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O MUNICIPAL N.º 349 - Fevereiro/2010

entrevista J o s é Fa r i n h a N u n e s P r e s i d e n t e d a C â m a r a M u n i c i p a l d e SERT Ã Sertã, Vila e Concelho do Distrito de Castelo Branco, com 14 freguesias, situa-se na chamada zona de influência do pinhal interior, de onde advém muita da riqueza local, regional e até nacional. Rica de tradições e de património, o Município da Sertã pontifica na história deste nosso Portugal, por muitas razões, mas, desde logo, porque a Sertã foi berço de muitos homens notáveis, dos quais se destaca um dos maiores portugueses de sempre, o “Condestável” D. Nuno Álvares Pereira. A Sertã é também muito conhecida pela grande riqueza gastronómica, onde os maranhos e o bucho recheado são principais atractivos. É com esta grande diversidade que vamos até ao Município da Sertã entrevistar o Sr. Presidente da Câmara – José Farinha Nunes.

“O Municipal” - O Senhor Presidente foi re-

do, mas é tempo de olhar em frente e assumir

centemente eleito para a nobre missão de

de vez o progresso do Concelho da Sertã.

“conduzir” o Concelho da Sertã. Como está a ser a experiência?

“O Municipal” – O Governo tem efectuado, ultimamente, a transferência de um conjunto de

José Farinha Nunes - Boa, como devem cal-

competências para os Municípios, nomeada-

cular. Numa primeira fase, tomámos contacto

mente nas áreas da Educação e Acção Social.

com as realidades do Concelho, vimos como

Na opinião do Sr. Presidente foi uma trans-

estava a máquina a funcionar, fizemos o devido

ferência que melhor serve os interesses de

diagnóstico no terreno. Depois, e sem demo-

todos, incluindo os Munícipes?

ras, começámos a implementar o plano que temos traçado para o Concelho, começámos a cumprir o nosso Programa Eleitoral.

José Farinha Nunes – A proximidade é um dos factores mais relevantes na transferência de competências. Porque estamos perto,

“O Municipal” - O que mais o surpreendeu,

podemos fazer melhor. Existem uma série de

quer positiva, quer negativamente?

conhecimentos específicos que não podem ser descurados. E nós assumimos essa res-

José Farinha Nunes - Olhe, positivamente, a vontade de todos

ponsabilidade. Achamos que delegar é positivo. Agora, essas

em ver de novo o Concelho da Sertã como uma referência para

transferências devem obrigatoriamente ser acompanhadas por

toda a região. As pessoas querem ajudar nesse crescimento! E

dotações financeiras adequadas. E isso nem sempre acontece.

essa vontade deixou-me muito satisfeito. Essa era uma ideia da

Vamos estar atentos em próximas negociações.

nossa candidatura, envolver todos os munícipes e passar a ideia de que o futuro deste Concelho depende do envolvimento de

“O Municipal” - A ANAFRE, no seu último Congresso, reali-

todos nós. Esta mensagem foi muito bem acolhida por todos.

zado há pouco tempo, reivindica mais competências, por

Surpresas negativas não tive. Alguma coisa me terá desagrada-

parte do Municípios.


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entrevista

Concorda que a maior satisfação de necessidades, por parte

pinheiro sofreu imenso com os fogos. Por demorar pelo menos

dos Munícipes e Fregueses, passa também pela transferên-

trinta anos a atingir a fase adulta, o pinheiro facilmente é tro-

cia de mais competências do Município para a Freguesia?

cado por outras espécies, nomeadamente o eucalipto. É todo um ciclo que se altera. Mas não devemos também esquecer que

José Farinha Nunes – Sim, como não?! O Poder Central deve

o pinheiro é uma árvore que chegou à nossa zona “apenas”

delegar nos Municípios competências que estes podem desem-

há alguns séculos. Antes, existiam carvalhos e sobreiros, além

penhar. Se é assim, lógico será que essa cadeia de delegações

de árvores agrícolas. São, portanto, ciclos, uns que se fecham,

se estenda dos Municípios às Freguesias. Há um sem número de

outros que se abrem.

tarefas que devem ser “democratizadas”! E, depois, cá está a questão da proximidade. Como se conhecem o terreno e as pes-

“O Municipal” – Em termos culturais, a Sertã está inserida

soas, o grau de satisfação de necessidades será sempre maior

numa região ímpar e de grandes tradições.

e melhor.

Por favor, fale-nos um pouco dessa riqueza, cultural e turística, onde inclua o património edificado.

“O Municipal”

– De quando em vez, volta a ouvir-se falar

na Regionalização Administrativa do Continente.

José Farinha Nunes – Em termos culturais, destaco a Rota dos

Qual a opinião do Sr. Presidente face a esta complexa matéria?

Templários e o nascimento de D. Nuno Álvares Pereira no Concelho. Existem nas nossas três Vilas casas apalaçadas de grande

José Farinha Nunes – Disse bem – complexa matéria. O que me

beleza e que marcam épocas da nossa história. Mas a Sertã é

interessa é que as coisas funcionem. As Comissões de Coordenação

uma região tipicamente beirã, em termos arquitectónicos. As

e Desenvolvimento Regional têm cumprido o seu papel. Penso que

casas antigas são de pequena e média dimensão e na sua cons-

será a partir daqui, das CCDR, que as coisas vão evoluir. Havendo

trução predominam o xisto e o calcário. Contudo, são habitadas

maior ou menor ruído, ponderadas as questões técnicas e políti-

por gente fantástica, que soube encarar as agruras da vida com

cas, não prevejo nenhuma reforma profunda nesta questão. Temos

muita sabedoria. O seu folclore é rico e variado, encontrando-se

ainda de ver até onde nos levarão as Comunidades Intermunicipais

muito ligado à vida agrícola e do campo. As albufeiras, as ribeiras

e qual será o seu papel no desenvolvimento regional.

e as nossas magníficas paisagens são também motivo de inte-

“O Municipal” – O Município da Sertã está inserido na chamada zona do “pinhal interior”. À primeira vista, parece ser uma mais valia, quer em termos económicos, quer ambientais. No entanto, os fogos de verão vão potenciando um verdadeiro inferno e calamidade. Sr. Presidente, fale-nos das potencialidades económicas e ambientais, para a Sertã, do pulmão verde que é o pinhal. José Farinha Nunes – O Pinhal Interior era, até há bem pouco tempo, uma das maiores manchas verdes da Europa. Com a calamidade dos incêndios é todo um cenário que se altera. Tanto económico como ambiental. A indústria da madeira à volta do


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entrevista

resse turístico. O Concelho começa a estar

José Farinha Nunes – Chamo ao fenómeno

bem munido de equipamentos hoteleiros e

desertificação humana e é um dos grandes

esperamos, dentro em breve, ter requalifi-

motivos da nossa preocupação. Existem vá-

cado para fins turísticos o Convento de Stº.

rios factores que a potenciam. Todos nós os

António, no centro da Vila da Sertã.

conhecemos. Mas, para combater o fenó-

“O Municipal”

meno, o fundamental será sempre a cria-

– E a cultura gastronó-

ção de emprego. E para que tal aconteça

mica, o que destaca?

temos que criar pólos geradores de indústria. Vimos que há sectores enfraquecidos.

José Farinha Nunes – Na gastronomia, é

Pois bem, devemos criar e potenciar novas

onde está o nosso grande trunfo turístico.

oportunidades e as Energias Renováveis são

Destaco, entre muitas outras iguarias, o

novas oportunidades que devem ser poten-

maranho, o bucho, os cartuchinhos (doce)

ciadas! Temos fundadas esperanças nesta

e a aguardente de medronho. Temos tam-

nova indústria. Temos, já hoje, no Con-

bém os vinhos, alguns deles com muita

celho várias dezenas de postos de trabalho

qualidade. Como exemplo, destaco os

neste sector. O Município tem planos para

vinhos biológicos do Albergue Bonjardim

dinamizar as Energias Renováveis que vi-

do Nesperal que recentemente ganharam

sam, em última instância, a criação de

medalhas de prata e ouro num concurso

postos de trabalho e a fixação populacio-

internacional de vinhos na Alemanha.

nal. Estamos no Projecto Europeu RETS e a FAFIC tem por tema nestes próximos quatro

“O Municipal” – O “Condestável” D.

anos precisamente as Energias Renováveis.

Nuno Álvares Pereira nasceu em Cernache de Bonjardim, freguesia deste Município. O que representa este herói português para o Município que o viu nascer? José Farinha Nunes - Representa um exemplo a seguir e motivo de grande orgulho! O ano de 2009 marca o ressurgimento da figura deste Herói Nacional. Ao ser tornado Santo pela Igreja,

A par de outras, são estas as nossas apostas no combate à Desertificação Humana. “O Municipal” – A conturbada situação económica mundial e nacional tem trazido muitos inconvenientes à população mais desfavorecida da Sertã? Quais as medidas que o Município tomou para ajudar os seus Munícipes?

veio lembrar-nos a todos nós que existem valores que são in-

José Farinha Nunes – As questões sociais estão hoje na pri-

temporais. Este ano, comemoram-se os 650 anos do seu nasci-

meira linha das preocupações de qualquer Município. Nos não

mento. No dia 24 de Junho, data do seu aniversário e feriado

somos excepção. Damos especial atenção a situações limite,

municipal em sua honra, a Câmara Municipal, em colaboração

quer de novos focos de pobreza, quer a situações já identifi-

com a Junta de Freguesia de Cernache do Bonjardim, esperam

cadas. Estamos particularmente atentos aos mais idosos e a

comemorar a efeméride com muita dignidade. Está prevista,

crianças em idade escolar. Temos todo um conjunto de me-

para breve, a construção dum santuário no Seminário das Mis-

didas, que diariamente e através dos nossos Serviços Sociais

sões, à qual o Município se vai associar.

pomos em prática. A estreita ligação a todas as Instituições de solidariedade social do Concelho permite-nos estar mais

“O Municipal” – O interior de Portugal sofre da “sangria”/

perto e resolver à nascença problemas que de outra forma se

desertificação populacional.

tornariam mais graves ainda.

Quais as medidas que a Sertã já tomou para minimizar ou mesmo inverter tal tendência?

“O Municipal” – O actual Governo pretende levar por diante


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entrevista

a construção de um significativo conjunto de novas barra-

mentais, de pessoal e de espaços físicos, com a necessidade

gens.

de um melhorar de condições aos munícipes, este novo tipo de

Qual a opinião do Sr. Presidente, já que a Sertã tem no seu

atendimento e de organização interna vai permitir um conjunto

território três albufeiras das barragens de Cabril, Bouçã e

muito interessante de mais-valias, quer para o município em si

Castelo do Bode?

mesmo, quer para os munícipes. Se, por um lado, o cidadão ao dirigir-se ao seu Município encontra num só sítio a possibilidade

José Farinha Nunes – Um bom exemplo de como devemos po-

de tratar de vários assuntos no mesmo local (no nosso caso será

tenciar as nossas condições naturais. Portugal é um país sem

também multicanal - internet, telefone ou por correio), por

petróleo. Este é um recurso caro, poluidor e que se esgotará.

outro, toda a organização interna dos serviços será também ela

Se temos condições excepcionais para produzir energias limpas

muito mais funcional e célere. Na Câmara da Sertã depositamos

e renováveis, de que estamos à espera? Além de ficarmos me-

fundadas esperanças neste novo tipo de atendimento.

nos dependentes do estrangeiro, ainda cuidamos do ambiente e do futuro das novas gerações. A aposta deve ser não só nas

“O Municipal” – Quais os objectivos a atingir no mandato?

barragens, mas em todas as formas de produção de energias alternativas ao petróleo, e não poluidoras. Falei nisso atrás como

José Farinha Nunes – Esperamos que, feitas as contas, tenha-

aposta para o Concelho da Sertã e isso aplica-se também a ou-

mos correspondido por inteiro às expectativas em nós deposi-

tras regiões do país. E, em termos de barragens, temos também

tadas. E isso implicará que incentivámos a criação de empre-

estudos para implementar mini-hídricas nas nossas ribeiras. Va-

go e estancámos a desertificação humana, que melhorámos as

mos ver como evoluem os processos.

acessibilidades do Concelho, que em termos sociais estivemos atentos aos problemas das pessoas, que, em termos urbanís-

“O Municipal” – Se o Sr. Presidente fosse Legislador, qual

ticos o nosso território concelhio está melhor ordenado, que,

a lei que elaboraria, em favor do Poder Local?

em termos culturais, já produzimos bons espectáculos, feitos por gente de cá e com qualidade, no fundo, que as pessoas se

José Farinha Nunes – Nenhuma, penso eu. O problema não está

sintam bem na sua terra, não tenham necessidade de imigrar

nas leis. Temos bons códigos e boas leis. Alteraria, isso sim,

ou emigrar, tenham melhor qualidade de vida e que a Sertã e o

alguns códigos de conduta em favor do Poder Local. Ser autarca

seu Concelho sejam de novo uma referência para toda a região.

e servir as populações deveria, por vezes, ser merecedor de

Sabemos que não será fácil. Mas, com a vontade, o empenho e

mais atenções. Os Municípios debatem-se, diariamente, com

o trabalho de todos, - conseguimos!

carências enormes e, se somos solidários na resolução de muitos problemas, existem valências que deveriam também ser distribuídas solidariamente. E nem sempre o são. “O Municipal” – Na senda da modernização e do apoio aos Munícipes, a Câmara possui um Gabinete de Atendimento Integrado ao Munícipe. Quais aos objectivos a atingir? José Farinha Nunes – Foi criado muito recentemente, já neste mandato, e foi uma das propostas eleitorais do nosso programa. O Gabinete Integrado é uma evolução natural da Administração Autárquica. Com as novas tecnologias, com os constrangimentos orça-


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