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FICHA TÉCNICA TEMA | Alhos Vedros no Século XVI ORGANIZAÇÃO | Câmara Municipal da Moita / DASC / Divisão de Cultura e Desporto INVESTIGAÇÃO E ELABORAÇÃO DE TEXTOS | Maria Clara Santos CONCEPÇÃO GRÁFICA | Carlos Jorge FOTOGRAFIAS DA CÂMARA MUNICIPAL DA MOITA | José Presumido e Jorge Feiteira CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS | Arquivo Histórico do Ministério das Obras Públicas (A.H.M.O.P.); Arquivo Municipal de Lisboa / Núcleo Fotográfico; Biblioteca Nacional de Lisboa; Museu Municipal de Alcochete; Divisão de Promoção Cultural / Câmara Municipal do Barreiro; Direção-Geral do Património Cultural / Arquivo de Documentação Fotográfica (DGPC/ADF); DireçãoGeral do Território; António Ventura; José Manuel Vargas. FOTOGRAFIAS EXTRAÍDAS DE PUBLICAÇÕES | História de Portugal, Volume 2, 3 e 4, Lisboa, Alfa, 1983; História da Arte em Portugal. O Manuelino, Volume V, Lisboa, Alfa, 1986; História Universal. Europa Séculos XI-XV, Volume IV, Lisboa, Alfa, 1985; Portugal no Mundo, Volume I, II e IV, Lisboa, Alfa, 1989; Vila Nova do Barreiro Carta de Foral 1521, Câmara Municipal do Barreiro, Barreiro, 2007; Portugal nas Vésperas das Invasões Francesas (Catálogo da Exposição), Lisboa, 2007. DIGITALIZAÇÃO DE IMAGENS | GIRP/Centro de Artes Gráficas IMPRESSÃO | Tipografia Belgráfica EDIÇÃO | Câmara Municipal da Moita / DASC / Divisão de Cultura e Desporto DATA DE IMPRESSÃO | Maio de 2014 ISBN | 978-989-98166-3-3 DEPÓSITO LEGAL | 376524/14 TIRAGEM | 500 Exemplares
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INDÍCE APRESENTAÇÃO 1. TERRITÓRIO E POPULAÇÃO 2. ORDEM DE SANTIAGO: SENHORIO E JURISDIÇÃO 3. A ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL 4. ATIVIDADES ECONÓMICAS 4.1. Agricultura 4.2. Pecuária 4.3. Salicultura e Pesca 4.4. Construção Naval 4.5. Transportes Fluviais e Terrestres 4.6. Moagem 4.7. Fornos de Vale de Zebro 4.8. Fornos da Mata da Machada 5. PATRIMÓNIO MANUELINO BIBLIOGRAFIA
07 09 19 27 37 37 45 55 65 77 89 99 109 123 139
07 APRESENTAÇÃO As comemorações dos quinhentos anos da atribuição do Foral Manuelino à vila de Alhos Vedros constituem um momento único para a comunidade, na medida em que permitem aos munícipes vivenciarem aspetos da sua história, tão importantes para a criação de laços afetivos, sentimentos de pertença e de memória coletiva entre as populações e o seu passado. A edição do presente catálogo, com breves estudos históricos, resultante da produção da exposição “Alhos Vedros no Século XVI”, é uma forma de dar a conhecer e reconstruir esse passado. Através destas duas iniciativas (exposição e catálogo) pretendeu-se não apenas assinalar a efeméride, como mostrar a importância do antigo termo de Alhos Vedros, cujo território abrangia os atuais concelhos do Barreiro e da Moita, excetuando Coina. Na data em que recebeu o foral manuelino, Alhos Vedros estava no seu apogeu, quer em termos jurisdicionais, quer económicos. Com base nas imagens, recolhidas da iconografia quatrocentista e quinhentista, bem como das fontes documentais escritas, procurou-se reconstruir a identidade histórica de Alhos Vedros e do seu termo de há quinhentos anos. Conhecer o passado através da construção do discurso histórico e colocá-lo ao dispor da comunidade, constituiu um dos nossos propósitos. Esta é também uma forma de consciencializar os munícipes para os valores histórico-culturais do seu concelho, consciência essa que contribuirá para uma atitude cívica e interventiva dos cidadãos, bem como para a formação de uma identidade comunitária mais consistente e esclarecida. Com a edição deste catálogo a Câmara Municipal da Moita pretende divulgar a nossa herança cultural, através da construção de uma memória que pode ser testemunhada através de uma visita à exposição “Alhos Vedros no Século XVI” que se encontra patente ao público no Moinho de Maré.
RUI GARCIA Presidente da Câmara Municipal da Moita
10 Nos alvores do século XVI, na data em que foi atribuído o foral manuelino, a vila de Alhos Vedros e o seu termo integravam a comarca de Entre Tejo e Guadiana. O antigo concelho abrangia uma vasta área territorial, constituída por um conjunto de povoações ribeirinhas que se distribuíam pelas zonas de esteiro do Tejo: Barreiro, Lavradio, Verderena, Telha, Palhais, Moita, Quinta de Martim Afonso e Sarilhos o Pequeno. Confrontava com os concelhos de Coina, a Sudoeste; de Palmela, a Sul; de Aldeia Galega, a Nordeste e do lado Norte confinava com o rio. Em todo o termo, a vila de Alhos Vedros assumia-se como o principal aglomerado urbano, com maior número de moradores, onde estava sedeado o poder e a administração municipal. Segundo a Visitação de 1523, a vila e termo tinham 240 vizinhos, enquanto no cadastro da população, realizado em 15321, tinha 317 moradores, sendo 138 residentes na vila e 179 no restante território2. Dos 317 moradores, havia 65 viúvas, 9 mulheres solteiras e 8 clérigos, fazendo-se a sua distribuição pelas localidades do concelho do seguinte modo:
LOCALIDADES Alhos Vedros Lavradio Verderena Telha Palhais Moita Quinta de Martim Afonso Outras Quintas TOTAL
1 2
Viúvas 27 8 7 11 9 2 1 65
MORADORES Solteiras Clérigos 4 5 1 2 – – 1 1 1 1 – – 1 – 9
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BRAAMCAMP, Anselmo Freire, Archivo Historico Portuguez, Lisboa, Volume IV, 1906, p. 354 Refira-se que nesta data, o Barreiro já não fazia parte do termo de Alhos Vedros, tinha recebido carta de vila em 1521.
Total 138 33 23 33 48 14 10 18 317
11 Ao número total corresponde uma população que rondaria os 1.217 habitantes (utilizando o sistema de contagem em que um morador, no sentido de chefe de família, seria equivalente a uma média de quatro pessoas, não sendo incluídos nesta contagem os clérigos e as mulheres solteiras). Os lugares populacionais de maior dimensão que sucediam à vila de Alhos Vedros, eram respetivamente Palhais, Lavradio e Telha com o mesmo número de residentes, seguindo-se a Verderena. A Moita e a Quinta de Martim Afonso contavam entre as povoações com menor número de habitantes. A maior parte destes moradores viviam nas localidades ou na sua envolvência, sendo raras as habitações afastadas desses lugares. Embora, esta população fosse constituída por pessoas de diferentes estratos sociais, a sua maioria eram trabalhadores ligados às diferentes atividades económicas, tais como camponeses, biscoiteiros, carreteiros, oleiros, barqueiros, salineiros, moleiros, mateiros, carpinteiros navais, calafates, ferreiros, entre outros. Reputada na época de ter ares saudáveis e aprazíveis, a vila de Alhos Vedros e o seu termo também serviu de residência a elementos da nobreza, identificados na documentação quinhentista por cavaleiros fidalgos da casa de El-Rei. Esta pequena nobreza que aqui se instalou foi referida de forma sarcástica por Camões no Auto de El-Rei Seleuco quando se referiu aos “soalheiros de escudeiros” de Castanheira, Alhos Vedros e Barreiro.
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Mapa de Portugal do século XVI, de Fernando Álvares Seco. Trata-se da primeira representação cartográfica do país, onde foi representada a margem sul do Tejo, com a indicação dos cursos de água e a localização das povoações, onde consta Alhos Vedros, Moita, Lavradio, Barreiro, Telha, Palhais, Coina, Almada, Aldeia Galega e Alcochete. FONTE: Portugalliae que olim Lusitania, novissima & exactissima descriptio (1559-1561) / Biblioteca Nacional de Lisboa / Cota CC-665 a
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Planta da vila de Alhos Vedros, levantada por Maximiano Joze da Serra, coronel do Real Corpo de Engenheiros, no ano de 1805 (Direção de Infra-Estruturas do Exército / Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar). O traçado urbano desenvolve-se ao longo de duas ruas paralelas, ficando a igreja matriz isolada do aglomerado habitacional. As terras lavradas envolvem a povoação. FONTE: Portugal nas Vésperas das Invasões Francesas (Catálogo da Exposição), Lisboa, 2007, p.60 Planta gentilmente cedida por José Manuel Vargas
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Figuras que representam o povo português, pintadas no Retábulo de S. Vicente de Fora, atribuído a Nuno Gonçalves, no fim do século XV (Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa). FONTE: Portugal no Mundo, Volume II, Lisboa, Alfa, 1989, p.278; História de Portugal, volume 3, Lisboa, Alfa, 1983, p.238
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Interior de uma casa abastada, pertencente a uma família da pequena nobreza ou da burguesia, no início do século XVI. É de assinalar a figura do escravo na vida doméstica que, aqui aparece a servir a refeição dos senhores (iluminura referente ao mês de Janeiro, do Livro de Horas de D. Manuel, de António de Holanda, 1517-1551, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa). FONTE: História da Arte em Portugal. O Manuelino, Volume V, Lisboa, Alfa, 1986, p.149
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Atividades quotidianas de uma aldeia na época quinhentista. Embora o tipo de construção não seja portuguesa, as cenas representadas fazem parte do quotidiano, vê-se um rebanho no curral onde está um carro desatrelado, um porco à solta e alguns galináceos junto de uma das casas e um homem que racha lenha com um machado para abastecimento do seu lar (iluminura referente ao mês de Fevereiro, do Livro de Horas de D. Fernando, atribuída à Oficina Simon Bening, 1530-1534, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa). FONTE: Vila Nova do Barreiro Carta de Foral 1521, Câmara Municipal do Barreiro, Barreiro, 2007, p.88
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Documento que noticia a passagem de D. João III por Alhos Vedros. Documento gentilmente cedido por José Manuel Vargas.
20 No século XVI, todo o território do concelho de Alhos Vedros estava na dependência do senhorio da Ordem de Santiago, sendo a vila uma sua comenda, um modelo de organização geográfica e económica que estava sob a administração de um Comendador. O valor da comenda dependia da sua capacidade de produzir rendimentos, por esta razão era um dos benefícios mais ambicionados nas Ordens Militares quer pela sua importância económica, quer pela distinção social no código de valores da sociedade quinhentista. As rendas provinham dos foros e dos dízimos, resultantes do sistema de aforamento dos bens patrimoniais e da tributação, uma vez que o comendador não explorava diretamente a comenda. Segundo o Cadastro do Reino de 1532, as rendas de Alhos Vedros eram partilhadas entre a Coroa e a Ordem: “As rendas: tem el Rey, noso Senhor, as sysas e terças do Conçelho, e a mais remda do Comendador. Tem o cardeal o terço dos dízimos, somente do vinho.”1 Como geograficamente a Ordem de Santiago inscrevia-se na diocese de Évora, o Bispo tinha direito ao dízimo dos vinhos. Por documentação emanada pela Ordem, sabemos os nomes de alguns comendadores que tiveram a gestão da comenda de Alhos Vedros e das suas rendas, em 1510, Diogo Figueira2 e em 15233, o Marquês D. João de Lencastre, filho primogénito de Dom Jorge, Mestre da Ordem de Santiago e de Avis. Este comendador recebia o dízimo dos produtos a saber: pão, vinho, azeite; linho; favas, tremoços e todos outros legumes; fruta, hortaliça de toda a sorte; mel e enxames; frangos e patos; gados; queijos; poldros e burros; lã das ovelhas e carneiros; dos pescados; dos furões; das conhecenças dos moinhos e o dízimo de todas as coisas que o direito determinasse pagar. Pertencia-lhe também a renda da Alcaidaria Mor da vila4. Recebia ainda o dízimo de todo o marisco (ostras, ameijoas, berbigão, caranguejo e outros) que fosse apanhado pelos moradores nas praias do termo de Alhos Vedros. Mas em 1550, o Grão-Mestre da Ordem de Santiago, D. Jorge, determinou conceder ao cavaleiro da Ordem, Manoel Piteira, este dízimo do marisco, em virtude dos moradores estarem em falta com o seu pagamento5.
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BRAAMCAMP, Anselmo Freire, Archivo Historico Portuguez, Lisboa, Volume IV, 1906, p. 354 Biblioteca Nacional / Reservados, Ordem de Santiago, Mss. 90, Nº.8 3 LEAL, Ana de Sousa e PIRES, Fernando, Alhos Vedros nas Visitações da Ordem de Santiago (Visitação de 1523), Comissão Organizadora do 480º Aniversário do Foral de Alhos Vedros, 1994, pp. 43-44 4 Idem, pp. 44-45 5 Biblioteca Nacional / Reservados, Ordem de Santiago, Mss. 90, Nº.12 2
21 Embora a comenda de Alhos Vedros fosse gerida por um comendador, o senhorio jurisdicional, cível e crime, estava na posse do Mestre da Ordem, o que lhe conferia o direito de eleger os juízes e oficiais e o poder de confirmar os eleitos para as Câmaras. Esta jurisdição era exercida através do Ouvidor do Mestrado que tinha a função de acautelar os direitos da Ordem de Santiago. Na comenda de Alhos Vedros a visitação de 1523 determinava: “A jurdiçam do ciuel e crime da dita villa e seus termos he da Ordem, e a eleição dos juízes e ofeciaes se faz pello nosso Ouuidor ou quem nos pera jso ordenámos. E os juízes ordenairos sam comfirmados per nós ou pollo Comendador que nosso poder tem e pera ello ho pouo dar em cada huum anno seis juízes eleitos e nós escolhemos deles dous ou o dito Comendador que confirmámos ou o dito Comendador comfirma e tal he o custume da dita Villa e Mestrado.”6 O poder de eleger e o poder de confirmar eram ambos da competência da Ordem de Santiago e o Ouvidor podia acumular estas duas funções, cabendo ao comendador a possibilidade de confirmar os dois juízes ordinários dos seis apresentados pelo concelho. Em Alhos Vedros, o comendador tinha este poder de confirmar, além das faculdades administrativas e fiscais, pois a ele competia-lhe não só
6 LEAL, Ana de Sousa e PIRES, Fernando, Alhos Vedros nas Visitações da Ordem de Santiago (Visitação de 1523), Comissão Organizadora do 480º Aniversário do Foral de Alhos Vedros, 1994, p. 43
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Selo da Ordem de Santiago do século XVI. FONTE: Regra & Statutos da Ordem de Santiago. Lisboa, per Germão Galharde, 1542, p.165 / Biblioteca Nacional de Lisboa / Cota RES-130-V
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A investidura do Mestre da Ordem de Santiago (Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa). FONTE: Histรณria de Portugal, volume 3, Lisboa, Alfa, 1983, p.365
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Cavaleiros da Ordem de Santiago (iluminura do Libro de los Caballeros de Santiago, meados do século XIII, Arquivo Municipal de Burgos). FONTE: História de Portugal, volume 2, Lisboa, Alfa, 1983, p.147
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Poço “Mourisco”, da época quinhentista. Dos seus três elementos decorativos, em relevo, salienta-se a cabaça, símbolo do peregrino da Ordem de Santiago. Câmara Municipal da Moita / Fotografia de José Presumido
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Cruz da Ordem Militar e Religiosa de Santiago. Câmara Municipal da Moita / Fotografia de José Presumido
28 A organização do concelho de Alhos Vedros estava sob a gerência da Câmara, o órgão de administração local que, à semelhança de outras suas congéneres, detinha competências não só administrativas, mas também judiciais, na medida em que tinha poder para produzir sentenças em primeira instância. Este governo municipal era constituído por dois juízes ordinários e três vereadores. No exercício das suas múltiplas funções, eram os assuntos de natureza económica os que certamente terão preenchido as discussões das reuniões de vereação de quinhentos. Recorrendo às atas das reuniões de Câmara do século XVII1, na falta dos livros de atas quinhentistas, podemos formular uma ideia, das matérias que seriam aí tratadas: a administração dos açougues, a contratação dos tanoeiros, a eleição dos almotacés, a arrematação das rendas do concelho, a elaboração dos termos de fiança, a aplicação de coimas, entre outras. Zelar pelos bens do concelho e cuidar dos caminhos e logradouros públicos, seriam outras das muitas atribuições destes elementos da governação municipal. Como o concelho estava sob a dependência jurisdicional da Ordem de Santiago, a Câmara de Alhos Vedros não detinha uma completa autonomia administrativa nas decisões que tomava em vereação, nomeadamente nas posturas e nos acórdãos que careciam da aprovação do comendador2. Do mesmo modo, os nomes dos homens bons eleitos para o exercício destes cargos eram enviados à Ordem e sujeitos à sua confirmação/aprovação. Anualmente o concelho apresentava duas listas de elegíveis, uma dos juízes ordinários3 e outra dos vereadores, decorrentes dos sistemas eleitorais locais, através do método do sorteio, para a Ordem confirmar o elenco camarário. A escolha destes homens para a governança local recaía em pessoas idóneas e que possuíssem bens para suprir os prejuízos que adviessem de atuações menos concertadas. O seu mandato era anual. No contexto municipal, os juízes ordinários e os vereadores, eram coadjuvados nas suas tarefas da governação local, por um diversificado número de funcionários administrativos e judiciais que asseguravam o quotidiano no concelho, tais como o escrivão da Câmara, o porteiro, almotacés, juízes
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Câmara Municipal da Moita, Livro de Atas da Câmara de Alhos Vedros, de 1683-1692 Biblioteca Nacional / Reservados, Ordem de Santiago, Mss. 90, Nº.13 3 LEAL, Ana de Sousa e PIRES, Fernando, Alhos Vedros nas Visitações da Ordem de Santiago (Visitação de 1523), Comissão Organizadora do 480º Aniversário do Foral de Alhos Vedros, 1994, p. 43 2
29 da vintena, quadrilheiros, juiz e escrivão dos órfãos, o tabelião de notas e judicial, almoxarife, alcaide e carcereiro entre outros ofícios. Com exceção dos almotacés, juízes da vintena e quadrilheiros que eram eleitos pela Câmara, todos os restantes ofícios eram nomeados e apresentados por carta pela Ordem de Santiago4.
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“Livro Contendo os Tombos das Vilas de Aldeia Galega, Alcochete e Alhos Vedros pertencentes à Ordem e Mestrado” in Ordem de Santiago Convento de Palmela, 1614
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Pelourinho manuelino, erguido na sequência da outorga do foral, na praça principal da vila, é o emblema do poder municipal de Alhos Vedros. Na parte superior, o remate é feito por uma esfera armilar em ferro forjado, símbolo do rei venturoso. Câmara Municipal da Moita / Fotografia de José Presumido
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Vestígios de um arco gótico em pedra que se presume ter sido do antigo edifício dos Paços do Concelho. Segundo a descrição de António Augusto Lopo de Miranda, no Comércio de Portugal, em 1887: “O velho edifício dos Paços do Concelho está situado no Largo do Pelourinho, cujo monumento ali existe (…). Este edifício, em que tantas vezes se reuniu o senado da vila para deliberar sobre negócios do município, está em ruínas, testemunhando assim o completo olvido e desprezo a que o votaram.” Imagem gentilmente cedida por José Manuel Vargas
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Brasão com os símbolos da Ordem de Santiago, colocado na parede a tardoz da igreja matriz de Alhos Vedros. Segundo a descrição apresentada pelo autor oitocentista, tratar-se-ia do brasão de armas do concelho: “Na parte exterior do mesmo e em frente ao Pelourinho, ainda se vêem as armas do município, em alto relevo, em uma pedra de cantaria, singelamente embutida na parede, representando na parte superior, uma concha de romeiro, ao centro, e colocados em forma de cruz, dois bastões, e dos lados as cruzes de Santiago da Espada.” Câmara Municipal da Moita / Fotografia de José Presumido
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Primeiro Livro de Atas conhecido da Câmara de Alhos Vedros, de 1625-1635. Câmara Municipal da Moita / Fotografia de José Presumido
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Conjunto de pesos manuelinos. Na sequência da outorga do foral à vila de Alhos Vedros, é provável que tenha recebido um igual conjunto de pesos, os quais seriam guardados numa arca ou armário com duas fechaduras. Museu Municipal de Alcochete
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Caixa padrão dos pesos manuelinos, correspondente a duas arrobas. Nesta caixa guardavam-se as restantes peças. Museu Municipal de Alcochete
38 Na centúria de quinhentos o território do termo de Alhos Vedros caracterizava-se por grandes extensões de terrenos incultos, ocupados por matos e pinhais, por zonas de sapal e alguns tratos de campo cultivados, em torno das povoações. Estes terrenos de cultivo que haviam sido conquistados às charnecas, através do desbaste e arroteamento, eram na sua maior parte solos arenosos e pouco férteis, mas favoráveis à cultura vinhateira. Desde o século XIII que as vinhas são um elemento de referência na documentação, ocupando um lugar primacial quer na paisagem agrária local, quer enquanto atividade económica produtiva, reflexo da sua importância na economia nacional. O seu cultivo e expansão terão ocorrido, no concelho de Alhos Vedros, de forma lenta e contínua, sempre dependente do consumo de vinho da cidade de Lisboa e do mercado externo. Sendo a maior parte destas vinhas propriedade de fidalgos e cavaleiros da Casa de El Rei, Misericórdia e Ordens Religiosas, a sua exploração era feita por pequenos camponeses, através de contratos de aforamento e arrendamento, celebrados com o senhorio. Nestas escrituras1 ficavam estipuladas disposições que visavam o aproveitamento e cuidados a ter com as vinhas, de maneira que em cada ano fossem “melhoradas e não pioradas”, fixava-se a duração do contrato, o foro ou a renda a pagar, em géneros ou em dinheiro. Nos aforamentos o foro a entregar era geralmente o quarto ou o quinto da produção. As principais áreas de cultivo da vinha situavam-se em lugares como Vale do Grou, Quinta de Martim Afonso, Lavradio, Alfeirão, Morçoas, Benfadada, ermida de S. Sebastião da Moita. A qualidade dos vinhos de Alhos Vedros e Lavradio granjearam fama internacional, sendo muito apreciados na Flandres e Alemanha2 e posteriormente na França e Inglaterra, por serem “delicados e menos cobertos”3. Na época quinhentista estes vinhos foram elogiados na literatura, como no Pranto de Maria Parda, de Gil Vicente.4 Além da vinha, outras culturas são referidas na documentação mas sem a importância económica da produção vinícola. Algumas vezes, aparecem a ela associadas como é o caso das oliveiras, das árvores de fruto, marmeleiros e figueiras, abóboras e feijão. A visitação de 15235 dá-nos a indicação de outros produtos que eram cultivados no termo de Alhos Vedros, tais como favas, tremoços, legumes e hortaliças de toda a espécie.
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Arquivo Distrital de Setúbal, Livro Notarial de Alhos Vedros Nº.2/4 de 1585-1588, fls. 118-120v e fls. 122v-125 LEÃO, Duarte Nunes do, Descrição do Reino de Portugal (1610), Lisboa, Centro de História da Universidade, 2002, p. 190 3 CASTRO, João Bautista, Mapa de Portugal Antigo e Moderno, T. III, Lisboa, Officina Patriarcal de Francisco Luis Ameno, 1762, pp. 162-163 4 VICENTE, Gil, Pranto de Maria Parda, Siena, Protagon Editori Toscani, 2002, p. 72 5 LEAL, Ana de Sousa e PIRES, Fernando, Alhos Vedros nas Visitações da Ordem de Santiago (Visitação de 1523), Comissão Organizadora do 480º Aniversário do Foral de Alhos Vedros, 1994, pp. 44-45 2
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Podar a vinha, uma das fases de trabalho do ciclo da viticultura (iluminura referente ao mês de Março, do Livro de Horas de D. Manuel, atribuído a António de Holanda, 1517-1551, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa). Direção-Geral do Património Cultural / Arquivo de Documentação Fotográfica (DGPC/ADF) / Fotografia de José Pessoa
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O ciclo de produção de vinho: vindima, transporte, pisa da uva no lagar e preparação das pipas pelo tanoeiro (iluminura referente ao mês de Setembro, do Livro de Horas de D. Manuel, atribuído a António de Holanda, 15171551, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa). Direção-Geral do Património Cultural / Arquivo de Documentação Fotográfica (DGPC/ADF) / Fotografia de José Pessoa
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Trabalhos agrícolas referentes ao mês de Outubro: camponês a lavrar a terra com um arado de madeira com duas rodas, puxado por dois bois; colheita de romãs e a fermentação do vinho nas pipas (iluminura referente ao mês de Outubro, do Livro de Horas de D. Manuel, atribuído a António de Holanda, 1517-1551, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa). Direção-Geral do Património Cultural / Arquivo de Documentação Fotográfica (DGPC/ADF) / Fotografia de José Pessoa
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Vindima, transporte das uvas para o lagar e tanoaria (iluminuras do Missal Antigo do Lorvão, Arquivo da Torre do Tombo, Lisboa) FONTE: História de Portugal, volume 3, Lisboa, Alfa, 1983, p.161, 203 e 213
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46 Associada à agricultura estava a criação de gado, outro domínio da atividade económica, fundamental para o desenvolvimento do concelho, na medida em que proporcionava a carne para a alimentação, a energia para puxar o arado e a carroça e ainda o estrume para adubar os campos de cultivo, tão necessário à regeneração dos solos. O foral de Alhos Vedros1, através dos valores de portagem, insinua a importância da grande pecuária no sistema económico do concelho, dando-nos a conhecer as espécies animais que eram produzidas: por cada vaca grande ou pequena tributava-se um real, por cada porco meio real, por cada carneiro e todo o gado miúdo dois ceitis, por cada cabeça de gado cavalar e muar dois reais e por cada cabeça de gado asinino um real. Os animais de trabalho eram onerados com taxas de portagem mais elevadas que os de abate, devido à sua importância no trabalho dos campos e no transporte de mercadorias e pessoas. Os proprietários de poldros e burros estavam sujeitos ao pagamento do dízimo à Ordem de Santiago. Quanto às espécies de abate, o gado bovino, suíno e ovino, desempenharam um papel relevante não só na dieta alimentar, ao fornecer a carne para o açougue da vila e para os talhos do termo (além do leite, queijo e manteiga), como na obtenção de duas matérias primas (lã e peles) essenciais na confeção de vestuário e de sapatos, de grande utilização nos lanifícios e curtumes. Segundo a visitação de 1523, as lãs e os queijos tinham que pagar dízimo ao comendador. A criação de animais exigia deslocações aos pastos comuns, nas terras pertencentes ao concelho, onde se cobrava o direito de montado, o foral de Alhos Vedros é omisso sobre esta matéria, atribuindo ao governo administrativo local a faculdade de dispor como entendesse da utilização dos terrenos de pastagem. Era frequente, os animais nas suas deambulações, na procura de alimento, perderem-se e causarem danos nas culturas, para evitar estes malefícios, o foral determinou que todo o gado que fosse encontrado, no termo, abandonado e sem pastor, seria propriedade da Ordem de Santiago2. Posteriormente, a visitação de 15233 estipulou por alvará, a coima dos bois e de todo o gado que fosse achado a danificar as propriedades.
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SANTOS, Maria Clara e VARGAS, José Manuel, Foral de Alhos Vedros, Câmara Municipal da Moita, 2000, p. 75 Idem, p. 73 3 LEAL, Ana de Sousa e PIRES, Fernando, Alhos Vedros nas Visitações da Ordem de Santiago (Visitação de 1523), Comissão Organizadora do 480º Aniversário do Foral de Alhos Vedros, 1994, p. 38 2
47 A pequena pecuária, em especial os frangos e os patos, não é referida no foral, mas é mencionada no pagamento dos dízimos à Ordem, na visitação de 1523. Está associada à vida doméstica de cada família camponesa, sendo corrente nos contratos de aforamento, o pagamento do foro em galinhas e frangos, ao senhorio. A apicultura era outra atividade de grande importância, na medida em que fornecia o mel para a alimentação e a cera para o fabrico de velas de iluminação. Também o mel e os enxames estavam sujeitos ao pagamento do dízimo ao comendador de Alhos Vedros. O pagamento das taxas de portagem e dos dízimos, as prescrições sobre o gado perdido e sobre a utilização dos pastos, tudo aponta para a importância da pecuária na época de quinhentos no concelho de Alhos Vedros.
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Criação de porcos que em regime livre, pastam por entre os sobreiros para aproveitar as bolotas que se encontram caídas ou que os pastores apanham com o auxílio de um pau. A criação de porcos constituía uma atividade corrente das famílias camponesas (iluminura referente ao mês de Novembro, do Livro de Horas de D. Manuel, atribuído a António de Holanda, 1517-1551, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa). Direção-Geral do Património Cultural / Arquivo de Documentação Fotográfica (DGPC/ADF) / Fotografia de José Pessoa
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Rebanho de gado ovino e tosquia das ovelhas para produção de lã. Na cercadura do lado direito, a recolha do mel das colmeias (iluminura referente ao mês de Março, do Livro de Horas de D. Manuel, atribuído a António de Holanda, 1517-1551, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa). Direção-Geral do Património Cultural / Arquivo de Documentação Fotográfica (DGPC/ADF) / Fotografia de José Pessoa
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Criação de gado bovino (iluminura referente ao mês de Julho, do Livro de Horas de D. Manuel, atribuído a António de Holanda, 15171551, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa). FONTE: Portugal no Mundo, Volume I, Lisboa, Alfa, 1989, p.232
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Matança do porco. Nas unidades familiares o abate do porco fazia parte do ritual doméstico, na medida em que abastecia o lar de carne, por alguns meses. Esta era conservada através da salga ou do fumeiro (iluminura referente ao mês de Dezembro, do Missal Antigo do Lorvão) FONTE: História de Portugal, volume 3, Lisboa, Alfa, 1983, p.141
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O açougue (iluminura do códice De Universo, de Rábano Mauro, Biblioteca Nacional de Paris). A existência de açougues nas principais localidades (Alhos Vedros, Moita, Palhais e Lavradio) assegurava o abastecimento de carne às populações, o que leva a concluir que a carne era importante na dieta alimentar. FONTE: História de Portugal, volume 2, Lisboa, Alfa, 1983, p.270
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Comerciantes de gado cavalar (iluminura do códice Justinianeu, de 1350, Biblioteca Nacional de Turim). A criação de gado cavalar revestiu-se de grande importância, devido às suas aplicações militares. FONTE: História Universal. Europa Séculos XI-XV, Volume IV, Lisboa, Alfa, 1985, p.95
56 A salicultura, a par com a produção de vinho, foi uma das principais atividades económicas, no antigo concelho de Alhos Vedros, durante todo o século XVI. Esta sua importância afirmou-se muito cedo no panorama da economia local, com uma exploração que se estendia pelos esteiros, sapais e praias de toda a orla ribeirinha, desde o Lavradio até Sarilhos Pequenos. Enquadrando-se as marinhas do termo de Alhos Vedros no grande centro produtor de sal da margem sul do Tejo, um dos mais importantes salgados do país, em simultâneo com o de Setúbal. A documentação permite-nos conhecer os nomes de algumas marinhas, como a Alfeirã com 166 talhos, a Grande e a Pequena em Sarilhos Pequenos. As comendadeiras do Mosteiro de Santos, a comunidade feminina da Ordem de Santiago, eram as grandes proprietárias de marinhas no termo de Alhos Vedros, a quem eram pagos os dízimos e quintos do sal, por antigo privilégio, concedido pelo Mestre da Ordem no século XIII. Outras instituições religiosas (Convento de Nossa Senhora da Graça de Lisboa, Mosteiro de Chelas, a Ordem de Santiago entre outras), a misericórdia e também particulares eram detentores de marinhas, um precioso indicador do interesse pela produção salineira que advinha da importância do seu valor enquanto mercadoria. Mas a viabilidade económica destas propriedades só era possível através da sua reparação anual e da construção de novas marinhas, o que se traduziu no estabelecimento de contratos de aforamento para exploração e desenvolvimento da atividade. A documentação quatrocentista é profícua neste tipo de contratos, onde se estabelece cláusulas entre o senhorio e o arrendatário, tais como o prazo para a construção de marinhas ou reparação das velhas, o tempo de isenção tributária, o pagamento do tributo em sal, o dízimo e o quinto, o encargo de melhorar e de aumentar o número de talhos, de modo a andarem “bem apostadas e melhoradas e não pioradas”1 e por fim as penalidades aplicadas ao locatário nas situações de incumprimento. A visitação de 15232 dá-nos uma interessante informação de que o concelho tinha o direito de colher os juncos para proteger o sal dos lavradores e dos dízimos, o que demonstra a preocupação em conservar em boas condições o sal, depois de extraído das marinhas, de modo a não perder a sua qualidade.
1
ANTT, Mosteiro de Santos-o-Novo, Cx. 18, Nº.1344, Maço 2; Nº.1315, Maço 1; Nº.1353, Maço 3 e Cx. 16, Nº.1492, Maço 3 LEAL, Ana de Sousa e PIRES, Fernando, Alhos Vedros nas Visitações da Ordem de Santiago (Visitação de 1523), Comissão Organizadora do 480º Aniversário do Foral de Alhos Vedros, 1994, p. 37 2
57 Contudo, desconhecemos o tipo de sal que era produzido nas marinhas de Alhos Vedros, não sabemos se o sal era comum (o sal que se consumia internamente), de carregação (o sal que se exportava) ou de masseira (sal muito branco e de melhor qualidade). Sabe-se que parte do sal produzido, na margem esquerda do Tejo, destinava-se ao consumo regional e a produção excedentária era canalizada para o comércio de exportação com os países do Norte da Europa3, mercê do incremento da atividade comercial, a partir do século XVI. O seu transporte era feito em barcos, quer das marinhas para a cidade de Lisboa, quer para fazer a carregação das grandes embarcações fundeadas no Tejo, designados de barco dos moios. Quanto à pesca fluvial não aparece referências em outro tipo de documentação, a não ser no foral4, onde se estabelece o pagamento da dízima à Ordem de Santiago. Devido à abundância e variedade de espécies de peixe e marisco nos esteiros e estuário do rio Tejo, referida por Nicolau de Oliveira5, houve necessidade de regulamentar os encargos sobre o pescado. Assim, todos os pescadores, da terra ou estranhos ao concelho, estavam abrangidos por este tributo. O próprio peixe destinado à alimentação dos pescadores estava onerado pela dízima, apenas a pesca à fisga e à mão estava isenta deste direito. O foral dá-nos a conhecer três sistemas de pesca, um feito à mão e dois em que se utilizavam dois aparelhos, também muito rudimentares e arcaicos: a rede pé e a fisga. A primeira consistia numa rede de arrastar para terra, de um único pano e manobrada por dois homens. Era utilizada em águas baixas e na pesca de peixe que vinha à babuja, como tainhas, solhas, linguados entre outos. A fisga era um aparelho de pescar em forma de tridente, munido de um cabo de madeira, utilizado também em águas pouco profundas. Com estes sistemas tão simples tornava-se impossível capturar peixe em quantidade, apenas servia para satisfazer as necessidades familiares e dos moradores locais.
3
RAU, Virgínia, Estudos Sobre o Sal Português, Lisboa, Editorial Presença, 1984, p.114 SANTOS, Maria Clara e VARGAS, José Manuel, Foral de Alhos Vedros, Câmara Municipal da Moita, 2000, p. 72 5 OLIVEIRA, Nicolau de, Livro das Grandezas de Lisboa (em 1620). Lisboa, Assírio Bacelar, 1991, Fl. 91v 4
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Mapa da Margem Sul do Tejo com a localização das principais zonas salineiras, nos séculos XV e XVI, onde se destaca o termo de Alhos Vedros pela quantidade de marinhas que se estendem desde Sarilhos Pequenos até ao Lavradio. Documento gentilmente cedido por António Ventura
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Gravura de uma salina no século XVI. FONTE: AGRICOLA, Georgius, De re metallica. Libri XII, Basileae, 1556, p.441 / Biblioteca Nacional de Lisboa / Cota S.A. 4795 A.
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Loja de venda de sal numa cidade italiana (iluminura do Tacuinium Sanitatis, século XIV, Biblioteca Nacional de Turim). Desde tempos remotos que o sal teve um papel importante nas rotas comercias, devido à sua utilização na alimentação e na indústria de curtumes. Em 1552, João Brandão, referia-se à existência de lojas cheias de sal, na Ribeira, propriedade de 13 mulheres que somente vendiam esse produto e eram muito ricas e abastadas. FONTE: História Universal. Europa Séculos XI-XV, Volume IV, Lisboa, Alfa, 1985, p.88
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Barco dos Moios, utilizado no transporte de sal da margem sul do Tejo para Lisboa. FONTE: SOUZA, João de, Caderno de todos os barcos do Tejo, Tanto de carga e Transporte como d’Pesca (1785), Lisboa, Câmara Municipal, 1986, Estampa 9 / Biblioteca Nacional de Lisboa / Cota E.A. 239 P.
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Pescadores lançam as redes (iluminura do Missal Antigo do Lorvão, Arquivo da Torre do Tombo, Lisboa). Além dos sistemas simples e rudimentares, referidos no foral, haveria certamente a prática de uma pesca com a utilização de barcos e redes, como ilustra a imagem. FONTE: História de Portugal, volume 3, Lisboa, Alfa, 1983, p.217
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Barco de Pesca como símbolo da profissão de S. Pedro (iluminura referente a S. Pedro e S. Paulo, do Livro de Horas de D. Manuel, atribuído a António de Holanda, 1517-1551, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa). Esta imagem leva-nos a sugerir que na pesca fluvial no Tejo, fosse utilizada esta tipologia de pequenas embarcações. FONTE: História de Portugal, volume 4, Lisboa, Alfa, 1983, p.248
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Cena de Pesca à luz de um archote (iluminura de um manuscrito grego do século XI, Biblioteca Nacional de Paris). FONTE: História de Portugal, volume 2, Lisboa, Alfa, 1983, p.267
66 Entre as diversas atividades de relevância socioeconómica, instaladas no termo de Alhos Vedros, salienta-se a construção e reparação naval. O desenvolvimento desta atividade está profundamente associada ao aproveitamento das condições naturais do território, proporcionadas pela profusão de esteiros que ao entrarem pelo seu interior, formam enseadas e excelentes praias, onde era possível não só acolher as embarcações na época das intempéries, como erguer estaleiros navais. De todos os estaleiros que terão certamente existido nestas praias fluviais, o mais conhecido e que perdurou na memória foi o que estava instalado na margem direita do rio Coina, na Telha, no lugar da Azinheira Velha, por se tratar de uma dependência da Ribeira das Naus de Lisboa. Ignora-se a data da sua implantação, apenas sabemos que esta dependência estava inicialmente montada no Seixal “(…) e delle pasou a dita Fabrica para o lugar da Telha, no Rio de Coina distante deste lugar menos de meya legoa, (…).”1 Dois fatores terão sido decisivos na escolha deste local para o estabelecimento do estaleiro naval; por um lado a abundância de madeiras que provinham dos extensos pinhais que cobriam parte do território a sul do Tejo e muito necessárias na construção das peças de carpintaria naval (o sobreiro pelas curvas naturais era aplicado no cavername, o pinho manso devido à sua elasticidade no tabuado e o pinho bravo nas obras mortas), e, por outro, ser um sítio que proporcionava ótimas condições naturais de abrigo às embarcações, ficando protegidas dos ventos e das tempestades de Inverno. Como a Ribeira das Naus estava mais exposta aos ventos do Norte, a construção das embarcações iniciada aqui no Verão, era concluída no Inverno, no estaleiro da Telha. A este propósito, afirma Frédéric Mauro “(…) no Rio do Seixal e no Rio da Telha que, ao abrigo das tempestades do Inverno, permite acabar os navios começados no Verão, (…).”2 A estes fatores poderá ser conjugado o aumento do volume de trabalho que a Carreira da Índia exigia, e que a construção naval teve que corresponder. Com uma regularidade anual, as naus e galeões utilizadas nas armadas da Rota do Cabo, não só possuíam uma maior arqueação, a partir de meados do século XVI, como também tinham uma duração média de vida, entre três a quatro viagens3. A Ribeira
1
Dicionário Geográfico de Portugal, Tomo 34, Nº.106, p. 829. MAURO, Frédéric, Portugal, o Brasil e o Atlântico (1570-1670), Volume I, Lisboa, Editorial Estampa, 1989, pp. 73-74. 3 DOMINGUES, Francisco Contente e GUERREIRO, Inácio, “A Evolução da Carreira da Índia até aos Inícios do Século XVII” in Portugal no Mundo, Volume IV, Lisboa, Alfa, 1989, pp. 105-130 2
67 das Naus tinha que responder a esta solicitação crescente e o estaleiro naval da Telha desempenharia aqui uma função de complementaridade na construção e reparação destas embarcações de grande porte. No século XVII a importância do estaleiro é atestada, na atribuição de várias mercês régias, aos funcionários e familiares, pelo bom trabalho prestado nos seus ofícios, uma prova da capacidade dos seus oficiais. Bartolomeu Alves recebeu uma pensão de 20$000 reis, pelos seus serviços como contramestre e mestre de carpintaria da Ribeira das Naus e no Rio da Telha4 e Francisca de Sousa5 recebeu uma tença de 8$000 reis, pelos serviços prestados pelo seu pai, como patrão-mor na Ribeira das Naus e no Rio da Telha. É curioso verificar que, nestes documentos, o rio Coina perdeu a sua identificação e passou a ser denominado de rio da Telha, em associação ao nome da terra, onde estava instalado o estaleiro, indício da sua intensa atividade. A feitoria do Rio da Telha, como também era designado o estaleiro, terá laborado até aos inícios do século XVIII, pois em 1758, nas Informações Paroquiais, já só era considerado um lugar de memória: “(…) porem tem sitios que por sua celibridade e munta antiguidade, se devem fazer memoraveis como são a antiga e asim chamada Feitoria, que tomou este nome, porq. foi primeiro sitio em que neste reino se fabricarão naos, que para senão perder a sua antiguidade ememoria, nelle se mandou irigir hum Cruzeiro de pedra, o qual ainda hoje existe, com um padrão, que dis (memoria mea ingenerationes) (…).”6
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Inventário dos Livros das Portarias do Reino, Volume I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1909, p.104 Idem, p.120 6 Dicionário Geográfico de Portugal, Tomo 36, Nº.36, p. 217. 5
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Embocadura do Tejo. Mapa do século XIX, com a referência cartográfica à dependência da Ribeira das Naus, na Telha. Direção Geral do Território / Cota CA341
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Estaleiro da Ribeira das Naus em Lisboa, no reinado de D. João II (gravura). Em 1620, trabalhavam neste estaleiro, segundo dados de Nicolau de Oliveira, 650 carpinteiros, 600 calafates e 300 homens de serviços diversos. Arquivo Municipal de Lisboa – Núcleo Fotográfico / Cota Antiga A59483
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Construção das naus e galeões da carreira da Índia e de outras navegações, no estaleiro da Ribeira das Naus (gravura). Arquivo Municipal de Lisboa – Núcleo Fotográfico / Cota Antiga FDM001154, Fotografia de Armando Serôdio
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Pormenor da Ribeira das Naus (gravura). Arquivo Municipal de Lisboa – Núcleo Fotográfico / Cota Antiga BAR000952, Fotografia de José Bárcia
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Estaleiro Naval com carpinteiros a trabalharem na construção de embarcações, alguns deles estão a utilizar a enxó para trabalharem as peças, enquanto outros procedem a medições com esquadro e suta (Museu Correr, Veneza). FONTE: www.bridgeman.com
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Retrato de Manoel Fernandez, na sua obra Livro de Traças de Carpintaria (1616), um tratado sobre a construção naval. Além deste, houve mais dois grandes autores, Fernando Oliveira que escreveu O Livro da Fabrica das Naos e João Baptista Lavanha com o Livro Primeiro de Arquitectura Naval. FONTE: Portugal no Mundo, Volume IV, Lisboa, Alfa, 1989, p.100
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Traçado de um galeão de 200 toneladas, segundo o Livro das Traças de Carpintaria, de Manoel Fernandez. FONTE: BARROS, Eugénio Estanislau de, Traçado e Construção das Naus Portuguesas dos Séculos XVI e XVII, Lisboa, Ministério da Marinha, 1933 / Biblioteca Nacional de Lisboa / Cota S.A. 14812 V.
Caravela e galera do século XV. FONTE: História de Portugal, volume 3, Lisboa, Alfa, 1983, p.99
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Navios portugueses do século XVI (quadro atribuído ao mestre de Santa Auta, datado do início do século XVI, Museu Marítimo de Greenwich). A construção das naus e galeões causava espanto aos viajantes estrangeiros, como o relato de um francês que ao entrar na nau da carreira da Índia que estava ancorada no Tejo, em 1628, referiu: “… fomos arrebatados de admiração: tem 6 cobertas … o seu comprimento é de 180 passos, e a sua largura de quarenta: trouxe da Índia a Lisboa 500 famílias inteiras, cada uma com os seus móveis, os seus servidores e as suas crianças. Eu pensava ter visto, quando vi o galeão de Malta, o mais belo navio que havia sobre o mar, mas esse podia passar por esquife deste.” (Portugal no Mundo, Vol.4, p.115) FONTE: Portugal no Mundo, Volume I, Lisboa, Alfa, 1989, p.205
78 A navegação fluvial foi outra das atividades que teve um papel de relevo no quadro da economia local, ao estabelecer ligações regulares entre as povoações do termo de Alhos Vedros e a cidade de Lisboa. A vida local passou a gravitar em torno das necessidades económicas da grande capital. Pelo barco escoavam-se as mercadorias (lenha, madeira, vinho, farinha, sal, biscoitos) e assegurava-se o trânsito de passageiros. Os diferentes cais distribuídos nas margens dos esteiros para serventia das localidades, asseguravam esta ligação entre as duas margens. O Mapa de Portugal Antigo e Moderno1 dá-nos a conhecer esses ancoradouros: Fornos de El-Rei, Palhais, Telha, Verderena, Barreiro, Lavradio, Barra a Barra, Alhos Vedros, Moita, Esteiro Furado e Sarilhos Pequenos. Em 15522, João Brandão ao descrever o movimento de tráfego fluvial, existente no porto de Lisboa, menciona os lugares que detinham barcas: Moita duas; Sarilhos Pequenos e Grandes3 quatro; Lavradio quatro e Barreiro quatro barcas. Regista ainda o número de cem barcas e batéis para os dois Sarilhos, Alhos Vedros e Lavradio. O mesmo documento testemunha-nos a informação de que estas barcas e batéis iam para Lisboa, entre duas a quatro vezes por semana e por cada viagem que faziam, ganhavam entre quinhentos a seiscentos reis. A existência desta atividade fluvial por todas as povoações do termo de Alhos Vedros é corroborada, por Nicolau de Oliveira4, no início do século XVII, ao enumerar as seguintes terras com embarcações: Lavradio três; Sarilhos, Moita e Barreiro dez; Alhos Vedros três; Telha, Palhais e Coina5 sete barcos e quatro fragatas. O número de barcos, fornecidos pelos dois autores, é um indicador do intenso tráfego fluvial que se desenvolveu nas terras pertencentes ao concelho de Alhos Vedros. Esta sua importância económica foi salvaguardada no Foral, ao cobrar 27 reais de direitos de portagem, por cada barca ou batel que não fosse do concelho.6
1
CASTRO, João Bautista, Mapa de Portugal Antigo e Moderno, T. III, Lisboa, Officina Patriarcal de Francisco Luis Ameno, 1762, pp. 33-34 BRANDÃO, João (de Buarcos), Tratado da Magestade, Grandeza e Abastança da Cidade de Lisboa na 2ª. Metade do Século XVI (Estatística de Lisboa 1552), Tomo V, Lisboa, Livraria Ferin Editora, 1923, p.66 3 Sarilhos Grandes não pertencia ao termo de Alhos Vedros. 4 OLIVEIRA, Frei Nicolau de, Livro das Grandezas de Lisboa (1620), Lisboa, Veja Editora, 1991 – Contém fac-símile da edição original de 1620, p. 4v 5 Coina não fazia parte do concelho de Alhos Vedros, mas o registo de embarcações é dado para o conjunto das três povoações. 6 SANTOS, Maria Clara e VARGAS, José Manuel, Foral de Alhos Vedros, Câmara Municipal da Moita, 2000, p.74 2
79 As posturas municipais sobre as carreiras e a estiva das embarcações7, bem como o Regimento dos Barcos Grandes8, foram outras tantas medidas que demonstram a relevância dos transportes fluviais e a preocupação da administração local em regulamentar a atividade. Em terra, os ancoradouros fluviais estavam ligados a azinhagas e caminhos que asseguravam a passagem das carretas puxadas por bois ou muares, no transporte dos produtos que iriam ser escoados via rio. O Foral9 estipula o valor da portagem, a pagar por cada carga a transportar, nos seguintes animais: gado muar ou cavalar, dois reais; gado asinino, um real e por uma carreta quatro reais. Estes dados são reveladores da importância dos transportes terrestres na economia. Através deles assegurava-se a ligação com o transporte fluvial e o trânsito das mercadorias.
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Câmara Municipal da Moita; Livro de Atas da Câmara de Alhos Vedros, de 1625-1635, Fl. 64v Câmara Municipal da Moita; Livro de Atas da Câmara de Alhos Vedros, de 1663-1683, Fls. 141v-142v 9 SANTOS, Maria Clara e VARGAS, José Manuel, Foral de Alhos Vedros, Câmara Municipal da Moita, 2000, pp. 73-74 8
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Lisboa no Século XVI, com diferentes tipos de embarcações fundeadas no Tejo. FONTE: BRAUN, Georg, Olisipo, sive ut persetustae lapidum inscriptiones habent, Ulysipo, vulgo Lisbona Florentissimum Portugalliae Emporiv, 1572 / Biblioteca Nacional de Lisboa / Cota CC-798 V
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Pormenor da Civitates Orbis Terrarum, onde se vê a grande quantidade de embarcações que estariam associadas ao transporte fluvial. Esta imagem corresponde com a descrição de João Brandão, de 1552: “(…) as que caregã naos da India, como as que has descaregã, e assi outras naos e navios de mercadorias, e as que amdã ao ssall e pedraria e allvenaria. E assi os mais batees que de contino andão neste rio, ganhã do dinheiro aos fretes pera todalas partes que fazem ao lõguo deste Tejo:” FONTE: BRAUN, Georg, Civitates Orbis Terrarum, 1572-1618 / Biblioteca Nacional de Lisboa / Cota RES. 506 A.
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Gravura da praia frente aos Jerónimos, na qual se salienta uma cena do quotidiano da zona ribeirinha e das embarcações fluviais, nos finais do século XVIII. FONTE: BATTY, Robert, Lisbon, S.T Geronymo, Belem / Biblioteca Nacional de Lisboa / Cota E. 948 V.
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Três embarcações pintadas, no fundo do painel de azulejos, leva-nos a considerar que seriam esses tipos de embarcação aí representados que asseguravam o transporte fluvial entre as duas margens (painel de azulejos, de 1719, da Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem). Câmara Municipal da Moita / Fotografia de José Presumido
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Barca de transporte da Aldeia Galega, muito semelhante na sua tipologia a uma das embarcações representadas no painel de azulejos, referido anteriormente. FONTE: SOUZA, João de, Caderno de todos os barcos do Tejo, Tanto de carga e Transporte como d’Pesca (1785), Lisboa, Câmara Municipal, 1986, Estampa 3 / Biblioteca Nacional de Lisboa / Cota E.A. 239 P.
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Fragata do Tejo. FONTE: RÖDING, Johann Hinrich, Allgemeines Wörterbuch Der Marine in Allen Europaeischen Seesprachen Nebst Vollstaendigen Erklaerungen / Biblioteca Nacional de Lisboa / Cota S.A. 2043 V.
Convento de S. Vicente de Lisboa, num painel de azulejos do século XVIII, onde, mais uma vez, são representadas as embarcações fluviais do Tejo. FONTE: BENUTTI, Sérgio, Oceanos, N.º 36-37, Outubro 1998/Março 1999, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses / Biblioteca Nacional de Lisboa / Cota P.P. 4878 A.
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A carreta de bois ou a carroça puxada por muares eram duas formas de fazer o transporte de mercadorias em grandes quantidades ou muito pesadas, como acontecia com as madeiras, as lenhas e as pipas de vinho (iluminura referente ao mês de Agosto, do Livro de Horas de D. Manuel, atribuído a António de Holanda, 1517-1551, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa). FONTE: História de Portugal, volume 3, Lisboa, Alfa, 1983, p.267
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O transporte no dorso de muares era utilizado para mercadorias que fosse possível acondicionar em fardos, como ilustra a imagem (quadro do pintor Sano di Pietro, segunda metade do século XV, Pinacoteca Comunal de Siena). FONTE: História de Portugal, volume 3, Lisboa, Alfa, 1983, p.181
90 A moagem foi outra das atividades económicas de grande importância no termo de Alhos Vedros. As condições naturais oferecidas pelos esteiros possibilitaram o aproveitamento da água das marés, através da construção de caldeiras, onde a água ficava retida, para ser utilizada como força motriz, na vazante. Frente à caldeira edificava-se o moinho, dotado de uma comporta que permitia a entrada da água na caldeira, na fase ascendente das marés. Os primeiros moinhos construídos no termo de Alhos Vedros datam do século XV e progressivamente foram sendo edificados até ao século XVII, ao longo da orla fluvial do Tejo. A Visitação de 15341 fornece-nos um registo de 19 moendas de maré, para Alhos Vedros e Barreiro, que se distribuiriam pelos seguintes moinhos a saber: moinho da Verderena; moinho do Cabo do Alcoitão, no Lavradio; moinho do Cabo de Pero Moço, no Barreiro; moinho do Maricote e de Palhais, na Telha e moinho da Azenha, em Alhos Vedros. Além destes, havia ainda o moinho d’El Rei, pertencente ao complexo dos fornos de Vale de Zebro. O comendador recebia de todos estes moinhos a conhecença anual1, um imposto cobrado pelo direito de um moinho à Ordem de Santiago, cujo montante era pago em alqueires de trigo. O moinho da Azenha pagava, em 16332, 40 alqueires de trigo. A exploração económica destes moinhos era feita através do sistema de arrendamento, regra geral a um moleiro, por um período de três anos. Durante o arrendamento o moleiro tinha a obrigação de substituir as peças de madeira que se danificavam nos rodízios e nos pojadouros, de fazer a manutenção dos muros da caldeira e da porta de água e de cuidar da picagem das mós. No final do contrato tinha que pagar ao senhorio, os palmos de pedra gastos nas mós, nesses três anos de utilização. As posturas municipais testemunham a relevância do ofício de moleiro no bom funcionamento da atividade moageira, de forma a garantir uma boa qualidade das farinhas produzidas nos moinhos, em 1627, a Câmara de Alhos Vedros determinou que “todo o moleiro que deitar pedra a moer sem ser picada cada mare pague de coima dous mil reis e da cadeia (…).”3
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ANTT, Ordem de Santiago/Convento de Palmela, Maço 5, Doc. 370 LEAL, Ana de Sousa e PIRES, Fernando, Alhos Vedros nas Visitações da Ordem de Santiago (Visitação de 1523), Comissão Organizadora do 480º Aniversário do Foral de Alhos Vedros, 1994, p. 45 3 Arquivo Distrital de Setúbal, Livro Nº.4/12, Tabelião João Cordeiro Zagalo, Fl. 213v 4 Câmara Municipal da Moita, Livro de Atas da Câmara de Alhos Vedros, de 1625-1635, Fl. 59v 2
91 A manufatura de boas farinhas era uma preocupação das autoridades locais, já que parte desta produção destinava-se a abastecer os fornos de biscoito em Vale de Zebro. O Regimento dos Fornos4 confirma a utilização de farinhas, fornecidas por estes moinhos que orlavam a faixa ribeirinha, quando incumbe o meirinho “a correr os moinhos, e ver como se fazem as farinhas”. Outro grande centro consumidor de pão e consequentemente de farinhas foi a cidade de Lisboa que no início de quinhentos viu a sua população crescer, em resultado da sua intensa atividade comercial, com mercadores de diferentes partes do mundo. Face às necessidades crescentes de farinha, quer dos Fornos de Vale de Zebro, quer de Lisboa, desenvolveu-se uma importante indústria moageira no concelho de Alhos Vedros, com o aparecimento de outros moinhos: Novo, Charroqueira, Alimo, Esteiro Furado, Quinta da Freira, Rosário, de Entre os Termos e do Duque. O transporte do cereal e da farinha era feito via fluvial. Utilizava-se uma embarcação com caraterísticas próprias, denominada “barca dos moinhos”, cuja identificação aparece referida, na obra de João Brandão5, em 1552. Este tipo de transporte foi alvo de regulação, no artigo 24, do Regimento dos Barqueiros (1572)6.
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“Regimento dos Fornos de Vale de Zebro” in Systema ou Colecção dos Regimentos Reaes, Tomo III, 1785, p.347 BRANDÃO, João (de Buarcos), Tratado da Magestade, Grandeza e Abastança da Cidade de Lisboa na 2ª. Metade do Século XVI (Estatística de Lisboa 1552), Tomo V, Lisboa, Livraria Ferin Editora, 1923, p.67 7 Livro dos Regimentos dos Officiais da mui nobre e sempre cidade de Lisboa (1572), Coimbra, Imprensa da Universidade, 1962, pp.195-196 6
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Moinho de água de roda vertical (iluminura da Vida de São Dinis, Biblioteca Nacional de Paris). Os moinhos de maré do Tejo possuíam uma roda horizontal, com cerca de um metro de diâmetro. Devido ao grande investimento que era necessário dispor para a construção de um moinho de maré a sua propriedade estava reservada às classes mais abastadas. FONTE: História Universal. Europa Séculos XI-XV, Volume IV, Lisboa, Alfa, 1985, p.28
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Azenha de rio de roda vertical que gira no seu exterior (iluminura do Saltério de Lutrell, do século XIII, Museu Britânico de Londres). Supõe-se que os primeiros moinhos construídos no rio Coina, nos séculos XIII e XIV, tivesse uma tipologia semelhante ao da gravura, com os rodízios movidos por levadas de água. FONTE: História Universal. Europa Séculos XI-XV, Volume IV, Lisboa, Alfa, 1985, p.66
Ruínas do moinho de maré do Cabo de Pero Moço, construído no final do século XV. Em 1521, com a outorga da carta de vila ao Barreiro, deixou de pertencer ao termo de Alhos Vedros. Divisão de Promoção Cultural / Câmara Municipal do Barreiro
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Moinho do Cabo de Pero Moço. Pintura a óleo de José Esteves, 1927 Coleção da Câmara Municipal do Barreiro Divisão de Promoção Cultural / Câmara Municipal do Barreiro
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Moinho de Maré da Quinta da Freira. Câmara Municipal da Moita / Fotografia de Jorge Feiteira
Moinho de Maré da Azenha. A sua primeira construção data da primeira metade do século XV, por Pero Vicente, pelo que terá sido um dos primeiros moinhos a edificar no termo de Alhos Vedros. Câmara Municipal da Moita / Fotografia de Jorge Feiteira
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Moinho de Maré da Charroqueira, na freguesia de Alhos Vedros. Câmara Municipal da Moita / Fotografia de Jorge Feiteira
Moinho de Maré Novo, localizado também em Alhos Vedros Câmara Municipal da Moita / Fotografia de Jorge Feiteira
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Barco dos moinhos, a embarcação que era utilizada para fazer o transporte dos cereais e das farinhas e, várias vezes, referida, pelos autores quinhentistas e seiscentistas. FONTE: SOUZA, João de, Caderno de todos os barcos do Tejo, Tanto de carga e Transporte como d’Pesca (1785), Lisboa, Câmara Municipal, 1986, Estampa 5 / Biblioteca Nacional de Lisboa / Cota E.A. 239 P.
100 A construção dos fornos reais, na margem direita do Rio Coina, em Vale de Zebro, na segunda metade do século XV, foi um dos maiores empreendimentos industriais, implantados no termo de Alhos Vedros. Mais uma vez, foram as potencialidades naturais do território que viabilizaram o seu estabelecimento neste espaço: a abundância de lenha e matos, o combustível da época, necessário à laboração contínua dos seus 27 fornos; a existência de um esteiro que permitia o acesso fácil e rápido ao complexo, através das barcas de moinhos, quer no abastecimento do cereal e farinhas, quer no escoamento do biscoito e a proximidade geográfica à cidade de Lisboa. Além dos 27 fornos, este complexo era constituído por um celeiro com capacidade para 9.000 moios de cereal, cais, moinho de maré com oito pares de mós, telheiros para acolher as lenhas, armazém da balança, 2 armazéns para depósito das farinhas, 2 paióis para o biscoito, uma abegoaria para mais de 10 juntas de bois, oficinas e casas para acomodar os empregados1. Para pôr a funcionar toda esta poderosa estrutura, vocacionada somente para a produção de biscoito em larga escala, era necessário um contingente de mão de obra que ia desde os oficiais (almoxarife, a entidade máxima, o escrivão, o meirinho, o fiel ou guarda, o mestre dos fornos, o mestre dos biscoiteiros, os biscoiteiros e o mestre dos moinhos)2 até a outros trabalhadores, como serventes, mateiros, carreteiros, moleiros e na base da hierarquia os escravos. Na primeira década do século XVI, os fornos de biscoito de Vale de Zebro estavam no auge da sua produção, entre 1505 e 1507, produziram 14.487 quintais deste alimento3. Uma porção deste biscoito destinava-se a abastecer as tripulações das armadas da Rota do Cabo e de outras navegações (Brasil e Norte da Europa) e, outra parte era para alimentar as guarnições das fortalezas e feitorias de além-mar. Os dados numéricos da grande produção dos fornos de Vale de Zebro, só são possíveis de serem compreendidos no contexto do tráfego marítimo, no início da centúria de quinhentos. Sendo o biscoito
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ALMEIDA, António Lopes da Costa e, “Memória Histórico – Topográfica dos Estabelecimentos de Vale de Zebro, Telha e Azinheira” in Annais Marítimos e Coloniais, IV Série, Lisboa, 1844, pp. 356-357 2 “Regimento dos Fornos de Vale de Zebro” in Systema ou Colecção dos Regimentos Reaes, Tomo III, 1785, pp.339-352 3 VENTURA, António Gonçalves, A “Outra Banda” e a Expansão Portuguesa: O Contributo dos Fornos do Biscoito de Vale de Zebro, Comunicação apresentada na Academia de Marinha, 2009, p. 16
101 um substituto do pão, constituía por isso um alimento imprescindível e fazia parte das rações diárias dos tripulantes das naus e galeões. Na armada de Vasco da Gama, cada pessoa a bordo recebeu arrátel e meio de biscoito, posteriormente nestas mesmas viagens, cada pessoa passou a consumir um arrátel e três quartos4. Ora um arrátel equivale a 459 gramas, o que corresponderia respetivamente a 788 e 803 gramas de biscoito que era consumido diariamente, por cada indivíduo. No reinado de D. Manuel I, cada nau de 400 a 500 tonéis de arqueação podia transportar entre 400 a 500 pessoas5, o que significa um elevado consumo de biscoito, simplesmente em quantidades surpreendentes. Os fornos reais de Vale de Zebro foram uma grande fábrica de produção de biscoito e, só assim, foi possível responder às necessidades crescentes de pão, colocadas pela empresa marítima e expansão portuguesa. Localmente criou dinâmicas económicas, ao impulsionar o aparecimento de vários moinhos de maré e ao incrementar a produção de cerâmica nos fornos da Mata da Machada.
4
Idem, p. 18 DOMINGUES, Francisco Contente e GUERREIRO, Inácio, “A Evolução da Carreira da Índia até aos Inícios do Século XVII” in Portugal no Mundo, Volume IV, Lisboa, Alfa, 1989, pp. 105-130 5
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Estabelecimento dos Fornos de Vale de Zebro, alçados e cortes. Arquivo Histórico do Ministério das Obras Públicas (A.H.M.O.P.) / Cota D 22C
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Planta do piso térreo, com a localização dos 27 fornos de biscoito. Escola de Fuzileiros / Marinha Portuguesa
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Edifício do Museu dos Fuzileiros de Vale Zebro, onde antigamente estavam montados os fornos do biscoito. Divisão de Promoção Cultural / Câmara Municipal do Barreiro
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Perspetiva interior do Museu que em tempos remotos acolhia uma galeria de fornos, em abóbada de barrete. Segundo a descrição dos Anais Marítimos e Coloniais “(…) as galerias dos fornos, que são três, duas mostram maior antiguidade, que a 3.ª; as duas primeiras são cobertas com abobadas de barrete, sobre pilastras de cantaria; (….) e a 3.ªgaleria não tem pilastras; sua abobada é de berço, (…).” Divisão de Promoção Cultural / Câmara Municipal do Barreiro
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Pormenor de uma coluna que sustenta a abóbada de barrete, do teto dos fornos de biscoito e referida na descrição anterior. Divisão de Promoção Cultural / Câmara Municipal do Barreiro
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Primeira página do Regimentos dos Fornos de Vale de Zebro FONTE: Systema, ou Collecção dos Regimentos Reaes, Tomo Terceiro, Lisboa, M DCC LXXXV, pp.339-352
110 Os fornos de cerâmica da Mata da Machada, construídos no concelho de Alhos Vedros, a 300 metros dos fornos de Vale de Zebro, foram outra importante infraestrutura que se enquadra no projeto expansionista de quatrocentos. Devido ao espólio numismático, encontrado no decorrer das campanhas arqueológicas, foi possível fazer, com algum rigor, uma datação desta olaria que remonta a meados do século XV, seguido de um período de laboração de oitenta anos, mais precisamente entre 1450 e 15301. A instalação desta indústria, tal como a dos fornos de Vale de Zebro, está também relacionada com o aproveitamento dos recursos naturais que o território oferecia. Por um lado, a proximidade às extensas matas e pinhais que lhe proporcionavam a fonte energética para a sua laboração e por outro, ao Rio Coina que lhe garantia o escoamento dos produtos cerâmicos. Beneficiava ainda da existência de argilas nos solos, próprias para cozer e necessárias para alimentar este tipo de indústria. Este complexo oleiro ao estar construído nas imediações dos fornos de Vale de Zebro passou então a funcionar como uma atividade subsidiária complementar à produção do biscoito, na medida em que lhe fornecia determinadas peças, de uso corrente, necessárias ao fabrico deste alimento. Referimo-nos concretamente à produção das formas de barro, de tamanhos variáveis e que foram utilizadas como bases de apoio ao biscoito, no período da cozedura. Estas placas eram redondas e rasas e foram fundamentais para o bom sucesso do fabrico do biscoito, uma espécie de bolacha, de forma achatada, cozida no forno, umas duas vezes, de modo a retirar-lhe toda a humidade, para assim se conservar durante muito tempo. Através das cartas de quitação do rei D. Manuel, sabemos que, entre os anos 1489 e 1496, entraram, nos fornos de Vale de Zebro, 400 formas e 160 sinos de barro2. E no período de tempo que medeia os anos 1505 a 15073, os fornos receberam 400 tigelas de barro. Estes quantitativos demonstram bem a importância da utilidade dos objetos cerâmicos na atividade quotidiana dos fornos de biscoito e comprovam a relação de complementaridade que se estabeleceu entre os dois sistemas produtivos, a
1 TORRES, Cláudio, Um Forno Cerâmico dos Séculos XV e XVI na Cintura Industrial de Lisboa (Mata da Machada - Barreiro), Barreiro, Câmara Municipal, s.d. 2 “Cartas de Quitação Del Rei D. Manuel” in Archivo Historico Portuguez, Volume I, Lisboa, 1903, p. 157 3 Idem, p. 202. Sobre este assunto ver também António Gonçalves Ventura, A “Outra Banda” e a Expansão Portuguesa: O Contributo dos Fornos do Biscoito de Vale de Zebro, Comunicação apresentada na Academia de Marinha, 2009, p. 14
111 olaria e a produção de bolacha. Além destes utensílios, outros fariam provavelmente parte das suas necessidades diárias e produzidos nos Fornos da Mata da Machada, como são as lamparinas para iluminação e os barris para armazenamento de água. A olaria da Mata da Machada produziu ainda uma tipologia cerâmica, identificada como sendo formas de “pão de açúcar”, utilizadas supostamente na ilha da Madeira, nos engenhos açucareiros, para o fabrico e purga do açúcar. Estes moldes eram cónicos e no vértice tinham uma perfuração que permitia verter os líquidos, resultantes do processo de purgação do açúcar, na fase final, o pão de açúcar era separado cuidadosamente do molde cerâmico e vendido de acordo com a sua qualidade, ficando com a forma cónica. Na viragem do século XV para o século XVI, quando Portugal estava na fase de consolidação da sua política expansionista, os fornos cerâmicos da Mata da Machada terão desempenhado uma função económica de grande importância e fundamental no contexto regional, na medida em que foram um centro produtor de utensílios de uso doméstico, como também produziram peças de uso industrial (formas de biscoito, formas de pão de açúcar, telhas e tijolos, barris), indispensáveis na manutenção de outras atividades económicas.
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Desenhos dos cortes da boca do forno, na Mata da Machada. Primeiro desenho é o corte transversal B-B’ e o segundo é o corte transversal A-A’. Divisão de Promoção Cultural / Câmara Municipal do Barreiro
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Boca do forno, o único que foi posto a descoberto pelo arqueólogo Cláudio Torres, no decorrer das campanhas arqueológicas, realizadas no ano de 1981. Divisão de Promoção Cultural / Câmara Municipal do Barreiro
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Forma cerâmica utilizada no fabrico do biscoito, nos Fornos de Vale de Zebro. Divisão de Promoção Cultural / Câmara Municipal do Barreiro
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As formas cerâmicas de pão de açúcar tinham vários tamanhos, eram cónicas e no vértice dispunham de uma perfuração que permitia verter os líquidos, resultantes do processo de purgação do açúcar. No processo final, o pão de açúcar era separado cuidadosamente do molde e vendido de acordo com a sua qualidade, ficando com a forma cónica do modelo. Divisão de Promoção Cultural / Câmara Municipal do Barreiro
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Malga, louça de mesa que se generalizou em Portugal, a partir de finais do século XIV. Divisão de Promoção Cultural / Câmara Municipal do Barreiro
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Candeias em cerâmica, utilizadas na iluminação. Divisão de Promoção Cultural / Câmara Municipal do Barreiro
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Pesos de rede, para utilização na pesca. Divisão de Promoção Cultural / Câmara Municipal do Barreiro
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Barril, louça de armazenamento de água. Divisão de Promoção Cultural / Câmara Municipal do Barreiro
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Pequena taça, louça de mesa. Divisão de Promoção Cultural / Câmara Municipal do Barreiro
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Suportes cerâmicos em forma de trempe, utilizados como bases de separação das peças, aquando no momento da cozedura na câmara de enfornamento. Divisão de Promoção Cultural / Câmara Municipal do Barreiro
124 No termo de Alhos Vedros, o início da centúria de quinhentos foi também marcada pelo aparecimento de uma arquitetura que incorporou os novos aspetos decorativos, uns colhidos na natureza e outros associados à simbólica do poder régio. Este estilo que se firmou particularmente na ornamentação, designado de manuelino, é o reflexo de um período de grandeza em que Portugal viveu e que foi mostrado com toda a exuberância na arte. No antigo território que pertenceu ao concelho de Alhos Vedros, encontramos alguns testemunhos artísticos, dessa época auspiciosa, sendo de mencionar o pelourinho, o poço “mourisco”, a porta em arco conopial da travessa do Alferes Mor, na Moita e ainda os exemplares de arquitetura religiosa. De todos os vestígios patrimoniais, foram, sem dúvida, os de carácter religioso que receberam um maior cuidado na ornamentação, quer no tratamento dos portais, quer das abóbadas. Estes edifícios têm também uma característica comum, refletem a iniciativa privada das populações residentes ou de particulares, resultante não só da sua religiosidade, como certamente de uma melhoria das condições económicas. No primeiro caso, temos a Igreja de Nossa Senhora da Graça, em Palhais, construída pelos moradores do lugar, no fim do século XV. Na segunda situação, temos dois exemplares de iniciativa particular: a Capela de Nossa Senhora do Rosário, localizada no Rosário, mandada construir em 1532, por Cosme Bernardes de Macedo; e a Capela de S. João Baptista, integrada na igreja matriz de S. Lourenço, em Alhos Vedros e que teve como fundador Pero Gomes de Faria, cavaleiro da casa de D. Manuel I, no início do século XVI. Além deste património religioso, existem mais duas manifestações quinhentistas que se encontram fora do seu contexto original, tratam-se particularmente, de uma pia de água benta, integrada na igreja da Misericórdia de Alhos Vedros e de um portal, pertencente a uma extinta igreja, dedicada a S. Sebastião, aproveitado para uma montra, numa rua no Barreiro. Todos estes vestígios patrimoniais são um relevante registo identitário, referentes a uma realidade artística de uma determinada época que, consagrou na sua ornamentação, uma temática naturalista e simbólica e que hoje faz parte da nossa paisagem cultural.
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Fachada principal da Igreja de Nossa Senhora da Graça em Palhais. Divisão de Promoção Cultural / Câmara Municipal do Barreiro
Colunelo com capitel, laboriosamente lavrado com elementos vegetais e do qual arranca o arco de uma das capelas funerárias. Divisão de Promoção Cultural / Câmara Municipal do Barreiro
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Portal manuelino em forma de arco trilobado, decorado por elementos vegetalistas e rematado superiormente por três cogulhos, ornamentados com espigas de milho e folhas de acanto. Divisão de Promoção Cultural / Câmara Municipal do Barreiro
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Azulejos enxaquetados, verde e branco, do século XVI, revestem o corpo principal da igreja. Divisão de Promoção Cultural / Câmara Municipal do Barreiro
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Portal manuelino, pertencente a uma antiga ermida dedicada a S. Sebastião. Divisão de Promoção Cultural / Câmara Municipal do Barreiro
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Capela de S. João Baptista, integrada na Igreja Matriz de S. Lourenço de Alhos Vedros, exibe uma abóbada de nervuras em estilo manuelino que se cruzam em todos os sentidos e que descarregam em mísulas nos cantos das paredes. Encontra-se revestida de azulejos hispano-árabes, segundo a técnica de aresta, da primeira metade do século XVI. Câmara Municipal da Moita / Foto de José Presumido
Pia de água benta ricamente decorada com elementos vegetalistas da época manuelina, está integrada na parede defronte ao altar de S. João Baptista. Câmara Municipal da Moita / Foto de José Presumido
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Pormenor dos azulejos hispano-árabes. Câmara Municipal da Moita / Foto de José Presumido
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Pia de água benta, em forma quadrilobulada, de estilo manuelino, localizada junto à porta da entrada, do lado da epístola, da Igreja da Santa Casa da Misericórdia. Além dos elementos decorativos das paredes exteriores, é de realçar o detalhe de uma pequena flor de quatro pétalas gravada no seu interior e de onde saem umas nervuras que ligam aos lóbulos da pia. Câmara Municipal da Moita / Foto de José Presumido
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Fachada principal da capela de Nossa Senhora do Rosário, orientada para poente, apresenta elementos da primitiva fábrica, como o óculo e o portal gótico de arco trilobado. Câmara Municipal da Moita / Foto de José Presumido
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Portal gótico de arco trilobado, enriquecido com elementos ornamentais característicos da arte manuelina, sendo de destacar as arquivoltas reentrantes que descarregam nos colunelos de fustes lisos, com os capiteis decorados com flores, frutos e nas bases os entrançados e as cabaças. Câmara Municipal da Moita / Foto de José Presumido
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Pormenor da decoração naturalista de dois capitéis, cuja forma nos faz sugerir os ananases, fruta exótica que não pertencia à nossa flora e passou a ser conhecida a partir das viagens dos descobrimentos Câmara Municipal da Moita / Foto de José Presumido
No interior, a nave é separada da capela-mor por um belo arco triunfal em asa de cesto, talhado em meia cana côncava, onde estão esculpidas quatro flores em relevo de folhagens sobrepostas. Do conjunto fazem parte dois colunelos, um de cada lado do arco que se prolongam numa arquivolta, com capitéis também decorados com a gramática decorativa manuelina. Câmara Municipal da Moita / Foto de José Presumido
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Pormenor de uma das flores em relevo que se encontra esculpida no arco triunfal. Câmara Municipal da Moita / Foto de José Presumido
Pia de água benta, localizada do lado direito, junto à porta travessa. Outra peça quinhentista, de grande interesse, pelo seu lavor decorativo, em que se salientam os motivos vegetalistas, as flores e as bolotas. Estas últimas têm uma interpretação simbólica, associadas à fertilidade/imortalidade. Salienta-se também, pela forma do entalhe, o cordame que cinge a pia. Câmara Municipal da Moita / Foto de José Presumido
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Pia batismal oitavada, localizada do lado esquerdo, junto à porta principal, constitui uma interessante peça quinhentista. Câmara Municipal da Moita / Foto de José Presumido
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Portal do século XVI, localizado na Travessa do Alferes-Mor, no núcleo antigo da vila da Moita. É o único portal de tipologia manuelina que chegou até hoje, numa construção civil. Apresenta cantarias de vão em arco conopial, com umbrais e lintel biselados. Câmara Municipal da Moita / Foto de José Presumido
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