Revista doob

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editorial [ 03 ]

seja bem vindo ao

universo doob Depois de muito trabalho e dedicação, finalmente conseguimos concluir a edição de estréia da revista doob. Não medimos esforços para deixar a revista bonitinha, com matérias e textos feitos sob medidas para você. Mas você deve estar com a revista na mão, se perguntando: O que é doob? Sabe quando um amigo te fala de alguma banda pelo MSN e você já corre no Google atrás do site deles e acaba encontrando o Myspace, ouve o som, curte e acaba descobrindo que eles estão disponibilizando todo o álbum para baixar em MP3 direto do Blog oficial da banda e enquanto você baixa as músicas você fica assistindo os clipes mais legais deles no You Tube? Se você sabe do que estamos falando você já é um pouco doob. Ser doob é ficar ligado em tudo que está acontecendo ao seu redor, interconectado com tudo que há de novo, em constante evolução. Nosso compromisso é deixar você sempre atualizado e bem informado e para isso contaremos com um ajudante importantíssimo para nós: você! Isso mesmo, você é que vai nos ajudar a deixar a revista com a sua cara, mandando criticas, sugestões de matérias, vídeos e sites bacanas, fotos de shows, crônicas, ilustrações. Quanto mais você interage com a revista, melhor ela fica. Contamos com você! Eduardo Lucas Bessa Designer


Seja Bem Vindo!

A galera solta o verbo!

editorial [ 03 ]

speak up! [ 08 ]

Franz ferdinand usa instrumentos bizarros

doob [ 10 ] news conheça as bandas que estão fazendo barulho na internet

doob [ 13 ] hype novo disco do Oasis não surpreende

reviews [ 18 ]

O som dançante da dupla mgmt

as histórias da banda papai elefante

headline [ 20 ]

entrevista [ 26 ]


[ 30 ] história

50 anos da revolução dos Beatles

[ 32 ] doob live!

the National faz show inesquecível no tim festival

[ 36 ] doob online

videos e sites que estão bombando na internet

[ 39 ] crônica

[ 40 ] atitude

CLichês de um show de rock alternativo

AS musas da música mostram que vieram para ficar

[ 42 ] top8

[ 44 ] agenda

8 discos que fizeram história no rock

programe sua agenda para os shows da temporada

[ 46 ] doob art

A enigmática capa do disco X&Y do coldplay




[ 08 ] speak up!

speak up!

O seu canal direto com a doob. Mande o seu recado, expresse suas idéias e dê sua opinião! Achei a reportagem de capa da edição passada, com o of Montreal, bem bacana. Só acho que vocês poderiam ter colocado mais informações sobre os outros discos e sobre os futuros projetos da banda, como shows e parcerias. Acho o grupo muito legal - é uma das minhas bandas favoritas - e queria vê-los mais vezes aqui na revista. Se possível, gostaria de ler uma resenha sobre o novo álbum, o Skeletal Lamping . Daniel Oliveira, 21 anos São Paulo - SP Gosto da revista e curti bastante aquela matéria da edição retrasada com o Snow Patrol. Eles acabaram de lançar outro trabalho - não chega a ser como o Eyes Open, mas é legal. Acho que vocês deveriam fazer outra reportagem com eles e, se possível, conseguir uma entrevista com a banda sobre essa nova fase, falando sobre o que mudou depois da explosão de sucesso que eles tiveram com hits como “Open Your Eyes”. Tomás Vendramini, 25 anos Chapecó - SC Acho que a seção dedicada às resenhas de novos discos deveria ser ampliada, porque muitos lançamentos bons acabam ficando de fora - inclusive de DVDs, livros sobre música, álbuns de MP3, entre outros. Vocês deveriam aumentar em umas cinco páginas essa parte da revista - que, confesso, é a primeira coisa que leio assim que tenho um novo exemplar em mãos. Ana Cristina Lopes Andrade, 17 anos Rio de Janeiro - RJ

Mande seu e-mail: falae@doob.com SMS: 24886 Deixe sua mensagem em nosso site: www.doob.com

Estou escrevendo para dizer que, na minha opinião, faltam matérias mais longas na revista. Queria textos maiores e mais densos, além de reportagens com mais páginas. Também sinto falta de um destaque maior para as bandas brasileiras de indie rock. Acho que temos uma grande cena alternativa por aqui - especialmente com os grupos do sul - e eles merecem atenção. Temos que valorizar nossa música, porque não é só o que vem de fora que é bom. A revista deveria incentivar esse movimento falando das bandas já consagradas (como Cachorro Grande, Bidê ou Balde e Moptop) e daquelas que ainda podem estourar e que estão batalhando para isso. Também gostaria de ver por aqui os grupos que ainda fazem sucesso só no “mundo indie”, como Faichecleres e Ecos Falsos. Maria Emanuela Garcia, 19 anos Campinas - São Paulo Queria sugerir um especial de fim de ano. Vocês deveriam fazer um apanhado geral de tudo de legal - e de ruim também, como não pode deixar de ser - que rolou em 2008. Uma espécie de retrospectiva que fale das novas bandas, fatos do mundo da música que marcaram o ano, melhores discos, revelações, retornos, decepções, etc. Acho que ficaria bem massa. Samanta Palsiski, 22 anos Santo André - SP Queria ver uma matéria sobre o Jeff Buckley aqui na revista. Gosto muito dele e acho que ele não é tão valorizado pela mídia. O trabalho lindo que ele fez enquanto estava vivo deveria ser melhor divulgado para mais gente ter o privilégio de conhecer a obra que ele deixou. Ana Lúcia Monteiro Paes, 32 anos Curitiba - PR


speak up! [ 09 ] Demais a matéria sobre as maiores bandas do planeta, na edição passada. Radiohead, Coldplay e U2 são realmente grupos gigantescos no mainstream e que agradam muitos fãs da boa música - caso contrário, dificilmente teriam chegado a esse sucesso todo.

expediente

Aloísio Chaves Medeiros, 26 anos Bauru - SP Acho que a revista deveria dar dicas de bandas brasileiras desconhecidas, dessas que ainda estão tentando um lugar ao sol. Seria bem legal dar essa chance para quem está começando e que precisa de motivação e divulgação. Clara Jacinto Peres, 24 anos São Paulo - SP

d-zine

Direção geral: Eduardo Lucas Bessa dudsbessa@yahoo.com.br www.twitter.com/dudsbessa www.dudsign.com Redatora chefe: Mariana Mandelli mariana_mandelli@yahoo.com.br www.twitter.com/mari_m Fotógrafa Convidada: Natalie Gunji natalie.gunji@gmail.com www.ngunji.zenfolio.com Projeto Experimental de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Desenho Industrial da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC) da Universidade Estadual Paulista (UNESP), para obtenção do bacharelado em Desenho Industrial com habilitação em Programação Visual Orientador: Prof. Dr. Cláudio Roberto y Goya goyaclaudio@hotmail.com Novembro, 2008

Desenhos enviados pelo famoso ilustrador Brasileiro Will Murai. Confira mais do seu trabalho no seu site: www.willmurai.com Envie seus desenhos, cartoons e ilustrações para: d_zine@doob.com

Impressão:

Apoio:

www.avalondigital.com.br

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Todos os direitos reservados. Proibido a cópia parcial ou total, distribuição, transmissão reprodução, edição, tradução, reformatação ou publicação sem prévia autorização. © 2008 - eduardo lucas bessa


[ 10 ] doob news

doob news FIque por dentro das últimas novidades do mundo da música POR mariana mandelli

franz grava com instrumentos feitos de ossos humanos O tão esperado terceiro disco dos escoceses do Franz Ferdinand está saindo do forno. E vem temperado com elementos, digamos, estranhos. Tonight, nome do novo trabalho, conta com tantas experimentações inovadoras na sonoridade da banda que até um instrumento feito de ossos humanos foi utilizado nas gravações. Alex Kapranos, vocalista e guitarrista, afirmou em entrevista à MTV americana que a percussão da faixa “Katherine, Kiss Me” conta com esse tipo de contribuição bizarra. Algumas canções do novo disco foram gravadas no porão do estúdio e utilizaram apenas um microfone para captar a energia da banda ao vivo.

Já o nome do disco foi escolhido quando as sessões de gravação já estavam praticamente finalizadas. O título se deve à atmosfera do álbum, que é, segundo o próprio Kapranos, “noturna”. A banda está há um ano debruçada sobre a produção do novo álbum. O recesso veio depois dos cansativos lançamentos e turnês dos dois primeiros discos do grupo, Franz Ferdinand (2004) e You Could Have It So Much Better (2005). Os escoceses vêm tocando as novas composições há meses em “shows surpresa” em Glasgow. “Turn it on”, “Ulysses” e “Bite Hard” já foram conferidas ao vivo. O lançamento de Tonight está previsto para o ano que vem.


doob news [ 11 ]

novo disco do guns vai ser lançado em novembro Parece que agora vai... depois de mais de 13 anos de espera, o Guns N’ Roses vai finalmente lançar o tão aguardado Chinese Democracy. De acordo com a Billboard, o álbum já tem até data marcada para ser lançado: 23 de novembro deste ano, pela Best Buy. A data foi escolhida por ser próxima do dia de Ações de Graças, feriado nos Estados Unidos que é próximo do Natal. Uma curiosidade: a empresa norte-americana Dr. Pepper havia prometido dar uma lata de refrigerante a cada cidadão dos Estados Unidos se o disco fosse lançado ainda em 2008.

foo fighters de férias Depois de anos sem sair das paradas de sucesso pelo mundo, Dave Grohl e seus companheiros de banda resolveram anunciar uma pausa sem data de retorno aos palcos. O vocalista disse ao semanário inglês New Musical Express que a banda nunca tirou férias e que esse será um período de hiato nas atividades do grupo. Ele também declarou que “já tocaram para muita gente e que foram tantas vezes à Inglaterra que podem ficar 10 anos sem voltar. As “últimas” apresentações aconteceram nos dias 25 e 26 de setembro, em Las Vegas, e no dia 28 no Austin City Limits, no Texas, Estados Unidos.

red hot chili peppers param por um tempo Mais uma banda de recesso: os norte-americanos do Red Hot Chili Peppers também resolveram entrar hiato. Após saírem em turnê mundial para divulgar o último disco, Stadium Arcadium (2006), Anthony Kiedis e seus amigos declararam esgotamento emocional e físico. O baixista Flea disse ao Los Angeles Times que a banda precisa de um tempo longe de tudo para poder olhar para as coisas sob uma “nova perspectiva”. Para aproveitar o tempo livre, ele afirmou que se matriculou na University of Southern California para estudar música.

the gossip cancela shows no brasil A maldição de 2007 é perpetuada: antes mesmo do início do evento, já tem gente cancelando shows. Depois da cantora Feist decidir, de última hora, não se apresentar na edição passada do TIM Festival, agora é a vez do The Gossip alegar que não poderá vir ao Brasil devido a “um inesperado conflito de agendas”. Os shows seriam nos dias 23 em São Paulo e 25 no Rio de Janeiro. Klaxons e Neon Neon, as outras atrações da noite “Novas Raves” em que a banda de Beth Ditto se apresentaria, estão confirmadas. Quem já comprou o ingresso e quer desistir da apresentação tem duas opções. A primeira é pegar o dinheiro de volta no ponto de venda em que realizou a compra ou pela internet, caso tenha adquirido o convite pelo site da Ticketmaster. A data limite para a devolução do dinheiro é 21 de outubro. Já a segunda opção é para quem quer aproveitar a chance e trocar o ingresso por outro show, com exceção das apresentações no Auditório Ibirapuera e as de jazz no Rio. O procedimento começa a ser realizado no dia 13 de outubro.



doob hype [ 13 ]

doob hype

Conheça as bandas novas que estão estourando pelo mundo a fora Texto: mariana mandelli Design: Eduardo bessa

BLACK KIDS Partie Traumatic [2008] www.blackkidsmusic.com

Antes de lançarem o primeiro disco, a banda foi alçada a uma das maiores promessas deste ano. Depois do lançamento de Partie Traumatic, grande parte da crítica resolveu malhar o álbum. Apesar das divergências de opinião, 2008 não pode passar sem você ter ouvido, pelo menos, “Hit The Heartbrakes”, “Listen To Your Body Tonight” e “I’m Not Gonna Teach Your Boyfriend How To Dance With You”. Riffs irresistíveis, vozes choradas, acordes desesperados e um ritmo incrivelmente dançante.


[ 14 ] doob hype

FLEET FOXES SUN GIANT EP [2008] www.myspace.com/fleetfoxes

Melodias belíssimas e arranjos delicados dominam o estilo do Fleet Foxes, definido como “baroque harmonic pop jams” pelos próprios integrantes. O grupo, formado em Seattle, conta com Robin Pecknold (vocal e guitarra), Casey Wescott (teclados), Skyler Skjelset (guitarra), Bryn Lumsden (baixo) e Nicholas Peterson (bateria) e com uma influência musical muito rica, que vai de Bob Dylan a Beach Boys, passando por Zombies, Neil Young, America, Seals & Crofts e pelos artistas da Motown. O EP Sun Giant, muito bem recebido pela crítica e elogiado mundo afora, veio depois do convite do produtor Phil Ek (o mesmo do The Shins, Modest Mouse e do Built to Spill) para trabalhar com com ele. O resultado desse trabalho está registrado no EP e reverbera no debut da banda. O som do Fleet Foxes não é nenhuma novidade para quem gosta da banda de Jim James ou acompanha a carreira do Iron & Wine ou do Band of Horses, por exemplo, mas é um exercício de lirismo que faz bem a quem ouvir.


doob hype [ 15 ]

Com um disco novo elogiadíssimo pela crítica especializada e sucesso entre os fãs de indie rock, os americanos do Annuals são uma das sensações de 2008. Diretamente da Carolina do Norte, Adam Baker (vocal), Kenny Florence (guitarra), Mike Robinson (baixo), Zach Oden (guitarra), Anna Spence (piano) e Nick Radford (bateria) fazem um som inspirado em Flaming Lips e na obra de Brian Wilson (ex-Beach Boys). Apesar das comparações com Arcade Fire, Animal Collective, e Broken Social Scene, o Annuals tem uma carreira sólida com discos e EPs de sucesso no mundo indie. O novo disco, Such Fun, acaba de ser lançado e promete fazer de faixas como “Confessor” e “Talking” hits.

ANNUALS SUCH FUN [2008] www.annualsmusic.com


[ 16 ] doob hype

Eles já são veteranos, mas pouca gente conhece essa banda que merece total atenção de quem gosta de indie pop e de folk. Vindo dos Estados Unidos, mais precisamente de Indianopolis, Richard Edwards (vocal), Andy Fry (guitarra), Chris Fry (bateria), Hubert Glover (trompete), Casey Tennis (percussão), Emily Watkins

(teclados), Tyler Watkins (baixo) e Erik Kang (violino) conseguem uma sonoridade chamber pop de uma beleza quase lírica. Animal! e Not Animal (2008), os dois novos discos do grupo (um tem a tracklist escolhida pela banda e o outro pela gravadora) já estão nas lojas.

Margot & The Nuclear So And So’s animal & NOT ANIMAL [2008] www.margotandthenuclearsoandsos.com


doob hype [ 17 ]

Apesar do nome estranho, essa banda dinamarquesa é formada por Michael Møller, David Brunsgaard, Jakob Millung, e Casper Henning Hansen. Juntos desde 1993, eles já se chamaram Concrete Puppet Frog e têm três discos lançados – Once upon a Time in the North (2003), You Can’t Say No Forever (2005) e The Art of Kissing Properly (2006). O quarto, We Had Faces Then, já está pronto e promete ser mais uma verdadeira aula de indie rock etéreo e hipnotizante, com texturas lânguidas e quase sonolentas, de uma beleza nórdica.

moi capriceSo’s WE HAD faces then [2008] www.moicaprice.com


[ 18 ] reviews

reviews

Este mês está recheado de Grandes lançamentos. Confira os principais discos da temporada POR mariana mandelli

dig out your soul oasis warner bros/ Elektra/ Atlantic

ws”, dos Bealtes) e na balada “I’m Outta Time”. Esqueça “Soldier On”, “The Nature of Reality” e “The Turning”. Em suma, Dig Out Your Soul poderia ser melhor. Não surpreende e está longe de figurar entre os melhores do ano, mas serve como passaporte para viajar nos acordes dos músicos mais ilustres do pop britânico.

off with their heads kaiser chiefs

B-Unique/Universal Motown

O oitavo disco de estúdio da banda que é o maior patrimônio do britpop é um exercício de psicodelia estranho. Longe do apelo pop que marcou os hits do começo da carreira e álbuns como o tão criticado Be Here Now (1997), o novo trabalho do Oasis cansa. Sonoridade confusa, letras que deixam desejar e ares de jam session misturados a efeitos que enchem demais os ouvidos acabam incomodando e não permitem que a banda se mostre como verdadeiramente é. Mas, apesar dos defeitos, Oasis é Oasis e o britpop de riffs grandiosos misturado ao vocal deliciosamente rouco dos irmãos Gallagher, em meio a muito Beatles, consegue, mesmo com dificuldades, conquistar os ouvidos dos fãs de rock. Preste atenção em “Ain’t Got Nothin’”, “Bag It Up” (o velho e bom Oasis de sempre), “Falling Down” (completamente inspirada em “Tomorrow Never Kno-

A obra-prima indie Employment (2005) e o fiasco do revoltante Yours Truly, Angry Mob (2007) ainda estavam guardados no coração dos fãs do Kaiser Chiefs quando a banda resolveu lançar o terceiro disco, Off With Their Heads. Mais barulhentos e mais pesados, os ingleses de Leeds fizeram um álbum mala e sem graça, com faixas cantadas em coro, efeitos clichês e refrões que não pegam nem gripe. Os momentos mais insuportáveis ficam por conta da falsamente pesada a la Muse “Spanish Metal”, efeitos farofas de “Like It Too Much” e “You Want History” e da falta de originalidade das batidas de “Addicted to Drugs”. Pelos riffs bacaninhas de “Never Miss a Beat”, “Can’t Say What I Mean” (que lembra Libertines), “Good Days Bad Days” e “Half The Truth”, vale a pena dar uma chance para o álbum. Mas umazinha só, não mais que isso.


reviews [ 19 ]

perfect symmetry keane

marcelo camelo sou

Esqueça o Keane fofo de “This is the Last Time” e “Crystal Ball”. O terceiro disco da banda vem dançante e mais pesado do que os acordes melódicos de Hopes and Fears (2004) e Under the Iron Sea (2006). Teclados, sintetizadores e ambientações eletrônicas de inspiração oitentista permeiam todo o álbum - “You Don’t See Me”, “Spiralling” e “Again & Again” são bons exemplos. Apesar da coragem, o álbum soa estranho e não funciona. Falta originalidade e rumos mais sólidos. Mas vale pelo esforço dos ingleses em sair do mundinho pop confortável em que estavam instalados.

Os boatos sobre o esperado disco solo de Marcelo Camelo davam conta de um álbum acústico, baseado em cordas e com poucos efeitos – no estilo “um banquinho e um violão”. A expectativa foi confirmada: Sou chegou às lojas de todo o Brasil trazendo canções com referências de bossa nova e samba-canção. A verve MPB, inspirada em Chico Buarque, Dorival Caymmi e João Gilberto, aparece em composições doces e os arranjos delicados como “Mais Tarde”, “Tudo Passa” e “Liberdade”. Mas o tesouro do disco é a balada “Janta”, cantada com Mallu Magalhães. O álbum inteiro, um exercício de lirismo e poesia, comprova: o Brasil já tem oficialmente seu mais novo gênio da MPB.

island/ interscope

ode to j. smith travis red phone box

Depois de The Boy with No Name (2007), disco fraco e sem graça, o Travis lança seu sexto trabalho que soa completamente estranho se comparado à leveza e docilidade de The Man Who (1999) e The Invisible Band (2001). A banda escocesa quis arriscar um estilo menos pop e mais experimentalista e se deu mal. Ode To J. Smith se arrasta num interminável conjunto de faixas chatíssimas – como “Last Words”, “Quite Free” e “Get Up”. Vocal chorado, piano forçado, guitarras pesadas e melodias maçantes tornam insuportáveis canções como “Friends”, “J. Smith” e “Something Anything”. Se antes havia dúvida de que Fran Healy quer ser Thom Yorke, o novo trabalho prova que a cópia é sempre (muito) inferior ao original. Um verdadeiro fiasco, artificial e vergonhoso.

Sony/ BMG

only by the night kings of leon RCA

Como se bem sabe, a pressa é inimiga da perfeição. Só que, mesmo com a gana por não perder o sucesso, o Kings Of Leon conseguiu reverter a sabedoria popular. O medo de acabar longe dos holofotes fez com que a banda adiantasse o lançamento do quarto disco, Only By The Night e, mesmo com a rapidez, os americanos conseguiram um resultado bem favorável. Mais atmosférico do que seu antecessor, Because of the Times (2007), e até mesmo difícil se comparado a Youth & Young Manhood (2003) e Aha Shake Heartbreak (2005), o novo álbum se distancia da levada country pop que dominou os hits antigos e aposta em faixas musculosas, melancólicas e de vocal desesperado. Do começo ao fim, Only By The Night dá prazer de ouvir. Os pontos fracos são “I Want You” e “Cold Desert”. Se quiser se apaixonar, ouça “Sex On Fire”, “Manhattan” e “Use Somebody” – uma das músicas do ano.


[ 20 ] headline

Seguindo a trilha do rock dançante, o MGMT brilha e lança um dos melhores discos de 2008 por mariana mandeLli

O mundo indie dançou ao som da new rave e à luz dos bastões de neon em 2007 com Klaxons, SHITDISCO, Hadouken! e New Young Pony Club. O electro e seus subgêneros também dominaram a cena, com expoentes como o nosso Cansei de Ser Sexy (CSS) e Hot Chip. Porém, o indie rock ainda não parou de dançar e o ano de 2008 comprov ou isso com o lançamento do elogiadíssimo Oracular Spectacular, segundo álbum da dupla MGMT, antes conhecida como The Management. A banda surgiu no bairro do Brooklin, Nova York, em 2002. Novatos na cena, logo revelaram no som influências de veteranos como os lúdicos Flaming Lips, o camaleão da psicodelia David Bowie e os riffs rock ‘n roll deliciosos do Kinks.


headline [ 21 ] Misturando o vintage com o indie, o dance-punk, o synth pop e o electropop, o que surgiu foi uma música de raízes alternativas, acordes agressivos e melódicos, texturas atmosférias e um uso abusivo de efeitos eletrônicos com batidas quase irresistíveis. Mas essa fórmula de sucesso certeiro só ficou evidente mesmo em Oracular Spectacular, já que o primeiro disco de Ben Goldwasser e Andrew VanWyngarden, os dois membros de MGMT, não fez muito sucesso. O quase desconhecido Climbing to New Lows (2005) passou batido e a dupla só conseguiu se projetar no universo indie com hits como “Kids” e “Time to Pretend”, do segundo trabalho. Nesses seis anos da curta carreira, o MGMT foi dominando o mundo alternativo com sua psicodelia indie de genética retrô ao abrir os shows do of Montreal e Radiohead, além de terem participa-

do de festivais do porte de SXSW Music Festival, Coachella, Glastonbury 2008, Roskilde Festival, T in the Park, Oxegen Festival, Lollapalooza, Osheaga Festival, Summersonic, Reading and Leads Festival, Lowlands e Toronto Virgin Festival. Para o futuro, o MGMT já tem planos que devem levar a dupla a vôos ainda mais altos. De acordo com o jornal The Guardian, o próximo disco da banda deve ser produzido pelo Chemical Brothers. A “amizade” entre os grupos começou quando os ingleses ouviram Oracular Spectacular, adoraram e enviaram um email para o MGMT. Para o semanário New Musical Express, Andrew VanWyngarden afirmou que o próximo álbum está sendo planejado para ser um verdadeiro “disco duplo gigante”. A banda deve gravar um disco de música pop e outro mais psicodélico – mas nenhum dos dois deve ser muito dançante, como os fãs da banda estão acostumados. Segundo VanWyngarden, o MGMT procura originalidade e quer fazer “algo diferente”: Talvez o maior nome indie de 2008 – os elogios vieram de nomes como New Musical Express, Q, Spin, Allmusic e Rolling Stone –, os meninos do MGMT foram alçados a salvadores a cena alternativa da música. A dupla junta-se agora ao hall de The Polyphonic Spree, Boy Crisis, Natalie Portman’s Shaved Head, Friendly Fires e Secret Machines e coloca os fãs de indie rock para dançar nas pistas de dança mundo afora. Se você ainda não provou das batidas deliciosamente nostálgicas de “Kids” e companhia, não sabe o que está perdendo.

o maior nome indie de 2008


[ 22 ] headline 3) “The Youth” (3:48)

A mais climática do disco, chega a ser quase espacial de tão hipnótica. Refrãozinho chiclete e bons arranjos dão um ritmo de transe.

4) “Electric Feel” (3:49)

Um mix de indie pop com neo-psicodelia. Dançante e deliciosa, a faixa é o encontro do indie rock com Justin Timberlake e Michael Jackson. Irresistível.

5) “Kids” (5:02)

Oracular Spectacular [2007] faixa à faixa 1) “Time to Pretend” (4:20)

Um dos maiores hits do disco, tem letra triste e ritmo viciante. Tem um ar de despretensão que cai por terra com toda a sofisticação dos efeitos sonoros psicodélicos. É uma das melhores canções de 2008.

2) “Weekend Wars” (4:12)

Vocal forte, batidas leves e efeitos delicados fazem a faixa.

MGMT www.whoismgmt.com www.myspace.com/mgmt

As melhores batidas do ano chegam em clima nostálgico e divertido. Impossível não ter vontade de pular enquanto o refrão “Control yourself/ Take only what you need from it/ A family of trees wanted to be haunted” (algo como “Controle-se/ Tire apenas o que você precisa dele/ Uma família de árvores querendo ser assombrada”) é cantado - ou quase chorado. Destaque para o solo de teclado e efeitos eletrônicos na parte final da faixa. Triunfante.

6) “4th Dimensional Transition” (3:58) Atmosférica e tensa, tem um ritmo arrastado. Sintetizadores e efeitos eletrônicos misturam-se ao vocal duplo.


headline [ 23 ] 7) “Pieces of What” (2:43)

Balada quase acústica baseada em um violão melancólico que traz referências óbvias de Velvet Underground.

8) “Of Moons, Birds & Monsters” (4:46)

Desde o primeiro riff é inevitável não perceber os anos 70 em uma roupagem indie com toques retrô. Com jeito de jam session e solos de guitarra, o MGMT encarna, do seu jeito, o mestre Jimi Hendrix.

9) “The Handshake” (3:39)

Começa delicada para desembocar, logo nos primeiros segundos, numa hipnose eletrônica de batidas quase sensuais. Uma das melhores do disco.

10) “Future Reflections” (4:00)

De longe, a mais chatinha do álbum. Não evolui bem com o excesso de efeitos eletrônicos e com o vocal vagaroso e quase sonolento. Quando as batidas entram já é tarde demais. Dispensável.

Ben Goldwasser no Tim Festival

mgmt decepciona em show no brasil Escalados para fechar a última noite da edição paulistana do TIM Festival 2008, o MGMT fez um show monótono e quase tedioso, do qual só se salva o final, quando a dupla tocou “Time to Pretend” e “Kids”, levantando o público. Quem esperava um show dançante e de clima dance-punk com nuances psicodélicas, com certeza teve uma decepção com o marasmo falsamente hipnótico que os dois tentaram interpretar no palco. A banda só tocou faixas de Oracular Spectacular (2007), como “Weekend Wars”, “The Youth”, “”Electric Feel”, “Pieces of What”, “4th Dimensional Transition” e “Of Moons, Birds and Monsters”. Mesmo assim, a apresentação foi decepcionante e fechou o TIM 2008 de modo quase melancólico. Uma pena.



A LUMIère CitroËn patrocinou Este projeto universitário.


[ 26 ] entrevista

A banda bauruense Papai Elefante lança seu primeiro disco com influência de bandas como Los Hermanos e mostra que tem muita história para contar por mariana mandelli

Eles se conheceram no primeiro ano da faculdade de engenharia elétrica, na Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” (UNESP), em Bauru. Quando Roberto Garcia Neto, 25 anos, conheceu Felipe Lucarelli Samaan, 24, eles não sabiam o que a amizade poderia render. Roberto comprou um violão e arriscava algumas notas logo no primeiro ano do curso. Comprou também alguns discos – entre eles, Bloco do Eu Sozinho, o disco mais revolucionário dos Los Hermanos. E foi ali que ele sentiu vontade de fazer música. “Nunca quis se um guitar hero, mas aquilo eu poderia ser”, lembra. De 2002, quando descobriu o álbum, até hoje, a vida de Roberto foi mudando e, conseqüentemente, acabou se encontrando com a música. Gravou um disco de covers (no gravador do Windows, no próprio computador) e distribuiu para a família e amigos no Natal; viajou pela Europa com seu violão e escreveu sua primeira letra “Maria Juliana” e, no retorno do intercâmbio, resolveu montar uma banda de vez. Felipe era um dos integrantes – os ensaios ocorriam na casa dele ou no conservatório em que Leonardo, o baterista “encontrado” por meio de um cartaz colocado por Roberto nas paredes da faculdade, dava aulas. O nome da banda veio depois que um dos integrantes, Baby, saiu do grupo. “Ao comentar a saída do Baby, o Rodrigo [outro integrante] disse que ele parecia o papai elefante que vai embora morrer sozinho quando percebe que não é mais necessário. Pronto: o nome foi escolhido, em homenagem ao Baby”, conta Roberto. Em 2005, vieram as primeiras gravações e novos integrantes. As influências musicais foram se fortalecendo – o pop rock de U2, Strokes e Coldplay,reinava ao lado da MPB de Zé Ramalho e Zeca Baleiro. O primeiro show foi numa república de um amigo e a banda tocou poucas músicas, já que ainda não tinha um estilo definido – o setlist

bizarro foi de Offspring a “Chão de Giz”. Das sessões no estúdio – pagas por Roberto –, nasceram gravações que o grupo enviou para festivais, como “A tarada, a apaixonada e a que não queria nada” e “O Mocinho”. As canções foram aprovadas e o Papai Elefante tocou no Festival de Ilha Solteira e em um evento da rádio bauruense 96 FM.


entrevista [ 27 ] A partir daí, a banda começou a produzir com mais sofisticação, pagando estúdios melhores e dedicando mais tempo à música. Mas as notícias não eram só boas: dois integrantes anunciaram que se mudariam de Bauru e Felipe foi trabalhar nos Estados Unidos. Enquanto isso, Roberto formou outra banda – a Soda Pop – e tocava em festas de república pela cidade. Com o retorno de Felipe e entrada de um novo baterista, o Papai Elefante se reuniu novamente e voltou a gravar. O resultado está rendendo frutos: “Medusa”, faixa do disco, está na programação da 94 FM, rádio baruense. A seguir, uma entrevista com o vocalista Roberto sobre a promissora banda.

O primeiro EP de vocês está pronto. Como foi o processo de gravação?

As gravações terminaram em janeiro de 2008. O Felipe e eu já havíamos tirado algumas fotos em São Paulo com um designer amigo nosso que iria também fazer a arte do encarte. Mixei o trabalho no estúdio Mosh, em São Paulo, acertei os detalhes da prensagem e fiquei dependendo da arte. Depois de quatro meses, o designer sumiu do mapa e tive que pagar de novo pelo encarte – dessa vez para uma empresa de Bauru. Aí sim ficou tudo pronto. Neste ano, vamos para o Festival de Ilha Solteira de novo – “Medusa”, que está no disco, foi selecionada.

Quais são as maiores influências da banda?

A influência comum mais forte para o Felipe e eu é U2. No resto, nos diferenciamos um pouco. O Felipe vem de uma formação de rock padrão como Nirvana, Metallica, Pearl Jam, etc. Já eu sou fã da música pop. Beach Boys, Abba, Bee Gees, aquela onde a melodia te pega, te deixa com um sorriso no rosto, sabe? Os reis do pop no Brasil para mim são Lulu Santos e Guilherme Arantes. Também adoro a fase 70/80 do Roberto Carlos. Não importa o estilo, se a melodia me agrada, eu gosto da música. Acho as melodias do Strokes incríveis, os refrões são sempre em acorde maior. Resumindo, gosto de me música que me faz sentir bem.

“Anelisa” é inspirada em quem? “O mocinho” é autobiográfica? De onde vem a inspiração para compor?

A músicas são sempre feitas por mim ou pelo Felipe. Quase nunca juntos. O arranjo é feito em conjunto. Compor desde o início com alguém é algo que eu não consigo. Bom, “Anelisa” foi escrita quando uma paixão fulminante


[ 28 ] entrevista me assolou. Eu conheci uma garota chamada Anelisa quando ela nos chamou para tocar na sua república. Eu a achei bonita, mas não me interessei. De repente ela me dá bola, me deixa recados no fotolog e eu me apaixono por ela. Trocamos e-mails, passamos horas no telefone. Levei-a para jantar e me declarei, mas ela disse que tinha saído de um relacionamento longo e não queria entrar em outro agora. Fiquei arrasado. Escrevi essa música em uma hora, gravei no computador e mandei para ela. Ela gostou mas não adiantou. Nunca mais a vi. Se eu tenho uma frustração na minha vida, é essa. Já “O Mocinho” não é baseada em nenhuma história especial. É o caso padrão do menino que gosta da menina que não gosta do menino, situação que eu conheço bem. Ela foi feita numa época em que nós só tínhamos duas músicas próprias, uma minha e outra do Rodrigo. Eram músicas pesadas, uma inclusive com um palavrão. E eu não me sentia a vontade com aquilo, queria uma música que uma criança pudesse cantar, sem nada ofensivo ali. Daí para a donzela disputada pelo mocinho e pelo vilão foi um pulo.

Quais as dificuldades que uma banda alternativa enfrenta para se firmar no cenário musical brasileiro?

O mercado em geral está competitivo demais, normalmente as pessoas não encontram muitas boas chances por aí. O Felipe está trabalhando, espero que no início de 2009 eu esteja também. O que fazer quando eu tiver que esco-

lher pela música ou pela engenharia? Acho que todo mundo que tem uma banda passa por isso, escolher correr atrás do sonho ou do que é mais seguro. Claro que se eu tiver um contrato para assinar eu jogo a engenharia para o alto. Mas e se for de um selo pequeno? Compensa largar tudo para entrar no circuito de festivais, divulgação boca a boca, internet? Acho que essa é a maior dificuldade das bandas independentes, seguir correndo atrás ou “cair na real”, ceder às pressões de família e sociedade para ser alguém. O mercado é esse, eu sigo em frente para ver no que dá.

Como músico, o que pensa de baixar música pela internet de graça?

Acho que a internet deveria funcionar como o rádio. Sempre ouvimos de graça as músicas por ele. Se quiséssemos guardá-las, era só usar fita cassete. Mas se quiséssemos nos aprofundar naquilo, comprávamos o disco. Acho que as músicas de trabalho deveriam estar disponíveis na rede e o álbum inteiro seria exclusividade de quem comprasse. Seguindo essa minha ideologia, nunca baixei um álbum completo na rede. Minto, baixei o do Camelo essa semana, mas porque ele disponibilizou o álbum todo. E mais: o download, o cd pirata, o cd com “trocentas” mp3, isso tudo banaliza a música. Quem ouve tudo o que baixa? Você acha que daqui a vinte anos as pessoas guardarão as mp3s e os CDs piratas com


entrevista [ 29 ] carinho, assim como guardam os vinis? Eu ainda compro CDs e a primeira audição é como assistir a um filme. O primeiro contato é especial. É porque eu paguei por aquilo, dou valor. O que vem de graça não tem valor.

Até agora, qual o momento que você considera mais importante na carreira de vocês?

Quando passamos no concurso da 96 FM e a nossa música tocou no rádio foi uma sensação incrível. Mas acho que não tivemos momentos muito importantes. As repercussões da banda sempre foram locais. Já saímos várias vezes nos jornais de Bauru, sempre com fotos grandes, o que é ótimo para orgulhar parentes. Mas não passou disso. E por um simples motivo: nunca divulguei o material. O único CD do Papai Elefante que existia antes desse atual era um com algumas gravações antigas e eu me recusava a divulgá-lo porque não tinha qualidade. Não queria queimar minha oportunidade – não acredito em segundas chances. Por isso dei meu sangue nesse CD. Vai ser nosso único tiro e, se não for no alvo, tocar será só um hobby. Porque passar por tudo isso de novo, de gravar disco sem a ajuda de ninguém... não quero, obrigado.

Vocês já tocaram em dezenas de festas de república em Bauru. Como vocês se sentem sabendo que vão fazer parte da memória de quem passou pela UNESP?

Isso me deixa feliz, de verdade. Eu me lembro de ver shows em festas de república e o som ser horrível, com os músicos errando na hora de tocar. Sempre me preocupei com a qualidade do nosso som. Não importa que era numa sala, nossos equipamentos eram ótimos. Chegávamos cedo, montávamos tudo e passávamos o som antes das festas. Ninguém da banda ficava bêbado, eu sempre fui exigente com todo mundo. E buscávamos coisas que as outras não tocassem. Em resumo, a emoção de tocar ali é incrível. Nunca senti num palco o que sentia nas festas. Ver uma sala de 3x5 metros com cinqüenta pessoas cantando e dançando e saber que é você quem está provocando aquilo é algo fora do normal.

papai elefante papai elefante [2008] www.myspace.com/ papaielefante


[ 30 ] história

a verdadeira

revolução

Considerado um dos melhores discos da história da música, o “álbum branco” completa quatro décadas mais vivo do que nunca por mariana mandelli

O ano de 2008 marca os 40 anos do lançamento do chamado “Álbum Branco” (ou The White Album), o disco de capa monocromática com um pequeno “The Beatles” marcado em relevo no canto inferior direito. Lançado no dia 22 de novembro de 1968, em meio ao momento efervescente que o mundo vivia nos âmbitos político, econômico e cultural, o disco duplo mudou o curso da história da música e da carreira da melhor banda de rock de todos os tempos.

Considerado o “início do fim”, o álbum branco deixava clara a desunião do grupo. É perfeitamente perceptível a fragmentação da banda no tracklist, resultado dos primeiros momentos de ruptura entre o grupo recém-chegado da temporada na Índia com o guru Maharishi Mahesh Yogi. Lá, compuseram a maioria das canções do novo disco, pensado para ser simples e direto, diferentemente de seu antecessor, o complexo e psicodélico Sgt Pepper’s.


história [ 31 ] Além de ser um marco histórico na história da música, outros mitos envolvem o álbum branco. Charles Manson, um dos assassinos mais famosos da história, envolvido no homicídio de Sharon Tate, atriz e esposa do diretor Roman Polanski, alegou que as músicas do álbum incitavam-no a praticar crimes. Acreditando ser a reencarnação de Jesus Cristo, ele e seus seguidores (a “Família Manson”), cometeram chacinas e usavam o sangue das vítimas para escrever os nomes de músicas como “Piggies”, “Helter Skelter” e “Blackbird” na cena do crime. Bizarrices à parte, o álbum branco representa os melhores momentos criativos de cada Beatle. Se a inspiração tem a ver com a jornada espiritual na Índia fica difícil saber. O que importa é que cada integrante estava na sua melhor forma. John Lennon é o maior exemplo disso. Com o início de seu relacionamento com Yoko Ono, o músico passava por um período de criatividade intensa e parceria com a amante – ela participa dos vocais de “The Continuing Story Of Bungalow Bill” e de “Revolution 9”. Merecem destaque o lirismo de “Dear Prudence” (escrita para a irmã de Mia Farrow), “Julia” (dedicada à mãe de Lennon), “Cry Baby Cry” e “Good Night” (escrita para se filho Julian a cantada por Ringo); a ironia e o bom humor de “Everybody’s Got Something to Hide Except Me and My Monkey”, “Sexy Sadie” e “Glass Onion” (sobre os fãs que enxergavam mensagens subliminares nas músicas do grupo); a sensualidade de “Happiness Is A Warm Gun”; a simplicidade de “I’m So Tired”; o blues-rock de “Yer Blues” e a música-símbolo da época, “Revolution 1”. As participações de George Harrison estão em “Long, Long, Long”, “Piggies” (com sons de porcos como efeitos sonoros) e “Savoy Truffle” (inspirada por uma caixa de chocolates e teoricamente dedicada a Eric Clapton, grande apreciador de doces). Contudo, é “While My Guitar Gently Weeps” sua melhor contribuição, por ser melancólica e inspiradora e contar com a guitarra chorosa do amigo Clapton. A maioria das canções de Paul no álbum branco foram compostas e gravadas somente por ele, sem a participação dos outros Beatles – com exceção de “Birthday”, uma das últimas colaborações entre ele e John; “Martha My Dear” (supostamente dedicada à sua sheepdog Martha) que teve George no contra-baixo e John na gui-

tarra; “Why Don’t We Do It In The Road?”, com Ringo, e “Ob-La-Di, Ob-La-Da”, considerada uma das piores canções da história por uma revista. Reza a lenda que a faixa foi criada em uma aposta entre os Beatles para decidir quem compunha a música mais idiota, com a premissa de que qualquer coisa que eles cantassem faria sucesso. Paul encontrou seu lado folk na belíssima “Blackbird” e, especialmente, em “Rocky Racoon”. As baladas românticas, marca da docilidade musical de McCartney, têm sua vez com “I Will”, composta para Linda Eastman (que veio a ser Linda McCartney), e com a bucólica “Mother Nature’s Song”. O rock ‘n roll mccartiano aparece em “Wild Honey Pie”, “Back in the U.S.S.R.” (resposta a “Back In The U.S.A.”, de Chuck Berry) e, especialmente, naquela que é considerada a primeira canção de heavy metal da história: “Helter

Skelter”. Barulhenta e pesada, a faixa inspirou músicos pelo mundo e ajudou a semear o futuro do rock pós-Beatles. “Don’t Pass Me By”, a primeira composição solo de Ringo Starr gravada pela banda, acabou entrando para o tracklist, desbancando “Mean Mr. Mustard”, “Polythene Pam” (ambas lançadas no Abbey Road, em 1969), “Hey Jude”, “Revolution” (ambas lançadas em compacto) e outras canções que apareceriam anos mais tarde na carreira solo de cada ex-beatle. Gostando ou não, é impossível ser indiferente ao peso que a obra-patrimônio de John, Paul, Ringo e George tiveram e ainda têm frente à produção cultural mundial. A inventividade e genialidade de cada um dos quatro cérebros que formavam a banda fazem do álbum branco uma obra essencialmente atemporal, que não se esgota no tempo nem no espaço. Se depender da projeção e da influência da obra dos Beatles, 1968 vai ser sempre o ano que não terminou...

The Beatles WHITE ALBUM [2008] www.thebeatles.com


[ 32 ] doob live!

doob live!

COnfira tudo que rolou nos principais shows da temporada TEXTO: mariana mandelli Fotos: Natalie Gunji

tim festival, 25/10/08 parque do ibirapuera - sp

Dá para resumir o show do The National, na última noite do TIM Festival 2008, em São Paulo, no seguinte clichê: foi tudo aquilo que se esperava. Uma sonoridade de encher os ouvidos, melodias belíssimas, a voz incrível de Matt Berninger ressoando pela tenda armada no Parque do Ibirapuera e um setlist que combinava as canções mais lindas de Alligator (2005) e Boxer (2007) fizeram da apresentação da banda norte-americana um dos pontos mais altos do festival. Sem atrasos, logo após o show de abertura da noite com os brasileiros do Cérebro Eletrônico, Berninger e seus companheiros de banda abriram o show com a belíssima “Start a War” para, em seguida, mandarem a dobradinha perfeita: “Brainy” e “Secret Meeting”, duas da melhores canções da banda. O vigor multiinstrumentista da banda, que conta com metais (trompete e trombone) e violino, ficou evidente em toda a apresentação, mesmo nas melancólicas “Baby We’ll be Fine” e “Slow Show”. A triunfante e quase épica “Squalor Victoria” veio em seguida e foi o ápice do impecável show. Ainda deu tempo para “Abel”, “All the Wine” e “Apartment Story”. Os vibrantes hits “Mistaken For Strangers” e “Fake Empire”, de Boxer, foram recebidos com empolgação pelo público que já estava entregue desde o primeiro acorde de “Start a War”. Apesar de não terem tocado “Karen”, o National encerrou a apresentação com as fantásticas “Mr. November” e “About Today”.


doob live! [ 33 ]

Skol Beats, 27/09/08 Anhembi - SP A tão aguardada dupla francesa subiu ao palco um pouco depois das 23 horas. Logo, os amplificadores distribuídos junto à cruz luminosa, símbolo dos franceses, tornaram-se cenário dos maiores hits da música eletrônica de 2007. Gaspard Augé e Xavier de Rosnay, que encerraram a turnê mundial com os shows no Brasil, levantaram milhares de pessoas com “Genesis”, “DVNO”, “Stress”, “One Minute to Midnight” e “Never Be Alone”. O ápice, como não poderia deixar de ser, foi em “D.A.N.C.E”. Simpáticos - mas sem serem efusivos -, os dois pediam animação para o público e levantavam as mãos a cada faixa recebida aos pulos pela platéia. Um show sem grandes supresas, mas que correspondeu às expectativas.

Orloff Five, 06/09/08 Via Funchal - SP Foi o ápice do festival. Talvez o show mais frenético que o Brasil já viu. Desde o momento que subiu ao palco, a banda foi insistentemente aclamada pelo público, respondendo à altura com seus riffs viciantes, bateria convulsiva e os berros de Pelle ao microfone nos refrões de “Hey Little World”, “Main Offender”, “Try It Again” e “A Little More For Little You”. Tentando o tempo todo falar português, Pelle soltou, entre pérolas bizarras, coisas como “tira o pé do chão” e “te amo, São Paulo”, emendando sua simpatia com hits como “Walk Idiot Walk”, “Diabolic Scheme”, “You Dress Up For Armageddon” e “You Got It All Wrong”. Ainda sobrou tempo para “A.K.A I-D-I-O-T”, “A Thousand Answers”, “Won’t Be Long”, “Two-Timing Touch And Broken Bones” e “Return The Favour”, em meio às danças de Pelle, que corria de um lado para o outro do palco, e às caretas hilárias do guitarrista Nicholaus Arson (na verdade, Niklas Almqvist, irmão do vocalista). O bis terminou de enlouquecer a platéia, que, em êxtase, pulou sem parar em“Bigger Hole To Fill”, “Hate To Say I Told You So” (uma das mais esperadas da noite) e a derradeira “Tick Tick Boom”. A loucura do Hives fechou o Orloff Five com, até agora, o show do ano.

Invasão Sueca, 23/09/08 Studio SP - SP Um dos festivais mais bacanas do ano teve dois shows simpaticíssimos e deliciosos. O Shout Out Louds mandou seu indie rock esperto baseando o repertório nos discos Howl Howl Gaff Gaff (2005) e Our Ill Wills (2007). “The Comeback”, “Please Please Please” e “Shut Your Eyes” fizeram a noite. Já o trio ensandecido Peter, Bjorn & John transformou o palco do Studio SP em uma filial de hospício indie. Performáticos e muito animados, eles mandaram “Amsterdam”, “Detects On My Affection” e, é claro, o hit supremo “Young Folks”.




[ 36 ] doob online

doob online

confira os melhores clipes e shows do youtube e tudo que está rolando de novo na internet por mariana mandelli

Coldplay - Lovers in Japan

www.youtube.com/watch?v=E_exesnCA5Y

Na excelente seqüência de vídeos que a banda britânica vem lançando para promover o quarto disco, Viva la Vida or Death and All His Friends (2008), o Coldplay lança um de seus melhores vídeos. “Lovers in Japan” tem todos os membros do grupo escrevendo na tela com luzes e interagindo com televisores e outros aparelhos. Uma explosão de cores quase triunfante que combina com o vigor do novo single e com a grandiosidade musical dos arranjos do álbum.

Fleet Foxes - He Doesn’t Know Why

Kings Of Leon - Use Somebody

O folk obscuro de uma das melhores bandas reveladas em 2008 é expresso nesse clipe bizarro por imagens que revelam um clima quase sagrado de presépio, por mais estranho que isso pareça. A banda toca e canta os belos versos “He Doesn’t Know Why”, single do debut Fleet Foxes, enquanto animais – como cabras, bodes e um cachorro – circulam entre os membros. Vídeo estranhíssimo que vale mais pela música do que pelas cenas.

Segundo single do ótimo Only by the Night (2008), o mais novo clipe da banda-família Kings Of Leon mescla, ao som de uma das melhores faixas do álbum, cenas de shows e performances ao vivo da banda norte-americana com imagens muito bem produzidas de bastidores. A atmosfera melancólica fica por conta do tom choroso de Caleb Followill ao cantar os versos angustiantes de “Use Somebody”.

www.youtube.com/watch?v=brZTvGIzeGg

Feist - Honey Honey

www.youtube.com/watch?v=dN0A0ZSfnj4

A angústia na voz arranhada de Leslie Feist é expressa na história de um boneco que navega pelos oceanos e enfrenta a fúria dos mares – no melhor estilo “O Velho e o Mar”, obra-prima de Ernest Hemingway. O vídeo de “Honey Honey” é mais um dos ótimos clipes que Feist vem colecionando na mídia e, com eles, angariando sempre novos fãs – afinal, quem resiste a “I Feel it All” e “1234”?

www.youtube.com/watch?v=vMaxggUVS6Y


doob online [ 37 ] Oasis - The Shock Of The Lightning www.youtube.com/watch?v=87IQhui_Yy8

Velocidade, cor e psicodelia no melhor estilo Velvet Underground, para combinar com o clima do novo disco Dig Out Your Soul (2008), são os principais elementos do clipe de “The Shock Of The Lightning”. As imagens dos irmãos Gallagher são distorcidas com tons carregados e efeitos especiais, o que resulta num casamento perfeito com a canção e com a alma desse novo trabalho do Oasis.

Keane - Spiralling

Spoon – Don’t You Evah (Ao Vivo)

Cores fosforescentes, robôs dançarinos e clima futurista dão um aspecto de Daft Punk cafona para esse novo clipe do Keane. As imagens de “Spiralling”, hit de Perfect Symmetry (2008) misturam neons, psicodelia, new rave e disco dos anos 80. Alternando cenas escuras com tons luminosos, o vídeo traz poucas cenas de Tom Chaplin nos vocais – o destaque, quem diria, é para os robôs. Breguíssimo.

Esse é para aquecer para o show do Spoon no Planeta Terra, festival que acontece em São Paulo no dia 8 de novembro. “Don’t You Evah“ é uma das melhores do último e elogiado disco da banda, Ga Ga Ga Ga Ga (2007). O vídeo foi gravado em uma apresentação na Warehouse Live Houston, no estado norte-americano do Texas, no início de novembro de 2007, e mostra a força que a banda tem ao vivo.

www.youtube.com/watch?v=M-LZ7yH-JBM

www.youtube.com/watch?v=dIgyZZkXxk4

The Verve - Rather Be

www.youtube.com/watch?v=Q1v1m4DhucY

Depois de “Love is Noise”, primeiro single que marcou o tão esperado retorno do Verve à cena do rock alternativo, a banda lança o vídeo de sua segunda faixa de trabalho. Com Richard Ashcroft de camisa preta aberta – quase um latin lover – passeando entre uma floresta num dia úmido e cinzento, “Rather Be” é bucólico e quase rural.

Canal no Youtube Parlophone

www.youtube.com/parlophone

Aqui você encontra vídeos – novos e antigos – de algumas das melhores bandas do mundo da música. Tem playlists de Radiohead, Coldplay, Gorillaz, The Verve, Babyshambles e Blur. O canal da Parlophone tem material de quase todos os artistas que fazem parte da gravadora, que foi fundada na Alemanha nas primeiras décadas do século passado e hoje faz parte da EMI. Curiosidade: até os Beatles já gravaram com o selo.

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[ 38 ] doob online Blip.fm | What are you listening to? www.blip.fm

Você acessa a página do Blip e encontra a seguinte descrição: “Become a DJ and discover new music. Listen to a continuous stream of songs and DJ your own music station”. E é exatamente isso: o site é um microblog com músicas anexadas aos posts (chamados de “blips”). O usuário posta as músicas que está ouvindo junto com pequenos comentários sobre as faixas. As canções do Blip.fm não estão hospedadas no site, o que evita eventuais problemas com as leis de direitos autorais. Ou seja, o Blip apenas toca músicas que estão disponíveis na rede. Desse modo, o site acaba concentrando o maior acervo de músicas da web. Outra dica bacana: o Blip possui integração com o Twitter, Last.fm e outras redes sociais e sites colaborativos, o que facilita a comunicação entre todas as ferramentas.

Hype Machine www.hypem.com

O Hype Machine concentra uma grande variedade de blogs de mp3. Qualquer blog que tenha links para download de música nesse formato é automaticamente adicionado aos dados do site e publicado na home do site. De uma forma geral, a missão do Hype Machine é divulgar novas bandas - contribuindo, assim, para “hypar” grupos novos. Não dá para fazer download das faixas, mas o internauta pode ouvir as músicas disponíveis e, portanto, ter uma espécie de “preview” das novidades. Se o ouvinte curtir o que está ouvindo, rola deixar um comentário para a banda. Além disso, você pode explorar as rádios, blogs e listas de outros usuários do site. Apesar de não ser grátis, o Hype Machine serve como uma boa ferramenta para novas descobertas musicais.

MixWit

http://www.mixwit.com

Para os mais nostálgicos e que sentem saudade do tempo em que a diversão era pescar as músicas favoritas na rádio e gravá-las em uma fita cassete, a solução virtual chegou. O MixWit permite que você faça quantas seleções quiser das suas canções favoritas – ou seja, com a ferramenta, você pode criar pequenos widgets de listas de música para serem postados nas suas páginas pessoais no MySpace, Facebook e Blogger, entre outras redes sociais. O design do widget é um detalhe importante: o formato é de fita cassete. Uma graça. E dá para personalizar a capa com imagens especiais. É quase viciante montar playlists e postá-las depois.


crônica [ 39 ]

os clichês de um show de rock alternativo Todo show de indie rock é a mesma coisa, como um filme alternativo que se repete. São centenas e centenas de pares de All Star pisando o chão grudento de cerveja e com bitucas de cigarro espalhadas por todos os cantos. Sem contar o cheiro – ir a um show de rock é pedir para passar uma espécie de shampoo de nicotina nos cabelos, porque não há perfume que resista ao cheiro fétido de cigarro que fica impregnado em cada fio. A espera também é interminável. Você pode ser muito fã da banda e chegar ao show horas antes para tentar garantir um lugar colado no palco. Mas é burrice passar por tanto sofrimento e ficar condicionado às circunstâncias climáticas (chuva, sol, calor, frio e vento) e estruturais (lugar apertado, gente sem educação e trilha sonora, para dizer o mínimo) sendo que, com toda a certeza, assim que o guitarrista mandar o primeiro riff e você começar a pensar que todo o martírio da espera valeu a pena, vai surgir um espertinho atropelando você sem pedir licença. Bem mais alto, o infeliz vai parar na sua frente como uma enorme e truculenta girafa. A partir daí, pode esquecer: você não vai ver mais nada do show. Com sorte, vai enxergar o pé do baixista ou o suporte do microfone do cantor. E você vai ficar lá, sem ver nada, todo amassado e espremido entre as pessoas e a tal girafa, com sede, vontade de ir ao banheiro e cheirando o suor dos outros. Nem pense em sair: é impossível avançar um passo no meio dessa multidão esmagadora. Se você é sossegado e chega depois – em cima da hora de começar o show – e curte ficar mais ao fundo, também não está livre das irritações. Quem fica nos lugares mais afastados, corre o risco de levar uma garrafada de cerveja na cabeça – isso quando o tal reci-

Mariana Mandelli publica resenhas, cobre shows e mantém um blog de cultura pop na revista online semanal “O Grito” www.revistaogrito.com.

piente não está cheio de xixi de algum sem noção que resolveu se aliviar sem ir ao banheiro. Além disso, também há a chance de você ficar parado num lugar em que as pessoas usam de passagem. Já reparou como é só você escolher um cantinho que o povo surge do além e começa a pedir licença, esbarrando e derrubando cerveja? Se bem que isso é fichinha perto daquela galera sem noção que resolve transformar a casa de show em uma pista de samba-rock e começa a dançar, pular e rebolar pelo chão, ocupando o pouco espaço que ainda restava. A freqüência, então, educada ou não, é padrão: quem não tiver All Star – de preferência, das cores bege, preto ou aquele branco de couro – não entra ou, no mínimo, não é bem-vindo. As garotas têm, necessariamente, alguma peça de roupa ou acessório de bolinhas, xadrez ou listrado. O visual ainda deve conter uma calça skinny – aquelas coladas no corpo. Quanto aos cabelos, quanto mais assimétrico e curto for o corte, melhor. Ou clássico, porque as pin-ups e as atrizes do cinema antigo são valorizadas com inspiração vintage e retrô. As tatuagens e piercings servem para as garotas e para os meninos também. No caso deles, camisa xadrez ou camiseta de banda, com calça skinny e tênis Adidas são a pedida. Uma jaqueta colorida também rola. Agora, o mais importante: a cara de blasé do público. Aquele jeito de que não se diverte, sabe? Só que o disfarce se sustenta só até o show começar. Quando a banda sobe no palco, as luzes são acesas e aquela música que marcou sua vida – seu mês ou seu dia – começa a tocar, o clichê do “tudo valeu a pena” começa a valer. Não há nada que substitua a energia que a música transmite ao vivo. Nem que para isso a gente tenha que chegar em casa de madrugada cheirando cigarro e melado de cerveja.

com sorte, vai enxergar o pé do baixista ou o suporte do microfone do cantor


[ 40 ] atitude

girl power do século xxl garotas dos mais diferentes estilos estão dominando o mundo música e deixando os homens de lado na corrida pelo sucesso por mariana mandeLli

No ano em que a rainha suprema do pop completa meio século de vida, o mundo da música vê florescer os resultados de uma espécie de processo “feminista” que vem semeando a cena há décadas. Um verdadeiro boom de cantoras vem provando que as sementes plantadas por Madonna durante seus 25 anos de carreira realmente mudaram o curso da história das celebridades musicais. A reviravolta no planeta pop aconteceu quando Geri Halliwell, Emma Bunton, Victoria Beckham, Melanie Brown e Melanie C surgiram, fazendo adolescentes do mundo inteiro dançarem ao som de “Wannabe” e “Say You Will Be There”. As Spice Girls encerraram a carreira neste ano – ao que tudo indica, definitivamente. Com a virada do século, a suposta igualdade de direitos entre os sexos, o respeito que as mulheres vêm conquistando no mercado de trabalho e a consolidação da era da imagem - reforçada pelas novas tecnologias que consagraram a internet e a onipresença da mídia -, fizeram mais nomes femininos pipocarem e influenciarem milhões de consumidores de música, ávidos pelas novidades da indústria cultural.

Delicadeza bucólica e sofisticação indie

A web trouxe acesso ao submundo da música: o indie rock, estilo alternativo difícil de conceituar que domina as cenas britânica e norte-americana. No universo underground, ninguém tira a coroa de rainha indie de Charlyn Marshall, mais conhecida como Cat Power. Diva suprema da poesia musicada, devota de Bob Dylan e dona de uma voz naturalmente sedutora, Chan tempera suas canções arrasadoramente tristes com notas de blue e jazz, além de guitarras acústicas e pianos delicados – seus discos Moon Pix (1998) e The greatest (2006) são provas disso. Com inspiração no indie rock, no folk e também no jazz, pode-se ainda citar nomes como os de Leslie Feist, Julie Doiron, Ida Maria, Casey Dienel (agora usando o nome de White Hinterland), Regina Spektor, Joanna Newsom, Ane Brun, Keren Ann, Carina Round, Coralie Clément, Esperanza Spalding, Carla Bruni, Russian Red (Lourdes Hernández), Laura Marling, Marissa Nadler, Hanne Hukkelberg, Emma Pollock, Mary Timony, Azure Ray (Maria Taylor e Orenda Fink) e Au Revoir Simone (Erika Forster, Annie Hart e Heather D’Angelo), entre uma infinidade de mulheres que está abarcando o underground. Todos essas surgiram somente nos anos 2000, o que demonstra que Yael Naïm, Lisa Germano, Colleen (Cécile Schott), Charlotte Gainsbourg, Fiona Apple, Martha Wainwright, Emiliana Torrini, Ani DiFranco, Aimee Mann, Alanis Morissette e a própria Chan Marshall realmente abriram caminho nos anos 90 para as meninas alternativas firmarem-se na cena.


atitude [ 41 ] Vozeirão vintage: o retrô e a Motown na moda

Amy Winehouse, apesar dos inúmeros escândalos, é, com toda a certeza o maior ícone dessa febre que o soul, a Motown e a sonoridade retrô vêm provocando na música pop. Back to Black (2006), seu disco confessional inteiramente escrito com a influência de porres homéricos e de um coração partido, pode ser considerado um dos álbuns da década. Depois do estrondoso sucesso de Winehouse, tanto nas vendagens de discos quanto nas capas dos tablóides, começaram a surgir as primeiras “cópias” do vozeirão da cantora procurando um lugar ao sol. A galesa Aimee Anne Duffy, conhecida simplesmente como Duffy, e a inglesa já são as novas promessas do estilo.

Desbocadas e divertidas

Quando Lily Allen faturou 2007 com seu elogiado Alright, Still (2006), que misturava rock, ska e reggae com letras debochadas sobre os homens, mal sabia ela que estava abrindo um nicho de mercado para cantoras amorosamente rancorosas e com vontade de botar a boca no trombone. Kate Nash e Kate Perry (dos hits “I Kissed a Girl” e “Ur So Gay”) são as novas representantes do gênero.

Divas tupiniquins: as donas do samba

O Brasil também está no mapa das beldades que dominam o mundo da música – no caso, da chamada Música Popular Brasileira (MPB). Da era do rádio à bossa nova, passando pelo tropicalismo e pelo rock, há uma infinidade de vozes femininas que soaram pelas caixas de som de todo o país nas últimas décadas. Toda essa herança resultou no que vemos hoje. Há um verdadeiro domínio de mulheres naquilo que é chamado de “nova MPB”. Ana Carolina, Céu, Mariana Aydar, Vanessa da Mata, Cibelle, Roberta Sá, Fernada Takai (do Pato Fu), Maria Rita, Marina de La Riva, Thalma de Freitas e Nina Becker (da Orquestra Imperial) são apenas alguns exemplos. No rock, o principal nome é o de Pitty. E as próximas gerações estão garantidas: Mallu Magalhães e Stephanie Toth, ambas de 16 anos, já fazem sucesso na cena folk do país. Quem ainda duvida que as mulheres vieram para ficar?


[ 42 ] top8

para entender o Texto: mariana mandelli Design: Eduardo bessa

elvis presley - 1956 elvis presley

Na genética do rock, esse álbum seria o zigoto primogênito do gênero. O controverso rebolado rock ‘n roll do rei é onde praticamente tudo começou. A estréia de Elvis mescla blues, country e rockabilly em preciosidades como “Blue Suede Shoes”, “Tutti Frutti” e “Blue Moon”. Prepare seu topete e seu cadillac!

revolver - 1966

the beatles

A verdadeira “revolution” dos Beatles começa aqui. Tido pelos amantes do rock como uma ode ao psicodelismo e um dos maiores ícones de inovação musical de que se tem notícia, Revolver conta com influências orientais com a cítara de “Love You To”, riffs saborosos de “Got to Get You into My Life”, poesia lírica de “Eleanor Rigby” e com a inigualável “Tomorrow Never Knows”. Uma histórica aula de contracultura.

let it bleed - 1969 rolling stones

Uma afronta ao Let It Be (1970), dos eternos rivais Beatles, Let it Bleed é o melhor disco dos Stones – apesar de Sticky Fingers (1971) ser excelente também. Pouca mais de 46 minutos de puro rock ‘n roll com riffs irresistíveis. Não tem como não ter vontade de balançar a cabeça e bater o pé em “Country Honk” e “Monkey Man” - muito menos de não se emocionar com a clássica “You Can’t Always Get What You Want”.

dark side of the moon - 1973

pink floyd

Um dos maiores discos conceituais da história da música e o ápice do rock progressivo, o álbum marca a mistura de blues rock com efeitos eletrônicos, casamento musical evidente nas faixas que falam sobre as pressões da vida moderna – como tempo, dinheiro, morte e guerra. “Breathe”, “Time” e “Money” são perfeitas nesse ponto.


top8 [ 43 ]

london calling - 1979 the clash

Considerado por muitos críticos como o melhor disco de rock que já gravado, London Calling é a maior metáfora do punk rock e da inventividade de uma banda. Parodiando a capa de Elvis Presley (1956), o álbum reúne criatividade, vigor e atitude em uma verdadeira salada de influências musicais que formam o rock político do Clash. Rockabilly, punk, ska, reggae e hard rock alternam-se em maiores ou menores doses em faixas como “Train in Vain”, “Lost in the Supermarket” e “Brand New Cadillac”.

the queen is dead - 1986

the smiths

O terceiro álbum do mito pop prova a mágica que acontecia quando Morrissey e Johnny Marr dividiam a mesma banda. As críticas à política inglesa ficam por conta de “Bigmouth Strikes Again”, dedicada à ex-primeira-ministra Margaret Thatcher, e de “The Queen Is Dead”, que alfineta a Rainha Elizabeth II. Já a poesia rasgadamente triste sobra para as incríveis “The Boy with the Thorn in His Side” e “There Is a Light That Never Goes Out”.

definitely maybe - 1994

oasis

Mais conhecido como o melhor álbum de estréia de todos os tempos e também como o debut de uma banda que vendeu mais rápido na história da Inglaterra, o disco foi um a unanimidade entre a crítica e os fãs de rock. Os irmãos Gallagher inauguraram o britpop e uma nova era no rock com canções praticamente perfeitas como “Supersonic” e “Live Forever”.

is this it? - 2001 the strokes

Esse é o disco que define a pós-modernidade musical. A voz rouca de Julian Casablancas rasga os versos sobre amor, cotidiano, drogas e os conflitos angustiantes da geração do virtual e do efêmero. Não há como entender o indie rock contemporâneo sem se apaixonar por “Someday”, “Hard to Explain” e, logicamente, “Last Nite”.


[ 44 ] agenda

agenda

Novembro está recheado de grandes shows. Programe sua agenda e não perca!

Quando: 08 de Novembro Onde: Villa dos Galpões, São Paulo

Main Stage 01:30 – 02:45 - Kaiser Chiefs 23:45 - 01:00 - Bloc Party 22:00 - 23:15 – Offspring 20:30 – 21:30 – Jesus and Mary Chain 19:00 - 20:00 – Mallu Magalhães 17:30 - 18:30 - Vanguart

Quanto: R$ 80 (1º lote) Vendas: Central Ticketmaster São Paulo: (11) 2846-6000 Demais localidades: 0300 789 6846 (custo de uma ligação local) – Segunda a Sábado. Pagamento somente através de cartão de crédito Site: www.ticketmaster.com.br

Indie Stage 00:00 - 01:30 - Breeders 22:30 - 23:30 - Spoon 21:00 - 22:00 - Foals 19:30 - 20:30 - Animal Collective 18:00 - 19:00 - Curumin 16:30 – 17:30 - Brothers of Brasil

festival planeta terra

DJ Stage 01:00 – 03:00 – Felix da Housecat 23:30 – 01:00 – Calvin Harris (DJ set) 22:00 – 23:30 – Milo (DJ set) 20:30 – 22:00 – Mau Mau


agenda [ 45 ]

maroon 5

cyndi lauper

QUANDO: 07 de Novembro ONDE: HSBC Arena ­‑ Av. Embaixador Abelardo Bueno, 3401 - Barra da Tijuca - Rio de Janeiro

Quando: 13 e 14 de Novembro Onde: Via Funchal - Rua Funchal, 65 - Vila Olímpia São Paulo

Quando: 09/11 Onde: Via Funchal - Rua Funchal, 65 - Vila Olímpia - São Paulo

Quanto: de R$ 120,00 a R$ 250,00 Vendas: Bilheterias do Via Funchal Site: www.viafunchal.com.br

Quanto: De R$ 180 a R$ 300 Vendas: Bilheterias do Via Funchal e do HSBC Arena Site: www.viafunchal.com.br www.hsbcarena.com.br

kylie minogue Quando: 08 de Novembro Onde: Credicard Hall – Avenida das Nações Unidas, 17955 – Vila Almeida – São Paulo Quanto: De R$ 80 a R$ 300 Vendas: Central Ticketmaster São Paulo: (11) 2846-6000 Demais localidades: 0300 789 6846 (custo de uma ligação local) – Segunda a Sábado. Pagamento somente através de cartão de crédito Site: www.ticketmaster.com.br

r.e.m. quando: 6 de Novembro onde: Estádio São José - Porto Alegre

marcelo camelo

Quando: 14 e 15 de Novembro Onde: Citibank Hall - Avenida Jamaris, 213 - Moema - São Paulo Quanto: De R$ 50,00 a R$ 120,00 Vendas: Central Ticketmaster São Paulo: (11) 2846-6000 Demais localidades: 0300 789 6846 (custo de uma ligação local) – Segunda a Sábado. Pagamento somente através de cartão de crédito Site: www.ticketmaster.com.br

madeleine peyroux Quando: 04/12 Onde: Via Funchal – Rua Funchal, 65 – Vila Olímpia São Paulo Quanto: De R$ 100,00 a R$ 400,00 Vendas: Bilheterias do Via Funchal site: www.viafunchal.com.br

quando: 8 de Novembro ONDE: HSBC Arena ­‑ Av. Embaixador Abelardo Bueno, 3401 - Barra da Tijuca - Rio de Janeiro Quando: 10 e 11 de Novembro Onde: Via Funchal - Rua Funchal, 65 - Vila Olímpia - São Paulo Quanto: De R$ 200 a R$ 500 Vendas: Bilheterias do Via Funchal Site: www.viafunchal.com.br

Confira NOssa agenda completa no site da doob: www.doob.com/agenda


[ 46 ] doob art

x&y - coldplay [2005] Designer: Tappin Gofton

X&Y, o terceiro e tão criticado disco do Coldplay, tem uma das capas mais enigmáticas da década. O desenho quadriculado e colorido que ocupa o centro da imagem é, na verdade, uma mensagem expressa em Código Baudot (ou Código Telegráfico Universal Número 1), uma das primeiras ferramentas telegráficas do mundo. Essa linguagem codificada foi criada em 1874 por Emile Baudot e era usada para comunicação terrestre e submarina. Em meados do século passado, entrou em desuso e foi substituída pelo Código Morse. O encarte de X&Y vem com uma explicação na íntegra sobre a linguagem Baudot – uma espécie de

legenda que indica o significado de cada bloco geométrico e sua letra correspondente no alfabeto, além de símbolos gráficos e elementos da pontuação. Assim, é possível desvendar o mistério da mensagem contida na capa – como era de se esperar, o desenho quer dizer “X&Y”. Um detalhe: atrás do encarte há outro código a ser decifrado. Usando a “legenda”, é possível saber que a imagem significa “make trade fair”, lema da campanha que propõe mudanças no comércio internacional com países em desenvolvimento. O movimento é apoiado por Chris Martin.




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