Entrevista ao Presidente da Câmara Municipal de Abrantes

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Revista mensal da ATAM - Nº s 370/371 - novembro-dezembro/2012

ASSOCIAÇÃO DOS TÉCNICOS ADMINISTRATIVOS MUNICIPAIS

entrevista

D r. ª M a r i a d o C é u A l b u q u e rq u e P residente da Câmara Municipal de Abrantes

A BR A N T ES O concelho de Abrantes remonta aos primórdios da monarquia portuguesa. O seu foral, datado de 1179, segue o modelo dos chamados “concelhos perfeitos”, cuja organização se inicia no preciso momento em que são chamados os colonos a povoá-la. A colonização do monte abrantino foi facilitada pela situação geográfica do mesmo monte, situado a norte do Tejo, que lhe servia de fronteira natural e o protegia de previsíveis incursões. O Tejo, que era, ainda, importante fonte de riqueza (água, pesca, ouro, navegação, etc.). Abrantes, situada em zona de confluência e transição de regiões, encruzilhada nos percursos entre o sul e o norte, a salvo de cheias, de nevoeiros persistentes, lavado de bons ares, conferiu as condições necessárias à atração de colonos. Elevada à categoria de cidade em 1916, é hoje sede de um município com 714,73 km² de área e quase 40 000 habitantes, subdividido em 19 freguesias. É uma cidade de serviços, mas também com forte vocação e tradição industrial que, cada vez mais, afirma a sua posição estratégica na região.

“O Municipal” - Abrantes usufrui de dois dos maiores

Aliado a esta questão, e em matéria de turismo cultural,

recursos hídricos do País: o Rio Tejo e a albufeira de

estamos a criar rotas para a construção de percursos

Castelo do Bode. A que nível são explorados?

para dar a conhecer património material e imaterial do território: arqueologia, falando das igrejas, da etnografia e do folclore, nomeadamente com a construção dos

Dr.ª Maria do Céu Albuquerque – Neste momento são

núcleos museológicos nas freguesias. Por outro lado,

explorados ao nível do turismo de natureza, turismo

estamos também a trabalhar nas grandes rotas. A Rota

desportivo e do turismo ativo. A Albufeira de Castelo

do Zêzere, a partir da Serra da Estrela até Constância,

de Bode com a criação da Praia Fluvial de Aldeia do

um projeto supramunicipal onde a Câmara de Abrantes

mato e o AQUAPOLIS com o espelho de água depois da

também está incluída. Como por outro lado, no Rio Tejo,

construção do açude insuflável, apresentam dois planos

começando no norte do nosso concelho e acabando no

de água para tudo aquilo que tenha a ver com turismo

limite, na freguesia de Rio de Moinhos, na localidade

ativo e turismo desportivo. São imensas as provas que

da Amoreira, o que faz com que hoje estejamos numa

aqui são realizadas tanto ao nível local como regional

rota mais alargada tanto a nascente como a poente

nacional e até internacional. Provas de canoagem, aguas

(montante como a jusante), em articulação com outros

abertas, motonáutica ou pesca desportiva, para além de

municípios e com outras entidades.

apresentarem condições para a realização, regular, de provas de competição. Para além disto o turismo de natureza e a biodiversidade tanto do

O Municipal” - O que é o “Mar de Abrantes” e qual a finalidade da sua criação?

Rio Tejo como da albufeira de Castelo de Bode, apresentam também potencialidades que se podem começar a consubstanciar como um

Dr.ª Maria do Céu Albuquerque - Com a construção do açude insuflável

destino turístico. Promovendo os recursos naturais e construídos no

foi possível a criação de um espelho de água no rio Tejo com cerca de 7

sentido da sua otimização através do turismo de natureza, desportivo

km, para usufruto da população enquanto espaço de desporto e turismo

e ativo. Mas também fazer com que estes recursos sejam geradores

ativo. A expressão “Mar de Abrantes” está associada a esse espelho de

de mais-valias: formar atletas, formar públicos, formar cidadãos mais

água e advém das ações de marketing realizadas pelo município para a

ativos, mais participativos, mais tolerantes, igualdade de oportunidades

sua promoção exterior.

e inclusão social

O açude é o coração de uma grande intervenção que temos vindo a fazer


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entrevista

nas margens do rio Tejo e que é hoje o AQUAPOLIS – Parque Urbano Ribeirinho. Esta grande intervenção nas margens do rio Tejo, que hoje é um rio com as margens organizadas e requalificadas, permitiu dispor de uma série de equipamentos que facilitam aos munícipes e aos visitantes desfrutar do rio. Com o Aquapolis, quisemos reintegrar o rio, devolvê-lo ao uso normal e ao convívio da população da cidade e da região. Temos aqui um dos troços do Tejo, entre Abrantes e Lisboa, que sofreu uma intervenção no sentido de o converter num Parque Urbano, que associa a água ao lazer e à prática de atividades náuticas. O Aquapolis é hoje em verdadeiro espaço de convivência social, cais de recreio, lazer, desporto,

que a Câmara não pode prescindir dos colaboradores porque não

turismo e cultura.

pode ser ignorado e abandonado. Foram investidos muitos recursos

existem prestadores de serviços nessas áreas que possam substituir essas pessoas. Necessariamente, as câmaras terão de contratar mais colaboradores para fazer face a essas exigências da sua gestão. No caso concreto de Abrantes, entendemos que sempre cumprimos aquilo que era o nosso objectivo e que passa por fazer uma gestão racional e equilibrada no sentido de não criar constrangimentos financeiros, mas também há um mínimo de qualidade nos serviços e no atendimento de que não queremos prescindir. Há um investimento substancial que tem vindo a ser feito ao longo de anos e que não

“O Municipal” - De que infraestruturas podem os abrantinos usufruir,

para proporcionar aos nossos cidadãos o comprometimento de uma

no que diz respeito a recreio e lazer no seio da natureza?

boa prestação dos serviços públicos, tendo em atenção o número de colaboradores da autarquia. Vai-nos custar se tivermos de renunciar

Dr.ª Maria do Céu Albuquerque - O concelho tem muitas ofertas a esse nível, posicionando-nos como um concelho com uma oferta diferenciada.

àquilo que nos custou tanto a conquistar. “O Municipal” - Ao nível do setor empresarial local, considera

“O Municipal” - O que acha da diminuição dos cargos dirigentes,

razoável a intenção de proceder à redução das entidades

em 15%, até ao final de 2012?

atualmente existentes, por extinção ou fusão?

Dr.ª Maria do Céu Albuquerque - Não concordo com a fórmula que

Dr.ª Maria do Céu Albuquerque - Essa é uma questão que não se

está a ser proposta no Documento Verde, uma vez que não tem em

coloca à Câmara Municipal de Abrantes, uma vez que não temos

consideração as respetivas especificidades e as condições de gestão

empresas municipais. Já tivemos uma empresa municipal mas

de cada um dos municípios. Esta é uma das situações em que os

entretanto foi extinta. Atualmente, não temos essa necessidade,

municípios deviam ser “avaliados” por aquilo que tem sido a sua

porque os nossos serviços municipais sempre conseguiram cumprir

gestão, a sua área de influência territorial e pelo trabalho que têm

com os objetivos traçados em termos da gestão municipal.

vindo a desenvolver em prol das comunidades locais. Cada autarquia deve ter autonomia para decidir sobre essa matéria, em função dos

“O Municipal”- A respeito do Documento Verde da Reforma

seus próprios projetos de desenvolvimento e do enquadramento

da Administração Local, que apreciação faz do mesmo,

social, empresarial e territorial, podendo existir eventuais “balizas”

nomeadamente, em face da discussão que tem gerado?

nesta percentagem, mas dando alguma flexibilidade. Dr.ª Maria do Céu Albuquerque - Entendo que a discussão tem sido “O Municipal” - Para além da limitação à admissão de novos

muito centrada à volta da reforma administrativa, nomeadamente

trabalhadores, que comentário faz ao objectivo de diminuir o

na agregação de freguesias. Parece-me que falta uma discussão mais

número dos que existem, de forma a atingir uma redução anual

acentuada sobre outras questões assinaladas no Documento Verde,

de 2%, no período de 2012 a 2014?

nomeadamente sobre a organização do território, o setor empresarial

Dr.ª Maria do Céu Albuquerque - No caso da Câmara de Abrantes, temos uma redução de 7,8% de colaboradores. Estamos muito para além daquilo que era a meta estabelecida. A flexibilidade de gestão democrática, associada ao poder local, deve ser tida em conta, nomeadamente para permitir fazer uma boa gestão com os meios financeiros que a autarquia dispõe, rentabilizando e criando oportunidades para melhor servir os nossos munícipes. Tendo em conta o que sabemos da matriz expressa na reforma do poder local, a reforma de colaboradores é um dos fatores que vai contribuir para a redução desses 2%, mas há casos de determinadas funções em

local e a gestão municipal, intermunicipal e financiamento.


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