Poetas Nossos Munícipes - 4ª Edição

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POETAS NOSSOS MUNÍCIPES 4ª EDIÇÃO



FICHA TÉCNICA TÍTULO: POETAS NOSSOS MUNÍCIPES EDIÇÃO: Câmara Municipal da Moita

PROJETO GRÁFICO: Carlos Jorge

DATA DA EDIÇÃO: dezembro de 2019

TIRAGEM: 300 exemplares

IMPRESSÃO: ??????????????????? ISBN: 978-989-54449-7-7

Depósito Legal n.º: 000000000000000


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ÍNDICE

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ADRIANO MANUEL SOARES ENCARNAÇÃO ESTE RIO A VISITA BALEIZÃO CEIFEIRAS VENTOS

13 14 15 17 18 19

ANA ALEXANDRA BALTAZAR BATE SERÁ AMOR ROSA VIDA CONTRATEMPO MEU MEL

21 22 23 24 26

ANA MARTINS VENTURA A FLORESTA ARQUITECTO DESPEDIDA DO POETA

27 29 30 31

ANTÓNIO AUGUSTO GOMES SANTANA OUTRO TEMPO – AO FERNANDO PESSOA AOS MEUS AMORES O OUTRO UNIVERSO SONHANDO MARCHA FÚNEBRE!

33 34 36 38 40 42

BRUNA GRAÇA SEREI RAINHA AMOR NÃO TEM IMAGEM PORQUE É QUE CONTINUO A NAVEGAR SUSSURRAMOS DE PEITO ABERTO MINHA ESTRELA-DO-MAR

45 46 47 48 49 50

CARLOS ALBERTO MARTINS DE ASSUNÇÃO EIRA MEDIEVAL O CARIMBO FADO

51 52 53 54

CARLOS MANUEL MARIA RODRIGUES A MÚSICA DO TEMPO JÁ NÃO VEJO O RIO DE ÁGUAS CRISTALINAS O POETA E A LUA VAI UMA RODADA VOZES

57 59 60 61 62 63


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CÁTIA NUNES LIBERDADE É UMA MENINA QUE VIVE NO TEU CORAÇÃO… SER CRIANÇA É SER GRANDE NEM MAIS UMA GOTA DE SANGUE QUEM SE LEMBRA DAS EIRAS?

65 68 70 71 72

CELINA MARQUES FIGUEIREDO NEGAÇÃO

73 76

ÉLIA MARIA SILVA MADEIRA FUI TUA DIVAGAR LUGAR MÁGICO

JOÃO MARTINS A BESTA ESCOICINHA A CONTRA DANÇA COMO EU ERA, COMO EU ESTOU O CAIXÃO NÃO TEM GAVETA RECORDAÇÕES

119 120 121 122 123 124

79 80 81 82

JOAQUIM PAULINO HIPOCRISIA… ALENTEJO FINGIDOR QUANDO VOS DEIXAR... OS TRÊS AMORES DA MINHA VIDA

125 127 128 129 130 131

ESTER MARIA PEREIRA DA SILVA AFONSO É TÃO MARCANTE O MAR FALSOS SENTIMENTOS O BOA VIAGEM DEIXAR FLUIR O PENSAMENTO

83 85 86 87 88 89

JOSÉ SILVA RAMOS AS PORTAS DE ABRIL MENINO DA RUA POETA LOUCO A VIÚVA PROMESSAS

133 134 135 136 137 138

FERNANDO EDUARDO ISIDRO PATINHA TEORIA TORMENTA GUERRA SANTA DECADÊNCIA FILME NEGRO

91 92 93 94 95 96

LEONEL EUSÉBIO COELHO SE SEMPRE PARA FLORBELA ESPANCA AO CANDIDATO A POETA ELA VEM VINDO

139 143 144 145 146 147

FRANCISCA SILVA GODINHO PRIMEIRO POEMA DE 2016 – “JÁ TARDAVA” PRIMAVERA DOIS MIL E DEZASSETE DESESPERO FARRAPOS DE UMA VIDA POEMA ABSTRATO

97 100 102 103 104 105

MANUEL ALEXANDRE BENTO BORRACHA A IGNORÂNCIA MOTE FONTE DIVINA PRIMAVERA PALAVRA DE FORÇA

149 150 151 152 153 154

HELENA CRISTINA ROSÁRIO MARTA JULGAMENTO DE AMOR RETALHOS DE UMA VIDA SOU A FORÇA DO VENTO LEVANTA-TE MULHER AMOR PROIBIDO

107 108 109 110 111 112

MARIA AMÉLIA ASSUNÇÃO MILITÃO GAZELA VIDA ÁGUAS PROFUNDAS RISO DE CRIANÇA

155 156 157 158

HERMÍNIO DA CRUZ GOMES DESMISTIFICAÇÃO DUM PIGMEU PARA UM GIGANTE INJUSTIÇA VIAGEM INFRUTÍFERA MOMENTO

113 114 115 116 117 118

MARIA DE FÁTIMA BIMBA FLORES A ÁGUA – GRITO DE ALERTA O MEU RETRATO PSICOLÓGICO DESENTENDIMENTOS ENTRE AS QUATRO ESTAÇÕES DO ANO SONETO: NATAL É ESPERANÇA AO LAR DE SARILHOS PEQUENOS

159 161 162 163 164 165


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MARIA ODETE DE JESUS DELGADO LOPES O SERMÃO A UM PAI O MENINO E SUA MÃE COMODISMO LOUCURA

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MARIA TOMÁSIA MORAIS CAMÕES O SONHO ALENTEJO MEU PORQUÊ? A REALIDADE MEU QUERIDO PAI

175 176 177 178 179 180

MARIETA NOGUEIRA MENDONÇA MOREIRA VIDA QUEM SOU A MINHA NORA ROSÁRIO SANTOS POPULARES

183 185 186 187 188 189

NELSON FREITAS DA SILVA – CACIMBUÉ ACORDA! MATILDE DA KANÂMBULA KALUANDA JOÃOZINHO DA SAMBA O VELHO MERCADO DA GINGUBA

191 193 194 195 196 197

RODRIGO CAPELO II: OLHE QUE EU III: CORRO, CORRO, CORRO V: QUERO COLECIONAR TODOS OS JOGADORES VI: DEIXA-ME VII: NINGUÉM QUE PASSEIA O CÃO VAI CONTENTE

199 200 202 203 204 205

RUTE MARIA DOS SANTOS CORREIA TAVARES AR FOGO ÁGUA

207 208 209 211

RUTE PIO LOPES POUSIO ABRAÇOS (DUETO) LUAR DE AGOSTO NUANCES DEMORA

213 215 216 217 218 219



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NOTA DE ABERTURA

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e dois em dois anos realiza-se o projeto Poetas Nossos Munícipes. A par da sua importância e regularidade, estão os projetos, também editoriais, Pequenos Poetas que é dirigido a todas as crianças e jovens dos níveis de ensino no município, e a Editora Local que se destina à publicação de livros dos munícipes de forma gratuita, sendo a organização de um grupo de trabalho dos Organismos Populares de Base da União de Freguesias da Baixa da Banheira e Vale da Amoreira com o qual a Câmara Municipal da Moita estabelece uma parceria profícua. Com o objetivo de distinguir uma obra de poesia e o seu autor, a Câmara Municipal da Moita e as Edições Esgotadas constituíram o Prémio Nacional de Poesia Joaquim Pessoa, poeta português ímpar na história e criado no concelho. Este conjunto de projetos que resultam na publicação de livros com o propósito de promover a Expressão e a Criação dos munícipes são, no entanto, a ponta de um iceberg ou uma pequena parte de todo o trabalho efetuado pela nossa Rede de Bibliotecas no Município, no qual o indivíduo, o seu bem-estar e a sua cultura integral, são o nosso foco para uma vivência de felicidade. Um agradecimento especial ao André Consciência e à Ana Josefa, jurados nesta edição, pelo carinho e dedicação que colocaram neste trabalho.

DANIEL FIGUEIREDO VICE PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DA MOITA


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PREAMBULO

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ma terra é feita disso mesmo, do território, do que cresce em determinado solo e do que não cresce, do que advém das águas e do que não aportam. Entre estas e combinando-as edifica-se a cultura, a cultura do que se cultiva com a terra e com o rio, que é também e inevitavelmente o que se leva a crescer com o espírito, a dançante camada humana. Há algo de indizível no chão que se pisa, na cabeça que se ergue e no esgar com que se olha para o futuro, para o presente e para o passado. Sobre este inominável é que se erigem os equipamentos, as moradas, as estradas e as ruas, os campos e é que os pés desbastam os caminhos bravios com a selvagem bravura da vivência. Da mesma forma a palavra, responsável pela lei, pela política e até pela religião, nasce primeiro da voz, e nem a política, nem a lei, nem a religião, a conseguem articular como uma coisa inteira e completa. A poesia, por sua vez, engana a palavra, que é a sua ferramenta, e em seu detrimento procura desnudá-la até à canção, à origem. Berço, origem. A terra e a voz. Como dois canais de uma só coisa. Mas ainda são só palavras, os nossos poetas é que são mais. Os nossos poetas é que se elevam, copas de árvore na música dos quatro ventos. Elevam-se acima do afã cego, sedento e para sempre por saciar da civilização, e acima do cio vingativo e egoísta da palavra, rebaixam-se, a ser o vulto crispado da pedra, sombra de pastor petrificada pelo sol, raio fulgurante da memória e do provir, raiz e coroa da vida. Sim, estes poetas são nossos munícipes, sob administração dos direitos e deveres assegurados pelo nosso município. Mas chegam, um clangor celeste, um marulhar de águas, vestidos de sangue e luz, com voz nas mãos lavadas de terra, e o município escuta, torna-se escriba.

ANDRÉ CONSCIÊNCIA



ADRIANO MANUEL SOARES ENCARNAÇÃO Nasci no ano de 1949. No Alentejo, na imensidão/solidão das planícies do pão e das gentes boas e humildes. Viana do Alentejo viu-me nascer e Cuba viu-me crescer, onde fiz a instrução primária. A Baixa da Banheira adoptou-me ainda adolescente, educou-me e transmitiu-me valores de resistência e liberdade. Aqui casei, aqui nasceram os meus filhos, aqui tenho os meus amigos, companheiros e camaradas. Aqui aprendi os verdadeiros valores da solidariedade. Aqui aprendi a respeitar e valorizar a dignidade humana. – Da poesia guardo as recordações dos serões entre amigos e familiares. – Com os Poetas aprendi a olhar o mundo! – Com os Homens aprendi a lutar e resistir!

Este rio onde navego Na jangada da história


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ESTE RIO Este rio onde navego Na jangada da revolta Da corrente que se solta No mundo que não enxergo Este rio onde navego Na jangada da história Perpetuo na memória Visões de um olhar cego Este rio onde navego Na jangada que não tarde De rumar à liberdade No desejo a que me apego Este rio onde navego Na jangada rumo ao mundo No sopé do mais profundo Amor a que me aconchego Este rio onde navego Na jangada do meu povo Sorriso aberto de novo Do povo que me não nego …este rio que é meu país …que persiste em ser feliz


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A VISITA Na transparência do vidro Olhos fixos, um bater descompassado do coração A liberdade amordaçada Por entre as grades da prisão O caminho era tão longo e triste …o destino Aljube, Caxias Peniche Tão perto de um sorriso Tão distante de um abraço Só o olhar, falava a voz do coração Nem a teimosia de uma lágrima Nem uma contida emoção!… …era tão longo e triste o caminho da prisão Aquela estátua/ monstro(guarda) Perscrutando o soluço calado de criança Imagens gravadas na lembrança De tanto que havia por dizer (voz calada) – E contudo o rosto erguido da coragem Alimentava a força da imagem Do pensamento abraçado da vontade …estamos aqui! companheiro!, pai,! filho,! camarada! O teu grito à Liberdade Será hino ecoando n’alvorada! …era tão longo e triste o caminho da prisão

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…trazendo à luz questões prementes sobre a memória e o esquecimento. (Susana S. Dias – Luz Obscura)


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Com lágrimas de revolta e dor Secadas na força da liberdade e do amor Na penumbra da prisão, Restava apenas solidão …e era tão longo e triste o caminho da prisão


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BALEIZÃO Ai Baleizão, Baleizão Ai terra baleizoeira És terra de luta e pão de grito revolta razão Liberdade Sementeira Ai Baleizão, Baleizão Terra morte de ceifeira Mulher força companheira em luta de voz inteira és Baleizão, Baleizão és terra baleizoeira de povo/ gente coragem Ombro com ombro Irmão com irmão És terra de um só cante És Baleizão, Baleizão És terra baleizoeira de vanguarda/fileira Punho erguido revolução És terra baleizoeira És Baleizão, Baleizão ...em memória do meu amigo Francisco Patrício, “baleizoeiro Chico Cristina”

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CEIFEIRAS Ainda cedo rompendo a madrugada Vão coloridos ranchos de ceifeiras Em azáfama, percorrida de voz calada Formigando no carreiro como obreiras Corpos curvados, cansados Esperando a jornada que não passa Imitando sorrisos, tão sonhados Formigando no carreiro, rumo a casa Muito ao longe no horizonte da campina Cresce uma vontade que se envolta Num uníssono grito a Catarina Formigando no carreiro da revolta


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VENTOS Sopros de vento norte Frio e forte Em acutilantes tempestades Unindo corpos / vontades Procurando por bonanças Em horizontes de esperanças Suave e quente vento sul Trazendo vozes calmas Embaladas Num mar azul Espraiando Ondas de verdes espigas Abraçadas/enlaçadas Ventos de sonho e liberdade Lufadas de frescura, amor e vida Sopro de vento, em coração que arde Em labareda ateada de paixão sentida …a força do vento …trás sopros de alento

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ANA ALEXANDRA BALTAZAR BATE Chamo-me Ana Alexandra Baltazar Bate, nasci a 10 de abril de 1976. Foi na Freguesia de Campolide que cresci, brinquei e estudei. Desde pequenina que comecei a conhecer a Moita, mais propriamente o Gaio-Rosário. Pois a minha mãe é da terra e foi onde passei muitas das minhas férias e fins-de-semana. E agora é o local que escolhi para viver, à sensivelmente 3 anos. Na minha adolescência/ juventude o teatro e a dança eram os meus hobbies de eleição. Integrei um grupo de dança e teatro. Cheguei a escrever textos para peças de teatro infantil. Algo que adorei! A escrita para mim é um hobby, é o meu refúgio, um mundo só meu, onde me posso expressar com toda a liberdade, sem compromisso, somente para me sentir bem. Tudo para mim é inspiração, o mar, o sol e sobretudo a noite...a noite é mágica e muito inspiradora.

Naquela noite em que me perdi, Metade de mim se foi E a outra parte, a lado nenhum


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SERÁ AMOR Se um dia te sonhei?' Não sei! Mas sonhei-te Nos sonhos dos meus Céus Sonhos de ti farei - os meus Serás tu um rei, um Deus Sem nada p'ra te dar Somente a minha alma Tenho p'ra te entregar Entrego-me! Esta é a condição A pureza do meu coração Se um dia te sonhei Acorda-me, porque sim Sonhei-te ali E quero-te aqui Agora no presente Sem pressa de nada Com promessas sem pressas Cumprirei sem que me peças Mil e um desejos Uma dança de beijos Bordados a ouro e prata Ser a maré da tua fragata Jamais te sonhei assim Meu Cristo, minha inspiração Vem p'ra vida, vem até mim Aperta com força a minha mão Olha no fundo do meu olhar Lês: – Homem, és o complemento do verbo Amar!


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ROSA VIDA Pétala a Pétala, rosa de meu jardim Desfolharam-te uma a uma até ao fim Flor branca cristal brilhaste-me solidão Devolveste-me ternura rosa dentro de mim Deste de teu cheiro único Manhãs perfumadas sem odores de nada Deste vida alento coragem, Com tua delicadeza, rosa flor Naquela noite em que me perdi, metade de mim se foi E a outra parte, a lado nenhum Se não te olhasse pela última vez Minha alma partiria de meu corpo Ficaria longe do teu belo brilho De tudo que lembrasse vida! E olhando para ti, seca Enrugada, velha, tal como eu Que viveu doçuras amargas Dezenas de histórias pitorescas p'ra contar Ficaria em paz, se tal como eu Renascesses outra vez Até meus olhos se fecharem E não te puder mais olhar Com a graça de Deus Te coloco aqui de meu lado Numa jarra de saudades doces Forrada de lembranças douradas Minha luz, companhia em cada madrugada!

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CONTRATEMPO O tic tac do relógio Não me deixa abrandar Levanta-se-me o corpo da palha É hora do café para o dia começar! Raios de sol, coriscos de limão Já vais a mais de meio E eu suando de enxada na mão! O ra cá cá da barriga aperta Lá vai a bucha encher o saco E a vinhaça na medida certa! Pança cheia, olhar semi-fechado Nem enxada! Qual machado? O calor é tanto "a quanto obrigas" Vai; deita-te oh corpo fatigado! Chilrear da passarada em bando Avista-se! Horas de me levantar Que ainda há tanto que lavrar E eu aqui parado não ando, nem desando! Nem sei se vá lá p'ro campo Ou se fique debaixo do telheiro Porque as horas que estás parado Sabe-te bem, mas não enche mealheiro!


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– Arrebita-me esse rabo Xavier! Grita-me o caseiro: "– Põe-te a mexer!" É melhor ires completar serviço Se não, nem pão, nem chouriço! Tic tac! Tic tac! Sol-pôr! Pôr-do-sol! Hora do fado ou rock n' roll! Ficai com Deus, hoje não, estou mole!

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MEU MEL Um pôr de sol se desvaneia Se entrega na imensidão deste mar Sem pressa alguma em me deitar Permaneço imóvel no manto de areia! Corre a brisa em tua direcção Leva meus presos pensamentos A quem julga ter meu coração Que me amargo em meus lençóis Direitos, frios de sentimentos Buscas em mim o horizonte Pôr de sol bordado a ouro Trágica secura que me leva à fonte Mata-me a sede com tua frescura Desfia-me magias, sem agouro Neste mar cristalino de mil sais Há marinheiros cá e além piratas Que cantam magias e serenatas Prometem joias em troca de cais Serei tesouro de prata e diamante Estou tão largada e distante À deriva na dádiva do teu olhar Cura-me a amargura desta secura Vem ser meu doce mel, salgado mar!


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ANA MARTINS VENTURA Ana Martins Ventura vive no concelho da Moita há 35 anos embora com muitas e boas interrupções. Os seus primeiros passos na escrita e no jornalismo surgiram aos oito anos, quando começou a produzir para o jornal da escola as suas primeiras e simples histórias de Natal, entre outras aventuras. A primeira publicação distinguida aconteceu aos 16 anos, no Concurso de Poesia organizado pela Escola Secundária Augusto Cabrita. Evento em que conquistou o 1º lugar com um soneto, assinando pela primeira vez o pseudónimo Guynevere. Nos anos seguintes a escrita e a literatura continuaram a acompanhar a sua vida, no entanto, guardadas entre estantes e gavetas. Em 2007 completou a licenciatura em Comunicação Social e iniciou a sua carreira profissional na área de assessoria, na Fundação para a Computação Científica Nacional. Porque a Ciência é um desafio e a Arte é uma paixão, em 2011 abraçou um novo projecto na Direcção de Serviços de Educação Artística e Multimédia, no Governo Regional da Madeira. Período em que produziu e editou 250 biografias sobre músicos com influência naquela região autónoma, no continente e em outros pontos da Europa. De 2011 a 2012 foi também autora de críticas literárias publicadas no Jornal da Madeira e reportagens sobre as várias vertentes da Arte, Cultura e Etnografia. Em 2013 a Ciência regressa à sua vida com a participação num projecto de educação ambiental desenvolvido no Museu de História Natural do Funchal. A Ciência mantém-se na sua vida profissional quando, em 2014, abraça o desafio de um novo estágio para especialização profissional na Casa de la Ciencia, em Sevilha.


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Ao longo destes anos a poesia não ficou esquecida e iniciou a participação nos projectos especiais da Chiado Editora, como a “Antologia de Poesia Entre o Sono e o Sonho”, “Três quartos de um amor” e “Liberdade”. Hoje, dedicada ao jornalismo, vive com a escrita na alma e teve o seu trabalho reconhecido em Agosto deste ano, com o Prémio de Jornalismo “Analisar a Pobreza na Imprensa”, atribuído pela EAPN Portugal – Rede Europeia Anti Pobreza, à reportagem “Esta é uma vitória nossa”. Um retracto dos primeiros realojamentos dos moradores do Bairro da Jamaica, no Seixal, apenas possível concretizar com a parceria do fotojornalista Alex Gaspar, e que valeu para ambos o 1º lugar na categoria Imprensa Regional.

Houve o que comer. Houve sombra. E houve água. Onde? No caminho Ignorado


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A FLORESTA Caminho entre copas fechadas, a luz cortada inunda a escuridão. De tempo a tempo vislumbra-se o colorido de uma flor, o rasto de uma criatura. O caminho tem tudo para ser belo. Perfeito. Mas não me importa. Nem perco tempo em reflexões que o apreciem. Ao fundo, imagino, não sei bem onde, está o mar. Ouço-o daqui, deste ponto da vereda. Lá onde as ondas distantes rebentam. Só aquele destino importa. Corro. Subo encostas. Fujo das feras. Ignoro o riacho e a água fresca. Só uma água importa. Corro. Corro. E nem um rochedo impede a minha chegada. Do outro lado está o destino. Mar. Paisagem perfeita. Areal e água sem fim. Encho-me dessa praia. Agarro punhados de areia. Mergulho a braçadas soltas. Como esperava este lugar... Aparece uma sede e esta água não a mata. O sol sobe inclemente. Não tenho abrigo. A fome chega. E não há um engenho para a matar. Primeiro impulso. Estou em terra estéril. Não. Houve o que comer. Houve sombra. E houve água. Onde? No caminho ignorado.

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ARQUITECTO Não sei se gosto dele. Ele passa antigo e senhor. Arrogante na sua sabedoria. Arquitecto das coisas certas no lugar certo. Ele tem o poder da recordação e do esquecimento. Preserva sonhos, paixões. Amor. Apaga dores. Tranquiliza dúvidas. Dependentes dele esperamos de si a solução certa E queremos sempre mais um pouco. Mas ele corre livre. Sempre à frente. Quisera alcança-lo, lado-a-lado, e perguntar o que todos querem perguntar. Como ousas? Que afrontamento é esse de passar o quanto te apetece? Devias ficar parado! Podes parar um instante, por favor?! É que eu preciso ver! É que eu, todos, precisamos sempre de mais... Tempo.


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DESPEDIDA DO POETA

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Pousei a caneta sobre a mesa. Folheei o caderno. Encontrei-me com frases de ontem. Palavras sentidas e palavras vazias de sentidos. Escritas para me agradar, quando queria imaginar como era sentir. Parei em páginas de viagens com destinos que nem mesmo vi. Viagens da imaginação, do tempo em que imaginava o mundo sob os meus pés. Voltei a página e encontrei outra viagem. Essa a verdadeira aventura. A viagem pela Vida. O encontro da Morte. Foi a página da despedida de alguém. Partiu sem tempo de escrever a sua aventura. Os meus dedos andaram pelo velho caderno até encontrarem uma página branca. Perdida. Elogio da ironia. A página que o meu caderno guardou para a minha despedida. Uma página só? Não posso escrever todos os 'Adeus' e todas as palavras escondidas numa só página! Há tanto em mim por dizer. Até que... Não preciso escrever 'Adeus'. Não preciso escrever se vivi. Quem olhou para além do corpo sabe o que há em mim por dizer. Quem leu as minhas palavras sabe o mundo que elas guardam. Escrevi então, numa página toda, a palavra única, que não precisa de enfeite algum. ‘Senti’.



ANTÓNIO AUGUSTO GOMES SANTANA António Augusto Gomes Santana, natural de Lisboa, freguesia do Socorro nasceu a 2 de março a 1968. Filho de Vitorino Calado Santana e Maria Leonor Calado Gomes Santana. Desde muito cedo lhe desperta o interesse pelas artes das letras ou seja: Da prosa da poesia da quadra do soneto da ode. Escrevendo assim desde a adolescência… Apresenta assim nesta tarde de dezembro os seguintes poemas: Outro tempo – Ao Fernando Pessoa. Aos meus amores O outro universo Sonhando Marcha Fúnebre

De cada um. Reparo que estão todos à espera


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OUTRO TEMPO – AO FERNANDO PESSOA O Estio no solstício Do Junho milagroso. O Astro da ternura Duma luS viva Amadurecendo a cor Entre as margens De uma nova terra Acesa de encantos Sonhos a sonhar A existência virgem Do pecado sem reflexo Na matéria!!! A matéria um sentimento Que nos comove Numa emoção carpideira Que somente seduz A aparição pálida!


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Meu Deus que se apaga Na estrela a harmonia E assim um nevoeiro desce Desce na dor rude De um sorriso artificioso! Meu Deus como tremo Da tristeza da lareira Sem chama misteriosa Sem o diálogo de suave ternura A propagar na nuvem do pensamento O deslumbramento…

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AOS MEUS AMORES E as folhas que caiem das árvores. E as estrelas que do infinito regressam. E ainda aquela criança que persiste em Crer na terra do amanhã… Ah como amo a minha mãe e a minha filha e a minha musa!!! Sim a minha musa, aquela que inspira estes versos… E também aquela que com paciência e o amor, corrigindo-me nos tempos e nas formas verbais. Os meus vocábulos incertos, Difusos até! E a minha contagem decrescente Para crescer ao mistério!? O mistério de qualquer outro instante, ou sei lá? Sei lá do que possa aparentar o ínfimo do brilho mais cintilante ou Menos da certeza ou incerteza. Paradoxo de um monólogo.


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Movimento de qualquer acção para outro lado da vida possível ou Impossível. Encruzilhada, por um momento eterno… quase na orla do ignoto e da treva com o álgido frio! E as memórias, as remanescentes memórias? Ah, o outro tempo e o outro lado Possivelmente paralelo! Sou doutro tempo e ao mesmo tempo sou deste., em que a entidade me permite ficar. Ah, ficar na letargia, ficar no perscrutar. Ficar somente ficar para continuar a Existir….

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O OUTRO UNIVERSO Na rua o sol brilha Possivelmente o raio Atravessa o espaço invisível Leva o calor e a luz, Leva o desconhecido? Possivelmente, a outra vez, E reproduz o mesmo efeito. No entanto o efeito não é o mesmo. Quem sabe? Supostamente!?! Aquele que dentro vai! Mas não é possível ainda saber?! E o momento! O vai-vem… A entrada e a saída. Onde tudo parece o mesmo!? Mas só parece, ou aparente?! O resquicio sobrenatural. A aragem ventríloqua. A outra voz! E outra? Mas é impossível lá chegar. Daqui? Nem me atrevo, A avançar. O silêncio, agora, Neste instante quase intacto.

E sai de mim…ou entra em mim… Sei lá? Se entra ou sai? Só o interstício neste Instante., Sem ter a certeza do instante? Pois na expectativa alguém espera. Alguém no infinito espera… Eu, pressinto! Sim. Eu, pressinto… Aquele futuro neste presente.


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E o passado também, Aqui ao meu lado. Ambidextro lado. Ah, as perspectivas e as ideias?! Os átomos e as moléculas. E mais ainda, agora nesta hora, Sem minutos ou segundos? Uma outra dimensão!? Sei lá se até um outro, Instante paralelo? Novidade! Novidade? Diz alguém que tropeça, Ao acaso nessa novidade, Mas sem ver a novidade? Só tendo a sensação da novidade. E a novidade, primeiro instante, Para apresentar o mistério que há, Além da novidade do quotidiano. Pois a novidade é deste mundo. É o exterior, sem haver mais adentro. É somente à superfície do ver convencional, de cada um. Reparo que estão todos à espera. E eu? Nem sei pelo que espero Supostamente espero!? Ante a orla, e o espaço por haver…

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SONHANDO Sonhando um dia ser feliz. Ser feliz sem ter a ilusão! A noite passa por entre a vida. E o existir? Não sei de onde? E se a vida é breve, efémera. O existir como se tivesse existido, Para todo o sempre… E surpresa levando-me, A renascer outra vez. De qualquer outra Criação. Com ciência ou não?!? Nem sei? Nem sei? Nem sei? De que lugar com o enredo, De uma outra vida a desafiar está! A brisa no entanto a manter, O mesmo ritmo, a mesma sensação. De realidade pela possível verdade. E memórias intemporais… Infixas noutra saudade, De momento por adornar A outra luz entronizada, Em dimensões a elevar Ou dimensões, quase impossíveis De precisar?!?

É quase chegada a hora De partida ou de chegada De quase dentro do infinito… E do perene do crepúsculo que beija O instante efémero sem diferença, Ou relação do que realmente Na verdade aspiramos a ser… Em qualquer cor da vida. Menos o verde putrefacto Da estagnada quase morte! O cheiro sem o aroma. O cheiro avaro que derrama. A quase dor do avesso! E quase difuso, quase fora. Do aquém e mesmo do além. Com um pouco mais ou menos Do princípio e do fim? Que não escolhemos, nem Merecemos!?!


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A morte um intervalo imprevisível De branco ou de negro, e de qualquer Outra cor mortal ou imortal?! E lá vou eu, lá vou eu, sem me conter Lá vou eu… Na dúvida inexistente? Quase o esquecimento me arrepia! Quase os espelhos reflectem o que desejo? E ontem, hoje e amanhã no deserto Quase eterno, quase imenso Quase de ontem, hoje é amanhã!?! Do suspenso e o inacessível E o quebranto! De plumagem por abrir a alvorada Silêncio, silêncio, silêncio Três vezes para dar ênfase E debruçar assim sem desmaiar E persistir na contagem do tempo Decrescente?!? Ah, a crescer nos céus Saudade da distância da minha solidão. Já não me é possível reter a ansiedade! Já não me é possível alcançar E por reencontrar o espaço presente…

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MARCHA FÚNEBRE! Nos passos alados Uma vizinha aparência. Supostamente de mim! De mais ninguém Já que na solidão Velo o pensamento último da irreparável vida. Onde estão todos? Os amigos, conhecidos e mesmo aqueles, que desconhecia?!? Parece-me ouvir? Quem diria: Eu ouvir! Sem poder escutar inteligível. Uma badalada, duas, três, quatro, cinco, seis. Mais uma, mais uma, ímpar sete. Oh, porque não ficaste tu Dlim-Dlão no 6 que me poderia dar o 9 assim adiantar a hora…

A hora do adeus Sem ver dizer adeus Naquele acenar Agitando os cinco aberto ao ímpar que se afasta na distância que não tem fim… É o primeiro momento Agita-se o anjo Agita-se no que me treme e continua assim o abalo que agita a própria nuvem Um ribombar do trovão E o relâmpago o instante impossível instante do vazio se tornar tão cheio de emoção. Assim sinto o coração! Monólogo de mim, no estático Outro momento??? Eu sinto a ausência. Sinto a corrente…


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Mas é inútil, inútil O pensamento se esvai. Silêncio. Silêncio. Silêncio. Três vezes silêncio. Elevando esse silêncio??? Mas eu? Eu, eu, eu… Imergindo ao submundo!!! Sei lá, se voltarei? Voltarei, voltarei, subtil em nuvem espectral do ermo da solidão! Solidão de silêncio cipreste lá no alto do pensamento Que penso alcançar??? É um princípio. É um fim. Dentro de mim Com toda a vivência absorvida Toda a ilusão amadurecida.

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É o fim. É o fim. Cai o fruto maduro da árvore Da árvore sem tronco, sem ramos Sem singular. Sem plural!!!! O fruto cai, cai, cai, … E continua a cair… Até que: Intermitente momento Vindo do interstício, que tem o momento ímpar crepuscular…



BRUNA GRAÇA Chamo-me Bruna Graça, tenho 17 anos e vivo na Moita. Nasci a 24 de janeiro de 2002 e desde criança que gosto de escrever, mas nos últimos anos esse gosto tem vindo a crescer. Decidi participar neste concurso, com o incentivo dos meus amigos, familiares e de uma professora, para poder partilhar com outros o meu gosto pela poesia.

Minha estrela-do-mar Como é que continuas a lutar?


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Serei rainha Deste castelo Em ruínas Se prometeres Ser minha coroa E guilhotina


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Amor não tem imagem Mas se tivesse de o imaginar Seria linhas abstratas Desenhadas ao calhas Sem plano por cumprir E no meio de tal rabisco Estaria um retrato de ti

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Porque é que continuo a navegar Num barco que se está a afundar? Sei que não posso impedir a água de entrar Mas isso não me impede de tentar Deveria voltar atrás e desembarcar Mas como um capitão no mar Com o meu barco irei-me afogar


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Sussurramos de peito aberto Juramentos de infinitos Sem medo do abismo Mas quando o teu toque for sentido Sem um amanhã que o espere O nosso fôlego terá sido gasto Num jeito de insanidade A pensar que o nosso desejo de eternidade Seria suficiente para alterar a realidade Que cada coisa tem o seu fim E da mesma forma que o sol irá explodir Também não irá restar nada de ti ou de mim

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Minha estrela-do-mar Como é que continuas a lutar? Foste partida, rasgada, maltratada, Mas continuas a estar bem, Nasceste com cinco membros Mas tiveste mais que cem Chamaste fraca Porque nem sempre estás intacta Mas é preciso ser se forte Para combater a faca E conseguir voltar a respirar Depois de nas ondas ter-se sido afogada E na areia ter-se sido enterrada


CARLOS ALBERTO MARTINS DE ASSUNÇÃO Carlos Alberto Martins de Assunção, nasceu em Lisboa, a 15 de Dezembro de 1958. Vive desde sempre na Vila de Alhos Vedros. A sua paixão pela história local levou-o, desde cedo, a pesquisar tudo o que se relacionasse com a vila onde cresceu e mora. Frequentador assíduo da Biblioteca de Alhos Vedros, descobriu aí, o gosto pela poesia. Em 2008 aventura-se na escrita dos primeiros poemas, continuando até hoje. Sempre que lhe é possível, participa nos serões de poesia, promovidos pela Biblioteca de Alhos Vedros. Tornou-se utilizador, há três anos, da rede social Facebook, onde publica alguns dos seus poemas.

Se a vida é sina, Não planeia Nem eu julgo, ligo


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FEIRA MEDIEVAL Eu ando cá no mundo Neste país de Portugal Que a terra é bastante antiga Que fazem a feira Medieval

Que deixou de ser vila e concelho em 1855 Nesta terra de património Que vejo tanto destruir Neste mundo de demónio

Que estou em ALHOS VEDROS Que estou na estremadura Que é terra de intriga Que tem bastante formosura

E não digam que não Neste mundo de ilusão Que vejo tanta traição Mas vai tudo parar ao chão

Que tem bastante história Neste mundo a dizer Que há muita coisa escondida Neste mundo a fazer

Que não é concelho Não é nada Que este mundo anda assim Neste mundo pardo

Para o que desapareceu Neste mundo que destruiu Neste mundo que correu Nesta terra que se viveu

Houve coisas que desapareceram Como da CP a estação Desapareceu muita coisa Neste mundo que lá vão

Estou na feira Medieval Que começou em 2008 Neste mundo universal No ano 12 está a correr em 2019 Que fez 500 anos de foral em 2014 Nesta linda terra de Alhos Vedros Que estamos na feira medieval Que concelho foi universal


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O CARIMBO Andas só carimbado Que só estás a carimbar Que é só carimbos Neste mundo a andar E não digam que não Que estás a trabalhar Que estás a fazer documentos Que tem que ser todos a carimbar Porque se não levar o carimbo Não vale nada Mas leva o carimbo Já vale mesmo cantando E não digam que não Neste mundo universal Que é o dia das mentiras Mas é verdade em portugal Que andamos todos carimbados Que é logo à nascença E não digam que não neste mundo de presença

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FADO Eu ando cá no mundo Que falam tanto em fado É uma coisa portuguesa Que se quer bem cantado É fado que é fado É bom com certeza Que se quer bem regado Neste mundo à portuguesa Que se anda cá na terra Que lindo que é o fado Que parece que não Quer-se bem acompanhado Que fado é fado História de fado, vida não digo Vou chamar o meu fado Se a vida é sina, não planeia, nem eu julgo, ligo Que o fado é fado É a liga do destino Que parece que não Que o fado é muito fino


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Que ando cá no mundo Que o destino é fado Que parece que não Eu vou ficar calado Que o meu fado Não foi bem ensaiado Não foi bem falado Por isso, não é bem contado O fado tem muito que se lhe diga Que o fado é a cantar Mas parece que não Também tem a chorar

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CARLOS MANUEL MARIA RODRIGUES Carlos Manuel Maria Rodrigues, nasceu em Sarilhos Pequenos, freguesia e concelho da Moita, em 31 de maio de 1956, Concluiu a licenciatura em direito pela faculdade de direito da Universidade de Lisboa, em 1981, o que lhe permitiu exercer várias funções na área jurídica, sendo a de técnico superior jurista na Câmara Municipal de Alcochete, durante cerca de 27 anos, a que vem preencher a grande parte da sua carreira. A escrita surgiu naturalmente, embora de forma muito ocasional. Foram escritos versos em períodos de tempo curtos, seguidos de paragens e retomas muito esporádicas. Nos últimos anos, a escrita tornou-se mais regular e as novas tecnologias permitiram guardar muitos versos em suporte digital. É uma pequena fatia esses versos que foram para apreciação do júri do “Poetas Nossos Munícipes”

As sombras que nos Separam das coisas Não nos podem separar De nós próprios



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A MÚSICA DO TEMPO Observo o tempo de fora, passar por aí adiante, sem parar, sem demora, num movimento constante. Passo o tempo a acertar com esse tempo de fora, mas sinto o meu tempo parar, ou marcar a sua própria hora. Quem sabe se existe um tempo próprio que corre em mim. Talvez seja um contratempo a bater cá dentro assim. Eis que me adianto, me atraso e então em mim permanece, um certo tempo ao acaso, que ora se oculta, ora aparece. E, entre acertos e desacertos, vou procurando a harmonia nos intervalos de tempo abertos, da música da vida de cada dia

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JÁ NÃO VEJO O RIO DE ÁGUAS CRISTALINAS Já não vejo o rio de águas cristalinas a correr nesses olhos nem o sol doirado nesses cabelos nem o canto de ave a soar nesses lábios nem o fogo a acender nesse corpo Mas não fico numa pedra fria Meus passos se dirigem a caminhos sem nome mas as minhas mãos estão sedentas por descobrir lugares por plantar novas árvores cuidar de suas raízes e ramos lançar novas aves voando aproveitando os ventos que sopram com o desejo renovado acima de todas as sombras Mesmo quando a nuvem da solidão paira por cima as estradas estão abertas As sombras que nos separam das coisas não nos podem separar de nós próprios Novas árvores acordarão de manhã abrindo páginas que estarão em branco à espera de mão que as escrevam nem que se tenha que inventar novas sementes


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O POETA E A LUA A lua fica cheia e o poeta sai à rua, a sentir saltar a sua veia, que a inspiração insinua. Seus olhos cintilantes, abrem sulcos na lua, que em vibrações saltitantes, se mostra feliz e nua. O poeta fica aloucado por tal luar radiante, põe as boas maneiras de lado e espreita a lua nua num instante. Sem pudor, a lua desce, através do espaço, sua luz até à rua e do poeta recebe um abraço. Cai a noite lentamente e a madrugada fica à espreita. O poeta adormece de repente e com a lua se deita. É de plumas o seu leito, à luz de milhares de velas. Um par mais que perfeito para sonhar com as coisas belas.

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VAI UMA RODADA Vai uma rodada por tudo, por nada. Vamos beber ao desafio, porque está calor, porque está frio, porque se perdeu um amor. Pelo cliente enganado, por quem sempre reclama, porque chegou à conta o ordenado, porque não apetece ir para a cama. Vai uma rodada para todos ao balcão, que ninguém vai para a estrada, conduzir em contramão. Contem mentiras, verdades, soltem o que a alma sente sobre as vossas saudades, que ninguém fica indiferente. Vai mais uma uma rodada, que ao mesmo tempo se fala e ninguém já ouve nada com tanto ruído na sala.


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VOZES Cansado da voz que adormece, da voz sem unhas nem dentes, de tom reverente e de prece, que até arrefece os dias quentes. Cansado da voz que grita e diz que não se espere pelo vento, que só nos traz a nós a desdita e enlouquece o pensamento. Cansado da voz da sedução, que fala e torna a falar em flores, não passando de uma vã ilusão um ardil próprio de vendedores. Cansado da voz persistente da sombra, como se no chão a minha já não fosse suficiente para me pesar na alma e no coração. Cansado, solto a voz do desespero e respondo que não está apagada a fulguração com que me supero em busca de uma nova alvorada.

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CÁTIA NUNES Cátia Nunes, mulher, humanista, cientista, nascida em Lisboa a 3 de Fevereiro de 1984, mas com profundas raízes nas terras quentes, secas, rudes e graníticas de Escalhão, aldeia histórica, raiana do distrito da Guarda, onde as encostas xísticas de olhos postos no Douro, são adornadas por varandas de socalcos, com jardins de olival centenário e amendoeiras floridas, as cores da vinha deslumbram quer no Verão quer no Outono, paisagem idílica que no entanto não permite esquecer o suor e dor das gentes que humildemente lá lavoraram e das quais é orgulhosamente descendente. Por parte de mãe um pouco moçambicana, herdou o espírito livre, o gosto pelo exótico e multicultural. Viveu a sua infância e juventude no concelho do Seixal, onde permanece parte do seu coração. É no seu 20 aniversário que recebe o seu primeiro prémio como jovem escritora, como resultado da sua primeira participação num concurso literário local “Jovem Escritor de Contos”, organizado pela Junta de Freguesia de Fernão Ferro e Município do Seixal. Psicóloga de profissão, Mestre e doutoranda, pela Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, iniciou-se no gosto pelas letras aos quatro anos, aos seis deu nome a um jornal escolar, e aí nasceram os primeiros poemas e contos assim como a sede de mais ler para mais saber, conhecer e escrever. No ensino superior dirige durante 3 anos a publicação bimensal «JE», o jornal dos estudantes da Faculdade onde estudou; integra a equipa fundadora da Associação Académica da Universidade de Lisboa, sendo membro da Direção e Provedora do



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Estudante. Com 19 anos frequenta um curso de literatura infanto-juvenil pela Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) tendo a possibilidade de experimentar novas técnicas de escrita-criativa sob a tutoria da célebre escritora Alice Vieira, o que muito a influencia. Actualmente é no Centro dos Reformados e Idosos da Baixa da Banheira ( CRIBB) que desenvolve a sua atividade profissional, e tem oportunidade de conjugá-la com a paixão pela escrita, inspirando-se nas crianças da creche “Os Netinhos”, escreve também para elas em prosa ou em verso, com o intuito de educar desde o berço para os valores e emoções; promove ateliês de escrita-criativa para séniores, e coordena projetos intergeracionais que passam pela dinamização de horas do conto em algumas escolas básicas do 1º ciclo desta vila, onde também é autarca.

A liberdade traz um sorriso na boca Como outra criança qualquer

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Liberdade é uma menina que vive no teu coração… Caminha descalça p’la areia Gosta de espreitar as teias E de riscar com giz o chão! A Liberdade tem dois olhos Verdes da cor do mar São mundos de asas e sonhos Onde podemos navegar! Liberdade é uma menina que vive no teu coração Vestido de roda vermelho Faz caretas ao espelho Roda, que roda, em pontas p’lo chão! A Liberdade traz um sorriso na boca Como outra criança qualquer Gosta de dizer a verdade Canta hinos de amizade E palavras de bem-me-quer! Liberdade é uma menina que vive no teu coração Filha da mãe Primavera Cheira a cravos e a quimeras Tem a força de um leão! Será filha de um capitão?


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A Liberdade tem amigos de todas as idades Vive em ti e vive em mim Nas gargalhadas do avô Quim Dança p’las ruas das cidades! A Liberdade é uma menina que vive no teu coração Solta o cabelo, desfaz a trança Dá a mão à ESPERANÇA Voam bem alto com o seu balão! Esta menina engana o medo Corre valente sem tropeçar Grita bem alto na cara do vento: Sou a LIBERDADE NÃO ME PODEM CALAR!

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SER Criança é SER Grande Nos sonhos e ALEGRIA É ser filósofo das pequenas coisas Sentir-se REI de mãos vazias! SER Criança é SER Herói Das cruzadas fantásticas e reais Vencer batalhas e medos Tantas vezes em segredo Ser amor, coragem, alento dos adultos seus pais! Ser Criança é SER Grande De sorriso e CORAÇÃO Ter nos olhos estrelas Que brilham até mais não! Ser Criança é SER FUTURO Esperança desejada Amor fecundo e puro Que faz girar o mundo de forma encantada!


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Nem mais uma gota de sangue Nem mais uma rosa envenenada! Que a justiça seja dura e não estanque Perante a carnificina camuflada! Não ao silêncio cúmplice e cobarde Que abafa a dor e a verdade Vítimas do amor? Vítimas da loucura? Mulher não é do homem criatura! Mulher não é propriedade excomungada! Transformemos esta machista cultura! Que muito mata e nada ensina Presa ao fado da barbárie como sina Expurguemos o veneno da impunidade À mulher a vida como direito e liberdade!

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Quem se lembra das eiras? De quem trabalhava à jeira? Das madrugadas lavradas na rudeza do poio Onde nem trigo nem joio De chão tão duro queriam nascer. E da formiga negra trabalhadeira? Uma avó que faz a sua meia O lençol de linho acabado de tecer O prazer de uma história contada à lareira Da família gigante à mesa na ceia E o gato preto que languidamente se espreguiça Despertado pelo cheiro da linguiça Como se o tempo nada valesse Como se o gato tudo soubesse!


CELINA MARQUES FIGUEIREDO Celina Marques Figueiredo, uma poetisa que utiliza a força das palavras para dar voz aos que não têm voz! Pablo Neruda disse – “Escrever é fácil: começa-se com uma maiúscula e termina-se com um ponto final. No meio colocam-se as ideias.” Aproveito este espaço que o Município da Moita me concede para enaltecer a importância deste projeto, um contributo importantíssimo para a cultura enquanto dimensão essencial da participação cívica, da cidadania e como esta deve assumir-se como pilar do desenvolvimento local. Poesia, esse mar de palavras, esse universo de sentimentos, esse céu de letras que brilham, esse sangue de tinta que nos alimenta as veias com palavras que criticam, reclamam, exigem, magoam, mas que também afagam, abraçam e beijam. Há dias ouvi falar no cinema vérite, é aquele tipo que vai para a rua e filma tudo (ao acaso) o que aparece à frente da câmara. Acho que não é bem assim, porque é ele que escolhe os ângulos que a lente capta, portanto de tudo o que lhe aparece à frente, ele através dos seus sentidos e da forma como observa, destina o que filma. Negação, foi escrito um pouco nessa ótica, numa determinada situação, num local que já conhecia, mas que nunca tinha visto, ou melhor que nunca me tinha envolvido. Ou seja, tal como no cinema vérite, os meus sentidos captaram os ângulos que me despertaram uma atenção que me indignou e essa indignação transformou-se em



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palavras e das palavras nasceu o poema. Um poema que foi fruto de um par de horas, em que partilhei alimentos e sentimentos, com aqueles que vivem no submundo das nossas cidades, deste mundo civilizado, democrático, desenvolvido, tecnológico, onde vagueiam farrapos de gente, sem casa e sem pão, gente empurrada para um mundo indigno e desumano…. E nós vivemos lado a lado, desviamos a câmara do nosso vérite e prosseguimos seguros de que tudo isto é normal. “Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violento às margens que o comprimem”, Bertolt Brecht. É isso mesmo, todos esses mendigos, marginais, drogados, bêbados, desempregados, prostitutas, doentes, esfomeados, correm no leito dum rio, cujas margens se comprimam pela força do nosso silêncio e da nossa compaixão. Resta-me clamar por uma cultura viva e interventiva, que acorde a justiça e a paz, assim como o Zeca escreveu: “A morte saiu à rua” e o Picasso pintou “Guérnica”, que a nossa tinta surpreenda o mundo com gritos de poesia!

Sobrevive na aventura Da sua própria negação.

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NEGAÇÃO Fazem a fila da fome Neste pedaço de chão Na espera que os consome Por um pedaço de pão. Trazem uma história de vida De sonhos jamais vividos Caminham por becos sem saída Usam os vícios proibidos. De mágoa traja o mendigo Da caridade se alimenta Abraça a sorte sem sentido Que a sociedade lamenta. Em lar com telhado de céu Só as estrelas o ilumina Não foi juiz nem réu Só sentença que castiga. E é neste pedaço de chão Lado a lado com a riqueza Bate humilde coração Na cidade da pobreza.


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Se é homem ou mulher É o que menos importa Apenas um esqueleto qualquer Sem bússola e sem rota. Não importa o aspeto Se traz trapos ou cobertor O que importa em concreto É o sofrimento e a dor. Lado a lado com a fartura Na economia da inflação Sobrevive na aventura Da nossa própria negação. E a vida passa ao lado Com as promessas iguais Daquele a quem chamam coitado Por ser pobre e nada mais!

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ÉLIA MARIA SILVA MADEIRA Nasceu a 20 de Agosto de 1962 em Luanda (Angola) terra vermelha encantada, que não dormia, com os seus rios, cachoeiras, e montes, o seu mar cristalino e imenso, cidade de sonhos e encontros, o seu pôr-do-sol deslumbrante e único, as noites estreladas e quentes. Ainda adolescente foi forçada a abandonar sua terra derivado à guerra colonial, e junto com os seus pais e uma irmã mais nova vieram então para Portugal terra natal de seus pais. Viveu 4 anos em Lisboa e mais tarde veio residir na Moita onde passou toda a sua juventude até aos dias de hoje, e como amante da natureza que é, também encontrou nesta terra recantos lindos entre a Moita e Gaio-Rosário. Desde muito nova tem o gosto pela poesia e pela dança. Dançar é desenhar com o corpo o poema que habita na alma. A poesia o modo de escrever, pois que se inspira na Natureza, nos montes e no mar que ama de paixão, aonde se sente livre e em paz.

Este lugar mágico Sem ti Fica imóvel


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FUI TUA Toquei a tua pele macia Como brisa que passa e arrepia Naveguei teu corpo de norte a sul Mergulhei nos teus olhos qual mar azul Dei-te a conhecer o meu ser Entrei em ti para tornar a nascer Foste tu que me possuíste Tomaste conta deste corpo outrora triste Quiseste ver por dentro e eu deixei Ensinaste-me o amor e eu amei Afagaste meu cabelo eu dormi Subi ao céu sonhei e descobri Que eu era tua Voar ao teu lado o prazer de ser tua Bebi dos teus lábios ao luar Chorei ao sentir o teu beijar Emergi das águas ao amanhecer Notei o teu perfume senti-me viver Escalei montanhas para te alcançar Mas em mim no escuro só por te amar Alcancei a luz quando te vi Porque eu era tua O prazer de ser tua


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DIVAGAR Divagar é como nadar em qualquer direção É como correr para todo o lado É ouvir, ver, é dar asas à alma para poder ser livre Ouvir a música dos passarinhos Ver as flores de mil e uma cores Sentir a brisa dançante do vento Fecho meus olhos Minha alma se eleva Para viajar por horizontes E viaja tão longe Pelo amanhecer percorre os mares Pelo entardecer percorre montes e vales Pelo anoitecer percorre planetas e estrelas Sem poder fazer nada, fica como antes Gota perdida no Oceano Lágrima perdida na terra Estrela perdida no céu

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LUGAR MÁGICO Este lugar mágico Sem ti Fica imóvel Uma fotografia sem vida Um lugar de ansiedade Um lugar de paciência Tudo o que me rodeia espera a tua volta As flores choram lágrimas de néctar As pedras rolam pela falésia O vento desloca-se em remoinhos O mar faz a sua rebentação na areia No horizonte o pôr-do-sol espreita Fico quieta sofrendo Tudo se move ao meu redor e eu ali No meio de tudo nasce uma esperança Uma força Tudo o que preciso para não te esquecer Tudo o que preciso para viver


ESTER MARIA PEREIRA DA SILVA AFONSO Nasceu na bela cidade da Beira, em Moçambique, decorria o ano de 1955. Começou aos 7 anos o seu gosto pela leitura, em tempo de férias lia um livro por dia. Desde a adolescência que brinca com as palavras, em género de poesia. Ultimamente vai alternando entre a escrita e a fotografia, duas grandes paixões. Conta com várias exposições individuais de fotografia desde 2009 e participou em algumas exposições colectivas, bem como em concursos nacionais de fotografia, tendo sido distinguida com diversos prémios e menções honrosas. Os seus hobbies são: fotografia, viajar, ler, escrever, blogar, cinema e ouvir música. Neste momento tem quatro blogues activos, num deles escreve sobre os seus "momentos perfeitos" e partilha imagens dos mesmos. Anda no mundo da blogosfera desde 2005, gosta de ser bloger. Basta haver apenas um leitor para valer a pena. Os blogues já não são indiferentes para algumas pessoas. A grande oferta é um olhar diferente sobre o que amo: viajar e fotografar.


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Tem trabalhos publicados: – Em Fevereiro de 2007, foi publicado um trabalho seu, num livro de bolso "Que é o Amor?" – O livro da blogosfera, da Editora Anjo Dourado. – No livro "Poemas Sem Fronteiras", Edição <Ora, vejamos... 2008> com três poemas: "Sentimentos", "Sou amante deste silêncio" e "Cada rama que caía". – No livro "Poetas Nossos Munícipes" – Edição da Câmara Municipal da Moita, Setembro de 2009, onde publicou quatro trabalhos: "Dor", "Partida", "À procura do sabor da Vida" e "Alguma vez". – No livro "Serenidades" Poemas – Edição <Ora, vejamos... 2009> 1ª Edição: Outubro de 2009, com três trabalhos: "Partida", “A minha ânsia" e "Seremos Amor", onde conquistou uma Menção Honrosa. – No livro "Poetas Nossos Munícipes" – Edição da Câmara Municipal da Moita, Novembro de 2016, onde publicou três trabalhos: "Lugares do Mundo", "Nas asas da Esperança", "Um sentido para a Vida". E assim sou eu… … Aventura, Emoção e Apaixonada por tudo o que faço.

Um sonho é a metade de Uma realidade


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É TÃO MARCANTE São momentos únicos Em que me sinto a levitar Tudo esqueço, fico diferente Talvez num delírio emocionante Numa saudade sorridente Recordações de momentos delicados E de outras viagens pelo mundo Mistura de emoções Onde o sorriso aparece e, logo, Escorre uma lágrima também. Folgo em viver estes momentos Por vezes, numa saudade que me invade Como quem espera uma surpresa ou alegria Onde, por desejo, mergulho com dignidade E faço das emoções, uma espécie de felicidade Curiosa, tudo vou acompanhando Com alguma dificuldade, caminhando Praças, ruas, caminhos e ruelas Onde me deslumbro, sem ter pressa Como quem espera o mais belo refúgio Mas, tento caminhar lentamente Frustrada, por vezes e exausta Depois de minutos de incerteza, Não quero entrar em desespero Porque o “tempo”, esse, já não regressa!

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O MAR Sentindo como o vento embala a espuma Das ondas que dispersam pela areia Escutando o murmúrio das conchas Arrastadas como folhas soltas Num leve sopro de aura dispersas Quando eu nasci, raiava o mês de Abril, sorrindo em flor pelos caminhos, Nadando na oscilação das ondas, Passadiços que me levem até ele isolado sobre o horizonte Por onde desejo deambular. Recebendo a brisa no meu rosto feliz Do mar que me aparece defronte Dançam as ondas no meu olhar. E olho para toda a sua imensidão Sozinha contemplo a beleza Sentindo no meu coração, gratidão Regresso já pela noite, em trépidos passos incertos Sentindo nos pés, pingos de água e areia Meu doce olhar embala cada passo, cada instante Na solidão da noite, sinto o meu coração feliz Ao contemplar o horizonte vejo verdade A vida que Deus me destinou Grata me sinto, ao ouvir um sopro, ao ouvido Ilusório momento neste anoitecer Onde evocam as palavras do Senhor.


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FALSOS SENTIMENTOS Inconstantes são as nuvens que pairam no ar Como meras emoções, onde a dúvida insiste Sentimentos cruzados, e sem reciprocidade Formam nuvens negras, na esfera da amizade Quando olho em volta, nada encontro A tristeza invade a minha alma Inconstantes personalidades neste tempo duvidoso Onde verdadeiros sentimentos ficam para depois Amizades sinceras de antigamente deixam tantas saudades De tudo o que na minha terra deixei Mas, nesta vida existem outras realidades Num mundo que parece tão demente Coisas banais mas tão precisas Como uma palavra de conforto Aproximo-me, mas sou logo afastada Esquecida e até ignorada Existem momentos que não esqueço Dói, sim, dói muito Queixo-me, mas de nada adianta Insensíveis, seguem o seu caminho Já nada surpreende a minha alma assolada. Tudo já foi escrito, tanto já foi dito Mas, de certeza, a minha escrita continuará ignorada.

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O BOA VIAGEM Nos meus blogues divulgo passeios Viagens, visitas, fora e dentro de Portugal Por diversas vezes fui neste de três horas Num deles levei os meus netos Pois sinto que é minha missão Passar-lhes estes conhecimentos Como um passeio de vertente lúdica Mas, fazendo-os ver o concelho onde vivem Numa perspectiva diferente Uma embarcação de fundo chato Com pinturas decorativas de cores vivas Entre Maio e Novembro Aproveitem várias idas Partindo do Cais da Moita com uma “aula viva” dada pelo mestre do varino é uma experiência inesquecível E no futuro, quem sabe Farei o passeio de um dia.


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DEIXAR FLUIR O PENSAMENTO Eu não escrevo com intenção de ser aplaudida, dou-me por satisfeita, por poder dizer o que penso. No fundo, tento partilhar sonhos Que vou conseguindo realizar Com muita persistência e força de vontade. Deixo fluir o pensamento E a espontaneidade surgir Bailar ao sabor do vento Viajar em nuvens de algodão A oportunidade surgiu, fez o baptismo de voo na companhia da sua Avó Vi duas pequeninas covinhas formarem-se no seu lindo rosto brilharam seus olhos cor de jade ao princípio um pouco receosa fitaram o meu olhar com intensidade Um sonho é a metade de uma realidade pensar positivo é uma maravilha, faz um bem imenso à alma. Mas de nada adianta ter pensamentos se na hora que tem que os colocar em prática lhe falta o essencial, forças para prosseguir com frequência, vejo pessoas cheias de planos adormecidas num canto escuro, entre o desejo e a realidade. Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.

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FERNANDO EDUARDO ISIDRO PATINHA Fernando Eduardo Isidro Patinha, nasceu na Baixa da Banheira no dia 15 de Junho de 1958. Casado, dois filhos, vive atualmente na Moita. É desde há vinte anos funcionário desta autarquia. Influenciado pelo pai, começou também a ler e a escrever poesia.

Tudo como dantes Nestas coisas o gesto é tudo!


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TEORIA Incerta teoria Do desamor Da tranquila revolução Do desejo Ação virtual À luz do dia Premonição de beijo Filme negro a cor Ausência total Também Na aspereza do veludo Bem Mal Nada Tudo Sem tirar nem pôr O dedo Na ferida Terror Medo Noite perdida Acordar lixado


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TORMENTA Vazio da alma Atormentada Grito calado Estado de graça Altar ego O abismo a um passo Amor cego Verbo no passado No futuro Rio Mar Partir em vão E chegar puro Duro Quente ou frio Morno, é que não.

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GUERRA SANTA Terra maldita Onde os heróis Não mais que dois Agonizam e morrem de pé Terra de ninguém Onde os outros Muito mais que cem Não permanecem E envelhecem... Longe; e muito bem Terra com história Manchada de sangue Histórias de pais para filhos Escrita por mãos sujas Na lama dos tempos Apoteose exacerbam Exército em parada Figuras grotescas Bandas desenhadas Cadáveres nauseabundos A fugirem prá sombra Almas penadas Entre dois mundos Cemitério De elefantes brancos


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DECADÊNCIA Em plano inclinado Auto estrada pró abismo Estado De alma confinado Em ultima instância À cultura do cinismo Jogos de palavras Sem significado aparente Papiro sem idade Pedra filosofal De aprendiz de alquimista Dono de toda a verdade Abrangida pela vista Que mesmo sem querer mente Mas... mente mal! Decadência Em plano inclinado Fim da inocência Princípio do pecado Original

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FILME NEGRO Ator Veterano Com ares de vagabundo O charme discreto do abandalhamento Cidadão do mundo Marinheiro De todos os mares Dos sete A começar pelo primeiro Marinheiro Que se guia pelas estrelas Poeta Sem poema Que escreve à luz das velas Dorme em pensões rascas Acorda à porta de bares e tascas Abraçado às putas mais belas Engates passageiros Em bordeis baratos Todo blue jeans e navalha Nada de gravata e fatos Cenas Eventualmente chocantes Em cenários deslumbrantes Apenas Eterno vagabundo Em filme mudo Tudo como dantes Nestas coisas o gesto é tudo!


FRANCISCA SILVA GODINHO Francisca Silva Godinho nasceu a 9 de Maio de 1943, na freguesia de Monsaraz, na pequena aldeia de Motrinos, da qual tem sempre muitas saudades. Nessa pequena aldeia fez a instrução primária, sempre com a esperança de seguir mais além. Quando Francisca tinha apenas nove anos faleceu o seu único irmão, que tinha doze e a sua vida mudou para sempre. Perante esta tragédia a sua infância ficou marcada e os seus sonhos pareciam ter terminado ali. A lutar contra essa solidão, casou com dezoito anos, como que se, ao construir família, tentasse preencher o vazio deixado pelo seu irmão. Veio então viver para o Montijo onde esteve cinco anos e depois para a Moita onde esteve até hoje. Durante todo esse tempo o sonho de estudar nunca se apagou e aos trinta e dois anos, já com os filhos mais velhos a estudar, decidiu fazê-lo também. Fez o Curso Geral de Administração e Comércio, obtendo equivalência ao 9º ano. Quando se encontrava já nesse último ano, o marido adoeceu de cancro, acabando por falecer aos quarenta e seis anos, ficando Francisca desempregada, com três filhos a cargo.



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Mais tarde trabalhou em fábricas de costura e por fim na Câmara Municipal da Moita por vinte e um anos. Apesar de todos os sonhos interrompidos, mais do que uma vez, nunca deixou de escrever poemas e de se interessar pela leitura, poemas esses que espelham os seus sentimentos perante as vicissitudes da vida e toda uma forma especial de ver o mundo. Hoje reside no Lar Nossa Senhora da Boa Viagem, em Sarilhos Pequenos, sendo uma pessoa bastante activa e, apesar de tanta dor e solidão, dá graças a Deus pelos três filhos, nove netos e seis bisnetos e muitos amigos a quem deve muitas alegrias.

Já foi o meu Funeral E ainda não me calei!

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PRIMEIRO POEMA DE 2016 – “JÁ TARDAVA” Não é muito delicado Escrever com esta cor É apenas um recado E deixar o meu amor

Mas ainda peço um favor Para “lá” eu ter alegria Que me mostrem seu amor Na missa do sétimo dia

Será que é o adeus Da partida para o lar? Peço a Jesus e a Deus Que vos venha consolar

Um caixão almofadado O prémio do fim da vida Com véu o rosto tapado Chega a hora da partida

E quando um dia acontecer A outra partida final Que ninguém vá esquecer Quais as cores do roseiral

Se ninguém por mim chorar Com pena do meu morrer Queira Deus colaborar E que comece a chover

Branco é cor da pureza Amarelo do astro rei Com vossa oração a certeza Que ao Céu eu chegarei

A água do Céu cristalina Chorando por mim somente Eu cumpri a minha sina Filhos, netos, por semente

Um cortejo organizado P’ra tudo correr com decência Terá de ser preparado Por quem já tem experiência

Quero missa de corpo presente Cânticos lindos de louvor Talvez eu esteja contente Já bem junto do Senhor


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Quero morrer à sexta-feira E finar-me em terra pura E talvez uma roseira Pertinho da sepultura Para recompensar meus martírios E mais linda ao Céu chegar Talvez também alguns lírios Para a urna enfeitar Eu queria agora acabar Já que também “acabei” JÁ FOI O MEU FUNERAL E ainda não me calei!

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PRIMAVERA DOIS MIL E DEZASSETE Primavera é a primeira estação Das quatro que o ano tem Ela nos toca o coração Com tudo o que dela vem

Flores brancas e amarelas E de roxo salpicadas São nossos olhos janelas De moças enamoradas

As árvores estão florindo As plantas a nascer As andorinhas vêm vindo Para seus ninhos fazer

Apetece ir aos campos Apanhar aquelas flores Ou ficar ali pelos cantos Junto dos nossos amores

Os ninhos do meu beiral Trazem-me novos vizinhos Eles sujam-me o estendal Não os culpo coitadinhos

Os frutos estão maduros Daqui a pouco é verão Os sentimentos mais puros Tudo toca ao coração

São avezinhas de Deus Diz o povo com razão Só se nós formos ateus Não nos toca o coração

Até na maneira de vestir Se nota outra leveza Vamos este tempo curtir Velhos e novos com certeza

Os campos estão verdejando Salpicados de mil cores A nossa vista espraiando Por ver tão lindas flores


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DESESPERO Eu subi aquele monte Quis beber água na fonte Mas ela estava a secar Agora não sei onde Eu a irei encontrar.

Eu estou em desespero Não sei o que hei-de fazer Parar, eu sei que não quero Mas já não posso correr

Tenho fome, tenho sede Não posso mais caminhar Sou equilibrista sem rede E posso ter de parar

Vou descendo devagar Ajuda-me a caminhar A idade vai pesando Só que não quero chorar Mas já me sinto chorando

Assim perdido na serra Falta-me força para andar Nunca mais eu volto à terra Sei que vou desanimar

Volta a mim, ó mocidade Dá-me a força e vigor E quem sabe com saudade Me trazes também o amor

Ajuda-me Nosso Senhor Fazendo a chuva cair Começa a estar calor Eu queria daqui sair

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FARRAPOS DE UMA VIDA Porque finges que não me vês Se me vês perfeitamente Eu sei que tu não crês Mas acredita, sou gente.

Amar é sentir a dor Do nosso irmão desprezado É pôr-lhe nos olhos fulgor Há tanto tempo apagado.

Para muitos é defeito Apenas o ser-se pobre Embora tenha no peito Sentimentos de alma nobre.

Vou pela vida passando Ainda tenho o meu lugar Minhas lágrimas sufocando Nos versos do meu cantar.

Minha alma está sangrando Tenho estas cenas em mente Às vezes meus olhos chorando Pelo fraco e pelo doente.

Minha sorte foi madrasta Marcou-me logo ao nascer Dei-lhe tudo, ainda não basta Pois continuo a sofrer.

Com saúde vamos vivendo É mais fácil o desprezo Aos poucos vamos morrendo É-se livre. Mas está-se preso.

Com certeza que nasci Numa hora malfadada Tanta gente socorri Fui por todos desprezada.

A minha mãe estranhou Que estes versos fizesse Como é que ela me amou Se nem sequer me conhece

Eu dava tudo o que tinha Às vezes até inventava Hoje tudo me espezinha Porque já não tenho nada.


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POEMA ABSTRATO

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Gosto muito de rimar Mesmo que a razão seja nada Mas nada é muito arriscar É melhor ficar calada

Antes de o rimar fosse sim Como seria positivo Tu gostarias mais de mim Mesmo até sem teres motivo

Porquê? Porque nada, nunca e não Têm interesse relativo São palavras de negação Muito embora sem motivo

Porquê? Tudo, sempre e sim O contrário do que antes falei Dá-te motivos sem fim Para dares-me o que neguei

Nada é só um vazio Que nos faz doer a alma Primavera sem estio Uma desgraça sem calma

Tudo é dom que Deus deu Que te faz elevar a alma O que é meu é também teu É uma paz que já tem “Palma”

Nunca é determinação Que leva ao arrependimento Pois foi uma opinião Só dada num mau momento

Sempre é estar alerta Que nos dá determinação Não dormir e estar desperta Às necessidades do irmão

Não parece uma teimosia De alguém mal-educado Traz-nos por vezes arrelia E nos deixa encabulados

Sim já é consentimento De alguém muito educado O sim em todo o momento Nos deixa mais elevado



HELENA CRISTINA ROSÁRIO MARTA Quem é a Helena Cristina Rosário Marta… Uma cidadã portuguesa, nascida a 28 de Março na bonita vila de Alhos Vedros, concelho da Moita. Não me identifico com o nome que me foi dado no registo de nascimento, mas sim, pelo qual sou conhecida e carinhosamente chamada: Tininha, é este o nome que tão bem descreve a minha personalidade. Filha de Maria Cristina Rosário Marta e de Francisco Calado da Costa. Sou a mais velha de 9 irmãos. Fiz apenas a 4ª classe, mas tenho uma grande experiência de vida. Não me lembro de ser criança porque a vida me obrigou a ser precocemente mulher! Já fiz um pouco de tudo neste meu percurso de meio século de vida. Sou uma apaixonada pelas artes, adoro escrever poesia e poder expressar através dela todos os meus sentimentos e emoções. • Transponho para o papel tudo aquilo que me vai na alma…

Transformei os alinhavos Em lindos bordados de amor.


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JULGAMENTO DE AMOR Um dia vou ser julgada E perante Deus vou depor Por ele irei ser condenada No maior julgamento de amor. Cometi um acto irreflectido Infringi a vontade do Senhor Se é pecado ter um amor proibido O meu coração é o maior pecador. Deus condenou, mas vai entender Para além de juiz ele é defensor Sei que ele me irá absolver No dia do julgamento de amor. O que Deus decidiu está decidido Não há recurso nem volta a dar Pode ser pecado ter um amor proibido Mas a lei diz: que não é crime amar.


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RETALHOS DE UMA VIDA Pouco a pouco fui juntando Pedacinho a pedacinho Passo a passo costurando Pontinho atrás de pontinho. Com os restinhos que sobraram Um por um eu fui cerzindo Até que se transformaram Na colcha que me está cobrindo. Foi com os retalhos de uma vida. Que eu consegui remendar As cicatrizes de uma ferida Quase impossível de sarar. Mas como a vida é uma arte E o destino é o seu autor Eu já fiz a minha parte Transformei os alinhavos Em lindos bordados de amor.

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SOU A FORÇA DO VENTO Eu sou a força do vento Uma verdadeira tempestade Às vezes perco o alento Mas depois a qualquer momento Sopro ainda com mais velocidade… Existe uma nuvem cinzenta A ocultar o meu esplendor Mas a sua sombra não me atormenta Porque a minha alma se alimenta Da mais intensa luz interior… Já passei por muitas dificuldades Mas nunca desisti de lutar Remei o meu barco contra a maré E com a força da minha fé Enfrentei as mais severas tempestades.


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LEVANTA-TE MULHER Levanta-te mulher! Sai da cama e agarra a vida Limpa a lágrima caída Sê feliz e vai viver… Levanta-te mulher! Esquece a dor que te atormenta E mesmo com a alma cinzenta Tens que ser forte e vencer… Levanta-te bem cedo! Acende a luz da esperança Faz da tua vida uma dança Enfrenta o receio e o medo… Fala com o teu coração! Ensina-o a não desistir Mesmo perdido na escuridão Motiva-o a enfrente seguir… Levanta-te mulher! Mesmo que a dor te invada a alma Tens que ser forte e ir com calma Porque tudo se irá resolver… Poderás estar cansada! E até pensar em desistir Mas no fim da caminhada Por Deus serás abençoada E de novo irás voltar a sorrir.

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AMOR PROIBIDO Quando se ama alguém de verdade Pouco importa o que vão dizer Perdemos a noção da realidade Nada queremos ouvir nem ver. O nosso coração fica rendido E por esse amor movemos montanhas Mas quando ele é proibido Corrói tudo em nossas entranhas. O nosso olhar fica entristecido O coração bate descompassado E por culpa de um amor proibido Um pouco de nós é sepultado. Não devia ser permitido Amar assim desta maneira Porque ter um amor proibido É sofrer uma vida inteira. Só quem ama irá compreender O porquê de toda esta dor Quem critica nunca irá saber O significado do verdadeiro amor.


HERMÍNIO DA CRUZ GOMES Meu nome é Hermínio da Cruz Gomes. Sou natural de Castro Verde, Distrito de Beja, onde nasci a 18 de março de 1941. Filho de José Gomes e de Maria Amélia Caetano, ambos já falecidos. Depois de ter andado por aqui e por ali, vim parar à Moita, onde me sinto bem, e onde, estou há quase meio século. Aproveito para agradecer a forma como fui recebido, e como ao longo destes anos tenho sido tratado. Não me limitei só a estar, dediquei muitas das minhas horas livres à Moita em várias áreas, com muita satisfação e orgulho de o ter feito. E porque dizem que sou poeta, vou terminar assim: Sem esta iniciativa Os meus trabalhos morriam Nas gavetas à deriva E depois desapareciam.

Ele apenas num verso E quase sem professores Metia o universo Subúrbios e arredores


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DESMISTIFICAÇÃO Se fores ao Alentejo Não bebas em Castro Verde As fontes cheiram a rosas E a água não mata a sede Se fores ao Alentejo E a Castro Verde passares Terás decerto o ensejo Da mentira comprovares Não bebas em Castro Verde Que mal me soa este verso Deus Queira que tudo azede A este Poeta perverso As fontes cheiram a rosas A vila nem fontes tem Nem pessoas mentirosas Só tem pessoas de bem A água não mata a sede Mas, que mentira tamanha Escreve-se e não se mede A fama que a terra apanha Se fores a Castro um dia Eu gostava de ir contigo Só para ter a alegria De comprovares o que digo.


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DUM PIGMEU PARA UM GIGANTE Dos poetas populares Foi a figura mais grada Chegar-lhe aos calcanhares É tarefa complicada Ele apenas num verso E quase sem professores Metia o universo Subúrbios e arredores Já muito debilitado Em quarenta e nove se vai Por muitos é recordado De muitas mentes não sai Era um predestinado Muito querido do povo Onde teria chegado Se não morresse tão novo Que Deus o tenha guardado No melhor lugar do céu Poeta, muito obrigado Por tudo o que escreveu.

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INJUSTIÇA Grândola Vila Morena Não precisas fazer teste Tu és quem mais ordena Mas não te ouço, que pena Que será que tu fizeste?

Mas o povo não te esquece Sabe o teu significado Com eles não se aborrece Canta-te quando apetece Um pouco por todo o lado

Só te ouço na televisão E também na telefonia No dia da revolução Deixo a interrogação Porquê? Só nesse dia

A guerra das audiências Na radio e na televisão Faz com que hajam carências E muitas deficiências Na sua programação

Assim não vais conseguir Nem o ouro nem a platina Não te passam p’ra te ouvir Como podes competir Assim com esta doutrina

Assim que te aprendi Jamais deixei de cantar-te Não esqueço o que sofri Nem que foi graças a ti Ver, Abril em toda a parte.


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VIAGEM INFRUTÍFERA Querida terra onde nasci De onde tão cedo parti É sempre triste a partida Como triste é aguentar Pais e irmãos a chorar Na hora da despedida

Tinha boa corpulência Mas não tinha experiência E a comida era fraca Fazia frio de rachar Sem roupa p’ra me tapar Dizia mal da barraca

Numa caixa de cartão Ou num talêgo do pão Cabia a nossa bagagem A roupa p’ra trabalhar Qualquer coisa p’ra trincar E os tostões p’rá viagem

A dureza do trabalho E a falta de agasalho Faziam pensar na vida Na terra, irmãos e pais E sem pensar muito mais Foi o regresso à partida.

O destino era Lisboa Aonde qualquer pessoa Arranjava que fazer Nas obras, pois então Nas que tinham barracão P’ra dormir e p’ra comer

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MOMENTO Castro Verde na imagem Nostalgia quando baste Inspiração na bagagem E lápis que não se gaste Castro Verde na imagem Vejo a rua do poço Ali bem perto à moagem Onde brinquei quando era moço Nostalgia quando baste Às vezes é por demais Não sei porque me deixaste Acostar a outro cais Inspiração na bagagem Não falta a quem está ausente Basta trazer à imagem As saudades que sente E lápis que não se gaste Enquanto não acabar Estes versos que pensaste A Castro Verde ofertar.


JOÃO MARTINS Sou natural de Sarilhos Pequenos Moita, onde nasci a 16-6-1933. Tenho apenas a quarta classe de instrução primária. Comecei a aprender a carpinteiro aos 14 anos nas oficinas da firma J. Rocio no Barreiro. Mais tarde mudei para a serração e carpintaria mecânica na Moita trabalhando na construção civil. Em 1957 entro para o grupo CUF Barreiro, onde trabalhei como carpinteiro até 1967. Sou transferido nessa data para os estaleiros da Lisnave-Rocha. Passado algum tempo passei para os Estaleiros Navais na Margueira, Almada de onde saio reformado. Para passar o tempo vou escrevendo poemas com o pouco do meu saber mas fico muito feliz porque alguns atingem um certo agrado do povo.

O caixão não tem gaveta Tem pouca acomodação


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A BESTA ESCOICINHA Andou na feira à procura Trouxe uma besta girinha Logo achei grande a fartura Ao ver besta tão gordinha

Lá seguiu pela noite escura Relinchando até escoicinha Deixou marca a ferradura Nem cabresto ela já tinha

P´ra fazer grande figura Pela feira se encaminha Levando a besta segura Numa rédea tão fraquinha

Há tanta cavalgadura Trouxe a que não convinha Basta ver a dentadura Para saber que idade tinha

Mas a besta… quer soltura Não consente a mão na espinha Nem quer cilha na cintura Quer andar livre… sozinha

Mas vai de novo à procura Que a feira já se avizinha Comprar uma cavalgadura Mas que seja mais mansinha

Até mostra a dentadura Quando lhe falta a farinha Saltou dois metros de altura Fugiu-lhe pela fresquinha

Não passou de uma aventura Esta história tão velhinha Passada na Estremadura Bem nas Caldas da Rainha


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A CONTRA DANÇA A vida é uma dança e contra dança Que o nosso passo custa a equilibrar A orquestra da finança faz cobrança E a nossa conta gasta, faz pensar Este baile mandado pela finança Tem morada em S. Bento p´ra ensaiar A orquestra toca em alta segurança E a música sem dó, custa a acertar A finança mais o clero em aliança Prometem, que o bem irá chegar E o povo vai rezando, não avança Continua a vida inteira a acreditar A orquestra da finança por vingança Batuca em quem trabalha p´ra mandar E o povo vai sonhando, não alcança Trabalha a vida inteira até cansar E o povo já cansado sem esperança A dança sempre a mesma sem parar A orquestra da finança não descansa Vai enchendo a sua pança, até fartar

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COMO EU ERA, COMO EU ESTOU Foi há muito tempo que eu nasci Também num berço dormi Que minha mãe embalou Em criança a minha infância Em que havia tanta esperança Tão depressa se esfumou

Era um pouco libertino Queria ser bom dançarino Nunca o baile me cansou Fossem casadas donzelas Margaridas e Manuelas Sempre tudo me agradou

Fui traquinas, fui maroto Nos meus tempos de garoto Um pouco do que hoje sou Também eu andei na escola Com uns livros na sacola Um bom mestre me ensinou

Aprendi uma profissão Que foi o meu ganha-pão Esse tempo já findou Fui um bom trabalhador Também tive o meu valor E hoje aposentado eu sou

Como estou, como eu era Mocidade é a Primavera Mas tudo o tempo levou Era um belo rapagão Que fazia um figurão Mas tudo isso já passou

Vou perdendo a sensação Me baixa tanto a tensão Vejam no estado que ficou Minha vida foi mesmo assim Tem princípio, meio e fim Por enquanto ainda cá estou

Andava sempre janota Com bom fato e boa bota Mas tudo se modificou Tive muitas namoradas E algumas apaixonadas E apenas uma me ficou


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O CAIXÃO NÃO TEM GAVETA um amigo e companheiro Pretendo dar uma lição Mas ele só pensa em dinheiro Não vai prestar-me atenção

Já no lar contrariado Junto a outros que lá estão Vês o teu sonho trancado Desfaz-se a tua ambição

Tu não sejas tão forreta Nem tenhas tanta ambição O caixão não tem gaveta Tem pouca acomodação

Diz o povo e com razão A morte chega na hora Metem-te dentro do caixão Mais tarde te vais embora

É feito à nossa medida Na largura e comprimento Deixa andar a tua vida Não sejas tão avarento

Dão-te flores e um sermão Missa de corpo presente Finda a tua prestação Neste mundo infelizmente

E andas tu a amealhar Para juntar um dinheirão Mais tarde vais para o lar Sem dó nem contemplação

Segues então p´ra sepultura Bem trajado que é preciso Depois de vida tão dura Vais enfim para o paraíso

Depois chegam as partilhas Afinal ninguém se entende Zangam-se os filhos, as filhas E por fim tudo se vende

Está uma jarra de cores E uma cruz a acompanhar Nesse jardim de mil flores Haja paz… nesse lugar

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RECORDAÇÕES Recordo a minha aldeia com saudade Nos meus versos sentidos com paixão Lembro a minha infância e a mocidade Os meus sonhos com tanta imaginação Com os meninos, também da minha idade Fui à escola p’ra aprender a instrução Procurei pela razão sempre a verdade E cada dia que passou foi uma lição Lições que eu aprendi tinha vontade Na conquista do trabalho e do meu pão Cumpri os meus deveres na sociedade Foi longa e bem pesada essa missão Medita nestes versos que eu escrevi Que um dia talvez me darás razão Depois de uns longos anos percebi A vida não é mais que uma ilusão


JOAQUIM PAULINO Filho de António Paulino e Esperança das Dores Vedor Paulino Nascido em Ermidas do Sado, concelho de Santiago do Cacém Data nascimento: 09 Janeiro de 1956. A sua infância foi passada, em Beja e no Barreiro, onde passou também a sua adolescência e parte da idade adulta. Vive na Baixa da Banheira, desde 1981, altura em que casou. Reformado da Lacoste, onde exerceu as funções de Financeiro de Contabilidade. A maior paixão, é o Teatro, ao qual dedicou grande parte da vida, em vários grupos: Projector Grupo de Teatro – Barreiro TEB – Teatro de Ensaio do Barreiro UTIB Teatro – Barreiro Teatro Singular – Baixa da Banheira Poesia, também presente, desde os 8 anos de idade. Muitas participações em eventos de Poesia, no Barreiro, Bibliotecas da Baixa da Banheira, Alhos Vedros e Moita. Foi voluntário, como animador cultural, na CIRB da Baixa da Banheira e CRIVA, em Alhos Vedros. Participou, em duas edições do Livro, “Poetas Nossos Munícipes”.


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Os Amores da sua vida são, a Mulher, a Filha e os seus dois netos. Vive por eles e para eles, e assim será, até ao fim da sua vida. Os poemas, desta edição, serão dedicados a eles.

Separado, do Alentejo, Fui despontando para o mundo


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HIPOCRISIA… Ouve lá hipocrisia, estou aqui para te vencer, entrar no teu labirinto e poder sobreviver.

Estou pronto a enfrentar-te, mostrar-te que sei lutar, ranger os dentes com raiva, para te neutralizar.

ai…como tu, me atormentas, nessa tua engrenagem e como me mortificas na tua cruel voragem.

E se necessário for, usarei o meu saber, tenho segredos escondidos que te podem convencer.

ouve...eu também sou gente, e não sei viver assim. pára ao menos um bocado, tem piedade de mim.

E uma capacidade, que eu próprio desconheço, para conseguir da vida, tudo aquilo que mereço.

Não possuo as artimanhas, nem tua cruel dureza, mantenho ainda inocente, a minha infantil pureza.

Rejeito viver assim, tu, só me causas sofrer, abandona a minha vida e volta quando eu morrer.

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ALENTEJO Alentejo que recordo, esfumado na lembrança, recordações desbotadas, nos olhos duma criança. Tudo é vago e irreal, tudo é belo e colorido, de velhas recordações, do meu Alentejo querido.

Foi uma passagem curta, que o destino abortou, para fugir à miséria, para longe me levou. Separado, do Alentejo, fui despontando para o mundo, amando essa triste terra, num sentimento profundo.

No meu subconsciente, ouço o cantar desse povo, envolvendo-me a tristeza, facilmente me comovo. A minha infância esquecida, no Alentejo ensolarado, deixou marcas e raízes, na penumbra do passado.

No Alentejo, tive o berço, no Barreiro, desabrochei, ficou-me lá um amor, que jamais atraiçoarei. Hei-de manter a paixão, que tenho no meu viver e morrer no Alentejo que em tempos me viu nascer.


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FINGIDOR

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Quem me dera ser Pessoa, não um cidadão qualquer, deambular por Lisboa, tirar da vida o prazer.

Ser assim como um canteiro, de belas rosas espinhosas, Pessoa, Reis ou Caeiro, fingir em versos e prosas.

Usar a razão suprema, viver alheio de amor, embelezar um poema, como um grande fingidor.

Fingir a dor, o amor, fingimento que magoa, e ao fingir com tanto ardor, fingiria ser Pessoa.

E transcender-me com ele, poder assim encontrar-me, ignorar o corpo, a pele e despersonalizar-me.

Mas sendo eu coisa pouca, vivo envolto nesta dor, de vida vazia e oca, da qual sou um fingidor.

Desdobrar-me em várias almas, não me agarrar a nenhuma, e nas belas noites calmas, perder-me na densa bruma.


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QUANDO VOS DEIXAR... O poeta morreu, batam as palmas emitam gritos de felicidade, para silenciar os gritos estridentes, da incúria, frustração e ansiedade.

Olhem para cima, o poeta está no alto, gesticulando, a rir à gargalhada, batam-lhe palmas pois o poeta venceu, mais uma vez à vida, esta jogada.

O poeta silenciou a voz, de séculos e séculos de solidão, esmoreceu o sorriso no seu rosto, deixou de lhe bater o coração.

Morreu-lhe o movimento da mão, toda a poesia e seu encanto abandonou, neste viver mesquinho e hipócrita, ao qual nunca se habituou.

Arrufem os tambores, toquem violinos, para alegrar a alma do poeta. Toquem Mozart, Beethoven e Vivaldi numa sinfonia simples e direta.

Se alguém quiser chorar, pois bem que chore, que jogue ao ar a sua dor e seu pesar, com a certeza que o poeta está em paz, muito quietinho, a sorrir e a meditar.

O poeta jaz inerte no caixão, o seu cabelo rebelde e desgrenhado, no rosto uma expressão de solidão, camisa branca, fato desalinhado.


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OS TRÊS AMORES DA MINHA VIDA Lanço um poema de amor, à minha filha e aos meus netos, pois ser pai e ser avô, é uma avalanche de afetos. Três sóis, brilhando na vida, e três amores imortais, três sorrisos, que me encantam, num jardim de roseirais. Vivo, para vos ver sorrir, neste amor, puro e fecundo, porque vocês, são para mim, a melhor coisa do mundo. Que Deus me dê, muita vida, para com vocês, partilhar, e na minha despedida, no coração vos levar. Obrigado, meus queridos, por tanta felicidade, cuidarei sempre de vós, até à eternidade.



JOSÉ SILVA RAMOS A 15-12-1943, a mãe Guilhermina Rosa, pariu um moço em Ermidas do Sado (sitio da etiópia.) A migração foi uma realidade, com apenas 7 anos de idade, Alhos Vedros, recebia-nos de braços abertos. Meus pais separam-se e como “mãe só à uma” tomei a decisão mais acertada. Completo o ensino primário em 1954, e com apenas 11 anos, sou lançado às feras (trabalho árduo e pesado). Aos 38 anos, retomo o ensino, completo o 9º ano de escolaridade. O serviço militar obrigatório, chama-me, 37 Meses, de serviço, 26 dos quais em Santarém na E.P.C. A estabilidade social, financeira e psicológica, com um emprego estável, 30 anos de trabalho efectiva na Siderurgia Nacional. Com 55 anos de idade, a reforma antecipada acontece. 26 Anos dedicados ao associativismo, foi o prémio que muito contribuiu para a minha forma pensada de estar na vida. Casado, uma filha e duas netas, familiares e amigos, compõem o círculo da minha vida. Meus poemas, um a um / Faço-os, logo os dou / Não necessito de nenhum / Lá para o sítio onde vou.

Em sua casa, O menino da rua, É o último, a apagar a lua


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AS PORTAS DE ABRIL As portas que Abril abriu!... É o título, de um teu poema, Muita gente bem o sentiu, Mas para muitos, ainda é um dilema. Ouço um poema por ti declamado, Com sentir e sentimento, Com lembrança no passado, Nesta vida de tormento. Tinhas garra no teu escrever: Tua força e fúria de pouco serviu, Mas muito do teu saber; Deu brilho, às portas que Abril abriu. Os teus poemas tinham calor; Tinham ambição, profundidade, Eram escritos com ardor, Com saber e com verdade. Nas noites em que escrevias, No silêncio… na solidão, No futuro, que tu não previas, Que existisse tanta desilusão. Ficaste para muito guardado: Teu corpo ficou, tua alma fugiu… Serás um ser sempre lembrado, Pelas portas que Abril abriu.


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MENINO DA RUA A noite estava fria, Cinzenta, sombria. Da lua ninguém sabia… As estrelas, onde estavam, Ninguém as via… O menino soltava um suspiro, Do seu esconderijo, Via um pouco de luar, Mas o frio não desaparecia, Deixava-se estar, Só ele sentia. Era apenas mais um menino, Já não era pequenino… Seu corpo destroçado, De medo apavorado. Estava só, O menino da rua, metia dó. Nesta casa que era sua… Em sua casa, o menino da rua, É o último, a apagar a lua.

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POETA LOUCO Sou um poeta louco… Não penso muito, nem pouco. A tudo aponto o dedo… Mas tenho medo… Medo de ferir alguém, Porém!... Continuo a apontar o dedo, Sem medo… A quem destrói, E não constrói. Aos incendiários, Aos mandantes ou usurários. Os que mandam incendiar, E o povo queimar, matar. Que se escondem cobardemente, De toda a gente. Choro as vidas perdidas, E as mentes sofridas. Por muito tempo, ou pouco, Continuo afirmando. Sou um poeta louco.


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A VIÚVA O sol lá longe sumia… Naquela tarde, húmida sombria. A noite chegava então… Como se tudo fosse em vão. Era apenas uma noite mais, Como esta, outras iguais. O alguém engravatado chegou, O homem da casa a pide levou. A viúva estava junto à porta, Numa noite de hora morta. O homem foi arrastado, Brutalmente tratado. Chorava, apenas chorava, Enquanto a viúva o levava. Cinicamente disseram é só um dia, Mas a gente já sabia… Quantas vidas destroçadas? Quantas vozes amordaçadas? Com regime de então, Apodreciam nos cubículos da prisão, Mal de quem falava, Ao cair da noite, a viúva lá estava. Em qualquer porta com rancor, Levando mais um, a mando do ditador.

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PROMESSAS Tanta promessa, te fizeram, Pensaste que era verdade… Mas eles sempre souberam, Como era grande a maldade. Promessas!... Apenas promessas, Antes morrer no mar, do que na terra, Este mundo está às avessas, Em sobressalto com esta guerra. Homens, mulheres, e crianças, No mar são despejadas, Ficam apenas lembranças, Das mentes destroçadas. O poder chega-se à frente, Criando mais uma ilusão, Não têm pena desta gente, Nem dó, nem compaixão. Os gritos são de revolta, Perante esta situação, Os carrascos, continuam à solta, Eles não merecem o nosso perdão.


LEONEL EUSÉBIO COELHO Nasceu na Beira Baixa, em Ortiga, concelho do Mação em 27 de dezembro de 1933. É casado com Maria Celina Baltazar, natural de Vilarouco, S. João da Pesqueira, têm uma filha Maria das Dores e um neto Rafael Augusto. Tem três irmãos com vida e vários sobrinhos e sobrinhas. É filho de Joaquina Maria Eusébio e de José Rosa Coelho, ambos falecidos, a quem deve tantas coisas boas, que de tão óbvias se adivinham. Fez a escola primária em Ortiga. Trabalhou na construção da Barragem de Ortiga/Belver. Foi empregado de café no Aliança e no Nacional do Montijo e no Teco em Alhos Vedros. Foi lagareiro de 1953 na cooperativa de olivicultores de Ortiga, e honra-se de constar na lista dos lagareiros fundadores do lagar que ainda hoje, em 2019, existe em funcionamento. Em Alvega foi empregado de café e da bomba de gasolina do Carvalho, no Montijo trabalhou ainda na drogaria Carvalheira e em várias fábricas de cortiça. Em Alhos Vedros trabalhou na cortiça no Américo Jacinto, no Joaquim José Sancho, Joaquim Caiado e Romãozinho. Foi marinheiro de 1954 a 1957


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Foi operário da CUF entre 1957 a 1966, e vendedor de rações de 1967 até à reforma. Dirigente associativo na Cooperativa Operária de Crédito e Consumo, da Academia Musical e Recreativa 8 de janeiro, ambas de Alhos vedros e da Associação de Ténis de mesa de Setúbal. Colaborou nos jornais Gazeta do Sul, do Montijo, Primeira Página de Palmela, O Rio da Baixa da banheira e o Diário de Notícias de Lisboa. Publicou uma dúzia de livros, nos géneros poesia, conto, ensaio e um romance. Detentor de vários prémios literários na vertente poética e do conto. Figurou em todas as edições dos Poetas Nossos Munícipes. Participou e participa em encontros de escritores e poetas, apresentações literárias e debates na qualidade de conferencista e de orador, de escritor, de poeta, de associativista e pelo percurso de vida, em várias escolas, D Pedro II da Moita e, em Alhos Vedros nas escolas José Afonso, básicas da Fonte da Prata e do Bairro Gouveia; em várias coletividades, na biblioteca de Alhos Vedros, Moita, Vale da Amoreira, Palmela, Alcácer do Sal, no Auditório Municipal de Mação, na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal, e na Escola António Arroio de Lisboa. Participou como escritor e como orador convidado, no encontro de escritores regionais VALE a PENA em Tarouca, iniciativa de que saiu a publicação do primeiro dicionário de escritores regionais de que faz parte, bem como as suas obras. Fez parte do Grupo cénico da CUF, dirigido por Graciano Simões e contracenou com atores de relevo nacional, com destaque para a saudosa Raquel Maria. Este grupo percorreu o país com as suas peças e participou em diversos concursos de teatro. Foi cofundador da Biblioteca da Academia 8 de Janeiro de Alhos vedros no ano de 1968, com a presença do senhor presidente da Câmara Vitor de Sousa, e do prestigiado e saudoso companheiro e artista Manuel Cabanas. (No dia seguinte Leonel Coelho foi chamado aos Paços do Concelho, onde a PIDE marcou presença e onde foi intimado para se apresentar para interrogatório dirigido pelo inspetor Canto e Silva, na sede da PIDE DGS em Setúbal).


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Nas eleições de 1969 representou a oposição na freguesia de Alhos Vedros, na mesa eleitoral, a funcionar na junta de freguesia. Na contagem dos votos venceu a CDE, Comissão Democrática Eleitoral. No largo onde se construía o posto médico, a multidão festejou a bofetada no regime. Também nesse ano, e em representação da oposição, com mais três camaradas, participou no Encontro Nacional de Leiria, em nome da expressão operária. Durante a estadia na prisão de Caxias em 1970, entre Maio e o Natal, executou trabalhos de artes plásticas servindo-se de borras de café, pétalas e folhas de flores e outros vegetais, como materiais de pintura, que foram objeto de uma exposição feita por amigos da Academia, Rui Semedo, Diamantino Patarata e outros. Foi premiado em fotografia na CACAV na temática “as culturas”. Em 1972, organizou, conjuntamente com outros dirigentes associativos, a primeira feira do livro de Alhos Vedros, sob a bandeira da Academia 8 de Janeiro, que no próximo ano celebrará a 49ª edição. Introduziu a ginástica na Academia, nos anos sessenta do século passado e foi o primeiro instrutor da modalidade. Iniciou a prática do ténis de mesa na Academia, modalidade federada desde 1980/81, de que foi sempre treinador e ainda é. Organizou com outros camaradas o circuito ciclista integrado na Feira do Livro durante 13 anos, em que participaram quase todos os campeões daquele tempo. Idealizou o torneio Zeca Afonso de ténis de mesa que conta já 33 edições e acontece anualmente no dia 25 de Abril. Tem o curso de árbitro de ténis de mesa e frequentou o curso de treinador, tendo reprovado. Anos mais tarde, a Federação atribuiu-lhe o diploma de treinador, pelos altos serviços prestados à modalidade e reconheceu-o como “o melhor condutor de homens” e a mais três companheiros de coletividades congéneres.


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É o destacado animador da tradicional homenagem ao cantor da liberdade, Zeca Afonso, em cada 23 Fevereiro, aniversário da sua morte. É agricultor nas horas vagas e cuidador da esposa a tempo inteiro. Militante politico 24 horas por dia. Candidato eterno na região de Setúbal pelo seu MRPP de que é membro desde 1973. Foi preso pela PIDE e pela COPCON. Espancado e torturado como tantos outros companheiros de luta. A todos, deve os saberes. Mas é aos antigos camaradas da CUF a quem está mais reconhecido.

Doce como as amoras Nascida em todos os Lugares e em nenhuns


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SE Como me comportaria, Se, por um dia Por uma hora Por um momento pudesse Habitar o universo do sábio? E o que é um sábio? É aquele que nunca pisou cocó de cão Nunca espreitou a vizinha Nunca teve dúvidas Como será um sábio, onde só parecem morar virtudes? E as pequenas coisas De que é feita a vida Uma joaninha pousada na mão Voa joaninha voa, voa… E o gafanhoto a esconder-se no lado oposto do caule Que em salto único se projeta rápido como o olhar Acaçapando-se em esconderijo viçoso? O sábio Deve morrer de saudades dos tempos em que foi menino Do tempo em que ainda não era sábio. Acomodado à minha vulgaridade Sinto pena de ti, sábio. Carregado de insuportáveis saberes Resta-te o respirar Condição que nos iguala a todos E onde as grandes sabedorias Submergem nas marés dos simples.

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SEMPRE Sempre o menino fugirá Podes Em momentos de ternura Dar-lhe o leite e o colo Arrancá-lo de perigos bruscamente Prometer-lhe mundos e fundos loucamente Sempre o menino fugirá Sempre Foste assim também E os teus pais E os de antanho Desde os primórdios da humanidade Sempre o menino fugiu Sempre o menino fugirá Sempre Então Inventa-se a saudade E é o regresso aos destroços Que são apesar disso Uma fuga de regressos Mas ainda assim Uma fuga, Sempre.


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PARA FLORBELA ESPANCA Ai esta rua onde moro Que ao tempo que longe vai Era de terra batida Quando eu, ansioso, Ouvia o pisar dos teus sapatos E o meu coração batia, batia e batia. E dizia: É ela, é ela. Nos tempos em que havia sapatos com magia Os de agora Vêm de fora São todos iguais Por isso Cada um agarra o que está mais à mão Sem luta nem paixão Dantes Dar a mão, roubar um beijo Inesquecível deslumbramento E quando finalmente chegava o livre momento Tudo era musical, Triunfante Arrebatamento Para nunca mais esquecer.

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AO CANDIDATO A POETA Podes acabar o poema quando entenderes Pondo-lhe mais ou menos palavras Com cambiantes Ternuras ou lamentos Mas uma coisa tu não podes fazer Matar a poesia antes dela nascer Por isso começa agora E vai por aí fora Enquanto é dia Mostra o teu trabalho aos amigos Vai até onde os livros te convidam E sem dares por isso Já és dos nossos E de sonho em sonho vives Um abraço Palmas e lágrimas Labor, amizade, generosamente Poeticamente.


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ELA VEM VINDO Liberdade Uma palavra desfraldada Com janelas para todos os azuis Temperada com leite de peito Inacessível Esquecida como um velho num asilo Doce como as amoras Nascida em todos os lugares e em nenhuns Apátrida Velha liberdade Sem idade Nada que se mova, que respire Pariu tantos órfãos e lutos Para lhe chegar com as mãos Onde há muito tocamos com o coração Há e haverá barricadas Iluminadas celestialmente por marionetes Carregadas de lantejoulas com sexos escancarados E ela a liberdade A fugir, a fugir Geração após geração De antes de Spartacus E até ao fim de cada um de nós Entretanto aqui e ali Uma ação, um momento, uma efeméride, Diz-nos que uma amizade Já é liberdade

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MANUEL ALEXANDRE BENTO BORRACHA O meu nome é Manuel Alexandre Bento Borracha, nasci em Cuba no Baixo Alentejo, no dia 6 de janeiro de 1948. A minha atividade profissional foi exercida na Setenave. Durante os anos que lá trabalhei, participei com poemas numa revista da empresa. Agora, surgiu esta oportunidade em participar neste concurso e poder ver os meus poemas publicados pelo Município da Moita, onde resido. Por esse motivo não deixei escapar esta grande oportunidade.

Bela razão de existir Essa força de amor


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A IGNORÂNCIA Não vendo mas concordando Com a justiça divina Não concordo por razão Numa injustiça assassina 2.000 o século moderno A lei já reconhece o aborto Preferem um filho morto O globo é um inferno Poucos procuram o eterno Vão-se assim degenerando Como tudo vai mudando Na base da sexualidade Vivendo a animalidade Não vendo mas concordando Maravilha é o amor No reino da natureza Une os seres na sua beleza Num mundo de esplendor A grande lei do Senhor Que tudo de bom ensina Raça humana que defina Nunca no belo prazer Todos temos que entender Com a justiça divina Políticos revoltados Com parte da geração Tudo é evolução

E se fossem rejeitados Falam tanto esses coitados Com um vazio tão em vão Todo o ser é um irmão Não façam mais divisões Por falhados de ilusões Não concordo por razão O homem e suas paixões Ultrapassa o animal Tem na vida sexual Um campo de emoções Cai nas baixas regiões Doença que contamina E em tudo se inclina Para a sua destruição Alastra na geração Numa injustiça assassina


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MOTE O corpo humano é sagrado Com cinco aparelhos carnais Por poucos é respeitado Ele dá os seus sinais? Em um dando à falência Outros ficam ressentidos Afeta logo os sentidos Só depois chega a doença Entram todos em falência Ficam todos desolados Lá diz o velho ditado Nunca se deve esquecer Temos todos que aprender O corpo humano é sagrado! Coisa tão bela que é A forma que todos temos No sentir pouco a lemos Há que ter esperança e fé Não somos perfeitos até Julgamo-nos superiores demais Por vezes piores que animais O corpo que tanto merece Toda a forma enegrece Os cinco aparelhos carnais

Comem a seu belo prazer Carne e outros legumes Vão ficando com queixumes Lá fica a forma a sofrer Também não devem esquecer Comem e bebem demasiado Fica o corpo adoentado Tudo fica em falência Lá vem depois a doença Por poucos é respeitado Bebem leite em meninos A idade vai passando Lá se vão alimentando Com todos os desatinos Começam de pequeninos Ficam nutridos de mais São poucos, mas são demais A fazer suas burrices Ficam com suas chatices Ele dá os seus sinais!

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FONTE DIVINA Da fonte bela e poderosa Que Deus é emanada P’los séculos e séculos guiados Essa força majestosa Torna-se em tudo bondosa Uns chamam-lhe inteligência ou mente Pois essa força eminente Poucos a querem estudar Dá a tantos em que pensar Princípio inteligente P’los reinos vai passando Esse grande clarão Cumprindo sua missão Em tudo se transformando Vai-se assim manifestando Adquirindo liberdade A caminho da verdade Essa vitória imortal A vida espiritual Conduz-nos à eternidade! Contendo a sua força Forma a galinha o galo o cão, a vaca e o cavalo Forma o leão e a corça Forma o homem e a moça P’lo Planeta passando Vai-se assim manifestando

No reino da Natureza Que grandiosa beleza Vários corpos vão formando O corpo a ferramenta Pelo tempo passar Acaba-se por transformar O que essa matéria enfrenta Pelos anos tudo tenta Pela velhice e mocidade Não lhe faltando a vontade Leva o tempo a combater Pensam todos que vão morrer Espírito … não tem idade!


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PRIMAVERA Ar puro é primavera Estação fraternidade Há anos que o povo espera Hoje vive-se em liberdade Lindos jardins, lindas rosas E tantas outras flores parecem pintado a cores Borboletas caprichosas Pousam em flores mimosas Mesmo no cimo da serra Em qualquer ponto da terra Ou no pátio ou no canteiro Que cheiro tão cativeiro Ar puro é primavera

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PALAVRA DE FORÇA A união faz a força Que bela luta sem dor Bela razão de existir Essa força de amor Tantos na vida a sofrer No campo da ilusão Partires sem compreender Sem encontrar união Voltam de novo a renascer Cumprindo sua viagem Mesmo por muito sofrer Cumprindo sua viagem A mundos desconhecidos Fomentando a paz na guerra Não estamos desprotegidos neste planeta terra Temos forças superiores Jesus o mestre divino Temos anjos protetores é sagrado o seu ensino Temos Deus a nosso lado Louvando, Deus nos ouça Deus meu Deus glorificado A união faz a força


MARIA AMÉLIA ASSUNÇÃO MILITÃO GAZELA Maria Amélia Assunção Militão Gazela nasceu a 2 de Junho de 1955 na vila do Lavradio, concelho do Barreiro. Frequentou a escola Alfredo da Silva do Barreiro e Patrício Prazeres de Lisboa. Trabalhou na CP como escriturária e em 1978 demitiu-se para estudar em Kiev e em Moscovo, língua e literatura russa no Instituto Maurice Thorez. Em 1989 partiu para Bruxelas para trabalhar no Conselho da União Europeia. Em 2005 é admitida no Círculo literário da União Europeia. Em 2006 é criada a seu pedido a revista “LittéraTour”, onde publica textos literários e poesia em língua portuguesa com tradução em francês e inglês. Em 2009 é admitida no grupo literário belga Grenier Jane Tony. Em 2011 publica o seu primeiro livro de poesia Eterna Incerteza. Em 2012 publica o seu segundo livro Histórias mal contadas, um livro de histórias. Em 2014 publica o seu terceiro livro Emoções, um livro de poesia. Em 2015 publica “Vida que era a segunda – Memórias de uma Estudante Portuguesa na URSS”. Eu vejo o meu futuro Para além do Mar


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VIDA As árvores do parque Verdes, amarelas, agitam-se ao vento Em mim uma mescla de sentimento Tristeza, alegria? Nada é certo Neste meu Universo! Folhas mortas no chão Vivas nos ramos Pela brisa beijadas Ao encanto do vento se entregam! Vida quão vasta és E eu aqui estou aos teus pés A ti me entrego Diva, musa, a mãe de tudo!


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ÁGUAS PROFUNDAS Águas profundas Gotículas brilham ao Sol Parecem diamantes! E eu vejo o meu futuro Para além do Mar Este Mar sempre, sempre Na minha vida E na tua Gotículas brilham ao Sol Gaivotas flutuam As algas também Em águas profundas Tão profundas Como o meu pensamento! Que me leva Para além do Mar E para o futuro contigo!

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RISO DE CRIANÇA Ouço o riso de uma criança Que alegria, que felicidade É nelas que está o futuro A vida, a realidade! Riso de criança Tão puro, tão sem igual No riso de uma criança Há esperança! Riso de criança Tilintam na sua voz os cristais E em nós renasce a esperança E outras coisas mais No riso de uma criança!


MARIA DE FÁTIMA BIMBA FLORES Maria de Fátima Flores nasceu no dia 10 de Fevereiro de 1947, no Fundão. Foi a penúltima de sete irmãos e sempre se sentiu feliz no seio de uma família religiosa, unida e coesa. Sempre teve o gosto pela aprendizagem, leitura e poesia. Aos oito anos de idade já fazia poemas e peças de teatro, que representava com outras crianças. Fez o percurso escolar normal até à quarta classe, mas nunca desistiu de aprender e foi autodidata. Sempre com o interesse de aprofundar os seus conhecimentos em diversas áreas, preferia ficar em casa a ler e estudar em vez de sair com as amigas da sua idade. Aos 14 anos iniciou-se no mundo do trabalho, tendo ficado sempre em primeiro lugar nas provas que lhe eram exigidas. Ao mesmo tempo que trabalhava, Maria de Fátima aprendeu sozinha geografia, história, literatura, matemática, entre outras disciplinas, até que decidiu oficializar a sua formação aos 65 anos de idade, obtendo assim o diploma do 12º ano. Desde cedo praticou voluntariado em diversas valências. Após o seu percurso profissional ingressou na Universidade Sénior do Fundão, inscrevendo-se em diversas disciplinas. Também praticou voluntariado em serviços administrativos dessa Universidade, tendo depois prescindido de todas as aulas para se dedicar integralmente ao voluntariado nesses serviços.


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Da sua autoria criou uma rábula intitulada “Tia Anastácia” que obteve muito sucesso nos vários locais onde foi exibida, desde escolas, festas e romarias, lares de terceira idade, serviços municipais, tendo até chegado a ser exibida em Bruxelas. Escreveu também letras para músicas da Tuna da Universidade Sénior e para outros grupos de cantares e infantários. Por questões pessoais vive há cerca de cinco anos neste município onde ainda não perdeu o gosto pela escrita e, especialmente, pela leitura.

No verdadeiro palco da vida sou introvertida! No palco da ficção sou energia e transformação!


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A ÁGUA – GRITO DE ALERTA A água é uma fonte de vida para todos nós Que sacia a sede da natureza em geral… Digamos ao mundo em alta voz: “o uso da água tem de ser racional”! É claramente, uma incomensurável riqueza Que devemos poupar, preservar e reutilizar Não a contaminemos! Tenhamos essa clareza! Lembremo-nos que temos um planeta a salvar! Ando sedente de água pura e cristalina Trago à lembrança os tempos de outrora! Tal, como a bendita luz que nos ilumina Também a água era: insípida, incolor e inodora! Água!... Que choras lágrimas de saudade! Saudade do tempo em que eras “pureza”! Hoje, és escassa e poluída – é a pura realidade! Água!... Que com mágoa choras de tristeza! Água poupada, não custa nada! Só ela nos permite a vida Outra na vida não foi encontrada Água bem repartida é água bem gerida! O milagre da multiplicação não o fazemos! Isto é o que diz a voz da nossa razão Para água no universo, todos nós termos Façamos então… o milagre da divisão!…

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O MEU RETRATO PSICOLÓGICO Nasci com alma triste que por vezes está contente Sou humilde, correta, sensível e complacente Honestidade, sinceridade e seriedade São indubitavelmente a minha verdade! Como é óbvio, não me faltam os defeitos Mas, nós humanos, todos somos imperfeitos! No verdadeiro palco da vida sou introvertida! No palco da ficção sou energia e transformação! Não me é muito fácil representar a “Tia Anastácia” Dado que exige de mim: força, coragem e audácia! Contudo, eu acho que pequenos momentos “hilariantes” Fazem-nos esquecer grandes tempos “angustiantes” Alegra-me conseguir pôr os outros a gargalhar Porém, é sem sombra de dúvida, que na sombra eu quero estar É que desta forma, a minha timidez não dou a demonstrar! Talvez dentro de mim, haja uma força interior… Porque apesar da tristeza, possuo o “sentido de humor”! Há momentos em que penso: Não será um contrassenso?


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DESENTENDIMENTOS ENTRE AS QUATRO ESTAÇÕES DO ANO

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As quatro estações do ano Também têm as suas rivalidades Todas dizem ser a “MAIOR” Todas querem deixar saudades

Muito ciumento. – Diz o Verão: – Vocês não têm razão! – Deixem essa discussão! – Quem traz o calor sou eu. – Pois, então?!... – Além disso, trago muita, muita animação!

Disse a Primavera ao Inverno: – Uf! – Até que enfim! Já terminaste! Só ofereceste: frio, chuva, vento e neve, Foste indesejado! Nenhumas saudades deixaste!

Aproximou-se o tímido Outono, dizendo: – Olha, Verão: só tens presunção. – Não penses, que agrada a todos!... Eu vi gente desesperada e de leque na mão!

O Inverno com a sua sisudez, Retorquiu: – Cala-te, ó “Primaverita”! – Só por seres catita e toda colorida, Já te julgas a melhor e a mais bonita!...

– De nós as quatro, eu é que sou o “MAIOR” Trago a fartura: - nozes, castanhas e vinho, Apesar de ser retraído e vestir cinzento, Dou muito contentamento ao “Zé Povinho”!

Ripostou a Primavera: – Ó Invernão tristonho e tenebroso És um invejoso. Mas não ficas sem resposta: – Quando eu, Primavera, apareço, Tudo sorri!... De mim, toda a gente gosta!...

O Inverno saturado de ser humilhado, Respondeu-lhe, mas em tom baixinho!... – Tu, Outono: trazes contentamento ao “Zé Povinho” E eu? Quando chega o “Menino Jesus”, Ai Jesus! Aos comerciantes dou tanto, tanto, dinheirinho!...


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SONETO: NATAL É ESPERANÇA Naquela noite brilhava o luar Maria e José, sorriam em paz e amor Nasceu o “Deus Menino” p’ra nos salvar Anjos e Pastores, cantavam em seu louvor Os Reis Magos, fizeram-se ao caminho, Queriam prestar-lhe a sua homenagem Felizes e contentes, lá iam devagarinho, Fazendo assim, aquela longa viagem. Árdua e difícil, foi a caminhada… Mas, orientados, por uma estrela abençoada, Até esqueciam as noites tão mal dormidas! Que apareça a mesma estrela nos “Céus”, Para orientar alguém – suplico-vos ó meu Deus, A encontrar os caminhos das crianças desaparecidas


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AO LAR DE SARILHOS PEQUENOS

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Tinha problemas De saúde e solidão Ao chegar a este lar Encontrei a solução!

Os funcionários Amigos e diligentes Brincam e cantam connosco Só p’ra nos verem contentes!

Com a saúde Não me preocupo não Tem médicos e enfermeiros Que me dão toda a atenção

As dirigentes Mais a nossa direcção Em tudo, dão o melhor P’rá nossa satisfação!

Tem comidinha Excelente e apetitosa E não falta a limpeza Com o aroma de rosa!

Vai um bem-haja De alegria e emoção Dos utentes deste lar Num gesto de gratidão!

A minha roupa Anda sempre num “brinquinho” Porque na lavandaria É tratada com carinho!

REFRÃO: Ai… Ai… Ai… Ai… Eu gosto é deste lar O meu ninho de aconchego É o lugar do meu bem-estar!

O passatempo Cada um escolhe o que quer Há muita variedade Para homem e mulher!



MARIA ODETE DE JESUS DELGADO LOPES O sol estava no meio dia, quando nasci a doze de março, mil novecentos e quarenta e nove, um dia importante, porque entrei no mundo, em pleno Ribatejo, Abrantes, gozando das planícies abertas e montanhas pouco exuberantes que subíamos e descíamos em grupos de jovens vivendo a natureza. Seguiu-se África com toda a sua grandeza selvagem, bela e misteriosa. Regressei com muitas outras pessoas, que como eu, amaram Angola e Moçambique. Na universidade de Coimbra, licenciei-me em Línguas e Literaturas Modernas, o ensino foi a minha profissão. A realização pessoal foi acontecendo em cada momento de vida, na prática do desporto de equipa, entre leituras e escrita, viagens e conversas simples que nos aproximam do outro ser humano, cumprindo o universo. A poesia surge de um sentir o que o olhar apreende e o papel regista, na simplicidade das coisas pequenas que compõem a nossa felicidade.

De quantos abraços a vida Se vai tecer, Quão belas páginas Voltaremos


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O SERMÃO Silêncio! Vai ouvir-se o sermão, Na igreja de S. João, onde o Padre Catarino, enrolado na capa preta passava tanto frio, a ouvir adormecido, pecados deslizados de crentes arrependidos. Também o padre Freitas, Com a sua voz estridente, Lia o sermão da Virgem, Ao encontro do seu filho, Na sexta-feira Santa, Salpicada de água benta… O cheiro do alecrim que o chão sulcava O incenso que a igreja enevoava, Atordoavam os sentidos, E as pobres almas, coitadas Viam na dor da mãe a sua vida E aceitavam-na como desdita… As palavras espíritos atormentavam A causa dos seus pecados Que não sabiam definir, Tanto rezavam, tanto bem faziam De nada percebiam. Tudo querem entender Por isso só sabem dizer, Que queriam ver Cristo a rir, Porque estão cansados de o ver sofrer.


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A UM PAI Fica comigo, papá! Meus braços ainda não são fortes, Não te podem segurar. Meu corpo pequeno, no teu se esconde, Sente o meu coração que te diz: Quantos beijos tens para me dar, De quantos abraços a vida se vai tecer, Quão belas páginas voltaremos, Altas montanhas subiremos, Lá no cimo, teu poema me darás. Nas galáxias flutuaremos, Em sonhos e terra lavrada, Pelo amor que nos une, na criação! Fica comigo, papá! Quero ouvir a tua música, Nas cores que me vais mostrar, Nas letras que contigo vou aprender, De pé, a andar me vais ensinar, Na tua mão poderosa, correr apoiada Dos medos afastada.

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Fica papá! Quero ouvir o teu canto, Tua alma, teu ser, E quando tudo se inverter, Estarei lá, para a tua mão trémula segurar Nos teus braços me aconchegar, Dirás, então, que valeu a pena Ao meu lado ficar!


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O MENINO E SUA MÃE Que fortuna ser a mãe de Jesus abençoado, Ter um bebé, nos braços embalado, Os seios oferecer, à boquinha desejosa, O primeiro passo amparar, Correr atrás do menino, saltitante de alegria Discutir as coisas boas, na mesa da sabedoria. Trocar sugestões, coisas de mãe e filho, Mirar as raparigas, que o infante queriam. Ouvir-lhe os sermões de esperança, Os milagres de magia, Segredar-lhe ao ouvido, tanto amor que sentia. O menino bem amado, Foi traído, cruxificado, Não pelos nossos pecados, Mas por aqueles que o temiam.


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A sua mãe desolada, Dizia para si destroçada: Será que fui culpada? Do alto responde o filho, Que com ela quis ficar: Não minha mãe, de ti só tive amor, Grandiosidade, vivi a vida com doçura, Envolto em ternura, Mais, não me podias dar. Ficarei sempre contigo, com todas as mães Que amam, muita felicidade vou semear. A sua mãe sorriu, seu filho reconheceu A beleza que há, na mãe que se dá!

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COMODISMO Estava soturna a tarde, O vento mais desperto, Quando um passarinho, na varanda poisou E uma cagadinha ali deixou. Que mensagem trazes passarinho, Tu, que tão alto subiste, Será para me vir visitar Ou só para te ver defecar?! As asinhas bateste na minha sala, Eu pensei comigo mesmo: Será que com ele vou voar Ou no sofá me recostar? Confuso afundei, Na dolência do teu voo, Meu corpo ficou parado E o pensamento te acompanhou. Nas tuas asas, passarinho A minha reflexão levaste, Fico aqui à espera Que melhore o programa bera E o comando não se estrague. Volta passarinho, volta, Aqui fico a esperar que entres pela janela E me faças levantar.


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LOUCURA Estou louca, sim senhor E que bom é este estado Andar sempre na lua Divertir-me um bom bocado Sonhar acordada A realidade esquecer Acreditar na vida Tudo pode vencer Agarrar o tempo Segurá-lo na mão Olhar o mundo de frente Abrir o coração.

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MARIA TOMÁSIA MORAIS CAMÕES Em 27 de dezembro de 1951cheguei ao mundo, na cidade do Barreiro, na maternidade do posto médico da CUF, criada num lar humilde de gente trabalhadora, honrada, com valores e com brio na sua família. Meu pai conta que quando nasci era tão pequenina que pensou que eu não vingaria, mas afinal enganou-se. Era uma criança simpática, apesar de supertímida. Fui muito boa aluna, aos 6 anos tinha conhecimentos suficientes para entrar logo para a 2ª classe, mas nessa época ainda não permitiam. Passei com 19 valores, da 1ª para a 2ª classe. Fui muito feliz na minha infância. Continuei a estudar, tirei o secundário de química onde fui uma aluna interessada. Casei aos 22 anos após o término da guerra. Aos 24 tive o mais desejado, uma linda bebé, depois de algumas dificuldades para ela vir ao mundo, conforme alusão no poema “O Meu Milagre”! Tive o meu processo laboral no decorrer de 35 anos, onde fui analista química, executiva de compras e gerente da minha papelaria. Para finalizar tive outra grande e inesquecível alegria. Aos 53 anos fui avó da minha querida Catarina, onde refiro na poesia “Meu Amor”. E agora só espero que os anos seguintes decorram com muita paz e felicidade. Depois de ter colaborado no livro “Poetas Munícipes” de 2016, estou continuando a fazer parte desta família em 2019

De repente chegou o dia, Inesperado como tudo o resto


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O SONHO Fazes-me bem, Pensar em ti, dá-me vida, Dá-me forças infindáveis, Faz-me ganhar o Céu, Dá-me alento para seguir, Até onde Deus deixar. E será que Ele deixa? Ele talvez, mas os homens, não, O mundo é cruel, Mas o que eu sinto é real, Não importa o que digam, Mas sim o que nos vai na alma, Seria maravilhoso, Se a tua alma encontrasse a minha, E seguissem de mão dada, Até à Eternidade… ----------------------------Oxalá meu amor!!!


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ALENTEJO MEU Meu querido Alentejo De ti nasceu o meu amado pai Das tuas belas raízes De toda a verdade que dizes Desde sempre te vejo E todo o dia te desejo. Como eu amo a tua paz A tua límpida luz A tua cor me faz feliz O teu som me apazigua A Natureza me apraz O povo me seduz. És belo com o teu Sol Que irradia de claridade Os teus campos de trigo Me trazem felicidade No teu chão meu pai pisou Também no meu coração senti Aí meu querido pai trabalhou

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O meu sangue corre em ti. Ficará p’ra Eternidade O meu amor por essa terra Pois ao romper da aurora Sinto vontade de abraçá-la Dar-lhe todo o meu carinho E não consigo ir embora… Obrigado pai por me teres dado vida, e assim me deixares amar tanto o teu Alentejo…


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PORQUÊ? Porque não falas? Porque não dizes? Porque não fazes? Porque só pensas? Ficas fechada no teu Eu, Sofrendo sozinha… Sem alimento de amor, só dor! Precisas de viver, respirar, Pensa em ti, no que tens p’ra dar, No teu coração cheio de amor, Na tua alegria, agora fechada, Nas sensações que te fazem vibrar! Chama as forças do teu ser, E alimenta a tua vontade de viver… Procura a tua felicidade, Tens direito a ser feliz, Não deixes os dias passar, Pois podes não alcançar, Tudo o que tens para amar…


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A REALIDADE De repente chegou o dia, Inesperado como tudo o resto, O dia que não esperava, Que viesse a acontecer, Como tudo na minha vida, Tem vindo a suceder.

Depois de muito passar, Minha vida melhorou, Encontrei meu amor. Que em tudo me ajudou, Pois pedi muito a Deus, E ELE me iluminou.

A felicidade é notória, Tudo de bom me chegou, P’ra completar a história, Resta a minha memória, Bons momentos vividos, E o amor completou.

Agora que chegou a idade, Está na hora da calmia, É preciso usufruir, Da linda natureza, Do nosso belo Sol, E esquecer a tristeza.

Os dias são passados, Com a melhor companhia, Tenho toda a atenção, Não posso ter melhor, Vivo com muita alegria, E entrego meu coração.

…Obrigado meu amor

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MEU QUERIDO PAI Visitava a família Quando era pequena Foram dias muito felizes Eu era muito serena.

Quis que fosse estudar P’ra ter melhor vida Lutou p’ra nada faltar A família construída.

O pai tratava de mim Penteava-me com cuidado Punha-me o laçarote Íamos p’ra todo o lado.

Chegou o dia e casei Tive uma linda petiz Quando fui abandonada Ele ficou muito infeliz.

Passeávamos ao Domingo Levando meu bibe de folhos Todos gostavam de mim E gabavam os meus olhos.

Os anos passaram E tudo aconteceu Até que aos 90 anos A vida ele perdeu.

Eu era a sua princesa E o seu grande orgulho Elogiava minha bondade E lutava pelo meu futuro.

A saudade é imortal Acompanha-me sempre Mas não me sinto só Ele está sempre presente.


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…e agora o que eu faço, Espero todos os dias, Quero voltar a ver-te, Nunca mais chegas, A ansiedade é enorme, Minha alma chora, Quero abraçar-te, Meu pai não vás embora… …meu pai, meu amor, Eras a luz da minha vida, O guia dos meus passos, O professor do dia a dia, A bênção que Deus me deu, O meu irmão gémeo, O meu caminho certo, A minha alegria…

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…fui ao local onde repousas, Foi extremamente difícil, Pois nunca iria aceitar, Que jamais te volto a ver, vou por ti esperar, E senão te encontrar Irei p’ra sempre te amar.



MARIETA NOGUEIRA MENDONÇA MOREIRA Marieta Nogueira Mendonça Moreira Nascida no Rosário, Concelho da Moita a 28 de Novembro de 1951. Filha de Augusto Mendonça e de Maria de Lourdes Rodrigues Nogueira. Casada, tem 3 filhos e 3 netos. Frequentou o ensino primário na Escola Primária no Rosário, onde concluiu a 4ª classe. Mais tarde, a partir dos seus 22 anos, como estudante trabalhadora fez o 9º ano no Colégio S. João de Brito, em Lisboa. No Liceu de Loures concluiu o 11º ano na área de saúde e, posteriormente, optou por terminar o 12ºano na de letras, nesse mesmo Liceu. Frequentou em 1999 o curso de Direito na Universidade Autónoma de Lisboa. Atualmente, encontra-se aposentada, tendo desempenhado várias funções profissionais desde os seus 11anos de idade: Recepcionista de consultório médico em Alhos Vedros; Tarefeira, Ajudante de Enfermaria, Telefonista e Tesoureira no Centro Psiquiátrico de Montachique; 3º Oficial no Centro de Alcoologia do Hospital Júlio


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de Matos, Assistente Administrativa Especialista no Serviço Central de Psicologia Clinica e, também, na Psiquiatria Forense do Hospital Júlio de Matos, tendo concluído a sua vida profissional como Administrativa no Centro de saúde da Moita.

Não sei, se gozamos a vida Ou se a vida, que nos goza


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VIDA A vida, eu não consigo entender É o momento, em que nascemos Ou aquele, que vivemos Esperando, um dia morrer?

A vida, eu não consigo entender É o momento, em que nascemos Ou aquele, que vivemos Esperando, um dia morrer?

Quando se nasce, há vida Eis aqui, minha questão Se nascemos, para morrer Então vivemos em vão

Quando se nasce, há vida Eis aqui, minha questão Se nascemos, para morrer Então vivemos em vão

E que luta, ela nos dá E também insatisfação Andamos de cá para lá Sem qualquer, outra razão

E que luta, ela nos dá E também insatisfação Andamos de cá para lá Sem qualquer, outra razão

A vida é uma labuta E passa com rapidez Ela, não corre, voa Tão rápido, que nem a vês

A vida é uma labuta E passa com rapidez Ela, não corre, voa Tão rápido, que nem a vês

Todos nós, que temos vida Devíamos parar um pouco Para quê, esta corrida? Parece, estar tudo louco

Todos nós, que temos vida Devíamos parar um pouco Para quê, esta corrida? Parece, estar tudo louco

A minha confusão É somente e afinal Na vida, não há razão Para haver, tanto mal

A minha confusão É somente e afinal Na vida, não há razão Para haver, tanto mal


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QUEM SOU O que sou, não o sei bem Sou filha, amante e irmã Sou sogra, avó e também Sobrinha e família, de alguém Sou companheira, dona de casa Sou empregada também Sou esposa e cunhada Mas, o que sou, não sei bem Sou fadista, sou artista Tudo faço com devoção Mas esta ideia persiste Quem eu sou? Não o sei, não Tudo faço, para agradar Com alma e coração Mas, continuo a pensar Mas, quem sou eu então? Mas, após tanta incerteza De não saber, quem eu sou Mulher, nasci com certeza Eis a resposta, ao que sou Ser mulher, é tudo isto E mais, ela tem para dar Esteja alegre, ou ande triste Ainda tem tempo, para amar


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A MINHA NORA

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No seu aniversário, minha nora disse-me assim “Fazes versos para toda a gente, só não fazes para mim”

Ama meu filho e meus netos Boa esposa, boa mãe É uma mulher, de afectos Trabalhadora também

É verdade, pensei eu Mas, pensei sem o dizer Agora, aqui estou eu A pensar no, que escrever

Se meu filho, está feliz Que mais, posso desejar Sogra, não mete o nariz Nem palpite deve dar

Eu, cá sempre ouvi dizer Que nora e sogra, não se dão Só não, consigo compreender O porquê, dessa questão

Talvez, seja esta a razão De as duas, nos darmos bem Ela, é mulher do João E eu, sou a sua mãe

Falo com o coração E falo, como se ora Nem sequer, vejo razão Para não gostar da nora

Meus netos, são filhos dela Do meu filho, filhos são Ora, para gostar dela Não é preciso, outra razão

Têm ambas, o mesmo ser Após a sua união Uma é mãe, outra mulher Qual será a confusão?

Vou pedir, ao Senhor Deus Com devoção e clamor Para que, nora e filho meu Não deixem morrer seu amor

Eu com a minha, não compito E nem sequer, vou tentar Se ela, lhe dá o pito Eu, já lhe dei de mamar


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ROSÁRIO Rosário terra pequena Mas de grande beleza Tem gente de pele morena E simpatia em grandeza

Rosarinho, Rosarinho Tem gente acolhedora São com grande carinho Devotos a Nossa Senhora

Conhecido pela uga Sua dança tradicional Pela charanga é levado A todo o Portugal

Uga, uga, é tradição Toda a gente sabe dançar Com alma e coração Vêm para a rua cantar Com praia fluvial E areia bem branquinha Não lhe fica nada mal Ser a estrela ribeirinha

Rosarinho, Rosarinho Terra de gente afoita Que fica lá num cantinho Do Concelho da Moita Com beleza natural Foi por Deus abençoada Com praia fluvial Tem a festa e tem largadas

Rosário tem seus encantos Tem alegria e tradições Gente que ri e faz prantos Povo de grandes emoções


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SANTOS POPULARES São os santos populares Que aqui vão a passar Vamos todos até ao pátio Para cantar e bailar

Toda a moça que é solteira Mas que pensa em casar Vai pedir ao S. António Para um marido arranjar

Manjerico é Santo António Mas também é S. João Manjerico é pelos Santos E enche-nos o coração

Vou acender uma vela Ao rico Santantoninho Não vou sair da capela Sem levar um maridinho

Dos três Santos populares Aquele que é mais brejeiro É aquele que tem ares De ser um casamenteiro

O manjerico é verdinho Vermelho é o coração Ó rico Santantoninho Arranja-me um maridão

Populares são os três santos E gostam da brincadeira Meninas venham de vez Pelo S. Pedro saltar a fogueira

Santo António já se acabou S. João está-se acabar Não esperem por o S. Pedro Para ir ao baile dançar

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NELSON FREITAS DA SILVA – CACIMBUÉ Moçâmedes de areias cálidas, emolduradas por um mar sem fim, assiste ao nascimento de Nelson Freitas da Silva – Cacimbué, como gosta de ser chamado – em 11 de Janeiro de 1953. O primeiro livro com o qual se lembra de ter contacto, aos quatro anos de idade, é a Cartilha Maternal de João de Deus. A poesia bate-lhe à porta, ainda menino e, com apenas doze anos, já escreve pequenos poemas que, ou deita fora, ou oferece às raparigas. Lê John Steinbeck, Ernest Hemingway, Milan Kundera e Ondjaki, entre outros autores. Na poesia, a sua preferência vai para João de Deus, Eugénio de Andrade, Maria Teresa Horta, Mia Couto e tantos outros poetas. Para além da leitura, acumula outras paixões, também desde muito jovem. O cinema e a música são duas delas. Não é, por isso, de estranhar que tenha feito parte de bandas, onde canta e toca n´goma (tambor), ou que tenha participado no festival da Canção de Malange. No verão quente de 1975, com 22 anos, Cacimbué vem para Portugal. Autodidacta, defensor da paz e da harmonia e atento ao mundo que o rodeia, Cacimbué é um homem simples cuja poesia transpira sensibilidade e luz.


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De Angola, onde nunca mais voltou, restam saudades e memórias. Praia das Miragens – sua primeira incursão na poesia – é uma homenagem a Moçâmedes, lugar ao qual sonha, um dia, voltar.

Escrevo este pequeno Poema para ti Kaluanda Meu Kambadiami


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ACORDA! Acorda para a vida Acorda para este belo mundo Para as lindas maravilhas Sextilhas Que este globo terrestre nos proporciona Acorda não te deixes dormir Vamos sentir o frémito Um mundo novo há- de vir

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MATILDE DA KANÂMBULA Matilde da Kanâmbula É uma mariposa Uma flor cheirosa Que eu colhi De um jardim florido É a mamana mais bonita da sanzala É uma princesa Beleza É um jasmim Todo para mim Matilde da Kanâmbula


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KALUANDA Escrevo este pequeno poema para ti Kaluanda Meu Kambadiami Do samibizanga De S. Paula Da samba Com muita amizade Sinceridade Kalu puro Tu és o mais inteligente Estás sempre na frente Tens bom gosto És um refinado Calçinhas catrapiscas As moçinhas Sábado á noite gostas de ir curtir a rebita No kussunguila Malhar umas cucas bem geladinhas Com as meninas catorzinhas Meu kambadiami Kaluanda Este poema é para ti

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JOÃOZINHO DA SAMBA Joãozinho da samba É um avijotakamba Virgula na mutamba Kikorta na maianga É um avilo do peito Tem uma namorada Amada A Maria da Dores Um dos seus amores Joãozinho da samba Tem doze primaveras Quimeras É o maior da sua rua Gosta de pitar uma muamba aos sábados De doces de ginguba E de coco Joãozinho da samba.


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O VELHO MERCADO DA GINGUBA A regurgitar de povo anónimo Muita cantiga no ar A vavó Xica a reclamar O velho mercado da ginguba É o ponto de encontro Das bessanganas acesas Com seus panos garridos Floridos Para saberem das “novidades” Fresquinhas logo pela manhãzinha O velho mercado da ginguba É famoso Tem tudo Desde hortaliças Até frigoríficos É um mercado onde se pode encontrar Alguns kambas para se “malhar” Umas cucas bem geladinhas E comer um peixinho assado De preferência bagres fumados O velho mercado da ginguba Está cada vez mais velho Mas ainda resiste ao tempo É um local emblemático Da cosmopolita cidade de Luanda O velho mercado da ginguba



RODRIGO CAPELO

Rodrigo Capelo, suburbano banheirense, engenheiro agrónomo, jovem dos 90s, escreve excertos ocasionalmente, umas vezes rimam, outras vezes não.

Enfim, se fosse comigo Se calhar, até é melhor Que não tenha sido


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II Olhe que eu Eu Eu ia lá, eu ia Eu, se fosse comigo Dizia-lhe das boas Se é que me está a entender Que eu não sou de me ficar Teve sorte Se fosse comigo Moveria todas as minhas forças e mais tivesse no sentido da sua aniquilação total e absoluta Espalharia sal sobre a sua cova e nem sequer lhe cavaria uma cova E faria tudo com as minhas próprias mãos, assim, a sangue frio, está a ver Eu, eu, eu Ia ver o que não lhe caía em cima Olhe, vizinha Se fosse comigo Metia-o logo em tribunal Mas era logo no Constitucional Levava com uma constituição na tromba, ficava todo desconstituído Que esses gajos, pá Se fosse comigo Eu Ela não se safava, lhe garanto Que eu não gosto de pessoas assim Pessoas mesquinhas, sabe Que têm muita garganta Mas depois, Eu dizia-lhe, eu dizia-lhe das boas


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Você sabe Rogava-lhe pragas de mil infernos Com asneiras e tudo Tão negras e infames que fariam anciãs ciganas azedas exclamar “Que exagero!” Isto se fosse comigo Que esses gajos, pá Não pagam o condomínio Ignoram qualquer escrutínio Defletem qualquer juízo Demónios do escárnio Banham-se em infortúnios dos outros Cretinos, no fundo Enfim, se fosse comigo Se calhar, até é melhor Que não tenha sido

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III Corro, corro, corro O pulmão que me salta à garganta E arranhe a laringe cuspida Corro, corro, corro Que me pare a máquina Que a traquitana me falhe Corro, corro, corro Corro sem pressa de voltar Corro hemorrágico junto ao mar Corro louco até ao luar Até nunca me cansar, corro Estou habituado a correr sem parar Sempre a correr, a correr Sempre a cair, tropeçar A correr, levantar, correr, correr, correr Corro, corro, e correrei Até o cuco estoirar de susto Corro, corro, corro Corro, velho, corro, morto Corro, corro, corro Cuida-me, corvo Corro curvado Torço-me em curvas Coooorrroo Não há melhor lugar que correr Para outro lugar qualquer Concordo


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V

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Quero colecionar todos os jogadores Quero todos os craques Os que ainda não são craques Conto os milhões que me restam… Ora, entrou este, saiu aquele Quanto está? 2-1 para nós Ah, não vi Meu avô diz Vem um rapaz espanhol (…) avançado (…) dizem que é bom jogador Talvez, não sei Logo vemos Ele é do tempo dos Augustos e Eusébios E Colunas e Cavéns e monstros sagrados Gigantes, até dos bons Mas seus olhos brilham com promessas de tardes argentinas e lázaros italianos Melhor, melhor, Ouve o que te digo Era tê-los todos E encher a Luz deles todos E ser maior que a Luz


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VI Deixa-me Hoje não Hoje não queres saber de mim E eu olho, assim, para ti De olhos tristes nos teus, que são como (…) sei lá o que são Não os sei descrever Quanto mais olho, mais fujo ao que me dizem Não quero ouvir, não quero falar E não me calo Os copos esvaziam-se rápido Se não me calo bebo o mar Se me calo a ele me rendo Sem protesto Céus, como te detesto Quando perscruto a tua agudeza de fera Cada vez mais e mais e mais – São mais duas – E mais e mais (…) – São dois euros – Odeio-te, adoro-te, desprezo-te, imploro-te – impludo. Ah, poder beber-te a esclera Brincar com tua íris rodando no fundo do copo E verter para dentro duas lágrimas gordas antes que seque


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VII Ninguém que passeia o cão vai contente Nunca vi alma sorridente às sete da manhã Nem a passear o cão, nem a passear-se a si Aposto que ninguém é feliz às sete, eu não sou Só quem sonha pode ser feliz E só quem dorme às sete sonha Às sete Nem a visão de Lisboa me anima às sete Vá lá, sete e meia, saúdo o Arco da Augusta sem dizer olá ao Zé Vejo o Martinho sem esplanada É a Dona Rosa que à mangueirada Lava o pousio do turista Se é Dona Rosa de facto Se não sou eu lavado também Às sete não há artistas Ninguém cria nada às sete Que não fosse mais uns minutos na cama Nem ligo o snooze, que adianta Sete horas é uma trampa

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RUTE MARIA DOS SANTOS CORREIA TAVARES Nasci no Barreiro e licenciei-me em Comunicação Empresarial, na cidade de Lisboa onde trabalho como Assistente Comercial. Casada e mãe de um filho, pinto e escrevo Estados de Alma, desde que me lembro, para não "morrer"; como a forma de me conhecer e partilhar com outros o milagre da vida, ideias e versões do mundo como o sinto e ir aprendendo, consciente das minhas idiossincrasias. Sou discreta nas minhas relações sociais, mas intensa na partilha criativa do que considero que deve sair de dentro de nós para celebrar o outro. Acredito cada vez mais que é a Paixão, a Beleza, a Coragem e a Bondade que nos permitem ficar com as melhores imagens e são o fruto das relações mais fortes.

A promessa não arredou pé. Sim, agora não consigo, Mas amanhã estou lá. Melhor e mais forte,


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AR Agora é o frio que arrepia, mas por dentro desde que aceitei que não é possível não te amar, o ar quente sufoca. Respirar tornou-se um luxo. Despida sem as tuas palavras, arfo ritmadamente para não me deixar ir em queda livre, vulnerável. Aposto todas as fichas nas pernas bailarinas e aproveitando o balanço, salto. Ultrapasso o abismo. Agora é o frio que arrepia, mas quando o Inverno der lugar à Primavera, serão as deliciosas, quentes, inspiradas e eternas certezas que arrepiarão. Sem necessidade de fugir, viverei esse arrepio que suspende, arrebata, promete, inventa e concretiza. Um dia será assim, comigo, a desbravar caminho, planos e sonhos em comunhão.


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FOGO

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Em salto, estico. Em salto, elevo. Em salto, toco. Para em tuas mãos ao solo regressar, amparas-me pelas ancas. Subindo e descendo. Em salto, arfo, coro e sorrio. Afagas-me junto a ti. Rosto consciente de que quanto mais me estico, elevo e toco, mais prazer sinto ao regressar ao solo, sem que as tuas mãos tenham largado as minhas ancas. Na realidade, unimos pé com pé e rodopiamos, sim, juntos, unos e inteiros. Temendo o descompasso, vejo que sorris. Sem medo e sem que nem por um segundo desampares os meus quadris. Mãos nas coxas arfo, coro e sorrio. Impeles-me a mais um salto. Esticas, elevas e tocas. Mãos no rosto e em equilíbrio, sussurro para não acordar, momento repetido até às lagrimas de comunhão. Pura seda e chicote.


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Mãos no pescoço, olhos fechados, entrego. Entrego-me, entrego-te. Substituo o gancho. Melhor os teus dedos no meu cabelo. Mergulho! Abro os olhos e são pernas que se entrelaçam arrepiando caminho, lábios que beijam cabelos, ombros, pescoço e lábios. Dedos esguios, lábios suaves. Pura seda e chicote. A promessa não arredou pé. Sim, agora não consigo, mas amanhã estou lá. Melhor e mais forte. Não consigo não te amar. Não quero.


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ÁGUA

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É líquida, sonora, palpável a energia com que se originou o corpo. Tem um cheiro que é um conto de como essa água, impeliu o ar a criar, a fazer se sentir, em puro sussurro. Qual espelho, devolve uma imagem pura e dura. Diz que não será a mesma a cada novo banho e daí a sua fertilidade imperatriz. Eu sou o Amor, foi o que ouvi!



RUTE PIO LOPES Nascida no Barreiro em ‘70, Moitense por adoção! A fotografia é um hobbie que me assiste há longa data e a escrita um devaneio que tomou proporções mais sérias na minha década dos “40”. Juntos têm-me proporcionado momentos únicos, cujo ponto alto foi a publicação do livro “Sintonias” pela editora Capital Books. A edição em livro dos poemas e respetivas fotografias permitiu-me evidenciar a harmonia das imagens juntando-lhes serenamente as palavras rimadas. A poesia que escrevo tem por norma inspiração numa fotografia, também da minha autoria e os textos são na sua maioria com métrica e rimados, sendo muito diversificados no que concerne ao seu conteúdo temático. Gosto de vestir a pele de outros personagens e através deles transmitir emoções sob a forma escrita. De entre muitas das minhas fotografias uma foi escolhida para dar rosto ao romance do escritor Marco Barrancos, editado em 2018 com o título “Dias do fim”, iniciativa que muito lisonjeou. Dentro do universo das letras, tive o privilégio de participar em alguns programas de rádio, dedicadas à poesia, como “Livro Aberto” de Ana Coelho (Rádio Alenquer), “Amantes da Poesia” de Maria Isabel Rodrigues e com Pedro Nobre, na Rádio Quinta do Conde.


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Livro individual “Sintonias” – poesia – junho de 2017

2016;

Antologias: Poesia “Poetas Nossos Munícipes” – Câmara Municipal da Moita, edição

“Poesia com Reticências” - Pastelaria Estúdios, 2017; “Livro Aberto” –edição 2018; “Amantes da Poesia” – edição 2018; “Palavras que Contam” – Gerábriga-Associação Cultiral, 2018; “Antologia do dia da Mulher” – Grupo Mulherio de Portugal, ed. In-Finita, 2019 “Entre o sono e o sonho” – Volume XI, da Chiado Books “Poetas Nossos Munícipes” – Câmara Municipal da Moita, edição 2019

Nossos

Prosa “Era setembro…” – conto partilhado – Grupo fechado Sorrisos

Descanso do lado confinado a norte Aguardando retorno lavrado da sorte


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POUSIO Sou um corpo em pousio Descanso do lado confinado a norte Aguardando retorno lavrado da sorte Resguardando cada poro abonado do frio Sou um corpo em pousio Ceifado depois do tempo de ti, Um escalpe duro, reflexo do que senti E regos cavados que os olhos d'água cobriu Sou um corpo em pousio A cada dia impar varrido de nortada Numa sementeira de sortida risada arrepiada Onde o amor será o cultivo nascido do estio Na indolente miudinha chuva estival que caiu Meu solo, outrora terra barrenta, foi batizado E por folhinhas novas e tenras reanimado. E o meu corpo, o meu corpo do pousio saiu

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ABRAÇOS (DUETO) O teu abraço apaga o vinco visível da saudade na minha pele, Seduz o sossego do meu dia, dissipa o vento frio e o efeito vazio de toda a maré baixa Abraçar-te é revigorar os sentidos, depura-los um por um... É simplesmente, Vestir o teu olhar penetrante, ouvir tentada o dedilhar no meu corpo sedoso, cheirar a sabedoria da espera pelo momento apaziguador, saborear as palavras do silêncio em beijos de lábios abertos, trautear notas soltas da pauta tocada no teu perfil O teu abraço reluz na névoa do cair da tarde e na lua ainda escondida, Induz o efeito sôfrego do nascer do dia, navega à proa e afronta a cobardia da solidão Abraçar-te é restaurar o enredo da história, Sorrir em degradê de tons rosa, encontrar o arco-íris em dia de sol... É simplesmente, renascer a cada segundo envolto em ti, receber-te no baloiço do colo, encontrar sintonia na sinfonia das batidas descompassadas que nos vão peito dentro, ter-te o tempo todo no pouco tempo que te tenho


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LUAR DE AGOSTO Gosto desse teu sorriso desenvolto Que me deixa a alma viva e o corpo solto, Das minhas mãos em ti, em viagem Do caminho e do enredo da linguagem Gosto do luar do mês de agosto, Onde és sempre fogo posto Ateado em espiral, em vertigem Centelha viva da tua imagem Gosto de subir, de me elevar De intuir que vais lá estar E deixar-me sucumbir, e ter coragem Desafiar a altura, cortar a aragem Perco o parco juízo, quem me acode? Sou um poeta que o luar sacode! Sabe-me sempre a pouco... O teu luar do mês de agosto

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NUANCES Quando te escrevo, Teço entre os dedos palavrinhas agridoces que deixo escorregar pela ponta envernizada da unha Quando te aqueço entre as torneadas pernas, enlouqueço Em vocábulos inconstantes Que deixo a sofrer no ar até desmoronar Em mudez deleitada Quando te afago os olhos extasiados Com o meu olhar onerado em luxúria, sou um corpo ternamente acoplado no teu, devoluto e suado Quando os nossos corpos finalmente Se obrigam ao desencaixe, Uma nuance saudosa viaja aconchegada Em teu prazeroso secreto querer E sobrevive hermeticamente em mim, na venturosa caixinha


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DEMORA

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Demoro-me em ti Como se contemplasse as nuvens desenhadas no céu em formas roliças e únicas Únicas como as tuas mãos, como o másculo traço do teu rosto moreno ou a sensualidade da covinha quando sorris Sorris com os olhos, num assumido convite desassossegado de íris perversa e cristalina Cristalina como o desejo arrojado estampado no porte crescido de cipreste amanhecido Amanhecido em leito morno de frutos vermelhos, resquícios de sonhos de amora preta e de morangos coroados de verde esperança Esperança sôfrega de luxúria em poros dilatados pelo bafo do pranto solidário de memórias presentes e fantasias prementes do corpo Corpo demorado em mim, nesse hiato de tempo capaz de arrancar um suspiro nascido do fundo da saudade Saudade que desfaço na carne demolhada, servida quente e salgada a teu gosto, envolta no requinte da minha doçura, quando me demoro em ti



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