Entrevista ao Presidente da Câmara de Idanha-a-Nova

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Município de Idanha-a-Nova, do distrito de Castelo Branco, localiza-se na Região Norte e na Beira Interior Sul. Ocupa uma área de 1416,3 km2 e abrange 17 freguesias. O município encontra-se limitado a norte por Penamacor, a noroeste pelo Fundão, a sul e a este por Espanha e a oeste por Castelo Branco. Possui um clima mediterrânico, com influências continentais, sendo os verões bastante quentes, com temperaturas que rondam os 30.º C, e os invernos consideravelmente frios, registando-se uma elevada amplitude térmica anual. Na rede hidrográfica, destaca-se a passagem do rio Ponsul, no qual se situa a barragem de Idanha, com 54 metros de altura, em funcionamento desde 1948. O edificado estende-se a partir de meia encosta para a região de campina, onde se destacam alguns montes, como os de João Nunes, Penha Garcia e Senhora de Almortão. Há em todo o município numerosos vestígios pré-históricos de ocupação, como menires e antas.

Os romanos tiveram uma influência importante, nomeadamente nas freguesias de Monsanto, Idanha-a-Velha e Ladoeiro e nas campinas de Idanha-a-Nova, onde existiu uma villa romana, assinalada no mosaico descoberto.

“O Municipal” – O Centro Logístico Agro Alimentar do Ladoeiro, no Município de Idanha-a-Nova recebeu apro­ vação do Programa Operacional do Centro, em reunião do dia 27 de outubro. Qual o objetivo deste projeto? Álvaro Rocha - O Município de Idanha-a-Nova sempre se assumiu como agrícola e durante muito tempo teve uma forte dependência da cultura do tabaco. Ultrapassada essa fase, consideramos que é necessário redirecionar as atenções para outras culturas e oportunidades, criando novos mecanismos e incentivos. O Centro Logístico Agro Alimentar do Ladoeiro assume-se como mais um instrumento de apoio à agricultura e reflete essencialmente três objetivos: ser um facilitador comercial para os agricultores; qualificar

os produtos agrícolas; e ajudar à fixação de jovens agricultores no território. “O Municipal” – Que atrações turísticas oferece o Município de Idanha-a-Nova aos seus visitantes? Álvaro Rocha - O Município de Idanha-a-Nova é extraordinariamente rico do ponto de vista turístico. De entre as muitas atrações, destaco duas aldeias históricas – Idanha-a-Velha e Monsanto; o nosso enquadramento no Geopark Naturtejo; o Tejo Internacional; a rede de percursos pedestres; o vasto património cinegético; as Termas de Monfortinho; a gastronomia; e o património imaterial, de que realço as romarias e tradições quaresmais. “O Municipal” – Que peças de artesanato são produzidas no território? Serão as marafonas de Monsanto as mais típicas? Álvaro Rocha - Sem retirar qualquer importância às marafonas, muito associadas à aldeia his-

ENTREVISTA ÁLVARO JOSÉ CACHUCHO ROCHA PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE IDANHA-A-NOVA

tórica de Monsanto, sem dúvida nenhuma, o adufe é a peça de artesanato que melhor caracteriza o nosso município, sendo a peça mais emblemática e típica. “O Municipal” – De que trata a lenda da Senhora do Almortão? Álvaro Rocha - De forma resumida, conta-se que havia, em Alcafozes, outros dizem em Monsanto, um rapaz que era pastor e apascentava um rebanho na zona da atual ermida. Certo dia, andando o pastor a vigiar o seu rebanho, encontrou no meio de uma moita de murta (arbusto) uma pequena e linda imagem de pedra que o encantara. Ficara tão contente que a colocou no sarrão(1) para ir mostrá-la à mãe. Ao chegar a casa, contou à mãe o que se passara, e quando ia para mostrar a “bonequi-


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ENTREVISTA

nha”, já não a encontrou. Repetiu-se por três vezes, chegar ao local e encontrar, de novo, a imagem, mas sempre que a levava para casa, ao chegar, já não se encontrava no sarrão. A notícia espalhou-se e todos concluíram que o melhor era construir uma capela no local em causa. Na verdade, desde tempos imemoriais, as gentes “arraianas” acorrem à ermida, implorando a proteção à Virgem do Almortão, perpetuando um local de culto já pré-cristão. Sarrão – saco feito de pele de ovelha onde o pastor levava a merenda. (1)

e o ACANAC, Acampamento Nacional de Escuteiros, que no último ano reuniu mais de 17.000 jovens.

“O Municipal” – Os jovens de Idanha que desejam ingressar no ensino superior têm alguma opção na sua terra? Álvaro Rocha - Sim. Felizmente, Idanha-a-Nova dispõe de todos os níveis de ensino. No que se refere ao ensino superior, os nossos jovens têm ao seu dispor a Escola Superior de Gestão, integrada no Instituto Politécnico de Castelo Branco, e que oferece cursos com grau de licenciatura e mestrado, bem como pós-graduações nas áreas das ciências empresariais, do direito e do turismo.

mandato como Presidente da Câmara Municipal. Que iniciativas e projetos lhe deram mais prazer realizar? Álvaro Rocha - Foi com muito gosto que demos atenção e prioridade à rede social de apoio à terceira idade, na qual se enquadrou, por exemplo, o Cartão Mais 65. Por outro lado, destaco o Centro Logístico Agro Alimentar do Ladoeiro e a Pousada de Juventude em Idanha-a-Nova, bem como o melhoramento da rede escolar e o apoio às associações locais.

“O Municipal” - Que análise faz da evolução das competências e atribuições das autarquias locais?

ensino básico, que comentário faz sobre o encerramento de algumas e a concentração dos alunos em estabelecimentos de maior dimensão?

Álvaro Rocha - Nesta matéria, sempre tenho afirmado que desde que os especialistas entendam que essa opção é a melhor para a educação das crianças, eu concordo.

“O Municipal” - Como avalia a descentralização de competências para os municípios no domínio da educação? Álvaro Rocha - Com bons acordos, é ótimo. Com acordos duvidosos é um pesadelo.

“O Municipal” - Qual é a sua “O Municipal” – Das festas e romarias celebradas no município, qual a mais importante e a que reúne mais visitantes? Álvaro Rocha - A Romaria da Nossa Senhora do Almortão é a mais emblemática, na qual se reúnem as gentes de todas as freguesias e os idanhenses espalhados pelo país e por todo o mundo. No que se refere a eventos importantes e mais recentemente ligados ao município, destaco o Boom Festival

“O Municipal” – Quais as especialidades gastronómicas mais apreciadas na região? Álvaro Rocha - As especialidades mais típicas e apreciadas são os burlhões, o soventre, ensopado de borrego, arroz de debulho (tripas), criadilhas com ovos, espargos silvestres com farinheira assada, sopas da matação e do bodo. Quanto a doces, destaco as papas de carolo e os borrachões.

“O Municipal” - Este é o último

Álvaro Rocha - Nos últimos

opinião sobre a perda de man-

tempos, a evolução tem-se

dato por não avaliação dos

centrado essencialmente na transferência de algumas atribuições e competências da Administração Central para as autarquias. É uma linha com a qual concordo, desde que sejam assegurados os meca-

trabalhadores? Álvaro Rocha - Em minha opinião, as regras são para cumprir. De qualquer forma, é sempre recomendável que haja alguma ponderação nesses casos.

nismos financeiros adequados para que as autarquias possam prestar um serviço de qualidade.

“O Municipal” - A propósito da reorganização da rede de escolas do 1.º ciclo do

“O Municipal” - A respeito da Lei n.º 64-B/2011, de 30 de dezembro, que aprovou o Orçamento do Estado para 2012, que comentário faz às disposições aplicáveis aos trabalhadores do setor público, em especial, as que se referem


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à redução das remunerações e à proibição de valorizações remuneratórias, não esquecendo a forma como passa a ser efetuada a determinação do posicionamento, no âmbito dos procedimentos concursais? Álvaro Rocha - O país atravessa um contexto económico e financeiro extremamente difícil, pelo que têm sido vários os esforços que recaem sobre os trabalhadores do setor público. Concordo que as medidas de contenção são necessárias, mas também entendo que para prestarem um serviço de qualidade, os trabalhadores precisam de estar motivados. E neste caso, seria menos desmotivante para eles se soubessem que o esforço que agora fazem lhes dará melhores condições de vida no futuro. Infelizmente, parece que cada vez há mais incertezas quanto a isso.

culdades de acesso ao crédito e os cortes orçamentais não ajudam nada e, em muitos municípios, a arrecadação de receitas próprias é também escassa.

perspetiva, são também, muitas vezes, o principal empregador, contribuindo

decisivamente

para que estes territórios sobrevivam. Assim, considero que esta é

“O Municipal” - O que acha da diminuição dos cargos dirigentes?

uma medida negativa para o Município de Idanha-a-Nova, embora entenda que, neste aspeto, também é necessária

Álvaro Rocha - Trata-se de uma medida que vai afetar a nossa organização. Quer sejam grandes, quer sejam de pequena dimensão, as câmaras municipais têm que estar preparadas para dar resposta em todas as matérias, o que varia é essencialmente o volume. A diminuição de dirigentes pode causar alguns constrangimentos.

alguma moderação, de modo a que os custos com o pessoal não asfixiem as autarquias.

“O Municipal” - Ao nível do setor empresarial local, considera razoável a intenção de proceder à redução das entidades atualmente existentes, por extinção ou fusão?

Álvaro Rocha - Esta é uma ma“O Municipal” - Para além

téria que não nos afeta, dado

da limitação à admissão de

que não temos empresas muni-

novos

que

cipais. Mas, no geral, concordo

comentário faz ao objetivo

que alguns casos carecem de

de diminuir o número dos que

análise e revisão.

trabalhadores,

existem, de forma a atingir a redução prevista no artigo

“O Municipal” - Perante as restrições em matéria de endividamento municipal, para o ano de 2012, como encara o futuro da gestão autárquica? Álvaro Rocha - Penso que no futuro, será mais difícil gerir as autarquias. As difi-

48.º da Lei n.º 64-B/2011, de

“O Municipal”- A respeito do

30 de dezembro?

Documento Verde da Reforma da Administração Local, que

Álvaro Rocha - Nos municí-

apreciação faz do mesmo,

pios do interior, onde se veri-

nomeadamente, em face da

fica alguma tendência para a

discussão que tem gerado?

desertificação, como é o caso

Qual é a sua opinião sobre a

do nosso, as câmaras munici-

reorganização do mapa au-

pais assumem-se como motores

tárquico, envolvendo a fusão

de desenvolvimento. E, nessa

e extinção de freguesias?

Álvaro Rocha - Também neste aspeto, tenho mantido a minha opinião. De um modo geral, sou contra a extinção e fusão de freguesias, nomeadamente, em municípios do interior e rurais como o de Idanha-a-Nova. Apenas defendo esta medida no que respeita às freguesias urbanas, onde acabam por ter um papel muito diferente daquele que desempenham no interior, com algumas centenas de habitantes, aí prestando um serviço social de proximidade verdadeiramente re­levante.


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