Estrutura das demonstrações contábeis [unifacs]

Page 1

ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

2


APRESENTAÇÃO

APRESENTAÇÃO Caro amigo(a), Nos próximos meses, vamos mergulhar na análise da conjuntura econômica. Embora pareça trabalho de economistas, a análise de conjuntura está presente em todas as áreas do mercado de trabalho. É indispensável para qualquer carreira conhecer bem as nuances da economia, bem como os limites e possibilidades que o saber econômico pode proporcionar, facilitando a geração de novos negócios nos mais diversos campos de atuação, e também no sentido de conhecer as particularidades do mercado baiano, que tem especificidades e limitações impostas por suas características econômicas. Especificamente em relação a essa disciplina, bucamos abarcar as principais discussões da análise econômica. Num primeiro momento, vamos entender a lógica de funcionamento de um mercado e as leis fundamentais da oferta e demanda. Feitas essas considerações de caráter mais conceitual, partimos para a análise de conjuntura propriamente dita, com destaque para o desempenho econômico do Brasil e da Bahia na atualidade. Neste curso, será possível entender como as variáveis econômicas se relacionam às mais diferentes atividades. Em nosso módulo, vamos analisar as principais decisões econômicas como, por exemplo, os instrumentais de atuação do governo no combate à inflação, na determinação do nível ótimo do crescimento do PIB, na geração de empregos, bem como as políticas de determinação do desenvolvimento econômico do nosso país. Em uma de nossas aulas, será esclarecida a questão do crescimento econômico e do desenvolvimento, variáveis que longe de serem sinônimas, interferem diretamente no bem-estar da nossa população. Assim também esclareceremos por que o Banco Central do Brasil assume uma importância tão grande em nossa economia e como as decisões tomadas por esse organismo podem afetar os nossos negócios e, inclusive, as nossas exportações para os demais países do globo. Devido ao caráter dinâmico da análise da Conjuntura Econômica Internacional e Nacional, decidimos tratar as atualidades através de discussões orientadas em fóruns abertos no AVA ao longo dos semestres letivos. Desta forma, garantimos a construção e o compartilhamento do conhecimento de fatos relevantes e atuais em cada momento de interação. A maior parte do nosso contato se dará no AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem. Lá, estaremos à disposição para dirimir todas as dúvidas que possam surgir. Espero que esta matéria seja uma oportunidade de abrirmos um grande debate, não com a pretensão de formar somente economistas, mas de contribuir para o aperfeiçoamento e excelência dos cursos de graduação da UNIFACS. Lembremos que o sucesso desta empreitada depende muito de nossa interação com a nova possibilidade de um aprendizado multidimensional e do desejo individual da busca por novos horizontes, fatores que, em um mercado altamente competitivo, são diferenciais para uma boa inserção no mercado de trabalho. Gustavo Casseb Pessoti

3



APRESENTAÇÃO

SUMÁRIO APRESENTAÇÃO.................................................................................................................... 3 AULA 1 - CONCEITOS BÁSICOS: ESTRUTURAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS, DE ACORDO COM AS LEIS Nº 11.638/07 E 11.941/2009 E CPC CONCEITUAL BÁSICO............. 7 AULA 2 - INTRODUÇÃO À DISCIPLINA E AJUSTES NECESSÁRIOS ÀS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS........................................................................................ 21 AULA 3 - INDICADORES DE ANÁLISES VERTICAL E HORIZONTAL DO BALANÇO PATRIMONIAL E DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO............................................................... 33 AULA 4 - ÍNDICES DE LIQUIDEZ: LIQUIDEZ CORRENTE, CAPITAL CIRCULANTE, LIQUIDEZ SECA, LIQUIDEZ IMEDIATA E LIQUIDEZ GERAL................................................................................ 49 AULA 5 - ÍNDICES DE ENDIVIDAMENTO: PARTICIPAÇÃO DE CAPITAIS DE TERCEIROS..................................................................................................................... 61 AULA 6 - ÍNDICES DE RENTABILIDADE: RETORNO SOBRE INVESTIMENTOS, PATRIMÔNIO LÍQUIDO E RENTABILIDADE DA EMPRESA X RENTABILIDADE DO EMPRESÁRIO........................71 AULA 7 - ÍNDICES DE ATIVIDADE: PRAZO MÉDIO DE RECEBIMENTO DE VENDAS, PRAZO MÉDIO DE PAGAMENTO DE COMPRAS, PRAZO MÉDIO DE RENOVAÇÃO DE ESTOQUES............81 AULA 8 - EBITDA E EVA: CONCEITO, LIMITAÇÕES E UTILIZAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE ANÁLISE..............................................................................................................................93

5



AULA 1 Conceitos Básicos: Estruturação das Demonstrações Contábeis, de Acordo com as Leis Nº 11.638/07 e 11.941/2009 e CPC Conceitual Básico Autora: Claudia Sampaio da Silva Freire

Fonte: http://www.sxc.hu/photo/966066 http://www.sxc.hu/photo/665434/?forcedownload=1


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Olá, caro aluno! Nesta aula, vamos revisar os conceitos básicos relacionados à estruturação das demonstrações contábeis, conforme as alterações propostas pelas Leis 11.638/07 e 11.941/09 (MP 449/08), bem como pronunciamento conceitual básico. Bom estudo!

ALTERAÇÕES DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS Em razão das Leis nº 11.638/07 e MP nº 449/08, convertida na Lei nº 11.941 em 27 de maio de 2009, as Demonstrações contábeis sofreram alterações substanciais que modificaram a estrutura do Balanço Patrimonial do Demonstrativo de resultado (DRE) e a forma de apuração de resultados. Veja, a seguir, algumas mudanças retiradas do Comunicado Técnico – CT 01 Resolução nº 1.159 de 2009: » » classificação do Ativo e do Passivo em “Circulante” e “Não Circulante”; » » extinção do grupo Ativo Permanente; » » restrição ao longo do exercício de 2008 e extinção, a partir da data de 5/12/2008, para a utilização do subgrupo Ativo Diferido; » » criação do subgrupo “Intangível” no grupo do Ativo Não Circulante; » » proibição de reavaliação espontânea de ativos; » » registro, em contas do Ativo e Passivo, dos contratos de arrendamento mercantil financeiro (leasing); » » extinção do grupo de contas de Resultados de Exercícios Futuros; » » criação, no Patrimônio Líquido, da conta de “Ajustes de Avaliação Patrimonial”; » » destinação do saldo de Lucros Acumulados; » » alteração da sistemática de contabilização das doações e subvenções fiscais, anteriormente contabilizadas em conta de Reserva de Capital; » » mudança da sistemática de contabilização dos prêmios nas emissões de debêntures, anteriormente contabilizados em conta de Reserva de Capital; » » extinção da classificação das Receitas e Despesas em Operacionais e Não Operacionais; » » substituição da Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (Doar) pela Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) que faz parte do rol das Demonstrações Contábeis obrigatórias; » » obrigatoriedade da elaboração da Demonstração do Valor Adicionado (DVA) para as empresas de capital aberto; » » implantação da apuração do Ajuste a Valor Presente de elementos do ativo e do passivo. As alterações trazidas pela mudança da legislação têm o objetivo de harmonizar a contabilidade brasileira com os padrões internacionais, facilitando o entendimento do investidor estrangeiro à medida que aumenta a transparência dos balanços e possibilita a comparabilidade das demonstrações financeiras de diferentes regiões do mundo, oportunizando, assim, a interpretação dos balanços

8


AULA 1 - CONCEITOS BÁSICOS: ESTRUTURAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS, DE ACORDO COM AS LEIS NO 11.638/07 E 11.941/2009 E CPC CONCEITUAL BÁSICO

de diferentes empresas ao redor do mundo, além de promover o trabalho dos contadores pela sua aplicação universal. Ainda visando harmonizar os entendimentos, recomendações e estruturas contábeis, a classe contábil criou o Comitê de pronunciamentos contábeis que nasceu da soma de esforços das seguintes entidades: » » Associação Brasileira de Companhias Abertas (Abrasca); » » Associação de Analistas Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais (Apimec Nacional); » » Bolsa de Valores do Estado de São Paulo (Bovespa); » » Conselho Federal de Contabilidade (CFC); » » Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi); » » Instituto de Auditores Independentes do Brasil (Ibracon). Segundo informações extraídas do site www.cpc.org.br, do Comitê de Pronunciamentos Contábeis, o CPC, este foi criado em razão das necessidades de: » » convergência internacional das normas contábeis (redução de custo de elaboração de relatórios contábeis, redução de riscos e custo nas análises e decisões, redução de custo de capital); » » centralização na emissão de normas dessa natureza (no Brasil, diversas entidades o fazem, o que gera divergência no entendimento das normas); » » representação e processo democráticos na produção dessas informações (produtores da informação contábil, auditor, usuário, intermediário, academia, governo).

CRIAÇÃO E OBJETIVO Criado pela Resolução CFC nº 1.055/05, o CPC tem como objetivo: [...] o estudo, o preparo e a emissão de Pronunciamentos Técnicos sobre procedimentos de Contabilidade e a divulgação de informações dessa natureza, para permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando à centralização e uniformização do seu processo de produção, levando sempre em conta a convergência da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais.

Além dos membros atuais, serão sempre convidados a participar representantes dos seguintes órgãos: » » Banco Central do Brasil (BCB); » » Comissão de Valores Mobiliários (CVM); » » Secretaria da Receita Federal (SRF); » » Superintendência de Seguros Privados (Susep). Outras entidades ou especialistas poderão ser convidados. Também será possível formar Comissões e Grupos de Trabalho para temas específicos.

9


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

PRODUTOS DO CPC: » » Pronunciamentos Técnicos; » » Orientações; » » Interpretações. Os Pronunciamentos Técnicos serão obrigatoriamente submetidos a audiências públicas. As Orientações e Interpretações poderão, também, sofrer esse processo. No pronunciamento conceitual básico, o CPC apresenta uma série de recomendações fundamentais à construção das demonstrações contábeis, fundamentado no novo conceito de harmonização. Farei aqui a extração das principais recomendações.

PRESSUPOSTOS BÁSICOS Este pronunciamento estabelece como pressupostos básicos os princípios contábeis da competência e continuidade. A intenção do CPC é recomendar que as demonstrações sejam confeccionadas com base nessas premissas.

REGIME DE COMPETÊNCIA A fim de atingir seus objetivos, demonstrações contábeis são preparadas conforme o regime contábil de competência. Segundo esse regime, os efeitos das transações e outros eventos são reconhecidos quando ocorrem (e não quando caixa ou outros recursos financeiros são recebidos ou pagos) e são lançados nos registros contábeis e reportados nas demonstrações contábeis dos períodos a que se referem. As demonstrações contábeis preparadas pelo regime de competência informam aos usuários não somente sobre transações passadas envolvendo o pagamento e recebimento de caixa ou outros recursos financeiros, mas também sobre obrigações de pagamento no futuro e sobre recursos que serão recebidos no futuro. Dessa forma, apresentam informações sobre transações passadas e outros eventos que sejam as mais úteis aos usuários na tomada de decisões econômicas. O regime de competência pressupõe a confrontação entre receitas e despesas.

CONTINUIDADE As demonstrações contábeis são normalmente preparadas no pressuposto de que a entidade continuará em operação no futuro previsível. Dessa forma, presume-se que a entidade não tem a intenção nem a necessidade de entrar em liquidação nem de reduzir materialmente a escala das suas operações; se tal intenção ou necessidade existir, as demonstrações contábeis terão que ser preparadas em uma base diferente e, nesse caso, tal base deverá ser divulgada. Outra questão importante estabelecida pelo pronunciamento conceitual básico são os aspectos qualitativos das demonstrações contábeis. As características qualitativas são os atributos que tornam as demonstrações contábeis úteis para os usuários. As quatro principais características qualitativas são: compreensibilidade, relevância, confiabilidade e comparabilidade.

10


AULA 1 - CONCEITOS BÁSICOS: ESTRUTURAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS, DE ACORDO COM AS LEIS NO 11.638/07 E 11.941/2009 E CPC CONCEITUAL BÁSICO

COMPREENSIBILIDADE Uma qualidade essencial das informações apresentadas nas demonstrações contábeis é que elas sejam prontamente entendidas pelos usuários. Para esse fim, presume-se que os usuários tenham um conhecimento razoável dos negócios, atividades econômicas e contabilidade e a disposição de estudar as informações com razoável diligência. Todavia, informações sobre assuntos complexos que devam ser incluídas nas demonstrações contábeis por causa da sua relevância para as necessidades de tomada de decisão pelos usuários não devem ser excluídas em nenhuma hipótese, inclusive sob o pretexto de que seria difícil para certos usuários as entenderem.

RELEVÂNCIA Para serem úteis, as informações devem ser relevantes às necessidades dos usuários na tomada de decisões. As informações são relevantes quando podem influenciar as decisões econômicas dos usuários, ajudando-os a avaliar o impacto de eventos passados, presentes ou futuros, confirmando ou corrigindo as suas avaliações anteriores. As funções de previsão e confirmação das informações são internamente relacionadas. Por exemplo, informações sobre o nível atual e a estrutura dos ativos têm valor para os usuários na tentativa de prever a capacidade que a entidade tenha de aproveitar oportunidades e a sua capacidade de reagir a situações adversas. As mesmas informações têm o papel de confirmar as previsões passadas sobre, por exemplo, a forma na qual a entidade seria estruturada ou o resultado de operações planejadas. Informações sobre a posição patrimonial e financeira e o desempenho passado são frequentemente utilizadas como base para projetar a posição e o desempenho futuros, assim como outros assuntos nos quais os usuários estejam diretamente interessados, tais como pagamento de dividendos e salários, alterações no preço das ações e a capacidade que a entidade tenha de atender seus compromissos à medida que se tornem devidos. Para terem valor como previsão, as informações não precisam estar em forma de projeção explícita. A capacidade de fazer previsões com base nas demonstrações contábeis pode ser ampliada, entretanto, pela forma como as informações sobre transações e eventos anteriores são apresentadas. Por exemplo, o valor da demonstração do resultado como elemento de previsão é ampliado quando itens incomuns, anormais e esporádicos de receita ou despesa são divulgados separadamente.

MATERIALIDADE A relevância das informações é afetada pela sua natureza e materialidade. Em alguns casos, a natureza das informações, por si só, é suficiente para determinar a sua relevância. Por exemplo, reportar um novo segmento em que a entidade tenha passado a operar poderá afetar a avaliação dos riscos e oportunidades com que a entidade se depara, independentemente da materialidade em cada um dos principais resultados atingidos pelo novo segmento no período abrangido pelas demonstrações contábeis. Em outros casos, tanto a natureza quanto a materialidade são importantes; por exemplo: os valores dos estoques existentes em cada uma das suas principais classes, conforme a classificação apropriada ao negócio.

11


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Uma informação é material se a sua omissão ou distorção puder influenciar as decisões econômicas dos usuários, tomadas com base nas demonstrações contábeis. A materialidade depende do tamanho do item ou do erro, julgado nas circunstâncias específicas de sua omissão ou distorção. Assim, a materialidade proporciona um patamar ou ponto de corte em vez de ser uma característica qualitativa primária que a informação deve ter para ser útil.

CONFIABILIDADE Para ser útil, a informação deve ser confiável, ou seja, deve estar livre de erros ou vieses irrelevantes e representar adequadamente aquilo que se propõe a representar. Uma informação pode ser relevante, mas a tal ponto não confiável em sua natureza ou divulgação, que o seu reconhecimento pode potencialmente distorcer as demonstrações contábeis. Por exemplo, se a validade legal e o valor de uma reclamação por danos em uma ação judicial movida contra a entidade são questionados, pode ser inadequado reconhecer o valor total da reclamação no balanço patrimonial, embora possa ser apropriado divulgar o valor e as circunstâncias da reclamação.

REPRESENTAÇÃO ADEQUADA Para ser confiável, a informação deve representar adequadamente as transações e outros eventos que ela diz representar. Assim, por exemplo, o balanço patrimonial numa determinada data deve representar adequadamente as transações e outros eventos que resultam em ativos, passivos e patrimônio líquido da entidade e que atendam aos critérios de reconhecimento. A maioria das informações contábeis está sujeita ao risco de não ser uma representação totalmente fiel daquilo que se propõe a retratar. Isso pode decorrer de dificuldades inerentes à identificação das transações ou outros eventos a serem avaliados ou à identificação e aplicação de técnicas de mensuração e apresentação que possam transmitir, adequadamente, informações que correspondam a tais transações e eventos. Em certos casos, a mensuração dos efeitos financeiros dos itens pode ser tão incerta que não é apropriado o seu reconhecimento nas demonstrações contábeis; por exemplo, embora muitas entidades gerem, internamente, ágio decorrente de expectativa de rentabilidade futura ao longo do tempo (goodwill), é usualmente difícil identificar ou mensurar esse ágio com confiabilidade. Em outros casos, entretanto, pode ser relevante reconhecer itens e divulgar o risco de erro envolvendo o seu reconhecimento e mensuração.

PRIMAZIA DA ESSÊNCIA SOBRE A FORMA Para que a informação represente adequadamente as transações e outros eventos que ela se propõe a representar, é necessário que essas transações e eventos sejam contabilizados e apresentados de acordo com a sua substância e realidade econômica, e não meramente sua forma legal. A essência das transações ou outros eventos nem sempre é consistente com o que aparenta ser com base na sua forma legal ou artificialmente produzida. Por exemplo, uma entidade pode vender um ativo a um terceiro de tal maneira que a documentação indique a transferência legal da propriedade a esse

12


AULA 1 - CONCEITOS BÁSICOS: ESTRUTURAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS, DE ACORDO COM AS LEIS NO 11.638/07 E 11.941/2009 E CPC CONCEITUAL BÁSICO

terceiro; entretanto, poderão existir acordos que assegurem que a entidade continuará a usufruir os futuros benefícios econômicos gerados pelo ativo e o recomprará depois de certo tempo por um montante que se aproxima do valor original de venda acrescido de juros de mercado durante esse período. Em tais circunstâncias, reportar a venda não representaria adequadamente a transação formalizada.

NEUTRALIDADE Para ser confiável, a informação contida nas demonstrações contábeis deve ser neutra, isto é, imparcial. As demonstrações contábeis não são neutras se, pela escolha ou apresentação da informação, elas induzirem à tomada de decisão ou a um julgamento, visando atingir um resultado ou desfecho predeterminado.

PRUDÊNCIA Os preparadores de demonstrações contábeis se deparam com incertezas que, inevitavelmente, envolvem certos eventos e circunstâncias, tais como a possibilidade de recebimento de contas a receber de liquidação duvidosa, a vida útil provável das máquinas e equipamentos e o número de reclamações cobertas por garantias que possam ocorrer. Tais incertezas são reconhecidas pela divulgação da sua natureza e extensão e pelo exercício de prudência na preparação das demonstrações contábeis. Prudência consiste no emprego de certo grau de precaução no exercício dos julgamentos necessários às estimativas em certas condições de incerteza, no sentido de que ativos ou receitas não sejam superestimados e que passivos ou despesas não sejam subestimados. Entretanto, o exercício da prudência não permite, por exemplo, a criação de reservas ocultas ou provisões excessivas, a subavaliação deliberada de ativos ou receitas, a superavaliação deliberada de passivos ou despesas, pois as demonstrações contábeis deixariam de ser neutras e, portanto, não seriam confiáveis.

INTEGRIDADE Para ser confiável, a informação constante das demonstrações contábeis deve ser completa, dentro dos limites de materialidade e custo. Uma omissão pode tornar a informação falsa ou distorcida e, portanto, não confiável e deficiente em termos de sua relevância.

COMPARABILIDADE Os usuários devem poder comparar as demonstrações contábeis de uma entidade ao longo do tempo, a fim de identificar tendências na sua posição patrimonial e financeira e no seu desempenho. Os usuários devem também ser capazes de comparar as demonstrações contábeis de diferentes entidades a fim de avaliar, em termos relativos, a sua posição patrimonial e financeira, o desempenho e as mutações na posição financeira. Consequentemente, a mensuração e a apresentação dos efeitos financeiros de transações semelhantes e outros eventos devem ser feitas de modo consistente pela entidade, ao longo dos diversos períodos, e também por entidades diferentes.

13


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Uma importante implicação da característica qualitativa da comparabilidade é que os usuários devem ser informados das práticas contábeis seguidas na elaboração das demonstrações contábeis, de quaisquer mudanças nessas práticas e também o efeito de tais mudanças. Os usuários precisam ter informações suficientes que lhes permitam identificar diferenças entre as práticas contábeis aplicadas a transações e eventos semelhantes, usadas pela mesma entidade de um período a outro e por diferentes entidades. A observância dos Pronunciamentos Técnicos, inclusive a divulgação das práticas contábeis utilizadas pela entidade, ajudam a atingir a comparabilidade. A necessidade de comparabilidade não deve ser confundida com mera uniformidade e não se deve permitir que se torne um impedimento à introdução de normas contábeis aperfeiçoadas. Não é apropriado que uma entidade continue contabilizando da mesma maneira uma transação ou evento se a prática contábil adotada não está em conformidade com as características qualitativas de relevância e confiabilidade. Também é inapropriado manter práticas contábeis quando existem alternativas mais relevantes e confiáveis. Tendo em vista que os usuários desejam comparar a posição patrimonial e financeira, o desempenho e as mutações na posição financeira ao longo do tempo, é importante que as demonstrações contábeis apresentem as correspondentes informações de períodos anteriores.

LIMITAÇÕES NA RELEVÂNCIA E NA CONFIABILIDADE DAS INFORMAÇÕES TEMPESTIVIDADE Quando há demora indevida na divulgação de uma informação, é possível que ela perca a relevância. A administração da entidade necessita ponderar os méritos relativos entre a tempestividade da divulgação e a confiabilidade da informação fornecida. Para fornecer uma informação na época oportuna pode ser necessário divulgá-la antes que todos os aspectos de uma transação ou evento sejam conhecidos, prejudicando, assim, a sua confiabilidade. Por outro lado, se para divulgar a informação, a entidade aguardar até que todos os aspectos se tornem conhecidos, a informação pode ser altamente confiável, porém de pouca utilidade para os usuários que tiveram necessidade de tomar decisões nesse ínterim. Para atingir o adequado equilíbrio entre a relevância e a confiabilidade, o princípio básico consiste em identificar qual é a melhor forma para satisfazer as necessidades do processo de decisão econômica dos usuários.

EQUILÍBRIO ENTRE CUSTO E BENEFÍCIO O equilíbrio entre o custo e o benefício é uma limitação de ordem prática, ao invés de uma característica qualitativa. Os benefícios decorrentes da informação devem exceder o custo de produzi-la. A avaliação dos custos e benefícios é, entretanto, em essência, um exercício de julgamento. Além disso, os custos não recaem, necessariamente, sobre aqueles usuários que usufruem os benefícios. Os benefícios podem também ser aproveitados por outros usuários, além

14


AULA 1 - CONCEITOS BÁSICOS: ESTRUTURAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS, DE ACORDO COM AS LEIS NO 11.638/07 E 11.941/2009 E CPC CONCEITUAL BÁSICO

daqueles para os quais as informações foram preparadas; por exemplo, o fornecimento de maiores informações aos credores por empréstimos pode reduzir os custos financeiros da entidade. Por essas razões, é difícil aplicar o teste de custo-benefício em qualquer caso específico. Não obstante, os órgãos normativos em especial, assim como os elaboradores e usuários das demonstrações contábeis devem estar conscientes dessa limitação.

EQUILÍBRIO ENTRE CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS Na prática, é frequentemente necessário um balanceamento entre as características qualitativas. Geralmente, o objetivo é atingir um equilíbrio apropriado entre elas, a fim de satisfazer os objetivos das demonstrações contábeis. A importância relativa das características em diferentes casos é uma questão de julgamento profissional.

VISÃO VERDADEIRA E APROPRIADA Demonstrações contábeis são frequentemente descritas como apresentando uma visão verdadeira e apropriada (true and fair view) da posição patrimonial e financeira, do desempenho e das mutações na posição financeira de uma entidade. Embora esta Estrutura Conceitual não trate diretamente de tais conceitos, a aplicação das principais características qualitativas e de normas e práticas de contabilidade apropriadas normalmente resultam em demonstrações contábeis que refletem aquilo que geralmente se entende como apresentação verdadeira e apropriada das referidas informações. As Normas Internacionais de Contabilidade ou International Accounting Standard (IAS), também conhecidas como normas IFRS (International Financial Reporting Standard) são um conjunto de pronunciamentos de contabilidade internacionais publicados e revisados pelo International Accounting Standards Board (IASB), que é uma organização internacional sem fins lucrativos. Após as alterações e recomendações mencionadas, temos as seguintes Demonstrações Contábeis: » » Balanço Patrimonial; » » Demonstração do Resultado do Exercício; » » Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA); » » Demonstração dos Fluxos de Caixa – está regulada por essa Norma e aprovada pela Resolução do CFC nº 1.125/08. Tornou-se obrigatória para as demonstrações contábeis a partir do exercício social findo em 31 de dezembro de 2008; » » Demonstração do Valor Adicionado – obrigatória somente pelas companhias abertas, mas o Conselho Federal recomenda sua elaboração como parte das demonstrações contábeis para todas as sociedades que divulgam demonstrações contábeis; e » » Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido – também obrigatória somente pelas companhias abertas, que inclui a Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados. A Resolução do CFC nº 1.157/09 aprova o Comunicado Técnico CT 03, que apresenta esclarecimentos sobre as Demonstrações Contábeis.

15


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS A Demonstração de Resultados apresenta os aumentos e as reduções causadas no Patrimônio Líquido pelas operações da empresa. As receitas representam aumento do Ativo, através de ingresso de novos elementos, como duplicatas a receber ou dinheiro proveniente das transações. A Demonstração de Resultado do Exercício apresenta de forma ordenada todas as receitas, custos e despesas ocorridas no exercício social da empresa.

DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO Segue modelo apresentado no módulo de contabilidade intermediária, aula 5, deste curso: 1) RECEITA BRUTA 2) (-) Deduções da Receita Bruta Abatimentos sobre as vendas Descontos Incondicionais Concedidos Vendas canceladas Impostos sobre faturamento (ICMS, ISSQN, IPI, PIS e Cofins – utilizados conforme o ramo de atividade da empresa) 3) (=) RECEITA LÍQUIDA (1-2) 4) (-) Custo das Mercadorias /Produtos /Serviços Vendidos 5) 5) (=) LUCRO BRUTO (3-4) 6) (-) DESPESAS OPERACIONAIS De vendas Gerais e Administrativas Resultado Financeiro Líquido (receita financeira – despesa financeira) Receita Financeira Despesa Financeira Variações Monetárias Outras Despesas Operacionais Outras Receitas Operacionais 7) (=) LUCRO/ PREJUÍZO OPERACIONAL - Discutido na Aula 04 Parte I ( 5-6) 8) (+) Outras Receitas 9) (- ) Outras Despesas 10) (=) RESULTADO DO EXERCÍCIO ANTES DO IR E CSLL (7+8-9) 11) (-) Contribuição Social para o Lucro Líquido - CSLL (ou Despesa c om Provisão para CSLL)

16


AULA 1 - CONCEITOS BÁSICOS: ESTRUTURAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS, DE ACORDO COM AS LEIS NO 11.638/07 E 11.941/2009 E CPC CONCEITUAL BÁSICO

12) (-) Despesa com Provisão para Imposto de Renda (IR) 13) (=) RESULTADO DO EXERCICIO APÓS O IR (10-11-12) 14) (-) Despesa com Participações Estatutárias sobre o Lucro 15) (=) LUCRO/ PREJUÍZO LÍQUIDO 16) LUCRO/ PREJUÍZO LÍQUIDO POR AÇÃO

BALANÇO PATRIMONIAL O Balanço Patrimonial poderá ser apresentado em colunas justapostas (lado a lado), sendo o Ativo no lado direito e o Passivo do lado esquerdo; um bloco horizontal lembrando o conceito de origem e aplicação, ou em colunas sobrepostas (um grupo sobre o outro) listando inicialmente o ativo e em seguida o passivo; e o patrimônio líquido, apresentando apenas uma coluna na vertical.

COLUNAS JUSTAPOSTAS ATIVO

PASSIVO

Bens e Direitos

Exigível PATRIMÔNIO LÍQUIDO

COLUNAS SOBREPOSTAS ATIVO Bens e Direitos

PASSIVO Exigível PATRIMÔNIO LÍQUIDO

É importante lembrar que na apresentação do Balanço Patrimonial, a totalização da coluna do Passivo considera o montante da soma dos valores do Passivo Exigível e do Patrimônio Líquido. Na coluna do ativo, a totalização será sempre igual à coluna do passivo. Assim, temos a seguinte equação patrimonial: Ativo = Passivo + Patrimônio Líquido Vamos ver como fica a estrutura do Balanço Patrimonial:

17


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

BALANÇO PATRIMONIAL ATIVO

PASSIVO

ATIVO CIRCULANTE PASSIVO NÃO CIRCULANTE REALIZÁVEL A LONGO PRAZO INVESTIMENTOS IMOBILIZADO INTANGÍVEL

PASSIVO CIRCULANTE PASSIVO NÃO CIRCULANTE PATRIMÔNIO LÍQUIDO CAPITAL SOCIAL RESERVAS DE CAPITAL AJUSTES DE AVALIAÇÃO PATRIMONIAL RESERVAS DE LUCROS AÇÕES EM TESOURARIA PREJUÍZOS ACUMULADOS

DEMONSTRAÇÃO DE FLUXO DE CAIXA (DFC) Outra mudança significativa foi a substituição da Demonstração de origem e aplicação dos recursos (Doar) pela Demonstração de Fluxo de Caixa (DFC). A Demonstração de Fluxo de Caixa é um relatório contábil que tem a finalidade de informar transações ocorridas em um dado período que provocaram variações no saldo de caixa das empresas. Esta demonstração sintetiza fatos ocorridos que envolveram fluxo de dinheiro devidamente registrado a débito e a crédito da conta-caixa. Podemos dizer, portanto, que fluxo de caixa é o movimento de entrada e saída de numerários em um dado espaço de tempo. Veremos a seguir o modelo extraído do módulo de Contabilidade Intermediária, aula 11 deste curso. De uma maneira bem simples, a Demonstração do Fluxo de Caixa pode ser demonstrada da seguinte forma: Descrição

Exercício Atual

Exercício Anterior

ENTRADAS Recebimento de Clientes TOTAL DE ENTRADAS SAÍDAS Pagamento a fornecedores Pagamento de despesas TOTAL DE SAÍDAS VARIAÇÃO DO PERÍODO (entradas / saídas) (+) Saldo do início do período (=) Saldo no final do período Companhia:

18


AULA 1 - CONCEITOS BÁSICOS: ESTRUTURAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS, DE ACORDO COM AS LEIS NO 11.638/07 E 11.941/2009 E CPC CONCEITUAL BÁSICO

DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA Exercício Findo XX/XX/XX Podemos dizer, então, que os registros efetuados na demonstração de Fluxo de Caixa são embasados nas entradas e saídas de numerários, independentemente do fato gerador. Uma venda efetuada em janeiro, por exemplo, para recebimento em fevereiro, somente será registrada na DFC no mês de fevereiro, no momento do seu recebimento. A fim de assimilar melhor a dinâmica do fluxo de caixa, relembro os conceitos de regime de caixa e regime de competência: » » Regime de Caixa - as receitas e despesas são registradas nas datas de recebimento ou pagamento; » » Regime de Competência - as receitas e despesas são reconhecidas no resultado no momento da ocorrência, independentemente de pagamento ou recebimento.

POR QUE SUBSTITUIR A DOAR? Entre as alterações estabelecidas pela Lei nº 11.638/07 para as Sociedades Anônimas está a substituição da Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (Doar) pela Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) (art. 176, IV). Esta substituição não quer dizer que, para uso interno das companhias, esta demonstração não deva ser utilizada. A Doar é uma demonstração importante porque evidencia o conceito de Origem e Aplicação de recursos, conceito este que entendemos ser o “alicerce” para a compreensão das demais demonstrações contábeis, inclusive para a própria DFC. Mas, devido a sua estrutura requerer um volume maior de informações, usuários que desconhecessem conceitos contábeis apresentavam um maior grau de dificuldade ao interpretar as informações desta demonstração. Sem contar que o investidor sempre faz algumas perguntas clássicas: Por que o lucro líquido obtido não está no caixa? O que foi feito com o lucro? Esta resposta na Doar não ficava clara. Já a DFC tem a finalidade de esclarecer esta pergunta. Com as informações contidas até aqui, creio que tenha contemplado as principais mudanças ocorridas na estrutura, procedimentos e recomendações para produção de uma demonstração contábil de qualidade e que reflita números fidedignos, capazes de munir o usuário de informações confiáveis e que sirvam de sustento para tomada de decisões.

SÍNTESE Nesta aula, tivemos a oportunidade de conhecer as alterações promovidas pela Lei nº 11.638/07 e MP nº 449/08, que foi convertida na Lei nº 11.941/09.

QUESTÕES PARA REFLEXÃO Qual é a importância da harmonização da Contabilidade brasileira com os padrões internacionais?

19


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Quais são as principais mudanças trazidas pela Lei nº 11.638/07 e nº 11.941/09? Qual destas você entende ter causado maior impacto na elaboração das demonstrações? Na sua opinião, foi correta a substituição pela Demonstração de Fluxo de Caixa (DFC) em detrimento à Demonstração de Origem e Aplicação de Recursos (Doar)? Por quê?

LEITURA INDICADA CPC. Orientações OCPC 02. Disponível em: <http://www.cpc.org.br/pdf/OCPC%20 02_090209.pdf>. Acesso em: 9 nov. 2009.

SITE INDICADO http://www.cpc.org.br

REFERÊNCIAS BRASIL. Resolução do CFC nº 1.157 de 2009. Disponível em: <http://www.cpc.org.br/pdf/OCPC%20 02_090209.pdf>. Acesso em: 9 nov. 2009. MARION, José Carlos. Análise das demonstrações contábeis: contabilidade empresarial. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009. MORANTE, Antonio Salvador. Análise das demonstrações financeiras. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009. SILVA, Alexandre Alcântara da. Estrutura e análise das demonstrações financeiras. São Paulo: Atlas, 2007.

20


AULA 2 Introdução à Disciplina e Ajustes Necessários às Demonstrações Contábeis Autora: Claudia Freire

Fonte: http://www.sxc.hu/photo/1149239


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Olá! Nesta aula, estudaremos o conceito de análise das demonstrações contábeis, bem como os ajustes necessários a essas demonstrações. Nosso objetivo será adequar as demonstrações ao cálculo e à interpretação dos índices. Tratando estas informações e antes de iniciarmos os trabalhos, facilitaremos o entendimento por parte do usuário da informação, permitindo maior aproveitamento das análises. Bom estudo!

INTRODUÇÃO O objetivo da administração financeira é maximizar o patrimônio dos acionistas. A análise financeira de balanços propicia as avaliações do patrimônio da empresa e norteia a tomada de decisão, com base tanto no passado, retratado nas demonstrações financeiras, como em relação ao futuro, se estiver alicerçado no orçamento financeiro. Assim, teremos aqui uma ferramenta poderosa à disposição dos usuários (pessoas físicas, jurídicas, acionistas dirigentes, bancos, fornecedores, clientes e outros). A análise das demonstrações contábeis é um procedimento técnico que consiste em reestruturar, decompor e interpretar os componentes do patrimônio das empresas, com o objetivo de formar opinião a respeito de sua situação econômico-financeira. Segundo Padoveze e Benedicto (2004, p. 3): Podemos definir análise de balanço como a aplicação do raciocínio analítico dedutivo sobre os valores dos elementos patrimoniais e suas interrelações, expressos nas demonstrações contábeis de uma entidade, com a finalidade de conseguir uma avaliação econômico-financeira da sua situação e do andamento das suas operações. O objetivo geral é obter elementos para o processo de avaliação da continuidade financeira e operacional da entidade analisada.

O diagnóstico de uma empresa, via de regra, inicia-se com a análise de um balanço estruturado, fidedigno e calcado nas boas práticas contábeis, seguindo as recomendações do Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC, por exemplo. Devemos lembrar, sempre, que a política financeira de uma empresa interfere diretamente nas demonstrações financeiras. É através da análise que se torna possível conhecer seus objetivos. O conhecimento destas políticas é de especial relevância quando se trata de demonstrações financeiras elaboradas por concorrentes. Poderemos saber, por exemplo, que a política dos concorrentes consiste em crescer o mais rápido possível e ganhar mercado, ainda que dependendo de capital de terceiros em detrimento da rentabilidade, já que, ao contrair empréstimos, a empresa gera despesa financeira e reduz a sua rentabilidade. A análise de balanços é fundamental para quem pretende relacionar-se com uma empresa, pois permite uma visão estratégica dos planos da empresa predizendo o futuro e traduzindo suas limitações. É de enorme importância, também, para fornecedores, financiadores, etc. Analisando balanços de anos passados conseguiremos prever situações para os anos seguintes.

22


AULA 2 - INTRODUÇÃO À DISCIPLINA E AJUSTES NECESSÁRIOS ÀS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Lembre-se, cada usuário estará interessado em um determinado aspecto da empresa. Citaremos aqui alguns deles: » » Fornecedor – precisará conhecer a capacidade de pagamento de seus clientes. A esta capacidade de pagamento chamamos liquidez. Quanto maior a importância do cliente, maior será o aprofundamento da análise, ou seja, a avaliação da sua liquidez; » » Clientes – em menor escala, os clientes costumam analisar fornecedores que possam oferecer algum risco e que tenham elevado grau de importância dentro da sua cadeia produtiva; » » Bancos – analisam a possibilidade de concessão de créditos a curto e a longo prazo. Devem avaliar os dados do presente e tendências futuras através de projeções. Esta análise resultará na avaliação de concessão do crédito, do valor a ser fornecido e em quanto tempo o tomador deverá pagar; » » Concorrentes – de maneira geral, decisões de como e quando lançar um produto no mercado, construir uma fábrica ou conceder linhas de financiamentos a clientes são decisões, por vezes, tomadas após análise dos números da concorrência. Além disso, é de vital importância saber qual a sua posição em relação aos seus concorrentes. » » Dirigentes – para os dirigentes, a análise é um instrumento complementar e auxiliar na formação da estratégia a ser utilizada pela empresa, fornecendo, portanto, informações úteis como rentabilidade, e liquidez da empresa. Essas informações deverão ser comparadas com as informações extraídas das demonstrações elaboradas em anos anteriores. » » Governo – o governo utiliza informações contábeis em diversas situações, tais como concorrências abertas, para acompanhar a situação financeira de uma empresa em fiscalização ou concessionárias, a fim de saber a forma como os recursos destas estão sendo empregados. Com a ECD (Escrituração Contábil Digital), o governo recebe informações de todas as instituições, podendo, por exemplo, acompanhar um determinado ramo de atividade, sua respectiva evolução e de que forma as políticas econômicas podem influenciar no seu ramo de atividade. Para o exame da situação econômico-financeira de uma empresa, com o objetivo de avaliar a sua capacidade, em termos de segurança, liquidez e rentabilidade, o administrador ou o analista contábil deverá valer-se das Demonstrações Contábeis de pelo menos 03 (três) exercícios sucessivos, isso porque se faz necessário o acompanhamento da evolução dos números versus o cenário envolvido em cada exercício, com a finalidade de formar uma opinião consistente, e deles extrair os diversos indicadores que lhe forneçam as informações desejadas. Cada tipo de informação demandará o cálculo de um índice específico. Nesse contexto, o objetivo da análise é definir os tipos de indicadores a serem utilizados, isto é, ao proprietário da empresa, em se tratando de análise interna, importa, fundamentalmente, detectar os problemas existentes e, a partir daí, traçar estratégias para corrigir as falhas. Para o analista externo, interessará saber a viabilidade ou não da aplicação de recursos na empresa, ou seja, a ótica do analista é que determinará os caminhos a serem trilhados. O analista de crédito de uma instituição financeira se interessará pelo conhecimento sobre o retorno seguro dos capitais emprestados. Na hipótese de empréstimos para Capital de Giro de curto prazo, o analista privilegiará os aspectos de liquidez e segurança. Para uma operação de financiamento de longo prazo, o analista enfatizará a capacidade de geração de lucro e a eficiência operacional da empresa, ou seja, o aspecto relacionado à rentabilidade.

23


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

A análise de índices envolve as formas de calcular e interpretar as operações realizadas para avaliar o desempenho da empresa. Os índices constituem a técnica de análise mais empregada, sua característica fundamental é fornecer uma visão ampla da situação econômica ou financeira da empresa. O importante não é o cálculo de um grande número de índices, mas sim de um conjunto de índices que permita conhecer a situação da empresa, de acordo com o grau de profundidade e foco desejados na análise. Dessa forma, para a análise das demonstrações contábeis, a qualidade e o volume das informações disponibilizadas são fatores muito importantes. Para o analista, a interpretação através de índices é uma das formas mais adequadas para se obter informações concretas sobre a real situação de uma empresa em um determinado momento. As técnicas utilizadas foram aprimoradas com o passar do tempo, principalmente, em relação à insolvência, o que permite, atualmente, que os índices tenham um embasamento científico. Como principais abordagens de análises, temos: » » Análise Financeira – essa análise apresenta o estudo da liquidez que expressa a capacidade de pagamento da empresa em um determinado momento, isto é, suas condições financeiras de cumprir ou não, no vencimento, todas as obrigações assumidas. Dessa forma, pode-se observar o equilíbrio financeiro da entidade e sua necessidade ou não de suprimento de capital de giro com recursos próprios ou de terceiros. » » Análise Econômica – os índices calculados para essa análise apresentam uma avaliação da rentabilidade e lucratividade do negócio empresarial, isto é, informa o desempenho da empresa, enfatizando o retorno sobre os investimentos realizados e a lucratividade proporcionada pelas vendas. » » Análise Administrativa – essa análise apresenta o estudo dos resultados proporcionados pelo cálculo dos índices de rotação ou prazo médio de recebimentos, pagamentos e de estoques, tendo como objetivo avaliar a capacidade dos administradores em gerir capital circulante da empresa. Nesse contexto, as informações obtidas pelas análises comentadas anteriormente objetivam atender aos interesses dos vários usuários, ou seja, as diversas pessoas físicas ou jurídicas que tenham algum tipo de vínculo com a entidade analisada. Outro aspecto importante a ser observado pelo analista é a mensuração dos elementos das demonstrações contábeis. Veja, a seguir, o tratamento dado pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), no tocante a estas mensurações através dos trechos e definições extraídos do Pronunciamento conceitual básico. A mensuração é um processo que consiste em determinar os valores pelos quais os elementos das demonstrações contábeis devem ser reconhecidos e apresentados no balanço patrimonial e na demonstração do resultado.

Esse processo envolve a seleção de uma base específica de mensuração. Diversas bases de mensuração são empregadas em diferentes graus e em variadas combinações nas demonstrações contábeis. Essas bases incluem o seguinte: Custo histórico, Custo corrente, Valor realizável e Valor presente.

24


AULA 2 - INTRODUÇÃO À DISCIPLINA E AJUSTES NECESSÁRIOS ÀS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

» » Custo histórico - os ativos são registrados pelos valores pagos ou a serem pagos em caixa ou equivalentes de caixa ou pelo valor justo dos recursos que são entregues para adquiri-los na data da aquisição, podendo ou não ser atualizados pela variação na capacidade geral de compra da moeda. Os passivos são registrados pelos valores dos recursos que foram recebidos em troca da obrigação ou, em algumas circunstâncias (por exemplo, imposto de renda), pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa que serão necessários para liquidar o passivo no curso normal das operações, podendo, também, em certas circunstâncias, ser atualizados monetariamente. » » Custo corrente - os ativos são reconhecidos pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa que teriam de ser pagos se esses ativos ou ativos equivalentes fossem adquiridos na data do balanço. Os passivos são reconhecidos pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa, não descontados, que seriam necessários para liquidar a obrigação na data do balanço. » » Valor realizável (valor de realização ou de liquidação) - os ativos são mantidos pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa que poderiam ser obtidos pela venda de uma forma ordenada. Os passivos são mantidos pelos seus valores de liquidação, isto é, pelos valores em caixa e equivalentes de caixa, não descontados, que seriam pagos para liquidar as correspondentes obrigações no curso normal das operações da entidade. » » Valor presente - os ativos são mantidos pelo valor presente descontado do fluxo futuro de entrada líquida de caixa que será pelo item no curso normal das operações da entidade. Os passivos são mantidos pelo valor presente, descontados do fluxo futuro de saída líquida de caixa que se espera seja necessário para liquidar o passivo no curso normal das operações da entidade. A base de mensuração mais comumente adotada pelas entidades na preparação de suas demonstrações contábeis é o custo histórico. Ele é normalmente combinado com outras bases de avaliação. Por exemplo, os estoques são geralmente mantidos pelo menor valor entre o custo e o valor líquido de realização; os títulos e as ações negociáveis podem, em determinadas circunstâncias, ser mantidos a valor de mercado; e os passivos, decorrentes de pensões, são mantidos pelo valor presente de tais benefícios no futuro. Além disso, em algumas circunstâncias, entidades usam a base de custo corrente como uma resposta à incapacidade do modelo contábil de custo histórico de enfrentar os efeitos das mudanças de preços dos ativos não monetários. Outro ponto importante a ser considerado é a qualidade das demonstrações. A existência de parecer de auditoria, e se este for assinado por empresa qualificada e reconhecida na praça como tal, deposita grande credibilidade às informações demonstradas nos relatórios contábeis. Nesse contexto, as informações obtidas pelas análises comentadas acima objetivam atender aos interesses dos vários usuários, ou seja, às diversas pessoas físicas ou jurídicas que tenham algum tipo de vínculo com a entidade analisada.

AJUSTES NECESSÁRIOS PADRONIZAÇÃO

ÀS

DEMONSTRAÇÕES

CONTÁBEIS

OU

A partir de todas as demonstrações contábeis, das notas explicativas, do relatório da auditoria e informações complementares, o analista deverá proceder aos ajustes necessários ou padronização. Estes ajustes significam uma nova classificação, e/ou agrupamento de algumas contas, contas estas que facilitarão a visão do analista quanto à realidade financeira das demonstrações contábeis. 25


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Uma padronização deve ser feita no intuito de atingir os seguintes objetivos: » » simplificar as demonstrações; » » promover a comparabilidade entre companhias similares ou que possuam um plano de contas dentro das boas práticas contábeis; » » estar adequada aos objetivos da análise; » » demonstrar precisão nas classificações das contas; » » promover a descoberta de erros; O analista precisa ter intimidade com as demonstrações financeiras da empresa. Este deve conversar com todos os setores que entender necessário para coleta de informações úteis ao relatório em desenvolvimento. Destacaremos, a seguir, as reclassificações mais comumente utilizadas: » » Duplicatas Descontadas – as duplicatas descontadas deverão sofrer tratamento diferenciado e reclassificação porque, devido a sua natureza, há um risco de a empresa precisar reembolsar ao banco os valores correspondentes, caso o cliente não honre com o compromisso assumido. Assim, os valores constantes dessa conta deverão ser reclassificados do Ativo Circulante para o Passivo Circulante. Essa mudança tem como objetivo padronizar os critérios de classificação, considerando que um empréstimo de curto prazo com duplicatas em garantia é classificado no Passivo Circulante, dessa forma, o valor da conta de duplicata descontada, mesmo havendo somente uma coobrigação, também será classificado nesse grupo de contas; » » Despesas do Exercício seguinte – dentro do ativo circulante, este é o único grupo de contas que não se converterá em dinheiro. Assim, não servirá para honrar compromissos da empresa junto a seus credores, por exemplo. A natureza desta conta está relacionada a receber lançamentos originados de despesas que incorrerão em períodos futuros. Exemplo: seguros pagos antecipadamente. O seguro é contratado para vigência de um ano, e a sua respectiva apropriação para despesa ocorrerá na proporção de 1/12 avos. Deverá este saldo, portanto, ser reclassificado visando reduzir o resultado no grupo do Patrimônio Líquido e excluído do grupo Ativo Circulante; » » Empréstimos a Empresas Interligadas – os valores apresentados nessa conta serão reclassificados do Ativo Circulante para o Realizável de Longo Prazo; » » Empréstimos de Diretores e/ou de Empresas Interligadas – reclassificação do Exigível de Longo Prazo para o Passivo Circulante; » » Demais deduções do Patrimônio Líquido (PL) – correspondem às importâncias do Ativo que devem ser diminuídas do Patrimônio Líquido por representarem valores de realização duvidosa ou não realizáveis, tais como: bens obsoletos; débitos de diretores, cotistas e solidários; depósitos judiciais; excesso na reavaliação de bens do Imobilizado ou inexistência de laudo técnico de avaliação emitido por empresa especializada/autorizada; e Provisão para Devedores Duvidosos, no caso de inexistência ou insuficiência. É importante atentar para contas que deixaram de existir a partir da mudança da Lei das S.A. como o grupo Diferido, por exemplo. Caso a empresa ainda apresente saldo oriundo desse grupo de contas, ele deverá ser tratado como dedução do PL para fins de ajuste;

26


AULA 2 - INTRODUÇÃO À DISCIPLINA E AJUSTES NECESSÁRIOS ÀS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Exemplo: Uma empresa que tenha a intenção de desfazer-se de um determinado bem alocado no ativo imobilizado. Caso esta informação seja de conhecimento do analista, deverá ser levada em consideração e ser motivo de reclassificação para efeito de análise. Para facilitar o nosso entendimento e estabelecer um padrão, extraímos do livro de Matarazzo (2010, p. 73), um modelo de Padronização para o Balanço, DRE, DMPL e Fluxo de Caixa. A apresentação das Análises não necessariamente deverá ser feita neste modelo. A nossa ideia é apenas estabelecer um padrão e facilitar o entendimento. Balanço Patrimonial (BP)

COLUNAS 1

COLUNAS 2

COLUNAS 3

COLUNAS 4

31-12-x2

31-12-x3

Modelo de Padronização Balanço Patrimonial Balanços em: 31-12-x1 Ativo Circulante Financeiro Disponível Aplicações Financeiras Soma Operacional Clientes Estoques Soma Total Ativo Circulante Não Circulante Realizável a longo prazo Investimentos Imobilizado Intangível Total Ativo não Circulante Total do Ativo

27


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Demonstrativo de resultado - DRE Passivo Circulante Operacional Fornecedores Outras obrigações Soma Financeiro Empréstimos Bancários Duplicatas Descontadas Soma Total Passivo Circulante Não Circulante Exigível a longo Prazo Total Capital de terceiros (passivo circulante + exigível a longo prazo)

Patrimônio Líquido Total do Passivo

DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO FINDO EM Receita Líquida (-) Custo dos Produtos Vendidos (=) Lucro Bruto (-) Despesas Operacionais (+-)Outras Receitas e Despesas (=) Lucro operacional (Antes dos Resultados Financeiros) (+) Receitas Financeiras (-) Despesas Financeiras (=) Lucro Operacional (+-)Outras Receitas e Despesas (=) Lucro antes do IR e Contribuição Social Lucro líquido

28

X1

X2

X3


AULA 2 - INTRODUÇÃO À DISCIPLINA E AJUSTES NECESSÁRIOS ÀS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Demonstrativo das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO

CAPITAL SOCIAL DE RESERVAS

RESERVA LEGAL + L. ACUMULADOS

TOTAL

Saldo em 31.12.X0 Lucro Líquido do Exercício de X1 Aumento de Capital Dividendos Saldo em 31.12.X1 Lucro Líquido do Exercício de X2 Aumento de Capita Dividendos Saldo em 31.12.X2 Lucro Líquido do Exercício de X3 Aumento de Capital Dividendos Saldo em 31.12.X3

Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC) DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO FINDO EM

X2

X3

LUCRO DO EXERCÍCIO (+) Depreciação (-) Resultado de Equivalência Patrimonial (=) GERAÇÃO BRUTA DE CAIXA (1) Aumento da NCG (1) + (2) DÉFICIT OPERACIONAL DE CAIXA (2) Obrigações Bancárias de Curto Prazo DÉFICIT (GERAÇÃO EM X3) CORRENTE DE CAIXA VARIAÇÃO DE ITENS PERMANENTES DE CAIXA (3)+(4)+(5) .Aumento de Capital (3) .Dividendos (4) .Acréscimos de Ativo Permanente (5) VARIAÇÃO DOS ITENS NÃO CORRENTES . Aumento de Emp. e Financ. de longo Prazo DEFICIT LÍQUIDO DE CAIXA (+) Ativo circ. financ. Inicial (=) Ativo circ. financ. Final

29


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

METODOLOGIA DAS ANÁLISES Após a devida separação de que demonstrações serão abordadas nas análises, é dever do analista verificar a qualidade das demonstrações contábeis ali apresentadas e em seguida realizar a reclassificação das contas. Em seguida, deverá ser selecionado um conjunto de índices e de indicadores que melhor se ajustarem aos objetivos dos futuros usuários da análise. Depois, os números resultantes deverão ser confrontados com os apresentados por outras empresas do mesmo ramo de atividade. Veja a ordem dos passos a serem seguidos:

30


AULA 2 - INTRODUÇÃO À DISCIPLINA E AJUSTES NECESSÁRIOS ÀS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Faremos agora alguns questionamentos extraídos do livro de José Carlos Marion (2010). » » “A análise das demonstrações contábeis é fundamental para quem quer conhecer a situação econômico-financeira da empresa”. Analise esta afirmativa. » » A análise das demonstrações contábeis surgiu com a finalidade de avaliar a variação da riqueza do homem. Nesta linha de raciocínio, desenvolveu-se até os dias de hoje. Na sua opinião, quem são os interessados em conhecer os resultados desta análise? » » Para termos uma análise mais eficiente, é necessário reclassificarmos algumas contas no Balanço Patrimonial e na Demonstração do Resultado do Exercício. Dê exemplo de contas que devem ser reclassificadas nestas demonstrações e explique o porquê. » » Nas demonstrações existem etapas que devem ser seguidas rigorosamente para que possamos tomar decisões. Explique cada uma destas etapas dizendo que tipos de informações poderão ser extraídas delas. » » Na sua opinião, qual usuário demandará maior número de informações? Exemplifique. Caro aluno, as próximas aulas foram elaboradas utilizando como exemplo de cálculo para os índices um Balanço Patrimonial e uma Demonstração de Resultados de empresas sempre com valores hipotéticos. As aulas de 3 a 7 proporão um trabalho de cálculo dos índices e uma análise com elaboração de relatório. Etapas a serem desenvolvidas: » » Calcular, compreender, analisar, interpretar e elaborar um relatório de análise econômicofinanceira sobre as informações contidas nas Demonstrações Contábeis de uma Sociedade Anônima, considerando as notas explicativas e o relatório da administração como fontes de informação para a conclusão dos trabalhos; » » Possibilitar ao aluno uma leitura de todas as Demonstrações Contábeis, relacionando as informações de uma Demonstração com a outra e constatando uma explicação de seus números através das notas explicativas e do relatório da administração.

SÍNTESE Vimos, nesta aula, alguns conceitos e objetivos da análise das Demonstrações Contábeis, os ajustes necessários a essas demonstrações e a metodologia dos nossos trabalhos.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO Qual é a importância da Confiabilidade das informações contidas nas Demonstrações Contábeis para a sua análise? Pesquise e reflita sobre isso.

31


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

LEITURAS INDICADAS CFC. Resolução CFC nº 1.121/08. Aprova a NBC T 1 – Estrutura Conceitual para a Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis. Disponível em: <http:// www.cfc.org.br/sisweb/sre/ docs/RES_1121.doc>. Acesso em: 7 out 2009.

SITE INDICADO www.cpc.org.br

REFERÊNCIAS CFC. Resolução nº 1.121/08. Aprova a NBC T 1. Estrutura Conceitual para a Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis. Disponível em: <http://www.cfc.org.br/sisweb/ sre/docs/RES_1121.doc>. Acesso em: 7 out. 2009. MARION, José Carlos. Análise das demonstrações contábeis: contabilidade empresarial. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2010. MATARAZZO, Dante Carmine. Análise financeira de balanços: abordagem gerencial. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010. MORANTE, Antonio Salvador. Análise das demonstrações financeiras. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009. PADOVEZE, Clóvis Luís; BENEDICTO, Gideon Carvalho de. Análise das demonstrações financeiras. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004. SILVA, Alexandre Alcântara da. Estrutura e análise das demonstrações financeiras. São Paulo: Atlas, 2007.

32


AULA 3 Indicadores de Análises Vertical e Horizontal do Balanço Patrimonial e Demonstração do Resultado Autora: Claudia Freire

Olá, aluno(a)! Nesta aula, conheceremos a análise vertical e horizontal. O cálculo destes indicadores poderá ser feito para outras demonstrações, mas, a maior ênfase, é dada ao Balanço Patrimonial e da Demonstração de Resultados (DRE). Conheceremos também seus objetivos, formas de cálculo e utilidades. Vamos lá!


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Fonte: http://www.novasnotas.bcb.gov.br

ANÁLISE VERTICAL E HORIZONTAL Conheceremos, nesta aula, a técnica que modifica os valores apresentados nas Demonstrações Contábeis para percentuais. O objetivo é comparar demonstrações contábeis de períodos diferentes através do cálculo destas variações e contribuir de forma significativa para uma melhor visão e identificação de informações positivas ou negativas relacionadas à administração dos negócios empresariais. Essa análise proporciona o conhecimento dos pormenores das demonstrações contábeis que escapam à análise realizada através de índices.

34


AULA 3 - INDICADORES DE ANÁLISES VERTICAL E HORIZONTAL DO BALANÇO PATRIMONIAL E DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO

A análise horizontal é o método que possibilita estabelecer as proporções entre cada elemento em análise de um exercício social, e o mesmo elemento ou informação em outros exercícios, através da evolução percentual que permite a comparação e a verificação de tendências. Já na análise vertical, o objetivo é comparar a representatividade de cada conta da demonstração em relação ao ativo e ao passivo total. Os índices podem informar, por exemplo, que uma empresa está com um alto grau de endividamento. Já as análises Vertical e Horizontal apontam qual é o principal credor e como se alterou a participação de cada credor durante o período analisado. Para exemplificar os cálculos a serem realizados, a partir desta aula utilizaremos as informações hipotéticas das demonstrações contábeis da EMPRESA DE BADULAQUES LTDA., dos exercícios de 2007 e 2008. Veja a demonstração a seguir. ATIVO

2007

2008

CIRCULANTE

625.300

639.547

Disponível

41.200

53.332

Aplicações Financeiras

135.000

71.715

Clientes

250.500

258.900

Estoques

198.600

255.600

NÃO CIRCULANTE

733.900

828.400

REALIZÁVEL A LONGO PRAZO

126.000

82.000

Empréstimos a Coligadas

126.000

82.000

Investimentos

251.200

269.200

Imobilizado

356.700

477.200

TOTAL DO ATIVO

1.359.200

1.467.947

PASSIVO

2007

2008

CIRCULANTE

498.300

517.640

Fornecedores

186.000

249.500

Outras Obrigações

225.400

231.240

Empréstimos Bancários

86.900

36.900

NÃO CIRCULANTE

255.900

313.000

Financiamentos

255.900

313.000

PATRIMÔNIO LÍQUIDO

605.000

637.307

Capital Social

500.000

500.000

Agora vejamos o balanço padronizado conforme a aula 2 da disciplina.

35


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Balanço Padronizado COLUNAS1

COLUNAS2

COLUNAS3

Modelo de Padronização Balanço Patrimonial Balanços em: 31-12-x1

31-12-x2

Disponível

41.200,00

53.332,00

Aplicações Financeiras

135.000,00

71.715,00

Soma

176.200,00

125.047,00

Clientes

250.500,00

258.900,00

Estoques

198.600,00

255.600,00

Soma

449.100,00

514.500,00

Total Ativo Circulante

625.300,00

639.547,00

Realizável a Longo Prazo

126.000,00

82.000,00

Investimentos

251.200,00

269.200,00

Imobilizado

356.700,00

477.200,00

Intangível

-

-

Total Ativo Não Circulante

733.900,00

828.400,00

Total do Ativo

1.359.200,00

1.467.947,00

Fornecedores

186.000,00

249.500,00

Outras obrigações

225.400,00

231.240,00

Soma

411.400,00

480.740,00

Empréstimos

86.900,00

36.900,00

Soma

86.900,00

36.900,00

Total Passivo Circulante

498.300,00

517.640,00

Ativo Circulante Financeiro

Operacional

Não Circulante

Passivo Circulante Operacional

Financeiro

36


AULA 3 - INDICADORES DE ANÁLISES VERTICAL E HORIZONTAL DO BALANÇO PATRIMONIAL E DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO

COLUNAS1

COLUNAS2

COLUNAS3

Exigível a Longo Prazo

255.900,00

313.000,00

Total Capital de terceiros (PC + EXLP)

754.200,00

830.640,00

Patrimônio Líquido

605.000,00

637.307,00

Total do Passivo

1.359.200,00

1.467.947,00

COLUNAS 1

2007

2008

RECEITA BRUTA DE VENDAS

1.576.000

1.896.000

Impostos sobre Vendas

-325.444

-391.524

RECEITA LÍQUIDA

1.250.556

1.504.476

Custo das Mercadorias Vendidas

-722.300

-846.000

LUCRO BRUTO

528.256

658.476

Despesas Operacionais

-420.400

-625.000

Outras Receitas Operacionais

5.720

36.400

Despesas Financeiras

-44.600

-26.800

LUCRO ANTES DO IR/ CSSL

68.976

43.076

IR e CSSL

-17.244

-10.769

LUCRO LÍQUIDO

51.732

32.307

COLUNAS1

COLUNAS2

COLUNAS3

Demonstração do Resultado do Exercício Findo em

x1

x2

Receita Líquida

1.250.556,00

1.504.476,00

(-) Custo dos Produtos Vendidos

722.300,00

846.000,00

(=) Lucro Bruto

528.256,00

658.476,00

(-) Despesas Operacionais

420.400,00

625.000,00

(+-) Outras Receitas e Despesas

5.720,00

36.400,00

(=) Lucro operacional (antes dos resultados)

113.576,00

69.876,00

(+) Receitas Financeiras

-

-

(-) Despesas Financeiras

44.600,00

26.800,00

Não Circulante

Após balanço padronizado, verificaremos o DRE. Demonstração de Resultados (DRE) Antes da padronização

Demonstração de Resultados (DRE) Após Padronização

37


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

COLUNAS1

COLUNAS2

COLUNAS3

(=) Lucro Operacional

68.976,00

43.076,00

(+-) Outras Receitas e Despesas

-

-

(=) Lucro antes do IR e Contribuição Social

68.976,00

43.076,00

(-) IR e CSLL

17.244,00

10.769,00

Lucro líquido

51.732,00

32.307,00

Uma vez padronizadas, as demonstrações estarão prontas para o início dos cálculos. Nesta aula, nos concentraremos nas análises horizontal e vertical, conforme segue.

ANÁLISE VERTICAL A análise vertical baseia-se em valores percentuais das demonstrações contábeis. Nessa análise, temos o percentual de cada conta que apresenta sua real importância no conjunto de todas as contas. Para isso, calcula-se o percentual de cada conta em relação a um valor base, e como consequência, obtém-se a importância de cada conta em relação à demonstração a que esta pertence. Nesse contexto, relaciona-se uma conta com o valor global do grupo ao qual ela pertence, indicando, assim, a sua representatividade. De acordo com Padoveze e Benedicto (2004, p. 171): Denominamos análise vertical a análise de participação percentual ou de estrutura dos elementos das demonstrações contábeis. Assume-se como 100 um determinado elemento patrimonial que, em princípio, deve ser o mais importante e faz-se uma relação percentual de todos os demais elementos sobre ele.

Forma de calcular Na Análise Vertical do Balanço Patrimonial, calcula-se o percentual de cada conta em relação ao ativo total ou passivo total. Assim, é possível estabelecer o grau de representatividade de cada conta em relação aos seus respectivos totais. Na Demonstração de Resultados (DRE), costumamos considerar como referência a Receita Líquida de Vendas. Assim, calcula-se o percentual de cada conta em relação às RECEITAS LÍQUIDAS DE VENDAS. Vejamos, a seguir, quais seriam os percentuais encontrados a partir dos cálculos da análise vertical da EMPRESA DE BADULAQUES LTDA. Mãos à obra!

Balanço patrimonial

38

ATIVO

2007

AV

2008

AV2

CIRCULANTE

625.300

46

639.547

43,6

Disponível

41.200

3

53.332

3,6

Aplicações Financeiras

135.000

9,9

71.715

4,9


AULA 3 - INDICADORES DE ANÁLISES VERTICAL E HORIZONTAL DO BALANÇO PATRIMONIAL E DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO

ATIVO

2007

AV

2008

AV2

Clientes

250.500

18,4

258.900

17,6

Estoques

198.600

14,6

255.600

17,4

NÃO CIRCULANTE

733.900

54

828.400

56,4

REALIZÁVEL A LONGO PRAZO

126.000

9,3

82.000

5,6

Empréstimos a Coligadas

126.000

9,3

82.000

5,6

Investimentos

251.200

18,5

269.200

18,3

Imobilizado

356.700

26,2

477.200

32,5

TOTAL DO ATIVO

1.359.200

100

1.467.947

100

Nesse exemplo para o Ativo, considerando o seu total como 100%, temos: » » circulante: (625.300,00 / 1.359.200,00) x 100 = 46%, interpretando: esse grupo de contas representa 46% do Ativo total em 2007 e em 2008, 43,6%; » » disponível: (41.200,00 / 1.359.200,00) x 100 = 3%, ou seja, esse subgrupo de contas representa 3% do Ativo total em 2007 e em 2008 3,6%; » » imobilizado: (356.700,00 / 1.359.200,00) x 100 = 26,2%%, isto é, esse grupo de contas representa 26,2% do Ativo total em 2007 e em 2008 32,5%. Segue-se o mesmo cálculo para todas as contas e grupos de contas. PASSIVO

2007

AV

2008

AV2

CIRCULANTE

498.300

36,7

517.640

38,1

Fornecedores

186.000

13,7

249.500

18,4

Outras Obrigações

225.400

16,6

231.240

17

Empréstimos Bancários

86.900

6,4

36.900

2,7

NÃO CIRCULANTE

255.900

18,8

313.000

23

Financiamentos

255.900

18,8

313.000

23

PATRIMÔNIO LÍQUIDO

605.000

44,5

637.307

46,9

Capital Social

500.000

36,8

500.000

36,8

Reservas de Lucros

105.000

7,7

137.307

10,1

TOTAL DO PASSIVO

1.359.200

100

1.467.947

100

Para o Passivo, considerando o seu total como 100%, temos: » » circulante: (498.300,00 / 1.359.200,00) x 100 = 36,7%, isto é, esse grupo de contas representa 36,7% do Ativo total em 2007 e em 2008 38,1%; » » fornecedores: (186.000,00 / 1.359.200,00) x 100 = 13,7%, ou seja, essa conta representa 13,7% do Ativo total em 2007 e em 2008 18,4%; Segue-se o mesmo cálculo para todas as contas e grupos de contas. » » capital social: (500.000,00 / 1.359.200,00) x 100 = 36,8%, interpretando, essa conta representa 36,8% do Ativo total em 2007 e em 2008, também 36,8%.

39


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS

COLUNAS1

COLUNAS2

COLUNAS3

COLUNAS4

2007

AV

2008

AV

RECEITA BRUTA DE VENDAS

1.576.000

126,02

1.896.000

126,02

Impostos sobre Vendas

-325.444

-26,02

-391.524

46,279

Receita Líquida

1.250.556

100

1.504.476

100

Custo das Mercadorias Vendidas

-722.300

-57,8

-846.000

-56,2

LUCRO BRUTO

528.256

42,2

658.476

43,8

Despesas Operacionais

-420.400

-33,6

-625.000

-41,5

Outras Receitas Operacionais

5.720

0,5

36.400

2,4

Despesas Financeiras

-44.600

-3,6

-26.800

-1,8

LUCRO ANTES DO IR/ CSSL

68.976

5,5

43.076

2,9

IR e CSSL

-17.244

-1,4

-10.769

-0,7

LUCRO LÍQUIDO

51.732

4,1

32.307

2,1

Para a Demonstração de Resultados, considerando o valor total da Receita Líquida de venda como 100%, pode-se observar: » » custo das mercadorias vendidas: (722.300,00 / 1.250.556,00) x 100 = 57,8%, isto é, essa conta representa 57,8% da Receita Líquida de Vendas em 2007 e em 2008 56,8%; » » lucro bruto: (528.256,00 / 1.250.556,00) x 100 = 42,2%, ou seja, o lucro bruto representa 42,2% da Receita Líquida de Vendas em 2007 e em 2008 43,8%; » » lucro líquido: (51.732,00 / 1.250.556,00) x 100 = 4,1%, interpretando, o lucro bruto representa 4,1% da Receita Líquida de Vendas em 2007 e em 2008 2,1%. Segue-se o mesmo cálculo para todas as contas e grupos de contas.

ANÁLISE HORIZONTAL De acordo com Padoveze e Benedicto (2004, p. 171): A análise horizontal é uma análise da evolução, crescimento ou diminuição, que permite identificar a variação positiva ou negativa de um período em relação ao anterior. Toma-se como 100 todas as contas de um determinado período e faz-se uma relação percentual em cima dos dados desse período. O novo número relativo indica quanto o período subseqüente é maior ou menor que o período anterior. Como é comum utilizar vários períodos, a variação seqüencial e consecutiva acaba indicando uma tendência de crescimento (ou diminuição).

A evolução de cada conta mostra os caminhos trilhados pela empresa e as suas possíveis tendências, baseando-se na evolução de cada conta ou de uma série de contas em relação à demonstração anterior, geralmente a mais antiga da série. Enfoques principais: evolução dos ativos e passivos, evolução do Ativo Não Circulante, da estrutura de capital, redução dos custos etc.

40


AULA 3 - INDICADORES DE ANÁLISES VERTICAL E HORIZONTAL DO BALANÇO PATRIMONIAL E DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO

EMPRESA DE BADULAQUES LTDA. Balanço Patrimonial ATIVO

2007

AH

2008

AH2

CIRCULANTE

625.300

100

639.547

102,3

Disponível

41.200

100

53.332

129,4

Aplicações Financeiras

135.000

100

71.715

53,1

Clientes

250.500

100

258.900

103,4

Estoques

198.600

100

255.600

128,7

NÃO CIRCULANTE

733.900

100

828.400

112,9

REALIZÁVEL A LONGO PRAZO

126.000

100

82.000

65,1

Empréstimos a Coligadas

126.000

100

82.000

65,1

Investimentos

251.200

100

269.200

107,2

Imobilizado

356.700

100

477.200

133,8

TOTAL DO ATIVO

1.359.200

100

1.467.947

108

Nesse exemplo, consideramos todos os valores do ano de 2007 como 100% e calculamos a variação ocorrida nesses valores para o ano de 2008; em relação ao Ativo observa-se: » » circulante: (639.547,00 / 625.300,00) x 100 = 102,3%, ou seja, esse grupo de contas apresentou um aumento de 2,3% em 2008, se comparado com o ano de 2007; » » disponível: (53.332,00 / 41.200,00) X 100 = 129,4%, isto é, esse subgrupo de contas teve um aumento de 29,4% em 2008, se comparado com o ano de 2007; » » imobilizado: (477.200,00 / 356.700,00) X 100 = 133,8%, interpretando esse grupo de contas teve um aumento de 33,8% em 2008, se comparado com o ano de 2007. Segue-se o mesmo cálculo para todas as contas e grupos de contas. PASSIVO

2007

AH

2008

AH2

CIRCULANTE

498.300

100

517.640

103,9

Fornecedores

186.000

100

249.500

134,1

Outras Obrigações

225.400

100

231.240

102,6

Empréstimos Bancários

86.900

100

36.900

42,5

NÃO CIRCULANTE

255.900

100

313.000

122,3

Financiamentos

255.900

100

313.000

122,3

PATRIMÔNIO LÍQUIDO

605.000

100

637.307

105,3

Capital Social

500.000

100

500.000

100

Reservas de Lucros

105.000

100

137.307

130,8

TOTAL DO PASSIVO

1.359.200

100

1.467.947

108

Para o Passivo, considerando todos os valores do ano de 2007 como 100% e calculando a variação ocorrida nesses valores para o ano de 2008, temos: » » circulante: (517.640,00 / 498.300,00) x 100 = 103,9%, ou seja, esse grupo de contas apresentou um aumento de 3,9% em 2008, se comparado com o ano de 2007;

41


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

» » fornecedores: (249.500,00 / 186.000,00) x 100 = 134,1%, isto é, essa conta teve um aumento de 34,1% em 2008, se comparado com o ano de 2007; » » capital social: (477.200,00 / 356.700,00) x 100 = 100%, interpretando, essa conta manteve o mesmo valor do ano anterior, não apresentando aumento ou diminuição, se comparado com o ano de 2007. Segue-se o mesmo cálculo para todas as contas e grupos de contas. DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS

COLUNAS1

COLUNAS2

COLUNAS3

COLUNAS4

2007

AH

2008

AH

RECEITA BRUTA DE VENDAS

1.576.000

100

1.896.000

120,3

Impostos sobre Vendas

-325.444

100

-391.524

120,3

RECEITA LÍQUIDA

1.250.556

100

1.504.476

120,3

Custo das Mercadorias Vendidas

-722.300

100

-846.000

117,1

LUCRO BRUTO

528.256

100

658.476

124,7

Despesas Operacionais

-420.400

100

-625.000

148,7

Outras Receitas Operacionais

5.720

100

36.400

636,4

Despesas Financeiras

-44.600

100

-26.800

60,1

LUCRO ANTES DO IR/ CSSL

68.976

100

43.076

62,5

IR e CSSL

-17.244

100

-10.769

62,5

LUCRO LÍQUIDO

51.732

100

32.307

62,5

Para a Demonstração de Resultados, consideramos todos os valores do ano de 2007 como 100% e calculamos a variação ocorrida nesses valores para o ano de 2008. Pode-se observar que: » » custo das mercadorias vendidas: (846.000,00 / 722.300,00) x 100 = 117,1%, %, ou seja, essa conta apresentou um aumento de 17,1% em 2008, se comparado com o ano de 2007; » » lucro bruto: (658.476,00 / 528.256,00) x 100 = 124,7%, %, ou seja, essa conta apresentou um aumento de 24,7% em 2008, se comparado com o ano de 2007; » » lucro líquido: (32.007,00 / 51.732,00) x 100 = 62,5%, %, ou seja, essa conta representa 62,5 do valor apurado em 2007, isto é, apresentou uma redução de 37,5% em 2008, se comparado com o ano de 2007. Segue-se o mesmo cálculo para todas as contas e grupos de contas. Vejamos este exercício, considerando a apresentação das análises horizontal e vertical juntas. Normalmente, utilizamos este formato. 31-12-X8

AV%

AH%

31-12-X7

AV%

AH%

Disponível

53.332,00

3,63%

100,00%

41.200,00

3,03%

29,45%

Aplicações Financeiras

71.715,00

4,89%

100,00%

135.000,00

9,93%

-46,88%

Soma

125.047,00

8,52%

100,00%

176.200,00

12,96%

-29,03%

100,00%

250.500,00

18,43%

3,35%

ATIVO Circulante Financeiro

Operacional Clientes

42

0,00% 258.900,00

17,64%


AULA 3 - INDICADORES DE ANÁLISES VERTICAL E HORIZONTAL DO BALANÇO PATRIMONIAL E DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO

Estoques

255.600,00

17,41%

100,00%

198.600,00

14,61%

28,70%

Soma

514.500,00

35,05%

100,00%

449.100,00

33,04%

14,56%

Total Ativo Circulante

639.547,00

43,57%

100,00%

625.300,00

46,01%

2,28%

Realizável a longo prazo

82.000,00

5,59%

100,00%

126.000,00

9,27%

-34,92%

Investimentos

269.200,00

18,34%

100,00%

251.200,00

18,48%

7,17%

Imobilizado

477.200,00

32,51%

100,00%

356.700,00

26,24%

33,78%

Intangível

-

0,00%

-

0,00%

0,00%

Total Ativo Não Circulante

828.400,00

56,43%

100,00%

733.900,00

53,99%

12,88%

Total do Ativo

1.467.947,00

100,00%

100,00%

1.359.200,00 100,00%

8,00%

Fornecedores

249.500,00

17,00%

100,00%

186.000,00

13,68%

34,14%

Outras obrigações

231.240,00

15,75%

100,00%

225.400,00

16,58%

2,59%

Soma

480.740,00

32,75%

100,00%

411.400,00

30,27%

16,85%

Empréstimos

36.900,00

2,51%

100,00%

86.900,00

6,39%

-57,54%

Soma

36.900,00

2,51%

100,00%

86.900,00

6,39%

-57,54%

Total Passivo Circulante

517.640,00

35,26%

100,00%

498.300,00

36,66%

3,88%

313.000,00

21,32%

100,00%

255.900,00

18,83%

22,31%

Total Capital de terceiros (pc + exigível a longo prazo) 830.640,00

56,59%

100,00%

754.200,00

55,49%

10,14%

100,00%

605.000,00

44,51%

5,34%

100,00%

1.359.200,00 100,00%

Não Circulante

PASSIVO Circulante Operacional

Financeiro

Não Circulante Exigível a longo Prazo

0,00% Patrimônio Líquido

637.307,00

43,41% 0,00%

Total do Passivo

1.467.947,00

100,00%

8,00%

Fonte: MARION, 2010, p.65.

Vejamos, agora, exercício extraído do livro do professor MARION, José C. Análise das demonstrações contábeis: análise das demonstrações contábeis. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2010. Capítulo 3, página 65. EXEMPLO EXTRAÍDO DO LIVRO: ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS - JOSÉ CARLOS MARION Balanço Patrimonial Balanços em: 31-12-x9

AV%

AH%

31-12-x8

AV%

AH%

67.762,00

9,06%

100,00%

14.096,00

3,14%

380,72%

ATIVO Circulante Financeiro Disponível

43


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Aplicações Financeiras

25.429,00

3,40%

100,00%

11.878,00

2,64%

114,08%

Soma

93.191,00

12,47%

100,00%

25.974,00

5,78%

258,79%

Operacional

0,00%

Clientes

171.849,00

22,99%

100,00%

112.723,00

25,08%

52,45%

Estoques

136.247,00

18,22%

100,00%

67.321,00

14,98%

102,38%

Créditos

34.108,00

4,56%

100,00%

29.192,00

6,50%

16,84%

Outros Créditos

17.814,00

2,38%

100,00%

10.087,00

2,24%

76,60%

Desp. Antecipadas

78.738,00

10,53%

100,00%

50.676,00

11,28%

55,38%

IR E CSLL Diferidos

2.850,00

0,38%

100,00%

5.444,00

1,21%

-47,65%

Despesas do exercício Se

1.652,00

0,22%

100,00%

1.293,00

0,29%

27,76%

Soma

443.258,00

59,29%

100,00%

276.736,00

61,57%

60,17%

Total Ativo Circulante

536.449,00

71,76%

100,00%

302.710,00

67,35%

77,22%

Realizável a longo Prazo

9.298,00

1,24%

100,00%

15.632,00

3,48%

-40,52%

Investimentos

38.508,00

5,15%

100,00%

35.683,00

7,94%

7,92%

Imobilizado

162.429,00

21,73%

100,00%

94.697,00

21,07%

71,52%

Intangível

906,00

0,12%

730,00

0,16%

0,00%

Total Ativo não Circulante

211.141,00

28,24%

100,00%

146.742,00

32,65%

43,89%

Total do Ativo

747.590,00

100,00%

100,00%

449.452,00

33,07%

66,33%

Fornecedores

159.230,00

10,85%

100,00%

80.104,00

17,82%

98,78%

Outras obrigações

57.749,00

3,93%

100,00%

26.274,00

5,85%

119,80%

Soma

216.979,00

14,78%

100,00%

106.378,00

23,67%

103,97%

Empréstimos

183.888,00

12,53%

100,00%

47.550,00

10,58%

286,73%

Soma

183.888,00

12,53%

100,00%

47.550,00

10,58%

286,73%

Total Passivo Circulante

400.867,00

27,31%

100,00%

153.928,00

34,25%

160,43%

180.414,00

12,29%

100,00%

213.676,00

47,54%

-15,57%

Total Capital de terceiros (pc + exigível a longo prazo) 581.281,00

39,60%

100,00%

367.604,00

81,79%

58,13%

Não Circulante

PASSIVO Circulante Operacional

Financeiro

Não Circulante Exigível a longo Prazo

0,00% Patrimônio Líquido

166.309,00

11,33%

0,00% 100,00%

81.848,00

0,00% Total do Passivo

747.590,00

50,93%

103,19%

0,00% 100,00%

Fonte: MARION, 2010, p.65.

44

18,21%

449.452,00

100,00%

66,33%


AULA 3 - INDICADORES DE ANÁLISES VERTICAL E HORIZONTAL DO BALANÇO PATRIMONIAL E DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO

CALCULANDO INDICADORES DE ANÁLISE HORIZONTAL E VERTICAL PELO EXCEL Você poderá extrair todos os cálculos apresentados anteriormente utilizando a ferramenta do Excel. Veja a mesma tabela apresentada na página anterior demonstrando as fórmulas que utilizamos: 31-12-X8

AV%

AH%

31-12-X7

AV%

AH%

ATIVO Circulante Financeiro =(B10-

Disponível Aplicações Financeiras

53.332,00

=B10/$B$27

100,00%

41.200,00

3,03%

-E10)/$E10 =(B11-

71.715,00

=B11/$B$27

100,00%

135.000,00

9,93%

-E11)/$E11 =(B12-

Soma

125.047,00

=B12/$B$27

100,00%

176.200,00

12,96%

-E12)/$E12

Operacional =(B14-

Clientes

258.900,00

=B14/$B$27

100,00%

250.500,00

18,43%

-E14)/$E14 =(B15-

Estoques

255.600,00

=B15/$B$27

100,00%

198.600,00

14,61%

Soma

514.500,00

=B16/$B$27

100,00%

449.100,00

33,04%

-E15)/$E15 =(B16-E16)/$E16 =(B17-

Total Ativo Circulante 639.547,00

=B17/$B$27

100,00%

625.300,00

46,01%

-E17)/$E17

Não Circulante Realizável a longo Prazo

82.000,00

=B21/$B$27

100,00%

126.000,00

9,27%

Investimentos

269.200,00

=B22/$B$27

100,00%

251.200,00

18,48%

=(B21-E21)/$E21 =(B22-E22)/$E22 =(B23-

Imobilizado

477.200,00

=B23/$B$27

Intangível

-

Total Ativo não Circulante

828.400,00

=B25/$B$27

Total do Ativo

1.467.947,00

Fornecedores Outras obrigações

100,00%

356.700,00

26,24%

-E23)/$E23

-

0,00%

0,00%

100,00%

733.900,00

53,99%

100,00%

100,00%

1.359.200,00 100,00%

8,00%

249.500,00

=B32/$B$46

100,00%

186.000,00

=E32/$E$46

=(B32-E32)/$E32

231.240,00

=B33/$B$46

100,00%

225.400,00

=E33/$E$46

=(B33-E33)/$E33

=(B25-E25)/$E25

PASSIVO Circulante Operacional

45


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Soma

480.740,00

=B34/$B$46

100,00%

411.400,00

=E34/$E$46

=(B34-E34)/$E34

6,39%

=(B36-E36)/$E36

6,39%

=(B37-E37)/$E37

Financeiro Empréstimos Soma Total Passivo Circulante

36.900,00 36.900,00

=B36/$B$46 =B37/$B$46

100,00% 100,00%

86.900,00 86.900,00

517.640,00

=B38/$B$46

100,00%

498.300,00

36,66%

=(B38-E38)/$E38

313.000,00

=B41/$B$46

100,00%

255.900,00

=E41/$E$46

=(B41-E41)/$E41

=E42/$E$46

=(B42-E42)/$E42

=E44/$E$46

=(B44-E44)/$E44

Não Circulante Exigível a longo Prazo Total Capital de terceiros (pc + exigível a longo prazo)

830.640,00

=B42/$B$46

100,00%

754.200,00

Patrimônio Líquido

637.307,00

=B44/$B$46

100,00%

605.000,00

Total do Passivo

1.467.947,00

=B46/$B$27

100,00%

1.359.200,00 100,00%

=(B46-E46)/$E46

Fonte: MARION, 2010, p.65.

Veja que comparamos cada célula com o ativo total. Para utilização da ferramenta do Excel, utilizamos o sinal de “=” para iniciar a fórmula, depois posicionamos o cursor no numerador, em seguida digitamos o sinal de dividir, que para o Excel é “/”, então posicionamos o cursor no denominador. Como todos os numeradores serão divididos pelo denominador que representa o total do passivo e do ativo, deveremos congelá-lo utilizando a função “F4”. Fazendo isso, aparecerão sinais de cifrão ($) antes e depois da letra da célula, indicando o seu congelamento. Por fim, restará apenas arrastar as fórmulas para baixo com o cursor. Com esse procedimento é possível realizar os cálculos utilizando menos tempo, otimizando os respectivos resultados. Pronto, agora você está apto a passar para a próxima etapa. Nas aulas seguintes calcularemos Índices de Liquidez: Corrente, Seca, Geral e Imediata; Capital Circulante; e Índices de Endividamento: Participação de Capitais de Terceiros sobre Recursos Totais ou Grau de Endividamento, Garantia do Capital Próprio ao Capital de Terceiros e Composição do Endividamento. Até lá! SÍNTESE Nesta aula, vimos os conceitos e cálculos dos indicadores de análises vertical e horizontal do Balanço Patrimonial e Demonstração de Resultados, e os resultados apurados a partir das informações hipotéticas das demonstrações contábeis da EMPRESA DE BADULAQUES LTDA., dos exercícios de 2007 e 2008 e um exemplo apresentado pelo professor Marion.

46


AULA 3 - INDICADORES DE ANÁLISES VERTICAL E HORIZONTAL DO BALANÇO PATRIMONIAL E DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO

QUESTÃO PARA REFLEXÃO Proponho a você que observe a quantidade de informações que são obtidas a partir do cálculo dos índices de análise vertical e horizontal do Balanço Patrimonial e da Demonstração de Resultados de uma empresa. É interessante, também, buscar uma explicação para tais resultados após os cálculos, considerando as informações de um Relatório da Administração e das Notas Explicativas.

LEITURAS INDICADAS Para enriquecimento do assunto, sugiro a leitura do capítulo 11 do livro: SILVA, Alexandre Alcântara da. Estrutura e análise das demonstrações financeiras. São Paulo: Atlas, 2007.

SITE INDICADO Veja os relatórios da administração da Itautec no link: http://www.itautec.com.br/iPortal/pt-BR/796f84d1-51b0-4b72-bc41-f8971c947a53.htm

REFERÊNCIAS ITAUTEC. Relatório da administração. 2006. Disponível em: <http://www.itautec.com.br/iPortal/ pt-BR/796f84d1-51b0-4b72-bc41-f8971c947a53.htm>. Acesso em: 16 nov. 2009. MARION, José Carlos. Análise das demonstrações contábeis: contabilidade empresarial. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2010. MATARAZZO, Dante Carmine. Análise financeira de balanços: abordagem gerencial. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010. MORANTE, Antonio Salvador. Análise das demonstrações financeiras. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009. PADOVEZE, Clóvis Luís; BENEDICTO, Gideon Carvalho de. Análise das demonstrações financeiras. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004. SILVA, Alexandre Alcântara da. Estrutura e análise das demonstrações financeiras. São Paulo: Atlas, 2007.

47



AULA 4 Índices de Liquidez: Liquidez Corrente, Capital Circulante, Liquidez Seca, Liquidez Imediata e Liquidez Geral Autora: Claudia Freire

Caro aluno, Vamos estudar, nesta aula, os indicadores de Liquidez. Veremos Liquidez Corrente, Liquidez Seca, Liquidez Geral e Liquidez Imediata. Lembre-se: mais importante do que aprender a calculá-los, será entender para que esses indicadores são usados e como poderão auxiliar-nos nas análises das demonstrações.

Fonte: http://www.sxc.hu/photo/1259848


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

INDICADORES Em linhas gerais, podemos dizer que os índices estabelecem relação entre contas ou grupos de contas das Demonstrações Contábeis. O objetivo é evidenciar aspectos da situação econômicofinanceira de uma organização. Os índices são uma espécie de termômetro na avaliação da saúde financeira das empresas. Segundo Padoveze e Benedicto (2004, p. 131): O conjunto de indicadores econômico-financeiros é o instrumental que classicamente representa o conceito de análise de balanço. Basicamente, consiste em números e percentuais resultantes das diversas inter-relações possíveis entre os elementos patrimoniais constantes do balanço e da demonstração de resultados. O objetivo é buscar elementos que dêem maior clareza à análise ou mesmo indiquem constatações do desempenho econômico-financeiro da entidade.

Assim, podemos dizer que o principal instrumento utilizado para análise da situação econômicofinanceira de uma empresa é o índice. Ele representa o resultado da comparação entre grandezas, ocasionando a criação de alguns indicadores específicos para cada empresa, isto é, de acordo com as suas operações e situação patrimonial, principalmente. Sua finalidade é obter uma análise gerencial a partir do cálculo desses indicadores. Para exemplificar todos os cálculos a serem realizados, utilizaremos as informações hipotéticas das demonstrações contábeis da EMPRESA DE BADULAQUES LTDA., dos exercícios de 2007 e 2008.

BALANÇO PATRIMONIAL - BP ATIVO

2007

2008

CIRCULANTE

625.300

639.547

Disponível

41.200

53.332

Aplicações Financeiras

135.000

71.715

Clientes

250.500

258.900

Estoques

198.600

NÃO CIRCULANTE

733.900

255.600

REALIZÁVEL A LONGO PRAZO

126.000

828.400

Empréstimos a Coligadas

126.000

82.000

Investimentos

251.200

269.200

Imobilizado

356.700

477.200

Após a apresentação dos números, estaremos aptos a iniciar o cálculo dos indicadores de Liquidez, bem como obter conclusões uteis à elaboração das nossas análises.

50


AULA 4 - ÍNDICES DE LIQUIDEZ: LIQUIDEZ CORRENTE, CAPITAL CIRCULANTE, LIQUIDEZ SECA, LIQUIDEZ IMEDIATA E LIQUIDEZ GERAL

INDICADORES DE LIQUIDEZ De acordo com Marion (2010), os índices de liquidez são utilizados para avaliar a capacidade de pagamento. Constituem uma apreciação sobre se a empresa possui capacidade para saldar seus compromissos. Essa capacidade de pagamentos poderá ser avaliada, considerando os saldos a serem liquidados de imediato, no curto ou médio prazo. Desta forma, os indicadores de liquidez são utilizados para avaliar a capacidade de pagamento de uma entidade, considerando o correspondente prazo para liquidação.

LIQUIDEZ IMEDIATA Segundo o professor Marion (2010, p. 80), a liquidez imediata demonstra de quanto dispomos, imediatamente, para saldar dívidas de curto prazo, ou seja: Disponibilidade: (Caixa + Bancos + Aplicações de Curtíssimo Prazo) Passivo Circulante

Como este indicador mostra o quanto a entidade dispõe imediatamente para saldar as suas obrigações de curto prazo, caracterizando-se realmente como de liquidez, para o seu cálculo relacionaremos somente as disponibilidades. Nesse contexto, para fins de análise, é um índice sem muita relevância, porque relaciona dinheiro disponível com valores que vencerão em datas diferentes, mesmo que em curto prazo. Dessa forma, têm-se contas que vencerão daqui a 5 ou 20 dias, como também as que vencerão daqui a 360 dias, e que, por consequência, não se relacionam com a disponibilidade imediata existente. Exemplo: EMPRESA DE BADULAQUES LTDA.

2007

2008

Disponível + Aplicações Financeiras

176.200,00

125.047,00

Passivo Circulante

498.300,00

517.640,00

Índice de Liquidez Imediata

0,35

0,24

Interpretação: 2007 - para cada R$ 1,00 de dívida de curto prazo, a empresa possui R$ 0,35 de numerário para possível quitação da dívida; 2008 - para cada R$ 1,00 de obrigações de curto prazo, há, na empresa, R$ 0,24 de numerário para possível quitação da dívida; Um analista não deseja obter um resultado elevado do índice de liquidez imediata, mas a empresa deve manter certos limites de segurança, tendo em vista que o Caixa e os Bancos podem perder poder aquisitivo com a inflação, por exemplo. Nem sempre reduções constantes nesse índice significam situações difíceis, mas podem significar uma política mais rígida de disponibilidades.

51


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

LIQUIDEZ CORRENTE Segundo o professor Marion (2010, p. 73), o índice de liquidez corrente ou liquidez comum (LC) mostra a capacidade de pagamento da empresa a curto prazo por meio da fórmula: Ativo Circulante Passivo Circulante

Como já foi mencionado, esse indicador mostra a capacidade de pagamento de curto prazo AC/PC. Porém, é importante destacar que: » » o indicador não apresenta a qualidade dos itens que compõem o Ativo Circulante, ou seja, os valores das Duplicatas a Receber são recebíveis, ou ainda, o valores dos estoques estão superavaliados, subavaliados ou são obsoletos; » » o índice não mostra um ajustamento entre os pagamentos e os recebimentos, isto é, não é possível identificar se os recebimentos ocorrerão em tempo para quitar as obrigações vincendas. Dessa forma, um índice de liquidez corrente de 2,3, que aparenta ser muito bom, pode ser equivocado, caso a empresa se apresente em crise de liquidez, com grande parte dos vencimentos das obrigações de curto prazo concentrando-se em até 30 dias, e os recebimentos, também de curto prazo, ocorrendo somente após 120 dias. » » uma boa administração de capital de curto prazo deve prever e minimizar tais distorções entre recebimento e desembolso de recursos financeiros. As políticas de crédito ministradas pelas empresas não devem conceder prazos de recebimentos menores do que o prazo de pagamento concedido pelos fornecedores. A não observância deste critério fará com que o financeiro necessite captar recursos fora da operação para garantir seus pagamentos. Necessitará, por exemplo, captar recursos junto a instituições financeiras, através de linhas de financiamentos na modalidade capital de giro, por exemplo. Vale lembrar, também, que os estoques colaboram para o cálculo da liquidez corrente, no sentido de elevá-la, mas, normalmente, os estoques estão avaliados a preço de custo, e o seu valor de mercado está acima do apresentado no Ativo Circulante. Dessa forma, o índice de liquidez corrente poderá ser mais pessimista do que a realidade, considerando que os estoques serão realizados ao valor de mercado e não de custo, ou mais otimista que a realidade, caso os estoques detenham mercadorias de baixo ou nenhum giro. Bem, agora vamos aos cálculos! EMPRESA DE BADULAQUES LTDA.

2007

2008

Ativo Circulante

625.300,00

639.747,00

Passivo Circulante

498.300,00

517.640,00

Índice de Liquidez Corrente

1,25

1,24

2007 - 625.300,00 / 498.300,00 = 1,25 2008 - 639.747,00 / 517.640,00 = 1,24

52


AULA 4 - ÍNDICES DE LIQUIDEZ: LIQUIDEZ CORRENTE, CAPITAL CIRCULANTE, LIQUIDEZ SECA, LIQUIDEZ IMEDIATA E LIQUIDEZ GERAL

Interpretação: 2007 - para cada R$ 1,00 de dívida, há R$ 1,25 de dinheiro e valores que se transformarão em dinheiro, do Ativo Circulante; 2008 - para cada R$ 1,00 de obrigação de curto prazo há R$ 1,24 de dinheiro e valores que se transformarão em dinheiro, do Ativo Circulante, para cobertura dessa dívida. É IMPORTANTE OBSERVAR: » » no Ativo Circulante, os valores das contas, em geral, apresentaram um pequeno aumento, com exceção das Aplicações Financeiras que aparecem com uma redução de 47% em seu valor; » » os resultados dos cálculos do índice de liquidez corrente se apresentam quase iguais, com uma leve diminuição de 0,01, o que significa a manutenção da capacidade de pagamento; » » considerando de forma isolada, os índices de Liquidez Corrente com resultados superiores a 1,0, de uma forma geral, são positivos, mas a conceituação do índice, sem a observação de outro parâmetro, pode apresentar riscos para a análise; » » é importante observar outros aspectos implícitos no índice calculado, por exemplo, um resultado de 1,24 não é deficiente, mas o Ativo Circulante da EMPRESA DE BADULAQUES LTDA. é composto, basicamente, das contas de Estoques e Clientes, fato que pode apresentar uma maior lentidão para a conversão do Ativo Circulante em dinheiro, e proporcionar problemas financeiros para a empresa a curto prazo. Após calcular os indicadores, faremos algumas observações que ajudarão a complementar a análise. OBSERVAÇÕES QUANTO À ATIVIDADE DA EMPRESA » » vale ponderar sobre o ramo de atividade e as peculiaridades de cada negócio empresarial. Dessa forma, o resultado de um indicador de Liquidez Corrente de 0,80 pode se apresentar deficiente para uma indústria, mas não o será para uma empresa de transporte coletivo, por exemplo. Uma empresa de transportes de passageiros geralmente não demonstra em seu Ativo Circulante itens como Duplicatas a Receber, já que a empresa não vende a prazo, e tampouco conta com estoques, visto que não trabalha com mercadorias para revenda. » » ainda, na hipótese de o resultado do Índice de Liquidez Corrente de uma empresa de transporte coletivo ser de 0,80, essa informação não representa a incapacidade da empresa de saldar seus compromissos: pela natureza do negócio sua receita é diária, não sendo demonstrados valores a receber posteriormente, mas entradas constantes de dinheiro no Caixa, fato que possibilita o pagamento dos compromissos contabilizados no Passivo Circulante; » » a partir das considerações apresentadas, podemos concluir que o resultado de um índice de Liquidez Corrente de uma empresa de transportes deverá ser comparado ao de outras empresas de transportes e que as empresas devem ser separadas por ramo de atividade para fins de análise. Os índices obtidos em um seguimento de mercado não devem ser comparados a resultados universais, pois, para cada seguimento, poderá haver uma explicação lógica para flutuações. As comparações deverão ser estabelecidas entre empresas do mesmo ramo de atividades, daí a importância da análise setorial. Uma vez calculados os índices, para concluir a análise da liquidez, resta-nos avaliar o Capital Circulante Líquido (CCL).

53


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO (CCL) O Capital Circulante Líquido ou Capital de Giro é a diferença entre o valor do Ativo Circulante, composto de Disponível, Duplicatas a Receber, Estoques e outros itens e o Passivo Circulante, que se constitui de obrigações como: Fornecedores, Contas a Pagar e outras, em determinada data. Dessa forma, quando o Ativo Circulante é maior do que o Passivo Circulante, temos um Capital Circulante Líquido positivo ou próprio, e quando o Ativo Circulante é menor do que o Passivo Circulante, o resultado é um Capital Circulante Líquido negativo ou de terceiros. Os valores do Capital Circulante Líquido e a sua variação são revelados na Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC). Nesta demonstração, temos o bloco de Caixa Operacional, onde fica evidenciada a variação das contas de Ativo circulante e de Passivo circulante. Vejamos a seguir como se calcula o CCL. EMPRESA DE BADULAQUES LTDA.

2007

2008

Ativo Circulante

625.300,00

639.747,00

Passivo Circulante

498.300,00

517.640,00

Capital Circulante Líquido

127.000,00

122.107,00

VARIAÇÃO

(4.893,00)

A EMPRESA DE BADULAQUES LTDA. apresentou um valor de Ativo Circulante maior do que o do Passivo Circulante, em 31 de dezembro de 2007 e 2008, de 127.000,00 e 122.107,00, respectivamente, portanto, temos um valor de Capital Circulante Líquido positivo ou próprio, mas a sua variação de 2007 para 2008 foi negativa em 4.893,00, o que representa uma queda de 3,85% de um período para o outro. Por conseguinte, o valor de capital de giro diminuiu. De posse deste número, caberá ao analista verificar o motivo desta queda.

LIQUIDEZ SECA De acordo com Padoveze e Benedicto (2004, p. 134): Esse indicador é um prolongamento do índice de liquidez corrente. A base conceitual sobre a qual é estruturado é a maior dificuldade de realização dos estoques em relação aos demais componentes do capital de giro de curto prazo (ativo circulante). Em outras palavras, para que os estoques se realizem (se transformem em dinheiro), há que primeiro vender, produzir e, posteriormente, receber. Esse ciclo temporal é muito mais longo do que o tempo que os demais ativos levam para se transformarem em caixa.

Nesse contexto, o que se pretende observar é: caso a empresa sofresse uma total paralisação de suas vendas, ou se os seus Estoques se tornassem obsoletos de forma brusca, quais seriam as chances de pagar suas dívidas com o Disponível e com as Duplicatas a Receber? O índice de Liquidez Seca visa medir o grau de excelência da sua situação financeira, e conjugado com o índice de Liquidez Corrente é um reforço à conclusão sobre a capacidade de pagamento da empresa. Vejamos o cálculo:

54


AULA 4 - ÍNDICES DE LIQUIDEZ: LIQUIDEZ CORRENTE, CAPITAL CIRCULANTE, LIQUIDEZ SECA, LIQUIDEZ IMEDIATA E LIQUIDEZ GERAL

EMPRESA DE BADULAQUES LTDA.

2007

2008

Ativo Circulante – Estoques – Despesas Antecipadas

426.700,00

383.947,00

Passivo Circulante

498.300,00

517.640,00

Índice de Liquidez Seca

0,86

0,74

Interpretação: 2007 - para cada R$ 1,00 de dívida do Passivo Circulante, a empresa dispõe de R$ 0,86 de Ativo Circulante, sem os Estoques; 2008 - para cada R$ 1,00 de Passivo Circulante, há R$ 0,74 de Disponibilidades mais Duplicatas a Receber. A partir do cálculo desse indicador, observa-se que, se a empresa parasse de vender, conseguiria pagar apenas 86% de suas dívidas em 2007 e houve uma diminuição em 2008, ou seja, a empresa cumpriria somente 74% de suas obrigações.

LIQUIDEZ GERAL De acordo com Marion (2010, p. 79), o Índice de Liquidez Geral: Mostra a capacidade de pagamento da empresa a Longo Prazo, considerando tudo o que ela converterá em dinheiro (a curto e longo prazo), relacionando-se com tudo o que já assumiu como dívida (a curto e longo prazo). EMPRESA DE BADULAQUES LTDA.

2007

2008

Ativo Circulante + Realizável a Longo Prazo

751.300,00

721.547,00

Passivo Circulante + Passivo Não Circulante

754.200,00

830.640,00

Índice de Liquidez Geral

1,00

0,87

Interpretação: 2007 - para cada R$ 1,00 de dívida de curto e longo prazo, há 1,00 de valores a receber a curto e longo prazo; 2008 - para cada R$ 1,00 de dívida de curto e longo prazo, há 0,87de valores a receber a curto e longo prazo. Sobre o Índice de Liquidez Geral, Marion (2010, p. 79) afirma: As divergências em datas de recebimentos e de pagamento tendem a acentuar-se, quando analisamos períodos longos, ou seja, o recebimento do Ativo pode divergir consideravelmente do pagamento do Passivo; isso, sem dúvida, empobrece o indicador. Todavia, se apreciarmos uma série de vários anos, a análise será enriquecida. Se uma empresa apresentar numa série de anos o índice de LG decrescente, mesmo considerando essas divergências, o indicador se tornará útil, pois podemos depreender a perda paulatina do poder de pagamento geral da empresa. Como os demais, a LG não deve ser vista isoladamente. Pode ser que, num ano em que a empresa adquira um vultoso financiamento, investindo-o totalmente em seu Ativo Permanente, reduza sensivelmente sua LG, o que aumentará consideravelmente o Exigível a Longo Prazo, mas não aumentará o AC e o RLP. Com o tempo, porém, seu

55


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Permanente deverá gerar Receita (e conseqüentemente Lucro), aumentando o AC e melhorando a capacidade de pagamento a Curto e Longo Prazo.

Observações » » Para uma análise objetiva e criteriosa não se deve considerar qualquer indicador isoladamente, é importante relacioná-los. » » Convém utilizar os resultados de indicadores de uma série de anos, no mínimo três. » » Elaborar um trabalho de comparação entre os resultados encontrados com índices de empresas concorrentes, do mesmo ramo de atividade. Ótimo, agora você está pronto para passar à aula seguinte. Será a vez de entendermos e calcularmos os índices de endividamento, que são: Participação de Capitais de Terceiros sobre Recursos Totais ou Grau de Endividamento, Garantia do Capital Próprio ao Capital de Terceiros e Composição do Endividamento.

SÍNTESE Nesta aula, vimos os conceitos e cálculos dos indicadores de Liquidez Corrente, Capital Circulante, Liquidez Seca, Liquidez Imediata e Liquidez Geral a partir das informações do Balanço Patrimonial da EMPRESA DE BADULAQUES LTDA., dos exercícios de 2007 e 2008, extraídas das nossas aulas anteriores. Vimos, também, como estes indicadores nos auxiliam na análise e conseguinte interpretação das demonstrações financeiras.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO Leia e observe os detalhes dos cálculos e das demonstrações do Relatório da Administração da Itautec, transcrito a seguir. 1º Semestre de 2009 ITAUTEC S.A. – GRUPO ITAUTEC RELATÓRIO DA ADMINISTRAÇÃO 30 DE JUNHO DE 2009 CENÁRIO A atividade econômica brasileira apresentou sinais de recuperação a partir de abril de 2009, principalmente em relação às principais economias mundiais. As medidas tomadas pelo governo brasileiro para restabelecimento do crédito, como a redução na taxa básica de juros, e a desoneração tributária para alguns setores produtivos, contribuíram para uma menor queda na atividade econômica interna. Com a redução das taxas de juros dos países desenvolvidos com a finalidade de retomar a produção, recursos de investidores desses países foram destinados aos países emergentes, sendo o Brasil um dos principais destinos dos investimentos, cenário que contribuiu para a valorização do real frente ao dólar, que fechou junho cotado a R$ 1,95, patamar similar ao do início da crise em setembro de 2008.

56


AULA 4 - ÍNDICES DE LIQUIDEZ: LIQUIDEZ CORRENTE, CAPITAL CIRCULANTE, LIQUIDEZ SECA, LIQUIDEZ IMEDIATA E LIQUIDEZ GERAL

PLANO DE GESTÃO ESTRATÉGICA De acordo com o planejamento estratégico da empresa, foram investidos no período R$ 43,8 milhões, sendo R$ 30,1 milhões em desenvolvimento de tecnologia e R$ 13,7 milhões em imobilizado operacional. DESEMPENHO NO PERÍODO E GERAÇÃO DE RECURSOS A receita bruta de vendas e serviços acumulada do 1º semestre de 2009 atingiu R$ 928,4 milhões, superior em 5,8% à obtida no mesmo período de 2008. O lucro bruto foi R$ 154,9 milhões, superior em 4,3% ao obtido no 1º semestre de 2008, resultando em uma margem bruta de 18,5%. As despesas operacionais atingiram R$ 125,1 milhões, com um crescimento de 7,6% em relação ao 1º semestre de 2008, em função de reajustes salariais coletivos e do efeito cambial sobre os valores das empresas no Exterior. O Ebitda do período atingiu R$ 34,1 milhões, e a geração operacional de caixa foi R$ 86,8 milhões, superior em 75,2% à registrada no 1º semestre do ano anterior. O lucro líquido do semestre foi R$ 14,1 milhões, inferior em 49,6% quando comparado ao do mesmo período de 2008, e superior em 12,5% ao apresentado no 2º semestre de 2008, período de maior instabilidade na economia mundial. O total do ativo ao final de junho foi de R$ 1.110,3 milhões, e o endividamento líquido atingiu R$ 133,5 milhões. O patrimônio líquido ficou em R$ 463,7 milhões e o retorno sobre o patrimônio líquido médio (ROE) foi de 6,2%. VALOR ADICIONADO A Itautec gerou um valor adicionado de R$ 208,0 milhões, sendo que R$ 48,7 milhões foram destinados aos governos federal, estaduais e municipais, a título de impostos e contribuições. DIVIDENDOS Por proposta do Conselho de Administração, foi aprovado o pagamento de dividendo no valor bruto de R$ 3,5 milhões, equivalente a R$ 0,30 por ação. O pagamento ocorrerá até 30 de abril de 2010. OPERAÇÕES ITAUTEC No mercado externo, a Itautec realizou a substituição do teclado operador por monitores touch screen em 360 PDVs em um dos maiores clientes da Itautec em Portugal. Neste mesmo cliente, foi inaugurado um hipermercado com 7 Selfcheckouts duplos, ou seja, 14 linhas de atendimento. É a maior instalação de Selfcheckouts em um hipermercado em Portugal. Já no mercado mexicano, aumentamos nossa participação em instituições financeiras, com o fornecimento de estações de autoatendimento e ATMs.

57


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

SERVIÇOS O segmento de Serviços registrou receitas de R$ 203,6 milhões no semestre, valor 4,0% superior ao registrado no mesmo período do ano anterior. A área apresentou aumento de contribuição operacional, proporcionado principalmente pela venda de serviços de maior valor agregado nos setores de automação bancária e comercial. Destacamos ainda a adoção de sistemas automatizados para as equipes de campo, composta por mais de 2.000 técnicos, com introdução de PDAs integrados aos sistemas de controles operacionais, o que permitiu maior eficiência nos apontamentos das ocorrências e ordens de serviços e consequente incremento de nossa performance nas soluções ofertadas aos clientes. INFORMÁTICA A receita bruta da área de Informática atingiu R$ 353,0 milhões, valor 1,8% superior em relação ao 1º semestre de 2008, representando 38,0% da receita total consolidada. Foram comercializados no período 185,5 mil microcomputadores, volume 9,7% inferior ao mesmo período de 2008. As vendas de notebooks atingiram 89,6 mil unidades, apresentando crescimento de 5,6% em relação ao mesmo período do ano anterior. As novas linhas de notebooks, que tiveram o início de comercialização durante este período apresentaram boa aceitação pelo mercado, representando 63% das vendas no semestre. Esses lançamentos permitiram maior avanço junto às redes de varejo do país e a distribuidores voltados ao SMB (Small & Medium Business), garantindo maior capilaridade às vendas. OPERAÇÕES TALLARD As operações das subsidiárias Tallard foram as mais afetadas pelos efeitos da crise internacional. A receita em dólares apresentou uma redução de 7,5% no 1º semestre de 2009, quando comparada com a registrada no mesmo período do ano anterior, apesar de em reais apresentarem um crescimento de 24,2%, sendo essa distorção provocada pela variação das taxas de cambio entre os dois períodos. Merecem destaque a operação da Tallard Brasil, que obteve uma receita de R$ 42,0 milhões, com crescimento de 113,9% em relação ao mesmo período do ano anterior e as operações das subsidiárias Tallard no Chile e no Equador, que apresentaram crescimento da receita em dólares de 12,7% e 35,3%, respectivamente. SUSTENTABILIDADE Responsabilidade Socioambiental e Governança Corporativa Em abril, a Itautec lançou sua nova linha de servidores alinhados com as demandas ambientais e de TI verde. A redução no consumo de energia, aliada às políticas sustentáveis, oferecem ao mercado a mais completa linha de equipamentos livres de substâncias nocivas ao meio ambiente. Em maio, a Itautec divulgou ao mercado seu Relatório Anual e de Sustentabilidade de 2008, elaborado pelo segundo ano consecutivo de acordo com as diretrizes internacionais da Global Reporting Initiative (GRI), alinhando seu conteúdo às melhores práticas de Governança Corporativa.

58


AULA 4 - ÍNDICES DE LIQUIDEZ: LIQUIDEZ CORRENTE, CAPITAL CIRCULANTE, LIQUIDEZ SECA, LIQUIDEZ IMEDIATA E LIQUIDEZ GERAL

AÇÕES SOCIOEDUCACIONAIS A Itautec manteve o Programa de Visita à Fábrica cujo objetivo é apresentar o processo produtivo da empresa e a área de Gestão Ambiental aos alunos de escolas, universidades e cursos técnicos, para que possam consolidar e vivenciar os conhecimentos adquiridos em sala de aula. Em maio, a Fundação Abrinq renovou a certificação de Empresa Amiga da Criança da Itautec, por ter assumido os compromissos pela infância e adolescência brasileira, com ações voltadas ao combate do trabalho infantil, educação, saúde, direitos civis e investimento social. A Itautec é certificada desde 2004. A Superintendência Regional do Trabalho e Emprego da Bahia concedeu à Itautec um certificado de Empresa Cidadã, devido ao trabalho social de inserção de pessoas com deficiência e jovens aprendizes no mercado de trabalho. RECURSOS HUMANOS A Empresa encerrou o semestre com 5.814 funcionários diretos, sendo 404 alocados nas subsidiárias no exterior. A remuneração aos funcionários, acrescida dos encargos sociais obrigatórios, totalizou R$ 126,0 milhões. Foram destinados R$ 12,4 milhões para assistência médica e odontológica, alimentação, transporte e treinamento para desenvolvimento técnico e capacitação profissional aos funcionários e seus dependentes. AUDITORES INDEPENDENTES Nos termos da Instrução CVM 381/03, informamos que a empresa Pricewaterhouse Coopers Auditores Independentes não realizou às empresas do Grupo Itautec quaisquer serviços além daqueles relativos aos de auditoria. O relacionamento com a Empresa é balizado pelos princípios internacionais da independência, pelos quais o auditor não deve auditar seu próprio trabalho, não deve exercer funções gerenciais na Companhia, nem promover os interesses dela. AGRADECIMENTOS Agradecemos aos nossos funcionários pelo comprometimento e dedicação e aos acionistas, clientes e fornecedores pela confiança nos planos empreendidos pela Itautec. São Paulo, 10 de agosto de 2009. A Administração. Fonte: http://www.itautec.com.br/iPortal/pt-BR/7410c6ef-1257-4ae6-852d-55ceb5cfca93.htm?idConteudo=16725

LEITURA INDICADA Para enriquecimento do assunto, sugiro a leitura do capítulo 4 do livro abaixo: MARION, José Carlos. Análise das demonstrações contábeis: contabilidade empresarial. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

59


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

REFERÊNCIAS MARION, José Carlos. Análise das demonstrações contábeis: contabilidade empresarial. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2010. MORANTE. Antonio Salvador. Análise das demonstrações financeiras. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009. PADOVEZE, Clóvis Luís; BENEDICTO, Gideon Carvalho de. Análise das demonstrações financeiras. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004. SILVA, Alexandre Alcântara da. Estrutura e análise das demonstrações financeiras. São Paulo: Atlas, 2007.

60


AULA 5 Índices de Endividamento: Participação de Capitais de Terceiros Autora: Claudia Freire Olá, aluno(a)!

Nesta aula, vamos conhecer os Índices relacionados a endividamento, que são: Participação de Capitais de Terceiros sobre Recursos Totais ou Grau de Endividamento, Garantia do Capital Próprio ao Capital de Terceiros e Composição do Endividamento. Vamos lá?

Fonte: http://www.sxc.hu/photo/1030781


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Antes de iniciarmos a apresentação das definições, pergunto: sabemos o que é capital de terceiros? O conceito de endividamento dos particulares está normalmente associado aos compromissos de crédito assumidos junto a terceiros (pessoas físicas ou jurídicas, não relacionadas à empresa). Já o capital próprio corresponde ao capital da empresa, ao Patrimônio líquido, ao que chamamos de capital dos sócios. Então, vamos aos conceitos!

INDICADORES DE ENDIVIDAMENTO Segundo Padoveze e Benedicto (2004, p. 138-139): A finalidade básica desses indicadores é transformar em percentuais a participação dos valores dos principais grupos representativos do balanço patrimonial, bem como mensurar percentualmente sua relação com o capital próprio, representado pelo patrimônio líquido. Consegue-se, com isso, uma avaliação relativa que simplifica o entendimento geral desses elementos patrimoniais. De modo geral, esses indicadores mostram a porcentagem dos ativos financiada com capitais de terceiros e próprios ou se a empresa tem dependência de recursos terceiros.

Vale relembrar que o Ativo, que representa as aplicações de recursos de uma entidade, é financiado pelas origens de recursos, ou seja, pelo Passivo Circulante e pelo Passivo Não Circulante que são os Capitais de Terceiros da sociedade e pelo Patrimônio Líquido que é o Capital Próprio da entidade. Nesse contexto, os índices de endividamento informam se a empresa utiliza mais recursos de terceiros ou mais recursos dos sócios ou acionistas, e, ainda, apresentam uma análise dos recursos de terceiros, a partir do seu vencimento, isto é, o quanto de capital de curto prazo, Passivo Circulante e de Longo Prazo, Passivo Não Circulante, a entidade usa para financiar os seus ativos. Em uma análise pouco profunda, ressalta-se que pode ser mais interessante que a empresa trabalhe mais com Capital de Terceiros do que com Capital Próprio, principalmente quando a maior parte do Capital de Terceiros utilizado for composta de passivos não onerosos, isto é, capital de terceiros que não gerem encargos financeiros para a empresa, tais como: fornecedores, impostos, encargos sociais a pagar etc. Por outro lado, vale enfatizar que quando uma empresa possui capital de terceiros em demasia, se comparado ao capital próprio, ela se expõe a certo grau de vulnerabilidade. Mas, o que seria utilização em demasia? Caberá ao gestor de caixa verificar qual é a real capacidade de giro para a empresa. Tal avaliação irá variar de empresa para empresa. Para os casos em que a empresa adquire financiamentos junto a instituições financeiras e acarretará em custo financeiro (juros), é necessário observar qual é a destinação que foi ou será dada a este recurso, pois, normalmente, os financiamentos são tomados para dar suporte à expansão de uma empresa, seja no Ativo circulante, seja no permanente, ou ainda quando do início de uma atividade que poderá fazer com que a empresa atinja determinado nível operacional. As operações de financiamento devem ser economicamente viáveis. Os financiamentos sempre têm um prazo para serem amortizados. As prestações costumam ser mensais, semestrais ou anuais, podendo ou não incluir um período de carência. O que devemos esperar e avaliar, enquanto analistas, é que o financiamento seja paulatinamente amortizado, parte deste com o lucro gerado pelos investimentos e parte com o retorno de caixa obtido pela aplicação

62


AULA 5 - ÍNDICES DE ENDIVIDAMENTO: PARTICIPAÇÃO DE CAPITAIS DE TERCEIROS

do recurso, para o caso de não ser necessária a utilização imediata do recurso captado ou ainda pelo retorno de caixa obtido pelo não desembolso da depreciação lançada no custo ou despesa calculado sobre o bem adquirido, caso a destinação tenha sido a compra de um ativo fixo. Vejamos o exemplo extraído de Matarazzo (2010, p. 214). Suponhamos que a empresa adquira um equipamento que proporcione os seguintes resultados mensais: Receita

2.000,00

Despesas

1.600,00

Depreciação

200,00

Lucro

200,00

Neste caso, a empresa poderá assumir uma dívida cujas prestações mensais, incluídos juros e amortização, sejam de R$ 400,00 (que é a soma do lucro + depreciação), pelo prazo em que o equipamento é capaz de manter esta lucratividade. Para os casos em que a empresa adquire financiamentos, cuja destinação seja o ativo circulante, o processo será o mesmo. Porém, neste caso, sem considerar a depreciação, é claro. Deverá ser levado em consideração o risco de um investimento empresarial, ou seja, a incerteza da receita, das despesas e consequentemente, do lucro. Dante (2010) ressalta ainda que, antes de aplicar a fórmula citada no exemplo, deve-se verificar qual é a probabilidade de as receitas e despesas se comportarem conforme o esperado e as possíveis flutuações decorrentes de alterações conjunturais. Uma empresa nunca deverá assumir compromissos considerando o lucro máximo atingível em uma determinada operação, nem mesmo o lucro médio, e sim o mínimo atingível: trata-se do princípio da prudência aplicado na prática. Reparar nesses detalhes fará com que você, analista, possa extrair observações mais contundentes sobre as políticas de aquisição de financiamento das empresas e emitir opiniões mais embasadas na realidade da empresa. Então, vamos voltar aos nossos cálculos.

Fonte Clipart

63


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Para exemplificar, utilizaremos as informações hipotéticas das demonstrações contábeis da EMPRESA DE BADULAQUES LTDA., dos exercícios de 2007 e 2008. Mãos à obra! BALANÇO PATRIMONIAL ATIVO

2007

2008

CIRCULANTE

625.300

639.547

Disponível

41.200

53.332

Aplicações Financeiras

135.000

71.715

Clientes

250.500

258.900

Estoques

198.600

255.600

NÃO CIRCULANTE

733.900

828.400

Realizável a Longo Prazo

126.000

82.000

Investimentos

251.200

269.200

Imobilizado

356.700

477.200

TOTAL DO ATIVO

1.359.200

1.467.947

PASSIVO

2007

2008

CIRCULANTE

498.300

517.640

Fornecedores

186.000

249.500

Outras Obrigações

225.400

231.240

Empréstimos Bancários

86.900

36.900

NÃO CIRCULANTE

255.900

313.000

PATRIMÔNIO LÍQUIDO

605.000

637.307

Capital Social

500.000

500.000

Reservas de Lucros

105.000

137.307

TOTAL DO PASSIVO

1.359.200

1.467.947

2007

2008

RECEITA BRUTA DE VENDAS

1.576.000

1.896.000

Impostos sobre Vendas

-325.444

-391.524

RECEITA LÍQUIDA

1.250.556

1.504.476

Custo das Mercadorias Vendidas

-722.300

-846.000

LUCRO BRUTO

528.256

658.476

Despesas Operacionais

-420.400

-625.000

Outras Receitas Operacionais

5.720

36.400

Despesas Financeiras

-44.600

-26.800

LUCRO ANTES DO IR/ CSSL

68.976

43.076

IR e CSSL

-17.244

- 10.769

LUCRO LÍQUIDO

51.732

32.307

DEMONSTRATIVO DE RESULTADO (DRE)

64


AULA 5 - ÍNDICES DE ENDIVIDAMENTO: PARTICIPAÇÃO DE CAPITAIS DE TERCEIROS

Agora, de posse dos números que utilizaremos, iniciaremos a nossa teoria seguida das fórmulas e cálculos.

PARTICIPAÇÃO DE CAPITAIS DE TERCEIROS SOBRE RECURSOS TOTAIS (QUANTIDADE) OU GRAU DE ENDIVIDAMENTO Esse indicador relaciona o total dessas exigibilidades, capital de terceiros total, com o valor dos recursos totais da entidade, ou seja, indica a porcentagem dos ativos totais financiados com capitais de terceiros a curto e longo prazo. Vejamos. PARTICIPAÇÃO DE CAPITAIS DE TERCEIROS SOBRE RECURSOS TOTAIS

PC + PNC PC + PNC + PL

Em que: PC – Passivo Circulante PNC – Passivo não Circulante PL – Patrimônio Líquido Vamos calcular! EMPRESA DE BADULAQUES LTDA.

2007

2008

Passivo Circulante + Passivo Não Circulante

754.200,00

830.640,00

Recursos totais (PC + PNC + PL)

1.359.200,00

1.467.947,00

% Participação de Capitais de Terceiros sobre Recursos Totais

55,49%

56,59%

Interpretação Composição do endividamento: » » 2007 – 55,49% dos recursos totais da empresa (ativo total) são originários do capital de terceiros. » » 2008 – 56,59% dos recursos da empresa (ativo total) são originários do capital de terceiros. Houve um pequeno acréscimo no endividamento de 2008 em relação a 2007. O passivo circulante somado ao não circulante, que em 2007 somava R$ 754.200,00, em 2008 passou a somar R$ 830.640,00 e o Passivo circulante somado ao não circulante e ao PL saiu de R$ 1.359.200,00 para R$ 1.467.947,00 perfazendo, no montante, uma variação de 1,98 ponto percentual. Podemos dizer, entretanto, que neste ano, a proporção entre capital de terceiros e próprio permanece equilibrada, praticamente metade do capital investido corresponde a capital de terceiros e a outra metade corresponde a capital próprio.

GARANTIA DO CAPITAL PRÓPRIO AO CAPITAL DE TERCEIROS Segundo Padoveze e Benedicto (2004, p. 140):

65


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

O conceito básico que orienta esse indicador é verificar qual a possibilidade de que, no futuro, em uma condição teórica de descontinuidade das operações, a empresa tenha condições de garantir todas as suas dívidas com os próprios recursos. Como as dívidas estão contidas no passivo circulante e exigível a longo prazo, relaciona-se o total dessas exigibilidades com o valor total do patrimônio líquido, que representa os recursos próprios da empresa. Portanto, é um indicador que expressa a capacidade de a empresa garantir os capitais de terceiros.

Esse indicador relaciona o total dessas exigibilidades, capital de terceiros total, com o valor dos recursos totais próprios, ou seja, o valor total do Patrimônio Líquido. Vejamos a fórmula. GARANTIA DO CAPITAL PRÓPRIO AO CAPITAL DE TERCEIROS

PL PC + PNC

Em que: PL – Patrimônio Líquido PC – Passivo Circulante PNC – Passivo não circulante Calculando: EMPRESA DE BADULAQUES LTDA.

2007

2008

Recursos próprios ou Patrimônio Líquido

605.000,00

637.307,00

Passivo Circulante + Passivo Não Circulante

754.200,00

830.640,00

Garantia do Capital Próprio ao Capital de Terceiros

0,80

0,77

Interpretação

» » 2007 – para cada R$ 1,00 de capital de terceiros, há 0,80 de capital próprio como garantia. » » 2008 – a garantia ao capital de terceiros oferecida pelo capital próprio diminuiu para 0,77 em 2008. Para fins de análise, entendemos que a partir de 0,51 a empresa apresenta uma composição de endividamento aceitável. Porém, outros fatores, tais como: o valor do percentual deste índice em empresas do mesmo ramo de atividade, a necessidade ou não de mais capital de terceiros para que a empresa opere, se a empresa está em expansão ou desenvolvendo algum novo produto etc., tais fatores deverão ser observados para conclusão da análise.

COMPOSIÇÃO DO ENDIVIDAMENTO Na análise da composição do endividamento, deve-se se observar o seguinte: A empresa recorreu à dívida como um complemento dos capitais próprios para realizar aplicações produtivas em seu Ativo (ampliação, expansão, modernização etc.), fato que representará um endividamento sadio, ainda que, num dado momento, represente um valor mais elevado no

66


AULA 5 - ÍNDICES DE ENDIVIDAMENTO: PARTICIPAÇÃO DE CAPITAIS DE TERCEIROS

cálculo deste índice, considerando que as aplicações produtivas gerarão recursos para a quitação do compromisso assumido. Ou A empresa recorreu à dívida para pagar outras dívidas que estão vencendo, pois não está conseguindo gerar recursos para quitar seus compromissos. Essas entidades, às vezes, recorrem a empréstimos sucessivos, o que pode resultar num círculo vicioso, e ter como consequência a insolvência da empresa e até mesmo a falência. Segundo Silva (2007, p. 110): O estudo deste indicador nos permite visualizar o perfil da dívida da empresa. O alongamento do perfil da dívida pode ser explicado pela renegociação de dívidas antigas vencíveis no curto prazo ou pela contratação de novos empréstimos com prazos de vencimento mais dilatados. É importante que o analista identifique as causas determinantes das variações nestes indicadores, através da leitura do Relatório da Administração e das Notas Explicativas, bem como observe as variações ocorridas na estrutura do Ativo e Passivo Exigível, através da Análise Vertical.

É importante ressaltar que as dívidas de curto prazo precisam ser pagas com os recursos possuídos hoje, aqueles gerados a curto prazo. Já as dívidas de longo prazo têm como características a disponibilização de um tempo para a empresa gerar recursos para quitá-las. Logo, poderão ser quitadas mediante recursos gerados no futuro. Então, vamos à fórmula desse indicador. COMPOSIÇÃO DO ENDIVIDAMENTO

PC PC + PNC (capitais de terceiros)

Vamos conhecer a composição das dívidas da EMPRESA DE BADULAQUES LTDA.? Calculando: EMPRESA DE BADULAQUES LTDA.

2007

2008

Passivo Circulante

498.300,00

517.640,00

Passivo Circulante + Passivo Não Circulante

754.200,00

830.640,00

% Composição do Endividamento

66%

62%

Interpretação

» » 2007 – 66% do capital de terceiros está representado por dívidas de curto prazo. » » 2008 – 62% do capital de terceiros compõe-se de passivo circulante em 2008. De posse apenas deste número, o que podemos observar é que a empresa possui uma operação maior com dívidas de curto prazo. Essa situação, a princípio, é desfavorável, já que prejudica a sua liquidez corrente (situação financeira). Todavia, nota–se um esforço na tentativa de reversão deste quadro, já que houve uma melhora do exercício de 2007 para o exercício de 2008. Com isto, concluímos o nosso conteúdo sobre índices de endividamento. Até aqui vimos conceitos básicos para estruturação das demonstrações contábeis com base na atual legislação das S.A., os ajustes necessários às demonstrações contábeis a fim de adequá-las às nossas necessidades de 67


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

análise, indicadores de análise horizontal e vertical sobre balanços e demonstrativos de resultados, como calcular indicadores de liquidez (Geral, Corrente, Seca e Imediata), além desta nossa aula sobre composição de endividamento. Nas próximas aulas aprenderemos sobre: Rentabilidade, Atividade e Ebitda. Até a próxima!

SÍNTESE Nesta aula, conhecemos os Índices de Endividamento, Participação de Capitais de Terceiros sobre Recursos Totais, Garantia do Capital Próprio ao Capital de Terceiros, Composição do Endividamento, suas fórmulas de cálculo e sua importância para a gestão e manutenção dos negócios empresariais. Conhecemos, ainda, os conceitos sobre capital próprio e de terceiros, bem como as recomendações para sua utilização.

QUESTÕES PARA REFLEXÃO Estas questões foram extraídas do livro de Marion (2010). » » Quando uma empresa substitui dívidas de longo prazo por dívidas de curto prazo, o que acontece com o seu endividamento (quantidade e qualidade da dívida)? » » Quando pensamos em endividamento, é comum lembrarmos da afirmativa: “Dívida não se paga, administra-se”. Por favor, comente-a. » » Os Ativos da Cia. Exemplo, são financiados, em sua maior parte, por capitais de terceiros. É possível afirmar que a empresa está muito endividada e não conseguirá pagar suas dívidas no vencimento? Por quê? » » Por que é mais interessante trabalhar com capital de terceiros e não com capital próprio em períodos de inflação elevada? » » Caso você fosse obrigado a escolher apenas três índices para avaliar uma empresa, quais das opções abaixo julgaria mais convenientes? » » Liquidez seca, absoluta e participação de capital de terceiros. » » Rentabilidade, seca e liquidez absoluta. » » Participação do capital de terceiros, liquidez corrente e rentabilidade. » » Agora, como analista em formação, você deverá adquirir um diário oficial, extrair deste as demonstrações da empresa de sua preferência e calcular os seguintes índices: » » Participação do Capital de Terceiros; » » Garantia do Capital Próprio ao Capital de Terceiros; » » Composição do Endividamento.

68


AULA 5 - ÍNDICES DE ENDIVIDAMENTO: PARTICIPAÇÃO DE CAPITAIS DE TERCEIROS

LEITURA INDICADA Para enriquecimento do assunto, sugiro a leitura do capítulo 5 do livro a seguir: MARION, José Carlos. Análise das demonstrações contábeis: contabilidade empresarial. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

SITE INDICADO Caro aluno, veja no site a seguir o artigo Análise do comportamento dos capitais, disponível no link Artigos e classificado como assunto de Análise Contábil. http://www.lopesdesa.com.br

REFERÊNCIAS MARION, José Carlos. Análise das demonstrações contábeis: contabilidade empresarial. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2010. MATARAZZO, Dante Carmine. Análise Financeira de balanços. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010. PADOVEZE, Clóvis Luís; BENEDICTO, Gideon Carvalho de. Análise das demonstrações financeiras. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004. ILVA, Alexandre Alcântara da. Estrutura e análise das demonstrações financeiras. São Paulo: Atlas, 2007.

69



AULA 6 Índices de Rentabilidade: Retorno sobre Investimentos, Patrimônio LÍquido e Rentabilidade da Empresa X Rentabilidade do Empresário Autora: Claudia Freire

Caro aluno, vamos recomeçar! Nossa aula, agora, é sobre rentabilidade. Conheceremos aqui os indicadores de rentabilidade. Tais indicadores se desdobram em: Retorno sobre Investimentos, Retorno sobre o Patrimônio Líquido e Rentabilidade da empresa x Rentabilidade do empresário.

Fonte: http://www.sxc.hu/photo/1296734


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Devemos lembrar que todos os indicadores estudados, e os que iremos estudar, irão compor a sua opinião, hoje de estudante, amanhã de analista contábil, sobre as demonstrações oferecidas pelas empresas para fins de análise. Nenhum indicador deverá ser considerado isoladamente para a formação da sua opinião. Todos os indicadores que vimos até aqui se concentraram em abranger os aspectos financeiros na análise das empresas. Passaremos, portanto a apreciar os aspectos econômicos da análise empresarial. Assim sendo, atentaremos agora à geração dos resultados. Nossos cálculos serão realizados com base nas Demonstrações de Resultado - DRE. Bem, então vamos aos índices desta aula!

INDICADORES DE RENTABILIDADE Os Indicadores de Rentabilidade mostram a rentabilidade dos capitais investidos, ou seja, o quanto renderam os investimentos dos sócios ou acionistas, e o grau de êxito econômico da empresa. Segundo Silva (2007, p. 113): Todo empresário ou investidor espera que o capital investido seja adequadamente remunerado e, por outro lado, os financiadores ou fornecedores de capital desejam ter a certeza de que o financiado é capaz de gerar lucro suficiente para remunerar seus ativos e ainda honrar os financiamentos. [...] É possível avaliar o desempenho global de um empreendimento através do estudo das taxas de retorno. Esta análise busca a identificação do retorno sobre o investimento total, o retorno sobre as vendas e retorno sobre o capital próprio, portanto, uma avaliação não apenas da produtividade, mas, sobretudo, da lucratividade do negócio.

Para exemplificar todos os cálculos a serem realizados, utilizaremos as informações hipotéticas das demonstrações contábeis da EMPRESA DE BADULAQUES LTDA., dos exercícios de 2007 e 2008.

BALANÇO PATRIMONIAL

72

ATIVO

2007

2008

CIRCULANTE

625.300

639.547

Disponível

41.200

53.332

Aplicações Financeiras

135.000

71.715

Clientes

250.500

258.900

Estoques

198.600

255.600

NÃO CIRCULANTE

733.900

828.400

Realizável a longo Prazo

126.000

82.000

Empréstimos a Coligadas

126.000

82.000

Investimentos

251.200

269.200

Imobilizado

356.700

477.200

TOTAL DO ATIVO

1.359.200

1.467.947

PASSIVO

2007

2008


AULA 6 - ÍNDICES DE RENTABILIDADE: RETORNO SOBRE INVESTIMENTOS, PATRIMÔNIO LÍQUIDO E RENTABILIDADE DA EMPRESA X RENTABILIDADE DO EMPRESÁRIO

CIRCULANTE

498.300

517.640

Fornecedores

186.000

249.500

Outras Obrigações

225.400

231.240

Empréstimos Bancários

86.900

36.900

NÃO CIRCULANTE

255.900

313.000

PATRIMÔNIO LÍQUIDO

605.000

637.307

Capital Social

500.000

500.000

Reservas de Lucros

105.000

137.307

TOTAL DO PASSIVO

1.359.200

1.467.947

2007

2008

RECEITA BRUTA DE VENDAS

1.576.000

1.896.000

Impostos sobre Vendas

-325.444

-391.524

RECEITA LÍQUIDA

1.250.556

1.504.476

Custo das Mercadorias Vendidas

-722.300

-846.000

LUCRO BRUTO

528.256

658.476

Despesas Operacionais

-420.400

-625.000

Outras Receitas Operacionais

5.720

36.400

Despesas Financeiras

-44.600

-26.800

LUCRO ANTES DO IR/CSSL

68.976

43.076

IR e CSSL

-17.244

-10.769

LUCRO LÍQUIDO

51.732

32.307

DEMONSTRATIVO DE RESULTADO (DRE)

Após apresentar as demonstrações, poderemos iniciar o estudo da teoria, das fórmulas e dos cálculos. Vamos lá!

RETORNO SOBRE INVESTIMENTOS (TRI) OU RENTABILIDADE DO ATIVO Esse indicador pode ser denominado como Taxa de Retorno sobre o Ativo Total (ROA – Return on Total Assets) ou Taxa de Retorno sobre Investimentos (ROI – Return on Investment) e demonstra o ganho da empresa.

Fonte: Clipart

73


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

De acordo com Silva (2007, p. 115): Esse indicador tem por objetivo medir a EFICIÊNCIA global da alta direção da empresa na geração de lucros com seus investimentos totais. Não havendo variações significativas nos saldos dos Ativos, o analista poderá optar por mediar a relação direta entre o Lucro Líquido do Exercício e o saldo do Ativo. Caso contrário, utiliza-se o Ativo Médio, que é obtido pela soma do Ativo Total do ano anterior com o Ativo Total do ano em curso, dividido por dois..

Vejamos a fórmula: RENTABILIDADE DO ATIVO

Lucro Líquido Ativo Total ou Ativo Médio

Em que: Lucro Líquido – Lucro demonstrado na DRE Ativo Total – Ativo total apresentado no Balanço Patrimonial Interpretação Indica quanto a empresa obterá de retorno para cada 100,00 de investimento total. Quanto maior, melhor. Vamos calcular. EMPRESA DE BADULAQUES LTDA.

2007

2008

Lucro Líquido

51.732,00

32.307,00

Ativo Total

1.359.200,00

1.467.947,00

% Rentabilidade do Ativo

3,80%

2,20%

Interpretação » » 2007 – para cada R$ 1,00 investido, há um ganho de R$ 0,04. » » 2008 – para cada R$ 1,00 investido, há um ganho de R$ 0,02. Pode-se observar que houve um pequeno decréscimo em termos de rentabilidade do Ativo de 2007 para 2008. Esse fato demonstra que, em média, em relação ao ano de 2007, haverá uma demora de 26 anos para que a empresa obtenha de volta todo o seu investimento (100 divido por 3,8), e em 2008, em média, haverá uma demora de 45 anos para que a empresa obtenha de volta todo o seu investimento (100 dividido por 2,2), caso consideremos apenas os anos em referência. Através do cálculo deste índice, poderemos extrair o payback do investimento total. Payback é uma expressão inglesa que significa tempo em que um determinado investimento levará para começar a dar retorno. Portanto, estamos calculando o tempo médio de retorno de um determinado investimento. Após calcular a rentabilidade, poderemos calcular o payback, que nada mais é do que dividir 100 pela taxa de retorno do investimento.

74


AULA 6 - ÍNDICES DE RENTABILIDADE: RETORNO SOBRE INVESTIMENTOS, PATRIMÔNIO LÍQUIDO E RENTABILIDADE DA EMPRESA X RENTABILIDADE DO EMPRESÁRIO

TAXA DE RETORNO SOBRE O PATRIMÔNIO LIQUIDO Esse indicador denominado como Taxa de Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE - Return on Equity) demonstra o retorno dos sócios ou acionistas da empresa, ou seja, o ganho dos empresários em relação aos seus investimentos na entidade, evidenciando o risco do negócio e permitindo uma comparação com a taxa média de juros do mercado. Vamos ao cálculo. Lucro Líquido

RETORNO SOBRE O PATRIMÔNIO LÍQUIDO

Patrimônio Líquido

Em que: Lucro Líquido – demonstrado na DRE Patrimônio Líquido – extraído do balanço patrimonial Interpretação Indica quanto a empresa obterá de retorno para cada 100,00 de investimento total. Quanto maior, melhor. Vamos calcular. EMPRESA DE BADULAQUES LTDA.

2007

2008

Lucro Líquido

51.732,00

32.307,00

Patrimônio Líquido

605.000,00

637.307,00

% sobre o Patrimônio Líquido

8,55%

5,07%

Interpretação: » » 2007 – para cada R$ 1,00 investido há um ganho de R$ 0,08; » » 2008 – para cada R$ 1,00 investido, há um ganho de R$ 0,05. » » Considerando os cálculos da rentabilidade do Patrimônio Líquido de 2008, observa-se que houve um decréscimo 8,55% para 5,07%. Nesse contexto, temos que, em média, demorará 12 anos para que os proprietários recuperem seu investimento (100% / 8,5%) em 2007, e em 2008, 20 anos, ou seja, esse é o payback dos proprietários.

RENTABILIDADE DA EMPRESA X RENTABILIDADE DO EMPRESÁRIO (ROI X ROE) Vamos comparar os resultados a partir do cálculo da TRI ou Taxa de Retorno sobre o Ativo, que apresenta o retorno sobre o investimento total da empresa, e a TRPL, Taxa de retorno sobre Patrimônio Líquido, que demonstra o retorno sobre o capital investido pelos proprietários, ou seja: TRI = Lucro Líquido / Ativo

X

TRPL = Lucro Líquido / Patrimônio Líquido

A rentabilidade é medida em função dos investimentos das entidades, e as fontes de financiamento do Ativo são o Capital Próprio e o Capital de Terceiros. Nesse contexto, a administração apropriada e devidamente planejada do Ativo pode proporcionar um maior retorno para a entidade.

75


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Observando por outro aspecto, os acionistas e sócios das empresas precisam saber o quanto o retorno do lucro líquido representa em relação ao capital que eles investiram. É possível que estas duas formas de medir a rentabilidade pareçam a mesma coisa, sem trazer grande contribuição para a tomada de decisão. Neste contexto, é importante ficar claro que são cálculos vistos sobre óticas diferentes. No primeiro cálculo, trata-se da análise enquanto empresa. Já no segundo caso, a ótica é o retorno segundo o investidor (sócio ou acionista). Vejamos a seguir, como estão os cálculos da EMPRESA DE BADULAQUES LTDA.: EMPRESA DE BADULAQUES LTDA.

2007

2008

Lucro Líquido

51.732,00

32.307,00

Ativo Total

1.359.200,00

1.467.947,00

% Rentabilidade do Ativo

3,80%

2,20%

EMPRESA DE BADULAQUES LTDA.

2007

2008

Lucro Líquido

51.732,00

32.307,00

Patrimônio Líquido

605.000,00

637.307,00

% Sobre o Patrimônio Líquido

8,50%

5,00%

Considerando os resultados da EMPRESA DE BADULAQUES LTDA., observa-se que os resultados se apresentam melhores para os sócios se comparados com os resultados do administrador, ou seja, essa empresa apresenta uma melhor lucratividade para os seus sócios. Essa análise é importante para o planejamento dos negócios empresariais, por exemplo, para a hipótese de a empresa buscar junto a um Banco no mercado um empréstimo. Neste caso, o contador poderá elaborar diversas simulações ao admitir que a empresa concretize essa operação de empréstimo, pressupondo todas as alternativas de utilização dos recursos para aplicação no Ativo Circulante ou Não Circulante, e o acréscimo de lucro por ele proporcionado. A partir das simulações realizadas, é possível verificar como ficariam os novos resultados para o administrador e para os sócios da entidade, ressaltando que é importante uma nova análise dos indicadores de liquidez e endividamento, averiguando se os números pioram ou melhoram do ponto de vista de cada um.

SÍNTESE Conhecemos, nesta aula, os índices de rentabilidade: Retorno sobre Investimentos, Retorno sobre o Patrimônio Liquido, cruzamos os resultados da Rentabilidade da empresa e da Rentabilidade do empresário, observamos suas fórmulas de cálculo e sua importância para o planejamento dos negócios empresariais e para a elaboração de orçamentos e simulações. Veremos nas próximas aulas índices de Atividade e Ebitda. Desenvolva agora as questões de reflexão formuladas. Bons estudos!

76


AULA 6 - ÍNDICES DE RENTABILIDADE: RETORNO SOBRE INVESTIMENTOS, PATRIMÔNIO LÍQUIDO E RENTABILIDADE DA EMPRESA X RENTABILIDADE DO EMPRESÁRIO

QUESTÕES PARA CÁLCULO E REFLEXÃO Estas questões foram extraídas do livro de José Carlos Marion (2010, p. 135-136). 1) A Cia Comercial obteve um lucro de $ 700.000 durante o ano de 2013. No mesmo período a Cia Sucesso obteve um lucro de $ 1.500.000,00. Com base nestas informações, podemos dizer e até mesmo afirmar que a Cia Sucesso obteve maior retorno que a Cia Comercial? Por quê? 2) Uma empresa pode melhorar o seu desempenho por meio da análise de retorno sobre o investimento? Justifique. 3) A taxa de retorno de um dado investimento é de 14,30% ao ano. Desconsiderando quaisquer tipos de variação do capital no tempo ou taxas de juros, podemos dizer que o período de payback deste é de: a) 5 anos. b) 6 anos. c) 9 anos. d) 7 anos. e) 11 anos. 4) O Quociente de retorno sobre o Patrimônio Líquido é dado pela fórmula: a) Patrimônio Líquido médio / Lucro Líquido. b) Patrimônio Líquido médio / Lucro Operacional. c) Lucro Líquido / Patrimônio líquido médio. d) Lucro Operacional / Patrimônio líquido. 5) Qual é a taxa de TRI e a TRLP da Cia Excursão, sabendo que: LL - $ 250.000 AT - $ 3.000.000 PL – 1.650.000 a) 6% e 9% b) 8% e 15% c) 10% e 18% d) N.D.A Leia o texto abaixo que trata das operações financeiras e do resultado apurado pela empresa Sadia S.A. em 2008. Sadia: gigante dos alimentos ou das finanças? A Sadia, empresa de alimentos conhecida mundialmente, ganhou mais dinheiro com operações financeiras do que com a venda de seus produtos nos últimos seis anos. Foi o que afirmou à jornalista da Folha de S. Paulo, Sandra Barbieri, o ex-diretor financeiro da companhia, Adriano Ferreira, em entrevista nesta quinta-feira. Ele será processado pela Sadia pelo primeiro prejuízo líquido de 64 anos de história: 2,5 bilhões de reais. Ferreira afirma que leva a culpa para que outros administradores sejam isentos. Segundo ele, a empresa estava ciente de todas as operações e sempre teve vocação financeira, até porque tem uma corretora de valores e uma tesouraria típica. Nos últimos seis anos, as operações financeiras teriam sido

77


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

responsáveis por 60% dos resultados da empresa. O prejuízo realizado em 2008 é resultado de uma operação com derivativos de câmbio. A Sadia fazia investimentos em reais, mas a maior parte da receita ligada à produção vinha das exportações, ou seja, em dólares. Assim, era natural que ela garantisse uma proteção contra a desvalorização do dólar (veja a explicação sobre mercados futuros). Essas operações, entretanto, quando feitas por segurança, garantem que não haverá prejuízo. Em caso de desvalorização do real, a empresa teria que pagar pelos contratos futuros, mas a diferença seria recompensada pelos seus ganhos na atividade produtiva: o dólar valorizado permitiria mais ganhos com a exportação. Como explicar que uma empresa exportadora, com receitas em dólar, perca tanto quando o dólar se valoriza? Pela especulação exagerada. A Sadia passou, e muito, da quantidade de contratos que garantiriam a proteção às receitas de exportação. Nos outros contratos, ela simplesmente apostava na valorização do real. Quando o real começou a cair, no último trimestre de 2008, ela teve que pagar por isso. E como a atividade não financeira, a produção, já tinha ficado em segundo plano, as receitas com exportação não foram suficientes para cobrir as despesas financeiras. Segundo Ferreira, a Sadia só teve lucros em alguns anos por causa da área financeira e, até o primeiro semestre de 2008, 80% dos lucros vieram dessas operações específicas. Os resultados da empresa mostram os riscos da financeirização excessiva e do descolamento entre ela e a atividade produtiva. Fonte: SEABRA, Luciana. Sadia: gigante dos alimentos ou das finanças? Economia Clara, 10 maio 2009. Disponível em: <http://economiaclara.wordpress.com/2009/04/10/sadia-gigante-dos-alimentos-ou-das-financas>. Acesso em: 14 jun. 2009.

LEITURA INDICADA Veja, no site a seguir, texto que apresenta mais informações sobre questões relacionadas à empresa Sadia S.A. http://portalexame.abril.com.br/financas/m0168377.html

SITE INDICADO Caro aluno, veja no site seguinte o artigo Influências externas movem os capitais, que está no link Artigos e classificado como assunto de Economia. http://www.lopesdesa.com.br

REFERÊNCIAS MARION, José Carlos. Análise das demonstrações contábeis: contabilidade empresarial. 6. ed. São Paulo: Atlas 2010.

78


AULA 6 - ÍNDICES DE RENTABILIDADE: RETORNO SOBRE INVESTIMENTOS, PATRIMÔNIO LÍQUIDO E RENTABILIDADE DA EMPRESA X RENTABILIDADE DO EMPRESÁRIO

MORANTE, Antonio Salvador. Análise das demonstrações financeiras. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009. PADOVEZE, Clóvis Luís; BENEDICTO, Gideon Carvalho de. Análise das demonstrações financeiras. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004. SILVA, Alexandre Alcântara da. Estrutura e análise das demonstrações financeiras. São Paulo: Atlas, 2007.

79



AULA 7 Índices de Atividade: Prazo Médio de Recebimento de Vendas, Prazo Médio de Pagamento de Compras, Prazo Médio de Renovação de Estoques Autora: Claudia Freire

Fonte: http://www.sxc.hu/photo/1212912


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Prezado aluno, Nesta aula, apreciaremos os índices de Atividade. Estes índices são utilizados para mensurar o tempo em que as atividades da empresa são desenvolvidas. São eles: Prazo Médio de Recebimento de Vendas (PMRV), Prazo Médio de Pagamento de Compras (PMPC); Prazo Médio de Renovação de Estoques (PMRE). A mensuração destes prazos é de fundamental importância no controle e gestão dos negócios e refletem a cultura da empresa, dentro do seu ramo de atividade. Então, vamos começar!

INDICADORES DE ATIVIDADE A análise dos indicadores de atividade ou dos ciclos financeiros, operacionais e econômicos reflete o número de dias em que a empresa levará, em média, para receber suas vendas, pagar suas compras e para renovar seus estoques. A observação destes indicadores terá influência direta na administração do caixa financeiro. Devemos pensar que os pagamentos da empresa não deverão ser anteriores ao efetivo recebimento de suas faturas. A não observação dos prazos de pagamento poderá acarretar na descapitalização ou na tomada de recursos junto a instituições financeiras para capital de giro. Tal medida expõe a empresa a custos financeiros (juros, taxas) ou ainda ao não recebimento de receita financeira por deixar de aplicar recursos próprios. Nesse contexto, para fins de análise, quanto maior for a velocidade de recebimento de vendas de renovação de estoque, melhor. Por outro lado, quanto mais lento for o pagamento das compras, desde que dentro do prazo acordado para vencimento, melhor será para a empresa. Esse é “o melhor dos mundos”: trabalhar com capital de terceiros desonerado. Teremos, portanto, três ciclos a serem observados, que são: » » Ciclo econômico – corresponde o tempo em que a mercadoria permanece em estoque. Vai desde a aquisição do produto, até a venda; » » Ciclo operacional – compreende o período entre a data da compra da mercadoria, matériaprima, até o efetivo recebimento por parte do cliente. Caso a empresa trabalhe somente com vendas à vista, o ciclo operacional será igual ao econômico; » » Ciclo financeiro ou ciclo de caixa – é o tempo compreendido entre o pagamento a fornecedores e o recebimento das vendas. Quanto maior o poder de negociação da empresa junto a fornecedores, menor será o seu ciclo financeiro. Representação gráfica dos ciclos.

82


AULA 7 - ÍNDICES DE ATIVIDADE: PRAZO MÉDIO DE RECEBIMENTO DE VENDAS, PRAZO MÉDIO DE PAGAMENTO DE COMPRAS, PRAZO MÉDIO DE RENOVAÇÃO DE ESTOQUES

Compra Aquisição

Pagamento

Venda

Pagamento

Recebimento

Matéria-prima

Fornecedores

Bx de estoque

Fornecedores X

Encaixe Monetário

CICLO ECONÔMICO

CICLO OPERACIONAL

CICLO FINANCEIRO Fonte: A autora

Veremos cada um destes ciclos mais detalhadamente, com suas respectivas fórmulas e cálculos no decorrer da aula. Para exemplificar todos os cálculos a serem realizados, utilizaremos as mesmas informações hipotéticas utilizadas previamente, a saber, as demonstrações contábeis da EMPRESA DE BADULAQUES LTDA, dos exercícios de 2007 e 2008, os quais estamos utilizando desde o início da nossa matéria. Adicionaremos, ainda, as informações descritas a seguir: CONTAS

2007

2008

Estoque Inicial

162.500,00

198.600,00

Compras

758.400,00

903.000,00

Vendas

1.576.000,00

1.896.000,00

Clientes

250.500,00

258.900,00

Estoque Final

198.600,00

255.600,00

Fornecedores

186.000,00

249.500,00

Custo das Mercadorias Vendidas

722.300,00

846.000,00

As compras dos exercícios de 2007 e 2008 foram obtidas a partir da equação abaixo. Lembro que esta fórmula é padrão para cálculo das compras realizadas na composição do estoque: Compras = CMV + Estoque Final – Estoque Inicial Balanço Patrimonial ATIVO

2007

2008

CIRCULANTE

625.300

639.547

Disponível

41.200

53.332

Aplicações Financeiras

135.000

71.715

Clientes

250.500

258.900

Estoques

198.600

255.600

83


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

NÃO CIRCULANTE

733.900

828.400

Realizável a Longo Prazo

126.000

82.000

Investimentos

251.200

269.200

Imobilizado

356.700

477.200

TOTAL DO ATIVO

1.359.200

1.467.947

PASSIVO

2007

2008

CIRCULANTE

498.300

517.640

Fornecedores

186.000

249.500

Outras Obrigações

225.400

231.240

Empréstimos Bancários

86.900

36.900

NÃO CIRCULANTE

255.900

313.000

PATRIMÔNIO LÍQUIDO

605.000

637.307

Capital Social

500.000

500.000

Reservas de Lucros

105.000

137.307

TOTAL DO PASSIVO

1.359.200

1.467.947

2007

2008

RECEITA BRUTA DE VENDAS

1.576.000

1.896.000

Impostos sobre Vendas

-325.444

-391.524

RECEITA LÍQUIDA

1.250.556

1.504.476

Custo das Mercadorias Vendidas

-722.300

-846.000

LUCRO BRUTO

528.256

658.476

Despesas Operacionais

-420.400

-625.000

Outras Receitas Operacionais

5.720

36.400

Despesas Financeiras

-44.600

-26.800

LUCRO ANTES DO IR/ CSSL

68.976

43.076

IR e CSSL

-17.244

-10.769

LUCRO LÍQUIDO

51.732

32.307

Demonstrativo de Resultado (DRE)

De posse das informações necessárias, iniciaremos com a teoria sobre o Ciclo Operacional.

CICLO OPERACIONAL Segundo Silva (2007, p. 99): Cada empresa tem seu Ciclo Operacional próprio, o período de tempo necessário para a aquisição de mercadorias ou matéria-prima, estocagem, produção, distribuição e recebimento do valor correspondente às suas vendas.

84


AULA 7 - ÍNDICES DE ATIVIDADE: PRAZO MÉDIO DE RECEBIMENTO DE VENDAS, PRAZO MÉDIO DE PAGAMENTO DE COMPRAS, PRAZO MÉDIO DE RENOVAÇÃO DE ESTOQUES

O ciclo operacional compreende todas as fases operacionais de uma entidade, ou seja, todas as ações indispensáveis para gestão da atividade da empresa, desde a aquisição de matérias-primas para a produção de seus bens até o recebimento das vendas por parte dos seus clientes. Alguns gestores, erroneamente e por estarem direcionados à operação, acreditam que o ciclo operacional de uma empresa se encerra com a venda e não com o seu recebimento. Tal concepção poderá trazer graves consequências ou até mesmo comprometer a continuidade da entidade. Efetuar vendas para clientes que oferecem riscos de pagamento, ou ainda, efetivamente não pagam, é assumir um risco. Sairá mais caro para a empresa vender a um mau pagador em potencial do que não concretizar o ato da venda.

Fonte: Clipart

CICLO ECONÔMICO De acordo com Padoveze (2004, p. 153): Caracteriza-se pelo processo de consumo de recurso, produção e entrega do produto ou serviço. Em cada um dos momentos do ciclo econômico há possibilidade e necessidade de mensuração dos eventos. Assim, há a necessidade de mensuração do custo do consumo e estocagem dos recursos, do evento da produção e estocagem dos produtos finais, bem como do valor da venda.

O ciclo econômico compreende todo tempo necessário em que a mercadoria permanece em estoque, ou seja, começa na aquisição de matérias-primas e vai até a realização da venda dos produtos; caso as vendas ocorram à vista, o ciclo econômico será igual ao ciclo operacional.

CICLO FINANCEIRO Ainda, conforme Padoveze (2004, p. 153): O ciclo financeiro normalmente é diferente do ciclo econômico, pois os momentos de pagamentos e recebimentos dos valores dos eventos econômicos são normalmente prolongados por prazos de pagamento e recebimento. Os prazos de pagamentos e recebimentos, além das condições normais de crédito oferecidas pelas empresas, são utilizados pela necessidade física de se operacionalizar a efetivação financeira das transações. As empresas necessitam de um tempo mínimo para, após o recebimento do produto ou serviço, providenciarem o seu pagamento.

85


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Fonte: Clipart

O ciclo financeiro, que pode também ser denominado como Ciclo de caixa, é o tempo compreendido entre o pagamento das compras aos fornecedores e o recebimento das vendas dos clientes. Nesse contexto, quanto maior for o poder de negociação da entidade com os fornecedores, menor será o ciclo financeiro.

CÁLCULOS – VALORES MÉDIOS Para o cálculo dos indicadores de atividade, é importante observar o seguinte: » » o saldo no final do período da conta de Duplicatas a Receber está representado por uma parcela do total das vendas realizadas no final do período analisado, porém, é importante atentar para o fato de que no total das receitas de vendas estão acumuladas todas as vendas do período, e não só do final do exercício. Nessa hipótese, estaríamos limitando a qualidade do indicador ao compararmos o valor das duplicatas do final do período com o valor das vendas acumuladas de todo um período, em função das distorções causadas por uma inflação e das variações das receitas de vendas; » » nesse contexto, com o objetivo de melhorar a representatividade da conta de Duplicatas a Receber, recomenda-se que se utilizem valores médios da conta de Duplicatas a Receber apenas quando houver inflação alta ou oscilações relevantes de valores das receitas de vendas; » » para a hipótese de a empresa apresentar vendas e compras regulares, ou seja, valores uniformes durante o período, considerando uma economia com baixa inflação, é admissível trabalhar com os valores finais das contas de Estoques, Duplicatas a Receber e Compras; » » em nossos cálculos, consideraremos que a empresa citada apresenta valores de vendas e compras uniformes durante o ano, e trabalha em uma economia com baixa inflação.

PRAZO MÉDIO DE RECEBIMENTO DE VENDAS (PMRV) O indicador Prazo Médio de Recebimento de Vendas (PMRV) objetiva mostrar quantos dias, em média, uma entidade leva para receber suas vendas. Nesse contexto, quanto maior for o prazo de recebimento das vendas, pior será para empresas, mas devemos analisar o resultado do cálculo de todos os índices de uma forma conjunta, ou seja, o prazo médio de recebimento de vendas, o prazo médio de pagamento de compras e o prazo médio de rotação dos estoques. 86


AULA 7 - ÍNDICES DE ATIVIDADE: PRAZO MÉDIO DE RECEBIMENTO DE VENDAS, PRAZO MÉDIO DE PAGAMENTO DE COMPRAS, PRAZO MÉDIO DE RENOVAÇÃO DE ESTOQUES

Vejamos a fórmula. PRAZO MÉDIO DE RECEBIMENTO DE VENDAS - PMRV

360 dias x Duplicatas a Receber (Clientes) Vendas Brutas

Vamos calcular. EMPRESA DE BADULAQUES LTDA.

CÁLCULO

RESULTADO

360 x 250.500,00 2007

1.576.000,00

57 dias

360 x 258.900,00 2008

1.896.000,00

49 dias

Interpretação » » 2007 – a empresa espera em média 57 dias para receber as suas receitas de vendas. » » 2008 – nesse ano, a empresa recebe suas vendas em 49 dias, em média. Houve uma diminuição do prazo de recebimento das vendas de 2007 para 2008, de 57 para 49 dias.

PRAZO MÉDIO DE PAGAMENTO DE COMPRAS (PMPC) O indicador Prazo Médio de Pagamento de Compras (PMPC) tem como objetivo mostrar quantos dias, em média, uma entidade leva para pagar suas compras. Nesse caso, é importante que o prazo médio de pagamento das compras seja superior aos prazos médios de recebimentos de clientes para uma melhor gestão do fluxo de caixa da entidade, o que possibilita um indicador de liquidez razoável. Relembrando: para se calcular o valor total das compras do período em análise, consideramos a seguinte fórmula: Compras = CMV + Estoque Final – Estoque Inicial

Vejamos a fórmula do indicador Prazo Médio de Pagamento de Compras (PMPC). PRAZO MÉDIO DE PAGAMENTO DE COMPRAS (PMPC)

360 dias x Fornecedores Compras

Vamos calcular... EMPRESA DE BADULAQUES LTDA.

CÁLCULO

RESULTADO

360 x 186.000,00 2007

758.400,00

88 dias

360 x 249.500,00 2008

903.000,00

99 dias

87


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Interpretação » » 2007 – a empresa espera em média 88 dias para pagar as suas compras. » » 2008 – nesse ano, a empresa pagou as suas compras em 99 dias, em média. Aconteceu uma negociação para aumento do prazo de pagamento das compras de 2007 para 2008. Saíram de 88 dias para 99 dias.

PRAZO MÉDIO DE ROTAÇÃO OU RENOVAÇÃO DOS ESTOQUES (PMRE) O indicador Prazo Médio de Rotação dos Estoques (PMRE) tem a finalidade de mostrar quantos dias, em média, as mercadorias ou produtos acabados permaneceram em estoque na empresa antes da realização da sua venda. Nesse caso, é importante ressaltar que se o estoque girar em um número menor de dias, será melhor para a entidade, considerando que esse fato pode ser consequência de um alto grau de comercialização das mercadorias ou produtos da entidade, em função do aumento da demanda ou uma melhor inserção desses bens no mercado. Vejamos a fórmula. PRAZO MÉDIO DE RENOVAÇÃO DE ESTOQUES - PMRE

360 dias x Estoques C.M.V.

Vamos calcular. EMPRESA DE BADULAQUES LTDA.

CÁLCULO

RESULTADO

360 x 198.600,00 2007

722.300,00

98 dias

360 x 255.600,00 2008

846.000,00

108 dias

Interpretação: » » 2007 – os estoques da empresa ficam estocados, em média, 98 dias. » » 2008 – nesse ano, a empresa estocou seus bens, em média, por 108 dias. Nesse caso, houve um aumento de 2007 para 2008 em termos de estocagem dos bens da entidade.

Fonte Clipart

88


AULA 7 - ÍNDICES DE ATIVIDADE: PRAZO MÉDIO DE RECEBIMENTO DE VENDAS, PRAZO MÉDIO DE PAGAMENTO DE COMPRAS, PRAZO MÉDIO DE RENOVAÇÃO DE ESTOQUES

INDICADORES DE ATIVIDADE X CICLO OPERACIONAL Após calcular os indicadores de atividade, é importante ressaltar alguns aspectos: » » a soma dos resultados dos indicadores de Prazo Médio de Recebimento de Vendas (PMRV) e de Prazo Médio de Renovação de Estoques (PMRE) aproxima-se bastante do Ciclo Operacional da entidade, considerando que se avalia, em média, quantos dias os estoques levam para serem vendidos, e os somamos ao prazo de recebimento das vendas. Nesse contexto, seria adequado para a empresa que a soma dos resultados dos indicadores de Prazo Médio de Recebimento de Vendas (PMRV) e de Prazo Médio de Renovação de Estoques (PMRE) fosse igual ou menor que o resultado do indicador de Prazo Médio de Pagamento de Compras. O ideal seria que esse índice apresentasse um resultado que se aproximasse de 1, ou de valor inferior a 1. Vejamos a fórmula. PMRE + PMRV PMPC

Vamos calcular. EMPRESA DE BADULAQUES LTDA.

CÁLCULO

RESULTADO

98 + 57 2007

88

1,7 dias

98 + 49 2008

99

1,4 dias

Interpretação » » 2007 – a empresa demora em vender, PMRE, e para receber as suas vendas, PMRV, leva 155 dias (98 + 57), mas paga as suas compras em 88 dias. » » 2008 – nesse ano, essa média baixou para 147 dias, e o prazo de pagamento de suas compras foi de 99 dias. A partir dos resultados (1,7 dias para 2007 e 1,4 dias para 2008) da EMPRESA DE BADULAQUES LTDA., maior que 1, observa-se que o recebimento do valor das vendas ocorre somente depois de efetuado o pagamento das compras de bens, fato que tem como consequência a necessidade de recursos de terceiros com encargos financeiros, com o objetivo de equilibrar o fluxo de caixa, proporcionando um comprometimento dos resultados dos indicadores de rentabilidade.

AVALIAÇÃO DOS INDICADORES Para uma análise criteriosa, entre outros aspectos, é importante verificar a situação financeira, o endividamento, a atividade e a rentabilidade de uma entidade, considerando que ela pode apresentar uma situação financeira de curto prazo satisfatória, um endividamento relativamente alto ou não, mas poderá ter uma posição de rentabilidade desfavorável, isto é, não apresentar um

89


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

índice de rentabilidade satisfatório para a sua atividade. Desta forma, ressalta-se a necessidade de uma análise conjunta dos índices. O nosso conteúdo nesta aula foi de grande importância no tocante à análise da atividade nas empresas. Devemos sempre lembrar que cada ramo de atividade apresentará indicadores distintos. As divergências virão em função das necessidades das operações que serão diferentes. Na próxima aula falaremos sobre o Ebitda e sua importância na análise financeira das empresas. Até a próxima e última aula!

SÍNTESE Nessa aula, conhecemos os Índices de Atividade: Prazo Médio de Recebimento de Vendas (PMRV); Prazo Médio de Pagamento de Compras (PMPC); Prazo Médio de Renovação de Estoques (PMRE); e Ciclo operacional, Econômico e Financeiro, observamos suas fórmulas de cálculo e sua importância para a elaboração de orçamentos e fluxos de caixa e para a gestão dos negócios.

QUESTÕES PARA REFLEXÃO » » Como você avalia a importância do cálculo e da análise dos indicadores que demonstram a situação financeira, o endividamento, a atividade e a rentabilidade de uma empresa para a administração dos negócios empresariais? » » Como você acha que podemos nos utilizar dos índices de atividade para analisar a situação financeira das empresas? » » Analise a afirmativa: “Os índices de atividade evidenciam os prazos necessários para que os itens do Ativo se renovem e para que possamos analisar o ciclo operacional e o ciclo financeiro”. » » Qual é a relação existente entre ciclo operacional e ciclo econômico? Eles podem ser iguais? Quando?

LEITURA INDICADA Para enriquecimento do assunto, sugiro a leitura do capítulo 12 do livro: SILVA, Alexandre Alcântara da. Estrutura e análise das demonstrações financeiras. São Paulo: Atlas, 2007.

SITE INDICADO Vamos ler e refletir sobre as informações constantes do link a seguir, que apresenta o resultado dos indicadores da Itautec S.A. dos últimos anos: http://www.itautec.com.br/iPortal/pt-BR/9e42a403-5b46-493d-a2d6-dcb58ada7367.htm

90


AULA 7 - ÍNDICES DE ATIVIDADE: PRAZO MÉDIO DE RECEBIMENTO DE VENDAS, PRAZO MÉDIO DE PAGAMENTO DE COMPRAS, PRAZO MÉDIO DE RENOVAÇÃO DE ESTOQUES

REFERÊNCIAS MARION, José Carlos. Análise das demonstrações contábeis: contabilidade empresarial. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2010. MORANTE, Antonio Salvador. Análise das demonstrações financeiras. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009. PADOVEZE, Clóvis Luís; BENEDICTO, Gideon Carvalho de. Análise das demonstrações financeiras. 1. ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004. SILVA, Alexandre Alcântara da. Estrutura e análise das demonstrações financeiras. São Paulo: Atlas, 2007.

91



AULA 8 EBITDA e EVA: Conceito, Limitações e Utilização como Instrumento de Análise Autora: Claudia Freire

Prezado aluno, Nesta nossa última aula da disciplina, conheceremos os indicadores Ebitda e EVA, seus conceitos e de que forma podem ser utilizados como instrumentos para a análise dos negócios empresariais. O indicador Ebitda é largamente utilizado nas apresentações de resultado empresarial. Já o EVA exige que o usuário da informação possua um pouco mais de conhecimento técnico para sua leitura e interpretação. Então, vamos começar!


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Fonte: http://www.sxc.hu/photo/843635

EBITDA OU LAJIDA O Ebitda, sigla em inglês, Earning Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization, ou Lajida, em português, Lucro Antes dos Juros, Impostos, Depreciação e Amortização, foi criado com objetivo de informar aos investidores em geral o potencial de geração de caixa de uma empresa. Para fins de cálculo do Ebitda, estaremos desconsiderando a tributação sobre o lucro, os encargos gerados por atraso ou aquisição de financiamentos junto a instituições financeiras e os custos (para o caso dos bens serem utilizados diretamente na operação) ou despesas gerados pela amortização e/ ou depreciação de bens, nos restando o resultado real da operação. Este, portanto, será o alvo da nossa análise. O Ebitda é um indicador que procura demonstrar o montante de recursos financeiros gerados pelos ativos operacionais. Nesta análise, nos interessa apenas o resultado gerado em função da exploração do negócio por parte da empresa. Segundo Padoveze e Benedicto (2004, p. 223): O objetivo da apuração do EBITDA é mensurar a capacidade operacional de geração de lucro/caixa da empresa. Adicionando os valores das depreciações e amortizações ao lucro operacional, criamos o conceito de lucro operacional bruto, um indicativo fundamental para a capacidade de geração bruta de lucros e, consequentemente, de caixa.

Fonte: Clipart 94


AULA 8 - EBITDA E EVA: CONCEITO, LIMITAÇÕES E UTILIZAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE ANÁLISE

O indicador financeiro Ebitda apresenta uma metodologia de cálculo simples. Apesar da simplicidade, é considerado um dos melhores indicadores de geração de caixa operacional, pois o mesmo não considera as despesas geradas por juros e encargos financeiros sobre financiamentos, a tributação sobre o lucro e as despesas, receitas operacionais geradas por depreciação, amortização, exaustão e o resultado da equivalência patrimonial. Os encargos financeiros e os impostos são desconsiderados para fins de cálculo, por serem despesas que não estão diretamente envolvidas com a operação da empresa. Já os registros oriundos da depreciação, amortização e exaustão, bem como os gerados por equivalência patrimonial, são desconsiderados porque não possuem efeito no caixa. Ou seja, são despesas que não apresentam desembolso, representando, assim, o que de fato constitui o lucro da atividade operacional. Para ratificar este conceito Hoji (2007, p. 328) afirma: A depreciação, amortização e exaustão não são consideradas no cálculo do EBITDA, porque não exercem impacto sobre o caixa, pois correspondem ao investimento realizado e desembolsado no passado, que está sendo parcialmente considerado como despesa no custo do período. O resultado da equivalência patrimonial não implica desembolso ou ingresso de recursos, apesar de alterar o valor do investimento. Nesse contexto, para uma empresa de atividade não financeira, as despesas e as receitas financeiras não estão incluídas em seu ciclo operacional, mas se apresentam como uma consequência das atividades. Portanto, serão desconsideradas despesas financeiras a partir de empréstimos realizados com o objetivo de financiar as operações

ou suprir o déficit de caixa, e as receitas financeiras em função de aplicações de restos de caixa no mercado financeiro.

Para exemplificar todos os cálculos a serem realizados, novamente utilizaremos as informações hipotéticas das demonstrações contábeis da EMPRESA DE BADULAQUES LTDA., dos exercícios de 2007 e 2008. BALANÇO PATRIMONIAL ATIVO

2007

2008

CIRCULANTE

625.300

639.547

Disponível

41.200

53.332

Aplicações Financeiras

135.000

71.715

Clientes

250.500

258.900

Estoques

198.600

255.600

NÃO CIRCULANTE

733.900

828.400

Realizável a longo Prazo

126.000

82.000

Empréstimos a Coligadas

126.000

82.000

Investimentos

251.200

269.200

Imobilizado

356.700

477.200

TOTAL DO ATIVO

1.359.200

1.467.947

95


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

PASSIVO

2007

2008

CIRCULANTE

498.300

517.640

Fornecedores

186.000

249.500

Outras Obrigações

225.400

231.240

Empréstimos Bancários

86.900

36.900

Financiamentos

255.900

313.000

PATRIMÔNIO LÍQUIDO

605.000

637.307

Capital Social

500.000

500.000

Reservas de Lucros

105.000

137.307

TOTAL DO PASSIVO

1.359.200

1.467.947

2007

2008

RECEITA BRUTA DE VENDAS

1.576.000

1.896.000

Impostos sobre Vendas

-325.444

-391.524

RECEITA LÍQUIDA

1.250.556

1.504.476

Custo das Mercadorias Vendidas

-722.300

-846.000

LUCRO BRUTO

528.256

658.476

Despesas Operacionais

-420.400

-625.000

Outras Receitas Operacionais

5.720

36.400

Despesas Financeiras

-44.600

-26.800

LUCRO ANTES DO IR/ CSSL

68.976

43.076

IR e CSSL

-17.244

-10.769

LUCRO LÍQUIDO

51.732

32.307

Demonstrativo de Resultado (DRE)

Bem, agora que estamos de posse das informações necessárias, vamos aos cálculos:

Fonte: Clipart

Nos anos de 2007 e 2008, a EMPRESA DE BADULAQUES LTDA., na Demonstração de Resultados, sob o título de Despesas Operacionais, incluiu os seguintes valores de depreciação, conforme demonstrados a seguir, e ainda, o título de Outras Receitas Não Operacionais, que contempla as Receitas Financeiras.

96


AULA 8 - EBITDA E EVA: CONCEITO, LIMITAÇÕES E UTILIZAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE ANÁLISE

DEPRECIAÇÃO

2007

2008

29.600

43.400

Calculando o Ebitda, temos: 2007

2008

LUCRO ANTES DO IR/ CSLL

68.976,00

43.076,00

Outras Receitas Operacionais

-5.720,00

-36.400,00

Despesas Financeiras

44.600,00

26.800,00

Depreciação

29.600,00

43.400,00

EBITDA OU LAJIDA

137.456,00

76.876,00

No exemplo apresentado, a partir do Lucro antes do Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, deduziu-se o valor relativo às Outras Receitas Operacionais (receitas financeiras), e somaram-se os valores referentes às despesas financeiras e depreciação. Os exercícios encerrados em 2007 e 2008 apresentam o Ebitda de R$ 137.456,00 e R$ 76.876,00, respectivamente, demonstrando que as operações da empresa estão gerando caixa, e ainda, que ele é suficiente para quitar as despesas financeiras.

ECONOMIC VALUE ADDED (EVA), OU VALOR ECONÔMICO ADICIONADO O Valor Econômico Adicionado ou Valor Econômico Agregado (EVA) é uma medida de desempenho do valor adicionado proporcionado pela transformação de bens e serviços em um determinado período. Pode-se afirmar, ainda, que é a contribuição adicional a partir de uma atividade ou um processo para a fabricação de bens ou serviços. Ou ainda, é o valor agregado, produzido por uma entidade, após a dedução dos custos e insumos adquiridos de terceiros, tais como matérias-primas, serviços e outros bens, utilizados na produção. Segundo Hoji (2007, p. 333): O EVA pode ser traduzido como Valor Econômico Adicionado (VEA). É uma medida de desempenho operacional que indica a verdadeira lucratividade das operações, pois considera em seu cálculo o custo do capital próprio, evidenciando o valor efetivamente adicionado ao patrimônio líquido em determinados períodos. Sendo assim, pode-se afirmar que o EVA é uma medida de desempenho que inclui uma recuperação de lucro pelo custo do capital aplicado em uma entidade. Esse indicador mede a diferença entre o retorno do capital da empresa e o custo desse capital (todo o capital) no mercado. O EVA tem como objetivo maximizar o valor criado pela entidade visando um alinhamento de objetivos entre os acionistas e gerentes, isto é, uma mudança na cultura organizacional. A partir dessa premissa, pode-se afirmar que para maximizar o EVA, ou seja, aumentar a riqueza dos sócios ou acionistas, a entidade poderá, entre outras ações:

» » reduzir custos e/ou tributos sem aumentar o capital, através de uma operacionalidade mais eficiente, majorando o retorno do capital investido; 97


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

» » identificar os ativos que não estejam gerando retornos iguais ou maiores que o custo do capital investido, tais como: redução de estoques e redução dos prazos de recebimentos de clientes; » » estruturação das finanças da entidade com o objetivo de minimizar o custo do capital, identificando o nível de endividamento e de capital próprio, ou seja, a estrutura de capital.

VANTAGENS DO EVA Como vantagens pela utilização do EVA no processo de tomada de decisões, entre outras, pode-se citar: » » possibilidade de alinhar os interesses da administração em todos os níveis, proporcionando que os gerentes e funcionários objetivem a realização dos desejos dos acionistas; » » funciona como complemento às outras análises realizadas dos negócios para a formulação de planejamentos, projetos e orçamentos de longo prazo; » » caso se utilize o indicador EVA para determinar a remuneração dos funcionários, eles serão motivados a agregar valor; » » demonstra realmente o quanto foi agregado de riqueza aos negócios empresariais de determinado período.

DESVANTAGENS DO EVA Como desvantagens pela utilização do EVA, pode-se citar: » » esse indicador se apresenta sob uma única perspectiva: a financeira. As outras perspectivas não financeiras, tais como: perspectiva dos clientes, do processo interno, de aprendizado e crescimento, utilizadas, por exemplo, pelo Balanced Scorecard de grande relevância para o futuro de qualquer entidade, não são contempladas por esse indicador; » » esse índice pode inibir os investimentos de grande montante e de maior prazo para desenvolvimento, mesmo apresentando impactos futuros relevantes, porque no curto prazo os investimentos poderão reduzir o valor do Eva; » » em tempo de inflação, o indicador EVA poderá ser uma medida distorcida, considerando que os ajustes contábeis não eliminam os efeitos decorrentes da inflação. O indicador EVA é uma medida de desempenho que se diferencia dos demais indicadores, tendo em vista que inclui uma exigência sobre o lucro pelo custo de todo o capital que uma empresa utiliza. O lucro líquido deve ser maior se comparado ao custo do capital total investido. Esse custo de capital no EVA é o custo de oportunidade, que representa o retorno que os investidores podem realizar ao aplicar seu dinheiro no mercado, por exemplo, numa carteira de outras ações. Dessa forma, é importante que um negócio empresarial produza um retorno mínimo, competitivo sobre o capital total nele investido, o capital próprio e o de terceiros. Esse indicador se fundamenta no lucro, isto é, no dinheiro que sobra para remunerar o capital. O EVA é um índice calculado a partir da subtração do lucro operacional após pagamento de impostos menos os encargos sobre capital, apropriado tanto para endividamento quanto para capital próprio.

98


AULA 8 - EBITDA E EVA: CONCEITO, LIMITAÇÕES E UTILIZAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE ANÁLISE

Assim, até que um negócio empresarial produza um lucro que seja maior do que seu custo de capital estará operando com prejuízo, isto é, até então não geraria riquezas, e sim destruição. Esse conceito pode proporcionar uma mudança de comportamento em toda organização a partir da sua utilização como base para a remuneração variável. Vamos calcular o EVA com base no Lucro Líquido depois dos impostos: Para exemplificar todos os cálculos a serem realizados, utilizaremos as informações hipotéticas das demonstrações contábeis da EMPRESA DE BADULAQUES LTDA., dos exercícios de 2007 e 2008. Consideraremos as seguintes informações: Cálculo dos percentuais de capital de terceiros e próprio em relação ao capital total: CÁLCULO DO CUSTO DE CAPITAL

2007

EM %

2008

EM %

Valor de Capital de Terceiros

754.200,00

55,49%

830.640

56,59%

Valor de Capital Próprio

605.000,00

44,51%

637.307

43,41%

Capital Total

1.359.200,00

100%

1.467.947,00

100%

Como foi calculado: 2007 = 754.200,00 / 1.359.200,00 * 100 2007 = 605.000,00 / 1.359.200,00 * 100

Vejamos o custo de capital de terceiros. CUSTO DE CAPITAL DE TERCEIROS

2007

2008

Despesas Financeiras

44.600,00

26.800,00

Capital de Terceiros

754.200,00

830.640,00

% Despesas Financeiras

5,91%

3,23%

Como calculamos: 2007 = 44.600,00 / 754.200,00 * 100 2008 = 26.800,00 / 830.640,00 * 100

Vamos calcular o Custo Médio Ponderado de Capital e supor um custo de oportunidade anual de 12%. Custo de Capital de Terceiros

0,0591 X 0,5549 =

3,28%

0,0323 X 0,5659 =

1,83%

Custo de Capital Próprio

0,12 X 0,4451 =

5,34%

0,12 X 0,4341=

5,21%

Custo Médio Ponderado de Capital

8,62%

7,04%

Vejamos o Custo do Capital Investido a partir do Custo Médio Ponderado de Capital: 2007

1.359.200 X 0,0862 =

117.200,00

2008

1.467.947 X 0,0704 =

103.276,84

99


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Calculando o indicador EVA, temos: Lucro Líquido após IR / CSLL

51.732,00

32.307,00

Custo do Capital Total

117.200,00

103.276,84

Valor Econômico Agregado

-65.468,00

-70.969,84

Analisando Nos anos de 2007 e 2008, a EMPRESA DE BADULAQUES LTDA. apresentou EVAs negativos de R$ 65.468,00 e R$ 70.969,84, respectivamente, fato que permite a conclusão de que as operações dessa empresa estão destruindo o capital dos sócios. Vale ressaltar que se uma empresa apresenta um resultado negativo, porém temporário, do Eva, isso não necessariamente significa uma situação ruim, mas se o Eva for negativo por um tempo prolongado, esse fato é passível de uma análise riteriosa das operações. O cálculo do EVA pode apresentar um grande impacto nos resultados e no comportamento das organizações que o utilizam, mas é importante observar que todos esses efeitos se originam de uma forma direta, tendo em vista, também, o sistema de gestão utilizado pela empresa. Sendo assim, vale ressaltar que, para que uma empresa utilize o indicador EVA como medida de desempenho, é relevante que o seu modelo de gestão seja fundamentado no valor. Cenários internos deverão ser avaliados previamente para a utilização deste indicador. Com a apresentação do Ebitda e do EVA com seus respectivos pontos positivos e negativos, concluímos o conteúdo da nossa disciplina. É importante, agora que concluímos a teoria, deixar claro que caberá ao analista identificar quais serão os indicadores mais adequados à sua análise, quais os propósitos da instituição e cenário externo e interno em que a empresa e seu ramo de atividade estão inseridos, compará-la com as demais empresas do ramo e, na sequência, formar uma opinião sólida.

SÍNTESE Tivemos a oportunidade de conhecer, nesta aula, os indicadores Ebitda e EVA, seus conceitos, suas formas de cálculo, seus pontos positivos e negativos e sua utilização como instrumento para a análise dos negócios empresariais.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO Caro aluno, leia e reflita sobre o texto a seguir que trata da evolução do Ebitda, considerando algumas atividades empresariais, em 2009, a partir da crise financeira deflagrada no final do ano de 2008. 25/08/2009 – 18:08 OS EFEITOS DA CRISE NO EBITDA DAS EMPRESAS Perdas na geração de caixa A geração de caixa medida pelo Ebitda das companhias abertas neste primeiro semestre mostra que o estrago da crise para as empresas brasileiras não 100


AULA 8 - EBITDA E EVA: CONCEITO, LIMITAÇÕES E UTILIZAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE ANÁLISE

foi pequeno. Para a maioria das empresas, o indicador registrou queda na comparação com o mesmo período do ano passado. Segundo pesquisa realizada pela Corretora Souza Barros, com exclusividade para o Monitor Mercantil, junto a 44 empresas que fazem parte das 56 classificadas no Ibovespa, 27 apresentaram redução na geração de caixa e as demais mostraram crescimento. O Ebitda total destas 44 empresas somou, nos seis primeiros meses de 2009, R$ 54,656 bilhões, contra R$ 88,372 bilhões no mesmo período de 2008. O levantamento não inclui o setor financeiro, pois este não trabalha com o indicador Ebitda. Os destaques entre as quedas do Ebitda ficaram com as empresas exportadoras de commodities, como dos segmentos de siderurgia, papel e celulose e mineração, mas o de energia elétrica, que também sofreu com os impactos da crise, não ficou atrás. Do lado positivo, o destaque fica com a Embraer que, após a redução do custo fixo, conseguiu registrar forte incremento do Ebitda e da margem financeira. Em termos de setores estão o de construção civil e logística. Neste sentido, constam da lista positiva a América Latina Logística (ALL), CCR Rodovias, Gafisa e Rossi Residencial. Outras empresas com bom desempenho são a Sabespa, Ambev, Redecard e Net. Siderurgia De acordo com a Fator Corretora é preciso ter cautela com o setor de siderurgia. No caso da Gerdau, companhia bastante afetada pela crise externa, o Ebitda mostrou forte queda, ao passar de R$ 4,59 bilhões para R$ 234,9 milhões. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) também mostrou elevada perda na geração de caixa semestral, que caiu de R$ 2,83 bilhões para R$ 1,28 bilhão. Com relação à Usiminas, a perda ficou ainda acima da CSN, mas abaixo da Gerdau, de R$ 2,623 bilhões para R$ 495,2 milhões. “Revisamos nossas projeções para CSN, Gerdau, Metalúrgica Gerdau e Usiminas em função de: alteração das premissas macroeconômicas; novas perspectivas para o volume de vendas; e menor taxa livre de risco. Seguimos com recomendação de manutenção para todas as ações do setor em 2009”, explicam os analistas da Fator em relatório aos clientes. A recomendação para as ações da CSN, Gerdau e Usiminas é de manutenção e os preços-alvo para junho de 2010 são de R$ 55,20, R$ 23,90 e R$ 44,60, respectivamente. Os analistas da Fator lembram que o mercado automobilístico doméstico se mostra resiliente aos impactos da crise. As medidas governamentais, de redução do IPI e incentivos à concessão de crédito, surtiram efeito e mantiveram o mercado interno aquecido. Nos últimos dois meses, o volume de vendas foi superior à produção, fato que denota preocupação do setor com a formação de estoques. No entanto, o mercado automobilístico pode sofrer com a canibalização das vendas futuras e menor escoamento das vendas ao mercado externo. A recomposição do IPI a partir de setembro deste ano deve impactar negativamente o volume de vendas. Papel & celulose Para as fabricantes de papel e celulose, o primeiro semestre também não foi dos melhores. O Ebitda da Aracruz recuou de R$ 685,4 milhões para R$ 444,1 milhões. Para a Klabin, a perda foi mais tímida, com a geração de caixa reduzindo de R$ 384 milhões para R$ 329,5 milhões. Os analistas do Bank of America Merrill Lynch recomendam venda para as ações da Klabin. A VCP demonstrou movimento contrário e o Ebitda da companhia cresceu de

101


ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

R$ 522 milhões para R$ 730,3 milhões. Após os resultados, os analistas do Bank of America Merrill Lynch atualizaram a recomendação de neutra para compra das ações da VCP, classificada como a top pick no setor. A recomendação para a VCP está relacionada ao aumento dos preços da celulose no mercado externo. Segundo os especialistas da Merrill Lynch, a VCP é a empresa mais alavancada do Brasil com o ciclo de celulose e pode registrar desempenho acima de seus pares no curto prazo. A cada aumento de US$ 50 por tonelada no preço da celulose, a empresa registra um aumento de 20% no Ebitda do próximo ano. Energia Elétrica As empresas do setor de energia elétrica também exibiram recuo do Ebitda neste primeiro semestre, com exceção da Transmissão Paulista, cuja geração de caixa subiu de R$ 636,1 milhões para R$ 707,4 milhões. O Ebitda da Celesc recuou para menos da metade do registrado no primeiro semestre de 2008, de R$ 372,5 milhões para R$ 184,7 milhões. O Ebitda da Eletropaulo cedeu de R$ 791,5 milhões para R$ 697,4 milhões. No caso da Cemig, a retração foi mais tímida, de R$ 2,07 bilhões para R$ 1,81 bilhão. Para a CPFL, o recuo também foi menor: o indicador cedeu de R$ 1,493 bilhão para R$ 1,352 bilhão. A estimativa dos analistas é de que a recuperação de demanda da classe industrial seja gradual e não deverá retornar aos mesmos patamares de crescimento no curto prazo. Outro aspecto que poderá influenciar o setor elétrico caso a atividade econômica não retorne aos antigos patamares de crescimento é a devolução de energia de consumidores no mercado livre, uma vez que existe um lock-up de 180 dias nos contratos de take-or-pay. O crescimento da inadimplência também poderá ser maior no segundo semestre, uma vez que muitas empresas provisionam perdas com contas em atraso a partir de 90 dias. Já o efeito da redução da taxa de juros nas empresas do setor elétrico deverá ser limitado, uma vez que são pouco alavancadas. Ana Borges Fonte: http://www.monitormercantil.com.br/mostranoticia.php?id=66530

LEITURA INDICADA Leia o capítulo 8 do livro a seguir: PADOVEZE, Clóvis Luís; BENEDICTO, Gideon Carvalho de. Análise das demonstrações financeiras. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004.

SITES INDICADOS IT WEB. Positivo: receita e vendas crescem, mas EBITDA cai 23,4%. Disponível em: <http://www. itweb.com.br/noticias/index.asp?cod=55823>. Acesso em: 17 dez. 2009. ROCHA, Joseilton Silveira. Utilizando o balanced scorecard para gerenciar pequenas e médias empresas. Disponível em: <http://www.contabeis.ufba.br/materialprofessores/JSROCHA/ PAGINA/15%20UTILIZANDO%20O%20BALANCED%20 SCORECARD%20PARA%20GERENCIAR%20 PEQUENAS%20E%20%C3%A0.pdf>. Acesso em: 17 dez. 2009. 102


AULA 8 - EBITDA E EVA: CONCEITO, LIMITAÇÕES E UTILIZAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE ANÁLISE

REFERÊNCIAS BORGES, Ana. Os efeitos da crise no Ebitda das empresas. Disponível em: <http://www. monitormer-cantil.com.br/mostranoticia.php?id=66530>. Acesso em: 18 nov. 2009. HOJI, Masakazu. Administração financeira e orçamentária. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2007. MARION, José Carlos. Análise das demonstrações contábeis: contabilidade empresarial. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2010. MORANTE, Antonio Salvador. Análise das demonstrações financeiras. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009. PADOVEZE, Clóvis Luís; BENEDICTO, Gideon Carvalho de. Análise das demonstrações financeiras. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004. SILVA, Alexandre Alcântara da. Estrutura e análise das demonstrações financeiras. São Paulo: Atlas, 2007.

103



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.