des-generando Isabel Pochini Luciano Ogura Michelle Massatelli Paulo Pampolim Roberta Campi Rony Bonani
curador Douglas Negrisolli
des-generando de 26 de janeiro a 18 de março de 2011 no Espaço de Convivência Gambalaia
apoio
MICHELLE MASSATELLI SEM TÍTULO Série Stand by me técnica: Fotografia digital dimensões: 90 cm x 60 cm ano: 2010
des-generando
As Artes são fluídas. São a incandescência da paixão humana ao se libertar do vazio e do completo cheio. Podem influenciar uma geração, como nos anos 1970, podem libertar mas também podem reprimir. As artes são, acima de tudo, o jeito humano de dizer algo a alguém. Esta exposição traz seis dessas pessoas: entre fotógrafos e artistas plásticos, os seis artistas se juntam para comunicar algo que está muito presente na sociedade brasileira atual: a questão de gênero. Pensar no gênero e na sua desconstrução nos leva a várias discussões abrangentes. Essa mostra tenta revelar e relevar uma única forma: a liberdade em se expressar. Para conviver em sociedade os limites devem existir, mas devem ser independentes de sexo, raça, religião, etnia; devem dar valor ao respeito, a não violência, a liberdade de expressão e a democracia. A mostra tem diferentes visões de mundo com os artistas que exploram a fotografia e o vídeo desde o amor Eros ao amor comercial, desde a paixão até a luta com a dor, desde os papéis trocados até os signos ambíguos. O papel fundamental da mostra é levar a questão: Ainda é preciso definir um gênero?
Douglas Negrisolli Historiador de Arte – Curador independente
Catálogo Online www.douglasnegrisolli.com/desgenerando
Isabel Pochini O trabalho envolvente e sempre feito com muita cinética circular, são as fotografias apresentadas e feitas para esta exposição. A artista que trabalha com várias linguagens, em especial com aquarelas e gravuras, traz à mostra uma ideia de sensualidade e gênero contidas na própria natureza. As fotografias evocam uma sensualização que não está no estado natural das flores, mas que no contexto dessa exposição levam o expectador à reflexão. Convidada a trabalhar com fotos, Isabel Pochini realiza com maestria a tarefa de des-generar a condição do amor e do erotismo. As “Orquídeas Brancas” talvez sejam as que evocam a feminilidade de uma forma mais clara na nossa cultura; elas transmitem pureza, o amor entre mulheres que se amam. Da mesma forma, as “Marias Sem Vergonha” evocam uma relação parecida, porém, devido à cor rosa “provocam” a sensação de serem mais apreciadoras da diversão. Os “Antúrios”, por causa da forma trabalhada pela artista na seleção do enquadramento, conduzem o leitor ao que a artista gostaria de transmitir e revelam as flores com interpretações fálicas. Da mesma forma sutil (ou nem tanto assim) que Antonio Dias conduz o trabalho com a sensualização incorporando desenhos fálicos, a artista empenha-se em transmitir dentro da discussão de gênero as possibilidades que estão na natureza de uma maneira bem apropriada na questão em exposição. A qualidade das fotos é um destaque. A artista toma o cuidado de não interferir na construção da paisagem e escolhe o melhor enfoque para o click, apenas observando as evidências sensuais ofertadas pela própria natureza.
ISABEL POCHINI SOL NO ANTÚRIO Série : Na natureza técnica: Fotografia digital dimensões: 30 x 42cm ano: 2010
ISABEL POCHINI ANTÚRIO Série : Na natureza técnica: Fotografia digital dimensões: 30 x 42cm ano: 2010
ISABEL POCHINI MARIAS SEM VERGONHA Série Na natureza técnica: Fotografia digital dimensões: : 30 x 42cm ano: 2010
ISABEL POCHINI ORQUテ好EAS BRANCAS Sテゥrie Na natureza tテゥcnica: Fotografia digital dimensテオes: : 30 x 42cm ano: 2010
Luciano Ogura As fotografias de Luciano Ogura são na maior parte dedicadas a arquitetura, advindas de sua formação, elas intrigam o artista a revelar a cidade de São Paulo onde vive e trabalha com diversas temáticas, levando em conta a arquitetura e as pessoas que vivem nela. O trabalho de Luciano tem sido desenvolvido amplamente na linguagem da gravura e na fotografia onde certamente tem encontrado inspirações para transferir os desenhos para as gravuras. A série apresentada traz travestis encontrados e clicados numa noite paulista. O interessante é o recorte das fotos, que ao mesmo tempo que mostra os lábios destas pessoas, esconde o rosto mas mostra-lhes o corpo. O fundamental aqui é pensar na questão do corpo como sendo de único respeito ao próprio indivíduo, acreditando na liberdade em todas as esferas sociais. As fotos foram selecionadas e trazem um apelo do preto e branco que as transformaram mais nostálgicas e até mesmo apelativas no sentido de não necessitar se saber qual o real gênero destas modelos. Estas personagens lembram modelos como o próprio corpo usado por Marcel Duchamp (1887-1968) que não queria falar sobre a feminilidade envolvida na foto, “mas apenas a indecifrável expressão do rosto e das mãos do Duchamp” (Mink, 2006) As fotografias foram originalmente tiradas em câmera fotográfica analógica (com filme) e reveladas.
Mink, J. (2006). Duchamp. Köln: Taschen, reimpressão Paisagem.
LUCIANO OGURA AMARAL GURGEL 1 Série Amaral Gurgel técnica: Fotografia analógica dimensões: 40 x 30 cm ano: 2001
LUCIANO OGURA AMARAL GURGEL 2 Série Amaral Gurgel técnica: Fotografia analógica dimensões: 40 x 30 cm ano: 2001
LUCIANO OGURA AMARAL GURGEL 3 Série Amaral Gurgel técnica: Fotografia analógica dimensões: 40 x 30 cm ano: 2001
LUCIANO OGURA AMARAL GURGEL 4 Série Amaral Gurgel técnica: Fotografia analógica dimensões: 40 x 30 cm ano: 2001
LUCIANO OGURA AMARAL GURGEL 5 Série Amaral Gurgel técnica: Fotografia analógica dimensões: 40 x 30 cm ano: 2001
LUCIANO OGURA AMARAL GURGEL 6 Série Amaral Gurgel técnica: Fotografia analógica dimensões: 40 x 30 cm ano: 2001
Michelle Massatelli A produção de Michelle Massatelli tem sido de grande valor poético. Passando por sua especialidade, a linguagem da gravura, temos a imagem como papel principal de toda a sua trajetória e é onde entram as fotografias. Com fotografias tão diferentes e papéis tão diferentes, ela traz discussões contemporâneas a assuntos antigos usando até mesmo bonecas Barbie. A mesma foto que é o convite da exposição, da série Mente deseja, pernas expressam!, traz uma modelo em posição dual. Mostra a despolarização por se perceber que é uma mulher trajando roupas bem masculinas, fazendo o símbolo da feminilidade contido numa vagina. Daqui podem surgir diversas discussões, mas a mais intrigante delas é, e que talvez a artista quis nos intrigar: qual o novo papel da mulher na sociedade contemporânea, e quais as aspirações desta mulher do século XXI? E quem pode impedir a liberdade sexual desta mulher? As fotos da boneca Barbie parecem que vão de encontro e desencontro com a Mente deseja, pernas expressam!. Vão de encontro com a questão da artista usar uma boneca conhecida, que expressa muito bem o desejo capitalista da riqueza e do luxo, essencialmente feminina e que traz o padrão de beleza americano; em contrapartida traz a boneca cobrindo seu sexo e na outra, caída, destroçada, quase sem beleza. O desencontro com a série Mente deseja, pernas expressam! é que nesta, a modelo mostra um lado forte do “ser” feminino enquanto que a Barbie esconde o sexo para - talvez - mostrar a fragilidade e a consequência de historicamente ter sido sempre colocada em segundo plano em relação ao homem. A série Mortuary Beauties traz alguns modelos góticos. As fotos selecionadas para esta exposição fazem alusão ao hibridismo nos sexos e que estão presentes na discussão na esfera dos adolescentes de hoje, mesmo que em segundo plano a experimentação seja feita mais abertamente do que em qualquer outro período histórico. A foto da série Gaga’s Gang traz uma transexual imitando a cantora mais conhecida da atualidade: Lady Gaga. Em uma série imitando o traje de carne, onde originalmente a cantora fez uma aparição na revista japonesa Vogue Hommes e num prêmio da MTV estadunidense, Lady Gaga fala sobre o traje: "Se não defendermos o que acreditamos e não lutarmos pelos nossos direitos, logo teremos tantos direitos quando a carne que cobre nossos ossos. Eu não sou um pedaço de carne" (Fonte: Revista Veja Online). A foto que foi escolhida para esta mostra serve para ilustrar a participação da luta das diversas minorias inclusas na discussão de gênero.
MICHELLE MASSATELLI SEM TÍTULO Série: O Segredo de Bárbara técnica: Fotografia digital dimensões: 30 cm x 45 cm ano: 2010 MICHELLE MASSATELLI SEM TÍTULO Série O Segredo de Bárbara técnica: Fotografia digital dimensões: 30 cm x 45 cm ano: 2010
MICHELLE MASSATELLI SEM TÍTULO Série Mortuary Beauties técnica: Fotografia digital dimensões: 30 cm x 45 cm ano: 2008
MICHELLE MASSATELLI SEM TÍTULO Série Mortuary Beauties técnica: Fotografia digital dimensões: 30 cm x 45 cm ano: 2008
MICHELLE MASSATELLI SEM TÍTULO Série Mortuary Beauties técnica: Fotografia digital dimensões: 30 cm x 45 cm ano: 2008
MICHELLE MASSATELLI SEM TÍTULO Série Mortuary Beauties técnica: Fotografia digital dimensões: 30 cm x 45 cm ano: 2008
MICHELLE MASSATELLI SEM TÍTULO Série Mortuary Beauties técnica: Fotografia digital dimensões: 45 cm x 30 cm ano: 2008
MICHELLE MASSATELLI COMME DES GARÇONS Série Mente deseja, pernas expressam! técnica: Fotografia digital dimensões: 90 cm x 60 cm ano: 2008
Paulo Pampolim O fotógrafo Paulo Pampolim trabalha com diversos tipos de fotografia, principalmente veiculado ao fotojornalismo onde realiza a maior parte de sua produção. As fotos selecionadas para esta mostra são três fotos vibrantes. A primeira delas é uma foto de um casal heterossexual na Avenida Paulista, em São Paulo. Chama a atenção do expectador a fluidez com que a foto foi tirada e a percepção espacial que o fotografo teve que lidar com o movimento dos modelos e a posição entre a arquitetura que está presente. A segunda foto é de um casal homossexual que foi feita em um estúdio, mostrando a liberdade contida no amor. Esta foto é na verdade, sugerida de acordo com o tema da exposição pois não é explícita, o casal está com a parte de cima desnuda, enquanto se abraçam. A terceira foto é de uma drag-queen em cima de um piano, uma foto muito bela e que mostra um momento de concentração da modelo. Todas as fotos tiradas pelo mesmo fotografo mostram que é possível pensarmos em uma sociedade em que todas as pessoas possam buscar a felicidade dentro das possibilidade da democracia.
PAULO PAMPOLIN AMOR A PAULISTA técnica: Fotografia digital dimensões: 60 x 80 cm ano: 2010
PAULO PAMPOLIN DE AMORES técnica: Fotografia digital dimensões: 29 x 42 cm ano: 2007
PAULO PAMPOLIN DINDRY BUCK técnica: Fotografia digital dimensões: 42 x 29cm ano: 2009
Roberta Campi A produção de Roberta Campi está no início mas é bastante promissora. O vídeo exposto trata-se de um tríptico com o nome da série Eu tenho um corpo, eu sou um corpo, como o espaço não comporta esta montagem, a artista editou o vídeo e ele segue em três partes mas na mesma projeção. A primeira parte do vídeo, a própria artista empresta seu corpo para tal experiência. Entra uma outra mulher e inicia uma ação de colocar as roupas em cima do corpo da artista e modelar com uma caneta preta. Quase como numa ação torturadora de um animal, a moça tenta “moldar” as roupas no corpo de Roberta, deixando uma marca sobre a outra, lembrando os mesmos valores que a artista paulistana Priscilla Davanzo faz em sua pesquisa, quando tatua-se com manchas de vaca; a não aceitação de uma moda e um mercado da moda que a fazem sofrer e modificar seu corpo. O segundo vídeo traz a artista também de roupas íntimas como em toda a sequência, mas agora existe uma mulher falando a ela o que deve fazer na frente de uma projeção de mulheres conhecidas da moda, entre cantoras e modelos famosas. O corpo da artista modela-se ou se esforça para entrar no jogo do vai e vem do corpo, misturado com a narração quase que ditatorial, que mais parece ordem de um general fazendo seu soldado entrar “na linha”. Este vídeo traz também a discussão do corpo da mulher e qual o sentido da cirurgia plástica e dos métodos da mudança do corpo, um contraponto do que a artista francesa ORLAN faz, quando promove suas mudanças cirúrgicas como modo de ver o corpo por dentro e customizá-lo de modo que ele fique cada vez mais deformado. O terceiro vídeo traz a artista, mãe e avó fazendo círculos em todo o corpo, uma nas outras. Este movimento nos sugere uma identificação das camadas como na cirurgia plástica, e remete ao primeiro vídeo onde a artista é marcada pelos “cortes” da roupa. Segundo a própria Roberta Campi, os círculos indicam muitas vezes os comentários feitos pelos familiares, por isso a inserção das duas gerações, como se comentassem frente o espelho - umas as outras. O vídeo constata a produção e a ânsia de uma liberdade corporal da artista, que é extra-corpórea, vai além dos padrões, vai além da perspectiva de um modelo comercial e muitas vezes de seu valor duvidoso.
ROBERTA CAMPI AÇÃO #1 Série : Eu tenho um corpo, eu sou um corpo técnica: videoperformance ano: 2010 ROBERTA CAMPI AÇÃO #2 Série : Eu tenho um corpo, eu sou um corpo técnica: videoperformance ano: 2010 ROBERTA CAMPI AÇÃO #3 Série : Eu tenho um corpo, eu sou um corpo técnica: videoperformance ano: 2010
Veja os vídeos aqui
Rony Bonani O jovem fotógrafo Rony Bonani trabalha no mercado editorial e tem alguns trabalhos com fotojornalismo. Convidado a pensar e produzir fotos que possam argumentar a heterossexualidade, ele o fez usando modelos e principalmente se referindo ao corpóreo, ao gesto e ao detalhe. Na série Essência a modelo está vestida com trajes que a primeira vista são masculinos, e fazem alusão aos motoqueiros de filmes americanos da década de 1980. Encontram ela e ele num momento mais que romântico as vezes trocando de papel, as vezes assumindo o mesmo papel, apaixonados - como num filme. Apesar dos clichês estarem presentes, como na foto O velho clichê, o fotografo evoca como referencia para seu trabalho o cinema de forma mais atualizada e o traz de volta a cena. As fotos tem uma qualidade ótima que casa com a temática escolhida pelo fotografo ao aceitar o desafio para produzir para esta exposição. A aceitação do formato em ambientes particularmente definidos -masculinos- é alterada com a presença feminina partilhando o momento da cerveja e do jogo, tornando a diferença dos sexos nula em relação ao ambiente. A foto O beijo mostra claramente uma certa disposição feminina em tomar a atitude e as rédeas enquanto na foto Proteção entende-se o contrário, o momento em que tornam-se um só corpo, uma só paixão, e que a mulher está protegida bem como amparada/consolada. O trabalho do fotografo é de tratar da temática heterossexual, ao mesmo tempo que trata da discussão do papel da mulher com o homem, do homem como objeto nas mãos
RONY BONANI O VELHO CLICHÊ Série Essência técnica: Fotografia digital (Software e Processo) dimensões: 20x30 ano: 2011
RONY BONANI VAIDADE URBANA Série Essência técnica: Fotografia digital (Software e Processo) dimensões: 30x40 ano: 2011
RONY BONANI SENSUALIDADE Série Essência técnica: Fotografia digital (Software e Processo) dimensões: 30x40 ano: 2011
RONY BONANI DOMÍNIO Série Essência técnica: Fotografia digital (Software e Processo) dimensões: 20x30 ano: 2011
RONY BONANI A PRESA Série essência técnica: fotografia digital (software e processo) dimensões: 30x40 ano: 2011
RONY BONANI PROTEÇÃO Série essência técnica: fotografia digital (software e processo) dimensões: 30x40 ano: 2011
RONY BONANI AMOR AO PRIMEIRO GOLE Série Essência técnica: Fotografia digital (Software e Processo) dimensões: 20x30 ano: 2011 RONY BONANI O BEIJO Série Essência técnica: Fotografia digital (Software e Processo) dimensões: 20x30 ano: 2011
RONY BONANI ROMANTISMO NAS TREVAS Série Essência técnica: Fotografia digital (Software e Processo) dimensões: 20x30 ano: 2011
Ficha Técnica Curador e produtor cultural Douglas Negrisolli Projeto gráfico da exposição Douglas Negrisolli e Michelle Massatelli Textos Douglas Negrisolli Créditos das fotos artistas Montagem Douglas Negrisolli e Michelle Massatelli Assessoria de imprensa Olga Defavari Apoio Apex do Brasil e Espaço Gambalaia Catálogo online e WebSite Lilian Wutzke e Douglas Negrisolli Douglas Negrisolli agradece: Ao Humberto Alex de Lima e a Curadora Damara Bianconi, do Gambalaia | aos ar?stas que par?cipam da mostra | aos amigos e familiares | Lilian Wutzke pelo website e catálogo (primeira versão) | ao Marcelo da APEX | a ar?sta plás?ca Michelle Massatelli pela montagem | aos amigos que ajudaram no coquetel | Rony Bonani agradece: os modelos e amigos Aline Pires, Sara Foltran e Diego de Castro, ao amigo e mestre Paulo Andrade pela assistência, a Allan Fernando GiroVo (Animal) pelas filmagens do making of e ao Toka snooker bar por disponibilizar o espaço para a realização das fotos.
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