Brazil Sempre

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An o 9 • Nº 36 • abril/maio/junho 2009

A n o 9 • Nº 36 abril/maio/junho 2009

y e a r 9 • No. 36 april/may/june 2009 ISSN 1981-6022

C ENTRO INTERNA C IONAL DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

revista brasileira de desenvolvimento sustentável

Gramacho:

do lixo à produção de biogás pág. 24

Gramacho: from garbage to biogas production

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Mudanças Climáticas

Regras para empresas

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Entrevista

Laura Nash fala sobre ética

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Empresa Cidadã

Light aposta na sustentabilidade


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que seria a besta do Apocalipse de plantão ao fundo da Baía de Guanabara, se transforma em um exuberante modelo de sustentabilidade, digno de qualquer fashion

week da vida. Falo do Aterro Sanitário de Gramacho, que, conforme a matéria de capa da nossa ”Brasil”, desviou sua rota de desastre iminente para aterrissar num projetaço de resgate de

http://www.insightnet.com.br/brasilsempre D i re t or - respons á vel

C arlos P ousa

Editor sênior (licenciado)

R enê G arcia J r .

carbono altamente sustentável.

Editora executiva

K elly N ascimento

Seguimos em frente com um belo exercício sobre responsabili-

Projeto gráfico

A ntônio S eara

dade empresarial diante do tema “Mudanças Climáticas”, que é o

Produção gráfica

que nos coloca Ernesto Cavasin, gerente executivo de Sustentabilidade da PricewaterhouseCoopers, inclusive listando um simpático conjunto de regras para enfrentar a questão.

R uy S araiva

Programação visual

M arcelo P ires S antana revisão

Mas, esta edição promete muito mais. Em entrevista exclusiva, a especialista em ética empresarial, Laura Nash, exorciza os fundamentos dos desvios éticos que geraram a presente crise financeira. Um case de responsabilidade social corporativa é o engajamento da Light em políticas de sustentabilidade, tendo como cenário o Morro de Santa Marta e sua comunidade, no Rio de Janeiro. Vale a pena ler. Objeto de matéria especial, o projeto Mulheres da Paz, que ampara jovens de 15 a 24 anos em situação de descontrole familiar, no Morro da Providência, demonstra que, quando há interesse, alguma ciência e pitadas de recursos, questões dramáticas podem ter finais felizes. Menos tenso mas não menos interessante é o artigo da Professora Fátima Portilho, que detalha as raízes e tempera as motivações do movimento pela alimentação com produtos orgânicos e a execração da alimentação industrial. Vale saborear! O todo ou as partes.

R ubens S ylvio C osta M ontagem

FOTO DE CAPA sobre foto de

S teve W oods / sxc

Conselho editorial

P aulo H enrique C ardoso (P residente ) A spásia C amargo E liezer B atista F elix de B ulhões R aphael de A lmeida M agalhães Brasil Sempre é editada em associação de Insight Engenharia de Comunicação & Marketing Ltda. e Centro Internacional de Desenvolvimento Sustentável da Escola de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (Cids/Ebape/FGV).

Insight Engenharia de Comunicação e Marketing R io de J aneiro

Rua Sete de Setembro, 71 / 13 o e 14o andares, Centro, Rio de Janeiro, RJ CEP 20050-005. Tel.: (21) 2509-5399 insight@insightnet.com.br

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Cids/Ebape/FGV C entro I nternacional de D esenvolvimento S ustentável da E scola B rasileira de A dministração P ública e de E mpresas da Fundação Getulio Vargas Praia de Botafogo, 190, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ CEP 22250-900, Tel.: (21) 2559-6042 mramos@fgv.br

Publicação trimestral A b r i l /M a i o /J u n h o

Carlos Pousa D i re t or - respons á vel

ABRIL/MAIO/JUNHO

Todos os ensaios editados nesta publicação poderão ser livremente transcritos desde que citada a fonte das informações. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião da revista.

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SUMÁRIO abril/maio/junho 2009

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Mudanças Climáticas

O clima em mudança: sucesso ou sobrevivência?

Mudar a forma de decidir, criar novas estratégias em um ambiente de negócios novo e austero. Os lideres e executivos enfrentam hoje complexas questões e dilemas e suas respostas devem cada vez mais ser rápidas e certeiras. No ambiente econômico atual parece que estamos falando da crise financeira, mas na verdade a referencia é a outro colapso, o climático. Por Ernesto Cavasin

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CONSUMO

Alimentação orgânica: uma questão de escolha

As escolhas sociais, incluindo as alimentares, têm se tornado cada vez menos determinadas e reguladas pela tradição ou pela cultura por conta de um certo afrouxamento das regras sociais. Isto tem levado a uma maior individualização do gosto alimentar e muitas pessoas distanciam-se das experiências sociais nas quais foram socializadas, tornando-se mais autônomas. Por Fátima Portilho

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ENTREVISTA

Ética em tempos de crise

“A crise econômica é uma crise de valores e serão esses valores éticos que nos ajudarão a nos livrar dela”. A avaliação é de Laura Nash, sócia fundadora do Piper Cove Fund Asset Management,

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LP e ex-professora da Harvard Business School. Na entrevista a seguir, a especialista revela os caminhos que unem ética empresarial e a crise financeira.

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ENERGIA

A redenção de Gramacho

Em novembro de 2008, quando ainda era secretário estadual de Meio Ambiente, o hoje ministro Carlos Minc sentenciou: o Aterro de Gramacho, em Duque de Caxias, estava à beira de um desastre ambiental. Contrariando a máxima do Barão de Itararé - que cunhou a frase “De onde menos se espera, daí é que não sai nada” -, boa notícias vêm de Gramacho. O Aterro acaba de ganhar o maior projeto do mundo de crédito de carbono, com a instalação da Usina de Biogás do Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho. Além de reduzir as emissões de carbono, a iniciativa acena com a possibilidade de uma vida melhor aos milhares de catadores que tiram do lixo seu sustento.

ci), foi criado para desarticular o tráfico de drogas em localidades onde o estado encontra difícil acesso para atuar livremente. O objetivo do programa é resgatar e socializar os jovens expostos ao crime organizado. Entre as 94 ações que compõem o Pronasci, destaca-se o Projeto Mulheres da Paz, iniciativa que encaminha jovens em situação de risco social a cursos profissionalizantes e de cidadania. Por Márcio Meneses

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EMPRESA CIDADÃ

Energia movida a sustentabilidade

Uma empresa de energia movida a sustentabilidade. Essa é a nova vocação da Light, presente há mais um século no Estado do Rio de Janeiro. Hoje o compromisso com o desenvolvimento sustentável está explicitado na missão da Light. E atestado na última edição de seus Relatório de Sustentabilidade. Por Kelly Nascimento

Por Kelly Nascimento

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Notas curtas

COMUNIDADES

Sustentáveis

Mulheres da Paz: o governo reage ao tráfico

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Em virtude do aumento da violência em diversos estados brasileiro, o Ministério da Justiça planejou uma nova estratégia para combater o avanço da criminalidade no Brasil. O Programa Nacional de Segurança com Cidadania (Pronas-

VERSÃO EM INGLÊS

ENGLISH VERSION

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Quando a gente olha para um lago, vê refletido muito mais que o próprio rosto. Vemos refletidos anos de trabalho. A Bunge é a maior exportadora do agronegócio do país, contribui com mais de US$ 2 bilhões em divisas à balança comercial brasileira, recolhe cerca de R$ 1 bilhão em impostos e gera mais de 14 mil empregos diretos e indiretos. Só que, mais do que gerar lucro, produzir fertilizantes, margarinas e maioneses de sucesso, a Bunge quer ajudar a construir um futuro melhor. E isso significa

agir de maneira sustentável e ter atitudes que favoreçam todos, inclusive este lago e quem depende dele. Por isso, a Bunge trabalha na recuperação, na regularização e na criação de reservas ambientais em fazendas no cerrado, que já abrangem mais de 260 mil hectares; cuida diretamente de 4 mil hectares de floresta; utiliza energia renovável em mais de 65% das operações; mantém, há mais de 50 anos, a Fundação Bunge, que beneficia anualmente mais de 6 mil crianças e contribui para a

formação de 11 mil professores da rede pública. Aplica mais de R$ 30 milhões anuais em ações ambientais, e mais de R$ 8 milhões anuais são investidos em projetos junto às comunidades e à sociedade. E, levando a responsabilidade sempre além, a Bunge também participa do Pacto para Erradicação de Trabalho Análogo ao Escravo no Brasil. Todos esses dados estão no nosso site, em um relatório de sustentabilidade tão transparente quanto este lago.

www.bunge.com.br/sustentabilidade

O que este lago está fazendo no anúncio de uma empresa de agronegócio?

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Mudanças

climáticaS

O clima em mudança: sucesso ou sobrevivência? Por Ernesto Cavasin Gerente Executivo de Sustentabilidade da PricewaterhouseCoopers

M udar a forma de decidir , criar novas estratégias em um ambiente de negócios novo e austero . O s líderes e executivos enfrentam hoje complexas questões e dilemas e suas respostas devem cada vez mais ser rápidas e certeiras . N o ambiente econômico atual parece que estamos falando da crise financeira , mas na verdade a referência é outro colapso , o climático .

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ciência nos mostrou nos últimos anos de forma clara e objetiva um retrato de como nosso clima está mudando. Os relatórios do Painel Intergorvenamental de Mudanças Climáticas das Nações Unidas – IPCC são categóricos em afirmar que alguns impactos são irreversíveis e que se uma redução drástica de emissões não for alcançada teremos cada vez mais impactos, sociais e econômicos. É preciso mudar, e empresas líderes entendem que mudanças são sinônimos de oportunidades e riscos, aproveitar ao máximo as oportunidades é um imperativo para líderes, não esquecendo de mitigar seus riscos. Para isso as empresas precisam criar uma estrutura com 6

visão de longo prazo voltada a adaptação e a essa nova realidade. Executivos precisam navegar suas companhias para portos seguros durante períodos de transformação como o atual, preparando e reagindo às implicações adversas. Uma aproximação responsável à questão mudança de clima consiste mais do que apenas na minimização de riscos, ela versa sobre oportunidade de mudar o ambiente atual do jogo. A habilidade de compreender a mudança é fundamental para assegurar o sucesso. Sucesso esse que somente chegará através de uma estratégia correta que seja implantada de forma eficaz. Uma estratégia começa em entender a posição de sua abril/maio/junho 2009


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empresa e de seus stakeholders sobre a importância do tema para eles e quanto isso impacta no seu dia a dia e em suas aspirações. Mas em um tema complexo como as alterações do clima é difícil perceber os anseios de cada grupo interessado o que torna ainda mais complexo o desenvolvimento de uma estratégia. Dado a isso reuni uma série de pontos com o intuito de

climáticaS

ajudar as empresas a entender passo a passo como uma estratégia em mudanças climáticas pode ser desenvolvida e o que pode ser relevante em sua constituição. Esses temas foram agrupados em cinco regras, mas é relevante entender que somente o conjunto poderá levar as empresas a um resultado positivo. Abaixo relaciono as regras que acredito relevantes para o sucesso de uma estratégia corporativa em mudanças climáticas:

Regra Número 1 - Dimensionar Oportunidades e Riscos 1.1. Entender como as mudanças climáticas afetam o mercado de seus produtos; 1.2. Analisar como as mudanças climáticas influenciarão as leis e regulamentações que futuramente poderão ser aplicadas ao seu setor de atuação; 1.3. Acompanhar as inovações tecnológicas do setor e quando analisa a implementação de nova tecnologia levar em consideração possíveis contribuições para a redução de emissões tanto diretas quanto indiretas; 1.4. Colocar-se na posição dos consumidores para olhar as mudanças climáticas e prever oportunidades de crescimento.

Regra Número 2 - Proteger seus Negócios 2.1. Desenvolver modelos para analisar vulnerabilidade de sua companhia para as mudanças climáticas; 2.2. Além da vulnerabilidade dos ativos, um potencial rompimento de seus mercados, sua cadeia de suprimentos e sua força de trabalho deve ser analisado; 2.3. Manter a atenção sobre como as mudanças climáticas podem afetar seus planos de investimento; 2.4. Calcular o quanto sua empresa e seus mercados estão expostos para o aumento do rigor das regulamentações sobre mudanças climáticas; 2.5. Para ajudar na decisão do plano estratégico e da alocação de capital, estimular seus executivos a desenvolverem cenários, considerando as mudanças climáticas.

Regra Número 3 - Preparar sua Empresa 3.1. Criar uma estratégia robusta de reduções de emissões e mecanismos de reporte de emissões; 3.2. Desenvolver um inventário de emissões criterioso e com informações sólidas que suportem decisões futuras; 3.3. Trazer o assunto mudanças climáticas como parte das discussões atuais da governaça da companhia; 3.4. Reduzir suas emissões e incentivar medidas de eficiência energética transformando-os em indicadores de performancechave; 3.5. Analisar e se plausível criar estratégia para utilização maior de energias renováveis ou investimento firmes em eficiência energética; 3.6. Engajar seus fornecedores com o intuito de reduzir emissões em sua cadeia de suprimentos; 3.7. Procurar ativamente liderar ou participar de iniciativas no setor que patrocinem soluções no âmbito das mudanças climáticas e reduzam emissões no seu setor; 3.8. Comunicar as iniciativas e sucessos aos stakeholders de forma pro-ativa e eficaz.

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Regra Número 4 - Criar uma cultura corporativa 4.1. Estimular os colaboradores da empresa a se engajar positivamente com a questão das mudanças climáticas (dentro da empresa e fora); 4.2. Desenvolver e disponibilizar mecanismos para que colaboradores busquem implementar e colocar em prática as próprias ideias sobre mudanças climáticas; 4.3. Utilizar as ações em mudanças climáticas para recrutar ou reter pessoas; 4.4. Direcionar seu olhar para meios de ajudar seus clientes a reduzir a “pegada” de carbono ou contribuir para soluções em relação às mudanças climáticas.

Regra Número 5 - Ajudar a Definir Políticas para as Mudanças Climáticas

5.1. Participar de discussões e fóruns sobre políticas nas mudanças climáticas; 5.2. Comunicar de forma clara e ativa sua posição quanto a políticas de mudanças climáticas; 5.3. Buscar penetrar-se em organizações/governos e com isso tenta apoiar/influenciar o desenvolvimento de políticas sobre o clima; 5.4. Alavancar o interesse da mídia em suas ações relativas às mudanças climáticas para auxiliar na difusão de sua mensagem.

Essas regras são um bom mapa para uma estratégia em mudanças climáticas. Mas é importante entender que uma

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estratégia somente será concretizada se a empresa acreditar que está no caminho certo.

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Alimentação orgânica uma questão de escolha P

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Doutora em Ciências Sociais; Professora e Pesquisadora do Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (CPDA) da UFRRJ; Pesquisadora do “Núcleo de Pesquisa Mercados, Redes e Valores” e do “Grupo de Pesquisa Sociedades e Culturas de Consumo”.

As

escolhas sociais , incluindo as alimentares , têm se tornado cada vez menos determinadas e

reguladas pela tradição ou pela cultura , por conta de um certo afrouxamento das regras sociais .

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tem levado a uma maior individualização do gosto alimentar e muitas pessoas distanciam - se

das experiências sociais nas quais foram socializadas , tornando - se mais autônomas .

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aralelamente a este processo de individualização do gosto alimentar, observa-se um crescimento vertiginoso das ansiedades e medos com relação aos alimentos industrializados, em decorrência de uma ampla divulgação dos possíveis riscos relacionados à presença de agrotóxicos, conservantes, corantes, hormônios e, mais recentemente, organismos geneticamente modificados. A partir daí, vimos surgirem, ou re-surgirem, com diferentes graus de engajamento e adesão, diferentes estilos de vida e cosmologias que têm como base certas ideologias alimentares tais como o vegetarianismo, o veganismo, o

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crudismo, a dieta dos alimentos vivos e os adeptos da alimentação orgânica. Ideologias alimentares podem ser entendidas como um sistema cognitivo e simbólico que define as qualidades e propriedades dos alimentos, tornando-os indicados ou contraindicados à alimentação. Afinal, nem todo alimento é percebido como sendo “o alimento ideal ou saudável” para cada pessoa ou grupo. O conceito de ideologia alimentar, portanto, vai além da ideia de regime, dieta ou simples escolha individual, já que os significados da alimentação não se relacionam apenas a indicadores nutricionais ou preferências 11


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individuais. Além disso, a adesão a uma ideologia alimentar implica um conjunto de valores e alguma forma de iniciação, pressupondo um amplo acesso a conhecimentos e habilidades que organizam as escolhas dos adeptos e os fazem sentir-se parte de um determinado estilo de vida, materializando-o e, ao mesmo tempo, tornando-o público. Os alimentos orgânicos são resultado de um sistema de produção agrícola que se baseia em práticas como rotação de culturas e manejo dos recursos naturais (água, plantas, animais, insetos etc.), visando à manutenção da vida biológica do solo. Na agricultura orgânica não são utilizados fertilizantes sintéticos, agrotóxicos, reguladores de crescimento nem aditivos para a alimentação animal. A propriedade agrícola é considerada em suas dimensões produtiva, ecológica, social e econômica. O rótulo de “orgânico” aplica-se, portanto, aos produtos produzidos de acordo com certas normas tanto na

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produção propriamente dita, quanto na manipulação, no processamento e na comercialização. A representação do alimento orgânico como sendo “o alimento ideal” costuma estar relacionada à percepção de que este é um alimento de melhor qualidade nutricional e melhor sabor. No entanto, a adesão a uma ideologia alimentar se constroi também por uma recusa ou restrição a outra. Assim, este “alimento ideal”, para os adeptos, está ligado à ausência de agrotóxicos e aditivos químicos e, portanto, a uma ideia imaginária de um sistema de produção “tradicional”, em oposição a um sistema de produção “industrial”, numa nítida antinomia entre o alimento natural/orgânico/tradicional e o alimento artificial/quimicado/ industrializado. Estas representações resumem um ideário construído a partir das demandas naturalistas dos anos 1960 que se projetaram nas décadas seguintes como forma de “resistência” aos

Os alimentos orgânicos são resultado de um sistema de produção agrícola que se baseia em práticas como rotação de culturas e manejo dos recursos naturais visando à manutenção da vida biológica

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A alimentação orgânica tem relação com o desejo de contribuir com a qualidade ambiental e com a melhoria das condições de vida de pequenos agricultores

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processos de industrialização da produção agroalimentar, denunciada e tornada pública, em especial, por Rachel Carson no célebre livro Primavera silenciosa, publicado em 1962. No entanto, a adesão à alimentação orgânica ultrapassa, muitas vezes, a simples preocupação nutricional e a recusa aos alimentos com agrotóxicos. Esta adesão pode ocorrer também como uma forma de construir e fortalecer os sentimentos de pertencimento de seus adeptos a um determinado estilo de vida, caracterizado por uma cosmologia própria e uma respectiva visão sobre a natureza, ou seja, um modo específico de habitar o mundo e de se apropriar dos recursos naturais. Um “estilo de vida orgânico”, ao contrário da compra eventual destes produtos, parece constituir uma forma de estruturar a vida destas pessoas que constroem uma narrativa sobre quem são: suas identidades, seus valores, sua cosmologia, sua visão de mundo e sua visão sobre a natureza humana e não-humana. A justificativa da opção pelo consumo de alimentos orgânicos costuma girar em torno de uma narrativa coerente e lógica de iniciação no consumo destes alimentos tanto a partir de uma socialização na primeira infância em famílias que já optavam por esta ideologia alimentar, quanto uma relação causal com outros eventos e circunstâncias, ou com um evento ou uma pessoa em especial, ao longo da vida adulta. Assim, pais preocupados com os riscos associados a pesticidas, herbicidas, hormônios, corantes, conservantes e

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outros elementos largamente utilizados, a partir da Revolução Verde, pela agroindústria, procuram orientar ou, em alguns casos, obrigar seus filhos a evitar estes alimentos. Em outros casos, a adesão à alimentação orgânica é justificada pela experiência trágica com uma doença pessoal ou de alguém próximo, além de recomendações médicas, em especial aquelas provenientes de ramos da chamada “medicina alternativa”. O acesso a conhecimentos tecno-científicos, seja através da formação universitária, seja através da busca constante por informações sobre alimentação, também é utilizado como justificativa para esta adesão. Desta forma, os adeptos da alimentação orgânica constroem uma coerência para suas escolhas através de relatos sobre os riscos percebidos na alimentação industrializada, considerada “quimicada” e que “tem veneno” e ainda relatos baseados em conhecimentos tecno-científicos sobre estes riscos. Como resposta, optam por investir na saúde pessoal através do que consideram uma “boa alimentação”. Assim, embora muitas pessoas desconheçam, ou não deem tanta importância aos riscos e impactos sociais, ambientais e para a saúde das escolhas alimentares, os adeptos da alimentação orgânica acreditam que o alimento orgânico “vale a pena” e, mesmo sendo mais caros, “vale cada centavo”. Além disso, a opção pelos alimentos orgânicos, assim como outras ideologias alimentares, tem adquirido grande visibilidade política. Neste sentido, a alimentação orgânica

indivíduos adeptos sentem-se diretamente responsáveis por melhorar o meio ambiente e a vida de outras pessoas, numa atitude que poderíamos chamar de um “individualismo cosmopolita”

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parece se relacionar, também e cada vez mais, com um desejo, às vezes abstrato, de contribuir com a qualidade ambiental e com a melhoria das condições de vida de pequenos agricultores que se converteram para a agricultura orgânica, numa crítica à monocultura concentradora de terras e ao monopólio do agronegócio. Relaciona-se, ainda, à opção por um estilo de vida “mais simples” que, entre outras coisas, valoriza formas tradicionais de cultivo. Neste contexto, é interessante frisar a redefinição do status da produção e das práticas “tradicionais”, resignificadas e reposicionadas como produtos de qualidade especial, ou autênticos, refletindo a crescente valorização do “rural”. O ato de comprar, atividade que executamos quase todos os dias com o intuito de obter mercadorias para nós mesmos e para as pessoas pelas quais somos responsáveis, relaciona-se nitidamente ao amor e à devoção a estas pessoas. No caso da aquisição de alimentos orgânicos, em especial em feiras certificadas, este amor e responsabilidade não se restringem à devoção aos membros da família, como no chamado estilo de vida ego-trip, em que as preferências por alimentos considerados mais saudáveis são orientadas a partir de um auto-interesse na saúde pessoal, não necessariamente relacionado a preocupações e responsabilidades ambientais por parte desses consumidores. Ao contrário, no caso da adesão aos alimentos orgânicos como uma ideologia alimentar, o amor e a responsabilidade parecem ampliados para os pequenos produtores, a “natureza” e o “mundo”. Desta forma, os adeptos parecem considerar os alimentos e a comida que ingerem como fonte de saúde, prazer e sabor, mas também como forma de materializar, reforçar e tornar público um determinado estilo de vida com suas respectivas utopias, além de um abstrato desejo de participação na esfera pública. Trata-se, nestes casos, de um estilo de vida definido como ecológico-trip, caracterizado por aqueles consumidores que procuram os alimentos orgânicos como parte de um conjunto de valores éticos e políticos. De fato, estudos recentes sobre alimentação e hábitos alimentares têm mostrado que as tradicionais dimensões nutricional, sanitária, simbólica, social e histórica devem ser complementadas com análises sobre uma nova dimensão ética, política e ideológica atribuída à comida. Nestes casos, as escolhas alimentares, os locais e as formas de aquisição e preparo dos alimentos são percebidos e vividos, pelos consumidores adeptos, como forma de contribuição para a melhoria da qualidade ambiental e da qualidade de vida dos produtores, em especial os pequenos produtores locais. A alimentação passa, então, de uma dimensão da esfera privada (preferências individuais, hábitos culturais, recomendações nutricionais e médicas) para uma dimensão ética e política que busca assumir uma responsabilidade sobre as 16

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consequências das escolhas alimentares no meio ambiente e em outros grupos sociais (na maioria das vezes geográfica e temporalmente distantes). Ao incorporar valores como solidariedade e responsabilidade, as práticas de consumo alimentar têm sido usadas, cada vez mais, como uma nova forma de ação política e participação na esfera pública. Cada ato de compra passa a ser visto por estes consumidores engajados como um meio de conferir objetividade a seus valores, utopias e estilos de vida. As tarefas cotidianas de abastecimento da casa são experimentadas como uma espécie de “ambientalização” e “politização” do consumo, materializando e dando concretude a certos valores políticos, morais e ecológicos. Isto pode ser vivido, também, como um exercício concreto da solidariedade e da ética da responsabilidade, em que os indivíduos adeptos sentem-se diretamente responsáveis por melhorar o meio ambiente e a vida de outras pessoas, numa atitude que poderíamos chamar de um “individualismo cosmopolita”, segundo expressão utilizada pelo sociólogo Ülrich Beck, ou seja, um individualismo que é, ao mesmo tempo, cooperativo, altruísta e participativo. Trata-se de indivíduos que afirmam livremente seus estilos de vida, associando-os a certas ideologias alimentares, construindo sua própria definição do que é um alimento saudável. E por causa de seu engajamento e de suas crenças éticas, voluntariamente e por sua própria iniciativa, modificam alguns de seus hábitos cotidianos de consumo para não prejudicar o meio ambiente ou outros grupos sociais. Dessa forma, considerações ambientais tornam-se parte das experiências, dilemas e negociações diárias sobre o que escolher e como agir; tornando-se parte de uma Agenda da Mesa da Cozinha. Isto nos leva a reforçar a ideia de que certas práticas de consumo requerem habilidades e conhecimentos próprios, além de algum grau de devoção, atenção e constante busca de informações. Um “estilo de vida orgânico”, por exemplo, pressupõe um certo grau de adesão a determinados valores, um processo de iniciação, o aprendizado de habilidades e, ainda, um considerável acesso a conhecimentos e informações especializadas. Interessante notar, no entanto, que a maioria das análises sobre o mercado de orgânicos considera que os consumidores utilizam critérios de experiência e de crença para comprar esses produtos. De fato, pesquisas com adeptos de um “estilo de vida orgânico” têm mostrado que muitos afirmam perceber a diferença entre os alimentos orgânicos e os convencionais através, principalmente, das habilidades e experiências sensoriais desenvolvidas por eles: cheiro, sabor, textura, cor. Para eles, a maçã tem gosto de maçã, a cenoura tem gosto de cenoura. abril/maio/junho 2009


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Quais são as principais questões relacionadas a ética e corporações hoje em dia? Laura Nash – O maior desafio nesse momento é que estamos nos movendo muito apressadamente para nos recuperar da crise financeira globalmente. E, em nome dessa recuperação, podemos fazer coisas que mais tarde nos envergonhem. Temos conversado bastante sobre a ética dessa crise: quem roubou dinheiro, quem se arriscou demais. Agora isso está clareando. Acho que é sempre verdade que quando você reforma a ética você tem que ter uma boa ética para vice. Nesses temos de correria, as pessoas tem que se importar de verdade com ética.

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saiam do país. Empreenderemos uma compensação local muito bem coordenada que envolva negócios e público. Agora eles estão zangados um com o outro. Os mantedores da paz serão também muito importante. Então eu acho que o desafio ético é ter realmente uma conduta ética. Não se trata apenas de arrumar as coisas agora, mas a longo prazo.

Você acha que empresas e governos perderam a oportunidade de aprender com o caso Enron? Laura Nash – Há uma expressão: você sempre resolve o último problema, não o próximo. Eu acho que eles aprenderam muito com a Enron. E o que aprendemos com a Enron foi: você sempre pode trapacear o sistema. Como podemos ler essa crise sob o ponto de vista da Pensamos que podíamos achar uma regulamentação para ética? resolver isso. Mas apenas regulamentação não é suficienLaura Nash – É absote. Minha preocupação lutamente essencial trazer agora neste momento é o debate sobre ética para sobre como será nossa essa crise. Em primeiro regulamentação sobre a lugar, acho que temos de dívida dos bancos. EnEu acho que a outra ser honestos com esse protão, deixe eu perguntar cesso. Ainda não sabemos qual é o problema mais grande questão ética o tamanho do buraco. importante para você e Como uma comunidasua família: comida de é a justiça. A ideia do de global, temos que olhar qualidade ou dívida dos como nós honestamente bancos? capitalismo de beneficiar avaliamos os investimenQueremos ter certos de nossos governos. teza de que estamos apenas alguns é algo que Nos Estados Unidos, há tratando dos probleum monte de dinheimas mais importantes, horroriza o público ro nesse momento indo mantendo a perspecpara o sistema bancário. tiva. Como eu disse, a E algumas pessoas estão regulamentação resolve pensando: eles merecem o último problema, não falir e seria possível investir esse dinheiro no estímulo a o próximo. pequenos negócios. É uma questão interessante. InfelizEu acho que o que desejava que tivéssemos aprendido mente, eu não sou presidente dos Estados Unidos, então com a Enron – e eu disse isso à época, quando lancei o livro não cabe a mim arbitrar sobre isso. Mas o presidente dos “Never enough” – é que se alguém chega com um negócio Estados Unidos, o sistema financeiro, e executivos que cujo propósito é ser o maior do mundo, o mais importante querem consertar a situação devem considerar isto. Muitas do mundo, a pessoa mais esperta da sala, e você não pode empresas operavam negócios além-mar, de uma forma que entender a estratégia dele e eles te chamam de bobo, eles ninguém podia ver exatamente. Então, é uma questão de provavelmente estão roubando seu dinheiro. E aconteceu honestidade e abertura. de novo, com Bernard Madoff. Eu acho que a outra grande questão ética é a justiça. Então, por que você deveria dar centenas de milhões de A ideia do capitalismo de beneficiar apenas alguns é algo dólares a essas pessoas? Foram eles que criaram isso. Tenho que horroriza o público. E a punição do público não é problemas com isso. Eu vi isso na Enron, eles eram “os caras simétrica mais espertos da sala”. Eu gostaria de ver uma moratória de Executivos terão uma boa recompensa. Nós também qualquer transação financeira que seja tão complexa que não queremos tanta tributação de forma que as empresas não possa ser auditada.

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é ser o maior do mundo, o mais importante do mundo, a pessoa mais esperta da sala, e você não pode entender a estratégia dele e eles te chamam de bobo, eles provavelmente estão roubando seu dinheiro. E aconteceu de novo, com Bernard Madoff

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Como um CEO pode ajudar a construir padrões éticos numa empresa? Laura Nash – Ele pode cultivar valores e ser um exemplo fabuloso vivenciando-os, antes de tudo. Fazendo transações pautadas não só em honestidade e integridade, mas também conversando sobre essa luta com seus colaboradores, explicando as razões de suas escolhas para que eles possam aprender como ele fez isso. A primeira parte é dizer: seja ético; a segunda e mais difícil é: como ser ético? Então, eles precisam exercitar isso para que se sintam que têm uma ética forte e que estão operando de forma bem-sucedida. Eles precisam compartilhar seu conhecimento sobre o tema. E, infelizmente, eu acho que muitos CEOs têm medo que isso soe que eles estão quebrando ou que eles não pensaram francamente sobre o assunto. Então eu acho que a forma com que um CEO pode ajudar é falando sobre o assunto. A segunda forma é ter certeza de que eles expressem essa conduta ética para todos. Em algumas empresas o

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CEO diz: não quero saber como conseguiu, apenas traga o resultado. Faça perguntas! Eles não são estúpidos. Eles sabem quando as coisas não parecem ser direitas. Você acha que é hora de repensarmos a noção que temos de sucesso? Laura Nash – Com certeza! Todo mundo tem uma definição pessoal de sucesso. É difícil generalizar nesse sentido mas eu acho que atemos uma cultura de curto prazo, do agora, fique rico, faça um monte de dinheiro e compre muitas coisas, tudo muito material. E se você fizer isso, você tem sucesso. E então paras as pessoas que sabem que isso não é tudo, eles veem isso como uma base. E então dizem que também se importam com outras coisas como família, comunidade, artes. Mas primeiro, dizem, têm que ficar ricos rapidamente e comprar outras coisas. Mas você não pode comprar sua família, você não pode comprar apreço. Acho que construir uma nova noção de sucesso agora significa desafiar

 qual é o problema mais importante para você e sua família: comida de qualidade ou dívida dos bancos?

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 Esta crise é a total falência. O legado que podemos criar é estruturar uma forma sistêmica de endereçarmos problemas que irão começar a criar uma complacência e mecanismo de auditoria para negócios globais. Isto seria um bom legado

pessoas a dizer o que é realmente uma vida boa. Essa é a questão. Ainda não sabemos a resposta.

riscos no mercado financeiro. Isto criaria uma plataforma para todo mundo triunfar.

Qual será o legado dessa crise? Laura Nash – Quando uso a palavra “legado”, tento pensar em algo positivo. Minha definição de legado positivo seria algo que se torne uma plataforma para o sucesso das outras pessoas. Esta crise é a total falência. E criou a plataforma para falência da próxima geração. O legado que podemos criar é estruturar uma forma sistêmica de endereçarmos problemas que irão começar a criar uma complacência e mecanismo de auditoria para negócios globais. Isto seria um bom legado. Creio que o segundo legado seja a memória. As pessoas pensam que bancos não podiam falir. Pensávamos isso nos Estados Unidos, desde a Grande Depressão. O legado seria se começássemos a desenvolver dispositivos para regular

Que desafios éticos os líderes costumam enfrentar? Laura Nash – Um dos problemas referentes à ética é que ela pode parecer muito personalizada e se você está num dilema ético, se algo está indo errado na sua empresa, que você acaba de descobrir e há uma pressão para você agir de forma antiética. Ou numa situação de dificuldade financeira. Esta é uma situação que isola muito os líderes. Até mesmo para os funcionários, quando eles têm que fazer algo que sentem não ser o correto, sentem-se muito solitários nesse momento. E começam a pensar na coisa certa a se fazer. É muito importante que as pessoas saibam que tem uma comunidade ao redor para apoiá-las para que não se sintam sozinhas.

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A redenção de

Gramacho Por Kelly Nascimento Editora de Brasil Sempre

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2008, quando ainda era secretário estadual de M eio A mbiente , o hoje ministro C arlos M inc sentenciou : o A terro de G ramacho , em D uque de C axias , estava à beira de um desastre ambiental . C ontrariando a máxima do B arão de I tararé – que cunhou a frase “D e onde menos se espera , daí é que não sai nada ” –, boas notícias vêm de G ramacho . novembro de

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Aterro acaba de ganhar o maior projeto do mundo de crédito de carbono, com a instalação da Usina de Biogás do Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho. Além de reduzir as emissões de carbono, a iniciativa acena com a possibilidade de uma vida melhor aos milhares de catadores que tiram do lixo seu sustento.

A história ou jogo dos sete erros

O Aterro Sanitário de Gramacho nasceu de uma série de erros. Naqueles tempos, a semente do desenvolvimento sustentável ainda não germinara por essas bandas. Assim, o bairro de Gramacho, em Duque de Caxias, foi escolhido, em 1978, para a inglória 24

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tarefa de abrigar aquele que seria um dos maiores lixões da América Latina. O projeto do Aterro de Gramacho foi estruturado na década de 1970, a partir das metas do programa regional de desenvolvimento. A proposta contemplava a disposição final dos resíduos sólidos urbanos das cidades de Rio de Janeiro, Nilópolis, Duque de Caxias, Nova Iguaçu e São João de Meriti. A previsão era destinar, inicialmente, cerca de três mil toneladas de lixo por dia. Sua vida útil foi estimada em vinte anos. Lixo posto, não faltaram especialistas para listar a série equívocos do projeto, a começar pela escolha do local: sobre um manguezal, margeando a Baía de Guanabara e os rios Sarapuí e Iguaçu. A área escolhida pertencia à União. E, apesar da portaria Nº 53/79 do Conama proibir o lançamento de resíduos em cursos de água, o Aterro foi ali instalado. Lixões tampouco podem ser erguidos perto de postos, comunidades ou recursos hídricos. O espaço insalubre, assim, constituía uma verdadeira armadilha, abrigando riscos diversos para os catadores. Recebendo tanto lixo residencial quanto hospitalar, o local era uma verdadeira bomba química ao armazenar resíduos hospitalares que, além de contaminar, liberavam gases que poderiam entrar em combustão a qualquer momento. Essa rotina perdurou por anos a fio. 26

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A previsão para o talude da massa de lixo para o ano de 2002 seria de 30 metros de altura de resíduos e cobertura, o consórcio intermunicipal seria a forma de solucionar problemas ambientais comuns, ou seja somar recursos para multiplicar resultados, atendendo a Lei Complementar Nº 14/73, onde definia como serviço comum a Limpeza Pública. “O Aterro Sanitário Metropolitano, é um exemplo do descaso das administrações públicas daquela época, registrando desinteresse para com os serviços públicos, falta de cumprimento das Normas e da Legislação e a pouca conscientização com o ambiente e a saúde pública. O aterro iniciou em setembro de 1978, e, na época, não existiam estudos através do EIA/RIMA, nem era obrigatória a elaboração de estudos alarmantes no caso de catástrofe ecológica. Possibilitou a desativação de quatro vazadouros: Nilópolis, São João de Meriti, Duque de Caxias e Rio de Janeiro”, escrevem os especialistas Valéria Borba do Nascimento, Szachna Eliasz Cynnamon e João Alberto Ferreira em estudo de caso sobre o aterro. Tal situação, diagnosticam, decorreu da falta de apoio da Fundação para o Desenvolvimento da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (FUNDREM) – responsável pela implementação do projeto –, ausência de ética ambiental e abril/maio/junho 2009


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A Usina de Biogás produzirá, por meio da decomposição de matéria orgânica do lixo, cerca de 160 milhões de metros cúbicos de biogás por ano

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Dentre as ações contempladas no projeto da usina, está previsto um fundo de cerca R$ 1,2 milhao/ano para ser destinado aos catadores de Gramacho para capacitação

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sistema de captação de queima de biogás evitará liberação de

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milhões de metros cúbicos de metano na atmosfera

pouca prioridade no gerenciamento do aterro. Na década de 70, o bairro do Jardim Gramacho era quase inabitado. O aterro atraiu a instalação de casebres que abrigavam as pessoas que começam a exercer atividades de catador no local. Com a operação desordenada, não tardaram a aparecer problemas: intensa presença de roedores, já que não havia o devido recobrimento dos resíduos, escoamento de chorume no manguezal e no Rio Iguaçu, por falta de um sistema de captação de águas superficiais. A iminência do desastre ambiental

Nos anos 80, o aterro de Gramacho vira lixão. Isto se explica pelos recursos ineficientes para a manutenção, além de equívocos administrativos. O aterro passa a aceitar rejeitos industriais. A poluição, é claro, aumentou. Pesquisas em 1987 detectaram a contaminação do ambiente por os metais pesados – chumbo, cobre, zinco, cádmio, cromo. Para se ter uma ideia, entre 1978 e 1988, o volume médio de resíduos lançados era de 100 mil toneabril/maio/junho 2009

ladas por mês. E parecia que ninguém estava efetivamente preocupado quanto ao risco a que os catadores estavam expostos. E o volume do problema só aumentou. No começo da década de 90, o Aterro de Gramacho recebia 5 mil toneladas de lixo por dia. Esses dejetos dos 6 milhões de habitantes da Região Metropolitana do Rio – pouco afeitos às maravilhas da coleta seletiva – somavam 20 mil metros cúbicos de lixo não compactado. E assim, o Aterro de Gramacho entrou no século XXI recebendo cerca de 7 mil toneladas de lixo ao dia, formando elevações que alcançavam até 36 metros de altura. Com área de 285 hectares, o Aterro de Gramacho contribuía significativamente para poluição ambiental no Estado do Rio, principalmente das águas da Baía de Guanabara. Em vistoria feita por Carlos Minc em março de 2008, relatórios técnicos apontaram rachaduras de até 40 cm de largura em vários trechos do aterro. Ficava então comprovada a iminência de um grave acidente ambiental. O risco era o terreno ceder, despejando milhares de litros de chorume na 29


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O projeto da Novo Gramacho é também o maior do mundo em crédito de carbono em aterro sanitário com aprovação da ONU. A estimativa é de que ele obtenha 10 milhões de créditos de carbono em 15 anos de atividade

Baía de Guanabara. Altamente tóxico, o líquido consumiria todo oxigênio restante nas já poluídas águas da Guanabara. Morreriam, assim, milhares de peixes. Outro risco bastante factível era o lixo do aterro obstruir a foz do rio Sarapuí. Se acontecesse, isto provocaria inundações municípios da Baixada Fluminense afora. “Se Gramacho resistir até o final do ano, será um milagre”, declarou Minc à época. A virada ou milagre

E ainda bem que milagres acontecem. É claro que, com tantos problemas, as administrações públicas vinham quebrando cabeça para resolver a equação, de forma viável, da destinação de resíduos sólidos em condições sanitárias e ambientais adequadas. De fato, desde 1996, a Prefeitura do Rio de Janeiro, por meio da Comlurb, vinha investindo na recuperação ambiental do Aterro de Jardim Gramacho. Entre as inúmeras intervenções executadas, houve: cobertura dos resíduos sólidos com argila e outros materiais impermeáveis, melhoria do sistema de drenagem de águas pluviais, captação dos gases produzidos através de poços, aplicação de barreira vegetal, melhoria do sistema de drenagem e coleta de chorume, implantação de estação de tratamento de chorume, com grande capacidade e controle e revitalização de 110 hectares do manguezal que o contorna. Infelizmente, não foi o bastante. As boas-novas, quem diria, vieram em 2009, em plena crise econômica. No último dia 5 de junho, o 30

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consórcio Novo Gramacho Energia Ambiental, em parceria com a Prefeitura do Rio/Comlurb, inaugurou a Usina de Biogás do Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho. O empreendimento dá um sopro de vida e esperança ao local. A Usina de Biogás produzirá, por meio da decomposição de matéria orgânica do lixo, cerca de 160 milhões de metros cúbicos de biogás por ano. A energia gerada com a produção de biogás será equivalente à de gás natural consumida pelas residências na cidade do Rio, evitando a liberação de 75 milhões de metros cúbicos de metano por ano na atmosfera. O projeto, o maior do Brasil em redução das emissões de gases de efeito estufa, demandará investimentos de R$ 91 milhões até a sua fase final – dos quais R$ 41 milhões já foram aplicados. O restante será investido na purificação do gás e no seu transporte, além de obras de compensação ambiental. O projeto da Novo Gramacho é também o maior do mundo em crédito de carbono em aterro sanitário com aprovação da ONU, com estimativa de obter 10 milhões de créditos em 15 anos de atividade. Dos ganhos com crédito de carbono obtidos pela Novo Gramacho, que tem a concessão da Comlurb para exploração do aterro pelo período de 15 anos, 36% serão destinados, em partes iguais, a essa companhia de limpeza urbana e à Prefeitura de Caxias. O projeto implantado pela Novo Gramacho atende todos os requisitos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), previsto no Protocolo de Quioto. O contrato firmado assegura a manutenção do aterro até 15 anos após seu encerramento, com especial atenção ao monitoramento ambiental e geotécnico. “Começamos a ter receita já no dia 5 de junho, quando a usina foi inaugurada. A partir de 2010, passaremos a ter uma nova receita: venderemos esses gás produzido para empresas que usam o gás para queima ou como matéria-prima. Para isso, teremos que construir um gasoduto, que ficará pronto ano que vem”, planeja Paulo Tupinambá, conselheiro da Nova Gramacho Energia Ambiental. Tecnologia

A instalação de captação e queima do biogás é composta por dois subsistemas: a rede de captação e coleta, integrada por 230 poços, e a central de biogás, responsável pela sucção e queima do biogás em chamas de alta temperatura. O biogás é succionado até a Usina, através de uma rede de gasodutos com 30.000 metros de tubulações, que o transporta desde os poços de captação implantados em diversos pontos do aterro. É este

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sistema evitará que cerca de 75 milhões de metros cúbicos de metano por ano sejam liberados para a atmosfera. O biogás é formado durante o processo de decomposição de gases da matéria orgânica, e é composto, principalmente, por dois gases: o dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4), que possui potencial poluidor 21 vezes maior do que o CO2, em termos de aumento do efeito estufa. Quando o biogás é queimado em uma tocha ou em um motor a explosão, o metano é transformado em dióxido de carbono (CO2) e vapor d’água (H2O), o que reduz as causas do aquecimento da Terra. E como ficam os catadores?

Entre as ações contempladas no projeto da usina, está previsto um fundo de cerca R$ 1,2 milhao/ano para ser destinado aos catadores de Gramacho para capacitação e compra de equipamentos. “A ideia é garantir trabalho e renda para eles. Vamos fazer um redesenho dos catadores, identificar o que cada um pode fazer e a capacitação mais indicada. Temos certeza de que há pessoas que estão em Gramacho por terem sido expulsas do mercado de trabalho e outras que têm uma tradição de catador na família”, explica a doutora em Serviço Social Valeria Pereira Bastos. Ela foi contratada pelo consórcio para prestar consultoria nesse braço social do projeto. Hoje Gramacho tem cerca de mil catadores de lixo, divididos em três cooperativas – Coopergramacho, Cooperjardim e Coopercamjg. Os profissionais foram fortemente afetados pela crise. “O valor do material caiu 90%. Nossa produção, que era de cerca de 30 mil quilos de lixo por mês caiu para quase 10 mil. No começo, em 96, éramos 200 cooperados. Hoje temos apenas 40 funcionários. Ninguém aguentou esse salário”, conta Antônio dos Santos, presidente da Coopergramacho – a única das três cooperativas legalizadas. A iniciativa dá uma nova perspectiva aos catadores de Gramacho. E hoje, a Associação dos Catadores e a Usina Novo Gramacho estão discutindo o futuro da profissão. “Nosso interesse é dar continuidade no trabalho de coleta seletiva de materiais recicláveis”, afirma Sebastião Santos, presidente da Associação do Aterro dos Catadores de Jardim Gramacho. Saem de cena os catadores de lixo, surgem os catadores de materiais recicláveis. Se tudo der certo, à medida que os catadores forem capacitados, Gramacho irá se transformando numa bolsa de negócios da reciclagem. A conferir.

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Mulheres da Paz: o governo reage ao trรกfico Por Mรกrcio Meneses Repรณrter de Brasil Sempre

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virtude do aumento da violência em diversos estados brasileiros , o

planejou uma nova estratégia para combater o avanço da criminalidade

N acional

de

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com

C idadania (P ronasci ),

M inistério da J ustiça no país . O P rograma

foi criado para desarticular o tráfico de

drogas em localidades onde o estado encontra difícil acesso para atuar livremente .

O objetivo do programa é resgatar e socializar os jovens expostos ao crime organizado . E ntre as 94 ações que compõem o P ronasci , destaca - se o P rojeto M ulheres da P az , iniciativa que encaminha jovens em situação de risco social a cursos profissionalizantes e de cidadania .

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Estado do Rio de Janeiro tem aproximadamente dezoito comunidades carentes que contam com o apoio do Projeto Mulheres da Paz. Entre as comunidades beneficiadas pelo Pronasci, encontra-se o Morro da Providência, no Centro da cidade do Rio – localidade onde há um ano três jovens foram abordados e conduzidos por alguns militares do Exército Brasileiro e entregues aos traficantes de uma favela rival, conhecida como “Morro da Mineira”, localizada no bairro do Catumbi, para serem executados. Como o projeto chegou à comunidade

Em janeiro deste ano de 2009, o projeto Mulheres da Paz chegou ao Morro da Providência por meio de uma parceria com o Instituto Central do Povo. Inicialmente as conselheiras participam de cursos de capacitação sobre a Lei Maria da Penha, Direito e Cidadania, Violência contra a Mulher, entre outros, em convênio com o Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (CEDIM/RJ. Do mesmo modo também participam de frequentes seminários, reuniões, e, sempre que necessário recebem ajuda de psicólogos e pedagogos profissionais que auxiliam as mesmas durante o curso, possibilitando o entendimento necessário, para que todas estejam preparadas e aptas para lidar com a realidade de seu cotidiano. abril/maio/junho 2009

As atividades a serem desenvolvidas pelas integrantes do projeto constituem-se de: selecionar, orientar e acompanhar os jovens de suas próprias comunidades em curso de formação profissional, atividades esportivas e culturais. Além disso, as “madrinhas da paz”, como também são conhecidas, analisam o desempenho e os resultados dos jovens participantes do projeto. O público-alvo do programa são jovens entre 15 e 24 anos (reservistas, adolescente infrator, presos ou ex-detentos) em descontrole familiar. Caso haja desinteresse dos alunos, as “madrinhas” são acionadas para conversar com os jovens - geralmente seus vizinhos ou parentes. As conselheiras recebem bolsa-auxílio no valor de R$ 190, já os jovens têm ajuda de custo no valor de R$ 100, como incentivo para prosseguir com curso. Na Providência, o programa social está sendo bem recebido pelos moradores, agradando, inclusive, a pessoas sem perspectiva de vida e com baixa autoestima. “Quando surgiu o Projeto Mulheres da Paz, acabei me soltando mais, ele foi a melhor coisa que já aconteceu na minha vida. Estou mais livre porque dificilmente saía de casa. Sempre que tem um evento participo. No projeto fiz novas amizades, coisa que antes não fazia por estar dentro de casa. Esse projeto é excelente”, comenta a viúva 33


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O projeto Mulheres da Paz estimula o desenvolvimento de lideranรงas femininas 34

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Jorceli Barbosa, de 58 anos. Jorceli, que tem 4 filhos e 13 netos, é uma das Mulheres da Paz. Naturalmente, o projeto criado pelo Ministério da Justiça vem ganhado força, simpatia e esperança das pessoas que residem na favela mais antiga e histórica do Rio de Janeiro. Força feminina em alta

É importante frisar que a cada dia que passa as mulheres ganham mais independência e liberdade na sociedade perante o homem. Decretado em 1999 pela Organização das Nações Unidas (ONU), 25 de novembro é o Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher. As lideranças femininas em todo o Brasil somam um total de 11.725 mulheres. O Mulheres da Paz fortalece a figura da mulher e estimula o desenvolvimento de lideranças femininas. Não é pouco. “O projeto está sendo bom, mas não só pelos R$ 190. Sei que diversas pessoas se inscreveram pelo dinheiro. Só que o projeto acabou integrando a comunidade. Moro aqui (Morro da Providencia) há 23 anos e no projeto existem pessoas que nunca vi e sequer falei na comunidade. De certa forma, essa interação acabou construindo um laço de amizade entre as pessoas que aqui estão. Com isso pode unir mais as mulheres”, explica a estudante e Mulher da Paz, Jordana Santos, de 23 anos. Segundo Robson Ourem, inspetor da 4ª Delegacia de Polícia (Central do Brasil – RJ), a maioria das ocorrências registradas por moradores do Morro da Providência, em 2008, era de homens agredidos por suas mulheres. Dado curioso, mas que revela, no mínimo, a desarmonia vigente no local. ideal e esperança

“Acredito que temos alcançado em conjunto o objetivo de promover a mudança social, a partir de uma ideologia. O projeto está sendo um aparelho propulsor para que as “madrinhas da paz” possam pensar e agir. Entende-se, que antes desse projeto, houve outros na comunidade. Mas o que deve ser proporcionado às mulheres será o quanto elas vão se estender além do projeto: como pessoa ou como agente multiplicador dentro da comunidade”, explica Mayckon Almeida Rosa, coordenador do projeto. O coordenador tem muita esperança de que, algum dia, as Mulheres da Paz venham “colher bons frutos plantados” no Morro da Providência. “A partir dessas ferramentas (teoria, filosofia etc) que temos oferecido, gostaríamos que elas iniciassem o processo de conhecimento, dentro da comunidade. Sabemos também que existem os “prós e contras”, algumas ingressaram no projeto somente pela bolsa de R$ 190, mas sempre mencionamos a todas, que a bolsa, na verdade, não abril/maio/junho 2009

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Segundo o Ministério da Justiça, dos R$ 2,9 bilhões orçados e aprovados pelo Congresso Nacional em 2009, R$ 1,2 bilhão serão destinados ao Pronasci

seria a mudança-chave na vida delas, e sim um auxílio para que possam permanecer”, analisa Mayckon. Entre estratégias e equívocos

Por que o Pronasci seria tão eficaz? Vários fatores indicam que a característica da iniciativa segue o criticado perfil assistencialista. Mas, por outro lado, sem assistencialismo como seria esse programa? A charada é difícil de se decifrar. “O Pronasci é uma tentativa de controle de situações de riscos, voltado sobretudo para conter a criminalidade, mas que de certa maneira despreza as instituições públicas mais importantes deste país, que são as escolas em seus diversos níveis (fundamental e médio). Fico surpreso! Esse trabalho além de ser complicado, exige muita dedicação, perseverança e conhecimento. O programa, além de desprezar as escolas públicas, exige uma multiplicidade de conhecimentos. Outro fator que não se dá atenção no Brasil, até por motivos individualistas, é a perda da família como instituição. A tarefa é imensa. Será que as Mulheres da Paz terão condições de inverter um quadro que foi criado, principalmente, porque faltam instituições?”, desafia Valter Duarte Ferreira, professor de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 36

Segundo o Ministério da Justiça, dos R$ 2,9 bilhões orçados e aprovados pelo Congresso Nacional em 2009, R$ 1,2 bilhão serão destinados ao Pronasci. Os investimentos previstos de 2008 a 2012 chegam à casa dos R$ 6,107 bilhões. O Projeto de Lei nº 11.530, de 24 de outubro de 2007, foi modificado pela Lei nº 11.707, de 19 de junho de 2008. Antes, a lei explicitava o combate ao tráfico. Hoje esse propósito está camuflado na nova lei. A Fundação Getulio Vargas (FGV), será a instituição que fará avaliação de controle de indicadores econômicos e sociais do Pronasci. Além da Capital Federal, outros quinze estados contam com o programa social: Acre, Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais, Pernambuco, Pará, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, São Paulo e Sergipe. Há quem diga que a violência não pode ser controlada. abril/maio/junho 2009


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Será que as Mulheres da Paz terão condições de inverter um quadro que foi criado, principalmente por falta de instituições?

Contudo, uma frase bastante conhecida resumiria de fato a esperança de muitos: “O mundo não foi feito de guerras.” A busca pela paz é algo que boa parte dos seres humanos sempre almejou. Existem exceções? Sim! Mas elas não importam àqueles que sonham com a felicidade de um mundo melhor.

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“O programa deveria dar atenção para o sucateamento das escolas públicas no Brasil. As Forças Armadas, apesar de todo o problema político no qual se envolveu no Brasil, podem voltar a serem fontes importantes de educação de controle social”, especula o professor da UFRJ.

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Energia movida a

sustentabilidade Por Kelly Nascimento Editora de Brasil Sempre

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ma empresa de energia movida a sustentabilidade. Essa é a nova vocação da Light, presente há mais um século no Estado do Rio de Janeiro. Hoje o compromisso com o desenvolvimento sustentável está explicitado na missão da Light. E comprovado na última edição de seu Relatório de Sustentabilidade. A Light lançou neste ano a segunda edição do Relatório Sustentabilidade, que traz informações relevantes sobre o desempenho da companhia nos aspectos sociais, ambientais e econômico-financeiros. “Em 2008, a Light confirmou seu compromisso com uma gestão baseada em valores e princípios de sustentabilidade e o Relatório refletiu os esforços para atender a demanda dos públicos diversos, bem como conduzir os negócios de forma ética e transparente”, ressaltou o presidente da empresa, José Luiz Alquéres. Carlos Piazza, superintendente da Light, conta que a empresa vem aprimorando sua gestão para a sustentabilidade. “ A Light adotou um modelo de gestão pela sustentabilidade em 2006/2007. Foi quando começamos a trabalhar a sustentabilidade como modelo de gestão. Esse é o segundo ano que fazemos relatório de sustentabilidade”. O primeiro passo foi a adesão ao Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU), um acordo internacional firmado para mobilizar a comunidade empresarial na promoção dos direitos humanos, trabalho e meio ambiente. Também firmou compromisso com as Metas do Milênio, da ONU. Foi feito todo um esforço para pertencer ao Índice de Sustentabilidade Empresarial da Bovespa (ISE). “Estamos nos desenvolvendo no assunto de sustentabilidade. É um desafio para uma empresa de cem anos, que tem muitas responsabilidades, entre elas a questão de licenças ambientais, certificação de unidades, políticas a declarar (diversidade, anticorrupção)”, explica Piazza.

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O Relatório

Elaborado segundo as diretrizes da GRI-G3 (Global Reporting Initiative), o mais recente relatório de sustentabilidade informa sobre os projetos socioambientais realizados e apoiados pelo Grupo Light. Detalha, ainda, os investimentos de mais de R$ 500 milhões, que serão realizados em cinco anos, para ampliar a capacidade energética da empresa, com os projetos da PCH Paracambi, UHE Lajes e UHE Itaocara. A edição, que tem uma autodeclaração de classificação como Nível de Aplicação “A”, passou pela avaliação da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS). Para atingir o Nível de Aplicação “A”, a Light apresentou todos os indicadores essenciais aplicáveis à empresa. Dos 79 indicadores GRI, o Relatório apresenta 69, sendo 45 essenciais e 24 adicionais – outros sete não se aplicam à Light. “O Relatório de Sustentabilidade 2008 da Light reflete também a crescente importância da integração dos aspectos social, ambiental e econômico para a própria empresa e para todos os seus stakeholders, tendo como desafio, cada vez mais complexo, o relacionamento com a sociedade no uso sustentável dos recursos naturais e eficiente de energia e na construção do futuro comum. Além da busca obsessiva de maior eficiência na prestação de serviços e na melhoria comercial aos nossos clientes”, explica José Luiz Alquéres. E os stakeholders entrarão cada vez mais no foco da empresa, adianta Carlos Piazza. “Hoje nosso principal desafio

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é nos aprimorar dentro da visão de sustentabilidade. Fazer engajamento dos stakeholders, é nosso próximo passo. Não basta apenas fazer projetos, temos que contaminar todo o entorno. Para melhor cumprirmos essa tarefa de engajamento, estabelecemos parceria com a FBDS, vamos nos apoiar nas recomendações dessa instituição”, diz. Segundo Piazza, um dos primeiros passos nessa direção foi a realização, neste ano, de um painel de especialistas. A partir desta iniciativa, construiu-se a visão da questão de sustentabilidades importantes para a empresa. “Construímos o relatório espelhando essas ações levantadas”. Comunidades

Para estabelecer diálogo com as partes interessadas, relacionar-se com as comunidades do entorno é fundamental. E a Light sabe disso. “Tratamos as comunidades com transparência sempre. Temos hoje duas usinas em andamento –Paracambi e Itaocara -, em que a palavra de ordem é transparência. Fazemos também um esforço bastante grande no sentido de atualizar as instalações e minimizar impactos. A maioria de nossas uni-

estabelecer diálogo com as partes interessadas, relacionarse com as comunidades do entorno é fundamental. E a Light sabe disso 40

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dades – 182 – tem tripla certificação, prova de nosso esforço em nos atualizarmos”, explica Piazza. A gestão da Light é transversal e baseada em grupos de trabalho, cujos representantes têm acesso direto à presidência. “Esse estilo de gestão tem funcionado bem. Cada representante dos grupos de trabalho trabalha ativamente para levar os compromissos assumidos para a presidência da empresa. Nosso relatório de sustentabilidade foi construído a partir dessas áreas. A política ambiental”. A carioca Light vem enfrentando um novo desafio quando o assunto é diálogo com as comunidades. Vale lembrar que a área de concessão da Light concentra 25% das favelas existentes no país. Nestas localidades, a empresa enfrenta situações de furto de energia e também de risco a seus colaboradores. “Achamos que informalidade é diferente de pobreza. Há as pessoas que têm dificuldade em saldar suas contas e aquelas que furtam energia. Hoje, 60% do que é roubo está nas áreas urbanas, não está nas comunidades carentes. Condomínios de alto luxo na Barra não é pobreza. Aí temos que lançar mão de instrumentos legais cabíveis”, diz Carlos Piazza.

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Atualmente a empresa vem se destacando pelo trabalho que vem desenvolvendo no morro da Santa Marta, em Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro. Desde o ano passado, a empresa vem orientando a comunidade sobre como usar a energia elétrica de maneira eficiente e segura. “Nas comunidades, a coisa muda um pouco de figura. Na Santa Marta, por exemplo, estamos reconstruindo a questão do pacto. A Light se compromete a fornecer serviço de qualidade e ajudar a saldar a conta. Há pessoas que podem pagar conta, então vamos ensinar como. Vamos transformar consumidores em clientes, para isso, é preciso fazer esse trabalho de inclusão”, explica Piazza. Antes, os funcionários da concessionária enfrentavam dificuldades para instalar rede de energia ou fazer consertos por causa do tráfico de drogas ali instalado. Com a ocupação policial do Morro Santa Marta, a Light passou a atuar na comunidade. A Light ficará durante seis meses, por meio de seus agentes de comunicação, acompanhando os moradores nessa transição. Investirá, ainda R$ 2 milhões para reconstruir a rede elétrica do Santa Marta. Com atitudes como essa, o elo como começa a ser reconstruído.

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sustentáveis

Casas Bahia comemora Projeto socioambiental A rede varejsta Casas Bahia apresenta os primeiros resultados do seu projeto socioambiental Amigos do Planeta. Com um ano de existência, o programa já contabilizou números significativos: destinação de mais de 9 mil toneladas de materiais para reciclagem, o que equivale a economia de 15.300m3 de área não utilizada em aterros sanitários, e redução de 45% no volume de copos plásticos e 20% no volume de papéis utilizados na empresa, entre outros índices. Além disso, a rede comemora a finalização da primeira etapa do projeto educacional mantido pelo programa socioambiental, o Amigos do Planeta na Escola,que passou por 7 municípios de baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), já contabilizando atendimento a 7 mil crianças. Implementado em maio de 2008, em um grupo piloto, o Amigos do Planeta envolve hoje os 7 prédios administrativos do complexo da matriz, o maior centro de distribuição da rede em Jundiaí , as duas unidades da Indústria de Móveis Bartira e 39 lojas, atingindo, diretamente, mais de 11 mil colaboradores. O programa tem, entre seus diferenciais, inovação na forma e no modelo de implementação, que leva em conta a cultura e o modelo de gestão da rede varejista, com um processo de auto gerenciamento realizado por um comitê formado por representantes de todos os departamentos da empresa. Até o final deste ano, a rede espera estender o programa a mais filiais, totalizando 100 lojas no Estado de São Paulo. O programa socioambiental da rede está baseado no conceito dos 3 R´s – reduzir, reutilizar e reciclar, e inclui ações de conscientização e mobilização além de projetos de ecoeficiência para redução do consumo de recursos naturais e energia elétrica. Tais ações já permitiram por exemplo, que 35 toneladas de lixo por dia, deixassem de ser geradas, o que equivale ao descarte de lixo de uma cidade de 35 mil habitantes.

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Logística própria a favor da natureza Por meio de campanhas de conscientização e treinamentos frequentes para os colaboradores envolvidos (mais de 200 horas de treinamento, até o momento), o programa promove, além das ações de redução e reutilização de materiais, um processo de coleta seletiva. Para receber todo o material recolhido nos departamentos e lojas formadas pelo grupo piloto, a rede construiu uma Central de Triagem (CT) própria, localizada no principal depósito da rede, com 1.400 m2 de área, onde são recebidos, separados, prensados e comercializados os diversos materiais recolhidos, entre eles, papéis, papelão, isopor, madeira, resíduos metálicos, plásticos diversos, entre outros. A CT emprega hoje 40 colaboradores da região, entre eles, ex profissionais informais, catadores de lixo e deficientes físicos. Para transportar os materiais recicláveis até à central de triagem, o programa otimizou a própria logística da empresa: os caminhões que abastecem as lojas levam de volta os recicláveis armazenados. Além disso, a equipe de entrega é orientada a praticar a logística reversa, levando para a Central de Triagem as embalagens descartadas pelos clientes na hora do recebimento das mercadorias compradas na rede.

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A Multiner, empreendora do maior parque eólico do país (Alegria), patrocina o Fórum Nacional Eólico - uma iniciativa do Fórum Nacional de Secretários de Estados para Assuntos de Energia - realizado entre os dias 18 e 19 de junho em Natal (RN). O evento reúne especialistas, autoridades e empresas para debater o tema. Ainda durante o encontro será assinada a Carta dos Ventos, um importante documento que determina o incentivo à exploração energética eólica no país. Entre os participantes convidados, destacam-se a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. Empresa nacional do setor

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de geração de energia elétrica, a Multiner está adquirindo da dinamarquesa Vestas – líder mundial na fabricação de aerogeradores – 92 turbinas eólicas para as usinas de energia eólica Alegria I e Alegria II, no município de Guamaré, RN. A escolha da localização das usinas é extremamente estratégica, uma vez que a região tem um dos melhores regimes de ventos do país, com média anual que excede 8,5 metros/segundo. O complexo eólico de Alegria terá capacidade de 151,8 MW e iniciará sua operação em 2010. A energia produzida pelo parque eólico será suficiente para abastecer 194 mil residências e evitará a emissão de cerca de 115 mil toneladas de CO2 na atmosfera.

MMX recebe selo de certificação florestal A Unidade Florestal da MMX recebeu o selo de certificação do Programa Brasileiro de Certificação Florestal (Cerflor), o mais importante indicativo de que a empresa tem compatibilizado a implantação e manejo das florestas aos mais exigentes e modernos preceitos ambientais, sociais e econômicos. O programa de certificação, baseado em padrões internacionais, durou um ano e atesta que a MMX cumpre a legislação nacional; promove o uso racional dos recursos florestais em busca da sustentabilidade; zela pela diversidade biológica; respeita a conservação do solo, dos recursos hídricos e do ar, além de investir no desenvolvimento ambiental, econômico e social das regiões em que se instala. As políticas de relacionamento com trabalhadores florestais e comunidades locais em Mato Grosso do Sul foram consideradas ações de destaque durante o processo de obtenção da (Cerflor), que foi concluído em fevereiro de 2008. Foram certificados todos os 11,7 mil hectares de manejo da Unidade Florestal em áreas pertencentes à MMX e parceiros nos municípios de Dois Irmãos do Buriti e Anastácio. A empresa optou pelo (Cerflor) porque é internacionalmente reconhecida pelo Programme for the Endorsement of Forest Certification Schemes (PEFC), – principal selo certificador no mundo.Dois terços das florestas certificadas mundialmente possuem o selo do PEFC. A unidade florestal prosseguirá sendo auditada anualmente para a renovação do certificado.

sustentáveis

Multiner apoia Fórum Nacional Eólico

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sustentáveis Gerdau aposta na conscientização infantil No Dia do Meio Ambiente, comemorado em 5 de junho, mais de 250 voluntários da Gerdau, capacitados pela Junior Achievement, foram às salas de aula de escolas de todo o Brasil para conscientizar milhares de crianças sobre preservação ambiental e consumo responsável. O Programa Nosso Planeta, Nossa Casa é a primeira fase do Projeto Sustentabilidade da Junior Achievement e será aplicado a mais de 8 mil crianças no Distrito Federal e em 11 estados brasileiros: Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São

Paulo, Paraíba, Pará, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Bahia e Ceará. A ação é direcionada pelo Instituto Gerdau, responsável pelas políticas

e diretrizes da Gerdau na área de Responsabilidade Social. Os voluntários ficaram em sala de aula durante um turno completo, aplicando dinâmicas que mostram a relação do homem com os recursos naturais e alertam para os maiores desafios ambientais do tempo atual: o efeito estufa, a extinção da biodiversidade e a escassez da água. Além disso, serão distribuídas cartilhas do Programa Nosso Planeta, Nossa Casa, material didático preparado pela Junior Achievement com apoio da Gerdau, Oi e Banco Real.

Grupo Libra lança prêmio de sustentabilidade O Grupo Libra, um dos maiores operadores portuários do país, lançou um concurso para disseminar o conceito de desenvolvimento sustentável entre seus colaboradores. É o “Prêmio Libra de Sustentabilidade”, que visa reconhecer e difundir soluções e práticas que integrem os três pilares da sustentabilidade: eficiência econômica, equilíbrio ambiental e equidade social. O “Prêmio Libra de Sustentabilidade” é dividido em duas modalidades: projetos (práticas já implementadas) e idéias (conceitos ainda não implementados). Os critérios de avaliação contemplam quesitos ambientais, sociais e econômicos. O objetivo é fomentar uma cultura interna sobre o tema sustentabilidade, ampliando o debate a respeito e valorizando as boas práticas. Além dos projetos e ideias, os colaboradores também puderam enviar frases respondendo à questão “Para você o que é sustentabilidade?”. O intuito era estimular as pessoas a pensarem e pesquisarem mais sobre o tema. Os organizadores do prêmio receberam 175 sugestões de frases, sendo que 28% delas tiveram foco no desenvolvimento cultural. Nesta primeira edição, foram 50 propostas inscritas. Participaram os funcionários das três unidades de negócios do Grupo: Libra Terminais, Libra Logística e

Libra Participações. Nesta última, con correram também colaboradores das unidades Tug Brasil (apoio portuário) e CNA (navegação fluvial). Vencedores A ideia premiada, “Pedal Libra”, foi desenvolvida por Jorge Luiz Dantas Ferreira e Leandro Bianchi Tocchet, da Libra Terminais (Santos/SP), e consiste em estimular o uso de bicicletas como meio de transporte dos funcionários até a empresa. O objetivo foca a redução do consumo de combustível e a emissão de poluentes e também proporcionar melhorias à saúde e a qualidade da vida dos colaboradores. Para isso, sugere-se a criação de uma ciclovia interna, que possibilita segurança e infraestrutura para o tráfego de bicicletas dentro dos terminais. O primeiro colocado na categoria “Projetos” foi para o “Libra Educa”, de Rosiene Bittencourt, Maria Monteiro e Josiane Florido, do Rio de Janeiro. O projeto, implementado em 2002, tem como objetivo erradicar o analfabetismo nos terminais, criar oportunidade de desenvolvimento profissional e pessoal e elevar autoestima dos colaboradores. Em 2004, formou-se a primeira turma de ensino fundamental, composta por 17 alunos. Já em 2007, comemorou-se a formatura da primeira turma do ensino médio, com destaque para alunos com faixa etária de 60 anos. Informações para esta coluna: kelly@insightnet.com.br

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sustent谩veis

ENGLISH VERSION ab ri l / maio / junho 2 0 04

Conjuntura Econ么mica

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he monster that lurked in the dark depths of the Guanabara Bay ended up becoming a fantastic sustainability model that could be showed off on any fancy runway of the world. I’m talking

about the Gramacho Sanitary Landfill, which, as shown in our cover story, has steered away from a route of imminent disaster to land a huge, highly sustainable carbon capture project.

http://www.insightnet.com.br/brasilsempre responsible director

C arlos P ousa

senior editor

R enê G arcia J r . executive editor

Ernesto Cavasin, Executive Manager of Sustainability of Pricewaterhou-

K elly N ascimento

seCoopers, guides us through a great corporate responsibility exercise

graphic project

related to “Climate Change,” and provides us with a useful set of rules

graphic production

to tackle the issue.

A ntônio S eara R uy S araiva

desktop publishing

But, wait, there’s more! In an exclusive interview, corporate ethics expert Laura Nash talks about the foundations of the ethical deviations that have generated the current financial crisis. A corporate social responsibility case we will talk about here is Light’s engagement with sustainability policies and the project implemented for the community of Morro de Santa Marta, in Rio de Janeiro. It’s worth reading. A special story about the project Mulheres da Paz, which provides assistance for youngsters between ages 15 and 24 in a situation of family instability at Morro da Providência, shows us that, where there’s interest, a little bit of science and a few resources, complicated issues may have happy endings. Less tense, but also very interesting, is the essay written by Professor Fátima Portilho about the roots and motivations of the movement for the consumption of organic food and the aversion for industrialized food. Savor the entire package or bits of it.

M arcelo P ires S antana cover picture

E dited S teve W oods /SXC

picture

editorial council

P aulo H enrique C ardoso (P resident ) A spásia C amargo E liezer B atista F elix de B ulhões R aphael de A lmeida M agalhães Brazil Forever is published in association with Insight Engenharia de Comunicação & Mar­k eting Ltda. and the International Center for Sustainable Development from the Getulio Vargas Foundation’s School of Public and Business Administration (Cids/Ebape/FGV).

Insight Engenharia de Comunicação e Marketing R io de J aneiro

Rua Sete de Setembro, 71 / 13o e 14o andares, Centro, Rio de Janeiro, RJ CEP 20050-005. Tel.: (21) 2509-5399 insight@insightnet.com.br

S ão P aulo

Rua Sansão Alves dos Santos, 76 / 7 o and., Brooklin, São Paulo, SP CEP 04571-090, Tel.: (11) 5502-3842 clementeinsight@uol.com.br

Cids/Ebape/FGV C entro I nternacional de D esenvolvimen to S ustentável da E scola B rasileira de A dministração P ública e de E mpresas da Fundação Getulio Vargas Praia de Botafogo, 190, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ CEP 22250-900, Tel.: (21) 2559-6042 mramos@fgv.br

quarterly publication A pril /M ay /J une 2009

Carlos Pousa respons i ble D i rec t or

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All essays edited in this publication may be quoted, as long as the information source is mentioned. The authors are entirely liable for the contents of the signed articles, which do not necessarily reflect the opinion of the magazine.

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SUMMARY april/may/june 2009

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Climate Change

Changing climate: success or survival? Changing decision-making processes and establishing new strategies in a new, stringent business environment are challenges today’s leaders and officers have to tackle. They face complex issues and dilemmas, and must react in an increasingly quick and accurate manner. Considering the current economic scenario, one might think this is about the financial crisis, but we’re actually referring to another collapse: the climate crisis. Ernesto Cavasin

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CONSUMPTION

Organic Food: a matter of choice Social choices, including food-related choices, are now less determined and ruled by tradition or culture because social rules have become more flexible. As a result, the taste for food has become more individual, and several people let go of the social experiences according to which they were raised, becoming more independent. Fátima Portilho

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Piper Cove Fund Asset Management, LP, and former Harvard Business School Professor. In the interview that follows, the expert reveals the paths that combine entrepreneurial ethics and the financial crisis.

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ENERGY

Redeeming Gramacho In November 2008, while still acting as State Secretary of Environment, Minister Carlos Minc declared that the Gramacho Landfill, in Duque de Caxias, was on the verge of an environmental disaster. To challenge the famous saying by the Baron of Itarare–”Whence you least expect, that is exactly wherefrom nothing will come at all,”–we have good news from Gramacho. The world’s largest carbon credit project has just been implemented in the Landfill, with the creation of the Jardim Gramacho Metropolitan Landfill’s Biogas Plant. In addition to cutting carbon emissions, the initiative brings hope of a better life for the thousands of garbage pickers who make a living out of trash.

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CITIZEN COMPANY

Sustainability-driven power A sustainability-driven power company. Light, the power company of the State of Rio de Janeiro, which has been operating for over one century, has a new calling. Today, its commitment to sustainable development is part of the company’s mission. Kelly Nascimento

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COMMUNITIES

Mulheres da Paz: the government’s response to drug traffic

“The economic crisis is a crisis of values; we need ethical values to help us put an end to it.” This is the opinion of Laura Nash, founding partner of

The escalation of violence in several Brazilian states has led the Ministry of Justice to devise a new strategy to fight the increase of criminality rates

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Márcio Meneses

Kelly Nascimento

INTERVIEW

Ethics in times of crisis

in Brazil. The National Program for Public Security with Citizenship was created to dissolve drug traffic structures at locations to which the government has limited access. The program aims at rescuing and networking with youngsters exposed to organized crime. Among the 94 program actions, the project Mulheres da Paz (Women for Peace) stands out. This initiative identifies youngsters at risk and offers professional training and citizenship courses.

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l i m a t e

c h a n g

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Changing climate: success or survival? By Ernesto Cavasin Executive Manager of Sustainability of PricewaterhouseCoopers

C hanging

decision - making processes and establishing new strategies in a new ,

stringent business environment are challenges today ’ s leaders and officers have to tackle .

T hey face complex issues and dilemmas , and must react in an increasingly quick and accurate manner . C onsidering the current economic scenario , one might think this is about the financial crisis , but we ’ re actually referring to another collapse : the climate crisis .

O

ver the past years, science has been providing a clear, objective portrait of how climate is changing. The reports of the United Nations’ Intergovernmental Panel on Climate Change–IPCC affirm that some impacts are irreversible, and that if we fail to dramatically cut emissions the number of social and economic impacts will continue to grow. We must change, and leading companies understand that change means opportunities and risks, therefore taking full advantage of opportunities is imperative for leaders, together with risk mitigation. This requires companies to establish a structure based on a long-term vision to adapt to this new reality. Businesspeople must steer their companies to safe harbors in such times of change, preparing for and responding to adverse implications. A responsible approach to climate change involves more than merely minimizing risks; it’s about the opportunity to change the current

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game scenario. The ability to understand this change is vital for success. And success will only come if an appropriate strategy is effectively implemented. The first step to establishing a strategy is to understand how your company and its stakeholders perceive the theme and how much it impacts their routines and aspirations. When it comes to a theme as complex as climate change, it’s hard to identify the concerns of each group of stakeholders, making the development of a strategy even more complex. To help companies understand how a climate change strategy may be developed and the relevant issues that might be tackled, I’ve come up with a series of steps. The themes were grouped under five rules, but it’s important to understand that only the whole package may bring positive results to companies. Listed below are the rules I find relevant for a successful corporate climate change strategy: april/may/june 2009


Climate

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Climate

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Rule # 1: Determine Opportunities and Risks 1.1. Understand how climate change affects your market; 1.2. Analyze how climate change will affect laws and regulations that might apply to your activity area in the future; 1.3. Keep track of technological innovations in your industry and, while analyzing the implementation of new technology, consider potential contributions for the reduction of direct and indirect emissions; 1.4. Understand the perception of your consumers with regard to climate change and identify growth opportunities.

Rule # 2: Protect Your Business 2.1. Develop models to analyze your company’s vulnerability to climate change; 2.2. In addition to asset vulnerability, a potential disruption of your markets, your supply chain and your workforce should be analyzed; 2.3. Be aware of how climate change might affect your investment plans; 2.4. Determine the exposure of your company and your markets to stricter climate change regulations; 2.5. To help define a strategic and capital allocation plan, encourage top management to develop scenarios that take climate change into account.

Rule # 3: Prepare Your Company 3.1. Create a robust strategy to cut emissions and emissions reporting mechanisms; 3.2. Develop a detailed emissions inventory containing solid information to support future decisions; 3.3. Include climate change in current corporate governance discussions; 3.4. Cut emissions and encourage energy efficiency measures, including them among key performance indicators; 3.5. Study and, if possible, create a strategy to use more renewable power sources or make steady investments in energy efficiency; 3.6. Engage suppliers with the purpose of cutting emissions in the supply chain; 3.7. Actively lead or participate in industry initiatives aimed at finding solutions for climate change issues and reducing industry emissions; 3.8. Proactively and effectively inform stakeholders about initiatives and success cases.

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Climate

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Rule # 4: Create a Corporate Culture 4.1. Encourage company associates to participate in a positive manner in the climate change issue, both inside and outside the company; 4.2. Develop and provide mechanisms to allow associates to implement and execute their own solutions for climate change; 4.3. Use climate change actions to recruit or retain people; 4.4. Focus on ways to help clients reduce their carbon “footprints” or cooperate with regard to climate change solutions.

Rule # 5: Help Define Climate Change Policies 5.1. 5.2. 5.3. 5.4.

Participate in discussions and forums aimed at debating climate change policies; Clearly and actively disseminate the company’s stand with regard to climate change policies; Stay in touch with organizations/governments to try to support/influence the development of climate policies; Leverage interest by the press with regard to climate change actions to help spread the message.

These rules will help guide you through the process of climate change strategy development. However, it’s im-

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portant to understand that a strategy will only come true if the company believes that it’s the right way to go.

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Organic Food:

a matter of choice B

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PhD in Social Sciences; Professor and Researcher of the Graduate Social Sciences Program in Development, Agriculture and Society of UFRRJ; Researcher of the “Markets, Networks and Values Research Center” and of the “Consumption Societies and Cultures Research Group

S ocial

choices , including food - related choices , are now less determined and ruled by

tradition or culture because social rules have become more flexible .

As

a result , the

taste for food has become more individual , and several people let go of the social experiences according to which they were raised , becoming more independent .

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ogether with this process of individualization of food preferences, we can see a dramatic increase in anxiety and fear levels related to industrialized foods, which results from the spreading of information on the potential risks related to agrochemicals, preservatives, colorants, hormones and, more recently, genetically altered organisms. This process has led to the emergence–or re-emergence–of different levels of commitment and adherence to lifestyles and cosmologies based on certain eating habits such as vegetarianism, veganism, raw food diet, live food diet and organic nutrition. Food-related ideologies may be understood as a cognitive, symbolic system that defines food qualities and properties, defining them adequate or inadequate for eating. After all, not all foods are perceived as “ideal” or “healthy” for every person or group. The concept of foodrelated ideologies, however, transcends the notion of diet or mere individual choice, since the meanings of eating aren’t related to nutritional facts or individual preferences only. In addition to that, adopting an eating ideology implies a set of values and some sort of initiation, and involves access to information and abilities that organize choices and make the people who adhere to such ideologies part of a certain lifestyle, making it concrete and public. Organic foods originate from an agricultural production system based on practices such as crop rotation and management of natural resources (water, plants, animals, insects, etc.) for biological life maintenance in the soil. Organic agriculture doesn’t use synthetic fertilizers, agrochemicals, growth regulators or supplements for feeding animals. The agricultural property is perceived as per its productive, ecological, social and economic dimensions. “Organic” products are, thus, those produced as per certain production, handling, processing and trading rules. The portrayal of organic food as the “ideal food” is usually related to the perception that this type of food has higher quality and improved flavor. However, adherence to a food ideology may also result from rejection or restrictions related to other types of food. Therefore, followers of such ideology relate “ideal food” to the absence of agrochemicals and chemical additives, and to a “traditional” production system, as opposed to an “industrial” production system, establishing a clear opposition between natural/organic/traditional food and artificial/chemicallyaltered/industrialized food. Such portrayals summarize a set of ideas originated from naturalistic demands of the 1960’s that were transferred on to the next decades as a form of “resistance” to industrialization processes in agricultural production, de-

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nounced and made public, in particular, by Rachel Carson in her legendary book Silent Spring, published in 1962. However, the choice for organic food often goes beyond mere nutritional concerns and rejection to food with agrochemicals. This choice might also be a way to build and strengthen a sense of belonging to a certain group, which has a lifestyle characterized by a peculiar cosmology and a related perception of nature, that is, a specific way of being part of the world and using its natural resources. An “organic lifestyle”, as opposed to occasional organic product purchases, seems to be the basis on which these people’s lives are built, providing information on who they are: their identities, values, cosmology, world vision and opinions about human and non-human nature.

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People usually justify their choice for organic food in a coherent, logical manner: they either started being fed with organic food during early childhood, because their families already had this food ideology, or because certain events and circumstances have led them to do so, or because a certain event or person has influenced them as adults. Therefore, after the Green Revolution the agricultural industry has gone through, parents concerned about the risks related to pesticides, herbicides, hormones, colorants, preservatives and other widely used elements try to guide or even demand their children to avoid such food products. In other situations, the choice for organic food is justified by some tragic experience with disease involving the

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person or someone close to him/her, in addition to medical recommendations, especially by “alternative medicine” professionals. Access to technical-scientific information– whether through university education or through constant search for nutritional information–is also used to justify such choice. Thus, the followers of a lifestyle based on organic food prove the coherence of their ideology through reports on the risks related to industrialized food, which is perceived as “chemically altered” and “poisoned”, as well as on technical-scientific reports about such risks. So they choose to invest in personal health through what they perceive as “good nutrition”. Although many people are unaware of the social, environmental and health risks and impacts of their food choices, or believe they aren’t significant, people who choose organic food believe that it’s the best choice, despite the fact that it’s more expensive, because it’s “worth every penny”. Furthermore, the choice for organic food, similarly to other food ideologies, has been growing politically. In this sense, organic nutrition seems to have an increasingly stronger relationship with a desire–sometimes an abstract one–to make a contribution in terms of environmental quality and improvement of the lives of small farmers who have switched to organic agriculture, as a criticism to monoculture and agribusiness monopoly. It’s also related to a “simpler” lifestyle that values traditional cultivation methods, among other things. It’s interesting to observe here that traditional production and practices have gained new status, including new meaning and positioning, as special quality or authentic products, reflecting a growing appreciation for “rural” life. The routine act of buying aims at obtaining goods for ourselves and for the people we take care of, and it’s clearly related to our love and devotion for these people. The love and care involved in the purchase of organic food, especially in certified grocery markets, goes beyond devotion to family members, and may also be observed in people who lead an ego-trip lifestyle, where the choice for healthier food is based on the person’s concern about his/her own health, and is not always related to environmental concerns and responsibilities by the consumer. On the other hand, people for whom organic food is part of a nutritional ideology seem to extend the love and care to small farmers, “nature” and “the world”. These consumers perceive the food they eat as a source of health, pleasure and flavor, but also as a way to materialize, reinforce and make public a certain lifestyle and its respective utopias, as well as an abstract desire to participate in the public 55


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sphere. This lifestyle is also known as ecological-trip, and is adopted by consumers who search for organic foods as part of a set of ethical and political values. In fact, recent studies on food and eating habits have shown that the traditional dimensions of nutrition, sanitation, symbolism, social aspects and historical aspects must be complemented with an analysis of a new ethical, political and ideological dimension assigned to food. In these cases, the food choices, as well as the locations and manners in which such food is purchased and prepared, are perceived and experienced as a contribution to improve environmental quality and the life quality of producers–especially small farmers. Eating transcends the private sphere dimension, related to individual preferences, cultural habits, nutritional and medical recommendations, and advances into an ethical and political dimension in which people take responsibility for the impacts of their food choices on the environment and other social groups (usually distant from the geographical and time perspectives). When food consumption practices include values such as solidarity and responsibility, they become a new form of political action and participation in the public sphere. Each purchase act is perceived by engaged consumers as a representation of objectivity with regard to their values, beliefs and lifestyles. Routine tasks related to the purchase of household supplies are perceived as an environmental and political decision related to consumption, as well as of rendering political, moral and ecological values concrete. It might also be perceived as an actual exercise of solidarity and ethics of responsibility, where followers feel they have direct responsibility for improving environmental condi-

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tions and other people’s lives by adopting a behavior we might call “cosmopolitan individualism”, a term used by sociologist Ulrich Beck, referring to a kind of individualism that is cooperative, altruistic and participative. Individuals who behave like that freely proclaim their lifestyles, relating them to certain eating ideologies and building their own definitions for healthy food. Because of their engagement and ethical beliefs, they choose to change some routine consumption habits in order not to hurt the environment or other social groups. In this scenario, environmental concerns become part of the daily experiences, dilemmas and tradeoffs regarding what to choose and how to act, and become part of a Countertop Agenda. These aspects reinforce the notion that certain consumption practices require peculiar abilities and knowledge, as well as some devotion, attention and a constant search for information. An “organic lifestyle”, for instance, presupposes a certain degree of adherence to certain values, an initiation process, the acquisition of new skills, as well as significant access to specific information. However, interestingly enough, most analyses about the organic products market are based on the assumption that consumers adopt experience and belief criteria when purchasing such products. In fact, research with “organic lifestyle” followers has shown that many of them state that they can feel the difference between organic and conventional food, especially through sensorial abilities and experiences developed by them: smell, taste, texture, color. According to them, apples taste like apples, carrots taste like carrots...

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economic crisis is a crisis of values ; we need ethical values to help us put an end

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M anagement , LP, that follows , the financial crisis .

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L aura N ash , founding partner of P iper C ove F und A sset former H arvard B usiness S chool P rofessor . I n the interview

is the opinion of and

expert reveals the paths that combine entrepreneurial ethics and the

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n t e r v i e

Brazil Forever – What are the main issues concerning ethics and corporations today? Laura Nash – The biggest challenge right now is that we have to move quickly to recover from the financial crisis globally. And, in the name of recovery, we might do things that later we will be ashamed of. We’ve been talking a lot about the ethics of the crisis. Who stole money? Who took too much risk? Now we are cleaning out. I think that it’s always true that, when you reform ethics, you still have to have a good ethics for yourself. At a time when people move so fast, it’s really important to care about ethics. Brazil Forever – How can we interpret this crisis from the ethical perspective? Laura Nash – It’s absolutely essential to bring ethics to this crisis. First of all, I think we have to be honest to this process. We still don’t know the size of the debts. As a global community, we have to take a look at how do we honestly assess our government investments. In

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the United States, there’s a lot of money right now going into the banking system. And some people are thinking: they deserve to fail, and that money could be invested to stimulate small businesses. It’s an interesting issue, and unfortunately I’m not the president of the United States, so I don’t have a say about that. But the president of the United States, the banking system and businesspeople who want to fix this crisis must consider this. A lot of companies do business overseas in a way that nobody could really quite see. They’ve got to stop the secrecy. It’s an ethical issue. It’s very much an issue of honesty and openness. I think the other big ethical issue is fairness. The idea of capitalism was just to benefit a few people, and it’s something that outrages the public. The punishment of the public is not symmetrical. Businesspeople will have good compensation right now. We don’t want a heavy tax load that will scare companies out of the country. We’re going to have a very well coordinated local compensation that involves businesses and public. Right now they’re so angry at each other. The peace keepers will also be very important. So I think the ethical challenge is really to take an honest conduct. It’s not just about fixing something today, but for the long term.

Brazil Forever – Do you think companies and governments have missed the opportunity to learn from cases such as Enron’s?

 someone has as a business purpose to be the biggest in the world, the greatest in the world, the smartest person in the room, and you can’t understand their strategy and they call you stupid, they’re probably stealing your money. And it happened again with Bernard Madoff

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Laura Nash – There’s an expression: you always fix the CEOs are afraid that it sounds they’re breaking or frankly last problem, not the next one. I think they’ve learned a lot they haven’t thought about it themselves. So I think the way a CEO can help is talking about it. from Enron. So, what we’ve learned from Enron was you can The second way is to make sure that they express the always cheat the system. We thought we could regulate a way out of that. Regulation alone isn’t enough. My concern ethics for everybody. In some companies, the CEO says: this time is about how our regulation about bank debt will don’t let me know how it happens, just get the results. Ask be. So let me ask what the most important problem is for questions! They’re not stupid people. They know when things don’t look quite right. you and your family: good food or the bank debt? We want to make sure that we’re dealing with the most important problems, keeping the perspective. As I said, Brazil Forever – Do you think it’s time to rethink the regulation fixes the last problem, not the next one. notion we have of success nowadays? I think what I wished we had learned from Enron – and Laura Nash – I sure do! Everyone has a personal I said it at the time, when I launched the book “Never definition of success. It’s hard to generalize in that way, Enough”– is that if someone has as a business purpose but I think we have a culture right now of short term, get to be the biggest in the rich quick, make a lot world, the greatest in of money and buy a lot of things, very materialthe world, the smartest istic. If you do this, you person in the room, and have success. you can’t understand their The legacy would be And then, for people strategy and they call you who know that’s not stupid, they’re probably if we begin to develop everything, they see that stealing your money. And as the foundation. So it happened again with some monetary devices they say they also care Bernard Madoff. about other things like So, why should you to regulate risks in the family, community, arts. give these people hunBut first they say they dreds of millions of dolfinancial market. That lars in bonus? They were have to get rich quickly would create a platform the ones who made it. I and buy the other things. have problems with it. I But you can’t buy your for everybody to succeed saw that in Enron, they family, you can’t buy were “the smartest guys appreciation. in the room”. I would like I think to build a new to see a moratorium on notion of success right any financial transaction now means challenging that is so complex that can’t be audited. people to say what a good life really is. That’s the question. We still don’t know the answer. Brazil Forever–How can a CEO help build ethics inside his company? Brazil Forever – What will the legacy of this crisis be? Laura Nash – He can worship values and be a fabuLaura Nash – When I use the term “legacy”, I try to think lous example, by living it first of all. Making sure not only a positive legacy. My definition of positive legacy would transactions are based on honesty and integrity, but also be an activity that becomes a platform for the success of that there’s dialog with associates about the struggles other people. This crisis is about absolute failure. And it and reasoning behind decisions, so that people can learn has created the platform of failure of the next generation. how it was done. The legacy we can create is building a systemic way of The first part is saying: be ethical; the second–and addressing problems that will actually begin to create a hardest–part is finding out how to be ethical. So they more universal compliance and auditing mechanism for need to exercise it so they feel they have strong ethics global business. That would be a good legacy. and are operating successfully. They need to share their I think the second legacy is memory. People thought knowledge about that. And unfortunately I think that many banks couldn’t fail. We thought it in the United States,

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 One of the problems with ethics is it can seem very personalized, and if you are in an ethical dilemma, if you just found out something is going wrong in your company and there’s a pressure on you to behave unethically

ever since the Depression. The legacy would be if we begin to develop some monetary devices to regulate risks in the financial market. That would create a platform for everybody to succeed. Brazil Forever – What are some common ethical challenges faced by leaders? Laura Nash – One of the problems with ethics is it can seem very personalized, and if you are in an ethical dilemma, if you just found out something is going wrong

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in your company and there’s a pressure on you to behave unethically. Or you’re going through financial difficulty, a very isolating situation for leaders. Even for workers, when they have to do something they feel it’s not right, they feel very lonely at the moment. And they start thinking about what the right thing to do is. It’s very important for people to know they have a community to support them, so they don’t feel they’re out there alone.

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largest carbon credit project has just been implemented in the L andfill , with the creation of the

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addition to cutting carbon

emissions , the initiative brings hope of a better life for the thousands of garbage pickers who make a living out of trash .

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Background or the seven errors game

The Gramacho Sanitary Landfill originated from a series of mistakes. Back then, the seed of sustainable development hadn’t sprouted yet. So, in 1978, the Gramacho district, in Duque de Caxias, was chosen for a gloomy fate: taking in a landfill that would become Latin America’s largest. The Gramacho Landfill was designed in the 1970’s, based on regional development program goals. According to the proposal, it would be the site for the final disposal of urban solid waste from the cities of Rio de Janeiro, Nilópolis, Duque de Caxias, Nova Iguaçu and São João de Meriti. The initial forecast provided that about three thousand tons of waste would be dumped there every day. Its estimated useful life was of twenty years. Several experts have pointed out the project errors, which started with the location selected: a mangrove swamp on the margins of the Guanabara Bay and the Sarapuí and Iguaçu rivers. The chosen area was government-owned. And, although Conama’s ordinance 53/79 prohibits waste dumping in water courses, the Landfill was established there. The establishment of landfills next to stations, communities or water resources is also forbidden. The insalubrious site, thus, was an actual trap, exposing pickers to several risks. Because both residential and hospital waste was dumped in the landfill, it was a chemical bomb, a depository of contaminant hospital waste that released gases that could burn at any time. This scenario lasted for several years. As forecasted, the waste mass slope for 2002 would have a total height of 30 meters, waste and coverage combined. The intermunicipal consortium was seen as the solution for common environmental problems, a way to combine resources to multiply results, as per Supplementary Law 14/73, which defined Public Sanitation as a common service. “The Metropolitan Sanitary Landfill is an example of the disregard of public administrations for public services. Laws and Regulations were ignored, and there was little concern for the environment and public health. Landfill works started in September 1978. Back then, no EIA/EIR studies were required, nor was the performance of studies in case of ecological catastrophes mandatory. The establishment of the landfill allowed four disposal sites to be closed: Nilópolis, São João de Meriti, Duque de Caxias and Rio de Janeiro,” note experts Valéria Borba do Nascimento, Szachna Eliasz Cynnamon and João Alberto Ferreira in a case study on the landfill. According to them, this situation was due to the lack of support of the Foundation for the Development of Rio 62

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de Janeiro’s Metropolitan Region (FUNDREM, Fundação para o Desenvolvimento da Região Metropolitana do Rio de Janeiro), in charge of implementing the project, to the lack of environmental ethics, and to the low priority of landfill management. In the 1970’s, the Jardim Gramacho district was virtually uninhabited. After that, people who started working as garbage pickers in the landfill started building shacks there. Soon enough, problems appeared because of the disorganized operation: strong presence of rodents because the waste wasn’t duly covered and flowing of leachate into the mangrove and the Iguaçu river, as a result of the lack of a system for capturing superficial waters. The imminent environmental disaster

In the 1980’s, because of inefficient maintenance practices, as well as administrative mistakes, the Gramacho landfill became a dump yard. Industrial waste started being dumped there. There obviously was an increase in pollution. In 1987, surveys detected that the environment was contaminated with heavy metals–plumb, copper, zinc, cadmium, chromium. Between 1978 and 1988, the average volume of waste dumped in the landfill was of 100,000 tons per month. And no one seemed to really care about the risk to which the pickers were exposed. And the problem only grew. In the early 1990’s, about 5,000 tons of waste were dumped on the Gramacho Landfill everyday. The waste produced by the 6 million inhabitants of Rio de Janeiro’s Metropolitan Area, who seemed to despise selective waste collection, totaled 20,000 cubic meters of non-compacted waste. So, in the beginning of the 21st century, about 7,000 tons of waste were dumped daily on the Gramacho Landfill, resulting in piles that were up to 36 meters high. The Gramacho Landfill, with a 285-hectare area, significantly contributed to environmental pollution in the State of Rio de Janeiro, especially to the pollution of the Guanabara Bay. The technical reports resulting from an inspection performed by Carlos Minc in 2008 found cracks up to 40 cm wide at several points of the landfill. The inspection proved that a serious environmental accident was imminent. The ground might sag, dumping thousands of liters of leachate in the Guanabara Bay. The highly toxic fluid would consume the rest of the oxygen found in those already polluted waters, causing the death of thousands of fishes. Another potential risk was the obstruction of the Sarapuí river mouth by the garbage. A situation like that april/may/june 2009


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The Biogas Plant will produce, through the decomposition of organic waste matter, about 160 million cubic meters of biogas per year

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would cause floods in the Baixada Fluminense, the lowland area of Rio de Janeiro. “If the landfill holds up until the end of the year, it will be a miracle,” said Minc at the time. The turnaround–or the miracle

Thank God miracles happen. Considering all the problems involved, the public administrations were obviously working hard to find a feasible solution for the destination of solid waste in adequate sanitary and environmental conditions. In fact, since 1996, the City of Rio de Janeiro, through the work of Comlurb, the urban waste management company, had been investing in the environmental recovery of the Jardim Gramacho Landfill. Some of the actions were coverage of the solid waste with clay and other impermeable materials, improvement of the rainfall water drainage system, capturing of produced gases in wells, use of a plant barrier, improvement of the leachate drainage and collection system, implementation of a high-capacity leachate treatment station, and control and regeneration of 110 hectares of the surrounding mangrove area. Unfortunately that wasn’t enough. The good news surprisingly came in 2009, in the middle of the economic crisis. On June 5, the Novo Gramacho Energia Ambiental consortium, in a partnership with the City of Rio/Comlurb, opened the Jardim Gramacho Metropolitan Landfill’s Biogas Plant. The undertaking brings a breath of fresh air and hope to the place. The Biogas Plant will produce, through the decomposition of organic waste matter, about 160 million cubic meters of biogas per year. The power generated from biogas production will be equivalent to that of natural gas consumed by households in the 64

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city of Rio de Janeiro, avoiding the release of 75 million cubic meters of methane per year into the atmosphere. Brazil’s largest project in terms of greenhouse gas emissions reduction will require investments of R$ 91 million until the final phase. R$ 41 million have already been invested. The remaining balance will be invested in gas purification and transportation, as well as environmental compensation works. The Novo Gramacho project is also the world’s largest carbon credit project in sanitary landfills approved by UNO, and forecasts provide that 10 million carbon credits should be generated over a 15-year period. Comlurb has granted a concession to Novo Gramacho for the exploration of the landfill over a 15-year period, and 36% of the profits generated by carbon credits will be divided equally and distributed to Comlurb and the City of Caxias. The project implemented by Novo Gramacho meets all Clean Development Mechanism (CDM) requirements provided in the Kyoto Protocol. This mechanism allows developed countries to offset their emissions of global warming gases through clean energy set up in developing countries. The agreement signed assures that maintenance will be performed in the landfill until 15 years after termination,

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with special emphasis on environmental and geotechnical monitoring. “Our revenue started being generated on June 5, when the plant was opened. As of 2010, we will have a new source of revenue: the gas produced will be sold to companies that burn gas or use it as raw material. This requires the construction of a gas pipeline, which will be ready by next year,” says Paulo Tupinambá, Director of Nova Gramacho Energia. Technology

The biogas capturing and burn system is made up of two subsystems: the capturing and collection network, with 230 wells, and the biogas central unit, where biogas is sucked and burned in high temperature flames. Biogas is sucked to the Plant through a gas pipeline network that is 30,000 meters long, and transported from the collection wells implemented at several Landfill points. This system will avoid the release of 75 million cubic meters of methane per year into the atmosphere. Biogas is formed during the process of decomposition of organic matter gases, and is basically made up of carbon dioxide (CO2) and methane (CH4), which has a polluting potential 21 times higher than CO2 and more

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impact in terms of the greenhouse effect. When biogas is burned in a torch or explosion engine, methane is transformed in carbon dioxide (CO2) and water vapor (H2O), reducing global warming causes. What about the garbage pickers?

Among other actions provided in the plant project, about R$ 1.2 million/year will be destined to the Gramacho pickers for training and equipment purchase. “We want to assure that they will have work and an income.

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We will relocate them by identifying what each of them can do and providing guidance on proper training. We know that, in Gramacho, there are people who have been expelled from the labor market, and others come from families where garbage picking is a tradition,” says Valeria Pereira Bastos, PhD in Social Services. She was hired by the consortium to act as the project’s social advisor. Today there are about one thousand garbage pickers in Gramacho, divided in three cooperatives–Coopergramacho, Cooperjardim and Coopercamjg. These profes-

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sionals have been dramatically affected by the crisis. “The crisis has resulted in a 90% drop in material prices. Our production used to be of 30,000 kilograms of garbage per month, and it dropped to almost 10,000. Back in 1996, there were 200 cooperative members. Today there are only 40 employees. The pay was too low,” says Antônio dos Santos, president of Coopergramacho, the only registered cooperative. The initiative brings a new perspective for Gramacho

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pickers. Today, the Garbage Pickers’ Association and the Novo Gramacho Plant are talking about the future of the profession. “We want to go on collecting the recyclable materials,” says Sebastião Santos, president of the Association of the Pickers’ Landfill of Jardim Gramacho. The garbage pickers will become recyclable material pickers. If everything works out, as the pickers are trained, Gramacho will gradually become a recycling business exchange. Let’s wait and see.

Among other actions provided in the plant project, about R$ 1.2 million/year will be destined to the Gramacho pickers for training and equipment purchase

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the government’s response to drug traffic The escalation of violence in several Brazilian states has led the M inistry of J ustice to devise a new strategy to fight the increase of criminality rates

Brazil. The National Program for Public Security with C itizenship (P ronasci , P rograma N acional de S egurança com C idadania ) was created to in

dissolve drug traffic structures at locations to which the government has limited access .

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program aims at rescuing and networking with youngsters exposed to organized crime .

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94 program actions, the project Mulheres da P az (Women for Peace) stands out. This initiative the

identifies youngsters at risk and offers professional training and citizenship courses .

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Brazil Forever reporter

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n the State of Rio de Janeiro, about eighteen poor communities are supported by the Mulheres da Paz project. Morro da Providência, in downtown Rio, is one of the communities where the Pronasci program was implemented. One year ago, three youngsters were stopped by Brazilian Army soldiers and taken to a rival favela, Morro da Mineira, in Catumbi, where drug dealers were waiting to execute them.

How the project was implemented in the community

In January 2009, the Mulheres da Paz project was implemented at Morro da Providência through a partnerapril/may/june 2009

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The project created by the Ministry of Justice has been naturally growing, giving rise to feelings of approval and hope among the inhabitants of Rio de Janeiro’s oldest favela

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Project counselors must select, guide and follow up on the youngsters of their own communities with regard to professional training, as well as sports and cultural activities

ship with the People’s Central Institute (Instituto Central do Povo). At first, the counselors participate in training courses about the Maria da Penha Law on Rights, Citizenship and Violence against Women, among others, in a partnership with the State Council of Women’s Rights (CEDIM/RJ, Conselho Estadual dos Direitos da Mulher). Participation in seminars and meetings is also common, and the counselors get professional psychological and pedagogic advice whenever needed. This support is given by the professionals who teach the course, providing the counselors with information to assure that they are prepared to deal with their daily realities. Project counselors must select, guide and follow up on the youngsters of their own communities with regard to professional training, as well as sports and cultural activities. Furthermore, the “godmothers of peace,” as they are known, analyze the performance and results attained by youngsters who participate in the project. The program is aimed at youngsters who are 15 to 24 year old (reservists, teenage offenders, prisoners or former prisoners) in situation of family instability. If the pupils show a lack of interest in the program, the “godmothers” are called up to talk to the youngsters, who are usually their neighbors or relatives. The counselors get a R$ 190 allowance, while the youngsters get

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a R$ 100 allowance to encourage them to remain in the program. The Morro da Providência community has shown good acceptance for the program, which has proven to be positive for people with no life perspective and low self-esteem. “When the Mulheres da Paz project came into my life, I became more outgoing; it was the best thing that’s ever happened in my life. I have a greater sense of freedom because I used to spend most of the time at home. I always participate in events. Because of the project, I have made new friends, something that wasn’t possible because I spent so much time at home. It’s an excellent project,” says widower Jorceli Barbosa, 58. Jorceli, mother of 4 and grandmother of 13, is one of the Mulheres da Paz counselors. The project created by the Ministry of Justice has been naturally growing, giving rise to feelings of approval and hope among the inhabitants of Rio de Janeiro’s oldest favela. Female power rules

It’s important to point out that women are becoming more and more independent and free before men. In 1999, the United Nations Organization (UNO) has 71


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designated November 25 the International Day for the Elimination of Violence Against Women. There are 11,725 women leaders in Brazil. The project Mulheres da Paz conveys a stronger image of women and fosters the development of female leadership. It’s a big thing. “It’s a good experience, and not only for the money. I know several people have enrolled because of that. But the project ended up integrating the community. I have been living at Morro da Providência for 23 years, and, through the project, I’ve met people I had never seen or talked to in the community. This interaction has created friendship bonds. And women become more united,” says Jordana Santos, 23, student and counselor of Mulheres da Paz. According to Robson Ourem, inspector of Rio de Janeiro’s 4th Police District (Central do Brasil), in 2008 most complaints registered by inhabitants of Morro da Providência were made by men attacked by their wives. It’s a peculiar piece of information that reveals the lack of harmony in the community. Vision and hope

“I believe that, together, we have managed to promote social change based on an ideology. The project is encouraging the “godmothers of peace” to think and act. Other projects have been implemented in the community before. But the important point here is how much women will grow beyond project objectives: as people or as peer educators within the community,” says Mayckon Almeida Rosa, project coordinator. He hopes that, someday, the group will “reap the good fruits planted” in Morro da Providência. “Using the tools provided by us–theory, philosophy, etc.–we would like them to start the knowledge-building process within the community. We are aware of the “pros and cons” of the project. Some women enroll just to get the R$ 190 allowance, but we always assert that the allowance isn’t the main change intended in their lives; it’s just a way to encourage them to stay,” says Mayckon. Among strategies and mistakes

What makes Pronasci so effective? Several factors indicate that the initiative has the features of a welfare

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policy, which has so many critics. However, on the other hand, what would the program look like without a welfare policy? The answer doesn’t come easy. “The Pronasci is an attempt to control risk situations. Its main purpose is to reduce crime rates, but it fails to consider the country’s most important public institutions: elementary and high schools. I am astonished! In addition to involving a lot of hard work, the project demands dedication, perseverance and knowledge. The program neglects public schools and also requires a wide range of knowledge. Another factor that goes unnoticed in Brazil, for individualistic reasons as well, is the loss of family as an institution. It’s very hard work. Will the project be able to reverse a situation that was caused because of the lack of institutions in the first place?” challenges Valter Duarte Ferreira, professor of Social Sciences at the Federal University of Rio de Janeiro (UFRJ, Universidade Federal do Rio de Janeiro.) According to the Ministry of Justice, of the R$ 2.9 billion estimated and approved by the Brazilian Congress in 2009, R$ 1.2 billion will be invested in the Pronasci. Between 2008 and 2012, investments should total R$ 6.107 billion. Bill no. 11,530 of October 24, 2007 was amended by Law no. 11,707 of June 19, 2008. The previous text explicitly mentioned the fight against drug traffic. This objective was camouflaged in the new law. The Getulio Vargas Foundation (FGV, Fundação Getulio Vargas) will assess Pronasci’s economic and social indicators control. In addition to the Country’s Capital City, the social program has been implemented in fifteen states: Acre, Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais, Pernambuco, Pará, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, São Paulo and Sergipe. Some say violence cannot be controlled. However, one famous phrase would summarize the hopes of many: “the world wasn’t made of wars.” Peace is something most people have always longed for. Yes, there are exceptions. But that doesn’t matter for those who dream of a better world. “The program should focus on the deterioration of public schools in Brazil. Despite all political issues in which the Armed Forces have become involved in Brazil, the institution might be rescued as a significant source of social control education,” says the professor of UFRJ.

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sustainability-driven power company. Light, the power company of the State of Rio de Janeiro, which has been operating for over one century, has a new calling. Today, its commitment to sustainable development is part of the company’s mission. This year, Light has published its second Sustainability Report, including relevant information on corporate performance regarding social, environmental, economic and financial aspects. “In 2008, Light reinforced its commitment through management based on sustainability values and principles, and the Report reflected the efforts made to meet the demands of different audiences, as well as to conduct business ethically and transparently,” pointed out the company’s CEO, José Luiz Alquéres. Carlos Piazza, Light’s superintendent, says the company has been improving its sustainability-oriented management. “Light adopted a sustainability-oriented management model in 2006/2007. That’s when we started working with sustainability as a management model. This is the second year in which a sustainability report is published,” he observes. The first step was joining the United Nations’ (UN) Global Compact, an international agreement aimed at helping the business community promote human rights, labor and environment. It has also made a commitment to UNO’s Millennium Goals. An effort to be included in Bovespa’s Corporate Sustainability Index (ISE, Índice de Sustentabilidade Empresarial) was also made. “We’re working on our sustainability skills. It’s a challenge for a hundred-year-old company that has many responsibilities, including environmental licensing, unit certification and policies (diversity, anticorruption,)” Piazza explains.

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don’t apply to Light. “Light’s 2008 Sustainability Report also reflects the growing concern regarding the integration of the social, environmental and economic aspects for the company and its stakeholders. Our challenge, which becomes more complex each day, is the relationship with society regarding the sustainable use of natural resources, the efficient use of power and the building of a common future. In addition to that, we obsessively aim at improving our service rendering efficiency and our commercial skills for our customers,” José Luiz Alquéres explains. Carlos Piazza notes that the company will gradually increase focus on its stakeholders. “Today, our main challenge is sustainability-oriented growth. The next step is engaging the stakeholders. We need more than projects; we have to spread the trend around. To better attain the engagement goal, we have established a partnership with FBDS, and we’ll follow the institution’s recommendations,” he says. According to Piazza, one of the first steps to attain this goal was the organization of an experts’ panel this year. This initiative has helped build the vision regard-

The Report

Prepared as per GRI-G3 (Global Reporting Initiative) guidelines, the latest sustainability report provides information on the socioenvironmental projects implemented and supported by Grupo Light. It also provides details on future investments of over R$ 500 million in a five-year period to expand the company’s energetic capacity. The projects contemplated are the Paracambi Small Hydroelectric Unit, the Lajes Hydroelectric Plant and the Itaocara Hydroelectric Plant. The publication’s self-declared application level is “A,” and the report was evaluated by the Brazilian Foundation for Sustainable Development. To comply with Application Level “A,” Light has included all essential indicators that apply to the company. The Report has 69 of the 79 GRI indicators, 45 of which are essential and 24, additional. Seven of them 74

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A dialog with the stakeholders requires a relationship with neighbor communities. Light knows that

ing the company’s main sustainability issues. “The report reflects these actions.” Communities

A dialog with the stakeholders requires a relationship with neighbor communities. Light knows that. “We’re always transparent with the communities. The Paracambi and Itaocara plant projects are in progress, and our motto is transparency. We are also working hard to modernize facilities and minimize impacts. Most of our units–182–have triple certification, which only goes to show how hard we have been working to conform,” Piazza says. Light follows a transversal management model based on workgroups. The representatives of such groups have direct access to the CEO. “This management model has been working well. Each workgroup representative takes the commitments made to the company’s top management. Our sustainability report was prepared based on these aspects, including environmental policy.” Light has been facing a new challenge when it comes to talking to the communities. Light’s concession area encompasses 25% of the country’s favelas. In these locations, the company has to deal with illegal power supply connections and also situations that are risky for associates. “Informality and poverty are not synonyms. Some people face hardships and have to struggle to pay their bills; others steal power. Today, 60% of the illegal connections are concentrated in the urban areas, not in needy communities. People who live in fancy condos in Barra da Tijuca aren’t poor. In this

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The company has been standing out for the work developed in the Santa Marta favela, in Botafogo, in the South Zone of Rio de Janeiro. Since last year, the company has been teaching the community how to use electric power efficiently and effectively

case, we have to resort to applicable legal instruments,” Carlos Piazza says. The company has been standing out for the work developed in the Santa Marta favela, in Botafogo, in the South Zone of Rio de Janeiro. Since last year, the company has been teaching the community how to use electric power efficiently and effectively. According to Piazza, “things work in a different way in communities. At Santa Marta, for instance, we’re redefining the pact issue. Light promises quality service and helps them pay their debts. Some people can afford to pay the bill, so we’ll teach them how

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to do this. We’ll transform consumers into customers. This requires an inclusion work.” Before that, company employees had a hard time installing the power network or making repairs because of drug dealers. Now that the police has established a presence at Santa Marta, Light started working in the community. The company’s communication agents will stay there for six months, helping the community through this transition phase. The company will also invest R$ 2 million to rebuild the community’s electricity network. Initiatives like this allow the link to be rebuilt.

april/may/june 2009


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