Catálogo da Exposição Sette e Meia - Diego Oli - CCBNB Cariri - 2017

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Curadoria/Curatorship Adriana Botelho

Realização/Realised by Centro Cultural Banco do Nordeste - Cariri Juazeiro do Norte – CE 17 de fevereiro a 17 de abril de 2017 February 17th to April 17th 2017


Sette e Meia Diego Oli é um artista em mobilidade, fruto conjuntamente de um estado produzido pelas recentes mudanças tecnológicas e acessíveis na sociedade brasileira; transita em diversas e múltiplas esferas e espaços urbanos, virtuais e multiculturais do mundo globalizado. Bolsista selecionado pelo extinto programa Ciências sem Fronteiras - CsF, habitou por um ano na Itália, evidenciando às suas referências históricas e culturais desde a literatura de Shakespeare ao cinema de Fellini, contribuindo para sua reflexão sobre o lugar do voyeurismo na fotografia na contemporânea. É a essa figura do voyeur que somos apresentados às imagens do ensaio fotográfico Sette e Meia, lugar de convergências entre narrativas artísticas da imagem fixa e em movimento. Oli nos coloca junto a si, no contra-campo dos casais que transitam os espaços públicos de Verona. Os vemos pelas margens de rios, caminhos circundantes, praças, interiores de Igreja. Foram esses lugares, imaginemos, que no século XVI Shakespeare ambientou uma de suas mais conhecidas peças para o teatro, a tragédia de Romeu e Julieta, que refloresceu no século XIX nos chegando com os ares do romantismo burguês. Somos tocados pelos casais, corpos e gestos que interpretam os afetos,

por

uma

visualidade

que

supomos

nos

aproximar

dos

sentimentos em jogo. Partilhamos dessa forma a uma comunicação, mediada entre o artista e o episódio amoroso. A fotografia, como o cinema, numa tradição que vem da pintura constituiu-se da imagem enquanto forma de manifestação do desejo, aqui simbolizada na ação da procura, da busca a algo, a um indivíduo, ao gesto que anseia... o que lhe falta. A busca na cidade de Verona se torna material constitutivo de sua narrativa, apresentada pela trajetória dos casais, os lugares em que co-habitou.

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Arlindo Machado (1997), ao analisar o voyeurismo em relação ao cinema, nos informa: “o cinema foi concebido, desde suas origens, como um lugar (em geral escuro) onde se pode espiar o outro, onde a pulsão do olhar encontra um terreno propício para a manifestação. O 'pecado original' do voyeurismo está na base do próprio dispositivo técnico do cinema ...” A pesquisadora Susan Sontag em seus ensaios sobre fotografia nos diz:

“contemplando

a

realidade

alheia

com

curiosidade,

desprendimento e profissionalismo, o fotógrafo ubíquo trabalha como se a sua atividade transcendesse os interesses de classe, como se a sua perspectiva fosse universal. (…) O fotógrafo é uma versão armada do caminhante solitário, que explora, ronda e percorre o inferno urbano, e do voyeurista errante que descobre a cidade como uma paisagem de extremos voluptuosos.” (2012) Nos episódios de Sette e Meia, Oli, ao utilizar imagens pixeladas nos remete a visão do artista e o lado camuflado do voyeur; lembramos ainda que o cinema é a fotografia em quadros, trazendo conosco a referência com a fotógrafa Telma Saraiva, que se utiliza da fotografia e do cinema colocando em cena o artista como personagem de sua narrativa, encontrando sua transfiguração no universo possível da arte. Entremos no jogo, Diego Oli nos dá uma pista: “a partir da desorientação, perde-se para reencontrar-se nos vários outros da cidade, naqueles que o atraem. Assim seguindo-os e fotografando-os. Momento de incorporação.”

Adriana Botelho Curadora

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De Romeu para Diego. A cidade, pessoas que não o observavam, que tem o olhar perdido para o horizonte, a paisagem, para os sabores daquele dia. Com o melhor de Benjamim, Diego encontra a cidade perdendo-se nela e com as outras pessoas, como um trapeiro a roubarlhes fotografias. Bem próximo de Calvino, a partir do imperceptível, ele elabora o próprio lugar, uma cidade criada por curiosidades e afetos. Mais do que tudo, criada pelo olhar – porque assim ele carrega as fotografias para qualquer canto, para os confins da imaginação, para a presente exposição. Conhecer a cidade, sem mapa, apenas pelo seguir casais desconhecidos e fotografá-los sem que o visse – tudo na cidade do romance de Shakespeare. Em sete horas e meia, esses foram os passos dados por Diego Oli. “Não tinha um ponto definido onde eu queria chegar. Mas sabia que seguindo os casais eu chegaria a algum ponto ...”, assim proseou comigo sobre a duração particular que estabeleceu com as ruas e os caminhos de Verona durante a feitura de seu mapa afetivo. Tão transeunte quanto os que fotografou, o artista, com seus pequenos delitos – gestos da arte? – trouxe as pessoas para sua cidade imaginada, em imagens cujo excesso de ruído são como pontos soltos que vibram. O perder-se nas ruas foi o encontrar a imagem, sua imersão. Nas fotos quase vejo as sombras do artista que, apesar da distância física, parecia estar de mãos dadas com algum casal, lendo um folheto qualquer ou quase a beijar. De Diego para Julieta. Mal ele sabia que seguia a si mesmo. Rubens Venancio Fotógrafo e Professor

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O Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri iniciou suas ações culturais em 2006 com o objetivo de ser um espaço para incentivar a produção da arte por meio do financiamento da produção dos artistas e possibilitar o acesso às diversas áreas da cultura: cinema, artes visuais, música, literatura e artes cênicas, por meio da oferta de uma programação diária e gratuita. Dessa forma, o trabalho do CCBNB se realiza com o compartilhamento das responsabilidades de sua programação com a comunidade produtora dos bens e serviços culturais. Ano a ano, recebemos diversas propostas para a definição da nossa programação. Com um calendário de exposições sistemáticas, o Programa de Artes Visuais evidencia seu principal objetivo: tornar-se um lugar de experimentações, de reflexões e de formação de público e de artistas. Várias ações aliam-se ao Programa de Artes Visuais, como o evento especial Agosto da Arte, cursos, oficinas, debates, encontro com professores e alunos. O CCBNB acredita estar, assim, contribuindo para a produção de sentidos e de emoções presentes em cada obra de arte e que isto não se reduz ao que se vê.

Centro Cultural Banco do Nordeste - CCBNB

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Sette e Meia Diego Oli is a rising artist, fruit of a whole state produced by recent technological changes and accessible in the Brazilian society; it goes through around many and multiples spheres and urban spaces, virtual and multicultural globalized world. Scholarship student for the extinct program Science Without Borders (Ciências Sem Fronteiras – CsF), lived in Italy for a year, emphasizing his historical and cultural references since Shakespeare’s literature to Fellini’s movies, contributing to his reflection about the place of voyeurism in contemporary photography. It is this figure of the voyeur that is presented to us images of the photographic essay Sette e Meia place of artistics narratives convergents between artistics narratives of still and moving image. Oli put us on his side, in a counter field of couples that transited the public spaces of Verona. We see them through the marge of the rivers, the surrounding areas, squares, inside the church. It was those places, we imagine, in the XVI century, Shakespeare made his ambient one of his most well-known plays to the theater, the tragedy of Romeo and Juliet, that has flourished in the XIX century in the becoming times of middleclass romantics. We are touched by the couples, the bodies the gestures that play the affection, for one visually we suppose to approach us from the feelings in game. We share this way a kind of information, mediated between the artist and the loving episode. The photography as movies, in a tradition that comes from painting built itself from the image while way of manifesting desire, symbolized here as the action of search, from the search for something, to a individual, to a gesture that wants to... what it is missing. The search in Verona’s city becomes constructive material of his narrative, presented through the trajectory of couples, the places in which he co-habited. 25


Arlindo Machado (1997), by analyzing voyeur regarding the movies, inform us: “o cinema foi concebido, desde suas origens, como um lugar (em geral escuro) onde se pode espiar o outro, onde a pulsão do olhar encontra um terreno propício para a manifestação. O 'pecado original' do voyeurismo está na base do próprio dispositivo técnico do cinema..” The researcher Susan Sontag in her essays about photography: “contemplando a realidade alheia com curiosidade, desprendimento e profissionalismo, o fotógrafo ubíquo trabalha como se a sua atividade transcendesse os interesses de classe, como se a sua perspectiva fosse universal. (…) O fotógrafo é uma versão armada do caminhante solitário, que explora, ronda e percorre o inferno urbano, e do voyeurista errante que descobre a cidade como uma paisagem de extremos voluptuosos.” (2012) In the episodes of Sette e Meia, Oli, by using pixelated images brings us the artist’s vision and the voyeur’s concealed side; we still remember that the movies is photograph in paintings, bringing with us the reference

with

the

photographer

Telma

Saraiva,

that

uses

the

photography and the movies by putting in scene the artist as character of its narrative, by finding its transfiguration in the possible universe of art. Let’s go in the game, Diego Oli gives us a clue: “from the disorientation, it is lost to be meet again in the many ways of the city, in those that attract him. This way following them and photographing them. It is the moment of incorporation.”

Adriana Botelho Curator

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From Romeu to Diego. The city, the people did not see him, with a lost look to the horizon, the view, to the flavors of that day. With the best of Benjamin, Diego finds the city losing himself on it and with others, like a ragman stealing photographies. Very close of Calvino, starting from the imperceptible he develops his own place, a city made by curiosity and affection. More than everything, made by the look – because this way he carries the photographies to anywhere, to the boundaries of the imagination, to the present exhibition. To know the city with no maps, just following unknown couples and photography them without them to see – everything in the city of Shakespeare’s romance. In seven and half hours, those were the steps taken by Diego Oli. “I did not have a defined point of where I wanted to get. But I knew that following the couples I would get somewhere..”, so he talked to me about the specific duration that he established with the streets and the paths of Verona during its affectionate map has been done. So transient as the ones that he photographed, the artist, with little felonies – acts of art? – brought people for your imaginary city with images which excess of noise are vibrated free points. Losing itself at the streets, it was finding the image, the immersion. In the pictures In the photos, I almost see the artist’s shadows that despite the physical distance, it looked to be holding hands with some couple, reading any kind of flyer or almost kissing. From Diego to Juliett. Little did he know he was following himself.

Rubens Venancio Photograph and Professor

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The

Centro Cultural Banco do Nordeste – Cariri, introduced its

cultural programming in 2006 in the hopes of becoming a funded art space that would both stimulate and allow access to various cultural areas (including film, the visual arts, music, literature and theater arts) through a daily schedule of free admission events. Thus, the CCBNB accomplishes its purpose by sharing responsability for its programming with the very community that produces such cultural products and services. Every year, we receive various proposals for our programming. The Visual Arts Program’s systematic exhibition calendar clearly evinces its principal aim: to become a place for experimentation and reflection, for a building new audiences and making artists. Many of its activities are linked to the Visual Arts Program, among them the special event called Art August, in addition to courses, workshops, colloquia, and encounters with teachers and students. The CCBNB therefore contributes to the production of the meanings and emotional responses that may be found in every work of art – and that go far beyond the merely visible. Centro Cultural Banco do Nordeste – CCBNB

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Biografia Francisco Diêgo Vieira de Oliveira nasceu em Acopiara, Ceará, aos 14 de agosto de 1991. Apenas nasceu. Após o período necessário em Acopiara retorna com sua mãe para Ibicuã, distrito de Piquet Carneiro, interior do Ceará. Lugar que viviam e ainda vivem seus pais. Em 2007 com a ajuda dos tios, muda-se para Juazeiro do Norte, Ceará, cidade que chegará a cursar os dois últimos anos do Ensino Médio no Colégio Salesiano Dom Bosco. Em 2009 ingressa no Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Regional do Cariri – URCA. Em 2012 participa de sua primeira exposição coletiva nacional com o trabalho MIJO – 500 ml, na cidade de Crato, no Serviço Social do Comércio

SESC,

com

curadoria

da

também

artista/professora/pesquisadora Ruth Sousa. Nesse mesmo ano, é selecionado para participar do Ciência Sem Fronteiras – CsF, programa do governo que leva estudantespesquisadores brasileiros a fazerem intercâmbio em Universidades de outros países. Inicia seus estudos na Università di Bologna – Itália, passando a estudar e desenvolver suas pesquisas na primeira universidade do ocidente. É nesse período que consegue também, viajar por outros países e conhecer diversos museus. Em 2013 retorna para o Brasil, continua seus estudos na URCA. Em

2014

participa

de

sua

primeira

exposição

coletiva

internacional na cidade de Veneza – Itália, sendo um dos dois brasileiros a participarem do MORPHOS Sustainable Empires – Pixels of Identities, com curadoria do arquiteto italiano Luca Curci. Em 2015 começa a assinar seus trabalhos como Diego Oli. Anteriormente, Diêgo de Oliveira. E realiza sua primeira exposição individual em Juazeiro do Norte, no Centro Cultural banco do Nordeste 32


– Cariri, intitulada Autoscatto, com curadoria da artista Tete de Alencar. Nesse mesmo ano, é homenageado pela Câmara de Vereadores de Juazeiro do Norte - CE, pela relevância do seu trabalho no circuito internacional da arte. Em 2017 realiza sua segunda exposição individual, Sette e Meia, no CCBNB-Cariri, com curadoria da cineasta Adriana Botelho. As fotografias são resultado de suas pesquisas realizadas na Itália durante o intercâmbio em 2013. Nesse mesmo ano, ingressa no curso de mestrado em Artes Visuais na Universidade Federal da Paraíba – UFPB.

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Biography Francisco Diêgo Vieira de Oliveira was born in Acopiara, Ceará, in august 14 of 1991. He only was born there. After he spend only the necessary time at the hospital in Acopiara, he returns with his mother to Ibicuã, district of Piquet Carneiro, country of Ceará. The place his parent used to live and still do. In 2007 with the help of his aunt and uncle, he moves to Juazeiro do Norte, Ceará, the city he finished the last two years of high school at Colégio Salesiano Dom Bosco. In 2009 he enters the course of Visual Arts of the Universidade Regional do Cariri – URCA. In 2012 he participates his first national collective exhibition with the work MIJO – 500ml, in the city of Crato, in the Serviço Social do Comércio – SESC, with the curatorship of the professor/researcher and also artist, Ruth Sousa. In this same year, he is selected to participate of Ciências Sem Fronteiras – CsF, a government program that used to take Brazilian students to do exchange in Universities of other countries. It is when he begins his studies in Università di Bologna – Italy, starting to study and to develop his searches in the first University of the West. It is in this period, he also has the opportunity to travel around another countries and to know different museums. In 2013 he returns to Brazil, he continues with his studies at URCA. In 2014 he participates his first international collective exhibition in the city of Venetia, Italy, being one of the two Brazilians to participate the MORPHOS Sustainable Empires – Pixels of Identities-Venice, with the curatorship of the Italian architect Luca Curci. In 2015 he starts to sign his work as Diego Oli. Previously, Diêgo de Oliveira. And he makes his first individual exhibition in Juazeiro do Norte, at the Centro Cultural Banco do Nordeste, named Autoscatto, with the 34


curatorship of the artist Tete de Alencar. In this same year, he is honoree by the Chamber Councilors for the relevance of his work in the international circle of art. In 2017, he is making his second individual exhibition, Sette e Meia, at the CCBNB-Cariri, with curatorship of the filmmaker Adriana Botelho. The photographies are result of his researches in Italy during the exchange in 2013. In this same year, he is in the program of master’s degree in Visual Arts by the Universidade Federal da Paraíba, UFPB.

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Ficha Técnica/Credits Exposição/Exhibition Sette e Meia – Diego Oli Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri Curadoria/Curatorship Adriana Botelho Gerente executivo/Executive Manager Ricardo Pinto Coordenador do Programa Artes Visuais/Visual Arts Program (Coordinator) Paulo Roberto Guedes Expografia/Expography Adriana Botelho Francisco Diêgo Vieira de Oliveira (Diego Oli) Montagem/Assembly Adriana Botelho Francisco Diêgo Vieira de Oliveira (Diego Oli) Lucas Vieira de Oliveira Catálogo e Design gráfico/Catalog and Graphic Design Francisco Diêgo Vieira de Oliveira (Diego Oli) Fotografia/Photography Marcela Sayonara e Monica Batista Assessor de Imprensa/Press Relations Monica Batista Assistente do Artista/Artist’s Assistent Marcello de Sá Barreto Torres Tradução para o inglês/English Translation Isabel de Sousa Ribeiro Tradução do Texto do CCBNB/CCBNB English Translation Steve Berg Agradecimentos/Acknowledgments Equipe CCBNB Cariri Programa Ciência Sem Fronteiras (2012/2013). Cleiton Araújo Edvânia Santos Ivete Ribeiro Gomes Lucas Vieira de Oliveira Monica Batista Rachel Gomes Rubens Venancio Vivian Santos Yuri Peixoto Ribeiro

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