revista da
feira livro do
Publicação Oficial da 56a Feira do Livro de Porto Alegre • 29 de outubro A 15 de novembro de 2010
A maior feira do livro a céu aberto das Américas Reconhecimento Patrimônio cultural Programação Atrações para todos Patrono dos Gaúchos Paixão Côrtes
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REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / Novembro 2010
editorial O patrimônio é seu
A
os 04 Todos espaços do evento
a feira em páginas
20 entrevista carlos urbim
encontro da 06 Obibliodiversidade
cada ano, em meio à primavera, o Centro Histórico de Porto Alegre vê nascerem as estruturas da maior feira de livros a céu aberto das Américas. Neste momento,
surgem as barracas e as coberturas de lona na Praça da Alfândega, na avenida Sepúlveda e no Cais do porto, estruturas que dão a concretude para este bem imaterial que é a Feira do Livro de Porto Alegre.
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Desde abril de 2010, aquilo que já era sentimento, tornou-se oficial: a nossa Feira do Livro foi declarada patrimônio imaterial da cidade. Esta honraria se soma
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feira do livro: um bem de Porto Alegre
à medalha da Ordem do Mérito Cultural, outorgada pela Presidência da República no ano de 2006, que reconheceu o evento cultural como um dos mais importantes do País. Mas a Feira de livros mais antiga, em tempo contínuo do Brasil, não vive de colecionar títulos. Ela se renova a cada ano e se adapta aos tempos e espaços. Quando, em 1955, um grupo de livreiros e editores
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pesquisa: perfil do visitante
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Notas e Letras
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Jornada de Passo Fundo
Programação Infantil e Juvenil
Teatro de Mamulengo do Senado
Quadrinhos
25 em mutação
decidiu colocar os livros onde o povo estava, iniciou um movimento de afirmação da leitura como uma política pública, portanto uma necessidade e um direito de todos. De lá para cá, muito tem sido alcançado e muito ainda falta concluir. Além do estímulo constante à leitura nos lares, escolas, locais de trabalho e na mídia, é necessário revalorizar toda magia, riqueza, descoberta e partilha que o ato de ler
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oferece. Promover mesmo a leitura! Por isso, há três anos criamos a Feira Fora da Feira, modalidade que, nas periferias da Capital, compartilha atrações do evento com as comunidades. Por isso, também temos
Caminhos do livro
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A multiplicação dos resultados
estabelecido parcerias com secretarias de Educação e Cultura, com universidades e escolas, para durante todo o ano fomentar a leitura e o encontro entre escritores e leitores.
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E, para possibilitar ao público um verdadeiro
O patrono dos gaúchos
direito de escolha, a Feira do Livro de Porto Alegre expõe a cada ano uma mostra maior de acervos, dando acesso à mais ampla bibliodiversidade presencial. De obras raras aos mais recentes lançamentos, dos livros religiosos aos técnicos e científicos, dos infantis aos acadêmicos, dos sérios
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aos caricatos, dos regionais aos universais. Enfim, um mundo de opções que só aumentam com a qualificada programação cultural. Palestras, debates, seminários, oficinas, exposições, shows, saraus, teatro, música, dança, gastronomia... como não participar de algo tão intenso? Tudo acontece livremente, sem custo algum ao visitante. Diante disso tudo, impossível não ressaltar nesse espaço o recado mais evidente: aproveite! A Feira do Livro é de todos!
João Manoel MALDANER Carneiro Presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro
Paixão Côrtes
feira inclusiva
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leis de incentivo SEGURANça
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mini-crônicas REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / Novembro 2010
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56ª Feira do Livro de Porto Alegre Evento que reúne livreiros, editores, escritores e leitores deverá concentrar mais de 1,5 milhão de pessoas
B
em-vindo, visitante da 56ª Feira do Livro de Porto Alegre. Este é o maior evento do gênero realizado a
Também por meio do site www.feiradolivro-poa.com.br você
céu aberto nas Américas. Toda a programação cultural
encontra a programação completa de eventos para os públicos
oferecida e relatada nesta Revista é democrática e
adulto e infantil e juvenil. A Feira do Livro de Porto Alegre está
aberta, gratuita. Observe as informações de seu interesse e
presente nas redes sociais, como Facebook, Twitter e Orkut.
para tirar dúvidas ou se necessitar de auxílio para localizar a
Participe e interaja. Deixe o seu comentário, colabore para
programação de que deseja participar, procure os Balcões de
melhorar ainda mais nosso evento. Esperamos que você se
Informação localizados na Área Geral – no eixo Central, na
divirta, se informe, se encante. A Feira do Livro de Porto Alegre
Área Internacional, no Cais do Porto – Área Infantil e Juvenil, e
é feita para você.
Câmara Rio-Grandense do Livro Praça Osvaldo Cruz, 15 Conj. 1708 / 1709 Centro Histórico - Porto Alegre, RS – Brasil CEP 90030-160 - Fone/FAX (51) 3286. 4517 E-mail: camaradolivro@camaradolivro.com.br www.camaradolivro.com.br Diretoria - Gestão 2010/2011 Presidente: João Manoel Maldaner Carneiro Vice-Presidente: Osvaldo Santucci Junior Secretária: Marisa Maria Carmo Bof Tesoureiro: Walter Erwin Gress Representante dos Creditistas: Mariana Silveira Patrício Distribuidores: Isatir Antonio Bottin Filho Editores: Paulo Flavio Ledur Livreiros: Vitor Mário Zandomeneghi Conselho Fiscal: Titulares: Jurema Andreolla, Leonardo Molinari da Silveira e Tuchaua Rodrigues Suplentes: João Cláudio Cervo, Télcio Brezolin e José Roberto Hickmann 56ª Feira do Livro de Porto AlegrE Comissão Organizadora Presidente: João Manoel Maldaner Carneiro Coordenações Geral: João Manoel Maldaner Carneiro e Osvaldo Santucci Junior Comunicação, Informações e Pesquisa: Vitor Mário Zandomeneghi e Leonardo Molinari da Silveira Disciplina: Osvaldo Santucci Junior, Marisa Maria Carmo Bof e Isatir Antonio Bottin Filho Financeiro: Walter Erwin Gress Operacional: Tuchaua Rodrigues e Osvaldo Santucci Junior Prêmios: Marisa Maria Carmo Bof Programação: João Claudio Cervo e Mariana Silveira Patrício Xerife: Júlio La Porta
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no Memorial do Rio Grande do Sul.
Comissão Executiva Área Infantil e Juvenil e Área Internacional: Sônia Maria Zanchetta Comunicação e Pesquisa: Gabriela Saenger Silva Engenheiro Responsável: Eduardo Milano Bergallo - CREA 65276 Operacional: Gisele Longhi Programação para Adultos e Balcões de Informação: Jussara Haubert Rodrigues Produção Administração: Gérson Silva de Souza Apresentações Artísticas da Área Infantil e Juvenil: Rose Paz Programações para público adulto: Sandra La Porta (Encontros com o Livro), Luciana Leão (apresentações artísticas e oficinas para adultos) e Leonardo Scott Autógrafos: Gérson Silva de Souza e Natalie Machado Centrais de Informações: Bea Rorato Financeiro: Maria Christina Rhoden Bley Infraestrutura: Tamara Mancuso Receptivo: Ilson Fonseca Assistentes de Produção Programas e Projetos de Leitura e ciclo A Hora do Educador: Ana Paula Cecato Sala dos Autores: Rafael Rocha Cardozo e Glauco Araújo Agendamento Escolar: Fernanda Klafke Biblioteca do Cais: Maria da Graça Artioli Arena das Histórias: Bárbara Camargo Logística do Transporte Escolar: Alexandre Peixoto Projeto Asteroide: Cíntia Marques Imprensa: Vinicius Duarte Informações: Joaquim Pedro Ramos Pereira e Cléa Motti (voz do poste) Infraestrutura: Márcio Negrini Programação público adulto: Adelino Costa , Jussara Carvalho, Simone Perla, Vika Schabbach e Maria de Lourdes Tessardi Dus (Divulgação) Receptivo: Patrícia Savaris Acompanhamento Patrono: Ricardo Rocha Shuck
REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / Novembro 2010
Assessoria de Comunicação Milim Comunicação fotógrafo Luis Ventura Fotografia Agência de Propaganda Agência Matriz Projeto Arquitetônico e de Programação Visual Troyano Arquitetura Área de Alimentação André Kovalski cobertura Eventec Montadoras oficiais Exposul Stands / Inovart Stands / Tedesco Locações Instalações Elétricas AB Elétrica Hotel Oficial Master Hotéis Transportadora Oficial Giulian Mudanças Estacionamento Garagem Andrade Neves Realização Câmara Rio-Grandense do Livro Revista da Feira do Livro Editoras: Sheila Meyer (MTB 8190) e Tatiana Csordas Milim Comunicação www.milim.com.br (51 33118850) Projeto Gráfico e Edição de Arte: Clarissa San Pedro – www.clarissasanpedro.com Redação: Simone Fernandes, Simone Lima, Paulo Cesar Teixeira e Daniele Ghidini Imagens: Luís Ventura, acervo Câmara Rio-Grandense do Livro e diversos Revisão: Simone Lima Impressão: Gráfica e Editora Pallotti
santander cultural
secretaria da fazenda
CAIS
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DO
rio guaíba
PORTO
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memorial do rs
CENTRO CULTURAL CEEE ERICO VERissimo
avenida
MA UÁ
ALFÂNDEGA
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AMP
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imprensa
MARGS
patrocinadores e apoiadores
áreas institucionais e de infra estrutura
área internacional
praças de autógrafos
praça de alimentação
sanitários
BANRISUL
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
EM
áreas de programação
Onde No Centro Histórico da capital gaúcha, tendo como principal referência a Praça da Alfândega e os armazéns do Cais do Porto. Os espaços ocupados pelo evento somam 24 mil metros quadrados.
Como chegar A Praça da Alfândega está a 500 metros de distância do Mercado Público e da Estação inicial do Trensurb. Os terminais de ônibus da Praça XV e arredores atendem a maioria dos bairros da Capital e região metropolitana. Na avenida Mauá, existem diversos prédios-garagem, assim como nas avenidas Siqueira Campos e Sete de Setembro. O estacionamento oficial do evento é a Garagem Andrade Neves. Para quem deseja chegar de bicicleta a Feira dispõem de bicicletários espalhados pela Praça da Alfândega e Cais do Porto.
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barracas de livros
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PRAÇA DA ALFândega
Horários A 56ª Feira do Livro de Porto Alegre ocorre de 29 de outubro a 15 de novembro de 2010. A Feira funciona das 12h30 às 21h30 em toda a Área Geral e Área Internacional. A Área Infantil e Juvenil funciona a partir das 9h30.
i Informações O Balcão de Informações é um serviço de atendimento direto ao visitante. Há postos localizados no centro da Praça da Alfândega, na entrada da Área Infantil e Juvenil (Cais do Porto), na Área Internacional e no Memorial do RS.
Voz do Poste Sistema de som com alto-falantes instalados em toda a extensão da Feira para a divulgação da programação diária.
Centros Culturais Centro Cultural CEEE Erico Verissimo: R. dos Andradas, 1.223 / Memorial do Rio Grande do Sul: R. Sete de Setembro 1020 / Santander Cultural: R. Sete de Setembro 1028.
Alimentação Há uma praça de alimentação central localizada na avenida Sepúlveda com diferentes tipos de lanches. No Cais do Porto há outra operação semelhante. Próximo ao Santander Cultural, neste ano, a novidade é o Bistrô da Feira.
Segurança Os espaços da Feira do Livro d é garantida pelo 9º Batalhão de Polícia Militar (9º BPM) e por seguranças privadas. de qualquer forma, tome cuidado com bolsas, celulares e outros pertences.
REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / Novembro 2010
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Foto: Luis Ventura
biblio
Diversidade
A praça de todos os títulos
S
Henrique Kiperman, diretor do
Como as publicações comercializadas
na Feira do Livro de Porto
Grupo A (Artmed), conta que sua
são principalmente livros de arte com
Alegre é diversidade. Editoras
empresa aposta nas obras científicas
ilustrações, Barreto acredita que é uma
universitárias, técnicas e
e profissionais, os long sellers – que
oportunidade para o público manusear
científicas, especializadas em livros de
vendem sempre, mas em pequenas
as obras, mesmo sem adquiri-las. “Mais
bolso, grandes livrarias e sebos estão
quantidades. “Quanto mais
do que um evento comercial, a Feira é
entre as bancas da praça. A pluralidade
bibliodiversidade, mais informação
um evento da comunidade”, defende.
de títulos também caracteriza o evento.
circula. Há muita coisa boa que não
“Quem não participa se sente excluído”,
Os visitantes poderão encontrar obras
está em evidência”, reflete Gilmar Vieira,
concorda Kiperman.
clássicas, títulos científicos, literatura
supervisor da editora Vozes.
e tem algo que não falta
infantil, publicações universitárias e livros internacionais, entre outros.
Oferecer livros não tão conhecidos
As editoras universitárias também marcam presença e algumas apostam
precisam conhecer as obras que estão
em obras literárias, jornalísticas e até
sendo comercializadas. Para isso, cada
obras mais vendidas – e para todos
de culinária. “A gente tenta contemplar
livreiro usa uma estratégia. Alguns
os outros livros. “É fundamental que
todas as áreas”, salienta Helga Haas,
mantêm os mesmos colaboradores
não se ofereça apenas os best sellers”,
editora da Edunisc, da Universidade de
por vários anos, pois vão acumulando
defende Vitor Mário Zandomeneghi,
Santa Cruz do Sul.
grande quantidade de informações.
A Feira também é espaço para as
diretor de Comunicação da Câmara RioGrandense do Livro. Segundo dados da Associação Nacional de Livrarias (ANL),
Outras, como as editoras técnicas,
Livros à mão cheia
enviam resenhas sobre os livros para os vendedores. Preocupada com
metade das vendas de uma grande livraria são de títulos com um ou dois
a qualificação do atendimento ao Alguns expositores oferecem tanto
visitante, a Câmara oferece cursos
exemplares comercializados ao ano.
material, que fazem a sua contagem
para os livreiros sobre como atender
Para ele, a teoria da cauda longa, que
por peso – e não por exemplares. “No
melhor. “Com bibliodiversidade e
prega que o mercado de massa está se
ano passado, foram 2.500 quilos”, conta
bom atendimento, não há como não
transformando em mercado de nichos,
o livreiro Antonio Carlos Barreto, que
alcançar bons resultados”, sentencia
também se aplica aos livros.
representa a Paisagem Distribuidora.
Zandomeneghi.
Os números da variedade
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exige mais preparo. Os atendentes
155
expositores em toda a feira
15
bancas na área internacional
REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / Novembro 2010
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barracas na área infantil e juvenil
espaços da cultura
Patrimônio
vivo
Feira do Livro é o primeiro evento cultural declarado bem de natureza imaterial da cidade
C
onforme os dicionários, intangível é o que não se pode perceber pelos cinco sentidos. Também é algo que, por
Câmara Rio-Grandense do Livro. Não se conhece bem imaterial que não tenha relação
seu valor e dignidade, não pode ser atacado e, portanto,
física com algum espaço. A história da Feira do Livro, desde
é indestrutível. Mas não existem apenas patrimônios
sua origem, está vinculada à Praça da Alfândega, que passa
materiais, como edifícios, praças ou objetos. Existem também
pelas restaurações do Projeto Monumenta – um programa de
bens imateriais, que estruturam identidades e reforçam os laços
recuperação do patrimônio histórico brasileiro, do Governo
culturais e afetivos de sociedades, povos e nações. Esses bens
Federal, em conjunto com as prefeituras, financiado pelo
são tão imprescindíveis quanto o patrimônio físico.
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), com apoio
Desde 23 de abril de 2010 – não por acaso, o Dia do Livro –,
da Unesco. Apesar das obras, a Feira continuará ocupando o
a Feira do Livro de Porto Alegre está registrada como bem de
espaço com algumas adequações (veja mapa na página 5). “A
natureza imaterial da capital gaúcha. “É o primeiro evento
gente não consegue imaginar a Feira em outro local. Praça
cultural que assume essa condição na cidade”, lembra Luiz
e Feira estão intrinsecamente ligadas. Há uma unicidade
Custódio, coordenador da Memória Cultural da Secretaria
entre elas, que constituem um só organismo”, ressalta Briane
Municipal de Cultura, responsável pela proposta. Em fevereiro,
Bicca, coordenadora do Projeto Monumenta Porto Alegre, da
a Festa de Navegantes, uma manifestação de cunho religioso,
Secretaria Municipal de Cultura.
também havia sido declarada patrimônio imaterial. Antes de ser anunciada oficialmente, em cerimônia promovida pela Câmara Rio-Grandense do Livro, a proposta foi aprovada pelo Conselho do Patrimônio Histórico e Cultural e
Maior em 2010
sancionada pelo prefeito José Fortunati. “É o reconhecimento formal de algo que a cidadania já sabia. Agora, todos –
que ainda estarão em andamento durante a realização da Feira,
evento – temos a responsabilidade de preservar o espírito e a
a área entre as Ruas dos Andradas e Sete de Setembro ficará
qualidade da Feira para que ela continue vinculada ao tecido
isolada com tapumes. Contudo, será mantido intacto o eixo da
social da cidade”, afirma João Manoel Carneiro, presidente da
Rua dos Andradas, um dos espaços importantes do evento. Este
Feição original
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Em função das obras de restauração da Praça da Alfândega,
organizadores, poder público, apoiadores e participantes do
A recuperação paisagística vai devolver à Praça da Alfândega a feição que possuía quando inaugurada em 1924. Oitenta e seis luminárias antigas serão reparadas e 42 novos lampiões (similares aos originais) deverão ser adotados. As obras incluem a restauração do chafariz em volta do Monumento ao General Osório e dos canteiros e caminhos internos, severamente alterados nos anos 70 com a implantação de um banheiro público. Um novo sanitário está sendo construído junto ao muro da agência da Caixa Econômica Federal, na lateral da praça. Ali, será instalado um módulo de serviços, com um café e duas bancas de revistas.
REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / Novembro 2010
A restauração do espaço inclui ainda a poda ou a remoção da vegetação exótica Fícus Benjamina, uma espécie de cerca viva que se transforma em árvore gigantesca quando não é contida. “Por falta de reparo, essa vegetação estava abafando os jacarandás, estes sim, originais da praça. Alguns jacarandás, em busca de sol, chegaram a ficar inclinados”, informa Luiz Merino Xavier, arquiteto do Monumenta. O transplante de algumas árvores permitiu a recomposição da linha reta das palmeiras imperiais da Avenida Sepúlveda, resgatando um diferencial da Praça.
trecho será interligado ao restante da Feira por meio de duas vias de acesso laterais que circundam a praça e também por uma passarela construída especialmente para a ocasião. Ao mesmo tempo, o espaço da Feira vai se alargar na Avenida
Fotos: Luis Ventura :: Ilustrações: Troyano Arquitetura
Ocupação do Cais do Porto: além da praça
da Estação Rodoviária. Conforme Edemar Tutikian, diretor de Desenvolvimento e Marketing da Caixa RS, que preside a Comissão Técnica de Avaliação da Revitalização do Cais Mauá, a permanência
Sepúlveda, que faz a ligação da Praça da Alfândega com o Cais
da Feira do Livro no local é um dos critérios já definidos. O
do Porto. Neste local, serão instaladas duas novas fileiras de
mesmo ocorre com a Bienal do Mercosul e o Museu de Arte
barracas. É importante ressaltar que as áreas de Autógrafos,
Contemporânea. “São eventos que fazem parte da vida da
Infantil e Juvenil e Internacional seguirão com a mesma
cidade”, acentua Tutikian, também presidente da Comissão
estrutura de edições passadas. Outra boa notícia é que, com
Especial de Licitação, que terá a missão de escolher a melhor
os novos espaços do eixo central, a Feira terá mais de 24 mil
proposta para a revitalização do cais. João Carneiro, presidente
metros quadrados de área. Dessa forma, esta edição será ainda
da CRL, lembra que a Feira foi uma das responsáveis por
maior do que a realizada em 2009.
reaproximar as pessoas das margens do Guaíba. “Antes de ocupar aquele espaço, poucas pessoas tinham possibilidade de contato com o Cais do Porto”, observa.
Feira fica no Cais
Em dezembro de 2009, quando o projeto que estabelece o regime urbanístico para o Cais Mauá foi aprovado na Câmara Municipal de Porto Alegre, os vereadores aprovaram também
A Feira do Livro também está no Cais do Porto desde 2005
uma emenda da Frente Parlamentar Municipal de Incentivo
com a Área Infantil e Juvenil e continuará lá, mesmo depois da
à Leitura que garante a continuidade da utilização da área
recuperação do espaço. Em outubro, serão abertos os envelopes
pela Feira. “Essa aprovação é uma vitória. Entretanto, não
com as propostas das empresas que participam do edital para
foi aprovada a emenda que assegurava especificamente a
a revitalização do Cais Mauá. A área que passará por processo
continuidade da ocupação dos armazéns. Por essa razão,
de modernização tem 3,3 quilômetros de extensão, abrangendo
temos que estar atentos e continuar lutando para garantir
desde a Usina do Gasômetro até o trecho na altura da Rua
também esse espaço para a Feira do Livro”, defende a vereadora
Coronel Vicente esquina com Avenida Mauá, nas proximidades
Fernanda Melchionna.
Durante as escavações, os técnicos localizaram a escadaria do antigo porto, além das pedras do próprio cais. Também encontraram as fundações do prédio da Alfândega, demolido para a instalação da praça em 1924. As pedras poderão ficar expostas ao público sem risco de dano, ao passo que a escadaria precisará de proteção, já que corre o risco de desmoronar. “Ela será revestida com areia para que não a percamos até que o avanço da tecnologia permita expô-la sem causar danos. Um painel com informações sobre ela será implantado no local”, afirma Xavier. Conforme o arquiteto, a previsão é entregar a praça restaurada em junho de 2011.
REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / Novembro 2010
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Estatística
na praça Qual o perfil dos visitantes?
A
56ª Feira do Livro de Porto
Durante os 18 dias do evento, de 29
haverá um questionário on-line para que
Alegre tem uma novidade
de outubro a 15 de novembro, cerca
os próprios internautas forneçam suas
nesta edição. A Câmara Rio-
de 30 pessoas estarão diretamente
informações.
Grandense do Livro (CRL),
envolvidas no projeto. O trabalho
Para realizar a pesquisa, serão ouvidas
compreende a aplicação de questionários
aproximadamente 800 pessoas. “A
com a Equilíbrio Assessoria Econômica
e o levantamento de informações
Equilíbrio é uma empresa nova. Tem
Solidária, empresa júnior do curso de
relacionadas a diferentes públicos da
um ano de existência e é formada
Ciências Econômicas da Universidade
Feira. Para obter dados sobre geração
por alunos da Faculdade de Ciências
Federal do Rio Grande do Sul, vai realizar
de empregos e renda, aumento de
Econômicas da UFRGS. Até agora,
uma grande pesquisa para avaliar os
faturamento e volume de vendas,
realizamos pesquisas mais voltadas
impactos econômicos e o perfil dos
serão ouvidos representantes de
para o mercado privado, fechado e de
visitantes e potenciais visitantes do
empresas fornecedoras da Feira do
pequenas empresas. Trabalhar com a
evento. “A pesquisa é um importante
Livro; associados da CRL, além de
Feira do Livro é uma oportunidade de
instrumento para mostrar o que a
hotéis, bares e restaurantes localizados
operar com o social e disponibilizar a
Feira representa para Porto Alegre”,
no Centro Histórico de Porto Alegre.
informação à comunidade. É o primeiro
avalia João Carneiro, presidente da
Outro questionário será aplicado aos
projeto alinhado aos valores da empresa:
Câmara Rio-Grandense do Livro. O
visitantes, para avaliar o perfil destes e os
de trabalhar pelo benefício da sociedade”,
levantamento é bastante abrangente e
gêneros de livros adquiridos. A pesquisa
explica Barros. De acordo com ele,
envolve espaços além da Feira do Livro.
também vai além dos espaços da feira
respostas vão ajudar a aprimorar ainda
“É um grande desafio para a Equilíbrio.
e chega a áreas como outras praças e
mais o evento. Para o questionário
Estamos preparando uma equipe
shopping centers, para analisar quem
via site, “questões como e-book serão
multidisciplinar que envolve as áreas
são os possíveis visitantes da Feira do
importantes”, completa. As informações
de ciências econômicas, sociologia e
Livro e o perfil das pessoas que não vão
serão sigilosas individualmente e
estatística para efetuar um bom trabalho
ao maior evento do gênero que ocorre a
divulgadas apenas estatísticas em
que sirva não só para a Câmara, mas para
céu aberto e totalmente gratuito. Outra
conjunto. A análise completa do
toda sociedade”, conta Leonardo Castro
fonte de coleta de dados será o website
levantamento será divulgada alguns dias
Barros, presidente da empresa.
www.feiradolivro-poa.com.br, onde
após a Feira.
Foto: Luis Ventura
organizadora do evento, em parceria
A amostra
10
600
visitantes da Feira do Livro
100
pessoas em shoppings e outras praças
REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / Novembro 2010
72
associados, restaurantes, hotéis e fornecedores
REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / Novembro 2010
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Ilustração: Alexandre Beraldo
notas e letras
Xerife das Letras
Com arrobas e www... A 56ª Feira do Livro de Porto
Para quem é navegador rotineiro
Alegre também pode ser acom-
da www, é possível acompanhar as
panhada pela internet. Os canais
notícias e fotos dos principais fatos
eletrônicos podem ser acessados
que ocorrem a partir da maior feira
pelo site oficial do evento, incluin-
do livro a céu aberto das Américas.
do as redes sociais como Twitter@
E como não poderia deixar de ser,
feiradolivropoa, Orkut e Facebook.
graças aos recursos que a internet
feira@web www.feiradolivro-poa.com.br
permite, a interatividade está presente. Deixe o seu recado, faça a sua pergunta. Siga, adicione, comente. Entre os dias 29 de outubro e 15 de novembro, a cobertura online da Feira vai atualizar você sobre a programação adulta e infantil, lançamentos e destaques.
Há 34 anos, José Júlio La Porta e sua sineta abrem a Feira do Livro de Porto Alegre Uma banca de revistas no centro da Praça da Alfândega esconde uma das figuras que fazem parte da história de Porto Alegre. Não fosse pela história que José Júlio La Porta, aquela banca de cor amarela, cheia de revistas e livros, seria apenas mais uma na capital dos gaúchos. O senhor sentado atrás do balcão é reconhecido todos os anos por seu papel na Feira do Livro de Porto Alegre: tocando sua sineta pelos corredores da praça, o xerife abre caminhos para as atividades de leitores, escritores e expositores. La Porta, hoje com 77 anos, participa do evento desde 1976, quando o então presidente da Câmara RioGrandense do Livro, Maurício Rosenblatt, resolveu propor um desafio. “Depois de uma viagem pelo interior do Estado, o presidente me contava
Quem quer pão? &tc
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Pão quente. Difícil encontrar alguém que não goste. Pois em tempos de academicismo da literatura, no final do século XIX, o pão quente foi o grande trunfo para a transgressão da ordem estabelecida. A Padaria Espiritual e todos os detalhes de uma produção artesanal de pão foi um dos movimentos mais interessantes da literatura brasileira. Fundada em Fortaleza (CE) por escritores, pintores e músicos, a gostosura da
REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / Novembro 2010
ideia foi o paralelo entre alimento para o corpo e alimento para o espírito. O primeiro padeiro-mór foi Antônio Salles, junto com seus companheiros padeiros, que assinava os textos, publicados no periódico do grupo O Pão. O que isso tem a ver com a 56ª Feira do Livro de Porto Alegre? Inspire-se, pois o cheirinho do forno quente será sentido com uma programação mais do que saborosa. Os cardápios serão servidos entre os dias 30
Vitrine das ilustrações A principal mostra de ilustrações da Literatura Infantil e Juvenil do País está confirmada. A 7ª Traçando Histórias acontece durante a 56ª Feira do Livro de Porto Alegre, de 29 de outubro a 15 de novembro. O evento bienal vai trazer produções de 37 ilustradores selecionados, com originais de obras publicadas entre 2009 e 2010. Cada artista contribuirá com duas imagens. No evento, Eva Furnari, Angela Lago e Ana Raquel, que completam 30 anos de carreira este ano, vão receber homenagem especial. A mostra também vai apresentar obras de outros nomes da ilustração infantil e juvenil como Ana Terra, Andrés Sandoval, Alê Abreu, Ângela Abu, Cárcamo, Cris Eich, Cristina Biazetto, Daniel Bueno, Elma, Ellen Pestilli, Elvira Vigna, Elisabeth Teixeira, Fernando Vilela, Flávio Fargas, Graça Lima, Guazzelli, Guto Lins, Ionit Zilbermann, Jean Claude, Janaina Tokitaka, Jô Oliveira, Laura Castilhos, Lélis, Luiz Maia, Lúcia Hiratsuka, Maria Eugênia, Marília Pirillo, Maurício Negro, Marcelo Cipis, Mateus Rios, Mario Bag, Roger Mello, Rubens Matuck, Salmo Dansa, Simone Matias e Suppa. Mais do que uma mostra, a Traçando Histórias também é uma oportunidade de trocar ideias e aprender com os destaques da ilustração no Brasil. Nos dias 3 e 4 de novembro, ocorre a tradicional programação paralela do evento, com caráter de curso de extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Para encerrar o primeiro dia do evento, Daniel Bueno, Guazzelli e Salmo Dansa vão falar sobre ilustração e diferentes expressões através da imagem, como cinema, publicidade e novas tecnologias. No dia 4, as homenageadas Ana Raquel, Angela Lago e Eva Furnari vão relatar suas
de outubro e 6 de novembro com atrações pra lá de especiais: de Adoniran à ópera, do Jornal Vaia à alegre homenagem a Noel Rosa. Luis Augusto Fischer, Arthur de Faria, Cristiano Hanssen, Antonio Carlos Pires, Zelig Libermann, Fernando Ramos, Guto Leite, Paulo Seben, Marô Barbieri, Adão Pinheiro, Luis Paulo Faccioli, Valesca de Assis, Cíntia Moscovich, Rodrigo Lacerda, Decio Andriotti e Christina Dias serão os padeiros dessa edição.
Ilustrações: Daniel Bueno
Foto: Luis Ventura
de uma atividade que tinha lhe chamado atenção. Nas estações de trem, homens tocavam uma sineta enquanto gritavam as manchetes dos jornais que vendiam. Era uma forma eficaz de atrair o público. Então, ele me desafiou a fazer a mesma coisa na Feira daquele ano”, recorda. Com um falar sereno, o xerife ressalta o crescimento do espaço físico da Feira do Livro como a principal evolução histórica. Por conta disso, o aumento na circulação do público, e uma consequente prosperidade nas vendas também foram observadas por seu olhar atento. Durante o ano, La Porta cuida da Banca da Alfândega e é reconhecido por populares que frequentam os arredores da praça. O fato de ter dois filhos, seis netos e um bisneto, revela La Porta como um encantado pelas crianças. Dono de uma banca de livros infantis por muito tempo, ele credita aos pequenos leitores o futuro da Feira. “Elas dão alegria ao evento, ajudam no crescimento e são a garantia da manutenção de novos leitores”, salienta. O xerife está ansioso para ver as novidades da 56ª edição Feira do Livro. Como nos últimos 34 anos, estará tocando a sineta para marcar presença no evento que já é parte de sua vida. “Minha vida e a Feira são histórias que se cruzam”, exalta. “A Feira do Livro é tudo para mim, é uma satisfação enorme participar mais um ano”, conclui em tom emocionado o xerife das letras.
experiências com ilustrações em um encontro
3/11 18h30 Daniel Bueno, Guazzelli e Salmo Dansa falam sobre ilustração e diferentes expressões através da imagem: cinema, publicidade, novas tecnologias
d&bates
mediado por Roger Mello. Desde 2009, a edição anterior da mostra está itinerando, em versão digital, pelo interior do Rio Grande do Sul, com apoio do Serviço Social do Comércio (Sesc), e por 25 países com os quais o Brasil mantém relações diplomáticas, por intermédio do Ministério de Relações Exteriores.
4/11 18h30 Ana Raquel, Angela Lago e Eva Furnari: 30 anos de ilustrações Mediação de Roger Mello
REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / Novembro 2010
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Arquivo/UPF
ordem dos jacarandás
A população está contagiada pelo desejo de formar leitores.
dedicação à leitura
A
cada dois anos, um grandioso espetáculo é montado
anteriores, foram reconhecidos o
em Passo Fundo. Realizada há 29 anos, a Jornada
moçambicano Mia Couto, com “O
Nacional de Literatura reúne, na cidade, professores,
outro pé da sereia”, em 2007; e Chico Buarque de Holanda, com
artistas, escritores e leitores de todas as idades para
“Budapeste”, em 2005.
um intenso encontro com as letras. O evento é reconhecido
Muitos foram os escritores, críticos, estudiosos da literatura
como o maior espaço de debate da literatura na América
brasileira e de outros países que já circularam pela Jornada.
Latina, feito que reservou ao município gaúcho o título de
Entre consagrados e iniciantes, a cidade já recebeu Antônio
Capital Nacional da Literatura em 2006. Na 56a Feira do Livro o
Callado, Fernando Sabino, Orígenes Lessa, Otto Lara Resende,
evento recebe a “Ordem dos Jacarandás” marcando o início das
Luís Fernando Verissimo, Luiz Antônio de Assis Brasil, Lya
homenagens aos 30 anos da Jornada e suas 15 edições.
Luft, Millôr Fernandes, Ignácio de Loyola Brandão, Eric
“A Jornada Nacional do Livro merece permanente
Nepomuceno, Zuenir Ventura, João Ubaldo Ribeiro, Guilherme
reconhecimento por ser exemplo e fonte de inspiração para
Fiúza, Pedro Bandeira, João Guilherme Estrella, Jorge Furtado,
quem trabalha de forma efetiva pela construção de uma
Ricardo Silvestrin e Alcione Araújo.
sociedade leitora no País”, destaca João Carneiro, presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro. Realizada pela Universidade de Passo Fundo e pela
A vibração, característica da cidade em tempo de Jornada, inspira cada vez mais a leitura em Passo Fundo. O município de 185 mil habitantes, na região Norte do Rio Grande do Sul,
Prefeitura Municipal, a Jornada Nacional de Literatura
apresenta um dos maiores índices de leitura do Brasil. Com 6,5
promove encontros entre leitores e escritores. No Circo da
livros por habitante/ano, o número supera a média brasileira de
Cultura, onde acontece, estimula a sintonia entre educação
4,7 ao ano e se aproxima de países de primeiro mundo, como a
e artes. Sob coloridas lonas circenses, possibilita vibrante e
França, onde cada habitante lê a média anual de 7 livros.
alegre diálogo entre literatura, teatro, pintura, música, dança,
A façanha de multiplicar leitores e livros explica-se. O
escultura, arquitetura, fotografia e cinema. No encontro, a
hábito de ler resulta do trabalho ininterrupto desenvolvido
leitura é tomada em sentido amplo por uma diversificada e
por uma equipe interinstitucional que organiza as Jornadas
numerosa plateia.
e seus desdobramentos, vinculados a profissionais da
Em 2009, o evento atraiu mais de 30 mil pessoas em uma
Universidade de Passo Fundo, da Prefeitura Municipal e de
semana de atividades. Só a Jornadinha, que completou
empresas privadas. “Todo esforço despendido ao longo dos
cinco edições, contou com 17 mil participantes. Uma intensa
anos pela formação de leitores tem valido a pena. Não apenas
programação integra a Jornada, com a realização de seminários
os passo-fundenses, mas a população da região Norte do Rio
e encontros e a presença de convidados internacionais. No ano
Grande do Sul está contagiada pelo desejo de formar leitores.
passado, 11 países foram representados por escritores.
Estamos felizes com o destaque e desafiados a ampliar esse
Outro ponto alto são os prêmios literários: Concurso de
14
Tânia Rösing, idealizadora e coordenadora da Jornada de Passo Fundo
índice. A leitura é uma questão de cidadania”, destaca a
Contos Josué Guimarães e Prêmio Passo Fundo Zaffari &
professora Tania Rösing, pesquisadora de leitura e formação
Bourbon de Literatura. Esse último premiou com R$ 100 mil o
do leitor da Universidade de Passo Fundo, idealizadora e
escritor Cristóvão Tezza pela obra “Filho Eterno”. Em edições
coordenadora do evento.
REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / Novembro 2010
economia da leitura
Benefícios em cadeia Impacto positivo sobre comércio e serviços é imediato, mas valor da Feira para a economia da cidade ultrapassa período de realização do evento
A
comerciante Beatriz Castoldi decidiu há pouco mais
da Grande Porto Alegre”, anota Eleonora Rizzo, que cuida das
de um ano ingressar em um novo ramo de atividade
operações do Moeda Bar e Restaurante, localizado na sede do
econômica. Ela cuidava de lojas de eletroeletrônicos
Santander Cultural, na rua Sete de Setembro, um dos locais que
da família e passou a administrar o Café da Alfândega,
recebe programação da feira. Durante os 15 dias de realização
localizado em um dos corredores laterais da tradicional praça
do evento, a movimentação de clientes cresce até 30% no
do centro de Porto Alegre. Durante a realização da 55ª Feira do
estabelecimento. “Não bastassem as atrações da Feira, a praça
Livro, em 2009, teve a certeza de que havia feito um excelente
fica mais segura nesse período, o que permite que as pessoas
negócio. “Normalmente, servimos 30 almoços por dia. Durante
circulem sem preocupação”, acrescenta Eleonora.
a Feira, a quantidade de refeições servidas aumenta para 60. É
se resume a bares, cafés e restaurantes. A circulação de um
como é conhecida a dona do Café da Alfândega.
contingente superior a 1,6 milhão de pessoas a cada ano – média
“A Feira do Livro é uma propulsora de programas culturais
16
O impulso dado pela Feira na economia de Porto Alegre não
o melhor movimento do ano, sem a menor dúvida”, afirma Bia,
de público entre 1999 e 2009 – beneficia outros segmentos
que podem ser feitos aqui no centro, como visitar o Museu de
econômicos. O incremento de vendas na Banca Veracruz, por
Artes do Rio Grande do Sul (Margs), o Memorial do Rio Grande
exemplo, é de 40%, conforme o dono do ponto, Maickel dos
do Sul e o Santander Cultural. Ela traz para cá, inclusive,
Santos. “Aqui no shopping, o aumento de receitas dos lojistas
pessoas que, embora morem na cidade, ainda não têm o hábito
em função da Feira é significativo – algo em torno de 20%.
de frequentar a área central. Além disso, vem gente de fora
Para se ter ideia, as vendas durante a Feira superam as que são
REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / Novembro 2010
verificadas no período de Natal”,
população de Porto Alegre atribui
A Feira em Números
informa Ana Paula Rosa, gerente
à Feira do Livro a partir desse
O movimento muito além dos livros
de marketing do Shopping Rua
sentimento de pertencimento
da Praia, na Praça da Alfândega,
se impõe como uma prioridade.
empresa que faz parte do Grupo
Conforme Valiati, as dimensões
Isdra.
não quantitativas acerca dos
Instalado no interior do
impactos de um evento cultural
shopping Rua da Praia, o Master
sobre a economia são relevantes
Express Grande Hotel (também do
para que se possa avaliar, inclusive,
Grupo Isdra) registra igualmente
variáveis objetivas como emprego,
um aumento expressivo de seus
renda, produto, entre outras.
níveis de ocupação – entre 30%
“Em via de regra, atividades
e 35%. “Normalmente, temos
com grande relevância e que se
70% de nossos apartamentos
reproduzem anualmente há mais
ocupados. Durante a Feira do
de meio século, como a Feira do
Livro, esse percentual sobe para
Livro, migram da condição de
95%, podendo alcançar até 100%,
fluxo econômico para a de estoque
com a vinda de autores, editores,
de cultura. É como uma peça de
palestrantes e do público em geral.
teatro que vira um clássico da
A localização muito próxima à
dramaturgia universal e passa a
praça facilita a hospedagem”,
representar um valor simbólico
detalha o gerente Ricardo
significativo para a humanidade.”
Herborn.
Há dois anos, o professor coordenou uma pesquisa da
Valoração simbólica
captar o valor da Feira do Livro Os pesquisadores utilizaram o método de valoração contingente
da Cultura da Universidade
aplicado sobre um evento que é
Federal do Rio Grande do Sul,
gratuito e de livre acesso. A partir
os impactos positivos da Feira
dessa metodologia, tentaram
sobre a economia urbana não
descobrir quantas pessoas
se limitam à quantidade de
estariam dispostas a pagar para
livros comercializados a cada
ter acesso ao bem, caso ele fosse
ano (média superior a 442 mil
cobrado. Da mesma forma,
exemplares por ano, entre 1999 e
queriam saber quantas pagariam
2009) ou ao incremento imediato
para que o bem não existisse e
do comércio localizado na região
quantas gostariam de receber
central da cidade. “Seguramente,
algum retorno financeiro para que
os benefícios que o evento
ele deixasse de existir. O resultado surpreendeu
de 18 dias de ocupação da Praça
aos pesquisadores: “A sociedade
da Alfândega.” De acordo com
sinalizou que está disposta a
Valiati, um valor simbólico é
pagar pela realização do evento.
agregado à cidade na medida
Chegamos a um valor atribuído
em que a população cria uma
pela população que é maior
identidade consistente com a
do que o dobro dos recursos
Feira, que é referência nacional
captados na época pela Feira
e internacional. “Na verdade, há
por meio de mecanismos de
um sentimento de pertencimento
isenção fiscal. Mais do que isso,
à Feira, uma vez que as pessoas
os dados indicaram que ela é
se sentem como parte do evento
valorada, inclusive, por pessoas
por serem porto-alegrenses
que não a frequentam, mas que
ou viverem aqui”, assinala o
compreendem sua importância
pesquisador.
para o desenvolvimento da
Embora não seja uma tarefa fácil, mensurar o valor que a
mil exemplares vendidos*
100%
de aumento de pratos servidos no Café da Alfândega
Grande do Sul com o objetivo de
Valiati, do curso de Economia
produz ultrapassam o período
Mais de
Universidade Federal do Rio
para os habitantes de Porto Alegre. Para o pesquisador Leandro
1,6 400
milhão de pessoas*
cidade”, conclui o professor
Rua da Praia Shopping vende mais na época da Feira que no Natal
*Média anual registrada nos últimos 10 anos
Facilidades no atendimento A agência da Caixa Econômica Federal situada junto à Praça da Alfândega toma algumas providências para beneficiar o público e também quem trabalha na Feira. Uma delas é a extensão do horário de funcionamento das máquinas de autoatendimento até as dez horas da noite. Outra medida adotada é a fixação de um caixa específico dentro da agência para atender à Feira, facilitando transações como saques, depósitos e troco para as empresas expositoras. “A Caixa apoia a Feira desde 2004 e, a partir de 2007, tornou-se o banco oficial do evento. O apoio à cultura não é casual, uma vez que consta no estatuto da instituição”, afirma Valdemir Colla, superintendente da Caixa Econômica Federal em Porto Alegre. Conforme ele, o movimento físico na agência não sofre grande alteração durante a Feira, porque hoje as pessoas pouco utilizam dinheiro ou cheque para a efetivação de suas compras. “O que predomina atualmente é o uso de cartões.”
da Ufrgs.
REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / Novembro 2010
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Foto: Luis Ventura
perfil do patrono
o embaixador
dos gaúchos Um símbolo para o Rio Grande, Paixão Côrtes assume seu posto com a missão de popularizar ainda mais a Feira do Livro
18
REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / Novembro 2010
D
esde que foi escolhido o patrono
sobre as diferentes formas de laçar que já
da 56ª Feira do Livro, o folclorista
existiram no Rio Grande do Sul.
Paixão Côrtes faz questão de repetir que não é escritor, que
sua obra não é de ficção. Seu trabalho é, há mais de 60 anos, “registrar as coisas
Um multiplicador cultural
Alguns títulos
56o
patrono
do povo para devolvê-las ao povo”. “O que eu vejo, o que me contam, o que
O autor não é apenas um pesquisador
eu analiso, eu coloco na forma escrita
dos hábitos gaúchos, mas também um
para que o povo possa ler, entender
intérprete deles. Dançou com grupos
e multiplicar, revitalizando a própria
típicos, gravou LPs de músicas folclóricas,
cultura popular”, detalha. Na verdade,
vestiu as pilchas. Viveu no campo durante
não só na forma escrita, mas também
a infância e conviveu com o homem
de fotografias, desenhos e partituras.
do campo por causa de sua profissão,
Paixão se preocupa com a pesquisa das
engenheiro agrônomo.
danças, das músicas, das vestimentas, das
Suas publicações seguem duas
comidas, das bebidas e dos rituais que
vertentes. Uma são os livros volumosos,
se tornaram folclóricos no Rio Grande
mais duradouros, para guardar na
do Sul. Em seus livros, procura esmiuçar
biblioteca. A outra são livros curtos,
didaticamente esses hábitos para que
folders e revistas sobre algum tema,
eles sejam adequadamente preservados.
que distribui gratuitamente durante as
Para ele, a descoberta e a popularização
palestras em entidades para popularizar
desses costumes tradicionais ajuda os
o assunto. Essas publicações menores,
gaúchos a se conhecerem e a projetarem
de consumo mais imediato, mantêm o
essa identidade perante os outros povos.
movimento tradicionalista continuamente
“Os outros povos querem saber como nós
alimentado e, segundo Paixão, de uma
vivemos, o que nós dançamos, o que nós
forma mais eficiente do que se recebesse um tijolão de uma única vez.
comemos, assim como nós
De 1980 para cá, doou mais
também temos curiosidade de conhecer os outros”, afirma. Para chegar a esses costumes folclóricos, porém, o caminho é longo. O patrono gosta de enfatizar que o que ele procura são as
(Ser indicado) pareceu-me uma maneira simpática de ver que a literatura do povo merece ter espaço ao lado da erudição das grandes obras.
de 350 mil publicações desse tipo. São obras patrocinadas por
O livro de 1987 foi reeditado em versão ampliada pela Corag. Descreve práticas populares ligadas à religiosidade
The gaucho, 1978 A obra sobre danças, trajes e artesanato do gaúcho foi traduzida para o inglês e integra o acervo do Victoria and Albert Museum em Londres
empresas, pessoas físicas ou órgãos públicos, que ficam
Paixão Côrtes Patrono da Feira do Livro de Porto Alegre
com uma parcela dos exemplares e deixam o
manifestações genuínas,
restante com o folclorista.
originais, e também
Embora alegue “não ser
coletivas. Não importam para
Folclore Gaúcho 2006
rico em expressões vernáculas”
ele, por exemplo, as expressões artísticas
e não esperar que um dia fosse patrono
individuais. “Para registrar um elemento,
da Feira do Livro, Paixão se sentiu à
tu tens que ter um comprovante de que
vontade com a indicação para ser um dos
ele realmente é de abrangência coletiva”,
patronáveis. “Pareceu-me uma maneira
diz. Para isso, o folclorista precisa ter
simpática de ver que a literatura do povo
mais de um informante. “Às vezes eu levo
merece ter espaço ao lado da erudição
30, 40 anos atrás de uma dança”, revela.
das grandes obras”, explica. Uma de suas
Suas fontes não são apenas pessoas, mas
preocupações será a de aproximar o povo
também documentos pesquisados em
da Feira. E adicionar ao evento alguns
bibliotecas e arquivos. “O pessoal diz: ‘o que
símbolos da tradição gaúcha. Lembra
é que o Paixão está inventando?’ ‘Inventou
que a abertura é feita com uma sineta
outra moda’. Eu não invento moda. É que
para chamar a atenção dos transeuntes.
eu demoro muito tempo para conseguir
Porém, faz parte do folclore gaúcho outro
esses comprovantes”, justifica. Moda, aliás,
objeto que tem esse mesmo objetivo, a
é justamente o contrário do que Paixão
matraca. “Por que não se matraqueia
procura. Incansável, está sempre atrás de
e revive uma tradição?”, propõe. Essa
novas descobertas. Além de um livro de
Feira vai entrar no folclore. Ou melhor, a
aproximadamente 700 páginas que está
Feira também já faz parte do folclore do
em produção, já planeja uma outra obra
gaúcho.
Origem da Semana Farroupilha 1994 Mostra como surgiram os rituais da semana do 20 de setembro, como a Chama Crioula e o Desfile de Cavalarianos
O Rio Grande do Sul – Canta e Dança com Paixão Côrtes 2006 Faz um apanhado das canções que compõem parte dos LPs e CDs lançados pelo folclorista
REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / Novembro 2010
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Na despedida da função de patrono, o guri daltônico reconhece que foi um período de alegrias intensas. Agora, pretende homenagear a Feira do Livro de Porto Alegre com uma obra que mistura almanaque com álbum de figurinhas. Confira a entrevista do ex-patrono que conquistou ainda mais leitores
O que representou para você ser patrono da Feira do Livro de Porto Alegre?
semanas. Usei tênis, que resistiram bem. Sei que deveria
Passar a fazer parte da História da Feira é a maior homenagem
presidente da CRL. Mas, para o bom e para o mau colesterol, sou
a que poderia aspirar, como escritor em atividade. Significa
da Fronteira, adoro picanha.
também a máxima honraria a um representante da literatura feita para crianças. Ser patrono torna-se uma imensa vitrine
Que conselhos você dá ao Paixão Côrtes, patrono desta edição?
para a obra do autor. Pelo fato de estar representando a Feira
Estou trifeliz com a escolha de João Carlos Ávila Paixão Côrtes,
recebi homenagens importantes, como a Medalha do Mérito
um símbolo da cultura rio-grandense. Além de nascidos em
Farroupilha, da Assembleia Legislativa. O Gabinete Português
Santana do Livramento, somos da mesma raiz familiar, os
de Leitura me deu o troféu Fernando Pessoa. A Prefeitura e a
Ávila do Cerro Chato. O melhor conselho que posso dar é o de
Câmara de Vereadores de Santana do Livramento, minha terra,
ele estar sempre ao lado do Anjo da Guarda, pessoa designada
me entregaram troféu e diploma. Ganhei ainda a Medalha de
para monitorar a agenda do patrono. Na minha vez, o Anjo foi a
Porto Alegre, concedida em 2010 por indicação da Secretaria
Fernanda Tonezer, bela menina de olhos azuis, que me tirou de
Municipal de Cultura e entregue pelo prefeito da Capital.
muito aperto e cuidou de mim o tempo inteiro.
Qual foi a melhor coisa que aconteceu como patrono?
Como será sua participação na feira deste ano?
Ter um espaço, a Casinha do Patrono, bem na entrada do Cais
para Paixão Côrtes. Terei encontro com estudantes no Teatro
do Porto, junto à área infantil. Passou a ser uma excelente
Sancho Pança, dentro do projeto Autor no Palco. Em outros dois
oportunidade de troca e aproximação. A maior parte do tempo
eventos programados, vou falar sobre o dramaturgo gaúcho
não consegui, por causa da quantidade de compromissos. Fiquei
Qorpo Santo e sobre o livro “As Viagens de Gulliver” e mais
“fora da Casinha”, mas sempre querendo voltar.
algumas programações...
Teve que enfrentar alguma situação difícil?
Você dizia que ser patrono da Feira do Livro era um sonho. Agora que esse sonho já se realizou, qual é seu grande desejo?
O que acontece com o patrono na Feira é tudo de bom. Não posso me queixar de nada. O mais difícil era caminhar entre os
Vou participar de várias atividades, além de entregar o “cargo”
frequentadores. As pessoas querem atenção, um abraço, uma foto.
Contar em livro para crianças a história da Feira, de maneira
A Feira do Livro é o maior evento cultural do povo de Porto Alegre.
bem simples, acessível a todas as idades, do jeito como eu gosto.
Com as andanças gastou muitos sapatos? Perdeu uns quilos durante o evento?
Com muita ilustração, uma mistura de almanaque com álbum
Bem que gostaria de perder uns quilinhos e reduzir a barriga,
barraquinhas, em 1955, até a superestrutura de agora. E cada
como recomendam meus médicos. Não cheguei a tanto, mas
patrono rende capítulos riquíssimos. Estou à inteira disposição
ganhei agilidade e resistência durante a maratona de duas
de quem quiser bancar esse projeto.
Cores e letras
20
adquirir os hábitos saudáveis do João Carneiro, o esbelto
de figurinhas. Dá para descrever a trajetória desde as primeiras
Jornalista de formação, o autor atuou em várias editorias e veículos de comunicação, mas foi na literatura infantil que encontrou sua maior realização. “Um Guri Daltônico”, “Uma graça de traça”, “Bolacha Maria” e “Na noite Estrelada”, são alguns dos destaques de sua bibliografia. Em 2009, enquanto desempenhava o papel de patrono, Urbim brindou os leitores com o relançamento de “Um Guri Daltônico”,
REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / Novembro 2010
que é de 1984. Na nova edição, produzida pela editora Edelbra, a história do menino que confunde as cores teve uma proposta visual utilizando a técnica do mosaico, com ilustrações de Cláudia Sperb. No ano em que foi Patrono completou 25 anos de trajetória como escritor infantil. Para Carlos Urbim, agora falta realizar um sonho: o de se tornar avô para contar suas histórias para seu neto, ou neta.
Foto: Luis Ventura
“Fiquei fora da casinha”
Ping Pong carlos urbim
REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / Novembro 2010
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Ilustração: Alexandre Beraldo
infantil e juvenilil
A feira que nunca acaba Além do evento, estudantes participam de ações de incentivo à leitura durante o ano todo
A
Feira do Livro de Porto Alegre é uma festa para
escritores. Os muros da escola não são limite para a leitura.
crianças e jovens – e não só entre 29 de outubro e 15
Desde 2002, a Feira do Livro também vai à Biblioteca Dona
de novembro. Um dos mais tradicionais eventos da
Margarida do Centro de Internação Provisória Carlos Santos,
cultura do Estado ultrapassa o período da feira, os
da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase), de Porto
limites da Praça da Alfândega e até de Porto Alegre. “A feira
Alegre, e reúne escritores e internos da instituição em uma
não é um fato isolado. É o momento culminante de programas
iniciativa exemplar de inclusão.
e projetos de leitura desenvolvidos em diferentes regiões do
O benefício dessas iniciativas vai além da aula de Literatura
Estado, muitos em parceria com a Câmara Rio-Grandense do
ou Língua Portuguesa e inspira aprendizados interdisciplinares.
Livro”, conta Sônia Zanchetta, responsável pela programação
Essas ações foram reunidas no Tessituras, um curso de extensão
infantil e juvenil do evento.
para formar mediadores de programas de leitura, realizado em
Levar escritores para ficar frente a frente com crianças e
120 educadores de 23 cidades. Com a troca de experiências, os
encontros, os alunos são estimulados a ler obras dos autores
projetos devem se multiplicar pelo Estado.
para tornar as visitas mais ricas. A história começou em 2002,
22
parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com
jovens é uma das estratégias mais bem sucedidas. Antes dos
Se o período que antecede a Feira é de intensa efervescência
com o programa Adote um Escritor, desenvolvido pela Câmara
literária, o Cais do Porto se transforma em território das
com a Secretaria de Educação de Porto Alegre. Só este ano,
crianças, dos jovens e dos livros durante os 18 dias do evento.
são 131 encontros em 96 escolas. A Região Metropolitana e o
O público pode conferir as novidades de 32 expositores e
interior também têm essa oportunidade. Criado em 2003, o
participar de mais de 400 atividades. Mais de 170 mil pessoas
Programa Fome de Ler, promovido pela Câmara, com a Ulbra
são esperadas só para os eventos da Área Infantil e Juvenil. Há
(Guaíba, Canoas e Rede Ulbra de Escolas) e as prefeituras
atração para todo mundo. Os pequeninhos podem se divertir no
de Canoas e de onze municípios do Centro-Sul do Estado, já
QG dos Pitocos; a criançada participa de contações de histórias
beneficiou cerca de 30 mil alunos. O caçula dos projetos é o
e até autografa seus próprios livros e os jovens interagem com
Lendo pra Valer, iniciado em 2007, em parceria com a Secretaria
seus escritores favoritos. Os aficcionados por quadrinhos têm
de Estado da Educação, que disponibiliza os livros para leitura
vez no Mutação (leia mais na página 25). Para ficar por dentro
prévia. Funciona em 21 municípios, articulado com o Fome
de um pouco de tudo que ocorre no universo infantil e juvenil
de Ler. Neste ano, 56 instituições de ensino vão receber os
da Feira do Livro de Porto Alegre, confira as próximas páginas.
REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / Novembro 2010
Arquivo Passoal
Arena das Histórias Um teatro onde escritores, contadores de histórias e ilustradores encontram alunos da escola infantil e do ensino fundamental. Assim é a Arena das Histórias, com atrações como o Chico do Bonecos (foto), arte-educador mineiro que vem à Feira para encantar crianças de todas as idades. Ele traz sua maleta repleta de objetos insólitos e utiliza-os para construir brinquedos falantes e resgatar brincadeiras antigas. Na Arena também acontece a abertura do 3º Seminário A Arte de Contar Histórias, com sete contadores gaúchos. O evento mostra de que forma diferentes linguagens, como teatro, dança e mágica, podem tornar a contação ainda mais interessante.
Ducha das Letras
QG dos Pitocos
Um dos espaços para aprender e trocar ideias na Feira é o Ducha das Letras, onde ocorrem, entre outras atividades, oficinas do 2º Seminário Redes de Leitura. A iniciativa parte de um projeto da ONG Cirandar, de Porto Alegre, com parceiros como o Instituto C&A. O objetivo é promover a leitura a partir do fortalecimento das bibliotecas comunitárias nas comunidades em ações articuladas com empresas. A Ducha das Letras também recebe oficinas do 2º Seminário por um Espaço Especial para a Literatura na Escola, com a participação de professores, bibliotecários e outros mediadores de leitura. A abordagem de temas polêmicos na escola, na família e nas narrativas está entre os assuntos do encontro.
Antes de aprender a ler, a turminha de 0 a 6 anos já encontra muitas atrações e diversão na Feira. O reino da criançada pequena é o QG dos Pitocos. Apresentações de escritores e ilustradores, contações de histórias e teatro de bonecos estão entre as atividades desenvolvidas no espaço. Tem até oficina para os pais. Na Histórias para Contar em Casa são os familiares que vão aprender formas e técnicas de contação de histórias, além de exercícios e brincadeiras. O QG dos Pitocos também vai receber o Teatro de Mamulengo do Senado (foto), o Mamulengo Alegria. O espetáculo é obra do brasiliense Josias Wanzeller da Silva, que há mais de dez anos escreve, dirige os textos, manipula os bonecos e controla a trilha sonora com os pés.
Largo da Escrita Na Feira do Livro crianças e jovens também são estrelas da festa e têm um espaço especialmente dedicado às suas sessões de autógrafos e lançamentos. É o Largo da Escrita, uma área com capacidade para 700 pessoas, destinada à apresentação de projetos de produção literária das escolas. São iniciativas como a do Colégio Israelita, de Porto Alegre, que anualmente mobilizam centenas de pessoas, entre alunos, professores, pais e outros representantes da comunidade. Instituições de outras cidades também levarão seus alunos para lançar suas obras no espaço.
d&staques Arena das Histórias
Ducha das Letras
4/11 – 19h Abertura do seminário A Arte de Contar Histórias 6/11 – 14h Contação de histórias com Chico dos Bonecos 7/11 – 14h Contação de histórias com Jiddu Saldanha
1º/11 – 19h Encontro com o escritor Rodrigo Lacerda 5/11 – 14h Exibição do filme Antes que o mundo acabe, com audiodescrição 8/11 - 18h Encontro da Confraria Reinações
Largo da Escrita (Sessões de autógrafos) 5/11 – 14h Livro Crianças do Rio Grande escrevendo Histórias* 7/11 – 9h Colégio Israelita, de Porto Alegre 12/11 – 14h Colégio Luterano São Paulo, de Porto Alegre *Secretaria Estadual da Educação
REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / Novembro 2010
QG dos Pitocos 30/10 -10h30 Histórias para contar em casa, oficina para pais 2/11 – 17h30min Teatro de Mamulengo do Senado Federal 7/11 – 16h30min Bonecos de Pau, com o grupo A Divina Comédia
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A comunidade se encontra e se apresenta no Território das Escolas, um teatro com capacidade para 300 pessoas, onde são promovidos espetáculos artísticos das escolas e de outras instituições e grupos. Um dos destaques são as Meninas Cantoras de Nova Petrópolis e o Coro Infanto-Juvenil de Veranópolis, com uma apresentação que encanta o público. O Grupo Cataventus, que reúne voluntários em um projeto de inclusão social por meio da contação de histórias, também vai estar presente no Território em duas datas. Outra atração é o sarau “120 anos, 120 tomates depois”, promovido pelo Jornal Vaia, com Marcelo Noah e Guto Leite, em homenagem ao escritor Oswald de Andrade.
d&staques
Território das Escolas 31/10 - 17h Projeto Alvorada Fazendo Arte, Secretaria da Cultura de Alvorada 5/11 – 9h Bela Adormecida, espetáculo do Instituto de Educação de Ivoti 12/11 – 1030min e 15h30min
Projeto Música, Ação, Inclusão – Smed Cachoeirinha
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Teatro sancho pança
O espaço do público jovem e de alguns dos grandes seminários e debates da Feira é a Casa do Pensamento. É lá que acontece a programação da 7ª Traçando Histórias, um curso de extensão da UFRGS, que integra a mais importante mostra de ilustrações de livros infanto-juvenis do País. O espaço também recebe o 5º Mutação na Feira, com quadrinhistas e especialistas em quadrinhos; e o 3º Seminário A Arte de Contar Histórias. A casa ainda é palco do 11º Encontro dos Organizadores de Feiras de Livros do Rio Grande do Sul, com a participação de boa parte dos mais de 110 municípios que promovem feiras de livros no Estado, assim como de escolas, clubes e entidades.
O palco dos grandes espetáculos é o Teatro Sancho Pança. Entre os destaques está uma peça que evoca um tema atual e de forte impacto para muitas crianças: o bullying. Filhote de Cruz Credo (foto), a história autobiográfica do escritor Fabrício Carpinejar adaptada pelo diretor Bob Bahlis, ganha a cena no dia 2 de novembro, às 17 horas. O espaço também recebe o tradicional concerto da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. E é ainda o cenário onde ocorre a Programação do ciclo O Autor no Palco, em que alunos do ensino fundamental encontram importantes autores, como Roger Mello, Lúcia Fidalgo, Fábio Sombra e Ilan Brenman.
?
Biblioteca do Cais Criada em 2005, quando a Área Infantil e Juvenil da feira passou a funcionar no Cais do Porto, a Biblioteca do Cais leva muito mais que um acervo de qualidade ao público. Além de obras para crianças, jovens e educadores, o espaço abriga a Vitrina da Leitura, onde são exibidos projetos de destaque na área de leitura no Estado. A biblioteca também é um ponto de encontro e troca de experiências para os professores. No Recanto dos Educadores acontecem eventos como a Hora de ler Clarice, debate sobre obras da escritora com as professoras Zilá Mesquita e Anderson Hackenhoar. O local contempla ainda a Estação Multimídia, com terminais de computador com um programa especial para cegos e obras cedidas pela Confraria das Letras em Braile.
Foto: Marcelo Nunes
Foto: Maurício Concatto
Território das Escolas
Casa do Pensamento
Casa do Pensamento
Vitrina da Leitura *
Teatro Sancho Pança
2/11 – 9 às 21h 5º Mutação na Feira – Histórias em Quadrinhos, zines e outras histórias 4/11 – 9h Rock’n roll, literatura e outras coisas mais, com Frank Jorge 10/11 – 9h Encontro com Cláudio Levitan
29/10, das 9 às 21h Fórum Gaúcho pela Melhoria das Bibliotecas Escolares 2/11, das 9 às 21h Projeto A Feira vai à Fase 11/11, das 9 às 21h Projeto Cidadão Leitor, de Osório
2/11 – 17h Filhote de Cruz Credo, espetáculo teatral 7/11 – 11h Concerto da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre 8/11 – 20h Dona Gorda, espetáculo teatral 13/11 – 19h30 Programa da Rádio Buzina do Gasômetro
* Na Biblioteca do Cais
REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / Novembro 2010
A ante-sala da leitura
mundo dos quadrinhos
Mutação aproxima interessados e educadores do universo dos quadrinhos e destaca o Cavaleiro das Trevas, Batman, e o Mocinho do Brasil, Tex
D
ois mundos se fundem na 56ª Feira do Livro de Porto Alegre. Um dos eventos mais aguardados, a 5ª edição do ciclo Mutação na Feira – HQs, zines e outras histórias, vai unir quadrinhos e educação. “Queremos ampliar o debate com os educadores sobre a relação
entre HQs e o processo educativo”, afirma Romir Rodrigues, coordenador do evento. As palestras sobre o tema estarão concentradas nas atividades de 3 de novembro. No primeiro dia do ciclo, 2 de novembro, o público-alvo serão quadrinistas, colecionadores, criadores e produtores de HQs. Uma das principais atrações do Mutação deste ano, o jornalista Sílvio Ribas, autor do Dicionário do Morcego, defende o uso das HQs como recurso pedagógico para envolver desde cedo as crianças e os jovens com a leitura. “Não tenho dúvida de que os quadrinhos representam a ante-sala da leitura para eles”, sustenta. O autor entende que estão superados muitos dos preconceitos históricos que atingiram os quadrinhos. “Hoje já existe uma abertura maior, principalmente na Europa”, diz Ribas, radicado em Brasília e
Tex encarna o desejo de que o mundo pode e deve ser melhor.
atuando no jornal Brasil Econômico. Lançado pela Editora Flama, em 2005, o Dicionário do Morcego é o mais completo guia sobre o fenômeno Batman publicado no Brasil. Fã e colecionador – ele tem mais de três
Gervásio Freitas, editor do Portal Tex Brasil
mil gibis do Cavaleiro das Trevas – levou 17 anos para publicar a obra. “É um sonho que acalentava desde os tempos da faculdade.” Na palestra “A saga do morcego”, Ribas vai falar sobre o ícone universal que “saiu da indústria cultural e passou a fazer parte do cotidiano das pessoas”.
(MG), Sônia foi quem introduziu a discussão sobre HQs nas universidades brasileiras. Especialista em cultura do mangá, ela
Um fenômeno editorial
também lecionou no Japão, Holanda e França. As oficinas preparadas pelo Núcleo de Ilustração e Quadrinhos (NIQ) da Universidade Federal do Rio Grande
O Mutação na Feira vai abrir com o “Encontro Bonelli”, em 2
do Sul constituem outra atração imperdível. No dia 2 de
de novembro, às 9h, no Armazém A do Cais do Porto. A Sergio
novembro, serão promovidas oficinas-relâmpago para crianças
Bonelli Editore, de Milão, é uma das mais conceituadas editoras
e adolescentes, das 15h às 21h. No dia seguinte, as atividades
da Europa, responsável por publicações como Tex, personagem
serão dirigidas aos professores, a partir das 9h. “A ideia é que os
de western criado em 1948. Desde 1971, a revista em quadrinhos
próprios educadores presentes criem suas histórias para que
do herói é publicada ininterruptamente. O debate estará a cargo
possamos juntar a teoria com a prática”, antecipa o coordenador
do jornalista baiano Gonçalo Júnior, autor de “O mocinho do
Romir Rodrigues.
Brasil – A história de um fenômeno editorial chamado Tex”, e
O ciclo Mutação na Feira – HQs, zines e outras histórias
Gervásio Santana de Freitas, há dez anos editor do Portal Tex
surgiu em 2006, no Cais do Porto, reunindo fãs das HQs, jovens
Brasil, que tem autorização da editora para usar o personagem.
quadrinistas, cosplayers, professores, estudantes e público em
“Tex encarna o desejo de que o mundo pode e deve ser melhor
geral. Desde então, a cada ano, conta com a participação de
se tivermos pessoas de caráter que defendam os valores corretos
artistas de primeira linha e especialistas em quadrinhos. Em
da sociedade”, analisa Freitas.
2010, o evento será encerrado com a participação do cineasta
Os laços entre HQs e cultura serão debatidos em mesa-
André Kleinert e do jornalista Goida, crítico de cinema,
redonda com a participação de Sônia Luyten e de Gonçalo
estudioso e colecionador de HQs, autor da Enciclopédia dos
Júnior. Professora do Programa de Pós Graduação da
Quadrinhos, editado pela L&PM e também André Alves, um dos
Universidade Presidente Antonio Carlos, em Juiz de Fora
idealizadores do evento.
REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / Novembro 2010
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As muitas
faces do livro
Todos os gostos e interesses se encontram na maior feira de livros a céu aberto das Américas
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REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / Novembro 2010
Da esquerda para a direita: (1ª linha) Augusto Cury e Eduardo Bueno; (2ª linha) Fabiano Dalla Bona e Benjamin Moser; (3ª linha) Marcel Souto Maior, Fernando Reinach e Gilberto Fiuza. Fotos: Luiz Alonso (Augusto Cury), Tessa Posthuma de Boer (Benjamin Moser), Bel Pedrosa (Marcel Souto Maior), Renato Parada (Fernando Reinach), demais (Dilvulgação/Editora).
caminhos da programação
U
ma das mais talentosas escritoras portuguesas da
universalidade
!
atualidade, Inês Pedrosa estará na 56ª Feira do Livro de Porto Alegre. E ela não é a única grande atração do evento. Luis Fernando Verissimo e Zuenir Ventura
participam da Feira e abrem o I Seminário Nacional de Crítica
Pela primeira vez, a renomada escritora portuguesa
e Literatura. O cantor Lobão também vem e fala sobre sua
Inês Pedrosa (foto) encontrará o público da Feira do
biografia recentemente lançada.
Livro de Porto Alegre. Identificada com o feminismo
A multiplicidade desta que é uma das principais feiras
sutil, Inês penetra na crueza do universo masculino em
literárias do Brasil impressiona. Durante os 18 dias, mais
sua mais recente obra “Os Íntimos”. Um dos livros mais
de 250 eventos, como palestras, mesas-redondas, oficinas e
polêmicos da humanidade também estará em debate,
apresentações artísticas integram a programação. A diversidade
com uma abordagem crítica do francês Antoine Vitkine
vai muito além da literatura. Ciências, filosofia, jornalismo,
sobre “Mein Kampf”, a obra na qual Hitler lançou as
questões ligadas à saúde e culinária são alguns dos temas
bases do Nazismo. Os quadrinistas Jens Harder e Atak
tratados nos muitos espaços da feira.
vêm da Alemanha para debater a ficção e a não-ficção
Para ajudar o visitante a localizar as atrações de seu interesse,
nos quadrinhos. A Feira traz ainda a premiada escritora
o roteiro foi distribuído em caminhos. “Na feira, todos os
Judith Katzir, traduzida em 11 línguas, para falar sobre
tipos de livro e programações a ele ligados estão inseridas.
Literatura Israelense.
Procuramos facilitar a vida do participante, estabelecendo
O biógrafo de Clarice Lispector, o norte-americano
diferentes caminhos, que são roteiros a partir de áreas do
Benjamin Moser, vai tecer relações entre a vida e a
conhecimento”, conta Jussara Haubert Rodrigues,
obra dessa que é um dos ícones da literatura
Coordenadora de Programação para o Público
brasileira. O universo das biografias terá
Adulto da Feira do Livro de Porto Alegre.
espaço ainda com os autores da história
Procuramos ajudar os participantes, estabelecendo diferentes caminhos, que são roteiros a partir de áreas do conhecimento.
São quatro eixos. Pela via da literatura vão passar nomes como Carlos Heitor Cony, Guilherme Fiuza e Benjamin Moser, o autor norte-americano que escreveu a biografia de Clarice Lispector. No caminho das Ciências
do humorista Bussunda, Guilherme Fiuza, que também escreveu “Meu nome não é Johnny”; e de Padre Cícero, o biógrafo Lira Neto, da obra sobre a cantora Maysa. Outro destaque é o
Jussara Rodrigues
Coordenadora de Programação para o Público Adulto
Exatas – Aprendendo através dos livros é a vez de aproximar a ciência do público em geral, com debates como “Estamos sós no Universo?” e a “Arte
autor de um dos livros mais célebres da atualidade, Luiz Eduardo Soares, fala sobre Elite da Tropa 2, que trata das milícias
de Esquecer”, com o pesquisador Ivan Izquierdo.
do Rio de Janeiro.
Para as Ciências Humanas – Aprendendo com os Livros, há
Carlos Heitor Cony também estará na Feira. Sua
atrações como o psicanalista Flávio Gikovate e Leonardo Boff. E
participação é autobiográfica. Cony vai narrar fatos
o roteiro do Bem Viver traz temas deliciosos como a cozinha dos
engraçados e confusões que provocou em suas viagens
monastérios e bate-papos instigantes como “Desenvolvendo a
pelo mundo e homenagear amigos e personalidades. Os
Inteligência no Século XXI”, com o psiquiatra Augusto Cury.
aficcionados por literatura policial não podem perder o
A Feira também transforma a Tenda de Pasárgada, localizada
encontro com Gustavo Machado e Paulo Wainberg, que
entre o Memorial do Rio Grande do Sul e o Santander Cultural,
vão falar sobre personagens do
ambos na rua Sete de Setembro, em palco das artes. O espaço
mundo do crime de ficção.
se transforma em um cinema para a programação conhecida
A feira contará ainda com
como Tenda.doc, com exibição de documentários, diariamente,
o internacional Milton
às 14h30. No local, o Cordão da Saideira une literatura, música e
Hatoum, entrevistado por
teatro em programações diárias e variadas, às 20h30. Os grandes
Ruy Carlos Ostermann,
nomes da música brasileira, como Adoniran Barbosa e Cartola,
e com o jornalista
serão homenageados. E não só da brasileira. O filho do argentino
Paulo Markun,
Atahualpa Yupanqui, um dos ícones da música folclórica daquele
em um bate-papo
país, Roberto “Kolla” Chavero, apresenta um espetáculo em
mediado pela
celebração ao pai. Em outra vertente, abre-se um momento para
apresentadora
a contação de histórias, como as narradas pelo próprio patrono
Ivete Brandalise. Divulgação
da Feira, Paixão Côrtes.
&tc
Biografias
Brasil
Família
Encontro reúne os escritores Lira Neto e Guilherme Fiuza em um bate-papo sobre os livros que narram as trajetórias de Padre Cícero e Bussunda
O Ciclo História do Brasil ocorrerá em dois dias, 10 e 2 de novembro, no Memorial do Rio Grande do Sul, às 18h.
Grupo de Terceira Idade que se reuniu na Feira do Livro há dois anos resgata histórias de família em obra que será autografada nesta edição
REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / Novembro 2010
27
%
Contatos imediatos com a Ciência
A Feira do Livro de Porto Alegre vai ajudar a desmitificar as ciências. Para mostrar que esse universo não é só para sábios
Descobrimentos”. Mourão vai falar sobre a diversidade cósmica, tão rica quanto a fauna e a flora terrestres.
sisudos, o biólogo e empresário Fernando
Se o futuro aponta novos paradigmas e descobertas
Reinach encontra leitores no dia 30 de
na própria Terra e fora do planeta, a Feira também
outubro, às 17 horas, no Auditório Barbosa
abre espaço para um debate em uma era longínqua. Os
Lessa, localizado no Centro Cultural CEEE
dinossauros são o tema de dois encontros na Feira. Em
Érico Verissimo. “A longa marcha dos grilos
um deles, uma espécie de reptéis voadores estarão em
canibais”, sua mais recente obra e também
destaque: os pterossauros, ou dragões alados no céu do
título do evento, traz crônicas publicadas no
Brasil, serão abordados pelo autor Alexander Kellner.
jornal O Estado de São Paulo. Reinach foi
Para desvendar o passado pré-histórico do Rio Grande
um dos coordenadores do projeto genoma
do Sul, outro debate traz paleontólogos que vão
brasileiro e consegue desvendar para os
analisar a origem dos dinossauros e dos mamíferos a
leigos as principais descobertas e avanços da
partir dos fósseis descobertos em solo gaúcho.
pesquisa mundial.
Recordar o passado nem sempre é recomendável.
Um debate que intriga a humanidade
O pesquisador da fisiologia da memória Ivan
também faz parte da programação. “Estamos
Izquierdo trata da Arte de Esquecer sobre a
sós no Universo?” reúne astrônomos,
para tornar a vida mais amena. O evento acontece no dia 5 de
questionamentos essenciais da civilização. A Feira traz ainda
novembro, às 17 horas, no Auditório Barbosa Lessa. Memórias
uma das maiores autoridades em astronomia do Brasil, Ronaldo
reiteradas associadas a eventos negativos caracterizam o
Rogério Mourão, que descobriu um asteróide em 1980, batizado
estresse pós-traumático. Para Izquierdo, é preciso ensinar
com seu sobrenome “Mourão”. O cientista também conquistou
o cérebro a acionar o esquecimento, quando essa função
o Prêmio Jabuti em 2001 com o livro “Astronomia da Época dos
normalmente automática, falha.
:
A realidade na literatura
A história do Brasil que virou best seller ganha destaque
debater a hipermodernidade e seus conceitos, em um encontro
na feira. O assunto, antes relegado nas prateleiras de livrarias,
com leitores mediado por Juremir Machado. Um dos principais
ganhou destaque com autores como Laurentino Gomes, autor
representantes do jornalismo brasileiro, Ricardo Kotscho,
de 1808 e 1822, que vai debater, no dia primeiro de novembro, a
também participa da programação. O tema não poderia ser
História do Brasil em uma mesa redonda com a historiadora
outro: Lugar de repórter é na rua. Ele vai contar sua história
Mary del Priore e com o escritor Renato Venâncio. José Roberto
permeada pela própria história do jornalismo. O debate sobre
Torero e Eduardo Bueno, o Peninha, também estarão juntos na
a garimpagem de informações até a publicação será ilustrado
Feira do Livro. Torero conquistou os leitores e a crítica literária
pelos bastidores da notícia, gafes e momentos históricos. O
com um romance histórico, vencedor do Prêmio Jabuti em 1995:
bate-papo do agora blogueiro Kotscho será mediado por Mauro
“O Chalaça”, que narra as supostas memórias do conselheiro
Júnior, autor do livro sobre o experiente jornalista.
Francisco Gomes da Silva, o Chalaça, secretário particular de D.
O psicanalista Jurandir Freire da Costa debate sua mais
Pedro I. Peninha, Eduardo Bueno, tem o mérito de despertar os
recente obra “O ponto de vista do outro, Ética em Graham
leitores para a História do Brasil. O autor conseguiu a proeza de
Greene e Philip K. Dick”, com os também psicanalistas Mário
ter quatro títulos simultaneamente na lista dos mais vendidos
Corso e Robson Pereira. Um nome que ajudou a romper
durante várias semanas. Sua mais
com vários tabus da sexualidade e acompanhou os fatos que
recente obra “Brasil: uma história
transformaram o tema no Brasil e no mundo também fará parte
– cinco séculos de um país em
da programação. É o psiquiatra Flávio Gikovate, que questiona
construção” será autografada na
a exacerbação do desejo e propõe um debate: a revolução
Feira. Os dois vão protagonizar
sexual da década de 70 tornou as pessoas mais livres, felizes e
um debate sobre as histórias
realizadas?
da História do Brasil em 2 de
O evento contará ainda com o teólogo Leonardo Boff, que
novembro, às 18 horas, na Sala dos
vai falar sobre seu mais recente livro “Cuidar da vida – proteger
Jacarandás, no Memorial do Rio
a Terra: como evitar o fim do mundo”. A obra aborda aspectos
Grande do Sul.
paradigmáticos, ecológicos, éticos, políticos e espirituais das
O filósofo canadense Sébastien Charles estará na feira. Ele vai
28
necessidade de inibir lembranças muito traumáticas
ufologistas e físicos em busca de respostas para um dos
transformações necessárias para construirmos uma nova relação com a natureza.
REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / Novembro 2010
Foto: Luis Ventura
Nasce um escritor, uma peça, um livro
* Um olhar sobre o passado Chico Xavier, médium que completaria 100 anos em 2010 e psicografou mais de 400 títulos, com vendas que superaram os 50 milhões de exemplares será tema de bate-papo no dia 2 de novembro, às 19h30, no Teatro Sancho Pança. O filme, inspirado na obra, foi o longa brasileiro mais visto nos últimos 20 anos. Só a estreia foi assistida por 585 mil pessoas. A comida dos céus integra um dos caminhos da feira. Em “O céu na boca”, o chef Fabiano Dalla Bona revela como a despensa de conventos, abadias, e monastérios inspiraram receitas. Do blog Rainhas do Lar, Faby Zanelati mostra que cozinhar é um modo de amar os outros. O público da melhor idade também participa com atrações especiais, entre elas, o lançamento do livro Histórias de Família. A obra, coordenada pela jornalista Izabel Ibias, foi escrita pelos próprios participantes do grupo formado há dois anos, na 54ª Feira do Livro de Porto Alegre. A publicação resgata a história da família por um de seus integrantes e serve como referência para as gerações futuras. “É escrevendo que nos perpetuamos”, resume Izabel. Outros temas que estarão em pauta na feira são a importância dos exercícios físicos regulares para prevenir doença
oficinas
Nem só de leitura vive a Feira do Livro de Porto Alegre. Alguns dos autores que vão autografar suas obras nas próximas feiras podem estar surgindo nas oficinas. É a oportunidade de aprender com ilustres e premiados mestres na arte da escrita, como Moacyr Scliar e Fabrício Carpinejar. Os grandes nomes da crônica e seus textos serão analisados por Moacyr Scliar na Oficina de Introdução à Crônica, que acontece em 9 de novembro, a partir das 13h30 na Biblioteca do Centro Cultural CEEE Érico Verissimo. O escritor também vai discutir as crônicas produzidas pelos participantes. Um dos principais nomes da literatura da atualidade também vai coordenar uma das oficinas. Com o tema Amar é, Fabrício Carpinejar vai mostrar o quanto uma carta de amor pode gerar um fato literário ao apresentar correspondências de escritores e obras epistolares como ponto de partida para a discussão. A ideia é fugir dos clichês e expressões convencionais de afeto. A criação literária também ganha vida em outras oficinas. Luis Augusto Fischer comandará o grupo de crítica literária. Walter Galvani vai trabalhar o tema da biografia e autobiografia. Os passos do haikai serão orientados por Gabriela Silva e Altair Martins será o tutor do conto na feira. As expressões teatrais também poderão ser desenvolvidas. Os trânsitos e intercâmbios entre teatro e literatura serão tema da oficina de Patricia Fagundes. Os caminhos do Fumproarte e dos projetos culturais serão apoiados por Alexandre Silva e a oficina de adaptação literária para o audiovisual será ministrada por Beto Souza. A grande estrela da feira também será atração das oficinas. Os livros inspiram diversos cursos que tratam desde sua origem às referências bibliográficas, design, encadernação e conservação. O passo a passo da produção do livro também tem destaque. O público terá ainda três possibilidades para desenvolver a arte de ler e contar histórias nas oficinas: “Contando histórias para crianças hospitalizadas”, “Brincando com a Imaginação” e “Contando Sabores”. Até as palavras silenciosas ganham voz em grupos de libras e de con(ta)to com os livros, em que portadores de deficiência visual vão estar mais próximos do universo da leitura com a produção de um livro em cerâmica. As oficinas têm vagas limitadas e as inscrições podem ser feitas a partir de 19 de outubro no Memorial do Rio Grande do Sul.
e do cuidado que o cuidador de idosos deve ter consigo mesmo. Os roteiros da praça também levam a viagens fascinantes. Entre os temas que vão transportar os leitores a novos destinos estão os Parques Nacionais do Sul, com seus cânions e cataratas, relatados pelo autor da obra, Roberto Linsker. As peculiaridades
qu&m
em uma palestra-fotográfica sobre as viagens que originaram os roteiros O Viajante – Guias do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Os caminhos da praça levam ainda à capital de Cuba,
Scliar: introdução à crônica
Havana, em um relato do escritor Aírton Ortiz.
REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / Novembro 2010
Foto: Beto Scliar
turísticas da região também vão ser reveladas por Zizo Asnis
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feira inclusiva
O escritor Caio Riter conversa com jovens no projeto A Feira vai à Fase
da Meninos de rua participam Asteroide programação com o Projeto
Cultura para todos Pessoas normalmente alijadas de iniciativas culturais, como os meninos de rua, ganham oportunidade de inclusão com a Feira
D
esde sua criação, há mais de cinco décadas, a Feira do Livro de Porto Alegre conquista cada vez mais espaço físico e simbólico na capital gaúcha. Sua expansão, contudo, não ocorre apenas no centro da cidade,
Enquanto milhares de leitores aguardam pelas bancas da
tampouco seu significado restringe-se aos já afeitos ao prazer
Praça, um grupo de adolescentes recebe a visita de escritores no
da leitura. A celebração dedicada aos livros estende-se, também,
local onde cumprem medidas socioeducativas. Com o projeto A
a apreciadores de histórias e de conhecimentos que pouco
Feira vai à Fase, a literatura alcança unidades da instituição. Há
contato têm ou menor sentido encontram em páginas escritas.
oito anos, na 48ª Feira do Livro, um trabalho feito pelos jovens, no
Como isso acontece? “Como espaço democrático e inclusivo,
projeto Compartilhando Livros e Sonhos, foi exposto na Vitrina
a Feira do Livro deve atender a todos os públicos, acolhendo
da Leitura da Feira. Com a experiência, os internos da fundação,
também aqueles que tradicionalmente não são vistos
que não podem ir à Praça, passaram a receber escritores,
como leitores”, explica Sônia Zanchetta, coordenadora da
ilustradores e contadores de histórias. O poeta Ricardo Silvestrin
Programação Infantil e Juvenil da Feira do Livro. Ela se refere
inaugurou o projeto, que também enriquece, com doações de
aos participantes de projetos como o Asteroide, destinado a
livros, a Biblioteca Dona Margarida, do Centro de Internação
abrigados e moradores de rua e também A Feira vai à Fase,
Provisória, em Porto Alegre.
com atividades de leitura promovidas em uma das unidades
Normalmente distanciados da Praça, leitores da periferia
da Fundação de Assistência Sócio-Educativa do Rio Grande do
são anfitriões e convidados do projeto Feira Fora da Feira.
Sul (Fase). Outro destaque é o Feira Fora da Feira, realizado em
Há três anos, o programa leva autores a três comunidades da
comunidades da periferia.
cidade. Em cada um dos três finais de semana da Feira, são
A Feira na fase
30
Sem a praça, com os livros
Neste ano, o escritor gaúcho Caio Riter já compartilhou suas histórias com os jovens da Fundação de Assistência SócioEducativa do Rio Grande do Sul (Fase). O contato, que transforma autores e leitores, ainda será experimentado, pelos escritores Júlio Emílio Braz e Daniel Munduruku, entre outros, que também vão participar do projeto A Feira vai à Fase. Será momento para os
adolescentes da fundação conhecerem obras como Crianças na Escuridão e Pretinha, Eu?, do mineiro Júlio Emílio Braz, cujos temas remetem ao cotidiano dos jovens. Com o escritor indígena Daniel Munduruku, os jovens terão a oportunidade de ouvir histórias da cultura dos índios brasileiros com o autor de mais de 30 obras sobre os povos nativos.
REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / Novembro 2010
Fotos: Luis Ventura
Ações de inclusão digital integram a Feira do Livro
realizadas atividades de leitura
com recursos especiais. Parceiros
e promovidas oportunidades de
da Estação, a Associação de Cegos
contato com dezenas de obras.
do Rio Grande do Sul distribui
Em 2010, a iniciativa segue com o
obras às escolas gaúchas que
apoio dos escritores que integram
trabalham com deficientes visuais
a Associação Jovem Leitor, com a
e a Confraria das Letras em Braile
Biblioteca Itinerante da Secretaria
divulga os livros que produz. Entre
Municipal de Cultura, com a Frente
as atividades concebidas para esse
Parlamentar do Livro e Leitura de
público destacam-se espetáculos
Porto Alegre e representantes da
de radioteatro, oficina e exibição
comunidade.
de filme com audiodescrição. A inclusão dos deficientes
Leituras adaptadas
auditivos à programação também está contemplada a partir de parcerias com diversas instituições. Na Arena das Histórias, são
Com atividades como a Oficina
realizadas sessões de contação de
Con(ta)to com os livros, com
histórias na Língua Brasileira de
produção de livros em cerâmica,
Sinais (Libras) com tradução para
são oferecidas diversas atrações
o português falado e vice-versa.
para portadores de deficiência
No Território das Escolas, ocorrem
visual, deficientes auditivos,
apresentações de grupos artísticos
além de voltados à terceira idade,
integrados por alunos surdos.
como oficinas e palestras (ver
Atividades para o grande público
programação na página 26).
também são traduzidas em Libras.
O acesso à literatura em braille
Desde 2009, o evento passou a
e à programação destinada
contar ainda com o Portal Libras,
aos deficientes visuais ocorre
no Pórtico do Cais do Porto, onde
na Estação Multimídia, na
monitores fornecem informações
Biblioteca do Cais. No espaço, são
e auxílio ao público, utilizando a
disponibilizados computadores
linguagem de sinais.
Movendo montanhas
Nos três finais de semana da 56ª Feira do Livro, como vem ocorrendo há nove anos, as obras sairão da Praça em busca de seus leitores. Desta vez, o projeto Feira Fora da Feira estará nas comunidades da Lomba do Pinheiro, Assunção e Morro da Cruz. Serão promovidas narrações de histórias para crianças e adultos, vivência em biblioteca, leituras compartilhadas e sessões
Novos protagonistas
proj&to
Aos 22 anos, Éverton Marquez nunca havia ouvido falar sobre Feira do Livro. O porto-alegrense conhece a cidade, trabalha na rua e nela morou desde criança. A descoberta aconteceu em 2010, quando participou do Projeto Asteroide. “Gostei das oficinas de máscara, do teatro, da música e aprendi com as histórias”, lembra o guardador de carros e estudante da Escola Municipal Porto Alegre (EPA). Com ajuda da única instituição da capital destinada a moradores de rua, que frequenta há sete anos, Everton descobre novas possibilidades, assim como outros moradores de rua, abrigados e vítimas de violência e exclusão. Se fossem ficção, as histórias do jovem e da Feira talvez nunca tivessem se cruzado se a Câmara Rio-Grandense do Livro não destinasse ao evento a missão de humanizar, com livros, narrativas marcadas por dramas. A proposta nasceu há uma década, da ideia de dar aos moradores de rua, que antes perambulavam pela Feira, a oportunidade de participar da programação, com o apoio de uma rede de apoiadores. . Em 2009, foram 71 beneficiados. Márcia Gil, diretora da EPA, e coordenadora, há um ano do Asteroide, explica: “Trabalhamos pela inclusão desses jovens, ao longo do ano, e as atrações da feira têm promovido, além de sua integração ao evento, a aproximação da sociedade ao projeto”.Os benefícios vão mesmo além da praça. A assistente social Cíntia Marques conta que, durante a Feira, consegue identificar novos moradores de rua e encaminhá-los à escola e a instituições de apoio.
de autógrafos, jogos literários e conversas com escritores. A Associação Jovem Leitor, idealizada pelo escritor Charles Kiefer, apoia a iniciativa, e participa com nove escritores. Nos domingos da Feira, um ônibus será colocado à disposição das comunidades para que seus moradores desfrutem do evento na Praça da Alfândega.
REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / Novembro 2010
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incentivo à leitura
Por um Estado de leitores
O
Brasil é o oitavo maior produtor de
do Sul, nem sua capital, seguem o que
ainda lê pouco – 4,7 livros por ano,
sugere o Plano Nacional, tampouco o
segundo a pesquisa Retratos da
que determina a Lei Estadual do Livro.
Leitura, do Instituto Pró-Livro, de 2007. O
Criada em 2007, a comissão encarregada de
indicador considera a leitura obrigatória nas
elaborar o Plano Anual de Difusão do Livro,
escolas públicas. Sem os livros exigidos em
já enviado para a Assembléia Legislativa,
sala de aula, o índice seria de 1,8 livro por
ainda não teve seu orçamento aprovado.
ano, em pesquisa de 2000. A passos lentos,
Este ano, os representantes da Câmara,
iniciativas da sociedade civil e de governos
das secretarias de Cultura e Educação do
buscam modificar os números nacionais.
Estado, das bibliotecas públicas, do Instituto
Há quase uma década, o Rio Grande do
Estadual do Livro e do Clube dos Editores já
Sul foi o primeiro Estado a possuir uma lei
encaminharam ao Legislativo as prioridades
que estabelece a política estadual do livro.
para 2011.
Contudo, a façanha, que poderia servir de
Morgana Marcon, diretora do Sistema de
modelo, ainda não saiu do papel. O que falta
Bibliotecas Públicas do Estado e do Instituto
para a lei ser colocada em prática?
Estadual do Livro, informa que estão
Como integrante de grupos que
entre as propostas a renovação de acervos
assessoram as frentes parlamentares da
das bibliotecas, a implantação de acervos
Capital e do Estado dedicadas a projetos
circulantes em bairros sem acesso à leitura
para o livro e a leitura, a Câmara Rio-
e a oferta de cursos de criação literária e de
Grandense do Livro é taxativa: precisamos
contação de histórias.
de maior vontade política. “É fundamental
Em Porto Alegre, o debate está sendo
que o poder público cumpra o seu papel”,
conduzido por um grupo formado a partir de
salienta o presidente da Câmara, João
audiência pública na Câmara de Vereadores,
Carneiro.
em 1º de julho. São representantes da
O Plano Nacional do Livro e Leitura
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Na prática, porém, nem o Rio Grande
livros do mundo, mas o brasileiro
Câmara Rio-Grandense do Livro, além das
(PNLL), instituído em 2006 pelos Ministérios
secretarias de Educação e Cultura de Porto
da Cultura e da Educação, sinaliza
Alegre, Fórum de Bibliotecas Comunitárias,
disposição política para democratizar o
Conselho Estadual de Biblioteconomia
acesso ao livro e fortalecer a sua cadeia
do Rio Grande do Sul, Associação Rio-
produtiva. Em 2009, o PNLL estabeleceu
Grandense de Bibliotecários, entre outras
como meta acelerar a criação de planos
entidades. “O que se pretende é definir
similares em estados e municípios. “Um
uma política de estado, e não de governo,
número cada vez maior de pessoas precisa
para que as ações sejam permanentes”,
ter acesso ao livro”, resume o deputado Miki
diz a vereadora Fernanda Melchionna, da
Breier, que faz parte da Frente Parlamentar
Frente Parlamentar Municipal de Incentivo
Estadual de Incentivo à Leitura.
à Leitura.
REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / Novembro 2010
Os números da leitura e dos livros
8º
lugar é a posição ocupada pelo Brasil no ranking mundial de produção de livros1
4,7
é o número de livros que cada brasileiro lê, em média, por ano1
18% das escolas públicas brasileiras possuem bibliotecas2
100%
das 96 escolas da rede municipal de ensino fundamental de Porto Alegre têm bibliotecas3
50%
das instituições de ensino infantil da capital gaúcha contam com bibliotecas3
90%
das escolas públicas e privadas do RS não possuem bibliotecários4
80%
das Bibliotecas Públicas do RS não contam com bibliotecários4
Fontes: 1 Retratos da Leitura, do Instituto Pró-Livro (2007), 2Movimento Todos pela Educação, 3 Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre, 4 Conselho Regional de Biblioteconomia.
Parceiros antigos O 9º BPM garante a segurança e bem-estar dos visitantes
P
arceiro da Feira do Livro
na Feira deste ano. Além do
de Porto Alegre desde
patrulhamento, Córdova
sua primeira edição, o
observa a importância das
9º Batalhão da Polícia
outras atividades do efetivo
Militar da Capital pode
durante o evento. “Pretendemos
ser chamado de guardião do
reforçar a interação com a
evento sem exageros. São os
sociedade. Em um estande que é
servidores desta corporação que
montado na Praça da Alfândega,
garantem a tranquilidade e a
apresentamos nossos projetos
segurança necessárias para que
para o público. A BM vê a Feira
mais de 1,5 milhão de pessoas
do Livro como um evento para o
circulem no Centro Histórico
mundo”, exemplifica. Deverão ser
da cidade ao longo de 18 dias
efetuadas apresentações da tropa
de Feira. “Desde a primeira
abertas ao público.
edição da feira, o 9° Batalhão é
A história de sucesso dessa
apoiador incondicional a favor
parceria entre soldados, livreiros e
da segurança e do bem-estar,
editores, é amparada pelo fato de
tanto dos visitantes, quanto dos
não se ter registro de incidentes
expositores que ocupam a praça e
graves. João Cervo, membro do
cercanias”, destaca o conselheiro
conselho fiscal da CRL, comenta
fiscal da Câmara Rio-Grandense
que, no período da Feira do Livro,
do Livro (CRL), Tuchaua
“a Praça da Alfândega torna-se o
Rodrigues.
lugar mais seguro de Porto Alegre.
O Comandante da 1ª
O planejamento realizado pela
companhia do 9º BPM, Major
BM, e seu esforço de logística,
André Luiz Córdova, estará
proporcionam a tranquilidade
responsável pelo planejamento
que os visitantes precisam para se
da atuação da companhia
sentirem à vontade”, finaliza.
Segurança
Pública
Fotos: Luis Ventura
mini crônicas
Reflexões a céu aberto Indicados a patrono escrevem sobre a Feira do Livro de Porto Alege
O céu que vê a Feira
Praça democrática
POR JUREMIR MACHADO
POR AIRTON ORTIZ
Ser jovem nos anos 70 e não escrever poemas era uma contradição genética. Livro na mão, procurei o presidente da Câmara do Livro; queria saber o que seria necessário para autografar na Feira. Ele disse que o autor deveria estar vivo e ter escrito um livro. Simples assim. Fiquei chocado. Eu militava no Movimento Estudantil, fazíamos oposição à ditadura militar, que censurava livros à mão cheia. O Leopoldo Beck, ali no balcão da Sulina, veio me dizer que para lançar meus poemas na praça bastaria que eu os tivesse escrito. Então havia uma praça onde os livros eram livres? Mesmo naquela ditadura havia uma Praça Democrática em Porto Alegre? Cheia de livros? E ninguém os censurava? Não havia controle? Qualquer um podia escrever o que desejasse, publicar e lançar na feira? Assim? Sim, havia, e eu a descobrira. Que viagem! Tornei-me livreiro, editor e escritor. Desde os 21 anos minha vida profissional gravita em torno da Feira do Livro na Praça da Alfândega. Ao ar livre. Sob o céu e a sombra dos jacarandás.
56º patrono
O livro ao povo
Porto Alegre é uma cidade vaidosa. Com toda razão. Tem a Feira do Livro mais sensual do mundo. Uma Feira a céu aberto. Uma Feira aberta para o céu. Fico imaginando a populacão do céu olhando a Feira. A turma vê gente passando, sonhando, rebolando, coçando o nariz, gingando, olhando e comprando livros, mostrando braços, pernas, seios e outros fragmentos de obras que dão água na boca: um parágrafo, uma estrofe, uma frase assassina, uma descrição perfeita, um beijo apaixonado, uma cena de adeus, uma tatuagem caindo para dentro de zonas indescritíveis, um pedaço de ilusão, uma página de fantasia, um volume estourando a roupa. A Feira vê o céu, que vê a Feira. A população da Feira anda com a cabeça nas nuvens. A população do céu só falta cair das nuvens. Deve ser por isso que, certos dias, na Feira de Porto Alegre, não dá para caminhar de tanta gente e todo mundo olhar para cima. Engana quem pensa que é medo da chuva. É que lá em cima está passando uma gata com um livro de Baudelaire.
por PAIXÃO CÔRTES
A Feira do Livro deve representar um momento de renovação permanente da cultura do indivíduo. Um hábito que o tempo não apagará. A espontaneidade do bem viver cultural é um enriquecimento para toda a sociedade coletiva, que tem sede de ampliar o seu saber. Se eventualmente, aqueles que não têm o costume de substanciar os seus conhecimentos indo às livrarias, então vamos levar o LIVRO ao POVO como meio de evolução cultural a céu aberto valorizando e prestigiando ainda mais os autores e editores.
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A FEIRA QUE VÊ O CÉU POR JANE TUTIKIAN
Um olhar. Primeiro, os jacarandás floridos, depois, os prédios de janelas que aninham vidas, depois do depois, as nuvens que desenham infâncias, depois do depois, ainda, nesgas de céus recebem pedidos de olhos tristes ou transbordantes de expectativa. Mas o giro da terra sobrepõe realidades. Onde as prostitutas e os ladrões? Onde os abandonados e os abandonos? Definitivos, na praça,
REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / Novembro 2010
apenas Drummond tecendo conversas de bronze com Quintana. Na primavera, as nesgas de céu abandonam o óbvio de toda a cidade grande e refletem barracas e pessoas coloridas e formiguentas, burburinhos de livros e palavras gritantes. O sino do xerife é o mensageiro de um outro tempo, e o velho Paixão Cortes, nos enlaça num sorriso pacífico de quem tudo viveu: assim deve ser, assim é que é.
• Agência da Palavra • Aori Produções Culturais • Artes e Ofícios • Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul - Ajuris • Associação de Cegos do RS - Acergs • Associação de Ciclistas da Zona Sul – ACZS • Associação de Escritores e Ilustradores de Livros Infantis e Juvenis – AEILIJ • Associação Gaúcha de Escritores • Associação Gaúcha de Intérpretes de Libras – Agils • Associação Gaúcha de Pais e Amigos de Surdocegos e Multideficientes – Agapasm • Associação Jovem Leitor - AJR • Associação Nacional de Livrarias – ANL • Associação Nacional de História / Seção RS - Anpuhrs • Associação Profissional de Técnicos Cinematográficos do RS • Associação Viva e Deixe Viver • Barco Cisne Branco • Blog Palavra e Cor • Bureau du Livre de L’Ambassade de France au Brésil • Centro de Estudos Psicanalíticos de Porto Alegre • Centro Ecumênico da Cultura Negra – Cecune • Centro Universitário Ipa • Centro Universitário La Salle • Centro Universitário Ritter dos Reis • Clube dos Editores do RS • Colégio de Aplicação da UFRGS • Companhia das Letras • Companhia Riograndense de Artes Gráficas – Corag • Companhia Riograndense de Saneamento – Corsan • Confraria dos Livros em Braille • Conselho Regional de Biblioteconomia - CRB-10 • Conselho Regional de Enfermagem – RS – Coren-RS • Coordenação do Livro e Leitura da Secretaria Municipal de Cultura • Delegacia da Receita Federal do Brasil em Porto Alegre • Departamento de Águas e Esgotos de Porto Alegre – Dmae • Distribuidora Água Pura • Edelbra Editora • Edições Ar do Tempo • Edições Besourobox • Edições SM • Ediouro • Editora 8INVERSO • Editora Abacatte • Editora AGE • Editora Ática • Editora Barcarolla • Editora Cosac Naify • Editora DCL • Editora Dublinense • Editora FTD • Editora Garamond • Editora Globo • Editora H • Editora Iluminuras • Editora Imprensa Livre • Editora La Rousse • Editora Leya • Editora Literalis • Editora Luz da Serra • Editora Mazza • Editora Movimento • Editora O Viajante • Editora Objetiva • Editora Paulinas • Editora Peirópolis • Editora Planeta • Editora Projeto • Editora Record • Editora Saraiva • Editora Sulina • Editora Terceiro Nome
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