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ZELADOR – O BRAÇO DIREITO DO SÍNDICO
Nesta edição, trazemos histórias de pessoas muito especiais em homenagem ao Dia do Zelador, comemorado este mês (11/02). Das mais experientes às novatas na categoria, todas têm em comum a paixão pelo que fazem e a atenção com o condomínio onde atuam
Por Luiza Oliva
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O zelador Fábio Albuquerque
Costa e a síndica Giovana
Granado, do Vanguard Ipiranga: perfil peculiar Foto Divulgação
O OLHAR do zelador é fundamental para que um condomínio seja muito bem cuidado. Porém, zelar não deve ser sua única atribuição. Condomínios com equipamentos como placas solares, caldeiras, complexos sistemas de segurança, entre inúmeros outros, exigem zeladores cada vez mais preparados para lidar com esse imenso universo condominial. Além disso, os condomínios costumam ser um microcosmo da sociedade, com relações humanas nem sempre tão saudáveis, e que exigem muito preparo do zelador.
Rosely Schwartz, que há cerca de 25 anos ministra e coordena cursos de administração de condomínios e de síndico profissional, acredita não haver mais espaço para o zelador que trabalha na construtora do edifício e, assim que o prédio é entregue, assume a zeladoria. “Há muitos anos eu já previa que esse tipo de funcionário estava em extinção. Hoje, não basta mais cumprir a parte operacional, é preciso fazer o gerenciamento de todo o condomínio e ter maior capacitação”, constata
Rosely, que também nota uma cultura de dependência do zelador. Ela se recorda de quando assumiu a sindicância do prédio onde mora, no final dos anos 1990, e se espantou com o que encontrou: o zelador não tirava férias porque os moradores acreditavam que não poderiam ficar sem esse profissional nem um dia sequer.
Mesmo que ao longo do tempo as atribuições do zelador estejam se modificando, sua importância é inegável. Conforme o perfil e objetivos do condomínio, ele tem sido substituído pelo gerente predial ou até mesmo pelo gerente condominial, duas funções com pisos salariais mais altos que, assim como zeladores, porteiros e faxineiros, fazem parte do Sindifícios (Sindicato dos Trabalhadores em Edifícios e Condomínios de São Paulo). “O zelador, ou gerente predial, é o braço direito e os olhos do síndico, principalmente do síndico profissional que não mora no prédio”, constata Rosely Schwartz.
Mudan A De Rota
A história de Fábio Albuquerque Costa é peculiar. Com uma sólida carreira de mais de 20 anos na hotelaria, ele é zelador do condomínio Vanguard Ipiranga. Peculiar também é o perfil do Vanguard: o antigo Palace Hotel, localizado na icônica esquina das avenidas Ipiranga e São João, no centro paulistano, passou por um processo de retrofit. O degradado edifício do extinto hotel se transformou no moderno condomínio com 70 apartamentos e áreas comuns com lavanderia compartilhada, spa, academia, brinquedoteca, ateliê, cinema e webspace.
Diversas unidades são alugadas pelo sistema de Airbnb, inclusive para estrangeiros. Assim, a síndica Giovana Granado traçou o perfil do zelador que precisava para gerenciar o Vanguard: cortês, atencioso e educado com todos, e preferencialmente que falasse outras línguas. Proprietária de uma unidade, Giovana não mora no condomínio e queria um zelador também muito atencioso com a limpeza das áreas comuns. Fábio, que fala inglês e espanhol, estranhou quando recebeu o convite de Giovana: “Eu nunca imaginei ser zelador, condomínio é algo totalmente novo para mim. Mas pensei: por que não experimentar? Trato o Vanguard como se fosse a minha casa, faço tudo com muito carinho. Oriento os novos moradores sobre as áreas comuns e até sobre os cuidados que devem ter nas ruas do centro, principalmente os estrangeiros.” geiro para cuidar das encomendas e equipe de limpeza com seis pessoas. Por ser jovem, sua promoção a gerente predial causou certa desconfiança entre os moradores: “Tinham dúvidas se eu teria responsabilidade para o cargo.” Prestativa e disposta a aprender, ela não se abalou. A gerente conta que aprendeu muito com o antigo e o atual síndicos. “Já fiz curso de síndico profissional e quero estudar mais, para atuar nesse posto um dia.”
Ele elogia a parceria com a síndica e com a equipe de funcionários, todos terceirizados: quatro porteiros (duas moças durante o dia, dois homens à noite) e um funcionário para limpeza e serviços gerais. Tem feito cursos e buscado informações, especialmente na área de manutenção, na qual tem menos habilidade.
Empenho E Profissionalismo
Definitivamente, as mulheres estão chegando ao mundo da zeladoria.
Prestativa, Amanda Alves da Silva foi promovida ao cargo de gerente predial no Bosque Marajoara
Jovem E Competente
Com apenas 19 anos, Amanda Alves da Silva entrou no condomínio Bosque Marajoara, no bairro de Interlagos, para atuar na portaria. O objetivo da jovem era ficar apenas um ano na função de controladora de acesso, para ajudar no pagamento da faculdade de Administração. Mas seus planos mudaram rapidamente. “Achei o mundo do condomínio fascinante, me encontrei na área! Gostei muito do contato com moradores e prestadores de serviços. E aqui o movimento é enorme: são 339 apartamentos, uma média de 800 a 900 pessoas circulando por dia, de segunda a segunda”, conta.
Da portaria, Amanda passou a auxiliar administrativa, ainda como funcionária terceirizada. E em agosto do ano passado, sua carreira deu um grande salto: com a mudança do síndico, foi promovida a gerente predial.
Ela é a única funcionária orgânica da equipe de 20 terceirizados: portaria, triagem, ronda, auxiliar de manutenção, auxiliar de serviços gerais, mensa-
Ana Hercília Gabriel iniciou sua carreira condominial em 2017 como auxiliar de limpeza terceirizada em um grande condomínio no Jaguaré, com 264 unidades. Logo passou a encarregada de limpeza. Até que em dezembro de 2018 a síndica profissional Lígia Ramos a convidou para assumir a zeladoria.
“A mulher tem mais jogo de cintura, escuta todos os lados de uma questão. Costumo identificar aquelas que têm potencial e que podem ser promovidas. Se nós, mulheres, não criarmos oportunidades, a sociedade nunca dará espaço”, afirma a síndica Lígia.
Hoje Ana é zeladora do condomínio Impression Loft, no Morumbi, com 164 unidades, inclusive algumas alugadas pelo Airbnb, e muitos moradores jovens. “Tenho que saber lidar com problemas de relacionamento entre os vizinhos, causados por barulho nas unidades”, diz Ana, que afirma já ter sofrido preconceito, por ser mulher e negra. “Mas não me vitimizo por isso. É claro que alguns moradores às vezes me olham com desconfiança, por exemplo, quando estou limpando a piscina. Mas temos que ser firmes e manter uma postura profissional. Sou grata pela oportunidade que tive”, conta.
Ela coordena uma equipe com oito porteiros e três auxiliares de limpeza, mais um manutencista que vai ao prédio duas vezes por semana e afirma: “Coordenar não é só pedir para ser feito.” O sistema de aquecimento por caldeira do Impression Loft é uma novidade para Ana, mas há uma em- presa especializada para a manutenção do equipamento. “Procuro sempre aprender e fazer tudo com carinho. O desafio maior eu encarei quando comecei e não sabia nada de zeladoria. Já cobri férias de zeladores em outros condomínios e nunca um é igual ao outro.”
Equipe Afinada
Adriano Souza, gerente predial do condomínio Parque Panamby, localizado no Jardim Fonte do Morumbi, trabalhou muitos anos na área de segurança privada. Entrou em 2008 no Parque Panamby justamente como coordenador de segurança. Até que em 2015 passou a gerente predial do condomínio com 84 apartamentos e duas torres. Fez alguns cursos que o ajudaram a suprir a falta de experiência especialmente na área da manutenção predial. “As formações me ajudaram a entender como preparar a logística de trabalho e a verificar equipamentos como uma bomba ou gerador. Temos dois manutencistas e empresas especializadas que cuidam das instalações. Mas é importante que eu tenha uma boa noção do que está sendo feito”, diz.
Todos os 27 funcionários são terceirizados. A atenção e o desvelo de Adriano mantêm em ordem as instalações sofisticadas do condomínio (sala teen, playground, academia, brinquedoteca, dois salões de festas, spa, piscinas). Mas não é só. Ele acredita que na função de gerente, cabe a ele fazer o intercâmbio entre as demandas dos condôminos, a síndica e os prestadores de serviço. Adriano não poupa elogios ao capricho do corpo diretivo com o condomínio: “Contamos com o que há de melhor para manter tudo limpo e organizado. Produtos de limpeza, por exemplo, só usamos biodegradáveis. Se cair numa planta ou na piscina, não causará danos. Já temos uma obra aprovada para construir um refeitório e sala de descanso maior aos funcionários. Nossa equipe é antiga, ninguém quer deixar de trabalhar aqui.”
Adriano Souza: cursos o ajudaram a entender como preparar a logística de trabalho no Parque Panamby
VIVEMOS NUM PAÍS LAICO E LIVRE!!
Por Márcio Rachkorsky
A FÉ e a religiosidade são princípios basilares de uma vida social harmoniosa, livre e justa, pilares fundamentais para a formação do caráter e cultura de um povo, de uma família ou de um único indivíduo. Sou judeu e, apesar de não muito praticante, me emociono com as tradições... Mas, quando entro numa Igreja Católica, também me encanto com as lindas imagens e rituais. Dias atrás, em Salvador, me deparei com uma procissão em devoção à um Orixá e fiquei até arrepiado, de tão linda a devoção das pessoas. Tempos atrás, por curiosidade, adentrei num culto evangélico repleto de jovens e fiquei impressionado com a alegria e força deles!! E o que dizer quando fui a uma mesquita e as músicas me causaram uma sensação incrível... Quem nunca viu e se emocionou, por exemplo, com uma matéria sobre Chico Xavier? Isso é viver num PAÍS LAICO, ou seja, num Estado que não adota oficialmente nenhuma religião. Que privilégio viver numa nação assim, livre e laica!!
Nos condomínios, o conceito de laicidade precisa ser preservado, cabendo ao síndico o papel de garantir a liberdade e a igualdade previstas em nossa constituição federal. Para tanto, basta seguir algumas regrinhas óbvias e simples, que sequer precisam estar escritas no regulamento interno:
- não decorar ou adornar as áreas comuns com objetos que façam menção a qualquer religião;
- não permitir qualquer evento ou manifestação religiosa nas áreas comuns, inclusive nos salões de festas; coibir, imediatamente e com firmeza, qualquer ato ou manifestação que agrida a liberdade religiosa de um morador ou sua família;
- garantir que as famílias, com moderação, pratiquem sua religiosidade no interior de seus apartamentos;
Por fim, importante ressaltar que, tal qual futebol e política, a religião acaba por fomentar debates por vezes acalorados e, ao síndico, cabe o papel de mediar e conciliar qualquer situação de conflito, sem jamais esquecer que vivemos num país LAICO.
M Rcio Rachkorsky
Advogado especialista em condomínios, comenta o setor condominial e imobiliário na Rádio CBN e no telejornal SP1 (Rede Globo). É sócio da empresa RS Serviços.