Revista A Hora Veterinária

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AGUARDANDO CONFIRMAÇÃO DO ANUNCIANTE NESTA QUINTA-FEIRA

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A HORA VETERINÁRIA – ANO 31, Nº 185, JANEIRO/FEVEREIRO/2011

REVISTA DE ENSINO PÓS-UNIVERSITÁRIO E FORMAÇÃO PERMANENTE • ANO 31, Nº 185, Janeiro/Fevereiro/2011 • ISSN 0101-9163 • Indexação: CAB INTERNATIONAL

• Uso do Endal Gatos® no tratamento da platinossomíase felina M. S. Zanutto et al., Londrina, PR, Salvador, BA, BRASIL. • Estratégia para aumentar a eficiência da reprodução no pós parto com utilização da prostaglandina (PGF2a) em bovinos leiteiros F. A. Morgan, J. Diaz, Cruz Alta, RS, BRASIL. • O impacto da pododermatite em bovinos leiteiros L. G. Paranhos et al., Ribeirão Preto, SP, BRASIL. • Dados populacionais do rebanho ovino gaúcho D. V. Santos, R. M. Azambuja, A. C. Vidor, Porto Alegre, RS, BRASIL. • Avaliação do eixo podo-falângico e sua influência no desempenho de Cavalos Crioulos na prova de andadura J. C. Paganela et al., Pelotas, RS, BRASIL. • Qual o seu diagnóstico? / What is your diagnosis? É. Dumay, C. Bertolani, Arcueil, FRANÇA. • Pleuropneumonia Suína: revisão sobre a infecção e a doença K. L. Takeuti et al., Viçosa, MG, Porto Alegre, RS, BRASIL. • Animais Selvagens / Wild and exotic animals: Carcinoma de células escamosas em tucano-toco (Ramphastos toco): Relato de caso L. C. S. Silva et al., São Paulo, SP, Maringá, PR, Curitiba, PR, BRASIL. • Clínica de Pequenos Animais / Small Animals Clinic: As propriedades farmacológicas dos opióides utilizados em cães e gatos M. Gogny, Oniris, Nantes, FRANÇA • Diagnóstico por imagens / Diagnosis through images: Avaliação ultrassonográfica do pâncreas de cães - II: principais afecções C. M. Martín, F. A. Sterman, A. C. B. C. F. Pinto, São Paulo, SP, BRASIL.

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Editorial

A presente edição é dedicada aos vencedores do 13º Prêmio Pesquisa Clínica e à Médica Veterinária Maria Angelica Zollin de Almeida, Presidente do SIMVETRS - Sindicato dos Médicos Veterinários do Rio Grande do Sul. Os vencedores do 13º Prêmio Pesquisa Clínica são os Médicos Veterinários Marcelo de Souza Zanutto, do Paraná, Julio Cesar Ferraz Jacob, do Rio de Janeiro, Neimar Vanderlei Roncatti e Tiago Marcelo Oliveira, de São Paulo, e a estudante de Medicina Veterinária Ilusca Sampaio Finger, do Rio Grande do Sul. Após a solenidade para a entrega de uma placa aos vencedores, homenagem, presidida pelo Médico Veterinário Vilson Simon, Diretor Presidente da MSD Saúde Animal, realizada em São Paulo no dia 8 de dezembro de 2011, cada um deles escolherá como prêmio um congresso de sua especialidade, em qualquer país do mundo, onde irá trocar experiências em seu proveito profissional e em proveito da medicina veterinária mundial. Este tipo de premiação, iniciado em 1999, quando os vencedores do 1º Prêmio Pesquisa Clínica participaram do Congresso Mundial de Veterinária, realizado em Lyon, França, é um dos aspectos mais positivos de uma iniciativa que visa valorizar os médicos veterinários brasileiros. Queremos também destacar que estamos publicando nesta edição o Regulamento do 14º Prêmio Pesquisa Clínica MSD Saúde Animal, válido para o ano de 2012, o que, sem dúvida, é uma bela notícia para este início do Novo Ano. A entrevista da Médica Veterinária gaúcha Maria Angelica Zollin de Almeida, homenageada nesta edição mostra aos leitores o quanto esta colega, reeleita Presidente do SIMVETRS, tem se dedicado à valorização profissional de sua classe, frente ao Sindicato, que acaba de completar 30 anos de profícua atividade. Como A Hora Veterinária também nasceu naquele ano de 1981, tivemos a oportunidade de acompanhar a evolução do sindicalismo veterinário no Rio Grande do Sul, reflexo também do belo trabalho realizado em todo o Brasil pela FENAMEV. Em nossas próximas edições daremos também a palavra a outros colegas eleitos para a presidência de entidades que utilizam nossas páginas para comunicar-se com a classe médico veterinária, como Rosane Maia Machado, da SOVERGS, e Rodrigo Lorenzoni, do CRMV-RS. A presente edição aborda temas técnico-científicos de grande importância para a atualização dos nossos leitores de todo o Brasil. Para eles é que dedicamos o melhor dos nossos esforços, buscando colaborar, como o fizemos nas últimas três décadas, com o desenvolvimento da Medicina Veterinária brasileira. E, para tanto, são da máxima importância os nossos anunciantes que acreditam que o melhor caminho para a introdução e consolidação de um produto no mercado de produtos veterinários do Brasil, o terceiro do mundo, é através de nossa classe profissional. Graças à sólida base estabelecida no passado (como bem nos recorda Percy Hatschbach em sua seção de História) e ao trabalho atual de cem mil profissionais nos mais distantes rincões do país, a Medicina Veterinária dita os caminhos para a produção e a saúde animal em nível de Primeiro Mundo. Ou só vamos pensar nos Médicos Veterinários quando as missões estrangeiras nos visitam e o Brasil necessita de seus mercados para nossas exportações? Pensem nisso, enquanto desejamos a todos um Ano Novo pleno de saúde, harmonia de espírito e sucesso profissional. Porto Alegre, 5 de janeiro de 2012

ALCY CHEUICHE – CRMV-RS Nº 0500 MARIA BERENICE GERVASIO CHEUICHE – OAB-RS Nº 6146 EDITORES A Hora Veterinária – Ano 31, nº 185, janeiro/fevereiro/2012

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Sumário / Summary 1

Editorial / Editorial A. Cheuiche, M. B. G. Cheuiche

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Homenagem aos Vencedores do 13º Prêmio Pesquisa Clínica / Tribute to the winners of the 13th Clinical Research Prize

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História da Medicina Veterinária / History of Veterinary Medicine Percy Hatschbach.

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HV Internacional / HV International Zilah Cheuiche

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Ecologia / Ecology Angela Escosteguy

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Trabalho vencedor do 13º Prêmio Pesquisa Clínica MSD, categoria profissional Uso do Endal Gatos® no tratamento da platinossomíase felina M. S. Zanutto, M. A. O. Almeida, A. B. Junquilho, M. S. A. Silva, R. X. Silveira, P. L. Fatal, Londrina, PR, Salvador, BA, BRASIL. A eficácia do Endal Gatos® foi avaliada em gatos parasitados naturalmente com Platynossomum spp e descritos os eventuais efeitos colaterais. Analisou-se 101 amostras de fezes de gatos atendidos no Hospital Veterinário da Escola de Medicina Veterinária da Universidade Federal da Bahia. Obteve-se a interrupção da progressão do parasitismo em sete gatos tratados, confirmado pela ausência de ovos aos exames coproparasitológicos (seis momentos). Em dois gatos, os proprietários não iniciaram o tratamento e, em um deles, o comportamento do gato impediu o procedimento. Use of Endal Gatos® to treat feline platynossomiasis The efficacy of Endal Gatos® was assessed among cats that were naturally infested with Platynossomum spp. Occasional collateral effects are also described after 101 samples of cat faeces had been analyzed. The animals had been brought to HOSPMEV/UFBA (the Federal University of Bahia Veterinary Hospital of the School of Veterinary Medicine School). The infestation progression process was brought to a halt in seven of the treated cats, which was confirmed by the absence of eggs in six moments (coproparasitological). Yet two cats were not submitted to the treatment due to their owners will. Besides, one of the cats simply could not be treated because of its behaviour.

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Bem-Estar Animal / HV International Norma Centeno Rodrigues

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Estratégia para aumentar a eficiência da reprodução no pós parto com utilização da prostaglandina (PGF2a) em bovinos leiteiros F. A. Morgan, J. Diaz, Cruz Alta, RS, BRASIL. As prostaglandinas possuem atividades bastante amplas na Medicina Veterinária, com seu efeito luteolítico, ocorrem variações na sensibilidade do tecido luteal nos diferentes dias após a formação do corpo lúteo. Pesquisas recentes mostram que estes produtos têm muito a contribuir com a melhoria da eficiência reprodutiva dos bovinos. Strategy to boost postpartum reproductive efficiency through the use of prostaglandine (PGF2α) in dairy cows Prostaglandins are very broad activities in veterinary medicine, with its luteolytic effect of the variations in the sensitivity of luteal tissue at different days after the formation of the corpus luteum. The role of prostaglandins in the process of uterine involution in cows leads to the development of the use of parallels in the postpartum period, aiming at accelerating the mechanism of uterine involution, even in animals with normal delivery, the involution can be accelerated by the application of these substances, leading to improvements in reproductive performance. Moreover, prostaglandins can be used in the treatment of uterine infections, demonstrated the direct effect of these in the womb. Recent research shows that these products have much to contribute to improving the reproductive efficiency of cattle.

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O impacto da pododermatite em bovinos leiteiros L. G. Paranhos, T. A. F. Vechiato, D. M. S. Cassol, M. L. G. Rezende, Ribeirão Preto, SP, BRASIL. A pododermatite é uma das principais causas de descarte em rebanho leiteiro, com taxas de 11 a 25% nas propriedades nacionais, além de ocasionar acentuada redução referente à economia: 36% a menos de leite/vaca ou ausência de 200 gramas por dia no ganho de peso diário de bovinos de corte. Neste texto, os autores descrevem as principais afecções podais, indicando a melhor opção de tratamento e prevenção desta doença impactante na produção e economia da propriedade rural. Impact of Pododermatitis on Dairy Cows Besides being one of the main causes of disposal in a dairy herd having rates from 11 to 25% in the national properties, pododermatitis generates a marked reduction in the economy (36% less milk/cow or the absence of 200 grams a day in the daily weight gain of beef cattle). In the text presented herein the authors aim to describe the main pedal disorders and to show the best option of treatment and prevention of such disease that impacts in the production and in the rural property.

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Dados populacionais do rebanho ovino gaúcho D. V. Santos, R. M. Azambuja, A. C. Vidor, Porto Alegre, RS, BRASIL. A ovinocultura já teve grande destaque na economia gaúcha no século XX. Nas décadas de 80 e 90, porém, devido à diminuição pela procura da lã, muitos produtores rurais deixaram de criar ovinos. Entretanto, com o aumento da apreciação da carne ovina, no final da década de 90 e início desse século, muitos produtores rurais voltaram para a atividade. Nesse século, há uma leve tendência de crescimento do rebanho ovino gaúcho, conforme os dados dos últimos levantamentos pecuários realizados pelo Departamento de Defesa Agropecuária da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Agronegócio do Rio Grande do Sul, sendo que a distribuição da população ovina gaúcha continua concentrada na região sul do Estado, em especial, nas mesorregiões sudoeste e sudeste. Population report of Rio Grande do Sul ovine herd The sheep industry has had great prominence in the Rio Grande do Sul economy in the twentieth century. In the 80’s and 90’s, however, due to decreased demand for wool, many farmers stopped creating sheep. However, with increasing appreciation of sheep meat in the late 90th and early this century, many farmers turned to the activity. In this century, there is a slight upward trend in Rio Grande do Sul sheep herd, according to data from recent surveys conducted by the govern of Rio Grande do Sul. The distribution of the sheep population continues concentrated in the south state. A Hora Veterinária – Ano 31, nº 185, janeiro/fevereiro/2012

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Avaliação do eixo podo-falângico e sua influência no desempenho de Cavalos Crioulos na prova de andadura J. C. Paganela, C. A. Santos, C. F. R. Paz, P. K. Ripoll, C. E. W. Nogueira, Pelotas, RS, BRASIL. Foram avaliados 74 cavalos com idades entre 5-15 anos, que participaram nas provas de qualificação do Freio de Ouro. O grupo N1 obteve uma média melhor de notas em relação ao grupo N2 e N3, demonstrando que os parâmetros de angulação do eixo podo-falângico, podem ser relacionados à alteração que ocorre na forma como o casco toca o solo, a duração da suspensão e quando ele sai do solo. Assessment of axis podo-phalanx and its influence on the performance of Crioulo Horses in the proof of gait We evaluated 74 horses aged 5-15 years who participated in the qualifying tests Freio de Ouro. The N1 group scored an average of better grades in relation to group N2 and N3, demonstrating that the parameters of the shaft hoof angle, may be related to changes occurring in the way the hoof hits the ground, the duration of suspension and when he leaves the ground.

tumor, após sua excisão cirúrgica. A análise sob microscopia óptica da neoformação revelou a presença de cordões intercelulares e de pérolas de queratina, formando um quadro compatível com carcinoma de células escamosas, moderadamente diferenciado e infiltrativo. Squamous cell carcinoma in toucan-toco (Ramphastos toco): Case report In this paper we report the occurrence of squamous cell carcinoma in an individual’s captive species Ramphastos toco (toucan-toco) and are presented the clinical, parasitological, hematological, biochemical and radiological findings of the bird and the histopathological tumor after its surgical excision. The analysis under optical microscopy revealed the presence of neoformation of strands of pearls and intercellular keratin, thus having a profile consistent with squamous cell carcinoma, moderately differentiated and infiltrative.

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Clínica de Pequenos Animais / Small Animals Clinic: As propriedades farmacológicas dos opióides utilizados em cães e gatos M. Gogny, Oniris, Nantes, FRANÇA Os analgésicos centrais fazem parte dos medicamentos mais eficazes contra a dor. Para dores moderadas (nível II) e sobretudo, em casos de dor intensa (nível III), são essenciais. Permaneceram por muito tempo desconhecidos, não sendo bem aceitos em veterinária, em parte por conta dos efeitos indesejáveis, mas também pelas dificuldades regulamentares ligadas à sua utilização. Além disso, o poder público em geral hesita fortemente em liberar autorizações de uso para o mercado veterinário, pelo perigo da má utilização por toxicômanos. Este artigo tem como objetivo relatar as propriedades das moléculas empregadas no tratamento de cães e gatos. Pharmacological properties of opioids used in cats and dogs Central painkillers are some of the most efficacious drugs against pain. They are simply essential to treat mild pain (level II) and acute pain (level III) above all. Opiates, or opioids, remained unknown for a long time among vets, partly due to their undesired collateral effects, but also because of the difficulties associated with regulating their use. Besides that, the government tend to hesitate a lot before authorizing the use of opiates for veterinary use, as drugaddicts may try and resort to them. This article aims to analyze the properties of the molecules used to treat cats and dogs.

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Diagnóstico por imagens / Diagnosis through images: Avaliação ultrassonográfica do pâncreas de cães - II: principais afecções C. M. Martín, São Paulo, F. A. Sterman, A. C. B. C. F. Pinto, SP, BRASIL. Atualmente, a ultrassonografia é capaz de identificar o parênquima pancreático com maior frequência. Além de reconhecer a imagem normal e as alterações pancreáticas, é fundamental interpretá-las em conjunto com a anamnese, manifestações clínicas, avaliação laboratorial, citológica e histopatológica, na tentativa de estabelecer um diagnóstico definitivo. A presente revisão tem por objetivo descrever os aspectos sonográficos das principais afecções que acometem o pâncreas dos cães. Sonographic evaluation of the canine pancreas - II: main disorders Nowadays, ultrasonography is able to identify the pancreas more often. In addition to recognize its normal image and abnormal findings, is essential judge them in light of history, signalment, laboratory data, cytology and histopathology, in order to establish a definitive diagnosis. The aim of this review is to describe sonographic features of main pancreatic disorders in dogs.

Qual o seu diagnóstico? / What is your diagnosis? É. Dumay, C. Bertolani, Arcueil, FRANÇA

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Pleuropneumonia Suína: revisão sobre a infecção e a doença K. L. Takeuti, J. P. H. Sato, M. R. Andrade, J. L. Santos, D. E. S. N. Barcellos, Viçosa, MG, Porto Alegre, RS, BRASIL. A pleuropneumonia suína é uma doença causada pela bactéria Actinobacillus pleuropneumoniae que apresenta ampla distribuição e tem grande importância na suinocultura intensiva. Suínos de todas as idades são susceptíveis, no entanto, os surtos geralmente ocorrem em animais de crescimento-terminação. A sintomatologia preponderante é respiratória, mas há formas de infecção brandas, clinicamente inaparentes. Existem também portadores sadios, que são os maiores responsáveis pela disseminação do agente. As lesões macroscópicas consistem basicamente de consolidação pulmonar necro-hemorrágica e pleurite fibrinosa, as quais acarretam alta mortalidade, variabilidade de peso nos lotes, aumento de gastos com medicamentos e vacinações e condenações de carcaças. Porcine Pleuropneumonia: swine diseases Swine pleuropneumonia is a disease caused by Actinobacillus pleuropneumoniae, a bacterium with wide distribution and importance in intensive pig production. Pigs of all ages are susceptible; however the disease is more prevalent in growing and finishing pigs. The main clinical signs are related to the respiratory tract, but there are also mild diseases, clinically silent. Healthy carriers are frequent and they are the main responsible for the dissemination of the agent. Gross lesions consist basically of necro-hemorrhagic lung consolidation and fibrinous pleuritis. High mortality and attrition occur, associated with increased costs with medication and vaccination and high levels of carcass condemnation.

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Literatura / Literature

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Animais Selvagens / Wild and exotic animals: Carcinoma de células escamosas em tucano-toco (Ramphastos toco): Relato de caso L. C. S. Silva, R. R. Lange, R. S. Souza, A. Kieras Junior, São Paulo, SP, Maringá, PR, Curitiba, PR, BRASIL. No presente trabalho é relatada a ocorrência do carcinoma de células escamosas em um indivíduo cativo da espécie Ramphastos toco (tucano-toco) e são apresentados os aspectos clínicos, coproparasitológicos, hematológicos, bioquímicos e os radiológicos da ave bem como os histopatológicos do

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HV Informa / HV Report

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Entrevista / Interview Maria Angelica Zollin de Almeida, reeleita Presidente do SIMVETRS

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Informe do SIMVET-RS / SIMVET-RS Report

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Informe da SOVERGS / SOVERGS Report

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Informe CRMV-RS / CRMV-RS Report

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Rua Andrade Neves, 155 – Conjunto 67 – Fone/Fax: (51) 3228-3864 e (55) 3281-5261 90010-210 Porto Alegre, RS, Brasil – E-mail: ahoraveterinaria@farrapo.com.br – site: www.ahoraveterinaria.com.br INDEXAÇÃO: CAB INTERNATIONAL – ISSN 0101 – 9163 DIREÇÃO EXECUTIVA: Diretor de publicação e redação: Alcy José de Vargas Cheuiche alcycheuiche@farrapo.com.br Diretora administrativa: Maria Berenice Gervasio Cheuiche mariaberenice@farrapo.com.br Diretor científico: Percy Infante Hatschbach – percy.infante@terra.com.br Jornalista responsável: Daniel Miranda – MTB 13.424 – danielmiranda@farrapo.com.br Redatores técnico-científicos: Angela Escosteguy – angela@ibembrasil.org Zilah Cheuiche - zilahcheuiche@terra.com.br Adroaldo José Zanella – zanella@pilot.msu.edu Representante em São Paulo: Paulo Brandão, paulogsbrandao@terra.com.br Done Consulting Comunicação e Marketing, Rua Dr. Joaquim Araújo de Almeida, 1537, Bairro das Posses, Serra Negra, SP, CEP. 13930-000, (19) 3842-1746 - (11) 3749-1399. Assessor de informática: Daniel Miranda Departamento de assinaturas: Maria Jeni Gervasio Freitas hvassinaturas@farrapo.com.br Editoração eletrônica: DMiranda Editoração Eletrônica Impressão: Gráfica Editora Pallotti - pallotti@pallotti.com.br CONSELHO EDITORIAL: Antônio João Sá de Siqueira, Norma Centeno Rodrigues, Air Fagundes dos Santos. CONSULTORIA: Consultora jurídica: Maria Berenice Gervasio Cheuiche Consultor farmacêutico: Paulo Chaves Garcia Leite Consultores internacionais: Jean-Marc Bichet, Paris, FRANÇA; Patrick Joint-Lambert, Paris, FRANÇA; Philippe Devisme, Paris, FRANÇA; Jacques Chonchol, Santiago, CHILE. Consultor de Língua Inglesa: Ricardo Heinen, Caxias do Sul, BRASIL. RECONHECIDA COMO ÓRGÃO DE DIVULGAÇÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA: World Veterinary Association / Sociedade Mundial de Veterinária: Presidente: Faouzi Kechrid 17 Avenue d'Afrique-El Menzah VII - 2091-Tunis-Tunisia Tel./fax: + 216-71 237 182 E-mail: f.kechrid@oie.int – http://www.worldvet.org Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária: Presidente: Josélio de Andrade Moura SRTS – Q 701 LT 2 e S/333 – Ed. Palácio do Rádio II 70330-902 Brasília, DF, BRASIL Fone/fax: 55(61) 3226-3364 E-mail: presidente@sbmv.vet.br - Site: www.sbmv.vet.br Conselho Federal de Medicina Veterinária: Presidente: Benedito Fortes de Arruda SIA Trecho 6 - Lotes 130/140 71205-060 Brasília, DF, BRASIL Fone: (61) 2106-0400 – Fax: (61) 2106-0444 E-mail: cfmv@cfmv.org.br Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul – CRMV-RS: Presidente: Rodrigo Marques Lorenzoni Rua Ramiro Barcelos, 1793 – 2º andar 90035-006 Porto Alegre, RS, BRASIL Fone/Fax: (51) 3331-0566 E-mail: crmvrs@crmvrs.gov.br Colégio Brasileiro de Parasitologia Veterinária: Presidente: Rosangela Zacarias FCAV/UNESP – Campus de Jaboticabal Depto. Patologia Veterinária Fone: (16) 3209-2662 - (16) 3209-2663 E-mail: cbpv@cbpv.com.br Convênio Científico com as revistas: LE POINT VÉTÉRINAIRE, Paris, FRANÇA LA SEMAINE VÉTÉRINAIRE, Paris, FRANÇA REVISTA SUMMA, Milão, ITÁLIA LA SETTIMANA VETERINARIA, Milão, ITÁLIA

COMITÊ CIENTÍFICO INTERNACIONAL Adroaldo Zanella – Oslo, NORUEGA Ahmed Boussarsar – Túnis, TUNÍSIA Alfeu Antônio Hausen Beck – Itajaí, SC, BRASIL Alfredo da Cunha Pinheiro – Bagé, RS, BRASIL Alfredo da Silva Tavares – Pelotas, RS, BRASIL Angela Escosteguy – Porto Alegre, RS, BRASIL Benito Guimarães de Brito – Porto Alegre, RS, BRASIL Berenice de Ávila Rodrigues – Porto Alegre, RS, BRASIL Bernard Clerc – Paris, FRANÇA Carlos E. Kantek-Navarro – Curitiba, PR, BRASIL Carlos E. Larsson – São Paulo, SP, BRASIL Carlos E. Quintana da Rosa – Porto Alegre, RS, BRASIL Carlos O. Cordovés – Porto Alegre, RS, BRASIL Carlos Santos Gottschall – Canoas, RS, BRASIL. Carlos Tadeu Pippi Salle – Porto Alegre, RS, BRASIL Cláudio Martins Real – Campo Grande, MS, BRASIL Clodoveo F. dos Santos – Alegrete, RS, BRASIL Craig Griffing – Los Angeles, ESTADOS UNIDOS David E. S. M. de Barcellos – Porto Alegre, RS, BRASIL Donald M. Broom – Cambridge, INGLATERRA Edson Luiz Bordin – Campinas, SP, BRASIL Edson Luiz Salomão – Cachoeira do Sul, RS, BRASIL Edson Rojas – São Paulo, SP, BRASIL Felipe Sosa Soares – Torres, RS, BRASIL Fernando A. Lobato Tavares – Belém, PA, BRASIL François Badinand – Lyon, FRANÇA François Moutou – Paris, FRANÇA Germán Rodrigues Franco – Lima, PERU Gilcéia Bañolas Jobim – Porto Alegre, RS, BRASIL Hélio Leopoldo Markus – Porto Alegre, RS, BRASIL Heloísa Justen Moreira de Souza, Rio de Janeiro, RJ, BRASIL Huldo Cony – Porto Alegre, RS, BRASIL Izone França Corrêa – São Paulo, SP, BRASIL Jairo Barros Pereira – Rio de Janeiro, RJ, BRASIL Jean Paul Mialot – Paris, FRANÇA Jean-Pierre Samaille – Paris, FRANÇA João Manoel Chapon Cordeiro, Pelotas, RS, BRASIL Joaquim Ambia Medina – Cidade do México, MÉXICO Jorge Guerrero – New Jersey, ESTADOS UNIDOS José Carlos Andrade Moura – Salvador, BA, BRASIL José Di Fabio – Campinas, SP, BRASIL José Euclides Vieira Severo – Porto Alegre, RS, BRASIL José Fernando Garcia – Araçatuba, SP, BRASIL José Fernando P. Dora – Porto Alegre, RS, BRASIL José La Torre – Buenos Aires, ARGENTINA José Luiz D’Angelino, São Paulo, SP, BRASIL José Luiz Rodrigues – Porto Alegre, RS, BRASIL José Ricardo Pachaly – Umuarama, PR, BRASIL José Roberto Taranto – Rio de Janeiro, RJ, BRASIL Josélio de Andrade Moura – Brasília DF, BRASIL Jurij Sobestianski – Goiânia, GO, BRASIL Laerte Grisi – Rio de Janeiro, RJ, BRASlL Luiz Alberto O. Ribeiro – Porto Alegre, RS, BRASIL Luiz Maria Schmidt – Buenos Aires, ARGENTINA Luiz Paiva Carapeto – Pelotas, RS, BRASIL Manoel Pimentel Neto – Rio de Janeiro, RJ, BRASIL Marc Savey – Paris, FRANÇA Marco Antônio S. Cheuiche – Pelotas, RS, BRASIL Marcos de Araújo Laccourt – Porto Alegre, RS, BRASIL Mario A. Soares – São Paulo, SP, BRASIL Masaio Mizuno – São Paulo, SP, BRASIL Nicolau M. da Serra-Freire – Rio de Janeiro, RJ, BRASIL Osmar Pereira Bastos – Campo Grande, MS, BRASIL Raúl Casas Olascoaga – Montevidéu, URUGUAI René Dubois – Brasília, DF, BRASIL Sérgio Fauque Benevenga – Santa Maria, RS, BRASIL Sérgio Marques – Guaratinguetá, SP, BRASIL Simone Biagio Chiacchio – Botucatu, SP, BRASIL Suely Nunes Esteves Beloni – Londrina, PR, BRASIL Tadayuki Yano – São Paulo, SP, BRASIL Tadeu Cotta – Lavras, MG, BRASIL Telmo Vidor – Pelotas, RS, BRASIL Teodoro R. Vaske – Brasília, DF, BRASIL Ubiratã C. da Costa – Santa Maria, RS, BRASIL Ubiratan Melo – Belo Horizonte, MG, BRASIL Valéria Moojen – Porto Alegre, RS, BRASIL William G. Vale – Belém, PA, BRASIL Yves Legeay – Lyon, FRANÇA

• Preço por exemplar avulso: R$ 20,00 • ASSINATURAS – Brasil: 1 ano (6 números): R$ 120,00 – Exterior: 1 ano: US$ 80,00 – Valor assinatura para estudantes: R$ 80,00 Ordens de pagamento (nacionais e internacionais): Banco do Brasil – Agência Central 0010-8 – Conta nº 107.306-0 – Porto Alegre, RS, BRASIL.

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Homenagem aos Vencedores do 13º Prêmio Pesquisa Clínica A fim de incentivar o desenvolvimento da pesquisa clínica e agregar cada vez mais valor à medicina veterinária a MSD Saúde Animal, em parceria com a revista A Hora Veterinária oferece o Prêmio de Pesquisa Clínica, que, em 2011, completou sua 13° edição.

Leonardo Costa, Wilson Roberto Fernandes, Marcelo de Souza Zanutto, Tiago Marcelo Oliveira, Vilson Antônio Simon, Julio César Ferraz Jacob, Ilusca Sampaio Finger e Ricardo Di Luca. O Prêmio Pesquisa Clínica tem por objetivo gerar aprimoramento científico e tecnológico para médicos veterinários e estudantes de Medicina Veterinária de todo o Brasil. O Diretor-Presidente da MSD Saúde Animal, Médico Veterinário Vilson Simon, destacou na cerimônia em homenagem aos vencedores, realizada em São Paulo, no dia 8 de dezembro de 2011, que este Prêmio valoriza os profissionais das áreas de suinocultura, pecuária, pet e avicultura e, acima de tudo, estimula a pesquisa clínica. "Incentivamos projetos como esse dentro da empresa para que, cada vez mais, os profissionais possam se aprimorar e trazer estudos científicos para a classe veterinária", enfatizou. A seguir, destacou que a iniciativa científico-cultural terá seguimento com o 14º Prêmio Pesquisa Clínica MSD Saúde Animal, válido para o ano de 2012, cujas normas já estão publicadas nesta edição de A Hora Veterinária. Os profissionais vencedores do Prêmio Pesquisa Clínica de 2011 foram: Marcelo de Souza Zanutto, Julio Cesar Ferraz Jacob, Neimar Vanderlei Roncati, Tiago Marcelo Oliveira e a estudante Ilusca Sampaio Finger todos premiados na cerimônia realizada no Restaurante Leopoldina, em São Paulo, com a presença de expressivas lideranças da Medicina Veterinária. O 13º Prêmio Pesquisa Clínica contemplou duas categorias: profissional e estudantes. Entre os profissionais, puderam participar médicos veterinários, brasileiros e de outras nacionalidades, desde que atuantes no Brasil. Na categoria estudantes se inscreveram aqueles regularmente matriculados e cursando medicina veterinária em uma instituição de ensino reconhecida pelo Ministério da Educação (MEC).

Os cinco autores dos trabalhos selecionados terão direito a participar de qualquer evento veterinário, no Brasil ou em qualquer país do mundo, com todas as despesas pagas, inclusive para o acompanhante, mais ajuda de custo para despesas pessoais. Cada concorrente pôde enviar até três trabalhos, sendo cada um com no máximo vinte laudas, incluindo as ilustrações. Foram os seguintes os trabalhos premiados, que serão publicados em A Hora Veterinária, a partir da presente edição. Categoria Profissional: • Marcelo de Souza Zanutto - “USO DO ENDAL GATOS® NO TRATAMENTO DA PLATINOSSOMÍASE FELINA” • Julio Cesar Ferraz Jacob - “ESTRATÉGIA PARA AUMENTAR A TAXA DE GESTAÇÃO EM ÉGUAS RECEPTORAS DE EMBRIÃO UTILIZANDO FLUNIXIN MEGLUMINE (BANAMINE)” • Neimar Vanderlei Roncati - “OCORRÊNCIA DE BABESIOSE NO PÓS-OPERATÓRIO DE EQUINOS SUBMETIDOS A LAPAROTOMIA DE URGÊNCIA: AVALIAÇÃO QUIMIOPROFILÁTICA DO DIPROPIONATO DE IMIDORCARB” • Tiago Marcelo Oliveira - “EFEITOS DA SUPLEMENTAÇÃO COM ÓLEO DEARROZ (GAMAHORSE®) E ÓLEO DE SOJA NOS VALORES SÉRICOS DE COLESTEROL EM EQUINOS” Categoria Estudante: • Ilusca Sampaio Finger - “UTILIZAÇÃO DO DIPROPIONATO DE IMIDOCARB (IMIZOL®) NAÉGUAGESTANTE EASAÚDE DO POTRO NEONATO DA RAÇA CRIOULA”

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História da Medicina Veterinária Percy Infante Hatschbach (CRMV-GO nº 0403), membro da Academia Brasileira de Medicina Veterinária, da Associação Mundial de História da Medicina Veterinária, da Associação Inglesa de História da Veterinária e do Instituto Paranaense de História da Medicina e Ciências Afins, Diretor Científico de A Hora Veterinária.

A Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária de São Bento, em Olinda e o primeiro Hospital Veterinário do Brasil Em 1986*, publicamos um resumo sobre os primórdios do ensino da Medicina Veterinária em Pernambuco relatando a criação da “Escola Agrícola e Veterinária do Mosteiro de São Bento”, em Olinda. Seu idealizador foi o Abade beneditino D. Pedro Roeser, nascido na Alemanha em 1870. Aos 21 anos ingressou no Seminário de Insbruck, no Tirol austríaco, aí realizando seus estudos em Filosofa e Teologia. Em 1894 seguiu para a Abadia beneditina de Beuron, pequena cidade situada na região de Baden-Württemberg, onde foi ordenado sacerdote em 1898. Chegou ao Brasil, em Olinda, PE, no dia 15 de outubro de 1899, seguindo para o Ceará, Serra do Baturité, onde ficou até fevereiro de 1900, como Prior e Instrutor na Residência de Nossa Senhora da Conceição. Após três anos em solo brasileiro, regressou à Alemanha permanecendo pouco tempo em Beuron, pois, por designação de seus superiores retornou ao Brasil em 1903. Em 1905 tornou-se cidadão brasileiro naturalizado e, em 1906, foi designado para Olinda, sendo nomeado, em 1907, Abade do Mosteiro de São Bento de Olinda e Paraíba, pelo Papa Pio X. Dom Pedro Roeser era possuidor de ampla cultura geral e atualizado com os problemas de seu tempo, principalmente com a situação da agro-pecuária do Nordeste brasileiro. Neste contexto, em 1911, idealiza e sugere à Congregação a criação de uma instituição destinada ao ensino da Agronomia e Medicina Veterinária. As escolas teriam como padrão de ensino as clássicas escolas agrícolas germânicas, as “Land-wirschaftlich Hochschule”, não se afastando, contudo das normas previstas pelo Governo Federal para tais institutos (Decreto nº 8.319-20/10/1910). Tal iniciativa teve apoio integral da elite pernambucana local, principalmente pelos senhores de engenho, usineiros e grandes pecuaristas. Inusitado foi o fato de que seu corpo docente era constituído por monges beneditinos e alguns leigos. Face à inexistência, à época, de profissionais “especialistas” nas disciplinas programadas, o Mosteiro de São Bento foi buscar na Alemanha os professores Hermann Rehaag, médico veterinário e Johan Ludwig Nikolaus, agrônomo, que vieram ao Brasil com a missão de preparar os padres beneditinos para o magistério superior de Agronomia e Medicina Veterinária. Assim, no dia 3 de novembro de 1912 realizava-se a primeira reunião da Congregação para a fundação da “Escola Agrícola e Veterinária do Mosteiro de São Bento de Olinda”. Esta sessão foi presidida pelo Abade D. Roeser, seu fundador e primeiro diretor, estando presentes cinco monges e os dois professores alemães. O objetivo da reunião foi a aprovação da grade curricular das escolas, a elaboração dos Estatutos e a 6

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construção de um edifício para abrigar as duas instituições de ensino. Ao final de 1913 foi inaugurado o edifício escolar, juntamente com o Hospital Veterinário, junto ao qual foi instalado um estábulo para servir como “Posto de Isolamento”! Deve-se ressaltar o papel desempenhado pelo Prof. Hermann Rehaag na preparação dos monges para a docência e na orientação técnica dos laboratórios e daquele que seria o primeiro HOSPITAL VETERINÁRIO em solo pátrio, contendo enfermarias para grandes e pequenos animais, farmácia veterinária, laboratório de patologia, sala de cirurgia e museu de peças anatômicas. Posteriormente, no Sul do país, o Dr. Hermann tornou-se figura conhecida na área de Defesa Sanitária Animal (confirmando a transmissão da raiva dos herbívoros por morcegos hematófagos) e, depois, em Zootecnia. Em 1927 ingressou no corpo docente da Escola Superior de Agricultura e Veterinária, em Viçosa, MG, como professor catedrático e primeiro chefe do Departamento de Zootecnia. No final de 1928, transferiu-se para o Ministério da Agricultura, na cidade do Rio de Janeiro. Ao corpo docente e discente eram facultados trabalhos no Matadouro Modelo, no Posto de Fiscalização de Leite e nos Estábulos do Recife. No dia 1º de fevereiro de 1914, inaugurava-se solenemente a “Escola Agrícola e Veterinária do Mosteiro São Bento de Olinda”, sendo que na reunião da Congregação do dia 1º de julho do mesmo ano, era aprovada a mudança do nome da instituição para ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA E MEDICINA VETERINÁRIA DE SÃO BENTO. O primeiro ano letivo terminou em 14 de novembro de 1914, quando na Europa já se deflagrara a Primeira Grande Guerra Mundial (1914-1918). Em 1917 a Congregação procedia à colação de grau da primeira turma oficial de profissionais, sendo quatro médicos veterinários e oito agrônomos. Pelo Decreto nº 13.028, de 18 de maio de 1918, obtém seu registro no Ministério da Agricultura. Até 1922, a escola havia formado 18 médicos veterinários, três dos quais obtiveram prêmio especial de viagem ao exterior. Desde o início de suas atividades em 1914, até o ano de 1926, quando a Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária encerrou suas atividades, por determinação do Abade D. Roeser, foram diplomados 24 veterinários e 41 agrônomos. Apesar de sua curta existência, esta entidade particular, de ensino gratuito, se notabilizou, por ter formado o primeiro médico veterinário no país, o Dr. Dionysio Meilli, em 1915, e ter instalado o primeiro HOSPITAL VETERINÁRIO no Brasil em 1913! * A Hora Veterinária, Ano 6, nº 34, nov/dez/1986. A Hora Veterinária – Ano 31, nº 185, janeiro/fevereiro/2012

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HV Internacional Zilah Cheuiche – Médica Veterinária, Msc., Redatora de A Hora Veterinária, Porto Alegre, RS, BRASIL. e-mail: -zilahcheuiche@terra.com.br

Cães militares sofrem de stress pós-traumático de guerra

O médico veterinário Walter F. Burghardt Jr., chefe do departamento de medicina comportamental do Hospital Militar Canino Daniel E. Holland, na Base Aérea de Lackland, nos EUA trata cães que estiveram em guerras. Um dos seus pacientes esteve debaixo de fogo e agora refugia-se debaixo da cama recusando-se a sair, mesmo quando lhe acenam com os brinquedos. O diagnóstico: stress pós-traumático de guerra canino. De acordo com estudo publicado no New York Times os cães que trabalham em teatros de guerra sofrem das mesmas doenças que os seus colegas humanos. De acordo com o estudo, mais de 5% dos cerca de 650 cães das forças militares dos Estados Unidos que estiveram em cenários de combate sofrem de stress canino. Destes, cerca de metade tiveram que “reformar-se”, afirmou Dr. Walter F. Burghardt Jr. Veterinários militares têm estado especialmente atentos às alterações de comportamento dos cães que estiveram expostos a explosões, tiros e combates violentos no Iraque e no Afeganistão. Alguns tornam-se hiper-vigilantes, outros evitam locais onde anteriormente se sentiam confortáveis, podem ainda tornar-se agressivos, carentes ou tímidos. Muitos deixam de realizar as tarefas para as quais foram treinados. O tratamento da doenças é extremamente difícil, uma vez que os cães não conseguem "explicar" o que se passa com eles. O que implica que os tratadores e os médicos veterinários apenas possam fazer conjecturas. Contudo, o animal pode apresentar melhorias assim que é afastado das tarefas habituais e sujeito a uma rotina de exercícios físicos e treino de obediência. Nos casos mais graves, o animal é exposto, a uma distância segura, ao som e imagens que podem desencadear uma reação violenta, como explosões e tiros. Se o cão não reagir recebe uma recompensa. Estes casos mais graves podem também ter que fazer um tratamento com anti-depressivos.Se após três meses de tratamento, os animais continuaram a apresentar sintomas de stress pós-traumático são transferidos para outras funções ou aposentados por justa causa. 8

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Livro defende nova origem para os cães Mark Derr, autor de How the dog became the dog, prega que a teoria de que os cães se originaram de lobos selvagens, quando os homens se tornaram sedentários, está errada. Para ele, novos dados arqueológicos e genéticos indicam que a aproximação aconteceu muito antes. A teoria mais aceita é que o início da interação ocorreu por volta de 15.000 anos atrás, quando o planeta estava saindo da última Era do Gelo. No livro How the dog became the dog - from wolves to our best friends (Como o cão se tornou o cão - dos lobos aos nossos melhores amigos, sem edição em português), Derr se baseia em novos estudos genéticos e arqueológicos para defender que os primeiros cachorros apareceram há pelo menos 30.000 ou 40.000 anos, quando o Homo sapiens ainda se comportava de maneira nômade. O livro relata que os lobos cinzentos se aproximaram dos humanos quando nossa espécie ainda vagava pela África, Europa e Ásia, caçando, e coletando frutas e raízes. O livro baseia sua hipótese em descobertas como a de um crânio encontrado nas montanhas Altai, na Sibéria, que tem 33.000 anos e algumas características diferentes dos lobos selvagens, como o focinho. Ou ainda em casos como o de um fóssil, encontrado na caverna Goyet, na Bélgica, que tem 31.700 anos de idade. Alguns pesquisadores já se manifestaram contrários às novas teorias. Derr se defende dizendo que cada abordagem científica aponta resultados diferentes. “Há respostas melhores que outras, mas eu não tenho certeza de que chegaremos a uma definição porque não sei se temos as ferramentas necessárias”, afirma.

Crânio raro encontrado na Bélgica pode ilustrar domesticação do cachorro antes da última Era do Gelo. A seta indica a parte retirada por cientistas para análise de datação por carbono

Para o autor, o processo de criação de raças afastou os cães de seus antepassados. E isso pode ter sido determinante para que o homem se sinta tão ligado a esse animal. Segundo ele, os criadores de raças suavizaram a aparência dos animais ao ponto de infantilizar muitas raças. Outras tiveram o tamanho da cabeça reduzido, focinhos achatados e os olhos frontais modificados. Uma aparência civilizada para combinar com seu comportamento mais “decente”. O livro ainda não tem previsão de lançamento no Brasil. A Hora Veterinária – Ano 31, nº 185, janeiro/fevereiro/2012

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Ecologia Angela Escosteguy, Médica Veterinária, Fiscal Federal Agropecuário, D.E.A. Ciências Alimentares, França, Membro do Comitê Científico Internacional de A Hora Veterinária, Coordenadora do GT Produção Animal Orgânica/MAPA, Coordenadora da Comissão sobre Pecuária Orgânica da Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária, Presidente do Instituto do Bem-Estar, angela@ibembrasil.org, Porto Alegre, Brasil.

Avaliação do novo Código Florestal Em outubro de 2011, o Congresso Brasileiro aprovou o novo texto do Código Florestal, lei superior em termos de preservar a qualidade de vida e a produção agrícola. Para os estudiosos do ambiente, a reforma do Código não considerou os efeitos das mudanças climáticas no meio ambiente e coloca o Brasil, na contramão do esforço mundial para preservação das florestas, ao reduzir nossas proteções naturais, as proteções de nascentes e das matas ciliares. O novo texto ainda poderá ser vetado pela presidenta Dilma. Para Francisco Milanez, Presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural – Agapan, a aprovação do Código Florestal representa perdas para a manutenção da saúde econômica do país. Sobre a medida parlamentar, que propõe restauração de áreas degradas em vez do pagamento de multas, Milanez julga que será ineficiente, pois, "os desmatadores serão anistiados e vão fingir que estão recuperando as áreas degradadas. Vão plantar culturas exóticas e dizer que isso é recuperação florestal. Desde quando eucalipto é recuperador da natureza?"

Pondo em risco a água e a agricultura* Esse Congresso que “respeita” a ciência aprovou uma lei que teve contra si a unanimidade dos cientistas de expressão no país. Esse Congresso fez uma·lei que destruirá nossas duas grandes riquezas: água e agricultura. Para resolver os problemas de meia dúzia de agricultores, que desmataram ou querem desmatar, o Congresso põe em risco nossa agricultura dando um golpe no seu bem mais precioso, a água. Além de ser indispensável à vida, é o fator mais importante para a produção agrícola e a regulação climática É na água que vão incidir as mudanças irresponsáveis do novo Código. Vão diminuir a proteção e a recarga das nascentes, diminuir a mata ciliar que protege os rios da erosão agrícola e diminuir as áreas de reserva que protegem a fauna e a flora que regulam o clima. Os frutos serão aumentar as enchentes com chuvas menores e a falta de água para irrigar e beber e desregular o clima, causando mais secas, enchentes, granizos fora de época e furacões que nem existiam antes. Quem perde com isso? Todos nós, que teremos alimentos mais caros, mas em especial agricultores, que dependem da regulação climática que as florestas fazem para poder produzir suas lavouras e da água para irrigá-las. * Trechos do artigo de Francisco Milanez, publicado no jornal Zero Hora de 09/12/11 e de entrevista no blog da Agapan: www.agapan.blogspot.com.

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ENCHENTES E SECAS Os rios estão cada vez mais rasos por causa da agricultura, e agora, cada vez que tiver uma chuva menos intensa, teremos perda de safra e lavoura. E também teremos seca, porque as nascentes serão destruídas, diminuirá a retenção de umidade no ar, que é fruto da evapotranspiração, pois este processo é fortemente produzido pelas florestas.

Um país não pode mudar suas leis para proteger os que não as·respeitam. Não pode prejudicar a maioria dos agricultores por uma minoria irresponsável. Não pode criar leis que vão contra a opinião pública e o consenso da ciência. Não podemos esquecer os nomes dos congressistas que .aprovaram essa Lei. Quando os agricultores vierem desesperados para refinanciar dívidas criadas pelo fracasso na produção, quem será responsabilizado? Eu não quero pagar esta conta novamente.

Ironicamente, a sustentabilidade será o tema predominante no nosso país, pois este ano ocorrerá Conferência Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Rio + 20), que a ONU realizará em junho, no Rio de Janeiro. O evento marca os 20 anos da Rio 92** e tem o objetivo de avaliar os avanços conquistados nas duas últimas décadas assim como buscar alternativas para as lacunas que ainda existem na implementação dos compromissos assumidos com a preservação do ambiente e combate à miséria, além de abordar os novos desafios. A expectativa é que mais de uma centena de chefes de Estado e dezenas de milhares de representantes da sociedade civil, além de empresários firmem compromissos políticos em torno da chamada economia verde e no combate à pobreza e à miséria. **Ocasião em que A Hora Veterinária publicou uma edição totalmente dedicada ao meio ambiente, em português/inglês, A Hora Veterinária – Ano 31, nº 185, janeiro/fevereiro/2012

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Uso do Endal Gatos® no tratamento da platinossomíase felina*

A eficácia do Endal Gatos® foi avaliada em gatos parasitados naturalmente com Platynossomum spp e descritos os eventuais efeitos colaterais. Analisou-se 101 amostras de fezes de gatos atendidos no Hospital Veterinário da Escola de Medicina Veterinária da Universidade Federal da Bahia (HOSPMEV/ UFBA) no período de maio de 2005 a outubro de 2006, dentre as quais em dez (10,1%) evidenciou-se a presença de ovos do trematódeo, não havendo indícios de hepatopatia clínica nestes animais. Alterações ao ultra-som abdominal, como discreta hepatomegalia e dilatação do colo da vesícula biliar foram observadas em três gatos. Dois gatos apresentaram apatia transitória durante o período de administração do medicamento. Obteve-se a interrupção da progressão do parasitismo em sete gatos tratados, confirmado pela ausência de ovos aos exames coproparasitológicos (seis momentos). Em dois gatos, os proprietários não iniciaram o tratamento e, em um deles, o comportamento do gato impediu o procedimento.

M. S. ZANUTTO1, M. A. O. ALMEIDA2, A. B. JUNQUILHO3, M. S. A. SILVA3, R. X. SILVEIRA4, P. L. FATAL5

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Marcelo de Souza Zanutto, Médico veterinário, Professor do Departamento de Clínicas Veterinárias do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Estadual de Londrina, PR, BRASIL. 2 Maria Ângela Ornelas Almeida, Médica Veterinária, Professora do Departamento de Patologia e Clínicas da Escola de Veterinária da Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA, BRASIL. 3 Amanda Barros Junquilho, Mariana Sampaio Anares da Silva, Médicas veterinárias, clínicas veterinárias autônomas, Salvador, BA, BRASIL. 4 Roberta Xavier Silveira, Médica veterinária, Pós Graduanda da Escola de Veterinária da Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA, BRASIL. 5 Priscila Lima Fatal, graduanda do curso de medicina da Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA, BRASIL. *Trabalho vencedor do 13º Prêmio Pesquisa Clínica MSD, categoria profissional.

INTRODUÇÃO MATERIAL E MÉTODOS RESULTADOS DISCUSSÃO CONCLUSÕES

INTRODUÇÃO A platinossomíase felina é uma doença parasitária de vias biliares causada pelo trematódeo do gênero Platynossomum (Trematoda; Dicrocoellidae) comum em regiões tropicais e subtropicais (1,2,3,4,5,6,7), embora possa também ocorrer em regiões temperadas (8). A platinossomíase foi descrita em diversas regiões do mundo (9) e, no Brasil, a prevalência de P. concinnum foi de 37,27% (41/ 110) em gatos necropsiados (10); em levantamentos com exames coproparasitológicos foram encontrados ovos do parasito em 1,07% (2/187) das amostras de fezes de gatos domiciliados em São Paulo (11), 1,7% e 0,8% em amostras de fezes e solo respectivamente,

colhidas em locais públicos de Goiânia (12). Cada vez mais vêm sendo descritos casos clínicos de platinossomíase no Brasil (13,14,15). O gênero Platynossomum é o mais estudado e frequente trematódeo de ductos biliares dos gatos, o hospedeiro definitivo, embora outras espécies como o cão, sariguês, furões, camundongos possam ser parasitados (1,2). O Platynossomum spp necessita de três hospedeiros intermediários para completar seu ciclo de vida: caramujo, lagartos e isópodos. Os gatos se infectam após ingestão do vertebrado contendo as metacercárias, que por sua vez, migram para o ducto biliar comum. O parasito adulto aloja-se nos ductos biliares e vesícula, nos quais iniciam a oviposição em quatro a cinco semanas (1) (Figura 1). Geralmente, a forma de evolução da doença é assintomática em gatos (1,3,8). O parasitismo intenso pode impedir o fluxo biliar, o qual já se encontra prejudicado pela fibrose dos ductos biliares, causada pelo processo inflamatório desencadeado pelo parasitismo (2,3). Por conseguinte, a severidade dos sintomas clínicos é proporcional ao número de

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não foram eficazes contra o trematódeo (19). Não foi encontrada atividade terapêutica da associação de albendazole, pamoato de pirantel e praziquantel (5 mg/Kg) em dose única contra o P. concinnum (20). O nitroscanato pode ser utilizado em dose única de 100 mg/Kg (2,3,21) embora cães tratados possam apresentar vômitos (22), presume-se que gatos podem apresentar sintoma semelhante. Sugere-se ainda o uso do febendazole (50 mg/Kg, cada 12 horas por 5 dias), mas sua efetividade não foi conclusivamente provada (2). O praziquantel é a droga de escolha para o tratamento da platinossomíase felina (4,5,6,7). Há uma boa tolerabilidade ao praziquantel. Reações adversas, de intensidade moderada e de curta duração ocorrem em poucas horas após Figura 1: Ciclo evolutivo de Platynossomum spp. Fonte: Mariana Sampaio sua administração e incluem distúrbios digestiAnares da Silva. vos, como náuseas, vômitos e cólicas com doses acima de 100 mg/Kg (22,23). Estudos de parasitos e à duração do parasitismo, sendo observados toxicidade aguda e crônica indicam uma ampla margem de seanorexia, letargia, vômitos, diarréia, icterícia (colangite, cirrogurança do praziquantel, no entanto pode ser fatal em doses se) (1,2,3,4,5,6,7,13,14) e encefalopatia hepática (14). A doença acima de 200 mg/Kg (23). tem caráter crônico (4,5,6,7,8). Relata-se a dose do praziquantel de 10 a 20 mg/Kg sid Taylor e Perry (1977) observaram experimentalmente por três dias consecutivos pela via oral ou subcutânea, repeeosinofilia três semanas após o parasitismo, diminuindo após tindo-se a mesma posologia após doze semanas de intervalo, sete meses, havendo correlação da intensidade da eosinofilia pois os ovos do parasito podem estar presentes nas fezes até com o número de trematódeos adultos. A ultrassonografia nove semanas após o tratamento, devido à sobrevivência de abdominal pode revelar distensão da árvore biliar hepática, da trematódeos no sistema biliar ou retidos na árvore biliar (1,2,3). vesícula e/ou ducto biliar comum, obstrução extra-hepática, Mais recentemente, indica-se doses mais elevadas de 20 a 30 aumento de ecogenicidade do parênquima, espessamento e mg/Kg sid por três a 10 dias consecutivos pela via oral (6,7). aumento de ecogenicidade da parede da vesícula biliar e Não deve ser usado em gatos com menos de seis semanas de hepatomegalia (16). À bioquímica sérica, pode-se encontrar vida. A formulação de uso parenteral pode causar inflamação aumento das enzimas hepáticas (4,5,6,7,8). Há um incremento no local de aplicação (22). dos níveis de ALT e AST nos primeiros cinco meses do O hábito predatório natural dos gatos dificulta o controparasitismo, podendo voltar ao normal após este período. Não le da platinossomíase garantindo a conclusão do ciclo. Gatos é comum o aumento de fosfatase alcalina sérica mesmo com que têm acesso ao ambiente externo são mais predispostos ao apresentação clínica de hepatopatia. Quando o colangioparasitismo, reinfecções e o desenvolvimento de doença hecarcinoma acompanha o parasitismo, pode haver um aumento pática de pior prognóstico (1,4,5,16). Por conseguinte, a pronunciado de todas as enzimas hepáticas (1). Estabeleceudetecção do parasitismo na fase inicial da doença e o tratase uma relação entre o parasitismo por Platynossomum spp e mento de gatos algumas vezes ao ano constituem-se em um a ocorrência de colangiocarcinoma (17). Aproximadamente 2% excelente meio de profilaxia. dos gatos parasitados desenvolveram colangiocarcinoma, diAs técnicas utilizadas na rotina de análise de fezes não ferentemente de 55% dos pacientes humanos parasitados pelo detectam ovos do trematódeo. E as doses convencionais de trematódeo hepático Opistorchis (1). praziquantel em esquemas de vermifugação para os nematóides Normalmente, um pequeno número de ovos está premais comuns em gatos, não eliminam o trematódeo hepático. sente nas fezes e a oviposição dos parasitos é intermitente Estes dois aspectos contribuem para o tratamento em uma (8,18) sendo recomendado o exame fecal seriado, pois as técfase mais tardia do parasitismo, na qual o gato já apresenta nicas de flutuação detectam 25% dos gatos parasitados. O sintomas. Assim, o presente trabalho avaliou a terapia com teste de sedimentação com formalina-éter tem sensibilidade praziquantel, associado ao pamoato de pirantel (Endal Gatos®), maior do que o exame direto, flutuação com açúcar ou sulfato no tratamento da platinossomíase felina. de zinco podendo chegar próximo de 100% de sensibilidade (1,18). MATERIAL E MÉTODOS No passado, o tratamento contra o parasitismo poderia ser fatal para os gatos, em decorrência da alta toxicidade do Foram processadas 101 amostras de fezes de gatos atentetracloreto de carbono e do hexaclorofeno (19). A eficácia didos no Hospital Veterinário da Escola de Medicina Veterinádos anti-helmínticos no tratamento da platinossomíase é ainria da Universidade Federal da Bahia (HOSPMEV/UFBA), de da discutida. Os benzimidazóis (tiabendazole, mebendazole) ambos os sexos, raças e idades variadas no período de maio 14

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de 2005 a outubro de 2006. Estes animais compareceram ao atendimento por motivos diversos e foram avaliados através de anamnese detalhada e exame físico. Foram submetidos a exames complementares concernentes a suspeita clínica e exame parasitológico de fezes por sedimentação em formalinaéter para a pesquisa de ovos de Platynossomum spp. A colheita de fezes foi efetuada pelos proprietários dos gatos por defecação natural em coletores universais, sendo a amostra enviada imediatamente após a colheita. A técnica de sedimentação formalina-éter foi realizada através de uma suspensão de 1 g de fezes em 25 mL de solução salina a 0,9%, a qual foi filtrada com gaze, sendo este filtrado centrifugado por 5 minutos a 700g. O sobrenadante foi descartado e o sedimento foi ressuspenso em 7 mL de formalina a 10%, mantendo-o em repouso por 10 minutos. Posteriormente, adicionou-se 3 mL de éter frio na suspensão, misturando-o por um minuto. A mistura foi centrifugada durante 3 minutos a 700g sendo em seguida descartado o sobrenadante. O sedimento foi ressuspenso em solução salina a 0,9% e examinado ao microscópio óptico à procura de ovos (24). Para avaliar as alterações no parênquima hepático em consequência do parasitismo, foi solicitada ultrassonografia abdominal dos gatos utilizando-se o equipamento Sonoace 8.000 EX Prime com transdutor de 5 a 9 MHz, sem sedação ou anestesia dos gatos. Constatado o parasitismo, instituiu-se o protocolo terapêutico de 20 mg/Kg de praziquantel (Endal gatos®), via oral, a cada 24 horas, por três dias. Após 12 semanas, repetiuse o mesmo protocolo terapêutico. Durante todo o período de tratamento e após, os gatos foram avaliados clinicamente e por exames coproparasitológicos mensalmente em três momentos, totalizando seis avaliações.

último por seu comportamento irascível. O gato 4 realizou apenas o primeiro ciclo. Em todos os momentos após a terapia não se evidenciaram ovos do parasito (Tabela 1).

Figura 2: Ovo de Platynossomum spp (seta) e oocisto de isosporóide obtido de fezes do gato 6 (aumento 40X).

RESULTADOS O diagnóstico de platinossomíase pôde ser instituído em dez das 101 amostras (10,1%). Os gatos que apresentavam ovos nas fezes (Figura 2), quatro fêmeas e seis machos, com idade entre seis meses e 12 anos (Quadro 1), foram trazidos para atendimento por outros motivos, sem relação aparente com o parasitismo pelo Platynossomum spp. Outras informações clínico-epidemiológicas relacionadas à identificação dos gatos, estilo de vida, dados laboratoriais e parasitismo encontram-se indicadas no Quadro 1. Todos os gatos possuíam histórico de caça à lagartixa. Os animais apresentavam-se assintomáticos quanto ao parasitismo. A ultrassonografia abdominal revelou discreta dilatação do colo da vesícula biliar nos gatos 4 e 6 e discreta hepatomegalia nos gatos 5 e 6 (Figura 3). Nos demais gatos, a ultrassonografia revelou fígado com textura sólida e homogênea, arquitetura vascular preservada e vesícula biliar com conteúdo anecogênico e paredes com espessura normal. Reações adversas significativas não foram notadas ao se instituir a terapia com praziquantel (Endal Gatos®). Apenas nos gatos 1 e 5 foi observado apatia transitória durante os dias de tratamento, sendo que nas duas ocasiões para o gato 1. Não houve efeitos colaterais graves (Tabela 1). Os proprietários dos gatos 3, 7 e 10 não iniciaram o tratamento, sendo o

Figura 3: Ultrassonografia abdominal dos gatos 4 (A) e 6 (B), demonstrando dilatação do colo da vesícula biliar (seta).

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Quadro 1. Dados clínico-epidemiológicos de gatos parasitados pelo Platynossomum spp.

2.550 parasitos, conforme observado à necropsia em gatos naturalmente infectados (10,13,15). A magnitude da carga parasitária, o período de parasitismo e a resposta do hospedeiro influenciam a extensão do dano ao parênquima hepático e à vesícula biliar. Ao inocular gatos com Platynossomum spp, Taylor e Perri (1977) observaram sintomas (apatia discreta, distensão abdominal, inapetência e hepatomegalia) apenas no grupo de gatos recebendo 1.000 trematódeos. Os gatos parasitados do presente relato eram submetidos a uma boa alimentação e condições higiênico-sanitárias, contribuindo para a não apresentação clínica de hepatopatia, além de estarem infectados com baixa carga parasitária, possivelmente. A eosinofilia foi apresentada apenas pelo gato 5 e, provavelmente, envolvia o parasitismo pelo trematódeo ou pela condição alérgica (granuloma eosinofílico oral) concomitante, responsivo à corticoterapia Tabela 1. Monitoramento da eficácia terapêutica dos gatos parasitados por (Quadro 1). Nos demais gatos não se obPlatynossomum spp tratados com Endal Gatos® por meio de exames coproparasitológicos. servaram eosinofilia, provavelmente porque albergavam uma carga parasitária muito baixa (<125 trematódeos) ou estavam em fase crônica de parasitismo com mais de 9 meses de evolução, conforme observado em gatos experimentalmente inoculados (8). Aparentemente não havia relação entre a infecção pelo vírus da Imunodeficiência Felina e o parasitismo por Platynossomum spp no gato 1 (Quadro 1), conforme afirma Foley (1994). A enterite crônica do animal 6 foi responsiva à antibioticoterapia com sulfametoxazol e trimetoprim, não havendo influência aparente entre essa condição clínica e o parasitismo por Platynossomum spp neste caso. Apenas no segundo exame de fezes encontraram-se ovos de Platynossomum sp, provavelmente, devido à intermitência da postura de ovos pelo parasito, ou pelo pequeno número de ovos eliminados ou pela não conclusão do período pré-patente (1,3,18). DISCUSSÃO Isso demonstra a importância de se instituir exames fecais seriados. Provavelmente a frequência de parasitismo seria Os gatos com acesso à rua são mais predispostos a se maior nesta série de gatos pesquisados se fosse realizado o infectarem com Platynossomum spp, sobretudo quando há hisexame de forma seriada em todos eles, e não em uma única tórico de ingestão de lagartixas e pequenos lagartos (1,2, 4,7,16), amostra. Deste fato infere-se a importância da vermihábito observado em todos os gatos parasitados. O gato 3, apefugação preventiva naqueles gatos com histórico de caça às sar de não ter acesso à rua e morar em apartamento, nos passeios lagartixas. no jardim do prédio teve acesso às lagartixas, infectando-se, ou já Em virtude da alta toxicidade ou ineficiência de alguns estava parasitado quando foi adquirido da rua. fármacos, não existem muitas opções terapêuticas para o traOs gatos parasitados eram assintomáticos e nos anitamento da platinossomíase. Os benzimidazóis apresentam boa mais 4, 5 e 6 havia alterações hepáticas à ultrassonografia margem de segurança, porém se mostraram ineficazes em eliabdominal. Esse fato está de acordo com a literatura, a qual minar o trematódeo (19,20,21). O nitroscanato (2,3,21) e o afirma que a maioria dos gatos é assintomática (1,2,4,5,6,7,8) febendazole (2) são opções terapêuticas aventadas, mas premesmo com a presença de alterações estruturais hepáticas cisam de comprovação científica. discretas (10,16). A carga parasitária pode variar de apenas 4 a 16

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O praziquantel (Endal Gatos®) foi eficaz e seguro para o tratamento do parasitismo. Durante as duas fases do tratamento não foram observados efeitos colaterais graves, como vômito e cólica (22, 23), mesmo utilizando-se quatro vezes mais a dose preconizada para gatos em outras parasitoses. A possibilidade de vômitos e apatia transitórios aumenta em doses 10 vezes maiores, e reações fatais em doses 20 vezes maiores (200 mg/Kg) (23). Nos gatos 1 e 5 observou-se apatia transitória, sem maiores complicações do estado geral. Cumprido o protocolo terapêutico, nos exames parasitológicos de fezes controle não foram detectados ovos do trematódeo, demonstrando que o praziquantel foi efetivo na eliminação do parasitismo. Entretanto, os proprietários relataram dificuldade em medicar os gatos em decorrência do número de comprimidos fornecidos, como observado no gato 4 que apresentou salivação e vômito. Os proprietários dos gatos 3 e 7 nem tentaram iniciar o tratamento, enquanto o gato 10 possuía comportamento irascível. Caso ocorram maiores complicações, a via subcutânea poderia ser utilizada (3,22). O produto Endal Gatos® associa o praziquantel ao pamoato de pirantel, sendo este último princípio ativo um agonista colinérgico. Raramente observam-se reações adversas nos animais tratados, sendo isento de efeitos tóxicos em doses de até aproximadamente sete vezes a dose terapêutica (23). Dessa forma, além de eliminar o Platynossomum spp, é possível atingir os parasitos gastrintestinais que porventura tenha o animal. Cada vez mais casos de platinossomíase felina são descritos no Brasil (10,11,12,13,14,15,16) e no mundo (9,24). No Brasil a frequência do parasitismo varia desde 1,07 a 37,27% (10,11,12,16), na dependência do estado e da amostragem utilizada, incluindo-se a frequência de 10,1% encontrada na cidade de Salvador nos gatos atendidos no HOSPMEV-UFBa. Como a maioria dos gatos é assintomática ou apresenta sintomas inespecíficos, nessas circunstâncias a detecção precoce do parasitismo, e o consequente tratamento, assumem importância para se evitar as complicações que vão desde encefalopatia hepática (14), colangiocarcinoma (17), fibrose hepática (13) a quadros de diarréia e vômito intermitentes e icterícia (4,5,13,15). CONCLUSÕES • Gatos parasitados por Platynossomum spp são geralmente assintomáticos, e a associação do praziquantel e do pamoato de pirantel foi eficaz na eliminação do parasito, sem resultar em efeitos colaterais. • O tratamento precoce do parasitismo resulta em excelente prognóstico. AGRADECIMENTOS À médica veterinária Kátia G. Requião do Hospital Veterinário SEMEVE pela realização dos exames ultrassonográficos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1- FOLEY, R. H. Platynossomum concinnum infection in cats. Compendium on Continuing Education for Practicing Veterinarian, v.16, n.10, p. 1271-1277, 1994. 2- FERREIRA, A. M. R.; ALMEIDA, E. C. P. Platinosomose. In: SOUZA, H. J. M. Coletâneas em Medicina e Cirurgia Felina. Rio de Janeiro: L. F. Livros de Veterinária, 1. ed., 2003, p. 385-393. 3- WILLARD, M. D.; FOSSUM, T. W. Doenças da vesícula biliar e do

sistema biliar extra-hepático. In: ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E. C. Tratado de Medicina Interna Veterinária/ Doenças do Cão e do Gato. São Paulo: Guanabara Koogan, 5. ed, 2004, v.2, p. 1413-1417. 4- BUNCH, S.E. Doenças hepatobiliares no gato. In: NELSON, R. W.; COUTO, C. G. Medicina Interna de Pequenos Animais. Rio de Janeiro: Elsevier, 3. ed., 2009, p. 489-506. 5- JERGENS, A. E. The yellow cat or cat with elevated liver enzymes. In: RAND, J. Problem-based Feline Medicine. Philadelphia: Elsevier Saunders, 1. ed., 2006, p. 421-442. 6- TWEDT, D. C.; ARMSTRONG, P. J. Feline Inflammatory Liver Disease. In: Kirk’s Current Veterinary Therapy XIV. St. Louis: Elsevier Saunders, 2009, p. 576-581. 7- HITT, M. E. Inflammatory Liver Diseases. In: AUGUST, J. R. Consultations in Feline Internal Medicine. St. Louis: Elsevier Saunders, 2010, v.6, p. 213-224. 8- TAYLOR, D.; PERRI, S. F. Experimental infection of cat liver fluke Platynossomum conccinum. American Journal of Veterinary Research, v.38, n.1, p. 51-54, 1977. 9- BARRIGA, O. O.; CAPUTO, C. A.; WEISBRODE, S. E. Liver flukes (Platynossomum concinnum) in Ohio cat. Journal of the American Veterinary Medical Association, v.179, n.9, p. 901-903, 1981. 10- FERREIRA, A. M. R.; ALMEIDA, E. C. P.; LABARTHE, N. V. Liver fluke infection (Platynosomum concinnum) in brazilian cats: prevalence and pathology. Feline Practice, v.27, n.2, p. 19-22, 1999. 11- GENNARI, S. M.; KASAI, N.; PENA, H. F. J.; CORTEZ, A. Ocorrência de protozoários e helmintos em amostras de fezes de cães e gatos da cidade de São Paulo. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, v.36, n.2, p. 1413-1421, 1999. 12- LUZ, C.; ROCHA, L. F. N. Contaminação de localidades públicas com enteroparasitos na cidade de Goiânia-Goiás-Brasil. Revista de Patologia Tropical, v.30, n.2, p. 235-242, 2001. 13- SAMPAIO, M. A. S.; BERLIM,17C. M.; ANGELIM, A. J. G. L.; ALMEIDA, M. A. O. Infecção natural pelo Platynossomum concinnum em gato em Salvador, Bahia - Relato de caso. Revista Oficial de Educação Continuada da Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais, 2005. p. 165166. Edição Suplementar. 14- PIMENTEL, D. C. G.; AMORIM, F. V.; SOUZA, H. J. M.; CALIXTO, R. S.; FARIA, V. P. Encefalopatia hepática causada por Platinossomíase – Relato de caso. Revista Oficial de Educação Continuada da Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais, 2005. p. 208-216. Edição Suplementar. 15- AHID, S. M. M.; FILGUEIRA, K. D.; SUASSUNA, A. C. D. Ocorrência de Platynossomum fastosum (Trematoda: Dicrocoeliidae) em gato doméstico em Mossoró- RN. Nosso Clínico, v.8, n.47, p. 66-70, 2005. 16- SALOMÃO, M.; SOUZA-DANTAS, L. M.; MENDES-deALMEIDA, F.; BRANCO, A. S.; BASTOS, O. P. M.; STERMAN, F.; LABARTHE, N. Ultrasonography in hepatobiliary evaluation of domestic cats (Felis catus, L., 1758) infected by Platynosomum Looss, 1907. Internacional Journal of Applied Research Veterinary Medicine, v.3, n.3, p. 271-279, 2005. 17- SANTOS, J. A.; LOPES, M. A.; SCHOTT, A. C.; SANTOS, A. E.; PORFIRIO, L. C.; PASSOS, L. Colangiocarcinoma em gatos com parasitismo de dutos biliares por Platynossomum fastosum. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.1, n.1, p.31-36, 1981. 18- PALUMBO, N. E.; TAYLOR, D.; PERRI, S. F. Evaluation of fecal techinics for the diagnosis of cat liver fluke infection. Laboratory Animal Science, v.26, n.3, p. 490-493, 1976. 19- HITT, M. E. Liver Fluke infections in South Florida cats. Feline Practice, v.11, n.3, p. 26-29, 1981. 20- BELO, M. A. A.; CASTAGNOLLI, K. C.; GOMES, R. A.; COSTA, A. J. Ensaio sobre a eficiência da associação do albendazole, praziquantel e pamoato de pirantel no controle de helmintos parasitos de gatos. Ars Veterinária, v.15, p. 45-49, 1999. Suplemento. 21- EVANS, J. W.; GEEN, P. E. Preliminary evaluation of four anthelmintics against the cat liver fluke, Platynossomum concinnum. Australian Veterinary Journal, v.54, n.9, p. 454-455, 1978. 22- ALMEIDA, M. A. O.; AYRES, M. C. C. Agentes anticestódeos e antitrematódeos. In: SPINOSA, H. S.; BERNARDI, M. M. Farmacologia Aplicada à Medicina Veterinária. São Paulo: Guanabara Koogan, 3. ed.,2002, p. 467-474. 23- REINEMEYER, C. R.; COURTNEY, C. H. Fármacos anticestóides e antitrematóides. In: ADAMS, H. R. Farmacologia e Terapêutica em Veterinária. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 8. ed., 2003, p. 819-828. 24- CHUNG, N.Y.; MYAHARA, A.; CUNG, G. Prevalence of feline liver flukes in the city and county of Honolulu. Journal of the American Animal Hospital Association, v.13, n.2, p.258-262, 1997.

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Bem-Estar Animal Norma Centeno Rodrigues, Médica Veterinária, Mestre em Ciências Veterinárias/UFRGS, Doutora em Veterinária/Universidad de Murcia/Espanha. Tesoureira do Sindicato dos Médicos Veterinários no Rio Grande do SUL/SIMVETRS, Membro do Conselho Editorial de A Hora Veterinária. E-mail: normacentenorodrigues@gmail.com

O Bem-Estar Animal e seus conceitos A tendência quando se fala em bem–estar animal é relacionar a algo que é proporcionado ao animal pelo homem, esquecendo-se das características e necessidades individuais de cada espécie animal em questão. Esse é um erro comum quando se enfoca o bem-estar animal (BEA). Devemos separar o que pode ser oferecido ao animal e melhorar sua condição, portanto, proporcionar-lhes do chamado bem-estar como sinônimo do que é oferecido a eles. Não se pode falar em bemestar animal sem relacionar conceitos como necessidades, liberdade, adaptação, controle, capacidade de previsão, sentimentos, sofrimento, dor, ansiedade, medo, tédio, estresse e saúde. Um grande marco foi a definição das cinco liberdades, discutidas e aprovadas pelo Comitê de Bem-estar de Animais de Produção (Farm Animal Welfare Committee), na Inglaterra, em 1993, que são: 1) Liberdade nutricional ou fisiológica (ausência de sede, fome e desnutrição); 2) Liberdade sanitária (ausência de ferimentos e doenças); 3) Liberdade comportamental (os animais devem ter liberdade suficiente para expressar o comportamento natural de sua espécie); 4) Liberdade psicológica (ausência de sensações de medo e de ansiedade); e por último, 5) Liberdade ambiental (os animais devem ter liberdade de movimento, em instalações adequadas e adaptadas à sua espécie). A partir do Protocolo de Proteção e Bem-estar animal da União Europeia, em 1997, os animais passam a ser vistos como seres sencientes, ou seja, que possuem sensações, percebem o mundo pelos sentidos, experimentando os efeitos de diferentes ações e estados, e não mais como “bens da agricultura” ou “produtos”, devendo os países membros da Comunidade Europeia estabelecer políticas que visem o bem-estar desses animais. Assim, o bem-estar dos animais de produção deve ser visto de forma ampla, desde as instalações nas criações, passando pela alimentação, pelos aspectos sanitários e genéticos, pelo transporte e pelo abate em estabelecimentos adequados. Ainda no que tange ao bem-estar de animais de produção, a conferência sobre senciência animal realizada em Londres, no ano de 2005, pela organização CWF (Compassion in World Farming), mostrou claramente que a intensificação da produção é inversamente proporcional ao bem-estar animal, por vezes ultrapassando o limite do que é aceitável, não havendo uma preocupação com a qualidade de vida dos animais envolvidos no processo. Essa organização, CWF, fundada em 1967 por um fazendeiro inglês chamado Peter Roberts, teve um papel fundamental na luta pelas mudanças e conscientização das condições de como viviam os animais em sistemas de produção. A mecanização das décadas de 60 e 70, que buscava maior quantidade de alimento pelo menor custo, transformou as criações de animais na chamada indústria animal, levando a uma mudança nas instalações e nas práticas de manejo, aliada à seleção genética e ao uso de medicamentos, 18

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na busca de uma eficiência produtiva que tornava os animais máquinas de produzir alimentos. Somente nos anos 80, após denúncias de fraudes e adulterações, o consumidor passou a se pre- Escritório da CWF (Compassion in World Farming). Inglaterra ocupar com o produto que estava comendo e, consequentemente, com os meios de produção deste alimento. A mudança do perfil do consumidor, aliada à mudança ainda em curso do perfil do produtor rural, passaram a pressionar a pesquisa que relaciona bem-estar animal e produtividade. Nesse contexto, os profissionais que atuam neste segmento devem estar atentos para os processos envolvidos na produção e de como esses processos afetam o bem-estar dos animais.

A revisão das leis que regulam o transporte de animais na União Europeia não trouxe resultados significativos para o BEA A apresentação do relatório de avaliação das leis que regulam o transporte de animais na Europa, ocorrida no dia 9 de novembro de 2011, não apresentou nenhum resultado satisfatório segundo as pessoas e organizações que lutam pela melhoria nas condições dos animais que são transportados por longas distâncias pelo continente europeu. O regulamento que está em curso, aprovado em 2005 pela União Europeia, prevê tempos de deslocamentos diferentes, conforme a espécie animal. São mais sensíveis ao transporte os suínos, seguido dos bovinos e depois os ovinos. Embora o regulamento atual permita até 29 horas de transporte para ovinos e 24 horas para suínos, a necessidade de paradas para descanso, alimentação e fornecimento de água para os animais é exigida, bem como a lotação adequada para evitar ferimentos e óbitos de animais. O maior, problema consiste na fiscalização do cumprimento das leis, segundo ONGs que lutam pelo direito dos animais. A campanha pelo fim de transporte de longa distância para animais vivos (End long-distance live transport), promovida pela CWF (Compassion in World Farming) associada a outros grupos e organizações objetiva um limite na União Europeia de, no máximo, 8 horas em viagens para o abate, tanto para transporte rodoviário, ferroviário, marítimo ou aéreo. Infelizmente, não foi desta vez que, mesmo com a oportunidade de revisão, o regulamento da UE que regula o transporte de animais teve mudanças significativas para o bem-estar animal. A Hora Veterinária – Ano 31, nº 185, janeiro/fevereiro/2012

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Estratégia para aumentar a eficiência da reprodução no pós parto com utilização da prostaglandina (PGF2α) em bovinos leiteiros

Existem alguns fatores que interferem no desenvolvimento da produção leiteira, fatores capazes de ocasionar perdas econômicas relacionadas à baixa produtividade de leite em determinados períodos, pela falta de organização do rebanho em produção, normalmente devido ao retardamento de inseminações e gestação. Diante disto, desenvolveu-se, neste trabalho, uma pesquisa teórica com o objetivo de conhecer melhor a fisiologia reprodutiva, compreendendo a importância da saúde dos animais e a eficiência da reprodução a partir da utilização da prostaglandina. As prostaglandinas possuem atividades bastante amplas na Medicina Veterinária. Com seu efeito luteolítico ocorrem variações na sensibilidade do tecido luteal nos diferentes dias após a formação do corpo lúteo. Pesquisas recentes mostram que estes produtos têm muito a contribuir com a melhoria da eficiência reprodutiva dos bovinos.

F. A. MORGAN1, J. DIAZ2

INTRODUÇÃO EFICIÊNCIA DA PROSTAGLANDINA SAÚDE UTERINA CONCLUSÃO INTRODUÇÃO

1

Felipe Antonio Morgan, Acadêmico do Curso de Pós-Graduação Lato-Sensu em produção de bovinos de leite. Unicruz – Universidade de Cruz Alta, RS, BRASIL. [f.amorgan@yahoo.com.br.] 2 Jorge Diaz, Professor Orientador do Curso de Pós-Graduação Lato-Sensu em produção de bovinos de leite. Unicruz – Universidade de Cruz Alta, RS, BRASIL. 20

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A atividade leiteira no Brasil representa uma importante alternativa econômica para as pequenas e médias propriedades rurais. Muitos produtores ingressam na atividade vendo-a como uma oportunidade para diversificar a produção. Já outros investem nesta atividade e dedicam-se a ela de tal forma que acaba tornando-se a principal fonte de renda de sua propriedade. Neste sentido, cabe ressaltar que são muitos os fatores que influenciam na produção leiteira, tais como: qualidade e saúde do rebanho, média de produtividade, alimentação dos animais, custo de produtividade, qualidade no processo de ordenha, entre outros. Diante de nova realidade, o setor leiteiro está sendo obrigado a repensar suas estruturas e

mecanismos de funcionamento, que cada vez exigem mais produtividade. Assim, a saúde do animal torna-se uma condição básica para uma boa produtividade leiteira, onde a saúde uterina é essencial na reprodução. O útero sadio é capaz de eliminar infecções passageiras de forma bastante eficaz. Na verdade, é sabidamente difícil de estabelecer experimentalmente uma infecção uterina persistente em animais normais na maioria das espécies. É comum que vacas no período pósparto imediato apresentem contaminação uterina por uma variedade de microorganismos. Na maioria dos animais, o ambiente uterino estéril é restabelecido dentro de dias ou semanas pós-parto. Naqueles em que a infecção persiste, desenvolve-se endometrite crônica ou subaguda, afetando negativamente a fertilidade. Os bovinos leiteiros apresentam normalmente muitas e sérias dificuldades para manter a eficiência reprodutiva, e este é um dos fatores que mais influenciam no sucesso econômico da produção leiteira. Para ter-se uma boa atuação reprodutiva em vacas leiteiras, é primordial diminuir o intervalo entre partos

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(IEP), antecipando o PVE - período voluntário de espera, através de inseminação artificial (IA) ou monta natural. Devido à necessidades primordiais como a observação do cio, a utilização da inseminação artificial em tempo fixo (IATF) tornou-se cada vez mais frequente como estratégia para resolver este problema (Sartori, 2007). Neste contexto, surgiu a prostaglandina, um hormônio, capaz de controlar o cio, de elevada eficácia em bovinos, que produz uma regressão morfológica e funcional do corpo lúteo, seguido pelo retorno ao cio dentro de 2 a 4 dias posteriores ao tratamento, com uma ovulação normal. O uso das prostaglandinas pode concentrar a ocorrência de estros numa mesma semana, o que realmente maximiza a utilização de uma mão-deobra relativamente especializada. Com várias fêmeas em estro concomitantemente, reduzem-se as falhas de detecção de cios, pois a atividade sexual é mais intensa nesta situação do que quando há apenas uma fêmea em cio. Embora, à primeira vista, este aspecto não pareça tão importante, é óbvio que a falha de detecção de cios é o principal fator responsável pelos baixos índices reprodutivos de rebanhos submetidos à inseminação artificial. O estro que ocorre após a aplicação das prostaglandinas é tão ou mais fértil do que a o estro natural (Vasconcelos, 1999). Diante disto, fundamenta-se e justifica-se à importância de pesquisar sobre a prostaglandina PGF2α, como agente capaz de aumentar os índices de fertilidade de bovinos no pós-parto. Assim, o objetivo deste estudo é justamente compreender como a prostaglandina pode influenciar de forma positiva a reprodução bovina e consequentemente realizar a sincronização do cio em grupos de vacas, facilitando o manejo e permitindo a formação de lotes em fase de lactação, aumentando assim a produção leiteira.

As prostaglandinas são divididas de acordo com sua estrutura e função, produzindo efeitos biológicos diferentes. Possuem quatro grandes grupos: A, B, E, F. A medicina veterinária tem realizado muitas pesquisas e, já há algum tempo, percebeu-se a propriedade terapêutica da série F que tem a capacidade provocar a luteólise (Hafez, 1982). Neste enfoque, a PGF2α é vista como responsável pelo tempo de vida do CL (processo de formação do corpo lúteo), originando sua regressão morfológica e operacional (Simplicio et al. 2002), sendo que a regressão operacional precede a regressão morfológica. O uso da prostaglandina em vacas leiteiras tem trazido alguns efeitos positivos, em razão de seu amplo índice terapêutico. A prostaglantina não altera a fertilidade e não se tem observado efeitos indesejáveis sobre as crias concebidas no cio seguinte ao tratamento. Com este método ocorre ainda a redução do número de vacas vazias, controlando o cio de cada animal e melhorando o intervalo entre partos. Contudo, não se elimina a necessidade de detectar o cio para a inseminação. Isto garante um planejamento mais adequado de produção, já que é possível a formação de lotes com maior segurança no planejamento da produção leiteira, como os da Figura 2.

EFICIÊNCIA DA PROSTAGLANDINA De forma sucinta, pode-se dizer que as prostaglandinas são substâncias orgânicas de relevante potência que aparecem em uma grande variedade de tecidos e circunstâncias biológicas. Estas substâncias são derivadas do ácido prostanóico, ou seja, ácido graxo com 20 carbonos, onde cinco deles formam um anel a que foram ligados átomos de oxigênio, e vão ser sintetizados na membrana (Campos, 2002), conforme pode ser visto na Figura 1.

Figura 1. Estrutura química de uma prostaglandina. Fonte: Wikipédia.

Figura 2. Rebanho leiteiro em produção Sheldon, Dobson (2004) Como a prostaglandína leva à regressão antecipada do corpo iúteo (luteólise), só deve ser aplicada entre o 6º e o 18º dia do ciclo estral. O ciclo estral tem um dia considerado como estro ou cio, que é o dia zero do ciclo, período da fase reprodutiva do animal onde a fêmea apresenta sinais de receptividade sexual, seguida de ovulação. Em bovinos, a duração média do estro é de, aproximadamente, 12 horas, e a ovulação ocorre de 12 a 16 horas após o término do cio. Neste dia, o corpo lúteo é funcional. Tem sido demonstrado que o poder luteolítico da prostaglandina aumenta à medida que ocorre a maturação do corpo lúteo ao redor do 10º dia do ciclo estral. O retorno ao cio ocorre normalmente a partir do segundo dia após o tratamento com prostaglandina (PGF2α) e a inseminação pode ser efetuada de acordo com a manifestação do cio, em horário fixo. Com o manejo da inseminação, o produto pode ser aplicado por injeção, entretanto, não deve ser aplicado em fêmeas prenhes, pois pode provocar o aborto.

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Para a utilização da prostaglandina (PGF2α) no controle da manifestação do cio e ovulação em bovinos é preciso definir alguns métodos, e a escolha de determinado método depende de alguns fatores, tais como: objetivo do programa de inseminação artificial, custo do sêmen, tamanho do rebanho, tempo disponível para observação do cio e número de vezes em que os animais serão manejados (Gomes, 2000). A inseminação dos animais sincronizados com prostaglandina pode ser efetuada da maneira convencional (12 horas após a manifestação do cio) ou em horário predeterminado (duas inseminações: 82 e 96 horas após a última aplicação da prostaglandina; ou inseminação única entre 72 e 80 horas após a última aplicação). As duas formas são eficazes e garantem a eficiência da prenhez. A utilização da prostaglandina, de modo geral, é vista como positiva pela obtenção de benefícios representados por um incremento da produtividade, já que a máxima eficiência reprodutiva em rebanho leiteiro também depende destes fatores. Desta forma, os produtores devem tomar alguns cuidados principalmente com problemas nutricionais, sanitários e fatores utilizados na identificação do cio, adequando métodos para melhorar a reprodução bovina no pós-parto.

SAÚDE UTERINA Para se ter um rebanho leiteiro de qualidade são necessários alguns cuidados essenciais; entre eles está a saúde uterina das vacas leiteiras. Assim, pode-se dizer que o rendimento do rebanho leiteiro está, na maioria das vezes, associado às doenças reprodutivas. Caso estas doenças acometam o rebanho, o rendimento e a lucratividade poderão ser reduzidos significativamente. Além disto, afecções originam graves problemas no planejamento de médio e longo prazo dos rebanhos leiteiros, que, na maioria das vezes, não recebem a atenção merecida (Hafez, 1982), (Gonsalves et al., 2002). Neste enfoque, cabe ressaltar que as fêmeas destinadas à reprodução precisam apresentar uma boa saúde uterina e, para tanto, devem apresentar condições corporais normais e um ciclo, igualmente, normal. Isso pode influenciar na formação de lotes, onde as fêmeas devem ser selecionadas para que sempre se tenha um bom lote em produtividade (Andreotti et al., 1999). De acordo com Pinheiro (2008), um dos maiores eventos pós-parto, é as contrações miometriais. Estes eventos levam à expulsão dos lóquios, ou seja, eliminação da contaminação bacteriana, involução uterina e recomeço das atividades ovarianas. É neste período de pós-parto que a saúde uterina é comprometida, surgindo doenças mais comuns que acometem os bovinos. Entre elas, pode-se citar: retenção de placenta, partos distócicos, partos gemelares, fetos mortos, alterações metabólicas, infecções uterinas e atraso na involução uterina, entre outros. Como o parto e o pós-parto são períodos bastante 22

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preocupantes para a saúde uterina dos animais, esta depende de cuidados redobrados por parte do veterinário, cuidados ainda mais especiais durante as cesarianas. Especialmente porque a infecção bacteriana é um processo que, além de causar problemas no útero, leva também a desordens no ovário e hipotálamo. A reposta inflamatória e imune causada pela infecção bacteriana compromete o bem-estar animal, podendo causar sub-fertilidade e infertilidade (Mies, 1978). Por outro lado existem os problemas metabólicos que também merecem atenção; entretanto, estes acontecem devido a uma nutrição deficiente no período pós-parto. Assim, nota-se que existem fatores de risco para a saúde dos animais, especialmente a saúde uterina de vacas leiteiras e, entre os principais estão os fatores de risco bacterianos e os problemas metabólicos que podem comprometer a eficiência da reprodução. Atualmente tem-se realizado muitas pesquisas no sentido de ajudar a controlar especialmente os fatores de risco bacterianos, que são mais importantes para a qualidade da reprodução. Desta forma, a prostaglandina, pertencente ao grupo de eicosanóides, tem a capacidade de estimular a produção de outras substâncias, como os leucotrienos, que ativam várias funções leucocitárias, principalmente nos neutrófilos, a célula de defesa mais importante do útero, evitando, assim, alguns tipos de infecções (Gregory, 1982). A utilização de PGF2α no pós-parto de vacas leiteiras mostrou que, além de acelerar a involução uterina, reduziu a quantidade de infecções (Fernandes et al., 2007), além de antecipar os dias do primeiro estro, reforçar a expulsão dos lóquios e diminuir o intervalo entre partos. O tratamento com a PGF2α pode ser realizado com o seguinte manejo: no dia zero do animal, administra-se 2 mL de prostaglandina F2α, intramuscular, mais 1 mL para cada 10 kg de peso de tetraciclina ou oxitetraciclina intramulscular. Após 12 dias do parto aplica-se mais 2 mL de prostaglandina F2α intramuscular. Com este manejo, tanto a prostaglandina F2α como a tetraciclina ou oxitetraciclina atuam como grupos de antibióticos usados no tratamento das infecções bacterianas, diminuindo, assim, as possibilidades de infecções uterinas.

CONCLUSÃO Para obter lucratividade na produção leiteira, os produtores necessitam operar com alta eficiência, implantando estratégias capazes de melhorar o desempenho reprodutivo. Para a implantação de tais estratégias é necessário o conhecimento da fisiologia reprodutiva e das alterações que ocorrem, antes, durante a após o parto. Quando se tem um manejo adequado e se utiliza as técnicas de forma estratégica, provavelmente o desempenho reprodutivo aumentará e, consequentemente, aumentará a lucratividade pela maior produção. Para um rebanho leiteiro ter a produtividade esperada são necessários cuidados especiais, principalmente no período do pós-parto que é a etapa mais critica da saúde do animal. A Hora Veterinária – Ano 31, nº 185, janeiro/fevereiro/2012

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Além dos cuidados que o veterinário deve ter para prevenir possíveis infecções bacterianas, deve-se tomar cuidado também com a nutrição dos animais para evitar problemas metabólicos. Os resultados da pesquisa indicam que descobertas científicas, como é o caso do uso da prostaglandina para aumentar a eficiência da reprodução, são ferramentas importantes no trato do rebanho leiteiro na atualidade. Certamente, este é um vasto campo de pesquisa, que se torna ainda maior com novos conhecimentos sobre mecanismos de ação das prostaglandinas exógenas. REFERÊNCIAS ANDREOTTI, R.; P INCKNEY, R.; GOMES, A. Diagnóstico sorológico de Neospora caninum em rebanho bovino de corte de Mato Grosso do Sul. In: Seminário brasileiro de parasitologia veterinária, 11. Seminário de parasitologia veterinária dos países do Mercosul, 2., 1999, salvador. Anais: salvador, 1999. p. 226. CAMPOS, L. S. Entender a bioquímica: – hormonas locais – as prostaglandinas. 3 ed. Lisboa: Escolar Editora, 2002, ISBN, 972-592-127-5. FERNANDES, C. A. C et al. Eficiência de duas doses de cloprostenol (ciosin®) no pósparto de vacas de corte. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE REPRODUÇÃO ANIMAL, 17, 2007, Curitiba. Anais... Belo Horizonte: CBRA, p. 197. GOMES, A.P. Quantos permanecerão no leite? Balde Branco, São Paulo, v.36, n..432, p.72-80, out. 2000. GONSALVES, P.B.D.; FIGUEIREDO, J.R.; FREITAS, V.J.F. Biotécnicas aplicadas à reprodução animal. São Paulo: Varela, 2002. GREGORY, R.M.; RODRIGUES, J.L. Efeitos da prostaglandina na sincronização de cios de doadoras e receptoras de embriões em bovinos. Revista Brasileira de Reprodução Animal, v.6, n.3-4, p.9, 1982. HAFEZ, E.S.E. Reprodução animal. 4.ed. Sâo Paulo : Manole, 1982. MIES FILHO, A.; SÁ, N.F.de. Sincronização do ciclo estral em vacas de corte em lactação. Revista Brasileira de Reprodução Animal, v.2, n.3, p.21., 1978. PINHEIRO, Cristina Maria Conceição; D´ABREU, Manuel D´Orey Cancela ; BARATA, Gabriel Lobo Nunes (2008). Temáticas actuais e novas perspectivas para a produção de leite. Disponível em: <http// www.dzoo.uevora.pt/ index.php/dzoo/ensino/modu.> Acesso em 14 dez. 2009. PRESTES, C. N.; ALVARENGA, L. C. F. Obstetrícia Veterinária. 1ª. ed, Rio de Janeiro, Guanabara koogan, 2006, 241p. SIMPLICIO, A.A.; SANTIAGO, E.D.; CHOW, L.A.; RESENDE, H. S. Sincronização do ciclo estral em bovinos. II. Efeito de uma única dose de “Estrumate” (Cloprostenol ICI-80.996) por via intramuscular. Revista Brasileira de Reprodução Animal, v.2, n.3, p.37, 1978. SARTORI, R. Manejo reprodutivo da fêmea leiteira. Rev. Bras. Reprod. Anim. v. 31, n. 2, p. 153-159, 2007. SHELDON, I.M., DOBSON, H. Postpartum uterine health in cattle. Anim. Reprod. Sci. v. 82/83, p. 295–306, 2004. VASCONCELOS, J. L. M. Manejo reprodutivo de vacas leiteiras. Cad. Tec. Vet. Zootec. n. 29, p. 51-70, 1999.

Résumé Stratégie pour augmenter l’efficacité de la reproduction post-partum avec l’emploi de la prostaglandine (PGF 2α) chez des bovins laitiers F. A. Morgan, J. Diaz Ils existent quelques facteurs qui causent des problèmes au développement de la production laitière, facteurs capables de provoquer des pertes économiques liées à la faible productivité de lait pendant certains périodes en raison du manque d’organisation du troupeau en production, surtout à cause du retard de l’insémination et de la gestation. Devant ça, nous avons développé.dans ce travail une recherche téorique avec le but de mieux connaître la physiologie de la reproduction, et de mieux comprendre l’importance de la santé des animaux et l’efficace de la reproduction à partir de l’emploi de la prostaglandine. Les prostaglandine possèdent une activité assez large dans la Médicine Vétérinaire et, avec son effet lutéolitique, ils se passent des variations dans la sensibilité du tissu lutéal dans les différents qui suivent la formation du corps jaune. Des recherches récentes montrent que ces produits ont beaucoup à contribuer dans l’amélioration de l’efficace reproductive des bovins. Summary Strategy to boost postpartum reproductive efficiency α ) in dairy through the use of prostaglandine (PGF2α cows F. A. Morgan, J. Diaz There are some factors that influenced the development of milk production, these factors can cause economic losses related to the low productivity of milk at certain times, due to lack of organization of livestock production, often due to delayed insemination and pregnancy. Given that it developed in this work, a theoretical research in order to meet the reproductive physiology, understanding the importance of animal health and reproductive efficiency from the use of prostaglandin. Prostaglandins are very broad activities in veterinary medicine, with its luteolytic effect of the variations in the sensitivity of luteal tissue at different days after the formation of the corpus luteum. The role of prostaglandins in the process of uterine involution in cows leads to the development of the use of parallels in the postpartum period, aiming at accelerating the mechanism of uterine involution, even in animals with normal delivery, the involution can be accelerated by the application of these substances, leading to improvements in reproductive performance. Moreover, prostaglandins can be used in the treatment of uterine infections, demonstrated the direct effect of these in the womb. Recent research shows that these products have much to contribute to improving the reproductive efficiency of cattle.

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O impacto da pododermatite em bovinos leiteiros

A pododermatite é uma das principais causas de descarte em rebanho leiteiro, com taxas de 11 a 25% nas propriedades nacionais, além de ocasionar acentuada redução referente à economia: 36% a menos de leite/vaca ou ausência de 200 gramas por dia no ganho de peso diário de bovinos de corte. Neste texto, os autores descrevem as principais afecções podais, indicando a melhor opção de tratamento e prevenção desta doença impactante na produção e economia da propriedade rural.

L. G. PARANHOS1, T. A. F. VECHIATO2, D. M. S. CASSOL3, M. L. G. REZENDE4

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Luiz Gustavo Paranhos, Médico Veterinário e Supervisor Técnico Leite da Ourofino Agronegócio Ltda, Ribeirão Preto, SP, BRASIL. [gustavo.paranhos@ourofino.com] 2 Thales dos Anjos de Faria Vechiato, Médico Veterinário e Supervisor Técnico Corte da Ourofino Agronegócio Ltda., Mestre em Clínica Médica pela FMVZ/USP, Ribeirão Preto, SP, BRASIL. [thales.vechiato@ourofino.com] 3 Daniela Miyasaka Silveira Cassol, Médica Veterinária e Gerente Técnica da Ourofino Agronegócio Ltda., Doutora em Patologia Animal pela FCAV/ UNESP, Ribeirão Preto, SP, BRASIL. [daniela.miyasaka@ourofino.com] 4 Marcus Luciano Guimarães Rezende, Médico Veterinário e Diretor Técnico da Ourofino Agronegócio Ltda., Mestre em Ciência Animal (UFG), Ribeirão Preto, SP, BRASIL. [marcus.rezende@ourofino.com] 24

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INTRODUÇÃO COMO RECONHECERA PODODERMATITE TRATAMENTO PREVENÇÃO INTRODUÇÃO Com o início do período das chuvas surge a fartura de alimentos e, consequentemente, aumenta a presença de animais saudáveis, novamente, em todo o território nacional. No entanto, o clima chuvoso também é propício ao desenvolvimento de problemas sanitários, como as afecções podais. Segundo Dias (1996), no Brasil os problemas de cascos afetam de 11 a 25% das vacas presentes em qualquer propriedade. As pododermatites provocam muitas perdas na economia animal, como redução na condição corporal, redução na produção, aumento na incidência de mastites (vacas com problemas nos cascos ficam mais tempo deitadas), entre outros. Além disso, há interfe-

rência na reprodução, sendo que animais com pododermatite necrosante apresentaram maior intervalo entre partos (37 dias a mais) e menor taxa de fertilidade (Ramos et al., 2001). Após a mastite e a infertilidade, as lesões de casco são as principais causas da redução do desempenho dos rebanhos leiteiros (Silva et al., 2001). As lesões de casco são classificadas de acordo com sua causa, sendo originadas por diversos fatores, principalmente os de origem nutricional, infecciosa, ambiental e genética. As afecções do casco (pododermatites) compõem um conjunto de enfermidades que afetam a extremidade dos membros do bovino, incluindo pele, tecido subcutâneo e córneo, ossos, articulações e ligamentos. Representam um dos principais transtornos que acometem o gado leiteiro e, em menor proporção, o gado de corte. As pododermatites são ocasionadas por um ou mais fatores. Assim, identificar o tipo de problema podal é de extrema importância, pois o tratamento imediato minimiza o prejuízo do produtor. Por exemplo, é muito importante

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Quadro 1. Incidência de problemas ocasionados pelas pododermatites.

ajustar a ração das vacas em lactação, escolher o melhor produto para o pedilúvio, limpar adequadamente os locais de trato (alimentação), diminuir a lama do local, entre outros fatores. Bovinos com problemas podais representam perda produtiva significante , uma vez que o tempo para resolução completa ocorre, em média, de 25 a 30 dias. Uma vaca com produção média de 25 kg de leite por dia pode perder até 36% da sua produção diária, neste caso, redução de 9 litros/vaca/dia. Considerando o preço médio do litro a R$ 0,80, o prejuízo até a cura seria de R$ 180,00 a R$ 216,00 por vaca. Com as pododermatites ocorrem, consequentemente, diversos prejuízos produtivos e econômicos, como mostra a Tabela 1. Tabela 1. Impacto das pododermatites em bovinos.

Fonte: Vechiato, 2011.

Estudos mostram que a incidência de manqueira ocasionada por lesões podais em granjas leiteiras está na ordem de 55% e, se considerarmos um rebanho de 100 vacas, certamente teremos 55 animais com problemas podais, o que, para cada vaca doente representa um gasto mínimo de R$ 180,00. Ou seja, nosso produtor que acorda cedo, enfrenta madrugadas de frio e chuvas, deixaria de receber a “humilde” quantia de R$ 9.900,00 ao mês. Em bovinos de corte, no qual o ganho de peso é fator predominante para o sucesso do empreendimento, as pododermatites acarretam perdas diárias de, no mínimo, 200 gramas por animal. Ao final de um ano de trabalho na fazenda causariam redução de 43,8 kg ou 2,92 arrobas. Considerando o preço médio da arroba R$ 103,00, para cada animal com doença de casco, o pecuarista deixaria de ganhar R$ 300,76. Ou seja, dois animais claudicando por ano representam um bezerro a menos na receita bruta. Tais prejuízos somados aos gastos e

investimentos na fazenda trazem sérios transtornos financeiros e, dependendo do número de animais acometidos, podem impactar diretamente no fechamento econômico anual. Qualquer que seja a causa inicial das afecções de casco, sempre temos a contaminação da ferida por bactérias, principalmente Fusobacterium necrophorus (20%) e Dichelobacter nodosus (53,4%) (Silva et al., 1999), podendo ser agravada por miíases e, se não tratada corretamente, o que era apenas uma infecção local começa a ter caráter sistêmico, com acometimento de dígito e membro do bovino, o que leva a uma pododermatite séptica ou necrosante.

COMO RECONHECER A PODODERMATITE Ao observar sinais de claudicação nos animais, deve-se fazer a inspeção do casco afetado. É obrigatório a anamnese e o exame clínico individual. A maioria das vacas apresenta lesões visíveis nos cascos sem claudicações evidentes, no entanto, quanto maior a gravidade do processo, mais sinais clínicos são observados, dentre eles, emagrecimento, alterações na produção, anestro prolongado e diminuição na produção leiteira, além de sinais sugestivos de deficiências minerais. O exame físico do animal em estação consiste em inspecionar, basicamente, a sua postura e atitude. É preciso avaliar, também, a posição da cabeça e dos membros (abdução e adução) durante a locomoção, verificando o escore de claudicação, o qual varia de 1 (manqueira ausente) até 5 (manqueira excessiva) (Greenought et al., 1983). A avaliação do animal em movimento é feita observando o deitar, levantar e andar. Neste último caso, deve-se detectar a existência de claudicação. Caso exista é importante qualificá-la como: 1) Claudicação de apoio: “manqueira baixa” - comprometimento de estruturas distais do membro (casco). É caracterizada por movimentos curtos devido à dor, principalmente quando se movimenta o animal para o lado afetado. 2) Claudicação suspensória: “manqueira alta” - comprometimento de estruturas próximas ao membro (por exemplo, articulações coxo-femural e/ou fêmuro-tíbio-patelar). Neste caso, o animal não flexiona o membro afetado, principalmente diante de obstáculos como uma vara colocada a altura de 1020 cm do chão. Muitas vezes os dois tipos de claudicação estão associados, caracterizando a claudicação mista. O exame deve ser complementado com um minucioso exame de casco, na qual a finalidade é verificar assimetria, tamanho, presença de feridas, drenagens, juntamente com inspeção da musculatura local. Todas as alterações observadas devem ser registradas em fichas individuais. Os cascos mais afetados são geralmente dos membros posteriores, estudos mostraram variação de 66,70 a 73,33%, sendo maior frequência de enfermidades observadas nas unhas mediais em relação às laterais: 50,70 e 33,30%, respectivamente (Molina et al., 1999; Silva et al., 2006). As principais enfermidades de casco encontram-se na Tabela 2.

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Tabela 2. Principais afecções podais. ENFERMIDADE Laminite

SINAIS CLÍNICOS É definida como uma inflamação asséptica do cório laminar, causa da por um distúrbio da microcirculação e degeneração na junção derme/epiderme. Sua etiologia é multifatorial e sua patogenia bas tante complexa, sendo a mais importante causa de manqueira em bovinos. Sendo assim a nutrição é o principal fator da ocorrência da laminite. Dependendo da causa e intensidade, a laminite desenca deia. Hemorragia de sola, Úlcera de sola ou broca dos cascos, Sola dupla e Doença da linha branca. Hematoma de sola Derrame sanguíneo, ocorrido no tecido cório, casco está íntegro, mas a presença do hematoma sugere que o tecido do casco está mais frágil e com maior predisposição ao desenvolvimento de le sões. Úlcera de sola É uma lesão podal de maior prejuízo econômico, com maior inci dência em rebanhos alojados em Free-Stall. Apresenta-se como uma área circunscrita na sola, sem a presença de tecido córneo e com exposição do cório. O animal acometido sente desconforto evidente. Abscesso de sola Decorrente da entrada de sujeira (esterco, terra, pedregulhos) na região da lamina branca da sola, a qual se encontra dilatada em razão das alterações na estrutura interna do casco. Erosão de talão É uma lesão associada a ambientes úmidos e contaminação. Ca racteriza-se por desgaste e perda de tecido na região do talão. O agente envolvido na etiologia da lesão é o Dichelobacter nodosus. Verruga de casco A verruga de casco caracteriza-se por uma ferida usualmente ob servada na região do talão e na região periférica ao casco. Apesar das constantes pesquisas na área, a etiopatogenia desta lesão ainda é incerta, a micropsia evidencia múltiplas bactérias, sempre com predominância das espiroquetas nas camadas mais profundas da epiderme. Entre as afecções podais, a verruga é a mais contagiosa e alastra-se com facilidade. Dermatite do Espaço Caracteriza-se por uma reação proliferativa do tecido interdigital, interdigital (Gabarro) geralmente em resposta a uma agressão de fatores exames (sujei ras, gravetos etc). Não é uma lesão grave e só precisa de tratamen to nos casos mais preocupantes e que comprometem a locomoção do animal. Podridão de casco Caracteriza-se pelo inchaço generalizado do espaço interdigital e da região periférica do casco. A lesão é causada por agentes infeccio sos: várias bactérias estão envolvidas no processo. O animal apresenta claudicação intensa e repentina. Dermatite digital É uma lesão que caracteriza-se principalmente na parte posterior dos cascos, entre os talões, na coroa do casco. Manifesta inicial mente com erosão de pele, que se apresenta com a coloração avermelhada, rugosa e com dor intensa devido às lesões são erosivas que progridem para forma reativa (granulomatosa) e poste riormente para formar proliferativa (papilomatosa). Flegmão Interdigital Processo inflamatório agudo difuso da pele interdigital caracterizado por hipertermia local, hiperemia, edema, aumento de volume acen tuado e dor, levando a manqueira grave. O principal germe envolvi do é o Fusobacterium necrophorum.

Nos casos de pododermatites sépticas, devido ao intenso acúmulo de pus no local, ocorrem áreas de fistulação no ponto médio do espaço interdigital em 63,33% dos casos; na região dorsal do espaço interdigital em 16,67%, no cório-coronário da região abaxial do estojo córneo em 10,00% e na porção palmar/ plantar entre os talões em 3,33% dos casos (Silva et al., 2006). TRATAMENTO Independentemente da etiologia podal, o uso de antibioticoterapia é fundamental para resolução do quadro infeccioso. No entanto, por se tratar de bactérias comumente 26

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presentes nas afecções podais, conforme já descrito acima, a opção deve ser por antibióticos bacteriostáticos com amplo espectro de ação, por exemplo, produtos à base de oxitetraciclina1. Porém, em todo processo infeccioso existe um intenso quadro inflamatório, que não deve ser menosprezado, exigindo um tratamento antiinflamatório. Vale ressaltar que, associado à terapia injetável, recomenda-se higienizar previamente os cascos com produtos à base de soluções compostas de antissépticos potentes (Cloreto de benzil amônio2) para desinfecção local. Além disso, recomenda-se o uso de cicatrizantes3. PREVENÇÃO

Uma prática preventiva, independente do fator de risco, é o uso frequente de pedilúvio. Este deve ser instalado na entrada ou saída do curral, no qual tem por finalidade fazer com que os animais passem as extremidades dos quatro membros em solução desinfetante e bactericida para higienização dos cascos, bem como cura de alguns tipos de pododermatites. O pedilúvio é um método barato, com grande resolução de problemas podais na fazenda. Orientando essa prática, o veterinário auxilia o pecuarista a reduzir os casos clínicos de pododermatite na propriedade, tornando a atividade leiteira mais rentável. Recomenda-se sua construção na saída do curral ou após a sala de ordenha, onde o pedilúvio tem finalidade de limpar, desinfetar e fortalecer o tecido dos cascos retirando as sujidades entre as unhas. A solução empregada deve ser constituída de produtos químicos, como a formalina a 5%, sulfato de cobre 5% ou sulfato de zinco 10%. Deve-se diluir aproximadamente 5 kg ou litros em 100 litros de água. Silva et al. (2007) utilizaram solução à base de hipoclorito de sódio (2 a 4%) como sanitizante, mostrando-se eficaz na higienização dos cascos. Independente da solução eleita deve-se trocar com frequência, dependendo da quantidade de fezes e/ ou lama presentes nos cascos ou número de vacas passadas na solução. Um protocolo de excelência é o uso na primeira semana de sulfato de cobre, na segunda semana uso de formalina e na terceira semana retorno com a solução cúprica. Independente do produto escolhido é importante ter um programa de educação e controle das principais doenças de casco nas fazendas. Rebanhos leiteiros cuja alimentação é altamente energética são predispostos às enfermidades podais pela alta incidência de distúrbios digestivos. Assim, deve-se associar à prática do pedilúvio, o uso de tamponantes na dieta na tentativa de reduzir os casos de acidose ruminal e, consequentemente, as afecções podais.

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Ourotetra Plus LA, 2CB-30 T.A., 3Mata Bicheira Vingador® Ourofino Saúde Animal Ltda. A Hora Veterinária – Ano 31, nº 185, janeiro/fevereiro/2012

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Às vezes, torna-se necessário a apara anual dos cascos de todas as vacas no início do período seco, sendo uma alternativa de prevenção. Deste modo, as lesões e rachaduras adquiridas na última lactação são retiradas e o formato do casco restabelecido. Vale ressaltar a importância de um sistema regular de seleção de matrizes e reprodutores, descartando aqueles que possuem predisposição genética para o aparecimento das afecções do casco. O manejo correto para fazer com que os animais nunca apresentem algum tipo de pododermatite durante a vida é difícil, pois muitos fatores estão envolvidos no processo podal, mas existem métodos eficazes de prevenção como os supracitados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DIAS, R. O. S. Tratamento de cascos se faz com informação e critérios. Revista Balde Branco, v.385, p.26-9, 1996. GREENOUGHT, P. R; CALLUM, F. J.; WEAVER, A. D. Les boiteries des bovins. 3ed. Paris: Du Point Veterinaire, 1983. MOLINA L. R., CARVALHO A. U., FACURY FILHO E. J., FERREIRA, P. M.; FERREIRA, V. C. P. Prevalência e classificação das afecções podais em vacas lactantes na bacia leiteira de Belo Horizonte. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. v.51, n.2, p.149-152, 1999. RAMOS, L. S.; SILVA, L. A. F.; MEIRINHOS, M. L. G.; JULIANO, R. S.; PRADO, L. F.; CUNHA, P. H. J.;

MORAES, R. R.; FIORAVANTI, M. C. S. Avaliação de parâmetros reprodutivos em fêmeas bovinas de aptidão leiteira portadora de pododermatite necrosante. ARS Veterinária, v.17, n.2, p.98-106, 2001. SILVA, C. A; SILVA, L. A. F; MESQUITA, A. J; FIORAVANTI, M. C. S; ACYPRESTE, C. S. Microbiota anaeróbica isolada de bovinos com pododermatite. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. v.51, n.3, p.207-212, 1999. SILVA, L. A. F.; SILVA, L. M.; ROMATI, A. F.; RABELO, R. E.; FIORAVANTI, M. C. S., SOUZA, T. M.; SOUZA, T. M.; SILVA, C. A. Características clínicas e epidemiológicas das enfermidades podais em vacas lactantes do município de Orizona, GO. Ciência Animal Brasileira, v.2, n.2, p.119126, jul./dez. 2001. SILVA, L. A .F.; MORAES, R. R.; ROMANI, A. F.; FIORAVANTI, M. C. S.; CUNHA, P. H. J.; BORGES, J. R. J.; MACEDO, S. P.; DAMASCENO, A. D.; RABELO, R. E.; GARCIA, A. M. Pododermatite séptica em bovinos: evolução clínica da fase inicial. Braz. J. Vet. Res. Anim. Sci., São Paulo, v. 43, n. 5, p. 674-680, 2006. SILVA, L. A. F.; COELHO, K. O.; DAMASCENO, A. D.; NICOLAU, E. S.; ANDRADE, M. A.; FIORAVANTI, M. C. S.; MESQUITA, A. J.; BARBOSA, V. T.; MOURA, M. I. Avaliação da concentração e do efeito sanitizante do hipoclorito de sódio em pedilúvio para bovinos. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v.28, n.1, p.89-96, jan./mar. 2007. VECHIATO, T. A. F. Pododermatite em bovinos. Diarreia em bezerros. Revista AG – A Revista do Criador. Agosto, 2011.

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Dados populacionais do rebanho ovino gaúcho

A ovinocultura já teve grande destaque na economia gaúcha no século XX. Nas décadas de 1980 e 1990, porém, devido à diminuição pela procura da lã, muitos produtores rurais deixaram de criar ovinos. Entretanto, com o aumento da apreciação da carne ovina, no final da década de 1990 e início deste século, muitos produtores rurais voltaram para a atividade. Atualmente, há uma leve tendência de crescimento do rebanho ovino gaúcho, conforme os dados dos últimos levantamentos pecuários realizados pelo Departamento de Defesa Agropecuária da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Agronegócio do Rio Grande do Sul, sendo que a distribuição da população ovina gaúcha continua concentrada na região sul do Estado, em especial, nas mesorregiões sudoeste e sudeste.

D. V. SANTOS1, R. M. AZAMBUJA2, A. C. VIDOR3

INTRODUÇÃO METODOLOGIA RESULTADOS DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

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Diego Viali dos Santos, MSc. Médico Veterinário, trabalha no Serviço de Epidemiologia e Estatística da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Agronegócio do Rio Grande do Sul. E-mail: diegosantos@agricultura.rs.gov.br, Porto Alegre, RS, BRASIL. 2 Roberto Moreira de Azambuja, Médico Veterinário, trabalha no Serviço de Doenças Infecciosas da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Agronegócio do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, BRASIL. 3 Ana Carla Vidor, MSc. Médica Veterinária, chefe do Serviço de Epidemiologia e Estatística da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Agronegócio do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, BRASIL. 28

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INTRODUÇÃO No ano de 1797 foi realizada a primeira estatística oficial de ovinos no RS, cujo total somava 17.475 animais (Santos, 1968). Passados dois séculos, devido à importância econômica da lã, o Estado do Rio Grande do Sul chegou a possuir um rebanho ovino de cerca de 12 milhões de animais na década de 1970 (Figueiró, 1975). No final da década de 1980, em consequência dos altos estoques australianos de lã e do inicio da comercialização de tecidos sintéticos no mercado têxtil internacional, ocorreu um período de crise no setor. A crise se estendeu durante a década de 1990, o que fez muitos produtores desistirem da criação de ovi-

nos, reduzindo significantemente o rebanho comercial (Bofill, 1996; Nocchi, 2001). Entretanto, o aumento do poder aquisitivo da população e o incremento do abate de animais jovens trouxeram um novo mercado para a ovinocultura. A carne ovina começou a ser apreciada, levando a uma maior demanda de consumo, o que indicou um bom potencial para se tornar um produto substituto no mercado. Análises econômicas da produção ovina demonstram que a ovinocultura voltou a ser uma atividade rentável (Viana, 2008). O rebanho ovino gaúcho, atualmente, apesar da grande diminuição da população em relação à década de 1970, permanece como o maior do Brasil (IBGE, 2006). Naquela época, a maior densidade e quantidade de ovinos no RS encontravam-se nos municípios da região sul do Estado (Figueiró, 1975). Este trabalho tem como objetivo analisar a distribuição e densidade da população e criadores de ovinos no RS por mesorregião, no ano de 2009, assim como fazer um comparativo da população ovina gaúcha no período de 2005 a 2009.

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METODOLOGIA

na Tabela 2. Nesses 20 municípios estão 2.372.528 ovinos do Estado, representando 69% do rebanho ovino gaúcho.

As 250 unidades locais do Departamento de Defesa Agropecuária (DDA) da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Agronegócio (SEAPA) têm sua abrangência de ação sanitária nos 496 municípios do Estado. Por outro lado, todos os produtores rurais gaúchos devem estar cadastrados junto a essas Unidades Locais, através do Cadastro do Produtor. Este cadastro, além de conter dados sobre o proprietário e a propriedade, especifica e quantifica o número de animais sob a responsabilidade de cada produtor. O cadastro é atualizado, a cada movimentação animal ocorrida na propriedade rural, e também uma vez ao ano, conforme a declaração anual de rebanho. A declaração anual de rebanho está prevista em lei (RIO GRANDE DO SUL, 1998) e determina que todo produtor rural deve declarar, por escrito, na unidade local do DDA/ SEAPA todos os animais que possui. Essa declaração anual ocorre de janeiro a 30 de abril, e os produtores rurais declaram a espécie, quantidade, idade e sexo dos animais. Os dados de cada declaração anual de rebanho são digitados, nas unidades locais, no Sistema de Defesa Agropecuária (SDA) da SEAPA e em nível central, o Serviço de Epidemiologia e Estatística (SEE), juntamente com os programas sanitários da Divisão de Fiscalização e Defesa Sanitária Animal (DFDSA) realiza a análise das informações de cada espécie animal. Para a análise dos dados da população ovina no RS foram utilizadas as declarações anuais de rebanho do ano de 2009 de todos os produtores rurais cadastrados nas unidades locais do DDA e analisadas pelo SEE e o Serviço de Doenças Infecciosas (SDI), o qual é responsável, no estado do Rio Grande do Sul, pelo Programa Nacional de Sanidade Caprina e Ovina (PNSCO).

Figura 1. Linha de tendência (em vermelho) da população ovina no RS de 2005 a 2009.

Tabela 2. Municípios com maior rebanho ovino no RS em 2009.

RESULTADOS Os dados obtidos nos levantamentos pecuários no RS, de 2005 a 2009, com relação à população ovina, estão demonstrados na Tabela 1. Nessa tabela estão descritas as categorias, sexos e o número de produtores rurais e propriedades que possuem ovinos no Estado gaúcho nesse período. Pelos dados ovinos apresentados, pode-se observar na Figura 1, que a população ovina tem uma leve tendência de crescimento. No ano de 2007, ápice do tamanho da população ovina, chegou-se a mais de 3,8 milhões de animais. Segundo o levantamento pecuário ovino de 2009, os 20 municípios com maior rebanho ovino no Estado estão elencados

Tabela 1. Dados da população ovina no RS entre 2005 e 2009.

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Figura 2 – População ovina por mesorregião do RS, em 2009. Figura 4. Densidade do número de ovinos no RS. Regiões mais avermelhadas são as de maior densidade ovina.

Figura 3. Distribuição da população ovina no RS por mesorregião. Regiões mais escuras são aquelas com maior população ovina.

Para uma análise mais detalhada da distribuição da população ovina no Estado do Rio Grande do Sul, realizou-se uma análise dos dados pelas mesorregiões do Estado. A região sudoeste é onde está mais da metade da população ovina gaúcha (53%), conforme se verifica nas Figura 2 e 3. Ainda, outra mesorregião de destaque, que concentra 23% da população ovina, é a sudeste. Ao contrário, nota-se que nas mesorregiões da região central e norte existe apenas 24% do rebanho ovino do Estado, sendo que a as mesorregiões nordeste e centro oriental possuem, cada uma, apenas 2% da quantidade total da população ovina gaúcha. Com base nos dados do levantamento pecuário de 2009, foi calculada a densidade ovina no Estado do Rio Grande do Sul, que pode ser observada na Figura 4. Regiões com a coloração vermelha são aquelas com maior densidade animal. Além do número de ovinos e sua distribuição dentre as mesorregiões, este trabalho analisou o número de produtores rurais que possuem ovinos no RS e sua distribuição e densidade dentre as mesorregiões do Estado, no ano de 2009. As Figuras 5 e 6 demonstram a distribuição e densidade dos produtores rurais de ovinos no RS. 30

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Figura 5. Distribuição dos produtores rurais de ovinos no RS por mesorregião. Quanto mais escuro a mesorregião, maior a quantidade de produtores de ovinos existentes.

Por último, cruzou-se a informação da densidade ovina Figura 6. Áreas de concentração dos produtores de ovinos no RS. Regiões mais avermelhadas são aquelas com maior densidade de produtores rurais que possuem ovinos. A Hora Veterinária – Ano 31, nº 185, janeiro/fevereiro/2012

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no Estado, com a quantidade de produtores rurais que criam ovinos no RS. Na Figura 7 pode-se observar os dados desse cruzamento.

cultura familiar, enquanto na região sudoeste a criação de bovinos é a base da pecuária, tendo grandes propriedades rurais com um número expressivo de ovinos. Este trabalho demonstra que, nos últimos anos, a população ovina gaúcha está em crescimento, tendo sua criação concentrada nas mesorregiões sudoeste e sudeste do Estado, coincidindo com a mesma distribuição e concentração de ovinos que ocorria na década de 1970. A partir do ano de 2011, o governo gaúcho, lançou o programa de desenvolvimento da ovinocultura gaúcha, no qual tem como objetivos a retenção e aquisição de matrizes e reprodutores, visando o aumento do rebanho ovino do Estado. Com os dados populacionais dos próximos anos, será possível constatar se a linha de tendência, que hoje é de leve crescimento, será modificada, alcançando assim, os objetivos desse programa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Figura 7: Densidade ovina e quantidade de produtores rurais com ovinos no RS. Quanto mais escuro as mesorregiões, maior a quantidade de produtores rurais de ovinos e quanto mais avermelhados os círculos, maior a densidade de ovinos. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO Conforme o dado apresentado na Figura 1 percebe-se que existe uma leve tendência de crescimento da população ovina gaúcha, tendo como base o levantamento pecuário realizado pelo DDA/SEAPA. Essa tendência de crescimento pode ser confirmada analisando a Tabela 1, visto que há uma maior retenção de cordeiras em 2009 (fêmeas até 6 meses de idade), em relação aos anos anteriores. Pode-se perceber que, apesar da diminuição da população ovina gaúcha nas últimas duas décadas, os municípios com maior rebanho ovino continuam sendo aqueles da região sul (Tabela 2), conforme ocorria na década de 1970 (Figueiró, 1975). A declaração anual de rebanho é realizada apenas uma vez ao ano. Devido a esse fato, muitos cordeiros são abatidos antes mesmo de serem declarados pelo produtor rural. Portanto, não é possível realizar o cálculo da taxa de natalidade ovina no RS, pelos dados apresentados na Tabela 1. Na região sul do Estado está ¾ da população ovina (Figuras 2 e 3), sendo que a região sudoeste é aquela com maior densidade ovina (Figura 4). Quanto à quantidade de criadores de ovinos, percebe-se que, ao contrário da população ovina, existe uma difusão entre todas as mesorregiões do Estado (Figuras 5 e 6). Quando se compara a quantidade de criadores e o número de ovinos, percebe-se que na região sul estão, em média, os maiores rebanhos de ovino por criador, sendo que contrasta com a região noroeste do Estado, onde existe um grande número de criadores com poucos animais. Isso corrobora com o fato de que na região noroeste do estado há pequenas propriedades rurais, mais voltadas para a pecuária leiteira e agri-

BOFILL, F. J. A reestruturação da ovinocultura gaúcha. Guaíba: Livraria e Editora Agropecuária, 1996. 137 p. FIGUEIRÓ, C. M. W. Ovinocultura no Rio Grande do Sul. Secretaria da Agricultura, Porto Alegre, RS (Brasil). Supervisão da Produção Animal. 1975. 45 p. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Agropecuário 2006. [20 ago. 2008]. (http:// www.ibge.gov.br). NOCCHI, E.D. Os efeitos da crise da lã no mercado internacional e os impactos sócio-econômicos no município de Santana do Livramento – RS– Brasil. 2001. 71f. Dissertação (Mestrado em Integração e Cooperação Internacional) – Universidad Nacional de Rosario, Rosario, Argentina. RIO GRANDE DO SUL, Lei Estadual 11.099 de 22/01/1998. Institui o Programa de Erradicação da Febre Aftosa no Estado do Rio Grande do Sul e dá outras providências. SANTOS, V.T. Problemas sanitários ovinos no Rio Grande do Sul. Secretaria da Agricultura, Porto Alegre, RS (Brasil). Serviço de Informação e Divulgação Agrícola. Porto Alegre, RS (Brasil). 1968. 19 p.. VIANA, J. G. A & SILVEIRA, V.C.P. Análise econômica da ovinocultura na metade sul do Rio Grande do Sul. Anais do XLVI Congresso da Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural, Rio Branco, AC. 2008.

Summary Population report of Rio Grande do Sul ovine herd D. V. Santos et al. The sheep industry has had great prominence in the Rio Grande do Sul economy in the twentieth century. In the 80’s and 90’s, however, due to decreased demand for wool, many farmers stopped creating sheep. However, with increasing appreciation of sheep meat in the late 90th and early this century, many farmers turned to the activity. In this century, there is a slight upward trend in Rio Grande do Sul sheep herd, according to data from recent surveys conducted by the govern of Rio Grande do Sul. The distribution of the sheep population continues concentrated in the south state.

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Avaliação do eixo podo-falângico e sua influência no desempenho de Cavalos Crioulos na prova de andadura

Os cavalos com o eixo podo-falângico e o ângulo da articulação escápulo umeral desiguais, têm uma tendência a executar um movimento desuniforme. O objetivo do estudo é verificar, por meio da mensuração do eixo podo-falângico, sua influência sobre o desempenho de Cavalos Crioulos na prova do Freio de Ouro. Foram avaliados 74 cavalos com idades entre 5-15 anos, que participaram nas provas de qualificação. O grupo N1 obteve uma média melhor de notas em relação ao grupo N2 e N3, demonstrando que os parâmetros de angulação do eixo podo-falângico, podem ser relacionados à alteração que ocorre na forma como o casco toca o solo, a duração da suspensão e quando ele sai do solo.

J. C. PAGANELA1, C. A. SANTOS1; C. F. R. PAZ ; P. K. RIPOLL, C. E. W. NOGUEIRA3 1

INTRODUÇÃO MATERIAL E MÉTODOS RESULTADOS DISCUSSÃO CONCLUSÃO

INTRODUÇÃO

1

Julio César Paganela, Carlos Anselmo dos Santos, Cahuê Francisco Rosa Paz, Acadêmicos de Medicina Veterinária, Faculdade de Veterinária da UFPel, Pelotas, RS, BRASIL. 2 Pedro Kutscher Ripoll, Médico Veterinário – Autônomo, Pelotas, RS, BRASIL. 3 Carlos Eduardo Wayne Nogueira, Médico Veterinário,. Prof. Dr. Departamento de Clínicas Veterinárias, FV, UFPel, Pelotas, RS, BRASIL. 32

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O casqueamento e o ferrageamento devem permitir, a partir do casco, a distribuição equilibrada do peso sobre o membro. Nesse sentido o eixo podo-falângico (EPF), determinado pela relação entre o ângulo do casco e a inclinação da quartela, está diretamente relacionado à forma em que a andadura é realizada, pois afeta a fase final de suspensão do casco, bem como sua concussão no solo (Funtanillas, 2004). A literatura cita que o ângulo normal do casco dos membros torácicos está classificado entre 48º e 55º(Stashak, 2006). Porém devese respeitar a conformação de cada animal, sendo que o EPF está relacionado com a

angulação da articulação escápulo umeral (AEU), ou seja, o ângulo do casco deve ser o mesmo, ou semelhante ao ângulo da articulação escápulo umeral, pois somente assim o casco vai ter um apoio uniforme, quando em contato como solo. Os cavalos com o EPF em desequilíbrio com o ângulo da AEU têm o movimento realizado de forma desuniforme e não cadenciada, pois pode ocorrer atraso ou antecipação durante a fase de elevação do casco para realizar a passada (O´Grady & Poupard, 2003). A prova de andadura é parte integrante das provas funcionais do Freio de Ouro e a sua avaliação é feita de acordo com o regulamento da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC), o qual na interpretação da andadura avalia a definição, manutenção, comodidade, naturalidade, tipicidade racial, qualidade e progressão da mesma. O presente estudo buscou verificar, através da mensuração do eixo podo-falângico de cada animal, a influência deste no desempenho durante a prova de andadura do Freio de Ouro.

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MATERIAL E MÉTODOS

gulo da AEU e o ângulo do casco dos membros torácicos (uma medida para cada membro). O ângulo da AEU em relação O estudo avaliou 74 equinos com idade entre 5 e 15 ao solo foi determinado com a utilização de um artrogoanos, que participaram das Classificatórias do Freio de Ouro niômetro. Os ângulos dos cascos dos membros torácicos (di2008, nas cidades de Bagé e Pelotas. Todos se apresentavam reito e esquerdo) foram definidos como os ângulos formados clinicamente sadios e com bom estado corporal. Na prova de pelas intersecções das faces dorsais das paredes do casco andadura foi feito o registro das notas no tranco, no trote e no nas regiões da pinça com o plano horizontal da sola, utilizangalope, que constituem os desfechos do presente estudo. do um podogoniômetro para este procedimento. As diferenDurante as provas, cada cavalo recebeu uma nota de três juraças entre os ângulos da AEU e do casco é que determinaram a dos diferentes com um valor entre zero e dez para cada uma divisão dos três grupos: (N1) com diferença de até dois graus, destas atividades (tranco, trote e galope). A nota final foi cal(N2) de 3-4 graus e (N3) superior a quatro graus. Ou seja, culada como a média das notas dos três jurados para cada cavalos com diferença até dois graus seriam animais com o uma das atividades. Os animais que eram penalizados durante EPF correto, entre 3 e 4 graus cavalos com EPF em desarmonia com o ângulo da AEU e mais que 4 graus uma desarmonia a prova não foram incluídos no estudo. Como variáveis independentes foram analisados o ânexacerbada. Para as análises fora Tabela 1. Média de notas na prova de andadura, em relação à diferença entre os valores dos utilizadas a regressão linear ângulos do eixo podo-falângico e articulação escápulo umeral dos cavalos da Raça Crioula, (exposições contínuas) e em Bagé e Pelotas. ANOVA (exposições categóricas), utilizando o teste de Wald e o teste F para estimar a significância estatística. O pacote estatístico utilizado nas análises foi o Stata 9.0. RESULTADOS

Tabela 2. Coeficientes de regressão das notas no tranco, no trote e no galope conforme o ângulo da articulação escápulo umeral e eixo podo-falângico, e das diferenças entre as angulações na prova de andadura dos cavalos da raça crioula. Bagé e Pelotas, 2008.

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A Tabela 1 apresenta as médias de nota no tranco, no trote e no galope conforme os grupos de angulação dos cascos (N1 e N2). Nenhuma das angulações apresentou nenhum padrão claro de associação com as notas no tranco, no trote e no galope (valor p e” 0,3 em todos os casos). A mesma tabela apresenta as notas obtidas conforme as diferenças nas angulações. Houve uma aparente tendência inversa entre as notas no trote e no galope conforme as diferenças nas angulações, mas estas associações não foram estatisticamente significativas (valor p 0,3 e 0,2 respectivamente). A regressão linear (Tabela 2) tampouco mostrou nenhuma relação entre o ângulo da AEU, o ângulo do EPF e também a diferença entre as angulações, com as notas avaliadas. 33

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DISCUSSÃO O grupo N1 obteve média de notas na Prova de Andadura melhores que o grupo N2 e N3, demonstrando que o ângulo do EPF afeta parâmetros como a maneira, a qual o casco toca o solo, a duração da fase de suspensão e o momento em que ele deixa o solo, além de que em um casco equilibrado as forças de impacto, ou forças de concussão com o solo são direcionadas corretamente (O’Grady & Poupard, 2003). De acordo com Monina (2006) para um ângulo da AEU de 45º o comprimento do passo é igual à altura do animal. À medida que este ângulo aumenta diminui a amplitude e rendimento da marcha, e ângulos acima de 55º reduzem em 25% a longitude em relação aos de 45º. Mas essa manutenção da amplitude da passada também está relacionada o ângulo EPF, e sua manutenção para com o ângulo da AEU, como demonstrado pelos grupos N1 e N2, em que o equilíbrio nos cascos traz uma melhor progressão no movimento fazendo que a andadura ocorra de uma forma cadenciada e constante, obtendo-se o melhor desempenho do cavalo. O atraso na elevação do casco faz com que este atinja o pico do arco de suspensão antes de passar pelo membro de apoio oposto (Balch et al., 1991), isso ocorre em cavalos que estão com o EPF desequilibrado, comprometendo assim o movimento da andadura principalmente no trote e galope. Esse comprometimento, embora estatisticamente insignificante, se evidenciou nos grupos N2 e N3 que obtiveram notas mais baixas em relação ao grupo N1 porque, quando um casco está em equilíbrio dinâmico, ele se apóia de maneira plena e a andadura fica mais harmônica. A avaliação do EPF, a altura dos talões e sua relação com o centro da articulação interfalangeana distal devem ser utilizados como referência para o casqueamento e ferrageamento (O‘Grady, 2009). Pois, além de atuar em como o impacto do casco com o solo é absorvido, o EPF tem relação com o desempenho do animal, demonstrado na avaliação da prova de andadura realizada por equinos da raça Crioula.

Equine Veterinary Practice. The Veterinary Clinics of North América, Philadelphia, v.19, n. 2 , p. 273-283, 2003. MONINA, M. I..; Biomecánica equina In: BOFFI, F. M.; Fisiologia del Ejercicio en Equinos – 1° Ed. – Buenos Aires: Inter-Médica, 2006. O’GRADY, S. E., POUPARD, D. A.; Proper physiological horseshoeing. The Veterinary Clinics of North America, Lexignton, v.19, n. 2 , p. 333-351, 2003. O’GRADY, S.E., POUPARD, D. A.; Physiological horseshoeing: an overview. Equine Veterinary Education., v 28, n.4, p. 426-430, 2001. STASHAK, T. S.; Relação entre conformação e claudicação. Claudicação em Equinos segundo Adams, Editora Roca ltda, 4ª edição, São Paulo, SP, p. 73 – 100, 2006.

Résumé L’évaluation de l’axe podo-phalangique et de son influence sur la performance de chevaux Créoles dans l’épreuve de la marche J. C. Paganela et al. Les chevaux qui ont l’axe podo-phalangique et l’angle de l’articulation scapulo-umérale inégaux ont une tendance à exécuter des mouvements désunis. Le but de cette étude a été celui de vérifier, en mésurant l’axe podo-phalangique, son influence sur la performance de chevaux de la race Créole dans l’épreuve du Mors d’Or. Ils ont été évalués 74 chevaux d’âges entre 5 et 15 ans qui ont participé à des épreuves de classement au Mors d’Or. Le groupe N1 a obtenu une meilleure moyenne que les groupes N2 et N3, ce qui a démontré que les paramètres de l’angulation de l’axe podo-phalangique peuvent être en relation avec des changements de la façon dont le sabot touche le sol, la durée de la suspension et quand il sors du sol.

CONCLUSÃO

Summary

Os cavalos que demonstraram equilíbrio entre o ângulo da articulação escápulo umeral e o ângulo do eixo podofalângico, demonstraram uma tendência em obterem melhores resultados na prova de andadura do Freio de Ouro.

Assessment of axis podo-phalanx and its influence on the performance of Crioulo Horses in the proof of gait J. C. Paganela et al.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BALCH, O.; WHITE, K.; BUTLER, D.; Factors involved in the balancing of equine hooves. Journal American Veterinary Medical Assocociation, v.198, n. 7, p. 19801989, 1991. FUNTANILLAS, A.; Elementos de podologia equina y herrado corretivo – 1°. Ed. - Buenos Aires: Hemisfério Sur, 2004. MERRIAM, J. G.; The role and importance of Farriery in 34

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The horses with the hoof angle and the scapular humeral angle, have a tendency to run a non-uniform motion. The objective is to verify, by measuring hoof angle, its influence on the performance of Crioulo Horses in the proof of gait. We evaluated 74 horses aged 5-15 years who participated in the qualifying tests Freio de Ouro. The N1 group scored an average of better grades in relation to group N2 and N3, demonstrating that the parameters of the shaft hoof angle, may be related to changes occurring in the way the hoof hits the ground, the duration of suspension and when he leaves the ground. A Hora Veterinária – Ano 31, nº 185, janeiro/fevereiro/2012

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Qual o seu diagnóstico? /

Perguntas

E. DUMAY, C. BERTOLANI1 Tradução e adaptação Z.Cheuiche2

Caso clínico 1: Anorexia em um cão* Um Bulldog francês de 3 meses de idade foi à consulta por uma anorexia de início brusco que já durava 7 dias, com melhora transitória sob perfusão. Seu estado geral ainda apresentava-se degradado após o fim da perfusão, com diarréia e vômitos (foto). O animal está corretamente vacinado e vermifugado. Os perfis hemáticos e urinários mostram um aumento de uréia e creatinina, assim como uma hipercalcemia e uma hiponatremia. A densidade urinária é de 1,015 e o pH normal. 1- Qual o diagnóstico diferencial? 2- Que exames complementares devem ser realizados? 3- Qual o diagnóstico e que tratamento deve ser feito?

Caso clínico 2: Dispnéia e tosse em uma cadela* Uma cadela da raça Bulldog francês de quatro meses foi levada à consulta por uma dispnéia, tosse, tentativas de vômito e saliva com sangue, de aparência brutal após a ingestão de ossos de frango. Foi realizado um exame radiográfico com contraste de bário. O exame geral foi satisfatório. A cadela apresentava uma discreta dispnéia e crepitações à auscultação torácica. A palpação abdominal foi um pouco tensa e dolorosa. A análise sanguínea estava dentro dos padrões normais. Foram feitas radiografias torácicas e abdominais para confirmar a suspeita clínica de corpo estranho. 1- Quais são as observações radiográficas? 2- Qual o tratamento a ser realizado? 3- Quais as recomendações pós operatórias e as complicações possíveis?

Caso clínico 3: Vômitos e anorexia em um gato* Um gato macho castrado da raça Norwegian de 5 anos foi levado à clínica por vômitos e uma anorexia de aparecimento agudo após uma fuga de 15 dias. O exame clínico revelou abatimento, mucosas ictéricas, abdômen flexível, bradicardia e desidratação estimada a 7%. Na análise sanguínea foi evidenciado um aumento importante das transaminases. Também foram realizadas radiografias torácicas e abdominais. 1- O que mostram as imagens radiográficas? 2- Quais as causas das modificações observadas? 3- Qual o tratamento apropriado? 1

Émilie Dumay e Coralie Bertolani, Médicos Veterinários do CHV Frégis, Arcueil, FRANÇA. Zilah Cheuiche, Médica Veterinária, Ms, Redatora de A Hora Veterinária, Porto Alegre, RS, BRASIL. *Artigo originalmente publicado na Revista Le Point Vétérinaire, Junho 2011/ no 316. 2

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Qual o seu diagnóstico? /

Respostas

Caso clínico 1: Doença de Addison em um cão 1- Qual o diagnóstico diferencial? O diagnóstico diferencial de uma aumento de uréia e creatinina com uma diminuição da densidade urinária, inclui neste caso várias afecções pré renais, notadamente hipocorticismo. Também hepatopatias com desidratação, insuficiência renal aguda ou crônica (de origem congênita, infecciosa, tóxica ou menos provavelmente, tumoral). Além de causas pós renais (obstrução, rupturas de vasos urinários). 2- Que exames complementares devem ser realizados? Ecografia abdominal e um este de estímulo do ACTH. Este teste mostra mostra um cortisol pré e pós estimulação bastante diminuído (inferior a 20 nmol/l).

3- Qual o diagnóstico e que o tratamento deve ser feito? Após os resultados do teste de estimulação, o diagóstico de doença de Addison foi fechado. É uma doença frequente em jovens adultos, casos raros foram descritos em filhotes de gato, associada ou não a hipoplasia adrenal. O tratamento de urgência consiste em restaurar a volemia por perfusão intravenosa de solução fisiológica, além de glicocorticóides e mineralocorticóides e tratamento dos sintomas digestivos. O tratamento a longo prazo consiste em suplementar o cão em mineralocorticóides e glicocorticóides durante o resto da vida (fludrocortisona na dose de 0,02 mg/kg/ dia VO e prednisolona na dose de 0,1 a 0,2 mg/kg/ dia VO).

Caso clínico 2: Hérnia hiatal em uma cadela 1- Quais são as observações radiográficas? As radiografias mostram a presença de numerosas estruturas radiopacas no estomago, que confirma a suspeita de corpo estranho. Além disto, o bário permite o destaque das pregas estomacais e foi constatado que uma parte do órgão encontrava-se na cavidade torácica. Estas observações chegam ao diagnóstico de hérnia hiatal com comprometimento parcial do corpo estomacal. 2- Qual o tratamento a ser realizado? O tratamento é cirúrgico. Foi feita laparotomia, redução da hérnia hiatal e uma gastrotomia para a remoção dos

corpos estranhos. Em um segundo momento, foi feita a esofagostomia e uma gastropexia incisional à esquerda a fim de prevenir a recidiva de hérnia hiatal. 3- Quais as recomendações pós operatórias e as complicações possíveis? Controle da dor e vômitos, com auxílio de morfínicos, antiácidos, protetores gástricos e pró cinéticos na fase pós operatória. O prognóstico a curto prazo foi favorável, porém reservado a longo prazo por tratar-se de hérnia hiatal. É possível o aparecimento posterior de problemas digestivos secundários à recidiva e complicações.

Caso clínico 3: Hérnia diafragmática em um gato 1- O que mostram as imagens radiográficas? As imagens mostram uma opacificação líquida e gordurosa caudoventral e central que mascara o bordo ventral e caudal do coração. É associada a uma perda do contorno diafragmático ventral e central, assim como um deslocamento cranial do estômago e uma redução de tamanho da silhueta hepática. Foi observado também um derrame pleural a direita. As alterações são compatíveis com uma hérnia diafragmática.

3- Qual o tratamento apropriado? O tratamento é obrigatoriamente cirúrgico. Foi realizada uma laparotomia xifoumbilical, os órgãos herniados foram recolocados no lugar: baço, omento e a porção direita do fígado e a vesícula biliar. Após foi feita uma herniorrafia com auxílio de fio absorvível 3 zeros. Foi mantido dreno torácico por 24 horas.

2- Quais as causas das modificações observadas? A origem mais provável é de natureza traumática (secundária a traumatismo torácico ou abdominal). Dependendo, uma causa congênita pode ser considerada.

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Pleuropneumonia Suína: revisão sobre a infecção e a doença

A pleuropneumonia suína é uma doença causada pela bactéria Actinobacillus pleuropneumoniae que apresenta ampla distribuição e tem grande importância na suinocultura intensiva. Suínos de todas as idades são susceptíveis, no entanto, os surtos geralmente ocorrem em animais de crescimento-terminação. A sintomatologia preponderante é respiratória, mas há formas de infecção brandas, clinicamente inaparentes. Existem também portadores sadios, que são os maiores responsáveis pela disseminação do agente. As lesões macroscópicas consistem basicamente de consolidação pulmonar necrohemorrágica e pleurite fibrinosa, as quais acarretam alta mortalidade, variabilidade de peso nos lotes, aumento de gastos com medicamentos e vacinações, e condenações de carcaças.

K. L. TAKEUTI¹, J. P. H. SATO², M. R. ANDRADE³, J. L. SANTOS4, D. E. S. N. BARCELLOS5

¹Karine Ludwig Takeuti, Médica Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária (FMV), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, BRASIL. ²José Paulo Hiroji Sato, Médico Veterinário, Pós Graduação em Ciências Veterinárias (nível Mestrado), FMV, UFRGS, Porto Alegre, RS, BRASIL. ³Mariana Roque de Andrade, Médica Veterinária, Pós Graduação em Ciências Veterinárias (nível Mestrado), FMV, UFRGS, Porto Alegre, RS, BRASIL. 4 José Lúcio dos Santos, MSc. DSc., Professor Titular da União de Ensino Superior de Viçosa, Viçosa, MG, BRASIL. 5 David E. S. N. de Barcellos, MSc. DSc., Professor Associado da Faculdade de Veterinária, UFRGS, Membro do Comitê Científico Internacional de A Hora Veterinária, Porto Alegre, RS, BRASIL. 38

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INTRODUÇÃO ETIOPATOGENIA EPIDEMIOLOGIA SINAIS CLÍNICOS LESÕES DIAGNÓSTICO CONTROLE CONSIDERAÇÕES FINAIS

INTRODUÇÃO As enfermidades respiratórias, que se apresentam sob as formas de pneumonias e pleurisias, estão entre os problemas sanitários mais importantes para a suinocultura (Bossé et al., 2002). O sistema respiratório dos suínos pode ser infectado por uma série de patógenos pulmonares bacterianos e virais (Madec, 2001). Entre eles, destaca-se o Actinobacillus pleuropneumoniae (App), agente bacteriano causador da pleuropneumonia suína (PPS), a qual apresenta grande importância na suinocultura intensiva e confinada (Dos Santos et al., 2007).

Suínos de todas as idades são susceptíveis, no entanto, a doença ocorre mais frequentemente em animais nas fases de crescimento e terminação (Neumann et al., 2009). Os sinais clínicos da PPS variam entre as formas superaguda, aguda e crônica da doença (Nicolet et al., 1969). As lesões provocadas pela bactéria incluem broncopneumonia necrosante e hemorrágica, com exsudação de fibrina e pleurite (Vaz et al., 2004), acarretando severas perdas econômicas (Jackson et al., 2007) pela alta mortalidade, gastos com medicamentos e atraso no ganho de peso dos animais (Gootschalk et al., 2006). Estima-se uma perda de mais de 20% no ganho de peso nos rebanhos afetados (Jackson et al., 2007). Além disso, sabe-se que um grande número de carcaças pode ser condenado no abate pela ocorrência de pleurites (Dos Santos et al., 2007). ETIOPATOGENIA O Actinobacillus pleuropneumoniae, agente causador da PPS, é um cocobacilo Gramnegativo, anaeróbio facultativo, pleomórfico,

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e a maioria das amostras produz beta-hemólise em Agar sangue (Gottschalk et al., 2006). São descritos dois biótipos diferenciados pela dependência do fator V (NAD) para o crescimento: biótipo I, NAD dependente, e II, NAD independente. Os tipos 13 e 14 são NAD independentes e constituem o biótipo II (Neumann et al., 2009) e os sorotipos 1 a 12 e 15 formam o biótipo 1. Os sorotipos 1 e 5 são ainda divididos em subtipos, a e b (Nielsen, 1986), (Blackall et al., 2002). Reações cruzadas entre os sorotipos 1, 9 e 11, entre os sorotipos 3, 6 e 8 e entre os sorotipos 4 e 7 podem ocorrer devido à similaridade estrutural do antígeno “O” dos lipopolissacarídeos entre esses sorotipos (Perry et al., 1990). No Brasil, até o momento, foram identificados os sorotipos 1, 3, 5, 7, 8, 9 e 11; no entanto, são mais predominantes os sorotipos 3, 5, 7 e 8 (Dos Santos et al., 2007). O patógeno secreta quatro exotoxinas: ApxI, ApxII, ApxIII e ApxIV, sendo esta última produzida por todos os sorotipos, mas exclusivamente “in vivo” (Gottschalk, 1999). A ApxI é a mais citotóxica, seguida pela ApxII e ApxIII (Vaz et al., 2004). Juntas, as quatro exotoxinas são denominadas toxinas RTX (“Repeats in the Structural Toxin”), as quais são citotóxicas e/ ou hemolíticas e produzem endotoxinas em abundância (Neumann et al., 2009). Outros fatores de virulência têm sido descritos, entre eles: presença de lipopolissacarídeos capsulares, adesinas, proteínas ligadoras de transferrina, proteínas de membrana e proteases (Bossé et al., 2002). Entre os 15 sorotipos de App existem diferenças na expressão das quatro toxinas Apx extracelulares (Blackall et al., 2002). Assim, os sorotipos 1, 5, 9 e 11, que produzem ApxI, são mais patogênicos, causando maior mortalidade entre os animais doentes. Já os sorotipos 2, 4, 6, 8 e 12 são menos patogênicos. Sabe-se ainda que sorotipos que produzem simultaneamente mais de um tipo de toxina são mais patogênicos do que aqueles que produzem apenas uma (Frey, 1995). O agente coloniza as tonsilas e adere ao epitélio alveolar dos pulmões, sendo capaz de resistir ao sistema mucociliar do animal, garantindo sua sobrevivência no trato respiratório inferior (Gottschalk et al., 2006). Além disso, as exotoxinas produzidas pela bactéria possuem atividade contra as células endoteliais e macrófagos alveolares (Dos Santos et al., 2007). Dessa forma, o patógeno pode sobreviver dentro de macrófagos por certo tempo (Gottshalk et al., 2006), causando vasculites generalizadas e infartos, que podem determinar a mortes de suínos por choque endotóxico (Neumann et al., 2009). Uma vez instalada, a bactéria é capaz de obter ferro para ser utilizado como nutriente através da transferrina suína (Inzana, 1991). Fora do hospedeiro, a bactéria não apresenta boa capacidade de sobrevivência, visto que não resiste ao processo de cozimento, o qual é utilizado nas indústrias para a fabricação de embutidos. Além disso, é sensível a diversos desinfetantes, como cloramina-T, hipoclorito de sódio, peróxido de hidrogênio, permanganato de potássio, clorhexidina e aldeídos (Dos Santos et al., 2007). EPIDEMIOLOGIA A PPS está amplamente distribuída e tem-se tornado cada vez mais frequente com o aumento da intensificação na produção de suínos (Gottschalk et al., 2006), onde é frequente

que um rebanho esteja infectado simultaneamente com diversos sorotipos de App (Gottschalk et al., 2003). O suíno é o hospedeiro natural do microorganismo, mas o agente tem sido isolado de outras espécies. Animais de todas as idades são susceptíveis, no entanto, os surtos agudos da doença geralmente ocorrem na faixa de 70 a 100 dias de idade. Por outro lado, a forma crônica acomete principalmente animais com mais de 60 kg (Dos Santos et al., 2007). A transmissão da PPS ocorre frequentemente por contato direto com secreções nasais de animais afetados, no entanto, pode também ocorrer por aerossóis a curtas distâncias (Neumann et al., 2009). O microorganismo é capaz de sobreviver por alguns dias no ambiente, quando protegido por muco ou outro material orgânico, sendo possível sua transmissão através de fômites (Vaz et al., 2004). Alguns fatores podem predispor à transmissão do agente entre os animais e influenciar na severidade da doença, como: superlotação, ventilação inadequada, estresse e co-infecção com outros patógenos do trato respiratório (Neumann et al., 2009), amplas variações térmicas diárias, reagrupamentos de animais na fase de crescimento-terminação, compra de animais de diversas origens, ausência de vazio sanitário entre lotes e contato direto entre animais de baias adjacentes (Dos Santos et al., 2007). Os portadores subclínicos são os maiores disseminadores do agente quando introduzidos em rebanhos nunca infectados (Fenwick et al., 1994). Os animais podem manter o agente nas tonsilas, em abscessos e nódulos pulmonares (Bossé et al., 2002) após sobreviverem à forma aguda da doença (Neumann et al., 2009) ou quando expostos a sorotipos de baixa patogenicidade (Gottschalk et al., 2006), A doença é endêmica no Brasil e sua prevalência em diferentes granjas ou áreas do país varia bastante. Numa avaliação, no Brasil, foi encontrada uma prevalência da infecção de 42,86% (Moreno et al., 1999). A PPS geralmente apresenta alta morbidade na sua forma aguda e a mortalidade depende da virulência da amostra e de condições ambientais (Gottschalk et al., 2006). As taxas de morbidade e mortalidade variam; no entanto, suas médias são de 8,5 a 40% e 0,4 a 24%, respectivamente (Dos Santos et al., 2007). Coelho et al. (2004) relatam que a mortalidade pode chegar a 100% na ausência de tratamento para os animais afetados. As maiores perdas econômicas geradas pela doença ocorrem em função da mortalidade de animais e gastos com medicamentos em surtos agudos de PPS. Já em rebanhos cronicamente infectados, os prejuízos estão relacionados com a perda de ganho de peso dos animais e variabilidade de peso nos lotes, bem como aumento de condenações de carcaças no abate por aderências de pleura e pericárdio (Dos Santos et al., 2007). SINAIS CLÍNICOS Alguns fatores são determinantes para o desenvolvimento da doença clínica, como: virulência da bactéria, a sua quantidade no ambiente, o grau imunológico dos animais e as condições das instalações (Neumann et al., 2009). A PPS ocorre sob diversas formas clínicas (Nicolet et al., 1969): a) forma superaguda: quando um ou mais animais apresentam hipertermia, apatia, anorexia e, por um curto período,

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diarreia e vômito. Observam-se ainda decúbito, cianose generalizada e epistaxe, Figura 1. Após o início dos sinais clínicos, as mortes ocorrem entre 24 e 36 horas. No entanto, mortes súbitas podem ocorrer sem sinais prévios; b) forma aguda: quando muitos animais de uma ou diversas baias são afetados. Observam-se hipertermia, depressão, prostração, inapetência, dispneia e tosse (Gottschalk et al., 2006). Os animais podem adotar a postura de “cão sentado” ou de decúbito esternal, apresentar pele avermelhada e vômitos (Dos Santos et al., 2007). O curso clínico nessa forma da doença varia entre os animais, dependendo da extensão das lesões pulmonares e do tempo levado para iniciar o tratamento. Se os animais sobreviverem, podem desenvolver a forma subaguda ou crônica da doença (Vaz et al., 2004); c) forma crônica: essa forma se desenvolve após o desaparecimento dos sinais agudos da doença (Neumann et al., 2009). Observam-se presença ou ausência de hipertermia, tosse espontânea intermitente e intolerância ao exercício. O apetite dos animais pode estar diminuído, contribuindo para o decréscimo no ganho de peso corporal diário dos mesmos. d) muitos animais podem permanecer assintomáticos, manifestando-se clinicamente apenas quando apresentarem infecções pulmonares concomitantes (Gottschalk et al., 2006).

Figura 2. Presença de focos necro hemorrágicos associados com pleurite de localização dorsal nos lobos diafragmáticos dos pulmões direito e esquerdo. mões podem ser encontrados aderidos à parede da cavidade torácica, o que pode determinar condenações de carcaças no frigorífico, Figura 3 (Dos Santos et al., 2007). As lesões histopatológicas consistem de áreas de necrose pulmonar circundadas por leucócitos e notável distensão dos septos interlobulares devido ao edema e trombose de vasos sanguíneos e linfáticos. Na forma crônica da doença, são observados múltiplos abscessos pulmonares e grande quantidade de tecido pulmonar necrótico encapsulado sequestrado (López, 2007).

Figura 1. Leitão em decúbito lateral, presença de material sanguinolento na boca e nas narinas. LESÕES As lesões de App geralmente ocorrem exclusivamente no trato respiratório e se caracterizam por pleurite fibrinosa e áreas de consolidação pulmonar necro-hemorrágicas (Neumann et al., 2009), principalmente nos lobos apicais e cardíacos, no entanto, mais frequentemente, nos lobos diafragmáticos (Gottschalk et al., 2006). As lesões pulmonares são de coloração escura e de consistência firme, Figura 2 (Taylor, 2009). Ao corte, apresentam septos interlobulares dilatados e irregulares. Além disso, observam-se áreas bem circunscritas de necrose causadas pelas toxinas produzidas pelo App. Uma extensa área de pleuropneumonia fibrinosa envolvendo o lobo caudal do pulmão pode ser considerada típica da doença (López, 2007). Ocasionalmente, podem também ser observadas pericardite serofibrinosa, faringite necrótica e ulcerativa e poliartrite (Neumann et al., 2009). Nos casos crônicos, são observados nódulos pulmonares necróticos sequestrados ou encapsulados, com posterior resolução em abscessos (Neumann et al., 2009). Devido à ocorrência de pleurite e pericardite fibrinosa, fragmentos de pul40

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Figura 3. Área focalmente extensa de pleurite fibrino purulenta na pleura parietal, impedindo o aproveitamento da carcaça para o consumo humano. A Hora Veterinária – Ano 31, nº 185, janeiro/fevereiro/2012

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DIAGNÓSTICO Um diagnóstico preliminar da doença pode ser obtido através do histórico clínico do rebanho, caracterizado por sintomatologia respiratória aguda, de rápida propagação e com alta morbidade e mortalidade (Neumann et al., 2009), associando na necropsia às lesões macroscópicas características da PPS. No exame anatomopatológico algumas lesões macroscópicas são altamente sugestivas de App, como: infartos pulmonares de coloração escura, nódulos pulmonares e pleurite (Neumann et al., 2009), geralmente localizadas nos lobos apicais, cardíacos e, principalmente, nos lobos diafragmáticos (Gottschalk et al., 2006). No entanto, a infecção por outra bactéria (Actinobacillus suis) causa lesões muito semelhantes às da infecção pelo App, fazendo-se necessário um diagnóstico laboratorial confirmatório. A similaridade das lesões pode ser explicada pelo fato de que o A. suis produz uma toxina indistinguível da ApxII do App. No frigorífico, um diagnóstico presuntivo pode ser realizado através da observação de lesões sugestivas da infecção pelo App em animais cronicamente afetados, que podem ser confirmadas por testes laboratoriais (Dos Santos et al., 2007). O diagnóstico laboratorial baseia-se no isolamento e identificação do patógeno a partir de lesões características (Coelho et al., 2004). A bactéria é medianamente fastidiosa, mas seu crescimento pode ser obtido em placas de Agar sangue acrescida de uma fonte de fator V (NAD), incubada em atmosfera enriquecida com CO2. É sempre importante ressaltar a importância de analisar materiais exclusivamente de animais não medicados recentemente com antimicrobianos, pois estes podem impossibilitar o isolamento bacteriano. Em casos agudos da doença é possível isolar a bactéria a partir de secreções nasais. Em casos crônicos, os resultados podem ser negativos. O isolamento da bactéria é realizado em Agar sangue ou chocolate suplementado com o fator V, complexos vitamínicos e minerais e agentes inibidores, quando necessário (Vieira-Brito, 1997). Nesse meio, as colônias se apresentam pequenas (entre 1-2 mm), redondas, opacas e acinzentadas após 48 horas de cultivo (Kilian et al., 1978). Em Agar sangue, o fenômeno de satelitismo pode ser observado pelo App quando cultivado junto a uma bactéria fornecedora do fator V, Figura 4 (Vieira-Brito, 1997). As amostras do biótipo I são hemolíticas e as do biótipo II não hemolíticas. A diferenciação dos biótipos (I e II) pode ser realizada através da caracterização bioquímica, utilizando-se o método de sorotipificação (Coelho et al., 2004). A técnica de reação em cadeia de polimerase (PCR) também é eficaz na detecção e tipificação de App. Trata-se de um método que apresenta alta especificidade e sensibilidade através da detecção do gene ApxIV, específico da bactéria (Coelho et al., 2004). A técnica de hibridização in situ pode ser empregada para a detecção dos genes Apx do App. Ela é uma importante ferramenta diagnóstica, pois é rápida e não necessita do isolamento do patógeno, o que poderia estar inviabilizado pelo tratamento prévio dos animais com antimicrobianos (Da Silva, 2008). Além desses métodos, o rebanho pode ser avaliado por sorologia, o que permite a obtenção de informações sobre a dinâmica da infecção e a identificação dos sorotipos envolvi-

dos (Neumann et al., 2009). Essas informações são importantes para o estabelecimento de medidas de controle quando for necessário erradicar a infecção de granjas núcleos (Da Silva, 2008), além de fornecer o perfil sorológico de um rebanho para permitir o uso adequado de vacinas, que podem ser sorotipo-específicas (Mittal, 1993). A técnica de Imunoensaio Enzimático (ELISA) tem sido o método sorológico de eleição por ser específico para cada sorotipo (Coelho et al., 2004), apresentando-se específico e sensível na detecção do patógeno (Dos Santos et al., 2007). Outros testes laboratoriais podem ser empregados, como: imunofluorescência indireta, imunodifusão em gel, precipitação em gel, hemaglutinação em gel e a imunohistoquímica (Coelho et al., 2004). O diagnóstico diferencial deve ser realizado com outras infecções respiratórias capazes de causar lesões pulmonares similares às induzidas pelo App, como: infecção por A. suis, pasteurelose pulmonar, salmonelose pneumônica e pneumonia enzoótica (Neumann et al., 2009). A forma subclínica da doença é considerada muito relevante, apesar de que, na mesma, as lesões pulmonares geralmente estejam ausentes. No entanto, o agente está presente e, frente a fatores predisponentes e situações imunossupressoras, pode provocar surtos de PPS. A fim de evitar a emergência de surtos a partir de animais portadores assintomáticos, o diagnóstico sorológico pode ser empregado. Caso apenas alguns animais sejam positivos a este teste, pode-se tentar o isolamento e sorotipificação da bactéria por PCR, coletando novas amostras de animais sorologicamente positivos (Dos Santos et al., 2007). CONTROLE Por ser uma doença de natureza multifatorial, o controle da PPS é complexo. Deve-se dar prioridade ao controle das perdas econômicas ocasionadas pela mortalidade de animais e presença de infecção clínica e subclínica, e posteriormente planejar as medidas para reduzir a carga infecciosa do agente ou sua eliminação (Coelho et al., 2004). Alguns fatores de manejo podem ser importantes na prevenção da doença, como: aplicar o sistema todos dentro/ todos fora, usar uma lotação adequada, promover ventilação e temperatura adequadas, eliminar ou controlar doenças predisponentes (Neumann et al., 2009), evitar a mistura de lotes no crescimento e terminação e adotar medidas de limpeza e desinfecção das instalações (Dos Santos et al., 2007). A produção de vacinas eficientes contra o App é complicada pelo grande número de sorotipos da bactéria (Jackson et al., 2007). Além disso, as fêmeas infectadas ou vacinadas desenvolvem imunidade sorotipo-específica (Bossé et al., 2002). Algumas vacinas são bacterinas sorotipo-específicas (Dos Santos et al., 2007). Para serem utilizadas, é útil a identificação prévia do sorotipo ou sorotipos prevalentes no plantel para garantir a eficiência do imunógeno (Da Silva, 2008). Uma nova geração de vacinas baseadas em toxinas purificadas (ApxI, ApxII e ApxIII) foi produzida mostrando-se capaz de conferir proteção cruzada para todos os sorotipos de App (Shao et al., 2010). O protocolo de vacinação varia, mas consiste na maior parte dos casos da aplicação de duas doses para leitoas (aos 70 e 90 dias de gestação) e uma dose para porcas (aos 90 dias de

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gestação). Os leitões são vacinados aos 30 e 50 dias de idade (Dos Santos et al., 2007). Deve ser ressaltado que a vacinação não deve ser realizada até que os leitões tenham 5-7 semanas de idade e os anticorpos maternais estejam esgotados, para evitar a interferência de anticorpos passivos com aqueles ativamente produzidos pelo leitão (Neumann et al., 2009). Na forma endêmica, a doença pode ser erradicada através da eliminação do plantel, seguida de limpeza e desinfecção das instalações, as quais devem permanecer vazias por algumas semanas. O repovoamento da granja deverá ser realizado com animais sorologicamente livres de App (Neumann et al., 2009). Na maioria dos casos, a decisão é no sentido de manter o plantel com a infecção, tentando minimizar as condições para a manifestação dos sinais clínicos. Testes sorológicos podem ser empregados para identificar portadores, evitando a transmissão do agente entre rebanhos (Dos Santos et al., 2007). Para reduzir a pressão de infecção, animais clinicamente afetados devem ser isolados a fim de reduzir a propagação da doença dentro do rebanho (Jackson et al., 2007). A escolha do tipo de tratamento dos animais depende do tamanho do rebanho, do sistema de produção, da finalidade da criação, do nível de infecção e das condições ambientais. O uso de antimicrobianos e vacinas pode reduzir a mortalidade e a severidades das lesões, no entanto não é capaz de evitar que a infecção ocorra e que os suínos possam se tornar portadores do patógeno (Dos Santos et al., 2007). Em surtos agudos, os animais afetados devem ser tratados imediatamente com antimicrobianos por via parenteral. Esse tratamento, associado ao uso de antimicrobianos na ração ou água por algumas semanas, pode reduzir a mortalidade do rebanho (Neumann et al., 2009). Podem ser usados, entre outros, cefalosporinas, penicilinas, florfenicol, quinolonas, lincosamidas, di ou triamilídios e macrolídios (Dos Santos et al., 2007). Muitas amostras apresentam resistência às tetraciclinas e os casos crônicos não mostram resposta ao tratamento (Neumann et al., 2009). Dessa forma, o monitoramento contínuo da sensibilidade antimicrobiana deve ser empregado (Coelho et al., 2004) a fim de auxiliar na escolha do melhor tratamento a ser utilizado em cada rebanho (Jackson et al., 2007). CONSIDERAÇÕES FINAIS A pleuropneumonia suína é uma doença de grande importância na suinocultura intensiva e confinada pelos prejuízos econômicos que pode ocasionar. Pode se manifestar sob três formas distintas e animais portadores subclínicos também são encontrados, sendo os maiores responsáveis pela disseminação do agente. Vários métodos podem ser empregados no diagnóstico da doença, no entanto, a sorologia é o teste aconselhável para verificar o estado epidemiológico de um rebanho, detectar animais portadores e identificar os sorotipos envolvidos. O diagnóstico correto de aspectos da infecção como perfil da conversão sorológica e sorotipos envolvidos são informações importantes para definir a escolha de vacinas e programas de vacinação, além de permitir o planejamento de medidas de controle e, eventualmente, de erradicação. 42

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Literatura Separata dos Trabalhos vencedores do 13° Prêmio Pesquisa Clínica Intervet/ Schering-Plough Animal Health O ano de 2011 marcou para a Medicina Veterinária um extraordinário momento de afirmação internacional. Em todos os pontos cardiais deste planeta, centenas de milhares de colegas Médicos-Veterinários comemoraram os 250 anos da criação da Escola de Veterinária de Lyon, na França, berço do ensino universitário de nossa profissão. A Hora Veterinária e a MSD Saúde Animal participaram, no Brasil e no exterior, de muitos eventos da VET2011, uma vez que a comunicação científica e a pesquisa, desenvolvimento e comercialização de produtos veterinários estão entre os pontos de destaque nas conquistas da profissão em dois séculos e meio de sua existência regulamentada. Assim sendo, ao apagar das luzes deste ano tão significativo para a Medicina Veterinária brasileira e mundial, nada melhor do que apresentar aos colegas de todo o Brasil esta coletânea de trabalhos vencedores do 13º Prêmio Pesquisa Clínica Intervet/Schering-Plough Animal Health, iniciativa que teve sua primeira versão em 1999 e cujos vencedores receberam como prêmio exatamente uma viagem à Lyon, na França, para participarem do ultimo Congresso Mundial de Medicina Veterinária do segundo milênio. No dia de hoje, em que chamamos ao palco de mais uma comemoração técnico-científica os cinco vencedores do 13º Prêmio Pesquisa Clínica Intervet/Schering-Plough Animal Health, queremos homenagear também todos aqueles colegas que, de 1999 a 2011, apresentaram algumas centenas de trabalhos de pesquisa clínica para apreciação do Comitê Científico Internacional de A Hora Veterinária, confiando na importância e na seriedade de nossa iniciativa. Queremos agradecer efusivamente aos colegas de notório saber deste Comitê, que, durante treze anos, vêm realizando a leitura e seleção dos trabalhos sem nenhuma exigência remuneratória. E não podemos esquecer também da valiosa “prata da casa” de nossas duas empresas que, de forma independente e harmoniosa, têm buscado avaliar o prêmio em todos os seus ângulos, aperfeiçoando o regulamento de participação e divulgando-o por todo o país, o que faz desta iniciativa uma verdadeira referência na valorização profissional dos Médicos Veterinários brasileiros. Assim, sendo, nada mais nos resta senão identificar os vencedores do 13º Prêmio Pesquisa Clínica Intervet/ Schering-Plough Animal Health, colegas Marcelo de Souza

Zanutto, de Londrina, Paraná; Julio Cesar Ferraz Jacob, de Itaguaí, Rio de Janeiro; Neimar Vanderlei Roncati, de Vila Leopoldina, São Paulo; Tiago Marcelo Oliveira, de São Paulo, Capital; e a estudante de Medicina Veterinária Ilusca Sampaio Finger, de Pelotas, Rio Grande do Sul, abrindo as portas, com este prefácio, para a ampla divulgação de seus trabalhos vencedores. Queremos também comunicar à direção da Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária, através de seu Presidente, Josélio Andrade Moura, que tanto destaque vem dando a este Prêmio desde seus primórdios, que pode informar aos cem mil colegas Médicos Veterinários de todo o Brasil, que o 14º Prêmio Pesquisa Clínica MSD Saúde Animal já se encontra regulamentado, e todos nós estamos a espera dos trabalhos que serão inscritos em 2012. Nossos mais sinceros votos de Feliz Natal e Ano Novo.

Vilson Simon Alcy José de Vargas Cheuiche Diretor Presidente Diretor de Publicação da MSD Saúde Animal A Hora Veterinária

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Animais Selvagens e Exóticos Esta seção destina-se aos profissionais que atuam permanente ou esporadicamente na clínica, cirurgia, criação e proteção dos animais selvagens e exóticos. Trata-se de um campo de imensas possibilidades, onde o médicoveterinário deve aumentar sua presença. A temática é sempre internacional, dentro da visão universalista de nossa publicação. Solicitamos aos articulistas brasileiros e estrangeiros, que enviem seus trabalhos buscando assuntos de uso prático e com abundância de ilustrações.

Carcinoma de células escamosas em tucano-toco (Ramphastos toco): Relato de caso O carcinoma de células escamosas, também conhecido por carcinoma espinocelular ou carcinoma epidermóide, é a neoplasia epitelial maligna mais comum nas aves e detém uma similaridade com relação à estrutura e ao comportamento da que se observa nos mamíferos, ao contrário da sua etiologia. No presente trabalho é relatada a ocorrência do carcinoma de células escamosas em um indivíduo cativo da espécie Ramphastos toco (tucano-toco) e são apresentados os aspectos clínicos, coproparasitológicos, hematológicos, bioquímicos e radiológicos da ave, bem como os histopatológicos do tumor, após sua excisão cirúrgica. A análise sob microscopia óptica da neoformação revelou a presença de cordões intercelulares e de pérolas de queratina, formando um quadro compatível com carcinoma de células escamosas, moderadamente diferenciado e infiltrativo. Dessa forma torna-se relevante a inclusão desta neoplasia como diagnóstico diferencial em casos de tumores nodulares cutâneos em aves domésticas e silvestres. Empregando, quando possível, diferentes ferramentas diagnósticas na intenção de executar um correto diagnóstico e proceder a realização de tratamento cirúrgico adequado. L. C. S. DA SILVA1, R. R. LANGE2, R. S. DE SOUZA2, A. K. JUNIOR3

Summary The squamous cell carcinoma, also known as spinocelular carcinoma, is the most common malignant epithelial neoplasia in birds and has a similarity with respect to the structure and behavior of that found in mammals, unlike its etiology. In this paper we report the occurrence of squamous cell carcinoma in an individual’s captive species Ramphastos toco (toucan-toco) and are presented the clinical, parasitological, hematological, biochemical and radiological findings of the bird and the histopathological tumor after its surgical excision. The analysis under optical microscopy revealed the presence of neoformation of strands of pearls and intercellular keratin, thus having a profile consistent with squamous cell carcinoma, moderately differentiated and infiltrative. Thus it becomes important to include this neoplasia as a differential diagnosis in cases of nodular cutaneous tumors in domestic and wild birds. Employing, when possible, different diagnostic tools in the intention to perform a correct diagnosis and proceed in achieving adequate surgical treatment.

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Luana Célia Stunitz da Silva, Médica Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP), Pós-Graduação em Anatomia dos Animais Domésticos e Silvestres, São Paulo, SP, BRASIL. 2 Rogério Ribas Lange, Renato Silva de Souza, Docentes do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR, BRASIL. 3 Albino Kieras Junior, Médico Veterinário da Clínica EspecialVet, Maringá, PR, BRASIL. 44

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INTRODUÇÃO O carcinoma de células escamosas, também conhecido por carcinoma espinocelular ou carcinoma epidermóide, é a neoplasia epitelial maligna mais comum nas aves (Malka et al., 2005) e detém uma similaridade com relação à estrutura e ao comportamento da que ocorre nos mamíferos (Herenda e Franco, 1996). Possui origem do epitélio escamoso estratificado das mucosas e da pele em que as células se diferenciam para queratinócitos com formação intracelular de queratina (Goldschimidt e Shofer, 1992). Os animais acometidos por essa neoplasia são na sua maioria idosos e adultos, havendo também relatos em animais jovens (Lopez-Beceiro et al., 1998; Pereira et al., 2005). A etiologia de tal enfermidade ainda permanece desconhecida nas aves (Herenda e Franco, 1996; Pereira et al., 2005). As lesões podem ocorrer em qualquer lugar do corpo, sendo mais prevalentes nas junções mucocutâneas da cabeça, em múltiplos locais da cavidade oral, na parte distal das asas, nas falanges e na glândula uropigiana (Lighfoot, 2006). Havendo casos relatados afetando a mucosa oral, esôfago, orofaringe e outras áreas do trato gastrintestinal superior e no tegumento (Pereira et al., 2003; Reavil, 2004; Pereira et al., 2005). A forma mais comum de apresentação do carcinoma de células escamosas em aves decorre da presença de pequenos nódulos, semelhantes a folículos dilatados (Fallavena, 2002), até lesão ulcerada e crostosa, de aspecto fibroso e com áreas friáveis (Marques et al., 2004). Quando ocorrem as ulcerações, estas são cobertas por um exsudato fibrinoso

amarelado, tendo em vista que esse tipo de neoplasia não apresenta cápsula (Vázquez et al., 2003). No presente trabalho é relatada a ocorrência de carcinoma de células escamosas em um indivíduo da espécie Ramphastos toco (Tucano-toco) e são apresentados os aspectos clínicos, parasitológicos, hematológicos, bioquímicos, radiológicos, bem como histopatológicos do tumor relacionado nesta ave. RELATO DE CASO Uma ave da espécie Ramphastos toco (tucano-toco), fêmea, adulta, cativa de um Instituto Conservacionista na cidade de São José dos Pinhais, Paraná, foi encaminhada para o Ambulatório de Animais Selvagens do Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná (HV-UFPR) por apresentar uma neoformação em membro pélvico direito. Ao exame físico foi constatada a presença de um tumor cutâneo único com coloração rósea-amarronzada, de superfície irregular e com consistência firme-elástica com dimensão de aproximadamente cinco centímetros de diâmetro e estando aderido à face lateral da região da articulação tibiotarso-tarsometatarso direita com ulcerações e crostas em sua extensão (Figura 1). Ressalta-se que o animal estava ativo apresentando uma massa corpórea de 526 gramas e leve dor quando da palpação do tumor. Foram então administrados e prescritos Meloxicam 0,3 mg/Kg/IM/SID por 2 dias e Enrofloxacina 2,5% 10mg/Kg/IM/SID por 7 dias para alivio da dor e prevenção de possíveis infecções, respectivamente.

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Figura 1. Animal da espécie Ramphastos toco (Tucano-toco) apresentando neoformação em região de articulação tibiotarsotarsometatarso direito com presença de ulcerações e crostas. Foi realizada então uma coleta de amostra fecal fresca sendo processada no Laboratório de Parasitologia Veterinária do HV-UFPR onde se realizou o exame de flutuação ou WillisMollay evidenciando negatividade para a amostra remetida. Efetuou-se também a colheita de amostra sanguínea por punção da Veia Jugular direita, com seringa heparinizada, para a realização de hemograma e determinação da atividade sérica das enzimas Aspartato Aminotransferase (AST), Gama GlutamilTransferase (GGT) e Ácido Úrico pelo Laboratório de Patologia Clínica do HV-UFPR. Constatando-se em todos os exames normalidade dos parâmetros para a espécie em questão. O animal foi submetido ainda a exames radiológicos nas projeções látero-lateral e ventro-dorsal tanto de corpo inteiro como do membro afetado evidenciando-se aumento de volume radiopaco no local de articulação tibiotarso-tarsometatarso direita e o descarte de qualquer envolvimento ósseo decorrente da nodulação e de possíveis metástases. Posteriormente a todos os exames complementares o animal foi encaminhado para a efetuação da cirurgia de exérese do tumor. Para a indução anestésica utilizou-se a associação de butorfanol 0,5 mg/Kg/IM associado ao midazolam 0,5 mg/ Kg/IM, e manutenção anestésica com isoflurano 2% conectado a traqueotubo. A área cirúrgica foi então preparada retirandose as penas sobre o nódulo e aplicando Polivinil-pirrolidonaiodo degermante. Utilizou-se lâmina de bisturi número 11 para a excisão total do tumor e posterior sutura da pele com fio Nylon 2,0 em pontos do tipo Wolf, leve aplicação de cola de cianoacrilato (Superbonder®), pomada de acetato de retinol, aminoácidos, metionina, cloranfenicol e excipiente (Epitezan®) e bandagem. Após o procedimento o animal se recuperou bem e desta forma foi encaminhado ao seu local de origem. O tumor retirado foi fixado em formalina tamponada a 10% e submetido ao processo histopatológico clássico no Laboratório de Patologia Veterinária do HV-UFPR. Sua massa

Figura 2. Aspecto macroscópico do tumor ao corte. Apresentando áreas de necrose em sua porção mais dorsomedial, inflamação na sua porção mais periférica e em sua região central observa-se áreas com a presença de material caseoso.

era de 32 gramas, apresentando uma cápsula fina e friável de tecido fibroso e quando ao corte, sob análise macroscópica, foram observadas áreas de necrose tecidual, inflamação e presença de material caseoso internamente, denotando infecção bacteriana secundária (Figura 2). A análise do tumor através da microscopia óptica revelou uma perda de arquitetura normal do epitélio escamoso estratificado. Presença de áreas de mitose e de necrose, células anaplásticas, com células neoplásicas infiltrando no estroma conjuntivo, e formação de cordões intercelulares e de ilhotas de células poligonais (Figura 3). Ao centro de algumas ilhotas epiteliais existiam estruturas concentricamente laminadas classificadas como pérolas de queratina (Figura 4). Portanto, os achados histopatológicos foram compatíveis com carcinoma de células escamosas, moderadamente diferenciado e infiltrativo.

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ulcerativa crônica, tuberculose, doença de Marek no caso de tumores sem ulceração, granulomas fúngicos ou bacterianos, poxvírus, hipovitaminose A, reação a corpo estranho, trauma e neoplasias infiltrativas (Herenda e Franco, 1996; Reavill, 2004). Como tal neoplasia é altamente invasiva e de malignidade variável, dependendo da sua localização (Filippich, 2004; Pereira et al., 2005), as quimioterapias sistêmicas não são recomendadas (Lighfoot, 2006). Assim, as terapias que possuem algum efeito promissor são a radioterapia (Reavill, 2004), a utilização de cisplatina intralesão (Reavill, 2004; Lighfoot, 2006), crioterapia e o uso combinado dessas duas últimas modalidades (Lighfoot, 2006). Contudo, tradicionalmente a abordagem mais comum dos carcinomas de células escamosas em aves corresponde à excisão cirúrgica (Reavill, 2004). Entretanto, segundo Filippich (2004), Lighfoot (2006) e Filgueira e Reis (2009), a realização deste procedimento como única forma de terapia pode não ser adequada devido a falhas na retirada das margens cirúrgicas, podendo assim colaborar para o aumento de recidivas do tumor. Desta forma, Figura 3. Fotomicrografia do carcinoma de células escamosas. Observam-se a ressecção radical, ou seja, a amputação do cordões intercelulares, formação de massas laminares concêntricas de queratina membro afetado provavelmente seria a técni(pérolas de queratina) e a desorganização das camadas epiteliais. (HE, obj.20x). ca mais recomendada (Filgueira e Reis, 2009). Manobra essa já realizada na espécie Gallus gallus (galo-doméstico) na amputação do membro pélvico esquerdo (Marques et al., 2004). Microscopicamente, a neoplasia se compõe de células escamosas pleomórficas que tendem a formar cordões celulares irregulares podendo invadir os tecidos subjacentes, como tecidos ósseo, músculo esquelético, conjuntivo e linfático (Setzer et al., 2007). Nos tumores cornificantes a queratina proveniente do estrato córneo torna-se compacta devido à alta proliferação celular, formando assim massas laminares concêntricas de queratina, as chamadas pérolas córneas (Reavill, 2004; Setzer et al., 2007). A presença de pontes intercelulares e das pérolas córneas é um achado patognomônico do carcinoma de células escamosas (Pereira et al., 2003). Os tumores bem diferenciados são caFigura 4. Fotomicrografia do carcinoma de células escamosas. Observa-se ao racterizados por células tumorais com citocentro a formação de uma pérola de queratina com a presença de células plasma eosinofílico abundante, junções interanaplásticas e em mitose ao seu redor. (HE, obj.40x). celulares visíveis e presença de pérolas de queratina (Goldschimidt e Shofer, 1992; Schmidt et al., 2003). DISCUSSÃO Há também a presença de núcleos grandes e nucléolos únicos com variações de tamanho (Gross et al., 2005). Baseado na macroscopia do carcinoma de células O carcinoma de células escamosas, moderadamente diescamosas, os diagnósticos diferenciais em aves devem incluir ferenciado, observado neste trabalho, é caracterizado por o ceratoma (tumor benigno de origem folicular), dermatite células com o citoplasma menos eosinofílico, núcleo mais 46

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pleomórfico e hipercromático, e uma maior atividade mitótica, apresentando algumas figuras de mitose atípicas e pérolas de queratina e com menos frequência os cordões intercelulares (Gross et al., 2005). Já os pouco diferenciados apresentam citoplasma anfofílico, núcleo marcadamente pleomórfico, hipercromático com acentuada atividade mitótica e não são observadas as pérolas de queratina, entretanto podem estar presentes células disqueratóticas isoladas ou em pequenos grupos (Schmidt et al., 2003; Gross et al., 2005). O animal descrito neste trabalho não possuía qualquer indício de metástase perceptível ao exame radiográfico realizado, fato esse que corrobora com Reavill (2004), Pereira et al. (2005) e Lighfoot (2006) ao relatarem que o carcinoma de células escamosas raramente produz metástases, embora existam relatos principalmente nas aves de rapina. Ressalta-se que, com relação ao manejo das neoplasias na medicina de aves, esta ainda é principiante. Porém, nos últimos anos significativos progressos foram alcançados e diversas modalidades de tratamento, já conhecidas na oncologia de animais de companhia, foram extrapoladas para as espécies aviárias com resultados variáveis (Filippich, 2004). CONCLUSÃO Dessa forma torna-se relevante a inclusão do carcinoma de células escamosas como diagnóstico diferencial em casos de sintomatologia nodular cutânea em aves domésticas e silvestres mantidas em cativeiro, assim como as de vida livre. Utilizando, quando possível, da forma conjunta de ferramentas diagnósticas, principalmente a histopatologia do tumor para que, aliada aos demais exames, se consiga de forma efetiva executar um correto diagnóstico e proceder na realização de tratamento cirúrgico adequado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Clínica de Pequenos Animais Seção dedicada ao intercâmbio entre os clínicos de pequenos animais do Brasil e do exterior. Os artigos franceses são traduzidos de seção análoga da revista associada Le Point Vétérinaire, de Paris. Os articulistas devem enviar seus trabalhos buscando o interesse prático do assunto, a síntese e a riqueza de ilustrações.

As propriedades farmacológicas dos opióides utilizados em cães e gatos* Os analgésicos centrais fazem parte dos medicamentos mais eficazes contra a dor. Para dores moderadas (nível II) e sobretudo, em casos de dor intensa (nível III), são essenciais. Permaneceram por muito tempo desconhecidos, não sendo bem aceitos em veterinária, em parte por conta dos efeitos indesejáveis, mas também pelas dificuldades regulamentares ligadas à sua utilização. Além disso, o poder público em geral hesita muito em liberar autorizações de uso para o mercado veterinário, pelo perigo da má utilização por toxicômanos. Este artigo tem como objetivo relatar as propriedades das moléculas empregadas no tratamento de cães e gatos. M. GOGNY1 Tradução e adaptação: Z. Cheuiche2 MORFINA

Summary Central painkillers are some of the most efficacious drugs against pain. They are simply essential to treat mild pain (level II) and acute pain (level III) above all. Opiates, or opioids, remained unknown for a long time among vets, partly due to their undesired collateral effects, but also because of the difficulties associated with regulating their use. Besides that, the government tend to hesitate a lot before authorizing the use of opiates for veterinary use, as drugaddicts may try and resort to them. This article aims to analyze the properties of the molecules used to treat cats and dogs.

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Marc Gogny, Farmacologia e Toxicologia, Oniris, Nantes – FRANÇA 2 Zilah Cheuiche, Médica Veterinária, Ms, Redatora de A Hora Veterinária, Porto Alegre, RS, BRASIL *Artigo originalmente publicado na revista Le Point Vétérinaire, Jan/fev/2011/nº312, Paris, FRANÇA. 48

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Eficácia analgésica A morfina é um poderoso analgésico, ativo em dores de graus II ou III (Quadro 1). Age principalmente em três níveis: na medula espinhal, no tronco cerebral e nos centros superiores (Quadro 2) [1,2,5]. Há muito tempo foi excluída a idéia de ação periférica, por isto a denominação de classe de analgésicos centrais. Em nível periférico pode existir dependendo dos receptores, principalmente em casos de inflamação, utilizando-se pequenas doses por via intra-articular. Na medula espinhal, a morfina reproduz a ação dos inibidores que filtram a passagem dos influxos nociceptivos (gate control) [5, 9]. Este é observado pela administração de baixas doses por via peridural, o que pode evitar os efeitos indesejáveis [11, 12, 21, 23]. Esta inibição é pronunciada, e a morfina também atinge as dores intensas por excesso de nocicepção [19, 20]. Entre as ações centrais, uma das mais estudadas concerne o tronco cerebral e as interferências da morfina nos controles inibitórios descendentes. Estes são os sistemas de ampliação e extração da mensagem nociceptiva que limitam o “ruído de fundo” sensorial. Estes controles se exacerbam em caso de hiperalgesia e alodinia. Bloqueando ou limitando-os, a morfina atenua a acuidade nociceptiva e bloqueia a hiperalgesia, o que completa o efeito analgésico direto produzido em nível medular. A ação da morfina sobre os centros superiores é variável. Diminui a memorização da dor, o impacto emotivo desta pela vivência da experiência dolorosa individual e sua tradução comportamental, notadamente agressiva [14].

Em resumo, os opióides são as únicas moléculas capazes de ser empregados junto aos componentes que estão na origem da percepção consciente da dor (Figura 2). Por enquanto, seu efeito deve sempre ser completado pelo uso de outras moléculas, onde os diferentes locais de ação promovem um efeito sinérgico. Este é o fundamento da noção de analgesia multimodal. Outros efeitos biológicos A morfina é dotada de numerosos efeitos secundários [1,2 ]. Entre eles, alguns são explorados em terapêutica, outros são indesejáveis e podem ser fatais, requerendo precaução na administração de opióides. Como são conhecidos e esperados, estes efeitos não justificam mais o medo de alguns colegas de aplicar a morfina e seus derivados. Nas condições atuais de emprego, os acidentes são raros. Na maior parte das espécies, a morfina tem ação sedativa. Esta tranquilização, observada no cão e no rato é caracterizada por uma grande indiferença para com o mundo exterior e depressão profunda da motricidade espontânea associada à rigidez dos extensores (catatonia) pela perturbação no núcleo nigroestriado. No gato e no camundongo, a morfina tem uma ação sedativa mais irregular e o animal encontra-se por vezes em um estado próximo a disforia, que pode conduzir a reações paradoxais de excitação. Em condições normais de uso no gato, particularmente na presença de dor, este efeito é quase inexistente. Nos carnívoros, são frequentemente descritas a presença de vômitos, normalmente quando em doses pequenas do fármaco.

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A morfina provoca depressão respiratória, tanto em amplitude quanto em frequência, por ação direta sobre os centros bulbares e por atenuação do quimioreflexo. Esta bradipnéia pode levar à apnéia total. Este efeito pode ser temido no caso de associação com outros depressores centrais. Esta depressão é dose-dependente e implica em sobrevivência estrita, sobretudo se for necessário aumentar a dose (Foto 1). Assim sendo, se houver apnéia a ventilação controlada deve permanecer durante todo o tempo de ação da morfina, o que é dificultado pelo reflexo de deglutição. A solução alternativa é injetar um antagonista como a naloxona, que nem sempre é facilmente encontrado no mercado farmacológico veterinário. O butorfanol pode representar uma solução interessante, pois antagoniza os efeitos depressores da respiração causados pelos opióides. A morfina (e os opióides em geral) deprime também as atividades paroxísticas dos neurônios da tosse. Sua ação antitussígena é mais pronunciada que a dos antagonistas antihistamínicos H1.. A depressão cardiovascular é o segundo efeito indesejável que deve ser considerado no plano clínico. A morfina diminui o tônus simpático bulbo medular. Causa também uma desaceleração do coração e uma vasodilatação periférica moderada, mas que pode agravar os efeitos tensionais de outras moléculas nos protocolos anestésicos combinados. Uma condição geral degradada do animal é outra causa. A baixa de pressão arterial ocorre no momento da aplicação intravenosa da morfina, pois provoca uma liberação histamínica que não é observada pela via subcutânea. Mesmo que a analgesia seja urgente, é imprescindível que a aplicação intravenosa seja lenta (Foto 2). O tubo digestivo é rico em receptores morfínicos, sua estimulação causa uma baixa no trânsito digestivo, caracterizada por uma incoordenação das túnicas musculares e depressão dos reflexos peristálticos, assim como redução nas secreções. Dependendo do caso, este efeito provoca constipação ou permite lutar contra a diarréia. Enfim, a morfina perturba a termorregulação e favorece a hipotermia, provoca miose, aumento da glicemia e modifica a atividade da hipófise anterior (aumento de prolactina, LH e FSH diminuem) {2, 10]. É igualmente dotada de uma ação imunomoduladora ainda pouco avaliada nos carnívoros [8].

Quadro 1 Potencia e eficácia de um princípio ativo • Interação substância-receptor: Por interagir com a sua proteína receptora, uma substância farmacologicamente ativa deve primeiro se fixar sobre ela. O parâmetro que descreve esta aptidão é a afinidade. Uma grande afinidade é importante, já que melhora a ligação com o receptor mesmo em baixas doses. • Curva efeito-dose e sua interpretação: Em farmacologia, normalmente se mede a intensidade do efeito obtido na aplicação de progressivamente maiores de princípio ativo. Os resultados se exprimem em função do logaritmo decimal da dose e a curva tem normalmente formato sigmóide, o que significa que possui um efeito máximo (Emax). O pool de receptores não ocupados até a Emax é chamado de receptores de reserva. A dose que produz 50% de Emax é chamada de DE50. Emax mede a eficácia intrínseca da substância e a DE50 é um reflexo direto da afinidade pelo receptor. Se a afinidade é alta, a substância age em baixas doses e é considerada potente. • Agonismo e antagonismo: um agonista é uma substância dotada de uma forte afinidade pelo receptor estudado, associado a uma forte eficácia. Um antagonista competitivo se fixa sobre o receptor com uma boa afinidade, porém com eficácia nula. • Agonismo parcial: um agonista parcial se fixa sobre o receptor com uma boa afinidade, mas provoca uma mudança conformativa incompleta. O efeito produzido é fraco, a eficácia é moderada e Emax é limitada: trata-se de uma substancia de efeito teto. Tempo e duração da ação A morfina é mal reabsorvida por via oral e ocasiona repentino efeito de primeira passagem. Por via subcutânea os efeitos ocorrem em 10 a 15 minutos. É bastante rápida por via intravenosa lenta. Dependendo da dose empregada, a via de administração e o nível analgésico requerido, o efeito se prolonga por 2 a 4 horas [16].

AGONISTAS VERDADEIROS Fentanil O fentanil é 100% mais poderoso que a morfina. É mais eficaz e o efeito dose dependente é mais marcado. Assim sendo, pequenos aumentos de dose causam efeitos marcados, tanto em analgesia quanto em efeitos indesejados. Isto pode tornar-se uma vantagem ou um inconveniente. É uma vantagem quando o anestesista deseja controlar rapidamente uma dor intensa por injeção intravenosa (Foto 3). É um inconveniente em animais com débil estado geral. A duração da ação do fentanil é mais curta que a da morfina, o que pode autorizar o recurso de duas perfusões lentas. A forma transdérmica pode ser interessante em caso de dor inFoto 1. em razão da depressão respiratória causada pela morfina, a sobrevivência pode ser reduzida. tensa e durável.

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Figura 1. Exemplos de curvas efeito/dose ilustram as noções de potência e eficácia

A morfina corresponde a substancia A e é a referência. A substância B é por vezes mais eficaz e mais potente. A inclinação da curva mostra que um pequeno aumento na dose produz um efeito analgésico bem mais marcado. É o caso do fentanil, por exemplo. Na C o princípio ativo tem a mesma potência mas sua eficácia é fraca e sobre efeito teto, é o caso de agonistas parciais como o butorfanol. Na D a molécula é por vezes mais potente e claramente menos eficaz. É o caso de um agonista parcial com grande afinidade pelo receptor como a buprenorfina.

Figura 2. Componentes da dor e impacto da morfina

Foto 2. A fim de prevenir certos efeitos indesejáveis, a administração intravenosa deve ser lenta.

Metadona A metadona é um opióide bastante antigo. Sua eficácia é comparada à morfina, porém com uma duração de ação bem maior (até 15 horas por via subcutânea). Também possui uma melhor biodisponibilidade por via oral, o que aumenta as perspectivas de uso em caso de dor crônica [4]. AGONISTAS PARCIAIS E ANTAGONISTAS

Quadro 2 Receptores opióides Os receptores opióides são conhecidos desde 1973. São largamente distribuídos pelo organismo. Sua localização principal é o sistema nervoso central e seu papel ainda não está completamente elucidado. Três principais receptores opióides são bem caracterizados: µ (ou MOP), δ (DOP) e κ (KOP) [17]. Estes são acoplados às proteínas G. A letra grega que lhes designa provém do agonista que os evidencia: a morfina (µ), a d-leucina encefalina (δ) e a ketociclazocina (κ). A existência de subtipos de receptores foi esclarecido há muito tempo, mas ainda pouco estudados em escala molecular. Um receptor atípico igualmente foi caracterizado e denominado nociceptina/orfanina FQ receptor peptídico. 50

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Os agonistas parciais e antagonistas se fixam sobre os diferentes receptores sem ativá-los (antagonistas puros) ou parcialmente (agonistas parciais). Uma mesma molécula pode agir como um agonista parcial sobre um receptor e como um antagonista sobre outro, se bem que o perfil farmacológico deste grupo é bem variado. Estes medicamentos dependem em comum: - de exercer uma ação analgésica moderada (efeito teto) que os limitam a dores moderadas de grau II; • causam efeitos indesejáveis mais limitados do que os causados por agonistas verdadeiros; • possibilitam a preparação de associações mais seguras. Em medicina veterinária, as principais moléculas utilizadas são a buprenorfina e o butorfanol. O tramadol é frequentemente ligado aos opióides. Buprenorfina A buprenorfina é uma molécula bastante interessante se corretamente utilizada [15, 18]. É um agonista parcial dos receptores µ caracterizado por uma forte afinidade pelo receptor (25 vezes superior a morfina). A buprenorfina age em doses bastante pequenas, e esta afinidade pelo receptor confere uma duração de ação de cerca de 8 horas no cão. Como todo agonista parcial, é pouco ativa em dores intensas de grau III, mas serve como um excelente analgésico pós operatório. A Hora Veterinária – Ano 31, nº 185, janeiro/fevereiro/2012

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Tabela 1. Diferentes efeitos dos receptores opiáceos

• antagonismo à morfina em caso de superdosagem, sem acabar com o efeito analgésico. Tramadol O tramadol se distingue das moléculas anteriormente citadas. É ativo por via oral e o seu mecanismo de ação é diferente. Se fixa fracamente sobre os receptores µ, é também um inibidor da recaptura das catecolaminas, da serotonina e, em fortes doses, é um agonista α2 adrenérgico. Seu efeito analgésico é moderado e é destinado ao uso em dores leves a moderadas. Sua duração nos carnívoros domésticos é mais curta que no homem (2 a 3 horas ) [7]. Ele desacelera o trânsito digestivo e exprime, em caso de superdosagem, os sintomas de uma forte ativação simpática associada a uma excitação central. Foto 3. A administração de fentanil injetável é bastante útil para controlar uma dor intensa por injeção intravenosa. Pode ser utilizada uma seringa eletrônica. Butorfanol O butorfanol se destaca dos outros agonistas parciais pois age sobre os repectores k. Apesar de ter uma ação analgésica moderada (grau II) e tempo de duração curto (2 horas em média) e pode ser empregado em: • intervenções ou manipulações menos dolorosas;

CONCLUSÃO Bem utilizados, os analgésicos centrais são as melhores armas que o profissional dispõe para prevenir ou tratar todas as formas de dor. É lamentável o fato de que a falta de conhecimento, a dificuldade de prescrição e a relutância do poder público quanto ao seu uso, os impeça muitas vezes de ser empregados nos animais. O uso de agonistas possibilita um maior e mais seguro emprego dos opióides para o tratamento da dor.

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Diagnóstico por Imagens Esta seção destina-se à educação continuada em radiologia, endoscopia, ecografia, tomografia, buscando incentivar o uso do diagnóstico por imagens. Recebe trabalhos nacionais e internacionais de natureza prática e enriquecidos com ilustrações de caráter didático.

Avaliação ultrassonográfica do pâncreas de cães Parte II: principais afecções. Atualmente, a ultrassonografia é capaz de identificar o parênquima pancreático com maior frequência. Além de reconhecer a imagem normal e as alterações pancreáticas, é fundamental interpretá-las em conjunto com a anamnese, manifestações clínicas, avaliação laboratorial, citológica e histopatológica, na tentativa de estabelecer um diagnóstico definitivo. A presente revisão tem por objetivo descrever os aspectos sonográficos das principais afecções que acometem o pâncreas dos cães. C. M. MARTÍN.1, F. A. STERMAN2, A. C. B. C. FONSECA-PINTO2

Summary Nowadays, ultrasonography is able to identify the pancreas more often. In addition to recognize its normal image and abnormal findings, is essential judge them in light of history, signalment, laboratory data, cytology and histopathology, in order to establish a definitive diagnosis. The aim of this review is to describe sonographic features of main pancreatic disorders in dogs.

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Cláudia Matsunaga Martín, autor para correspondência. Médica veterinária e Mestre em Clínica Cirúrgica pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ USP), coordenadora do Curso de Especialização em Diagnóstico por Imagem da ANCLIVEPA-SP e ultrassonografista do PROVET (Unidade Aratãs), São Paulo, SP, BRASIL. E-mail: cmmartin@uol.com.br 2 Franklin de Almeida Sterman (In memoriam) e Ana Carolina Brandão de Campos Fonseca Pinto, Professores Doutores do Departamento de Cirurgia da FMVZ USP, São Paulo, SP, BRASIL. 52

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INTRODUÇÃO Para interpretar corretamente as imagens sonográficas do pâncreas é importante compreender que determinadas pancreatopatias podem não alterar o aspecto sonográfico do órgão, principalmente em fase incipiente; alguns achados podem ser observados em diferentes afecções pancreáticas, sendo difícil alcançar um diagnóstico definitivo, baseandose apenas na imagem; e por fim, achados incidentais e alterações relacionadas com a idade ou à condição física podem mimetizar pancreatopatias (Hecht & Henry, 2007; Pennick, 2008). As manifestações clínicas que direcionam para a suspeita de enfermidade pancreática, mas que não são exclusivas de doenças neste órgão compreendem êmese, anorexia, disenteria, perda de peso sem causa aparente, sensibilidade abdominal dolorosa, principalmente em região epigástrica, icterícia, terapia insulino-resistente para pacientes portadores de diabetes mellitus e hipoglicemia persistente (Nyland et al., 1983; Murtaugh et al., 1985; Lamb, 1989; Hess et al., 1998; Lamb, 1999a; Nyland et al., 2002a; Hecht & Henry, 2007; Pennick, 2008). As doenças pancreáticas também podem estar associadas a enfermidades do sistema hepatobiliar, trato gastrointestinal ou rins, e podem advir de complicações de doenças metastáticas e obstrução biliar extra-hepática. Dessa forma, a avaliação sonográfica deve levar em consideração todas as estruturas e órgãos da cavidade abdominal e não ser apenas direcionada para o órgão em questão (Saunders, 1991; Nyland et al., 2002a; Hecht & Henry, 2007). Dessa forma, as imagens devem ser interpretadas em conjunto com a anamnese, manifestações clínicas e avaliação laboratorial, sendo os exames citológico e histopato-

lógico necessários na tentativa de se estabelecer um diagnóstico definitivo (Hecht & Henry, 2007). ALTERAÇÕES PANCREÁTICAS Pancreatite A inflamação do parênquima pancreático pode ser de caráter agudo ou crônico, na dependência das manifestações clínicas ou critérios histopatológicos. A pancreatite aguda é caracterizada por um início súbito, associado a pouca ou nenhuma alteração morfológica e funcional do tecido pancreático. Na pancreatite crônica, a contínua inflamação conduz a alterações morfológicas irreversíveis e uma possível redução da função pancreática (Williams, 2000). Pancreatite aguda A pancreatite aguda é uma enfermidade relativamente comum nos cães, podendo apresentar êmese, anorexia, sensibilidade abdominal dolorosa em abdômen cranial e adoção compensatória de uma postura de prece, e episódios de disenteria, que ocasionalmente podem ter aspecto sanguinolento. Os primeiros sinais de desconforto podem ser observados após a ingestão de refeição altamente gordurosa, embora outras causas devam ser levadas em consideração (Williams, 2000). Pela avaliação sonográfica, o pâncreas pode ser observado com as dimensões aumentadas, espessura maior que 2.0 cm em planos logitudinal e transversal (Hess et al., 1998), parênquima hipoecogênico e irregular (Figuras 1 e 2B), chegando algumas vezes, a mimetizar uma massa de aspecto sólido (Nyland et al. 1983; Murtaugh, 1985; Lamb, 1989; Lamb & Simpson, 1995; Nyland et al., 2002a).

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um exame ultrassonográfico normal, não exclui a possibilidade de pancreatite. Um estudo que avaliou ultrassonograficamente 34 cães com pancreatites agudas fatais, concluiu que a sensibilidade deste método foi de 68% (Hess et al., 1998). Ruaux (2003) considera a sensibilidade do método baixa, reforçando que o mesmo não deve ser utilizado para exclusão do diagnóstico de pancreatite aguda. Portanto, caso exista suspeita de pancreatite e o exame ultrassonográfico não apresente alterações, é recomendável que uma nova avaliação seja realizada após 2 a 4 dias, uma vez que a imagem sonográfica sofrerá alterações durante a evolução do processo. Dessa forma, o acompanhamento sonográfico torna-se útil para monitorar a resposta ao tratamento, progressão ou resolução da inflamação pancreática (Hecht & Henry, 2007). Figura 1. Cão da raça Poodle, 10 anos de idade. Plano longitudinal do lobo pancreático direito (setas) apresentando as dimensões aumentadas, parênquima hipoecoico, contornos irregulares e aumento difuso da ecogenicidade mesentérica adjacente - pancreatite aguda

Figura 2. Cão da raça Schnauzer, 7 anos de idade. A. Espessamento e irregularidade da parede duodenal (seta) – duodenite. B. Plano longitudinal de lobo direito do pâncreas (entre calipers) apresentando aumento das dimensões, parênquima hipoecogênico, ecotextura grosseira e aumento focal da ecogenicidade mesentérica adjacente – pancreatite aguda. Frequentemente observa-se o tecido peripancreático hiperecogênico, indicando processo inflamatório e necrose gordurosa, podendo haver conjuntamente efusão peritoneal focal. Outros achados sonográficos identificados no processo agudo incluem duodenite (Figura 2A), caracterizada por espessamento duodenal superior a 0,5 cm, com perda ou preservação da estratificação parietal, aparência corrugada e hipomotilidade, além de sinais sonográficos de dilatação biliar extra-hepática, evidenciando-se ducto cístico e ducto biliar comum superior a 0,5 cm de diâmetro (Nyland et al., 2002a). Embora com menor frequência, pode-se observar dilatação do ducto pancreático (Lamb, 1989). Em processos agudos de maior duração, o espessamento e a inflamação da parede gástrica já foram observados (Pennick, 2008). É importante ter consciência que, além dos aspectos sonográficos variarem de acordo com o estágio da doença,

Pancreatite crônica A pancreatite crônica ocorre mais frequentemente quando combinada à doença inflamatória hepática e doença do intestino delgado. Ultrassonograficamente pode ser caracterizada pela redução das dimensões pancreáticas, ecogenicidade mista ou variável, ecotextura nodular e sombreamento acústico secundário à mineralização e processo cicatricial, além da dilatação e tortuosidade do ducto pancreático (Saunders, 1991; Nyland et al., 2002a). Um estudo que avaliou 14 cães com pancreatite crônica confirmada histologicamente, observou a imagem pancreática alterada em apenas 56% das avaliações sonográficas (Watson et al., 2010). Cistos pancreáticos Cistos congênitos e de retenção já foram relatados em cães, e podem ser diferenciados somente por meio de análise histopatológica. Os cistos congênitos podem variar em tamanho e geralmente estão associados com a doença policística renal, hepática ou ovariana. São circundados por células epiteliais e não contém exsudato, diferentemente dos pseudocistos. Cistos de retenção são causados pela obstrução dos ductos pancreáticos e acúmulo das secreções pancreáticas, sendo geralmente pequenos e incidentais. Os cistos congênitos e de retenção são, na maioria das vezes, estruturas anecoicas com evidente reforço acústico posterior e uma parede não visível ou adelgaçada (Nyland et al, 2002a; Morandi, 2009). Pseudocistos pancreáticos e abscessos Tanto os pseudocistos pancreáticos, quanto os abscessos podem ser secundários à pancreatite (Salisbury et al., 1988; Williams, 2000; VanEnkevort et al., 1999). Os pseudocistos se formam pelo acúmulo de enzimas pancreáticas, tecidos necróticos e áreas de hemorragia, envolvidos por uma cápsula formada a partir de tecido fibroso e de granulação (VanEnkevort et al., 1999). Os abscessos são coleções circunscritas e purulentas contendo pouca ou nenhuma necrose tecidual pancreática (Salisburry et al., 1988). Ambos se caracterizam por coleções anecogênicas fluidas, homogêneas ou celulares, promotoras de reforço distal variável, diferentes dimensões, paredes finas ou espessadas, localizando-se entremeadas ao parênquima pancreático ou ao redor dele (Figura 3) (Nyland et al, 2002a).

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tinção entre necrose focal, pseudocisto e abscesso nem sempre é possível por meio da ultrassonografia. Ademais, as neoplasias pancreáticas podem mimetizar ou estarem associadas à presença de abscessos, necrose pancreática ou pancreatite (Nyland et al., 2002a; Hecht & Henry, 2007; Pennick, 2008). Dessa forma, deve-se considerar a punção aspirativa por agulha fina e drenagem percutânea, guiadas ultrassonograficamente, e a avaliação citológica com cultura bacteriana ou não, para a determinação da natureza da lesão e instituição da terapia apropriada (Hecht & Henry, 2007; Pennick, 2008).

Figura 3. Cão da raça Cocker Spaniel, 3 anos de idade. Coleção anecogênica fluida, de moderada celularidade e limites irregulares (entre calipers), formadora de reforço acústico posterior, adjacente ao lobo direito do pâncreas – abscesso pancreático secundário à pancreatite aguda. Observe a correlação anatômica da coleção com o ramo direito do pâncreas (seta amarela) e o duodeno (seta verde). Os abscessos podem se distinguir dos pseudocistos na dependência da quantidade de conteúdo purulento, consistência deste material, presença ou ausência de gás, associada a artefato de reverberação, e estágio de maturação. Porém, a dis-

Neoplasias pancreáticas As neoplasias pancreáticas são raras nos cães, podendo ser de origem endócrina ou exócrina. O adenocarcinoma é o tumor exócrino maligno, que mais frequentemente acomete o parênquima pancreático (Jubb, 1993; Morandi, 2009). Adenoma, linfoma, carcinoma de células escamosas, linfangiossarcoma e sarcoma fusocelular ocorrem em menor frequência. Já o insulinoma é o tumor pancreático endócrino mais comum (Jubb, 1993). Os achados sonográficos geralmente encontrados nos casos de neoplasia pancreática são: nódulos únicos ou múltiplos, formações sólidas com dimensões, ecogenicidade e ecotextura variáveis, aumento das dimensões do parênquima glandular (Figuras 4A e B), aumento dos linfonodos adjacentes, efusão peritoneal e obstrução biliar extra-hepática, considerando os dois primeiros aspectos mais frequentes (Lamb et al., 1995; Bennett et al., 2001).

Figura 4 – A. Cão da raça Bassethound, 5 anos de idade. Formação de grandes dimensões, ultrapassando os planos de varredura (mais de 8 cm de diâmetro), de aspecto sólido, multilobulado, difusamente heterogêneo, localizada em região mesogástrica. B. Cão da raça Poodle, 2 anos de idade. Formação de grandes dimensões (6 cm de diâmetro, entre calipers), limites definidos, aspecto sólido, hipoecogênico e difusamente heterogêneo, localizada em região mesogástrica direita. Ambas as imagens apresentaram aspecto macroscópico sugestivo de neoplasia pancreática (sem diagnóstico histológico).

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Infelizmente, o diagnóstico das neoplasias pancreáticas exócrinas é bastante difícil, uma vez que as manifestações clínicas, resultados hematológicos e bioquímicos podem ser normais ou até mesmo inespecíficos (Williams, 2000). Além disso, cães com pancreatite aguda grave podem apresentar aumento das dimensões do parênquima pancreático a ponto de mimetizar formações hipoecoicas ou de ecogenicidade mista, líquido livre abdominal localizado e linfonodomegalia peripancreática, assim como nos quadros neoplásicos (Lamb et al., 1995). Portanto, embora a presença de formação sólida hipoecogênica na região pancreática seja sugestiva de neoplasia, isto não é suficiente para diferenciar o processo neoplásico do inflamatório, principalmente se o exame ultrassonográfico foi realizado apenas uma vez, isto é, sem acompanhamento após a instituição de terapia apropriada para o processo inflamatório. O acompanhamento da imagem sonográfica, após o tratamento, será útil na tentativa de estabelecer a distinção entre os dois processos, uma vez que o quadro inflamatório sem complicações, como por exemplo a formação de abscessos, tende a se resolver, o que não acontece no caso das neoplasias (Nyland et al., 2002a). Diante de tantas semelhanças, ainda é possível sugerir a existência de um processo neoplásico maligno, se forem identificadas conjuntamente lesões nodulares de menor ecogenicidade dispersas em mesentério e peritônio, caracterizando carcinomatose, efusão peritoneal em maior grau e, mais especificamente, invasão da parede duodenal, resultando em perda de estratificação focal e delimitação das margens (Nyland et al., 2002a; Morandi, 2009). Diante do exposto, é importante ter em mente que, além dos aspectos sonográficos da pancreatite e das neoplasias pancreáticas poderem apresentar semelhanças, o fato de não se observar alterações, não exclui a possibilidade da presença de nódulos neoplásicos, que podem ter a sua identificação comprometida pela sobreposição de conteúdo gasoso gastrintestinal e consequente barreira acústica (Nyland et al. 2002a). É válido lembrar também, que pode não ser possível determinar com precisão a origem de uma formação que ocupe a região topográfica do pâncreas, uma vez que não se caracterize a área de transição entre o parênquima glandular normal e o alterado. (Nyland et al., 2002a) No caso das neoplasias pancreáticas endócrinas, o insulinoma, cujas células secretam uma quantidade excessiva de insulina conduzindo a uma hipoglicemia persistente, apresentam-se como lesões nodulares esféricas, solitárias ou múltiplas, hipoecoicas, relativamente pequenas, ou até microscópicas e não visíveis ultrassonograficamente, podendo gerar metástases para linfonodos locais e para o fígado (Lamb et al., 1995). Hiperplasia nodular A hiperplasia nodular pancreática é um achado incidental comum em cães idosos (Jubb, 1993; Newman et al., 2005). Infelizmente, sua aparência sonográfica é semelhante aos nódulos neoplásicos,

não havendo meios conclusivos para essa diferenciação, sem avaliação citológica ou histopatológica (Nyland et al., 2002a; Hecht & Henry, 2007; Morandi, 2009). Edema pancreático O edema pancreático pode ser encontrado em cães acometidos por pancreatite, hipertensão portal ou hipoalbuminemia. Nestas três situações, o acúmulo de fluido interlobular resultará em espessamento pancreático com múltiplas imagens lineares anecoicas (Lamb, 1999b), que parecem dividir o parênquima glandular (Figura 5). Quando a causa do edema é de origem inflamatória, isto é, secundária à pancreatite, geralmente será observado aumento de ecogenicidade do tecido adiposo peripancreático, irregularidade da parede duodenal e sensibilidade dolorosa à manipulação local (Morandi, 2009). PROCEDIMENTOS GUIADOS POR MEIO DA ULTRASSONOGRAFIA A aspiração por agulha fina e a obtenção de amostras teciduais por meio da biópsia podem auxiliar nos diagnósticos das enfermidades pancreáticas (Bennett et al., 2001), uma vez que os achados ultrassonográficos podem ser inespecíficos. As biópsias teciduais devem ser direcionadas para formações de grandes dimensões, evitando lacerações no tecido pancreático normal ou em estruturas adjacentes importantes (Nyland et al., 2002b), quando a lesão é pequena. A ultrassonografia também pode ser utilizada na drenagem de pseudocistos pancreáticos (Smith & Biller, 1998) e outras coleções líquidas. Até o presente momento, não há conhecimento de complicações após a aspiração por agulha fina ou biópsia tecidual do pâncreas dos cães, porém no homem já foram relatados episódios de pancreatite aguda (Mueller et al., 1988) e semeadura de células neoplásicas ao longo do trajeto da agulha (Bergenfeldt et al., 1988).

Figura 5 – Cão da raça Poodle, 5 anos de idade. Presença de imagens lineares anecoicas entremeadas ao parênquima pancreático, lobo direito (entre calipers) - edema pancreático.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS A ultrassonografia, em conjunto com o histórico do paciente, manifestações clínicas e avaliações laboratoriais, é ferramenta fundamental no diagnóstico de várias enfermidades pancreáticas do cão. A ausência de alterações sonográficas não é capaz de descartar afecções. A constatação inicial de aumentos de volume ocupando a região topográfica do pâncreas, nem sempre permite determinar sua etiologia, devendo ser feita a exploração completa da cavidade abdominal relacionando aspectos inflamatórios ou metastáticos, em outros sítios. Deve-se também acompanhar a evolução da imagem após tratamento e coletar amostras do tecido pancreático, por meio de procedimentos guiados ultrassonograficamente, quando possível, a fim de se chegar a um diagnóstico mais preciso. REFERÊNCIAS Bennett, P.F.; Hahn, K.A.; Toal, R.L.; Legendre, A. M. Ultrasonographic and cytopathological diagnosis of exocrine pancreatic carcinoma in the dog and cat. Journal of the American Animal Hospital Association. v. 37, p.466473, 2001. Bergenfeldt, M.; Genell, S.; Lindholm, K.; Ekberg, O.; Aspelin, P. Needle-tract seeding after percutaneous ûne-needle biopsy of pancreatic carcinoma. Case report. Acta Chirurgica Scandinavica. v. 154, p.77-79, 1988. Hess, R.S.; Saunders, H.M.; Van Winkle, T. J.; Shofer, F.S.; Washabau, R.J. Clinical, clinicopathological, radiographic and ultrasonographic abnormalities in dogs with fatal acute pancreatitis: 70 cases (1968-1995) . Journal of the American Veterinary Medical Association. v. 213, p.665670, 1998. Hecht, S.; Henry, G. Sonographic evaluation of the normal and abnormal pancreas. Clinical Techniques and Small Animall Practice. v. 22 p.115-121, 2007. Jubb, K. The pancreas. In: Jubb, K.; Kennedy P.; Palmer N. Pathology of Domestic Animals, vol. 2, 4th ed. San Diego, CA, Academic Press, p. 407-424, 1993. Lamb, C. R. Dilatation of the pancreatic duct: An ultrasonographic finding in acute pancreatitis. Journal of Small Animal Practice. v.30, p. 410-413, 1989. Lamb, C.R.; Simpson, K. W. Ultrasonographic ûndings in cholecystokinininduced pancreatitis in dogs. Veterinary Radiology and Ultrasound. v.36 p. 139-145, 1995. Lamb, C.R.; Simpson, K.W.; Boswood A.; Matthewman, L.A. Ultrasonography of pancreatic neoplasia in the dog: a retrospective review of 16 cases. Veterinary Record v.37 p. 65-68, 1995. Lamb, C. R. Recent developments in diagnostic imaging of the gastrointestinal tract of the dog and cat. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice. v.29(2), p. 307342, 1999a. Lamb, C. R. Pancreatic edema in dogs with hypoalbuminemia or portalhypertension. Journal of Veterinary Internal Medicine. v.13, p. 498-500, 1999b. 56

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Morandi, F. The Pancreas. In: O´Brien, R.; Barr, F. British Small Animal Veterinary Association (BSAVA) Manual of Canine and Feline Abdominal Imaging. Wiley Online Library, p.157166, 2009. Mueller, P.R.; Miketic L.M.; Simeoni J.F.; Silverman, S.G.; Saini, S.; Wittenberg, J.; Hahn, P. F.; Steiner, E.; Forman, B.H. Severe acute pancreatitis after percutaneous biopsy of the pancreas. American Journal of Roentgenology. v.151, p. 493-494, 1988. Murtaugh, R. J.; Herring, D. S.; Jacobs, R. M.; De Hoff, W. D. Pancreatic ultrasonography in dogs with experimentally induced acute pancreatitis. Veterinary Radiology. V.26, n.1, p.27-32, 1985. Newman, S.J.; Steiner, J.M.; Woosley, K.; Barton, L. Correlation of age and incidence of pancreatic exocrine nodular hyperplasia in the dog. Veterinary Pathology. v.42, p.510513, 2005. Nyland, T.G.; Mattoon, J.S.; Herrgesell, E.J.; Wisner, E.R. Pancreas. In: Nyland, T.G.; Mattoon, J.S. Small Animal Diagnostic Ultrasound, 2nd ed. Philadelphia, PA, WB Saunders Company, p. 144-157, 2002a. Nyland, T.G.; Mattoon, J.S.; Herrgesell, E.J.; Wisner, E.R. Ultrasound-guided biopsy. In: Nyland, T.G.; Mattoon, J.S. Small Animal Diagnostic Ultrasound, 2nd ed. Philadelphia, PA, WB Saunders Company, p. 30-48, 2002b. Nyland, T. G.; Mulvany, H. M.; Strombeck; D.R. Ultrasonic features of experimentally induced, acute pancreatitis in the dog. Veterinary Radiology. v.24, n.6, p.260-266, 1983. Pennick, D. The Pancreas. In: Penninck, D.; D’Anjou, M. A. Atlas of small animal ultrasonography, 1st ed. Ames: Blackwell Publishing, p. 319-338, 2008. Ruaux, C. G. Diagnostic approaches to acute pancreatitis. Clinical Techniques in Small Animal Practice, v.18,n.4,p.245249, 2003. Salisbury, S.K.; Lantz, G.C.; Nelson, R.W.; Kazacos, E.A. Pancreatic abscess in dogs: 6 cases (1978-1986). Journal of the American Veterinary Medical Association. v. 193, p.1104-1108, 1988. Saunders, H. M. Ultrasonography of the pancreas. Problems in Veterinary Medicine. v.3, n.4, p.583-603, 1991. Smith, S.A.; Biller, D.S. Resolution of a pancreatic pseudocyst in a dog following percutaneous ultrasonographic-guided drainage. Journal of the American Animal Hospital Association. v.34, p.515-522, 1998. VanEnkevort, B.A.; O’Brien, R.T.; Young, K.M. Pancreatic pseudocysts in 4 dogs and 2 cats: ultrasonographic and clinicopathologic ûndings. Journal of Veterinary Internal Medicine. v.13, p.309-313, 1999. Watson, M.A.; Archer, J.; Roulois, A.J.; Scase, T.J.; Herrtage, M.A. Observational study of 14 cases of chronic pancreatitis in dogs. Veterinary Record. v.167, p. 968-976, 2010. Williams, D.A. Exocrine pancreatic disease. In: Ettinger, S. J.; Feldman, E.C. Textbook of Veterinary internal medicine: diseases of the dog and cat. 5th ed. Philadelphia: WB Saunders Company. v. 2, p.1345-1367, 2000. A Hora Veterinária – Ano 31, nº 185, janeiro/fevereiro/2012

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HV Informa Biogénesis-Bagó é eleita uma das melhores empresas de Agronegócios O estudo foi realizado pela Serasa Experian e Revista Globo Rural. O ranking foi publicado no Anuário de Agronegócio 2011 e a Biogénesis-Bagó ocupa duas primeiras colocações. A Biogénesis-Bagó, empresa voltada para o desenvolvimento e fabricação de produtos para a produtividade e sanidade animal, está entre as melhores empresas do Agronegócio, segundo a pesquisa realizada pela Serasa Experian e publicada na última edição do Anuário de Agronegócio 2011, da revista Globo Rural. O ranking é fruto de um levantamento entre as 500 maiores empresas do agronegócio, divididas em 30 segmentos. A Biogénesis-Bagó está entre os destaques do segmento “Produtos Veterinários”. No item “Evolução do Ativo” está em primeiro lugar, com 185,2%, sendo que o segundo lugar nesta lista contempla uma margem de 55,4%. Já no quesito “Evolução da Receita Líquida” contabilizou 181% referente ao ano anterior. Mais uma vez, seu índice é mais que duas vezes maior que o segundo colocado, que teve o índice na casa dos 69,3%. No ranking geral, a Biogénesis-Bagó ocupa a sexta colocação. Os outros critérios avaliados foram Receita Líquida, Rentabilidade, Ativo Total, Endividamento – onde a empresa não foi citada -, Giro do Ativo, Liquidez Corrente, Margem Líquida e Margem da Atividade. Para o Gerente de Relações Institucionais da BiogénesisBagó, Sérgio Barros “o posicionamento neste ranking é a co-

roação de um trabalho de muitos anos, feito com dedicação e respeito aos pecuaristas brasileiros. Procuramos agregar nosso conhecimento e experiência no dia-a-dia do campo, respeitando suas práticas e aprimorando, de acordo com as necessidades. Isso faz com que a Biogénesis-Bagó seja hoje reconhecida por seu intenso trabalho de campo”, diz.

Ourofino foi mais uma vez nomeada uma das “Melhores Empresas para Trabalhar no Brasil” A Ourofino Agronegócio, rumo a completar 25 anos, reúne mais de 800 colaboradores que trabalham com alta tecnologia na produção de medicamentos veterinários para bovinos, equinos, caprinos, ovinos, aves, suínos e animais de estimação. A empresa vende para todo o território brasileiro e exporta para cerca de 30 países, além de terceirizar a produção para outras empresas do segmento. Em outras áreas do agronegócio, a Ourofino atua em genética animal com a seleção e melhoramento do gado, assim como de cavalo crioulo; e inaugurou, em 2010, uma nova fábrica, em Uberaba (MG), voltada a defensivos agrícolas, com a produção de fungicidas, inseticidas, herbicidas e óleo mineral. Neste novo complexo industrial, a capacidade de produção estimada é de 100 milhões de litros por ano. Em 2011, a Ourofino foi mais uma vez nomeada uma das “Melhores Empresas para Trabalhar no Brasil” pelas revistas 58

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Época e Exame; além de ser considerada a empresa de produtos veterinários mais admirada pela revista Carta Capital. A Hora Veterinária – Ano 31, nº 185, janeiro/fevereiro/2012

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Entrevista Maria Angelica Zollin de Almeida, reeleita Presidente do SIMVETRS: Nossa proposta é a de respeito e valorização do Médico Veterinário e, como consequência, remuneração compatível com a importância que temos Maria Angelica Zollin de Almeida, nascida em Porto Alegre, diplomou-se Médica Veterinária pela Faculdade de Medicina Veterinária da UFRGS, em 14 julho de 1979. De 1980 a 1984 atuou na Secretaria de Saúde - Centro de Informações Toxicológicas – CIT, do Governo do Estado do Rio Grande do Sul. A seguir, foi transferida para a Secretaria da Agricultura, mais precisamente para o Instituto de Pesquisas Veterinárias “Desidério Finamor” - IPVDF, onde trabalhou até o momento da sua aposentadoria, em 2011. Segundo suas próprias palavras, foi no IPVDF que, realmente, Angélica encontrou-se como profissional: Iniciei na parte de Toxicologia, mas na Microbiologia encontrei colegas que me incentivaram e passei a trabalhar com doenças de ruminantes. O interesse em atuar com tuberculose motivou minha especialização em Buenos Aires, no Instituto Nacional de Proteção às Zoonoses (CEPANZO). A partir daí foi um pulo e uma das boas razões de atuar na parte de imunobiológicos (produção de tuberculina). Maria Angelica Zollin de Almeida sempre foi uma pessoa que, além do conhecimento intelectual desempenhou atividades “braçais” (como ela mesma classifica) pois entende que conjugando essas duas coisas os objetivos são alcançados com mais facilidade e rapidamente: Essa rotina, principalmente para quem trabalha na produção, é massacrante, e não deixa muito tempo para nada. Quando assumi no SIMVETRS, após algumas experiências como presidente da Comissão Científica de CONBRAVET, foi que meu trabalho começou a ser mais conhecido e reconhecido por colegas e autoridades. Quanto às honrarias, que ela é modesta em enumerar, afirma, com emoção: Receber das mãos do Ex-Presidente do CRMVRS, Dr. Carlos Quintana, a quem tenho grande estima e

admiração, a placa comemorativa aos 30 anos do SIMVETRS, foi algo que me marcou muito e que também serviu como incentivo para seguir com nosso trabalho a frente da entidade por mais uma gestão. Na vida familiar, Angélica destaca sua maior paixão: Tenho um filho maravilhoso, chamado Pedro de Almeida Maganin, de 20 anos, estudante de Engenharia Civil na UFRGS, onde cursa o 3º ano, um verdadeiro companheirão. Assim é Maria Angelica Zollin de Almeida, uma profissional competente, líder destacada em sua profissão, mulher moderna, eficiente “sem perder a ternura jamais”.

A Hora Veterinária - Quando iniciaste teu curso de Medicina Veterinária, já sonhavas em liderar movimentos pela nossa valorização profissional? Como era a Angélica no seu alvorecer? Maria Angelica Zollin de Almeida - Entrei na Faculdade de Veterinária em 1975 e não passava pela minha cabeça qualquer tipo de atividade política. Era uma época bem difícil politicamente e meu foco era estudar, trabalhar e me formar. Mas, vendo a situação por outro prisma, o envolvimento que tive durante todo o período de estudante nas monitorias, que foram uma constante na minha vida estudantil, certamente forjaram minha atuação tanto ética como profissional. A atuação na SOVERGS, tanto nas Comissões Científicas, como na diretoria, sedimentou esse sentimento de valorização do profissional médico veterinário.

HV – Nas tuas mãos e de tua equipe, o SIMVETRS completou trinta anos. Quais foram as principais conquistas da entidade nessas três décadas? Angélica - Para as comemorações fomos buscar um pouco da história do SIMVETRS. Muitos profissionais se envolveram com o Sindicato e tiveram um papel importantíssimo na profissão aqui no Rio Grande do Sul. Em 1983, por exemplo, após a extinção de um convênio entre o Ministério e a COBAL, ocasionando perdas salariais de 75% para os veterinários, o SIMVETRS teve uma atuação decisiva. E, após uma mobilização histórica, conseguiu a reposição salarial. Outra ação muito importante foi a conquista de 40% de insalubridade sobre o salário básico para os veterinários da Secretaria da Agricultura. Os dissídios coletivos realizados com a ASCAR foram contribuições do Sindicato dos Médicos Veterinários, entre outras conquistas.

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HV – No final do teu discurso, nas comemorações dos trinta anos do Sindicato, tu afirmaste que “Unidos Somos Fortes”. Mas será que estamos realmente unidos? O que é preciso fazer para consolidar essa união e transformá-la em conquistas palpáveis para o exercício profissional? Angélica - A união entre as entidades, no meu entender, ainda tem muito caminho a percorrer. Precisamos saber com clareza quais são os nossos deveres e também nossos direitos. Muitas vezes reclamamos que não recebemos, mas também não damos nada em troca, como um pouco do nosso tempo na ajuda de novas e maiores conquistas da classe. Devemos trabalhar em conjunto, todas as entidades, para, deste modo trazer os veterinários para dentro das instituições representativas da classe. Claro que as atividades são distintas, mas em conjunto teremos mais força, maior visibilidade e representatividade. E, consequentemente, maior poder junto ao governo, comunidade, universidades, etc. Dessa maneira teremos maior poder de negociação e representatividade política. Ninguém é uma ilha. Temos que nos organizar como classe, como veterinários. HV – Alguma conquista importante para toda a classe veterinária nesses últimos três anos? Angélica - Sim. A grande conquista deste último ano foi, através da luta travada nos bastidores políticos, a inclusão do médico veterinário no NASF - Núcleo de Apoio à Família do Ministério da Saúde. Junto com o CFMV, o SIMVETRS esteve presente em todas as reuniões e (por que não dizer?) nas lutas travadas. Foi uma batalha árdua que unidos vencemos. HV – Fala-se que o Rio Grande do Sul tem cerca de dois mil médicos veterinários desempregados ou subempregados. Se este dado é real, mesmo aproximativo, o que pode ser feito na área sindical? Não seria o caso de lutar também pelo controle das vagas nas Faculdades de Medicina Veterinária (como ocorre na França, por exemplo)? Angélica - Com toda certeza devemos lutar pela não proliferação de novas faculdades de veterinária e buscar maior rigor nas que estão em funcionamento. Este trabalho de fiscalização já vem sendo feito pelos Conselhos de Medicina Veterinária e deverá ser cada vez mais efetivo. O Sindicato tem a preocupação dos profissionais que saem das escolas e de como esses profissionais serão inseridos ao mercado de trabalho. O SIMVETRS vem fazendo um trabalho “educativo” junto às prefeituras, cooperativas, empresas comerciais e clínicas. E já estamos em ação, principalmente, junto às prefeituras no que se refere ao cumprimento do pagamento do salário mínimo profissional. Em 2011 mapeamos todas as prefeituras que têm veterinários nos seus quadros funcionais. Agora, necessitamos que os colegas que são funcionários dessas prefeituras de todo o RS e que não recebem o piso salarial profissional entrem em contato conosco para ajuizarmos as ações. Para representarmos a classe, precisamos que os Médicos Veterinários façam parte do Sindicato.

HV - Como está a integração de atividades entre o SIMVETRS, a SOVERGS e o CRMVRS? Angélica - Penso que nunca esteve melhor. As quatro entidades (SIMVETRS, CRMVRS, SOVERGS e Academia) estão com novas diretorias e há muita integração entre os envolvidos. Temos certeza de que o trabalho de integração institucional continuará cada vez maior. É nossa intenção que mais gente nova venha para as entidades. Jovens, alguns recém formados e com vontade de trabalhar se agregaram às entidades. Essa mistura da experiência com a inovação vai trazer o mais importante, a mudança de paradigmas. HV – Por que sindicatos como os nossos nunca entram em greve? Já aconteceu do SIMVET pensar nessa possibilidade para defender a classe? Angélica - A proliferação de sindicatos “desmembrou” a classe, ou seja, diminuiu a representatividade. Hoje temos médicos veterinários no SINTERGS, no SINPRO, na ADURFRGS, na AFAMA (MAPA) e outros. Uma das metas da nossa gestão foi recuperar o quadro do SIMVETRS. Em 2008 contávamos com 380 veterinários sindicalizados e hoje, estamos com 2002 colegas filiados ao SIMVETRS. Estamos também mapeando onde nosso filiado se encontra, em qual região do Estado e quais são suas necessidades. Só assim saberemos os anseios dos colegas. HV – Quais são os principais planos da tua equipe para a nova gestão que se inicia? Angélica - Reforçando meus comentários anteriores, basicamente nosso programa se resume a uma frase somente: Valorização do profissional Médico Veterinário e união entre as entidades da classe. Tudo o que pretendemos passa por isso. Planejamos continuar a realizar cursos que busquem a inserção do Médico Veterinário no mercado de trabalho, principalmente em áreas novas, onde os currículos das Faculdades de Medicina Veterinária não atingem ou, se atingem, o fazem de maneira superficial. Defendemos a sensibilização e medidas efetivas para o cumprimento do piso salarial da categoria bem como as gratificações e vantagens inerentes à profissão, como insalubridade, por exemplo. Queremos estar presentes em todos os eventos e situações que dizem respeito à categoria, tanto na luta pela abertura de novas áreas de trabalho como nas faculdades, em alguma disciplina onde seja esclarecido aos futuros veterinários a importância de representar e ser representado pelas entidades de classe. Nossa proposta é a de respeito e valorização do Medico Veterinário e, como consequência, remuneração compatível com a importância que temos. Mas o fundamental para que os objetivos sejam atingidos de maneira efetiva é a participação do médico veterinário. Seja questionando, cobrando, mas, sobretudo colaborando. Para isso, o SIMVETRS tem uma ferramenta remodelada, o site www.simvetrs.com.br onde são postadas informações inerentes à categoria. É só acessar e se comunicar conosco.

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Informe SIMVETRS Sindicato dos Médicos Veterinários no Estado do Rio Grande do Sul Rua Ramiro Barcelos, 1793 - Sala 603- Bairro Bom Fim - Fone (51) 3332-4383 - Email: simvetrs@simvetrs.com.br

Missão cumprida Chegamos ao fim de 2011 e o SIMVETRS prepara-se para 2012. Uma nova gestão inicia, com antigos e novos companheiros, estes últimos agregando-se à proposta e ao trabalho que vem sendo desenvolvido. Novas lideranças irão surgir, jovens colegas unindo-se ao ideal sindicalista. A gestão 2009-2011 se retira com a certeza do dever cumprido. Muito trabalho e dedicação uniram este grupo que se esforçou ao máximo para dar visibilidade e valorizar a profissão do Médico Veterinário. O programa Novos Desafios e Novas Demandas para o Médico Veterinário, lançado em 2009, contabilizou 15 cursos de atualização realizados nestes três anos de gestão, sendo sete cursos no ano de 2011. Cabe salientar que, dentre as propostas da gestão estava a interiorização; para tanto foi realizado o Curso de Perícia Forense na Área Civil para Médicos Veterinários, na cidade de Pelotas. Uma parceria entre o SIMVETRS e a UNICRUZ, proporcionou a realização dos I e II Treinamento do Programa Nacional em Controle e Erradicação de Brucelose e Tuberculose (PNCEBT) e Noções de Encefalopatia Espongiforme Transmissível (EET), em Cruz Alta. Ainda preocupado em oferecer aos Médicos Veterinários ferramentas para sua atualização, o SIMVETRS promoveu o Curso Preparatório para Fiscal Agropecuário, todos os finais de semana, durante três meses, no auditório do CRMVRS. O curso contou com 23 Médicos Veterinários inscritos e com

profissionais de prestígio e conhecimento em suas áreas de atuação, como professores. Com a meta de chegar a todos os Médicos Veterinários, uma nova roupagem foi realizada no site do SIMVETRS, bem como a realização de uma Newsletter, que leva a todos os colegas as últimas notícias ligadas à profissão. Sendo a entidade responsável pela defesa dos Médicos Veterinários, o SIMVETRS já se prepara para uma atuação efetiva junto às prefeituras que não pagam o salário mínimo profissional. Durante o ano de 2011 foi realizado um levantamento de todas as prefeituras, buscando averiguar o número de profissionais Veterinários trabalhando nessas instituições. A gestão 2009-2011 agradece a todos que permitiram que o SIMVETRS chegasse até aqui, ao mesmo tempo em que saúda a nova gestão eleita, e deseja a todos um FELIZ NATAL e um ANO NOVO repleto de paz, baseado no amor fraterno, na solidariedade e na compreensão.

Dra. Denise Bicca Fernandes na EXPOINTER/2011

Curso de Pericia em Pelotas/2011 I Treinamento PNCEBT/Cruz Alta

Dr. Marcio Correa na FENASUL/2011 62

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Médicos Veterinários no Curso Preparatório para FiscalAgropecuário A Hora Veterinária – Ano 31, nº 185, janeiro/fevereiro/2012

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Informe da SOVERGS Rua Andrade Neves, 159/123 - fone/fax: (51) 3228-1194, Porto Alegre, RS, BRASIL.

Sovergs empossa nova Diretoria gestão 2011-2014 No dia 16 de novembro, em solenidade realizada em parceria com o CRMV/RS ocorreu a posse festiva da nova diretoria da SOVERGS, sob a presidência da Dra. Rosane Maia Machado. A posse de fato ocorreu no dia 10 de novembro em reunião na sede da SOVERGS, onde a Dra. Marilisa da Costa Petry, presidente durante o triênio 2008/2011 apresentou, juntamente com a sua diretoria, o relatório de atividades do último ano de sua gestão, que recebeu muitos elogios dos presentes. O grupo de diretores e conselheiros que assumiu a gestão com mandato até 2014 é constituído por veterinários em diversas áreas de atuação da profissão, alguns experientes e outros jovens, recém formados, que participam pela primeira vez de uma entidade da nossa classe, trazendo sangue novo e novas ideias, garantindo sua continuidade. Como não poderia ser diferente, os primeiros grandes desafios já estão lançados: a realização do CONBRAVET 2014 e a comemoração dos 75 anos da SOVERGS, em 2013. Além disso, é responsabilidade de todos manter e fortalecer a representatividade dos Médicos Veterinários junto às diversas instituições públicas e privadas, com quem a SOVERGS vem colaborando nos últimos anos, como a Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Comissão de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo da Assembleia Legislativa, FUNDESA, FARSUL, Associações de Criadores, entre outros, e o estreitamento das relações com as entidades da classe Médico Veterinária: CRMV/RS, SIMVETRS, Academia Rio-Grandense e as Associações Municipais e Regionais. Outra importante meta para esta diretoria é estar mais próxima dos colegas em todo o estado, de forma direta, com a realização de seminários e palestras, pelo site na internet – www.sovergs.com.br e as redes sociais como o Facebook e, principalmente, através da colaboração com as Associações Regionais existentes e a reestruturação e criação de outras em diversos municípios e regiões. Deverá ser feita ainda uma maior aproximação com os novos profissionais, estendendo para todas as Faculdades de Veterinária do estado a premiação de MELHOR AMIGO, que premia um formando escolhido pelos demais, pelo companheirismo durante o curso. Para os associados pretende-se melhorar as facilidades oferecidas através

da manutenção dos convênios existentes e novos que deverão ser estabelecidos, maior prestação de serviços e outras propostas que estão em análise da diretoria. Dentro da atuação política, pretende-se atuar em várias frentes, entre elas: - Reativar o debate referente ao RECEITUÁRIO VETERINÁRIO; - Conscientizar as prefeituras sobre a importância da contratação de Médicos Veterinários para os Núcleos de Assistência a Saúde da Família – NASF; - Pleitear na Câmara Federal o arquivamento da Lei da Zootecnia, que retira a área de produção animal da mão dos veterinários e agrônomos, tornando esta de exclusividade dos zootecnistas; - Participar ativamente da regulamentação do serviço estadual de inspeção, que permitirá às agroindústrias detentoras do SIM comercializar seus produtos em todo o estado. A SOVERGS é a entidade mais antiga do estado na representação dos Médicos Veterinários, não possui fins lucrativos e está à disposição de todos, sempre aberta para ouvir suas sugestões, críticas e comentários e para a participação de novos colaboradores. CONSELHO FISCAL - 2011/2014 Titulares Dr. José Arthur de Abreu Martins Dra. Antônio Machado de Aguiar Dra. Maria Angelica Zollin de Almeida Suplentes Dr. Augusto Langeloh Dr. Maria do Carmo Siqueira Dr. Alcy de Vargas Cheuiche

DIRETORIA EXECUTIVA - 2011/2014 Presidente - Dra. Rosane Maia Machado 1ª Vice-Presidente - Dr. Paulo Ricardo Centeno Rodrigues 2ª Vice-Presidente - Dra. Juliana Brunelli de Moraes 1º Secretário - Dra. Olenka Fernandes de Oliveira Simch 2º Secretário - Dr. Tiago Cadorin Dutra 1º Tesoureiro - Dr. Eduardo Amato Bernhard 2ª Tesoureira - Dra. Vera Lúcia Machado da Silva

CONSELHO CONSULTIVO - 2011/2014 Titulares Dr. Air Fagundes dos Santos Dra. Andrea Troller Pinto Dra. Soraya Elias Marredo Suplentes Dr. Gilson Renato Evangelista de Souza Dr. Luisa Wolker Fava Dr. Volnei Afonso Merino

A Hora Veterinária – Ano 31, nº 185, janeiro/fevereiro/2012

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Infor me CRMV -RS Informe CRMV-RS Rua Ramiro Barcelos, 1793 /201 – Bom Fim – Porto Alegre/RS CEP 90035-006 - Fone: (51) 2104-0566 – Fax: (51) 2104-0573 E-mail: crmvrs@crmvrs.gov.br – Site: www.crmvrs.gov.br

Diretoria e conselheiros do CRMV-RS tomam posse Mais de 200 pessoas prestigiaram a Sessão Solene de Transmissão de Cargos da Diretoria Executiva e Posse dos Conselheiros Efetivos e Suplentes do CRMV-RS - Gestão 2011/2014, realizada na noite de 16 de novembro, em Porto Alegre. A casa de eventos Villa 305 recebeu autoridades ligadas ao agronegócio, médicos-veterinários, zootecnistas e colaboradores do CRMVRS. A cerimônia também foi prestigiada pelos presidentes dos CRMVs de Minas Gerais, Espírito Santo, Mato Grosso, São Paulo, Ceará, Mato Grosso do Sul, Paraná, Distrito Federal e Santa Catarina. A busca de uma formação profissional adequada às demandas do mercado e da maior inserção de médicos-veterinários e zootecnistas na sociedade foram compromissos assumidos pelo novo presidente do CRMV-RS em sua posse. O médico-veterinário Rodrigo Marques Lorenzoni assume a gestão 2011/2014 também com a meta de realizar uma fiscalização firme do exercício profissional em benefício de todos. Foram empossados na cerimônia, ainda, os demais integrantes da diretoria executiva e os conselheiros efetivos e suplentes. Em seu discurso, Lorenzoni lembrou sua origem Crédito: Divulgação/CRMV-RS

Crédito: Divulgação/CRMV-RS

familiar ligada à Medicina Veterinária, já que divide a profissão com seu pai, Onyx Lorenzoni, e avô, Rheno Lorenzoni. Abordou o acelerado crescimento do número de médicos-veterinários no estado. Atualmente, formam-se, em média, 500 profissionais por ano nas universidades gaúchas. Além disso, tratou dos desafios do agronegócio, campo de atuação importante para veterinários e zootecnistas, assim como novas áreas, como a saúde pública. Lorenzoni substitui o professor aposentado Air Fagundes dos Santos, que presidiu o CRMV-RS nos últimos seis anos. Ao transmitir o cargo, o ex-presidente ressaltou conquistas de sua gestão, especialmente a administração financeira e os investimentos na qualificação da fiscalização do exercício profissional. Presente à cerimônia, o presidente do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), Benedito Fortes de Arruda, ressaltou a mobilização que irá empenhar para fazer com que as prefeituras incluam os médicos-veterinários nas equipes do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf), conforme autorização recente do Ministério da Saúde.

Autoridades, veterinários, zootecnistas e imprensa prestigiaram a posse

Crédito: Divulgação/Opinião Livre Comunicação

Membros da diretoria executiva e conselheiros do CRMV-RS durante solenidade de posse

Da esquerda para direita: Air Fagundes, ex-presidente do CRMV-RS; Paulo Borges, deputado estadual; Rodrigo Lorenzoni, presidente do CRMV-RS; Maria Helena Dornelles, representante da OAB/RS; Benedito Arruda, presidente do CFMV; Onyx Lorenzoni, deputado federal; Isabella Lorenzoni; e Mauro Gregory, tesoureiro do CRMV-RS 64

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Membros da diretoria e conselheiros do CRMV-RS Gestão 2011/2014 Presidente: Rodrigo Marques Lorenzoni Vice-presidente: José Arthur de Abreu Martins Secretária-geral: Gloria Jancowski Boff Tesoureiro: Mauro Gregory Ferreira Conselheiros Efetivos Vera Lúcia Machado da Silva Maristela Lovato Júlio Otávio Jardim Barcellos Carlos Guilherme de Oliveira Petrucci André Mello da Costa Ellwanger Angélica Pereira dos Santos Pinho Conselheiros Suplentes Thais Des Essarts Brasil Tavares Ricardo Reis Boher Gomercindo João Dariva Juliana Iracema Milan Carlos de Lima Silveira Ana Flávia Motta Gomes A Hora Veterinária – Ano 31, nº 185, janeiro/fevereiro/2012

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