História de Israel

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Caros(as) acadêmico(as), Algumas dificuldades nos impedem de compreender melhor o Antigo Testamento. São dificuldades de caráter geográfico, histórico, linguístico, cultural, que se constituem em verdadeiros “abismos” para ler e entender o Antigo Testamento. É sempre necessário lembrar o caráter compósito do Antigo Testamento. Não é um livro que você possa sentar ler do começo ao fim como um romance. Então, as dificuldades são imensas. A aproximação séria ao Antigo Testamento exige um conhecimento das dificuldades do caminho a ser trilhado, essas dificuldades tendem a nos desanimar. Contudo, esse desânimo é natural porque há um universo de ciências que devemos dar conta: um bom método literário, pois o Antigo Testamento é literatura; um bom método histórico; uma familiaridade com informações gerais sobre arqueologia, entre outros saberes. Com esta disciplina vamos poder descortinar o universo do Antigo Testamento e seu entorno no Antigo Oriente Próximo. Mesmo que de forma introdutória, passaremos em revista a História de Israel e seus muitos personagens e acontecimentos. O propósito final desta aprendizagem é alicerçar mais e melhor nossa compreensão dos textos do Antigo Testamento, recolocando-os o mais perto possível de seu contexto. Portanto, convido vocês a empreendermos juntos, esta fascinante jornada através da História de Israel. Espero que vocês também se apaixonem pelo Antigo Testamento e pelo Ensino a Distância. Estarei sempre à disposição de vocês. Um forte abraço!

Conversa Inicial

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Aula 01

ARQUEOLOGIA E FONTES DA HISTÓRIA DE ISRAEL

Certamente, meus(minhas) queridos(as), que vocês têm ouvido muitas coisas sobre a relação entre a Bíblia Sagrada e a Arqueologia. Vamos aprofundar este tema? A relação entre estas duas áreas do saber humano, a Arqueologia e a Bíblia, nem sempre foi tão pacífica, ora acirrando essa relação, ora se reconciliando. Por isso, apresentamos nesta aula a conceituação de Arqueologia, que deve auxiliar na compreensão do uso que faremos neste material. Além disso, a divisão dos períodos arqueológicos facilitará a localização temporal dos eventos e descobertas tratados nesta apostila.

Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • conceituar “Arqueologia” como ciência; • localizar espaço-temporalmente cada descoberta arqueológica; • estabelecer a relação de cada descoberta com os registros históricos que a geraram.

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Seções de estudo • Seção 1 - Conceituando “Arqueologia” • Seção 2 - Períodos Arqueológicos na Palestina • Seção 3 - Descobertas Arqueológicas • Seção 4 - Quadro Cronológico • Seção 5 - Esquema Cronológico

Seção 1 - Conceituando “arqueologia” Olá ... convido vocês para uma jornada através da história material do Antigo Oriente Próximo. Inicialmente, façamos a seguinte observação: Aqui entendemos a Arqueologia como uma fonte de pesquisa que oferece um contexto histórico e cultural para a Bíblia. Na linha de outros pesquisadores afirmamos que a tarefa principal da arqueologia chamada “bíblica”, não é demonstrar, nem provar, nem defender a Bíblia e seus ensinamentos. Pelo contrário, é objetivo primordial dessa ciência ajudar a entender melhor a Bíblia, lançando luz sobre os cenários nos quais se desenrolaram os acontecimentos aí narrados. Assim, estamos interessados em estudar as descobertas da arqueologia não para a confirmação, mas para a iluminação dos relatos bíblicos, buscando entendêla melhor com o auxílio da arqueologia, que cumpre o seu propósito em relação aos estudos bíblicos quando amplia nossos conhecimentos de dada sociedade. Tendo em mente essa observação inicial, podemos tentar uma definição básica de Arqueologia, e dizer, conforme A. B. H. Ferreira, que ela é:

conceito

“a ciência que estuda a vida e a cultura de povos antigos por meio de escavações ou através de documentos, monumentos, objetos, etc., por eles deixados”.

(Arqueologia: In: Novo Dicionário Aurélio) A arqueologia como ciência que se dedica ao estudo das civilizações antigas tem como objeto a análise e classificação dos restos materiais que essas culturas da antiguidade nos legaram. Estes restos provocam uma série de perguntas, como por exemplo: quem os produziu, quando, como, em que condições, etc. Arqueologia Bíblica, por seu turno, é o estudo científico de restos e achados históricos relativos à Bíblia e às religiões judaica e cristã. Os relatos 10


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das peregrinações cristãs datadas, aproximadamente, do século IV, constituem a única fonte de informação sobre sítios arqueológicos bíblicos até o século XIX, quando teve início a moderna exploração histórica na Palestina.

A Arqueologia Bíblica tem como tarefa revelar o passado material relacionado com a Bíblia e não achar “provas” para os eventos bíblicos.

Para Refletir

Seção 2 - Períodos arqueológicos na palestina Vocês já perceberam a importância da arqueologia para o estudo da Bíblia. Vamos ver como podemos dividir esta fantástica jornada? Para o estudo da arqueologia do Antigo Testamento podemos adotar os seguintes períodos: Na idade do bronze, em suas distintas etapas, ocorrem grandes inovações. No período do bronze antigo (3100 a.C.-2000 a.C.) a escrita é um fato, a estrutura das cidades-estados se consolida e a agricultura continua com a invenção de novas técnicas. O torno é usado na produção da cerâmica e os excedentes de todo tipo são comercializados. No bronze médio (2000 a.C.-1550 a.C.) se produz uma aproximação do Mediterrâneo, com o consequente aumento das relações e do comércio. Os hicsos introduzem o carro de guerra. Há um forte desenvolvimento de núcleos urbanos com a construção de palácios, templos, lugares públicos, ruas e praças. Os patriarcas bíblicos são apresentados nos textos como personagens deste tempo e cultura. O bronze recente (1550 a.C.-1200 a.C.) que começa com domínio da XVIII dinastia egípcia na Palestina, é a época do esplendor das cidades, como por exemplo, Megido.

A idade do ferro (ferro I - 1200 a.C.-1000 a.C.) coincide com a chegada dos filisteus na Palestina e a introdução deste material na guerra e, ao mesmo tempo, outros habitantes desta região estão iniciando ou completando o processo de assentamento. O período do ferro II (1000 a.C. - 538 a.C.) coincide com o período monárquico em Israel, que passa por diversas etapas até seu total desaparecimento em 586 a.C. É uma época de grande evolução devido aos contatos culturais entre os distintos povos que habitam Canaã e o Crescente Fértil. 11


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Os períodos subsequentes recebem o nome do poder estrangeiro que dominava a Palestina. Assim, temos: Período Persa (538 a.C. - 332 a.C.) e o Período Grego (332 a.C. - 63 a.C.), o qual termina com a conquista romana da Palestina em 63 a.C. por Pompeu, acabando, assim, o reino independente dos Hasmoneus, última dinastia judaica.

A Arqueologia Bíblica tem dois grandes períodos de destaques, a saber: Idade do Bronze e Idade do Ferro.

Seção 3 - Descobertas arqueológicas Entre as descobertas arqueológicas mais importantes relacionadas ao Antigo Testamento, podemos destacar as seguintes: Figura 1.1 – Pedra de Rosetta A Pedra de Roseta (Figura 1.1) foi uma das primeiras descobertas do que mais tarde chegou a se constituir a Arqueologia Bíblica moderna. Em 1799, o francês Pierre-Francois Bouchard descobriu esta pedra no Egito. O objeto tem o mesmo texto escrito em três formas diferentes de escrita. Duas das quais procedem do Egito antigo, desconhecidas por mais de mil anos. A terceira língua era o grego que permitiu decifrar e ler os outros dois idiomas da Pedra de Roseta, o demótico e o hieroglífico. Este fato permitiu a tradução de milhares de inscrições encontradas em Disponível em: <http://upload. tumbas, monumentos e tabletes de argila em todo wikimedia.org/wikipedia/ commons/8/89/Rosetta_stone.jpg>. o Egito. Acesso em: 10 mar. 2011. Do mesmo modo, Henry Rawlinson decifrou a chamada Inscrição Behistún (o texto é uma declaração de Dario I da Pérsia), também escrita em três idiomas diferentes: o antigo persa, o elamita e o babilônio. Em consequência disso, os eruditos puderam ler os antigos escritos cuneiformes babilônicos.

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Vejam a inscrição no site: <http://upload.wikimedia.org/ wikipedia/commons/c/c3/Behistuntexte.png>

As Cartas de Tell-Amarna (Figura 1.2). São 380 cartas em acadiano entre cananeus e egípcios. Falam sobre a Palestina do século XIV a.C. Figura 1.2 – Tabletes de Tel Amarna

Disponível em: <http://julianspriggs.com/images/amarna_tablets.jpg>. Acesso em: 10 mar. 2011.

As Cartas de Mari (Figura 1.3). São 20000 tábuas em acadiano, do séc. XVIII a.C. Descrevem costumes, informações detalhadas e nomes da época patriarcal. Foram encontradas em 1933 por Parrot. Não é fabuloso como tais descobertas lançam luz sobre o estudo do Antigo Testamento?!

Figura 1.3 – Tablete cuneiforme de Mari

Disponível em: <http://upload. wikimedia.org/wikipedia/ commons/c/ca/Cuneiform_script2. jpg>. Acesso em: 10 mar. 2011. 13


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Em 1868, foi descoberta a Pedra Moabita (Estela de Mesha) é uma pedra de basalto, com uma inscrição sobre Mesha, Rei de Moabe, que registra a conquista de Moabe por Omri, Rei de Israel. Após a morte de Acab, filho de Omri, Mesha revolta-se depois de prestar vassalagem por 40 anos. Esta inscrição completa e confirma o relato bíblico em II Reis 3:4-27. A estela teria sido feita, aproximadamente, por volta de 830 a.C. Leiamos o texto bíblico: 4. Então, Mesa, rei dos moabitas, era criador de gado e pagava o seu tributo ao rei de Israel com cem mil cordeiros e a lã de cem mil carneiros. 5 Tendo, porém, morrido Acabe, revoltou-se o rei de Moabe contra o rei de Israel. 6 Por isso, Jorão, ao mesmo tempo, saiu de Samaria e fez revista de todo o Israel. 7 Mandou dizer a Josafá, rei de Judá: O rei de Moabe se revoltou contra mim; irás tu comigo à guerra contra Moabe? Respondeu ele: Subirei; serei como tu és, o meu povo, como o teu povo, os meus cavalos, como os teus cavalos. 8 Então, perguntou Jorão: Por que caminho subiremos? Respondeu ele: Pelo caminho do deserto de Edom. 9 Partiram o rei de Israel, o rei de Judá e o rei de Edom; após sete dias de marcha, não havia água para o exército e para o gado que os seguiam. 10 Então, disse o rei de Israel: Ai! O Senhor chamou a estes três reis para os entregar nas mãos de Moabe. 11 Perguntou, porém, Josafá: Não há, aqui, algum profeta do Senhor, para que consultemos o Senhor por ele? Respondeu um dos servos do rei de Israel: Aqui está Eliseu, filho de Safate, que deitava água sobre as mãos de Elias. 12 Disse Josafá: Está com ele a palavra do Senhor. Então, o rei de Israel, Josafá e o rei de Edom desceram a ter com ele. 13 Mas Eliseu disse ao rei de Israel: Que tenho eu contigo? Vai aos profetas de teu pai e aos profetas de tua mãe. Porém o rei de Israel lhe disse: Não, porque o Senhor é quem chamou estes três reis para os entregar nas mãos de Moabe. 14 Disse Eliseu: Tão certo como vive o Senhor dos Exércitos, em cuja presença estou, se eu não respeitasse a presença de Josafá, rei de Judá, não te daria atenção, nem te contemplaria. 15 Ora, pois, trazei-me um tangedor. Quando o tangedor tocava, veio o poder de Deus sobre Eliseu. 16 Este disse: Assim diz o Senhor: Fazei, neste vale, covas e covas. 17 Porque assim diz o Senhor: Não sentireis vento, nem vereis chuva; todavia, este vale se encherá de tanta água, que bebereis vós, e o vosso gado, e os vossos animais. 18 Isto é ainda pouco aos olhos do Senhor; de maneira que também entregará Moabe nas vossas mãos. 19 Ferireis todas as cidades fortificadas e todas as cidades principais, e todas as boas árvores cortareis, e tapareis todas as fontes de água, e danificareis com pedras todos os bons campos. 20 Pela manhã, ao apresentar-se a oferta de manjares, eis que vinham as águas pelo caminho de Edom; e a terra se encheu de água. 21 Ouvindo, pois, todos os moabitas que os 14


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reis tinham subido para pelejar contra eles, todos os que cingiam cinto, desde o mais novo até ao mais velho, foram convocados e postos nas fronteiras. 22 Levantando-se de madrugada, em saindo o sol sobre as águas, viram os moabitas defronte deles as águas vermelhas como sangue. 23 E disseram: Isto é sangue; certamente, os reis se destruíram e se mataram um ao outro! Agora, pois, à presa, ó Moabe! 24 Porém, chegando eles ao arraial de Israel, os israelitas se levantaram e feriram aos moabitas, os quais fugiram diante deles; entraram os israelitas na terra e também aí feriram aos moabitas. 25 Arrasaram as cidades, e cada um lançou a sua pedra em todos os bons campos, e os entulharam, e taparam todas as fontes de águas, e cortaram todas as boas árvores, até que só Quir-Haresete ficou com seus muros; mas os que atiravam com fundas a cercaram e a feriram. 26 Vendo o rei de Moabe que a peleja prevalecia contra ele, tomou consigo setecentos homens que arrancavam espada, para romperem contra o rei de Edom, porém não puderam. 27 Então, tomou a seu filho primogênito, que havia de reinar em seu lugar, e o ofereceu em holocausto sobre o muro; pelo que houve grande ira contra Israel; por isso, se retiraram dali e voltaram para a sua própria terra (Bíblia. Almeida Revista e Atualizada. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2005). Figura 1.4 – Pedra Moabita

Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/18/Mesha_stele.jpg>. Acesso em: 10 mar. 2011.

A transcrição do texto para o português pode ser vista em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedra_moabita>.

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No início do século XX (1901) veio à luz o agora famoso Código de Hamurabi (Figura 1.5). Figura 1.5 – Código de Hamurabi

Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/dc/Code_of_Hammurabi.jpg>. Acesso em: 10 mar. 2011.

Anos mais tarde (1964) os Tabletes de Ebla (Figura 1.6), que acrescentaram evidências arqueológicas importantíssimas para um trabalho comparativo com o material bíblico. São 17000 tábuas em eblita que trazem luz sobre a vida patriarcal. São datadas de 2600-2300 a.C., e foram encontradas na Síria por arqueólogos italianos em 1976. Figura 1.6 – Tablete de Ebla

Disponível em: <http://biblediscoveries.files.wordpress.com/2010/08/tablet.jpg>. Acesso em: 10 mar. 2011.

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Cultura e língua de Ugarit e as tábuas de Ras Shamra (Figura 1.7). São cerca de 1400 tábuas em ugarítico (língua próxima ao hebraico bíblico). Traz muita luz sobre a religião e a literatura cananita e a poesia hebraica. Figura 1.7 – Tabletes Cuneiformes

Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Cuneiform_on_clay_tablets>. Acesso em: 10 mar. 2011.

O Calendário de Gezer (Figura 1.8). Calendário agrícola que traz o mais antigo registro do hebraico bíblico; as poucas linhas aparecem na escrita paleo-hebraica. Figura 1.8 – Calendário de Gezer

Disponível em:<http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/8e/PikiWiki_Israel_8691_tel_gezer_ calendar.jpg>. Acesso em: 10 mar. 2011.

A Epopéia de Gilgamesh (Figura 1.9). Texto acadiano que descreve um paralelo muito próximo do dilúvio bíblico.

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Figura 1.9 – Tablete com relato de um Dilúvio

Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/26/GilgameshTablet.jpg>. Acesso em: 10 mar. 2011.

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VocÊ SABiA

Que além das narrativas bíblica e mesopotâmica do dilúvio, muitos outros povos têm histórias de uma grande inundação, até mesmo os povos das Américas?

Enuma Elish (Figura 1.10). Sete tábuas em acadiano que falam da Ascenção do deus Marduque. Texto paralelo aos relatos da criação de Gênesis. Figura 1.10 – Tablete Enuma Elish

Disponível em: <http://www.bethsuryoyo.com/currentevents/AGNisan6752/7Tablets.jpg>. Acesso em: 10 mar. 2011. 18


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A Inscrição de Siloé (Figura 1.11). Comemora a conclusão do túnel de Ezequias; é um exemplo importante do hebraico da época. Figura 1.11 – Inscrição de Siloé

Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/5/50/Siloam_Inscription. jpg/250px-Siloam_Inscription.jpg>. Acesso em: 10 mar. 2011.

Leiam a tradução para o Português em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Inscri%C3%A7%C3%A3o_ de_Silo%C3%A9>.

A Cidade de Laquis e as suas cartas. A atual Tell ed-Duweir (Josué 10.3,31) fica na Shefelá, a oeste de Hebrom. Foi fortificada por Roboão (2 Crônicas 11.9), capturada pelo rei Senaqueribe (2 Reis 18–19), tomada mais tarde pelos babilônios (Jeremias 34.7) e habitada até depois do exílio (Neemias 11.30). Era uma das cidades-fortalezas que guardavam os acessos à região montanhosa. Foi escavada na década de 1930 e de 1970 e 1980. A história de Laquis remonta a 8000 a.C.. Os egípcios exerceram muita influência no local no Período do Bronze Médio e Posterior. Entre as descobertas importantes destacam-se um templo cananeu do Bronze Posterior e um palácio do período israelita (Idade do Ferro). Foram encontrados muitos selos, escaravelhos e registros de impostos egípcios, vários selos hebraicos, pesos, alças de vasos com inscrições. As cartas de Laquis são Ostraca (Figura 1.12), cacos de cerâmica com informações em hebraico. São 18 cartas que discorrem sobre a conquista babilônica de Judá em 586/7 por Nabucodonosor.

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Figura 1.12 – Ostraca de Lachish

Disponível em: <http://julianspriggs.com/images/lachish_letters.jpg>. Acesso em: 10 mar. 2011.

Os Hititas, desconhecidos durante muitos séculos, aparecem nos registros arqueológicos dos hieroglíficos no Templo de Karnak e nas inscrições dos tabletes de argila encontradas nos palácios dos reis assírios. Desses registros os Hititas surgem como um poderoso império por volta do ano 1650 a.C., que tinha muitas e grandes cidades fortificadas e que governaram durante algum tempo grande parte da Ásia Menor. Foram eles que manufaturaram o ferro e forjaram armas, implementos agrícolas e utensílios, tecnologia inovadora que alcançou o Egito, como o mostram os objetos encontrados na tumba de Tutankamon. Os Tabletes de Nuzi (Figura 1.13). São cerca de 10000 tábuas, e pertenciam ao antigo império hitita. Descreve a história hitita e traz exemplos de alianças internacionais do séc. XVII a.C. Figura 1.13 – Tablete cuneiforme Hattusa

Disponível em: <http://farm6.static.flickr.com/5270/5640297570_4181ac49c2.jpg>. Acesso em: 10 mar. 2011.

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Sargon (Figura 1.14), mencionado apenas uma vez na Bíblia em Isaías 20.1 (No ano em que Tartã, enviado por Sargão, rei da Assíria, veio a Asdode, e a guerreou, e a tomou,...) é outro ponto de contato entre a história bíblica e os registros extrabíblicos. No palácio de Sargon, escavado em 1843, por Botta em Corsabad, foram achados muitos tesouros. Figura 1.14 – Sargon II e um dignatário

Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/50/Sargon_II_and_dignitary.jpg>. Acesso em: 10 mar. 2011.

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Pensem nisso: Como as referências a uma pessoa ou a um evento na Bíblia e fora dela podem ajudar a compreender um texto bíblico?

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Senaqueribe (Figura 1.15) aparece no Antigo Testamento como o rei assírio que desafiou o rei Ezequias de Judá e em seu lugar reinou seu filho Esarhaddon, conforme registrado em 2 Reis 19. 36-37: 36 Retirou-se, pois, Senaqueribe, rei da Assíria, e se foi; voltou e ficou em Nínive. 37 Sucedeu que, estando ele a adorar na casa de Nisroque, seu deus, Adrameleque e Sarezer, seus filhos, o feriram à espada; e fugiram para a terra de Ararate; e EsarHadom, seu filho, reinou em seu lugar (Bíblia Almeida Revista e Atualizada. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2005).

A destruição de milhares de pessoas assinalada pelo texto bíblico também aparece em um registro assírio: 21


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No vigésimo dia do mês de Tebet, Senaqueribe, rei da Assíria, foi assassinado por seu filho durante uma revolta. Senaqueribe governou a Assíria por vinte e três anos. A rebelião durou do vigésimo dia de Tebet até o segundo dia de Adar. No vigésimo oitavo dia de Sivan, seu filho Asharadon subiu ao trono (Ancient Records of Assyria and Babylonia, de D. Luckenbill, 1927. Vol. 2, p. 200-201).

Confiram estas informações com mais detalhes em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Sargon_of_Akkad>.

Figura 1.15 – Prisma de Senaqueribe

Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/File:Taylor_Prism-3.jpg>. Acesso em: 10 mar. 2011.

A primeira menção de Israel em documentos veio à luz quando em 1896 o arqueólogo inglês Sir Flinders Petrie encontrou a assim chamada “Estela de Merneptah” (Figura 1.16), um Faraó do Egito que reinou entre 1212 a 1202 a.C. fez registrar suas conquistas militares em Canaã por volta do ano 1207 a.C. Entre os povos que figuram como os derrotados pelo Faraó, figura Israel, como se pode ler nas últimas linhas da inscrição:

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Ascalon tem conquistado. Gezer tem sido capturado. Yanoam foi aniquilado. Israel tem sido devastado, e sua semente já não existe. Entre as conquistas de Merneptah na Síria e Palestina se encontra Ysr’r (egípcio para Y’sr’l), que se reconhece claramente como ‘Israel’ . . . assim, na estela de Merneptah encontramos um ponto de partida para determinar em que momento estiveram os israelitas na Palestina . . . (The International Standard Bible Encyclopedia, 1988. Vol. 3, p. 324).

Os Manuscritos do Mar Morto. São as cópias mais antigas do Antigo Testamento, mil anos mais antigas do que os disponíveis até então. São centenas de folhas de manuscritos, mas em todos eles estão bem preservados em relação ao

Figura 1.16 – Estela de Merneptah

Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c4/Merneptah_Israel_Stele_Cairo. JPG>>. Acesso em: 10 mar. 2011

Texto Massorético. São datados entre 200 a.C. a 100 d.C. e foram encontrados em 1948 em onze cavernas da região de Qumran (Figura 1.17), no deserto da Judéia. Os manuscritos continham: 1) Cópias integrais ou parciais de todos os livros canônicos do Antigo Testamento (exceto Ester); 2) Comentários das Escrituras; 3) Material dos livros apócrifos e pseudepígrafos do período interbíblico; 4) Manuscritos das regras e doutrinas da seita (a espera de dois messias, um secular e um religioso, e a esperança do juízo divino iminente sobre os ímpios; 5) Textos sobre outros assuntos, como o Rolo do Templo e o tesouro oculto descrito no Rolo de Cobre. 23


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Figura 1.17 – Qumran – caverna 4

Disponível em: <http://israeltoursforchristians.com/wp-content/uploads/2011/01/Qumran-Cave-4300x225.jpg>. Acesso em: 10 mar. 2011.

cURioSiDADe

Os Manuscritos do Mar Morto foram descobertos por acaso. Um beduíno os encontrou ao procurar um animal do seu rebanho que havia se extraviado.

Seção 4 – Quadro cronológico Este quadro é para facilitar o acesso rápido às datas, aos eventos e aos personagens mais importantes dos diversos períodos. 6500 – 6300 5508

5490 ca. (cerca de) 5000 4004 (23 de Outubro)

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Roda - inventada pelos Sumérios que viveram na bacia dos rios Tigre e Eufrates. criação - conforme cálculo feito no século VII AD em Constantinopla e adotada pela Igreja Ortodoxa oriental desde o século XVIII AD. criação - conforme cálculo dos cristãos sírios. cidades – mais antigas conhecidas ao longo do Crescente Fértil. criação - conforme cálculo do teólogo irlandês James Ussher em 1650 AD.


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3760 3641 (10 de Fevereiro) 3500

ca. (cerca de) 3400

Criação - conforme cálculo dos hebreus em uso desde século XV AD. Criação - conforme cálculo dos Maias. Sumérios - civilização que se desenvolveu na bacia dos rios Tigre e Eufrates. Os sumérios fizeram uso de muitos avanços agrícolas, tais como: tração animal em arados, irrigação, curvas de nível, entre outras, o que contribuiu para a criação de uma civilização grande e cosmopolita. Eles desenvolveram, também, navios com remadores poderosos, carruagens com rodas e outros veículos semelhantes. Objetos de bronze e a escrita cuneiforme. Hieróglifos – uma forma de escrita hieroglífica começou a ser usada no Egito.

Seção 5 – Esquema cronológico O esquema abaixo permite que vocês tenham uma visualização rápida e completa de toda a história de Israel no período do Antigo Testamento. Cada período deste esquema será detalhado nas aulas seguintes.

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Retomando a conversa inicial

Até o momento estamos indo bem. Antes de passar para a Aula 02 vamos recordar:

• Seção 1 - Conceituando “Arqueologia” Definição e papel da ciência arqueológica no estudo da Bíblia. A Arqueologia Bíblica tem como tarefa revelar o passado material relacionado com a Bíblia e não achar “provas” para os eventos bíblicos. • Seção 2 - Períodos Arqueológicos na Palestina – Principais períodos arqueológicos: Idade do Bronze: Bronze Antigo (3100 a.C. - 2000 a.C.) Bronze Médio (2000 a.C. - 1550 a.C.) Bronze Recente (1550 a.C. - 1200 a.C.) Idade do Ferro: Ferro I (1200 a.C. - 1000 a.C.) Ferro II (1000 a.C. - 538 a.C.) Períodos Subsequentes: Período Persa (538 a.C. - 332 a.C.) Período Grego (332 a.C. - 63 a.C.) • Seção 3 - Descobertas Arqueológicas As principais descobertas arqueológicas que guardam relações com os eventos bíblicos foram: Pedra de Roseta Cartas de Tell-Amarna Cartas de Mari Pedra Moabita Código de Hamurabi Tabletes de Ebla Tabletes Cuneiformes Calendário de Gezer Epopéia de Gilgamesh 26


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Enuma Elish Inscrição de Siloé Ostraca de Lachish Tabletes de Nuzi Prisma de Senaqueribe Estela de Merneptah Manuscritos do Mar Morto • Seção 4 - Quadro Cronológico Apresentação de um quadro cronológico entre os anos 6.500 a 3.400 antes de Cristo. • Seção 5 - Esquema Cronológico Apresentação de um esquema cronológico de toda a História de Israel até o período do domínio Romano na Palestina.

Sugestões de sites e filmes Sites • ROOS, Deomar. Arqueologia Bíblica. Texto disponível online em: <http://www.seminarioconcordia.com.br/VC/VC051.pdf> ou na Plataforma UNIGRAN – Material de Aula Filmes Vídeo “Arqueologia Terra Santa” em: • <http://www.youtube.com/watch?v=YRDs5MAIgmU> • <http://www.youtube.com/watch?v=BOK9SeDQchw> (em espanhol)

Como sugestão de atividade extracurricular vocês podem fazer um quadro comparativo entre os períodos da Arqueologia e a Cronologia Bíblica. Que tal?

ATIVIDADES - AULA 01 Todas as atividades relacionadas a esta aula estão disponíveis na AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem da UNIGRAN (Plataforma). Para acessá-las usem a ferramenta “Sala Virtual – Atividades”. Após respondê-las não se esqueçam de enviá-las por meio do Portfólio.

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OBS: Não esqueçam! Se persistirem dúvidas, acessem as ferramentas “fórum” ou “quadro de avisos”. Ou enviem e-mail para: jcristofani@unigran.br

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Aula 02

PANORAMA GEOPOLÍTICO DO ANTIGO ORIENTE

As descobertas arqueológicas estão estreitamente ligadas às culturas que a produziram. Vocês podem imaginar em quais localidades e situações as provas materiais foram produzidas? Bom, este é o principal propósito desta aula, a saber, dar um panorama geográfico e político do mundo bíblico e do seu entorno. Precisamos perguntar pelas circunstâncias climáticas, por exemplo, que contribuíram para migrações. Procuraremos entender como circulavam as mercadorias. Quais as principais rotas de comércio e como elas favoreceram o alvorecer das cidades e impérios que foram mencionados na Bíblia. Assim, o que aqui chamamos de panorama geopolítico é o conjunto de dados que, somados às informações da Arqueologia, que já vimos na aula anterior, ajudam a compreender melhor os textos bíblicos. Por isso, traçamos alguns objetivos de aprendizagem para esta aula. Para que vocês obtenham êxito nesta empreitada, confiram também as seções de estudo apresentadas.

Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • visualizar a geografia do mundo bíblico; • traçar as principais rotas de circulação de pessoas e bens; • fixar os limites dos domínios que se impuseram sobre Israel.

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Seções de estudo • Seção 1 - O Crescente Fértil • Seção 2 - Condições Geográficas • Seção 3 - A Palestina • Seção 4 - Rotas Comerciais e Militares • Seção 5 - Quadro Cronológico • Seção 6 - Esquema Cronológico • Seção 7 - Mapa Ilustrativo

Seção 1 - O crescente fértil Agora que já viajamos através do tempo, vamos viajar através da geografia do Antigo Oriente Próximo. O Crescente Fértil é uma região do Oriente Médio compreendendo os atuais: Estado de Israel, a Cisjordânia e Líbano bem como partes da Jordânia, da Síria, do Iraque, do Egito e do sudeste da Turquia. O termo “Crescente Fértil” foi criado pelo arqueólogo James Henry Breasted, da Universidade de Chicago, em referência ao fato de o arco formado pelas diferentes zonas assemelhar-se a uma Lua crescente que é cercada por todos os lados por barreiras naturais: o mar a Oeste, desertos áridos ao Centro e ao Sul, e as altas montanhas ao Norte e ao Leste.

conceito

O “Crescente Fértil” é assim chamado porque engloba uma região que, vista em um mapa, como o mostrado abaixo, tem a forma de uma lua em sua fase quarto crescente.

Irrigada pelos rios Jordão, Eufrates, Tigre, e Nilo, a região cobre uma superfície de cerca de 400.000 a 500.000 km² e é povoada por 40 a 50 milhões de indivíduos. Ela estende-se das planícies aluviais do Nilo, continuando pela margem leste do Mediterrâneo, em torno do norte do deserto sírio e através da Península Arábica e da Mesopotâmia, até o atual Golfo Pérsico. A zona oeste em torno do Jordão e da parte superior do Eufrates viu nascerem os primeiros assentamentos agrários conhecidos, há 11.000 anos. Os assentamentos mais antigos conhecidos atualmente localizam-se em Iraq ed-Dubb (Jordânia) e Tell Aswad (Síria), seguidos de perto por Jericó. As mais antigas cidades, estados e escritos de que se tem notícia apareceram mais tarde na Mesopotâmia. Essas descobertas permitiram apelidar a região de "Berço da Civilização".

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O assim chamado “Crescente Fértil” possibilitou o desenvolvimento da Agricultura. Isso permitiu aos povos desta região a sedentarização.

Para Refletir Mapa 2.1 – O Crescente Fértil

Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem: Fertile_Crescent_map.png>. Acesso em: 23 mar. 2012.

Seção 2 - Condições geográficas Vocês já perceberam como a fertilidade da terra é fator determinante para o desenvolvimento dos assentamentos humanos! Desde o final do IV milênio a.C. até o começo do III milênio se pode encontrar vestígios de civilização nas terras dos grandes rios da Mesopotâmia e Egito. Estas duas regiões viram o nascimento dos primeiros reinos que impuseram um governo organizado e unificado sobre suas populações, que em alguns períodos se estenderam além de suas fronteiras.

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O nascimento dessas civilizações foi apoiado por condições muito similares, favorecidas em grande medida por rios que as cortavam, proporcionando a unificação e integração dos territórios através de artérias para o transporte que exigiram construções de canais e diques. Por outro lado, como afirma o Prof. José Alberto Garijo (2006): Estes fatores não existem na Siria-Palestina, onde as características naturais tendem a dividir a terra em pequenos distritos, e impõem grandes dificuldades à unificação do território. Nenhum dos três (Orontes, Litani e Jordão), apesar de que em torno deles floresceu certa civilização urbana, não proporcionaram uma poderosa via de unificação. A Siria-Palestina foi mais um terreno intermediário entre o Egito e a Mesopotâmia, cujos poderosos reinos se esforçaram em muitas ocasiões para impor sua autoridade, sobretudo para poder controlar as vias de comunicação com fins comerciais ou militares. Esta posição geográfica peculiar resultou em freqüente submissão da Palestina as potências estrangeiras.

Com a invenção de um tipo muito especial de agricultura, que permitiu ao Homem se estabelecer num lugar, deixando de ser nômade, e avançar sua tecnologia; inventar a linguagem escrita, progredir suas técnicas comerciais e prosperar materialmente. Esta agricultura representa o começo da nossa história porque ela permitiu que controlássemos nossa provisão de comida. Graças a esse tipo de agricultura, estamos livres do ciclo natural de provisão de comida que todos os outros animais seguem. A quantidade de comida disponível agora depende do nosso esforço, e não mais da provisão natural do meio ambiente.

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Pensem nisso: No Antigo Testamento há muitos relatos de períodos de “fome” em toda essa região. Qual seriam as causas, já que a região é potencialmente fértil?!

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A agricultura surgiu no Crescente Fértil e marca o início da nossa história. Com certeza não foi um acontecimento que atingiu todos os seres humanos ao mesmo tempo: ela se iniciou num grupo específico, e depois se espalhou pelo mundo. Mas, provavelmente, os primeiros agricultores não disseram “Vamos espalhar esta agricultura pelo mundo!”. Possivelmente ela se espalhou por uma necessidade especial dela.

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Na nossa agricultura, o aumento da população pede que a quantidade de terra cultivada também cresça, porque acreditamos que devemos evitar a fome de todos com ela. O Crescente Fértil é uma faixa não muito grande de terra fértil, e outros povos viviam lá, povos que ainda eram nômades, como os criadores de animais. É razoável imaginar que os agricultores, com o passar do tempo, precisavam de mais terra para plantar, pois eles estavam livres do ciclo natural de provisão de comida, e sua população começou a crescer aceleradamente. E também é razoável imaginar que eles não podiam deixar os outros povos nômades entrarem nas suas terras e comerem o fruto do seu trabalho duro. Se partirmos do Golfo Pérsico e traçarmos uma meia-lua, passando pelas nascentes dos rios Tigre e Eufrates, colocando a outra ponta na foz do Nilo, no Egito, teremos uma região bastante fértil, onde se desenrolaram os acontecimentos narrados na Bíblia. É a chamada "meia-lua fértil" ou "Crescente Fértil", dentro do qual está também a Palestina.

“Palestina” foi o nome que os romanos deram para a terra de Israel. Palestina é uma referência a Filístia (filisteus) inimiga de Israel. cURioSiDADe

Esta faixa de terra é regada por importantes rios, que condicionavam a vida do oriental antigo. Foram os rios que determinaram o estabelecimento da agricultura, da sedentarização e das rotas comerciais por onde passavam as caravanas que iam desde a Mesopotâmia até o Egito ou a Arábia. Além dos recursos hídricos, esta região, localizada entre o mar e o deserto, tem uma precipitação pluviométrica regulada por sua localização. Com um clima subtropical, as chuvas chegam ao inverno e no verão há ausência da mesma. A quantidade de chuva varia em cada parte da região devido ao mesmo fator geográfico e as diferentes altitudes. Via de regra, quanto mais baixa a região, menos chuva cairá, característica do sul da Palestina. Ao contrário, o norte desfruta de chuvas mais abundantes. Além de uma técnica do cultivo da terra, era também um modo de vida único que se apoiava nessas condições climáticas. O modo de vida que a agricultura expansiva exige é extremamente trabalhoso e necessita de organização complexa e divisão de trabalho, por isso ele gera ideias culturais que valorizam o trabalho, a eficiência, o desenvolvimento científico, o progresso tecnológico, o status social, o crescimento acelerado da produção e do lucro. 33


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Cada tribo tem um modo de vida único, que não serve para outra tribo, porque foi resultado de milhares de anos de tentativa e erro num grupo específico de pessoas. Por exemplo, nem em todos os grupos eram os homens que caçavam. O nosso modo de vida, ao contrário, é considerado universal. Durante a maior parte do tempo, acreditamos que todas as pessoas do mundo deviam viver deste modo, e que qualquer outro modo era de certa forma “errado”. Mas com a “bênção” do crescente fértil também vinha a praga. As cheias traziam muitos peixes mortos que fertilizavam a terra e como já citado ajudavam a plantação. Porém, nessas cheias não vinham só os peixes mortos, mas também os predadores (os crocodilos), que matavam muita gente. E também tinha outro problema, de que quando as cheias acabavam o solo ficava seco e muito difícil de plantar. Daí só com a tecnologia se pôde desenvolver métodos para acabar com isso, fazendo canais para que a água irrigasse um maior número de plantações, e também fazendo enormes reservatórios de água para durar o ano inteiro até a outra cheia chegar. Assim, a Mesopotâmia foi se desenvolvendo e crescendo.

As condições Geográficas do Antigo Oriente Próximo são o fator primordial para a compreensão, não apenas da história, mas do modo de vida dos povos bíblicos.

Seção 3 - A Palestina A Palestina tinha um território que, do extremo norte (Dã) até o extremo sul (Berseba), media cerca de 260 Km. Juntando-se a península do Sinai e Elat alcançaria uns 380 Km. A largura, ao norte, compreendendo desde a costa até o Jordão, tinha cerca de uns 50 Km, e aproximadamente uns 80 Km, do Mar Mediterrâneo até o Mar Negro. A Transjordânia não supera 30 Km de largura, tendo, em suas áreas mais extensas, cerca de 110 Km. Assim, a área total da superfície da Palestina poderia ser de cerca de 26.000 Km2. Nessa área podemos distinguir as seguintes zonas: 1. Zona Costeira: há uma estreita faixa que costeia o Mediterrâneo formada de diversas planícies que se entendem até as montanhas de Judá. Ao norte o limite se forma com Tiro e Sidon (Líbano) e ao sul com o Deserto do Neguev.

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2. Montanhas de Efraim e Judá: que compreende uma extensão montanhosa que forma uma espinha dorsal de norte a sul da Palestina. É um conjunto de colinas não muito elevadas, como por exemplo, o monte Gerazim com 880 m; o monte Ebal 940 m, monte Tabor com 588. 3. Depressão do Jordão: seu leito atravessa a assim chamada “fossa tectônica”, tendo sua nascente nas junções de três fontes que brotam aos pés do monte Hermon de 2.759 m de altura. O rio desagua no Mar Morto percorrendo uns 105 Km. O Jordão sai de uma altura de uns 200 m acima do nível do mar e chega a 200 m abaixo do nível do mar. 4. Montanhas da Transjordânia: situadas a este do Jordão formam uma área fértil que separa o deserto do Jordão. Esta grande planície é conhecida como as Colinas Golan. 5. Deserto do Neguev: localizado ao sul da costa, se prolonga pela zona montanhosa de Judá e forma uma estepe, faixa semiárida que antecede o Deserto de Arabá e a península do Sinai.

Vejam fotos atuais de satélites em: <http://www.science.co.il/satellite_images.asp>

Seção 4 - Rotas comerciais e militares Em relação a rotas que cruzavam a Palestina no período do Antigo Testamento temos o registro de duas delas: A primeira, chamada de “Caminho do Mar” (Via Maris) é citada em Isaías 9.1: Mas para a terra que estava aflita não continuará a obscuridade. Deus, nos primeiros tempos, tornou desprezível a terra de Zebulom e a terra de Naftali; mas, nos últimos, tornará glorioso o caminho do mar, além do Jordão, Galiléia dos gentios.

A Via Maris parte do Egito, atravessa Suez pelo norte e vai ladeando o Mar Mediterrâneo, entra na Palestina pela Sefela, segue pelo vale de Meguido e continua até a Síria, beirando o Lago de Genesaré.

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O braço principal continua até Gezer (Efraim) e chega a Megido, no Vale de Jezreel, ponto estratégico para quem quer dominar Palestina. Outro ramal continua em direção a costa de Akko e Tiro, sobe até Hazor e daí para o norte passando pelo Líbano até Damasco, Alepo, Mari, e daí para a Mesopotâmia. É interessante fazer o acompanhamento desta parte, e de resto de todo o guia de estudos, lendo os textos bíblicos citados para um aprofundamento do contexto. A segunda rota principal da qual temos notícia no Antigo Testamento é o assim chamado “Caminho Real” mencionada em Números 21.22: Deixa-me passar pela tua terra; não nos desviaremos pelos campos nem pelas vinhas; as águas dos poços não beberemos; iremos pela estrada real até que passemos o teu país.

O Caminho Real corre pela Transjordânia passando pelos profundos wadis (vales) da região. Era a rota mais empregada pelas caravanas comerciais que vinham da Arábia. Ele parte do Golfo de Aqaba e daí segue até Bosra (Edom). Atravessa o território de Moab, com suas cidades Aroer, Dibón, Mádaba e Hesbom (disputadas frequentemente entre israelitas e moabitas para ter o controle do “Camino Real”). Logo cruza o território de Amon e sua capital Rabat-Amon. Passa por Galaad e sua capital Ramot de Galaad e continua para o norte até Damasco. No mapa abaixo é possível ver as duas rotas. A mais longa, à direita, é o “Caminho Real”. A mais curta, à esquerda, é a “Via Maris”.

Mapa 2.2 - Via Maris

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Disponível em: <http://estudosbiblicos1.blogspot.com.br/2011_07_01_archive.html>. Acesso em: 23 mar. 2012.


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VocÊ SABiA

Que a “Via Maris” é o nome moderno de uma antiga rota comercial que se chamava “Rota dos Filisteus”.

Seção 5 - Quadro cronológico Este quadro é para facilitar o acesso rápido às datas, aos eventos e aos personagens mais importantes dos diversos períodos. 3100 2613 2560 2500 2350 2100

egito – os reinos do sul e do norte foram unidos pela primeira Dinastia egípcia sob o reinado de Menes, fundador da cidade de Menfis. Keops - a grande pirâmide em Giza foi construída por Keops, filho do fundador da 4ª Dinastia de Egito, Snefru. Esfinge de Giza - monumento ao Rei Khafra (Khafre), o terceiro rei da 4ª Dinastia. Cuneiforme - foi simplificado de uma versão anterior que consistia de milhares de ideogramas. Sargon I - fundou o império de Acádico que governou a Mesopotâmia nos séculos seguintes. Zigurate de Ur – foi construído pelo rei Ur-Nammu da Suméria.

Seção 6 - Esquema cronológico A História de Israel no período do Antigo Testamento foi marcada pela dominação estrangeira. Vejam no esquema abaixo os domínios estrangeiros sobre Israel.

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Pessoal! Um mapa sempre ajuda a visualizar a geopolítica dos acontecimentos.

Seção 7 - Mapa ilustrativo No mapa abaixo é possível se ter uma ideia aproximada de como se configurava a geopolítica no mundo antigo. É importante notar como o território de Israel fica comprimido entre as potencias do mundo de então. Mapa 2.3 - O mundo Antigo

Disponível em: < http://estudosbiblicos1.blogspot.com.br/2011_07_01_archive.html>. Acesso em: 23 mar. 2012.

Retomando a conversa inicial

Vejam só, parece que estamos evoluindo muito bem. Vamos recordar?

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• Seção 1 - O Crescente Fértil O “Crescente Fértil” é assim chamado porque engloba uma região que, vista em um mapa, como o mostrado abaixo, tem a forma de uma lua em sua fase quarto crescente. • Seção 2 - Condições Geográficas As condições Geográficas do Antigo Oriente Próximo são o fator primordial para a compreensão, não apenas da história, mas do modo de vida dos povos bíblicos. • Seção 3 - A Palestina Nela podemos distinguir as seguintes divisões geográficas: 1. Zona Costeira; 2. Montanhas de Efraim e Judá; 3. Depressão do Jordão; 4. Montanhas da Transjordânia; 5. Deserto do Neguev. • Seção 4 - Rotas Comerciais e Militares Na Palestina temos duas rotas principais: A primeira, chamada de “Caminho do Mar” (Via Maris) e a segunda chamada “Caminho Real”. • Seção 5 - Quadro Cronológico Quadro para facilitar o acesso rápido às datas, aos eventos e aos personagens mais importantes dos diversos períodos. • Seção 6 - Esquema Cronológico A História de Israel no período do Antigo Testamento foi marcada pela dominação estrangeira. Vejam no esquema abaixo os domínios estrangeiros sobre Israel. • Seção 7 - Mapa Ilustrativo Mapa do período estudado para uma visualização da geopolítica da época.

Sugestões de leituras e sites Leituras SILVA, Andréia Cristina Lopes Frazão da. Uma introdução à Geografia do Mundo Bíblico. Disponível em: <http://www.ifcs.ufrj.br/~frazao/geografia.htm>. Acesso em: 15 mar. 2012. 39


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Sites • <http://panoramabiblico.blogspot.com/2008/07/geografia-bblica.html> •<http://www.airtonjo.com/historia04.htm#1.No%C3%A7%C3%B5es%20 de%20Geografia%20do%20Antigo%20Oriente%20M%C3%A9dio>

Gostaríamos de propor, em nível de sugestão, uma atividade reflexiva: Como as condições climáticas de aridez na Palestina influenciaram a narrativa de Gênesis 2. Vocês aceitam o desafio?

ATIVIDADES - AULA 02 Todas as atividades relacionadas a esta aula estão disponíveis na AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem da UNIGRAN (Plataforma). Para acessá-las usem a ferramenta “Sala Virtual – Atividades”. Após respondê-las não se esqueçam de enviá-las por meio do Portfólio.

OBS: Não esqueçam! Se persistirem dúvidas, acessem as ferramentas “fórum” ou “quadro de avisos”. Ou enviem e-mail para: jcristofani@unigran.br

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Aula 03

PRÉ-HISTÓRIA DO POVO DE ISRAEL, PATRIARCAS E ÊXODO Adentremos, agora, pelos caminhos da pré-história do povo de Israel. Uma boa pergunta que vocês podem fazer é: Como o panorama para o surgimento de Israel é preparado? Este é o tema principal desta aula. Vamos à busca de indícios e textos que nos ajudem a estabelecer um quadro histórico para o surgimento do povo do Antigo Testamento. Com base nas duas aulas anteriores, é possível compreender as condições históricas e geográficas do mundo dos Patriarcas e seguir até o Êxodo que foi o evento central nos primórdios da formação do povo. Com vistas a isso, temos os seguintes objetivos de aprendizagem para esta unidade.

Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • relacionar as fontes arqueológicas com os textos bíblicos; • estabelecer uma linha histórica do período estudado; • acrescentar elementos extrabíblicos à sua compreensão da Bíblia. Para que você obtenha êxito na sua empreitada, as seguintes seções de estudo são apresentadas:

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Seções de estudo • Seção 1 - Os patriarcas • Seção 2 - Os hapirus • Seção 3 - O êxodo • Seção 4 - Quadro cronológico • Seção 5 - Esquema cronológico • Seção 6 - Mapa ilustrativo Vamos para mais uma etapa da nossa disciplina. Nesta aula, trataremos dos acontecimentos relativos aos primórdios do povo de Israel.

Seção 1 - Os patriarcas A datação dos patriarcas bíblicos e dos acontecimentos, que a tradição israelita vincula com estes personagens, pode-se colocar em um quadro geral situado entre 1900 e 1450 a.C. Assim, é perfeitamente legítimo considerar este meio milênio como a idade dos patriarcas, pois os relatos bíblicos sobre os antepassados de Israel constituem uma formação literária e histórica que reflete acontecimento que podem ser separados entre si por vários séculos de distância. As “Cartas de Amarna” informam que durante os séculos XV e XIV a. C., Canaã estava fragmentada em uma série de pequenos reinos, cada um com uma cidade fortificada como centro, na qual moravam os reis vassalos do Egito.

Queridos(as)... na primeira aula apresentamos as descobertas arqueológicas aqui mencionadas.

Na correspondência de Amarna aparecem, entre outros, os reis de Biblos, Beirut, Sidón, Tiro, Akkó, Ascalón, Meguido, Gezer, Lakis e Jerusalém. Havia um desejo destas cidades-estado de se libertarem do domínio egípcio que, somado aos conflitos dos egípcios com os hititas e aos fluxos de nômades, criavam um panorama de tensão e conflitos.

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Os patriarcas israelitas parecem participar desses conflitos. Temos, por exemplo, em Gênesis 14.1-24, uma narrativa sobre como Abrão fez guerra contra alguns reinos em Canaã. 1 Sucedeu naquele tempo que Anrafel, rei de Sinar, Arioque, rei de Elasar, Quedorlaomer, rei de Elão, e Tidal, rei de Goim, 2 fizeram guerra contra Bera, rei de Sodoma, contra Birsa, rei de Gomorra, contra Sinabe, rei de Admá, contra Semeber, rei de Zeboim, e contra o rei de Bela (esta é Zoar). 3 Todos estes se ajuntaram no vale de Sidim (que é o mar Salgado). 4 Doze anos serviram a Quedorlaomer, porém no décimo terceiro se rebelaram. 5 Ao décimo quarto ano, veio Quedorlaomer e os reis que estavam com ele e feriram aos refains em Asterote-Carnaim, e aos zuzins em Hã, e aos emins em Savé-Quiriataim, 6 e aos horeus no seu monte Seir, até ElParã, que está junto ao deserto. 7 De volta passaram em En-Mispate (que é Cades) e feriram toda a terra dos amalequitas e dos amorreus, que habitavam em HazazomTamar. 8 Então, saíram os reis de Sodoma, de Gomorra, de Admá, de Zeboim e de Bela (esta é Zoar) e se ordenaram e levantaram batalha contra eles no vale de Sidim, 9 contra Quedorlaomer, rei de Elão, contra Tidal, rei de Goim, contra Anrafel, rei de Sinar, contra Arioque, rei de Elasar: quatro reis contra cinco. 10 Ora, o vale de Sidim estava cheio de poços de betume; os reis de Sodoma e de Gomorra fugiram; alguns caíram neles, e os restantes fugiram para um monte. 11 Tomaram, pois, todos os bens de Sodoma e de Gomorra e todo o seu mantimento e se foram. 12 Apossaram-se também de Ló, filho do irmão de Abrão, que morava em Sodoma, e dos seus bens e partiram. 13 Porém veio um, que escapara, e o contou a Abrão, o hebreu; este habitava junto dos carvalhais de Manre, o amorreu, irmão de Escol e de Aner, os quais eram aliados de Abrão. 14 Ouvindo Abrão que seu sobrinho estava preso, fez sair trezentos e dezoito homens dos mais capazes, nascidos em sua casa, e os perseguiu até Dã. 15 E, repartidos contra eles de noite, ele e os seus homens, feriu-os e os perseguiu até Hobá, que fica à esquerda de Damasco. 16 Trouxe de novo todos os bens, e também a Ló, seu sobrinho, os bens dele, e ainda as mulheres, e o povo. 17 Após voltar Abrão de ferir a Quedorlaomer e aos reis que estavam com ele, saiu-lhe ao encontro o rei de Sodoma no vale de Savé, que é o vale do Rei. 18 Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; era sacerdote do Deus Altíssimo; 19 abençoou ele a Abrão e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, que possui os céus e a terra; 20 e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus adversários nas tuas mãos. E de tudo lhe deu Abrão o dízimo. 21 Então, disse o rei de Sodoma a Abrão: Dá-me as pessoas, e os bens ficarão contigo. 22 Mas Abrão lhe respondeu: Levanto a mão ao SENHOR, o Deus Altíssimo, o que possui os céus e a terra, 23 e juro que nada tomarei de tudo o que te pertence, nem um fio, nem uma correia de sandália, para que não digas: Eu enriqueci a Abrão; 43


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24 nada quero para mim, senão o que os rapazes comeram e a parte que toca aos homens Aner, Escol e Manre, que foram comigo; estes que tomem o seu quinhão. A diversidade de povos na Palestina durante a época patriarcal era grande. O Antigo Testamento enumera uma lista de povos que habitavam Canaã em tempos anteriores ao estabelecimento dos israelitas. Entre eles os hititas,

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VocÊ SABiA

Que o termo “Semita” designa toda uma gama de povos que viveram no Oriente Próximo. O designativo tem sua origem em “Sem”, filho de Noé.

amorreus, ferezeus, jebuseus, todos chamados genericamente de cananeus, que tinham em comum o fato de serem semitas. Diversos textos do Antigo Testamento registram listas desses povos, especialmente Josué 3.10; 9.1; 17.15 e: Passando vós o Jordão e vindo a Jericó, os habitantes de Jericó pelejaram contra vós outros e também os amorreus, os ferezeus, os cananeus, os heteus, os girgaseus, os heveus e os jebuseus; porém os entreguei nas vossas mãos.

Dos Hititas, povo indo-germano que nos inícios do segundo milênio penetrou na Ásia Menor e estabeleceu um poderoso império, o Antigo Testamento os menciona repetidas vezes, desde o período patriarcal até a época do pós-exílio. Dos patriarcas, Abraão comprou, dos hititas, um terreno em Hebrom (Campo de Macpela) para sepultar Sara. Os Patriarcas, por serem nômades, procuravam manter distância dos povos sedentários que viviam nas cidades-estado e da cultura da Palestina e do Egito,

As três narrativas citadas acima de Patriarcas que vão para uma cidade parecem apontar para uma tradição literária comum.

Para Refletir

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como se pode ver nas narrativas “trigêmeas” de Gênesis 12.10-20; 20.1ss e 26.1ss, as quais mostram as ameaças que os pastores sofriam ao adentrar uma cidade. Por outro lado, os perigos de se achegar próximo das populações sedentárias eram devido, também, ao status social dos patriarcas, status que os textos bíblicos denominam com a palavra "hebreus" ('ibrim), que não pode ser considerada como sinônimo de "israelita", designam grandezas diferentes. De fato, os textos cuneiformes chamam grupos de pessoas como "habiru" ou "hapiru". Em textos dos séculos XIX-XVIII a.C. São apresentados como prisioneiros ou soldados. No poderoso reino de Mari, no Eufrates médio (século XVIII), são grupos de bandidos que ameaçam as cidades da Mesopotâmia superior.

Seção 2 - Os hapirus O grupo conhecido como Hapiru é primeiramente mencionado em documentos cuneiformes da Terceira Dinastia de Ur, cerca de 2050 a.C. e nos séculos seguintes é encontrado em todo o Oriente Próximo. Aparece em Larsa, Babilônia, Mari, Alalakh, Nuzi, Amarna e Ugarit. Em algumas listas os Hapirus aparecem entre as classes sociais dos cidadãos livres e dos escravos. Em Mari são identificados como seminômades, e nas Cartas de Amarna os reis das cidades-estados da Palestina queixam-se que eles perturbam a paz, pois agiam como um grupo fora da lei, ou como mercenários que juntavam muitas pessoas das populações oprimidas em seus ataques sobre as cidades estabelecidas. Originalmente, Hapiru parecem ter sido uma classe social, em vez de um grupo étnico, pois apesar de muitos deles terem nomes semitas, outros tantos não possuem nomes semita. A relação entre os hebreus bíblicos e Hapiru tem sido objeto de um estudo cuidadoso. É possível que os hebreus fossem considerados no mesmo sentido que os Hapirus. Abraão é designado de “hebreu” (Hapiru?) em Gênesis 14.13: “Porém, veio um, que escapara, e o contou a Abrão, o hebreu; este habitava junto dos carvalhais de Manre, o amorreu, irmão de Escol e de Aner, os quais eram aliados de Abrão”. O contexto de conflito é bem próximo daquele mencionado nas Cartas de Amarna.

conceito

As palavras “hebreu” e “hapiru” têm a mesma forma (hbr) nas línguas semíticas. Por isso, alguns estudiosos entendem que designam a mesma grandeza social.

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Quadro semelhante é pintado nas Cartas de Amarna. Nos textos de Nuzi do século XV reaparecem como estrangeiros que, de todas as formas, gozam de um status social superior ao dos escravos. Voluntariamente se põem a serviço de outros e podem comprar de novo sua liberdade com seus próprios recursos. No século XIII, finalmente, figuram em Ugarit como elementos estranhos e pessoas não confiáveis. Por essa época a Palestina se encontrava sob a administração do poder egípcio, que, apesar de ter desempenhado um importante papel político, econômico e cultural, nunca se instalaram na Palestina.

Seção 3 - O êxodo Por volta de 1400 a.C. ocorre a primeira menção aos shasu em registro egípcios encontrados ao sul do Mar Morto. Shasu é um local que conta com um grupo “javista”, que parece indicar que o nome de Javé já era conhecido por essa época. Pouco depois, cerca de 1350-1330 a.C. a correspondência de Amarna dá um relato detalhado das cartas trocadas durante o período de dominação egípcia em Canaã durante o reinado de Akenaton. Os prepostos locais, tais como: Abdi Khepa de Jerusalém e Labaya de Siquém, eram representantes de Faraó e defendiam suas causas. Akenaton informa-lhes ter enviado para aquela região um regimento da Nubia para manter a ordem local. O nascimento de Moisés é datado por volta de 1300 a.C. É por essa mesma época (1292 a.C.) que começa a XIX Dinastia egípcia com o reinado de Ramsés I. O seu sucessor, Ramsés II (1279-1213 a.C.), conduziu uma campanha militar através do território que mais tarde seria Israel. Figura 3.1 - Ramsés II

Disponível em: <http://www.bible-history.com/archaeology/egypt/ramesses-II.html>. Acesso em: 23 mar. 2012.

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Em 1187 a.C. Os chamados “Povos do Mar”, entre os quais se acham os Filisteus, invadem o Egito, como testemunha a inscrição encontrada em um templo construído Ramsés III.

Para detalhes da história de Ramsés III vejam em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Rams%C3%A9s_III>

É neste panorama que ocorre o Êxodo dos israelitas do Egito. Conquanto a cronologia do êxodo permaneça em debate, não há como negar que uma data provável do êxodo deve ser colocada durante o reinado de Ramsés II, como argumenta Kenneth A. Kitchen ao citar as cidades egípcias que aparecem no livro do Êxodo: Pithom (Pi-Atum) e Ramessés. “E os egípcios puseram sobre eles feitores de obras, para os afligirem com suas cargas. E os israelitas edificaram a Faraó as cidades-celeiros, Pitom e Ramessés (Êxodo 1.11)”. Outra evidência da presença israelita na Palestina por essa época é a “Estela de Merneptah”, apesar de um pouco mais tardia (1210 a.C.).

Seção 4 - Quadro cronológico Este quadro é para facilitar o acesso rápido às datas, aos eventos e aos personagens mais importantes dos diversos períodos. 2000-1700 Patriarcas – Abraão, Isaque e Jacó. ca. (cerca de) 2000 Babilônicos – substituíram os sumérios como o poder dominante no Oriente Médio. 1792-1750 Hammurabi – regeu a Babilônia e criou o famoso “Código de Hammurabi” (leis). 1750 irrigação – os babilônios começaram a usar moinhos de vento para bombear água para irrigação. 1700 - 1500 José – possíveis datas que José pode ter estado no Egito. 1660 - 1550 Hicsos – uma tribo de Semitas que invadiu e dominou o Egito por um século. ca. (cerca de) 1650 Culto a Javé – forma mais primitiva de Judaísmo. 1568 Ahmose – expulsou os Hicsos do Delta do Nilo (Egito) e fundou a 16ª Dinastia.

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ca. (cerca de) 1479 Faraó Tuthmosis III – derrotou uma confederação de estados palestinos e capturou uma fortaleza na colina do Megido. O título “Faraó” (= grande casa) é pela primeira vez aplicado a Tuthmosis. Idade do Ferro – começa na Ásia Menor quando foram desenvolvidos métodos de fundir ferro. 1349-1334 Amenhotep IV – Aka Akhenaten, governou o Egito e desenvolveu o primeiro monoteísmo de que se tem notícia. Tutankhamen o sucedeu e eliminou suas reformas religiosas. 1300 Cuneiforme – na Babilônia desenvolveu-se uma forma de escrita que era uma simplificação adicional da escrita cuneiforme. 1305 Ramsés II – ascensão de Ramsés II, o Grande, do Egito para Faraó. ca. (cerca de) 1250 Êxodo – data mais provável do Êxodo dos hebreus do Egito. 1400

Seção 5 - Esquema cronológico A História de Israel em seus primórdios pode seu vista no esquema abaixo.

Seção 6 - Mapa ilustrativo Pessoal! Um mapa sempre ajuda a visualizar a geopolítica dos acontecimentos.

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Mapa 3.1 – Egito e Sinai

Disponível em: <http://universotrade.blogspot.com.br/2010/01/sociedade-biblica-mapa-2.html>. Acesso em: 23 mar. 2012.

Retomando a conversa inicial

Muito bem pessoal. Ao findar mais esta aula, podemos dizer que estamos indo bem. Que tal recordarmos?

• Seção 1 - Os Patriarcas A datação dos patriarcas bíblicos e dos acontecimentos, que a tradição israelita vincula com estes personagens, pode-se colocar em um quadro geral situado entre 1900 e 1450 a.C. • Seção 2 - Os Hapirus Os Hapirus aparecem entre as classes sociais dos cidadãos livres e dos escravos. Em Mari são identificados como seminômades, e nas Cartas de Amarna os reis das cidades-estados da Palestina queixam-se que eles perturbam a paz.

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• Seção 3 - O Êxodo O nascimento de Moisés é datado por volta de 1300 a.C. É por essa mesma época (1292 a.C.) que começa a XIX Dinastia egípcia com o reinado de Ramsés I. O seu sucessor, Ramsés II (1279-1213 a.C.), conduziu uma campanha militar através do território que mais tarde seria Israel. • Seção 4 - Quadro Cronológico Quadro para facilitar o acesso rápido às datas, aos eventos e aos personagens mais importantes dos diversos períodos. • Seção 5 - Esquema Cronológico Esquema para acesso rápido às datas e acontecimentos do período. • Seção 6 - Mapa Ilustrativo Mapa mostrando a possível rota do Êxodo.

Sugestões de leituras, sites e filmes Leituras O Pentateuco e o Mundo dos Patriarcas. Disponível em: <http://www.estudosbiblicos.teo.br/wp-content/uploads/2011/01/04-Pentateuco-Mundo-dos-Patriarcas.pdf> Sites • <http://www.airtonjo.com/historia_israel.htm> • <http://panoramabiblico.blogspot.com> • <http://pt.wikipedia.org/wiki/Habiru> Filmes • Vídeo: <http://www.youtube.com/watch?v=RNytPBFC32A>

Que tal um desafio? Ler os primeiros 15 capítulos do livro do Êxodo e observar quantas vezes aparece o termo “hebreu(s)” e como ele aparece.

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ATIVIDADES - AULA 03 Todas as atividades relacionadas a esta aula estão disponíveis na AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem da UNIGRAN (Plataforma). Para acessá-las usem a ferramenta “Sala Virtual – Atividades”. Após respondê-las não se esqueçam de enviá-las por meio do Portfólio.

OBS: Não esqueçam! Se persistirem dúvidas, acessem as ferramentas “fórum” ou “quadro de avisos”. Ou enviem e-mail para: jcristofani@unigran.br

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Aula 04

TOMADA DA TERRA E PERÍODO DOS JUÍZES

Seguindo sempre adiante, chegamos à tomada da Terra. Certamente que vocês conhecem, como eu, a mais popular versão da entrada na Terra da promessa. Mas, há outras versões para o mesmo evento: vamos conferir? As descobertas arqueológicas ajudaram muito na formulação de, pelo menos, três teses distintas sobre a entrada dos hebreus na Palestina. A tese da “Conquista Militar Unificada”, a tese da “Infiltração Pacífica” e a tese da “Revolução Campesina”, cada qual ligada a uma escola de Arqueologia. Uma ideia geral sobre as chamadas doze tribos também ocupa nosso interesse nesta aula. Com vistas a isso, temos os seguintes objetivos de aprendizagem para esta aula.

Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • avaliar qual das teorias é mais convincente; • argumentar de forma mais consistente sobre a tomada da terra; • apresentar um esboço de cada tese defendida. Para que você obtenha êxito na sua empreitada, as seguintes seções de estudo são apresentadas: 53


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Seções de estudo • Seção 1 - Conquista Militar Unificada • Seção 2 - Infiltração Pacífica • Seção 3 - Revolução Campesina • Seção 4 - As Doze Tribos • Seção 5 - Quadro Cronológico • Seção 6 - Esquema Cronológico • Seção 7 - Mapa Ilustrativo

Seção 1 - Conquista militar unificada Querida turma, vamos navegar em mais um período da História de Israel. Agora vamos conhecer o processo de ocupação da Terra prometida e o período dos juízes. Charles Fensham, professor de línguas semíticas, explica as mudanças ocorridas pela época dos juízes da seguinte forma: A arqueologia tem revelado que, por volta, de 1200 a.C. certas cidades na Palestina foram destruídas. A cultura cananéia florescente da Idade do bronze Superior desapareceu. O que se desenvolveu posteriormente [...] pertenceu a uma cultura inferior àquela anterior. A diferença entre as duas culturas é óbvia e indica que grupos semi-nômades estavam em processo de estabelecimento na terra. Sem dúvidas, estes fatos estão relacionados com a invasão das tribos (FENSHAM, 1988, p. 1158).

Estas palavras apontam para a bem tradicional e bem estabelecida visão sobre a tomada da terra de Canaã. Mas, nada é tão distante de consenso do que o tema das origens de Israel. Três são os modelos para explicar a tomada da terra. Os estudiosos ligados a esta tese são: William F. Albright, John Bright e George E. Wright. Daí o designativo: “Tese Albright-Bright-Wright”.

cURioSiDADe

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A “Escola” arqueológica, proposta pelos três estudiosos é conhecida como “Escola Norte-Americana”. Isso para diferenciar da “Escola Alemã”.


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Os aspectos arqueológicos desta linha de investigação foram formulados pela primeira vez por William Albright nos ido dos anos 30 do século passado. Os relatos dos primeiros capítulos do livro de Josué serviram de base para esta tese. Neles as cidades-estado cananéias foram subjugadas por uma série de batalhas e muitas delas destruídas pelo fogo. Assim, os israelitas, que vinham do deserto, se assentaram nestas áreas. A favor disso falaria os seguintes fatores: • A descrição literal da Bíblia encontrada no livro de Josué aponta para a grande antiguidade da tese: “Assim, feriu Josué toda aquela terra, a região montanhosa, o Neguebe, as campinas, as descidas das águas e todos os seus reis; destruiu tudo o que tinha fôlego, sem deixar nem sequer um, como ordenara o SENHOR, Deus de Israel” (Josué 10.40). • Os restos de destruição encontrados ao final dos níveis correspondentes ao Bronze Recente encontrados em lugares como Lakish, Tell Beit Mirsim, Bethel e Hazor, e atribuídos aos israelitas. • A Arqueologia mostra uma vasta destruição das cidades cananéias no período e uma nova ocupação em lugares destruídos. Das cidades encontradas, 05 são mencionadas em Josué e algumas não têm sinal de destruição. Há amostras de reocupação do mesmo local e período imediatamente posteriores (na arquitetura) e a cerâmica – indica uma interrupção cultural. • Os paralelismos encontrados na história, nos quais as tribos nômades que, apesar de seu baixo nível cultural, teriam causado um colapso nas civilizações urbanas mais desenvolvidas. G. E. Wright descreve os acontecimentos desta forma: Houve uma campanha israelita de grande violência e êxito durante o século XIII. Seu objetivo era a destruição das cidadesestado cananéias existentes, debilitando o poder local de tal maneira que foi possível um novo assentamento, especialmente na colina central (WRIGHT, 1975, p. 56).

A grande evidência de uma destruição sofrida pelas cidades de Betel, Lakish, Eglón, Debir (Kiriat Sefer) e Hazor durante o século XIII sugerem, com um forte grau de certeza, que uma campanha planejada, tal como a descrita nos capítulos 10 e 11 do livro de Josué, foi levada a cabo. Pode-se, concluir com segurança que durante o século XIII ao menos uma porção do que mais tarde seria a nação de Israel irrompeu na Palestina. É interessante fazer o acompanhamento desta parte, e de resto de todo o guia de estudos, lendo os textos bíblicos citados para um aprofundamento do contexto. Os defensores deste modelo afirmam que é o modelo que melhor explica os dados obtidos pelas investigações arqueológicas, que para eles se reduzia 55


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à escavação dos grandes tells cananeus datados do final do Bronze Recente. Entretanto, os dados revelados pela arqueologia mais tarde contradisseram as conclusões propostas pelo modelo da conquista militar unificada.

conceito

“Tell” é uma palavra semítica que significa “monte”. Em arqueologia é utilizada para fazer referência a um “monte” (escavação) de estratos consecutivos de diversos períodos.

Muitos dos lugares que têm sido identificados com um alto grau de segurança com aqueles mencionados no livro de Josué não apresentam nenhum resto do Bronze Recente. Nas regiões densamente povoadas pelos cananeus, e que supostamente foram conquistadas, não há evidência de assentamento israelita antes do século X a.C. De modo inverso, na maioria das zonas de assentamento israelita da colina central, onde teve lugar o ressurgimento demográfico do Ferro I, os lugares cananeus eram poucos em número, e praticamente não há nenhuma evidência de um assentamento israelita que siga imediatamente a destruição dessas cidades cananéias. A evidência cronológica indica, igualmente, que os centros cananeus foram devastados não simultaneamente, senão durante um largo período de tempo. Agora temos a certeza, por exemplo, de que cidades cananéias como Lakish estavam florescentes no tempo em que ia tendo lugar o assentamento israelita nas colinas centrais. Além disso, a atribuição automática de todos ou quase todos os níveis de destruição em torno de 1200 a.C. nas cidades cananéias da Terra de Israel a uma campanha de conquista pelas tribos israelitas fecha os olhos a outras possibilidades históricas: campanhas militares egípcias, como a desenvolvida pelo faraó Mernefta; conflitos locais entre cidades cananéias rivais; e a infiltração dos filisteus na costa sul e a Sefela durante a primeira metade do século XII. Objeções: • os relatos indicam uma ação não massiva e não totais; • há lista de cidades não conquistadas; • tal conquista massiva é fruto da redação atribuindo-as a Josué; • dificuldades com os dados arqueológicos (3 questões): a. Não só os israelitas poderiam ter destruído essas cidades, talvez também os egípcios, os próprios cananeus (externos ou internos); b. O que seria o “israelita” da arqueologia? Hapirus – povos cananeus + javistas; membros da confederação javista (GOTTWALD). c. Proto-israelitas (hapirus + hebreus) provas bíblicas e arqueológicas concordam que tais grupos destruíram as cidades. Porém, não de forma unitária, antes, separados.

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conceito

“Javistas” é um termo técnico utilizado pelos estudiosos para designar um grupo de pessoas que trouxeram as tradições de “Javé” da Península do Sinai. Esta crença seria o “cimento” das assim chamadas Tribos de Israel.

Seção 2 - Infiltração pacífica O proponente deste modelo foi Albrecht Alt, quem expôs suas ideias em um artigo de 1925. Ele examinou o episódio do assentamento israelita à luz da situação política, territorial e demográfica da Palestina no período do Bronze Recente, como se apresenta na Bíblia e nas fontes egípcias do Império Novo.

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A “Escola Alemã” de Arqueologia tem como maiores nomes: Albrecht Alt e Martin Noth.

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Alt (1968, p. 173-221), descreve o assentamento israelita como uma pacífica infiltração de grupos de pastores seminômades desde as zonas limítrofes do deserto até as regiões de Canaã que nessa época estavam escassamente povoadas, como um dos processos de transumância entre a borda do deserto e a colina central. Pouco a pouco essas populações vão se sedentarizando e vão adquirindo certa técnica agrícola.

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VocÊ SABiA

Que “sedentarização” é o processo pelo qual nômades vão se tornando “sedentários”, isto é, passam a fixar residência em um determinado local?

Só num segundo momento, estas populações entram em conflito com as cidades cananéias e estabelecem disputas locais. Quando na época da Monarquia se elaboraram as descrições deste período bíblico, e toma forma o que hoje é o livro de Josué, a memória dessas guerras de conquista está vívida, e se associam ao período inicial da instalação na terra. Assim, segundo este autor, o longo e trabalhoso processo de possessão da terra foi dramatizado e narrativizado na época da Monarquia. 57


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Martin Noth (1966, p. 76-89), como discípulo de Alt e um dos seguidores deste modelo, escreve em sua História de Israel, o seguinte: as tribos penetraram em comarcas que na Idade do Bronze haviam estado escassamente habitadas ou não haviam estado em absoluto. Nas zonas ocupadas pelos israelitas só havia povoados cananeus escassos e dispersos que, mais cedo ou mais tarde, as tribos deveriam tomar pela força; porém, isso não significa que se produziram lutas em massa dos cananeus que não habitavam os territórios israelitas. Em geral, as tribos se instalaram no país de forma tranquila, pacífica, sem que seus primitivos ocupantes se preocupassem com isso. Podemos supor que isto se produziu de maneira parecida ao que faz em nossos dias os seminômades. Os israelitas eram seminômades ansiosos por terras, e ao transumar, quando começaram a penetrar no país, acabaram por se estabelecer nas regiões de escassa densidade populacional, a partir das quais foram espalhando-se quando no princípio a expansão teve um caráter pacífico.

Noth pensa que nem todas as tribos se assentaram ao mesmo tempo, senão que cada tribo teve uma história própria de instalação. Isto significa que a ocupação israelita foi um processo que se prolongou bastante, não somente devido a que cada tribo necessitou certo tempo para tornar-se dona de seu território, senão também porque nem todas as tribos se assentaram ao mesmo tempo. A pré-história das tribos e sua instalação constituem fatos mais complexos do que nos apresenta mais tarde a tradição do Antigo Testamento.

Em suas origens, os seguidores do modelo da infiltração pacífica desconfiaram bastante de que a arqueologia pudesse apontar algum dado útil para o conhecimento deste período, sobretudo depois do uso que havia feito dela a escola de Albright. Entretanto, os dados obtidos pela investigação arqueológica recente têm apoiado este modelo. Portanto, a favor desta tese da ocupação pacífica fala o fato de os israelitas não terem destruído nenhuma cidade, pois os Hapirus já haviam feito isso e quando os israelitas chegaram foram bem recebidos por eles, indicando uma continuidade entre hapiru e israelita. Em uma imigração periódica e cíclica, não coordenada, de direções e épocas diferentes, os seminômades se estabeleceram na terra, em simbiose com os cananeus. Objeções: • a relação entre seminômade e hapiru é mal delineada; • a diversidade de opiniões dos defensores da mesma tese a enfraquece; • toma o texto demasiadamente fragmentário;

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• interpretação das provas é seletiva; • tudo a favor do Modelo da Conquista é objeção ao da imigração.

Seção 3 - Revolução campesina Em 1962, G. E. Mendenhall rompe o bipartidismo entre "assentamento pacífico" e "conquista", e propõe uma nova hipótese totalmente revolucionária em um artigo publicado no Biblical Archaeologist. Porém, o grande propagador deste modelo foi Norman K. Gottwald nos anos 70, com seu volumoso: As Tribos de Yahweh – A Sociologia da Religião de Israel Libertado.

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A tese da “Revolução Campesina” é conhecida, também, como a “tese de Mendenhall-Gottwald”.

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Estes autores criticam três pressupostos que se admitiam de forma não crítica dois modelos anteriores: • que as doze tribos entraram na Palestina desde fora, imediatamente antes da "conquista" ou durante ela; • que as tribos israelitas eram nômades ou seminômades; • que a solidariedade entre as doze tribos era étnica, e que o parentesco era a base do contraste entre israelitas e cananeus. O modelo proposto por Gottwald (1986, passim) inclui, pelo menos em teoria, estudos de tipo ecológico, sociológico, geográfico, etc. O primitivo Israel era uma formação eclética de cananeus marginados e aventureiros, pastores trasumantes, campesinos e pastores nômades, provavelmente, campesinos itinerantes e sacerdotes descontentes. Estes aventureiros são identificados por Mendenhall e Gottwald com os hapiru ou hapiru, dos quais falam as fontes egípcias desde 2000 a.C. Indivíduos que se sentem desprezadas da sociedade e que não encontram proteção nela. O nome hapiru/habiru tem grande semelhança fonética com o termo “hebreu”.

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Já notamos, na aula anterior, o fato de que as palavras “hebreu” e “hapiru” têm a mesma forma (hbr) nas línguas semíticas.

Israel surgiu de uma ruptura fundamental dentro da sociedade Cananéia, não de uma invasão ou imigração desde o exterior. Para a tese Mendenhall e Gottwald o conflito fundamental não se dá entre pastores nômades ou seminômades por um lado e agricultores sedentários por outro, senão entre o campo e a cidade, já que esta oprimia aos campesinos. Não se produziu nem uma conquista nem um assentamento pacífico, senão um processo de afastamento, não físico e geográfico, mas político e subjetivo, de amplos grupos da população em relação aos regimes políticos existentes, em resumo, uma revolução campesina contra a rede de cidades-estado cananéias e sua injusta estrutura sócio-política. A estrutura social de Israel foi um processo deliberado e consciente de "retribalização". O primitivo Israel não se entende como o resultado de um processo desde uma sociedade primitiva a una sociedade civilizada, senão como o resultado da ruptura de uma parte da população Cananéia com as estruturas classistas que a oprimiam e o estabelecimento de uma sociedade nova com estruturas sociais igualitárias. A religião de Javé foi um instrumento capital para cimentar e justificar todo o novo sistema social, marcado por um ideal igualitário frente ao precedente sistema feudal dos senhores cananeus. Segundo Mendenhall-Gottwald, o que fez cristalizar este movimento revolucionário foi a chegada de um grupo de cativos procedentes de Egito, unidos pela mesma fé em um novo deus, Javé, que os havia libertado do poder do faraó e com ele haviam estabelecido uma aliança. A sociologia da religião de Israel explica e justifica os traços distintivos da religião israelita. Nesta nova religião, a possessão da terra, a liderança militar, a "glória", o direito de mandar, tudo isso se nega aos seres humanos e se atribui somente a Deus. Contudo, o modelo recebe de igual modo que os anteriores, várias objeções: - A teoria da revolta campesina não convence totalmente, não por falta de dados, mas porque sua valorização resulta demasiadamente unilateral, e o mesmo Gottwald (1986, passim) não parece totalmente convencido. Quiçá seu erro consista em estender a todas as áreas geográficas e grupos algo que só aparece claramente atestado para a zona norte.

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- A insistência em um "ideal igualitário" do Israel pré-monárquico é sintomática, por exemplo, no canto de Débora (Juízes 5), Gottwald descobre a revolta campesina contra os senhores feudais cananeus, quando outros autores vêm aqui precisamente a existência de diferenças de classes sociais. Assim, ocorre com outras tradições, que deitam por terra o mito do "ideal igualitário" do Israel pré-monárquico. A eleição de um modelo materialista para explicar a religião em Israel, que parece demasiado simplista para um fenômeno que é muito mais complexo. Do ponto de vista da arqueologia também se tem feito críticas ao modelo da revolução. Para Gottwald, as classes baixas cananéias abandonam as cidades e se instalam na colina central, de onde se vêem obrigadas a criar uma agricultura com irrigação e roças, posto que não podiam subsistir só com o pastoreio. Porém, Gottwald não tem em conta outros dados que ao final põe por terra sua hipótese: As condições das colinas centrais são aptas para manter uma população nômade de pastoreio menor, como se tem observado entre a população árabe do lugar até quase o século XX.

A situação de pastoreio atual no século XX serve de parâmetro para argumentar sobre uma época tão distante no tempo?

Para Refletir A agricultura de irrigação não se introduz até quase nossos dias. As roças não são um elemento típico do Ferro I (começaram no Bronze Recente), nem aparecem nas zonas de assentamento mais antigas (zona mais próxima ao deserto). Não se observa uma baixa demográfica nos “Tells” cananeus nesta época que poderia ser interpretada como um abandono ou uma revolta de parte da população.

A cultura material da população da colina central é muito distinta da encontrada entre a população Cananéia, sobretudo na cerâmica e na arquitetura. Contudo, o autor tem razão ao considerar que o pastoralismo nômade desta região tem sido mal interpretado. Naquele tempo, este modo de existência tinha uma importância secundária, e era um ramal da vida rural, e não o estilo de vida de uma população originária do deserto. Antes da domesticação do camelo (século XI) não se encontra uma população significativa nos desertos do Oriente Médio e, portanto, não se pode buscar a origem dos novos moradores nessas regiões.

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Objeções: • alega-se que as provas bíblicas são fracas; • a afirmação de que os Hapirus como classe social em Amarna é forçada; • o Modelo de Revolta é retroprojeção moderna; • resta a tarefa de demonstrar a continuidade entre Hapirus e revolução camponesa.

Seção 4 - As doze tribos

Ao que tudo indica as tribos de Israel estavam separadas e, provavelmente, a assim chamada “Confederação Tribal” não tomou sua verdadeira dimensão até o final da conquista de Canaã. A tradição bíblica (JOSUÉ 2-12) de que os Israelitas vindos do Egito teriam tomado a terra de uma única vez, após o que cada tribo teria recebido um território para se estabelecer, parece simplificar um processo muito mais lento e complexo. Os indícios apresentados no livro de Josué indicam que as tribos de Efraim, Manassés eram tribos irmãs que ocuparam, respectivamente, as montanhas e a região de Siquém, sendo ambas referidas juntas como “Casa de José”. Por outro lado, nos relatos da conquista de Josué 2-11 chama a atenção o fato de que as três tribos só são mencionadas na ocupação da Palestina central, territórios das tribos de Benjamim e Efraim.

conceito

A expressão “Tribos” ou “Anfictionia Tribal” refere-se a uma federação de tribos unidas pela lealdade ao seu deus. Essa expressão é um conceito do período grego muito posterior à formação do povo de Israel no AT, portanto, anacrônica.

Nota-se que nem todas as tribos que ocuparam a planície da transjordânia atravessaram o Jordão. Rubem e Gad se estabeleceram em Yazer e Galaad por causa das abundantes pastagens. Não parece ter sido uma conquista militar, antes uma infiltração pacífica. Em Josué 10.28-43 se atribui a Josué e a todo Israel a conquista do sul da Palestina. Contudo, Juízes 1.1-21 parece refletir os fatos históricos com maior precisão atribuindo a conquista dessa região e, especialmente, de Hebrom, que veio a ser cidade mais de grande importância na tribo de Judá, a uma ação conjunta das tribos de Judá e de Simeão e de alguns clãs calebitas e quenitas. Diversas informações bíblicas indicam que a tribo de Levi ocupou o extremo meridional e, vale destacar, que os pais de Moisés eram da dita tribo e que vários filhos de Levi tinham nomes egípcios, como Finéias, Merari, Jofni. 62


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Quanto a o norte da Palestina, Josué 11 informa que Josué derrotou uma coalizão de reis cananeus do norte encabeçada pelo rei de Jasor, que resultou na tomada das cidades cananéias setentrionais. Josué 2-10, todavia, não se coaduna bem com essa versão. Ao que tudo indica a anexação dessa região ocorreu durante o processo de assentamento ou de expansão das tribos do norte. Issacar e Zebulom aparecem assentadas na Galiléia meridional (Nazaré, por exemplo, pertencia ao território de Zebulom). Essas duas tribos, juntamente com Simeão e Levi, tinham uma montanha sagrada comum, o Tabor. Já a tribo de Aser ocupava, segundo o relato de Juízes 5.7, regiões ligadas ao mar, partes ocidentais dos montes da Galiléia setentrional, próximo da costa fenícia. Na mesma zona montanhosa, pelo lado oriental, encontrava-se a tribo de Naftali.

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VocÊ SABiA

Somente muito mais tarde na história de Israel é que a região norte do território recebeu o nome de “Galiléia”.

Dã se estabelece em Sefelá e mais tarde se muda das montanhas de Judá para habitar nas nascentes do Jordão. É a história de Sansão que descreve bem os intensos contatos entre danitas e os filisteus. Os Israelitas, no período dos Juízes, se viram obrigados a se defender das constantes ameaças para manter suas possessões, contra edomitas, moabitas, amonitas e medianitas no interior do próprio país, além dos filisteus, como testemunha o livro de Juízes e I Samuel.

Seção 5 - Quadro cronológico Este quadro é para facilitar o acesso rápido às datas, aos eventos e aos personagens mais importantes dos diversos períodos. 1200-1020 1200 1146 1141 1050

Juízes – período dos juízes em Israel. Gilgamesh - epopéia de Gilgamesh registrada em cuneiforme. Nabucodonosor I – reina por 23 anos como rei da Babilônia. Filisteus – de acordo com os relatos bíblicos do livro de Samuel, os exércitos israelitas sofreram grandes perdas para os Filisteus. Filisteus – conquistaram Israel.

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Seção 6 - Esquema cronológico Na verdade é um esquema dos chamados “Juízes” que julgaram Israel. Juízes de Israel

Seção 7 - Mapa ilustrativo Pessoal! Um mapa sempre ajuda a visualizar a geopolítica dos acontecimentos.

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Mapa 4.1 – As Tribos de Israel

Disponível em: <http://universotrade.blogspot.com.br/2010/01/sociedade-biblica-mapa-3.html>. Acesso em: 23 mar. 2012.

Retomando a conversa inicial

Boa! Estamos avançando bem. Vamos recordar os tópicos principais da aula.

• Seção 1 - Conquista Militar Unificada Os estudiosos ligados a esta tese são: William F. Albright, John Bright e George E. Wright. Daí o designativo: “Tese Albright-Bright-Wright”. • Seção 2 - Infiltração Pacífica Conhecida como a “Escola Alt-Noth” a tese descreve o assentamento israelita como uma pacífica infiltração de grupos de pastores seminômades desde 65


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as zonas limítrofes do deserto até as regiões de Canaã que nessa época estavam escassamente povoadas, como um dos processos de transumância entre a borda do deserto e a colina central. Pouco a pouco essas populações vão se sedentarizando e vão adquirindo certa técnica agrícola. • Seção 3 - Revolução Campesina A tese “Mendenhall-Gottwald” defende a ideia de que Israel surgiu de uma ruptura fundamental dentro da sociedade Cananéia, não de uma invasão ou imigração desde o exterior. O conflito fundamental se dá entre o campo e a cidade, já que esta oprimia aos campesinos. • Seção 4 - As Doze Tribos A expressão “Tribos” ou “Anfictionia Tribal” refere-se a uma federação de tribos unidas pela lealdade ao seu deus. Essa expressão é um conceito do período grego muito posterior à formação do povo de Israel no AT, portanto, anacrônica. • Seção 5 - Quadro Cronológico Quadro com as principais datas e eventos do período. • Seção 6 - Esquema Cronológico Lista dos Juízes descritos no livro bíblico. • Seção 7 - Mapa Ilustrativo Mapa com a divisão do território entre as doze tribos, segundo o livro de Josué.

Sugestões de leituras e sites Leitura Resenha sobre Hebert Donner, História de Israel e dos Povos Vizinhos. Disponível em: <http://www4.mackenzie.br/fileadmin/Mantenedora/CPAJ/ revista/VOLUME_X__2005__1/marcelo.pdf> Sites • <http://www.airtonjo.com/resenhas05.htm>

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ATIVIDADES - AULA 04 Todas as atividades relacionadas a esta aula estão disponíveis na AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem da UNIGRAN (Plataforma). Para acessá-las usem a ferramenta “Sala Virtual – Atividades”. Após respondê-las não se esqueçam de enviá-las por meio do Portfólio.

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Aula 05

MONARQUIA UNIDA Continuamos na trilha histórica do povo de Israel. Nesta aula, vamos estudar o estabelecimento da Monarquia Israelita. Iniciamos apresentando os fatores que culminaram com um pedido de um rei pelo povo. Assim, inicia o período conhecido como Monarquia Unida, época na qual reinaram sucessivamente: Saul, Davi e Salomão. Nesta aula, estudaremos até os primórdios da divisão do Reino. Os seguintes objetivos de aprendizagem estão em vista nesta aula.

Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • explicar o surgimento da Monarquia em Israel; • nomear os reis e seus sucessores neste período; • explicitar os aspectos mais importantes de cada reinado. Para que vocês obtenham êxito na sua empreitada, as seguintes seções de estudo são apresentadas:

Seções de estudo • Seção 1 - Estabelecimento da Monarquia • Seção 2 - Saul • Seção 3 - Davi • Seção 4 - Salomão • Seção 5 - Prenúncios da Divisão do Reino • Seção 6 - Quadro Cronológico • Seção 7 - Esquema Cronológico • Seção 8 - Mapa Ilustrativo 69


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Preliminares Prontos(as) para mais uma etapa da nossa disciplina? Estão gostando da viagem? Pois, bem vamos tratar, nesta aula, de um período da História de Israel que nenhum vestígio arqueológico deixou. O período chamado de “Monarquia Unida” é, talvez, a etapa da história de Israel mais obscura em termos de fontes externas que elucidem as narrativas bíblicas deste período. Nem documentos, nem artefatos da cultura material (arqueológica), exceto um pequeno fragmento de referência duvidosa à casa de Davi, foram ainda encontrados sobre essa etapa tão importante da história do povo de Israel no Antigo Testamento. De qualquer forma, tendo por pressuposto de que o conhecimento da história de Israel é um entre os elementos que auxiliam a leitura do texto bíblico, este será o guia para esse período.

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Pensem nisto: Apesar da grandeza do reino de Davi e Salomão, nenhuma construção ou vestígio foi encontrado até o momento. Por que será?

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Seção 1 - Estabelecimento da monarquia O período dos juízes assiste a um gradativo agravamento da situação dos ataques externos que iniciaram com assaltos localizados e de pequenas proporções às tribos de forma individual. Depois os ataques tornaram-se massivos e coordenados de maiores proporções e de uma abrangência mais larga atingindo regiões inteiras e não apenas territórios locais das tribos. A ameaça fronteiriça é, pelo final do período dos juízes, de tal magnitude que parece natural e inevitável o pedido de um rei que possa aglutinar as forças dispersas pelas tribos (cf. I Samuel 9.16s). É o que dá a entender, também, narrativa de I Samuel 8.20. Ainda que possamos considerar o texto de I Samuel 8 como antimonárquico pelas duras críticas ao sistema e pelo fato de ver a monarquia, teologicamente, como uma rejeição de Deus por parte do povo, ele ainda é esclarecedor em relação aos motivos do estabelecimento da monarquia. Outros motivos são aduzidos pelo mesmo texto de I Samuel 8 dando conta de que a transição para outra forma de organização social foi um processo complexo que não pode ser explicado de forma monocausal, isto é, por uma única causa. 70


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Entre esses outros motivos figuram a corrupção na administração da justiça pelos filhos de Samuel, juízes por ele constituídos (I SAMUEL 8.1ss).

Por outro lado, I Samuel 9 é considerado um texto pró-monarquia e narra o encontro de Samuel com Saul, o primeiro rei de Israel, sucedido por Davi e, este, por Salomão, os três reis da monarquia unida.

Seção 2 - Saul Saul, da tribo de Benjamim, parece ter sido naturalmente escolhido pelo povo devido a sua atuação militar e consequente vitória sobre os amonitas e contra Jabes de Galaad.

Saiba mais sobre os amonitas consultando: http://pt.wikipedia.org/wiki/Amonitas

Sua unção como rei teve lugar em Gilgal, santuário local da tribo de Benjamim. Sua residência, uma pequena fortaleza em Guibá, sua cidade natal, é a primeira construção israelita de importância. Apesar de seus êxitos iniciais e das numerosas campanhas que realizou Saul não teve sucesso em libertar Israel do jugo filisteu, pelo contrário, acabou derrotado e morto em uma batalha contra os filisteus.

conceito

Os Filisteus parecem ter sido um aglomerado de diversos povos que ocuparam a Filístia. Aparecem nos documentos egípcios entre os “povos do mar”. Para Israel, desde o seu início, os filisteus sempre foram uma ameaça.

No plano da política interna, a unidade dos israelitas não se concretizou. As tribos do sul, em conflito com as tribos do norte, elegeram, no santuário de Hebrom, o rei Davi da tribo de Judá. Os relatos bíblicos dão conta, quase exclusivamente, das relações do sul com Davi, ficando o ciclo de Saul à sombra de seu grande sucessor. 71


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Seção 3 - Davi A tradição israelita tem Davi como o maior rei da história de Israel. Pertencente a tribo de Judá, faz com que a liderança política passe, de uma vez por todas, das tribos setentrionais para as meridionais, implicando que o centro nacional passou do norte para o sul, o que elevou, gradativamente, Judá a ter a importância histórica posterior. Até a ascensão de Davi, Judá tinha uma importância relativa na confederação tribal. Mas devido a sua atuação, Judá alcançou proeminência, como se pode ver em Gênesis 49.10. Como apenas a tribo de Judá havia proclamado o rei Davi, este se encarregou de conquistar a simpatia das tribos da Transjordânia e as setentrionais. Porém, estas optaram por eleger a Isbaal, filho de Saul, como rei "sobre todo Israel", o que resultou em uma série de conflitos, que só terminou com a morte de Abner, general de Saul, e Isbaal, o rei eleito.

Todos os relatos de sucessão de um governante mostram um conflito político. Nas histórias da corte israelita não foi diferente!

Para Refletir Assim, os anciãos das tribos do norte foram a Hebrom para reconhecer Davi como o rei, também de Israel (tribos do norte), o que não garantiu a unidade do reino, pois, na prática, eram duas monarquias com história diferentes, agora, sob a liderança de Davi. As narrativas bíblicas sobre o reinado de Davi dão ênfase à conquista de Jerusalém e à sucessão ao trono, entremeando com informações das duras e sucessivas batalhas contra os filisteus, ao final das quais, as cidades filistéias ficaram sujeitas ao domínio do monarca israelita. Mas não foram as únicas. Davi empreendeu guerra com seus vizinhos e suas vitórias acabaram por tornar Edom uma província de Israel; Moabe em reino tributário e Amom anexada ao território do reino. Além disso, os arameus “compraram” sua liberdade pagando pesado tributo a Davi.

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Façam uma rápida pesquisa na Internet e vejam a relevância que tiveram Moabe, Amom e Edom nas narrativas da Monarquia Unida.

Surgiu, assim, um reino autônomo na síria-palestina pela primeira vez na história desta região. Desta forma, a unidade do reino vai sendo construída passo a passo. As cidades-estado cananéias foram sendo absorvidas pelo reino por meio de estratégia variadas. Os gibeonitas foram entregues aos descendentes de Saul. Jerusalém foi tomada aos jebuseus, conquista decisiva e estratégica, pois a cidade era uma fortaleza bem protegida por muralhas e pela sua localização natural. Sua localização geográfica no limite das tribos de Judá e Benjamim; o fato de não ter pertencido a nenhuma delas e ter tido importância religiosa para os cananeus, ao que tudo indica, permitiu que a cidade de Jerusalém fosse o lugar ideal para ser a capital do reino unido.

cURioSiDADe

Ao tomar Jerusalém, Davi utiliza todo o sistema administrativo da cidade em seu governo. Assim, este sistema passa a ser o modelo na monarquia.

O ato crucial de Davi para o estabelecimento da unidade do reino foi conquistar a cidade e consagrar o antigo templo da cidade, e seu sacerdócio, a Javé, o Deus da liga tribal. Para legitimar todo esse processo, mandou trazer a Arca da Aliança de Quiriate Jearim para Jerusalém e planejou construir um santuário central para o reino. Outras medidas foram tomadas para solidificar a unidade do reino, entre elas: o censo do povo; a organização de aparato administrativo com funcionários; e o recrutamento de um exército profissional e permanente. Portanto, o reinado de Davi preparou o reino para seu sucessor Salomão. Sucessão tumultuada e sangrenta que terminou com a morte do grupo opositor ao nome de Salomão para a sucessão do rei Davi.

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Assim, começou uma dinastia, a davídica, que permaneceu no poder em Judá por mais de quatro séculos, tendo sempre como modelo o seu fundador: Davi.

Seção 4 - Salomão Tendo saído vitorioso das intrigas pela sucessão, o filho de Bate-Seba foi ungido rei com Davi ainda em vida. Após a morte de seu pai Davi, Salomão tratou de consolidar aquilo que seu pai havia construído e a expandir o reino, as atividades comerciais e dedicar-se a uma grande empreitada de construções. Sua política exterior foi diplomática, sobretudo. Ao Faraó tomou a filha como esposa recebendo por dote a cidade de Gezer. As relações com Tiro, iniciadas por Davi, foram estreitadas ainda mais. Com os povos vizinhos criou uma ampla rede de relações comerciais, tornando a Palestina em uma região de intercâmbio do comércio internacional. Dentre as atividades comerciais podemos enumerar as seguintes: • importação de cavalos da Cilícia que equipavam a cavalaria do reino e eram exportados para o Egito; • importação de material bélico do Egito compartilhado com Síria; • troca de cereais e azeite por madeira do Líbano. Some-se a isso, ainda, a frota de navios, que em colaboração com Tiro e marinheiros fenícios, fazia o transporte das mercadorias. O comércio proporcionou grandes riquezas a Salomão, riquezas gastas totalmente pela suntuosidade da corte salomônica e em muitas construções, como podemos ler nos relatos de I Reis 7 sobre os edifícios: a Casa do Bosque do Líbano; um vestíbulo com três filas de quinze colunas cada de cedro; a sala do Tribunal; o palácio do rei e o palácio da filha de Faraó; o Templo, etc. Nada pacífica e produtiva foram as relações com os edomitas e arameus. A aliança com Hadade de Edom garantiu o controle da principal rota comercial da região. Com os arameus houve uma ruptura quando Rezin estabeleceu uma dinastia independente em Damasco, dando início, assim, o esfacelamento do grande império davídico. A situação interna apresentava um fator extra para o descontentamento que resultou na divisão do reino. Salomão dividiu o seu território em doze distritos 74


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administrativos responsáveis pelo sustento da corte, deixando de fora dessa divisão a Judá, tribo da qual provinham todos os altos funcionários do reino, enquanto o restante de Israel estava submetido a pesados tributos e às levas de cananeus eram reservados os trabalhos forçados. A situação tornou-se ainda mais insuportável devido à atitude irresponsável do monarca ao vender ao rei de Tiro um distrito Galileu (norte) com vinte povoados, para financiar construções no sul. Não é, pois, sem razão que as tribos do norte cerraram fileiras para resistir aos desmandos de Salomão, tendo como cabeças o efraimita Jeroboão e o profeta Aías. Apesar do fracasso momentâneo da rebelião, o caminho estava aberto para, após a morte do rei, o reino ser dividido.

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VocÊ SABiA

O reino do Norte será chamado, entre outros nomes, de Efraim. Daí designar os moradores das regiões do norte de “efraimitas”.

A título de resumo desta parte podemos usar as considerações de AUTH (2001, p. 57-58) quando ele mostra que ao final do período dos juízes, sob as ameaças dos vizinhos, que colocaram em risco a sobrevivência do povo e seu território, fez com que o povo pedisse um rei a Samuel, o último juiz. Saul foi o primeiro rei escolhido por Samuel. Fez a transição do sistema de governo tribal para o sistema monárquico. Mesmo assim, não podemos dizer que Saul tenha deixado um Estado burocrático com uma organização estatal centralizada, com um exército permanente, um palácio, um corpo de funcionários estáveis, um santuário com um culto próprio. Nada disso havia. Talvez ele tivesse apenas certa autoridade no recrutamento das tribos, para manter uma tropa defensiva com poderes permanentes. Com Davi, a monarquia tomou um novo impulso. Era hábil político, bem-sucedido em suas campanhas militares, tinha muitas qualidades pessoais que favoreceram sua liderança inicialmente sobre as tribos do Sul e depois sobre as tribos do Norte. Davi conquistou Jerusalém e comprou a colina sobre a qual edificou seu palácio. Constituiu um exército permanente e organizou um Estado burocrático e autônomo, no qual já aparecem funções e listas de funcionários. Em seu reinado, as tribos chegaram ao máximo de sua expansão territorial. Houve muitas disputas na sucessão ao trono de Davi, com a ascensão final de Salomão. Salomão se tomou conhecido como rei sábio. A ele foram atribuídos muitos livros do Primeiro Testamento. Mas sua sabedoria está ligada à habilidade 75


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comercial e política, e não ao fato de ter escrito livros. Ele se tornou famoso pela construção do Templo de Jerusalém, onde era celebrado o culto ao Senhor. Mas Salomão foi recriminado por sua infidelidade ao Senhor, pois casou com mulheres estrangeiras que introduziram o culto a outros deuses e desviaram o coração do rei. Já no final do reinado de Salomão aparecem as revoltas das tribos do Norte, que reclamam dos pesados impostos. Alguns profetas são mencionados atuando no período de Saul e Davi. Os maiores destaques são dados ao profeta Samuel, que endossa a transição do regime tribal para a realeza, e ao profeta Natã, que dá o caráter de eleição divina à dinastia davídica. Há também a menção ao profeta Aías de Silo, que apoia a revolta de Jeroboão (l REIS 11.29-30).

Seção 5 - Prenúncios da divisão do reino

É na sequência imediata de I Reis 11, que narra o final do reinado de Salomão, que encontramos a história da divisão do reino unido em dois reinos distintos: Israel ao norte e Judá ao sul. A separação dos reinos foi um processo que teve origem mais remota. Desde a época de Josué houve um crescente acirramento de ânimos entre as tribos do norte e as do sul. Gradativamente, o sul foi ganhando importância e alcançou a supremacia com Davi e Salomão. Sob este último, o reino foi submetido a pesados tributos e a muito trabalho forçado, fatores que desgostaram as tribos do norte. Com a ascensão ao trono de Roboão, filho de Salomão, as tribos do norte solicitaram ao novo rei que aliviasse o duro “jugo” imposto por seu pai, pedido que foi negado sob a ameaça de agravamento da situação. Jeroboão, um oficial efraimita de Salomão no reino do norte, que já havia sido obrigado a se refugiar no Egito por conta da suspeita de Salomão de que ele estaria liderando a revolta, voltara, após a morte do rei e, diante da recusa de Roboão de atender às súplicas das tribos do norte, liderou uma revolta com as dez tribos do norte (Israel) e se separou das duas tribos do sul (Judá).

Seção 6 - Quadro cronológico Este quadro é para facilitar o acesso rápido às datas, aos eventos e aos personagens mais importantes dos diversos períodos.

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1020 – 922 1020

ca. (cerca de) 1000 1020-1004 ca. (cerca de) 1004-965 965-926

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Reino Unido – período do Reino Unido de Saul, Davi e Salomão. Samuel - último juiz israelita ungiu a Saul como o primeiro Rei de Israel. Saul liderou uma guerra bem sucedida contra os Filisteus. Primeiros escritos bíblicos – foram escritos a partir desse período como resultados do desenvolvimento da tradição oral. Saul - foi morto na Batalha de Gilbeá e teve como sucessor a Davi. Davi - primeiro reinou em Judá e depois também em Israel. Davi capturou Jerusalém e a tornou capital do reino. Salomão – morre Davi e seu filho Salomão reina em seu lugar. Salomão estende Jerusalém até a colina setentrional com templo e palácio. Templo – dedicação do Templo de Jerusalém, construído por Salomão.

Seção 7 - Esquema cronológico No esquema abaixo é possível ter uma ideia do período, dos acontecimentos e datas da época da Monarquia unida. Período do Reino Unido

Seção 8 - Mapa ilustrativo

Pessoal! Um mapa é um bom auxílio. Nele podemos ver a extensão do reino de Davi e Salomão. Estranho, mesmo, é não se ter nenhum relato extrabíblico dos fatos. 77


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Mapa 5.1 - Reino Unido

Disponível em: <http://coracaocristaobr.blogspot.com.br/2009/02/o-explendor-de-um-reino-10.html>. Acesso em: 07 abr. 2012.

Retomando a conversa inicial

Boa! Estamos avançando bem. Vamos recordar os tópicos principais da aula.

• Seção 1 - Estabelecimento da Monarquia O texto de I Samuel 8, além de fazer duras críticas ao sistema monárquico e ver a monarquia, teologicamente, como uma rejeição de Deus por parte do povo, ele ainda é esclarecedor em relação aos motivos do estabelecimento da monarquia.

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• Seção 2 - Saul Saul, da tribo de Benjamim, parece ter sido naturalmente escolhido pelo povo devido a sua atuação militar e consequente vitória sobre os amonitas e contra Jabes de Galaad. Sua unção como rei teve lugar em Gilgal, santuário local da tribo de Benjamim. Sua residência, uma pequena fortaleza em Guibá, sua cidade natal, é a primeira construção israelita de importância. • Seção 3 - Davi A tradição israelita tem Davi como o maior rei da história de Israel. Pertencente a tribo de Judá, faz com que a liderança política passe, de uma vez por todas, das tribos setentrionais para as meridionais, implicando que o centro nacional passou do norte para o sul, o que elevou, gradativamente, Judá a ter a importância histórica posterior. • Seção 4 - Salomão Tendo saído vitorioso das intrigas pela sucessão, o filho de Bate-Seba foi ungido rei com Davi ainda em vida. Após a morte de seu pai Davi, Salomão tratou de consolidar aquilo que seu pai havia construído e a expandir o reino, as atividades comerciais e dedicar-se a uma grande empreitada de construções. • Seção 5 - Prenúncios da Divisão do Reino A separação dos reinos foi um processo que teve origem mais remota. Desde a época de Josué houve um crescente acirramento de ânimos entre as tribos do norte e as do sul. Gradativamente, o sul foi ganhando importância e alcançou a supremacia com Davi e Salomão. Sob este último, o reino foi submetido a pesados tributos e a muito trabalho forçado, fatores que desgostaram as tribos do norte. • Seção 6 - Quadro Cronológico O quadro cronológico permite uma visão rápida e resumida do período estudado. • Seção 7 - Esquema Cronológico Esquema ilustrando os reinados durante a Monarquia unida. • Seção 8 - Mapa Ilustrativo Mapa com os possíveis limites da Monarquia Unida.

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Sugestões de leituras, sites e filmes Leitura AUTH, Romi. O alto preço da prosperidade: monarquia unida de Israel (1030931 a.E.C.). São Paulo: Paulinas, 2001. Sites • <http://www.airtonjo.com/historia19.htm> • <http://www.franciscanos.org.br/itf/revistas/estudosbiblicos/78_1.php> Filmes Vídeos - Vamos assistir aos vídeos sugeridos e confrontá-los com as narrativas dos livros de Samuel e Reis: • <http://www.youtube.com/watch?v=k3MX9xnFcI0> • <http://www.youtube.com/watch?v=E8rfVOQQ7tc> • <http://www.youtube.com/watch?v=BqtGReIrTl4> • <http://www.youtube.com/watch?v=3LdbBWDnaic>

ATIVIDADES - AULA 05 Todas as atividades relacionadas a esta aula estão disponíveis na AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem da UNIGRAN (Plataforma). Para acessá-las usem a ferramenta “Sala Virtual – Atividades”. Após respondê-las não se esqueçam de enviá-las por meio do Portfólio.

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Aula 06

MONARQUIA DIVIDIDA (ISRAEL E JUDÁ) Até este ponto já estudamos vários aspectos da história de Israel. Vamos avançar mais um pouco? Aqui dividimos o estudo em duas partes: Na primeira delas tratamos do Reino do Norte, também chamado de “Reino de Israel”. Na segunda parte apresentamos o Reino do Sul, também conhecido como “Reino de Judá”. Em cada uma das seções maiores são detalhados os principais reis e suas ações. Para esta aula estão estabelecidos os seguintes objetivos de aprendizagem:

Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • entender as disputas entre os dois reinos; • saber as causas da destruição dos reinos; • confrontar as informações bíblicas com a história geral. Para que você obtenha êxito neste empreendimento, as seguintes seções de estudo são apresentadas:

Seções de estudo • Seção 1 - Israel – Reino do Norte 81


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1.1 Quadro cronológico 1.2 Esquema cronológico 1.3 Mapa ilustrativo • Seção 2 - Judá - Reino do Sul 2.1 Quadro cronológico 2.2 Cronologia dos reis e profetas 2.3 Esquema cronológico 2.4 Mapa ilustrativo

Seção 1 - Israel - Reino do Norte Mais trabalho sobre a mesa. Vamos avançar através da História de Israel e estudar a Monarquia Dividida. Período de atuação dos Profetas. O Reino do Norte, composto pelas dez tribos do norte, tomou o nome do patriarca Jacó (= Israel), ocupando a parte do território mais favorecida por recursos naturais. Os locais mais importantes na tradição do povo de Israel permaneceram no reino do norte: Siquém, Siló, a primeira cidade que abrigou o tabernáculo; Betel, Ramá e Gilgal, onde Samuel fundou escolas de profetas e Dã, que por muito tempo foi um local de adoração (Juízes 18.14–31). Israel teve uma história de duzentos e cinquenta anos, ao longo dos quais nove dinastias se revesaram no trono, em três capitais: Siquém, Tirza e Samaria. Jeroboão foi proclamado rei em Siquém, onde fixou residência, e fez uma série de reformas religiosas destinadas a assegurar a unidade religiosa do povo, o que garantiria por certo a unidade política. Entre suas reformas constam: proibição de ir a Jerusalém; construção de bezerro de ouro como novo símbolo de Javé; designação Dã e Betel como santuários do reino; nomeação de sacerdotes não levitas e estabelecimento de um novo calendário diferente do adotado em Jerusalém. Na história de Israel essas reformas serão lembradas como o “pecado de Jeroboão”. Rapidamente as hostilidades entre os dois reinos aumentaram e se prolongaram por mais de cinquenta anos. No curso das constantes guerras entre Israel e Judá, Asa, se aliou com um inimigo de Israel, Ben-Hadad I de Damasco, aliança que só fez aumentar a tensão permanente entre os dois reinos irmãos. Até Omri (882-871 a. C.) o reino do norte não teve estabilidade dinástica e não conheceu um período de relativa paz. Omri inaugurou a quarta dinastia em Israel e somente sob seu reinado foi estabelecida uma capital estável e definitiva: Samaria.

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O “Pecado de Jeroboão I” é certamente uma expressão deuteronomística para classificar todo o pecado contra Javé e sua Torah.

Samaria teve para no reino do norte a mesma importância que Jerusalém teve para o reino do sul. Situada no centro do reino, com boas vias de comunicação, localizada estrategicamente sobre uma colina, o que facilitava as ações de defesa, era cercada de vales férteis com abundância de água. Essas suas características permitiram a Israel entrar em cena nas relações internacionais, políticas e comerciais. Omri estabeleceu alianças com os fenícios para fazer frente aos arameus que haviam conquistado algumas cidades do reino do norte. Com os sidônios a aliança foi feita através do casamento de seu filho Acabe com Jezabel, filha do rei de Sidom. Os cananeus que haviam se misturado aos hebreus no reino do norte cultuavam a Baal desde há pelo menos um século e este culto foi mesclado com o culto a Javé em Samaria estabelecendo, assim, uma estreita relação entre as religiões Cananéia (baalismo) e israelita (javismo). O bezerro de ouro forjado por Jeroboão passou a representar Baal. Essa estratégia de Omri claramente pretendia conciliar os hebreus e cananeus em torno de concepções políticas e religiosas comuns, o que garantiria a unidade do povo. Omri parece ter conseguido êxito no seu projeto, pois inscrições assírias denominavam o reino do norte como o “país de Omri”. Acabe (871-852 a.C.), filho de Omri, continuou a trajetória e os planos políticos de seu pai. Pôs fim aos conflitos com Judá que se prolongavam desde a divisão dos reinos, dando sua filha Atalia como esposa a Jorão, filho de Josafá, selando uma aliança de paz. Das atividades comerciais com os fenícios o reino do norte alcançou grande prosperidade.

Para Refletir

No campo político Acabe obteve excelentes resultados, por exemplo, derrotou Ben-Hadad II de Damasco que, em troca do perdão, fez concessões políticas e comerciais favoráveis a Israel.

A sombra do império Assírio já se projetava em direção aos reinos ocidentais impulsionada por uma política de expansão desde o século IX a.C. Contra esta política os príncipes da Síria (854 a. C.) combateram apoiadas pelas tropas de Acabe, a Salmanasar III em Karkar, junto ao Orontes. 83


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Após esse sucesso, Israel e Damasco travaram uma batalha em Ramote Galaad, na qual morreu Acabe, depois de vinte e um anos de reinado. Este é o período de atuação do profeta Elias e seu enfrentamento com os profetas de Baal. Ocozias (853-852 a. C.) sucedeu a Acabe, mas um acidente o tirou de cena. Seu irmão Jorão (852-842 a. C.) ocupou o trono e teve problemas de política exterior maiores que seus predecessores. O rei Mesa de Moabe negou-se a pagar os tributos e as expedições dos assírios davam conta do seu poder na região. Descontentes os inimigos da dinastia dos omridas deram um golpe de estado e proclamaram rei a Jeú, chefe do exército israelita, que matou Jorão (842 a.C.) em Jezrael.

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“Omridas” se refere aos descendentes reais de Omri. Ele foi fundador desta dinastia.

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Com Jeú (842-815 a.C.) teve início em Samaria a quinta dinastia, que se manteve no poder durante quase um século, entre 845 a 747 a. C. Jeú iniciou, então, uma perseguição implacável contra os adoradores de Baal e contra todos os membros da dinastia deposta. Esse ato teve o apoio dos grupos que estavam descontentes com o sincretismo entre Baal e Javé. Jeú se apresentou como restaurador do culto originário a Javé. As mudanças na liderança do Reino do Norte trouxeram muitos males ao povo, pois a política de Jeú enfraqueceu Israel como potência da Síria-Palestina, o que ocasionou um conflito com Damasco levando Jeú a pagar tributo aos inimigos da Síria, os assírios, como confirmam os registros de Salmanasar III. Diante disso, Damasco tomou do reino do norte toda a Transjordânia até Arnom. Neste período, Mesa, rei de Moabe, tornou-se independente de Israel até 840 a. C., quando Jeroboão II restituiu a Israel os territórios perdidos pelos seus antecessores. As transações comerciais trouxeram grandes riquezas ao reino, gerando um bem estar material que resultou em uma degradação religiosa, moral e social, sobretudo, ocasião propícia para a atuação implacável dos profetas Amós e Oséias. Com a morte de Jeroboão II e o final da dinastia de Jeú, Israel entra num período de agonia. O ressurgimento da Assíria, sob o comando de Tiglat-Falasar III (745726 a. C.), chamado de Pul pelo Antigo Testamento, reacende as pretensões expansionistas em direção aos reinos da Síria-Palestina.

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Tendo submetido a Síria e Manaém de Samaria (738 a.C.) impôs pesado tributos. Seu sucessor Pecaías organizou uma coalizão com Damasco e mais quatro aliados contra a Assíria. Empreenderam a guerra siro-efraimita contra Acaz de Judá para forçá-lo a entrar nesta aliança. Contudo, a recusa de Acaz veio em forma de um pedido de ajuda a Assíria. O rei assírio conquistou Damasco e tomou do reino do norte os campos de Galaad e da Galiléia, que passaram a ser as províncias assírias de Galaad, Megido e Dor. Assim, Israel ficou reduzido a zona montanhosa efraimita, tendo Samaria como capital. Quando finalmente Ozias assassinou Pecaías e aproveitando a morte de Tiglat-Falasar, suspendeu o tributo e aliou-se ao Egito, selou a ruína de Israel. Salmanasar V assediou por três anos a Samaria e se apoderou da capital em 722 a.C. Nos anais de Sargon II, sucessor de Salmanasar há notícias detalhadas. Assim, desapareceu o Estado de Israel e seu território se converteu na província assíria de Samaria. Uma parte da população foi deportada e assentada ao norte da Mesopotâmia e na Média onde foi absorvida tanto étnica como religiosamente. Em um movimento inverso, Salmanasar e também seus sucessores trouxeram para Samaria um misto de pessoas de outros países, dando origem, em solo samaritano, a um sincretismo religioso (mistura de elementos de religiões diferentes) a uma mistura étnica que se estendem até a época neo-testamentária. 1.1 - Quadro Cronológico Reino Dividido – Salomão morreu e foi sucedido pelo seu filho Roboão. Jeroboão rebela-se contra Roboão e divide o reino em dois: Judá no sul, sob Roboão e Israel no norte, sob Jeroboão. 884 Assurbanipal II – rei assírio, começa um reinado de 24 anos durante o qual ele derrotou a Babilônia e assegurou domínio assírio sobre o Oriente Próximo. 854 Acabe - de Israel uniu-se com Ben Hadad, de Damasco e Irkhuleni, de Hamat contra Salmaneser III. O Egito e Josafá, de Judá apoiaram a coalizão, mas não detiveram Salmaneser III. ca. (cerca de) 850 Elias – data provável do ministério de Elias. 842 Jeú - um soldado israelita conduziu uma rebelião contra Jeorão, o filho de Acabe, e fundou uma dinastia nova em Israel. Porém, logo se tornou vassalo dos assírios. 783 - 748 Jeroboão II – rei de Israel durante o período de prosperidade. 753 Roma – fundação de Roma. 760-750 Amós – Amós em Israel durante o reinado de Jeroboão II. ca. (cerca de) 750 Miquéias – Miquéias em Judá durante os reinados de Jotão, Acaz e Ezequias. ca. (cerca de) 745 Oséias – Oséias em Israel durante o reinado Jeroboão II. ca. (cerca de) 740-700 Isaías – Isaías em Judá durante os reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias. 926

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727 733 722

Tiglat-Falasar III, rei da Assíria (norte do Iraque). A Assíria anexa Gileade e a Galiléia do reino de Israel. Arrasa Damasco e o Norte de Israel. II Reis 15.29. Sargon II – rei da Assíria captura Samaria e põe fim ao Reino de Israel. As dez tribos são deportadas para Assíria se tornam as "Dez Tribos Perdidas". A Assíria anexa a Samaria e o resto do reino de Israel. Deportações. (II Reis 17.1-6 e II Reis 18.9-12).

1.2 – Esquema Cronológico Lista dos reis do Reino de Israel (Norte) e seus respectivos períodos de reinado. Observe que os últimos reis tiveram breves períodos de reinado.

O império Assírio que dominou no período do reino do Norte. Foi este domínio que deportou as assim chamadas “10 tribos”.

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1.3 – Mapa Ilustrativo Mapa 6.1 - Império Assírio

Disponível em: <http://seminariotemponovo.blogspot.com.br/2010/04/mapa-da-expansao-do-imperioassirio.html>. Acesso em: 07 abr. 2012.

Seção 2 - Judá - Reino do Sul O reinado de Roboão assistiu o ataque de Sheshonk na Palestina e lutas contra Jeroboão. Roboão fortificou diversas cidades em todo o reino de Judá. Seu sucessor, Josafá (870–846 a.C.) inicia uma nova etapa de entendimento com o reino do norte. Promove, em Judá, uma campanha de reforma religiosa, quase ao mesmo tempo daquela que ocorrera em Israel. Após a morte de Jorão seu filho, que tinha se casado com Atalia (845840 a. C.), filha de Acabe e Jezabel, essa se tornou rainha.

?

Atalia, cuja procedência era fenícia, introduziu em Judá o culto a Baal, ao qual construiu um templo.

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Templo destruído logo após ter sido derrubada do trono por uma revolta tramada por sacerdotes e apoiada pelo exército e o do “povo da terra”. O sumo sacerdote Jonadabe proclama rei a Joás, sucessor legítimo da linhagem de Davi. Sob Azarias (= Ozias, 787-736 a. C.) o reino do sul viveu um período de prosperidade devido a paz com o reino do norte, a fraqueza de Damasco e Assíria, incremento da agricultura e expansão do comércio exterior. Essa riqueza resultou em uma péssima situação social, o que levou o profeta Isaías a denunciar a opressão dos mais fracos. Acaz pediu ajuda aos assírios salvando o reino, em um primeiro momento, do ataque assírio. Essa atitude submeteu Judá ao domínio assírio. Ezequias (725687 a.C.), filho de Acaz, assume o trono sob o impacto da destruição do reino do norte, episódio interpretado, no sul, como castigo pelo abandono de Javé. Assim, Ezequias empreendeu uma reforma religiosa que lutava contra o sincretismo religioso, a idolatria, pelo restabelecimento do culto a Javé no templo e a centralização de todos os serviços cúlticos em Jerusalém, destruindo os chamados “altos”, lugares de adoração espalhados pelo reino. Simultaneamente, Ezequias construiu um canal subterrâneo para trazer água de Siloé para dentro dos muros de Jerusalém (cf. 2 Reis 20.20). O túnel tinha 600 metros de comprimento. Este feito está registrado na chamada inscrição de Siloé: E assim foi a questão do túnel: Enquanto os operários batiam com seus machados, cada homem acompanhava seu companheiro, e quanto faltavam três côvados para escavar, ouviu-se uma voz de homem chamando ao seu companheiro, já que havia uma fissura à direita e à esquerda na rocha. Neste mesmo dia se abriu o túnel, os trabalhadores escavaram a rocha, cada um vindo na direção do outro, até se encontrarem. E a água correu da fonte até cerca de mil e duzentos côvados. E a altura da rocha acima da cabeça dos operários era de cem côvado (PRITCHARD, 1974, p. 321).

Outra obra de Ezequias foi a construção do muro que encerrava a colina ocidental de Jerusalém. Para isso, casas foram derrubadas, como testemunha Isaías 22.10: “Também contareis as casas de Jerusalém e delas derribareis, para fortalecer os muros”. Constrói, também, uma torre de quatro metros de largura, que posteriormente foi destruída por Nabucodonosor. Novos bairros são edificados como os mencionados em Sofonias 1.10-11. No âmbito da política externa Ezequias se submeteu a Tiglatpilasar III e a Salmanasar V, reis assírios. Em 714 a.C. Alcança a maioridade e busca tornar seu reino independente, com o apoio do Egito e da Babilônia. O conflito com os assírios tem lugar em Asdode entre 713 e 711 a.C. Sargon II contra-ataca ferindo Gaza, Asdode e Asdidimmu e submete Judá a pagar tributos a Assíria durante vinte anos.

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Senaqueribe ataca Judá, conquista Lakish e dali envia o “Copeiro Mor” (cf. Isaías 36-37; 2 Reis 18-20) para desestabilizar a confiança de Judá no Egito. O profeta Isaías lembra ao povo a fidelidade de Javé e pede calma. Senaqueribe deixa a região, mas impõe pesado tributo sobre Judá. Este assédio é registrado no “Prisma de Senaqueribe” da seguinte forma: Enquanto Ezequias, o judeu, não se submeteu ao meu jugo. Sitiei e conquistei quarenta e seis de suas cidades fortificadas, fortalezas, e inumeráveis pequenas cidades da vizinhança, construindo rampas, idealizando máquinas de assalto, e com a ajuda das tropas de assalto, com brechas nos muros, com minas debaixo das pontes e investidas com infantaria. Deportei alguns deles e os despojos somaram 200.150 pessoas, jovens e velhos, homens e mulheres, e cavalos, mulas, asnos, camelos, ovelhas e carneiros em grande quantidade. Ao mesmo, o tomei por prisioneiro em Jerusalém, sua residência, como a um pássaro na gaiola (LUCKENBILL, 1924, p. 31-36).

O “Prisma de Senaqueribe”, que menciona este texto está entre as descobertas arqueológicas apresentadas na Aula 01.

Sob o reinado de Manassés (696-642 a. C.), filho de Ezequias, a política e a religião oscilam em sentido contrário. Uma onda de paganismo se estabeleceu em Judá e desfez tudo o que as reformas de Ezequias haviam conquistado. No campo político, Manassés permaneceu tributário de Asarhadon, rei da Assíria, assim como seu filho e sucessor Amon (641-640 a. C.). Josias (630-609 a.C.) assume o trono em Judá, enquanto na Mesopotâmia está havendo uma mudança das potências internacionais, isto é, o império Assírio enfrenta dificuldades internas e ataques externos que o debilitam. No ano 622 a.C. Nabopolasar se rebelou na Babilônia contra os assírios e fundou o império neobabilônico. Juntamente com os Medos conquistou Assur em 614 a.C. e Nínive em 612 a.C. Necao II, Faraó egípcio tentou ajudar o agonizante império assírio em 609 a.C., mas sem sucesso. O esforço de Josias é direcionado para buscar a independência política e a reforma religiosa.

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Lembrem-se que os muitos nomes e datas não são para serem decorados, mas para termos uma ideia do período histórico.

Para Refletir No livro de 2 Reis 22.3 se registra que o “livro da lei” foi encontrado no Templo e lido perante o rei que, consternado, convoca todo o povo e mandar ler o livro achado e ordena uma reforma baseada nos preceitos do dito livro. Entre as exigências destacam-se: A supressão dos objetos dedicados a Baal e a Asserá; a derrubada dos “lugares altos” (santuários locais) e seus sacerdotes que não podiam oficiar junto com os sacerdotes de Jerusalém; a destruição do altar de Betel, que Jeroboão havia construído (2 REIS 23.15; cf. 1 REIS 12.31-32); a eliminação dos necromantes, adivinhos (2 REIS 23.24; cf. DEUTERONÔMIO 18.11) e dos ídolos; e a centralização do culto no templo de Jerusalém (2 Reis 23.8; cf. Deuteronômio 12). Ao final de tais reforma, celebra-se a Páscoa em Jerusalém. Há que se notar que esta reforma religiosa parece ter tido origem nas tradições do reino do norte trazidas, desde o tempo de Ezequias, pelas pessoas procedentes de Samaria que fugiram dos assírios e se instalaram em Jerusalém, tradições essas proféticas com duras críticas a idolatria. Nabucodonosor reina na Babilônia e procura impor-se na Palestina. Mas o Egito impede que isso aconteça imediatamente. Em 598 a.C. Nabucodonosor realiza o primeiro cerco a Jerusalém, que está dividida entre os partidários da rendição, tendo Jeremias, o profeta, como seu porta-voz e os partidários do enfrentamento, aliados com o Egito. Depois de um cerco de dois anos, acontece a primeira deportação de judaítas para a Babilônia. Além dos tesouros, são levados também artesãos, políticos e sacerdotes. O rei Joaquim é feito prisioneiro e em seu lugar é posto Sedecias. Uma segunda deportação ocorre uma década depois. Sedecias conspira contra a Babilônia com o apoio egípcio, o que provoca um novo cerco, em 588 a.C., de Nabucodonosor, que entra em Jerusalém 587/586 a.C. ateia fogo no templo derruba as muralhas, degola os filhos do rei, vaza-lhe os olhos e o leva para a Babilônia. Uma parte da população vai para o exílio e outra permanece nas zonas rurais de Judá e nas ruínas de Jerusalém. Ademais, os vizinhos, sobretudo os edomitas, aproveitaram a oportunidade e entraram nos territórios deixados vagos pela deportação. Godolias assume como governador da agora província.

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2.1 - Quadro Cronológico Este quadro é para facilitar o acesso rápido às datas, aos eventos e aos personagens mais importantes dos diversos períodos. 711 701

715 - 697 696-642 642-640 682 625-610 ca. (cerca de) 626-585 640-609 622

621 615-598 612 609 609 608-598 605

ca. (cerca de) 605

597

596-586

A Assíria esmaga a resistência centrada em Asdode (filisteus). Sob o governo de Senaqueribe, a Assíria esmaga a resistência de Judá. 46 cidades destruídas. 200.150 pessoas deportadas. Jerusalém, sob o governo de Ezequias, se rende e sobrevive. Ezequias – governa Judá. Manassés – Foram 55 anos de terror. II Reis 21.16. Amom – Continuou a repressão do pai. II Reis 21.19-26. Judá – submetida ao domínio da Assíria. Naum – Naum em Judá durante sob Josias. Jeremias – Jeremias em Judá. Depois da morte do rei Assurbanipal, a Assíria declina. Judá expande-se com o rei Josias. Josias – “Povo da Terra” coloca um menino de 8 anos para governar. Lei de Moisés – uma versão do Deuteronômio é descoberto no Templo de Jerusalém pelo sacerdote Hilquias, durante o reinado de Josias que o adotou como lei. II Reis 22-23. Sofonias – Sofonias sob Josias. Reformas religiosas de Josias. Abole santuários fora de Jerusalém. Habacuque – Habacuque em Judá. Babilônia captura Nínive. Necao – do Egito derrota e mata Josias, Rei de Judá na Batalha de Megido. Joacaz – (3 meses). É deposto pelos egípcios. II Reis 23.31-33. Eliaquim/Joaquim – (pai) Posto pelo Egito. II Reis 23.34-35. Nabucodonosor II - o Grande, se torna o Rei de Babilônia (até 561). Ele derrota Necao II e os egípcios em Carquemish, na Síria – Judá fica sob domínio babilônico Zoroastro - (Zaratustra) líder religioso persa funda o Zoroastrismo - uma fé que dominará o império de Persa durante séculos e terá um efeito profundo no Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Babilônia, sob governo de Nabucodonosor, torna-se a nova potência mundial. Joaquim/Jeconias – (filho) (Jeremias 22.24) (3 meses). Antibabilônico. Ocorre o 1o exílio com a desmilitarização de Judá. A nobreza é exilada (10 mil pessoas). II Reis 24.8-17. Os babilônios sufocam uma revolta e capturam Jerusalém. O rei Joaquim é deportado com muitos cidadãos, inclusive Ezequiel. Sedecias é nomeado rei. Matanias/Sedecias – Rebela-se contra a Babilônia e suspende o tributo

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Jerusalém - destruição de Jerusalém e do Templo por Nabucodonosor (ca. 630-532) que leva parte da população em cativeiro para a Babilônia. Os babilônios sufocam uma segunda revolta, destroem Jerusalém e o templo, deportam Sedecias e muitos cidadãos e instalam o governador de Judá (Godolias) em Mispá, 13 km ao norte de Jerusalém. Jeremias 52.28-30, II Reis 24.18-25.30.

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2.2 - Cronologia dos Reis e Profetas REINO UNIDO SAUL (1020) DAVI (1000) SALOMÃO 960

Samuel Natã, Gade

REINO DIVIDIDO ISRAEL REI Jeroboão I (926901) Nadab (901-909) Baasa (900-877) Ela (877-876) Zambri (876) Amri (876-869) Acabe (869-850) Ocozias (850-849) Jorão (849-842) Jeú (842-815) Joacaz (815-801) Joás (801-786) Jeroboão II (786746) Zacarias (746-745) Selum (745) Manaem (745-738) Facéias (738-737) Facéia (737-732) Oséias (732-724)

JUDÁ PROFETA

Aías, Semaías, Ido

REI Roboão (926-915) Abiam (915-913) Asa (913-873)

Azarias

Jeú

Elias, Micaías Eliseu

Josafá (873-849) Jorão (849-842) Atalia (842-835)? Joás (837-800) Amasias (800-783)

Amós, Oséias

Uzias (783-742)

Joatão (742-735) Acaz (735-715) Oséias

Ezequias (715-687) Manasses (687-642) Amon (642-640)

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PROFETA

Isaías, Miquéias


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Josias (640-609)

Jeremias, Sofonias

Joacaz (609) Jeoaquim (609-598) Naum, Habacuque Joaquim (598-597) Sedecias (597-587)

2.3 – Esquema Cronológico Lista dos reis do Reino de Judá (Sul) e seus respectivos períodos de reinado. Monarquia do Reino de Judá

Pessoal! Um mapa é um bom auxílio. Nele podemos ver a extensão do reino de Davi e Salomão. Estranho, mesmo, é não se ter nenhum relato extrabíblico dos fatos.

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2.4 – Mapa Ilustrativo Mapa 6.1 - Os Reinos de Israel e Judá

Disponível em: <http://www.dannybia.com/danny/map_pesq/reinos_israel_juda.htm>. Acesso em: 07 abr. 2012.

Retomando a conversa inicial

Boa! Estamos avançando bem. Vamos recordar os tópicos principais da aula.

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• Seção 1 - Israel - Reino do Norte O Reino do Norte, composto pelas dez tribos do norte, tomou o nome do patriarca Jacó (= Israel), ocupando a parte do território mais favorecida por recursos naturais. Os locais mais importantes na tradição do povo de Israel permaneceram no reino do norte: Siquém, Siló, a primeira cidade que abrigou o tabernáculo; Betel, Ramá e Gilgal. • Seção 2 - Judá - Reino do Sul O reinado de Roboão assistiu o ataque de Sheshonk na Palestina e lutas contra Jeroboão. Roboão fortificou diversas cidades em todo o reino de Judá.

Sugestões de leituras, sites e filmes Leituras Reino de Israel. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Reino_de_Israel> Reino de Judá. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Reino_de_ Jud%C3%A1> Sites • <http://biblianua.vilabol.uol.com.br/arqueol.htm> • <http://www.airtonjo.com/historia21.htm> Filmes • Vídeo: <http://www.youtube.com/watch?v=8qydoKl448M>

Podemos estudar um pouco mais? Então, façamos um paralelo entre os textos bíblicos e os extrabíblicos mencionados nesta aula.

ATIVIDADES - AULA 06 Todas as atividades relacionadas a esta aula estão disponíveis na AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem da UNIGRAN (Plataforma). Para acessá-las usem a ferramenta “Sala Virtual – Atividades”. Após respondê-las não se esqueçam de enviá-las por meio do Portfólio.

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OBS: Não esqueçam! Se persistirem dúvidas, acessem as ferramentas “fórum” ou “quadro de avisos”. Ou enviem e-mail para: jcristofani@unigran.br

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Aula 07

EXÍLIO E PÓS-EXÍLIO

Vamos avançar? Os períodos da história de Israel que vamos estudar nesta aula marcam o fim dos Reinos e o retorno da população após o cativeiro. Há dois pontos de vista a serem considerados: um é o ponto de vista das pessoas que foram deportadas. O outro ponto de vista a ser considerado é o daqueles que permaneceram na terra e não foram mandados para o exílio. Assim, esta aula abordará os motivos do exílio, a situação do povo fora da terra e dentro dela e ainda o retorno sob Ciro, o grande.

Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • saber os motivos do exílio; • compreender os pontos de vistas diversos destes acontecimentos; • ler os textos bíblicos do período com maior embasamento histórico. Para que vocês obtenham êxito neste empreendimento, as seguintes seções de estudo são apresentadas:

Seções de estudo • Seção 1 - Exílio Babilônico • Seção 2 - O Retorno • Seção 3 - Literatura do Período 97


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• Seção 4 - Reforma econômica de Neemias 5 • Seção 5 - Cisma Samaritano • Seção 6 - Quadro Cronológico • Seção 7 - Esquema Cronológico • Seção 8 - Mapa Ilustrativo

Seção 1 - Exílio babilônico Estamos avançando para o final. Esta é a nossa penúltima aula. Com ela chegamos aos períodos Exílico e Pós-Exílico. O exílio teve como consequências principais: A perda da terra e sua posse; a perda da monarquia e da independência política; e a perda do templo, que dava a identidade nacional. Na Babilônia os que foram exilados: (2 REIS 24.10-17; 2 REIS 25) formavam grupos, como se pode ler em Ezequiel 3.15, trabalhavam na lavoura, conforme Jeremias 29.5. Talvez, também, na construção civil (canais no rio Quebar?) e cultivaram as tradições do povo (Sábado, Circuncisão).

cURioSiDADe

Referências ao rio Quebar e aos “Rios da Babilônia” provavelmente indicam trabalhos na construção de canais nos grandes rios da mesopotâmia.

Deste período data a literatura de Ezequiel (593-571 a.C.); Isaías 40-55 (550540 a.C.); Gênesis 1-11; Levítico 17-26; e vários Salmos (REIS 137, por exemplo). Convém lembrar, todavia, que nem toda a população foi levada cativa. Muitos ficaram na terra de Judá (II REIS 24.14; II REIS 25.12,22; JEREMIAS 40.712). Esses que ficaram na terra contam cerca de 100 mil pessoas. Reconstruíram o altar, fizeram uma reforma agrária (JEREMIAS 39.10) e, sob Godolias, repopularam a terra (JEREMIAS 40.9-12). 7 Ouvindo, pois, os capitães dos exércitos que estavam no campo, eles e seus homens, que o rei da Babilônia nomeara governador da terra a Gedalias, filho de Aicão, e que lhe havia confiado os homens, as mulheres, os meninos e os mais pobres da terra que não foram levados ao exílio, para a Babilônia, 8 vieram ter com ele a Mispa, a saber: Ismael, filho de Netanias, Joanã e Jônatas, filhos de Careá, Seraías, filho de Tanumete, os filhos de Efai, o netofatita, Jezanias, filho do maacatita, eles e os seus homens. 9 Gedalias, filho de Aicão, filho de Safã, jurou 98


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a eles e aos seus homens e lhes disse: Nada temais da parte dos caldeus; ficai na terra, servi ao rei da Babilônia, e bem vos irá. 10 Quanto a mim, eis que habito em Mispa, para estar às ordens dos caldeus que vierem a nós; vós, porém, colhei o vinho, as frutas de verão e o azeite, metei-os nas vossas vasilhas e habitai nas vossas cidades que tomastes. 11 Da mesma sorte, todos os judeus que estavam em Moabe, entre os filhos de Amom e em Edom e os que havia em todas aquelas terras ouviram que o rei da Babilônia havia deixado um resto de Judá e que havia nomeado governador sobre eles a Gedalias, filho de Aicão, filho de Safã; 12 então, voltaram todos eles de todos os lugares para onde foram lançados e vieram à terra de Judá, a Gedalias, a Mispa; e colheram vinho e frutas de verão em muita abundância.

É desse período a literatura de Lamentações de Jeremias; Jeremias (630-586 a.C.); Obadias (585-580 a.C.) e a “Obra Histórica Deuteronomista” (Deuteronômio, Josué, Juízes, I e II Samuel, I e II Reis). 1.1 – Quadro Cronológico Este quadro é para facilitar o acesso rápido às datas, os eventos e os personagens mais importantes dos diversos períodos:

586/2 559 539

Godolias assassinado. Os líderes restantes de Judá fogem para o Egito, levando Jeremias. Ciro, o Grande, se torna o Rei de Pérsia (até 530), criando o Império Persa. Ciro e Nabonides contra os Medos. Ciro conquista Babilônia com a ajuda de forças internas. Província – Ciro torna Judá e Fenícia em províncias Persas.

Seção 2 - O retorno Judá só voltou do exílio babilônico quando este ruiu no ano 539 a.C. sob o ataque de Ciro. Como a Palestina era uma província submetida ao reino da Babilônia, os persas (dinastia Aquemênida) tomaram posse dela também. Por meio de um decreto real, Ciro concedeu liberdade aos exilados para voltarem para sua terra e reconstruir o templo de Javé em Jerusalém.

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Sobre a “Dinastia Aquemênida” vejam: <http://pt.wikipedia. org/wiki/Imp%C3%A9rio_Aquem%C3%AAnida>

Sob a liderança de Sassabassar, a quem Ciro havia encarregado dessa missão e outorgado o título de Governador, um grupo de judaítas retornou a Jerusalém em 538 a.C. para iniciar as obras de reconstrução do templo. Todavia, só conseguiram levantar o altar dos holocaustos. A sonhada reconstrução teve lugar quando, em 521 a.C., um grande grupo de exilados, chefiado pelo davidida Zorobabel, retornou para a Palestina e, animados pela pregação dos profetas Ageu e Zacarias, iniciaram as obras em 520 a.C. Após muito trabalho, dificuldades e conflitos com os samaritanos, consagraram o templo em 515 a. C. O império persa teve em Dario I (521-485 a.C.) seu organizador que dividiu o império em vinte Satrápias (= províncias). A Palestina era parte de quinta Satrápia, com sede, provavelmente, em Samaria. Todavia, Jerusalém teve uma relativa independência com Neemias, que no ano vinte de Artaxerxes I (= 445 a.C.) chegou a cidade com grandes poderes da corte persa para reconstruir as muralhas da cidade.

conceito

Satrápia era uma província do Império Persa. O nome dado aos governadores das províncias, as chamadas Satrápias, eram Sátrapa.

A reconstrução foi possível por conta da política persa de permitir às comunidades locais autonomia religiosa para evitar levantes políticos. Com a missão de Esdras no ano sete de Artaxerxes II (398 a.C.) esta política foi confirmada. O período Persa trouxe algumas novidades que serviram de alavanca para o desenvolvimento histórico do período. Entre as inovações do período persa temos: a. Introdução da moeda “Dárico” (8,42 g. de ouro); b. Criação de correio a cavalo; c. Expansão e conservação das vias de comunicação – estradas. O Retorno conheceu diversos projetos de reconstrução da nação: • Sacerdócio - Ezequiel 40-44. Conservador; • Altar - Sassabassar - alicerce e altar – 18 anos parados Esdras 3.1-13; • Templo - Zorobabel - príncipe (AGEU 1-2). Messiânico – davídico; 100


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• Povo - (Rute 1-4). Popular; • Cidade – Neemias - muros, cidades, palácio – reforma econômica. Populista; • Raça pura – Esdras – identidade (genealogia) assegurava a terra. Legalista.

Seção 3 - Literatura do período A literatura desta época pode ser alistada assim: 1. Profetas: • Ezequiel 40-44; • Isaías 56-66; • Ageu; • Zacarias (1-7) • Malaquias. 2. Entre os Escritos, terceira parte do Cânon, encontramos: • Esdras; • Neemias; • Jó; • Rute; • Jonas; • Provérbios; • Cântico dos Cânticos. Numa leitura de Neemias 7.6-72 e Esdras 2.1-70 podemos observar diversas classes sociais que existiam: Príncipes/Sumo Sacerdote; Chefes de família; Sacerdotes; Levitas; Cantores/Porteiros; Levitas de segunda categoria; Escravos; Doados (como escravos). Vemos aí toda uma estruturação social, que privilegia os sacerdotes. Esdras estabelece a Torah como estatuto político e religioso. Devem observar a “lei de Deus, que é a lei do rei” (ESDRAS 7.26). A questão da terra é uma questão de herança. Os chefes de família devem provar, pela sua genealogia, que têm direito a terra. Isto é, proporciona um título jurídico. Tem um título de cidadania, conquistado pela pertença ao povo judeu, o que lhes garante a posse da terra; proporciona direito à propriedade que tinham antes do exílio e garante a moradia. Como consequências têm: Autonomia de algumas famílias. Garantia da passagem de seus títulos aos filhos; Controle do poder. Vão fazendo um afunilamento. No tempo de Jesus havia só 4 famílias sacerdotais; Privilégios 101


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destas famílias. Os anciãos têm direito de acordo com a família a que pertencem. Aqui estaria a gênese do Sinédrio.

Aqui, neste período, germinam sementes das instituições que encontraremos no período do Novo Testamento.

Para Refletir A agricultura passa da agricultura de subsistência para culturas mais rendosas: trigo, oliveira, parreira. O camponês que planta para sua subsistência vai sendo espoliado paulatinamente. O artesanato perde sua função econômica. O comércio se dá à base de produtos. Uma novidade importante do Império Persa foi a imposição da moeda como valor monetário. O judeu devia produzir muito, para poder comprar as moedas de prata, exigidas pelo imposto. A burguesia da época não se importava de pagar, desde que se lhe deixasse o poder.

Seção 4 - Reforma econômica de Neemias 5 Em Neemias 5.1-5 vemos uma queixa dos oprimidos. 5.6-13 a reforma propriamente dita e 5.14-19 o exemplo de Neemias. A situação do empobrecimento (1-5) é um verdadeiro círculo vicioso: dívida – não se pode pagar e então vende a terra (hipoteca) e vende a família como escrava – pede mais dinheiro emprestado, para pagar tributo. 6 Ouvindo eu, pois, o seu clamor e estas palavras, muito me aborreci. 7 Depois de ter considerado comigo mesmo, repreendi os nobres e magistrados e lhes disse: Sois usurários, cada um para com seu irmão; e convoquei contra eles um grande ajuntamento. 8 Disse-lhes: nós resgatamos os judeus, nossos irmãos, que foram vendidos às gentes, segundo nossas posses; e vós outra vez negociaríeis vossos irmãos, para que sejam vendidos a nós? 9 Então, se calaram e não acharam o que responder. Disse mais: não é bom o que fazeis; porventura não devíeis andar no temor do nosso Deus, por causa do opróbrio dos gentios, os nossos inimigos? 10 Também eu, meus irmãos e meus moços lhes demos dinheiro emprestado e trigo. Demos de mão a esse empréstimo. 11 Restituí-lhes hoje, vos peço, as suas terras, as suas vinhas, os seus olivais e as suas casas, como também o centésimo do dinheiro, do trigo, do vinho e do azeite, que exigistes deles. 12 Então, responderam: Restituir-lhes-emos e nada lhes pediremos; 102


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faremos assim como dizes. Então, chamei os sacerdotes e os fiz jurar que fariam segundo prometeram. O bom exemplo de Neemias. 13 Também sacudi o meu regaço e disse: Assim o faça Deus, sacuda de sua casa e de seu trabalho a todo homem que não cumprir esta promessa; seja sacudido e despojado. E toda a congregação respondeu: Amém! E louvaram o Senhor; e o povo fez segundo a sua promessa. (NEEMIAS 5.6-13, 2005).

A reforma de Neemias atinge a parte das hipotecas (6-13): Vão devolver a terra e tudo que ela produziu. Quanto aos escravos, estes continuavam. Apenas compram os escravos vendidos aos estrangeiros. Um escravo judeu passa a ser escravo de judeu. Não exigia Neemias o pão gordo do governador (14-19). Os nobres comiam à sua mesa, mas ele pagava as despesas, o que os outros não faziam. A pressão social forçou Neemias a tomar 5 medidas (NEEMIAS 10.31-38).

Seção 5 - Cisma samaritano

conceito

O chamado “Cisma Samaritano” se refere ao conflito entre judeus e samaritanos durante a reconstrução dos muros de Jerusalém.

Já desde há muito, por causa dos povos transladados para o reino do norte na época assíria, o sincretismo étnico e religioso acirrou os ânimos entre os judeus e os samaritanos. O cisma tornou-se inevitável quando a administração persa tinha submetido Jerusalém ao governo de Samaria, mas ao mesmo tempo deu a Jerusalém e seu templo certa autonomia em relação ao governo da satrapia em Samaria. A gota d´água foi a nomeação de Neemias como governador provincial. Sambalate, então governador da província em Samaria, descontente, tratou de acirrar os ânimos entre Jerusalém e o poder central persa. Na continuidade da política de separação, os Samaritanos construíram um templo no monte Gerazim pelo final do século IV a.C. que teve duração até o reinado de João Hircano que mandou destruí-lo em 107 a.C.. Contudo, em o Novo Testamento continuou sendo local de sacrifícios dos samaritanos.

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Seção 6 - Quadro cronológico Este quadro é para facilitar o acesso rápido às datas, aos eventos e aos personagens mais importantes dos diversos períodos. 538

538 - 398 538-520

520 - 515 521 520 465 458 458 445 ca. (cerca de) 400 350 334

Edito de Ciro - permite que alguns judeus voltem a Judá depois de 49 anos de exílio na Babilônia. Ciro, o persa, vence os babilônios e logo permite que os exilados judeus retornem e que o templo seja restabelecido (Esdras 1.1-5; 6.3-5). Retornos: 538 a.C. (Esdras 1.1-11 e 5.14); 520 a.C. (Esdras 2.1-70); 445 a.C. (Neemias 2.1ss); 398 a.C. (Esdras 7.1-8.38). O império está organizado em: Rei; Sátrapas e Governadores. Judá tem governo próprio e continua pagando tributo ao império. Sassabassar: utensílios do templo e reconstrução do altar e alicerces. Segundo Templo - judeus que voltaram do exílio constroem o Segundo Templo. Dario I – torna-se governador da Pérsia (até 486). Época de Zorobabel e Josué e dos profetas Ageu e Zacarias. Restauração – trabalho de restauração é retomado no Templo em Jerusalém e completado em 515. Artaxerxes I – até 424. Missão de Neemias. Artaxerxes II – até 359. Esdras – volta a Jerusalém e estabelece as bases para o judaísmo. Despedida dos estrangeiros. Neemias – reconstrói os muros de Jerusalém. Torá – Lei (= Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), é estabelecida como escritura canônica. Revolta – fracassa revolta judaica contra os persas. Alexandre – o Grande, começa campanha na Pérsia, derrota Dario em Issos e morre na Babilônia em 323.

Seção 7 - Esquema cronológico A História de Israel em seus primórdios pode ser vista no esquema a seguir.

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Pessoal! Um mapa sempre ajuda a visualizar a geopolítica dos acontecimentos.

Seção 8 - Mapa ilustrativo Mapa 7.1 - Impérios Babilônico, Persa e Grego

Disponível em: <http://semeandoabiblia.blogspot.com.br/>. Acesso em: 07 abr. 2012.

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Retomando a conversa inicial

Muito, muito bem! Chagamos ao final da penúltima aula. Vamos recordar.

• Seção 1 - Exílio Babilônico O exílio teve como consequências principais: A perda da terra e sua posse; a perda da monarquia e da independência política; e a perda do templo, que dava a identidade nacional. • Seção 2 - O Retorno Judá voltou do exílio babilônico quando este ruiu no ano 539 a.C. sob o ataque de Ciro. Como a Palestina era uma província submetida ao reino da Babilônia, os persas (dinastia Aquemênida) tomaram posse dela também. Por meio de um decreto real, Ciro concedeu liberdade aos exilados para voltarem para sua terra e reconstruir o templo de Javé em Jerusalém. • Seção 3 - Literatura do Período A literatura desta época pode ser alistada assim: 1. Profetas: Ezequiel 40-44; Isaías 56-66; Ageu; Zacarias (1-7) Malaquias. 2. Entre os Escritos, terceira parte do Cânon, encontramos: Esdras; Neemias; Jó; Rute; Jonas; Provérbios; Cântico dos Cânticos. • Seção 4 - Reforma econômica de Neemias 5 Em Neemias 5.1-5 vemos uma queixa dos oprimidos. 5.6-13 a reforma propriamente dita e 5.14-19 o exemplo de Neemias. A situação do empobrecimento (1-5) é um verdadeiro círculo vicioso: dívida – não se pode pagar e então vende a terra (hipoteca) e vende a família como escrava – pede mais dinheiro emprestado, para pagar tributo. • Seção 5 - Cisma Samaritano O chamado “Cisma Samaritano” se refere ao conflito entre judeus e samaritanos durante a reconstrução dos muros de Jerusalém.

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• Seção 6 - Quadro Cronológico Quadro de visualização rápida dos principais personagens e eventos do período. • Seção 7 - Esquema Cronológico Esquema visual do período de dominação estrangeira. • Seção 8 - Mapa Ilustrativo Mapa com os três principais domínios deste período: Impérios Babilônico, Persa e Grego.

Sugestões de leituras e sites Leituras AUTH, Romi. Deus também estava lá: exílio na Babilônia. São Paulo: Paulinas, 2002. Sites •<http://www.comunidadecarisma.net/portal/colunistas/arquivos/ Per%C3%ADodo%20p%C3%B3s-ex%C3%ADlico%20.pdf> • <http://www.salvatorianos.org.br/biblico_exiliobabilonia.htm> • <http://www.salvatorianos.org.br/biblico_periodoposex.htm> • <http://wapedia.mobi/pt/Hist%C3%B3ria_de_Israel>

Vamos para um novo desafio? Que tal fazer um esboço de algum livro bíblico deste período estudado?

ATIVIDADES - AULA 07 Todas as atividades relacionadas a esta aula estão disponíveis na AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem da UNIGRAN (Plataforma). Para acessá-las usem a ferramenta “Sala Virtual – Atividades”. Após respondê-las não se esqueçam de enviá-las por meio do Portfólio.

OBS: Não esqueçam! Se persistirem dúvidas, acessem as ferramentas “fórum” ou “quadro de avisos”. Ou enviem e-mail para: jcristofani@unigran.br

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Aula 08

PERÍODO GREGO Chegamos, afinal, no fim da jornada através da história de Israel. Com esta última aula, estamos na antessala do Novo Testamento. Muito do que aconteceu neste período influenciou de forma determinante o desenvolvimento histórico e literário que encontramos no Segundo Testamento. O domínio grego após a morte de Alexandre, o Grande, tanto no Egito quanto na Síria, tiveram como palco de conflito a Palestina. Com isso, muitos eventos ocorridos nesta região tiveram a participação, direta ou indiretamente, do povo de Israel. Foi mesmo nesta época que judeus tiveram um breve período de independência político-administrativa, até Roma tomar o poder da palestina em 63 a.C. Com base nos temas tratados nesta aula os seguintes objetivos foram estabelecidos.

Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • identificar a linha histórica do Antigo Testamento com seus os principais eventos; • compreender as influências do período estudado sobre o Novo Testamento; • constatar o surgimento da Apocalíptica como gênero literário e movimento social. Para que vocês obtenham êxito neste empreendimento, as seguintes seções de estudo são apresentadas: 109


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Seções de estudo • Seção 1 - Período Grego • Seção 2 - Lágidas e Ptolomeus – 301-198 a.C. • Seção 3 - Selêucidas – 198 a 128 a.C. (167) • Seção 4 - Asmoneus – linha sucessória de Judas Macabeus • Seção 5 - Martírio e Ressurreição • Seção 6 - Quadro Cronológico

Seção 1 - Período grego Muito bem gente! Chegamos ao final da disciplina. Esta última aula trata do período grego. Esta foi a etapa da História de Israel que antecedeu imediatamente o Novo Testamento. E são deste período muitos elementos que encontramos na época de Jesus. O período grego, também conhecido como helênico, foi a reorganização do mundo da época. Alexandre, o Grande, sai da Macedônia e em 10 anos conquista toda a região que era o Império Persa. Na passagem para conquistar o Egito, conquistou a Palestina, corredor estratégico do comércio. Mapa 8.1 – O Império de Alexandre

Disponível em: <http://alexandreolsson.blogspot.com.br/2011/06/imperio-macedonico.html>. Acesso em 07 abr. 2012.

Depois de sua morte, 4 de seus generais dividiram o Império, em guerras que duraram uns 50 anos. No Egito ficaram os Lágidas/Ptolomeus. Na Síria, os Selêucidas. Na disputa pela Palestina, os Ptolomeus conseguiram a hegemonia de 301 a 198 a.C.

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VocÊ SABiA

A designação “Reino dos Ptolomeus” e “Reino dos Selêucidas” se devem ao nome de dois generais de Alexandre: Ptolomeu e Selêuco.

Mapa 8.2 - O Império grego após a morte de Alexandre

Disponível em: <http://geografia-biblica.blogspot.com.br/2009/03/mapa-imperio-grego-apos-morte-de. html>. Acesso em 07 abr. 2012.

Seção 2 – Lágidas e Ptolomeus – 301-198 a.C. O projeto grego de Alexandre era baseado no comércio: taxa alfandegária, língua grega comum para o comércio, pedágio, interesse nas minas de prata. Era uma dominação política com liberdade religiosa. Tentam implantar as características da polis grega: poucos cidadãos e muitos escravos. Isto se chama helenização. As consequências disso foram: a) Política – aliança do poder judeu com os Lágidas/Ptolomeus. Produção para exportar; b) Social – acordo dos “poderes” coloca a população à margem do sistema e c) Cultural – rompimento com a Torah, que era a “tradição dos pais”. Surge a família dos Tobíadas. Tobias era um colaboracionista latifundiário, que sob Ptolomeu II assumiu o comando da tropa militar (estragego), o trabalho da cobrança dos impostos e casou-se coma filha de Onias II, sumo sacerdote, de origem sadoquita. Isto mantinha o poder na família = econômicopolítico+religioso.

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O termo “sadoquita” é designativo para os Sacerdotes da linhagem de Sadoc, sacerdote da época de Davi. cURioSiDADe

José, filho de Tobias, aparece sob Ptolomeus III. Foi colocado em 2º lugar, logo depois após o sumo sacerdote, que depois foi por ele suplantado. Nomeado coletor de impostos (exator-mor) da Síria, Palestina e Fenícia, dobra o valor dos impostos e não tira mais dinheiro do Templo para pagar o tributo. O soberano arrenda a cobrança do imposto, mas cobra antecipadamente do arrendatário, que o recupera através do arrecadamento exploratório. Figura 8.1 - Moeda de Ptolomeu I

Disponível em: <http://www.forum-numismatica.com/viewtopic.php?f=56&t=22331>. Acesso em 07 abr. 2012.

O templo não só concentra o poder político e religioso, mas também o econômico. Havia 2 espécies de bancos: o de rentabilidade e o de guardar dinheiro. O templo era deste 2º tipo. Aumenta a pressão sobre os agricultores. Os nobres passam a participar da exploração do povo, que deve produzir mais, com menos condições. Aumenta a influência do Estado. Hircano, filho de José, continuou fiel aos Ptolomeus e contrário aos Selêucidas.

Seção 3 - Selêucidas - 198 a 128 a.C. (167) O período do domínio selêucida vai até 167, quando acontece a derrota dos Macabeus, mas colocamos 128, por ser esta a data do último rei selêucida. Os selêucidas conquistaram o corredor palestino. Ptolomeu V Epífanes perdeu a batalha de Panas e o domínio passou para os Antíocos.

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VocÊ SABiA

“Macabeus” se refere a família que iniciou a resistência contra os Antíocos. Macabeus significa “martelos”.

Antíoco III propõe um decreto econômico-social, com o objetivo de prejudicar o Egito: 3 anos de isenção para quem voltasse do Egito: e diminuição de 1/3 dos impostos para os habitantes de Jerusalém. Ele isentou também o culto e seus funcionários dos impostos coletivos e pessoais e subvencionou o culto (2 Macabeus 3, 1-3). Anistiou os escravos e deu o direito de retorno à própria terra. Continuou a helenização. Adotou o estatuto da Polis grega. Os anciãos que comandavam a cidade passam a formar o grêmio ou Gerusia. Por um decreto foi reconhecida a autoridade política da Gerusia, germe do futuro Sinédrio. Mudam-se as leis de etnias para leis políticas. Entra o serviço militar mercenário e é introduzido o ginásio, centro de reprodução das virtudes militares. A circuncisão tornou-se vergonhosa. Os únicos que tinham cidadania eram os formados no ginásio, isto é, os ricos. O povo passou a ser morador da terra: nem irmãos, nem cidadãos. Aparece a oikos (casa), unidade de produção do grande senhor. O camponês tem seu campo. O arrendatário cultiva o campo alheio. Pode receber em dinheiro, alimentos ou parcialmente (1/4 a 3/4 da produção). O empobrecimento acelera-se e aumenta a escravidão. O judeu vende a terra e renuncia a recomprála, isto é, abre mão do direito de propriedade. O projeto de helenização atinge o comércio e procura-se monocultura mais rentável.

A helenização gera três probabilidades: a. Harmonizar-se com ela (Filo de Alexandria); b. Opor-se a ela (Macabeus); c. Recolher-se dela (Qumran).

Seção 4 - Asmoneus – linha sucessória de Judas Macabeus Os Asmoneus foram uma importante família judaica que liderou a chamada revolta dos Macabeus, em 167 a.C., contra o Império Selêucida. Essa 113


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revolta resultou no último estado judeu independente até a criação do Estado de Israel em 1947. Como os únicos "reis" reconhecidos da Judéia eram aqueles descendentes da casa de Judá, os Asmoneus adotaram o título de "Sumo Sacerdote". • Jônatas – 160 a 143 a.C. Reafirma a aliança com os romanos. É um otimista: luta contra a helenização e é favorável ao domínio helenista. Era Sumo Sacerdote e Estratego. Morre em 143 a.C. • Simão – 142 a 134 a.C. Assumiu o poder em 141, Sumo Sacerdote e Estratego. Como tal, expulsou o poder dominante da Acra, fortaleza de Jerusalém. • Demétrio II – assume em 142 o poder selêucida e faz decreto de isenção dos tributos individuais sobre produtos e o dízimo (I MACABEUS 11). Acaba assim, com arrendamento estatal do tributo, com os colaboracionistas. Ruptura entre aristocracia e Estado. Isto foi comemorado com o fim da escravidão do povo judeu e Simão reconhecido como legítimo. Os Asmoneus continuaram recolhendo as mesmas taxas que os agricultores, o que gerou muita riqueza para eles. Em 140, foi reconhecido o caráter vitalício e hereditário do poder. O reconhecimento da legitimidade de Simão fez dele um Etnarca. Assim, acumulou em suas mãos todo o poder. Figura 8.2 – Moedas cunhadas pelos Asmoneus

As moedas (ciclos) foram cunhadas com as inscrições dos Asmoneus. Moeda própria, governo próprio, religião, justiça e não pagamento de tributos formam o conceito de liberdade dos Asmoneus. Intrigas levam Simão e dois Disponível em: <http://www.imperialcoins.com/ filhos seus à morte. Assume seu 3o newsletters/volume2/volume2-6.html>. Acesso em: 07 abr. 2012. filho: João Hircano I (131 a 105). Ele amplia o reino e dá-se uma ruptura com os fariseus, que não aceitam que o sumo sacerdote seja Etnarca e Estratego. Aristóbulo I – governou de 104 a 103 a.C. E Alexandre Janeu (103 a 73 a.C.). Com a morte de Alexandre Janeu, assume Salomé Alexandra (76 a 77 a.C.). Abriu as portas do Sinédrio aos fariseus e nomeou sumo sacerdote o seu filho Hircano II, que é favorável a Pompeu. Aristóbulo II, seu irmão, contesta seu pontificado e se coloca contra Pompeu. Quando esse chega a Judéia, ambos lhe mandam embaixadas e igualmente os fariseus. Pompeu invade Jerusalém. Começa o período romano e acaba o dos Macabeus. 114


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Houve, neste período, uma imensa produção literária que não consta na Bíblia. Esses livros foram chamados de apócrifos (Pseudepígrafos) e tematizam muitos assuntos. Entre eles uma visão da história que vai do início até a consumação. Outra característica dessa literatura é seu caráter apocalíptico que marca muitas obras.

Seção 5 - Martírio e ressurreição Uma das mais fundamentais doutrinas do Cristianismo, a ressurreição dos mortos, ganha corpo neste período de intenso sofrimento. Por isso, encerramos nosso trabalho da história de Israel com algumas considerações sobre a relação do martírio com a ressurreição. Em linhas gerais, a trajetória da ideia de martírio e ressurreição vai se desenvolvendo lentamente através do Antigo Testamento. 5.1 – Martírio Por martírio queremos expressar aquele conteúdo de sofrimento infligido por poderes políticos sobre as pessoas, não propriamente a concepção de “mártir”, que ganhou expressão no final do século primeiro depois de Cristo, quando muitos cristãos foram perseguidos por causa da sua fé, não que essa ideia não esteja contida no martírio já nessa época intertestamentária, mas não se impõe com significado principal. Os textos bíblicos mais significativos relativos ao sofrimento humano são, sem dúvida, os Cânticos do Servo de Javé do Dêutero-Isaías, onde a ideia do sofredor aparece de forma meridianamente clara. O sofrimento está ligado e é consequência do duro tratamento recebido pelos escravos judeus no exílio babilônico. Dores intensas experimentadas pelo grupo estão refletidas no Servo Sofredor. O sofrimento infligido pelo “opressor” resulta numa busca, pelos atingidos, de uma resposta junto o seu Deus, da finalidade do martírio. E eles a encontram no motivo do cativeiro, isto é o martírio é resultado da iniquidade do povo. Assim, a solução para tal situação será a libertação, o retorno do povo para a casa. Na mesma linha de argumentação encontramos o profeta Ezequiel 37.114 (visão do vale de ossos secos). No mesmo exílio o profeta procura mostrar que o cativeiro não é uma situação definitiva e que Javé não se esqueceu de seu povo. Por isso, não há motivo para desesperança, mesmo sob o peso intenso do sofrimento a eles imposto. O final que eles devem esperar é a restauração e o retorno à própria terra.

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Ambos os textos acima têm uma perspectiva coletiva do sofrimento como consequência do agir ímpio do povo e nada é dito do indivíduo. Contrariamente, o livro de Jó tematiza o sofrimento individual do “justo” e isso é importante, pois a teologia da retribuição (bênção para o justo e castigo para o injusto) que perpassa os dois profetas retro referidos, é aqui questionada, ou seja, Jó tenta responder ao sofrimento do justo que se mantém íntegro, mas sofre, por meio de outra teologia. Apesar das diferenças entre a perspectiva coletiva (II Isaías/Ezequiel) e a individual (Jó), e também a diversa compreensão da origem do sofrimento, que no primeiro caso é vista como resultado do pecado e no segundo se questiona exatamente essa mentalidade retribucionista, apesar disso, tanto os profetas, quanto Jó são unânimes em ver o sofrimento como tendo sido causado por condições sociais de perda e separação. Também estão juntos ao afirmar que no decurso desta vida se sofre e nela ocorre a restauração. Um passo adiante nesta reflexão é o livro de Daniel. Nas visões, que aparecem neste livro, estão estampadas com vívidas cores o grande sofrimento do último período da história que está em curso na época do autor. Tamanho martírio é testemunhado também nos livros de Macabeus, sobretudo no segundo livro dos Macabeus 7.

Sobre os “Asmoneus” vejam: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Hasmoneus>

Contudo, ambos, Macabeus e Daniel, conhecem outro tipo de resposta ao sofrimento e morte do justo: a ressurreição. Tanto em um, quanto em outro livro é testificado que a retribuição passa além desta vida e vai ser encontrada no dia em que os ímpios e justos ressurgirão. Mas, esse fato nos impõe um pergunta: Como a concepção de retribuição chegou ao estágio de afirmar que somente após a morte é que a mesmo se efetivará? O que queremos com essa pergunta é verificar qual foi o ele de ligação entre as concepções do Dêutero-Isaías/Ezequiel/Jó e as concepções que encontramos em Daniel/Macabeus. Com isso já estamos no tópico seguinte. 5.2 – Ressurreição Analisando novamente os mesmos textos que já vimos acima, verificamos que: no Segundo Isaías o sofrimento redunda em uma “teologia” da restauração 116


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através do perdão e perdão mediado pela morte do Servo (Isaías 53). Nada aqui é dito sobre ressurreição ou volta à vida. Já com Ezequiel 37 a restauração é vista como um “reviver”. São esqueletos que receberão carne e espírito e reviverão. Com toda certeza não é sobre ressurreição que o texto está falando, mas não é de todo improvável que já se tenha algum tipo de retorno à vida, alguma espécie de restabelecimento de mortos, ainda que usado aqui metaforicamente para o povo como um todo. De qualquer forma, parece evidente que o texto de Ezequiel 37 contém a ideia em “germe”. Jó ensaia a mesma concepção no âmbito individual. Significativo é Jó 19.25-26. Esse trecho tem a mesma ideia de que o corpo (ossada) será revestida de pele e que em carne verá a Deus. Seja qual for o significado desta passagem, o certo é que a concepção de que mesmo depois da morte há possibilidade de retribuição subjaz no texto. A diferença entre Jó e Isaías/Ezequiel consiste novamente em que estes olham deste a perspectiva coletiva e aquele, desde a individual. Ao nos depararmos com Daniel e Macabeus, já o dissemos, encontramos uma “teologia” da ressurreição altamente desenvolvida, pois neles estão presentes as duas concepções juntas (coletiva e individual) e, o que é mais importante, é que a ressurreição será tanto para os justos quanto para os ímpios. Tal salto de um estágio primitivo para outro tão adiantado não é possível. Assim, nós encontramos um texto bastante significativo, Isaías 26, que supomos ser o ele de ligação entre as duas etapas: da noção elementar de volta a vida à ressurreição propriamente dita.

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Vocês sabiam fora do Cristianismo também há crenças na ressurreição? Confiram em: <http://www.ejesus.com.br/teologia/alegacoes-de-ressurreicaoem-religioes-nao-cristas/>

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Olhando para Isaías 26 descortinamos dois aspectos interessantes para nosso trabalho. Primeiro, é que o povo passa por uma situação de sofrimento por causa do pecado (v.16) o que liga o texto à etapa anterior. Segundo, fala-se explicitamente em ressurreição, que é o elo para a fase posterior. Convém ressaltar, entretanto, que em relação ao sofrimento, o mesmo é visto como tendo caráter coletivo. Também a ressurreição tem um aspecto coletivo, porém parcial, isto é, apenas os bons reviverão. Portanto podemos esboçar algumas conclusões:

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• tanto o martírio quanto à ressurreição tem uma linha ininterrupta de desenvolvimento que vai do exílio em diante; • martírio e ressurreição (seja em germe, seja desenvolvida) aparecem juntos em textos decisivos do período, o que indica uma relação bastante estreita entre as duas ideias; • martírio e ressurreição estão sempre ligados com uma situação de catástrofe e morte, seja nacional ou individual. Falta, nessa análise, estabelecer qual seja a relação entre essas duas “doutrinas”. 5.3 – Relação entre Martírio e Ressurreição As principais teses que falam a respeito da relação entre martírio e ressurreição são as seguintes: Em sua obra “Eschatology”, R.H. Charles (1963, passim) traça uma história crítica da doutrina da vida futura em Israel, no Judaísmo e no Cristianismo, e é justamente ao historiar o período do Judaísmo que o autor fala de sofrimento e ressurreição. Charles analisa fundamentalmente dois textos: Isaías 26 e Daniel 12. No primeiro ele vê o “início” da ideia de ressurreição e no segundo seu estágio último. Sobre Isaías 26, Charles fala que a ressurreição é uma “dupla restauração” (restaura a comunicação com Deus e com a comunidade justa). Ele não faz ligação explicita com o sofrimento, mas pressupõe, citando Ezequiel 37, que se trata de uma restauração de uma catástrofe. Assim, a ideia de ressurreição envolveria em certa medida uma resposta à uma situação de crise. Mais clara em afirmar a relação entre martírio e ressurreição, entretanto, é a exposição que o autor faz de Daniel 12. Para ele esse texto é uma ampliação da concepção de Isaías 26, alcançando agora não só os justos, mas também os injustos. Assim, ele pode falar que tal ampliação se deve ao fato de que a doutrina está agora mesclada com a doutrina da retribuição. Portanto, o autor conclui que a ressurreição é apenas para os “mártires” e “apostatas” de Israel do período em questão. Outra tese da relação entre martírio e ressurreição encontramos no livro “A Revolta dos Macabeus”, de C. Saulinier (1987, passim). Ao tratar da “Teologia do martírio” e “Teologia da vida” a autora, em rápidas palavras, defende a ideia de que a crise macabaica é a matriz da doutrina da ressurreição. Utilizando amplamente os livros dos Macabeus, ela sustenta que a ressurreição vem em resposta ao sofrimento e morte do justo que permanece fiel ao seu Deus e mesmo assim sofre e morre. 118


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Portanto, a ressurreição está relacionada com o martírio e é sua consequência natural na evolução da doutrina da retribuição. Em uma reelaboração de sua tese de doutoramento “Resurrection, Immortality and Eternal Life in Intertestamental Judaism”, Nickelsburg (1972, passim) quer responder as seguintes duas questões: Que tipo de situações e problemas tem provocado tais respostas como ressurreição, imortalidade e vida eterna? Quais são as funções específicas destas respostas? Depois de breve, mas profunda análise de Daniel 12.1-3, o autor responde a primeira pergunta dizendo que foi a violenta crise do período de Antíoco IV que gerou a resposta que encontramos no texto de Daniel, a saber, a ressurreição. Em relação à segunda pergunta ele afirma que a função da ressurreição é uma resposta à morte injusta, sendo a oportunidade de retribuição, tanto a justos quanto a ímpios no julgamento final quando ambos serão ressuscitados para receber sua paga. Em um artigo intitulado “Ressurrection in the Theology of Old Testament Apocalyptic”, Hasel, G.F. (1980, passim) objetiva descrever a natureza da ressurreição em Isaías 26 e Daniel 12, onde conclui que tal natureza é a ressurreição corporal. Também quer mostrar qual a função da mesma na teologia apocalíptica. Ao verificar qual é a sua função o autor primeiramente objeta que a mesma seja uma resposta ao sofrimento/morte (retribuição). Ele a entende com a função fundamental de “manifestar a glória de Deus”. A relação que ele vê entre martírio e ressurreição é que, a última, mostra o triunfo final do Deus da história e da vida. Assim, a ressurreição só tem relação como sofrimento a medida que é entendida como demonstração do poder de Deus em conduzir a história e restaurar a vida. Em uma palavra, a ressurreição é a manifestação da glória de Deus. Em sua obra “The Apocalyptic Imagination”, COLLINS, J.J. (1989) tem uma postura de que a doutrina da ressurreição em Daniel 12 está vinculada ao sofrimento do período macabaico. Contudo, o autor entende que ela funciona como um “sustento” aos que dão a vida pela sua religião e não que a ressurreição oportunize a retribuição, pois “Daniel está diretamente interessado com negócios políticos...” (p. 91). 5.4 – Daniel 12.1-3 1. Nesse tempo se levantará Miguel o grande príncipe, o defensor dos filhos do teu povo e haverá tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até aquele tempo, mas naquele tempo será salvo o teu povo, todo aquele que foi achado inscrito no livro. 2. Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, outros para a vergonha e horror eterno. 3. Os que forem sábios, pois, resplandecerão, como o fulgor do 119


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firmamento, e os que a muitos conduzem à justiça, como estrelas sempre e eternamente

Do ponto de vista da Forma, Daniel 12.1-3 é o clímax da Visão iniciada no capítulo 10. Também o vocabulário estabelece Daniel 12.1-3, como continuação lógica do capítulo 11, como mostra o quadro abaixo: Capítulo 12 v. 1 Nesse tempo v. 1 teu povo v. 1 tempo de angústia v. 2 muitos dos que dormem v. 3 forem sábios v.3 os que muitos conduzirem à justiça

Capítulo 11 v. 35 tempo do fim v. 33 povo v. 33 cairão pela espada, fogo, roubo, cativeiro v. 32 violadores da aliança e povo que conhece a Deus v. 33 os entendidos (cf. v. 35) v. 33 os entendidos ensinarão a muitos

Ademais, o início de 12.1 “nesse tempo” pressupõe que se haja referido a ele (tempo) anteriormente, o que o torna dependente do capítulo 11. Ainda mais o sofrimento/morte descrito no verso 1 indica a retribuição do tempo de Antíoco IV apresentada a partir de 11.21 até sua morte em 11.45. Tempo esse de profunda crise religiosa e civil que leva os fiéis à morte. Finalmente, mas não por último, sob o aspecto histórico-traditivo, Daniel 12.1-3 está na linha de desenvolvimento que adotou a forma literária (visão) de Ezequiel e o conteúdo (martírio/ressurreição) de Isaías 26, o que confere com os capítulos 10-11 de Daniel. Portanto, do ponto de vista da forma, do vocabulário, da história e do elemento histórico-traditivo, o trecho de Daniel, que apresenta a ressurreição, está indissoluvelmente ligado às circunstâncias de martírio descritas nos capítulos 10-11. Portanto, é possível afirmar que a doutrina da ressurreição, aqui apresentada, deve ser vista em relação ao martírio, seja qual for o tipo de relação.

Seção 6 - Quadro cronológico Este quadro é para facilitar o acesso rápido às datas, aos eventos e aos personagens mais importantes dos diversos períodos.

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301 250 - 100 203 ca. (cerca de) 200

178

175 172 170 169 168 167

166 165

164 163 162

161 160 141 63

Ptolomeu I – governa Jerusalém. Septuaginta (LXX) – as escritura judaicas são traduzidas para o grego. Pedra de Roseta – Ptolomeu V, Epífanes rege o Egito (até 181) – Pedra de Roseta é esculpida registrando sua ascensão. Os Profetas – os livros conhecidos como "Os Profetas" são estabelecidos como canônicos. Eles incluem Josué, Juízes, Samuel, Reis, Isaías, Jeremias, Ezequiel e os assim chamados 12 profetas menores. Simão denuncia o acúmulo muito grande de dinheiro no Templo. Onias e Simão disputam a fiscalização do mercado do Templo (agoronomia). Apolônio, chefe das finanças dos selêucidas, mandou Heliodoro realizar isso (2 Macabeus 3.1-40). Onias III foi deposto por Jasão, que negociou o sumo-sacerdócio com o rei. Menelau negociou o sumo-sacerdócio de Jasão que foi deposto por Antíoco. Guerra civil reprimida violentamente por Antíoco. Antíoco avançou para o Egito, saqueou o Templo e fez 20 mil escravos. Roma obriga Antíoco a voltar para a Palestina. Antíoco entra em Jerusalém. Um decreto de Antíoco II suprimiu a circuncisão, o sábado, as festas e a pureza alimentar dos judeus. Implantou um culto mensal a Dionísio, colocou uma estátua de Zeus no Templo, fez um altar para os sacrifícios pagãos. Neste ano em Modin acontece o episódio de Matatias = revolta contra o decreto de Antíoco IV. O 3º filho de Matatias, Judas, assumiu a liderança do movimento. Tem o apelido de Macabeu = parecido com martelo. Antíoco sofre uma conspiração. Lísias assume o seu lugar. Hannuká – festa judaica como memorial da vitória dos Macabeus contra sírios. Daniel – composição do livro de Daniel. Judas conquista Jerusalém, mas não a fortaleza, chamada Acra. Estabelece os costumes judaicos. Onias III constrói um templo em Leontópolis, no Egito. Ano sabático e, portanto tempo de fome. Lísias sobe para nova conquista. Antíoco V revoga o decreto de Antíoco IV. Os Assideus rompem com Judas Macabeus. Posteriormente vão para Qumran. Judas Macabeus faz aliança com Roma. Morre Judas, encurralado por Demétrio, que sucedeu a Antíoco. Jerusalém – judeus libertam Jerusalém do domínio estrangeiro. Roma – Pompeu captura Jerusalém e anexa a Síria e a Judéia

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Retomando a conversa inicial

Muito, muito bem! Chegamos ao final da última aula. Vamos recordar:

• Seção 1 - Período Grego Esta foi a etapa da História de Israel que antecedeu imediatamente o Novo Testamento. E são deste período muitos elementos que encontramos na época de Jesus. O período grego, também conhecido como helênico, foi a reorganização do mundo da época. • Seção 2 - Lágidas e Ptolomeus - 301-198 a.C. As consequências disso foram: a. Política – aliança do poder judeu com os Lágidas/Ptolomeus. Produção para exportar; b. Social – acordo dos “poderes” coloca a população à margem do sistema e c. Cultural – rompimento com a Torah, que era a “tradição dos pais”. • Seção 3 - Selêucidas - 198 a 128 a.C. (167) O período do domínio selêucida vai até 167, quando acontece a derrota dos Macabeus, mas colocamos 128, por ser esta a data do último rei selêucida. Os selêucidas conquistaram o corredor palestino. Ptolomeu V Epífanes perdeu a batalha de Panas e o domínio passou para os Antíocos. • Seção 4 - Asmoneus - linha sucessória de Judas Macabeus Os Asmoneus foram uma importante família judaica que liderou a chamada revolta dos Macabeus, em 167 a.C, contra o Império Selêucida. Essa revolta resultou no último estado judeu independente até a criação do Estado de Israel em 1947. • Seção 5 - Martírio e Ressurreição Uma das mais fundamentais doutrinas do Cristianismo, a ressurreição dos mortos, ganha corpo neste período de intenso sofrimento. Por isso, encerramos nosso trabalho da história de Israel com algumas considerações sobre a relação do martírio com a ressurreição.

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• Seção 6 - Quadro Cronológico Quadro para a visualização rápida das datas e personagens do período.

Sugestões de leituras, sites e filmes Leituras DONNER, Herbert. História de Israel e dos povos vizinhos. Vol 2, p. 497-512. Sites • <http://pt.wikipedia.org/wiki/Per%C3%ADodo_helen%C3%ADstico> •<http://www.ejesus.com.br/teologia/alegacoes-de-ressurreicao-em-religioesnao-cristas/> • <http://www.airtonjo.com/historia38.htm> • <http://pt.wikipedia.org/wiki/Macabeus> Filmes • Vídeos: <http://www.youtube.com/watch?v=nUVYGkShBxs>

ATIVIDADES - AULA 08 Todas as atividades relacionadas a esta aula estão disponíveis na AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem da UNIGRAN (Plataforma). Para acessá-las usem a ferramenta “Sala Virtual – Atividades”. Após respondê-las não se esqueçam de enviá-las por meio do Portfólio.

OBS: Não esqueçam! Se persistirem dúvidas, acessem as ferramentas “fórum” ou “quadro de avisos”. Ou enviem e-mail para: jcristofani@unigran.br

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Bibliografia básica DONNER, Herbert. História de Israel e dos povos vizinhos: Dos primórdios até a formação do Estado. vol.1 3. Ed. Petrópolis: Vozes; São Leopoldo: Sinodal, 2004. SCHMIDT, Wener H. Introdução ao Antigo Testamento. São Leopoldo-RS: Sinodal, 1994. SCHREINER, Jozef, (org.) Palavra e Mensagem do Antigo Testamento. 2. ed. São Paulo: Teológica, 2004.

Bibliografia complementar

Referências

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SELLIN, Ernst; FOHRER, Georg. Introdução ao Antigo Testamento. vol.1. São Paulo: Paulinas, 2010. BRIGHT, John. História de Israel. 8. ed. São Paulo: Paulus, 2003. GOTTWALD, Norman K. As Tribos de Iahweh: Uma Sociologia da Religião de Israel Liberto 1250-1050 A.C. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2003. GOTTWALD, Norman K. Introdução Socioliterária à Bíblia Hebraica. 2. ed. São Paulo: Paulus, 1998. BRIEND, J. Uma leitura do Pentateuco. São Paulo: Paulus, 1994.

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