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3. projetos anteriores
from caderno tfg_R00
Em 1974, Décio Tozzi, Cláudio Tozzi e Benedito Lima de Toledo vencem o concurso de Projetos Individuais do IX Congresso Brasileiro de Arquitetos, organizado pela Coordenadoria Geral de Planejamento (COGEP, atual SEMPLAN), apresentando um projeto para a recuperação da Vila Itororó. Apresentam um estudo do histórico da vila, destacando as características arquitetônicas singulares da vila “na paisagem urbana, seu ecletismo ou mesmo bizarria do ponto de vista arquitetônico”. Embasado pelo discurso da Carta de Veneza, ressaltam que o monumento deve servir à uma função útil à sociedade. Cria-se um programa voltado para o lazer e a cultura, tendo como diretrizes principais espaços de descanso, recreação e desenvolvimento.
Definiu-se a seguinte setorização: O palacete (Bloco 01), abrigaria as “manifestações artísticas que pudessem se relacionar com o pátio central; a Casa das Carrancas (Bloco 02) abrigaria uma galeria de arte contemporânea; nos jardins ficariam uma área com pista de dança pública, e a área esportiva; nas demais casas haveriam funções administrativas, zeladoria, restaurante, pizzaria, centro de arte para crianças e adolescentes, casa teatral, livraria, antiquário, centro de gravura, centro de cozinha, centro de iniciação musical, estúdios para artistas plásticos e músicos. (LOURENÇAO, 2011, p. 62).
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Apesar de o projeto não ter sido executado por falta de recursos na década de 1970, acabou sendo retomado em 2006 pelo poder público a iniciativa de iniciar uma reformulação para a vila a partir de um interesse “sociocultural”. Tanto a proposta de 1974 quanto a de 2006 não apresentam solução concreta para o destino dos moradores da vila. Como coloca Lourenção (2011):
Citando um trecho da Carta de Veneza, utilizado por Décio Tozzi em seu estudo inicial sobre a vila, pode-se observar o projeto sob uma outra ótica: “O monutmento é inseparável do meio no qual ele se situa e da história do qual é testemunho.” Ora, retirar os moradores dali e, de certa forma, banir seu acesso à Vila (tendo em vista o caráter claramente elitista do projeto) é separar o monumento de sua história. Os habitantes não simplesmente fazem parte da história da Vila, eles são a história. Privar tais pessoas de sua história e de sua cultura, sem mencionar a questão da moradia, é um crime contra a memória da cidade tão devastador quanto o próprio processo de degradação sobre a Vila.”
LOURENÇÃO (2011, P. 63)
Em 1975, a Vila é caracterizada é reconhecida como de interesse histórico por meio do instrumento do zoneamento, sendo classificada dentro da Z8-200, que segundo Barbour (2017):
“Os imóveis enquadrados dentro das Z8-200 seriam aqueles considerados “de caráter histórico ou de excepcional valor artístico, cultural ou paisagístico, destinados À preservação” (Lei Municipal 8.328/75, art. 1º, d). Com este instrumento, esses bens passariam a contar com uma proteção legal dentro do marco do zoneamento municipal, sem que isso implicassi no seu tombamento. A eficácia da proteção via inclusão de um bem na lista das Z8-200 se dava pela previsão do artigo 2º da mesma Lei:
Art. 2º - Nas zonas de uso Z8-200, o remembramento ou desdobro de lotes, as demolições, reformas, ampliações, reconstruções ou novas edificações ficam sujeitas à prévia autorização da Coordenadoria Geral de Planejamento - COGEP, tendo em vista a preservação das características urbanas e ambientais existentes. §1º Os pedidos referentes ao disposto neste artigo serão apreciados e decididos pela COGEP, no prazo de cento e oitenta (180) dias, a qual ouvirá, se necessário e para fins de direito, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Turístico do Estado. “
“Entre 2015 e 2019, o Instituto Pedra, responsável pelo restauro do conjunto, encabeçou o projeto Vila Itororó Canteiro Aberto, em que as obras eram realizadas ao mesmo tempo em que a sociedade civil usufruía do lugar. Com todas as contradições e tensões intrínsecas ao projeto, a destinação da Vila era debatida cotidianamente, não como algo a ser implementado, mas como algo que já se realizava e se construía no presente.
Mantendo a tipologia habitacional das construções – na contramão da ideia de casca vazia proposta por Tozzi e Toledo, para abrigar um qualquer-uso-cultural – o Pedra garantia a possibilidade de a Vila novamente ser um lugar de moradia, se para isso houvesse vontade política. Permanecia, assim, na matéria, testemunhos do morar.”
BARBOUR, em entrevista à revista Nexo
O projeto de restauro iniciado em 2015 pelo Instituto Pedra considerou o levantamento arquitetônico da Vila, projeto e obras das edificações 5, 6, 7 e 11, considerando um trabalho de educação patrimonial no canteiro de obras, transformando-o num Canteiro Aberto.
Considerou intervenções emergenciais para o palacete, levantamento arquitetônico detalhado com plantas, cortes, fachadas, especificação de materiais e mapeamento de danos e inventário de bens móveis.
“A edificação 8 passou por uma reforma provisória para receber, durante 2017 e 2018, o projeto de residência artística Goethe na Vila, em parceria com o Instituto Goethe. Ali, foram feitas algumas demolições, limpeza do local, execução do piso de cimento queimado já previsto do projeto de restauro da casa, cobertura provisória para a laje, instalação do banheiro e hidráulica da cozinha e reforço do piso no 1º pavimento. Além disso, num workshop com o coletivo alemão RaumLabor, foram construídos o portão de madeira, um estúdio e móveis, além do acabamento final em alguns ambientes , com limpeza e pintura.” Site Vila Itororó.
Atualmente, o Bloco 8 abriga uma cozinha comunitária e um pequeno palco que recebe apresentações artísticas frequentemente.
“A ideia por trás da decisão de abrir o canteiro consistiu em revelar o próprio processo da obra de restauro e imaginar os usos futuros da Vila a partir das experimentações e debates públicos. Além das atividades realizadas no espaço, o Canteiro Aberto incluiu uma série de iniciativas relacionadas à pesquisa histórica e à produção cultural relacionadas ao conjunto arquitetônico, como a criação de um site “arquivo” do projeto, dois audioguias, dois documentários curtametragem e a publicação de dois livros.”
Abrigou o ConstructLab, laboratório de marcenaria do canteiro, Clínica Pública de Psicanálise, e diversas oficinas artísitcas. Os usos são itinerantes e têm sido diversificados desde 2015.
“Outras iniciativas buscaram tornar o galpão anexo à Vila um espaço de experimentação desse centro cultural, como o cineclube Cinema sem Fio, as aulas de circo, yoga, capoeira e culinárias, entre muitas outras. Houve atividades específicas para crianças e para o público jovem, em especial a Agência de Comunicação Comunitária, com oficinas de jornalismo, rádio e design para estudantes de escolas públicas.”
Atualmente, o Bloco 8 abriga uma cozinha comunitária e um pequeno palco que recebe apresentações artísticas frequentemente.
Sobre A Regi O Da Bela Vista
Situada na Bela Vista, a Vila Itororó abrigou ao longo do século XX e XXI espaço para moradias populares. Concebida desse jeito pelo seu proprietário e construtor em 1921, pode ser lida como um símbolo da progressão das camadas populares que viveram na região central ao longo do século XX e XXI. Em 2011, pessoas que viveram décadas em situação de inadequação habitacional (cortiços) na Vila foram removidas para que o lugar pudesse abrigar um centro cultural. Dito isso, o projeto tem como público alvo os ex- moradores que foram retirados da Vila Itororó, assim como procurar atender uma demanda existente na região da Bela Vista de pessoas que vivem em cortiços em situação de extrema degradação física, como é possível observar na Figura 01.
A Vila Itororó se encontra num corredor de ZEUs, porém tem todos os seus parâmetros restringidos às regras do tombamento pelo CONDEPHAAT, com base na Resolução SC 09/05, de 10 de março de 2005. Para intervenção nos imóveis tombados, as diretrizes são as seguintes:
[...] Artigo 2o – Ficam definidas para o conjunto tombado as seguintes diretrizes:
Parágrafo 1o – Todas as edificações do conjunto tombado estão enquadradas com o Grau de Preservação 2 – GP 2 em que deverão ser preservados a volumetria e o aspecto exterior; [...] (CONDEPHAAT, 2005)
Para os imóveis não tombados inseridos na área envoltória, os principais parâmetros que balizam o projeto são:
[...]Artigo 3o - Para a área envoltória ficam estabelecidas as seguintes diretrizes:
Parágrafo 1o – Deverão ser mantidos os coeficientes de aproveitamento (potencial construtivo) e cotas máximas de altura em cada imóvel hoje existente;
Parágrafo 2o – No caso de remembramento de lotes na área envoltória, deverão ser respeitadas as cotas máximas de altura para cada edifício existente, em sua respectiva projeção no lote resultante do remembramento, podendo ser unificados os coeficientes de aproveitamento; [...] (CONDEPHAAT, 2005)
No zoneamento, os imóveis do conjunto da Vila Itororó também são classificados como ZEPEC-BIR, que além de determinar bens imóveis representativos, apresenta como uma solução aos proprietários a possibilidade de venda de potencial construtivo para terceiros, o que se mostra como uma opção interessante em termos de viabilização financeira de um projeto habitacional. O projeto trabalha com o fomento à fachada ativa e galerias térreas, o que vai ao encontro das diretrizes estimuladas pelo Plano Diretor do Município de São Paulo de julho de 2014.
O conjunto da Vila Itororó está inserido dentro da bacia do Córrego do Anhangabaú. Apresenta topografia natural acidentada que nos processos de loteamento dos diversos trechos da Bela Vista acabaram por apresentar soluções que seguissem no sentido das curvas de nível, evitando grandes incrinações nas ruas. É encontrada na região a Grota do Bixiga, assim como diversos
A altíssima necesidade de adensamento para otimização das infraestruturas centrais e teoricamente atendimento a demandas habitacionais induziu criação de ZEUs com alto índice de aproveitamento, que aponta uma verticalização (já em curso) ainda mais intensa em regioões como na Bela Vista.
Com exceção a quadras e sequências de quadras muito pontuais (como as dispostas ao longo da Av. Paulista e da Avenida 23 de Maio, bastante ocupadas por edifícios de escritórios e canteiros, respectivamente) a região da Bela Vista apresenta uma intensa densidade demográfica, sobretudo em trechos do Bixiga, ao longo da Av. 9 de Julho e em alguns pontos da Av. Brig. Luís Antônio.
O mapa ao lado, fornecido pelo Geosampa, demonstra a diversidades de usos predominantes em cada quadra da região. Acena a heterogeneidade presente comércios, edifícios mistos e residenciais verticais de médio padrão se encontram e podem ser um dos quesitos que fomentam a vida urbana na região.
Em contraposição às legislações de adensamento é possível encontrar conflitos onde preservação de conjuntos históricos se veem sobrepostos por diretrizes de verticalização, reconstrução, desconfiguração do espaço por meio da pressão do mercado imobiliário.
A região da Bela Vista e extremamente bem servida de diferentes modais de transporte. É possível encontrar corredores ônibus e faixas exclusivas ao longo de vias arteriais, as estações de metrô permitem acesso de não-moradores à região e permite também que percorram à pé, a partir da estação, uma grande área de região.
É possível encontrar uma vasta diversidade de escolas de diferentes níveis, de jardins de infância à faculdades na região, tanto instituições públicas quanto privadas. É central essa questão para entender os números que reiteram a baixa evasão escolar no distrito.
Alguns dos hospitais privados mais conceituados da cidade se encontram na região da Bela Vista, como o Samaritano, Sírio-Libanês. Possui amplo atendimento também na rede pública, com esperas mais curtas entre atendimentos (em relação à média da cidade) e vasta rede de especialidades.
O mapa reflete números já conhecidos: alto índica de vacância de imóveis que não cumprem com sua função social. Grande parte deles tem como proprietários grandes empresas privadas, para quem as dívidas de IPTU progressivo parecem irrisórias.
O mapa apresenta as regiões mais movimentadas e mais inseguras da região da Bela Vista.
5.1 estudos de caso
5.2 programa
5.3 linha de intervenção
5.4 partido
5.5 projeto
ladeira da misericórdia, salvador autor: lina bo bardi local: ladeira da misericórdia, salvador, bahia.
data: 1986
O projeto foi elaborado por Lina Bo Bardi e sua equipe em 1986 como um conjunto de diretrizes para reabilitação da região da Ladeira da Memória, em Salvador, por iniciativa da prefeitura para recuperar o centro histórico. Uma região antiga e valorizada, porém ocupada de maneira popular, que sofria na época grande degradação física de seus edifícios porém mantendo uma relevante vida urbana. Para isso, compreendeu em seu projeto 8 ou 9 apartamentos com pontos comerciais térreos, mais um restaurante e um bar. Lina e sua equipe também tiveram o cuidado de pensar os processos, como capacitar os próprios moradores para que atuassem nas reformas, como começar a reabilitação dos edifícios por aqueles que estavam vazios para que dessem espaço para outras pessoas que deixaram vago outro edifício deteriorado. Sobretudo, o projeto girou em torno da permanência dos moradores no local assim que ele fosse fisicamente recuperado (FERRAZ, 2008).
Justificativa
O projeto serve como referência a partir do estabelecimento de processos que pensam o bem estar e permanência dos moradores, como eles fariam parte do projeto, sua capacitação para contribuir nas obras, condições de subsistência financeira, realocação em casas recém reformadas para que as suas residências pudessem também passar por um restauro, etc . A habilitação de casarões em estado de degradação localizados numa região valorizada, prevendo seu restauro com base na Carta de Veneza, respeitando adições posteriores à construção original, configura um paralelo interessante com o contexto da Vila Itororó. O programa articulando usos que movimentam a vida nas ruas (o restaurante, bar e comércios) atrelados ao uso residencial dos casarões também é um ponto bastante considerado no processo projetual da Vila Itororó projeto para a realbilitação de cortiços em havana autor: iwo borkowicz local: havana, cuba data: 2016
Para diminuir o déficit habitacional, o projeto prevê a reabilitação de cortiços na região da capital Havana Vieja, mantendo fachadas dos edifícios históricos e algumas de suas características principais e adicionando cerca de 4 pavimentos a cada edificação, o que daria espaço não apenas para gerar o número suficiente de residências para suprir o déficit habitacional como ultrapassá-lo. Dessa maneira, as habitações teriam espaço para abrigar casas e também daria espaço para a criação de unidades de hospedagem, visto que hotéis são proibidos em Havana Vieja. Fazem parte do programa também cozinhas coletivas, salas de estar, terraços para uso comum, pátios internos, hortas urbanas, e pequenas unidades comerciais térreas. Foram desenvolvidos diferentes módulos para cada uma das mais frequentes tipologias de cortiço encontradas em Havana. As novas edificações se preocupam em prover iluminação natural e ventilação cruzada por meio da criação de aberturas de pátios internos principais e secundários (ZILLIACUS, 2017).
Justificativa
O imaginativo projeto para os cortiços em Havana demonstra um modelo de conciliação entre hospedagem e moradia, que pode ser uma maneira interessante de gerar renda que ajude a manter a moradia (um público alvo em situação de vulnerabilidade). Dessa maneira, levanta questionamentos a respeito de quais abordagens arquitetônicas abordar para gerar sustentabilidade financeira para os moradores da Vila Itororó, e no projeto da vila o programa de pequenas áreas comerciais poderiam servir para ajudar nesse quesito. Além do projeto estudado abordar soluções para a redução do déficit habitacional, tendo como seu principal objeto os cortiços e diversas edificações degradadas (realidade bastante paralela à da Bela Vista), a resolução arquitetônica das tipologias que preveem criações de aberturas voltadas para o interior do lote se mostra uma referência eficaz ao tratar da intervenção nas edificações tombadas do conjunto da Vila Itororó. considerado no processo projetual da Vila Itororó quinta monroy autor: elemental local: iquique, chile data: 2003
O projeto propôs a criação de unidades habitacionais para 100 famílias que viviam num terreno de maneira irregular há cerca de 30 anos. A problemática consistia em equacionar a difícil limitação do baixo orçamento para habitação social (dentro de um terreno muito valorizado na cidade), ultrapassando as barreiras de otimização de um lote, e prover suporte habitacional para que os moradores possam buscar uma melhor qualidade de vida. Dessa maneira, a solução arquitetônica foi desenhar blocos de unidades habitacionais alternadas, concebidas para serem ampliadas pelos próprios moradores conforme estivessem melhor assentados e tivessem condições financeiras para realizar as obras. Os blocos foram implantados de forma a receberem luz e ventilação natural de qualidade, dispostos de forma que criam pátios entre os blocos habitacionais(hoje utilizados também como estacionamento dos moradores), e as instalações hidráulicas e elétricas foram pensadas de forma que não precisassem ser alteradas quando a residência sofresse a ampliação. A simples alternância entre cheios e vazios foi capaz de dar espaço para que as pessoas pudessem construir a ampliação de suas casas e resolver uma questão de moradia inadequada que perdurava por décadas (ARCHDAILY, 2008).
Justificativa
O projeto resolve uma questão de moradias inadequadas que se prolongaram por décadas, considerando a permanência dessas pessoas nesse lugar. A arquitetura do projeto da Quinta Monroy em si propunha espaços vazios para a expansão das moradias no futuro, o que serve como referência para o projeto da Vila Itororó na medida em que, no projeto da Vila, espaços vazios são incorporados como áreas comuns do edifício para funcionarem como não só como entrada de iluminação e ventilação natural, mas que deixem espaços em comum para os moradores se apropriarem livremente, fortalecendo a ideia de comunidade.
Tanto o projeto da Quinta Monroy quanto da Vila Itororó priorizam a horizontalidade do edifício, que criam uma tipologia inusitada, acolhedora e mais reconhecida pelos moradores que se acostumaram a viver em ambientes térreos, de fácil comunicação com seus vizinhos e com a rua.
O programa proposto para a quadra da Vila Itororó tem como principais objetivos: prover habitação para a população removida, dar suporte para a subsistência em comunidade da população, criar espaços para a subsistência financeira dessas pessoas e também criar a abertura da quadra e de espaços público para usufruto da população num geral. Todas as diretrizes apontam para o incentivo do direito à cidade, ocupando a quadra da Vila Itororó e reforçando a potencialidade (em grande escala) de vida urbana e catalisador cultural da região da Bela Vista.
CAMILLO BOITO (1836-1914)
“Conservar para não restaurar”
Nasceu em Roma e estudou arquitetura na “Accademia di Belle Arti di Venezia”. Durante o tempo que passou lá, ele foi pioneiro das artes pré-modernistas, influenciado por Selvatico Estense, um arquiteto renomado no estudo da arte medieval na Itália, e por John Ruskin.
• Na década de 1870, elabora visão crítica quando defende a intervenção apoiada em documentação (inclusive da fotografia) e o respeito aos estratos históricos.
Durante o Congresso de Engenheiros e Arquitetos em Roma (1883), propõe 7 princípios fundamentais que deveriam nortear o restauro (incorporados na “Carta Italiana de Restauro” de 1883), entre eles:
- Evitar os acréscimos e renovações, se fossem necessários deveriam ter caráter diverso do original sem destoar do conjunto;
- Os completamentos de partes deterioradas ou faltantes deveriam ser de material diverso ou ter inscrita a data de sua restauração;
- As obras de consolidação deveriam limitar-se ao estritamente necessário, evitando-se a perda de elementos característicos ou pitorescos;
- Registrar e documentar fotograficamente as obras acompanhadas de relatórios com descrições e justificativas dos procedimentos adotados;
JOHN RUSKIN (1819-1900)
“A arte de um país exprime suas virtudes poéticas e sociais”
Nasceu em Londres e foi um importante critico de arte, desenhista e aquarelista britânico. Artista, dedica-se à crítica e à filosofia da arte. Pensador identificado com os ideais socialistas.
John Ruskin Defendia a ideia de que as edificações pertenciam ao seu “primeiro construtor”, ou seja, a população de determinada localidade que se tornava herdeira desses bens culturais, estabelecendo uma relação de compromisso social, entre a presente e as futuras gerações, para a preservação das edificações históricas em sua concepção original, evitando assim, atos de negligência e descaso.
• a organicidade estético-social, da funcionalidade da beleza;
• conceito de criação artística individual, única, irreprodutível historicamente;
• a “morte” da obra de arte é inevitável por consumação natural.
O teórico criticava fortemente a miséria e a desigualdade causadas pelo capitalismo, e recriminava fortemente a destruição que a industrialização trazia para o patrimônio.
• a apropriação privada da arte;
• repudia o restauro, apenas a conservação ou consolidação são admissíveis.
CESARE BRANDI (1906-1988)
“O restauro deve ser crítico”
Nascido na Itália, é um dos principais nomes da restauração de objetos de arte. Fundamentou o “restauro crítico” na dec.40 juntamente com Roberto Pane e Renato Bonelli.
Arquiteto italiano, propõe uma leitura crítica para o problema do restauro.
Foi um dos principais articuladores da criação do Instituto Central de Restauro (ICR) em Roma, do qual foi seu diretor de 1939 a 1960.
Cesare Brandi defende que o objeto restaurado não volte no momento da criação, e sim que continue carregando as marcas do tempo, respeitando a temporalidade e a sua conformação original.
A restauração, para representar uma operação legítima, não deverá presumir nem o tempo como reversível, nem a abolição da história. A ação de restauros, ademais, e pela mesma exigência que impõe o respeito da complexa historicidade que compete à obra de arte, não se deverá colocar como secreta e quase fora do tempo, mas deverá ser pontuada como evento histórico tal como o é, pelo fato de ser ato humano e de se inserir no processo de transmissão da obra de arte para o futuro. (BRANDI, 2008, p. 61)
O restauro é o ato crítico, dirigido ao reconhecimento da obra de arte (sem o que a restauração não é o que deve ser); voltado à reconstituição do texto autêntico da obra; atento ao “juízo de valor” necessário para superar, frente ao problema específico das adições, a dialética das duas instâncias, a história e a estética.
01. os galpões atualmente vazios são retirados, sendo mantidos os gabaritos para a nova proposta.
02. é demarcado um eixo que realiza a ligação entre a rua pedroso e um mirante que dá acesso ao páteo da vila
3.4 partido arquitetônico
04. são estabelecidos elementos de circulação vertical pelos acessos principais para a vila e suas edificações, garantindo que o percurso possa ser realizado de maneira acessível.
05. criação de unidades residenciais tanto no conjunto tombado quanto nas novas edificações propostas, contemplando uma demanda da região e as 70 famílias que viviam na vila.
03. usos comerciais e usos culturais se espalham pelos térreos, permitindo a circulação por dentro da quadra e alimentando a vida urbana
06. simulando os páteos, cheios e vazios do conjunto da vila itororó, as novas edificações propoe entre seus espaços cheios e vazios para livre aproprioação das pessoas planta nível +763,5 acesso pela rua m. cardim
planta nível +783,5 pavimento tipo
As unidades do edifício proposto foram pensadas para receber famílias grandes, como as que habitavam a Vila. Foram desalojadas cerca de 71 famílias, 250 pessoas no total. Cada um dos apartamentos foram pensados de forma que os quartos e sala sempre estivessem voltados para norte, leste ou oeste, de forma a garantir boas condições de insolação e ventilação.
Graças às circulações abertas, foi possível dispor janelas altas para cozinhas e lavanderias nas unidades. Em algumas situações da modulação de unidades, é possível encontrar um pequeno páteo/solário, destinado à apropriação dos moradores , possibilitando encontros e trocas dentro do prédio residencial.