GREGÓRIO, o golfinho e o varino das histórias: Recolha de Histórias nas Escolas do Concelho da Moita

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FICHA TÉCNICA título

GREGÓRIO, o golfinho e o varino das histórias: Recolha de histórias nas escolas do concelho da Moita coordenação

fátima éffe revisão

Lurdes Cavaquinho ilustração & paginação

grão de pó edição Câmara

impressão

Municipal da Moita

Belgráfica

depósito legal n.º

484864/21

isbn 978-989-54876-4-6

1.ª edição junho de 2021 tiragem 1000

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exemplares

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RECOLHA DE HISTÓRIAS NAS ESCOLAS DO CONCELHO DA MOITA

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“Chamo-me Golfinho mas agora também me chamo Pássaro. Tenho uma pequena estória para contar. Sentem-se que eu vou começar.” O voo do golfinho Ondjaki, Danuta Wojciechowska

“…depois, com os olhos inundados da luz do mar e com um largo sorriso, disse-nos: — Os golfinhos são animais especiais. Para os pescadores, são as estrelas do mar durante o dia: guiam-nos quando estamos perdidos, levam-nos aos melhores cardumes. São nossos amigos...” Pirilampo: o velho pescador de estrelas Carlos Canhoto, Paulo Galindro

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Rota de navegação

Onde o Tejo já não é só rio e ainda não é mar

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Aquilo que é nosso

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Aconteceu uma vez...

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Recolha de histórias

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Glossário

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Pesca à linha

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Agradecimentos

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Navegaram neste projeto

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Onde o Tejo já não é só rio e ainda não é mar

Nestas terras da beira-rio onde vivemos, a História regista séculos de ligação com o Tejo, a marcar o povoamento e a economia. Terras de cultivo e de produção florestal a penetrar no interior, e os assentamentos ribeirinhos a crescer na base do transporte dos produtos da terra para a grande cidade na outra margem. Daqui, onde mal se percebe onde o Rio acaba e o mar começa, se partiu à procura de novos mundos. Mas o novo mundo está sempre aqui, ergue-se em todos e em cada um dos dias porque a sociedade e a vida estão em permanente transformação. E foi assim que o Rio, via de comunicação e fonte de aparentemente inesgotável riqueza natural, com peixe e marisco capazes de alimentar as comunidades do seu entorno, começou a perder importância e atenção. Cresceu a Cidade à sua volta, cresceu a indústria, novos meios de transporte substituíram os barcos. Durante alguns anos pareceu que nunca iríamos voltar a ter o Rio de vida de outrora. O Tejo tornou-se sujo, triste, esquecido e abandonado. Os golfinhos deixaram de vir ao Tejo.

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Mas aqui, onde o Tejo já não é só rio e ainda não é mar, a memória e a saudade do Rio de outrora não pereceram. Aqui, a força transformadora que carregam os homens e as mulheres quando trabalham juntos para transformar a vida, essa imensa força de vontade e de acção, fez renascer o estuário do Tejo e a cultura que o Rio marcou durante séculos. A vida voltou ao Tejo. Os golfinhos já nos visitam outra vez. E a beleza inigualável dos barcos do Tejo pode de novo ser vista e vivida. A Moita, as suas gentes e a sua autarquia deram um contributo inigualado para que isso acontecesse. Esta herança passará naturalmente para as mãos das novas gerações. Cabe-vos a vós garantir que nunca mais ninguém faz mal ao nosso Tejo.

Rui Garcia Presidente da Câmara Municipal da Moita

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Aquilo que é nosso

No contexto da candidatura dirigida à UNESCO por parte da Câmara Municipal da Moita com o objetivo de reconhecer e salvaguardar a arte dos estaleiros navais localizados no Concelho, a Biblioteca Municipal avançou com a proposta de envolver e motivar a comunidade de leitores e a comunidade escolar para a criação de um novo objeto, também ele, expressão do património comum: o livro GREGÓRIO, o golfinho, e o varino das histórias. Com este intuito, ao longo de várias reuniões, foram consolidadas as relações de trabalho: pela Biblioteca Municipal, com a participação da bibliotecária Lurdes Cavaquinho; em representação da comunidade e testemunho patrimonial, o Mestre João Gregório, arrais do barco varino “Boa Viagem” (propriedade da Câmara Municipal da Moita) e fátima éffe/ Fátima Freitas, na qualidade de escritora e socióloga com trabalhos de sensibilização ao(s) património(s) junto das comunidades locais. Afinados os propósitos e unidas as vontades, foram planeadas e propostas oficinas de escrita às comunidades escolares de acordo com um cronograma previamente agendado em estreita articulação entre a Biblioteca Municipal e as escolas do concelho. Inscreveram-se 25 turmas de diferentes graus de escolaridade. Pretendia-se garantir o contributo da comunidade escolar (alunos, professores e professores bibliotecários) na candidatura e, simultaneamente, incentivar literacias

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leitoras e competências de cidadania sob o mote da sensibilização ao património concelhio: o estuário do Tejo, o barco varino, botes e fragatas construídos pelos homens que nas suas labutas, desde tempos ancestrais, se têm relacionado com este braço do rio, explorando faunas e floras, aproveitando os recursos naturais. Mas também hasteando velas e orientado proas a antigas e novas descobertas. Com este objetivo, e já no passo seguinte, fez-se desaguar o rio na escola. Como? Levando um barco varino miniatura, um baú repleto de segredos acerca da fauna e da flora fluviais, e um barrete de arrais. E as almas estavam convocadas, a convocar a imaginação. Presença única de contador de histórias, testemunho vivo das memórias locais, o Mestre João Gregório cativou e encantou todos aqueles que o escutaram. Sob o barrete preto, a emoção arrepiava sempre que recontava a história do golfinho que em incerto dia deu à costa, na Moita. Este, o primeiro desafio. Depois, já de barrete nas mãos, o Mestre explicava e revirava a razão do barrete, o significado identitário e utilitário do respetivo uso. Depois, chegava o momento de embarcar no varino miniatura que, já impaciente, aguardava as perguntas dos curiosos ouvintes — barcos e velas, cabos e mastro, bombordo e estibordo, proa e ré, cortiça e sal, cargas e descargas, comércios e travessias… tudo isto era explicado e anotadas as novas palavras que estas marés traziam à sala. Finalmente, abria-se o baú dos segredos onde gramateiras, algas-de-estalinhos e ostras, redes de pesca, penas de flamingos e de gaivotas mais surpreendiam

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e agarravam o interesse. Um a um, cada objeto foi exposto — o que era, para o que servia e porque estava no baú… de modo a incentivar a curiosidade e a dar-lhe vida através de um registo escrito: uma história de turma. O desafio estava lançado no mar da imaginação. Explorando mapas de possibilidades, cada aluno, cada turma, cada professor presente, foi convidado a participar numa narrativa comum. De sentidos despertos compuseram-se as histórias com ideias partilhadas — barcos, muitos barcos, ostras, algas, flores de sal e salinas, ilhas e Carrapetos, piratas, reis e sereias, pescadores, veleiros e salineiros, aventuras, praias de memórias e tantas outras histórias ganharam vida no entusiasmo do escrever coletivo. Outras situações houve em que as palavras do arrais João Gregório ou dos jovens alunos suscitaram o mote das composições. Foi o caso de “No tempo do barrete preto” ou “Aqui, junto ao rio”, cuja cadência foi escutada como uma onda suave, insinuação de um marulho antigo que agora inspira estes jovens artesãos da escrita. Porque não foi apenas uma história imaginada que se trabalhou durante as oficinas. Foram também os modos diversos de ler a Moita, o significado de viver na “minha amada Moita”. Sob a forma de ficção, todos acrescentaram experiência humana. Colaborativamente, nascia um livro que incluiria o original trabalho de ilustração, cúmplice em sensibilidades, de grão de pó, criando cores e formas para além das palavras. No final, o glossário representa um singular recurso pedagógico para a comunidade escolar e Bibliotecas a envolver as famílias, deseja-se.

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Também por isso, desta experiência nova fundada em saberes antigos, se quis construir um registo que só no final dá a conhecer os jovens autores. Esta intenção sustenta e valoriza o contributo para o património moitense, de que o livro GREGÓRIO, o golfinho, e o varino das histórias é uma expressão. Mas não só. Sublinha a convicção de que o património cultural e natural adquire especial significado quando o percebemos de responsabilidades partilhadas, envolvendo, desde cedo, a comunidade escolar. Não esquecemos a resposta assertiva daquele jovem: “o património é aquilo que é nosso”. Sim, nosso, mas também “vosso”, porque pertence às novas gerações. A salvaguarda dos patrimónios é, por isso, o reconhecimento de um direito ao futuro, um direito à esperança. Afinal, um dever de todos em nome das gerações presentes e vindouras, em nome de literacias e de cidadanias mais conscientes. Em nome desta “Boa Viagem” que, unindo histórias, memórias e vontades, nos convida a embarcar. Finalmente, fica expressa a gratidão a quem tornou possível tal aventura e aos muitos jovens e professores que tão generosamente contribuíram para que este recente bem patrimonial se faça barco para leituras inspiradoras e berço para futuros promissores. Pelo exposto, o presente trabalho constitui o resultado de mais uma parceria natural, imprescindível e incondicional entre a Câmara Municipal/Rede de Bibliotecas Municipais e as Bibliotecas Escolares (que já formam no seu todo a Rede de Bibliotecas da Moita, pela partilha de recursos, projetos e objetivos), e as Escolas do concelho. 18

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Aprender mais com a partilha de experiências e boas práticas é o caminho a seguir: com a comunidade local, que nos traz histórias de vida e memórias que enriquecem a nossa cultura; com os professores que estão aptos a mostrar o verdadeiro caminho para o conhecimento; com os leitores que nos desafiam com perguntas e novas ideias; com os escritores que nos passam o testemunho do poder da palavra escrita, registado nos livros tal como mapas que indicam caminhos para a eternidade. O desejo de manter a fidelização de públicos com diferentes necessidades informacionais e o de criar novos leitores, independentemente da idade e da condição social, tal como refere o Manifesto da UNESCO para Bibliotecas Públicas, aplica-se a este projeto e a todos os outros em que nos envolvemos. Ao publicar estes trabalhos, fruto da imaginação e da força da criatividade, a Câmara Municipal da Moita convida o leitor a fazer-se escritor. Acreditamos serem estes encontros vigorosos que orientam as viagens da vida.

fátima éffe Fátima Freitas escritora Lurdes Cavaquinho DASC/DC/ Serviço de Bibliotecas junho 2021

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Aconteceu uma vez…

Meus queridos leitores, a vida é composta por momentos agradáveis e momentos menos agradáveis. Neste momento é um prazer imenso relatarmos o que nos vai na alma! Nasci na Moita, vila pacata com gentes muito hospitaleiras, amigas do seu amigo, com uma vivência única onde o brilho do sol e o ar que se respira são únicos. Assim como a água que consumimos também é única. Sinto ser um privilégio ter nascido nesta vila. A história que vos trago é uma história verídica. Tive o prazer de conhecer o personagem que ma relatou. O personagem em causa era meu vizinho e morava na zona ribeirinha da vila, uma zona privilegiada e sagrada. Durante a minha infância este meu vizinho, António, mais conhecido pelo Solteirão, na verdade só o encontrava, e com ele falava, praticamente uma vez por ano pois ele tinha um trabalho difícil: era embarcadiço. Quer-se dizer que trabalhava a bordo de um paquete onde tinha a responsabilidade da cozinha. Um trabalho que desempenhou por muitos e muitos anos. Nesta tarefa o senhor António gozava de uma particularidade: alimentava os peixes e, todos os dias, os restos de comida das refeições eram deitados no oceano! Era uma compostagem natural. Qual a resultante desta tarefa? Ao longo dos anos houve uma comunidade de golfinhos que enraizou autênticos laços de amizade com o senhor António! Aliás, já conheciam o paquete.

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Os anos foram passando e o senhor António, o Solteirão, reformou-se e a comunidade de golfinhos deixou de ser alimentada. Mas não só. Sentiram a falta daquele senhor que, ao longo dos anos, os alimentara e os acarinhara. Lembro que esta apaixonante vila é banhada pelo Tejo numa zona do rio pouco profunda já que este braço do rio termina na Moita. São braços do rio Tejo que banham também Alhos Vedros, Sarilhos Pequenos, Montijo. Porém, todos têm esse pormenor: são braços de rio pouco profundos onde existem canais naturais que possibilitam o acesso às localidades. O efeito natural destes canais é realmente desassorear o rio permitindo que o movimento fluvial se realize com mais facilidade. Aproveitando o movimento das marés chega-se a estas terras um pouco mais cedo e, na partida, conseguimos sair um pouco mais tarde acompanhando os movimentos de baixa-mar e de preia-mar. Porém, já nos apercebemos que o acesso não é fácil. Aliás, traz algumas dificuldades que temos de conhecer para chegar a bom porto. Então, retomando a história, há muitos e muitos anos, no tempo dos nossos bisavós, aconteceu um fenómeno raro: imaginem a visita de um golfinho à vila da Moita! Faço uma pequena ideia da dificuldade que o mamífero teve para cá chegar. Mas chegou! Naquela época já existia, tal como ainda hoje existe, um grande reservatório de água conhecido como caldeira da Moita. Lembro-me perfeitamente que existiam umas portas-de-maré que abriam com a água a encher e fechavam com a água a vazar. Ora, o golfinho entrou nesse reservatório e, quando quis sair, não conseguiu porque as portas se encontravam fechadas! Foram momentos muito complicados para o 22

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animal, chorou bastante e realmente passou um mau bocado. Na vila nunca tinha acontecido nada assim. A população preocupada juntou-se perto da caldeira para o alimentar e acalmar. O mistério desta visita ficou para sempre na memória dos moitenses que a viveram. Possivelmente a visita do golfinho teve a ver com os laços de amizade por aquele seu amigo, o senhor António, o Solteirão. O golfinho terá vindo ao seu encontro e, como se não bastasse este feito, o nosso golfinho, com a ajuda dos moitenses, acabaria por sair do reservatório na maré seguinte, muito feliz e contente. Mas acrescente-se outro pormenor que ficou para sempre nos nossos corações: imaginem que o golfinho voltou! Dessa vez já não ficou preso naquele reservatório. Acredita-se que tenha vindo agradecer às nossas gentes a maneira como foi recebido. E nunca mais voltou à vila. Fica a saudade e a gratidão da nossa vila por ter sido visitada pelo célebre golfinho. E esta bonita e verídica história é sempre atual. Vem lembrar-nos que os elementos da Natureza — a fauna, a flora e o homem — estão profundamente ligados. Reconhecer e relembrar a força destes laços para melhor cuidar da Natureza é, também, a nossa missão.

Mestre João Gregório Arrais do varino Boa Viagem, Câmara Municipal da Moita

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Memória de infância

Lá vai o varino Todo vaidoso! Aproado ao vento e engalanado a contento. Vai com a alma e o coração das gentes viventes do Tejo recôndito! Alguns dos seus braços... ricos, genuínos, nossos Moita, Montijo, Sarilhos, Samouco… e outros que não poucos. (Re)vejo hoje o passado, a infância, os golfinhos, as longas tardes de verão plenas de amizade e de brincadeiras na praia, às escondidas dos pais, os quais temiam por nós… que mesmo com avós lá andávamos como se órfãos fôssemos (quais Capitães da Areia) … entregues ao rio, à areia… à liberdade.

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Sou muito colorido e as minhas pinturas já foram uma profissão, navego pelo rio Tejo e espalho alegria e satisfação.

No tempo do barrete preto havia quem não soubesse ler palavras ou letras mas sabia ler o rio. No tempo do barrete preto havia barcos que transportavam mercadorias pelas estradas do vento. No tempo do barrete preto o vento batia e o barrete não fugia. 26

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A minha adorada Moita

Bem, vou ser sincero: não sei bem por onde começar porque há tanta coisa para contar sobre esta magnífica vila a que chamo de casa… Desde o rio que tem muita história para contar aos barcos que por ele navegam. Vou começar por falar de forma muito breve do fabrico do sal, uma tradição que já existe há muitas décadas e é realizada por pessoas que possuem muita mestria no seu fabrico. Primeiro, o sal passa pela caldeira, depois, vai para a cabeceira e, finalmente, passa para a última estação, que tem como nome talho. Falando agora sobre os barcos tradicionais que velejam pelo Rio Tejo, nesta terra existem três tipos de embarcações mais famosas. São as fragatas, os varinos e os botes, que são muito chamativos devido às suas cores alegres. O barco mais famoso que a vila da Moita possui é o Boa Viagem que faz passeios em vários dias do mês e do ano para as pessoas, tanto moitenses como turistas, darem uma volta pelo Tejo. Existe muita diversidade de fauna e flora nesta vila. Alguns tipos de fauna que existem na Moita são os flamingos, as tremelgas, as tainhas, o tamboril, as garças, as gaivotas… E, de flora existem, por exemplo, as salgadeiras, as gramateiras, as morraças, as canas...

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Sobre a famosa festa da Moita, que recebe todos os anos milhares de pessoas vindas de todos os sítios, são dez dias de setembro com muita diversão, desde a tarde do fogareiro à famosa procissão. Há diversão para todos os gostos, mas, claro que tenho de mencionar, como é óbvio, as famosas corridas e largadas de touros que atraem os aficionados da tauromaquia. Por alguma razão a festa da Moita é mencionada como a melhor festa taurina de Portugal. Foi este o meu texto sobre a vila da Moita. Claro que faltou falar de muitas coisas, mas para isso tinha quase de escrever um livro que contasse tudo sobre esta linda vila. Tenho muito orgulho em ser moitense e, este lugar tornou-me o que sou hoje. Amo a minha terra e nunca a vou esquecer.

No tempo do barrete preto… Havia quem soubesse ancorar os barcos Havia quem soubesse içar a bandeira Havia quem soubesse cativar o leito do rio 28

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Uma coisa do outro mundo Há muito tempo, no Parque José Afonso da Baixa da Banheira, ia eu a passear ao pé do rio e a comer um gelado quando avistei o varino Boa Viagem, do Mestre João. Naquele dia o parque estava cheio de pessoas: crianças com os seus pais, com os seus avós ou com os seus amigos. O parque tinha muitas árvores de diferentes tamanhos e cores, e algumas tinham flores porque era primavera. O varino do Mestre João aproximava-se cada vez mais da margem. Vinha devagar porque o vento estava fraco. Quando vi o Mestre João, saudei: — Bom dia, Mestre João! O simpático arrais respondeu. Cumprimentou-me e parou para falar comigo. Eu quis saber para onde ia. Respondeu-me que ia para a Moita. Avisei-o de que era preciso cautela porque a maré estava a encher, mas perguntei-lhe se a corrente do rio era mais forte com a maré a encher ou a vazar. — A corrente do rio fica mais forte quando a maré está a vazar porque, nessa altura, a água corre em direção ao mar no sentido da corrente natural do rio — esclareceu-me. Continuámos na conversa. Contou-me que gostava de observar o rio e de ver as coisas marinhas que a corrente traz: peixes, limos cor verde-tropa, que dão estalinhos, e penas de pássaros. Até me mostrou uma pena cor-de-rosa que me deixou

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curioso. Explicou-me que aquela era uma pena de flamingo e que perto do Parque José Afonso, na margem do rio, podíamos encontrar flamingos à procura de alimento na lama, que lá existe em grande quantidade. Despedi-me do Mestre João com vontade de ver os flamingos, mas já era tarde. Decidi ir no dia seguinte com os meus amigos Arnaldo, Maria, Joana, Miguel, Madalena e, também, com o meu irmão. Que desilusão! Quando chegámos à margem do rio não vimos flamingo nenhum… Ah! Mas encontrámos sete penas cor-de-rosa e cada uma destinada a um de nós. Junto das penas, um bilhete meio rabiscado tinha escrito: “Estas penas de flamingo são para vocês. São uma coisa do outro mundo!”

Sou uma ave rosa, gosto muito de camarão, tenho um pescoço longo e um só pé no chão.

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Aqui, junto ao rio, encontrei muitos flamingos. Alguns, rosas e, outros, brancos. Mais à frente vi gaivotas, muitas gaivotas e, ainda mais à frente, peixes, sapos e rãs. Eu e a minha avó divertimo-nos muito a ver aqueles animais no passeio ao parque junto ao nosso rio. Aqui, junto ao rio, vi um flamingo assustado quanto tentei apanhar uma pena. Por isso desisti de tentar apanhar penas de flamingos. Aqui, junto ao rio, vi vários pássaros e um flamingo a voar e a cantar com a sua voz maravilhosa.

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A pena misteriosa

Era uma vez um senhor, chamado Jorge, que estava a passear de barco no rio Tejo, que é um rio que nasce em Espanha e desagua no oceano Atlântico, perto da Moita. Certo dia, quando estava a almoçar no barco varino, caiu uma linda pena cor-de-rosa. O senhor Jorge acabou de almoçar e reparou na linda pena. Depois, agarrou-a e questionou-se: “Que linda pena. Será de que espécie?” O senhor Jorge decidiu perguntar ao António, seu amigo moitense mais velho e experiente: — Ó António, que tipo de pena é esta? — Então, não sabes?! É uma pena de flamingo. Aqui na Moita existem muitas colónias. Não me digas que nunca os viste! — Obrigado, amigo! Há anos que vivo nesta bela terra e não sabia que existiam por aqui flamingos. Terei de investigar! De facto, a vida do rio traz sempre surpresas para conhecermos.

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Aqui, junto ao rio Tejo, molhei os pés, e os peixes passaram por mim. Aqui, junto ao rio, encontrei a maresia fresca, vi algas a brincar com os peixes nas redes do senhor António, o Solteirão. O barco e o rio eram a sua grande paixão. Aqui, junto ao rio Tejo, conheci a história de um golfinho. Aqui, junto ao rio, há golfinhos que conseguiriam passar sozinhos pelos canais e chegar até aqui. 34

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Uma aventura audaciosa Num certo mês deste ano letivo, que já não sabemos precisar, a nossa turma, a E6, da Escola Básica N.º 1 da Moita dirigiu-se ao rio, ao cais da Moita. Era uma manhã de sol luminoso em que corria uma suave brisa e cheirava a água salgada e a aventura! Estávamos excitadíssimos pois íamos fazer uma visita de estudo à Ilha do Rato com o Mestre Gregório, figura conhecida da nossa terra e avô da nossa colega Ariana! Ainda estávamos na borda d’água quando a Carolina e a Alinne viram, ao longe, a água agitar-se. — Viram aquilo? — perguntaram em coro. — Sim! Que estranho — comentou a Beatriz. Todos ficámos em suspenso, intrigados. Até mesmo a professora. — Serão sereias? — arriscou o Hernâni. Ficámos em silêncio. Ouvia-se a água a bater, os barcos agitados, as velas faziam fortes barulhos… — Ui! Estou a ficar com medo! — confessou o Tomás. O Rodrigo concordou, acenando com a cabeça. 35

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— Podem ser tubarões! — avisou o Mihail. — Claro que não! — exclamou Afonso. — Eu já fiz uma viagem de barco em que me explicaram muitas coisas sobre o rio e o Afonso tem razão. Aqui não há tubarões. A professora, que não perdia uma oportunidade para ensinar, falou: — Nesta zona não existem tubarões, mas existe uma espécie da mesma família: o cação. — Pois é, eu já comi cação na sopa — informou o José. — Então, o cação é uma espécie de tubarão pequenino? — perguntaram a Ema, a Flávia e a Renata. — Isso mesmo, muito bem! — exclamou a professora, orgulhosa. Mais calmos, mas ainda curiosos porque a água parecia continuar agitada, virámo-nos para o barco. — Venham jovens! Estou à vossa espera! — gritou o Mestre Gregório. E, naquele instante, a água voltou a agitar-se! Era assustador! — Está a aproximar-se! Está mais perto! — gritámos todos. Embarcámos de imediato, sentindo-nos mais seguros com o Mestre. — Olá meninos! — Olá senhor João! Viu o que nós vimos? — perguntou o Vasco. 36

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— Não se preocupem, vistam os coletes e preparem-se para uma aventura! O senhor João espalhou os meninos pelo poço do barco: metade a bombordo e a outra metade a estibordo. Com o barrete de arrais na cabeça, e a sua alma convocada, sorriu-nos e partimos… Dali a pouco o barco balançou. — Ai! — gritámos assustados. — Não fiquem com medo. É um golfinho! — tranquilizou o Mestre. — E até pode ser o neto do golfinho que nos visitou em tempos! — entusiasmou-se a Glória. Tranquilos e preparados, lá prosseguimos. Puxaram-se os cabos, içaram-se as velas, manobrou-se o leme… De repente o barco balançou novamente e pudemos ver um magnífico salto do golfinho. Era lindo! Apareceu como que a cumprimentar a tripulação. Colocava a cabeça de lado e emitia os sons característicos. — E que tal se lhe déssemos um nome? — propôs o Dinis. — Podia ser Salgadinho — sugeriu o Martim. — E que tal Salvador? — perguntou o Rafael. — Salvador?! — estranharam a Ariana e a Thalita. Foi então que o Diogo se lembrou do nome Raiz, por ser de uma espécie muito popular, que ele já conhecia: um golfinho Roaz. — Vamos dar-lhe o nome de Raiz! Está decidido! — concordámos. 37

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E o golfinho Raiz punha a cabeça de fora, seguindo à frente, como que a abrir o caminho entre águas azuis. — Parece que já é nosso amigo! — notaram o Vasco e a Leonor. — Nós somos amigos e ele já conhece o barco — explicou o Mestre Gregório. — Vem sempre comer o engodo. — O que é o engodo, senhor João? Que palavra tão estranha… — quis saber a Flávia. — Bem, são restos de comida que atiro para o atrair. Mas aparecem também outros peixes e aves… — respondeu o Mestre. Todos nós estávamos maravilhados e não conseguíamos tirar os olhos da água. E o que iríamos encontrar na Ilha do Rato? De certeza que muitas surpresas agradáveis! Descobrimos que a ilha é muito rica em fauna e flora. Ali passámos momentos espetaculares e inesquecíveis. Pudemos brincar, explorar, ler, descansar e encontrar riquezas arqueológicas! Na hora do almoço as gaivotas cercaram-nos na esperança de um pedaço de comida. Porém, quando o atirávamos à água eram os peixes que mais rapidamente o conseguiam apanhar e comer… — É o sítio mais belo que já vi! — exclamou a Carolina com os olhos brilhantes. E todos concordámos. 38

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Aqui, junto ao rio conheci um golfinho pequenino que se tornou meu amigo. Depois, um menino grandalhão chamado João. Fomos em aventuras juntos pelos mares mais fundos. Até que João e eu entrámos num daqueles barcos e jogámos um jogo de dados enquanto o golfinho enchia malgas com caldos de algas. E o golfinho abriu um restaurante - Que interessante! (…)

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Aqui, junto ao rio Tejo, encontrei um golfinho muito bonito a passear pelas águas limpas. Procurava peixes para comer com a sua família. Aqui, junto ao rio, encontrei um golfinho-bébé que vinha em busca dos pais, mas tinha sido pescado. Eu libertei-o. 40

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Gregórinho, o Golfinho Era uma vez um golfinho bebé, chamado Gregórinho, que vivia numa gruta. Certo dia o Gregórinho nadou até à praia e encontrou o Bobesponja, uma esponja do mar, e uma manta bebé. Foram brincar e perderam-se dentro de um barco afundado, no meio das algas. Os dois amigos tinham a mesma cor — azul bebé — mas a manta tinha uma estrela desenhada nas costas. Dentro do barco naufragado morava um terrível tubarão cinzento. Para fugir do tubarão, o golfinho teve a ideia de nadar à volta do barco... até o tubarão bater com a cabeça no leme e ficar com um gigantesco galo. A pancada foi tão forte que, uma hora depois, o tubarão ainda via estrelas na cabeça. Os dois amigos viram o tubarão desmaiado e foram ajudá-lo. Em forma de agradecimento, o tubarão mostrou-lhes o caminho para casa, de regresso à gruta. Viveram amigos para sempre.

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Aqui, junto ao rio Tejo, brincava com as algas e percebi que as algas também têm segredos lá dentro. Aqui, junto ao rio, senti um ar fresco que me alegrou logo pela manhã. Junto ao rio vi umas algas que dão para brincar de cabeleiras. Imaginei-me num barco lindo e gigantesco a viajar pelo rio.

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O mistério da gramateira Esta é uma história para o futuro, para que os nossos filhos a possam ler e conhecer as riquezas existentes aqui, na Moita. Junto à margem do rio cresciam pequenas florestas de gramateira, onde se escondiam patos bravos e pernas-longas que ali faziam os ninhos. A certa altura começou a haver uma grande agitação na folhagem da gramateira. O que está ali? Será um pato bravo, um perna-longa… ou será um caranguejo? Será uma cobra, a que come os ovos dos patos? Um mistério… As gentes de Alhos Vedros estavam preocupadas com o que se passava na gramateira porque mesmo sem vento os arbustos pareciam agitar-se. O povo andava assustado. Aquilo não era coisa normal e Alhos Vedros era terra de boas gentes. Era uma trepidação estranha e passavam luas acordados. A povoação tinha que descobrir o mistério pois até sons estranhos se ouviam: Umm! Umm! Mas quem teria coragem para se aventurar na floresta da gramateira? Um rapazinho e a sua irmã — Mário e Maria — eram filhos de um salineiro. O pai tinha muitas dores nos ossos que o impediam de ir ver o que se passava. Então, foram os dois irmãos, determinados a pôr fim àquele enigma e ao medo na povoação. Calçaram umas galochas de borracha, puseram o equipamento especial, braçadeiras, colete salva-vidas e guardaram pão para distrair os animais. Até os mais selvagens que pudessem encontrar! 43

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Saíram de casa, decididos e contentes, mas, quando se aproximaram dos arbustos da gramateira, começaram a ficar receosos e os seus passos mais lentos. — Ouviste, Mário? — Não, não ouvi? E tu ouviste o quê? — Tens coragem, Mário? Tens? — Tenho — mas a voz já mostrava medo. — Vi agora mexer. — Também vi… Então, num só gesto, os dois irmãos abriram os arbustos da gramateira e viram uma pequena cria de golfinho. Estava presa e chorava! — Um bebé golfinho?! Como veio ele aqui parar? Deram-lhe o pão que levavam. O golfinho comeu e ficou afeiçoado aos meninos. — Olha, pode ser uma pequena cria de golfinho, filhote do antigo golfinho, o Gregório, que tem visitado a Moita! — Pois pode! É isso mesmo! Que nome lhe damos? — Gógui! 44

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Felizes com a ideia, os irmãos criaram uma pequena cama com as folhas da gramateira coladas com salão. No dia seguinte chamaram toda a povoação. Mas as surpresas não acabaram aqui. As águas estavam limpas e convidavam os golfinhos a visitar a Moita. Foi então que descobriram que, afinal, o pequeno golfinho tinha vindo defender os ninhos dos pássaros das terríveis cobras comilonas!

Aqui, junto ao rio, sou alegre e feliz com a paisagem colorida. Ando de patins junto aos golfinhos. Os golfinhos a nadar e eu a patinar.

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O mapa do pirata

Num passado muito distante, ali perto da Baixa da Banheira, junto ao rio Tejo, havia uma gruta onde vivia um velho, muito velho, pirata. Talvez fosse um antigo capitão Viking que por lá tinha ficado a guardar a gruta. O pirata tinha um baú com um tesouro: o mapa de uma ilha que todos gostariam de visitar, mas não sabiam como chegar lá. Certa manhã o pirata saiu da gruta e ouviu um golfinho que sabia comunicar com os humanos. O golfinho sabia que o pirata conhecia o caminho para a ilha e pediu-lhe o mapa. Mas o pirata não lho deu com receio que o golfinho o revelasse aos humanos. Todavia o golfinho queria viver num sítio menos poluído. Por isso resolveu pedir ajuda ao alcatraz e ao flamingo. Os três amigos combinaram uma estratégia: iriam roubar o mapa da ilha! Nessa manhã, quando o pirata fosse apanhar sol à porta da gruta, iriam distraí-lo e tirar-lhe o mapa. Mas o pirata é pirata mesmo! E, quando saiu da gruta apoiado na sua perna de pau com o lenço preto atado à cabeça, a cheirar a algas, e a pala no olho direito, o golfinho, na sua elegância azul, o alcatraz atento e cuidadoso e o flamingo de plumas cor-de-rosa a espalhar beleza, todos eles, tentaram distrair o pirata. 46

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Mas o velho pirata, sempre atento e desconfiado, mantinha o mapa preso debaixo do casaco e não se distraía nem por nada! De repente, a água ondula várias vezes… lentamente. Há uma curva que surge de dentro de água: era a cauda da sereia Ludmila que cantava uma linda canção: “Cheguei, cheguei…”. Nisto, surge o pirata: “Sereias aqui, no Tejo, sereias mesmo a sério?!” Espantado e encantado com aquela voz maravilhosa, o pirata deixou cair o mapa que tinha debaixo do braço! O alcatraz, o flamingo e o golfinho rapidamente o apanharam. Já tinham o mapa que representava a ilha perdida, lugar onde poderiam viver em paz com as outras aves do estuário. Porém, quando abriram o mapa, afinal, ninguém percebia o caminho para essa ilha! “Para lá chegarmos temos que ficar atentos e calmos, a ouvir o silêncio da água e sentir o aroma da gramateira, da salicórnia e outras plantas desta flora que é riquíssima” explicou o golfinho “Só assim alcançaremos a ilha”. Então os três amigos, silenciosos, começaram a ouvir, de novo, a voz da sereia: “Cheguei… cheguei…” que lhes indicava, agora, o tão desejado caminho para a ilha da paz. Mas… e o que terá acontecido ao velho pirata? Será que ainda anda por ali? Ou por aqui? 47

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A pena da Verdade Há muitas, muitas marés, quando Alhos Vedros se chamava Allius Vetus, a água do rio Tejo foi desenhando e abrindo canais que serviam de refúgio para as tainhas, douradas e corvinas. E atraía muita gente que fazia da pesca o seu modo de viver. Até hoje. Certa manhã de sol, calma e em pleno contacto com a Natureza, a sentir a magaruça — uma brisa que indica a direção sul e um belo dia de verão — o senhor João remava o bote à procura de algas para trazer à escola, para que os meninos e as meninas as conhecessem. Foi do lado do bombordo que apanhou as algas. Sobre ele voava um pássaro que não o largava. Primeiro, achou esquisito, mas, depois, ficou assustado. Era um alcatraz que piava, piava muito insistentemente. “O que quererá este alcatraz?”, pensou. Nesse momento, a ave acalmou-se e pousou no ombro do senhor João como se o conhecesse. Mas o senhor João continuava espantado e, meio amedrontado, arriscou perguntar: — O que se passa? Precisa de ajuda? Pensou que o pássaro poderia estar ferido, mas a ave estava bem. Foi então que o alcatraz pediu ao senhor João que levasse uma mensagem:

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— Sei quem tu és, porque sou um pássaro muito antigo, e sei que vais estar com a turma G42, da Escola N.°2 de Alhos Vedros. Sei que Alhos Vedros é uma terra muito antiga e já se chamou Allius Vetus. Tem foral e um poço mourisco que guarda lendas. Uma dessas lendas diz que se batessem com a cabeça, três vezes com muita força, na cabaça esculpida no poço, sairiam de lá moedas de ouro. — Mas eu sou um simples marinheiro, nada mais faço que cuidar e olhar pelas águas do rio Tejo e pela navegação. Mas o alcatraz pressentia que o senhor João também guardava saberes, e que a luz dos seus olhos refletia conhecimentos antigos. Sentia que ele era o homem indicado para levar a luz do conhecimento às escolas e, decidido, entregou-lhe uma pena. A pena mais bonita da sua asa. — Mas como é que os meninos vão saber que esta história é verdadeira? Quem acreditará? — perguntou o senhor João. — Porque levas esta pena como sinal da nossa história e da nossa amizade. Quem a vir com os olhos do coração, bem saberá que tudo isto é verdade! — piou o alcatraz.

No tempo do barrete preto as pessoas eram felizes com o pouco que tinham. No tempo do barrete preto “no mês do natal quem não rema fica mal”. 49

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Não são as mãos dos homens que me fecham, nem são as mãos dos homens que me abrem. Eles apenas me fazem.

Uma vela para o futuro Certa manhã eu estava à beira do rio a observar as águas tranquilas do Tejo. As águas estavam calmas e agitadas ao mesmo tempo porque havia uma brisa de vento que trazia o cheiro a maresia. Eu gostava tanto de estar ali a observar! Vejo passar alcatrazes, gaivotas, flamingos, corvos marinhos... Avisto mais ao longe um pescador. Esse pescador era pequeno, franzino e velhinho. A muito custo arrastava a rede de pesca para colocá-la dentro do barco. Fui ajudá-lo e soube que se chamava António. Contou-me que pescava há muitos e muitos anos, mas que cada vez havia menos peixes e, ele, cada vez tinha menos força para levar o seu barco para longe. O velho António contou-me também que gostava muito do rio mas que o rio, às vezes, arrastava-o para o mar e que já apanhara valentes sustos com as tempestades. Lembrou-se de uma vez em que fora levado para uma ilha deserta e que, com os destroços do barco construíra uma cabana e, com o que sobrou, fizera outro pequeno barco. Foi dessa forma que conseguira regressar a terra. 50

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Fiquei impressionado com a história daquele velho pescador e como ele ainda se aventurava em perigos para apanhar o peixe. Lembrei-me então que conhecia um senhor que fazia velas, um veleiro. Pensei que se o velho António tivesse uma vela no seu barco, mais facilmente conseguiria apanhar peixe: corvinas, robalos, douradas, linguados, enguias, … Decidido, fui falar com o meu amigo veleiro, Lázaro, um dos últimos veleiros da Moita. Expliquei-lhe que o velho António precisava de uma vela no barco. Em resposta, o meu amigo Lázaro sorriu e disse apenas: — Volta daqui a uma semana, meu rapaz. Saí dali curioso: “O que é que o meu amigo Lázaro iria fazer?!” Após a semana fui visitar o Lázaro, que como surpresa, tinha feito uma bela vela, cor de ferrugem. Mesmo como mandam as regras! Tinha sido feita com a arte de tingir a vela e com a aplicação do sebo que expulsa a água. Que feliz fiquei! E, sem mais demoras, corremos para a beira do rio com a vela enrolada debaixo do braço. — Senhor António, senhor António, trouxemos ajuda! O velho António ficou espantado. O Lázaro acrescentou: — Agora já pode pescar mais descansado, António. Esta vela traz-lhe boas pescarias. E sacode todas as tempestades! 51

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No tempo do barrete preto, quando não havia boas condições de vida, punham-se a pintar flores felizes em seus barcos.

A grande viagem Num dia ventoso, Francisco, o Navegante, navegava pelos sete mares quando perdeu o controlo do barco: a vela rasgou-se, o mastro partiu-se, mas o leme resistiu intacto à fúria do mar. Francisco caiu na água, mas felizmente foi resgatado por um golfinho que o levou até à ilha do Rato, no rio Tejo. Nesse rio havia muitos barcos à vela, os varinos, que transportavam várias mercadorias: sal, produtos hortícolas, peixe e também lixo. Um desses barcos chamava-se Boa Viagem. Era feito com madeira de pinheiro e pintado com cores alegres. Francisco acordou assustado por estar naquele lugar tão estranho, mas com águas tão límpidas! Pensou que estava no mundo dos sonhos. Levantou-se e olhou à sua volta. À beira da água estava um golfinho cinzento e, lá ao fundo da paisagem, via várias localidades. 52

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— Quem és tu? — perguntou, intrigado, o Francisco. — Nh, nh… cri, cri... — fez o golfinho na sua linguagem. — Será que foste tu que me salvaste do naufrágio?! — Quis saber o marinheiro fazendo festinhas na cabeça do golfinho. Sem responder, o golfinho deu umas voltas à ilha e regressou ao oceano Atlântico. Entretanto Francisco avistou o Boa Viagem e acenou, acenou, acenou na esperança de que o arrais o visse e o ajudasse. Nem por acaso: o Mestre João era o capitão daquele barco e, ao ver aqueles braços no ar, mudou a rota e foi ajudar o Francisco. Conversaram durante horas sobre as viagens que ambos tinham feito ao longo da vida. E as que ainda sonhavam em fazer. Ainda hoje Francisco desconfia que terá sido o golfinho que, afinal, teria empurrado o Boa Viagem na boa direção… para o salvar. 53

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No paquete viveu As emoções do mar Já faleceu Deixou histórias de admirar O rio Tejo cristalino Que anda por lá O barco varino Carrega para cá e para lá. Dá-nos coisas preciosas: Água, ostras, sal Que são muito valiosas Que nada faz mal. Falamos do nosso património Tão importante da Moita Como o António Ou outra pessoa afoita.

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As pérolas do rio Corria o ano de mil novecentos e tal, numa ilha situada no estuário do rio Tejo, no concelho da Moita. Estava uma manhã luminosa com um sol brilhante que parecia adivinhar que algo especial iria acontecer. No ar sentia-se um cheiro inebriante a maresia que fazia lembrar o grande mar, principalmente naquele cais, do rio, e o desejo de navegar de barco. Na ilha viviam uma criança, um gato e um jovem marinheiro — António, o Solteirão — com o seu barrete preto na cabeça. Ao sentir o apelo das águas do rio, António, o Solteirão, entrou no barco varino, que estava atracado no cais e partiu aproveitando a linha de vento em busca do tesouro que, ao que se sabia, estava numa praia secreta, numa gruta. Quando chegou à gruta, lembrou-se das histórias ouvidas, desde pequeno, sobre a possibilidade de o tesouro estar no fundo do rio. Mas tinha que se despachar pois a maré estava a subir e a entrada da gruta ficaria submersa. António, o Solteirão, sentia-se com sorte porque trazia o seu barrete. Pôs mãos ao trabalho e lançou a rede especial, com pesos antigos, para apanhar o tesouro. Ao puxar a rede para o barco viu duas ostras: uma pequena e uma grande, ambas cinzentas, e com aspeto semelhante ao de uma rocha. António, o Solteirão, ficou encantado com a descoberta, mas nem imaginava o que iria encontrar dentro delas. Ao fim de algumas tentativas conseguiu abrir as ostras. No interior descobriu belas pérolas, cor de flamingo! Tirou as pérolas e guardou-as no barrete, pois, afinal, era onde se guardavam os tesouros mais importantes. 55

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Aliada à descoberta surgiu uma ideia na cabeça do António, o Solteirão: poderia casar! Iria deixar de ser o Solteirão! Um novo futuro estava à sua frente, e um belo sorriso surgiu nos seus lábios. Da sua boca uma bela melodia de contentamento também ouvida pelo golfinho que estava por perto, a nadar pelo rio, e que deu saltos em redor do barco. O golfinho parecia partilhar a felicidade do jovem marinheiro do barrete preto. Com tanta felicidade, António, o ainda Solteirão, ficou desnorteado. Quando quis regressar à ilha, sentiu-se perdido. Felizmente, lembrou-se que tinha em seu poder uma bússola, mágica, que o orientaria no regresso a casa. Quando chegou à ilha, resolveu fazer um belo anel para dar à futura mulher. Nele colocaria uma das pérolas encontradas. E assim fez. Porém, quando passeava na ilha admirando o belo anel, reparou numa criança com um olhar triste. O jovem marinheiro perguntou-lhe o motivo da tristeza, ao que a criança respondeu que se devia às saudades da mãe. Ao ouvir a história da criança, António, ainda o Solteirão, decidiu ajudá-la. Iriam juntos procurar a mãe. O gato, companheiro da criança, percebendo que o marinheiro iria auxiliar, miou de felicidade. Passado algum tempo, o marinheiro encontrou a mãe da criança e… apaixonouse! Tal como desejara, entregou-lhe o anel da pérola… e viveram os três, mais o gato, felizes para sempre. (E é claro que António deixou de ser o Solteirão!) 57

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Aqui, junto ao rio, quando olho para ele sinto que ele sorri para mim. Quando sinto o seu cheiro, fico contente. O Boa Vontade Num pequeno estaleiro familiar que já vinha de várias gerações, trabalhavam o senhor Carlos e os dois filhos: João e Cláudia. O estaleiro estava situado no Gaio, no concelho da Moita. Certa manhã, o senhor Carlos, mestre do estaleiro, recebeu um importante pedido de carregamento de cortiça, de Benavente, para a fábrica Augusto Mateus, em Alhos Vedros. O Senhor Carlos aceitou de imediato o trabalho e começou a preparar o varino quando notou que o barco tinha uma rachadura. Que desgraça! Assim entraria água e não poderia navegar! Desesperado, deitou as mãos à cabeça e começou a andar de um lado para o outro. A filha viu o pai naquela agitação, e perguntou-lhe: — Mas o que se passa? O que te aconteceu? — Não te preocupes. Não é nada. São problemas meus… — Alguma coisa se passa ou não estarias tão preocupado. Após a insistência da filha, o pai acabou por lhe dizer: — Recebi o pedido de um grande carregamento para fazer amanhã, mas o barco está rachado, vai meter água, e não tenho como transportar tanta cortiça! 58

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— Calma, havemos de conseguir uma solução — tentou tranquilizá-lo a filha. — Nunca iremos conseguir! O carregamento é de manhã, e não há calafate que conserte o barco a tempo. Desanimado, o pai abandonou o estaleiro. A Cláudia, por sua vez, foi pedir ajuda ao irmão para que, juntos, conseguissem uma solução. Ao cair da noite, João e Cláudia puseram o seu plano em ação. No dia seguinte, ao entrar no estaleiro, o pai ficou aterrorizado! O barco tinha desaparecido! — Cláudia, João!!! Venham depressa!! Que desgraça desgraçada! Mas os filhos não apareceram. O senhor Carlos saiu do estaleiro a correr em direção ao rio… E qual não foi o seu espanto quando viu o barco dentro de água. Aflito, gritava ao mesmo tempo que corria: — Depressa, depressa! Ajudem-me! Temos que tirar o barco de dentro de água antes que se afunde! Depressa! Acudam! Foi nesse momento que apareceram os filhos acompanhados pelos vizinhos e amigos. 59

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— Pai, acalma-te. Tal como te disse, há sempre uma solução — arriscou a filha. — Solução? Qual solução? Mas o que fizeram com o meu barco? Com o nosso barco? — O mais simples! Durante a noite juntámos vizinhos e amigos que percebem desta arte, e todos se empenharam em dar o seu melhor — esclareceu o João. — Trabalhámos juntos e afincadamente para que hoje pudesses fazer o carregamento — acrescentou a Cláudia. — Carlos, tens aqui uns bons filhos — referiu um dos vizinhos. — A Cláudia passou a noite a fazer os novelos de estopa para podermos reparar o barco. Agora, meu amigo, podes seguir viagem. Emocionado, o senhor Carlos abraçou todos os que estavam em seu redor, e agradeceu-lhes: — Muito obrigado, meus amigos. Estou sem palavras. — Não tens que agradecer. Fizemos de boa vontade — responderam-lhe os amigos. — É isso mesmo! Em vossa homenagem, a partir de hoje, este barco varino passará a chamar-se Boa Vontade. Ainda hoje, nas águas do rio Tejo, navega o Boa Vontade. Por acaso já o viste? 60

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Um barco varino

Certo dia, António, o Solteirão, resolveu comprar um barco de trezentos e cinquenta euros para navegar nas águas do rio Tejo. Depois de comprar o barco deu-lhe um nome: Barco Varino. — Olá! Como estão meus netos? — perguntou o avô António. — Estamos todos bem! — responderam. — Ainda bem, pois tenho uma surpresa. — Podes dizer-nos qual é a surpresa? — Posso! É um barco chamado Barco Varino. — Uau!! Que lindo que é! Muito bom para navegar! — disseram os netos, entusiasmados. Passaram-se várias horas, dias, meses, anos e eles sempre felizes com os passeios que deram naquele belo barco. Sem dúvida que essas memórias valeram bem mais do que o dinheiro da compra!

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E se fosse um barco?

E se fosse um barco? Talvez um iate, cruzeiro ou submarino. Mas porquê ser tão poluente para as minhas águas? Tão triste, cinzento e normal? Se fosse um barco, seria um Varino! Um Varino é alegre, colorido e cheio de histórias. Amado pelo seu Povo, pela sua Gente, pelos que cuidam dele, que o têm nas suas Palavras e Pensamento. Seria o meio de transporte mais importante durante muitos anos. Seria a casa de alguns e o sustento de muitos. Faria parte do maior Tesouro, Tesouro que viria a passar por muitas gerações, de avós a contar aos seus netos, faria parte do Património e da História da minha Gente.

Aqui, junto ao rio, o nosso património é muito importante. Existem desde pequenas plantas até animais medrosos. Há grandes barcos e paisagens únicas nesta localidade. 63

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O barco do tesouro

Um grupo de meninos e meninas, colegas de turma, eram muito curiosos. Um dia, preocupados e interessados em conhecer o que rodeava a sua vila, a Moita, resolveram fazer uma viagem à Ilha do Rato. Para isso foram procurar o arrais, João Gregório, homem conhecedor das tradições e história da terra. Combinaram, planearam e efetuaram os preparativos. À hora combinada encontraram-se no cais. Partiram receosos com a viagem, com as águas, com as alforrecas… enfim, com o que estaria naquela imensidão de água. Apenas a presença do Mestre João ao leme os tranquilizava. Será que encontrariam o tal golfinho que, em tempos, se diz ter entrado na caldeira da Moita? Vários pensamentos corriam pelas suas cabecinhas. Alguns minutos depois chegaram ao destino. Ao aproximarem-se, observaram pardais que se penduravam nas velas, patos e pernas-longas que faziam os ninhos na gramateira. Para chegarem a terra tinham que saltar para a água. Entusiasmados, lá pularam. Finalmente, e já com os pés bem assentes na areia, ficaram muito admirados. — Ah! — exclamavam uns. — Não fazia ideia! — diziam outros. 64

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Começaram a investigar. Definiram grupos de trabalho: uns escavavam, outros pesquisavam o que estava à vista, e outros — os que sabiam nadar — davam pequenos mergulhos. Quando escavaram encontraram azulejos pintados e antigos. De repente, lembraram-se do que o João lhes dissera “…a ilha guarda grandes segredos!” Observaram restos de construções que, tal como o João lhes havia explicado, tinham desaparecido devido às travessias dos grandes barcos. Sedentos de conhecimento quiseram procurar mais coisas. Observaram então peças em barro feitas por pescadores, depósitos subterrâneos de objetos valiosos. A turma levava consigo uma bandeira, um sinal da sua presença que simbolizava a preservação da Natureza. Resolveram içá-la no ponto mais alto da Ilha do Rato. Debaixo de água, um grupo encontrou uma arca. Regressaram para contar aos colegas. — Ali dentro pode estar um mapa! Voltaram entusiasmados à água para resgatar a descoberta e verificar, todos juntos, o que continha. Dentro do baú encontraram um livro com imagens incríveis! Tinha o desenho da construção de um barco, que explicava como construir um barco varino! E havia pinturas das famosas flores do Tejo. 65

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Os jovens depressa perceberam que tinham entre mãos um enorme tesouro, um património valioso. Resolveram então partilhar estes achados com o Estaleiro Naval de Sarilhos Pequenos, do Mestre Jaime, onde trabalhavam o calafate, o carpinteiro, o ferreiro e o pintor. Eles saberiam dar valor às suas descobertas. Felizes e de coração cheio, regressaram ao barco onde o João os aguardava. Também ele ficou com os olhos brilhantes de emoção e de orgulho por ver jovens tão interessados em guardar segredos antigos. Certamente não deixariam cair no esquecimento o passado da sua terra. Quando içaram as velas, esvoaçaram os morcegos que por ali tinham adormecido… E os pequenos aventureiros regressaram à vila mais ricos com esta experiência. Para felicidade de todos, o livro encontra-se hoje disponível na biblioteca da Moita. Só terás de o procurar.

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Tejo, o barco

Era uma vez um barco chamado Tejo que, por uma mera coincidência, tinha o mesmo nome de um rio vindo de Espanha. O barco Tejo era utilizado pelos fragateiros, por exemplo, para transportar cortiça para Alhos Vedros e levava a bordo um homem chamado João. Ele era perito em pesca e, para isso, utilizava a rede e a cana. Houve um dia em que o senhor João conheceu um salineiro chamado Mário, cuja função era recolher o sal do rio. O instrumento que utilizava para medir a salinidade da água era chamado pesâmo. A partir desse dia, João, que gostava muito de perceber a utilidade dos objetos ligados aos trabalhos do mar, ficou a saber que os salineiros o usavam para saber o grau de salinidade da água, no caso, do rio Tejo. Desde então o barco Tejo, comandado pelo João, vai todas as semanas visitar o Mário e ver como estão as salinas.

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Sou o frigorífico do antigamente e gosto de conservar Cristalino e precioso sou, só existo em certas águas. Um dia especial Numa linda manhã em que o sol brilhava, um menino chamado João decide ir mergulhar no rio Tejo. Enquanto nadava fascinado com aquilo que via, avistou uma alga muito especial. Conforme se ia aproximando, entre o medo e a curiosidade, via que aquela alga não era igual às outras. Tinha uma cor diferente. Era reluzente, de um castanho quase dourado. — Que bonita! — exclamou o João. E o menino perdeu a noção do tempo. Quando chegou a casa, a mãe, preocupada, perguntou: — Onde estiveste João? O menino ia responder, mas foi interrompido. — Já sei onde estiveste. Estavas no rio Tejo! — disse-lhe a mãe ao olhar para os braços do filho, cheios de sal. — Olha, mãe! Olha só o que eu encontrei! E sorriram os dois. 68

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O Tesouro da Moita

No tempo dos reis e das rainhas, ao despertar do sol, o aventureiro Martim vai para o seu barco, coloca o barrete preparando-se para mais um dia de pesca e olha à volta. Vê uma rede no rio. Como foi ali parar uma rede de pesca cheia de buracos?! Como ia o Martim, o aventureiro pescador, pescar alguma coisa com uma rede naquela desgraça?! Resolveu voltar para trás e nisto vê umas salinas a brilhar ao sol. Avista o Luís, o salineiro, a rapar o sal. Pergunta-lhe: — Ó rapaz, o que estás a fazer? — Que queres tu, ó aventureiro? Andas a passear? Queres ajudar-me? Olha que este trabalho é duro! Martim, o aventureiro, prepara-se para descer do seu barco e, ao ver o sol refletir o brilho nos cristais de sal, fica encantado. — Mas isto é um tesouro! Nunca vi tanto brilho!

Sou brilhante como o cristal, já servi para conservar. Hoje em dia sou usado para temperar. 69

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De um pulo mete os pés fora da traineira e atira-se para as salinas gritando de alegria. Luís, o salineiro, avisa-o para ter calma pois o trabalho de um salineiro é exigente. É preciso ter muita força para rapar o sal com o rodo, fazer os montes de serras de sal e, além disso, aprender a arte de medir a quantidade de sal na água! Encantado, Martim decidiu que o seu futuro não seria no Tejo, a pescar, mas sim nas salinas, a rapar o sal. Passadas outras manhãs, o Martim tem nova surpresa: o rei D. João I viria a Alhos Vedros passar uns dias nos aposentos de um fidalgo. Tem então uma ideia que partilha com o salineiro: — Luís, e se nós fossemos à corte levar uma prenda ao rei? — Excelente ideia Martim, meu amigo aventureiro. Vamos levar umas tainhas temperadas com o nosso sal dentro de uma grande canastra de verga. Tudo obra nossa! No dia seguinte, lá foram os dois companheiros ao encontro de Sua Alteza com a canastra de tainhas frescas, acabadas de pescar, e uns potes de flor de sal. O rei, espantado com a bela oferta, exclamou: — Mas que maravilha de petisco! Só de ver, já apetece comer! E acrescentou com um grande sorriso: — Foi preciso vir à Moita para provar um tal tesouro! 70

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Aqui, junto ao rio, vejo muitos flamingos que são sensíveis, o ar é mais puro e saudável, a água não é muito poluída e existem muitos peixes diferentes. Diz a lenda que a família real de D. João I gostava de passar férias numa casa alpendrada. Aqui, junto ao rio Tejo, imaginei o rei D. João I a passar umas belas férias e a comer peixinho do bom! Aqui, junto ao rio Tejo, imagino o barco em que passou o rei D. João I.

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Aventura na praia

Certa manhã, dois meninos que andavam à beira mar, encontraram uma praia secreta de areia branca. Ficaram impressionados com a beleza. Era de água salgada e translúcida. Esta praia ficava no Rosário. Os dois meninos decidiram ir passear e encontraram uma gruta muito funda. Foram explorá-la. Pensaram em andar mais um pouco e descobriram uma água transparente. Mais perto viram que aquele sítio se chamava “Sítio das Marinhas”. Era numa terra muito antiga chamada Gaio. Perceberam que era uma salina onde, desde há muitos anos, se produzia sal. No final do dia regressaram a casa e contaram aos pais as suas aventuras pelas terras do Gaio, Rosário e Moita. E todos ficaram com vontade de as explorar.

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Aqui, junto ao rio, encontrei um barco que me levou numa aventura onde encontrei robalos, douradas, conchas de ostra, algas escuras e vi flamingos, gaivotas e pombos… e também um golfinho. Quando estava na minha aventura, senti o cheiro do rio e aprendi muitas coisas… vi uma ostra doente e quando as ostras estão doentes dão pérolas, e tive curiosidade em saber mais da história do rio Tejo.

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A ilha do Rato O verão tinha começado e com ele as férias escolares. O dia amanhecera quente e Madalena, a menina arrais, esperava com ansiedade os amigos Giovanna, Gonçalo, Carlota, Mariana e Rafael, acompanhados pelo cão Lord, para um passeio à ilha do Carrapeto, mais conhecida por ilha do Rato. — Bom dia! — cumprimentou. — Chegam sempre atrasados! Daqui a pouco já não temos maré para embarcar e ir até à ilha — explicou a arrais. — Desculpa, Madalena, mas o Lord fugiu e nós tivemos de ir procurá-lo — explicaram os amigos. Decidida, Madalena ordenou: — Bem, bem, chega de justificações. Já é tarde. Todos a bordo! — Mas como podemos navegar se a maré está a vazar? — questionou Rafael. — Quase que não há água! — Estás com medo, Rafael? – brincou Madalena. — E vocês, também estão receosos? — provocou ela. Naquele momento, o cão Lord ladrou como se quisesse dizer não. Então, a menina arrais explicou: — Manobro esta canoa desde pequena. Foi o meu pai quem me ensinou a arte de navegar no rio Tejo. Não é qualquer um que consegue navegar no rio, mas eu, 74

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o meu pai, e outras pessoas, não muitas, conseguimos fazê-lo porque aprendemos com os mais velhos. Quando a maré está a vazar a corrente leva-nos até à ilha e, quando está a encher, significa que está na hora de regressar à vila da Moita. Curiosa, Carlota perguntou: — Por que razão esta ilha do Tejo tem dois nomes? Não entendo… — Eu sei porque se chama ilha do Rato. A razão é simples: nesta ilha havia muitos ratos e ratazanas! — explicou, orgulhoso, o Gonçalo. — E, então, o nome Carrapeto? — insistiu Carlota. Foi a vez de Madalena esclarecer os amigos: — Bom, não é para terem medo, mas, nesta ilha vive um guarda que se chama Carrapeto. — Madalena, porque deveríamos ter medo? — perguntaram os amigos em uníssono. — Nem queiram saber como ele é! Temos de ter cuidado com o Carrapeto — avisou a arrais. — Muito cuidado, mesmo! — Estás a meter-nos medo? — quis saber Giovanna. — Nada disso. Estou só a avisar! O Carrapeto é um homem estranho, um louco, digo eu, pois fala com as aves. É uma pessoa pouco amigável, usa uma espingarda e pode disparar contra quem aparecer na ilha — informou Madalena. 75

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De facto, a ilha é propriedade privada e, por isso, vigiada pelo guarda Carrapeto, homem alto, robusto, já não muito jovem. Debaixo do velho chapéu de palha espreitavam barbas e cabelos grisalhos. A pele, com aspeto áspero, é morena, queimada pelo sol. Coxeava da perna direita por causa de um tiro que levara quando era jovem, mas já como guarda daquela ilha. Vivia ali sozinho, o que lhe provocara sentimentos de solidão e de desconfiança. Por companhia, Carrapeto tinha apenas as aves e os ratos que andavam livremente pela ilha. Madalena continuou a narrar aos amigos o que lhe tinham dito o pai e o senhor João Gregório, arrais do varino Boa Viagem, acerca dos acontecimentos, de outros tempos, ali passados: — Nesta ilha, há muitos anos, fazia-se contrabando de trigo e, durante uma tentativa de assalto, o guarda Carrapeto foi alvejado com um tiro na perna. — Ah! Por isso é coxo… — concluiu Mariana. — Chegámos! Só temos de ter cuidado — relembrou a menina arrais. Gonçalo, sempre desejoso de aventuras, desafiou os amigos: — Malta, ‘bora dar uma volta pela ilha e tentar descobrir se ainda há contrabando por aqui. Como se tivesse compreendido as palavras do rapaz, Lord começou a correr em direção a um velho armazém. O grupo aproximou-se, cuidadosamente, e viu o Carrapeto dormitando junto a uma moita. 76

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— Gonçalo, sobe para as minhas costas, e vê se existem sacos de trigo escondidos aí dentro — propôs Rafael. Gonçalo nem hesitou. Subiu de imediato e encavalitouse-lhe nos ombros. Depois, espreitou por uma janela que tinha um vidro partido, e exclamou: — Tantos sacos! Só podem estar cheios de trigo... ou de outra coisa qualquer! Esta ilha continua a ser um local de contrabando! De repente, Lord ladrou compulsivamente e o guarda Carrapeto acordou. — Fujam! — gritaram os amigos em coro, aflitos. — Está na hora de irmos embora, a maré está a subir! — avisou Madalena. — E se o guarda vem atrás de nós?! — clamou Giovanna, com medo. — Não se preocupem! Ele já se esqueceu de como manobrar uma embarcação, é apenas um guarda. Aqui, a arrais sou eu! — exclamou orgulhosa. — Nós confiamos em ti — confirmaram os amigos. — Chegados a terra, vamos avisar a polícia. Acabámos de desvendar um crime! — concluíram, satisfeitos. — Seremos notícia nos meios de comunicação e aqui, na Moita, todos irão falar de nós! — arrematou o grupo.

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Aqui, junto ao rio, eu vi o barco Boa Viagem que nos leva em viagens maravilhosas pela vida de outros tempos.

Uma pena de ave Há muitas manhãs, aconteceu uma linda história. No rio Tejo, certo dia, estava à pesca um marinheiro, barbudo e simpático que, ao lançar a rede, apanhou um alcatraz distraído que andava à procura de alimento. O marinheiro com o coração enternecido puxou a ave e, de imediato, tranquilizou-a com alimento. Cuidadosamente desenrolou-a da rede e verificou se tinha ferimentos. Como não tinha, soltou-a. Em agradecimento, a ave deixou-lhe uma das suas lindas penas. O marinheiro ficou tão encantado que a ofereceu ao filho para simbolizar a sua eterna amizade.

Aqui, junto ao rio, vi um pássaro que tinha uma asa mais linda do que a outra asa. 78

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Aqui, junto ao rio, eu vi um golfinho e fiquei alegre para o resto da vida. Aqui, fico a olhar por um tempo e fico inspirado. Junto ao rio fico alegre no inverno e no verão e sou feliz com os meus amigos. Aqui, junto ao rio, eu vou ser sempre feliz e alegre.

Aqui, junto ao rio… Há um flamingo muito bonito Há algas muito grandes … o vento é muito leve … o céu é mais azul … o barco é muito alegre 79

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As vidas passadas Ainda me lembro como se fosse ontem das vidas que vivenciei, até agora. Provavelmente será estranho lembrar uma vida passada já que toda gente se esquece da sua vida passada e começa uma nova, vezes e vezes sem conta. Mas eu sou um caso diferente. Lembro-me de uma vida anterior em que fui um ser humano. Nasci e cresci sempre ao pé da água e da minha vila natal. Quando me tornei adulto viajei pelo mundo ajudando as pessoas, uma vez que era médico. Mas não importava onde estivesse, pois estava sempre com saudades da minha casa, principalmente se estivesse longe da água. Nada era melhor para mim do que regressar a casa. Os últimos momentos, passei-os na minha vila natal perto da água e, assim, terminei essa vida completamente feliz. Em outra vida, fui um barco. Passava o tempo a navegar pelo mar, sempre vivenciando novas coisas no percorrer das minhas viagens. O meu trabalho era simples. Era carregado e descarregado em diferentes portos. Aparentemente, continuei com o meu gosto por viagens desde essa minha vida anterior, pois sempre ficava feliz quando via o mundo. Mas o meu gosto por regressar a casa também estava comigo. Eu odiava ficar em doca seca quando precisava de ser reparado, e foi no estaleiro da minha vila natal que fui desmontado. Sinceramente, não fiquei triste, já que regressei às minhas origens para descansar quando muitos, do meu tipo, não tiveram a mesma sorte. 80

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Hoje sou um alcatraz e tenho viajado por muitos lugares. Este ano, encontrei a minha parceira para esta vida. Em todas as minhas vidas sempre encontrei alguém com quem estar. Porém, sempre que encontrava uma alma gémea, questionava-me se era alguém que também já havia conhecido em vidas passadas, mas sob outra forma de existência. Interrogava-me, também, se a outra parte teria estas mesmas sensações, dúvidas e experiências. A minha vida como alcatraz irá acabar em breve. Irei renascer em outro corpo com as minhas memórias intactas, por isso, queria perguntar-vos como acham que será a minha próxima vida. Conseguem imaginar?

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Maria do rio Em tempos antigos, houve uma senhora chamada Maria que vivia sozinha numa ilha longínqua de Portugal. Antes de permanecer na ilha, Maria passara a vida a dar voltas ao mundo conhecendo novas culturas, novos países e novas pessoas. Não havia dúvidas de que ela tinha uma grande paixão pelo mar. Mas não só tinha uma paixão por ele como também a tinha pelo barco, que a levava para todo o lado, e que lhe fora oferecido pelo avô, quando ele lhe descobrira aquela paixão. Por isso, tinha um grande significado: desde que estivesse a bordo, a navegar, nada poderia correr mal. Mas tudo isto acontecera antes de Maria ter sido arrastada por uma tempestade para aquela ilha, fazendo com que o seu barco desaparecesse. Agora, ela odiava o mar por tudo o que lhe tinha tirado e lhe tinha feito, jurando para si própria que nunca mais nele voltaria a entrar. Apesar de tudo, sobrevivia na ilha com o que tinha e com o que podia, embora os recursos fossem escassos. Certo dia, após ter acordado e saído da tenda onde costumava dormir, Maria avistou um barco encalhado na praia, muito danificado. Mas não era aquele que o seu avô lhe oferecera porque, esse, provavelmente, teria afundado e estaria no fundo do mar. Várias vezes Maria jurara a si própria nunca mais contactar com o mar, nunca mais o sentir nem tocar… Porém, quando viu este barco, lembrou-se das antigas paixões. Em cada dia que passava, pouco a pouco, Maria ia restaurando o 82

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barco. Decorrido um ano estava pronto, mas pela sua mente só passava a questão: “Depois de tudo o que o mar me fez, devo voltar a confiar nele?”. Maria acabou por não conseguir resistir. A conexão com o mar era demasiado forte. Fora este barco que a fizera mudar de ideias pois, se não fosse ele, seria provável que tivesse ficado naquela ilha para sempre! Após meses da partida da ilha, Maria encontrou novamente terra. Mas não se tratava de um lugar qualquer na face da Terra. Tratava-se da Moita, uma pequena grande vila portuguesa. Maria atracou o barco e resolveu explorar a vila. Por fim pensou: “Por que não viver aqui? Parece-me o lugar ideal para viver! Tem um património tão recheado, tão rico! Uma fauna e flora tão variadas, de que são exemplos os flamingos e o pinheiro-bravo… um rio tão extenso, salinas nas quais se produz sal, uma quantidade de barcos, o Boa Viagem, e tantas outras coisas!” Para além disso, Maria veio a saber que o concelho da Moita estava a tentar preservar um dos poucos estaleiros sobreviventes de outros tempos, e que ainda hoje é responsável por arranjar barcos antigos. Maria já não tinha dúvidas: Moita era o local certo para viver, o local onde sabia que iria ser feliz!

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Aqui, junto ao rio, vi um peixe que me sorriu quando me viu.

O sonho do menino João

O João era um menino que adorava a sua terra, a Moita. Andava feliz na escola, gostava muito dos professores, de aprender e tinha bons resultados. Mas também adorava a hora do recreio para jogar à bola. Depois das aulas o menino João estava sempre ansioso por descobrir mais coisas sobre o rio, os barcos e a sua terra. Amava ver os barcos. Desde sempre o rio azul despertara nele um interesse especial. Ele imaginava que a Moita tinha segredos e histórias por descobrir. Um dia teve um sonho. Certa manhã, num sábado soalheiro, foi pescar com o avô que era salineiro. Ele explicou-lhe como nascia o sal. Era um trabalho difícil que precisava de paciência e sabedoria. O João e o avô pescavam no barco de onde observavam, ao longe, outros tipos de embarcações: fragatas, varinos, catraios e botes. Ficaram ali horas e horas… Até que de repente a cana de pesca do João, sem querer, prendeu-se na raiz de uma gramateira. O João zangado, enervado e aborrecido, gritou: — Assim não consigo! Porque está isto aqui? 84

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Ele puxou, puxou e puxou a cana com muita força até que a linha rebentou. O avô explicou que a gramateira é importante nas salinas. Além de tornar o espaço mais bonito, a planta segura o sal, serve de alimento para vários animais, guarda os ninhos dos pernas-longas e dá esconderijo aos patos-bravos. Dito isto, o avô percebeu que era um bom momento para irem descobrir os ninhos das aves do rio. O João viu a mãe perna-longa a fazer o ninho nas salinas. Fez um furinho, depositou nele os ovos e tapou-os com pedrinhas. Também viu os patos-bravos que habitam nas salinas, escondidos entre as gramateiras. A mãe pata coloca os ovos num ninho e foge para ninguém saber onde ficam. Foi uma manhã fantástica e muito especial para o menino João. Estava encantado com tudo à sua volta. Foi inesquecível saber que o seu rio escondia tantas maravilhas, tanta vida! Percebeu que queria voltar sempre àquele lugar. — Avô, um dia gostaria de andar de barco, de ser marinheiro e de proteger os animais do rio. — Com tudo o que estás a aprender, não tenho dúvidas de que serás o capitão do barco, o arrais de um varino — respondeu o avô muito orgulhoso. Que história tão bonita! Será que foi um sonho ou realmente aconteceu?

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No tempo do barrete preto os barcos eram preciosos e pescar era uma arte. No tempo do barrete preto as pessoas eram corajosas pois também navegavam em mares nunca antes navegados. No tempo do barrete preto nada era fácil, tudo era difícil… menos quando se fazia erguer o nosso esplendor português.

A menina e o barco Conta-se que na Moita houve em tempos um barco muito bonito e diferente. Tinha uma vela às riscas, pretas e brancas, e um leme verde, vermelho e preto. Mas pertencia a um rei. O barco era elegante e de aspeto barroco, mas costumava estar parado no cais. Ora, junto ao cais vivia também uma menina que todos os dias, quando acordava, ia à janela e dizia a si própria: “Um dia vou ter um barco como aquele!” 86

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O tempo foi passando e o barco foi-se degradando pois o tempo e os materiais não ajudavam. A menina pensou em utilizar as suas poupanças para o arranjar. Porém, como era pobre, não conseguia comprar aquelas madeiras pintadas, tão bonitas. Um dia o rei foi até ao rio para ir viajar no seu barco. Quando lá chegou reparou que o barco não estava igual. Entretanto, a menina também lá estava e viu o rei que lhe perguntou com voz autoritária: — Foste tu quem mexeu no meu barco? — Sim fui, porque o barco estava a estragar-se e, como era de Vossa Alteza, não se podia afundar. — Pois então podes ficar com ele. Não quero um barco meu assim! — respondeu o rei, arrogante. — Está bem, é meu. Muito obrigada, Vossa Alteza! Passado alguns meses corria a notícia de que a menina andava a fazer passeios no estuário do Tejo com o seu barco maravilhoso e diferente. Toda a cidade queria passear no barco. Alguns para irem para o trabalho e outros por diversão. E algumas princesas também vieram andar neste barco. O rei como era muito orgulhoso, por mais que precisasse de andar de barco, nunca foi falar com a menina, agora já mulher. E assim foi a história do barco antigo mais luxuoso de Portugal! 87

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Um segredo guloso Há muitas, muitas marés, na pequena aldeia de Sarilhos Pequenos, junto ao sapal, havia um pinhal muito antigo. Nesse pinhal, um pinheiro mais alto do que os outros parecia um pinheiro-rei. Era talvez o pinheiro mais antigo do pinhal e percebia-se que era um pinheiro sólido, com um tronco muito largo. Era preciso juntar dez crianças para abraçar o tronco do pinheiro tão grande ele era, tão forte! Na aldeia corria a lenda de que o pinheiro-rei tinha um segredo, mas ninguém sabia se era verdade. Dizia-se que um velho descendente dos mais antigos mestres dos barcos, dos arrais, tinha enterrado um tesouro junto ao grande tronco. Ora, também nessa aldeia morava um menino chamado João que tinha um avô que era arrais de um barco, e que sabia do tesouro enterrado no pinhal antigo. Todas as noites o João adormecia embarcado nas histórias que o avô lhe contava sobre tesouros escondidos. Certo dia o João brincava com a sua amiga, Maria Joana, quando lhes pareceu que o sol, lá ao fundo, no pinhal, brilhava de uma forma diferente, mais intensa. Estranharam. A Maria Joana propôs: — Ó João, e se nós fossemos passear até ao pinhal? O João lembrou-se das histórias do avô e respondeu entusiasmado: — Boa ideia, vamos, vamos! 88

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Os dois amigos aventuraram-se em direção ao pinhal e, ao longe, começaram a ver a copa do pinheiro maior. A luz parecia que nascia ali mesmo! Sentiram uma energia que os atraiu até junto do pinheiro grande. Mas, depois, começam a abrandar o passo. Aproximaram-se cautelosamente, a sentir um nervosinho, uns pulinhos no coração. Até lhes parecia que o canto dos melros era diferente pois, por ali, havia agora duas crianças… Também os meninos perceberam que os pássaros estavam agitados. Então, os seus sentidos ficaram mais despertos, e, de repente o João e a Maria Joana viram um pequeno melro que saltitava sobre o chão! Parecia uma dança diferente, saltitava e saltitava, enquanto o seu bico amarelo picava o chão. Foi assim que as crianças perceberam que ali estava qualquer coisa… Um buraco?! Curiosas espreitaram e viram um baú de madeira. Era igual ao da história do avô! Sem hesitações tiraram o baú e… abriram-no! E o que está lá?! Um barco em miniatura com um velho, muito velho, papel enrolado. As letras, antigas e estranhas, custavam muito a ler. Ah! Tinha escrito a receita de um… gelado! Muito desapontado, o João exclama: — Eh, fomos enganados! Isto não tem valor nenhum! Mas a Maria Joana não se desanima: — João, pensa bem. Se está assim guardado, é porque tem valor. E este barco miniatura é igual ao barco do gelo que vi num museu! Já pensaste nos maravilhosos gelados que poderemos fazer quando vier o calor? 89

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Olharam um para o outro surpreendidos com a ideia e sorriram ricos de felicidade! Mas não descansaram enquanto não esclareceram o enigma junto de quem mais sabia: “Era um luxo saborear um sorvete nesse tempo, há séculos longínquos! Os nossos barcos transportavam o gelo que vinha em carroças da serra da Lousã e, escutem bem, algum gelo era para fazer os sorvetes que serviam na corte do rei, em Lisboa!” — confirmou o avô arrais. E acrescentou: “Mas que tesouro bem guloso vocês descobriram!”

Aqui, junto ao rio, há douradas, tainhas e robalos nas águas brilhantes do rio. Ainda não os vi, mas sei que um dia os irei ver. Aqui junto ao rio, terão passado tainhas, robalos, e outros peixes, mas eu não vi porque estava distraído. Aqui, junto ao rio, encontrei várias algas onde se escondem peixes: robalos azuis e douradas prateadas. E vários flamingos. 90

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O pescador colecionador de ostras No rio Tejo havia muitos peixes, tainhas, plantas, algas, limos e ostras, muitas ostras. Havia também muitos barcos e um deles, muito especial, já era muito antigo, chamava-se Barquel. O barco tinha um mestre, o Zé, um homem baixinho com um barrete preto e um bigode comprido, um ar simpático, mas muito cansado. Ele tinha uma filha chamada Maria. A Maria, às vezes, acompanhava o pai quando ele ia apanhar ostras. O mestre Zé tinha um gosto especial por ostras. Como o seu barco já estava velhote e não tinha reparação, o mestre Zé decidira apanhar ostras apenas, e não arriscar outras pescarias. Mas tal como o barco, também o mestre começara a ficar velhinho e resolveu colecionar ostras. Adorava-as, e a sua filha ajudava-o na coleção. Um dia o mestre Zé encontrou uma ostra especial. No interior tinha uma linda pérola. Era uma ostra valiosa e por isso resolveu ficar com ela na coleção. Por tudo isto o barco varino, o Barquel, era também um barco especial. Era o barco das ostras do rio Tejo, e o mestre Zé estava lá para as proteger e cuidar. Na casa do mestre Zé havia um aquário gigante onde viviam as ostras. Todas as manhãs as cumprimentava e com elas falava. Mas a ostra da pérola linda era tratada igual às outras porque, no fundo, todas eram especiais, pois todas cheiravam a maresia, todas transportavam o rio nas suas conchas. Na coleção do mestre Zé, não precisavam de se esconder nem tinham medo de ser comidas. Elas eram o rio Tejo na casa do pescador. 91

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Aqui, junto ao rio Tejo, há peixes, algas, ostras, golfinhos e muito mais como uma família enorme para cuidar. Ou como um arco-íris com as sete cores.

Manel aprende uma lição O Manel nasceu à beira do rio Tejo. Desde criança que gostava muito de observar, pescar e desenhar peixes. Pensava que gostaria de ser marinheiro. Mas o Manel não tinha dinheiro e decidiu que, primeiro, iria trabalhar junto do tio no estaleiro. O tio era o senhor João, antigo marinheiro, um homem experiente. O Manel queria fazer tudo, mas, como era muito trapalhão, só fazia estragos. Chegou a rasgar a vela e a estragar o leme com tanta falta de jeito que tinha. O tio repetia-lhe: — Manel, já estás crescido e tens de aprender! Não queres ser conhecido como Manel, o Trapalhão, pois não?! O Manel, ao ouvir isto, pensou que gostava tanto do tio que não o queria desiludir. Foi passear à beira-rio e percebeu que talvez a sua arte não fosse construir barcos. Talvez a sua arte fosse outra. Mas qual? 92

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No dia seguinte, pela manhãzinha bem cedo, quando o sol tinha uma luz fresca e dourada com cheiro a maré, antes do tio chegar ao estaleiro, Manel preparou-lhe uma surpresa. Tinha cosido as redes de pesca que, desde há muito tempo, esperavam no estaleiro quem as remendasse. O tio chega e pergunta-lhe: — Onde vais tu, Manel? Lá vai ele mais as suas trapalhices! Sem dizer nada o Manel foi para o seu barco à vela. Orientou a vela e o leme, sem fazer barulho, andou à bolina até ao Pocinho onde sabia que havia bom peixe, só de escama. Nesta zona o peixe ia coçar as escamas nas areias do Tejo. Manel lançou as redes e conseguiu apanhar muitas tainhas. Não cabia em si de contente! Manel regressou ao estaleiro. Puxou as redes com esforço pois estavam cheias de tainhas saltitantes. Chama o tio: — Tio João, aqui está a minha tripulação! Surpreendido e orgulhoso o tio responde: — Manel, afinal já não és um trapalhão! Daqui em diante serás Manel, o Pescador!

Aqui, junto ao rio, há muitos peixes: douradas, tainhas, robalos. Que eu, um dia, gostaria de pescar. Mas para isso preciso de aprender a fazer as redes. 93

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Aqui, junto ao rio, encontro saúde, cores vívidas… e um sol belo.

Se eu fosse uma gaivota Se eu fosse uma gaivota diria que era o conceito de liberdade. Imaginaria os meus dias a voar pela terra, pelo mar, a ver os humanos, os peixes, os carros, os barcos, … Quando fosse tempo de comer, pão e peixe seriam o meu foco, mas aceitaria qualquer coisa. No final do dia, iria para a praia descansar e esperar pelo nascer do sol para a mesma rotina continuar.

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Tenho penas brancas, desloco-me pelo ar e pelo mar, como peixes com o meu bico comprido e alaranjado aos homens da terra dou sinal, quando no mar há vendaval. Sou uma planta marinha, pequena e viscosa, sou usada pelos peixes que de mim fazem uma casota. Sou verdinha como a alface e à alface dou sabor. Nas margens do rio me podes encontrar e mais tarde saborear.

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A gramateira milagrosa e a gaivota Bernardo e Rodrigo iam todos os dias alimentar os peixes na beira do rio Tejo, na Moita. Um dia viram uma gaivota a voar na sua direção e, como repararam que ela gostava de gramateira, deram-lhe um pouco da planta, juntamente com os peixes. Durante cinco anos manteve-se essa rotina. Os rapazes alimentavam a gaivota e sentiam-se felizes. Mas houve um dia em que a gaivota não apareceu. Rodrigo e Bernardo resolveram procurá-la. Depois de algum tempo e esforço, Bernardo avistou-a com uma pata presa numa rede de pesca que flutuava no rio. Tentaram salvá-la, mas não conseguiram pois a corrente era muito forte. Então levaram-na para terra, assim mesmo, agarrada à rede. Rodrigo lembrou-se que ainda tinha um pouco de gramateira e alimentou-a. Aconteceu então algo mágico: a gaivota conseguiu libertar-se! Depois desse acontecimento os dois rapazes decidiram contar a história aos seus familiares e amigos. É por isso que existem pessoas que, ainda hoje, quando veem uma gaivota presa lhe dão gramateira. Também há quem diga que as gaivotas que ficam presas são, afinal, sempre a mesma. Vem verificar se aquilo que os rapazes fizeram ficou guardado na memória dos moitenses.

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O mistério da alga azul No tempo em que os meus avós eram crianças e viviam na Moita, muitas crianças andavam descalças. Nessa altura não havia tantos perigos e podiam brincar na rua, à vontade. Mas ainda hoje alguns de nós brincam junto ao rio. Tal como os nossos avós, gostamos de observar a maré quando enche e vaza. Lembro-me de um momento especial em que mexíamos nas areias e observávamos as ondas. De repente, uma das ondas traz… uma alga azul. — Uau! Que bonita! A alga era diferente daquelas que já tínhamos visto e ficámos admirados. Azul e brilhante, todos lhe queriam tocar. Mas, sentindo que era especial, não a queríamos perturbar: — Não lhe mexam! Podem ficar também azuis! No entanto, alguém mais corajoso pegou num pauzinho para lhe tocar. — Não larga tinta! Fomos ter com a nossa professora, ver o mapa e a direção das correntes para pesquisar de onde teria vindo a alga. De Oeste, veio do Oceano. As correntes marinhas estão a mudar constantemente e, com medo que a alga desaparecesse, a professora veio connosco, aproveitando para dar uma aula de Estudo do Meio ao vivo. Anotou as características da alga, desenhou-a e foi investigar. 97

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No dia seguinte pediu a um mergulhador que fosse ver se encontrava outras iguais. Quando o mergulhador voltou à superfície informou que não havia mais. Mas também esclareceu que, afinal, não era uma alga, mas um coral. — Um coral?! — perguntámos espantados. — Sim, um coral. E não se encontra saudável. A cor azul indica que está doente. — Oh! — exclamámos com tristeza. Decidimos levá-lo para a escola dentro de balde com água. Prometemos que ao chegar a casa iríamos investigar sobre corais, qual a doença que teriam, e tentar tratá-lo para que quando estivesse bem o devolvêssemos não ao rio, mas ao mar. A Isabel, que era a mais curiosa da turma, resolveu ir ao aquário Vasco da Gama falar com um biólogo. — Isabel, a doença do coral é a falta do mar e da água salgada — explicou-lhe. Com o que descobriu e com os pingos de sal para pôr na água do balde, Isabel foi para a escola. Quando chegou, informou-nos — e à professora — o que deveria ser feito para salvar o coral. Passada uma semana o nosso coral já estava curado. Recuperara a sua cor natural — cor de areia — e, juntos, fomos devolvê-lo ao mar. Que felizes ficámos por termos preservado a Natureza!

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A ostra e a pérola Era uma vez um marinheiro chamado Filipe, o Feliz. Vivia num barco chamado Viagem Feliz. Filipe era um rapaz alto e magro, corajoso, confiante e aventureiro, quase se parecia com o mastro do seu barco. Porque vivia perto do rio, navegava muito e conhecia bem os mares e os ventos. Filipe sabia que, para uma viagem correr bem e ser feliz, tinha de respeitar as marés. Filipe tinha muito orgulho no seu barco de cores alegres e que até tinha pintada a bandeira de Portugal: as cores verde e vermelho, e até a esfera armilar! Certo dia pela manhã, Filipe acordou ainda mais feliz. Subiu à proa do barco e sentiu na cara a magaruça. Pensou: “É hoje! Hoje, vou fazer uma viagem que jamais irei esquecer!” Filipe começou a sua viagem, atento e com cuidado, até que avistou algo ao longe: “O que será aquilo?” Cuidadosamente aproximou o barco e viu uma ilha de ostras. Entusiasmado, exclamou: “Achei uma ilha de ostras!” Aportou o barco, verificou que a água estava calma e baixinha, e saltou para a ilha. Ao percorrer a ilha foi tocando nas ostras. Sentiu a textura para melhor as conhecer. Filipe apercebeu-se então que as ostras guardavam um segredo.

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De repente, uma ostra abre-se perante o olhar de Filipe. Lá dentro, uma pérola! Filipe percebe que, afinal, aquela ilha é um templo. “Pode ser o Templo das Ostras”, pensa ele. Ao ver a pérola, a primeira tentação foi retirá-la. Depois hesita e volta atrás na decisão pois percebera que o lugar da pérola é na Natureza. Filipe fica profundamente feliz. Sente que a sua missão é proteger a ilha, ser um guardião! Agora compreendera a sensação daquela manhã, de que iria ser um dia especial, que jamais iria esquecer. E, cuidadosamente, Filipe saiu da ilha, deixando tudo tal como encontrara. Porém, na viagem de regresso, mesmo antes de amarrar o barco, vê outra ostra na superfície da água. Apanha-a e verifica que é uma ostra especial pelos reflexos que apresentava na concha macia. Afinal, a ilha enviara-lhe uma oferta como forma de agradecimento. Esta ostra passou a ser o seu talismã, companheira em todas as viagens. Por onde passava, confirmava ser o Filipe, o Guardião da Ilha das Ostras. Hoje, passados anos, Filipe percorre as escolas com o seu talismã — a ostra colorida e macia — para contar a sua história, mágica, transmitindo a todos os meninos e meninas a mensagem de que devem cuidar, proteger, preservar a Natureza. A todos quer relembrar que a Natureza é nossa mãe e que nos retribui e surpreende com as formas da sua beleza. 101

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A Água

Olá, eu sou a Água! Sou apenas a coisa mais importante à vida na Terra. Precisam de mim tanto os anaeróbios como os aeróbios, sim, apresento-me com toda esta massa porque sinto que tenho de vos por a par, seja com gritos ou assobios já que me andam a maltratar. Caso não saibam, toda a água a qual vocês bebem e da qual se servem já tem microplásticos. 102

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Peço-vos que me ajudem a não ficar mais doente! Porque senão a vida na Terra vai deixar de ser a mesma de sempre. Caso não entendam, vocês humanos fazem parte da vida. Se querem evitar extinções como a da vossa espécie tratem do vosso bem mais querido. Não, não é o dinheiro mas sim a existência! Sem ela não tinham família, nem a oportunidade do amor. Não precisam de ficar com pavor! Se se juntarem todos agora, conseguirão fazer a diferença. Pela última vez, protejam a flora! 103

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Sou uma estrada longa onde vivem muitas espécies, quanto mais limpo, mais vida tenho.

Um rio de cuidados Vivemos numa terra que tem algo que sempre nos alimentou, quer de espírito quer de corpo — o estuário do Tejo. Por ser algo que, desde sempre, nos foi dado como garantido, muitos de nós não reconhecem a beleza e importância deste estuário e quão importante é preservá-lo pelo tempo longo em que também cuidou de nós. Foi ele que, nos tempos passados, permitiu as rotas de comércio para Lisboa e deu trabalho aos nossos bisavós e tetravós, durante os tempos de criança em que os nossos pais se divertiram a saltar da ponte, que hoje em dia já não existe, ou a andar à vela. Por todos estes tempos em que o rio tem cuidado de nós, agora nós temos de reconhecer a sua importância nas nossas vidas. E cuidar dele. 104

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No tempo do barrete preto as crianças iam descalças para a escola no inverno e no verão. No tempo do barrete preto as pessoas, muitas vezes, andavam com roupas remendadas. No tempo do barrete preto todos andavam com a carteira na cabeça. No tempo do barrete preto os marinheiros usavam o barrete como proteção para o frio e calor. Também servia para guardar fósforos ou outras coisas no bolso de dentro.

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No tempo do barrete preto os barretes eram produzidos com tecido de menor qualidade porque os fragateiros não tinham dinheiro. No tempo do barrete preto o coração trabalhava em agosto e, em dezembro, estavam todos a postos. No tempo do barrete preto as pessoas remavam até ao sucesso… No tempo do barrete preto tudo era um património, tudo era uma riqueza. Até a empatia, que é um grande valor nos navegantes. Muitos bens foram encontrados e guardados com carinho. Tudo o que se passou no tempo do barrete preto é património português. 106

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Glossário À BOLINA navegação à vela contra o vento lateral A BORDO dentro da embarcação

que requer a presença de oxigénio para o seu desenvolvimento e sobrevivência

AERÓBIO

ALCATRAZ ave palmípede a que alguns chamam albatroz. O nome

alcatraz tem origem no árabe al-ġaţţās, que significa aquele que mergulha. | O alcatraz-comum ou gaivotão-real Larus marinus é uma gaivota de grandes dimensões, sendo a maior das gaivotas europeias designação comum a várias espécies de cnidários marinhos de corpo mole e transparente providos de tentáculos com células urticantes

ALFORRECA

vegetal clorofilino sem raízes nem vasos, que vive na água do mar, na água doce, ou pelo menos no ar húmido ALGAS

ANAERÓBIO que pode viver e reproduzir-se privado de ar

BARRETE

cobertura flexível para a cabeça, geralmente em malha

de lã lado esquerdo do navio (olhado de popa à proa). É um termo exclusivamente português porque nas descobertas avistámos o continente africano do lado esquerdo

BOMBORDO

BRAÇO (DO VARINO) reforço que faz parte do esqueleto do barco,

composto por vários braços; há um braço de estibordo e um braço de bombordo BRAÇO DO RIO cada uma das correntes em que se divide um rio BOTE pequeno barco a remos ou à vela CABECEIRA

um dos reservatórios das marinhas

CAÇÃO espécie de peixe seláceo CALAFATE operário que calafeta ou veda com estopa embebida em óleo as juntas de navios, aduelas, etc.

APORTAR entrar em porto

espécie de doca para embarcações pequenas; reservatório de água para abastecer a salina com água na fabricação do sal

APROADO pôr a proa em direção a

CANA género de plantas da família das canáceas

patrão de barco costeiro ou fluvial; sinónimo mestre; comandante de uma embarcação

curso de água natural ou artificial utilizado para a navegação

ANCORAR

lançar âncora; fundear

ARRAIS

ATRACADO

chegar (o barco) ao sítio onde deve ficar encostado e

amarrar BAIXA-MAR ocasião em que a maré acaba de vazar BARCO ENCALHADO varado na praia, com a quilha em seco

CALDEIRA

CANAL

CANOA pequena embarcação de serviço de bordo CARPINTEIRO artesão ou operário que aparelha madeira e a arma

em construções CATIVAR O LEITO DO RIO

prender; controlar pela força ou por

repressão 109

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embarcação pequena e robusta, com remos e vela triangular ou quadrangular, geralmente usada na pesca

CATRAIO

COLÓNIA grupo de seres vivos que vivem em comum (ex.: colónia de abelhas)

por sua vez, representam os principais círculos da esfera celeste ESTALEIRO lugar onde se constroem ou reparam navios; armação

sobre que assenta o navio que está a ser construído ou reparado ESTIBORDO lado direito do navio (para quem olha da popa para

invólucro calcário do corpo de certos moluscos

a proa)

COPA

parte superior das árvores formada pela extremidade dos ramos

ESTOPA

designação dada a vários animais cnidários antozoários fixos, com esqueleto calcário, que vivem em colónias e são responsáveis pela formação de recifes

ESTUÁRIO parte de um rio, próxima à sua foz no mar, onde a água

CONCHA

CORAL

designação comum a vários peixes da família dos

CORVINA

cienídeos navio que faz viagens turísticas de passageiros, com escalas em vários portos

CRUZEIRO

proceder ao desassoreamento de; limpeza do fundo dos rios, barras, etc.

parte grossa do linho que fica no sedeiro quando o assedam; fios de carrete para calafetar

doce se confunde com a salgada (ex.: estuário do Tejo) FERREIRO operário que trabalha o ferro ou em obras de ferro

Phoenicopterus roseus ave migratória, pernalta e palmípede, de bico recurvo, geralmente com a plumagem rosada, que habita zonas aquáticas

FLAMINGO

FLOR DE SAL conjunto de cristais de sal que se formam à superfície

DESASSOREAR

da água, nas salinas

local, situado dentro de um porto ou perto dele, onde as embarcações são retiradas da água para reparação ou manutenção

FRAGATA embarcação comprida, com 20 a 30 metros, dotada de quilha, um só mastro de vela quadrangular e vela triangular, fundo redondo, proa direita e tonelagem variável, usada no rio Tejo para transporte de mercadorias pesadas

DOURADA nome de várias espécies de peixes acantopterígios que

FRAGATEIRO tripulante de fragata (no Tejo)

DOCA SECA

se encontram nos mares da Europa EMBARCADIÇO

que ou o que anda habitualmente embarcado;

marinheiro ENGALANADO ENGODO

ornado de gala; embandeirado

alimento que se usa para atrair animais, para os pescar

antigo instrumento astronómico que representa o planeta Terra no centro de um conjunto de anéis que, ESFERA

ARMILAR

designação dada a várias aves pernaltas da família dos ardeídeos, de bico e pescoço comprido e delgado, que geralmente habitam pântanos ou charcos GARÇA

GRAMATEIRA*

termo da gíria, o mesmo que GRAMATA planta de folha suculenta que nasce nas salinas e que pode ser utilizada pelas aves na construção dos ninhos

embarcação desportiva ou de recreio, de velas ou de motor, geralmente de tamanho médio IATE

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IÇAR (AS VELAS, A BANDEIRA)

levantar, erguer (por meio de

MASTRO cada uma das peças altas (verticais ou oblíquas) onde se

roldanas e cordas)

sustentam as velas de uma embarcação

ILHA DO RATO também conhecida por Mouchão das Ostras, ou Ilha do Carrapeto, é um ilhéu localizado no Mar da Palha, pertencente à União das Freguesias de Barreiro e Lavradio. | Localizada no Estuário do Tejo (Mar da Palha), a sul do Canal do Montijo e da Esquadrilha de Helicópteros da Marinha (Base Aérea N.º 6, Montijo), a nordeste da Ponta da Passadeira (Barreiro) e a oeste da aldeia do Rosário (Moita). Esta ilha é uma propriedade privada (ilha privada)

MELRO Turdus merula pássaro dentirrostro de plumagem negra, bico amarelo e canto melodioso

peça móvel que imprime a direção ao navio; o mesmo que roda do leme LEME

LER O RIO dar certo sentido a, interpretar, perceber

vegetação composta de algas, em lugares húmidos ou de águas parada

LIMO

MAGARUÇA* termo da gíria utilizado pelos marítimos, que significa brisa leve que sopra do quadrante sul, ao nascer do dia durante o verão MANTA Manta birostris grande peixe cartilagíneo que constitui a

espécie de raia de maiores dimensões cheiro intenso do mar junto à costa, especialmente na maré baixa ou na vazante; conjunto de gotículas finas de água do mar que se espalha pelas zonas marítimas

MARESIA

pessoa que trabalha a bordo de um barco; homem do mar, principalmente quando embarcado; sinónimo marítimo, marujo

MARINHEIRO

faixa de terreno que fica de um dos lados de uma extensão de água; sinónimo beira, borda, orla MARGEM

MICROPLÁSTICO partícula microscópica de plástico MORRAÇA erva para forragem OSTRA Crassostrea sp. género de moluscos bivalves

grande navio de passageiros que faz geralmente rotas oceânicas

PAQUETE

bem ou conjunto de bens, materiais, naturais ou imateriais, reconhecidos pela sua importância cultural PATRIMÓNIO

PERNA-LONGA Himantopus himantopus ave ribeirinha de asas pretas e o resto do corpo branco; sinónimo: fusiloa, pernilonga, pernilongo; plural: pernas-longas PÉROLA glóbulo calcário que se forma dentro de certas conchas PÊSAMO* termo da gíria utilizado pelos salineiros ou marnoteiros,

o mesmo que REFRATÓMETRO (instrumento ótico para precisão usado para medir a concentração de sal na água da salina) PESO pequena pedra em barro ligada às redes de pesca para que

não fiquem a flutuar POCINHO pesqueiro, sitio onde há peixe; este fica entre o Barreiro,

(freguesia do Lavradio), na Praia da Barra à Barra, e a Moita (União de Freguesias da Baixa da Banheira e Vale da Amoreira), em frente à Ilha do Rato POÇO DO BARCO espaço que existe no barco onde é depositada a

carga

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PORTA DE MARÉ porta de madeira ou em ferro colocada em diques ou em reservatórios para entrada e saída da água consoante a maré PREIA-MAR nível mais alto da maré

instrumento de madeira, que serve para juntar o sal nas marinhas

RODO

REMENDO

(o que serve para

concertar a roupa) terreno barrento endurecido, que se deposita no leito dos

rios SALGADEIRA planta herbácea que nasce junto às margens dos rios

designação dada a várias plantas herbáceas do género Salicornia, da família das quenopodiáceas, encontradas em salinas, que pode substituir o sal no tempero SALICÓRNIA

SALINA terreno onde se represa a água do mar para extração de sal; sinónimo marinha, monte de sal

aquele que fabrica o sal ou aquele que trabalha nas

salinas SAPAL terreno alagadiço, paul SEBO parte gordurenta das vísceras dos animais ruminantes SERRA DE SAL

cada uma das divisórias em que, nas salinas, se recolhe o

Lophius piscatorius peixe da família dos lofiídeos, de cabeça desproporcional, larga e achatada, boca semicircular, que vive no fundo do mar; sinónimo lófio, xarroco

TAMBORIL

ROBALO Dicentrarchus labrax peixe percídeo

que tem

TALHO

sal

RAPAR O SAL tirar o sal da salina com o rodo

SALINEIRO

de água quantidade nesta zona do Tejo, perto da Moita

PROA o rosto de um barco; a parte dianteira do navio

SALÃO

SUBMARINO barco fechado que pode navegar totalmente debaixo TAINHA peixe da família Mugilidae que sempre existiu em grande

POPA traseira do navio

ROUPA REMENDADA

para extração de sal; sinónimo salina

monte de sal

(SÍTIO DAS) MARINHAS terreno onde se represa a água do mar

TINGIR (A VELA) meter ou molhar em tinta, alterando a cor TRAINEIRA pequena embarcação empregada na pesca com TRAINA

(grande rede de cerco para a pesca da sardinha) TREMELGA Torpedo torpedo raia que chega a atingir 1m de comprimento, possui de cada lado da cabeça um órgão elétrico cujas descargas são capazes de paralisar as presas e de entorpecer um homem VARINO barco comprido e estreito, originário da região da laguna de Aveiro, de um só mastro de vela quadrangular e vela triangular, fundo chato, roda da proa bastante pronunciada, tradicionalmente usado no rio Tejo (desde o sec. XVIII) para transporte de mercadorias VELA pano forte e resistente que se prende aos mastros para fazer andar as embarcações VELEIRO

homem que fabrica as velas de navio

VELEJAR navegar à vela ZONA RIBEIRINHA zona situada nas margens de um curso de água

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Pesca à linha

CANHOTO, Carlos e GALINDRO, Paulo | Pirilampo, o velho pescador de estrelas Garatuja, 2018 DOINET, Mymi, NOMDEDEU Clara e MERLIN, Christophe | A vida dos animais: o golfinho Ed. Ambar, 2000 ONDJAKI e WOJCIECHOWSKAL, Danuta | O voo do golfinho. Caminho, 2009 SANTOS, Maria Clara | A embarcação tradicional “O Boa Viagem”: Memória de uma recuperação. Câmara Municipal da Moita, 2013 SILVA, João Nunes e SILVA, Paula Lopes | O Tejo do Estuário. Quetzal, 2002 SITIO DAS MARINHAS: CENTRO DE INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL | Sitio das marinhas: Centro de interpretação ambiental. Câmara Municipal da Moita, 2013

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Agradecimentos Agradecemos ao Mestre João Gregório e à escritora fátima éffe pelos ensinamentos que transmitiram a todos, alunos, professores, professores bibliotecários e técnicos das Bibliotecas Municipais da Moita, que tiveram o privilégio de realizar este projeto. Ao João Gregório, pelos saberes práticos, por ser ele próprio parte do património vivo que temos a responsabilidade de deixar aos mais novos. Por conhecer toda a fauna e flora deste território e todas as profissões antigas ligadas a esta comunidade, que sempre viveu em função daquilo que o rio lhes deu, e lhes permitiu aceder não só como via de comunicação entre as duas margens do rio Tejo, mas também como património cultural que temos de continuar a preservar. Pelas suas histórias de vida, que nos foi contando ao longo das sessões e pela bela história do golfinho, que, a partir desta história real que lhe contavam em criança permitiu, através da criatividade, desenvolver o imaginário dos alunos, levando-os a criar diferentes histórias com base nos elementos da Natureza. À fátima éffe, pela forma como nos conseguiu envolver a todos num projeto comum. Pelos seus conhecimentos técnicos ao ensinar a construir uma história a partir dos elementos apresentados, que consideramos fundamental deixar registado e escrito neste livro. Pela forma apaixonada como transmite o conhecimento, pelo respeito pela pessoa humana e pelo amor à Natureza.

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À grão de pó, por concretizar tão bem as ideias, criatividade e conhecimentos destes aprendizes da escrita, com as fantásticas ilustrações com que nos brinda em cada página numa surpresa tão feliz e perfeita. A todos os professores que motivaram os alunos a participar, orientando-os para a realização de um trabalho coletivo, em que a partilha de saberes antigos permitiu a todos o acesso a mais conhecimento sobre a fauna e a flora locais, sobre as profissões tradicionais e sobre as embarcações típicas do Tejo e da Moita. Às professoras bibliotecárias que acreditam e fazem acreditar que a biblioteca é a porta de entrada para o conhecimento, e neste projeto, também será a porta de saída. Este registo em forma de livro vai permitir conhecer melhor esta comunidade através da recolha e difusão de informação sobre a importância do património natural e cultural, e a preservação e transmissão de valores que compõem a identidade cultural deste território. A todos os alunos que de forma entusiasta participaram nos ateliês a que tivemos o privilégio de assistir, pois sem eles este projeto, que também é deles, não teria sido possível. Às famílias que nos felicitaram pelo interesse do projeto e incentivaram os filhos a participar contando-lhes histórias baseadas em memórias de infância também aqui passadas junto ao nosso inspirador rio Tejo.

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PROFESSORA BIBLIOTECÁRIA

Noémia Braz

Prof.ª Noémia Braz

10º LH

Navegaram neste projeto

Daniela Ferreira, Eva Mendes, Iara Amaral, Iris Lourenço, Joana Vasques, Kaylla Arrud a, Letícia Neves, Marcelo Domingos, Nelsy Ramo s, Nikole Melo, Ricardo Ar aújo, Feliciana Monteiro, Ale xandra Graça, Keila Ferreira

ESCOLA SECUNDÁ

11Hº

LH

s, Tomá a n e l i An va, az Sil Chein erto, Felisb , Diogo a i c r Dá tião to, Sebas Ernes a m n i a u i q D Elia ara ndre, Josem , s Alexa e r va etícia sio, L ne Ta á e l v c r i r e E a, G da Lim ustino J n , a e n p r i Fil ria Fe s, Ma e m o G a n Silv Rúbe

RIA DA BAIXA DA BANH

EIRA

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Prof. Bruno Bento 3º A Chauciany Monteiro, Diana Mangel, Djenabu Baldé, Gerson Ramos, Gonçalo Silva, Isabela Araújo, Justina Amaro, Leonor Estevão, Lucas Costa, Luís Lima, Maria Ferreira, Maria Henriques, Mariana Victorino, Martim Gusmão, Marvin Rosa, Melanie Alhinho, Micael Lito, Samuel Rodrigues, Sílvio Santos, Telmo Oliveira, Tiago Santos, Tomás Garcia, Yasmin Rita

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DO VALE DA AMOREIRA

Prof. João Cabaço 5º A Ana Zongo, Beatriz Rego, Cheila Oliveira, Cinara Santos, Eduarda Lopes, Eliane Baldé, Evandro Mussuela, Fábio Oliveira, Felix Dungue, Iara Fernandes, Iliane Santos, Ivo Ramos, João Cabeça, Josefina Guerra, Mariana Silva, Matilde Rosa, Raissa Indjai, Sebastião Sá, Jeison Kiteculo

ESCOLA BÁSICA 2

ESCOLA B

ÁSICA N. º

1 VALE DA AMOREIRA

PROFESSORA BIBLIOTECÁRIA

/3 VALE AMOREIRA

Alice Ilhéu

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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS JOSÉ AFONSO, ALHOS VEDROS

resa Vaz

PROFESSORA BIBLIOTECÁRIA Fernanda Cravo

Prof.ª Te 5ºA

a ge, Améli Aline Silin a a Carolin Lima, An Mota, , Carolina Marques aniel artinho, D M a n ri a t Ca ousa, ilherme S u G , s e u eia, Marq aria Corr nelas, M , a P a n a Jo rtim Fatia gosa, Ma e rr a C s e ev , Martim Matilde N , o in p m a tiago Martim C irão, San e L o g ri d a, Ro sário, Rita Vieir Tiago Ro , s ia D o g Pinto, Tia o Gil ões, Vasc im S s á m o T

EB 2,3 JOS

, ALHOS É AFONSO

VEDRO

S

Prof.ª Rute Vicente 4º G43 Alícia Espírito Santo, Alícia Armada, Ana Martinho, Beatriz Gonçalves, David de Matos, Diana Buha, Emilly Vitória Nascimento, Eniviline Monteiro, Flávio Couto, Iara Estevens, Íris Faria, Leonor Carrasco, Letícia Oliveira, Martim Mendes, Rafael Pep e, Rafael Fernandes, Rodrigo Anjos, Tiag o Gomes, Tiago Candeia

ESCOLA BÁSICA N.º2 DE ALHOS VEDROS

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Prof.ª Ana

Duarte 4º G42

Angélica S antos, Be atriz Ferreira, B eatriz Alm e ida, Bianca Pin to, Consta nça Ventura, D ário Costa , D a vid Brito, Din is Zeferin o , Diogo Oliveira, F abiana Ta vares, Inê Grazina, Jo s ão Carreir a, Kyara C Lorena Ro u n h c a h , a, Luana C Canário, M osta, Mad argarida M a le na artins, Ma Nicole Sa rta Fernan ntos, Rod d es, rigo Peça s, Tomás Elias, Guilherme Santos

ESCOL

A BÁ SICA N

.º2 DE ALHOS VEDROS

Prof.ª

Ana F era 3º D3 1 Adrya Mene zes, A Cintra lícia , Beat Carlos riz Pe Cary, r eira, Carolin Carolin a Lop a Liu, es, Danie la Bor David ges, Agost inha, Amar Duart e Henriq al, Gabriel A gostin ue Pe l h ic a a , , Iara Inês R Mach ebelo ado, , João Sacul Pinto teanu Maks , Laur , Lígia ymyu a k, Ma P in t o rtim N , Mart Cassa a ogueir ndra, a, Ma Matild Jesus r t e im , Rafa Loure el Leir nço, P ão, Rit edro a S antos Salva , Rita dor, R odrigo Macid e

ESCOL

A BÁ SICA N

.º1 DE ALHOS VEDROS

PROFESSORA BIBLIOTECÁRIA

Vera Vaz

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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS D. JOÃO I DA BAIXA DA BANHEIRA

Prof.ª Gertrudes Perico 4º H

a Pereira 4º M

Prof.ª Cristin

ndor, Amadu Alexandre Sa z, Bianca Djau, Ana Va a Gamboa, Garcia, Carolin vares, Inês Guilherme Ta Oliveira, Íris Machado, Íris er Vaz, óbrega , Jenif N ís Ir , la re a V ndes, iro, Kevin Me Júnior Monte uarte, es, Luciana D Lisandra Gom rreira, o, Melissa Fe Maira Furtad Vieira, ão, Mirziane Miguel Estev rigo o Neves, Rod rd a ic R , zo n a Osvaldo P Galamba, napaz, Tiago A o g a ti n a S , Ribeiro Ferreira oita, Gabriel M a n lia E , Tiago Pisco

Ambrósio Narciso, Antónia Rosário, Bernardo Canelhas, Caio Albuquerque, Caio Silva, Catarina Ramos, Chidinma o Ogbodo, Fábia Vargas, Faustin o, Mendes, Franciny Nasciment Glória Gabriel Rocha, Gilberto Silva, Gomes, Antunes, João Cabrita, João ar, Maria Luana Carvalho, Lukas Baltaz ro Mendes, Geraldes, Maria Olho Azul, Ped ás Delgado, Tyra Rodrigo Mota, Simão Pio, Tom Alvim, Brandão, Dayara Pina, Arthur Papis Camará

ESCOLA N.º4 DA BAIXA DA BANHEIRA

IRA ANHE B A D A X I A ESCOLA N.º5 DA B

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Prof.ª Carla Amado 4º C

ano Prof.ª Vanda M 5º A na Ana Pombo, A ia Rosa, re Cardoso, And inhas, Artur António Quint aniela Ali, Cascalheira, D Érica Valente, Diana Duarte, ano, Inês Francisco Serr Guisado, Laura Almeida, Lara sinha, Letícia Cruz, Leonor Ca Henrique, Luiz Nunes, Lucas garida rida Silva, Mar Oliveira, Marga m Catarino, Crispi Martins, Martim e ild at tim Martins, M Figueiredo, Mar bosa, des, Nuno Bar en M l ue ig M a, Lim ço, Salomé da, Rita Louren Rafaela Almei la ião, Sofia Vare Pinto, Sara Dam

ESCOLA 2

/3 D. JOÃ O

I DA BAIXA DA BANHEIRA

ESCOL

André Gonçalves, Bárbara Marques, Beatriz Correia, Carolina Duarte, David Alves, David Silva, Diogo Brito, Edison Melo, Enthony Arruda, Inês Correia, Leonor Campos, Luana Solteiro, Matilde Nunes,, Miguel Maurício, Miguel Silva, Nuno Rosado, Rafael Gameiro, Raquel Pereira, Rita Correia, Santiago Claudino, Vasco Ferreira, William Mendes, Yasmin Santos, Angelo Rosário

A N.º

3 DA B

AIXA D

A BANHEI RA

PROFESSORA BIBLIOTECÁRIA

Ana Póvoas 125

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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS FRAGATA DO TEJO

Prof.ª Isabel Neves 6° E Afonso Lima, Aron Marques, Bruna Ribeiro, Bruna José, Carlota Zacarias, Francisco Botas, Francisco Fialho, Giovanna Cavalcante, Gonçalo Amaral, Inês Raimundo, João Martins, José Sousa, Leandro Fernandes, Letícia Silva, Madalena Martins, Margarida Abreu, Maria Inês Teles, Mariana Verdasca, Martim Marques, Nadine de Sá, Rafael Ribeiro, Rui Pereira, Sofia Monge, Victorino Filipe

una risa L a M ª Prof. 4º E7 e nso 3º a, Afo t s i t coal, so Ba Afon e Pas c i l A lina ira, Caro , Olive a s co, riz Ro a Francis Beat n tavo ia , Dor , Gus s a v a i g a r P Va iro, erme onte oso, Guilh , Joana M Card r o o s n o triz Leo Card a Bea dim, i r n a a l G s, M Lara oa Nune o ç n va, N odrigo e l i r S u o e L tild s, R s, Ma ra Morae imão Lope t es, S Pie , d a n i e e Gouv ben M l al, Rú ue o c s Pa a Mig m l e s, T Nune

DA N.º1 LA BÁSICA

MOIT

A

ESCO

EB 2,3 FRAG A

TA DO TEJO

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Prof.ª Lisa Setra 4º E8

Prof.ª Carla Marques 4º E6 Afonso Cruz, Alline Sangue, Ana Fernandes, Ariana Nobre, Beatriz Estrompa, Carolina Miranda, Dinis Liz, Diogo Dias, Ema Pavalusca, Flávia Almeida, Hernâni Reis, José Segurado, Leonor Fernandes, Martim Coelho, Rafael Salvado, Renata Lima, Rodrigo Rocha, Tomás dan, Jacinto, Vasco Rodrigues, Mihail Pro s Pire Thalita

Ana Cruz, André Teixeira, Angélica Garção, António os, Gonçalves, David Sant go Dio Diana Caramelo, , Vicente, Enzo Ferreira a Iar , Gonçalo Carvalho s, Joana Rodrigues, Inês Soare Leonor Moreiras, Lara Plácido, Vilhena, Alexandre, Margarida na Moreiras, Mariana Grazina, Maria rtim Coelho, Mariana Barranha, Ma drigo Fernandes, Rodrigo Moutinho, Ro Dias, Vicente Silva, Santiago Belo, Tomás Yasmin Santos

ESCOLA BÁSICA N.º1 DA MOITA

PROFESSORA BIBLIOTECÁRIA

Alzira Bolinhas

ESCOLA BÁSICA N.º1 DA MOITA

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127

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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS MOUZINHO DA SILVEIRA

Prof.ª Paula Carriço

6º B

PROFESSORA BIBLIOTECÁRIA

Andreia Oliveira, Ariana Sirbu, Beat riz Amado, Bernardo Leitão, Diana Soares, Diog o Bernardo, Ester Co elho, Gonçalo Marques , Henrique Silva, Íris Conceiçã o, João Santos, Luana Coelho, Luan a Varela, Mário Delgado, Martim Bogalho, Matilde Cardoso, Rafael Vi egas, Rita Nunes, Samir Prudêncio, Yasmin Gomes

ESCOL

AB

Prof. João Cabrita

4º2-4B

AB

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ÁSIC

A 2,

3 , M OU

ZINHO DA

Prof.ª Carla

SILVEIRA

Alice Ramos,

Alejandro Recio, Alícia Silva, David Santos, Diana Carv alho, Dinis Branco, Elen Barros, Érica Ventura, Eva Morais, Francisco Mesquita , Francisco Açafrão, Ian Vieira , Iara Cordeiro, Kévim Mendes, Ki mberly Lima, Leonor Jacinto, Lu cas Fonseca, Lucia na Ramos, Mariana Vi eira, Matilde Flores , Rodrigo Valente, Rhaiany Bivilaco

ESCOL

ÁSIC

Paula Carriço

Ana Viegas, Aysla Souza , Beatriz Maurício, Die go Pereira, Eduarda Tab orda, Guilhe rme Lourenço, G ustavo Estri g a , Is aac Rogado, Isa bela Clemen te , Leonor Valente, Leo nor Marque s, Martim Beirão, Mart im Pinto, Ma tilde Martin Matilde Muri s, lhas, Migue l Jo rge, Rodrigo Pereira, Tiag o Fernandes, Tiago Figue iredo, Cristiane Silv a

ESCOLA A N.º

2 DA BA

IXA DA BAN H

Lopes 4º 7-4A

BÁSICA

N.º 7

DA BAIXA DA

BANHEIRA

EIRA

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s

nuela Dia

Prof.ª Ma 4º 1-4A

stian omes, Cri Amilton G , Diogo o Mendes g io D , o ir Ribe , Gonçalo iana Pinto b a F , a v il S , Inês na Gomes le e H , a ir More ário, Íris , Inês Ros s e u g ri d o R idi, João , Janice Se Monteiro s, Kévim hua Ponte s Jo , s re a Tav odrigues, a, Maria R v il S ia c ú o, Miriam Silva, L lvin Rosári é M , a o c s á Iasmin, Mélanie P ta, Nicole u b m a S l ila , Nerie ares, She Caramelo afaela So R , la re a c V Iná io, no Alexandri elos, Vera c n o c s a V , Sheila Martins Calmeirao Ié, Aléxia a lm e n a el, D Yara Migu

HEIRA ESCOLA BÁSICA N.º 1 DA BAIXA DA BAN

PROFESSORA BIBLIOTECÁRIA Maria de Deus Marques

RA

gues

uela Rodri

Prof.ª Man 4º 1-4A

onito, va, Diana B Beatriz Sil é, a, José Ren Hugo Sous elgado, ilo, Juma D Josué Cam tos, Lara a, Lara San id e lm A a Keis o, Luana onor Ribeir Pereira, Le ariana as José, M c u L , o ã ç n Assu es, Matilde ariana Nev M , s to n a S l Ganhão, usa, Migue o S , ra y a M ofia Letras Cruz, sa Silva, S is a R , s to Pedro San a Soraia Pin

ESCOLA BÁSICA N.º 6 DA BAIXA DA BAN

HEIRA 129

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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DA MOITA

SICA 2, 3 D

. PEDRO II

A Helena

Brissos

Ana Rita Pereira, André Gonçalves, André Alzamora, Carolina Gonçalves, Margarida Peixeiro, Martim Xavier, Pedro Soares, Rúben Almeida

BIBLIOTECÁRI

Prof. Pedro Soares 11º A2

PROFESSORA

ESCOLA BÁ

andra Seabra

6º E Ângelo Duarte, Beatriz Costa, Bernardo Cruz, Bruno Lourenço, Daniela Lopes, Dinis Santos, Diogo Ramalho, Gabriel Aleixo, Gonçalo Conceição, Inês Mo ura, Joana Candeias, Liana Luz , Luana Dias, Luís Santos, Maria Ro drigues, Marisa Bento, Martim Go nçalves, Matilde Zabelo, Rafael Lopes, Ro drigo Correia, Soraia Costa, Tomás Quint as

PROFESSORA BIBLIOTECÁRIA Alex

Prof.ª Célia Tomé

ESCOLA SECUNDÁRIA DA MOITA 130

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Prof.ª Leonor Ventura 3º e 4º BP1

ESCOLA BÁ

Beatriz Conchinha, Carolina Conchinha, Catarina Cordeiro, Cláudia Ferreira, Duarte Batista, Francisco Antunes, Guilherme Lopes, Igor Baptista, Lucas Gomes, Luís Pé-Leve, Madalena Jarnalo, Margarida Vilar, Maria Ventura da Silva, Mariana Pereira, Mariana Gonçalves, Miguel Lopes, Rafael Oliveira, Rodrigo Marques

SICA DO P

Prof. Ricardo Conduto

1º e 2º BP2

Ana Sofia, Ariana Ribeiro, Aysha Azevedo, Brian Torralvo, Diana Rodrigues, Dinis Santos, Duarte Santos, Enzo Assunção, Gilberto Pinto, Gustavo Dias, Joana Co nceição, João Cruz, Leonor Martin s, Mariana Gomes, Natália Berto, Rit a Nunes, Santiago Quintas, Vicen te Tereso, Yasmin Assunção

ESCOLA BÁSICA DO PENTEA

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ENTEADO

PROFESSORA BIBLIOTECÁRIA

Fátima Franco

ela Viegas Prof.ª Florb 4º B2.10 eida, Augusto Alm na reso, Caroli Carolina Te eira, , Diana Teix Fernandes ues, la, Eva Marq Dinis Barre ente, , Gabriel Vic o ã lv a G co Francis lo Félix, oaga, Gonça n to o G l e ri Gab scalheira, , Leonor Ca Leonor Neto oias, Martim , Mariana G o h ic ch o C , Lucas nica Santos e Silva, Mó ld ti a tiago M , a a S v Sil ereira, n P o g ri d o R , mes Silva, Tiago Rodrigo Go ida, Susana e lm A o g a go Batista, Baião, Santi Pereira, Tia o g ia T , s e Rodrigu sa Vanessa Ro

ESCOLA BÁSICA N.º 2 DA MOITA DO

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