O PRINCÍPIO DA RESERVA DO POSSÍVEL E PONDERAÇÃO COM REGRAS A ELE PERTINENTES. VIAGEM NA IRREALIDADE DO COTIDIANO FINANCEIRO
1. A crise brasileira. 2. A reserva do possível no plano financeiro constitucional. As vedações financeiras na CF/88. 3. As regras do direito financeiro limitadoras do princípio da reserva do possível. 4. A possibilidade de tutela específica de caráter injuncional com base no art. 461 do CPC.
1. A crise brasileira O Brasil passa por uma crise sem precedentes. Embora haja certa liberdade de expressão (a mídia é fortemente monopolizada), algum acesso ao judiciário (os juizados especiais de pequenas causas explodiram com a demanda reprimida), eleições diretas (apesar de o financiamento das campanhas eleitorais ser um pântano nauseabundo), o fato é que passada a fase das privatizações, realizadas sob o argumento de que o Estado mínimo se ocuparia, satisfatoriamente, dos serviços essenciais, o fato é que a população brasileira, até agora, só conseguiu gastar 20% do seu salário mínimo com a conta do celular, cujo manual, não sabe ler. Não há à disposição da população brasileira o mínimo essencial em termos de serviços públicos, isto é, não há escola suficiente e de nível adequado, a saúde talvez seja o pior serviço, é um circo de horrores em todo o Brasil e a segurança é uma utopia nas grandes cidades e uma quimera nas de menor porte. O discurso da desestatização acenou para uma situação ideal onde os serviços mal prestados pelo Estado passariam para as mãos competentes das concessionárias que, além de tudo, pagariam tributos. Diminuição de despesa, aumento de receita, melhora dos serviços e dedicação exclusiva para os serviços essenciais – o melhor dos mundos ... O que se vê, no entanto, é um Estado endividado com o sistema financeiro internacional (onde acordos gravosos com o FMI sequer passam pelo Congresso), a mais completa ausência dos serviços de saúde e educação e o atingimento de níveis de insegurança pública equivalentes `a uma guerra civil. Nesse ambiente, onde a redemocratização do Estado Brasileiro permitiu o aumento das demandas por serviços públicos, iniciou-se uma pressão popular que desaguou num Judiciário despreparado para tais demandas, agravado ou incentivado por um Executivo abúlico, corrupto e descomprometido com o bem estar da população e com os gastos inerentes `as prestações positivas previstas em sede constitucional.
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