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FICHA TÉCNICA Título: ENTREVISTA AO MESTRE LOPES Subtítulo: Estaleiro Naval do Gaio Projecto Gráfico: Câmara Municipal da Moita – Divisão de Informação e Relações Públicas Fotografias: José Luís Silva, Jorge Godinho e Francisco Alves (CNANS/IPA) Filmagens: Gustavo de Carvalho Revisão final: António Teixeira e Pedro de Oliveira Edição: Câmara Municipal da Moita e IGESPAR 1ª edição Tiragem: 500 exemplares Impressão: Espírito Papel Depósito legal: 309195/10 Abril de 2010


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ÍNDICE Desta Terra Também se fez o Rio – João Manuel de Jesus 06 Lobo, Presidente da Câmara Municipal da Moita In Memoriam, Francisco Alves – Director da DANS 08 – IGESPAR e coordenador do projecto Introdução – Francisco Alves 10 Entrevista ao Mestre José Lopes – Transcrição e texto 15 de Paulo Rodrigues, revisão de António Teixeira e Pedro de Oliveira e filmagem de Gustavo de Carvalho Glossário – Selecção de Paulo Jorge, revisto por 45 António Teixeira e Pedro de Oliveira Bibliografia sucinta, escolhida por António Teixeira, 55 Pedro de Oliveira e Francisco Alves Em contra-capa: DVD contendo: › Entrevista filmada no âmbito do projecto, por Gustavo Carvalho; e › Base de Dados Inventário das ferramentas do estaleiro do Gaio/Rosário, organizada e realizada por José Luís Silva


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DESTA TERRA TAMBÉM SE FEZ O RIO AO NAVEGARMOS nas páginas da história do Rio descobrimos que ela é viva e feita das memórias das nossas gentes, que deixaram no Tejo vidas inteiras de trabalho e de provação, desafiando marés, correntes e temporais, arrancando da raiz da terra as madeiras com que moldaram varinos, fragatas, botes e canoas. Mas é, também, uma história que palpita dinâmica, feita de futuro, como é o caso desta edição dedicada a José Lopes, aprendiz de seu pai, Mestre do Estaleiro Naval do Gaio e artífice dos trabalhos de recuperação do Nosso varino O Boa Viagem, imagem do Município e verdadeiro símbolo de uma identidade construída no rio, pelo ondulado caminho entre margens. Mestre Lopes já não se encontra entre nós, mas deixounos o testemunho de uma maré viva de saber, ilustrada pela experiência dos seus 70 anos de dedicação ao rio e aos barcos, em tempo oportuno recolhido por Paulo Rodrigues, arqueólogo da equipa do CNANS – Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática e autor da entrevista, entretanto falecido. Esta edição constitui, assim, uma homenagem póstuma a dois homens do saber do rio e do mar, Mestre Lopes e Paulo Rodrigues, para além de representar mais um contributo fundamental que aportamos à história do Rio Tejo e da economia marítima da Moita. Temos o Rio como horizonte, não apenas pela determinante geográfica de mais de 20 Km de frente ribeirinha, mas como


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um dos eixos estratégicos de desenvolvimento do Município da Moita. O Programa de Acção Consolidação da Valorização Integrada da Zona Ribeirinha – Da Caldeira da Moita até à Praia do Rosário, em curso, com o objectivo de ordenação do território e requalificação das margens, bem como a construção da ETAR Moita-Barreiro (Estação de Tratamento de Águas Residuais, Moita – Barreiro), que permitirá despoluir as águas, constituem expressão bem aprazível deste nosso regresso ao Rio, traçado igualmente na vertente cultural, com a realização de diversas iniciativas no âmbito da promoção e divulgação do património marítimo e com o apoio às nossas associações náuticas, sempre prontas a navegar em defesa do Rio e das Nossas Tradições. Desfrutem deste livro, fruto do protocolo de colaboração entre a Câmara Municipal da Moita e o Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática (CNANS), hoje DANS (Divisão de Arqueologia Náutica e Subaquática do IGESPAR (Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico) do Ministério da Cultura, como mais uma escala na viagem que nos propomos fazer pela história e memória do imenso Tejo, feito também de gente da Nossa Terra.

João Manuel de Jesus Lobo

Presidente da Câmara Municipal da Moita


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IN MEMORIAM NUMA EUROPA e num País que tão mal soube acautelar o seu riquíssimo património náutico tradicional, mas que graças aos esforços da cidadania assistem ao renascimento desta sua memória, estranho seria esquecer os homens que transportam e são – e os que transportaram e foram – o seu testemunho vivo. Ora, coube-nos o privilégio, na luta contra o esquecimento, de sermos casualmente ainda contemporâneos de alguns exemplos vivos destes transportadores de memória e de podermos fazer algo ao nosso alcance para a – e os – perpetuarmos. Imperativo é precisar que beneficiámos para o efeito da vocação e sensibilidade daqueles cujo dever é justamente promoverem a salvaguarda e valorização desta memória – neste caso o CNANS do IPA, hoje DANS do IGESPAR1 do Ministério da Cultura e a Câmara Municipal da Moita, para o efeito associados no âmbito de um protocolo de colaboração. Fizemo-lo assim enquanto profissionais da arqueologia, mas na assumida consciência de que, além da osmótica fronteira entre a etnografia e a arqueologia navais, o património imate-

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Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática do Instituto Português de Arqueologia, hoje Divisão de Arqueologia Náutica e Subaquática do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico, I.P.


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rial em questão, expresso no saber de experiência feito, de Mestre Lopes, do estaleiro do Gaio/Rosário, era indissociável do projecto de inventário e registo do seu acervo material. Estávamos cientes, neste caso, de que um itinerário estritamente arqueográfico, e mesmo arqueológico, ficaria muito aquém da merecida aproximação antropológica, e que o pressuposto desta aproximação seria a realização do inventário fotográfico daquele acervo, mas também, simultaneamente, da entrevista de Mestre Lopes, gravada e filmada. O que, maugrado as dificuldades materiais de ambas as partes, chegou a ser feito, por felicidade. Contudo, por dupla infelicidade – triste ironia do destino – quando o trabalho final de síntese estava em curso, Mestre Lopes e Paulo Jorge Rodrigues, que pela nossa equipa coordenava o projecto, viriam a falecer – neste caso deixando-nos mesmo assim uma parte expressiva das suas memórias. Em boa hora a Câmara Municipal da Moita entendeu por bem homenagear Mestre Lopes e publicá-las, enquanto substância do nosso projecto comum, intenção que, como é óbvio, secundámos calorosamente, cedendo incondicionalmente toda a documentação original recolhida no âmbito do projecto em apreço – no qual colaboraram também, pelo CNANS, José Luís Silva, arqueólogo, Jorge Godinho, fotógrafo e Gustavo de Carvalho, operador de câmara. Francisco Alves IGESPAR Divisão de Arqueologia Náutica e Subaquática


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INTRODUÇÃO FOI COM GRANDE ENTUSIASMO, MAS ENORME APREENSÃO, que acabei por aceitar o convite formulado pela Câmara Municipal da Moita, de colaborar na presente publicação de homenagem a José Francisco Lopes, reputado Mestre do famoso estaleiro de construção naval tradicional do Gaio/Rosário, sito à beira-Tejo no Concelho da Moita. Entusiasmo, por, ao tempo, Director do Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática (CNANS) do então Instituto Português de Arqueologia (IPA), ter-me envolvido empenhadamente em diversas actividades no âmbito do Protocolo de Colaboração em boa hora celebrado entre este Instituto e a Câmara Municipal da Moita (datado de 24 de Outubro de 2002), centrado na valorização da sua rica e diversificada tradição naval. Estas actividades exprimiram-se em acções de formação do CNANS, em sala e no terreno, realizadas nesse mesmo ano, incidindo nomeadamente sobre métodos e técnicas de registo arqueográfico de embarcações tradicionais – neste caso abandonadas – com vista a ministrar nesta área formação básica aos numerosos voluntários locais, interessados em cola-


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borar no registo e inventariação de tais vestígios1; e que incluíram também, sob coordenação do CNANS até final de 2005, a realização do inventário das ferramentas do estaleiro do Gaio/Rosário, feito por Jorge Godinho e, sistematicamente, por José Luís Silva2, assim como diversas entrevistas ao Mestre Lopes, memória viva de saberes ancestrais, feitas por Paulo Jorge Rodrigues, amigo, colega e membro da equipa do CNANS desde a sua origem, e um dos mais promissores arqueólogos navais da sua geração, desde início ligado, não só ao projecto como à sua génese – ou não fosse, aliás, um homem da margem Sul. De resto, desde 2002, mas sobretudo desde 2004, Paulo Jorge, tomara a peito entrevistar Mestre Lopes, que todos venerávamos como um dos raros testemunhos vivos, em Portugal, de um ofício hoje, mais do que em risco, em vias de extinção. Até que em 2005 decidimos filmá-lo extensivamente, entrevistado de novo por Paulo Jorge. O resultado foi um documento ainda hoje em bruto, mas interessantíssimo a diversos níveis, nomeadamente até pelo que ilustra daquele singular face-a-face entre duas linguagens, por vezes sem conexão, ou aparentemente sem ela: uma inspirada nas fontes renascentistas da arquitectura naval portuguesa e outra “num saber de experiência feito”. Entretanto, a partir desse ano, o projecto deixou de ter con-

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Alves, F., Rodrigues, P., Silva, T. e Godinho, J., 2004 (Outubro), Relatório dos trabalhos de registo efectuados no estaleiro no Gaio/Rosário no âmbito do Protocolo de Cooperação celebrado entre a Câmara Municipal da Moita e o Instituto Português de Arqueologia. Trabalhos do CNANS, 23. CNANS-IPA. Lisboa; e Silva, J., Rodrigues, P. e Alves, F., 2005 (Dezembro), Inventário do Património Náutico do Concelho da Moita – o estaleiro do Gaio/Rosário – Inventário das ferramentas. Trabalhos do CNANS, 34. CNANS-IPA. Lisboa. 2 Devendo também serem citados os nomes de Pedro Ventura, André Silva e Tiago do Pereiro. 3 Mestre José António Lopes (nome do seu mais recente B.I.) nasceu a 3 de Agosto de 1920. No seu B.I., do tempo em que cumprira o seu serviço militar, consta o nome de José de Castro Lopes, de acordo com as informações recentemente prestadas por seu filho, e que lhe agradecemos.


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dições para continuar. E Mestre Lopes viria a falecer a 7 de Junho de 2007, a menos de um mês de completar 87 anos. Por sua vez, Paulo Jorge só voltaria às lides em Novembro de 2008, por ocasião do Colóquio de Homenagem a Octávio Lixa Filgueiras, organizado pelo Museu Marítimo de Ílhavo, em que fez uma notável apresentação dos métodos de construção de embarcações usadas por Mestre Lopes, à luz das supracitadas fontes da arquitectura naval portuguesa renascentista. Mas, inesperadamente, dias depois, prematuramente, Paulo Jorge falecia também. Explicada está a minha apreensão inicialmente referida, perante a intenção da Câmara Municipal da Moita de homenagear Mestre José Lopes com a publicação de uma monografia sobre a última entrevista que lhe fora feita e filmada, quiçá completada pelo inventário das ferramentas do estaleiro do Gaio/Rosário. É que, com o desaparecimento sucessivo dos dois protagonistas fundamentais do enredo, toda a documentação recolhida no âmbito do projecto ficara em estado bruto, inacabada, por tratar e estudar. Mais. A descoberta, entre os documentos electrónicos legados à DANS pela mãe de Paulo Jorge, do texto de uma entrevista imaginária a Mestre Lopes, construída com excertos das várias entrevistas realmente efectuadas, em sequência lógica mas virtual, mas igualmente carecendo de revisão, apesar de constituir uma interessante aproximação de síntese a estas entrevistas, aprofundou a minha apreensão, pela cumulativa necessidade da respectiva revisão – sobretudo perante prazos de edição extremamente curtos. A única solução seria tentar fazer o impossível em termos de preparação editorial, aproveitando parcialmente o esquema editorial de 2006, gizado como conclusão de um projecto


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– entretanto interrompido e abandonado por falta de meios – assumindo eu a exclusiva responsabilidade perante tais circunstâncias: a de coordenar uma publicação cuja única legitimidade editorial seria a de tornar pública uma documentação inédita em bruto, não interpretada, nem mesmo completada, comentada e enquadrada, enfim, verdadeiramente estudada, embora tendo, mesmo sem estes merecidos atributos, um óbvio mérito evocativo e um empolgante potencial científico-cultural. E conseguimo-lo. Fruto da dedicada e voluntariosa colaboração de António Teixeira e Pedro de Oliveira. A presente publicação deve assim ser entendida como um conjunto de documentos de trabalho pró-memória – relativamente aos quais mantemos, como sempre mantivemos – toda a nossa disponibilidade para dar continuidade ao trabalho que ficou por fazer, desde que reunidas as condições adequadas. Francisco Alves 31 de Março de 2010


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Entrevista realizada por Paulo Rodrigues a José Lopes, mestre construtor e proprietário do estaleiro naval do Gaio/Rosário, entre Janeiro e Fevereiro de 2003, Outubro de 2005 e Janeiro de 2006.1

Nota de edição: O presente texto é de exclusiva lavra de Paulo Rodrigues, o qual, que após troca de impressões no CNANS, entendeu por bem organizar a transcrição das referidas entrevistas numa sequência lógica.

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Os termos em negrito encontram-se explicados no Glossário incluso na presente edição.


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Mestre José Lopes, antes de falarmos sobre os métodos construtivos utilizados no estaleiro do Gaio/Rosário, do qual o Mestre é proprietário, gostava de trocar algumas impressões sobre a matéria-prima empregue na construção naval, a madeira. Pode indicar-nos quais eram as espécies de madeira mais usadas? Neste estaleiro utilizava-se mais o pinho manso (pinus pinea) e o pinho bravo (pinus silvestre). Com o pinho manso construíamos a estrutura transversal, a roda de proa e a ré, já que se trata de uma madeira mais robusta, assim como as suas formas se adaptam com mais facilidade às referidas peças. Relativamente à quilha, e tendo em conta a dificuldade de arranjar em pinho manso uma peça com aquelas dimensões, era construída em pinho bravo. As restantes principais peças da embarcação, cintas, dormentes, escoas, tabuado, cobertas, etc., eram feitas em pinho bravo. Como é que era feita a escolha da madeira? A escolha da madeira era feita depois de definido o tipo e a tonelagem da embarcação. Nessa altura, o próprio mestre construtor dirigia-se ao pinhal e fazia-se acompanhar, inclusivamente, pelos moldes a utilizar na construção da embarcação. Relativamente ao corte da madeira, ele devia ser executado, preferencialmente, no mês de Janeiro. No entanto, o mês de Agosto também era tido como um bom mês para cortar madeira. Porquê? Porque a madeira sendo cortada nessa altura tem determinadas qualidades que garantem uma maior duração à embarcação. No pinhal, quem é que escolhia as madeiras a utilizar na construção?


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MESTRE JOSÉ LOPES E SEU PAI MESTRE FRANCISCO LOPES

CORTE DE MADEIRA NO ESTALEIRO

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Neste estaleiro, inicialmente, a escolha da madeira era de inteira competência do meu pai, Mestre Francisco Lopes. Posteriormente, essa função foi-me atribuída. Geralmente, em todos os estaleiros, quem escolhe a madeira para a construção das embarcações é sempre o mestre construtor. No dia do corte da madeira, iam três ou quatro homens para o pinhal para executar os respectivos cortes. O corte das árvores era executado com um machado de carpinteiro e com um traçador, só ultimamente é que se passou a usar a moto-serra. Saliente-se que, ou para evitar confusão, ou caso houvesse necessidade de voltar no dia seguinte, as árvores eram marcadas, com uma pequena machada, com as iniciais do nome do mestre construtor. Por outro lado, também se indicava nas árvores as peças a que se destinavam. Habitualmente qual era o pinhal escolhido? Havia vários. O que se situava mais próximo do estaleiro, chamava-se pinhal das Formas e, como é de calcular, era onde íamos com mais frequência. Por vezes também recolhíamos madeira num pinhal da Quinta do Anjo, perto de Palmela. Outras vezes, por não existir madeira suficiente, éramos obrigados a recorrer a zonas mais distantes, como Salvaterra de Magos, Alcobaça ou Alcácer do Sal. A propósito da falta de madeira, caso não existisse pinho suficiente, qual era a outra espécie utilizada? Era raro o pinho faltar, mas quando tal acontecia, utilizávamos sobretudo o eucalipto e mais raramente, o sobreiro. Como é que era feito o transporte das madeiras, entre o local de corte e o estaleiro?


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MESTRE LOPES CORTANDO MADEIRAS

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Durante a década de 20 e de 30, antes da utilização dos “camions”, o transporte era realizado por carretas puxadas por bois. Posteriormente, a partir de finais da década de trinta, com o desenvolvimento dos transportes e da rede viária, a madeira passou a ser transportada por “camions”. Caso a madeira fosse recolhida no pinhal de Salvaterra de Magos, o seu transporte era efectuado por embarcações, já que o pinhal se encontrava mesmo junto ao rio. Mais tarde, passámos a ter um fornecedor certo. Chamava-se Casimiro Ribeiro e tinha um depósito de madeira em Penalva, no concelho do Barreiro. Primeiro, íamos a esse depósito escolher a madeira, depois, o fornecedor fazia a sua entrega no estaleiro. No estaleiro, como é que era feito o armazenamento da madeira? No estaleiro, parte das madeiras eram depositadas em água salgada, num recinto apropriado para este fim, com o objectivo de as tornar mais resistentes e duráveis. Havia alguma manutenção especial a dar? Mais ou menos. Depois da madeira ter estado alguns meses no recinto de água salgada, era retirada e serrada de forma a ser separada dos troncos e a dar-lhe uma primeira forma, de acordo com o tipo de peças a que se destinavam. Antes de se lhes dar a forma definitiva, as peças eram untadas com óleo de peixe ou óleo queimado, ou mesmo até com gasóleo. Relativamente ao processo construtivo de uma embarcação, o Mestre seleccionou estas peças, que se designam por moldes. Pode-nos dizer que peça é esta e qual o seu significado? Esta peça corresponde à ré de uma traineira, uma embarcação


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MESTRE LOPES TRABALHANDO COM O MACHADO

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com cerca de oito metros… esta parte chama-se a clara, e fica junto ao veio (furo do veio) onde trabalha o hélice. Aqui temos a rabada e ali é parte que se adapta ao leme. Depois temos o couço, e finalmente vem o cadaste. Portanto, estas peças são moldes, da roda de proa e de popa. Qual é a peça que se desenha primeiro? Isto é feito com a quilha em ligação à ré e à proa, assenta-se no plano, e depois desenham-se os corais, como está aqui explicado. Primeiro liga-se a roda de proa, depois junta-se o cadaste ao couço, sendo ambas as partes, de proa e de popa, ligados pela quilha. Estas são as primeiras peças a serem construídas, e só depois desenhamos o esqueleto do barco, de acordo com o que consta na grade. Trabalha-se com peças de pinho manso, as quais são metidas debaixo da grade onde são marcadas. O que significa cada linha dessas, desenhadas a lápis? Isto funciona como a planificação da embarcação… Começa ao centro e vai diminuindo para as partes delgadas, de proa e de popa. Cada linha aqui representada corresponde a uma caverna. O mestre ainda se lembra como é que chegou a cada uma destas marcações? Fez-se primeiro um molde. Não tem nenhum que nos possa mostrar? Não, o último barco construído foi vendido para Setúbal, e anda agora na pesca desportiva. Era uma bela embarcação e foi a última que construímos. Portanto, como estava dizendo, cada traço da grade corresponde a um elemento da estrutura transversal do barco, o esqueleto, e isto é o perfil…


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MOLDE DO COUCE MESTRE JOSÉ LOPES E PAULO RODRIGUES EM DIÁLOGO

MOLDE DA RODA DE PROA E A DA QUILHA

MOLDE DA RODA DE PROA E A ESCARVA QUE LIGA A QUILHA


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O mestre não era capaz de nos explicar, numa cartolina, como chegava à marcação da grade? Aqui não, então como é que vou saber! Trabalhava-se muito no método “de cércea e graminho”, no qual só se usava o molde. É possível o mestre mostrar-nos como funcionavam através de um desenho? Estes moldes já são diferentes desses (expõe os moldes no chão), é a roda de proa de uma pequena embarcação… Esta é a parte da ré. Então, agora vou explicar o que se passa… (inicia o desenho numa cartolina, onde inicia a elaboração de uma pequena embarcação) existem embarcações com várias dimensões, temos fragatas com cerca de vinte metros; canoas com cerca de dez a doze metros, mas o processo de construção era sempre o mesmo… Começa-se sempre por marcar o meio ou centro da embarcação. Imaginemos então uma fragata ou bote (inicia o desenho da roda de proa). Aqui é a roda de proa, depois o cadaste… neste caso iremos ter uma embarcação com menos calamento, que é o que está abaixo da linha de água. Até a linha de água chamamos o calado da embarcação… Suponhamos que quer uma embarcação que flutue em menos quantidade de água, esta linha ou se faz mais acima ou abaixo… Agora vou fazer já a boca, isto é feito a metade, depois introduz-se a outra metade, uma representa a proa e a outra representa a popa. Esta linha é a parte da que está a bombordo ou a estibordo (continuando a explicação). Aqui é a tal linha do calamento (outra fase do desenho), ou para mais água ou para menos, neste caso vou para o normal… depois assentava as primeiras cavernas em cima da quilha. Inicialmente, colocamos a caverna mestra. Ao centro levava quatro cavernas, de


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MOLDE DO CORAL DA PROA

GRADE

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acordo com tamanho da embarcação, e essas cavernas são mais ou menos iguais. Se é para calar mais água, dá-se mais pé à caverna, esta parte afasta da quilha… dando outro acesso aos delgados, acabam por ficar com uma forma mais cónica. Esta segunda linha significa o quê? Esta segunda linha, é a tal linha de fundo. Agora vamos ao cordeado. Suponhamos que é uma fragata, a roda de proa da fragata ou bote, aqui é a parte da ré (desenha)… Isto é difícil arranjar madeira para fazer estas partes inteiriças (referindo-se às peças maiores, à quilha que ligava a roda de proa à ré). Nesse caso, a solução é fazer uma escarva, que chamávamos escarva de dente. Deste modo, fazia-se uma escarva aqui, outra ali, e ligava-se a roda de proa à quilha. Entre a quilha e a roda de proa não há uma peça que faça a transição? Além da roda de proa, tem aqui uma contra roda. Depois tudo isto é ligado por parafusos. Depois de temos em baixo esta parte, colocava-se uma peça no interior, que vai servir de reforço e que se chama coral. Trata-se de uma peça robusta que, depois, vai receber o tabuado. O coral é para ser travado por umas cavilhas que o fixam à quilha. Neste caso, à popa, o processo é o mesmo, eu faço isto em fases… Agora vou fazer a primeira tábua do painel. Em que fase da construção era colocada esta tábua? Era logo na primeira… portanto, temos a quilha, as cavernas e o tabuado. Depois leva as armadouras. E para que serviam? Para servirem de mestras.


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Agora vou começar a perfilar aqui… Isto é já o tabuado do painel, estas são as cavernas e os braços, não se põe os braços sem as cavernas, o braço e a caverna eram logo pregados um no outro (exemplifica com um molde de madeira). Quantas cavernas são colocadas antes de fixar as armadouras? Meia dúzia para cada lado, e chamamos às últimas cavernas mancos. Portanto, colocamos a caverna mestra, que pode ser simples, ou levar logo dois braços duplos… dois braços duplos, a partir da caverna mestra. E a construção é metade para a ré e metade para vante, começa-se ao centro por exemplo um, dois, três, quatro… E corresponde à grade (molde). Mestre, as cavernas eram gravadas ou marcadas com um número? Não… isto tudo é feito através de um molde e com este molde faz-se o trabalho todo. Depois isto começa a ter uma pontuação, esta caverna assenta já em cima da quilha (quer dizer que a caverna já tem pé) e, logo aqui, tenho um ponto (no molde). O que temos que fazer é marcar… daqui nunca se pode fugir, é o ponto “fiche”2. Trata-se do ponto de fixação, para que não fique de um lado a mais e de outro a menos. Suponhamos que eu estou a marcar uma caverna com o molde, logo aqui (sob a madeira e molde) este risco e o outro representam o topo da caverna. A peça de madeira que vier, daqui, não pode fugir, senão fica o esqueleto do barco desequilibrado. Para isto resultar (no molde de madeira, a caverna com o braço ligado), se o braço não fosse feito pelo método “de cér-

2 Adoptou-se a transcrição da palavra fixe, tal como foi proferida pelo entrevistado no decorrer de uma das entrevistas.


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cea e graminho”, como é que se dava a volta a isto? Procurase o equilíbrio com o desenho do molde e vai ficar com a mesma configuração da outra caverna. Portanto, deste ponto não se pode fugir, mas quando se vai andando para a ré tem de se aumentar sempre, chegando a um ponto, quando é para a ré e para a vante, que fecham. Como é que o Mestre calcula quanto à redução do fundo e o levantamento de cada caverna? É com o molde, mas este tem de ter uma escala (exemplifica com o molde)… Este vai andando e subindo. A escala é esta, pelo método “de cércea e graminho”. Mas o graminho tem que ter uma escala. A escala é o desenho, é o que estou a fazer… Caverna A, B, C, ligado ao cordeado. Isto é a armadoura? É a armadoura, mas já com o cordeado. O que serve a armadoura é esta amura. É a armadoura que vai guiando as restantes cavernas, a armadoura é que manda. Depois já deixa de ser por graminho? As últimas já são feitas a gosto, com ajuda de uma série de armadouras. Quantas armadouras mete de início? As primeiras logo por cima, e as debaixo para apoio do cavername. Estas primeiras passam no fiche. Mas repare, nós chamamos armadouras às partes laterais que eram fixadas até que o barco estivesse preenchido pelo esqueleto.


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MOLDE DE CAVERNA

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As armadouras eram peças mais estreitas e delgadas que as tábuas do casco? Sim, são peças que têm que ser manejáveis. Isto é um processo do molde? Isto é o perfil. Tem o plano de vante e o plano de ré (desenha). Suponhamos que este é o plano de vante e aqui é o plano de ré (começa por tirar alguns pontos que vão dar o pé da caverna)… Suponhamos que isto é o plano de vante, e com esta pontuação obtém-se o pé da caverna. Como é que o Mestre chega a esta pontuação? Através do molde. O molde é sempre o mesmo e é ele que dá a pontuação. Como é que desenha o molde? Da forma como está no desenho. Esta é a primeira caverna. Suponhamos que já tínhamos que ir para o segundo ponto, da linha da quilha nunca se pode fugir, que é onde assentam as cavernas. Agora subo aqui, a linha vai subindo sempre, embora a parte do fundo vá adelgaçando… Suponhamos que estou a desenhar a parte de vante de uma fragata, este é já o ponto quatro, que vai parar ao mesmo sítio dos outros (quilha)… Assim, o processo também é utilizado para o plano de ré. Temos aqui um molde, e o desenho do seu fundo corresponde normalmente ao da caverna mestra… Aplicando este molde, o Mestre podia exemplificar como desenha a segunda caverna? Com o molde.


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MOLDE UTILIZADO NA TRAÇA DAS CAVERNAS

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É capaz de reproduzir a segunda caverna sobre a madeira? Isto é um molde grande. Logo aqui, deixamos um bocado a mais, de modo a encaminhar para o outro lado (reproduz a segunda caverna no papel), desenha-se o contorno do molde, a ponta fica sempre para encaminhar e aqui desenha-se o ponto fiche, que daqui não pode fugir… Suponhamos que aqui é o braço e agora vou desenhar a caverna. Voltando ao molde, tem que dar certo deste lado (desenhando-o no plano contrario) com o ponto fiche, faz de conta que já estou a desenhar em cima da caverna. Esta é uma. Com o mesmo molde, como é que desenhava a outra? O processo é sempre o mesmo. Mas a caverna tem que fechar. Como é que ela fecha? Nem fecha nem abre, isto tem de ser marcado rectangularmente, compreende. Depois do rectângulo é que se dão estes pontos (de volta aos planos de vante), isto agora tem outros traços para a ré… tem uma escala e obedece a um molde, com o qual se desenha até aos terços da embarcação. Depois do esqueleto estar pronto, chamamos-lhe cordear, só se corta quando a estrutura está feita e é feito tudo com um molde relativo à dimensão do barco, com o qual se faz o esqueleto. Vamos lá ver se eu percebi… Temos aqui o molde, isto corresponde à caverna mestra e ao respectivo braço, a segunda caverna terá que fechar um pouco. Como passa do primeiro molde para a segunda caverna? Senhor Paulo. Só tem mais um bocadinho de pé a mais e depois faz a configuração que eu já lhe expliquei.


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TRAÇADO DA RODA DE PROA

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O que eu gostava era que o Mestre me mostrasse, com o molde, como dava esse bocadinho de pé à segunda caverna. Vou-lhe explicar aqui no chão (exemplifica como dá inclinação às cavernas, desenhando-as no chão)… O molde é feito logo à dimensão do barco. Aqui é o braço e agora marco o ponto fiche. Aqui marco o topo da caverna e agora no projecto marco o centro, meço do ponto fiche para o centro, ficando a caverna igual de um lado e de outro. Agora é que vou desenhar a segunda. Suponhamos que vamos para uma caverna com pé, o braço já está marcado e não altera nada. O braço tem a mesma curva, o molde oscila um pouco em relação ao centro. Já lhe chamamos uma caverna com pé. Portanto, a segunda inclina assim? Sim, depois, já desenho sem alterar o braço da caverna. Portanto, em primeiro lugar desenho as cavernas mestras, depois tem a regra de boca… O braço, é sempre desenhado, pois a caverna é que muda. Mas oscilou com o molde. Como é que o braço fica? À partida este já fica marcado em cima, depois é dar inclinação ao pé. Vai sempre oscilando até a última caverna. A forma do braço nunca muda, tem sempre o mesmo arco? É sempre o mesmo arco até aos terços. Que é sempre a última caverna desenhada com o molde? Exactamente, os terços são ainda desenhados com o molde.


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EXPLICANDO A UTILIZAÇÃO DO GRAMINHO

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Como o Mestre já referiu, a partir daí até às extremidades, o resto do esqueleto da embarcação é construído com a ajuda de armadouras? Depois de colocados os primeiros braços (dos terços, suponho, já que estas cavernas e braços eram fixados previamente e não podiam ser os primeiros), fixavam-se imediatamente as armadouras. Mestre, recapitulando todo o processo de construção da embarcação… Agora isto já vai feito a olho. A primeira é a esquadria, desenho o centro na linha e marco o topo da caverna e o ponto fiche. Daqui nunca pode fugir senão nada feito… Aqui é a parte de cima da caverna e o ponto fiche. Agora vamos para o pé da caverna e vamos já aumentá-lo, depois o que está de um lado transfere-se para outro lado da caverna. Mestre, agora desenhe a segunda caverna. Só com o molde. Agora na escala tenho de aumentar um ponto, e começam a aparecer as madeiras em cima e a fechar. O “fiche” está sempre aqui? O” fiche” está no molde e sem o molde não se pode fazer. No plano geral da embarcação, o “fiche”, não corresponde a um traço que passa nesta zona, cruzando todas as linhas transversais? É sempre e está lá marcado, é o ponto de união. Desse ponto não se pode fugir, tenho aqui o livro onde está a escala… Vou-lhe dizer, passaram por aqui os melhores carpinteiros do país de construção naval e poucos faziam este trabalho. Eu apren-


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MESTRE LOPES RISCANDO PEÇAS

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di com o meu pai e dizem que era através deste processo que se faziam as naus dos descobrimentos. Foi um processo utilizado durante muitos anos. Esse bote do holandês, que aqui está, foi feito com este método “de cércea e graminho”, no tamanho natural. O que é o graminho? É para graminhar ou marcar. Marca a parte interior e com este bico risca e vinca, isto é só nas peças que utilizávamos (exemplifica numa peça de madeira) … Servia para graminhar. Esta era para medir? Era para riscar e graminhar. Para traçar paralelas. (Comentando a página 50 do livro “Barcos do Tejo: A fragata do Tejo e tipos relacionados” de Manuel Leitão). Estas peças são as sicordas, estas duas partes laterais a cinta grande, que a primeira é a montar-se, e depois a cinta pequena, ficando sempre com duas cintas… Depois a seguir a tábua de boca, a seguir a cinta grande, ao que se segue o entablamento todo até ao encolamentos dos braços com a caverna… Aqui nesta imagem já são os dormentes, primeiro, segundo e terceiro, existindo embarcações que só tinham dois, mas as maiores eram já com três e é a tal caverna. Lá está a amura por cima, onde já tem concluído o barbado e com o começo da cinta… Isto é os topos dos braços. (Comentando outra figura) Nesta parte saem as curvas que ligam estas peças ao banco onde fixa o mastro. Temos aqui o bote leão e o bote de meia quilha... No bote


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de meia quilha, esta tem que dar com a aresta, para calar menos água e tem o formato de bote, mas a caverna é assim. O mestre sabe-me dizer qual a função de cada embarcação (com base nas imagens do livro “Barcos do Tejo” de Manuel Leitão)? As fragatas, umas transportavam sal e produtos agrícolas, outras, ramas de pinho e madeira, na época em que os fornos em Lisboa funcionavam a lenha… Existiam os salineiros e as fragatas do Tejo. E as faluas? Eram usadas para transportar. Mestre. É capaz de nos dizer o seu nome e idade? José Francisco Lopes, oitenta e três anos feitos há dois meses. Quando começou a trabalhar nisto? Comecei como servente do meu pai aqui no estaleiro aos treze anos.


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A fonte bibliográfica de suporte ao presente Glossário é, salvo indicação contrária, a obra Dicionário da Linguagem de Marinha Antiga e Actual da autoria de LEITÃO, Humberto & LOPES, J. Vicente, edição do Centro de Estudos Históricos e Cartografia Antiga das Edições Culturais da Marinha, Lisboa – 3ª Edição, 1990. Os termos assinalados com (*), têm outro significado em contextos diferentes.


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Amura. A parte arredondada do navio, perto da roda de proa, a um e outro bordo, nas obras mortas do costado. Apostura. Os últimos braços de cada baliza, nos navios de madeira. Aresta. Linha horizontal que passa pelos bojos (Bote de meiaquilha). (LEITÃO, Manuel - Barcos do Tejo, 2002, p.96). Armadouras. Fasquias pregadas ao longo do esqueleto de um navio que está a ser construído e as quais se ligam as escoras para o manter em equilíbrio, estas são geralmente chamadas «armadouras de construção». Baliza. Peça curva de madeira ou feita de cantoneira metálica que, tendo os seus extremos inferiores ligados a quilha, se erguem simetricamente, a um e outro bordo para formarem a ossada do navio. São numeradas de vante para a ré; cada meia baliza de madeira é composta por «caverna», «braços» e «aposturas». Barbado. Peça de madeira que, à proa e à popa, reforçam exteriormente a falca das embarcações miúdas. Boca. A maior largura do navio ou embarcação. Bombordo. O bordo que fica à esquerda quando se está voltado para a proa. Bote*. Pequena embarcação a remos, mais pequena que um escaler, de grande boca em relação ao comprimento e que é usada no transporte de cargas leves, no serviço de compras e


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as vezes em limpezas e beneficiações do costado. Nome pelo qual é designado certo tipo de barco de pesca usado em determinados portos e cujas características variam de porto para porto. Bote de meia-quilha. Embarcação que apresenta o fundo fortemente abaulado e bojos volumosos. Na secção mestra é francamente côncavo. O bote de meia quilha é ligeiramente mais pequeno, de forma a navegar em zonas de menos água, calando menos devido ao seu tamanho mais reduzido, mas também porque os bojos bem cheios lhe proporcionam uma maior flutuabilidade em relação ao tamanho. (LEITÃO, Manuel - Barcos do Tejo, 2002, p. 96). Bote «Leão». Nome de um dos melhores exemplos dos botes rápidos utilizados pelos senhores da margem Sul do Tejo, nos séculos XVIII-XIX. (LEITÃO, Manuel - Barcos do Tejo, 2002, p. 105). Braços*. As partes das balizas que ficam entre as cavernas e as aposturas. Cadaste. Madeiro ou peça metálica, posta ao alto, ligada a quilha e que fecha pelo lado da popa, o esqueleto do navio. Calado. É a distância do ponto mais baixo da quilha à linha de água do navio, medida na vertical. // A altura de água necessária para o navio, nas condições em que se encontra, poder flutuar. Calamento. O mesmo que – calado.


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Calar… água*. Necessitar da quantidade de água para flutuar. Canoa*. Pequena embarcação de painel e de boca aberta empregada na pesca fluvial e costeira. // Pequena embarcação de fundo chato e formas cheias, que arma dois remos e é usada no Tejo para a pesca a linha. Alguns chamam-lhe canoa chata. Casco. É o corpo principal do navio, constituído pelo seu invólucro exterior que vai desde a quilha até à borda. Caverna*. A parte inferior e central de uma baliza, fixada à quilha, e a cujos extremos vão ligar os primeiros braços que continuam a baliza para cima. Caverna-mestra*. A caverna situada na altura da casa-mestra do navio. Cavername. O conjunto de balizas de um navio que formam o seu esqueleto ou ossada. Cavilha. Haste de metal, de secção circular, com cabeça em um dos extremos. Pode ser também em madeira, mas, então, a sua forma é troncocónica. Cinta*. Fiadas de tábuas grossas do forro exterior que corriam à altura dos pavimentos dos navios e a outras alturas. Cinta grande. Cinta acima da tábua de borda, nas embarcações de 4 cintas (2 em cada bordo). (LEITÃO, Manuel - Barcos do Tejo, 2002, p. 52-53).


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Cinta pequena. Cinta colocada junto à borda, nas embarcações de 4 cintas (2 em cada bordo). (LEITÃO, Manuel - Barcos do Tejo, 2002, p. 52-53). Clara*. (do hélice) Nos navios de um só hélice, o espaço onde este trabalha, e que fica entre o cadaste interior – atravessado pelo veio – e o exterior, que suporta o leme. Contra-roda. Vigota que pelo lado de dentro acompanha a roda de proa a todo o seu comprimento para a reforçar. Coral*. Curva robusta que, nos navios de madeira reforça pelo lado de dentro a ligação da roda de proa à quilha, e que tem a designação particular de «coral da roda»; ou aquela que reforça a ligação do cadaste à quilha e que tem o nome de «coral do cadaste». Cordear*. Marcar no topo de cada braço por meio de uma corda esticada. (LEITÃO, Manuel - Barcos do Tejo, 2002, p. 52) Couce. A extremidade inferior do cadaste, que liga à quilha, e também chamado «pé do cadaste». Ou extremo da quilha que liga ao cadaste. Ou extremidade inferior da roda de proa que liga à quilha, é também chamado «pé da roda». Couço. O mesmo que – couce. Delgado. As partes mais finas do casco do navio, à proa e à popa onde ele não faz bojo. Assim se diz – «delgado da proa» e «delgado da popa».


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Dormente. Fortes vigas de madeira que correm de popa à proa, ligadas às amuradas, a fim de travarem as balizas e servirem de apoio aos extremos dos vaus. Nas embarcações miúdas, são duas, uma a cada bordo, e servem de apoio às extremidades das bancadas. Encolamento*. União de dois madeiros efectuada pela ligação das suas faces, depois de convenientemente trabalhadas. Entablamento. Parte do costado, entre a tábua de borda e o encolamento. Escarva. Entalhe especial feito nos topos de duas peças de madeira para as emendar. Pode ser lisa ou lavada, de dente e de cunha. Escoa* (Escoas do fundo). Grossas tábuas pregadas interiormente no sentido do comprimento do navio, aos lados da sobrequilha, na altura das ligações dos braços às cavernas. O número de escoas regula entre dois e quatro. Esquadria. Cada uma das perpendiculares, levantadas pelos extremos da quilha, nos planos de construção dos navios. Esqueleto do navio. O conjunto da quilha, roda de proa, cadaste, baliza, vaus, etc., convenientemente ligados, e que servem de suportes às chapas ou tabuados do fundo, do costado, dos pavimentos e outras partes do navio. Estaleiro. Lugar em que se constroem e reparam navios ou embarcações, para o que tem oficinas, carreiras e tudo o mais


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que necessário. Nome que antigamente se dava ao plano inclinado próprio para a construção de embarcações. Estibordo. O lado direito do navio quando se está voltado para a proa. Falca. Tábua que corre de popa à proa numa embarcação miúda, pregada no alcatrate, e remata a borda. Falua. Embarcação de vela, usada no tráfego do rio Tejo, muito semelhante à fragata, mas de menores dimensões. // Embarcação empregada no tráfego dos rios, e às vezes em transporte de pessoal conjuntamente com material. Largava duas velas latinas triangulares. Fazer a gosto. Fazer à vontade do carpinteiro. Fazer a olho. Fazer sem a ajuda de qualquer plano ou desenho. Fragata. Embarcação empregada no Tejo, exclusivamente, em transporte de mercadorias, e que é de boca aberta, e popa de painel; arvora um mastro de boa altura inclinado para a ré, onde larga um grande latino quadrangular, com carangueja e à proa larga, uma ou duas velas. Fundo. A parte inferior do casco, abaixo do encolamento. Grade. Grelha de madeira para transferir a secção riscada no chão até ao lugar de construção. (LEITÃO, Manuel - Barcos do Tejo, 2002, p. 43. Graminho*. Instrumento usado por carpinteiros para traçar ris-


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cos paralelos à borda de uma tábua (Dicionário Houaiss, Lisboa – 2003). // Tábua que tem a escala para marcação dos moldes e peças individuais. (LEITÃO, Manuel - Barcos do Tejo, 2002, p. 43). Leme*. Peça móvel de madeira ou ferro, aguentada no cadaste e que se destina a manter o navio no rumo desejado. Compõe-se de «madre», «porta» e «cachola» ou «cabeça de leme». Levantamento*. Aumento da altura do pé de cada caverna, dado pela linha de fundo. Linha de fundo (Linha de pé). Curva que representa o bojo da embarcação vista de lado e em elevação; contém as alturas dos pés das cavernas; os pés são tirados da figura traçada e transferidos para a tábua que forma a escala ou graminho, para marcação dos moldes e peças avulsas (LEITÃO, Manuel Barcos do Tejo, 2002, p. 44). Manco*. Cada uma das peças de madeira que, nas popas de carro, ficam a um e a outro bordo e aonde vão fixar-se os extremos dos gios. Mestra. A principal, a que corresponde à maior secção transversal do navio. Método «de cércea e graminho». Método de riscar com moldes e uma escala especial (graminho). Molde (Cércea ou forma). Peça traçada a partir do desenho da embarcação, pelo método «de cércea e graminho», que vai servir para traçar todas as cavernas centrais e outras peças individuais.


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Painel* (da popa). Nas embarcações miúdas que não são de popa fechada, é a parte plana ligada à parte superior do cadaste, e onde vão ligar os topos de ré das tábuas do costado. Pé de caverna. A face da caverna que assenta sobre a quilha. Para outros autores, é não apenas a face, como a parte central da caverna que liga à quilha. Perfil. Vista em elevação, utilizada para cortar a estrutura axial do barco e mais tarde marcar o «tosado». (LEITÃO, Manuel - Barcos do Tejo, 2002, p. 44). Ponto*. Cada uma das porções que os pés de caverna aumentam, dadas pela linha de fundo. Levantamento da caverna. Ponto «fiche». Ponto de rotação da caverna, para marcar o pé com o respectivo ponto. Pontuação. Valor do ponto (levantamento) de cada caverna. Popa. A parte de um navio ou embarcação oposta à proa. Proa. A parte anterior do navio. Quilha. É nas construções de madeira, uma forte viga ou vários troços – denominados «talhões da quilha», escarvados pelas extremidades uns nos outros, disposta no sentido do comprimento do navio e que lhe fecha a ossada inferiormente. Rabada. A popa do navio.


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Ré. O lado da popa. Roda de proa. O conjunto de várias peças, convenientemente ligadas que se seguem à quilha e fecham a ossada do navio pela parte de vante. Salineiro. Embarcação para o transporte de sal. Sicordas. Vigas dispostas no sentido longitudinal do navio ás quais vão ligar os extremos dos vaus interrompidos, pela abertura de qualquer escotilha. Nome que alguns davam aos dormentes. Tábua de boca. Tábua de canto cortado, junto à borda. Tabuado. Série de tábuas que formam superfícies de madeira, tais como um costado ou um pavimento. Terços. Limite das cavernas traçadas pelo método «de cércea e graminho». Para vante e ré dos terços as cavernas são traçadas «a gosto» do carpinteiro. Traineira. Embarcação motorizada, com rede para arrastar para bordo. Embarcação de remos de pequena boca em relação ao comprimento que pode arvorar um mastro a vante da última bancada da proa, muito inclinado para a ré, e onde arma uma vela de pendão. (Leitão, 1990, P. 515). Vante. Aparte do navio que fica para o lado da proa. Veio (do hélice). Forte veio ligado ao veio das manivelas e em cuja extremidade está montado o hélice.


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NO CAPÍTULO DAS FONTES é inevitável citar dois autores, que contribuem através dos seus estudos para a compreensão, ao nível do conhecimento teórico do uso dos moldes e do graminho na construção naval. Refira-se pois o Padre António Oliveira (Livro da Fabrica das Naus – 1580) e João Batista Lavanha (Livro primeiro de Architectura Naval 1608), ambos constituem obras de referência, devido a serem os primeiros tratados de construção naval escritos em português. Apesar da diferença de cerca de trinta anos entre o primeiro e o segundo, não diferem em termos conceptuais, da construção de embarcações com uso do molde associado ao graminho. O graminho é descrito no tratado do Padre António Oliveira, como uma escala que permite calcular a progressiva redução do fundo e progressivo levantamento entre almogamas, o mesmo autor aconselha para o efeito o uso do graminho de besta. Na fase de redução do fundo e levantamento de cavernas e fundamental a execução do molde da caverna mestra, onde na base do eixo da caverna, é colocada uma escala de valores respeitantes a redução do fundo de cada uma das cavernas. A escala respeitante ao levantamento das cavernas, é colocada numa régua separada com a largura da quilha, já a redução do fundo e levantamento das cavernas, é segundo o autor, feita separadamente de forma a que o navio tenha formas diferentes a proa e a popa. João Batista Lavanha explica também os processos conceptuais da construção naval através do uso do molde e do graminho. Na sua obra “Livro primeiro da Architectura naval”, expõe os processos construtivos das embarcações as quais apresentam ao nível do processo conceptual grandes semelhanças com as descritas, na obra do padre António Oliveira. Em relação ao uso do graminho, o


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autor descreve o uso deste em régua diferente, sendo a redução do fundo da caverna reproduzida no fundo da caverna mestra. Após execução do molde da caverna mestra e de acertado com a régua do graminho, respeitante ao valor do levantamento das cavernas, tem inicio o processo construtivo. No processo de Lavanha, como foi referido anteriormente, é colocada uma régua com a escala do graminho, por baixo do molde da caverna mestra, a traça de cada caverna é feita em sincronia pelos dois instrumentos, régua de graminho e molde da caverna mestra. Num movimento o molde desloca-se colocando o ponto pretendido. Neste caso no que diz respeito a almogama alinhando com a linha central desenhada na tábua, provocando a redução do fundo da caverna. O traço do graminho corresponde ao levantamento da almogama, é o último da escala, ponto de onde vai sair o traço do desenho até ao ponto limite do fundo da caverna. A par dos dois autores citados anteriormente e das respectivas obras, há a salientar o nome de Manoel Fernadez e a sua obra, trata-se de um regimento de construção naval escrito em 1616, de mais de duas dezenas de navios de várias categorias, tratando-se neste contexto de uma importante fonte escrita (cujo exemplar encontra-se na biblioteca da Ajuda). O carácter fundamental da obra de Manoel Fernadez reside no facto, das características praticas e explicativas que apresenta, devido as indicações e noções na arte de construção naval abrangendo uma grande diversidade de embarcações de diferentes portes, que vão desde a Nau de quatro cobertas, ao esquife. Tal como os autores anteriores também Fernadez dedica importantes noções a técnica construtiva de cércea e graminho, contribuindo para o conhecimento actual da mesma.


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ALVES, Francisco, RODRIGUES, Paulo, SILVA, Teresa e GODINHO, Jorge, Relatório dos trabalhos de registo efectuados no estaleiro do Gaio/Rosário, no âmbito do Protocolo de Cooperação celebrado entre a Câmara Municipal da moita e o Instituto Português de Arqueologia, Trabalhos do CNANS 23, Lisboa, I.P.A. / C.N.A.N.S., 2004 CARRASCO, Estêvão e PERES, Alberto, Barcos do Tejo, Lisboa, Edições INAPA, 1997 CASTANHEIRA, Edmundo, Manual de Construção do Navio de Madeira, Lisboa, Dinalivro, 1991 GONÇALVES, Luís Jorge, A Moita, os barcos e o Tejo, Moita, Departamento de Acção Sócio-cultural / Câmara Municipal da Moita, 1993 LEITÃO, Humberto e LOPES, J. Vicente, Dicionário da linguagem de Marinha Antiga e Actual, Lisboa, Edições Culturais da Marinha, 1990. LEITÃO, Manuel, Barcos do Tejo: A fragata do Tejo e tipos relacionados, Lisboa, Museu da Marinha, 2002. SILVA, José Luís, RODRIGUES, Paulo e ALVES, Francisco, Inventário do património do Concelho da Moita – O estaleiro do Gaio / Rosário – Inventário das ferramentas, Trabalhos do CNANS 34, Lisboa, I.P.A. / C.N.A.N.S., 2005 SOUZA, João de, Caderno de Todos os Barcos do Tejo, Lisboa, Edição Fac-similada da Câmara Municipal de Lisboa, 1982.


Livro Mestre Lopes 2 OK

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ENTREVISTA AO MESTRE JOSÉ LOPES

ESTALEIRO NAVAL DO GAIO

CÂMARA MUNICIPAL DA MOITA

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ALVES, Francisco, RODRIGUES, Paulo, SILVA, Teresa e GODINHO, Jorge, Relatório dos trabalhos de registo efectuados no estaleiro do Gaio/Rosário, no âmbito do Protocolo de Cooperação celebrado entre a Câmara Municipal da moita e o Instituto Português de Arqueologia, Trabalhos do CNANS 23, Lisboa, I.P.A. / C.N.A.N.S., 2004 CARRASCO, Estêvão e PERES, Alberto, Barcos do Tejo, Lisboa, Edições INAPA, 1997 CASTANHEIRA, Edmundo, Manual de Construção do Navio de Madeira, Lisboa, Dinalivro, 1991 GONÇALVES, Luís Jorge, A Moita, os barcos e o Tejo, Moita, Departamento de Acção Sócio-cultural / Câmara Municipal da Moita, 1993 LEITÃO, Humberto e LOPES, J. Vicente, Dicionário da linguagem de Marinha Antiga e Actual, Lisboa, Edições Culturais da Marinha, 1990. LEITÃO, Manuel, Barcos do Tejo: A fragata do Tejo e tipos relacionados, Lisboa, Museu da Marinha, 2002. SILVA, José Luís, RODRIGUES, Paulo e ALVES, Francisco, Inventário do património do Concelho da Moita – O estaleiro do Gaio / Rosário – Inventário das ferramentas, Trabalhos do CNANS 34, Lisboa, I.P.A. / C.N.A.N.S., 2005 SOUZA, João de, Caderno de Todos os Barcos do Tejo, Lisboa, Edição Fac-similada da Câmara Municipal de Lisboa, 1982.


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