Caderno Colono e Motorista

Page 1

Foto/Montagem: Diogo Fedrizzi (RS 129 Muçum)

E S P E C I A L

Colono e Motorista

PROTAGONISTAS E S UA S HI STÓRI AS Jornal Opinião - 22 de julho de 2011 - Encarte Especial - Não pode ser vendido separadamente

Reportagens especiais re v e l a m a s a l e g r i a s , a s p re o c u p a ç õ e s e a s perspectivas de pessoas que vivem o dia-a-dia de duas das mais importantes p ro f i s s õ e s d o B r a s i l


2

C A D E R N O C O L O N O E M O T O R IS T A J u l h o 2 0 11

N

O DIA 25 DE JULHO, colonos e motoristas comemoram a data reservada a eles. As duas categorias, por meio de dedicação e força de trabalho, ajudam a formar cidades e regiões. A data, além de ser festiva, é um momento de reconhecimento sobre o papel de homens e mulheres descendentes das mais distintas etnias, que chegaram ao Brasil, com o sonho de prosperar e, ao mesmo tempo, ressalta a importância dos motoristas, profissio-

Origem do Dia do Colono A definição do 25 de julho como Dia do Colono deu-se em 1924, em meio às comemorações do centenário de vinda dos primeiros alemães para o Rio Grande do Sul. A data simboliza a chegada da primeira leva de imigrantes à Feitoria Real do Linho Cânhamo, atualmente, cidade de São Leopoldo. O Dia do Colono foi instituído, através da Lei Federal nº 5.496, de 5 de setembro de 1968.

A COLONIZAÇÃO ALEMÃ Os alemães rumaram à futura colônia navegando em lanchões Rio dos Sinos acima, partindo de Porto Alegre, numa iniciativa que teve a intervenção direta do Imperador D. Pedro I e da Imperatriz Dona Leopoldina. Os imigrantes, num total de 43, com seus pertences, instalaram-se provisoriamente em um paradeiro da Feitoria Velha, pertencente ao Império, para iniciar a ocupação da propriedade. Embora o Dia do Colono faça menção oficialmente à chegada dos germânicos a São Leopoldo – constituindo a primeira entre várias outras colônias bem-sucedidas no processo colonizatório do Rio Grande do Sul, na época ainda quase desabitado –, a vinda de alemães para o Brasil, dentro de projetos de colonização, é um pouco anterior.

nais que transportam, além de sonhos, responsabilidades e a vontade de desenvolver economicamente e socialmente todo o País. O Jornal Opinião foi em busca de histórias e personagens que com seu trabalho não só movimentam a cadeia econômica do país, mas que, acima de tudo, sentem orgulho da profissão que escolheram.

Fotos: Museu Histórico Visconde de São Leopoldo e imigracaoalemanosuldobrasil.blogspot.com

Já em maio de 1824, dois navios com imigrantes haviam aportado no Rio de Janeiro. Esses colonos foram encaminhados para a região serrana do Estado, à localidade de Nova Friburgo, onde já havia uma pequena comunidade de imigrantes suíços. No entanto, as terras daquela região, inadequadas para o cultivo, logo desestimularam os alemães, dispostos à agricultura. Assim, muitos dos primeiros imigrantes posteriormente migraram de volta à capital do Império, o Rio, ou mesmo ao Sul, para a colônia de São Leopoldo, que então principiava. Por essa razão, o ciclo de imigração para a região serrana do Rio de Janeiro – também Teresópolis e Petrópolis – não vingou como no Sul, embora ainda hoje seja possível identificar marcas da contribuição alemã também nessas cidades cariocas.

Esta casa, que virou museu em São Leopoldo, foi o primeiro abrigo dos imigrantes alemães no sul do Brasil, na antiga "Feitoria do Linho Cânhamo", situada a quatro quilômetros do ponto de desembarque das famílias.

Motoristas fazem homenagem a São Cristóvão

O dia 25 de julho também é comemorado o Dia do Motorista em homenagem ao protetor dos motoristas e dos viajantes: São Cristóvão. Ele viveu provavelmente na Síria e sofreu o martírio no século III. “Cristóvão” significa “Aquele que carrega Cristo” ou “portaCristo”. Seu culto remonta ao século V. De acordo com uma lenda, Cristóvão era um gigante com mania de grandezas. A princípio serviu a Satanás, mas quando soube que o mais poderoso era Jesus, converteu-se e foi viver na margem de um rio. Lá, carregava pessoas de uma margem a outra. Como o trabalho de Cristóvão era transportar os viajantes através dos rios, tornou-se padroeiro dos viajantes e dos condutores de veículos, tanto profissionais quanto amadores.

ORAÇÃO DO MOTORISTA

Retrato das habitações dos descendentes de alemães no sul do Brasil

Ó Senhor, por intercessão de São Cristóvão, padroeiro dos motoristas, dai-nos firmeza e vigilância nos muitos caminhos da vida em busca de trabalho, lazer, felicidade e realização. Todos somos caminhantes nas estradas deste mundo, acompanhai-nos constantemente para chegarmos ao destino sem acidentes e contratempos. Protegei, ó Senhor, os motoristas que conduzem os modernos meios de transportes. Que eles possam ser guiados por vosso Espírito, e assim ajam com sabedoria e respeitem as leis de trânsito. Protegei, ó Senhor, aqueles que caminham conosco e ajudai-nos a respeitar a todos, pe-

destres e transeuntes, agindo sempre com prudência. Protegei, ó Senhor, os jovens que dirigem e dai-lhes um coração sempre voltado à vida. Que possam descobrir vossa presença viva no mundo e respeitem a todos. Que cresçam sempre guiados pelo vosso Espírito para que sejam os protagonistas da nova sociedade do terceiro milênio. Confortai, ó Senhor, as famílias que perderam as pessoas queridas, vítimas do cruel trânsito brasileiro. Dai-lhes a esperança necessária para viverem em vossa presença sem condenação ou rancor. Que possamos, Senhor, descobrir vossa presença na natureza e um tudo o que nos rodeia, amando assim cada vez mais a vida. Amém!".

EXPEDIENTE: Encarte especial do Jornal Opinião de 22 de julho de 2011. Coordenação: Milton Fernando; Reportagens: Caroline Rodrigues; Fotos e projeto gráfico: Diogo Fedrizzi; Arte comercial: José Raimundo Tramontini; Direção Comercial: Bolivar Neto.


Orgulho de ser agricultor

P

ara auxiliar os trabalhadores rurais e, principalmente, buscar junto com eles as mais diversas demandas do setor, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul tem trabalhado ativamente e de forma organizada. A FetagRS compreende agricultores familiares, pecuaristas familiares e assalariados rurais. Representa e defende 1,3 milhão de trabalhadores rurais. Atualmente, conta com 351 Sindicatos dos Trabalhadores Rurais filiados, os quais integram uma estrutura composta por 23 regionais sindicais. A Regional do Vale do Taquari reúne 20 sindicatos. Para o presidente da Fetag-RS, Elton Weber, o Dia do Colono precisa ser enaltecido. “É, sem dúvida, uma data importante, que merece ser comemorada e refletida. Em primeiro lugar, comemorar a profissão de agricultor e colono, que tem a tarefa, e porque não dizer, o dom, que é vital, de produzir alimentos”, diz. Weber destaca ainda que, de acordo com censo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, a agricultura familiar é responsável pela produção de 70% dos alimentos que vão à mesa dos brasileiros. Além disso, representa mais de 85% das pessoas ocupadas no meio rural. “Todos esses são motivos para comemorar”, enfatiza.

VALORIZAÇÃO Para o presidente, os trabalhadores rurais devem ser lembrados e valorizados. “O país requer uma agricultura desenvolvida por agricultores (e seus familiares) cada vez mais hábeis, bem formados, conhecedores das modernas tecnologias, parceiros dos órgãos de pesquisa agropecuária e extensão rural, organizados em sindicatos, cooperativas, associações, etc. Que incentivem seus filhos e filhas a serem agricultores, fazendo a sucessão dentro da propriedade. Pois foi da agricultura que homens e mulheres do campo tiraram o sustento e a formação da família. Precisamos do campo, de gente que saiba que, se o campo não planta, a cidade não

C A D E R NO C O L O N O E M O T O R I S T A J u lh o 2 0 1 1

Para o presidente da Fetag-RS, Elton Weber, Dia do Colono deve ser comemorado, apesar das dificuldades enfrentadas pelos agricultores Divulgação Fetag

janta”, ressalta.

PREOCUPAÇÃO COM A QUEDA NA RENDA Weber alerta que, do ponto de vista da produção, o principal problema enfrentado pelos agricultores nos últimos anos tem sido a frequente redução de rentabilidade da atividade agropecuária. “Não é exagerado dizer que, quem sustentou o Plano Real, foi a agricultura, pois no período que compreende o início do plano, em julho de 1994 até junho de 2010, a inflação do período, segundo a Fundação Getúlio Vargas, foi de 318%”, explica. Ele lembra que, nesta época, os principais produtos agrícolas (arroz, milho, soja, trigo e leite) tiveram variação negativa ou bem abaixo da inflação. Já os insumos para a produção (óleo diesel, fertilizantes e máquinas agrícolas) tiveram variação acima da inflação.

Weber: agricultores devem incentivar filhos a seguirem a profissão POLÍTICA DE GARANTIA DE RENDA É A UMA DAS LUTAS A principal bandeira dos agricultores familiares do Estado se refere a uma política de garantia de renda. “Estamos lutando para obtermos uma solução definitiva que resolva o problema de endividamento dos agricultores familiares gaúchos. Já existem alguns mecanismos e políticas públicas nos moldes do Programa de Garantida de Preços da Agricultura Familiar (PGPAF) e do Programa de

Seguro Agrícola (PROAGRO MAIS), que precisam ser aperfeiçoados e ampliados, pois hoje cobrem apenas parte da produção”. Para Weber, a questão da sucessão rural também deve ser refletida pelas entidades e a sociedade como um todo, “Quem serão os agricultores do amanhã, que produzirão os alimentos que vão para a mesa no dia-a-dia, uma vez que a agricultura familiar produz 70% dos alimentos consumidos no país?”, questiona.

Sucessão rural preocupa STR

O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Encantado possui, de acordo com levantamento de 2010, 1.735 sócios cadastrados. O número inclui também trabalhadores do município de Doutor Ricardo. Mas o preocupante é o apontamento que mostra a idade dos sócios. Conforme os dados, mais de 900 têm idade superior a 60 anos, sendo que destes, 200 ainda têm idade superior a 80 anos. Para o presidente do STR, Gilberto Zanatta, os números são alarmantes. “A faixa etária do nosso povo é a questão mais preocupante da agricultura. No nosso sindicato temos mais de 900 sócios com mais de 60 anos”, alerta. Zanatta cita algumas localidades em que ainda se mantêm os jovens no campo. “Há um grupo que permanece na roça em Linha Argola e na Barra do Coqueiro. Os jovens que moram mais próximos da cidade, como Jacarezinho e Auxiliadora, entre outros locais, apenas residem nas localidades, mas trabalham na cidade”, afirma. Conforme o presidente, as

3

propriedades mais estruturadas garantem a sucessão rural. “As famílias que se estruturaram ao longo dos anos conseguem manter os jovens. Onde há uma renda na propriedade, eles têm avaliado e ficado na atividade”, diz. “Em Linha Argola, por exemplo, há cerca de 20 jovens no meio rural, todos homens. Já as mulheres procuram o trabalho na cidade. Pelo que se observa, os pais não têm incentivado os filhos a ficarem na lavoura”.

DOIS GRUPOS O presidente do STR afirma que a realidade do agricultor na região apresenta duas situações. De acordo com Gilberto Zanatta, há um grupo de produtores que ganha uma renda na propriedade por trabalhar, por exemplo, no sistema de integrações, com produção de leite e, com isso, possuem uma produção mais elevada. “Esse tem uma receita diferenciada, mas também apresenta dificuldades de mercado, como a situação das exportações”. O outro grupo é representado pela agricultura de subsistência

que, apesar de possuir uma renda mais limitada, vive com qualidade de vida. “A grande maioria que pertence a esta classe recebe uma renda de aposentadoria. Os filhos já saíram de casa”, constata. Zanatta constata que os investimentos hoje no setor da agricultura estão muito elevados. “Não se fala em menos de R$ 200 mil para construir uma pocilga ou um aviário”, revela. Porém, segundo o líder sindical, apesar do endividamento, programas de financiamento como o Pronaf possibilitam os agricultores a ampliarem a produção. APOSENTADORIA TRAZ TRANQUILIDADE O casal que trabalha com agricultura, quando se aposenta (homem 60 anos e mulher 55), ganha em qualidade de vida. “A aposentadoria é uma das importantes rendas que existem no meio rural. O homem e a mulher ainda conseguem trabalhar, mas já têm garantido uma renda extra, no caso, dois salários mínimos. Isso tem que ser valorizado”, explica Zanatta.

Zanatta revela que investimentos no setor são muito elevados SÓCIOS STR ENCANTADO 18 a 50 anos - 402 51 a 60 - 355 61 a 70 - 453 71 a 80 - 325 81 a 99 - 200 Total – 1.735


4

CA D E R N O C O L O N O E M O T O R IS T A J u l h o 20 1 1

Agricultor, motorista e empresário

IBAR BERGAMASCHI já atuou nas três áreas, mas há 38 anos está na função de motorista e há 35 também é empresário

A

os 61 anos, mais de 30 dedicados às estradas, Ibar Bergamaschi tem orgulho de ter começado sua trajetória profissional no campo e depois ter passado ao comando do volante. Natural de Encantado, ele conta que até os 15 anos trabalhou como agricultor com o pai, que plantava soja, milho, entre outros produtos. Bergamaschi ajudou em todas as atividades da lavoura. Mas, por volta de 1965, quando o pai adquiriu um armazém, ele começou a trabalhar no comércio, onde ficou até o ano de 1973. Foi então que passou a atuar como motorista. “Comecei como representante comercial de uma fábrica de bebidas. Viajava por todo o Estado. Depois, a fábrica fechou e, então, decidi comprar um caminhão. Meu primeiro foi um Mercedes Benz 2013”, diz.

EMPRESÁRIO FAMÍLIA CUIDADO NA ESTRADA Desde 1976, Bergamaschi já era sócio do cunhado em uma Casado e pai de três filhas, o Bergamaschi acredita que, além de ser cuidadoso na direção, tamempresa de transportes de passageiros. Mas foi em 1989 que ele motorista conta que na época bém é preciso sorte. Ele, que nunca se envolveu em um acidente, conta decidiu largar os caminhões e se dedicar ao ramo de transporte percorria todo o país e chegou que, ao longo de sua trajetória, presenciou inúmeros. “O mais marcante de pessoas. Hoje, a Bergatur Turismo possui uma frota de 10 a ficar 40 dias longe de casa, que já vi aconteceu por volta de 1983, e envolveu um ônibus, em Somveículos, entre ônibus, vans e sprinters, e cinco funcionários. A mas sempre com o apoio da fabrio, Santa Catarina. Cheguei logo depois do ocorrido. Fiquei bastante empresa leva estudantes para universidade e também faz viamília. “Já transportei de tudo: chocado. 13 pessoas acabaram morrendo. Nessa hora, a gente pensa de gens de turismo para todo o país. móveis, balas, pedras, arroz, tudo, mas não dá para desistir”. ferro, fumo. Naquele tempo, aonde tinha carga, a gente ia. Percorri PREOCUPAÇÃO O motorista e empresário não pensa em Mato Grosso, Piauí, parar, pelo contrário, mantém o ritmo aceleBahia, Belém, entre rado. De acordo com ele, sua rotina começa outros”, lembra. às 6h e só encerra por volta da meia-noite. Em uma de suas Mas Bergamaschi demonstra preocupação viagens, Bergamasquanto à falta de novos motoristas. “Hoje, chi comprou, em principalmente, pela insegurança nas estraum Posto de Gasodas, a profissão não atrai os jovens. AntigaArquivo pessoal lina, em Joinville, mente, podíamos parar em qualquer lugar e Santa Catarina, um descansar, hoje isso não é possível”, diz. “Muimacacão da Shell, tos procuram também um trabalho que tenha versão infantil, para rotina semanal, de segunda a sexta-feira, que não é o nosso caso”. a filha mais velha, A profissão também exige responsabiliLizeli Bergamasdade. “Sempre fiz o que gostava e, por isso, chi, que na época Presente: filha Lizeli continuo até hoje. Dirigir ônibus é uma restinha dois anos. Bergamaschi, que hoje possui uma frota de 10 veículos, constata ainda guarda o macacão ponsabilidade, pois são 40 pessoas que estão “Ela guardou até que ganhou do pai que os jovens não têm interesse pela profissão de motorista sob os teus cuidados”, alerta. hoje como lemquando tinha dois anos brança”, revela.


Duas décadas na A

criação de suínos foi o caminho encontrado por Beno Chiesa, 61 anos, para melhorar a renda da família. Desde a infância, ele trabalhou na agricultura onde plantava milho, soja, entre outros produtos, mas decidiu mudar de ramo para dar uma melhor qualidade de vida à esposa e aos filhos. Casado e pai de dois filhos,

ele começou há 20 anos criando 200 suínos, hoje tem 600 animais. Chiesa, que é integrador da Cooperativa dos Suinocultores de Encantado (Cosuel), possui duas granjas, em Linha Brasil, interior de Roca Sales, e atua como terminador, ou seja, adquire leitões de outros criadores para engordar. A rotina do suinocultor inicia cedo. “Levanto às 5h30min para

PREÇO A queda no preço médio preocupa o criador. “O valor médio do quilo está em R$ 1, 90. Antigamente, um suíno de 100 quilos era um salário mínimo. Hoje é preciso quase três animais para somar um salário”, lamenta. “Por isso, há 30 anos, o pessoal vivia mais na colônia, cerca de 80%. Hoje é o contrário, as pessoas vão mais para as cidades para trabalhar de empregado. Tenho dois filhos, que já saíram de casa. É uma dificuldade a sucessão dentro da propriedade”, afirma. Por outro lado, segundo Chiesa, o crédito financeiro está mais acessível. “Hoje os bancos dão mais dinheiro para quem quer construir. Mas não

tratá-los”, diz. Ele explica que pega o animal ainda pequeno para criar. “Cada baia dos chiqueiros tem 10 suínos, eu os pego, em média, com 25 quilos e entrego com 110. Eles saem da maternidade com 15 dias e vão para o cricheiro, e vêm com uns 60 dias para minha propriedade. Aqui ficam uns 105 dias e depois vão para o abate”, explica.

C A D E R N O C O L O NO E M O T O R I S T A J u l h o 2 0 11

BENO CHIESA deixou a agricultura para se dedicar à criação de suínos. Atualmente, em sua propriedade, cria 600 animais.

pode facilitar senão não consegue pagar. É preciso cuidado, analisar se terá condições de quitar a dívida”, avisa. Chiesa conta ainda que as demais áreas de terras que possui foram reflorestadas. “Hoje sou só suinocultor. Não tenho mais roça. São seis hectares de área reflorestada com eucaliptos”, revela.

RÁDIO COMPANHEIRO Um dos companheiros de Beno Chiesa é o rádio. Ele garante que os suínos adaptam-se ao barulho. “Eles são bastante assustados, mas depois acostumam. Conforme for a rotina, se adaptam. Deixo o rádio ligado o dia inteiro e, às vezes, canto para eles”, brinca.

Cada chiqueiro tem capacidade para 300 animais. E cada baia comporta 10 suínos

MODELO O criador lembra que quando iniciou a sua produção chegou a atingir uma das melhores colocações na quantidade de animais entregues. “Comecei com 200 suínos. Na época fui o terceiro colocado entre os terminadores”, cita.

Chiesa é casado com Salete e tem dois filhos. Ãrea de terras antes cultivada deu lugar ao reflorestamento com eucaliptos

5


6

CA D E R N O C O L O N O E M O T O R IS T A J u l h o 20 1 1

POESIA PARA COLONOS E MOTORISTAS Jorge Moreira é poeta, escritor, palestrante, advogado e conselheiro benemérito do MTG. Também é sócio da Estância da Poesia Crioula do Rio Grande do Sul, membro fundador da ALIVAT Academia Literária do Vale do Taquari, letrista e jurado de Festi-

Novo grito do campo - Jorge Moreira

O campo sempre gritou Nesta Terra Farroupilha, Mostrando que não se encilha Um gaúcho, assim no mais! Pois quem luta por seus ideais Reafirmando a liberdade Contra as tais “autoridades” Lá do Planalto Central, Tem fibra, tem ideal Na luta por igualdade!... Renovam-se os governantes... As eleições nunca param... E os reclamos duplicaram Pelos nossos agricultores Que não imploram favores, Pois gaúcho não se ajoelha... E essa revolta se espelha Nos direitos que lhe negam. Por isso que não se entregam Nesta luta desparelha!... Veio a tal “Nova República” Com outra gente que manda, Mas segue a mesma ciranda... Então, gritemos de novo, Nossa voz é a voz do povo... Vamos abrir nosso peito, Reclamando com respeito O que nos foi sonegado Por homens que, no passado, Negaceavam esses direitos... Vamos cerrar as esporas Nesta tal República nova Que venha a furo essa desova E apareça o vil metal Porque desse mesmo mal Já sofremos no passado Quando fomos enfrenados Com promessas e lengalengas Queremos o fim das pendengas Dos produtores do Estado... Mudaram os governantes, Mandam Prendas no “Planalto”... -“É preciso gritar alto E berrar como gigantes, Se o que se pede é o bastante Pra não sermos esquecidos?... Atendam, pois, nossos pedidos Que é de justiça e direito E não mudem os conceitos Do que nos foi prometido!...

Já dizia um General Que o Brasil não é sério Como será este mistério Do entra e sai de Ministro?!... Que destino tão sinistro De um povo que não reage?!... Onde está nossa coragem Dos combates e batalhas?!... Hoje nos achincalham Lá nos altos escalões Com os tais de mensalões Que entre “eles” se espalham!... Chega de dar o dinheiro Pra esses mandões corruptos Que se acham mais astutos... Esse dinheiro desviado Do Brasil desgovernado É uma afronta ao nosso povo Que assiste este jeito novo De governar a Nação Esquecendo a produção E o nosso setor primário Não dá pra esmolar salário Quando tem corrupção!.... Uma vez, lá no “Beira-Rio” Nos fizeram a promessa De mesa farta e pão a beça E dinheiro em profusão... Gritaram pra multidão De quarenta mil colonos, Proclamando com entono, Falavam com euforia Num grito de rebeldia Que o Rio Grande tinha dono!!!... Que surjam, então, os donos Deste Rio Grande Farrapo E não nos deixem em trapos No alto de um coxilhão Com o lombilho na mão Queremos mais atenção, Sustentem o palavreado Porque o Gaúcho ultrajado Não aguenta desaforo Se precisa, entrega o “couro” Pra não morrer desonrado!

vais de Músicas Gaúchas. Autor de nove obras, Moreira escreveu dois poemas inéditos para este Caderno, especialmente para homenagear Colonos e Motoristas. CONFIRA NOS QUADROS ABAIXO.

O motorista - Jorge Moreira Voltei o meu pensamento Ao meu Patrão lá de cima Pra que acolha minhas rimas De alegria e sentimento... Saúdo neste momento Meus amigos motoristas, Velhos tauras idealistas Que estradeiam chuva ou vento!... Volteando campo e querência Pelos caminhos do pampa, Subindo ou descendo rampa, Destemido caminhoneiro, O teu perfil de pioneiro, Campeando rastros e rumos Com meus versos eu asssumo Gratidão ao teu Padroeiro! Ressoando pelas estradas O eco da tua buzina, Vais cumprindo a tua sina No progresso que transporta, Levando de porta em porta Dentro do “carga pesada” Na tua carreta “enlonada” O alimento que conforta. Esta tua luta não para... É pena que lá no “Planalto” Não tem verbas pra asfalto E te negam mais atenção No vai-e-vem por este chão... Desconhecem tua valia E a tua luta, noite e dia, Transportando a produção... Esquecem os Governantes Um ditado mui sabido, Em toda a parte repetido... Até criança iletrada Sabe de cor e salteada Esta sentença do povo Que eu digo agora, de novo: “Governar é abrir estradas”!... Por isto hoje eu te saúdo No teu dia consagrado. Com o Colono a teu lado És o esteio da Nação... Eu peço a Deus, teu Patrão, Ao teu bom Padroeiro amigo Que te livre dos perigos Existentes neste Chão... E enquanto tropear as trilhas Proteja a tua família Que deixaste no Rincão!....


A VOZ DOS A

C A D E R N O C O L O NO E M O T O R I S T A J u l h o 2 0 11

Programa SOS CAMINHONEIRO é transmitido por 30 emissoras de rádio do RS de segunda a sábado

CAMINHONEIROS

voz amiga que acompanha os caminhoneiros do Rio Grande do Sul pelas manhãs informa, auxilia na busca de cargas roubadas e, também, denuncia os mais diversos crimes contra motoristas e seus meios de trabalho: os caminhões. Assim é o programa SOS Caminhoneiro: noticiário que presta um serviço de utilidade pública e é transmitido por 30 emissoras de rádio do Rio Grande do Sul, de segunda a sábado. Há 15 anos, o editor e apresentador do programa é o jornalista Francisco Dias, 75 anos. Natural do município de Erechim, Chico Dias, como é conhecido, conta que o SOS surgiu há cerca de 30 anos, na cidade de São Marcos, durante uma festa de motoristas promovida pela Associação local da categoria. “O programa começou com o então radialista Idivar Appio, de Vacaria, que mais tarde elegeu-se deputado estadual e levou a ideia para a Assembleia Legislativa”, explica. “Antes de se chamar SOS Caminhoneiro, sua denominação era SOS Motorista. Com o convite que Appio me fez para ajudá-lo na continuidade do programa, trocamos o nome, já que o serviço a que se propunha era mais especificamente dirigido

ao motorista de caminhão”. O jornalista lembra a época em que a abrangência do programa foi ampliada. “No início, o SOS era transmitido somente por uma emissora da capital. Com a minha chegada, resolvemos aumentar o seu alcance e formamos, no interior do Estado, uma rede de 30 emissoras que passaram a ser nossas parceiras, divulgando os nossos boletins informativos”, diz. O programa, além de um noticiário, apoia os caminhoneiros. “O SOS mantém desde a sua origem o mesmo objetivo: dar o apoio necessário às dificuldades dos caminhoneiros na estrada”, afirma. Francisco Dias adianta que graças ao sucesso do trabalho o próximo passo é ampliá-lo. “Este ano, ainda, pretendemos aumentar o número de emissoras no Rio Grande do Sul e avançar pelo Estado de Santa Catarina, tendo em vista o serviço de utilidade pública que o SOS Caminhoneiro presta nos dois Estados”. Os caminhoneiros reconhecem o trabalho realizado. “O retorno por parte deles é muito bom e gratificante. Há até um slogan que foi criado por eles: O programa que é a voz dos caminhoneiros”, enaltece.

INSEGURANÇA PREOCUPA

Os dados alarmantes de crimes contra caminhoneiros é uma das preocupações para Francisco Dias. “A falta de segurança nas estradas e o crescimento do crime organizado são preocupantes. Os prejuízos com o furto e o roubo de cargas superam a casa dos R$ 900 milhões. Não há um dia que não ocorra o registro de um caminhoneiro assal-

tado”, alerta. “O papel da Delegacia de Roubo e Repressão ao Roubo de Cargas, de Porto Alegre, tem sido fundamental no combate aos criminosos, além do bom trabalho executado pelas Polícias Rodoviárias Federal e Estadual e da Brigada Militar”. Para contribuir está disponível o telefone 0800-510-4701. O contato pode ser feito 24 horas e recebe denúncias e informações de delitos. A identidade dos informantes é preservada.

7

O SOS mantém desde a sua origem o mesmo objetivo: dar o apoio necessário às dificuldades dos caminhoneiros na estrada CHICO DIAS

Arquivo pessoal


8

Olimpíada integra trabalhadores

CA D E R N O C O L O N O E M O T O R I S T A J u l h o 20 1 1

A

rurais em ANTA GORDA

s noites de sextas-feiras e as tardes de sábado foram de muita integração e animação, em Anta Gorda, pelo menos durante as sete semanas em que ocorreu a sexta edição da Olimpíada Rural Intercomunitária. Os jogos, que envolveram modalidades para homens, mulheres e para ambos os sexos, de acordo com o dirigente da secretaria de Esportes, Aimar Malaggi, foi idealizado

para comemorar o Dia do Colono. “O objetivo da olimpíada é integrar as comunidades rurais, fazendo da atividade e da prática esportiva um elo de amizade, respeito e educação e, também, proporcionar aos munícipes momentos de lazer e recreação”, afirma. A disputa é uma promoção da prefeitura de Anta Gorda, em parceria com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Emater-RS/Ascar. Os jogos envolvem 13

comunidades e cerca de 700 pessoas, entre jogadores, treinadores e fiscais. As modalidades realizadas foram futsal (masculino); bocha 48 e 16 metros (masculino); e 8 metros (misto). Também ocorreram os jogos de bisca (feminino e masculino); e quatrilho (masculino). Em uma das tardes de disputa, o Jornal Opinião foi até Anta Gorda para contar um pouco das diversas histórias que se cruzam nos jogos.

Aimar Malaggi faz parte da comissão organizadora dos jogos Marilurdes, Deonila, Aldineia e Leonice concentradas no jogo de cartas

Mulheres na Bisca

A Bisca é um jogo de cartas cujo principal objetivo é acumular mais pontos que o adversário, baseandose nas cartas que são pescadas e descartadas. O número de participantes pode variar de dois até quatro jogadores. Na disputa, sediada na Linha Contini, encontramos uma roda de mulheres que reunia Marilurdes Musselin, 50 anos, as cunha-

Riboldi e Dalla Rosa (atrás) fiscalizam os jogos para que as regras sejam cumpridas

das Deonila Brancher, 50 anos, e Leonice Maria Brancher, 40 anos, e a jovem Aldineia Girelli, de 16 anos. O hábito que ainda não é tão comum entre os jovens é tradicional na família de Aldineia, de Linha Tunas. “Acabei substituindo outra mulher que não pode vir. Sou a mais nova da comunidade e uma das únicas que participa dos jogos. Desde pequeninha jogo bisca. Meus pais jogam sempre e acabei aprendendo também”, diz.

Fiscais

Quem pensa que os jogos são levados na brincadeira se engana. Os fiscais acompanham todas as partidas e garantem o entretenimento com regras. “Entregamos as planilhas, os baralhos e ficamos cuidando para que não haja nenhum imprevisto. Os participantes também devem respeitar algumas regras, tais como: não fumar enquanto estão jogando e os demais jogadores não podem ficar ao redor das mesas para

não interferir no jogo e para que o competidor fique mais tranquilo”, explica o fiscal Celso Riboldi, 49 anos. “A integração está ótima, o pessoal está gostando muito e praticando o esporte com muito prazer”. Para o fiscal Laerte Dalla Rosa, 25 anos, além da competição tem a amizade. “É um evento muito bom. Mobiliza, há cada dois anos, todo o município, as maiores comunidades. Acima da competição tem a amizade entre as localidades, desde a juventude até o pessoal de mais idade”, destaca.

Aldineia aprendeu a bisca ainda criança Jogos de carta reuniram dezenas de participantes no ginásio de Linha Contini


Sucessão Rural na Produção de Erva-Mate

O agricultor Jair Luiz Titton, 48 anos, de Linha Primeira Itapuca, sempre participa dos jogos de bocha. “Não temos muito treino, mas procuramos participar. Jogo bocha 16 metros. É um passatempo, mais para fazer novas amizades e reunir os amigos já conhecidos”, diz. Produtor de erva-mate, Titton

Titton está desde criança na agricultura e espera que os filhos deem seguimento à produção de erva-mate

Retorno para a agricultura

C A D E R N O CO L O N O E M O T O R I S T A J u l ho 2 0 1 1 está desde criança na agricultura e mostra-se satisfeito com a produção e com a participação dos filhos, que garantiram a continuidade da atividade. “Trabalho desde pequeno na roça. Tenho dois filhos na propriedade, o Rodrigo e o Cidimar, de 17 e 22 anos. Se todos forem para a cidade o que será?”, indaga. O agricultor, que já trabalhou como agregado, hoje cuida da sua própria produção. “Eu fui agregado durante cinco anos e depois resolvi comprar uma terra. Agora estou morando no que é meu. Um dos meus filhos deve adquirir mais um pedaço de terra para ampliar nossa produção”, afirma. Jair Titton e a família colhem, em média, entre 2,5 mil a 3 mil arrobas de erva-mate por ano e também possuem entre 45 e 50 mil mudas para vender para os clientes.

9

Jogo de bocha 16 metros é uma das modalidades do masculino

Eu fui agregado durante cinco anos e depois resolvi comprar uma terra. Agora estou morando no que é meu. JAIR LUIZ TITTON

A produtora rural Gelmira Guzi Caumo, 49 anos, de Linha Santo Antônio, tem como esporte preferido a bocha. “Sempre compareço aos jogos. Somos uma comunidade pequena e, por isso, tem que participar. É bom para as mulheres, que saem de casa, assim tem alguma coisa para se distrair”, acredita. Gelmira é casada e tem uma filha, ela deixou cedo a propriedade para estudar e trabalhar, mas preferiu retornar para atividade. Atualmente, ela cuida da produção de fumo, milho e leite. “Eu e meu marido trabalhamos na lavoura e cuidamos dos meus pais”, declara. “Eu saí para estudar, depois desisti, fui funcionária de uma fábrica de calçados e, mais tarde, casei e voltei para o interior para morar com meus pais. Retornei porque gosto da agricultura, e estou fazendo o trabalho que gosto”, garante.

Retornei porque gosto da agricultura, e estou fazendo o trabalho que gosto

Público acompanha a bocha de 16 metros em Linha Contini

GELMIRA GUZI CAUMO

Gelmira chegou a sair de casa para estudar e trabalhar, mas depois casou e retornou para o interior

Mulheres praticam a bocha de oito metros

Linha Contini sediou uma das etapas da olimpíada rural


10

C A D E R N O C O LO N O E M O T O R I S T A J u lh o 2 0 1 1

O “Jesus” da agricultura

Tio do cantor Michel Tello

Durante as competições rurais em Anta Gorda encontramos, em Linha Borghetto, José Pedro Tello, 51 anos, tio do cantor Michel Tello. De acordo com ele, o pai de Michel nasceu em Anta Gorda, mas depois mudouse para Medianeira, no Paraná, e após para Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. José Pedro, na verdade, é segundo tio de Michel, mas conta que eles sempre mantiveram um carinho de tio e sobrinho. “O meu pai é irmão do avô dele e a mãe é irmã da avó dele, eu e o pai dele somos primos-irmão, mas sempre convivemos junto. Ele não é sobrinho direto, mas sempre nos tratamos como tio e sobrinho. Desde pequeno, ele ficava junto com a gente cantando, nos vendo tocar gaita. Víamos nele a vontade de cantar. Ele tinha o dom da música e o pai dele incentivou”, explica. Casado e pai de quatro filhos, Tello trabalha com a plantação de citrus, entre eles, bergamota e laranja, e possui um pequeno comércio. Para ele, as olimpíadas são importantes, pois envolvem todas as comunidades, mas carece de uma participação mais efetiva dos mais novos. “O maior problema do interior é a falta de jovens. Podemos ver que as olimpíadas são fei-

tas por pessoas de idade. É preciso inserir mais os jovens, porque senão, quando morrer essa geração, morrerão as olimpíadas também”, alerta. Tello produz nas terras da família e assim está dando continuidade ao trabalho dos avós. Conforme ele, todos os descendentes dos Tello, que vieram da Itália, estão sepultados na Linha Quarta. O agricultor revela preocupação também quanto ao futuro na sua propriedade. “É um problema. A minha caçula, Ana Julia, tem 11 anos e mostra um pouco de vocação para ficar. Quer ser professora. Quem sabe arruma um agricultor. Eu também era agricultor e casei com uma professora”, brinca. O outro filho de 16 anos pretende seguir a carreira artística. “O Ariel gosta de violão, vai com o Michel fazer uma turnê para pegar experiência. Ele estuda na Escola Técnica de Guaporé”, conta.

Tello conta que o sobrinho famoso, Michel, quando era criança, ficava assistindo às rodas de gaita da família

O produtor Alenir Roque Malaggi, 53 anos, é muito conhecido em Anta Gorda como “Jesus”. O apelido não foi dado de graça. Malaggi atua há mais de 10 anos como Jesus Cristo nos espetáculos da Via Sacra, onde é encenada a Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. “Comecei assistindo a alguns ensaios, orientei um estudante que estava encenando o Jesus, há uns 10 anos, e aí me disseram para fazer. Comecei e gostei”, relata. Malaggi é adepto dos jogos rurais. “Eu gosto da competição, a adesão do público é boa, participo

Malaggi revela que incentiva a única filha a ganhar a vida fora da agricultura

O maior problema do interior é a falta de jovens. Podemos ver que as olimpíadas são feitas por pessoas de idade

JOSÉ PEDRO TELLO

Até me considero um bom jogador. Mas só experiência na hora de jogar não adianta, é preciso ter sorte também

PREMIAÇÃO E FESTA

Na próxima segunda-feira, dia 25, feriado municipal em Anta Gorda, ocorre uma festa especial em comemoração ao Dia do Colono e Motorista e a entrega da premiação aos vencedores da sexta edição da Olimpíada Rural Intercomunitária. Todos os participantes recebem prêmio de participação, do primeiro aos quarto lugares ganham troféu e medalha e a comunidade com mais títulos ganhará troféu de campeã. A Festa do Colono e o Desfile de Máquinas Agrícolas ocorrem no Parque Municipal Aldi J. Bisleri a partir das 9h. As atividades voltadas aos agricultores acontecem a cada dois anos e neste ano iniciaram-se no dia 11 de junho e encerram-se neste sábado, dia 23 de julho. Programação 9h - Desfile e bênção das máquinas; 11h30min - Abertura oficial e entrega da premiação das Olimpíadas Rurais; 12h30min - Almoço de confraternização; 14h - Baile do Colono com Banda Explosão do Baile; 17h – Encerramento.

de tudo. Até me considero um bom jogador. Mas só experiência na hora de jogar não adianta, é preciso ter sorte também”, aponta. O agricultor, atualmente, trabalha com suínos e fumo. “Estou me desfazendo da propriedade de suínos. Meu carro-chefe é a fumicultura”, fala. “Tenho uma filha de 22 anos. Ela mora comigo, mas trabalha fora. A gente procura educar os filhos para que eles procurem ganhar a vida fora da agricultura. Quem tem propriedade um pouco rústica como a minha, tem que pensar assim”, expõe Malaggi. A produção de Alenir Malaggi com a fumicultura chega a 400 arrobas por ano.

Concentração de público foi grande para assistir aos jogos de bocha na comunidade de Linha Borghetto

ALENIR ROQUE MALAGGI


11

TEIXEIRINHA, uma trajetória C A D E R N O CO L O N O E M O T O R I S T A J u l ho 2 0 1 1

identificada com colonos e motoristas TGAQdfwj__

P

Um dos maiores artistas do Brasil, Vitor Mateus Teixeira, o TEIXEIRINHA, em várias oportunidades, homenageou colonos e motoristas com seu trabalho. Nas músicas e até no cinema, ele demonstrou respeito e admiração para com as duas classes.

ara os colonos, Teixeirinha compôs duas canções que ainda hoje são lembradas e interpretadas por diversos cantores: Colono Brasileiro e O Colono. As letras valorizam o árduo trabalho da gente que vive da terra e ressalta as vantagens da vida interiorana em comparação com a agitação dos centros urbanos. Certa vez, Teixeirinha explicou como surgiu a inspiração para escrever O Colono: "Eu sou 'grosso'? Talvez. Eu posso cantar o 'grosso' também. Outro dia eu vinha pela rua da Praia (Porto Alegre) e vi um colono, de chapelão, perdido, sem saber o que fazer, e dois rapazes, filhinhos de papai, gozando com a cara dele. Então eu fiz uma música dizendo para esses meninos que, afinal, sem o colono, eles não iam ter o feijão e a batata na rica mesa deles.

CINEMA

Colono Brasileiro Morando aqui na cidade Viver de rei e rainha Um dia falta de carne Outro feijão e farinha Sempre faltando uma coisa No centro no fim da linha Não há como lá na roça Um luar e uma palhoça Antiga vida que eu tinha O Colono Não ri seu moço daquele colono Agricultor que ali vai passando Admirado com o movimento Desconfiado lá vai tropicando Ele não veio aqui te pedir nada São ferramentas que ele anda comprando Ele é digno do nosso respeito De sol a sol vive trabalhando Não toque flauta, não chame de grosso Pra ti alimentar, na roça está lutando.

Aos motoristas, Teixeirinha compôs Motorista do progresso, Hino ao motorista e Motorista brasileiro, que serviram de trilha sonora para o filme Motorista sem limites, lançado no cinema em 1969. A película contava a história de um motorista de caminhão, que passa a maior parte do tempo cantando, e vira herói ao salvar sua namorada e o pai dela de perigosos assaltantes

de banco. No elenco, além de Teixeirinha estavam Mary Terezinha, Valter D’Avila, Jimmy Pipiolo, Antônio Nardini, Ivan Trilha, José Terbay, Osvaldo Ávila, Liorey Gomes, Rejane Schuman, Dionízio Stelo, Jason Natel Lero e Nelson Lima.

Hino Ao Motorista São Cristóvão salve, salve O valente motorista Quando vai e quando vem Deslizando sobre a pista Vai em frente motorista Cumprindo a tua missão Leva amor, leva saudades Dentro do seu coração

Motorista Brasileiro Alô, alô motorista Do Brasil terrinha amada É o soldado do transporte Uma bandeira desfraldada O defeito que eles têm Principalmente a gauchada Quando vê um rabo de saia Estanca o carro na estrada

TGAQdfwjO!#)_P)009W#Q


12

Batata doce C A D E R N O C O LO N O E M O T O R I S T A J u lh o 2 0 1 1

na cidade

Um rápido passeio pelos bairros de Encantado é suficiente para perceber o contraste entre o cenário urbano, de ruas pavimentadas e das construções, com o rural, de pequenas lavouras. Moradores com origem na agricultura, como Neudi Bertoti, aproveitam locais antes tomados pelo mato para fazerem uma pequena roça e produzirem alimentos.

U

ma área de terras de aproximadamente dois mil metros quadrados, localizada no Bairro Lambari, em Encantado, em breve estará repleta de batatas doce. O espaço pertence ao município, mas há algum tempo vem recebendo os cuidados de Neudi Bertoti, 56 anos. Nascido na localidade de Guabiroba, divisa com Doutor Ricardo, há 24 anos ele reside na cidade. Casado com Lourdes, pai de Cristine e avô de Letícia, de nove meses, Bertoti conta que gosta do trabalho na roça. “Se eu

NEUDI BERTOTI, 56 ANOS

pudesse fazer mais força, trabalharia mais. Gosto da colônia, mas problemas de saúde me impedem de aumentar a carga horária”, conta. Bertoti é conhecido na redondeza. Ele recebeu autorização da prefeitura para cuidar do local. “Antes era só capoeira. Até os vizinhos ficaram faceiros, porque conservo a área limpa. Aqui, por exemplo, era pura capoeira”, diz, reconhecendo a importância do agricultor para o desenvolvimento. “Todo mundo precisa do agricultor. É um trabalho bonito e tem que ser feito com capricho”.

VICENTE ZANON, 73 ANOS

Área de dois mil metros quadrados, localizada no Bairro Lambari, em Encantado, serve de lavoura para o plantio de batatas. ELIANE ZANON, 38 ANOS

Apelo aos jovens O trabalho de Neudi Bertoti, no dia em que o Jornal Opinião fez a reportagem, contava com com a ajuda da família Zanon. Vicente, 73 anos, nasceu em Linha São Marcos, mas há 52 anos mora em Linha Chiquinha e sempre lidou com a terra. “Plantei de tudo na roça, soja, milho. Criava suíno, vaca de leite”, lembra. Pai de oito filhos, apenas um, o Norberto, o acompanhou na agricultura. Os irmãos preferiram deixar a roça e buscar a vida na cidade. “Hoje, para segurar alguém na colônia é difícil”, constata Zanon. “Vejo pela minha vizinhança. Todo

mundo quer ir embora. E até teria gente bem colocada, com chiqueirão de suínos. Mas juventude não é fácil”. Aliás, quando fala nos mais jovens, Zanon faz um apelo. “Eu gostaria que a juventude se adaptasse à vida dos pais e ficasse ajudando na propriedade. Porque se todo mundo abandonar a agricultura, amanhã vamos colher o quê?”, questiona. A nora Eliane, de 38 anos, é casada com Norberto. O casal tem uma filha, a Vitória, 10 anos. “Ela gosta da terra, já ajuda a tirar leite das vacas”, conta Eliane, que sempre trabalhou com a agricultura.

Bertotti recebeu autorização da prefeitura para cuidar do local


PROFISSÃO MOTORISTA: atividade em fase de transição Divulgação

A

situação do motorista profissional no Brasil e no Rio Grande do Sul é semelhante. É uma profissão por vezes sofrida, pois a maioria passa muitos dias fora de casa e está sujeita aos mais diversos riscos, entre eles a insegurança. No país, de acordo com Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e de Logística do Rio Grande do Sul (Setcergs), existem cerca de 2,5 milhões de caminhões trafegando. Logo, pelo menos, 2,5 milhões de motoristas de caminhões em circulação nas estradas e nos municípios brasileiros e mais uma boa porcentagem de motoristas profissionais de ônibus. Para o presidente do Setcergs, José Carlos Silvano, a profissão ainda é atraente, mas o futuro preocupa. “É uma área que ainda atrai jovens que buscam, além do seu ganho de vida, experiência, vivência, conhecimento do Brasil inteiro,

C A D E R N O CO L O N O E M O T O R I S T A J u l ho 2 0 1 1

13

Renovação da frota de caminhões exige atualização dos motoristas para aprender a lidar com veículos cada vez mais modernos e com alto nível de tecnologia

Divulgação

A TRANSPOSUL é um dos maiores eventos voltados para o setor de logística e transportes do Brasil e aconteceu em Porto Alegre de 13 a 15 de julho

que é o dia a dia dos motoristas profissionais. Esta é a parte boa. Mas tem também o lado não tão bom, que é o risco, a insegurança nas estradas, o roubo de cargas, assalto a motoristas, as estradas insuficientes para as novas tecnologias, obsoletas, construídas há mais de 50 anos, onde o risco de acidentes é frequente”, alerta.

E os jovens ainda não estão preparados para esse tamanho de tecnologias que estamos encontrando nas estradas. JOSÉ CARLOS SILVANO

ATUAÇÃO DO SETCERGS O Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e de Logística do Rio Grande do Sul é uma entidade representativa dos transportadores de cargas e logísticas do Estado, que tem 52 anos e possui 350 empresas associadas e mais de oito mil empresas transportadoras no RS. A entidade representa e tutela todos os interesses dessas empresas que estão envolvidas com 86% do transporte de cargas no Estado e 62% em todo o Brasil. A última ação da enti-

dade foi a organização da 13ª Transposul, que é a maior feira de logística de transportes do Sul do Brasil, e segunda do país. O evento reuniu 150 expositores de todos os setores de transportes, desde caminhões até bandeiras de petróleo, representantes de tecnologias para a área, as entidades representativas de transportes coletivos e autônomos, entre outros. A Transposul aconteceu no Centro de Eventos da FIERGS, em Porto Alegre, nos dias 13, 14 e 15 de julho.

O PERFIL DO MOTORISTA HOJE Silvano explica que a classe está em fase de mudança. “Vivemos um momento de transição, onde tem uma frota velha em circulação, fruto do crescimento do Brasil nos anos 70, com motoristas antigos. Mas tem também uma frota sendo renovada, com novas tecnologias: motorização eletrônica, emissão de poluentes mais controlada, rastreadores, monitoramento de distância dos caminhões, e com a necessidade de termos motoristas mais atualizados. E os jovens ainda não estão preparados para esse tamanho de tecnologias que estamos encontrando nas estradas. É um período de transição que teremos que passar para galgarmos um novo espaço de tecnologia semelhante ao que existe em países mais adiantados, notadamente, na Europa e nos Estados Unidos”, explica.

RS 129 MUÇUM


14

ESTATUTO DO MOTORISTA C A D E R N O C O LO N O E M O T O R I S T A J u lh o 2 0 1 1

é a grande luta da categoria

O

s representantes do setor de transporte estão debatendo o Estatuto do Motorista, um projeto de lei que pretende regulamentar a profissão de condutores de veículos empregados ou autônomos, desde caminhões, vans e ônibus. O projeto de lei (PLS 271/2008), de autoria do senador gaúcho Paulo Paim (PT), estabelece a regulamentação da profissão, jornada de trabalho de seis horas, com período de descanso, recebimento de horas extras e de concessão de aposentadoria especial depois de 25 anos de serviço – o que acontecia até 1995, antes da reforma previdenciária do governo Fernando Henrique Car-

doso. O projeto está sendo discutido, através de audiências públicas, que já somam mais de 30. Não há data para ele ser votado pelo Senado. De acordo com o presidente do Setcergs, José Carlos Silvano, o sindicato já participou de cerca de quatro audiências públicas para discutir a matéria. “Estamos envolvidos nas discussões. É importante debater a situação do tempo de direção do motorista, as condições de segurança nas estradas, a jornada de trabalho do motorista, das drogas existentes nas estradas. Enfim, todas as questões atinentes à profissão do motorista profissional que

NO BRASIL EXISTEM CERCA DE 2,5 MILHÕES DE CAMINHÕES TRAFEGANDO

Projeto de lei de autoria do senador gaúcho, Paulo Paim, pretende regulamentar a profissão de condutores de veículos empregados ou autônomos

estão sendo discutidas no ambiente do Estatuto do Motorista. A nossa esperança é que algum dia a gente tenha um regramento para essa profissão tão nobre, e que também dê segurança jurídica às empresas transportadoras, de forma que tenha um regramento”, afirma. “Nossa esperança é que tenhamos ainda este ano, no máximo ano que vem, uma legislação bem ampla, que possa abrigar as especificidades dos motoristas, em todas as áreas, com a definição da sua jornada de trabalho, do seu tempo de direção, das suas condições de trabalho, de forma igualitária. E que possa dar segurança a todos, às empresas e aos profissionais”.

RS 129 CURVA DA MORTE

Entrevista: O QUE DIZ O AUTOR DO PROJETO O senador Paulo Paim (PT/RS) fala sobre o conteúdo do Estatuto do Motorista, destacando os objetivos, as preocupações e o envolvimento de toda a sociedade brasileira em busca de melhores condições para a profissão.

Com que intuito o senhor criou este projeto? O Estatuto do Motorista Profissional é destinado a regular a atuação, no mercado de trabalho, dos profissionais, empregados ou autônomos, que têm como ofício a condução de veículo automotor. O projeto vem no sentido de fazer justiça a estes profissionais que trabalham em veículos de transportes ou de carga e que sofrem com a gama de problemas enfrentados diariamente no trânsito. A poluição sonora, engarrafamento, superlotação de veículos, tensão, insegurança, tudo isso leva a um desgaste emocional e físico surpreendente. Nada mais justo que estes profissionais tenham garantidos direitos que possam amenizar esses efeitos nocivos a que são submetidos diariamente. A

proposta cuida de regular a atividade profissional sob alguns aspectos, entre eles, as restrições de ingresso na profissão, a oferta de tempo de trabalho e também a possibilidade de aposentadoria especial. Uma das queixas dos motoristas é a condição de trabalho, que muitas vezes acaba causando problemas de saúde. Como o senhor avalia esta situação? A profissão de motorista é sem dúvida uma das que mais exige do ser humano. O elevado desgaste físico e psicológico de quem trabalha ao volante é mais do que evidente, é cientificamente comprovado. Diversas doenças e distúrbios atingem os motoristas profissionais em proporção muito maior do que o restante da população. Problemas coronarianos e de coluna são exemplos típicos. Além das enfermidades, diretamente ligadas ao estresse da profissão e às condições frequentemente inadequadas de trabalho, o motorista sofre com a ausência de regras que dêem diretriz para o regular exercício profissional.

A profissão de motorista é, sem dúvida, uma das que mais exige do ser humano. O elevado desgaste físico e psicológico de quem trabalha ao volante é mais do que evidente, é cientificamente comprovado. PAULO PAIM

Como os demais setores da sociedade estão inseridos no Projeto? O Estatuto envolve toda a sociedade civil de maneira direta ou indireta, como sindicatos, federações, empresários do setor de transporte, cooperativas, motoristas, pedestres, passageiros, frentistas de postos de combustíveis, e também os Poderes LeDiv gislativo e Juul ga ç ão diciário. Estamos ouvindo todos estes setores para chegarmos a uma proposta de Paim apresentou o projeto em 2008 consenso.


C A D E R N O CO L O N O E M O T O R I S T A J u l ho 2 0 1 1

ENTREVISTA – ROGÉRIO WINK, diretor da Motomecânica

O CARRO é o mesmo, o MOTORISTA muda Um dos serviços oferecidos pela Motomecânica, a maior concessionária Volkswagen da região, com mais de 60 anos de história, é a locação de veículos. Nesta entrevista, o diretor ROGÉRIO WINK fala sobre as vantagens de se alugar um carro.

Divulgação

Jornal Opinião - Como é a procura por locação de carros no Vale do Taquari? Rogério Wink - A procura apresenta tendência de alta. A Motomecânica está neste mercado há 15 anos e continua investindo forte nos serviços e na sua renovada frota.

JO - Quais são os carros mais procurados? Wink - Os veículos mais procurados são os carros de entrada, especialmente o Gol , com maior rendimento na relação custo/benefício. JO - Qual é o perfil deste motorista que tem o hábito de alugar um carro? Wink - O cliente que mais utiliza o serviço são as empresas, especialmente. A pessoa física, no caso de uma necessidade adicional ou o segundo carro.

Wink: Motomecânica está há 15 anos no mercado de locação

JO - Para que é mais utilizado o

carro alugado? Wink - Durante a semana, a trabalho e finais de semana para turismo.

JO - Quais são as principais regras/exigências que o locador deve cumprir no momento em que aluga um carro? Wink - Basicamente são três quesitos: ter 21 anos completos, carteira de habilitação tipo B, com emissão superior a dois anos, e possuir cartão de crédito.

JO - Quais são as vantagens do carro alugado? Wink - Para as empresas, custo. O empresário, em vez de investir na aquisição de veículos, seu gerenciamento, manutenção e despesas de uso, acaba destinando esses recursos na atividade final do seu negócio. Para a pessoa física, em vez de adquirir o segundo carro e em emergências, o veículo locado é muito utilizado.

Segurança e saúde do Trabalhador Rural passam pela conscientização de produtores

USO DE AGROTÓXICOS

Outra grande preocupação é o uso incorreto de agrotóxicos pelos trabalhadores rurais. “A utilização do veneno, sem qualquer critério, oferece um risco químico que deve ser neutralizado. O uso de

equipamentos de proteção individual adequado e pessoas treinadas para lidar com esse tipo de situação também são importantes”, esclarece. A armazenagem correta das embalagens não deve ser esquecida. “O agricultor precisa ter um depósito apropriado para os produtos, trancado e fechado. O local deve ser distante de fontes de água e residências. Com as embalagens vazias deve ser feita tríplice lavagem e, após, elas devem ser devolvidas nos programas oficiais de recolhimentos. Os equipamentos de aplicação devem ser bem regulados, com o objetivo de reduzir a quantidade de produto aplicado e as contaminações do meio ambiente e aplicador”, explica.

Senar

“Um dos problemas mais sérios com relação à saúde do nosso produtor rural encontra-se, principalmente, no trabalho com máquinas. A maioria das mortes em acidentes rurais acontece nos tombamentos de tratores agrícolas. Temos ainda o problema de projeção de partes móveis, como roçadeiras, trituradores e tomadas de força”, alerta. Cuidados permanentes também são importantes. “A vibração do motor, se o trator não possuir um banco que amorteça o impacto de forma consistente, certamente trará problemas para a coluna vertebral e, ainda, o ruído produzido deve ser atenuado com o uso de protetores auriculares, pois a exposição contínua ao som alto provoca redução da capacidade de audição”, aponta Rosa.

JO - Como foi o início da Motomecânica Locadora de Veículos e como é o trabalho realizado hoje? Wink - A Motomecânica sempre focou seu trabalho na qualidade do atendimento, aproveitando a logística e a tradição da Concessionária Volkswagen de muitos anos no mercado do Vale do Taquari. Essa filosofia continua sendo o diferencial da empresa que, neste ano, completou 15 anos no mercado.

Segundo Paulo da Rosa, acidentes com tratores são as maiores causas de morte entre os agricultores

Divulgação

A atividade na agricultura tem exigido cada vez mais cuidados para garantir a segurança e a saúde do trabalhador rural. As duas condições são reguladas pela Norma 31 (NR 31), do Ministério do Trabalho, que tem o objetivo de estabelecer regras a serem observadas na organização e no ambiente de trabalho, de forma a tornar compatível o planejamento e o desenvolvimento das atividades da agricultura, com a segurança e saúde. Mesmo com a norma, a saúde e a segurança do produtor rural ainda precisam da conscientização do próprio trabalhador agrícola. Diversas instituições oficiais desenvolvem e oferecem treinamentos para o correto trabalho e manejo nas propriedades rurais, entre elas, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-RS). O engenheiro agrônomo e de segurança do trabalho do Senar, Paulo da Rosa, revela que a maior causa da morte de agricultores está relacionada ao acidente com veículos agrícolas.

15


C A D E RN O C O LO N O E M O T O RI S T A Ju l h o 2 0 1 1

Fotos: arquivo pessoal

granja do Lahude, em Encantado. “Na época dirigia só dentro do horário comercial, puxava ração, ovos, entre outros produtos. Ficava só no município, ia para as filiais da granja em Linha Garibaldi e Linha Argola. Fiz isso durante dois anos. Depois passei a trabalhar na transportadora Sangalli e a viajar pelo país. Transportava de tudo, fazia fretes no Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso e, com o tempo, comecei a fazer Norte e Nordeste”, conta. Desde 1989, Gilberto trabalha como autônomo. “No início tinha um sócio, mas sempre pensei em trabalhar sozinho e fui comprando pequenas partes, aumen-

DISTÂNCIA DE CASA

Gilberto Longo fica, em média, 20 dias fora de casa e quando retorna a Encantado permanece de oito a 10 dias com a família. Ele é casado e tem uma filha de 22 anos. “Aguentar a saudade não é fácil, mas não adianta, tem que enfrentar. Na hora da despedida é a maior dificuldade”, revela.

INSEGURANÇA

Giba e a esposa Eliane

O caminhoneiro já passou por um momento complicado na profissão. Em agosto de 1993, ele foi assaltado na BR 116, divisa de Minas Gerais com a Bahia, e ficou três dias e três noites sequestrado. “Fiquei amarrado no mato, só rezando. Os próprios marginais me soltaram. Pegaram o caminhão para fazer o que queriam e depois abandonaram. Fiquei sem contato com a família. Na época só falávamos a cada dois dias. Quando passou o segundo dia em que eu não liguei para minha esposa, a coisa complicou em casa. O pessoal ficou preocupado. Fiquei com muito medo, mas graças a Deus deu tudo certo”, lembra. Outro fator que incomoda Giba são as más condições das estradas. “O ponto mais negativo da profissão são as rodovias. A gente diariamente enfrenta cada tipo de estrada que dá medo”, diz.

S ME TR O

A

os 49 anos, 29 deles dedicados à profissão de motorista, Gilberto Longo já percorreu muitos quilômetros e nesse caminho conheceu diversas cidades. Como está sempre na estrada, até mesmo a entrevista realizada pelo Jornal Opinião precisou ser por telefone. No dia, ele estava em Mossoró, Rio Grande do Norte, a 4,2 mil quilômetros de Encantado, enfrentando um calor de 45ºC, enquanto aqui no Rio Grande do Sul, os termômetros chegavam a marcar temperaturas negativas. “Giba”, como é chamado pelos companheiros de profissão, iniciou a trajetória como motorista trabalhando para a

IL Ô

Com quase 30 anos de estrada, Gilberto Longo orgulha-se da profissão

Mossoró-RN

QU

seria caminhoneiro”

Giba concedeu entrevista por telefone enquanto estava em Mossoró, no Rio Grande do Norte

4, 2

“Se fosse nascer de novo

Encantado-RS tando minha quota na sociedade, até que adquiri um caminhão e virei autônomo. O meu primeiro caminhão foi um Mercedes Benz 608 e hoje estou com um 124”, orgulha-se.

ROTINA

Mesmo na estrada, o motorista mantém uma rotina de trabalho. “Sou muito organizado. Acordo por volta das 5h30min e sigo toda a rotina normal: tomo café, almoço, depois faço meus 40 minutos de descanso. Às 17h30min faço meu chimarrão, às 19h janto e, às 22h30min, vou dormir, no caminhão mesmo”, conta. Torcedor do Internacional, “Giba” tem o rádio como companheiro. “Ultimamente tenho um cunhado que viaja com o caminhão dele e conversamos pelo rádio amador. Ouvimos futebol pela Rádio Gaúcha, através da onda curta, e acompanhamos o que acontece no Rio Grande do Sul”, comenta.

NO CAMINHO CERTO

Gilberto Longo já percorreu muitos Estados brasileiros. De acordo com ele, as únicas capitais que não conhece é Rio Branco, no Acre, e Manaus, no Amazonas. “É uma profissão que é preciso gostar muito. E eu gosto do dia-a-dia do caminhão, da estrada. Cada lugar que passo tenho conhecidos. A gente, que veio do interior, não tinha muitas possibilidades de ser alguém na vida, o caminhão foi a melhor opção”, acredita. “Estou feliz, se fosse nascer de novo seria caminhoneiro”.

Início: nos tempos do Lahude

Depois, no Sangalli

Giba e o cunhado costumam viajar juntos

Quando comprou o caminhão


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.