5º Semestre
GESTÃO ESTRATÉGICA DE PROJETOS SOCIAIS Autora: Shirley Barbosa Menezes de Paiva
APRESENTAÇÃO Caro discente,
É com muita alegria e satisfação que daremos início à disciplina Gestão Estratégica de Projetos sociais. A partir de agora você está convidado a refletir sobre algumas questões referentes à nossa disciplina e sua relação com o nosso curso de Serviço Social. A disciplina ora apresentada vem contribuir de forma positiva para que você possa já durante sua formação acadêmica compreender quais são os aspectos conceituais e de aplicabilidade que envolvem o tema em questão. Para alcançarmos o objetivo desejado, trataremos dos modelos organizacionais da gestão, e é claro, os aspectos conceituais e de aplicabilidade, em seguida veremos como se dá o processo de planejamento, planos, programas e projetos sociais. Posteriormente, iremos refletir sobre as formas ideológicas de participação, iremos também relembrar o que são projetos sociais e qual a diferença existente entre projeto de intervenção e o projeto de pesquisa. Por fim, para que possamos compreender de forma clara e precisa o tema central dessa disciplina, veremos quais são os dilemas profissionais da atualidade, seguido de uma breve reflexão acerca das incorporações do planejamento em Serviço Social. Como você pode perceber, essa disciplina está repleta de novidades para somar com seus conhecimentos já acumulados durante os semestres anteriores. É importante lembrar que esta disciplina foi preparada com carinho para você no intuito de contribuir com sua trajetória acadêmica. Certamente contarei com sua disposição e entusiasmo para que possamos mergulhar nesse oceano de novos conhecimentos e novas perspectivas. Esta disciplina de Plano, Programa e Projeto Sociais vem acrescentar de forma positiva para que você possa bem elaborar as estratégias necessárias para o desenvolvimento da prática profissional.
Preparado(a) para iniciarmos nossa jornada?
Então, Avante!!!
AULA 01 - MODELOS DE GESTÃO: ASPECTOS Autora: Shirley Menezes “os problemas significantes que confrontamos não podem ser resolvidos no mesmo nível de pensamento no qual estávamos quando eles foram criados”
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CONCEITUAIS E DE APLICABILIDADE
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Albert Einsten
Querido(a) discente,
Em Gestão Social, discutiu-se sobre as teorias administrativas, os modelos de organização, aspectos específicos do ato de gerenciar e os aspectos constitutivos do projeto de intervenção. Nesta disciplina, iremos ampliar nosso conhecimento na área da gestão e, para começarmos a busca por esse conhecimento, vamos, nesta primeira aula, descortinar conhecimentos sobre gestão organizacional, aspectos conceituais e de aplicabilidade. Vamos lá! A discussão contemporânea sobre a gestão das organizações remete-nos à impressão equivocada de que a discussão sobre os modelos de gestão é algo recente. A perfeição do funcionamento da gestão organizacional, segundo Pagliuso, Cardoso e
Spiegel (2010), desde a antiguidade, era buscada pelos povos com objetivo de aprimo- ________________________ rar as técnicas agrícolas de produção, a fim de se ter produtos de qualidade. Na Idade ________________________ Média, a produção de armamentos para guerra era considerada uma arte familiar ge- ________________________ racional, onde os mais velhos (pais) passavam a seus descendentes os mecanismos de ________________________ controle da produção. Esse último período fora denominado por Cajazeira (2005) de ________________________ fase do Controle pelo organizador, baseando-se em um modelo em que o produtor ________________________ era quem produzia e controlava os resultados da produção. No período da Revolução Industrial, Garvin (2002) recorda sobre os primórdios da administração cientifica, quando Taylor legitima a inspeção nas organizações como elemento fundante da qualidade da gestão com vistas a transformar a produção inicialmente artesanal em manufatureira. O objetivo no período era não apenas a produção em larga escala, mas uma produção mitiga, com redução de defeitos do produto produzido. A atuação do gestor baseava-se na inspeção da produção. A perspectiva taylorista de inspeção fortaleceu a teoria da Administração Cientifica a partir da 2ª Revolução Industrial quando se mudou o foco singular e linear da inspeção para a Fase do Controle da Qualidade. O crescimento da produção em decorrência da elevação das taxas de natalidade e do próprio poder de consumo populacional fez com que a discussão acerca da qualidade extrapolasse o âmbito organizacional do privado, tornando-se foco de discussão dos teóricos da área de gestão. A partir dessa nova perspectiva de foco de discussão dos teóricos, o controle da qualidade passa a ser estudado com vistas a garantir a qualidade do produto desde a sua fase de produção à chegada as mãos do consumidor. Essa nova perspectiva de concepção do controle denominada Fase do Controle Total da Qualidade fora adotada
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fortemente pelas organizações japonesas de acordo com os esforços organizados pela JUSE (Union of Japonese Scientists and Engineers) na reconstrução econômica do país. (GARVIN, 2002) Enquanto no Japão usava-se fortemente do modelo da JUSE, nos EUA, era utilizada a proposta da Engenharia de Confiabilidade, impulsionada pelo Departamento de Defesa Norte americano e pela indústria de eletrônicos, fortalecendo o controle da qualidade, a partir da análise da teoria da probabilidade e da estatística, a fim de garantir uma qualidade do produto ao longo dos tempos. Essa perspectiva e os avanços no uso das teorias fizeram com que o uso de algumas ferramentas de controle da gestão seja feito até hoje como o Failure Mode and Effect Analysis (FMEA) e os Seis Sigmas. A Toyota japonesa, nesse mesmo período, buscava, em contrapartida ao crescimento da proposta norte-americana, modificar e aperfeiçoar seus conceitos, métodos e ferramentas operacionais de produção com vistas a inserir-se competitivamente no mercado mundial a partir de um sistema que fora designado de Kaban. O Sistema Kaban consolida-se ao final dos anos 70 (setenta), fazendo com que a empresa atingisse a evolução da gestão, treinando fábricas e organizações de todo o continente com suas práticas e ferramentas (GARVIN, 2002; OHNO, 1997). A década de 1960 a 1970 foi, como vimos, considerada expressiva na reformulação da concepção de gestão das organizações. Essas mudanças fizeram com que outros instrumentos de controle fossem criados. Entre os principais instrumentos de
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controle da gestão criados desde o período de 70, e ainda hoje usados na contemporaneidade, que merecem destaques, temos o Foreign Corrupt Practices Act (FCPA) - criado pelo Congresso Americano - e uma Comissão de Seguridade, devido ao uso ilícito de recursos financeiros. Outro instrumento de controle, a ISO 9000, baseada no BS 5750, foi criado pela OTAN com o objetivo de certificar contratualmente produtos de empresas e/ou de serviços que demonstravam a qualidade do que era oferecido ao consumidor (PAGLIUSO; CARDOSO; SPIEGEL, 2010). Na década de 1980 a 1990, outros instrumentos de controle da gestão foram criados e passaram a ser usados pelas organizações. Em 1980, fora criada a TQM (Total Quality Management), que se consolidou no mercado devido à publicação das normas da ISO 9000, a definição do MBNQA e a publicação do livro de Nemoto, Total Quality Control for Managers. Outro instrumento criado nessa década fora a Certificação de Profissional de Projeto (PMP), definida pelo PMI, devido à expansão das áreas de Tecnologia da Informação, Gerenciamento de Projetos e Proteção de Políticas Públicas. A COSO (Committee of Sponsoring Organizations of the Treadway Commission), por sua vez, fora criada com o objetivo de apoiar as organizações de controle existentes, certificando os que comprovassem qualidade na produção e nos serviços. Em 1990, são revisados os critérios da ISSO 9000 e publicada a série normativa da ISO 14000, estabelece-se a BS 8000, aplicação do Modelo de Excelência da Gestão (MEG), publicação da ISSO 17799 etc. (PAGLIUSO; CARDOSO; SPIEGEL, 2010). No período de 2001 a 2008, aperfeiçoam-se instrumentos de controle da qualidade da gestão das organizações, sendo criados, como elementos inovadores, o lançamento da OPM3, a publicação do CMMI, a criação do oitavo critério da MEG, a publicação da Lei de Responsabilidade Social (NBR 16000), tradução da BS 15000 em ISO 20000, publicação da ISO 27000, publicação de um guia para pequenas empresas pela
Na atualidade, observamos a existência do uso das diversas formas de controle organizacionais como uma forma de encontrar o modelo perfeito de gestão, com vista a tornar as organizações competitivas no mercado e de adequar o posicionamento dos funcionários a essa realidade. É importante ressaltar, antes de seguirmos nosso estudo sobre gestão, que os
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2010).
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COSO, lançamento da norma NBR 15999, entre outros (PAGLIUSO; CARDOSO; SPIEGEL,
modelos de gestão são diferentes dos modelos administrativos estudados em Gestão Social. Porém, os modelos administrativos é que respaldam o uso dos instrumentos de controle e execução para o modelo de gestão, ou seja, são os modelos administrativos que direcionam, de forma inconsciente ou não, como o gestor se organiza e direciona o seu agir profissional no ambiente organizacional.
Sim, mas até aqui discutimos o processo histórico de construção da gestão organizacional, não conceituando organização e gestão. Vamos, antes de aprofundarmos a discussão sobre a aplicabilidade de gestão organizacional, conceituar gestão e organização.
O conceito de organização varia conforme a corrente teórica do autor que a conceitue; entretanto são de consenso entre aqueles que a compreensão teórica de organização somente é possível se analisarmos as relações interpessoais que ocorrem entre os seres que compõem a organização, pois a cultura organizacional, os valores, as crenças, as motivações e as expectativas são decorrentes das relações interpessoais que se interpelam no espaço organizacional. Tendo esse pressuposto como base, a maioria das concepções teóricas descritas a partir de então se pautam nessa perspectiva. Carson (1967, p.1 apud PAGLIUSO; CARDOSO; SPIEGEL, 2010, p.24) afirma que “[...] sempre que duas ou mais pessoas se unem para se ater a um propósito comum, uma organização é formada. Organização, a estrutura sobre a qual os indivíduos se unem, é essencial ao alcance de um objetivo comum”. Por sua vez, Etzioni (1984, p.3 apud PAGLIUSO; CARDOSO; SPIEGEL, 2010, p. 24) afirma que: [...] as organizações são unidades sociais (ou agrupamentos humanos) intencionalmente construídas e reconstruídas, a fim de atingir objetivos específicos. Incluem-se as corporações, os exércitos, as escolas, os hospitais, as igrejas e as prisões; excluem-se as tribos, as classes, os grupos étnicos, os grupos de amigos e as famílias.
Como podemos observar, as definições descritas na obra de Pagliuso, Cardoso e Spiegel (2010) se pautam em uma concepção de uma junção de pessoas com o mesmo objetivo. Corroborando com essa perspectiva teórica, Daft (2003) afirma que as organizações se constituem em entidades sociais que buscam o mesmo objetivo a
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partir de uma relação entre ambiente interno e externo. Pautada nessa concepção inter-relacional entre o ambiente interno e externo, defendida por Daft (2003), alguns autores, como Capra (2002), questionam a visão humana que embasa a maior parte das concepções teóricas de organização. Segundo Capra (2002), a partir do momento que há relação entre os ambientes, é porque, na verdade, os mesmos se constituem em sistemas que se inter-relacionam a partir de um processo comum de comunicação, coordenação e controle, sendo os problemas organizacionais mais enfatizados nos termos de um sistema fechado do que aberto.
E em que se baseia essa concepção de sistema?
A respeito dessa concepção de sistema, Vicente (2009 apud PAGLIUSO; CARDOSO; SPIEGEL, 2010) conceitua os sistemas fechados como sistemas que não interagem com o ambiente externo, não sofrendo, assim, interferência do mesmo, e como sistemas abertos, aqueles em que a organização interage com o ambiente externo, sofrendo a influência do mesmo, causando mudanças no ambiente interno organizacional. Vejamos o quadro síntese de Perrow (1999, p.88 apud PAGLIUSO; CARDOSO;
________________________ SPIEGEL, 2010), que caracteriza os sistemas fechado e aberto. ________________________ Sistema aberto linear Sistema fechado complexo ________________________ Equipamentos confinados em ________________________ Equipamentos espacialmente espalhados espaços pequenos ________________________ Etapas produtivas próximas uma ________________________ Etapas produtivas espacialmente espalhadas das outras ________________________ Muitas conexões entre Poucas conexões entre componentes que não ________________________ componentes que não pertencem pertencem a um mesmo processo produtivo ________________________ a um mesmo processo produtivo ________________________ Fácil identificação e isolamento de componentes com Difícil identificação e isolamento ________________________ defeito de componentes com falhas ________________________ Presença de muitos profissionais Presença de muitos profissionais generalistas ________________________ especializados Materiais e suprimentos ________________________ Materiais e suprimentos facilmente substituíveis específicos suportando o ________________________ processo produtivo ________________________ Ciclos de feedback pouco/não ________________________ Ciclos de feedback compreendidos/familiares compreendidos ou familiares ________________________ Parâmetros de controle em pequena quantidade, ________________________ Muita interação de parâmetros de diretos e segregados ________________________ controle ________________________ Fontes de informação indireta e ________________________ Fontes de informação direta inferenciais ________________________ Compreensão limitada de alguns ________________________ Compreensão completa de todos os processos processos ________________________
teração entre as organizações e o mercado. Essa lógica de linearidade, na perspectiva da gestão organizacional, reconstrói a interpretação de um conceito que a resume exclusivamente a um paradigma racionalista, reduzindo tudo a uma lógica linear objetiva. O paradigma linear da racionalidade afirma que, nessa perspectiva, a razão é orientada não simplesmente pelo puro racionalismo, mas pela ideia do uso analítico e histórico da organização e das relações que nela se estabelecem, ou seja, a compreensão do fenômeno não mais será a partir da análise pura dos fatos e sim da relação
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processos organizacionais favorece o desenvolvimento da gestão, possibilitando a in-
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Analisando a concepção de sistema, podemos afirmar que a linearidade dos
objetiva X subjetiva (MORIN, 1999).
Sim, mas em que esse modelo de sistema influencia os modelos organizacionais?
O sistema aberto, devido à sua característica, possibilita, de acordo com Harrison e Shirom (1999 apud Pagliuso; Cardoso; Spiegel, 2010), não só o diagnóstico organizacional, identificando as forças e fraquezas, mas a melhor adaptabilidade da organização ao tamanho, propósito e contexto organizacional, favorecendo a realização de ajustes, quando necessário, uma visão holística e o entendimento da complexidade do desempenho organizacional. Com relação aos modelos organizacionais, os mesmos se baseiam nas teorias administrativas. Se você recordar da primeira escola da administração, a escola clássica, lembrará que a mesma se baseia numa perspectiva linear de pensar a organização. Esse modelo linear, incompleto e assistêmico faz com que os acontecimentos organizacionais sociais, políticos e econômicos sejam interpretados como fenômenos naturais. As teorias subsequentes, por sua vez, passam a considerar, entretanto, o fator humano como influenciante e interdependente entre a organização e o meio ambiente. Nesse contexto, ainda se recordar a Escola das Relações Humanas, lembrará que esta considerou o lado humano da organização numa ótica de subordinado às condições de trabalho, ou seja, as condições de trabalho determinariam o fazer humano, por isso a análise de uma organização poderia ser generalizada às demais. A Escola Comportamentalista, por sua vez, acreditava que havia uma maneira de explicar o comportamento humano e esse poderia ser previsto e, assim, as pessoas poderiam ser motivadas no espaço organizacional. Já a teoria do Desenvolvimento organizacional afirmava que o modelo organizacional deve ser analisado e organizado de forma planejada (BAUER, 1999). Quanto à Teoria Contingencial, essa recorre à concepção de sistemas e entende as organizações como um conjunto de subsistemas que se inter-relacionam e que se adaptam às condições ambientais vigentes. Essa concepção acreditava que seria possível conhecer as “patologias organizacionais” e, assim, serem propostas ações curativas. A Concepção Sistêmica afirma que a compreensão das organizações decorre da auto-organização da própria organização (MORGAN, 2007; CAPRA, 2002).
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Tendo o fator humano como o principal elemento das organizações, o mesmo, de acordo com os autores que estudamos até aqui, se constitui no principal elemento influenciador da cultura organizacional. O fator humano se constitui no elemento de análise a ser estudado pelas organizações, pois é a partir da compreensão de como as relações humanas se influenciam, de como a cultura organizacional se constitui e solidifica é que podemos determinar o modelo de gestão a ser implantado no interior do espaço organizacional. Ampliaremos a discussão sobre os modelos de gestão posteriormente. Por hora, vamos discutir um pouco sobre cultura organizacional e compreender não só o seu conceito, mas a forma como essa é fundamental para a compreensão do modelo de gestão a ser implementado. A concepção de cultura organizacional não é um conceito único ou delimitado apenas a um autor e a um elemento de análise, pois as definições dos autores se baseiam na relação interpessoal dos membros da organização ou nas relações internas e externas que as organizações estabelecem entre si. Nesse contexto, vejamos algumas definições a fim de analisarmos o elemento que respalda cada uma delas... Para Harisson e Shirom (1999 apud PAGLIUSO; CARDOSO; SPIEGEL, 2010), a cultura organizacional se constitui em um conjunto de camadas expressas em termos de visibilidade. Essa visibilidade, de acordo com os autores, se constitui nos elementos perceptíveis ou visíveis no interior da organização. A percepção dos pressupostos te-
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óricos, crenças, cognições e valores são elementos não legitimados, mas visíveis no interior da maioria das organizações pela forma como as relações se estabelecem. Entretanto, os padrões de comportamento e os artefatos (padrões formais, arranjos físicos, logos etc.) são perceptíveis por serem vivenciados pelos sujeitos que interagem no espaço organizacional, podendo estar descritos claramente em documentos tidos como oficiais do espaço organizacional. No interior das organizações, os comportamentos e os artefatos podem ser identificados quando buscamos compreender a maneira como a organização se organiza e/ou modifica a partir das relações entre os sujeitos. Na perspectiva dos autores, a vida de uma estrutura social é um processo dinâmico, complexo, circular e não linear, fruto do convívio social que transforma e é transformado por ele. Morgan (2007) define que a cultura organizacional, para ser compreendida, deve vincular-se à compreensão do modo de vida das pessoas e a forma como esses interferem no desenvolvimento das organizações. Schein (2004 apud PAGLIUSO; CARDOSO; SPIEGEL, 2010), por sua vez, designa que cultura organizacional se refere a um conjunto de pressupostos básicos que foram absorvidos pela organização ou parte dela e que promoveram o seu desenvolvimento, e Srour (1998) como práticas que buscam unificar o sistema de significações e de agir do todo organizacional. Analisando as concepções trazidas, podemos afirmar que o conceito de cultura organizacional infere a existência de percepções acerca da realidade que visam a transmitir e adquirir conhecimentos, valores, leis, ritos etc., não a partir da normatização de documentos preestabelecidos, mas a partir da compreensão de que esses signos e seus significados decorrem das diversas concepções de cultura e organizações que convergem no interior da organização e que, por fim, termina por caracterizar a sua cultura. Assim, a concepção de cultura organizacional se relaciona com os mo-
dificuldades no desenvolvimento de sua práxis, pois os seus subordinados não conduzirão suas ações com vistas a efetivar a gestão proposta, bem como os elementos constitutivos que a caracterizam. Retomando a discussão do conceito de gestão, a definição do termo, assim como o conceito de organização, é decorrente da corrente teórica perseguida por cada autor. É importante ressaltar que, tendo como parâmetro essa perspectiva, a con-
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pela organização, se este não se efetivar na cultura organizacional, o gestor enfrentará
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delos de gestão, posto que, independente do modelo de gestão que seja adotado
cepção de gerente e das funções a serem desenvolvidas por ele também variam. Entendida como um processo circular, composto pelo planejamento, acompanhamento, controle, avaliação e reprogramação, os autores da teoria da abordagem qualitativa acreditam que, nesse contexto, o gerente tem ocupações e preocupações. As ocupações se relacionam aos papéis desenvolvidos pelo mesmo e as preocupações definidas pela estrutura do trabalho e pela postura mental assumida pelo gerente e objetivo associado ao desempenhar de suas funções. (NOEL, 1989; MINTZBERG et al. 2003). Na concepção de Drucker (1972 apud PAGLIUSO; CARDOSO; SPIEGEL, 2010), a gestão se refere ao funcionamento concreto organizacional, ao conjunto de pessoas e papéis que essas desempenham, inseridas em uma cultura organizacional com vistas ao alcance dos objetivos organizacionais propostos. Nesse contexto, cabe ao gerente fazer com que as coisas aconteçam e realizar um trabalho intelectual eficaz. As concepções convergem para a perspectiva de que a gestão se refere a um conjunto de ações de planejamento, controle, medição, negociação etc., que englobam a produção eficaz dos produtos e serviços, cabendo ao gerente, nesse contexto, a partir do seu conhecimento, a tomada de decisões que tenham impactos significativos no desempenho dos subordinados e nos resultados apresentados. A aplicabilidade da gestão não depende exclusivamente da capacidade do gestor, mas da sua capacidade de organizar, a partir da análise de modelos, as preocupações e ocupações presentes nas organizações. As identificações desses modelos possibilitam aos gestores identificar os elementos da gestão a serem trabalhados e orientar seus subordinados como fazê-los. Mas, a que se referem realmente os modelos de gestão?
Os modelos de referência à gestão se diferenciam devido ao seu uso nas diferentes disciplinas e seus objetivos. As diferentes representações e abordagens gerenciais são analisadas por Shehabudden et al. (1999 apud PAGLIUSO; CARDOSO; SPIEGLE, 2010) com base nas dimensões aplicado-conceitual e estático-dinâmica. Os autores definem o aspecto conceitual como relacionado ao entendimento ou à abstração de uma situação; o aplicado, à noção de ação concreta do ambiente prático; o estático, à estrutura e ao posicionamento dos elementos do sistema e o dinâmico, às relações causais e interações entre os elementos do sistema. Nessa perspectiva, os autores citados definem as representações como formas de desenhar e descrever questões ou problemas de gestão, e a abordagem, como a
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forma de implementar os conceitos contidos nas organizações. Os principais termos para designar as representações gerenciais são definidos como sistemas, framework e modelo.
Vamos conhecer cada um desses conceitos e entender como oferecem concepções diferentes de análise?
O sistema é definido por Shehabuddeen et al. (1999, p.18) como um “conjunto delimitado de elementos inter-relacionados com propriedades emergentes e representado no contexto de um paradigma”. O framework, segundo o mesmo autor, é responsável pelo entendimento e comunicação da estrutura e relacionamento do sistema para um propósito definido, sendo utilizado nas disciplinas de gestão como uma forma de traduzir problemas complexos para um formato mais simples e analisável sendo aplicado para comunicar ideias ou descobertas a comunidades mais extensas, realizar comparações entre situações e abordagens diferenciadas, definir o escopo ou a fronteira de determinada situação, descrever o contexto ou argumentar a validade de uma descoberta e suportar o desenvolvimento de procedimentos, técnicas, métodos e ferramentas. Já o modelo, segundo o autor, é responsável pela suportabilidade
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de entendimento da dinâmica de interação entre os elementos de um sistema. Analisando os conceitos supracitados, podemos perceber que o sistema se constitui no modelo de representação mais amplo, o qual busca oferecer propriedades representativas a um paradigma determinado, enquanto que o framework e o modelo são usados para representar o sistema, sendo que apenas o framework é capaz de prever o impacto das mudanças organizacionais devido a seu caráter dinâmico, tornando, então, o modelo parte de seus subconjuntos. Apesar de seu caráter de inferioridade conceitual, o uso do termo modelos de referência na área da gestão é o mais utilizado e, devido a sua relevância de aplicabilidade, tem se tornado um termo polissêmico no seu uso. Essa polissemia decorre da capacidade, na prática, que o uso do termo oferece de universalizar o conjunto de requisitos necessários para orientar as organizações para efetividade da gestão. Baseado nessa concepção de modelo, o termo modelo de referencia à gestão é construído a partir do princípio de analogia a uma proposta de gestão. Essa concepção possui uma polissemia de conceitos, os quais, de forma global, são identificados como aspectos comuns à gestão nas organizações e à representação de objetos destinados a serem reproduzidos por imitação (HOLANDA, 1999); padronizados e genéricos dentro de um domínio e utilizados para construção de modelos específicos. Com base nesses aspectos, Pagliuso, Cardoso e Spiegel (2010, p 47) definem o modelo de referencia à gestão como: “[...] modelos padronizados e genéricos, que desempenham um papel de referência para os tomadores de decisão a respeito de práticas a serem empregadas nas operações e processos organizacionais”. O modelo de referencia à gestão traz como benefício à organização e ao gestor a elaboração de um modo de pensar, abordar e articular os problemas organizacio-
municação fluida das ideias surgidas na organização e entre as organizações no interior do mercado, definição dos limites situacionais, comparação entre as abordagens, suporte ao desenvolvimento de processos e procedimentos, análise da capacidade de adaptabilidade organizacional, descrição genérica e específica da empresa, redução de custos, elevação da qualidade e decréscimo do tempo de execução das tarefas, aplicação efetiva do planejamento estratégico, disseminação de práticas de sucesso, organização das informações positivas e negativas da organização, viabilizando toma-
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teóricas de vários autores quando analisam a aplicabilidade do referido modelo: co-
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nais. Além desses benefícios mais genéricos, Cardoso (2008) identifica contribuições
da de decisões (SHEHABUDDEEN et al., 1999; FETTKE, 2007; MCGRATH, 1997; KELLER; TEUFEL, 1998; VERNADADT, 1996; BECKER; KNACKSTEDT, 2003 apud CARDOSO, 2008). A legitimidade é outro benefício relevante oferecido às organizações pelo modelo de referência à gestão. A legitimidade é compreendida nesse modelo como as certificações ou premiações que proporcionam as organizações reconhecimento de mercado e a influência do mercado sobre os clientes, fornecedores e concorrentes. A construção do modelo de referencia à gestão pode ser construída a partir da consolidação de numerosos conhecimentos e abordagens, contribuição particular sobre uma lacuna no domínio de conhecimento de outros modelos de referência existentes, resultado da pesquisa empírica que pode ser aplicada em forma de referenciação (FETTKE; LOOS, 2007 apud PAGLIUSO; CARDOSO; SPIEGEL, 2010). Von Brocke (2007 apud PAGLIUSO; CARDOSO; SPIEGEL 2010), porém, propõe que a construção do modelo pode ocorrer a partir da especialização, analogia, agregação ou integração.
Mas em que consiste cada uma dessas abordagens? Vamos compreender cada uma delas a seguir.
A especialização é caracterizada pela derivação do modelo de referência de um modelo original, é decorrente da especificação de um modelo universal. A analogia é caracterizada pela utilização de um modelo de referência original como orientador na construção do modelo resultante. A agregação se caracteriza pela combinação de dois ou mais modelos de referência originais, resultando em um novo modelo. A ideia nessa abordagem não é integrar os requisitos ou orientações dos modelos originais em um novo modelo, mas somá-los de forma compatibilizada dentro do modelo proposto. A integração é fruto da criação de um modelo de referência, a partir da integração de um ou mais elementos dos modelos de referência original (PAGLIASO; CARDOSO; SPIEGEL, 2010). Os modelos de referência à gestão podem e são elaborados a partir do que se consideram as melhores práticas do mercado, mantendo a universalidade e possibilitando reutilização na construção dos modelos específicos ou de outros modelos de referência, tendo principal função dar origem aos modelos de gestão propriamente ditos (KELLER; TEUFEL, 1998 apud PAGLIUSO; CARDOSO; SPIEGEL, 2010).
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Mas, por que os modelos de referência à gestão estão propriamente relacionados aos modelos de gestão?
A relação entre os modelos de referência à gestão e os modelos de gestão decorre da necessidade de interconexão lógica de práticas de gestão que permitam aos gestores operarem a partir de uma determinada lógica referenciada, ou seja, há a necessidade de adequação do modelo da gestão de forma lógica à realidade organizacional na qual a mesma será efetivada. A adoção do modelo de referencia à gestão favorece a criação de uma visão comum, o estabelecimento de vocabulário e linguagem para conhecimento e entendimento de todos e a identificação de critérios de sucesso para implementação. Essas vantagens possibilitam o alinhamento dos princípios e valores escolhidos para a gestão à cultura organizacional, integrando não só a linguagem, mas o entendimento dos valores que respaldam o exercício profissional dos sujeitos naquela organização. Pesquisas de Pagliuso, Cardoso e Spiegel (2010) demonstram que a adoção dos modelos de gestão integrada aos múltiplos referenciais resulta no atendimento de requisitos que, integrados, formam o que foi denominado de metamodelo de gestão. O uso do metamodelo de gestão resulta na aceitação integral da prática existente, aceitação parcial da prática existente e inserção de nova prática.
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A aceitação integral da prática existente consiste na aceitação de determinado requisito ou conjunto de requisitos estabelecidos no metamodelo de gestão. A aceitação parcial da prática existente está vinculada a um conjunto de melhorias a serem realizadas para atender a um ou mais requisitos do metamodelo de gestão. A inserção de novas práticas refere-se à realização de pesquisas bibliográficas e benchmarkings para identificar práticas capazes de atender a um ou mais requisitos pendentes (PAGLIUSO; CARDOSO; SPIEGEL, 2010) Retomando a discussão sobre o conceito do modelo de gestão, vimos que o mesmo está vinculado teoricamente aos paradigmas que o referenciam.
Mas, o que é então modelo de gestão?
Sabendo que diversos autores definiram modelos de gestão, vamos ver algumas desses conceitos. Harding e Long (1998 apud PINHEIRO DE LIMA; LEZANA, 2005) afirmam que o modelo de gestão se refere a uma representação dinâmica da realidade que tem como objetivo esclarecer as relações entre diferentes elementos, indicando as causalidades e interações efetivas. Shehabuddeen et al. (1999) designa modelo de gestão como a interação dinâmica entre os elementos de um sistema. Para esse autor, o modelo de gestão é dinâmico por natureza, descreve a realidade, mostra relacionamento, sendo capaz de predizer o impacto de modificações nos elementos variáveis identificados. Pidd (1998) define o modelo de gestão como uma representação externa e explícita de parte da realidade, vista pela pessoa que deseja usar aquele modelo para entender,
delo de gestão de Pagliuso, Cardoso e Spiegel (2010, p. 122) reúnem todos os elementos quando definem o modelo de gestão como: “uma representação da realidade que descreve as relações entre diferentes elementos de gestão de uma organização e tem a capacidade de predizer o impacto nas modificações desses elementos”. Os elementos de gestão a que os autores se referem são os costumes, os valo-
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Analisando os conceitos anteriores, podemos afirmar que a concepção de mo-
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mudar, gerenciar e controlar parte daquela realidade.
res, as práticas e os processos, as ferramentas e os sistemas que orientam a gestão. No Brasil, a utilização do termo prática de gestão se refere a um conjunto de atividades de natureza gerencial sistematizada por meio de métodos e regras de execução, formalizados ou não, que compõem o modelo de gestão da organização. A aplicabilidade dos modelos de gestão possibilita, no exercício prático, uma unicidade organizacional que viabiliza a construção de uma identidade organizacional, que aprendemos anteriormente com a designação de cultura organizacional. O modelo de gestão se materializa, assim, a partir da combinação dos modelos de referência em relação às peculiaridades e características exclusivas das organizações. A implantação dos modelos de gestão no espaço organizacional viabiliza a construção do conhecimento coletivo entre os membros e setores da organização, adequando a prática do gestor às novas exigências da era da informação. O principal desafio das organizações na efetividade da gestão nesse contexto é envolver, na tomada de decisão e inovação da realidade organizacional, não só o gestor, mas a organização como um todo, possibilitando o desenvolvimento de pessoal, a frequente comunicação, a valorização dos aspectos culturais, sociais e ambientais presentes na organização e que tornam a mesma competitiva no mercado. A criação de vários modelos de referência de certificação à gestão favoreceu a busca da excelência na gestão. Nesse contexto, a implantação do plano de voo com vistas à criação da identidade da organização possibilitará a unicidade do modelo. Na próxima aula, discutiremos especificamente sobre aspectos conceituais e de aplicabilidade do planejamento.
SÍNTESE Nesta aula, discutimos sobre o processo de conceituação, elaboração e implementação dos modelos de gestão. Vimos que o processo de elaboração de um modelo de gestão surgiu a partir da mudança de concepção organizacional, que era preciso aperfeiçoar as técnicas de gerenciamento e que, anterior ao modelo de gestão propriamente dito, houve elaboração de uma proposta de referencia à gestão. Também vimos que, hoje, as práticas desenvolvidas pelos gestores têm como pauta esse modelo, que é disseminado a partir da implementação da cultura organizacional.
QUESTÃO PARA REFLEXÃO De que forma os modelos de gestão contribuem para a atuação do AS na implementação de políticas públicas nos espaços organizacionais?
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LEITURAS INDICADAS NEVILLE, M.; DRUMMOND, R. C. Liderança e sustentabilidade: dilemas, desafios e propósitos. Salvador: Casa da qualidade, 2010.
REFERÊNCIAS BAUER, R. Gestão da mudança: caos e complexidade nas organizações. São Paulo: Atlas, 1999.
CAJAZEIRA, J. Responsabilidade social nas empresas classe mundial no Brasil: desempenho sustentável ou só discurso? 2005. Dissertação (Mestrado) - Administração de empresas. Escola de administração de empresas de São Paulo da FGV, São Paulo, 2005.
CARDOSO, R. Construção de modelos de gestão articulados por modelos de referencia: uma investigação sobre o uso dos modelos de referencia de qualidade e excelência. 2008. Tese (Doutorado) - Engenharia de Produção. Programa de Engenharia de Produção da UFRJ. Rio de Janeiro, 2008.
CAPRA, F. As conexões ocultas: ciência para uma vida sustentável. 3. ed. São Paulo: Pensamento:Cultrix, 2002.
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DAFT, R. Organizações: teoria e projetos. São Paulo: Cengage Learning, 2003.
GARVIN, D. Gerenciando a qualidade: a visão estratégica e competitiva. Trad. João F B Souza. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002.
HOLANDA, A. Dicionário Aurélio eletrônico - século XXI. Versão 3.0. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. Trad. Cristina Magro. São Paulo: Atlas, 1999.
MORGAN, G. Imagens da organização: edição executiva. 2. ed. Trad. Geni Goldschimidt. São Paulo: Atlas, 2007.
OHNO, T. O sistema toyota de produção: além da produção em larga escala. Trad. Cristina Schumacher. Porto Alegre: Bookman, 1997.
PAGLIUSO, A. T.; CARDOSO, R.; SPIEGEL, T. Gestão organizacional: o desafio da construção do modelo de gestão. Instituto Chiavenato (org.). São Paulo: Saraiva, 2010.
PINHEIRO DE LIMA, E.; LEZANA, A. Desenvolvendo um framework para estudar a ação organizacional: das competências ao modelo organizacional. Revista Gestão e Produção, São Carlos, v.2, n.2, p.177-190, 2005.
SROUR, R. Poder, cultura e ética nas organizações. São Paulo: Campus, 1998.
Autora: Shirley Barbosa Menezes de Paiva “É importante ter metas, mas também é fundamental planejar cuidadosamente cada passo para atingi-las.” (Bernardinho)
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CEITUAIS E DE APLICABILIDADE
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AULA 02 – PLANEJAMENTO: ASPECTOS CON-
Olá!
Pronto(a) para mais uma etapa de nossa trajetória acadêmica?
Na última aula, refletimos sobre os modelos organizacionais da gestão, vimos alguns aspectos conceituais e de aplicabilidade. Nesta aula, iremos juntos estudar sobre o planejamento. Discutiremos temas como: aspectos de evolução do planejamento, suas características e posteriormente algumas dimensões e mudanças no processo de planejamento na contemporaneidade. Espero contar com você para que possamos alcançar nosso objetivo. Como você pode perceber, nossa jornada será bastante pra-
zerosa e com certeza teremos muitas questões a serem debatidas e esclarecidas. Está ________________________ preparado(a) para mais esse desafio?
Bons estudos!
A EVOLUÇÃO DO PLANEJAMENTO De forma geral, a história do planejamento não é algo recente. Na literatura do Serviço Social, essa expressão aparece constantemente desde as primeiras publicações. No Serviço Social, esse termo passa a se referir a um determinado plano de ação a ser executado. Dessa forma, estava sempre direcionada à ação racional e lógica do Assistente Social. Sabemos que o ato de planejar é fundamental para qualquer que seja a atividade a ser desenvolvida, visto que é por meio da ação refletida e planejada que se efetiva a interação entre o profissional e o usuário a ser atendido. Podemos traçar aqui alguns aspectos referentes ao surgimento do planejamento em Serviço Social, visto que de forma direta ou indireta ele sempre esteve presente no meio técnico profissional. Desde o início dos séculos, o planejamento esteve presente na vida dos homens. Para Barbosa (1980), o planejamento inicialmente era feito de forma grupal, visto que o homem no início dos séculos não conhecera a individualidade. Dessa forma, o autor afirma (1980):
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O planejamento era do grupo, dada a homogeneidade de compor-
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individualidade. A participação, em conseqüência, era atribuída
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tamento, uma vez que o homem ainda não despertara para sua também ao grupo, com quem estava a força, pois o homem ainda era incapaz de considerar a vida de um ponto de vista individual, independente, assumindo responsabilidades. (BARBOSA, 1980, p.20)
Observe a gravura e veja como o planejamento grupal se constitui em um verdadeiro exercício de escuta, participação e interação. Esse tipo de planejamento reforça o caráter participativo das tomadas de decisão.
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Fonte: www.sxc.hu
Assim, podemos afirmar que o planejamento surge na história da humanidade como uma das principais formas de processo participativo. Era um dos meios em que as pessoas, ao interagirem, sempre estavam a refletir sobre uma determinada ação. O planejamento, então, era algo que estava presente na natureza humana. Em aulas anteriores, vimos o conceito de práxis participativa e podemos estudar a sua relevância para o cotidiano da prática profissional. Nesta aula é importante resgatar esse conceito para que você possa entender o quanto o planejamento estava associado à concepção de práxis.
VOCÊ RECORDA O CONCEITO DE PRÁXIS? QUAL A RELAÇÃO ENTRE PRÁXIS E PLANEJAMENTO? De acordo com Barroco (2008), a práxis supõe uma atividade teleológica, ou seja, de uma projeção antecipada daquilo que se deseja alcançar, com os determinados meios e finalidades. Essa é uma forte característica do homem enquanto um ser social e principal integrante das relações sociais. A práxis, quando desenvolvida, exerce entre os indivíduos um certo poder de interação e ao mesmo tempo exige que os atores envolvidos planejem suas ações de forma antecipada. Uma questão importante quando se relaciona a práxis com o planejamento é que o exercício da práxis humana se torna um instrumento de desalienação. Nesse sentido, o homem pode realizar plano e projeto para o futuro, sempre pensando em
viabilizar um maior engajamento entre as pessoas, como já mencionamos anteriormente. A essa respeito, afirma Barbosa (1980) que: No caso do Serviço Social, vemos que a sua práxis com o humanosocial, no cotidiano, poderá contribuir com o processo de planejamento na busca de forma que garantam o engajamento pleno e a conseqüente participação do povo. É uma contribuição que antece-
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podemos afirmar que sua significativa contribuição se dá a partir da possibilidade de
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futuras previsões. Fazendo a relação da práxis e do planejamento em Serviço Social,
de a própria metodologia, quando num processo de reflexão conjunta, a sociedade civil busca sua organização e as demais satisfações das necessidades humanas. (BARBOSA, 1980, p.29)
Você pode, então, perceber que o planejamento, desde os primórdios, sempre fez parte da vida humana, porém, no âmbito do Serviço Social, ele deu uma forte contribuição para o processo metodológico da profissão. Até aqui falamos do planejamento no âmbito grupal, vejamos alguns aspectos sobre o planejamento no sentido individual. O planejamento individual é uma significativa característica que provém do pensamento imediato do homem. Esse tipo de planejamento seria ações pensadas de forma individual, do ponto de vista pessoal e imediato, sem interação pré-concedida.
QUAIS SERIAM ENTÃO AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO PLANEJAMENTO INDIVIDUAL? Em primeiro lugar, o planejamento individual, de acordo com Barbosa (1980), não tem a visão do todo. Dessa forma, não há perspectiva de uma sociedade planificada. Nesse tipo de planejamento, o homem acaba assumindo e decidindo suas ações tendo todo respaldo racional. Olhando para a figura e fazendo uma relação com o planejamento individual, podemos afirmar que o homem, quando planeja sozinho, não tem a mesma facilidade para encontrar respostas para seus próprios questionamentos como no planejamento grupal.
Fontewww.sxc.hu
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Outra característica do planejamento individual é ter uma visão limitada dos acontecimentos da sociedade, e esse tipo de visão certamente é um forte impedimento para que se possa fazer uma análise crítica da sociedade. Porém, o planejamento individual ou grupal iniciou-se quando o homem começou a compreender de forma gradativa a necessidade de pensar algo para seu próprio benefício e para o benefício alheio. Sobre o surgimento do planejamento, Barbosa (1980) afirma que: O planejamento que começou com o primeiro ser humano e, desde então, permaneceu simples prática natural de todos os indivíduos e grupos, somente no século XIX começa a ser objeto de preocupação, quando usado para atender aos interesses das empresas e organizações. (BARBOSA, 1980, p.22)
Tratando ainda sobre o surgimento do planejamento, é importante lembrar que ele surge na teoria da administração, logo com a função voltada para o administrador. É nessa perspectiva que Barbosa (1980, p.22) diz que: “[...] é na teoria da administração que surge o planejamento como uma função do administrador, levado pela necessidade de dar maior atenção à empresa, quando a mesma não poderia mais ficar dependente de um só homem”. O planejamento foi ganhando novas configurações, passou de um ato de pen-
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sar ações de forma individual ou grupal a uma das formas de domínio de um número menor de pessoas envolvidas. De acordo com Barbosa (1980), um dos principais clássicos e autores da administração é Henry Fayol. Esse autor abordou pela primeira vez, de forma específica, o conceito de planejamento. No âmbito da administração o planejamento é todo ato de organizar, planejar, prever, coordenar e controlar. O planejamento, a partir do século XX, no âmbito da administração, passa a ser um conceito altamente limitado voltado para administração, logo voltado para empresas privadas. É através do planejamento que as indústrias ganham novas estruturas que posteriormente recebem o nome de administração pública.
VOCÊ SABE COMO SURGIU O PLANEJAMENTO NO ÂMBITO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA? Segundo Barbosa (1980), na administração pública, o primeiro plano quinquenal surge é na União Soviética, quando é apresentado, em 1929, como uma idéia política e econômica centralizada. Dessa forma, o planejamento passa a ser associado à intervenção econômica do país, visto que a União Soviética era considerada um estado totalitário. Assim, inicialmente, o planejamento não era bem aceito pelos países capitalistas. Após alguns anos, os países liberais e democratas também passam a usar o planejamento como uma das formas de controle e desenvolvimento econômico. É na administração pública que o planejamento reduz-se a um pequeno número de pessoas destinadas a pensar, organizar e controlar as ações voltadas para o desenvolvimento econômico.
públicos, por meio de agentes públicos, organizados por leis, decretos e normas regulamentares.” Vale lembrar que a administração pública está sempre subordinada ao poder público, por isso ela é considerada apenas como instrumento de realizações das deliberações. Na verdade, a administração pública exerce a função de intermediário entre o governo e a sociedade civil, por isso que o processo de planejamento está intrinse-
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atividades dos órgãos federais, estaduais e municipais que desempenham serviços
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De acordo com Simões (2009, p.44), “a administração pública é o conjunto das
camente relacionado com a administração pública. Quando se trata de administração pública, podemos afirmar que existem dois modos distintos de sua execução. Para Simões (2009), a administração pública pode ter um caráter objetivo e outro subjetivo. Vejamos: Objetivamente, a administração pública é a atividade concreta e imediata que o Estado desenvolve para a consecução dos interesses coletivos, abrangendo as funções exercidas pelas pessoas jurídicas, órgãos e agentes incumbidos de atender, concretamente, às necessidades coletivas. Subjetivamente, é o conjunto de órgãos, agentes e pessoas jurídicas aos quais a lei atribui o exercício da função administrativa estatal. (SIMÕES, 2009, p.44)
É importante ressaltar que a administração pública está fundamentada na legislação e garantida constitucionalmente. Logo, não é algo criado sem fundamento ou base legal. De forma específica, a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 37, trata diretamente sobre as diretrizes da administração pública, tanto a direta como indireta. Como você pode perceber, o planejamento é um processo que está presente em meio a diversas situações e circunstâncias associado ao desejo de mudança e transformação. É importante lembrar que o planejamento supõe um método, um caminho a seguir, uma direção a ser tomada. Voltando a falar sobre o surgimento do planejamento, Barbosa (1980) reafirma: Embora o primeiro plano tenha surgido em 1929, na União Soviética [...] somente após a Segunda guerra Mundial é que o planejamento ganhou maior aceitação, mormente devido às diferenças acentuadas entre países chamados desenvolvidos e subdesenvolvidos, passando, então, a ser visto como instrumento para o desenvolvimento. (BARBOSA, 1980, p.24)
Fica claro, então, que o planejamento em meio a tantas outras características é marcado por uma prática de controle econômico, já que se acreditava que todos os problemas econômicos e sociais poderiam ser resolvidos por meio do planejamento. Vale lembrar que o planejamento é também associado ao Estado de Bem Estar Social. Nessa perspectiva, o planejamento não apenas se reduz à concepção de resolução de problemas econômicos, como também social.
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Como você pode perceber, o planejamento faz parte de todo percurso da história da humanidade. Barbosa (1980, p.26) lista três processos dialéticos pelos quais passaram o planejamento, sendo momentos visíveis que identificam no processo histórico. São eles:
A ideia de planificação ligada a uma espécie de filosofia, como por exemplo, na “República” de Plantão, há uma ideia de ordenação de futuro. A definição de Aristóteles acerca do homem como um “animal planificador” caracteriza bem esta fase. O homem escapa a esse futuro imediato e busca o futuro do futuro, isto é, o que nos é permitido esperar. É fundamental para alcançar este segundo momento o trabalho de Bernonvillie, publicado no ano de 1713, conforme assinala Difrieri, intitulado “A arte de Conjecturar. O trabalho deste físico, que é teórico do cálculo de probabilidades, assinala bem esse período. Finalmente, a terceira etapa é assinalada com o surgimento do socialismo, iniciando pela obra de Saint-Simon e posteriormente por outros de postura mais radical como Marx e outros.
Observando as três etapas do processo histórico do planejamento, você pode perceber que sua imensidão e importância para a história da humanidade foi signifi-
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cativamente marcante. Veremos a seguir algumas características conceituais do planejamento.
CARACTERÍSTICAS CONCEITUAIS DO PLANEJAMENTO Iniciemos nossa reflexão acerca das características conceituais do planejamento. É importante lembrar desde já que o planejamento é considerado uma atividade universal por excelência e inseparável da condição racional e social. Em relação à racionalidade no planejamento, diz Barbosa (1980, p.29), ”como ser racional, o homem é capaz de agir pesando e refletindo no que está ocorrendo e no rumo que pode dar às coisas, construindo desse modo seu futuro coletivo e individual.” Em relação ao ser social, o autor afirma:
Enquanto ser social, é capaz de discutir, analisar e entrar em acordo com os outros homens acerca do rumo a ser dado ás coisas, e à vida coletiva. Isso pressupõe sua participação conjunta, cooperativa, com vistas ao interesse comum, tanto no aspecto econômico, como no político, cultural e, sobretudo social. (BARBOSA, 1980, p.29)
O planejamento deixa de ser uma atividade isolada para se tornar uma sistematização coletiva dentro de um conjunto sistematizado de conhecimentos que possam contribuir para o futuro. Através do planejamento, o homem passa a aprofundar seus conhecimentos voltados para ação coletiva, visto que surgem novos desejos, novas situações e novos anseios a serem transformados durante o cotidiano do indivíduo
intelectualidade, planejar é um ato pensante, racional e intelectual. Essa intelectualidade que envolve o planejamento é marcada por duas principais características, que para Barbosa (1980, p.30) são:
Atividade sistematizada, ou aquela que supõe certos tipos de procedimentos que
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Uma das fortes características conceituais do planejamento é justamente sua
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enquanto ser social.
quando ordenados garantem um dado método ou caminho metodológico, guardando sua identificação com um comportamento científico. Reflexão crítica que significa não um simples levantar e tabular de dados, mas envolve uma análise cuidadosa dos mesmos, estabelecendo as inter-relações causais.
Outra forte característica conceitual do planejamento é seu perfil dialético. Nesse sentido, ele é um processo sempre em questionamento, não está posto e definitivamente acabado, mas está sempre em construção e reconstrução de ideias, pensamentos e reflexões. O planejamento, quando bem desenvolvido, está sendo analisado a todo instante, para que se possa construir possíveis respostas. O planejamento está sempre associado a uma reflexão crítica e a uma análise da sociedade e dos acontecimentos que envolvem nosso cotidiano. Isso porque cada situação apresentada durante o cotidiano exige novas posturas e posicionamentos capazes de selecionar os problemas vigentes. O futuro coletivo, quando pensado no âmbito do planejamento, requer o envolvimento de decisões que possam alcançar os interesses coletivos, de modo a não se resumir a interesse particular e pessoal. Sobre essa questão Barbosa (1980) diz que: O planejamento é, portanto uma operação de escolha e de alternativas, o que inclui decisões respaldadas num máximo de acertos e num mínimo de erros, determinação de meios, prazos, metas, etc. Envolvendo decisão significa um alto grau de percepção das situações, um compromisso ideológico e uma identidade com os ideais e anseios do povo. (BARBOSA, 1980, p.31)
O compromisso ideológico constitui-se em outra característica conceitual do planejamento. Esse item está relacionado à visão que o planejador tem em relação ao homem, é a noção de homem e realidade, por isso é que, quando se trata do planejamento, pensando numa perspectiva de mudança social, é impossível que se tenha uma visão de mundo centralizada e individual. Sobre a postura ideológica, Barbosa (1980, p.31) afirma que “a postura ideológica pode ser entendida quando o que tenho e o que sei (idéias, valores e teorias) se constitui a tese; a realidade social é a antítese; o diagnóstico é a síntese.” Assim, o planejamento passa a ser um processo de reflexão, decisão, ação e avaliação. Dessa forma, o planejamento também tem como característica conceitual
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a visão de conjunto e temporalidade. O planejamento deve ser pensado de forma
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nejadores devem sempre buscar a visão do todo, de uma sociedade integrada e não
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global e sempre voltado para perspectivas de um futuro coletivo. Dessa forma, os plade uma sociedade fragmentada. A temporalidade do planejamento está relacionada aos prazos estabelecidos para o seu cumprimento. A questão do tempo é algo fundamental quando se trata de planejamento, visto que os objetivos e metas são sempre programados a obedecer um determinado tempo. É essa característica que dá uma determinada previsão e perspectiva de erros e acertos de derteminado projeto. Outra característica conceitual do planejamento é o conhecimento da realidade. Essa característica está relacionada ao diagnóstico e prognóstico dos principais indicadores. Nesse sentido, eles se tornam indicadores que podem ser utilizados não apenas na realização de planejamento, mas em outras disciplinas. A decisão também é uma relevante característica do processo de planejamento. Essa etapa do planejamento dependerá sempre da realidade e dos mais variados momentos em que se encontra o público-alvo a ser alcançado através do planejamento. Sobre a decisão, Barbosa (1980) afirma que: O processo crítico é um complexo de decisões. Entretanto como decisão procuramos expressar a fase ou o processo onde as diferentes
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alternativas para se solucionar uma situação problema, relativa a uma dada realidade da sociedade [...], a decisão se caracteriza uma das fases do processo de planejamento é uma decisão política, apoiada nas mais variadas técnicas decisionais, e intimamente relacionadas com o objetivo final que se propõe alcançar. (BARBOSA, 1980, p.33)
Após citarmos algumas características conceituais do planejamento, vejamos algumas questões referentes a sua operacionalização, sua dimensão geográfica e sua abrangência. De acordo com Barbosa (1980), quanto à operacionalização, o planejamento é compreendido quanto: ao grau, à dimensão geográfica, à natureza jurídica ou institucional e ao prazo. No tocante à dimensão geográfica, o planejamento não está centralizado em qualquer tipo de região, ao contrário, ele é totalmente descentralizado, podendo ser de dimensão nacional, regional e/ou local. Sua abrangência se refere a três níveis, sentido global, setorial e parcial. No sentido global, o planejamento não é uma prática limitada, mas são ações que abrangem todos os aspectos da realidade, ou seja, o planejamento abrange os aspectos econômicos, culturais, políticos e sociais. Nesse sentido, a realidade é o principal objeto para a realização do planejamento envolvendo tanto o setor público quanto a iniciativa privada, nas escalas municipal, estadual e nacional. Veja a figura. Podemos dizer que o planejamento global envolve a sociedade em sua totalidade, e quando pensado e elaborado na coletividade, o planejamento torna-se uma luz capaz de solucionar alguns problemas sociais.
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Fonte: Adaptado de http://www.sxc.hu/photo/1254520
Apresentamos, nesse item, algumas características conceituais que envolvem o planejamento. Vejamos, a seguir, algumas dimensões e interações que são intrínsecas ao planejamento, sobretudo no âmbito do Serviço Social.
AS DIMENSÕES DO PLANEJAMENTO Quando pensamos nas dimensões que se referem ao planejamento, logo nos ________________________ recordamos da visão global que o envolve. Nesse sentido, essa visão global é justa- ________________________ mente composta por um conjunto de componentes integrados que representam jus- ________________________ tamente as dimensões do planejamento. ________________________ Poderíamos citar aqui inúmeras dimensões que caracterizam o planejamento, ________________________
porém iremos nos deter em apenas três: a dimensão humana, a dimensão cultura e, ________________________ por fim, a dimensão política. Iremos, agora, realizar uma breve análise a respeito de ________________________ cada uma dessas dimensões do planejamento. A primeira dimensão, a humana, no âmbito do planejamento, não se reduz a uma relação individual, mas se refere à representação de todo indivíduo que representa o sujeito de forma geral que representa o agente do planejamento. Para Barbosa (1980), a dimensão humana se refere a questões que envolvem o sujeito de forma total, tais como: os aspectos psicológicos, biológicos e sociais, visto que o homem é fruto de toda essa relação que se interagem entre si. No tocante aos aspectos da dimensão humana, Barbosa (1980, p.44) diz que: No aspecto psicológico o planejamento é uma operação inteligente, portanto intrínseca à natureza do homem, constituindo-se numa necessidade inerente á atividade humana [...] O aspecto social aqui é entendido sob três perspectivas diferentes. A primeira diz respeito aos motivos que pertencem ao mundo interior de cada homem; a segunda ao estabelecimento das relações sociais e o terceiro ao como agir, isto é, à maneira ordenada de proceder com vistas a atingir, também, as condições externas, objetivas da vida social. (BARBOSA, 1980, p.46)
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A segunda dimensão é a dimensão cultural. Essa é caracterizada no processo de planejamento pelo desenvolvimento do sistema tecnológico, que possibilita ao planejador o acesso aos meios necessários para encontrar soluções para os problemas. Para Barbosa (1980), a dimensão cultural do planejamento desempenha um papel fundamental no que se refere à formulação de conceitos e concepções de vida. É uma significativa influência para a formação do homem de forma geral, para o processo e pensamentos e raciocínios individuais. Por fim, a terceira dimensão do planejamento, a política. A política no âmbito do planejamento se refere às relações de tomada de decisão. É essa dimensão que impulsiona a tomada de decisão e a participação popular dentro do processo de planejamento. Sobre essa dimensão, relata Barbosa (1980): A dimensão política decorre do fato de ser o planejamento um processo contínuo de tomada de decisões, na busca de caminhos, sobre o que fazer, quer pela área governamental, quer pela área privada. O caráter decisório é marcado pela escolha de objetivos e metas, alternativas e prioridades, além de outros elementos que se evidenciam como inerentes ao processo de planejamento. (BARBOSA, 1980, p.52)
Após abordarmos brevemente sobre as dimensões do planejamento, chega-
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mos ao final de uma etapa de nossa disciplina. Convido você a estarmos mais uma vez juntos concentrados e atentos para discutirmos a nossa próxima aula que terá como tema central: formas ideológicas de participação. Até lá!
SÍNTESE Nesta aula, refletimos sobre o planejamento e seus aspectos conceituais. Abordamos algumas questões a respeito da origem do planejamento, seu desenvolvimento e principais características. Por fim, aprendemos nesta aula, que o planejamento se constitui de três dimensões: a política, a cultural e a humana. Todas essas dimensões são de fundamental importância para que o homem possa desenvolver de maneira adequada seu planejamento, seja no âmbito público ou privado. Como já mencionamos, na próxima aula, veremos quais são as formas ideológicas de poder e veremos também qual a relação existente entre participação e poder.
QUESTÃO PARA REFLEXÃO Vimos durante esta aula algumas questões referentes ao planejamento grupal e individual. Pensando na perspectiva da prática profissional do Assistente Social, para você, qual seria a forma de planejamento ideal para que esse profissional possa atender às demandas do seu cotidiano?
RJ: Vozes, 2008. VALDEBENITO, Marco Antonio Arroyo. Arvorecendo projetos: orientações para a elaboração participativa de projetos com roteiro para sua apresentação sistemática. São Paulo: Programa Brasil de Unité, 1999.
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COHEN, Ernesto; FRANCO, Rolando. Avaliação de projetos sociais. 8. ed. Petrópolis,
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LEITURAS INDICADAS
SITE INDICADO OLIVEIRA, Raliane Carneiro. Planejamento social. 2010. Disponível em: http://www. webartigos.com/artigos/planejamento-social/51746/. Acesso em: 13 de outubro de 2011.
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BARROCO, Lúcia. Ética e sociedade. 4. ed. Brasília: CFESS, 2007.
SIMÕES, Carlos. Curso de direito do Serviço Social. 3. ed. rev. e atual. Cortez: São Paulo, 2009. (biblioteca básica de serviço social; v.3)
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AULA 03 - FORMAS IDEOLÓGICAS DE PARTIAutora: Shirley Barbosa Menezes de Paiva
“Temos de nos tornar na mudança que queremos ver.”
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CIPAÇÃO: PARTICIPAÇÃO E PODER
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Mahatma Gandhi
Querida(o) Aluna(o), Mais uma vez estamos aqui e chegamos a nossa terceira aula para refletirmos sobre as formas ideológicas de participação e como se dá essa mesma participação no âmbito da prática profissional do Assistente Social. Para realizarmos tal reflexão, convido-te com muito entusiasmo a mergulharmos em busca de esclarecimentos a respeito das novas mediações do Assistente Social frente às mazelas da questão social. Alcançaremos nosso objetivo, discutindo alguns pontos fundamentais, tais como: o Serviço Social entre o saber e o poder no espaço institucional, veremos quais são as novas formas de mediações, envolvendo questões como as mediações globais. Por fim, abordaremos sobre as formas ideológicas da participação, abrindo um debate sobre a questão da autonomia, interesse, a participação como uma das dimensões do processo educativo e a diversas faces ideológicas da participação.
Preparada(o) para mais esse desafio?
O SERVIÇO SOCIAL: ENTRE O SABER E O PODER Para iniciarmos nossa discussão, faz-se necessário compreendermos que Serviço Social não se constitui uma profissão composta por diretrizes e metodologias basicamente prontas e estáticas incapazes de sofrerem modificações durante o cotidiano da prática profissional. Nesse sentido, pensemos num exemplo bastante claro: lembremos daquelas receitas de bolo que sempre estão localizadas no verso das embalagens dos produtos industrializados contendo passo a passo o que deve ser feito para que ao final do processo, o bolo possa estar pronto para ser ingerido. Pois, bem, pensar a prática profissional do Assistente Social não é algo como essa receita, pelo contrário, o Assistente Social a cada dia encontra em sua prática profissional, grandes e significativos desafios que exigem desse profissional novas estratégias de ação, intervenção e mediação. Porém, durante a trajetória histórica do Serviço Social, a profissão foi aos poucos descobrindo novas formas de mediações, novas maneiras de intervir em meio às refrações da questão social.
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POR QUE PENSAR EM NOVAS FORMAS DE MEDIAÇÕES? A importância de pensar as novas formas de mediação se dá a partir da necessidade de realizar uma análise das condições concretas em que ela se realiza e se apresenta no cotidiano da prática do Assistente Social. Nesse sentido, vale lembrar que o Serviço Social, por não ser uma profissão liberal, acaba por condicionalizar sua prática de acordo com o desenvolvimento do capitalismo, como afirma Faleiros (2007):
O próprio desenvolvimento do capitalismo vem levando o assistente social a incorporar-se em diversas tarefas como um assalariado. A condição de trabalho do assistente social é de assalariado. Esta realidade concreta levou-o a questionar-se sobre a compra e venda de sua força de trabalho, de sua utilidade para o capital, de sua produtividade e improdutividade. (FALEIROS, 2007, p.19)
Podemos, então, perceber que o Serviço Social como uma profissão inserida na divisão técnica do trabalho, compõe a classe dos trabalhadores assalariados, visto que sua força de trabalho é de fundamental importância para a manutenção do sistema capitalista de produção. De acordo com Faleiros (2007), a condição de assalariado, ou seja, a compra e venda da força de trabalho, faz com que o assistente social participe das mesmas con-
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dições objetivas em que se encontram os seus próprios usuários e a população com quem trabalha. Outra questão a ser tratada aqui, se refere à subordinação do assistente social às condições institucionais. Como já mencionado nesta aula, o assistente social não é um profissional liberal e nessa condição suas estratégias de ação muitas vezes são podadas no próprio espaço institucional a que está vinculado. Dessa forma, quando se trata do poder decisório, da participação enquanto uma forte ferramenta de poder, esse profissional não possui autonomia suficiente para decidir de forma global as diretrizes e estratégias de ação enquanto profissional de mediação. Em meio a esse debate sobre participação, qual sua concepção sobre esse tema?
Fonte: Clipart
isso, mas dependem também de mecanismos próprios, institucionais ou não. Assim, a participação é um conjunto de articulações e mediações que dependem diretamente das diversas experiências vivenciadas por seus atores. Para Demo (1993), a participação é conquistada durante a vida cotidiana e torna-se um processo infindável estando em constante movimento e transformação. É através da participação que se torna possível a autopromoção. Assim, podemos afir-
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série de fatores que traduzem a efetivação da verdadeira democracia, e não apenas
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De acordo com Teixeira (2001), a participação é uma ação que envolve uma
mar que não existe participação acabada, e/ou pronta, mas uma continuidade ilimitada de intervenção social. No que se refere à participação enquanto um mecanismo de poder, o Assistente Social por ter sua prática limitada a tantos parâmetros institucionais, acaba por utilizar de pequenos benefícios na perspectiva de reforçar seu próprio poder pessoal, é nesse sentido que podemos identificar o caráter ideológico da atuação profissional. Sobre essa questão afirma Faleiros (2007) que: Este caráter ideológico é uma forma de ocultação, mas também de inversão das relações de poder em relações pessoais. A própria prática do relacionamento pessoal faz com que as relações de poder e exploração apareçam como relações pessoais. (FALEIROS, 2007, p.20)
Sobre a questão do caráter ideológico da participação, trataremos no posterior- ________________________ mente. Falar sobre o Serviço Social entre o saber e o poder, requer ainda que pense- ________________________ mos quais são as formas globais de mediação no Estado capitalista. Vejamos! Para falarmos sobre as formas globais de mediação, vale lembrar que ainda nos dias atuais, o Estado continua sendo o principal empregador dos assistentes sociais, ainda é ele que absorve o maior número de profissionais no mercado de trabalho. Podemos observar que na sociedade contemporânea, quando falamos em intervenção e/ou mediações estatais, pensa-se imediatamente na lógica da acumulação do capital, porém esse processo vem se modificando ao longo dos anos.
Na presente discussão, como podemos situar o Serviço Social no âmbito da acumulação do capital, pensando na esfera estatal?
De acordo com Faleiros (2007), a acumulação do capital é um processo que levou a considerar o Serviço Social como mais uma das diversas formas de reprodução do próprio capital, visto que esse profissional desenvolveria uma prática voltada para a reprodução da força de trabalho. Podemos então perceber que existe aí uma relação contraditória entre o fazer profissional e o seu principal empregador (Estado), já que a mercantilização dos serviços sociais se tornou um forte reflexo da lógica da acumulação. Porém, vale lembrar que não é essa lógica da mercantilização que sustenta o projeto político profissional, daí o caráter contraditório da relação do profissional com seu empregador.
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A partir da década de oitenta, especificamente com a grande conquista política, a promulgação da Constituição Federal de 1988, a categoria tem lutado ferozmente contra a predominância do processo de acumulação que tem como uma de suas tendências, a comercialização e mercantilização dos serviços sociais.
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Capa_da_Constitui%C3%A7%C3%A3o_brasileira_de_1988.jpg
Segundo Behring e Boschetti (2008), no Brasil, apesar de promulgada a Constituição Federal, estamos ainda muito distante do real Estado democrático, distante de
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uma nação que faça valer os direitos sociais já conquistados anteriormente pela classe trabalhadora. Porém, os assistentes sociais, junto às suas representatividades, vêm no decorrer dos anos lutando a favor da efetivação desses direitos. Na verdade, o que podemos acompanhar nos dias atuais é que o Estado, ao desregulamentar os direitos sociais e multiplicar o número de programas temporários e de políticas fragmentadas, acaba por intensificar sua gerência na vida cotidiana do cidadão. A esse respeito, Faleiros (2007) afirma que: Estas novas relações do Estado com a população e sua intervenção na vida cotidiana exigem também um contingente amplo de funcionários que devam controlar e fiscalizar estas contribuições. Mas a fiscalização recai sobre o cidadão e não sobre as próprias condições que geram o problema. (FALEIROS, 2007, p.25)
Nessa relação entre a luta pela efetivação dos direitos em meio a uma sociedade marcada pela acumulação do capital, e a busca incessante do Serviço Social para contribuir com a realização da verdadeira cidadania, os movimentos sociais desempenham um papel fundamental. Para Faleiros (2007), as políticas sociais estão diretamente relacionadas às práticas clientelistas, fortalecendo dessa forma, a mercantilização dos serviços, além de obrigar certos tipos de critérios e contratos ao determinar a quantidade e a qualidade dos serviços disponíveis aos usuários. Essa precarização presente na operacionalidade das políticas sociais passa a criar condições para que pequenos e grandes grupos se mobilizem na perspectiva de questionar e reivindicar o bom andamento dessas políticas.
FORMAS IDEOLÓGICAS DE PARTICIPAÇÃO A presente discussão é fundamental para compreendermos o quanto a participação faz parte de todo o contexto que envolve o cotidiano do Assistente Social.
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mas ideológicas de participação mais conhecidas.
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Após essa breve discussão introdutória, vejamos no item a seguir, quais as for-
Na prática social, a palavra participação é um dos conceitos mais utilizados pelos profissionais que atuam na área. Porém, apesar de ser um conceito tão presente na área social, não existe um consenso em relação à sua definição. Definir participação é algo que entre os estudiosos sobre o assunto é algo bastante complexo, justamente por seu caráter ideológico que o envolve. Participação é uma palavra que permeia toda a vida cotidiana, todas as instituições, associações e organizações. A sociedade civil de forma geral experimenta desde a década de oitenta, através da militância política, o caráter participativo da população. É possível pensarmos a participação em diversos ângulos, um deles é a participação como um processo de inclusão e o outro é a participação como um dos principais critérios de exclusão.
Como é possível a participação reforçar o processo de exclusão? De acordo com Faleiros (2007), a participação passiva colabora para intensificar o processo de exclusão que impossibilita o indivíduo o acesso a novas oportunidades em relação a sua vida social. Essa participação apenas traduz e intensifica a marginalidade entre os indivíduos. A participação passiva não contribui para a eliminação das barreiras existentes entres os indivíduos, os preconceitos raciais, sexuais, de etnia, gênero dentre outros. Porém, ao contrário da participação passiva, a participação ativa é aquela que incentiva o processo de mobilização dos esforços individuais, eliminando a acomodação e a falta de ação em busca da emancipação individual e/ou grupal. A participação ativa torna-se visível através das mudanças concretas de atitudes e comportamentos dos indivíduos e do coletivo. A esse respeito, Faleiros (2007) afirma que: O participar significa, então, os comportamentos individuais de procura e de livre escolha daquilo que é disponível na situação presente e comportamentos coletivos de associações e de promoção de recursos. Esta concepção opõe os apáticos aos participantes, os indolentes aos esforços, os preguiçosos aos denodados. (FALEIROS, 2007, p.72)
Podemos, então, afirmar que muitos teóricos consideram que a ausência da participação se mescla e se confunde com a incapacidade que o indivíduo tem para assumir sua responsabilidade com sua vida política e social. Essa parcela da população
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que se omite a fazer parte do processo de participação, geralmente, transfere para o outro essa incapacidade, essa ausência e assim tentam justificar sua recusa de decisão. Nos dias atuais, podemos acompanhar que alguns programas do governo federal são fortes iniciativas de estímulo e resgate da participação cidadã. Esses programas são destinados a mudar as incapacidades que afetam a população. Buscam levar o povo a tomar as suas próprias decisões e fortalecer a emancipação individual e grupal. Porém, a efetivação desses programas governamentais tem seus limites, e esse limite começa a partir do momento em que a liberdade conquistada pela população não coloque em questão a própria gestão. Em outras palavras, a participação cidadã é estimulada, mas não orientada a questionar o próprio governo. Vale lembrar nessa discussão que existe uma significativa diferença entre a participação cidadã e a participação popular. Sobre a participação cidadã Teixeira (2001) diz que ela se utiliza de um processo de mecanismos institucionais, além de articulações e canais que se legitimam através do processo social. A participação cidadã não nega o sistema de representação, pelo contrário, busca aperfeiçoá-lo a partir de sua exigência para com as responsabilidades políticas e jurídicas. Já a participação popular é identificada como ações no âmbito da reivindicação, essa expressão é mais utilizada quando tratamos a respeito das ações desenvolvidas pelos movimentos sociais. Esse tipo de participação está normalmente voltado para as
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lutas em relação a conquistas de direitos e/ou reivindicações de carências almejadas pela população. A diferença significativa está no fato de que a participação popular são ações que vão de encontro ao poder do Estado, exigindo que os gestores municipais, estaduais e nacionais cumpram devidamente o seu papel e responsabilidade para com o cidadão. Outra questão relevante a ser tratada nesta aula, se refere à representação como sendo uma das formas mais estimuladas de participação. A esse respeito, Faleiros (2007, p.74) diz que: “Os modos de representação são canais de participação nas decisões parlamentares, nos conselhos consultivos e deliberativos, nos órgãos executivos, nos seminários e congressos.” É possível perceber que quando se trata de representação, temos um leque diverso de conceitos e possibilidades que nos levam a refletir sobre o assunto. Uma dessas vertentes é pensar a representação como uma efetiva consolidação da democracia liberal, nesse sentido a representação aparece como vontade dos indivíduos. Um exemplo clássico que traduz essa representação é o poder do voto. Outra questão a ser pensada aqui, é a divisão de sociedade em classes sociais, sendo esta a mais tradicional forma de consenso social individual. Essa é uma ideologia que reforça várias outras formas de organizações e representações nas quais os eleitos aparecem como a principal figura que representa a vontade individual e coletiva. A esse respeito, Faleiros (2007) aborda que: A ideologia pré-liberal rejeitava a divisão em classe, sendo a representação uma forma de consenso social individual. Essa ideologia
vontade geral, do bem comum, dos indivíduos em geral. (FALEIROS, 2007, p.75)
Nesse processo de eleger e determinar os devidos representantes, a participação é tida não como uma ação individual, mas uma atitude coletiva em busca do bem comum. Porém, essa participação é tida também como uma forma de integração de cima para baixo, ou seja, uma relação entre aqueles que estão no poder, ou pretendem
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ria, onde os eleitos aparecem como os legítimos representantes da
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justifica muitas formas de organização de representação comunitá-
chegar até ele, e aqueles que os elegerão. Nesse sentido, vale lembrar a respeito do elitismo, que por muitas vezes perpassa essa relação sendo uma das mais poderosas ameaças para a efetivação da verdadeira democracia. Por elitismo entende-se: a busca pela conservação do poder das classes dominantes, sendo que para isso é utilizada a ideologia de que as classes subalternas não são incapazes de tomar decisões e conclusões sobre o seu próprio destino, necessitando dessa forma, de um representante que possa pensar o destino de toda sociedade. (FALEIROS, 2007). Outra forte tendência que envolve esse processo de representação e participação é o autoritarismo, que consiste no controle por parte da classe dominante. Esse controle se dá através do uso do poder e autoridade para incluir e/ou excluir a classe subalterna do processo de decisão e participação.
PARTICIPAÇÃO: DIMENSÃO EDUCATIVA Vimos durante o desenvolvimento desta aula o quanto a participação é um todo complexo e que não existe uma definição única que possa ser estanque e definir a palavra de forma completa. Agora veremos a participação como uma significativa dimensão do processo educativo. A participação assume, além de tantos outros papéis, o caráter pedagógico. Isso acontece por conta das diversas experiências dos indivíduos, dessa forma, quando falamos em participação, não podemos pensar apenas a palavra como vinculada apenas ao processo de tomada de decisões. Compreender a participação como um processo educativo, requer considerarmos que essa participação seja uma extensão da cidadania. Nesse sentido, a inserção da população maciça no processo político é uma das manifestações que representam a efetivação dessa participação. Podemos também perceber a participação enquanto processo pedagógico, quando pensamos nos movimentos sociais, nas ONGs e em tantos grupos de cidadãos que lutam e reivindicam a favor da efetivação e/ou ampliação dos direitos. Muitas vezes, esses grupos têm como característica um forte sentimento de integração e identidade, assim, ao reunir-se tendo como fundamento os direitos coletivos, é possível visualizar que o caráter pedagógico está presente. Nesse sentido, afirma Faleiros (2007): Na defesa de suas identidades, de valores culturais ou religiosos,
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alguns grupos sociais tendem a fragmentação numa sociedade
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[...] a luta pela inclusão torna-se uma luta por direito de cidadania.
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globalizada e, discriminados e violentados, buscam a autodefesa (FALEIROS, 2007, p.38)
Dessa forma, os pequenos e grandes grupos, ao dar início a lutas com determinados objetivos, além de passarem por um processo de autoconhecimento e aprendizagem, acabam por envolver toda a sociedade civil nesse processo educativo.
Observando a figura, qual sua relação com o Serviço Social e com o tema dessa aula?
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Protesto_contra_corrup%C3%A7%C3%A3o_-_masp.jpg
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Pois bem, o Assistente Social é um educador por excelência. É um profissional que está a todo tempo em seu cotidiano orientando, discutindo, problematizando, opinando, analisando, sempre na perspectiva de viabilizar direitos. Nos dias atuais existe um número significativo de Assistentes Sociais que estão inseridos em movimentos sociais, associações e ONGs. A participação nesse âmbito ganha visibilidade e seu papel educativo afeta de forma direta a sociedade civil, estimulando-a a exercer seu papel frente aos ditames do Estado.
PARTICIPAÇÃO: DIVERSAS FACES IDEOLÓGICAS De acordo com Faleiros (2007), a participação pode ser pensada de várias formas, apresentando faces ideológicas diversificadas. Para o autor, a participação pode ter o caráter voltado para o combate, os interesses e a autonomia; a participação pode também ser um disfarce que envolve grupos espontâneos. Vejamos! A participação relacionada ao combate é algo bem claro a ser compreendido na sociedade contemporânea. Um forte exemplo são os movimentos sociais, como já mencionamos anteriormente. Nesse sentido, a participação tem o significado vinculado a combate, luta, poder, mobilização, pressão popular etc. Sobre esse tipo de participação como sinônimo de combate, Faleiros (2007) diz que: As lutas e organizações dos trabalhadores foram obtendo a trans-
perspectiva a participação passa a ser vista não como uma questão individual, mas como uma questão de classe, e o problema de modernização/ integração, como um problema estrutural. (FALEIROS, 2007, p.77)
A participação tida como uma ferramenta usada para o interesse e autonomia acontece quando os grupos sociais buscam, de forma consciente, realizar planejamento de sua ação. Para isso, esses grupos contam com fortes alianças de profissionais e
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processos de conhecimento e reconhecimento do mundo. Nessa
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formação das formas de distribuição dos recursos de poder e dos
técnicos na perspectiva de alcançar seus objetivos. O planejamento é algo fundamento quando a participação torna-se sinônimo de busca pela autonomia e por interesses. Um exemplo concreto desse tipo de participação é a aliança com a advocacia popular, que se torna um canal de participação que possibilita articular um consenso entre a equipe técnica em defesa de seus interesses. Por fim, vejamos a participação disfarçada e os grupos espontâneos. Para Faleiros (2007), esse tipo de participação acontece quando a sociedade, ao se fechar para o autoritarismo, se articula procurando novas formas de sobreviver e novos jeitos de se defender para evitar os maus tratos, a imposição e o abuso de poder. Um forte exemplo da participação disfarçada são os moradores da zona rural. Os camponeses, quando impedidos de exercerem seu poder de participação e voz, utilizam estratégias de ação que possibilitem sua participação nas decisões enquanto ________________________ classe organizada, porém essa organização é fielmente disfarçada. Dessa forma, a elite, ________________________ aqueles que se encontram no poder, acabam cometendo o equívoco de pensar que o ________________________ povo não pensa e não se organiza enquanto classe.
O MITO DA PARTICIPAÇÃO POPULAR Durante o desenvolvimento desta aula, podemos compreender alguns aspectos referentes à participação. Agora vejamos algumas questões referentes à mitologia da participação, um questionamento é necessário para que iniciemos essa reflexão:
O QUE É MITOLOGIA? De acordo com Tenório (2000), a mitologia é o resultado de uma imaginação ingênua sobre os fatos e experiências. São contos ou sagas que incluem elementos históricos, tais como: lendas sobre guerras, heróis etc. está também relacionado à simples histórias de aventuras, concebidas apenas para entretenimento. De forma geral, essa é a percepção de mitologia mais utilizada entre os estudiosos sobre o tema. Qual seria, então, a relação da mitologia com a participação popular? Na sociedade contemporânea existem, diariamente, grandes debates em relação à participação efetiva do povo, principalmente no que se refere à discussão sobre cidadania e democracia.
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O que podemos acompanhar em nosso cotidiano é que essa participação acaba se tornando uma verdadeira mitologia, visto que a sociedade civil não tem o poder decisório tanto quanto aqueles que são os gestores e donos dos meios de produção, os capitalistas. Apesar de a Constituição Federal de 1988 garantir teoricamente a participação popular e em seus artigos e capítulos o cidadão ser portador de direitos, autonomia e participação, isso ainda é utopia em nosso país. Sobre a participação enquanto mitologia, Tenório (2000) diz que: A participação tem tornado-se um mito porque, semelhante a assembléia dos deuses “no solar de Zeus Olímpico”, da Odisséia de Homero (HOMERO,1981:12),é lá que se vais discutir a sorte dos heróis carentes de participação ou aonde se vai resgatar a cidadania. É na assembléia, no grupo, no coletivo e outros assemelhados, que a participação vai se ungida. (TENÓRIO, 2000, p.76)
Assim, podemos entender a participação de vários ângulos. Não podemos negar que com a Constituição de 1988 houve um significativo avanço no que se refere à participação popular, porém ainda há muito que se fazer para que a teoria torne-se verdadeiramente uma prática. Vale lembrar que estamos, nesta aula, refletindo a participação no âmbito das
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relações sociais, econômicas e políticas da sociedade. Dessa forma, o conhecimento e a análise crítica da sociedade são algo fundamental para que a própria sociedade civil possa, de alguma forma, interferir nas decisões em relação a sua própria vida cotidiana. O conhecimento é o conteúdo básico para que as relações sociais possam fluir de forma mais satisfatória em um processo de busca pela participação. É dentro das relações sociais que a participação encontra espaço para debates, discussão e entretenimento. O uso do conhecimento proporciona novas possibilidades a determinados problemas sociais. Nesse sentido, Tenório (2000) diz que o saber de quem estudou é algo que deve ser usado para as discussões e debates servindo não como fator único de tomada de decisão, mas, sobretudo como forte apoio e suporte para todo grupo. Podemos, então, afirmar que a participação é justamente a troca de saberes, a troca de experiências entre pessoas que, ao se reunirem em pequenos ou grandes grupos, visam alcançar determinados objetivos.
Finalizamos aqui nossa terceira aula, ao apresentarmos as mais diversas formas ideológicas de participação e poder. Até o nosso próximo encontro, com mais um desafio, te encontro lá!
versos aspectos. Vimos o quanto é complexo tratarmos das questões conceituais que envolvem a participação. Podemos refletir sobre a importância do Assistente Social no processo de participação, sobretudo quando a participação é tida como uma dimensão educativa. Participação está presente em nosso cotidiano, independente de sua função e/ou resultado. Nesta aula, vimos que falar de participação não é algo tão
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Nossa terceira aula nos possibilitou a compreensão sobre a participação em di-
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SÍNTESE
simples quanto parece, mas exige que tenhamos uma compreensão ampla a respeito da realidade e da sociedade contemporânea.
QUESTÃO PARA REFLEXÃO Discutindo sobre as diversas formas ideológicas de participação, é possível afirmar que a sociedade brasileira exerce, de maneira efetiva, seu poder de decisão e participação?
LEITURAS INDICADAS ACKER, Ana Brito da Rocha. Poder normativo e regime democrático. São Paulo: Cortez, 1988. 112 p. GOHN, Maria da Glória. Os sem-terra, ONGs e cidadania: a sociedade civil brasileira na era da globalização. 3 ed. São Paulo: Cortez. 2003.
SITES INDICADOS VIEGAS, Weverson. Cidadania e participação popular. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 86, 27 set. 2003. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/4199>. VIEIRA, Regiane Esther. Democracia, Participação e Poder Local: Uma Análise da Atuação dos Novos Movimentos Sociais no Estado Democrático de Direito Brasileiro. Disponível em: http://www.administradores.com.br/informe-se/producaoacademica/democracia-participacao-e-poder-local-uma-analise-da-atuacao-dosnovos-movimentos-sociais-no-estado-democratico-de-direito-brasileiro/779/
REFERÊNCIAS BEHRING, Elaine Rossetti; BOSCHETTI, Ivanete. Política social: fundamentos e história. 5 ed. São Paulo: Cortez. 2008. (Biblioteca Básica de Serviço Social; V.2)
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DEMO, Pedro. Participação é conquista. São Paulo: Cortez, 1993.
FALEIROS, Vicente de Paula. Saber profissional e poder institucional. 7 ed. São Paulo: Cortez,2007.
TEIXEIRA, Elenaldo Celso. O local e o global: limites e desafios da participação cidadã. 2. Ed. São Paulo: Cortez; Recife: EQUIP; Salvador: UFBA, 2001.
TENÓRIO, Fernando Guilherme. Avaliação de projetos comunitários: abordagem prática. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2000.
AULA 04 - ANÁLISE DE REDES Autora: Shirley Barbosa Menezes de Paiva “Liderança não é a submissão dos outros, mas a qualidade moral e intelectiva que os atrai.”
Érica Marina
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Querido(a) discente,
Chegamos, agora, a nossa quarta aula! Esse é um convite especial para que você possa compreender alguns aspectos sobre análise de redes. Acredito que, durante sua trajetória acadêmica, você já tenha discutido sobre esse tema. Mas aqui discutiremos questões que envolvem a nossa disciplina, “Planos, Programas e Projetos Sociais”. Faremos uma relação dos conteúdos estudados até aqui e veremos como a questão da análise de redes está intrinsecamente relaciona com nossa disciplina. Certamente, será um grande desafio! Preparado(a)?
REDES SOCIAIS: QUESTÕES CONCEITUAIS ________________________
De forma geral, quando falamos em redes, nos reportamos à interação, às re- ________________________ lações sociais, ao diálogo, à comunicação. É claro que, nos dias atuais, o mundo da ________________________ informática vem sendo um suporte essencial para que as redes sociais possam ganhar ________________________ a repercussão que hoje elas têm. ________________________ O debate sobre redes sociais na contemporaneidade envolve não apenas a área ________________________
das ciências sociais, mas diversos estudiosos da administração, economia, geografia. ________________________ Todos, ao desenvolver sua prática profissional, necessariamente, estão sempre em ________________________ contato com sua rede, com outros profissionais que possam dar o suporte para a efe- ________________________ tivação de sua intervenção na sociedade. Porém, apesar de o conceito de redes sociais estar também direcionado a outras áreas do conhecimento, sua origem se dá dentro das ciências sociais. Relembremos, então, o conceito de redes nas ciências sociais, para que nossa reflexão seja algo bastante claro e de fácil compreensão, visto que o Serviço Social é uma profissão que é, por excelência, integrante da área das ciências sociais. Nesse sentido, de acordo com Acioli (2007), redes, nas ciências sociais, se refere ao: [...] conjunto de relações sociais entre um conjunto de atores e também entre os próprios atores. Designa ainda os movimentos pouco institucionalizados, reunindo indivíduos ou grupos numa associação cujos limites são variáveis e sujeitos a reinterpretações. (ACIOLI, 2007, p.02).
Como você pode perceber, o termo rede sugere que os profissionais de uma determinada área se aproximem dos demais profissionais. Isso significa dizer que as principais características das redes sociais são a sociabilidade, a comunicação e a inte-
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ração com o mundo globalizado. Segundo Acioli (2007), em nível de análise, afirma-se que a noção de redes está diretamente relacionada a três tipos de abordagens: a primeira abordagem seria a metafórica, ou seja, essa abordagem é aquela mais vinculada a questões filosóficas que envolvem o conceito de rede. Alguns teóricos e pesquisadores consideram que a abordagem metafórica de rede fica evidente quando refletimos a relação indivíduo e sociedade, já que tal relação é sempre um processo de construção, desconstrução e reconstrução de conceitos e teorias. Elas fazem e se desfazem, por isso essa abordagem é vinculada a questões filosóficas. Assim, a rede social é compreendida como uma rede de indivíduos em constante relação. A esse respeito, Elias (1994) diz que: Numa palavra, cada pessoa que passa por outra, como estranhos aparentemente desvinculados na rua, está ligados a outra por laços invisíveis, sejam estes laços de trabalho e propriedade, sejam de instintos e afetos. Os tipos mais díspares de funções tornaram-na dependentes de outrem e tornaram outros dependentes dela. Ela vive, e viveu numa rede de dependências. (ELIAS, 1994, p.22).
Para Elias (1994), a sociedade é constituída a partir das redes sociais, das relações e funções desempenhadas pelas pessoas. Afirma, ainda, que as redes são ar-
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ticuladas em três níveis (o global, o regional e o local), porém esses níveis, quando articulados em redes sociais, ganham uma dimensão socialmente única e concreta. Em suma, a metáfora da rede se constitui em um movimento dialético: as redes são virtuais, mas ao mesmo tempo reais, são técnicas, mas também sociais, são estáveis e ao mesmo tempo dinâmicas. A segunda abordagem, a analítica, como o próprio nome já diz, está centrada na metodologia de análise de redes. Essa abordagem é a mais utilizada pela Antropologia Social. Ela representa a articulação da antropologia com a geografia. Nesse sentido, a geografia seria o principal caminho metodológico para a compreensão das interações sociais. Para explicar sobre essa abordagem, Scherer Warren(1996) ressalta: A análise em termos de redes de movimentos implica buscar as formas de articulação entre o local e o global, entre o particular e o universal, entre o uno e o diverso, nas interconexões das identidades dos atores com o pluralismo. Enfim, trata-se de buscar os significados dos movimentos sociais num mundo que se apresenta cada vez mais como interdependentes, intercomunicativo, no qual surge um número cada vez maior de movimentos de caráter transnacional, como os direitos humanos, pela paz, ecologistas, feministas, étnicos e outros. (SCHERER-WARREN, 1996, p.10).
É importante ressaltar que os estudos que indicam o caminho investigativo têm apontado para a ideia de ações coletivas que se integram mutuamente. Nesse sentido, podemos afirmar que o reconhecimento das redes seria um agente facilitador para que possamos compreender o processo de mobilização e formação dessas redes.
seja, a era informatizada favoreceria a divulgação das informações postadas na rede, possibilitando a divulgação das informações sistematizadas, constituindo-se em conhecimento. Tomael, Alcará e Di Chiara (2005) ressaltam que, nesse contexto das redes, as mesmas permitem a construção de uma identidade cultural no interior do sistema, pois, no interior das redes, cada indivíduo que dela participe possui uma função di-
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das tecnologias de informação como instrumento de divulgação da própria rede, ou
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A terceira abordagem, a tecnológica, se refere, conforme Acioli (2007), ao uso
ferenciada, e que a especificidade dos papéis desempenhados é que terminam por promover nas redes configurações diferenciadas, bem como torná-las específicas para cada contexto. A respeito das redes, Marteleto (2001, p. 72) as define como “[...] um conjunto de participantes autônomos, unido idéias e recursos em torno de valores e interesses compartilhados”. Analisando a concepção de Marteleto (2001) sobre as redes, podemos perceber que o mesmo ratifica a concepção de Tomael, Alcará e Di Chiara (2005) quando corrobora com a ideia de que a rede se origina a partir da necessidade da união de ideias a fim do alcance de um objetivo comum. É importante, porém, termos claro que as redes não se constituem no acaso, mas que fazem parte de um instrumento organizacional contemporâneo que transformou a concepção histórica que possuía de aglomerado de pessoas delimitadas em tempo e espaço. A concepção de rede, na perspectiva organizacional, ultrapassa a linearidade e a centralidade, já que é instrumento flexível, dinâmico, sem limites definidos e autoorganizável. Costa et al. (2003, p.73), sob essa perspectiva de rede, afirma que a rede “[...]é uma forma de organização caracterizada fundamentalmente pela sua horizontalidade, isto é, pelo modo de inter-relacionar os elementos sem hierarquia” A rede enquanto instrumento organizacional se constitui em um facilitador de captura de informações e conhecimentos que circulam no mundo globalizado e que se relacionam não só com as áreas afins específicas, mas com todas as áreas que podem oferecer aquela informação ou conhecimento à possibilidade de sua expansão. Capra (2002), sobre a importância das redes sociais enquanto instrumento de disseminação de informações, define a sua relevância da seguinte forma: [...] na era da informação - na qual vivemos - as funções e processos sociais organizam-se cada vez mais em torno de redes. Quer se trate das grandes empresas, do mercado financeiro, dos meios de comunicação ou das novas ONGs globais, constatamos que a organização em rede tornou-se um fenômeno social importante e uma fonte critica de poder. (CAPRA, 2002, p.267).
Seguindo a análise de Capra (2002), podemos afirmar que, no âmbito organizacional, a constituição das redes representa a 3ª Revolução Industrial, designada por Castells (1999) de Era da Informação, em um mecanismo dialógico e dialético de for-
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mação não só dos seus funcionários, bem como dos setores e das empresas externas com as quais a organização estabelece relações. É importante ressaltarmos que a constituição da rede não ocorre simplesmente, como pode parecer a princípio, pela vontade individual dos seus gestores ou pela simples implantação de um modelo determinado de gestão, mas, pela capacidade do gestor de liderar seus “comandados”, com vistas a fazer com que as informações e o conhecimento circulem no interior da organização, e com que os sujeitos percebam os benefícios pessoais e profissionais proporcionados pelo trabalho em rede, analisando os elementos que a constitui e dentro da globalidade do mundo em rede. Essas redes são do seu nicho profissional e de mercado. Assim, quando falamos de análise de redes, estamos também nos referindo à questão metodológica que envolve os caminhos percorridos para a formação dessas redes. De acordo com Marteleto (2001), a análise de redes estabelece um novo paradigma na pesquisa sobre a estrutura social. Porém, a unidade de análise não é atributo individual, como sexo, idade, gênero etc., mas a análise do conjunto de relações que os indivíduos estabelecem uns com os outros.
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Mas o que seria, então, essa estrutura social no contexto dessa discussão?
Segundo Marteleto (2001, p.72), “a estrutura á apreendida concretamente como uma rede de relações e de limitações que pesa sobre as escolhas, as orientações, os comportamentos, as opiniões dos indivíduos.” A análise de redes é um meio para que se possa realizar uma análise estrutural que tem como principal objetivo mostrar, de forma explicativa, os fenômenos que são estudados, ou seja, o objetivo é demonstrar que a análise das interações entre as pessoas só tem sentido quando comparada a um conjunto de outras pessoas. Portanto, podemos afirmar que uma rede não se resume a uma soma de relações, mas sua soma exerce influência sobre outras relações sociais. Em uma abordagem tecnológica, a análise da rede está voltada para as conexões de rede, para a capacidade de expansão das redes por meio do avanço tecnológico. Essa abordagem é a mais discutida nos dias atuais. Quando relacionamos as redes sociais ao sistema de informação, podemos perceber que as redes adquirem uma estrutura ilimitada, sua expansão possibilita a inserção de códigos que viabilizam uma comunicação mais rápida e eficaz. Assim, as redes se tornam estruturas formais e informais que articulam os indivíduos e os interagem com outros indivíduos e com as mais diversas áreas do conhecimento.
efeitos são visíveis para além desse espaço através das relações com o Estado, a sociedade e de outras instituições representativas. (ACIOLI, 2007, p.08).
Na sociedade contemporânea, as relações de interação, as redes eletrônicas e de informação vêm sendo ferramentas fundamentais para que os grupos que fazem
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As redes nascem num espaço informal de relações sociais, mas seus
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De acordo com Acioli (2007),
parte das redes possam fortalecer seus vínculos.
Você pode estar se perguntando: qual é o vínculo dessas três abordagens com o sistema de rede e de informação?
As abordagens aqui apresentadas estão em consonância com o sistema de informações quando entendemos que informação é um processo de troca permanente, quando não limitamos o sistema de informação a alguns meios de comunicação. De forma geral, quando pensamos em sistema de informação, logo imaginamos equipamentos como: rádio televisão, revistas, dentre outros. Porém, na presente discussão, faz-se necessário ampliar nosso conceito, conseguir visualizar que a concepção de redes sociais está vinculada com o sistema de informações vai muito mais além daquilo ________________________ que possamos pensar. É nesse sentido que Lévy (1993) afirma: ________________________ Se todo processo é interfaceamento, e portanto tradução, é porque nenhuma mensagem se transmite tal qual, em meio condutor neutro, mas antes deve ultrapassar descontinuidades que a metamorfoseiam. Própria mensagem é uma movente descontinuidade sobre um canal e seu efeito será o de produzir outras diferenças. (LÉVY, 1993, p.183).
Fica evidente que trabalhar com a noção de redes sociais significa, de forma direta, formar ideias articuladas e vinculadas ao sistema de informação. Vale ressaltar que a origem e a noção de redes sociais surgem a partir da antropologia. A expressão rede social foi usada pela primeira vez na década de 1950, por Radcliffe Brown, tendo como principal objetivo caracterizar a estrutura social enquanto rede de relação claramente definida e controlada por determinadas instituições. Segundo Marteleto (2001), o conceito de redes é tributário de um conflito permanente entre diversas correntes nas ciências sociais que criam dicotomias como: individuo/sociedade; ator/estrutura; abordagens objetivas/ subjetivas; enfoque macro ou micro da realidade social, colocando qual ênfase analítica em uma das partes. Nesse sentido, vejamos uma questão relevante para o desenvolvimento de nossa temática: as redes de movimentos sociais. Façamos uma breve reflexão e veremos a relação entre a efetividade da liderança e das redes sociais.
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REDES DE MOVIMENTOS SOCIAIS E LIDERANÇAS Nos dias atuais, podemos acompanham uma significativa evolução dos movimentos sociais, no sentido de ampliadas articulações e interações entre seus atores e o mundo da informação. Sabemos que, de forma geral, os movimentos sociais é uma das mais latentes formas de participação coletiva, de participação não hierárquica, com formação espontânea. Porém, podemos também perceber que os movimentos sociais vêm mudando seu perfil. Essas transformações estão justamente relacionadas a alterações sofridas pelos principais mobilizadores, por aqueles que exercem o poder de articulação e liderança. Quando, em aulas anteriores, afirmamos que o bom administrador/planejador é aquele que tem a habilidade de articular as relações sociais e as informações, a ponto de promover interação entre os atores, estávamos nos reportando à figura de um líder que, ao desenvolver seu papel, consegue envolver todas as pessoas no processo de planejamento. Em relação aos novos movimentos sociais, Marteleto (2001) diz que: Os novos movimentos sociais surgem como conseqüência das contradições geradas na desigualdade na propriedade, na apropriação
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do produto social e no planejamento produtivo. [...] O fortalecimento da sociedade civil aparece como alternativa mais aberta aos problemas sociais e a reelaboração de novas formas de relação entre sociedade e Estado. (MARTELETO, 2001, p.73).
Os movimentos sociais hoje ocupam novos espaços, sendo considerados como novos atores sociais que são caracterizados por novas representações e canais de participação popular. É nesse sentido que nesta aula queremos situar a figura do “líder”, a questão da “liderança”, como um dos principais articuladores das redes sociais, sobretudo como alguém que viabiliza e fortalece os vínculos existentes nas redes sociais. Na relação entre redes sociais e lideranças, a representação, a figura do líder não pode satisfazer interesses individuais, mas, antes, buscam-se interesses coletivos voltados para o bem comum. Nesse sentido, a palavra de ordem seria a participação.
Você lembra que falamos sobre a participação em nossa terceira aula?
Porém, vale lembrar que a participação discutida aqui é voltada para uma participação que tem como principais objetivos a mobilização, a pressão e o poder de articulação entre os atores das redes sociais. A esse respeito, afirma Faleiros (2007): Nesse sentido a participação é definida como luta, combate, mobilização, pressão, poder, ou seja, como articulação de forças e de estra-
mudar os lugares. São elas que vão articular as vontades e tornar as exigências das classes subalternas efetivas e de forma autônomas. (FALEIROS, 2007, p.77).
A participação nesta aula dever ser entendida como uma questão de luta coletiva e não como uma busca por interesses individuais. Assim, a sociedade civil deve estar inserida nas decisões tomadas pelos planejadores, por aqueles que idealizam
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recursos e reconhecimento. [...] são as forças que vão conquistar e
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tégias em torno de interesses e classes para a conquista de poderes,
ações em prol do bem comum. Porém, para Faleiros (2007), na verdade, a população pouco tem a decidir. Na maioria das vezes, ela não é consultada para as tomadas de decisões, ainda que essas decisões sejam de interesse social, sejam para solucionar algum tipo de “mal social”. Infelizmente, o que se pode perceber é que a população, muitas vezes, é incluída no processo de informação, no processo das relações, das redes sociais, porém é excluída da tomada de decisão. De forma geral, quando se trata de tomadas de decisões, temos lideranças que, apesar de caráter democrático, acabam não exercendo seu verdadeiro papel de viabilizadores entre a vontade da sociedade civil e o Estado. Sobre essa temática, Faleiros (2007), ressalta: A população é consultada e incluída no processo de informação, mas excluída do processo de decisão. A consulta é restrita e isolada da problemática geral; os resultados desses inquéritos quase nunca são reconhecidos publicamente. [...] Do ponto de vista técnico, a inclusão/exclusão da população nos programas é bem dimensionada para que seja consultiva e limitada a um problema. (FALEIROS, 2007, p.74).
Não nos cabe, nesta aula, realizar um estudo aprofundado na questão da participação, já que isso já foi feito na aula anterior, porém relembramos outros aspectos referentes à participação, para que fique bastante claro que nossa disciplina está totalmente “amarrada”, de tal forma que seria impossível tratarmos de redes sociais e liderança sem mencionarmos a questão da participação. Nesta aula, entretanto, podemos experimentar outra análise de “participação”, outro ângulo, outra forma de situar a participação. No item a seguir, refletiremos sobre a relação entre as redes sociais, a informação e o conhecimento.
REDE SOCIAL, INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO Já mencionamos, nesta aula, que a informação é um fator primordial para que as redes sociais possam se expandir, como podemos acompanhar nos dias atuais. Agora, veremos algumas questões sobre a relação entre a informação e o conhecimento. Sobre a questão da informação, Tomael, Alcará e Di Chiara (2005, p.96) dizem que, “assim entendemos que a informação está no domínio pessoal do receptor, isto é, é ele quem define se a mensagem recebida acrescenta algum valor ao estado anterior.”
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Vale lembrar que a informação sempre se dá num processo de fluxo. É assim que ela funciona para os indivíduos, como um sistema de troca com o mundo exterior, com tudo aquilo que está ao redor do homem. Nesse sentido, são as pessoas que participam ativamente de todo processo de informação. Dessa forma, aqui se ressalta a importância do conhecimento. Para ilustrar a relação entre informação e conhecimento, Choo (1998 apud TOMAEL; ALCARA; DI CHIARA, 2005) descreve um significativo ciclo no qual se atrela a necessidade, a busca e o uso da informação. Sobre a necessidade da informação, Choo (1998) afirma que a mesma contém elementos cognitivos, afetivos e situacionais e que esses elementos fazem com que a informação se constitua, em primeiro momento, como uma incerteza, e com que, a partir do processo de tomada como conhecimento, se solidifique chegando à consciência, passando a ser formalizada. Quanto à busca pela informação, o autor afirma que a mesma envolve cinco categorias: iniciação, monitoramento, extração, verificação e conclusão, e que, no contexto da busca, as três primeiras (iniciação, monitoramento e extração) são fundamentais para que o desenvolvimento do foco e a estratégia da pesquisa ocorram. As demais categorias, por sua vez, são influenciadas pelo ambiente cultural e organizacional, ou seja, a busca e a sistematização das informações serão dadas a partir da inserção cultural e da motivação do indivíduo de conhecer o objeto.
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O uso da informação, por sua vez, segundo Choo (1998), perpassa pelo processo de seleção e processamento da informação, dando origem apenas a uma nova informação ou ao conhecimento. O uso da informação para a formação de uma nova informação consiste na não solidificação da informação recebida inicialmente, ou seja, se a informação não se constituir em conhecimento, significa que a mesma promoveu, metaforicamente falando, a frustração do indivíduo que buscou aquele conhecimento. Ao se buscar uma informação, esta deve se transformar em conhecimento e isso ocorre quando a mesma oferece elementos capazes de responder a questões, resolver problemas, tomar decisões, negociar posições ou construir significados para determinada situação. A transformação da informação significa a capacidade do sujeito que a utiliza em articular as diversas informações que possui em conhecimentos, transformando o todo organizacional, bem como promovendo a continuidade e mutação da rede. O processo de conhecimento se constitui, assim, a partir da consolidação da informação, que passa a ter para o sujeito valor agregado, conduzindo o sujeito à ação. Na área da gestão, o conhecimento é dividido em três tipos. Vamos aqui dar uma pausa na discussão de rede, para entendermos um pouco mais sobre esses tipos definidos por Miranda (1999). De acordo com Miranda (1999), os conhecimentos se dividem em explícito, tácito e estratégico. O conhecimento explícito se refere ao conjunto de informações elicitadas em determinada fonte, sobre determinado assunto ainda não interpretado. Poderíamos dizer, na área da pesquisa, que se refere à bibliografia documental, que se baseia na aquisição de informações em fontes primárias como a Bíblia, por exemplo.
da aquisição de novas informações. Esse tipo de conhecimento é totalmente influenciado pelas crenças, valores e sentimentos do sujeito que o possui, sendo difícil de ser articulado com o mundo formal de construção do conhecimento (MIRANDA, 1999; NONAKA; TAKEUCHI, 1997). O conhecimento estratégico, por sua vez, refere-se ao conhecimento fruto do conhecimento tático e do conhecimento explicito, ou seja, é o resultado dos conheci-
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nado assunto acumulado pelo sujeito. Esse conhecimento se complementa a partir
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O conhecimento tácito refere-se ao conjunto de informações sobre determi-
mentos anteriores, formados a partir de informações estratégicas e de informações de acompanhamento. A relação intrínseca entre os três conhecimentos é fundamental, por assim dizer, para a afirmação da rede, pois é a partir dos conhecimentos tático e explícito, que são inerentes à rede em que o conhecimento estratégico ocorrerá. Nonaka e Takeuchi (1997, p.67-78) afirmam sobre a importância dos conhecimentos para a rede: O modelo dinâmico da criação do conhecimento humano é criado e expandido através da interação social entre o conhecimento tático e o explicito. [...] essa interação denomina-se de conversão do conhecimento e se constitui em um processo social entre indivíduos e não confinada dentro de um individuo. Assim as redes sociais se mantêm valendo-se da interação entre diversos indivíduos para a criação de novos conhecimentos. (NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p.67-78)
A reprodução dos conhecimentos, conforme os autores citados, se constitui, como vimos, em um dos princípios de solidificação das redes. Nessa perspectiva, cabenos questionar qual é a importância da rede para a área do Serviço Social. Vamos pensar sobre isso...
Aprendemos, durante o curso, que o Serviço Social foi uma profissão oriunda dos princípios eclesiásticos da igreja católica e que foi a partir do desenvolvimento e da legitimação como profissão voltada para os processos de mediação da relação capital versus trabalho que a mesma garantiu a sua relação com as políticas sociais. Foi a partir desse contexto que o Assistente Social passou a ser o responsável e coresponsável pela elaboração, implementação e avaliação das políticas sociais. Assim, a implementação eficaz das políticas sociais com vista à garantia dos direitos sociais só é possível a partir da capacidade do profissional de se articular no interior das redes.
Mas o que seria esse se articular? Vamos pensar...
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Se atuarmos em uma comunidade, ou em uma ONG, ou em qualquer outro espaço ocupacional, e estivermos buscando garantir o direito do indivíduo, fica claro que, no campo específico em que atuamos naquele momento, só vamos dispor da política com a qual a organização especificamente atua. A constituição do direito do usuário, porém, não será possível de ser alcançada atendendo apenas a uma de suas necessidades. Se pensarmos mais objetivamente que atuamos em um hospital e que o mesmo garante apenas o direito à saúde, o que fazer para garantir o direito de uma criança violentada sexualmente de ter assistência psicológica e social? Podemos pensar... é simples.... basta denunciar ao Ministério.... Não é tão simples assim na prática, pois será preciso, antes de mais nada, saber exatamente a quem se dirigir, a que setores, a que profissionais, e que procedimentos realizar, para que a denúncia seja feita e o acompanhamento àquela criança realizado. O conhecimento da rede se constituirá, assim, na capacidade dos profissionais de articular não só os conhecimentos teórico-metodológicos que possuem, mas também os conhecimentos inter-relacionais dos profissionais que são da nossa área de atuação e que possam estar disponíveis a nos auxiliar na viabilização daquele direito para o usuário. A legitimação da rede se constitui, assim, para o Serviço Social, em um dos principais instrumentos de efetivação da práxis profissional, possibilitando não só a garantia dos direitos dos usuários, bem como a construção de novos conhecimentos,
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pois isso permite que profissionais efetivem o desenvolvimento da práxis a partir da operacionalização das políticas públicas. Na próxima aula, ampliaremos nossos conhecimento sobre a rede, compreendendo como essa se operacionaliza a partir da efetivação dos planos e programas sociais
SÍNTESE Nesta aula, vimos, de forma clara, um breve histórico conceitual das redes sociais. Realizamos uma reflexão sobre os três principais níveis de abordagem que dão noção às redes sociais. Relembramos alguns fenômenos referentes ao processo de participação quando tratamos sobre os movimentos sociais estruturados em redes sociais. Aprendemos como os movimentos sociais ganharam, nos dias atuais, novas formas de mobilização e um novo perfil. Outra questão importante exposta nesta aula diz respeito à importância da rede para efetividade da prática profissional, visto que a mesma é que legitima as diversas formas de interação, participação e redes de comunicação para a implantação das políticas sociais.
QUESTÃO PARA REFLEXÃO Ao refletir sobre o conteúdo abordado, para você, qual seria a relação entre o tema desta aula com a disciplina de forma geral?
de produtos e serviços de informação. Ciência da Informática, Brasília, v.25, n.3. 405-414, 1996. CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
sociais
BARRETO, Aldo de Albuquerque. A eficiência técnica e econômica e a viabilidade
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LEITURAS INDICADAS
SITES INDICADOS ESTEVES, George André Galvão. Administração, modelos organizacionais e a aprendizagem continuada como fato gerenciador da competitividade de projetos. Disponível em: http://www.fabavi.br/revista/index.php. Acesso em: 1 fev.2012. FIGUEREDO, Saulo Porfírio. Compartilhamento do conhecimento. Disponível em: http://www.kmol.online.pt/artigos. Acesso em: 31 jan.2012. FRANCHINELLI, Ana Cristina; MARCON, Christian; MOINET, Nicolas. A prática da gestão de redes: uma necessidade estratégica da sociedade da informação. Disponível em: http://wwwComciencia.br/reportagens/socinfo/. Acesso em: 31 jan.2012.
REFERÊNCIAS ACIOLI, Sônia. Redes sociais e teoria social: revendo fundamentos do conceito. Ciência da Informação, Brasília, v.12, n 3, especial, 2007
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
CAPRA, Frijot. As conexões ocultas: ciência para uma vida sustentável. São Paulo. Cultrix, 1999.
COSTA, Larissa et al. Redes: uma introdução às dinâmicas da conectividade e da auto organização. Brasília: WWF - BRASIL, 2003.
ELIAS, N. A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.
FALEIROS, Vicente de Paula. Saber profissional e poder institucional. 7. ed. São Paulo: 2007.
LÉVY, P. As tecnologias de inteligência: o futuro do pensamento da informática. Edição 34, Rio de Janeiro: 1993.
MARTELETO, Regina Maria. Análise de redes sociais: aplicação nos estudos de transferência da informação. Ciência da Informação, Brasília, v.30, n.1, p.71-81, jan.2001.
MIRANDA, Roberto Campos. O uso da informação na formulação de ações estratégicas pelas empre-
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sas. Ciência da Informação. Brasília. v.28.n.3,set/dez.1999.
NONAKA, Jkujiro. TAKEUCHI, Hiroka. Criação do conhecimento na empresa: como as empresas japonesas geram a dinâmica da inovação. 9. ed. Rio de Janeiro: Campos. 1997
SCERER-WARREN. Redes de movimentos sociais. São Paulo: Loyola - Centro, 1996.
TOMAEL, Maria Inês; ALCARA, Adriana Rosecler; DI CHIARA, Ivone Guerreiro. Das redes sociais à inovação. Brasília, v.34, n.2, p.93-104. maio/ago.2005.
Autora: Shirley Barbosa Menezes de Paiva “Ninguém é tão sábio que nada tenha para aprender, nem tão tolo que nada tenha pra ensinar.”
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CEITUAIS NO ÂMBITO GOVERNAMENTAL E DA ADMINISTRAÇÃO
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AULA O5 - PLANEJAMENTO: ASPECTOS CON-
Blaise Pascal
Olá!
Daremos início a uma nova caminhada! Nesta aula, convido você para tratarmos sobre os aspectos conceituais que envolvem o planejamento no âmbito governamental e da administração. Vale ressaltar que inicialmente trataremos do planejamento no âmbito da administração, posteriormente, para alcançarmos o nosso objetivo, discutiremos assuntos como: planejamento organizacional privado e o planejamento relacionado a ações governamentais. No decorrer desta aula, iremos refletir sobre alguns conceitos básicos e necessários para que você possa compreender todo nosso conteúdo de forma prazerosa e satisfatória. Em nossa segunda aula, discutimos sobre os aspectos conceituais e de aplicabilidade do planejamento. Vimos a origem e o desenvolvimento do planejamento, além de suas principais características. Você se recorda? Pois bem, para complementar a discussão já iniciada é que essa disciplina traz de forma específica o planejamento no âmbito governamental e da administração, visto que o Assistente Social está inserido nesse contexto, direta ou indiretamente nos dias atuais. Preparado para mais esse desafio?
O PLANEJAMENTO NO ÂMBITO DA ADMINISTRAÇÃO Para falarmos sobre o planejamento no que se refere à administração, primeiramente relembremos um conceito bastante utilizado no decorrer do curso e que agora vale mencionar: a concepção de gestão. De acordo com Paludo (2011), o termo gestão é frequentemente utilizado por vários estudiosos, autores e profissionais de diversas áreas do conhecimento, não apenas da área social. Esse não é um termo restrito ou relacionado a uma profissão específica. De forma geral, gestão abrange um conjunto de tomadas de decisões, de regras e normas a serem coordenadas. Essa definição de gestão independe do tipo de organização e setor que o profissional atua no mercado de trabalho. Quando tratamos de gestão, é importante deixar claro que ela pode ser caracterizada como: gestão pública, gestão privada e gestão social.
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VOCÊ JÁ OUVIU FALAR SOBRE ESSES TRÊS TIPOS DE GESTÃO? Pois bem. Se você já conhece esses conceitos, então vamos fazer uma breve revisão, só para relembrar. A gestão social, como o próprio já diz, está voltada para fins sociais, é a gestão direcionada a um determinado grupo ou comunidade, sempre sendo pensada numa perspectiva das necessidades coletivas e não individuais. Observe a gravura e associe-a com a gestão social, e veja o quanto a coletividade, representada na figura, deveria estar presente na prática desse tipo de gestão.
Fonte: Adaptado de 921_1.jpg itecne.com.br
Ainda em relação à gestão social, Tenório (2007) nos diz que esse conceito foi cunhado pela primeira vez em 1990, quando o sistema neoliberal adentrou nosso país trazendo enormes consequências para a população e de maneira especial para as famílias que se encontravam em estado de vulnerabilidade social. Sabemos que, quando o neoliberalismo programa e preconiza um Estado mínimo, esse sistema, na verdade, penetra e se instala no Brasil transferindo as responsabilidades que legalmente seriam do Estado para a sociedade civil. Dessa forma, em meio a essa realidade vivida em nosso país na década de 1990 é que se pensou também na gestão pública, e em meios de um processo de gerenciamento que pudessem proporcionar um diálogo mais aberto e menos ditatorial. Tenório (2007, p.10) define gestão social como “o processo gerencial dialógico no qual a autoridade decisória é compartilhada entre os participantes da ação (ação que possa ocorrer em qualquer tipo de sistema social).”
que são traçadas metas coletivas que são desenvolvidas no âmbito político e jurídico. É importante lembrar que a gestão pública é um processo presente nas três esferas do governo das mais variadas formas. Já a gestão privada se refere a ações totalmente voltadas para interesses particulares de um determinado grupo e/ou indivíduo. Uma das mais fortes características
sociais
A gestão pública está diretamente relacionada à atuação estatal. É através dela
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PARA VOCÊ, O QUE É UMA GESTÃO PÚBLICA?
dessa gestão é a busca pela obtenção de lucro. Podemos perceber então, a partir dos conceitos aqui abordados, que existe algo em comum entre a gestão social e a gestão pública: ambas estão voltadas para ações de interesses coletivos. Sabemos que os propósitos são diferentes e que os meios utilizados para a efetivação da gestão também são diferentes, mas os dois modelos de gestão estão direcionados a interesses coletivos e não individuais. Essa discussão sobre gestão foi o “ponta pé” inicial para falarmos sobre o planejamento no âmbito da administração. Segundo alguns estudiosos, a administração existe uma relação intrínseca entre administração e planejamento. Veja o que nos diz Paludo (2011): A idéia central de administração, quando aplicada em funções de planejamento, é a ação corretamente calcula para realizar objetivos intencionalmente projetados. A administração, neste contexto, instrumentaliza a ação humana cooperativa com alto grau de racionalidade. Como meio de pautar ações racionais na condução sistemática de planos no âmbito das organizações, o termo administração é utilizado tanto para designar funções de planejamento e direção, como para designar as atividades de execução do que é programado e planejado. (PALUDO, 2011, p.7)
Acredito que você tenha compreendido o quanto os termos planejamento e administração estão intimamente vinculados. De forma geral, o processo de planejamento é executado por meio das diretrizes traçadas pela administração da organização. Nesse sentido, o administrador seria o profissional capacitado a atuar nas organizações e exercer a função de planejar, dirigir, controlar e coordenar. Outra característica do administrador deve ser a sua capacidade de interpretar a realidade. Essa habilidade de interpretar a realidade, o administrador começa a adquirir através das capacitações e formações específicas desde a formação acadêmica. É nesse sentido que Tenório (2007, p.32) afirma que “a formação de administradores (para atuarem em organizações públicas e privadas) deve ter como objetivo central sua adaptação à realidade que se apresenta.” Tanto o ato de planejar quanto o ato de administrar são ações tão antigas que marcaram profundamente a história da humanidade. De acordo Paludo (2011), o planejamento, como função administrativa, é um processo que envolve princípios teóricos, procedimentos metodológicos, técnicas, princípios organizacionais etc. Todos esses critérios auxiliam as instituições a alcançarem seus objetivos.
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Agora que já falamos sobre o planejamento no âmbito da administração, vejamos o planejamento organizacional privado.
PLANEJAMENTO ORGANIZACIONAL PRIVADO Vamos estudar sobre um assunto bastante discutido em nosso cotidiano. Sabemos que o planejamento são ações realizadas já há décadas, porém, nos dias atuais, a prática do planejamento vem ganhando novas técnicas e métodos para que as atividades possam ser bem desenvolvidas. Sabemos que, de forma geral, o planejamento é elaborado pensando na perspectiva de se prevenir para o futuro, para situações inesperadas que possam criar constrangimentos. Sabemos também que a administração é composta de quatro funções: dirigir, controlar, organizar e planejar, porém o planejamento é a mais importante das funções. Para Paludo (2011), o administrador é um profissional que não se restringe apenas às situações do presente, aquilo que é imediato ou situações que lhes são apresentadas no cotidiano, pelo contrário, o bom administrador é aquele que planeja, que com antecedência busca se precaver de possíveis imprevistos. Assim, de forma geral, as decisões do administrador estão sempre voltadas para o futuro, por isso a necessidade de sistematizar as ações e as informações.
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Fonte: www.sxc.hu
Quando falamos sobre o planejamento organizacional, referimo-nos, em termos práticos, ao modo sistemático no qual se efetiva o planejamento. Como resultado desse processo de organização, tem-se a elaboração do plano. O plano é justamente o resultado final do planejamento, ou seja, o seu produto. Sobre essa questão Paludo (2011) afirma que: Como evento intermediário entre os processos de elaboração e implementação, o plano ordena as ações necessárias para atingir os objetivos. Ele identifica as ações a serem desenvolvidas, quem deve levá-las a cabo, quando deve fazê-lo, que recursos utilizar etc. Assim, o plano contém um conjunto de programas que apresentam ações lógicas, sob a forma de projetos ou atividades, para o alcance dos objetivos. (PALUDO, 2011, p.12)
Podemos também afirmar que uma das funções do plano é justamente orde-
ção na perspectiva de alcançar as metas desejadas. É nesse sentido que Paludo (2011, p.12) diz que “os planos facilitam a organização no alcance de sua meta e cita alguns aspectos que funcionam como balizas ou guias para essa organização. São eles:
Os planos definem os recursos necessários para alcançar os objetivos organizacionais.
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recursos, os objetivos e as formas de controle. São os planos que facilitam a organiza-
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nar os objetivos gerais e os decompor em objetivos específicos. Os planos contêm os
Os planos servem para entregar os vários objetivos a serem alcançados em um esquema organizacional. Os planos permitem que as pessoas trabalhem em diferentes atividades consistentes com os objetivos definidos. Os planos permitem que o alcance dos objetivos possa ser continuamente monitorando e avaliado em relação a certos padrões e indicadores, a fim de permitir a ação corretiva necessária quando o progresso não seja satisfatório.
Citamos os aspectos referentes ao plano para deixar claro, nesta aula, a distinção entre plano e planejamento, conceitos que de forma geral são, algumas vezes, confundidos.
AGORA ESTÁ EVIDENTE A DIFERENÇA ENTRE PLANO E PLANEJAMENTO? Segundo Paludo (2011, p.13), “planejamento é o processo e o plano é a parte desse processo que contém os principais enunciados. Assim é fácil perceber que o planejamento é perene, mas o plano que dele deriva é transitório”. Após toda nossa discussão, convido você a fazer uma reflexão sobre a imagem a seguir e associá-la à distinção entre o planejamento e o plano.
Fonte: Adaptado de diagrama‑da‑colabora‑ccedil‑atildeo‑thumb8533556.jpg curso100horas.blogspot.com
Dando continuidade à questão organizacional do planejamento, vale aqui ressaltar que o planejamento, assim como outras estratégias de ação, tem seu objetivo
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e benefício. Se tratando do objetivo, já mencionamos em outros momentos que um
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é criar possibilidade e condições favoráveis que dar suporte às organizações, para que
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planejamento almeja alcançar uma determinada finalidade. Na verdade, seu objetivo elas possam alcançar os objetivos desejados. O planejamento é uma espécie de búsula que guia e norteia as instituições para que elas possam alcançar seus fins. É por meio do planejamento que as organizações e instituições podem indicar o caminho a ser seguido e assim assegurar a boa distribuição de recursos, tempo e esforços. De acordo com Paludo (2011, p.16), quando o planejamento é realizado da melhor forma possível, ele proporciona bons resultados, como:
Limita ações arbitrária; Restringe o casuísmo; Reduz ambigüidade; Ajuda a organização a adaptar ao ambiente; Aumenta a capacidade de tratar com incertezas; Aumenta as chances de acerto na tomada de decisão;
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Permite selecionar a opção mais racional adequada; Aponta um rumo para a organização; Orienta as funções de organizar, dirigir e controlar; Ordena ações e integra esforços; Define bases objetivas para diálogos e decisões; Proporciona maior eficiência nas ações; Permite economizar esforços e recursos; Permite prever o tempo adequado para conclusão do trabalho.
Agora vejamos rapidamente quais são as principais etapas do planejamento. Sabemos que o planejamento é um processo e, como todo processo, ele também dispõe de sete etapas a serem seguidas. A primeira etapa se refere ao estabelecimento dos objetivos. Estes devem estar bastante definidos para que o planejador possa ter realmente um ponto de partida e assim possa idealizar um ponto de chegada. São os objetivos que identificam quais os resultados se pretende alcançar. A administração não tem sentido se não houver metas a serem cumpridas, logo os administradores dão vitalidade ao planejamento. O segundo passo é o diagnóstico da situação atual. Sobre essa etapa, Paludo (2011, p.18) diz que “essa análise define onde se está e o quanto longe se está de onde se deseja chegar - define o que precisa ser feito”. É através dessa etapa que é possível definir os pontos fortes e fracos da organização.
preparação do ambiente para o futuro. O ambiente também é um fator muito importante que compõe uma das etapas do planejamento. As alternativas de ação é a quarta etapa. Sobre essa etapa, diz Paludo (2011) que: O planejamento é a busca de análise de cursos alternativos de ação.
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o que isso quer dizer? Bem, o cenário é justamente o ambiente propriamente dito, é a
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O terceiro passo é o desenvolvimento de cenários quanto às condições. Mas
Trata-se de relacionar e avaliar todas as ações consideradas válidas para o alcance dos objetivos. Em seguida seleciona-se a melhor alternativa, o melhor curso de ação para alcançar os objetivos propostos. Trata-se da estratégia escolhida pela organização. A alternativa escolhida orienta a elaboração e execução dos planos setoriais e operacionais. (PALUDO, 2011, p.20)
De forma geral, as decisões sempre são tomadas tendo como base o custobenefício. As alternativas a serem escolhidas estão sempre voltadas para a busca de melhores retornos possíveis. A quinta etapa é o desmembramento do plano geral em plano específico. Essa fase é caracterizada por desmembrar o plano, mas não perder sua visão central e a
estratégia adotada. Aqui acontece o desmembramento em planos operacionais para, ________________________ de forma direta, a execução das atividades em busca de alcançar os objetivos. O sexto passo é a implementação dos planos em nível operacional. Em relação a essa fase, Taludo (2011, p.20) diz que esse é um momento crítico do plano, visto que esse é o momento da intervenção direta na realidade, e destaca o autor: “se identificadas situações inesperadas devem ser tomadas tempestivamente, ações corretivas apropriadas a cada situação”. Vejamos a sétima e última etapa que são os resultados avaliados. É nessa etapa que os objetivos são comparados e verificados se foi alcançados ou não. Toda organização deve analisar as estratégias, comparar os resultados e calcular o provável retorno das estratégias aplicadas. Vejamos agora algumas questões referentes ao planejamento governamental.
O PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL O planejamento governamental é uma questão relevante a ser tratada em nossa aula, visto que o Assistente Social está inserido nesse contexto direta ou indiretamente. De acordo com Paludo (2011), o planejamento governamental é compreendido como um conjunto de ações integradas, situadas no tempo e no espaço, de caráter pragmático orientadas para a ampliação do nível de conhecimento sobre a realidade presente. A respeito da concepção de planejamento governamental, Paludo (2011) afirma que:
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É um processo de normas técnicas próprias que procura assegurar
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líticas públicas implementadas em forma de programas - o desen-
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- além da consistência interna e da continuidade no tempo das povolvimento nacional, regional e local. [...] é um método coerente e compreensivo de formação e implementação de diretrizes, através de um controle central de vastas redes de órgãos e instituições interdependentes, viabilizados por conhecimentos científicos e metodológicos. (PALUDO, 2011, p.83).
O planejamento governamental é caracterizado por buscar perseguir os objetivos que representam os interesses gerais e permanentes. Logo, podemos afirmar que esse tipo de planejamento não comunga com a ideia e os conceitos de políticas fragmentadas e pontuais, ou com interesses partidários. Na verdade, o planejamento governamental visa representar projetos duradouros que possibilitem estabilidade e bem-estar da sociedade como todo. Sabemos que as decisões que envolvem o planejamento governamental proporcionam grandes gastos e grandes quantias de recursos, já que as ações são voltadas para os interesses de toda sociedade. Outro ponto fundamental que caracteriza o planejamento governamental é que o mesmo é compreendido como um processo de gestão dos recursos públicos e das atividades dos órgãos e entidades da administração pública.
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Segundo Paludo (2011, p.84), esse tipo de planejamento “inclui mecanismos de acompanhamento e avaliação do desempenho e dos resultados alcançados, e também a capacitação e a motivação dos colaboradores do empreendimento”. Vale mencionar ainda que, o planejamento governamental em sua essência, tem incorporado a governança, a governabilidade e a sustentabilidade. A governança, por exemplo, se refere a uma estrutura que não pode ser duramente imposta, mas, ao contrário, as decisões devem ser resultado de diversas interações entre inúmeros agentes que buscam o mesmo objetivo, o bem social. Sobre a governança, afirma Paludo (2011, p.86): “o propósito da governança pode ser então descrito como enfrentar problemas, mas também como gerar oportunidades nas complexas, dinâmicas e diversificadas sociedades contemporâneas”. A governança pode também ser classificada como corporativa pública, ou seja, é capacidade de governar, de decidir e implementar políticas públicas que atendam as necessidades da população. É nesse sentido que podemos afirmar que as decisões oriundas do planejamento envolvem não apenas um ator, mas vários atores e, certamente, quando se trata de bem governar, existem diversas alternativas, diversos caminhos a serem seguidos, como mostra a figura.
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FONTE: Adaptado de plano+diretor.jpg gremistasecoloradoinfiltrado.blogspot.com
Outro conceito importante aqui é a governabilidade, que se refere ao poder político em si, porém esse poder deve contar com todo apoio da sociedade civil para a sua legitimação. A governabilidade realmente acontece quando o povo participa de forma direta nas tomadas de decisão. A governabilidade é apoiada na participação do cidadão. Nesse caso, é a sociedade civil que se organiza enquanto força política capaz de mobilizar até o Congresso Nacional. A governabilidade coloca para os gestores um grande desafio: a fidelidade aos interesses comuns, aos interesses coletivos, já que se faz necessário viabilizar os direitos, promover alianças políticas, tudo isso em busca do bem estar social. O terceiro conceito relevante é a sustentabilidade. Aqui, é bom deixar claro que a sustentabilidade não está relacionada apenas aos cuidados com a natureza. Nesse contexto, sustentabilidade se refere à busca de continuidade das políticas públicas. Nesse sentido, os governos devem, na verdade, construir uma rede fortalecida que permita boas condições de governabilidade. Considerando que o processo de planejamento é dinâmico, é que podemos perceber a relevância da sustentabilidade. Sobre essa questão diz Paludo (2011): A Constituição Federal de 1988 consagrou a sustentabilidade em seus objetivos de construção da sociedade livre, justa e solidária, de redução da pobreza e da marginalização, de redução das desigualdades sociais e regionais e de garantia de desenvolvimento nacional. A busca do desenvolvimento sustentável deve ser considerada no planejamento governamental e supõe objetivos e estratégias nacionais, regionais e locais integradas. (PALUDO, 2011, p.87)
Podemos perceber que o conceito de sustentabilidade não é algo criado sem fundamentação, ao contrário, ele está legalmente respaldado e, por isso, traz de forma clara qual seu objetivo e sentido. A sustentabilidade faz parte de um modelo de gestão descentralizado e participativo, no qual o planejamento é fundamental no alcance
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dos objetivos e metas traçadas. O que podemos acompanhar nos dias atuais é que o planejamento não vem sendo valorizado da forma que ele merece ser. Apesar da evolução significativa, a prática de planejar ainda não alcançou sua plenitude. Assim chegamos ao final de mais uma etapa dessa disciplina. Espero você na próxima aula para falarmos sobre projeto e seus aspectos conceituais e de aplicabilidade. Até lá!
SÍNTESE Nossa quinta aula certamente foi bastante proveitosa. Aqui aprendemos que o planejamento não é uma prática restrita a apenas um determinado grupo de profissionais e/ou instituições. Podemos ver que no sentido amplo o planejamento faz parte da toda existência humana. Nesta aula, vimos o planejamento no âmbito governamental e da administração, refletimos a respeito de alguns conceitos que estão diretamente relacionadas ao planejamento, tais como: gestão, gestão social, gestão pública e gestão privada. Vimos também o conceito de governança, governabilidade e sustentabilidade, dentre outros. Posteriormente, finalizamos nossa discussão na expectativa para o nosso sexto encontro.
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QUESTÃO PARA REFLEXÃO Tomando como base a discussão desta aula, quais estratégias seriam necessárias para que tanto o planejamento governamental e de administração possam realmente ser efetivados?
LEITURAS INDICADAS FAÇANHA, Luís Otávio; MARINHO, Alexandre. Programas sociais: efetividade, eficiência e eficácia como dimensões operacionais da avaliação. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/pub/td/td_2001/td0787.pdf. Acesso em:28 de janeiro de 2010. FERNANDES, Ângela. A responsabilidade social e a contribuição das relações públicas. Disponível em: http://www.portal-rp.com.br/bibliotecavirtual/ responsabilidadesocial/0098.htm. Acesso em: 28 de janeiro de 2012.
SITES INDICADOS Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS. Disponível em: http://www.mds.gov.br/ acesso em : 28 de janeiro de 2012. Programa Ação Comunitária Avape - Projetos e Programas Sociais. Disponível em:
Programas e projetos sociais. Disponível em: http://www.bibliotecavirtual.sp.gov.br/ projetos/index.php. Acesso em: 28 de janeiro de 2012.
REFERÊNCIAS
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28 de janeiro de 12.
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http://www.avape.org.br/portal/pt/projetos-e-programas-sociais.html . Acesso em:
PALUDO, Vicente Augustinho; PROCOPIUCK, Mario. Planejamento governamental: Referencial Teórico, Conceitual e Prático. São Paulo: Atlas, 2011.
TENÓRIO, Fernando Guilherme. Gestão Social: Metodologia, casos e práticas. 5. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2007.
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AULA 06 - PROJETO: ASPECTOS CONCEITUAutora: Shirley Barbosa Menezes de Paiva “Há três métodos para ganhar sabedoria: primeiro, por reflexão, que é o mais nobre; segundo, por imitação, que é o mais fácil; e terceiro, por experiência, que é o mais amargo.”
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(Confúcio)
Olá, É com muita alegria que chegamos a nossa sexta aula. Agora vamos juntos tratar de questões estruturais de projeto. O objetivo dessa aula é deixar bastante claro as devidas orientações para a elaboração participativa de projetos. Para conseguirmos alcançar nosso objetivo conto com sua disposição, coragem e inteligência. Dessa forma, nossa trajetória se tornará prazerosa e de fácil aprendizagem. Posso contar com você? Então vamos!
PROJETO SOCIAL: ASPECTOS CONCEITUAIS Iniciemos nossa reflexão falando sobre a emergência e relevância da elaboração de projetos sociais nos dias atuais. A desigualdade social, a fome, a miséria e, sobretudo o desemprego, vêm afetando diretamente a classe trabalhadora que consequentemente deixa de ter acesso aos direitos básicos para sobreviver. Para Pastorini (2007), o desemprego é o principal causador da desigualdade, deixando as famílias em estado de vulnerabilidade social, sem acesso a uma vida digna, à educação de qualidade, saúde e alimentação. A precarização do trabalho é um dos principais riscos na contemporaneidade, visto que é por meio do trabalho que o cidadão consegue estar inserido no meio social. Sabemos que a crise no mundo do trabalho, o aumento do desemprego e a precarização das condições de trabalho, consequentemente, estão vinculados a uma significativa regressão dos direitos sociais.
QUAL É A ASSOCIAÇÃO ENTRE A CRISE DO DESEMPREGO E A ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS? Os projetos sociais geralmente são pensados a partir de uma necessidade social, esses projetos são elaborados na perspectiva de efetivar alguma mudança na realidade. Logo, eles são ações necessárias para o ajuste e equilíbrio na sociedade, seja na área da educação, saúde, alimentação e/ou habitação. De acordo com Stephanou (2003), projetos sociais são ações intencionais, estruturadas de uma organização ou de um grupo social que se inicia a partir de uma reflexão e diagnóstico sobre um determinado problema social.
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Os projetos sociais buscam contribuir de forma positiva para o bem estar da sociedade, atingindo a camada da população que necessita ser alcançada e beneficiada por ele. Muitos estudiosos e teóricos interessados sobre o assunto tentaram definir de forma precisa o projeto social, porém dentre tantas definições, vejamos a definição de Armani (2000, apud Stephanou, 2003, p. 02) que traduz com clareza o que são projetos sociais. “Um projeto social é uma ação planejada, estruturada em objetivos, resultados e atividades, baseados em uma quantidade limitada de recursos (...) e de tempo.” Vale mencionar que um projeto social não se constitui numa elaboração isolada, mas numa ação coletiva que depende de vários atores sociais. Dessa forma, um determinado projeto social não é capaz de mudar toda uma sociedade de forma instantânea. Para a sua efetivação ele sempre dependerá de articulações com políticas e programas que tenham como objetivo o desenvolvimento social. Podemos então afirmar que os projetos sociais poderão, além de induzir e provocar uma mudança na realidade social, ser um indutor de novas políticas públicas, poderão ser um dos principais veículos que possam viabilizar e despertar entre os gestores e a sociedade civil a criação de novas estratégias e políticas públicas, tendo em vista a população em situação de vulnerabilidade social.
Você lembra o conceito de políticas públicas?
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De acordo com Stephanou (2003), as políticas públicas são ações continuadas no tempo, e tem como principal financiador os recursos públicos direcionados exclusivamente ao atendimento das necessidades coletivas. Essas políticas são resultados das mais diferentes formas de articulações entre a sociedade civil e o Estado. Mas, retomemos aos aspectos relacionados aos projetos sociais. Vale lembrar que um projeto social é uma unidade bem menor que uma política pública. Entre eles existe uma significativa diferença conceitual: enquanto a política pública se constitui em ações continuadas, voltada para manter e regular a oferta de determinados serviços, o projeto social tem ações bem mais focalizadas, direcionadas a um grupo e já almejando de forma antecipada alcançar o resultado final. Nesse sentido, Stephanou (2003), diz que: Os projetos sociais são uma importante ferramenta de ação, amplamente utilizada pelo Estado e pela Sociedade Civil. Para entender porque os projetos sociais tornaram-se esta ferramenta tão difundida, é necessário perceber as mudanças ocorridas nas últimas décadas, tanto nas esferas estatais como na Sociedade Civil brasileira (STEPHANOU, 2003, p.02).
Ainda em relação às questões conceituais sobre projetos sociais, é importante, nesta aula, deixar evidente a diferença entre projetos, programas e planos. Esses conceitos ainda são confundidos em nosso cotidiano quando o assunto é projeto, política e/ou do Estado em parceria com a sociedade civil. Segundo Cohen e Franco (2008), um projeto não é algo que existe por um acaso, ou impensado, a elaboração de um projeto social exige um planejamento, visto
objetivos. É o programa que estabelece de forma macro, as prioridades de intervenção, ou seja, qual o público que necessita ser alcançado emergencialmente. É o programa também que ordena os projetos. Em relação ao plano, o autor diz que ele é a soma de programas que procuram objetivos comuns. É o plano que ordena os objetivos gerais e específicos determinando o modelo de alocação de recursos da decisão política.
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objetivos. Já o programa é um conjunto de projetos que normalmente têm os mesmos
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que ele é um conjunto de atividades interrelacionadas para alcançar determinados
Espero que tenha ficado claro para você a diferença entre projeto, programa e plano. Colocando essa diferença no sentido de amplitude, o projeto é micro e está contido dentro do programa e os dois por sua vez, fazem parte do plano, que já algo macro. Está claro agora?
Retornando a nossa discussão sobre projetos sociais, a Organização das Noções Unidas (ONU) define projetos sociais como [...] um empreendimento planejado que consiste num conjunto de atividades inter relacionadas e coordenadas, com o fim de alcançar objetivos específicos dentro dos limites de tempo e de orçamento dados. (ONU, s.d.)
Após refletirmos as questões conceituais que envolvem os projetos sociais, vejamos agora como se dá sua elaboração participativa. Como construir passo a passo um projeto. Veremos quais são as etapas a serem seguidas e os caminhos a serem percorridos.
PROJETOS SOCIAIS: PASSO A PASSO PARA UMA ELABORAÇÃO PARTICIPATIVA Ao pensarmos em elaborar um determinado projeto social, é preciso que tenhamos de forma clara quais são os primeiros passos a serem seguidos. Imaginemos uma árvore e pensemos agora em toda sua estrutura! A raiz, o caule, as folhas, os frutos... Todo projeto social é composto por uma determinada estrutura, sendo constituído por um começo, meio e fim. Vejamos agora quais são os primeiros passos. Iniciemos pela identificação do ator, como sendo o primeiro passo.
Quem seria esse ator? Quais suas características?
O ator de um projeto é justamente a pessoa que planeja aquele que idealiza, que pensa na ação e não apenas pensa, como também realiza. É claro que, quando definimos esse ator, não o definimos no singular, mas no plural. Esse ator é um sujeito
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coletivo, podendo ser uma equipe, um grupo, coordenações, instituições, etc. Esse grupo é composto com pessoas de diversas formações, de diferentes especializações, porém geralmente são pessoas que, ao pensarem no projeto, almejam alcançar os mesmos objetivos. É essencial que todo grupo tenha interesses comuns, dessa forma, a probabilidade de erros passa a ser o mínimo possível. Sabemos que não é uma tarefa fácil reunir um grupo que tenha interesses comuns e que siga sem alguns problemas de comunicação, porém acreditamos que apesar de serem pessoas diferentes, pensamentos diversificados, durante o processo de elaboração e construção do projeto todo o grupo envolvido acaba chegando a um determinado consenso.
Depois da definição dos atores, o segundo passo é a formulação propriamente dita do projeto. De acordo com Valdebenito (1999), essa segunda fase da elaboração depende diretamente dos atores visto que são eles que definem a intencionalidade dos próprios atores. Nesse sentido, o projeto é caracterizado por tudo aquilo que o ator deseja alcançar na soma dos devidos esforços. Um projeto traduz o esforço coletivo no sentido de realizar uma ação inovadora com uma maior iniciativa na perspectiva de atingir um determinado público-alvo.
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Vale lembrar que a formulação do projeto não depende necessariamente de uma ação vinda de programas e/ou uma intervenção política, porém posteriormente ela pode se tornar um dos pontos de partida para originar um programa maior. Falemos agora sobre o terceiro passo para a elaboração participativa de projetos, que é a definição do tempo. Esse é um fator muito importante para o processo. Todo o empreendimento é pensado dentro de um determinado tempo para sua realização. Isso significa dizer que a ação a ser realizada deverá ter um prazo de início e término. Nesse sentido, as estratégias do projeto tendem a atingir suas metas quando obedecendo ao período anteriormente determinado. O quarto passo seria pensar no espaço e nas oportunidades. Em relação ao espaço, trata-se da estrutura física propriamente dita, das condições do ambiente e/ ou lugar no qual irá ser implementado o projeto. No tocante às oportunidades, Valdebenito (1999) diz que: Essa descrição técnica do local deverá apontar as oportunidades que se apresentam para a implementação do projeto. Entenderemos por oportunidades todas as situações favoráveis que o contexto oferece. Concretamente trata-se das vantagens. (VALDEBENITO, 1999, p.08)
Outro passo importante é a identificação do problema, que se refere às dificuldades encontradas pelo ator para a realização do projeto. Esse é o quinto passo para a elaboração participativa do projeto. De acordo com Valdebenito (1999), o problema é identificado quando passa a existir uma significativa discrepância, entre a realidade da forma como ela é e a realidade como deveria ser. Quando o ator é capaz de identificar com precisão sua capacidade de intervenção de forma adequada é pos-
uma ação eficaz. O sexto item a ser pensado é a definição de estratégias. Após serem identificadas as dificuldades com bastante clareza os pontos negativos e positivos do projeto, podemos então definir a melhor maneira de concretizá-lo. Vale lembrar a importância de uma visão clara a respeito dos limites e possibilidades que permeiam o projeto. Pensar nas respectivas estratégias requer uma análise antecipada dos caminhos a se-
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identificação do problema concreto possibilitará uma intervenção transformadora e
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sível também identificar as principais dificuldades para a realização do projeto. A real
rem seguidos. Agora chegou a hora de pensar no Plano de Ação!
Você sabe o que é um plano de ação?
Segundo Valdebenito (1999), o plano de ação possibilita a organização que viabiliza visualizar a ação projetada no tempo e no espaço. Para esse autor, na elaboração de um plano de ação, faz-se necessário tentarmos responder os seguintes questionamentos: O que será feito? Por quem? Quando? Que recursos serão necessários para a efetivação da ação? Por meio do plano de ação é possível detalhar com precisão tudo que deve ser feito. Durante a aplicação do projeto, as ações a serem desenvolvidas serão aquelas que trazem melhores resultados. Em relação ao plano-ação, Thiollent (1947, p.15) afirma que, “trata-se de uma ação na qual os principais participantes são os membros da situação ou da organização sob observação.” Por fim, após a realização do plano de ação, é imprescindível fazer a análise dos recursos e de viabilidade. Essa análise é feita a partir dos planos de ação, visto que é ele que possibilita saber o que se tem disponível e o recurso que falta. Essa análise é feita de forma comparativa na perspectiva de poder evitar que falte qualquer tipo de recurso.
O QUE É ANÁLISE? QUANDO ANALISAR? QUEM DEVE ANALISAR? Essas são perguntas básicas para a nossa discussão e merecem respostas para que possamos juntos dar sequência ao conteúdo aqui abordado. Quando pensamos em analisar um determinado projeto, logo nos lembramos da importância de viabilizar os recursos necessários para que o projeto possa continuar em execução. Assim, assegurar os recursos financeiros é um dos mais importantes objetivos da análise.
Vejamos o conceito de análise!
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De acordo com Tenório (2000), a análise é um conjunto de atividades e /ou procedimentos que têm como principal objetivo fazer uma avaliação prévia do projeto que se pretende implantar, permitindo, dessa forma, prever alguns acontecimentos futuros. A análise é uma das primeiras fases do processo de avaliação. Vale lembrar que qualquer que seja o projeto, a ação de intenção é fundamenta em que toda equipe inserida no processo possa estar, a todo tempo, buscando aperfeiçoar seus conhecimentos. Em se tratando do assistente Social de forma específica, ele precisa estar embasado o arcabouço teórico-metodológico necessário para não apenas a elaboração do projeto, mas todo seu acompanhamento antes, durante e depois de sua execução.
POR QUE ANALISAR? A análise é preciso por conta da identificação prévia da viabilidade para a conclusão integral dos objetivos desejados. Através de uma boa análise é possível impedir algum tipo de problema que eventualmente poderá impedir a execução do projeto. Um projeto pode ser interrompido por diversos motivos ainda durante sua execução, porém quando sua análise é feita de forma dinâmica, e é claro com perspectivas
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futuras, diminuem consideravelmente as chances de ter que interrompê-lo antes de seu término. A identificação dos recursos, também é considerada uma característica da análise, visto que os recursos, dentre tantos outros fatores, também são responsáveis pelo desenvolvimento integral do projeto.
QUANDO E QUEM DEVE ANALISAR? De forma geral, a análise está presente em todo o processo de elaboração e execução do projeto. De maneira específica, sua elaboração ocorre após a conclusão da elaboração do projeto e antes de sua execução. Quando elaboramos o projeto, seus objetivos e metas a serem alcançadas são as principais fontes de análises, são informações necessárias para que se realize esse procedimento.
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Fonte: Clipart
Um fator importante a ser lembrado é que a análise de um projeto não deve ser realizada individualmente, mas, sobretudo de forma coletiva, com todos envolvidos na elaboração e execução do projeto, como mostra a gravura anterior. Ainda em relação a quem deve analisar, vale lembrar que o público-alvo deve também participar do processo análise do projeto, já que os objetivos e metas são direcionados a essa população. A participação do público-alvo na análise garantirá a execução do projeto até o final, a esse respeito afirma Tenório (2000): Só se deve iniciar a execução de um projeto quando houver a certeza de que poderá ser totalmente concluído, isto é, ter a garantia de que os recursos necessários para a conclusão total do projeto estarão disponíveis nas épocas determinadas e que os objetivos previamente estabelecidos serão alcançados. (TENÓRIO, 2000, p. 25)
Agora que já conhecemos alguns passos para que aconteça uma elaboração participativa de projetos, vejamos qual o roteiro para uma apresentação sistemática de projetos.
APRESENTAÇÃO SISTEMÁTICA DE PROJETOS Quando falamos de apresentação sistemática de projetos, estamos nos referindo a um conjunto de regras que são aplicadas em todas e qualquer situação. Vejamos então alguns itens condicionais a uma boa apresentação de projetos. Primeiro, é preciso identificar a entidade executora. Quem executará o projeto? Inicialmente são fornecidas as informações sobre a entidade responsável pelo projeto. Nesse sentido, geralmente são utilizadas fichas técnicas contendo as devidas informações a respeito da entidade executora, visto que é importante para qualquer projeto a questão da credibilidade institucional. E como seria essa ficha institucional?
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De acordo com Valdebenito (1999), a ficha institucional normalmente é composta pelo nome da instituição; informações que deixem claro o caráter da entidade, ou seja, se é privada ou pública; a finalidade da entidade que se refere aos seus objetivos, sua demanda e público-alvo; o registro da entidade realizado em cartório público; o Cadastro Nacional de Pesquisa Jurídica (CNPJ); o endereço; titular responsável pela instituição e por fim as referências, ou seja, os contatos políticos que podem ser consultados em casa de qualquer tipo de dúvida ou desconfiança da credibilidade da entidade. Em segundo lugar está a apresentação do sumário do projeto, ou seja, as informações sucintas sobre o projeto, mas que nos permitem uma visão global. Sobre o sumário de um projeto Valdebenito (1999, p.22), afirma que: “trata-se de uma breve apresentação que permite identificar o projeto pelo nome, objetivos, público beneficiário, abrangência geopolítica e temporalidade”. Nesse sentido, a composição do sumário deve conter, primeiro, o nome dado ao projeto, logo em seguida a localização, ou seja, uma informação que complementa a síntese, posteriormente o tempo de duração e por fim a síntese. O terceiro passo e um dos mais importantes é a justificativa do projeto.
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Acredito que você já conheça o que é uma JUSTIFICATIVA. Vamos relembrar?
Ao falarmos sobre justificativa, é importante lembrar que o projeto é uma iniciativa tomada a partir de uma situação e/ou problemática. Através da identificação da problemática, procura-se restaurar, transformar, mudar uma determinada situação. Sobre esse assunto Valdebenito (1999), afirma que: Na justificativa é necessário descrever com argumentos consistentes e inquestionáveis a situação problemática que se procura resolver. Para tal é muito importante fornecer informações estatísticas ou dados quantitativos, procedentes de fontes seguras, que permitam descrever e/ou dimensionar a situação problemática que gera a demanda de uma intervenção. (VALDEBENITO, 1999, p.23)
Dando continuidade à sequência dos itens para uma apresentação sistemática de projeto, o próximo passo seria os objetivos do projeto, sendo essa a quarta etapa. Quando pensamos em formular os objetivos, pensamos em formulá-los direcionados para buscar solução para determinados problemas. De acordo com Valdebenito (1999), os objetivos, apesar de projetarem uma ação futura, estão sempre expressando um desejo presente, uma mudança imediata. É por esse motivo que eles estão sempre no infinitivo. O mais importante em relação à elaboração dos objetivos, é que os mesmos são pensados e formulados de forma a expressar soluções concretas, possíveis de serem alcançados. Os objetivos podem ser de ordem geral quando expressam um desejo de solução para a situação como um todo e específico, quando sistematizam um conjunto de variáveis que interagem
beneficiário do projeto. Para isso, basta respondermos as seguintes questões: para quem? Para que público foi elaborado o projeto? O público beneficiário do projeto é justamente o grupo que se pretende atingir durante o desenvolvimento do mesmo. Para a identificação desse público é preciso que se tenham informações minuciosas e concretas em relação a eles, para que não
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Depois de tratarmos dos objetivos, o próximo passo é pensarmos no público
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numa situação problema.
haja duplo sentido e/ou qualquer tipo de dúvidas sobre o direcionamento do projeto. Nesse sentido, enquanto mais informações, menor a probabilidade de erros no tocante ao público-alvo. A próxima questão importante para uma apresentação sistemática de projetos é a estratégia de implementação do projeto, a esse respeito Valdebenito (1999), diz que: Aqui devemos entender por estratégia a maneira como serão utilizados os meios disponíveis para se atingir os objetivos definidos. Trata-se de poder definir onde, quando, e como aproveitar os recursos para superar a situação problemática que deu origem ao Plano de Ação. (VALDEBENITO, 1999, p.25)
Para a realização da estratégia de implementação, é muito importante especificar a metodologia a ser utilizada, as etapas do projeto, as parcerias, o gerenciamento e por fim a avaliação. Vejamos a metodologia! No que se refere à metodologia, nesse contexto, ela representa a forma pela qual o projeto será executado. Através da metodologia é possível saber se a execução do projeto será feita de maneira centralizada por um determinado grupo de pessoas, e/ou se a estratégia envolve um grupo maior da comunidade e diversos atores sociais aliados. Vale lembrar nesse contexto que os projetos que envolvem um número maior de pessoas da comunidade, geralmente, têm maior aceitação, visto que promove um maior número de mobilização, promove a autonomia do grupo envolvido, gerando dessa forma o protagonismo e a mais aprendizagem.
E as etapas do projeto? Qual sua importância para a estratégia de implementação? Ainda em relação à estratégia de implementação, a questão das etapas do projeto é algo fundamental, é nessa oportunidade que se definem os momentos mais importantes do projeto. De acordo com Valdebenito (1999), o ideal é que todo projeto seja constituído de no mínimo três etapas e no máximo seis. Essas etapas devem estar sinalizando o início, o meio e o fim dentro de uma sequência lógica que mostre de forma clara os principais momentos do projeto. Porém, esses momentos deverão estar relacionados e diretamente ligados com o tempo e o espaço.
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QUANDO FALAMOS EM PARCERIA, FALAMOS EM ESTRATÉGIA DE IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO? No tocante à parceria, quando a estratégia de um projeto é pensada e elaborada de forma participativa, é muito importante está explicitando qual o compromisso de cada ator social, qual o papel que cada um deverá assumir dentro do contexto do projeto. Nesse sentido, é possível afirmar que a parceria quando efetivada de forma positiva é considerada como o principal meio de aumentar os recursos de um projeto. Na estratégia de implementação do projeto, também é fundamental descrever quais são as verdadeiras formas de gerenciamento, além dos instrumentos que viabilizam o gerenciamento e os mecanismos que permitirão o monitoramento do projeto. A questão do gerenciamento no âmbito da estratégia de implementação do projeto está diretamente relacionada à questão da participação, visto que a gestão pode ter um duplo perfil, ela poder ser de caráter centralizador e vertical, ou perfil participativo e horizontal. É importante mencionar que a utilização dos instrumentos como ferramentas para o gerenciamento podem ser simples e/ou complexo. Porém, não se pode perder de vista que esses instrumentos devem ser um meio de pensar em agendas coletivas, relatórios de atividade e como forma de registros. Por fim, a avaliação, é mais um item
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a ser pensado quando o assunto é estratégia de implementação do projeto. Sobre esse assunto, Valdebenito (1999) afirma que: A rigor um esquema permanente de avaliação faz parte de um bom sistema de gerenciamento. Este é o instrumento mais importante para monitorar o desempenho de um projeto. O ideal é que seja participativo onde todas as partes envolvidas possam avaliar, inclusive usuários, parceiros e agencias financiadoras. (VALDEBENITO, 1999, p.25)
Aqui encerra nossa discussão sobre estratégia de implementação do projeto. Retomemos ao nosso sétimo passo do roteiro para uma apresentação sistemática de projetos. Agora tratemos a respeito do cronograma de execução. Para compreendermos sobre o cronograma de execução, basta apenas respondermos a seguinte questão: Quando será implantado tal projeto? Nesse sentido, é só pensarmos no plano de ação que falamos anteriormente nesta aula e lembrarmos que o cronograma de execução não é nada mais que a organização cronometrada de quando acontecerá cada ação, ou seja, o dia, mês, ano, horário etc. O oitavo e penúltimo passo diz respeito aos custos do projeto. Esse item, por sua vez, é muito fácil de compreender. O custo está diretamente relacionado com a quantidade, trata-se de verificar e especificar todos os valores relativos à implementação do projeto. De forma geral, esse item requer muita atenção para não deixar passar despercebido nenhum recurso que seja necessário para a implementação do projeto.
despesas com o pessoal.” Nesse sentido, existem três itens importantes a serem citados aqui: a manutenção, o custeio e a folha. A manutenção se refere às despesas com todos os materiais de consumo, na utilização do processo sócio-educativo, e outras despesas como: transporte, água, energia etc. O custeio diz respeito à elaboração de do projeto da obra, mobiliário, construção da obra e equipamentos. O terceiro item, referente ao custeio, é a folha,
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vem ser preparadas calculando as despesas de custeios, as despesas correntes e as
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Para Valdebenito (1999, p.26), “as contas relativas ao conjunto do projeto de-
ou seja, os salários, prêmios e encargos. Finalizaremos aqui nossa discussão sobre a apresentação sistemática de projetos, abordando o último item: o pedido de recursos financeiros.
PARA VOCÊ, QUAL SERIA O OBJETIVO DO PEDIDO DE RECURSOS FINANCEIROS? O pedido de recursos financeiros tem como principal objetivo a solicitação de todo custo do projeto, ou seja, uma demonstração clara do custo total, que equivale ao total de todos os recursos financeiros disponibilizados pela entidade executora e em paralelo todo o montante necessário para a implementação do projeto. Assim, concluímos nossa discussão, após apresentamos os nove passos a serem percorridos ________________________ para que se apresente um roteiro sistemático de projetos. ________________________ Outro fator relevante para a nossa reflexão sobre projetos é a questão do acompanhamento, que é um fator fundamental para que se obtenha um resultado satisfatório. De forma geral, sabemos o conceito da palavra acompanhamento, mas vejamos seu significado específico quando tratamos de projetos sociais. Sobre isso, Tenório (2000) nos diz que: O acompanhamento procura verificar as ações e medir desempenhos com a finalidade básica de auxiliar a tomada de decisões e corrigir eventuais desvios na programação, durante a execução do projeto, assegurando que os objetivos estabelecidos sejam alcançados. O acompanhamento é uma atividade contínua e dinâmica que se entrelaça com as etapas de análise e avaliação final. (TENÓRIO, 2000, p.48)
Sabemos que cada etapa do projeto tem sua devida importância, cada fase desenvolvida complementa a seguinte, e durante o acompanhamento não é diferente, por isso faz-se necessário responder os seguintes questionamentos:
Por que acompanhar? É por meio do acompanhamento que se obtêm as informações objetivas necessárias que permitirão saber se as ações e estratégias estão sendo executadas ou não, se estão sendo desenvolvidas conforme foi planejado.
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O acompanhamento possibilita uma visão global e real da execução do projeto, visto que todo andamento do projeto fica muito evidente quando os executores realizam o devido acompanhamento.
Quando acompanhar? De acordo com Tenório (2000), o acompanhamento é realizado logo após a análise do projeto, devendo ser um processo contínuo até o final de sua execução. O acompanhamento se inicia com a coleta de informações, com a análise dos registros, com a interpretação e comparação das ações previstas a serem realizadas.
Quem deve acompanhar? Todo acompanhamento do projeto deve ser interno e externo. O acompanhamento interno deve ser feito pelos executores do projeto, por toda equipe envolvida em sua elaboração e planejamento. O acompanhamento externo se refere a todos aqueles que têm interesse na execução do projeto, como por exemplo: os financiadores, a comunidade, as instituições envolvidas, dentre outros.
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Esses são os principais questionamentos que surgem quando o assunto é acompanhamento.
Chegamos então ao final dessa etapa. Na próxima aula, iremos juntos realizar uma breve revisão de projetos de intervenção e projeto de pesquisa. Para alcançarmos nosso objetivo, faz-se necessário que tenhamos muita disposição e coragem para realizarmos uma análise crítica e conseguirmos fazer a distinção entre os dois tipos de projetos. Preparado(a)? Encontraremos-nos lá!
SÍNTESE Nesta aula, refletimos acerca de alguns aspectos conceituais e de aplicabilidade de projetos. Para alcançar o principal objetivo, inicialmente falamos sobre a questão conceitual de projetos sociais e sua importância para a sociedade contemporânea. Relembramos nesta aula o conceito de políticas públicas e posteriormente foram apresentados alguns passos para uma elaboração participativa de projetos. Finalmente, vimos como elaborar um roteiro para uma apresentação sistemática de projetos.
to social com ênfase na participação popular. Dentre esses itens, qual você considera mais relevante, pensando no âmbito da prática do Assistente Social?
LEITURAS INDICADAS
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Apresentamos nesta aula, vários critérios para que se possa elaborar um proje-
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QUESTÃO PARA REFLEXÃO
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2011. SILVA, Maria Ozanira da Silva. Execução e avaliação de políticas e programas sociais. In: Capacitação e Serviço Social e Políticas Setoriais, módulo 04, p. 66-78. Brasília: UNB, Centro de Educação Aberta, Continuada a Distância, 2000.
SITES INDICADOS ROCHA NETO, Ivan. Tecnologias Sociais: conceitos & perspectivas. Disponível em: <http://www.gestaoct.org.br/forum_municipal/apresent/cd_ivan_rocha/ Agenciamento%20da %20Inovacao/tec_sociais.pdf>. Acesso em: 20set. 2011.
STEPHANOU, Luis; MULLER, Lúcia Helena; CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Por que Projetos Sociais? Guia para elaboração de Projetos Sociais. Porto Alegre: Editora Sinodal e Fundação Luterana de Diaconia, 2003. Disponível em: http://www.scribd. com/doc/96011/Por-que-projetossociais>.Acesso em: 20 set. 2011.
REFERÊNCIAS COHEN, Ernesto; FRANCO, Rolando. Avaliação de projetos sociais. 8 ed. Petrópolis,Rio de Janeiro: Vozes, 2008.
Organização das Nações Unidas (ONU). Disponível em: http://www.onu-brasil.org.br/. Acesso em novembro de 2011.
PASTORINI, Alejandra. A categoria questão social em debate. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2007.
STEPHANOU, Luís; MULLER, Lúcia Helena; Isabel Cristina de Moura. Guia para elaboração de projetos sociais. Porto Alegre. Editora Sinodal e Fundação Luterana de Diaconia. 2003. Disponível em: http://pt.scribd. com/doc/96011/Por-que-projetos-soais. Acesso em: 15 de setembro de 2011.
TENÓRIO, Fernando Guilherme. Avaliação de projetos comunitários: uma abordagem prática. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2000
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VALDEBENITO, Marco Antonio Arroyo. Arvorecendo projetos: orientações para a elaboração participativa de projetos com roteiro para sua apresentação sistemática. Programa Brasil de Unité, 1999.
Autora: Shirley Barbosa Menezes de Paiva “Nenhum de nós é tão inteligente quanto todos nós juntos.”
Warren Bennis Autor Norte-Americano.
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TO: INTERVENÇÃO X PESQUISA SOCIAL
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AULA 07 - UMA BREVE REVISÃO DE PROJE-
Querido(a), Chegamos a nossa sétima aula! Na aula anterior abordamos alguns aspectos conceituais e de aplicabilidade dos projetos sociais. Nessa aula, faremos uma breve revisão acerca do projeto de pesquisa e o projeto de intervenção. Veremos algumas particularidades que envolvem cada projeto e a fim de alcançarmos nosso principal objetivo que é levar você a discernir de forma clara a diferença entre uma pesquisa social, o projeto de pesquisa, e o projeto de intervenção.
PESQUISA SOCIAL: CONCEITO E ESTRUTURA Falar sobre as questões conceituais do projeto de pesquisa, acredito, não é novidade para você, que já chegou até o quinto semestre do curso de Serviço Social. O assunto que será abordado aqui será uma significativa contribuição para o processo do conhecimento que você já vem construindo ao longo de todo o curso. Na aula anterior, “Projeto: aspectos conceituais e de aplicabilidade”, abordamos de forma específica tanto questões referentes ao conceito propriamente dito de projeto, como também aspectos referentes a uma construção e elaboração participativa. Agora vamos, antes de qualquer coisa, refletirmos acerca do conceito específico de pesquisa. Minayo (2011, p.16) diz que, “entendemos por pesquisa a atividade básica da ciência na sua indagação e construção da realidade. É a pesquisa que alimenta a atividade de ensino [...]”. Nesse sentido, podemos perceber que a pesquisa é uma prática puramente teórica, mas que está diretamente vinculada a uma ou mais ações, visto que a pesquisa como ciência viabiliza a construção da realidade. A pesquisa é realizada a partir de indagações, questionamentos e/ou incertezas, já que é por meio dela que buscamos encontrar respostas concretas para determinadas problemáticas. A esse respeito Minayo (2011), afirma que: Nada pode ser intelectualmente um problema se não tiver sido, em primeiro lugar, um problema da vida prática. As questões da investigação estão, portanto, relacionadas a interesses e circunstâncias socialmente condicionadas. (MINAYO, 2011, p.16)
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Podemos, então, constatar que a pesquisa é uma iniciativa que nasce fundamentada não apenas em respaldo teórico, mas, sobretudo, ela é pensada como ponto de partida a própria realidade social. Assim, é pertinente afirmar que a pesquisa é sempre fruto das relações sociais, de fenômenos fundamentados na vida real. É nesse contexto, que a pesquisa encontra seu objetivo e suas razões de existências. O ponto de partida para se pensar em uma pesquisa é a tentativa de responder uma determinada dúvida. Ela nasce como já mencionamos, de uma pergunta, de um questionamento, de algo que se deseja saber. De acordo com Gil (2010), a pesquisa é um processo formal e sistemático de desenvolvimento do método científico. Toda pesquisa é pensada na perspectiva de descobrir respostas para algum tipo de problema, porém, para isso, são utilizados procedimentos científicos. Essas pesquisas são feitas aleatoriamente, mas antes com todo o respaldo e fundamento teórico, bibliográfico que a legitima.
VOCÊ JÁ OUVIU FALAR QUE A PESQUISA SOCIAL ESTÁ TEORICAMENTE SUBDIVIDIDA EM NÍVEIS DE PESQUISA? GOSTARIAM DE SABER QUAIS SÃO ESSES NÍVEIS?
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Os níveis de pesquisa são três: as pesquisas exploratórias, as descritivas e por fim as pesquisas explicativas. Vejamos a seguir o conceito específico de cada uma delas. O primeiro nível de pesquisa, as exploratórias são aquelas que têm como principal objetivo modificar ideias e conceitos já constituídos. Esse tipo de pesquisa dispensa qualquer tipo de rigidez e/ou planejamento rigoroso. Sobre esse tipo de pesquisa, Gil (2010, p.27) afirma que “habitualmente envolvem levantamento bibliográfico e documental, entrevista não padronizada e estudo de caso.” Em relação à pesquisa bibliográfica, ela é fundamentada em um material teórico elaborado antecipadamente, utilizado como principal fonte de pesquisa que valida todo o referencial teórico. As principais fontes de pesquisa bibliográficas são, de forma geral, os livros e os artigos científicos. Segundo Gil (2010), ao realizar uma pesquisa bibliográfica faz-se necessário que se tenha os devidos cuidados com as fontes secundárias de pesquisa, com falsas informações e falsas afirmativas. Nesse sentido, ao se reproduzir o erro, as falsas e equivocadas informações, a tendência é cada vez mais ampliar a falta de exatidão da pesquisa. Já em relação à pesquisa documental, a qual se assemelha à pesquisa bibliográfica, Gil (2010) diz que a pesquisa documental segue os mesmos passos da pesquisa bibliográfica, a significativa diferença entre as duas está no fato de que a pesquisa documental se constitui em um número maior de documentos de pesquisa, envolvendo jornais, cartas, filmes, fotografias diários etc. Nesse sentido, a grande diferença de uma para outra está justamente na natureza das fontes. Inicialmente, de forma geral, a pesquisa exploratória, em sua primeira etapa, é
faz-se necessário utilizar uma revisão de literatura, tendo como base autores diversificados que tratem do mesmo tema, a fim de delimitar e afunilar o tema central da pesquisa. O segundo nível é a pesquisa descritiva, que, conforme Gil (2010): As pesquisas deste tipo têm como objetivo primordial a descrição
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um tema delimitado. Posteriormente, quando o título escolhido for muito genérico,
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bastante ampla, se constitui numa pesquisa de investigação que não tem inicialmente
das características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Dentre as pesquisas descritivas salientam-se aquelas que têm por objetivo estudar as características de um grupo: sua distribuição por idade, sexo, procedência, nível de escolaridade [...]. (GIL, 2010, p.28)
As pesquisas denominadas descritivas também são aquelas destinadas a estudar o nível de atendimentos dos órgãos públicos de uma comunidade. Um forte exemplo é o estudo do índice de criminalidade, das condições de habitação de uma determinada região, etc. Segundo Gil (2010), as pesquisas descritivas e exploratórias são as mais utilizadas pela maioria dos pesquisadores sociais que se preocupam com a atuação prática.
Essas pesquisas são as mais solicitadas por partidos políticos, instituições educacionais ________________________ etc. Falemos sobre o terceiro nível de pesquisa, as explicativas. Esse tipo de pesquisa é caracterizado por um aprofundamento e estudo maior da realidade social. Esse é o tipo mais complexo e delicado, visto que busca verificar o “porquê” das coisas, as explicações exatas para a realidade social. Em relação à pesquisa explicativa, vale mencionar que nem sempre é possível a realização dela devido às grandes dificuldades encontradas para a sua efetivação. Esses são os três níveis tradicionais de pesquisa. Vamos agora falar sobre uma das vertentes da pesquisa, a tão conhecida pesquisa-ação.
VOCÊ SABE O QUE É UMA PESQUISA-AÇÃO? A pesquisa-ação é uma linha de pesquisa que está diretamente vinculada a diversas formas de ação coletiva e tem como principal finalidade a resolução de problemas visando à transformação social. A pesquisa-ação não é uma pesquisa específica a ser realizada pelos profissionais de Serviço Social, mas ela pode ser aplicada em diversos campos de atuação, como, por exemplo, na educação, comunicação, militância política, nos movimentos sindicais, etc. Esse tipo de pesquisa ainda é motivo de diversas polêmicas entre os estudiosos sobre o tema, visto que não é unânime entre os cientistas e profissionais sociais estando ainda em fase de discussão.
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Para Thiollent (1947), a pesquisa-ação é uma pesquisa social que tem uma base empírica, concebida e realizada em estreita associação com uma ação e/ou resoluções de problemas coletivos. Nesse sentido, os pesquisadores e os participantes representantes da situação estão sempre envolvidos de modo cooperativo e participativo. Assim, fica claro que uma pesquisa pode ser denominada como pesquisa-ação, quando houver ações por parte das pessoas envolvidas no problema, e isso se dá quando esses participantes se tornam também observadores. Na verdade, a participação dos pesquisadores é bastante ativa, já que os mesmos passam a acompanhar e avaliar todas as ações desenvolvidas antes, durante e depois da pesquisa. Na pesquisa-ação, existem alguns aspectos a serem considerados, já que ela é puramente uma estratégia metodológica da pesquisa social. Podemos citar seis aspectos importantes para a nossa discussão: em primeiro lugar, podemos afirmar que a pesquisa-ação, como já mencionamos, é caracterizada pela participação dos pesquisadores e das pessoas envolvidas na problemática. Em segundo lugar, podemos perceber que quando a pesquisa-ação é realmente constituída pelo envolvimento dos pesquisadores, o resultado final sempre está voltado para uma interação e ordem de prioridade dos problemas, gerando, dessa forma, soluções a serem encaminhadas por meio de ações concretas. O terceiro aspecto diz respeito à escolha do objeto de investigação. Esse objeto
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não é determinado previamente pelo grupo de pesquisadores, ele é fruto da própria situação social e dos problemas encontrados e já estabelecidos na sociedade. O objetivo da pesquisa-ação é o quarto aspecto. Ele é definido como a busca pela resolução de problemas sociais. Em muitos casos, quando não se consegue resolver o problema, pelo menos se busca esclarecer, encontrar explicações óbvias para os mesmos. No tocante ao quinto aspecto, a pesquisa-ação é caracterizada pelo acompanhamento das decisões e de todas as ações intencionais dos atores, além da administração direta de toda a situação que envolve a problemática. Por fim, o sexto aspecto, a essa respeito, Thiollent (1947), afirma que: A pesquisa não se limita a uma forma de ação (risco de ativismo): pretende-se aumentar o conhecimento dos pesquisadores e o conhecimento ou nível de consciência das pessoas e grupos considerados. A configuração de uma pesquisa-ação depende dos seus objetivos e do contexto no qual se aplica. Vários casos devem ser distinguidos. (THIOLLENT, 1947, p.18)
Podemos, então, verificar que no sexto aspecto em destaque, a pesquisa-ação contribui de forma positiva para o processo de conhecimento de todas as pessoas envolvidas. Agora que já definimos de forma clara o que é uma pesquisa, e que ela não é desenvolvida de qualquer forma, veremos quais os passos necessários para que se concretize e se construa um projeto de pesquisa. Abordaremos agora todas as etapas
De acordo com Gil (2010), o projeto de pesquisa é uma síntese de diversos esforços intelectuais que ao mesmo tempo em que se contrapõem, se complementam. É sempre fruto de um trabalho vivo do pesquisador. Ele é resultado de todo um con-
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VOCÊ LEMBRA O QUE É UM PROJETO DE PESQUISA? VAMOS REVISAR
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necessárias para a construção de um projeto pesquisa.
junto e acúmulo de conhecimentos. Esse projeto não surge de forma espontânea, mas nasce de uma vasta experiência e/ou do compromisso com o social. Um projeto de pesquisa, de forma geral, está intercalado em meio a três dimensões. A primeira dimensão é a técnica que trata especificamente da definição de um objeto, como abordá-lo e como escolher os instrumentos para a investigação. A segunda dimensão é a ideológica, que se refere às escolhas do pesquisador. Essa dimensão é justamente quando o pesquisador idealiza e projeta sua pesquisa, como por exemplo, quando se pensa o que pesquisar, como pesquisar Essas escolhas fazem parte da dimensão ideológica. A terceira e última dimensão é a científica, que tem como objetivo ultrapassar o senso comum. O projeto de pesquisa deve conter todo arcabouço teórico capaz de dar legitimidade à pesquisa por meio da utilização do método científico.
QUAIS OS ELEMENTOS QUE CONSTITUEM UM PROJETO DE PESQUISA? VOCÊ LEMBRA? Segundo Minayo (2011, p.38), ao se pensar em elaborar um projeto de pesquisa, faz-se necessário responder a alguns questionamentos, os quais constituem os elementos que compõem o projeto:
O que pesquisar? (definir o problema, hipóteses, base teórica e conceitual) Para que pesquisar? (Propósitos do estudo, seus objetivos) Por que pesquisar? (Justificativa da escolha do problema) Como pesquisar? (Metodologia) Por quanto tempo pesquisar? (Cronograma de execução) Com que recursos? (Orçamento) A partir de quais fontes? (Referências)
Respondendo a essas questões, é possível realizar um projeto de pesquisa seguindo, passo a passo, todas as recomendações, alcançando, certamente, o objetivo desejado pelo pesquisador. A primeira fase é exploratória. Durante essa fase, ainda serão descobertos o
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campo de pesquisa, os interessados e suas expectativas. Esse é o momento inicial no
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problemática a ser tratada e desenvolvida ao longo da pesquisa. Anteriormente, fala-
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qual é feito todo o levantamento de forma geral e/ou o diagnóstico da situação, da mos sobre essa etapa quando mencionamos a respeito dos níveis de pesquisa. Essa é a fase dos primeiros contatos com os pesquisadores, com os interessados e com todos que queiram ser envolvidos no processo e desenvolvimento da pesquisa. Durante esse primeiro momento, muitos problemas práticos surgem, esses e estão relacionados com a constituição da equipe de pesquisadores e com o reconhecimento e cobertura da instituição. Podemos afirmar que essa fase inicial é chamada de diagnóstico. O diagnóstico poderia ser traduzido como a primeira identificação do problema de uma situação, mas não apenas isso, é também a forma inicial de viabilizar meios adequados para encontrar soluções para esses determinados problemas. Dentro do processo do diagnóstico, a população pesquisada pode exercer algum tipo de participação, porém vale lembrar que nem todas as práticas do Serviço Social permitem essa participação. O diagnóstico também é constituído por informações a partir das quais são estabelecidas as metas. Seguindo os elementos que constituem um projeto de pesquisa, façamos algumas considerações sobre eles. Já mencionamos que o primeiro passo é a construção
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do problema e a definição do tema. Nesse sentido, Minayo (2011), diz que: O tema de uma pesquisa indica a área de interesse ou assunto a ser investigado. Trata-se de uma delimitação bastante ampla. Por exemplo, quando alguém diz que desejo estudar a questão da exploração sexual de crianças e adolescentes, está se referindo ao assunto de seu interesse. Contudo é necessário para a realização de um recorte mais preciso deste assunto. (MINAYO, 2011, p.39)
O tema da pesquisa é a principal indagação do problema e da área do conhecimento a ser abordado. O tema inicialmente sempre é pensado de forma ampla e posteriormente delimitado a uma determinada problemática. Para Thiollent (1947), o tema da pesquisa é utilizado como a “chave”, ele geralmente é escolhido como o principal meio de identificação e seleção de áreas do conhecimento. O tema é o primeiro passo para a realização de um trabalho e/ou pesquisa científica. Sendo inicialmente um caminho a ser percorrido, tendo seu ponto de partida uma elaboração genérica e como ponto de chegada à delimitação do mesmo. A definição do problema é algo primordial nesse processo inicial da pesquisa. Toda investigação será desenvolvida a partir de um problema. A definição e a formulação de um problema não são tarefa fácil, porém é ele quem dá sentido à pesquisa, é que dá razão à existência do projeto. De acordo com Minayo (2011, p.39), “ao formularmos perguntas ao tema estaremos construindo uma problematização. Um problema decorre, portanto, de um aprofundamento do tema”.
na perspectiva de responder à problemática. Quando são idealizados, os objetivos devem ser pensados numa perspectiva possível de ser alcançada, ou seja, não se pode pensar em objetivos que sejam impossíveis de se concretizar. De forma geral, são elaborados objetivos amplos, e posteriormente eles são
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mos assim falando dos objetivos da pesquisa. Os objetivos geralmente são pensados
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O segundo passo é a resposta ao questionamento: para que pesquisar? Esta-
pensados de forma específica. O objetivo geral deve estar diretamente relacionado com o resultado final que se deseja alcançar. Já os objetivos específicos, podemos afirmar, são os desdobramentos do objetivo geral, as ações necessárias para a realização desse objetivo. Ainda em relação aos objetivos, vale mencionar que eles devem ser formulados sempre no infinitivo, para ficar claro que se trata de uma ação investigativa, de algo ainda a ser pesquisado, de um problema a ser solucionado e encontrado suas razões. Assim, tendo os objetivos definidos, pensa-se nos instrumentos e caminhos metodológicos a serem seguidos. O terceiro passo diz respeito à justificativa da pesquisa, ou seja, responder à pergunta: por que pesquisa? Isso significa dizer que a justificativa é o momento dentro de pesquisa que deve explicar a importância da mesma. Ela deve conter quais são os motivos e a relevância para ser efetivada. A justificativa deve ser elaborada tendo todo suporte teórico capaz de mostrar qual será a contribuição da pesquisa para a resolução do problema apresentado. Para Minayo (2011), quando se trata da justificativa de um projeto de pesquisa, é possível pensar em três motivos: de ordem acadêmica, de ordem prática e de ordem pessoal. E reafirma a autora que: A justificativa de ordem acadêmica se sustenta em vários argumentos: a) de caracterização do nível de conhecimento e da produção acumulada na temática, indicando aí as suas lacunas; b)do potencial para ampliar o conhecimento disponível;c) de promessa de avanço metodológico; d)da importância social do problema. (MINAYO, 2011, p.46)
A justificativa de ordem prática se refere a toda construção de elementos que possam realizar uma transformação na realidade em questão, ou seja, esse tipo de justificativa sempre estará voltada para o foco principal no sentido de efetivar mudanças. A terceira e última justificativa é aquela conhecida como a pessoal, é justamente aquela que situa de forma sintética a escolha do problema, tendo como base o estudo da trajetória profissional e bibliográfica do pesquisador. Falemos agora sobre o quarto passo, a metodologia. Quando falamos em metodologia, logo pensamos nos métodos e técnicas, na descrição formal do caminho a ser percorrido, porém metodologia não é apenas isso. O processo metodológico ultrapassa o que aqui sinalizamos. Ela é antes de tudo uma significativa conexão entre os
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arcabouços teóricos e o propósito/objetivo de estudo. Os métodos e técnicas devem estar em consonância com cada objetivo do projeto, devem estar adequado e correspondente a cada objetivo traçado.
MAS QUAIS SERIAM OS MÉTODOS MAIS USADOS NA CONSTRUÇÃO DE UM PROJETO DE PESQUISA? Os procedimentos mais conhecidos como métodos são todos aqueles voltados para a produção de dados, como por exemplo, os métodos comparativos, históricos, etnográficos, estudo de caso, dentre outros. Já as técnicas são procedimentos mais focalizados e específicos, como por exemplo, as entrevistas e os roteiros elaborados para realizar a pesquisa. Falar em metodologia é pensar em uma séria de fatores que influenciam de forma direta todos os passos percorridos pelo projeto de pesquisa, antes, durante e depois da elaboração da mesma. Existem algumas informações que são fundamentais, uma delas é informar que tipo de pesquisa será desenvolvida, já que existem diversas formas de construção da mesma. Essa informação certamente fará parte dos procedimentos metodológicos.
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Assim também quando informamos e definimos o campo de observação, estando incluindo tanto o pesquisador quanto os sujeitos envolvidos, além de nos referir como processo metodológico. O processo metodológico não é algo simples de ser definido, ao contrário, é um longo caminho que durante o percurso pode haver modificações. Faz parte dessa etapa, ainda, além de definir o tipo de pesquisa, citar quais as instituições envolvidas, os sujeitos, a definição da quantidade de envolvidos, a amostragem, etc. Podemos mencionar neste item, os procedimentos de análise que, de acordo com Minayo (2011), são todas as formas de organização dos dados e dos passos empreendidos para a produção de inferências explicativas ou de descrição. Ainda refletindo sobre a questão da metodologia, pensemos agora no cronograma, o quinto passo. Essa etapa, não é, nada mais, nada menos, que a determinação do tempo necessário para a realização de cada uma das etapas propostas no projeto. Dentre tantas formas de demonstração de cronograma, a mais usada é a de um quadro com linhas no qual são colocadas as tarefas de pesquisa e nas colunas o tempo em que essas tarefas serão realizadas. O próximo passo se refere ao orçamento, ou seja, que recurso será utilizado. Vale lembrar que esse item só é completo nos projetos que visam financiamento para que o mesmo possa ser efetivado. A esse respeito, afirma Minayo (2011, p.50), “Geralmente o orçamento é subdividido em três categorias de gastos: com pessoal; com passagens e diárias; e com material permanente (como computadores e impressoras etc.).” Vale mencionar que de forma geral cada instituição adota um formato específico de financiamento e este modelo deve ser previamente consultado.
sa. Um projeto pode utilizar de várias fontes de pesquisa, como por exemplo, artigos, livros, capítulos de livros, jornais, artigos de revistas científicas etc. As fontes não são citadas de forma dentro do projeto de forma aleatória, mas obedecendo ao padrão da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
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ções e referências. É de extrema relevância citar os autores, dados e fontes da pesqui-
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Para finalizar a construção do projeto de pesquisa, citemos o último item, cita-
E o projeto de intervenção? Você lembra qual seu objetivo?
O projeto de intervenção é todo aquele que proporciona uma mudança e/ou transformação da realidade. È chamado de intervenção justamente por ter como principal objetivo a intervenção e a ação diante de uma determinada demanda social. Esses são chamados e conhecidos também como projetos sociais. Os projetos de intervenção ou projetos sociais podem ser elaborados de forma coletiva e/ou individual, seu principal foco é provocar uma determinada mudança frente às mazelas da questão social. Nesse sentido, é que o profissional de Serviço Social deve ter bem claro quais são essas mazelas, quem é o público-alvo, e quem deve ser beneficiado com ele. Vale lembrar que os projetos de intervenção fazem parte da operacionalidade das Políticas Sociais, ou seja, eles são a materialização das Políticas Sociais devendo atender de forma específica aos interesses da própria política. Acredito que você recorde o conceito de política social que acompanhamos durante os dois semestres anteriores, quando estudamos a disciplina específica de Política Social I e II. Mas façamos uma breve revisão conceitual. Sobre Política Social, Martinez (2004) afirma que: A política social é uma política, própria das formações econômicas sociais capitalistas contemporâneas, de ação e controle sobre as necessidades sociais básicas das pessoas não satisfeitas pelo modo de produção capitalista. É uma política de mediação entre as necessidades de valorização e a acumulação do capital e as necessidades de manutenção da força de trabalho disponível para o mesmo. (MARTINEZ, 2004, p.05)
A política social, como mecanismo e estratégia de enfrentamento às mazelas da questão social, conta com a indispensável e essencial elaboração de projetos sociais para a efetivação das políticas. Para que se concretizem as diretrizes e os objetivos traçados pelas políticas faz-se necessário cumprir todas as etapas do projeto, para então se alcançar o resultado esperado. Sabemos que no Brasil as políticas sociais nascem de ações vindas do Estado e dos políticos para beneficiar a sociedade. De forma geral, os políticos apareciam como bons, como grandes benevolentes que buscavam ajudar aqueles que necessitavam de ajuda.
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De acordo com Faleiros (2004), as políticas sociais em sua origem nascem para a resolução dos problemas nas áreas da saúde, educação, habitação, trabalho e alimentação. Nesse período, o doente, o desempregado, e os indivíduos que buscavam algum tipo de benefício, recebiam os benefícios não como política pública, mas como um favor e uma mera benesse vinda do governo. A figura do Estado representava o garantidor dos benefícios aos necessitados. A política social era usada como uma prática intermediária entre o povo e o Estado representado na pessoa do governo, esses eram considerados como generosos, bondosos e preocupados com o bem comum. As intervenções então eram realizadas pelo Estado e os programas governamentais aparecem para integrar todos aqueles que se encontravam fora do sistema e do convívio social. O discurso da igualdade para todos, da democracia e da emancipação, era fundamental para reforçar as práticas de intervenção do governo. Faleiros (2004) aponta para um outro aspecto fundamental das políticas sociais no Brasil na década de 1930: As políticas sociais capitalistas, além de manter o trabalho e não contrair o processo de lucratividade das empresas deve garantir o retorno ao trabalho da mão-de-obra incapacitada para o seu exercício, como acontece nos casos de doenças e acidentes. (FALEIROS,
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2004, p.40).
A manutenção da classe trabalhadora é mais um forte perfil das políticas sociais no Brasil e de maneira mais intensa, na década de 1930. Além desse caráter, podemos afirmar que as políticas sociais, em outro ângulo, foram resultados de lutas dessa classe, ou seja, foram conquistas adquiridas por meio de diversas reivindicações. Nesse período, o Assistente Social era meramente um mediador entre a classe dos trabalhadores e a classe capitalista. Em meio aos conflitos gerados pela desigualdade, o profissional, em sua maioria contratado pelo Estado, não dispunha de qualquer tipo de autonomia, era subordinado diretamente ao Estado e por outro lado aos ditames da Igreja Católica. Porém, após décadas, a política social foi ganhando novas roupagens. Desde 1988, com a Constituição Federal, aconteceram mudanças significativas no que se refere à viabilização de direitos. Quando a política pública passa a ser direito do cidadão e dever do Estado, até as formas de intervenção do Assistente Social foram gradativamente sendo lapidadas. Desde a década de 1980, o Serviço Social passou a se apoderar da política social de forma a garantir aos usuários a efetivação dos serviços não mais como “favor” e/ou caridade, mas via de acesso aquilo que já lhe pertencia. É nesse contexto que o projeto de intervenção tem sua grande importância justamente por ser a materialização da política. São através dos projetos de intervenção que são viabilizadas ações voltadas para o bem comum e o bem estar social. De forma geral, a elaboração do projeto de intervenção requer o desenvolvimento de cinco etapas que são consideradas como básicas para a elaboração de qual-
Gestão Social.
PROJETO DE INTERVENÇÃO E AÇÃO PROFISSIONAL No âmbito do Serviço Social, sabemos que o projeto de invenção é uma rica e poderosa ferramenta capaz de realizar algum tipo de mudança na sociedade. Nesse
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Essas etapas você já estudou minuciosamente no segundo semestre na disciplina de
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quer projeto social, são elas: diagnóstico, prognóstico, análise, execução e avaliação.
sentido, vejamos como o Assistente Social, por meio do projeto de intervenção, pode estar efetivando sua prática de forma dinâmica e participativa. Vale mencionar nessa discussão que o Serviço Social é uma profissão relativamente recente, visto que ela só foi reconhecida, enquanto profissão, a partir do reconhecimento e institucionalização do Estado, e mais, quando a profissão é inserida no mundo das ciências. O caráter científico do Serviço Social se dá justamente através da adoção de determinadas metodologias. Não podemos deixar de lembrar o caráter histórico da profissão, já que o serviço Social é fruto de um processo histórico constituído e desenvolvido a partir do processo capitalista de produção. A esse respeito afirma Faleiros (2009): Uma profissão não define somente pelo seu método de trabalho, pelo seu ciclo operativo, dentro de uma área ou setor do universo que se propõe a estudar, ocupando o número significativo de pessoas que por seu exercício, recebem uma remuneração. Uma profissão define-se pelas relações historicamente estabelecidas pelo desenvolvimento das forças produtivas e das relações sociais entre classes dominantes e dominadas. Em outras palavras a profissão implica saber e poder. (FALEIROS, 2009, p.85)
Falar nos procedimentos metodológicos é nos reportamos aos caminhos percorridos pelos profissionais para a efetivação de sua prática. O projeto de intervenção é a manifestação concreta da ação do Assistente Social. Já vimos durante essa aula que a intervenção não é algo aleatório, mas requer toda uma projeção antecipada daquilo que se deseja alcançar. De acordo com Faleiros (2009), o Documento de Teresópolis significou para os Assistentes Sociais uma grande contribuição no que se refere às etapas metodológicas da profissão. Essas etapas são identificadas no Documento como diagnóstico e intervenção. A ação profissional do Assistente Social dispõe de diversos meios que viabilizam o fazer profissional e o projeto de intervenção quando pensado na perspectiva de emancipação do indivíduo, ele com ações voltadas para liberdade, promoção de cidadania, democracia e direito acabam por ter como produto final algum tipo de evolução pessoal e social para o indivíduo. É pensando no indivíduo e tendo como centralidade a família que o Serviço Social, através de sua prática profissional, vai descobrindo aos poucos alternativas em meio às sequelas da questão social. Nesse sentido, sua ação interventiva é fundamen-
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tal, e é claro que o projeto é elaborado e idealizado a partir desse prisma, de contribuir para amenizar os males sociais. Vale lembrar, ainda nessa discussão, uma questão importantíssima, a dimensão política da prática profissional. Quando é elaborado tanto o projeto de pesquisa quanto os de intervenção ambos são pensados a partir de um caráter não apenas interventivo e/ou a nível bibliográfico, mas, sobretudo está intrínseco o sentido político da profissão. A esse respeito nos diz Iamamoto (2007): Portanto, a atuação do Serviço Social é visceralmente polarizada por interesses sociais de classes contraditórias, inscritos na própria organização da sociedade e que se recriam na nossa prática profissional, os quais não podemos eliminar. Só nos resta estabelecer estratégias profissionais e políticas que fortalecem alguns dos atores presentes nesse cenário. Assim sendo, a prática profissional tem um caráter essencialmente político: surge das próprias relações de poder presentes na sociedade. (IAMAMOTO, 2007, p.122).
O Serviço Social se desenvolve em meio à relação contraditória, relação de desigualdade, que surge com o advento do sistema capitalista de produção. Assim o profissional vai criando e recriando mecanismo de enfrentamento a essa situação de
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vulnerabilidade em que ele está inserido. Assim, são utilizadas estratégias políticas e profissionais que possam viabilizar as necessidades sociais, tendo em vista o Código de Ética da profissão. Foram as relações de poder que durante a trajetória profissional tentaram estabelecer limites para a ação do Assistente Social, porém apesar das dificuldades e limites institucionais, os projetos de intervenção são as mais possíveis vias capazes de viabilizar direitos. Assim, chegamos ao final da nossa sétima aula, espero ter contribuído de forma positiva para o seu processo de aprendizagem. Na próxima aula, a última da disciplina, veremos alguns aspectos referente aos dilemas profissionais da atualidade com relação à questão do planejamento em Serviço Social. Nos encontraremos, até lá!
SÍNTESE Nesta aula, vimos de forma dinâmica os passos necessários a serem desenvolvidos para a elaboração de uma pesquisa social. Refletimos também sobre alguns conceitos “chaves” que envolvem o tema desta aula, tais como: pesquisa-ação, pesquisa social, política social, projeto de intervenção e/ou projetos sociais. Por fim, foi possível compreender que a pesquisa social é fundamental para todo profissional que trabalha na área social, não se restringindo apenas ao Serviço Social. A busca pela pesquisa deve fazer parte do cotidiano de todo profissional que busca contribuir para que haja uma sociedade mais justa e menos desigual. Dessa forma, o projeto de intervenção é a ação direta, é um forte mecanismo
tava aula.
QUESTÃO PARA REFLEXÃO É possível ser um profissional de Serviço Social sem haver interesse pela pes-
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finalizamos a nossa sétima aula, espero te encontrar com bastante entusiasmo na oi-
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da Política Social que tem como finalidade efetivar mudanças na sociedade. Assim,
quisa? E em relação ao projeto de intervenção, você acredita que um Assistente Social poderá desenvolver sua prática profissional sem pensar em ações interventivas?
LEITURAS INDICADAS CRUZ NETO, Otávio. O trabalho de campo como descoberta e criação. In: MINAYO, Maria Cecília de Souza (org). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 23. Ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2004.
GUERRA, Yolanda. Instrumentalidade do processo de trabalho e serviço social. In: Serviço Social & Sociedade. São Paulo: Cortez, n. 62, 2000.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do trabalho cientifico: procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicações e trabalhos científicos. 7. ed. São Paulo: Atlas,2008.
REFERÊNCIAS FALEIROS, Vicente de Paula. O que é política social. Coleção Primeiros Passos.
São Paulo: Brasiliense, 2004.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
IAMAMOTO, Marilda Villela. Renovação e conservadorismo no Serviço Social. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2007.
MARTINEZ, Vinício. Estado democrático. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n.384,26 de julho de 2004.
MINAYO, Maria Cecília de Souza; DESLANDES, Suely Ferreira; GOMES, Romeu; Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 26. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2011.
THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisa-Ação: coleção temas básicos de pesquisa-ação. 4. ed. São Paulo: Cortez, 1947.
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Autora: Shirley Barbosa Menezes de Paiva
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ALIDADE: REFLEXÕES E INCORPORAÇÕES DO PLANEJAMENTO EM SERVIÇO SOCIAL
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AULA 08 - DILEMAS PROFISSIONAIS DA ATU-
Chegamos a nossa oitava aula! Na aula anterior vimos à relevância da pesquisa social para todos os profissionais da área social, e de forma específica, para o Serviço Social. Nesta aula, faremos uma reflexão acerca dos dilemas profissionais da atualidade e as incorporações do planejamento em Serviço Social. Para alcançar o objetivo desta aula, abordaremos alguns aspectos conceituais sobre planejamento, fazendo um resgate sobre seu verdadeiro significado na contemporaneidade. Convido você a juntos navegarmos mais uma vez no oceano de teorias que nos levarão a alcançar nosso principal objetivo: aperfeiçoar nossos conhecimentos. Preparado(a)? Vamos lá!
PLANEJAMENTO: ASPECTOS CONCEITUAIS Inicialmente, façamos uma reflexão sobre o conceito de planejamento como sendo um processo de racionalidade que faz parte por excelência da prática profissional do Assistente Social. De forma geral, o planejamento implica no ato de pensar antecipadamente a ação a ser realizada, nesse sentido é que entendemos que o planejamento sempre esteve presente nas ações desenvolvidas pelo Serviço Social. De acordo com Oliveira (2010), o planejamento em Serviço Social é algo presente desde 1917 quando Mary Richmond e as demais profissionais já planejavam as ações a serem desenvolvidas pelas Assistentes Sociais daquele período, nesse sentido, pode-se afirmar que o planejamento é assim como a profissão, algo historicamente idealizado. Durante a trajetória histórica do Serviço Social, o planejamento sempre foi algo essencial para que a profissão alcançasse o reconhecimento e sua legitimação frente ao estado e à sociedade civil. O planejamento é um processo dinâmico e contínuo que proporciona aos profissionais de Serviço Social uma forte interação. Essa relação de interação se dá também entre os profissionais e toda a sociedade civil. Vale lembrar que esse processo deve ser a todo tempo avaliado e analisado de forma constante. Para que aconteça na prática um planejamento coerente e que possa responder às perspectivas profissionais, faz necessário que o mesmo seja um ato de reflexão, decisão e ação, após a ação mais uma vez a reflexão sobre a realização dos passos que foram seguidos. Para Oliveira (2010), o planejamento se realiza a partir de alguns passos a serem seguidos, são eles: a construção do objeto, estudo da situação, construção de referenciais teóricos, levantamento de pressupostos, coleta de dados, organização e análise, identificação de propriedade de intervenção, definição de objetivos e estabelecimen-
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tos de metas, análise de alternativas, planificação, implementação, implantação e execução, controle, avaliação e retomada do processo. É importante lembrar que o planejamento é um processo sempre em movimento, com início, meio, mas não tem um final determinado, até que se alcance o objetivo desejado.
VEJAMOS QUAIS SÃO AS APROXIMAÇÕES DO PLANEJAMENTO?
No primeiro momento, nas fases que correspondem à construção do objeto, estudo da situação, construção de referenciais teóricos, levantamento de pressupostos, coleta de dado, são os momentos considerados de reflexão. Nessa primeira fase, para se pensar no objeto de estudo, é necessária uma profunda reflexão para delimitar o objeto de forma coerente, porém vale mencionar que esse objeto é sempre algo que vai sendo construído ao longo do processo. Outra questão relevante é a segunda etapa, o estudo da situação, é através desse estudo que se torna possível a caracterização e a explicação de uma determinada situação. Essa situação é justamente o problema do planejamento, através dele
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é possível determinar as possibilidades e as limitações que envolvem o processo de planejamento. A terceira etapa, o referencial teórico, é a base que sustenta toda fundamentação e dá o respaldo necessário para validar o planejamento. Esse item é relevante por dar o suporte necessário para analisar a realidade do planejamento. Toda ação profissional do Assistente Social é direciona por teorias que norteiam o fazer profissional, nesse sentido, o referencial teórico é essencial não apenas na fase do planejamento, mas também para o cotidiano da prática do profissional. A quarta etapa se refere ao levantamento de pressupostos e/ou hipóteses preliminares. Como no planejamento, esse levantamento é diferenciado e as hipóteses podem ser também variadas, já a análise do conteúdo poderá ser diferenciada. A esse respeito, Oliveira (2010) diz que: Essas hipóteses preliminares de compreensão e de explicação da situação e as possibilidades de intervenção são frequentemente, levantada a partir de um referencial já existente, relacionado á situação abordada, ainda que ao senso comum a respeito da realidade e das informação relativas ao âmbito, ao nível e à estratégia interventiva da instituição promotora do planejamento. (OLIVEIRA, 2010, p.02)
Após o levantamento das hipóteses, pode-se afirmar que a próxima etapa é a coleta de dados, essa é a quinta etapa de primeira fase do planejamento. O principal objetivo da coleta de dados é justamente o levantamento das informações, logo pla-
De acordo com Oliveira (2010), as análises iniciais visam aproximar e/ou identificar área que demandem pesquisas que devem ser aprofundadas. Nesse sentido, no planejamento social é extremamente importante a realização antecipada de estudos dos aspectos relevantes para a situação abordada. A coleta de dados está diretamente relacionada às informações necessárias da
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realidade a fim de dar início às primeiras decisões a serem tomadas.
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nejar requer reunir as informações necessárias para a realização de pesquisas sobre a
instituição em questão, da situação, dados das políticas públicas, dados em relação às redes de apoio, equipamento jurídico, dentre outros. Através dessas informações será possível conhecer a realidade e a partir daí planejar algum tipo de mudança social, visto que, qualquer mudança ou ação interventiva só se realiza quando temos todo subsídio teórico e informativo. Aqui encerramos o primeiro momento do planejamento. Vimos que o primeiro momento é chamado pelos estudiosos de fase de reflexão, agora refletiremos sobre a fase da decisão. Essa etapa é constituída pela organização e análise, a identificação de prioridade de intervenção e por fim a definição dos objetivos e estabelecimento das metas. Vejamos a primeira! Sobre a organização e análise, Oliveira (2010) afirma que: Ela é totalmente dependente das outras, nela observa-se se os dados obtidos no decorrer da investigação são suficientes para dar resposta aos objetivos propostos, caso contrário deve-se redefinir a fase reflexiva do planejamento. (OLIVEIRA, 2010, p.03).
A partir da organização, é possível identificar quais são as políticas públicas adequadas para o enfrentamento e a superação de determinada realidade e/ou situação sociais, tudo isso tendo como base todo fundamento jurídico e as legislações pertinentes. Essa é a primeira fase do segundo momento do planejamento. A segunda fase é a identificação de prioridades de intervenção. De forma geral, nem sempre todas as ações planejadas são possíveis de serem desenvolvidas, dessa forma, essa é a fase que se elegem as prioridades, as ações necessárias e a fase de maior relevância dentro do projeto. A última fase desse segundo momento de decisão dentro do planejamento é a definição dos objetivos e o estabelecimento de metas. No âmbito do planejamento, os objetivos sevem para fundamentar todo o processo de planejamento. São os objetivos que direcionam e orientam as ações e as decisões a serem tomadas. Quando não existem os objetivos bastante definidos, claros e delimitados, os esforços poderão tomar qualquer outra direção e possivelmente não se alcançaria o resultado final esperado. Vale mencionar que essa fase de decisão que compõe o planejamento só se inicia depois que o profissional já conhece todo o campo de atuação, posteriormente se observam os dados coletados na perspectiva de perceber se eles são ou não suficientes para a formulação do questionário. Nesse sentido, é necessário que os objetivos estejam todos bem definidos e focalizados para que se alcance as metas traçadas e desejadas pelos planejadores.
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Vejamos agora o terceiro momento! Essa terceira e última fase do planejamento é chamada de fase da ação, composta por: análise de alternativas de intervenção, planificação, implementação, implantação e execução, controle, avaliação e a retomada do processo.
PENSEMOS AGORA COMO ACONTECE ESSA FASE! Essa é a fase que se caracteriza pela síntese e sistematização das atividades e de todos os procedimentos necessários para que sejam alcançados os resultados esperados e previstos pela equipe técnica. Para Oliveira (2010, p.05), “essas decisões são explicitadas, sistematizadas, interpretadas e detalhadas em documentos que representam graus decrescentes de níveis de decisão: planos, programas e projetos”. Nesse sentido, façamos uma breve revisão acerca desses conceitos básicos, sabendo que existe uma lógica específica e uma determinada linguagem dos projetos na lógica do planejamento. Tomemos então como ponto central para essa reflexão a lógica do planejamento. A esse respeito afirmam Cohen e Franco (2008): Um projeto é um empreendimento planejado que consiste num conjunto de atividades inter-relacionadas e coordenadas para alcançar
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objetivos específicos dentro dos limites de um orçamento e de um período de tempo dados. É, portanto a unidade mais operativa dentro do processo de planejamento e constitui o elo final de tal processo. (COHEN; FRANCO, 2008, p.85).
Portanto, podemos perceber que o planejamento é algo fundamental, é o ponto de partida para qualquer elaboração e/ou estratégia de ação a ser desenvolvida no cotidiano do exercício profissional do Assistente Social. Teoricamente, todas as atividades projetadas devem estar relacionadas umas com as outras, elas são ações articuladas e pensadas numa mesma perspectiva a fim de alcançar os objetivos gerais e específicos. Vale lembrar que os projetos são a parte mais operacional do planejamento, devendo responder de forma específica às respectivas demandas. Vimos na aula seis alguns aspectos conceituais sobre projetos e posteriormente as particularidades existentes entre o projeto de intervenção e o projeto de pesquisa. Quando nos reportamos ao conceito de projetos, logo lembramos que eles se referem à ação, à operação de um conjunto de ações com um determinado fim. É no projeto que são detalhadas as atividades a serem desenvolvidas e executadas. Em relação aos programas, Cohen e Franco (2008) afirmam ser um conjunto de projetos que tem como principal característica perseguir os objetivos, logo os projetos que compõem o programa são necessariamente todos articulados e interligados. O programa, de forma geral, seleciona e organiza os projetos estabelecendo as prioridades de intervenção definindo-os no âmbito institucional e alocando os devidos recursos a serem utilizados. É importante mencionar que as organizações e/ou instituições responsáveis pelos programas são eminentemente públicas, porém exis-
Para Oliveira (2010), o programa no âmbito do planejamento em Serviço Social é um importante documento caracterizado como um dos desdobramentos do plano que permite projeções mais detalhadas e informações específicas de alcance setorial e regional. É ele que estabelece o quadro de referências do projeto. Vejamos agora o que nos diz Cohen e Franco (2008) em relação ao plano:
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e idealizadas pelos órgãos de planejamento.
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tem também instituições privadas que atuam e operam dentro das diretrizes traçadas
[...] um plano é a soma programas que procuram objetivos comuns, ordena os objetivos gerais e os desagrega em objetivos específicos, que contribuirão por sua vez os objetivos gerais dos programas. (COHEN; FRANCO, 2008, p.86)
O plano no planejamento em Serviço Social delineia as decisões de caráter geral, as linhas e as diretrizes políticas a serem seguidas. É no plano que são sistematizados e compatibilizados os objetivos e metas na perspectiva de otimizar a utilização dos recursos disponíveis no planejamento. Nunca podemos perder de vista que nenhum projeto, plano e/ou programa são idealizados de forma aleatória, seja em qualquer situação, eles sempre são planejados a partir de uma análise da realidade. Os objetivos, geral e específico a serem alcançados serão a principal búsula que orienta todo o desenvolvimento do processo de planejamento. Sendo assim, a ação profissional do Assistente Social nunca estará desvinculada da análise da realidade social, pelo contrário, esse técnico, tendo um contato direto com o público-alvo, deverá estar munido de todo arcabouço teórico-metodológico necessário para realizar tal análise. É importante lembrar que é a Secretaria de Planejamento é a principal responsável pela formulação dos planos, assim podemos afirmar que os planos incluem estratégias e ações no âmbito administrativo, porém de caráter público. De acordo com Cohen e Franco (2008), existe uma significativa diferença quando nos reportamos ao planejamento de forma geral e quando tratamos de planejamento no âmbito social, esse último requer que façamos uma eleição das prioridades específicas voltadas para a lógica das necessidades sociais. Nesse sentido, é fundamental que se tenha um olhar profissional apurado das demandas sociais e o assistente social, com toda fundamentação teórica, certamente é um dos técnicos devidamente preparados para atuar nessa área. Outro item importante é a fase da ação, chamada planificação de ação, ou seja, é o instrumental mais próximo da execução que descreve com detalhes as atividades, os prazos e especifica os recursos. Ainda referente à fase da ação, temos a implementação, item muito importante para nossa discussão.
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O QUE SERIA ENTÃO A IMPLEMENTAÇÃO? A implementação é uma etapa de ação que só se efetiva após formulações de etapas anteriores, já que ela compõe uma das partes finais do processo de planejamento. A implantação conta de forma específica com estratégias que direcionam essas ações. Sobre a concepção de estratégia, Oliveira (2010) afirma que: Estratégia é um conjunto de ações e providências de uma corporação, instituições, setor ou região, destinado a viabilizar o seu avanço com maior segurança possível, num universo de incertezas não só no futuro como no próprio presente. Mobilizando, motivando e condicionando colaboradores para atingir um elenco de objetivos previamente estabelecidos. (OLIVEIRA, 2010, p.06)
Podemos, então, afirmar que a estratégia de ação é fundamental para que se alcance o resultado desejado por toda equipe de planejamento. Porém, toda estratégia é pensada e desenvolvida de forma coletiva a fim de se alcançar o objetivo esperado. Passemos agora a refletir a respeito de mais uma das etapas da fase da ação, a implantação e execução. Como o próprio nome já diz, essa é o momento do processo que coloca em prática todas as ações planejadas possibilitando o cumprimento dos objetivos.
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Sabemos que quando se trata da ação propriamente dita que envolve indivíduos e grupos, podemos afirmar a presença de resistência de mudanças, tanto de forma individual quanto grupal. De forma geral, a mudança sempre provoca algo novo, e o novo nem sempre é aceito como algo positivo e favorável. Muitas vezes o novo provoca estranhamento, descaso e insignificância. Para que as estratégias sejam devidamente operacionalizadas e a execução obtenha o objetivo desejado, faz-se necessário que se tenha confiança na proposta do projeto. Passemos agora para a questão da avaliação e controle que é mais uma das etapas da ação. Por meio da avaliação e controle é possível medir o grau de efetividade das ações.
Você nesse momento pode estAR se perguntando: existe alguma relação entre avaliação e controle? Qual seria?
Pois bem! Avaliação e controle estão intrinsicamente relacionados entre si, visto que para que a avaliação ocorra de forma satisfatória, faz-se necessário que haja o devido controle. Através desses instrumentos, é possível verificar se o que foi previsto no planejamento aconteceu de fato ou não. Após a realização da avaliação e controle, chegamos ao final da fase denominada de ação com a retomada do processo. Esse momento final do processo é constituí-
Sabemos que um planejamento em Serviço Social para se efetivar enquanto um processo dinâmico requer que todos os passos aqui sinalizados sejam devidamente cumpridos. Dessa forma, o planejamento torna-se uma ação dinâmica e um processo contínuo. Podemos afirmar que todo o processo de planejamento em Serviço Social
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para a retomada do planejamento.
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do pela identificação dos erros e desvios sendo posteriormente definidas novas ações
permite aos técnicos executores do planejamento um confronto com a realidade e o cotidiano profissional, já que é a partir daí que novas decisões são tomadas e novas estratégias de ação são planejadas. Agora que já refletimos sobre algumas questões conceituais sobre o planejamento no âmbito do serviço Social, vejamos de forma específica qual sua importância para a atuação profissional.
A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO PARA O SERVIÇO SOCIAL Para adentrarmos na reflexão acerca do planejamento em Serviço Social, pensemos de forma geral quais são as contribuições dadas pelo planejamento em relação à nossa vida cotidiana. O homem é por excelência um ser que planeja e que elabora em sua consciência uma determinada ação a ser desenvolvida e/ou desempenhada. Em relação ao meio social, o ato de planejar tem um valor incalculável, capaz de transformar ou gerar algum tipo de mudança em qualquer realidade vivida. Como já discutimos nesta aula, o planejamento é uma ação que exige do planejador uma determinada reflexão, tomada de decisão e a ação propriamente dita. O ato de planejar é puramente racional, exigindo do profissional da área social um raciocínio lógico, uma sequência a ser seguida e elaborada antecipadamente. A esse respeito, Vieira (2010) diz que: O planejamento é um importante aliado ao exercício profissional, pois permite antecipar possíveis e certas mudanças do ambiente externo em que a sociedade está inserida continuamente. O planejamento deve ser tratado como um processo primordial ao trabalho profissional, pois é um método aplicado para a intervenção profissional, ou seja, o profissional deve investigar e analisar a realidade para assim propor uma intervenção eficaz. (VIEIRA 2010, p.4)
A grande importância do planejamento está justamente em seus efeitos posteriores, em seu resultado final na prática profissional do Assistente Social. O bom planejamento tende a provocar mudanças significativas no ambiente externo e de forma particular no público-alvo a que são direcionadas as ações. O planejamento no âmbito do Serviço Social deve ser, por excelência, um dos principais critérios para que antecedam a intervenção do profissional, ou seja, o planejamento é o primeiro passo a ser dado para realizarmos algum tipo de interferência e intervenção na realidade social.
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Você já parou para imaginar o que aconteceria com as intervenções profissionais, não apenas no âmbito do serviço social, mas em relação a todas as outras profissões, se não existisse o planejamento?
Seria impossível que a elaboração de qualquer projeto pudesse modificar uma determinada realidade, ou gerar uma mudança social sem que haja o planejamento. Não podemos pensar qualquer tipo e intervenção desvinculada do ato de planejar. É o planejamento que possibilita o conhecimento necessário para que as estratégias possam alcançar os objetivos de forma satisfatória. O Serviço Social desde os primórdios sempre esteve a refletir sua prática e a planejar suas ações interventivas, porém isso acontece de forma específica com mais intensidade a partir da década de 70, quando a teoria marxista se expandiu entre os Assistentes Sociais, e a categoria ao se inserir no cenário político na luta por tantas conquistas sente a necessidade de planejar, de articular ações e estratégias em busca da consolidação e do reconhecimento profissional. Assim, quando refletimos sobre a trajetória histórica do Serviço Social, podemos perceber de forma clara que o planejamento sempre esteve presente no cotidiano profissional. Se fizermos uma análise acerca de diversos acontecimentos que marcaram a
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origem e o desenvolvimento do Serviço Social, veremos que mesmo no período em que a profissão tinha um caráter puramente assistencialista e a pobreza era uma questão de manutenção por parte do Estado, ainda assim o serviço Social necessitava planejar, organizar as ações e pensar em diversas formas de intervenção. Ainda quando a caridade, o assistencialismo era a centralidade da ação do Assistente Social, em qualquer que fosse a situação e ação interventiva, o planejamento esteve presente no sentido até da própria organização de atuação. Podemos então finalizar essa discussão acerca da importância do planejamento para o Serviço Social iniciando uma nova abordagem em relação ao tema central desta aula: a relação entre a ciência e a técnica. Você sabia que quando falamos sobre a relação entre a ciência e a técnica que envolve o Serviço Social estamos também nos referindo à questão do planejamento e seus dilemas profissionais? Então veremos!
DILEMAS PROFISSIONAIS DA ATUALIDADE: SERVIÇO SOCIAL, CIÊNCIA, TÉCNICA E PLANEJAMENTO Falar sobre ciência e técnica no âmbito do Serviço Social é nos reportarmos às estratégias para a ação profissional e é claro que para a efetivação dessas práticas, envolve, de forma direta, o planejamento. Mesmo em meio a tantos mecanismos e técnicas de planejamentos na atualidade, pode-se perceber que existe na contemporaneidade uma preocupação com o aspecto científico da profissão.
problemas e ineficácia da ação do profissional frente às mobilizações e organizações da classe trabalhadora. Nesse sentido, o planejamento seria uma das alternativas para a superação das lacunas deixadas na prática profissional do Assistente Social. O Serviço Social, ao longo da história, vivenciou diversos tipos de modificações no método operativo e consequentemente em cada período o planejamento sempre esteve presente.
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Assistente Social surge por meio da crise que o Serviço Social enfrentava diante dos
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Segundo Faleiros (2009), a preocupação com o aspecto científico da ação do
Porém, para Faleiros (2009) não são apenas os métodos de trabalho que definem uma profissão, mas existe um conjunto de fatores construídos historicamente que durante o processo de evolução da profissão foram contribuindo para que o serviço Social conquistasse o espaço que hoje ocupa na sociedade moderna. Um desses fatores seria justamente o desenvolvimento das forças produtivas e das relações sociais entre a classe dominante e dominadas. Vale lembrar que desde a sua origem, o Serviço Social, ao buscar sistematizar sua atuação, já realiza a prática do planejamento, quando se pensava como iria elaborar um diagnóstico social das situações do cotidiano. E consequentemente o uso das técnicas eram as estratégias propriamente ditas, sobre essas técnicas Faleiros (2009) afirma que: A técnica isolada da ciência, da teoria, é apenas uma prática repetitiva, isolada, tecnocrática. A técnica fragmentada, ou seja, uma prática que passa a utilizar o subproduto intelectual dela mesma [...] limita-se ao espaço e fica restrita aos limites de uma aplicação mecânica. (FALEIROS, 2009, p.86)
Partindo do pressuposto de que a prática profissional não é uma mera atividade mecânica e repetitiva, mas que necessita de todo um suporte teórico, é que podemos perceber a necessidade de um bom planejamento. Sabemos que a prática exige uma fundamentação teórica, ela não pode ser idealiza distante da realidade em que está inserido o profissional. É preciso toda uma elaboração teórica e específica voltada para a situação problema em questão. São esses elementos (teoria e planejamento) que darão ao Assistente Social condições reais que viabilizem algum tipo de renovação e/ou mudança social. De acordo com Faleiros (2009), a visibilidade científica da teoria do Serviço Social depende diretamente da construção de um corpo de sistemático de conhecimento em relação à sua prática e que lhe dê condições de criticar a si mesmo. Sistematizar o conhecimento, as informações, as estratégias de ação, tudo isso implica em elaborar de forma responsável o planejamento. A partir daí, podem-se esperar resultados satisfatórios e os objetivos desejados. No item a seguir, refletiremos sobre outra questão importante quando o assunto é planejamento, a participação popular. De forma geral, quando nos referimos ao planejamento devidamente direcionado aos projetos sociais para atender às necessidades do público-alvo, a participação
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popular é algo fundamental. São atores fundamentais para a o processo.
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O PLANEJAMENTO, SUA INSTITUCIONALIZAÇÃO E PARTICIPAÇÃO Já vimos durante esta aula algumas questões conceituais sobre planejamento e de forma específica alguns dilemas e incorporações no âmbito do Serviço Social. Vimos o quanto fazer planos é algo intrínseco à vida humana. Desde que o homem descobriu sua capacidade de pensar e agir, é que os seres projetam suas ações, idealizam e as põem em prática. Quando o homem planeja, ele deixa de correr muitos riscos e impossibilidades da ação improvisada. Quando se trata de planejamento que envolve mais de um indivíduo, as probabilidades de erros inesperados são ainda maiores. Nesse sentido, diz Heder (1981) que: Outro aspecto que é considerado como relevante na ação de planejar é que apesar de não se poder incorrer no risco de muito improvisar frente aos problemas que surgem, modificar decisões que se provarem inadequadas, uma certa elasticidade deve ser garantida,
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pois o que importa mesmo é o objetivo comum proposto e não o método para atingi-lo. (HEDER, 1981, p.42)
Portanto, a melhor forma de verificar se o que foi planejado está sendo efetivado é justamente através da prática. Essa prática não pode ter critérios rigorosos, logo o planejamento deve ser na verdade um processo, algo em construção perene, flexível no sentido de está dando novas roupagens e novas perspectivas aos objetivos que se pretende alcançar. No tocante à participação, é importante para nossa discussão entender que o planejamento não é uma ação isolada, é uma construção coletiva. Nesse sentido, a participação dos profissionais e dos atores sociais envolvidos, é algo essencial em todas as etapas do planejamento. Segundo Heder (1981), o planejamento é uma ação coletiva, pois envolvem todos aqueles que estão efetivamente engajados e comprometidos com o trabalho e com o bem comum. Por vezes, os frutos do planejamento sempre acabam gerando benefícios coletivos, assim esses beneficiários também devem fazer parte do planejamento, já que de forma geral eles fornecem as informações concretas, os meios necessários que viabilização a ação.
Você já ouviu falar sobre a institucionalização do planejamento? Gostaria de saber sobre esse assunto? Então vamos lá!
rial. Quando se pensou na institucionalização do planejamento, o conceito foi incorporado de forma específica às empresas, dessa forma, o planejamento passou a fazer parte do sistema econômico. De forma geral, o processo de planejamento tem como característica a determinação de metas, tomadas de decisão, reflexões acerca dos objetivos a serem alcançados etc.
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pitalista, logo podemos afirmar que sua origem está voltada para o âmbito empresa-
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A institucionalização do planejamento surge devido à expansão do sistema ca-
O planejamento e sua institucionalização, apesar de surgir no âmbito empresarial, foi ganhando novas dimensões de forma global quando foram surgindo novas demandas e problemas sociais. Cabia, então, ao Estado, a responsabilidade das desigualdades geradas pela acumulação do capital. Nesse sentido, o Estado reforçava cada vez mais o discurso governamental pautado na ideia de representante da população, representante do coletivo. A esse respeito, Heder (1981) fala, Evidentemente o discurso governamental defende a idéia de ser representativo dos interesses de toda a coletividade e de uma racionalização para o bem da sociedade. São formulados planos nacionais, estabelecem-se políticas regionais de desenvolvimento econômico e planejamentos setoriais, nas áreas de saúde, educação, transportes, habitação, bem-estar social. (HEDER, 1981, p.44)
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Quando o planejamento ganha uma dimensão mais ampla e não se restringe ________________________ apenas às articulações empresariais, podemos perceber que multiplicam-se as insti- ________________________ tuições públicas e privadas que se voltavam para fins sociais, não cabendo apenas ao ________________________ Estado a formulação de estratégias voltadas para a desigualdade social do país. ________________________ De acordo Heder (1981, p.45), o ministro João Paulo dos Reis Velloso em 1969 ________________________ determinou alguns elementos da filosofia de planejamento do nosso país, são eles:
Um planejamento como instrumento de racionalização da política de desenvolvimento; Um planejamento como atividade permanente; Um planejamento aberto voltado para execução; Um planejamento aberto (permitindo, por diversos estágios de formulação e execução, a participação da empresa privada e das diferentes categoriais sociais).
Dessa forma, fica evidente que o planejamento, além de ter suas origens no âmbito empresarial, expandiu-se também como uma das alternativas para ordenar as ações humanas.
Assim chegamos ao final de mais uma etapa! Após contar com sua dedicação
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e esforço, acredito que essa aula contribuiu de forma positiva para seu processo de aprendizagem.
SÍNTESE Nesta aula, refletimos sobre os dilemas profissionais da atualidade e as incorporações do planejamento em Serviço Social. Vimos de forma breve alguns conceitos essenciais para nossa discussão. Falamos sobre a importância do planejamento de forma geral e posteriormente abordamos alguns aspectos do planejamento de âmbito do Serviço Social e sua importância para a profissão. Por fim, realizamos um breve debate sobre a institucionalização do planejamento, sua origem e desenvolvimento na contemporaneidade. Podemos constatar que o planejamento apesar de ter suas origens nas relações empresariais, ele foi ganhando novas configurações com o decorrer dos anos, isso devido às novas demandas e necessidades sociais que foram surgindo com a permanência do sistema capitalista.
QUESTÃO PARA REFLEXÃO ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________
Quando pensamos na origem do planejamento, como podemos atribuí-lo como uma atividade essencial para o Serviço Social?
LEITURAS INDICADAS COHEN, Ernesto; FRANCO, Rolando. Avaliação de Projetos Sociais. 8 ed. Petrópolis,Rio de Janeiro: Vozes, 2008. VALDEBENITO, Marco Antonio Arroyo. Arvorecendo Projetos: Orientações para a elaboração participativa de projetos com roteiro para sua apresentação sistemática. 1° Edição. Programa Brasil de Unité, 1999.
REFERÊNCIAS COHEN, Ernesto; FRANCO, Rolando. Avaliação de projetos sociais. 8. ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2008.
FALEIROS, Vicente de Paula. Metodologia e ideologia do trabalho social. 11. ed. São Paulo: Cortez, 2009.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
HEDER, Maria Luzia. Política do Bem Estar. Serviço Social e Sociedade. nº.03, Cortez: São Paulo, 1981.
VIEIRA, Talita Carmona. A importância do planejamento social. Publicado em: 16 de agosto de 2010. Disponível em: http://www.webartigos.com/artigos/a-importancia-do-planejamento-social/44889/. Acesso em: 20 de novembro de 2011.
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gos/planejamento-social/51746/. Acesso em: 13 de outubro de 2011.
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OLIVEIRA, Raliane Carneiro. Planejamento social. 2010. Disponível em: http://www.webartigos.com/arti-
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