que recebeu . Ciceroneou o in- es~dar língua portuguesa para panhol, que estavam há mais Paulo. telectual marxista Caio Prado fugu do exame nacional. Ao chegar na China, em tempo na Rádio, e depois eram Junior e foi a um congresso As instituições de ensino 1959, não sentiu dificuldades. reescritos em português. do Partido Comunista. Visioferecem um determinado No Instituto de Línguas Alimentava-se no hotel onde tou o rio Yangtsê, onde estão número de vagas para cursos morava. Eram servidas comi- Estrangeiras, em que Carlos as terras mais férteis do país, e sem muita procura, como os das soviéticas e chinesas. O lo- deu aulas, havia treze chiconheceu comunas populares de língua portuguesa, árabe ou cal se chamava ~py)l(6a - lê-se neses aprendendo a língua unidades rurais autônomas vietnamita, e fazem uma sele"drusba", "amizade", em russo. portuguesa. Desses, sete ou de propriedade estatal. As des- ção em escolas secundárias. Os Lá se hospedavam pessoas da oito trabalhavam na emissopesas eram pagas pelo governo alunos podem escolher uma ex-União Soviética, até que o ra com quatro brasileiros. "O das línguas, passam por uma país rompeu relações com a que mais me marcou naquele e junto ia um tradutor. Escreprova e deixam o "vestibular China e estrangeiros de outras tempo foi , em primeiro lugar, veu, para a Rádio e veículos de chinês" para trás. nacionalidades começaram a dedicação do povo chinês, comunicação brasileiros, sobre Nesse processo, poucos a frequentá-lo. Logo o hotel a ponto de uma aluna minha, alguns locais onde esteve. Foi sabem qualquer coisa sobre o o caso da matéria sobre os virou sua casa e ponto de en- em três meses, fazer locuções idioma português ou os pomédicos descalços. "Eles eram contro com os colegas latino- em português", recorda. "Só vos lusófonos. Xie Haitian, ou formados em três anos para americanos. podia dar no que deu", conclui, Paulo, como é chamado pelos enfrentar doenças endêmicas, Q!iando o departamento referindo-se à posição do país colegas brasileiros do deparde português da então Rádio como atual segunda potência muito comuns no país e que tamento e por ouvintes, ainda matavam grande parte da poPequim foi criado, no ano de do mundo. morava na casa dos pais, na 1960, Carlos deixou de leDevido ao vínculo com pulação. Eram apelidados de cionar e iniciou seu trabalho partidos de esquerda, a des- 'pés descalços' porque iam em cidade de ZhengZhou, a 730 na emissora. Os serviços de confiança que chineses tinham grupos, de barco, de ônibus, à quilômetros de Pequim, quanportuguês e espanhol funcio- de estrangeiros não o atingia pé, até as comunas distantes e do viu um anúncio do curso navam em conjunto, sob uma diretamente. "Mas nós to- vilarejos. Essa é uma e.:q>eri- de Letras da U1úversidade de única direção. A sala na aveni- mávamos cuidado para não ência inédita, e.,traordinária", Comunicação da China, que fica na capital. "Havia muitas da Fuxingmen tinha 25 metros ofender e criticar coisas que ressalta. quadrados e ficava no segundo não achávamos muito justas", Num jardim de Xangai, línguas menores do mundo. andar do prédio. Os estúdios revela. Carlos Frydman deparou- Porque inglês é bem difunO hotel "Drusba" ficava se com a placa "É proibida a dido. Outras línguas também de gravação estavam quatro e cinco andares acima e os equi- a 15 minutos à pé da Rádio. entrada de cães e chineses". são populares mas não abranpamentos eram soviéticos. Num tempo em que circula- O dizer era vestígio de uma gem o mundo todo. São como A captação de notícias para vam apenas veículos oficiais série de ocupações. Tiveram um sistema, como uma parte, o programa em português era no país, Carlos tinha um carro concessões territoriais no país uma área especial que abriu idêntica à forma como ocorre com motorista à sua disposi- Inglaterra, Alemanha, Rússia, novamente nos últimos anos hoje, apesar de serem usadas ção. O brasileiro também fre - Império Otomano, Império na China", afirma o jovem de tecnologias diferentes. Cor- quentava o hotel Pequim, onde Austro-húngaro, França, Esta- 27 anos, nervoso ao falar durespondentes espalhados pela havia carne à vontade. dos Unidos e Portugal. No sé- rante meia hora apenas em Um ditado chinês diz que culo XIX, embarcações estran- português. "Antes, eu nunca China e por outros países produzem reportagens em chinês se comerá tudo o que tenha geiras atracavam em Xangai via ou ouvia notícias sobre ese as enviam para o centro de quatro patas, exceto mesas, e para deixar ópio e retornavam sas línguas. Eu sabia o nome notícias da Rádio. O centro as tudo o que voe mas não seja cheias de chá e seda. "Há um do Brasil e de Portugal, mas distribui para todos os serviços um avião. Embora animais resquício de revolta que ficou sobre a língua portuguesa eu de idiomas. Em cada um dos exóticos estejam em feiras de daquele tempo. A falta de li- não tinha muitas informações. departamentos, chineses sele- Pequim para impressionar berdade do povo chinês tem Eu não sabia que no Brasil se cionam e traduzem os textos turistas estrangeiros, quando suas razões. No passado eles falava a língua portuguesa'', para a língua em que serão Carlos morava na cidade, ca- foram muito desrespeitados", conclui. transmitidas. O papel dos es- chorros, gatos e ratos eram a opina o brasileiro que permaOs funcionários chinetrangeiros, chamados de "espe- única opção dos miseráveis. neceu na China até 1963. ses afinnam que, apesar de o cialistas", é revisar e corrigir as "Hoje, o salário é muito idioma ser "menor", hoje há traduções dos chineses. Além baixo na China, mas o povo vínculo entre o depar- oportunidade de emprego para das reportagens do centro de chinês come . E é disso que tamento de português quem fala português. A justifinotícias, também é permitido parte o grande apoio que o e o Instituto de Lín- cativa está nas relações Chinaaos funcionários usar textos de governo tem. Comer era um guas Estrangeiras de Pequim Brasil e China-Áfric.1. A disveículos estatais, como os da privilégio naquele tempo", permanece. Parte dos 21 tra- tância entre o país e o ocidente agência Xinhua. conta o brasileiro que viu pes - dutores da Rádio Internacio- p,uece ter diminuído de uns Naquele tempo, porém, os soas passarem fome . Segundo nal estudaram no Instituto. Na anos para d, com a política de chineses estavam em processo o Banco Mundial, nos últi década de 1960 eram poucos aberturn p,u-a o exterior ini de aprendizagem e não con- mos 30 anos, 400 milhões de os chineses que chegavam ao ciada por Deng Xiaoping em seguiam traduzir todo o con- pesso,ls deixaram a miséria n,1 en~ino superior. Por isso, quase 1978. É considerável o núme teúdo que chegava do centro China. nunc,1 havia um teste de sele- ro de brasileiros que vi.lja ao de notícias. Por isso, os texEntre as regalias recebi- çào para ingresso em universipaís a tr.,b.1lho ou ,1 passeio e tos passavam primeiro pelos das, Carlos fala, ainda, das dades . Hoje, a concorrência é o turismo já é um dos setores funcionários fluentes em es- viagens que fez e das pessoas grande e ;s chineses escolhem mais expressivos na economia 4
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chinesa. situação é bem diferente de 1989, quando Jayme Martins, brasileiro que trabalhou por mais de 20 anos na Rádio, foi retirado de Pequim pela embaü::ada brasileira. Naquela época, o país passava por uma inflação muito grande, redução de investimentos, cortes de financiamentos para implantação de empresas privadas, redução de salários e desemprego. Os estudantes iam às ruas protestar. Mikhail Gorbachev, ex-líder da União Soviética, foi à China em maio de 1989 e órgãos de imprensa internacionais acompanharam a visita. Os manifestantes aproveitaram a ocasião para mostrar suas reivindicações ao resto do mundo e os jornalistas prolongaram a estadia para cobrir os movimentos. Em 4 de junho, milhares de estudantes estavam na Praça da Paz Celestial quando tropas do governo chegaram com tanques de guerra e armas automáticas e mataram civis. Não se sabe ao certo quantas pessoas foram mortas naquele dia, mas depoimentos de testemunhas indicam até centenas, e outros milhares de feridos. O episódio ficou conhecido como Massacre da Praça da Paz Celestial e dito por alguns estudiosos como "o grande erro de Deng Xiaoping", o líder máximo chinês da época. Durante o massacre estavam em Pequim um grupo de 19 turistas brasileiros, doze ou treze estudantes universitários e outros quatro brasileiros que residiam na cidade. Era a família de Jayme Martins. "Como havia iminência de conflitos dentro da própria capital, as embaixadas resolveram retirar os seus nacionais. A embaixada do Brasil, então, retirou a minha família", conta o paulista de 81 anos. Antes de ir embora, fez uma cobertura dos acontecimentos na capital para veículos de comunicação brasileiros. Jayme recorda que nào recebeu reclamações da Rádio Internacional da Chi-
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na, controlada pelo governo. "Tanto que eu fui convidado a trabalhar lá novamente. Mas agora só vou de visita." O brasileiro, que foi morar no país em 1962, não tinha relações com movimentos de esquerda. Antes da mudança, era chefe de reportagem do Última Hora, jornal de São Paulo. Uma delegação chinesa de jornalistas e radialistas que estava na América Latina visitou a redação onde trabalhava. Eles estavam com um intérprete de espanhol. "Mas eu percebi que ele não sabia patavina da língua." Filho de espanhóis, Jayme assessorou os chineses. Ao final da visita, o chefe da delegação, vice-ministro de rádio, televisão e cinema, perguntou: "O senhor aceitaria o convite de trabalhar na China para formar intérpretes de português>". Jayme diz que, "muito cara-de-pau", topou. A viagem teve início em São Paulo e, para ir até a China, Jayme fez conexões no Rio de Janeiro, Recife, Dakar, Lisboa, Zurique, Praga, Moscou, Nova Sibéria, Irkutsk e Omsk - as últimas quatro cidades na Rússia. Chegando em Pequim, um intérprete e um funcio nário do Instituto de Línguas Estrangeiras o esperavam no aeroporto. Algo chamou sua atenção no trajeto até o hotel. "Eram muitas e muitas bicicletas. De repente,já no centro da cidade, vimos um ônibus com um imenso bolsão em cima da capota", relembra. Era gás metano, alternativa encontrada pelos chineses após a União Soviética ter suspendido a exportação de petróleo para a China. Em frente à Cidade Proibida avistaram uma caravana de c.m1elos transportando carga. "Como não havia nem gasolina nem óleo diesel, os chineses ressuscitaram o transporte de carga por camelos, em pleno centro de Pequim. Essa era a situ:1ç:io naquele tempo." Jayme trabalhou no Instituto de Línguas Estrangeiras durante seis meses e, então, dedicou-se exclusivamente à Rá dio Pequim. Os estrangeiros
corrigiam os textos à caneta e tudo era datilografado mais uma vez. Os quadros esportivo e musical, as reportagens e as entrevistas eram produzidos de dia. As notícias, com comentários, eram gravadas à noite. No início, o brasileiro foi fu ncionário do serviço de espanhol e depois do de português. Antes de sair do Brasil, havia noivado com Angelina. "Os chineses, compadecidos da minha situação de noivo a distância, convidaram- na também para lecionar lá." O irmão de Jayme atuou como procurador para legalizar a união no Brasil e a moça foi casada para Pequim. Jayme e Angelina fizeram a festa de casamento na China. os 51 anos de existência do departamento de português, entre os povos lusófonos, apenas brasileiros trabalharam no serviço. "Isso dependia das relações internacionais da China naquele tempo. Portugal era uma ditadura de Salazar. Não havia entendimento entre os governos da China e de Portugal e nem entre o Partido Comunista da China e o Partido Comunista português. O bom relacionamento com o Partido Comu1ústa do Brasil fez com que eles chamassem brasileiros para trabalhar lá", explica Jayme. O sotaque foi, desde o início, o do português brasileiro e a orientação continua. A Rádio Internacional foca seus conteúdos no Brasil. Os chineses formados em Letras-Português falam corno portugueses. Se trabalham na Rádio Internacional da China, precisam mudar o sotaque. Niu Xuan, ou Nina, é funcio nária desde outubro do ano passado e relembrn o processo. "O som de 'x' fica 'ssssss', um pouco diferente", ri. 0!,1ando Paulo, o chinês que não sabia nada sobre os países lusófonos, concorch com :1lgo, diz "pois, pois".
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ngelina e J 1yme viveram em Pequim de 1962 a 1979. Vol-
taram a trabalhar na Rádio Internacional da China entre 1987 e 1989 - permaneceram no país até o Massacre da Praça da Paz Celestial. "Lá, eu também me sinto em casa", afirma o paulista que mora em Jundiaí e tem filha, genro e três netos na China. Numa das idas de fé rias ao Brasil, Jayme acabou encarcerado durante dois meses em uma masmorra do DOPS (Departamento de Ordem e Política Social), dois meses no presídio do Hipódromo e mais um ano na Casa de Detenção de São Paulo, o Carandiru. Ele havia sido denunciado, seis dias após o golpe militar, de se envolver com uma suposta quadrilha de espiões chineses. O paulista foi solto em 1965, mas ainda havia processo contra ele na Justiça Militar de São Paulo e, por isso, não conseguia reaver seu passaporte no DOPS. Um advogado que se correspondia com a Rádio Pequim conseguiu um novo passaporte no Paraná. "Saí normalmente pelo aeroporto de São Paulo sem que nada mais me acontecesse. l\1ais uma vez, a Rádio Pequim participava da minha vida", declara. Durante os 20 anos morando no exterior, Jayme não perdeu o contato com o Brasil e chegou a ser correspondente internacional. Os primeiros trabalhos foram para a Rádio Guaíba, de Porto Alegre. O ocidente voltou a atenção para o extremo oriente com a primeira visita de um presidente norte-americano à República Popular da China, em 1972. O então diretor de jornalismo da Rádio Guaíb:1, ·Flúvio Akar.iz, foi um dos profissionais que cobriu a id:1 de Richard Nixon ,10 pais e entrevistou J1yme, por se tr,1tar de um brasileiro morador de Pequim. Ao tinal da conversa, FLívi.o pediu-lhe que p,1ssasse semanalmente algum m,1terül jornalístico ao vivo p,1ra Porto Alegre por telefone. A cooper,1çlo entr,: :is emissor:1s ocorre ainda hoje. O depart unento de portugu&s produz, de segu nd,1 a sexta-
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1 com transmissões ao vivo pela J CCTV, emissora estatal, mos~ trando como a vida melhorou
~ para os tibetanos nas últi-
~ mas seis décadas. Ao mesmo tempo, proibiu a entrada de estrangeiros, como forma de evitar protestos. Para comprar uma passagem de trem ou avião cujo destino é o Tibete, é preciso permissão do governo. A autorização só é concedida àqueles que contratam uma agência de viagens tibetana. A empresa deve preencher um formuL1rio informando os números de visto chinés dos turistas, o número da placa do carro no qual vão transitar, os nomes do guia turístico e do motorista e o roteiro de viagem. Ao chegar lá, o estrangeiro entende por que passou pela burocr,1cia. No centro de Lhasa, capital tibetana, as bandeiras típicas de oração para afastar desastres naturais tomam novo conteúdo. No lugar das rezas, vê-se escrito um "60", simbolizando a comemoração chinesa da ocupação da região. Não apenas nas cidades, mas no interior, guard.1s ci.rculam a.rmados. Nas estradas, centen,1s de t,mques de guerra são transportados. A China tomou conta do local. As cidades estão replet.is de chineses "han" - a etnia majoritária, que corresponde a mais de 90% da população do p,ús. Nas escolas, os alunos podem aprender com professores tibetanos ou chineses. Os que têm lições com tibet,mos não arruman1 empregos tão bons qu,mdo terminam os estudos. Aos poucos, a populaç-io esquece o próprio idionu e: mistur.i palavras de sua língua com termos em chinês. O desenvolvimento é e~idente. A China, agora segund,1 maior potência do mundo, tem a possibilidade de construir estr:1d,1s que levam tibetanos e turist,1s a locais disunces com mais facilid,1de. No "teto do mundo", como é conhecido o Tibete por c:sur a unu elevc1ç:.10 médü de 4.000 metros :teima do nível do rna.r, a população é, c:m geral, nômade
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''60 anos de libertação pacífica": é o que dizem as bandeiras em meio a militares chineses no Tibete
feira, um boletim com duração de três a cinco minutos e o envia para as .rádios Guaíba e SuperRádio FM, de Brasüia. Os temas tratados são abrangentes - qualquer notícia da China ou do Brasil. m um dos boletins gravados este ano, Camila Olivo, funcionária brnsileira, falou da frota de veículos chineses, da linha ferroviária que liga Lhasa a Shigatse - ambas cidades do Tibete - e sobre Barack Obama ter recebido Dalai Lama na Casa Branca. Nesta última, explicou
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que o governo condena a atitude do presidente norte-americano porque, na China, o tibetano é considerado um exilado político dedicado a atividades separatistas sob o pretexto da religião. O boletim diz: "Pela passagem do sexagésimo aniversário da libertação pacífica do Tibete, Dalai foi convidado pela Casa Branca, o que feriu definitivamenre os sentimentos do povo chinês." Enquanto no resto do mundo Dalai Lama é tido como um líder espiritual, na China o tibetano é considerado terrorista e separatista . Os
professores não ensinam às crianças que o Tibete, segunda 1rnúor província da China, na região oeste, foi ocupado por chineses, em 1951 , e que estão lá desde então. A mensagem passada, tanto nas instituições de ensino como nos veículos de comunicação, é que o Partido Comunista livrou os tibetanos cb escravidão promovida por Dalai Lm1a. É por isso que, na China, este ano, comemorou-se os "60 anos de libertação pacífica do Tibete". Durante o mês de julho, o governo realizou celebr,1ções 1u região ,1utônom,1,
na na casa ou apartamento não o contrário de Vila, há e se espalha para criar iaques dente internaàonal. As lições pode estar voltada para a rua, são dadas por chineses com muitos chineses que _ um mamífero similar ao boi. onde qualquer um possa ver. desconhecem as redes experiênàa na área. "Eles nos O cenário contrasta com as No condomí1úo onde moro, sociais bloqueadas na China. ensinam a escrever, falar bem novas construções. O governo não dá para ver a antena. Aí Richard Amante é um dos e como fazer uma reportagem também ergue casas, iguais às não tem problema", relata. quatro funàonários brasileino olhar do repórter chinês. típicas tibetanas. A diferenros da Rádio Internacional. O Na internet, a censura está . Você sabe, repórteres ocidença é uma bandeira chinesa no jornalista gaúcho conta que faz nas redes soàais. O acesso aos tais e orientais, cada um tem telhado e a localização. Nos novos domiálios, próximos sua opinião, seu olhar. Não é ocidentais Youtube, Facebook aulas particulares de chinês e, às rodovias, são instaladas as igual. E para os internautas e e Twitter é proibido. Ainda certa vez, sua professora que pessoas que moram em lugares ouvintes é importante esco- assim, os chineses lidam com ria entender por que Richard afastados. Os veículos de co- lher qual a verdade ou em qual redes sociais a toda hora. Nos comentou algo que ela nunca municação, incluindo a Rádio opinião confiar", argumenta a metrôs,jovens digitam freneti- tinha ouvido falar. "Eu disse Internaàonal da China, fazem chinesa que estudou por um c.unente em seus smartphones . 'Ah, é por causa da censura!"', sua parte na colonização ao ano na Pontifíàa Universida- As lojas da Apple são invadidas relembra. E a professora não reforçar que o Tibete está me- de Católica (PUC), em Porto por urna multidão que navega conseguia entender qual o em páginas quase idênticas ao significado da palavra "censu Alegre. lhor agora que há 60 anos. Ao dar um exemplo de di- Facebook. É o Ren ren wang ra". "Procurei em dicionários Segundo Xiuli Wang, professora do curso de Jor- ferentes tratamentos para um - uma rede soàal que fica sob de chinês, inglês e português, nalismo e Comunicação da mesmo assunto nos dois lados controle do Partido. Na China, porque ela fala inglês tamUniversidade de Pequim, os do mundo, demonstra dúvida. o Twitter ganha o gêmeo Wei- bém, mas a minha professora chineses pouco lidam sobre "Sobre as notíàas do Tibete, bo e o Youtube é trocado pelos não conseguia entender o que a questão do Tibete em suas talvez. Eu não leio muitas no- sites Tudou e Youku - todos o termo sig1úficava. Eu expliquei 'Existe uma informação vidas cotidianas. Ela acredita tíàas oàdentais sobre o Tibe- monitorados . sobre a qual o governo não Apesar de ser estatal, o que as diferenças de discurso te, então eu não sei dizer qual a quer que você saiba. Então ele serviço de português da Rádio no ocidente e na China e.x.is- minha opinião. Mas como chitem por uma razão específica. nesa eu acho que as notíàas da lnternaàonal da China man- vai proibir essa informação de "Uma coisa é a espiritualidade China são verdadeiras, porque tém páginas no Facebook e chegar até você . Isso é censura'. de Dalai Lama. Outra é a sua os chineses conhecem mais a no Twitter. O responsável por Ela não consegue entender por opinião política. A mídia chi- cultura e a história do Tibete. abastecê-las é um brasileiro que o governo não iria querer nesa é controlada pelo gover- Mas na verdade é muito difí- pago pelo trabalho. Vila repas- que ela obtivesse uma certa no. Então mesmo que os jor- cil de falar, porque eu nunca sa a ele as notícias e os víde- informação. Isso é um pensanalistas quisessem falar sobre fui para o Tibete. Eu não sei os destinados às redes soàais . mento muito comum aqui na o seu lado espiritual, eles pro- como é lá." Ela seleciona as matérias que China", afirma. vavelmente não poderiam . No Vila acompanha notícias julga mais interessantes e mais Situações assim podem ocidente, por causa do sistema de veículos ocidentais pela in- importantes . "E também pro- durar muito tempo no país democrático e da liberdade de ternet. "Costumo acessar Glo- gr,unas sobre a cultura chinesa. em função das tradições, tão expressão, eles focam no lado bo, BBC e CNN ." A maioria E fotos. Normalmente as mais importantes para o povo chiespiritual do Dalai Lama." A dos chineses, no entanto, ob- interessantes e lindas", sorri . nês . Nos últimos vinte anos , chinesa, que morou durante tém informações apenas da Este ano, o brasileiro res- a população viveu uma das três anos nos Estados U1údos, mídia local. "Porque ainda ponsável pelas redes sociais se maiores ascensões sociais da conta, com entusiasmo, o que não conhecem a língua ingle- mudou para a China, onde os história da humanidade . Mas via no país: "Os americanos sa. Mas os jornalistas acessam sites são censurados. Por isso, o maior grau de escolarização gostam mais de Dalai Lama os sites ocidentais", garante a a direção do departamento de e o contato com o exterior, que do que do presidente Bush! jovem. português pensa em instalar poderiam alimentar ,\ vontade Mas é como nós amamos a Outro empecilho é a cen- um software específico para por mudanças, batem de frente Madre Teresa mais do que o sura de sites e canais de televi- o desbloqueio. "Mas talvez com a civilização mais antig,1 presidente Bush - uma coisa é são. Para controlar sua imagem esse jeito não seja muito bom, do mundo. o lado espiritual e outra é o po- positiva, o governo chinês blo- então nós talvez tentaremos Na China, segue- se unu lítico. Eu concordo com a par- queia o acesso a determinados encontrar outra pessoa parn hieurqui.l. As crianç,1s devem, te espiritual do Dalai Lama, veículos . Na televisão, mesmo fazer isso no Brasil", ressalta a em primeiro lug,u, respeitar os mas eu, como chinesa, tenho à cabo, não é possível assistir chinesa. Vila entende a censu - avós . Em seguida vêm os proque apoiar meu país." aos canais internacionais de ra dos meios de comunic,1ção fessores . No último p,nanur notícias . A única exceção ocor- e sabe que seu país tem sites est:io os pais - segundo ,1 cula Rádio Internacional, re em alguns hotéis. equivalentes. A jovem de ca- nu,1 deles, muito jovt>ns 1x1ra os chineses não têm Estrangeiros que vivem belos curtos e óculos costuma entender o certo e o err.1clo. Os uma opi1úão formada, na China podem acompanhar acessar o Weibo e o Ren ren nuis novos, que podt.>ri,1111 p,ts apenas percebem as divergên - noticiários em inglês, mas pela wang, mas monitorar o Face - s.u icl<"i,ts diferentes aos tilhos, cias entre o que a Rádio e a CCTV, que é estatal. Para dribook é parte de seu trabalho ni'lo tem t>sp,1ço para falar. mídia estrangeira relata. Zeng blar a pouca variedade de inSe uma cri,1nç,1 escu LI ,1lgo 11.1 Rádio. Usando o software Yun, ou Vila, de 23 anos, tra- form,tção, a professora Xiu\i ele seus pais 111,is os :ivós tem adequado, ela entr.i n,1 rede sobalha no serviço de português Wang tem uma antena ilegal uma opini:lo diferente, eLi :1ç.1 cial. "No Facebook é nrnis focil desde 2009 e partiàpa de um em sua casa . "N:w se pode fa de encontrcu e ront,lt.u ouvin- rcuá o ensin:1n1e·11to dos m ,1is curso para se tornar correspon - zer isso publicamente. A antevelhos. "A gente um pequc.-trs" , justitic.1. 7
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nos exemplos todos os dias em nosso trabalho. Os colegas da Rádio seguem tradições antiquíssimas. Eu imaginei que chineses graduados e com experiência no exterior tivessem outro pensamento. Mas não. Essa questão de a mulher grávida ficar um mês sem tomar banho e escovar os dentes ainda existe hoje, mesmo para as clúnesas casadas com estrangeiros", exemplifica Camila Olivo, brasileira e funcionária do serviço de português. Nesse conte}..1:0, refletir sobre qualquer questão torna-se difícil. Em abril, Camila viajou pela Rádio à província de Sichuan, para acompanhar um congresso sobre turismo pósterremoto. Junto a um grupo, a jornalista visitou as chamadas "reüquias do terremoto", ou seja, cidades destruídas por abalos sísmicos que ainda estão sem nenhum reparo. Há três anos Sichuan, fronteira com o Tibete, sentiu o impacto de um forte terremoto. Os jornais The Guardian e The New York Times informam que o abalo de 7,9 graus na escala Richter acabou com a vida de cerca de 90 mil chineses. Durante o congresso, Camila viu uma escola inteira destruída . Segundo ela, crianças morreram soterradas ali e seus corpos ainda não haviam sido retirados. Chocada, perguntou a alguns locais quais eram seus sentimentos em relação a essas "relíquias". As respostas seguiam todas na mesma direção: "É bom para preservar a história dos que se foram . Mas a vida agora está muito melhor" . Para Camila, trata-se de um discurso pronto. "Reflete o sentimento deles. Os chineses não sabem sentir outra coisa diferente do que o governo passa", opina. jornalista e admi nistradora mudou de vida ao ir para a Chi na. Ela trabalhava há dez anos em uma emissora de televisão quando Richard Amante, seu amigo dos tempos de faculda de , falou que havia uma vaga de emprego na Rádio Inter8
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nacional. Camila enviou o currículo e foi chamada para ser especialista - o cargo dos estrangeiros, que corrigem os te}..1:0s traduzidos pelos chineses. Está desde outubro de 2010 exercendo a função. O contrato é anual e ela decidiu renová-lo. "Eu sempre trabalhei dobrado. Fazia duas faculdades. Minha vida se resumia a chegar em casa, comer e sair. Então esse ano foi de fé rias para mim", afirma. Assim como Camila, os outros brasileiros consideram que trabalhavam demais antes de ir para a China. Os especialistas ficam na Rádio seis horas por dia e têm intervalo de duas horas para almoçar. Camila e Richard cozinham sua própria refeição. Ele considera que, em razão da mudança de rotina, consegue se alimentar melhor e tem a oportunidade de desfrutar de uma vida mais saudável. "No Brasil não haveria como eu ter uma vida tão tranquila e ganhar... Ganhar bem? E , para os padrões locais a gente ganha muito bem", opina a jornalista. Dependendo do tempo de experiência na emissora, os chineses recebem duas ou três vezes menos que os estrangeiros. Na Rádio, os funcionários chineses devem atuar por cinco anos até se tornarem tradutores de assistência. São necessários quinze para serem considerados tradutores profissionais. O salário rende na China porque, em comparação com o Brasil, momdia, alimentação, transporte e vestuário são mais baratos. Bons restaurantes de Pequim servem um prato de arroz por quatro yuans - o equivalente a um real. "A gente tem acesso aos bens de consumo e eu consigo guardar dinheiro para viajar", declara Camila, que já foi à Grécia, Malásia e outros p;úses. ''No Brasil a gente tem que trabalhar muito mais parn conseguir isso na área do Jornalismo."
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m Pequim h:í mais de um ano, a br:1sileira perdeu o ollur de des -
lumbre com a cidade. Nos metrôs da capital, crianças chinesas espiam por detrás das saías das mães para ver como são os ocidentais. E se divertem . As calças dos bebês chineses têm um rasgo para que eles possam fazer suas necessidades em qualquer lugar. Pode ser até num canteirinho da Wanfujing, a mais movimentada rua de compras da cidade. Camila não estranha mais nada disso. "Dá até um sentimento de pena, de se acostumar tão rápido." A ú1úca dificuldade encontrada foi o idioma. Durante o inverno, fez um curso intensivo aos finais de semana. "Foi muito traumatizante, porque na terceira aula já precisávamos aprender os caracteres chineses." Agora, tem aulas particulares sobre o básico do idioma. Jayme Martins, o brasileiro que chegou na China em 1962 e lá viveu por mais de 20 anos, também considera o idioma como única dificuldade de adaptação. O problema era superado com a ajuda dos colegas chineses, naquele tempo mais unidos aos estrangeiros. As diferenças culturais entre um povo e outro, no entanto, eram ainda maiores. Em um domingo,Jayme , a esposa e as duas filhas - de cinco e seis anos de idade - saíram para passear no centro de Xangai. A rua Nanquim, a maior da cidade, ficava repleta de turistas do interior do país aos fins de semana. Dona Angelina, loira de olhos claros, era quem mais chamava a atenção em meio a tantos chineses que nunca haviam visto um estrangeiro. Para completar, a discrição não é exatamente qualidade típica de um chinês. "Era um torvelinho de gente em volta. E um desespero para os lojistas também", recorda Jayme. A família resolveu volt;lr par:1 o hotel e sair nov:1mente no dia seguinte . "A gente era um espetáculo 1u rua", ress:1lta.
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;tyme tiniu experi êncü como jornalista mas nii.o estudou na área. C:1rlos Frydrn,rn, o brasi le-iro ligado :1
movimentos de esquerda que chegou a Pequim em 19S 9 não tinha relação nenhum~ com a profissão quando foi trabalhar na China. Com a entrada do brasileiro Luiz T asso Neto, em março deste ano, pela primeira vez o serviço de português tem, em seu quadro de especialistas, apenas jornalistas graduados. A novidade faz parte dos planos de expansão e profissionalização da Rádio. Ao serem perguntados se a emissora sofreu grandes mudanças em seus 51 anos de atuação, os funcionários chineses respondem "sim" e dão corno e.-x:emplo o site e os vídeos que produzem. "A Rádio agora é multimídia", dizem . Com a internet, os formatos para transmissão de notícias foram repensados . A partir de 2008, o departa mento deu início à veiculação online de dois programas em vídeo de periodicidade mensal "Miiúconcurso" e "China em Cena". O primeiro, produzido pelas chinesas Vila e Sílvia, mostra algum aspecto da cultura do país e, ao final, faz-se uma pergunta sobre o tema exibido. Os internautas que enviarem a resposta correta para o departamento ganham um brinde em sua casa. O "China em Cena" mostra curiosidades do país ou atividades que promovam o intercâmbio entre a China e os países lusófonos. Os responsáveis são os também chineses Nina e Leonel. As novatas Vila e Nina foram encarregadas de produzir vídeos porque recebemm um treinamento ao entrar n:1 Ridio. Entre as lições estav:un :is missões da Rádio Internacional da China - "O cor:iç,io da humanidade, a vi~ào mundi;1I e a posição chinesa" - e urna sem;\Jl;I de aubs sobre corno fazer filmes. Lt"onel e Silvü optaram por trab:1lhar com os vídeos. Dong Jue , ou Leond. 27 anos, chama :1 atençio coll1 seus 1. 90 metro de ;i[tur:i e o rost o coberto de espinh:is. Ouando fab dos tempos rrn c;;e morou no Ri o G rand e do
Sul, ainda estudante, anuncia "Sou grêmio!" e relembra o primeiro jogo de futebol que assistiu no estádio Olímpico. "Foi para ver o Grêmio contra o Figueirense." O time chinês não faz muito sucesso. O esporte mais visto no país nos últimos tempos tem sido o basquetebol, devido ao su cesso de Yao Ming - de 2,29 metros de altura -, que jogava no Houston Rockets, da NBA. Como os outros funcionários chineses, Leonel traduz textos vindos do centro de notícias da Rádio. As matérias direcionadas a ele vão para o site do departamento e para os quadros "Panorama Econômico" e "Economia em Destaque" do programa de ondas curtas. O que prefere, no entanto, é produzir os vídeos. "Hoje em dia a situação está mudando muito rápido e sabemos que os internautas querem ver como é a China", enfatiza. "Mas vou ser honesto - esse trabalho é mui to difícil, porque na área de vídeo todo mundo aqui é leigo. A gente está fazendo isso como experiência." Segundo ele, os vídeos continuarão a aparecer cada vez mais nos sites dos departamentos da Rádio. "Essa é a tendência", conclui. Leonel não gosta de seu trabalho e pediu demissão. "Eu não gosto de sentar em um lugar por um dia inteiro fazendo tradução. Você também descobriu que a Rádio tem 1mús mulheres do que homens. E a língua estrangeira é uma ,í.rea dominada pelas mulheres. Meu caráter não fica muito bem para fazer um trabalho que tem a ver puramente com a língua estrangeira", afirma. O chinês sai, mas a esposa, Paula, também funcionária do departamento, fica. "As mulheres gostam. Não é preciso sair, pegar chuva da rua. Aqui é legal, mas só para elas. Eu vou sair porque eu não gosto." Os dois começanun a trabalhar na Rádio há quatro anos e não se conheciam, mas, para um p,ús de 1,3 bilhão de pessoas, tinham muitas coisas em comum - nasceram na mesma
cidade, seus tios eram amigos e ambos haviam estudado na mesma escola. Após um mês no departamento, Leonel foi visitar os p,ús em Tayuan, na província de Shaan.xi. No serviço de português, quem viaja para fora de Pequim leva uma lembrança do lugar onde esteve para os colegas. Ao retornar, Leonel deixou na mesa de cada funcionário uma pequen,1 garrafa do vinagre de Shaanxi, ácido e conhecido como o melhor do norte da China. Foi assim que ele e Paula descobriram ser da mesma cidade e todas as demais coincidências. "Então, aí a história mudou . A gente começou a conversar e aprofundar a amizade. O romance começou assim. O vinagre criou uma história minha." Leonel é a exceção e Paula a regra do serviço de português. Em geral, os chineses começam a trabalhar na Rádio na faixa dos 20 anos de idade e saem aos 60, 65, aposentados. É por isso que quase todos têm agora entre 23 e 35 anos. Esta é a segunda geração de funcionários, cujo novo desafio é ampliar o número de ouvintes e internau tas. Com esse objetivo, o departamento de português começou a produzir, em 2008, a revista "Fanzine". A publicação bimestral tem tiragem de 3 mil e..,emplares e é distribuída gratuitamente a embaixadas, universidades brasileiras que oferecem curso de mandarim, Institutos Confúcio no Brasil e ,l quem envia e-mail ou c.uta ao serviço fazendo o pedido. O conteúdo é voltado para a cultura chinesa, mas há também concursos e textos sobre a história da Rádio.
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site do departamento http:// portugue se .cri. cn - , embora faça parte dos planos de expansão, foi criado por outro motivo. Em 20 de dezembro de 1999, Macau, que por quatro séculos pertenceu a Portugal, tornou -se região administrativa especial da Re pública Popubr da China. Na
cidade, idosos, nomes de ruas e escolas que ensinam a língua portuguesa preservam o idioma do povo colonizador. Por isso, muitos chineses estudantes de Português moram du rante seis meses ou um ano em Macau . Para transmitir ao vivo a cerimônia de transferência do território para a China, era preciso uma nova plataforma . O site foi ao ar. Aos poucos, o Cripor online (China Radio lntcmational - Portuguese) foi ganhando cores, nova aparência e mais canais de informação. No site, é possível ouvir os programas de ondas curtas e ler matérias, assistir vídeos e ver fotos. Os textos vêm do centro de notícias, que possui 32 escritórios com correspondentes no mundo. São disponibilizadas entre 100 e 200 matérias por dia para todos os departamentos da Rádio. No serviço de português, cinco funcionários têm a permissão de escolher textos que tratem da China ou de um dos países lusófonos e interessem aos ouvintes e internautas. Depois de traduzidos, o serviço posta cerca de 30 matérias por dia no site. Dessas, em torno de dez vão para o programa de rádio.
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esde a criação do departamento, o programa de ondas curtas mantém basicamente o mesmo conteúdo, com a diferença de que agora se dá mais ênfase a temas culturais. O propósito é, novamente, ,rnmentar a audiência. Em uma pesquisa feita este ano com 200 ouvintes do serviço de português da R.idio, constatou-se que 63% deles são homens e 58% têm nível superior completo. Entre os que acessam o site, 62% são ouvintes da Rí.dio em ondas curtas. Grande parte dos internautas, 41%, acham o design do site ultrapassado e 81% dos que responderam à pesquisa disseram que preferem participar dos programas via e- mail. Até a veicubçfo de matérias pela internet, corno é fc:-it.1 hoje por milhares de veículos
de comunicação no mundo, a divulgação de notícias internacionais percorreu um longo ciminho, especialmente a partir da radiodifusão. As emissões internacionais de rádio tiveram início nos anos 20, com testes nos laboratórios da Plúllips na Holanda. Em 1938, a inglesa BBC começou as transmissões para outros países. Logo, este tipo de comunicação se tornou um ponto-chave para a propaganda nazista. Os serviços internacionais aumentaram na Segunda Guerra Mundial, com emissoras na Rússia, Alemanha, Reino Unido, Itália e Estados Unidos. Era por meio do rádio que se tinha notícias do que ocorria nos campos de batalha e que se fazia propaganda de partidos e governos. Durante a Guerra Fria, o papel das ondas curtas também teve destaque. Naquele tempo, era comum os rádios saírem de fábrica com a faixa "OC" ou "SW" (abreviação de short wa-ves - "ondas curtas" em inglês). Foi esse tipo de aparelho que o paraibano Leonaldo comprou quando tinha dez anos de idade. Hoje, eles se tornam cada vez mais escassos e caros. Com 30 ou 40 reais é possível adquirir um rádio de ondas curtas, mas a captação de emissões internacionais será menor. A internet e os demais meios de comu1úcação fizer,un minguar o número de ouvintes no mundo. A maioria dos que acompanham as transmissões internacionais o fazem por hobby. São os dexistas, os "DX''. "D" representa distância e "X'' desconhecida. Leonaldo pertence ao grupo. Para a diretora do serviço de português, Wu Yichen, ou Catarina, a transmissão vü ondas curtas da Rádio Internaciot~al da China jam,üs terá fim . "E impossível acabar. Porque o programa de ondas curt.ls é o setor inicial dos nossos trabalhos 1u Rádio". garante. Mas se contrc1diz ao afirm,u· que:" ''nós também sabc:"mos que ,1 rádio c:- 111 ondas curc,1s nào tem um bom futuro". A solução, segund o :1 dire-tora, é
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Mas eles não sabem trabalhar do _marido, é permitido a ele "Em geral, são conversas com sem seguir os passos da censu - mais um herdeiro· a ela nao. _ brasileiros, porque meu contara", declara . Qiando casam, as mulheres 0 to é mais com brasileiros. E passam a fazer parte da família foco da Rádio é mais o Brasil amila tem 32 anos, do marido, e no futuro não há m janeiro deste ano, mesmo", ressalta. é solteira e aproveita ninguém para cuidar dos pa· Depois de feitas e editadas, IS. houve uma mudança o trabalho na China Por isso, o sistema de filhos as entrevistas devem ser aprono programa de ondas vadas por uma funcionária chi- para viajar. Na redação do ser- únicos tem causado O assascurtas por sugestão dos funcionesa da Rádio - Qiu Yangjian, viço de português, o perfil dos sinato de bebês meninas na nários brasileiros. Os quadros brasileiros contrasta com o dos China. Qiern pertence a urna culturais _ ''Nos ares da cul- ou Sônia. Antes de Camila chineses. À exceção de duas das 55 minorias étnicas pode tura", "Culinária", "Esporte", começar a trabalhar com o funcionárias , nenhum dos ter dois filhos, se o primeiro "Cinemania da China", "Estilo quadro, Catarina, a diretora do for mulher. chineses completou 35 anos de vida", "Bem-estar", "En- departamento, lhe disse que, se e muitos são casados. Alguns O quadro com o qual Laura contro com os ouvintes", "Sala alguém falasse mal da China, trabalhou assim que entrou na têm filhos. a entrevista não seria transmide visitas", "Acordes do orienDe aparência frágil e jeito Rádio foi o "Cinemania", hoje te" e "Chinês dia-a-dia" - ga- tida. "Eu tenho consciência de meigo, que, para o olhar oci- produzido por Xie Haitin, ou que eu estou trabalhando para nharam mais espaço. O último dental, dão um ar de infantili- Paulo, o rapaz de ZhengZhou dá lições do idioma. "Acordes o governo. Então é incoerendade enquanto fala, Li Mei, ou que não sabia quase nada do oriente" transmite músicas te eu colocar um entrevistado Laura, tem 30 anos . Assim é a sobre o Brasil e Portugal antes do país. No quadro "Encontro que fale mal do governo, da maioria das chinesas. Nunca se de se tornar füncionário do com os ouvintes", entrevista-se mesma forma que seria se eu ouvintes por telefone ou lê-se trabalhasse para a Radiobras, consegue adivinhar a sua idade serviço de português. A maior cartas e e-mails enviados por no Brasil", argumenta. Até real - geralmente é muito mais parte dos filmes apresentados são chineses. Fala-se sobre eles . O "Sala de visitas" traz hoje, nenhuma entrevista que do que imaginamos. Laura é responsável pelo o faturamento e a opinião conversas com pessoas oriun- fez foi alterada. "Acho que as das de países lusófonos que pessoas, quando vão dar a en- quadro "Estilo de Vida" do do público e do diretor. As moram na China ou que estão trevista, têm essa noção. Eu já programa de ondas curtas. Ela informações são obtidas na de passagem pelo país. Todos tive, inclusive, entrevistados traduz te::...1:os sobre as tendên- internet ou o texto vem pronto os outros quadros abordam que se autocensuraram. Mui- cias da China. Entre os últi- do centro de notícias da Rádio. diferentes aspectos da China tos perguntam antes 'O que eu mos temas trabalhados estão Paulo ainda não entrevistou - seja o estilo de vida, o espor- posso falar~'. Mas eu deixo as o hábito de tomar café-da- ninguém sobre os filmes . Em julho, o chinês tradute, o cinema, a culinária ou a pessoas à vontade para falarem manhã fora de casa, idosos que saúde. o que quiserem . Explico ape- dançam hip-hop, programas ziu uma matéria sobre o lonA parte de notícias foi di- nas que, se falar mal do gover- de televisão destinados a en- ga- metragem "Fundação do vidida em dois blocos - um no no, vou editar a entrevista. Mas contrar a cara- metade e a pres- Partido da China", que narra i1úcio e outro na metade do eu nunca precisei editar." são para se casar - tanto para acontecimentos de 1911 - ano programa. O quadro "PanoraPara uma funcionária da homens quanto para mulheres. em que acabou o sistema imma econômico", que já existia Rádio Internacional da China, "Sobretudo os moços têm perial no país - até 1921, para antes da mudança, permane- é mais fácil encontrar entre- de trabalhar muito e não têm mostrar como o Partido Coce, mas com menor duração, vistados . Os correspondentes tempo para namorar, porque munista foi criado. "O filme e apoiado pelo "Economia em estrangeiros, no entanto, são eles precisam ter uma casa conta a história .mtes da fordestaque" . O primeiro aborda barrados pela burocracia. Em para ter uma família. Têm que mação deste grupo - como eles a economia chinesa e as rela- órgãos do governo, como num comprar carros, casas. Isso é lutam contra o governo antigo, ções econômicas entre a China dos ministérios, só é permiti- indispensável agora na China", contra alguns poderes muito e os países· lusófonos, princi- do entrevistar o ministro ou afirma Laura sobre o que as grandes pela democracia do palmente o Brasil. O segun- alguém indicado por ele. Já os mulheres chinesas procuram p,ús", salienta o jovem. Naquedo traz notícias econômicas, chineses em geral têm medo em um homem. Ela é casada le mês, comemorava-se os 90 temas mais atuais. Nos dois de falar o que não deviam e se desde o ano passado. O mari- anos do Partido Comunista quadros, dá-se destaque a pro- comprometer. do não tinha casa. "Mas carro da China. As ruas de Pequim dutos e empresas chinesas. Em julho, Camila conhe- sim", salienta. "Mas eu tam- ganharam ornamentos com o De segunda a sexta-feira o ceu uma correspondente que bém tinha o meu próprio ." número 90. primeiro quadro do programa mora em Pequim e trabalha A chinesa é da etnia han, Poucos filmes estrangeiros é o de notícias. Em seguida, para uma rádio canadense. As predominante no país, e não é são exibidos nos cinemas chientra o "China em foco", no duas foram assistir ao espe- filha única . Por isso o gover- neses, mas é possível compr.u qual se comenta o fato mais táculo de uma companhia de no a proíbe de ter mais de um montes de DVDs piratas em importante do dia. "O China balé norte-americana . A ami- filho. Se não cumprir a regra, Pequim. Paulo conta que em em foco" não é veiculado aos ga de Camila queria fazer fil- Laura pode perder direitos so2010 traduziu um texto sobre sábados e domingos . magens da apresentação, mas ciais. "A Origem", ficção científic.1 "Sala de visitas" é o úni- não permitiram porque ela A política do filho único norte-americana . A m.1téri.1 co quadro produzido por um não tinha as autorizações nee.'Üste desde 1979 na China. relatou quantos dólares .1 probrasileiro. Camila, a jornalis - cessárias. "Às vezes nem é tanO objetivo é conter a superpo- dução arrei.:adou no mercado ta e administradora que foi à to censura. Nesse caso, o balé pulação. A mulher pertencente chinês. Paulo não chegou .1 China a convite de Richard, é canadense não comprometeria à etnia han pode ter apenas assisti-lo. "l\bs eu vi o carta'Z responsável pelas entrevistas. em nada a imagem da China. um filho. Caso eh se separe- do filme . É um filme muito 10
produzir programas mais i_nteressantes e aprimorar o site e os vídeos.
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bom. Uma grande produção, o diretor é muito famoso. O ator Leonardo, não é? Eu adoro 'Titanic'. Aquele filme é bem conhecido pelos chineses", comenta. Paulo gosta dos filmes de ação e comédias. ''.Atores estrangeiros como Kim [fim] Carrey." ara corrigir os textos dos chineses, os brasileiros se revezam nos horários de trabalho. Numa semana, o especialista, cargo ocupado pelos estrangeiros da Rádio, revisa a tradução das notícias. Em outra, fica na emissora apenas no período da tarde para fazer as "chamadas", ou títulos, e estruturar o programa. O responsável por essa função também deve corrigir um texto chamado "Tema do dia", anunciado nas transmissões como "China em foco", que, por tratar da notícia de mais destaque, é maior e mais detalhado. Há, ainda, na escala, o responsável por trabalhar no período da noite. Este funcionário deve revisar as notícias que chegam mais tarde e fazer a locução do programa. Os chineses também trabalham em diferentes horários . À noite, sempre ficam no departamento um brasileiro e dois chineses, que editam o material. Os brasileiros, além de corrigir ta.1:os, são apresentadores. Embora sejam formados em Letras e trabalhem com a língua portuguesa, muitos dos chineses não se sentem seguros para fazer locução e encontram dificuldade em se comu nicar no idioma. Em função disso, a Rádio Internacional vai obrigar os chineses a falar apenas na língua estrangeira de seus departamentos. Os serviços de francês e alemão já aderiram à prática. O departamento de português fará 0 mesmo este ano. Segundo Débora Portela funcionária brasileira, a me ~ dida faz parte dos planos do futuro da Rídio. "Eles querem que essas pessoas se preparem par-a ser locutores porque querem aumentar o serviço. Eles
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deveriam ter estudado portu guês durante quatro anos , mas tiveram oito meses de curso. "Não deu para aprender muito. Eu aprendi mesmo com dois paulistas. Uma mulher. O ou tro é Jayme Martins. Aprendi mais na prática, já na Rádio, traduzindo e fazendo locução e pegando cada dia", relata . Ao contar sobre os tempos de funcionária, Yu sorri sem abrir a boca, lacrimeja, pára um instante e pensa em voz alta: ''.Ah... Muitas experiências, impressões, muitas coisas ... Logo depois de sair da escola entrei na Rádio e o trabalho era realmente duro, porque tinha que traduzir e aprender a fazer locução. Não é fácil para uma recém -diplomada." Casada com um funcioná rio do departamento turco, foi chamada para trabalhar como correspondente no Rio de Janeiro em 1998. Os dois deram início ao escritório da Ridio Internacional da China no Brasil. Ela como repórter e ele como assistente. "Porque ele não fala português. Só atendia o telefone e dizia 'um momenu, hoje com 65 anos, to' ou 'eu não falo português"', foi _ contratada pela ri . emissora assim que A realidade da profissão terminou o curso de português mudou . Se em Pequim Yu se na Universidade de Comu - dedicava a traduzir reportanicação de Pequim, em 1969. gens vindas do centro de no"Logo depois da grande Revo- · tícias, no Rio de Janeiro ela lução Cultural", recorda. tinha de escrever as matérias O fracasso do plano eco- em chinês e enviá- bs para o nômico O Grande Salto centro. Este, por sua vez, disAdiante fez 30 milhões de tribuía os textos dela junto chineses morrerem de fome na com os de outros correspondécada de 1960. Para impedir dentes aos departamentos . O o crescimento da oposição ao processo era feito via internet. governo, Mao Tse Tung pro Enquanto estava no Brasil, moveu, a partir de 1966, uma Yu participou de uma reunião campanha político- ideológica de dexistas, em São Paulo. Cochamada Revolução Cultural. nheceu pessoas que escutavam Atividades intelectuais foram as transmissões da Rádio desde repreendidas . Professores eram os anos 60. Na época, a corres mandados para o campo e uni- pondência com os funcionáversidades ficaram fechadas . rios da emissora era feita por As instituições de ensino eram carta e levava em média dois consideradas centros de dis- meses p.ua chegar .1 China ou seminação do conhecimento ao Brasil. "Eles me viram e me burguês. olharam como um macaco no A geração da senhora Yu jardim . Porque escutavam ,\ ficou desprovida de estudo. minha voz e nunca imaginaDevido à Revolução, ela e Gao ram que eu fosse encontrá- los. Shizong, colega de universi - Fizeram tantas perguntas .. . dade e de trabalho na Rídio, Perguntaram como é a China,
estão procurando rádios FM em outros países para comprar espaços e transmitir os programas produzidos aqui . Eles querem fazer jornalismo e ser referência, em termos de China", salienta. O serviço em espanhol produz conteúdo para uma rádio FM em Tijuana, no México, durante seis horas por dia. Os planos são de fazer o mesmo em Buenos Aires, mas com uma programação 24 horas . Cada departamento tem seu ritmo de crescimento. A expansão do serviço de portu guês reflete o interesse da China no Brasil, nos países africanos e em Portugal. A CCTV, emissora estatal de televisão, possui, desde o ano passado, um escritório em São Paulo. Fora da China, o departamento de português da Rádio tem como sede o Rio de Janeiro. O escritório no Leblon começou com uma correspondente, a senhora Yu Huijuan. Agora são dois funcionários, mas o plano é preparar mais pessoas para trabalhar no Brasil.
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como é a Rádio, se os chineses já tomam coca-cola. Muito interessante, viu? Para eles, foi uma oportunidade rara." Depois de ir embora do país, em 2002, a senhora chinesa retornou duas vezes para encontros com ouvintes promovidos pela Rádio. Cada um deles reuniu cerca de 100 pes soas. "Foi emocionante", recorda. "A Rádio não ajudou a pagar nada. Mesmo assim eles foram - do Rio, de São Paulo, de Jundiaí, de Santa Catarina, de muitos lugares."
á o ouvinte paraibano Leonaldo Ferreira da Silva, com o decorrer dos anos, passou a contatar as emissoras internacionais que acompanha na pequena Lagoa de Dentro. Todos os dias, ele conversa, pela internet ou por mensagem de texto no celular, com Vila, a funcionária novata da Rádio Internacional da China que produz vídeos e é responsável pelas redes sociais . ''Eu monitoro a forma como está sendo apresentada a rádio online e envio relatórios sobre o que escutei. Dou opiniões e fico de olho no que possa ser melhor para a emissora", conta. O estudante de 22 anos também apresenta um programa jornalístico e produz vinhetas em uma rádio da cidade onde mora. Para a emissora internacional Voz da Rússia, grava um boletim chamado "Segmento DX", no qual relata informações sobre horários e frequências de transmissões a outros dexistas. A paixão pela radiodifus:lo, para Leonaldo, dei.....:ou de ser hobby e deve virar profissão ele cursa Ciências Biológicas e seu objetivo é trabalhar como jorn,,lista na área d,1 Biologia. Leonaldo é fascinado peb Rádio Internacional da Chi na porque, ao acompanhar ,,s transmissões, pode compreen der melhor a mai s antig,1 ci vilizaç,io do mundo. "Existem progr,mus que, se você os ouve de olhos fr,h,,dos, você se sen te transport,1do p:ua o p,ús . Eu tenho esse sonh o de vi ,~j:u- ,\ Chü1a. Quem sabe um dia ;, '' 11
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A CHINA EM PORTUGUÊS Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Comunicação e Expressão Departamento de Jornalismo Trabalho de Conclusão de Curso Orientador: Prof. Dr. Mauro César Silveira Coorientador: Richard Amante Aluna : Luísa de Abreu Konescki Texto, fotos, editoração eletrônica e edição: Luísa de Abreu Konescki Impressão: Duplic Digital Novembro de 2011