A Gravitação: pela construção de dois partidos de massas no Brasil
Carlos Cruz (*) A construção de dois partidos de massas seria um dos fatores mais saudáveis para a sociedade brasileira, a partir desta minirreforma política, em discussão no congresso nacional, que reforça a fidelidade partidária; estabelece o fim das coligações proporcionais; e institui uma cláusula de desempenho para os partidos políticos. Essas medidas restringiriam o sistema partidário brasileiro a aproximadamente nove partidos efetivos, o que ainda assim constituiria um multipartidarismo exagerado. Esses dois partidos de massas seriam um à esquerda, com programa estatista, em torno do qual gravitariam socialistas, sociaisdemocratas, nacionalistas e até aqueles de matizes utópicas mais radicais; e outro, à direita, com plataforma liberal, para a redução do tamanho do estado brasileiro, em torno do qual gravitariam capitalistas, inclusive de matizes conservadoras. Esses partidos precisariam de mecanismos de democracia intrapartidária, tais como, foros deliberativos amplos; direito à declaração de tendência, fração e facção, para que se tornassem partidos de massas, verdadeiramente. Em primeiro lugar, isso proporcionaria oportunidade para novos líderes políticos, sobretudo oriundos da classe média urbana, melhor qualificados, ética e intelectualmente; e, em segundo lugar, promoveria o expurgo progressivo dos políticos mais nefastos, mormente aqueles de maior debilidade intelectual e com mais propensão marginal à corrupção. Independentemente de suas origens - os igarapés amazônicos, os latifúndios secos nordestinos, as plantations tropicais, os pampas, as periferias e favelas, a máfia sindical, os lóculos maçônicos - em regra, os políticos brasileiros têm objetivos extremamente oligárquicos (caudilhescos), entre os quais serem arrendadores das legendinhas partidárias, para facilitar a sua relação parasitária ou comensal com os governos municipais, estaduais e federal. Indubitavelmente, os políticos brasileiros não estão preparados para a construção de partidos de massas, com exceções ao longo da república brasileira, sendo o PT a experiência mais recente, constituído a partir do abrigo de dezenas de grupelhos marxistasleninistas, na década de 1980. Em grande medida, a hegemonia política recente do PT deve-se ao fato de ter sido a única legenda organizada como partido político, provido de foros democráticos, formação de quadros e programa, até a sua degeneração e colapso. Essa crítica ao sistema partidário brasileiro altamente oligárquico não desconsidera as contribuições da teoria das elites, tais quais formuladas por Pareto, Mosca e Michels, pois a lei tendencial à oligarquização é imanente à vida partidária, todavia, no caso brasileiro, trata-se de sair de uma democracia intrapartidária de grau zero. A pergunta é: como as atuais legendas organizar-se-iam em torno desses dois campos gravitacionais, uma vez que a política brasileira é dominada pela esquerda - social-democrata e socialista -, a partir da abridela promovida pelo PSDB e da hegemonia obtida pelo PT, deixando nichos parasitários para dezenas de outras legendas se esbaldarem no mais nocivo patrimonialismo? Essa nova configuração partidária deve ocorrer, a partir da erupção de um partido de massas com programa claramente capitalista e liberal, de viés dominantemente economicista, em vez de moralista. Uma vez que essa minirreforma política seja aprovada, caso esse projeto partidário liberal não seja construído, manter-se-á o velho patrimonialismo colonial brasileiro, envolvendo a trias política e conservando a corrupção endêmica. Então, nas eleições presidenciais de 2018, para enfrentar o lulismo, os líderes regionais do patrimonialismo brasileiro desembarcariam numa candidatura dominante, de esquerda, isto é, estatista, com esmalte reformista, trazendo consigo uma frente partidária oligárquica, com seus nematoides, que possuem sistema digestivo completo.
(*) Carlos Cruz - historiador.
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