a hora veterinária
A HORA VETERINÁRIA – ANO 30, Nº 179, JANEIRO/FEVEREIRO/2011
REVISTA DE ENSINO PÓS-UNIVERSITÁRIO E FORMAÇÃO PERMANENTE • ANO 30, Nº 179, Janeiro/Fevereiro/2011 • ISSN 0101-9163 • Indexação: CAB INTERNATIONAL
• Emprego da somatotropina bovina (bST) de 500 mg em vacas mestiças Bos taurus x Bos indicus a intervalos de 12 ou 14 dias B. G. Campos et al., Belo Horizonte, MG, BRASIL • Indução de ciclicidade e taxa de prenhez em primíparas Brangus com uso de hormonioterapia R. L. Gonçalves et al., Curitiba, PR, Ribeirão Preto, SP, Uruguaiana, RS, BRASIL • Impacto da castração cirúrgica no ganho de peso e estado clínico de bovinos de corte F. R. S. Carvalho, C. R. Silva, F. Hoe, Uberlândia, MG, São Paulo, SP, BRASIL. • Avaliação de parâmetros seminais e fertilidade em garanhões da Raça Crioula F. Hartwig et al., Pelotas, RS, BRASIL. • Influência da lactação e do dia de inseminação nos resultados da IATF em vacas cruzadas R. T. Beltrame et al., Colatina, ES, Campos dos Goytacazes, RJ, BRASIL. • Acidente ofídico em suíno – relato de caso L. M. Pascoal et al., Murcia, ESPANHA, Goiânia, GO, BRASIL. • Clínica de Pequenos Animais / Small Animals Clinic: Otite externa ceruminosa e purulenta em cães E. N. Mueller et al., Pelotas, RS, BRASIL. • Emprego de cetoanálogos para o controle da uremia em felino com doença renal crônica M. F. Silveira et al., Pelotas, RS, Curitiba, PR, BRASIL. • Animais Selvagens / Wild and exotic animals: Avaliação da ação dos antiparasitários ivermectina e moxidectina sobre helmintoses de capivaras (Hydrochaeris hydrochaeris, L. 1766) - Estudo preliminar R. M. Cardozo, M. J. B. Barbosa, V. L. F. Souza, Umuarama, Maringá, PR, BRASIL. • Diagnóstico por imagens / Diagnosis through images: Controle da função luteal bovina J. C. A. Moura et al., Salvador, BA, BRASIL, Hannover, ALEMANHA • Qual o seu diagnóstico? / What is your diagnosis? C. E. Larsson et al., São Paulo, SP, BRASIL.
179
História da Medicina Veterinária Percy Infante Hatschbach (CRMV-GO nº 0403), membro da Academia Brasileira de Medicina Veterinária, da Associação Mundial de História da Medicina Veterinária, da Associação Inglesa de História da Veterinária e do Instituto Paranaense de História da Medicina e Ciências Afins, Diretor Científico de A Hora Veterinária.
Ano mundial da Medicina Veterinária “250 anos da Medicina Veterinária a serviço da saúde animal e humana”
Em 2010, a Medicina Veterinária brasileira comemorou o centenário da criação de sua primeira instituição de ensino civil, a antiga “Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária”, através do Decreto nº 8.319, de 20 de outubro de 1910, iniciando suas atividades didáticas em 10 de julho de 1913, na cidade do Rio de Janeiro, à época Capital da República. Neste ano de 2011 é a Medicina Veterinária mundial que celebrará seu 250º aniversário. A primeira instituição de ensino veterinário do mundo foi criada na cidade de Lyon, região Sul da França, no ano de 1761, por iniciativa de Claude BOURGELAT. Consequentemente, no ano 2011 serão comemorados os 250 anos do ensino veterinário no mundo. Ao instituir este primeiro estabelecimentos de ensino da Zooiatria, BOURGELAT implantava, pioneiramente, a profissão de veterinário. Portanto, no ano de 2011 serão festejados, também, os 250 anos da profissão veterinária no mundo. A intuição científica e a genialidade de BOURGELAT fizeram com que se aliasse a alguns médicos lioneses, com a convicção de que estudando a biologia e a patologia animal, se poderia melhor compreender as do homem! Assim, também em 2011, será comemorado o 250º aniversario do conceito de “biopatologia comparada”. Por tais fatos, o ano de 2011 será considerado como o ANO MUNDIAL DA MEDICINA VETERINÁRIA. Para maior brilhantismo destas efemérides, foi criado, em 2008, na França, um Comitê Vet 2011, com sede na cidade de Lyon e constituído pelos seguintes membros fundadores: OIE - Organização Mundial de Saúde Animal, Ministério da Agricultura da França, Federação de Sindicatos Veterinários da França, Academia Francesa de Medicina Veterinária, Conselho Superior do Colégio de Veterinários Franceses e as Escolas de Veterinária de Lyon, Nantes, Toulouse e Paris. Teve por objetivo a organização das relações entre os membros do Comitê no tocante às comemorações do Ano Mundial da Medicina Veterinária em 2011, visando precipuamente motivar as instituições veterinárias do mundo para a realização de atos comemorativos do 250º aniversário da profissão e que possam contribuir para a promoção da Medicina Veterinária nos A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
quatro quadrantes do planeta. Comitês Nacionais Vet 2011 podem ser formados em cada país, tendo por finalidade motivar o conjunto de suas instituições veterinárias para a realização de eventos comemorativos dos 250 anos da profissão, contribuindo, assim, para a promoção e divulgação da sua imagem; coordenar as iniciativas de todas as entidades nacionais, favorecendo a comunicação midiática do conjunto dos eventos organizados objetivando a comemoração do “Ano Mundial da Medicina Veterinária”. Como sugestão, o Comitê Vet 2011 elaborou a seguinte lista de possíveis eventos comemorativos: • Organização de simpósios sobre a Ciência Veterinária e as Pesquisas em Medicina Animal; • Organização de congressos sobre a evolução da profissão veterinária; • Organização de colóquios sobre um tema relacionado com os animais (selvagens, de companhia, etc.); • Realização de conferências em exposições caninas, concursos hípicos ou exposições e feiras agropecuárias; • Promoção de reportagens através do rádio e televisão abordando fatos da história da medicina veterinária, as diferentes modalidades do exercício da profissão e o papel dos veterinários na luta contra a fome no mundo, contra as zoonoses, etc.; • Promoção de atos comemorativos dos 250 anos do nascimento da profissão veterinária. No transcorrer do ano 2011, três grandes eventos comemorativos do ANO MUNDIAL DA MEDICINA VETERINÁRIA serão realizados. No dia 24 de janeiro de 2011, a Cerimônia Solene de Abertura do Ano Mundial da Medicina Veterinária, no palácio de Versailles, França, onde o rei Luis XV assinou o Decreto Real de 4 de agosto de 1761, autorizando Claude Bourgelat a criar uma “escola para o tratamento dos animais” na cidade de Lyon. De 13 a 15 de maio a Conferência Mundial sobre o Ensino Veterinário, no Campus da Escola Nacional de Veterinária de Lyon, França. De 10 a 14 de outubro de 2011 a Cerimônia internacional de Encerramento do Ano Mundial da Medicina Veterinária, durante a realização do 30º Congresso Mundial de Veterinária na Cidade do Cabo, África do Sul. No Brasil serão realizados vários eventos, culminando com a outorga, pela Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária, durante a realização do 38º CONBRAVET - Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária, em Florianópolis, SC, de dois prêmios relativos ao “Ano Mundial da Medicina Veterinária”, sendo o primeiro denominado “Prêmio Antonio Teixeira Vianna”, na área de Produção Animal, Bem Estar Animal e Meio Ambiente e o segundo “Prêmio Virginie Buff D´Ápice” na área de Patologia Animal, Clínica e Cirurgia. 1
2
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
Editorial Napoleão Bonaparte tinha oito anos de idade e, ainda de calças curtas, brincava pelas ruas poeirentas de Ajaccio, na Ilha da Córsega, que, aliás, ainda nem era francesa. O Rei de França era Luís XV, dito o Bem-Amado, que, naquele ano de 1761 não o foi tanto pelo povo francês: acabava de perder as possessões do Canadá e da Índia e estava gastando uma fortuna com a Guerra dos Sete Anos, para impedir maiores pretensões da Prússia e da Inglaterra. E foi nesse clima complicado que recebeu o pedido de Claude Bourgelat para que permitisse a instalação em Lyon da primeira Escola de Medicina Veterinária da França e do mundo. O Rei amava os animais, em especial os cavalos, e admirava aquele advogado de quarenta e nove anos, um mestre da hipologia, cuja ciência na arte de curar animais já era famosa. Foi assim que assinou o Decreto Real de 4 de agosto de 1761, e tornou-se o mecenas da profissão, poucos anos antes da revolução que viria a guilhotinar seu neto Luís XVI. Agora, duzentos e cinquenta anos depois, a medicina veterinária mundial prepara-se para comemorar esta data magna. E A Hora Veterinária abre a primeira edição de 2011 com uma página de História, com assinatura de um dos nossos mais capacitados experts no assunto, Percy Infante Hatschbach. Também comemoramos neste Novo Ano o centenário do Laboratório Leivas Leite, possuidor da mais antiga licença do Ministério da Agricultura para a fabricação e comercialização de produtos veterinários. Uma empresa pioneira em nossa indústria veterinária, hoje a terceira maior do mundo, tendo inclusive fabricado uma das primeiras vacinas contra a febre aftosa. E ninguém melhor para contar mais sobre esse laboratório, seu passado, presente e futuro, do que seu Diretor-Presidente Pedro Antônio Leivas Leite, entrevistado exclusivo de Daniel Miranda às páginas 64 e 65. Aliás, o Laboratório Leivas Leite foi a primeira empresa a contratar um anúncio conosco, em 1981. E esta edição abre as comemorações de nossos trinta anos editoriais, marco que iremos destacar em especial no dia 12 de maio de 2011. E dividir com assinantes, anunciantes e colaboradores, tudo de bom que conseguimos conquistar para a profissão durante essas três décadas de trabalho. Queremos também chamar atenção do leitor para as matérias das páginas 61 e 62, onde damos destaque à cerimônia de entrega do 12º Prêmio Pesquisa Clínica Intervet/ScheringPlough e publicamos, por ordem alfabética, o primeiro dos cinco artigos premiados. Nossos cumprimentos ao colega Vilson Antonio Simon e sua equipe, principalmente pela confiança em nós depositada como seus parceiros nessa iniciativa que valoriza a Medicina Veterinária brasileira. Saber que o 13º PPC já está garantido para 2011, e com especial atenção da empresa, é uma ótima notícia de Ano Novo. Quando esta edição estiver circulando, o Brasil estará sendo governado pela primeira vez por uma mulher. Já bastaria isso para mostrar a evolução da democracia, uma vez que, até 1934, as mulheres brasileiras (e a maioria das mulheres do mundo) não tinham nem o direito de votar. Assim, auguramos à Presidenta Dilma Rousseff os mais sinceros votos de sucesso em seu trabalho. Sucesso para o qual a produção e saúde de nossos rebanhos serão indispensáveis para alimentação do povo e equilíbrio de nossa balança comercial. Desejamos a todos os nossos leitores, anunciantes e colaboradores (em especial aos que nos acompanham nesta edição HV 179) um ano de 2011 na medida de seus mais acariciados sonhos. Porto Alegre, 5 de janeiro de 2011 ALCY CHEUICHE – CRMV-RS Nº 0500 MARIA BERENICE GERVASIO CHEUICHE – OAB-RS Nº 6146 EDITORES A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
3
Sumário / Summary 1
História da Medicina Veterinária / History of Veterinary Medicine Percy Hatschbach.
3
Editorial / Editorial A. Cheuiche, M. B. G. Cheuiche
8
Trabalho vencedor do 12º Prêmio Pesquisa Clínica Intervet/Schering-Plough Animal Health Emprego da somatotropina bovina (bST) de 500 mg em vacas mestiças Bos taurus x Bos indicus a intervalos de 12 ou 14 dias B. G. Campos, S. G. Coelho, A. M. L. Quintão, E. Rabelo, T. S. Machado, B. F. Silper, Belo Horizonte, MG, BRASIL. A utilização de bST em vacas mestiças ¾ e 7/8 girolandas foi capaz de promover ganhos na produção leite. A utilização de bST 500mg aplicado a intervalos de 12 dias não promoveu aumento de produção de leite se comparado a intervalos de 14 dias. A utilização de bST 500 mg a intervalos de 12 ou 14 dias não alterou a composição do leite, os valores de CCS e não elevou a ocorrência de mastite quando comparada ao grupo controle. Use of bovine somatotropine (BST) 500 mg in crossbred Bos taurus x Bos indicus cows every 12 or 14 days The study reached the conclusion that the use of bST among ¾ crossbred and 7/8 girolandas cows was capable of promoting increase int he milk production. The use of bST 500mg given at intervals of 12 days did not promote any milk production increase when compared to 14-day intervals. Besides, the use of bST 500 mg at intervals of 12 or 14 days did not change the milk make-up nor the SCA figures. And when compared to the control group, it did not increase the incidence of mastitis.
15
4
Indução de ciclicidade e taxa de prenhez em primíparas Brangus com uso de hormonioterapia R. L. Gonçalves, T. S. Antonio, A. Pereira, Curitiba, PR, Ribeirão Preto, SP, Uruguaiana, RS, BRASIL. Segundo os resultados obtidos no presente trabalho, concluiuse que o DIV contendo 0,558g de P4, resultou em taxa de prenhez superior ao DIV contendo 1,9g de P4 utilizado previamente por 9 dias. Os resultados obtidos com o uso do DIV de 0,558g de P4 não diminuíram a pulsatilidade de LH e, consequentemente, o crescimento folicular das primíparas Brangus lactantes após a sincronização hormonal, resultando em maior taxa de prenhez. Cyclicity induction and pregnancy rate in Brangus primipara cows through the use of hormonotherapy According to the results obtained in this study, one can reach the conclusion that the IVD containing 0,558g of P4 resulted in a higher pregnancy rate in comparison to the IVD containing 1,9g of P4 which had been used for 9 days. The results that were obtained through the use of 0,558g of P4 IVD did not reduce LH pulsatility nor - consequently - the folicular growth of Brangus primipara cows during lactation after hormonal synchronization, resulting in a higher pregnancy rate.
18
Impacto da castração cirúrgica no ganho de peso e estado clínico de bovinos de corte F. R. S. Carvalho, C. R. Silva, F. Hoe, Uberlândia, MG, São Paulo, SP, BRASIL. No período de março a maio de 2010 foram castrados 500 bovinos em quatro propriedades, sendo três localizadas no estado de Minas Gerais e uma em Goiás. Os bovinos foram castrados de acordo com o procedimento de rotina realizado em cada propriedade. Nos dias D0 (castração) e D+28 efetuou-se a pesagem dos animais e nos dias D+7 e D+28 avaliaram-se as complicações após a castração. Após as avaliações nas quatro propriedades, os dados foram agrupados e constatou-se: 14,8% de miíase, 1,8% de hemorragia, 3,8% de funiculite, 5,4% de abscesso, 1,6% de granuloma e 0,4% de óbito. Em todas as propriedades houve impacto no ganho de peso nos primeiros 28 dias após a castração, a Fazenda II foi a que teve maior impacto, 34,57% dos animais perderam peso nesse período. Impact of surgical castration on weight gain and clinical status of beef cattle In the period from March to May 2010, 500 bovines were castrated at four farms, three farms located in the state of Minas Gerais and one farm in Goiás. Animals were castrated according to the standard procedure of each farm. At Day 0 (castration) and Day +28 body weight measures were taken and at days D+7 and D +28 post-castration complications were evaluated. The evaluations from the four farms were grouped and resulted in: 14.8% of myiasis, 1.8% of bleeding, 3.8% of funiculitis, 5.4% of abscess, 1.6% of granuloma and 0,4% of death. In all farms it was observed an impact on weight gain in the first 28 days postcastration, Farm II showed the greatest impact, 34,57% of the animals lost weight in this period.
22
Cursos e Eventos / Couses and Events 38º Combravet - Florianópolis
24
HV Internacional / HV International Zilah Cheuiche
26
Avaliação de parâmetros seminais e fertilidade em garanhões da Raça Crioula F. Hartwig, L. Antunez, I. Bianchi, B. Curcio, C. E. W. Nogueira, Pelotas, RS, BRASIL. Os resultados do presente estudo reafirmam a subjetividade da análise isolada da motilidade e destacam a importância da utilização de técnicas objetivas e de alta sensibilidade para determinar viabilidade espermática e potencial de fertilização. Seminal parameters and fertility evaluation in crioulos breed stallions The results of the study showed the subjectivity of motility analysis alone and give emphasis to the application of sensibility and objective techniques in order to determinate cellular viability and potential of fertilization.
30
Influência da lactação e do dia de inseminação nos resultados da IATF em vacas cruzadas R. T. Beltrame, A. F. Côvre, H. A. Plaster, L. A. Moscon, C. R. Quirino, Colatina, ES, Campos dos Goytacazes, RJ, BRASIL. Comparou-se a taxa de prenhez em relação ao dia de inseminação e ao estado fisiológico dos animais. Não houve diferenças entre a taxa de prenhez nos grupos de dia de inseminação após sincronização (G1 – 66%; G2 – 73%; G3 – 40%; G4 – 44%). Considerando apenas o estado fisiológico de lactação, não houve diferenças da taxa de prenhez entre vacas secas, 24% (13/54) e vacas em lactação 76% (41/54). Lactating and day of insemination influence in the results of FTAI in crossbreed cows We compared the pregnancy rate in relation to day of insemination and the physiological state of the animals. There were no differences between the pregnancy rate in the groups of days (G1 - 66%, G2 - 73%, G3 - 40%, G4 - 44%). Considering only the physiological state of lactation, there were no differences in pregnancy rate between dry cows, 24% (13/54) and lactating cows 76% (41/54). A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
34
Acidente ofídico em suíno – relato de caso L. M. Pascoal, M. R. Lucena, M. P. C. Matos, J. Sobestiansky, V. M. B. D. Moura, Murcia, ESPANHA, Goiânia, GO, BRASIL. As serpentes do gênero Bothrops são responsáveis por 90% dos acidentes ofídicos nos animais domésticos no Brasil. Em uma granja localizada em Paraúna-GO, por ocasião de visita técnica constatou-se que uma matriz com 45 dias de gestação, em bom estado de nutrição, ausência de alterações neurológicas, apresentava extensa necrose tecidual na face e na região cervical dorsal a qual se limitava ao tecido subcutâneo e era compatível com o efeito proteolítico do veneno das serpentes do gênero Bothrops. Por ocasião da transferência para maternidade a pele na região cervical dorsal estava totalmente reconstituída. A gestação foi normal e a fêmea pariu normalmente 13 leitões que foram desmamados com 24 dias de idade. Ophidic accident in swine - case report Bothrops snakes are responsible for 90% of snakebites in domestic animals in Brazil. On a farm located in Paraúna-GO, during a technical visit it was noticed that a sow with 45 days of gestation, in good nutritional state and without neurological problems, had an extensive tissue necrosis in the face and in the dorsal cervical region that was limited to subcutaneous tissue and was compatible with the proteolytic effect of the poison of Bothrops snakes. At the time of transfer to the maternity the skin in dorsal cervical region was perfectly rebuilted. The pregnancy was normal and the sow gave birth normally to 13 piglets that were weaned at 24 days old.
36
Literatura / Literature
38
Clínica de Pequenos Animais / Small Animals Clinic: Otite externa ceruminosa e purulenta em cães E. N. Mueller, E. G. Guiot, G. Wilhelm, C. P. M. Fernandes, L. F. D. Schuch, M. O. Nobre, UFPel, Pelotas, RS, BRASIL. Cães Poodle foram mais acometidos por otite ceruminosa e Fila Brasileiro por purulenta. Casos agudos foram comuns nas otites ceruminosas e crônicos nas purulentas. Em ambas as otites as orelhas pendulares predominaram. Otites externas canina ceruminosa e purulenta diferiram em relação à idade e raça do cão acometido e quanto à evolução clínica, além disto, orelhas pendulares predominaram em ambos tipos de otite. External otitis ceruminous and suppurative in dogs Dogs poodle were most affected by ceruminous otitis and fila brasileiro by purulent. Acute cases were common in ceruminous otitis and chronic in purulent. In both of otitis the pendulous ears predominated. Ceruminous end purulent canine external otitis differed in dog’s age and breed affected and about the clinical evolution, addition, pendulous ears predominated in both type of otitis.
42
Emprego de cetoanálogos para o controle da uremia em felino com doença renal crônica M. F. Silveira, M. F. Ricciardi, G. L. R. Tuleski, Pelotas, RS, Curitiba, PR, BRASIL. O uso de cetoanálogos tem sido proposto nos protocolos de tratamento das insuficiências renais baseado na terapia nutricional, isto é, emprego de α-cetoácidos de aminoácidos, servindo de complemento nutricional ao fornecerem aminoácidos de alto valor biológico, permitindo que as dietas possam conter menor teor de proteínas, além de diminuírem os teores de uréia sérica. Este trabalho relata o tratamento de um felino com doença renal crônica utilizando este fármaco no controle da uremia. Ketoanalogue employment for uremia control in a feline with chronic renal disease The ketoanalogue pharmacological use has been proposed in chronic renal disease therapeutic protocols as a nutritional complement with high biological value aminoacides, allowing fewer protein content in diets and lower urea seric levels. This case report notifies the treatment of a chronic renal failure feline patient with ketoanalogues to control uremia.
46
Cursos e Eventos / Courses and Events I Congresso Internacional Transdisciplinar de Proteção à Fauna - J. Sobestiansky
48
Animais Selvagens / Wild and exotic animals: Avaliação da ação dos antiparasitários ivermectina e moxidectina sobre helmintoses de capivaras (Hydrochaeris hydrochaeris, L. 1766) - Estudo preliminar R. M. Cardozo, M. J. B. Barbosa, V. L. F. Souza, Umuarama, Maringá, PR, BRASIL.
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
Os animais foram divididos em três grupos. Os grupos A e B receberam, respectivamente, 0,01g de ivermectina 1% e de moxidectina 1%, quinzenalmente, por um período de 54 dias; o grupo C foi mantido como controle. O antiparasitário ivermectina (1%) mostrou-se mais eficaz sobre a infecção de helmintos nestes animais, embora a moxidectina (1%) também tenha apresentado diferenças significantes em relação ao grupo controle. Evaluation of the effect of ivermetin and moxidectin in the antihelmintic control of capybaras (Hydrochaeris hydrochoeris, L. 1766) – a preliminary study) The animals were divided in groups A, B and C. During 54 days and every fifteen days the groups A and B received 0.01 g of ivermectin 1 % and moxidectin 1%, respectively, and the group C was used as control. In this study, Ivermectin 1% was the must efficient of the two products. However, moxidectin 1% showed significant effects in relation to the control group.
52
Ecologia / Ecology Angela Escosteguy
54
Diagnóstico por imagens / Diagnosis through images: Controle da função luteal bovina J. C. A. Moura, H. Bollwein, A. L. Gusmão, A. Sá Bouzas, M. V. Resende, Hannover, ALEMANHA, Salvador, BA, BRASIL. O objetivo deste trabalho foi estudar os métodos de avaliação da função luteal em bovinos, visto que a mesma fornece informações importantes sobre o estado reprodutivo da fêmea bovina, e possibilita a adequação de procedimentos de manipulação do ciclo estral ou da gestação. Control of the luteal function in cattle This piece of work aimed at studying the luteal function assessment methods in bovine, as it offers important information about the cow´s breeding state. It also makes it possible that more adequate procedures are adopted when handling the oestral cycle or the pregancy.
59
Qual o seu diagnóstico? / What is your diagnosis? C. E. Larsson, C. N. Rossi, S. Maruyama, L. E. B. Lucarts, São Paulo, SP, BRASIL.
61
HV Informa / HV Report Solenidade de Entrega do 12º Prêmio Pesquisa Clínica Intervet Schering-Plough Animal Health
64
Entrevista / Interview Pedro Antonio Leivas Leite
66
Informe do SIMVET-RS / SIMVET-RS Report
67
Informe da SOVERGS / SOVERGS Report
68
Informe CRMV-RS / CRMV-RS Report
5
a hora veterinária
Rua Andrade Neves, 155 – Conjunto 67 – Fone/Fax: (51) 3228-3864 e (55) 3281-5261 90010-210 Porto Alegre, RS, Brasil – E-mail: ahoraveterinaria@farrapo.com.br – site: www.ahoraveterinaria.com.br INDEXAÇÃO: CAB INTERNATIONAL – ISSN 0101 – 9163 DIREÇÃO EXECUTIVA: Diretor de publicação e redação: Alcy José de Vargas Cheuiche alcycheuiche@farrapo.com.br Diretora administrativa: Maria Berenice Gervasio Cheuiche mariaberenice@farrapo.com.br Diretor científico: Percy Infante Hatschbach – percy.infante@terra.com.br Jornalista responsável: Daniel Miranda – MTB 13.424 – danielmiranda@farrapo.com.br Redatores técnico-científicos: Angela Escosteguy – angela@ibembrasil.org Zilah Cheuiche - zilahcheuiche@terra.com.br Adroaldo José Zanella – zanella@pilot.msu.edu Representante em São Paulo: Paulo Brandão, paulogsbrandao@terra.com.br Done Consulting Comunicação e Marketing, Rua Dr. Joaquim Araújo de Almeida, 1537, Bairro das Posses, Serra Negra, SP, CEP. 13930-000, (19) 3842-1746 - (11) 3749-1399. Assessor de informática: Daniel Miranda Departamento de assinaturas: Maria Jeni Gervasio Freitas hvassinaturas@farrapo.com.br Editoração eletrônica: DMiranda Editoração Eletrônica Impressão: Gráfica Editora Pallotti - pallotti@pallotti.com.br CONSELHO EDITORIAL: Ruy Cheuiche Ferreira, Antônio João Sá de Siqueira, Norma Centeno Rodrigues. CONSULTORIA: Consultora jurídica: Maria Berenice Gervasio Cheuiche Consultor farmacêutico: Paulo Chaves Garcia Leite Consultores internacionais: Jean-Marc Bichet, Paris, FRANÇA; Patrick Joint-Lambert, Paris, FRANÇA; Philippe Devisme, Paris, FRANÇA; Jacques Chonchol, Santiago, CHILE. Consultor de Língua Inglesa: Ricardo Heinen, Caxias do Sul, BRASIL. RECONHECIDA COMO ÓRGÃO DE DIVULGAÇÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA: World Veterinary Association / Sociedade Mundial de Veterinária: Presidente: Tjeerd Jorna Sydwende 52, 9204 KG Drachten, The Netherlands Tel./fax: 31 (0) 512 520605 E-mail: tjeerdjorna@dierenarts.nl – http://www.worldvet.org Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária: Presidente: Josélio de Andrade Moura SRTS – Q 701 LT 2 e S/333 – Ed. Palácio do Rádio II 70330-902 Brasília, DF, BRASIL Fone/fax: 55(61) 3226-3364 E-mail: presidente@sbmv.vet.br - Site: www.sbmv.vet.br Conselho Federal de Medicina Veterinária: Presidente: Benedito Fortes de Arruda SIA Trecho 6 - Lotes 130/140 71205-060 Brasília, DF, BRASIL Fone: (61) 2106-0400 – Fax: (61) 2106-0444 E-mail: cfmv@cfmv.org.br Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul – CRMV-RS: Presidente: Air Fagundes dos Santos Rua Ramiro Barcelos, 1793 – 2º andar 90035-006 Porto Alegre, RS, BRASIL Fone/Fax: (51) 3331-0566 E-mail: crmvrs@crmvrs.gov.br Colégio Brasileiro de Parasitologia Veterinária: Presidente: Rosangela Zacarias FCAV/UNESP – Campus de Jaboticabal Depto. Patologia Veterinária Fone: (16) 3209-2662 - (16) 3209-2663 E-mail: cbpv@cbpv.com.br Convênio Científico com as revistas: LE POINT VÉTÉRINAIRE, Paris, FRANÇA LA SEMAINE VÉTÉRINAIRE, Paris, FRANÇA REVISTA SUMMA, Milão, ITÁLIA LA SETTIMANA VETERINARIA, Milão, ITÁLIA
COMITÊ CIENTÍFICO INTERNACIONAL Adroaldo Zanella – Oslo, NORUEGA Ahmed Boussarsar – Túnis, TUNÍSIA Alfeu Antônio Hausen Beck – Itajaí, SC, BRASIL Alfredo da Cunha Pinheiro – Bagé, RS, BRASIL Alfredo da Silva Tavares – Pelotas, RS, BRASIL Angela Escosteguy – Porto Alegre, RS, BRASIL Benito Guimarães de Brito – Porto Alegre, RS, BRASIL Berenice de Ávila Rodrigues – Porto Alegre, RS, BRASIL Bernard Clerc – Paris, FRANÇA Carlos E. Kantek-Navarro – Curitiba, PR, BRASIL Carlos E. Larsson – São Paulo, SP, BRASIL Carlos E. Quintana da Rosa – Porto Alegre, RS, BRASIL Carlos O. Cordovés – Porto Alegre, RS, BRASIL Carlos Santos Gottschall – Canoas, RS, BRASIL. Carlos Tadeu Pippi Salle – Porto Alegre, RS, BRASIL Cláudio Martins Real – Campo Grande, MS, BRASIL Clodoveo F. dos Santos – Alegrete, RS, BRASIL Craig Griffing – Los Angeles, ESTADOS UNIDOS David E. S. M. de Barcellos – Porto Alegre, RS, BRASIL Donald M. Broom – Cambridge, INGLATERRA Edson Luiz Bordin – Campinas, SP, BRASIL Edson Luiz Salomão – Cachoeira do Sul, RS, BRASIL Edson Rojas – São Paulo, SP, BRASIL Felipe Sosa Soares – Torres, RS, BRASIL Fernando A. Lobato Tavares – Belém, PA, BRASIL François Badinand – Lyon, FRANÇA François Moutou – Paris, FRANÇA Germán Rodrigues Franco – Lima, PERU Gilcéia Bañolas Jobim – Porto Alegre, RS, BRASIL Hélio Leopoldo Markus – Porto Alegre, RS, BRASIL Heloísa Justen Moreira de Souza, Rio de Janeiro, RJ, BRASIL Huldo Cony – Porto Alegre, RS, BRASIL Izone França Corrêa – São Paulo, SP, BRASIL Jairo Barros Pereira – Rio de Janeiro, RJ, BRASIL Jean Paul Mialot – Paris, FRANÇA Jean-Pierre Samaille – Paris, FRANÇA João Manoel Chapon Cordeiro, Pelotas, RS, BRASIL Joaquim Ambia Medina – Cidade do México, MÉXICO Jorge Guerrero – New Jersey, ESTADOS UNIDOS José Carlos Andrade Moura – Salvador, BA, BRASIL José Di Fabio – Campinas, SP, BRASIL José Euclides Vieira Severo – Porto Alegre, RS, BRASIL José Fernando Garcia – Araçatuba, SP, BRASIL José Fernando P. Dora – Montevidéu, URUGUAI José La Torre – Buenos Aires, ARGENTINA José Luiz D’Angelino, São Paulo, SP, BRASIL José Luiz Rodrigues – Porto Alegre, RS, BRASIL José Ricardo Pachaly – Umuarama, PR, BRASIL José Roberto Taranto – Rio de Janeiro, RJ, BRASIL Josélio de Andrade Moura – Brasília DF, BRASIL Jurij Sobestianski – Goiânia, GO, BRASIL Laerte Grisi – Rio de Janeiro, RJ, BRASlL Luiz Alberto O. Ribeiro – Porto Alegre, RS, BRASIL Luiz Maria Schmidt – Buenos Aires, ARGENTINA Luiz Paiva Carapeto – Pelotas, RS, BRASIL Manoel Pimentel Neto – Rio de Janeiro, RJ, BRASIL Marc Savey – Paris, FRANÇA Marco Antônio S. Cheuiche – Pelotas, RS, BRASIL Marcos de Araújo Laccourt – Porto Alegre, RS, BRASIL Mario A. Soares – São Paulo, SP, BRASIL Masaio Mizuno – São Paulo, SP, BRASIL Nicolau M. da Serra-Freire – Rio de Janeiro, RJ, BRASIL Osmar Pereira Bastos – Campo Grande, MS, BRASIL Raúl Casas Olascoaga – Montevidéu, URUGUAI René Dubois – Brasília, DF, BRASIL Sérgio Fauque Benevenga – Santa Maria, RS, BRASIL Sérgio Marques – Guaratinguetá, SP, BRASIL Simone Biagio Chiacchio – Botucatu, SP, BRASIL Suely Nunes Esteves Beloni – Londrina, PR, BRASIL Tadayuki Yano – São Paulo, SP, BRASIL Tadeu Cotta – Lavras, MG, BRASIL Telmo Vidor – Pelotas, RS, BRASIL Teodoro R. Vaske – Brasília, DF, BRASIL Ubiratã C. da Costa – Santa Maria, RS, BRASIL Valéria Moojen – Porto Alegre, RS, BRASIL Wilhelm Brass – Hannover, ALEMANHA William G. Vale – Belém, PA, BRASIL Yves Legeay – Lyon, FRANÇA
• Preço por exemplar avulso: R$ 20,00 • ASSINATURAS – Brasil: 1 ano (6 números): R$ 120,00 – Exterior: 1 ano: US$ 80,00 – Valor assinatura para estudantes: R$ 80,00 Ordens de pagamento (nacionais e internacionais): Banco do Brasil – Agência Central 0010-8 – Conta nº 107.306-0 – Porto Alegre, RS, BRASIL.
6
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
7
Emprego da somatotropina bovina (bST) de 500 mg em vacas mestiças Bos taurus x Bos indicus a intervalos de 12 ou 14 dias*
Com o objetivo de avaliar a resposta em produção e composição do leite, contagem de células somáticas (CCS) e ocorrência de mastite clínica, 39 vacas multíparas mestiças ¾ e 1/ 8 Holandês/Gir, foram distribuídas em três tratamentos: Tratamento 1 - 13 vacas recebendo 500 mg de bST-r iniciando aos 63 dias de lactação a intervalos de 14 dias; Tratamento 2 - 14 vacas recebendo 500 mg de bST-r iniciando aos 63 dias de lactação a intervalos de 12 dias; Tratamento 3 - 12 vacas controle, não receberam aplicação de bST ou placebo. Os animais foram submetidos ao mesmo manejo alimentar, confinamento no inverno e pastejo rotacionado no verão, e a duas ordenhas diárias, sendo a produção de leite mensurada duas vezes por semana. A utilização de bST em vacas mestiças ¾ e 7/8 girolandas foi capaz de promover ganhos na produção leite. A utilização de bST 500mg aplicado a intervalos de 12 dias não promoveu aumento de produção de leite se comparado a intervalos de 14 dias. A utilização de bST 500 mg a intervalos de 12 ou 14 dias não alterou a composição do leite, os valores de CCS e não elevou a ocorrência de mastite quando comparada ao grupo controle.
B. G. CAMPOS1, S. G. COELHO2, A. M. L. QUINTÃO2, E. RABELO3, T. S. MACHADO4, B. F. SILPER5
1
Betânia Glória Campos, Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Zootecnia, Escola de Veterinária –Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, BRASIL. e-mail: becavet@hotmail.com 2 Sandra Gesteira Coelho, Ângela Maria Lana Quintão, Departamento de Zootecnia, Escola de Veterinária –Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, BRASIL. 3 Euler Rabelo, Ph.D em Nutrição – ReHagro. 4 Tiatrizi Siqueira Machado, Médica Veterinária – ReHagro. 5 Bruna Figueiredo Silper, Mestranda do Programa de Pósgraduação em Zootecnia,z Escola de Veterinária –Universidade Federal Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, BRASIL. *Trabalho vencedor do 12o Prêmio Pesquisa Clínica Intervet/ Schering-Plough Animal Health, categoria profissional. 8
INTRODUÇÃO MATERIAL E MÉTODOS RESULTADOS E DISCUSSÃO CONCLUSÕES
INTRODUÇÃO O aumento da produção de leite pode ser resultado de melhorias no manejo, melhoramento genético e ou, por adoção de tecnologias como a somatotropina recombinante bovina ou bST. O bST é uma das principais biotecnologias difundidas e utilizadas em todo o mundo, devido à sua comprovada capacidade em promover aumentos na produção de leite, por meio principalmente da modificação na partição de nutrientes entre os tecidos. Seu uso aumenta a eficiência produtiva de vacas leiteiras promovendo maior retorno econômico, sem efeitos adversos à saúde animal ou humana (Bauman et al., 1985; Bauman, 1992). Respostas em aumento na produção de leite da ordem de 10 a 20% são mais comumente
encontradas, embora respostas de até 40% em condições experimentais já tenham sido citadas (Etherton e Bauman, 1998, Bauman,1992, Chilliard,1989). Existem inúmeras pesquisas sobre a resposta ao bST em animais de origem taurina, principalmente da raça Holandesa. Entretanto não há conhecimento satisfatório sobre o padrão de resposta à utilização de bST em rebanhos mestiços (Bos taurus x Bos indicus) e em condições de clima tropical. É importante ressaltar que há diferenças evidentes quanto à fisiologia da lactação entre animais de origem européia e animais mestiços (europeus x zebu). Dentre elas podemos citar variação hormonal, momento do pico de produção de leite, persistência e comprimento de lactação, mobilização de reservas corporais, entre outras. A literatura vigente, bem como a orientação dos laboratórios que comercializam o produto é que a aplicação de bST seja iniciada a partir da 9ª semana da lactação, na dosagem de 500 mg de somatotropina, a intervalos de 14 dias entre aplicações. Porém é cada vez mais comum em fazendas leiteiras no Brasil, a prática
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
da utilização do intervalo de 12 dias entre as aplicações de bST. Segundo observações de campo, com a utilização do intervalo de 12 dias entre aplicações ocorreria maior produção de leite, em razão da menor flutuação na produção. Porém, não há comprovação científica sobre resposta positiva à utilização de intervalos menores que 14 dias entre aplicações. De acordo com Bauman (1992) a composição bruta do leite não é substancialmente alterada com a utilização de bST. Segundo o autor, os resultados de várias pesquisas apontaram apenas pequenas mudanças no teor de gordura do leite durante as primeiras semanas de aplicação, onde foi observado aumento no teor de gordura em razão da mobilização de reservas corporais, com retorno aos teores normais após o ajuste do metabolismo e do consumo voluntário de alimentos. No entanto, há poucas pesquisas avaliando o efeito do bST sobre a composição do leite em rebanhos manejados mestiços (Bos indicus x Bos taurus). Desde a aprovação da utilização de bST, em 1994, estendem-se numerosas discussões quanto os seus efeitos na saúde da glândula mamária, como aumento da contagem de células somáticas (CCS) e da ocorrência de mastite. A mastite é considerada a doença de maior custo no gado leiteiro, por reduzir a produção de leite pelos danos causados ao tecido secretor, levando à diminuição da produção. Existe correlação positiva entre aumento da produção de leite e a ocorrência de mastite clínica e subclínica (White et al., 1994; Judge et al., 1997). Assim, tecnologias que promovem aumento na produção de leite poderiam contribuir para a maior ocorrência de casos de mastite. No Brasil é escassa a literatura avaliando a associação entre utilização de bST e ocorrência de mastite clínica e subclínica. Tendo em vista o grande potencial de produção de leite no Brasil e que 90% do rebanho leiteiro é composto por animais de origem zebuína, estudos visando melhor conhecimento da resposta à utilização de bST em animais mestiços (Bos taurus x Bos indicus) estabeleceriam diretrizes específicas quanto à utilização do produto para este grupamento genético, possibilitando, assim, maior difusão desta tecnologia no país e, desta forma, auxiliando o produtor em sua busca por eficiência e redução de custos com manutenção da saúde animal. O objetivo deste estudo foi o de avaliar a resposta em produção de leite com a utilização de 500 mg de bST de liberação lenta, iniciados aos 63 dias de lactação a intervalos de 12 ou 14 dias, em vacas mestiças ¾ e 7/8 Holandês/Gir (Bos taurus x Bos indicus), bem como seu impacto na composição do leite, nos valores de CCS e na ocorrência de mastite durante o período de uma lactação, ou 280 dias. MATERIAL E MÉTODOS 1. Local do experimento e animais Todos os procedimentos utilizados neste experimento foram aprovados pelo comitê de ética em experimentação animal da Universidade Federal de Minas Gerais, CETEA (230/ 2008). O trabalho foi realizado em fazenda comercial localizada no município de Itaúna, região centro-oeste de Minas. Os resultados apresentados são parte de um estudo onde foram utilizadas 180 vacas mestiças ¾ e 7/8 Holandês/Zebu (Bos A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
taurus x Bos indicus). Para os dados apresentados foram selecionadas 39 vacas multíparas mestiças ¾ e 7/8 Holandês/ Zebu, selecionadas de acordo com os seguintes critérios: composição genética, ¾ e 7/8 Holandês/Gir; saúde, animais que não apresentavam nenhuma alteração clínica no início da fase experimental (metrite, mastite, problemas de casco) e que, previamente, apresentaram resultado negativo para Staphilococcus aureus; condição corporal ao inicio do tratamento, escore entre 2,5 a 3,5 de acordo com a escala de Wildman et al. (1982); dias em lactação (DEL) 63±3,5 e produção da lactação anterior. 2. Tratamento e avaliações Após a seleção, os animais foram distribuídos aleatoriamente aos seguintes tratamentos: 1- bST 500 mg1 a intervalo de 14 dias (n=13); 2- bST 500 mg1 a intervalo de 12 dias (n=14); 3- Controle: animais que não receberam aplicação de bST ou placebo (n=12). Para a formação destes grupos procurou-se manter a uniformidade quanto à composição genética, produção na lactação anterior e ordem de parto. As aplicações de bST foram realizadas na fossa caudal, via subcutânea, alternando-se os lados direito e esquerdo após a ordenha da manhã, no período de 280 dias quando foi considerada encerrada a lactação, totalizando em média 18 aplicações. Os animais foram submetidos a duas ordenhas diárias, com intervalo de 12 horas entre ordenhas, as 4:00 e as 16:00 hs. A produção de leite foi mensurada duas vezes por semana (quarta e sábado), em duas ordenhas diárias durante toda a lactação. Amostras de leite para avaliação da composição e para análise de CCS foram obtidas a cada 15 dias, até 280 dias da lactação. No entanto, em razão do reduzido número de dados disponíveis no DEL 250 e 280 foi decidido pela não incorporação dessas informações ao trabalho. A amostragem de leite foi realizada com a utilização de copos coletores acoplados a ordenha2. Após o término da ordenha de cada animal, o copo coletor foi desacoplado e homogeneizado lentamente por três vezes, sendo colhidas amostras de 50mL de leite. As amostras foram acondicionadas em frascos contendo bromopol (2bromo 2-nitropropano 1,3-diol), na proporção de 10mg do principio ativo para 50mL de leite, sendo então enviadas imediatamente para análise ao Laboratório Clínica do Leite, Esalq-USP. Os casos de mastite clínica foram identificados pelos ordenhadores, previamente treinados para considerar positivos animais que apresentavam leite com grumos e /ou úbere com sinais de inflamação (inchaço, rubor, calor e dor). Os casos de mastite foram anotados em ficha, imediatamente após sua detecção. No inverno, os animais foram confinados e receberam dieta completa balanceada de acordo com a produção. Os animais foram alimentados duas vezes por dia, com livre acesso ao cocho durante todo o dia, utilizando a cana de açúcar como volumoso, milho e soja como ingredientes concentrados principais, 1 2
BOOSTIN ® 500 mg – Intervet/Schering-Plough DeLaval 9
bem como outros subprodutos como polpa cítrica e cevada. No verão os animais receberam suplementação concentrada duas vezes por dia, após a ordenha da manhã e antes da ordenha da tarde. Os animais foram submetidos a pastejo em sistema rotacionado irrigado, em piquetes formados por Tifton 85 (Cynodon dactylon), com período de ocupação de um dia.
RESULTADOS E DISCUSSÃO 1. Produção de leite Não foi observada diferença na média de produção de leite entre os tratamentos que receberam aplicações de bST, tratamentos 1 (22,6 kg/dia) e 2 (23,0 kg/dia)(P<0,05), contrariando as observações de campo que indicam aumento de produção com a aplicação a intervalos de 12 dias. Embora o tratamento 2 tenha sido ligeiramente superior ao tratamento 1 no terço inicial e final da lactação é possível observar um padrão de resposta mais regular na aplicação de bST a intervalos de 14 dias (Tabela 1 e Figura 3). Estes resultados são de grande importância uma vez que aplicações a intervalos menores que 14 dias elevariam o custo (dose/dia) da utilização de bST e diminuiriam o retorno financeiro, uma vez que não foi observado incremento na produção com aplicações a intervalos de 12 dias. Tabela 1. Média da produção de leite, em kg/dia, de vacas multíparas tratadas ou não com bST
Figura 1. Vacas recebendo suplementação com cana de açúcar.
Figura 2. Vacas em pastejo (Tifton 85). 3. Análise Estatística O estudo foi conduzido em delineamento inteiramente casualizado. Para avaliar a produção, composição e CCS o teste estatístico utilizado foi Student-Newman-Keuls (SNK) a 5 %. A média da produção de leite individual nos 20 dias anteriores ao início do tratamento foi utilizada como covariável na análise de produção de leite. A produção de leite foi avaliada até 280 dias da lactação. A homocedasticidade e a normalidade dos dados foram testadas pelas metodologias de Bartlett e Lilliefors, sendo necessária a transformação dos dados de CCS para logarítimo na base dez, por não atenderam às condições citadas. Para análise da ocorrência de mastite foi utilizado o Teste Exato de Fisher a 5%. As análises foram realizadas utilizando-se os procedimentos do software SAEG-Sistema para Análises Estatísticas, versão 9.1, 2007 (SAEG, 2007). 10
A média de produção de leite dos tratamentos que receberam bST foi superior ao controle em até 2,3 kg de leite por vaca/dia, correspondendo a 11,1% de incremento na produção (Tabela 1). Embora o ganho percentual seja inferior ao citado pela literatura, que aponta ganhos de 10 a 20% em vacas holandesas (Bauman, 1992; Bauman, 1999), e até 22% em vacas mestiças (Fontes et al., 1997; Oliveira Neto et al., 2001), quando se analisa o incremento de produção em kg de leite por vaca/dia, os resultados deste estudo foram semelhantes ao relatado por Fontes et al. (1997) e Oliveira Neto et al. (2001), que observaram aumento de aproximadamente 2,5 kg de leite/vaca/dia. Uma vez que a decisão econômica de utilização de qualquer tecnologia visando aumento da produção de leite deve ser baseada na relação custo x receita, e sendo a receita calculada a partir do aumento de produção em kg de leite, maior ênfase deve ser dispensada na resposta à utilização de bST em kg de leite que em relação ao aumento percentual de produção. Embora a eficiência do bST em promover ganhos significativos em produção de leite seja fato consolidada por diversas pesquisas em animais de origem européia (Bauman, 1992; Dohoo et al., 2003), estudos avaliando o padrão de resposta ao bST em animais mestiços e em condições de clima tropical são escassos, o que reforça a importância deste estudo. Os resultados deste trabalho bem como os de Fontes et al. (1997) e Oliveira Neto et al. (2001), comprovam a eficiência do bST em A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
Figura 3. Produção de leite (kg) de vacas multíparas tratadas ou não com BST 500 mg; início aplicação 63 dias de DEL; intervalos de 12 ou 14 dias.
Tabela 2. Composição do leite (%) ao longo da lactação de vacas multíparas tratadas ou não com bST 500 mg
promover aumento na produção de leite em também em animais mestiços (Bos taurus x Bos indicus) em condições tropicais. 2. Composição do leite Não foram observadas diferenças nos teores de gordura, proteína, lactose, sólidos totais e extrato seco desengordurado entre os tratamentos (P>0,05) Tabela 2 e Figura 4. Estes resultados estão de acordo com Hartnell et al. (1990); Bauman (1992); Bauman (1999) que também relataram ausência de efeito do bST sobre a composição do leite em animais de origem européia, e Phipps et al. (1991) que relaram ausência de efeito na composição de leite em animais mestiços (Bos taurus x Bos indicus). 3. Ocorrência de mastite clínica e CCS Não foram observadas diferenças no número de vacas que apresentaram mastite clínica entre os tratamentos 1, 2 e 3 (P>0,05) Tabela 4, bem como nos valores de CCS (P>0,05) Tabela 5. A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
Tabela 4. Número de vacas que apresentaram mastite por tratamento
Médias não seguidas por letras distintas na mesma coluna não diferem entre si pelo teste Exato de Fisher a P>0,05.
Os resultados na literatura são contraditórios quanto à influência da utilização de bST na ocorrência de mastite clínica e CCS. Pell et al. (1992) observaram maior número de casos de mastite no grupo tratado com bST, porém não foi possível concluir que o aumento foi unicamente associado à utilização de bST. Fontes et al. (1997) observaram tendência numérica em aumento na incidência de mastite em vacas mestiças que receberam bST, no entanto o autor ressalta que a resposta pode ter sido influenciada por outros fatores. No entanto, White et al. (1991) em 15 experimentos avaliando a produção 11
et al. (1998), em vacas tratadas com bST ocorreu menor migração de células de defesa (polimorfonucleares) do sangue para o leite, o que se traduziu em valores mais de CCS nos animais tratados. No entanto, Bauman et al. (1999b) encontraram ligeiro aumento na contagem de células somáticas em rebanhos submetidos a aplicação de bST.
CONCLUSÕES A utilização de bST 500 mg em vacas mestiças ¾ e 7/8 girolandas (Bos Figura 4. Valores médios da lactação encontrados para gordura, proteína, lactose, ST taurus x Bos indicus) foi eficiente em promover aumentos em produção de (sólidos totais) e ESD (extrato seco desengordurado) por tratamento. leite, sendo observado aumento de de leite durante toda a lactação e 70 experimentos de curta médio de até 2,3 kg de leite por vaca/dia/ na lactação. Não duração nos Estados Unidos e Europa observaram que a incihouve diferença na produção de leite de vacas recebendo a dência de casos de mastite entre animais recebendo bST e aplicação de bST 500 mg a intervalos de 12 ou 14 dias. Não animais não tratados, com mesma produção de leite, foi semeforam observadas diferenças entre animais tratados com bST lhante, ressaltando que foi observada correlação linear positie não tratados quanto a composição do leite, valores de CCS va entre o pico de produção e incidência de mastite, e que esta e ocorrência de mastite clínica. relação foi semelhante em vacas que aumentaram a produção de leite em resposta ao bST ou por ganhos genéticos. Os Agradecimentos autores não observaram também diferença nos valores de CCS À Fazenda Santa Maria do Brejo Alegre, em especial ao entre animais tratados ou não com bST. Dr. Pedro Nunes por ceder sua estrutura e pela cooperação e amizade de Tabela 5. CCS em escore linear de vacas multíparas tratadas ou não com bST 500 mg seus funcionários, em especial ao Carlinhos. À Intervet/Schering-Plough pelo apoio à pesquisa, em especial, nas pessoas de Rui Nóbrega, Emerson Alvarenga e Sebastião Faria. Referências bibliográficas BAUMAN, D. E. Bovine somatotropin: review of an emerging animal Médias não seguidas por letras distintas na mesma coluna não diferem entre si pelo teste SNK P>0,05. technology. J. Dairy Sci. 75:3433CV% = coeficiente de variação:15,99. 3451, 1992. BAUMAN, D.E. Bovine somatotropin and lactation: from basic Hoeben e Burvenich (1999) observaram efeito protetor science to commercial application. Domestic Animal da somatotropina bovina (bST) em estudo com mastite por Endocrinology . 17:101-116, 1999. Streptococcus uberis induzida experimentalmente, sugerindo BAUMAN, D.E.; EVERETT, R.W.; WEILAND, W. H. efeito benéfico do bST no restabelecimento da integridade da Production Responses to Bovine Somatotropin in barreira sangue-leite, uma vez que a produção de leite de aniNortheast Dairy Herds. J. Dairy Sci.82:2564–2573, 1999b. mais tratados foi restabelecida após 3 semanas da observação BAUMAN, D.E; EPPARD, PJ; DeGEETER, MJ et al. Responses do caso clínico, ao passo que nos animais não tratados com of high producing dairy cows to long term treatment with bST a produção não retornou aos parâmetros pré-infecção. pituitary somatotropin and recombinant somatotropin. A ausência de diferença observada nos valores de CCS J.Dairy Sci.,v. 68, p.1352-1362, 1985. em escore linear entre os grupo tratados e não tratados com CHILLIARD, Y. Long-term effects of recombinant bovine bST, estão em acordo com os resultados observados por Collier et al.(2001); Thomas et al. (1991); Hartnell et al. (1991), somatotropin (rBST) on dairy cow performance: a review. que não encontraram diferença nos valores de CCS entre aniIn: K. Sejrsen, M. Vestergaard, and A. Neimann-Sorensen. mais tratados com bST e não tratados. De acordo com Hoeben Use of Somatotropin in Livestock Production. New York, 12
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
NY: Elsevier Appl. Sci., 1989. p.61-65. COLLIER, RJ et al. Effects of sustained release bovine somatotropin (sometribove) on animal health in commercial dairy herds. J. Dairy Sci. v.84, n.5, p. 10981108, 2001. DOHOO, I. R.; LESLIE K.; DESCOTEAUX L. et al. A metaanalysis review of the effects of recombinant bovine somatotropin: Methodology and effects on production. Can. J. Vet. Res. 67:241-251, 2003. ETHERTON, T.D.; BAUMAN, D.E. Biology of somatotropin in growth and lactation of domestic animals. Physiological Reviews, v. 78, p. 745-761, 1998. FONTES Jr., C., MESEROLE, V.K.; MATTOS, W. et al. Response of brazilian crossbred cows to varying doses of bovine somatotropin. J. Dairy Sci. 80:3234-3240, 1997. HARTNELL, G. F., S. E. FRANSON, D. E. BAUMAN, H. H. HEAD, J. T. HUBER, R. C. LAMB, K.S. MADSEN, W. J. COLE, AND R. L. HINTZ. Evaluation of sometribove in a prolonged release system in lactating dairy cows – production responses. J.Dairy Sci. 74:2645-2663, 1991. HOEBEN, D.; BURVENICH. Effect of recombinant bovine somatotropina on milk production and composition of cows with Streptococcus uberis mastitis. J. Dairy Sci. v.82, n.8, p.1671-1683,1999. JUDGE , L.J.; ERSKINE, R.J.; BARTLETT, P.C. Recombinant bovine somatotropina and clinical mastitis: incidence, discarded milk following therapy, and culling. J. Dairy Sci. v.80, n.12, p.32123218, 1997. OLIVEIRA NETO, J. B, MOURA, A. A. A.; NEIVA, J.N.M. Indicadores de estresse térmico e utilização da somatotropina bovina (bST) em vacas leiteiras, mestiças (Bos taurus x Bos indicus) no semi-árido do nordeste. Rev. Bras. Zootec.30(2), p. 360-367, 2001. PEEL, C.J; BAUMAN, D.E. Somatotropim and lactation. J. Dairy Sci., v.70, n.2, p.474-486, 1987. PHIPPS, R. H., D. L. HARD, AND ADRIENS, F. Use of bovine somatotropin in the tropics:the effect of sometribove on milk production in Western, Eastern, and Southern Africa. J. Dairy Sci. 80:504-510, 1996. SAEG-Sistema para Análises Estatísticas, versão 9.1, 2007. THOMAS, J. W., R. A. ERDMAN, D. M. GALTON, R. C. LAMB, M. J. ARAMBEL, J. D. OLSON, K.S. MADSEN, W. A. SAMUELS, C. J. PEEL, AND G. A. GREEN. 1991. Responses by lactating cows in commercial dairy herds to recombinant bovine somatotropin. J.Dairy Sci. 74:945-964, 1991. WHITE, T.C. et al. Clinical mastitis in cows treated with Sometribove ( recombinant bovine somatotropina) and its relationship to milk yield. J. Dairy Sci. v.77, n.8, p.22492260, 1994. WILDMAN, E. E., G. M. JONES, P. E. WAGNER, R. L. BOMAN, H. F. TROUT, Jr., T. N. LESCH. A dairy body condition scoring system and its relationship to selected production characteristics. J. Dairy Sci. 65:495-501, 1992. A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
Résumé L'emploi de la somatropine bovine (bST) de 500 mg chez des vaches métisses Bos taurus x Bos indicus dans des délais de 12 ou de 14 jours B. G. Campos et al. Avec le but d‘évaluer la reponse sur la production et la composition du lait, le comptage des cellules somatiques (CCS) et l‘occurrence de mammites cliniques, 39 vaches multipares, ¾ e 7/8 Frisonne Pie Noir/Gir, ont été agroupées et soumises à trois différents traitements. Groupe 1 : 13 vaches ont reçu 500 mg de bST-r à partir du 63ème jour de lactation, dans des délais de 14 jours. Groupe 2 : 14 vaches ont reçu le même traitement, mais dans des délais de 12 jours. Groupe 3 : 12 vaches témoins sans traitement. Tous les animaux ont été soumis aux mêmes conditions d‘alimentation (en étable en hiver et en rotation de pâturages en été) et à deux traites par jour (la production de lait étai calculée deux fois par semaine). L‘emploi de la bST chez les vaches des groupes 1 et 2 a été capable d‘augmenter la production de lait, surtout dans le Groupe 1 (delais de 14 jours). L‘emploi du produit dans les deux groupes n‘a pas altéré la composition du lait, les taxes de CCS et n‘a pas augmenté les cas de mammites en comparaison avec le groupe témoin. Summary Use of bovine somatotropine (BST) 500 mg in crossbred Bos taurus x Bos indicus cows every 12 or 14 days B. G. Campos et al. With the purpose of assessing the response in terms of milk make-up and production, somatic cells account (SCA) and clinical mastitis occurrence, 39 cows (¾ crossbred and 7/8 Frisian cows/Gir) were distributed into three groups: Treatment 1 - 13 cows which were given 500 mg bST-r, starting on 63rd day of lactation, with 14 days of interval; Treatment 2 - 14 cows were given the same 500 mg bST-r, from the 63rd day of lactation, at intervals of 12 days; Treatment 3 - 12 cows in the control group, which were either given no bST or placebo. The animals were submitted to the same dietary handling. Also, they were confined in winter, and during the summer grazing would take place in a sequence of fields. Besides, milking was carried out twice a day whereas the milk production would be measured twice a week. The study reached the conclusion that the use of bST among ¾ crossbred and 7/8 girolandas cows was capable of promoting increase int he milk production. The use of bST 500mg given at intervals of 12 days did not promote any milk production increase when compared to 14-day intervals. Besides, the use of bST 500 mg at intervals of 12 or 14 days did not change the milk make-up nor the SCA figures. And when compared to the control group, it did not increase the incidence of mastitis. 13
14
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
Indução de ciclicidade e taxa de prenhez em primíparas Brangus com uso de hormonioterapia
Este trabalho teve como objetivo avaliar a utilização do dispositivo intravaginal de progesterona (DP4) contendo 0,558g versus dispositivo intravaginal de progesterona contendo 1,9g previamente utilizado por 9 dias, sobre taxas de prenhez em vacas primíparas (Brangus) lactantes submetidas à inseminação em tempo fixo (IATF). Foram utilizadas primíparas Brangus lactantes (50 a 70 dias pós parto), mantidas a pasto em Uruguaiana – RS. O diagnostico de gestação foi realizado por toque retal. Segundo os resultados obtidos no presente trabalho, concluiu-se que o DIV contendo 0,558g de P4, resultou em taxa de prenhez superior ao DIV contendo 1,9g de P4 utilizado previamente por 9 dias. Os resultados obtidos com o uso do DIV de 0,558g de P4 não diminuíram a pulsatilidade de LH e, consequentemente, o crescimento folicular das primíparas Brangus lactantes após a sincronização hormonal, resultando em maior taxa de prenhez.
R. L. GONÇALVES1, T. S. ANTONIO², A. PEREIRA3
INTRODUÇÃO OBJETIVO MATERIAIS E MÉTODOS RESULTADOS CONCLUSÕES
INTRODUÇÃO
1
Reuel Luiz Gonçalves, Médico-Veterinário, Gerente Serviço Técnico – Biogénesis Bagó, Curitiba, PR, BRASIL. 2 Thiago Silva Antonio, MédicoVeterinário, Coordenador Técnico de Linha Hormonal – Biogénesis Bagó, Ribeirão Preto, SP, BRASIL. 3 Antônio Pereira, Médico-Veterinário, Gerente Fazenda São Pedro – GAP, Uruguaiana, RS, BRASIL.
O objetivo de uma propriedade de cria é produzir um bezerro/vaca/ano. Para conseguir isto, é necessário que as fêmeas comecem a ciclar o mais rápido possível depois do parto. Entre as fêmeas de um rebanho de cria, as que apresentam um maior desafio para o criador, devido à dificuldade de ciclar no pósparto recente, são as primíparas, e isso se deve ao fato de a mesma ainda ser uma fêmea (novilha) em desenvolvimento e se apresentar lactante. Deve-se ter em conta que uma gestação bovina tem em media 280 a 285 dias. Des-
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
te modo, restam somente 85 dias na EM às fêmeas para ficarem prenhes e obterem um bezerro/ano. Por outro lado, não é importante somente ter um bezerro por vaca e por ano, mas sim que o bezerro conseguido seja o mais pesado possível até a data da desmama, produzindo desta maneira um produto, macho ou fêmea, mais forte, saudável e uma maior quantidade de kg de carne/ha. Em consequência, é necessário que a prenhez se estabeleça o mais rápido possível, de maneira a lograr a maior porcentagem de fêmeas prenhes ao começo da estação de monta. Em função disto foi escolhida uma propriedade para demonstrar o efeito do tratamento hormonal com Cronipres® Monodose em protocolos de IATF em primíparas. A propriedade escolhida, após consulta ao Dr. Antônio Pereira – médico veterinário foi à fazenda São Pedro em Uruguaiana/RS, pertencente ao Grupo GAP, empresa esta com um século de tradição e pioneirismo, sendo no cenário da pecuária nacional um modelo em seleção e comercialização de reprodutores de raça. 15
OBJETIVO O objetivo do presente trabalho foi avaliar, na distinta propriedade, a influência da concentração de progesterona de um dispositivo contendo 0,558g de progesterona (P4) na taxa de concepção de fêmeas Brangus primíparas submetidas a protocolo hormonal para Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF). Os tratamentos hormonais com progesterona têm sido utilizados para conseguir prenhez em vacas em anestro no pós-parto recente. Sendo que alguns estudos indicam que altos níveis de P4 plasmática diminuem a pulsatilidade de LH e, consequentemente, o crescimento folicular. Isto diminuiria a eficiência dos protocolos para IATF que se baseiam na utilização de dispositivos intravaginais contendo P4. Principalmente em fêmeas com porcentagem de sangue zebuíno.
2 o produto da Biogénesis-Bagó contendo 0,558g de progesterona. O protocolo de sincronização adotado foi o já utilizado na propriedade, sendo a única variável nos protocolos o tipo de dispositivo utilizado. Sendo que no Dia 0, todos receberam 2mg de Benzoato de Estradiol (BE) IM e um DIV P4 de acordo com o grupo que pertenciam (lote 1 ou lote 2). No Dia 7, receberam meia dose de prostaglandina (PG) IM. No Dia 9, o DIV P4 foi removido e aplicou-se 0,5 mL de Cipionato de Estradiol (CE) IM e foi feito desmame interrompido até a IATF. A IATF foi realizada 54 horas após a remoção do DP4. Para uniformizar os resultados, nas fêmeas que apresentavam CC igual a 2,5 foi administrada uma dose de 300 UI de eCG (PMSG), em ambos os grupos do estudo no momento da retirada dos dispositivos. Após a sincronização e IATF das fêmeas, o diagnóstico de gestação foi realizado por toque retal em data previamente estipulada.
MATERIAIS E MÉTODOS RESULTADOS No ensaio realizado utilizaram-se 112 fêmeas primíparas Brangus lactantes (50 – 70 dias pós parto) mantidas a pasto em Uruguaiana-RS, com uma condição corporal entre 2,5 a 4,5 (escala 1 a 5), randomizadas conforme a condição corporal (CC). Após a separação dos lotes com base na CC, optou-se por utilizar no lote 1 o dispositivo de P4 de 1,9g de progesterona previamente utilizado por 9 dias (DIV 1,9g de 2º Uso), e no lote
16
O diagnóstico de gestação foi realizado por toque retal em 30/11/2009, sendo os resultados apresentados no quadro abaixo: Outro dado observado no presente trabalho foi a influencia da CC das fêmeas no momento da sincronização em elação à prenhez:
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
Tabela 1. Taxas de prenhez em primíparas Brangus tratadas com distintos dispositivos de P4.
Lote 1* Dispositivo de progesterona contendo 1,9g previamente utilizados por 9 dias. Lote 2** Dispositivo Cronipres® Monodose contendo 0,558g de progesterona.
Tabela 2: Taxa de prenhez conforme condição corporal ao protocolo.
CONCLUSÕES Conclui-se que o dispositivo contendo 0,558g de P4 avaliado, resultou em taxa de prenhez superior ao do dispositivo em uso na propriedade. Os resultados obtidos com o uso do dispositivo de 0,558g de P4, não diminuíram a pulsatilidade de LH e, consequentemente, o crescimento folicular das primíparas Brangus após a sincronização hormonal, resultando em maior taxa de prenhez (Tabela1). O efeito benéfico da implementação de um programa deste tipo depende, em grande parte, de um bom manejo nutricional e sanitário dos animais, como ficou demonstrado na Tabela 2. Sendo a Condição Corporal (CC) um dos fatores determinantes parar aumentar a taxa de prenhez, deve ser ela maior que 2,5 (em uma escala 1 a 5) no momento de se iniciar um tratamento de sincronização para obterem-se bons resultados. Agradecimentos Ao Dr. Antônio Pereira, Fazenda São Pedro, Uruguaiana, RS; GAP Genética; e a todos os funcionários da propriedade e outros profissionais e técnicos que colaboraram na execução deste trabalho. Apoio Biogénesis-Bagó Saúde Animal Ltda. A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
BIBLIOGRAFIA AERTS JMJ BOLS PEJ Ovarian follicular dynamics. A review with emphasis on the bovine species. Part II: Antral development, exogenous influence and future prospects . Reproduction in Domestic Animals, v.45 n.1, p.180 – 187, 2010. ANDERSON, L.H. et al. Progestin-induced puberty and secretion or luteinizing hormone in heifers. Biology of Reproduction, v.54, p. 1025-1031, 1996. BO, G.A. et al. Sincronizacion de la emergência de la onda folicular y la ovulación em animales tratados com progestagenos y diferentes esteres de estradiol. IN: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE REPRODUÇÃO ANIMAL APLICADA, 2, 2006, Londrina. Anais... São Paulo: USP, 2006. p. 71-84. COLAZO, M. G. et al. Fertility in beef cattle given a new or previously used CIDR insert and estradiol, with or whithout progesterone. Anim. Reprod. Sci., v. 81, p. 25-34, 2004. GEARY, T.W. et al. Ovarian and estrous response of sucked beef cows to select synch synchronization of estrous protocol. Prof. Anim. Sci., v. 16, p.1-5, 2000. MARTINEZ, M. F. et al. The use of a progesterone-releasing device (CIDR-B) or melengestrol acetate with GnRH, LH, or estradiol benzoate for fixed-time AI in beef heifers. J. Anim. Sci., v. 80, p.1746–1751, 2002. NOGUEIRA, G.P. Puberty in South American Bos indicus (Zebu) cattle. Animal Reproduction Science, v.82-83, p. 361-372, 2004. THATCHER, W.W.; BARTOLOME, J.A. Uso do protocolo Heatsynch para inseminação em tempo fixo (IATF) e ressincronização em vaca leiteiras em lactação. VIII Curso Novos Enf. na Prod. e Reprod. de Bov., p. 215-224, Uberlândia, 2004. THATCHER, W.W. et al. Effects of hormonal treatments on reproductive performance and embryo production. Theriogenology, v.25, p.75-89, 2001. RASBY, R.J. et al. Luteal function and estrus in peripubertal beef heifers treated with an intravaginal progesterone releasing device with or without a subsequente injection of estradiol, Therigenology, v. 50, p. 55-63, 1998. WRIGHT, P.J.; MALMO, J. Pharmacologic manipulation of fertility. Appl. Food Anim.Pract., v.8, p. 57-89, 1992.
Summary Cyclicity induction and pregnancy rate in Brangus primipara cows through the use of hormonotherapy R. L. Gonçalves et al. This piece of work aimed at assessing the use of a progesterone intravaginal device (DP4) which contained 0,558g in comparison with the use of another progesterone intravaginal device that contained 1,9g and which had been previously used along 9 days. It studied how it affected pregnancy rates in Brangus primipara cows, which had been submitted to fixed time insemination. The research used Brangus primipara cows which were kept in fields during lactation (from 50 to 70 days after birth). The pregnancy diagnosis was carried out through rectal touch. According to the results obtained in this study, one can reach the conclusion that the IVD containing 0,558g of P4 resulted in a higher pregnancy rate in comparison to the IVD containing 1,9g of P4 which had been used for 9 days. The results that were obtained through the use of 0,558g of P4 IVD did not reduce LH pulsatility nor - consequently - the folicular growth of Brangus primipara cows during lactation after hormonal synchronization, resulting in a higher pregnancy rate. 17
Impacto da castração cirúrgica no ganho de peso e estado clínico de bovinos de corte
No período de março a maio de 2010 foram castrados 500 bovinos em quatro propriedades, sendo três localizadas no estado de Minas Gerais e uma em Goiás. Os bovinos foram castrados de acordo com o procedimento de rotina realizado em cada propriedade. Nos dias D0 (castração) e D+28 efetuou-se a pesagem dos animais e nos dias D+7 e D+28 avaliaram-se as complicações após a castração. Após as avaliações nas quatro propriedades, os dados foram agrupados e constatou-se: 14,8% de miíase, 1,8% de hemorragia, 3,8% de funiculite, 5,4% de abscesso, 1,6% de granuloma e 0,4% de óbito. Em todas as propriedades houve impacto no ganho de peso nos primeiros 28 dias após a castração, a Fazenda II foi a que teve maior impacto, 34,57% dos animais perderam peso nesse período.
F. S. R.CARVALHO1, C. R. SILVA2 , F. HOE3
INTRODUÇÃO MATERIAL E MÉTODOS RESULTADOS E DISCUSSÃO CONCLUSÃO
INTRODUÇÃO
1
Francisco de Sales Resende Carvalho, Prof. Dr. PhD., Professor de Clínica de Equinos e Ruminantes da Faculdade de Medicina Veterinária-FAMEV, Universidade Federal de Uberlândia - UFU, Uberlândia, MG, BRASIL. 2 Carlos Roberto da Silva, Msc., M.V. Pesquisador da Gaia Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde Animal Ltda, Uberlândia, MG, BRASIL. carlosroberto@gaiasaudaenimal.com.br 3 Fernanda Hoe, Msc., M.V. Gerente de Produto, Pfizer Saúde Animal, Unidade Bovinos, São Paulo, SP, BRASIL. 18
Ao longo da história, os animais de produção vêm sendo submetidos à castração por uma série de motivos. O procedimento reduz os problemas de manejo relacionados à agressividade e ao comportamento sexual, além de reduzir a incidência dos cortes de carne escurecidos e sem acabamento de gordura adequado. Bovinos machos inteiros tendem a produzir carne de pior qualidade com menor espessura de gordura e maior incidência de DFD (carne seca, dura e escura). De acordo com a região do país e a época do ano, carcaças de bovinos inteiros podem ter remuneração menor e menor aceitação pelos consumidores quando comparadas as de bovinos castrados.
A decisão de castrar bovinos está relacionada com a exigência da indústria frigorífica, a qual associa sua demanda à necessidade do mercado (Feijó, 1998). A idade preconizada para castração varia desde o nascimento do bezerro até poucos meses antes do abate (Pereira et al., 1977; Moraes, 1982; Restle et al., 1994). Hoje, a maior restrição ao abate de animais inteiros vem dos frigoríficos que consideram as carcaças desses animais inferiores as dos castrados apesar de alguns trabalhos de Restle et al. (1994b), Feijó & Euclides Filho (1998) e Feijó et al. (1998) terem demonstrado que é possível abater animais inteiros com carcaças de qualidade. As técnicas mais utilizadas na pecuária brasileira têm sido: castração com duas incisões laterais na bolsa escrotal, castração com a remoção do ápice do escroto e castração com o burdizzo (Dietz et al., 1985). Há poucos estudos na literatura que tenham quantificado as complicações decorrentes da castração. De acordo com Silva et al., 2001, dentre as diversas complicações que podem ocorrer após a castração, como edema, miíases, retenção de
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
coágulos, hemorragia e granuloma, as duas últimas são as de menor ocorrência (Silva et al., 2001). Diante da relevância da temática e suas implicações na saúde animal, o objetivo do presente trabalho foi o de avaliar o impacto da castração cirúrgica no ganho de peso nos primeiros 28 dias após o procedimento e o impacto no estado clínico do animal, quantificando as principais complicações que ocorrem após a castração em bovinos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO A ocorrência de complicações após a castração está apresentada individualmente por fazenda nos Gráficos de 1 a 4. Nestes gráficos pode-se verificar que as complicações encontradas variaram entre as propriedades e foram influenciadas pelo tipo de manejo utilizado no momento da castração e durante o acompanhamento do processo cicatricial.
MATERIAL E MÉTODOS Para realização do estudo foram selecionadas 4 propriedades, Fazenda da Serra - I, Uberaba, Minas Gerais, Fazenda Pontal - II, Uberlândia, Minas Gerais, Fazenda Cruzeiro do Sul -III, Uberaba, Minas Gerais e Fazenda Bom Sucesso - IV, Pontalina, Góias. Os bovinos foram selecionados de acordo com o cronograma de castração de cada propriedade. O estudo foi realizado no período de Março a Maio de 2010. Nas quatro propriedades foram castrados no total 500 bovinos, utilizando técnicas de castração por ablação (Figura 1) ou incisão lateral da bolsa escrotal (Figura 2) conforme Tabela 1. Os bovinos participantes foram submetidos à avaliação do estado geral, pesagem e castração no D0 (início do estudo). Posteriormente no D+7 (sete dias após a castração) os animais foram avaliados quanto ao processo de cicatrização das feridas cirúrgicas e, nesta data, foi verificada a presença de miíases, hemorragias, edemas, funiculites, abscessos e mortalidade. No D+28 (vinte oito dias após a castração) as feridas foram avaliadas novamente de acordo com os critérios supracitados, e os animais foram pesados novamente para avaliar o ganho e/ou a perda de peso após a castração. Os dados obtidos após avaliação das complicações póscastração foram transformados em percentagem, e a avaliação de peso foi medida pela diferença de peso entre o dia da castração (D0) e 28 dias após (D+28).
Gráfico 1 – Ocorrência de complicações no D+7 e D+28 póscastração na Fazenda I, no período de Março a Abril de 2010, correspondendo a um total de 186 animais castrados.
Gráfico 2 – Ocorrência de complicações no D+7 e D+28 póscastração na Fazenda II, no período de Março a Abril de 2010, correspondendo a um total de 81 animais castrados.
Na fazenda I a principal complicação observada foi o óbito de um animal devido à hemorragia severa constatada na necropsia (Gráfico 1). No momento da castraTabela 1 – Fazenda, número de animais castrados, raça, idade e tipo ção foi aplicado larvicida em pó para prevenção de técnica de castração utilizada em cada propriedade. de bicheiras. Dentre as 4 fazendas, a incidência de miíase apresentou a maior ocorrência na Fazenda II, 50,6%, onde não foi utilizado nenhum produto sistêmico ou local para prevenção de bicheiras no momento da castração (Gráfico 2). Foi efetuada a aplicação do produto Dectomax® (Pfizer Saúde Animal) três dias após a castração em todos os animais, e larvicida em pó nos animais que apresentaram miíase nos dias de avaliação. Esta aplicação pode ser considerada tardia, uma vez que no terceiro dia pós-castração as bicheiras já estavam instaladas e já havia ocorrido contaminação da ferida cirúrgica, sendo que este quadro foi responsável também pelas demais complicações visualizadas nesta propriedade, tais como abscesso e funiculite. Além do alto índice de miíase, um animal veio a óbito nesta propriedade devido ao tétano. Na fazenda III poucas complicações foram observadas, sendo a miíase a mais comum Figura 2 - Incisão lateral da Figura 1 – Método de ablação bolsa escrotal (7,43%) (Gráfico 3). No momento da castração
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
19
foi aplicado localmente larvicida em pó para prevenção de bicheiras e os animais que apresentaram miíase nas avaliações subseqüentes também receberam tratamento local com o mesmo produto.
Gráfico 3 – Ocorrência de complicações no D+7 e D+28 póscastração na Fazenda III, no período de Março a Abril de 2010, correspondendo a um total de 148 animais castrados.
A Fazenda IV difere das demais, uma vez que a complicação mais frequente foi a funiculite 20,0% (Gráfico 4). A alta incidência de funiculite nesta fazenda pode ser explicada pelo manejo adotado na castração. Nesta propriedade um equipamento caseiro semelhante a uma bomba utilizada para colocar veneno em formigueiros foi utilizada para introduzir o produto larvicida diretamente na bolsa escrotal dos animais. O equipamento provavelmente se contaminou pelo contato com o chão e pela ausência de desinfecção entre um animal e outro, levando à contaminação da ferida cirúrgica e ao desenvolvimento da funiculite.
Gráfico 4 – Ocorrência de complicações no D+7 e D+28 póscastração dos bovinos na Fazenda IV, no período de Abril a Maio de 2010, correspondendo a um total de 85 animais castrados.
Ao relatarmos a ocorrência de abscesso, verifica-se que os índices mais altos foram encontrados na Fazenda II 13,58% (n=11), e na Fazenda IV 15,20% (n=13). É interessante pontuarmos que houve maior incidência de miíase na Fazenda II, e uma das maiores incidências de abscesso que está diretamente relacionado à contaminação causada pelas miíases. Na Fazenda IV ocorreu a maior incidência de abscessos, devido provavelmente ao uso do equipamento para colocação de larvicida em pó, que inicialmente causou funiculite e posteriormente abscessos. Ou seja, os dois tipos de manejo utilizados nas Fazendas II e IV propiciaram aumento de infecções nas feridas cirúrgicas que levaram a maior incidência de abscesso e funiculite. 20
No Gráfico 5 estão apresentados os dados agrupados das quatro propriedades e mais uma vez fica evidente que a complicação mais frequente foi a miíase 14,8% (n=74) e a de maior prejuízo o óbito 0,4% (n = 2).
Gráfico 5 - Ocorrência de complicações no D+7 e D+28 póscastração de 500 bovinos em quatro propriedades no período de Março a Maio de 2010. Pádua et al. (2003) avaliaram 63 bovinos submetidos à castração por incisão lateral (n = 21), incisão por ablação (n = 21) e burdizzo (n = 21). Após avaliação os autores constataram que as complicações mais frequentes foram edema e miíase em todos os métodos de castração adotados. Silva et al. (2003) após castrarem 240 bovinos, observaram 0,75% de óbitos, o que corrobora com o índice encontrado no presente estudo. Em outro estudo, Silva et al. (2009) após castrarem 168 animais utilizando técnicas de castração com incisão lateral e ablação (incisão transversal), e efetuando hemostasia com braçadeira de nylon observaram: 14,28% de miíases, 8,92% de abscessos, 8,13% de funiculite, 2,97% de granuloma e 1,19% de hemorragia. Estes achados corroboram com os dados do presente estudo. Na Tabela 2 é apresentado o ganho de peso médio nos primeiros 28 dias após a castração em cada propriedade. Observa-se que não houve ganho de peso nesse período nas fazendas I e II, e houve um ganho de peso muito pequeno nas fazendas III e IV. Na Fazenda I verificou-se que 52 animais (27,96%) perderam peso durante os 28 dias de avaliação, sendo que destes apenas 9 tiveram complicações após a castração. Na Fazenda II, 28 animais (34,57%) perderam peso, sendo que, destes, 21 apresentaram algum tipo de complicação. Na Fazenda III constatou-se que 30 animais (20,27%) perderam peso, sendo que, destes, 6 tiveram complicações durante o período observacional. A Fazenda IV foi a que apresentou menor impacto no ganho de peso, apenas 11,76% (n = 10) dos animais perderam peso, e, destes, apenas 3 tiveram algum tipo de complicação pós-castração. Com base nesses dados pode-se constatar que muitos animais que não apresentaram complicação após a castração apresentaram perda de peso, ou seja, o impacto da castração não se restringiu apenas às ocorrências clínicas (míiases, abscessos, hemorragias, etc), mas também afetou o ganho de peso dos animais. É importante ressaltar que, na época da realização do estudo, a qualidade das pastagens em todas as propriedades estava boa, portanto a perda de peso está diretamente relacionada à castração e às complicações e estresse ocasionados por ela. A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
rendimento de carcaça de bovinos azebuados em regime de pasto. Arquivo da Escola de Veterinária da UFMG, v.29, n. 1, p. 77-78, 1977. RESTLE, J.; GRASSI, C.; FEIJÓ, G.L.D. Evolução do peso de bovinos de corte inteiros ou castrados em diferentes idades. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.29, n.10, p.16311635, 1994a. RESTLE, J.; GRASSI, C.; FEIJÓ, G.L.D. Características de carcaças de bovinos de corte inteiros ou castrados em diferentes idades. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.29, n.10, p.1603-1607, 1994b. RESTLE, J.; GRASSI, C. Efeitos da idade de castração, sobre as características de carcaça de bovinos de corte. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 28., 1991, João Pessoa. Anais... João Pessoa: SBZ, 1991a. p.240. RESTLE, J.; GRASSI, C. Efeitos da idade de castração, sobre as características de carcaça de bovinos de corte. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 28., 1991, João Pessoa. Anais... João Pessoa: SBZ, 1991b. p.421. SILVA, L. A. F.; FILHO, P. R. L. V.; ALMEIDA, C. F.; RABELO, R. E.; FIORAVANTI, M. C. S.; EURIDES, D. Complicações pósoperatórias em bovinos submetidos a duas técnicas de orquiectomia. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE BUIATRIA, 4., 2001, Campo Grande. Anais... Campo Grande, 2001. p. 140. SILVA, L. A. F.; VIANA FILHO, P. R. L.; VERISSIMO, A. C. C.; SILVA, E. B.; SILVA, O. C.; PÁDUA, J. T.; RABELO, R. E.; TRINDADE, B. R.; SOUSA, J. N. Efeito da estação do ano, da idade, do método de contenção e da técnica cirúrgica na recuperação clínica e no ganho de peso de bovinos submetidos a orquiectomia. Rev. Bras. Saúde Prod. An., v.4, n.1, p. 18-29, 2003. SILVA, L. A. F; COSTA, A.C.; SOARES, L.K., BORGES, N.C., FERREIRA, J.L.; CARDOSO, L.L. Orquiectomia em bovinos empregando abraçadeira de náilon na hemostasia preventiva: efeito da estação do ano, método de contenção e técnica cirúrgica. Ciência Animal Brasileira, v. 10, n. 1, p. 261-270, jan./mar. 2009
Tabela 2 – Médias de peso no D0 (castração) e no D+28, ganho de peso médio nos primeiros 28 dias após a castração, e percentagem de animais do lote que perderam peso em cada propriedade durante o período experimental.
CONCLUSÃO De acordo com os dados do presente estudo, a miíase foi a complicação mais frequentemente observada após a castração, e o óbito certamente a ocorrência de maior prejuízo. A ocorrência de complicações foi relacionada ao manejo de cada fazenda, à assepsia e ao uso de produtos veterinários para prevenção de miíases e outras complicações. O manejo, a higiene e o acompanhamento dos animais pós-castração podem ter influenciado na ocorrência de mortalidade. Apesar dos prejuízos associados com a castração como o gasto de tempo da mão de obra para realizar a castração e curar possíveis complicações após a castração, perda de peso dos animais devido ao estresse e às complicações que surgem após este procedimento, gastos com medicamentos, risco de óbito, etc., a castração de bovinos traz uma série de benefícios, principalmente relacionados ao comportamento mais calmo dos animais e melhoria de qualidade de carcaça em relação a bovinos inteiros criados nas mesmas condições. Portanto, a adoção de um manejo adequado na castração é essencial para minimizar os prejuízos associados com esta prática. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA DIETZ, O.; SCHAETZ, F.; SCHLEITER, H.; TEUSCHER, R. Operaciones y anestesia de los animales grandes y pequeños. 2. ed. Zaragoza: Acribia, 1985. 165p. FEIJÓ, G.L.D.; THIAGO, L.R.L.S.; SILVA, J.M. da; PORTO, J.C.A.; KICHEL, A.N. Efeitos do Convert H® e de dois grupos genéticos sobre o desempenho de bovinos confinados. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 35., 1998, Botucatu. Anais... Botucatu: SBZ, 1998. v.1, p.32-34. FEIJÓ, G.L.D.; EUCLIDES FILHO, K. Efeito de diferentes sistemas de produção sobre as características das carcaças de bovinos de dois grupos genéticos. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 35., 1998, Botucatu. Anais... Botucatu: SBZ, 1998. v.4, p.659-661. MORAES, G. V. Efeito da idade de castração sobre o crescimento e características de carcaça de bovinos. 1982. 141 f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 1982. PÁDUA, J. T.; OLIVEIRA, M. P.; SILVA, L. A. F.; VIEIRA, L. S.; FIGUERÊDO, E. J.; MORALES, D. C. S. P. Efeito de métodos de castração e do uso de vermífugos sobre o ganho em peso de bovinos mestiços leiteiros. Ciência Animal Brasileira, v.4, n.1, 2003. PEREIRA, J. C. C.; RIBEIRO, R. M. P.; VAL, L. J. L. Efeito da idade e do método de castração sobre o desenvolvimento ponderal e A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
Summary Impact of surgical castration on weight gain and clinical status of beef cattle F. S. R. Carvalho et al. In the period from March to May 2010, 500 bovines were castrated at four farms, three farms located in the state of Minas Gerais and one farm in Goiás. Animals were castrated according to the standard procedure of each farm. At Day 0 (castration) and Day +28 body weight measures were taken and at days D+7 and D +28 post-castration complications were evaluated. The evaluations from the four farms were grouped and resulted in: 14.8% of myiasis, 1.8% of bleeding, 3.8% of funiculitis, 5.4% of abscess, 1.6% of granuloma and 0,4% of death. In all farms it was observed an impact on weight gain in the first 28 days post-castration, Farm II showed the greatest impact, 34,57% of the animals lost weight in this period. 21
22
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
23
HV Internacional Zilah Cheuiche – Médica Veterinária, Redatora de A Hora Veterinária, Porto Alegre, RS, BRASIL. e-mail: -zilahcheuiche@terra.com.br
Extensão Rural a distância aproxima Estados Unidos e Iraque A quase 7.000 quilômetros de distância, um grupo de veterinários da Universidade de Michigan (EUA) orienta veterinários e agricultores iraquianos para a reconstrução da indústria alimentar do país. Fomentar a pecuária, adotar novas tecnologias e educar os seus agricultores e produtores são os objetivos do projeto. Para um país devastado por décadas de guerra, opressão política e gestões mal sucedidas, o processo de reconstrução pode ser assustador, especialmente se as necessidades básicas não serão atendidas. Esta é a maior preocupação do líder do projeto, Robert Malinowski, diretor do Centro de Informação Tecnológica da Faculdade de Medicina Veterinária de Michigan. Segundo ele, o Iraque ainda está em desordem, e o povo tem necessidade urgente de reconstruir sua infra-estrutura. A maioria das pessoas pensa em estradas, esgotos e comunicações, quando se trata de infra-estrutura, porém o alimento para o gado e a indústria de ciência animal têm igual importância neste processo. Ann Rashmir, professora associada com a Faculdade de Medicina Veterinária trabalhando ao lado de Malinowski sobre o projeto, acrescentou: “Um país que busca a estabilidade tem de ser capaz de se alimentar.” O projeto está sendo financiado pelo Departamento de Agricultura dos EUA e a MSU está trabalhando com duas associações iraquianas, uma delas é a Red Meet Iraque Association, uma organização não governamental que pretende desenvolver, organizar e preservar as atividades em relação à produção de carne vermelha. Também auxilia na organização do Sindicato dos Médicos Veterinários do Iraque. O contato entre os especialistas é feito através de teleconferência via
Robert Malinowski
Ann Rashmir
internet e acontece em dois sábados do mês. Os temas vão de gestão agrícola, nutrição animal, doenças, biossegurança e técnicas modernas de criação. Tradutores de Bagdá intermediam as palestras que têm duração média de 2 horas. Desde 1980, houve diminuição no número de ovinos no país em 44%, 11% de perda no rebanho bovino e 20% de bubalinos, de acordo com a Nações Unidas. A pecuária do Iraque tem necessidade de revitalização e melhoria, a fim de recuperar os níveis anteriores de produtividade. O projeto está previsto para durar 12 meses, com uma extensão potencial de seis meses. Malinowski disse que seus colegas iraquianos estão ansiosos para aprender. Sente que podem fazê-los acelerar muito rapidamente. Não se trata de falta de vontade ou habilidade, é preciso acesso as ferramentas para ter sucesso.
Serviço de Vigilância Veterinária da Rússia identifica problemas em amostras de carne suína brasileira O Serviço Federal de Vigilância Veterinária e Fitossanitária da Federação Russa (Rosselkhoznadzor) decidiu suspender temporariamente as importações da carne suína de uma das unidades da Sadia, em Uberlândia, Minas Gerais. A decisão é válida para lotes enviados a partir da primeira semana de dezembro. A medida foi tomada no dia 23 de novembro e está disponível no site do órgão (www.fsvps.ru). As compras de carne de empresas da Alemanha e da França também foram suspensas. Segundo o documento, exames de rotina identificaram substâncias proibidas e nocivas em produtos de origem animal enviados à Rússia. Foi encontrada salmonela em amostras de carne suína proveniente de uma unidade da Sadia, em Uberlândia. A decisão de liberar os lotes dependerá do controle laboratorial obrigatório, segundo afirmou, em nota, o ser24
viço federal veterinário russo. A Sadia informou que não foi comunicada oficialmente sobre a suspensão e que todas as medidas necessárias para que as autoridades russas reavaliem a decisão serão tomadas pela companhia. Além de Uberlândia, a Sadia possui outras duas fábricas habilitadas a exportar para o mercado russo, motivo pela qual não haverá qualquer tipo de impacto em suas vendas externas para aquele mercado. A empresa afirma que possui rígidos controles internos de qualidade, com produtos inspecionados pelo Ministério da Agricultura. A Sadia hoje é uma subsidiária da BRF - Brasil Foods, porém ainda atua separada da BRF enquanto aguarda a aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) da fusão das duas companhias. A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
25
Avaliação de parâmetros seminais e fertilidade em garanhões da Raça Crioula
O potencial de fertilidade do garanhão varia individualmente de acordo com a qualidade do sêmen, cuja avaliação envolve diversas técnicas. O objetivo deste estudo foi analisar parâmetros seminais de garanhões da raça crioula relacionandos com índices de fertilidade in vivo. Foram avaliados motilidade, integridade de membrana e acrossoma dos espermatozóides e índice de prenhez por ciclo. Os valores de motilidade diferiram entre os garanhões (P<0,05), enquanto a integridade de membrana, acrossoma e prenhez por ciclo não foram diferentes (P>0,05). Os resultados do presente estudo reafirmam a subjetividade da análise isolada da motilidade e destacam a importância da utilização de técnicas objetivas e de alta sensibilidade para determinar viabilidade espermática e potencial de fertilização.
F. P. HARTWIG1, L. ANTUNEZ1, I. BIANCHI2, B. R. CURCIO2 , C. E. W. NOGUEIRA2
INTRODUÇÃO METODOLOGIA RESULTADOS E DISCUSSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS
INTRODUÇÃO 1
Felipe Hartwig, Acadêmico em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Pelotas, RS, BRASIL. 1 Lucas Antunez, Acadêmico em Medicina Veterinária da UFPel, Pelotas, RS, BRASIL. 2 Ivan Bianchi, Professor adjunto da Faculdade de Medicina Veterinária da UFPel, Pelotas, RS, BRASIL. 2 Bruna Curcio, Professora adjunta da Faculdade de Medicina Veterinária da UFPel, Pelotas, RS, BRASIL. 2 Carlos Eduardo Wayne Nogueira, Professor adjunto da Faculdade de Medicina Veterinária da UFPel, Pelotas, RS, BRASIL. 26
A espécie equina, sob condições naturais, apresenta menores taxas de fertilidade em relação às demais espécies de animais domésticos. Portanto, é evidente a necessidade do avanço em biotecnologias reprodutivas, com maior enfoque na avaliação de potencial reprodutivo, diagnóstico de distúrbios reprodutivos, bem como no avanço de novas terapias. O garanhão deve apresentar potencial de fertilidade in vivo e in vitro o que varia individualmente de acordo com a qualidade do sêmen1. A avaliação da fertilidade em garanhões, com base na morfologia espermática e motilidade, utilizando microscopia de luz, é realizada há muitos anos. Este tipo de exame desempenha um papel importante no estabeleci-
mento dos padrões normais de fertilidade nesta espécie4,5. No entanto, a correlação da fertilidade de um garanhão com o resultado de um único teste laboratorial não é alta quando comparada à utilização de múltiplos testes6. A avaliação do sêmen inicia logo após a coleta: volume, coloração, viscosidade e aspecto do ejaculado são parâmetros macroscópicos avaliados. Ainda, imediatamente após a coleta, são analisados a motilidade e o vigor espermático. Posteriormente, após colorações específicas e/ou diluições são avaliadas morfologia celular e concentração espermática. Ainda podem ser avaliadas características funcionais como: integridade de membrana plasmática, integridade de acrossoma, integridade de DNA. A avaliação dessas características envolve técnicas de microscopia óptica, microscopia de contraste de fase, microscopia de fluorescência, entre outras. Os corantes fluorescentes proporcionam avaliações mais objetivas das células espermáticas em relação aos métodos de coloração para microscopia óptica3. As células espermáticas coradas com
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
fluorescência podem ser avaliadas tanto nos aspectos morfológicos como funcionais sem a interferência do meio extracelular2. A membrana plasmática e o acrossoma do espermatozóide, em especial, estão diretamente envolvidos no processo de fertilização do oócito. Portanto, alterações tanto na membrana plasmática quanto no acrossoma do espermatozóide são relevantes no que diz respeito ao poder fecundante destas células e com consequente influência na fertilidade do garanhão8. O objetivo do presente estudo foi o de analisar os parâmetros morfofuncionais espermáticos, através de técnicas de microscopia óptica e microscopia de fluorescência, e a fertilidade in vivo de garanhões da Raça Crioula através das taxas de prenhez por ciclo.
através de lâmina corada com a coloração de Ceróvscky. Foi utilizada microscopia de fluorescência para avaliação da integridade de membrana (Carboxifluoresceína e Iodeto de Propídio- CFDA e IP - Figura 1) e integridade de acrossoma (FITC – IP - Figura 2). Os índices de fertilidade foram avaliados através da taxa de prenhez por ciclo. Foram monitoradas 44 éguas em sistema de monta natural dirigida. A média de idade das éguas foi de oito anos. Não houve diferença significativa entre a idade das éguas destinadas a cada garanhão (P > 0,05). Para avaliação estatística foi utilizada análise de variância, com comparação entre médias através do teste LSD, através do software STATISTIX®. RESULTADOS E DISCUSSÃO
METODOLOGIA Foram avaliados oito ejaculados de cada garanhão durante a estação de monta da temporada reprodutiva 2009/2010. Foram utilizados dois garanhões que se apresentaram clinicamente saudáveis e em bom estado corporal, durante toda estação de monta. As amostras utilizadas foram diluídas com diluente comercial Botu-Sêmen® na fração 3:1 (três partes de diluente para uma parte de sêmen) e acondicionadas em um recipiente comercial Botu-Box® para refrigeração e manutenção a 15°C. O sêmen era mantido por, no mínimo, 4 horas antes do início das análises, para que fosse completada a curva de resfriamento. Os parâmetros seminais analisados foram: volume do ejaculado, motilidade espermática, vigor, concentração espermática, número total de células por ejaculado, morfologia, integridade de membrana plasmática e integridade de acrossoma. As avaliações de motilidade e vigor foram realizados por microscopia óptica (400 x). A concentração espermática foi mensurada através de contagem em câmara de Neubauer. A morfologia espermática foi analisada em microscopia óptica
Na análise morfológica, o garanhão A obteve média de 75% de células normais, o garanhão B apresentou a média de 73% de células normais (P > 0,05). Quando se avalia a morfologia espermática, garanhões sadios apresentam média de 54% de espermatozóides normais, enquanto indivíduos subférteis apresentam média de 37% de células normais7. Os garanhões do presente estudo demonstraram índice de espermatozóides morfologicamente normais superiores à média descrita para indivíduos férteis. A concentração espermática média do garanhão A foi de 220 x 106/ml e de 113 x 106/ml para o garanhão B (P < 0,05) e o número total médio de células por ejaculado foi de 4,5 x 109 para o garanhão A e 3,5 x 109 para o garanhão B. Em um estudo em garanhões da Raça Crioula a concentração espermática média foi de 101 x 106/ml e o número total de células foi de 6,1 x 109 por ejaculado9. Os dados encontrados no presente estudo estão abaixo do descrito anteriormente para a raça, porém valores de concentração espermática variam drasticamente por vários fatores, desde a idade dos animais, como o intervalo entre as ejaculações.
Figura 1. Análise de integridade de membrana por sonda CFDA eIP.
Figura 2. Análise de integridade de acrossoma por sonda FITC -IP.
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
27
Tabela 1. Integridade de acrossoma, integridade de membrana, motilidade espermática e taxas de prenhez por ciclo dos garanhões.
As médias correspondentes à integridade de membrana (CFDA e IP), motilidade espermática, integridade de acrossoma (FITC – PSA) e as taxas de prenhez por ciclo dos garanhões estão descritos na Tabela 1. De acordo com os resultados do presente estudo, as médias de motilidade diferiram entre os garanhões (P < 0,05). Em contrapartida, as taxas de prenhez por ciclo, bem como a porcentagem de integridade de membrana celular e de acrossoma, por microscopia de fluorescência não apresentaram diferença estatística (P > 0,05). Esses resultados reforçam a sensibilidade e objetividade das técnicas de microscopia de fluorescência na análise da viabilidade espermática. A membrana plasmática e o acrossoma do espermatozóide estão intimamente envolvidos no processo de fertilização do oócito. Portanto, integridade de membrana plasmática e de acrossoma, são características morfofuncionais relacionadas com o poder fecundante do espermatozóide. No presente estudo tal fato foi evidenciado através das altas taxas de integridade de membrana e de acrossoma acompanhadas pelos altos índices de prenhez por ciclo dos garanhões. De posse de informações a respeito das características reprodutivas de cada garanhão, viabiliza-se a otimização do potencial reprodutivo do animal visando à obtenção de melhores resultados. Além da obtenção de diagnósticos precoces e precisos em eventuais distúrbios reprodutivos, favorecendo diretamente o prognóstico para casos de sub-fertilidade ou infertilidade.
2. ERICSSON, S.A. et al. Assessment of the viability and fertilizing potential of criopreserved bovine spermatozoa using dual fluorescent staining and two-flow cytometric systems. Gamete Res. Vol. 22. p. 355. 1989. 3. GRAHAM, J.K., KUNZE, E., HAMMERSTEDT. R.H. Analysis of sperm cell viability, acrosomal integrity and mitochondrial function using flow cytometry. Biol. of Reproduc. Vol. 43. p. 55 – 64. 1990. 4. JASKO, D.J.; LEIN, D.H., FOOTE, R.H. Determination of the relationship between sperm morphologic classification and fertility in stallions: 66 cases (1987-1988). J. Am. Vet. Med. Association. Vol. 197. p. 389 – 394. 1990. 5. KENNEY, R.M., HURTING, J., PEARSON et al. Manual for breeding soundness examination of stallions. J. Soc. Theriogenology. Vol. 9. 1983. 6. PICKETT, B.W., L. C. FAULKNER, G. E. SEIDEL, Jr., W. E. BERNDTSON, J. L. VOSS. In: Reproductive physiology of the stallion. VI. Seminal and behavioral characteristics: J. Anim. Sci., v. 43, p. 617 – 625. 1976. 7. PICKETT, B.W., AMANN, R.P., MCKINNON, A.O., SQUIRES, E.L., VOSS, J.L. Management of the stallion for maximum reproductive efficiency II, Bulletin of Colorado States University, 1989, 126p. 8. SIEME, H. Semen evaluation. In: Equine Breeding management and artificial insemination. Second edition. Saunders Elsevier. 6, 57-74. 2009. 9. SUÑÉ, A. I. C. P. Características seminaisde eqüinos da Raça Crioula e fertilidade. 2001. Dissertação de mestrado em Medicina Veterinária – UFPel.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Existe a necessidade da avaliação andrológica, considerando o fato de haver vários fatores que influenciam na fertilidade do garanhão e consequentemente em um programa reprodutivo. Os resultados do presente estudo reafirmam a subjetividade da análise isolada de motilidade em relação à viabilidade espermática. Tal fato foi comprovado pelos resultados do experimento, destacando o importante papel das técnicas de análise em microscopia de fluorescência na determinação da integridade e viabilidade do espermatozóide. É de suma importância a utilização de técnicas objetivas e de alta sensibilidade na análise seminal de reprodutores. Consideramos com base nos dados do presente estudo que as técnicas aplicadas foram eficientes na análise da viabilidade espermática e potencial fecundante. Referências Bibliográficas 1. BARTH, A.D.; OKO, R.J. Abnormal morphology of bovine spermatozoa. Ames: Iowa State University Press, p.285, 1989. 28
Summary Seminal parameters and fertility evaluation in crioulos breed stallions F. P. Hartwig et al. The stallion fertility potential modified individually according to the quality of semen, whose evaluation involves several techniques. The objective of the present study was evaluated seminal parameters of crioulo breed stallions in relationship with in vivo fertility rates. Motility, membrane and acrossome integrity was analyzed. The motility values were different (P<0,05) between the stallions, however membrane and acrossome integrity and the pregnancy rates were not different (P>0,05). The results of the study showed the subjectivity of motility analysis alone and give emphasis to the application of sensibility and objective techniques in order to determinate cellular viability and potential of fertilization. A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
29
Influência da lactação e do dia de inseminação nos resultados da IATF em vacas cruzadas
Desenvolveu-se um estudo na fazenda experimental da UNESC (Colatina – ES) no mês de Junho de 2009. Partindo da utilização de um mesmo protocolo de sincronização, 54 animais divididos aleatoriamente em quatro grupos de dia de inseminação (G1 – 1º dia – 15 animais; G2 - 2º dia – 15 animais; G3 – 3º dia – 15 animais; G4 – 4º dia – 9 animais). Comparou-se a taxa de prenhez em relação ao dia de inseminação e ao estado fisiológico dos animais. Não houve diferenças entre a taxa de prenhez nos grupos de dia de inseminação após sincronização (G1 – 66%; G2 – 73%; G3 – 40%; G4 – 44%). Considerando apenas o estado fisiológico de lactação, não houve diferenças da taxa de prenhez entre vacas secas, 24% (13/54) e vacas em lactação 76% (41/54).
R. T. BELTRAME*1, A. F. CÔVRE2, H. A. PLASTER , L. A. MOSCON2, C. R. QUIRINO3 2
INTRODUÇÃO MATERIAIS E MÉTODOS RESULTADOS E DISCUSSÃO INTRODUÇÃO
1
Renato Travassos Beltrame, Doutor em Ciência Animal – UENF – Professor do Curso de Medicina Veterinária - UNESC, Colatina, ES, BRASIL. e-mail: rtbeltrame@yahoo.com.br 2 Álisson Faé Côvre, Herika de Almeida Plaster, Luiz Alexandre Moscon, Alunos do 3º período do Curso de Medicina Veterinária – UNESC, Colatina, ES, BRASIL. 3 Celia Raquel Quirino, Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias - CCTA - UENF, CEP 28.013-600, Av. Alberto Lamego, 2000 - Campos dos Goytacazes, RJ, BRASIL. 30
Na pecuária bovina, a reprodução é identificada como o mais importante fator associado com a rentabilidade, afetando diretamente o nível de produtividade de um rebanho, sendo dependente direto de fatores nutricionais, sanitários, genéticos e de um manejo adequado. As influências do ambiente sobre o fenótipo de vacas leiteiras propiciam o surgimento de problemas sérios em relação à eficiência reprodutiva, constituindo-se em um dos fatores que mais influenciam o sucesso econômico do negócio. Para eficácia do desempenho produtivo e reprodutivo, os animais devem estar gestantes no menor intervalo após o período voluntário de espera. Desta forma valores inferiores para intervalo entre partos (IEP) serão obtidos.
Uma série de problemas cada vez mais frequentes de detecção de estro e queda nas taxas de prenhez (TP) tem ocorrido. Tem-se notado ao longo dos anos que vacas, especialmente as de elevada produção leiteira, têm apresentado um aumento gradativo em problemas reprodutivos, aparentemente devido a causas multifatoriais (Lucy, 2001). Com o intuito de solucionar o problema da baixa taxa de serviço devido à ineficiência da detecção de estro, diversos protocolos hormonais estão disponibilizados no mercado. Destacam-se os protocolos que associam estrógenos e progestágenos que são utilizados para sincronizar a emergência de uma nova onda de crescimento folicular em vacas (Bó et al., 1995) possibilitando IA sem observação de estro (Rodrigues et al., 2004). A eficácia de protocolos de sincronização é variável. Os autores relatam que fatores como manejo, nutrição, temperatura, lactação, raça, ECC, dentre outros, podem influenciar os resultados (Looney et al., 2006). Neste sentido, este trabalho teve como intuito relatar o uso de um protocolo para IATF
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
em vacas cruzadas com aptidão leiteira. Apresenta como objetivo avaliar se existiram diferenças entre taxas de prenhez e dia de inseminação e taxa de prenhez e estado fisiológico das vacas em uma fazenda no município de Colatina no ES. MATERIAIS E MÉTODOS O estudo foi desenvolvido na fazenda experimental da UNESC – (Colatina – ES) no mês de Junho de 2009. Foram utilizadas vacas cruzadas com diferentes graus de sangue (Hol x Gir x Guz) apresentando escore de condição corporal médio de 3 (escala de 1 a 5) destinadas a produção de leite em regime de pastejo (Brachiaria brizanta) complementado com silagem de milho. Partindo da utilização de um mesmo protocolo de sincronização, 54 animais foram divididos aleatoriamente em quatro grupos de dia de inseminação (G1– 1º dia – 15 animais; G2- 2 º dia – 15 animais; G3 – 3º dia – 15 animais; G4 – 4º dia – 9 animais). Destes, 41 animais apresentavam-se em lactação. As vacas receberam um dispositivo intravaginal de progesterona (Primer®, Tecnopec, Brasil), associado a uma injeção de 2 mg de benzoato de estradiol (Estro-gin, Farmavet, Brasil), intramuscular. Oito dias depois, o dispositivo foi removido e injetaram-se 2 ml de D-cloprostenol (Prolise®, ARSA S.R.L., Argentina), intramuscular. Vinte quatro horas depois, foi injetado 1 mg de benzoato de estradiol, intramuscular. Realizou-se a IATF aproximadamente 48 horas após a retirada do dispositivo. A detecção do estro não foi realizada durante o experimento. A inseminação foi realizada sem observação de estro por um mesmo técnico em dias alternados. O diagnóstico de gestação foi realizado por palpação retal aproximadamente 60 dias após a data da inseminação (Pimentel, 2002). A taxa de prenhez final foi determinada pelo total de animais prenhes diagnosticados após palpação retal. Através do programa estatístico SAS for Windows (1999), foi realizado o teste do qui-quadrado (χ2) Fisher entre a taxa de prenhez em relação ao dia de inseminação e ao estado fisiológico dos animais. RESULTADOS E DISCUSSÃO Como resultado obtido do estudo, verificou-se que 57% das fêmeas apresentaram diagnóstico de gestação positivo após 60 dias de inseminadas, considerando-se vacas secas e em lactação (31/54) submetidas à IATF. Esta taxa foi próxima a encontrada por Pfeifer et al. (2005) que utilizou BE e PGF2alfa para sincronização e obteve 60% de taxa de gestação. Este valor é superior à taxa encontrada por Vasconcelos et al. (2006) que obteve 40% de taxa de gestação ao avaliar o efeito da inclusão de eCG em protocolos de IATF na concepção de vacas leiteiras mestiças. Não houve diferenças entre a taxa de prenhez nos grupos de dia de inseminação após sincronização (G1 – 66%; G2 – 73%; G3 – 40%; G4 – 44%). Considerando a utilização de um mesmo protocolo de sincronização e a proximidade em que os mesmos foram executados, os autores acreditam que os resultados encontrados foram adequados. Taxas de gestação próximas a 50% são consideradas satisfatórias por um grande número de trabalhos (Molina, 2007). Taxas inferiores a 30% A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
são observadas em vacas de alta produção (Rodrigues et al., 2005) decorrentes principalmente de estresse calórico. Embora não tenham ocorrido grandes modificações em decorrência da taxa de prenhez neste trabalho, a sincronização para IATF possibilita a redução do IEP (Intervalo Entre Partos), visto minimizar as ineficiências do processo reprodutivo. Segundo Sartori (2007), vacas com aptidão leiteira devem apresentar um IEP próximo a 13,5 meses. Entretanto, decorrente da baixa eficiência reprodutiva, tais índices são difíceis de serem atingidos diante de monta natural. Intervalos entre partos curtos aumentam a produção de leite por dia de vida útil da vaca e resultam em maior número de bezerros nascidos. Principalmente em vacas mestiças, que apresentam uma persistência de lactação mais curta (275 dias; Oliveira et al., 2004) quando comparadas a vacas taurinas (305 dias) a diminuição do IEP é uma necessidade fundamental para a sustentabilidade da empresa. Dentre as principais razões para IEP prolongados encontram-se baixa taxa de detecção de cio e, consequentemente, baixa taxa de serviço e de prenhez. Considerando apenas o estado fisiológico de lactação, não houve diferença (p>0,05) da taxa de prenhez entre vacas secas, 24% (13/54) e vacas em lactação 76% (41/54). Embora valores conflitantes ao trabalho de Sartori et al. (2002) tenham ocorrido, supõe-se que efeitos de restrições nutricionais e, consequentemente, um menor escore de condição corporal foram impostos às vacas secas no momento da IATF. Sartori et al. (2002) relatam que vacas leiteiras em lactação apresentam pobre desenvolvimento embrionário inicial se comparadas às não lactantes, assim como uma maior porcentagem de embriões degenerados (42%) comparados às vacas secas (18%) durante o verão. Outro fator que afeta negativamente a eficiência reprodutiva de vacas de leite é o estresse térmico, contribuindo para a baixa fertilidade desses animais. A ingestão adequada de nutrientes é indispensável para um bom desempenho reprodutivo em bovinos. Em uma escala de necessidades, parâmetros reprodutivos parecem ser os primeiros afetados diante de alterações nutricionais (Jones & Lamb, 2008). Normalmente, em animais de corte, o efeito do balanço energético negativo é pouco evidente visto a baixa produção de leite. Entretanto, tanto para produção de carne ou leite, os animais precisam estar com ECC ideal ao parto para demonstrar ciclo estral pós-parição e evitar um impacto negativo na reprodução. Protocolos de IATF que utilizam implantes de P4 ou progestágenos são recomendados em vacas mestiças visto que uma proporção considerável destes animais apresenta atraso no retorno à ciclicidade. Um aumento da taxa de sincronização, prevenindo a ocorrência de ciclos curtos após a IATF, na medida em que induz ciclicidade nas vacas anéstricas, pode ser obtido. Outro aspecto importante na sincronização de vacas mestiças é a antecipação em um dia da aplicação de PGF2alfa nos protocolos que associam a utilização de implante de progesterona e GnRH (Cidrsynch) (GnRH e implante de P4 – 6 dias – PGF2alfa e retira implante – 2 dias GnRH – 0 a 24 horas – IA). Utilizando-se esse protocolo, a taxa de gestação observada em vacas mestiças tem sido entre 40 e 50%. Aplicação de 200 UI de eCG no momento da retirada do implante do proto31
colo Cidrsynch parece melhorar ainda mais a fertilidade das vacas mestiças (Vasconcelos et al., 2006). A utilização de protocolos de IATF pode minimizar a ociosidade de animais e a necessidade de observação de estro. Variáveis como tipo de protocolo utilizado, estado nutricional, disponibilidade alimentar, idade, ECC podem influenciar o resultado da sincronização. Agradecimentos À Jessica Pianna Cardozo, Juliana Rossim Cardoso, alunas da UNESC e ao Médico Veterinário José Carlos.
Simpósio internacional de reprodução animal aplicada, Londrina. 2008. PFEIFER, L..F.M.; CORRÊA, M.N.; SCHMMIT, E; VIEIRA, M.B.; MADRUGA, E.Á.; RABASSA, V.R. Uso de pgf2á associado ao benzoato de estradiol para Inseminação artificial em tempofixo em vacas leiteiras. R. bras. Agrociência, Pelotas, v. 11, n. 3, p. 2005 VASCONCELOS J.L.M., MENEGHETTI M. & SANTOS R.M. 2006. Inseminação artificial em tempo fixo (IATF) em bovinos. Acta Scientiae Veterinariae. 34 (Supl 1): 9-16. SARTORI, R. Manejo reprodutivo da fêmea leiteira. Reprod Anim, Belo Horizonte, v.31, n.2, p.153-159. 2007.
Summary Referências Bibliográficas BÓ, G. A., ADAMS, G. P., CACCIA, M., MARTINEZ, M., PIERSON, R. A., MAPLETOFT, R. J., 1995. Ovarian follicular wave emergence after treatment with progestogen and estradiol in cattle. Anim. Reprod. Sci. 39, 193–204. JONES AL, LAMB GC. Nutrition, synchronization, and management of beef embryo transfer recipients. Theriogenology, 69 (2008) 107–115 LOONEY, C. R.; NELSON, J. S.; SCHNEIDER, H. J.; FORREST, D. W. Improving fertility in beef cow recipients. Theriogenology, 2006. 65(1): p. 201-209. LUCY, M.C.. Reproductive loss in high-producing dairy cattle: where will it end? Journal of Dairy Sci, v.84, p.1277-1293, 2001. MOLINA L. Fisiologia da Reprodução. Curso Rehagro, Belo Horizonte. 2007. RODRIGUES, C.A.; TEIXEIRA, A. A.; SOUZA, A. H.; FERREIRA, R. M. AYRES, H.; BARUSELLI, P. S. Fatores que influenciam o sucesso de programas de IATF em gado de leite. 3º
Lactating and day of insemination influence in the results of FTAI in crossbreed cows R. T. Beltrame et al. In June 2009 a study on the experimental farm of UNESC (Colatina - ES) was developed. Based on the use of a single synchronization protocol, 54 animals were randomly divided into four groups for days of insemination (G1- Day 1 - 15 animals; G2-Day 2 - 15 animals; G3 - Day 3 - 15 animals; G4 – Day 4 - 9 animals). We compared the pregnancy rate in relation to day of insemination and the physiological state of the animals. There were no differences between the pregnancy rate in the groups of days (G1 - 66%, G2 - 73%, G3 - 40%, G4 44%). Considering only the physiological state of lactation, there were no differences in pregnancy rate between dry cows, 24% (13/54) and lactating cows 76% (41/54).
HV Informa Médicos Veterinários são homenageados pela Assembleia Legislativa de Goiás O médico veterinário gaúcho José Luis de Freitas Leão, recebeu da Assembléia Legislativa do Estado de Goiás uma homenagem referente a comemoração ao Dia do Médico Veterinário (9 de setembro). Pela primeira vez a entidade ofereceu a comenda Legislativa “Pedro Ludovico Teixeira”, que é a maior honraria da casa. Foram homenageados veterinários de todo o Estado de Goiás. A indicação foi feita pelo Conselho de Medicina Veterinária de Goiás, e foram indicados veterinários em destaque em todas as áreas, desde fiscais agropecuários, especialistas em bovinos de corte e leite, em animais de estimação, donos de clínicas e lojas agropecuárias, autônomos, de todas as áreas de atuação. 32
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
33
Acidente ofídico em suíno – relato de caso
As serpentes do gênero Bothrops são responsáveis por 90% dos acidentes ofídicos nos animais domésticos no Brasil. Em uma granja localizada em Paraúna-GO, por ocasião de visita técnica constatou-se que uma matriz com 45 dias de gestação, em bom estado de nutrição, ausência de alterações neurológicas, apresentava extensa necrose tecidual na face e na região cervical dorsal a qual se limitava ao tecido subcutâneo e era compatível com o efeito proteolítico do veneno das serpentes do gênero Bothrops. Por ocasião da transferência para maternidade a pele na região cervical dorsal estava totalmente reconstituída. A gestação foi normal e a fêmea pariu normalmente 13 leitões que foram desmamados com 24 dias de idade.
L. M. PASCOAL1, M. R. LUCENA2, M. P. C. MATOS3, J. SOBESTIANSKY3, V. M. B. D. MOURA3
INTRODUÇÃO MATERIAL E MÉTODOS RESULTADOS E DISCUSSÃO
1
Lívia Mendonça Pascoal, Médica Veterinária, Aluna de PósGraduação da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás (EVZ/UFG), atualmente na Facultat de Veterinaria, Murcia, ESPANHA. 2 Marcos Rezende Lucena, Médico Veterinário Autônomo, Goiânia, GO, BRASIL. 3 Moema Pacheco Chediak Matos, Jurij Sobestiansky (Membro do Comitê Científico Internacional de A Hora Veterinária), Veridiana Maria Bianezi Dignani de Moura, Médicos Veterinários, Professores da Escola de Veterinária e Zootecnia, Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO, BRASIL. E-mail: soby@terra.com.br 34
INTRODUÇÃO No Brasil, a frequência de acidentes ofídicos nos animais domésticos é imprecisa, apesar da grande significância econômica. O gênero Bothrops (B) está distribuído por todo território nacional, sendo responsável por 90% dos acidentes, e habita principalmente zonas rurais, preferindo ambientes úmidos e locais onde haja facilidade para proliferação de roedores. Têm hábitos predominantemente noturnos (4). A peçonha das serpentes deste gênero possui ação proteolítica, coagulante, hemorrágica e nefrotóxica, sendo os distúrbios hemostáticos os sinais clínicos mais importantes (7) e (6). A nefrotoxicidade deve-se a ação direta do veneno sobre os rins, provocando lesão celular e, indiretamente, é causada pelo choque hipovolêmico ou por meio
de microcoágulos que provocam obstrução da microcirculação renal, levando à isquemia (2). Diferentes toxinas presentes na peçonha podem atuar sinergicamente para induzir um efeito, e uma dada toxina pode ter várias atividades (5). O presente trabalho tem o objetivo de relatar um caso de acidente ofídico, por serpente do gênero Bothrops, envolvendo uma fêmea suína em gestação de uma granja de ciclo completo. MATERIAL E MÉTODOS A granja, localizada no município de Paraúna, Estado de Goiás, região produtora de grãos, possui 150 matrizes e quatro cachaços em produção. Por ocasião de visita técnica observou-se que uma fêmea em gestação apresentava extensa lesão na face e na região cervical dorsal (Figura 1). Segundo o produtor, no passado já haviam sido registrados casos de acidentes ofídicos envolvendo serpentes do gênero Bothrops na granja, sendo normal a frequência de um caso
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
a cada um ano e meio. Neste contexto, observou-se numa baia, do setor de gestação, uma fêmea com peso de 210 kg, que apresentava alterações cutâneas na face e na região ventral do pescoço. A fêmea foi examinada clinicamente, individualmente, conforme metodologia descrita por (9).
Figura 1. Extensa necrose tecidual resultante de picada de serpente do gênero Bothrops na região ventral do pescoço em fêmea suína em gestação. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Figura 2. Reconstituição da pele na região afetada (ver Figura 1)
Figura 3. A gestação da fêmea que sofreu acidente ofídico foi normal e a fêmea pariu 13 leitões que foram desmamados com 24 dias de idade.
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
Ao exame clínico, a fêmea demonstrou bom estado nutricional, a sequência de movimentos de deslocamento era normal, ausência de alterações neurológicas e os cascos não apresentavam lesões. A extensa necrose tecidual, que usualmente limita-se ao tecido subcutâneo, mas que pode também comprometer estruturas mais profundas como tendões, músculos e ossos (5), observada neste caso, é compatível com o efeito proteolítico do veneno das serpentes deste gênero. O peso do animal provavelmente garantiu sua sobrevivência ao acidente (3), citam os trabalhos de (8) e (1), que demonstraram que a média da quantidade total de veneno fornecida por 75% das serpentes da espécie B. jararaca na primeira extração é 65mg. Segundo estes autores, para bovinos, a dose letal, tanto por via intramuscular como subcutânea, é 1,0 mg/kg; desse modo e extrapolando-se este mesmo valor para a espécie suína, essa quantidade seria suficiente para causar a morte de um animal de 65 kg. O peso do animal, 210kg, provavelmente garantiu sua sobrevivência ao acidente. Por ocasião da transferência para maternidade, a pele na região cervical dorsal estava totalmente reconstituída (Figura 2). A gestação foi normal e a fêmea pariu normalmente 13 leitões (Figura 3) que foram desmamados com 24 dias de idade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (1) ARAUJO P.; ROSENFELD G.; BELLUOMINI H.E. Toxicidade de venenos ofídicos. II. Doses mortais para bovinos. Arquivos do Instituto Biológico, São Paulo, v. 30, p. 43-48, 1963. (2) ANDARADE S. F. Manual de Terapêutica Veterinária, 2º Ed. São Paulo: Roca, p.545-547, 2002. (3) BICUDO, P. L. Envenenamento em animais domésticos causados por serpentes, artrópodes e sapos. In: CARDOSO, J.L.C.; FRANÇA, F.O.S.; WEN, F.H.; MÁLAQUE, C.M.S.; HADDAD JR., V. Animais peçonhentos no Brasil – Biologia, clínica e terapêutica dos acidentes. Ed. Sarvier/FAPESP, 468 p., 2003. (4) BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Manual de Diagnóstico e Tratamento de Acidentes por Animais Peçonhentos, 2 ed, Brasília, p.120, 2001. (5) FRANÇA, F.O.S.; MÁLAQUE, C.M.S. Acidente Botrópico. In: CARDOSO, J.L.C.; FRANÇA, F.O.S.; WEN, F.H.; MÁLAQUE, C.M.S.; HADDAD JR., V. Animais peçonhentos no Brasil – Biologia, clínica e terapêutica dos acidentes. Ed. Sarvier/FAPESP, 468 p., 2003. (6) MARUYAMA, M.; KAMIGUTI, A.S.; CARDOSO, J.L.C. et al Studies on blood coagulation and fibrinolysis in patients bitten by Bothrops jararaca (jararaca), Thromb. Haemost. v.63, p.449453,1990 (7) MÉNDEZ, M.C. Envenenamento Botrópico. In: RIETCORREA, F, MENDEZ, M.C., SHILD, A.L. Doenças dos ruminantes e eqüinos da região sul do Brasil. Editora e Gráfica da Universidade de Pelotas, Pelotas, p. 451-458, 1998. (8) ROSENFELD G.; BELLUOMINI H.E. Quantidades de veneno encontrado em serpentes venenosas do Brasil. Dados comparativos para avaliação da mortalidade humana (Resumo). I Congresso Brasileiro de Zoologia, Museu Nacional, Rio de Janeiro, 1960. (9) SCHULZE, W. Klinische untersuchungen. IN: SCHULZE, W.; BICHHARDT, K.; BOLLWAHN, W.; MICHWITZ, G. V.; PLONAIT, H. Klinik der Schweinekrankheiten. Hannover: M & H Schaper, 1980. p. 3-32. 35
HV Literatura A obra trata de colaborações que o Suplemento Rural do Correio do Povo (jornal de Porto Alegre que completou 110 anos) publicava sob o título “Consultório Veterinário”. O idealizador dessa secção foi o ilustre agrônomo, jornalista e criador Paulo Annes Gonçalves, o PAG, consagrado por suas crônicas especialmente voltadas à economia rural. O Suplemento Rural tinha ampla circulação no Estado e também em Santa Catarina, havendo leitores que faziam assinaturas do Correio do Povo, limitadas aos dias de sua publicação. O Consultório Veterinário se manteve como secção do Suplemento por alguns anos, aos poucos esvaziou-se como tal, por falta de consulentes, resultado, talvez, das respostas à maioria das consultas serem genéricas – como não poderia deixar de ser, e, por isso, não satisfazerem. Assim desapareceu o “Consultório”, e as colaborações tomaram outra feição, embora mantivessem seus propósitos fundamentais de divulgar o nível profissional do veterinário, enquanto ainda mal conhecido pelo grande público. A distribuição das matérias nesta edição pretendeu ser a mais adequada, embora, tecnicamente, deva merecer crítica. Mas a complexidade dos assuntos abordados tornou difícil fazê-lo com mais propriedade. Por isso sua divisão em: DOENÇAS: Orgânicas - Infecciosas - Parasitárias e Tóxicas. TERAPÊUTICAS E MÉTODOS TERAPÊUTICOS SOBRE REPRODUÇÃO PECULIARIDADES FISIOLÓGICAS ASSUNTOS PROFISSIONAIS ASSUNTOS DIVERSOS ALGUMAS CONSULTAS Durante os 20 anos de atuação, de 1964 a 1984, o número de colaborações foi elevado, mas muitas delas se perderam: outras foram descartadas por tratarem do mesmo assunto. A linguagem popular predominante se explica por visar um público leigo. Embora algumas vezes se empregassem termos técnicos, ainda que seguidos dos necessários esclarecimentos. Um dos quais, “A Galáxia da Porca”, motivou certa vez, a crítica de um mestre do jornalismo que sugeriu o uso de “palavras de vintém”, para as comunicações populares. Em resposta surgiu a crônica com esse título, que figura em Diversos e tentava explicar o porquê das preferências eventuais pelos termos técnicos.
Não fosse a extinção da Empresa Caldas Júnior, no início de 1984, com certeza o Correio do Povo Rural ainda existiria com ele as colaborações do mesmo gênero, considerando o empenho dos seus proprietários em promover o progresso agrário do Rio Grande do Sul. O valor desta publicação deve ser mais histórico do que técnico-científico, ainda que algo do seu conteúdo nesse campo permaneça atual, pelo menos o que tenha como base conceitos inegavelmente perenes. Huldo Cabral Cony, Médico Veterinário, Membro do Comitê Científico Internacional de A Hora Veterinária.
Patologia geral veterinária aplicada De autoria de Pedro R. Werner, é um livro que foge do academicismo para se aproximar da rotina prática da Medicina Veterinária, enfocando morfologia e patogênese das lesões básicas dos organismos animais. Rico em exemplos e ilustrações, Patologia Geral Veterinária Aplicada aborda também técnicas e procedimentos necroscópicos e avaliação macroscópica de lesões, procurando estimular a realização de necropsias como meio inestimável de estudo, revisão de conhecimentos médicos, confirmação de diagnósticos e avaliação da eficiência da terapêutica empregada em determinado paciente. Para o profissional da área, este livro é uma fonte confiável de consulta rápida e de reciclagem; para o estudante, uma base segura de aprendizado apresentada de forma simples – mas não simplória – e interessante (cada figura traz na legenda informações adicionais sobre o tema abordado). Com 384 páginas, A obra é uma grande contribuição para a literatura nacional sobre Medicina Veterinária. Mais informações Editora Roca, www.editoraroca.com.br 36
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
HV Informa Huldo Cabral Cony recebe a Medalha do Mérito da Medicina Veterinária A Academia Rio-Grandense de Medicina Veterinária reuniu, em sessão solene na sexta-feira (10/12), acadêmicos, médicos-veterinários e familiares de Huldo Cabral Cony para o lançamento do livro Consultório Veterinário. A publicação é resultado de colaborações publicadas no suplemento Rural do Correio do Povo (Seção de literatura, página 36). Na ocasião a Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária fez a entrega da Grã-Cruz da Ordem do Mérito Veterinário ao Acadêmico Huldo Cabral Cony, como reconhecimento a sua significativa contribuição à Medicina Veterinária. Receber este prêmio é o máximo que posso aspirar. Agora não desejo mais nada. O que é material para mim não tem valor. Valorizo o sentido real das coisas. Espero que esta honraria sirva de estímulo para muitas pessoas, declarou o homenageado. A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
37
Clínica de Pequenos Animais Seção dedicada ao intercâmbio entre os clínicos de pequenos animais do Brasil e do exterior. Os artigos franceses são traduzidos de seção análoga da revista associada Le Point Vétérinaire, de Paris. Os articulistas devem enviar seus trabalhos buscando o interesse prático do assunto, a síntese e a riqueza de ilustrações.
Otite externa ceruminosa e purulenta em cães Foram avaliados 72 cães apresentando otite externa bilateral. Por otoscopia e videotoscopia do canal auditivo externo, as otites foram classificadas em ceruminosas e purulentas. O tipo de otite foi relacionado com a idade e a raça do cão, evolução clínica aguda ou crônica e conformação das conchas acústicas. Nas otites ceruminosas os cães tinham em média 3,3 anos e nas purulentas 4,4 anos. Cães Poodle foram mais acometidos por otite ceruminosa e fila brasileiro por purulenta. Casos agudos foram comuns nas otites ceruminosas e crônicos nas purulentas. Em ambas as otites as orelhas pendulares predominaram. Otites externas canina ceruminosa e purulenta diferiram em relação à idade e raça do cão acometido e quanto à evolução clínica, além disto, orelhas pendulares predominaram em ambos tipos de otite. E. N. MUELLER1, E. G. GUIOT2, G. WILHELM3, C. P. M. FERNANDES4, L. F. D. SCHUCH5, M. O. NOBRE6
Summary Y Seventy-two dogs were evaluated presenting bilateral external otitis. By otoscopy and videoscopy of external auditory conduit, the otitis were classified in ceruminous and purulent. The type of otitis was related with dog’s age and breed, acute or chronic clinical evolution and conformation of acoustic shells. In the ceruminous otitis the dogs had on average 3,3 years and in the purulent 4,4 years. Dogs poodle were most affected by ceruminous otitis and fila brasileiro by purulent. Acute cases were common in ceruminous otitis and chronic in purulent. In both of otitis the pendulous ears predominated. Ceruminous end purulent canine external otitis differed in dog’s age and breed affected and about the clinical evolution, addition, pendulous ears predominated in both type of otitis. 1
Eduardo Negri Mueller, Mestre, Doutorando, Programa de Pós-Graduação em Veterinária (PPGV), Faculdade de Veterinária (FV), Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pelotas, RS, BRASIL. 2 Êmille Gedoz Guiot, Bolsista PIBIC-CNPq, FV, UFPel, Pelotas, RS, BRASIL. 3 Graziela Wilhelm, Mestre, PPGV, FV, UFPel, Pelotas, RS, BRASIL. 4 Ciciane Pereira Marten Fernandes, Médica Veterinária Residente, Hospital de Clínicas Veterinária, UFPel, Pelotas, RS, BRASIL. 5 Luiz Filipe Damé Schuch, Doutor. Departamento de Veterinária Preventiva, FV, UFPel, Pelotas, RS, BRASIL. 6 Márcia de Oliveira Nobre, Doutor Departamento de Clínicas Veterinária, FV, UFPel, Pelotas, RS, BRASIL. 38
INTRODUÇÃO A otite externa é uma afecção comum em cães que se caracteriza pela inflamação da orelha externa. Esta enfermidade tem etiologia multifatorial, podendo estar envolvidos fatores predisponentes, primários e perpetuantes (Murphy, 2001; Nascente et al., 2006; Mactaggart, 2008). Casos de otite externa ocorrem em cães de ambos os sexos e de idade e raças variadas, podendo acometer uma ou ambas as orelhas (Nobre et al., 2001; Oliveira et al., 2005; Fernández et al., 2006; Saridomichelakis et al., 2007). A afecção pode ser caracterizada quanto à evolução clínica em aguda ou crônica e quanto ao tipo de exsudato em ceruminosa ou purulenta (Kiss et al., 1997; Rougier et al. 2005; Rème et al., 2006). Nos casos de otite externa é necessária uma avaliação sistêmica do paciente através da história clínica, anamnese e exame clínico geral, além da avaliação por otoscopia, citologia auditiva, cultura e antibiograma (White, 1999; Nascente et al., 2006). Os protocolos terapêuticos para otite externa em cães incluem a limpeza do canal auditivo externo, seguida de terapia tópica com antibacterianos, antifúngicos e antiinflamatórios e ainda, algumas vezes associação de terapia sistêmica (Gortel, 2004; Macctagart, 2008). Naqueles casos de otite externa crônico-recorrente e naqueles associados a alterações patológicas permanentes não responsivas a terapêutica clínica, a cirurgia é preconizada (Wilhelm, 2010). Devido à importância da otite externa na casuística clínica de cães, bem como devido as diversas formas de apresentação clínica desta enfermidade e variabilidade de terapias,
objetivou-se relacionar casos de otite externa canina ceruminosa e purulenta com idade e raça do cão, evolução clínica e conformação das conchas acústicas. MATERIAIS E MÉTODOS Foram avaliados 72 cães (37 machos e 35 fêmeas) atendidos na rotina do Hospital de Clínicas Veterinária da Universidade Federal de Pelotas todos apresentando otite externa bilateral (n=144 orelhas). Os cães foram identificados em relação à raça e idade. O diagnóstico clínico de otite externa foi realizado por inspeção das conchas acústicas, otoscopia e videotoscopia dos canais auditivos externos de cães que apresentavam sinais de prurido na orelha externa como balançar da cabeça e ou movimento oto-podal voluntário. A inspeção foi realizada através da visualização das faces côncava e convexa das conchas acústicas. Foi utilizado otoscópio de uso veterinárioa introduzido no canal auditivo externo porções vertical e horizontal à medida que a concha acústica era deslocada dorso lateralmente ao crânio. Em seguida foi utilizado videotoscópiob para avaliação dos canais auditivos externos conforme descrito para otoscopia. Pela avaliação otoscópica e videotoscópica as otites foram classificadas em ceruminosas pela presença de eritema e cerúmen em quantidade moderada a intensa de cor marrom e, em purulentas pela presença de exsudato amarelado cremoso. O cerúmen foi quantificado em leve quando não havia obstrução do cone do otoscópio, moderado quando havia até 50% de obstrução do cone e intenso quando mais de 50% do cone estava obstruído (Figura 1).
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
Figura 1. Quantificação do cerúmen de acordo com a obstrução do cone do otoscópio, leve quando não havia obstrução (A), moderado quando havia obstrução de até 50% (B) e intenso quando mais de 50% do cone estava obstruído (C). O tipo de otite foi relacionado com a idade e a raça dos cães acometidos. A evolução clínica da otite considerou o período do início dos sinais clínicos até o momento do exame, para a classificação das otites em aguda (tempo inferior ou igual há um mês) e crônica (tempo superior a um mês). As orelhas foram classificadas de acordo com a conformação da concha acústica em pendular, semi-ereta e ereta. A análise estatística foi extraída do pacote estatístico “Statistix 8.0” e “Epi-Info 7.0”, sendo utilizada análise de variância para idade e para as demais variáveis categóricas qui-quadrado. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os cães acometidos por otite ceruminosa tinham em média 3,3 anos (7 meses a 13 anos) e por otite purulenta 4,4 anos (1 a 15 anos), sugerindo uma relação entre o aumento de idade e a ocorrência de otite purulenta (p=0,0024), que possivelmente resulta das alterações patológicas progressivas na orelha externa, especialmente nos casos crônicos, que dificultam a eliminação de exsudatos e crostas permitindo a infecção oportunista (Murphy, 2001; Mactaggart, 2008). Os cães do estudo de Borges et al. (2005) que apresentavam otite com exsudato purulento tinham em média de 3,2 anos, valor este próximo ao encontrado em nosso estudo para otite ceruminosa (média 3,3 anos). Já foi documentada a maior ocorrência de otite externa em cães com até cinco anos de idade, embora não tenha sido relacionada com otite ceruminosa e purulenta (Oliveira et al., 2005; Fernández et al., 2006). Cães da raça poodle (n=12-16,7%), seguido da raça Cocker Spaniel inglês (n=6-8,3%), foram mais acometidos por otite ceruminosa, enquanto os das raças Fila Brasileiro (n=45,6%) e Labrador (n=3-4,2%) foram mais acometidos por otite purulenta (Tabela 1). Destaca-se que todos os cães da raça Fila Brasileiro foram acometidos por otite purulenta (p=0,015). Dos cães sem raça definida 17 (23,6%) apresentaram otite ceruminosa e oito (11,1%) otite purulenta. Embora a otite seja comum em diversas raças caninas, têm sido descritos casos com maior frequência em cães das raças Poodle (8,3-33,3%), Pastor Alemão (7,0-28,5%) e Cocker Spaniel inglês (14,7-19,0%) (Kiss et al., 1997; Oliveira et al., 2005; Fernández et al., 2006; A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
Saridomichelakis et al., 2007). Os cães das raças Poodle e Cocker Spaniel apresentam excesso de pêlos no canal auditivo e orelhas pendulares, o que predispõe a otite e compromete a migração epitelial do conduto auditivo externo. Os cães das raças Cocker Spaniel e Pastor Alemão são predispostos a hiperatividade e a hiperplasia das glândulas ceruminosas levando à otite crônica obstrutiva (August, 1988; Murphy, 2001). Também são importantes as causas iatrogênicas, que levam a maceração do epitélio, independente da raça do cão (Nuttall & Cole, 2004; Nascente et al., 2006; Mactaggart, 2008). Quanto à evolução nas otites ceruminosas 26 (53,1%) eram casos agudos e 23 (46,9%) crônicos, enquanto que nas otites purulentas sete (30,4%) eram agudos e 16 (69,6%) crônicos, demonstrando diferença estatística significativa (p=0,0043) para as otites crônicas. A frequência de casos agudos é semelhante nas otites ceruminosas e inferior nas otites purulentas aos de Kiss et al. (1997), que encontraram respectivamente 58,0% e 86,0%. A inflamação crônica está relacionada a mudanças patológicas progressivas no canal auditivo (Murphy, 2001; Nascente et al., 2006; Mactaggart, 2008), que associadas à falha de migração epitelial levam ao acúmulo de cerúmen, pêlos e outros fragmentos que podem servir de substrato para a microbiota e para agentes oportunistas, perpetuando a otite (Nuttall & Cole, 2004; Lyskova et al., 2007). Acredita-se que este ciclo constante de inflamação e infecção, comum nos casos crônicos recorrentes, pode tornar possível a evolução de um quadro clínico de otite externa ceruminosa para purulenta pelo ambiente favorável à infecção bacteriana oportunista. Em relação à conformação das conchas acústicas nas otites ceruminosas houve diferença estatística (p=0,019) para as orelhas pendulares (74-75,5%) em relação as semi-eretas (16-16,3%) e eretas (8-8,2%), enquanto que nos casos de otite purulenta 24 (52,2%) orelhas eram pendulares, 14 (30,4%) semieretas e oito eretas (17,4%). Tem sido observado que cães com orelhas pendulares são predispostos ao desenvolvimento de otite externa (Nobre et al., 2001; Saridomichelakis et al., 2007), pois esta característica pode alterar o microclima local e tornar o ambiente favorável a multiplicação de microrganismos (Murphy, 2001; Mactaggart, 2008), embora o estudo de Yoshida et al. (2002) sugira que não há relação entre tipo de orelha e retenção de calor e umidade no canal auditivo. 39
A caracterização dos casos de otite externa pelo tipo de secreção dá suporte ao desenvolvimento de pesquisas, com atenção especial para possíveis grupos de risco, buscando novas alternativas para amenizar as alterações no microclima auditivo, com o desenvolvimento de medidas profiláticas e de protocolos terapêuticos visando reduzir a cronicidade dos casos e a resistência dos microrganismos perpetuantes.
BORGES, K.D.A.; VIANA, F.B.A.; VIEIRA, M.R.U.; BATISTA, L.M. Uso do enrofloxacino oral no tratamento da otite externa em cães. A Hora Veterinária, ano 25, n. 146, p.1-3, 2005. FERNÁNDEZ, G.; BARBOZA, G.; VILLALOBOS, A.; PARRA, O.; FINOL, G.; RAMIREZ, R.A. Isolation and identification of microorganisms present in 53 dogs suffering otitis externa. Revista Científica, FCV-LUZ, v. 16, n.1, p.23-30, 2006. GORTEL, K. Otic flushing. The Veterinary Clinics Small Tabela 1. Apresentação de 72 cães com otite externa relacionando raça Animal Practice, v.34, p.557-565, 2004. KISS, G.; RADVÁNYI, Sz.; SZIGETI, G. New combination com o tipo de secreção auricular ceruminosa ou purulenta for the therapy of canine otitis externa I Microbiology of otitis externa. Journal of Small Animal Practice, v. 38, p.5156, 1997. LYSKOVA, P.; VYDRZALOVA, M.; MAZUROVA, J. Identification and Antimicrobial Susceptibility of Bacteria and Yeasts Isolated from Healthy Dogs and Dogs with Otitis Externa. Journal of Veterinary Medicine Series A, v. 54, n. 10, p.559-563, 2007. MACTAGGART, D. Assessment and management of chronic ear disease. In Practice, v. 30, p.450-458, 2008. MURPHY, K.M. A review of techniques for the investigation of otitis externa and otitis media. Clinical Techniques in Small Animal Practice, v. 16, n. 4, p.236-241, 2001. NASCENTE, P.S.; CLEFF, M.B.; ROSA, C.S.; SANTOS, D.V.; MEIRELES, M.C.A.; MELLO J.R.B. Otite externa em pequenos animais: uma revisão. MEDVEP – Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação, v.4, n.11, p.52-59, 2006. NOBRE, M.O.; CASTRO, A.P.; NASCENTE, P.S.; FERREIRO, L.; MEIRELES, M.C.A. Occurrency of Malassezia pachydermatis and other infections agents as cause of external otitis in dogs from Rio Grande do Sul State, Brazil (1996/ 1997). Brazilian Journal of Microbiology, v. 32, n. 3 p.245249, 2001. NUTTALL, T.; COLE, L.K. Ear cleaning: the UK and US perspective. Veterinary Dermatology, v. 15, n.2, p.127-136, 2004. OLIVEIRA, L.C.; MEDEIROS, C.M.O.; SILVA, I.N.G.; MONTEIRO, A.J.; LEITE, C.A.L.; CARVALHO, C.B.M. Susceptibilidade a antimicrobianos de bactérias isoladas de otite externa em cães. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 57, n. 3, p.405-408, 2005. RÈME, C.A.; PIN, D.; COLLINOT, C.; CADIERGUES, M.C.; JOYCE, J.A.; FONTAINE, J. The efficacy of an antiseptic CONCLUSÃO and microbial anti-adhesive ear cleanser in dogs with otitis externa. Veterinary Therapeutics, v.7, n.1, p.15-26, 2006. Otites externas canina ceruminosa e purulenta diferiram ROUGIER, S.; BORELL, D.; PHEULPIN, S.; WOEHRLÉ, F.; em relação à idade e raça do cão acometido e quanto à evoluBOISRAMÉ, B. A comparative study of two antimicrobial/antição clínica, além disto, orelhas pendulares predominaram em inflammatory formulations in the treatment of canine otitis exambos tipos de otite. terna. Veterinary Dermatology, v. 16, n.5, p.299-307, 2005. SARIDOMICHELAKIS, M.N.; LEONTIDES, L.S.; KOUTINAS, FONTES DE AQUISIÇÃO A.F. Aetiology of canine otitis externa: a retrospective study of a- Gowllands® Limited 100 cases. Veterinary Dermatology, v. 18, n.5, p.341-347, 2007. b- PetVídeo® Imagin Equipamentos de Tecnologia LTDA WHITE, P.D. Medical management of chronic otitis in dogs. Small Animal/ Exotics, v.21, n.8, p.716-727, 1999. AGRADECIMENTOS YOSHIDA, N.; NAITO, F.; FUKATA, T. Studies of certain factores Ao CNPq pela concessão de bolsas de pós-graduação e affecting the microenvironment and microflora of the external ear de iniciação científica, a CAPES pelo aporte financeiro para of the dog in health and disease. The Journal of Veterinary Medical Science, v. 64, n. 12, p.1145-1147, 2002. realização deste estudo e pelas bolsas de pós-graduação. WILHELM, G. Ressecção lateral do conduto auditivo externo: Avaliação no tratamento da otite externa crônica e proposta do uso REFERÊNCIAS de adesivos. 2010. Pelotas, 98f. Dissertação (Mestrado em VeAUGUST, J.R. Otitis externa: a disease of multifactorial etiology. terinária)- Programa de Pós-Graduação em Veterinária, UniversiVeterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. dade Federal de Pelotas. 18, p.731-742, 1988. 40
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
41
Emprego de cetoanálogos para o controle da uremia em felino com doença renal crônica
A doença renal crônica é uma enfermidade de intensa casualidade na clínica de pequenos animais. Um dos alicerces terapêuticos dessa afecção baseia-se na modificação dietética para atenuar os sinais clínicos de uremia, minimizar o distúrbio mineral e eletrolítico e otimizar a nutrição, limitando assim a lesão renal progressiva. O uso de cetoanálogos tem sido proposto nos protocolos de tratamento das insuficiências renais baseado na terapia nutricional, isto é, emprego de α-cetoácidos de aminoácidos, servindo de complemento nutricional ao fornecerem aminoácidos de alto valor biológico, permitindo que as dietas possam conter menor teor de proteínas, além de diminuírem os teores de uréia sérica. Este trabalho relata o tratamento de um felino com doença renal crônica utilizando este fármaco no controle da uremia.
M. F. SILVEIRA1, M. F. RICCIARDI2, G. L. R. TULESKI3
INTRODUÇÃO DESCRIÇÃO DO CASO DISCUSSÃO CONCLUSÃO
INTRODUÇÃO
1
Matheus Folgearini Silveira, Médico Veterinário, Mestre em Patologia Animal, Universidade Federal de Pelotas, RS, BRASIL 2 Mariana Filippi Ricciardi, Médica Veterinária, Mestre em Ciências Veterinárias, Universidade Federal do Paraná, Curitba, PR, BRASIL. 3 Giovana Lais Ruviaro Tuleski, Médica Veterinária, Mestre em Ciências Veterinárias, Universidade Federal do Paraná, Médica Veterinária do Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, BRASIL. 42
A doença renal crônica consiste na disfunção generalizada de néfrons, alterando a capacidade de depuração plasmática destes órgãos. Com a progressão da enfermidade, os níveis de eletrólitos e catabólitos do organismo oscilam, prejudicando a homeostasia. A uréia, um destes compostos, eleva-se devido à deficiência na sua excreção pela via urinária. Como uma substância de caráter tóxico, seu acúmulo possui função deletéria ao metabolismo. A maioria da uréia plasmática é sintetizada no ciclo hepático da uréia em amônia derivada do catabolismo protéico, não sendo encontrada nas fezes, pois é absorvida ou convertida em amônia pela urease de origem bacteriana. Uma vez que a uréia entra no siste-
ma vascular, se difunde passivamente pelo compartimento de água total, sendo necessários aproximadamente 90 minutos para o equilíbrio. A quantidade de absorção é inversamente relacionada com a taxa de fluxo urinário pelos túbulos. Em pico de fluxo urinário, aproximadamente 40% da uréia é reabsorvida; já com fluxo reduzido, até 70% pode ser reabsorvido (Duncan et al. 1994). A azotemia renal ocorre quando aproximadamente três quartos dos néfrons não estão funcionais. Uma vez que a massa funcional renal foi reduzida ao ponto da azotemia, o valor da uréia sangüínea aproximadamente dobra cada vez que a massa renal remanescente é dividida. Elevações modestas neste estágio são altamente significativas (Duncan et al. 1994). O tratamento do paciente renal crônico deve ter como objetivo primário corrigir as alterações da homeostasia do animal, favorecendo a recuperação da lesão e aprimorando assim a função renal (Chew e Gieg, 2006). Os cetoanálogos são α-cetoácidos de aminoácidos com cadeias carbônicas simples isentas do grupo amina. Este fármaco capta o nitrogênio
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
da circulação, transformando-o em aminoácidos correspondentes, em geral essenciais (Veado et al., 2002). O emprego deste princípio na terapêutica de crise urêmica em um felino com quadro de doença renal crônica é descrito neste artigo. Com o intuito de estabilizar os níveis séricos de uréia, realizou-se um acompanhamento através de exames de uréia e creatinina, dois indicadores da função renal (Duncan et al., 1994). DESCRIÇÃO DO CASO Um felino da raça siamesa, fêmea, castrada de 15 anos foi encaminhado para atendimento no Hospital Veterinário da UFPR. Durante a anamnese o proprietário relatou que há três meses o animal apresenta emagrecimento progressivo, hiporexia, poliúria e polidipsia. Nunca recebera vacinação e apenas fora desverminada quando filhote. O proprietário relatou, ainda, que um irmão da paciente faleceu devido à doença renal crônica. A gata não tinha contato com outros animais domésticos em seu habitat usual. Ao exame físico notou-se apenas grau de desidratação leve, sem demais alterações sistêmicas, estando as frequências cardíaca e respiratória normais e a temperatura retal de 38,7ºC. Coletou-se sangue por venopunção para realização de exames bioquímicos e hemograma (Tabela 1, Exame 1). No hemograma observou-se anisocitose e presença de corpúsculos de Howell-Jolly, monocitose discreta, e ainda, leucocitose com desvio à esquerda, regenerativo. Prescreveuse ácido ursodesoxicólicoa 10mg/kg por via oral uma vez ao dia até novas recomendações. Administrou-se a quantidade de 200mL de solução de cloreto de sódio 0,9% por via subcutânea por seis dias e ração para nefropatab. A paciente retornou para reavaliação e novos exames bioquímicos (Tabela 1, Exame 2) e exame ultra-sonográfico abdominal. Estava mais disposta e apresentava melhora no apetite. Na urinálise observou-se densidade baixa, aspecto levemente turvo e, no exame do sedimento encontrou-se células epiteliais renais e caudais da pelve, além de cilindros hialinos e granulosos. No ultra-som abdominal, o rim esquerdo apresentava-se em topografia habitual, de dimensão discretamente aumentada (3,6cm), com relação córtico-medular e ecotextura preservada. O rim direito estava em topografia habitual, dimensão diminuída (2,5cm), contorno irregular, sem definição córtico-medular e ecotextura aumentada, indicativo de doença renal crônica. Nos demais órgãos abdominais não se observaram alterações durante o exame a Ursacol® – Zambon São Paulo, SP b Renal RF 23 Royal Canin® – Royal Canin, São Paulo, SP c Ketosteril ®– Fresenius Kabi Campinas, SP
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
Prescreveu-se 500mL de solução de cloreto de sódio 0,9% por via subcutânea uma vez ao dia até novas recomendações e α-cetoácidosc por via oral, na dose de um tablete para cada 5 kg de peso vivo uma vez ao dia. Após cinco dias, o animal retornou para reavaliação apresentando-se em melhor estado, com normoúria, normodipsia e apetite caprichoso. Foram realizados novos exames bioquímicos (Tabela 1, Exame 3). Foi mantida a prescrição anterior e adicionado 0,5mEq/ kg de cloreto de potássio na fluidoterapia de rotina e realizouse o acompanhamento do paciente ao longo de seis meses (Tabela 1, Exame 4) até o óbito da paciente. A proprietária não relatou quaisquer alterações comportamentais e apresentava boa qualidade de vida. A necropsia não foi realizada para a avaliação post mortem por opção da proprietária, impossibilitando determinar a etiologia da disfunção renal do felino. DISCUSSÃO A doença renal crônica (DRC) é um estado catabólico onde a quebra de proteína corporal potencializa os aumentos na uréia sérica, fósforo, potássio e concentrações de hidrogênio iônico (Chew & Gieg, 2006), sendo uma doença renal primária a qual persistiu por um período prolongado, em geral de meses a anos. Embora frequentemente seja considerada doença de animais velhos, a IRC ocorre com frequência variada em cães e gatos (Di Bartola & Rutgers, 1994; Senior, 2001; Polzin et al, 2005). A incapacidade de identificar a causa desencadeante da DRC tem origem em três fenômenos relacionados à evolução das doenças renais progressivas: (1) os vários componentes dos néfrons (glomérulos, túbulos, capilares peritubulares e tecido intersticial) são funcionalmente independentes; (2) as anormalidades morfológicas e funcionais dos rins podem manifestar-se clinicamente apenas sob um número limitado de formas, independente da causa determinante e (3) após a maturação, novos néfrons não podem ser formados para substituir outros irreversivelmente destruídos pela doença (Polzin et al., 2005). Os achados de anamnese mais comuns em gatos com doença renal em estágio final são perda de peso, anorexia e letargia. Poliúria, polidipsia e vômito são menos reconhecidos em gatos com DRC do que em cães (Di Bartola & Rutgers, 1994; Polzin et al., 2005). Ao exame físico pode apresentar pelagem pobre, emaciação, palidez das membranas mucosas e desidratação. Ulceração oral pode ocorrer, particularmente envolvendo as margens laterais da língua. Os rins apresentam-se pequenos, firmes e irregulares na palpação abdominal. A presença de uma grande quantidade de urina na bexiga de um gato desidratado com rins pequenos e irregulares leva a uma forte suspeita de IRC (Di Bartola & Rutgers, 1994). Presença de hipertensão (Polzin et al., 2000; Henik et al. 2005) e hipotermia são comuns, assim como a halitose. Em pacientes crônicos pode-se estar presente, em alguns casos, flexibilidade extrema da mandíbula (Polzin et al., 2000). 43
A morte ocorre como evidente resultado patológico apenas quando existem múltiplas falências adaptativas sistêmicas, conduzidas por fatores extra-néfron, extra-renal ou metabólico, geralmente associadas à deleção avançada de néfrons (Lawler et al., 2006). Achados laboratoriais esperados para a DRC incluem anemia (Di Bartola & Rutgers, 1994) normocítica e normocrômica (Brown, 1997) não-regenerativa, hiperfosfatemia, leve hiperglicemia, acidose metabólica e densidade urinária abaixo do normal (Di Bartola & Rutgers, 1994), mas alguns gatos conseguem manter a capacidade de concentrar a urina (Brown, 1997). A azotemia ocorre quando 75% ou mais da capacidade funcional de ambos os rins é perdida (Taylor, 1993; Duncan et al., 1994). As concentrações de cálcio podem estar normais ou levemente elevadas (Di Bartola & Rutgers, 1994). O potássio sérico é comumente anormal, apresentando-se baixo em animais com poliúria (Brown, 1997). Acidose metabólica é uma complicação comum em gatos acometidos por IRC, afetando em média 60 a 80% dos animais, sendo este distúrbio clinicamente importante devido ao fato de promover uma variedade de efeitos adversos, incluindo anorexia, náusea, vômito, letargia, fraqueza, degradação muscular e perda de peso (Polzin et al., 2000). O objetivo primário da terapia durante a uremia severa é corrigir as alterações da homeostasia do paciente. A idealização do tratamento permitiria ao paciente uma vida longa para possibilitar o reparo do dano renal na lesão aguda e favorecer a hipertrofia dos néfrons viáveis remanescentes na lesão crônica, resultando na melhora da função renal e na habilidade para sustentar a vida sem o suporte médico intensivo. O volume adequado do líquido extracelular deve ser mantido para maximizar a perfusão renal e facilitar a função excretória (Chew & Gieg, 2006). A fluidoterapia parenteral é a parcela do tratamento mais importante para pacientes em crise urêmica, objetivando a expansão do líquido extracelular, correção dos distúrbios eletrolíticos e ácido-basicos, além de redução da magnitude da azotemia (Chew & Gieg, 2006). Com a depleção de volume, tem-se o aumento de renina nos rins de pacientes com IRC, a qual pode ocasionar hipertrofia dos vasos renais, levando a hipóxia do órgão e aumento da resistência pré-glomerular, comprometendo a síntese de renina (Taugner, 1996). O suporte nutricional durante a estabilização precoce de pacientes urêmicos não tem recebido muita ênfase da literatura veterinária (Chew & Gieg, 2006), todavia deve ser uma opção terapêutica importante para esta enfermidade. O gato é predisposto a maior risco de má-nutrição devido à baixa capacidade de regular a atividade enzimática hepática associada ao catabolismo protéico, mesmo que a ingesta de proteína seja baixa (Markwell, 1998). Existem relatos de que a proteína decresce espontaneamente em pacientes com uremia progressiva, mas isto não deve ser considerado um argumento contra o uso da dieta terapêutica. Pelo contrário, este é um argumento persuasivo para restringir a ingesta protéica com o intuito de minimizar as complicações da IRC enquanto preserva o status nutricional (Mitch, 2000). O tratamento dietético é fundamental na terapia conservadora da IRC, apesar do mecanismo de ação permanecer inexplicável (Markwell, 1998). 44
Finco et al., (1998) compararam os efeitos da proteína e calorias na progressão da IRC em gatas. Ao final do estudo, observaram-se lesões glomerulares moderadas, as quais não foram afetadas pelas calorias, proteínas ou a interação destas. Todavia, lesões não-glomerulares, apesar de brandas, foram influenciadas significativamente pela ingesta de caloria, não protéica. Compostos livres de nitrogênio ou aminoácidos essenciais análogos, os quais podem ser transformados em aminoácidos essenciais no corpo foram utilizados com o objetivo de reduzir o acúmulo de produtos da degradação de nitrogênio através do decréscimo de suplementação de nitrogênio exógeno e aprimoramento da reutilização de nitrogênio armazenado (Maniar et al., 1992). Em casos de uremia intensa, o uso de cetoanálogos tem sido proposto nos protocolos de tratamento das insuficiências renais baseado na terapia nutricional, isto é, emprego de acetoácidos de aminoácidos, cadeias carbônicas simples isentas do grupo amina. Esses compostos, ao mesmo tempo em que captam o nitrogênio da circulação, são transformados em aminoácidos correspondentes, em geral essenciais. Assim, os cetoanálogos servem de complemento nutricional ao fornecerem aminoácidos de alto valor biológico, permitindo que as dietas possam conter menor teor de proteínas, e diminuem os teores de uréia sérica (Veado et al., 2002). Dietas em longo prazo contendo reduzido teor protéico suplementada com aminoácidos e cetoanálogos mantém o peso corporal e valores séricos normais de proteínas, enquanto que reduzem o
Figura 1: Gráficos representando as taxas de creatinina (A) e uréia (B) do paciente. As análises 1 a 4 são referentes aos dias 1, 7, 16 e 137, respectivamente. Valores de Referência: a: 0,8-1,8mg/dL; b: 10-30mg/dL A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
acúmulo de ácidos, fosfato e uréia (Mitch, 2005). O uso de inibidores da enzima conversora de angiotensina poderia dificultar a detecção do benefício de uma dieta com baixo teor protéico (Mitch, 2000). O paciente obteve redução em curto prazo das taxas de uréia e creatinina, as quais se mantiveram estáveis por um período prolongado durante o tratamento (Figura 1). A dieta com cetoácidos melhorou a sensibilidade do fígado e tecidos periféricos, tornando o influxo de glicose mais eficiente (Baillet et al, 2001) os pacientes puderam ser mantidos por longo prazo sob uma dieta de muito baixa proteína suplementada com cetoácidos e aminoácidos essenciais, apresentando peso corporal e outros parâmetros nutricionais estáveis. Houve redução da uremia e a função renal foi mantida estável (Chaveau et al., 1999). A diminuição da eliminação renal de uréia ocorreu logo após o início do estudo, mas manteve-se estável até o final nos dois grupos. Notou-se elevação da calcemia, diminuição da fosfatemia, redução da fosfatase alcalina e paratormônio (Malvy et al., 1999). Em adição às modificações do metabolismo protéico atribuídos aos cetoácidos, incluindo reduções em oxidação de aminoácidos, proteólise e proteinúria, outros processos como o catabolismo de aminoácidos essenciais, estimulação da degradação dos aminoácidos de cadeia ramificada, ativação da via proteolítica da ubiquitina proteosomal podem explicar a redução da quantidade de tecido magro (Baillet et al., 2001). O equilíbrio do nitrogênio é alcançado com dietas de baixo teor protéico, pois pacientes com IRC ativam respostas metabólicas adaptativas: diminuem a oxidação de aminoácidos essenciais para garantir um depósito suficiente destes e reduzem a degradação protéica pós-prandial, desde que não exista nenhum estímulo catabólico, como uma acidose metabólica (Mitch, 2000). A mistura de dietas semi-sintéticas com suplementação de cetoanálogos e aminoácidos de cadeira ramificada demonstra maior eficiência nutricional em ratos urêmicos. A elevação de alguns aminoácidos essenciais depende mais da fonte protéica do que da quantidade da dieta. Nutrição adequada pode ser obtida através de dietas com baixo teor protéico, suplementadas com aminoácidos essênciais e cetoanálogos, assim como em dietas com teor protéico normal (Maniar et al., 1992). CONCLUSÃO A terapêutica de pacientes com DRC necessita do uso de adjuvantes além dos usualmente empregados em Medicina Veterinária. O uso de cetoanálogos para o controle de crise urêmica é uma ferramenta farmacológica capaz de atenuar os fatores prejudiciais desta enfermidade e auxiliar na regularização da homeostase do organismo afetado. Todavia, em felinos e caninos com IRC, os cetoanálogos ainda são empregados a partir da extrapolação de dados de pesquisas em seres humanos. A dieta de restrição protéica deve ser mantida ad eternum com avaliações regulares de peso e massa corpórea. O acompanhamento dos distúrbios metabólicos através de exames laboratoriais frequentes visa reconhecer a eficácia do tratamento e ajustá-lo conforme a resposta individual, resultando em uma sobrevida com qualidade. A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
REFERÊNCIAS BAILLET L., RIGALLEAU V., APARICIO M., BARTHE N., GIN H. Energy Expenditure Following Oral Glucose Load in Ten Uremic Patients Before and After Three Months on a KetoacidSupplemented Very-Low-Protein Diet. Metabolism, v. 50, n.3, p. 335-341, 2001. BROWN S.A. Chronic Renal Failure In: MORGAN R.V. Handbook of Small Animal Practice. Philadelphia: W.B. Saunders, 3 ed., p. 512- 516, 1997. CHAUVEAU P., BARTHE N., RIGALLEAU V., OZENNE S., CASTAING F., DELCLAUX C., DE PRÉCIGOUT V., COMBE C., APARICIO M. Outcome of nutritional status and body composition of uremic patients on a very low protein diet. American Journal of Kidney Disease, v.34, p.500-507, 1999. CHEW D., GIEG J.A. Fluid Therapy during Intrinsic Real Failure In: DIBARTOLA S.P. Fluid, electrolyte and acid-base disorders in Small Animal Practice. Saint Louis: Elsevier, p. 518-536, 2006. DIBARTOLA S.P., RUTGERS H.C. Diseases of the Kidney In: SHERDING R.G. The Cat: Diseases and Clinical Management. New York:Churchill Livingstone, 2 ed., p. 17111719; 1745 – 1753, 1994. DUNCAN J.R., PRASSE K.W., MAHAFEY E.A. Veterinary Laboratory Medicine: Clinical Pathology, Iowa:Iowa State University Press, 3 ed., p. 162-182, 1994. FINCO DR, BROWN SA, BROWN C.A., CROWELL W.A., SUNVOLD G., COOPER T.L. Protein and calorie effects on progression of induced chronic renal failure in cats. American Journal of Veteterinary Research, v. 59, n. 5, p. 575-582, 1998. HENIK, R.A., DOLSON, M.K., WENHOLZ, L.J. How to Obtain a Blood Pressure Measurement. Clinical Techniques in Small Animal Practice. n. 20, p.144-150, 2005. LAWLER D.F., EVANS R.H., CHASE K., ELLERSIECK M., LI Q., LARSON B.T., SATYARAJ E., HEININGER K. The aging feline kidney: a model mortality antagonist? Journal of Feline Medicine and Surgery. n. 8, p. 363-371, 2006. MALVY D., MAINGOURD C., PENGLOAN J., BAGROS P., NIVET H. Effects of Severe Protein Restriction with Ketoanalogues in Advanced Renal Failure. Journal American Colllege of Nutrition., v. 18, n. 5, p. 481–486, 1999. MANIAR S., LAOUARI D., BURTIN M., PARTY P.R., KLEINKNECHT C. Nutritional effects of feeding a ketoanalogue mixture in growing and adult uremic rats. American Journal Clinical Nutrition, n. 56, p.1025-1033, 1992. MARKWELL P.J. Dietary management of renal failure in the dog and cat. Waltham Focus. v. 8, n. 2, p. 16-22, 1998. MITCH W.E. Dietary therapy in uremia: the impact on nutrition and progressive renal failure. Kidney International. v. 57, suppl. 75, p.38-43, 2000. MITCH W.E. Beneficial responses to modified diets in treating patients with chronic kidney disease. Kidney International. v. 67, suppl. 94, p.133-135, 2005. POLZIN, D.J.; OSBORNE, C.A.; ROSS, S. Chronic Renal Disease In: ETTINGER, S.J.; FELDMANN, E.C.; (eds.) Textbook of Veterinary Internal Medicine. Saint Louis:Elsevier Saunders, 6 ed., v.2, p. 1756-1786, 2005. POLZIN D.J., OSBORNE C.A., ROSS S. JACOB F. Dietary management of feline chronic renal failure: where are we now? In what direction are we headed? Journal of Feline Medicine and Surgery, n. 2, p. 75–82, 2000. SENIOR D.F. Doenças do Sistema Urinário In: DUNN J. K. Tratado de Medicina de Pequenos Animais, São Paulo:Rocca, p. 618– 626, 2001. TAUGNER F., BAATZ G., NOBILING R. The Renin-Angiotensin System in Cats with Chronic Renal Failure. Journal of Comparative Pathology, v. 115, p. 239-252, 1996. TAYLOR S.R. Chronic Renal Disease In: NORSWORTHY G.D. Feline Practice, Philadelphia: J.B. Lippincott, 2 ed., p. 274285, 1993. VEADO J.C.C., OLIVEIRA J., MENEZES J.M.C., GUIMARÃES P.T.C. Uso de cetoanálogo na terapia da insuficiência renal canina. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 54, n. 5, p. 543-545, 2002.
45
Cursos e Eventos I Congresso Internacional Transdisciplinar de Proteção à Fauna Jurij Sobestiansky, Professor Titular - Departamento Medicina Veterinária Preventiva. Escola de Veterinária - Universidade Federal de Goiás, Brasil. Ekaterina A. Botovchenco Rivera, Presidente da Comissão Bem-Estar Animal do CRMV-GO, Biotério Central da UFG, Goiás, Brasil. Tamara A. Botovchenco Rivera, Promotora de Justiça do Estado de Goiás, integrante das comissões organizadora e científica do I Congresso Internacional Transdisciplinar de Proteção à Fauna.
As condições impostas aos suínos, a exemplo das outras espécies, evoluíram rapidamente nos últimos anos, provocando uma grande transformação zootécnica que consistiu em passar de uma produção familiar a uma produção industrial. Neste contexto, a produção de suínos não está isenta da repercussão da opinião pública, e esta, por sua vez, com o tempo, vai se modificando de acordo com as mudanças da sociedade. O bem-estar animal está dentro das preocupações atuais da sociedade já que está cientificamente comprovado que os animais podem sofrer. O bem-estar animal tornou-se, então, uma questão importante, não só por razões éticas, mas também econômicas, devido ao fato de que os cidadãos de muitos países exigem que os animais sejam criados e abatidos de forma humanitária. Estas transformações nas relações do homem com os animais têm vindo em um crescendo e, com a evolução da ciência, os animais se transformaram em auxiliares do homem em busca de novos conhecimentos para melhoria da saúde e do bem-estar tanto do homem como dos animais. A comunidade científica e a sociedade em geral constataram que, de fato, a experimentação animal tinha se tornado parte fundamental dos processos científicos de estudos sobre os seres vivos, abolindo, assim, a necessidade de usar o homem como objeto de pesquisas. A Inglaterra foi o berço dos movimentos de proteção animal, e sua sociedade já demonstrava inquietação quanto às crueldades praticadas pelo homem para com os animais. Surgiram então as sociedades protetoras de animais e, com o passar dos anos, algumas se tornaram mais, outras menos ativas. Estas sociedades protetoras desempenham importante papel em defesa dos animais, procurando sempre evitar seu sofrimento e apoiando os cientistas na sua incessante busca pelo bem-estar animal. Hoje já não há espaço para aquele tipo de organização que adote posição extremamente radical, que utilize métodos agressivos, que apresente visões distorcidas à sociedade sobre o uso de animais em pesquisa em sua luta pela abolição da experimentação animal. Usando o bom senso e o diálogo poderemos chegar ao ponto comum que todos almejam, que é o bem-estar dos animais. No desenvolvimento do bem-estar animal deve ser ressaltada a preocupação e a participação ativa de Médicos Veterinários, Zootecnista e Biólogos. Somem-se a estes profissionais as Organizações Não Governamentais e outras instituições que também se ocupam e se preocupam com a proteção à fauna, como o Ministério Público, o IBAMA, as Delegacias de Polícia de Proteção Ambiental, as Secretarias de Meio Ambiente, etc. Apesar de termos tantas pessoas envolvidas na proteção da fauna com atuação nas mais diversas áreas, não é comum o intercâmbio de informações entre essas pessoas e instituições. Assim, quando surgem problemas concernentes ao bem estar animal, cada um desenvolve um trabalho e apresenta-o como verdade absoluta. Tendo em mente todas estas questões um grupo de profissionais que trabalha com animais e outros da área do direito 46
Procurador Geral de Justiça do Estado de Goiás, Eduardo Abdon na conferência de abertura
idealizaram a realização de um fórum cujo principal objetivo seria o de abordar e discutir diferenças e controvérsias, a fim de harmonizar procedimentos com os quais nos deparamos no nosso dia a dia profissional, foi realizado em outubro deste ano o I Congresso Internacional Transdisciplinar de Proteção a Fauna, evento este promovido pelo CRMV-GO e Ministério Público do Estado de Goiás. O evento realizado no Centro de Convenções de Goiânia reuniu médicos veterinários, zootecnistas, biólogos, advogados ambientalistas e vários outros profissionais interessados no assunto. Participaram ativamente do congresso, aproximadamente 327 pessoas. O público alvo incluiu membros do ministério público estadual e federal, da magistratura estadual e federal, membros do legislativo, advogados e delegados de polícia com atuação na área do meio ambiente, técnicos e gestores dos órgãos públicos ambientais, comunidade científica. Enfim, todos os participantes do congresso estavam de uma forma ou outra envolvidos com a proteção de animais não humanos e no final do evento ficou evidenciada a importância e a necessidade de um maior intercâmbio entre os profissionais das diferentes áreas. O intercâmbio de informações entre os profissionais das diversas áreas, nos temas controversos relacionados à proteção da fauna, conferiu o caráter transdisciplinar ao congresso. Cabe ressaltar o ambiente de respeito à opinião do outro que permeou o Congresso. Na abertura do I Congresso Internacional Transdisciplinar de Proteção à Fauna, o Procurador-Geral da Justiça do Estado de Goiás, Dr. Eduardo Abdon Moura e o Presidente do CRMV-GO, Dr. Wanderson Portugal ressaltaram a importância deste evento transdisciplinar. Na programação foram incluídas palestras sobre bemestar na produção animal, legislação para proteção da fauna, uso de animais em experimentação e ensino, ONGs como parceiras ao invés de agentes da ética da sabotagem, ritos religiosos e expressões culturais envolvendo animais, humanização de animais, dor e sofrimento em animais, maus tratos e estresse animal, e o posicionamentos dos estudantes diante do uso de animais em ensino e pesquisa A área de suínos foi contemplada com apresentações dos Doutores Jurij Sobestiansky (EV- UFG) e Osmar Dalla Costa (Embrapa – Concórdia SC). Os temas abordados foram: sistema A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
de produção de suínos, bem-estar e mal-estar em produção de suínos, manejo e transporte de suínos destinados ao abate. Pelo exposto nota-se que a preocupação com o bem-estar em suinocultura não é diferente da dos demais setores. A passagem de uma sociedade agrícola para outra industrializada e urbanizada tem feito com que sistemas de produção aceitos no passado não sejam bem vistos em nossos dias e a consequência disto é o surgimento de leis que regulamentam a produção. Algumas destas leis trazem benefício direto para a produtividade, no entanto algumas delas podem complicar a produção fazendo reviver alguns problemas já superados. Este “reviver” de problemas já superados geram , por vezes, mal-estar no setor. Muitos dos pontos legislados são necessários, como é o caso de ter densidades mínimas ou suprimir sistemas de contenção das matrizes durante a gestação com colares ou cintos. Em alguns ca-
sos, inclusive tem sido proposto voltar a implantar técnicas já abandonadas. Este Congresso demonstrou que a preocupação com o bem-estar dos animais não está restrita à Europa ou outros países como Canadá, Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia, por exemplo, e que, em nosso meio já assumiu prioridade e está ganhando um reconhecimento cada vez maior também como elemento de operações comerciais. Na Europa, em 2006 a Comunidade Européia adotou um plano de ação sobre produção e bem-estar de animais o qual estabelece o caminho a ser seguido para assegurar uma melhoria contínua no bem-estar animal nos próximos anos. Ao final do evento foi elaborada e aprovada a “Carta de Goiânia” a qual sintetiza os principais pontos e propostas discutidas durante o evento.
CARTA DE GOIÂNIA Os representantes do Ministério Público (Federal e Estaduais), Conselho Federal de Medicina Veterinária, Conselho Regional de Medicina Veterinária de Goiás, Ministério de Agricultura e Biossegurança da Nova Zelândia, Federação das Universidades para o Bem-Estar Animal (UFAW), Universidade Federal de Goiás – UFG, Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC/GO, Universidade Federal do Paraná – UFPR, Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRS, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUC/RS, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Universidade Estadual Paulista – UNESP, Universidade Autônoma do México – UNAM, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, Associação Brasileira do Ministério Público de Meio Ambiente (ABRAMPA), Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH), Delegacia Estadual do Meio Ambiente do Estado de Goiás (DEMA), Delegacia de Polícia Federal de Repressão a Crimes contra o Meio Ambiente e Patrimônio Histórico – DELEMAPH da Superintendência do Estado de Goiás, presentes ao I CONGRESSO INTERNACIONAL TRANSDISCIPLINAR DE PROTEÇÃO À FAUNA, realizado nos dias 14 e 15 de outubro de 2010, na cidade de Goiânia-GO, Considerando que a Constituição Federal, em seu art. 225, estabelece que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Considerando que a Constituição Federal, em seu art. 225, parágrafo primeiro, VII, garante a proteção à “fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade”. Considerando a necessidade de integração entre as entidades e órgãos envolvidos na garantia do Bem-Estar Animal. Os Representantes referidos, votam e aprovam as seguintes Conclusões e Recomendações: Que o Bem-Estar Animal é um tema complexo, com dimensões científicas, éticas, econômicas, culturais e políticas e que, sendo os animais seres sencientes , sugerem: Tornar obrigatória a disciplina de Direito Ambiental nas Faculdades de Direito e incluir aulas de Ética e Bem-Estar Animal nesta disciplina, as quais deverão ser ministradas preferencialmente por médicos veterinários especializados no tema; Tornar obrigatória a disciplina de Ética e Bem-Estar Animal nas Faculdades de Medicina, Medicina Veterinária, Biologia, Zootecnia e Agronomia; Constituir um grupo transdisciplinar para elaborar uma proposta de ementa acadêmica descrevendo, de maneira sucinta, os temas que deverão ser abordados nas disciplinas referidas nos itens 1 e 2; Incentivar as Universidades a reavaliar seus métodos de ensino e de pesquisa, visando a redução de animais, priorizando métodos alternativos fidedignos, quando apropriados; A capacitação prévia e obrigatória para toda e qualquer pessoa
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
que utilizar animais em ensino e pesquisa; Promover uma integração permanente e contínua entre os profissionais do Direito e aqueles que trabalham com a finalidade de garantir o Bem-Estar Animal; A formação de um grupo de trabalho transdisciplinar a ser constituído, no prazo de 60 (sessenta) dias, para elaboração de projeto de lei regulamentadora do Bem-Estar Animal no Brasil, a ser encaminhado ao Congresso Nacional; A adoção de medidas que possibilitem um maior envolvimento dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário na proteção da fauna; A implementação urgente de políticas públicas de proteção da fauna; A conscientização dos órgãos públicos acerca da distinção entre o departamento de controle de zoonoses, que está diretamente relacionado à saúde pública, e a questão de maus-tratos a animais que está afeta às atribuições dos órgãos ambientais; A reflexão por parte das associações, redes ou organizações protetoras dos animais sobre o abandono do radicalismo, passando para o aprofundamento das questões polêmicas, buscando a mediação, o ponto de equilíbrio e o conhecimento, especialmente em assuntos envolvendo animais; Lembrar que as associações, incluindo as Organizações Não Governamentais, possuem a mesma legitimidade do Ministério Público para a propositura de Ação Civil Pública visando a proteção da fauna, conforme Lei Federal n. 7.347/85; Conscientizar as crianças e jovens da necessidade de proteção à fauna, por intermédio de palestras, exibição de vídeos nas escolas e distribuição de material educativo; O estabelecimento de parceria com o SICA (Sistema de Integração Centro-Americano), por meio de Termo de Cooperação ou documento afim, com a finalidade de intercambiar experiências sobre os temas tratados neste Congresso e o desenvolvimento de atividades futuras conjuntas na área de proteção ambiental; O estabelecimento de parceria com a OIE/OMSA ( Organização Mundial de Sanidade Animal), por meio de Termo de Cooperação ou documento afim, com a finalidade de intercambiar experiências sobre os temas tratados neste Congresso e o desenvolvimento de atividades futuras conjuntas na área de bem-estar animal; A continuidade da parceria entre o Ministério Público dos Estados Brasileiros e os respectivos Conselhos Regionais de Medicina Veterinária para a realização de eventos estaduais sobre a proteção da fauna, mantendo o objetivo de integração entre os profissionais da área, privilegiando palestrantes de destacada atuação e saber no tema abordado; A análise do convite para realizar o II Congresso Internacional Transdisciplinar de Proteção à Fauna, na cidade de Curitiba-PR, em junho de 2012, pela Universidade Federal do Paraná, sob a coordenação da Dra. Carla Forte Maiolino Molento; A análise da proposta do Ministério Público do Estado de Goiás e do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Goiás para manter a realização do II Congresso Internacional Transdisciplinar de Proteção à Fauna, na cidade de Goiânia-GO, em setembro de 2012.
47
Animais Selvagens e Exóticos Esta seção destina-se aos profissionais que atuam permanente ou esporadicamente na clínica, cirurgia, criação e proteção dos animais selvagens e exóticos. Trata-se de um campo de imensas possibilidades, onde o médicoveterinário deve aumentar sua presença. A temática é sempre internacional, dentro da visão universalista de nossa publicação. Solicitamos aos articulistas brasileiros e estrangeiros, que enviem seus trabalhos buscando assuntos de uso prático e com abundância de ilustrações.
Avaliação da ação dos antiparasitários ivermectina e moxidectina sobre helmintoses de capivaras (Hydrochaeris hydrochaeris, L. 1766) - Estudo preliminar A ação das drogas antiparasitárias Ivermectina 1% e Moxidectina 1%, sobre as helmintoses de capivaras, foi estudada em 18 (dezoito) animais, após a evidenciação da presença de endoparasitos pelo método de Gordon e Whitlock (1939) modificado para a contagem de ovos de helmintos gastrintestinais. Os animais foram divididos em três grupos. Os grupos A e B receberam, respectivamente, 0,01g de ivermectina 1% e de moxidectina 1%, quinzenalmente, por um período de 54 dias; o grupo C foi mantido como controle. O antiparasitário ivermectina (1%) mostrou-se mais eficaz sobre a infecção de helmintos nestes animais, embora a moxidectina (1%) também tenha apresentado diferenças significantes em relação ao grupo controle. R. M. CARDOZO1, M. J. B. BARBOSA2 , V. L. F. SOUZA34
Summary Y The antihelmintic effect of ivermectin 1 % and moxidetin 1 % on capybaras was studied in 18 animals. The presence of endoparasites was evidenced by Gordon and Whitlock (1939) modified method to count gastroenteric parasite worm eggs. The animals were divided in groups A, B and C. During 54 days and every fifteen days the groups A and B received 0.01 g of ivermectin 1 % and moxidectin 1%, respectively, and the group C was used as control. In this study, Ivermectin 1% was the must efficient of the two products. However, moxidectin 1% showed significant effects in relation to the control group.
1
Rejane Machado Cardozo, professora adjunta do departamento de Medicina Veterinária, Universidade Estadual de Maringá, Campus de Umuarama, PR, BRASIL. 2 Maria José Baptista Barbosa, professora associada do departamento de Medicina Veterinária, UEM, Campus de Umuarama, PR, BRASIL. 3 Vera Lúcia Ferreira de Souza, professora associada do departamento de Zootecnia, UEM, Av. Colombo 5790, CEP 87020900,Maringá, PR, BRASIL. 48
INTRODUÇÃO A capivara é o maior roedor do mundo, possuindo pelagem uniforme, que varia do castanho ao cinza. São roedores estreitamente ligados à água, para onde correm quando em perigo; alimentam-se de capim, pastagens e vegetação aquática. Em seu habitat natural, a capivara é vista como animal de caça, sendo procurada devido a sua carne, couro e óleo (Ibama, 2006). Entre as espécies nativas, a capivara se destaca por ser uma das mais proliferativas e vem sendo criada em cativeiros devido à grande procura de sua carne e óleo (Pinheiro et al., 2005). A criação de espécies silvestres em cativeiro é uma estratégia que tem sido implementada com o objetivo de diminuir o impacto da caça, oferecer uma alternativa de exploração sustentada dos recursos da fauna e, consequentemente, a conservação da biodiversidade contida nos ecossistemas naturais (Coutinho, 2000). Esta espécie apresenta vantagens zootécnicas importantes como a grande rusticidade, a alta eficiência reprodutiva e o fácil manejo nutricional, o que determina seu grande potencial para criação racional, produzindo carne, couro, cerdas e óleo (Lanna, 1997). Os animais exigem poucos cuidados, contudo um dos grandes problemas sanitários nos criadouros é a verminose (De Cicco, 2001). Recomenda-se que animais recém-adquiridos permaneçam em quarentena, em baias fechadas com cimento, por 50, 60 ou mais dias. Após este período devem passar por avalia-
ção parasitológica criteriosa; preconiza-se a realização de três exames coprológicos consecutivos, com intervalo de 10 a 15 dias, antes da introdução dos animais no criadouro. A capivara é parasitada por mais de duas dezenas de helmintos, que determinam lesões nos intestinos delgado e grosso, nos vasos sanguíneos renais, nos pulmões e no coração (Sinkoc, 1997; Bonuti, 1999). As endoparasitoses podem levar a uma série de manifestações clínicas, que variam desde a interrupção da alimentação até a morte súbita (De Cicco, 2001). Segundo Araújo (2005), o maior risco na criação de capivaras é o fato de saber-se muito pouco sobre as enfermidades que atingem essa espécie animal, podendo dessa forma ocorrer doenças pouco estudadas ou desconhecidas, o que ocasionaria a morte de muitos animais. A capivara (Hydrochaeris hydrochaeris, Linnaeus, 1766) é o maior roedor herbívoro do mundo. É encontrada em certas áreas das Américas do Sul e Central, próximo a rios e lagos, alimentando-se de gramíneas e plantas aquáticas comuns nas várzeas e alagados (Emmons, 1990). Pode chegar a pesar até 100 kg, porém seu peso médio é de 50 kg para as fêmeas e 60 kg para os machos (Deutsdh & Puglia, 1988). Esta espécie destaca-se pelo seu potencial cinegético, possui requisitos zootécnicos importantes para a criação sustentável, como a alta capacidade reprodutiva, os hábitos alimentares generalistas e a baixa exigência quan-
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
to às condições do habitat, rusticidade e prolixidade (Alho et al., 1986; Pinheiro; Silva; Rodrigues, 2005; Cubas et al., 2007). Os sistemas de produção de capivaras tornam-se viáveis quando os animais expressam todo o seu potencial e quando o produtor considera a utilização dos produtos e subprodutos para a comercialização (Noqueira, 2004). A sanidade é fator que requer atenção na criação já que o estresse pode ocorrer no ambiente de cativeiro, interferindo significativamente na rentabilidade da criação. Segundo Cubas et al. (2007), os problemas clínicos mais comuns em cativeiro são as ectoparasitoses, traumatismos e distúrbios nutricionais.
Para a realização da análise estatística utilizou-se o Teste de Tukey. Fixamos em 0,05 ou 5% (a £ 0,05) o nível de rejeição da hipótese de nulidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os exames coprológicos revelaram alta infecção parasitária nos três grupos de animais. Os resultados obtidos das análises de OPG para os grupos A, B e C são apresentados, respectivamente, nas Tabelas 1, 2 e 3.
MATERIAL E MÉTODOS Foram coletadas fezes de 18 capivaras, com idade entre 4 e 9 meses, provenientes da Região Oeste do Estado do Paraná. Os animais foram mantidos em quarentena (40 dias) na Companhia de Produção Agropecuária do Paraná (CODAPAR), Distrito de Floriano, Município de Maringá, Estado do Paraná (Registro no IBAMA n° 1/41/2001/000092-2). Durante este período os animais receberam alimentação forrageira e complementação com ração comercial para coelhos, uma vez ao dia, contando com apoio estrutural adequado para seus hábitos de vida. As amostras de fezes foram colhidas em sacos plásticos com etiquetas de identificação diretamente do reto dos animais. A primeira coleta ocorreu imediatamente após o período da quarentena, a segunda foi feita 15 dias após e as demais semanalmente, permanecendo sob refrigeração até a hora do processamento, não ultrapassando o período de 12 horas. O material foi processado no Laboratório de Profilaxia, Parasitologia e Reprodução Animal da Universidade Estadual de Maringá. Utilizou-se o método de Gordon & Whitlock (1939) modificado para a contagem de ovos de helmintos gastrintestinais (técnica de OPG) (Whitlock, 1948). Objetivando uma melhor evidenciação dos ovos, em substituição ao NaCl, preconizado por estes autores, optou-se pela solução de Sheather. Os animais foram divididos, aleatoriamente, em três grupos de 6 (seis) animais cada: grupos A, B e C. Os grupos A e B receberam quinzenalmente 1mL (0,01g), via subcutânea, dos produtos 1 e 2, respectivamente, o grupo C permaneceu como grupo-controle. A primeira aplicação se deu logo após a primeira coleta de fezes e a última ocorreu 32 dias antes do abate. Os produtos 1 e 2 corresponderam, respectivamente, aos antihelminticos: ivermectina 1% e moxidectina 1%. Para a análise dos dados foi feita a seguinte transformação: 2 Y = log (OPG + 100) As Análises Estatísticas foram realizadas empregandose o seguinte modelo estatístico: Yyk = + Ti + Cj + TCij + b(Xik – X) + Cijk Onde:
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
49
O número de ovos obtidos após a aplicação do produto 1 (Ivermectina 1%) (grupo A) foi significativamente menor do que o observado após a aplicação do produto 2 (moxidectina 1%) (grupo B) ou do observado no grupo controle (grupo C). A morfologia dos ovos encontrados foi indicativa de infecção por nematódeos, tendo correspondido ao descrito para tricostrongilos, estrongilos, estrongiloides e oxiurius de ruminantes. Silva et al. (2007) relatam a ocorrência de coccídeos e de helmintos intestinais em capivaras criadas em cativeiro. As infestações parasitárias são observadas principalmente no período chuvoso e podem comprometer a criação de filhotes (Ribeiro & Zamora, 2008). Assim, a gastrenterite observada nos animais estudados pode estar associada ao parasitismo intestinal, além da baixa resistência dos animais jovens e sob condições de estresse. Os resultados evidenciaram infecção parasitária nos animais após o período de quarentena. Estes animais, segun50
do informações do criador, não receberam nenhum tratamento antiparasitário durante o período de crescimento. Portanto, podemos supor que os resultados obtidos na primeira coleta correspondam àqueles que, eventualmente, seriam observados na criação. Assim, confirmamos a afirmativa de que a verminose é intensa nas criações de capivaras (De Cicco, 2001). Apesar das drogas antiparasitárias utilizadas no presente trabalho não terem recomendação específica para esta espécie, estas drogas foram selecionadas em função de seu uso difuso e rotineiro na pecuária nacional. Após ponderar a relação peso-idade, optamos pela dosagem recomendada para porcos em crescimento com peso equivalente (em torno de 2535 kg). Nossos resultados indicaram uma maior eficiência do produto 1 (ivermectina 1%) sobre o produto 2 (moxidectina 1%) nas helmintoses desses animais. Em nossa amostragem, o produto ivermectina 1%, na dosagem de 0,01g/animal, com A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
aplicação quinzenal, mostrou-se eficaz para a quase completa erradicação de ovos nas fezes após a quarta aplicação. O produto moxidectina 1% não teve a mesma eficiência, apesar de apresentar diferença significante sobre a contagem observada nos animais-controle. Os resultados preliminares desenvolvidos no presente trabalho são indicativos que este produto seja, também, eficiente para capivaras. Entretanto, devemos destacar que trabalhamos com doses, relativamente, “empíricas” e com uma amostragem pequena. Estudos com um número maior de animais deverão ser desenvolvidos no sentido de estabelecer a dose ideal para estes animais e, possivelmente, ainda, com outras drogas. Na verdade, a contagem de ovos inicialmente obtida foi bastante variável em todos os grupos. Os hábitos sociais e hierárquicos destes animais podem resultar na exclusão de animais dos bandos, os quais se tornam “animais satélites” que, vivendo sob tensão, estão mais expostos a predadores e a doenças parasitárias, gerando assim dificuldades na criação em áreas semi naturais (Alho et al., 1987). Entretanto, a criação destes animais exige pessoal habilitado para o manejo e com o conhecimento das doenças que podem acometer a criação, e, principalmente, sobre as zoonoses que esta espécie pode transmitir. A parasitose do trato gastrointestinal de capivaras é um problema evidente nas criações em cativeiro (Lanna, 1997; Sinkoc, 1997; Bonuti, 1999; De Cicco, 2001). Da mesma forma, parasitoses intestinais de espécies domésticas, especialmente, de suínos, são focos importantes de zoonoses em nosso país. O crescente aumento na produção destes animais leva a um aumento no número de trabalhadores em contato com estes animais. Essa realidade exige medidas urgentes por parte dos órgãos governamentais no sentido de estimular estudos envolvendo as zoonoses que podem acometer as capivaras, com enfoque particular sobre as parasitoses
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALHO, C.J.R. Criação e manejo de capivaras em pequenas propriedades rurais. Brasilia, DF: EMBRAPA - DDT, 1986. 48 p. ARAUJO, N.C. Ministério da Ciência e Tecnologia, Sistema Brasileiro de Respostas Técnicas. Disponível em: <http://www.sbrt.ibict.br/upload/sbrt1338.pdf>. Acesso em: 28 set. 2006.
BONUTI, M.R. Helmintos parasitos de capivaras (Hydrochoerus hydrochaeris hydrochaeris L, 1766), provenientes dos Municípios de Corumbá, Coxim e Pedro Gomes (Região do Pantanal), Estado do Mato Grosso do Sul. Jaboticabal: UNESP, 1999. Dissertação (Mestrado em Ciências Veterinárias) Setor de Medicina Veterinária Preventiva - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias. BOWMAN, D.D. Parasitologia veterinária de Georgis. 8. ed. São Paulo: Manole, 2006. 422 p. COUTINHO, M.E. 2002. Jacaré: criação ou manejo? Disponível em http://www23.sede.embrapa.br. 26/03/2007. CUBAS, Z.S.; SILVA, J.C.R.; & CATÃO - DIAS, J.L. 2007. Tratado de Animais Selvagens-Medicina Veterinaria. São Paulo: ROCA . p. 1354. DE CICCO, L.C.H.S. Saúde animal: Capivara (Hydrochoerus hydrochoeris). Disponível em http://www.saudeanimal.com.br/ capivara.htm. Acesso em 20 nov. 2001. DEUSTSCH, L. A; PUGLIA, L. R. Os animais silvestres: proteção, doença e manejo. Rio de Janeiro: Globo, 1988. 191 p. EMMONS, L.H. Neotropical Rainforest Mammals a eld guide. Chicago: Chicago Press, 1990. 307 p. IBAMA. Ministério do Meio Ambiente. Algumas das espécies da nossa fauna. 2006. Disponível em: <http://www. ibama.gov.br>. Acesso em: 28 set. 2006. LANNA, C.L. Animais silvestres: novo manejo na criação de capivara. Rio de Janeiro, Manchete Rural, v. 10, n. 123, p.14-15, 1997. NOGUEIRA - FILHO, S.L.G.; NOGUEIRA, S.S.C. Captive beeding programs as an alternative for wildlife conservation in Brazil. Journal People in nature: wildlife management and conservation in Latin America. New York, v. 1, p. 171 190.2004. PINHEIRO, M.S.; SILVA, J.J.C.; RODRIGUES, R.C. 2005 Sistemas de criação de capivaras. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2005.84 p. PINHEIRO, M.S. Desempenho e Manejo de Capivaras em Sistema Semi - intensivo na Região Costeira Sul do Rio Grande do Sul: Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2007.40 p. RIBEIRO, V.M.F,; ZAMORA, L.M. Pacas e Capivaras Criação em Cativeiro com Ambientação Natural. Rio Branco, AC.: GEA/AS 2008. Anais SINKOC, A.L. et al. Ocorrência de Ioxididae parasitos de capivara (Hydrochoeris hydrochaeris Linnaeus, 1766) na Estação Ecológica do Taim, Rio Grande, RS, Brasil. Santa Maria, Ciência Rural, v. 27, n. 1, p. 119-122, 1997. WHITLOCK, A.V. Some modification of the Macmaster helminth egg couting techniq anti apparato. J. Helminth, v. 29, p. 177-80, 1948.
HV Informa Erramos Na edição anterior de A Hora Veterinária, nº 178, publicamos a reportagem fotográfica da Expointer 2010, e na foto do Laboratório Bravet, a legenda não saiu, publicamos novamente com os créditos: Virgilio dos Santos Filho, Diretor do Laboratório Bravet com sua equipe na Expointer 2010 A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
51
Ecologia Angela Escosteguy, Médica Veterinária, Fiscal Federal Agropecuário, D.E.A. Ciências Alimentares, França, Membro do Comitê Científico Internacional de A Hora Veterinária, Coordenadora do GT Produção Animal Orgânica/MAPA, Coordenadora da Comissão sobre Pecuária Orgânica da Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária, Presidente do Instituto do Bem-Estar, angela@ibembrasil.org, Porto Alegre, Brasil.
Salmão transgênico no nosso prato
O anúncio da solicitação de liberação para consumo humano do primeiro animal transgênico (salmão), encaminhado à FDA – Food Drug Administration, nos EUA, causou repercussão mundial. A empresa criadora, AquaBonty, afirma que o novo peixe é seguro para o consumo e não representa ameça ao ambiente. Nos últimos 10 anos a companhia gastou US$ 50 milhões em estudos para mostrar que não há diferença entre seu peixe e os outros. Por outro lado, muitos chamam de Frankenfood (comida Frankestein) os alimentos provenientes de animais transgênicos, pois os animais são criados a partir da junção de gens de espécies diferentes. Não é de admirar, portanto, que o anúncio provocou uma série de discussões sobre os possíveis riscos e benefícios desta nova tecnologia e mostrou que está longe de haver um consenso sobre o tema. De um lado geneticistas e industriais e de outro consumidores, ambientalistas e advogados apresentam seus argumentos.
alimento saudável para o coração pela presença de omega 3, reduzindo assim a pressão nos cardumes naturais; a produção é mais sustentável, mais proteína, menos custos; atendeu a todas as solicitações e tomou todas as medidas para prevenir que os peixes se misturem com os da natureza; não há risco porque são criados em tanques, sem risco de escaparem e contaminarem a cadeia alimentar. Os ovos seriam produzidos no Canadá e enviados para o Panamá onde os filhotes, todas fêmeas estéreis, cresceriam em tanques com fortes medidas de segurança para impedir a liberação acidental dos animais no ambiente. A empresa afirma que os ovos são 99% estéreis e o risco de escapar e contaminar a cadeia alimentar natural é praticamente inexistente. Quando atingirem o tamanho adequado, serão abatidos e a carne será enviado aos EUA e vendida com o nome de “Salmão do Atlântico”. A empresa só se envolverá com a venda dos ovos. Apesar dos argumentos, várias perguntas seguem sem resposta.
O QUE DIZ A EMPRESA Chama-se AquaAdvantage o salmão criado pela empresa AquaBounty Technologies, que é o resultado da adição de un gene de hormônio de crescimento do DNA de salmão do Pacífico (Oncorhynchus tshawytscha) e de um peixe (Zoarces americanus) ao salmão do Atlântico (Salmo salar). O salmão resultante, geneticamente modificado (salmão GE) produz mais hormônio do crescimento e por isso cresce duas vezes mais rápido que o salmão normal. A empresa afirma que: a criação do salmão GE de crescimento mais rápido é o método mais seguro, econômico de atender a demanda mundial insaciável de salmão, tido como 52
QUAIS OS RISCOS Para os consumidores desse novo animal Qual o risco potencial do hormônio do crescimento estar associado com aumento da incidência de câncer? Qual o risco potencial de reações alérgica aos consumidores? Por que não será obrigatória a rotulagem e identificação do salmão GE para, ao menos, os consumidores poderem saber o que estarão comprando e poderem escolher? Por que liberar um produto sem estudos conclusivos de todos os riscos, feitos por organizações independentes? A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
Sobre o ecossistema Se salmão GE escapar, qual será o efeito nas populações de salmão nativo e no ecossistema? No Alaska e Canadá já ocorreram inúmeros casos de peixes que escaparam de fazendas comerciais, foram encontrados na natureza e são considerados espécies invasoras. Como já aconteceu inúmeras vezes, a introdução de novas espécies pode ter efeito devastador nas populações de peixes selvagens.
não ocorre por problemas nos animais e sim pela grande concentração de animais nos sistemas confinados.
Para a saúde e o bem-estar dos animais Vários estudos evidenciaram que o excesso de hormônio de crescimento pode resultar em mudanças em várias características dos animais, como o comportamento, a capacidade de nadar, a estrutura corporal, incluindo aumento da incidência de malformações. As primeiras gerações de salmão AquAdvantage apresentaram maior incidência de malformações que nos controles do tipo selvagem, mas as gerações posteriores tiveram taxas semelhantes ao controle de salmão. Animais transgênios tendem a ter taxas muito mais altas de deformidades que a média da natureza.
Consumidores e grupos ambientais americanos estão solicitando que, caso aprovado, o salmão transgênico seja ao menos identificado pelo rótulo, para que o consumidor saiba o que está comprando e não confunda com o salmão natural. Mas a FDA, afirma que talvez não exista um rótulo específico em virtude de seus regulamentos. Os grupos também dizem que, num tempo no qual as pessoas prestam mais atenção às fontes de sua alimentação, têm o direito de saber quando um produto foi geneticamente modificado. “O mínimo que se pode fazer ao colocar esses produtos no mercado é deixar o consumidor decidir por si mesmo, e você precisa de uma etiqueta para fazer isso”, disse Patricia Lovera, da Food and Water Watch, um grupo de defesa do consumidor. “As tendências na indústria de alimentos mostram que os consumidores querem mais informações, não menos.” A AquaBounty Technologies, sugeriu que um “geneticamente modificado” no embalagem seria parecido com uma caveira e ossos cruzados, destruindo as vendas. Elliot Entis, um dos fundadores da AquaBounty, disse que os críticos estavam tentando “deslegitimar o produto por meio da embalagem”.
PERIGOSO PRECEDENTE Se aprovado, o peixe GM chegará aos consumidores dentro de 2-3 anos e provavelmente abrirá as portas para outras criaturas transgências. O próximo da fila é o EnviroPig, primeiro animal teoricamente criado com o objetivo de amenisar um problema ambiental que é a contaminação por fósforo causada pelas fezes dos suínos. Entretanto, muitos argumentam que o problema não está no porco, pois a poluição ambiental
Rotulagem e identificação do produto
FUTURO
EnviroPig Marca comercial de um porco Yorkshire geneticamente modificado produzido na Universidade de Guelph, no Canadá, pela adição do gen de bactéria (E. Coli) e de rato no cromossoma do porco. Segundo os criadores, desta maneira o porco transgênico digere melhor o fósforo, produzindo fezes e urina com cerca de 65% menos fósforo, elemento que contamina o solo e as águas. Além disso, os produtores não precisariam mais adicional suplementação de fósforo ou fitase na ração dos animais. Estes animais estão aguardando na fila a autorização da FDA para serem criados para produção de carne para consumo humano. A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
Trinta e oito deputados e senadores dos EUA pediram à FDA a suspensão do processo de aprovação do salmão GE. A FDA pediu mais pesquisas e estudos para se posicionar. A grande questão neste assunto, como em vários outros casos semelhantes, é que as empresas que querem vender seus produtos de engenharia genética são as responsáveis por provar a sua segurança. Em outras palavras, a raposa está encarregada de provar que o galinheiro está bem protegido. Como sempre, a apresentação dos resultados teóricos da biotecnologia são fantásticos. Resta saber se, na prática, a transgenia nos animais trará benefícios para todos, ou ocorrerá o mesmo que nos alimentos de origem vegetal, pois, passados mais de 10 anos de sua liberação e uso, a grande vantagem segue sendo dos fabricantes. Além disso, como dizia Lutzenberger, mesmo que fique provado que os alimentos transgênicos são inócuos para os consumidores e para o ambiente, ainda assim, a possibilidade das sementes ou ovos, como no caso dos peixes, ficarem nas mãos de algumas empresas, é uma situação que a humanidade não deve aceitar. Até porque, está matematicamente comprovado que a produção mundial de alimentos hoje é mais que suficiente para alimentar toda a humanidade, ou seja, a fome não ocorre por falta de produção de alimentos em si, como inicialmente se pensava, e sim, por falta de poder econômico para adquirir os alimentos. 53
Diagnóstico por Imagens Esta seção destina-se à educação continuada em radiologia, endoscopia, ecografia, tomografia, buscando incentivar o uso do diagnóstico por imagens. Recebe trabalhos nacionais e internacionais de natureza prática e enriquecidos com ilustrações de caráter didático.
Controle da função luteal bovina O objetivo deste trabalho foi estudar os métodos de avaliação da função luteal em bovinos, visto que a mesma fornece informações importantes sobre o estado reprodutivo da fêmea bovina, e possibilita a adequação de procedimentos de manipulação do ciclo estral ou da gestação. J. C. ANDRADE MOURA1, H. BOLLWEIN2, A. L. GUSMÃO3, A. S. BOUZAS4, M. V. RESENDE5
Summary Y This piece of work aimed at studying the luteal function assessment methods in bovine, as it offers important information about the cow´s breeding state. It also makes it possible that more adequate procedures are adopted when handling the oestral cycle or the pregancy.
1
José Carlos de Andrade Moura, Professor Titular, Escola de Medicina Veterinária da UFBA, Membro do Comitê Científico Internacional de A Hora Veterinária, Salvador, BA, BRASIL. jcamoura@ufba.br 2 Heinrich Bollwein, Professor Titular, Diretor da Clínica de Bovinos da Fundação Escola de Veterinária de Hannover, ALEMANHA. 3 Alberto Lopes Gusmão, Professor, Escola de Medicina Veterinária da UFBA, Salvador, BA, BRASIL. 4 Adriano de Sá Bouzas, Especialista em Reprodução Animal. 5 Max Vitória Resende, Doutor em Reprodução Animal. 54
INTRODUÇÃO O Brasil vem se firmando como potência pecuária no cenário mundial em virtude do significativo desenvolvimento deste setor no agronegócio, sobretudo a bovinocultura de corte onde se destaca como detentor do maior rebanho comercial do mundo e maior exportador de carne. Atrelado a esta situação, verifica-se crescente uso das biotecnologias da reprodução com o intuito de aumentar a eficiência reprodutiva e produtiva do rebanho. Entre as biotécnicas destacam-se a sincronização do estro, inseminação artificial, transferência de embriões por múltiplas ovulações e produção in vitro de embriões (Fernandes; Oba, 2007). Como exemplo, a Sociedade Brasileira de Tecnologia de Embriões – SBTE (2009) reporta que o programa de inseminação artificial em tempo fixo – IATF, encerrou o ano de 2009 com cerca de três milhões de vacas inseminadas. Segundo Fonseca, (2001); Mann (2002); Pereira (2009), os resultados do uso dessas biotécnicas, referentes aos índices de prenhez em fêmeas receptoras de embriões, têm sido abaixo do ideal, em virtude, principalmente por falhas no processo do reconhecimento materno da gestação. As causas são multifatoriais, como, por exemplo: nutricional, diferentes agentes estressantes, anormalidades nos gametas, protocolos hormonais para doadoras/receptoras e, em particular, baixas concentrações plasmáticas de progesterona nas fêmeas receptoras em virtude do funcionamento inadequado do corpo lúteo. Considerando que a avaliação do corpo lúteo: (1) fornece informações importantes sobre o estado reprodutivo da fêmea bovina; (2) possibilita viabilizar procedimentos de manipulação do ciclo estral ou da gestação; (3) permite selecionar receptoras de embriões, este trabalho teve como objetivo estudar os
principais métodos utilizados na avaliação da função luteal bovina, com ênfase ao uso da ultrassonografia com Doppler. AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO LUTEAL A avaliação da função luteal é de fundamental importância para determinação da viabilidade do corpo lúteo. Como exemplo, a análise da concentração de P4 no leite de vacas no pós-parto é considerada um método objetivo para identificação precisa de indivíduos aptos à reprodução (Lamming, Darwash, 1998). Segundo Mann (2001), é possível identificar problemas reprodutivos como a falha no início da função luteal e a manifestação prolongada do estro causada por cistos ovarianos. McNeill et al. (2006) verificaram através da P4 no leite, no quarto dia após a IA, situações de disfunção luteal em virtude da constatação de baixas concentrações de progesterona. Thatcher et al. (1997) avaliaram a P4 no soro sanguíneo em vacas e concluíram que concentrações altas e baixas de progesterona plasmática estimulavam padrões diferentes de liberação da PGF2α e que concentrações periféricas baixas de P4 durante a fase luteal são indicativos de forte sinal luteolítico. Kerbler et al. (1997) observaram que o aumento da P4 plasmática teve correlação positiva com a síntese de IFN-tau pelo concepto quando da aplicação de gonadotrofina coriônica humana para formação de corpo lúteo acessório. Para Chagas e Silva, Lopes da Costa (2005), a determinação da P4 no plasma sanguíneo, com objetivo de avaliar a função luteal, é imprecisa. Do mesmo modo, Howard et al. (2006) demonstraram que o aumento das concentrações plasmáticas de P4 não resultou em melhoras das taxas de gestação. Esses resultados também são corroborados por Leal et al. (2009).
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
Os ovários são órgãos pares do sistema reprodutivo feminino que, anatomicamente, permitem ser examinados diretamente por palpação retal. Entretanto, a análise dos achados pode ser dificultada pelo fato da variação na forma, tamanho e pela dinâmica folicular e/ou luteal (Grunert; Berchtold, 1982). Quanto à avaliação do corpo lúteo por palpação retal, apesar da praticidade e facilidade do método, apresenta limitação dada a sua baixa sensibilidade e especificidade (Sprecher et al., 1989). Segundo Kähn (1991), a morfologia do CL à palpação retal nem sempre está associada ao tamanho do mesmo, ou seja, fêmeas bovinas que têm CL com pouca projeção podem apresentar a maior parte do mesmo, dentro do estroma ovariano (Figura 1). Essa situação é refletida no trabalho de Ferreira et al. (1992), que avaliaram a eficiência reprodutiva de diferentes rebanhos bovinos utilizando a palpação retal na avaliação da função luteal. Em virtude das dúvidas que surgiram sobre a atividade ovariana luteal, esses autores tiveram que dosar a P4 tanto no leite como no plasma sanguíneo.
grande incidência de CL incluso (Figura 2), devem ser considerados fatores importantes quando da utilização da palpação retal no exame ginecológico; corroborando assim com os autores anteriormente citados, que consideraram o exame por palpação retal impreciso para avaliar a atividade luteal em vacas.
Leal et al. (2009) estudaram a atividade luteal através da palpação retal e da ultrassonografia por imagem em tempo real e concluíram que a palpação transretal foi satisfatória para distinguir CL grande, porém perdeu a sensibilidade ao avaliar o que era CL pequeno e médio, e, considerando a análise estatística não houve diferença numérica entre o CL pequeno e o grande. Segundo Pierson e Ginther (1987), Kähn, (1991), Ribadu et al. (1994), Lamming e Darwash (1998), Viana et al., (1999), Leal et al. (2009), a ultrassonografia (US) modo “B”, por imagem em tempo real, é uma importante técnica não invasiva que permite a completa visualização do tecido luteal, possibilitando maior precisão na identificação e mensuração do CL. Na imagem ultrassonográfica, a ecotextura do CL é hipoecoica, homogênea, circunscrita e contrasta com a ecotextura mais ecogênica do estroma ovariano (Figura 3 e 4).
Considerando programa de transferência de embriões bovinos, receptoras sincronizadas com as doadoras, as receptoras avaliadas no momento da inovulação (dia sete pósovulação) no sentido de constatar presença ou ausência do CL, sendo este o indicativo da utilização do animal, Viana (1996) demonstrou que essa seleção por palpação da projeção do CL não é segura em virtude da ocorrência de CL parcialmente ou totalmente incluso. Por outro lado, Fernandes e Velásquez (1997) propuseram uma metodologia para exame da atividade ovariana por palpação retal em receptoras de embriões, que consistia em identificar o CL, localizá-lo e de forma subjetiva classificá-lo (quanto à assimetria ovariana que resulta pelo aumento de volume que o CL proporciona no ovário no qual está presente) em grande (CL1), médio (CL2) e pequeno (CL3). Os autores chegaram à conclusão de que existiu relação positiva entre o método indireto de avaliação do CL e índice de prenhez em receptoras de embriões bovinos. Em discordância, Demczuk et al. (1998), Spell et al. (2001) e Vieira et al. (2002) observaram que não existe relação entre a morfologia ovariana e do CL, avaliada por palpação retal, e taxa de prenhez em receptoras bovinas. Baseado em estudos desenvolvidos em ovários de vacas obtidos em matadouro, Ramos et al. (2008) concluíram que a relação comprimento e largura do ovário, assim como a A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
55
Viana et al. (1999) estudaram, através da imagem ultrassonográfica em tempo real e da determinação da P4 plasmática, o desenvolvimento, a função e a regressão luteal em vacas da raça Gir. O CL foi inicialmente visualizado aos 3,28 ± 0,19 dias após a ovulação. A taxa de crescimento do CL entre a primeira detecção e o dia 7 foi de 0,42 ± 0,05 cm2/dia e a concentração P4 aumentou 0,49 ± 0,02 ng/ml/dia até o dia 11, atingindo o valor máximo entre os dias 11 e 15 do ciclo (5,28 ± 0,19 ng/ml), o que coincidiu com a estabilização do tamanho do CL, ou seja, o dia em que a P4 atingiu seu valor máximo foi posterior ao dia em que o CL atingiu sua maior área. Esses resultados indicam que entre os dias nove e 14 do ciclo, a variação observada na concentração de P4 foi decorrente da maturação funcional do CL, e não do aumento na massa de tecido luteal. Segundo os autores citados, a taxa de regressão luteal foi entre os dias 16 e 21 de –0,36 ± 0,04 cm2/dia e a redução na concentração de P4 foi entre os dias 15 e 21 de 0,93 ± 0,01 ng/ml/dia. Eles especularam que o tamanho do CL pode não ser um bom indicador da produção de P4 em um determinado momento do ciclo, visto que a concentração de P4 circulante depende diretamente de sua produção, disponibilidade de precursores para a sua biossíntese, do fluxo sanguíneo luteal e da presença de fatores luteotróficos ou luteolíticos. Outra observação importante foi que a regressão funcional precede a regressão morfológica, visto que duração da visualização do CL foi de 17,7 ± 0,30 dias e da atividade luteal (caracterizada por níveis de P4 superiores a hum ng/ml), de 13,6 ± 0,36 dias. Diferença esta devida à visualização do CL, mesmo após a perda da capacidade funcional da glândula luteal. Montovani et al. (2005) trabalharam com novilhas sincronizadas através de protocolos longos, utilizando dispositivos intravaginais de P4, monitorados pela ultrassonografia e registraram relação direta entre CL maiores (2,4 cm2) e alta concentração de P4 no plasma (3,8 ng/ml). Coutinho et al. (2007) estudaram, através da imagem ultrassonográfica e da concentração de P4 no plasma, a função luteal em vacas não lactantes. Eles observaram duração média da fase lútea de 10 dias. O CL foi visualizado por 15 dias, porém, sua funcionalidade foi de 13 dias considerando valor de P4 mínimo de dois ng/ml de plasma. Herzog et al. (2008) estudaram, através de imagens ultrassonográficas, a relação entre o desenvolvimento morfológico do CL e a produção de P4 durante o ciclo estral e estabeleceram três fases distintas, ou seja, do primeiro ao dia cinco do ciclo: crescimento; do dia sete ao 16: equilíbrio; e dia 17/18: regressão. Nessa mesma pesquisa, os autores desconsiderarão o estudo quantitativo da ecotextura do CL em virtude das variações individuais e impraticabilidade do exame, haja vista, a necessidade de múltiplos exames e análises em programas computacionais específicos. Segundo Leal et al. (2009), na avaliação ultrassonográfica de CL de receptoras bovinas de embriões no dia da inovulação, foi registrado 51% de CL cavitário e 49% compacto; diâmetro médio de CL de 17 ± 6,3 mm e da cavidade de 6,8 ± 4,2 mm. A concentração de P4 foi de 4,9 ± 3,0 ng/ml. Esses resultados quando comparados às porcentagens de prenhez, não foram estatisticamente significativos. Considerando que: (I) a funcionalidade do CL está estri56
bada em uma densa rede de capilares que possibilita as células luteais obterem oxigênio, nutrientes e hormônios necessários para síntese e liberação de P4, requerida para a fisiologia do ciclo estral e ou manutenção da gestação e (II) ocorrência de rápida e intensa vascularização do CL (Niswender et al., 2000), a opção mais precisa para avaliar a função luteal é justamente determinar a quantidade de sangue que chega à glândula luteal através da ultrassonografia em tempo real com Doppler. Essa técnica associa a morfologia do CL gerada pela ultrassonografia tradicional (modo “B”) à perfusão sanguínea na glândula analisada pelo modo “Color (número de pixels colorido) ou Power (topografia vascular) Doppler” (Figura 5 e 6) (Acosta et al., 2002; Acosta et al., 2003; Shirasuma et al. (2004); Miyamoto et al., 2005; Miyamoto et al., 2006; Ginther, 2007; Herzog; Bollwein, 2007; Herzog; Bollwein, 2008).
Acosta et al. (2002) utilizaram o Doppler para estudar a perfusão sanguínea no CL em resposta à aplicação de PGF2alfa no início (dia quatro) e no meio da fase luteal (dia 11). Eles observaram que na primeira aplicação não houve alteração na dinâmica sanguínea e associaram esse fato ao período em que o CL bovino é refratário à PGF2-alfa. Entretanto, 30 minutos após a segunda aplicação foi verificado repentino aumento, por duas horas, da perfusão sanguínea que após este período reduziu-se progressivamente, caracterizando assim a luteólise e início de um novo ciclo. Acosta et al. (2003) demonstraram a dicotomia do aumento da perfusão sanguínea relacionada ao folículo préovulatório e em seguida, no desenvolvimento inicial do CL; respectivamente, com aumento do estrógeno/hormônio luteinizante e aumento da progesterona. Pesquisas realizadas em vacas com luteólise não induzida, Shirasuna et al. (2004); Miyamoto et al. (2005) e Miyamoto et al. (2006) comprovaram um aumento abrupto da perfusão sanguínea no CL no dia 17 do ciclo, estabelecendo assim, uma relação direta do aumento abrupto da perfusão sanguínea com o início do processo da luteólise, conforme foi A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
descrito anteriormente, em vacas com luteólise induzidas, por Acosta et al. (2002). Herzog e Bollwein (2007) utilizaram o Color Doppler para estudar a perfusão sanguínea no CL durante o ciclo estral bovino e concluíram que o aumento da perfusão sanguínea era concomitante ao aumento da concentração de P4 no plasma sanguíneo. Entretanto, o volume da massa luteal não acompanhava essa relação de forma significativa a partir do dia 17/18 do ciclo. Como pode ser observado na Figura 7, a atividade luteal um CL com área média de 200 mm 2 no exame ultrassonográfico em determinado momento de um ciclo estral desconhecido, não pode ser relacionada a uma função luteal positiva, pois o mesmo pode encontrar-se na fase de regressão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com as referências apresentadas, pode-se considerar que: (1) É condição básica para a avaliação luteal o prévio conhecimento sobre o momento em que o indivíduo se encontra dentro da fase luteal, ou seja: fase de desenvolvimento, equilíbrio ou regressão. (2) Teoricamente a determinação de progesterona no leite ou no plasma sanguíneo é ser um método confiável para avaliar a função luteal. Entretanto, fatores como: diferença entre indivíduos, estresse, temperatura elevada e nutrição, contribuem para a imprecisão dos resultados. (3) A avaliação do corpo lúteo por palpação retal apresenta séria limitação em virtude da sua baixa sensibilidade e especificidade. (4) A ultrassonografia (modo “B”) por imagem em tempo real, é uma importante técnica não invasiva que permite a completa visualização do tecido luteal, possibilitando maior precisão na identificação e mensuração do corpo lúteo. Quanto à avaliação da função luteal na fase de regressão, a mesma torna-se imprecisa, em virtude do tamanho do corpo lúteo não corresponder à quantidade de progesterona sintetizada pela glândula. (5) O estudo quantitativo da ecogenicidade do corpo lúteo relacionado à produção de progesterona mostrou-se impreciso, em virtude das variações individuais e impraticabilidade do exame, haja vista, a necessidade de múltiplos exames e análises em programas computacionais específicos. A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
(6) A perfusão sanguínea no corpo lúteo estar diretamente relacionada com a produção de progesterona. (7) A utilização da ultrassonografia com Color ou Power Doppler permite um fiel estudo, in vivo, da perfusão sanguínea no corpo lúteo e consequentemente uma avaliação segura da função luteal. REFERÊNCIAS ACOSTA, T.J.; YOSHIZAWA, N.; OHTANI, M.; MIYAMOTO, A. Local changes in blood flow within the early and midcycle corpus luteum function in the cow. Biology Reproduction, v.66, p.651-658, 2002. ACOSTA, T.J.; HAYASHI, K.G.; OHTANI, M.; MIYAMOTO, A. Local changes in blood flow within the preovulatory follicle and early corpus luteum in the cow. Reproduction, v.125, p.759-767, 2003. CHAGAS e SILVA, J.; LOPES da COSTA, L. Luteotrophic influence of early bovine embryos and the relationship between plasma progesterone concentrations and embryo survival. Theriogenology, v. 64, p.49-60, 2005. COUTINHO, G.T.R.M.; VIANA, J.H.M.; CAMARGO, L.S.; FERREIRA, A.M.; PALHÃO, P.M.; NOGUEIRA, L.A.G. Avaliação ultra-sonográfica da dinâmica folicular e lútea em vacas da raça Guzerá. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.59, n.5, p.1089-1096, 2007. DEMCZUK, E.; KOZICLI, L.E.; PONTELLI, E.S.; SALLES, J.O. Transferência de embrião em vacas da raça Simental na região noroeste do Paraná e sul do Mato Grosso do Sul. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, v.35, n.4, p.174-177,1998. FERNANDES, C.A.C.; VELÁSQUEZ, L.F.V. Características do corpo lúteo e taxa de gestação de receptoras de embriões. Archivos de Reprodução Animal, v.1, n.2, p.28-31, 1997. FERREIRA, A.M.;SÁ, W.F.;VILLAÇA, H.A.; ASSIS, A.G. Diagnóstico da situação produtiva e reprodutiva em rebanhos bovinos leiteiros da Zona da Mata de Minas Gerais. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.27, n.1, p.91-104, 1992. GINTHER, O.J. Ultrasonic imaging and animal reproduction: color-Doppler ultrasonography. Madison. EquiservicesPublishing. 2007. 258p. GRUNERT, E.; BERCHTOLD, M. Fertilitätstörungen beim weiblichen Rind. Berlin. Parey Verlag, 1982. HERZOG, K.; BOLLWEIN, H. Application of Doppler ultrasonography in cattle reproductuion. Reproduction Domestic Animal, v.42 (Suppl. 2), p.51-58, 2007. HERZOG, K.; EVANGELOS K.; BOLLWEIN, H. Examination of cyclic changes in bovine luteal echotexture using computer-assisted statical pattern techniques. Animal Reproduction Science, v.106, p.289-297, 2008. HERZOG, K.; VOSS, C.; BEINDORFF, N.; PAUL, V.; MEYER, H.H.D.; NIEMANN, H.; BOLLWEIN, H. Suitability of color Doppler sonography for evaluation of plasma progesterone levels in cyclic Holstein Friesian cow In: XXII
57
World Buiatrics Congress, 2008, Budapest, Hungary. Palestra…Budapest: WBA, 2008. Disponível em: <http:www.tiho-hannover.de/klinikfurrinder/Herzog> Acesso em 30Jul2008. HOWARD, J.M.; MANZO, R.; DALTON, J.C.; FRAGO, F.; AHMADZADEH, A. Conception rates and serum progesterone concentration in dairy cattle administered gonadotropin releasing hormone 5 days after artificial insemination. Animal Reproduction Science, v.95, p. 224233, 2006. KÄHN, W. Atlas und Lehrbuch der Ultraschalldiagnostik. Schütersche Verlag. Hannover, 1991. KERBLER, T.L.; BUHR, M.M.; JORDAN, L.T.; LESLIE, K.E.; WALTON, J.S. Relationship between maternal plasma progesterone concentration and interferon-tau synthesis by the conceptus in cattle. Theriogenology, v.47, p.703714, 1997. LAMMING, G.E.; DARWASH, A.O.; The use of milk progesterone profiles to characterise components of subfertility in milked dairy cows. Animal Reproduction Science, v. 52, p. 175-190, 1998. LEAL, L.S.; OBA, E.; FERNANDES, C.A.C.; SÁ FILHO, O.G. Avaliação do corpo lúteo, contratilidade uterina e concentrações plasmáticas de progesterona e estradiol em receptoras de embriões bovinos. Ciência Animal Brasileira, v.10, n.1, p.174-183, 2009. MANN, G.E. Pregnancy rates during experimentation in dairy cows. The Veterinary Journal, v.161, p.301-304, 2001. MANN, G.E.; LAMMING, G.E. Relationship between maternal endocrine environment, early embryo development and inhibition of the luteolytic mechanism in cows. Reproduction, v.121, p.175-180, 2001. McNEILL, R.E.; DISKIN, M.G.; SREENAN, J.M.; MORRIS, D.G. Association between milk progesterone concentration on different days and with embryo survival during the early luteal phase in dairy cows. Theriogenology, v. 65, p.14351441, 2006. MIYAMOTO, A.; SHIRASUNA, K.; WIJAYAGUNA WARDANE, M.P.; WATANABE, S.; HAYASHI, M; YAMAMOTO, D.; MATSUI, M.; ACOSTA, T.J. Blood flow: a key regulatory component of corpus luteum function in the cow. Domestic Animal Endocrinology, v.29, p.329-339, 2005. MIYAMOTO, A.; SHIRASUNA, K.; HAYASHI, K.; KAMADA, D. KAWASHIMA, C.; KANEKO, E.; ACOSTA, T.J.; MATSUI, M. A potential use of color ultrasound as tool for reproduction management. Journal of Reproduction and Development, v.52, n.1, p.153-160, 2006. MONTOVANI, A.P.; REIS, E.L.; GACEK, F.; BÓ, G. A.; BARUSELLI, P.S. Prolonged use of a progesteronereleasing intravaginal device (CIDR) for induction of persistent follicles in bovine embryo recepients. Animal Reproduction, v.2, n.4, p.272-277, 2005. NISWENDER, G.D; JUENGEL, J.L.; SILVA, P.J.; ROLLYSON, 58
M.K.; McINTUSH, E.W. Mechanisms Controlling the Function and Life Span of the Corpus Luteum. Physiological Reviews, v 80, p. 1-29, 2000. PIERSON, R.A.; GINTHER, O.J. Ultrasonic imaging of the ovaries and of the uterus in cattle. Theriogenology, v.29, p.21-37, 1987. RAMOS, E.M.; CAVALCANTE, T.V.; NUNES, R.R.M.; OLIVEIRA, C.M.; SILVA, S.M.M.S.; DIAS, F.E.F.; MARNO, V.M.; ARRIVABENE, M. Morfometria ovariana de vacas zebuínas criadas na Amazônia Central. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v.9, n.4, p.696-702, 2008. RIBADU, A.Y.; WARD, W.R.; DOBSON, H. Comparative evaluation of ovarian structures in cattle by palpation per rectum, ultrasonography and plasma progesterone concentration. Veterinary Record, v. 135, p.452-457, 1994. SILVIA, W.J.; LEWIS G.S.; McCRACKEN, J.A.; THATCHER, W.W.; WILSON, L.JR. Hormonal regulation of uterine secretion of Prostaglandin F2alfa during luteolysis in ruminants. Biology of Reproduction, v. 45, p.655-663, 1991. SHIRASUNA, K.; WIJAYAGUNAWARDANE, M.P.; WATANABE, S.; YAMAMOTO, D.; MATSUI, M.; OHTANI, M.; MIYAMOTO, A. A blood flow in the corpus luteum acutely increases together with endothelin-1 in mRNA expression at early stage of regression during spontaneous luteolysis in the cow. Biology Reproduction, v.71, p.137, 2004. SOCIEDADE BRASILEIRA DE TECNOLOGIA DE EMBRIÕES. O embrião, ano X, Ed. 44, p. 6, nov/dez 2009. SPELL, A.R.; BEAL, W.E.; CORAH, L.R.; LAMB, G.C. Evaluating recipient and embryo factors that affect pregnancy rates of embryo transfer in beef cattle, Theriogenology, v.56, p.287-297, 2001. SPRECHER, D.J.; NEBEL, R.L.; WHITMAN, S.S. The predictive value, sensitivity and specificity of the palpation per rectum and transrectal ultrasonography for determination of bovine luteal status. Theriogenology, v. 31, p.1165-1172, 1989. THATCHER, W.W.; BINELLI, M.; BURKE, j.; STAPLES, C.R.; AMBROSE, J.D.; COELHO, S. Antiluteolytic signals between the conceptus and endometrium. Theriogenology, v. 47, p.131-140, 1997. VIANA, J.H.M. Avaliação ultra-sonográfica de estruturas ovarianas em doadoras e receptoras de embriões. 1996. 120f. Dissertação (mestrado em reprodução animal). Departamento de Zootecnia, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 1996. VIANA, J.H.M.; FERREIRA, A.M.; SÁ, W.F.; CAMARGO, L.S.A. Características morfológicas e funcionais do corpo lúteo durante o ciclo estral em vacas da raça Gir. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.51, n.3, p.251-256, 1999. VIEIRA, R.C.; FRANCO, R.V.R.; DINIZ, E.G.; JACOMINI, J.O. Relação entre morfologia do corpo lúteo e índices de prenhez em receptoras de embriões bovinos. Bioscience Journal, v. 18, n. 2, p.99-102, 2002. A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
Qual o seu diagnóstico? /
Perguntas
C. E. LARSSON1, C. N. ROSSI1, S. MARUYAMA1, L. E. B. LUCARTS1
Caso clínico: Cão Bulldog Inglês com quadro dermatopático*
Resenha: Cão, Bulldog Inglês, macho, 24 meses. No atendimento junto ao Serviço de Dermatologia do HOVET/FMVZ/USP, realizado em fevereiro de 2010, do cão retro identificado, relatava-se quadro dermatopático evoluindo há seis meses, com prurido bastante discreto. O diagnóstico estabelecido, preteritamente, em clínicas privadas, embasado em histopatologia de lesões biopsiadas era de “dermatite alérgica cutânea” (sic), levando os colegas a prescreverem antibióticos, antifúngicos, antiparasitários e, finalmente, corticosteróides sistêmicos, em dosagem antiinflamatória. Esta última medicação resultou em melhora, embora discreta. Pelos dados coligidos na anamnese, afora o tegumentar, não havia quadro sintomático relacionado aos outros sistemas orgânicos. O animal apresentava-se, segundo os proprietários, alerta, com apetite e sede preservados. Inexistiam relatos de lesões tegumentares em contactantes humanos e animais. Ao exame físico geral, e dermatológico, em particular, não se verificavam alterações dos parâmetros fisiológicos, bem como da hidratação, mostrando-se o animal alerta. A linfonodomegalia generalizada era bastante evidente à inspeção e à palpação. Os achados dermatopáticos caracterizavam-se por eritema de base, “em lençol”, edema tegumentar, formações papulares encimadas por crostas hemo-melicéricas; dorsalmente, afora as lesões retro descritas, evidenciava-se hiperqueratose e tendência à melanose. Não se observava lesões vésicobolhosas preservadas, mas somente lesões caducas, em “colarinho epidérmico”, mascaradas pela deposição crostosa (Fotos 1 e 2). O forte odor exalado, segundo o dono, lembrava o “cheiro de ninho de ratos” (sic). Em função do relatado, pergunta-se:
Foto 1.
Foto 2.
1. Quais os diagnósticos de suspeição que se poderia aventar? 2. Quais os exames complementares indicados?
1
Autores: Claudio Nazaretian Rossi, Simoni Maruyama, Luiz Eduardo Bagini Lucarts (Pós-graduandos do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo - FMZV/USP); Carlos Eduardo Larsson Junior (Médico-veterinário do Serviço de Dermatologia do Hospital Veterinário- HOVET/USP); Carlos Eduardo Larsson (Professor Titular do Departamento de Clínica Médica da FMVZ/USP, Membro do Comitê Científico Internacional de A Hora Veterinária). Avenida Professor Orlando Marques de Paiva, 87; CEP 05508-270; Cidade Universitária; São Paulo, SP, Brasil. *Caso Clínico do Serviço de Dermatologia – HOVET / USP. Fotos do acervo do Serviço de Dermatologia do HOVET/FMVZ/USP.
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
59
Qual o seu diagnóstico? /
Respostas
Caso clínico: Cão Bulldog Inglês com diagnóstico etiológico de “pênfigo foliáceo”
1. Quais os diagnósticos de suspeição que se poderia aventar? Aventou-se como diagnósticos prováveis: piodermite generalizada, secundária à demodicidose; pênfigo superficial. 2. Quais os exames complementares indicados? A equipe do Serviço uspiano solicitou o exame parasitológico de raspado, citobacterioscópico e bacteriológico de pele, bem como histopatológico de lesões biopsiadas. Como resultado obtido verificou-se: negatividade do parasitológico de raspado; presença de raros cocos Gram positivos, neutrófilos íntegros e degenerados, no citobacterioscópico tegumentar; no bacteriológico de pele houve crescimento de Staphylococcus epidermidis, sensível à totalidade dos antibióticos testados; e, finalmente, no histopatológico (HE, PAS), de todos os fragmentos, detectou-se a presença de pústulas infundibulares e subcórneas, assépticas, com conteúdo neutrofílico, eosinofílico, tendo de permeio várias células acantolíticas (“células de Tzanck”). Estabelecido o diagnóstico etiológico de “pênfigo foliáceo”, interpôs-se terapia imunossupressora com prednisolona associada à azatioprina, em dosagem de 2,0 mg/kg de peso, a cada 24 horas, associando-se terapia tópica com xampus a base de clorexidine a 3,0%. Cerca de três meses após verificou-se flagrante melhora, com remissão da maioria das lesões, ganho de peso de 30% associado a sintomas típicos de glicocorticoideterapia (Foto 3).
Foto 1.
Foto 2.
Foto 3.
60
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
HV Informa Vencedores do 12º Prêmio Pesquisa Clínica Intervet/Schering-Plough Animal Health No dia 8 de dezembro de 2010, em cerimônia realizada na Cidade de São Roque, SP, no Hotel Villa Rossa, foram homenageados os cinco vencedores da décima segunda edição do Prêmio Pesquisa Clínica Intervet/Schering-Plough Animal Health, um dos mais importantes em sua categoria realizados no Brasil. A noite foi aberta com um coquetel. Logo após foi feita a entrega dos prêmios, onde o Diretor Científico de A Hora Veterinária, Percy Infante Hatsbach fez um pronunciamento relatando aos colegas que em 2011 serão comemorados os 250 anos da fundação da Escola de Lyon, na França, data que será festejada mundialmente por assinalar os dois séculos e meio de existência da Medicina Veterinária como profissão reconhecida e organizada. Lembrou também que, em 1999, estava no Congresso Mundial de Medicinaria em Lyon, onde encontrou os vencedores do Primeiro Prêmio Pesquisa Clínica, e hoje, doze anos depois, estava ali comemorando o sucesso de tão importante iniciativa. Logo após, o Presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária, Josélio Andrade Moura, destacou os aspectos mais importantes do Prêmio para os profissionais e estudantes de todo o Brasil e destacou também que, em 2011, serão intensas as comemoração dos 250 anos da medicina veterinária em nível mundial. A cerimônia de premiação foi coordenada pelo Diretor de Assuntos Regulatórios, Pesquisa e Desenvolvimento, Leonardo Costa, e os prêmios foram entregues pelo Diretor de Marketing Gubio Almeida e pelos Gerentes de Produtos Rui Vincenzi e Sebastião Faria. O evento foi finalizado com o pronunciamento do Diretor-Presidente da Intervet Schering-Plough, Vilson Antonio Simon, que parabenizou os vencedores do 12º Prêmio Pesquisa Clínica Intervet/Schering-Plough, sua equipe de trabalho, Leonardo Costa, Sandra Moreira, Maira Helena Tomaz, Débora Poplawsky que, juntamente com a equipe de A Hora Veterinária, organizaram a parte burocrática do prêmio. Citou também a importância do “expresso 2011” com a fusão da empresa, conforme entrevista que fizemos na edição anterior. Destacou que Merial/Intervet é o nome definitivo e que Raul Kohan será o seu Presidente. Salientou que o Prêmio Pesquisa Clínica Intervet/Schering-Plough é um patrimônio desta empresa e da medicina veterinária, e aproveitou a presença de toda sua equipe de gerentes para afirmar que, em 2011, o 13º Prêmio Pesquisa Clínica terá toda atenção da sua equipe. A Hora Veterinária, cujos membros do Comitê Científico Internacional são responsáveis pelo julgamento dos trabalhos inscritos, entrevistou os premiados e colheu algumas opiniões sobre a importância da conquista alcançada. O jornalista Daniel Miranda foi o responsável por essa reportagem. A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
Wilson Roberto Fernandes, Betânia Glória Campos, Paulo Eduardo Brandão, Leonardo Costa, Vilson Simon, Julio Cesar Ferraz Jacob, Marcela Gonçalves Meirelles
Betânia Glória Campos - Emprego da somatotropina bovina de 500 mg (bST) em vacas mestiças Bos taurus x Bos indicus a intervalos de 12 ou 14 dias (TRABALHO PUBLICADO NA PRESENTE EDIÇÃO) - Graduada em Medicina Veterinária pela Escola de Veterinária da UFMG, trainee/ International Dairy Farm Program pela Universidade da Flórida (USA), especialização em Pecuária Leiteira pelo ReHagro/ Newton Paiva, Consultoria técnica/Projeto Educampo Sebrae/ MG, mestrado em Zootecnia área Produção Animal pela Escola de Veterinária da UFMG. Atualmente é doutoranda em Zootecnia área Produção Animal pela escola de Veterinária da UFMG. Sua opinião: Destaco a importância do PPC como uma ferramenta de aproximação entre a iniciativa privada e centros de pesquisa. É muito importante para o desenvolvimento do setor agropecuário que a nossa pesquisa seja direcionada, focada em atender a demanda do campo. E quando digo campo, me refiro à demanda do profissional e do produtor rural. Atualmente, no Brasil, há um grande espaço entre a produção científica e o campo. O trabalho apresentado é parte da minha tese de Doutorado, pela Escola de Veterinária da UFMG, sob orientação da Professora Sandra Gesteira Coelho. Os estudos foram desenvolvidos em fazendas comerciais, em razão da possibilidade de utilização de maior número de animais e por representar condições reais onde o produto está inserido. O apoio da revista A Hora Veterinária, traduz a preocupação deste órgão de comunicação técnico-científica em apoiar o desenvolvimento da pesquisa aplicada, além de possibilitar a divulgação do conhecimento científico a to61
dos os técnicos, não restringindo o conhecimento apenas à comunidade científica e, desta forma contribuindo para o estabelecimento da ligação entre a produção científica e o campo. Julio Cesar Ferraz Jacob - Uso clínico de hCG em um programa de transferência de embriões equino: Mitos e Verdades - Graduado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Mestrado em reprodução de equinos pela UFRRJ, Doutorado pela Universidade Federal de Viçosa e University of Wisconsin – Medson – WI – EUA. Atualmente professor do Departamento de Reprodução e Avaliação Animal da UFRRJ. Orientador dos cursos de Pós Graduação de Medicina Veterinária e Zootecnia da UFRRJ. Sua opinião: Participando pela primeira vez, considero o prêmio muito importante. Na Universidade fazemos muitas pesquisas voltadas para pesquisa de campo, com trabalhos práticos, e a Intervet/Schering-Plough dá esta grande oportunidade aos profissionais. Estou muito contente por ter ganho este prêmio junto com meus colegas. Fizemos nosso trabalho baseado no Chorulon® induzindo ovulação em éguas, pois existem muitos mitos em relação ao assunto, se funciona, se não funciona. Ttrabalhamos em transferência de embriões e tivemos bons resultados. Em relação ao prêmio, estou estudando para qual congresso irei, pois em 2011 teremos muitos eventos de grande valor para a profissão. Paulo Eduardo Brandão - Trabalho: Sobre as bases moleculares da maior proteção conferida pela vacina Nobilis® MA5 IB contra a bronquite infecciosa quando comparado com H120. Graduado em Medicina Veterinária pela Universidade de São Paulo, mestrado e doutorado em Epidemiologia Experimental Aplicada às Zoonoses pela Universidade de São Paulo e pós-doutorado pelos Centers for Disease Control and Prevention, EUA. Atualmente é Professor Doutor da Universidade de São Paulo, atuando em Doenças Infecciosas de Animais, principalmente em doenças causadas por coronavírus e raiva, sendo pesquisador associado ao Coronavirus Research Group. Sua opinião: A ideia do projeto partiu de uma observação de campo, de uma vacina que a Intervet/Schering-Plough tem para bronquite infecciosa das galinhas, pois esta cepa é muito próxima de uma outra cepa de campo e outras vacinas, mas mesmo sendo próxima, ela consegue proteger muito mais. Fomos buscar a resposta porque esta vacina protegia mais e esta foi nossa inspiração para o trabalho. Esta iniciativa da Intervet/Schering-Plough e da Revista A Hora Veterinária é muito nobre, pois a pesquisa científica é muito dependente de apoio financeiro e moral, como esse do PPC. Com o prêmio do ano passado, fui para um congresso na Bélgica, e vale ressaltar que este é um grande incentivo aos colegas veterinários, poder participar de um congresso em qualquer lugar do mundo. Para este prêmio, não decidi ainda para aonde ir, pois temos muitos congressos interessantes em 2011, quem sabe o congresso Mundial de Veterinária. Do ano passado para cá, muitos colegas da univer62
sidade se empolgaram com a minha participação e resolveram mandar trabalhos. Os colegas de todo o Brasil devem aproveitar esta oportunidade para desenvolverem seus projetos e participarem de um prêmio tão importante para a medicina veterinária. Wilson Roberto Fernandes - Efeitos da suplementação nutricional com gama-orizanol (Gama Horse) em cavalos que praticam provas de 3 tambores - Professor Associado do Departamento de Clínica Médica da FMVZ-USP, responsável pela Disciplina de Clínica de Equinos e responsável pelo Setor de Clínica Médica de Equinos do HOVET-FMVZ-USP. Sua opinião: É sempre um incentivo a mais, poder trabalhar e receber um prêmio tão importante como este, pois o pesquisador encontra muitas dificuldades para fazer e divulgar o seu trabalho, e com o PPC seu trabalho é divulgado em forma de uma separata dos trabalhos vencedores e na revista A Hora Veterinária, é uma chance de mostrar aos colegas o fruto de tanto esforço.. No Brasil está cada vez mais difícil a política de valorização de algumas revistas. Principalmente, as internacionais estão querendo acabar com as revistas nacionais. Os órgãos que deveriam valorizar as publicações nacionais não o estão fazendo, e isto acaba dificultando o trabalho do pesquisador brasileiro. A iniciativa da Intervet/Schering-Plough é muito importante para nós profissionais. Marcela Gonçalves Meirelles - Desempenho atlético e metabolismo lático em cavalos crioulos atletas suplementados com Gama Horse - Acadêmica do último ano de Medicina Veterinária da Faculdade Federal de Pelotas UFPel. Integrante do ClinEq, grupo que trabalha com clínica e pesquisa de equinos, orientado pelo professor Carlos Eduardo Nogueira, e mais dois professores colaboradores, Bruna Curcio e Charles Martins, também composto por pós graduandos e alunos da graduação. Desenvolve trabalhos na área de clínica, reprodução e neonatologia. Sua opinião: Para mim, a participação no 12º PPC foi muito importante. Primeiramente porque valoriza este trabalho desenvolvido durante a graduação, feito junto com o professor Nogueira e o Grupo ClinEq. É como se fosse uma coroação pelo esforço que a equipe tem feito, somando-se com outros trabalhos para o desenvolvimento profissional. Este Prêmio está sendo uma oportunidade maravilhosa para mim e meus colegas. O professor Nogueira está sempre incentivando o grupo de alunos da graduação e da pós-graduação a participar dos trabalhos e atividades extra-curriculares, que são muito importantes para nossa formação. Este Prêmio é fruto de muita dedicação. Estou muito feliz em recebê-lo, pois foi com muito esforço e dedicação que conseguimos chegar a este resultado: pelo sétimo ano, a equipe do Professor Nogueira está entre os vencedores. A Intervet/Schering-Plough e a Revista A Hora Veterinária estão de parabéns por conseguir manter por tanto tempo esta iniciativa e espero que mantenham este Prêmio por muitos anos ainda, pois é de fundamental importância para a veterinária brasileira. A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
63
Entrevista Laboratório Leivas Leite: um século a serviço da saúde e produção animal Naquele ano de 1911, o Brasil era governado pelo Marechal Hermes da Fonseca, que vencera Rui Barbosa nas eleições presidenciais do ano anterior. O Rio de Janeiro ainda se recuperava do susto da “Revolta da Chibata”, e o marinheiro João Cândido, que se recusara a destruir a cidade com os poderosos canhões do encouraçado “Minas Gerais”, fora traído e encarcerado na Ilha das Cobras. O Rio Grande do Sul era governado por Carlos Barbosa, um preposto de Borges de Medeiros, que realmente tomava todas as decisões. Pelotas rivalizava com Porto Alegre em qualidade de vida, superando a capital em vários aspectos, inclusive o cultural. Havia uma efervescência entre os jovens que voltavam às margens do São Gonçalo, depois de buscarem seus diplomas universitários em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador. Entre esses varões cheios de planos para o desenvolvimento industrial da região, estava o farmacêutico Antônio Leivas Leite, o fundador do famoso laboratório que herdou seu nome. Hoje, um século depois desse feito histórico, realizado no ano seguinte ao da fundação das duas primeiras Escolas de Veterinária no Brasil, foi na casa centenária onde mora, em Pelotas, que Pedro Antônio Leivas Leite, neto do pioneiro, recebeu a reportagem de A Hora Veterinária para esta entrevista. Pessoa de educação refinada, um verdadeiro gourmet, durante um delicioso almoço, Pedro Antonio, acompanhado da sua esposa Neiva, nos contou um pouco da trajetória de 100 anos do Laboratório Leivas Leite, do qual é o Diretor-Presidente. Pedro Antonio Garcia Leivas Leite é FarmacêuticoQuímico diplomado pela Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Pós-graduado em Tecnologia Industrial Farmacêutica pela Faculdade de Odontologia e Farmácia de Belo Horizonte e em Administração de Empresas pela Universidade de Harvard, Estados Unidos. Professor-Fundador da Faculdade de Medicina da Universidade Católica de Pelotas, onde foi titular da cadeira de Bioquímica, é Vice-presidente do Sistema FIERGSCIERGS, Conselheiro da Associação Comercial de Pelotas, entidade que já presidiu, Conselheiro do Centro das Indústrias de Pelotas, entidade que também já presidiu, Representante do Sindicato Nacional da Indústria de Defensivos Animais junto à FIERGS, tendo já exercido cargo de vice-presidência no referida sindicato e Conselheiro do SENAI.
A Hora Veterinária - Como teve início a fabricação de produtos veterinários no Laboratório Leivas Leite? Pedro Antônio Leivas Leite – Em 1911, meu avô foi procurado por um grupo de importantes fazendeiros locais interessados em preservar seus rebanhos e livrarem-se da dependência dos produtos veterinários importados. Foi então que ele transformou o laboratório, que era voltado apenas a produtos humanos, para fabricação de produtos veterinários. O espírito científico, uma de suas fortes características, fomentou o surgimento de novos produtos como o famoso 64
Filho de Octávio Leivas Leite e sobrinho de Arthur Sousa Leite, que sucederam Antonio Leivas Leite na direção da empresa, Pedro Antônio é irmão do farmacêutico Paulo Garcia Leite, seu sócio e braço direito no laboratório, e pai do Médico Veterinário Fabio Pereira Leivas Leite e da empresária Rita Pereira Leivas Leite. Homem forte e rijo, às vésperas de completar 80 anos, o empresário é um amante de esportes individuais. Explica que assim não depende de outras pessoas para praticar a modalidade que mais gosta, o esqui aquático. Pioneiro, trouxe este esporte para Pelotas e mais tarde para o Clube Jangadeiros, em Porto Alegre. No escritório que foi de seu pai, na mesma mesa de trabalho, talhada em madeira de Lei, conversamos sobre o empreendedorismo da família Leivas Leite, sua linha de conduta, perseverança, o idealismo e visão dos antepassados, as realizações do presente e os planos futuros. Há 30 anos, A Hora Veterinária orgulhou-se em receber, das mãos dos diretores Pedro Antonio Leivas Leite e Paulo Garcia Leite, o primeiro anúncio para circular em nossa edição de número 1, em sua quarta capa.
Carrapatyl. A inovação na área veterinária ganhou espaço no mercado através da veia desbravadora de seu fundador, caracterizando a primeira fase do laboratório que durou até a década de 40. HV – O Ministério da Agricultura comemorou 150 anos em 2010. É certo que o Leivas Leite tem seu registro número 1 como laboratório veterinário? Pedro Antônio – Sim, o Leivas Leite foi o primeiro Laboratório Veterinário a ser registrado no Ministério da Agricultura. A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
A partir de 1920, começou a produzir em grande escala, sendo pioneiro na fabricação de carrapaticidas e sarnicidas, até então, importados. Em 1943 iniciou a fabricação de vacina contra a Febre Aftosa, sendo o primeiro laboratório na América do Sul a produzir a vacina tríplice. Também foi pioneiro no registro da vacina contra Peste Suína Clássica, utilizando cepa chinesa. HV – E sua participação, quando começou? Pedro Antônio - Eu acompanhava meu avô desde pequeno, auxiliando-o em pequenas tarefas. Meu pai e meu tio assumiram a direção técnica e comercial do Laboratório em 1940. Meu irmão Paulo e eu nos diplomamos na Faculdade de Farmácia, na UFGRS, em Porto Alegre, no ano de 1956 e, depois de concluirmos a extensão universitária, voltamos a Pelotas, dando início ao trabalho da terceira geração da família no Laboratório. HV – E depois que a terceira geração assumiu, em meados da década de 1970, o que mais destaca? Pedro Antônio – Tivemos que assimilar, naquela época, a necessidade de suspender a fabricação da vacina anti-aftosa, nosso carro-chefe, uma vez que a vacina lapinizada tinha sido superada pelo cultivo celular. Foi quando tratamos de buscar tecnologia nessa área, fazendo uma importante parceria com o Canadá, na fabricação da vacina ERA contra a raiva, a primeira em cultivo celular, no Brasil. Fizemos também parcerias com laboratórios argentinos, lançando doze produtos quimioterápicos em pouco mais de um ano e abrindo filiais em outros estados onde a pecuária avançava rapidamente, como em Goiás. Em 1980, lançamos no mercado a primeira vacina produzida no país contra Parvovirose Canina. Em 1986, produzimos a primeira vacina com Antígeno de Fímbria contra a Ceratoconjuntivite Bovina e ampliamos nossa tecnologia nos processos de fermentação bacteriológica. HV – E atualmente, como está o laboratório? Pedro Antônio – Atualmente, o Leivas Leite é um laboratório que trabalha com alta tecnologia na produção de vacinas, tanto víricas, como bacterianas, e graças também a uma atualizada linha de terapêuticos, situa-se entre as principais indústrias do setor veterinário nacional. HV - O Leivas Leite, conhecido pela linha de produtos de grandes animais e até por produzir medicamentos para humanos, como foi entrar no mercado Pet? Pedro Antonio - O Leivas Leite historicamente têm uma tradição de grandes animais, ficou muito conhecido pela sua linha de vacinas. Há alguns anos, entramos no mercado de pequenos animais. Foi um novo desafio, pois é um mercado bem diferente de trabalhar, com o gado se faz conta de custo de aplicação do produto, pois ele precisa dar lucro. O mercado pet tem o lado emocional muito forte, as pessoas cuidam dos seus bichinhos de estimação com todo o carinho e atenção, como se fossem um componente da família. Pensando nisso, adquirimos a linha Pet de uma empresa da Argentina e fabricamos uma linha completa de produtos que vai desde xampus anti-pulgas, colônias, sabonetes, talcos, uma linha estética, até vermífugos entre outros. A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
HV - Como foi para o Leivas Leite o ano de 2010? Pedro Antonio - A partir de 2010, o Laboratório Leivas Leite entrou em outro patamar no mercado. Tivemos um aumento substancial nas vendas de 2009 para 2010, quase 50%. Isso devido a uma nova política comercial, novas estratégias. Contratamos um novo Gerente Nacional de Vendas, Fábio Gehring, que tem mais de 20 anos de experiência neste ramo. Trabalhamos novos sistemas de remuneração, comissões e faturamento. Com a reestruturação de equipe de vendas, fizemos a contratação de novos representantes, estamos com novos clientes. HV - O laboratório está no extremo Sul do País, como fazem para atender a demanda em um país tão grande como o Brasil? Pedro Antônio - Temos representantes em quase todos os estados do Brasil. Vendemos produtos para a Colômbia. Estamos na ponta do mapa. Nosso produto é distribuído hoje de Pelotas para o cliente, temos uma certa lentidão nesta entrega. Estamos trabalhando para mudar esta logística para 2011. Temos um bom relacionamento da equipe de vendas e nossos clientes, este é um fator muito importante nas vendas do laboratório, porque apesar do maior tempo de entrega, os clientes ficam satisfeitos com nossos produtos e serviços. Em 2011, queremos montar uma operadora logística em São Paulo, para agilizar a distribuição de nossos produtos em todo território nacional. Isso é muito importante para a nova fase do laboratório. HV - O que o Laboratório Leivas Leite está preparando para 2011, ano de seu centenário? Pedro Antônio - Nosso planejamento é de continuar crescendo nos próximos anos, estamos acima dos níveis de crescimento do mercado veterinário. Com o centenário da empresa, estamos elencando novos produtos, vamos modernizar nosso portifólio. Estamos preparando cinco novos produtos na área de bovinos. É um trabalho de grande importância, um processo que leva tempo, de pesquisa e desenvolvimento desses produtos para cumprir todas as exigências do Ministério da Agricultura. Mas são de extrema importância para a empresa, que vem conquistando novos mercados, sendo uma das que mais cresceu, em 2010. A partir de 2011, voltaremos também a produzir uma gama de vacinas para grandes animais. HV – Uma última pergunta, talvez a mais importante. Como o laboratório explica seu sucesso e manutenção na mesma família durante cem anos? Pedro Antônio – Em verdade, nos últimos cem anos, poucas famílias brasileiras, como a nossa, produziram quatro gerações de profissionais de nível superior, inclusive pós-graduados, a testa de seus negócios. Além disso, mantivemos sempre o foco na fabricação de produtos veterinários, sem aceitar perigosos desvios. Podemos ser competentes, mas nossa competência só é válida se for transferida para os produtos que fabricamos. E os produtos devem ser de alta qualidade, sem os quais não se fica no mercado por cem anos. 65
Informe SIMVET-RS Finalizado o ano de 2010, é tempo de fazer um balanço do que foi realizado e projetar ações para o ano novo de 2011 que se inicia Para o SIMVET RS, o ano de 2010 foi de muito trabalho e dedicação. Realizamos ao longo de todo o ano o programa NOVOS DESAFIOS E NOVAS DEMANDAS PARA O MÉDICO VETERINÁRIO. Buscando sempre a atualização dos colegas, foram realizados quatro cursos de curta duração que contaram com a presença de profissionais e futuros médicos veterinários, além de atividades de educação continuada realizadas na Casa do Veterinário durante a EXPOINTER. Participamos de uma série de eventos representativos para a classe médica veterinária e divulgamos o nome do SIMVET-RS na mídia, fortalecendo a imagem do Sindicato. Uma série de convênios e parcerias foram firmadas para os filiados, com destaque especial para os convênios com os profissionais da área de saúde e a UNICRED-POA, este último oferecendo uma extensa gama de produtos e serviços, que vão desde linhas de créditos aos profissionais associados até planos de saúde como UNIMED. Em relação a nossa campanha de sensibilização dos colegas para a necessidade de enquadrarem-se na legislação vigente, evitando assim futuras demandas judiciais, tivemos a filiação de inúmeros veterinários, o que aumentou em 97% o quadro de associados se comparado com o ano anterior. Projetando 2011, o SIMVET RS continuará na sua proposta de levar aos colegas médicos veterinários a atualização tão necessária para o profissional buscar seu diferencial no mercado de trabalho. O programa NOVOS DESAFIOS E NOVAS DEMANDAS PARA O MÉDICO VETERINÁRIO terá sua segunda edição, com cursos de curta duração a serem ofertados ao longo do ano. Foi firmada uma parceria entre o SIMVET-RS e o Instituto Brasileiro de Veterinária (IBVET) para a realização de quatro cursos de Especialização em Porto Alegre. Os cursos têm duração de 18 meses. As aulas serão em finais de semana, uma vez ao mês. Os cursos a serem ofertados são Pecuária de Ruminantes, Anestesiologia de Animais de Companhia, Reprodução Equina e o Curso de Diagnóstico e Cirurgia de Equinos. Os associados do SIMVET RS terão valores especiais e diferenciados nas inscrições e durante todo o período de realização desses cursos de pós- graduação. Informações sobre o corpo docente e as disciplinas a serem ofertadas em cada um dos cursos encontram-se a disposição no site www.ibvet.com.br . Durante todo o ano de 2011, o SIMVET RS manterá seus esforços para que todos os médicos veterinários do Rio Grande do Sul estejam em acordo com a legislação brasileira. Como as datas para o pagamento da contribuição sindical se aproxi-
66
ma, lembramos que essa contribuição está prevista nos artigos 578 a 591 da CLT. Possui natureza tributária, logo, é um imposto, e é recolhida compulsoriamente pelos empregadores no mês de janeiro e pelos trabalhadores no mês de abril de cada ano. O art. 8º, IV, in fine, da Constituição da República prescreve o recolhimento anual por todos aqueles que participem de uma determinada categoria econômica ou profissional, ou de uma profissão liberal, independentemente de serem ou não associados a um sindicato. Tal contribuição deve ser distribuída, na forma da lei, aos sindicatos, federações, confederações e à “Conta Especial Emprego e Salário”, administrada pelo Ministério do Trabalho e Emprego. A diretoria do SIMVET-RS tem muito a comemorar, mas também muito a agradecer. Agradecemos aos parceiros, colegas e futuros colegas que nos auxiliaram a chegar até aqui. Desejamos a todos um Feliz Natal e um Novo Ano repleto de saúde, paz, harmonia e prosperidade.
Curso de Atualização em Bovinos de Leite- Módulo 2
Dra. Lizzie Dietrich, palestrante sobre Odontologia Veterinária, em demonstração prática durante a Expointer
A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
Informe da SOVERGS Rua Andrade Neves, 159/123 - fone/fax: (51) 3228-1194, Porto Alegre, RS, BRASIL.
Sovergs faz balanço sobre suas atividades no ano de 2010 ¼ Reunião de Diretoria - Todas as quartas-feiras - março/ dezembro ¼ EQUALIS - Ensino e Qualificação Superior (convênio) Atualização, aperfeiçoamento e pós-graduação - Eduardo Amato ERECHIM (2) ¼ Jornadas Técnicas • Controle de vetores e roedores - Ricardo Soares Matias • Intoxicação por plantas tóxicas em animais de produção Adriana Costa da Motta • VII Simpósio de Bovinocultura de Leite do Alto Uruguai (O Mercado do Leite Brasileiro e Mundial) – Osler Desouzart ¼ 5º Encontro de Presidentes de Associações de Médicos Veterinários do interior do Estado - (acordo de colaboração mútua) ¼ Relatório anual físico-financeiro Ministério da Justiça Shaiana e Marilisa ¼ Três reuniões sobre Jornada Técnica Avisulat 2010 - Antônio e Marilisa ¼ Reunião de Presidentes de Entidades para cronograma da Expointer 2010 - Marilisa ¼ Reunião na AFAMA/RS – Inspeção Produtos de Origem Animal -Marilisa ¼ Comissão das Mulheres Produtoras Rurais – FARSUL Marilisa ¼ Homenagem às Médicas Veterinárias Elinor Fortes e Lia Fernandez - Marilisa e Vera Lúcia ¼ Lançamento do Programa “Mundo em Sintonia” do CRMV/RS - Marilisa, Vera Lúcia e Antônio ¼ Reunião para avaliação da retirada da vacina antiaftosa Marilisa e Antônio ¼ Reunião sobre Cavalgada do Mar (3) - Marcos de Araújo Lacourt, Alexandre Monteverde e Diretoria Sovergs ¼ Reunião sobre o quadro Estadual Fiscal Agropecuário Fanfa Fagundes, Munari Ramos, Carlos Alberto, Marilisa e Antônio ¼ Página de notícias na Revista A Hora Veterinária ¼ Palestra aos calouros de Veterinária da UFRGS - Marilisa ¼ Lançamento do Programa de Sanidade Animal – IPVDF Deputado Jerônimo Goergen ¼ Participação no 37º CONBRAVET - Marilisa e Vera Lúcia ¼ 37º CONBRAVET - A evolução do gênero feminino na veterinária / mulheres x profissão x evolução - Vera Lúcia ¼ Posse da Comissão da Mulher Advogada – OAB - Vera Lúcia ¼ EXPOINTER 2010 Incorporação do Especialista Veterinário na Rotina da Clinica de Animais de Companhia - Med. Vet. Berenice de Ávila Rodrigues A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011
A mulher veterinária na produção rural. - Abertura: Maria Berenice Gervasio Cheuiche - (A Hora Veterinária) - Med. Vet.Vera Lúcia Machado da Silva - (Presidente da Comissão da Mulher CRMV/RS) - Med. Vet. Fernanda Kuhl - Supervisora de bem-estar animal, Unidade do Marfrig em Capão do Leão/RS. - Med. Vet. Rosalina Ribas Gonzales – Odontóloga e Veterinária de equinos/administradora rural - Itacorubi/RS. - Med. Vet. Gabriela Becker da Silveira - Coordenadora Técnica do Laboratório Organnact - Região Sul. - Med. Vet. Maria Luísa Gonzatti - Responsável pelo fomento da COSUEL - Montenegro/RS. - Med. Vet. Marlise Germer - Técnica de Registro da Caprisul - Porto Alegre/RS. - Med. Vet. Manolo Ortiz Estrázulas - Secretário da Sovergs ¼ Noite de especialistas promoção Anclivepa - Vera Lúcia e Marilisa ¼ Dia do Veterinário - Anúncio ZH - SOVERGS, ANCLIVEPA, SIMVET e ACADEMIA ¼ Inauguração do Museu da Biodiversidade – FZB - Marilisa ¼ Perspectivas para a Erradicação da Febre Aftosa no extremo sul da América - EXPOINTER 2010 - José Fernando Dora, José Euclides Severo, Oni Lacerda, Marilisa Petry e Diretoria Sovergs ¼ Formatura de Medicina Veterinária da UFPEL - VETESUL - Roberto Ladeira ¼ Formatura de Medicina Veterinária da UFRGS - ATMV/ 01 - 2010 Simone Passos Bianchi e Gabriel Monteiro Tavolli ¼ 56ª Feira do Livro - Porto Alegre - Sessão de autógrafos Alcy Cheuiche (O Ventríloquo) - Marilisa ¼ Sessão de Autógrafos dos Livros dos médicos veterinários Onyx Lorenzoni e Silvio Menegassi ¼ Registro do Logo e da Marca da SOVERGS no MP BRASIL - marcas e patentes ¼ Palestra Gedeão na FARSUL em Esteio/RS - Luis Fernando Dora e Marilisa ¼ Jantar de confraternização ANGUS - Antônio ¼ Jantar de confraternização Hereford/Braford - Vera Lúcia
METAS PARA O ANO DE 2011 – SOVERGS ¼ Galeria dos Ex-Presidentes - Homenagem aos 29 Presidentes - 32 gestões – 72 anos ininterruptos ¼ 38º CONBRAVET – Florianópolis – nov/2011 ¼ Curso da Equalis Defesa Sanitária Animal ¼ Curso de Sinantrópicos
67
Informe CRMV-RS Antibióticos de uso veterinário também deveriam ter receita retida Os antibióticos vendidos nas farmácias e drogarias do país só podem ser entregues ao consumidor mediante receita de controle especial em duas vias desde o final de novembro. A primeira via ficará retida no estabelecimento farmacêutico e a segunda deverá ser devolvida ao paciente com carimbo para comprovar o atendimento. A medida foi tomada para reduzir o risco de surgimento de bactérias super-resistentes aos princípios ativos. No entanto, os médicos-veterinários defendem que a mesma precaução deveria ser tomada com os antibióticos de uso animal. O CRMV-RS formou uma comissão para promover uma mobilização em favor da exigência da retenção da receita também em casos médico-veterinários. O CFMV acompanhou a discussão dessa resolução da Anvisa e alertou o órgão a respeito dos riscos de manter a não exigência de retenção da receita nos casos veterinários. A autarquia teme que possa ocorrer uso desses medicamentos por humanos. “A compra de produtos veterinários por humanos para fins terapêuticos seria desastrosa. Os produtos apresentam diferenças devido à farmacocinética que se devem às espécies para os quais eles são fabricados”, explica a especialista em farmacologia Silvana Lima Górniak, da Universidade de São Paulo e representante do CFMV para o tema. A mesma posição é defendida pelo professor de farmacologia da Ulbra, João Sérgio Coussirat de Azevedo. “O processo deveria ocorrer da mesma forma como se faz na abordagem humana, com a retenção do receituário veterinário, pois
CRMV-RS formou comissão para tratar do assunto somente com o exame clínico do paciente pelo médico-veterinário é possível fazer a prescrição do medicamento”, reitera. Azevedo relata que no ambiente veterinário também há o aparecimento de bactérias resistentes, com inúmeros relatos em hospitais e clínicas. Além disso, o uso indiscriminado em animais de produção gera riscos para o agronegócio. A falta de orientação pode fazer com que não seja observado o período de carência para a eliminação de resíduos, contaminando a carne ou o leite. Há alguns meses, a identificação de resíduo de medicamentos na carne fez com que a qualidade do produto exportado pelo Brasil fosse questionada por compradores.
CRMV-RS debate responsabilidade técnica na produção de aves, suínos e leite Lideranças do agronegócio, produtores rurais, empresários, zootecnistas e médicos-veterinários estiveram reunidos de 17 a 19 de novembro no II Congresso Sul Brasileiro de Avicultura, Suinocultura e Laticínios - Avisulat 2010, em Bento Gonçalves, para discutir os rumos da agroindústria brasileira. Painéis, seminários e palestras técnicas reuniram mais de 1,5 mil congressistas nos auditórios paralelos para cada setor. O CRMV-RS promoveu, como parte da programação paralela do Avisulat, um painel sobre responsabilidade técnica, onde RTs das cadeias avícola, suinícola e láctea e estudantes de Medicina Veterinária se encontraram em um momento de discussão e atualização profissional. No encontro, foi destacada a importância do profissional estar atento à gestão, à visão holística e à capacitação técnica, como mostrou o médico-veterinário Eurico Mussoi Junior ao apresentar o painel A Responsabilidade Técnica do Médico-Veterinário na Suinocultura. Já para o médico-veterinário Vitor Hugo Martinez Pereira, ao falar sobre a bovinocultura de leite, o perfil do RT exige também muito comprometimento. “O RT precisa ser um parceiro da empresa, ter compromisso com os resultados e estar atento às normas e legislações”, completou. 68
Estande ressaltou importância da Medicina Veterinária para a indústria
Já com relação à responsabilidade técnica na avicultura, o médico-veterinário Mauro Gregory Ferreira, tesoureiro do CRMV-RS, alertou os profissionais de que é preciso estar atento às exigências dos mercados interno e externo e, ainda, mostrou que existem muitas áreas para a atuação do RT no segmento. O Conselho também esteve presente no Avisulat 2010 com um estande, onde prestou esclarecimentos aos produtores e comunidade em geral sobre a importância do médicoveterinário e do zootecnista nas três cadeias produtivas. A Hora Veterinária – Ano 30, nº 179, janeiro/fevereiro/2011