Vitória Stürmer Bortoletti
Fernanda Lorenzi, 31 anos, é mãe de Maria Fernanda. Desde o nascimento, a criança tem contato com os dois gatos de estimação da família.
Caderno Especial JUNHO DE 2014
CONVIVÊNCIA
Grávidas, bebês e animais O que dizem os médicos A gravidez e a toxoplasmose páginas 2 e 3
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27 de junho de 2014
O bem-estar entre pessoas e bichos Google Images
Textos: Vitória Stürmer Bortoletti
Durante a gravidez e nos primeiros meses de vida do bebê é comum surgirem dúvidas relacionadas ao convívio com os animais de estimação. Uma delas é a presença dos gatos em casa. Os felinos têm uma fama de serem traiçoeiros, mas são tão carinhosos quanto os cachorros e podem, sim, ser acostumados à presença do bebê. Obviamente que terão de ser tomados alguns cuidados para que seja proporcionado o bem-estar entre os dois e para que a sua convivência seja pacifica. A convivência com animais de estimação pode contribuir não só para o bem-estar psicológico, mas também para a prevenção e tratamento de várias doenças. A conclusão é do estudo realiza-
do por pesquisadores do Departamento de Psicologia Experimental da Universidade de São Paulo (USP). Os cientistas destacam, por exemplo, a melhora da imunidade de crianças e adultos, a redução dos níveis de estresse e da incidência de doenças comuns, como dor de cabeça ou resfriado. Conforme a médica veterinária Natália Rosa Janizella, existem inúmeras pesquisas que sustentam que a convivência de bebês com animais reduz estresse e a solidão, diminui riscos cardíacos e a ansiedade e fortalece o sistema imunológico. "Eles ajudam no desenvolvimento da criança, estimulando mo sistema imunológico, ou
"A convivência com animais de estimação pode contribuir não só para o bem-estar psicológico, mas também para a prevenção e tratamento de várias doenças."
seja, protegendo contra infecções". Os benefícios dos animais para o crescimento saudável de uma criança também são destacados pela pediatra Madelaine Meirelles. "Ter animal de estimação ensina as crianças a responsabilidade e respeito para com os outros seres vivos e aumenta a autoestima. As crianças que possuem um animal de estimação estão mais envolvidas em atividades como esportes, clubes ou tarefas", esclarece. Segundo ela, a utilização de animais durante as sessões de terapias tem como resultado melhorias significativas nos processos de tratamento de uma criança que sofre de uma doença.
27 de junho de 2014 Fotos: Arquivo pessoal
Gravidez e toxoplasmose
Maria Fernanda divide a cama da mãe com a gata Mia
Gatos dormiam no carrinho e no berço Fernanda Lorenzi, 31 anos, é mãe de Maria Fernanda e possui dois gatos em seu apartamento. Apaixonada por animais, seu primeiro pensamento ao engravidar foi como manter o convívio diário com os animais. Porém, nas consultas com o ginecologista, a muçunense informou-se sobre os cuidados perante os felinos. "Meu médico me orientou e explicou que não era necessário me desfazer dos gatos. Foi um alívio pra mim, que trato eles como filho", diz. Na gravidez, época em que a mulher fica sensível, os gatos tornaram-se o afago de Fernanda. "Eles foram carinhosos e me acalmaram durante os nove meses". Na época, Mio e Mia dormiam no carrinho e no berço de Maria Fernanda. No período pós-gravidez, quando mãe e bebê já estão em casa, alguns gatos sofrem com mudanças drásticas de rotina, de espaço e com a invasão de território por desconhecidos. Para Fernanda foi diferente. Ela "apresentou" Maria aos gatos. "Cheguei em casa e deixe eles cheirarem a Maria. Foi emocionante. Parecia que eles estavam esperando ela", afirma. Hoje, com seis meses, Maria Fernanda "chama" pelos gatos. "Ela grita quando
vê eles. Acho que todo esse amor desde pequena é porque criei ela à vontade, sempre ensinando o quão bem nos faz um animal de estimação, o que reflete principalmente na saúde dela", afirma, fazendo referência ao fato de nunca ter contraído gripe, tosse ou até mesmo pneumonia. A pediatra Madelaine destaca que deve existir a certeza que o animal é dócil e, acima de tudo, saudável, com as vacinas, vermífugos e antipulgas em dia. Ela sugere a convivência a partir do nascimento, porém, com supervisão. Em relação a alergias, a médica afirma que os gatos não provocam doenças respiratórias, todavia, se a criança já tem rinite, asma ou bronquite, o pelo dos animais pode agravar a situação.
Antes de Maria Fernanda nascer, Mio já dormia no berço
Uma coisa que acontece com a maioria dos "donos" de gatos ao engravidar é sofrer críticas das pessoas, na maior parte das vezes familiares, dizendo ser loucura passar por uma gestação e ter um bebê com gatos em casa. O triste é que alguns chegam realmente a se livrar dos bichanos, pois futuras mães têm receio de contrair a toxoplasmose, que felinos contaminados pelo protozoário toxoplasma gondii podem transmitir. Mas a doença não é conduzida somente pelos gatos e, se diagnosticada nos exames pré-natais, pode ser tratada. Porém, quando engravidam, muitas se livram dos seus animais - principalmente gatos -, pois pensam que contrairão a toxoplasmose ou até mesmo o bebê poderá ter alergias a eles. Conforme a médica veterinária Natália Rosa Janizella, as pessoas associam a toxoplasmose a gatos, pois são os únicos animais que, se contaminados com o toxoplasma, passam a eliminá-los na fezes, servindo como fonte para contaminação do meio e de pessoas. Nos outros animais, o parasita fica alojado e adormecido nos músculos, motivo pelo qual a ingestão de carnes cruas é o principal fator de risco para contaminação pela toxoplasmose. "Não há necessidade de se desfazer dos gatos, apenas evitar contato com
a higienização do animal. Seria fundamental pedir para outra pessoa fazer essa limpeza. Todavia, se não houver, aconselho a utilizar luvas e não acumular as fezes, recolhendo-as duas vezes ao dia", orienta. Ela lembra que o convívio entre felinos e gestantes pode haver, mas com a vacinação e desvermifugação dos animais. Natália explica que o gato contrai o protozoários quando come carne crua, insetos, ratos ou lagartixas que contenham cistos. Desta maneira, os gatos que não vão as ruas para caçar, e que comem apenas ração industrializada não oferecem perigo. Já a gestante se contamina somente se ingerir fezes de gatos com ovos na forma infectante. "Não se contrai toxoplasmose com lambida, mordida ou arranhada de gatos", incrementa. A forma mais comum de contágio em humanos se dá através da ingestão de alimentos e água contaminados, principalmente carnes mal passadas e verduras mal lavadas. Entre as medidas de prevenção está lavar bem as mãos antes de mexer com os alimentos; não coma carne crua ou mal cozida; ao mexer com a terra ou caixa de areia lave bem as mãos ou use luvas; só beba água filtrada ou fervida; frutas, verduras e legumes crus devem ser bem lavados.
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