Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
“A Rede Web como 5º Poder”
Curso: Educação e Comunicação Multimédia Disciplina: Teorias da Comunicação Docente: Doutor António Toucinho da Silva Discentes: Dora Estevão, nº 10917
Junho, 2011
Dora Estevão
1
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
Índice
ÍNDICE ______________________________________________________________________________ 2 INTRODUÇÃO ______________________________________________________________________ 3 1. A REDE WEB – A INTERNET ______________________________________________________ 4 1.1. HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DA INTERNET _______________________________________________ 4 1.2. A INTERNET COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO __________________________________________ 7 1.3. O CIBERESPAÇO E A CIBERCULTURA_______________________________________________ 8 1.4. ENQUADRAMENTO JURÍDICO DA INTERNET _________________________________________ 10 2. O 5º PODER _____________________________________________________________________ 13 2.1. A INTERNET __________________________________________________________________ 14 2.2. AS REDES SOCIAIS _____________________________________________________________ 15 3. IMPACTO DO 5º PODER _________________________________________________________ 17 3.1. O QUE É O WIKILEAKS? ________________________________________________________ 17 3.2. O FUNDADOR DO WIKILEAKS ____________________________________________________ 22 3.3. DIREITO À INFORMAÇÃO ________________________________________________________ 25 3.4. NOVA ERA DA INFORMAÇÃO _____________________________________________________ 26 4. A REVOLUÇÃO NO MUNDO ÁRABE ______________________________________________ 28 4.1. O PORQUÊ DA REVOLUÇÃO _____________________________________________________ 28 4.2. O PODER DAS TECNOLOGIAS ____________________________________________________ 31 4.3. OS INTERESSES ECONÓMICOS E POLÍTICOS ________________________________________ 33 4.4. A CENSURA DIGITAL ___________________________________________________________ 35 CONSIDERAÇÕES FINAIS __________________________________________________________ 39 BIBLIOGRAFIA ____________________________________________________________________ 42 WEBGRAFIA ______________________________________________________________________ 44 ANEXOS __________________________________________________________________________ 45 ANEXO 1 ________________________________________________________________________ 46 ANEXO 2 ________________________________________________________________________ 54
Dora Estevão
2
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
Introdução
O mundo está a sofrer mudanças profundas que marcam significativamente os modos de vida, os hábitos, os costumes e as expectativas dos indivíduos. As transformações que ocorrem no mundo são ditadas pelo ritmo acelerado da evolução das tecnologias da informação e das comunicações e atingem a sociedade de formas distintas, muitas das quais imperceptíveis, uma vez que as aceitamos naturalmente porque fazem parte de nosso quotidiano. A revolução da tecnologia induziu uma nova forma de sociedade, caracterizada pela globalização das actividades económicas, pela descentralização de decisões, pela flexibilidade do trabalho, pela individualização e pela instabilidade social e política. O impulso tecnológico do séc. XX gerado por um potencial de mudança marcou todas as instituições. Hoje, a ciência e a tecnologia são vitais na economia de um país e influem fortemente na qualidade de vida e no bem-estar social, afectando não só as estruturas produtivas mas também o conjunto das estruturas e instituições sociais. A sociedade vive profundos momentos de mudança, que parametrizam uma nova era e novos conceitos dela característicos, assumindo-se do virtual, do ciberespaço, das redes de informação-comunicação na qual a electrónica e a tecnologia modificam as regras do jogo económico. (Carioca, 1997). Como já sublinhou Ponte (1986), está a surgir uma (nova) consciência de que vivemos um período de grandes mudanças nos processos de produção, nas actividades profissionais e até no próprio domínio cultural. Avanços em múltiplas áreas da ciência e da tecnologia, na exploração do espaço e dos oceanos, em novas descobertas no campo da medicina, em novas matérias, em novas formas de organização do trabalho e de relacionamento humano, que projectam uma vida totalmente diferente para a humanidade. Vivemos numa era de rápida e constante transformação e inovação. As novas tecnologias de informação e comunicação invadiram as nossas casas e mudaram a forma como vivemos. Como referiu Toffler, “através de grande
Dora Estevão
3
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
parte do mundo de hoje avança uma forte maré que cria um ambiente novo e frequentemente estranho para se trabalhar, divertir, casar, criar filhos ou reformar.” (Toffler, 1984:7). Estes tempos trazem sempre alguma insegurança e incerteza perante o fim dos paradigmas sociais em que fomos criados.
1. A Rede Web – A Internet 1.1. História e evolução da Internet
A Internet foi criada por uma empresa americana denominada ARPA (Agência de Projectos de Pesquisa Avançada).
Em
1969,
surgiu
a
primeira
rede
operacional de computadores à base de comutação de pacotes - ARPANet (Advanced Research Projects Agency Network) do Departamento de Defesa dos Estados Unidos da América. A rede foi desenvolvida em segredo pelo Pentágono no período da Guerra Fria e tinha como objetivo desenvolver uma rede de comunicação, que ligasse as bases militares e os departamentos de pesquisa do governo americano, para que não ficassem vulneráveis, no caso de um ataque soviético. Na década de 70, as universidades e outras instituições tiveram permissão para se ligar à ARPANet. Em 1975, existiam aproximadamente 100 sites. No final dos anos 70, a ARPANet começou a ter dificuldades em administrar todo este sistema, devido ao crescimento que teve que começou a usar um novo protocolo chamado TCP/IP (Transmission Control Protocol/Internet Protocol) e dividiu-se em dois grupos, a MILNET, que possuía as localidades militares e a nova ARPANET, que possuía as localidades não militares. Com a Internet, veio a WWW (Worl Wide Web), inventada em 1992, pelo cientista chamado Tim
Dora Estevão
4
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
Berners-Lee que trabalhava na CERN (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear). A Internet (Rede Mundial) era assim considerada por muitos de "super-estrada da informação", em que a informação circulava pelos quatro cantos do mundo.
“A Internet é, acima de tudo, uma criação cultural.” Castells (2003)
Na década de 1990, a Internet tornou-se muito popular. Em 2003, cerca de mais de 600 milhões de pessoas estavam ligados à rede, em 2007 este número aproxima-se de 1 bilhão e 234 milhões de utilizadores. Actualmente, há cerca de 400 milhões de computadores permanentemente ligados à rede, para além dos portáteis e de desktops que ficavam online por apenas alguns momentos devido ao aparecimento do Wireless. A Internet, começou por ser algo limitado a um grupo de pessoas, e que em poucos anos se expandiu até à sua “democratização”. As tecnologias emergentes de Internet têm provocado o aumento do poder da utilização das tecnologias de informação e comunicação e uma rápida expansão das comunicações digitais. Desde modo, o cenário da tecnologia está traçado e a sua tendência é para continua a evoluir rapidamente. Temos o exemplo, do Facebook que nos últimos dois anos quintuplicou a sua dimensão e chegou a uma rede que atinge mais de 500 milhões de utilizadores. Segundo algumas opiniões, se o Facebook fosse um país, seria o terceiro maior.
Dora Estevão
5
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
A utilização do telemóvel é banal para mais de 4 mil milhões de pessoas em todo o mundo, destes 450 milhões utilizam a web móvel. As tecnologias de informação e comunicação estão em mutação constante devido aos novos avanços científicos e ao consumismo desenfreado dos indivíduos pela aquisição de novos produtos tecnológicos, cada vez mais, sofisticados. A Internet hoje está disponível para todas as classes sociais e para todas as idades. Através da Internet, é possível obter informações sobre os mais variados assuntos em tempo real, como por exemplo, viajar pelo mundo, conhecer o universo, divertimo-nos através da música, jogos, redes sociais, chat’s, blogues, entre outros. Neste sentido, a internet e as redes sociais revolucionam e aumentaram a nossa lista de contactos pessoais, de amigos e colegas. Por vezes, expomonos demasiado e usamos indevido dos nossos dados pessoais como moradas, fotografias, contactos, etc, o que nos faz perder a nossa privacidade e nos pode trazer complicações e diversos problemas. Devemos ser mais cuidadosos e criteriosos com quem desconhecemos, pois não sabemos as verdadeiras intenções de quem está no outro lado, podemos ser induzidos a cometer determinados erros e a prejudicarmo-nos. Hoje facilmente os indivíduos se fascinam pelas funcionalidades das redes sociais, vivem viciados nestas ferramentas de comunicação e acabam por isolar-se da sociedade e dos verdadeiros amigos e familiares. A internet é usada de forma ilegal e imoral como, por exemplo, pedofilia, roubos virtuais em contas bancárias, tráfico de drogas, e tantas outras coisas. Considero que a utilização da Internet e consequentemente das redes sociais deve ser q.b, ou seja, o “quanto basta”, usada na proporção certa e com os devidos cuidados. Devemos manter uma relação de equilíbrio e evitar excessos. A vida real nunca deve ser substituída pela vida virtual, devemos utilizar esta ferramenta quer a nível pessoal, quer a nível profissional.
Dora Estevão
6
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
1.2. A Internet como meio de comunicação
A tecnologia passou a fazer parte da comunicação humana e passou a participar nas actividades desenvolvidas pela humanidade. Através da globalização os países interagem e aproximam as pessoas, logo dizer-se que vivemos numa aldeia global. O mundo vive em rede tendo em consideração aspectos económicos, sociais, culturais e políticos. A globalização surgiu com a evolução dos novos meios de comunicação cada vez mais rápidos e eficazes. Actualmente através destes meios de comunicação milhões de indivíduos, em diferentes partes do planeta, compartilham fotografias, ideias, sentimentos, atitudes e opiniões. A Internet permite-nos o acesso a toda a informação, sendo esta a maior concentração de conhecimento existente no planeta. O ciberespaço é um sistema aberto que agrega informações múltiplas e descentralizadas, contribuindo para o debate intercultural e gerando formas de sociabilidade complexas. O ciberespaço impõe diversas mudanças no comportamento dos indivíduos por meio do processo de circulação de conteúdos, pelas comunidades que surgem e por todas as possibilidades que a rede oferece. Segundo Lévy (1994), o novo espaço não tem forma ou conteúdo definido, não é território geográfico tampouco é uma instituição ou um Estado, é um espaço invisível de conhecimentos que transforma a maneira como a sociedade é construída. A Internet, como tecnologia de informação e comunicação mais poderosa hoje existente, permitirá trazer a interactividade, a interacção social, a perspectiva intercultural, um certo tipo de experiências de outro modo inacessíveis mas necessárias à construção activa e harmoniosa do saber. Ao permitir o acesso a enormes
quantidades
de
informação,
nos
mais
variados
formatos,
materialmente impossíveis de reunir num só lugar, a Internet transforma-se num centro planetário de recursos, ao alcance do clique de um rato.
Dora Estevão
7
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
Comunicar de e para qualquer parte do mundo é já uma possibilidade ao alcance do cidadão comum. O correio electrónico, a telecópia, as redes de sociais, as teleconferências, os satélites, são uma realidade cada vez mais presente no nosso quotidiano. A comunicação e a informação baseadas na tecnologia do computador serão das actividades mais importantes dos próximos tempos. Os meios de comunicação, como é sabido, têm grande influência nas transformações sociais, assim estes podem incutir determinadas ideologias na sociedade e atingir os mais diversos objectivos, dependendo para tal, da intenção de quem propõe algo na rede e da ferramenta que se escolhe para esse objectivo.
1.3. O Ciberespaço e a Cibercultura
Com a utilização das novas tecnologias de informação e comunicação passouse a exigir uma nova organização estrutural da sociedade com relação ao tempo, novas formas de interacção, trabalho e socialização, etc. É condição essencial que os indivíduos adquiram habilidades para manusear os novos equipamentos de comunicação. O ciberespaço tem o poder de disponibilizar diversos tipos de informações de forma aberta e de permitir ao utilizador dar a sua opinião, interagir e ser o autor da informação que recebe.
Dora Estevão
8
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
É através da diversidade de linguagens digitais (hipermédia, hipertexto e multimédia), existentes no ciberespaço que o indivíduo desempenha o duplo papel de emissor e receptor e que consegue interagir, sendo sujeito activo no processo de comunicação. Os conteúdos das mensagens produzidas e transmitidas por meio do ciberespaço têm poder de persuadir os utilizadores para determinadas situações, como: influenciar jovens e adultos a acompanharem as tendências da rede, manipular opiniões, produzir efeitos como ódio e emoções, induzi-los a adquirir alguns produtos, etc. Hoje a sociedade moderna enfrenta muitos desafios e conflitos como o objectivo de responder às questões específicas em relação ao uso do ciberespaço. Na Internet expõe-se as possibilidades de mudança de valores, na vida pessoal, escolar ou profissional, e as leis que regem o ciberespaço, e os perigos da rede. É no ciberespaço que os indivíduos criam determinadas filosofias, culturas, estilos de vida, valores, identidades, tendências, verdades, etc. Consideramos que o ciberespaço e a utilização das tecnologias de informação e comunicação alteram a forma de agir e pensar do ser humano. Muitos indivíduos terão de adaptar-se aos novos tempos de incerteza, se não quiserem ser excluídos de uma sociedade dita “Digital”. A nova cultura, imposta pelas novas tecnologias é chamada de “cibercultura”, ou seja, a cibercultura estabelece uma relação íntima entre as novas formas sociais e as novas tecnologias digitais. A Cibercultura está presente no quotidiano de todos nós.
Dora Estevão
9
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
1.4. Enquadramento jurídico da Internet
Actualmente, vivemos uma das maiores revoluções na comunicação de toda a história da humanidade – a Internet. É necessário que a legislação se adapte e actualize
constantemente
às
diversas
alterações
tecnológicas
e
consequentemente às alterações sociais. O mundo real em que vivemos é gerido por normas jurídicas e regras, logo o mundo virtual deve também ter algumas regras. Assim, é urgente que todos os países tenham legislação apropriada à Internet. O desenvolvimento não pode parar, logo é necessário criar leis para regulamentar o uso do ciberespaço. Dessa forma, os legisladores e utilizadores devem discutir o tema e escolher a melhor opção de regulamentação para atender aos interesses não somente dos indivíduos que controlam o ciberespaço, mas também dos utilizadores. Com a evolução dos tempos surge um novo tipo de crime associado às novas tecnologias de informação, o cibercrime. Hoje, os governos enfrentam grandes desafios para combater determinados crimes. Existem muitos obstáculos legais que dificultam a possibilidade de acabar com o cibercrime por exemplo. Um hacker que actue num país que não seja o seu, torna-se difícil de o capturar. Com o avanço tecnológico e a rapidez das comunicações, os ciber-ataques também são mais rápidos, assim como, as novas técnicas de roubos e crimes realizados através da Internet. As autoridades não dispõem de recursos suficientes para impedir os ciber-criminosos e a lei está sempre um passo atrás, o que dificulta ainda mais e impede as autoridades de actuarem. Portanto, é muito difícil implementar leis globais, o ideal seria exigir responsabilidades às instituições, fornecedores de serviços de Internet, alertar os utilizadores para a utilização de determinados sites, tomar determinadas precauções na utilização das redes sociais, etc.
Dora Estevão
10
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
Com os meios digitais a informação circula mais rapidamente e por vários sítios ao mesmo tempo, logo é necessário criar diferentes estratégias para manter a privacidade de obras e indivíduos ou mesmo controlar um ambiente que é aberto a milhares de utilizadores. É urgente que os governos criem legislação para o comércio electrónico, propriedade intelectual/direitos de autor, nomes e domínios, cibercrime, códigos de conduta, utilização do e-mail na empresa, etc. Na Constituição da República Portuguesa, estão consagrados no artigo 35º os direitos dos cidadãos relativos à utilização da informática, nomeadamente nos aspectos relacionados com os dados pessoais informatizados.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA Artigo 35º Utilização da Informática 1. Todos os cidadãos têm o direito de acesso aos dados informatizados que lhes digam respeito, podendo exigir a sua rectificação e actualização, e o direito de conhecer a finalidade a que se destinam, nos termos previstos na lei. 2. A lei define o conceito de dados pessoais, bem como as condições aplicáveis ao seu tratamento automatizado, conexão, transmissão e utilização, e garante a sua protecção, designadamente através de entidade administrativa independente. 3. A informática não pode ser utilizada para tratamento de dados referentes a convicções filosóficas ou políticas, filiação partidária ou sindical, fé religiosa, vida privada e origem étnica, salvo mediante consentimento expresso do titular, autorização prevista por lei com garantias de não discriminação ou para processamento de dados estatísticos não individualmente identificáveis. 4. É proibido o acesso a dados pessoais de terceiros, salvo em casos excepcionais previstos na lei. 5. É proibida a atribuição de um número nacional único aos cidadãos. 6. A todos é garantido livre acesso às redes informáticas de uso público, definindo a lei o regime aplicável aos fluxos de dados transfronteiras e as formas adequadas de protecção de dados pessoais e de outros cuja salvaguarda se justifique por razões de interesse nacional. 7. Os dados pessoais constantes de ficheiros manuais gozam de protecção idêntica à prevista nos números anteriores, nos termos da lei.
Dora Estevão
11
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
Relativo à criminalidade informática, encontramos contemplado na Lei nº109/91, de 17 de Agosto, alterada pela Lei nº 109/2009 de 15 de Setembro (Anexo 1), uma variedade de condutas que constituem crime informático. Podemos também encontrar, a Lei da Protecção de Dados Pessoais face à Informática (Lei nº10/91 de 29 Abril, alterada pela Lei nº67/98 de 26 de Outubro) (Anexo 2). No Código Penal, surgem dois artigos: o Artigo 193º - Devassa por meio de informática e o Artigo 221º - Burla informática e nas telecomunicações. No que diz respeito à legislação existente em Portugal e no resto do mundo, esta é obsoleta e está muito desactualizada, não combatendo correctamente o cibercrime organizado e não protegendo aqueles que necessitam de protecção e segurança. A legislação deve proteger e salvaguardar os direitos dos indivíduos mas perante o advento da Internet a legislação está impotente, facilitando e promovendo, cada vez mais, o cibercrime.
Dora Estevão
12
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
2. O 5º Poder
Como é sabido existem 3 poderes que regem os Estados democráticos: o legislativo, o executivo e o judiciário. Estes poderes devem manter a ordem, a unidade, a coesão, a justiça e a liberdade dos cidadãos. Os meios de comunicação – mass média são considerado o 4º Poder (média tradicional, grupos organizados como lobbies/grupos de pressão e outros sectores influentes na sociedade), influenciam os três poderes anterior. O 4º poder é um agente (individual ou colectivo) da sociedade que têm capacidade de direccionar a opinião pública e/ou de dar impulso a movimentos cívicos. Este poder traduz-se na realidade na média tradicional (televisão, rádio, jornais, revistas...) e tem como objectivo principal fiscalizar os poderes públicos/privados
assegurando
a
transparência
nas
relações
políticas
económicas e sociais. Mas na realidade o que acontece é que este poder manipula as massas, impõe comportamentos e manipula a opinião pública. Este poder tem a capacidade de influência os restantes poderes, uma vez que, tem como base principal a sustentação da cultura de massa, a comunicação e a informação.
Dora Estevão
13
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
2.1. A Internet
A Internet, é considerada o 5º Poder, mais avassalador que os mass média tradicionais, pois tem uma linguagem muito própria. Este 5º Poder traduz-se numa sociedade organizada em prol de reivindicações comuns e capazes de influenciar a política, independentemente da intervenção dos outros quatro poderes. A Internet deve ser autónoma, isto é, ser contra qualquer forma de manipulação por parte da média, empresários, lobbies, partidos políticos, etc. Até há pouco tempo não era possível organizar a sociedade sem a presença dos outros poderes, pois esta não tinha voz nem organização para isso e os conflitos de interesse inviabilizavam a união por objectivos comuns. Mas com a evolução da internet é possível efectuar uma comunicação generalizada e independente da sociedade, que agora tem poder para influenciar a política como um agente independente. O 5º poder resume-se em duas palavras: sociedade e internet. A internet é um espaço pouco controlado pelos 4 poderes, à excepção do judiciário quando o crime virtual e é comprovado, o que por vezes é muito difícil, compete directamente com a média tradicional e por último o poder legislativo não consegue regulamentá-la na sua globalidade, isto é, a Internet por enquanto e na maioria dos países ainda é um espaço livre e independente. Assim, a Internet representa um veículo de comunicação onde existe "liberdade de expressão". A liberdade de expressão é um dos mais virtuosos bens adquiridos pelas sociedades democráticas. O 5º poder invade a vida e a privacidade de todos os indivíduos, famosos, políticos, empresários e organizações, etc. Todos são tratados de forma igual. A sociedade e a rede mundial fundiram-se, o que torna a Internet uma ferramenta de comunicação poderosíssima para a humanidade. A ela estão interligadas milhões de "empresas" (indivíduos) que formam um só corpo com o propósito geral de transmitir uma mesma notícia em tempo real para todos os países do mundo, mesmo que a informação não seja de fonte confiável, mas
Dora Estevão
14
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
se for da vontade do 5º poder, esta poderá tornar-se uma verdade virtual em poucos cliques. A tendência do 5º Poder é para um crescimento ainda maior, pois a nova Geração Z já nasce utilizando as novas tecnologias (notebook, smartphone, iPhone, iPad, tablets, etc). Com base na fábula: “a união faz a força”, atrevo-me a dizer que a união de milhões de indivíduos em torno de um "bem comum", que é a Internet, irá torná-la na arma mais poderosa do século XXI.
2.2. As redes sociais
As redes sociais são na realidade um grupo ou uma comunidade
virtual
assente
na
plataforma
de
internet. Todos têm a sua oportunidade para promoverem uma discussão, expor pontos de vista, partilhar valores, estilos de vida, sentimentos, atitudes, comportamentos, “links” e/ou ficheiros multimédia, vídeos e imagens, etc. Com a Internet surgem novas formas de comunicação e de relacionamentos entre os indivíduos. Nas redes sociais, como o “Twitter”, o “Facebook”, o “Hi5” e em tantas outras, desenvolveram novas formas de expressão de amizade, intimidade, comunidade e poder. Através das redes sociais consegue-se promover ou difamar indivíduos, assim como, organizar uma campanha ou um protesto rapidamente através de um clique. Recentemente em Portugal e através da rede social “Facebook”, a “Geração à Rasca” organizou um protesto no passado dia 12 de Março em Lisboa e no Porto. Mais de 20 mil pessoas confirmaram a presença neste evento. O Protesto uniu cerca de 500 mil pessoas nas ruas de todo o país e no estrangeiro, surgiu espontaneamente, fruto da
Dora Estevão
15
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
iniciativa de quatro amigos, aos quais se juntaram outros amigos. A classe política ficou surpreendida com o número de aderentes, e talvez por esse motivo que alguns políticos e até o Presidente da República utilizam esta ferramenta de comunicação. Os protestos na Moldávia e no Irão mostraram o novo poder de mobilização da sociedade, com a ajuda da internet, e principalmente, das redes sociais. Outro exemplo, foi um dos casos mais recentes, a Revolução dos Jasmins (em homenagem à flor nacional, símbolo de pureza, de tolerância e do gosto pela vida), que provocou a queda do ditador da Tunísia, este foi derrubado em menos de um mês, após ter estado no poder durante 23 anos. Os seus opositores derrubaram o regime sem armas, mas com a maior arma de todas, a Internet - as redes Sociais, no conforto das suas casas, à distância de um clique e sem custos. Os manifestantes organizaram-se e tomaram as ruas, recrutaram novos apoiantes. Comparativamente a esta revolução, lembro-me de uma outra também com nome de uma flor “Revolução dos Cravos”, que ocorreu no dia 25 de Abril de 1974 em Portugal. Esta revolução terminava definitivamente com meio século de opressão, medo e atraso. Na altura não existiam redes sociais mas a rádio (outro meio de comunicação)
deu
o
sinal
para
as
tropas
avançarem através da primeira “senha” com a música “E depois do adeus” de Paulo de Carvalho. A segunda "senha", constituída pela canção Grândola, Vila Morena, de José Afonso, transmitida pela Rádio Renascença, serviu para informar todos os quartéis e militares que aderiam ao golpe, de que tudo estava preparado e a correr conforme o planeado. A ditadura cai na manhã do dia 25 sem resistência.
Dora Estevão
16
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
No dia 21 de Maio, em Espanha milhares de pessoas bloquearam a Praça do Sol, num protesto anti-sistema convocado de forma espontânea pelas redes sociais e por sms. Actualmente e em pleno século XXI, considero as redes sociais como o “5º poder”, porque com a união dos diversos grupos reformistas, a sociedade poderá mobilizar-se e reivindicar de forma autónoma. Só assim será possível mudar um país ou mesmo o mundo em nome de uma vontade colectiva, em vez da vontade de partidos políticos ou de grupos mediáticos.
3. Impacto do 5º Poder 3.1. O que é o Wikileaks?
“Uma organização de comunicação livre, assentada no trabalho voluntário de jornalistas e tecnólogos, como depositária e transmissora daqueles que querem revelar anonimamente os segredos de um mundo podre, enfrenta aqueles que não se envergonham das atrocidades que cometem, mas se alarmam com o fato de que suas maldades sejam conhecidas por aqueles que elegemos e pagamos”. Manuel Castells
Wikileaks é uma entidade autônoma que define as suas estratégias e organiza a sua produção em bases internacionais sem vínculo com qualquer país, sem fins lucrativos que publica, no seu site, posts de fontes anônimas, documentos, fotografias e informações confidenciais, fuga de governos ou empresas, sobre assuntos sensíveis. O objectivo do Wikileaks é denunciar regimes opressivos, na Ásia, no antigo bloco da União Soviética, África subsaariano e Médio
Dora Estevão
17
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
Oriente, mas também querer ajudar as pessoas de todo o mundo que pretendam divulgar comportamentos pouco éticos dos seus governos e empresas”. Wikileaks foi criada em 2006 como uma fundação sem fins lucrativos, é considerada um meio de comunicação através da internet. É uma página Web para publicar denúncias de cidadãos que têm acesso a documentos comprometedores e não podem dar a cara com medo de represálias e punição. Após um ano já possuía mais de 1,2 milhões de documentos na sua base de dados. Foi registada na Alemanha, mas opera a partir da sua sede na Suécia. Apenas tem cinco colaboradores a tempo inteiro mas tem 800 colaboradores eventuais e centenas de voluntários distribuídos por todo o mundo, tais como, jornalistas, informáticos, engenheiros e advogados. A organização não revela os seus segredos, existem alguns suspeitos de colaboração com a organização, são eles: Jacob Appelbaum (pirata informático) de 28 anos, Americano, deu uma conferência de imprensa em nome do Wikileaks, é considerado o homem mais perigoso do ciberespaço; Kritinn Hrafnsson (jornalista), tem 49 anos, Islandês, principais colaboradores, portavos do wikileaks; James Ball (jornalista) de 30 anos, Inglês, colaborador do Wikileaks; Bjorn Hurtig (advogado) de 41 anos, sueco, jurista que colabora com a organização e que defende o seu fundador; Mark Stephen (advogado) tem 48 anos, inglês, jurista que tem conseguido que Assange fique em liberdade. A fundação tem de despesas de funcionamento por ano 200 mil euros, em 2010 recebeu 1 milhão de euros em doações confidenciais. Inicialmente, esta organização teve o seu apoio de dissidentes chineses, empresas de internet de Taiwan e mais tarde teve o impulso de activistas de internet e defensores da liberdade de expressão e comunicação livre. Todos tinham um objectivo em comum: obter e divulgar a informação secreta que os governos e meios de comunicação ocultam dos cidadãos. O site Wikileaks recebia a maioria da informação, mediante o uso de uma avançadíssima tecnologia de encriptação em forma de mensagens encriptadas.
Dora Estevão
18
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
Quando alguém desejava enviar mensagens tinha que seguir determinadas regras, uma delas era enviar a informação de locais como cibercafés, o mais longe possível dos seus lugares habituais, outra era não escrever nenhum endereço que tenha a palavra wiki, mas utilizar outros endereços como o site: http://destiny.mooo.com, que no momento se encontram indisponíveis. O Wikileaks facultou também a diversos jornais de todo o mundo, como o El Pais, Le Monde, The New York Times, etc, diversos documentos. A condição seria não colocar em perigo as fontes e evitar revelações que significassem risco para a segurança de qualquer país. Os governos há algum tempo que sabiam que “mais dia menos dia”, iriam perder o controlo sobre a informação no mundo da internet. Em relação aos mass média tradicionais, já tinham aprendido a conviver com eles e a sua liberdade de imprensa, mas não estavam preparados para enfrentar o ciberespaço, povoado de fontes independentes de informação. Os ataques contra o Wikileaks questionam não a veracidade dos documentos originais publicados, mas a sua divulgação com o pretexto de poderem colocar em perigo a segurança de cidadãos cíveis e militares. O Wikileaks responde que os nomes e outros sinais de identificação são apagados e só são divulgados documentos sobre acontecimentos passados, logo é difícil colocar em perigo as operações actuais. Hillary Clinton, senadora e Secretária de Estado dos Estados Unidos, condenou a publicação dos documentos mas não teceu qualquer comentário à ocultação de milhares de mortos civis, corrupção, atrocidades nas guerras e às torturas. Outros, como Nick Clegg, o vice-primeiro-ministro britânico, censurou o método utilizado mas pediu uma investigação aos factos relatados. Mesmo assim, Wikileaks recebe prémios internacionais do jornal “The Economist” e da Anistia Internacional, pelo reconhecimento dos seus profissionais na publicação de alguns artigos. O Wikileaks terá tido acesso a 700 mil documentos dos Estados Unidos, alguns destes documentos referentes à guerra do Afeganistão, Prisão de Guantánamo e ocupação do Iraque foram colocados online. Dora Estevão
19
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
Estes documentos, são credíveis, a maioria das fontes foram filtradas por soldados norte-americanos, agentes de segurança norte-americanos ou de relatórios militares confidenciais. Alguns destes homens estão presos. Um deles chama-se Bradley Manning, analista de inteligência do Exército, com 23 anos e é considerado por uns de traidor e por outros de herói. Este jovem é acusado de vazar milhares de documentos para o Wikileaks e arrisca-se a uma pena de 52 anos de prisão por ter divulgado documentos militares quando prestava serviço militar no Iraque como analista de informação. Jeffrey Sterling, advogado e ex-funcionário da CIA entre 1993-2002, é acusado de ter revelado informação sobre armamento nuclear de países estrangeiros e poderá ter uma pena de 10 a 20 anos de prisão. Shamai Leibowitz, linguista da National Security Agency (NSA), tem como principal acusação partilhar documentos com um blogger e foi condenado a 20 meses de prisão. Thomas A. Drake, funcionário da NSA, é acusado de entregar informação a um jornalista do Baltimore Sun e arrisca-se a um castigo até 50 anos. Stephen Kim, analista do Departamento de Estado, tem como principal acusação a entrega de informação sobre política americana em relação à Coreia do Norte, incorre numa pena até 15 anos. Destes cinco indivíduos um já foi sentenciado e os restantes aguardam julgamento. Segundo Assange, os Estados Unidos pretendem julgá-lo por crimes de terrorismo e enviá-lo para Guantánamo. Uma deputada da Islândia, Brigitta Jonsdottir, e um hacker holandês chamado Rop Gonggrijp são também objecto da acção. O Wikileaks só publica os documentos depois de uma prévia investigação a sobreviventes e a arquivos. Wikileaks tem muitos apoiantes, um dos quais, alguns meios de comunicação, outro é o Partido Pirata da Suécia que protege o seu servidor central que está trancado num refúgio subterrâneo à prova de qualquer interferência. Um grupo intitulado - “Anônimos”, organizou ataques contra alguns sites que pararam de prestar serviços ao Wikileaks, depois que o Wikileaks publicou milhões de relatórios diplomáticos dos EUA que causaram embaraços entre
Dora Estevão
20
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
Washington e os seus aliados. Mas o Wikileaks tem sobrevivido aos diversos ataques e tentativas de desalojamentos. O site teve o domínio principal (www.wikileaks.org) bloqueado, e foi ai que o seu proprietário pediu a criação de espelhos “mirrors” por todo o mundo, o que resultou na disponibilização do site nos domínios at, ch, de, fi, is, nl, no, pl e si disponíveis nos idiomas Árabe, Alemão, Espanhol, Francês, Inglês, Japonês, Coreano, Norueguês, Português, Russo, Turco e Ucraniano. O Wikileaks esta alojada em mais de 20 servidores espalhados pelo mundo e tem centenas de domínios na rede, existem mais de dois mil sites com a mesma informação. Assim, para destruir o Wikileaks é necessário destruir também a Internet. Após Amazon, Paypall, Visa e Mastercard cortarem ligações com o site Wikileaks, este encontrou refúgio, no servidor francês OVH e realojou-se na Suíça. O restante continua hospedado na Suécia. A campanha para vingar o Wikileaks foi chamada de "Operation Payback" (Operação Troco) e conseguiu retirar do ar páginas das administradoras de cartões Visa, Mastercard, além do PayPal, governo sueco e holandês. O site da loja virtual da Amazon não conseguiu ser derrubado pelos ataques. O Wikileaks divulgou no site informações sobre grupos terroristas, o que causou grande preocupação aos governos. O telegrama sobre terrorismo é um dos 250.000 publicados com informações diplomáticas americanas sobre países e autoridades do mundo. Assange prepara-se para a qualquer momento divulgar os milionários que enganam o fisco através de fraude e evasão fiscal. Considero que o Wikileaks tem um papel fundamental porque apesar dos métodos utilizados, conseguem cumprir a sua missão, que é denunciar a corrupção existente, os abusos de poder, as tortura e chacinas, as atrocidades nas guerras, etc, e também ajudar aqueles que pretendem dar a conhecer ao mundo os comportamento não éticos dos nossos governantes. Mas nunca teriam chamado a atenção das opiniões públicas do mundo inteiro e muito menos teria sido levado a sério sem a cumplicidade da imprensa ocidental.
Dora Estevão
21
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
3.2. O Fundador do Wikileaks
Julian Assange é o rosto do Wikileaks, nasceu em 1971 na cidade australiana de Townsville, no Noroeste do país. Teve uma infância complicada, os pais divorciaram-se e a mãe voltou a casar, um dia e após uma discussão com o seu padrasto, a sua mãe foge de casa com ele e o seu meio-irmão. Mudou de casa num espaço de 14 anos 37 vezes. A família sobrevivia à custa de um negócio familiar, ou seja, através de Companhia de teatro de marionetas ambulante. Em 1984, com muito esforço, a sua mãe compra-lhe um computador, um Commodore64 e foi através deste primeiro computador que lhe despertou o génio de pirataria informática. Facilmente se infiltrava nas bases de dados do Pentágono sob o pseudónimo Mendax, sendo referenciado pelos serviços secretos internacionais. Em 1991 a polícia acusou-o de 30 crimes informáticos e enquanto aguardava pelo julgamento entrou em depressão, foi hospitalizado e tratou de problemas de foro psicológico. Quando saiu do hospital começou a vaguear nas ruas da cidade tornando-se um sem-abrigo. Ao pagar uma multa e prometer não voltar a cometer crimes informáticos, escapou à prisão. Em 1999 e depois de uma batalha judicial pela custódia do seu filho Daniel, perde definitivamente a custódia do seu filho. Pouco se sabe da sua vida, apenas que estudou matemática, física e informática na Universidade de Melbourne. Há quem defenda a tese de que Assange teria tido contactos com espiões de vários países e trabalharia para os serviços secretos de Israel, pertenceria a uma associação mundial de super-hackers que em 1988 penetraram na rede militar norte americana através de um vírus informático e danificaram a base de dados, que pertencia ao topo da hierarquia do clube e que desde 1986 era referenciado nos ficheiros do KGB (Comité de Segurança do Estado, serviços secretos da antiga União Soviética. Segundo o lema da sua mãe: “o mal floresce quando as pessoas não fazem nada”, criou o site “Wikileaks” no ano de 2006.
Dora Estevão
22
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
Hoje Julian Assange, tem 40 anos e é considerado um dos maiores inimigos dos Estados Unidos, que não têm medido esforços para julgá-lo por crime de espionagem. Vive na clandestinidade, raramente dorme na mesma casa, paga tudo em dinheiro vivo e só utiliza telemóveis encriptados com códigos de segurança sofisticados. Quando fica hospedado em hotéis dá um nome falso. A sua imagem de marca é alto, cadavérico, veste calças de ganga rasgadas, blusões e casacos clássicos, gravata e ténis. Assange é amado e seguido por uns e odiado de morte por outros. A diplomacia e a política internacional nunca mais serão as mesmas depois do grande Tsunami provocado por este homem, quando divulgou através da internet informações diplomáticas secretíssimas dos estados Unidos. É um dos homens mais temidos em todo o mundo. Em 1997, escreveu um livro: “Underground”, citou Wilde na introdução do livro. “Um homem é menos verdadeiro quando fala por si próprio. Dai-lhe uma máscara e ele dirá a verdade.” As revelações do fundador e gestor do Wikileaks trouxeram grandes embaraços à Administração norte-americanas, diversos governos e líderes mundiais e reacções irracionais da parte de alguns senadores. Toda esta informação demonstra um grande desprezo pelos países sub e em vias de desenvolvimento e por questões importantes para a humanidade. A Suécia emitiu um mandato de captura de Assange onde este é acusado por crime de violação e assédio sexual de duas mulheres, em Estocolmo no ano passado. As mulheres que o acusam, Anna Hardin e Sofia Wilen, são duas feministas, activistas e simpatizantes do Partido Pirata sueco. Agora luta contra a sua extradição para esse pais que o quer interrogar sobre os crimes cometidos. Assange nega ter cometido qualquer crime. Estas acusações surgem na mesma época em que o Wikileaks começou a publicar milhares de documentos secretos norte-americanos. Assange ocupou durante uma semana, a mesma cela na solitária da prisão londrina de Wandsworth onde, em 1895, o escritor irlandês Oscar Wilde
Dora Estevão
23
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
cumpriu uma pena de dois anos por crimes sexuais com rapazes. É tal como Mark Zuckerberg, o criador do Facebook, um herói-vilão. O tribunal britânico impôs as regras de liberdade condicional com o uso de uma pulseira electrónica e cumprimento dos horários de recolher enquanto o processo decorria. Já em Fevereiro de 2011, o tribunal decidiu extraditar o fundador da Wikileaks, para a Suécia com o propósito de ser julgado dos crimes de que é acusado. Vai recorrer da acusação. O juiz não considerou válidas as alegações apresentadas pelos advogados de Assange, que apontavam erros graves na instrução do processo por parte das autoridades suecas e que existe o perigo de o fundador da Wikileaks poder ser extraditado da Suécia para os EUA, onde poderia enfrentar a pena de morte por espionagem ou até a prisão em Guantánamo. Assange afirma que é uma campanha destinada a denegrir a sua imagem, por ter revelado milhares de segredos diplomáticos e militares embaraçosos para os EUA e seus aliados. Ele confirma as ameaças de morte de que é alvo, sequestro e execução por parte de alguns líderes mundiais. Julian Assange é o justiceiro do século, o Hacker mais famoso do momento.
Dora Estevão
24
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
3.3. Direito à Informação
Todos os cidadãos tem direito à informação mesmo aquela que circula em círculos estatais mais restritos. Hoje a falta de transparências nas relações internacionais é uma constante, e tem que mudar. Alguém deve mostrar ao Mundo o que se passa nos bastidores das grandes potências, e deixar que cada um tire as suas próprias conclusões. Pelo
que
sei
o
Wikileaks,
não
divulgou
nada
que
comprometesse
verdadeiramente a segurança dos Estados Unidos ou o tornasse mais frágil diante de seus inimigos. O movimento activista do Wikileaks não se vai deter pelo facto dos Estados Unidos pretender assassinar Assange, acusá-lo de crimes sexuais ou congelar os seus recursos. Este movimento já tem adeptos e colaboradores por todo o mundo. Se algo acontecer ao fundador do Wikileaks, ele será considerado um mártir, o que irá inspirar milhares de pessoas a seguir os seus passos. Na minha opinião os Estados Unidos deveriam deixar para trás as soluções violentas contra o Wikileaks e repensar a sua Diplomacia, assim como, proteger e controlar melhor os seus documentos para que não existam mais fugas de informação. Os Estados Unidos têm receio das publicações do Wikileaks porque na realidade sabem que estas são verdadeiras e que sempre foram encobertas pelo sistema. O Twitter sofreu pressões dos Estados Unidos para entregar informações detalhadas sobre registos do Wikileaks, como parte da investigação criminal relacionada com a divulgação dos documentos. Se os Estados Unidos pudessem imitar a China, bloqueavam a Internet e faziam censura. Mas países livres, não tem forma de evitar que os cidadãos descubram o que o inimigo diz.
Dora Estevão
25
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
3.4. Nova era da informação
A nova era da informação foi marcada pelo ponto de viragem na história da informação, como aquele que tudo mudou a partir da Internet. Os documentos do Wikileaks andam à solta na Internet e vão circular, propagar-se, vão ser lidos, discutidos e enriquecidos pelo mundo dos internautas. Qualquer indivíduo com acesso à Internet, pode formar uma opinião desde que leiam as centenas de milhares de páginas até agora inacessíveis. Antes da Internet existir ninguém teria capacidade logística para divulgar pastas de informação, agora a informação que se pode julgar ser inacessível, se tiver mal protegida pode ser facilmente divulgada porque também ela se encontra em suporte digital. Assim, através da Internet, as pastas de informação ficam acessíveis a qualquer um. Os profissionais da informação tem hipótese de investigar as revelações de forma a puderem explicar os delitos e crimes cometidos. A informação profissional enfrenta um grande desafio. Dora Estevão
26
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
O dia 28 de Novembro de 2010 ficou para a história como sendo o dia em que a informação se tornou apanágio da Internet. Pela primeira vez os indivíduos tiveram acesso a determinados segredos e a possibilidade de distinguir entre a verdade e as mentiras dos “poderosos”. Os governos têm de proteger os segredos de estado. A diplomacia nunca mais vai voltar a ser a mesma. A comunicação vai ficar dificultada, uma vez que as autoridades têm dificuldade em controlar a situação. Os métodos tradicionais de comunicação e as práticas utilizadas na obtenção da mesma não voltam a ser os mesmos. Assange encara as divulgações como parte de uma guerra global contra os abusos, hipocrisia e os crimes de guerra de empresas e governos. O sigilo sai a perder porque, as leis que protegem a privacidade e os direitos de autor, perante uma história com alcance mundial, acabará sempre por ser publicada independentemente do meio de comunicação.
Dora Estevão
27
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
4. A Revolução no mundo árabe 4.1. O porquê da Revolução
A onda de protestos no mundo árabe desde o início do ano torna evidente o fracasso dos regimes ditatoriais instalados nos países do Norte da África e Oriente Médio. Os conflitos em países como Tunísia, Egipto e Líbia, são reflexos da insatisfação da população. O mundo árabe está a sofrer mudanças radicais. A onda revolucionária é liderada pelos jovens (menos de 30 anos) e está a chamar a atenção dos governos de todo o mundo. Os revolucionários exigem sobretudo melhores condições de vida, emprego, maior remuneração e uma maior liberdade de expressão. A falta de oportunidades e a forte repressão praticada pelos ditadores é que levaram a população às ruas em busca de reformas políticas e económicas, o desleixo das relações entre governo e sociedade e maior liberdade em geral. Tudo teve início quando um jovem tunisino de 26 anos, licenciado em informática, foi proibido de fazer venda ambulante de legumes e frutas. Mohammed Bouazizi vendia nas ruas desde os 10 anos. Escreveu uma carta
Dora Estevão
28
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
ao governo mas este negou o pedido, então o jovem comprou duas latas de thinner, um solvente de tinta utilizado na pintura e decoração, cobriu-se com ele e imolou-se em frente dos Paços do Concelho, no dia 17 de Dezembro de 2010, vindo a falecer no dia 4 de Janeiro de 2011. Esta foi a forma que o jovem encontrou para protestar contra as sucessivas humilhações da polícia. O seu acto de desespero inspirou imediatamente a solidariedade dos seus conterrâneos, que se começaram a mobilizar para protestar contra as arbitrariedades policiais, o desemprego, a falta de perspectivas e a corrupção na vida pública tunisina. Mais de cinco mil pessoas participaram no funeral deste jovem, que a única coisa que desejava era trabalhar e sustentar a sua família. Um pequeno evento drástico foi a gota de água para despoletar uma revolução em vários países árabes. Este jovem tornou-se o símbolo dos protestos naquele país. O governo de Ben Ali tentou durante alguns dias abafar a “intifada de Sidi Bouzid”, uma vez que controlava os media. Mas as redes sociais e o aumento da contestação a outras localidades não permitiram conter a revolta e inviabilizavam a censura. Tudo aconteceu no fim do ano de 2010, quando multidões em fúria começaram a incendiar instalações da Guarda Nacional e outras entidades públicas. Multiplicam-se os casos de indivíduos dispostos a morrer. Os protestos ganham força quando alguns hackers e internautas que defenderam o Wikileaks, “Anonymous” lançaram vários ataques contra os sites do Governo, o que espalhou ainda mais confusão. O primeiro governo a cair foi o do Zine el Abidine Ben Ali, Presidente da Tunísia há mais de 20 anos. Este país foi o primeiro a obter êxito na revolução árabe, pois o actual governante sucumbiu aos protestos embora Ben Ali tenha cortado todas as vias terrestres, reduzido drasticamente o acesso a telefones, Internet ou canais televisivos internacionais. Será que o exemplo tunisino pode despertar consciências e produzir efeitos políticos na Argélia, no Egipto ou na Líbia?
Dora Estevão
29
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
A queda dos líderes de países árabes atingiu também o líder do Egipto, Hosni Mubarak, que controlava o país há quase 30 anos, e caminha para a Líbia, onde o coronel Muamar Kadafi governa com mãos de ferro há quatro décadas. Kadafi é um dos piores ditadores da humanidade, este ditador está disposto a tudo e diz que só sai da capital morto. Mubarak está caindo, e todos os dirigentes árabes estão à beira de um ataque de nervos. No Egipto a 25 de Janeiro, dia em que Mubarak celebrava o Dia da Polícia, um grupo de bloggers convocou em simultâneo “a Terça-feira da Ira” contra o Presidente. Os organizadores da revolta iniciada nas redes sociais, não faziam ideia do grau de adesão desta iniciativa, nem do seu impacto. Países como a Tunísia, Egipto, Argélia, Sudão, Síria, Omã, Jordânia e Iêmen, onde as revoltas foram palco, são governados por ditadores, ou até mesmo por monarquias (caso da Jordânia). Estes regimes com décadas de duração, usam constantemente a força militar para repreender a população, controlam a liberdade de expressão, fechando jornais, emissoras de televisão, e controlando as redes sociais e outros recursos da Internet. Os jovens deixaram de aceitar as ordens ditatoriais dos seus governantes. As autocracias do mundo árabe resistiram até hoje devido à opressão, à corrupção e ao islamismo extremado. A história repete-se em quase todos os países árabes, com líderes autoritários, corruptos, sem interesse pela população, socialmente atrasada, sem oportunidades de desenvolvimento. Podemos considerar algumas semelhanças entre os diversos ditadores, é a forma com a qual chegaram ao poder. Todos eles se tornaram líderes por meio de golpes militares ocorridos (décadas de 60 e 80), encabeçando o que na época também se chamou de revolução. Nos seus sucessivos governos enriqueceram ilicitamente e, com o fim da Guerra-fria, resolveram adoptar modelos económicos liberais.
Dora Estevão
30
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
Concluímos que ambos os governos são distintos mas tem pelo menos um ponto em comum, a preocupação com a economia e a omissão no que diz respeito á elaboração de políticas sociais. Esta não é uma revolução somente no Egipto, Tunísia e Líbia, mas uma revolução do mundo árabe. O êxito das revoltas anima o mundo árabe que acredita entrar numa era de mudanças. As manifestações vividas pelos países do Norte da África acabaram por ganhar a simpatia do resto do mundo.
4.2. O Poder das Tecnologias
O ditador da Tunísia foi derrubado em menos de um mês, após ter estado no poder ao longo de 23 anos. Os revolucionários não utilizaram granadas ou G3; recorreram, às ferramentas virtuais colocadas à sua disposição, conseguindo, através das redes sociais (Facebook e Twitter), que os manifestantes se organizassem, tomassem as ruas, recrutassem novos apoiantes e que as forças policiais e militares caíssem por terra, tudo isto à distância de um “click” no conforto do sofá, de forma anónima, imediata e sem custos acrescidos. Os ditadores para evitar a queda dos seus regimes ditatoriais, tomaram medidas extremas contra os revolucionários, uma delas foi cortar os serviços de comunicação fundamentais para a revolta popular e para a economia do país: internet e os telemóveis. O Egipto sofreu um bloqueio da Internet durante cinco dias. Esta conexão foi restaurada mais tarde e esteve inacessível na véspera do protesto que foi organizado nas redes sociais Facebook e Twitter. O Google e Twitter uniram-se contra o apagão de Mubarak e viabilizaram um sistema que prescinde de conexão com a internet para publicar mensagens de voz no Twitter.
Dora Estevão
31
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
O Twitter desempenhou um papel importante na transmissão das informações que causaram a saída do presidente da Tunísia, Ben Ali, depois de 23 anos de governo. Os protestos recentes no Egipto são inspirados nas manifestações que ocorreram na Tunísia, o que fez com que o Twitter fosse bloqueado. A tecnologia é a maior arma da sociedade civil mundial, que pode derrubar a opressão e o medo que aprisiona o mundo árabe. As novas tecnologias tem permitido que uma nova geração de árabes mobilizasse as massas para derrubar regimes de opressão. A internet e as redes sociais são ferramentas importantes nesta revolução árabe porque permitiram a mobilização da população. Através do Facebook, Twitter e SMS, o mundo árabe provocou a primeira grande “revolução online” ou “revolta do Facebook” do século XXI. Verdade ou exagero. As redes sociais tiveram um papel crucial na difusão dos abusos cometidos pelas autoridades e foram fundamentais para acabar com vários regimes ditatoriais. Perante estas novas armas, os ditadores não conseguiram calar a voz do povo, isto é, não tiveram ferramentas de repressão suficientes poderosas para o conseguir. Os políticos portugueses fazem uso das novas tecnologias e em época de campanha e eleições ainda mais. Geralmente utilizam as redes sociais e blogues para expôr as suas ideias e convicções de forma a conquistar as classes mais jovens ou pelo menos os indivíduos que utilizam estes meios de comunicação de forma mais assídua. O nosso Presidente da Republica utiliza muito as redes sociais onde coloca algumas mensagens. Também outro político, como por exemplo, Barack Obama fez grande parte da sua campanha através das redes sociais, sendo eleito pela maioria dos americanos. As tecnologias têm o poder de ajudar a construir uma democracia.
Dora Estevão
32
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
4.3. Os Interesses Económicos e Políticos
A revolução no mundo árabe tem feito com que o mundo esteja de olhos postos nele. Países como Israel e Estados Unidos já começam a preocupar-se e acompanhar de perto a situação. Os interesses económicos e políticos são muitos, por exemplo, a saída de Mubarak para os americanos constitui um grave problema, uma vez que o Canal de Suez, situado no norte do Egipto, é usado pelos americanos e por outras nações para transportar petróleo do Golfo Pérsico para o Ocidente. O actual governo egípcio lutou contra grupos extremistas no país. Outra conquista do governo de Mubarak pode estar ameaçada, segundo o presidente de Israel, já que o ditador conseguiu acabar com as hostilidades históricas contra os palestinos. Os interesses económicos e políticos sempre estiveram em primeiro lugar, em detrimento do bem-estar da população árabe. Assim, o mundo árabe terá que lutar contra dois inimigos: o governo actual e alguns países do mundo desenvolvido viciados no ouro negro - petróleo. A principal actividade económica destas ditaduras foi a exploração do petróleo. A Líbia é o terceiro maior país produtor da África e exporta a sua produção, quase na totalidade para os países europeus. A actual crise na Líbia praticamente paralisou tanto a produção quanto a exportação do petróleo que está gerando uma crise enorme no País. Foi através da exportação deste produto que os seus líderes e aliados enriqueceram. O povo, foi esquecido, pois não havia investimento em políticas sociais nem qualquer perspectiva para a população. A exploração do petróleo não trouxe desenvolvimento a estes países, apenas enriquecimento de alguns ditadores. A solução que o povo encontrou foi dizer “basta”. A insatisfação popular é resultado da crise vivida não só pelo mundo árabe, mas também pelos países do ocidente. Estas crises económicas manifestamse mundialmente, e são sentidas com mais intensidade por países que adoptaram as chamadas reformas liberais.
Dora Estevão
33
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
O mundo árabe está comprometido, mas os Estados Unidos e a Europa, e todos aqueles seguiram a vertente pró-mercado, são o resultado da queda deste modelo, que traz desemprego e pobreza, etc. Esta revolução abre novas possibilidades para novas lutas de combate à actual crise. Esta revolução do mundo árabe terá graves consequências para a economia global e para o capitalismo. A Europa será a mais atingida, pois já estamos a sofrer essas consequências. O mundo ocidental deve acompanhar o desenrolar dos protestos no mundo árabe já que pode influenciar aspectos que vão desde o posicionamento dos Estados Unidos em relação a esses países, até uma possível vaga de emigração de árabes para a Europa, o que já está a acontecer. As revoltas no mundo árabe devem servir de alerta para o mundo como um todo, já que expõem a fragilidade dos governos autoritaristas e da ausência de políticas sociais. Estes países devem reorganizar-se de forma a não seguirem os mesmos caminhos que culminaram no descontentamento do povo. O povo conseguiu afastar os ditadores, mas agora tem outro problema, pois aquele que assumir tem de estar preparado para estabilizar a situação, não pode apenas ficar a mercê do ocidente, tem de ter um projecto económico e social, para que revoluções desse tipo não voltem a acontecer. As mudanças que irão surgir com a revolução irão afectar directamente a questão da estrutura de poder no mundo. O novo mapa geopolítico irá agora ser redesenhado. Derrubar um ditador numa revolta popular nunca foi garantia de democracia. A globalização econômica e cultural é incontrolável. A opressão e o medo não conseguem mais controlar as populações de terem liberdade de expressão.
Dora Estevão
34
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
4.4. A Censura digital
Em pleno século XXI, muitos indivíduos não tem liberdade de expressão. Muitos países colocam restrições à utilização das novas tecnologias, como por exemplo:
Cuba: É um dos países que tem a menor proporção de computadores por habitante na América Latina e mesmo assim impede a livre circulação de dados na rede. Cuba tem duas redes paralelas de internet: uma livre, acessível nos hotéis internacionais, e outra muito controlada, que se resume a uma enciclopédia, e-mails internos e sites de informação governamental. Os cidadãos têm de usar a internet controlada pelo governo, onde a sua atividade é controlada por meio de bloqueio de IP, filtragem de palavras-chave e verificação do histórico de navegação. Apenas indivíduos autorizados podem fazer upload de conteúdos para a internet. Os internautas cubanos são condenados até 20 anos de prisão se publicam um artigo julgado de 'contrarevolucionário' na internet.
Venezuela: É um dos países que está sob vigilância, uma vez que o governo de Hugo Chávez introduziu instrumentos de controlo da internet no contexto de tensão entre o poder e os meios de comunicação. Estes instrumentos foram introduzidos através de uma lei repressiva para a internet. O presidente Hugo Chavez monopoliza a internet e regular o espaço cujo controle lhe escapa.
Coréia do Norte (Pyongyang): País em que apenas 4% da população tem acesso à internet. A rede de internet é controlada pelo governo, sendo que só é possível entrar num determinado site, se ele estiver aprovado. As autoridades norte-coreanas restringem o acesso à rede. A Net norte-coreana está fechada ao exterior, o que parece mais uma
Dora Estevão
35
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
intranet. Os cibercafés fecharam e apenas algumas instituições e empresas têm acesso à rede.
Birmânia (República da União de Mianmar): É um país do Sudeste Asiático, não tem penetração da Internet na vida civil, a restante é fortemente controlada pelo governo. Este filtra e-mails e bloqueia o acesso a grupos de direitos humanos e grupos locais de oposição entre outras coisas.
China: Censura a Internet e prova disso é que com a revolução no mundo árabe bloqueou as pesquisas nos motores de busca da palavra “Egipto” em blogues no país, tornou o Skype ilegal, bloqueou acesso a documentos do Wikileaks, censura blogues, ataca as redes sociais como o Twitter, Flickr, Facebook e até o Youtube, considerando que são ferramentas de “Subversão política”, censura vídeos, proíbe filmes de terror, etc. Vive-se neste país uma ditadura moralista.
•
Arabia Saudita: Mais de 400.000 sites foram bloqueados pelo governo, que falavam de religião, jogos, pornografia, etc. Ao acessar um site bloqueado.
•
Irão: Os blogueiros que se atrevem a criticar o governo ou qualquer figura religiosa ou política são detidos e perseguidos. O governo exige que qualquer pessoa que tem um blog ou página pessoal deve registá-la no Governo. O governo filtra páginas com conteúdos críticos ao mesmo, sites pornográficos, blogs políticos, sites dos direitos das mulheres, blogs e revistas on-line. Os iranianos para escapar ao controlo das autoridades utilizam os sms, um meio de trocar informações e criticar as orientações governamentais.
•
Egipto/Tunísia: Segundo a ONG internacional Repórteres Sem Fronteiras foram retirados do grupo de "Inimigos da Internet", depois das revoltas que puseram fim aos seus regimes de ditadura.
Dora Estevão
36
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
•
Líbia:
Este
país
encontra-se
sob
vigilância.
Com
os
últimos
acontecimentos, o governo da Líbia bloqueou totalmente o acesso à Internet. •
Bahrein: Este país encontra-se sob vigilância. O governo restringiu o acesso à Internet, bloqueando sites como YouTube.
Outros países como: o Turquemenistão, Uzbequistão ou Vietname, segundo fontes do Google, os indivíduos tem pouco acesso à Internet e à liberdade de expressão, embora seja online e gratuita mas esta sob cyber ataques semelhantes aos da China, ou seja, a censura contínua.
"Com os países filtrando a internet e bloqueando a possibilidade de as pessoas fazerem referências e se comunicarem, a grande utilidade da internet para todos nós diminui cada vez mais". Wendy Seltzer (líder do projecto “pela liberdade de expressão”)
A Google, Blogger e YouTube, foram bloqueadas em 25 dos 100 países onde oferecemos os seus serviços. Actualmente, existem hoje cerca de 40 países que censuram a Web, o que comparativamente ao ano de 2002 representa um aumento de apenas quatro países, de acordo com o Google. O Brasil é o país onde existe também muita censura. A censura de que se fala não se refere a conteúdos de pornografia infantil ou material pró-nazista, os quais o Google acredita que a censura é justificável mas aquela censura que ataca o cerne de uma Internet aberta e viola o artigo 19º da Declaração Universal dos Direitos do Homem.
Dora Estevão
37
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM Aprovada pela Assembleia Geral da ONU a 10 de Dezembro de 1948 … Artigo 19 ° Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão.
Segundo a ONG internacional Repórteres Sem Fronteiras, 119 indivíduos estão presos por terem quebrado as regras impostas pelos regimes dos seus países, quanto à utilização da internet, a maior parte delas na China. Por isso a saída do Google da China, no início deste ano, representa uma vitória da liberdade de expressão. Assim, o Google pode mostrar que não só a China, mas até mesmo países democráticos, como a Austrália, têm planos de censura de conteúdo, o que é considerado uma grande limitação do potencial da rede mundial de computadores – Internet.
Dora Estevão
38
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
Considerações Finais
Actualmente a sociedade terá de enfrentar os novos desafios propostos pela revolução tecnológica e ser capaz de evoluir e adaptar-se às novas necessidades e às diversas transformações sociais que daí advêm. Com os benefícios da evolução das tecnologias de informação e comunicação, os indivíduos ao sofrerem grandes pressões tem necessidade de incutir e cultivar cada vez mais cedo, no espírito dos mesmos o gosto pela utilização das tecnologias de informação e comunicação existentes na sociedade científico-tecnológica. As relações sociais discutem-se a partir do uso das tecnologias de informação e comunicação no dia a dia dos indivíduos e como elas conseguiram mudar o trajecto das relações da humanidade. A forma de comunicar já não é a mesma. As relações sociais tomaram, outras dimensões dentro do tempo e do espaço. As relações não têm fronteiras físicas, as possibilidades de interacção deram um novo significado às relações. As tecnologias trouxeram novas possibilidades de divulgação de informação, por exemplo, um espião ou um traidor pode colocar gigabytes de informação num cartão do tamanho de um dedo ou numa pen drive e divulgá-la ao mundo anonimamente. A tecnologia passou a fazer parte da comunicação humana, passou a participar da maioria das actividades desenvolvidas pela humanidade ao longo do seu desenvolvimento. O processo de globalização diz respeito à forma como os países interagem e aproximam pessoas, interligam o mundo, levando em consideração aspectos económicos, sociais, culturais e políticos. Este fenómeno moderno surgiu com a evolução dos novos meios de comunicação cada vez mais rápidos e eficientes. A globalização e a internet tornaram as populações também mais exigentes.
Dora Estevão
39
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
A Internet, as redes sociais, telemóveis com mensagens e câmara fotográfica e de vídeo, com capacidade de transmissão imediata, passaram a fazer parte integrante do nosso quotidiano mas tornaram-se pesadelos para os tiranos e para aqueles que vivem com a consciência pesada. Wikileaks é hoje considerada uma organização que promoveu a maior fuga de informação da história, que pode acabar com uma era da política externa. Faz com que os métodos de comunicação e as práticas na obtenção da mesma não voltem a ser as mesmas. Pergunto se estaremos a caminhar para uma “era de excesso de partilha” de informação em sites de redes sociais como o Facebook e o Wikileaks? Será que estamos a ser obrigados a redefinir o que entendemos por privacidade e segredos das organizações e estados? O Wikileaks considerado o “Robin dos Bosques da era virtual”, mostrou o verdadeiro rosto dos governantes e permitiu-nos perceber melhor a hipocrisia da política mundial. Se o objectivo do Wikileaks é mudar o mundo, julgo que o está a conseguir. O Wikileaks ajudou-nos a concretizar o sonho de um “Estado Transparente”. A transparência é um princípio que deve ser encorajado no que diz respeito aos governos, mas quando existe demasiada transparência a comunicação é dificultada. A transparência trará consequências para a diplomacia, para a internet e para a acção dos governos. A diplomacia pós-Wikileaks não será a mesma.
“…entramos numa nova fase da comunicação política. Não porque se revelam segredos ou bisbilhotices mas porque se difundem por um canal que escapa aos aparatos do poder”. Manuel Castells
Dora Estevão
40
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
Julgo que num futuro próximo haverá mais regras e cada vez mais apertadas. Continuaremos a ter liberdade na Internet mas haverá uma responsabilização e um controlo maior na gestão da rede. A Internet vai continuar a ser livre como sempre foi porque o benefício é positivo. Cada vez mais, a rede é considerada como um instrumento de subversão, mas também de propaganda oficial, a sua influência na política dos países é crescente, como mostram os casos do Wikileaks e das revoluções nos países árabes. A Revolução Árabe em curso, tem que ser mais que árabe, tem que ser mundial, ela tem que chegar a muitos outros países, como Cuba, Mianmar, Coreia do Norte, Venezuela e à China. Esta revolução deveria servir de exemplo e de inspiração para algum dia o mundo acordar.
Dora Estevão
41
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
Bibliografia
ALMEIDA, REGINALDO R. (2004). “Sociedade Bit – da Sociedade da Informação à Sociedade do Conhecimento”. 2ª Edição. Editora: Quid Júris? Sociedade Editora, Lda. CARIOCA, VITO J. J. (1997). “Validação de uma escola de atitudes de docentes relativamente à utilização da informática educativa na sua formação contínua”. Dissertação de Doutoramento da Universidade de Extremadura. CASTELLS, MANUELl. (2008). “A sociedade em rede”. São Paulo: Paz e Terra. COURRIER INTERNACIONAL. (JANEIRO/2011). “Wikileaks – O fim dos segredos”. Edição nº 179. P:45-56. LEMOS, ANDRÉ. (2002). “Cibercultura, tecnologia na vida social na cultura contemporânea”. Porto Alegre: Sulina. LÉVY, PIERRE. (1994). “A inteligência colectiva: por uma antropologia do ciberespaço”. Trad. Luís P. Rouanet. São Paulo: Loyola, 1994. LÉVY, PIERRE. (1994). “Cibercultura”. Ed. 34. São Paulo. PONTE, J. (1986). “Novas tecnologias de informação: Uma segunda oportunidade?” Documento para debate. Pólo do Projecto Minerva do Departamento de Educação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Universidade de Lisboa. Lisboa. PRADO, MARIA. (2003). “Educação a distância via internet”. São Paulo: Avercamp. SEVILLA, P. (2003). “Internet y aprendizaje en la sociedad del conocimiento”. Comunicar, nº 20. SILVA, MARCO. (2000). “Interatividade: uma mudança no esquema clássico da comunicação”. In: Boletim Técnico do Senac, v. 26, n.3, Set/Dez. SQUIRRA, S. (2005). “Sociedade do conhecimento”. In: MARQUES DE MELO, J. M.; SATHLER, L. Direitos à comunicação na sociedade da informação. São Bernardo do Campo: UNESP. TEDESCO, JUAN. (2004). “Educação e novas tecnologias”. São Paulo: Cortez. TOFLER, ALVIN. (1992). “A terceira onda: a morte do industrialismo e o nascimento de uma nova civilização”. 15. ed. Rio de Janeiro: Record.
Dora Estevão
42
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
VISÃO. (Dezembro/2010). “Do namora à brutalidade” – O soldadinho que faz tremer a América. Edição nº 927. P:82-94 VISÃO. (Janeiro/2011). “As vidas tão diferentes de Aníbal e Manuel” - Tunísia, a incrível revolução do jasmim. Edição nº 933. P:64-68. VISÃO. (Janeiro/2011). “As vidas tão diferentes de Aníbal e Manuel” – A nova grande fuga. Edição nº 933.P:69. VISÃO. (Fevereiro/2011). “Grita Liberdade” – Revolução Árabe. Edição nº 935. P:56-78.
Dora Estevão
43
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
Webgrafia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_Internet http://di.uern.br/sebastiao/o-5%C2%BA-poder/ http://dowbor.org/wp/?p=2643 http://discutindocomunicacao.wordpress.com/2007/10/03/o-que-e-cibercultura/ http://www.slideshare.net/ddoneda/liberdade-de-informao-e-privacidade-nasociedade-da-informao/download http://www.proinfo.gov.br http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_20_p087-093_c.pdf http://atalhocognitivo.blogspot.com/2011/02/5-poder-internet-voce.html http://g1.globo.com/mundo/noticia/2010/12/veja-mensagens-vazadas-pelowikileaks-que-citam-o-brasil.html http://wikileaksbrasil.org/ http://www.correiodominho.com/cronicas.php?id=2700 http://diretaja.blogspot.com/2009/07/o-5-poder_24.html http://www.pandasecurity.com/portugal/homeusers/media/pressreleases/viewnews?noticia=10058 http://www.superdownloads.com.br/materias/libia-bahrein-bloqueiam-acessointernet.html http://port.pravda.ru/mundo/11-03-2011/31367-revolucao_arabe-0/ http://www.esquerda.net/artigo/tribunal-brit%C3%A2nico-decideextradi%C3%A7%C3%A3o-de-assange-para-su%C3%A9cia http://www.superdownloads.com.br/materias/internet-restaurada-noegito.html#ixzz1Kcwl1Zpu
Dora Estevão
44
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
Anexos
Dora Estevão
45
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
Anexo 1 - Lei nº 109/2009 de 15 de Setembro
Dora Estevão
46
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
Dora Estevão
47
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
Dora Estevão
48
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
Dora Estevão
49
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
Dora Estevão
50
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
Dora Estevão
51
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
Dora Estevão
52
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
Dora Estevão
53
Teorias da Comunicação Educação Comunicação e Multimédia
Anexo 2 - Lei nº67/98 de 26 de Outubro
Dora Estevão
54