Suplemento Além do Pódio - Revista Época

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bandeira olímpica é formada por cinco aneis coloridos e entrelaçados que representam a união dos povos dos cinco continentes da terra. Agora chegou a vez de um país da América do Sul fazer história: o Brasil! As Olimpíadas é um dos maiores espetáculos que o homem já criou e faltando pouco mais de um ano para o início dos Jogos Olímpicos Rio 2016, já é possível perceber um pouco de ansiedade no país. Mas, mesmo com tamanha tradição, será que os brasileiros conhecem os esportes olímpicos? Se você pensou que a resposta seria não, pode ficar tranquilo. Você vai receber trimestralmente com a revista ÉPOCA, o suplemento ALÉM DO PÓDIO, que abordará uma modalidade a cada edição. Nesta primeira, que está em suas mãos, você vai conhecer mais sobre a ginástica artística.

O esporte olímpico que enche os olhos do público com a beleza, leveza e a complexidade de acrobacias que desafiam as leis da gravidade. No competitivo cenário internacional, os ginastas brasileiros prometem grandes emoções e um lugar verde e amarelo no topo do pódio. Conheça quem são estas promessas, como é a rotina dos atletas e como está o andamento dos preparativos para o evento. Também não deixe de conferir quem são as pessoas que estão além do pódio. Personagens movidos pelo amor que estão nas escolas e em projetos sociais, lutando todos os dias pela saúde física e mental que a ginástica é capaz de proporcionar às crianças e aos jovens do nosso país. Curioso quanto às outras modalidades? Nas próximas edições do ALÉM DO PÓDIO você irá conhecer mais sobre o judô, natação e o atletismo.

Boa leitura! Trabalho de conclusão do curso de Jornalismo da Universidade Anhembi Morumbi, realizado por: Camila Casassa Camila Quintieri Daiane Macedo Estela Minas Lívia Fernanda Orientação: Claudia Cruz de Souza Diagramação: Fábio Frencl Fotos: Arquivo pessoal, Camila Casassa, Estela Minas, Ricardo Bufolin e Shutterstock

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Edição 01 | 04 de novembro de 2014

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GINÁSTICA EMERGENTE Entenda como a escolha do país como sede dos Jogos Olímpicos de 2016 pode beneficiar a ginástica artística brasileira

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PIONEIROS Personagens que escolheram a ginástica artística para sua vida e construíram a história da modalidade no país

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UMA MÁFIA DO BEM

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O BOOM DA GINÁSTICA

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DE CORPO E ALMA

O preparo, as dificuldades, expectativas e estrelas da ginástica que poderão brilhar nas Olimpíadas de 2016

EXPECTATIVAS

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PROMESSAS

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OLIMPÍADAS DE OPORTUNIDADES

OS PRIMEIROS PASSOS PARA O FUTURO Trabalhos de professores de Educação Física comprovam a importância da iniciação esportiva na escola

DETERMINAÇÃO GUIADA PELA MENTE

FALTA ESTRUTURA, SOBRA TALENTO Saiba quais são os maiores desafios que a modalidade ainda enfrenta para se destacar no país

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O SUPORTE POR TRÁS DO ATLETA

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O ESPORTE QUE VAI ALÉM DO PÓDIO Mais que medalhas, conheça o lado da ginástica que tem alcançado pessoas comuns e transformado seus destinos

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O PROJETO QUE ESTÁ CONTAGIANDO O RIO DE JANEIRO

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FALOU E DISSE As frases mais marcantes das entrevistas


Atualidade

Ginástica

Emergente Foi dada a largada para a realização dos Jogos Olímpicos, e com ela a oportunidade para o Brasil mostrar que é capaz de realizar grandes eventos Por Daiane Macedo

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escolha do Rio de Janeiro como cidade sede dos Jogos Olímpicos de 2016, em 2 de outubro de 2009, colocou ainda mais o Brasil em evidência no âmbito internacional, já que o país também havia sido escolhido para sediar a Copa do Mundo de Futebol de 2014, em 2007. Além do ineditismo de um país da América do Sul sediar este tipo de evento, o principal motivo para a escolha foi o fato de a economia do país estar em pleno crescimento por conta da Copa do Mundo e das Olimpíadas, o que facilitaria no planejamento e execução do mesmo. Após a decisão ser comemorada por milhares de brasileiros na praia de Copacabana, foi dada a largada para o início das preparações. O governo federal, em parceria com empresas privadas, destinou cerca de R$ 36,7 bilhões de reais e, a princípio, tem como prioridade cuidar da infraestrutura da cidade do Rio de Janeiro com a construção de centros de treinamentos e do parque olímpico, além da modernização das instalações de treinamento de diversas modalidades. Para que fosse possível a realização deste trabalho foi criada a Autoridade Pública Olímpica (APO), que conta com o envolvimento do governo nos níveis federal, estadual e municipal. A APO tem como objetivo realizar o planejamento e a entrega das obras e serviços nos prazos definidos pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), responsável pela organização do evento. Para que os Jogos Olímpicos não beneficiasse somente o estado do Rio de Janeiro, o Governo Federal estabeleceu como meta assegurar que o legado dos Jogos Olímpicos se espalhe por todo o Brasil. Com este propósito foi desenvolvida a Rede Nacional de Treinamento, que prevê a melhoria no desenvolvimento de

diversas modalidades pelo país e assegura a formação de uma nova geração de talentos, através de centros de treinamentos que estão sendo construídos em diversos estados brasileiros. Visando bons resultados, programas como o Bolsa Atleta e o Bolsa Pódio dão auxílio financeiro que ajudam no desenvolvimento e preparação dos atletas. Há também o Programa Bolsa Olímpica para Atletas, desenvolvido em 2014 pelo COI e que beneficiará 13 competidores brasileiros de diversas modalidades na preparação para a conquista de medalha olímpica em 2016. Dentre essas modalidades está a ginástica artística, um dos esportes mais assistidos em Olimpíadas, que encanta a cada apresentação e impressiona pela força, resistência, sutileza e beleza. Após a escolha do Brasil para realização dos Jogos Olímpicos de 2016 a modalidade vive hoje sua melhor fase. Para Rogério Sampaio, coordenador do Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa de São Paulo (COTP): “É extremamente importante para o Brasil estar em um mercado de grandes eventos. A organização dos Jogos Olímpicos fez com que fossem criadas diversas leis de incentivo ao atleta e ao esporte, obras estão sendo feitas, e não só no Rio de Janeiro, criando uma estrutura que não tínhamos”. A modalidade ainda está em crescimento no país e enfrenta dificuldades para se firmar na cultura do brasileiro, o que acaba por gerar um déficit de interesse em crianças e adolescentes de praticar este esporte em algum lugar. Porém, este quadro está mudando com iniciativas de ONGs e projetos desenvolvidos por professores de educação física em escolas da rede pública, que estão possibilitando a introdução da ginástica na rotina dos alunos. 4 de novembro de 2014 | Além do Pódio | 5


Apaixonados, sonhadores e, acima de tudo, corajosos. Você vai conhecer os personagens abre-alas da ginástica artística Por Lívia Fernanda

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s ginastas brasileiros que conseguiram saltos tão ousados e se consagraram no cenário mundial com certeza têm a quem cumprimentar. As palavras que foram ditas há mais de cinquenta anos pelo ex-vice-presidente da Confederação Brasileira de Ginástica, Siegfried Fischer, mais conhecido como Dr. Fischer, explica a paixão e determinação dos pioneiros que pavimentaram os caminhos do esporte: “Aquele que é picado pelo vírus da ginástica não larga nunca mais”. Luisa Parente Ribeiro Rodrigues de Carvalho, que um dia foi só Luisa Parente, carrega em seu sangue a paixão pela ginástica. Seu avô foi remador olímpico em 1936 e, desde então, a prática de esportes sempre esteve presente em sua família. A carioca iniciou sua carreira aos seis anos de idade no Clube de Regatas do Flamengo, seu desenvolvimento foi natural e progressivo, os frutos começaram a ser colhidos nas décadas de 1980 e 1990, época em que seu nome foi lançado para ficar na história. O avanço de novas tecnologias possibilitou as transmissões ao vivo das competições de ginástica pela televisão e o auge de sua carreira pôde ser assistido por milhares de brasileiros. Luisa conquistou um título que até hoje é considerado inédito: duas medalhas de ouro, uma no salto 6 | Além do Pódio | 4 de novembro de 2014

e outra nas barras, no Pan-americano de Havanna, Cuba, em 1991, e foi carinhosamente apelidada de princesinha do Pan. Além disso, a ginasta também representou o Brasil em duas olimpíadas – Seul em 1988 e Barcelona em 1992. A atleta encontrou o equilíbrio para vencer a falta de estrutura de vinte anos atrás que ela adjetiva como precária e ultrapassada. Os aparelhos de ginástica estavam começando a chegar com a vinda de campeonatos para o país. Os ginastas dependiam do “paitrocinio”, ou seja, os pais é quem pagavam as despesas das viagens e, muitas vezes, as condições permitiam apenas se hospedar em albergues, enquanto outras seleções internacionais ficavam em hotéis. Para participar dos Jogos Universitários Mundiais, em 1993, em Buffalo, EUA, Luisa teve que vender seu carro para pagar as despesas da viagem. “Era duro, mas valeu a pena. Conquistei uma medalha de prata e foi uma das minhas melhores competições, até melhor que nas olimpíadas”. Luisa identifica que sua geração fez um pé de meia maravilhoso de avanço para as gerações seguintes que lançaram nomes como Soraya Carvalho e posteriormente Daniele Hypólito. Depois de 16 anos de carreira, a jovem ginasta que intercalava diariamente os estudos com mais de cinco horas de treino, decidiu se aposentar aos 22 anos no mesmo clube em que iniciou. Mas antes de encerrar sua carreira, ela ainda deu força ao time da seleção brasileira nos Jogos Pan-americanos de Mar Del Plata, a pedidos de sua técnica na época, Georgette Vidor. No mesmo ano deste Pan, em 1995, Luisa estava se formando simultaneamente em duas faculdades: Educação Física e Direito. Naturalmente outras prioridades começaram aflorar em sua vida, como a formação de sua família e o exercício das profissões nas quais se graduou. Foi assim que nasceu o Grupo Luisa Parente, com a proposta de instalar centros de iniciação à ginástica em escolas. “Eu vim do alto rendimento que era bem elitista, que já tinha que ter um perfil. Mas eu vi que a iniciação é bem mais democrática e isso me atraiu bastante, eu me identifiquei e descobri uma nova vocação que é ensinar”, conta a ex-atleta. Hoje Luisa Parente é casada e tem dois filhos. É educadora, comentarista e a mais nova gerente de esportes terrestres do Flamengo. Essa lista é extensa, pode-se acreditar que a princesinha do Pan ainda tem muitos caminhos para pavimentar, pois ao perguntar o que a ginástica representa, Luisa responde: “É a minha vida”.


História

Luisa Parente durante apresentação na trave de equilíbrio no Pan-Americano de Havana em 1991

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egundo o dicionário Aurélio, máfia significa “Organização clandestina de criminosos, de origem siciliana”. Pois bem, a máfia retratada a seguir é do bem e não tem vínculos italianos. É uma máfia de sangue brasileiro, alemão e argentino: Nestor Soares Publio, Siegfried Fischer e Enrique Rapesta. Estes três homens fizeram história, mas apenas Publio, hoje com 79 anos, está vivo para contá-la. Seu currículo é rico, emplaca mais de 50 anos de colaboração na ginástica artística e ele alega com convicção, ser professor por vocação. A ginástica chegou ao Brasil por intermédio de imigrantes alemães e se instalou incialmente no Rio Grande do Sul em meados do século XIX. A expansão em solo brasileiro teve um lento processo. Com a repressão do Estado Novo, de Getúlio Vargas, foi ordenado que queimassem tudo o que era de origem alemã no país, mas nem tal medida foi o suficiente para barrar a evolução da modalidade. Após a criação da Confederação Brasileira de Desportos (CBD) e à filiação com a Federação Internacional de Ginástica (FIG), em 1951, possibilitou-se a participação do Brasil em eventos internacionais. Foi assim, até o dia 25 de novembro de 1978, quando a ginástica, por meio de uma Assembleia Geral presidida pelo professor Publio, desmembrou-se da CBD e foi criada então, a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) tendo o Dr. Fischer eleito para assumir a presidência. “Quando eu criei a Confederação de Ginástica em 1978, colocamos no estatuto que o nome oficial era Ginástica Olímpica e defendi isso porque este nome já estava popularizado no país 8 | Além do Pódio | 4 de novembro de 2014

por ser uma ginástica das olímpiadas”, conta Nestor Publio. Mas como o francês era a língua oficial da modalidade, foi ordenado às federações do mundo todo, que colocassem um nome que mais se aproximasse de Gymminastic Artistic. Anos depois, na gestão de Vicélia Florezando – ex-presidente da CBG entre 1991 a 2009 – o Brasil mudou o nome oficial para Ginástica Artística. O saudoso Dr. Fischer foi o mentor político do trio, além de presidente da CBG chegou ao cargo de vice-presidente da FIG. Graças a essa ligação política é que diversos festivais de ginástica aconteceram entre 1973 a 1980 e foi possível importar bons aparelhos de ginástica para o país. O professor Enrique Rapesta veio morar no Brasil decepcionado com o governo argentino de Juan Domingo Peron. Como técnico, foi responsável pelo time masculino da seleção brasileira de ginástica e por parte da organização dos Jogos Pan-americanos realizados no Brasil em 1963. E o professor e major Nestor Soares Publio ainda colhe os frutos de sua gratidão pela ginástica. Daria para fazer um museu com o arsenal de objetos, fotos e documentos que tem em sua casa. O Conselho Regional de Educação Física da 4ª Região (CREF4/SP) o homenageou com o Auditório Nestor Soares Publio, com sede na Rua Libero Badaró, em São Paulo. Seus feitos para a ginástica rendem um livro, que inclusive ele mesmo já escreveu em 2002. A obra “Evolução Histórica da Ginástica Olímpica” leva a ex-ginásta Luisa Parente na capa, e é atualmente, bibliografia básica dos cursos de Educação Física das escolas de graduação superior do país.

1. A máfia da ginástica: Fischer, Publio e Rapesta 2. Assembléia Geral da CBD, em 25/11/78, para criação da Confederação Brasileira de Ginástica 3. Professor Nestor Publio com seu livro “Evolução Histórica da Ginástica Olímpica”, bibliografia básica dos cursos de Educação Física


História

Daiane dos Santos em apresentação nas provas qualificatórias para as Olímpiadas de Londres, 2012

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destaca: “Daiane era muito boa, tinha muita força e eu pude treiná-la com exigência. Uma menina caprichosa”. Não demorou muito e em 2003, Daiane protagonizou a chamada divisão de águas da ginástica. Sua apresentação no Campeonato Mundial de Ginástica Artística na cidade Anaheim, nos EUA, rendeu bons resultados: uma medalha de ouro no solo e o título de primeira Campeã Mundial do Brasil. Como se não bastasse, foi a primeira brasileira a ter seu nome registrado no código de elementos da Federação Internacional de Ginástica (FIG), ................................................................................. quando nesta mesma competição apresentou com perfeição um elemento de grau F que até então “Muitas pessoas me não existia: o Duplo Twist Carconstruíram. Mas pado, batizado de “Dos Santos”. devo a minha Oleg também foi protagonista na carreira em especial criação deste e de outro elemenà professora Cleusa to. O “Dos Santos II”, um Duplo de Paula que me Twist Esticado, classificado em descobriu, a técnica grau G – o grau máximo de difiAdriana Alves que culdade do código –, que foi conme fez ginasta e ao sagrado nas Olímpiadas de Atenas Oleg que me lapidou em 2004. “O Duplo Twist Carpado até ser campeã” surgiu quando eu fazia um elemento na série, mas que machucava muito meu joelho. Então o Oleg

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ificilmente vão encontrar um brasileiro que tenha boas memórias da década de 2000 e que nunca tenha ouvido falar no “Brasileirinho de Daiane dos Santos”. Seria uma coincidência Daiane Garcia dos Santos ter nascido no berço da ginástica brasileira? Quem já assistiu as apresentações da gauchinha de ouro do Brasil saberá responder essa pergunta. Daiane nasceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, em uma família simples e sua descoberta foi tardia para os padrões da ginástica. Cleusa de Paula, professora que lecionava na escola onde Daiane estudava, viu nela o biótipo e brilho para o esporte. A partir deste momento a gaúcha fez um teste de ginástica, aos 11 anos, à convite da professora, e os frutos foram colhidos pelo resto de sua vida. Os ingredientes de seu sucesso foram treino e dedicação. Para os treinadores, não basta ter talento tem que trabalhar, é preferível um atleta não talentoso, mas esforçado, do que um atleta talentoso e preguiçoso. Daiane seguiu à risca esta filosofia: “Eu sempre fui aficionada pelo treinamento. Sabia que se eu me dedicasse 50%, ia receber 50%. Se desse 100% eu ia receber os 100% de volta”, conta a ex-ginásta. A recíproca é verdadeira. O seu treinador da época, o ucraniano Oleg Ostapenko,

adaptou o elemento, mas não me contou que não existia no código. Momentos antes da competição ele me revelou. Eu fiz e no fim deu certo”, relembra. A mesma coisa aconteceu com o Duplo Twist Esticado. Diante de uma dificuldade Daiane reinventou o movimento e até hoje nenhum outro ginasta no mundo conseguiu executar o “Dos Santos II”. A carreira da gauchinha de ouro foi marcada por altos e baixos e algumas lesões no joelho. Sua última competição foi os Jogos Olímpicos de Londres e aos 29 anos anunciou a aposentadoria na ginástica. A carismática Daiane, adjetivo dado pela mídia, deixou um legado: colocou a modalidade no gosto dos brasileiros. Hoje Daiane é formada em Educação Física, é empresária, comentarista e no momento gerencia um projeto social, localizado em Mesquita, no Rio de Janeiro (ver na página 28). “Eu quero retribuir um pouco das oportunidades que eu tive, porque se eu tive tudo isso é porque alguém com sensibilidade me viu e me deu”, diz emocionada. Paixão não se discute. Os efeitos do tal vírus da ginástica são irreversíveis, apenas quem é picado por ele, o vive intensamente.

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DE CORP

&ALM União perfeita de força e arte, a ginástica artística surpreende o país ao superar desafios e conquistar méritos entre os melhores do mundo Por Camila Casassa, Camila Quintieri, Estela Minas e Lívia Fernanda

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gravidade é apenas um dos obstáculos a ser enfrentado nas performances de ginástica artística no Brasil. Aqui, a modalidade olímpica provou ao longo das décadas que nenhum desafio é impossível de ser ultrapassado – seja ele físico, financeiro ou estrutural. Hoje o esporte vive sua melhor fase, devido aos investimentos que surgiram com a aproximação das Olimpíadas Rio 2016. Mas toda sua trajetória de sobrevivência e evolução na nação do futebol devese ao esforço e paixão de profissionais que dizem ser, e de fato são, “loucos por ginástica”. O fruto do trabalho árduo realizado por atletas, técnicos, médicos do esporte e responsáveis administrativos, tem mostrado ao mundo o potencial da modalidade em nível internacional. A soma de uma medalha olímpica de ouro, 10 em Mundiais, mais de 50 nos Jogos Sul-Americanos, cerca de 30 em

Pan-americanos e a mais recente e inédita colocação da equipe masculina como 6ª melhor do mundo, conquistada em Nanning na China, são as principais provas disso. Tais conquistas, e o surgimento de novos talentos comprovam que o esporte está no caminho certo. A habilidade incomum dos atletas, acrescida da dedicação de toda a equipe, impulsiona a modalidade trilhar rumo ao principal objetivo deste ciclo: os Jogos Olímpicos que estão prestes a acontecer. Muito cuidado e preparo serão necessários até lá, pois os atletas ainda precisam se classificar no campeonato Pré-Olímpico, em 2015, para garantirem suas vagas em 2016. A seleção masculina ocupa uma posição de maior peso, em vista dos resultados obtidos pela equipe feminina, que traz uma nova geração de ginastas em fase de adquirir experiência e hábito de treinar com mais intensidade. 4 de novembro de 2014 | Além do Pódio | 11


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SÉRGIO SASAKI durante apresentação no cavalo com alças no Mundial de Ginástica Artística, na China, em 2014

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m um esporte de alto impacto, em que a rotina de treinos é de cerca de 40 horas semanais, é impossível não discutir o desgaste corporal ao qual atletas são acometidos. Por isso, a orientação de fisioterapeutas e médicos de diversas áreas é de extrema importância, ainda mais em um ginasta que está perto de competir nos Jogos Olímpicos. Primeiramente é preciso cuidar do atleta de dentro para fora, ou seja, uma boa alimentação sob a supervisão de um profissional nutricionista é imprescindível para se obter um bom rendimento durante os treinos e resultados positivos. A dieta de um ginasta não tem segredos inusitados ou estapafúrdios. O campeão olímpico Arthur Zanetti, por exemplo, mantém o tradicional pão com presunto e queijo branco no café da manhã, enquanto que o almoço é composto por um cardápio de alimentos acessíveis e saudáveis: carne, arroz, feijão e salada, diminuindo carboidratos à noite. “A cada dois meses nossa dieta é modificada, pois quando o corpo se acostuma com determinada cadeia de nutrientes acaba não dando o mesmo efeito e rendimento”, conta Zanetti. Quanto ao doce, a resposta é direta: “Toda vez que dá vontade, eu coloco o objetivo na frente e a vontade passa”. Quando a equipe da seleção viaja para competir em outros países que possuem culturas e hábitos alimentares diferentes da cozinha brasileira, é feito uma pesquisa de quais são as principais comidas capazes de suprir os nutrientes que o corpo dos atletas vão necessitar no período em que estiverem fora. “A nutricionista vem três vezes por semana, e cuida basicamente de toda nossa dieta, inclusive suplementação, cuja quantidade muda de cinco a seis vezes 12 | Além do Pódio | 4 de novembro de 2014

ao longo do ano conforme nosso treino”, conta Henrique Flores, ginasta da seleção brasileira, ressaltando, ainda, que o Centro de Treinamento de São Caetano do Sul do qual faz parte, foi o primeiro a ter esse tipo de auxilio nutricional. O clube em que Henrique e Arthur treinam, em São Caetano, também foi um dos primeiros a ter fisioterapia. O acompanhamento médico é diário, dividido em antes, durante e depois dos treinos, com alongamentos, massagens e recursos, como shiatsu e acupuntura, para não sobrecarregar os atletas. “A ajuda de um fisioterapeuta para este tipo de esporte é de extrema importância, pois com ela podemos diminuir cerca de 60% das queixas de dores dos ginastas e prevení-los de futuras lesões”, explica Júlio César Mattos, fisioterapeuta da Seleção Brasileira de Ginástica Artística. Apesar de todo o acompanhamento, é comum ver a expressão de dor no rosto dos atletas durante a prática da modalidade, alguns até mesmo são afastados por lesões, como já aconteceu com Henrique Flores, que teve uma lesão no ombro em um dos seus treinos, mas o amor pelo esporte foi maior e não o deixou desistir. “Tive uma lesão em que a cartilagem se descolou do osso do ombro e quando fui ao médico ele disse que eu não precisaria operar, bastava largar a ginástica. É claro que optei por fazer a cirurgia e em seis meses já estava competindo novamente em todos os aparelhos”, conta. Devido às lesões e a exigência com o corpo, muitos atletas afirmam que mesmo aos vinte anos sentem muitas dores, até mesmo fora do ginásio. “As vezes quando acordo, sinto tanta dor que não consigo nem por o pé no chão, mas depois o corpo vai acostumando”, conta Sérgio Sasaki, ginasta da

Seleção Brasileira. É o que a Doutora em Educação Física pela UNICAMP, Laurita Schiavon, ressalta: “Não é a ginástica artística a grande vilã da saúde, o problema é praticá-la como alto rendimento. Com a rotina de treinos e as competições o corpo fica no limite, sendo quase impossível não existirem dores ou lesões”, explica. É claro que com o tempo o corpo fica menos resistente e mais propenso a qualquer dor, mas Júlio afirma: “É importante contar também com a dedicação psicológica do atleta, que pesa muito na hora dos treinamentos, mantendo o corpo e a mente em sintonia”. Vale ressaltar que os treinos são modificados ao longo dos anos, para que não sobrecarregue o corpo e não prejudique o ginasta.


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sucesso de um atleta não é constituído apenas de treinos rigorosos e repetições incessantes. O caminho é longo, árduo e exige sacrifícios que muitas vezes mexem no emocional do indivíduo, levando-o até mesmo a desistir do esporte e de seus objetivos. É como se fosse um triângulo, de um lado está a parte física, do outro a parte técnica e a base é constituída pela parte mental. “Não adianta ter atletas que são fortes fisicamente se a base psicológica for frágil. Quando isso acontece há, sim, bons atletas, mas dificilmente eles estarão capacitados para serem campeões”, explica o psicólogo do Esporte João Ricardo Cozac, sobre a importância da psicologia na preparação da mente de um atleta de alto rendimento. O profissional da área busca fazer um trabalho multi e interdisciplinar, que é uma associação com a família, o preparador físico e o médico, para que através desse núcleo informativo, seja possível entender o processo do atleta e oferecer a intervenção mais apropriada para cada demanda. Cozac explica que muitas vezes os jovens que buscam o alto rendimento têm que abandonar as vivências e experiências naturais da infância e da adolescência para se dedicar ao esporte. “Acho que esta é a fase mais complicada. As maiores dificuldades se baseiam primeiro na fase da pré-adolescência e início da adolescência, neste momento da vida o jovem tem demandas muito específicas tanto na parte física, psicológica, como hormonal e social”, diz. Existe um grande cuidado para que a experiência esportiva seja prazerosa e positiva, e para que as síndromes do Dropout e Burnout sejam evitadas. O Dropout ocorre quando o praticante desiste de uma modalidade para tentar aderir positivamente a uma outra. E o Burnout, que provém de uma experiência

Fonte: Portal Brasil 2016

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mais frustrante, ocorre quando há o abandono de qualquer prática. Mas é a síndrome do overtraining que assombra os meios desportivos do século XXI. “O overtraining começa a dar sinais de estresse de todos os lados no corpo, o atleta começa a ter fadiga e sintomas não só físicos, mas mentais também. É raro os que não apresentam quadro de depressão, de ansiedade generalizada, de apatia e de tristeza sobre tudo aquilo que fazem e sobre a vida de uma forma geral”, explica Cozac. A história da jovem Beatriz Fragoso é exemplo da descrição citada acima, o overtraining não permitiu que seu sonho fosse alcançado. Beatriz iniciou na ginástica aos nove anos de idade e treinou fortemente até os 15, mas quando estava próximo de ingressar no time da seleção brasileira feminina de ginástica, não aguentou a pressão e parou. “Eu pedi para minha mãe jogar fora medalhas, troféus e o collant. Eu não queria ver ginástica na minha frente”, conta. Um esporte tão rígido como esse tem regras a serem seguidas dentro e fora do ginásio. “Quando eu ia para Gramado, no Rio Grande do Sul, com minha família nas férias, tomávamos o café colonial e minha mãe dizia que eu poderia comer apenas um pedacinho do pão para não engordar. Foi difícil assimilar porque eu era apenas uma criança”, relembra. A ex-ginasta foi detectada com a síndrome do overtraining e buscou ajuda de psicólogos, entretanto a decisão final coube somente a ela. Após dois anos parada, Beatriz retornou aos treinos em 2010, mas a sua performance não era mais a mesma. Os caminhos tomaram outros rumos levando a ex-ginasta a graduar-se em Educação Física e posteriormente começar a dar treinos no Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa de São Paulo (COTP), que é coincidentemente, o mesmo lugar em que começou sua carreira, ainda pequena. “Eu tento superar e me realizar agora com minhas alunas, ensinando e tentando fazer com que elas cheguem lá superando tanto

o lado técnico quanto o psicológico”. A síndrome do overtraining atingiu até mesmo o campeão olímpico, Arthur Zanetti. Em 2006, o atleta foi diagnosticado e se afastou por seis meses para cuidar de sua saúde. “Foi um momento em que eu não queria voltar para a ginástica nunca mais. Eu já tive muitos amigos que pararam, dos atletas que começaram comigo somente eu estou treinando”, conta. Além do acompanhamento psicológico, Arthur passou também por atendimento psiquiátrico e precisou tomar alguns remédios para repor a serotonina, hormônio regulador do humor, sono, apetite, movimentos e do ritmo cardíaco. “Conforme o tempo foi passando dentro destes seis meses fui vendo que a paixão pela ginástica ainda batia forte, foi aí que e eu decidi que ia me cuidar para voltar a treinar, no fim deu tudo certo”.

Fonte: Portal Brasil 2016

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Fonte: Portal Brasil 2016






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EXPECTATIVAS

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urante a preparação de um grande evento é normal que exista grandes expectativas entre os envolvidos na organização e participação, e com as Olimpíadas não será diferente. A pouco mais de um ano para o início dos jogos, o evento já é aguardado e almejado por atletas e técnicos brasileiros. Para o ucraniano Oleg Ostapenko, atual auxiliar técnico da seleção brasileira e ex-técnico de Daiane dos Santos, a equipe de ginástica artística feminina do Brasil tem chance de alcançar um bom resultado por equipes nos Jogos Olímpicos. “Eu acho que o atual técnico do time feminino, Alexander Alexandrov, é um treinador experiente que sabe muito sobre a ginástica e ele pode preparar bem a equipe para esta competição”, diz Ostapenko. Mesmo com uma formulação nova de atletas, a seleção feminina conta com duas ginastas experientes, Daniele Hypólito e Jade Barbosa, que dão mais força ao time e que serão essenciais na busca por uma medalha olímpica. Jade, que é a aposta de muitos para um pódio nos jogos, sofreu em agosto uma lesão no joelho esquerdo e ficou fora do último Mundial de Ginástica Artística, na China. “A Jade já fez a cirurgia necessária e foi bem sucedida, ela está se recuperando e tudo leva a crer que voltará a treinar em breve”, afirma o vice-presidente de Esportes Olímpicos do Flamengo, atual clube da ginasta, Alexandre Póvoa. Daniele Hypólito, que coleciona vários títulos em competições, diz ainda sonhar com a medalha olímpica para com-

pletar a sua carreira no esporte. A atleta se prepara para o seu último ciclo olímpico e pretende se aposentar logo após as Olímpiadas de 2016. “Após os jogos eu vou esperar um pouco e fazer um evento ou uma coletiva para encerrar a minha carreira e marcar a minha despedida”, diz a ginasta. Para esta competição, as seleções estão se preparando para atingir objetivos não só individuais, como afirma o técnico do Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa de São Paulo (COTP), Edson Neves. “Espero que nas Olimpíadas o time feminino fique entre as cinco melhores equipes do mundo e se o masculino conseguir ficar entre o sexto e oitavo lugares já será um grande feito para a ginástica artística masculina, que até hoje nunca conseguiu se classificar para competir por equipes”, diz. Marcos Goto, técnico do ginasta Arthur Zanetti, acredita “que não irá surgir nenhum novo atleta com chances de medalhas que ainda não se destacou em campeonatos”. Sua aposta está no atual campeão olímpico nas argolas, Arthur Zanetti e nos ginastas Caio Souza e Petrix Barbosa, que já competem pela seleção. “Estou tranquilo e qualquer resultado que vier a partir de agora para mim é lucro”, diz Arthur que é o único medalhista olímpico brasileiro na ginástica. A experiência de Diego Hypólito também tem feito a diferença no time masculino e o faz ser promessa de medalha em seu melhor aparelho, o salto. No recente Mundial da China, realizado em outubro deste ano, o ginasta foi convocado como reserva e de última hora conquistou a sua vaga na equipe substituindo Caio Souza, que sofreu uma lesão. Com a oportunidade, Diego chegou às finais e executou sua melhor série já realizada em mundiais, o que lhe rendeu uma medalha de bronze. Para a equipe feminina, Oleg Ostapenko acredita em

Arthur Zanetti em treino no Centro de Treinamento de São Caetano do Sul para o Campeonato Pan-Americano de ginástica no Canadá, em 2014

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duas novas ginastas como promessas para 2016: Flavia Saraiva e Rebeca Andrade. As duas meninas, ambas com 15 anos, vêm se destacando nas competições do esporte pelo Brasil a fora e desbancando atletas experientes. Mas para atingir tais objetivos e impulsionar o Brasil no ranking mundial, é necessário o mínimo de estrutura adequada para treinos e competições, que segundo o técnico Marcos Goto já está acontecendo. Com a compra de novos aparelhos e a construção de novos centros de treinamento pelo país, Goto acredita que atingir esses objetivos é possível e que agora não falta mais nada para o Brasil conseguir alcançar o patamar de outros países que já são potências no esporte, como Estados Unidos e China. “Agora o que temos que fazer é trabalhar, treinar e conseguir alcançar os resultados que vão acarretar em posições de medalhas no final”, acrescenta.

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OLIMPÍADAS RIO 2016 1. Seleção feminina em treino no Centro de Treinamento de Ginástica Artística em Três Rios, RJ 2. Técnico Alexandre Cuia auxilia a ginasta Flávia Saraiva na trave de equilíbrio 3. Henrique Flores durante seu treino nas argolas no Centro de Treinamento de São Caetano do Sul 4. Daniele Hypólito pratica performance de solo no Centro de Treinamento de Ginástica Artística em Três Rios, RJ

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Com bilhões investidos em projetos, o Governo por meio de parcerias com iniciativas privadas planeja deixar um importante legado para a cidade maravilhosa e para o país Por Daiane Macedo

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uando se fala em legado dos Jogos Olímpicos, pensamos prontamente em ginásios e estádios. Pois bem, estes são apenas alguns exemplos que um evento desta proporção pode trazer. A principal preocupação dos organizadores das Olimpíadas é com infraestrutura esportiva, mas os beneficiados irão além dos atletas. A população carioca também será contemplada através do desenvolvimento de intervenções de mobilidade urbana, acessibilidade e projetos de restauração e cuidados com o meio ambiente. A última edição dos Jogos Olímpicos, realizada em 2012, em Londres, deixou um grande exemplo de legado em benefício da população, por meio da criação de diversos projetos como novas linhas de trens, reutilização de centros de treinamentos e limpeza de terrenos poluídos. Diversas instalações também foram adaptadas após o término dos Jogos para melhor proveito dos cidadãos. A exemplo está o centro aquático, que passou a ser utilizado pela comunidade local e para o treino de atletas. Assim como Londres, o Brasil também está investindo em projetos que irão beneficiar a população. É o caso da zona portuária do Rio de Janeiro, que será totalmente revitalizada. Além da construção da Vila Olímpica, serão construídas mais duas Vilas que serão destinadas à moradia após a realização dos Jogos. Estes são apenas alguns exemplos dos projetos criados pelo Governo Federal. No Brasil, o orçamento inicial para as obras é estimado em R$ 36,7 bilhões. Este total foi dividido em três partes, na qual cada categoria citada a seguir recebeu um valor. O Comitê Organizador Rio 2016 recebeu a quantia de R$ 7 bilhões, valor total de iniciativa privada, e será responsável pelos custos operacionais da competição, como alimentação, hospedagem, uniforme e transporte das equipes. A Matriz de Responsabilidades ficou com a quantia de R$

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5,6 bilhões, sendo sua maioria investimento de Parcerias Público Privadas (PPPs). A verba é exclusivamente associada a organização e realização de obras ligadas ao evento esportivo, como a construção do Parque Olímpico. E por último tem o Plano de Políticas Públicas para o esporte, que é o legado, destinado a realização de projetos com pouca ou nenhuma ligação com os Jogos Olímpicos, mas que se beneficiam do evento para antecipar ou ampliar investimentos federais, estaduais e municipais em projetos de infraestrutura e políticas públicas, como por exemplo, a linha 4 do metrô e a otimização do laboratório de controle de doping. Para isso foi destinado um orçamento inicial de R$ 24 bilhões de reais, sendo 43% de iniciativa privada. Ao todo são 27 projetos destinados ao Plano de Políticas Públicas, sendo eles 14 de responsabilidade da Prefeitura, 10 do Estado e 3 projetos da União, no qual a Autoridade Pública Olímpica (APO) é responsável pela coordenação dos projetos até sua conclusão. Até o fechamento dessa reportagem faltavam exatos 639 dias para a abertura oficial dos Jogos Olímpicos, que acontece do dia 5 a 21 de agosto, e apenas 37,47% da construção do Parque Olímpico estava concluída. Não obtivemos dados sobre a porcentagem do andamento de todas as obras. Mesmo com um prazo apertado, o general Fernando Azevedo e Silva, presidente da APO garante a entrega das obras em julho de 2015, prazo definido pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Para a ginástica artística, a região da Barra deixará o legado mais significativo para o esporte. Após o término dos Jogos algumas instalações do Parque Olímpico serão transformadas no primeiro Centro Olímpico de Treinamento do país (COT), que oferecerá 40.000 m²


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OLIMPÍADAS RIO 2016 Projeto Vila Olimpica no Rio de Janeiro.

para 12 modalidades olímpicas de alto rendimento. O COT será o mais moderno da América Latina e para o Governo é uma grande oportunidade para o desenvolvimento, treinamento e formação de novos atletas. Para fazer desta a melhor Olimpíada, o Brasil agarrou a oportunidade para propagar a paixão pelo esporte olímpico e investir na criação de centros de treinamento em diversas cidades, projetos de desenvolvimento do atleta e compra de novos aparelhos. Uma das cidades que colherá frutos dos Jogos é São Caetano do Sul, em São Paulo. Em janeiro de 2015 será construído um novo centro de treinamento para

a ginástica artística e a pista de atletismo da cidade será reformada. A cidade receberá também equipes para climatização, e as reformas e investimentos na infraestrutura beneficiará a comunidade e os atletas. Para o ex-secretário de Esporte, Lazer e Juventude da cidade de São Caetano do Sul e atual Secretario de Esporte, Lazer e Juventude do Estado de São Paulo. José Auricchio. “Toda esta movimentação proporcionada pela realização dos Jogos Olímpicos afetará de maneira contínua o desenvolvimento do esporte nacional, contribuindo para o incentivo ao desporto em todos os níveis e para todas as faixas etárias”.

Fonte de dados e informações, site Autoridade Pública Olímpica > http://www.apo.gov.br

Crédito: Estúdio Manipula

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Desafios

Por Camila Quintieri

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esmo sem uma estrutura de ponta, a ginástica artística ganha cada vez mais espaço no cenário internacional. Isto porque o Brasil conta com um recurso precioso para vencer: o talento dos ginastas, que mesmo com problemas como centros deteriorados, falta de treinadores especializados e de investimentos para o atleta de base, ainda conseguem conquistar medalhas inéditas para o país. “A ginástica tem um número muito baixo de participantes, se você comparar com outros esportes. Isto porque não existe um sistema eficaz para que isso aconteça. A modalidade ainda não conseguiu fazer um trabalho de organização para ser incluída nas escolas”, conta Rogério Sampaio, campeão olímpico de Judô e coordenador do Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa de São Paulo. Ainda muito timidamente, algumas escolas ensinam nas aulas de educação física um pouco dos fundamentos de ginástica artística e encaminham os que se destacam aos ginásios específicos, mas além de existirem poucas escolas que fazem este trabalho, a distância entre o local de treino e a moradia dos atletas impulsiona a desistência. Atualmente, existem poucos centros de treinamento de ginástica artística, e os principais ficam situados em apenas três estados, São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. “A conta é simples, se tivéssemos mil centros de treinamento espalhados em todos os estados, entre academias de bairro, clubes e ginásios, e se em cada um deles tivéssemos um treinador qualificado, teríamos mil treinadores. Se cada treinador tiver um ginasta, teremos mil ginastas. Se 10% desses ginastas se destacarem, já são 100. Se enxugarmos ainda mais e desse 24 | Além do Pódio | 4 de novembro de 2014

número e 10% forem os melhores, 10 ginastas a cada ano estariam indo para a seleção”, explica Raimundo Blanco, coordenador de ginástica artística no Esporte Clube Pinheiros, defendendo a ampliação de novos centros e a contratação de novos treinadores. Na ginástica artística são usados aparelhos específicos, que merecem uma atenção especial, já que não são fabricados no Brasil. Por conta dos altos valores para importá-los, muitos locais de treinamento carecem de manutenção e reposição, dificultando o treino daqueles que batalham para garantir medalhas ao país. Exemplo disto é o campeão olímpico Arthur Zanetti, que passou por uma difícil situação em 2013 ao ter que reivindicar condições de treinamento para São Caetano do Sul, local onde passa cerca de seis horas diárias praticando a modalidade. “Fiquei 16 anos treinando com aparelhos antigos, que não fazem o mesmo efeito que os novos. Depois da medalha nas Olimpíadas achei que essa situação iria mudar, mas tive que pedir muito para que fosse possível”, conta Zanetti, que hoje treina em um centro reformado e com aparelhos novos graças ao patrocínio da marca de cosméticos Rexona, que custeou o projeto. Além de centro de São Caetano do Sul, outros 8 centros de treinamentos espalhados pelo país também receberam novos aparelhos para ginástica artística. A maior compra de aparelhos dos últimos 41 anos foi um dos investimentos que estão sendo realizados em parceria com Governo Federal, Ministério dos Esportes e Comitê Brasileiro de Ginástica para os Jogos Olímpicos de 2016. O Governo, por meio da Lei de Incentivo Federal e do Ministério dos Esportes, que distribui a verba para a modalidade de acordo com necessidade das secretarias de cada município


Desafios

e pela Confederação Brasileira de Ginástica (CBG), é o responsável em gerir as federações espalhadas pelo país. Outro investimento concedido pelo Governo Federal para auxiliar nos gastos dos atletas foi a Bolsa Pódio, que beneficia financeiramente atletas com potencial para ganhar competições vestindo a camisa verde e amarela. Porém, de acordo com Raimundo Blanco, essa é uma medida paliativa, levando em consideração que para se fazer um atleta olímpico leva-se pelo menos oito anos de esforço e dedicação, sem receber nenhum tipo de incentivo, e os patrocínios só acontecem depois que o atleta ganha visibilidade nacional. Até isso acontecer, muitos treinadores e familiares desembolsam dinheiro para custear viagens de campeonatos e a assistência necessária, como nutricionistas e psicólogos. O problema é fazer este atleta ter visibi-

lidade antes de surgir com medalhas olímpicas. A resposta para este dilema está nos veículos midiáticos, que pouco divulgam o esporte olímpico. “Eu costumo dizer que a mídia brasileira não é preparada para todos os momentos do atleta, ela está preparada só para medalhas”, desabafa a ginasta Daniele Hypólito, que acredita que a mudança da cobertura midiática só irá acontecer quando o atleta for valorizado mesmo sem subir ao pódio. A pouco mais de um ano dos Jogos Olímpicos Rio 2016 muitos espectadores desconhecem as pontuações das competições classificatórias e muito menos os nomes dos atletas que são promessas para as olimpíadas. Continuaremos com pouca informação e ainda contando com o talento dos nossos atletas. A pergunta é: até quando apenas o talento será suficiente?

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Educação

Professor Edson de Oliveira ensina a posição de avião para uma de suas alunas da classe de ginástica artística

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ara muitos a iniciação esportiva tem o dever de partir de dentro das escolas já nos primeiros anos da educação infantil, mas esse aspecto está cada vez mais debilitado dentro do ensino público brasileiro, que funciona com estrutura precária, falta de materiais e, em muitos casos, com o despreparo de seus educadores. Dados do último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) relatam uma queda nacional no rendimento de escolas estaduais em todo o país, contra a elevação dos índices das escolas municipais. Com a promulgação do Plano Nacional da Educação (PNE), em junho de 2014, novas metas e ações foram estabelecidas para os próximos 20 anos, entre elas a instituição da separação dos planos de educação municipal e estadual, que, para o secretário de Esportes, Lazer e Juventude de Curitiba, Aluisio de Oliveira Dutra Jr., 26 | Além do Pódio | 4 de novembro de 2014

possibilitará as discussões para a inversão deste quadro e a inclusão da educação física dentro desses novos projetos e metas. O secretário acredita que é de vital importância que a criança seja alfabetizada fisicamente ao longo da primeira fase do ensino fundamental,da 1ª a 4ª série. Para que essa meta seja alcançada Aluisio propôs em Curitiba a integração das coordenadorias de políticas públicas das secretárias de educação, esporte e saúde. “É fundamental pensarmos no desenvolvimento esportivo, e ao pensarmos nisso precisamos obrigatoriamente pensar de maneira integrada com as políticas educacionais da cidade, porque onde 100% das crianças precisam e devem

estar é na escola”, diz o secretário. Apesar de ser um dos esportes mais antigos da era moderna, a ginástica artística ainda enfrenta dificuldades para encontrar crianças com aptidão e interesse pelo esporte. Para o técnico de Ginástica Artística do Clube SERC Santa Maria de São Caetano, Marcos Gotto, um dos fatores que contribuem para esta situação é a falta de disseminação e das técnicas do esporte nas escolas, que são consideradas a base inicial da modalidade e onde costumam ser identificados novos talentos, como é o caso do ginasta e medalhista olímpico Arthur Zanetti, que foi descoberto pelo seu professor de Educação Física aos sete anos de idade. Para a professora do ensino munici-


Educação

pal de Vinhedo, interior de São Paulo, Larissa Graner, que organiza e mantém a ginástica artística dentro de seu cronograma de aulas, a modalidade ficou esquecida pela educação por causa da ascensão dos esportes de equipe após a década de 1950, o que acabou interferindo na formação dos professores e criando a ideia de que o ensino da ginástica era perigoso, pensamento esse que perdura até os dias atuais. Na Escola Municipal Ézio Berzaghi, em Barueri, região metropolitana de São Paulo, que possui sistema de educação integral, onde são mantidos projetos desenvolvidos por professores e que são cursados pelos alunos no período da tarde, o professor Edson de Oliveira desenvolveu uma turma de ginástica artística. Em suas aulas, Edson trabalha com movimentos adaptados do esporte de alto rendimento e que vem ajudando seus alunos com problemas posturais.

Professora Larissa Graner ensinando seus alunos a fazerem a apresentação final dos movimentos da ginástica artística

Para a coordenadora pedagógica da escola, Joiceara Feracinni, não dá para ter só boa vontade. “Você precisa de um espaço e um material mínimo para a realização. Nem todos precisam ser como o Diego Hypólito ou a Daiane dos Santos, mas todos podem ter acesso à iniciação e ver como o esporte funciona”, acrescenta. Para driblar a questão da falta de material necessário para o ensino da modalidade, a professora Larissa acredita que é importante utilizar a criatividade para saber transformar a quadra em um ambiente diferente e seguro. “Para as aulas de salto, ao invés do aparelho eu uso as escadas, que eu forro com o colchão e faço quatro estações, assim eles não batem a canela e se caírem de frente conseguem se proteger”. Além da estrutura, outra dificuldade enfrentada pelos professores é a resistência inicial dos alunos em aprender uma nova modalidade. “Se você pegou uma turma que jogou futebol a vida inteira, para você conseguir ensinar outro esporte é difícil”, diz Larissa, que ressalta o encantamento dos alunos logo após a primeira aula de ginástica artística. Zanetti acredita que a estrutura de aparelhos é uma das questões mais importantes na formação inicial do ginasta, e por isso está desenvolvendo, juntamente com a marca alemã Spieth, aparelhos adaptados para serem utilizados nas escolas de todo o país. “Serão argolas, traves, paralelas e barras mais baixas, o que possibilita a ajuda do professor”, conta o ginasta. Além dos benefícios posturais, a prática da modalidade também é indicada para crianças por trabalhar as habilidades motoras básicas do ser humano,

impulsionando o estímulo coordenativo motor e desenvolvendo a facilidade em realizar movimentos. Segundo João Ricardo Cozac, psicólogo do Esporte e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Psicologia do Esporte, o benefício da prática da ginástica artística vai além do físico. “Os benefícios passam pelo autoconhecimento, a convivência em grupo, pela busca do equilíbrio, pela possibilidade de treinar, vencer e perder, que é algo que temos a vida toda”, afirmou. Apesar de a escola ser vista por profissionais do esporte como a base da modalidade, para o professor Edson “ela não é usualmente recomendada para crianças na larga escala de treinos que o alto rendimento exige”. Ele diz que já viu alunos em suas aulas que tinham talento para a ginástica artística, mas preferiu não indica-los para o centro de treinamento, por não concordar com a carga de treino que o esporte exige ainda na infância. Já a professora Larissa ressalta que a questão social também deve ser levada em consideração. “Para a criança que vive em uma família boa, não faz tanta diferença, mas para uma criança que não tinha nenhuma chance deste tipo e você a leva para esse mundo de grandes conquistas e oportunidades, será que não é bom?”, diz a professora.

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Social

Enquanto a valorização do esporte ainda não é uma realidade nas escolas do país, profissionais que tiveram suas vidas transformadas pela ginástica trabalham para mudar as futuras gerações por meio da modalidade Por Estela Minas

É

com o olhar de esperança e determinação que uma moradora da pequena Mesquita, município da Baixada Fluminense, fala sobre o progresso de seu filho nas aulas de ginástica artística. “Graças a esse projeto, meu filho tem conseguido vencer o que para a maioria das crianças é fácil, mas para ele é muito difícil. Uma simples cambalhota, o fato de pular, correr já é o resultado de um processo que está fazendo muita diferença”, diz Gisele do Espirito Santo, ao observar da arquibancada o caçula Henrique, diagnosticado com deficiência intelectual desde o nascimento. Duas vezes por semana, a mãe leva o filho para praticar a modalidade na ONG Brasileirinhos e comemora também os resultados psicológicos alcançados: “Ele adora estar aqui, os professores, os colegas, os exercícios, tudo é festa e, por causa disso, eu me alegro ainda mais”. O projeto social fundado pela ex-ginasta Daiane dos Santos, é apenas um embrião com três meses de existência, mas de um potencial de expansão enorme. “Eu sempre quis fazer o projeto, mas nos lugares mais carentes, pois foi de um lugar assim que eu saí”, diz a fundadora que, dentre todos os compromissos os quais está envolvida atualmente, afirma que a ONG é o principal deles, o seu ‘xodó’. Localizada na Vila Olímpica do município, a ONG Brasileirinhos é o fruto de uma parceria com a Prefeitura de Mesquita e atende cerca de 200 crianças e adolescentes da região, entre 28 | Além do Pódio | 4 de novembro de 2014

seis e 16 anos, que estudam em escolas de rede pública ou particular. “Não há nenhuma restrição para participar, é necessário apenas ser morador do município e frequentar a escola”, afirma a coordenadora do projeto, Renata Borges, também ex-ginasta e treinadora. O objetivo é utilizar o esporte como ferramenta de socialização e mudança de hábitos, ensinando aos alunos noções de respeito, cidadania, valores, através da ginástica. “Aqui nós fazemos um acompanhamento buscando conhecer de perto a realidade de cada família e entender quais são as dificuldades enfrentadas por essas crianças”, explica Renata, que integra a equipe formada por uma professora e mais dois estagiários, todos ginastas e educadores físicos. O próximo passo será dado em 2015, com a inauguração do projeto em São Paulo, além da segunda filial do Rio de Janeiro, que será locada no bairro de Botagofo, com o apoio da empresa de transmissão de energia elétrica Furnas. “A minha ideia é fazer no Brasil inteiro, levar o projeto ao Nordeste, todas as regiões”, diz Daiane, após entender que o seu sonho, na verdade, era também o mesmo de muitos. “Toda a comunidade recebeu o projeto como um presente. Ver os pais e mães agradecendo, a felicidade da garotada, tudo isso prova que o esporte faz muita coisa, não só para quem é atleta, ele muda a mente de uma criança e a história de uma família também”, afirma a ex-ginasta.

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O projeto que está contagiando o Rio de Janeiro

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ideia inicial era apenas popularizar a ginástica no Rio de Janeiro e oferecer às pequenas cariocas a oportunidade de iniciar, de maneira gratuita, uma modalidade que é cara de se praticar na maioria das escolinhas particulares. Mas ao longo de seus 12 anos de existência, a Qualivida evoluiu de tal forma que hoje possui uma das ginastas com maiores chances de conquistar medalhas nas Olimpíadas Rio 2016. “No primeiro ano de trabalho fui às escolas convidar crianças para participarem do projeto. Em um mês, tínhamos 56 alunos. No segundo mês, estávamos com 80 e fechamos o ano com 90. Depois disso, tivemos que dobrar o projeto e passamos a atender mais de 400 crianças e ainda temos lista de espera”, diz Juliana Fajardo, ainda maravilhada com o absurdo crescimento da ONG. Juliana é treinadora e coordenadora


Social

INCLUSÃO SOCIAL 1. O aluno com deficiência intelectual Henrique, de 11 anos, vibra junto de seu professor após conseguir realizar sua primeira cambalhota 2. Equipe da ONG Brasileirinhos, fundada em 2014 pela ex-ginasta Daiane dos Santos 3. A treinadora Juliana Fajardo da Qualivida, posa com sua equipe de ginastas já em preparação para a disputa dos Jogos Olímpicos de 2020

do programa Ginástica para todos, da cidade de Três Rios, considerado o maior e melhor estruturado Centro de Ginástica Artística do Estado. Desde o início de 2013, o local passou a receber a maior parte da seleção feminina brasileira para treinar, outra realização inimaginável dos envolvidos no projeto. Devido ao incêndio ocorrido no ginásio do Clube Flamengo no final de 2012, as atletas da seleção que treinavam no espaço, ficaram sem local para treinar e foi neste momento que Juliana foi contatada. “Consegui junto à prefeitura de Três Rios uma casa para elas morarem e melhorias para o ginásio. Mesmo após serem demitidas do Flamengo, elas continuaram aqui, somando um percentual de 70% da seleção treinando no nosso espaço”,conta. Com a vinda dessas ginastas foi necessário cancelar as escolinhas de iniciação no período da manhã, para

que a estrutura ficasse a disposição exclusiva das atletas oficiais. Ainda assim, a ONG atende cerca de 1.000 crianças, nos municípios do Rio de Janeiro em que está inserida. O sustento do projeto parte de parceiras com instituições públicas e privadas. Em 2008, a Qualivida se filiou à Federação de Ginástica do Estado do Rio de Janeiro, podendo incluir a participação de suas atletas nos campeonatos nacionais, que em 2012 passaram a competir também em competições de âmbito internacional. Uma das maiores realizações do time de profissionais envolvidos no projeto foi a conquista de duas medalhas de prata e uma de ouro da ginasta Flávia Saraiva, nos Jogos Olímpicos da Juventude de Nanquim, na China, em agosto de 2014. Flavinha, como é conhecida, iniciou seus primeiros passos na ginástica aos 8 anos em um dos centros da Qualivida e vem se destacando no esporte desde então. “Até tenho alguns medos, mas sempre temos que superar”, diz a pequena atleta sobre os desafios já enfrentados e seus futuros objetivos. Idealizado pela professora de Educação Física Georgette Vidor, junto de seus amigos que acreditavam na inclusão social a partir do esporte, o projeto mostra por meio de sua incrível evolução o quanto vale a pena investir em um trabalho que descobre novos talentos e oferece a chance daqueles que vivem em lugares bem pequenos, conquistarem o mundo.

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Fonte: ongqualivida.org.br 4 de novembro de 2014 | Além do Pódio | 29


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