Crateras Urbanas de Coimbra
Faculdade de Letras Universidade de Coimbra 2007
Geografia Humana de Portugal
Almedina, Santa Cruz e S. Bartolomeu, crateras urbanas
JoĂŁo Pedro Bastos
Instituto de estudo geogrĂĄficos Faculdade de Letras Universidade de Coimbra 2007
Índice Introdução…………………………………………………………… ……………3 1- Enquadramento geográfico…………………………………….. …………4 1.1-Coimbra, Geo-posicionamento Ibérico e nacional……………4 1.2-Coimbra e a Região Centro………………………………………..4 1.3- Coimbra, o município e área metropolitana……………………5 1.4- As freguesias de Santa Cruz, S. Bartolomeu e Almedina…...6 2- Caracterização Demográfica………………………………………………….9 2.1- População absoluta…………………………………………………9 2.2- Faixa etária……………………………………………………………11 2.3- População residente e população presente…………………….12 3- Dinâmicas urbanas……………………………………………………………...14 3.1- Dinâmica imobiliária…………………………………………………14 4- Análise prospectiva……………………………………………………………..18
Introdução
As Freguesias de Almedina, Santa Cruz e S. Bartolomeu, a que a cidade se habituou a designar por Baixa, em oposição à Alta muralhada, é um território determinante para a afirmação da cidade de Coimbra e da sua superior qualidade de vida e identidade. Não obstante essa importância, o território compreendido nestas três freguesias tem apresentado nos últimos decénios uma dinâmica negativa ao nível social, económico e patrimonial. A população escasseia e a que resiste ao tempo envelhece, ao mesmo tempo que “envelhecem” os edifícios em que habitam. O comércio tradicional não se renova, não consegue combater as grandes superfícies e fecha as portas. O espaço público é abandonado à erosão do tempo, dos elementos naturais, à incúria dos governantes e ao desleixo de quem nele circula, ao mesmo tempo que se instala um clima de insegurança propiciado por todos estes factores. Deverá então este território resignar-se ao fatalismo que alguns lhe auspiciam? Seguramente que não, caso não se queira cometer o mesmo erro cometido, por exemplo, nas décadas de 40 a 70 do século passado, durante as demolições para a construção da Cidade Universitária, em que se adulterou para sempre um espaço com uma identidade coletiva alicerçada em séculos de história. Para isso, torna-se fundamental encontrar as causas que conduziram à situação actual e compreendê-las, o que apenas é possível através de estudos rigorosos ao nível económico, social e urbano, nos quais a Geografia tem um papel fundamental. Identificados os problemas, é imperativo abrir o debate à sociedade civil, à opinião pública, interligando todos os agentes económicos e sociais que actuam neste território. Só assim se tornará possível inverter a dinâmica territorial negativa, de modo a que estas Freguesias deixem de ser classificadas como crateras urbanas. Como definiu João Ferrão, estes espaços definem-se como áreas urbanas com decréscimo populacional, geralmente
coincidentes com os centros históricos das cidades de grande (Lisboa, Porto) ou média (Guimarães, Braga, Vila Real, Coimbra, Figueira da Foz, Covilhã, Abrantes, Évora, etc.) dimensão, mas que no caso de Lisboa se alarga já aos subúrbios industriais de primeira geração (Almada, Barreiro).
1- Enquadramento geográfico
1.1-Coimbra, Geoposicionamento Nacional e Ibérico A cidade de Coimbra, localizada na NUT II Centro de Portugal, é a única cidade-média portuguesa à escala europeia, com capacidade para se projectar e afirmar, nacional e internacionalmente, dando um contributo essencial para o reequilíbrio do sistema urbano nacional. Coimbra, assumindo uma posição central na fachada atlântica ocidental, posiciona-se de forma privilegiada sobre os grandes eixos do sistema de transporte terrestres, estruturantes da faixa de maior dinamismo económicoempresarial e demográfico nacional (faixa litoral entre Setúbal e Braga) e do corredor de ligação à Europa. Desta forma, Coimbra torna-se incontornável na articulação entre as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, entre o sul e o norte do país e deste com a Europa.
Fig. 1 – Posicionamento de Coimbra no sistema urbano da Península Ibérica
1.2- Coimbra e a Região Centro A Região Centro ocupa, aproximadamente, um quarto da superfície de Portugal, alberga 17% da população e produz cerca de 14% do PIB, apresentando uma estrutura produtiva diversificada. A localização geográfica da Região Centro e de Coimbra em particular é estratégica, tanto nas ligações entre o Norte e o Sul, como nas ligações com a Europa, quer a nível rodoviário como ferroviário. O Centro é um território diversificado, tanto a nível da paisagem, possuindo desde as paisagens típicas de litoral, às paisagens montanhosas e de serra, como a nível económico e demográfico, coexistindo Municípios com diferentes níveis de especialização sectorial e económica, assim como variadas composições sociodemográficas. A faixa litoral da Região Centro, caracterizada por um maior desenvolvimento económico, urbano e industrial, assim como uma agricultura e pecuária intensivas, gera uma pressão adicional sobre o uso do solo e as suas principais bacias hidrográficas, contribuindo para a poluição dos recursos hídricos. O interior da região, menos desenvolvido a nível económico e com tendência, nas zonas rurais, para um progressivo despovoamento em detrimento do litoral e dos centros urbanos, resulta no abandono da agricultura e da floresta, levando a um aumento dos riscos de incêndio e erosão. É neste contexto que Coimbra possui um papel fundamental e estratégico para o país, como eixo que contribui para a sustentabilidade e multipolaridade do desenvolvimento da Região Centro e equilíbrio da rede nacional de cidades. Coimbra afirma a sua posição geoestratégica, potenciada pela grande centralidade na rede urbana nacional e como porta privilegiada de “acesso” à Europa, sendo também um Município charneira entre diversos espaços
diferenciados
sob
os
aspectos
geomorfológico,
paisagístico,
geoeconómico e histórico-cultural, na transição da orla costeira aplanada para o interior de relevos abruptos.
1.3- Coimbra, o Município e Área Metropolitana O Município de Coimbra, com uma área de 319,41 km², repartida por 31 Freguesias, pertence à Região Centro, na qual se afirma como o de maior dinamismo e importância, sendo também capital de Distrito. Tem como Concelhos limítrofes Cantanhede, Mealhada, Penacova, Vila Nova de Poiares, Miranda do Corvo, Condeixa-a-Nova e Montemor-o-Velho. A área metropolitana de Coimbra é constituída por 16 Municípios, abrangendo uma área de 3372 km² e uma população de 431.379 habitantes. O Município de Coimbra assume uma liderança indiscutível, com 34,4% da população da sua área metropolitana.
Fig. 2 - O concelho de Coimbra e a sua Área Metropolitana – Rácio de Pendularidade
1.4- As Freguesias de Santa Cruz, S. Bartolomeu e Almedina As três Freguesias em estudo, designadas por Ferrão como crateras urbanas, assumem uma posição central no Município de Coimbra. Fazem parte do núcleo central da cidade, que se designou por centro consolidado, ou seja, uma
área
com
elevada
densidade
populacional
e
implantação
de
equipamentos. Correspondem à zona dos primeiros aglomerados urbanos que surgiram fora das muralhas da cidade e a sua história confunde-se com a história e crescimento de Coimbra. Testemunhos
arqueológicos
e
documentos
escritos
atestam
a
existência, já na época romana, de uma importante povoação no local onde actualmente se ergue a cidade. No início da Idade Média deve ter sofrido os ataques de Alanos, Suevos e Visigodos, conhecendo, porém, sob o domínio destes últimos, uma certa prosperidade, com moeda própria. Em 878, o Conde Hermenegildo Mendes conquistou Coimbra aos Mouros. Sucederam-se as vicissitudes de um longo período de lutas entre Cristãos e Muçulmanos até à reconquista definitiva por Fernando Magno, no ano de 1064. Recebeu o primeiro foral de Afonso VI, Rei de Leão e Castela. O Conde D. Henrique, que assumira o Governo do Condado Portucalense em 1094, concedeu-lhe novo foral em 1111. A importância da cidade cresceu sob os Governos de D Raimundo, de D. Henrique e dos primeiros monarcas portugueses, sendo muitas vezes residência da corte e sede do Reino. Nela se realizaram algumas das mais importantes cortes medievais, como as de 1211 e 1385. Durante este período, estabeleceram-se na cidade muitas ordens religiosas, o que atesta a importância da cidade no contexto social e económico nacional. Do alto da colina, num «sítio» com excelentes condições de resposta à função primitiva de defesa, banhado a ocidente pelo tramo rectilíneo e orientado a norte pela tectónica do Mondego, dominava-se o vale do rio e a sua passagem, enquanto se defendia e vigiava a penetração para o interior pelo vale do mesmo rio, então navegável, e o do seu afluente Ceira. A um excelente «sítio» correspondia também uma «posição» preciosa. Aí fizeram os Romanos passar a estrada de Olisipo a Bracara Augusta, um dos principais eixos da extensa rede de comunicações da Península Ibérica, perto do último local onde, antes da foz, se poderia atravessar o Mondego. Esta confluência de rotas de comunicação tornou a cidade num pólo comercial de grande importância nas ligações norte-sul e este-oeste, através do rio. Crescendo fora de muros em direcção às ribeiras do Mondego, abriramse ruas, criando praças (Praça Velha ou do Comércio), erguendo conventos e igrejas (Santa Cruz, Santiago, São Bartolomeu e Santa Clara-a-Velha, na
margem esquerda do Mondego), tudo sempre ameaçado pelas cheias do Mondego e particularmente pelo seu constante assoreamento. A cidade quase se quedou intramuros, à excepção dos arrabaldes imediatos fora da Porta de Almedina e nas cercanias de Santa Cruz ou, mais afastadas, as áreas de Celas e dos Olivais, onde a implantação de dois conventos congregou com o tempo alguma população. A tímida extensão urbana fora de portas, desenvolvida segundo a via Lisboa-Braga e comprimida entre a frente poente da muralha e a linha média de cheia do rio, encontrava mais espaço. A conjugação da porta Oeste (Almedina) com dois pequenos templos cravados na encosta de então (S. Bartolomeu e S. Tiago), havia já potenciado um alongado terreiro onde se realizava a praça, local onde se aglomeravam o povo, os comerciantes e os artesãos. A Praça Velha era o centro de vida da cidade e terá justamente começado por aí o desenvolvimento do arrabalde. A toponímia da Baixa quase que bastaria para a caracterizar, mostrando como os vários mesteres ou ofícios se agrupavam nas mesmas ruas.
A instalação da Universidade, no século XVI, haveria de abrir rumo novo e diferente à velha urbe. Cresce então urbanística e arquitetonicamente,
acrescentando às casas conventuais, às igrejas paroquiais e à Sé Velha, os colégios universitários e o traçado dos novos arruamentos, como o da Rua da Sofia. Também na margem esquerda se vieram a acrescentar novos edifícios conventuais, aumentando a povoação e o povoamento, que então tinha tendência a sair da cerca muralhada. É já no século XIX que a cidade rompe definitivamente com o seu acanhado casco amuralhado e acrescenta o seu arrabalde ribeirinho. Cresce, então, pelos cumeados e ao longo dos vales, sempre marcada por um geomorfismo evidente, que ainda nos nossos dias comanda a implantação urbanística e condiciona fortemente a expansão. Estende-se em direcção à Arregaça (Calhabé) e pelo Alto de S. João em direcção à Portela e a Ceira, para Santo António dos Olivais e Tovim, para a Pedrulha e na margem esquerda, Santa Clara.
Fig. 3 – O Concelho de Coimbra e as suas Freguesias
As Freguesias em estudo (fig. 3) correspondem em grande parte aos primeiros arrabaldes da cidade muralhada. Banhadas pelo Mondego, as Freguesias de Almedina, S. Bartolomeu e Santa Cruz compreendem a área que através do tempo se tornou usual designar, em oposição à Alta muralhada, por “Baixa” de Coimbra. Almedina, Freguesia histórica de Coimbra, ocupa uma área de 1,09 km² e alberga 1557 habitantes (2001), que resulta numa densidade de 1428,4 hab/km². São Bartolomeu, a Freguesia mais pequena do Concelho de Coimbra, tem apenas 0,22 km² de área, 856 habitantes (2001) e uma densidade populacional de 3890,9 hab/km². A Freguesia de Santa Cruz ocupa 5,46 km² de área e tem 6868 habitantes (2001), com densidade de 1257,9 hab/km².
2- Caracterização Demográfica Na caracterização de um território é fundamental estudar e conhecer as dinâmicas e as características da sua população. Esse estudo deve incidir não só na análise quantitativa, meramente estatística, mas também qualitativa. Além disso, ao estudar um determinado território, no caso do presente trabalho, as Freguesias de Almedina, Santa Cruz e S. Bartolomeu, é imperativo enquadrar esse território na região em que se insere. Neste caso, procurar-seá, sempre que possível, comparar as dinâmicas das três Freguesias em estudo com as dinâmicas do Concelho, e destas com as da região Centro ou do Distrito de Coimbra. 2.1- População absoluta O Município de Coimbra registava em 2001 uma população residente de 148.443 habitantes, evidenciando-se na rede dos Municípios portugueses, sendo o único que, na Região Centro de Portugal, se encontra no limiar dos 150.000 habitantes. Tendo em conta que a rede de cidades em Portugal tem uma dimensão demográfica média na faixa dos 20.000 aos 50.000 habitantes, Coimbra posiciona-se no 15º lugar, sendo que dos Municípios localizados fora
das Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto, só Braga e Guimarães apresentam uma dimensão demográfica superior. Já em termos de densidade populacional (465 habitantes/km2, 4 vezes superior à do País) a sua posição relativa a nível
nacional altera-se
significativamente, ocupando a 36ª posição. A evolução da população residente, de 1864 até 2001, evidencia Coimbra, também, como um Município com uma dinâmica de crescimento sempre positiva e quase sempre superior ao verificado no resto do País. Neste período, Coimbra triplica a sua população, enquanto que o País apenas a duplica.
Fig. 4 – Crescimento Populacional 1991-2001
Como se pode observar na figura 4, este crescimento começou a desacelerar no último decénio. Embora a população de Coimbra continue a crescer (6,8% entre 1991-2001), esse crescimento é mais lento que nas cidades de referência, as cidades-médias do Centro, capitais de Distrito (Aveiro, Leiria e Viseu) e Braga. Enquanto que nestas cidades há um movimento centrifugo da população, aglomerando-se nas Freguesias centrais
das cidades, em Coimbra processa-se o movimento oposto, com a estabilização da população residente e o aumento da população dos Concelhos vizinhos, num fenómeno de suburbanização e rurbanização, com o consequente crescimento dos fluxos pendulares. No período 2001-06 a população residente de Coimbra registou mesmo uma diminuição, resultado do processo de suburbanização que se vem verificando nos últimos anos, com o aumento da especulação imobiliária na cidade e consequente fuga da população para Freguesias mais periféricas ou Concelhos vizinhos. Esta tendência é reflectida no elevado crescimento populacional de Municípios como a Lousã, Condeixa-a-Nova, Miranda do Corvo ou Mealhada, como se observa na figura 5.
Fig. 5 – Variação da população residente
No último decénio (1991-2001), Coimbra apresentou um crescimento de 6,75% (9391 habitantes) enquanto que o País apenas crescia 4,08% (fig. 6). As Freguesias de Santo António dos Olivais, Eiras e S. Martinho do Bispo
foram as que mais contribuíram para esse crescimento. Por outro lado, as três Freguesias em estudo apresentam uma dinâmica negativa, com elevadas perdas populacionais. Efectivamente, as Freguesias centrais da cidade, a que corresponde, em parte, o centro histórico (Almedina, Santa Cruz, S. Bartolomeu e Sé Nova), assistem a uma diminuição progressiva da população residente e ao seu envelhecimento, consequência do abandono desta parte da cidade. De facto, no período entre 1991-2001, as três Freguesias em estudo lideraram as perdas populacionais do Concelho. Santa Cruz viu a sua população ser reduzida de 8239 para 6866 habitantes, ou seja, uma redução de 1373 habitantes, que corresponde a uma variação negativa de 17%. Em S. Bartolomeu, o total da população residente passou dos 1395, em 1991, para os 856 habitantes, volvidos 10 anos, ou seja, uma redução de 539 habitantes, menos 39%. Já na Freguesia de Almedina, a população reduziu-se em 432 habitantes, passando dos 1953 para os 1521, uma redução de 22%.
Fig. 6 – Variação da população residente nas Freguesias do Concelho de Coimbra, entre 1991-2001
2.2- Faixa etária Da análise da figura 7 observa-se um processo de envelhecimento da população, quer nas Freguesias localizadas na Margem Direita Consolidada e na Margem Esquerda (São Bartolomeu, Almedina, Santa Cruz e Santa Clara), quer nas Freguesias localizadas nas franjas do Município (Ceira, Almalaguês, Torres do Mondego, Cernache, Ameal, Arzila e Vil de Matos). Assiste-se hoje a um envelhecimento de parte do núcleo urbano, circunstância que tem sido um dos motivos para o seu despovoamento. Esta realidade de “esvaziamento” do Centro Histórico é transversal a um conjunto de cidades nacionais com um núcleo central de ocupação urbana com traços medievais. Estas Freguesias têm dificuldade em fixar população jovem, em parte devido ao estado de degradação do seu edificado, à falta de estacionamento, ausência de políticas de renovação urbana que possibilitem à população jovem ocupar um espaço descaracterizado, longe dos padrões de conforto e segurança dos dias de hoje.
Fig. 7 – Índice de envelhecimento no Concelho de Coimbra
Como se observa na figura 7, Almedina, Santa Cruz e S. Bartolomeu apresentam os valores mais elevados no índice de envelhecimento, o que reflecte a composição etária da população que reside nestas Freguesias. 2.3- População residente e população presente Um indicador particularmente relevante é a relação entre população presente e população residente. Quanto maior for a diferença positiva, mais poder de atracção apresentará uma região, dado ser indicativo de que nela actuam agentes de outras regiões atraídos por melhores equipamentos e estruturas. O Município de Coimbra apresenta uma capacidade de atracção de indivíduos exteriores ao Município que não tem paralelo com os valores
Fig. 8 – Rácio de Atractividade
registados pelos Municípios do grupo de referência, como Aveiro, Braga ou Viseu. Diariamente, o Município atrai um valor líquido ajustado de indivíduos – 12.293 – que é mais do triplo do registado pelo Município de Aveiro, com o segundo melhor registo,. Neste aspecto, as Freguesias em estudo apresentam grande dinâmica, reflexo dos serviços e equipamentos que possuem, afirmando-se como um dos “centros económicos” da cidade, agregador de fluxos com origem externa ao Município, como se observa na figura 8. O Rácio de Atractividade exprime a diferença entre a População residente e a População presente, atingindo os valores de 116% para Santa Cruz, 151% para S. Bartolomeu e 130% para Almedina, só ultrapassados pela Freguesia da Sé Nova.
3- Dinâmicas urbanas 3.1- Dinâmica imobiliária Em 2001 existiam no Município de Coimbra 35.807 edifícios, dos quais 33.142 eram exclusivamente residenciais (92,6%). Os alojamentos clássicos do Município cresceram, entre 1991-2001, 20,2% (mais 11444 alojamentos) e os edifícios 9,1% (mais 3009), crescimento análogo ao verificado no País (19,7% para os alojamentos e 10,4% para os edifícios). O total de alojamentos familiares clássicos (68.096) tem apresentado um aumento gradual desde 1940, acompanhando o ritmo de crescimento registado nos edifícios. Contudo, no período que decorreu entre 1970 e 2001, este aumento foi mais acentuado, traduzindo-se num acréscimo de 34.976 alojamentos. Saliente-se que 20% dos alojamentos do Município foram edificados entre 1991-2001. No entanto, este crescimento não é uniforme. As Freguesias que mais contribuíram para o aumento no número de alojamentos, foram aquelas onde se verificou também maior crescimento populacional, ou seja, Santo António dos Olivais, Eiras e S. Martinho do Bispo. Mesmo as que perderam população entre 1991-2001, apresentaram crescimentos dos alojamentos clássicos (excepto Arzila e S. Bartolomeu).
Fig. 9 – Época de construção dos edifícios do Município de Coimbra
Fig. 10 – Loteamentos por ano
Relativamente às Freguesias em estudo, ao decréscimo populacional não corresponde uma diminuição dos alojamentos clássicos, com a excepção de São Bartolomeu, onde o número de alojamentos clássicos se reduziu em 7,1% e o número de famílias 32.5%, entre 1991-2001. Em relação a Almedina e Santa Cruz, a redução do número de famílias, -16,1% e -2,4%, respectivamente, não foi acompanhada por uma diminuição dos alojamentos clássicos, em linha com a dinâmica de crescimento do Município. Mesmo inferior à média de crescimento do Município, 20,2%, Almedina teve, entre 1991-2001, uma variação positiva de 14,2%, e Santa Cruz de 13,2%.
Dos 68.096 alojamentos clássicos, apenas 52.958 são ocupados como residência habitual (78%). Os alojamentos vagos e de uso sazonal ou secundário constituem 22% do total de alojamentos clássicos (7.572 e 7.566, respetivamente). Almedina e Sé Nova são as Freguesias onde a ocupação sazonal ou secundária tem um maior peso relativo (27,90 e 25,45% respectivamente). Nas Freguesias de São Bartolomeu, Almedina e Santa Cruz, os alojamentos arrendados chegam a atingir os 84%. É também nestas Freguesias, juntamente com a Sé Nova, que se regista a maior percentagem de edifícios principalmente não-residenciais, o que atesta a existência de uma grande concentração de serviços e equipamentos.
4- Análise prospectiva Da caracterização das Freguesias de Almedina, Santa Cruz e S. Bartolomeu, resulta o retrato de Freguesias históricas, no coração da cidade, que sofrem as consequências das dinâmicas demográficas e imobiliárias que se traduzem na diminuição e envelhecimento da população e na segregação funcional do território. Ao mesmo tempo, verifica-se a degradação do edificado e do património arquitectónico, que origina uma diminuição acentuada da centralidade do território, que se revela a nível das rendas, da crise do comércio instalado, da perda de habitantes, da degradação física dos prédios, de problemas sociais vários e de insegurança pública.
Fig. 11 – Património arquitectónico
Votada ao abandono e esquecimento durante muitos anos, estas Freguesias foram nos últimos anos alvo de projectos e intervenções urbanas, com o objetivo da recuperação dos edifícios degradados, mas também da requalificação e regeneração urbana. Programas como o PRAUD e o Coimbra Viva-SRU visam não só a reabilitação dos edifícios, mas acima de tudo a sua recuperação funcional e do espaço envolvente, motivo principal para abandonar as “obras de fachada”, com pouca influência no espaço
intervencionado, para apostar em projectos mais abrangentes e integrados. No fundo, uma intervenção que evidencie todas as qualidades intrínsecas do conjunto do edificado, que o seu estado e uso actual ocultam, com destaque para a limitação da circulação automóvel e intervenções arquitectónicas e paisagísticas que fomentem o uso colectivo do espaço público.
Fig. 12 – Pontos de interesse turístico em Coimbra
A janela de oportunidade destas Freguesias está intimamente ligada à sua capacidade de regeneração e empreendorismo nos novos projectos que vão surgindo. Estes novos projectos podem potenciar as capacidades que neste momento estão limitadas, por desleixo, desinteresse ou por falta de investimento. Um dos eixos fundamentais para o desenvolvimento das Freguesias é a aposta no turismo, no qual tem papel preponderante o seu património arquitectónico e cultural (fig. 11 e 12). De facto, juntamente com a Sé Nova e Santa Clara, as Freguesias em estudo possuem uma enorme riqueza patrimonial, como os colégios da Rua da Sofia, a Igreja de Santa Cruz, o conjunto do edificado da “baixinha”, o Arco de Almedina, e os conjuntos arquitetónicos das ruas Visconde da Luz, Ferreira Borges e Praça 8 de Maio. Mesmo a pequena Freguesia de S. Bartolomeu possui um património muito rico e classificado, como a Igreja de Santiago ou o Arco de Almedina. Santa Cruz pode orgulhar-se do Mosteiro com o mesmo nome, da imponente Rua da Sofia ou do Jardim da Manga. O destaque vai para Almedina, com um conjunto patrimonial notável, com destaque para a Torre de Anto ou o Paço de Sub-Ripas. São vários os projectos que apostam no turismo, com especial destaque para a candidatura da Universidade a Património Mundial da UNESCO. Embora incida maioritariamente sobre a Alta Universitária da cidade, a intervenção projectada, compreendida na Área Crítica, integra também a Rua da Sofia e os colégios que em tempos aí existiram, esperando-se um incremento brutal no número de turistas e consequentemente, novas oportunidades de negócio, com boas perspectivas de dinamização do terciário da zona, com a restauração e a hotelaria a serem os mais beneficiados. Outro dos projectos que irá dar uma nova face à zona é o projecto do Metro Mondego (fig. 13). Originalmente concebido apenas para reabilitar a Linha da Lousã, o Metro é hoje um projecto que promete revolucionar Coimbra, não só ao nível do ordenamento viário como do espaço público. As duas linhas de Metro previstas terão particular incidência nas Freguesias em estudo. Em primeiro lugar, tornar-se-á possível interligar a “Baixa” com a futura estação intermodal de Coimbra, prevista para a zona norte do Concelho de Santa Cruz. Além disso, rasgar-se-á uma nova artéria que vai conectar a margem ribeirinha
com a Baixa (fig. 14) e esta com a Universidade, os hospitais e a zona da Solum, aumentando o conforto das deslocações e a sua frequência, ou seja, aumentando a acessibilidade da zona e a coesão urbana.
Fig. 13 – Projecto Metro Mondego
Em segundo lugar e não menos importante, estão associados ao Metro alguns projectos de regeneração urbana, como o projecto de Joan Busquets, que procuram intervir na zona desafetada do domínio ferroviário. Através de planos de pormenor ou projectos privados isolados, há uma tentativa de revitalização de toda a margem ribeirinha entre a estação de Coimbra-B e a ponte Rainha Santa Isabel (ou seja, a quase totalidade da frente ribeirinha das freguesias em estudo). A exemplo do que aconteceu na Expo98, em Lisboa, o objectivo é transformar esta zona decrépita, abandonada, com edificado decadente e fábricas ou oficinas abandonadas, numa zona nobre da cidade, através da aproximação desta e da população ao rio Mondego. Além disso, pretende-se uma mudança na estrutura da ocupação funcional do espaço, que antes fora uma zona de forte implantação industrial e de serviços intimamente
ligados ao serviço ferroviário, transformando-o numa zona de cariz residencial mas também terciário.
Fig. 14 – Nova artéria de ligação entre a frente ribeirinha e a Praça 8 de Maio
Fig. 15 – Património natural
Uma das potencialidades das três Freguesias em estudo é também o seu património natural (fig. 15). O Mondego, símbolo da cidade, propicia actividades de lazer, desporto e animação cultural. Mas também o Parque Verde, o Parque Manuel Braga, o Jardim Botânico e o Choupal constituem um conjunto diversificado, que proporciona aos residentes e aos turistas a fruição de espaços públicos de qualidade, que possibilitam o contacto com a natureza, a prática desportiva e constituem uma mais valia ambiental e paisagística.
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Jo達o Pedro Bastos