Master Degree Thesis - Curar o Património Hospitalar: Reabilitação do antigo Preventório de Penacova

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Curar o Património Hospitalar Reabilitação do antigo Preventório de Penacova

Diogo da Costa Sanches Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura Orientação do Professor Doutor João Paulo Providência Co-orientação do Arquitecto João Branco Departamento de Arquitectura da FCTUC Julho 2020

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Curar o Património Hospitalar Reabilitação do antigo Preventório de Penacova



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Curar o Património Hospitalar Reabilitação do antigo Preventório de Penacova Diogo da Costa Sanches

Orientador João Paulo Providência Co-Orientador João Branco

Tese especialmente elaborada para obtenção do Grau de Mestre em Arquitetura

Tese Provisória Julho 2020

A presente tese elaborada para a obtenção do Grau de Mestre em Arquitectura integra os resultados do projecto de investigação: CuCa_RE: Cure and Care_the rehabilitation financiado pela FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto: PTDC/ATP-AQI/2577/2014

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Investigadora Responsável: Ana Tostões, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa



Gostaria de agradecer aos meus pais, pelo apoio ininterrupto durante estes anos e por me terem possibilitado esta oportunidade. Às minhas irmãs, avós, tias e primos pela paciência e compreensão. Ao meu primo Zé Maria, pela disponibilidade, interesse e cuidado na leitura atenta desta prova. À Bia, pela presença constante em todos os momentos e pelo amor partilhado ao longo destes anos. Aos meus amigos, pelas experiências arquitectónicas e fora da arquitectura. Ao Professor Paulo Providência e ao Arquitecto João Branco, pelo acompanhamento e ensinamentos no decorrer deste trabalho.



A presente dissertação segue com o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990. A referenciação segue as normas APA, sendo que todas as citações que integram o corpo de texto se encontram traduzidas para a Língua Portuguesa, por tradução livre feita pelo autor, com o objectivo de facilitar a leitura do texto. Ainda assim, é possível consultar a versão original em nota de rodapé. A forma apud é utilizada para se referenciar a fonte original quando citado por outro autor. O símbolo indica a existência de conteúdo na parte posterior da página. Sugere-se a leitura do documento acompanhada dos desenhos presentos em anexo.



Resumo

A tuberculose, doença do foro pulmonar ou ósseo, afectou severamente toda a Europa. Por

toda a parte, foram desenvolvidos e estudados modelos arquitectónicos e métodos de tratamento distintos, que pretendiam curar esta doença. Medicina e arquitectura, lado a lado, construíram uma estratégia de combate à tuberculose, que durou até à descoberta da estreptomicina, nos anos 50 do século XX.

O ritmo acelerado de contágio exigia a segregação dos doentes, evitando a propagação. Para

isso, foram criados os Sanatórios, equipamentos hospitalares que permitiam o internamento e posterior acompanhamento médico de doentes infectados. A estratégia de combate à tuberculose assentava sobretudo numa atitude profiláctica, sendo para isso necessário infra-estruturas territoriais, além dos sanatórios, destinadas à identificação e prevenção da doença. Os Dispensários e os Preventórios, surgem desta forma como instrumentos de controlo e prevenção da doença.

À semelhança do resto da Europa, também Portugal se debatia com esta epidemia, e por isso,

vários foram os médicos que se dedicaram ao estudo desta matéria. Mais concretamente na zona centro do país, Bissaya Barreto desenhou uma rede que pretendia dar assistência àqueles que, directa ou indirectamente, foram afectados pela tuberculose, tendo especial foco nas mulheres grávidas e nas crianças. Um vasto conjunto de modelos e programas foram desenvolvidos, formando um percurso que se estendia desde a nascença até à vida adulta, assegurando à pessoa uma vida saudável e integração na sociedade.

Actualmente, grande parte destes equipamentos encontram-se em grave estado de conserva-

ção, devolutos. O presente trabalho procura desenvolver uma proposta de reabilitação e conservação do antigo Preventório de Penacova, peça estratégica na rede assistencial de Bissaya Barreto. Esta proposta insere-se numa estratégia de revitalização à escala da vila de Penacova, na qual se pretende resgatar relações turísticas com localidades próximas, assim como restabelecer a sua relação com a paisagem.

Palavras-chave: Tuberculose | Arquitectura Hospitalar e Assistencial | Preventório de Penacova

| Paisagem | Reabilitação I



Abstract

Tuberculosis, a lung or bone disease, had severely affected Europe. Everywhere, different ar-

chitectural models and methods of treatment were developed and studied, aiming to cure this disease. Medicine and architecture, side by side, built a strategy to fight tuberculosis, which lasted until the discovery of streptomycin, in the 50’s of the 20th century.

The fast pace of contagion required the segregation of the patients, preventing propagation.

For this purpose, Sanatoriums were created, a hospital building that allowed the hospitalization and subsequent medical monitoring of the infected patients. The strategy to fight tuberculosis was mainly based on a prophylactic attitude, that required some territorial infrastructures, besides sanatoriums, to identify and prevent the disease. Dispensaries and Preventories appear as instruments for disease control and prevention.

Just like in other european countries, Portugal was also struggling with this epidemic, and for

this reason several doctors dedicated their time studying this theme. More specifically in the central part of the country, Bissaya Barreto designed a network that intended to assist those who, directly or indirectly, were affected by tuberculosis, having a special focus on pregnant women and children. A wide range of models and programs were developed, creating a path that extended from birth to adulthood, ensuring a healthy life and integration into society.

Currently, most of these buildings are in a serious state of degradation, unoccupied. The pre-

sent work seeks to develop a proposal for the rehabilitation and conservation of the old Penacova Preventorium, a strategic piece in the assistance network of Bissaya Barreto. This proposal is part of a strategy to revitalize the town of Penacova, in which it intends to rescue touristic relations with nearby locations, as well as reestablish its relationship with the landscape.

Keywords: Tuberculosis | Hospital and Healthcare Architecture | Penacova Preventorium |

Landscape | Rehabilitation III



Nota Introdutória

A presente dissertação surge no âmbito do desafio lançado pelo Prof. Dr. Paulo Providência, na

disciplina de Atelier de Projecto II. O exercício tem como objectivo o estudo de alguns edifícios hospitalares do século XX, considerando a sua representatividade nacional, assim como o valor arquitectónico, que será objecto do estudo de conservação.

O foco do estudo centrou-se nos equipamentos patrocinados pelo médico Prof. Dr. Bissaya

Barreto, construídos na zona centro do país, e a rede de programas de assistência às mulheres grávidas e crianças. A preservação destes edifícios decorre das más condições, abandono ou ruína em que alguns se encontram. Os edifícios diferenciam-se pela sua função, impacto e escala, sendo portanto também distintos os objectivos do estudo para cada um deles.

Este trabalho insere-se ainda no projecto de investigação CuCa_RE1, sob a coordenação da

Prof. Dra. Ana Tostões, cujo objectivo é a publicação de um manual de boas práticas para a reabilitação de equipamentos hospitalares do século XX, da qual também fará parte o presente estudo.

1. Cure and Care the Rehabilitation

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Índice

Resumo

I

Abstract

III

Nota Introdutória

V

I. Contextualização

1

II. O Lugar

2.1. História e evolução do lugar: a vila de Penacova

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2.2. O programa do Preventório

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2.3. O surgimento do Preventório na rede assistencial de Bissaya Barreto

15

2.3.1. O Preventório de Penacova

21

2.3.2. O Preventório da Leprosaria Nacional

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2.4. O Preventório de Santa Isabel

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2.5. O lugar e a relação com a paisagem

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III. Projecto

3.1. A pré-existência

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3.2. Teorias de Restauro e Conservação do Património

51

3.3. Casos de Estudo

3.3.1. As Termas de Vals

57

3.3.2. A Casa das Penhas Douradas

61

3.4. Proposta de reabilitação do antigo Preventório de Penacova

3.4.1 O programa

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3.4.2. A Proposta

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Conclusão

Bibliografia

Sumário de Imagens

Anexos VII



I. Contextualização

O bacilo de Koch, descoberto em 1882 por Robert Koch2, foi a bactéria causadora da tuber-

culose humana3, doença altamente contagiosa, do foro pulmonar ou ósseo. No início do século XIX, existiam já alguns casos sintomáticos desta doença, tendo sido apenas no início do século seguinte que se verificou um grande surto de tuberculose.

Na Europa, o aumento súbito de casos tuberculosos, ocorreu durante um período de rápido

crescimento da Indústria, em que a classe operária vivia sob condições pouco higiénicas e em espaços sobrelotados, contribuindo assim para a propagação da doença. A faixa etária mais afectada terá sido a dos jovens, criando consequências severas para a economia europeia num período em que ainda se recuperava da 1ª Guerra Mundial (Campbell, 2005).

A facilidade e rapidez de contágio da doença impunha a segregação dos doentes, para assim po-

der controlar a sua propagação. Atendendo a este facto, houve a necessidade de criar espaços adequados para receber e cuidar das pessoas infectadas com o bacilo de Koch: os Sanatórios. Para tal, alguns edifícios foram construídos de raiz, enquanto que outros foram adaptados de forma a dar resposta às necessidades exigidas pela medicina. Num primeiro momento, foram adaptados edifícios cuja tipologia continha condições favoráveis ao internamento destes doentes - os hotéis - que pela compartimentação que dispunham, permitiam o acomodamento de vários doentes, mantendo o isolamento. Posteriormente, edifícios novos foram construídos para exercerem a mesma função. Tendo havido já um primeiro contacto com a doença, era possível construir um programa que melhor respondesse às necessidades impostas.

“A arquitectura é manifestamente pronunciada em carácter de abrigo primordial, de reserva, e nem

tanto de cariz ou programa hospitalar e, numa outra vertente, de isolamento, de barreira, que se irá verificar mais tardiamente, com a construção de sanatórios em toda a sua força sistemática” (Nunes,2011)

2. A descoberta do Bacilo de Koch, valeu a Robert Koch a atribuição do Prémio Nobel de Fisiologia e Medicina em 1905. 3. Também denominada de Tísica.

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O primeiro equipamento destinado ao tratamento da tuberculose, surgiu pela mão do médico

alemão Hermann Brehmer4, responsável pelo estudo que levou ao tratamento da tuberculose através de exposições ao ar, exercício físico e uma alimentação equilibrada. Em 1859, em Gorbersdorf na Silésia, é inaugurado o primeiro edifício dedicado ao tratamento da tuberculose pulmonar, o Sanatório Brehmer (Nunes, 2011).

Naquele período, os tratamentos para a tuberculose eram um pouco elementares, envolvendo

apenas controladas exposições solares ou ao ar, consoante se tratasse de tuberculose óssea ou pulmonar, uma alimentação saudável e equilibrada e descanso: a tríade de Brehmer5 (Nunes, 2017). Apesar de aparentemente simples, o tratamento ganhou uma reputação a nível mundial. Ainda que não se verificasse uma cura efectiva, um grande número de casos registava uma regressão da doença. A Suíça, a França e a Inglaterra foram os grandes palcos de experimentação no que diz respeito à tuberculose. Nestes países desenvolveram-se os tratamentos que viriam a ser seguidos à escala mundial, pelo menos até à descoberta da estreptomicina6, nos anos 50 do século XX, esta terá sido a “receita” utilizada e com mais resultados notórios.

Em Portugal, a situação era idêntica ao resto da Europa. Por todo o país vários médicos dedica-

ram-se ao estudo desta doença, pondo em prática o trabalho já desenvolvido pelos seus pares na Europa. Várias foram as viagens que fizeram, de forma a analisar de perto casos que eram já considerados como exemplo no combate à tuberculose, trocando impressões com os médicos responsáveis acerca dos tratamentos mas também dos modelos arquitectónicos que se desenvolveram especificamente neste período.

Bissaya Barreto, médico e professor, é a figura representativa do combate à tuberculose na zona

centro de Portugal. Desde cedo que o seu interesse na helioterapia era evidente, tendo sido matéria de investigação científica na sua dissertação de Doutoramento: “O Sol em cirurgia” (Silva, 2013). O seu trabalho estendeu-se para uma vertente social da medicina, tendo sido promotor de uma rede de equipamentos de apoio e assistência às mulheres grávidas e às crianças7. Neste âmbito, investigações e trabalhos desenvolvidos no Brasil, na União Soviética, em França, na Bélgica, em Espanha, mas sobretudo em Itália, tiveram uma grande influência no desenvolvimento da sua rede assistencial (Silva, 2013). ”A Opera Nazionale per la protezione della Maternità e dell’Infanzia (O.N.M.I.), levada a cabo pelo regime fascista de Mussolini, nos anos 20 e 30, associada ao ímpeto dos primeiros anos da ditadura em Portugal, revelou-se preponderante.” (Silva, 2013).

4. Hermann Brehmer (1826-1889). Físico alemão, estudou Matemática, Astronomia e Ciências Naturais, tendo dedicado a sua vida à Medicina na Universidade de Berlim. Após contrair tuberculose, focou o seu estudo nos métodos curativos da doença, sendo responsável pela criação do primeiro Sanatório, em 1854, em Gorbersdorf na Silésia. Localizado a uma elavada altitude, este Sanatório, foi palco das primeiras experiências no tratamento da tuberculose, através de exposições ao ar diárias, acompanhadas de uma alimentação saudável e bastante respouso. 5. Tríade de Brehmer: Ar puro, Repouso e Alimentação. 6. Antibiótico descoberto por Selman Waksman e Albert Schatz em 1944. 7. O.P.G.D.C. - Obra de Protecção à Grávida e Defesa da Criança.

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C Fig. 1 - Perfis de Evolução Histórica A - Castelo/Torre de Miranda B - Igreja de Nª Srª da Guia C - Preventório de Penacova

Fig. 2 - View of the Folding of the River Mondego by Allied Army on the 21st september 1810

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II. O Lugar 2.1. História e evolução do lugar: a vila de Penacova

A vila de Penacova, situa-se na beira litoral da região centro de Portugal, num local próximo ao

rio Mondego. O seu primeiro registo surge ainda antes da formação da nacionalidade, em 1105, com o nome Vila Cova (Costa, 1707).

O território é bastante marcado pela presença do rio Mondego, que nasce na Serra da Estrela

e desagua no Oceano Atlântico. O percurso ziguezagueante do rio, desenha à sua volta montes e montanhas naquela paisagem. Em Penacova, esse percurso recortou um monte que se destaca, ainda que mantendo uma estreita ligação física, do restante conjunto rochoso. O Monte da Guia, a cerca de 130 metros acima do nível do rio, ocupa uma posição dominante naquela paisagem, ideal para a fixação da população. Aquela posição privilegiada, com vistas desimpedidas em todas as direcções, facilitava o avistamento de possíveis ataques de populações inimigas, sendo um ponto estratégico para defesa do território. A proximidade ao rio permitia a subsistência dos seus habitantes, a pesca e o aproveitamento dos terrenos férteis junto ao rio para actividades agrícolas, tornaram-se os principais meios de sobrevivência. Além disso, o rio servia ainda como meio de comunicação e transporte entre as povoações vizinhas, em especial com Coimbra.

Vila Cova integra o reino portucalense em 1193, feito celebrado pela atribuição de um foral

pelo rei D. Sancho I (Costa, 1707). Trezentos anos depois, em 1513, o rei D. Manuel I atribui um novo foral à vila, juntamente com o Pelourinho (Costa, 1707), que actualmente se encontra no largo do Monte da Guia. Apesar da escassa informação histórica, Manuel Real8, historiador português, acredita na existência de um castelo no topo do Monte da Guia (Fernandes, 2016). O autor sugere a existência de uma estrutura militar, semelhante a um castelo ou uma torre de miranda, no século X (Real, 2013) (Fernandes, 2016). A partir dos dados analisados, não se pôde concluir efectivamente que tipo de estrutura militar se tratava, sabe-se apenas que, em conjunto com a Ermida de Nossa Senhora do Montalto,

8. Manuel Luis Real (?-)Formado em História, leccionou na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Dedicou-se à investigação em áreas como: História da Construção, Alta Idade Média, Arqueologia Medieval e Arte Medieval. Foi Director do Arquivo Municipal do Porto e Casa do Infante, entre 1981 e 2010. Trabalhou em diversos trabalhos arqueológicos, como foi o caso de Conímbriga.

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Fig. 3 - Planta da vila de Penacova antes do sĂŠculo XVI

Fig. 4 - Perfil pelo Monte da Guia antes do sĂŠculo XVI

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formaria uma linha de defesa estratégica da cidade de Coimbra (Real, 2013). E ainda, a partir de uma pintura (consultar Figura 2) que retrata a Batalha do Buçaco, travada em 1810 entre o exército inglês e francês, é possível identificar semelhanças com o território da vila. Na gravura, é representado um momento da Batalha, no qual podemos reconhecer um monte bastante semelhante ao Monte da Guia, cujo topo é ocupado por um castelo ou torre parcialmente destruído(a).

A destruição parcial daquela estrutura militar, terá conduzido à sua demolição total. Posterior-

mente, foi construída a Igreja de Nossa Senhora da Guia no mesmo lugar9. A igreja servia toda a população, e tornou-se um símbolo do imaginário da vila. O anterior simbolismo militar, que tirava partido das características topográficas e territoriais daquele lugar, era assim transformado, aliando-se aquele lugar à religião. As características paisagísticas e topográficas do Monte Guia, poderão ter sido motivo para a implantação de um edifício religioso naquele lugar. A montanha, ainda que aqui se trate de um monte, é entendida como “expressão de comunicação entre o céu e a terra, […] como elemento natural que serve de imagem para a conexão entre os dois planos” (Miranda, 2017). A dimensão sagrada conotada a estas elevações rochosas, via assim o seu sentido materializado com a construção desta pequena Igreja naquele lugar.

Mais tarde, já no século XVI, as reduzidas dimensões da pequena Igreja não eram já suficientes

para a população, que vinha a aumentar ao longo dos anos. Para além disso, o acesso à Igreja de Nª Srª da Guia era feito por uma subida algo inclinada, o que para algumas pessoas era difícil de conseguir. Por isso, foi construída uma nova, a Igreja Matriz, junto ao centro da vila, de mais fácil acesso e com capacidade para um maior número de fiéis10.

Após a construção da nova igreja, o topo do Monte da Guia era coroado por uma construção

desabitada, que de certo se tornaria uma ruína. O lugar, serviria apenas como espaço para contemplação da paisagem. Talvez por isso, em 1908, o arquitecto Nicola Bigaglia11 tenha sido convidado a construir naquele monte um mirante. O convite terá sido feito por Manuel Emídio da Silva, engenheiro local responsável pela construção da linha de caminho-de-ferro da Beira Alta, e cujo nome viria a ser atribuído à nova construção. O mirante ocupava a posição mais a nascente do Monte da Guia, e adquiria uma forma octogonal, suportada por oito colunas de pedra, provenientes do Mosteiro do Lorvão12. É um espaço de contemplação com uma escala singular, que pretende marcar um ponto naquela paisagem.

Durante o período até à construção do Preventório, que se iniciou em 1930, nenhuma outra

construção se viria a fazer no topo do Monte da Guia. Como dissemos, o lugar perdurou como espaço contemplativo da paisagem envolvente. E, novamente, o valor paisagístico da vila viria a ser reconhecido, 9. http://www.cm-penacova.pt/pt/pages/memorias consultado em 2 de Outubro 2018. 10. ibid. 11. Nicola Bigaglia (1841-1908). Arquitecto e aguarelista italiano, nascido em Veneza, residiu grande parte da sua vida em Lisboa, cidade onde construiu um conjunto de obras arquitectónicas de grande valor, a destacar: a fachada da casa da família Lima Mayer, na Avenida da Liberdade; obra que lhe valeu a atribuição do prémio Valmor; a casa Lambertini, também na Avenida da Liberdade; e a casa do Sr. Leitão, na rua Marquez de Fronteira (Machado, 1908). 12. http://www.cm-penacova.pt/pt/pages/miradouros consultado em 2 de Outubro de 2018.

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Fig. 5 - Vista do Monte da Guia desde o rio Fig. 6, 7 e 8 - Igreja de Nª Srª da Guia


Fig. 9 - Mirante Manuel Emídio da Silva Fig. 10 - Pérgula Raúl Lino

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quando em 1918, é feito um convite ao arquitecto Raul Lino13 para construir duas pérgulas na vila. Ao arquitecto, incumbiu-se a decisão dos lugares para a implantação destas construções. As pérgulas, ambas localizadas próximas ao edifício da Câmara, oferecem um espaço de descanso, sombreado pelas glicínias que crescem ao longo da vigas de madeira que assentam em robustos pilares de pedra. A partir de uma das pérgulas, temos uma vista sobre as construções que se dispõe em direcção ao topo do Monte da Guia, com o morro da outra margem do rio como pano de fundo. Da outra, a vista abate-se sobre o rio que corre em direcção a Coimbra, e os montes e a vegetação que compõe aquela paisagem.

13. Raul Lino (1879-1974). Arquitecto português, nascido em Lisboa, deixa um legado extenso de cerca de setecentas obras de arquitectura e projectos, possíveis de consultar no arquivo da Fundação Calouste Gulbenkian. Dentro da sua vasta obra, importa nomear: a Casa Monsalvat (1901), no Monte do Estoril, classificada como Monumento de Interesse Público pelo IGESPAR, em 2010; a casa da Quinta da Comenda (1909), em Setúbal; a casa do Cipreste (1912), em Sintra, classificada na mesma categoria, pela mesma instituição, em 2005; em 1926 publica A Casa Portuguesa para a Exposição portuguesa em Sevilha; em 1931, é membro fundador da Academia Nacional de Belas-Artes, tendo em 1947 assumido o cargo de vice-presidente, e em 1969 o de presidente; em 1949, assume a direcção dos Monumentos Nacionais; no ano da sua morte, em 1974, publica O Romantismo e a Casa Portuguesa.

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Fig. 11 e 12 - École au Soleil

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2.2. O programa do Preventório

“A palavra vem do latim praevenire - intervir em defesa de uma pessoa, ajudar e apoiar e praeverto

- prevenir, antecipar.” 14 (Grose, 2011)

Em 1927, o Comité dos Preventórios da Associação Nacional de Tuberculose dos E.U.A. defi-

niu que “o preventório é uma instituição de cuidados e observação diária de crianças cuja saúde está abaixo da média”15 (KleinSchmidt, 1930). A mesma associação diz que o objectivo dos preventórios é oferecer cuidados de saúde preventivos a crianças ameaçadas pela tuberculose, doenças cardíacas ou outras incapacidades. As crianças são acompanhadas e supervisionadas por médicos e enfermeiros especializados. A estadia deve durar alguns meses, sendo depois transferidas para as open window schools na cidade. Nos Preventórios, as crianças aprendem sobre saúde e os cuidados a ter para a conservarem, incutindo-lhes hábitos saudáveis, de forma a prevenir manifestações futuras da tuberculose pulmonar (KleinSchmidt, 1930). Trata-se de um equipamento que pretende albergar crianças pré-tuberculosas, ou seja, que foram expostas à tuberculose em casa, ou já tiveram e precisam de cuidados de saúde, ou sofrem de sub-nutrição ou de outras doenças que necessitem da supervisão de médicos especializados (KleinSchmidt, 1930). No fundo, apesar de poderem ter tido ou sido expostas à tuberculose, as crianças não se encontram numa fase contagiosa da doença, não representam um risco para as restantes crianças. O seu objectivo é, acima de tudo, protegê-las.

“A forma como os preventórios operam, é reveladora do reconhecimento de que as crianças com tuber-

culose (infantil) não estão realmente doentes, mas apenas ameaçadas pela doença; certamente que uma criança doente não deverá estar num preventório, que na verdade é uma escola.”16 (KleinSchmidt, 1930) 14. Citação original: “The word comes from the Latin Praevenire - to interfere on behalf of a person, to give help and support - and Praeverto - to prevent, and to anticipate.” 15. Citação original: “A preventorium is a 24-hour institution for the care and observation of children substandard in health.” 16. Citação original: “The manner in which preventoriums are operated is a tacit recognition of the belief that children with the childhood type of tuberculosis are not really ill, but rather threatened with illness; certainly, a sick child should not be in a preventorium, which is in fact a school.”

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Fig. 13 - Preventório de Penacova - os diferentes espaços da criança Fig. 14 - Actividades físicas ao ar livre - Clínica Les Frênes

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A faixa etária varia de caso para caso, sendo que de uma forma geral se poderá dizer que o

Preventório se destinava a pré-adolescentes17. A capacidade destes edifícios rondava as 100/150 crianças, separadas por género à semelhança dos sanatórios. Os dormitórios, para além de se dividirem dessa forma, eram separados também por idades. O mobiliário, como nos sanatórios, utilizava materiais facilmente laváveis, permitindo a higienização de todos os espaços. As galerias, serviam como uma extensão do espaço interior, seja dos dormitórios ou das salas de aula, onde as crianças podiam brincar ou realizar actividade de âmbito educativo.

Durante o período que ali estão, é-lhes assegurada educação, havendo por isso espaços de sala

de aula dentro do edifício. Ainda que não haja um modelo para este tipo de programa que o possa sustentar, consideramos que o espaço exterior, ao ar livre, além das galerias, teria uma grande importância num edifício deste tipo, como complemento à educação. A realização de actividades ao ar livre, lúdicas e educativas, faz parte da educação de uma criança, sendo por isso necessário um espaço exterior adequado à sua execução (KleinSchmidt, 1930). Neste período, nos Estados Unidos da América, ganhavam reconhecimento as escolas ao ar livre - fresh air schools -, cujo “plano de estudos” se orientava para o desenvolvimento de actividades que fortaleciam fisicamente as crianças (KleinSchmidt, 1930).

No Preventório de Penacova, as fotografias comprovam-nos isso mesmo: o espaço exterior ad-

jacente ao edifício era utilizado pelas crianças para a realização de actividades diversas. A inserção num ambiente salubre, permitia que esse tipo de actividades acontecessem, não havendo riscos de contaminação para as crianças. Na Leprosaria Nacional, sobre a qual mais adiante nos debruçaremos, o facto do Preventório estar inserido na zona sã do complexo, leva-nos a crer que esse tipo de actividades no exterior fossem possíveis, ainda que não haja forma de o comprovar. Na Madeira, o Preventório implantava-se num local aparentemente “limpo”, saudável, envolto por uma zona arborizada e ajardinada, havendo por isso condições para a prática segura de actividades ao ar livre, mas os registos que encontrámos, ao contrário dos de Penacova, não nos permitem confirmar esse tipo de informação.

Comparativamente aos Sanatórios, o número de exemplares de Preventórios não nos permite

inferir que haja um modelo base para a sua concepção (KleinSchmidt, 1930). Através da comparação com dois outros casos no contexto português, é possível estabelecer correspondências no programa deste tipo de equipamento e no que diz respeito ao seu papel numa rede mais alargada. Ainda assim, a escala e peculiar posição paisagística do Preventório de Penacova, revelam a singularidade deste equipamento.

17. Até aos 12 anos de idade.

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2.3. O surgimento do Preventório na rede assistencial de Bissaya Barreto

A estratégia principal no combate à tuberculose, defendida pela Assistência Nacional aos Tu-

berculosos18, tinha como medida a profilaxia, ou seja a implementação de medidas que evitassem a propagação da doença. Para isso, além dos Sanatórios, que se dedicavam ao isolamento de doentes infectados, era necessário criar equipamentos próximos de ambientes favoráveis à propagação da doença, de forma a conseguir identificar os casos numa fase inicial. Através desses equipamentos, era possível agir na origem da fonte de contágio, evitando a propagação para outras pessoas, como familiares.

Bissaya Barreto, médico e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra,

envolvido activamente na vida política da cidade, ocupa ao longo da sua vida diversos cargos de relativa importância, que lhe permitiram construir uma vasta rede assistencial. Além disso, a sua amizade com António de Oliveira Salazar19 facilitou a agilização de processos e a aprovação de verbas para a construção de alguns edifícios integrados nesta rede de assistência médica.

“A partir de 1918, dirigiu a Mesa da Junta Geral de Distrito, enquanto procurador por Penacova,

organismo de poder descentralizado, redefinido 5 anos antes pela República. Poucos anos mais tarde, em 1922, passou pela superintendência do Senado Municipal de Coimbra, culminando depois este crescendo com a Presidência da Comissão Administrativa da Junta Geral do Distrito de Coimbra, cargo que, a partir de 1927, lhe permitia abranger, guiar e controlar a política de Assistência por si previamente idealizada. Mais tarde, em 1936, o novo Código Administrativo criou as Juntas de Província, ficando obviamente a da Beira Litoral a cargo de Bissaya Barreto.” (Silva, 2013)

18. Entidade da área da saúde, à responsabilidade da Direcção Geral de Saúde até 1911, passando nesse ano à tutoria do Ministério do Interior, foi responsável pelas acções profilácticas e de assistência aos tuberculosos em Portugal. 19. António de Oliveira Salazar (1889-1970). Político português, um dos responsáveis pela criação do Partido Centro Católico em 1921, foi, em 1928, nomeado Ministro das Finanças. Em 1932, António Óscar Carmona, então Presidente da República portuguesa, nomeia Salazar como Primeiro Minstro, permanecendo nessa posição até 1968. Esse período ficaria conhecido como Estado Novo Português, regido por um pensamento católico e nacionalista, conservadorista e autoritário, marcado pelo fim da liberdade.

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Fig. 15 - Esquema Organizativo da O.P.G.D.C.

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Na zona centro do país, o médico promove então a construção de diversos equipamentos que

integraram esta rede, começando pelos Sanatórios em Coimbra: o Sanatório Antituberculoso de Celas, em 1932, e o Sanatório da Colónia Portuguesa do Brasil, em 1935. O primeiro destinava-se às mulheres e crianças, e o segundo aos homens. Esta divisão por género surgia como medida de prevenção, evitando comportamentos que pudessem transgredir ou desrespeitar as regras de tratamento. Tal como esta, outras medidas foram sendo tomadas, resultado do avanço do conhecimento da doença, das suas consequências e formas de contágio.

Posteriormente, Bissaya Barreto constatou que seria necessário construir equipamentos que

permitissem agir directamente nos meios de maior propagação. O ambiente insalubre dos portos das cidades, constituía uma preocupação para os médicos, pois tratava-se de um dos maiores focos de contaminação. Os Dispensários, surgem então próximos destas zonas da cidade, como “instrumento de controlo sanitário de natureza profiláctica” (Providência, 2013). Nestes equipamentos, era prestado um serviço de assistência médica gratuito, bem como oferecida medicação sem qualquer custo para os doentes.

Como vimos, havia a possibilidade de contágio directo entre familiares e por isso, era também

necessário ter equipamentos especializados para assistência destas pessoas. Os membros da família a que nos referimos, são maioritariamente mulheres grávidas e crianças cujos pais/maridos estariam infectados. Para Bissaya Barreto, estes dois grupos foram os principais focos da sua obra assistencial, com especial incidência nas crianças, pois dizia que “o presente e o Futuro da Nação está na infância; disso se convenceu há muito a Junta de Província da Beira Litoral, e por esse motivo inscreveu no programa das suas actividades a causa da criança, como a que mais merece o seu interesse” (Silva, 2013, apud Barreto, 1970). Neste sentido, surgem na sua rede as casas da criança, os jardins-de-infância e as maternidades como ferramentas de apoio às famílias durante a gravidez e a fase inicial da vida das crianças, oferecendo-lhes cuidados de saúde e educação. Em relação às crianças, o seu percurso era desenhado desde o momento do seu nascimento até à sua vida adulta, sendo atribuído um determinado estabelecimento de educação consoante a fase da sua vida. Nestas Casas20, era garantida a educação das crianças num ambiente saudável.

O Preventório, surge então nesta rede como equipamento de apoio a “crianças difíceis, frágeis,

pré-tuberculosas, mas não infectadas” (Silva, 2013)21, entre os 3 e os 12 anos de idade, cujos pais estavam infectados. É uma peça fundamental, preconizada por Bissaya Barreto, que salvaguarda estas crianças e as protege do possível contágio através dos pais, evitando que estas os tenham que acompanhar para os sanatórios. Assim, as crianças poderiam habitar um ambiente saudável, acompanhadas, tipicamente, por membros de ordens religiosas, que garantiam a sua educação.

Em 1934, era inaugurado em Penacova o primeiro Preventório do país. O lugar escolhido para

20. Casa da Criança, Casa da Educação e Trabalho, Ninho dos Pequenitos e Jardim-de-infância. 21. apud Acta da Sessão de 2 de Dezembro de 1947 do Conselho Provincial, fl. 191.

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a sua implantação, beneficiava de uma exposição solar privilegiada, vistas desimpedidas sobre toda a paisagem envolvente e espaço exterior suficiente para o desenvolvimento de actividades lúdicas e educativas ao ar livre. O ambiente em que se inseria, comportava as condições necessárias para o crescimento saudável das crianças. O programa do edifício era composto por dormitórios, separados por género e idade, salas de aula, refeitório e quartos de dormir para as auxiliares. Este edifício, integrava ainda uma pequena capela, um espaço de oração para as crianças e as freiras da Irmandade da Misericórdia.

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Fig. 16 - Planta da vila de Penacova - 1934

Fig. 17 - Perfil pelo Monte da Guia - 1934

Fig. 18 - PĂŠrgula - vista sobre o Hospital e o PreventĂłrio


2.3.1. O Preventório de Penacova

Em 1928, a Irmandade de Nossa Senhora da Guia, actualmente conhecida como Misericórdia,

em conjunto com o Dr. Sales Guedes22, médico responsável por essa organização, projectam para o topo do Monte da Guia o Hospital da Misericórdia. Abraçando a construção de uma pequena igreja pré-existente - a Igreja de Nossa Senhora da Guia - o novo edifício hospitalar propõe-se assim a revitalizar aquele lugar. O autor do projecto é desconhecido, pensa-se que poderá ter sido o próprio médico responsável a desenhar o edifício23. Sabe-se apenas que a construção foi responsabilidade dos Mestres-de-obras Ferreira de Araújo e Cardoso (Silva, 2013).

Bissaya Barreto, amigo do Dr. Sales Guedes, visita Penacova em 1930, numa fase em que o

Hospital da Misericórdia estaria praticamente concluído. A paisagem e a qualidade do ar daquele lugar, rapidamente conquistaram o médico de Coimbra, levando-o a sugerir ao seu colega, o aproveitamento do edifício que coroava o Monte da Guia para servir como o primeiro Preventório do país. O acordo entre os dois médicos foi feito (Silva, 2013). O Dr. Sales Guedes, cedia assim o seu edifício a Bissaya Barreto, pedindo em troca o terreno adjacente, a poente, no qual iria construir, novamente, um hospital. No acordo, ficou também estipulado que as crianças que para ali viriam, seriam da responsabilidade da Irmandade de Nª Srª da Guia. Estavam então definidos os primeiros passos desta instituição pioneira em Portugal.

Como sabemos, o edifício fora destinado a uma função hospitalar, mas ainda assim seria ne-

cessário proceder a algumas alterações de forma a criar condições para as crianças ali habitarem. O arquitecto Luis Benavente24, assumiu essa responsabilidade. A ele deve-se o desenho das divisórias dos dormitórios das crianças, assim como toda a mobília do Preventório: as cadeiras, secretárias, armários, biombos, tulhas, etc. A inexistência de mais material gráfico, impede a identificação da autoria deste 22. Manuel Ferreira Sales Guedes (1893-1948). Licenciado em Medicina, foi como Mesário da Misericórdia que promoveu a construção do Hospital que acabaria por ceder a Bissaya Barreto para a implementação do primeiro Preventório do país. Desenvolveu a sua actividade profissional em Penacova, no Hospital da Misericórdia, dando também apoio ao Preventório, vila da qual foi Presidente da Câmara em 1936. 23. http://www.penacovaonline2.blogspot.com/2013/04/primavera-de-1933-abertura-do.html consultado em: 15 de Outubro de 2018. 24. Luis Benavente (1902-1993). Arquitecto português, iniciou a sua formação na Escola de Belas Artes de Lisboa, tendo concluído os estudos na Escola de Belas Artes do Porto. Colaborou nas obras do Sanatório de Celas, do Sanatório da Colónia Portuguesa do Brasil (Hospital dos Covões) e do Hospital Sobral Cid, sob o comando de Bissaya Barreto. Em colaboração com o arquitecto Raul Lino, elaborou um plano para a remodelação da cidade Universitária de Coimbra. Foi delegado de Portugal na Comissão Internacional que contribuiu para a elaboração da Carta de Veneza, em 1964, tendo sido sócio-fundador do ICOMOS (International Council of Monuments and Sites), organismo criado por consequência da elaboração desse documento sobre a conservação e restauro do património.

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Fig. 19 - Alçado Poente do Preventório Fig. 20 - Alçado Nascente do Preventório


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Fig. 21 - Plantas do 1ยบ e 2ยบ pisos do Preventรณrio

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arquitecto noutros aspectos do edifício. A possibilidade existe de, a galeria a nascente, ser da sua autoria, uma vez que o domínio da construção em betão armado com o sistema Hennebique, estaria apenas ao alcance de profissionais. Outro motivo que nos leva a crer nesta possibilidade, é o facto de o edifício ainda não estar terminado aquando do acordo feito entre os dois médicos. Apesar de desconhecermos a fase de construção em que se encontrava, o facto de ainda não estar terminado aliado à utilização de uma técnica especializada, ainda pouco dominada em Portugal, leva-nos a crer que o arquitecto Luis Benavente terá sido o autor do projecto para a galeria (Silva, 2013).

O edifício do Preventório desenvolve-se em quatro pisos, que se dispõe à volta da antiga Igreja

de Nª Srª da Guia, formando um “U”, é construído num sistema misto de paredes em aparelho de alvenaria de pedra rebocada e paredes de betão, com alguns motivos decorativos que indicam alguma influência Art Deco. A fachada da antiga Igreja de Nª Srª da Guia era caiada a branco, e as restantes apresentavam uma cor amarelada (Carvalheira, 2012). O conjunto compõe uma forma quadrangular, quebrada pelo ligeiro avanço, nas quatro fachadas, de um elemento central. A poente, virada para a vila, a fachada da antiga igreja materializa esse ligeiro avanço, e é ladeada por dois planos de fachada, criando-se a ideia de simetria do conjunto. Essa simetria é dissimulada, e apesar de aparente nas plantas, a galeria da fachada nascente demonstra-nos a assimetria do conjunto: para sul, desenvolve-se em “L” e é composta por três módulos em ambos os lados; para norte, é composta apenas por dois módulos e não se estende para a fachada norte. Ainda na fachada nascente, o avanço do corpo central do conjunto assinala a entrada no edifício.

Após entrarmos, o corpo de escadas que dava acesso ao piso superior estava colocado em ali-

nhamento com a entrada, criando novamente uma sensação de simetria. À esquerda, duas portas, uma de acesso aos balneários e outra de acesso a uma sala de estar adjacente à galeria. À direita, novamente duas portas, ambas dando acesso ao refeitório e posteriormente à cozinha. Tanto na sala de estar como no refeitório, as janelas são fixas e os caixilhos de ferro têm um desenho simples e delicado. Ao contrário do refeitório, a sala de estar tinha uma porta que dava acesso à galeria, permitindo que este espaço se estendesse para o exterior.

No segundo piso, no corpo central, junto às escadas que comunicavam com o primeiro piso,

três quartos destinados às freiras da Irmandade de Nª Srª da Guia. No restante espaço, a norte e a sul, possivelmente correspondente a uma divisão por género, eram os dormitórios das crianças, os quais se podiam estender para as respectivas galerias a nascente. O espaço dos dormitórios, era apenas separado em pequenas células, através de divisórias de madeira e vidro, desenhadas pelo arquitecto Luis Benavente. As divisórias atingiam no máximo 2 metros de altura, num espaço cujo pé-direito era de três metros. O facto de não dividirem efectivamente o espaço, permitia que as grandes aberturas nos alçados ilumi23

Fig. 22 - Corte transversal (A) do Preventório (pela Capela)


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Fig. 23 - Plantas do 3ยบ e 4ยบ pisos do Preventรณrio

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nassem permanentemente a totalidade do espaço durante o dia. Neste piso, os caixilhos eram de madeira, com duas ou quatro portadas, consoante a sua dimensão. Ainda neste piso, a partir da fachada poente, é possível aceder ao espaço da antiga capela, que servia as crianças e as freiras que ali habitavam. Havia ainda uma ligação com o restante piso, que se fazia pelo espaço do altar-mor.

O acesso ao terceiro piso fazia-se por uma outra escada, colocada junto ao dormitório norte.

Aqui estavam as salas de aulas, contíguas às galerias, uma a norte e outra a sul. Ambos os espaços recebiam iluminação de dois lados, de nascente, pela galeria, e de norte ou sul, respectivamente. Eram espaços bastante iluminados e a comunicação com o exterior era permanente, o que comprova a importância dessa relação com a paisagem nos métodos de educação defendidos naquele contexto epidémico. Nas salas de aula, os lambris eram de ardósia e alinhavam com os parapeitos das janelas, o que permitia às crianças desenhar nas paredes, dando-lhes a liberdade de decorarem o espaço como entendessem. Contíguo às duas salas de aula, um bloco de casas de banho separava-as dos dormitórios. Neste caso, a dimensão dos espaços de dormitório era menor que no piso inferior, o que indica que se destinava às crianças mais novas - o berçário. As janelas deste piso seguiam a lógica das do piso abaixo, à excepção das três janelas na fachada nascente que iluminam o espaço central. Enquanto que as janelas dos dormitórios eram de madeira e com portadas, o que permitia a sua abertura, as desse espaço eram fixas e em ferro, seguindo o desenho dos caixilhos do refeitório e da sala de estar.

Uma vez mais, o acesso ao último piso era feito por uma outra escada, desta vez junto ao dor-

mitório sul. O reduzido pé-direito, impedia que o espaço pudesse ser utilizado pelas crianças, servindo apenas como arrumo. Ainda assim, era possível aceder a um terraço localizado por cima das salas de aula e do espaço central do piso abaixo. Sobre este espaço, não existe informação sobre a sua função, podemos apenas justificar a sua existência pela análise dos modelos desenvolvidos durante este período: os anos 30 do século XX. Os princípios basilares do modernismo, surgem em grande parte como consequência das necessidades impostas pela tuberculose e o seu tratamento, o que originou um modelo com determinadas características que identificamos nestes equipamentos. As galerias para as exposições diárias ao sol ou ao ar, a utilização de materiais de fácil limpeza, as grandes janelas para a ventilação dos espaços interiores, bem como os terraços na cobertura para a realização de exercício físico ou exposições solares ou ao ar, eram características comuns nos diversos exemplos de arquitectura hospitalar e assistencial. No caso do Preventório de Penacova, não existem fotografias que nos provem que este espaço era realmente utilizado pelas crianças, o que possivelmente se devesse a questões de segurança.

Como já referimos, o contacto com o exterior é determinante na organização espacial deste

equipamento, os espaços das crianças, são sempre servidos de grandes vãos, que iluminam o espaço interior, ou da possibilidade de se estenderem para as galerias. Por isso, a envolvente é ajardinada, permitindo também o desenvolvimento de actividades lúdicas ao ar livre, com contacto directo com a Natureza. 25

Fig. 24 - Preventório de Penacova - relação com a paisagem


Fig. 25 - Corte Longitudinal (B) pelo Preventório e Hospital da Misericórdia - 1930 Fig. 26 - Corte Longitudinal (B) pelo Preventório e Centro de Saúde - 1960

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Como referido anteriormente, o acordo entre Bissaya Barreto e o Dr. Sales Guedes, previa a

construção de um novo edifício no terreno a poente do Preventório. A linguagem deste novo edifício, seguia a do Preventório, formando uma unidade de todo o conjunto, ainda que os objectivos fossem distintos. O edifício assenta numa cota 8 metros abaixo da cota de entrada no Preventório pela antiga capela. Esta diferença de alturas, permitia que o novo edifício funcionasse em dois pisos, sem impedir a relação visual entre o Preventório e o centro da vila. Pelas fotografias, a cobertura do novo Hospital da Misericórdia parece quase alinhar-se com o plano horizontal onde assenta a antiga capela, quase como permitindo a extensão daquele espaço para cima do novo edifício.

Durante os anos de funcionamento do Preventório, foram várias as obras de beneficiação e

recuperação: em 1935, ao encargo de Manuel Jesus Cardozo, foram construídos uns anexos; entre 1950 e 1953, foram feitas obras de recuperação de pinturas e outros elementos da construção, da responsabilidade do empreiteiro Joaquim dos Santos; e em 1959, foi construído um posto escolar, a noroeste do Preventório, estabelecendo uma ligação interna (Silva, 2013). Terá sido num destes últimos momentos, que as coberturas do Preventório foram substituídas, fazendo com que o terraço na cobertura deixasse de existir. Foi também na década de 60 do século XX, que se realizaram algumas obras de reestruturação urbana, que viriam a alterar profundamente a morfologia do Monte da Guia: a construção da infraestrutura viária em torno do Monte25; os muros de suporte dessa infraestrutura; o acrescento de um piso ao Hospital da Misericórdia e a alteração da pintura das suas fachadas e elementos decorativos, o que conduziu à ruptura da relação visual entre a vila e o Preventório e a própria relação entre os dois edifícios.

Após a descoberta da estreptomicina, medicamento utilizado para curar a tuberculose, os equi-

pamentos assistenciais perderam alguma importância. No caso do Preventório, foi possível estender o seu tempo de vida por mais uns anos, passando a servir como espaço de ensino26 para a população local, bem como para actividades dos tempos livres das crianças (Carvalheira, 2012).

25. A Avenida viria a receber o nome de Bissaya Barreto, mantendo-se até hoje como: Avenida Bissay Barreto. 26. Creche e Escola primária.

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Fig. 27 - Implantação Geral da Leprosaria Nacional, Tocha

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2.3.2. O Preventório da Leprosaria Nacional

O Preventório da Leprosaria Nacional, integra o complexo do Hospital-Colónia Rovisco Pais27,

da autoria do arquitecto Carlos Ramos. Localiza-se na vila da Tocha, pertencente ao distrito de Coimbra, na Quinta da Fonte Quente. O complexo destina-se ao tratamento da lepra, doença infecciosa da pele, e está separado pela estrada nacional 109 em duas zonas: a zona sã, a nascente da estrada nacional, e a zona “suja”, a poente. O conjunto é organizado por pavilhões e “A disposição dos edifícios da área pavilhonar corresponde a uma progressão da doença no terreno, ou seja, o conjunto ordena-se desde uma área de transição entre o exterior (a vila da Tocha e a Estrada Nacional) e a leprosaria, definida pelo Hospital que demarca a entrada (admissão de doentes, consultas, mas também Lazareto, ou quarentena), áreas habitacionais para os doentes não incapacitados (Casa de Trabalhadores) e áreas habitacionais para os doentes incapacitados funcionalmente, normalmente numa fase avançada da doença (Asilos).” (Providência, 2013).

O combate à lepra segue, em diversos aspectos, a estratégia usada na tuberculose. Apesar de se

tratarem de doenças distintas, o elevado grau de contagiosidade de ambas implicava o isolamento dos doentes infectados. À semelhança do que referimos relativamente à tuberculose, também neste caso, a segregação dos doentes levantava a necessidade da construção de equipamentos de isolamento, de rastreio da doença e de apoio às famílias dos infectados. Contrariamente ao sucedido com a tuberculose, em que a rede assistencial se estendia pelo território da região centro do país, na Leprosaria Nacional os diversos equipamentos estavam distribuídos numa propriedade, havendo uma maior proximidade entre os diferentes programas.

27. Para um estudo mais aprofundado sobre a Leprosaria Nacional, consultar Providência, P., Matos, V.M.J., Santos, A.L., Xavier, S., Brás, E., Quintais, L. (2013). Leprosaria Nacional: Modernidade e Ruína no Hospital-Colónia Rovisco Pais. Dafne Editora.

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C G E

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F A

Fig. 28 - Planta da Leprosaria Nacional A - Preventório B - Hospital C - Asilo D - Casas das Famílias E - Lavandaria/Cozinha F - Creche G - Casas dos Trabalhadores H - Conventinho I - Capela J - Habitações para Trabalhadores Superiores Fig. 29 - Planta do 1º piso do Preventório

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“Do rectângulo central (Dispensário) partem três setas: duas, unidireccionais, dirigidas para o Asilo

(local final de acumulação dos doentes classificados como “incuráveis, mutilados e inutilizados ou impossibilitados” ou ainda “aqueles que depois de estacionamento nos centros de isolamento para ela venham a evolucionar”) e para a Creche (“os filhos de doentes isolados […] são remetidos para as creches, imediatamente após o seu nascimento, donde sairão ao atingir a idade escolar, para serem internados nos preventórios”); outra, bidireccional, é dirigida para o Internato (centros de isolamento para onde são encaminhados doentes infectantes “que não queiram ou não puderem sujeitar-se nos seus domicílios às determinações prescritas”). O Diagrama apresenta ainda setas unidireccionais entre o Internato e o Asilo, e entre o Internato, a Creche e o Preventório. Do Preventório emana um conjunto de setas para o “exterior” que indicam que os filhos dos doentes, que ali são mantidos em idade escolar e quando atingem a maioridade são, enfim, libertos.” (Providência, 2013)

Como referimos, o Preventório é destinado às crianças cujos pais estão infectados, e por isso

integra a zona sã do terreno, “num anexo da Quinta da Fonte Quente, a Guardiosa” (Providência, 2013). Numa primeira versão do projecto, o Preventório, o Lazareto e a Creche funcionavam num só edifício. Posteriormente, este esquema acabaria por ser alterado, tendo sido construídos edifícios autónomos para cada programa, à excepção do Lazareto, que se verificou desnecessário, uma vez que as crianças infectadas iam para junto dos pais.

O edifício do Preventório desenvolve-se em dois pisos e a sua organização espacial, à seme-

lhança dos restantes edifícios do complexo, ocorre por meio de um corredor longitudinal central que faz a distribuição para todos espaços, estratégia comum em edifícios hospitalares. Perpendicularmente, e a eixo com a entrada, um volume a nascente com a cozinha e respectivos espaços do pessoal. A entrada é feita a poente, e está marcada por um avanço em relação ao plano da fachada de dois volumes, correspondentes aos refeitórios, no primeiro piso, e às salas de aula, no segundo, reforçando a axialidade do momento. A partir deste eixo, este/oeste, é feita a divisão interna entre rapazes e raparigas - norte/sul. O corredor central, que se desenvolve longitudinalmente com a direcção norte/sul, permite o acesso às diversas salas: para poente, os dormitórios, os refeitórios e as salas de aulas, para nascente, as instalações sanitárias, os acessos ao piso superior e, ao fundo do corredor, nas duas extremidades, as salas para o vigilante. No primeiro piso, na fachada poente, estão as galerias, designadas como espaços de recreio para as crianças. Estas, são espaços amplos e cobertos, funcionam como uma extensão dos dormitórios e são “corporizadas por pilares com um desenho semelhante aos contrafortes com revestimento de pedra presentes, de igual forma, noutros edifícios da Leprosaria” (Silva, 2013).

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C

A

B C

Fig. 30 - Implantação do Preventório de Santa Isabel, Funchal A - Preventório de Santa Isabel B - Kurhotel Amélia/Quinta Amélia C - Sanatório Dr. João de Almada

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2.4. O Preventório de Santa Isabel

O Preventório de Santa Isabel, foi construído em 1936 no Funchal, a capital da ilha da Madei-

ra, e é um projecto da autoria do arquitecto Edmundo Tavares. Desde o século XVII, que a ilha ganhou um reconhecimento a nível europeu resultante das condições climatéricas propícias ao tratamento de doenças pulmonares, facto confirmado por médicos ingleses que viriam a “apurar cientificamente as propriedades terapêuticas do clima insular tendo em vista o tratamento da tísica” (Matos, 2016).

O edifício localiza-se numa zona alta da cidade, numa posição algo dominante sobre o ter-

ritório envolvente. De planta rectangular regular, desenvolve-se em três pisos, que se organizam sob um corredor longitudinal central com a orientação este/oeste, por onde se acede aos diversos espaços. Assume uma volumetria simples, composta pelo volume paralelepipédico central, dois corpos salientes nas extremidades do corredor do primeiro piso e dois volumes semi-circulares nas fachadas norte e sul, também apenas no primeiro piso. A entrada é feita de forma axial pela fachada sul, assinalada por um dos volumes semi-circulares, que se destaca ligeiramente do plano da fachada. Para sul, no segundo e terceiro piso, desenvolvem-se as varandas. O acesso aos diferentes pisos é feito pelas escadas que se localizam junto à fachada norte, dispostas simetricamente nos topos do corredor longitudinal.

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Fig. 31 - Preventรณrio de Penacova visto a partir da antiga ponte

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2.5. O lugar e a relação com a paisagem

A relação íntima que o lugar estabelece com a paisagem, parece-nos fundamental para a com-

preensão da importância que esta última adquire no contexto sobre o qual incide este trabalho. Após a análise e reflexão descritas anteriormente, importa compreender o lugar que o antigo Preventório ocupa de modo a clarificar a forte relação que estabelece com a sua envolvente.

A transformação do espaço em lugar, acontece pela atribuição de um significado. Esse signi-

ficado existe, pela apropriação do espaço por parte do homem. A apropriação do espaço, inicia-se pela observação do território, da paisagem, pelo reconhecimento e compreensão do que acontece à sua volta. Num primeiro momento, “a percepção elementar do horizonte é condição primeira para a transformação do espaço em lugar significante” (Rabaça, 2005). De seguida, o “movimento do corpo na paisagem é o veículo primeiro do processo do conhecimento, necessário para a relação de identidade estabelecida entre o eu e o mundo natural” (Rabaça, 2005). O movimento do corpo no espaço, permite-nos experienciá-lo, conhecê-lo, identificá-lo e estabelecer relações. “Por outras palavras, ao tornar-se familiar, (re)conhecível, o espaço transforma-se em lugar, paisagem orientada e orientadora” (Rabaça 2005). Quer isto dizer que, “o que começa como espaço indiferenciado, transforma-se em lugar à medida que o vamos conhecendo melhor e lhe atribuímos valor” (Miranda, 2017 apud Smith, 1992).

“(…) temos que reconhecer uma qualidade ao espaço. Era este o sentido com que os antigos consagra-

vam um lugar, e este sentido pressupõe um tipo de análise muito mais profunda do que a simplificadora que nos é oferecida por alguns testes psicológicos relacionados apenas com a legibilidade das formas.” (Rossi, 2001)

A apropriação do espaço, acção que se inicia pela atribuição de um valor ou significado a um

espaço indiferenciado, consolida-se de certa forma através da construção, da arquitectura. O significado atribuído pelo homem ao espaço, contém em si características da sua própria identidade, mas é através da 35


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arquitectura, da construção de “pontos fixos artificiais” (Rabaça, 2005) na paisagem, que o lugar adquire verdadeiramente identidade. “A acção do homem, particularmente a arquitectura, transforma o lugar e fornece-lhe identidade, da qual depende a própria identidade do homem” (Rabaça, 2005). “Sem a arquitectura, os sentimentos sobre o espaço permanecem difusos e fugazes” (Tuan, 1983). A arquitectura permite que as pessoas habitem o espaço, que ali permaneçam, e que assim se defina o espirito daquele lugar - genius loci - que é o resultado da relação entre o homem e o ambiente (Bandarin, 2015). Pois “(…) os espaços onde se desenvolve a vida terão de ser lugares” (Borges, 1997 apud Heidegger, 1951), e “o lugar, hoje, começa no sujeito” (Borges, 1997).

A pertinência dos espaços de recreio, ao ar livre, que acreditamos existir no programa do Pre-

ventório, aliado à posição paisagística que observamos no caso de Penacova, conduz-nos a uma reflexão sobre o papel da paisagem no contexto da tuberculose. Tipicamente, estes equipamentos eram pensados para se implantarem em zonas rurais, arborizadas, com montanhas ou perto do mar (Grose, 2011). A razão que levava os médicos a considerar esta opção, tinha que ver com o afastamento da poluição e sobrelotação das cidades, inserindo os pacientes num ambiente de natureza, com condições do ar adequadas ao tratamento da doença. O ar “imediatamente acima da copa das árvores e nas margens da floresta, é mais rico em ozono que o do interior”, pois o “ozono, descoberto em 1846, devido às suas propriedades, era considerado como benéfico para a saúde.” (Grose, 2011).

Nos Sanatórios, a importância do contacto com o ambiente exterior estava já confirmada pela

terapia que registava melhores resultados no tratamento da tuberculose óssea: a helioterapia. Tanto na tuberculose óssea como pulmonar, as galerias de cura eram o meio através do qual os doentes estabeleciam contacto com o exterior, onde realizavam exposições solares ou ao ar diariamente. Havia por isso, um cuidado para tornar o ambiente dos sanatórios mais saudável e próximo da natureza, através do desenho de jardins nas suas propriedades. Os jardins estabeleciam um filtro entre o ambiente interno e a cidade, barulhenta e poluída pelas fábricas, e eram ainda a imagem de fundo para os doentes nos dormitórios. O corte sonoro e visual que faziam com a cidade, contribuía para a salubridade do ambiente interno, criando melhores condições para a cura dos doentes.

No caso do Preventório, não se realizavam tratamentos, uma vez que as crianças que o habi-

tavam não necessitavam. As galerias serviam como extensão dos espaços de dormir ou de aulas, onde as crianças poderiam realizar actividades em contacto com o exterior. Ainda assim, a realização de actividades nos jardins ou terrenos próximos do edifício, era comum. O ambiente exterior, composto também pela paisagem envolvente, dava espaço suficiente às crianças para desenvolverem actividades lúdicas mas também educativas, que fomentavam a importância do contacto com a natureza para a implementação de uma vida saudável no futuro. 37


Fig. 32 - Preventรณrio de Penacova - espaรงos exteriores

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“O espaço verde no preventório é distinto da noção de jardim no terreno do hospital, porque a paisa-

gem emprestada é a paisagem terapêutica, é externa ao próprio preventório, e é a razão pela qual o preventório se implanta naquele local, pois é a fonte de ar fresco.”28 (Grose, 2011)

Em Penacova, a importância do espaço exterior é evidente, bastando observar algumas fotogra-

fias para perceber que esse espaço era utilizado inúmeras vezes para a realização de actividades diversas com as crianças. A orientação do edifício no terreno e a sua organização espacial, realçam ainda mais a importância da relação com o exterior, com o jardim e a paisagem. As galerias são viradas a nascente, para a paisagem, para as rochas e para o rio Mondego, assim como o terraço na cobertura, as salas de aula, os dormitórios e o refeitório. A dimensão das aberturas no edifício fortalecem essa relação paisagística. Além disso, o lugar de destaque ocupado pelo Preventório, transforma-o em ponto de referência paisagístico daquele lugar, ou seja, tanto a paisagem parece ter tido implicações no desenho do edifício, na sua orientação e organização espacial, como o próprio objecto arquitectónico assume uma posição singular e dominante na paisagem.

Como já verificámos, a colocação do Preventório de Penacova naquele lugar ocorreu a meio

do processo de construção do Hospital da Misericórdia, por meio de um acordo no qual a Misericórdia cedia o edifício para servir uma nova função. Apesar do edifício não ter sido pensado desde o início para aquele programa, foram feitas as adaptações necessárias para melhor garantir o funcionamento da sua nova função. Com isto, queremos salientar o facto do primeiro Preventório do país, se localizar ali por questões que se relacionam com o lugar e as suas qualidades. Bissaya Barreto, dizia que era um “local que, pela sua situação e exposição, não tem igual em Portugal” (Silva, 2013)29 e que “A Junta Geral do Distrito de Coimbra não podia ter encontrado, em termos da sua feitoria, para construir essa casa airosa, num sítio melhor, mais formoso e saudável” (Silva, 2013)30.

A motivação inicial, que desencadeou o processo que conduziu à implantação do primeiro

Preventório de Portugal em Penacova, foi puramente relacionada com o lugar, o “genius loci” (Norberg-Schulz, 1991). Pela simples observação do espaço, pelo reconhecimento da forte relação que criava com a paisagem, este espaço indiferenciado adquiriu valor, convencendo Bissaya Barreto a colocar aqui o Preventório para as crianças. Este lugar, reunia as condições necessárias que garantiam um contacto próximo com a natureza, benéfico para a saúde das crianças.

28. Citação original: “Green space in a preventorium is distinct from the notion of garden in hospital grounds, as the borrowed landscape is the therapeutical landscape, is extern to the preventorium itself, and is the very reason for the establishment of preventorium in that location as it is the source of fresh air.” 29. apud Diário de Coimbra de 25 de Agosto de 1930. 30. apud Diário de Coimbra de 26 de Maio de 1932.

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Fig. 33 - HospĂ­cio Princesa D. Maria AmĂŠlia - vista geral posterior

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“Inicia-se assim a escala de relações entre as doenças e a escolha das implantações, sendo que na

montanha (ou zona intermédia, abaixo da zona dos nevoeiros), seriam implantados os sanatórios gerais para o tratamento da tuberculose, onde se “traçarão largos parques fechados para gozo dos doentes e cura de ar, que será favorecida pela proximidade de soberbos pinhaes”, e uma última zona, mais elevada, “sem dúvida já para o tratamento de verão de algumas formas de tuberculose” (Nunes, 2017)

Em Portugal, a Madeira, a Serra da Estrela e o Caramulo beneficiavam de condições clima-

téricas, além do contacto próximo com a natureza, favoráveis ao tratamento da tuberculose. O reconhecimento destes lugares estendia-se internacionalmente, sendo comparados com as mais conhecidas estâncias do mundo. Cidades como Davos ou Leysin, na Suíça, serviram de laboratório para o estudo desta doença e possíveis métodos de tratamento (Nunes, 2017). O contexto geográfico onde se situavam, permitia a circulação de ares adequados aos doentes com tuberculose pulmonar, bem como exposição solar indicada para o tratamento de tuberculose óssea. Ainda assim, o foco principal destas estâncias de altitude, era a tuberculose pulmonar.

O Funchal, após o estudo publicado pelo médico Francisco Barral31, em 1854, “sobre o clima do

Funchal e a sua influência no tratamento da tuberculose” (Nunes, 2017), começou a ganhar notoriedade perante a comunidade médica a nível internacional. A afluência à ilha aumentou progressivamente, com especial presença de ingleses (Nunes, 2017). A experimentação do tratamento da tuberculose na ilha, iniciou-se, numa primeira fase, pela “concepção exploratória do lugar, e não à construção de edifícios específicos” (Nunes, 2017). A construção de equipamentos específicos para o tratamento da tuberculose, ocorreu em 1856, por vontade da imperatriz D. Amélia de Leuchtenberg. A imperatriz recorreu às condições terapêuticas proporcionadas pela ilha, para tratar da sua filha que estava infectada com tuberculose. O estado avançado da doença não lhe permitiu resistir, e acabou por falecer em 1853. Ainda nesse ano, a imperatriz ordenou a construção de um hospício que honrasse a memória da sua filha e possibilitasse as condições necessárias ao tratamento de doentes com tuberculose (Nunes, 2011). Esse, foi também o primeiro equipamento dedicado ao tratamento da tuberculose construído em Portugal.

Posteriormente, seguiram-se muitos outros equipamentos destinados ao mesmo objectivo. Na

sua maioria, os equipamentos construídos eram ocupados por estrangeiros com possibilidades monetárias, que viam na Madeira uma esperança na cura da tuberculose. Por essa razão, se associa o desenvolvimento do turismo terapêutico ao período em que a helioterapia e a climatoterapia surgiam como métodos de tratamento da tuberculose. Dessa forma, cidades ou vilas que continham características 31. Francisco António Barral (1801-1878). Médico português, formado pela Faculdade de Medicina de Paris, leccionou durante vários anos na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, tendo ganho um enorme reconhecimento pelos seus pares. Em 1830, foi nomeado médico extraordinário do Hospital de S. José, tendo em 1833 passado a efectivo. Durante a sua estadia na ilha da Madeira, foi médico oficial da imperatriz D. Amélia e sua filha, desempenhando simultaneamente o cargo de Presidente da Sociedade das Ciências Médicas.

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Fig. 34 - Mirante da Quinta da Vigia Fig. 35 - From Funchal in Madeira Fig. 36 - Sanatรณrios do Caramulo - vista geral dos Sanatรณrios

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idênticas às da Madeira, eram o destino ideal de quem tivesse a possibilidade monetária para se deslocar. A Madeira, era vista como um “sanatório natural, onde com vantagem manifesta se pod[ia] curar, prevenir e diminuir os estragos da tuberculose” (Nunes, 2017).

“As colinas erguem-se em terraços atrás da cidade [Funchal] a uma altura de várias centenas de me-

tros, revestidas de trepadeiras e a vegetação mais luxuriante e repletas de encantadoras quintas ou residências particulares dos habitantes. […] Acima disso, as montanhas elevam-se ainda mais alto, vestidas com uma vegetação ininterrupta, embelezadas por cascatas e lagos aquáticos, e seus auxiliares rasgados em desfiladeiros profundos e sombrios, que variam na paisagem pelas suas profundas sombras negras, alternando com o brilho da folhagem circundante. Acima de tudo, os cumes proclamam a natureza vulcânica e a origem da terra.”32 (Matos, 2016 apud Wilde, 1840)

A Estância Climática do Caramulo, é outro exemplo que foi muitas vezes comparado com

Davos, revelando a sua importância no contexto nacional. A Serra do Caramulo, localizada a uma altitude considerável, beneficiava de condições bastante favoráveis ao tratamento da tuberculose. O médico promotor desta estância foi Jerónimo de Lacerda33, que se inspirou na própria estância de Davos e nos métodos de tratamento exercidos na Suíça. O conjunto segue a lógica da Estância Sanatorial de Davos, composta por pavilhões, aqui atingindo cerca de 20 equipamentos (Nunes, 2017). À semelhança da estância suíça, os equipamentos que compunham o conjunto nem sempre eram construções feitas de raiz. Um grande número de vezes, os Sanatórios eram adaptações de equipamentos hoteleiros, que pela sua similar tipologia melhor serviam esta função. O seu objectivo principal seria albergar militares infectados com tuberculose, provenientes da Primeira Guerra Mundial (Monteiro, 2009).

À semelhança da Madeira, também no Caramulo a propaganda turística exponenciou o desen-

volvimento da estância (Nunes, 2017). Embora a Madeira tenha tido um reconhecimento internacional maior, o Caramulo foi também visitado por doentes estrangeiros, que ali realizaram o seu tratamento. O reconhecimento da qualidade excepcional dos ares da montanha, era já comum na Europa, o que fez com que estas estâncias fossem procuradas por pessoas com mais possibilidades monetárias. Assim sendo, era possível efectuar uma manutenção frequente e cuidada dos edifícios, garantido as melhores condições aos doentes. Era inclusivamente sabido, que por cada 10 doentes era admitido um doente carenciado.

Ao longo dos anos, até ao encerramento quase total da Estância em meados dos anos 60 do

século XX, a paisagem da Serra do Caramulo foi procurada por inúmeros doentes tuberculosos. Ainda

32. Citação original: “The hills rise in terraces behind the town [Funchal] to a height of several hundred feet, clothed with vines and the most luxuriant vegetation and studded with the lovely Quintas or private residences of the inhabitants [...]. Above this, the mountains rise still higher, clothed with never-failing verdure, beautified by cascades and waterfalls, and their aides torn into deep ravines and gloomy gorges, which vary the landscape by their deep black shades, alternating with the brightness of surrounding foliage. Over all, the bald top [...] proclaim the volcanic nature and origin of the land.” 33. Jerónimo de Lacerda (1889-1945). Médico português, foi professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Dedicou-se ao tratamento da tuberculose, e fundou a Estância Sanatorial do Caramulo, a maior em Portugal e da Península Ibérica. À semelhança de Bissaya Barreto, mantinha uma relação pessoal com Salazar, o que terá facilitado a concretização da sua obra assistencial.

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1 4 3 2 5

Fig. 37 - Vista aérea Funchal, Madeira 1 - Hospício Princesa D. Maria Amélia 2 - Quinta da Vigia 3 - Quinta Lambert 4 - Cemitério/Quinta das Angústias 5 Quinta Pavão

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Fig. 38 - Vista aérea Caramulo 1 - Sanatório Jerónimo de Lacerda 2 - Pensão do Parque 3 - Pensão do Alto 4 - Pavilhão Cirúrgico 5 - Sanatório Boa Esperança 6 - Sanatório Bela Vista 7 - Sanatório Pedras Soltas 8 - Sanatório Senhora da Saúde 9 - Sanatório Monteiro de Carvalho 10 - Sanatório Santa Maria 11 - Sanatório Serra 12 - Sanatório Central 13 - Sanatório Sameiro 14 - Sanatório Palma 15 Sanatório Oliveira Salazar 16 - Sanatório Montanha

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que aqui a paisagem ocupe uma posição secundária, sendo a principal atribuída às qualidades do ar, a recolha a um espaço rural é de novo motivo condutor para a implantação de uma das mais reconhecidas Estâncias Sanatorais do país. As características geográficas, climáticas e da natureza, aliam-se uma vez mais para formar o ambiente ideal para a cura da tuberculose.

Estes dois casos, a Madeira - Sanatório Natural - e o Caramulo - Estância Climática/Sanatorial

-, são exemplos do desenvolvimento do turismo terapêutico em Portugal. Este modelo turístico, desenvolveu-se por consequência do aparecimento da tuberculose, devido aos já mencionados tratamentos desenvolvidos na época. A prática que se iniciou pela procura de um tratamento para a tuberculose, rapidamente se transformou num bem de luxo e bem-estar, só acessível aos mais abastados. Posteriormente, a procura por lugares que beneficiavam das propriedades curativas do ar, deixou de ser feita apenas pelos doentes com tuberculose, e passou a ser feita também por aqueles que, não estando infectados, procuravam manter uma vida saudável. O reconhecimento das estâncias sanatoriais, balneares ou termais, e dos resultados na saúde das pessoas, provém do culto do corpo e da mente - “mente sã, corpo são” (Silva, 2013) - cultivado pelos tratamentos da tuberculose. Este “culto” originou aquilo a que se deu o nome de “jour médical” (Campbell, 2005), que é a procura e a permanência por determinados períodos de tempo ao longo do ano, em estâncias ou lugares com estas características. Este movimento sazonal, em busca de tratamento, originou então o turismo terapêutico, ou o turismo de saúde.

Adiante aprofundaremos mais atentamente o caso da Serra da Estrela, igualmente provido de

condições geográficas e climáticas catalisadoras do desenvolvimento do turismo terapêutico.

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Fig. 39 - Planta da vila de Penacova - 2001

Fig. 40 - Planta do 1ยบ piso do Hotel Penacova S.A.

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III. Projecto 3.1. A pré-existência No início do século XXI, em 2001, a entidade Hotel Penacova S.A., adquire o edifício do an-

tigo Preventório de Penacova. O projecto, sob a responsabilidade do gabinete de arquitectura J. Farelo Pinto Gabinete de Arquitectura Lda, transforma o edifício numa unidade hoteleira com 39 quartos. A transformação realizada acabou por descaracterizar profundamente a identidade do edifício.

A necessidade de fazer corresponder o espaço a um programa exigente e lucrativo, levou à com-

partimentação exagerada do espaço, fazendo com que se perdesse a noção dos espaços interiores amplos e comunicantes entre si. As galerias foram fechadas com vidros no primeiro piso, perdendo-se de alguma forma a relação directa com o exterior e, consequentemente, daquele espaço como extensão do espaço interior para o exterior. No segundo piso, a galeria foi fragmentada, de forma a servir cada quarto com uma varanda privada. O pé direito dos pisos foi reduzido, de maneira a permitir que no último piso, que antes servia apenas como arrumo, se colocassem mais quartos com um pé direito mais confortável. O antigo terraço, que outrora havia desaparecido devido à colocação de uma cobertura inclinada, dava agora espaço a mais quartos, fazendo o edifício crescer em altura e alterando a volumetria original.

O antigo espaço da igreja, onde as crianças e as freiras da Irmandade de Nossa Senhora da

Guia realizavam as suas práticas religiosas, foi transformado em recepção do hotel. Esta transformação, desconsidera o valor histórico e patrimonial daquele espaço em particular. Como já referimos, aquela capela corresponde à Igreja de Nossa Senhora da Guia, que aquando da construção do edifício que viria a ser o Preventório, foi integrada no conjunto. Ao piso de pedra da capela foi sobreposto um pavimento em madeira, o que implicou a subida, ainda que ligeira, da cota de entrada nesse ponto. O pé direito de 8,50 metros do espaço da capela, foi dividido por um piso intermédio, de forma a permitir colocar uma sala de reuniões por cima da recepção. No antigo altar-mor, foram colocadas as escadas que estabelecem a comunicação entre todos os pisos, sendo para isso necessário demolir totalmente o tecto e o pavimento deste espaço. As caixilharias de madeira e ferro, foram substituídas por caixilharias de alumínio pintadas de azul. O edifício foi pintado em tons rosa, pelo exterior, incluindo a própria fachada da antiga capela. 47

Fig. 41 - Alçado Nascente do Hotel Penacova S.A. Fig. 42 - Corte Longitudinal (B) (pela antiga Capela)


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Fig. 43 - Planta do 2ยบ piso do Hotel Penacova S.A. Fig. 45 - Planta do 4ยบ piso

Fig. 44 - Planta do 3ยบ piso Fig. 46 - Corte transversal (A) (pela antiga

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A intervenção estendeu-se também à envolvente do edifício, tendo como objectivo a resolução

de problemas de acessibilidade, criando as infraestruturas necessárias ao funcionamento do programa hoteleiro. A poente do edifício, construiu-se um elevador exterior, que pretendia resolver a diferença de cotas entre o largo do Cruzeiro e a cota de entrada pela antiga Igreja. O antigo posto escolar sofre também algumas intervenções: é-lhe adicionado um piso e um novo plano de fachada para a colocação de uma galeria de distribuição. Esse volume viria a receber alguns serviços de apoio ao hotel, como lavandarias e zonas de apoio à cozinha. A sul é ainda construída uma piscina com as respectivas infraestruturas necessárias, como balneários e zonas de máquinas para tratamento de água, no seu embasamento.

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3.2. Teorias de Restauro e Conservação do Património

“Os mitos vão e vêm, passando a pouco e pouco de um para outro lugar. Cada geração narra-os de

maneira diferente e acrescenta ao património recebido do passado novos elementos. Mas por detrás desta realidade, que muda de uma época para a outra, existe uma realidade permanente que de certo modo consegue subtrair-se à acção do tempo. Nela devemos reconhecer o verdadeiro elemento portador da tradição religiosa. As relações em que o homem se vem a encontrar com os deuses na cidade antiga, o culto que lhes consagra, os nomes por que os invoca, as ofertas e os sacrifícios que lhes tributa são tudo coisas ligadas a normas invioláveis. Sobre elas o indivíduo não tem qualquer poder.” (Rossi, 2001)

Neste capítulo, o estudo de investigações feitas no âmbito do Restauro e Conservação do Patri-

mónio, bem como de convenções ou Cartas, que estabeleçam princípios de intervenção nesse contexto, foi fundamental para poder elaborar a estratégia de reabilitação que propomos para o antigo Preventório de Penacova. Se outrora falámos do lugar, agora o personagem principal é o tempo. O tempo enquanto actor principal no reconhecimento do valor arquitectónico ou patrimonial, enquanto representante de uma época ou período. Na reabilitação, acreditamos que o tempo é sempre matéria do trabalho, ele está presente desde o momento em que optamos por preservar ou recuperar uma determinada característica do edifício, até ao momento em que escolhemos os materiais de acabamento. No final, a obra será o resultado do diálogo entre o tempo passado e o tempo presente, cuja a interpretação estará à responsabilidade do autor(a), do arquitecto(a).

A família de palavras do termo Património, inclusive o próprio conceito de Património, tem

sido objecto de debate desde meados do século XVIII até aos dias de hoje. A definição dos conceitos, e dos limites desses próprios conceitos, gerou diversas interpretações. Assim, apresentamos a definição por parte da UNESCO, que através da Convenção do Património Mundial define património cultural como: 51


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-Os monumentos: obras arquitectónicas, de escultura ou de pintura monumentais, elementos de

estruturas de carácter arqueológico, inscrições, grutas e grupos de elementos com Valor Universal Excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência;

-Os conjuntos: grupos de construções isolados ou reunidos que, em virtude da sua arquitectura, uni-

dade ou integração na paisagem, têm Valor Universal Excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência;

-Os sítios: obras do homem, ou obras conjugadas do homem e da natureza, e as zonas, incluindo os

sítios arqueológicos, com um Valor Universal Excepcional do ponto de vista histórico, estético, etnológico ou antropológico. (Artigo 1º da Convenção do Património Mundial)

O Valor Universal Excepcional, que é aqui referido, “significa uma importância cultural e/ou

natural tão excepcional que transcende as fronteiras nacionais e se reveste de uma importância comum para as gerações actuais e futuras de toda a humanidade.” (Artigo 1º da Convenção do Património Mundial). O Património, é então uma representação da identidade de um determinado povo ou cultura, cujo valor transcende os limites físicos do lugar, e atinge uma importância de valor global, para toda a Humanidade. Por outras palavras, o valor patrimonial de um objecto não reside no objecto por si só, ele depende da identidade das pessoas, dos seus costumes e tradições, ele reside, na verdade, nas pessoas.

Segundo Françoise Choay34, historiadora francesa do século XX, o Património é hereditário, é

um “bem de herança que passa, de acordo com as leis, dos pais e das mães para os filhos” (Choay, 2014). A sua preservação ao longo dos anos, à passagem do tempo, dependerá do respeito e consideração que o homem terá por determinado objecto. A conservação do Património é responsabilidade do homem, a ele caberá a decisão que influenciará o seu futuro. Acima de tudo, o arquitecto tem uma função determinante quando é chamado a intervir em contexto patrimonial. Este deve possuir capacidade crítica e conhecimento suficiente, e isso deve reflectir-se na sua intervenção, valorizando o Património.

A Carta de Atenas de 1931, refere que se “(…) recomenda que se mantenha a ocupação dos mo-

numentos, que se assegure a continuidade da sua vida consagrando-os contudo a utilizações que respeitem o seu caráter histórico ou artístico”. Portanto, a utilização do espaço é o meio através do qual a conservação do Património, dos monumentos e dos edifícios, é conseguida. Contudo, a sua utilidade deverá ser elegida tendo em conta as suas próprias exigências, e quais as consequências que terá para o edifício. A exploração exagerada de um edifício, para a integração de um determinado programa, acabará na maioria das vezes por descaracterizá-lo. 34. Fraçoise Choay (1925-). Historiadora das teorias e formas urbanas e arquitectónicas, leccionou na Universidade de Paris sobre urbanismo, arte e arquitectura. Colaborou na edição de revistas como L’Observateur, L’OEil e Art de France. Dirigiu a secção parisiense da Art International, nos anos 60 do século XX. Publicou diversos estudos sobre Arquitectura, Urbanismo e o Património, destacando-se: O Património em Questão: Antologia para um combate, Alegoria do Património e A Regra e o Modelo.

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Fig. 47 - Planta de Análise do Território Centro histórico - Vias principais - Rio - Área de inundação - Área Verde Protegida

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O ponto de partida para a elaboração do projecto de reabilitação do antigo Preventório de Pe-

nacova, foi o reconhecimento de que esta se tratava de uma acção sobre uma pré-existência, padecendo ou não de valor patrimonial reconhecido. Neste caso, é importante esclarecer que não lhe é atribuído formalmente um valor patrimonial. Não obstante, acreditamos que o valor deste objecto reside na representatividade que adquiriu na rede assistencial promovida por Bissaya Barreto, bem como na importância que representa naquele território e na sua relação com a paisagem. A adicionar a esses motivos, o edifício integra o limite que define o centro histórico da vila e a parte arborizada do Monte da Guia, considerada pela Câmara Municipal de Penacova como Área de Protecção e Enquadramento35. A intervenção que propomos faz parte de uma estratégia de revitalização urbana, e por isso, integra alguns edifícios do centro da vila. O mirante Manuel Emídio da Silva, construído pelo arquitecto italiano Nicola Bigaglia em 1908, bem como as duas pérgulas construídas pelo arquitecto Raúl Lino em 1918, são exemplos de algumas construções que integram a nossa proposta e que comportam valor histórico e arquitectónico. Os restantes edifícios que integram a estratégia urbana proposta, são escolhidos por fazerem parte da história daquela vila, e o estado de conservação36 em que se encontram, em nada lhes faz corresponder o valor que representam para o lugar e os seus habitantes.

De seguida, ao analisarmos mais profundamente a história e evolução do lugar e do edifício

do antigo Preventório, identificamos as qualidades e os valores da pré-existência. Algumas dessas características foram esquecidas com o passar do tempo e com as diversas intervenções feitas. Nesses casos, é feita uma reflexão crítica, que conduz a uma interpretação própria, sem esquecer a história (Távora, 1947). Nessas interpretações, procuramos uma continuidade na linguagem material e construtiva, mas ainda assim permitindo a leitura da passagem do tempo. A atitude que defendemos, tem que ver com a consolidação das características correspondentes à fase inicial do edifício, e para isso, quando necessário, são demolidos os elementos que impedem essa leitura. A opção pela recuperação das características desse período, resulta do processo analítico à história do edifício, no qual entendemos aquele tempo como o correspondente a uma unidade e coerência totais entre forma, função e construção.

35. ARU (Área de Reabilitação Urbana) 36. Consultar ARU

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Fig. 48 - Termas de Vals - vista sobre a piscina exterior e a paisagem

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3.3. Casos de Estudo 3.3.1. Termas de Vals, Peter Zumthor

A referência a este projecto surge como representativa da relação entre a paisagem e o programa

de bem-estar e saúde no contexto actual, contemporâneo. A relação entre os dois, como vimos, teve um grande impacto durante o período epidémico da tuberculose. Numa fase tardia desse período, a relação entre paisagem e saúde desencadeou diferentes modalidades de turismo: turismo terapêutico e turismo de saúde. Já nesse período, a procura por estâncias termais ou balneares era frequente. Neste caso, as Termas de Vals representam uma continuidade dessa relação para o período contemporâneo, surgindo num momento em que essas modalidades de turismo estão já consolidadas e são adoptadas por inúmeras pessoas. Em particular, as características arquitectónicas deste edifício, simbolizam a perfeita harmonia entre a intervenção, o lugar e a paisagem, características essas, que nos interessam salientar como complemento à proposta que mais adiante apresentaremos.

Vals é uma vila suíça localizada no cantão de Grisões (Graubünden), um conjunto de vales alpi-

nos, a 1.250 metros acima do nível do mar, conhecida pelas inúmeras nascentes e qualidade excepcional da água. O desenvolvimento e melhoramento das vias de comunicação rodoviária e ferroviária, permitiram o progresso do turismo na localidade. O concurso lançado para a construção de um hotel e estância termal, surge como contributo para essa evolução turística pretendida pela comunidade. As premissas do concurso ditavam que a proposta deveria integrar o complexo hoteleiro existente, implantar-se junto à nascente e não impedir a vista entre a pré-existência e a paisagem, tendo por isso que ser construído abaixo do nível do hotel37.

A proposta do arquitecto Peter Zumthor ganha o concurso em 1986, tendo sido inaugurada

dez anos depois. O novo edifício é construído tirando partido da topografia, no qual o programa se desenvolve em dois pisos semi-enterrados sob uma cobertura ajardinada, estabelecendo uma continuidade com o terreno natural e integrando a construção na paisagem. As termas desenvolvem-se longitudinalmente na direcção norte/sul, mas é na direcção perpendicular que “O edifício cresce para fora da montanha 37. Copans, R. Les Thermes de Pierre. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=c5A3SfGLo0U&feature=BFa&list=HL1353724964

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Fig. 49 - Implantação geral das Termas de Vals


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Fig. 50 - Plantas dos pisos 1 e 2 Fig. 51 - Corte Longitudinal (A) e Corte Transversal (B)

Fig. 52 - Termas de Vals - percurso, espaços de banho e descanso e a sua relação com a paisagem

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e em direcção à luz”38 (Zumthor, 2007).

A organização espacial das termas parte de uma ideia de escavação da montanha, da qual resul-

tam grandes blocos de pedra dispostos sobre uma plataforma, criando uma relação entre cheios e vazios, entre interior e exterior. Os blocos de pedra contêm o programa de balneários, salas de banhos, salas de massagem e relaxamento, sauna, banho turco e, a sua disposição na plataforma em que pousam, definem os espaços de circulação, as aberturas para a paisagem, a piscina exterior e algumas zonas de relaxamento ao ar livre. A deslocação entre estes blocos é livre, não há um percurso pré-determinado, o visitante poderá descobrir o espaço à sua vontade. A disposição destes volumes na plataforma, filtra e controla a intensidade da luz, que penetra pelos grandes vãos da fachada sul nos variados espaços, incitando ao movimento do corpo à descoberta da paisagem. Por isso, o desenho dos percursos adquire uma importância significativa neste projecto, tendo o mesmo cuidado e detalhe que os espaços de banho - “Trabalhar na forma e na disposição dos blocos significa sempre trabalhar no percurso e forma do espaço-entre.”39 (Zumthor, 2007).

Cada bloco de pedra tem a sua laje de cobertura, independente, criando um espaço vazio entre

os vários volumes para as juntas, permitindo que o complexo funcione mecanicamente face às variações de temperatura. O desenho das juntas repete-se no pavimento, aí servindo para conduzir a água no espaço interior. Apesar da fragmentação gerada pelas juntas da cobertura e pelo espaço da piscina exterior, que é deixado aberto, a leitura da unidade do conjunto não é posta em causa.

As salas de banho têm características espaciais e materiais distintas, bem como propósitos dife-

rentes. Cada uma procura desenvolver ou accionar uma sensação específica no visitante. O controlo da iluminação, e por vezes a introdução de cor, e a variação da temperatura da água permitem que haja esta distinção entre as salas. Em comum têm a existência da água e da pedra, símbolos do lugar.

Peter Zumthor, revela-nos um interesse pela exploração da experiência sensorial através da

arquitectura, que se materializa no dimensionamento dos espaços - a escala -, nos jogos de luz e sombra, na relação controlada com a paisagem e na escolha dos materiais e texturas. Existe um gosto e sensibilidade no desenho detalhado da relação entre os diferentes elementos que compõe o projecto, transversal a toda a sua obra. Subjacente ao programa pretendido, são explorados temas que irão ser fundamentais na definição do projecto. No caso das Termas de Vals, o ritual do banho foi um desses temas, sendo por isso importante o desenho do percurso ao longo dos diversos espaços, a transição entre espaços apertados e amplos, águas quentes e frias, espaços sombrios e de iluminação natural, conseguida pelo engenhoso domínio da escala e da luz, provocando sensações corporais que transformam a experiência espacial através da experiência sensitiva.

38. Citação original: “The building grows out of the mountain and into the light.” 39. Citação original: “Working on the shape and arrangement of the blocks always meant working on the course and shape of the meander.”

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Fig. 53 - Implantação da Casa das Penhas Douradas

Fig. 54 - Vista aérea Serra da Estrela, Penhas Douradas 1 - Hotel-Pensão Montanha 2 - Casa da Guardo do Alto da Serra 3 - Vila Alzira 4 - Casa Moinho de Vento 5 - Casa do Seixo 6 - Casa da Encosta 7 - Antigo Observatório do Poio Negro 8 - Casa das Águias 9 - Capela 10 - Observatório Metereológico das Penhas Douradas

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3.3.2. Casa das Penhas Douradas, Pedro Brígida Arquitectos

A Casa das Penhas Douradas, está localizada na Serra da Estrela, a segunda maior cadeia mon-

tanhosa de Portugal. Esta cordilheira assume a divisão do país em duas regiões, a Beira Alta e a Beira Baixa, e desenvolve-se na direcção nordeste/sudoeste, a partir do planalto da Guarda. Separa-se do Caramulo “pelo vale do Mondego, até ao vale de Ancião, a oeste da Serra da Lousã, vale rectilíneo e meridiano que liga a bacia do Mondego e a depressão Lousã-Arganil à bacia do Tejo” (Silva, 2009). Ali nascem três rios: o Mondego, o Zêzere e o Alva.

A altitude da Serra da Estrela, aliada à proximidade ao Oceano, criam um clima que desde cedo

interessou aos médicos que estudavam os tratamentos helioterapêuticos e climatoterapêuticos aplicados na tuberculose. A partir de 1881, fizeram-se expedições para estudar as condições climatéricas da serra, e no ano seguinte, iniciava-se a primeira experiência de tratamento neste local: o paciente Alfredo César Henriques, a mando do médico Sousa Martins40 (Silva, 2009). Rapidamente o fenómeno da Serra da Estrela se expandiu, e em 1890, Sousa Martins pedia aprovação ao governo para construir um conjunto de sanatórios, comparando o caso ao de Davos (Silva, 2009). Esse era o objectivo pretendido para este local, à semelhança da vila Suíça, criar “complexos turísticos com a maior auto-suficiência possível, constituídos como pequenas colónias, aldeias ou até mesmo cidades, como as de Davos, Leysin e Arcachon (…)” (Silva, 2009).

A Pensão Estrela (Silva, 2009), era um destes equipamentos turísticos que integrava “a mais alta

estância de montanha em Portugal”41, as Penhas Douradas, a 1500 metros de altitude. Apesar de não se saber qual a data da sua construção, sabe-se que terá sofrido dois incêndios que causaram enormes estragos, e posteriormente terá sido recuperada e transformada em hospedaria (Silva, 2009). A partir do ano de 2000, o edifício foi transformado em hotel rural, servindo o turismo de natureza, denominado de Casa das Penhas Douradas, projecto da autoria do arquitecto Pedro Brígida. Desde aí, sucessivas intervenções 40. José Tomás de Sousa Martins (1843-1897). Médico português e professor catedrático da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, dedicou-se ao combate à tuberculose. Participou, em 1881, na expedição científica à Serra da Estrela, organizada pela Sociedade de Geografia de Lisboa, da qual resultou a construção de diversos Sanatórios, destinados ao tratamento da tuberculose através da climatoterapia. As Penhas Douradas, eram consideradas pelo médico como o lugar mais saudável do país, devido ao ser ar puro e fresco. 41. Memória Descritiva. Disponível em: www.pedrobrigida.com/casa-das-penhas-douradas.html

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Fig. 55 - Covilhã, Serra da Estrela Fig. 56 - Penhas da Saúde, Serra da Estrela


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Fig. 57 - Faseamento de construção - pré-existência; 1ª fase (2000-2006); 2ª fase(2008) Fig. 58 - Planta do piso -1

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Fig. 59 - Planta do piso 0 Fig. 60 - Planta do piso 62 1

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têm sido feitas, de modo a permitir o albergamento de um maior número de pessoas. Inicialmente42, o programa previa a instalação de apenas 10 quartos, piscina coberta e spa, sala de estar e cozinha. Mais tarde, em 2008, iniciam-se novas obras que propõe a integração de mais 10 quartos, perfazendo um total de 20, que se desenvolvem em novos volumes adicionados ao restante conjunto. Estas adições não foram planeadas desde o princípio, surgiram por vontade dos donos da obra de fazer crescer o seu negócio, e por isso, a caracterização dos diferentes volumes espelha as diferentes fases de construção43.

O conjunto parte de uma construção pré-existente, a antiga Pensão Estrela, o corpo central

do qual foram limpos os acrescentos, ficando apenas a forma depurada, rectangular. A esse volume “se acrescentaram novos volumes por extrusão do seu perfil”44. No corpo central, pré-existente, funciona a sala de refeições e um espaço de apoio à recepção, no primeiro piso, e no piso superior, três quartos e uma casa de banho de apoio à sala de estar do novo volume que se desenvolve para sul. Este, um corpo vermelho contíguo ao pré-existente, contém duas salas de estar e o acesso por escadas a um corredor no piso inferior, que dá acesso aos quartos e à piscina. Os quartos funcionam sob uma plataforma à cota de assentamento da construção pré-existente, e orientam-se a nascente, onde estabelecem contacto visual com a paisagem. O volume da piscina, “programada e projectada durante a obra”45, define o limite sul do complexo. Nesse volume, para além da piscina, estão ainda os espaços referentes ao spa, as salas de massagens e relaxamento.

Na segunda fase do projecto, é adicionado um volume a norte da pré-existência, seguindo as

mesmas regras do volume de betão vermelho, mas desta vez com um ligeiro afastamento em relação ao corpo central e um acabamento em madeira. Este volume, adquire características próximas às de um chalé suíço, pela utilização da madeira no revestimento interior e exterior, comum nesse tipo de construções de montanha. Aí funciona, no primeiro piso, uma zona dedicada ao staff do hotel, e no segundo estão três quartos e uma sala de estar. A poente do terreno surge um novo volume, semi-enterrado, de nível com o volume da pré-existência. Neste corpo são colocados os restantes sete quartos, e à semelhança do que acontecia no corpo dos quartos construído na primeira fase, um corredor enterrado permite aceder-lhes. Mais uma vez, os quartos viram-se a nascente, para a paisagem. É ainda feita uma ligação que dá continuidade a esse corredor dos quartos, que permite aceder à zona da piscina e do spa.

De um modo geral, e como já referimos, a intervenção parte de um edifício pré-existente,

que define a orientação e a forma segundo as quais são desenhados os novos volumes. Estes dispõem-se seguindo a orientação norte/sul, estabelecendo uma relação de continuidade ou paralelismo com a pré-

42. O período correspondente à primeira fase do projecto é compreendido entre 2000 e 2006. 43. Memória Descritiva. Disponível em: www.pedrobrigida.com/casa-das-penhas-douradas.html 44. ibid. 45. ibid.

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Fig. 61 - Cortes transversais A e B Fig. 62 - Corte longitudinal C e Alçado Nascente


Fig. 63 - Casa das Penhas Douradas Fig. 64 - A relação com a paisagem

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-existência. No corpo central, desenvolve-se o programa de carácter social, ou seja, a recepção, as salas de estar e de refeições, bem como os acessos ao piso superior e inferior. O programa dos quartos é colocado em dois volumes, um a poente e outro a nascente do edifício pré-existente. Estes volumes estão parcialmente enterrados e a sua “volumetria dissimulada na topografia”46, apenas a fachada nascente é aberta para a paisagem. A piscina é tratada de forma diferente, a sua volumetria é assumida e segue uma orientação ortogonal ao restante conjunto.

As premissas deste projecto são bastante simples e objectivas, e são mantidas nas diferentes

fases de construção, distinguindo-se apenas a linguagem material utilizada, permitindo uma leitura da passagem do tempo.

“O resultado é fruto de um processo complexo de descoberta contínua e progressiva do caminho a

seguir. Longe de ser intencional ou desejável, o pouco ortodoxo contexto de imprevistas acelerações combinadas com diferentes mudanças de direcção, acabou por ser motivo e consequência. A estratégia foi não ter estratégia, rígida pelo menos. Virtude ou fraqueza?”47

46. Memória Descritiva. Disponível em: www.pedrobrigida.com/casa-das-penhas-douradas.html 47. ibid.

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3.4. Proposta de Reabilitação do antigo Preventório de Penacova 3.4.1. O Programa

A discussão em relação ao programa de intervenção foi persistente e determinante ao longo do

desenvolvimento do trabalho, tendo sido colocadas várias hipóteses. De um modo geral, pretendia-se um programa que tirasse partido da circunstância topográfica e paisagística do lugar com uma componente de albergamento, que permitisse a revitalização da vila e, mais tarde, lhe atribuísse um reconhecimento a nível nacional e/ou internacional.

Inicialmente, a opção estudada foi a de um programa de alto rendimento associado à escalada

e montanhismo, uma vez que a paisagem envolvente se enche de rochas ideais para a realização destes desportos e todo o ambiente envolvente convida à realização deste tipo de actividades, mesmo que de forma lúdica. A própria região tem já uma grande rede de percursos onde se podem realizar actividades ao ar livre como: montanhismo, BTT e trail. Apesar disso, a criação de um estabelecimento de alto rendimento implicaria um conjunto de condições às quais não é possível responder sem desrespeitar e desconfigurar ainda mais a morfologia do Monte da Guia. O acesso a veículos de transporte de atletas, não seria possível devido à largura da rua que faz a ligação do centro da vila ao antigo Preventório, assim como o conjunto de obras necessárias de infraestruturação, viriam a degradar e a descaracterizar ainda mais a envolvente próxima daquele lugar. Para além disso, o necessário isolamento dos atletas seria difícil de assegurar neste local, pois implicaria encerrar o acesso turístico e dos próprios habitantes ao cabeço do Monte da Guia.

Num segundo momento, e tirando partido das qualidades paisagísticas daquele lugar, foi su-

gerida a aposta num programa idêntico ao das Termas de Vals, na Suíça, do arquitecto Peter Zumthor, construída em 1996. Os efeitos curativos da paisagem, em relação com o turismo, recuperavam de certo modo a função ligada à saúde que existia no Preventório, e aproximava-se da ideia conseguida na pequena vila de Vals. Embora em Penacova não existam águas termais, existe uma companhia de engarrafamento de águas48, o que justifica o programa de bem-estar associado a banhos terapêuticos e de 48. Água Mineral Natural das Caldas de Penacova.

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relaxamento, fazendo-se, por isso, uma adaptação ao programa das termas, que denominamos de Spa. Para complementar esta opção, importa referir que o programa turístico proposto, pretende restabelecer e reforçar algumas relações com a cidade de Coimbra e o Luso, recuperando o denominado triângulo do turismo49. Em Coimbra, o turismo tem já uma estrutura consolidada e autónoma, dando resposta a um grande número de pessoas em diferentes áreas de interesse, e o Luso oferece ao público a qualidade das suas águas termais, bem como a relação próxima com a paisagem da Serra do Buçaco, sendo uma aposta frequente no que diz respeito ao turismo terapêutico. Em Penacova, ainda que a oferta de actividades seja considerável e interessante, como vimos no parágrafo anterior, existem poucas estruturas de qualidade que convidem à estadia mais prolongada na vila. A vila funciona como ponto de passagem, eventualmente de paragem por umas horas para realizar alguma actividade lúdica, mas de imediato se regressa a Coimbra. É certo que a proximidade e a facilidade de acesso a Coimbra permitem que isso aconteça, além obviamente, da incomparável variedade de oferta, mas não invalida a necessidade da criação de um programa hoteleiro de qualidade que resolva a questão da permanência.

Desta reflexão, resulta portanto um programa que pretende aliar as qualidades paisagísticas

oferecidas pelo lugar, ao turismo terapêutico e de lazer. Para esse efeito, é proposta a reformulação do programa hoteleiro actual, recuperando algumas características e qualidades do antigo Preventório.

49. http://www.freguesiadepenacova.pt/conteudos.php?id_ct=22 consultado a 10 de Janeiro de 2019. Triângulo turístico: Coimbra, Penacova-Lorvão, Luso-Buçaco.

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Fig. 65 - Penacova e o Monte da Guia - relação com a paisagem

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3.4.2. A Proposta

O culminar do processo analítico à história e evolução do lugar ocupado pelo Preventório de

Penacova, bem como do esclarecimento das características que transformam este espaço num lugar,

Demolições

termina na elaboração de uma proposta que procura resgatar essas qualidades do lugar que entretanto se perderam.

O percurso em ziguezague da estrada nacional, acompanha o rio Mondego à medida que nos

aproximamos de Penacova. Aí chegados, identificamos a vila pela presença do antigo Preventório no promontório do Monte da Guia. Na aproximação à vila, seja a partir de Coimbra pela estrada nacional 110 ou o IP3, seja pelo sentido norte a partir de outra qualquer vila em redor, o ponto de referência é o antigo Preventório. A estrada leva-nos a contornar o Monte da Guia, à cota baixa, ainda próximos do rio, para subirmos e acedermos ao centro da vila. O ponto de referência que anteriormente nos indicava a chegada a Penacova mantém-se, estando agora mais próximo mas parcialmente escondido pelos edifícios do centro histórico. Ainda assim, é possível vê-lo através de alguns espaços vazios entre edifícios ou de uma das pérgulas construída pelo arquitecto Raúl Lino. Acedemos à rua Conselheiro Fernando de

Altimetrias

4 pisos

3 pisos

2 pisos

1 piso

Mello, e à medida que vamos avançando, as construções vão desimpedindo a vista e torna-se claro que o antigo Preventório é a imagem de fundo daquele percurso. Em última análise, este é o objectivo de todo o percurso.

Apesar do valor autónomo daquele objecto na paisagem de Penacova, este necessita de uma es-

tratégia de conjunto que estabeleça uma relação forte com o centro da vila. O facto de ocupar um ponto de destaque na paisagem daquele lugar e, por isso, de poder ser visto de todo o lado, não impede que necessite de uma intervenção que clarifique e intensifique as relações que estabelece com outros pontos da paisagem daquela vila. Para isso, a proposta prevê a recuperação de algumas casas com valor histórico e até arquitectónico, de forma a estabelecer ao longo da rua que conecta o centro da vila ao Preventório, a rua Conselheiro Fernando de Mello, programas complementares ao programa turístico proposto, perEdíficios de interesse a integrar a proposta urbana

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N

Fig. 66 - Intervenção urbana


Limites do Monte da Guia: 1930

Spa

Hotel

1960

Restaurante

Estacionamento

Fig. 67 - Síntese da Proposta de intervenção

N

Fig. 68- Planta Geral de Intervenção

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mitindo que algumas habitações, através de ajudas de custo, possam também servir o turismo local50.

No seguimento da intervenção urbana de clarificação, são demolidas algumas construções cujas

condições já não se verificam satisfatórias, e cujo valor histórico ou arquitectónico são nulos. É o caso do antigo Centro de Saúde51, actualmente descaracterizado em relação à sua fase inicial, não se justificando uma operação de recuperação ou reposição da sua forma original. A sua demolição deve-se também ao facto de impedir a comunicação visual entre a vila e o edifício do antigo Preventório. É apenas mantida a pequena igreja que fazia parte do conjunto, por exercer uma importante mediação de escala entre o largo do Cruzeiro e o edifício do antigo Preventório. O elevador exterior, construído no princípio do século XXI, é também demolido por se considerar inadequado, desnecessário e proveniente de uma proposta que veio descaracterizar ainda mais a morfologia do Monte da Guia.

É proposta a repavimentação da rua Conselheiro Fernando de Mello, possivelmente a mais

antiga da vila, o que permitirá uma circulação mais confortável à população residente, na sua maioria idosos, mas também lhe irá conferir mais dignidade, fazendo jus ao valor histórico que representa. O novo pavimento estende-se pelo largo do Cruzeiro, redefinindo e clarificando aquele espaço como pequena praça de recepção ao Monte da Guia, que actualmente se verifica um pouco confuso e quase como espaço secular. Recordemos que o espaço em causa contém o pelourinho atribuído por D. Manuel I, merecendo por isso alguma dignidade na sua configuração.

No espaço circundante ao antigo Preventório, é proposta uma redefinição dos limites do Mon-

te da Guia, reduzindo as suas dimensões, de forma a aproximar-se da morfologia que teria nos anos 30 do século XX52. Dentro desse novo limite é desenhada uma estrutura de muros de betão e plataformas, que consolidam o suporte dos edifícios que nela poisam: a antiga capela do Centro de Saúde e o antigo Preventório. Essa plataforma define o largo do Cruzeiro a nascente e daí partem dois percursos possíveis: a norte, um percurso que dá acesso ao mirante Manuel Emídio da Silva e à entrada nascente do spa; a sul, uma rampa de acesso à plataforma de nível com a capela do Centro de Saúde e com a entrada poente do spa. A partir desta última plataforma, é ainda possível aceder a umas escadas que permitem subir até à entrada da antiga capela de Nossa Senhora da Guia. Outra hipótese, será descer uma rampa que levará ao encontro com o outro percurso e por consequência, ao mirante e à entrada nascente do spa. Através de rampas, sempre que possível, ou escadas, tentamos estabelecer relações entre as plataformas que estão a diferentes cotas do terreno: a cota do largo do Cruzeiro, a cota da igreja do Centro de Saúde, a cota da entrada poente no antigo Preventório e a cota de entrada nascente no mesmo edifício. Por fim, no que diz respeito à intervenção urbana, privilegiou-se o acesso pedonal, impedindo a circulação automóvel em torno do Monte da Guia. Ainda assim, é desenhado um estacionamento, com acesso pelo largo do Cru50. Consultar Figura 67. 51. Este edifício corresponde ao antigo Hospital da Misericórdia, que na década de 60 do século XX se transformou em Centro de Saúde. 52. Consultar Figura 16.

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B

A

C

Fig. 69 - Planta do 3ยบ piso da Proposta - acesso ao Hotel pela fachada nascente

N

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zeiro, que fica por baixo da plataforma onde assenta a igreja do Centro de Saúde, que servirá sobretudo os trabalhadores do hotel e do spa.

O ponto de partida para o desenvolvimento da proposta, foi a análise das diferentes fases, tanto

do Monte da Guia, para a intervenção de revitalização urbana, como do antigo Preventório, para a reabilitação do edifício. Assim, a primeira tarefa realizada foi o restabelecimento da forma original do edifício. Isso implicou abrir espaços de janelas que foram tapadas, abrir as galerias ao exterior, retirando os vidros, remover o piso acrescentado ao edifício do lado nascente, recuperar as pinturas das fachadas, e demolir alguns elementos, como as escadas do hotel, que ocupavam o espaço correspondente ao altar-mor da capela, o piso intermédio da capela, a piscina e respectivos balneários, os elevadores, bem como o corpo do antigo posto escolar.

Após este gesto de limpeza dos excessos que impediam a leitura da forma original do edifício,

seguiu-se a interpretação de alguns elementos que já não existem, e que compunham o interior dos espaços. Em primeiro lugar, a reinterpretação dos caixilhos de madeira do Preventório, cujo desenho foi apenas possível através da análise das fotografias, que permitiram compreender a sua dimensão e forma de abertura. Relativamente à caixilharia, nalguns casos esta era fixa e de ferro, como na sala de refeições, na sala de estar e nos quartos das freiras. Na proposta, esta caracterização dos vãos é devolvida, permitindo que os espaços comuns, sociais, tenham a mesma linguagem. Em segundo, uma interpretação contemporânea das divisórias de madeira que o arquitecto Luis Benavente desenhou para o Preventório, e que exercem, igualmente, a função de separação dos espaços. Estas divisórias assumem agora a forma de módulos de madeira, contendo as instalações sanitárias de cada quarto e espaços de arrumo.

A escada do primeiro piso, que estava colocada a eixo com a entrada nascente do edifício, foi

redesenhada, através de uma interpretação feita à planta de vermelhos e amarelos da fase de licenciamento da transformação feita no início do século XXI. Resgata-se esse elemento da entrada nascente, com uma interpretação da escada que ali existia, recorrendo à madeira como material predominante em toda a proposta. A partir deste espaço de entrada, com a escada como elemento central, acedemos à recepção do hotel. Ainda nesse piso, após entrarmos, temos à esquerda uma sala de estar, que se pode estender para a galeria, com instalações sanitárias de apoio, e à direita a sala de refeições. O antigo refeitório mantém a sua função, sendo apenas necessário recuperar os pavimentos e o lambris, que identificámos através das fotografias.

No núcleo central do edifício, adjacente a estas escadas às quais nos acabámos de referir, são

colocados dois elevadores, num plano recuado em relação ao da escada, a norte destas. Nas diversas fases por que passou, o edifício nunca teve as escadas bem resolvidas, apenas o momento da entrada nascente, na fase inicial, resolvia correctamente a questão. Nessa fase, a relação com os pisos superiores era caótica, 75

Fig. 70 - Alçado Nascente da Proposta Fig. 71 - Corte Longitudinal (A)


B

A

C

B

A

C

Fig. 72 - Plantas dos pisos 4 e 5 da Proposta (Hotel)

N

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tendo escadas dispersas nos pisos seguintes. Na última fase, referente ao hotel, foi demolido o espaço do altar-mor para resolver os acessos verticais, que como vimos, não representa uma boa solução. Por isso, para resolver este problema, as escadas são concentradas naquele núcleo central do edifício, num gesto de continuidade com as escadas do primeiro piso, que marcavam o momento de entrada pela fachada nascente. A única excepção é feita no acesso ao último piso, para o qual é utilizado um corpo de escadas distinto.

Nos dois pisos superiores funcionam os quartos, perfazendo um total de 12, seis em cada

piso, visto ter-se reduzido a compartimentação excessiva feita pelos anteriores intervenientes, procurando assim recuperar a concepção espacial do antigo Preventório, composta por espaços mais amplos. Nas antigas salas de aula, localizadas no terceiro piso do edifício, são recuperados os lambris de ardósia, atribuindo por isso uma característica diferente aos quartos que aí funcionam. Os quartos são desenhados em três tipologias distintas: um quarto com cama de casal e instalação sanitária completa; um quarto com cama de casal, uma instalação sanitária e uma zona de duche, separadas; e um quarto com cama de casal, instalação sanitária completa e kitchenette. Tanto no corpo de quartos a norte como a sul, os quartos virados para a vila, a poente, correspondem à primeira tipologia referida. A segunda tipologia, é aplicada aos quartos que ocupam o espaço central. E por fim, a terceira tipologia é aplicada aos quartos que beneficiam do espaço das galerias, a nascente.

No segundo piso, o espaço da capela é recuperado e é respeitada, tanto quanto possível, a me-

mória da sua existência. É retirado o pavimento de madeira colocado por cima do antigo pavimento de pedra da capela, e são colocados bancos no corpo principal, permitindo o funcionamento como espaço de culto. Apesar desta operação de recuperação do espaço religioso, este servirá como um pequeno auditório, onde se poderá realizar eventos musicais, por exemplo.

No último piso são desenhadas duas salas de refeições pertencentes a um restaurante, cuja

cozinha funcionará no primeiro piso e que trabalhará de forma independente em relação ao programa hoteleiro. O acesso a estas duas salas é feito através de um espaço-entre (Zumthor, 2007), um hall central ao qual se acede apenas por um dos elevadores do edifício ou através da escada, localizada no terceiro piso junto ao corredor do quartos do corpo sul. Na sala de refeições a norte, é colocado um elevador monta-pratos comunicante com a cozinha. Neste espaço, é proposta uma cobertura plana, que pelo exterior é vista como dois volumes de zinco afastados 30 centímetros da platibanda, numa atitude que pretende assumir estes dois corpos perante a volumetria geral do edifício. Ou seja, do lado poente, observando o edifício desde a vila, identificamos dois volumes assumidos verticalmente que ladeiam a fachada da antiga capela de Nª Srª da Guia. No interior, esta cobertura funciona como uma grande viga de madeira que percorre o perímetro da sala, afastando-se ligeiramente das paredes exteriores. O ritmo do tecto é marcado por uma estrutura de vigas de menores dimensões, que funcionam na dimensão transversal da 77

Fig. 73 - Alçado Poente da Proposta Fig. 74 - Corte transversal B


B

A

C

Fig. 75 - Planta do 6ยบ piso da Proposta (Hotel) Fig. 76 - Corte Longitudinal C

N

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sala. Ainda nesse piso, o espaço do terraço é recuperado, acessível pelo hall central, servindo agora como extensão do restaurante para o exterior, podendo também ser aí servidas algumas refeições. As janelas das salas de refeições adquirem a característica dos restantes espaços sociais do edifício, e por isso a sua caixilharia é de ferro.

Do ponto de vista material, são demolidos todos os pavimentos do antigo hotel, para que se

possam repôr assim os de soalho de madeira existentes no Preventório, sob uma estrutura de vigas de madeira. Como sabemos, o edifício é construído com paredes em alvenaria de pedra, caiadas, sendo que existem alguns elementos construídos em betão armado: as galerias, algumas paredes exteriores e o pavimento do terraço no último piso. Isto significa que, no 3º piso, o segundo piso de quartos, os quartos mais a nascente, com acesso às galerias, tenham o tecto em laje de betão e não a estrutura de vigas de madeira. No fundo, à excepção desta situação, o pavimento, os módulos das instalações sanitárias e a estrutura do tecto são de madeira e funcionam dentro de um limite de pedra e betão, definido pelas paredes estruturais do edifício. Esta abordagem pretende demonstrar um respeito e consolidação do pré-existente, propondo o novo como funcionando no interior desse limite de forma independente, podendo ser retirado caso se proceda a uma nova alteração de uso, ficando assim apenas as paredes de pedra e betão originais do edifício.

Devolvemos ao edifício a sua cor clara e amarelada (Carvalheira, 2012), próxima ao que seria

a sua cor original, nas paredes interiores e exteriores. A fachada da capela também é pintada na sua cor original, que seria o branco. A ligeira diferença entre estas duas cores, permite que, na fachada poente, se possa distinguir a capela do restante conjunto, que em última análise representa dois momentos na história distintos: o da existência apenas da capela de Nª Srª da Guia - branco -, e o correspondente à construção do Preventório - amarelado.

Sob a estrutura de betão e plataformas, desenvolve-se finalmente o spa. A nova construção

funciona sempre abaixo da cota do antigo Preventório e, de um modo geral, o spa desenvolve-se em dois espaços, um a nascente do antigo Preventório e outro a poente, ligados por um corpo a sul.

O acesso ao edifício pode fazer-se pelo interior do hotel através dos elevadores que conectam

a pré-existência e a nova construção, ou pelo exterior, por duas entradas, uma a nascente, a principal, e outra a poente. A entrada a poente, virada para a vila, mais modesta e discreta, surge com o propósito de dar acesso a dois consultórios médicos no segundo piso do spa, apesar de também permitir aceder ao restante edifício. Estes dois consultórios, surgem como complemento ao programa de massagens e relaxamento, oferecendo aos utilizadores um apoio médico e terapêutico. A entrada nascente, virada para a paisagem, obriga os visitantes a percorrer todo o espaço exterior até ao mirante. Aí, a estrutura de betão é recortada e possibilita uma zona de sombra antes da entrada no edifício. 79

Fig. 77 - Pormenor da Entrada no Spa - Alçado Nascente


B

A

C

B

A

C

Fig. 78 - Plantas dos pisos 1 e 2 da Proposta (Spa)

N

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Ao acedermos ao edifício pela entrada nascente, de nível com o mirante, encontramos a recep-

ção e os balneários, além do corredor que dá acesso aos elevadores ou ao estacionamento. O acesso ao piso superior é feito, após a passagem pelos balneários, por uma escada que conduz o percurso à galeria do segundo piso. Esta galeria desenvolve-se longitudinalmente, com a direcção norte/sul, e dará acesso à piscina. Junto à fachada nascente, adjacente à piscina, uma zona de relaxamento. A piscina, com 1,5 metros de profundidade, permite realizar exercícios terapêuticos e de relaxamento. A grande janela virada a sul, da largura da piscina e com 2,6 metros de altura, permite estabelecer uma relação com a paisagem desde este espaço, bem como iluminá-lo, assim como à galeria. Se continuarmos o percurso pela galeria, em direcção a sul, entramos no corpo que faz a transição entre o espaço da piscina e das salas de terapia. Neste corpo temos uma zona de relaxamento, também com uma janela de relação com a paisagem. A parte poente do spa, integra as salas de terapia, - hidroterapia e massagens Vichy - bem como os consultórios como referimos anteriormente. Por fim, existe ainda um terceiro piso neste novo volume, a poente, de nível com o piso de entrada no hotel. Este piso, funciona como zona administrativa e de pessoal, havendo por isso um corredor que permite aceder à cozinha do hotel. Com este piso, é possível manter as funções administrativas e de funcionamento do hotel no mesmo nível.

O betão armado, usado nos muros de contenção, surge como interpretação contemporânea dos

muros de suporte de pedra existentes naquele lugar, material abundante na zona, compondo diversos afloramentos rochosos nesta paisagem. A estereotomia escolhida para o betão é em réguas de madeira verticais, uma referência à Livraria do Mondego, afloramento rochoso com lâminas verticais, quebrando assim, de certa forma, a horizontalidade dos muros de suporte.

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Conclusão

O Preventório de Penacova, ainda que pouco reconhecido, é um elemento chave na vasta rede

assistencial promovida por Bissaya Barreto. Além de se tratar do primeiro no país, surge como elemento estratégico no combate profilático à tuberculose. A sua pertinência é evidente, bem como o seu objectivo: albergar crianças num ambiente salubre e garantir a sua educação com base nas premissas higiénicas provenientes do combate à epidemia.

A escassez e dispersão dos elementos necessários à narração da história deste edifício, implicou

a selecção criteriosa dos diversos dados obtidos, para assim poder reunir, e posteriormente descrever cronologicamente a evolução deste lugar e deste equipamento. As fotografias foram uma ferramenta fundamental para alcançar esse objectivo, através delas, foi possível reconstituir, aproximadamente, a evolução morfológica do Monte da Guia até à actualidade. Em conjunto com os desenhos fornecidos pela Câmara Municipal de Penacova, relativos à última intervenção feita no edifício, foi possível desenhar, tão próximo quanto possível, aquilo que terá sido o Preventório. Esse exercício foi fundamental, uma vez que esse corresponde ao período que tentamos recuperar e resgatar com a nossa proposta. Para isso, foi também necessária a leitura atenta dos relatos de antigos “moradores” do Preventório, presentes na Dissertação de Mestrado em Antropologia de Diogo Carvalheira. Essa leitura permitiu compor o programa do edifício, assim como desvendar características materiais e cromáticas, difíceis de conseguir tendo em conta a escassez de documentação relativa a esse período.

Como vimos, a relação com o lugar - genius loci - é uma característica determinante na escolha

do local de implantação destes equipamentos. Em Penacova, o espírito do lugar reside na paisagem. A relação entre ambos, tem origem no primeiro contacto que o homem estabeleceu com o lugar, reconhecendo ali condições favoráveis à sua subsistência. O rio, os campos férteis e a vegetação, fizeram desde sempre parte do imaginário e da história daquele lugar. Em especial no Monte da Guia, essa relação adquire uma dimensão singular. Numa vista aérea, a protuberância desenhada por este monte coloca aquele lugar numa posição destacada, isolada, dominante sobre todo o espaço envolvente. Esse destacamento 83


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coloca o Monte da Guia numa posição centralizada, simultaneamente ponto de observação e ponto de referência naquela paisagem.

A intervenção que propomos pretende explorar essas qualidades, sugerindo demolições ou no-

vas construções que clarifiquem e reforcem a relação com o lugar. A premissa das novas construções parte de uma ideia de muros de contenção, que consolidam estruturalmente o promontório e permitem o desenho de plataformas, sob as quais funcionam os novos programas de Spa e estacionamento e sobre as quais assentam os edifícios pré-existentes.

No antigo Preventório, propomos a sua reabilitação, cujo princípio base é o resgate da pureza

da forma e da verdade material referentes à fase inicial do edifício. A recuperação das pinturas claras das paredes de alvenaria de pedra e das paredes de betão, o pavimento de madeira, os lambris do refeitório e das antigas salas de aula, o terraço no último piso, as divisórias e os caixilhos de madeira, são as características que consideramos fazerem parte da memória daquele tempo. A interpretação desses elementos é necessária, atendendo à inexistência de alguns deles actualmente.

Ao longo dos temas que aprofundamos, socorremo-nos de exemplos comparativos que nos aju-

dem a sustentar uma ideia ou a definição de um conceito. Num primeiro momento, para compreender a função do Preventório de Penacova, servimo-nos de dois casos, um pertencente à rede de obras promovidas por Bissaya Barreto, o Preventório da Leprosaria Nacional, e outro na Madeira, o Preventório de Santa Isabel, pela relação com o tema sobre qual nos debruçámos no capítulo seguinte - O lugar e a relação com a paisagem. No segundo momento, reflectimos sobre os efeitos terapêuticos da paisagem, e o reconhecimento que essa prática adquiriu devido à tuberculose. Para fundamentar essa teoria, referimos os casos da Madeira - Sanatório Natural - e do Caramulo - Estância Sanatorial -, dois exemplos que o comprovam no contexto português. Para terminar esse capítulo, utilizamos o projecto do arquitecto Peter Zumthor, as Termas de Vals, para reforçar a ideia de relação entre o programa terapêutico e a paisagem, desta vez no contexto actual. Este caso de estudo, serve ainda de ponte para o último capítulo, que se dedica à proposta de projecto. Ainda que numa escala diferente, as Termas de Vals, ajudaram a compor o programa, a desenhar os percursos e a estabelecer a hierarquia de espaços e a relação com a paisagem da nossa proposta. Por fim, a Casa das Penhas Douradas, do arquitecto Pedro Brígida, surge como exemplo semelhante à nossa proposta, na escala, relação paisagística e programa proposto. Houve uma enorme dificuldade em encontrar exemplos contemporâneos do Preventório de Penacova, próximos na escala e que tivessem sido objecto de uma obra de reabilitação de qualidade. A Clínica Heliântia de Francelos53, terá sido o caso que mais se aproximou de corresponder em todos os aspectos, falhando pela reabilitação de carácter pouco pertinente para o nosso objectivo.

De um modo geral, a proposta que apresentamos é o resultado do cruzamento da pesquisa

53. Para um estudo mais aprofundado sobre a Clínica Heliântia, consultar Tavares, A. (2004). Arquitectura antituberculose. Trocas e tráficos na construção terapêutica entre Portugal e a Suíça. Porto: Faup Publicações.

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teórica e da investigação pelo projecto. O desenho e a fotografia, constituem as ferramentas principais desta investigação. A constante interpretação de elementos gráficos e fotográficos, permitiu chegar a um resultado final coerente e que pretende dar resposta a todos os problemas levantados. A reabilitação de equipamentos hospitalares do início do século XX, é necessária e urgente, e esta proposta, apesar de feita em contexto académico, pretende expor essa urgência e necessidade.

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Arquivo Nacional da Torre do Tombo - Fundo Luís Benavente (PT/TT/LB)

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Sumário de Imagens Figura 1 - Perfis de Evolução Histórica. Desenhos produzidos pelo autor. Figura 2 - View of the Folding of the river Mondego by allied army on the 21st September 1810. Pintura da autoria de Charles Turner (1815). Disponível em: http://www.cm-penacova.pt/pt/pages/castelodepenacova/ Figura 3 - Planta da vila de Penacova antes do século XVI. Desenho produzido pelo autor. Figura 4 - Perfil pelo Monte da Guia antes do século XVI. Desenho produzido pelo autor. Figura 5 - Vista do Monte da Guia desde o rio. Arquivo Fotográfico Digital de Penacova. Autor: s/a. Disponível em: http://www.flickr.com/arquivofotograficodepenacova/8096949322/ Figura 6-8 - Igreja de Nª Srª da Guia. - Arquivo Fotográfico Digital de Penacova. Autor: Varela Pécurto. Disponível em: http://www.flickr.com/arquivofotograficodepenacova/15818553449/in/album-72157647382536563 - Arquivo Fotográfico Digital de Penacova. Autor: Papelaria Borges (Coimbra). Disponível em: http://www.flickr.com/arquivofotográficode penacova/7419886276/ - Arquivo Fotográfico Digital de Penacova. Autor:Papelaria Borges (Coimbra). Disponível em: http://www.flickr.com/arquivofotograficodepenacova/7419903752/ Figura 9 - Mirante Manuel Emídio da Silva. Arquivo Fotográfico Digital de Penacova. Autor: s/a. Disponível em: http://www.flickr.com/arquivofotograficodepenacova/7448334156/ Figura 10 - Pérgula Raúl Lino. Arquivo Fotográfico Digital de Penacova. Autor: Edição da União Comercial de Penacova. Disponível em: http://www.flickr.com/arquivofotograficodepenacova/7419904052/in/album-72157630278067792/

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Figura 11 e 12 - École au Soleil. Imagens retiradas de: Tavares, A. (2004). Arquitectura antituberculose. Trocas e tráficos na construção terapêutica entre Portugal e a Suíça. Porto: Faup Publicações. Figura 13 - Preventório de Penacova - os diferentes espaços da criança. Postais disponíveis no Arquivo do Centro de Documentação da Fundação Bissaya Barreto. - Preventório de Penacova: Sala d’aulas. - Preventório de Penacova: Casa de Jantar. -Preventório de Penacova: Camarata. -Preventório de Penacova: Dormitório. Figura 14 - Actividades físicas ao ar livre - Clínica Les Frênes. Imagens retiradas de: Tavares, A. (2004). Arquitectura antituberculose. Trocas e tráficos na construção terapêutica entre Portugal e a Suíça. Porto: Faup Publicações. Figura 15 - Esquema Organizativo da O.P.G.D.C. Imagem retirada de: Silva, R. J. de A. (2013). Arquitectura hospitalar e assistencial promovida por Bissaya Barreto. (Vols. 1 e 2). Tese de Doutoramento. Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologias. Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal. Figura 16 - Planta da vila de Penacova, 1934. Desenho produzido pelo autor. Figura 17 - Perfil pelo Monte da Guia, 1934. Desenho produzido pelo autor. Figura 18 - Pérgula Raúl Lino - vista sobre o Hospital e o Preventório. Arquivo Fotográfico Digital de Penacova. Autor: Pensão Avenida. Disponível em: http://www.flickr.com/arquivofotograficodepenacova/7419900876/in/album-72157630278045546/ Figura 19-23 - Desenhos da fase inicial do Preventório de Penacova, elaborados pelo autor. Figura 24 - Preventório de Penacova, relação com a paisagem Postais disponíveis no Arquivo do Centro de Documentação da Fundação Bissaya Barreto. - Preventório de Penacova: Vista à Distância. - Preventório de Penacova: Sua Situação. Figura 25-26 - Desenhos produzidos pelos autor. Figura 27 - Implantação da Leprosaria Nacional, Tocha. Desenho do autor produzido através de: https://www.google.com/maps/place/Rovisco+Pais/@40.3029732,-8.7660483,1199m/data=!3m1!1e3!4m5!3m4!1s0xd23b5effb7b20cd:0x1dfb6c46af129e34!8m2!3d40.3026214!4d-8.7631944 Figura 28 - Planta Geral da Leprosaria Nacional. Desenho do autor produzido através do desenho presente em: Providência, P; Matos, V. M. J.; Santos, A. L.; Xavier, S.; Brás, E.; Quintais, L. (2013). Leprosaria Nacional: Modernidade e Ruína no Hospital-Colónia Rovisco Pais. Dafne Editora. 99


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Figura 29 - Planta do 1º piso do Preventório. Desenho do autor produzido através do desenho presente em: Providência, P; Matos, V. M. J.; Santos, A. L.; Xavier, S.; Brás, E.; Quintais, L. (2013). Leprosaria Nacional: Modernidade e Ruína no Hospital-Colónia Rovisco Pais. Dafne Editora. Figura 30 - Implantação do Preventório de Santa Isabel, Funchal. Desenho do autor produzido através de: https://www.google.com/maps/place/Funchal/@32.6699917,-16.904843,83m/data=!3m1!1e3!4m5!3m4!1s0xc605fc3501f8bab:0xffd84d2c15cda139!8m2!3d32.6669328!4d-16.9240554 Figura 31 - Preventório de Penacova visto a partir da antiga ponte. Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian. Colecção do Estúdio Mário Novais. Disponível em: https://www.flickr.com/photos/biblarte/49970172121/in/photolist-2j8DyJ6-2j8GceK-2j8Dy3w-2j8DyFL-2j8Gch5 Figura 32 - Preventório de Penacova, espaços exteriores. Postais disponíveis no Arquivo do Centro de Documentação da Fundação Bissaya Barreto. - Preventório de Penacova: Galeria. - Preventório de Penacova: Paisagem. - Preventório de Penacova: Recreio. - Preventório de Penacova: Um recreio. - Preventório de Penacova: Um recreio. Figura 33 - Hospício Princesa D. Maria Amélia - vista geral posterior. Imagem retirada de: Nunes, J. C. D. R. A. (2017). A arquitectura dos sanatórios para a tuberculose em Portugal: 1850-1970. (Vols. 1 e 2). Tese de Doutoramento. Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologias. Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal. Figura 34 - Mirante da Quinta da Vigia. Imagem retirada de: Nunes, J. C. D. R. A. (2017). A arquitectura dos sanatórios para a tuberculose em Portugal: 1850-1970. (Vols. 1 e 2). Tese de Doutoramento. Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologias. Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal. Figura 35 - From Funchal in Madeira. Imagem retirada de: Matos, R. M. C. de C. (2016). A Arquitectura do Turismo Terapêutico: Madeira e Canárias, 1800-1914. Tese de Doutoramento. Faculdade de Arquitectura. Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal. Figura 36 - Sanatórios do Caramulo: vista geral dos Sanatórios. Imagem retirada de: Nunes, J. C. D. R. A. (2017). A arquitectura dos sanatórios para a tuberculose em Portugal: 1850-1970. (Vols. 1 e 2). Tese de Doutoramento. Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologias. Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal. Figura 37 - Vista aérea do Funchal, Madeira. Desenho do autor produzido através das imagens presentes em: Nunes, J. C. D. R. A. (2017). A arquitectura dos sanatórios para a tuberculose em Portugal: 18501970. (Vols. 1 e 2). Tese de Doutoramento. Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologias. Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal. 101


102


Figura 38 - Vista aérea do Caramulo. Desenho do autor produzido através das imagens presentes em: Nunes, J. C. D. R. A. (2017). A arquitectura dos sanatórios para a tuberculose em Portugal: 1850-1970. (Vols. 1 e 2). Tese de Doutoramento. Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologias. Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal. Figura 39-46 - Desenhos da fase de transformação em hotel no ínicio do século XXI. Desenhos produzidos pelo autor. Figura 47 - Desenho produzido pelo autor. Figura 48 - Termas de Vals, vista sobre a piscina exterior e a paisagem. Autor: Fabrice Fouillet Disponível em: https://divisare.com/projects/388269-peter-zumthor-morphosis-architects-thom-mayne-fabrice-fouillet-thermes-vals-at-7132-hotel Figura 49-51 - Desenhos das Termas de Vals produzidos pelo autor através dos desenhos presentes em: Zumthor, P.; Hauser, S.; Binet, H. (2007). Peter Zumthor: Therme Vals. Zurich: Verlag Scheidegger & Spiess. Figura 52 - Termas de Vals, percurso, espaços de banho e descanso e a sua relação com a paisagem. Autor: Fabrice Fouillet Disponível em: https://divisare.com/projects/388269-peter-zumthor-morphosis-architects-thom-mayne-fabrice-fouillet-thermes-vals-at-7132-hotel Figura 53 - Implantação da Casa das Penhas Douradas. Desenho do autor produzido através de: https://www.google.com/maps/search/penhas+douradas/@40.4066574,-7.5738375,2395m/data=!3m2!1e3!4b1 Figura 54 - Vista aérea das Penhas Douradas, Serra da Estrela. Desenho do autor produzido através das imagens presentes em: Nunes, J. C. D. R. A. (2017). A arquitectura dos sanatórios para a tuberculose em Portugal: 1850-1970. (Vols. 1 e 2). Tese de Doutoramento. Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologias. Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal. Figura 55 - Covilhã, Serra da Estrela. Imagem retirada de: Nunes, J. C. D. R. A. (2017). A arquitectura dos sanatórios para a tuberculose em Portugal: 1850-1970. (Vols. 1 e 2). Tese de Doutoramento. Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologias. Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal. Figura 56 - Penhas da Saúde, Serra da Estrela. Imagem retirada de: Nunes, J. C. D. R. A. (2017). A arquitectura dos sanatórios para a tuberculose em Portugal: 1850-1970. (Vols. 1 e 2). Tese de Doutoramento. Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologias. Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal. Figura 57-62 - Desenhos da Casa das Penhas Douradas disponíveis em: https://www.pedrobrigida.com/ casa-das-penhas-douradas.html 103


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Figura 63 - Casa das Penhas Douradas. Disponível em: https://casadaspenhasdouradas.pt/wp-content/uploads/2019/07/casa-da-montanha.jpg Figura 64 - A relação com a paisagem. Disponível em: https://casadaspenhasdouradas.pt/wp-content/uploads/2018/06/casanamontanha-main.jpg Figura 65 - Penacova e o Monte da guia, relação com a paisagem. Fotografias do autor. Figura 66-77 - Desenhos da Proposta de Intervenção elaborados pelo autor.

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Anexos

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Desenhos do Arquitecto Luis Benavente para o Preventรณrio de Penacova

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Desenhos do Arquitecto Luis Benavente para o Preventรณrio de Penacova

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Desenhos do Arquitecto Luis Benavente para o Preventรณrio de Penacova

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Maquetes

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Maquete Situação Actual - Esc. 1/2000

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Maquete Proposta - Esc. 1/200

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1 - Planta de Análise do Território

2 - Planta Geral de Intervenção

3 - Perfis longitudinais pelo Monte da Guia - Hotel e Spa

4 - Plantas do 1º e 2º Pisos - Spa

5 - Plantas do 3º e 4º Pisos - Spa

6 - Plantas do 5º e 6º Pisos - Spa

7 - Corte longitudinal e transversal, Alçado Nascente - Hotel e Spa

8 - Plantas do Hotel

9 - Cortes longitudinais - Hotel e Spa

10 - Cortes transversais e Alçados - Hotel e Spa

11 - Alçado Sul e Norte - Hotel e Spa

12 - Corte longitudinal - Hotel e Spa

13 - Alçado e Corte - Spa

14 - Pormenor Construtivo - Hotel e Spa


Área Verde Protegida RAN N

Área ameaçada pelas cheias REN

Área máxima de inundação REN

Rio Mondego

Vias Principais

Centro Histórico

Planta de Análise do Território 1/5000

Curar o Património Hospitalar: Reabilitação do antigo Preventório de Penacova

Diogo da Costa Sanches Dissertação de Mestrado em Arquitectura sob orientação do Prof. Dr. Paulo Providência e co-orientação do Arq. João Branco FCTUC - Departamento de Arquitectura 2019/2020

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N

1 - Mirante Manuel Emídio da Silva; 2 - Spa; 3 - Hotel; 4 - Capela do antigo Centro de Saúde; 5 - Pelourinho; 6 - Casa Amarela - turismo local ; 7 - Casa Azul - turismo local ; 8 - Turismo local; 9 - Escola Profissional Beira Aguieira; 10-11 - Turismo local ; 12 - Comércio local ; 13 - Residências de estudantes da Escola Profissional Beira Aguieira ; 14 - Antigo Tribunal; 15 - Pérgula Raúl Lino; 16 - Câmara Municipal de Penacova; 17 - Turismo local; 18 - Igreja Matriz

Planta Geral de Intervenção na vila

1/2000

Curar o Património Hospitalar: Reabilitação do antigo Preventório de Penacova

Diogo da Costa Sanches Dissertação de Mestrado em Arquitectura sob orientação do Prof. Dr. Paulo Providência e co-orientação do Arq. João Branco FCTUC - Departamento de Arquitectura 2019/2020

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Perfis longitudinais pelo Monte da Guia - Hotel e Spa

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Curar o Património Hospitalar: Reabilitação do antigo Preventório de Penacova Diogo da Costa Sanches Dissertação de Mestrado em Arquitectura sob orientação do Prof. Dr. Paulo Providência e co-orientação do Arq. João Branco FCTUC - Departamento de Arquitectura 2019/2020

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1 - Mirante Manuel Emídio da Silva; 2 - Entrada do Spa; 3 - Recepção do Spa; 4 - Balneários; 5 - Área técnica e de manutenção da piscina; 6 - Gabinetes Médicos; 7 - Sala de Hidroterapia; 8 - Massagem Vichy; 9 - Zona de relaxamento; 10 - Piscina; 11 - Duches; 12 - Sauna; 13 - Estacionamento N

Plantas do 1º e 2º Piso - Spa

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14 - Sala de estar de pessoal; 15 - Balneários de pessoal; 16 - Sala de Reuniões/Gabinete de Direcção; 17 - Cozinha; 18 - Sala de Refeições; 19 - Entrada do Hotel; 20 - Recepção do Hotel; 21 - Sala de Estar; 22 - Instalações sanitárias; 23 - Quarto; 24 - Quarto com Kitchenette; 25 - Auditório; 26 - Zona de Estar; 27 - Restaurante; 28 - Copa de apoio; 29 - Terraço N

Plantas do 3º e 4º pisos - Hotel e Spa

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Curar o Património Hospitalar: Reabilitação do antigo Preventório de Penacova

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14 - Sala de estar de pessoal; 15 - Balneários de pessoal; 16 - Sala de Reuniões/Gabinete de Direcção; 17 - Cozinha; 18 - Sala de Refeições; 19 - Entrada do Hotel; 20 - Recepção do Hotel; 21 - Sala de Estar; 22 - Instalações sanitárias; 23 - Quarto; 24 - Quarto com Kitchenette; 25 - Auditório; 26 - Zona de Estar; 27 - Restaurante; 28 - Copa de apoio; 29 - Recepção do Restaurante; 30 - Terraço N

Plantas do 5º e 6º pisos - Hotel e Spa 1/500

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Corte longitudinal e transversal. Alçado Nascente - Hotel e Spa

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1 - Sala de estar de pessoal; 2 - Balneários de pessoal; 3 - Sala de reuniões/Gabinete de Direcção; 4 - Cozinha; 5 - Sala de Refeições; 6 - Entrada no Hotel; 7 - Recepção do Hotel; 8 - Sala de Estar; 9 - Instalações Sanitárias; 10 - Quarto; 11 - Quarto com kitchenette; 12 - Auditório; 13 - Zona de Estar; 14 - Restaurante; 15 - Elevador Monta-pratos; 16 - Copa de apoio; 17 - Recepção do Restaurante; 18 - Terraço N

Plantas - Hotel

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Cortes Longitudinais - Hotel e Spa

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Cortes transversais e Alçados - Hotel e Spa 1/200

Curar o Património Hospitalar: Reabilitação do antigo Preventório de Penacova Diogo da Costa Sanches Dissertação de Mestrado em Arquitectura sob orientação do Prof. Dr. Paulo Providência e co-orientação do Arq. João Branco FCTUC - Departamento de Arquitectura 2019/2020

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Alçado Sul e Norte - Hotel e Spa

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Corte longitudinal - Hotel e Spa 1/100

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Alçado e Corte - Spa

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1 - saibro 150mm; 2 - tela geotêxtil; 3 - seixo rolado 50mm; 4 - camada de brita 100mm; 5 - tout-venant 100mm; 6 - terreno compacto; 7 - impermeabilização; 8 - sapata em betão; 9 - parede de betão armado 220mm; 10 - isolamento térmico 80mm; 11 - parede de betão armado 300mm; 12 - camada de forma 100mm; 13 - microcimento hidrófugo; 14 - impermeabilização 30mm; 15 - calha recolha de água da piscina; 16 - peça em betão pré-fabricado; 17 - perfil de ligação das estruturas de betão; 18 - ferragem de suporte e ligação das estruturas de betão; 19 - peça em betão pré-fabricado de remate da cobertura; 20 - relva; 21 - coberto vegetal; 22 - manta drenante; 23 - geotêxtil 20mm; 24 - betão de regularização; 25 - laje de betão de 300mm; 26 - peça em betão pré-fabricado; 27 - brickslot de aço; 28 - caixa em betão pré-fabricado; 29 - lajetas de betão 100mm; 30 - parede estrutural de betão 300mm; 31 - fundação directa em betão; 32 - fundação directa em pedra; 33 - parede de betão pré-existente; 34 - parede em alvenaria de pedra; 35 - argamassa de reboco composta por cal hidráulica SECIL HL5; 36 - caixilharia fixa OTTOSTUMM W75 TB; 37 - soalho de madeira 30mm; 38 - isolamento térmico 100mm; 39 - barrote de madeira 50x100mm; 40 - laje de betão; 41 - isolamento térmico 70mm; 42 - placa de contraplacado bétula 15mm de espessura; 43 - barrote de madeira 70x40mm; 44 - laje de betão pré-existente; 45 - lajeta de betão; 46 - caixilho de madeira; 47 - estrutura de madeira da cama; 48 - estrado em madeira; 49 - betão; 50 - lambril em ardósia; 51 - platibanda em betão; 52 - viga de madeira 150x45mm; 53 - tarugo de madeira 150x45mm; 54 - placa dupla de VIROC cor branca; 55 - isolamento térmico 100mm; 56 - revestimento da cobertura em zinco; 57 - caleira; 58 - placa de madeira maciça 50mm; 59 - Perfil UPE 400; 60 - viga de madeira 100x1200mm; 61 - peça metálica de suporte e ligação da viga de madeira; 62 - rodapé em madeira; 63 - barrote de madeira 60x40mm; 64 - placa tripla VIROC cor branca; 65 - isolamento térmico 60mm; 66 - viga de madeira 100x250mm; 67 - tarugo de madeira 100x250

Pormenor Construtivo - Hotel e Spa

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Curar o Património Hospitalar: Reabilitação do antigo Preventório de Penacova Diogo da Costa Sanches Dissertação de Mestrado em Arquitectura sob orientação do Prof. Dr. Paulo Providência e co-orientação do Arq. João Branco FCTUC - Departamento de Arquitectura 2019/2020

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