” com os quais os gnósticos estavam seduzindo os cristãos de Colossos, com o objetivo de receber glória e viver às custas de seus prováveis seguidores (v.20; Gl 4.3,9; Hb 5.12). Paulo se insurge contra a heresia que já campeava entre os colossenses. Esta heresia afirmava que uma pessoa para ser salva precisava combinar fé em Cristo com certos conhecimentos ocultos e com uma série de regras da tradição judaica, como a circuncisão, restrição à ingestão de certos alimentos e bebidas, bem como a observância de rituais, celebrações religiosas e dias especiais. 4 Cristo é o Cabeça da Igreja, seu Corpo, como nosso Senhor e maior exemplo de amor, obediência ao Pai e compaixão por seus irmãos. Contudo, Cristo é também, em primazia e autoridade, sobre toda a criatura no universo. Portanto, ele não foi criado por Deus como um “anjo de luz”, segundo pregavam os gnósticos; Cristo é Deus (1.18; Jo 14.6). 5 Na circuncisão da Lei, o corte da pele que cobre a glande do pênis era uma marca que simbolizava a propriedade exclusiva de Deus e a separação do seu povo (Israel) do sistema pagão de valores (mundo). A perfeição (v.10; 1Pe 2.9), outorgada pela circuncisão espiritual que Cristo experimentou e nos concede, vem por meio da sua morte e ressurreição (Dt 10.16; 30.6; Jr 4.4). O valor e o poder desse ato transcendental é simbolizado pelo batismo (Rm 6.1-11), e, cada crente, se apropria dessa verdade e garantia pelo dom da fé (v.12). Assim, o batismo cristão toma o lugar da circuncisão na Nova Aliança. 6 A “escrita de dívida” é o contrato de obrigação de guardar os mandamentos de Deus, juntamente com a estipulação da devida penalidade de morte, contra aqueles que desonrassem o cumprimento deste acordo de paz e felicidade perene (Gn 3.13). 7 Paulo assevera que o cristão sincero é completo (perfeito) em Cristo, e não deficiente ou incompleto, como alegavam os


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Portanto, ninguém tem o direito de vos julgar pelo que comeis, ou pelo que bebeis, ou ainda com relação a alguma festa religiosa, celebração das luas novas ou dos dias de sábado. 17 Esses rituais são apenas sombra do que haveria de vir; a realidade, todavia, encontra-se em Cristo.8 18 Não aceiteis que alguém seja árbitro contra vós, fingindo humildade ou culto a anjos, fundamentando-se em visões, ostentando a inútil arrogância do seu conhecimento carnal. 19 Trata-se, pois, de uma pessoa que não está unida à Cabeça, a partir da qual todo o Corpo, sustentado e unido por seus ligamentos e juntas, efetua o crescimento concedido por Deus.9 16

Só Cristo nos livra do pecado 20 Considerando que morrestes com Cristo para as tradições humanas e a falsa religiosidade deste mundo, por que vos sujeitais ainda a tais ordenanças como se pertencêsseis a este sistema de valores? Não mais obedeçais a regras como estas: 21 “Não toques!”, “Não proves!”, “Não manuseies!”

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Todas essas regras estão destinadas a desaparecer pelo uso, pois se baseiam em ordenanças e ensinos meramente humanos.10 23 Esses regulamentos têm, de fato, aparência de sabedoria, com sua pretensa religiosidade, falsa humildade e rígida disciplina para com o corpo, mas não têm valor algum para refrear as paixões da carne. 22

Vivendo plenamente em Cristo Portanto, visto que fostes ressuscitados com Cristo, buscai o conhecimento do alto, onde Cristo está assentado à direita de Deus.1 2 Pensai nos objetivos do alto, e não nas coisas terrenas; 3 pois morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. 4 Quando Cristo, que é a vossa vida, for manifestado, também vos manifestareis com Ele em glória.2 5 Sendo assim, fazei morrer tudo o que pertence à natureza terrena: imoralidade sexual, impureza, paixão, vontades más e a ganância, g que q também é idolatria.3 6 É por causa dessas práticas malignas

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gnósticos. O próprio Deus se fez ser humano em Jesus Cristo, humilhou-se até a morte, e morte de cruz; despojando-se do corpo, triunfou sobre todos as forças do universo e conquistou toda primazia e glória do Pai, tornando-se o Caminho e o exemplo para todo cristão (vv.10-15; Mt 12.29; Lc 10.18; Rm 16.20; 2Co 2.14). 8 Paulo afirma que as leis cerimoniais do AT são como sinais (sombras) da vinda de Cristo, o Messias, por retratarem simbolicamente a sua obra redentora entre os homens. Portanto, qualquer insistência em reviver e guardar esses rituais religiosos é uma demonstração da falta de reconhecimento de que todos os sinais e profecias em relação à vinda de Deus à Terra para resgate do seu povo, já se cumpriram em Cristo. Os hereges entre os colossenses ainda juntavam severas exigências ascéticas à sua falsa teologia (vv.20,21). 9 A liberdade do cristão é regulada por sua relação direta com Cristo, por meio do Espírito Santo de Deus, como Cabeça controlador e, em relação ao Corpo (que é a Igreja), como membro que é de um organismo vivo e que deve funcionar em harmonia e cooperação. Quando qualquer membro do Corpo não se submete espontaneamente à Cabeça (Cristo), permite que heresias e pecados afetem a saúde espiritual de toda a fraternidade (Igreja). 10 A morte do cristão com Cristo, para os valores do sistema mundial, destrói qualquer vínculo do pecado (Rm 6) e, ao mesmo tempo, quebra todo possível laço de veneração ou serviço às potestades (autoridades angelicais cultuadas pelos gnósticos), vencidos plenamente por Cristo. Paulo faz uso de uma verdade veterotestamentária, como registrada na Septuaginta (tradução grega do AT – Is 29.13), para relembrar aos colossenses e a todos os cristãos que, Deus não faz questão de honras cerimoniais religiosas, mas de corações que o adorem com sinceridade (Mc 7.6,7; Mt 15.8,9; Tt 1.14). Capítulo 3 1 Paulo conclama os cristãos sinceros a exercerem na vida prática diária tudo o que eles já são posicionalmente em Cristo (Rm 6.1-13). 2 Sendo que já morremos com Cristo, a nossa nova vida está oculta nele e Ele em Deus. Assim que Cristo retornar, o nosso estado glorioso será manifesto (1Jo 3.2). 3 Quando o ser humano reconhece sua natureza pecaminosa (velho homem) e aceita o sacrifício de Cristo (Deus-homem) na cruz do Calvário, crucificando sua “velha natureza” com Cristo e, simbolicamente, solidarizando-se com Ele no batismo (2.13),


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que vem a ira de Deus sobre os que vivem na desobediência. 7 Nelas também andastes no passado, quando ainda vivíeis com esses hábitos, 8 mas agora, livrai-vos de tudo isto: raiva, ódio, maldade, difamação, palavras indecentes do falar. 9 Não mintais uns aos outros, pois já vos despistes do velho homem com suas atitudes, 10 e vos revestistes do novo homem, que se renova para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou;4 11 Nessa nova ordem de vida, não há mais diferença entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro e cita, escravo ou pessoa livre, mas, sim, Cristo é tudo e habita em todos vós.5 12 Assim, como povo escolhido de Deus, santo e amado, revesti-vos de um coração pleno de compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência.6 13 Zelai uns pelos outros e perdoai-vos mutuamente; caso alguém tenha algum

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protesto contra o outro, assim como o Senhor vos perdoou, assim também procedei. 14 Acima de tudo, no entanto, revesti-vos do amor que é o elo da perfeição. 15 Seja a paz de Cristo o juiz em vossos corações, tendo em vista que fostes convocados para viver em paz, como membros de um só Corpo. E sede agradecidos. 16 Habite ricamente em vós a Palavra de Cristo; ensinai e aconselhai uns aos outros com toda a sabedoria, e cantai salmos, hinos e cânticos espirituais, louvando a Deus com gratidão no coração. 17 E tudo quanto fizerdes, seja por meio de palavras ou ações, fazei em o Nome do Senhor Jesus, oferecendo por intermédio dele graças a Deus Pai.7 O cristão e seus relacionamentos 18 Mulheres, cada uma de vós seja submissa ao próprio marido, pois assim deveis proceder por causa da vossa fé no Senhor.8

recebe a graça do novo nascimento e da salvação eterna, cuja garantia é a habitação do Espírito de Deus em sua nova natureza (novo homem – a Imagem de Deus é recriada no crente – Gn 1.27); aprenderá, então, a ser guiado pelo Espírito Santo, e não apenas pela razão e emoções humanas. A expressão original grega nekrõsate indica que o “velho homem” deverá ser “morto” (aniquilado) diariamente, em seu poder de determinar nosso estilo de vida. É sempre a “velha natureza” que se manifesta nos desejos ilícitos e pecados da língua (vv.8,9; Tg 3.1-12), e sua mortificação se dá pela consagração da nossa “nova natureza” que, vencendo o “velho homem”, pelo poder do Espírito, nos leva à obediência de Cristo e, portanto, a tomar nossa cruz e seguir nosso Salvador, Senhor e Mestre: Jesus Cristo (Mc 8.34). Somente nos é possível despojar o “velho homem” porque Cristo despojou o “corpo da carne” (2.11) e as autoridades e poderes malignos (2.15). 4 Paulo explica que a razão principal para o abandono dos maus caminhos está na simbologia do batismo. A frase original começa com o particípio grego apekdusamenoi, “tendo despido” (v.9), que é complementado por um particípio aoristo correspondente endusamenoi, “tendo vestido” (v.10). Os verbos confirmam que há uma analogia em relação ao ato batismal, que pode ser compreendida a partir do costume da época de despir-se para a cerimônia do batismo; quando o novo convertido entrava na água, e de vestir-se logo depois (Gl 3.27; Rm 13.12,14; Ef 4.24). A personalidade de Cristo é criada no cristão sincero por meio do Espírito de Deus (Gl 2.20). Desta forma é recriada a Imagem de Deus (em latim Imago Dei), i segundo a qual Adão foi originalmente criado. O pecado, entretanto, desfez essa imagem divina; a nova vida em Cristo (a perfeita imagem de Deus) a refaz na pessoa do crente fiel. 5 A expressão original “bárbaro” era usada, pelos gregos, para indicar uma pessoa que não falava grego e, portanto, era considerada não civilizada para os padrões da época. Os “citas” eram provenientes de algumas tribos ao redor do mar Negro, ao sul de onde, hoje, se localiza a Rússia, e considerados quase como animais selvagens. Em Cristo, todas essas distinções foram abolidas, pois Jesus transcende todas as barreiras e unifica pessoas de todas as culturas, raças e nações. 6 O título outorgado a Israel passou também a significar a Igreja de Cristo (Dt 4.37; 1Pe 2.9). A eleição divina é sempre apresentada nas cartas de Paulo, porém, as Escrituras, não deixam de destacar a responsabilidade de cada pessoa em relação às suas decisões e atitudes. Paulo reforça que, exatamente por ter sido eleito, o cristão convicto e fiel deve dedicar todo o seu esforço a fim de viver em conformidade com o chamado de Deus. Os apóstolos e principais discípulos de Cristo foram grandes exemplos desse conceito teológico (Ef 1.4). 7 Esse versículo é melhor compreendido à luz do encorajamento oferecido aos escravos (e a todos aqueles que prestam serviço a um patrão) nos versos 23 e 24. A frase no original grego significa falar e agir como representantes dignos do excelso Nome de Jesus Cristo, o Filho de Deus, o Messias; assim como um filho é reconhecido e deve dignificar o nome do seu pai e, portanto, de sua família. 8 O temor (devoção e humilde obediência) ao Senhor deve regular a atitude e o relacionamento pessoal do crente com Deus,


COLOSSENSES 3, 4 19 Maridos, cada um de vós ame sua esposa e não a trate com grosseria. 20 Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porquanto essa atitude é agradável ao Senhor. 21 Pais, não irriteis vossos filhos, para que eles não fiquem desanimados. 22 Escravos, obedecei em tudo a vossos senhores terrenos, não servindo apenas quando supervisionados, como quem age somente para contentar os homens, mas trabalhando com sinceridade de coração, por causa do vosso temor ao Senhor. 23 E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens, 24 conscientes de q que recebereis do Senhor a recompensa da herança. É a Cristo, o Senhor, que estais servindo! 25 Pois quem agir de forma injusta receberá o devido pagamento da injustiça cometida; e nisto não há exceção para pessoa alguma.

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Senhores, tratai vossos servos de modo justo e equânime, sabedores de que também vós tendes um Senhor no céu. Orar, vigiar e render graças 2 Perseverai na oração, vigiando com ações de graças.1 3 Rogai, ao mesmo tempo, de igual maneira por nós, para que Deus abra uma

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porta para nossa mensagem, a fim de que possamos proclamar o mistério de Cristo, pelo qual estou preso. 4 Orai para que eu consiga manifestá-lo francamente, como me cumpre fazê-lo. 5 Portai-vos com sabedoria para com os que são de fora; aproveitai ao máximo todas as oportunidades. 6 A vossa maneira de falar seja sempre agradável e bem temperada com sal, a fim de saberdes como deveis responder a cada pessoa. Paulo envia conservos em missão 7 Quanto à minha situação, Tíquico, irmão amado, fiel ministro, e conservo no Senhor, de tudo vos informará. 8 Eu vo-lo envio com o objetivo principal de vos colocar a par sobre como estamos vivendo, e para que ele possa confortar o vosso coração. 9 Em sua companhia, vos envio Onésimo, leal e amado irmão, que é um de vós. Eles vos farão saber tudo o que está acontecendo por aqui.2 Saudações finais 10 Saúda-vos Aristarco, meu companheiro de prisão, assim como Marcos, primo de Barnabé, sobre quem já recebestes instruções; portanto, se ele vos for visitar, recebei-o.3 11 Jesus, chamado Justo, também vos envia saudações. Esses são os únicos da circuncisão que são meus cooperadores em

com sua família, em relação a todos os membros do Corpo de Cristo (a Igreja), e no modo de tratar os que “são de fora” (versos de 18 a 4.6; Ef 5.21). Capítulo 4 1 Paulo usa a palavra grega proskartereõ “perseverar” para comunicar à igreja a idéia de “caminhar na certeza da providência do Senhor”. A oração (diálogo com o Espírito de Deus) é a mais importante preparação para o desempenho de qualquer projeto (Mc 3.9; At 10.7; At 6.4; Rm 12.12). 2 Paulo escreveu uma carta a Filemom, que residia em Colossos, com o principal objetivo de pedir que ele aceitasse plenamente, como irmão em Cristo, o seu antigo escravo Onésimo. 3 Aristarco era macedônio. Participou com Paulo do tumulto que houve em Éfeso por causa do Evangelho e, por isso, era bem conhecido em Colossos (At 19.29). Tanto ele quanto Tíquico acompanharam Paulo na missão à Grécia (At 20.4), e cooperaram com o apóstolo em Roma (At 27.2). Marcos, autor do evangelho que leva seu nome, depois de doze anos de sua separação de Paulo na Panfília (At 15.38,39), agora faz parte da equipe missionária do apóstolo. Cinco anos depois dessa carta, Paulo escreve a Timóteo, afirmando a importância do companheirismo e do ministério de Marcos (2Tm 4.11). Jesus Justo (nome comum entre os judeus até o séc.II, seguido de nome helênico de significado semelhante) era um discípulo de Paulo, que embora judeu, não fazia parte do grupo que exigia a circuncisão dos cristãos; pelo contrário, cooperava com Paulo em seu indestrutível interesse de levar o Evangelho aos judeus, apesar de sua vocação para os gentios (Rm 1.16; 9.1-5; 10.1; 11.25).


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benefício do Reino de Deus. Eles têm me proporcionado grande apoio e consolo. 12 Epafras, que também é um de vós e servo de Cristo Jesus, vos envia saudações. Ele está sempre guerreando por vós em suas orações, para que como crentes maduros e cheios de fé, continueis caminhando firmes na prática de toda a vontade de Deus. 13 Sou testemunha do quanto ele se esforça em seu zelo fraternal por vós e pelos que estão em Laodicéia e em Hierápolis.4 14 Lucas, o médico amado, e Demas vos cumprimentam carinhosamente.5 15 Cumprimentai, igualmente, todos os

COLOSSENSES 4

irmãos em Laodicéia, e também Ninfa e a igreja que se reúne em sua casa.6 16 Depois de lida entre vós, fazei com que esta carta também seja recebida e lida na igreja dos laodicenses, e que vós, de igual modo, possais ler a carta de Laodicéia.7 17 E dizei a Arquipo: Cuida do ministério que recebeste no Senhor, para que o cumpras.8 Bênção apostólica 18 Eu, Paulo, faço questão de saudarvos de próprio punho. Lembrai-vos das minhas algemas. A graça esteja em todos vós!9

4 Hierápolis era uma cidade da Ásia Menor (hoje Turquia) e ficava cerca de 9 km de Laodicéia e 23 km de Colossos. A igreja ali foi formada a partir do ministério de discipulado de Paulo, por três anos em Éfeso (At 19). 5 Lucas, médico e autor do terceiro evangelho e do livro de Atos, era grande amigo de Paulo e companheiro de missões (At 16.10). Estava com Paulo em Roma na época da prisão do apóstolo, quando esta carta foi escrita (At 28). Demas, obreiro cristão, todavia, mais tarde, preferindo o mundo, abandonaria Paulo (2Tm 4.10). 6 A Igreja primitiva, na maioria de seus grupos e comunidades, não possuía templos ou edifícios próprios para congregação dos crentes, que só começaram a ser construídos com essa finalidade a partir do séc.III. De modo geral, os discípulos de Cristo se reuniam para adoração, ensino da Palavra, oração e comunhão, nos lares, sob os auspícios de uma família cristã e de seus colaboradores com visão missionária. Assim aconteceu, por exemplo, com Priscila e Áquila (Rm 16.5; 1Co16.19), Filemom (Fm 2) e Maria, mãe de João Marcos (At 12.12). 7 A Igreja primitiva tinha por hábito ler as cartas dos apóstolos em voz alta perante toda a assembléia. O intercâmbio e o estudo das cartas serviu para guardar e formar, juntamente com os demais textos canônicos, o NT completo. 8 Paulo continua preocupado com as infiltrações teológicas judaizantes e heréticas na Igreja de Cristo. Por isso, pede que Arquipo, um dos membros da igreja local em Colossos, aceite a responsabilidade pastoral como seu ministério pessoal e com a mesma dedicação de Epafras. 9 Paulo preferia ditar suas cartas oficiais a um amanuense (copista profissional), conforme costume dos mestres de sua época. Em algumas dessas cartas à Igreja, entretanto, Paulo escreveu saudações e bênçãos apostólicas de próprio punho, com a intenção de demonstrar seu carinho e zelo pessoal para com os irmãos em Cristo (Rm 16.22; 1Co 16.21; Gl 6.11; 2Ts 3.17; Fm 19).


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