O diario de Jack o estripador

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O DIÁRIO DE JACK, O ESTRIPADOR Título original: The Diary of Jack the Ripper C Smith Gryphon, Ltd, 1993, para o diário original e transcrição do diário (O Shirley Harrison e Michael Barrett, 1993, para os comentários Direitos reservados para a língua portuguesa por Editorial Notícias Rua Padre Luís Aparício, 10 - 1.1' 1150-248 Lisboa E-mail: editrioticias(krnail.telepac.pt Internet: wwweditorialnoticias.pt Tradução: Artur Lopes Cardoso Capa: A. Rochinha Diogo Edição n." 01 503 012 U'edição: Novembro de 1994 2.1 edição: Abril de 1999 Depósito legal n.,' 78 481/94 Fotocomposição e fotolitos: Multitipo - Artes Gráficas, Lda. Impressão e acabamento: Printer Portuguesa SHIRLEY HARRISON O DIÁRIO DE JACK, O ESTRIPADOR 2.'edição notícias Editorial INTRODUÇÃO DO EDITOR O DIÁRIO É VERDADEIRO? Em Junho de 1992, uma agência literária há muito implantada e de sólida reputação, Rupert Crew Ltd, convidou-me, juntamente com mais alguns outros editores, a examinar um diário manuscrito, assinado por Jack, o Estripador, e que parecia ser da autoria de um comerciante de algodão, de Liverpool, James Maybrick. Senti-me intrigado, mas tinha demasiado presente no meu espírito a grande burla dos "diários de Hitler", nove anos antes. Na altura, Rupert Murdoch oferecera 3,75 milhões de dólares à Stern para os direitos mundiais de língua inglesa. O seu jornal londrino, o Sunday Times, já tinha publicado extractos desses diários monótonos em mais de dois números quando se descobriu que "Hitter" os escrevera num papel que continha um branqueador químico que só começara a ser utilizado em 1955. E, em 1968, o mesmo jornal oferecera 250 000 libras pelos diários falsos de Benito Mussolini. Tentei aprender com os erros da Stem e do Sunday Times. Não pretendia que um compromisso financeiro elevado obnubilasse o meu discernimento durante a avaliação subsequente do diário e não pretendia também incentivar um clima de lances irrealistas entre rivais que pretendessem publicar o diário como um todo ou em folhetim, como a Stern fizera com Rupert Murdoch, em Londres, e a Newsweek, em Nova Iorque. A Smith Gryphon Ltd é uma empresa editorial jovem e pequena. Adquirimos os direitos de publicação mediante um adiantamento razoável em concorrência aberta com outros editores. Se, no decurso das nossas

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investigações, tivéssemos descoberto que o diário era falso, estaríamos em posição de nos retirarmos sem incorrermos em perdas significativas. Procurei indícios de uma tramóia. Por exemplo, havia um intermediário que tratava do dinheiro e se interpunha entre editor e fornecedor, como fora evidente nos embustes dos diários de Hitler e de Mussolini? O proprietário do diário de Jack, o Estripador, é Michael Barrett, um trabalhador vulgar de Liverpool. Vive modestamente com a mulher e a filha, numa pequena casa geminada, da sua pensão de invalidez e do salário dela como secretária. Os seus ganhos actuais provenientes do diário são mínimos, embora possa sair-se bem se o livro for um êxito. É um católico devoto e a coisa mais importante na sua vida, para além da família, é o seu papel de porta- estandarte do ramo local da organização dos ex-militares, a British Legion. Não é um intermediário e não existem pessoas misteriosas por detrás dele. Foi sempre ele a tomar as decisões comerciais a respeito do diário e fê-lo de imediato, sem consultar mais ninguém. A autora, Shirley Harrison, é uma escritora e investigadora respeitada que foi trazida para o projecto pela agência literária, na sequência do contacto estabelecido com Michael Barrett. Antes disso, nunca se encontrara com ele ou comigo. A proveniência do diário era, e continua a ser, um problema. O Sr. Barrett disse-nos que um amigo, Tony Devereux, lhe deu o diário, em Maio de 1991, mas Devereux morreu alguns meses depois sem revelar como lhe fora parar às mãos, apesar das perguntas persistentes do Sr. Barrett. Soube que, desde o início de 1990 até Março de 1992, se fizeram várias reparações eléctricas na casa de Liverpool onde James Maybrick vivera e morrera. Pela primeira vez desde 1888, foram levantadas as tábuas do soalho e é tentador especular que um dos electricistas encontrou o diário, mas eles negaram isso e, na verdade, não sabemos donde veio. No decurso das investigações sobre a autenticidade do diário, apercebi-me cada vez mais do alto nível e amplitude das técnicas necessárias para forjar um documento tão complexo. Por questões de conveniência, diremos que o nosso "falsário" é um homem solteiro. Teria atingido um nível tão amplo de conhecimentos sobre as motivações e o comportamento inesperado dos assassinos em série que o diário não levantaria suspeitas no espírito do Dr. David Forshaw, interno-chefe no Hospital Psiquiátrico de Maudsley, em Londres. O Dr. Forshaw, que possui um amplo conhecimento da psicopatologia dos assassinos em série, escreveu um extenso relatório sobre o diário e não sentiu qualquer dificuldade em acreditar que poderia ter sido escrito por um assassino em série. O "falsário" deveria ter adquirido também um conhecimento raro e preciso sobre os efeitos físicos e psicológicos da viciação em arsénico e estricnina, bastante comuns na época vitoriana, mas quase desconhecidos hoje em dia, excepto para um especialista em dependência como o Dr. Forshaw. Deveria ser perito em química das tintas e papéis, pois, de outro modo, como poderia ter a certeza de que todos os ingredientes utilizados na tinta e no papel eram utilizados em 1888? O nosso perito, o Dr. Nicholas Eastaugh, um analista especializado na autenticação de quadros e artefactos pintados, utilizou um microscópio electrónico e uma microssonda de protões para testar a tinta. O nosso tão talentoso falsário disporia também de tais conhecimentos técnicos e de acesso a equipamentos de tecnologia de ponta? Perguntamo-nos se poderia ter encontrado um frasco de tinta vitoriana. Mas, mesmo que lhe tivesse sido possível confirmar que tinha mais de 100 anos, a tinta há muito teria secado por evaporação. Por outro lado, encontrar um caderno de anotações vitoriano já usado para nele escrever não levantaria problemas de maior.

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Seria um historiador do crime que adquirira um conhecimento íntimo, muito para além das fontes publicadas acessíveis, de dois famosos casos vitorianos - os crimes de Jack, o Estripador, em Whitechapel, e as suspeitas do envenenamento de James Maybrick por sua mulher, Florence, em Liverpool. Ao escolher James Maybrick, um homem acerca do qual se sabe bastante, para ser o Estripador, um falsário incorreria no alto risco de surgirem um facto ou uma data irreconciliáveis que excluíssem a hipótese de Maybrick ser o Estripador, um risco grandemente aumentado por aquele residir em Liverpool, a mais de 400 km de Whitechapel, em Londres. E quando Shirley Harrison e a sua equipa investigaram as actividades de Maybrick antes e durante 1888-1889, descobriram que tinha o motivo (a descoberta de que a sua mulher lhe era infiel), a oportunidade (todos os assassínios ocorreram ao fim de semana) e o álibi (podia vir a Londres para negócios ou para visitar o irmão); e, o que é muito significativo, que a sua amante, Sarah Robertson, vivera em Whitechapel durante os primeiros anos da sua relação. Conhecia o terreno. Devido à paranóia do secretismo, os diários de Hitler não tinham sido lidos por historiadores ou investigadores externos até Hugh Trevor-Roperm ter sido obrigado a fazer uma avaliação demasiado rápida para o Sunday Times. Logo desde o início, pedimos a três peritos em Jack, o Estripador - Martin Fido, Paul Begg e Keith Skinner -, que lessem os diários e fizessem os seus comentários. Mais tarde, mostrámos o diário a mais alguns especialistas, entre os quais Martin Howells, Melvin FaircIough, Colin Wilson, Donald Rumbelow e Bill WaddelI, ex-curador do Black Museum, da New Scotland Yard. Todos, excepto Donald Rumbelow e Bill Waddeli, tinham defendido em obras impressas que outros suspeitos seriam Jack, o Estripador, e, por isso, poderia esperar-se que fossem críticos em relação ao diário. Todos se sentiram fascinados. Alguns ficaram convencidos; outros viram algumas dificuldades. Essas "dificuldades" baseavam-se em opiniões pessoais, não em factos históricos. Desde o início que cada um destes peritos, embebidos que estão nos conhecimentos sobre o Estripador, tinha uma interpretação pessoal dos acontecimentos. Alguns não gostavam da tese da MiddIesex Strect como residência do Estripador. Estavam transtornados com os erros gramaticais, preocupados com a utilização de determinadas palavras no diário e desconfiavam da afirmação do autor de que comera um útero. À medida que forem lendo o livro, verão como cada uma destas objecções desaparece perante as provas que a rodeiam. Uma das críticas mais sérias proveio de uma comparação entre o diário e pretenso testamento de duas páginas de James Maybrick, cuja primeira página reproduzimos no segundo conjunto de ilustrações. O "testamento" está ao alcance de todos, incluindo um falsificador esperto, em Somerset House, Londres. Como não existe qualquer outro exemplo disponível da pretensa caligrafia de James Maybrick, para além de um pequeno exemplar da sua assinatura no assento de casamento, poderíamos pensar que qualquer falsário decente teria feito uma tentativa para a imitar. Por outro lado, James Maybrick não teria escrito o seu diário com o mesmo estilo de caligrafia do "testamento" se, como pensamos, o "testamento" é uma falsificação. No testamento, poderão ver como Maybrick, conhecido por ter um enorme carinho pelos seus dois filhos, escreve mal o nome da filha: põe Eveleyri em vez de Evelyn. Um advogado, Alexander MacDougall, num livro publicado dois anos depois do julgamento de Florence Maybrick, não acreditava pura e simplesmente na legalidade do testamento, que, na verdade, deserdava a sua mulher e os dois filhos queridos e transmitia todas as suas propriedades para os irmãos. As pressões dos irmãos sobre James durante os seus dias de agonia e o seu papel provável na

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falsificação do testamento são investigados em pormenor por Shirley Harrison. A outra preocupação quanto à caligrafia diz respeito à chamada carta "Caro Patrão", de 25 de Setembro de 1888, que é assinada por Jack, o Estripador. Não há qualquer dúvida de que, na altura, a polícia pensava que a carta fora enviada pelo assassino - exibiram um cartaz que a reproduzia e um bilhete-postal (que a nossa pesquisa histórica mostra ter sido escrito pela mesma mão) por todo o país. Até mesmo sete anos depois, num memorando datado de 18 de Outubro de 1896, um funcionário superior da polícia encarregado do caso do Estripador, o inspector-chefe Moore, continua, claramente, a levar a sério a carta "Caro Patrão"; o mesmo acontece com o inspector-chefe Swanson, que acrescenta os seus comentários corroborantes no final do mesmo. Essa carta apresenta algumas semelhanças linguísticas com o diário, incluindo a utilização de "material vermelho" para sangue, "joguinhos engraçados> e o provocatório "ha ha". Foi escrita num estilo cursivo formal que os grafólogos não conseguem fazer corresponder de imediato com o do diário. No entanto, as comparações de caligrafia são menos fiáveis do que as descobertas científicas ou históricas e, de qualquer modo, podemos ter bastante certeza de que o assassino teria envidado todos os esforços para disfarçar a sua letra numa carta destinada à polícia ou para ser publicada. Pode inclusive ter utilizado um amigo de confiança para as escrever, como o seu amigo mais chegado e confidente, George Davidson, várias vezes mencionado no diário, que viria a falecer em circunstâncias que fazem suspeitar de suicídio cerca de três anos depois da morte de Maybrick. Terá sucumbido ao peso da sua enorme culpa? Em contraste com estas questões levantadas por alguns dos nossos peritos, há muitas características do diário que, é sua forte convicção, militam no sentido da autenticidade. O texto de Shirley Harrison explora completamente todas estas, mas gostaria de referir uma ou duas das mais notáveis. Até 1987, quando surgiu à luz o relatório da investigação do caso de Mary Jane Kelly, ninguém sabia que o coração havia sido retirado pelo Estripador; nem foi relatado na época dos crimes. No entanto, depois da única referência ao seu nome no diário, encontramos as palavras: "sem coração sem coração". Um apoio igualmente forte para a veracidade do diário é proporcionado pelas suas veementes referências a uma caixa de fósforos vazia, em folha, que foi encontrada pela polícia no cenário do assassínio de Catherine Eddowes. Apenas foi referida na lista oficial e não publicada da polícia, que fazia parte dos relatórios de investigação do coroner. Não havia notícias coetâneas sobre a caixa de folha nos jornais e não foi mencionada em qualquer publicação até 1987, na sequência da abertura oficial dos arquivos ao público. Caso estivessem a considerar a ideia de o nosso falsário imaginário ser um vitoriano, tentando talvez autoconvencer-se de que cometera os crimes, seria útil que soubessem que foi aceite por todos, entre 1888 e a década de 50 do nosso século, que duas mulheres, Emina Srrith e Martha Tabram, também haviam sido vítimas do Estripador. Agora sabemos que assim não foi, mas um escritor vitoriano por certo as teria incluído; e não saberia do desaparecimento do coração e da caixa de fósforos vazia. Embora as provas históricas, por si mesmas, não eliminem a falsificação, apoiam fortemente a autenticidade do diário. O restante respaldo histórico provém não só da sobreposição perfeita dos factos e movimentos da vida de James Maybrick em relação às actividades conhecidas de Jack, o Estripador, mas também de três dos cinco locais onde foram perpetrados os assassínios de Whitechapel, nos quais um "M", a marca de Maybrick, foi deixado pelo assassino como pista para a polícia. Dois desses Ms não tinham sido notados antes até iniciarmos as pesquisas para este livro, embora aparecessem numa fotografia e num

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desenho que se encontravam na posse da Polícia Metropolitana, em 1888. São reproduzidos no segundo conjunto de ilustrações. O que será talvez o acontecimento mais espectacular de todos ocorreu em Junho de 1993, quando dois irmãos da zona de Liverpool me trouxeram ao escritório, em Londres, um relógio de bolso em ouro, onde se encontravam gravadas uma assinatura, J. Maybrick, as iniciais das cinco prostitutas assassinadas em Whitechapel e a confissão "Sou Jack". Por meio do seu advogado, conseguiram que o relógio fosse examinado 10 por um eminente perito em metalurgia, o Dr. S. Turgoose, do Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade de Manchéster. A história do relógio e as conclusões inéditas do Dr. Turgoose são apresentadas integralmente no posfácio do editor. Em sua opinião, é provável que as gravações tenham "mais de dez anos e possivelmente muitos mais". Basta esta descoberta para afastar uma falsificação moderna e confirmar as outras provas de que não há conflito quanto ao diário datar de 1888-1889. Uma nota de pé de página fascinante. No Globe de 10 de Outubro de 1888, apenas dez dias após os assassínios de Elizabeth Stride e Catharine Eddowes, em Whitechapel, surgiu a notícia sobre um homem de Liverpool que fora interrogado pela polícia em ligação com os crimes. A notícia dizia que o homem, que tinha o hábito de esquadrinhar os bairros miseráveis do East End londrino, deixara um saco de couro preto num hotel de I.- classe, no West End. O Charing Cross Hotel publicou um anúncio dirigido aos proprietários desses e de outros artigos, no The Times de 14 de Junho de 1888. A polícia ficou de posse do saco e descobriu, dentro dele, "determinados documentos, peças de vestuário, livros de cheques, gravuras de tipo obsceno, cartas, etc.". O anúncio referia-se a artigos deixados no hotel durante o ano anterior, 1887. Um dos proprietários que constava da lista é S. E. Mibrac. Esse nome, que tem uma sonoridade muito semelhante a Maybrick, teria sido inscrito por este no livro de registo do hotel? A notícia do jornal sugere também que o proprietário do saco viajava de e para a América. O mesmo se passava com James Maybrick. As coincidências são grandes de mais. Se Mibrac era Maybrick, então era, ao fim e ao cabo, um suspeito, e as provas desapareceram tal como muitas outras coisas neste caso. Caso não existissem este diário e o relógio, nunca se teria suspeitado de que James Maybrick houvesse cometido os crimes de Whitechapel. A razão deste livro é apresentar James Maybrick como Jack, o Estripador. No entanto, o autor apresenta os factos e as provas tão objectivamente quanto possível, de forma que o leitor possa decidir por si próprio se Maybrick foi realmente culpado do assassínio de cinco prostitutas durante o Outono de 1888. RoBERT SMITH Smith Gryphon Publishers Agosto de 1993 11 AGRADECIMENTOS A oportunidade de trabalhar num projecto tão extraordinário acontece uma vez na vida. Há um ano, este diário foi entregue, sem qualquer análise, na agência literária Rupert Crew Ltd, em Londres. Para o fazer passar por todas as fases necessárias antes de o podermos revelar, com segurança, aos leitores de todo o mundo, confiámos na boa vontade e no tempo livremente cedido de muitas pessoas. À medida que chegava o material, Sally Evemy, a minha sócia no World Team, pesquisava, verificava e coligia os factos que vieram a constituir a espinha dorsal deste livro. Em especial, agradecemos a:

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Doreen Montgomery, da Rupert Crew Ltd, a nossa agente, cuj a luva de ferro esconde uma mão de veludo e sem cuja visão não teria nascido o projecto; Robert Smith, o nosso editor. O seu entusiasmo e consumo das horas extraordinárias que me dedicou ficaram muito além do dever de um editor; Keith Skinner, Martin Fido e Paul Begg, que foram os nossos conselheiros e guiaram os nossos primeiros passos no mundo de Jack, o Estripador; Paul Feldman, cujo apetite insaciável pela investigação nos manteve sempre em bicos de pés; Richard Dawes, o nosso redactor cuidadoso; Roger Wilkes, cujo generoso empréstimo de toda a sua colecção pessoal de notas sobre Maybrick lançou a nossa investigação; 13 Naorai Evett, da Biblioteca de Liverpool, cuja paciência nos manteve à tona; Malcolm Peacock, de Sutton, Surrey, que lubrifica as rodas do nosso PCW, e o serviço Disc Doctor de Paddock Wood, Kent, que nos salvou de grandes desastres, repetidas vezes, e cujos lucros foram doados ao BACUP, o grupo de apoio ao cancro; Dr. Nicholas Eastaugh, Dr. David Forshaw, Sue Iremonger, Anna Koren, Melvyn Fairclough, Martin Howells, Dr. A. Morton, Sidney Sabin, Nicholas Campion, John Astrop, Lawrence Warner, Dr. Glyn Volans, juiz Richard Hamilton, de Liverpool, Bill Waddeil, Tony MialI, Richard e Mollie Whittington Egan, Paul Dodd, de Battlecrease House, Brian Maybrick, Gerard Brierley, Sr. Berkeley Chappelle-Gill, Derek Jarman e John Matthews, da ilha de Wight, Dr. W. Taylor, do Fazakerley Hospital, Seddons Funeral Services, Southport, David Fletcher Rogers, Walkleys Clogs, The Special Hospitals Service, Andrew Brown, dos Metropolitan Police Archives, New Scotland Yard, Colin 1nman, do Financial Times, Nick Pinto, do Public Record Office, R. H. Leighton and Co, Southport, Colin Wilson, Donald Rumbelow e o pessoal das bibliotecas e departamentos de história local em todo o país. Agradecemos ao Amerícan Heritage Center, Universidade do Wyoming, a autorização para utilizarmos extractos das recordações de Florence Aunspaugh, incluídas na Colecção Trevor Christie, e a Harper Collins Publishers a autorização para utilizarmos um extracto de Hunting the Devil, de Richard Lourie. OS PONTOS-CHAVE DO DIARIO Escala: 8,75 cm = 1 km A LONDRES DE JAMES MAYBRICK O irmão de James Maybrick, Michael, vivia em Regent's Park. A amante de Maybrick, Sarah Robertson, viveu em New Cross, Sydenham e Tooting, bem como em "itechapel. AS CINCO VíTIMAS DOS CRIMES DE WHITECHAPEL Data do crime e. 1888 Hora da de,5coberta Lo-lu.ça. Mary Ann "PoIly" Nichols Sexta-feira, 31 de Agosto. 3.45 h da madrugada. Buck's Row, hoje em dia Durward Street. Esventrada. Sábado, 8 de Setembro. 6 h da manhã.

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Hanbury Street, n.- 29. Faltava o útero. Elizabeth Stride Domingo, 30 de Setembro. 1 h da manhã. Duffield's Yard, Berner Street, hoje em dia Henriques Street. Sem mutilações. Catharine Eddowes Domingo, 30 de Setembro. 1.45 h da manhã. Mirre Square. Faltavam o útero e o rim esquerdo; tinha uma prega cortada em cada face. Mary Jane Kelly Sexta-feira, 9 de Novembro. 10.45 h da manhã. Miller's Court, n.,1 13, junto à Dorset Street. Grandes mutilações, faltava o coração. 16 OS ASSASSínIOS DE WHITECHAPEL 17

"TALVEZ, NA MINHA MENTE ATORMENTADA, DESEJE QUE ALGUÉM LEIA ISTO E COMPREENDA" No final de uma tarde de Maio, em 1889, três médicos reuniram-se em Aigburth, um subúrbio de Liverpool, para realizarem uma autópsia extremamente heterodoxa. O corpo de um homem de negócios de meia idade jazia na cama, onde morrera, no seu quarto de pelúcia vermelha e mogno, enquanto a jovem viúva, desgostosa e confusa, jazia num misterioso desmaio no quarto de vestir adjacente. Sob o olhar vigilante de um superintendente da polícia, dois dos médicos dissecavam e inspeccionavam os órgãos internos, enquanto o terceiro fazia anotações. O cérebro, coração e pulmões pareciam normais e foram colocados de novo no cadáver. Havia uma ligeira inflamação do canal alimentar, uma pequena úlcera na laringe e a parte superior da epiglote estava esfolada. O estômago, com ambas as extremidades atadas, os intestinos, o baço e partes do fígado foram colocados em frascos e entregues ao polícia. Cerca de duas semanas mais tarde, os mesmos três médicos dirigiram-se ao cemitério onde o corpo fora enterrado, entretanto. Chegaram às 11 h da noite e, à luz amarela dos candeeiros de petróleo, ficaram junto à cova recente enquanto quatro homens cavavam para retirar o caixão. Sem levantarem o corpo do caixão, retiraram o cérebro, coração, pulmões, rins e língua para posterior investigação. Uma testemunha ocular contou: "Entre os presentes, poucos foram aqueles que não sentiram um arrepio involuntário quando as pálidas e envelhecidas feições do morto surgiram sob os raios tremeluzentes de um candeeiro, segurado por cima da campa por um dos médicos. 21

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O que todos notaram foi que, embora tivessem passado quinze dias, o corpo se encontrava maravilhosamente conservado. À medida que a faca de dissecação do Dr. Barron prosseguia com o seu trabalho rápido e eficiente sentia-se, no entanto, sempre que o vento soprava, um ligeiro odor de podridão." Mais tarde, as autoridades concluíram que James Maybrick, de 50 anos de idade, um conhecido negociante de algodão de Liverpool com relações comerciais em Londres, fora vítima de "envenenamento irritante". Não podiam especificar qual a substância em causa, mas estavam convencidas de que fora assassinado e tinham poucas dúvidas quanto a quem o fizera. Em Agosto desse ano, depois de um julgamento sensacional que prendeu a atenção tanto da GrãBretanha como da América, a viúva de Maybrick, Florie, de 26 anos de idade, foi condenada à morte pelo seu assassínio. Foi a primeira mulher americana a ser julgada num tribunal inglês. Seis meses antes da morte de Maybrick, um empregado de balcão chamado Thomas Bowyer passeava pelas ruas de Whitechapel, um bairro sórdido no East End londrino. Ia cobrar a renda atrasada de Mary Jane Kelly, a inquilina do n.o 13 de Miller's Court. Eram cerca das 10.45 h da manhã de 9 de Novembro e multidões alegres punham-se a caminho para assistirem à passagem da carruagem dourada no âmbito das comemorações que, ainda hoje, marcam a tomada de posse anual do Lord Mayor de Londres. Ninguém respondeu quando Bowyer bateu. Por uma janela quebrada, afastou a imunda cortina improvisada e espreitou para o tugúrio que era o patético lar de Mary Jane Kelly. Na cama empapada de sangue, jazia tudo o que restava do corpo de uma rapariga. Estava nua, ostentando apenas uma camisa diminuta. Houvera uma tentativa deliberada para separar a cabeça. O ventre fora rasgado de par em par. O nariz, seios e orelhas haviam sido cortados e a pele retirada do rosto e das coxas jazia ao lado do corpo esfolado. Os rins, fígado e outros órgãos encontravam-se dispostos em redor do corpo, cujos olhos estavam esbugalhados, olhando, aterrorizados, no meio de um rosto retalhado e sem feições. Mary Jean Kelly era a última vítima de um criminoso que andava a trucidar prostitutas desde o final de Agosto. Todas as mortes ocorre22 ram perto do fim de semana e dentro da mesma zona sórdida de ruas superpovoadas que era, e é, uma das áreas mais miseráveis de Londres. As mulheres foram estranguladas, esfaqueadas e, por fim, desmembradas em ataques cada vez mais brutais. Mary Ann ("PoIly") Nichols, a primeira vítima, era filha de um serralheiro, tinha pouco mais de 40 anos e andava de asilo em asilo. Seguiram-se-lhe Annie Chapman, de 47, Elizabeth Stride, de 44, e Catharine Eddowes, de 46. Agora, chegara a vez de Mary Jane Kelly, de cerca de 25 anos, a mais nova de todas. Por mais horrendos que fossem estes crimes, poderiam ter sido esquecidos ou ignorados como risco profissional da prostituição, não fora o assassino ter atormentado a polícia com bilhetes e pistas e, numa carta infame e escaminha, atribuído a si próprio uma alcunha que provocou arrepios em Londres e em lugares mais distantes: Jack, o Estripador. Em 1889, ninguém tinha razões para ligar a exumação de Maybrick, num cemitério ventoso de Liverpool, com o banho de sangue antecedente, num bairro miserável e degradado de Londres, a mais de 400 km de distância. Nem a polícia nem os médicos de Liverpool adivinharam o segredo sinistro de James Maybrick. Ninguém reparou na ligação irónica entre a dissecação macabra realizada pelos médicos, à meia-noite, no corpo de um respeitável comerciante de meia idade e o medonho esventramento de uma jovem prostituta de Whitechapel. Mas depois, mais de 100 anos após a sua campanha de terror, foi encontrado um diário que se pensa ser de James Maybrick.

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Mike Barrett passou toda a sua vida em Liverpool, exceptuando uma época em que navegou pelo mundo na marinha mercante ou trabalhou nas plataformas de petróleo. Mais tarde, trabalhou como cozinheiro e negociante de sucata. Conheceu a mulher, Anne, no Centro Irlandês da cidade, há dezassete anos, e casaram ao fim de algumas semanas. Nos últimos anos, a doença obrigou Mike a deixar de trabalhar e, por isso, cuida da filha do casal, Caroline, de 11 anos, enquanto Anne trabalha como secretária. A sua grande alegria é o pequeno jardim, cheio de flores, em frente à cozinha. O maior sonho de Mike é ter uma estufa. 23 No caminho até à escola de Caroline, Mike parava frequentemente no Saddle, um pub vitoriano que ainda hoje tem quase o mesmo aspecto do que no tempo de James Maybrick. Aí, costumava beber uma caneca e conversar com um amigo, Tony Devereux. Quando Tony fracturou a anca, perto do Natal de 1990, Mike tornou-se o seu Bom Samaritano, fazendo-lhe as compras e outros recados ocasionais. Um dia, vários meses mais tarde, quando chegou a casa de Tony, havia um embrulho de papel castanho sobre a mesa. "Leva-o. Quero que fiques com ele. Faz-lhe alguma coisa", foi tudo o que Tony disse. Mike levou o embrulho para casa e abriu-o com Anne. Nesse dia, a vida dos Barrett deu uma reviravolta. Dentro do papel, encontraram aquilo que parecia ser um álbum de recortes vitoriano, encadernado a um quarto de vitela negra, sem título e com sete listas de folha de ouro na lombada. A encadernação e o papel eram de boa qualidade e encontravam-se bem conservados. A julgar pelos vestígios de manchas de cola e pelas impressões oblongas deixadas na guarda, o livro fora utilizado para a prática vitoriana habitual de recolher postais ilustrados, fotografias, reminiscências, autógrafos e outras recordações. As primeiras 48 páginas tinham sido cortadas com uma faca e seguiam-se-lhes 63 páginas manuscritas com as palavras mais espantosas que Mike alguma vez lera. O tom passava de piegas a frenético, havendo algumas frases riscadas com fúria. Anne e Mike estavam sentados no sofá, junto à lareira, na sala de estar, e ela ouvia o que Mike lia. Ficaram enojados com a história que se desenrolava numa escrita irregular, que reflectia a violência das palavras: Da próxima vez, levarei tudo e não deixarei nada nem sequer a cabeça. Vou cozê-la e comê-la com cenouras acabadas de colher. O gosto do sangue era doce, o prazer era avassalador. Perto do final do diário, o estado de espírito atenuava-se: Esta noite, escrevo sobre o amor. este amor que tanto me desprezou, este amor que efectivamente destrói 24 E depois, na última página, lêem estas palavras: Em breve, espero ser colocado ao lado da minha querida mãe e pai. Vou pedir o seu perdão quando estivermos reunidos. Espero que Deus me conceda pelo menos esse privilégio, embora saiba bem de mais que o não mereço. Os meus pensamentos ficarão intactos, como uma lembrança para todos acerca da forma como o amor pode destruir. Agora vou colocar isto num lugar onde será encontrado. Rezo para que quem quer que leia isto encontre lugar no seu coração para me perdoar. Lembrem-se todos, quem quer que possam ser, de que fui outrora um cavalheiro. Que o bom deus tenha piedade da minha alma, e me perdoe por tudo o que fiz. Apresento o meu nome, para que todos saibam de mim, assim reza a história, o que o amor pode fazer a um homem que nasceu cavalheiro. Atentamente, Jack, o Estripador. Datado neste dia 3 de Maio de 1889. "Nunca esquecerei a cara de Mike", lembrou Anne. "Era aquela assinatura - era como uma faca a penetrar em mim", afirmou Mike. "Mas não acreditei. Quem é que vai alguma vez acreditar nisto?"

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Mike telefonou imediatamente a Tony: "Estás a gozar com quem?" Tony limitou-se a retorquir: "Não faças perguntas." Seria possível que Mike Barrett tivesse a solução para o que constitui um dos maiores mistérios do mundo do crime? Leu e releu o diário, tentando fazer encaixar todos os fragmentos da história. O escritor depravado, que não assinou o seu nome verdadeiro em parte alguma do diário, gabava-se de perseguir as suas vítimas e depois matá-las e mutilá-las. Mas tal como Jack, o Estripador, atormentava a polícia com jogos de gato e rato - quer sob a forma de pistas verbais deixadas no cenário do crime, quer em cartas dirigidas aos jornais -, também quem escrevera o diário deixou pistas quanto à sua identidade ao longo das páginas deste. Por exemplo, logo na segunda página, afirma: Posso regressar a Battlecrease. "Comprei todos os livros sobre Jack, o Estripador, que consegui encontrar", recorda Mike, "e passei horas na biblioteca tentando fazer 25 pesquisas sobre a história do Estripador para ver se o diário se harmonizava com ela. Então, um dia, li um livro de Richard Whittington Egan intitulado Murder, Mayhem and Mystery. Tratava do crime em Liverpool, e deparei com o nome "Battlecrease House" num relato do caso Maybrick. Na verdade, "Battlecrease" era um nome conhecido de muitos dos habitantes de Liverpool familiarizados com a história trágica do inditoso casal que dela fizera o seu lar. James e Florie Maybrick haviam-se mudado para a mansão, no bairro aprazível de Aigburth, nos últimos anos turbulentos que viveram juntos. Seria possível, perguntou-se Mike, que Maybrick, supostamente assassinado pela mulher, tivesse sido um dos mais temidos e desprezíveis assassinos de todos os tempos? O diário que se encontrava nas mãos de Mike poderia estabelecer urna ligação entre a história do pai extremoso aparentemente respeitável, o comerciante de meia idade, destruído por uma vida de ingestão secreta de drogas, e a de Jack, o Estripador? Por outro lado, se o diário era falso, por que razão aparecera agora? Tony não queria dinheiro algum por ele. Onde estivera durante todos estes anos? E como é que Tony ficara com ele? "No dia seguinte, fui a casa de Tony e perguntei-lhe que raio de brincadeira era aquela", recorda Mike. "Mas não me disse nada e limitou-se a repetir: 'Sei que é verdadeiro. Faz alguma coisa com ele.' Não me disse donde provinha, ou há quanto tempo o tinha. Mas eu confiava nele. Não ia deixarme ficar mal." Infelizmente, Tony Devereux morreu com uma paragem cardíaca antes de Mike ter conseguido obter resposta alguma para o enigma das origens do diário. Nessa altura, Mike era um homem obcecado. A acolhedora sala da frente, em casa dos Barrett, era assombrada por nomes do diário, fantasmas de um sinistro passado vitoriano. Havia "Burmy", como Maybrick chamava à sua mulher namoradeira; George, o amigo leal; Michael, o irmão bem sucedido e traiçoeiro; Edwin, o irmão aparentemente kal; Gladys e Bobo, os filhos amados, e Lowry, o empregado metediço. Mikc comprou um processador de texto e lançou-se numa pesquisa extensiva, com a intenção de escrever ele próprio a história do diário. Passou horas na biblioteca a esmiuçar notícias microfilmadas de jornais. Noite após noite, lia e trabalhava, enquanto Anne cada vez lamentava mais o dia em que o diário entrara em sua casa. Mike recorda: "De 26 então para cá, nunca mais dormi como deve ser. Comi e bebi o diário. Quase dei cabo da minha vida e do meu casamento, embora, graças a Deus, Anne tenha a paciência de uma santa e me tenha apoiado sempre. "

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Mas Mike sabia que a tarefa era grande de mais para ele. Pretendia cumprir a promessa feita a Tony, mas não fazia a menor ideia acerca dos passos necessários para a autenticação do diário, quanto mais para a publicação. Telefonou a uma Editora londrina e convidou o director literário para visitar Liverpool e ter o documento. Todavia, os editores londrinos não se entusiasmam facilmente porque são bombardeados com regularidade por legiões de pretensos escritores com descobertas espantosas. "Procure um agente literário", foi o que o editor disse a Mike, e mandou-o a Dorcen Montgomery, da Rupert Crew Ltd, em Londres. Foi assim que, num dia de Primavera de 1992, Me embarcou no comboio na estação de Lime Street, em Liverpool, como James Maybrick fizera mais de um século antes. Doreen Montgomery, que já é minha agente literária há cerca de vinte anos, pediu-me que me encontrasse com Mike nesse mesmo dia. Como duvidava da história incrível de Mike, pretendia ouvir uma outra opinião. Mike vestia um fato novo e elegante e sobraçava uma pasta que continha o diário, ainda embrulhado no papel castanho. Colocou o diário em cima da mesa dela, entre pilhas de manuscritos promissores, e ficou a Olhar, nervoso, enquanto virávamos as páginas devagar, horrorizadas. Depois, discutimos entre os três o que havíamos lido, enquanto Doreen e eu tentávamos manter a calma perante afirmações tão espantosas. A lógica dizia-nos que havia três possibilidades: 1) Era uma fraude - realizada pouco depois dos assassínios ou nos anos subsequentes; 2) Era uma consequência de alucinações em que James Maybrick pensava ser Jack, o Estripador; ou 3) Era verdade: James Maybrick era Jack, o Estripador. Doreen e eu estávamos desconfiadas e pensávamos sobretudo numa coisa: os célebres "diários de Hitler", que provocaram tantos incómo27 dos. Foi apenas depois da publicação, em 1982, que os testes judiciais provaram que o papel continha fibras de ny1on e um produto químico utilizado para aumentar a brancura. Nenhuma dessas substâncias fora utilizada no papel antes de 1950. Instintivamente, Mike e eu levámos o diário ao British Museum, que fica quase ao lado do escritório de Doreen. Estava certa de que não poderíamos encontrar uma peritagem melhor, mas, como descobri mais tarde, autenticar o diário não era tão fácil como isso. A entrada principal do British Museum é monumental. Lá dentro, a escala não é menor: o silêncio de 3 milhões de volumes de erudição que cobrem as paredes envolve o visitante. Foi aí que o diário enfrentou o seu primeiro teste. Mike eu transportámo-lo, num saco de plástico, ao longo das bibliotecas e pelo labirinto de corredores que são as artérias administrativas do edifício. Mike apertava-me a mão enquanto velhos historiadores de manuscritos olhavam para as páginas rasgadas através de lupas, tendo e relendo o conteúdo. "Fascinante", disse Robert Smith, o curador do Museu para os manuscritos do século XIX. "Absolutamente extraordinário. Parece autêntico, mas terão de o levar a um perito em documentos. Aqui, não temos instalações de peritagem." Na Jarndyce, a livraria-antiquário em frente ao Museu, Brian Lake levantou os olhos da sua 1.a edição de Dickens e também mostrou entusiasmo. Brian, o proprietário da loja, é um especialista em literatura do século XIX e reconheceu de imediato que o nosso diário era uma descoberta sensacional. "Parece interessante", afirmou. "Mas procurem um perito legal que determine a datação precisa." E, assim, começaram os meus ingentes esforços para investigar cientificamente as origens do diário. Decidi consultar a maior variedade de especialistas que conseguisse arranjar, de forma a poder entendê-lo com base numa perspectiva muito ampla. Não me limitei a consultar um dos principais peritos científicos na história e composição da tinta, incluindo também na minha lista a ajuda

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voluntária de um perito legal de documentos, de um grafólogo, de um psiquiatra e de consultores de medicina. O primeiro passo era determinar, tão claramente quanto possível, que o diário era mesmo vitoriano e que as palavras haviam sido escritas mais de 100 anos antes. 28 Para tal, recorri ao Dr. Nicholas Eastaugh, que é, basicamente, um especialista na identificação e datação de materiais utilizados em mestres de pintura antiga e manuscritos e em conservação, com uma clientela internacional. Trabalhou para o Museum of London, a National Gallery, a Tate Gallery e a Christies. Afirmou de imediato que documentos potencialmente tão importantes como o diário que lhe trouxera eram raros. O Dr. Eastaugh examinou o diário no seu escritório, em Teddington, no sudoeste de Londres. O diário ficou em excelente companhia. Em cima da secretária, encontrava-se um quadro do século XVI, de Bruegel, o Velho, cuja proveniência esperava determinar. Começou por estudar a tinta, para determinar a idade do diário e, se possível, quando fora inscrita no papel. Mais tarde, iria tentar datar o próprio papel. O Dr. Eastaugh iria examinar também o que restava das páginas faltantes e analisar alguma poeira preta que fora encontrada embebida profundamente no "sulco" entre as páginas do diário. Os testes mais importantes foram realizados com uma mícrossonda de protões. Esta utiliza um "método não destrutivo de excitação de átomos numa pequena área-alvo de uma página por meio de um feixe acelerado de protões, de forma a detectar, em partes por milhão, quais os produtos químicos que se encontram presentes nas tintas, papéis, pergaminhos e pigmentos testados", disse-me o Dr. Eastaugh. Amostras diminutas de tinta, retiradas penosamente do diário, foram preparadas e montadas em lâminas antes de serem levadas para o mundo de Guerra das Estrelas do laboratório. Um dispositivo semelhante havia sido utilizado pelo Crocker National Laboratory, na Califórnia, para determinar como fora impressa a Bíblia de Gutenberg e para provar que o mapa da Vinlândia, que parecia medieval, continha afinal um produto químico, titânio, não utilizado na produção de papel antes do início do século XX. Apresentaremos mais tarde pormenores do trabalho do Dr. Eastaugh e de outros peritos contratados para estudar o diário. Os seus esforços de verificação da obra ainda continuam, mas a conclusão preliminar do Dr. Eastaugh era encorajadora: "Os resultados das diferentes análises de tinta e papel do diário realizadas até agora não levantam qualquer problema em relação à data de 1888-1889." À medida que ia aumentando a minha confiança na linhagem do diário, as nossas atenções viravamse para o tipo de homem que o podia 29 ter escrito. Poderia ter sido o trabalho de alguém que tentasse destruir James Maybrick? Ou do próprio Maybrick num estado alucinatório? Seria verdadeiramente a confissão torturada que pretendia ser? Numa tentativa de lançar alguma luz sobre tais questões, virei-me para o Dr. David Forshaw, um médico especialista em dependência de drogas, no Maudsley Psychiatric Hospital, em Londres. (Na época de jack, o Estripador, o hospital era mais conhecido como o célebre manicómio de BedIam.) 'David Forshaw realizou três anos de pesquisa em psiquiatria forense no Institute of Psychiatry, em Londres, é formado em História da Medicina pela Society of Apothecaries e tem uma extensa obra publicada sobre psiquiatria e dependência. Passou vários meses a examinar o diário e acabou por elaborar um extenso relatório de que publicaremos também alguns extractos, mais tarde. A sua principal conclusão era encorajante: afirmou que, para falsificar este diário aparentemente simples, um falsário teria de dispor de um profundo conhecimento de psicologia criminal e dos efeitos da dependência de drogas. Forshaw acredita que quem escreveu o diário falava por experiência própria.

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Agora, portanto, Mike e eu tínhamos um perito que concordava que o diário podia ser antigo e outro perito que pensava que o autor estava mesmo a escrever com base numa experiência horripilante. E, como viria a descobrir mais tarde, as provas mais interessantes viriam a encontrar-se nas páginas maltratadas do próprio diário. Trata-se dos desabafos incontidos do coração de um homem, por mais negro que esse coração possa ter sido. A espontaneidade natural, inclusive alguns momentos tocantes de fraqueza, convenceram-me de que não podia tratar-se do trabalho calculado de um falsário. Desde o início que tive a certeza de que seria com base nesse material que o diário se imporia ou soçobraria. As provas em relação ao Estripador são controversas em si mesmas e estava de pé atrás quanto a construir hipóteses sobre hipóteses. Mesmo assim, fiquei impressionada com a forma como a narrativa do diário, que regista os últimos meses de James Maybrick, se sobrepunha perfeitamente aos factos conhecidos em relação com a vida criminosa de jack, o Estripador. Sabia que teria de folhear prateleiras da lenda e mito do Estripador, dado que o mistério dos homicídios de Whitechapel é alvo de um feroz debate. Para me guiarem na pesquisa e desempenharem o papel de advogados do diabo foram consultadas, ao longo da pesquisa e escrita do 30 livro, três das maiores autoridades inglesas sobre Jack, o Estripador Martin Fido, Paul Begg e Keith Skinner. Simpaticamente, permitiram-me o acesso aos seus extensos arquivos pessoais. Mais tarde, juntaram-se-lhes dois outros "estripadorologistas", Melvyn Fairclough e Martin Howells. Todos se dedicam sem reservas a uma investigação séria sobre o Estripador e, apesar do cepticismo, ficaram totalmente absorvidos pelo diário. Dado que cada um deles escrevera livros que estudavam as provas relativas aos diferentes suspeitos, tinha confiança de que, entre eles, conseguissem detectar quaisquer erros do documento. Mas não conseguiram encontrar o que quer que fosse para provar que o diário era falso. O mesmo aconteceu com todos os peritos no Estripador que o examinaram de então para cá. Ademais, ao pesquisar o diário, militava em meu favor um factor que faltava a todos os outros investigadores do Estripador. Dada a notoriedade que rodeara a morte de Maybrick e o julgamento de sua mulher, estava à minha disposição um conjunto de material, embora muito dele contraditório, bem como provas e testemunhos do julgamento. Por isso, enquanto os especialistas se afadigavam na reconstrução do esqueleto da história, eu fui procurar a sua alma. Comecei por me dirigir a Liverpool, onde tudo começara. 31 2 "AS MINHAS MÃOS ESTÃO FRIAS, MAS ACREDITO QUE O MEU CORAÇÃO ESTÁ AINDA MAIS FRIO" Em Liverpool, encontrei uma cidade em que casas geminadas vitorianas, impecavelmente pintadas, se dispõem em filas ordenadas ao longo da colina que desce, passando por uma vasta área de casas da edilidade, até a Albert Dock e ao rio Mersey. As janelas estão entaipadas, as lojas e escritórios abandonados e as latas de cerveja espalham-se pela terra-de- ninguém. No entanto, os pubs são barulhentos e encontram-se cheios por detrás das suas montras com padrões ornamentais e fachadas brilhantes de azulejos. Liverpool, outrora uma cidade próspera, luta para sobreviver, com o seu coração dilacerado pela pobreza e pelo desemprego. Os barcos que dantes tocavam o porto mais movimentado da GrãBretanha há muito que partiram. A cidade está rodeada por uma capa protectora de belos parques e subúrbios elegantes. Aí, erguem-se as mansões ornamentadas dos prósperos comerciantes vitorianos do século xix, mausoléus orgulhosos que lembram um passado activo, ocupados hoje em dia pelos

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estudantes, pelas suas senhorias e pelos idosos dos lares de terceira idade. Um desses subúrbios, Aigburth, situa-se a sul do centro da cidade, nas margens do Mersey. Battlecrease House constitui, tal como quando os Maybrick lá viviam, metade de uma mansão impressionante que lembra os tempos em que carros de cavalos oscilavam ao longo da alameda não pavimentada. Battlecrease House, que hoje em dia é apenas o n.' 7 da Riversdale Road, é uma casa de vinte divisões, cor de cogumelo, bastante afastada da estrada. Situa-se em frente aos enormes terrenos do Liverpool Cricket Club, de que James Maybrick era um membro entusiasta. A Riversdale Road vai da Aigburth Road até ao Mersey. A vista 33 continua a ser magnífica, descendo até ao rio e atingindo, para lá dele, as montanhas distantes do País de Gales. Maybrick talvez tivesse sabido dos boatos de que fora cometido um homicídio, na casa, muitos anos antes. Mesmo assim, mudou-se para lá, com a jovem esposa americana e dois filhos. Em 1889, pouco mais de um ano depois, os visitantes reuniam-se junto ao portão - ainda o fazem -, apontando com curiosidade para as janelas do quarto do L- andar onde Maybrick morreu. Alguns partiam raminhos da sebe, judto ao portão, para levarem como recordação, sem terem consciência de que a casa poderia ter outro motivo, ainda mais chocante, de notoriedade. Jack, o Estripador, atacou numa altura em que os jornais estavam sedentos de sensacionalismo. As melhorias do ensino e os progressos tecnológicos tinham dado origem a uma guerra de circulação entre os quase 200 diários da Grã-Bretanha. Os crimes horrendos do Estripador e os seus escárnios para com as autoridades - e a incapacidade por estas demonstrada para o deter - eram títulos de caixa alta. Donde viera? Que o levava a matar repetidamente? Por que razão mutilava as suas vítimas? Que força o impelia a deixar pistas? Eram os ingredientes dos contos góticos de terror, numa época em que O Médico e o Monstro, de Robert Louis Stevenson, assustava as plateias no Lyceum Theatre de Londres. Embora os assassínio,, tivessem aparentemente parado com a morte de Mary Jane Kelly, o terror continuava, porque, apesar de ter sido realizada a maior caça ao homem jamais vista na Grã-Bretanha, o criminoso nunca foi capturado. O Estripador era, e continuou a sê-lo, uma obsessão, dando origem a romances de cordel e investigações eruditas, novelas e canções de music-ha11. Há toda uma indústria literária e teatral baseada nas suas horrendas façanhas. Nos anos que se seguiram aos crimes de Whitechapel, muitos dos implicados nas investigações sobre o Estripador passaram as suas teses ao papel. Surgiram memorandos e escreveram-se livros; desapareceram documentos que voltaram a vir à luz. Cada nova "descoberta" originava uma enxurrada de novas teorias. Entre estas, em 1959, o jornalista Daniel Farson descobriu um memorando de Sir Melville Macnaghten, que se tornou assistant chief constable do Departamento de 34 Investigação Criminal (CID) na Scotland Yard em 1890. Existem duas versões do documento e foi referida uma terceira. Na versão que Farson viu, pertencente à filha de Macnaghten, Lady Aberconway, o assistant chief constable nomeava pela primeira vez os três homens que, dizia, eram alvo de suspeitas por parte da Yard em 1888. Tratava-se de Montague John Druitt, Aaron Kosminski e Michael Ostrog. Druitt, filho de um cirurgião e descrito também, erradamente, como médico, era um ex-advogado, mas, na altura dos crimes, dedicava-se ao

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ensino. Foi encontrado afogado no Tamisa, em Chiswick, em Dezembro de 1888, com os bolsos cheios de pedras; o corpo estivera dentro de água durante cerca de um mês. Macriaghten referiu Druitt como suspeito em grande parte devido ao facto de o seu corpo ter sido encontrado pouco depois da morte de Kelly, presumindo que as faculdades mentais de Druitt se tinham deteriorado pouco antes do suicídio. Afirmou também que a própria família de Druitt acreditava que ele era o assassino - não se sabia porquê - e que tivera acesso a "informações particulares" e "certos factos", que nunca especificou, que sugeriam que Druitt era "sexualmente louco". Em contrapartida, em 1903, o inspector Abberline, da Polícia Metropolitana, que chefiara os detectives encarregados da investigação dos crimes de Whitechapel, afirmou a respeito de Druitt: "Sei tudo a respeito dessa história, mas a que se resume? Apenas a isto. Pouco depois do último assassínio de Whitechapel, foi encontrado, no Tamisa, o corpo de um médico jovem, mas não existe nada, para além do facto de ter sido encontrado nessa altura, que permita incriminá-lo." A respeito de Aaron Kosminski, Sir Robert Anderson afirmou que a sua culpa "era um facto definitivamente provado". Kosminski era um homem que odiava mulheres, com tendências homicidas, e que enlouquecera após anos de dedicação a "vícios solitários". Foi enviado para o asilo de Stepney e depois, em 1891, para o manicómio de Colney Hatch. Todavia, nas provas policiais contra ele, as datas, nomes e locais estão errados. O restante suspeito da polícia era o larápio e vigarista russo Michael Ostrog. Pouco se sabe acerca dele, para além de ser habitualmente cruel para com as mulheres. É provável que as suspeitas tenham recaído sobre ele porque trazia bisturis e instrumentos cirúrgicos nos bolsos quando vagueava pelas ruas de Whitechapel. A polícia nunca conseguiu provar que se encontrava na zona na altura dos crimes e, apesar de o rela35 tório de Macnaghten afirmar que Ostrog foi internado num manicómio depois dos crimes, entre 1889 e 1893, as investigações não conseguiram encontrar registos que confirmem esse facto. Macriaghten asseverou também, com aparente autoridade, que o assassino de Whitechapel fizera apenas cinco vítimas, nem mais uma, contrariando a convicção, tanto do público como dos seus colegas da polícia, de que haveria pelo menos mais duas. Daniel Farson foi a primeira pessoa a publicar isto e, desse modo, obteve um lugar de vanguarda na pesquisa sobre o Estripador. Na década de 1970, vários autores apresentaram um novo e sensacional candidato. O príncipe Albert Victor, duque de Clarence, neto da rainha Vitória. O facto de a sua inclusão no rol dos suspeitos ser lembrada por muitas pessoas talvez derive de o público adorar um escândalo real. A história surgiu de um artigo publicado pelo Dr. Thomas Stoweli, no The Criminologist, em Novembro de 1970. Baseou a sua tese nuns pretensos documentos particulares de Sir William GulI, médico da rainha Vitória, que tratou o príncipe de sífilis e afirmou que este morrera com amolecimento cerebral. Esses documentos nunca foram examinados por peritos e desapareceram entretanto. No entanto, sabe-se, através de diários e comunicados da corte, que, na altura dos assassínios, o príncipe Albert Victor se encontrava na Escócia e na estância de férias real de Sandringham, em Norfolk. Cerca de 1980, vieram a lume algumas anotações a lápis do inspector-chefe Donald Swanson, que desempenhara também um papel de grande importância na investigação dos crimes de Whitechapel. Tratava-se de comentários, escritos cerca de 1910, à margem e nas últimas páginas do seu exemplar pessoal das memórias de Sir Robert Anderson, comissário assistente do Departamento de Investigação Criminal (CID) da Polícia Metropolitana à data dos assassínios de Whitechapel. Publicadas no Daily Telegraph, em 1987, as notas de Swanson referiam o suspeito de Anderson:

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Aaron Kosminski. Todavia, continham inexactidões que só vieram alimentar o debate, e não pôr-lhe fim. Nesse mesmo ano, foi enviado à Scotland Yard um grande sobrescrito castanho que continha, entre outros documentos, uma carta assinada @<jack, o Estripador" e que desaparecera alguns anos antes. Depois, em 1993, os investigadores puseram-se em acção para examinar a veracidade de uma carta contemporânea dos crimes. Diz-se que nela figura 36 o nome de quem escreveu a carta de Jack, o Estripador, e o postal de "jacky Sumarento" que se lhe seguiu, vinte e quatro horas depois. A maior parte das primeiras teorias sobre a identidade do Estripador foi afastada facilmente. Um exemplo típico de tais teorias era a avançada pelo primeiro livro completo que identificou um suspeito, Alios Szemeredy, nascido na América, um pretenso cirurgião, descrito mais tarde como fabricante de salsichas, que se suicidou em Viena, em 1892. Esta narrativa colorida baseava-se num boato ouvido em Viena. Agora, Mike Barrett pusera em cena um novo nome, James Maybrick, nunca antes relacionado com o caso. Tal como Mike, também eu me senti impelida a investigar os passos do homem que confessara ter aterrorizado Londres e chocado o mundo. Percorri a alameda estreita, ao lado do antigo terreno de Battlecrease House, e que conduz à pequena estação de caminho de ferro onde Maybrick apanhava o comboio para a cidade. O cascalho rangia enquanto subia o caminho que conduz à porta principal. Bati na caixa do correio utilizada outrora pelos Maybrick e dei comigo a conversar com Paul Dodd, um professor de instrução primária que cresceu em Battlecrease House. Enquanto percorria com ele as divisões ainda esplêndidas, foi-me fácil imaginar os mexericos sussurrados da criadagem sob as escadas e a figura imaculada de James Maybrick, com o seu cabelo e bigode cor de areia, descendo a alameda e a coquette Florie, com o sol a iluminar o seu cabelo dourado, lendo romances na estufa. A casa sofreu alterações estruturais ao longo dos anos. Foi o único edifício da estrada que escapou às bombas da Segunda Guerra Mundial, mas foi danificada por uma mina terrestre e, depois, por um tremor de terra, em 1984. A queda de uma árvore destruiu a estufa. Apesar disso, não é necessária muita imaginação para fazer reviver o passado. Entre a sala de entrada e a casa de jantar, com as suas janelas que apresentam vitrais com aves aquáticas, fica o salão de baile, que tem porta para o jardim. Os belos relevos de estuque do tecto e a lareira em mármore italiano encontramse intactos, tendo esta umas elegantes uvas em relevo e ostentando por cima um enorme espelho. Subindo a esplêndida escada em madeira de carvalho, deparamos com os quartos para os hóspedes e pessoal, um quarto de brinquedos para 37 as crianças e, voltado para o campo de críquete, o quarto bastante escuro onde Maybrick morreu. Mais tarde, nesse mesmo dia, passeei pelo "Flags", esse fórum aberto no centro de Liverpool, que outrora foi o eixo da indústria algodoeira da Grã-Bretanha, e visitei a campa onde foi enterrado Maybrick. A grande cruz que rematava a pedra tumular desapareceu, misteriosamente, hoje em dia. Nessa noite, sentei-me no bar aconchegado da Poste House, onde as ideias homicidas apareceram pela primeira vez na mente de Maybrick. Quando James Maybrick nasceu, a família já se encontrava em Liverpool havia 70 anos. Vieram originalmente do West Country e um ramo fixou-se na área de Stepney e Whitechapel, no coração do East End londrino. Mais tarde, quando o desemprego se agravou, alguns deles mudaram-se para o porto mais próspero de Liverpool. A igreja paroquial de St Peter, no centro de Liverpool, fora um

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ponto central para a família muito respeitada de James. Houvera Maybricks no órgão, Maybricks na assembleia paroquial e, quando James nasceu, a 24 de Outubro de 1838, o seu avô era sacristão. O baptizado, a 12 de Novembro, foi uma ocasião especialmente feliz para os pais, William, um gravador, e Susannah, que já haviam perdido um filho de 4 meses, no ano anterior. Decidiram seguir o costume vitoriano de dar à nova criança o nome do irmão falecido. O irmão mais velho de James, William, já contava 3 anos. Quando James completou 6 anos, o avô já morrera, sucedendo-lhe o pai no cargo de sacristão. No entanto, apesar da sua infância ligada a St Peter e do respeito pelas convenções vitorianas, nenhum dos irmãos continuou a ir à igreja depois de adulto. A família vivia na Church Alley, n.o 8, uma travessa estreita à sombra de St Peter e que termina na agitada Church Street. Fica apenas a alguns segundos a pé da estrada cujo nome viria, mais tarde, a desempenhar um papel tão importante na vida de Maybrick - Whitechapel. Esta Whitechapel, em contraste com a sua pobre homónima londrina, era na altura uma rua comercial elegante. Logo ao virar da esquina, ficava o Blue Coar Hospital, uma escola para rapazes e raparigas pobres. Na própria Church Street, James podia deter-se na Civet Cat, uma loja de quinquilharia que vendia lindos brinquedos estrangeiros, ou podia sonhar com lugares distantes espreitando pela montra da tabacaria do 38 Sr. Marcus, que anunciava, entre bandeiras, excursões ferroviárias entre Liverpool e Londres. A casa dos Maybrick era exígua e as condições pioraram com a chegada de três irmãos mais novos, Michael (nascido em 1841), Thomas (1846) e Edwin (1851). (Outro filho, Alfred, morrera aos 4 anos, em 1848.) Depois do nascimento de Edwin, a família mudou-se para uma casa maior, ao virar da esquina: Mourit Pleasant, nº 77. A família levava uma vida Simples, sem criadagem, durante o tempo em que Maybrick lá viveu, atribuindo-lhes o recenseamento de 1861 uma criada chamada Mary Smith. Não se sabe muito acerca da infância e escolaridade dos rapazes. James frequentou provavelmente o Liverpool College, tal como Michael, mas os registos desapareceram durante a Segunda Guerra Mundial. Sabemos, no entanto, que os rapazes se dedicaram ao desporto, sobretudo ao críquete. Desde tenra idade, segundo uma biografia publicada mais tarde no The New Penny Magazine, Michael foi a estrela brilhante, com o dom musical da "invenção harmoniosa". Aos 14 anos, uma das suas composições foi tocada na ópera de Covent Garden, em Londres. William e Susannah encorajaram Michael a ir estudar para Leipzig. Daí, passou para o Conservatório de Milão, onde descobriu que possuía também uma bela voz de barítono. Juntou-se à Companhia de Ópera de Carl Rosa, antes de entrar para o equivalente vitoriano dos espectáculos pop, fazendo digressões por salas de concerto na Grã-Bretanha e na América. Michael adoptou o nome artístico de Stephen Adams e formou uma parceria com o libretista Frederick Weatherley. Em conjunto, escreveram centenas de canções, como Nancy Lee e A Warrior Bold. Em 1888, Stephen Adams era o compositor de canções populares que os Ingleses preferiam. Na verdade, em 1892, surgiu The Holy City, uma das suas composições que teve grande sucesso e ainda hoje continua a vender-se. Seguiu-se-lhe, ironicamente, uma alegre cançoneta náutica chamada We All Love Jack. O historiador da música, Tony MialI, diz a respeito de Michael Maybrick: "É uma das menos atraentes figuras musicais do período. A sua busca incessante de respeitabilidade e dinheiro não se coadunam

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com a imagem de um artista preocupado com a sua arte. Debalde procuramos nele vestígios de sentimentos de simpatia e comiseração. As suas relações com a família eram mais formais do que calorosas. Temos 39 profundas suspeitas de que a sua relação com a mulher era muito semelhante - pura e simplesmente, um pedaço de madeira." Era difícil para os irmãos seguirem o exemplo de Michael. William tornou-se cinzelador e aprendiz de dourador, mas, mais tarde, reza a história que se fez ao mar e se tornou a ovelha ranhosa da família. Thomas e Edwín dedicaram-se ao comércio. Em 1860, James Maybrick fora trabalhar para a capital, talvez para se familiarizar com os negócios do algodão. Esse período da sua vida fora uma página em branco, até agora. Em 1891, dois anos depois do julgamento de Florie, Alexander William MacDougall, um advogado escocês respeitado, publicou um Treatise on the Maybrick Case, de 606 páginas, em que afirmava: "Há uma mulher que se autointitula Sr-a Maybrick e que afirma ter sido a verdadeira mulher de James Maybrick. Durante o julgamento, encontrava-se de visita num local bastante fora de mão, Dundas Street, n.o 8, Monkwearmouth, Sundertand; a sua morada habitual e actual é Queens Road, nº 265, New Cross, Londres, S. E." Quem era a misteriosa Sr a Maybrick? Os registos do recenseamento, os guias de ruas e as certidões de nascimento, óbito e casamento podem ressuscitar o esqueleto de qualquer vida muito depois de esta ter terminado. Mas trata-se de um processo longo e moroso, cheio de problemas, dado que o preenchimento de formulários, na época vitoriana, nem sempre era efectuado com grande precisão. De acordo com o costume da Grã-Bretanha, os registos do recenseamento de 1891 apenas foram tornados públicos a 2 de janeiro de 1992. Só então foi possível verificar a verdade da afirmação de MacDougall e descobrir alguns pormenores da vida secreta de Maybrick em Londres. Encontrei esses registos e determinei, pela primeira vez, os nomes dos habitantes do n.o 265 da Queens Road: tratava-se de Christiana Conconi, uma viúva abastada, de 69 anos, natural de Durham; a sua filha, surpreendentemente nova, Gertrude, de 18 anos, e um visitante de 14 anos. Havia mais uma pessoa incluída no agregado familiar: a sobrinha de Christiana, Sarah Robertson, solteira, de 44 anos. Sarah nascera em Durham. A sua tia Christiana casara com um relojoeiro, chamado Charles James Case, em 1847, e foi viver para o Nº 40 de Mark Lane, perto da Torre de Londres. Parece provável que 40 a jovem Sarah se tenha vindo juntar a eles, mais tarde, para trabalhar como auxiliar de joalheiro, na loja. Foi então que o destino pôs James Maybrick, um jovem na sua primeira incursão no East End londrino, na peugada de Sarah? A própria Whitechapel fica do outro lado de Mark Lane. Quando, em 1888, iniciou a sua campanha de homicídios relatada no diário, por certo já estava familiarizado com as suas ruas desconfortáveis e fervilhantes de gente. Os assassinos em série actuam amiúde no seu próprio território, conforme foi confirmado pelo nosso consultor de psiquiatria, o Dr. Forshaw. Maybrick não queria matar em Liverpool, mas o seu regresso a Whitechapel, muitos anos mais tarde, como assassino, foi efectivamente um regresso aos fantasmas da sua juventude.

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Charles, Case faleceu em 1863 e, três anos mais tarde, Christiana voltou a casar. O seu novo noivo era um tesoureiro da Marinha Real chamado Thomas David Conconi. uma das testemunhas do seu casamento assinou como "Sarah Ann Maybrick". Em 1868, Thomas Conconi acrescentou um aditamento ao seu testamento: "Caso a minha referida mulher faleça antes de mim nesse caso doo e lego todos os bens da minha casa mobílias prataria roupas e louças à minha boa amiga Sarah Ann Maybrick, esposa de James Maybrick da Old Hall Strect Liverpool e que agora reside no n.o 55 da BromIey Street Corrimercial Road Londres." Brorriley Street era o local onde os Conconi residiam à data, mas não foi encontrada qualquer certidão do casamento de James e Sarah Ann no período em questão. A rua ainda existe, com as suas casinhas de dois andares, restauradas em 1990, rodeadas por cercas negras brilhantes. O n.o 55 foi demolido, para reconstrução, depois da Segunda Guerra Mundial. Caso se vire à direita, no final da rua, para a Corrimercial Road basta caminhar para oeste durante dez minutos para se chegar a Whitechapel, o cenário dos assassínios de Jack, o Estripador. Segundo o recenseamento de 1871, Sarah Ann, arrolada como "mulher de um empregado comercial" (sic), continuava a residir com os Conconi na Brorriley Street, mas o recenseamento mostra também que James Maybrick já não residia lá. Quando Thomas morreu, em 1876, Sarah apareceu de novo, desta vez como "S. A. Maybrick, sobrinha", na certidão de óbito. À data da morte de Maybrick, em 1889, Christiana Conconi mudara-se para Kent House Road, Sydenham, em 41 South London. Em 1891, a sobrinha de Christiana figura no recenseamento como Sarah Ann Robertson e, nessa data, segundo afirmou MacDougalI, residia na Queens Road, New Cross. Mas quando Christiana faleceu, em Março de 1895, a "declarante", na certidão de óbito, era, curiosamente, outra vez "Sarah A. Maybrick"- Todavia, à data da sua morte, a 17 de Janeiro de 1927, figura nos registos como "Sarah Ann Maybrick, ou então Robertson, solteira, abastada, da Cottesbrook Street, n.' 24, New Cross". Onde se encontrava James Maybrick? Em 1871, após a morte do pai aos 55 anos, os registos mostram que voltara a Liverpool e se dedicava aos negócios com Gustavus A. Witt, agente comissionista, nos Knowsley Buildings, Tithebarn Street, junto à Old Hall Street. Dois anos mais tarde, continuava a trabalhar com Witt nas mesmas instalações superpovoadas, onde cerca de 30 comerciantes e corretores de algodão se amontoavam num único edifício. Mais ou menos por essa altura, Maybrick fundou a Maybrick and Company, Comerciantes de Algodão, e Edwin acabou por entrar para a firma como sócio minoritário. O edifício só foi demolido em 1970. Tratava-se de um mundo duro, retratado com traços vigorosos, em 1870, na 30.' edição de Abril do jornal local, Porcupine. Um artigo intitulado "Jogo do algodão" descrevia o mundo cada vez mais desonesto e perigoso que atraíra o jovem Maybrick. O comércio, outrora florescente, mudou quase da noite para o dia depois da escassez de algodão que se seguiu à guerra civil americana; tornou-se um negócio aberto a "qualquer pessoa, sem capital algum, a qualquer pessoa com uma sombra de crédito", afirmava o jornal. Em 1868, foi introduzido um sistema de vendas especulativas, semelhante ao da Bolsa de Valores. Isso implicava "vender o algodão que não se tinha, na esperança de cobrir a venda comprando, mais tarde, a preço mais baixo". Isso trouxe para o mercado um elemento de jogo puro e simples. "Há que lamentar", referia o Porcupine, "que a Associação dos Corretores de Algodão tenha sancionado este sistema de comércio e, desse modo, baixado o tom e o carácter do mercado. "

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Maybrick era um oportunista que florescia neste mundo de concorrência impiedosa. Em 1874, aos 36 anos, inaugurou uma filial no agora florescente porto algodoeiro de Norfolk, Virgínia. Como muitos outros, repartia o seu tempo entre a Grã-Bretanha e a América, traba42 lhando na Virgínia durante a época das colheitas, entre Setembro e Abril, e regressando a Liverpool na Primavera. NorfoIk fora destruída durante a guerra civil, mas sofreu uma recuperação vigorosa. 2590 ha dos 9583 ha da cidade estavam inundados, sobretudo em redor do pântano de Dismal Creek, infestado pelos mosquitos. Para incentivar o investimento estrangeiro, era necessária uma canalização de água potável e, por isso, o sistema de abastecimento de águas foi melhorado e a melhoria de condições coincidiu com a abertura da linha férrea que ligava NorfoIk aos Estados produtores de algodão do interior sul. A cidade transformou-se num porto internacional de sucesso, fazendo quase metade dos seus navios a ligação entre Liverpool e a América. No ano em que Maybrick chegou a Norfolk, foi criada a Bolsa do Algodão da cidade, dando origem a uma gigantesca onda de comércio interatlântico. Três anos mais tarde, enquanto Maybrick vivia na York Strect com Nicholas Bateson e um criado negro chamado Thomas Stansell, contraiu malária. Quando a primeira receita, de quinino, não produziu qualquer efeito, Santo, o farmacêutico da Main Strect, aviou uma segunda, de arsénico e estricnina. "Estava sempre muito nervoso quanto à sua saúde", recordou Bateson, quando depôs como testemunha de defesa no julgamento de Florie. "Esfregava as costas das mãos e queíxava-se de entorpecimento dos membros. Tinha medo da paralisia. No último ano em que vivi com ele, piorou. Tomou-se mais dependente da ingestão de remédios." Quando chegou a sua vez de prestar depoimento, Stansell recordou os recados que costumava fazer para Maybrick. "Quando lhe trouxe o arsénico, disse,me que lhe fizesse um caldo de carne... Pediu-me que lhe desse uma colher... abriu o pacote e retirou um pouco. Deitou-o no caldo e mexeu." Stansell ficou surpreendido com a quantidade de pílulas e poções que se encontravam no escritório de Maybrick. "Sou", disse-lhe uma vez o próspero comerciante de algodão, "uma vítima da vida livre." Nessa época, a companheira constante de Maybrick era Mary Howard (conhecida também como Hogwood), que dirigia um dos bordéis mais frequentados de Norfolk. Alguns anos mais tarde, depois de Florie ter sido condenada à morte, Mary puxou o tapete de debaixo da reputação de Maybrick. Convencida pelos apoiantes americanos de Florie a descrever a sua relação com ele, prestou um depoimento no Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Washington, onde afir, 43 mou: "Conhecia há vários anos o falecido james Maybrick e, até à altura do seu casamento, frequentou a minha casa, quando se encontrava em Norfolk, pelo menos duas ou três vezes por semana e via-o com frequência nos seus diferentes estados de espírito e caprichos. Era comum ingerir arsénico duas ou três vezes ao longo de uma noite. Antes de o tomar, dizia sempre: 'Bem, vou tomar a dose da noite.' Tirava do bolso um frasquinho onde transportava o arsénico e, colocando uma pequena porção na língua, engolia-a com um golo de vinho. De facto, fazia,isto com tanta frequência que comecei a recear que morresse subitamente na minha casa e, depois, alguma de nós fosse alvo de suspeitas de assassínio. Quando estava embriagado, james Maybrick colocava o pó na palma da mão e lambia-o com a língua. Adverti-o muitas vezes, mas respondia: 'Oh, estou habituado. Nunca me fará mal.'" O elemento químico arsénico encontra-se amplamente na natureza, associado em geral a minérios metálicos. Já fez inúmeras vítimas, incluindo, pensa-se, Napoleão Bonaparte, que talvez tenha sido

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vítima fatal de envenamento provocado pelo papel de parede com arsénico que forrava a sala de estar da sua prisão em Santa Helena. Mas, ao longo dos tempos, também teve inúmeras utilizações medicinais e não só. Por exemplo, no século XVI, a rainha Isabel 1 empregava o arsénico como cosmético, aplicando-o no rosto para o tornar branco mate, tal como Florie Maybrick utilizava um preparado de arsénico para a pele. Em 1786, o Dr. T FowIer relatou os benefícios médicos do arsénico em casos de febre e dores de cabeça esporádicas. No tempo de Maybrick, o Remédio de FowIer era um tónico popular. A palavra grega para arsénico - arsenikon - significa "potente". Maybrick, tal como muitos outros no seu tempo, acreditava que o arsénico lhe aumentava a virilidade e foi por isso que começou a tomálo. Dado que provoca habituação, tornou-se viciado. O ano de 1880 foi crucial para Maybrick porque, aos 41 anos, se apaixonou. Como de costume, tinha uma reserva para o regresso a Liverpool, nessa Primavera, a bordo do SS Baltic. O Baltic era um dos poderosos vapores transatlânticos movidos a hélice da White Star Line, concebidos "para proporcionar as melhores acomodações aos passageiros de todas as classes@>. A viagem de seis dias custava 27 guinéus. A 12 de Março, o Baltic, comandado pelo capitão Henry Parsell, deixou o porto de Nova lorque. Entre os 220 passageiros da 1.@ classe, 44 encontrava-se a impulsiva e cosmopolita beldade do Sul Florence ChandIer, conhecida como Florie. Com apenas 18 anos, estava entregue aos cuidados de sua mãe, a formidável baronesa Caroline von Roques, e dirigiam-se a Paris. Também se encontrava a bordo o amigo das duas senhoras, o general J. G. Hazard, de Liverpool, que as apresentou a Maybrick, no elegante bar. Maybrick ficou a saber que a viva loura rosada provinha da alta sociedade americana. Nascera a 3 de Setembro de 1862, durante a guerra civil, na cidade sofisticada de Mobile, Alabama, num ambiente dominado completamente pelo algodão. A muito viajada mãe de Florie e o primeiro marido (e pai de Florie), William Chandier, eram primos de quase toda a gente importante da sociedade sulista. Florie e o irmão mais velho, Holbrook St John, eram crianças ricas e privilegiadas. Em 1863, quando o pai de Florie morreu, na casa dos 30, o seu ramo da família ficou convencido, embora sem quaisquer provas, de que a mulher o envenenara. Houve ameaças de um processo judicial, que a foram retiradas em troca de a Sr. Chandier, era esse o seu nome, dei xar Mobile. Seis meses mais tarde, estava casada com um militar distinto, o capitão Franklin du Barry. Este faleceu também um ano depois, num barco que se dirigia para a Escócia, e, como era inevitável, as más línguas recomeçaram a sua actividade. Desse modo, Florie cresceu sem pai, vivendo na solidão, residindo em colégios ou com parentes enquanto a mãe viajava pela Europa. Dez anos após a morte de Du Barry, a mãe casou com um oficial de cavalaria prussiano, o barão Adolph von Roques, que viria a revelar-se infiel, lhe batia e dissipava o seu dinheiro. James Maybrick deve ter parecido a Florie a mistura perfeita: ao mesmo tempo, a figura paternal madura por que ansiava e um homem mundano e afirmativo que gostava de viver perigosamente. Quanto a ele, deve ter pensado que a jovem era o seu passaporte para uma classe e um modo de vida que não eram seus pelo nascimento, mas a que, mesmo assim, aspirava. Iria trazer-lhe prestígio entre os ricos classistas de Liverpool e, talvez, urna fortuna. Com uma velocidade assustadora, Maybrick deu a volta à cabeça da jovem Florie e, no final da viagem, já a pedira em casamento.

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Quando desembarcaram em Liverpool, já se faziam planos para um casamento elegante no Verão seguinte. Depois, com a típica mania das grandezas, o comerciante de algodão arranjou maneira de que o casamento 45 se realizasse na muito reputada igreja de St James, em Picadilly, um dos locais mais distintos de Londres. Na cerimônia, que foi celebrada a 27 de Julho de 1882 pelo reverendo J. Dyer Tovey, a noiva vestia de cetim plissado cor de marfim e rendas e o ramo era constituído por columbinas brancas e lírios do vale. O noivo, 24 anos mais velho do que ela, vestia um colete de cetim branco com lírios do vale e rosas bordados e um fraque debruado com cetim magnificamente acolchoado. O irmão de Floríe, Holbrook St John, veio de Paris para a conduzir ao altar. Embora os irmãos de Maybrick - Edwin, Thomas e Michael tenham estado presentes, este deve ter-se sentido desconsolado por não se mostrarem muito entusiamados com o enlace. Michael, que dominava o trio, estava céptico. Os convidados contaram, com alguma justificação, que ele não acreditava nas histórias que a baronesa contava de propriedades para herdar e que via nos planos dela urna trama bem montada para garantir uma casa na Grã-Bretanha quando chegasse a velhice. (No entanto, após o julgamento de Florie, ela escreveu ao ministro do Interior, Henry Matthews, falando da filha: "Não tinha o menor interesse económico no homicídio, dado que auxiliei a família durante anos.") À data do casamento, Maybrick fizera um seguro, sendo Florie a beneficiária, de 2000 libras, aumentado mais tarde para 2500. Também constituiu um fideicomisso de 10 000 libras, um verba que equivale hoje em dia a 40 vezes esse valor, mas nunca lá colocou um vintém. Florie tinha um pequeno rendimento de 125 libras por ano proveniente da casa da avó, em Nova lorque, e, de vez em quando, recebia alguns rendimentos das propriedades do falecido pai, perto de Mobile. No entanto, quase não havia dinheiro para financiar o tipo de fachada que os Maybrick pretendiam apresentar. Logo desde o inicio, o enlace baseou-se em equívocos: a própria certidão de casamento revela a verdadeira imagem de Maybrick. A sua profissão é, de forma presunçosa, "proprietário", o pai, "cavalheiro", e o seu endereço algures na exclusiva zona de St James, em Londres. Sendo pouco mais de uma criança, como poderia Florie suspettiar de que a vida dele se baseava na hipocrisia, na vilania e no embuste? Todavia, em breve viria a descobrir a terrível verdade de que já existia a uma Sr. Maybrick a viver em Londres. Pior ainda, Florie não fazia a menor ideia de que o homem que amava em breve viria a transformarse numa das figuras mais terríveis dos tempos modernos. 46 3 "HÁ UMA SOMBRA PRETA POUSADA SOBRE A CASA, É O MAL" Oito meses depois do casamento nasceu o filho dos Maybrick, James Chandler, chamado carinhosamente "Bobo". Tratava-se de um bebé enfermiço e prematuro e Florie teve um parto difícil. Na Primavera de 1882, Maybrick regressou à América com a família. Durante os dois anos seguintes, passaram metade do tempo em Liverpool e metade em Norfolk, Virgínia, vivendo numa casa alugada na Freemason Street. Todas as manhãs, às 8 h, Maybrick saía de casa e dirigia-se a pé para o trabalho. Em vez de ir directamente para o seu escritório na Main Strect, perto de Boston Quay, parava na loja de C. E Greenwood, um farmacêutico da Freemason Street, para comprar a dose diária de arsénico. Foi nessa época que John Fleming, um marinheiro mercante de Halifax, Nova Escócia, o viu a juntar um pó acinzentado a papas de milho, o equivalente americano das papas de aveia. Numa deprecada posterior, recordou que Maybrick lhe dissera: "Ficaria horrorizado, aposto, se soubesse o que é isto.

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É arsénico. Todos nós ingerimos veneno, em maior ou menor quantidade. Por exemplo, estou a tomar agora veneno suficiente para o matar. Tomo este arsénico de vez em quando porque acho que me fortalece." Da farmácia, Maybrick dirigia-se à Bolsa do Algodão, onde se misturavam exportadores, corretores e compradores. Almoçava à 1 h e passava o resto do dia a escrever cartas e a tratar da papelada, antes de se dirigir a um dos muitos clubes de Norfo1k. Mais tarde, Florie escreveu, numa carta, que fora nessa época que o marido começara a esfregar as costas das mãos. O que não sabia era 47 que a pele seca e pruriginosa é um dos sintomas a longo prazo do abuso de arsénico. Mas Maybrick não era o único a ter tal vício. A utilização de arsénico, bem como de estricnina, que tinha efeitos semelhantes, era uma moda em rápida expansão entre os que se dedicavam a uma profissão, tanto na Grã,Bretanha como na América. Na verdade, na altura do julgamento de Florie, o Liverpool Citizen tecia o seguinte comentário: "Estamos perfeitamente conscientes de que os homens mundanos têm tanto o hábito de tomar estas drogas perigosas, estricnina e arsénico, e sei lá que mais, como de beber champanhe e fumar tabaco. Pois bem, disseram-nos que o que é ingerido somente nas Flags seria suficiente para envenenar toda a Castle StreetQuando adquirem o hábito de comer arsénico, tornamse escravos para toda a vida... Uma vez entrados no caminho descendente, tal como afirmam os toxicologistas, se alguma vez forem impedidos de obter a dose quotidiana, podem dizer, com verdade, que 'as dores do inferno se apoderaram deles' e sentem todos os temíveis horrores do envenenamento lento por arsénico." O carvão começou a tomar o lugar do algodão como principal exportação de NorfoIk e, por isso, em Março de 1884, James decidiu regressar de vez a Liverpool, com a mulher e o pequeno Bobo. Alugaram uma casa isolada, nova em folha, chamada Beechville, na South Road, no bairro exclusivo de Grassendale. Ele e Florie passeavam em carro de cavalos, jogavam whist e, acima de tudo, partilhavam uma paixão pelas corridas de cavalos. Eram visitantes constantes de Aintree, perto de Liverpool, onde se realizava o Grand National, célebre em todo o mundo. Os Maybrick foram aceites no centro social de Liverpool, os Wellíngton Roorris, em Mount Pleasant, onde se estendia a carpete no chão para os cinco bailes anuais e as senhoras saíam das carruagens "vestidas com tanto esplendor quanto se espera das mulheres e filhas dos homens inais ricos do maior porto marítimo da GrãBretanha". Maybrick pertencia também ao distinto Palatine Club; no seu diário, refere-se a ter jantado no clube com o seu amigo George (Davidson). Mas, em termos sociais, o casal não tinha todas as características necessárias para pertencer à chamada <@nata". Tal como muitos vitorianos que buscavam posição social, Maybrick tornou-se freemari of the City, embora não fosse referido entre os ricos nos jornais destinados às clas48 ses abastadas. O seu casamento e o regresso a Liverpool também não contiveram a sua dependência de drogas, que estava a tomar-se cada vez mais perniciosa. Tinha acesso rápido às drogas através do primo, William, que trabalhava para um armazenista de produtos farmacêuticos, John Thompson, na Hanover Street, n.o 58. Quando William foi despedido, em 1886, Maybrick chegou a pedir a Thompson que o readmitisse, mas em vão. Também não importava, dado que Maybrick já dispunha de outra fonte para o seu "remédio": um farmacêutico que aviava receitas, chamado Edwin Gamett Heaton, na Exchange Street East. Heaton abasteceu-o durante cerca de dez anos, no total, tempo durante o qual a dose que receitava subiu de quatro para sete gotas. (O arsénico era vendido vulgarmente tanto à gota como sob a forma de pó.)

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Maybrick ia à loja com regularidade, chegando às cinco vezes ao dia, para obter aquilo a que o farmacêutico chamava o seu "espevitador" para <@excitar a paixão". Sete gotas cinco vezes ao dia seriam quase equivalentes a um terço de um grão de arsénico e um grão é suficiente para matar. Quando Maybrick fazia viagens de negócios, Heaton preparava-lhe entre oito e dezasseis doses, consoante o tamanho da garrafa. A droga estava a ter um impacte claro em Maybrick. O irmão de Florie, HoIbrook St John ChandIer, que agora era médico em Paris, começou a ficar preocupado com o comportamento do cunhado e escreveu: "Não afirmo conhecer as suas manhas, mas proibiu Florie de nos dizer uma só palavra a respeito dos seus negócios e atirou-lhe poeira para os olhos. Infelizmente, não podemos escrever-lhe ou saber dela sem ser através dele, que dita as cartas que nos escreve. Lamento profundamente esta atitude inesperada de Maybrick, que se revelou um ser tão prepotente e brutal, mas, dado que assim é, temos de nos proteger até onde for possível." Durante 1884, houve uma ligeira queda na economia britânica. Os amigos dizem que Maybrick ficou tão preocupado com o seu dinheiro como com a saúde. A própria Florie nunca fora ensinada a poupar. Era extravagante na sua paixão por roupas bonitas, que comprava em quantidade na WoolIright. A requintada loja de roupas da Bold Street era uma tentação para qualquer mulher amante de roupas, com o seu aspecto brilhante e os imensos stocks de peles, jóias e tecidos exóticos. Não será de surpreender que os ânimos da família se estivessem a exaltar. Como a baronesa escreveu ao seu advogado de Nova 49 Iorque: "A minha pobre filha está completamente nas mãos do marido e este não dá mostras de ser um filho para mim. " Em Dezembro desse ano, o irmão de Florie caiu doente com tuberculose e morreu quatro meses mais tarde. Maybrick deslocou-se sozinho a Paris, para o funeral, dado que não era costume as mulheres participarem. Florie tinha poucas amigas íntimas. Era uma estranha para as senhoras de Liverpool. As duas excepções eram Matilda Briggs, uma ex-admiradora de Maybrick, e a irmã, Louisa Hughes, que a visitavam a com regularidade. Após a morte do irmão, Florie pediu à Sr. Briggs um empréstimo de 100 libras, para sossegar os credores, e pagou-o a prestações. A 20 de julho do ano seguinte, nasceu uma filha, Gladys Evelyn. Assistiu ao parto o Dr. Arthur Hopper, de Rodney Street, elegante e de feições duras, que tratava dos Maybrick desde a data do casamento. O nascimento de Gladys não contribuiu em nada para restabelecer a felicidade conjugal. Em 1887, uma Florie perturbada descobriu o que outros já sabiam: havia mais alguém na vida do seu marido. Também o diário deixa claro que ele tinha uma aventura com uma mulher que residia em Liverpool e que está sempre à sua espera quando dela necessita: Hoje verei a minha. Quem era essa mulher referida várias vezes no diário como "minha"? Poderia ser Sarah Ann Robertson? Esta desapareceu dos registos em 1876 e não há vestígios do seu paradeiro em 1887, mas é possível que tenha ido para Liverpool atrás de Maybrick. Todavia, é mais provável que Maybrick a tivesse abandonado em Londres. Assim sendo, quem era esta outra mulher? O amigo de Florie, John Baillie Knight, afirmou mais tarde num depoimento juramentado que Florie lhe dissera saber que Maybrick tinha uma mulher em Liverpool. Ademais, tanto William Stead, o director da revista semanal vitoriana Review of Reviews, como Bernard Ryan, no seu livro The Poisoned Life of Mrs Maybrick, publicado em 1977, afirmam que foi em 1887 que, a instâncias de Florie, o casal passou a dormir em camas separadas.

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Para além de suspeitar de adultério, Florie era assaltada pela preocupação de seu marido ingerir doses excessivas dos seus "medicamen50 tos" e os amigos que viam Maybrick de vez em quando, quando chegavam da América em viagens de negócios, notavam o seu aspecto alquebrado e precocemente envelhecido, apesar de ter apenas 48 anos. A frieza crescente entre o casal implicava que, agora, Florie passava mais tempo entregue a si própria. Quando, na Primavera de 1887, uma epidemia de escarlatina varreu o país e Bobo, então com 5 anos, ficou doente, Florie ficou a tomar conta dele enquanto Maybrick levou Gladys, de 9 meses, para longe do perigo, permanecendo no País de Gales durante seis semanas. Quando regressou, Maybrick cortou a verba que entregava a Florie para alimentação, salários da criadagem e outras despesas domésticas. Em Outubro desse ano, ela escreveu à "minha querida mamã", dizendo que Maybrick apenas tivera 125 libras de lucro nos cinco anos anteriores e que os seus bens se encontravam reduzidos a 1500 libras. Afirmava que haviam utilizado capital para mobilar a casa e queixava-se: "Estou extremamente esgotada e num tal estado de extremo nervosismo que quase não sirvo para nada. Sempre que toca a campainha da porta sinto-me prestes a desmaiar com medo de que seja alguém com uma conta para pagar e, quando Jim regressa a casa, à noite, é receosa e tremendo que olho para o seu rosto para ver se alguém se dirigiu ao escritório por causa das minhas contas... A minha vida é um contínuo estado de terror em relação a algo ou alguém. Não há forma de deter a corrente. Vale a pena viver? De bom grado desistiria desta casa e me mudaria para qualquer outro lugar, mas Jim diz que isso o arruinaria de imediato. Para já, tem de manter as aparências até ter mais capital onde se apoiar para satisfazer as suas responsabilidades, dado que, caso se levantasse a menor suspeita, todos os débitos seriam apresentados de imediato, e como é que Jim poderia saldá-los com o que tem agora?" Maybrick estava longe de ser consequente - e nem sempre honesto - na forma como tratava das finanças. Quando faleceu, deixou mais de 5000 libras, o equivalente a cerca de 200 000 libras, hoje em dia. Não estava tão pobre como Florie pensava. Por exemplo, como decidiu que era necessária uma ama para ajudar a tomar conta das crianças, não hesitou em contratar uma. A muito apresentável Alice Yapp vivia com os patrões, o Sr. e Sr.@' de David Gibson, em Birkdale, Southport. No entanto, ao aparecer sozinho para a contratar, Maybrick pisou as convenções, dado que a contratação de serviçais do sexo feminino competia à esposa e não era tarefa para um homem assumir. 51 A má-língua local adorou a história e aumentou quando a intrometida enfermeira Yapp, de 28 anos, que viria a ser descrita delicadamente pelo Liverpool Echo como uma "jovem algo atraente", entrou para o lar dos Maybrick. A pressão sobre Florie ainda se tomou mais intensa. Sabia o que mais ninguém percebia - que a sua vida estava descontrolada. Tinha dívidas e preocupavam-na a dependência de drogas de seu marido, a sua saúde e a sua infidelidade. Era esse o estado de espírito de Florie quando se encontrou pela primeira vez com o bem-apessoado Alfred Brierley. No Inverno de 1887, os Maybrick deram um jantar. Entre os convidados encontrava-se um corretor de algodão chamado Alfred Brierley, cuja empresa, Brierley, Wood and Parmers, ficava na Old Hall Street, ao virar da esquina do escritório de Maybrick. Brierley nascera em Rochdale, no Lancashire, em 185 1, e cresceu com dez irmãos e irmãs. Os Brierley eram pessoas respeitadas na comunidade, tendo ascendido, dentro da segurança da Igreja Anglicana e do Partido Conservador, a uma posição de considerável riqueza e influência, graças ao comércio do algodão. Havia ruas com os seus nomes.

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Aos 36 anos, Brierley era solteiro, atraente e sensível. Mais tarde, insistiria sempre, sem convencer quem quer que fosse, que, ao longo do ano seguinte, se encontrou apenas com Florie quando esta estava acompanhada e que não eram mais do que "conhecidos distantes". Perturbada como estava com os negócios do marido, Florie era uma presa fácil, uma mulher animada que gostava das atenções dos homens. Ademais, como explicou à mãe, "ele era gentil comigo". Em Liverpool, nesses tempos de censura, bastava pouco para uma rapariga alegre do Sul dos Estados Unidos sair da linha. E tratava-se de alguém que, segundo um amigo americano, crescera num "lugar descuidado, onde as mulheres eram muito mais descuidadas". Ali, uma rapariga podia, sem pau-de-cabeleira, juntar-se a um grupo de amigas e amigos, numa noite de sábado, para uma viagem num barco alugado e beber e dançar durante toda a noite, regressando a casa para dormir durante o dia. Tal comportamento nunca teria sido tolerado na Inglaterra vitoriana. Independentemente da verdade acerca dos sentimentos de Florie para com Brierley, ou de se começou a senti-los ainda em 1887, ressalta 52 claramente do diário que James Maybrick alimentava uma paranóia crescente acerca das suas suspeitas infidelidades. Foi provavelmente no início de Março de 1888 que os Maybrick se mudaram de Grassendale para Aigburth, a menos de uma milha, para a muito mais imponente e melhor situada Battlecrease House, que arrendaram por um período de cinco anos. Acompanharam-nos a enfermeira Yapp, o jardineiro James Grant, que casara recentemente com a antiga criada, Alice, e a criada, Mary Cadwallader. Nesse mesmo ano, mais tarde, juntou,selhes Elizabeth Humphreys, como cozinheira. Os vizinhos do casal na Riversdale Road eram profissionais liberais e homens de negócios, embora as vacas vagueassem para cá e para lá na travessa lamacenta e tornassem difícil a passagem das carruagens. Florie não perdeu tempo e mobilou elegantemente a casa. Todas as divisões tinham carpetes de veludo e cortinas de pelúcia vermelho-escura, debruadas com cetim azul-claro, penduradas nas j anelas. A mobília dourada foi estofada de vermelho-escuro com azul. O gabinete particular de Maybrick, que estava sempre fechado, tinha cadeiras de couro, grandes e confortáveis. Era aí que guardava o vinho, charutos, tabaco, cartas e fichas para o pôquer que utilizava quando recebia os amigos. No andar de cima, o seu quarto de vestir, a que se tinha acesso através do quarto de cama principal, era terreno proibido a todos. Nesse Verão, Battlecrease House recebeu uma hóspede que viria a relatar recordações de um ambiente doméstico cada vez mais estranho. "Menininha" era o tratamento carinhoso que Maybrick dava à pequena Florence Aunspaugh, uma americana ruidosamente alegre, de 8 anos de idade, que ficou com a família enquanto o pai, John, um companheiro de negócios de Maybrick, se encontrava na Europa. Na velhice, Florence contou a sua história ao escritor Trevor Christie. A maior parte dos apontamentos tomados por Christie não aparece no seu livro sobre o caso Maybrick, Etched in Arsenic. O material não utilizado, bem como esses apontamentos, só muito recentemente vieram à luz. Conservados nos arquivos da Universidade do Wyoming, em Laramie, têm um lugar de destaque entre os inúmeros arquivos e recordações respeitantes a Maybrick e que se revelaram inestimáveis para a reconstrução da vida e época do casal. 53 <@Battlecrease era uma casa sumptuosa", disse Florence a Christie, "no estilo típico da mansão inglesa. Os jardins deviam estender-se por uns vinte e tal mil metros quadrados e eram mantidos de forma excelente. Havia árvores grandes, arbustos luxuriantes e canteiros de flores. Espalhados por

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toda a área havia abrigos feitos de pedra ou casas de verão, com bancos, cobertas com hera e outras trepadeiras. Perto da casa, havia uma estufa e um casal de pavões percorria os jardins... Pelo terreno, corria uma pequena corrente natural de água, que em parte fora alargada e aprofundada para formar um lago.... que era habitado por peixes e em cuja superfície nadavam cisnes e patos. julgo que me lembro melhor desse lago do que de qualquer outra coisa porque caí lá dentro duas vezes e fui salva pelo caseiro. O Sr. Maybrick gostava muito de caçar e tinha bastantes cães... Vi seis cavalos-,uma parelha preta lindíssima que era sempre atrelada à carruagèm, uma parelha de cinzentos que era atrelada ao carro de duas rodas e dois cavalos de sela baios: um que o Sr. Maybrick usava e o outro a para a Sr. Maybrick." Para a jovem Florence, Florie era uma figura sedutora. "O que de melhor tinha era o cabelo. Era louro, mas não do tipo amarelo mortiço e descorado; tinha um leve toque de vermelho que bastava para o transformar num dourado brilhante e rico. a "Os olhos da Sr. Maybrick eram do azul mais lindo que até hoje vi. Eram olhos grandes e redondos de um azul tão carregado que, por vezes, pareciam violeta; mas a expressão era muito estranha... Caso fixássemos os nossos olhos nos dela, estes pareceriam completamente desprovidos de vida ou expressão, como se estivéssemos a olhar para os olhos de um cadáver. Perfeitamente destituídos de animação ou expressão. Se insistíssemos com o olhar, os olhos dela pareciam mudar e lembravam os de um animal assustado. Nunca havia uma expressão de vivacidade intelectual, tanto nos olhos como na face e, no entanto, havia um encanto magnético no seu semblante que... parecia irresístível. Tinha uma grande consciência da sua beleza e da atracção e admiração cortês que provocava, sobretudo no sexo masculino. Parecia gostar muito de estar perto deles e de lhes tocar com as mãos. Vi-a dar uma palmadinha no alto da cabeça de um homem, dar o braço a outro e pousar a mão no joelho de outro. Agia desse modo à frente do Sr. Maybrick. 54 Depois de ter atingido a maturidade, tenho-me perguntado como permitiria ele isto, mas permitia." O James Maybrick das memórias da jovem Florence era severo e formidável, mas com breves lampeios de ternura para com os filhos. <@Depois do pequeno-almoço, o Sr. Maybrik sentava-nos, ao filho e a mim, cada um em seu joelho, e falava connosco. Costumava irritar-me para ver que tipo de resposta atrevida lhe daria... Um dia, o Sr. Maybrick deu instruções à enfermeira Yapp para que o rapaz e eu fôssemos vestidos invulgarmente bem, porque queria que aparecêssemos no salão um pouco antes de o jantar ser anunciado... Penso que nunca estive tão bonita em toda a vida... Foi a criada de fora que nos acompanhou na descida da bela escadaria até ao vestíbulo da frente. O Sr. Maybrick foi receber-nos à porta e, caminhando até ao arco entre os salões, disse: 'Senhoras e senhores, desejo apresentar-lhes uma menina encantadora dos Estados Unidos da América.' Embora se lhe não pudesse chamar um homem bonito... tinha uma bela fronte, um rosto inteligente e agradável e um semblante aberto e honesto. Tinha um cabelo claro, cor de areia, olhos cinzentos e uma pele corada. Não tinha aqueles modos abruptos tão característicos dos Ingleses e era extremamente culto, educado e refinado de maneiras e um soberbo anfitrião. Mas havia dois traços negativos na sua pessoa. Tratava-se do seu estado de espírito triste e melancólico e da sua grande irascibilidade. Pensava também que era atacado por todos os sofrimentos de que 'a carne padecia'. Sim, o Sr. Maybrick era um viciado em arsénico. Ansiava por ele

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como um toxicodependente. Até em nossa casa o usava. Andava sempre atrás do médico para lho receitar e do farmacêutico para lhe preparar um tónico com arsénico. Uma vez, disse à minha mãe: 'Só me dão o suficiente para me exasperar, preocupar e me fazer desejar sempre mais.' Estava sempre a tomar comprimidos de estricnina e contentava-se com caldo de carne e arsénico. Uma vez, o meu pai afirmou: 'Maybrick tem uma dúzia de farmácias no estômago.'" "Vi-o irritado em várias ocasiões", escreveu Florence, "e em duas delas estava furioso. Fui eu a causadora dessa segunda explosão... A bebé [Gladys] tinha uma caminha com grades em toda a volta... Uma manhã, a criança chorou e eu corri para a cama para a tentar tirar de lá. Estava 55 a puxá-la para a fazer passar por cima das grades, mas fiquei tão cansada que já não conseguia agarrá-la e deixei-a cair.. Se a tivesse tirado para fora e ela tivesse caído ao chão poderia ter partido a espinha... A ama entrou, furiosa. Agarrou-me na parte de trás do pescoço, abanou-me e disse: Se voltares a fazer isso, deixo-te a cara num bolo.' Enquanto esta cena se passava, o Sr. Maybrick passou pela porta... O Sr. Maybrick ficou furioso... disse: 'Vi-a agarrar essa criança pela parte de trás do pescoço - podia ter-lho partido. Esta criança está longe do pai e @da mãe, em minha casa, sob a minha protecção, e se torno a ouvi-la falar com ela dessa forma, corro-a pela escada a pontapé e parto-lhe todos os malditos ossos do seu corpo.'" Embora fosse apenas uma rapariguinha, Florence sentia algo de estranho em BattIecrease House. "Parecia existir um corrente de mistério que nos provocava uma sensação sinistra, uma sensação de que se passava algo que não conseguíamos perceber. No pátio, viam-se os criados a falar em voz baixa e susurrada. Caso alguém se aproximasse, paravam de repente e dispersavam." Entre o grupo de personagens de Battlecrease House, contava-se a S a r. Briggs, que, segundo lembra Florence, era "uma mulher quase da mesma idade de Maybrick, e o meu pai disse-me que ela estivera loucamente apaixonada por ele e fizera esforços desesperados para casar com ele. Era muito evidente que ele não correspondia." Havia a enfermeira Yapp, que era "uma mulher muito eficiente e capaz", mas também "muito dissimulada e traiçoeira". "Tanto a Sr." Briggs como a enfermeira Yapp desprezavam e odiavam a Sra Maybrick e o que era mais patético em tudo isto era que a a Sr. Maybrick não tinha inteligência para compreender a atitude delas em relação à sua pessoa... A Sr a Briggs punha e dispunha em toda a casa e com os criados. Dírigia-se ao Sr. Maybrick chamando-lhe 'James'. À mesa, ouvi-a dizer coisas deste jaez: 'james, não achas que um telhado na varanda ao lado do teu gabinete particular seria muito melhor.. James, sugiro que uses o teu casaco comprido... James, gostarias de porco assado para o jantar de hoje?' Não houve vez nenhuma em que se tenha dirigido à a Sr. Maybrick. Quando o Sr. e a Sr aMaybrick saíam, ela entrava em todas as divisões da casa. No quarto de cama do Sr. Maybrick e no da Sr.a Maybrick. 56 Só havia uma divisão que lhe escapava - o gabinete particular do Sr. Maybrick. Tinha uma fechadura Yale na porta e nunca estava aberto, excepto quando ele se encontrava lá. Nunca era limpo. Só quando ele lá estava."

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Entre os que visitavam e pernoitavam regularmente em Battlecrease House, contavam-se os irmãos de Maybrick, Thomas, Edwin e, com menos frequência, Michael, que vivia em Londres. William, o irmão mais velho, embora residisse em Liverpool, parece que nunca visitou a casa. Michael era considerado o inteligente da família. Segundo Florence Aunspaugh, "tinha uma propriedade muito pretensiosa, que era superior à de James em todos os aspectos". Em 1888, era solteiro e tinha uma governanta que tratava dele. Após o julgamento e condenação de Florie, o público virou-se contra Michael, porque se apercebeu de que ele traíra Florie. Foi pateado no palco, em Londres, e, mais tarde, retirou-se para a ilha de Wight. A imagem, outrora elegante, da ilha esmorecera desde que a cada vez maior popularidade dos casinos levava a "gente elegante" a atravessar o Canal. Assim, Michael pôde começar uma nova vida, um antigo peixe graúdo num lago pequeno. Foi presidente da Câmara de Ryde durante cinco mandatos e, em 1913, teve o maior funeral a que a ilha assistira até então. Ainda hoje é venerado lá. O irmão mais novo, Edwin, era, segundo a impressionável Florence, um "dos homens mais belos que jamais vi". Media quase 2 ra e tinha uma figura bem proporcionada e de formas esbeltas. Tinha olhos castanho-escuros, cabelo negro e ondeado e traços regulares, uma bela voz de cantor - melhor até do que a de Michael -, mas não tivera oportunidade de tirar o melhor partido dela. Aos 37 anos, também era solteiro. O relacionamento de Maybrick com Michael e Edwin era, em grande parte, moldado pelo poder que Michael parece ter exercido sobre os outros dois. No seu diário, Mybrick refere-se repetidamente aos ciúmes que tinha de Michael, a quem chamava "o irmão sensível". E a filha de Edwin, Amy, reconheceu anos mais tarde que o pai "não dava um passo sem consultar Michael". Mas Maybrick estava ligado a Edwin, com quem trabalhava, e sen, tia muitas saudades dele quando se ausentava. É possível que se passasse 57 o mesmo com Floríe. Havia já algum tempo que circulavam, na Bolsa do Algodão, boatos acerca dos sentimentos de Florie em relação ao cunhado. Havia inclusive suspeitas de um caso. Após a morte de Maybrick, os criados diziam à boca pequena que tinham sido encontradas cartas de Edwin para Florie. John Aunspaugh contou à filha, Florence, que Michael destruíra essas cartas. No entanto, ela recordou um incidente, contado pelo pai, que justifica a suspeita. "A primeira indicação que o meu pai teve de que havia algo errado foi na noite do tal jantar. Havia vinte casais, que, é claro, formavam uma grande mesa. a Conversava-se em grupos. O Sr. Edwin estava perto da Sr. Maybrick e riam e conversavam. O meu pai olhou para o Sr. James e, ao fazê-lo, ouviu a Sr.a Maybrick dizer a Edwin, com uma gargalhada: 'Se te tivesse conhecido primeiro, as coisas poderiam ter sido diferentes.'" Poderia tratar-se de uma brincadeira inofensiva, mas Maybrick tomou-a a sério. "Deixou cair a faca", continua Florence, "cerrou os punhos e a sua cara ficou rubra. Ao fim de um segundo, recuperou, pegou na faca e tudo acabou calmamente. " Enquanto Florence Aunspaugh e os filhos de Maybrick brincavam junto ao lago e corriam em redor dos canteiros, estava prestes a desabar uma tempestade que os abalaria a todos. 4 <HÁ ALTURAS EM QUE SINTO UM IMPULSO AVASSALADOR PARA PASSAR OS MEUS PENSAMENTOS AO PAPEL" A Poste House, na Cumberland Street, perto das docas de Liverpool, pouco mudou desde 1888, quando o seu guisado de carne de

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vaca e borrego com batatas, à hora do almoço, tinha fama. Os clientes ainda se acotovelam no bar acanhado e pouco iluminado, de tecto verde e paredes vermelho-escuras, a que se acede através de cortinas pesadas. O príncipe Luís Napoleão foi beber lá, tal como James Maybrick. Perto da Poste House fica a rua comercial, outrora elegante, conhecida como Whitechapel. Nesse tempo, era muito diferente da sua mais sinistra homónima de Londres e, no entanto, foi lá que se iniciou a trilha sangrenta de Jack, o Estripador. Foi nessa rua, no início de 1888, que James Maybríck pensou pela primeira vez que vira Florie com Alfred Brierley, o homem que pensava ser seu amante. Brierley nunca é referido no diário pelo nome, talvez porque Maybrick não conseguisse suportar escrevê-lo ou lê-lo. Em substituição, chama-lhe "o proxeneta" e, quando Maybrick pensava em Florie com o amante já não lhe chamava "Bunny querida", mas sim "a vaca" ou "a puta". Acerca desse dia, escreveu: Tomei um refresco na Poste House e foi aí que decidi final- mente que será em Londres. E por que não, não é o local ideal? Na verdade não visito eu frequentemente a Capital e na verdade não tenho uma razão legítima para o fazer. Todas as que vendem as suas sujas mercadorias pagarão, disso não tenho dúvidas. Mas pagarei eu? Penso que não, sou demasiado esperto para isso... 59 A vaca e o seu proxeneta vão arrepender-se do dia em que os vi juntos pela primeira vez. Assim, minado pela sua saúde periclitante, pela dependência de drogas e pela expulsão do leito de Florie, Maybrick estava louco de ciúmes. Estava furioso com as coquetteries desprovidas de tacto de Florie, mas foi sem sombra de dúvida a sua amizade crescente com Brierley que lançou as sementes do homicídio. Maybrick tinha o móbil, faltava-lhe o local. Disse que seria Whitechapel e Whitechapel será White, chapel Líverpool Whitechapel Londres, ha-ha. Ninguém poderia ligá-las. E na verdade não há razão para quem quer que seja o fazer. Há uma referência no diário, escrita provavelmente em Março, a um recado do irmão Thomas pedindo que Maybrick se encontrasse com ele em Manchéster, onde Thomas vivia, no bairro de Moss Side, e era gerente da Manchester Packing Company. Maybrick concordou, embora o seu espírito já estivesse ocupado com assuntos que nada tinham a ver com os negócios. Amanhã viajo para Manchéster. Vou levar o meu remédio e pensar muito na questão Vou obrigarme a não pensar nas crianças [...I O tempo passa demasiado devagar, ainda tenho de arranjar coragem para começar a minha campanha. Pensei muito e longamente na questão e ainda não consegui tomar uma decisão quanto à data em que começarei. A oportunidade está lá, tenho a certeza desse facto [...] O meu remédio faz-me bem, na verdade, tenho a certeza de que consigo tomar mais do que qualquer outra pessoa viva. Tal como Maybrick utilizava Michael como álibi em Londres, também Thomas lhe dava uma razão para uma viagem de negócios a Manchéster. O comboio de Liverpool partia directamente de Mersey Road e Aigburth Station para Manchéster, uma viagem de pouco mais de uma hora, e foi nesta cidade que Maybrick cometeu o primeiro homi60 cídio. Mais tarde, recordou a experiência, que lhe não proporcionou claramente a satisfação que procurava.

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Meu Deus a minha mente está envolta em nevoeiro. Agora, a puta encontra-se junto do criador que a recebe de braços abertos. Não senti qualquer prazer enquanto apertava. Não senti nada. Não sei se terei coragem para voltar à minha ideia original. Manchéster estava fria e húmida e muito semelhante a este buraco do inferno. Da próxima vez atirarei ácido para cima delas. Fantasias deste tipo são comuns entre os assassinos em série, segundo o Dr. David Forshaw. Estudos acerca de vários pacientes psicopatas apresentam-nos preocupados com fantasias sexuais sádicas. <@Com o passar do tempo>@, explica, "as fantasias tornaram-se mais extremas e começaram a por em acção parte dessas fantasias... Por exemplo, seguindo as vítimas potenciais. As lembranças destas 'experiências' comportamentais são incorporadas depois nas fantasias e conduzem a novas elaborações... inexoravelmente, o movimento dírige-se para uma experiência completa. Durante este processo, os pacientes tornam-se cada vez menos capazes de distinguir entre o mundo da realidade e o da fantasia... onde haveria controlo total. Infligir sofrimento seria o caminho para o controlo... e lutar pelo controlo seria uma tentativa de compensação de sentimentos de inadequação." Os registos da polícia são incompletos, os dos coroners foram destruídos e, até agora, as pesquisas não encontraram qualquer homicídio em Manchéster, em Fevereiro ou Março de 1888. Mas o desaparecimento de uma prostituta da província poderia ter passado despercebido. Henry Mayhew, no seu clássico London Labour and the London Poor, publicado pela primeira vez em 1851, calculava que haveria 80 000 prostitutas a trabalhar apenas na cidade de Londres e a suspeita de estrangulamento de uma delas em Manchéster não teria merecido mais do que uma investigação de rotina. Nem sequer o assassínio de Emma Smith, que foi barbaramente mutilada em Londres, em Abril de 1888, foi amplamente noticiado, embora a história tenha aparecido no Manchester Guardian. Quase passou despercebida até ser ligada com os crimes do Estripador, mais tarde, nesse mesmo ano. Não havia qualquer razão para Maybrick inventar um tal homicídio para o seu diário. O relato parece uma descrição acurada de uma 61 morte, que, ao contrário dos assassínios subsequentes cometidos pelo Estripador, nunca teve foros de título de caixa alta. Estrangulou a primeira vítima, tal como aconteceu a todas as outras, mas não houve "evisceração" e ele não gostou. Foi apenas em The Complete Jack the Riper, de Donald Rumbelów, publicado em 1975, que foi sugerido que o estrangulamento era o método de matar do Estripador, mas o diário deixa claro esse ponto quando Maybrick descreve a morte da vítima de Manchéster. Desde o início que Maybrick se sentiu compelido a registar no papel os seus pensamentos e actos. Segundo David Forshaw, a sua linguagem é a de um homem que joga, dando a si próprio confiança, de forma perversa, fingindo que é menos culto do que é. Há um deleite mórbido na distorção da gramática, nos solecismos e nos jogos de palavras. "Não é pouco vulgar pessoas inteligentes, embora inseguras, adoptarem uma personalidade menos culta no papel", afirma. Para além dos jogos de palavras óbvios, há inúmeros erros de ortografia, gramática e pontuação que parecem não desempenhar papel algum nos jogos verbais do diário. Embora possam muito bem fazer parte da personalidade "menos culta" que Maybrick adoptou, poderiam resultar de uma escolaridade verdadeiramente deficiente, dado que Maybrick era um autodidacta sem pretensões de erudição. É claro que toda essa actividade era perigosa. Era fácil para Maybrick escrever na privacidade do seu escritório, longe dos olhares curiosos da família e criadas. Depois de várias entradas, fala em "regresso", presumidamente a Battlecrease House, e não há nada que contrarie a ideia de que todo o diário foi escrito no escritório, talvez ao princípio da noite, quando o pessoal já fora para casa. Todavia, mesmo

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lá, tinha de ser extremamente cuidadoso para proteger o seu segredo de uma descoberta acidental por parte de empregados, como o guarda, -livros, George Smith, e o jovem escriturário, Thomas Lowry. Se Smith encontrasse isto então estou acabado antes de começar a minha campanha [... 1 Começo a julgar que é imprudente continuar a escrever, se tenho de abater uma puta então nada conduzirá os perseguidores até mim, e no entanto há alturas em que sinto uma compulsão avassaladora de colocar os meus pensamentos no papel [ ... 1 No entanto, o prazer de escrever acerca de tudo o que tenho pela frente excita-me tanto. E que actos irei cometer. Pois 62 como poderia alguém suspeitar de que eu fosse capaz de tais coisas, dado que não sou, como todos julgam, um homem brando, de quem se disse que não faria mal a uma mosca. Thomas Lowry, de 19 anos, filho de um fabricante de tamancos de Liverpool, e que exercia funções de escriturário no escritório de Maybrick, não desempenhou qualquer papel na vida do seu patrão, pelo menos ao que se sabe. No entanto, por breves instantes, desempenha um enorme papel no diário. Se tivesse podido matar o filho da mãe do Lowry com as minhas mãos nuas ali naquele preciso momento tê-lo-ia feito. Como se atreve a fazer-me perguntas sobre qualquer assunto, sou eu que devia fazer-lhas. Maldito maldito maldito. deveria repor os artigos que desapareceram? Não isso seria um risco demasiado grande. Deveria destruir isto? Meu Deus vou matá-lo. Não lhe dar razões e ordenar-lhe que encerre de imediato o assunto é penso a única via a seguir. Vou obrigar-me a pensar em algo mais agradável. No dia seguinte, Maybrick, desorientado pelas drogas, mal conseguia recordar-se do que acontecera. Tomei demasiado os meus pensamentos não estão onde deveriam estar. Lembro-me pouco dos acontecimentos de ontem. Graças a Deus que parei a tempo. Vou mostrar a minha ira para com o filho da mãe de tal forma que ele vai desejar nunca ter levantado a questão. Ninguém, nem sequer o próprio Deus me retirará o prazer de escrever os meus pensamentos [ ... 1 Dói-me a cabeça, Deus não tem o direito de me fazer isto diabos o levem. Independentemente do carácter da interferência do jovem Lowry, esta colocou-o num perigo maior do que poderia calcular. Sabia mais do que seria bom para ele, mas, que sabia? Apenas podemos conjecturar que Lowry perguntara a Maybrick por alguns materiais de escritório desaparecidos, relacionados talvez com o diário. Se foi isso, então Maybrick está a reagir de forma excessiva e dramática, mas sente-se ameaçado numa fase muito sensível - estamos em Junho de 1888 e 63 está excitado com o planeamento da sua primeira evisceração de Whitechapel. Fossem quais fossem os "artigos em falta" e fosse qual fosse o "assunto", o aparecimento inimaginado de Lawry no diário é perfeitamente convincente. Durante um segundo, a porta do escritório da Maybrick and Company está aberta de par em par e captamos um breve vislumbre de um canto negro da personalidade de Maybrick. Trata-se do mesmo Maybrick que a jovem Florence Aunspaugh viu a ameaçar a enfermeira Yapp. De tempos a tempos, Maybrick ia a Londres. Havia carreiras regulares de comboio a partir de Liverpool e o expresso demorava cerca de cinco horas. O seu ex-sócio de Liverpool, Gustavus A. Witt, dirig:.a um escritório em Londres, na CuIlum Street, a escassos 400 m da Mitre Square, onde, mais tarde nesse mesmo ano, Maybrick viria a matar pela quinta vez. Ainda mais perto do que a Mitre Square ficava Mark Lane, onde talvez tenha cortejado, enquanto jovem, Sarah Robertson. Quando se encontrava em Londres, Maybrick ficava habitualmente em casa do irmão Michael, que residia em Wellington Mansions, no elegante Regent's Park. Michael era membro do Constitutional

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Club e tornou-se mação, juntando-se às lojas do Athenaeum e de St Andrews. Foi também fundador e primeiro-venerável da Loja Orpheus, para músicos. Maybrick não se sentia descontraído em companhia do seu irmão mais novo, arrogante e autoconvencido, mas a casa de Regent's Park era confortável - e conveniente. Irei visitar Míchael em junho próximo. junho é um mês tão agradável, as flores estão em botão aberto o ar é mais doce e a vida é quase certamente mais rosada anseio pela sua chegada com prazer. Muito prazer. O mês de junho, por que tanto ansiava, começou decepcionantemente instável e húmido, mas, perto do fim do mês, uma vaga de calor provocou o racionamento de água em Liverpool. O comércio corria bem - "firme mas vagaroso", era como o definiam os jornais. Segundo o diário, Maybrick foi visitar Michael com a ideia de iniciar a sua "campanha". Mas algo correu mal. Não estava pronto para matar; ainda não delineara os seus planos com o cuidado necessário, 64 embora a necessidade de atacar fosse quase grande de mais para a poder controlar. Na verdade, foi obrigado a utilizar Michael como seu carcereiro. Como consegui controlar-me não sei. Não tomei em consideração o material vermelho, galões segundo os meus cálculos. Algum dele terá de me salpicar. Não posso permitir que as minhas roupas fiquem ensopadas com sangue, não podia explicar isso a ninguém muito menos a Michael. Por que razão não pensei nisso antes? Amaldiçoo-me. A luta para me deter era avassaiadora, e se não tivesse pedido a Michael para me fechar no meu quarto por medo do sonambulismo, coisa para que disse ter tido propensão recentemente, não foi inteligente?, podia ter feito os meus actos sujos nessa precisa noite. Sabemos, através do diário e dos depoimentos de médicos no julgamento de Florie, que Maybrick se encontrava em pânico quanto à sua saúde, nesse mês de Junho. A sua habitual hipocondria alimentou uma exigência de cuidados médicos e uma espiral descendente de excesso de drogas. Entre o final de Junho e Setembro, fez cerca de vinte visitas ao Dr. Hopper, o médico da família. Queixava-se de dores de cabeça violentas, que tinham começado em junho, por volta da data da Real Corrida de Ascot, bem como de torpor das pernas e pés. Ninguém se apercebeu então dos efeitos do envenenamento crónico (a longo prazo) por arsénico ou estricnina. Caso estivessem disponíveis os progressos da ciência moderna, o Dr. Hopper poderia terse apercebido de que a saúde do seu paciente corria grave perigo devido ao volume e variedade de drogas que então consumia, entre as quais arsénico e estricnina. O médico estava céptico e com pouca paciência para a hipocondria de Maybrick, bem como irritado pelo facto de o seu paciente se automedicar, entre as consultas, com remédios recomendados pelos amigos. Um desses remédios, o Xarope de Fellows, era uma beberagem que continha arsénico, estricnina, quinino, ferro e hidrofosfitos. Maybrick duplicava também a dose receitada pelo Dr. Hopper quando achava que não estava a surtir efeito. O médico preveniu-o de que iria "fazer muito mal a si próprio". 65 Antigamente, as pílulas de estricnina eram vendidas em grande escala para uma grande variedade de finalidades médicas, sobretudo como tónico e afrodisíaco. Os seus efeitos a longo prazo não foram estudados, dizem os médicos da Unidade de Venenos do Guy's Hospital, em Londres. As pílulas contendo estricnina já não são comercializadas e são consideradas ineficazes e perigosas. No entanto, a substância é utilizada por vezes para "lotar", ou aumentar o volume, das drogas vendidas nas

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ruas-, como as anfetaminas. A sua presença no organismo pode provocar uma actividade excessiva dos neurónios, embora, sob estrita super, visão médica, tenha um papel auxiliar no tratamento da impotência, entre outras afecções. Maybrick tomava pílulas de estricnina sem o menor cuidado, como se de rebuçados se tratassem. Uma vez, Maybrick deu ao Dr. Hopper algumas receitas que lhe tinham sido passadas por um tal Dr. Seguin, de Nova lorque, que visitara frequentemente em negócios. Eram para estricnina e nux vomica, um remédio popular entre os vitorianos, baseado na estricnina, que também era utilizado como afrodisíaco. O Dr. Hopper destruiu-as. "Pensei que estava gravemente deprimido", afirmou no julgamento de Florie, esclarecendo que queria dizer que Maybrick "dava demasiada importância a sintomas banais". Na Páscoa, a família foi fazer umas férias no País de Gales e, em julho, por sugestão do médico, Maybrick foi tomar águas para Harrogate Spa, no Yorkshire. Registou-se no Queen Hotel, um estabelecimento modesto, e o seu nome foi devidamente noticiado no "Registo dos visitantes", uma secção regular do jornal local, o Harrogate Adviser. Ficou lá, sozinho, durante quatro dias. As corridas de Goodwood, no início de Agosto, eram um evento social obrigatório para os Maybrick. Viajaram juntos para a pista de corridas, maravilhosamente situada, de Sussex, onde se lhes juntaram John Baillie Knight, o amigo de infância de Florie, e as suas tias. Depois, jantaram todos na Exposição Italiana, em Londres. As meninas Baillie haviam conhecido a baronesa Von Roques e a filha numa pensão, na Suíça. Florie ficara várias vezes em casa delas, enquanto adolescente, e elas visitaram Liverpool depois do casamento. Mais tarde, disseram ao sobrinho que tinham notado que nem tudo corria bem entre os Maybrick. John e Florie não voltaram a encontrar-se 66 até 1889, mas ela escreveu-lhe várias vezes e confidenciou-lhe a sua angústia em relação às infidelidades do marido. Maybrick não descreveu estes acontecimentos no diário, que só focava a progressão incessante da sua campanha de terror. Os pensamentos homicidas, e pouco mais, levavam-no a utilizá-lo apenas como confessionário. Na primeira segunda-feira de Agosto, foi assassinada uma prostituta, Martha Tabram, em Whitechapel, Londres. Durante a noite, estivera a beber e à procura de homens. Às 4.50 h da manhã seguinte, foi encontrada, numa poça de sangue, no patamar do 1.O andar do George Yard Building. Levara 39 facadas, dirigidas sobretudo aos seios, ventre e órgãos genitais. É quase certo que Martha tenha sido morta por um soldado não identificado - o seu último cliente foi uma praça dos Guardas , mas a polícia e a imprensa decidiram que ela e Errima Smith, que fora assassinada e mutilada na segunda-feira de Páscoa, tinham sido vítimas do mesmo homem. Nesse Outono, quando o terror começou a sério, ligaram Martha Tabram e Errima Smith aos homicídios de Whitechapel, cometidos por Jack, o Estripador. Nessa altura, e durante os 70 anos seguintes, o público julgava que tinham sido todos cometidos pelo mesmo criminoso. O diário não refere as mortes de Enima Smith e Martha Tabram. Caso tivesse sido obra de um falsário coetâneo, esses crimes teriam sido incluídos. Em contrapartida, sabemos, graças a consultas médicas e acontecimentos sociais, que, de cada vez que o Estripador atacou, Maybrick poderia ter estado em Londres. Algures durante o mês de Agosto, várias semanas depois da sua última estada em casa de Michael, Maybrick regressou a Londres, mas, desta vez, arrendou um quarto em Whitechapel.

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Estava quase pronto. "AMANHA, VOU COMPRAR A MELHOR FACA QUE É POSSÍVEL COMPRAR, NADA SERÁ BOM DE MAIS PARA AS MINHAS PUTAS" Arrendei um quartinho na MiddIesex Street, que em si mesma é uma piada. Na verdade é a localização ideal. Percorri as ruas a pé e fiquei mais do que familiarizado com elas [... 1 Não tenho dúvidas, a minha confiança é elevadíssima. Estou excitado ao escrever isto, a vida é doce, e o meu desânimo desapareceu. Da próxima vez é certo. A Middlesex Strect é mais conhecida como Petticoat Lane, local de realização da famosa feira de rua, ao domingo. Depois dos dois primeiros crimes do Estripador, a polícia concluiu que o assassino deveria possuir um esconderijo algures em Whitechapel - mas, até hoje, ninguém descobriu onde se situava. A identificação, pelo diário, da Middlesex Street é inestimável. Explica a capacidade que o Estripador evidenciava para se movimentar livremente naquele bairro sinistro, um lugar onde qualquer estranho seria facilmente detectado. Em 1888, de acordo com o guia das ruas, viviam nas proximidades a a Sr. Polly Nathan, que dirigia a loja de peixe e batatas fritas; Solran Berlinski, um comerciante de trapos; George Bolam, guardador de vacas; lsaac Woolf, negociante de cartas de jogar, e Samuel Barnett, que dirigia o café. Dado que o pároco local era o reverendo Samuel Barnett, parece provável que este e sua mulher tenham aberto o café para que funcionasse como local de encontro dos pobres. Por que razão a MiddIesex Street era "uma piada" é algo que apenas podemos conjecturar. Talvez Maybrick achasse irónico o nome provocador por que era conhecida, Petticoat Lane, que data pelo menos 69 do tempo dos Tudor. Ou talvez porque a MiddIesex Strect era o centro comercial da comunidade judaica de Londres e, portanto, o foco da agitação anti-semita. Nas primeiras entradas do seu diário, Maybrick deixara claro que não era amigo dos Judeus. Por que não deixar sofrer os Judeus? Nunca gostei deles, há demasiados na Bolsa para o meu gosto. Todavia, perto do final da vida, sentiu remorsos em relação a este preconceito. Depois de um encontro com um ex-colega, na Bolsa, escreveu: Senti pena por ele não ser judeu. Esquecera-me de quantos amigos judeus tenho. A minha vingança é sobre as putas e não sobre os judeus. Há várias outras explicações possíveis para o facto de Maybrick ter escolhido a MiddIesex Strect para esconderijo. A fronteira entre as rivais Polícia Metropolitana e polícia da City ficava no centro da MiddIesex Strect e, desse modo, podia beneficiar de um conflito de interesses, provocando a polícia saltitando de um lado para o outro da linha de demarcação ao cometer os seus actos violentos. A MiddIesex Street ficava também convenientemente perto do escritório do seu colega, Gustavus A. Witt. Não deixa de ser irónico o facto de, no final da MiddIesex Street, se situar a estação da Liverpool Strect. Antes do século XIX, Whitechapel era uma zona de comerciantes respeitáveis, tranquila e próspera, mas, em 1888, o bairro estava em plena decadência. Os pátios sombrios e as travessas fedorentas e cheias de lixo que rodeavam a MiddIesex Strect eram superpovoados e violentos. Havia centenas de casas de hóspedes onde, por três dinheiros por noite, se podia adquirir uma cama num quarto fétido e sem aquecimento. Os que não tinham dinheiro dormiam nas sargetas ou debaixo das escadas. As famílias comprimiam~se em quartos pequenos, onde chegavam a viver sete pessoas numa só cama e

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com janelas quebradas e tapadas com trapos. Havia um fedor forte a urina, mofo e fruta, legumes e peixe podre. E havia pelo menos 1200 @<infelizes" - prostitutas - que trabalhavam na zona, Tal como muitas mulheres da classe operária, nos tem70 pos vitorianos, estavam prematuramente envelhecidas, gastas pelas condições desumanas, pobreza, espancamentos e bebida. O homicídio não era raro. A 18 de Agosto, menos de duas semanas antes do primeiro ataque de Maybrick em Whitechapel, o seu irmão, Edwin, partiu para os Estados Unidos, a bordo do SS Adriatic. O Dr. Forshaw pensa que isso foi significativo. Em termos emocionais, a ausência do seu devotado irmão mais novo deixou Maybrick livre de peias. Com efeito, não havia ninguém a vigiá-lo quando dissesse que ia a Londres em negócios. E o cenário ficou pronto. À meia-noite e meia-hora da sexta-feira 31 de Agosto, Mary Ann Nichols, conhecida como PoIly, saiu da taberna Frying Pari, em Brick Lane, Whitechapel, e entrou para a história. Haviam recusado alojamento a Polly Nichols no n.o 18 da Thraw1 Street, mas ela não se intimidou e ouviram-na dizer: "Dentro de pouco tempo vou ter o dinheiro para [pagar] a cama." Saiu, com um "lindo chapéu novo", para ganhar a dormida dessa noite. Parecia jovem para uma mulher no início dos 40 e foi descrita pelo Dr. Rees Ralph Llewellyn, que examinou o seu corpo mais tarde, como "muito límpa". Mas era alcoólica, e tanto as bebidas como o quarto tinham de ser pagos. PoIly Nichols foi vista por, pelo menos, três pessoas a vaguear pelas ruas escuras, à procura de um cliente que precisasse de <~a de pé por 4 dinheiros". O relógio da igreja paroquial de St Mary Martfellon bateu as 2.30 h enquanto ela percorria quase 2 kin da Whitechapel Road, onde deve ter encontrado Maybrick. Às 3.40 h dessa madrugada, estava morta. Tinham trocado a estrada principal pela Buck's Road, uma rua empedrada que, segundo o Evening News, não estava "sobrecarregada com candeeiros de gás". De um dos lados havia uma fileira de casas novas e, do outro, armazéns altos. Aí, Maybrick empurrou Polly Nichols, pelos queixos, contra o portão do pátio de um estábulo e estrangulou-a. Atirou-a para o chão e, com a sua faca nova e brilhante, cortou-lhe a garganta até às vértebras. A fantasia e obsessão de Maybrick com a decapitação são um tema constante em todos os seus relatos dos crimes de Whitechapel - e os relatórios médicos oficiais da época confirmam que, efectivamente, de todas as vezes se encontraram golpes profundos em volta da garganta. 71 Mostrei a todos que estou a falar a sério, o prazer foi muitíssimo melhor do que imaginara. A puta estava demasiado desejosa de fazer o seu serviço. Lembro-me de tudo e excita-me. Não houve grito quando cortei. Fiquei mais do que irritado quando a cabeça não saiu. Julgo que precisarei de mais força da próxima vez. Golpeei-a profundamente. Lamento não ter a bengala, teria sido um prazer enterrá-la com força nela. A puta abriu-se como um péssego maduro. Decidi que da próxima vez vou tirar tudo para fora. O meu remédio dar-me-á força e o pensamento da puta e do seu proxeneta vai espicaçar-me sem dúvida. Frustrado por não ter conseguido retirar a cabeça da vítima, o Estripador rasgou-lhe então a saia e golpeou-lhe e cortou-lhe a barriga com selvajaria.

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Depois, afastou-se em silêncio. Nenhum dos residentes ou dos guarda-nocturnos ouviu o que quer que fosse. Charles Cross, um carreteiro, dirigia-se para o trabalho pela Buck's Road, escura e empedrada, quando viu aquilo que pensou ser uma lona útil enrolada junto aos portões de acesso a alguns estábulos. Tratava-se de Penny Nichols. Dado que já estava morta antes de lhe cortarem a garganta, não houvera grande estardalhaço - apenas uma pequena poça de sangue na sargeta. O corpo ainda estava quente, no local onde Maybrick o deixara, com o apreciado chapéu preto, forrado a veludo, caído nas proximidades. Algumas horas mais tarde, dois pobres do asilo da morgue receberam ordens para limpar o corpo. Foi então que se descobriu que fora mutilada. Maybrick sentira o cheiro do sangue. A caçada começara. O inquérito, no Whitechapel Working Lads Institute (ao lado da actual estação de metropolitano de Whitechapel) cheio até à porta, foi dirigido pelo elegante coroner Wynne Edwin Baxter, que apareceu, recém-chegado de uma volta pela Escandinávia, vestido com calças axadrezadas brancas e pretas, colete branco e lenço carmesim. O Dr. Llewellyn foi chamado do seu consultório em Whitechapel Road para examinar o corpo. Descreveu um ferimento denteado, com um comprimento de 5 em a 7 em, no lado esquerdo do abdómen. Era 72 muito profundo e os tecidos haviam sido cortados. Havia várias outras incisões ao longo do abdómen e três ou quatro cortes que desciam pelo lado direito, todos provocados por uma faca. Este relatório deu origem à convicção de que o assassino se encontrava de pé em frente à vítima, lhe agarrava no queixo com a mão direita e lhe cortava a garganta, da esquerda para a direita, segurando a faca na mão esquerda. Mas essa técnica exigiria um contorcionista. Em contrapartida, os autores de The Jack the Ripper A-Z sugerem que "ficava de pé em frente das vítimas na posição normal de quem tem relações sexuais de pé; que lhes agarrava no pescoço com ambas as mãos, reduzindo-as assim instantaneamente ao silêncio e pondo-as rapidamente inconscientes; que as atirava para o chão, com as cabeças voltadas para a sua esquerda, cortando-lhes as gargantas puxando para si a faca. O fluxo de sangue arterial inicial ficaria, desse modo, longe dele e evitaria grandes salpicos de sangue. Ademais, isto sugere também que seria dextro. " De volta a Liverpool, Maybrick procurou avidamente nos jornais as notícias do seu segundo homicídio. Não ficou desapontado. A espera para ler acerca o meu triunfo pareceu longa, embora não fosse 1 ... 1 todos escreveram bem. Da próxima vez vão ter muito mais sobre que escrever, desse facto não tenho a menor dúvida ha ha. Vou manter,me calmo e não mostrar interesse pelo meu acto, se alguém se referir a ele, mas rirei por dentro, oh como rirei. Um repórter do Star, talvez LincoIn Springfield ou Harry Dam, passou a pente fino os pubs locais e os dormitórios, em busca de uma descrição do assassino. Afirmou ter entrevistado cerca de 50 mulheres em três horas e que todas tinham fornecido pormenores idênticos acerca de um homem a quem os habitantes da zona chamavam "Avental de Couro". Isto pode bem ter sido verdade, caso o repórter tenha começado por encharcar as mulheres com cerveja e, depois, lhes tenha pedido para plasmarem as suas próprias suspeitas. E, assim, o Avental de Couro apareceu no Star. Foi descrito como tendo cerca de 40 anos, baixo e com um aspecto semita, com um pescoço extremamente grosso e bigode preto. Os seus movimentos eram 73

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"silenciosos e sinistros", os olhos brilhavam e tinha um "sorriso repulsi~>. Na verdade, o judeu polaco a quem chamavam Avental de Couro um sapateiro cujo verdadeiro nome era John Pizer - estava inocetite, embora tivesse sido acusado de algumas agressões menores, no passado. Mas, na noite do assassínio de Polly Nichols, encontrava-se na Seven Sisters Road, em Holloway, North London, a ver o reflexo provocado no céu por dois grandes fogos nas docas, e foi visto não só pela governanta de um albergue, mas também por um polícia. Assim, apesar do enorme desejo demonstrado por um polícia, o sargento William Thick, para o prender, não podia ser relacionado com o homicídio e recebeu inclusive uma pequena indemnização dos jornais por difamação. Este tipo de sensacionalismo era uma novidade vitoriana e o caso constituía o material ideal para uma tendência perniciosa. Os leitores eram confrontados com palavras nunca antes impressas nos seus jornais e ilustrações anatómicas de primeira página que mostravam corpos horrorosamente mutilados. A reprimida opinião pública vitoriana bebia avidamente todos os pormenores terríveis e depravados. Até mesmo a imprensa norte-americana noticiou o caso, ligando-o com a história de Edgar Allan Poe "O Crime da Rua Morgue". Os jornais americanos escreveram a respeito de um homem baixo, com olhos negros e perversos, deslocando-se silenciosamente numa "corrida estranha". Um repórter demasiado imaginativo do New York Times descreveu de que modo Polly NichoIs fugira do local onde fora atacada para ser encontrada a várias ruas de distância, com a cabeça quase cortada. Politicamente, Jack, o Estripador, apareceu numa época interessante. O escritor irlandês George Bernard Shaw chamou-lhe um "génio independente, que, ao esventrar cinco mulheres, conseguiu colocar os jornais do lado dos oprimidos". Ademais, a capital encontrava-se no auge das primeiras eleições para o London County Council, em que os radicais procuravam controlar o East End. Os títulos de caixa alta relativos aos crimes do Estripador também lançavam luz sobre o desemprego e as terríveis condições de vida do proletariado londrino. Os seus actos terríveis foram, em parte, responsáveis por reformas sociais posteriores e melhoramentos nos procedimentos da polícia. As cinco mulheres que assassinou no East End londrino tomaram-se, assim, mártires de uma causa. 74 Era mera coincidência, é claro, o facto de O Médico e o Monstro, de Robert Louis Stevenson, entusiasmar, à data, as plateias do teatro, em Londres. Embora a peça não tratasse da repressão sexual, estava mais perto da verdade do que qualquer pessoa poderia imaginar. Conta a história do idoso e respeitável Dr. jeky11, que descobriu uma poção que libertou o lado escondido da sua personalidade - "uma certa i .uventude, a leveza do andar, o pulso acelerado e prazeres secretos" -, mas que acordou também nele "o espírito do inferno" e o compeliu a matar nas ruas de Londres. Esse espírito dividido era james Maybrick. Uma semana depois de ter matado Polly Nichols, estava a planear o próximo homicídio. 6 "ESPERO ANSIOSAMENTE O TRABALHO DE AMANHÃ À NOITE, VAI FAZER-ME BEM, MESMO MUITO BEM" Maybrick estava a gostar da celebridade. Não conseguira resistir à emoção de discutir o assassínio de PoIly NichoIs com o seu amigo mais chegado, George Davidson, embora tenha tomado o cuidado de não dar a entender o seu próprio envolvimento. Os dois tinham falado acerca da excelente polícia local e concordado que acontecimentos como o crime de Whitechapel não podiam ocorrer em Liverpool, onde as mulheres podiam andar pelas ruas em segurança.

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Mais tarde, Maybrick escreveria a respeito desta conversa: E podem na verdade porque não vou jogar os meus joguinhos engraçados à porta de minha casa. ha ha Estava alegre e planeou de imediato repetir a façanha. Não vou deixar passar muito tempo antes da próxima. Na verdade preciso de repetir o meu prazer o mais cedo possível. O proxeneta pode possuí-Ia com prazer e eu terei o meu prazer com os meus pensamentos e actos. Serei esperto. Não irei a casa de Michael aquando da minha próxima visita. Os meus irmãos ficariam horrorizados se soubessem, sobretudo Edwin, afinal não disse ele que eu era um dos homens mais delicados que jamais conhecera. Espero que esteja a gozar os frutos da América. Ao contrário de mim, já que tenho um fruto azedo. O homem delicado com pensamentos delicados atacará de novo em breve. Nunca me senti melhor, de facto, estou a tomar 77 mais do que nunca e posso sentir a força a acumular,se dentro de mim. A cabeça vai sair da próxima vez, e também as mãos da puta. Deverei deixá-las em vários locais espalhados por Whitechapel? Procurem a cabeça e as mãos em vez da carta da vermelhinha. ha ha. Talvez leve alguma parte comigo para ver se sabe mesmo a bacon acabado de fritar. No fim de semana seguinte, tornou a partir para Londres. Nenhum dos passageiros que seguiam no comboio nessa sexta-feira 7 de Setembro, uma semana depois da morte de Polly Nichols, poderia suspeitar que viajava na companhia do homem mais procurado de toda a Grã-Bretanha. Maybrick fez a viagem até à estação de Euston, em Londres, no conforto de uma carruagem forrada a castanhos e dourados da London and North Western RaiIway. Em tal luxo, diz-nos no seu diário, alinhavou algumas tentativas desajeitadas para versejar: One dirty whore was looking for same gain Another dirty whore was looking for the same. [Uma puta suja andava à procura de algum ganho Outra puta suja andava à procura do mesmo.] Com estes dois pequenos versos, Maybrick recorda o seu encontro com Polly Nichols. Fica tão contente com o resultado que, depois de todos os homicídios subsequentes, escreve versos prenhes de referências intrigantes a coisas que tinham significado para ele. As rimas tornam-se uma obsessão, com muitos riscos e novas tentativas. São uma forma importante de Maybrick se convencer da sua superioridade intelectual, sobretudo em relação ao irmão mais novo. No diário, exprime repetidas vezes o seu temor e inveja em relação a ele: se Michael consegue fazer versos então eu posso fazer melhor, muito melhor ele não vai fazer melhor que eu. Pensa, louco, pensa. Amaldiçoo Michael por ser tão esperto, vou ultrapassá-lo, vou fazer por isso. Um versinho engraçado vai aparecer. 78 Na verdade, Maybrick mostrava evidentemente pouco interesse real pela carreira de Michael e parece desconhecer que o irmão escrevia a música, mas não as letras, que o tornara tão popular. O que importa é o profundo sentimento de inferioridade de Maybrick. Os seus actos terríveis e a necessidade de escrever sobre eles fazem parte da sua tentativa desesperada de provar a si mesmo, e ao mundo, o seu imenso valor intelectual e físico. Ao longo de todo o diário ele precisa de garantir a si próprio que é mesmo "esperto". A palavra aparece nada menos do que 25 vezes. A segunda vítima que o Estripador fez em Whitechapel era Annie Chapman, de 47 anos. Filha de um soldado da Guarda Real, abandonara o marido e os dois filhos para viver da venda de flores - e, de vez em quando, da da sua própria pessoa. Aquando da sua morte já tinha uma doença terminal, nos pulmões e no cérebro, mas era obrigada a continuar a ganhar para a cama onde dormia. Era baixa e atarracada, mas bem proporcionada. Os amigos descreveram-na como uma uma mulher sóbria, que só bebia aos sábados à noite.

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Cerca das 11.30 h da noite de 7 de Setembro, Timothy Donovan, que tomava conta da Crossingharn's Lodging House, deixou Annie Chapman entrar na cozinha, onde ela tirou do bolso uma caixa que continha duas pílulas. A caixa estragou-se e ela embrulhou as pílulas num sobrescrito rasgado que encontrou no chão. Depois, disse que ia sair para ganhar algum dinheiro. a A última pessoa a ver Annie Chapman foi a Sr. Elizabeth DarrelI, no passeio junto ao n.o 29 da Haribury Street. A hora exacta é incerta, mas foi entre as 5 h e as 5.30 h da manhã. Estava a falar com um a "hornem elegante, mas pobre", que a Sr. Darrell ouviu dizer: "Queres?" "Sim", respondeu ela. O homem era, sem dúvida, Maybrick. Ele e a prostituta desapareceram juntos pela travessa estreita que conduzia, descendo dois degraus, a um pequeno pátio nas traseiras do n.' 29, uma casa a ameaçar ruínas onde viviam dezassete pessoas. Aí, Maybrick agarrou-a pelo pescoço e estrangulou-a. Cortando da esquerda para a direita, também não conseguiu separar a cabeça. Meu Deus gostava de ter conseguido tirar a cabeça. 79 Rasgou-lhe o ventre de par em par e espalhou-lhe os intestinos por cima do ombro esquerdo e, depois, retirou-lhe o útero e parte do abdómen. A Sr . aAmelia Richardson, que fabricava embalagens, a Sr.aHardyman, uma mulher que alimentava os gatos, o Sr. Walker e o a seu filho atrasado, o cocheiro Thompson, o Sr. e a Sr. Copsey, que eram cigarreiros, e o velho John Davis, a mulher e os três filhos - continuaram a dormir, sem serem perturbados, a poucos metros de distância. Cerca das 5.30 h, Albert Cadosch, um carpinteiro que vivia na casa ao lado, ouviu alguém a falar no pátio. Pensou ter ouvido uma voz dizer "Não" e, em seguida, um embate contra a cerca. Mas não prestou atenção e dirigiu-se para o trabalho, na Haribury Street. Não encontrou vivalma. Quando John Davis acordou, às 5.45 h, foi até ao pátio e ficou horrorizado ao ver o corpo retalhado e sangrento de Annie Chapman. "Não consigo descrever o que estava estendido ao lado dela", afirmou. "Era uma parte do seu corpo. " Não demorou muito a juntar-se uma multidão excitada. Mais tarde, todos se lembrariam do espectáculo grotesco das meias de lã de Annie Chapman, retiradas das pernas e aparecendo por debaixo da saia em desalinho. Era um relato que aterrorizava amigos e conhecidos. A mulher assassinada foi coberta com uma saca e levada, deixando todos os seus bens terrenos no local onde Maybrick os abandonara. Havia um pedaço de musselina e dois pentes. "Na roupa da morta havia duas moedas de farthing, tão polidas que levavam a concluir que pretendia que passassem por meios-soberarios", dizia o Evening News de 8 de Setembro. Estas moedas não foram mencionadas no inquérito e nunca mais voltaram a ser referidas. Foi encontrado um sobrescrito rasgado, separado do resto dos pertences da mulher. O inspector Joseph Chandler, da Divisão H do Departamento de Polícia, reparou na letra "M", naquilo que julgava ser caligrafia masculina, num dos lados, juntamente com um carimbo de estação de correios: "Londres, 28 de Agosto de 1888." Nas costas encontrava-se o carimbo do Regimento de Sussex. Mais tarde, a 14 de Setembro, o inspector Chandler foi interrogar os homens do 1.o Batalhão do Regimento de Sussex, em FamborouLh, Hampshire, para resolver o mistério do sobrescrito. Descobriu que tais sobrescritos se encontravam à venda ao público e poderiam ter sido enviados por qualquer pessoa. 80

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Três dias depois do assassínio de Annie Chapman, enquanto o East End era vasculhado pela polícia, Maybrick encontrava-se em Liverpool, sozinho com os seus pensamentos. Em casa, um dos seus grandes prazeres era arreliar. A pequena Florence Aunspaugh lembrava-se de, no início desse ano, ele ter deixado Florie em pranto por causa de um buraco que ela tinha nas meias. Agora, começava a gostar de fazer jogos com a polícia. Piadas e adivinhas encontram-se espalhadas ao longo do diário, sobretudo em versos irregulares, e nos locais dos seus crimes. A entrada que Maybrick escreveu três dias depois do assassínio de Annie Chaprnan está cheia de pistas dessas: As pílulas são a resposta acabam as pílulas. Na verdade não é que eu sempre oh que piada A descoberta das pílulas da sua última vítima divertiu obviamente Maybrick. Ao fim e ao cabo, não sabia que ela estava a morrer e pode presumir-se que tenha pensado que eram ambos viciados. A sua resposta poética era um verso desconexo e incoerente acerca das pílulas, cujo significado não é claro: Deixou duas* 1 Nenhuma pílula, ficou a não ser duas Não sou mesmo um tipo esperto? Faz-me rir eles nunca irão compreender por que fiz assim. Será que o assassino tirou as pílulas de Annie Chapman do sobrescrito e as substituiu por duas das suas? Referindo-se ao sobrescrito onde apenas foi deixada a letra "M" no rosto, Maybrick escreve: A letra M é verdadeira* juntamente com M ha ha Apanhará o esperto Jim, Aqui, e ao longo do resto do livro, um asterisco (*) indica que foi riscada uma linha do diário. 81 Parece que foi o sobrescrito rasgado que deu a Maybrick a ideia de deixar a inicial do seu apelido no local dos crimes. Originalmente, o nome e endereço deveriam estar mais completos, mas, quando Maybrick o deixou, só restava o "M". O mistério envolve também os anéis de latão que, segundo as amigas, Annie andara a usar. Maybrick diz-nos que os arrancou violentamente porque lhe faziam lembrar a aliança de casamento da mulher. Sempre com os anéis, um anel, dois anéis puta, demorei um bocado até os conseguir tirar. Devia têlos enfiado pela garganta abaixo da puta. Meu Deus gostava de ter conseguido tirar a cabeça. Odeei-a por os usar, lembra-me demasiado a puta [ ...1 Um anel, dois anéis Um anel, dois anéis Um jornalista, Oswald Allen, escreveu na Pall Mall Gazette: "Uma característica curiosa deste crime foi o assassino ter arrancado alguns anéis de latão, quando havia algumas quinquilharias que foram retiradas dos bolsos dela e colocadas cuidadosamente a seus pés.>@ Esta história foi sofrendo alterações à medida que foi contada e transformou-se em "uma pilha de anéis e moedas". Nunca houve uma pilha de anéis; desapareceram porque Maybrick os levou. Outro aspecto diferente do segundo homicídio de Whitechapel foi a verdadeira "dissecação" do corpo da vítima. O Dr. George Bagster Phillips, um cirurgião da polícia que realizou ou assistiu às autópsias de quatro das vítimas, julgava que o assassino devia ser um médico. De então para cá, tem sido debatida a sapiência médica do assassino, mas a maioria dos médicos, hoje em dia, está de acordo em que, embora a extremidade inferior do útero e o colo de Annie Chaprnan tenham sido separados com um único corte nítido através do canal vaginal, o resto da "operação" foi extremamente inepto. O coroner, Wynne Baxter, avançou uma teoria imaginativa, originada numa notícia da imprensa, segundo a qual um americano andara a visitar hospitais londrinos tendo em vista a exportação de úteros conservados. Esse comércio macabro podia, defendia o coroner, proporcio82 nar um móbil para o crime. Mas a imprensa médica refutou de imediato a ideia.

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Na altura, sabia-se pouco acerca da psicologia do assassino em série. A sua necessidade de retirar os órgãos femininos, como um meio de controlo, era desconhecida. A canibalização de tais órgãos era um jogo de poder adicional e pervertido. Na verdade, num ataque de fúria quando descobriu que se esquecera do giz com que planeava escrever a pista, Maybrick voltou atrás e tirou uma segunda dose. Trouxe um pedaço comigo. Está à minha frente. Tenciono fritá-lo e comê-lo mais tarde ha ha. O mero pensamento abre-me o apetite. Poucas pessoas provaram carne humana e ainda são menos as que o admitem. Se o útero, a vagina ou a bexiga são comestíveis é um ponto controverso. Esses órgãos são sobretudo constituídos por músculos e seriam difíceis de comer. O prazer que Maybrick confessou sentir em relação ao canibalismo foi algo que se ouviu também também durante o julgamento do Estripador russo, Andrei Chikatilo, em 1992. "Gosto de mordiscar um útero", testemunhou. "São tão rosados e elásticos, mas, depois de os mordiscar, atiro-os fora." Após o assassínio de Annie Chaprnan, dezasseis comerciantes do East End formaram um Comité de Vigilância de Whitechapel- Sob a presidência do construtor George Lusk, pediram uma maior iluminação das ruas e melhor policiamento da zona. Pouco depois, o The Times sugeriu mais uma teoria: que o assassino talvez não fosse, ao fim e ao cabo, um membro da classe operária, e viveria e seria respeitado na área. Havia também um sentimento popular, que sem dúvida se baseava mais em preconceitos do que em provas, de que só um estrangeiro poderia cometer tais crimes. Em Whitechapel, estrangeiro queria dizer judeu e, por isso, a polícia estava preocupada com o crescente anti-semitismo. Li tudo acerca dos meus actos e fiquei orgulhoso, tive de rir, descreveram-me como canhoto, um médico, um magarefe e um 83 judeu. Muito bem, se pretendem insistir em que sou um judeu então judeu serei. Por que não deixar sofrer os Judeus? Nunca gostei deles [...] A 22 de Setembro, a revista Punch publicou uma caricatura que divertiu Maybrick, dado o seu gosto por jogos de palavras. Mostrava um polícia, de olhos vendados e posto a girar por quatro patifes. A legenda: "Dá três voltas e apanha quem puderes! " Não consegui parar de rir depois de ter lido a Punch lá à vista de toda a gente estavam as três primeiras letras do meu apelido. São cegos como dizem. Não posso parar de rir diverte-me tanto por isso deverei escrever-lhes uma pista. May comes and goes In the dark of the night he kisses the whores then gives them a fright The jews and the doctors Will get all the blame but its only May playing his dirty game [Maio vem e vai Na escuridão da noite ele beija as putas depois dá-lhes um arrepio Os judeus e os médicos Vão ficar com a culpa toda mas é apenas Maio a jogar o seu jogo sujo] Os versos mostram que Maybrick concebera um plano para utilizar o anti-semitismo como táctica de diversão importante para afastar a 84 PUNCH, OR THE LONDON CHARIVARI.~-SzpTxxBaR 22, l8M. UIND-MAN'S BUFF. (As play,,1 by 11,@

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11 TURN ROUNI) TITREE TIVES, AND CATC11 WHOM YOU MAY! " polícia da sua peugada aquando do próximo crime. Depois, como ocorre tão amiúde no diário, muda subitamente de estado de espírito: Estou a travar uma batalha dentro de mim. O meu disejo de vingança é avassalador. A puta destruiu a minha vida. Tento sempre que possível manter todo o sentido da respeitabilidade [ ... 1 Sinto saudades da excitação de as abrir. Acredito mesmo que perdi o juízo. Pepois do segundo homicídio horrendo de Whitechapel, e consequente indignação, a megalomania de Maybrick estava claramente a tomar conta dele. Apenas alguns meses antes, durante as suas férias em Battlecrease, a pequena Florence Aunspaugh ouvira a enfermeira Y;app referindo-se ao patrão como Sir James. O título lisonjeava-o obviamente, embora não tenha sido esse o nome que acabou por lhe granjear um lugar na história. No diário, refere-se a si mesmo como "Sir Jim" e, de vez em quando, "Sir Jack". Jack é uma forma familiar usada há muito para James, e podemos imaginar o prazer do homem que adorava os jogos de palavras com o seu nome quando descobriu que as duas primeiras letras de James e as duas últimas de Maybrick formavam "Jack". Em todo o diário, há apenas duas vezes (uma delas a assinatura final) em que utiliza o infame pseudónimo "jack, o Estripador", que o púbico e a imprensa retiraram de cartas assinadas com esse nome e enviadas a partir de Setembro de 1888. A maioria provinha de brincalhões, mas nem todas. Antes de ter terminado toda a Inglaterra conhecerá o nome que dei a mim próprio. Na verdade é um nome para recordar. Estará, dentro de pouco tempo, nos lábios de todas as pessoas deste país. Talvez sua Majestade sereníssima se habitue a ele. Perguntome se me concederá um pariato. ha ha. É neste ponto que o inspector Abberline é mencionado pela primeíra vez. Era o inspector da Polícia Metropolitana que chefiava os detectives que se encontravam em Whitechapel na altura dos crimes do Estripador. Abberline diz, nunca esteve espantado Fiz o meu trabalho com tanta honra Para Maybrick, Abberline representa as forças que se lhe opõem, a polícia, referida ao longo de todo o diário como "galinhas sem cabeça>@Diverte-se muito a gozar com os seus esforços infrutíferos para o capturarem, mas, mais tarde, Abberline surge no diário como o "perseguidor" e o "carrasco" que povoa os seus pesadelos. Apesar dos seus escárnios cruéis e imagens grotescas, Maybrick podia ser surpreendentemente vulnerável. Estes vislumbres de fraqueza perfeitamente natural parecem verdadeiros e jogam em favor da autenticidade do diário. Esses momentos secretos pertencem apenas a Maybrick e ao seu diário. Visitei a campa da minha mãe e do meu pai. Anseio por me juntar a eles. Penso que eles conhecem a tortura a que a puta me está a submeter. Parecia terno e amante dos filhos e, no entanto, tinha medo de que, à medida que as drogas dominassem cada vez mais os seus actos, até eles estivessem em perigo. Estou a começar a pensar menos nas crianças, uma parte de mim odeia-me por o fazer. Mas não havia a menor compaixão para com Florie. Dava-lhe todas as oportunidades para se encontrar com o seu "proxeneta" e deliciava-se com os pensamentos acerca do que poderiam estar a fazer: A puta viu o chulo hoje não me incomodou. Imaginei que estava com eles, o mero pensamento excita-me. Pergunto-me se a puta terá tido alguma vez pensamentos destes?

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Nesse Setembro, Maybrick pagou a primeira e maior de duas novas apólices de seguro. Era de 3000 libras e tratava-se de um seguro da sua vida, junto da Mutual Reserve Fund Life Association de Nova lorque. Provavelmente, enganara a companhia, visto que os amigos haviam reparado numa evidente deterioração do seu aspecto físico. Estava a envelhecer rapidamente e John Aunspaugh duvidava até que conseguisse chegar ao fim do ano. O medo que Maybrick tinha da doença e da morte estava a tomar-se uma realidade. 87 No que respeitava à campanha de Maybrick, como lhe chamava, tudo estava a correr de acordo com os planos. Era alvo de enorme publicidade. As especulações quanto a ele poder ser judeu faziam apelo ao seu sentido da ironia, enquanto a ideia de ser um médico adulava o seu ego de viciado em drogas. Estava motivado, pronto para continuar com o seu trabalho. Da próxima vez, levaria o giz. 7 "PARA MEU ESPANTO NÃO CONSIGO ACREDITAR QUE NÃO TENHA SIDO APANHADO" A noite de 29 de Setembro de 1888 foi extremamente chuvosa. Cerca das 11 h da noite, Elizabeth Stride, de 44 anos, nascida na Suécia e conhecida como Long Liz, procura va abrigar-se da chuva à porta do Bricklayers Arras, na Settles Street. Foi vista por John Gardner e o seu amigo Best, ambos operários, a ser abordada por um homem vestido de forma respeitável, de fato preto e sobretudo. O velho Matthew Packer afirmou que, um pouco mais tarde, um homem que acompanhava Elizabeth Stride comprou algumas uvas na sua loja, na Berner Strect. O International Workingmen's Educational Club, dirigido por judeus, já pusera na rua os seus cerca de 150 membros radicais após uma reunião animada no primeiro andar do n.' 40 de Berner Street. Alguns membros haviam ficado lá e podia ouvir-se o som da música popular russa. O guarda William Smith pensou ter visto Elizabeth Stride cerca da meia-noite e meia-hora, quando fazia a ronda. Estava com um homem bem vestido, com um casaco preto, um chapéu de feltro duro preto e colarinho branco e gravata. Reparou também numa flor vermelha pregada no casaco da mulher. a Depois de a Sr. Fanny Mortimer ter ouvido @<o passo pesado" do guarda Smith passar pela sua casa, foi para a porta da rua e ficou lá a ouvir a música que vinha do clube. Ao lado do edifício do clube, passando por uma meia porta entre dois postes de madeira, havia uma passagem escura que conduzia a um pátio não iluminado utilizado pelo construtor de furgões e carroças Arthur Dutfield. A Sr aMortimer afirmou que, enquanto esteve à porta, não viu ninguém entrar ou sair do pátio. 89 Cinco minutos mais tarde, Israel Schwartz passou junto do portão de Dutfield's Yard. Não testemunhou no inquérito e o seu relato só foi noticiado no Star e no Evening Post - embora a polícia acreditasse nele. Na verdade, passou particamente despercebido nos arquivos do Ministério do Interior até ao aparecimento do livro Jack the Ripper: The Final Solution, de Stephen Knight, em 1976. Schwartz afirmou ter visto um homem, no lado mais afastado da rua, abeirar-se de uma mulher que estava de pé junto à meia porta que dava para o pátio. O homem atirou-a ao chão e arrastou-a para o beco. Schwartz disse que "ela gritou três vezes, mas não muito alto". Descreveu o homem como tendo cerca de 30 anos, com um bigodinho castanho e um boné com pala preta.

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Esta descrição adaptava-se a Aaron Kosminski, o judeu polaco, e poderia explicar a sua inclusão entre os possíveis estripadores. Sir Robert Anderson, comissário assistente do Departamento de Investigação Criminal (CID) da Polícia Metropolitana que esteve encarregado da investigação do Estripador entre Outubro de 1888 e 1892, estava convencido da culpa de Kosminski. Anderson baseava essa opinião nas provas fornecidas por uma testemunha não identificada que, afirmava, fora "o único homem que alguma vez vira bem o assassino". Mais ou menos na mesma altura, disse Schwartz na sua entrevista ao Star, a 10 de Outubro, um segundo homem saiu da cervejaria, na esquina da Fairclough Street, e ficou de pé, silenciosamente, na sombra. O agressor, ao ver Schwartz, gritou subitamente: "Lipski!" Era um insulto, dado que Lipskí era um judeu que fora condenado por homicídio no ano anterior. Mesmo tomando em consideração a escuridão da noite chuvosa e o carácter pouco fiável de qualquer identificação visual, a descrição que Schwartz faz deste segundo homem adapta-se à do homem que foi visto à porta do pub e à do homem que comprou as uvas. Schwartz achava que ele tinha cerca de 35 anos, media cerca de 1,90 m, com cabelo e bigode castanho-claros. Estava vestido com um sobretudo escuro, chapéu de feltro duro de aba larga e trazia uma faca. No entanto, o inspector Abberline fez um relatório para o Ministério do Interior, em 1 de Novembro, dizendo que Schwartz, que não falava inglês e precisava de um intérprete, descrevera o segundo homem a acender o cachimbo e sem qualquer faca. Esta confusão demonstra o perigo de se dar demasiada importância aos relatos da época. Quer estivesse a agarrar numa faca 90 ou num cachimbo, penso que o segundo homem poderia ter sido Maybrick. O primeiro agressor fugiu e Schwartz correu na direcção oposta, porque não queria ser implicado com o homem ou com a agressão dando a Maybrick a oportunidade de que este precisava. Maybrick pode tê-lo seguido durante alguns instantes para ter a certeza de que Schwartz desaparecera e depois, pretextando talvez ajudá-la, conduziu Elizabeth Stride para Dutfield's Yard. O espaço fechado teria atraído um jogador com gosto pelo perigo, como era o caso de Maybrick. Havia apenas uma saída e, desse modo, se viesse mais alguém seria apanhado. Por outro lado, tinha a vantagem da escuridão, Não havia tempo a perder. Agarrando freneticamente Elizabeth Stride pelo lenço que tinha em redor do pescoço, empurrou-lhe a cabeça para trás, estrangulando-a antes de ter tempo para gritar. Então, cortou-lhe a garganta. Continuava a agarrar, na mão fechada, um pacotinho daquelas pílulas que os fumadores costumavam mascar para disfarçar o vício. Sabe-se que o próprio Maybrick as usava. No meio da carnificina, era do cheiro delas que se lembrava: Mas ainda conseguia cheirar o seu hálito perfumado A mulher estava morta, mas não houvera oportunidade para mutilar o seu corpo. Louis Diemshutz, um vendedor de joalharia barata, descreveu no Star de 1 de Outubro como chegara a Dutfield's Yard, à 1 h da manhã, com a sua carroça e o cavalo. Interrompeu o ataque assassino e, embora fosse demasiado tarde para salvar a vida de Elizabeth Stride, o seu aparecimento evitou a selvajaria subsequente. Ao entrar para o pátio, o cavalo desviou-se em direcção à parede da esquerda para evitar uma obstrução do caminho. Diemshutz incli, nou-se e bateu com o chicote no embrulho ensopado. Tratava-se do corpo de Elizabeth Stride. Maybrick estava escondido nas sombras, fora da vista. O aterrorizado Diemshutz não o viu. O seu pânico salvou a vida do Estripador.

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Para meu espanto não consigo acreditar que não tenha sido apanhado. O meu coração parecia ter-me saído do peito. No meu pânico imaginava o meu coração aos baldões pela rua comigo a 91 segui-lo em desespero. Teria gostado muito de cortar a cabeça do maldito cavalo e enfiá-la para o fundo da garganta da puta. Não tive tempo para abrir a puta de par em par, amaldiçoo a minha pouca sorte. Penso que a excitação de ser apanhado me excitou mais do que cortar a própria puta. Enquanto estou a escrever acho difícil de acreditar que ele me não tenha visto, segundo os meus cálculos estava a pouco mais de um metro dele. O parvo entrou em pânico, foi isso que me salvou. A minha satisfação estava longe de ser total, maldito filho da mãe, amaldiçoei-o e amaldiçoei-o, mas fui esperto, não conseguiram exceder-me. Ningué o fará. Ao fim de alguns minutos, reuniram-se vários agentes da polícia e transeuntes no pátio, que continuava tão escuro que foi preciso utilizar um fósforo para iluminar a terrível cena. Elizabeth Stride estava deitada de costas, atrás do portão. O assassino desaparecera. Talvez Maybrick não devesse ficar surpreendido por não ter sido apanhado. A psiquiatria era uma disciplina nova em 1888 e a ciência de investigação criminal mal existia. Os funcionários mais importantes da polícia sabiam alguma coisa acerca da base sexual dos homicídios de Whitechapel, mas não discutiam o assunto com os subordinados. Até mesmo os repórteres criminais experientes não estavam familiarizados com o conceito de assassino em série psicopata. Todos os assassínios de Whitechapel, excepto um, caíram sob a alçada da Polícia Metropolitana. Fundado em 1829, o departamento era responsável por toda a Londres, exceptuando a City. A sua área estava organizada por divisões, sendo a Divisão H a correspondente a White, chapel. Consequentemente, os jornais comparavam desfavoravelmente a Polícia Metropolitana com a da City - embora, é claro, nenhuma delas tenha andado perto de capturar o Estripador. Os agentes da Polícia Metropolitana respondiam perante o Ministério do Interior, cujos funcionários públicos tinham um poder consi, derável e tomavam muitas decisões de que o público culpava a polícia. Por exemplo, esses burocratas proibiram que fosse oferecida uma recom, pensa do Governo a quem quer que desse informações que conduzissem a uma captura. O ministro do Interior, Henry Matthews, era um homem inteligente, com um raciocínio legal excelente, e que, no entanto, se tornou impopular por causa do caso. Conseguiu provocar a demissão de 92 dois comissários da Polícia Metropolitana durante o tempo em que exerceu funções. (A propósito, pouco menos de um ano depois dos homicídios, Matthews viria a encontrar-se perante decisões difíceis a respeito do pretenso assassínio de James Maybrick.) Um desses comissários de polícia era Sir Charles Warren. Cristão evangélico e ex-soldado, chefiava com uma precisão militar e ainda era zurzido pela imprensa devido à mão pesada com que interviera numa manifestação de massas contra o desemprego, no ano anterior. O Star escreveu, a 10 de Setembro: "Para tornar maior a lista de loucuras desajeitadas, Sir Chartes Warren, cujo nome fede nas narinas do povo de Londres, transferiu ultimamente todos os detectives do East End para o West e transferiu a equipa do West End para o East." Tratava,se de um acto que se destinava a garantir que os homens no terreno não tivessem conhecimento ou soubessem alguma coisa do seu novo território. O inspector Frederick George Abberline era o nome mais conhecido em todo o caso, talvez porque tinha um enorme sentimento da sua importância própria. Mas, como conhecia bem a área e os seus

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rufias, estava encarregado das investigações quotidianas. Era Abberline que Maybrick escolhia para alvo do seu sarcasmo: Oh o Sr. Abberline, ele é um homenzinho esperto À mesma hora em que Maybrick fugia de Dutfields Yard, Catharine Eddowes, de 48 anos, filha de um latoeiro de Wolverhampton, estava a ser solta da esquadra de polícia de Bishopsgate, na Cíty. Nesse dia, mais cedo, empenhara um par de botas para pagar uma chávena de chá, mas, às 8.30 h da noite, estava embriagada e fora detida por causar distúrbios, afirmando ser um carro de bombeiros. Deixou a esquadra à 1 h da manhã, quando era "tarde de mais para comprares bebidas", disse o guarda George Hutt. "Boa noite, picha velha@>, respondeu ela, e voltou à esquerda, em direcção a Houndsditch. Cerca de oito minutos mais tarde devia estar junto à entrada da Duke Strect, ao fundo da qual havia uma travessa coberta chamada Church Passage, que conduzia à Mirre Square. Maybrick deixara provavelmente a Bemer Street, virara à esquerda para a Commercial Road e novamente à esquerda pela Whitechapel High Street, na direcção da Middlesex Street. No entanto, não foi para o seu quarto e continuou até Aldgate, atravessando, inteligentemente, 93 a linha divisória entre as jurisdições da Polícia Metropolitana e da polícia da City. Desesperado pela frustração, caminhava a bom passo, embora não suficientemente depressa para atrair as atenções. Com o tráfego difícil de hoje em dia, o passeio demora cerca de vinte e cinco minutos, mas nessa altura deve ter exigido um quarto de hora. Na Church Passage, perto de Mínories, o caminho de Maybrick cruzou-se com o de Catharine Eddowes e à 1.35 h foram vistos a passear juntos por Joseph Lawende. Lawende, um judeu vendedor de cigarros, encontrava-se entre as pessoas que identificaram Eddowes, pela sua roupa, na morgue. Lawende descreveu também aos investigadores o homem que vira e apareceu uma notícia sobre isso no The Times de 2 de Outubro. Dizia que tinha cerca de 30 anos, media quase um 1,90 m, com um bigode claro e um boné de pano. Parece que Maybrick conseguira, uma vez mais, atrair a presa para um canto. Desta vez o seu delírio não foi interrompido. Atirou ao chão Catharina Eddowes, estrangulou-a e cortou-lhe a garganta. Depois, com uma fúria incontrolável, golpeou-lhe e mutilou o rosto, cortando as pálpebras, maxilares e lábio superior. A ponta do nariz e partes das orelhas foram cortadas. Com uma satisfação depravada rasgou-lhe o ventre, cortando os órgãos internos, retalhando os intestinos e separando o cólon, que empilhou a seu lado. Como toque final, gravou dois Vs invertidos, cada um por debaixo de um olho. Na altura, as notícias referiam pre, gas triangulares. Ninguém reparou que, em conjunto, formavam um @<M" - o @<M" que, agora, era o seu cartão de visita, o "M" de Maybrick. Primeiro, fora encontrado no sobrescrito de Annie Chapman. Agora, gravava-o no corpo da vítima. Não tivera tempo para deixar a sua marca em Elizabeth Stride, ou perto dela. O "M" é claramente visível num desenho que foi descoberto na cave do London Hospital e publicado pela primeira vez na Hospital Gazette, em 1966. Era acompanhado por um artigo do patologista Professor Francis Camps e um desenho, feito na época, do rosto mutilado de Catharine Eddowes. O "M" está lá, com grande nitidez. Maybrig também não deixa espaço para ambiguidades: O nariz dela aborrecia-me por isso cortei-o, atirei-me aos olhos dela, deixei a minha marca, não consegui cortar a cabeça da puta. 94

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Vasculhando nos bolsos fundos da saia da vítima, Maybrick encontrou um pente e algumas latinhas, que abriu. A cigarreira de couro encarnada que foi deixada ao lado do corpo podia muito bem ser dele. Seria improvável uma prostituta pobre trazer consigo tal adereço. Como não encontrou nada de interesse, meteu tudo de novo nos bolsos e fugiu, levando o útero de Catharine Eddowes e um rim. O corpo ficou enrodilhado no canto, onde foi descoberto pelo guarda Edward Watkins, à 1.45 h da madrugada. O cirurgião da polícia, Dr. E Gordon Brown, chegou ao local do crime pouco depois das 2 h. A lista algo triste, elaborada pela polícia, das roupas e dos poucos objectos miseráveis que Catharine Eddowes trazia consigo é semelhante a uma entrada do próprio diário. Mas, ao compararmos a lista com o diário, há pistas vitais que não eram acessíveis ao público nessa altura, que apareceram mais tarde, e podem ser encontradas no diário. One whore no good decided Sir Jim strike another I showed no fright and indeed no light damn it, the tin box was empty Sweet sugar and tea could have paid my small fee But instead 1 did flee and by way showed my glee By eating cold kídney for supper bastard Abberline bonnett hides all clue clever will tell you more Sir Jim trip over fear have ir near redeem ir near case poste haste 95 He believes 1 will trip over but 1 have no fear i cannot redeem ir here* Am 1 not a clever fellow [Uma puta não prestava decidiu Sir jim atacar outra Não mostrei medo e na verdade nem luz diabo, a caixa de lata estava vazia Doce açúcar e chá podiam ter pago a minha pequena taxa Mas em vez disso fugi e de caminho mostrei a minha satisfação Comendo rim frio à ceia filho da mãe Abberline o chapéu esconde todas as pistas esperto dir-vos-ei mais Sir jim tropeça no medo tem-no perto expia-o perto caso rápido Ele pensa que vou tropeçar mas não tenho medo não posso expiá-lo aqui* Não sou um tipo esperto]

A lista das posses de Catharine Eddowes inclui: uma saia muito velha de alpaca verde uma camisa azul muito velha e esfarrapada um casaco branco de homem nem cuecas nem espartilho um par de botas de homem com atacadores 1 Caixa de Folha contendo chá 1 Caixa de Folha contendo açúcar 1 pequeno Pente de Dentes 1 Cigarreira de Couro Vermelho com guarnições de metal

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1 pedaço de Avental Branco velho 1 lata de mostarda contendo cautelas de penhor 1 Caixa de Fósforos, de Lata, vazia Só três jornais noticiaram que fora encontrado um cordão de algodão dentro de uma das caixas. Não estava incluído na lista da polícia. Poderia ter sido a ideia do comerciante de algodão sobre o que seria uma "pista muito boa>@? E depois havia a "Caixa de Fósforos, de Lata, vazia". Este objecto aparentemente vulgar é o mais significativo de todos. Na altura dos crimes, nenhum jornal o mencionou. Apenas foi incluído na lista oficial da polícia, que só foi aberta ao público em 1984 e que agora se encontra nos Arquivos da City de Londres. A primeira reprodução publicada da lista encontra-se nos livros de Donald Rumbelow e Martin Fido, publicados ambos em 1987. Mas Maybrick sabia da sua existência porque estava lá e se lembrava de ter procurado um fósforo para iluminar o seu trabalho. Da Mitre Square, onde foi encontrada Catharine Eddowes, até à MiddIesex Strect é uma curta distância a pé, mas Maybrick não podia tomar o caminho directo. A MiddIesex Street em breve estaria fervilhante de tendeiros a prepararem-se para o dia. Conforme rezava o Moming Advertiser: "Muitas pessoas deveriam encontrar-se nas imediações, inclusive a uma hora tão recuada, fazendo os preparativos para o mercado que se realiza, todos os domingos, na MiddIesex Street e vias adjacentes." Teria sido mais seguro para Maybrick tomar o caminho de desvio para a Goulston Street e voltar para trás. Desceu a Stoney Lane, cru97 zando a estrada principal, e e ntrou numa rua lateral paralela quase oposta a ela e que conduzia à GouIston Street. Uma súbita necessidade de se esconder talvez tenha levado Maybrick até ao portal com arcos do n.o 108-19. O guarda Alfred Long passara por lá às 2.20 h e não vira nada. As escadas sem iluminação conduziam a um patamar que ficava fora do alcance da vista. Aí, na escuridão, limpou a faca tinta de sangue e as mãos sujas de fezes a um pedaço de tecido rasgado do avental de Catharine Eddowes. Foi então que usou o giz. A mensagem que escreveu na parede dessa entrada viria a tomar,se uma das mais escorregadias e desconcertantes de todas as pistas do Estripador, um ponto de discussão durante mais de um século. A Goulson Street, onde foi encontrada a inscrição, ficava em território da Polícia Metropolitana e a Mirre Square, onde foi morta Catharine Eddowes, encontrava-se sob o controlo da polícia da City. Assim, houve, admitiu a polícia, uma confusão catastrófica na sequencia deste segundo homicídio da noite. Na agitação, Maybrick escapou mais uma vez. Às 2.55 h, o guarda Long regressou e reparou no trapo amarfanhado que se encontrava ao fundo da escada. Viu então a inscrição esborratada na parede e percebeu que o Estripador devia ter estado lá. Copiou o que viu, embora tenha admitido, durante o inquérito, que podia ter cometido algum erro ao escrever a palavra "Judeus" Uews). Anotou o seguinte: Os Judeus (juwes) são os homens que não serão culpados por nada. A polícia da City registou uma mensagem diferente: Os Judeus (juwes) não são os homens que serão culpados por nada. O Departamento de Investigação Criminal da City deu instruções para que a mensagem fosse fotografada de imediato e, em seguida, apagada. Ao fim e ao cabo, tratava-se do homicídio deles. Mas o superintendente Thomas Amold, que tinha a seu cargo a zona da GouIston Street, ficou aterrorizado com a ideia de que, devido à sua natureza anti, -semita, a mensagem pudesse causar problemas entre os que lá residiam. 98 Quando o comissário da'Polícia Metropolitana, Sir Charles Warren, chegou ao local do crime, às 5 h da manhã, concordou com Arnold e apagou pessoalmente as palavras ofensivas.

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Aqueles que escrevem sobre o crime dedicaram muita energia à tarefa até hoje improdutiva de solucionar o enigma inscrito na parede da Goulston Street. O diário sugere uma possibilidade diferente. tive de rir, descreveram-me como canhoto, um médico, um magarefe e um judeu. Muito bem, se pretendem insistir em que sou um judeu então judeu serei. E, assim, tornou-se judeu- Por outro lado, a frase lembra também os versos escritos anteriormente e inspirados pela Punch: Os judeus e os médicos Vão ficar com a culpa toda Num relatório para o Ministério do Interior, a 6 de Novembro de 1888, o comissário da Polícia Metropolitana, Sir Charles Warren, incluiu uma cópia da inscrição da parede. A forma e contornos da escrita foram reproduzidos com exactidão e, por isso, é razoável pensar que se trata de uma boa cópia. A ortografia bizarra de "Jewes", com as suas cinco letras, "e" marcado e "m" invertido, sugere fortemente que Maybrick estava disposto a correr o risco de escrever "james" na parede, de forma tal que fosse lido como "Juwes". Partindo dos vários comentários anti-semitas presentes no diário, podemos presumir com segurança que Maybrick se sentiria mais do que feliz ao ajudar a alimentar a crescente especulação pública de que um judeu seria o culpado pelos crimes de Whitechapel. Poderia ser esta a "minha divertida piada judia"? Estes jogos sarcásticos não passavam de um prelúdio porque o dia seguinte - segunda-feira, 1 de Outubro - foi aquele em que o mundo ouviu pela primeira vez o nome de Jack, o Estripador. 8 "ANTES DE TER TERMINADO TODA A INGLATERRA CONHECERÁ O NOME QUE DEI A MIM PRóPRIO" A carta, datada de 25 de Setembro, foi publicada na primeira edição do Daily News a 1 de Outubro. Viria a tornar-se, talvez, na carta mais infame da história do crime. Sem essa carta, escrita com tinta vermelha, os homicídios de Whitechapel poderiam ter sido relegados, com o tempo, para um lugar ao lado dos crimes igualmente horrendos que encontramos no Black Muscum da New Scotland Yard e na Chamber of Horrors do Museu de Madame Tassaud. Mas o novo - e inspirado - nome de Maybrick proporcionou -lhe a fama que ambicionava. Nunca viria a ser esquecido. Caro Patrão, Continuo a ouvir que a polícia me apanhou, mas não vão agarrar-me para já. Tenho rido quando parecem tão espertos e falam em estar na pista certa. Aquela piada acerca do Avental de Couro deume verdadeiros ataques. Ando atrás das putas e não vou deixar de as esventrar até ser mesmo apanhado. Que grande obra que foi o último trabalho. Não dei à senhora tempo para guinchar. Como podem apanhar-me agora. Adoro o meu trabalho e quero recomeçar. Em breve irão ouvir falar de mim com os meus joguinhos engraçados. Guardei algum do material vermelho apropriado numa garrafa de refrigerante e proveniente do último trabalho para escrever com ele, mas ficou espesso como cola e não posso usálo. A tinta vermelha também serve espero ha ha. No próximo trabalho vou 101 cortar as orelhas da senhora e enviar aos agentes da polícia para os divertir. Guardem esta carta até eu fazer mais algum trabalho, depois tornem-na pública logo. A minha faca é tão bonita e afiada que quero pôr-me ao trabalho de imediato se tiver hipótese. Boa sorte. Atentamente, Jack, o Estripador. Não se ofendam por ter assinado com o nome artístico.

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Havia um segundo postscriptum ao longo do lado da carta e dizia: Não valia a pena expedir esta antes de ter tirado toda a tinta vermelha das minhas mãos maldita Falta de sorte até agora. Dizem que sou um médico agora. ha ha A carta foi enviada ao quartel-general da polícia, na Scotland Yard, no sábado 29 de Setembro. A carta que a acompanhava, do director para o chefe da polícia Adolphus Williamson, dizia: "O director apresenta os seus cumprimentos ao Sr. Williamson e aproveita para informar que o anexo foi enviado para a Central News [Agency] há dois dias e tratado como se fosse uma brincadeira." O texto da carta foi publicado na edição das 2 h da manhã do Liverpool Daily Post e na edição das 5 h da manhã do Daily News, de Londres, na segunda-feira 1 de Outubro. Nessa mesma manhã de segunda-feira, a Central News Agency recebeu um postal escrito com lápis vermelho e com data dos correios de 1 de Outubro. Expedido do East End londrino, referia-se aos dois assassínios cometidos, com o intervalo de menos de uma hora, em Whitechapel, às primeiras horas de 30 de Setembro, e dizia: Não estava a enganar o caro Patrão quando vos dei o palpite, vão ouvir falar do trabalho do Jack Sumarento amanhã acontecimento duplo desta vez a número um guinchou um pouco não pude acabar de imediato. não tive tempo para arranjar orelhas para a polícia. obrigado por ter retido a última carta até eu ter regressado ao trabalho. Jack, o Estripador 102 O texto do cartão foi publicado no Star, na edição da 1 h da tarde de 1 de Outubro. O facto de que uma das orelhas da vítima de Mitre Square fora cortada parcialmente era do conhecimento de muito poucas pessoas durante o domingo que se seguiu ao crime e só foi publicitado quando a história surgiu nos jornais, na segunda-feira. Dado que as referências ao corte das orelhas - bem como os mesmos maneirismos e assinatura aterrorizadora - figuravam em ambos, presumiu-se na altura que a carta e o postal deveriam ter sido escritos pela mesma pessoa. Num artigo publicado no The Criminologist, em Agosto de 1968, um grafólogo canadiano, C. M. Macleod, comentou um artigo do Professor Camps em que este apresentava amostras da carta. "Se houve apenas um Jack, o Estripador, verdadeiro, eu daria o meu voto ao escritor Ida carta 'Caro Patrão']. Apresenta uma força tremenda na cruel inclinação para a frente de toda a sua caligrafia e uma grande astúcia na forma como dis, farça os traços... Diria que tinha esperteza e controlo suficientes para manter um qualquer emprego fixo que lhe fornecesse um álibi para os crimes. " Na mente daqueles que mais recentemente escreveram sobre o Estripador, enraizou,se a ideia de que o postal foi escrito por um macaco de imitação e de que, nessa época de serviços postais frequentes e excelentes, teria sido possível um embusteiro ler o relato do crime no jornal das 5 h da manhã e enviar um postal de brincadeira para ser publicado na edição do meio-dia. Ignoraram a prova conclusiva que demonstra que quem escreveu o cartão não poderia ter copiado o estilo caligráfico e a assinatura da carta "Caro Patrão". Nessa altura, a carta apenas aparecera composta, Um fac-símile da caligrafia só foi publicado pelos jor, nais dois dias mais tarde. Às 12.45 h da manhã a seguir à morte de Elizabeth Stride e Caffia, rine Eddowes, uma faca curta, com 2,5 cm de largura e ponta arredon, dada, foi encontrada à porta da loja do Sr. Christmas, na Whitechapel Road. O cirurgião da polícia, Dr. George Bagster Phillips, afirmou que essa faca poderia ter sido a arma do crime e pertencido a Elizabeth Stride: muitas prostitutas traziam facas para autoprotecção. Até hoje, os investigadores têm cometido um erro e datado a descoberta da faca de dois dias antes dos assassínios. Espectacularmente, o diário corrige isso de novo. A maioria das autoridades modernas concorda que a faca que matou Elizabeth Stride não era a arma comprida, estreita e aguçada

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103 que mutilou as restantes quatro prostitutas de Whitechapel, mas sim uma faca muito semelhante à encontrada na Whitechapel Road. Foi precisamente nessa zona postal que o postal de "Jack Sumarento" foi expedido, mais tarde, nesse mesmo dia. Maybrick faz uma referência chocante que confirma que utilizou uma segunda faca, pertencente a Elizabeth Stride. Em dois versos, riscados porque aparentemente lhe desagradaram, Maybrick diz: a minha faca brilhante* a faca da puta* Em conjunto, a carta e o postal provocaram uma enxurrada de cerca de 2000 missivas de imitadores, que nunca foram investigadas completamente. Mas, nessa altura e durante muitos anos depois, muitos dos polícias que se ocuparam do caso estavam convencidos da sua autenticidade; de tal forma assim era que publicaram um cartaz facsimilado do cartão e da carta, impresso a vermelho, que foi distribuído por todas as esquadras da polícia do país, a 3 de Outubro. O inspector-chefe Henry Moore era provavelmente o elemento de ligação entre Abberline, em Whitechapel, e o inspector-chefe Swanson, na Scotland Yard. Em 1896, escreveu um relatório que dá a entender que, à data, os implicados no caso levavam as cartas a sério e acreditavam que o autor da carta "Caro Patrão" e do postal era Jack, o Estripador. Mais de vinte anos depois, Sir Robert Anderson viria a agitar um ninho de vespas a propósito desta questão. Escreveu na sua autobiografia, publicada em folhetim no Blackwood's Magazine, em 1910: "A carta de Jack, o Estripador, que se encontra guardada no Museu da Polícia, na Scotland Yard, é obra de um jornalista empreendedor." No entanto, poderia não estar a referir-se à carta "Caro Patrão". Esta carta estava intimamente ligada ao postal de "jack Sumarento" e é improvável que Anderson se tivesse esquecido de mencionar o postal no seu comentário. Não sabemos qual das muitas cartas de Jack, o Estripador, se encontrava guardada, nessa altura, no Museu da Polícia. Numa nota de pé de página, Anderson escreveu: "Quase me sentiria tentado a revelar a identidade... do jornalista que escreveu a carta", acrescentando, como que para acautelar a sua incerteza, "desde que os editores acei104 tassem toda a responsabilidade perante uma acção por difamação. " Era óbvio que os editores não achavam que poderiam apresentar a defesa clássica em casos de difamação: que a acusação era verdadeira. Passadas mais duas décadas, UM ex-jornalista do Star chamado Best, então com 70 anos, disse a um colega que escrevera todas as cartas "para manter vivo o negócio". Afirmou que o fizera em conjunto com um jornalista da província e que tinham utilizado um bico de pena achatado para dar o aspecto de semianalfabetismo. Segundo Sue Iremonger, a nossa perita em exame de documentos, a carta "Caro Patrão" não foi, de forma alguma, escrita com um bico achatado. Em 1993, veio à luz uma carta escrita, em 1913, pelo inspector-detective John Littlechild, que chefiava a Special Branch no ano dos assassínios. Sabe-se que nomeia jornalistas que se pensava terem escrito as cartas de Jack, o Estripador, incluindo a carta "Caro Patrão" e o postal "jack Sumarento", de 1 de Outubro. A carta está actualmente a ser alvo de pesquisas. Mas, por mais sólida que fosse a sua reputação, a polícia, nesse tempo, dedicavase a muita especulação, com base em muito pouca informação credível. O Daily TelegTaph escreveu, a 4 de Outubro de 1888: "O postal parece ter sido escrevinhado apressadamente e a mão não é tão firme como a da carta, mas há poucas dúvidas de que provenham da mesma pena. " Comentando o estilo caligráfico, David Forshaw considera que a caligrafia do diário reflecte os verdadeiros sentimentos interiores de Maybrick, que não era um escritor de cartas nato, enquanto o estilo da carta e do postal - que pensa que podiam ser fruto da mesma mão foi concebido para impressionar. Também é evidente que, se estas e

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outras missivas destinadas ao exame da polícia e ao consumo público fossem escritas pelo assassino, este teria envidado todos os esforços para disfarçar o seu estilo habitual. A utilização da linguagem, na carta, faz um eco repetido da do diário. "Atrás das putas", "o material vermelho" e os @<joguinhos engraçados" são expressões de Maybrick. O terrível e sinistro "ha ha" sublinhado do diário e das cartas é a zombaria de Maybrick. Sir Arthur Conan Doyle, quando lhe perguntaram como é que Sherlock Holmes resolveria o mistério do Estripador, respondeu que procuraria um assassino com ligações à América. Uma vez mais, a razão era a linguagem. Os americanismos "Caro Patrão", "apanhar-me" (fix 105 me) e "não vou deixar" (shan't quit) seriam todos expressões familiares para Maybrick, não só dos seus tempos de Norfolk, mas também devido à mulher ser americana. Por fim, há esta entrada no diário que afirma a autoria de duas missivas e de vários versos enviados à imprensa: Antes da minha próxima vou enviar à Central outra para me fazer lembrado. Ainda mais dramáticas do que a carta "Caro Patrão" eram duas cartas não datadas, expedidas de Liverpool e que, infelizmente, desapareceram dos arquivos da Scottand Yard. (Em 1966, o Professor Francis Camps afirmou, num artigo na London Gazette, que as cartas de Liverpool foram recebidas antes da publicação da carta "Caro Patrão".) Estas foram tomadas públicas pela primeira vez em 1927, no livro de J. Hall Richardson, From City to Fleet Street. Segundo parece, a primeira prevê os crimes que iriam ocorrer em breve, em Londres: Atenção eu entrarei em acção nos dias 1 e 2 do corrente nas Minories às 12 da noite e dou às autoridades uma boa oportunidade mas nunca há um polícia por perto quando estou a trabalhar. Vosso Jack, o Estripador. A expressão "do corrente" era utilizada no comércio com o significado "deste mês". Quando utilizada em Setembro não pode referir-se a uma data de Outubro. Para o comerciante autodidacta Maybrick, a utilização de expressões formais talvez fosse um motivo de orgulho. Mas enganou-se. Catharine Eddowes foi encontrada morta, na verdade, perto de Minories, a 30 de Setembro. As datas previstas de 1 e 2 de Outubro eram posteriores. A conclusão não seria necessariamente que a carta era um embuste, mas que, talvez, tal como hoje em dia acontece com os avisos dos terroristas, Maybrick pretendia que a polícia soubesse que a mensagem era autêntica, sem revelar o suficiente para que o crime fosse evitado ou capturado o assassino. A segunda "carta de Liverpool" era igualmente importante: Que parvos são os polícias. Até lhes dei o nome da rua onde estou a viver. Prince William Street. 106 A Prince William Strect fica numa das zonas mais pobres de Liverpool, Toxteth. Em 1888, era bordejada por casas de hóspedes utilizadas por mulheres descritas conio "as nossas desenganadas irmãs das ruas". Maybrick conhecia bem a Prince William Street. Ficava a poucos rnetros da estrada principal, entre Aigburth e o seu escritório. A resposta da polícia ao duplo assassínio foi maciça. Foram distribuídos cerca de 80 000 prospectos pedindo informações, foram inquiridos 2000 locatários numa investigação casa a casa e polícias à paisana misturaram,se com os clientes dos pubs e pensões do East End. A 2 de Outubro, o Evening News não estava longe da verdade quando afirmou: "Começa a ganhar terreno a convicção de que o assassino não é um frequentador das casas de hóspedes vulgares e de

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que ocupa um quarto individual ou talvez se refugie num armazém vazio. Pensa-se que o seu lar se situa algures entre a Middlesex Strect e Brick Lane. " Quatro dias mais tarde, o Liverpool Echo noticiava com emoção, sob o título "Os crimes de Whitechapel": "Não resta a menor dúvida de que a polícia está a chegar à conclusão de que o assassino de Whitechapel não se encontra naquele bairro e não residia lá à data dos homicídios. " A 11 de Outubro, o Liverpool Daily Post apresentava uma história com o título "Pretensa pista de Liverpool". Dizia: "Um determinado detective do Departamento de Investigação Criminal deslocouse recentemente a Liverpool para verificar as deslocações de um homem, que se provou ser bastante misterioso. A altura e descrição dessa pessoa estão perfeitamente determinadas e, entre outras coisas, possuía um saco de couro preto. Essa pessoa deixou subitamente Liverpool e deslocou-se para Londres e, durante algum tempo, ocupou um apartamento num hotel de L- classe muito conhecido, no West End. " A história afirmava que o homem tinha o hábito de visitar as zonas mais pobres do East End e que deixara no hotel o seu saco de couro preto que continha algumas peças de roupa, documentos e "gravuras de descrição obscena". "Foi sugerido que a pessoa misteriosa desembarcara em LiverpóoI, vinda da América", dizia. O hotel publicara um anúncio no The Times, a 14 de junho de 1888, procurando os donos do saco e de outros artigos. Um dos proprietários constantes da lista era S. E. Mibrac, o que tem um som muito semelhante a Maybrick. 107 Entretanto, a Polícia Metropolitana mantinha Israel Schwartz, a principal testemunha do ataque a Elizabeth Stride, em local seguro, enquanto a polícia da City mantinha sob vigilância Joseph Lawende, que descrevera um homem semelhante a Maybrick a conversar com Catharine Eddowes. A 6 de Outubro, uma carta com erros ortográficos e ameaçadora foi expedida em "London NW". A caligrafia era regular e de estilo semelhante ao da primeira carta "Caro Patrão": 6 de Outubro de 1888 Pensou que era muito esperto penso quando infromou a polícia. Mas fez um erro se pensou que não o vi. Agora sei que me conhece e veio o seu joguinho, e teríssiono acabar consigo e mandar as suas orelhas à sua mulher se mostrar esta à polícia ou os ajudar se o fizer acabo consigo. Não vale a pena tentar manter-se longe de mim. Porque agarru-o quando não esperar e cumpro a minha palavra como vai ver em breve e esventru-o. Sinceramente, Jack, o Estripador. Esta carta ficou esquecida nos arquivos do Ministério do Interior, nos Arquivos Nacionais, até ter sido revelada pelo meu editor, Robert Smith, durante a presente investigação. A carta "Caro Patrão", o postal "Jack Sumarento" e esta carta estão reproduzidos no segundo conjunto de ilustrações. Podemos especular que a carta se destinava a Schwartz ou Lawende, que tinham fornecido descrições que a polícia acreditava serem de Jack, o Estripador. Foi enviada da zona postal correspondente à habitação de Michael Maybrick, em Regent's Park, onde Maybrick ficava amiúde. Anna Koren e Sue Iremonger concordam que a caligrafia desta carta é igual à da "Caro Patrão@>. A linguagem desta missiva é marcada pela mesma fúria vingativa que Maybrick mostra mais tarde, no diário, em relação a uma pretensa testemunha: Maldito maldito maldito o filho da mãe quase me apanhou, maldito seja no inferno, vou cortá-lo da próxima vez, assim me ajude. Mais uns minutos e tinha-o feito, filho da mãe. Vou procurá-lo, dar-lhe uma lição. 108

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Nesse mesmo dia, 6 de Outubro, o Daily Telegraph publicara um desenho e a descrição do homem que a polícia procurava em ligação com os homicídios de Whitechapel. Dois dias mais tarde, apareceu também no Liverpool Echo. Há uma semelhança inegável com Maybrick. Apresentamos essa imagem no extratexto. Segundo a descrição do jornal, tratava-se de um homem educado e de posses, provavelmente com cerca de 40 anos, com roupas escuras e um lenço de seda escura em volta do pescoço. "O chapéu é provavelmente um coco duro e o seu aspecto perfeitamente respeitável. As suas maneiras são suaves e compostas e não há nada que traia o monomaniaco, excepto uma certa mistura de inquietação e astúcia na expressão dos seus olhos." 6 de Outubro foi um sábado, o dia da semana que parece ser fulcral para todos os cinco homicídios de Whitechapel. Maybrick teria vindo visitar Michael no fim de semana a seguir ao crime, ficara chocado com o que lera nos jornais da manhã e sentira-se compelido a escrever a Joseph Lawende, Israel Schwartz ou qualquer outra testemunha igualmente preocupante? Lawende vira Maybrick com Catharine Eddowes. A polícia da City considerava-o uma testemunhachave e manteve-o protegido da imprensa até ao inquérito, realizado a 4 e 11 de Outubro. O procurador da City requereu: "A não ser que o Juri queira, tenho uma razão especial para não fornecer pormenores quanto ao aspecto do homem. " O coroner concordou e Lawende descreveu apenas as roupas do suspeito. Se Lawende podia identificar o Estripador, como pensava a polícia, e Maybrick vira o desenho no jornal, teria todas as razões para o temer e ameaçar. De volta a casa e à família, após o duplo homicídio de 30 de Setembro, Maybrick manteve-se vigilante e à espera. Como sempre, os pensamentos acerca de Florie e do amante excitavam-no e enfureciam-no. Um homem solitário, doente do espírito e do corpo, virou-se uma vez mais para o seu melhor amigo, George Davidson, em busca de conforto. Esta noite vou festejar bebendo e jantando com George. Estou bem disposto, penso que vou dar à puta o prazer do seu proxeneta, observarei que uma noite na cidade lhe vai fazer bem, vou sugerir um concerto. Não tenho dúvidas de que a carruagem vai levar a vaca directamente para ele. Eu irei dormir pensando no que eles estão a fazer. 109 A 12 de Outubro, o Manchester Guardian trazia uma história inquietante acerca de um facto ocorrido em Liverpool. "Na noite de quarta-feira, uma jovem passeava pela Shed Road, em Liverpool, perto do Sheil Park. Foi abordada por uma mulher de idade, com cerca de 60 anos, que, de forma agitada e excitada, a exortou a não entrar no par- que. Explicou que, alguns minutos antes, havia estado a descansar num dos bancos do parque e fora abordada por um cavalheiro de especto respeitável, com um casaco preto, calças claras e um chapéu de feltro mole, que lfie perguntara se conhecia algumas mulheres fáceis nas redondezas e, imediatamente a seguir, sacara de uma faca com uma lâmina comprida e fina e afirmara que tencionava matar tantas mulheres em Liverpool como em Londres, acrescentando que enviaria as orelhas da primeira vítima ao director do jornal de Liverpool. A velha, que tremia violentamente enquanto contava a história, afirmou que estava tão aterrorizada que nem sabia como fugira desse homem." Nunca soube que podia ter estado frente a frente com o próprio Jack, o Estripador. A 15 de Outubro, os jornais de Leeds relataram que Jack, o Estripador, fora visto em Chorley, uma cidadezinha poucos quilómetros a norte de Liverpool. No dia seguinte, George Lusk, presidente do Comité de Vigilância de Whitechapel, descobriu uma caixa de cartão, com cerca de 8 cm, no seu correio. Dentro dela, encontrava-se metade de um rim humano, conservado em álcool víníco, juntamente com uma carta quase ilegível que desapareceu, de então para cá: Do inferno. Sr. Lusk, Sior

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Mando-lhe metade do Ril que tirei de uma mulher e cunservei-o para si outra parte fritei e comi estava sabroso. Posso mandar-lhe a fac com sangue que o cortou se esperar mais um pouc assinado Apanhe-me quando puder Senhour Lusk. Os peritos médicos ficaram em desacordo. O patologista da City, Dr. Sedgwick Saunders, afirmou na altura que o rim não pertencia a 110 Catharine Eddowes e era provavelmente um espécime de hospital, enquanto o Dr. Openshaw, curador do Museu de Patologia no London Hospital, declarou que se tratava de um rim "ensopado em gim" de uma mulher de 45 anos com a doença de Bright. Embora o incidente com Lusk tenha vindo relatado no Star a 19 de Outubro, não é mencionado no diário. Não era preciso. O rim não estava lá porque Maybrick diz-nos que o comera: Doce açúcar e chá podiam ter pago a minha pequena taxa Mas em vez disso fugi e de caminho mostrei a minha satisfação Comendo rim frio à ceia David Forshaw acredita que Maybrick pode, tal como outros assassinos em série, ter canibalizado partes das suas vítimas para afirmar o seu poder absoluto sobre elas. É possível que o Estripador acreditasse, como algumas tribos canibais primitivas, que comer restos humanos era uma forma mágica de obter poder, talvez algum tipo de força vital da pessoa morta. Mais tarde, no diário, à medida que o seu comportamento se ia tornando menos controlável, Maybrick tinha pesadelos e escrevia sobre cozinhar Florie e servi-Ia aos filhos. Durante o Verão, Florie fora visitar o Dr. Hopper. Exprimiu a sua profunda preocupação pelo facto de o marido estar a tomar alguns "remédios muito fortes que tinham um efeito maléfico sobre ele" e parecer piorar sempre depois de cada dose. Pediu ao médico que falasse com ele e o detivesse. Mais tarde, as suas preocupações tiveram um efeito de ricochete, em Outubro, o mês do 50.' aniversário de Maybrick: A puta deu informações ao palhaço presunçoso. Tenho o hábito de tomar remédios fortes. Fiquei furioso quando a puta me contou. Tão furioso que lhe bati. ha. A puta pediu-me que não o voltasse a fazer. Se não fosse por causa do meu trabalho, teria cortado a puta ali naquele momento 1 ... 1 Passou demasiado tempo desde a minha última [ ... 1 Dói-me o corpo todo [... 1 Vou visitar a cidade das putas em breve, muito em breve. Pergunto-me se conseguiria fazer três? 111 Maybrick era um homem dado a explosões sob stress e se esta foi, como afirmou, a primeira vez que bateu em Florie, não viria a ser a última. Agora, também Michael estava preocupado com a saúde do seu irmão dissoluto e, segundo o diário, escreveu várias cartas durante o mês de Outubro perguntando, sobretudo, pelos problemas de "sonambulismo" de Maybrick. É possível que Michael já tivesse suspeitas acerca do irmão e que sonambulismo fosse um eufemismo para disfarçar a sua percepção de algo muito mais sinistro. Outubro não foi um bom mês para Maybrick. O seu fornecimento de drogas foi intermitente; ademais, não estava a retirar delas a força que costumavam proporcionar- lhe e de que precisava para cometer os homicídios. Perdera o controlo temporariamente. Não houve assassínios nesse mês e, por isso, não havia razão para escrever no diário. Pousou a pena durante três ou quatro semanas. No final do mês, volta a escrever: Passou demasiado tempo desde a minha última, não tenho estado bem. Talvez o seu 50.O aniversário, a 24 de Outubro, o tenha deixado com o sentimento da idade e a precisar de um empurrão. Por isso, durante a segunda semana de Novembro, foi para Londres e instalou-se em casa de Michael, em Regent's Park. Planeara ir a Whitechapel, mas algo correu muito

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mal. Apesar de todos os esforços, o sofrimento de Maybrick deve ter-se ouvido em toda a casa, nessa noite: [... 1 fui forçado a impedir-me de gozar o meu prazer tomando a dose mais elevada que já preparei. A dor nessa noite queimou-me a mente. Lembro-me vagamente de ter posto um lenço na boca para parar os gritos. Creio que vomitei várias vezes. A dor era insuportável, logo penso que tremi. Nada mais. Estou convencido de que Deus me colocou aqui para matar todas as putas, dado que o deve ter feito, ainda aqui não estou. Nada me deterá. Quanto mais tomo mais forte fico. 112 Michael tinha a impressão de que quando terminasse os meus negócios eu regressaria a Liverpool nesse mesmo dia. E na verdade fi-lo um dia mais tarde. ha ha. Foi assim que, na sexta-feira 9 de Novembro, toda a Inglaterra ficou enojada com a bestialidade inacreditável de um dos homicídios mais depravados cometidos até hoje. 9 "DEUS COLOCOU-ME AQUI PARA MATAR TODAS AS PUTAS" Mary Jane Kelly tinha apenas cerca de 25 anos, quase a mesma idade de Florie Maybrick. Tal como Florie, e ao contrário das outras vítimas do Estripador, era bonita. Na verdade, com o seu cabelo avermelhado, a semelhança com a sua mulher deve ter sido avassaladora quando Maybrick a descobriu a descer a Commercial Street, passando por Thraw1 Street, naquilo a que o pároco local, o reverendo Samuel Barnett, chamava "os quinhentos metros perversos". Florie era, quase de certeza, a pessoa que Maybrick tinha em mente quando atacou Kelly com uma ferocidade sem precedentes, mesmo de acordo com os seus padrões dementados. Mary Jane Kelly passara a tarde e o início da noite de quinta-feira 8 de Novembro com amigos, mas a sua casa situava-se no n.' 13 de Miller's Court. Alugava um diminuto quarto das traseiras, no rés-do- ,chão, com Joe Barnett, um carregador desempregado. Nessa noite, uma vizinha, Lizzie Albrook, que também vivia em Miller's Court, apareceu para conversar com ela. Ao ir-se embora, as palavras pungentes de despedida para a jovem foram: "Faças o que fizeres, não erres e acabes por te tornar no que SOU. " Nessa noite, Mary Jane Kelly estava com disposição para a música, incomodando os vizinhos ao cantar em voz alta no quarto. Lembravam-se de que a melodia era uma balada sentimental tipicamente vitoriana: Apenas uma violeta que colhi na campa de minha mãe. Às primeiras horas da madrugada, George Hutchinson, do Victoria Home, na Commercial Street, estava de regresso de Romford, em Essex. Viu um homem aproximar-se de Kelly, que andava em busca de cliente. 115 Hutchinson talvez fosse freguês, porque a conhecia bem; por vezes, dava-lhe dinheiro, mas nessa altura não lhe sobrara nenhum da viagem. Mais tarde, Hutchinson contou à polícia da Corrimercial Street: "Cerca das 2 h da manhã do dia 9 [de Novembro], pouco antes de chegar à Flower and Dean Street, encontrei a mulher assassinada, Kelly [ ... 1 um homem vindo da direcção oposta a Kelly bateu-lhe no ombro e disse algo que os fez rebentar às gargalhadas. Ouvi-a dizer-lhe que estava bem e o homem disse vais ficar bem por causa do que te disse; então, pôs-lhè a mão direita em redor dos ombros. Também tinha uma espécie de embrulho pequeno na mão esquerda, com uma espécie de fita em redor dele. Estava de pé junto ao candeeiro da taberna Queen's Head e fiquei a vê-los."

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A descrição que Hutchinson faz do homem é pormenorizada de mais. já se teriam encontrado? Segundo Hutchinson contou aos polí, cias que o interrogaram, tinha um aspecto moreno e "estrangeiro", vestia um casaco comprido preto, com gola e punhos de astracã; um casaco e calças escuros, um chapéu de feltro escuro "voltado para baixo a meio", botas leves e abotoadas com polainitos escuros; um colarinho de linho e uma gravata preta com um alfinete em forma de ferradura. Por cima do colete, via-se uma corrente de ouro maciço e a corrente do relógio tinha um grande pendente com uma pedra vermelha. Trazia um par de luvas de pelica e um pequeno embrulho. Tinha 34 ou 35 anos, media cerca de 1,80 m, apresentava uma tez pálida e um leve bigode. Alfinetes de gravata em forma de ferradura e correntes grossas de ouro estavam na moda nessa altura. Também há fotografias de Michael Maybrick usando um alfinete em forma de ferradura. A primeira fotografia do primeiro conjunto de ilustrações parece mostrar não só que Maybrick usava uma grossa corrente de ouro, mas também que gostava de um alfinete de gravata com uma ferradura ou um desenho semelhante. De qualquer forma, quando deixou Michael, para ir trabalhar, na quinta-feira, Maybrick estava vestido de forma respeitável, com roupas formais. "Passaram ambos por mim e o homem baixou a cabeça, com o chapéu por cima dos olhos", afirmou Hutchinson. "Desci e olhei-lhe para o rosto. Olhou-me com firmeza. Ela disse muito bem meu querido vem daí vais ficar confortável. Desceram a Dorset Street. Segui-os. Ficaram ambos na esquina do pátio durante cerca de três minutos. Ele disse-lhe alguma coisa. Depois, colocou-lhe o braço em redor do ombro e deu116 -lhe um beijo. Ela disse que perdera o lenço. Ele tirou então o seu lenço, vermelho, e deu-lho. Subiram juntos Miller's Court. Então, fui ao Court para ver se os podia ver, mas não consegui. Fiquei lá durante cerca de três quartos de hora, para ver se saíam. Não o fizeram e, por isso, às 3 h da manhã, fui-me embora." Mary Jane Kelly foi à frente passando pelo arco e ao longo da passagem. Era estreito de mais para andarem lado a lado. O quarto dela tinha pouco mais de 1 ml e mal havia espaço para abrir a porta, visto que a cama e a mesinha ocupavam a maioria do espaço diminuto. A janela junto à porta estava partida. Não há forma de saber o que aconteceu exactamente naquelas horas terríveis que antecederam a descoberta do corpo de Mary Jane Kelly na cama. Os vizinhos julgavam ter ouvido um grito de "assassino" perto das 4 h da manhã. Não fizeram nada, porque esses gritos eram frequentes naquela zona violenta e costumavam ser ignorados. A fraca luz da única vela não era suficiente para ver e, por isso, Maybrick utilizou um chapéu e algumas roupas para fazer uma fogueira. Durante um breve instante, arderam com suficiente claridade na grelha. Quando terminou, não restava praticamente nada reconhecível da jovem mulher que encontrara duas horas antes. Ouviram alguém deixar o quarto cerca das 5.45 h. É quase impossível imaginar a carnificina que ocorreu nessa noite naquele tugúrio apertado e Maybrick foi perseguido por pesadelos até ao final da vida. Os ferimentos de Mary Jane Kelly eram tão horrendos que ninguém podia ter a certeza se houvera uma luta. Nick Warren, director de Ripperaria, afirmou que os cortes nas mãos dela indicavam que, de facto, tentara repelir o agressor. O cirurgião da polícia, Dr. Thomas Bond, relatou no inquérito: "O lençol do canto junto ao lado direito da cabeça da mulher estava muito lacerado e saturado com sangue, indicando que o rosto podia estar coberto com um lençol quando do ataque. " O Dr. Bond especulou também que "o assassino é, com grandes probabilidades, um homem de aspecto inofensivo, talvez de meia idade e elegantemente vestido".

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Às 10.45 h da manhã dessa sexta-feira, Thomas Bowyer apareceu para receber a renda de Mary Jane Kelly. Não conseguiu acreditar no que via através da janela partida e correu em busca de auxílio. Voltou com John McCarthy, que era o senhorio de Kelly e dono da mercearia 117 local. Os dois espreitaram nervosamente. "Parecia mais o trabalho de um demónio do que de um homem", disse McCarthy. Foi só às 13.30 h que a polícia arrombou finalmente a porta com o cabo de uma picareta. Na grelha, encontravam-se os restos do fogo em que Maybrick queimara as roupas, incluindo um boné. Na cama, estava um corpo irreconhecível; havia sangue por todo o lado. Um fotógrafo da polícia registou a cena. Considerando as circunstâncias e a névoa, a escuridão e a chuva lá fora, fez um trabalho notável.'A fotografia apareceu pela primeira vez, no ano seguinte, no livro Vacher VEventreur et les crimes sadiques, de J. A. E. Lacassagne. Em 1988, o investigador criminal e escritor Simon Wood afirmou, em privado, a um dos nossos consultores que, numa fotografia de Mary Jane Kelly morta na cama, parecia existir uma inicial na parede. Por cima da cama, há uma letra "M" - a marca de Maybrick. Ao lado, há outra letra, "F". Não é uma fotografia a cores, mas as letras esborratadas podiam ter sido escritas facilmente com sangue. Uma inicial aqui e uma inicial ali falarão da mãe puta. Deixei-a lá para os loucos mas eles nunca a encontrarão. Fui demasiado esperto [ ... 1 Deverei escrever-lhes a contar? Isso diverte-Me [... 1 Lembrou-me a puta. Tão nova ao contrário de mim. Depois das quatro vítimas anteriores, muito mais velhas e desprovidas de atractivos, Maybrick procurara finalmente uma prostituta atraente com a mesma idade da mulher. Mary Jane Kelly pagara o preço das indiscrições da infeliz esposa, "a mãe puta", a 400 km de distância. Maybrick identificara a prostituta com a sua mulher, cujas iniciais pintara toscamente na parede. O desenho do "M" maiúsculo, com a primeira metade menor, é inequivocamente igual ao do <@M" utilizado ao longo do diário. Essa fotografia de Mary Jane Kelly foi reproduzida em inúmeros livros e, no entanto, "os loucos" nunca o descobriram. Para fazer justiça, só em Jack the Ripper: The Final Solution, de Stephen King, é que a fotografia foi reproduzida suficientemente bem de forma a mostrar as iniciais de Florie Maybrick. A fotografia original da polícia e uma ampliação dela, reproduzidas no primeiro conjunto de ilustrações, mostram claramente o "FM". 118 A horrenda mutilação de Mary Jane Kelly é descrita num relato desapaixonado do Dr. Bond, que desapareceu cerca de 1911 e só foi reencontrado em 1987. "Toda a superfície do abdômen e das coxas fora retirada e a cavidade abdominal esvaziada das suas vísceras. As mamas foram cortadas, os braços mutilados por vários ferimentos denteados e o rosto escortanhado até não ser possível reconhecer os seus traços. Os tecidos do pescoço foram cortados em toda a volta até ao osso. As vísceras foram encontradas em vários locais, a saber: o útero e os rins, juntamente com uma mama, debaixo da cabeça, a outra mama junto ao pé direito, o fígado entre os pés, os intestinos junto ao lado direito e o baço junto ao lado esquerdo do corpo. As pregas de pele retiradas do abdômen e das coxas encontravam-se em cima da mesa. " No relatório da autópsia, o cirurgião da polícia acrescenta: "O rosto foi golpeado em todas as direcções, o nariz, as maçãs do rosto, sobrancelhas e orelhas parcialmente retiradas." Depois do maior frenesim da sua carreira assassina, a lembrança que Maybrick tinha dos acontecimentos era precisa em todos os aspectos essenciais, mas, o que não é surpreendente,

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atendendo à orgia de mutilação a que se entregara, estava confuso quanto a um dos pormenores onde deixara as mamas dela. Não deixei nada da puta, nada. Espalhei por todo o quarto, o tempo estava do meu lado, tal como com a outra puta cortei o nariz da puta, todo desta vez. Não deixei nada do rosto dela por que pudesse ser lembrada [ ... 1 Achei engraçado quando lhe cortei as mamas, beijei-as durante uns instantes. O gosto do sangue era doce, o prazer era avassalador, terei de voltar a fazê-lo, excitou-me tanto. Deixei-as em cima da mesa com algum do restante material. Pensei que era ali o seu lugar. Queriam um magarefe e por isso tirei o que pude, ri enquanto o estava a fazer. Tal como as outras putas, abriu-se como um pessego maduro, Os patologistas que consultei dizem que, na altura, teria sido difícil distinguir a carne das mamas e a carne do abdômen. A opinião de David Forshaw é que o êxtase do que estava a sentir deixou o assassino incapaz de se recordar de que pusera uma mama debaixo da cabeça e a outra junto ao pé direiro. Todavia, alguns dias mais tarde, quando lem119 bra o homicídio com mais calma, num poema, acerta em grande medida: They tasted so sweet* 1 thought of leaving them by the whores feet* [Tinham um gosto tão doce* Pensei deixá-las junto aos pés da puta*] Está desapontado por não ter conseguido, tal como nas mutilações anteriores, decapitar a vítima, apesar de uma árdua tentativa. Um destes dias levarei a cabeça comigo, vou cozê-la e servi-Ia à minha cela. Por sua vez, segue-se a isto uma entrada que, à primeira vista, parece ser um fluir de pensamento desconexo, até poético. Na verdade, pode ser lido, não da esquerda para a direita, mas de cima para baixo, de forma que as associações de palavras reflectem os acontecimentos daquela noite. chave estripar fugir inicial chapéu lenço proxene fantasia olhar pa Mãe luz pai fogo com a chave fugi* tinha a chave e com ela fugi as roupas queimei* juntamente com o chapéu* o chapéu queimei porque pela luz ansiava por causa da mãe puta* E pensei na mãe puta ta ra a puta 120 Um lenço vermelho, conduziu à cama e eu pensei na mãe puta Nesta altura, o diário levanta uma questão. A polícia teve de arrom, bar a porta do quarto de Mary Jane Kelly. Todos os jornais noticiaram que a chave se perdera antes do crime. Mas Joe Barnett declarou que fora encontrada depois, sustentando deste modo a afirmação de Maybrick de que a levara consigo. Alguns dias depois do assassínio, um jornal noticiou que a chave se encontrava agora em poder da polícia. A explicação racional é ele ter fechado a porta atrás de si e, depois de estar longe, tê-la atirado fora. Houve também um aspecto dramático e não publicitado do caso Kelly que foi tema de uma das últimas páginas do diário. Sabendo que vai morrer, Maybrick está a recordar as suas acções. Das mulheres que matou, apenas uma tem identidade para ele. Pela primeira e última vez menciona-a pelo nome e, mesmo assim, apenas pelo apelido: 1... 1 rezarei pelas mulheres que chacinei. Que Deus me perdoe pelos actos que cometi em Kelly. Sem coração sem coração. No seu relatório reencontrado sobre Mary Jane Kelly, o Dr. Bond afirma: "O pericárdio estava aberto na parte inferior e o coração ausente. " A polícia ou os jornais nunca mencionaram a falta do coração. Estariam a guardar um segredo?

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Oh o Sr. Abberline, ele é um homenzinho esperto esconde tudo o que pode Se o diário tivesse sido escrito por um falsificador vitoriano, ou se Maybrick apenas estivesse a fantasiar acerca do seu papel nos crimes de Whitechapel, não poderia haver qualquer referência à falta do coração. Não haveria maneira de saber que desaparecera. Mas Maybrick sabia o que Jack, o Estripador, fizera. Sabia porque era Jack, o Estripador. Depois do assassínio de Kelly, houve uma mudança súbita da tática da polícia. O depoimento de Hutchinson, juntamente com os de 121 Lawende e Schwartz, fornecia a mais pormenorizada descrição do assassino obtida até então. Na verdade, Hutchinson diria aos jornalistas que fora à caça do assassino de Mary Jane Kelly no domingo seguinte, 11 de Novembro. Apesar de haver um nevoeiro amarelo, espesso e atabafante, estava certo de ter reconhecido o homem que vira com Kelly na Middlesex Street. Depois de a sua declaração ter sido difundida, a agência noticiosa da Press Association deu conta de um novo rumo de investigação realizado pela polícia: "Pensa-se que o assassino de Whitechapel vem de Manchéster, Birmingham ou de qualquer outra cidade 1das MidIands com a finalidade de cometer os crimes. Os detectives estiveram em Willesden e Euston a vigiar as chegadas de comboios das MidIands e do Norte ... " Willesden Junction e Euston eram as estações de Londres onde paravam os comboios de e para Liverpool, bem como de Manchéster e Birmingham. Agora, Maybrick começara a encarar uma nova e terrível realidade: podia ser apanhado. Não consigo viver sem o meu remédio. Tenho medo de adormecer temendo que os meus pesadelos regressem. Vejo milhares de pessoas a perseguirem-me, com Abberline à frente brandindo uma corda. Não será de espantar que, durante o mês de Novembro, as suas dores de cabeça piorassem e tivesse juntado mais um médico à sua já grande equipa de clínicos. O Dr. J. Drysdale era um velho escocês, de aparência cuidada e parco de palavras. Maybrick consultou o médico de Liverpool a 19, 22 e 26 de Novembro e, de novo, a 5 e 10 de Dezembro, contando-lhe que, durante três meses, suportara dores que lhe atravessavam a cabeça de lado a lado e eram antecedidas por uma dor no lado direito da cabeça e uma cefaleia surda. Afirmou que nunca se libertava da dor, excepto por vezes, de manhã. Se fumasse ou bebesse demasiado, sentia dormência no lado esquerdo da mão e na perna e podia aparecer-lhe uma erupção cutânea nas mãos. Não disse nada acerca de se drogar. <@Parecia sofrer de dispepsia nervosa", foi o diagnóstico do Dr. Drysdale, que o repetiu quando testemunhou no julgamento de Florie. Com uma ingenuidade espantosa, acrescentou: "Diria que era hipocondríaco." 122 Talvez fosse natural que, com toda a Londres na sua peugada, Maybrick decidisse voltar ao cenário mais seguro do seu primeiro homicídio, Manchéster, onde vivia o seu irmão Thomas. Estou cansado e temo que a cidade das putas se tenha tornado demasiado perigosa para lá voltar. O Natal aproxima-se e Thomas convidou-me para o visitar. Conheço-o bem. Decidi aceitar a sua oferta, embora saiba que o motivo que está por detrás será estritamente comercial. Thomas não pensa em mais nada para além do dinheiro ao contrário de mim, ha ha. A minha primeira foi em Manchéster, por isso por que não a próxima? Se fizesse o mesmo do que com a última, isso poria os loucos em pânico, sobretudo aquele louco do Abberline. As crianças perguntam-me constantemente o que vou comprar-lhes para o Natal e fogem quando lhes digo uma faca brilhante parecida com

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a de Jack, o Estripador, para poder cortar-lhes as línguas e ter paz e sossego. Acredito que estou completamente doido. Nunca maltratei as crianças nestes anos desde que elas nasceram. Mas agora tenho um enorme deleite em assustá-las assim. Que Deus me perdoe. David Forshaw diz que esta devoção de Maybrick aos filhos se coaduna com a psicologia do assassino em série. Ao longo de todo o diário, referiu-se a eles com ternura. Tentou, sem êxito, distanciar-se deles. Só o seu remédio conseguia aliviar o seu horrível tormento. Mas, agora, estava a ficar com uma depressão suicida. Talvez devesse acabar comigo [ ...1 Embora a recordação de Mary Jane Kelly o torturasse, a sua morte não fora suficiente. A 5 de Dezembro, foi enviado um recorte de jornal ao Dr. William Sedgwick Saunders, o analista público da City de Londres. Havia uma mensagem escrita no recorte: Inglaterra Caro Patrão. Cuidado com o 7 do corrente. Estou a treinar a minha mão a desarticular. e se conseguir enviar-lhe-ei um dedo. Seu Jack, o Estripador. 123 Saunders Esq Magistrado da Polícia. Os peritos em grafologia não confirmaram, para além de toda a dúvida, que esta mensagem proviesse da mesma mão que produziu a carta "Caro Patrão", mas parece muito semelhante. (São reproduzidas ambas no segundo conjunto de ilustrações.) É uma coincidência notável estar escrita sobre uma história acerca de três homens de negócios de Liverpool que correram nus num local público e, por isso, inclui as palavras "Liverpool", "doido" e "homem de negocios". Seria mais uma das pistas irritantes de Maybrick? Esse constante deixar de pistas provocatórias é a forma de jogo encontrada pelo criminoso para desafiar o destino. David Forshaw diz que, embora não quisesse ser apanhado, a ideia de que isso era possível o excitava. Quer o recorte tenha sido enviado por Maybrick, quer não, os pensamentos acerca de um sétimo homicídio encontravam-se presentes no seu espírito. Libertou a pressão riscando linha após linha no seu diário e a pena negra traça um sinal da sua raiva. Os Judeus, Michael, Abberline, Lowry, todos são atacados. Sir Jim shall* Am 1 insane? Cane, gain Sir Jim with his fancy cane* Will soon strike again* Sir Jim cuts them first damn it* Abberline says he is now amazed* Sir Jim has not struck another* He waits patiently* to see hastily* 124 Christmas send the whore's mole bonnet* damn the bitches damn Michael* Give Sir Jim his due* He detests all Jews* For he has no favourite men* As he runs awav to his den* He likes to write with his pen* [Sir Jim irá* Estou louco? Bengala, ganho Sir Jim com a sua bengala elegante* Em breve voltará a atacar* Sir Jim corta-as primeiro maldito* Abberline diz que agora está espantado* Sir Jim não atacou outra* Espera pacientemente* para ver rapidamente*

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O Natal salva o chapéu mole da puta* malditas as putas maldito Michael* Dêem a Sir Jim o que lhe é devido* Ele detesta todos os judeus* Porque não tem homens preferidos* Enquanto corre para o seu esconderijo* Gosta de escrever com a sua canetal No meio de todo este riscar frenético - no qual são anulados alguns dos versos mais confessionais e intrigantes -, Maybrick está claramente a tentar compor algo demasiado grandioso e a perder confiança. assim Deus me ajude a minha próxima será de longe a pior, dói-me a cabeça, mas vou continuar maldito Michael por ser tão es125 perto a arte de versejar está longe de ser simples. Amaldiçoo-o tanto. Abberline Abberline, ainda heide destruir esse louco, Assim Deus me ajude. A versão de 1962 de The Identity of Jack the Ripper, de Donald McCormick, atribui um poema curioso à obra Chronicles of Crime, de Thomas Dutton. Tratava-se de três livros manuscritos de opiniões que McCormick viu pela primeira vez em 1932. Hoje em dia, desconhece-se, o seu paradeiro. Embora McCormick seja o único perito sobre o Estripador a ter visto esses livros até hoje, parece não existir qualquer razão que o levasse a inventar a história. Dutton era um médico que vivia em Whitechapel na altura dos crimes e que fez microfotografias de 128 exemplares de escritos de Jack, o Estripador, e concluiu que, pelo menos, 34 provinham da mesma mão. Um desses escritos era uma carta do Estripador que incluía este poema: Eight little whores, with no hope of heaven, Gladstone may have one, them there11 be seven, Sevem little whores begging for a shilling, One stays in Heneage Court, then there's a killing Six little whores, glad to be alive. One sidles up to Jack, then there are five. Four and whore rhyme arigth, So do three and me, 1'11 set the town alight Ere there are two. Two little whores, shivering wirh fright, Seek a cosy doorway in the middle of the night. Jack's knife flashes, then there's but one, And the last one's the ripest for Jack's idea of fun. [oito putinhas, sem esperança do céu, Gladstone pode salvar uma, então ficam sete, Sete putinhas pedindo um xelim, Uma fica em Heneage Court, então há uma morte. 126 Seis putinhas, felizes por estarem vivas. Uma desloca-se até Jack, então ficam cinco. Quatro e puta rimam bem, o mesmo acontece com três e mim, Vou iluminar a cidade Antes há duas. Duas putinhas, tremendo de medo, Procuram um portal confortável no meio da noite. A faca de Jack brilha, então só resta uma, E a última é a mais madura para a ideia de divertimento de Jack.1 O poema tem uma semelhança arrepiante com o diário, com as suas referências a iluminar a cidade, que é paralela à intenção de Maybrick de destruir pelo fogo a igreja de St James em Piccadilly, e à maturidade, semelhante à que Maybrick atribuíra a Mary Jane Kelly: Abriu-se como um pêssego maduro Ainda mais impressionante é o reflexo do próprio tema da carta tal como aparece no diário, "Oito putinhas, sem esperança do céu": One whore in heaven Two whores side by side Three whores will have died Four [Uma puta no céu Duas putas lado a lado Três putas terão morrido Quatro] Mas o mais esclarecedor disto tudo é a menção a Heneage Court. Foi aí que o guarda Robert Spicer, da Polícia Metropolitana, escreveu que encontrara Jack, o Estripador, com o seu saco preto, duas noites depois do duplo assassínio. A descrição desse suspeito correspondia exactamente a James Mybrick: tinha "cerca de 1,80 m, um bigode claro, testa alta e faces rosadas. Usava uma cartola, fato preto e um relógio 127

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com corrente de ouro. " Mais tarde, Spicer prendeu o homem na estação da Liverpool Street. O facto de a estação ficar no final da MiddIesex Street, onde James Maybrick alugara um quarto, constitui mais do que uma coincidência. O suspeito afirmou ser "médico", mas acabou por ser libertado pelo Departamento de Investigação Criminal (CID). O saco não foi revistado. Agora, Maybrick vê avolumar-se o seu sentimento de pânico. Está deprimido e queixa-se repetidamente de que se sente cansado: , Perdeu a confiança e nem sequer consegue terminar os seus poemas. Ao riscar todos os versos, com a exclusão significativa de "Estou louco?", entrega-se à frustração: maldito maldito maldito Quer parar, mas tem de continuar. Tenho frio amaldiçoo o filho da mãe do Lowry por me fazer esventrar. Continuo a ver sangue a jorrar das putas. Os pesadelos são pavorosos. Não posso impedir-me de querer comer mais. Deus me ajude, maldito. Não ninguém vai deter-me. Deus seja amaldiçoado [ ... 1 Pensa pensa pensa escreve conta a todos prova-lhes que és quem dizes ser. Fazer que acreditem que é a verdade que digo. Novembro era o mês do baile anual de antes do Natal, em BattIecrease House. Entre os convidados estaria o esperançoso Alfred Brierley. O velho amigo de Maybrick e colega no negócio do algodão, Charles Ratcliff, também esteve presente. Pouco tempo depois da festa, Ratcliff escreveu para o pai de Florence Aunspaugh, John, que se encontrava na América, a propósito de um carregamento de milho de má qualidade. No final da carta, encontrava-se a seguinte frase: "Penso que Alf está a singrar no afecto da mulher de James." Com o Natal e o Ano Novo a aproximarem-se, Maybrick estava a ser torturado pela dor. Jeky11 lutava com Hyde para conseguir o controlo. Como sempre, George Davidson estava lá, a seu lado. Não consigo obrigar-me a olhar para trás, tudo o que escrevi me assusta tanto. George visitou-me hoje. Penso que ele sabe por 128 que estou a passar, embora nada diga. Vejo-o nos seus olhos. Pobre George, é tão bom amigo 1 ...1 Estou cansado, muito cansado. Anseio pela paz, mas sei no coração que vou continuar. Estarei em Manchéster dentro de alguns dias. Penso que me sentirei bastante melhor depois de ter repetido a minha última proeza. Pergunto-me se conseguirei melhorar os meus actos demoníacos [ ... 10 dia está a chegar ao fim, Lowry estava bem disposto. Estou contente. Lamento, tal como no caso dos meus amigos judeus, ter mostrado a minha ira. Neste próximo Natal vou arrepender-me. Em BattIecrease House, tal como em todo o país, o Natal era celebrado com uma árvore, presentes e cartões. Mas ainda se falava muito em Jack, o Estripador, uma vez que a polícia não fizera quaisquer progressos na sua descoberta. O inspector Walter Andrews e um grupo de colegas foram enviados de Montreal, onde se encontravam a tratar de outro caso, para Nova Iorque, para seguirem uma nova pista. Segundo a Pall Mall Gazette, o assassino deixara a Inglaterra em direcção à América três semanas antes. Para Maybrick, a estação festiva não trouxe qualquer alegria: As crianças gostaram do Natal. Eu não. O meu estado de espírito já não é negro, embora me doa a cabeça. Nunca me habituarei à dor. Amaldiçoo o Inverno. Anseio pelo meu mês preferido, ver as flores em botão agradar-me-ia tanto. Calor é aquilo de que preciso. Tremo tanto. Amaldiçoo este tempo e a vaca puta. Calor era aquilo que já não podia receber de Florie. Longe disso. Nesta mesma entrada, escrita na semana a seguir ao Natal, descreve o

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sétimo homicídio - uma vez mais em Manchéster, conforme planeado. No entanto, acha impossível reacender a excitação de antanho. Já não se sente "esperto". Não consegui cortar como a minha última, visões dela vinham até mim enquanto atacava. Tentei abafar todos os pensamentos de amor. Deixei-a como morta, isso sei. Não me divertiu. Não houve excitação. 129 Aqui, as palavras lembram o seu primeiro homicídio experimental em Manchéster, quando: Não senti qualquer prazer enquanto apertava. Diz que a deixou como morta. A mesma frase é utilizada mais tarde, no diário, quando Maybrick faz uma ameaça geral às putas a que vai: tirar os olhos tirar a cabeça deixá-las todas como mortas No entanto, já não se sente tão poderoso e pensar em Florie impede-o de dar rédea solta à sua paixão. Para ele, a experiência só funciona quando inclui um acto impessoal de mutilação. Com raiva e frustração, regressa a Battlecrease House e bate na mulher. Descarreguei a minha fúria na puta. Bati e bati. Não sei como parei. Deixei-a sem um tostão, não o lamento. Florie escreveu à mãe no último dia de 1888, mas não referiu o espancamento. "Na sua fúria, rasgou, esta manhã, o testamento em que me nomeara única legatária e curadora dos bens dos filhos. Agora, propõe-se deixar o máximo possível apenas às crianças, deixando-me só o terço legal. Tenho a certeza de que pouca importância tem para mim desde que as crianças fiquem acauteladas. O meu rendimento é suficiente para mim. Uma maneira agradável de começar o Ano Novo." Referindo-se ao estado de espírito de Maybrick neste período, David Forshaw afirma: "Embora, até agora, saibamos pouco acerca dos pais de Maybrick, sabemos, através dos estudos de outros assassinos em série, que existe um ressentimento profundo sob o amor filial superficial. O pai e a mãe de Maybrick esbanjaram dinheiro e atenção com o talentoso Michael e isso gerou a inveja que entretece o diário. Neste preciso momento, o profundo sentimento de desadaptação, que era a verdadeira inspiração da sua escrita provocadora e gabarola, bem como dos homicídios, veio violentamente à superfície. Mary Jane Kelly, com o seu cabelo ruivo, tomou o lugar de Florie, a 'mãe puta' e, talvez, de todas as mães." 130 O tempo estava de acordo com o estado de espírito. O nevoeiro que cobrira Liverpool no início de 1888 regressou na véspera de Ano Novo e o jornal local, o Liverpool Echo, previa: "Não há uma mudança agradável do tempo e, a julgar pelas aparências, é provável que venhamos a ter uma má temporada de neblina, chuva e escuridão generalizada. " Era um mau presságio para 1889. 10 "QUANDO TIVER TERMINADO OS MEUS ACTOS DEMONíACOS, O PRóPRIO DIABO ME ELOGIARÁ" A carnificina em Whitechapel parara temporariamente, mas a história de Jack, o Estripador, não terminara com a morte de Mary Jane Kelly. Durante a Primavera de 1889, a saúde em deterioração de Maybrick e o turbilhão que rodeava a sua vida criaram um vórtice para onde foram arrastadas Florie e a família. Se qualquer deles tinha qualquer suspeita de que James Maybrick era o homem mais temido e desprezado de toda a Grã-Bretanha, não o

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admitiram. O seu segredo seria enterrado bem fundo, com o seu corpo, no cemitério de Anfield. Mas a sua morte destruiria para sempre a vida da sua jovem esposa americana e deixaria atrás de si muito mistério. Por que razão conspiraram contra Florie a família Maybrick e os criados de BattIecrease House? Por que razão os médicos não chegaram a acordo quanto a quem ou o quê matou Maybrick? Por que razão foram destruídas cartas de família e rasgadas as receitas de Maybrick? E, o que será talvez o mais estranho, por que razão Edwin e Michael escamotearam o passado de Maybrick e se puseram à parte enquanto sua mulher enfrentava o terror do cadafalso? É isto o que sabemos. Em janeiro, segundo a cozinheira, Elizabeth Humphreys, aumentaram as visitas de Alfred Brierley, que também era um acompanhante regular dos Maybrick nas inúmeras corridas de que tanto gostavam. Maybrick estava mais do que consciente do namorico de Florie - na verdade, por causa dele tinham morrido sete mulheres. No entanto, Brierley continuava a ser convidado para se juntar à família. Isso não surpreende David Forshaw, que explica que Maybrick se deleitava claramente com o prazer perverso de observar o casal, que de 133 nada suspeitava. Tudo isso fazia parte do seu jogo de poder. Até mesmo quando estava a descrever o prazer de esventrar PoIly Nichols, Maybrick ficara excitado com a ideia do voyeurismo. A puta viu o chulo hoje não me incomodou. Imaginei que estava com eles, o mero pensamento excita-me. Pergunto-me se a puta terá tido alguma vez pensamentos destes? julgo que sim À medida que se ia dissipando o sombrio tempo invernoso, Maybrick ficou impaciente. Não vai demorar muito até eu voltar a atacar. Estou a tomar mais do que nunca. A puta pode apanhar dois, Sir Jim vai apanhar quatro, um duplo acontecimento duplo. ha ha. Se estivesse na cidade das putas faria os meus actos demoníacos neste preciso momento. Por Deus que faria. 1... 1 não vou ter mais remorsos, malditos sejam todos. Cuidado, Sr. Abbertine. Eu voltarei com uma vingança. Uma vez mais serei o tema de conversa da Inglaterra. Que prazer me dão os meus pensamentos [ ... 1 Quando tiver terminado os meus actos demoníacos, o próprio diabo me elogiará. Mas não esperará muito até eu lhe apertar a mão. Tenho trabalhos a fazer muitos trabalhos. ha ha. rim para a ceia. Pelo menos, Maybrick não precisava de se preocupar com o fornecimento do seu precioso "remédio". Descobrira uma nova fonte: Valentine Blake, que pertencia à equipa que trabalhava com o químico industrial William Bryer Nation no desenvolvimento da utilização do rami como substituto do algodão. Em Janeiro de 1889, Blake deslocou-se a Liverpool para se encontrar com Maybrick. Precisava de ajuda para a comercialização do novo produto. A propósito, Maybrick pediu a Blake que lhe dissesse quais eram os produtos químicos que utilizava no seu fabrico. "Não desejo apropriar-me dos segredos do seu ofício", disse para o sossegar. "É uma questão de preços e os produtos químicos podem ser obtidos mais facilmente em Liverpool." 134 Uma das substâncias era arsénico. Os dois homens conversaram acerca dos hábitos de ingestão de arsénico dos camponeses austríacos e acerca de Thomas de Quincey, autor de Confessions of an Opium Eater. Blake "admirou-se por De Quincey ter tomado uma quantidade tão grande como 900 gotas de láudano num dia". Maybrick sorriu. "O que é veneno para um homem", afirmou, "pode ser alimento para outro e há um chamado veneno que é como alimento e licor para mim sempre que me sinto fraco e deprimido; torna-me, ao mesmo tempo, mais forte no espírito e no corpo."

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"Não o digo a toda a gente", acrescentou, "e não lhe teria contado se não tivesse mencionado o arsénico. É o arsénico. Tomo-o quando consigo arranjá-lo, mas os médicos não o incluem nos meus remédios, com a excepção de uma quantidade insignificante de vez em quando, que só me espicaça." Blake não disse nada. Maybríck continuou: "Uma vez que utiliza arsénico, pode deixa-me ficar com algum? Tenho dificuldade em o encontrar aqui." Mais tarde, num depoimento por escrito, o químico recordaria: "Respondi que tinha algum comigo e que, uma vez que apenas o utilizava para experiências, que agora estavam acabadas, não precisava dele para nada e ele, Maybrick, ficaria contente com todo o que lhe deixasse. Então, perguntou-me qual era o seu valor e ofereceu-se para o pagar adiantadamente. Retorqui que não tinha licença para vender drogas e sugeri que fizéssemos troca por troca: o Sr. Maybrick faria o melhor que pudesse em relação ao rami e eu oferecia-lhe o arsénico." Quando voltaram a encontrar-se, em Fevereiro, Blake deu a Maybrick cerca de 300 grãos de arsénico em três pacotes diferentes. "Disse-lhe que tivesse cuidado com ele, uma vez que tinha quase o suficiente para envenenar um regimento." Estou a tomar mais do que nunca. O aumento súbito da ingestão de drogas por parte de Maybrick reflectiu-se no seu diário. A sua caligrafia tomou-se mais desordenada e as suas ameaças cada vez mais sinistras. Finalmente, decidiu atacar uma vez mais na "cidade das putas". Tal como no caso de Elizabeth Stride, foi interrompido e parece, lendo a sua descrição, que não teve oportunidade de matar a sua vítima. 135 Maldito maldito maldito o filho da mãe quase me apanhou, maldito seja no inferno, vou cortá-lo da próxima vez, assim me ajude. Mais uns minutos e tinha-o feito, filho da mãe. Vou procuráIlo, dar-lhe uma lição. Ninguém me deterá. Amaldiçoo a sua alma negra. Amaldiçoo-me por ter atacado demasiado cedo, devia ter esperado até tudo estar verdadeiramente calmo assim me ajude... Vou levar tudo comigo da próxima vez e comê-lo. Não deixarei nada. Nem sequer a cabeça. Vou cozê-la e comê-la com cenouras acabadas de colher. Uma vez que um ataque no estilo do Estripador contra uma mulher, em Londres, por certo teria sido amplamente noticiado pela imprensa, podemos presumir que a pretensa vítima escapou com vida e não sofreu qualquer ferimento grave. Em Março, os dois filhos de Maybrick ficaram com tosse convulsa e foi chamado o Dr. Humphreys. Este perguntou a Florie como ia a saúde do marido. Ela contou-lhe os seus receios quanto à ingestão de drogas, como contara ao Dr. Hopper, no Verão anterior. Disse que ele agora tomava um pó branco que ela pensava ser estricnina e perguntou-lhe qual seria o resultado provável. O médico disse que poderia matá-lo e, com uma notável antecipação, acrescentou: "Se ele morrer de repente, chame-me e poderei dizer que tivérnos esta conversa a esse respeito." Era como se previsse os acontecimentos futuros e estivesse a oferecer ajuda a Florie, caso esta estivesse em apuros. No entanto, quando chegou a hora da necessidade, o Dr. Humphreys, tal como todos os outros, abandonou-a, Por seu lado, Maybrick foi visitar o Dr. Drysdale nesse mesmo mês. Disse que, embora nunca estivesse sem dores de cabeça, se sentira melhor desde a última visita, em Dezembro. No entanto, a língua estava saburrosa e continuava a sofrer de uma dormência crescente no braço e mão esquerdos. Florie escreveu a Michael, para Londres, contando-lhe a sua preocupação com o pó branco que o marido andava a tomar. Disse que andava muito irritável e se queixava de dores de cabeça. Afirmou que Maybrick não sabia que ela descobrira a sua dependência de drogas nem

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que lhe escrevera. Michael destruiu a carta, mas não antes de ter feito algumas perguntas, de forma descuidada, ao irmão acerca do seu conteúdo, provo136 cando uma resposta irada, que lembrou no julgamento de Florie. Por seu lado, Maybrick ficou furioso com Florie. A puta escreveu tudo esta noite cairá. Assim Deus me ajude vou cortar a puta e servi-Ia às crianças. Como é que a puta se atreveu a escrever a Michael, a maldita puta não tinha o direito de o informar acerca do meu remédio. Fosse como fosse, os Maybrick tinham aranjado amigos novos durante o Inverno: Charles Samuelson, um consignatário de tabaco, e a sua alegre e jovem esposa, Christina. Os dois casais ficaram no Palace Hotel, em Birkdale, perto de Southport, numas pequenas férias. Alfred Brierley também lá estava. Na última noite da estada, um jogo de whist terminou com uma explosão temperamental de Christina Samuelson, que correu para a cama gritando "Odeio-te" ao marido. Houve choros e, segundo ela, Florie tentou acalmar as coisas. "Não deve levar isso a sério", garantiu a Charles. "Digo muitas vezes 'odeio-te' a Jim." Alguns meses mais tarde, no inquérito à morte de Maybrick, Christina contou uma versão diferente e mais incriminatória do facto. "Tive uma conversa com a Sr a Maybrick", afirmou, "e ela contou-me que odiava o marido." Por volta de 15 de Março, Maybrick viajou para Londres para ficar em casa do irmão. Segundo Bernard Ryan, em The Poisoned Life of Mrs Maybrick, Florie e Brierley congeminaram uma conspiração enquanto ele se encontrava fora. Quando o marido regressou, Florie comunicou que desejava ir para Londres para fazer companhia a uma tia doente. Com o seu habitual encanto dissimulador, Maybrick comprou-lhe um novo agasalho de pele para a viagem - e, ao mesmo tempo, confiou os seus verdadeiros sentimentos ao diário: Vou comprar alguma coisa à puta para a visita. Darei a impressão à puta de que considero ser seu dever visitar a tia [...1 Ha, que piada, deixar a puta pensar que não tenho conhecimento das suas putices. 137 Tempestades e enxurradas varriam Liverpool quando, a 16 de Março, Florie enviou um telegrama ao gerente do Flatman's Hotel, na Henrietta Street, em Londres, reservando uma suite de dois quartos para "Sr. a e Sr. de Thomas Maybrick, de Manchéster" por uma semana. Quando o hotel não confirmou a reserva, escreveu uma carta, desta vez com um pedido especial de um menu de sopa, linguado, pato e ervilhas, batatas novas, queijo, aipo e sobremesa, à chegada. A escolha do hotel era provocatória: tratava-se do local de encontro dos algodoeiros de Liverpool. Ela chegaria primeiro e o marido no dia seguinte, disse ao gerente, que, em concordância, destinou de forma a ter o quarto 9 e a saleta contígua, 16, à disposição dos Maybrick a partir de 21 de Março. Mais ou menos na mesma altura, Florie escreveu ao seu amigo de infância, John Baillie Knight, de Holland Park, em Londres, dizendo-lhe que estaria em Londres a 21 e gostaria de se encontrar com ele para jantar. Disse que estava com grandes problemas, mas não deu qualquer explicação adicional. Florie deixou Battlecrease House e chegou ao Flatman's Hotel cerca da 1 h da tarde. Cerca das 6.30 h dessa tarde, John Baillie Knight foi procurá-la. Ficaram na saleta dela e ela contou-lhe que viera a Londres para tratar da separação do marido. Já não podia aguentar o facto de ele manter uma amante, afirmou, acrescentando que era cruel e lhe batera.

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Baillie Knight concordou que a separação era o melhor e sugeriu-lhe que consultasse os seus advogados, Markby, Stewart and Company e, em seguida, fosse para casa da mãe, em Paris. John e Florie foram jantar ao Grand Hotel e, depois, ao teatro, regressando por volta das 11.30 h da noite. Brierley chegou no dia seguinte e instalou-se na suite de Florie. Ficaram lá até à 1 h da tarde de domingo, quando partiram abruptamente, pagando a conta de 2 libras e 13 xelins. "Ele ofendeu a minha vaidade e resistiu aos meus esforços para lhe agradar", comentou depois Florie. <@Antes de nos separarmos, deu-me a entender que gostava de outra pessoa e não podia casar-se comigo e que preferiria rebentar os miolos a enfrentar a desonra. Então, senti uma tal reviravolta de sentimentos que disse que tínhamos de acabar de imediato com a nossa intimidade." O próprio Brierley contou ao New York Herald, depois do julgamento dela: "Separámo-nos em Londres como se não fôssemos encon138 trar-nos nunca mais... Estava plenamente entendido que não iríamos corresponder-nos. " Esse entendimento em breve foi esquecido por ambos. Antes de deixar Londres, Florie foi visitar o advogado Markby e, com a sua orientação, escreveu uma carta ao marido pedindo uma separação e sugerindo que ficasse em Battlecrease House com uma pensão anual. Não há registos que permitam saber se tal carta foi recebida ou até enviada. Na quarta-feira, Florie jantou com Michael e, no dia seguinte, voltou para Liverpool para enfrentar o que viesse. Foi assim, ignominiosamente, que terminou a sua escapadela tristemente inepta. Florie fora uma criança teatral. Os amigos lembraram que, por vezes, ela considerava difíceis de definir as fronteiras entre a fantasia e a verdade. Agora, a sua vida estava rodeada de mais dramas do que ela poderia ter desejado. A Bolsa do Algodão, em Liverpool, já fervilhava de boatos. Os seus membros alçaram uma sobrancelha, ou as duas, e foi sugerido que, se Maybrick viesse a saber do caso entre Florie e Brierley, "o encheria de chumbo". O clímax surgiu a 29 de Março, o dia do Grand National. Foi um acontecimento esplêndido, a que assistiu o Príncipe de Gales, para assinalar o 50.O aniversário da corrida. Espantosamente, Brierley juntara-se uma vez mais ao grupo que, no charabã de Maybrick, se dirigiu a Aintree. Maybrick continuava a desempenhar o papel de voyeur. 1... 1 a puta deu-me o maior prazer de todos. Não viu a puta o seu proxeneta em frente de todos, na verdade a corrida foi a mais rápida que já vi, mas a excitação de ver a puta com o filho da mãe excitou-me muito mais do que saber que Sua Alteza Real estava apenas a alguns metros deste vosso criado ha ha. que piada, se o filho da mãe ganancioso soubesse que estava a poucos metros do nome em que toda a Inglaterra falava teria morrido ali naquele momento. Lamento não ter podido dizer ao tonto louco. Para o inferno a realeza, para o inferno todas as putas, para o inferno a puta que governa. 139 Apesar da sua intenção declarada de nunca mais se voltarem a encontrar, Florie e Brierley foram, de braço dado, ver o grupo real. Foi um erro, porque Maybrick perdeu a cabeça. Victoria Victoria The Queen of them all When it comes to Sir Jack She knows nothing at all Who knows Perhaps one day 1 will give her a call ... Show her my knifé ... And she will honour me for lifé... Arise Sir Jack she will say and now you can go as you may ha ha ha ha ha ha ha [Vitória Vitória A Rainha de todos eles Quando toca a Sir Jack Não sabe nada de nada Quem sabe Talvez um dia Lhe faça uma visita... Lhe mostre a minha faca... E ela nobilitar-me-á para o resto da minha vida...

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Ergue-te Sir Jack dirá ela e agora podes ir como quiseres ha ha ha ha ha ha hal Florie ficou furiosa com o comportamento do marido e deixou as corridas dizendo a Christina Samueison que, quando chegassem a casa, 140 "lhe iria dar forte e feio". Mas, nessa noite, foi Maybrick que os criados ouviram gritar: "Um tal escândalo vai estar em todas as bocas da cidade, amanhã. >@ Que escândalo? Seria a indiscrição de Florie nas corridas? Chegara a carta do advogado relativa à proposta de separação? Seguiu-se uma cena terrível. "Começou no quarto", disse Mary Cadwallader. "O Sr. Maybrick disse à criada, Bessie, que mandasse embora a sua mulher. Ela desceu as escadas e veio para o átrio para entrar na carruagem; ele seguia-a e rugia e batia com os pés como um louco agitando o lenço de bolso por cima da cabeça. As casas dos a botões do vestido da Sr. Maybrick tinham sido rasgadas devido à forma como ele a puxara pela casa. Trazia vestida uma capa de peles; ele disse-lhe que a despisse, visto que não se iria embora com ela vestida; comprara-lha para ir para Londres dentro dela. Fui ter com o patrão e disse-lhe: 'Oh, senhor, por favor, não continue assim, os vizinhos vão ouvi-lo.' Ele retorquiu: 'Deixa-me só, não sabes nada disto.' Eu disse: 'Não mande a patroa embora esta noite. Para onde poderá ir ela? Deixe-a ficar até de manhã.' Então ele gritou: Tor Deus, Florie, se transpuseres essa soleira nunca mais voltas a entrar.' Ficou tão exausto que caiu em cima de um escano de carvalho e ficou completamente esticado. Não sabia se estava bêbado ou com um ataque. Mandei embora a carruagem e levámos a Sr.' Maybrick para cima e o Sr. Maybrick passou a noite toda na sala de jantar." Não mostrava arrependimento. Bati-lhe várias vezes olho por olho ha ha. demasiados criados a interferir, malditas putas. Hopper sentirá em breve o gume da minha faca afiada, maldito tolo pomposo, malditos todos. Na manhã seguinte, Florie tinha um olho negro. Foi visitar Matilda Briggs para lhe pedir conselho e ajuda para tratar da separação. Foram juntas ver o Dr. Hopper. Florie confessou-lhe que estivera de pé toda a noite, que o marido lhe batera e que ia ao escritório de um advogado. Também lhe disse que não podia suportar que o marido se aproximasse dela. Como bom médico de família que era, o Dr. Hopper decidiu tentar arranjar as coisas e foi a Battlecrease House, mais tarde, nesse mesmo dia. Viu Maybrick e Florie, que pareciam mais calmos e dispostos a 141 resolver as suas queixas mútuas. Florie repetiu que não aguentava dormir com o marido e que não queria mais filhos. Apesar disso, Maybrick acedeu a pagar as dívidas da mulher. Uma vez que pareciam querer perdoar e esquecer, o Dr. Hopper saiu com a convicção sincera, mas ingénua, de que fizera uma reconciliação total. Maffida Briggs veio para o lar dos Maybrick no dia seguinte e houve outra briga enorme. Os criados ouviram Florie gritar a Maybrick que nunca convidara ninguém lá para casa sem o consultar e por que razão lhe fazia ele aquilo. Houve muita discussão e zanga e quando, às 6 h da tarde, Mary Cadwallader levou uma chávena de chá a Florie, encontrou-a desmaiada em cima do sofá. a A criada desceu a correr para chamar Maybrick e a Sr. Briggs e todos correram escada acima. Numa curiosa mudança de estado de espírito, Maybrick ajoelhou-se ao lado da mulher chamando: @<Bunny, Bunny, está aqui o teu maridinho." Não houve resposta. Durante um instante, as criadas pensaram que Florie estava morta. Foi outra noite de perturbação. A Sr.' Briggs, semidespida e com um roupão de Florie que era demasiado pequeno, passou o tempo a entrar na cozinha em busca de cerveja. Disse que precisava de alguma coisa "para a animar".

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Desta vez, mandaram chamar o Dr. Humphreys para ver Florie. Confrontado com o indecoroso espectáculo da Sr a Briggs, cambaleante e desgrenhada, quis saber: "Quem é esta mulher?" Durante a noite, Maybrick voltou a chamar o médico exausto para vir a sua casa. Florie ficou de cama durante uma semana, altura em que confessou a Elizabeth Humphreys que ela e Maybrick tinham problemas de dinheiro. Disse que tinha dívidas e que os rendimentos do marido não chegavam para as liquidar, mas não contou a história toda. Maybrick também teve uma conversa com as empregadas. Disse a Mary Cadwallader que não levasse o correio à Sr.' Maybrick enquanto ele o não tivesse visto. "A tua patroa vê todas as minhas cartas", explicou. "Não há razão para não ver as dela." Após o seu restabelecimento, Florie combinou mais um encontro com Brierley, desta vez em Liverpool, a 6 de Abril. Contou-lhe que Maybrick lhe batera e a arrastara pelo quarto. 142 Depois disso, escreveu duas cartas a Brierley, aparentemente por instigação do Dr. Hopper, dizendolhe que se havia reconciliado com o marido. Espantado, ele rasgou as cartas. No sábado 13 de Abril, Maybrick foi a Londres. Segundo o diário, essa visita destinava-se, em parte, a pagar as dívidas de Florie. Mas a recordação da última mutilação abortada continuava a persegui-lo. Estava pronto para atacar de novo. Uma vez mais a puta está endividada. Meu Deus vou cortá-la Visitarei a cidade das putas. Pagarei as suas dívidas e vou possuir a minha, por Deus o farei. Vou esventrar esventrar esventrar. Talvez procure o filho da mãe que interrompeu os meus joguinhos engraçados e o esventre também. Disse que ele pagaria vou certificar-me de que o fará. O outro objectivo da visita de Maybrick a Londres era ver o médico de Michael, o Dr. Fuller, que o examinou durante uma hora, em casa de Michael, nesse domingo. Maybrick queixou-se de dores na cabeça e insensibilidade. Disse que tinha medo de estar paralisado. O Dr. Fuller achou que o mal era menor e receitou um tónico para os nervos e pílulas de fígado. No sábado seguinte, Maybrick estava de novo em Londres. Foi a uma segunda consulta com o Dr. Fuller e reconheceu que estava muito melhor. A sua receita de um laxante e pílulas de fígado foi ligeiramente alterada, sendo as pílulas de fígado substituídas por pastilhas de chupar. O que quer que o Dr. Fuller tenha dito durante estas consultas teve um efeito curioso e dramático. A caligrafia do diário tomou-se mais controlada, os pensamentos mais calmos e desistiu de quaisquer planos posteriores de homicídio. Agora, os seus pensamentos viravam-se para dentro e começou a reflectir acerca da sua própria morte. Fuller acha que não tenho nada de muito grave. Estranhos, os pensamentos que pôs na minha cabeça. Não pude atacar, penso que estou doido, completamente doido. Tento lutar contra os meus pensamentos. Passeio pelas ruas até ao amanhecer. Não consegui encontrar coragem para atacar. Visões da minha querida Bunny avassalam-me. Ainda a amo, mas como a odeio. Ela destruiu tudo e no entanto o meu coração dói por causa dela, oh como dói. Não sei que dor é pior, a do meu corpo ou a do meu espírito. 143 Por fim, Maybrick aparentemente decidiu lançar a sua faca ao rio. O Mersey corria ligeiro a apenas algumas centenas de metros de Battlecrease House. Os dias da matança tinham acabado finalmente. Regressarei a Battlecrease com o conhecimento de que já não posso continuar a minha campanha. Foi o amor que me desprezou tanto, é o amor que lhe porá fim. Nesse domingo, Florie escreveu a Maybrick, para Londres. As suas emoções pareciam oscilar como um pêndulo e a reviravolta é espantosa. Meu muito querido maridinho!

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passei uma noite terrível - e tenta tanto como eu o farei ser corajoso e destemido dado que Jim pensa que ainda posso proporcionar algum conforto a ele e às crianças, a minha fraqueza física sobrepõe-se ao que ainda resta da minha força mental. Não me resta o respeito próprio suficiente para me erguer acima do abismo de desonra em que caí, porque agora que estou em baixo posso julgar melhor quão mais alto acima de mim devem estar os outros em termos de moral. Sinto o desespero de voltar alguma vez a atingir esse padrão embora possa recuperar alguma da tua confiança vivendo uma vida de expiação apenas para teu bem e dos nossos filhos. Nada do que possas dizer me fará olhar para os meus actos sem ser à luz mais degradante e quanto mais me impuseres a enormidade dos meus crimes mais desesperada me sinto de alguma vez voltar a recuperar a minha posição. Sinto-me como se daqui para o futuro tivesse de ser [... 1 uma perpétua lembrança de 1 ... 1 proble- mas e como se nada pudesse apagar o passado da tua memória [ ...1 Por favor, querido, arranca-me da minha dor o mais cedo que puderes. Enganei-te e quase te arruinei, mas dado que pretendes que viva, diz-me imediatamente o pior - e deixa que passe [... 1 Querido, tenta ser tão clemente em relação a mim quanto puderes porque sem toda a tua generosa e tema bondade amorosa o meu fardo é quase mais do que o que posso suportar, o meu remorso e desprezo por mim própria roem-me o coração e se não acreditasses no meu amor por ti e a minha submissão não pudesse demonstrar alguma ténue expia144 ção pelo passado eu desistiria de lutar para manter a coragem! Perdoa-me se puderes meu querido e não penses tão mal da Tua mulherzinha que te ama, Bunny. As crianças estão bem. Não fui a lado nenhum e não vi ninguém. Estas palavras foram escritas por uma mulher que dissera ao seu médico que não suportava dormir com o marido e que, dez dias mais tarde, se dirigiu a Brierley numa carta como "queridíssimo". Estava mesmo arrependida, ou decidira, para sua própria segurança, que era melhor desempenhar o papel da mulher submissa? Cerca de 24 de Abril, Florie foi à loja de Wokes, o droguista, à esquina das Aigburth e Beechwood Roads, e comprou uma dúzia de papéis mata-moscas. Disse que a sua cozinha estava cheia de moscas e pediu ao moço de recados que os entregasse em sua casa. Pouco tempo depois da compra de Florie, a criada de fora, Bessie, ficou intrigada ao encontrar o lavatório coberto com uma toalha. Espreitando por debaixo, viu alguns papéis matamoscas ensopados. Na manhã seguinte, estavam no cesto dos papéis. Nesse mesmo dia 24 de Abril, Maybrick foi à loja Clay and Abraham com a receita do Dr. Fuller. A sua saúde continuava a deteriorar-se rapidamente. No dia 25 de Abril, o muito desejado Edwin regressou da América. O meu querido irmão Edwin voltou. Quem me dera poder contar-lhe tudo. No dia seguinte, quatro meses depois de ter destruído o seu testamento, James fez um novo. Mas fez mesmo? O testamento que chegou até nós foi escrito em papel azul fino e com uma mão firme. A primeira das duas páginas está reproduzida no segundo conjunto de ilustrações. As testemunhas foram o guarda-livros de Maybrick, George Smith, e o seu amigo George Davidson. Levanta muito mais perguntas do que as respostas que oferece. O que é mais importante, sabemos pela carta de Florte à mãe que, em Dezembro de 145 1888, Maybrick rasgara o seu testamento e escrevera um novo. Maybrick sabia que já existia um testamento. Assim, por que razão o

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azul começa deste modo: "Caso morra antes de ter feito um testamento normal e adequado segundo a forma legal, quero que esta seja considerada a minha última vontade e testamento ... "? Poderia ser que o documento bastante desconexo e inexacto conservado em Somerset House não tivesse sido escrito por ele, mas sim por outrem? O testamento continua: "Deixo e lego todos os meus bens terrenos de todos os tipos ou descrições, incluindo mobílias, quadros, vinhos, rouparia, loiças, seguros de vida, dinheiro, acções, propriedades, na verdade tudo o que possuo, em fideicomisso junto de meus irmãos Michael Maybrick e Thomas Maybrick, para os meus dois filhos, James Chandler Maybrick e Gladys Eveleyn Maybrick. Quero que as mobílias fiquem intactas e sejam usadas para mobilar uma casa que pode ser partilhada pela minha mulher e filhos, mas a mobília será dos meus filhos. Desejo também que todos os dinheiros em nome dos supracitados curadores (Michael e Thomas Maybrick) e o rendimento dos mesmos sejam utilizados para bem-estar e educação das crianças, sendo essa educação deixada ao alvedrio dos referidos curadores. A minha viúva receberá como sua quota das minhas propriedades as apólices de seguro da minha vida, a saber, 500 libras junto do Scottish Widows Fund e 2000 libras junto do Mutual Reserve Fund Life Association of New York, tendo ambas as apólices sido feitas em seu nome. Os juros destas 2500 libras juntamente com as 125 libras anuais que recebe das suas propriedades em Nova lorque proporcionar- lhe-ão um fundo de cerca de 125 libras anuais, uma soma que, embora pequena, será no entanto a forma de se manter de forma respeitável. É também meu desejo que a minha viúva viva sob o mesmo tecto que os filhos, enquanto continuar a ser a minha viúva. Caso seja legalmente possível, desejo que as 2500 libras dos seguros da minha vida em nome da minha mulher sejam investidas em nome dos citados curadores, mas que ela tenha apenas o usufruto vitalício dos juros delas, mas, à data da sua morte, a soma reverta para os meus citados filhos, James Chandler e Gladys Eveleyn Maybrick. Testemunham a minha letra e sinete ao vigésimo quinto dia de Abril de 1889. Assinado James Maybrick. 146 Assinado pelo testador na nossa presença, que a seu pedido e na presença um do outro apusemos aqui os nossos nomes como testemunhas, George R. Davidson e George Smith.@> Até mesmo naquela época, o testamento foi alvo de muita especulação. Foi mencionado no inquérito, embora Michael, o que não é surpreendente, tenha dito que preferia que não fosse lido. Alexander MacDougall, que escreveu um livro sobre o caso de Florie, em 1891, descreveu como, quando Maybríck estava agonizante, "os empregados do escritório Thomas Lowry e George Smith apareceram em casa dele com alguns papéis. Michael e Edwin Maybrick estavam lá e levaram-nos a james Maybrick. Ao fim de algum tempo, james Maybrick começou a gritar com os irmãos numa voz tão alta que podia ser ouvida em toda a casa: 'Meu Deus, se vou morrer, por que razão têm de preocupar-me desta forma? Deixem-me morrer como deve ser.' Foi muito violento. " MacDougall afirmou que os criados pensavam que os irmãos não tinham conseguido encontrar um testamento e estavam a tentar fazê-lo assinar um novo. Acreditava que era "completamente inconcebível que james Maybrick estivesse no seu perfeito juízo quando assinou aquele testamento". Explicou: "Aquele testamento entrega e para sempre todas as coisas que james Maybrick possuía [ ... 1 de tudo sem excepção [... 1 ao controlo absoluto e livre de Michael Maybrick e Thomas Maybrick. E não apenas isso, porque entrega as crianças, de 7 e 3 anos de idade, a eles, para serem tratadas por eles como lhes aprouver... Para serem educadas e criadas, o rapaz como limpa-chaminés!, a rapariga como costureira!, se assim o quisessem, e como tinha legado tudo o que possuía à hora da morte a

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Michael e Thomas para sempre com poder absoluto para investirem o capital, o rendimento seria utilizado como eles muito bem quisessem! Não existe qualquer provisão no seu testamento de acordo com a qual qualquer quinhão da propriedade passasse para algum dos filhos quando atingissem a maioridade, ou fosse quando fosse!... A Sr.- Maybrick não tem nem cama nem cobertores, mas ele 'deseja' que ela viva na 'casa' que Michael e Thomas deverão mobilar e 'sob o mesmo tecto', como os seus filhos, que deverão ser criados e educados por Michael e Thomas Maybrick como eles muito bem quiserem! Mas não é tudo! No seu testamento, james Maybrick vai inclusive tentar agarrar para estes curadores algumas apólices de seguro de vida que 147 pertencem à própria Sr a Maybrick... Trata-se de um testamento que tribunal algum, num país civilizado, teria considerado um testamento feito em seu perfeito juízo por qualquer marido e pai." De qualquer forma, não dava a Florie uma razão económica para o homicídio. Nem reflectia os desejos de Maybrick, conforme foram expressos na carta de Florie, a 31 de Dezembro de 1888, para a mãe (p. 130), ou no diário. Restabeleci o equilíbrio do meu testamento anterior. Bunny e as crianças ficarão bem e espero que Michael e Thomas cumpram os meus desejos. É suspeito não só que as verbas não se somem, mas também que Maybrick escreva de forma incorrecta o nome da sua filha, Evelyn, como "Eveleyn", É intrigante também que haja discrepâncias entre as palavras do testamento conservado em Somerset House e o que foi visto e copiado por MacDougal1. Por exemplo, as palavras "tego" e "feitas" faltam na versão de MacDougalI, bem como a frase "na sua presença", todas elas fórmulas legais importantes. Se o testamento guardado em Somerset House não era o que Maybrick pretendia ou escreveu, quem o forjou e porquê? O documento teria sido redigido sob pressão dos irmãos e pré-datado? Tê-lo-iam escrito Michael e Edwin e, em seguida, ambos o teriam obrigado a assiná-lo no seu leito de morte? Ou, na verdade, tanto o conteúdo como a assinatura seriam forjados? Fotocópias das duas páginas assinadas do testamento de Somerset House e do assento de casamento de Maybrick foram levadas a um eminente perito de documentos, Reed Hayes, de Kailua, Havai. O Sr. Hayes é membro da American Board of Forensic Handwriting Analysts. Ele examinou as três assinaturas, letra a letra, procurando diferenças e semelhanças nos traços individuais e na forma como são juntos. Reparou, por exemplo, que, no assento de casamento, a curva do + maiúsculo de James se une com o traço descendente formando um círculo fechado. Na p. 1 do testamento, o início da curva começa à direita do traço descendente, de modo que este intersecta o início da curva. Na p. 2, O início da curva é à esquerda do traço descendente de modo a formar um círculo aberto. Todos três são diferentes. 148 No total, Reed Hayes encontrou dez semelhanças entre a primeira página do testamento e o assento de casamento, seis com a p. 2. No entanto, havia quinze diferenças entre o assento de casamento e a p. 1 do testamento, treze com a p. 2. Também encontrou semelhanças entre a assinatura de Edwin e a de james no testamento de Somerset House. "De um modo geral, o sentido de formação da escrita é diferente na assinatura conhecida [no assento de casamento] e nas assinaturas duvidosas [no testamento], que têm um sentido nitidamente rítmico, que se não encontra na assinatura conhecida. Em minha opinião, é altamente provável que as assinaturas duvidosas não tenham sido escritas pelo mesmo punho que escreveu a

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assinatura conhecida de james Maybrick." Um ponto interessante é Sue Iremonger encontrar uma semelhança entre as assinaturas de Michael e James: "Mesmo tomando em consideração a sua aprendizagem paralela, não esperava encontrar um estilo e força de traço tão correspondentes. " Mais tarde, Michael e os outros irmãos viriam a utilizar o testamento para obterem o controlo total sobre os bens de Maybrick e, em última instância, sobre sua mulher. Mas uma pessoa tinha tudo a perder: a própria Florie. 11 "NÃO SEI SE ELA TEM A FORÇA PARA ME MATAR" Às 8.30 h da manhã de 26 de Abril de 1889, foi entregue, em Battlecrease House, uma encomenda proveniente de Londres. Mary Cadwallader recebeu-a e subiu imediatamente a escada e entregou-a ao patrão. Era o remédio de que Maybrick estava à espera. No dia seguinte, Maybrick estava doente. Disse a Mary que vomitara e que tinha as pernas entorpecidas, acrescentando que devia ter ingerido uma dose exagerada da substância que chegara no dia anterior. Apesar do seu estado e do tempo horrível que fazia, estava decidido a ir mais tarde, nesse mesmo dia, às Wirral Races, um grande acontecimento social. Foi para o escritório cerca das 10.30 h e saiu perto da 1 h da tarde, regressando a casa para ir buscar o cavalo. Depois, afastou-se a cavalgar no meio dos choviscos. Quando chegou ao hipódromo estava molhado e a tremer. O seu amigo William Thomson reparou que tinha dificuldade em se manter na sela. A explicação de Maybrick foi que tomara uma dose dupla de "remédio", nessa manhã. a A Sr. Morden Rigg, a mulher do velho amigo americano de Maybrick, também reparou no seu estado. Ele deu-lhe a mesma explicação - que tomara um dose exagerada -, mas desta vez acrescentou que o "remédio" era estricnina. Embora as suas roupas estivessem ensopadas, Maybrick decidiu jantar com os seus amigos, os Hobson, depois das corridas. Nessa altura, estava tão doente que não conseguia segurar um copo e, depois de ter derramado o seu vinho duas vezes, foi-se embora, cons151 trangído pelo facto de os seus amigos poderem pensar que estava embriagado. Na manhã seguinte, estava ainda pior. Florie pediu à cozinheira que preparasse mostarda com água. "O patrão tomou outra dose daquele medicamento horrível", disse ela. Foi chamado o Dr. Humphreys. Quando chegou a Battlecrease House, Florie disse-lhe que pensava que a doença do marido se devia provavelmente ao péssimo brandy que bebera nas corridas. O próprio Maybrick afirmou que os seus sintomas tinham piorado depois de ingerir uma chávena de chá forte, mas acrescentou que sofria de cefaleias há mais de um ano. O médico perguntou a Maybrick que efeito tinham nele a estricnina e a nux vomica. Contrariando completamente a confissão feita a anteriormente à Sr. Rigg de que tomara estrícnina, o paciente asseve rou: "Penso que sei muito de medicina. Não suporto de forma alguma estricnina e nux vomica." O Dr. Humphreys recomendou que ele comesse carne apenas uma vez por dia e que levasse para o emprego caldo de carne engrossado com Revalenta Du Barry. Este remédio, muito popular na época vitoriana, era publicitado como cura para "indigestão, flatulência, dispepsía, catarro, obstipação, todas as alterações nervosas, biliosas e hepáticas, disenteria, diarreia, acidez, palpitações, azia, hemorróidas, cefaleias, debilidade, melancolia, cãibras, espasmos, náuseas, desmaios, tosse, asma e bronquite, tuberculose e também doenças infântis". Por outras palavras, o remédio ideal para um hipocondríaco.

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Edwin apareceu para almoçar e, durante o dia, James escreveu uma carta surpreendentemente franca a Michael, dando mais uma versão dos acontecimentos. Dava a entender que Maybrick sabia que o seu fim estava próximo. A carta original desapareceu, mas um escrivão que estava em funções durante o julgamento de Florie fez uma cópia que chegou aos nossos dias. O nome de Michael foi riscado e substituído por "Biucher", ao que parece, e sem qualquer razão que se conheça, pelo advogado William Swift, que teve a seu cargo a acusação no julgamento de Florie. Uma nota à margem, na mesma caligrafia, explica que Blucher era o nome que Maybrick dava ao irmão. Blucher era um general prussiano que lutou contra Napoleão em Waterloo; sabia-se que Michael era germanófobo e, portanto, trata-se de uma das "gracinhas" de Maybrick. 152 Liverpool, 29 de Abril. Meu querido Michael [riscado] Blucher, Tenho estado mesmo muito deprimido. No sábado de manhã, descobri que as minhas pernas estavam a ficar rígidas e inúteis, mas, graças a pura força de vontade, afastei esse sentimento e fui a cavalo até às Wirral Races e jantei com os Hobson. Ontem de manhã, sentia-me mais morto do que vivo e tanto assim que Florie chamou outro médico, que disse que se tratava de um ataque agudo de indigestão e me deu algo para aliviar os sintomas assustadores, e tudo correu bem até que, cerca das 8 h, voltei para a cama, onde fiquei deitado de costas, sozinho, durante uma hora, a ler. Senti muitas vezes umas contracções, mas não lhes prestei grande atenção, pensando que passariam, mas em vez disso ficaram cada vez piores e ao tentar voltar-me para tocar à campainha descobri que o não conseguia fazer, mas finalmente consegui, e quando Florie e Edwin chegaram cá acima estava teso e durante duas horas mortais as minhas pernas pareciam barras de ferro esticadas até ao seu comprimento máximo, mas tão rígidas como aço. O médico regressou finalmente, mas desta vez não podia dizer que era indigestão e a conclusão a que chegou foi que a nux vomica que estivera a tomar por ordem do Dr. Fuller me envenenara, uma vez que todos os sintomas faziam chegar a uma tal conclusão; sei que estou hoje dorido da cabeça aos pés e perfeitamente acabado. Qual o problema que me aflige é algo que nenhum médico conseguiu determinar até agora e suponho que nunca o farão até estar esticado e frio, e então a próxima geração poderá beneficiar disso se realizarem uma autópsia, que desejaria muito que fizessem. Não penso que vá a Londres esta semana, dado que não sinto muita vontade de viajar e não posso continuar a tomar o remédio de Fuller durante algum tempo, mas irei visitar-te de novo em breve. Edwin não vai já para junto de ti, mas vai escrever-te pessoalmente. Penso que vais para a tua casa de campo na quarta-feira... Com amor, o teu irmão dedicado Jim. Entretanto, Florie escreveu à mãe como se tudo estivesse bem. 153 Fomos convidados para um baile de máscaras que, dado que se realiza em Liverpool e as pessoas são provincianas, desconfio que tem poucas probabilidades de ser um êxito. Numa diversão deste tipo é sempre necessária uma determinada quantidade de diab"e, espírito e vida: e como será uma perfeita inovação as pessoas não vão saber o que se espera delas. No entanto, espera-se que compareçamos com <@dominós e máscaras", e gostaria de saber como se faz o primeiro e se a última não poderá encontrar-se em gaze em vez de papier mâché. Naturalmente, Florie queria parecer o melhor possível no baile. No dia anterior, foi à casa Hanson, a drogaria, e comprou alguma tintura cosmética de benjoim e flores de sabugueiro. Fez também outra compra, de que viria a arrepender,se até ao final da vida: mais papel mata-moscas. No dia seguinte, Maybrick sentia-se um pouco melhor e regressou ao trabalho. A cozinheira preparou-lhe a Revalenta e, como Edwin estava instalado em Battlecrease House, Florie pediu-lhe que levasse o

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remédio ao escritório, para o almoço de Maybrick. Thomas Lowry, o escriturário, saiu do escritório para ir comprar uma caçarola para aquecer a mistura. Edwin acompanhou Florie ao baile, nessa noite, possivelmente porque Maybrick se não sentia em condições de o fazer. No dia seguinte, 1 de Maio, o capitão Irving, da White Star Line, encontrou-se com Edwin e Maybrick, no escritório. Enquanto os três homens estavam a conversar, afirmou mais tarde num depoimento ao tribunal, Maybrick pegou num pacotinho, cujo conteúdo esvaziou num copo de água. O capitão Irving reparou que ele tomou duas doses em quinze minutos. "Toda a gente sabia que Jim estava sempre a tomar um ou outro remédio." Quando o capitão regressou com eles a Battlecrease House, Maybrick estava incapaz de se sentar à mesa. Mais tarde, o capitão Irving encontrou Edwin na cidade e perguntou-lhe: "Que raio se passa com jím?" "Está a matar-se com aquela maldita estricnina", retorquiu Edwin. Quando, mais tarde, um jornal publicou o relato destes acontecimentos feito pelo capitão Irving, Edwin negou tudo categoricamente. <@Declaração perfeita e totalmente falsa em todos os aspectos", disse num telegrama à imprensa. "Nunca vi o meu irmão utilizar qualquer pó 154 branco em vinho ou de outra forma em toda a minha vida.@> E, no julgamento de Florie, Edwin afirmou que não tinha conhecimento da pretensa dependência de drogas por parte de Maybrick. Na quinta-feira, 2 de Maio, Maybrick almoçou no escritório, mas regressou a casa sentindo-se doente. [... 1 já não tomo a substância temível porque tenho medo de que possa prejudicar a querida Bunny, pior ainda as crianças. Se o que escreveu era verdade - se Maybrick parou mesmo de tomar drogas -, uma supressão súbita deveria ter sido quase insuportável. Em 1885, o Chambers Journal of Popular Literature, Science and Art noticiou uma conferência que incluía o tópico da ingestão de arsénico: "Quando um homem começou a ceder à tentação de o utilizar, tem de continuar a fazê-lo", dizia, "ou, como diz o povo, a última dose mata-o. Na verdade, aquele que ingere arsênico não só deve prosseguir no seu vício como também tem de aumentar a quantidade da droga, de modo que é extraordinariamente difícil parar com o vício; porque, enquanto a cessação súbita provoca a morte, a cessação gradual produz uma dor tão persistente que poderá dizer-se talvez que nunca houve um verdadeiro viciado em arsénico que tenha parado de o tomar enquanto durou a vida. " A partir das últimas entradas do diário até à sua morte, Maybrick deve ter estado em grande sofrimento e, na verdade, nessas entradas ele exprime remorsos e suplica pela libertação do tormento de viver. Não tenho coragem para acabar com a vida. Rezo todas as noites para encontrar a coragem para o fazer, mas a coragem foge de mim. Rezo constantemente para tudo ser perdoado. Lamento profundamente bater-lhe, consegui perdoar,lhe do fundo do coração todos os seus amantes. julgo que lhe contarei tudo, pedirei que me perdoe como lhe perdoei. Rezo a Deus para que ela compreenda o que me fez. A 3 de Maio, Maybrick foi consultar o Dr. Humphreys e queixou-Se de que o remédio não estava a fazer nada. Florie comentou, mordazmente, que ele dizia o mesmo a respeito de qualquer remédio ao fim de 155 dois ou três dias. Depois de ter falado com o médico, Maybrick foi ao seu escritório pela última vez. Foi também neste dia que escreveu a última entrada no diário. Nessa tarde, com a aprovação do médico, foi aos banhos turcos.

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Durante a noite, Maybrick ficou muito doente, com uma <@dor lancinante desde as ancas até aos joelhos". À meia-noite, o Dr. Humphreys dirigiu-se uma vez mais a Battlecrease House. Concluiu que as dores eram resultantes de um esfregamento excessivo com a toalha, nos banhos, e, ignorando o facto de que Maybrick vomitara duas vezes, ministrou-lhe um supositório de morfina. Na manhã seguinte, Maybrick estava pior. Vomitava violentamente. O Dr. Humphreys apareceu muito cedo e deu instruções para o paciente não beber nada; podia mitigar a sede lavando a boca com água ou chupando gelo ou um pano húmido. O farmacêutico enviou um remédio que, para consternação de Florie, foi levado directamente a Maybrick por Mary Cad.wallader. "Não devem levar-lhe nada ao quarto sem que eu veja primeiro", ordenou Florie. Tendo recuperado o remédio, esvaziou-o no lavatório e, mais tarde, explicou a Cadwallader que a menor porção adicional teria matado o seu marido. Talvez tenha sentido o perigo de contrariar as ordens do médico. Durante a manhã, Floríe mandou Mary Cadwallader à Wokes buscar um remédio com receita. O Sr. Wokes recusou-se a entregar-lho e, em vez disso, dísse-lhe que pedisse ao médico para o vir buscar pessoal, mente. O acto do farmacêutico veio alimentar os mexericos que começavam a grassar entre o pessoal doméstico de Battlecrease House. James Grant, o jardineiro, disse à enfermeira Yapp que fora informado por Wokes de que o remédio que Florie pretendia era um veneno mortal. Fora por isso que o farmacêutico lho não fornecera. No domingo, 5 de Maio, Elizabeth Humphreys subiu para ver o seu patrão, que lhe pediu limonada com um pouco de açúcar, dizendo: <@Quero que o faças como farias para qualquer pobre homem, a morrer de sede. " Florie estava no quarto e afirmou: "Não podes tomá-la, a não ser como colutório." Estava a seguir as instruções do Dr. Humphreys de que Maybrick não deveria beber o que quer que fosse. Nessa tarde, Edwin apareceu na casa e, desobedecendo às ordens do médico, deu ao irmão um brandy com soda, que Maybrick vomitou de imediato. 156 Na manhã de segunda-feira, 6 de Maio, o médico apareceu cerca das 8.30 h. Lembrou a Maybrick que não tomasse o habitual Valentine's Meat Juice ou ácido prússico, uma vez que o estavam a fazer vomitar. Receitou Solução de Fowier, que continha arsénico. Enquanto Florie foi às compras, a enfermeira Yapp foi deixada com Maybrick. Este gemia e estava quente; ela esfregou-lhe as mãos, que ele afirmou estarem outra vez dormentes. Quando Florie regressou, Yapp sugeriu que se chamasse o médico, mas Florie recusou a sugestão com base em que o marido, de qualquer modo, não iria fazer o que ele dissesse. Agora, Battlecrease House estava cheia de familiares, pessoal e visitantes, todos eles em alvoroço, cochichando e observando-se uns aos outros e, sobretudo, Florie. No meio de toda essa actividade, chegou uma carta de Brierley em que este dizia temer que o segredo estivesse prestes a ser revelado e que se ia embora, para longe do perigo. Durante a noite de 6 de Maio, o Dr. Flumphrey fez nova visita e aplicou uma "ventosa", um tratamento destinado a aliviar as dores que Maybrick sentia no estômago. À medida que a doença piorava, a atmosfera de desconfiança transformava actos simples em alvo de suspeitas. Assim, quando Alice Yapp viu Florie transferir alguma coisa de um frasco de remédio para outro, ficou definitivamente desconfiada. Lembrou-se dos papéis mata-moscas que Bessie lhe dissera ter descoberto encharcados debaixo de uma toalha, no lavatório. No início da tarde de 6 de Maio, Florie mandou um telegrama para o escritório de Edwin, em Liverpool, pedindo-lhe que encontrasse

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alguém que pudesse dar uma segunda opinião médica. O Dr. William Carter, um médico que se autodescrevia como "médico com uma experiência considerável, incluindo casos de excessos de doses medicinais com arsénico", juntou-se à equipa médica. Encontrou-se com o Dr. Flumphreys às 5.30 h, em Battlecrease, e examinaram em conjunto o doente irrequieto. Agora, Maybrick queixava-se também de "um cabelo" na garganta. Os médicos concluíram que estava a sofrer de dispepsia e receitaram pequenas doses de antipirina para aliviar a garganta dorida e tintura de jaborandi com clorodina diluída para aliviar o mau gosto na boca. A dieta foi reduzida a canja de galinha e leite. Disseram a Florie que o marido estava a reagir bem e em breve estaria melhor. 157 Nessa noite, Maybrick vomitou continuamente e continuava incomodado com o "cabelo" na garganta. Na quarta-feira, 8 de Maio, não conseguiu levantar-se da cama e disse ao Dr. Humphreys que pensava que ia morrer. Edwin viu o irmão antes de sair de casa, cedo, para o trabalho. Maybrick sugeriu que contratassem uma enfermeira para ajudar Florie, que estava exausta. Florie telegrafou à mãe, para Paris, uma mensagem concisa que tinha um tom totalmente diferente da sua carta jovial anterior: "Jim muito doente outra vez." Da janela do L- andar, a enfermeira Yapp, que estava impaciente devido a tudo o que vira ou imaginara, viu as irmãs Sr.' Briggs e Sr.' Hughes a subirem apressadamente o caminho de acesso. Abordou-as no pátio com a afirmação chocante: "Graças a Deus que chegaram, porque a senhora está a envenenar o patrão". Contou-lhes todos os boatos e conduziu-as imediatamente pela escada das traseiras para verem Maybrick. Florie ficou aborrecida quando descobriu que as duas irmãs já estavam no quarto de Maybrick. Mandou-as chamar à sala, onde acabou por ser acordado que se contrataria uma enfermeira. A Sr.' Briggs e a Sr.a Hughes saíram perto do meio-dia, mas telegrafaram de imediato a Michael, para Londres. "Venha imediatamente", dizia a mensagem. <@Passam-se coisas estranhas aqui." O delas foi um dos dois telegramas pressagiosos enviados a Michael naquele dia. O outro era de Edwin, que também pedia insistentemente ao irmão que viesse para Battlecrease House. Uma enfermeira Gore, da Nurses Institution de Liverpool, chegou à casa cerca das 2.15 h da tarde. Com a enfermeira para a ajudar, Florie cometeu um erro importantíssimo: respondeu a Brierley. A este erro seguiu-se outro, que se revelou quase fatal. Pediu a Alice Yapp que pusesse a carta no correio. A ama pegou na carta e deu-a à pequena Gladys para a levar quando foram apanhar o correio das 3.45 h. Pelo caminho, disse Yapp no julgamento de Florie, Gladys deixou cair a carta na lama. "Fui à estação dos correios e pedi um sobrescrito limpo para escrever um novo endereço. Abri a carta enquanto me dirigia para os correios". O que Alice Yapp leu chocou-a de tal modo que escondeu a carta no bolso. Nunca foi expedida. 158 Queridíssimo, não posso responder cabalmente à tua carta hoje, meu querido, mas liberta o teu espírito de qualquer medo de ser descoberto agora e no futuro. M. tem estado delirante desde domingo, e sei que está perfeitamente ignorante de tudo, até mesmo do nome da rua, e também que não. fez qUaisq ações! A história que me

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contou era uma pura invenção, e apenas se destinava a assustar-me para lhe contar a verdade. Na verdade, acredita nas minhas afirmações, embora não o admita. Não precisas, portanto, de ir para o estrangeiro por causa disso, meu muito querido; mas, de qualquer modo, por favor não saias de In laterra até eu te ter voltado a ver! Deves pensar que aquelas duas cartas minhas foram escritas em circunstâncias que até devem desculpar a sua injustiça perante os teus olhos. julgas que poderia agir como o estou a fazer se sentisse e quisesse dizer realmente o que então afirmei? Se quiseres escrever-me a propósito de alguma coisa fá-lo ag2ra, dado que todas as cartas passam, de momento, pela minha mão. Desculpa esta carta escrita à pressa, meu muito querido, mas não ouso abandonar o quarto durante um só momento, e não sei quando poderei escrever-te outra vez. Apressada, sempre tua, Florie. Quando Edwin regressou, perto das 5 h, a enfermeira Yapp estava no seu posto de observação costumeiro, à espera dele no pátio, e interceptou-o. Enquanto se sentaram num banco do pátio, ela revelou-lhe a sua descoberta surpreendente. De momento, nada fizeram. Michael chegou à estação de Edge Hill pouco antes das 9 h e o irmão foi buscá-lo com uma carruagem. Quando Edwin lhe falou na carta, Michael tomou a situação a seu cargo. De regresso a casa, os dois homens leram a carta para Brierley e Michael, depois de ter visto o seu irmão semi- inconsciente, falou duramente com Florie. Não lhe disse que a haviam lido, mas criticowa por não ter chamado mais cedo uma enfermeira profissional e um segundo médico. Depois, saiu, dirigindo-se a casa do Dr. Humphreys, onde chegou cerca das 10.30 h da noite. O médico reconheceu que não estava satisfeito com o estado de Maybrick e Michael informou-o das suspeitas da enfermeira Yapp. 159 O médico nada fez. Limitou-se a dizer: "O seu irmão disse-me que vai morrer." Todos tiveram uma noite agitada. A enfermeira Gore havia sido instruída de que só ela daria a comida e os remédios a Maybrick. Edwin deu um novo frasco de Valentine's Meat Juice a uma enfermeira substituta, que, nessa altura, fora render a exausta enfermeira Gore. O Dr. Carter regressou a Battlecrease House na tarde seguinte e manteve o seu diagnóstico de "dispepsia aguda". Michael, extremamente agitado@ discutiu com ele. Afirmou que desde Abril que Maybrick adoecia quando estava em casa e se sentia perfeitamente bem quando estava fora. Acrescentou que o abismo entre Maybrick e a mulher era grande e que Florie comprara papéis matamoscas. Que iria fazer o Dr. Humphreys? Agora que as suspeitas em relação a Florie tinham sido discutidas com o médico, Michael decidiu aumentar as medidas de segurança em redor do doente. Agora, Florie estava praticamente despojada da sua própria casa. Vagueava de sala em sala num estado tristíssimo. Subiu ao quarto de dormir dos filhos, onde a enfermeira Yapp estava a tratar das crianças, e perguntou: "Sabia que me culpam disto?" A enfermeira Yapp inquiriu, de má fé: "De quê?" Florie retorquiu: "Da doença do Sr. Maybrick." Tudo estava contra ela. Sabia que o Dr. Humphreys não fora muito favorável a que se chamasse outro médico e que o Dr. Carter dissera que não era preciso uma enfermeira. Fora ela, em última instância, a chamá-los a ambos, mas, agora, Michael acusava-a de não ter agido com suficiente rapidez. Estava confusa e preocupada. Florie só tinha dois amigos leais dentro de casa. Um era Mary Cadwallader, que encontrou alguns velhos papéis mata-moscas na despensa do mordomo e os queimou. O outro era a cozinheira,

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Elizabeth Humphreys, que assistiu, no átrio dos empregados, quando Florie se foi abaixo e soluçou durante quinze minutos. Desde a chegada de Michael, contou-lhe Florie, não lhe fora permitido entrar no quarto de Maybrick. "A minha posição nada vale nesta casa." Michael odiava-a, afirmou ela, e se James melhorasse nunca mais ela permitiria que Michael lá voltasse. Mas a promessa de Florie nunca viria a ser cumprida. Na quinta-feira, 9 de Maio, Maybrick estava demasiado doente para ser observado. Os médicos deram-lhe doses duplas de bismuto com 160 algum brandy como sedativo para o estômago. Pela primeira vez, recolheram amostras de urina e fezes, que o Dr. Carter levou para o consultório para analisar. Um frasquinho de Neaves Food, que se suspeitava haver sido adulterado por Florie, foi entregue com alguma presteza ao médico, por Michael, para ser analisado. Uma garrafa de brandy, que levantava suspeitas a Michael, também foi analisada. Todas foram negativas, um facto que nunca seria mencionado no julgamento de Florie. Durante a noite, Maybrick ficou ainda pior. Contrariando as instruções dos médicos, a enfermeira Gore pegou na garrafa ainda fechada de Valentine's Meat Juice, que Edwin trouxera de uma mesa do Patamar, e deu-lhe duas colheres de chá dissolvidas em água. Florie estava lá e protestou em vão que os médicos tinham dito a Maybrick para deixar de tomar o tónico, que sempre lhe provocara náuseas. Pouco depois da meia-noite, a enfermeira Gore deu algum champanhe a Maybrick, talvez para lhe acalmar o estômago, e reparou que Florie levou o frasco com o tónico para o quarto de vestir. Segundo a enfermeira, Florie regressou dois minutos depois e "sub-repticiamente" voltou a colocar o frasco na mesinha-de-cabeceira. Segundo a enfermeira Callery, que também estava a cuidar de Maybrick, Michael retirou mais tarde o frasco sem que tivesse sido dado qualquer tónico ao paciente desde que Florie o lá voltara a pôr. Mais tarde, na sexta-feira, Michael deu um frasco de tónico, para análise, ao Dr. Carter. Provou-se que a solução continha meio grão de arsénico. Essa substância foi apresentada como prova no julgamento de Florie, mas, segundo MacDougalt, não se tratava do mesmo frasco que Florie levara para o quarto de vestir. MacDougall deixa clara a sua desconfiança de que Florie estava a ser incriminada falsamente. Na sexta-feira, Maybrick ainda estava pior. A enfermeira Wilson, uma substituta, afirmou ter ouvido Maybrick referindo,se repetidamente a Florie: "Oh, Bunny, Bunny, como pudeste fazer isto? Não te achava capaz. " Florie respondia: "Meu tontinho querido, não perturbes a tua cabeça com essas coisas." Mais tarde, quando Thomas Lowry e George Smith entregaram alguns papéis lá em casa, ouviram os gritos de protesto de Maybrick, dirigidos a Michael e Edwin, de que queria morrer em paz. 161 Às 4 h da manhã de sábado, 11 de Maio, Florie mandou Mary Cadwallader buscar a Sr.' Briggs e a Sr.' Hughes. As crianças foram trazidas para ver o pai pela última vez. Durante a manhã, a própria Florie foi levada do quarto do doente para o de hóspedes, onde permaneceu num desmaio misterioso durante vinte e quatro horas, completamente inconsciente em relação aos acontecimentos. O Dr. Carter chegou e preveniu Michael de que encontrara algum arsénico na garrafa do tónico e que ele e o Dr. Humphreys não podiam, portanto, declarar como "natural" a causa da morte. Às 8.40 h da noite - nos braços do seu "amigo mais íntimo", George Davidson -, james Maybrick morreu. No dia seguinte, Florie, ainda inconsciente, não sabia nada do que se passara.

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Oito dias antes, na sexta-feira 3 de Maio, o dia em que, suspeitava o Dr. Carter, fora ministrada a dose "fatal", Maybrick escrevera a sua última entrada no diário e, ao fazê-lo, fizera as suas últimas perguntas. Confessou tanto o seu vício das drogas como a sua identidade secreta como jack, o Estripador? E contou a história toda tanto à mulher como ao seu melhor amigo? A dor é insuportável. A minha querida Bunny sabe tudo. Não sei se ela tem a força para me matar. Peço a Deus que a encontre. Seria simples, ela sabe do meu remédio, e com uma ou duas doses extra tudo estaria acabado. Ninguém saberá. Certifiquei-me disso. George conhece o meu vicio e espero que em breve ele chegará ao conhecimento de Michael. Na verdade acredito que ele tem conhecimento do facto. Michael saberá como agir, é o mais sensato de todos nós. Não penso que viva até este junho, o meu mês favorito. Implorei a Bunny que agisse depressa. Amaldiçoo-me por ser tão cobarde. Aqui, nos termos mais claros, Maybrick revela que pedira a Florie para lhe ministrar uma dose fatal. Mas ela obedeceu,lhe? Era a última cortina, o discurso com que Maybrick se despedia do mundo. Pela última vez, assinou o nome jack, o Estrípador. Depois, foi para casa, para morrer. Mas onde estava o diário? 162 Maybrick escondeu-o no escritório antes de se ir embora pela última vez, em 3 de Maio? Foi encontrado - ali ou em Battlecrease House - e depois escondido por outrem? Por certo que havia quem não quisesse que o mundo soubesse que James Maybrick era Jack, o Estripador. George Davidson, por exemplo. Se sabia dos assassínios, a lealdade teria sido o suficiente para o impedir de revelar a terrível verdade. Ou teria sido descoberto por Michael e Edwin, que tinham todas as razões para proteger o nome da família? Estaria no baú com as coisas pessoais de Florie e que desapareceu? Ou ficou pura e simplesmente escondido durante um século em Battlecrease House? Independentemente de onde quer que estivesse, Maybrick foi muito específico acerca do que desejava que viesse a acontecer-lhe: Agora, vou colocar isto num lugar onde será encontrado. Rezo para que quem quer que leia isto encontre lugar no seu coração para me perdoar. Lembrem-se todos, quem quer que possam ser, de que fui outrora um cavalheiro. O seu desejo tomou-se realidade: o diário foi descoberto. Continua a não ser claro quando e como apareceu. Tudo o que sabemos é que foi antes de Maio de 1991, quando Mike Barrett o recebeu. Maybrick não legou o diário a um membro da família. Em vez disso, escondeu-o, embora na esperança de que acabaria por ser encontrado mais tarde e de que "quem quer" que o encontrasse lembraria a "todos" a sua descida de próspero homem de família para assassino em série depravado. 12 "AGORA, VOU COLOCAR ISTO NUM LUGAR ONDE SERÁ ENCONTRADO" O Estripador morrera. Dois dias após a morte de Maybrick, a 13 de Maio, os Drs. Humphreys, Carter e Barron realizaram a autópsia do corpo, na presença do superintendente Bryning. A polícia começara a investigar as circunstâncias da morte de Maybrick porque os Drs. Carter e Humphreys se haviam recusado a passar uma certidão de óbito e, em vez disso, tinham decidido comunicar o caso ao coroner.

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Michael encarregou-se de tudo depois da morte do irmão, incluindo a sua mulher doente, que se viu entregue aos cuidados de uma enfermeira desconhecida. Florie lembrou que Michael dissera à enfermeira: "A Sr a Maybrick já não é dona desta casa. Como um dos testamenteiros, proíbo-a de a deixar sair deste quarto." já estava presa, mesmo antes de ter sido acusada formalmente. Embora as suspeitas de envenamento por arsénico já andassem no ar havia alguns dias, só foi feita uma busca depois da morte de Maybrick. Então, com Florie fechada e fora do caminho, Michael, Edwin, a Sr.' Briggs, a Sr.' Hughes e as criadas revolveram Battlecrease House. No julgamento de Florie, disseram ter encontrado numa arca de roupa de casa, no patamar, um frasco de morfina, um frasco de essência de baunilha e um pacote com pó amarelo inofensivo, coisas em que Bessie, que estava encarregada do baú, nunca reparara antes. Mas a descoberta mais sinistra para os olhos coruscantes dos adversários de Florie foi um embrulho em que estava escrito, a tinta vermelha: "Arsénico. Veneno para gatos. " Do outro lado, havia uma etiqueta impressa que dizia "Veneno". Dentro do embrulho, encontrava-se uma 165 mistura de arsénico e carvão. Michael envolveu o embrulho com um papel e apôs-lhe o brasão de família. Florie gostava de gatos e os seus defensores suspeitaram de que o rótulo, que não fora escrito com a sua caligrafia, deveria ter sido uma brincadeira da enfermeira Yapp e da sua amiga Alice Grant, a mulher do jardineiro. Todos os remédios encontrados por toda a casa foram entregues então à polícia. A lista que mais tarde foi entregue ao analista químico pela polícia é espantosa - não pelo dedo acusador que estende para uma,esposa infeliz, mas pelo quadro que pinta de um homem escravizado pelas drogas. Por que razão, entre todas as pessoas da casa que tinham livre acesso a tantas drogas, Florie foi acusada com base em meros mexericos foi uma vergonha incompreensível. O analista Edward. Davies afirmou, no julgamento de Florie, que encontrara arsénico suficiente para @<matar-duas ou três pessoas". O seu depoimento foi tão técnico que ficava muito além da capacidade de compreensão das testemunhas, do júri e até do próprio juiz. Afinal, parece que só seis artigos continham arsênico e que este se não encontrava numa forma adequada ao homicídio. Por exemplo, o arsénico encontrado no bolso do roupão de Florie poderia ter provindo do lenço com que limpara o rosto depois de ter utilizado cosméticos arseniosos. Essas explicações não foram apresentadas no tribunal. Alexander MacDougall é contundente no seu ataque à falta de fiabilidade de Davies e à inexactidão dos seus métodos e resultados. De todas as coisas constantes da lista impressa e que continham arsénico, "todas elas podiam ter sido engolidas em conjunto e todas não conteriam arsênico suficiente para matar quem quer que fosse@>. Anos mais tarde, Florie escreveu um livro, My Fifteen Lost Years, em que descreve os dias terriveis que se seguiram à morte do marido. "A consciência voltou devagar", escreveu. "Abri os olhos. O quarto encontrava-se às escuras. Tudo era silêncio. De súbito, o silêncio foi quebrado pelo estampido de uma porta que se fechava que me fez sair do meu estupor. Onde estava? Por que razão estava sozinha? Que coisa terrível acontecera? Um lampejo de memória. O meu marido morrera. Uma vez mais voguei para longe das coisas com sentido. Depois, uma voz, que parecia longínqua, falou. Um sentimento de dor e aflição percorreu-me o corpo. Abri os olhos, aterrorizada. O meu cunhado, Edwin Maybrick, estava inclinado sobre mim, que me encontrava deitada na minha cama. Agarrava com força nos meus braços e estava a abanar166

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-me violentamente. 'Quero as tuas chaves. Estás a ouvir? Onde estão as tuas chaves?, gritou, asperamente. Tentei articular uma resposta, mas as palavras sufocaram-me e fiquei novamente inconsciente." No dia a seguir à morte de Maybrick, Florie disse à sua enfermeira-carcereira que queria ver os filhos. "Não pode ver o menino James e a menina Gladys", foi a resposta que se lembra de ter ouvido da enfermeira, numa voz fria e decidida. "O Sr. Michael Maybrick deu ordens para que saíssem desta casa sem a verem. " "Tombei de novo na almofada, aturdida e ferida, fraca, desesperada e impotente", escreveu Florie. "Por que razão me tratavam assim?... A minha alma implorou a Deus que me deixasse morrer.. A saudade dos meus filhinhos estava a tornar-se insuportável." Bobo e Gladys tinham sido enviados para casa de amigos. Ao fim de alguns dias tinham perdido ambos os pais, bem como o conforto familiar do quarto de brinquedos de Bàttlecrease House. A sua mãe - a ex-beldade sulista que trocara o seu círculo próspero e cosmopolita na América pela claustrofobia segura da burguesa Liverpool - era agora uma viúva e uma verdadeira prisioneira na sua própria casa, suspeita, por parte do pessoal e dos afins, do assassínio do marido. A 14 de Maio, três dias depois da morte de Maybrick, os boatos e suspeitas que rodeavam Florie viriam a transformar-se em acusações formais. Como ela descreve: "De súbito, a porta abriu-se e o Dr. Humphreys entrou. Dirigiu-se silenciosamente à minha cama, tomou-me o pulso e, sem uma palavra, saiu do quarto. Alguns minutos mais tarde, ouvi o bater de muitos pés que subiam a escada. Pararam junto à porta. A enfermeira avançou e entrou um grande grupo de homens. Um deles, parou junto aos pés da cama e disse-me: "Sra Maybrick, sou o superintendente da polícia e vou dizer-lhe uma coisa. Depois de eu ter dito o que pretendo dizer, tenha cuidado com a sua resposta, porque tudo o que disser pode ser utilizado como prova contra si. Sr.' Maybrick, está detida sob suspeita de ter provocado a morte do seu falecido marido, James Maybrick, a 11 do corrente. " Algum tempo antes, nesse mesmo dia, o coroner decidira que "fora encontrado veneno no estômago do falecido em tanta quantidade que justificava a continuação do processo". Foi colocado um polícia no quarto de Florie, embora não houvesse probabilidade de ela fugir. O guarda nem sequer a deixava fechar a 167 porta, quer de noite quer de dia. No dia do funeral de Maybrick, terça-feira 16 de Maio, Florie acordou com o som de vozes abafadas e passos apressados. A enfermeira disse-lhe, abruptamente, que "o funeral começa dentro de meia hora". Primeiro, Florie viu-se impedida de entrar no quarto de cama onde o caixão do marido, coberto de flores brancas, já fora fechado. "Voltei-me para o polícia e a enfermeira", escreveu Florie na sua autobiografia. 'Deixem-me sozinha com o morto.' Recusaram. Ajoelhei junto à cama e consegui chorar as primeiras lágrimas que muitos dias de sofrimento não tinham conseguido provocar.. Apaziguada, regressei ao meu quarto e senteime junto da janela, ainda a chorar. De súbito, a voz ríspida da enfermeira encheu-me os ouvidos. 'Se pretende ver pela última vez o marido que assassinou, é melhor que se levante.' Pus-me de pé com um salto e agarrei-me à janela, onde fiquei rígida e sem lágrimas até o armão ter desaparecido da vista. Depois, desmaiei."

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A baronesa, com o seu melhor fato de bombazina, irrompeu por Battlecrease House, no dia seguinte, em resposta a um telegrama relutante de Michael. "Florie doente e em terríveis dificuldades" era o que dizia, sem sequer se dignar referir a morte de Maybrick. "Edwin veio ter comigo ao vestíbulo e levou-me para a saleta", escreveu, mais tarde, a baronesa. "Estava muito agitado... Depois prosseguiu, contando-me, de forma entrecortada, que Michael suspeitara e que o médico pensava que havia algo errado... a enfermeira disse que Florie pusera alguma coisa no tónico." A baronesa precipitou-se escada acima e tentou falar com Florie em francês. Quando Florie disse à mãe que era suspeita de ter envenenado Maybrick, a baronesa respondeu: "Se foi envenenado, envenenou-se a si próprio. Transformou-se a ele mesmo numa verdadeira farmácia." Na manhã de sábado 18 de Maio, a baronesa consultou os advogados de Florie, os irmãos Arnold e William Cleaver da firma Cleaver, Holden, Garnett and Cleaver. Enquanto se encontrava no escritório deles, chegou um telegrama anunciando que Florie estava prestes a ser retirada da casa. Treze jurisconsultos e médicos chegaram de comboio e reuniram-Se junto ao leito de Florie. Tanto Amold como William Cleaver chegaram antes da baronesa e encontravam-se no grupo. Antes, houvera urna 168 lu oc O -É . Q. . ci@ c@. -@ @ È@. ul m W @

à morte de James Maybrick. (Richard Whittington Egan) Ao lado: Um desenho de jornal dos principais intervenientes no julgamento de Florence Maybrick, acusada de ter assassinado o marido. (Briti@h Lb-y) Em baixo: O balcão da Wokes, a farmácia de Grassendale, onde a Sr.@ Maybrick comprou uma dúzia de papéis mata-moscas com consequências tão desastrosas. (Richard Whittington Egan) THE MAYBRICK MURDER TRIAL, conferência em segredo no caminho de acesso, observada ansiosamente por uma multidão de repórteres e basbaques. Os Cleaver acederam a não se opor a uma prisão preventiva. A baronesa chegou quando Florie estava prestes a ser levada. "Subi ao meu quarto, que dava para a frente", lembrou ela, "para tentar ver a sua cara quando estivessem a pôr a minha filha na carruagem, e eles deram a volta à chave e fecharam-me... Levaram-na com tanta pressa e de forma tão indecorosa que até mesmo o seu saco com artigos de toilette ficou esquecido... A enfermeira agarrou na minha capa e no meu chapéu e vestiu-lhos e eles transportaram-na numa cadeira de braços, dado que estava fraca de mais para se manter de pé, e levaram-na para a carruagem. " Poucas semanas depois da morte de Maybrick, o seu amigo Charles Ratcliff escreveu uma longa carta a john Aunspaugh, que se encontrava em Atlanta, jórgia. Essa carta é recordada no livro de Trevor Christie, Etched in Arsenic, e fazia parte da colecção pessoal de lembranças de Florence Aunspaugh.

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A carta lança uma luz dramática sobre os acontecimentos que conduziram à morte de Maybrick, sobretudo dado que Ratcliff era um amigo de longa data da família e uma testemunha de confiança. Trata-se de uma avaliação dura, mas muito provavelmente verdadeira, da armadilha montada para apanhar Florie. "Foi um grande choque para mim. já esperava uma tragédia na família, mas sempre pensei que proviesse da outra parte. james soubera do caso do Flatman's Hotel e esperava que disparasse contra Brierley a qualquer altura. " Ratcliff explica de que modo Maybrick regressara a casa das Wirral Races, a 27 de Abril, e começara a ingerir as doses "corno de costume". Na carta, fala de "serpentes-fêmea". Erradamente, diz que a Sr.' Briggs mostrara a Edwin a carta para Brierley, quando fora a enfermeira Yapp a levantar a lebre. Depois, diz que Edwin, "ELE PRóPRIO EM GRANDES APUROS", não lhe prestou atenção. "O velho Dr. Humphreys fez figura de parvo", continua Ratcliff. "Após a morte de james, ele e o Dr. Carter esperavam fazer a certidão de óbito como inflamação aguda do estômago. Depois de Humphreys ter tido uma conversa com Michael, recusou-se a passar uma certidão nesse sentido e disse que havia fortes sintomas de envenenamento por 169 arsénico... Francamente, é o máximo. Um compositor musical a dar instruções a um médico quanto à forma de diagnosticar o caso que tratou. Deviam cortar a garganta ao filho da puta do Michael. A Sr a Maybrick estava doente, de cama, quando Maybrick morreu. Poucas horas depois do seu falecimento, já Michael... passava busca à casa e afirmam que, no quarto dela [Floriel, encontraram grandes quantidades de arsénico, treze cartas de amor de Edwin, sete de Brierley e cinco de Williams." Ratcliff termina a sua carta: "Sempre pensei que a senhora era estúpida, mas devo confessar francamente que não a considero suficientemente estúpida para deixar as suas coisas ao alcance de qualquer pessoa ... " Durante as semanas que se seguiram à morte de Maybrick, os jornais de Liverpool começaram o seu próprio julgamento, publicando uma série de artigos histéricos em que apresentavam provas e formavam julgamentos mesmo antes de Florie ter sido acusada formalmente. O Líverpool Echo tinha uma coluna regular intitulada "Maybrickmania". Como a Liverpool Review reconheceu, num momento de franqueza: "O caso Maybrick é um golpe de sorte para os jornais." A 28 de Maio, advogados, testemunhas, espectadores e uma bateria de jornalistas comprimiram-se no velho tribunal de polícia, em Wellington Road, Liverpool. A acústica era terrível e, durante doze horas, os jornalistas tomaram notas, contou o Liverpool Echo, "de pé, entre filas cerradas de polícias, de joelhos, por vezes em cima das costas do distinto advogado e em muitas outras posições inusitadas, porque descobriram que lhes era impossível ouvir nas mesas que lhes haviam sido destinadas". Tinham-se reunido para o inquérito do coroner e a sensação que provocou era apenas o princípio. A terrível miscelânea de provas contraditórias, mentiras e erros que se seguiu revelou-se impossível de deslindar. Na Grã-Bretanha, tal inquérito não é um julgamento; a sua função é determinar a causa da morte. Mas, em 1889, também podia atribuir culpas e, no caso Maybrick, muitos ansiavam ouvir o veredicto. O porta-voz do júri do inquérito, o Sr. Dalgeish, que se verificou ser amigo do falecido, admitiu que, no dia do Grand National, Maybrick lhe dissera que tomava estricnina. Foi afastado de imediato e esqueceu-se o seu testemunho sobre a dependência de drogas de Maybrick. Florie continuava demasiado doente para comparecer ao inquérito e, por isso, não ouviu testemunha atrás de testemunha repetirem os

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170 boatos sussurrados pelo seu pessoal doméstico. Falaram nos papéis mata-moscas, no extracto de carne, no "veneno para gatos" e, acima de tudo, na carta para Brierley. O adultério de Florie era apresentado como principal móbil do crime. Aos olhos vitorianos, o adultério de uma mulher era um crime pior do que todos os outros. A verdadeira causa da morte de Maybrick parecia revestir-se de um interesse secundário e, de qualquer modo, apesar do que o coroner afirmara imediatamente após a autópsia, não fora encontrado arsénico mensurável no seu corpo. Todavia, o coroner insistiu em que o inquérito fosse adiado de forma a que "o estômago e o seu conteúdo fossem analisados quimicamente". Em consequêncía disso, realizou-se, a 30 de Maio, a exumação, à luz das rochas, do corpo de Maybrick no cemitério de Anfield, em Liverpool. Florie apareceu pela primeira vez no tribunal do coroner a 5 de Junho. Vaiada pelas mulheres, que eram em número duas vezes superior ao dos homens, ficou numa antessala enquanto eram prestados os depoimentos restantes. Brierley estava sentado na parte detrás do tribunal, mas ele e Florie não se encontraram, e não lhe foi pedido que testemunhasse. Foi o dia dos médicos, que, um a um, contaram as suas descobertas preliminares. Seguiu-se-lhes o Sr. Flatman, proprietário do hotel em Covent Garden onde Brierley e Floríe se haviam instalado. Depois, apareceu Alfred Schweisso, um criado do hotel, que identificou Florie e Brierley. Mais tarde, Schweisso desdisse o seu depoimento, numa carta para McDougalI, em 18 de Janeiro de 1890, em que afirmava: "No que se refere ao Sr. Brierley, é claro que não o teria reconhecido sem a ajuda da polícia; mas como era testemunha da acusação, segui as ordens deles, facto de que me arrependo agora, porque agiram de uma forma muito vergonhosa... Não consegui reconhecê-lo quando chegou; mas um polícia veio ter comigo e indicou- ,me onde se encontrava o Sr. Brierley... foi uma coisa bem preparada. " O próximo a aparecer no banco de testemunhas foi Thomas Lowry, o empregado que fora mandado sair do escritório para comprar uma caçarola, um prato e uma colher para o tónico Revalenta de Maybrick. a Seguiram-se-lhe a mulher-a-dias que lavara os utensílios e a Sr. Briggs, que chefiara a revista à casa. 171 No dia seguinte, o tribunal recolheu o depoimento de Edwin; e de Frederick Tozer, o empregado da Clay and Abrahams, uma das farmácias que haviam fornecido remédios a James; e da polícia. Finalmente, o analista Edward Davies comunicou que, em consequência da exumação, encontrara vestígios não pesáveis de arsénico nos intestinos de Maybrick, cerca de um milésimo de grão nos rins, cerca de um oitavo de grão no fígado e mais nada em qualquer parte do corpo. Temos de nos lembrar de que, embora o século XIX tenha sido uma épocà- de progresso científico tremendo, a medicina ainda era comparativamente pouco sofisticada. Por qualquer razão, havia uma obsessão pelo arsénico. Não sabiam nada acerca dos efeitos a longo prazo da estricnina, que Maybrick tomava ao mesmo tempo, e, por isso, não a procuraram. Quando pedi uma opinião sobre isto ao Dr. Glyn Volans, do Guy's Hospital de Londres, ele disseme: "Embora um homem pudesse ter andado a drogar-se durante anos com arsénico e estricnina, eles não dispunham pura e simplesmente das técnicas forenses para o detectarem com precisão. É perfeitamente compreensível que se tenha encontrado tão pouco arsénico no corpo de Maybrick. É igualmente compreensível que não tenham descoberto a verdadeira causa da sua morte, que foi provavelmente uma falência renal, devido a uma vida de abuso."

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a Depois, foi chamada a Sr. Hughes para identificar a carta infame de Florie para Brierley. Apesar da falta de provas, o júri - cujos membros, na sua maioria, tinham sido convidados para casa dos Maybrick uma vez ou outra - decidiu que "James Maybrick morreu devido aos efeitos de um veneno irritante que lhe foi ministrado por Florence Elizabeth Maybrick e que a citada Florence Elizabeth Maybrick, voluntária, traiçoeira e premeditadamente, matou e assassinou o referido James Maybrick". Para evitar a longa viagem de regresso à cadeia de Walton, nos limites da cidade, as autoridades enviaram Florie para a prisão de Lark Lane. Aí, foi tratada amavelmente e bem alimentada com comida trazida de um hotel vizinho. Um repórter do Liverpool Post, que foi visitá-Ia, escreveu: "Dispõe de uma mesinha que está colocada perto da entrada da sua cela. Permitem-lhe fazer todo o exercício que quer no corredor e, quando está cansada, senta-se à mesa que está coberta com uma toalha branca de neve. Sobre ela, encontravam-se dois livros, um 172 encadernado a carmesim, o outro numa cor menos conspícua. Lê os cornentários acerca do seu caso com vivo interesse e permite-se, por vezes, referências sarcásticas a algo que lhe não agrade. Tem uns modos um pouco obstinados." A centelha ainda lá estava. A 13 de Junho, Florie, de luto pesado, foi levada ao juiz de instrução, no tribunal de Islington, em Liverpool, para ouvir, pela primeira vez, as provas reunidas contra ela. Ouviu, um a um, os depoimentos das suas criadas, cunhados e médicos. Mesmo nesta fase, os médicos não estavam de acordo uns com os outros quanto à causa da morte e admitiam ter um conhecimento insuficiente do estado de Maybrick. Ademais, o processo é notável pelo que deixa de fora. Sobretudo, ninguém mencionou que não fora encontrado qualquer vestígio de arsénico nas amostras de fezes e de urina retiradas a James apenas alguns dias antes da sua morte. Igualmente notável foi o facto de, de toda a prova apresentada, o que no final ficou absolutamente provado foi que, em Março, Florie e Alfred Brierley tinham passado duas noites no Flatman's Hotel, em Londres. Mas isso, parecia, era suficiente para uma pena capital. O julgamento de Florie foi marcado para 26 de Julho e ela foi transferida para a prisão de Walton. A multidão correu, apupando-a, atrás da carruagem, quando esta deixou o tribunal. Os fotógrafos locais foram rápidos a capitalizar com a história. As lojas faziam montras com os Maybrick, incluindo uma fotografia sensacional de Florie e Brierley, juntos, no Grand National, e Battlecrease House transformou-se numa atracção turística, com dezenas de mirones a apontarem vampirescamente para a janela do quarto onde falecera Maybrick. Logo a 8 de julho, menos de sete semanas após a detenção de Florie, Michael ignorou flagrantemente as instruções do testamento do irmão e leiloou todo o recheio da casa. Parecia ter a certeza de que Florie não voltaria nunca. Enquanto Florie se encontrava numa cela, Michael e Thomas venderam todos os objectos da casa da viúva, num leilão que se realizou nos salões de exposição da Branch and Lecte. O belo piano de roseira, as pratas e os quadros, tudo se foi, bem como a pasta de escrever e o mata-borrão de Florie e até os brinquedos das crianças. As lindas roupas de Florie foram encafuadas em baús e armazenadas na Woolright. O que lhes aconteceu, ninguém sabe. 173 Que foi feito do dinheiro do leilão? A dada altura, Michael afirmou ter gasto metade para pagar o advogado de Florie. Mais tarde afirmou que, como tinha de ser testemunha de acusação, não financiaria a defesa de Florie. Era mais uma contradição.

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Pelo menos a Mutual Reserve Fund Life Association, de Nova lorque, prescindiu do seu prazo de três meses após a morte de alguém e enviou a soma de 1000 dólares a Florie. Entretanto, a sua mãe conseguiu reunir fundos vendendo propriedades da família, no Kentucky. FloKe precisava de todos os tostões, dado que as cláusulas do novo testamento de Maybrick eram extremamente severas. Florie desejava muito que o seu julgamento se não realizasse em Liverpool. Escreveu outra vez a sua mãe: "Espero sinceramente que os Cleaver consigam que o meu 'julgamento' se realize em Londres. Aí, posso ter um veredicto imparcial, que não posso esperar de um júri de Liverpool, cujas mentes já efectuaram uma 'condenação moral , en attendant, que, em certa medida, influenciará a sua decisão. A mexeriquice das criadas, do público, de amigos e inimigos e de um milhar de correntes menores, para além dos seus sentimentos pessoais para com Jim, devem deixar marcas e preconceitos nas suas mentes, independentemente da defesa." Não viria a ser assim. Os conselheiros de Florie pensavam que ela teria mais força caso se mantivesse com firmeza no seu próprio terreno, e ela aceitou o conselho. Arnold Cleaver partiu para a América para obter apoio e testemunhas. Lá, os jornais estavam muito excitados com a imagem da expa, triada perdida e sem amigos, casada com um estrangeiro debochado num país distante. Foi o início de uma enorme vaga de apoio. Mas, no Museu de Madame Tussaud, em Londres, já estavam a fazer a sua figura de cera para a Câmara dos Horrores. 13 "A PUTA VAI SOFRER COMO NUNCA SOFREU" St George's HalI, em Liverpool, era um desses monstruosos amontoados vitorianos de pedra enegrecida pelo fumo, que se erguia, altivo, no centro da cidade. Era bem conhecido e muito amado pelos habitantes de Liverpool, que o consideravam a "sala de visitas da cidade", cenário de muitos concertos, festivais e acontecimentos sociais. Mas, até hoje, é respeitado também por ser a sede do Crown Court. Era aí que Florie teria de ser julgada no que se esperava viesse a ser o maior espectáculo que Liverpool pusera em cena, havia muitos anos. já estavam a ser recebidos inúmeros pedidos de lugares vindos de pessoas que, como dizia o Southport Guardian, "tal como as flores da Primavera, nada tinham que ver com o caso". "Sinto-me tão só", escreveu Florie a um amigo, nessa altura, "como se todas as mãos estivessem contra mim. Pensar que tenho de ser desnudada perante todos aqueles olhares desprovidos de caridade... Irei viver agora os dias mais negros da minha existência. Confio na justiça de Deus, independentemente do que possa ser aos olhos dos homens.@> Florie já passara pelo inquérito e pelo juiz de instrução, que decretara que seria julgada sob a acusação de homicídio. Mas havia mais um procedimento antes de ser chamada ao banco dos réus para responder pela acusação que pesava sobre ela: o Tribunal do Júri. A função do Tribunal do júri era interpor-se entre a coroa e o réu e decidir se uma pessoa levada a julgamento pelos magistrados deveria ser julgada nesses termos. Sem a concordância do Tribunal do júri, que emitiria uma "pronúncia verdadeira", não podia haver julgamento. O Tribunal do Júri tinha a última palavra. Os seus membros eram esco175 lhidos, não aleatoriamente, mas devido à sua posição social e inteligência. Considerava-se que estavam livres da influência local e do constrangimento da coroa. Assim, se os jurados representavam o povo, o juiz representava a coroa. O juiz do julgamento de Florie, o meretíssimo (melhor seria chamar-lhe "injustíssimo") James Fitzjames Stephen, estava no final de uma carreira distinta. A Liverpool Review descreveu-o como um "homem grande, robusto e inteligente", acrescentando: <@A sua mente é comó uma dessas

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máquinas muito maravilhosas e exactas que encontramos em zonas fabris. Faz o seu trabalho com notável precisão e uma exactidão laboriosa e inesgotável, mas, caso não seja observada cuidadosamente por quem trabalha com ela e, de vez em quando, orientada para a direcção certa, tem probabilidades de fazer tudo errado." Aquando do julgamento do caso Maybrick, parecia claro que o juiz Stephen já estava na direcção <@errada". A razão estava a fugir, -lhe e este homem, outrora grande, já não parecia capaz de manter a concentração. Numa carta para Lord Lytton, em 1889, revelara: "De vez em quando, ainda continuo a fumar um cachimbo de ópio, dado que o meu nariz exige um ocasionalmente e se sente bem com ele." A 26 de Julho, o dia da sessão do Tribunal do Júri, vários milhares de pessoas competiram entre si para poderem ver a detida, fora do tribunal. Lá dentro, a luz do Sol penetrava pelo telhado de vidro e iluminava o juiz, que se encontrava sentado, com as suas vestes escarlates e de arminho, sob o dossel dourado e carmesim. No seu discurso dirigido aos jurados, o juiz Stephen descreveu os pormenores do caso n.' 24, eivando-os de insinuações e sem qualquer domínio dos factos básicos. As suas primeiras palavras foram uma vergonha. Referiu-se a James Maybrick como um homem " suficientemente infeliz para ter uma mulher infiel". "Se a ré for culpada do crime que lhe é imputado pela acusação", continuou, "é o mais cruel e horrível homicídio que poderia ser cometido. " As suas palavras foram noticiadas na íntegra de modo que, antes do julgamento, o mundo conhecesse as opiniões do juiz acerca do adultério. E, infelizmente para Florie, o seu rigor aplicava-se apenas às mulheres. Não houve discussão da actividade extraconjugal de Maybrick. 176 No cerne do caso contra Florie, havia duas perguntas: primeira, fora o arsénico a causa da morte? Segunda, se assim era, o arsénico fora a ministrado pela Sr. Maybrick com intenção delituosa? A coroa tinha a possibilidade de acrescentar outras qualificações à acusação de homicídio e era muito comum. No entanto, no caso de Florie, a única acusação era de homicídio. E isto apesar do facto de não haver a menor prova que ligasse a ré com a menor porção do arsénico encontrado em Battlecrease House, para além dos papéis mata-moscas. Depois da deliberação do Tribunal do júri, o início do julgamento de Florie foi marcado para 31 de julho. O advogado de Florie, Sir Charles RusselI, QC, era um irlandês persuasivo e exuberante, que trazia normalmente no bolso do casaco um grande lenço que abanava para marcar os seus pontos de vista. Era também deputado e ex-procurador-geral e fora um dos advogados mais respeitados da GrãBretanha. O seu título impressionara muitíssimo a baronesa; na verdade, toda a gente achava que Florie era afortunada por ser defendida por um homem tão famoso. Sabendo o que hoje sabemos, ela podia ter feito melhor. Por um lado, Sir Charles tivera recentemente uma má prestação em casos de homicídio. Em 1883, defendeu um homem chamado O'Donnell de uma acusação de homicídio. O'Donnell foi executado. a Três anos mais tarde, conduziu a acusação da Sr. Adelaide Bartlett por envenenamento do marido com clorofórmio. Foi absolvida. Mas, em tempos ainda mais recentes, Russell fora o principal advogado de Charles Stewart Parnell' o deputado irlandês que fora acusado de traição. O julgamento, que se realizou em 1888-1889, exigira que Russell ouvisse 340 testemunhas e fizesse um discurso de seis dias. A 31 de Julho, o dia em que iria começar o julgamento de Florie, o advogado estava exausto.

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Cerca das 8 h da manhã desse dia, Florie foi metida numa carruagem prisional, juntamente com alguns homens presos, e conduzida a St George's Hall, onde se juntara uma multidão de vários milhares de pessoas sob um calor já agreste. Florie não pôde deixar de reparar na atmosfera de carnaval: "Durante todos os dias do meu julgamento, dizem-me, a sociedade de Liverpool lutou pelos bilhetes. As senhoras vestiam-se como para uma matinée, e algumas traziam farnel para poderem conservar os lugares. Muitas delas muniam-se de binóculos de ópera, que não hesitavam em assestar em mim." 177 Entre as atracções, contava-se um cantor itinerante que reunia uma grande multidão cantando canções baseadas no caso Maybrick. A qualidade da rima ombreava com a do diário de Maybrick: Oh! Naughty Mrs Maybrick what have you been and done Your goings on are bad I must confess To get mashed on Mr Brierley you know was very wrong And get yourself in such a blooming mess. [Oh! Traquinas Sr.,, Maybrick que foste e fizeste As tuas estroinices são más, devo confessar Babarse pelo Sr. Brierley sabes que estava errado E meteres-te numa tão grande confusão.] Um pouco antes das 10 h em ponto, o belo Sir Charles Russell apareceu, ostentando o lenço garrido. O advogado de acusação era o jovial John Addison, QC. O júri era formado por doze homens do Lancashire, dos quais pelo menos um não sabia ter nem escrever, enquanto outro fora condenado recentemente por ter batido na mulher. Eram uma mistura de operários e comerciantes de quem se não esperava que compreendessem as minudências técnicas dos testemunhos. Às 10 h, ao som de uma fanfarra de trombetas, o tribunal levantou-se e o juiz Stephen apareceu, sem esboçar um sorriso, com a sua peruca e as patilhas a aparecerem por baixo. Depois de alguns preliminares, o beleguim chamou: "Apresente-se Florence Elizabeth Maybrick." Florie trazia um colete de crepe por cima do vestido preto, um chapéu de crepe com fitas pretas e um ténue véu preto. Respondeu às acusações que lhe eram feitas de forma clara e firme: "Inocente." Mais tarde, durante o almoço, houve um tumulto porque foram vistos alguns membros do júri em intimidades com repórteres e testemunhas. Não tinha importância; os membros não foram substituídos. O exaustivo livro de Alexander MacDougalI, com 606 páginas, recolhe os erros e as inconsistências do caso em que foi ré a Sr.' Maybrick. Entre os dez médicos que testemunharam, havia consenso quanto a que a causa da morte de James Maybrick era gastroenterite. Todavia, não conseguiam pôrse de acordo quanto a saber se teria sido causada por comida estragada ou por veneno, ou, no caso deste, se fora arsénico. 178 O Dr. Richard Humphreys, que primeiro tratara Maybrick durante a sua doença, era um dos que atribuíam a morte a arsénico. Mas, no inquérito do juiz de instrução, reconheceu que nunca tratara ninguém que tivesse morrido por envenenamento por arsénico, nem assistira a qualquer autópsia desse tipo. O Dr. William Carter só tratara quatro vezes de Maybrick. Ademais, admitiu no contrainterrogatório que nunca tratara um caso que envolvesse morte por arsénico ou assistira a qualquer autópsia que implicasse arsénico. No dia 7 de Maio, o Dr. Carter diagnosticara que Maybrick sofria de dispepsia devido a "excesso de comida ou bebida". Dois dias mais tarde, depois de uma conversa em que Michael Maybrick mencionara as suas suspeitas de envenenamento por arsénico, mudou de opinião. No julgamento, concordou com o Dr. Humphreys.

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O Dr. Alexander Barron, professor de Patologia no University College de Liverpool, estava presente aquando da exumação e autópsia de Maybrick, mas nunca o tratara. Concluiu que morte se devera "a inflamação aguda do estômago, causada provavelmente por algum veneno irritante". Durante o contra- interrogatório realizado por Sir Charles, foi perguntado ao Dr. Barron: "É possível diferenciar os sintomas de envenenamento por arsénico e de envenenamento por comida estragada?" "Eu próprio não conseguiria fazê-lo", retorquiu. Mas o Dr. Charles Meyrnott Tidy, que fora, durante duas décadas, analista do Ministério do Interior e examinador de medicina legal no London Hospital, e cuja experiência de venenos recuava até 1862, declarou: "Os sintomas da autópsia excluem nitidamente o arsénico." O Dr. Chartes Fuller, que tinha 30 anos de experiência como médico e homeopata, disse que não tinha qualquer razão para pensar que Maybrick andava a tomar arsénico. Os sintomas que acompanhavam a tomada habitual de arsénico não se encontravam presentes neste caso. O Dr. Rawden Macnamara, fellow do Royal College of Surgeons da Irlanda e doutor em Medicina na Universidade de Londres, ministrara arsénico "num grande número de casos". Quando lhe perguntaram se Maybrick morrera envenenado com arsénico, respondeu: "Tenho a certeza de que não." O Dr. Frank Thomas Paul era um patologista que já realizara cerca de 3000 autópsias e professor de jurisprudência Médica no University 179 College de Liverpool. O seu veredicto: que os sintomas descritos no caso "estão em consonância com casos de gastroenterite pura e simples... Presumo que tenha morrido de depauperamento provocado pela gastroenterite". O Dr. Thomas Stevenson, assistente de medicina legal no Guy's Hospital de Londres e analista do Ministério do Interior, foi chamado para observar as vísceras de Maybrick. Após um longo contrainterrogatório, testemunhou que, pelo contrário, não tinha "qualquer dúvida" de que a morte se devera a envenenamento por arsénico. A propósito, o Dr. Arthur Hopper, que fora o médico da família desde 1881, prestou testemunho a respeito da dependência de drogas de Maybrick, mas não lhe pediram a sua opinião sobre a doença que vitimara o seu paciente. O Dr. Glyn Volans, do Guy's Hospital de Londres, leu, a nosso pedido, o relatório toxicológico coetâneo sobre o caso de James Maybrick e "não ficou nada convencido" de que este tivesse morrido de envenenamento agudo por arsénico. "A dose mortal mais baixa registada é dois grãos", afirmou. "No entanto, apenas foi encontrado um décimo de grão de arsénico no corpo de James Maybrick. A prova de que Florence Maybrick ministrou o veneno é inexistente. É mais provável que tenha morrido devido ao efeito cumulativo de todas as substâncias que foram introduzidas nele pelos médicos nas suas últimas semanas somadas aos resultados de uma vida de excesso de drogas - a que há que juntar o facto de já não ter acesso aos seus venenos e, portanto, estar a sofrer de sintomas de supressão. A falência renal é a causa mais provável de morte. " Se os jurados ficaram imperturbados pela confusão dos médicos, isso deveu-se talvez ao facto de os jurados terem depoimentos mais fascinantes com que se entreter. No final da primeira semana do julgamento, Florie ouvira testemunha após testemunha reconstruindo a sua vida com Maybrick e os acontecimentos de 1888-1889. Depois, surgiu a questão do extracto de carne. Contrariando as ordens do Dr. Carter, fora dado por Edwin à enfermeira Gore e o frasco estava, novo e por abrir, em cima da mesa-de-cabeceira de Maybrick, na noite de 9 de Maio. A enfermeira Gore sabia que havia suspeitas em relação a Florie. Pouco depois das 11 h da noite, Gore deu-lhe uma ou

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duas colheres diluídas em água, apesar de Florie a ter prevenido de que 180 lhe provocaria náuseas. Cerca da meia-noite, viu Florie levar o frasco por instantes até ao quarto de vestir, repondo-o junto ao leito ao fim de alguns segundos. Notou também que, depois de Maybrick ter acordado, ela pôs o frasco fora do seu alcance, em cima do toucador. Este não bebeu o conteúdo. Depois, o frasco foi entregue pela enfermeira Gore a Michael, que o passou ao Dr. Carter, antes de ser enviado para análise. O Sr. Edward Davies comunicou que havia meio grão de arsénico em solução no frasco, uma descoberta que veio alimentar a acusação. Quando Florie contou a história, pela primeira vez, ao advogado, antes do inquérito, admitiu livremente, mas talvez com alguma ingenuidade, que pusera um pó no extracto, a pedido do marido. Esta informação foi suprimida, no seu próprio interesse, mas fez parte de uma declaração que ela insistiu em ler, contra a vontade do seu advogado, no final do julgamento. Afirmou ao tribunal: "Na noite de quinta-feira, 9 de Maio, depois de a enfermeira Gore ter dado ao meu marido o extracto de carne, fui sentar-me na cama, a seu lado. Queixou-se de que estava muito doente e muito deprimido e pediu-me, uma vez mais, que lhe desse aquele pó de que falara no início da noite. e que me recusara a dar-lhe. Estava esgotada, extremamente ansiosa, muitíssimo infeliz e o seu sofrimento evidente ainda me enervava mais. Dissera-me que o pó lhe não faria mal e que o podia pôr na comida. Acedi, então. Senhor, não tinha um amigo verdadeiro e sincero naquela casa. Ninguém a quem consultar, ninguém para me aconselhar. Fora destituída da minha posição de dona da minha própria casa e da posição de cuidar do meu marido, independentemente do facto de ele estar tão doente. Apesar dos depoimentos das enfermeiras e criadas, devo dizer que ele desejava ter-me a seu lado; sentia a minha falta sempre que não estava; sempre que saía do quarto, perguntava por mim e, durante os quatro dias que antecederam a sua morte, não me foi permitido dar-lhe um pouco de gelo sem que me fosse retirado da mão. Quando encontrei o pó, levei-o com o extracto de carne para o quarto do lado e, ao passar pela porta, virei o frasco e, para repor a quantidade de líquido derramada, acrescentei uma quantidade considerável de água. Quando regressei ao quarto, o meu marido tinha adormecido e coloquei o frasco na mesa junto à janela. Quando acordou, engasgou-se e vomitou; depois disso, pareceu um pouco melhor e, como não voltou a pedir o pó e não tinha desejo de lho dar, tirei o frasco da mesa, onde chamaria a atenção, para 181 cima do lavatório, onde não poderia vê-lo. Aí o deixei, senhor, até que, penso, o Sr. Michael Maybrick se apoderou dele. Até terça-feira, 14 de Maio, a terça-feira seguinte à morte do meu marido, e até poucos minutos antes de o Sr. Bryning ter feito a sua terrível acusação contra mim, ninguém naquela casa me informara do facto de que fora recusada uma certidão de óbito, ou de que se realizara uma autópsia; ou de que havia alguma razão para supor que o meu marido morrera devido a causas que a não fossem naturais. Foi apenas quando a Sr. Briggs aludiu à presença de arsénico no tónico de carne que tomei conhecimento da natureza do pó que o meu marido me pedira para lhe dar [... ]" O que Florie não sabia era que o arsénico branco em pó não se dissolve facilmente. O arsénico encontrado no frasco de extracto de carne deveria estar em solução e não podia ter sido acrescentado da forma descrita por Florie. Então, qual era o pó que Maybrick pedira que lhe desse? Poderia ter sido estricnina? Dez dias antes, ele escrevera no diário ter intenção de pedir a Florie que o matasse e perguntava-se se ela teria coragem para o fazer. Se ela o envenenara com estricnina, os testes para o arséníco utilizados pelo analista não o teriam revelado. De qualquer modo, não andavam à procura de estricnina.

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Muito foi dito acerca dos papéis mata-moscas. Apenas quatro anos antes, duas irmãs casadas de Liverpool, chamadas Flanagan e Higgins, tinham sido enforcadas por utilizarem arsénico extraído de papéis mata-moscas para envenenar três pessoas. A defesa arguiu que os papéis mata-moscas não poderiam ter sido responsáveis pela morte de Maybrick, dado que se não haviam encontrado fibras a eles pertencentes em nenhum dos frascos contaminados que se encontravam na casa. No seu depoimento, Florie afirmou: "Os papéis mata-moscas foram comprados com a intenção de serem utilizados como cosmético. Antes do meu casamento e, depois, durante muitos anos, tive o hábito de usar uma solução para lavagem do rosto que me foi receitada pelo Dr. Greggs, de Brooklyn. Consistia principalmente em arsénico, tintura de benjoim e água de flor de sabugueiro, entre outros ingredientes. Perdi a receita, por descuido, em Abril último e como, à data, sofria de uma ligeira erupção no rosto, pensei que gostaria de tentar fazer eu própria um substituto. Estava desejosa de me livrar dessa erupção antes de ir ao baile, a 30 desse mês. Quando estivera na Alemanha, muitas das minhas amigas lá residentes utilizavam uma solução feita com papéis mata-moscas, água de sabugueiro, água de lavanda e outros ingredientes misturados 182 e, depois, aplicavam no rosto um lenço bem embebido na solução. Utilizei os papéis mata-moscas da mesma forma. Mas, para evitar a evaporação do aroma era necessário evitar o mais possível o contacto com o ar e, para tal, pus um prato em cima dos papéis mata-moscas, e uma toalha dobrada em cima dele, e outra toalha por cima dessa. Minha mãe sabe há muitos anos que utilizo uma solução cosmética à base de arsénico. " Parecia suficientemente inócuo, mas, como o depoimento não fora prestado perante o juiz de instrução, o juiz Stephen interpretou-O como uma mentira, elaborada para a ocasião - e disse-o. Muitos meses depois do julgamento, a baronesa Von Roques estava a folhear a Bíblia da família Chandler - uma das poucas coisas salvas do leilão. Encontrou lá a receita perdida, escrita por detrás de uma eti, queta de uma farmácia de Nova lorque e datada de 1878. E, no ano a seguir ao julgamento, 1890 - demasiado tarde para Florie -, E. Godwin Clayton, um químico membro da Society of Public Analysts, realizou uma experiência em que tentou extrair arsénico de dois papéis mata-moscas. O seu veredicto: "É quase impossível qualquer pessoa, sem oportunidades e conhecimento da manipulação química, fazer ou obter unia solução aquosa dos papéis mata-moscas que pudesse ser acrescentada ao Valentine's Meat Juice em quantidade suficiente para introduzir meio grão de arsénico." O julgamento terminou ao fim de sete dias. As conclusões do juiz estenderam-se por doze horas intermináveis, durante dois dias. "Para uma pessoa ministrar deliberadamente veneno a um homem doente, pobre e indefeso, a quem já infligiu uma ferida terrível - uma ferida mortal para a vida de casado -, a pessoa que pôde fazer uma coisa como essa deve ser, na verdade, destituída do menor vestígio de sentimentos humanos. " No final das conclusões, todos se encontravam em enorme confusão. (Uma pessoa que assistiu ao processo afirmou que "nunca ouvira, num tribunal, uma exibição tão patética de incompetência e inexactidão.") O juiz arengou: "As circunstâncias indicadas pelas provas são muito variadas e as testemunhas andam para trás e para a frente de uma forma tal que torna as provas um pouco confusas do princípio ao fim. Tenho pena de dizer que não serei capaz de as ordenar perante vós exactamente como desejaria ... " 183

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Não tinha tanta pena como a presa no banco dos réus. Os jornalistas, os espectadores e os milhares de pessoas que enchiam a praça em frente a St George's Hall tinham a certeza de que Florie seria absolvida. Houvera uma enorme movimentação da opinião pública em seu favor. Ao fim e ao cabo, não havia a menor prova que ligasse Florie a qualquer do arsénico encontrado na casa; nem nenhuma de que ela ministrara conscientemente arsénico e nem sequer de que o arsénico fora a causa da morte de James Maybrick. Mesmo assim, o júri só demorou trinta e cinco minutos para chegar a um veredicto que espantou os peritos legais de então para cá: culpada. O único telefone existente em St George's Hall fora reservado antecipadamente pelo Evening Express e o Murning Courier, desejosos de terem a "cacha". De forma igualmente engenhosa, o Daily Post e o Echo organizaram um sistema de semáforos entre um repórter, no tribunal, e uma cadeia de correspondentes colocados no caminho que conduzia ao escritório do Daily Post. Mas, no meio do tumulto, um jornalista confuso agitou a bandeira errada e 5000 exemplares do jornal inundaram as ruas com títulos de caixa alta que anunciavam que Florie estava livre. O juiz Stephen colocou o barrete negro. O silêncio do tribunal só foi quebrado por um suspiro. Os homens choravam. As mulheres desmaiavam. James Maybrick, que jazia no cemitério de Anfield, deveria estar naquele banco dos réus. Era ele, Jack, o Estripador, quem deveria ter sido chamado a prestar contas. Mas foi Florie que ficou rígida, estremeceu e, depois de proferida a sentença de morte, abandonou o banco dos réus, sem que a ajudassem e sozinha. Existem muitas questões acerca deste caso que ainda continuam sem resposta. Que dizer do comportamento de Michael e Edwin Maybrick ao longo de todo este período? Ainda antes da morte de Maybrick, os irmãos discutiram com a Sr.' Briggs, a Sr.@' Hughes e a enfermeira Yapp a possibilidade de ele estar a ser envenenado e, no entanto, só foi feita uma busca a Battlecrease House quando já era demasiado tarde para o salvar. Então, depois da sua morte, revolveram toda a casa. Ademais, desapareceram cartas comprometedoras encontradas na casa e que se pensava serem de Edwin para Florie. 184 Edwin discutira com amigos o hábito que Maybrick tinha de tomar "aquela maldita estricnina" e, todavia, negou-o no julgamento. Michael também sabia que o irmão se drogava e negou-o. Entre a morte de Maybrick e o julgamento, o Dr. Hopper destruiu todas as receitas de Maybrick. Porquê? Michael conseguiu evitar que o último testamento de Maybrick fosse utilizado como prova, porque lhe dava a ele e Thomas, como testamenteiros, enormes poderes e nada a Florie. Ademais, os advogados de Florie não impediram o leilão, feito por Michael, do recheio de Battlecrease. Falou-se muito das dívidas de Florie; por que razão nada se disse das do seu marido? A infidelidade continuada de Maybrick foi ignorada; a falta de Florie foi suficiente para a condenarem. Por que razão não foram chamadas a prestar depoimento tantas testemunhas importantes? Não testemunharam a mãe de Florie, os outros irmãos de Maybrick, Thomas e William, George Davidson, Alfred a Brierley, John Baillie Knight, a Sr. Christina Samuelson, o jardineiro James Grant ou os Hobson, com quem Maybrick jantara na noite das Wirral Races. O caso Maybrick viria a ser o último do juiz Stephen. Daí a dois anos, foi enviado para um manicómio particular em lpswich, onde morreu em 1894. Para além do seu papel no julgamento de Florie, viria a ter outra ligação bizarra com o caso do

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Estripador: o seu filho, J. K. Stephen, era tutor e companheiro do príncipe Alberto, duque de Clarence, que se transformou num dos suspeitos no caso do Estripador. Quando o patíbulo estava a ser levantado junto à sua cela, Florie Maybrick foi agraciada com uma comutação de pena. O ministro do Interior, Henry Matthews, que trabalhara tanto e em vão, um anos antes, para solucionar os homicídios de Whitechapel, comutou inesperadamente a pena de morte da mulher de Jack, o Estripador, para prisão perpétua. 14 "VOU DAR-LHES ALGO PARA QUE SAIBAM QUE SOU EU" Em 1891, foram encerrados os dossiers da Scotland Yard referentes a Jack, o Estripador. Whitechapel estivera saturado de polícias durante os três anos subsequentes ao assassínio de Mary Jane Kelly e, durante esse tempo, o inspector Abberline e a sua equipa haviam reunido 1600 conjuntos separados de papéis sobre o caso. De tempos a tempos, de então para cá, vieram à luz documentos e cartas oficiais e, ainda hoje, os peritos nos crimes de Jack, o Estripador, continuam a elaborar teorias novas. Quando, em Abril de 1992, Mike Barrett entrou no escritório de Londres da agente literária Doreen Morirgomery com o seu diário, estava plenamente convencido de que este continha provas que identificariam o verdadeiro assassino de Whitechapel. Fora o primeiro material aparecido, em mais de um século, que não passara pelas mãos da polícia. Ao mesmo tempo, era a confissão mais pormenorizada e convincente até à data. Mas, seria verdadeiro? Mike tivera o diário em seu poder durante mais de um ano e estava convencido, sem margem para dúvidas, de que era genuíno. Mas, nesta fase inicial, eu ainda encarava a possibilidade de ser uma falsificação. Ao investigar a história dos Maybrick, sabia que estava a trabalhar não com um, mas com dois, dos mais intrigantes casos criminais da Grã-Bretanha. Por isso, resisti à tentação de entrar em polémica com especialistas do Estripador. Em vez disso, concentrei-me no próprio diário e pedi a peritos que fizessem precisamente o mesmo, sem tomar em consideração o que é conjecturado sobre o Estripador em inúmeros livros e artigos. 187 Ao passar a pente fino os jornais de 1888 e 1889, descobri que estavam cheios de factos acerca dos crimes do Estripador e do caso Maybrick. Caso tivesse existido um falsário hábil a trabalhar no diário, teria achado irresistível a tentação de se basear na quantidade imensa de material sobre os dois casos para elaborar, a partir dele, as suas entradas. Todavia, não há datas, poucos são os pormenores sobre acontecimentos familiares e pouco do que era sabido era conjecturado amplamente acerca tanto do Estripador como de Maybrick. O que ficou de fora é tão revelador como o que foi incluído. Falsário algum teria ousado ser tão sovina com os factos à sua disposição. Ao mesmo tempo, o diário contém outro pormenor que apenas podia provir da experiência do autor e não dos relatos dos jornais. Bastam quatro exemplos para ilustrar este ponto. Primeiro, quando o diário começa, por volta de Março de 1888, o amante de Florie Maybrick, Alfred Brierley, já se encontra em cena. De facto, num testemunho posterior e nunca publicado, Brierley reconheceu que conhecera Florie em 1887. Mesmo assim, ao mencionar Brierley como um rival, embora sem revelar o nome, o diário altera a cronologia da infidelidade de Florie, lançando dúvidas sobre as provas apresentadas no julgamento, onde testemunhas referiram que o caso começara perto do Natal de 1888. Segundo, o quase incontrolável antagonismo de Maybrick em relação a Thomas Lowry, o seu escriturário, é uma subintriga que apenas faz sentido se o diário for genuíno. Como testemunha,

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Lowry teve apenas uma breve aparição no julgamento de Florie e o seu relacionamento com Maybrick não era do conhecimento público. Terceiro, as referência frequentes e espontâneas a George Davidson, em cujos braços Maybrick faleceu, são consistentes com a sua amizade íntima. E, no entanto, Davidson não foi chamado a depor no julgamento, nem o seu relacionamento com Maybrick era muito conhecido. Finalmente, por que razão aparece a Sna Ham(m)ersmith no início do diário? Não sabemos quem é, apesar da abundância de informações acerca do círculo social dos Maybrick. Nem constava da lista telefónica de Liverpool de 1889. Então, por que a inventou? Para além dos conhecimentos de psicologia e medicina, um falsário precisaria de ter a imaginação de um romancista. Em contrapartida, havia outras personagens, bastante mais centrais, do drama que não foram mencionadas no diário. Uma era a Sr a Briggs, 188 uma ex-rival de Florie em relação ao afecto de Maybrick, que impunha a sua forte presença à família, sobretudo através do domínio sobre Maybrick. Depois, havia a enfermeira mexeriqueira, Alice Yapp, cuja nomeação por Maybrick provocou um pequeno escândalo. E onde está a formidável baronesa Von Roques, a sogra de Maybrick? O diário também não inclui os relatos das mortes de Martha Tabram e Errima Smith. Uma falsificação contemporânea, e até muito mais tardia, incluiria certamente estes crimes, julgando que haviam sido obra do Estripador, porque foram incluídos no rol das vítimas do Estripador pelas autoridades da época e só foram excluídos na década de 1950. Por outro lado, para quê minar a autenticidade do diário acrescentando, à conta de Whitechapel, do Estripador, dois homicídios e uma tentativa interrompida de que não existe, até hoje, qualquer prova documental? Os assassínios ocorreram em Manchéster - no início de 1888 e em Dezembro - e o ataque falhado em Whitechapel, em Fevereiro de 1889. Apenas figuram no diário. Do mesmo modo, a investigação para este livro ligou, pela primeira vez, as três ocasiões em que a letra "M" foi deixada no local de um homicídio do Estripador. Figurava num fragmento de sobrescrito deixado ao lado do corpo da sua segunda vítima, Annie Chapman. Foi gravado nas maçãs do rosto da quarta mulher assassinada, Catharine Eddowes - um facto em que Mike Barrett foi a primeira pessoa a reparar. Finalmente, foi garatujado na parede, possivelmente com sangue, em combinação com um "F", no quarto de Mary Jane Kelly, a última das cinco vítimas canónicas. Maybrick fala de "uma inicial aqui, uma inicial ali"; e caso consideremos que o "M" quer dizer "Maybrick", é razoável presumir que <@FM" são as iniciais de sua mulher. O que é ainda mais espantoso, o diário menciona também factos de que apenas o assassino poderia ter conhecimento. Em 1888, quem, para além do Estripador, poderia saber que Catharine Eddowes tinha uma caixa de fósforos, de lata, vazia? Quem, para além do Estripador, poderia ter sabido que faltava o coração de Mary Jane Kelly? Estes factos só vieram ao conhecimento do público em 1987. Os testes de autenticidade do diário foram realizados pelo Dr. Ni, cholas Eastaugh, que antecedeu o seu relatório com um aviso: "No já célebre desastre dos 'diários de Hitler'", afirma, "foram os materiais dos 189 documentos - o papel e a tinta - que acabaram por expor a fraude. Quando uma coisa tão potencialmente importante como os diários de Jack, o Estripador, aparece subitamente, bastaria aparentemente que houvesse grande cuidado e não passa de mera prudência examinar a composição física do documento com testes de cariz policial tendo em vista a determinação da sua idade.

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Não existe ainda um único teste que determine de forma clara, precisa e sem ambiguidades, a idade de documentos escritos como o diário. A única técnica de datação amplamente conhecida que poderia ter sido utilizada no diário - a datação do papel mediante o carbono radioactivo - não é aplicável devido à sua falta de exactidão e a determinados problemas técnicos com materiais posteriores a cerca de 1500. São possíveis algumas determinações relativas da idade da tinta, mas destinam-se a testar a escrita dentro do documento (por exemplo, para ver se houve páginas acrescentadas ou trocadas) e, portanto, pouco utilidade têm aqui. Ademais, mesmo que pudéssemos determinar com eficácia a idade da tinta e do papel, isso seria insuficiente para "autenticar" o documento, uma vez que ainda não saberíamos quando haviam sido combinados tinta e papel e o diário escrito efectivamente. Na verdade, só um documento como o diário põe em relevo o facto de os cientistas e historiadores não disporem de qualquer meio para avaliarem directamente a idade cronológica absoluta de tais documentos. Apenas podemos inferir quando foi criado um documento olhando para a composição das suas partes componentes, quando estavam disponíveis esses componentes e a frequência da sua utilização. Podemos esboçar também algumas inferências gerais sobre a idade aparente a partir do seu aspecto (por exemplo, poderíamos ter algumas suspeitas se a escrita se sobrepusesse a danos obviamente recentes do papel). A situação não é invulgar e acontece que o exame dos documentos históricos é apenas um campo relativamente pouco estudado e muito recente. Para 'datar' a tinta e o papel temos de comparar aquilo de que são feitos com o que sabemos acerca da composição da tinta e do papel ao longo dos últimos 100 anos. Por exemplo, alguns dos corantes utilizados em tintas só foram inventados depois do tempo de jack, o Estripador, e, caso a tinta contivesse qualquer deles, então deveria ser uma falsificação posterior. Na prática (e para simplificar), isto significa que temos de utilizar um série de testes cada vez mais pormenorizados quando pro190 curamos erros; quantos mais foram os testes que o documento 'passou', mais provável será que estejamos a lidar com uma falsificação muito sofisticada ou com um artigo genuíno. Assim, que procuramos? Em termos históricos, ocorreu uma mudança importante nas tintas durante o século XIX devido à introdução de aparos de caneta de aço, fabricados em série. Cerca do início da década de 1830, conjugaram-se vários factores que permitiram o fabrico em grande escala desses aparos. No entanto, em breve se descobriu que as tintas ácidas tradicionais, à base de ferro, os corrompiam rapidamente e, consequentemente, tiveram de ser inventadas novas tintas. Por conseguinte, encontramos companhias como a Stephens a criarem novas fábricas, por essa altura (1834), para produzirem tintas com base em corantes e uma receita cuidadosamente controlada de tinta ferrosa, que não corroessem o aço. No entanto, a inovação não iria ficar por aqui; as necessidades específicas das canetas de tinteiro e o aparecimento de corantes sintéticos, durante a segunda metade do século, conduziram ao aparecimento daquilo a que podemos chamar 'tintas para caneta de tinteiro', que quase não sofreram alterações até aos nossos dias. Felizmente, sabemos quando foram descobertos os diferentes corantes e outros componentes utilizados nas tintas, pelo que é possível determinar uma data após a qual deve ter sido produzida urna tinta. Antes da descoberta dos corantes sintéticos, eram empregues vários corantes naturais, como o indigo, a garança e o pau-brasil; no final do século XIX, os corantes sintéticos, como a nigrosina (patenteado em 1867; patente n.- 50 415), tomaram-se de uso generalizado. Mais recentemente, outras substâncias corantes sintéticas foram substituídas por fórmulas consoante a disponibilidade, custo e adequação. Deveremos notar também que todas as esferográficas e canetas de ponta de feltro, tão vulgares hoje em dia, são invenções do século XX, que, por sua vez, exigiram

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novas tintas que as tornassem possíveis. A sua tinta e marcas são fáceis de distinguir da escrita com canetas de tinteiro e é reconfortante saber que o diário contém, indubitavelmente, tinta do tipo caneta tradicional. A partir do século XIX há, na verdade, dois tipos de tinta para caneta. Uma delas baseia-se nas históricas composições ferrosas (do tipo galotanato de ferro), enquanto a outra contém principalmente corantes (do tipo corante sintético) dissolvidos em água. No caso das tintas de galotanato de ferro, o componente principal é incolor até oxidar, assumindo uma cor preta permanente, no papel; daí que se acrescente 191 geralmente um corante para se obter uma co[oração imediata. Trata-se das tintas azul-escuras e a sua composição é amplamente uniforme, embora variem alguns pormenores. As tintas de tipo corante sintético são as mais populares hoje em dia, porque têm uma cor brilhante e produzem uma escrita atraente. No entanto, têm tendência para desaparecer e são sensíveis à água. Versões recentes deste tipo de tinta contêm pigmentos estáveis modernos (como os conhecidos como ftalocianinas), para as tornarem permanentes. . A análise da tinta do diário seguiu as directivas para uma peritagem convencional, embora, por variadas razões práticas, tenhamos decidido seguir determinadas formas de análise, em detrimento de outras. A tinta é do tipo permanente azul-escura, que poderia (sem um conhecimento mais pormenorizado da sua composição) ter sido utilizado desde a época vitoriana até aos nossos dias. É claro que pretendemos ter uma ideia mais exacta quanto à data em que foi produzida a tinta e, para o fazermos, temos de ver qual a composição pormenorizada da tinta e compará-la com amostras de referência de tintas vitorianas e modernas. Para obtermos uma 'impressão digital' da tinta procurámos quais os elementos que conseguíamos detectar nela utilizando um microscópio de observação equipado com espectrometria de raios X de dispersão de energia (SEM/EDS) e um instrumento chamado 'microssonda de protões'. Não é necessário conhecer o modo de operação de qualquer destes instrumentos para avaliar de que forma utilizámos os resultados; basicamente, tudo aquilo que é preciso saber é que ambas as máquinas são capazes de medir a presença de uma grande gama de elementos quimicos: o sistema SEM/EDS mede até cerca de O,5% e a microssondá de protões até poucas partes por milhão da composição. Ao determinarmos que elementos estão presentes e em que quantidades, graças a estes instrumentos, podemos determinar um perfil característico da tinta do diário e compará-lo com a mesma informação relativa às nossas amostras de referência. Utilizando uma técnica essencialmente semelhante a esta, especialistas americanos que examinaram a Bíblia de Gutenberg conseguiram descobrir que, na impressão, foram utilizadas quatro equipas que começaram por utilizar dois prelos e, em seguida, quatro! Para a nossa pesquisa, estudámos várias tintas 'permanente azul-escuro' modernas como a Quink, Stephens e Watermans, bem como amostras de escrita datadas do final do século XIX. Os perfis resultantes 192 das (menos pormenorizadas) análises SEM/EDS mostravam que havia grandes semelhanças e poucas diferenças mesmo entre as tintas que sabíamos ser vitorianas e as modernas. Era aquilo que esperávamos, uma vez que a química básica destas tintas não se alterou substancialmente durante esse período e só os pormenores podem dar pistas para as diferenças. Por exemplo, descobrimos que a Quink contém relativamente pouco ferro (e, segundo os fabricantes, isso acontece há alguns anos), enquanto a tinta do diário contém quantidades significativas. A análise SEMD/EDS sugeriu também que a tinta utilizada para escrever o testamento de james Maybrick é diferente da do diário.

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Os resultados preliminares obtidos com a microssonda de protões também foram encorajadores, adequando-se - e até ampliando-os aos resultados do SEM. No entanto, será necessário que se observe uma gama mais ampla de amostras, utilizando esta técnica, para que disponhamos de dados para uma interpretação mais exacta. Para complementar a análise dos elementos das tintas, foi realizada uma análise dos corantes para sabermos mais acerca dos agentes corantes utilizados. O método que empregámos é conhecido como cromatografia de camadas finas (TLC). A TI---C funciona com base no facto de os diferentes componentes dos corantes se comportarem de diferentes maneiras, quimicamente. Na prática, a TI--C implica a separação dos corantes numa espécie de padrões característicos, numa espécie de papel mata-borrão sofisticado, recorrendo a solventes orgânicos; os padrões resultantes podem ser comparados com os padrões de corantes conhecidos e fazer-se uma identificação. Utilizando esta técnica, encontrámos diferenças claras entre as tintas modernas e o diário. Todavia, em última análise, a fiabilidade destas análises para fazer a distinção entre tinta vitoriana e moderna depende do nível de pormenor e da gama de amostras de referência. Quando estudarmos um número cada vez maior de amostras datadas com uma gama mais ampla de técnicas, o grau de confiança quanto à inserção da tinta do diário numa determinada época aumentará. Não obstante, até agora não detectámos qualquer componente no diário que exclua uma datação vitoriana e não houve, claramente, também correspondência com qualquer das tintas modernas analisadas. Tal como nas tintas, também ocorreram mudanças no papel. O papel é fabricado a partir de fibras que são tratadas de forma a separarem-se e desgastarem-se; estas podem ser 'empastadas' em folhas que podem 193 sofrer um processamento posterior, acrescentando- lhes outros materiais que dão origem a diferentes qualidades de papel. Analisando os tipos de fibras utilizados e a composição dos outros materiais que se encontram presentes numa folha de papel podemos inferir datas, tal como fazemos no caso da tinta. Por exemplo, o papel utilizado nos 'diários de Flitler' continha fibras de ny1on 6 e um determinado produto químico usado para aumentar a brancura (um derivado de um composto chamado &stilbeno') que não podiam, qualquer deles, ser encontrados em papéis fabricados antes de meados da década de 1950. A análise das fibras do papel do diário mostrou apenas fibras de algodão e de polpa de madeira, que eram ambas utilizadas no final da época vitoriana. Não foram detectados fibras modernas ou agentes branqueadores fluorescentes como os que acabámos de referir. Para resumir, os resultados das várias análises à tinta e ao papel do diário que realizámos até agora não deram origem a qualquer conflito com a data de 1888-1889. Caso o diário seja uma falsificação moderna, então 'passou' numa série de testes que deveria ter mostrado muitos materiais utilizados agora no fabrico de tintas e papel. No entanto, temos de estar conscientes de que não podemos, por agora, excluir totalmente, com base nas provas de que dispomos, uma falsificação moderna sofisticada; embora se trate de um conhecimento muito especializado, alguém podia ter conseguido sintetizar uma tinta convincente ou localizar um frasco de tinta com idade suficiente e que ainda fosse utilizável (embora estas pareçam ser muito raras). Para descartar estas possibilidades, há várias análises que poderíamos e deveríamos fazer nomeadamente, aumentando a gama de material de referência e o nível de pormenor que estamos a examinar. Com mais dados de referência poderemos ter como objectivo colocar o diário, de forma precisa, entre outros documentos e talvez até identificar o fabricante da tinta ou do papel." O Dr. Eastaugh conclui o seu relatório dizendo: "A minha resposta profissional para com o diário é e deve ser completamente neutra. Apenas posso fazer um julgamento prévio do documento com base naquilo que pretende ou não pretende ser em termos da data hipotética. Se foi efectivamente escrito

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por Jack, o Estripador, é irrelevante para a análise da tinta e do papel. Todavia, o projecto levanta algumas questões importantes e realça o facto de a análise dos documentos históricos ser um campo onde ainda há muito trabalho a fazer." 194 O Dr. Eastaugh pensou que era possível que o pó negro encontrado entre as folhas do diário fosse carvão animal purificado - carbo animalis purificatus , mais conhecido, no século XIX, como carvão de ossos. Segundo o Squires Companion to the British Pharmacopoeia (1886), a substância "tem a propriedade de anular os efeitos venenosos da morfina, estricnina e acónito... Estes alcalóides podem ser ingeridos com impunidade se misturados na devida proporção com carvão animal purificado ... ". A importância total desta descoberta tornou,se clara quando verifiquei a extensão da dependência de Maybrick em relação ao arsénico e à estricnina. Era essencial para um utilizador de estricnina que levava o seu vício até aos limites dispor de um antídoto, para o caso de exceder a dose. Embora o carvão de ossos tivesse outras utilizações, parece provável, considerando que Maybrick tomava estricnina, que o carvão de ossos encontrado no seu diário fosse utilizado por ele para contrabalançar os efeitos nocivos da droga. Perguntei também a uma equipa de médicos peritos em sintomas de dependência de drogas se o retrato dos sintomas de dependência constante no diário era exacto. Os médicos tanto da Unidade de Venenos do Guy's Hospital como da Unidade de Álcool e Dependência do Maudsley Hospital, ambos em Londres, disseram-me que o diário evidenciava um conhecimento da psicopatologia e da fisiologia da dependência do arsénico que seria extraordinariamente difícil de obter considerando a escassez de documentação existente nessa época. Até mesmo um falsário moderno teria deparado com grandes dificuldades para inventar esses pormenores médicos. A não ser que, é claro, o autor tivesse experiência própria da droga. O arsénico, quando tomado durante anos, conduz à acumulação de piruvato no sangue. Esta substância é importante para o metabolismo corporal da co-enzima-A, uma enzima essencial dos hidratos de carbono fornecedores de energia. No envenenamento agudo por arsénico, predominam os sintomas gastrointestinais do tipo dos apresentados por Maybrick. No último século, pensava-se que o envenenamento crónico era indicado por essas queixas gástricas. No entanto, hoje em dia, reconhecemos a proeminência de sintomas neurológicos. Assim, os vitorianos pensavam erradamente que a ingestão de arsénico durante vinte ou trinta anos poderia ter como resultado a paralisia. Na verdade, o autor do diário partilhava essa ideia errada. No 195 entanto, percebiam que uma súbita retirada do arsénico poderia ter como consequência dores intensíssimas como as que Maybrick sentia depois de já não poder ir ao escritório ou ter acesso aos seus fornecedores. O Dr. David Forshaw, na sua qualidade de consultor da Unidade de Álcool e Dependência do Maudsley Hospital, referiu, no seu relatório por escrito, que Maybrick gostava de álcool e também utilizava arsénico e que ambos podem provocar também uma perturbação crónicia dos nervos dos membros e problemas gastro intestinais. Explica: "Uma tiróide hipoactiva, a glândula situada no pescoço que ajuda a regular o nível geral da actividade metabólica do corpo, pode provocar também uma perturbação com sintomas semelhantes aos que Maybrick descreveu: cansaço, letargia, obstipação, intolerância em relação ao frio, dores musculares. Pode haver surdez e alucinações... o rosto parece desprovido de expressão, grande e inchado, a memória falha e o paciente pode encontrar-se deprimido. Esta doença, conhecida como hipotiroidismo ou moxoedema, só pode ser confirmada por uma análise de sangue que ainda não estava disponível no tempo de Maybrick. A Encyclopedia of Medicine, em treze volumes, de Von Ziemenssen,

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no seu capítulo dedicado ao envenenamento crónico por metais pesados, afirma: 'a forma moderada de envenamento crónico pode resultar do uso terapêutico da Solução de FowIer'. O Dr. C. Bitiz, que escreveu Lectures on Pharmacology, em 1897, explicava: 'um estímulo, se repetido frequentemente, deve ser apresentado em doses cada vez maiores para produzir, de cada vez, um determinado efeito'. Por outras palavras, um viciado tem de, com o passar dos anos, tomar cada vez mais droga para manter o efeito. É tentador traçar um paralelo entre o aumento da utilização excessiva do arsénico e o sadismo progressivo tal como aparece no díário." Para examinar a caligrafia, e tentar fazê-la corresponder a outros documentos do Estripador e de Maybrick, chamei dois peritos forenses, Sue Iremonger e Anna Koren. Anna também é grafóloga. A investigação da caligrafia insere-se em duas categorias: a comparação forense de documentos para determinar se são ou não falsificações, que é a especialidade de Sue, e a análise dos caracteres, que é apenas um dos aspectos da especialidade de Anna e aquele em que lhe pedimos que se concentrasse desta vez. 196 Formada em Chicago e no Reino Unido, Sue Ironmonger é membro da World Association of Document Examiners. Também é psicoterapeuta especializada em personalidade psicopática. Em 1993, apresentou uma comunicação à World Association of Document Examiners, em Chicago, sobre as cartas de Jack, o Estripador. Sue é perita em cheques falsificados, comparação de assinaturas e identificação de cartas anónimas e cartas com tinta envenenada. Pode levar vários dias a dissecar uma página de escrita, traço a traço. "A caligrafia é tão reveladora como as impressões digitais", afirma. "Não importa se uma pessoa é velha ou nova, ou se troca a mão direita pela esquerda depois de um acidente, O desenho pode parecer mudar, mas, na verdade, os componentes da caligrafia de qualquer indivíduo continuam consistentes." Anna Koren, directora do Centro de Grafologia de Haifa, Tel Aviv, Londres e Sidney, veio de avião de Israel. É membro da American Association of GraphoIogists e perita em documentos junto do Ministério da Justiça de Israel e dos Serviços de Segurança Social. As duas especialistas viram-se confrontadas de imediato com o problema de, para além da assinatura de Maybrick num assento de casamento e do testamento suspeito, parecer não existir uma amostra da caligrafia de James Maybrick com que o diário fosse comparado. Armada de câmara e microscópio, Sue começou o seu exame do diário estudando como eram formadas as letras individuais. Anna estudou, ao mesmo tempo, o perfil psicológico revelado pelo diário e atirou-se à intimidante quantidade de microfilmes e caixas de documentos amaretecidos acumulados no enorme arquivo nacional do Public Record Office, em Kew. Procurava algo, nos dossiers da polícia ou do Ministério do Interior, que pudesse ligar Jack, o Estrípador, à caligrafia do diário. Anna Koren forneceu um relatório escrito pormenorizado acerca da sua interpretação da personalidade do diarista através da sua caligrafia. Apresentamos seguidamente alguns extractos do relatório: O diário mostra uma personalidade instável. Conflitos internos, falta de adaptabilidade social e uma tendência para a esquizofrenia caracterizam a caligrafia. Os seus sentimentos de inferioridade, a repressão emocional e a falta de confiança interior podem levá-lo a perder o controlo de vez em quando e pode explodir muito violentamente. 197

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Tendências para o despotismo, irascibilidade e brutalidade são facilmente distinguíveis. É afectado por instintos inconscientes e a agressão é a companheira constante das suas ambições. Sofre de alterações de humor extremas, resultantes de uma elevada dose de tensão entre a sua enorme ambição e a sua reduzida auto-estima. São evidentes uma tendência para a hipocondria e uma utilização de drogas ou álcool. Toda a actividade impulsiva é realizada em segredo, dando vazão à sua vingança e agressão lutando contra uma figura autoritária hostil da sua infância. Uma doença psicótica cerceia a sua capacidade para discernir entre bem e mal, proibido ou permissível, e pode conduzir a actividade criminal. O seu comportamento é invulgarmente bizarro. O seu pensamento perturbado conduz a ideias estranhas, suspeitas paranóicas e crenças mágicas. O seu modo de pensar é circular, nebuloso, estereotipado e metafórico. A sua doença pode, com toda a probabilidade, ser considerada crónica e persistente, com tendência para piorar. Mostra um distúrbio de identidade, com confusão quanto à sua identidade sexual, e uma imagem distorcida da sua masculinidade, bem como a ausência de um sistema estável de valores. Há falhas nítidas no superego e uma incapacidade de perseverança em questões que impliquem escolha de carreira, objectivos a longo prazo, manutenção de relações de amizade, lealdade. Por detrás das explosões violentas encontram-se sentimentos profundamente enraízados de solidão, vazio e insegurança, que conduzem a uma depressão e a um perda parcial de contacto com a realidade. Traços egocêntricos, juntamente com vaidade e exibicionismo, infantilidade, uma tendência para dramatizar, uma constante busca de atenção e uma falta de consideração pelos outros na prossecução dos seus próprios interesses. A sua percepção da sexualidade e do coito está distorcida ao ponto de evidenciar uma tendência para o sadismo. A sua falta de confiança nos outros e o seu sentimento paranóico de ser atormentado são aparentes. É incapaz de estabelecer relações de igualdade. Sofre de distúrbios psicológicos que produzem um comportamento ilógico, obsessivo, destrutivo e agressivo. Um sentimento íntimo de compulsão faz que esse comportamento se repita por ciclos. Por seu lado, Sue Iremonger não relaciona a caligrafia do diário com a da carta <@Caro Patrão@> nem com a do "testamento" de Maybrick. Disse: "Se olharmos para a comparação entre a letra maiúscula T tanto no diário como na carta 'Caro Patrão', a formação é completamente diferente. No diário, a formação do T é uma formação semelhante à de um'g' minúsculo. Na carta 'Caro Patrão', tem uma voluta inicial estreita que começa aproximadamente a meio da haste. A cauda da haste termina de forma semelhante num ponto grosso, enquanto no diário o final é um pequeno arco circular. A pontuação nos dois documentos é completamente diferente e, de um modo geral, as diferenças entre eles excedem de longe quaisquer ligeiras similaridades. Duas das semelhanças são a margem esquerda e o peso (espessura do traço) de algumas letras." Sue acredita que a caligrafia de um indivíduo contém sempre características inconscientes que podem ser identificadas por um perito. Anna Koren discorda. Enviou amostras de caligrafia de esquizofrénicos e de uma mulher com distúrbios de personalidade múltipla, para mostrar que uma pessoa pode apresentar muitos estilos caligráficos. Anna aduz que a análise pericial de estilos caligráficos tão divergentes não pode necessariamente identificá-los como obra de uma única mão. Uma variação marcada entre as amostras de caligrafia da mulher, que tem mais de 90 personalidades, é evidente na ilustração que apresentamos a seguir e revela dezasseis desenhos diferentes.

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O Dr. Forshaw refere que o desenho da caligrafia de uma pessoa durante um diário longo e fluente será o da sua letra normal e muito diferente da caligrafia formal do mesmo indivíduo ou de qualquer exemplar de caligrafia em que o escritor pretenda ocultar a sua identidade. Um assassino em série inteligente como Maybrick não deveria ter poupado esforços para garantir o anonimato em qualquer carta que escrevesse para ser publicada ou examinada pela polícia. Forshaw acredita que é possível que a caligrafia do diário reflicta os verdadeiros sentimentos internos de Maybrick, que não era pessoa que escrevesse cartas com frequência. Sugere também que o estilo da carta 199 Alguns dos diferentes tipos de caligrafia de uma pessoa - uma personalidade múltipla (When Ra@bit Howls, Troops f- T,iddi Ch-, E P. D.m). a.d Sidg-k & J-k-n, 1987) e do postal - que acredita poderem provir do mesmo punho - se destina a impressionar. Passando da caligrafia do diário para o seu tipo de expressão, um dos aspectos que me surpreendeu inicialmente foi a linguagem. Contém três frases que parecem demasiado modernas para um vitoriano. No entanto, a pesquisa nos dicionários revelou que as expressões <@topped" e "gathering momentum" eram utilizadas antes do final da época vitoriana. Mas a frase "one offi> exigiu mais pesquisa. A data mais antiga atribuída à expressão por qualquer dicionário inglês era 1934, no Oxford English Dictionary. Na América, o Webster's Dictionary data o seu primeiro aparecimento por escrito de 1925. Isso poderia ter sido um problema, visto que um único pormenorzinho pode destruir toda a autenticidade do diário. Pedi a ajuda de John Simpson, coeditor do Oxford English Dictionary, que me escreveu: "O Oxford English Dictionary procura documentar a história e evolução do vocabulário da língua inglesa desde o início da Idade Média até aos dias de hoje. A sua análise baseia-se no registo da língua obtido através da leitura de uma gama de tex, tos tão ampla quanto possível e extraindo desses textos exemplos de uso para os nossos arquivos de citações. O mais antigo registo de utilização de qualquer termo que apareça no Dicionário representa a mais antiga utilização escrita ao alcance dos editores do Dicionário quando é compilada uma determinada entrada. Desejaria que as primeiras referências constituíssem um guia útil para saber quando um determinado termo entrou na linguagem, mas provas anteriores (algumas das quais são substancialmente anteriores) estão a ser continuamente trazidas ao nosso conhecimento. A linguagem é falada antes de ser escrita e, em algumas áreas (como o calão regional e ofícios locais), pode muito bem haver um lapso de tempo entre a introdução de um termo e o seu aparecimento impresso. No caso de 'orie-offi ficaria surpreendido, mas não perturbado, se a primeira vez que apareceu tivesse sido anterior ao primeiro exemplo registado no Dicionário em tanto como meio século. Se tal data fosse confirmada, esperaria que a pesquisa subsequente na literatura técnica revelasse exemplos intermédios da sua utilização." Falei também com Mark Agnes, membro da equipa editorial do Webster's New World Dictionary, que concordou com John Simpson. "Até mesmo hoje em dia, há frases que todos conhecemos e utilizamos que não podem ser encontradas num dicionário. Pode levar muito 201 tempo, na verdade, sobretudo nas áreas técnicas, até que a tradição oral seja registada pela palavra escrita." Soube de várias utilizações da expressão em tempos vitorianos que ainda se não encontram nos dicionários. O Dictionary of Jargon, de Jonathon Green, apresenta uma utilização nas prisões do século XIX relativa a nomes inscritos a giz em lousas quando os condenados eram enviados "one-

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on" ou "orie-offi> duty (em serviço ou não). Na indústria da construção, "one Off", no sentido de só um, era utilizado quando se encomendava material (Fonte: arquivos da casa Trayner de Kent, 1860). Um "one-offi> era também um tijolo ornamental utilizado nos canais vitorianos e, do mesmo modo, em engenharia o termo empregava-se para um exemplar único ou protótipo. Foi esse o sentido que Maybrick utilizou precisamente no seu diário. Confrontada com todas estas descobertas positivas e na falta de qualquer factor que impedisse o diário de ser autêntico, tive de concluir que, na verdade, estava a lidar com o diário de Jack, o Estripador. 15 "OS MEUS PENSAMENTOS COMEÇAM VERDADEIRAMENTE A DAR-ME PRAZER" James Maybrick era um homem que gostava de crianças, brincalhão e amigo de conviver. Preocupava-se com o seu aspecto e desejava melhorar a sua posição social. Como escrevera William Stead: "Os amigos diriam que James Maybrick era um tipo bom e delicado." Como poderia ele ter sido o carniceiro enlouquecido pela droga que espalhou o terror por toda a Inglaterra, no final do período vitoriano? O Dr. David Forshaw tem um interesse especial pela mente do assassino em série e, por isso, ficou particularmente excitado quando lhe contei a descoberta do diário. Ofereceu-se para o estudar e fazer um relatório sobre o estado de espírito do homem que o escrevera. Não lhe foi perguntado: "Quem escreveu o diário foi Jack, o Estripador?" A psiquiatria não podia responder a essa pergunta. O seu relatório tem duas finalidades: 1) Explicar a psicopatologia dos assassinos em série segundo as linhas do que se conhece sobre Jack, o Estripador; 2) Comparar as citadas descobertas com a psicopatologia do diário. "O diário de Jack, o Estripador, representa o registo em série dos pensamentos ou sentimentos do Estripador ou, de forma mais exacta, a sua expressão e actuação através do seu tumulto emocional e intelectual", diz David Forshaw. "É parte integrante da sua psicopatologia. É claro que os crimes de Whitechapel não foram os primeiros homicídios em série. Esses crimes ocorreram ao longo de toda a histó203 ria. Há casos registados de assassínios em serte que datam dos tempos clássicos. Na verdade, no seu livro Perverse Crimes in History, Masters e Lea descrevem uma epidemia de faquistas e estripadores no século XIX, que atingiu o zénite nas décadas de 1880 e 1890. Assim, Jack, o Estripador, apesar de monstro, era um entre muitos. Poderia ter sido apenas mais um assassino se não fosse o caso da alcunha que se auto-atribuiu. Amiúde, estes assassinos em série parecem, tal como James Mayb@ick' ser homens pacatos homens com família, homens que vão trabalhar todos os dias e cuidam do jardim aos fins de semana." David Forshaw citou o caso de Andrei Chikatilo, que vivia@ na cidade mineira de Shakhty, na ex-União Soviética. Era um membro do Partido Comunista, de 42 anos, com mulher, dois filhos e um emprego como professor numa escola de mineração. Então, num dia do ano de 1978, levou Lena Zakotnova, de 9 anos, para uma cabana em ruínas nos limites da cidade e estrangulou-a, apunhalou-a e retalhou-a. O prazer foi imenso e o seu desejo de sangue, recémdescoberto, imparável. Assim, durante mais de doze anos, continuou a matar e comer mulheres e

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cerca de 53 crianças, extraindo os seus órgãos internos com as mãos nuas. Tal como Maybrick, deixava gracínhas provocatórias nos locais para irritar a polícia. Diz-se que Chikatilo nunca levantou a mão para os seus próprios filhos e fizera grandes progressos na vida, subindo das suas origens camponesas até à lntelligentsia. Mas quisera ser um soldado valente e um amante romântico; ansiava pelo tipo de respeito que faria que as crianças de escola se levantassem quando entrasse na sala. Pensava que o verdadeiro Chíkatilo não estava à altura e sentia-se um falhado. Quando finalmente foi capturado, em 1991, escreveu à mulher: "Por que razão me enviou Deus para esta terra? Eu, uma pessoa afectuosa, terna e sensível, tão completamente desprovida de defesas em relação à minha própria fraqueza." As palavras de Chíkatilo reflectem a mensagem atormentada de inadaptação dolorosa que enche o diário de Maybrick. Também fazem lembrar a ideia que tinha de si mesmo como uma pessoa delicada e, ao mesmo tempo, propensa para uma extrema violência. O homem delicado com pensamentos delicados vai atacar de novo em breve 204 Forshaw referiu que outra figura desse tipo era Peter Kürten, o assassino de Dusseldorf que foi enforcado em 1937 por ter morto nove pessoas e tentado matar mais sete. No entanto, continuava a viver e dormir com a mulher enquanto cometia os crimes. O mesmo se passava com Peter Suteliffê, o "Estripador do Yorkshire", cuja missão, tal como a de Maybrick, era, segundo as suas próprias palavras, "libertar as ruas das prostitutas@>. Durante um período de cinco anos, matou treze mulheres e tentou assassinar mais sete. Tal como Andrei Chikatilo, Peter Kürten e Peter Sutcliffe, Maybrick era o homem do lado, um vizinho vulgar e sem nada que o distinguisse, pelo menos à superfície. Também apresenta, de outras formas, características do assassino em série típico. Tais criminosos, diz Forshaw, são quase sempre do sexo masculino e, multas vezes, obsessivos e hipocondríacos. Isso era perfeitamente verdade no caso de Maybrick, que estava sempre atormentado com os seus remédios, a sua saúde e o envelhecimento. Os assassinos em série são também, habitualmente, pessoas de comportamento doce, em que é rara a exibição de agressão, embora, lá no fundo, fervam de raiva contida. Têm vidas fantasiosas ricas, que acham preferíveis à realidade. Sonham com estar numa posição de poder e sentem-se preocupados com a sua masculinidade e potência sexual. Foi este último medo que empurrou Maybrick para a utilização de arsénico e estricnina. Em 1965, Revitch estudou os relatórios sobre ataques não provocados por homens em mulheres, dividindo os agressores em grupos com mais de 18 anos e menos. Descobriu que a hostilidade para com as mulheres era mais proeminente no grupo dos mais velhos do que no dos mais novos, enquanto a preocupação com o comportamento sexual era mais pronunciada nos mais novos. Quanto mais velho era o agrelssor, tanto mais o seu móbil primário era um reflexo de ira ou ódio. "A natureza repugnante dos assassínios do Estripador leva-nos a concluir que os homicídios reflectiam hostilidade, e não uma necessidade de gratificação sexual", diz David Forshaw. "Logo, provavelmente, não era um jovem." Maybrick fez 50 anos em 24 de Outubro - pouco tempo antes do assassínio de Mary jane Kelly. "O sêmen não é mencionado nos relatórios das autópsias e, por isso, não sabemos se o assaltante teve relações ou se masturbou no

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205 local do crime", continua Forshaw. "Parece improvável, dado dever ser provável que o ódio, e não o sexo, constituía o inóbil. De qualquer forma, o tempo que sabemos estar disponível para o criminoso mal teria permitido essa satisfação. É provável que o Estripador escolhesse as vítimas como antisímbolos do sexo, seleccionadas para impedir até a possibilidade da relação sexual. No entanto, pode ter sido até a depravação delas que atraiu uma sexualidade pervertida." . Não havia dúvida de que o alvo escolhido pelo Estripador - prostítutas - tinha vantagens práticas. Dado que há pouco que as possa ligar ao cliente, e que trabalham em áreas isoladas, as prostitutas são vítimas fáceis para os agressores sexuais. Ademais, um assassino em série que ataca prostitutas pode fazê-lo porque está convencido de que está a prestar um serviço à sociedade. Estou convencido de que Deus me pôs aqui para matar as putas todas Mas, ao mesmo tempo, é possível que as infelizes mulheres de Whitechapel também representassem algo muito mais pessoal para Maybrick: a sua mulher adúltera. "Para o agressor, consciente ou inconscientemente, as prostitutas representam pessoas amadas, desprezadas e infiéis, que, devido às circunstâncias, estão relativamente protegidas da agressão", diz David Forshaw. "As mulheres de vida fácil eram o símbolo da infidelidade da sua mulher." Forshaw acredita que o Estripador, provavelmente, obtinha satisfaçao com o mero processo de matar, com sentir ou ver a vítima morrer, e até com a sua mutilação - e não provocando-lhes um sofrimento prolongado. Havia também outra motivação para o assassínio. Forshaw explica: "O assassino Tilho de Sam', David Berkowitz, que aterrorizou Nova lorque durante um ano, em meados da década de 1970, falava no 'desejo de o fazer, de matar', que, acrescentava, 'me enchia em proporções de tal forma explosivas, causava-me um tal turbilhão interior que, quando se libertava, parecia um vulcão em erupção e a pressão acabava, pelo menos por um tempo'. O psiquiatra americano David Abrahamsen, que escreveu sobre Jack, o Estripador, afirma que o assassino de Whitechapel sentia provavelmente a mesma tensão." 206 Maybrick escreveu: Preciso de mais excitações. Não consigo viver sem as minhas excitações. Vou continuar. Vou continuar. nada me deterá. Maybrick tinha uma amante, identificada no diário apenas como "minha", para quem se virava nas alturas em que os seus pensamentos assassinos se tornavam demasiado intensos. Os olhos vão ser arrancados à próxima. Vou enfiá-los na boca da puta. Isso irá certamente dar-me prazer, já o faz enquanto escrevo. Esta noite vou ver a minha, ela vai ficar contente, visto que serei delicado com ela como na verdade sou sempre. Tal como Maybrick, Jack, o Estripador, também gostava da excitação da caçada. Deliciava-se com a excitação da sua potencial captura, ainda mais do que com o acto de esventrar. Penso que a excitação de ser apanhado me excitou mais do que cortar a própria puta. <@Os assassinos em série", diz Forshaw, "sentem-se normalmente inferiores aos outros, excepto quando pensam ou escrevem sobre os seus crimes. É essa a razão de um diário." Maybrick utilizava o diário para expressar o seu exacerbado sentimento da sua própria importância, atribuindo a si mesmo os títulos de "Sir Jim" e "Sir Jack". O diário permitia-lhe também utilizar um conjunto de pensamentos agradáveis para se afastar das ideias e sentimentos perturbadores do seu consciente. Vou obrigar-me a pensar em algo mais agradável.

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"No diário, usou com muita frequência este método de manipulação do pensamento, como uma cortina entre ele e o mundo real", explica Forshaw. "Desse modo, permitia,se ficar calmo exteriormente e senhor do controlo. Também pode tê-lo afastado da realidade." 207 Maybrick utilizava o sexo para afastar a sua mente da realidade. Após o primeiro homicídio, escreveu: Vou possuir a puta esta noite preciso de desviar o meu espírito dos acontecimentos da noite. Desde o início do diário, as suas fantasias da mulher e do amante reunidos deram-lhe um prazer mórbido ou perverso. O facto de pensar nele a possuí-Ia começa a excitar-me. Estas entradas sugerem que sentia excitação sexual e retirava uma espécie de satisfação sadornasoquista quando escrevia o diário. Um aspecto marcante do diário é a alteração da caligrafia à medida que progride. É escrito claramente pela mesma pessoa, mas a transformação de uma caligrafia nítida e escolar para uns gatafunhos frenéticos reflecte uma deterioração violenta do seu estado mental. David Forshaw escolheu sete amostras de caligrafia do diário e examinou-as cronologicamente. Explica: "No início do diário, antes de ter ocorrido qualquer morte, a escrita é nítida, pouco demonstrativa, contida até. Mas torna-se maior, mais vistosa, menos controlada e certamente mais confiante à medida que vai prosseguido aquilo a que chamou a sua 'campanha' de homicídios. Agora, a caligrafia está claramente carregada com uma mistura de emoções. Então, depois de ter atingido o pico da febre, perto do final do diário, volta, de forma dramática, ao estilo calmo e controlado do tempo anterior ao início dos assassínios. Esta última alteração marcada ocorreu pouco depois de Maybrick ter regressado de uma visita a Londres, onde visitou o Dr. FuIler.>@ Fuller acha que não tenho nada de muito grave. Estranhos, os pensamentos que colocou na minha mente. Quais eram esses pensamentos não sabemos, mas, a partir desse momento, Maybrick fala cada vez mais em desejar libertar-se do seu tormento e até em suicídio. Os estudos modernos sobre assassinos em série levaram a um melhor conhecimento do que existia no século XIX. O psiquiatra Malcolm MacCtilloch, da Universidade de Liverpool, e a sua equipa identifica208 ram um padrão nítido em treze de dezasseis criminosos estudados num hospital especial. Durante um período de tempo, os homens tinham andado absorvidos com fantasias sexuais sádicas que se tornaram mais extremas, conduzido a "experiências comportamentais", como seguir as vítimas potenciais. Essas "experiências" eram incorporadas depois nas fantasias, deslocando-se inexoravelmente para um clímax. Cada paciente se tornava cada vez mais incapaz de distinguir entre a realidade e o seu mundo de fantasia. A equipa supunha que o facto de infligirem sofrimento era a via para o controlo. O controlo encontrava-se no cerne do seu comportamento. Num sentido, o supremo controlo possível sobre alguém ocorre quando se encontra morto ou inconsciente. O diário de Maybrick, e a série de assassínios de Jack, o Estripador, mostram ambos uma escalada de crueldade de uma vítima para a próxima. "É quase como se estivesse a habituar-se ao comportamento e a desenvolver uma tolerância em relação a ele", diz o Dr. Forshaw. "É um fenómeno semelhante ao dos aceleras urbanos, que amiúde atingem a excitação mediante o controlo, enquanto guiam a alta velocidade, correndo cada vez mais riscos." Quanto ao canibalismo do Estripador, Forshaw afirma: "Maybrick pode ter retirado partes dos seus corpos para ter uma espécie de recordação. A húngara Elizabeth Bathory, que morreu em 1614 com

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54 anos, costumava banhar-se no sangue das suas vítimas para se manter jovem e atraente. Christie, que foi enforcado em 1953, coleccionava pêlos púbicos das suas vítimas. O Estripador podia estar convencido de que, comendo um útero, obteria a juventude eterna." Outros coleccionadores macabros incluem o assassino em série americano Ed Kemper que, em 1972, coleccionava órgãos internos, e por vezes cabeças, que guardava no seu armário. O assassino Dennis Nilsen, que se encontrou em actividade entre 1978 e 1983, guardava os restos desmembrados das suas vítimas em armários ou debaixo das tábuas do soalho das suas casas de North London. Em conclusão, o Dr. Forshaw escreve: "Se apenas dispomos de informação limitada acerca do passado ou do estado mental de uma pessoa, é difícil distinguir o assassino em série sádico e de cariz sexual que sofre de síndroma sádica progressiva dos homicidas de vítimas múltiplas que matam em consequência de uma doença mental como a esquizofrenia." 209 Pela leitura do diário, Forshaw não vê qualquer prova de que o Estripador sofresse de doença mental. "Não tinha delírios. O James Maybrick do diário estava perturbado mentalmente, mas se isso era sufi, ciente para atenuar a sua responsabilidade legal é um ponto a discutir. Era louco ou era mau?" A resposta altamente intrigante para esta pergunta é que Maybrick era mau, mas o Estripador era louco. Fundam os dois e, tal como Jeky11 e Hyde, o resultado é uma força poderosa para o mal. Percebo agora por que razão Mike Barrett costumava ir até ao cemitério de Anfield e ficar junto ao portão de Battlecrease House. Vi o fas, cínio horrorizado que o diário inspirou nos que o leram. Analisei cuidadosamente palavra a palavra, frase a frase, decidida a descobrir qualquer falha que existisse no diário, uma vez que era inevitável que os cépticos e aqueles que pretendem perpetuar o mistério centenário em vez de o deixarem repousar iriam fazer o melhor que pudessem para minar a sua credibilidade. Tinha medo de que se des, truísse uma lenda seria como matar o monstro do Loch Ness. Que restaría para manter viva a indústria do Estripador? Não podia estar mais errada a esse respeito mas, nessa fase incipiente, não fazia a menor ideia de quão rico era o filão com que depararia quando fiquei cada vez mais familiarizada com James Maybrick. Jack, o Estripador, não era um vagabundo porco do East End, um criminoso carrancudo a esgueirar-se por passagens sombrias. Era um homem de família atraente e bem vestido - mas um homem de família que se inseria na grande tradição vitoriana dos vícios privados e públicas virtudes. Como confirmou David Forshaw, é esta aparência externa de normalidade e conformismo que o tornava tão temível. O Estripador era - e é - o vizinho do lado. É esta precisamente a razão pela qual tantas pessoas sensíveis foram enfeitiçadas pelo poder quase sinistro do diário. Os peritos que nos concederam o seu tempo, talento e sabedoria deram consigo sem conseguir dormir à noite. Todavia, para eles, tal como até para Mike Barrett, havia pouco incentivo financeiro ao longo da investigação, escrita e produção deste livro. Entretanto, os estudiosos profissionais do Estripador, que outrora estavam cépticos e até o condenavam, não apresentaram qualquer facto importante em desabono do diário. Confessam que estão desconcertados. 210 O diário desmascarou o verdadeiro James Maybrick - tal como ele planeara. Agora vou colocar isto num lugar onde será encontrado. Assim, agora temos um novo vilão. Mas Jack, o Estripador, não é, de forma alguma, diminuído por esta descoberta, porque existe ainda

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uma enorme quantidade de material para investigar e, à medida que aumenta a informação, acontece o mesmo com o nosso desejo de verdade. A história, em vez de chegar ao fim, está apenas a principiar. 16 "SOFRERÃO TAL COMO EU VOU CERTIFICAR-ME DISSO" O legado de Jack, o Estripador, à sua família já era suficientemente amargo, mas a sua sombra continuou a obscurecer muitas vidas, nos anos que se seguiram à sua morte, sobretudo a de sua mulher. Mas Florie Maybrick era uma sobrevivente. Aguentou a vida de presa "L. P. 29" - incluindo o isolamento, trabalhos forçados e doença - sem esperança de uma libertação antecipada, apesar dos esforços de muitos. A sua mãe vinha de França para a visitar de dois em dois meses, viajando "quase 200 km para [passar] trinta minutos" com a filha. Como Florie recordou, mais tarde: "Durante essas visitas, contava-me o melhor que podia os nobres e incansáveis esforços dos meus concidadãos e concidadãs em meu favor; a compreensão e apoio do meu próprio Governo; os mais estrémios esforços dos diferentes embaixadores americanos em meu favor [ ... 10 conhecimento da sua convicção da minha inocência, e da sua compreensão, alegrava-me e tornava-me mais forte para trilhar, com coragem, o caminho eivado de espinhos da minha vida quotidiana." Ver a filha, durante apenas meia hora de dois em dois meses, teve os seus efeitos sobre a baronesa. "Ainda mal tínhamos tido tempo para nos recompormos quando surgia um sinal silencioso por parte da guarda muda que se encontrava na cadeira - tinham passado os trinta minutos", recordou Florie. "'Adeus', dizíamos, com um olhar prolongado e, depois, virávamo-nos de costas uma para a outra Ninguém saberá nunca o que a minha mãe sofreu." 213 A baronesa gastou uma fortuna a tentar ilibar o nome de Florie e obter uma libertação antecipada. Lord RusselI, o advogado de Florie, continuou a exprimir a sua crença na infeliz cliente e nunca perdeu a esperança na sua libertação. Morreu em 1900, antes de Florie conseguir ver realizada a sua certeza. Durante todos os quinze anos terríveis da sua prisão, Florie continuou a ser o centro de uma campanha internacional para limpar o seu, nome. Três presidentes americanos apresentaram pedidos de indulto. O cardeal Gibbons, o secretário de Estado James G. Blaine e o embaixador na Grã-Bretanha, Robert LincoIn, apresentaram recursos por ela. Foi apenas em 1904 que Florie voltou a ser uma mulher livre. A 25 de Janeiro, aos 41 anos de idade, foi transferida para os cuidados amáveis das freiras do Lar da Epifania, um convento em Truro, na Cornualha. Seis meses mais tarde, juntou-se então a sua mãe, em França, antes de regressar, com um nome falso, à América e a um novo mundo com iluminação eléctrica, superpovoado e barulhento devido ao progresso da industrialização. A mudança foi difícil. Nunca perdoada, estava livre da prisão, mas não do seu passado. "Virá um dia em que o mundo reconhecerá que a sentença que foi proferida contra mim é absolutamente insustentável", escreveu em My Fifteen Lost Years. "Mas, e depois? Quem me restituirá os anos que passei entre os muros da prisão; os amigos que me esqueceram; os filhos para os quais estou morta; a luz do Sol; os ventos do céu; a minha vida de mulher, e tudo o que perdi devido a esta terrível injustiça?" As tentativas reiteradas de recurso de Florie podem ter sido vãs, no

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que respeita a uma libertação antecipada, mas a sua condenação à prisão produziu uma última ironia: em 1907, foi criado o Court of Criminal Appeal da Grã-Bretanha, para que, futuramente, os presos tivessem perante si um sistema judicial mais justo. Indirectamente, poderia dizer-se que essa alteração fora provocada por James Maybrick, cuja outra vida como Jack, o Estripador, conduziu à sua queda. Florie queria privacidade, mas o público queria a história dela. Porque precisava de dinheiro, e incentivada pelos seus apoiantes americanos, escreveu sobre as suas experiências na cadeia e percorreu o país, fazendo conferências acerca da necessidade de uma reforma das leis. 214 Nunca discutiu os acontecimentos de 1888-1889, que a haviam condu, zido aos degraus do patíbulo. Todavia, esta vida pública impedia-a de fugir da curiosidade mórbida do seu auditório e abandonou as conferências ao fim de dois anos. Depois de uma visita prolongada à filha, em 1910, a baronesa regressou a França, onde faleceu alguns meses mais tarde. Durante 21 anos, até à morte, lutara pelo perdão de Florie. Quando se goraram as tentativas de recuperar propriedades de família, Florie estava em graves apuros financeiros. Trabalhou, durante pouco tempo, para uma casa editora e, depois, a sua saúde falhou. Mudou-se para Chicago, onde o Exército de Salvação tomou conta dela. Parece ter desaparecido durante três anos. Depois, em 1918, contactou uma amiga, Cora Griffin, pedindo-lhe que lhe arranjasse um emprego. A menina Griffin tinha urna amiga que criava galinhas, em Gaylordsville, Connecticut, que andava à procura de uma governanta para a quinta. Florie foi contratada. No ano seguinte, comprou uma pequena parcela de terreno em Gaylordsville e mandou construir uma casinha com três quartos. Antes de partir para o Connecticut, Florie decidira usar o seu nome de solteira e, daí em diante, passou a ser conhecida como Florence Elizabeth ChandIer. A Sr.- Maybrick deixara de existir. Enquanto Florie cumpria a pena, muitos dos que tinham intervindo de forma tão proeminente na sua vida tentavam, à sua maneira, fugir ao que o destino lhes reservara. Quando Alexander MacDougalI publicou o seu estudo sobre o caso, após a condenação de Florie, dedicou o prefácio a Bobo e Gladys: "Esta obra é dedicada a James Chandler Maybrick, de 8 anos de idade, e a Gladys Evelyn Maybrick, de 4, pelo autor, com a sincera esperança de que lhes permita sentir, ao longo das suas vidas, que a palavra 'MÃE' não é um 'som impróprio para ser ouvido ou pronunciado' por eles e de que, quando tiverem idade suficiente, compreendam este registo dos factos e circunstâncias relacionados com a acusação e o julgamento de Florence Elizabeth Maybrick, de 27 anos. Assim, esperamos que os seus filhos possam ter, ao longo das suas vidas, o conforto de sentir que a sua mãe não foi considerada culpada do homicídio de seu pai, JAMES MAYBRICK." Não funcionou. Florie nunca mais viu os filhos. James e Gladys foram viver para Londres, com o Dr. Fuller e a mulher, a quem pagavam 100 libras anuais para cuidarem deles. Durante 215 os primeiros anos que Florie passou na prisão, Thomas Maybrick enviava-lhe pelo correio, todos os anos, fotografias das crianças. Mas quando o jovem James atingiu a idade suficiente para lhe ser contada a tragédia dos seus pais, reagiu mal. Adoptou o nome Fuller e deu instruções ao tio Thomas para não enviar mais fotografias a sua mãe. Isso despedaçou o coração de Florie; sentiu-se como se os filhos tivessem morrido. "Os inocentes - os meus filhos -, um deles uma bebé de 3 anos e o, outro um rapaz de 7, deixara-os para trás, no mundo", escreveu ela

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na sua autobiografia. "Haviam sido ensinados a acreditar que a mãe era culpada e, tal como o pai, estava morta para eles. Cresceram até à idade da razão usando outro nome. Não sei nada deles. Quando o pathos de tudo isto tocar o coração do leitor, compreenderá a tragédia do meu caso. " Em 1893, Michael Maybrick dedidiu romper com as recordações do passado. A sua popularidade como cantor desvanecera-se após o caso Maybrick e, por isso, foi viver para a ilha de Wight. Nessa altura, presumivelmente por uma questão de decência, casou com a sua governanta de longa data, Laura Withers. Não se tratava de uma união de amor; não tinham nada em comum e nunca passaram sequer as férias juntos. Mas Laura era suficientemente feliz conduzindo a sua carruagem com monograma até às lojas, para dar aos comerciantes locais o prazer de afirmarem que a mulher do presidente da Câmara era sua cliente. Michael convenceu também o seu irmão Edwin a abandonar a vida de solteiro. Em 1892, aos 41 anos, Edwin casou-se com Arny Tyrer e tiveram uma filha, também chamada Amy. Muitos anos mais tarde, a filha Arny descreveu o pai com estas palavras: "Era, no fundo, um perfeito solteirão. Todos os seus amigos eram solteiros. Alguns eram americanos e todos eram solteiros. O pai costumava convidá-los para jantar, à noite, mas nunca havia mulheres com eles. Na Páscoa, ia passear de carro com os seus amigos homens. Fazia-me sentir uma filha indesejada. Nunca foi terno. Muitas vezes, levei murros nas orelhas! " Nessa altura, Gladys e o jovem James estavam a crescer e tinham deixado Londres para irem viver com o tio, na ilha de Wight. A jovem Arny Maybrick também passava lá o Verão, de vez em quando. Temia essas visitas. <@Todos os Maybrick eram frios, muito formais." 216 Em 1911, James Fuller tinha 28 anos e trabalhava como engenheiro de minas na Colúmbia Britânica. Estava noivo de uma rapariga local e, aparentemente, liberto da nuvem que ensombrara a sua infância. A 10 de Abril, enquanto estava a trabalhar sozinho no seu laboratório, telefonou à noiva. Foi a última vez que esta falou com ele. Mais tarde, James foi encontrado morto no laboratório. Ao que parece, confundira um copo de cianeto com água. O veredicto foi morte acidental. Quando deram a notícia a Florie, esta disse, amargamente: <@Não tenho filho. O passado morreu. Para mim, o rapaz já estava morto há mais de vinte anos." Gladys Maybrick casou com um oficial de marinha, o capitão Frederick Corbyn, cuja família o deserdou de imediato por causa do nome Maybrick. Gladys e o marido decidiram não ter filhos. A vergonha do passado era grande de mais. "Não há nenhum Maybrick, só Fuller", disse ela. Os Corbyn mudaram-se para o País de Gales, onde ninguém, nem sequer os seus amigos mais intimos e vizinhos, se apercebera de quem era Gladys Corbyri até à sua morte, em 1971. Que se passou com Alfred Brierley? Os livros contam histórias diferentes. Alguns dizem que emigrou para o Norte de África; outros, que morreu na América do Sul. Alguns anos depois de ter sido libertada da prisão, Florie concedeu uma entrevista exclusiva e dolorosa ao Liverpool Post and Echo em que admitiu que, durante os anos de detenção, era animada pelas recordações de Alfred. "Fui suficientemente louca para pensar que poderia encontrar a felicidade com o homem que me oferecia o amor que o meu marido me negava... Amarga, amarga foi a minha desilusão. O homem por quem sacrificara tudo esquecera-me durante os anos em que eu estivera a tentar manter o meu coração jovem, na prisão, para ele." A verdade acerca de Brierley torna ainda mais pungentes as palavras de Florie. Foi efectivamente para a América do Sul. Existe uma carta escrita por ele, na Venezuela, dirigida a John Aunspaugh, em que reflecte pesarosamente: "As mulheres conseguem ser o demónio connosco, homens, e é certo que uma cara bonita pode conduzir um homem ao inferno."

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Brierley regressou a Inglaterra, casou-se, teve um filho e viveu em Hove, Sussex. Está enterrado no lindo adro da igreja de St Mary, na 217 vila de Newick, perto de South Downs. Na sua pedra tumular lêem-se estas palavras, cobertas de musgo: "E um semeador passou." A citação bíblica utilizada como seu epitáfio continua: "... e algumas das sementes caíram em terreno pedregoso." O corpo de George Davidson, o amigo mais chegado de Maybrick, foi encontrado afogado numa árida extensão de costa em Silecroft, perto de Whitehaven, Cumbria, em Março de 1893. Fora dar um passeio numa noite de tempestade no mês anterior e não fora visto desde então. A notícia publicada nos jornais sobre a sua morte diz: "Queixava-se de não conseguir dormir. Levantava-se frequentemente de noite e ia dar um passeio. " Tal como no caso de James Fuller, o veredicto foi morte acidental, mas a pergunta mantém-se: o peso da associação com o nome Maybrick seria uma carga demasiada? Na verdade, conheceria Davidson o segredo terrível do seu amigo? Edwin Maybrick morreu em 1928, deixando apenas 39 libras, 1 xelim e 8 dinheiros. O seu funeral custou 5 libras, 7 xelins e 8 dinheiros. O primo William Maybrick, que fornecera drogas a James, morreu em Outubro de 1888, no asilo de Liverpool. E, em 1927, foi confirmado o óbito de Sarah Ann Maybrick, de demência senil, no Tcoting Bec Hospital, em South London. Florie voltou pelo menos uma vez a Inglaterra. Em 1927, viajou para Liverpool e foi, caso espantoso, ao Grand National, na vizinha Aintree. Passou pelo escritório de Edwin, mas este não estava e não fez qualquer tentativa para a contactar. A filha, Amy, recordou o seu alívio por se não ter encontrado com ela. Florie passou o resto da sua vida na pequena cidade do Connecticut para onde fora trabalhar como governanta. O emprego não durou muito e, quando o pequeno rendimento que recebia com regularidade deixou de ser suficiente, encontrou finalmente a bondade que fugira dela durante grande parte da sua vida. Os vizinhos e alunos da vizinha South Kent School for Boys garantiam-lhe o fornecimento de mercearias e outros artigos. Com o passar dos anos, Florie ficou cada vez mais fechada em casa e, como era notado facilmente por quem passava, cada vez mais excêntrica. A sua casinha estranha tinha cinco portinhas nas paredes para 218 permitir o fácil acesso dos seus gatos, que, segundo várias fontes, iam de 17 a 75. Quando mal tinha dinheiro para se sustentar, assegurava-Se de que tinha dois quartilhos de leite por dia para alimentar os seus companheiros esfomeados, o tipo de preocupação que dificilmente seria de esperar por parte de uma mulher que, tantos anos antes, fora condenada por um embrulho com a etiqueta "Arsénico. Veneno para gatos". A "Senhora dos Gatos", como se tornou conhecida na terra, conseguiu viver no anonimato os últimos anos da sua existência. Ninguém sabia quem era, embora pudessem ter adivinhado que era uma senhora, pelo seu porte. E Florie nunca contou a ninguém - pelo menos, com palavras. Quando deu um vestido de renda preta a Genevieve Austin, deixou inadvertidamente a etiqueta da lavandaria que dizia: "Sr a Florence E. Maybrick." Durante cerca de vinte anos, a Sr.- Austin manteve em segredo a identidade de Florie. Foi apenas aquando da morte da sua vizinha excêntrica que avisou os jornais do segredo que partilhava involuntariamente.

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Florie foi encontrada morta a 23 de Outubro de 1941, aos 79 anos. Embora tivesse sido libertada da prisão quase 40 anos antes, cumprira mesmo assim uma pena perpétua. Só conseguiu esconder, -se do escândalo que a companhava por toda a parte tornando-se uma reclusa cujos únicos amigos eram os gatos. Mas nunca iria conseguir escapar. A morte de Florence Elizabeth Chandler Maybrick foi noticiada em muitas primeiras páginas - a história de uma mulher jovem condenada por ter assassinado o marido voltava a ser notícia. No início de julho de 1881, duas semanas antes do seu casamento com Florie, foi concedido um brasão a James Maybrick, pelo antigo College of Arnis, de Londres. Custou-lhe 76 libras e 10 xelins, que equivaleriam hoje a 3200 libras. As armas mostram um gavião, que, em heráldica, simboliza força. No bico, tem um raminho de pilriteiro, que, em inglês, é mais conhecido como may. Tratavase de um jogo deliberado com o seu apelido, da autoria de Maybrick, o autor de adivinhas. Entre todas as mensagens que Jack, o Estripador, poderia ter decidido mandar-nos através dos anos, à luz da descoberta do diá, 219 rio, a verdade da divisa que se encontra sob o brasão é incontestável: TEMPUS OMNIA REVELAT (O tempo desvenda tudo) O brasão de família de James Maybrick POSTSCRIPTUM DO EDITOR DESCOBRIU-SE UM RELóGIO Em Junho de 1993, recebi um telefonema de um guarda de segurança, semi-reformado, de um colégio que residia em Wallasey, do outro lado do rio Mersey, em frente a Liverpool. Disse-me que estivera a ler as especulações, no jornal Liverpool Post, de que Jack, o Estripador, iria ser identificado, neste livro, como sendo James Maybrick. Explicou que era o proprietário de um relógio de bolso, em ouro, e que a superfície da tampa interior em frente ao mecanismo tinha inscritas a assinatura de "J. Maybrick" e as palavras "Sou Jack". Gostaria de o examinar? Pedi-lhe que, primeiro, me escrevesse descrevendo as circunstâncias em que ficara de posse do relógio e o que conseguia ver nele. Este cavalheiro honesto e sincero, Albert Johnson, e o seu irmão, Robert, vieram ao meu escritório de Londres com o relógio e um recibo, datado de 14 de julho de 1992, da Joalharia Stewart, em Waliasey, Cheshire, que lho vendera. Mais tarde, a dona da joalharia certificou por escrito que estivera em poder de seu pai durante pelo menos cinco anos, antes de o pôr em exposição na loja. A primeira notícia dos jornais a fazer a ligação entre James Maybrick e o Estripador apareceu a 23 de Abril de 1993. Havia apenas duas explicações racionais. O relógio fazia parte de uma conspiração sofisticada recente que produzira tanto o diário como as inscrições existentes no relógio; ou estava a olhar para uma segunda confissão de James Maybrick de que era Jack, o Estripador. O que vi no relógio pode ser visto nas duas fotografias que reproduzimos no primeiro conjunto de ilustrações. Reparei que a assinatura de Maybrick era muito semelhante à assinatura conhecida constante do 221 seu assento de casamento. O "k" é muito característico. Reconheci também o "M" maiúsculo de Maybrick, com a primeira metade da letra mais baixa do que a segunda metade, tanto no assento de casamento como no diário; e também nas duas iniciais inscritas na parede por detrás do corpo retalhado de Mary Jane Kelly, claramente visíveis na fotografia da polícia tirada na altura. O @<c" em "Sou Jack" estava obscurecido por um parafuso da tampa do relógio, mas o resto da confissão era legível; e, garatujadas aleatoriamente, encontravam-se as iniciais das cinco prostitutas assassinadas pelo Estripador em Whitechapel WN, AC, ES, CE e

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MK). Também eram visíveis: a marca do fabricante (RS); o contraste do ouro de 18 carates (a marca de qualidade que se encontrava noutra parte do relógio determinava a data de 1846); e havia outras gravações, incluindo o ri.- 1275 e um "H" cursivo seguido de 9/3, que foram identificados mais tarde como inscrições "Sobrepos, tas" aos arranhões originais. Encorajados pela minha resposta positiva, os dois irmãos levaram o seu relógio a um dos peritos em metalurgia mais importantes deste país, S. Turgoose, assistente no Corrosion and Protection Centre, um departamento de pós-graduação do Instituto de Ciência e Técnologia da Universidade de Manchéster (UMIST). Utilizando a análise por raios X num microscópio electrónico, o Dr. Turgoose encontrou partículas de latão no "A" de AC e no "K" de MK que <@parecem ter provindo da ferramenta de gravação. Uma característica destas partículas é que parecem ter superfícies corroídas, e isto também pode sugerir que passou algum tempo significativo desde que foram depositadas." Agora, passo a citar integralmente as espectaculares conclusões do Dr. Turgoose, constantes do seu relatório de Agosto de 1993. "Com base nas provas acima, sobretudo a ordem por que foram feitas as marcas, é claro que as gravações são anteriores à grande maioria dos arranhões da face superficial [todos examinados]. O desgaste evidente em muitas das gravações, evidenciado pelos cantos arredondados das marcas e pelo 'apagamento' em alguns locais, seria indicativo de uma antiguidade substancial das gravações. A idade verdadeira poderia depender do regime de polimento e limpeza utilizado e qualquer definição do número de anos tem um grande grau de incerteza e, em certa medida, deve continuar a ser especulação. Apresentadas estas ressalvas, seria de opinião de que é provável que as gravuras datem de há dezenas de anos, e possivelmente muito mais. 222 No entanto, embora não haja provas que possam indicar uma origem recente [dos últimos anos] das gravações, deve reiterar-se que não existem características observadas que provem de forma conclusiva a idade das gravações. Poderiam ter sido produzidas em tempos recentes e envelhecidas deliberadamente e de forma artificial mediante um processo complexo de fases múltiplas, utilizando uma grande variedade de diferentes ferramentas,, com fases intermédias de polimento de estádios artificiais de desgaste. No entanto, muitas das características observadas só são decifradas pelo microscópio electrónico, e não aparecem no microscópio óptico e, por isso, se fossem de origem recente, o gravador teria de estar consciente das provas potenciais que poderiam obter-se mediante essa técnica, o que implicaria um conhecimento considerável em termos técnicos e científicos." Numa conversa que mantive com o Dr. Turgoose, ele confirmou que não encontrara nada que contradissesse a opinião de que as gravações originais se adequavam à data de 1888-1889. A implicação importante é que se elas têm pelo menos "dezenas de anos", então a prova do relógio exclui por si só uma falsificação moderna. A autenticação das gravações do relógio apenas duas semanas antes de as máquinas começarem a imprimir esta edição foi mais um acontecimento notável na história extraordinária do diário. Aqui, de uma fonte independente, chegava uma ainda mais forte corroboração de que o diário era genuíno. ROBERT SMITH Smith Gryphon Publishers FAC,SÍMILE DO ORIGINAL DO DIÁRIO DE JACK, O ESTRIPADOR

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289 TRANSCRIÇÃO DO DIÁRIO DE JACK, O ESTRIPADOR o que têm reservado para eles eles parariam neste instante. Mas eu desejo isso? Sofrerão tanto como eu. Vou certificar-me disso. Recebi uma carta de Michael talvez vá visitá-lo. Tenho de chegar a um tipo qualquer de decisão a respeito das crianças. Desejo paz de espírito mas acredito sinceramente que esta não chegará até ter conseguido a minha vingança em relação à puta e ao proxeneta. Vaca louca, tenho a certeza de que combinou um encontro com ele em Whitechapel. Assim seja, estou firmemente decidido. Tomei um refresco na Poste House e foi aí que decidi finalmente que será em Londres. E por que não, não é o local ideal? Na verdade não visito eu frequentemente a Capital e na verdade não tenho uma razão legítima para o fazer. Todas as que vendem as suas sujas mercadorias pagarão, disso não tenho dúvidas. Mas pagarei eu? Penso que não, sou demasiado esperto para isso. Como sempre as minhas mãos estão frias, mas acredito que o meu coração está ainda mais frio. A minha muito querida Gladys está doente uma vez mais, preocupa-me tanto. Estou convencido de que há uma sombra negra por cima da casa, é o mal. Estou a ficar cada vez mais farto de pessoas que me perguntam constantemente a respeito do estado da minha saúde. É verdade que a minha cabeça e os braços doem de vez em quando, mas não estou preocupado, embora tenha a certeza absoluta de que Hopper pensa o contrário. Considero-o um palhaço cheio de si. Thomas pediu-me que nos encontrássemos o mais cedo possível. O negócio está florescente e por isso não tenho a menor inclinação para a questão que descreve como extremamente urgente. No entanto, vou envidar todos os esforços para satisfazer o seu pedido. O tempo passa demasiado devagar, ainda tenho de arranjar coragem para começar a minha campanha. Pensei muito e longamente na questão e ainda não 291 consegui tomar uma decisão quanto à data em que começarei. A oportunidade está lá, tenho a certeza desse facto. A vaca não tem suspeitas. O facto de pensar nele a possuí-la começa a excitar-me, talvez a deixe continuar, alguns dos meus pensamentos estão na verdade a começar a dar-me prazer. Sim vou visitar Michael durante algumas semanas, e deixá-la tirar tudo o que pode do proxeneta. Hoje à noite vou ver a minha. Posso regressar a Battlecrease e possuir a puta infiel. Duas numa noite, um verdadeiro prazer. O meu remédio faz-me bem, na verdade, tenho a certeza de que consigo tomar mais do que qualquer outra pessoa viva. Está claro na minha mente que irei provocar dor à puta esta noite. 229 Começo a julgar que é imprudente continuar a escrever, Se tenho de abater uma puta então nada conduzirá os perseguidores até mim, e no entanto há alturas em que sinto uma compulsão avassaladora de colocar os meus pensamentos no papel. É perigoso, isso eu sei. Se Smith encontrasse isto então estou acabado antes de começar a minha campanha. No entanto, o prazer de escrever acerca de tudo o que tenho pela frente, e na verdade o prazer de pensar nos actos que tenho pela frente, excita-me tanto. E que actos irei cometer. Pois como poderia alguém suspeitar de que eu fosse capaz de tais coisas, dado que não sou, como todos julgam, um homem brando, de quem se disse que não faria mal a uma mosca. Na verdade ainda no outro dia Edwin não disse a meu respeito que eu era o mais delicado dos homens que conhecera. Um cumprimento do meu querido irmão que achei extremamente lisonjeiro. 230 Decidi que a minha paciência está a esgotar-se. A vaca fez de mim parvo. Amanhã viajo para Manchéster. Vou levar o meu remédio e pensar muito na questão. Penso que o poderia fazer, embora trema com medo da captura. Um medo que vou ter de vencer. Vou obrigar-me a não pensar nas crianças. A puta, é tudo o que estará no meu espírito. Dói-me a cabeça.

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Meu Deus a minha mente está envolta em nevoeiro. Agora, a puta encontra-se junto do criador que a recebe de braços abertos. Não senti qualquer prazer enquando apertava. Não senti nada. Não sei se terei coragem para voltar à minha ideia original. Manchéster estava fria e húmida e muito semelhante a este buraco do inferno. Da próxima vez atirarei ácido para cima delas. A ideia delas às voltas e aos gritos enquanto o ácido as queima profundamente excita-me. há, que piada teria se conseguisse arrancar um olho e deixá-lo junto ao corpo da puta para todos o verem, o verem, há, há. 231 Creio que me constipei. Não consigo parar de tremer, dói-me o corpo. Há alturas em que rezo a Deus para que parem a dor e o tormento. O Verão aproxima-se o tempo quente vai fazer-me bem. Anseio pela paz mas o meu trabalho 292 está apenas a começar. Todas as putas têm de sofrer primeiro e meu Deus como as farei sofrer tal como ela me fez a mim. Edwin fez perguntas em relação a Thomas e aos negócios, informei-o de que Thomas estava bem e o negócio florescente, ambas verdades. Tenho na ideia que deveria escrever a Michael, talvez não, as minhas mãos estão demasiado frias, outro dia. Vou possuir a puta esta noite. Preciso de desviar o meu espírito dos acontecimentos da noite. As crianças estão bem. Passeei pelo caminho de acesso, encontrei a Sr.- Hammersmith, perguntou-L.Iu por Bobo e Gladys e para meu grande espanto pela minha saúde. Que foi que a puta disse? A Sr.a Hammersmith é uma puta. O ar fresco e o passeio fizeram-me bem. Por um instante consegui esquecer a puta e o proxeneta dela. Senti-me completamente repousado quando regressei ao escritório. Irei visitar Michael em junho próximo. junho é um mês tão agradável, as flores estão em botão aberto o ar é mais doce e a vida é quase certamente mais rosada anseio pela sua chegada com prazer. Muito prazer. Sinto-me compelido a escrever a Michael e quase obrigado. O meu espírito está lúcido, as minhas mãos não estão frias. Estou irritado. Estou a tentar conter a minha fúria. A puta sugeriu acompanhar-me na minha viagem a casa de Michael. Não posso deixar sob circunstâncias algumas que a puta me acompanhe, todo o meu trabalho e planos ficarão destruídos se ela o fizer. A dor foi forte hoje. Penso que a puta encontrou um dos meus frascos, fora mudado de sítio, Estou cansado e preciso de dormir a dor manteve-me acordado durante a maior parte da noite passada. Vou regressar cedo e evitar completamente a puta. Fui ao meu clube. George afirmou que nunca me vira de melhor saúde. Penso que a puta mudou de ideias. Os meus pensamentos estão a tornar-se cada vez mais ousados, imaginei fazer todo o tipo de coisas. Poderia comer parte de uma? Talvez soubesse a bacon acabado de fritar ha ha. Meu Deus isso excita-me tanto. Michael espera-me lá para o final de junho, portanto a partir de julho a minhacampanha vai ganhar ímpeto. Possuirei cada uma delas antes de as devolver ao criador, estragadas é claro, muitíssimo estragadas. Tento afastar da minha mente todos os pensamentos acerca das crianças. Sinto-me forte, mais forte do que alguma vez me senti. Os meus pensamentos continuam a voltar a Manchéster, da próxima vez isso vai excitar-me. Sei no meu íntimo que vai. Não posso compreender por que razão Willie não irá aceitar o meu convite para jantar. Não é diferente de mim, ele odeia a puta. Acredito que se houver uma oportunidade derrubarei St James com o fogo. amanhã vou fazer uma aposta substancial. Sint" e com sorte. 293 234 Se tivesse podido matar o filho da mãe do Lowry com as minhas mãos nuas ali naquele preciso momento tê-lo-ia feito, Como se atreve a fazer-me perguntas sobre qualquer assunto, sou eu que devia fazer-lhas. Maldito maldito maldito. deveria repor os artigos que desapareceram? Não isso

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seria um risco demasiado grande. Deveria destruir isto? Meu Deus vou matá-lo. Não lhe dar razões e ordenar-lhe que encerre de imediato o assunto é penso a única via a seguir. Vou obrigar-me a pensar em algo mais agradável. A puta vai sofrer mais do que sofreu até hoje esta noite, esse pensamento revigora-me. junho está a chegar ao fim estremeço de exciração. 235 Tomei demasiado os meus pensamentos não estão onde deveriam estar. Lembro-me pouco dos acontecimentos de ontem. Graças a Deus que parei a tempo. Vou mostrar a minha ira para com o filho da mãe de tal forma que ele vai desejar nunca ter levantado a questão. Ninguém, nem sequer o próprio Deus me retirará o prazer de escrever os meus pensamentos. Vou pegar na primeira puta que encontrar e mostrar-lhe o verdadeiro aspecto do inferno. Penso que vou espetar uma bengala no túmulo da vaca puta e deixá-la lá para que todos possam ver quanto ela conseguia aguentar. Dói-me a cabeça, Deus não tem o direito de me fazer isto diabos o levem. 236 Corno consegui controlar-me não sei. Não tomei em consideração o material vermelho, galões segundo os meus cálculos. Algum dele terá de me salpicar. Não posso permitir que as minhas roupas fiquem ensopadas com sangue, não podia explicar isso a ninguém muito menos a Michael. Por que razão não pensei nisso antes? Amaldiçoo-me. A luta para me deter era avassaladora, e se não tivesse pedido a Michael para me fechar no meu quarto por medo do sonambulismo, coisa para que disse ter tido propensão recentemente, não foi inteligente?, podia ter feito os meus actos sujos nessa precisa noite. Arrendei um quartinho na MiddIesex Strect, que em si mesma é uma piada. Na verdade é a localização ideal. Percorri as ruas a pé e fiquei mais do que familiarizado com elas. Disse que seria Whitechapel e Whitechapel será. A vaca e o seu proxeneta vão arrepender-se do dia em que os vi juntos pela primeira vez. Disse que sou esperto, muito esperto. Whitechapel Liverpool Whitechapel Londres, ha ha. Ninguém poderia ligá-las. E na verdade não há razão para quem quer que seja o fazer. Da próxima que viajar para Londres vou começar. Não tenho dúvidas, a minha confiança é elevadíssima. Estou excitado ao escrever isto, a vida é doce, e o meu desânimo desapareceu. Da próxima vez é certo. Ninguém suspeitará alguma vez. Amanhã, vou comprar a melhor faca que é possível comprar, nada será bom de mais para as minhas putas, vou tratá-las com o melhor, o melhor dos melhores, merecem isso pelo menos de mim. 294 Mostrei a todos que estou a falar a sério, o prazer foi muitíssimo melhor do que imaginara. A puta estava demasiado desejosa de fazer o seu serviço. Lembro-me de tudo e excita-me. Não houve grito quando cortei. Fiquei mais do que irritado quando a cabeça não saiu. julgo que precisarei de mais força da próxima vez. Golpeei-a profundamente. Lamento não ter a bengala, teria sido um prazer enterrá-la com força nela. A puta abriu-se como um pêssego maduro. Decidi que da próxima vez vou tirar tudo para fora. O meu remédio dar-me-á força e o pensamento da puta e do seu proxeneta vai espicaçar-me sem dúvida. A espera para ler acerca o meu triunfo pareceu longa, embora não fosse. Não estou desiludido, todos escreveram bem. Da próxima vez vão ter muito mais sobre que escrever, desse facto não tenho a menor dúvida ha ha. Vou manter-me calmo e não mostrar interesse pelo meu acto, se alguém se referir a ele, mas rirei por dentro, oh como rirei. Não vou deixar passar muito tempo antes da próxima. Na verdade preciso de repetir o meu prazer o mais cedo possível. O proxeneta pode possuí-Ia com prazer e eu terei o meu prazer com os meus pensamentos e actos. Serei esperto. Não irei a casa de Michael aquando da minha próxima visita. Os meus irmãos ficariam horrorizados se soubessem, sobretudo Edwin, afinal não disse ele que eu era um dos homens mais delicados que jamais conhecera, Espero que esteja a gozar os frutos da América. Ao contrário de mim, já que tenho um fruto azedo.

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Não consegui resistir a referir o meu acto a George. Fui esperto e levantei o assunto dizendo que sorte tínhamos por não haver assassinos daquele tipo nesta cidade. Na verdade ele prosseguiu dizendo, que pensava que tínhamos a melhor força policial do país, e embora tenhamos o nosso quinhão razoável de problemas o mulherio pode passear pelas ruas com segurança. E podem na verdade porque não vou jogar os meus joguinhos engraçados à porta de minha casa. ha ha O homem delicado com pensamentos delicados atacará de novo em breve. Nunca me senti melhor, de facto, estou a tomar mais do que nunca e posso sentir a força a acumular-se dentro de mim. A cabeça vai sair da próxima vez, e também as mãos da puta. Deverei deixá-las em vários locais espalhados por Whitechapel? Procurem a cabeça e as mãos em vez da carta da vermelhinha. ha ha. Talvez leve alguma parte comigo para ver se sabe mesmo a bacon acabado de fritar. A puta viu o chulo hoje não me incomodou. Imaginei que estava com eles, o mero pensamento excita-me. Pergunto-me se a puta terá tido alguma vez pensamentos destes? julgo que sim, não gritou quando exijo toma outro. A puta. Vai sofrer mas ainda não. Amanhã viajo para Londres. Decidi que não posso esperar mais. Anseio pelo trabalho de amanhã à noite, vai fazer-me bem, um enorme bem. 295 240 Uma puta suja andava à procura de algum ganho Outra puta suja andava à procura do mesmo. 241 Não sou esperto? Concebi o meu poemazinho engraçado durante a minha viagem para a Cidade das Putas. Fiquei furioso comigo quando descobri que me esquecera do giz. Tão furioso na verdade que voltei junto da puta e cortei mais. Trouxe um pedaço comigo. Está à minha frente. Tenciono fritá-lo e comê-lo mais tarde ha'ha. O mero pensamento abre-me o apetite. Não posso interromper a excitação de escrever. Abri-a toda meu Deus terei de deixar de pensar nas crianças distraem-me tanto abri-a toda 242 Precisei de três dias para me recompor. Não vou sentir-me culpado é a vaca puta que tem a culpa não eu. Comi-o todo, não sabia a bacon acabado de fritar mas gostei mesmo assim. Era tão doce e agradável. Deixei aos estúpidos loucos uma pista que tenho a certeza de que não vão solucionar. Uma vez mais fui esperto, muito esperto, Um p_;w] É9u dp-is; d_eixarãe esta pis@a 1-4ma pílula que é verdade@ffl M ¥ai apanhar- Sir- jiffi sem pílulas dois farthings, duas pílulas o M da puta anéis Pensa 243 Vou conseguir, se Michael consegue fazer versos então eu posso fazer melhor, muito melhor ele não vai fazer melhor que eu. Pensa, louco, pensa. Amaldiçoo Michael por ser tão esperto, vou ultrapassá-lo, vou fazer por isso. Um versinho engraçado vai aparecer. Paciência é preciso paciência. A noite é comprida, o tempo está nas minhas mãos. As pílulas são a resposta acabam as pílulas. Na verdade não é que eu sempre oh que piada sempre com os anéis, uma anel, dois anéis 296 puta, demorei um bocado até os conseguir tirar. Devia tê-los enfiado pela garganta abaixo da puta. Meu Deus gostava de ter conseguido tirar a cabeça. Odeei-a por os usar, lembra-me demasiado a puta. Da próxima vez vou escolher uma puta que não tenha nenhum. A puta não valia os farthings. Voltar, voltar, essencial voltar. Provar que se não é louco. Um anel, dois anéis, Um farthing um e dois Sir- jiffi vai seA letra M é ¥er-dadeir-a juntamente com M ha ha Apanhará o esperto Jim, É verdade Peixeu duas Nenhuma pílula, ficou a não ser duas Um

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anel, dois anéis um farthing, um e dois, juntamente com M ha ha Apanhará o esperto Jim é verdade. Nenhuma Pílula, ficou a não ser duas. Não sou mesmo um tipo esperto? Faz-me rir eles nunca irão compreender por que fiz assim. Da próxima vez vou lembrar-me do giz e escrever o meu versinho engraçado. Os olhos vão ser arrancados à próxima. Vou enfiá-los na boca da puta. Isso irá certamente dar-me prazer, já o faz enquanto escrevo. Esta noite vou ver a minha, ela vai ficar contente visto que serei delicado com ela como na verdade sou sempre. Ainda estou a pensar em queimar St James de cima a baixo. Posso fazêlo aquando da minha próxima visita. Isso dará aos loucos algo mais em que pensarem. Estou a começar a pensar menos nas crianças, uma parte de mim odeia-me por o fazer. Um dia Deus vai responder-me, assim ele me ajude. Michael teria orgulho no meu versinho engraçado dado que conhece bem de mais a arte de versejar. Não é que provei que posso escrever melhor do que ele. Sinto vontade de Festejar, a noite foi comprida e vou recompensar-me com os prazeres da carne, mas não vou estar a cortar ha ha. Vou guardar a excitação para outro dia. A puta está endividada. Muito bem honrarei as contas da puta mas as putas vão pagar mais do que nunca. Li tudo acerca dos meus actos e fiquei orgulhoso, tive de rir, descreveram-me como canhoto, um médico, um magarefe e um judeu. Muito bem, se pretendem insistir em que sou um judeu então judeu serei. Por que não deixar sofrer os Judeus? Nunca gostei deles, há demasiados na Bolsa para o 297 meu gosto. Não conseg@i parar de rir depois de ter lido a Punch lá à vista de toda a gente estavam as três primeiras letras do meu apelido. São cegos como dizem. 246 "Dá três volt2@, E apanha quem PUDE@ES (MAY)" ha ha ha ha b@ ha Não posso parar d@ rir diverte-me tanto por isso deverei escrever-lhes uma pista. Maio vem e vai, este Maia Na escuridão da neite Agf-aEla Quando vem e vai Com um anel no Reu dedo e uma faca na mão Es@e Maie-veffl-e-v@i Maio vem e vai Na escuridão da neite agf:ada ffiesffle à f"as que beija ele beija as putas depois dá-lhes um @rrepio 247 Maio vem e vai na escuridão da noite beija as putas depois dá-lhes um @rrepio Com um anel no meu dedo e uma faca na mão Este Maio espalha Actos Violentos (Mayhem) Per-tede ' 1 por todo este belo baís 248 @)s jtiàeus-@@ Os juàetis__@@ Os Médicos e judet@s ffiett vão ficar com a culpa toda - culpa - domar mesmo - jogo o seu jogo sujo May a jogar Os Médiees Os judeus e os médicos 298 Vão ficar com a culpa toda Mas é apenas Maio a jogar o seu jogo sujo Ele "ãe @-,-.ffR-fflafá ttffia lágr-iffiamatará todas as as putas e não verterá uma lágrima @. 1 a i al a r- 11 : @ e _'-@ u.. Vou dar-lhes uma pista mas nada demasiado claro Vou matar todas as putas e não derramarei uma lágrima. Maio vem e vai na escuridão da noite Beija as putas e dá-lhes um arrepio Os Judeus e os Médicos vão ficar com a culpa toda Mas é apenas Maio a jogar o seu jogo sujo Vou dar-lhes uma pista mas nada demasiado claro Vou matar todas as putas e não verterei uma lágrima Com um anel no meu dedo e uma faca na mão Este Maio espalha Actos Violentos por todo este belo país.

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Lembram-me galinhas com as cabeças cortadas a correrem loucos sem cabeça, ha ha. É agradável rir dos filhos da mãe e dos loucos e na verdade eles são loucos. Preciso de muito mais prazer do que aquele que tive. Estranho sinto as minhas mãos mais frias do que já estiveram até hoje. Estou a travar uma batalha dentro de mim. O meu disejo de vingança é avassalador. A puta destruiu a minha vida. Tento sempre que possível manter todo o sentido da respeitabilidade. Preocupo-me tanto com Bobo e Gladys, mais ninguém tem importância. Esta noite vou tomar mais do que nunca. Sinto saudades da excitação de as abrir. Acredito mesmo que perdi o juízo. Todas as putas vão pagar pela dor. Antes de ter terminado toda a Inglaterra conhecerá o nome que dei a mim próprio. Na verdade é um nome para recordar. Estará, dentro de pouco tempo, 299 nos lábios de todas as pessoas deste país. Talvez sua Majestade sereníssima se habitue a ele. Pergunto-me se me concederá um pariato. ha ha. Abberline diz, nunca esteve espantado Fiz o meu trabalho com tanta honra Por decreto seu, 251 teve de concordar, eu mereço pelo menos uma honra por isso tudo por um capricho, Posso agora levantar Sir Jim - não consigo pensar noutra palavra para pôr ao lado de Jim. Gosto de que as minhas palavras rimem caramba. É tarde, a minha está à espera, vou gostar desta noite. Vou ser delicado e não dar a entender nada. Sinto saudades do Edwin. Apenas recebi uma carta dele desde a sua chegada ao país da puta. A puta cada vez me irrita mais a cada dia que passa. Se pudesse acabava com tudo. Visitei a campa da minha mãe e do meu pai. Anseio por me juntar a eles. Penso que eles conhecem a tortura a que a puta me está a submeter. Gosto da excitação de pensar em tudo o que fiz. Mas houve, apenas uma vez, remorso pelos meus actos. Afastei imediatamente o remorso. A puta continua a julgar que não sei nada acerca do proxeneta dela. Pensei em matá-lo, mas se o fizesse seria apanhado certamente. Não desejo isso, malditos sejam ele e a puta a hora deles chegará. 252 Para meu espanto não consigo acreditar que não tenha sido apanhado. O meu coração parecia ter-me saído do peito. No meu pânico imaginava o meu coração aos baldões pela rua comigo a segui-lo em desespero. Teria gostado muito de cortar a cabeça do maldito cavalo e enfiá-la para o fundo da garganta da puta. Não tive tempo para abrir a puta de par em par, amaldiçoo a minha pouca sorte. Penso que a excitação de ser apanhado me excitou mais do que cortar a própria puta. Enquanto estou a escrever acho difícil de acreditar que ele me não tenha visto, segundo os meus cálculos estava a pouco mais de um metro dele. O parvo entrou em pânico, foi isso que me salvou. A minha satisfação estava longe de ser total, maldito filho da mãe, amaldiçoei-o e amaldiçoei-o, mas fui esperto, não conseguiram exceder-me. ~Ninguém o fará. No quarto de hora seguinte encontrei outra puta suja desejosa de vender a sua mercadoria. A puta tal como as outras estava mais do que desejosa. A excitação que me deu era diferente da das outras, cortei fundo fundo fundo. O nariz dela aborrecia-me por isso cortei-o, atirei-me aos olhos dela, deixei a minha marca, não consegui cortar a cabeça da puta. Penso agora que é impossível fazê-lo. A puta nunca gritou. Trouxe comigo tudo o que pude. Estou a guardar os bocados para uma hora de aflição ha ha. 253 Talvez mande a Abberline e Warren uma amostra ou duas, caem bem com um porto a seguir ao jantar. Pergunto-me quanto tempo se vai manter? Da próxima vez talvez guarde algum do material vermelho e o envie com os cumpri300 mentos deste vosso criado. Pergunto-me se teriam gostado da minha gracinha judia? Amaldiçoo a minha pouca sorte não tive tempo para escrever uns versinhos engraçados. Antes da minha próxima vou enviar à Central outra para me fazer lembrado. Meu Deus a vida é doce. Vou dar-lhes algo para que saibam que sou eu.

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Vermelho - cabeça cavalo. gritou cheirei o hálito. Eu eer-@ei ffiesffle a e4e@a ffiald4R gr4ei, àaí @iR"s:p p';C-An@i fflp ea,,,ale passeu e assHstett se Com uma rosa para se coadunar com o vermelho tentei cortar a cabeça Maldito gritei, O cavalo passou e assutou-se Mas ainda conseguia cheirar o seu hálito perfumado Sir Jim, caixa de fósforos de lata vazia depressa a ffl_i4:@hR íRpA * faea àa puta * primeira puta não prestava Uma puta não prestava decidiu Sir Jim atacar outra Não mostrei medo e na verdade nem luz diabo, a caixa de lata estava vazia 11 chá e açúcar fera, paga, disse ffiesffie a mim, pede, sê ebá e a@úear- pagar-affi o ffieti pr-eçe Doce açúcar e chá, podiam ter pago a minha pequena taxa ha ha en@ãe eu @ugi Mostrei a minha satisfação Um rim para a ceia 301 255 Doce açúcar e chá podiam ter pago a minha pequena taxa Mas em vez disso fugi e de caminho mostrei a minha satisfação Comendo rim frio à ceia filho da mãe Abberline .O chapéu esconde todas as pistas esperto dir-vos-ei mais 256 O Sr-. engr-açade Oh o Sr. Abberline, é um homenzinho esperto esconde tudo o que pode. Mas ei-i sei ffiais. Por saber mais, na verdade eu sei não lhe deixei uma pista muito boa Nada é mencionado, disso tenho a certeza perguntem ao esperto Abberline, ele sabe ffiesffi Oh o Sr. Abberline, é um homenzinho esperto esconde tudo o que pode. Porque não sei eu mais, na verdade sei não lhe deixei uma pista muito boa. Nada é mencionado, disso tenho a certeza, perguntem ao esperto Abberline, podia contar-vos mais IV Sir Jim tropeça no medo tem-no perto expia-o perto caso rápido 257 Ele pensa que vou tropeçar mas não tenho medo Não posse expiá !e REt',Ii Dado que não poderia èxpiá-lo aqui 302 deste facto certo, podia enviar-lhe rapidamente se ele exigir que seja esse o caso. Não sou um tipo esperto Isso deveria fazer rir os louco, foi o que me fez, pergunto-me se terão gostado 257 do nome que dei? Disse que estaria nos lábios de todos, e está mesmo. Penso que vou mandar outra. Incluir os meus versinhos engraçados. Isso vai convencê-los de que estou a contar a verdade. Esta noite vou festejar bebendo e jantando com George. Estou bem disposto, penso que vou dar à puta o prazer do seu proxeneta, observarei que uma noite na cidade lhe vai fazer bem, vou sugerir um concerto. Não tenho dúvidas de que a carruagem vai levar a vaca directamente para ele. Ett 4-4 Eu irei dormir pensando no que eles estão a fazer. Mal consigo esperar pela excitação. Com uma rosa para se coadunar com o vermelho tentei cortar a cabeça. Diabo gritei, o cavalo passou e assustou-se, daí em diante escondi-me, mas ainda conseguia sentir o cheiro do seu hálito docemente perfumado Uma puta não prestava, decidiu Sir Jim atacar outra. Não mostrei medo, e na verdade sem luz. Diabo, a caixa de lata estava vazia Doce açúcar e chá podiam ter pago a minha pequena taxa Mas em vez disso fugi mesmo e de caminho mostrei a minha satisfação comendo rim frio à ceia

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Oh, o Sr. Abberline é um homenzinho esperto, esconde tudo o que pode. Por que não sei eu mais, na verdade sei, não lhe deixei uma pista muito boa Nada é mencionado disso tenho a certeza, perguntem ao esperto Abberline, podia contar-vos mais Ele julga que eu vou tropeçar, mas não tenho medo. Porque não poderia livrar-me disso aqui. Deste facto certo eu podia enviá-los rapidamente Se ele exigisse que fosse esse o caso. 258 259 303 259 Passou demasiado tempo desde a minha última, não tenho estado bem. Dói-Me O corpo todo. Hopper não acreditou em mim. Um dia vou vingar-me dele. A puta deu informações ao palhaço presunçoso. Tenho o hábito de tomar remédios fortes. Fiquei furioso quando a puta me contou. Tão furioso que lhe bati. ha. A puta pediu-me que não o voltasse a fazer. Se não fosse por causa do meu trabalho, teria cortado a puta ali naquele momento. Mas eu sou esperto. Embora o homem amável tenha mudado, não mostrei a minha verdadeira mão. Pedi desculpa, um caso isolado, disse, que lamentava e garanti à puta que não voltaria a acontecer. A puta estúpida acreditou em mim. 260 Recebi várias cartas de Michael. Em todas pergunta pela minha saúde e perguntou numa se o meu sonambulismo recomeçou. Pobre Michael é tão facilmente enganado. Informei-o de que não recomeçou. As minhas mãos ainda continuam frias. Vou jantar esta noite. Espero que haja rins no menu, ha ha. Vou arranjar disposição para outra incursãozinha. Vou visitar a cidade das putas em breve, muito em breve. Pergunto-me se conseguiria fazer três? Se não fosse Michael ter insistido em que jantássemos teria tentado a minha sorte nessa mesma noite. Amaldiçoei o meu irmão como nunca o amaldiçoara antes. Amaldiçoei a minha estupidez, mas não informei Michael de que já não tenho ataques de sonambulismo fui forçado a impedir-me de gozar o meu prazer tomando a dose mais elevada que já preparei. A dor nessa noite queimou-me a mente. Lembro-me vagamente de ter posto um lenço na boca para parar os gritos. Creio que vomitei várias vezes. A dor era insuportável, logo penso que tremi. Nada mais. Estou convencido de que Deus me colocou aqui para matar todas as putas, dado que o deve ter feito, ainda aqui não estou. Nada me deterá. Quanto mais tomo mais forte fico. 261 Michael tinha a impressão de que quando terminasse os meus negócios eu regressaria a Liverpool nesse mesmo dia. E na verdade fi-lo um dia mais tarde ha ha. Não tenho medo, dado que o facto não chegará ao seu conhecimento porque escreve todas as cartas para mim. Li acerca da minha última, meu Deus os pensamentos, a melhor de todas. Não deixei nada da puta, nada. Espalhei por todo o quarto, o tempo estava do meu lado, tal como com a outra puta cortei o nariz da puta, todo desta vez. Não deixei nada do rosto dela por que pudesse ser lembrada. Lembroume a puta. Tão nova ao contrário de mim. Achei engraçado quando lhe cortei as mamas, beijei-as durante uns instantes. O gosto do sangue era doce, o prazer era avassalador, terei de voltar a fazê-lo, excitou-me tanto. Deixei-as em cima da mesa com algum 304 do restante material. Pensei que era ali o seu lugar. Queriam um magarefe e por isso tirei o que pude, ri enquanto o estava a fazer. Tal como as outras putas, abriu-se como um pêssego maduro. Um destes dias levarei a cabeça comigo, vou cozê-la e servi-Ia à minha ceia. A chave e as roupas queimadas intrigam-nos ha ha... chave estripar fugir inicial chapéu lenço proxeneta fantasia olhar para a puta Mãe luz pai fogo C_~--- a 4+gi tinha a chave e com ela fugi Et,.- ffief

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o chapéu queimei porque pela luz ansiava por- Catisa àa fflãe pt1@R E pensei na mãe puta Tinha a chave * com ela fugi * chapéu queimei porque pela luz ansiava e pensei na mãe puta 1 Um lenço vermelho, conduziu à cama e eu pensei na mãe puta 11 Per-que gir- jiffi eeffi e sett eapr-iebe Um capricho de puta, Fez que Sir Jim cortasse mais fundo, mais fundo e mais fundo. fili fflp ~hiAr¥eItande para a ffiãe ptita Tudo foi Enquanto assim fiz de volta para a mãe puta 305 263 Um capricho de puta, fez que Sir Jim cortasse mais fundo mais fundo e mais fundo. Tudo foi, enquanto assim fiz de volta para a mãe puta. 264 A inieial dela lá Uma inicial aqui e uma inicial ali falariam da mãe puta. Tinha uma chave, * com ela fugi. * chapéu queimei, porque pela luz ansiava. E pensei na mãe puta Um lenço vermelho, conduziu à cama E eu pensei na mãe puta. Um capricho de puta fez que Sir Jim, cortasse mais fundo, mais fundo e mais fundo. Tudo foi, Enquanto assim fiz, de volta para a mãe puta. 265 Uma inicial aqui e uma inicial ali falarão da mãe puta. Deixei-a lá para os loucos mas eles nunca a encontrarão. Fui demasiado esperto. Deixei-a na frente para todos os olhos a verem. Deverei escrever-lhes a contar? Isso diverte-me. Pergunto se da próxima vez posso gravar o meu versinho engraçado na carne da puta? Penso que vou experimentar. Mais que não seja diverte-me. A vida é doce, muito doce. Tenho pena de não ter trazido nada comigo estamos na hora da ceia, fazia-me jeito um rim ou dois ha ha. Não consigo viver sem o meu remédio. Tenho medo de adormecer temendo que os meus pesadelos regressem. Vejo milhares de pessoas a perseguirem-me, com Àbberline à frente brandindo uma corda. Não vão ultrapassar-me tenho a certeza desse facto. já passou demasiado tempo desde a minha última, ainda desejo vingar-me da puta e do proxeneta mas menos do que o desejo de repetir a minha última proeza. Os pensamentos ainda me excitam tanto. Estou cansado e temo 306 que a cidade das putas se tenha tornado demasiado perigosa para lá voltar. O Natal aproxima-se e Thomas convidou-me para o visitar. Conheço-o bem. Decidi aceitar a sua oferta, embora saiba que o motivo que está por detrás será estritamente comercial. Thomas não pensa em mais nada para além do dinheiro ao contrário de mim, ha ha. A minha primeira foi em Manchéster por isso por que não a próxima? Se fizesse o mesmo do que com a última, isso poria os loucos em pânico, sobretudo aquele louco do Abberline. As crianças perguntam-me constantemente o que vou comprar-lhes para o Natal e fogem quando lhes digo uma faca brilhante parecida com a de Jack, o Estripador, para poder cortar-lhes as línguas e ter paz e sossego. Acredito que estou completamente doido. Nunca maltratei as crianças nestes anos desde que elas nasceram. Mas agora tenho um enorme deleite em assustá-las assim. Que Deus me perdoe. Perdi a minha batalha e continuarei até ser apanhado. Talvez devesse acabar comigo e poupar o trabalho ao carrasco. Neste momento não sinto o meu corpo, não sinto nada. Passo a vida a dizer a mim mesmo que não fiz nada errado. Foi a puta que fez, não eu. A paz de espírito chegará alguma vez? Visitei Hopper vezes de mais este mês. Vou ter de parar, porque temo que ele comece a desconfiar. Falo com ele como com mais ninguém. sir jiffl irá, Estou louco? Bengala, ganho Sir- jiffi eeffi a stia beRgala eIegaFk@e Effi @r-C'ée voltará a a@aear 4;ffia puta R-e àtIas pu@as laàe a lade, tês pu@as ffierreraffi @edas, Eltiatf:O

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Sir jiffl eer-ta MR]Jirp AIPhi-cr-I i i-i e diz que ager-a está espan@ade Sir- jiffi nãe ataeou eu@r-a Espera paeienteffiente '4affiente O Nas:R_I sA-k,a e e4apéti ffiele da puta ffialàitas as putas ffialàite Miehael Pêeffi a Sir- ffl e que lhe é @I~i44 --- ------Per-Ettie nãe teffl heffiens pfpf,-çiães 9nEtu@*nte ee@!e para e seu eseenderije. 307 268 (@;esta de eserever- eeffi a stift 1_@A~é8ffl_ a Sir jiffi e que lhe é devide Fie detesta @eàes es juàeds nãe est~ ele effi t e 269 Beijei as geijei as i--ffl geste tãe àeee Pensei àeixá ias junte aes pés da ptt@a ffias a ffiesa e4~ Ruaper isse ftt* e AL-ixei as Iâ maldito maldito maldito assim Deus me ajude a minha próxima será de longe a pior, dói-me a cabeça, mas vou continuar maldito Michael por ser tão esperto a arte de versejar está longe de ser simples. Amaldiçoo-o tanto. Abberline Abberline, ainda hei-de destruir esse louco, Assim Deus me ajude. Afastá-lo dos meus pensamentos, ainda não apanhará Sir Jim Abberline Abberline Abberline Abberline Diabos levem o filho da mãe Tenho frio amaldiçoo o filho da mãe do Lowry por me fazer esventrar. Continuo a ver sangue a jorrar das putas. Os pesadelos são pavorosos. Não posso impedír-me de querer comer mais. Deus me ajude, maldito. Não ninguém vai deter-me. Deus seja amaldiçoado. Pensa pensa pensa escreve conta a todos prova-lhes que és quem dizes ser. Fazer que acreditem que é a verdade que digo. Maldito seja ele por as criar, maldito maldito maldito, Quero cozer cozer cozer. Vê se lá os olhos saltam. Preciso de mais excitações, não consigo viver sem as minhas excitações. Vou continuar, vou continuar, nada me deterá nada. Corta Sir Jim corta. Corta fundo fundo fundo. 270 Sir jiffi ¥ai eer@á ias teias Oh difícil acasalamento da morte Afasta os pensamentos afasta-os afasta-os ha ha ha, olha para o irmão sensível Galinhas às voltas com as cabeças decepadas ha ha ha ha ha ha ha ha ha Não sou um tipo esperto enganei-os a todos, nunca saberão 308 Sir- jiffi vai eer-tá ias teias Sir jiffi passeia assiffi ake 8 i r- j i ffi f a E a s u aA- ffl-- R- à a eer-ta as a eeffl a sua faea f:@e saee vou ter de alugar uma casa quando regressar. A Middlesex Strect foi uma piada. Os loucos, várias vezes podiam ter-me apanhado se procurassem bem e como deve ser. Meu Deus não sou esperto? Na verdade sou. A minha cabeça roda tenho de encontrar de alguma forma a força para a viagem de regresso a casa. O diabo leve esta cidade, está demasiado frio para mim. Amanhã farei sofrer Lowry. O pensamento vai excitar-me durante a minha viagem de regresso a casa. Não consigo obrigar-me a olhar para trás, tudo o que escrevi me assusta tanto. George visitou-me hoje. Penso que ele sabe por que estou a passar, embora nada diga. Vejo-o nos seus olhos. Pobre George, é tão bom amigo. Michael está bem, escreve uma canção alegre. No meu coração não posso censurá-lo por o fazer. Lamento não o ver neste Natal.

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Encontrei um velho amigo na Bolsa. Senti pena por ele não ser judeu. Esquecera-me de quantos amigos judeus tenho. A minha vingança é sobre as putas e não sobre os Judeus. Penso que estou verdadeiramente contristado com o terror que lancei entre eles. Penso que é essa a razão pela qual não consigo escrever os meus versinhos engraçados. Agradeço a Deus ter tido a coragem para parar de os enviar. Estou convencido de que serão a minha ruína. Estou cansado, muito cansado. Anseio pela paz, mas sei no coração que vou continuar. Estarei em Manchéster dentro de alguns dias. Penso que me sentirei bastante melhor depois de ter repetido a minha última proeza. Pergunto-me se conseguirei melhorar os meus actos demoníacos. Vou esperar para ver, sem dúvida que pensarei nalguma coisa. O dia está a chegar ao fim, Lowry estava bem disposto. Estou contente. Lamento, tal como no caso dos meus amigos judeus, ter mostrado a minha ira. Neste próximo Natal vou arrepender-me. A vaca, a puta não está satisfeita com um proxeneta, agora anda de olho noutro. Não consegui cortar como a minha última, visões dela vinham até mim enquanto atacava. Tentei abafar todos os pensamentos de amor. Deixei-a como morta, isso sei. Não me divertiu. Não houve excitação. Descarreguei a minha fúria na puta. Bati e bati. Nao sei como parei. Deixei-a sem um tostão, não o lamento. A puta vai sofrer como'nunca sofreu. Que Deus tenha piedade dela porque eu não terei, assim me ajude. 309 273 Thomas estava de excelente saúde. As crianças gostaram do Natal. Eu não. O meu estado de espírito já não é negro, embora me doa a cabeça. Nunca me habituarei à dor. Amaldiçoo o Inverno. Anseio pelo meu mês preferido, ver as flores em botão agradar-me-ia tanto. Calor é aquilo de que preciso. Tremo tanto. Amaldiçoo este tempo e a vaca puta. O meu coração tem estado terno. Todas as putas irão sentir o gume da faca brilhante de Sir Jim. Lamento não ter dado esse nome a mim mesmo, maldito, gosto muito mais dele do que daquele que dei, 274 Sir Jim com a sua faca brilhante, corta durante a noite, e por Deus, não mostra ele o seu poder ha ha Não vai demorar muito até eu voltar a atacar. Estou a tomar mais do que nunca. A puta pode apanhar dois, Sir Jim vai apanhar quatro, um duplo acontecimento duplo. ha ha. Se estivesse na cidade das putas faria os meus actos demoníacos neste preciso momento. Por Deus que faria. Amaldiçoo-me pelo louco que tenho sido, não vou ter mais remorsos, malditos sejam todos. Cuidado, Sr. Abberline. Eu voltarei com uma vingança. Uma vez mais serei o tema de conversa da Inglaterra. Que prazer me dão os meus pen@ samentos. Pergunto-me se a puta irá receber o filho da mãe? A puta é amável para ele. Vou pensar nos actos deles, que prazer. Esta noite vou recompensarme, vou visitar a minha, mas não serei gentil. Vou mostrar à minha puta aquilo de que sou capaz. Sir Jim precisa de saciar o seu apetite, malditas sejam todas as putas. Apareceu um amigo, assim seja, Sir Jim aparecerá outra vez. Quando tiver terminado os meus actos demoníacos, o próprio diabo me elogiará. Mas não esperará muito até eu lhe apertar a mão. Tenho trabalhos a fazer muitos trabalhos. ha ha. rim para a ceia. 275 Estou farto de manter esta fachada de respeitabilidade. Cada vez acho mais difícil fazê-lo. Penso que sou um tipo com sorte. Não encontrei eu uma nova fonte para o meu remédio. Delicio-me com os pensamentos que me vai trazer. Gosto de pensar nas putas que esperam pela minha bela faca brilhante. Esta noite escrevo a Michael. Informo-o de que vou visitar a cidade das putas em breve, muito em breve. Não posso esperar. A puta pode arranjar tantos peoxenetas quantos quiser. já não me preocupo. Tenho os meus pensamentos e o prazer dos actos que virão, e oh que actos cometerei. Muito, muito melhores do que o último. A vida é doce na verdade, muito muito doce. 276 Caro Sr. Abberline Sou um homem de sorte Da próxima vez vou fazer tudo o que puder

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310 P-Ar-r--Aff- C epniÁaf com um cortezinho aqui, e um cortezinho ali Irei rindo de volta para o meu covil Caro Sr. Abberline Sou um homem de sorte Da próxima vez farei tudo o que puder. Com um cortezinho aqui e um cortezinho ali Irei rindo de volta para o meu covil Maldito maldito maldito o filho da mãe quase me apanhou, maldito seja no inferno, vou cortá-lo da próxima vez, assim me ajude. Mais uns minutos e tinha-o feito, filho da mãe. Vou procurá-lo, dar-lhe uma lição. Ninguém me deterá. Amaldiçoo a sua alma negra. Amaldiçoo-me por ter atacado demasiado cedo, devia ter esperado até tudo estar verdadeiramente calmo assim me ajude... Vou levar tudo comigo da próxima vez e comê-lo. Não deixarei nada. Nem sequer a cabeça. Vou cozê-la e comê-la com cenouras acabadas de colher. Pensarei em Abberline enquanto estiver a fazer isso, isso vai fazer-me rir ha ha a puta vai sofrer esta noite pelo acto que praticou. A puta escreveu tudo esta noite cairá. Assim Deus me ajude vou cortar a puta e servi-Ia às crianças. Como é que a puta se atreveu a escrever a Michael, a maldita puta não tinha o direito de o informar acerca do meu remédio. Se as coisas se passarem da minha maneira divertida a puta será servida hoje mesmo à noite. Mantive-me na minha posição e informei Michael de que era uma maldita mentira. A puta vai visitar em breve a cidade das putas, decidi que vou esperar até à altura certa e depois atacarei com todo o meu poder. Vou comprar alguma coisa à puta para a visita. Darei a impressão à puta de que considero ser seu dever visitar a tia. Pode tratar da puta doente e ver o seu proxeneta ha ha. Ha, que piada, deixar a puta pensar que não tenho conhecimento das suas putices. Quando voltar a puta vai pagar. Delicio-me com os pensamentos de voltar a bater na puta. `Não sou eu um tipo esperto. Orgulho-me de ninguém saber como sou esperto. Acredito que se George lesse isto, diria que o sou o mais esperto dos homens existentes. Anseio por lhe contar quão esperto tenho 311 sido, mas não o farei, a minha campanha ainda está longe de acabar. Sir Jim não vai revelar nada, nada. Como podem deter-me agora este Sir Jim viverá para sempre. Sinto-me forte, muito forte suficientemente forte para atacar nesta cidade maldita e fria, penso que o farei. Por que não, ninguém suspeita do homem de elevado nascimento. Verei como me sinto na viagem para casa, se o capricho me invadir assim seja. Terei de ser cuidadoso para não ficar com demasiado material vermelho em cima. Talvez só corte uma vez, enganar os loucos, oh que piada, mais galinhas às voltas com as cabeças decepadas, ha ha sinto-me esperto. 279 Sir Jimay vive para sempre ha ha ha ha ha 280 Este esperto Sir Jim adora os seus caprichos esta noite vai aparecer e levar tudo consigo. ha ha ha ha 281 Não sou eu um tipo esperto, a puta deu-me o maior prazer de todos. Não viu a puta o seu proxeneta em frente de todos, na verdade a corrida foi a mais rápida que já vi, mas a excitação de ver a puta com o filho da mãe excitou-me muito mais do que saber que Sua Alteza Real estava apenas a alguns metros deste vosso criado ha ha. que piada, se o filho da mãe ganancioso soubesse que estava a poucos metros do nome em que toda a Inglaterra falava teria morrido ali naquele momento. Lamento não ter podido dizer ao tonto louco. Para o inferno a realeza, para o inferno todas as putas, para o inferno a puta que governa. Vi@ériR a pU@8_ Rainha letiea Sir jaek sabe tttde @A r-ai4zIha sabe tuà6 Vitória Vitória A Rainha de todos eles Quando toca a Sir Jack Não sabe nada de nada

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Ela sabe que uffi dia 282 Quem sabe Talvez um dia Lhe faça uma visita... 312 Paea brilha~ fflinhR vidp heftrar- a ffliRha faea Lhe mostre a minha faca... E ela nobilitar-me-á para o resto da minha vida... Veffi Sir jiffi dirá e! Ergue-te Sir Jack dirá ela e agora podes ir, como quiseres (may) ha ha ha ha ha ha ha Vitória, Vitória a rainha de todos eles quando toca a Sir Jack não sabe nada de nada quem sabe, Talvez um dia, lhe faça uma visita Lhe mostre a minha faca e ela nobilitar-me-á para o resto da minha vida Ergue-te Sír Jack dirá ela e agora podes ir como quiseres jim, Jack jack Jim ha ha ha Fui esperto. George teria orgulho em mim, disse à puta que na minha posição não podia dar-me o luxo de um escândalo. Bati-lhe várias vezes olho por olho ha ha. demasiados criados a interferirem, malditas putas. Hopper sentirá em breve o gume da minha faca afiada, maldito tolo pomposo, malditos todos. Uma vez mais a puta está endividada. Meu Deus vou cortá-la. Oh como vou cortá-la. Visitarei a cidade das putas. Pagarei as suas dívidas e vou possuir a minha, por Deus o farei. Vou esventrar esventrar esventrar Talvez procure o filho da mãe que interrompeu os meus joguinhos engraçados e o esventre também. Disse que ele pagaria vou certificar-me de que o fará. Sinto uma dormência no meu corpo, as putas vão pagar por isso. Pergunto-me se Edwin estará bem? Anseio por que regresse. Decidi que da próxima vez vou atrancar os olhos da puta e enviá-los a esse louco do Abberline. filho da mãe filho da mãe 313 285 tirar os olhos, tirar a cabeça, deixá-las todas como mortas Não me diverte. Maldito esse filho da mãe do Abberline, maldito seja no inferno não balançarei em nenhuma corda dele. Pensei muitas vezes na puta e no seu proxeneta. Os pensamentos ainda me excitam. Talvez um dia a puta me deixe participar. Por que não? Todos a possuíram. Não tenho eu qualquer direito sobre a puta. Quero fazê-lo. A puta a puta a puta 286 Fuller acha que não tenho nada de muito grave. Estranhos, os pensamentos que pôs na minha cabeça. Não pude atacar, penso que estou doido, completamente doido. Tento lutar contra os meus pensamentos. Passeio pelas ruas até ao amanhecer. Não consegui encontrar coragem para atacar. Visões da minha querida Bunny avassalam-me. Ainda a amo, mas como a odeio. Ela destruiu tudo e no entanto o meu coração dói por causa dela, oh como dói. Não sei que dor é pior, a do meu corpo ou a do meu espírito. Meu Deus estou cansado, não sei se posso continuar. Bunny e as crianças são tudo o que importa. Sem remorsos, sem remorsos. Não permitirei que esses pensamentos entrem na minha cabeça. Esta noite vou pegar na minha faca brilhante e livrar-me dela. Regressarei a Battlecrease com o conhecimento de que já não posso continuar a minha campanha. Foi o amor que me desprezou tanto, é o amor que lhe porá fim. 287 Tenho medo de olhar para tudo o que escrevi. Talvez fosse mais prudente

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destruir isto, mas não encontro coragem para o fazer. já tentei uma vez antes, mas como sou covarde, não consegui. Talvez na minha mente atormentada deseje que alguém leia isto e compreenda que o homem em que me transformei não era o homem que nasci. O meu querido irmão Edwin voltou. Quem me dera poder contar-lhe tudo. Não haverá mais versinhos engraçados. Esta noite escrevo sobre o amor. este amor que tanto me desprezou, este amor que efectivamente destrói este amor que desejo este amor que ela desprezou este amor que acabará comigo este amor que lamento 314 Que Deus me ajude, Rezo todas as noites para ele me levar, o desânimo quando acordo é difícil de descrever já não tomo a substância temível porque tenho medo de que possa prejudicar a querida Bunny, pior ainda as crianças. Não tenho coragem para acabar com a vida. Rezo todas as noites para encontrar a coragem para o fazer, mas a coragem foge de mim. Rezo constantemente para tudo ser perdoado. Lamento profundamente bater-lhe, consegui perdoar-lhe do fundo do coração todos os seus amantes. julgo que lhe contarei tudo, pedirei que me perdoe como lhe perdoei. Rezo a Deus para que ela compreenda o que me fez. Esta noite rezarei pelas mulheres que chacinei. Que Deus me perdoe pelos actos que cometi em Kelly. Sem coraçao sem coração. A dor é insuportável. A minha querida Buriny sabe tudo. Não sei se ela tem a força para me matar. Peço a Deus que a encontre. Seria simples, ela sabe do meu remédio, e com uma ou duas doses extra tudo estaria acabado. Ninguém saberá. Certifiquei-me disso. George conhece o meu vício e espero que em breve ele chegará ao conhecimento de Michael. Na verdade acredito que ele tem conhecimento do facto. Michael saberá como agir, é o mais sensato de todos nós. Não penso que viva até este Junho, o meu mês favorito. Implorei a Bunny que agisse depressa. Amaldiçoo-me por ser tão cobarde. Restabeleci o equilíbrio do meu testamento anterior. Buriny e as crianças ficarão bem e espero que Michael e Thomas cumpram os meus desejos. Em breve, espero ser colocado ao lado da minha querida mãe e pai. Vou pedir o seu perdão quando estivermos reunidos. Espero que Deus me conceda pelo menos esse privilégio, embora saiba bem de mais que o não mereço. Os meus pensamentos ficarão in tactos, como uma lembrança para todos acerca da forma como o amor pode destruir. Agora, vou colocar isto num lugar onde será encontrado. Rezo para que quem quer que leia isto encontre lugar no seu coração para me perdoar. Lembrem-se todos, quem quer que possam ser, de que fui outrora um cavalheiro. Que o bom deus tenha piedade da minha alma, e me perdoe por tudo o que fiz. Apresento o meu nome, para que todos saibam de mim, assim reza a história, o que o amor pode fazer a um homem que nasceu cavalheiro. Atentamente, Jack, o Estripador. Datado neste dia 3 de Maio de 1889. 315 PRINCIPAIS FONTES ORGANISMOS Public Record Office, Kew; Public Record Office, Chancery Lane; General Register Office, St Catherine's House; Principal Registry of the Family Division, Somerset House; Patent Office; Companies House; British Library: Biblioteca de Jornais; American State Archives, Washington DQ Bibliothèque Nationale, Paris; Victoria State Library, Austrália; l-IM Land Registry; New Scotland Yard: Black Museum; Merseyside Police; Lancashire Constabulary; Ministério da Defesa; Universidade de Liverpool; Universidade de Wyoming: Colecção Trevor Christie; Hospital Real da Universidade de Liverpool; Fazakerley Hospital: Departamento de Histopatologia; Historic

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Manuscripts Corrimission; College of HeraIds; Maçonaria; Post Office Archives; Postal Muscum; Post Mark Society; Shoe Museum; Liverpool Maritime Museum; Whitworth Museum, Manchéster; Cotton. Association; Câmara de Comércio de Liverpool; Coldestone Park Cemetery; Lewisham Cemetery; Southwark Cemetery; Seddons Funeral Service; Parker Pens; John Lewis Partnership; Departamento de Arquivos; Boddingtons. Departamentos de História Local de Liverpool, Lambeth, Lewisham, Tower HamIets, Manchéster, Southwark. Bibliotecas: Guildhall, Tunbridge Wells, Morden, Carshalton, Sutton, Sunderland, Camden, Westminster, Liverpool, Chester, Manchéster, Rochdale, Royal College of Surgeons, Royal College of Psychiatrists, Royal Society of Medicine, British Toxicological Society, WelIcome Research Unit, Science Library, Patent Office. Record Offices: West Sussex, Lancashire, Chester, Newport, ilha de Wight, Register Offices: Liverpool, Caernarfon. JORNAIS E PUBLICAÇõES PERIóDICAS New Penny; Touchstone; Punch; Review of Reviews; Liverpool Review; Pall Mall Gazette; Family Tree; Pall Mall Budget; New York Herald; New York Times; New Milford Times; Bridgeport Sunday Post; Police Gazette; Daily Telegraph; Liverpool 317 Daily Post; Liverpool Echo; Liverpool Mercury; Liverpool Courier; Liverpool Citizen; Porcupine; The Times; Star; Graphic; Manchester Guardian; Yorkshire Post; Independent; Evening News; Pictorial News; Southport Guardian; "itehaven News; Liverpool Medico Chirulogical Journal; New Scientist; Nature; Criminologist; True Detective; Murder Casebook; Ripperana; Crime and Detection. LIVROS Gore's Directories of Liverpool; Kelly's Directories; "o Was no; The Trial of Mrs Maybrick, H. B. Irving (ed.) 1912; Treatise on the Maybrick Case, A. W. M@,cI)ougall, 1891; The Necessity of Criminal Appeal, J. H. Levy, 1899; My Fifteen Lost Years, Florence Elizabeth Maybrick, 1909; Clinical Toxicology, Erich Leschke, 1934; A Toxicological Study of the Maybrick Case, C. N. Tidy e R. Macnamara, 1891; The Book of Poisons, Gustav Schenk, 1955; The Maybrick Case, Helen Densmore, 1892; Etched in Arsenic, Trevor L. Christie, 1968; This Friendless Lady, Nigel Morland, 1957; The Poisoned Life of Mrs Maybrick, Bernard Ryan e Sir Michael Havers, 1977; Victorian Murderesses, Mary S. Hartman, 1977; Victorian England, W. J. Reader, 1974; Liverpool's Legion of Honour, B. G. Orchard, 1899; Companion to the British Pharmacopoeia, 1866; Oxford English Dictionary; Webster's Dictionary; Dictionary of Jargon, jonathon Green, 1987; Encyclopedia of Australia, Learmonth, 1973; Law's Grocers Manual, c. 1900; Enquiry Within Upon Everything, 1924; American IlIustrated Medical Dictionary (22.1 ed.); Genitourinary Medicine, R. S. Morton, 199 1; Encyclopedia of Chemical Tecimology (3.- ed., vol. 3); Merck Index (9.- ed.); Casebook on jack the Ripper, Richard Whittington Egan, 1975; The Complete Jack the Ripper, Donald Rumbelow, 1976; The Jack the Ripper A to Z, Paul Begg, Martin Fido e Keith Skinner, 1991; The Ripper Legacy, Martin HowelIs e Keith Skinner, 1987; Jack the Ripper: Summing Up and Verdict, Colin Wilson e Robin OdelI, 1987; Jack the Ripper: The Uncensored Facts, Paul Begg, 1988; The Ripper File, Melvin Harris, 1989; The Encyclopedia of Serial Killers, Brian Lane e Wilfred Gregg, 1992; Hunting the Devil, Richard Lourie, 1993; The Trials of Israel Lipski, Martin L. FriedIand, 1987; The Lighter Side of My Official Life, Sir Robert Anderson, 1910; The Police Encyclopedia, 1920; Days of My Years, Sir Melville Macnaghten, 1914; From Constable to Commissioner, Sir Henry Smith, 1910; The Mistery of Jack the Ripper, Leonard Matters, 1929; 1 Caught Crippen, Walter Dew,

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1938; The Identity of Jack the Ripper, Donald McCormick, 1959; The Crimes and Times of Jack the Ripper, Tom Cullen, 1965; A Casebook of Crime, Alan Brock, 1948. ÍNDICE REMISSIVO Abberline, inspector Frederick George, 35, 86 e 87, 121, 124, 126, 134, 187 Aberconway, Lady, 35 Abraharasen, David, 206 Addison, John, 178 Agnes, Mark, 201 Albrook, Lizzie, 115 Allen, Oswald, 82 Anderson, Sir Robert, 35, 90, 104 Andrews, inspector Walter, 129 anti-semitismo, 83 e 84 Arnold, superintendente Thomas, 98 arsénico 43-45 abuso, psicopatologia e fisiologia do, 195 antídoto para, 195 Battlecrease House, encontrado em, 165, 167 envenenamento, 196 papéis mata-moscas, de, 183 piruvato, acumulação de, 195 suspensão da ingestão, 155 assassinos em série: espírito, estado de, 203-205 estudos actuais de, 208 fantasias, 61, 205 gentis, serem, 204 e 205 psicologia dos, 83 Aunspaugh, Florence, 53-58, 64, 86, 128, 169 Aunspaugh, John, 53, 58, 87, 128, 169 Austin, Genevieve, 219 Barnett, joe, 115, 121 Barnett, reverendo Samuel, 69, 115 Barrett, Anne, 23 e 24 Barrett, Caroline, 23 Barrett, Mike, 23-28, 37, 163, 187, 189 investigação, 25-27 Barron, Dr. Alexander, 179 Bartlett, Adelaide, 177 Bateson, Nicholas, 43 Bathory, Elizabeth, 209 Battlecrease House, 25, 33, 37, 53 e 54, 56 e 57, 62, 128, 133, 138 e 139, 141, 151, 154, 156 e 157, 163, 165 leilão do recheio, 173 Baxter, Wynne Edwin, 72, 82 Begg, Paul, 31 Berkowitz, David, 206 Berlinski, Solran, 69 Blake, Valentine, 134 Bolam, George, 69 Bond, Dr. Thomas, 117, 119 Bowyer, Thomas, 22, 117 Brierley, Alfred, 52, 59 e 60, 128, 133, 137-140, 142, 157-159, 169-173, 217 Briggs, Matilda, SO, 56, 141 e 142, 158, 162, 165, 169, 171, 188 British Museum, 28 319 Cadosch, Albert, 80 Cadwallader, Mary, 53, 142, 151, 156, 160, 162 Callery, enfermeira, 161 Camps, Professor Francis, 94, 103, 106 Carter, Dr. William, 157, 160-162, 165, 169, 179-181 carvão de ossos, 195 Case, Charles James, 40 ChandIer, Florence (ver Maybrick, Plorie). Chandier, Holbrook St )ohn, 46, 49 ChandIer, inspector Joseph, 80 Chandler, William, 45 Chapman, Annie, 23, 189 assassínio de, 79-83 Chikatilo, Andrei, 83, 204 e 205 Christie, Trevor, 53, 169 Clarence, duque de, 36, 185 suspeito, como, 36 Clayton, E. Godwin, 183 Cleaver, Arnold e William, 168 comércio do algodão, 42 e 43, 52 Comité de Vigilância de Whitechapel, 83 Conan Doyle, Sir Arthur, 105 Conconi, Chrístíana, 40 e 41 Conconi, Thornas David, 41 Corbyn, capitão Frederick, 217 Court of Criminal Appeal, 214 Crocker National Laboratory, 29 Cross, Charles, 72 Darreli, Elizabeth, 79 Davidson, George, 77, 109, 128, 145, 188,218 Davies, Edward, 166, 172, 181 de Quíncey, Thomas, 135 Devereux, Tony, 24-27 diário: alterações da caligrafia, 208 alterações do estado de espírito do, 24 alucinações, possivelmente em consequência de, 27 assassínios de Manchéster, menção de, 189 autenticação, 27-30 autor, estado de espíriro do, 203-210 caligrafia, teste da, 196-201 esconderijo, 163 expressões, pesquisa de, 201 falsificação, possibilidade de, 27 fascínio do, 210

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pormenores no, 188 testes forenses, 190-195 última entrada, 162 violência do, 24 e 25 "diários de Hitler", 27, 189, 194 Diemshutz, Louis, 91 Dodd, Paul, 37 Donovan, Timotby, 79 Druitt, Montague Jol-in, 35 Drysdale, Dr. J., 122, 136 Dutton, Thomas, 126 Eastaugh, Dr. Nicholas, 29, 189, 194 e 195 Eddowes, Catharine, 23, 189 assassínio de, 93-95, 97 e 98, 106 Egan, Richard Whittington, 26 estricnina, 43, 55, 65 e 66, 136, 151 e 152,154,172 antídoto para, 195 envenenamento, 65 Fairelough, Melvyn, 31 família Maybrick, 38 e 39 Farson, Daniel, 34 Fido, Martin, 31, 97 Fleming, John, 47 Forshaw, Dr. David, 30, 41, 61 e 62, 71, 105, 111, 119, 123, 130, 133, 196, 199, 203-210 Fuller, Dr. Charles, 143, 179, 208, 2 15 Gardner, John, 89 Gore, enfermeira, 158, 160, 180 e 181 Goulston Strect, inscrição na, 98 e 99 Grant, Alice, 166 320 Grant, James, 53, 156, 185 Griffin, Cora, 215 Guil, Sir William, 36 Gutenberg, Bíblia de, 29, 192 Hammersmith, Sr.-, 188 Hayes, Reed, 148 Hazard, general]. G., 45 Heaton, Edwin Garnett, 49 Hopper, Dr. Arthur, 50, 65 e 66, li i, 136, 141 e 142, 180, 185 Howard, Mary, 43 Howells, Martin, 31 Hughes, Louisa, 50 158, 162, 172 Humphreys, Dr. Richard, 136, 142, 152, 155-157, 159 e 160, 165, 167, 169, 179 Humphreys, Elizabeth, 53, 133, 142, 156, 160 Hutchinson, George,115 e 116, 121 iremonger, Sue, 105, 108, 149, 196 e 197, 199 Irving, capitão, 154 Jack, o Estripador: Avental de Couro, descrição de, 73 e 74 canibalismo, 209 cartas de, 101-106, 108, 123, 199 caso, arquivamento do, 187 Chorley, visto em, 110 crueldade, aumento de, 209 descrição, 109 histórias dos jornais, 34, 73 e 74, 107, 188 incapacidade para o capturar, 34 obsessão nacional com, 34 e 35 retrato de, 109 suspeitos, 35 e 36 teorias sobre, 34 e 35 vítimas, 22 e 23, 34 e 35 Kelly, Mary Jane, 22 e 23, 34 e 35, 115, 189 assassínio de, 115-121 coração, falta do, 121, 189 Florie, parecenças com, 115 Kemper, Ed, 209 Knight, John Baillie, 50, 66, 138 Knight, Stephen, 90 Koren, Anna, 108, 196 e 197 Kosminski, Aaron, 35 e 36, 90 Kürten, Peter, 205 Lake, Brian, 28 Lawende, Joseph, 94, 108 e 109 Littlechild, inspector-detec tive John, 105 Liverpool: Aigburth, 33 Poste House, 59 Prince William Street, 106 e 107 regresso de Maybrick a, 49 St George's Hali, 175 Whitechapel, 38, 59 e 60 LleWellyn, Dr. Rees Ralph, 71 e 72 Lowry, Thomas, 62 e 63, 124, 154, 161, 171, 188 Lusk, George, 110 e 111 McCarthy, John, 117 e 118 McCormick, Donald, 126 MacCulloch, Malcolm, 208 MacDougalI, Alexander William, 40, 166,178,215 Macleod, C. M., 103 Macnaghten, Sir Melville, 34-36 Macnarnara, Dr. Rawden, 179 Matthews, Henry, 92 e 93, 185 Maudsley Psychiatric Hospital, 30 Maybrick, Edwin, 39 e 40, 42, 46, 57 e 58, 133, 145, 153-159, 166, 184 e 185,216,218 Maybrick, Florie, 22, 26, 37, 43 e 44,

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87 apresentação a julgamento, 173 e 174 brigas com James, 141 e 142 campanha para limpar o nome, 214 321 carta a Brierley, 158 e 159, 171 e 172 carta a James, 144 e 145 casamento, 45 e 46 condenação à morte, 183 e 184 conspiração contra, 133 comutação, 185 descrição de, 54 detenção, 167 dias a seguir à morte de James, des- . crição dos, 166 Edwin, preferência por, 57 e 58 Estados Unidos, nos, 215 e 216 extracto de carne, pôr pó no, 180 e 181 filhos, perda dos, 215 e 216 gatos, 219 inquérito do magistrado, 172 e 173 James, sovas de, 111 e 112, 130, 141 e 142 James, encontro com, 44 e 45 julgamento, 175-184 liberdade condicional, 214 Londres, visita a, 137 e 138 morte de, 219 nome de solteira, adopção do, 215 ódio das criadas, 56 opinião pública a favor de, 184 papéis mata-moscas, compra de, 145, 154 pertences, busca entre os, 165 e 166 preocupações com James, 111 e 112 primeiro filho, 47 prisão de Lark Lane, 172 prisão, na, 213 e 214 prisioneira, 165, 167 prostitutas como representantes, 206 recurso, tentativas, 214 regresso a Inglaterra, 218 rendimentos, 46 segundo filho, nascimento do, so separação, pretensão de, 138 teatralidade, 139 veredicto de culpada, 184 Maybrick, Gladys Evelyn, 50 e 51, 55, 146, 158, 167, 215-217 Maybrick, )ames, 26 antecedentes, 38 e 39 anti-semitismo, utilização do, 83 e 84,98c99 arsénico, ingestão, 43 e 44, 48-50, 55, 65, 112, 134 e 135 assassínio de Nichols, discussão, 77 autópsia, 21, 165 bater em Florie, 130 Battlecrease House, mudança para, 34 brasão, 220 brigas com Florie, 140-142 caligrafia, 197 campanha de homicídios, início da, 60e61 canibalismo, 83, 111 carácter, 203-205 carta a Michael, 152 e 153 casamento, 45 causa da morte, 179-181 ciúme demencial, 59 e 60 controlo, perda do, 111 e 112 decapitação, obsessão com, 71 descrição de, 55 diário, aparecimento do, 24 doença e morte, medo de, 87 doença final, 155-162 dores de cabeça, 122 esperteza, verificação da, 78 estricnina, ingestão, 43, 55, 65 e 66, 136, 151 e 152, 154 e 155 exumação, 171 família, 38 e 39 filhos, dedicado aos, 123 firma, fundação da, 42 Florie, encontro com, 44 e 45 funeral, 167-169 gênio, 55 e 56 hipocrisia e engano, 46 inferioridade, sentimento de 79 inquérito sobre, 170 e 171 Liverpool, regresso a, 48 Londres, visitas a, 64 Lowry, antagonismo em relação a, 188 Manchéster, regresso a, 123, 129 marca registada "M", 80-82, 94, 118, 189 medo de ser apanhado, 122 megalomania, 86 Michael, inveja de, 57 e 58 MiddIesex Street, quarto em, 69 e 70, 97 móbil sexual para os crimes, falta de, 206e 207 morte de, 162 mulher "verdadeira", 40-42 negócio do algodão, 42 e 43 pânico, sentimento de, 128 paranóia, 53 pensamentos e actos, registo de, 61 e 62 perturbação mental, 209 e 210 polícia, jogos com a, 81 preocupações de dinheiro, 49-52 própria morte, forma de lidar com a, 143 satisfação, obtenção de, 206 saúde, preocupado com a, 43, 65, 143 sexo, uso do, 208 testamento, feitura, 145-149 Maybrick, James ChandIer, 47, 51, 146, 167, 215 e 216 Maybrick, Michael, 39 e 40, 46, 57 e 58, 64 e 65, 79, 112, 116, 136 e 137, 146 e 147, 152, 159-163, 165-170, 173 e 174, 184 e 185, 216 Maybrick, Sarah Ann, 40-42, 218 Maybrick, Thomas, 39 e 40, 46, 57, 60,

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146, 216 Maybrick, William, 38 e 39, 57, 218 Mayhew, Henry, 61 MiddIesex Strect, 69 e 70, 97, 128 Montgomery, Doreen, 27 e 28, 187 Moore, inspector-chefe Henry, 104 Mortimer, Fanny, 89 Nathan, PoIly, 69 Nichols, Mary Ann "PoIly", 23, 134 assassínio de, 71-73, 75, 78 Nilsen, Dermis, 209 Norfolk, Virgínia, 42 @<one-off"1 uso da frase, 202 Ostrog, Michael, 35 e 36 Packer, Matthew, 89 papel, testes do, 194 ParnelI, Charles Stewart, 177 Paul, Dr. Frank Thomas, 179 Phillips, Dr. George Bagster, 82, 103 Pizer, John, 74 Polícia Metropolitana, 90, 92 e 93 psiquiatria, utilização pela polícia, 92 Ratcliff, Charies,129, 169 e 170 Richardson, J. Halt, 106 Rigg, Sr a Morden, 151 e 152 Robertson, Sarah Ann, 40-42, 50 Rumbelow, Donald, 62, 97 Rupert Crew Ltd, 27 Russell, Sir Charles, 177-179, 214 Ryan, Bernard, 137 Samuelson, Charles, 137 Samuelson, Christina, 137, 140 Saunders, Dr. Sedgwick, 110 Saunders, Dr. William Sedgwick, 123 Schwartz, Israel, 90 e 91, 108 e 109 Schweisso, Alfred, 171 Shaw, George Bernard, 74 Simpson, John, 201 Skinner, Keith, 31 Smith, guarda William, 89 Smith, Enuna, 61, 67 Smith, George, 62, 145, 161 Smith, Robert, 28, 108 Spicer, guarda Roberts, 127 e 128 Stanscil, Thomas, 43 323 Stead, William, 203 Stephen, J. K., 185 Stephen, juiz James Fitzjames, 176, 178, 184 e 185 Stevenson, Dr. Thomas, 180 Stoweil, Dr. Thomas, 36 Stride, Elizabeth, 23, 135 assassínio de, 89-92 faca, 103 Sutcliffe, Peter, 205 SNk@anson, ínspector-chefe Donald, 36 Swift, William, 152 Szemeredy, Alios, 37 Tabram, Martha, 67 testes de autenticação: microssonda de protões, utilização, 29 Thomson, William, 151 Tidy, Dr. Charles Meymott, 179 tintas, testes de, 190-194 Tribunal do Júri, funções do, 175 e 176 Tyrer, Amy, 216 Vinlândia, mapa da, 29 Volans, Dr. Glyn, 172, 180 von Roques, baronesa Caroline, 45, 168 e 169, 183, 189, 213-215 Warren, Nick, 117 Warren, Sir Charles, 93, 99 Williamson, chíef constabie Adolphus, 102 Withers, Laura, 216 Witt, Gustavus A., 64 Wood, Simon, 118 Woolf, lsaac, 69 Yapp, Alice, 51, 56, 64, 156-160, 166, 169, 189 ÍNDICE Introdução do editor - O diário é verdadeiro?........ .......................................... 5 Agradecimentos..................................................................................................... 13 Mapas ..................................................................................................................... 15 1- "Talvez, na minha mente atormentada, deseje que alguém leia isto e compreenda".................................................................... ........................ 21 2- "As minhas mãos estão frias, mas acredito que o meu coração está ainda mais frio"........................................................................................ 33 3- "Há uma sombra preta pousada sobre a casa, é o mal" ........................... 47 4- "Há alturas em que sinto um impulso avassalador para passar os meus pensamentos ao papel"............................................................................. 59 5- "Amanhã, vou comprar a melhor faca que é possível comprar, nada será bom de mais para as minhas putas"................................................. 69 6- "Espero ansiosamente o trabalho de amanhã à noite, vai fazer-me

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bem, mesmo muito bem"......................................................................... 777 - "Para meu espanto não consigo acreditar que não tenha sido apanhado" ...................................................................................................... 89 8- "Antes de ter terminado toda a Inglaterra conhecerá o nome que dei a mim próprio"................................................................................... 101 9- "Deus colocou-me aqui para matar todas as putas"................................ 115 10"Quando tiver terminado os meus actos demoníacos, o próprio diabo me elogiará".............................................................................................. 133 11 "Não sei se ela tem a força para me matar".................................... ....... 151 12 "Agora, vou colocar isto num lugar onde será encontrado" ........... ....... 165 13 "A puta vai sofrer como nunca sofreu"................................................... 175 14"Vou dar-lhes algo para que saibam que sou eu".................................... 187 15 "Os meus pensamentos começam verdadeiramente a dar-me prazer" .... 203 16"Sofrer@o tal como eu vou certificar-me disso"....................................... 213 325 Postscriptum do editor - Descobriu-se um relógio.............................................. Fac-símile do original do diário de Jack, o Estripador........ --- ................................ Transcrição do diário de Jack, o Estripador........................ .. ................................ Principais fontes.................................................................................................... remissivo.................................................................................................... 319

221 225 291 317 índice




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