Psicologia e Comportamento - 2013_1

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Caro estudante,

Desde a criação da Unifacs, acreditamos que formação é muito mais do que preparação técnico-científica e que nossa missão como Universidade é proporcionar ao estudante uma educação para toda a vida, embasada no domínio do conhecimento, na fixação de valores e no desenvolvimento de habilidades e atitudes. É proporcionar o desenvolvimento integral do indivíduo.

Mais do que profissionais, queremos formar pessoas com visão abrangente do mundo e das transformações da dinâmica social, com competência para avaliar de forma crítica e criativa as questões que nos cercam. Pessoas capazes de enfrentar os desafios que se coloquem ao longo de sua vida e de sua trajetória profissional, e de aprender permanentemente e de forma autônoma.

Buscamos atingir este objetivo - fundamentados na nossa missão e no nosso Projeto Pedagógico Institucional - por intermédio das diversas atividades acadêmicas, dentro e fora da sala de aula, que compõem o Currículo Unifacs e que desenvolvem e fortalecem habilidades essenciais para a formação do perfil do egresso Unifacs; como um “DNA” reconhecido pela sociedade e pelo mercado de trabalho. Este Currículo compõe-se dos elementos descritos a seguir:

Disciplinas de Formação Humanística: oferecidas em todos os cursos de graduação da Unifacs; Disciplinas de Formação Básica: conferem conhecimentos e competências comuns aos cursos de uma mesma área do conhecimento, para o futuro exercício profissional; Disciplinas de Formação Específica: proporcionam a formação técnica e o desenvolvimento de habilidades e atitudes necessárias ao perfil profissional do curso; Atividades integradoras: permitem vivenciar na prática os conteúdos teóricos trabalhados em sala de aula, através do desenvolvimento de projetos específicos; Atividades Complementares: oferecem oportunidades de ampliação do conhecimento fora da sala de aula, a exemplo da Iniciação Científica, ações comunitárias, programas de intercâmbio, cursos de extensão e participação em Empresas Juniores, entre outras; Estágio Supervisionado; Trabalho de Conclusão de Curso e demais atividades acadêmicas.


As disciplinas de Formação Humanística, em especial, cumprem um papel fundamental na consecução desse perfil. Preparam uma sólida base de conhecimentos gerais que permitirão uma compreensão mais ampla da formação técnica de cada curso, estimulando o pensamento crítico e sensibilizando o estudante para as questões sociais, políticas, culturais e éticas que envolvem sua atuação como cidadão e profissional; motivando à busca do saber perene.

Em complementação, portanto, à formação técnico-profissional proporcionada pelas disciplinas de Formação Básica e Específica, as disciplinas de Formação Humanística possibilitarão ao estudante adquirir quatro importantes saberes: aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser.

Esta é a concretização do nosso compromisso de formar pessoas melhores, cidadãos atuantes e profissionais comprometidos para a construção de um mundo melhor.

Cordialmente,

Prof. Manoel J. F. Barros Sobrinho Chanceler


Formação Humanística Unifacs Conforme explicitado no Projeto Pedagógico Institucional da Unifacs, as disciplinas de Formação Humanística têm como objetivo:

Possibilitar aos discentes a visão abrangente do mundo e da sociedade, propiciando aquisição de competências relativas ao processo de comunicação e raciocínio lógico, necessárias para a formação profissional; bem como conhecimentos inerentes aos direitos humanos, à ética, às questões sócio-ambientais que envolvam aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos e culturais, delineando a formação cidadã.

As disciplinas de Formação Humanística e seus objetivos são:

1. Comunicação Desenvolver a capacidade de ler criticamente e produzir textos de forma autônoma, adequando-se às diversas situações comunicativas presentes no dia-adia, e reconhecer a importância do desenvolvimento destas habilidades para sua vida pessoal e profissional.

2. Introdução ao Trabalho Científico Despertar o interesse pela ciência, apontando seu papel na construção do conhecimento e mostrar como o método científico pode ser utilizado para a solução de questões cotidianas.

3. Sociedade, Direito e Cidadania. Promover uma reflexão sobre o exercício da cidadania e os mecanismos que garantem sua efetividade, bem como a participação nos processos sociais, de forma a interferir positivamente na sociedade.

4. Conjuntura Econômica Habilitar à compreensão da dinâmica da economia e do impacto das suas diversas variáveis e características no dia-a-dia de países, empresas e cidadãos.


5. Arte e Cultura Proporcionar o conhecimento e a valorização das manifestações artísticas e culturais e ampliar a percepção estética como habilidade relevante para profissionais de qualquer área do conhecimento.

6. Meio Ambiente e Sustentabilidade Transmitir conceitos fundamentais sobre ambiente, sustentabilidade e suas relações com o desenvolvimento e despertar atitude político-ambiental nos estudantes, a partir do entendimento de seu papel como profissionais e cidadãos.

7. Psicologia e Comportamento Estudar as interações dos indivíduos no cotidiano, nos grupos dos quais fazem parte, e avaliar papeis e funções nas relações pessoais e profissionais.

8. Filosofia Discutir as grandes questões da vida humana pela compreensão das diversas correntes de pensamento filosófico e de suas contribuições.

9. Empreendedorismo Desenvolver a atitude empreendedora como elemento indispensável para o sucesso pessoal e profissional, seja trabalhando em organizações ou como empresário.

10. Saúde e Qualidade de Vida Enfatizar a importância dos cuidados preventivos com a saúde para obter uma melhor qualidade de vida dando a base para o pleno desenvolvimento dos projetos pessoais e profissionais.


PSICOLOGIA E COMPORTAMENTO Autora: Clรกudia Vaz Torres


© 2013 . Universidade Salvador – UNIFACS É proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização. Disciplina: Psicologia e Comportamento.

Universidade Salvador – UNIFACS Presidente

Marcelo Henrik Chanceler

Manoel Joaquim Fernandes de Barros Sobrinho Reitora

Márcia Pereira Fernandes de Barros Vice-reitora para Desenvolvimento Interno

Maria das Graças Sodré Fraga Maia Vice-reitor para Relações Institucionais

Manoel Joaquim Fernandes de Barros Pró-reitor de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão

Luiz Antônio Magalhães Pontes

Pró-reitor de Graduação e Adjuntoria para Educação a Distância

Adriano Lima Barbosa Miranda Adjuntoria para Extensão

José Mascarenhas Bisneto EAD UNIFACS Coordenador Geral

Luciano Pena Almeida de Souza Coordenador de Processos Operacionais

Péricles Nogueira Magalhães Junior Coordenadora Pedagógica

Maria Luiza Coutinho Seixas Coordenadora Acadêmico-Administrativa

Rita de Cássia Beraldo

Coordenador de Tecnologia da Informação

Guna Alexander Silva dos Santos

Coordenadora do Laboratório de Mídias

Agnes Oliveira Bezerra Designers

Jorge Antônio Santos Alves José Archimimo Costa Conceição Daniel Sousa Santos Apoio do Laboratório de Mídias

Adusterlina Cerqueira Lordello Coordenadora SPACEAD

Renata Lemos Carvalho Revisão / estrutura

Séfora Joca Maciel Sonildes de Jesus Sousa Contato: www.unifacs.br | Salvador: 3232 4000 - Demais Localidades: 0800 284 0212


Sumário Formação Humanística Unifacs..............................................................................................................................................3

PSICOLOGIA E COMPORTAMENTO................................................................................................... 5 AULA 01 - A Psicologia e o comportamento humano............................................................................................. 11 AULA 02 - Teorias psicológicas............................................................................................................................................... 25 AULA 03 - A construÇÃo social do ser humano: subjetividade e identidades..................................... 49 AULA 04 - Ser humano: discutindo relações raciais, gênero, sexualidade e orientação sexual......................................................................................................................................................................... 65 AULA 05 - o ser humano: Construindo relacionamentos.................................................................................. 85 AULA 06- A dinÂmica das relaÇÕes nos grupos e equipes de trabalho...................................................107 AULA 07 - EmoÇÕes, sentimentos e afetos: DELIMITAÇÕES conceituais E repercussões no cotidiano do trabalho ..................................................................................................................................................115 AULA 08 - A motivaÇÃo no trabalho ................................................................................................................................133



Prezado(a) aluno(a)

Nesta disciplina, refletiremos sobre as interações e a subjetividade humana, reconhecendo os aspectos relevantes das emoções para suas relações sociais. O estudo desta disciplina está organizado em oito aulas virtuais, textos complementares e atividades. Na primeira aula, para nos situarmos no contexto, estudaremos sobre o surgimento da psicologia e o seu papel no desenvolvimento das questões humanas. Analisaremos, na segunda aula, algumas teorias psicológicas como o Behaviorismo, a Gestalt, a Psicanálise e a Psicologia Sócio-histórica, seus conceitos, fundamentos e contribuições para os estudos sobre o ser humano. Na terceira, quarta e quinta aulas analisaremos os aspectos da construção da subjetividade, das identidades e sua importância nas relações sociais, destacando as temáticas de gênero, sexualidade e orientação sexual e relações raciais. A construção dos relacionamentos e os principais elementos que interferem nessas relações serão discutidos através dos processos que estão presentes, como a comunicação, a liderança, o poder, entre outros. Nas aulas seguintes, abordaremos as dinâmicas dos relacionamentos que ocorrem nos grupos e equipes de trabalho, a importância das emoções, sentimentos e afetos, na composição da nossa dimensão subjetiva e sua relevância no cotidiano do trabalho. A última aula trata da motivação, processo psicológico básico que, na complexidade da vida organizacional, é assunto muito discutido por pesquisadores de diversas áreas. Ressaltamos que esse conhecimento serve como introdução para essa temática atual, relevante e complexa. Sua motivação será o diferencial para a concretização de uma prática que tenha espaço para a expressão das diversas subjetividades, acolha a diversidade e respeite cada pessoa nas suas semelhanças e diferenças. Para alcançar os objetivos que previmos nesta disciplina, acompanhe as aulas, aprofunde o estudo a partir das nossas indicações de textos complementares e também em outras fontes e realize as atividades planejadas. Para enriquecer a discussão participe dos fóruns e compartilhe dúvidas e sugestões com o seu colega e com o(a) tutor(a).

Bons estudos!

Profa. Cláudia Vaz Torres



mento humano Autora: Cláudia Vaz Torres

Nesta aula, refletiremos sobre o surgimento da psicologia, o seu objeto de estu-

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AULA 01 - A Psicologia e o comporta-

do e o seu papel na análise das questões humanas.

Por que nos tornamos o que somos, aqui e agora? O que constitui a nossa singularidade? O que mudou na história e o que a Psicologia tem a ver com isso?

Fonte das imagens: http://www.sxc.hu/.

A análise das imagens e das questões acima permite pensar que na contemporaneidade o modo como enxergamos a nós mesmos mudou bastante, pois em épocas passadas não havia o interesse em promover a exposição de si cotidianamente, havia maior preocupação com a manutenção da privacidade e com o lugar social previamente “determinado”. Podemos interpretar o mundo contemporâneo, como um período no qual predomina o intenso culto à pessoa, ao auto-conhecimento, à intimidade, à vida privada. É um momento em que percebemos que muitas mulheres e homens constroem as suas relações consigo e com os outros e interpretam a sua realidade sem reconhecer a importância do outro na existência de cada um, valorizando apenas as suas intimidades e interesses pessoais (SENNETT, 1998).

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Na contemporaneidade as ciências comportamentais ampliaram muito a sua área de análise, atuação e abriram espaço para campos específicos de aplicação como educação, saúde, trabalho, conflitos sociais, entre outros. Cotidianamente somos compelidos a pensar sobre o comportamento de mulheres e homens, a revisar conceitos e modelos, pois a todo momento novos acontecimentos vêm à tona, transformando o momento presente. Torna-se, então necessário saber lidar com a diversidade de situações nas relações humanas e com as diferentes questões que trazem em si a marca da instabilidade e da competitividade. Lidamos acentuadamente, hoje, com o sentimento de instabilidade, de incompletude que nos desafia e nos leva a desejar algo e querer ser melhor do que o que se é, porém esta busca muitas vezes está centrada nas aquisições, ou seja, em ter: bens, títulos, contratos, matrimônio, etc. Às vezes, pensamos que precisamos olhar o outro, sermos mais sensíveis, porém logo nos distanciamos desses ideais, assumimos os valores e princípios de uma sociedade de consumo e anestesiamos os nossos sentidos. Vamos, assim, formando territórios e exibindo o que esperamos que o outro queira ver. Sibilia (2008) explica que na contemporaneidade há uma necessidade imperiosa de exibir a intimidade e espetacularizar os recônditos do eu. Há, conforme a autora, um abandono da privacidade, do que se passa na experiência solitária e íntima de si para uma gradativa exteriorização do eu. O apelo social é para que se mostre e constitua a própria vida como um relato para ser saboreado, comentado, criticado e dese-

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jado pelo outro. As ferramentas atuais disponíveis na Internet como blogs, weblogs, YouTube, fotologs, redes de sociabilidade como Orkut, Myspace, facebook, entre outras promovem e celebram o eu, para tanto é preciso insistentemente atualizar o outro com fragmentos de informações que são adicionados a todo momento e sustentam apenas o tempo presente, enfim é preciso mostrar-se cotidianamente.

[...] os sujeitos destes inícios do século XXI, familiarizados com as regras da sociedade do espetáculo, recorrem a infinidade de ferramentas ficcionalizantes disponíveis no mercado para se autoconstruir. A meta é enfeitar e recriar o próprio eu como se fosse um personagem audiovisual. Não é muito difícil, pois a mídia oferece um farto catalogo de identidades descartáveis que cada um pode escolher e emular: é possível copiá-las, usá-las e logo descartá-las, para substituir por outras mais novas e reluzentes (SIBILIA, 2008, p. 241-242).

O desejo de visibilidade, de ser protagonista, mostrar-se e causar um efeito no outro marcam as experiências de construção das subjetividades atualmente. Nos novos modos de ser e estar no mundo é possível mentir sobre as suas próprias vidas e inventar fatos sobre si mesmo.


Eu conheci o Cris pela internet em 2007. Ele era amigo do namorado virtual de uma amiga. Ficamos próximos e decidimos namorar. Ele era muito ciumento, mas muito carinhoso. Eu não ficava com mais ninguém. Um dia, a minha amiga brigou com o namorado e começou a fazer pressão para ele contar mais coisas. Aí, veio à tona: nem o namorado dela nem o meu eram reais. Quem fazia o personagem dos dois era uma menina! (REPS, 2009) Reflita: Quais os desdobramentos disso? Como lidar com as diferentes versões de

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Leia o trecho a seguir:

construções do “eu”?

Fonte das imagens: http://www.sxc.hu/.

Esta infinidade de construções de versões do “eu” interessa a psicologia que além da sua cientificidade, está cada vez mais frequente na vida cotidiana. Figueiredo e Santi (2006) alertam que a tendência que mais cresce no mercado é a das “terapias de auto-ajuda” que misturam concepções do senso comum, com pressupostos humanistas sobre a liberdade do homem e prega o individualismo e a submissão do eu a um conjunto de regras de gerenciamento da própria vida.

Analise: O que é “terapia de auto-ajuda”? A auto-ajuda é uma terapia? Quais as diferenças entre esta abordagem e as abordagens da psicologia científica?

Alguns saberes e práticas sobre o ser humano pertencem a outros campos e estão em oposição aos princípios da psicologia científica. Compreender a psicologia numa dimensão histórica e social implica pensar nas ações, atitudes, emoções, sentimentos e comportamentos inerentes a mulheres e homens, constituídos a partir das relações. Assim, é importante refletir sobre a psicologia e destacar que a mesma pode ser considerada uma ciência, pois o conhecimento que produz é considerado científico por ter um objeto de estudo, uma linguagem rigorosa, objetividade, métodos e técnicas específicos e uma construção teórica cumulativa.

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O campo de conhecimento da Psicologia se constituiu como ciência a partir do século XIX, quando seus temas passaram a ser investigados pelos fisiologistas e pelos neurofisiologistas, que demonstraram que as nossas percepções e pensamentos derivam do sistema nervoso central; também, quando estes cientistas passaram a empregar nos seus estudos, métodos de observação cuidadosos e sistemáticos para normatizar e padronizar as ações, atitudes e comportamentos dos homens. Antes disso, a Psicologia estava atrelada à Filosofia. Conforme Bock, Furtado e Teixeira (2008), foram os filósofos gregos que tentaram pela primeira vez sistematizar o conhecimento psicológico, concebendo-o como estudo da alma. O termo psicologia vem do grego psyché, que significa alma, e de logos, que significa razão. Etimologicamente, a Psicologia significa o estudo da alma. A alma era concebida como a parte imaterial do ser humano que inclui os sentimentos, os desejos, as sensações, as percepções e os pensamentos. Atualmente, a Psicologia é vista como uma ciência em desenvolvimento. Cambauva, Silva e Ferreira (1998) esclarecem que a psicologia vai sendo construída à medida que os homens vão construindo a si mesmos e ao seu mundo.

O homem, sendo personagem principal desse processo de desenvolvimento do pensamento, cria idéias, entre elas as idéias psicológicas.

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Ele cria as ciências como forma de compreensão do mundo; entre essas ciências cria a psicologia, tendo como objetivo o entendimento do que hoje chamamos subjetividade, bem como a interpretação desta na sua relação com o mundo e com outros homens. Isso significa que a psicologia pode ser considerada uma ciência social, e seu objeto o homem. Ao falarmos do desenvolvimento da psicologia, estamos, ao mesmo tempo, nos referindo ao desenvolvimento, ao processo, à elaboração e à criação do pensamento humano. Ou seja, assumimos e entendemos que o homem está em constante movimento (CAMBAUVA; SILVA; FERREIRA, 1998, p. 2-3).

Depreendemos com as autoras que a pessoa, na sua relação com o outro, constrói a si mesma, é produtora de ideias, da ciência e produtora da história da sociedade. Diante da diversidade que encontra no mundo, da necessidade de conhecer, controlar e potencializar a sua eficiência desenvolve um modo de pensamento específico sobre seu comportamento, desenvolve métodos para análise e compreensão das inúmeras possibilidades de ser e estar no mundo. Diante dessas inúmeras possibilidades de interpretar o homem, encontramos na psicologia uma diversidade de objetos de estudo. Bock, Furtado e Teixeira (2008) analisam que a diversidade de objetos justifica-se porque os fenômenos psicológicos são diversos e não podem ser acessíveis ao mesmo nível de observação, padrões de descrição, medida, controle e interpretação. A psicologia, então, enfoca, de maneira particular, o seu objeto de estudo e constrói conhecimentos específicos e distintos sobre a nossa singularidade e individualidade.


O ser humano é o objeto de estudo da psicologia, porém há diversas concepções sobre ele, adotadas pelos teóricos e pesquisadores em psicologia, que irão promover especificidades no modo de compreender os fenômenos psicológicos. Existem, também, mitos filosóficos sobre o ser humano que influenciaram as ciências humanas, como o mito do homem natural que postula que o ser humano tem uma essência original, mas a sociedade termina por corromper esta essência, que é

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Ser humano: objeto de estudo da psicologia

caracterizada como boa, repleta de virtudes. Há o mito do homem isolado que é originariamente não social, mas gradativamente tem necessidade de relacionar-se e o mito do homem abstrato cujas características são universais e independem da realidade histórica e social. Conforme compreendeu, os mitos são importantes para a nossa reflexão, mas é importante considerar a história, a multideterminação do ser humano e as condições materiais que lhe são dadas. O ser humano é social e histórico, necessita do outro para constituir-se como humano, ter autonomia, relacionar-se, pensar, criar instrumentos, desenvolver a linguagem, trabalhar, modificar o ambiente e construir a sua realidade. Acrescentamos que a psicologia científica está dividida entre diferentes linhas de pensamento para analisar os seres humanos concebidos pela vida social, assim existem inúmeras maneiras de conceber e intervir no campo do “psicológico”.

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De acordo com Ferreira (2006), os saberes e as práticas psicológicas contempo- ________________________ râneas apresentam algumas experiências constitutivas fundamentais como a consti- ________________________ tuição da subjetividade e as individualidades como unidades políticas a serem desta- ________________________ cadas e diferenciadas no conjunto da sociedade. ________________________ Sem que o outro que convive conosco saiba, passamos longo tempo pensando ________________________

sobre quem somos, o que queremos, se vamos ou não fazer uma coisa, até que deci- ________________________ dimos por algo. Preservamos a nossa individualidade pelo desejo de sermos livres e ________________________ acreditamos que o nosso modo de sentir e pensar é único, porém ao lado das nossas ________________________ individualidades existe uma imensa possibilidade de padronização, normatização e ________________________ disciplina com o objetivo de controlar o comportamento, a imaginação, as emoções, ________________________ os sentimentos, os desejos e consequentemente manter a ordem social.

O ser humano e a valorização da individualidade A valorização da individualidade pode ser vista ao longo da história como na obra de Michel de Montaigne em 1580, ao advertir o leitor de que escreveu os seus Ensaios para si mesmo e, alguns amigos íntimos para que pudessem conservar mais inteiro e vivo o conhecimento que tiveram do seu caráter e de suas ideias. Entretanto, até o século XIII não existia sequer a noção de individuo. Acrescentamos que na Grécia, do ponto de vista político, a noção de indivíduo não aparece, isso não significa que a pessoa não existisse, mas que ele tinha a sua existência reconhecida como cidadão da polis. A maior punição para o homem era ser banido da polis. O espaço público e social era o lugar para o desenvolvimento pleno

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do ser humano. Ferreira (2006) analisa que a preocupação com a individualidade inicia-se a partir do século II d.C, ocasião que começa a ser buscada a constituição do cuidado de si. O ser humano mergulha no seu interior para descobrir, distinguir os pensamentos divinos dos pensamentos maléficos. Era preciso cuidar de si mesmo, da própria alma para livrar-se das tentações dos demônios. Sobre isso, Ferreira acrescenta:

Na passagem para o cuidado de si moderno há, pois, uma mudança de finalidade: não se busca mais uma purificação da alma para atingir Deus, mas uma pura afirmação de si. E também, o exame de si, outrora exercido através de instrumentos religiosos e jurídicos (como a confissão), cede aos aparatos científicos modernos ( a anamnese, a entrevista clínica, os testes mentais). Portanto, mudam igualmente as técnicas desse novo cuidado de si. [...] podemos dizer que, a partir da modernidade, passaram a existir diversas formas de relação consigo, além da religiosa, que nos convidam a um exame da nossa vida interior. Uma delas é a constituição do tema da sexualidade. (FERREIRA, 2006, p. 16-17)

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Compreendemos com o autor que o ser humano busca conhecer-se não mais para ser semelhante ao criador, como ocorreu na Idade Média. O ser humano lida com questões importantes e desafiadoras além da constituição do tema da sexualidade, como a busca da verdade, a distinção entre o público e o privado, a autonomia, entre outras.

Figura 1 - Montaigne

Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Michel_de_Montaigne_1.jpg

No século XVI, esclarecem Figueiredo e Santi (2006), há uma grande valoriza-


considerado cada vez menos sagrado e mais como objeto de uso, movido por forças mecânicas a serviço dos homens que passaram a ser considerados livres e centro do mundo. Esta transformação é parte da origem da ciência moderna. As condições socioculturais constituíram o terreno propício para a construção do projeto de uma psicologia como ciência, pois à medida que o homem sentia-se livre, diferente, capaz de experimentar sentimentos, ter desejos e pensar independentemente dos demais e, também, perceber as instâncias de controle na sociedade que

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ção e confiança no homem, geradas pela concepção de que o mundo passou a ser

colocavam em questão a sua soberania, autonomia e identidade, acentuou-se para o Estado a necessidade de recorrer a práticas de previsão e controle para dar conta das seguintes questões:

Como lidar melhor com os sujeitos individuais? Como educá-los de forma mais eficaz, treiná-los, selecioná-los para os diversos trabalhos? Em todas essas questões se expressa o reconhecimento de que existe um sujeito individual e a esperança de que é possível padronizá-lo segundo uma disciplina [...] Surge, desse modo uma demanda por uma psicologia (FIGUEIREDO; SANTI, 2006, p. 49).

Depreendemos que para a Psicologia progredir, era necessário conhecer e controlar as individualidades e suas diferenças. A experiência de individualização marca as escolas psicológicas fundadas no século XIX. O homem, sujeito individual, torna-se um objeto da ciência:

Os estudos psicológicos científicos começaram e se desenvolveram sempre marcados por essa contradição: por um lado a ciência moderna pressupõe sujeitos livres e diferenciados – senhores de fato e de direito da natureza; por outro, procura conhecer e dominar essa própria subjetividade, reduzir ou mesmo eliminar as diferenças individuais, de forma a garantir a “objetividade”, ou seja, a validade intersubjetiva dos achados. Em contraposição [...] muitos psicólogos repudiam essa meta de conhecer para dominar os meandros da subjetividade e afirmam, ao contrário, que o que interessa é conhecer esses aspectos profundos e poderosos do “eu” para dar-lhes voz, para expandi-los, para fazê-los mais fortes e livres. É claro que os que pensam assim querem fazer da psicologia uma “ciência” sui generis não só por ter um campo e um objeto próprios, mas por adotarem, em relação às demais ciências, outros métodos e outras metas. (FIGUEIREDO; SANTI, 2006, p.56-57)

Assim, há diversas psicologias, histórias e linhas de pensamento que divergem nos aspectos teóricos e metodológicos. A psicologia passou a existir como uma ciên-

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cia no final do século XIX com a criação do laboratório de psicologia experimental de Wilhelm Wundt em 1875 na Alemanha, na Universidade de Leipzig. O Laboratório de Leipzig atraiu estudantes de vários países e impulsionou a institucionalização formal da psicologia. A psicologia avança com o status de ciência que é obtido através da definição do objeto de estudo (comportamento, vida psíquica e consciência), delimitação do campo de estudo, formulação de métodos próprios de estudo e teorias que produzem conhecimentos passíveis de comprovação e cumulativos. Surgem as primeiras escolas psicológicas, como o Funcionalismo de William James, o Estruturalismo de Titchener e o associacionismo de Thorndike e, posteriormente diferentes teorias psicológicas. A construção de um projeto de uma psicologia independente com objeto próprio de estudo e métodos adequados não foi tarefa fácil, principalmente porque a filosofia abordava os conceitos relacionados ao comportamento, “alma” e consciência e a História, a Sociologia, a Linguística também abordavam as ações humanas e sua importância na sociedade de acordo com as condições sociais e históricas. A psicologia reivindicou um lugar no campo das ciências buscando objetividade, embasamento matemático e um elemento básico de investigação através da aproximação com os conceitos e métodos das ciências naturais. Ferreira (2006), ao analisar o mapa das psicologias do século XIX, explica que:

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Surge, então, no final do século XIX, na Alemanha, o projeto da psicologia enquanto ciência da experiência, tomando como base a fisiologia, calcado no conceito de sensação como elemento objetivo e matematizável. (FERREIRA, 2006, p. 21)

Assim na virada para o século XIX, torna-se possível a configuração da psicologia como área de conhecimento específico, embora com divergências no estudo do comportamento e da mente. As visões de homem de Wilhelm Wundt e seu contemporâneo William James não são mais bem aceitas hoje, porém, ainda assim, os estudos de Wundt sobre os processos mentais básicos através do método introspeccionista e a abordagem de James sobre a análise dos processos, através dos quais a mente funciona desempenharam um importante papel na construção de uma psicologia científica. (GLASSMAN, 2008). A psicologia, ramo das Ciências Humanas, estuda a subjetividade, conceito complexo que diz respeito ao nosso modo de ser, aos nossos pensamentos, desejos, sentimentos, ações, construídos na convivência social, nas interações e nas interpretações que fazemos dessas interações. Bock, Furtado e Teixeira (2008, p.23) analisam que

[...] estudar a subjetividade, nos tempos atuais, é tentar compreender a produção de novos modos de ser, isto é, as subjetividades


vas subjetividades vai desvendando as relações do cultural, do político, do econômico e do histórico na produção do mais íntimo e do mais observável no ser humano - aquilo que o captura, submete ou mobiliza para pensar e agir sobre os efeitos das formas de submissão da subjetividade.

A psicologia visibiliza a dimensão subjetiva dos seres humanos, que contempla

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emergentes, cuja produção é social e histórica. O estudo dessas no-

os pensamentos, desejos, emoções, sentidos, ações, significados, entre outros que são construídos a partir das vivências sociais e culturais. Através de recursos teóricos e metodológicos, a ciência psicológica analisa a dimensão subjetiva, as questões do sujeito e suas relações, potencializando a autonomia e capacidade de emancipação dos seres humanos. A psicologia é definida, comumente, como o estudo científico do comportamento. O termo comportamento pode ser compreendido como respostas observáveis, experiência interna (pensamentos, sentimentos, etc). Alguns psicólogos preocupam-se apenas com o comportamento humano, outros estudam as ações de outras espécies. De qualquer modo, o comportamento humano é rico e complexo, não há como explicar todos os aspectos numa teoria isolada, há uma diversidade de teorias que diferem em termos de pressupostos básicos, métodos e teorias no estudo desta temática. O modo como a psicologia aborda a subjetividade depende da concepção de ser humano adotada pelas teorias psicológicas. A psicologia, portanto, tem diferentes teorias para analisar e compreender o comportamento humano, como o Behaviorismo, a Psicanálise, a Gestalt, a Psicologia Socio-Histórica, entre outras. Vamos, resumidamente, conhecer alguns dos aspectos estudados por elas na próxima aula e suas contribuições para a análise do se humano. Compreendemos que é sempre um desafio descobrir maneiras para avaliar as diferenças entre as teorias e compreender as suas divergências, porém, diante da complexidade do comportamento, nenhuma teoria isolada pode explicar todos os aspectos que dizem respeito ao comportamento. Acrescentamos que as teorias desenvolveram-se em resposta a complexidade do estudo do comportamento, mas também em consonância com fatores pessoais, históricos e culturais. O conjunto de saberes e das práticas psicológicas contemporâneas apresenta algumas experiências como a constituição da subjetividade que estão presentes em todas as psicologias e que a partir dessas experiências, esclarece Ferreira (2006), surgem outras práticas relevantes que conduzem as reflexões sobre mente e corpo, a constituição da loucura como doença mental e as distinções relativas aos diferentes períodos da vida. Compreendemos também que existem inúmeras maneiras de conceber o campo do psicológico e outras tantas maneiras de intervenção. Sobre isso, esclarece Figueiredo (2006):

Entre as maneiras de pensar o psicológico há mesmo quem preten-

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da descartar-se desta denominação e dar preferência a outros con-

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campo do psicológico, há também os que pretendem fazer outra

ceitos, como conduta ou comportamento. Entre os que se situam no coisa que não psicologia como, por exemplo, psicanálise. (FIGUEIREDO, 2006, p. 9)

Há uma pluralidade no campo da psicologia, e o entendimento e aceitação das diferentes diversas teorias com as suas contradições sobre o comportamento estão de acordo com os nossos vieses pessoais, nossas crenças e o nosso momento histórico.

Fonte das imagens: http://www.sxc.hu/.

________________________ ________________________ ________________________ ________________________ Impõe-se à psicologia, na contemporaneidade, o compromisso social. A psico________________________ logia, como ciência e profissão, precisa buscar estratégias para lidar com o sofrimento ________________________ psíquico nos diferentes espaços sociais. Vamos analisar o compromisso social da psico________________________ logia através da leitura do trecho do artigo de Bock (1999, p.324-325): ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ [...] a Psicologia vem se transformando e vem se aproximando de ________________________ visões concretas e históricas, abandonando as visões naturalizantes ________________________ que ainda caracterizam nossa ciência e nossas técnicas. ________________________ ________________________ Vamos explicar melhor isto: ________________________ ________________________ A Psicologia em seu desenvolvimento esteve sempre presa a uma di________________________ cotomia entre objetividade e subjetividade; entre interno e externo; ________________________ entre natural e histórico; objeto e sujeito; razão e emoção; indivíduo ________________________ e sociedade. Desde Wundt, temos vivido esse desafio de superar es________________________ tas dicotomias e nosso desenvolvimento teórico pode ser registrado ________________________ a partir destas tentativas. Mantidas estas dicotomias, não temos ________________________ sido capazes de compreender o homem que não de forma a naturalizar seu desenvolvimento e seu mundo psicológico. Explicando ________________________ melhor: porque mantemos uma visão dicotômica, temos explicado


gerado por si mesmo. [...]

Esta tradição naturalizante do fenômeno psicológico nos jogou em uma perspectiva de profissão que sempre compreendeu nossa intervenção como curativa, remediativa, terapêutica. Temos nos limitado a ela nestes anos todos de profissão. Não é para menos que temos tido um modelo médico de intervenção. Mas isto vem mudando. A realidade objetiva, o mundo social e cultural vem invadindo nosso

21 psicologia e comportamento

o movimento do mundo psicológico como um movimento interno,

conhecimento e já não podemos mais falar de mundo psicológico sem considerar o mundo social e cultural. Ainda estamos construindo um modelo de relação entre estes mundos, entendendo que estes se influenciam e não que constituem um ao outro. Isto significa que ainda não superamos a dicotomia... mas estamos caminhando.

A Psicologia tem se aberto para estas novas leituras. Queremos entender o mundo psicológico como um mundo constituído a partir de relações sociais e de formas de produção da sobrevivência.

Para ler mais, acesse: http://www.scielo.br/pdf/epsic/v4n2/a08v4n2. pdf

Com a autora, compreendemos, então, que precisamos superar o pensamento dicotômico, a visão essencialista sobre o ser humano e entender o ser humano atrelado a sua realidade social e cultural. O trabalho da psicologia deve ser no sentido de atuar criticamente na realidade, promover a transformação, a emancipação do ser humano e dar visibilidade às desigualdades sociais. Compreendemos, então que não há no campo da psicologia uma visão descolada do ser humano a sua realidade, como também não há uma teoria ou projeto que predomine sobre o outro como no campo das ciências naturais. A diversidade neste campo torna-o ainda mais interessante para pensar como a nossa subjetividade se constitui e por quê. E como a partir disso, como nos lembra Arnaldo Antunes, construímos a História.

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[...]o tempo do nascimento, crescimento, envelhecimento, um momento

um momento

o homem pensa que faz

a guerra, a paz

enquanto o homem pensa

o tempo se faz

o homem pensa que é

alegre, triste

enquanto o tempo passa

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o homem assiste

como matar o tempo

como matar o tempo

Arnaldo Antunes - Tempo -

Veja o vídeo: http://www.youtube.com/ watch?v=Ek0wqw14Bkg

Consideramos, então, que é preciso pensar em mulheres e homens não somente com características pessoais, mas principalmente como sujeitos sociais que constroem a sua vida num espaço coletivo, histórico e cultural. É preciso, ainda aumentar a nossa capacidade de olhar para si, para o outro e reconhecer valor em cada um.

Síntese Nesta aula, refletimos sobre a psicologia como ciência, seu surgimento e importância. Refletimos sobre o objeto de estudo da psicologia e a caracterização do ser humano e compreendemos que não há como explicar todos os aspectos numa teoria isolada, há uma diversidade de teorias que diferem em termos de pressupostos básicos, métodos e teorias no estudo da subjetividade.


jetividade e das identidades, aspecto importante para a compreensão das diferentes dinâmicas nas relações interpessoais. Vamos em frente!

23 psicologia e comportamento

Na próxima aula você continuará este estudo analisando a construção da sub-

questão para Reflexão - Por que os psicólogos divergem em relação à definição do que é psicologia? - É preciso compreender a pessoa como um produto social e um ser coletivo? Justifique: Pense e converse a respeito com seus colegas e amigos.

Leituras indicadas BOCK, Ana Merces. A psicologia a caminho do novo século: identidade profissional e compromisso social. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/epsic/v4n2/a08v4n2. pdf Acesso em 22 de junho de 2012

Para aprofundar seus estudos leia também o texto da Anita Resende cujo título é Subjetividade: novas abordagens de antigas dicotomias. Disponível em: http://www. anped.org.br/reunioes/28/textos/gt20/gt201453int.rtf aceso em 25 de maio de 2012 e leia:

CAMBAÚVA, L.G.; SILVA, L.C.; FERREIRA, W. Reflexões sobre os estudos da psicologia. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/epsic/v3n2/a03v03n2.pdf>. Acesso em: 25 maio 2012.

SITES INDICADOS http://www.anped.org.br/reunioes/28/textos/gt20/gt201453int.rtf http://www.scielo.br/pdf/epsic/v3n2/a03v03n2.pdf

Referências ANTUNES, A. Tempo. Disponível em: <http://letras.terra.com.br/arnaldo-antunes/91765/>. Acesso em 25 maio 2012.

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BOCK, Ana Merces. A psicologia a caminho do novo século: identidade profissional e compromisso social. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/epsic/v4n2/a08v4n2.pdf Acesso em 22 de junho de 2012.

BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia. São Paulo: Saraiva, 2008.

CAMBAÚVA, L.G.; SILVA, L.C.; FERREIRA, W. Reflexões sobre os estudos da psicologia. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/epsic/v3n2/a03v03n2.pdf>. Acesso em: 25 maio 2012.

FERREIRA, A. A. L. O múltiplo surgimento da psicologia. In: JACO-VILELA, A. M.; FERREIRA, A. A. L.; PORTUGAL, F. T. História da psicologia: rumos e percursos. Rio de Janeiro: Nau, 2006. p. 13-46.

FIGUEIREDO, L. C. M.; SANTI, P. L. R. de. Psicologia, uma (nova) introdução: uma visão histórica da psicologia como ciência. São Paulo: EDUC, 2006.

GLASSMAN, W.; HADAD, M. Psicologia: abordagens atuais. Porto Alegre: Artmed, 2008.

MONTAIGNE, M. Ensaios. São Paulo: abril Cultural, 1984.

REPS, R. Namoro entre telinhas: comportamento. Revista Capricho, n. 1072, p. 90-93, São Paulo: Abril, Junho 2009, p. 90-93.

SENNETT, R. O declínio do homem público: as tiranias da intimidade. São Paulo: Companhia das Letras,

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1998.

SIBILIA, P. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.


Autora: Cláudia Vaz Torres

Nesta aula, refletiremos sobre algumas teorias psicológicas como o Behaviorismo, a Gestalt, a Psicanálise e a Psicologia Sócio-histórica, seus conceitos, fundamentos

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AULA 02 - Teorias psicológicas

e contribuições para os estudos sobre o ser humano. Em razão da complexidade da temática, apresentaremos, apenas, de modo resumido alguns conceitos concernentes às teorias psicológicas.

Behaviorismo O Behaviorismo é considerado uma das principais teorias da Psicologia do século XX. Propõe um modelo de ciência que enfatiza a observação e a interação organismo-contexto na análise do comportamento humano. Termos como Comportamentalismo e Comportamentismo são encontrados na literatura para denominar esta tendência. O termo inglês behavior significa comportamento e o projeto de uma psicolo- ________________________ gia cujo objeto era o comportamento foi originalmente elaborado por John Watson ________________________ (1878-1958).

Em 1913, John B. Watson (1878-1958) escreveu um manifesto que enfatizou o comportamento como objeto de estudo da psicologia e o interesse sobre o modo como o ser humano responde a diversas situações em um dado ambiente. O manifesto “A psicologia como o behaviorista a vê” criticava a utilização dos processos e conteúdos mentais que estivessem envolvidos na percepção, memória, imaginação, raciocínio etc, como objeto de estudo da Psicologia. Para Watson, o método para detectar e analisar comportamentos observáveis deveria ser unicamente a observação e a experimentação (método de qualquer ciência).

Psicologia como “ciência do comportamento” Para Figueiredo e Santi (2006), Watson redefiniu a psicologia como “ciência do comportamento” e livrou-se do método da auto-observação para estudar o comportamento humano. Nos seus estudos teve influencia de Ivan Pavlov (1849-1936), fisiologista que criou o conceito de reflexo condicionado a partir de uma pesquisa sobre as glândulas digestivas dos cães e estudou a formação das respostas condicionadas e outros fenômenos como o reforço (elemento essencial para que a aprendizagem ocorra), a extinção de resposta, a generalização, a discriminação, entre outros.

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Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/56/Ivan_Pavlov_%28Nobel%29.png

O método do reflexo condicionado foi adotado por Watson em razão de ser um método objetivo de análise do comportamento, ou seja, de redução do comporta-

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mento às suas unidades elementares, os vínculos estímulo-resposta. Para Watson todo comportamento podia ser reduzido às unidades de estímuloresposta (SR) o que permitia a investigação do comportamento humano em laboratório. Figueiredo e Santi (2006) analisam a importância dos estudos sobre o comportamento: Com o comportamentalismo, pela primeira vez, os estudos psicológicos “deram as costas” à experiência imediata. Tudo aquilo que faz parte da experiência subjetiva individualizada deixa de ter lugar na ciência, seja porque não tem importância seja porque não é acessível aos métodos objetivos da ciência. Nessa medida, o “sujeito” do comportamento não é um sujeito que sente, pensa, decide, deseja e é responsável por seus atos: é apenas um organismo. Enquanto organismo, o ser humano se assemelha a qualquer outro animal, e é por isto que essa forma de conceber a psicologia científica dedica uma grande atenção aos estudos com seres não humanos, como ratos, pombos e macacos, entre outros. Esses sujeitos não falam, mas isto não representa um obstáculo para o comportamentalismo de Watson, já que ele não tem o mínimo interesse na “vivencia” do sujeito, na sua experiência imediata. O comportamentalismo watsoniano interessa-se exclusivamente pelo comportamento observável, com o objetivo muito prático de provê-lo e controlá-lo de forma mais eficaz. (FIGUEIREDO; SANTI, 2006, p. 66-67)

Depreendemos com base nos autores que Watson interessava-se pelo estudo do comportamento observável, mensurável e que pudesse ser reproduzido em outras circunstâncias. Tecia críticas ao que não poderia ser verificado por uma observação


quisa. Posteriormente, Skinner (1981), utilizando procedimentos experimentais nas suas pesquisas sobre o comportamento, trouxe contribuições ao estudo das interações entre organismos vivos e seus ambientes.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:B.F._Skinner_at_Harvard_circa_1950.jpg

Skinner (1981) analisava o comportamento como uma matéria difícil que exige do cientista grandes técnicas de engenhosidade.

Queremos saber por que os homens se comportam da maneira como fazem. Qualquer condição ou evento que tenha algum efeito demonstrável sobre o comportamento deve ser considerado. Descobrindo e analisando estas causas poderemos prever o comportamento, poderemos controlar o comportamento na medida em que o possamos manipular. (SKINNER, 1981, p. 34)

Skinner procurou analisar as causas do comportamento, criticava a tendência na Psicologia de explicar o comportamento em termos de um agente inferior sem dimensões físicas chamado “mental” ou “psíquico”. Para o autor, o hábito de buscar uma explicação do comportamento dentro do organismo tende a obscurecer as variáveis que estão fora do organismo, no seu ambiente e em sua história ambiental. Assim, é possível prever o comportamento se conhecermos o máximo possível sobre as variáveis e suas relações com o comportamento. Para tanto, é necessário investigar quantitativamente os efeitos de cada variável com os métodos e as técnicas de uma ciência de laboratório.

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independente e os relatos introspectivos como instrumentos metodológicos de pes-

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O Behaviorismo de Skinner ficou conhecido como Behaviorismo Radical. Esta designação foi feita pelo próprio Skinner para se referir à filosofia da análise experimental do comportamento. O termo radical vem de raiz, no sentido em que se designaria uma proposta que se atém ao estudo do comportamento a partir do próprio comportamento, sem o recurso explicativo a qualquer outra entidade. (CANÇADO, SOARES, CIRINO, 2006, p. 188)

O Behaviorismo formula importantes conceitos para compreensão das nossas interações com o ambiente, como o comportamento operante. Vamos conhecê-los: Comportamento operante - abrange as atividades humanas. Descreve a ação do organismo sobre o meio do qual emergem as consequências do comportamento. As respostas são definidas por sua relação com a consequência. Para Skinner (1981), então, o que propicia a aprendizagem dos comportamentos é ação do organismo sobre o meio e o efeito que resulta desta ação. O comportamento operante faz referência à interação sujeito-ambiente e é fundamental a relação entre a ação do organismo e as consequências que por produzir uma alteração ambiental, age sobre o sujeito, alterando a probabilidade futura da resposta. Comportamento respondente ou reflexo - abrange os comportamentos não voluntários. Para Bock, Furtado e Teixeira (2008) os comportamentos respondentes são interações estímulo-resposta incondicionadas. Os estímulos eliciam certas respostas do

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organismo que independem da aprendizagem. Os autores acrescentam que essas interações também podem ser provocadas por estímulos que não provocavam esse tipo de resposta, para tanto, é preciso parear temporalmente esses estímulos com estímulos eliciadores em situações bem específicas. Essas novas interações, chamados de reflexos são condicionadas (aprendidas) devido ao pareamento. Comportamento respondente

Fonte:UNIFACS


ferem-se à interação sujeito-ambiente. Segundo Skinner (1981), operamos sobre o mundo em função das consequências criadas pela nossa ação. Os reforçadores estão presentes quando alteram a probabilidade futura da ocorrência desta resposta. O reforço pode ser positivo que consiste em todo evento que aumenta a probabilidade da resposta que o produz ou negativo que diz respeito a todo evento que aumenta a probabilidade futura da resposta que o remove ou atenua. Segundo Skinner (1981)

29 psicologia e comportamento

A maioria das nossas ações evidenciam comportamentos operantes, pois re-

No condicionamento operante fortalecemos um operante, no sentido de tornar a resposta mais provável ou, de fato mais frequente. No condicionamento pavloviano ou respondente o que se faz é aumentar a magnitude da resposta eliciada pelo estímulo condicionado e diminuir o tempo que decorre entre o estímulo e a resposta. (SKINNER, 1981, p. 74)

Compreende-se com o autor que, através do condicionamento operante, o meio ambiente modela o repertório básico com o qual andamos, trabalhamos, praticamos esportes, tocamos instrumentos, falamos, escrevemos, dirigimos, entre outros.

A presença dos reforços modela o repertório comportamental e aumenta a eficiência ________________________ do comportamento e o mantém fortalecido por muito tempo, mesmo depois que a ________________________ aquisição ou a eficiência já tenha perdido o interesse. Os conceitos do Behaviorismo têm aplicação na educação, clínicas psicológicas, treinamento nas empresas, publicidade, entre outros. Vamos conhecer uma outra importante teoria da Psicologia.

Gestalt “[...] é no campo da experiência, daquilo que nos percebemos tal e como percebemos, que nós nos comportamos, agimos e nos emocionamos. “(MORAES, 2006, p.308)

Você sabe o que significa Gestalt? Já ouviu falar?

A Teoria da Gestalt nasceu na Europa e postulava a necessidade de compreensão do ser humano como uma totalidade, aceitava o valor da consciência e criticava a tentativa de analisá-la em elementos, como também fazia oposição às tendências psicológicas do século XIX que fragmentavam as ações humanas.

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A palavra alemã, Gestalt, explicam Schultz e Schultz (1981), causou dificuldades na compreensão do movimento porque não tem um equivalente exato em outras línguas e seus equivalentes são forma, totalidade morfológica e configuração. O emprego da palavra em alemão refere-se à forma como propriedade dos objetos e, também, como um todo ou entidade concreta que tem como um dos seus atributos uma forma ou configuração específica. Bock, Furtado e Teixeira (2008) analisam que embora a Teoria da Gestalt tenha sido importante e complexa, não prosperou como as outras teorias, porém muitos estudos e pesquisas iniciaram-se a partir dos conceitos de forma e da noção de totalidade, como as pesquisas de Kurt Lewin sobre a dinâmica dos grupos e sobre o conceito de campo social que é formado pelas características da pessoa quanto pelas características do meio onde a pessoa está inserida.

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Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Kurt_Lewin.jpg

Kurt Lewin analisou a partir da teoria de campo da física que as atividades psicológicas da pessoa ocorrem numa espécie de campo psicológico, denominado de espaço vital. O campo compreende os eventos passados, presentes e futuros que possam influenciar uma pessoa. Do ponto de vista psicológico, cada um desses eventos pode determinar o comportamento a partir das interações das necessidades da pessoa com o ambiente psicológico (SCHULTZ; SCHULTZ, 1981). Vamos conhecer mais sobre os fundamentos desta teoria, que tem como orientação filosófica a fenomenologia. A partir desses fundamentos filosóficos, a preocupação incidia na percepção, no modo como as pessoas compreendiam o seu entorno. Moraes (2006) analisa que um dos desafios da psicologia do século XIX era encontrar parâmetros que permitissem uma investigação experimental da sensação


A sensação, importante conceito para compreender a relação entre a experiência e o mundo físico, era compreendida como um acontecimento fisiológico provocado pelo estímulo físico que causava uma modificação no corpo e um acontecimento psicológico porque essa experiência tinha na sensação seu fundamento. No final do século XX, com os avanços das pesquisas em psicologia, ocorreu o reconhecimento dos limites da sensação para definição da experiência psicológica. A

31 psicologia e comportamento

como experiência psicológica.

psicologia passou a investigar não o conteúdo da experiência, mas sim o ato de representar. A distinção entre o ato e o conteúdo tornou-se fundamental para a compreensão da experiência psicológica (MORAES, 2006). Tratava-se, então de analisar a importância das relações entre as sensações e, não apenas definir a experiência através das sensações. Vamos ouvir uma melodia e tentar reconhecê-la:

Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=6LrUHQky71Y

Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=ITsKmGfiStY&feature=related

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Reconheceu a melodia? Por que somos capazes de reconhecer a identidade da música em diferentes tons? Vamos ler um pequeno texto que permitirá a compreensão da razão do reconhecimento da melodia em um tom diferente do habitual e provocará a reflexão sobre a importância do deslocamento das pesquisas em psicologia da noção de sensação para as relações entre as sensações.

Tomemos, por exemplo, uma melodia (A). Nós podemos transpôla para outro tom, formando uma melodia (B). Nessa transposição de (A) para (B), todas as notas se alteram. No entanto, somos perfeitamente capazes de perceber a semelhança entre (A) e (B). Ora, se todos os elementos variam quando fazemos a transposição da melodia, por que somos capazes de reconhecer a semelhança entre (A) e (B)? Podemos, por exemplo, reconhecer a música Garota de Ipanema, de tom Jobim e Vinicius de Moraes, em qualquer tom que a executemos. Por que somos capazes de reconhecer a identidade da música mesmo quando alteramos o tom no qual a música é executada? A semelhança percebida não pode advir das sensações, dos elementos, já que todos os elementos se modificam quando ocorre a transposição de um tom para outro. (MORAES, 2006, p. 303)

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Então, qual a sua ideia? O reconhecimento da identidade da música em diferentes tons evidencia que reconhecemos as relações entre os elementos, e não os elementos isoladamente. Percebemos, então, a importância da qualidade estrutural, que diz respeito às relações entre os elementos. Então, esta análise da melodia em diferentes tons expressa o limite da sensação, explica que há algo que não se reduz ao campo das sensações consideradas isoladamente. Assim, entendemos que o campo da sensibilidade é formado por sensações e qualidades estruturais. O conceito de qualidade estrutural diz respeito à forma ou estrutura. Para que possamos compreender uma situação, não podemos limitar a nossa análise aos elementos que constituem a situação, mas devemos analisar as relações entre esses elementos. No início do século XX, Wertheimer, Koffka e Kohler, nomes integrantes da Escola de Berlim, investigaram a experiência psicológica tomando como referência a percepção tal como é vivenciada por cada um de nós, com a compreensão de que a experiência perceptiva é marcada por relações de sentido e de valor e não apenas por um acúmulo de sensações. (MORAES, 2006). Em 1923, os princípios da organização da percepção foram apresentados. A proposta era que os objetos deveriam ser percebidos como totalidades unificadas, e não como aglomerados de sensações individuais. A organização da percepção ocorre de modo instantâneo, assim que entramos em contato com os elementos que estão


A partir dos exemplos da organização da percepção, analisaremos os princípios da organização perceptiva. (MORAES, 2006).

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33 psicologia e comportamento

ao nosso redor.

Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Motion_illusion_in_star_arrangement.png?uselang=pt-br

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uma direção particular.

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Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Gestalt_similarity.svg

3- Semelhança: partes semelhantes tendem a ser vistas juntas como se formassem um grupo.

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4- Complementação: tendemos a completar figuras incompletas e preencher lacunas. 5- Simplicidade: de acordo com as condições do estímulo, tendemos a ver uma figura completa e organizada, significando que há uma boa gestalt, simétrica, simples e estável. 6- Figura e fundo: a figura destaca-se do fundo, assim tendemos a organizar as percepções no objeto observado, a figura.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Multistability.svg

Para a Gestalt, esses princípios estão presentes nos diversos estímulos. Contribuições da teoria:


Schultz (1981), ao contrário da teoria do comportamentalismo, a psicologia da Gestalt conserva sua identidade distinta ao enfatizar a experiência consciente como problema legítimo da psicologia e admite que não é possível investiga-la com a mesma precisão e objetividade, como o comportamento manifesto é estudado. Analisaremos uma outra importante teoria, a Psicanálise.

35 psicologia e comportamento

A Gestalt tem inspirado diversas pesquisas e, conforme analisam Schultz e

Psicanálise “Palavras suscitam afetos e são, de modo geral, o meio de mútua influência entre os homens.” (FREUD, 1915, p. 29)

A Teoria Psicanalítica concebida por Sigmund Freud representou um grande avanço na teoria social e nas ciências humanas ao abrir um caminho para uma diferente orientação no mundo e na ciência. Freud (1913), médico vienense, propôs, na última década do século XIX, conceitos que alicerçaram a psicanálise como o inconsciente, a repressão, a sexualidade infantil, a relação entre sintomas neuróticos e fenômenos da vida psíquica normal, entre outros conceitos do tratamento analítico. Freud (1913), ao afirmar que somos determinados por processos psíquicos inconscientes, descentrou o pensamento cartesiano que concebia o homem como um ser racional, pensante e consciente, situado no centro do conhecimento. Para Freud, a psicanálise, como um importante campo de saber, reivindicou o seu estatuto de ciências naturais, ou seja, sujeita à metodologia rigorosa, domínio de fenômenos físicos e ou naturais e, também, reivindicou um lugar nas ciências humanas pela sua dimensão interpretativa de um tipo de fenômeno psíquico que é o inconsciente. A história do desenvolvimento da psicanálise é marcada pelo interesse de Freud pelo estudo do inconsciente, assunto ignorado pelas outras teorias psicológicas no período. O relato de Freud (1914, p. 31-32) esclarece a sua participação na história do desenvolvimento da psicanálise: Sigmund Freud

Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Freud_ca_1900.jpg

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De inicio não percebi a natureza peculiar do que descobrira. Sem

psicologia e comportamento

restringi o número de clientes nas minhas horas de consulta, para

hesitar, sacrifiquei minha crescente popularidade como médico, e poder proceder a uma investigação sistemática dos fatores sexuais em jogo na causação das neuroses de meus pacientes; e isso me trouxe um grande número de fatos novos que finalmente confirmaram minha convicção quanto à importância prática do fator sexual. Ingenuamente, dirigi-me a uma reunião da Sociedade de Psiquiatria e Neurologia de Viena [...] na esperança de que as perdas materiais que voluntariamente sofri fossem compensadas pelo interesse e reconhecimento dos meus colegas. Considerava minhas descobertas contribuições normais à ciência e esperava que fossem recebidas com esse mesmo espírito. Mas o silêncio provocado pelas minhas comunicações, o vazio que se formou em torno de mim, as insinuações que me foram dirigidas, pouco a pouco me fizeram compreender que as afirmações sobre o papel da sexualidade na etiologia das neuroses não podem contar com o mesmo tipo de tratamento dado ao comum das comunicações. Compreendi que daquele momento em diante eu passara a fazer parte do grupo daqueles que “perturbaram o sono do mundo”. [...] Entretanto, desde que minha convicção quanto à exatidão geral de minhas observações e conclusões era cada vez maior, e que a confiança no meu próprio julgamento e minha coragem moral não era exatamente o que se pode chamar de pequena, o resultado da situação não poderia ser posto em dú-

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vida. Dispus-me a acreditar que tinha tido a sorte de descobrir fatos e ligações particularmente importantes, e resolvi aceitar o destino que às vezes acompanha essas descobertas.

Depreendemos que as convicções de Freud (1914, p.31) sobre o papel da sexualidade na etiologia das neuroses e a influência dos conteúdos inconscientes no comportamento humano não foram bem aceitas inicialmente pelos contemporâneos, pois como ele próprio escreve “[...] perturbaram o sono do mundo.” A psicanálise constitui uma teoria sobre o funcionamento da vida psíquica, um método de investigação e pesquisa de natureza interpretativa e de tratamento. Os primórdios da teoria e da técnica são encontrados na publicação Estudos sobre a Histeria (1895) de Breuer e Freud, na qual são relatados os tratamentos conduzidos pelos autores com pacientes histéricos que sofriam por diversos sintomas. A histeria, para Freud (1895), era uma doença psíquica que apresentava quadros clínicos bem variados e que poderia ser tratada através da hipnose. O tratamento psicanalítico foi iniciado com o auxílio da hipnose que, posteriormente foi abandonado e substituído pelo método da associação livre (ou livre associação) com o paciente em estado normal. O método da associação livre consiste em deixar o paciente falar sem qualquer censura ou inibição, por quase todo o tempo, sem explicar nada mais que o necessário para fazê-lo prosseguir no que está dizendo (FREUD, 1913). Freud (1925) verificou que as associações livres emergem de múltiplas redes de sentido que remetem umas as outras, constituindo redes associativas. As associações


havia um determinismo psíquico. O determinismo psíquico, importante pressuposto da teoria, estabelece que todo comportamento tem uma causa (isto é, ele é determinado) e que a causa deve ser encontrada na mente (psyche, em grego). Freud inicialmente parecia acreditar que suas ideias podiam ser reduzidas a princípios fisiológicos. Entretanto, posteriormente concentrou-se nos constructos mentais (id, ego, superego). Seu trabalho em fisiologia também convergiu com outra influência – o trabalho de Darwin sobre a evolução. O conceito de continuidade bio-

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tinham um sentido oculto, estavam relacionadas umas as outras. Freud acreditava que

lógica entre as espécies convenceu Freud de que a motivação humana tem uma base biológica. Então, um dos pressupostos de Freud, além do determinismo psíquico que estabelece que todo comportamento tem uma causa, é o inconsciente.

O inconsciente O conceito de inconsciente (Ics) é fundamental para a teoria psicanalítica, surgiu da experiência de tratamento de mulheres e homens. Freud (1915), no artigo O inconsciente, afirma que o conceito abrange atos que são meramente latentes, temporariamente inconscientes e abrange processos tais como os reprimidos. Em 1912, ao escrever o artigo Uma nota sobre o inconsciente na psicanálise, Freud (1912) analisa que o inconsciente é um sistema que possui conteúdos, mecanismos e uma energia ________________________ específica. ________________________ Os conteúdos do inconsciente, para Freud (1905), são os representantes da pulsão. Para ele, a pulsão é um desvio do instinto, um desvio de uma função biológica do instinto. O instinto é uma força biológica motivadora que leva os membros da espécie a agir visando sempre à mesma finalidade, enquanto que a pulsão não tem um objeto específico, mas precisa de um objeto para que possa obter satisfação. Este objeto, que não é específico, está ligado à história do sujeito, suas fantasias, seus desejos. O conceito freudiano de pulsão surgiu na formulação de um modelo de funcionamento psíquico, no estabelecimento das bases fisiológicas do psiquismo e no momento em que foram situados os fatores biológicos do comportamento. Este conceito, que foi lançado nos Três Ensaios da Sexualidade (1905), evidenciou a intenção de Freud de estabelecer a psicanálise como ciência natural. Ainda sobre o inconsciente, Freud (1915, p. 213) analisa:

O núcleo do Inconsciente consiste em representantes instintuais que procuram descarregar sua catexia; isto é, consiste em impulsos carregados de desejo. Esses impulsos instintuais são coordenados entre si, existem lado a lado sem se influenciarem mutuamente, e estão isentos de contradição mutua. Quando dois impulsos carregados de desejo, cujas finalidades são aparentemente incompatíveis, se tornam simultaneamente ativos, um dos impulsos não reduz ou cancela o outro, mas os dois se combinam para formar uma finalidade intermediária, um meio-termo. Não há nesse sistema lugar

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para negação, duvida ou quaisquer graus de certeza [...] os proces-

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não se alteram com a passagem do tempo; não tem absolutamente

sos do sistema inconsciente [...] não são ordenados temporalmente, referencia ao tempo. [...] os processos do Inconsciente dispensam pouca atenção à realidade. Estão sujeitas ao principio do prazer; seu destino depende apenas do grau de sua força e do atendimento às exigências da regulação prazer-desprazer.

Com base nas ideias do autor, compreendemos que o inconsciente (Ics) possui como características específicas a ausência de negação, de dúvida, de indiferença em relação à realidade, não havendo relação de tempo. Regido pelo princípio do prazer, há um interjogo livre de cargas, a energia é móvel e busca a gratificação, a expressão e o escoamento.

A regra fundamental da psicanálise A ausência de inibição, o intercâmbio de palavras e, particularmente, a liberda-

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de para escolher o que falar, constituiu a regra fundamental da psicanálise. Sobre isso, Freud (1913, p. 177) orientava os seus pacientes no início do tratamento:

[...] diga tudo o que lhe passa na mente. Aja como se, por exemplo você fosse um viajante sentado à janela de um vagão ferroviário, a descrever para alguém que se encontra dentro as vistas cambiantes que vê lá fora. Finalmente, jamais esqueça que prometeu ser absolutamente honesto e nunca deixar nada de fora porque, por uma razão ou outra, é desagradável dizê-lo.

Dessas orientações de Freud subtende-se que o conteúdo a ser tratado através do tratamento analítico dependeria unicamente do paciente e que todo e qualquer pensamento, até mesmo os mais desagradáveis, deveria vir à consciência e serem falados. Sobre o tratamento psicanalítico, Freud (1925, p. 29) o caracterizava como:

[...] uma forma de executar o tratamento médico de pacientes neuróticos [...] quando, porém, tomamos em tratamento analítico um paciente neurótico, agimos diferentemente. Mostramos-lhe as dificuldades do médico, sua longa duração, os esforços e sacrifícios que exige; e, quanto a seu êxito, lhe dizemos não nos ser possível prometê-lo com certeza, que depende da sua própria conduta, de sua compreensão, de sua adaptabilidade e de sua perseverança. [...] Nada


palavras entre o paciente e o analista. O paciente conversa, fala de suas experiências passadas e de suas impressões atuais, queixa-se, reconhece seus desejos e seus impulsos emocionais.

Percebemos que Freud (1913), em relação a este assunto, alertava que a resis-

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acontece em um tratamento analítico além de um intercâmbio de

tência desempenha um importante papel no tratamento, pois por muitas vezes impedia que um conteúdo valioso fosse comunicado e tratado na análise. Uma técnica especial de interpretação foi desenvolvida a fim de tirar conclusões das ideias expressadas pela pessoa em análise.

A histeria Freud (1913), ao investigar os processos mentais inconscientes, constatou que os sintomas histéricos que as pessoas que o procuravam queixavam-se eram resíduos (reminiscências) de experiências profundamente comovedoras que foram afastadas da consciência. Nos Estudos sobre a Histeria, Freud (1895) esclarece que, embora a pessoa não lembrasse, havia um nexo causal entre o fator desencadeante (o trauma) que tinha sido reprimido e afastado da consciência e os sintomas que causavam sofrimento. A vida sexual prestava-se particularmente como conteúdo para formação dos traumas pelas restrições e repressões do instinto sexual impostos pela organização cultural e social da época.

Sobre isso, analisa:

O desenvolvimento cultural imposto à humanidade é o fator que torna inevitáveis as restrições e repressões do instinto sexual, sendo exigidos sacrifícios maiores ou menores, de acordo com a constituição individual. O desenvolvimento quase nunca é conseguido de modo suave e podem ocorrer distúrbios (quer por causa da constituição individual ou de incidentes sexuais prematuros) que deixem atrás de si uma disposição a futuras neuroses. Tais disposições podem permanecer inofensivas se a vida do adulto progride de modo satisfatório e tranqüilo, mas podem tornar-se patogênicas se as condições da vida madura proíbem a satisfação da libido ou exigem gravemente sua supressão. (FREUD, 1913, p.267-268)

Então, se as ideias, quase sempre de natureza sexual, são incompatíveis com as condições de vida, há uma expulsão da consciência, porém estas ideias se mantêm registradas no psiquismo e podem ser resgatas através da Análise.

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De seus estudos, Freud (1905) concluiu que nem todas as manifestações histéricas eram provenientes de experiências traumáticas, pois constatou que as experiências de sedução relatadas como vivenciadas na infância não tinham ocorrido de fato, constituíam-se em fantasias, porém fantasias de natureza sexual. Freud (1905), então, deslocou a ênfase nos traumas infantis para fantasias infantis como responsáveis pela formação dos sintomas histéricos e passou a interrogar-se sobre a tese de que a sexualidade humana só se constitui na puberdade. Estas investigações e outras descobertas encaminharam Freud (1905) a investigar a sexualidade na infância, importante aspecto da sua teoria e que trouxe mudanças na concepção do desenvolvimento infantil. A descoberta da sexualidade infantil foi compreendida no início do século XX como uma profanação da inocência da criança. Segundo o autor, a vida sexual das crianças é diferente da do adulto. Os estudos apontaram que ao longo do nosso desenvolvimento, os objetos que são o foco e o modo da gratificação mudam, mas em determinados períodos da vida a energia da pulsão estará concentrada em determinadas partes do corpo (zonas erógenas). As mudanças no modo de gratificação, associadas com diferentes zonas erógenas definem as fases do desenvolvimento. Estas fases refletem diferenças na expressão da energia da pulsão (sexual) e são definidas como fases psicossexuais do desenvolvimento. Freud (1940) descobriu que esses fenômenos que surgem na tenra infância fazem parte de um curso ordenado de desenvolvimento. Vamos ler a seguir um trecho da obra de Freud (1940, p. 179-180) em que é

________________________ analisado o desenvolvimento da função sexual. ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ O primeiro órgão a surgir como zona erógena e a fazer exigências ________________________ libidinais à mente, da época do nascimento em diante, é a boca. Inicialmente, toda a atividade psíquica se concentra em fornecer sa________________________ tisfação às necessidades dessa zona. Primariamente, é natural, essa ________________________ satisfação está a serviço da autopreservação, mediante a nutrição; ________________________ mas a fisiologia não deve ser confundida com a psicologia. A obsti________________________ nada persistência do bebê em sugar dá prova, em estágio precoce, ________________________ de uma necessidade de satisfação que, embora se origine da inges________________________ tão da nutrição e seja por ela instingada, esforça-se, todavia por ob________________________ ter prazer independentemente da nutrição e, por essa razão, pode e deve ser denominada sexual. ________________________ ________________________ ________________________ Durante essa fase oral, já ocorrem esporadicamente impulsos sádi________________________ cos, juntamente com o aparecimento dos dentes. Sua amplitude é muito maior na segunda fase, que descrevemos como anal-sádica, ________________________ por ser a satisfação então procurada na agressão e na função excre________________________ tória. Nossa justificativa para incluir na libido os impulsos agressivos ________________________ baseia-se na opinião de que o sadismo constitui uma fusão instinti________________________ va de impulsos puramente libidinais e puramente destrutivos, fusão ________________________ que, doravante, persiste ininterruptamente. ________________________ ________________________ A terceira fase é a conhecida como fálica, que é, por assim dizer, ________________________ uma precursora da forma final assumida pela vida sexual e já asse-


ambos os sexos que desempenham papel nessa fase, mas apenas o masculino (o falo). Os órgãos genitais femininos por muito tempo permanecem desconhecidos[...] Com a fase fálica, e ao longo dela, a sexualidade da tenra infância atinge seu apogeu e aproxima-se da dissolução. A partir daí meninos e meninas têm historias diferentes. Ambos começaram a colocar sua atividade intelectual a serviço de pesquisas sexuais; ambos partem da premissa da presença universal do pênis. Mas agora os caminhos do sexo divergem. O menino

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melha muito a ela. É de se notar que não são os órgãos genitais de

ingressa na vida edipiana; começa manipular o pênis e, simultaneamente, tem fantasias de executar algum tipo de atividade com ele em relação à sua mãe, até que, devido ao efeito combinado de uma ameaça de castração e da visão da ausência de pênis nas pessoas do sexo feminino, vivência o maior trauma de sua vida e este dá início ao período de latência, com todas as suas conseqüências. A menina depois de tentar em vão fazer as mesmas coisas que o menino, vem a reconhecer sua falta de pênis ou, antes, a inferioridade de seu clitóris, com efeitos permanentes sobre o desenvolvimento do seu caráter; como resultante deste primeiro desapontamento em rivalidade, ela com freqüência começa a voltar as costas inteiramente à vida sexual.

Depreendemos, com o autor, que essas fases do desenvolvimento psicossexual: oral, anal, fálica e período de latência são importantes para a compreensão da personalidade. Percebemos, com o autor, que a energia das pulsões sexuais (libido) vai se organizando em torno do corpo e em cada momento do desenvolvimento direcionase a uma zona erógena particular. As inibições em uma das fases podem manifestar-se como distúrbios na vida adulta, por isso, a etiologia dos distúrbios precisa ser procurada na história do desenvolvimento do individuo. Para Freud (1940), essas fases não se sucedem de forma clara, podem sobrepor-se e podem estar presentes lado a lado. A organização completa só se conclui na puberdade na fase genital. Autores, como a psicanalista Nancy Chodorow (2002) criticam os conceitos freudianos, como a análise da diferença anatômica entre os sexos a partir de pressupostos culturais patriarcais que igualam a diferença entre homens e mulheres associando-os a relações de superioridade e inferioridade. Expõem, assim, os preconceitos ideológicos da cultura patriarcal, a superior valoração do órgão genital masculino e a construção de explicações científicas a partir de relatos de fantasias dos(as) pacientes.

O aparelho psíquico No texto “A Interpretação dos Sonhos” (1900), Freud (1900) analisa os processos do sonho permitem compreender as formações do inconsciente. Nesse texto é apresentada a primeira concepção sobre a estrutura e funcionamento do aparelho psíquico que é constituída por três sistemas: inconsciente, pré-consciente e consciente. O inconsciente é constituído por conteúdos recalcados que não têm acesso aos sistemas pré-consciente e consciente.

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O pré-consciente é formado por conteúdos que não estão acessíveis a consciência.

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como objeto de consciência. Definido como descritivamente inconsciente, mas acessí-

Designa o que está implicitamente presente na atividade mental, sem se situar por isso vel à consciência. (LAPLANCHE; PONTALIS, 1988) O consciente é o sistema que recebe as informações do mundo exterior e as provenientes do interior. Para Laplanche e Pontalis (1988, p. 135) “é qualidade momentânea que caracteriza as percepções externas e internas no meio do conjunto dos fenômenos psíquicos”.

Posteriormente, Freud (1923) elabora uma outra concepção sobre o aparelho psíquico, dividindo-o em 3 sistemas: ego, regido pelo princípio da realidade, é regulador, orientado para o mundo externo, Id reservatório das pulsões e regido pelo “princípio do prazer”, princípio que impulsiona a buscar o prazer mediante a descarga de excitação. E o Superego que representa a consciência social e moral interiorizada pela pessoa. Laplanche e Pontalis (1988) analisam que Freud aponta como funções do superego a consciência moral, formação de ideais, a auto-observação. Herdeiro do complexo de Édipo, o superego constitui-se por interiorização das exigências e interdições parentais. Esses sistemas não são separados, o ego e o superego têm partes inconscientes, também, e são constituídos pelas histórias de vida, pelas experiências pessoais e particulares, pois com a Psicanálise, entendemos que o sujeito é um ser singular que par-

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ticipa das relações interpessoais, ocupa um lugar e faz laços sociais. Compreendemos, ainda, que o ser humano constitui-se na relação com o outro sujeito que lhe fornece os elementos para que ocorra a inserção no campo da cultura, instituído como lugar de troca, convivência e intercâmbios sociais.

Vamos analisar uma outra importante teoria.

Psicologia socio-histórica A Psicologia sócio-histórica estuda os fenômenos psicológicos (experiência pessoal) como construções históricas e sociais. Bock, Furtado e Teixeira (2008) analisam que a experiência pessoal do ser humano não pertence à natureza humana, pois a natureza humana, como uma essência pronta, abstrata, eterna e universal, não existe. O que há é uma condição que é construída nas relações sociais. Esta psicologia é fundamentada nos estudos de Vigotski que enfatizava que o desenvolvimento humano tem sua raiz na sociedade e na cultura, destacando as origens sociais da linguagem e do pensamento, propôs que as funções psicológicas superiores precisariam ser compreendidas à luz da teoria marxista da sociedade humana. Vigotski iniciou sua carreira como psicólogo após a Revolução Russa de 1917. Predominavam neste período as produções teóricas de Wilhem Wundt, fundador da Psicologia Experimental e W. James, representante do pragmatismo americano. Pavlov e Watson, expoentes da psicologia Comportamental e Kohler, Koffka e Kurt Lewin, fundadores do movimento da Gestalt na Psicologia, foram seus contemporâneos (VI-


Para o autor, nenhuma das escolas de psicologia fornecia as bases firmes necessárias para o estabelecimento de uma teoria unificada dos processos psicológicos humanos. Ele se referia a uma crise na psicologia, impondo-se a tarefa de elaborar uma síntese das concepções antagônicas em bases teóricas completamente novas. Cole e Scriber (1998, p. 7) esclarecem que,

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GOTSKI, 1998).

Para os gestaltistas contemporâneos de Vigotski, a existência da crise devia-se ao fato de que as teorias existentes (fundamentalmente behavioristas de Wundt e Watson) não conseguiram, sob seu ponto de vista, explicar os comportamentos complexos como a percepção e a solução de problemas. Para Vigotski, no entanto, a raiz da crise era muito mais profunda. Ele partilhava da insatisfação dos psicólogos da Gestalt para com a análise psicológica que começou por reduzir todos os fenômenos a um conjunto de “átomos” psicológicos. Mas, ao mesmo tempo, ele sentia que os gestaltistas não eram capazes de, a partir da descrição de fenômenos complexos, ir além, no sentido de sua explicação [...]. O que Vigostki procurou foi uma abordagem abrangente que possibilitasse a descrição e a explicação das funções psicológicas superiores, em termos aceitáveis para as ciências naturais.

Vigotski criticou as teorias que afirmam que as funções intelectuais resultam dos processos maturacionais, ou seja, estão pré-formadas na criança. Ele criticou severamente as teorias que postulam que a compreensão das funções psicológicas superiores humanas poderia ser feita através dos princípios da Psicologia Comportamental. Vigostki (1998) compreendia a sua teoria como aplicação do materialismo histórico e dialético marxista. A psicologia para Vigostki tinha como princípio que todos os fenômenos deveriam ser estudados como processos em movimento e em mudança, pois de acordo com a teoria marxista, as mudanças históricas da sociedade e na vida material produzem mudanças na natureza humana, ou seja, na consciência e no comportamento. Vamos então conhecer mais sobre Vigostki (1998):

Lev Semionovich Vigotski nasceu em Orsha, uma pequena cidade na Bielo Rússia, em 17 de novembro de 1896. Mudou-se para Gomel, outra cidade deste país, onde viveu por um longo tempo. Sua família era de origem judaica e o ambiente familiar lhe propiciava grandes condições de desenvolvimento intelectual, visto que tanto seu pai como sua mãe eram pessoas cultas, que lhe oportunizaram uma educação ampla e consistente. Até completar seus 15 anos, a educação de Vigotski processou-se em casa, mediante os ensinamentos

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de tutores particulares e desde cedo ele já demonstrava grande inte-

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teve acesso precocemente a tudo que era produzido em outros pa-

resse e dedicação aos estudos. Conhecia várias línguas e, portanto, íses. Aos 17 anos completou o curso secundário e desde já recebeu medalha por seu ótimo desempenho. Estudou Direito e Literatura em Moscou ao mesmo tempo em que frequentava o curso de História e Filosofia na Universidade Popular de Shanyavskii. Pouco tempo depois, Vigotski interessou-se pelo desenvolvimento psicológico, em especial, pelo desenvolvimento humano em pessoas que apresentavam algum tipo de deficiência. Este fato lhe fez se aproximar da Medicina, logo, sua produção acadêmica transitava, dentre outros campos do saber, pela arte, antropologia, filosofia, psicologia, linguística e até medicina. Vigotski chegou a ser convidado para assumir a direção do departamento de psicologia no Instituto Soviético de Medicina Experimental (VIGOTSKI, 1998, p.22).

Vigostki (1998) viveu até seus 37 anos, pois teve sua vida abreviada pela tuberculose. Para o autor, o indivíduo internaliza elementos da cultura, os quais passam a fazer parte da natureza humana. Vigotski (1998) afirma no livro A formação social da mente, que

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[...] a internalização das atividades socialmente enraizadas e historicamente desenvolvidas constitui o aspecto característico da psicologia humana; é a base do salto qualitativo da psicologia animal para a psicologia humana. (VIGOTSKI, 1998, p. 76)

O ser humano é um ser social e histórico Para a Psicologia sócio-histórica, explicam Bock, Furtado e Teixeira (2008), sujeito e mundo são criados no mesmo processo, complementam-se e referem-se um ao outro. Desse modo, não há como compreender o ser humano sem conhecer o seu mundo social que contempla as formas de relação, de produção da sobrevivência, os valores sociais e os diferentes modos de ser de cada um. O acesso que cada pessoa tem à cultura, ou seja, todas as coisas materiais e intelectuais criadas ao longo da história diferem entre os grupos sociais e marcam a construção das subjetividades. O ser humano está em permanente estado de movimento e mudança dos processos psicológicos que estão na dependência do domínio dos meios culturais externos ou pela via do aperfeiçoamento interno das próprias funções psicológicas (atenção voluntária, memória, pensamento abstrato, entre outros). A atenção aos movimentos da história social e individual é necessária para a compreensão do ser humano (VIGOSTKI, 1998). A psicologia busca, então, compreender o indivíduo nas suas relações e vín-


humano na sua inserção social em um dado momento histórico, identificando as determinações, o modo como essas experiências são interpretadas pelos sujeitos (BOCK, FURTADO E TEIXEIRA, 2008). A atividade, a consciência, a identidade, a linguagem, sentido e significado constituem-se categorias de análise da psicologia para compreender o ser humano. A identidade, a consciência e a atividade constituem aspectos importantes para a compreensão da constituição subjetiva do ser humano. Sobre identidade e subjeti-

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culos sociais, como ser determinado histórica e socialmente. Procura conhecer o ser

vidade, importantes conceitos desta teoria, analisaremos de modo mais aprofundado na próxima aula.

Síntese Nesta aula, compreendemos que existem diferentes teorias que a partir de fundamentos filosóficos, sociais e políticos elaboraram conceitos para compreender o ser humano. A partir de conceitos das teorias psicológicas como o Behaviorismo, a Gestalt, a Psicanálise e a Psicologia sócio-histórica, analisamos as suas contribuições para os estudos sobre a complexidade que é o ser humano

________________________ ________________________ ________________________ questão para Reflexão ________________________ ________________________ Como as teorias percebem o ser humano? Quais os principais conceitos? ________________________ ________________________ ________________________ Leituras indicadas ________________________ ________________________ BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo ________________________ da psicologia. São Paulo: Saraiva, 2008. ________________________ ________________________ ________________________ SITES INDICADOS ________________________ ________________________ http://www.mariaritakehl.psc.br/ ________________________ ________________________ http://contardocalligaris.blogspot.com/ ________________________ http://www.jorgeforbes.com.br/br/index.asp ________________________ ________________________ www.youtube.com/watch?v=2qnBE_8A6Fk ________________________ www.youtube.com/watch?v=QSOBXfcHbHI ________________________ ________________________ ________________________


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humano: subjetividade e identidades Autora: Cláudia Vaz Torres

À duração da minha existência dou uma significação oculta que me ultrapassa. Sou um ser concomitante: reúno em mim o tempo

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AULA 03 - A construÇÃo social do ser

passado, o presente e o futuro, o tempo que lateja no tique-taque dos relógios.

Clarice Linspector

Nesta aula, analisaremos os aspectos da construção da subjetividade, das identidades e sua importância nas relações sociais.

Sleep Salvador Dali, ver imagem em: http://www.virtualdali.com/37Dream.html

A identidade é um tema multidisciplinar da Filosofia, Antropologia, Sociologia, Psicologia e outras áreas. Apreende-se o conceito através da análise das condições de vida historicamente construídas de um sujeito e não através do estudo das singularidades da alma ou no arcabouço biológico. Propomos, nesta aula, algumas reflexões acerca da construção do conceito das subjetividades e identidades do ser humano e, em especial, as motivações psicológicas que ensejam a realização das suas ações.

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Vamos refletir sobre as questões:

Como homens e mulheres investem continuamente em assumir características e traços considerados inerentes à constituição do ser? Por que este tema é importante para o estudo das relações sociais? Importa, para você, a identidade do outro? Você sabe conceituar identidade? E subjetividade?

Existe uma tensão constante do termo identidade com o termo subjetividade. Woodward (2000, p. 55) esclarece que os termos “identidade” e “subjetividade” são, às vezes, utilizados de forma intercambiável.

Existe, na verdade, uma considerável sobreposição entre os dois. Subjetividade sugere a compreensão que temos sobre o nosso eu. O termo envolve os pensamentos e as emoções inconscientes que constituem nossas concepções sobre ‘quem somos nós’. A subjetivi-

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dade envolve nossos sentimentos e pensamentos mais pessoais. Entretanto, nós vivemos nossa subjetividade em um contexto social no qual a linguagem e a cultura fornecem elementos para a construção do significado sobre a experiência que temos de nós mesmos e no qual nós construímos e adotamos identidades.

Depreendemos que os conceitos de identidade e subjetividade tencionam entre si porque envolvem discussões sobre a subjetividade individual e coletiva, a historicidade, as interações sociais, a dependência do outro como constituinte da subjetividade e os processos de individuação. As tensões, também, revelam a dificuldade de exprimir conceitualmente as suas complexidades. A subjetividade pode ser compreendida como o que constitui o nosso modo de ser, envolve a maneira de pensar, sentir, agir, etc. E a identidade é o modo como nos apresentamos ao mundo e somos reconhecidos. As pessoas vão se constituindo umas as outras, ao mesmo tempo em que constituem um universo de significações que as constitui. As identidades envolvem a articulação de várias personagens, articulação de igualdades e diferenças atravessada por uma história pessoal.


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Figura 1 - Identidades

Fonte:UNIFACS *Buffer - memória do processador, de uso rápido e imediato.

Construindo um Conceito de Identidade Como se constroem as nossas identidades?

Reflita sobre a questão a partir dos vídeos:

Identidade de Fernando Meireles disponível em http://www.youtube.com/ watch?v=yKG8no8OKDg e Identidade cultural na pós- modernidade disponível em http://www.youtube.com/ watch?v=x4mwIWTEdC8

Para construir o conceito de identidade, é necessário que se façam opções epistemológicas, metodológicas e políticas, pois existem diferentes formas de pensar sobre qualquer conceito. Para os propósitos deste estudo, constitui-se pressuposto fundamental a ideia de identidade como uma construção social, superando aquele que a apresenta como uma entidade fixa e imutável, destacando o caráter ativo do indivíduo no contexto sócio-histórico de sua vida. Nesse sentido, fazemos uma incursão pelos trabalhos de Ciampa (1987), Hall (2001), Woodward (2000) entre outros, que permitem a construção de saberes necessários para a compreensão do processo de constituição da identidade. O termo identidade remete ao que é idêntico, ao que torna os indivíduos iguais

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aos demais, mas também ao conjunto de caracteres que possuem e que os tornam diferentes e únicos. Ao mesmo tempo em que se representa semelhante ao outro por pertencer à determinada classe, raça ou categoria, o indivíduo percebe-se como um ser único a partir de um conjunto de traços que o diferenciam e o distinguem por algo que ele não é. Para Ciampa (1986), a criança antes de nascer já é representada como filho de alguém e essa representação prévia a constitui efetivamente e objetivamente como filho e membro de uma determinada família. Posteriormente, essa representação é interiorizada pelo indivíduo e reafirma-se à medida que as relações nas quais estiver envolvido confirmarem essa representação, através de comportamentos e discursos que reforcem a sua identificação com o fazer do pai e/ou mãe e com tudo que envolve a dinâmica familiar. A identidade de um sujeito não é fixa, permanente, estável, ela está em constante processo de transformação. Confere-se ainda importância ao conceito de identidade ao longo da história.

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O CONCEITO DE IDENTIDADE NA HISTÓRIA Em diferentes períodos históricos, o conceito de identidade tem variado de importância. Segundo Gaarder (1995), um dos maiores filósofos da Antiguidade, Sócrates (469-399 a.C.) acreditava que a identidade humana busca o saber essencial da realidade e não apenas o conhecimento do que pode ser útil às suas necessidades. O acesso ao que é essencial, na realidade, para Sócrates, não poderia ser conseguido sem a busca do conhecimento e o reconhecimento de que o homem é capaz de realizar o desejo de conhecer e de se associar às diferentes realidades de seu dia a dia. Para Sócrates, explica Gaarder (1995), era importante encontrar um alicerce seguro para o conhecimento. Ele acreditava que esse alicerce estava na razão humana. Através da razão, do ato de conhecer, a identidade humana experimentava um comum-pertencer à realidade. A realidade, assim, era compreendida pelo homem através das sensações. Estas conformam um saber útil, constituído pelos sentidos e também pelo conhecimento e pelo discurso, com a função de entrelaçar o homem à sua realidade. Posteriormente, o homem passou a incumbir-se da tarefa de construir sistemas de ideias com os quais julgaria e atribuiria um valor à realidade. Para Platão (427-347 a.C.), o mundo material torna-se compreensível através das hipóteses das ideias, realidades invisíveis, incorpóreas, perfeitas e imutáveis. As ideias são modelos ideais a serem buscados e copiados de modo imperfeito e transitório. Para o filósofo, a identidade humana sempre esteve e está na clareira das ideias, o que a torna capaz de recordá-las, através das sensações do corpo. Assim, em Fédon, Platão (1983, p. 115) explicava:


nenhuma fuga possível a seus males, nenhuma salvação, a não ser tornando-se melhor e mais sábia. A alma, com efeito, nada tem consigo, quando chega ao Hades, do que sua formação moral e seu regime de vida.

A alma, neste sentido, é a possibilidade da relação entre a natureza e a sociedade, e a identidade humana passa a ser associada ao Ser.

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Uma vez evidenciado que a alma é imortal, não existirá para ela

Na Idade Média, a identidade humana já não era mais entendida à luz das ideias, mas de acordo com os preceitos, da fé cristã. Para os teólogos, o que importava era unir o homem a Deus através da crença. A fé cristã referida era, então, enunciada através de um discurso teológico que se servia do conhecimento filosófico da época e praticada para assegurar ao homem o seu pertencimento a Deus. A existência, os desejos e as necessidades do homem não interessavam à teologia medieval; o importante era que o homem se aproximasse do divino. Santo Agostinho (354-430), um dos maiores teólogos da Idade Média, acreditava que toda a existência humana é de natureza divina. No cerne da antropologia agostiniana, Deus é a bondade absoluta e o homem, um miserável condenado ao inferno, só obtendo salvação mediante a graça divina. No fim da Idade Média e no início do Renascimento e da Reforma, importantes ________________________ transformações ocorridas nos séculos XV e XVI marcam uma mudança na concepção ________________________ da identidade, que passou a ser compreendida não mais ancorada nas sensações ou ________________________ na fé, mas na autonomia e liberdade de pensamento e crença. Assim, o início da Mo- ________________________ dernidade é geralmente interpretado dentro de um pensar cartesiano1: “Penso, logo ________________________ existo!” principalmente no que tange ao exercício da razão. Deste modo, o homem ________________________ tomou para si a necessidade de estabelecer o eixo da sua existência e elevar-se a um ________________________ nível superior para tornar-se ser humano. O distanciamento das concepções reinan- ________________________ tes da Idade Média, em que todos os aspectos da vida humana estavam atrelados a ________________________ Deus, possibilitou que o homem voltasse a ocupar o centro de tudo. A égide deste ________________________ movimento, segundo Gaarder (1995, p. 216) era a seguinte: “De volta às fontes”. E a ________________________ principal fonte era o humanismo da Antiguidade. Deste modo, a maior contribuição ________________________ do Renascimento foi a abertura para uma nova visão de homem, cuja existência não ________________________ estava presa ao divino. ________________________ Sobre a posição ocupada pelo homem nesse momento, Gaarder (1995, p. 219) declara:

O homem não existia apenas para servir a Deus, mas também para ser ele próprio. Por esta razão, o homem podia desfrutar aqui e agora de sua própria vida. E se o homem podia se desenvolver livremente, ele tinha possibilidades ilimitadas. Seu objetivo era ultrapassar todas as fronteiras.

1

Faz referência a René Descartes

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Figura 2- O famoso homem vitruviano

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Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Da_Vinci_Vitruve_Luc_Viatour.jpg

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Conhecer não era compreender a essência, mas as relações do objeto com o contexto através de estruturas matemáticas, quantitativas. A contemplação cedeu lugar à manipulação; os sistemas hierárquicos sucumbiram à relatividade; o mundo empírico abriu espaço para o conhecimento proveniente da razão. Deste modo, não se pode refletir sobre o conceito de identidade sem o apoio da Filosofia, da Antropologia, da Sociologia e da Psicologia. Expressões distintas – como imagem, representação e conceito de si, que se referem a um conjunto de traços, imagens e sentimentos que o indivíduo reconhece como fazendo parte dele próprio – são empregadas fazendo referência ao conceito de identidade. Como enuncia Jacques (1998, p. 160):

A identidade pode ser representada pelo nome, pelo prenome eu ou por outras predicações como aquelas referentes ao papel social. No entanto, a representação de si através da qual é possível apreender a identidade é sempre a representação de um objeto ausente (o si mesmo). Sob este ponto de vista, a identidade se refere a um conjunto de representações que responde a pergunta ‘quem és’.


Responder à pergunta “quem eu sou” implica, para o indivíduo, tornar claro o modo como está inserido no mundo social, a atividade produtiva que se presentifica como atributo do eu e as relações sociais estabelecidas.

Percebe o quanto estas questões são importantes?

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“quem eu sou?”

Então: Quem és? O que faz?

Para a Psicologia Sócio-Histórica, que tem como referência a Psicologia Histórica Cultural, o entendimento de como as identidades se constituem não pode prescindir de levar em conta as condições históricas, sociais e econômicas nas quais o homem está inserido, a compreensão de que a identidade não é preexistente ao homem e que a análise do “mundo interno” exige a análise do “mundo externo”, que estão em movimento contínuo de construção e desconstrução. O mundo interno dos seres humanos não pode ser entendido descolado da realidade, que inclui aspectos importantes, como o trabalho social e a atividade humana, característica que promove a divisão das funções e origina novas formas de ________________________ comportamento, bem como o uso de ferramentas e o aparecimento da linguagem. ________________________ A linguagem é um sistema de códigos e um recurso que permite a abstração, a ________________________

generalização, o pensamento, a imaginação, a criatividade, a reestruturação emocional ________________________ e a construção da subjetividade. Não se pode estudar o mundo interno do ser humano ________________________ sem levar em conta esses aspectos: o trabalho, o uso de ferramentas, a linguagem e a ________________________ atividade consciente entendidos não de modos justapostos, mas como presenças que ________________________ caracterizam uma unidade. Antônio Ciampa (1987), psicólogo social que desenvolveu uma concepção psicossocial da identidade, explica que ela aparece como um processo, sem características de permanência ou independência entre os elementos biológicos, psicológicos e sociais que a constituem. Para Ciampa (1987, p. 152): “A identidade de uma pessoa é um fenômeno social e não natural.” É, então, um processo em constante movimento dialético, construído pela atividade e ação do sujeito. O autor citado emprega o termo “metamorfose” como possibilidade de transformação e superação da identidade pressuposta, para expressar este movimento em que é preciso articular estabilidade/transformação, como também a dicotomia do igual e do diferente.

Uma identidade nos aparece como uma articulação de várias personagens, articulação de igualdades e diferenças, constituindo, e constituída por uma história pessoal. (CIAMPA, 1987, p.157).

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A identidade que um indivíduo assume em determinado momento da sua existência é o desdobramento das múltiplas determinações a que está sujeito. Há, como diz Ciampa (1987), uma rede intricada de relações, em que cada identidade reflete outra identidade, sem que se possa estabelecer um fio condutor para se alcançar um fundamento originário para cada uma delas.

Figura 3 - Diferenças

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Fonte: UNIFACS

O conceito de identidade proposto por Bock, Furtado e Teixeira (1993) tem que ser pensado na sua implicação com a realidade social, que constitui a história de vida do sujeito e lhe dá sentido. As experiências concretas que o sujeito vivencia em determinada época, cultura, classe social, grupo étnico, grupo religioso etc. exercem grande influência sobre a formação do ser. A identidade é resultante de toda uma vida real e de todo um conjunto de condições materiais experienciadas. “A identidade é a síntese pessoal sobre si mesmo, incluindo dados pessoais, biografia e atributos que os outros lhe conferem” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1993, p. 145). Nesse conceito está implícita a ideia de singularidade, da construção de uma representação de si no confronto com o outro, através da dinâmica das relações. Há, então, um processar contínuo na construção e definição de si mesmo. Do mesmo modo, na sociedade moderna, não há espaço para uma identidade bem definida e localizada no mundo social e cultural, em que o homem possa ser pensado como um conjunto de papéis, atitudes, valores etc. e distanciado da sua realidade.


estamos tratando:

Eu, etiqueta

Em minha calça está grudado um nome

Que não é meu de batismo ou de cartório

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Leia o poema de Carlos Drummond de Andrade e reflita sobre o que

Um nome... estranho

Meu blusão traz lembrete de bebida

Que jamais pus na boca, nessa vida,

Em minha camiseta, a marca de cigarro

Que não fumo, até hoje não fumei.

Minhas meias falam de produtos

Que nunca experimentei

Mas são comunicados a meus pés.

Meu tênis é proclama colorido

De alguma coisa não provada

Por este provador de longa idade.

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Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,

Minha gravata e cinto e escova e pente,

Meu copo, minha xícara,

Minha toalha de banho e sabonete,

Meu isso, meu aquilo.

Desde a cabeça ao bico dos sapatos,

São mensagens,

Letras falantes,

Gritos visuais,

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Ordens de uso, abuso, reincidências.

Costume, hábito, premência,

Indispensabilidade, E fazem de mim homem-anúncio itinerante,

Escravo da matéria anunciada.

Estou, estou na moda.

É duro andar na moda, ainda que a moda

Seja negar minha identidade,

Trocá-lo por mil, açambarcando

Todas as marcas registradas,

Todos os logotipos do mercado.


Eu que antes era e me sabia

Tão diverso de outros, tão mim mesmo

[...]

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Com que inocência demito-me de ser

Onde terei jogado fora

meu gosto e capacidade de escolher,

Minhas idiossincrasias tão pessoais,

Tão minhas que no rosto se espelhavam

E cada gesto, cada olhar,

Cada vinco da roupa

Sou gravado de forma universal,

[...]

Por me ostentar assim, tão orgulhoso

De ser não eu, mar artigo industrial,

Peço que meu nome retifiquem.

Já não me convém o título de homem.

Meu nome novo é Coisa. Eu sou a Coisa, coisamente. Fonte: http://www.pensador.info/p/eu_etiqueta_-_carlos_drumond_de_andrade/1/

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Identidade...mais contribuições Outro teórico que desenvolve uma reflexão sobre a questão da identidade cultural na modernidade é Stuart Hall (2001). Para ele, as identidades existentes num mundo que se intitula pós-moderno, que tem como base uma sociedade informatizada e pós-industrial, em que não existem “grandes narrativas” como o discurso iluminista, que pregava a emancipação pela revolução ou pelo saber para fundar a ciência, se inserem em sociedades que têm como preocupação central a extinção de fronteiras, nas quais predominam o hedonismo, o consumismo exagerado e estruturas psíquicas narcisistas que valorizam a estética e encontram-se distanciadas ou esvaziadas das demais subjetividades. Estas características promovem o descentramento, o deslocamento e a fragmentação pela perda de um sentido de si estável e permanente. Neste sentido, Hall (2001) propõe a distinção de diferentes concepções de identidade: a do sujeito do Iluminismo, a da Sociologia e a que enfatiza o caráter de mudança na construção da identidade do sujeito pós-moderno. Segundo esse autor, de acordo com a concepção de sujeito, centrado na racionalidade e libertado dos dogmas religiosos, própria do sujeito do Iluminismo, o indivíduo nascia e permanecia idêntico ao longo de toda a existência. A razão, a consciência e a ação predominavam. A identidade era fixa, havia uma identidade verdadeira que era um apelo à existência do sujeito. Para o Iluminismo, o homem era um ser perfectível, com condições de libertar-se dos medos e preconceitos através do conhecimento

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que advém das ciências, da política, das artes e da doutrina jurídica, áreas que expressavam o grau de progresso de uma civilização. O instrumento do Iluminismo era a consciência individual e autônoma que possibilitava ao homem a libertação da ignorância e dos medos. Também o controle sobre si mesmo, que advém da racionalidade, era condição de fundamental importância para a formação pessoal (TORRES, 2003). Do ponto vista sociológico, a identidade tem um núcleo ou essência interior que é o “eu real”. Este núcleo forma-se e se modifica num diálogo contínuo com o outro e com o mundo. “A identidade, então, costura o sujeito à estrutura. Estabiliza tanto os sujeitos quanto os mundos culturais que eles habitam tornando ambos reciprocamente mais unificados e predizíveis.” (HALL, 2001, p. 12). Para a Sociologia, tudo o que está ocorrendo com o sujeito, num dado momento, como a sua história, os tencionamentos, os conflitos e as crises existentes no mundo, está presente na construção da sua identidade.

Fonte das imagens: http://www.sxc.hu/


Há possibilidade de existirem identidades contraditórias? Há uma identidade mestra? É possível ser “isso” e “aquilo”?

Mudanças estruturais e institucionais ocasionaram a perda da estabilidade, do centramento e da unificação da identidade com as “necessidades” objetivas da cultura, produzindo o sujeito pós-moderno que não tem uma identidade fixa, essencial ou

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Para refletir:

permanente. Os sujeitos passam a assumir identidades conforme são representados ou interpelados pela família, pela escola, pelo trabalho e pelos diversos sistemas sociais e culturais em que estão inseridos. Não há garantia da posição de identidade que o sujeito quer assumir, em consequência dos diversos apelos feitos por outras identidades envolvidas e das negociações e conflitos que são travados. Assim, Hall (2001, p. 13) explica que há possibilidade de existirem identidades contraditórias, que se cruzam e se deslocam mutuamente. Não há uma “identidade mestra”. Por conseguinte, a análise dos determinantes centrais das posições sociais não pode ser simplificada, tomando como causa, apenas, os fatores socioeconômicos. É preciso levar em conta também a raça, o gênero e a sexualidade, assuntos que serão discutidos na próxima aula. Todos esses aspectos, assim como as representações simbólicas e a linguagem, fornecem as condições para que as identidades existam e lhes conferem um sentido. ________________________ Através das relações sociais e da apropriação da cultura, o homem desenvolve um sen- ________________________ tido pessoal, compreende as coisas que estão ao seu redor, compreende a si mesmo e ________________________ aos outros. O caráter de mudança presente nas situações sociais, nas relações e na his- ________________________ tória de vida de cada um promove um ressignificar contínuo sobre a consciência que ________________________ se tem de si mesmo. Desse modo, entende-se que o mundo social e as representações ________________________ simbólicas referem-se a processos necessários para a construção e a manutenção das ________________________ identidades. ________________________

“Somos sujeitos de muitas identidades” A análise do posicionamento do sujeito frente a condições fundamentalmente diferentes e das motivações que determinam a preferência por algumas representações em detrimento de outras deve levar em conta os estudos da Psicologia Social, da Filosofia e da Psicanálise. Estas explicam que as identidades são produzidas em locais históricos, emergem de conflitos e negociações, resultam da marcação da diferença, da exclusão e distanciam-se da homogeneidade e da unificação. Conforme diz Louro (1999, p. 12): “Somos sujeitos de muitas identidades”. Essas identidades se apresentam de modo transitório e refletem os resultados das relações e embates entre o sujeito e os grupos. Nesta analise, precisamos refletir ainda sobre os atributos sociais que são conferidos a uma pessoa, grupo ou povo e que marca, cria lugares e posições cujo valor pode ser negativo ou positivo. Esses atributos são os estigmas que revelam a dificuldade do outro de lidar com as diferenças e que são perpetuadas na convivência social

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(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008).

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Fonte das imagens: http://www.sxc.hu/

Portanto, na nossa sociedade, não há espaço para uma identidade bem definida e localizada no mundo social e cultural, em que o homem possa ser pensado como um conjunto de papéis, atitudes, valores etc. e distanciado da sua realidade. Peculiar está a paixão pelo efêmero, pela satisfação-insatisfação com a imagem, pelas novas tecnologias, pelo consumo, pelo descartável. Sobre isso, concorda-se com Chauí (2001) ao admitir que o pós-modernismo é a ideologia que acompanha a nova forma

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de acumulação do capital, relega os conceitos que fundaram e orientaram a modernidade, como as ideias de racionalidade e universalidade, contrapõe necessidade com contingência e despreza as discussões sobre a relação entre sujeito e objeto. Portanto, na sociedade contemporânea, o individualismo e a fragmentação caracterizam a construção das identidades de homens e mulheres, valorizando-se a imagem de prestígio, poder, sucesso, juventude e beleza e sua possibilidade de ser substituída a qualquer tempo para acompanhar os rumos do mercado, como também, privilegia-se a subjetividade fragmentada, conflituosa e insatisfeita. De qualquer modo é importante lembrar de que a identidade permite uma relação com o outro, propicia o reconhecimento de si, cria e demarca lugares e posições que não são fixos, estão em constante mudança.

SÍNTESE Nesta aula, analisamos os aspectos da construção da subjetividade, das identidades e sua importância nas relações sociais. Analisamos que a identidade de uma pessoa é um fenômeno social e não natural, é um processo em constante movimento dialético, construído pela atividade e ação do sujeito. Na próxima aula, você continuará refletindo a dimensão subjetiva a partir de conceitos como raça, gênero e sexualidade, assuntos que serão discutidos na próxima aula.


O que é subjetividade? Qual a importância do “outro” na construção da identidade?

Leitura indicada

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questão para Reflexão

EWALD, Ariane; SOARES, Jorge. Identidade e subjetividade numa era de incertezas: estudos da Psicologia. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/epsic/ v12n1/a03v12n1.pdf>. Acesso em: 16 jul. 2012.

Sites Indicados Assista aos vídeos que evidenciam as dimensões subjetivas no cotidiano e reflita sobre o conteúdo estudado.

Que beleza! Ser bonito. Isso faz diferença? Alguém já disse que a beleza é fundamental. [...] Diariamente julgamos e somos julgados pela aparência. Os valores e sentimentos que dividem o mundo entre feios e belos são o tema desse programa. Assista ao vídeo disponível: http://www.pol.org.br/pol/cms/pol/publicacoes/videos/videos_081030_0001. html

Preto no branco Todos os brasileiros são iguais perante a lei. Mas será que todos os brasileiros se sentem iguais? Assista ao vídeo disponível em: http://www.pol.org.br/pol/cms/pol/publicacoes/videos/videos_081030_0001. html

Lugar comum Ter uma casa própria. Esse é o sonho de muita gente. Afinal, todo mundo quer ocupar um lugar no espaço. Mas de quanto espaço a gente realmente precisa? Esse episódio mostra que a forma de criar e ocupar espaços faz parte da dimensão subjetiva. Assista ao vídeo disponível em:

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http://www.pol.org.br/pol/cms/pol/publicacoes/videos/videos_081030_0001. html

Referências BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. São Paulo: Saraiva. 1993.

BUZZI, Arcângelo. A identidade humana: modos de realização. Petrópolis: Vozes, 2002.

CHAUI, Marilena. Escritos sobre a universidade. São Paulo: UNESP, 2001.

CIAMPA, Antonio. A estória do Severino e a história da Severina. São Paulo: Brasiliense, 1987.

FURTADO, Odair. O psiquismo e a subjetividade social. In: BOCK, Ana Mercês Bahia; GONCALVES, Maria da Graça Machina; FURTADO, Odair (Org.). Psicologia sócio-histórica: uma perspectiva crítica em Psicologia. São Paulo: Cortez, 2001. p. 75-93.

GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia: romance da história da Filosofia. São Paulo: Companhia das Letras,

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1995.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós modernidade. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva, Guacira Lopes Louro. 6. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

HALL, Stuart. Quem precisa da identidade? In: SILVA, Tomaz Tadeu (Org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2000. p. 103-133.

JACQUES, Maria da Graça. Identidade. In: STREY, Marlene et al. Psicologia social contemporânea. Petrópolis: Vozes, 1998. p. 159-167.

LOURO, Guacira Lopes. Pedagogias da Sexualidade In: LOURO, Guacira Lopes. O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 1999. p. 7-34.

PLATÃO. Diálogos. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

TORRES, Cláudia Regina Vaz. Sobre gênero e identidade: algumas considerações teóricas. In: FAGUNDES, Tereza Cristina Pereira Carvalho. Ensaios sobre identidade e gênero. Salvador: Helvécia, 2003.

WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual. In: SILVA, Tomaz Tadeu (Org.). Identidade e diferença. Petrópolis: Vozes, 2000. p.7-72.


lações raciais, gênero, sexualidade e orientação sexual Autora: Cláudia Vaz Torres

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AULA 04 - Ser humano: discutindo re-

As ideias preconcebidas, as racionalizações com base em premissas arbitrárias, a autojustificação frenética, a incapacidade de autocriticar-se, os raciocínios paranoicos, a arrogância, recusa, o desprezo, a fabricação e a condenação de culpados são as causas e as consequências das piores incompreensões [...]. A ética da compreensão é a arte de viver que nos demanda, em primeiro lugar, compreender de modo desinteressado. Demanda grande esforço, pois não pode esperar nenhuma reciprocidade (MORIN, 2011, p.85-86).

Olá!

Esta aula tem como objetivo refletir sobre temáticas de gênero, sexualidade e orientação sexual e relações raciais.

Como você analisa a citação de Edgar Morin? Você concorda que a incompreensão entre as pessoas tem aumentado? Quais são as piores incompreensões? O que você faz para compreender o outro?

Morin (2011, p. 81) evidencia, no seu livro Os sete Saberes necessários à Educação do futuro, que “há importantes e múltiplos progressos na compreensão, mas o avanço da incompreensão parece ainda maior.” Com o autor, entendemos que a compreensão entre as pessoas precisa ser ensinada como condição e garantia da solidariedade intelectual e moral da humanidade. Vamos discutir mais esta questão a partir da leitura do texto a seguir:

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As duas compreensões

A comunicação não garante a compreensão.

A informação, se for bem transmitida e compreendida, traz inteligibilidade, condição primeira necessária, mas não suficiente, para a compreensão.

Há duas formas de compreensão: a compreensão intelectual ou objetiva e a compreensão humana intersubjetiva. Compreender significa intelectualmente apreender em conjunto, com-prehendere, abraçar junto (o texto e seu contexto, as partes e o todo, o múltiplo e o uno). A compreensão intelectual passa pela inteligibilidade e pela explicação. [...] A compreensão humana vai além da explicação. A explicação é bastante para a compreensão intelectual ou objetiva das coisas anônimas ou materiais. É insuficiente para a compreensão humana.

Esta comporta um conhecimento de sujeito a sujeito. Por conseguinte, se vejo uma criança chorando, vou compreendê-la, não por medir o grau de salinidade de suas lágrimas, mas por buscar em minhas aflições infantis, identificando-a comigo e identificando-me

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com ela. O outro não apenas é percebido objetivamente, é percebido como outro sujeito com o qual nos identificamos e que identificamos conosco, o ego alter que se torna alter ego. Compreender inclui, necessariamente, um processo de empatia, de identificação e de projeção. Sempre intersubjetiva, a compreensão pede abertura, simpatia e generosidade. (MORIN, 2011, p. 82).

Compreender, então, envolve apreender em conjunto o ser e o seu meio ambiente, a complexidade do ser humano com seus desejos, anseios, ideologias, orientações, isto é, todas as condições do comportamento humano. Para compreender o outro, é preciso a compreensão de si, com suas carências, seus sucessos e suas fragilidades. É preciso, ainda, lidar com os obstáculos intrínsecos à compreensão, a saber: o egocentrismo, o etnocentrismo, o sociocentrismo e a indiferença. O etnocentrismo, que designa o sentimento de superioridade que uma cultura tem em relação a outras culturas, e o sociocentrismo, que tem como característica situar-se no centro do mundo e considerar como secundário tudo que é estranho, conforme analisa Morin (2011), nutrem xenofobias e racismos e podem despojar o estranho, o estrangeiro da qualidade de ser humano. Nos contextos escolares, de trabalho, lazer, entre outros, são evidenciadas a diversidade e a heterogeneidade dos sujeitos que estão envolvidos em uma complexa rede de relações sociais e de poder. Há contextos em que predomina o sexismo, o racismo, a homofobia e outras formas de violência, porém é preciso sempre explorar e incentivar as redes de compreensão e solidariedade entre todos e, principalmente,


O racismo é uma questão complexa, analisada por pesquisadores, que envolve tensões e cuidados. Diferentes concepções abordam a questão racial referindo-se a um comportamento, uma ação resultante da aversão ou do ódio em relação a pessoas que possuem um pertencimento racial observável por meio de sinais, como cor da pele, tipo de cabelo etc., bem como a um conjunto de ideias e imagens referentes aos grupos humanos que acreditam na supremacia de uma raça (GOMES, 2005).

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entre aqueles que vivenciam a exclusão social, racial, de gênero e de sexualidade.

O racismo é um comportamento social que se expressa, de modo individual, por meio de atos discriminatórios, como agressões e outras violências de indivíduo para indivíduo e institucionais, quando há práticas discriminatórias sistemáticas que se manifestam pelo isolamento dos negros em bairros, escolas e empregos (GOMES, 2005). No Brasil, a discussão sobre racismo, discriminação racial, democracia racial, enfim, sobre as relações raciais é marcada por divergências entre atores sociais, pesquisadores e militantes. Nesta discussão, é importante destacar o Movimento Negro, que resgata a cultura afro-brasileira e denuncia a desigualdade e segregação racial que atinge a população negra, denuncia, ainda, a neutralidade do Estado diante da desigualdade racial e reivindica a adoção de políticas de ação afirmativa e inserção de ativistas nas administrações federais, estaduais e municipais. O Movimento Negro desmistifica o mito da democracia racial no Brasil. O Movimento Negro e outros pesquisadores, explica Gomes (2005), usam o termo raça baseados na dimensão social e política do referido termo, e não mais como era originalmente usado no século XIX, alicerçadas na ideia de raças superiores e inferiores. Utilizam, também, “[...] porque a discriminação racial e o racismo existentes na sociedade brasileira se dão não apenas devido aos aspetos culturais dos representantes de diversos grupos étnico-raciais, mas também devido à relação que se faz na nossa sociedade entre esses e os aspectos físicos observáveis na estética corporal dos pertencentes às mesmas” (GOMES, 2005, p. 45).

Mas, você sabe quem é negro?

Essa difícil tarefa de identificar e definir quem é negro no Brasil é analisada pelo antropólogo Kabengele Munanga, professor-titular da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Leia um trecho da entrevista, a seguir:

ESTUDOS AVANÇADOS – Quem é negro no Brasil? É um problema de identidade ou de denominação?

Kabengele Munanga – Parece simples definir quem é negro no Brasil. Mas, num país que desenvolveu o desejo de branqueamento,

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não é fácil apresentar uma definição de quem é negro ou não. Há

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se consideram como negras. Assim, a questão da identidade do ne-

pessoas negras que introjetaram o ideal de branqueamento e não gro é um processo doloroso. Os conceitos de negro e de branco têm um fundamento etno-semântico, político e ideológico, mas não um conteúdo biológico. Politicamente, os que atuam nos movimentos negros organizados qualificam como negra qualquer pessoa que tenha essa aparência. É uma qualificação política que se aproxima da definição norte-americana. Nos EUA não existe pardo, mulato ou mestiço e qualquer descendente de negro pode simplesmente se apresentar como negro. Portanto, por mais que tenha uma aparência de branco, a pessoa pode se declarar como negro.

No contexto atual, no Brasil a questão é problemática, porque, quando se colocam em foco políticas de ações afirmativas – cotas, por exemplo –, o conceito de negro torna-se complexo. Entra em jogo também o conceito de afro-descendente, forjado pelos próprios negros na busca da unidade com os mestiços.

Com os estudos da genética, por meio da biologia molecular, mostrando que muitos brasileiros aparentemente brancos trazem marcadores genéticos africanos, cada um pode se dizer um afro-descendente. Trata-se de uma decisão política.

________________________ ________________________ Se um garoto, aparentemente branco, declara-se como negro e reivindicar seus direitos, num caso relacionado com as cotas, não há ________________________ como contestar. O único jeito é submeter essa pessoa a um teste de ________________________ DNA. Porém, isso não é aconselhável, porque, seguindo por tal cami________________________ nho, todos os brasileiros deverão fazer testes. E o mesmo sucederia ________________________ com afro-descendentes que têm marcadores genéticos europeus, ________________________ porque muitos de nossos mestiços são euro-descendentes. ________________________ ________________________ (http://w w w.scielo.br/scielo.php?pid=S0103________________________ 40142004000100005&script=sci_arttext) ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ Sabemos que essa discussão é complexa e com muitas discordâncias, uma vez ________________________ que envolve o conceito de identidade com todos os traços culturais, posições sociais, ________________________ políticas e históricas que marcam a nossa condição. ________________________ Os dados estatísticos produzidos pelo IBGE, através do Censo de 2010, indicam ________________________ ________________________ que mais pessoas estão se declarando pardas e negras. ________________________ ________________________ ________________________ Negros e pardos – Os dados trazem ainda a informação de que há ________________________ mais pessoas se declarando pretas e pardas. Este grupo subiu para ________________________ 43,1% e 7,6%, respectivamente, na década de 2000, enquanto, no censo anterior, era 38,4% e 6,2% do total da população brasileira. Já


lação amarela (oriental) 1,1% e, a indígena, 0,4%. (IBGE, 2010)

Podemos agregar pretos e pardos para formar o grupo racial negro, uma vez que, analisa Santos (2002), o racismo no Brasil não faz uma distinção muito significativa entre os grupos. Na nossa sociedade, há uma negação do racismo e do preconceito racial, ana-

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a população branca representava, em 2010, 47,7% do total; a popu-

lisam militantes, mas os dados indicam que há discriminação e desigualdade racial quando é feita uma comparação com outros segmentos étnico-raciais. Você se lembra da campanha nacional Diálogos contra o racismo: pela igualdade racial, que perguntava: “Onde você guarda o seu racismo?”

Assista aos vídeos:

Diálogos contra o racismo http://www.youtube.com/watch?v=yX8Y6S1l8nw http://www.youtube.com/watch?v=3YEx5O9SDK4

Então, responda: onde você guarda o seu racismo?

Em 21 de março de 2003, Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, instituído pela Organização das Nações Unidas, ampliou-se o debate sobre a igualdade racial, surgiu a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. Vamos conhecer os objetivos da Secretaria:

Criada pela Medida Provisória n° 111, de 21 de março de 2003, convertida na Lei 10.678, a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República nasce do reconhecimento das lutas históricas do Movimento Negro brasileiro. A data é emblemática, pois em todo o mundo celebra-se o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), em memória do Massacre de Shaperville. Em 21 de março de 1960, 20.000 negros protestavam contra a lei do passe, que os obrigava a portar cartões de identificação, especificando os locais por onde eles podiam circular. Isso aconteceu na cidade de Joanesburgo, na África do Sul. Mesmo sendo uma manifestação pacífica, o exército atirou sobre a multidão e o saldo da violência foram 69 mortos e 186 feridos.

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Finalidades:

- Formulação, coordenação e articulação de políticas e diretrizes para a promoção da igualdade racial;

- Formulação, coordenação e avaliação das políticas públicas afirmativas de promoção da igualdade e da proteção dos direitos de indivíduos e grupos étnicos, com ênfase na população negra, afetados por discriminação racial e demais formas de intolerância;

- Articulação, promoção e acompanhamento da execução dos programas de cooperação com organismos nacionais e internacionais, públicos e privados, voltados à implementação da promoção da igualdade racial;- Coordenação e acompanhamento das políticas transversais de governo para a promoção da igualdade racial;

- Planejamento, coordenação da execução e avaliação do Programa Nacional de Ações Afirmativas;

________________________ - Acompanhamento da implementação de legislação de ação afirmativa e definição de ações públicas que visem o cumprimento de ________________________ acordos, convenções e outros instrumentos congêneres assinados ________________________ pelo Brasil, nos aspectos relativos à promoção da igualdade e com________________________ bate à discriminação racial ou étnica. ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ Documento de referência ________________________ ________________________ A SEPPIR utiliza como referência política o Estatuto da Igualdade ________________________ Racial (Lei 12.288/2010), que orientou a elaboração do Plano Plu________________________ rianual (PPA 2012-2015), resultando na criação de um programa ________________________ específico intitulado “Enfrentamento ao Racismo e Promoção da Igualdade Racial. Resultou também na incorporação desses temas ________________________ em 25 outros programas, totalizando 121 metas, 87 iniciativas e 19 ________________________ ações orçamentárias, em diferentes áreas da ação governamental. ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ Em 2003, foi sancionada a Lei nº 10639, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases ________________________ da Educação Nacional, Lei nº 9394/96, e incluiu no currículo oficial da rede de ensino a ________________________ obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-brasileira. A Lei nº 10639 impulsio________________________ nou a realização de programas e ações que reforçassem o direito à diversidade étnico________________________ racial nos currículos, políticas educacionais, programas de ensino, entre outros.


Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino da História Afro-Brasileira e Africana (BRASIL, 2004) possibilitaram uma inflexão na educação brasileira. Elas fazem parte de uma modalidade de política até então pouco adotada pelo Estado brasileiro e pelo próprio MEC. São políticas de ação afirmativa voltadas para a valorização da identidade, da memória e da cultura negras reivindicadas pelo Movimento Negro e demais movimentos sociais partícipes da luta anti-racista.[...]

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Com avanços e limites, a Lei 10.639/03 e suas Diretrizes Curriculares

É importante reconhecer que a Lei 10.639/03 e suas diretrizes representam a implementação de ações afirmativas voltadas para a população negra brasileira, as quais são (e devem ser!) desenvolvidas juntamente com as políticas públicas de caráter universal. Trata-se de uma demanda política do Movimento Negro nos dias atuais e de outros movimentos sociais partícipes da luta anti-racista na construção da democracia.

Uma democracia que assuma o direito à diversidade como parte constitutiva dos direitos sociais e assim equacione de forma mais sistemática a diversidade étnico-racial, a igualdade e a equidade. (GOMES, 2011, s.p.)

Depreendemos, então, que a Lei nº 10.639/03 e suas diretrizes representam a implementação de ações afirmativas para atender à população negra. O Movimento Negro, ao desmistificar o mito da democracia racial no Brasil, posiciona-se contra o racismo e luta para que todos tenham condições dignas de vida e oportunidades iguais. Vamos, então, refletir sobre outras temáticas, como o gênero, a sexualidade e a orientação sexual, que também produzem situações de exclusão. Será uma análise introdutória sobre os condicionantes de gênero, a sexualidade e a orientação sexual. Procurem ampliar os estudos com as leituras indicadas.

O que é Gênero? As relações, historicamente, definiram lugares sociais diferenciados para homens e mulheres. Tomando por base Scott (1992), que define gênero como um elemento constitutivo das relações sociais baseadas nas diferenças que distinguem os sexos, ou nas diferenças percebidas entre os sexos, entende-se que as mulheres e os homens são tratados de modo diferente desde o seu nascimento, em consequência do sexo biológico. O meio social fornece e imprime significados diferentes para o comportamento de mulheres e homens que vão sendo introjetados e assumidos como naturais e pertencentes a um ou outro. Gênero é assim definido por Scott (1991, p. 4): “[...] é uma categoria social imposta sobre um corpo sexuado.”

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72 Quais são as categorias impostas aos gêneros masculino e feminino? São opostas, não são?

Vamos nos lembrar de algumas:

Homens: razão - mulheres: mais emoção Homens: dominação - Mulheres: submissão Homens: público - Mulheres: privado Homens: fora - Mulheres: dentro

O conceito de gênero permitiu o abandono das concepções biológicas e estigmatizantes e enriqueceu as discussões através da análise das contradições internas e das articulações da constituição do feminino e do masculino com o meio social com todas as marcas da diversidade e da instabilidade.

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Como analisa Guacira Louro (2003), as diferenças de gênero e sexualidade que são atribuídas às mulheres se expressam materialmente nos seus corpos e nas suas vidas de modo concreto, ou seja, o significante de diferente é formado por representações e práticas sociais discursivas que demarcam e atribuem sentidos aos corpos e às identidades. Na cultura, mulheres e homens encontrarão elementos que construirão as suas identidades. Há um investimento contínuo de um e outro, para assumirem os sinais considerados próprios na trajetória da constituição do ser homem e do ser mulher. A cultura atribui funções reais e simbólicas próprias de cada um, mas é no interior dos processos e estruturas psíquicas inconscientes que esses traços são internalizados, reelaborados, ressignificados e transformados em valores e atitudes.

Identidade de Gênero O conceito de identidade de gênero é um importante aspecto a ser estudado no processo de construção da identidade. A identidade não é construída da mesma forma por homens e mulheres. Cada um se apropria da realidade simbólica e sociocultural a partir da interpretação que faz da diferença anatômica entre os sexos. “O sexo é socialmente modelado”, diz Saffioti (1992, p.189). Pode-se nascer do sexo masculino e, culturalmente, tornar-se mulher. Atitudes femininas podem ser tomadas tanto por homens quanto por mulheres. Há diferenças entre sexo biológico e a questão de gênero. Ser homem ou ser mulher varia de acordo com as condições sócio-históricas em que valores, tabus e sanções são transmitidos, introjetados e ressignificados, resultando em posicionamentos diferentes frente ao mundo.


[...] o gênero é uma maneira contemporânea de organizar normas culturais passadas e futuras, um modo de a pessoa situar-se em e através destas normas, um estilo ativo de viver o corpo no mundo. (SAFFIOTI, 1992, p.189)

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Para Saffioti (1992):

O gênero não pode ser entendido apenas como uma resultante das influências das relações sociais estabelecidas ao longo do desenvolvimento. Gênero é uma questão social, política. Ser mulher e ser homem são posições diferentes. Tratar de gênero implica situar a identidade feminina e masculina nas diferentes instâncias sociais. Significa, também, entender que o mundo social imprime no corpo e na percepção os princípios sociais de divisão, de diferença e de dominação dos homens sobre as mulheres. Encoraja as práticas que convêm a um ou a outro sexo, organiza as posturas corporais, direciona os impulsos e enaltece os traços que simbolizam os valores que estão de acordo com a visão falocêntrica do mundo. Assim, Bourdieu (1995) acrescenta: Não é o falo (ou sua ausência) que é o principio gerador dessa visão do mundo, mas é essa visão do mundo que, estando organizada (por razões sociais que seria necessário tentar descobrir) segundo a divisão em gêneros relacionais, masculino e feminino, pode instituir o falo [...] e basear na objetividade de uma diferença natural entre os corpos biológicos à diferença social entre duas essências hierarquizadas. (BOURDIEU, 1995, p.149)

O discurso da diferença entre os sexos com identidades, qualidades, interesses e aptidões particulares engendra a constituição de espaços unicamente reservados ao sexo masculino, restando, à mulher, o investimento na família, no mundo doméstico. Essas ideias encontram ressonância entre os homens, revalidando o seu poder sobre as mulheres e a exclusão das mesmas do poder político. Imersos em um espaço de partilha, homens e mulheres, através dos mais diversos instrumentos, códigos e signos, afirmam-se e assumem distintos papéis sociais. Falar do caráter histórico e cultural da construção da identidade só faz sentido quando, independentemente de se negar a diferença biológica entre os sexos, se parte do pressuposto de que os homens, para exercerem o domínio, constroem um quadro de referência subjetivo, no qual é reservado à mulher a submissão, a contemplação, a meiguice, a emoção e a sensibilidade. A eles são atribuídas a objetividade, a competitividade, a praticidade, a determinação e a inteligência, dentre outras características relevantes e valorizadas na maioria das sociedades, em diferentes períodos da história.

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Assista ao vídeo Acorda Raimundo e analise os papéis designados às mulheres e aos homens na nossa sociedade: http://vimeo.com/5859490

Vamos continuar discutindo gênero a partir da análise do conceito de sexualidade e orientação sexual.

Sexualidade, Gênero e orientação sexual Inicie a leitura, respondendo às questões: O que é sexo? O que é gênero? O que é orientação sexual?

A sexualidade é um aspecto constitutivo da nossa vida. E o que é sexualidade para você?

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citando, portanto, intervenções terapêuticas ou de normalização; um campo de significações a decifrar; um lugar de processo ocultos por mecanismos específicos; um foco de relações causais infinitas, uma palavra obscura que é preciso, ao mesmo tempo, desencavar e escutar.

Compreende-se com Foucault (1988) que a sexualidade tem uma densidade nas relações humanas que são, também, relações de poder, podendo servir como pon-

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natureza”, um domínio penetrável por processos patológicos, soli-

to de manipulação, de apoio e de articulação das mais variadas estratégias. A sexualidade, para o autor, é um dispositivo histórico de estratégias de saber e poder que envolve a estimulação dos corpos, a intensificação dos prazeres, a incitação ao discurso, a formação dos conhecimentos, o reforço dos controles e a resistência. O autor acrescenta que o dispositivo da sexualidade desenvolveu-se nas margens das instituições familiares, nas instituições religiosas, nas práticas pedagógicas e posteriormente centrou-se na família. Os pais são os principais agentes de um dispositivo de sexualidade que, no exterior, se apoia nos médicos, padres, pedagogos e outros. A família, pela sua penetrabilidade e sua influência, é fundamental como dispositivo de sexualidade, pois se incumbe de difundir uma sexualidade “que de fato reflete e difrata” (FOUCAULT, 1988, p. 122). Figura 1 - Homem grávido

‘Homem grávido’ se separa da esposa

http://oglobo.globo.com/blogs/pagenotfound/posts/2012/04/20/homem-gravidose-separa-da-esposa-441257.asp Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Thomas_Beatie.JPG

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Concordando com outros autores, Tereza Fagundes (2005) admite que:

Para dar conta do entendimento desta dimensão humana que é a sexualidade, é preciso, contudo, analisá-la como um processo relacional intenso que se fundamenta, basicamente, em elementos discretos, mas complementares: o potencial biológico, as relações sociais de gênero e a capacidade psicoemocional dos indivíduos. Neste sentido, é possível admitir, para uma mais sólida compreensão, que a sexualidade tenha três grandes componentes: o biológico, o psicológico e o sociocultural. (FAGUNDES, 2005, p.16)

Depreende-se que a sexualidade precisa ser compreendida na sua complexidade e nas variações que a caracterizam. Nos diferentes processos de subjetivação e modos de viver os gêneros e a sexualidade, a dimensão biológica está em sintonia com o corpo, com a dimensão psicológica da sexualidade e com as condições sociais, culturais e históricas nas quais homens e mulheres estão inseridos. De acordo com a determinação genética ou biológica, temos o sexo feminino e o masculino, porém apenas o sexo social, o gênero e suas relações nos permitem refletir sobre as construções simbólicas e históricas de homens e mulheres a partir das

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diferenças biológicas que norteiam a construção da identidade do sujeito, abarcando a divisão de papéis sociais, a divisão de trabalho, a desigualdade das relações e o acesso aos recursos disponíveis que são compatíveis com o momento social e histórico.

Sexualidade e identidade de gênero: qual é a relação? O conceito de sexualidade se encontra imbricado no conceito de identidade de gênero e ambos perpassam a construção cultural da diferença entre os sexos. O emprego do termo identidade de gênero como um conjunto de traços construídos social e culturalmente, definindo gestos, comportamentos, modos de falar, vestir e agir para homens e mulheres, nem sempre está em consonância com o sexo biológico do sujeito, pois não é uma estrutura fixa, fechada e sem possibilidade de tencionamentos e conflitos. A identidade de gênero é resultante de construções singulares durante o processo de desenvolvimento e socialização do indivíduo, a identidade de gênero está fortemente ligada à representação dos papéis sociais. Como analisa Tereza Fagundes (2001):

[...] dada a natureza do conceito de gênero como uma categoria social, a identidade e o papel das mulheres e de homens estão afinados com os estereótipos culturais, fundamentados nas diferenças genitais – feminina e masculina – que as transcendem. (FAGUNDES,


Não há, acrescenta essa autora, uma única forma de explicar a construção da identidade de gênero. Existem as orientações biológica e psicanalítica e, ainda, a abordagem sociocultural para explicar como homens e mulheres constroem a sua identidade.

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2001, p.43)

“Ninguém nasce mulher [...]” Simone Beauvoir (1980, p. 13) sublinha a constituição do feminino como condição social, ao postular que “Ninguém nasce mulher, torna-se mulher”. A autora evidencia que o sentimento de soberania dos homens em relação às mulheres é inventado pelos adultos e aceito pelos meninos como modo compensatório de justificar a diminuição ou ausência de afagos e carinhos por conta do crescimento. A partir daí, inaugura-se uma sociedade desigual, em que a superioridade masculina se afirma. Do mesmo modo, a influência da educação e do ambiente desencadeia o desenvolvimento de traços como a passividade, que caracteriza essencialmente a mulher “feminina”. Simone Beauvoir (1980) também afirma que as mulheres não têm domínio sobre o mundo masculino porque são ensinadas a serem passivas e a aceitarem a auto- ________________________ ridade do homem, não aprendendo a tomar a iniciativa, a manejar a lógica e a técnica. ________________________ Como o Outro, a mulher desempenha o papel que a sociedade dela espera: ser sub- ________________________ missa, dócil e indefesa. A partir de Beauvoir (1980), compreendemos que a análise dos processos e práticas sociais e culturais é importante para intervenções nas relações de poder entre homens e mulheres. Admite-se, então, que a pesquisa contemporânea das identidades e sexualidades necessita assumir uma visão ampliada desses assuntos, distanciando-se de uma essência universal, inerente, de impulso biológico. Para compreender as identidades e a sexualidade, é preciso pensar que elas são influenciadas por valores sociais e por questões individuais.

Então, não há uma essência universal... A anatomia não é o destino para ninguém, dizem pesquisadores sobre o assunto.

E você, concorda que hoje nós estamos circulando entre os gêneros, como foi comentado por uma estudante numa das aulas de Psicologia e Comportamento? Pense sobre o assunto!

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Críticas feministas, como Leonore Tiefer, (1993) e Margareth Rago (2001), discutem em profundidade as premissas essencialistas que postulam um caráter fixo e eterno à natureza humana. Insistem que a sexualidade não é biologicamente dada, não é uma qualidade humana inerente, não é um instinto, mas, ao contrário, é um modo de ser e de se relacionar a partir da cultura, da história e da organização social. Destaca-se, ainda, que as concepções não biologizante da sexualidade postulam que, na constituição do sujeito sexuado, estão imbricadas as diferenças e as desigualdades de classe, raça/etnia, gênero e geração entre homens e mulheres, assim como a dimensão corporal. É, então, ao longo do desenvolvimento que a criança, na interação entre os indivíduos e as estruturas sociais, constrói seu corpo sexuado, que envolve um aprendizado sobre o corpo, o gênero e a sexualidade. Com relação à sexualidade, a mesma é vivida pela pessoa individualmente, porém é constituída a partir do campo das relações sociais, da cultura, dos valores e das formas sociais de vida.

Numa perspectiva culturalista é possível vislumbrar que os constructos relacionados ao ser mulher surgem em oposição ao significado do ser homem, numa sociedade com esquemas de relacionamentos sociais bem definidos; são introjetadas nas meninas e nos meninos, desde muito cedo, em diversos âmbitos de suas personalidades ________________________ e do seu ser social, as dicotomias associadas à divisão homem________________________ mulher, tais como: caça, coleta, dominação-submissão, luz-sombra, ________________________ ciência-magia, razão-intuição, cultura- natureza, força-fragilidade, ________________________ para-fora-para-dentro, superioridade-inferioridade, produção-re________________________ produção, mundo público-mundo privado, de forma a tornar aparentemente natural, a identidade que, às mulheres e aos homens, ________________________ foi socialmente imposta. E essas construções sobre o ser homem e ________________________ o ser mulher interferem diretamente em suas vivências sexuais. A ________________________ mulher pode inibir o seu desejo em consequência de ter aprendido a ________________________ ser passiva, paciente, obediente, não ousada. Pode, por outro lado, ________________________ exacerbá-lo como uma forma de quebrar drasticamente os padrões ________________________ que lhe foram impostos. O homem que aprendeu a ter o poder sobre ________________________ a mulher, a mostrar-se viril, forte e sempre ativo pode desenvolver erotomania ou, em menor escala, diante de pressões sociais maiores ________________________ que lhe façam sentir-se pequeno, fraco, sem poder manifestar ina________________________ petência sexual. (FAGUNDES, 2008, s.p.). ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ E a orientação sexual? ________________________ ________________________ ________________________ A orientação sexual envolve uma relação entre desejo, comportamento e iden________________________ tidade sem linearidade e direção única. Então, não se deve pressupor uma relação di________________________ reta entre o desejo que uma pessoa sente ao seu comportamento sexual e o modo ________________________

como percebe a si mesmo. “É possível, por exemplo, praticar relações homossexuais


ais sem manter relações homossexuais” (ARAUJO; PEREIRA, 2009, p. 129). A orientação sexual, analisam Araujo e Pereira (2009), refere-se ao sexo das pessoas que elegemos como objetos de desejo e afeto. A heterossexualidade, a homossexualidade e a bissexualidade são tipos de orientação sexual. A heterossexualidade se caracteriza pela atração afetiva, sexual e erótica por pessoas de outro gênero. A homossexualidade diz respeito à atração afetiva, sexual e erótica por pessoas do mesmo gênero e a bissexualidade, à atração afetiva, sexual e erótica por pessoas do mesmo

79 psicologia e comportamento

sem se considerar homossexual ou bissexual, assim como sentir desejos homossexu-

gênero e do gênero oposto. Utilizamos o termo orientação sexual e não mais opção sexual, pois a definição dos objetos de desejo não resulta de uma opção mecânica e voluntariosa. Os nossos desejos resultam das vivências, construção de sentidos e do contexto social.

Informação: Você sabia que, no Censo de 2010, há mais de 60 mil pessoas vivendo com parceiros do mesmo sexo?

Casais gays – A pesquisa do IBGE mostra que o Brasil já registra mais de 60 mil pessoas vivendo com parceiros do mesmo sexo. A região Sudeste é a que tem mais casais que se assumiram homossexuais, com 32.202. Em seguida, está a região Nordeste, com 12.196; e a Sul, com 8.034. O número representa 0,2% do total de cônjuges (37,547 milhões) em todo o país. É a primeira vez que o dado foi pesquisado.

(http://blog.planalto.gov.br/censo-2010-populacao-brasileira-estamais-velha-e-chega-a-190-755-799/)

Retomamos, então, o conceito de “sexualidade como elemento constitutivo da pessoa, é dimensão e expressão da personalidade” (FAGUNDES, 2005, p. 14). Então, com base na autora, compreendemos que a sexualidade manifesta-se independente de qualquer ensinamento e é um modo singular de viver, investir afeto, ser e se relacionar, construído a partir da cultura, da história e da organização social. Vamos finalizar a nossa aula com a leitura do texto:

“Estar atenta ao intolerável” – critério significativo para alguém reconhecer o que vale a pena colocar em primeiro plano em sua vida, em suas reflexões e ações. Essa idéia, que não é minha, tomei

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emprestada de uma estudiosa espanhola chamada Maite Larrau-

psicologia e comportamento

Perguntada sobre que vem a ser “o intolerável”, Maite responde que

ri. Ela parece justificar minhas escolhas acadêmicas e profissionais. não pode ser aquilo que muita gente acha que é, pois “uma das condições do intolerável é que, para a maioria, não é intolerável, mas normal” (Larrauri, 2000, p.14). O que eu considero intolerável possivelmente é colocado, por outros ou por muitos, no plano do aceitável, talvez no âmbito do comum ou do “normal”.

Desprezar alguém por ser gay ou por ser lésbica é, para mim, intolerável. No entanto, na nossa sociedade, essa parece ser uma atitude comum, corriqueira, talvez mesmo “compreensível”. Conviver com um sistema de leis, de normas e de preceitos jurídicos, religiosos, morais ou educacionais que discriminam sujeitos porque suas práticas amorosas e sexuais não são heterossexuais é, para mim, intolerável. Mas esse quadro parece representar, em linhas mais ou menos gerais, a sociedade brasileira. Por isso, sinto-me autorizada a afirmar que a sexualidade ou as tensões em torno da sexualidade constituem-se numa questão que vale a pena colocar em primeiro plano.

Vale a pena observar também, imediatamente, que o que se coloca aqui é mais do que um problema de atitude. Esta é uma questão que se enraíza e se constitui nas instituições, nas normas, nos discursos,

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nas práticas que circulam e dão sentido a uma sociedade – neste caso, a nossa. As formas de viver a sexualidade, de experimentar prazeres e desejos, mais do que problemas ou questões de indivíduos, precisam ser compreendidas como problemas ou questões da sociedade e da cultura.

LOURO, Guacira, s.p

Síntese Nesta aula, refletimos sobre temáticas de gênero, sexualidade e orientação sexual e relações raciais. Vimos que o conceito de sexualidade se encontra imbricado no conceito de identidade de gênero e ambos perpassam a construção cultural da diferença entre os sexos e que há contextos em que predomina o sexismo, o racismo, a homofobia e outras formas de violência, porém é preciso sempre explorar e incentivar as redes de compreensão e solidariedade entre todos e, principalmente, entre aqueles que vivenciam a exclusão social, racial, de gênero e de sexualidade.

questão para Reflexão Assista aos vídeos e responda:


com/index_refresh.htm>. Acesso em: 17 ago.2012. Entrevista com Stephen Kanitz, no Programa “Mais Você”, disponível em: <http:// www.kanitz.com/entrevistas.htm>. Acesso em: 17 ago.2012

Por que alguns grupos não conseguem aceitar o direcionamento sexual de cada pessoa?

81 psicologia e comportamento

Os segredos do casamento, de Stephen Kanitz, disponível em: <http://www.kanitz.

Leituras indicadas Negros e Negras Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT): construindo políticas públicas para avançar na igualdade de direitos. “Num momento em que diversos órgãos governamentais buscam avançar na garantia dos direitos e na construção de políticas públicas para lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, em suas respectivas áreas de competência, a SEPPIR se engaja nesse esforço criando as condições necessárias em âmbito interno para que a pauta LGBT, legitimamente reivindicada por negras e negros pertencentes a esta parcela da população, possa ser incorporada ao conjunto das ações deste Ministério.” Disponível em: <http://www.seppir.gov.br/publicacoes>. Acesso em: 17 ago.2012.

ARAUJO, Andreia Barreto Leila; PEREIRA, Maria Elisabete A noção moderna de sexualidade. Disponível em: <http://moodle.epmcelp.edu.mz/pluginfile.php/3286/mod_resource/content/1/ o%C3%A7%C3%A3o%20Moderna%20de%20Sexualidade.pdf>. Acesso em: 17 ago 2012. FAGUNDES, Tereza. Sexualidade humana: causas socio-culturais das disfunções sexuais. Disponível em: <http://www.sexoemocoes.com.br/index.php/home/41artigos-rapidos/106-sexualidade-humana-causas-socio-culturais-das-disfuncoessexuais>. Acesso em: 17 ago.2012.

SITES INDICADOS

http://www.unifem.org.br/005/00502001.asp?ttCD_CHAVE=26287

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http://www.sepm.gov.br/publicacoes-teste/publicacoes-2011

psicologia e comportamento

http://www.sepm.gov.br/publicacoes-teste/publicacoes/2009/impacto-da-crisesobre-as-mulheres.pdf http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_issuetoc&pid=0104833320110001&lng=pt&nrm=iso http://www.pagu.unicamp.br/node/8

Referências ARAUJO, Andreia Barreto Leila; PEREIRA, Maria Elisabete. Gênero e diversidade na escola: formação de professoras/es em Gênero, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais. Livro de conteúdo. versão 2009. Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: SPM, 2009 Disponível em: <http://forumeja.org.br/sites/forumeja.org.br/ files/sexualidade.pdf> Acesso em: 17 ago.2012.

BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. Rio de janeiro: Nova Fronteira, 1980.

BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Educação e Realidade, Porto Alegre, v. 20, n. 2, p.133-184, jul./dez. 1995.

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FAGUNDES, Tereza Cristina Pereira Carvalho. Pedagogia: escolha marcada pelo gênero. 222 fl. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2001.

FAGUNDES, Tereza. Sexualidade humana: causas sócio-culturais das disfunções sexuais. Disponível em: <http://www.sexoemocoes.com.br/index.php/home/41-artigos-rapidos/106-sexualidade-humana-causassocio-culturais-das-disfuncoes-sexuais>. Acesso em: 17 ago.2012.

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FOUCAULT, Michel. História da sexualidade. Rio de janeiro: Graal, 1988.

GOMES, Nilma Lino. Diversidade étnico-racial, inclusão e equidade na

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NER, Silvana Vilodre. Corpo, gênero e sexualidade: um debate contemporâneo na educação. Petrópolis:

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RAGO, Margareth. Feminizar é preciso: por uma cultura filógina. São Paulo em Perspectiva, 2001, v.15, n. 3. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010288392001000300009&lng=in&nrm=iso&tlng=in>. Acesso em: 22 jun.2009.

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TIEFER, Leonore. Uma perspectiva feminista sobre sexologia e sexualidade. In: GERGEN, Mary McCanney (ed.). O pensamento feminista e a estrutura do conhecimento. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos/EDUNB, 1993. p.37-47.

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AULA 05 - o ser humano: Construindo relacionamentos Autora: Cláudia Vaz Torres

Olá!

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O correr da vida embrulha tudo.

A vida é assim: esquenta e esfria,

aperta e daí afrouxa,

sossega e depois desinquieta.

O que ela quer da gente é coragem.

Guimarães Rosa1

________________________ ________________________ Nesta aula, analisaremos a construção dos relacionamentos e os principais elementos ________________________ que interferem nessas relações, discutiremos importantes processos que estão presentes ________________________ nelas, como a comunicação, a liderança, o poder, entre outros. ________________________ ________________________ Figura 1 - Dança dos aldeões, Museu do Prado ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Peter_Paul_Rubens ________________________ ________________________ ________________________ 1

http://recantodasletras.uol.com.br/poesias/291914


psicologia e comportamento

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Vimos, na aula passada, como nos constituímos como sujeitos, indivíduos singulares e com modos diversos e complexos de ser e estar no mundo. Compreendemos também que as inúmeras possibilidades de ser de cada um são construídas na interação com o outro e com o mundo. Discutir sobre os relacionamentos e a importância das interações nos diferentes grupos nos remete ao poeta João Cabral de Melo Neto:

Tecendo a Manhã João Cabral de Melo Neto

Um galo sozinho não tece a manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro: de um outro galo que apanhe o grito que um galo antes e o lance a outro; e de outros galos

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que com muitos outros galos se cruzam os fios de sol de seus gritos de galo para que a manhã, desde uma tela tênue, se vá tecendo, entre todos os galos. E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão.

Fonte: MELO, João Cabral de Melo Neto. Tecendo a manhã. Disponível em: <http://www.consciencia.net/2006/0117-meloneto.html>. Acesso em: 26 jul.2012.

Como escreve João Cabral, “um galo sozinho não tece a manhã: ele precisará sempre de outros galos”, ou seja, precisamos do outro, do coletivo, dos grupos, da participação na vida social, pois, a partir das relações vivenciadas no coletivo, singularizamos, produzimos significações, agimos, construímos múltiplas histórias e a nossa. As interações humanas que são ações recíprocas e conscientes entre pessoas, tecem vidas, histórias e manhãs, implicando transformações, modificações dos comportamentos, significações e ressignificações dos atos individuais e recíprocos de acordo com o tipo de contato, as expectativas e as respostas.


constantes na sociedade humana, assim como o uso desta como referência de liberdade, felicidade e cidadania nas relações interpessoais (SAWAIA, 2004). O medo do desconhecido (quem é o outro?), explica o autor, gera ansiedade, agressão e a busca de sinais identitários. Nas nossas relações, indagamos pela identidade do outro, queremos saber a que grupo pertence, que ideais possui, quais as afinidades, o que repudia. Mas, para quê? O que se esconde nesta pergunta e nessa necessidade de saber qual a identidade

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A busca de identidades, as afirmações de um modo de ser, são movimentos

do outro? Essa pergunta e a resposta são repletas de sentidos e constituem o passo inicial no modo como nos relacionaremos com essa pessoa que diz quem é, qual é a sua bandeira ou que etiqueta possui. A partir daí, estabelecem-se relações de poder, de conflito, de solidariedade, de admiração, de desconfiança, enfim, modos diversos de inclusão ou exclusão e, por conseguinte, estratégias de relacionamentos. Sawaia (2004) esclarece que a identidade é uma categoria política disciplinadora das relações entre as pessoas, grupo e sociedade, usada para transformar o outro em estranho, igual, inimigo ou exótico.

Fonte: UNIFACS EaD

No estudo sobre as constituições das subjetividades, não podemos desdenhar a relevância dos diferentes grupos e entender a natureza das pressões e influência social que exercem para alcançar a uniformidade e os seus fins. Nesse processo, é importante dar especial atenção ao potencial dos grupos virtuais que se encontram no ciberespaço, se acolhem, aprendem, se mobilizam e se expandem para divulgar as suas ideias. Sobre esse espaço que a internet produz, Sibilia (2008, p.27) explica:

Ao longo da última década, a rede mundial de computadores tem dado à luz um amplo leque de práticas que poderíamos denomi-

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nar “confessionais”. Milhões de usuários de todo planeta - gente

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diversas ferramentas disponíveis on-line, que não cessam de surgir

“comum”, precisamente como eu ou você - tem se apropriado das e se expandir, e as utilizam para expor publicamente a sua intimidade. Gerou-se, assim, um verdadeiro festival de “vidas privadas”, que se oferecem despudoradamente aos olhares do mundo inteiro. As confissões diárias de você, eu e todos nós estão aí, em palavras e imagens, a disposição de quem quiser bisbilhotá-las; basta apenas um clique no mouse. E, de fato, tanto você como eu e todos nós costumamos dar esse clique.

Junto com essas instigantes novidades, vemos instigarem-se algumas premissas básicas da autoconstrução, da tematização do eu e da sociabilidade moderna; e é justamente por isso que essas novas práticas resultam significativas [...]. A rede mundial de computadores se tornou um grande laboratório, um terreno propício para experimentar e criar novas subjetividades: em seus meandros nascem formas inovadoras de ser e estar no mundo, que por vezes parecem saudavelmente excêntricas e megalomaníacas, mas outras vezes (ou ao mesmo tempo) se atolam na pequenez mais rasa que se pode imaginar. Como quer que seja, não há dúvidas de que esses reluzen-

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tes espaços da Web 2.0 são interessantes, nem que seja porque se apresentam como cenários bem adequados para montar um espetáculo cada vez mais estridente: o show do eu.

Depreendemos com a autora que há uma tendência na contemporaneidade a buscar a visibilidade, o exibicionismo e o reconhecimento pelo outro. Então, perguntamos:

Como essa tendência repercute nas nossas relações?

E quanto aos relacionamentos? Como os conflitos, as relações de poder, as comunicações, as expectativas do grupo interferem nos nossos relacionamentos?

Em que medida o nosso comportamento reflete as características do grupo a que pertencemos? Estamos tão habituados a viver em relação com as pessoas que, poucas vezes, percebemos a tônica dos relacionamentos, o quanto influenciamos e somos influenciados em nossas ações, decisões, sentimentos e comportamentos (ALBUQUERQUE; PUENTE-PALACIOS, 2004).


é crescente a dificuldade no domínio dessas relações. Sabemos que não é possível ensinar relações interpessoais a alguém. Não há uma receita a ser seguida. O que é possível é analisar os princípios que fundamentam essas relações. De qualquer modo, é importante destacar que é amplo o campo de estudo das relações interpessoais. Nesse estudo das relações interpessoais, alguns conceitos da ciência psicológica contribuem muito, como os diferentes modos de subjetivação, as identidades, entre outros.

89 psicologia e comportamento

Nossa vida decorre num universo de relações interpessoais, mas, ainda assim,

A Psicologia Social, área da Psicologia que analisa a dimensão subjetiva dos fenômenos sociais, é importante para a compreensão do quanto as pessoas são diferentes, do modo como as pessoas agem no mundo, as transformações que realizam, as suas relações sociais etc. Entretanto, a Psicologia Social tem teorias que a caracterizam como um estudo científico da influência recíproca entre pessoas (interação social) e do processo cognitivo gerado por essa interação (pensamento social). O pensamento social são processos cognitivos decorrentes da interação social. Desse modo, nesta análise, a interação humana e suas consequências cognitivas e comportamentais constituem o objeto de estudo da psicologia que, através de conceitos como percepção social, atitudes, papéis sociais, socialização, atração interpessoal, grupo social, entre outros, (RODRIGUES, ASSMAR, JABLONSKI, 2009), analisa a interação social. E tem teorias que criticam a separação indivíduo e sociedade, pois esta não existe sem aquele. Para essa perspectiva, ________________________ o indivíduo age sobre o mundo, transformando-o e transformando-se a si mesmo. São ________________________ conceitos estudados: a consciência, a atividade, a identidade, entre outros (BOCK; FUR- ________________________ TADO; TEIXEIRA, 2008). A seguir, vamos analisar, brevemente, alguns conceitos estudados pela Psicologia.

Percepção A percepção é um processo cognitivo, uma forma de conhecer e interpretar o mundo. É o ponto de encontro entre a cognição, ou seja, o processo de selecionar, organizar, interpretar informações, eventos etc. e o que está presente na realidade. A percepção é uma interpretação singular da realidade. Durante a percepção, o conhecimento sobre a realidade combina-se com as nossas habilidades construtivas (antecipação, hipótese, amostragem, armazenamento e integração), a fisiologia (sistema sensorial e nervoso) e as nossas experiências que advêm do processo de construção subjetiva (DAVIDOFF, 2001). Diante de situações ambíguas, percebemos claramente o nosso esforço para interpretar o que vivenciamos. Considere, então, a cena do pintor holandês Maurits Escher: O que vê?

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Figura 2 - Escher Relativity, 1953

Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/M._C._Escher

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Percebemos que as cenas mudam conforme as nossas direções perceptivas. Desse modo, compreendemos que o que o indivíduo percebe e como percebe são dados importantes para a compreensão do comportamento humano, para a análise das suas relações, pois as pessoas são seus próprios referenciais na percepção dos outros. Ressaltamos, então, que a percepção é o ponto em que cognição e realidade se encontram – depende da pessoa e do ambiente.

Como você entende a percepção? E as atitudes?

O processo perceptivo é estruturante na relação da pessoa com o mundo. Como diz Campos (2002, p.1): “Vida psicológica é vida perceptiva, consequentemente problemas psicológicos são questões, distorções perceptivas”.

Atitudes São estados mentais e representam crenças pessoais de uma natureza avaliativa que influenciam nossas reações com relação às pessoas e às coisas. As atitudes são compreendidas como tendo três componentes: a crença em si (componente cognitivo); sentimentos associados a ela (componente emocional) e ações resultantes (componente comportamental). Bock, Furtado e Teixeira (2008) explicam que, a partir da percepção do meio


e desenvolve uma predisposição a agir em relação às pessoas ou aos objetos do meio social. Essas informações que predispõem o indivíduo para a ação são as atitudes. As atitudes, analisam os autores, são desenvolvidas. “Nós não tomamos atitudes (comportamento, ação), nós desenvolvemos atitudes (crenças, valores, opiniões) em relação aos objetos do meio social” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008, p. 181). As atitudes são modificadas à medida que surgem novas informações, afetos ou situações. Sobre este conceito, leia as considerações de Glassman (2008), que esclarece

91 psicologia e comportamento

social e dos outros, o indivíduo organiza as informações, relacionando-as aos afetos,

que uma das teorias mais conhecidas da mudança de atitude é a teoria da dissonância cognitiva desenvolvida por Leon Festinger, em 1957.

Segundo Festinger, todos procuramos nos comportar de uma maneira autoconsistente. Ou seja, nossas ações devem se adequar às nossas palavras e às nossas atitudes. O que acontece, no entanto, se nossas ações não se ajustam às nossas crenças, ou se duas crenças estão em conflito? Festinger declarou que, quando há conflitos deste tipo, experimentamos uma tensão que ele chamou de dissonância cognitiva. Por exemplo, suponhamos que você odeie o burburinho da cidade de Nova York, mas tem bons amigos que vivem lá e que quer ver. Isso cria um conflito entre sua atitude com relação à Nova York e sua atitude com relação a seus amigos, o que resulta em dissonância. A teoria de Festinger lida com a natureza desses conflitos e com o modo como os resolvemos.[...] A teoria da dissonância tem gerado enorme quantidade de pesquisa na psicologia social, em parte porque as questões que levanta são interessantes e, em parte, devido às aparentes fragilidades da teoria. (GLASSMAN, 2008, p. 218)

As fragilidades da teoria ocorrem porque não há possibilidade de prever, com precisão, o que acontece em uma determinada situação, tendemos a ignorar as informações ou situações que criam conflito e estão disseminadas as reações de dissonância na vida diária. A teoria de Festinger mostra a influência da cognição ao sinalizar que os processos internos, como as atitudes e a redução da dissonância, são importantes para a compreensão do comportamento social.

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Fonte: UNIFACS EaD

Vamos continuar conhecendo outros conceitos estudados pela Psicologia.

Aptidão ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________

Consiste no potencial para realização de tarefas e pode ser agrupada em três categorias: aptidão verbal, numérica, espacial, compreensão mecânica, Cognitivas ou intelectuais

criatividade literárias e artística, velocidade de percepção, percepção de formas etc.

Físicas

Interpessoais

coordenação motora, destreza manual, aptidão sensorial etc. capacidade de liderar, lidar com o outro, decidir etc.

Inteligência Capacidade cognitiva ou intelectual que integra a globalidade humana nos seus aspectos afetivos, sociais e cognitivos. Há diversas definições e teorias sobre inteligência. A abordagem da psicologia diferencial, baseada na tradição positivista, define a inteligência como um composto de habilidades que poderiam ser medidas pelos testes psicológicos. A abordagem dinâmica define a inteligência como a produção cognitiva e intelectual do homem. A inteligência passa a ser compreendida como capacidade cognitiva e intelectual que integra a globalidade humana e não pode ser analisada isoladamente (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). Uma outra corrente, de Howard Gardner, que estuda a inteligência, defende a existência das múltiplas inteligências, ou seja, que temos a capacidade logico-ma-


espacial, corporal-cinestésica, naturalista, existencial e a capacidade intrapessoal e interpessoal, todas inter-relacionadas. No final do século XX, os estudos sobre um tipo específico de inteligência foi bastante debatido: a inteligência emocional. A teoria da inteligência emocional, defendida por Daniel Goleman e Howard Gardner, explica que a inteligência emocional pode ser desenvolvida, proporcionando maior facilidade para o indivíduo lidar com suas próprias emoções e com a dos outros. Fazem parte desse conjunto: autoconhe-

93 psicologia e comportamento

temática, capacidade linguística (aptidões medidas pelo QI), a capacidade musical,

cimento, autocontrole, empatia, habilidades interpessoais etc. Voltaremos a tratar da inteligência emocional nas próximas aulas.

Comunicação É um processo presente nas relações interpessoais em qualquer grupo, assim como a liderança e a motivação, mas, se for pouco cuidada, gera como consequência muitos conflitos. Nesse processo, há o emissor e o receptor e, entre os dois, existem os ruídos e bloqueios que advém de interpretações, respostas que, muitas vezes, atrapalham a comunicação. Vale lembrar que inúmeras são as formas de comunicação - fala, escritos, desenhos, corpo, códigos, entre outros - e muitos são os ruídos que interferem na comunicação e que derivam da falta de atenção, dos preconceitos, do negativismo, do uso impróprio da linguagem, da parcialidade e da ausência de uma comunicação franca e aberta. Minicucci (2001) acrescenta que os bloqueios, as filtragens e os ruídos provocam ressentimentos nas reações interpessoais e podem durar muito tempo. As nossas necessidades e experiências tendem a colorir o que vemos e ouvimos, a dourar certas pessoas e excluir o que não queremos saber, pois entram em conflito com as nossas velhas ideias. Sem contar que o efeito de uma emoção poderá distorcer a comunicação, ou seja, “[...] quando nos sentimentos inseguros, aborrecidos ou receosos, o que ouvimos e vemos parece mais ameaçador do que quando nos sentimos seguros [...]” (MINICUCCI, 2007, p. 55).

Fonte: http://www.sxc.hu/

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Leia o exemplo a seguir e reflita sobre o que ocorreu na comunicação do capitão ao sargento até alcançar o cabo:

Comunicação Linear - O Eclipse Solar no Quartel Capitão ao Sargento-ajudante: -Sargento! Dando-se amanhã um eclipse do Sol, determino que a companhia esteja formada, com uniforme de campanha, no Campo de exercício, onde darei explicações em torno do raro fenômeno que não acontece todos os dias. Se por acaso chover, nada se poderá ver e neste caso fica a companhia dentro do quartel. Sargento-ajudante ao Sargento de Dia: -Sargento, de ordem de meu capitão, amanhã haverá um eclipse do sol, em uniforme de campanha. Toda a companhia terá de estar formada no campo de exercício - onde seu capitão dará as explicações necessárias, o que não acontece todos os dias. Se chover, o fenômeno será mesmo dentro do quartel! Sargento de Dia ao Cabo: Cabo, o nosso capitão fará amanhã um eclipse do sol no campo de exercício. Se chover, o que não acontece todos os dias, nada se poderá ver. Em uniforme de campanha o capitão

________________________ dará a explicação necessária, dentro do quartel. ________________________ Cabo aos Soldados: ________________________ ________________________ Soldados, amanhã para receber o eclipse que dará as explicações necessárias sobre o nosso ________________________ capitão, o fenômeno será em uniforrne de exercício. Isto, se chover dentro do quartel, o que não acontece todos os dias. ________________________ ________________________ ________________________ Fonte: http://www.sit.com.br/SeparataDIV0034.htm ________________________ ________________________ ________________________ A comunicação é importante para que os processos se desenvolvam adequada________________________ mente, é uma aliada na execução de tarefas. ________________________ ________________________ A comunicação, esclarece Robbins (2002), tem quatro funções básicas dentro ________________________ de um grupo, a saber: ________________________ ________________________ ________________________ Controle ________________________ A comunicação estimula a motivação, através do ________________________ Motivação esclarecimento sobre as tarefas, as metas, a qualidade do desempenho e o que pode ser melhorado. ________________________ A comunicação favorece a expressão de sentimentos e ________________________ Expressão emocional posicionamentos frente aos mesmos. ________________________ A comunicação proporciona as informações que ________________________ Informação as pessoas precisam para analisar, avaliar e tomar ________________________ decisões.


comunicação, como a filtragem ou manipulação das informações pelo emissor; a percepção seletiva, ou seja, o receptor vê e escuta de acordo com os seus interesses, as suas experiências e características pessoais; a sobrecarga de informações; a defesa diante de sentimentos de ameaça; o tipo de linguagem e o medo ou a ansiedade de falar, escrever, evitando a comunicação em situações necessárias.

95 psicologia e comportamento

É importante lembrar que existem barreiras que podem impedir a eficácia da

E os grupos sociais? Como você analisa?

“O outro guarda um segredo: o segredo do que eu sou” (J. P. Sartre)

Sabemos que o comportamento não reflete apenas o nosso modo de ser e pensar, mas também a posição que o sujeito ocupa nos seus grupos de referência e as relações que estabelece.

Você concorda com a expressão de Sartre? A imagem que você tem de você mesmo é o retrato do que os outros veem em você?

Certamente que não! Concorda? Mesmo porque os outros não veem a mesma pessoa, porém acrescentam muito nessa construção de quem somos nós, nessa “viagem” de querer responder às inquietações, dúvidas e, às vezes, angústias sobre quem somos. Então, contam muito as imagens que os outros que estão nos nossos grupos de referência (família, amigos, comunidades, trabalho) têm de nós. A partir daí, inauguram-se modos bem diversos de relações. Reflita: Por que, nos grupos, às vezes, é tão difícil um trabalho coletivo? Como trabalhar as relações interpessoais num grupo de pessoas que não se gostam, não confiam umas nas outras, não se respeitam, não cedem e não se retiram? Os grupos têm uma grande relevância na nossa vida, em todos os contextos,

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inclusive no mundo do trabalho, aspecto que chamaremos mais atenção nesta aula.

Grupos: definição e classificação Um grupo é definido pela interdependência e interação entre dois ou mais indivíduos que visam alcançar um determinado objetivo. Podem ser classificados como formais os grupos de uma organização que possuem atribuições, tarefas e metas a serem alcançadas, e como informais os caracterizados pela reunião de pessoas com outros interesses, como contato social. Podem ser classificados como primários os voltados para relacionamentos interpessoais diretos, como a família, e secundários, os orientados para tarefas e metas, como os grupos de trabalho. Um outro modo de classificar os grupos é através da duração da existência. Assim, eles poderão ser temporários ou permanentes. Os motivos para a formação de um grupo são muitos, como a amizade, a segurança, o reconhecimento, o poder, a solução de problemas, entre outros. O grupo é o elemento que completa a dinâmica de construção social da realidade, reproduz, realiza, reformula as regras e promove os valores. São atributos básicos do grupo: o status individual e do grupo, papéis, normas; coesão e pensamento grupal.

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O grupo é responsável pela produção dentro das organizações e pela singularidade, afirmam Bock, Furtado e Teixeira (2001). No campo da psicologia do século XX sobre esse assunto, destacamos os estudos de Kurt Lewin (1890-1947), professor alemão refugiado do nazismo nos Estados Unidos, que considerava que o comportamento humano deve ser visto em sua totalidade. Segundo esse pesquisador, o comportamento humano é função tanto das características da pessoa quanto do meio em que a pessoa está inserida, bem como deve ser levada em consideração a totalidade dos fatos coexistentes. Desse modo, no grupo, há uma interdependência entre as pessoas. Os processos que ocorrem no interior do grupo alteram a sua dinâmica e podem afetar, de modo singular, cada um. Os estudos de Lewin tiveram grande importância para as pesquisas na área da motivação social e da dinâmica dos grupos, pois os conceitos de grupo e campo social embasam as teorias e técnicas de trabalho de grupo, explicam Bock, Furtado e Teixeira (2001). Sobre isso, eles acrescentam que, quando um grupo se estabelece, os fenômenos grupais passam a atuar sobre as pessoas individualmente e sobre o grupo (o processo grupal). A coesão é condição necessária para a manutenção do grupo, através do cumprimento das regras que foram estabelecidas.

Quando alguém começa a participar de um novo grupo, terá seu comportamento avaliado para verificação do grau de adesão. Os membros mais antigos já não sofrem esse tipo de avaliação e se, eventualmente, quebram alguma regra (que não seja muito importante), não são cobrados por isso. Ocorre que, no caso dos membros mais antigos, é conhecido o grau de aderência ao grupo e sabe-se que eles não jogam contra a manutenção do grupo. Esta certeza da


grupos, de acordo com suas características, apresentam maior ou menor coesão grupal (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001, p. 221).

Depreendemos que um grupo tende a se dissolver se há um baixo grau de coesão grupal e que a coesão é um aspecto que influencia o relacionamento interpessoal e a produtividade.

97 psicologia e comportamento

fidelidade dos membros é o que chamamos de coesão grupal. Os

Reflita:

No ambiente organizacional, o que promovem os grupos muito coesos? Promovem mais sinergia e menos conflito?

Um elevado nível de coesão grupal pode afetar o desempenho e a criatividade individual? A coesão diz respeito ao grau em que membros são atraídos entre si e motivados a permanecer como grupo, esclarece Robbins (2002). A coesão está relacionada

com a produtividade do grupo e depende das normas de desempenho estabeleci- ________________________ das:

Se essas normas forem de alto nível (por exemplo, excelência de resultados, trabalho de qualidade, cooperação de indivíduos de fora do grupo), um grupo coeso será mais produtivo do que um grupo menos coeso. Se a coesão for grande, com normas de desempenho fracas, a produtividade será baixa. Se a coesão for pequena e as normas, de alto nível, a produtividade será mais alta, mas menor do que um grupo coeso com as mesmas normas. Quando tanto a coesão como as normas de desempenho são fracas, a produtividade fica entre baixa e moderada (ROBBINS, 2002, p. 231).

A atenção e o estímulo em relação à coesão do grupo são necessários e podem ser alcançados através de redução do tamanho do grupo, do aumento do tempo juntos, do prestígio social do grupo, entre outros. Silvia Lane (1984) revisou as teorias sobre os grupos e, ao tratar do desse assunto, enfatiza o seu aspecto histórico e dialético. Os grupos existem em todas as instituições: família, escola, universidade, entre outras, e na análise, é preciso estar atento ao tipo de inserção do grupo na instituição e a participação de cada membro. O grupo, para a autora, é uma experiência histórica que se constrói através das relações, das contradições sociais que expressam e da articulação entre aspectos pessoais, características grupais, vivência subjetiva e a realidade objetiva.

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O grupo é uma estrutura social, um conjunto que não pode ser reduzido à soma dos seus membros através de relações de interdependência. As relações de poder e as práticas compartilhadas promovem a construção das identidades.

Veja Operários, de Tarsila do Amaral, disponível em http://www.tarsiladoamaral.com.br/ index_frame.htm

Observe a imagem e responda: as pessoas serão necessariamente um grupo? Albuquerque e Puente-Palacios (2004) esclarecem que, para lidar com pessoas, devemos compreender que o grupo é maior do que os indivíduos. Você concorda?

Vamos analisar o que os autores explanam sobre essa questão:

[...] o grupo é maior do que os indivíduos, embora por eles seja constituído. Possuir uma visão global ou sistêmica é o caminho mais adequado para conseguir estabelecer padrões de comportamento

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desejáveis em uma organização. Compreendendo que os grupos existem, que estabelecem normas de convivência e que essas normas podem ir a favor ou contra os objetivos organizacionais o administrador pode estabelecer suas próprias regras comportamentais para interagir de maneira adequada com os diversos grupos e assim lograr seus objetivos.

Embora possa parecer simples, gerenciar o comportamento humano é uma tarefa complexa. Os membros da organização reconhecem as diferenças entre os comportamentos socialmente sustentados pelo seu grupo e as cobranças feitas pela organização. Nessas circunstâncias, a comunicação constitui um elemento que favorece o adequado gerenciamento. Contudo, ela é benéfica apenas à medida que as pessoas encarregadas de gerenciar indivíduos conhecem os grupos aos quais pertencem e também as regras que, nesses grupos, norteiam o comportamento (ALBUQUERQUE; PUENTE-PALACIOS, 2004, p. 360).

A complexidade de comportamentos que existe em qualquer organização aponta para a necessidade da comunicação, do diálogo e do silêncio, que implica saber falar, saber ouvir, comunicar-se face a face, não fingir que ouve, estar atento às expectativas, predileções e aos interesses do outro, saber distinguir o momento oportuno da mensagem ser enviada, não gerar intrigas e procurar ser direto e simples (MINICUCCI, 2007). Desse modo, o diálogo é um princípio e não pode ser reduzido a uma estratégia nas relações.


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Fonte: http://www.sxc.hu/

Além dos processos analisados, vamos refletir sobre a liderança. O líder, explicam Albuquerque e Puente-Palacios (2004), é um fenômeno grupal, funcional, ele sintetiza as aspirações do grupo e existe de modo contextualizado, ou seja, em determinada circunstância e lugar histórico. Exercer a liderança significa estabelecer um processo interativo, estar centrado nos grupos, ser capaz de defender os interesses, correr riscos para cumprir metas e representar o poder instituído. Existem diferentes modos de ocupar as posições de liderança. Estas podem ocorrer de acordo com a oportunidade e por determinado tempo. Acrescentamos que nem sempre há valorização da cooperação, da competência e da interação nessas situações:

As pessoas são o ingrediente essencial das organizações. Se as pessoas, no seu conjunto, não mudam, as instituições não mudarão. As pessoas com liderança são as que ditam o ritmo das mudanças. Existem líderes que inspiram confiança e incentivam a participação; outros só impõem diretrizes e conseguem obter adesões superficiais. Em organizações autoritárias, há muito pouca comunicação real. Existem muitas mensagens unidirecionais e feedback pouco confiável. Muitos se limitam a obedecer e oferecer informações desejadas, esperadas, não as reais.

Por ter tido educação deficiente, principalmente no aspecto emocional, encontramos muitas pessoas mal resolvidas, que guardam rancor e esperam o momento de prejudicar alguém ou sabotar decisões tomadas. Elas conseguem atrasar significativamente o processo de mudança organizacional. Muitas delas estão mais atentas às críticas do que à cooperação, à sabotagem do que à colaboração. Funcionários mal resolvidos semeiam discórdia, divisão, mal-estar

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e pessimismo. Fomentam o ambiente de fofoca, de intrigas. Esta-

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belecem redes paralelas de informação, que corroem a confiança, geram incerteza e envenenam umas pessoas contra as outras.

Existem grupos de pessoas que não sabotam diretamente, mas adotam uma postura passiva e indiferente quanto às mudanças. São aquelas que resistem silenciosamente. Aparentemente colaboram, mas, sem um controle externo, pouco produzem. Infelizmente nossa educação valoriza mais a obediência do que a autonomia; a competição do que a colaboração, e isso se reproduz no ambiente profissional. (MORAN, 2007, s.p.)

Compreendemos, dessa forma, que os grupos possuem as suas características, se organizam, se influenciam e tendem a se ajustar, porém, quanto mais coeso o grupo, maior será a resistência às mudanças no próprio grupo e mais poder ele exercerá sobre os demais. A discussão sobre liderança tem a contribuição dos estudos de Hersey e Blanchard (1986), que analisam que não existe um único estilo de liderança que é adequado a todas as situações. O que irá nortear o comportamento do líder com os liderados

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é a relação entre líder, liderados e a situação. Esse estudo sobre liderança situacional fundamenta-se na inter-relação entre a quantidade de orientação e direção que o líder oferece, estabelecendo objetivos, metas e definindo papéis; o apoio emocional dado pelo líder aos seus liderados - encorajando, ouvindo, elogiando - e a maturidade dos subordinados no desempenho de uma tarefa. Sobre as relações de poder que existem, Albuquerque e Puente-Palacios (2004) analisam que é um fenômeno complexo presente nas interações, que pode ser considerado como força impulsionadora, provocadora de mudanças ou manutenção de comportamentos de pessoas, grupos, organizações.

Os elementos básicos do poder são os jogadores - pessoas pertencentes ou não à estrutura organizacional que tem a intenção de exercer influência nos resultados organizacionais - chamados influenciadores. Esses influenciadores usam meios e sistemas de influência - autoridade, ideologia, especialidade ou perícia e política - para controlar as decisões nas organizações (PAZ; MARTINS; NEIVA, 2004, p. 386).

É necessário identificar as pessoas que exercem influência, ou seja, que utilizam o tempo, a habilidade política e a competência na dinâmica das organizações para alcançar as necessidades que desejam que sejam atendidas, pois o poder que possuem é capaz de afetar os resultados nas organizações. O poder é um componente importante em qualquer grupo ou organização. A


do, analisando a dinâmica do poder nos níveis grupais e organizacionais. Muitos estudos contemplam a dimensão negativa do poder e o concebem como coerção, repressão, manipulação, dominação, dominação etc. Os estudos da abordagem comportamental caracterizam o poder, descrevendo-o como imposição de vontade de uns sobre outros. Para a psicologia social, o poder está na tessitura das relações humanas, demarcando, delimitando territórios e produzindo sentidos e estratégias de enfrentamento e resistência.

101 psicologia e comportamento

psicologia social e a psicologia organizacional adotaram o poder como objeto de estu-

De acordo com Paz, Martins e Neiva (2004), a teoria do poder organizacional de Mintzberg2, caracterizada pelo enfoque sistêmico, contempla os níveis individual e coletivo, interno e externo, intra e entre grupos e caracteriza o poder organizacional com dinamicidade, fluidez e capacidade de afetar os resultados organizacionais. O poder organizacional é refletido nas configurações de poder que sinalizam aos grupos e membros quais são os comportamentos típicos das organizações e as formas de funcionamento:

O poder é centralizado no mais alto chefe da organização que Autocracia

define as metas. Nas organizações pequenas, esse tipo de configuração é comum. O poder se encontra fora da organização, que serve de

________________________ influenciador ou grupo de influenciadores dominantes. A ________________________ hierarquia é rígida e o poder flui de fora para dentro. ________________________ O poder é a própria ideologia organizacional. A dinâmica da ________________________ organização é centrada em uma missão que domina toda a Missionária ________________________ atividade organizacional. Há um comprometimento afetivo. ________________________ O poder é dos especialistas que, com base nas habilidades e ________________________ Meritocracia no conhecimento, influenciam fortemente a organização. ________________________ O poder é da coalizão interna, de pessoas que vivem o ________________________ cotidiano das organizações. Os influenciadores são os ________________________ próprios membros da organização que, para exercerem Sistema autônomo ________________________ controle interno, usam de padrões burocráticos e trabalham ________________________ com um sistema de metas. O poder fica dividido numa organização em crise em que os ________________________ Arena política influenciadores perseguem seus objetivos individuais. ________________________ ________________________ ________________________ Para os autores Paz, Martins e Neiva (2004), essas configurações de poder são ________________________ as mais comuns, mas não são estanques, pois as organizações vivem processos de ________________________ transformação ou declínio. ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ 2 A teoria de Mintzberg resultou de pesquisa em organizações na sociedade ocidental sobre o poder dentro e em torno das orga________________________ Instrumento

nizações.

instrumento para o alcance dos objetivos propostos pelo


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Reflita: O assédio sexual no local de trabalho é um aspecto importante para discussão, pois envolve poder e gênero. O assédio sexual é definido como ato de constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente de sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função (Art 216 A - Lei 10.224).

E o assédio moral?

O assedio moral, que diz respeito à exposição das trabalhadoras e trabalhadores a situações humilhantes, constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho ou no exercício de suas funções, também envolve uma intensa discussão sobre as relações de poder.

A questão do poder, da liderança e da comunicação são aspectos importantes na discussão sobre a teoria dos grupos. Muitos outros autores, como Pichon-Rivière (1998), analisaram a estrutura e o funcionamento dos grupos através do conceito de Grupos Operativos, baseado na teoria do vínculo. O Vínculo, estrutura psíquica com-

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plexa, de caráter social, um dos princípios organizadores do grupo operativo, é importante para a compreensão do conceito, assim como a Tarefa, um outro princípio, que diz respeito ao modo pelo qual cada integrante do grupo interage a partir das suas necessidades. O grupo operativo configura-se como um modo de intervenção, organização e resolução de problemas grupais. Através dessa teoria, é possível avaliar determinado grupo durante a realização de tarefas concretas e identificar o campo de fantasias e simbolismos presentes nas relações interpessoais. Moscovici (1998) esclarece que o relacionamento interpessoal harmonioso proporciona um trabalho cooperativo, mas essas condições resultam das competências interpessoais que se expressam no interjogo entre sentimentos, interações e atividades. As relações interpessoais e o clima de grupo influenciam-se reciprocamente. Sentimentos de simpatia e atração nas organizações ensejam mais produtividade, ao passo que sentimentos de rejeição tendem a afetar as interações, a comunicação e produzem queda na produtividade. Na teia de relacionamentos, não podemos deixar de tratar da dimensão ética que regula as relações e as ações, pois a ética é o conjunto de valores e da moral que conduzem a pessoa a tomar decisões. Vidal (1998), sobre esse assunto, esclarece que a ética nasce da pessoa e se refere à pessoa, pois somos pessoas quando estamos em relação, partilhando e exercendo uma escuta sensível do outro.


O que significa ética? Ela define um modo de comportar-se com o outro? É o mesmo que moral? E os valores morais? Qual é a sua importância neste estudo sobre as relações interpessoais?

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Reflita:

Para tratarmos desses termos, seus significados e relações, precisaríamos de mais uma aula, mas é importante enfatizar que ambas refletem o nosso momento histórico, não provém da natureza, e sim da disposição humana para a sociabilidade e para valores como justiça, honradez, integridade, generosidade e tantos outros que dizem respeito a nós mesmos e às relações que mantemos com os outros. Na contemporaneidade, há uma redescoberta da ética, esclarece Passos (2007), pois há exigências de valores éticos e morais em todas as instâncias sociais. No momento em que a nossa sociedade passa por uma crise de valores, identificada pelo senso comum como falta de decoro, de respeito pelo outro, de limites e, também, pela dificuldade de internalizar as normas, leis e regras sociais, precisamos da ética, ciência que estuda o comportamento moral dos homens na sociedade, para compreender os valores que constituem a vida humana e que configuram os projetos de vida individuais ou coletivos. Portanto, é importante identificar as bases morais da nossa sociedade ________________________ hoje, as características das relações humanas e a repercussão desses aspectos nas di- ________________________ mensões subjetivas.

Precisamos, então, encontrar meios para melhor conviver com as pessoas, quer seja na família, no trabalho, na comunidade. Para isso, torna-se necessário interrogar sempre: Que valores estão orientando a minha vida e minha prática profissional? Qual é o meu projeto de vida? Quais são os compromissos que assumi com o outro, com a sociedade? A preocupação com a dimensão humana, com a construção do projeto de vida compromissado com a sociedade significa preocupação com a dimensão ética, “pois se estabelece o respeito no lugar do desrespeito, a confiança em vez da desconfiança, o companheirismo e a solidariedade e não a competição cega e desenfreada” (PASSOS, 2007, p.124). Ainda, como explica a autora:

As pessoas são chamadas e incentivadas a mostrarem suas preferências e suas competências, a reivindicarem e participarem, sem o receio de serem tomadas como impertinentes e criadoras de problemas. A ética assegura o respeito à diferença e a inclusão de todos e não somente dos que pensam e agem dentro da mesma tendência (PASSOS, 2007, p.124).

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A submissão às coisas e às exigências do mundo, para dar conta das ânsias de consumo e aquisição de bens, poderá ser rompida através da redefinição constante do papel social e da interrogação sobre a razão de ter que se submeter, aceitar uma condição. Saber escolher e construir espaços individuais e coletivos, em que prepondere o respeito e em que possamos participar fraternalmente de equipes de pessoas, implica reconhecer-me no outro. Enfim, podemos nos sentir convocados a criar redes mais envolventes, a aprender a partilhar, a ser sensível ao outro... São caminhos e compromissos de cada um.

Fiquemos, agora, com o poema de Olavo Bilac, que selecionamos para terminar a nossa aula:

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto ...

________________________ Direis agora: “Tresloucado amigo! ________________________ ________________________ Que conversas com elas? Que sentido ________________________ Tem o que dizem, quando estão contigo?” ________________________ E eu vos direi: “Amai para entendê-las! ________________________ ________________________ Pois só quem ama pode ter ouvido ________________________ Capaz de ouvir e de entender estrelas.” ________________________ Fonte: BILAC, Olavo. Ora (direis) ouvir estrelas. Disponível em: http://www.jornaldepoesia.jor.br/bilac2. ________________________ ________________________ ________________________ Saudações afetuosas! ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ SÍntese ________________________ Nesta aula, analisamos a importância das relações interpessoais nos grupos so________________________ ciais e os elementos que interferem nessas relações. Discutimos os processos presen________________________ tes nelas, como a comunicação, a liderança, entre outros. ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ questÃo para ReflexÃo ________________________ ________________________ Assista ao vídeo Indivíduo Coletivo, da série “Não é o que parece”, disponível em http://www.pol.org.br/publicacoes/video_play_dvd05.cfm, e reflita sobre o conteúdo


Como podemos analisar a relação entre o individual e o coletivo?

Leituras indicadas Para aprofundar os seus conhecimentos, leia o texto:

105 psicologia e comportamento

estudado.

CAMPOS, Vera Felicidade. A questão do ser, do si mesmo e do eu. Disponível em: <http://www.verafelicidade.com.br/page13.html>. Acesso em: 01 ago.2012.

Sites Indicados Assista aos vídeos e reflita sobre o conteúdo estudado: Mesa redonda on-line Diálogos com a Psicologia Organizacional e do Trabalho Evolução, desafios e novos rumos.

Assista ao debate disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=Aaw6GTT7jgc>. Acesso em: 15 ago.2012. Liderança: Profissão Impossível Como se constrói um líder? Ele é realmente necessário? Nem sempre foi assim. O que se espera, então? Qual o papel da liderança? E do liderado? Disponível em: <http:// www.pol.org.br/publicacoes/video_play_dvd06.cfm>. Acesso em: 15 ago.2012. http://www.pol.org.br/pol/cms/pol/publicacoes/videos/videos_020701_0052.html http://www.assediomoral.org/spip.php?article1

Referências ALBUQUERQUE, Francisco José; PUENTE-PALACIOS, Katia Elizabeth. Grupos e equipes de trabalho nas organizações. In: ZANNELI, Jose Carlos; BORGES-ANDRADE, Jairo; BASTOS, Antonio Virgilio Bittencourt. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004.

BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia. São Paulo: Saraiva, 2001.

BRASIL. Lei nº 10.224, de 15 de maio de 2001. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/LEIS/ LEIS_2001/L10224.htm>. Acesso em: 26 maio.2012.

CAMPOS, Vera Felicidade. A questão do ser, do si mesmo e do eu. Disponível em: <http://www.verafelicidade.com.br/page13.html>. Acesso em: 01 ago.2012.

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psicologia e comportamento

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DAVIDOFF, Linda. Introdução à psicologia. São Paulo: Makron Books Editora, 2005.

GLASSMAN, Willian; HADAD, Marilyn. Psicologia: abordagens atuais. Porto Alegre: Artmed, 2008.

HERSEY,P.; BLANCHARD,K.H. Psicologia para administradores: a teoria e as técnicas da liderança situacional. Trad. Edwino A. Royer. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária, 1986. p.189.

LANE, Silvia. O processo grupal. In: LANE, Silvia; CODO, Wanderley. Psicologia social: o homem em movimento. São Paulo: Brasiliense, 1984.

MINICUCCI, Agostinho. Relações humanas: psicologia das relações interpessoais. São Paulo: Atlas, 2001.

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MORAN, Jose Manuel. A comunicação em grupo e organizações. Disponível: <http://www.eca.usp.br/prof/ moran/reorg.htm>. Acesso em: 01 agosto 2012.

MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento interpessoal: treinamento em grupos. Rio de Janeiro: Jose Olympio, 1998.

________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________

PAZ, Maria das Graças; MARTINS, Maria do Carmo; NEIVA, Elaine Rabelo. O poder nas organizações. In: ZANNELI, Jose Carlos; BORGES-ANDRADE, Jairo; BASTOS, Antonio Virgilio Bittencourt. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004.

PICHON-RIVIÈRE, Enrique; QUIROGA, Ana Pampliega. Psicologia da vida cotidiana. São Paulo: Martins, 1998.

PASSOS, Elizete. Ética nas organizações. São Paulo: Atlas, 2007.

ROBBINS, Stephen Paul. Comportamento organizacional. São Paulo: Prentice Hall, 2002.

SAWAIA, Bader. Identidade: uma ideologia separatista? In: SAWAIA, Bader. As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. Petrópolis: Vozes, 2004.

SIBILIA, Paula. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

VIDAL, Marciano. A ética civil e a moral cristã. São Paulo: Santuário, 1998.


grupos e equipes de trabalho Autora: Cláudia Vaz Torres

107 psicologia e comportamento

AULA 06- A dinÂmica das relaÇÕes nos

Olá!

Analisamos, nas aulas passadas, os grupos, as relações interpessoais e os elementos que interferem nessas relações. Discutimos como nos constituímos como sujeitos, indivíduos singulares e com modos diversos e complexos de ser e estar no mundo. Compreendemos, também, que as inúmeras possibilidades de ser de cada um são construídas na interação com o outro e com o mundo. Nesta aula, ampliaremos a discussão sobre as dinâmicas dos relacionamentos que ocorrem nos grupos e nas equipes de trabalho. Mas, antes de discutirmos sobre isto, precisamos assistir ao vídeo:

Trabalho em equipe: http://www.youtube.com/watch?v=oYmWPucPRTQ

E, então? A partir do que foi abordado, é possível interrogar:

Quais são as principais dificuldades para a realização de um trabalho em equipe? Qual é a diferença entre grupos e equipes de trabalho? O desempenho é o mesmo? E as relações?

Um grupo de trabalho tem por objetivo compartilhar informações e tomar decisões sem, contudo, ter o engajamento de um trabalho coletivo. São pessoas que dão a sua contribuição individual na área em que cada uma é responsável. A equipe de trabalho apresenta um esforço coletivo coordenado para o alcance de objetivos; uma responsabilidade compartilhada em torno de um projeto específico; certa autonomia para decidir e a efetividade da equipe é evidenciada a partir do seu desempenho e produção.

Há situações de desigualdade em um grupo de trabalho?

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Em um grupo de trabalho, podemos analisar a divisão sexual do trabalho que envolve a constatação da situação de desigualdade e a necessidade da reflexão sobre os processos que existem na sociedade que fazem essas diferenciações para hierarquizar essas atividades e os gêneros. Helena Hirata e Daniele Kergoat (2007) analisam que a divisão sexual do trabalho é a forma de divisão do trabalho social decorrente de princípios (separação e hierárquico) que regem as relações sociais entre os sexos, que designam aos homens a realização de funções com maior valor social e às mulheres, a esfera reprodutiva.

Muitos autores definem grupos e equipes de trabalho de modo divergente. Albuquerque e Puente-Palacios (2004, p. 370-371), a partir dos estudos de Gonzáles, Silva e Cornejo (1996), esclarecem que grupos e equipes de trabalho possuem estruturas de desempenho bem diferentes.

[...] as diferenças são claras, pois, enquanto os grupos se caracterizam por: a) ter um líder claramente designado por um elemento externo perante o qual responde pelo grupo; b) trabalhar em prol do objetivo da organização; c) enfatizar, em aspectos individuais para o desempenho, definição de responsabilidades e estabelecimento

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de recompensas; d) ter a sua efetividade evidenciada a partir da influencia que exercem sobre outros membros ou grupos da organização, as equipes se caracterizam por: a) compartilhar as responsabilidades que não recaem apenas sobre o líder; b) trabalhar em prol de um projeto específico e próprio; c) enfatizar no esforço conjunto tanto para o desempenho como para recompensas e responsabilidades; d) ter a sua efetividade evidenciada a partir dos produtos da equipe.

O comprometimento e a dinâmica das relações são diferentes nas equipes de trabalho, por conta do interesse nos resultados. As mudanças nas estruturas organizacionais que abandonaram um padrão de verticalização para a formação de equipes com mais autonomia e flexibilidade estão de acordo com o momento histórico e social de consolidação do capitalismo, do consumo, da competitividade e da necessidade de flexibilização do processo produtivo nas diversas organizações. É importante considerar, conforme apontam analistas como Segnini (2000), que no contexto atual, a força de trabalho está fragilizada pela flexibilização das estruturas produtivas, das formas de organização do trabalho, por meio do emprego/ desemprego. Com a difusão das tecnologias apoiadas na automação e informática e as mudanças na estrutura do mercado de trabalho marcadas pelas altas taxas de desemprego, precariedade das formas de ocupação e a flexibilização da força de trabalho evidenciados nos contratos de tempo parcial, subcontratação, terceirização. Nesse contexto, é importante a educação e a formação profissional como aspecto necessário para adaptar os trabalhadores às mudanças técnicas e sociais. Acrescentamos que o contexto, os recursos, a estrutura, a liderança, o clima de


integrantes para a solução de problemas, tomadas de decisões e relacionamento interpessoal são aspectos a serem observados antes da formação de uma equipe.

109 psicologia e comportamento

confiança, o sistema de avaliação de desempenho, as recompensas, as habilidades dos

Fonte: http://www.sxc.hu/photo/1178998

Depreendemos que as mudanças numa organização, tornando-as mais horizontalizadas, proporcionam desafios como saber e ter autonomia para decidir, lidar com a informação rápida e com o poder implicado nas relações. A confiança que resulta do estabelecimento dessas relações numa equipe de trabalho torna as pessoas mais comprometidas, criativas e capazes de atuar em um ambiente dinâmico.

Reflita sobre o trecho da música da Legião Urbana: Sem trabalho eu não sou nada Não tenho dignidade Não sinto o meu valor Não tenho identidade Mas o que eu tenho É só um emprego

Fonte: http://letras.terra.com.br/legiao-urbana/46956/

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Classificação das equipes Há uma diversidade de classificação de equipes, entretanto, analisaremos a classificação adotada por Albuquerque e Puente-Palacios (2004). Para os autores, as equipes podem ser classificadas a partir do tempo de duração, natureza da atividade, organização dos elementos (objetivos, pessoas, tecnologias, formas de desempenho), finalidades etc.

Por tempo de duração Permanentes - realização de tarefas permanentemente. Temporárias - realização de uma tarefa específica por tempo determinado.

Pela natureza do trabalho Equipes de trabalho - execução de tarefas. Equipes de desenvolvimento - incrementação da efetividade dos processos organizacionais.

________________________ Pela organização dos elementos e finalidades ________________________ ________________________ Grupos força-tarefa - priorização de um objetivo a ser alcançado ________________________ Equipes - valorização dos indivíduos e as relações interpessoais estabelecidas. ________________________ ________________________ Ex.: time de futebol ________________________ Tripulação - valorização do objetivo e da tecnologia. Ex.: tripulação de um ________________________ avião. ________________________ Robbins (2002) adota um outro modo para classificar as equipes, a saber: ________________________ ________________________ Pessoas trocam ideias, oferecem sugestões sobre processos e ________________________ métodos de trabalho. Raramente, a equipe tem autoridade para ________________________ implementação de ideias. ________________________ Na década de 80, os Círculos de Qualidade formados por ________________________ Equipes de solução pequenos grupos de funcionários de uma organização, que ________________________ de problemas se reuniam durante determinados períodos do trabalho para ________________________ identificar, analisar e debater formas de melhorar a qualidade, a ________________________ produtividade, reduzir custos, reduzir acidentes de trabalho etc., ________________________ são um exemplo de equipes de solução de problemas. ________________________ São grupos de funcionários que têm responsabilidade pela ________________________ Equipes de trabalho administração do seu trabalho e desenvolvimento de carreira, ________________________ autogerenciadas realizam trabalhos muito relacionados ou interdependentes e ________________________ avaliam os desempenhos uns dos outros. ________________________ ________________________


Equipes

nas diferentes áreas de uma organização, que desenvolvem

multifuncionais

ideias, sugestões, solucionam problemas e coordenam projetos complexos. São pessoas que compartilham informações, tomam decisões,

Equipes virtuais

realizam tarefas on-line, utilizando meios de comunicação como redes internas ou externas, videoconferência, entre outros.

111 psicologia e comportamento

São formadas por pessoas de nível hierárquico equivalente

Para refletir:

Imagine situações que representem as equipes estudadas. O que supera o individualismo nas equipes de trabalho? Quais são as dificuldades enfrentadas por pessoas de nível hierárquico equivalente, áreas e habilidades diferentes na solução de problemas de uma organização? Como conciliar as vaidades dos membros de uma equipe com os objetivos da organização?

Fonte: Unifacs EAD

Períodos de turbulência diante de situações complexas e falta de confiança fazem parte do processo de desenvolvimento de uma equipe, em que pessoas possuem diferentes experiências, histórias e perspectivas. As equipes de trabalho passam por diferentes fases, que vão desde a formação até o favorecimento do desempenho de tarefas. Sobre isso, esclarecem Albuquerque e Puente-Palacios (2004, p. 372):

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Essas fases não são uma peculiaridade das equipes de trabalho. São

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constituem um tipo específico de grupo, passam também por elas.

fases do desenvolvimento na vida dos grupos, e, como as equipes De maneira adicional, cabe destacar que nem todas essas etapas são seqüências e pode ocorrer de voltar de uma etapa para a anterior antes de ir para a seguinte. Isso pode ser conseqüência de mudanças ou pressões vindas do meio externo. Também é possível que uma equipe nunca atinja o estágio final ou até faça o possível para não atingi-lo.

Algumas fases do desenvolvimento das equipes podem ser identificadas, tornando mais fácil o reconhecimento de que as experiências e situações vivenciadas fazem parte de um processo de crescimento que, às vezes, precisam de uma intervenção direta. Sabemos que trabalhar em equipe envolve desafios, principalmente quando estamos realizando um trabalho em um ambiente altamente competitivo. Robbins (2002, p. 261) acrescenta que: Para ter um bom desempenho como membro de uma equipe, a pessoa precisa ser capaz de se comunicar aberta e honestamente, confrontar diferenças e resolver conflitos, bem como sublimar suas

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metas pessoais, para o bem do grupo.

Para o autor, algumas pessoas possuem habilidades interpessoais que facilitam a realização de trabalho em equipe; outras, habituadas a contribuir e a serem reconhecidas pelo seu trabalho e desempenho individual, encontram dificuldade para se perceberem como parte de uma equipe em que o reconhecimento por um desempenho satisfatório é compartilhado por todos e não apenas um. [...] a implantação da equipe de trabalho exige do individuo habilidades diferentes daquelas exigidas para realizar o trabalho sozinho. Ao trabalhar em equipe, facilmente pode-se perder o controle sobre a evolução do trabalho, os avanços tidos ou os problemas enfrentados, pois não depende mais do que um indivíduo faz ou deixa de fazer, depende agora do esforço conjunto. (ALBUQUERQUE; PUENTEPALACIOS, 2004, p. 377)

Depreendemos, com a citação, que algumas habilidades são imprescindíveis para o trabalho em equipe.


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Fonte: Clipart

Reflita:

Como desenvolver habilidades de resolução de problemas, comunicação, manejo de conflitos, gerenciamento etc.?

É possível desenvolver habilidades de resolução de problemas, comunicação, manejo de conflitos, gerenciamento etc., embora envolva um exercício de paciência e um eficiente sistema de recompensas individuais e coletivas, acompanhado de uma boa comunicação entre as pessoas que fazem parte de uma equipe e de uma disponibilização adequada pela organização das informações que são necessárias para a análise da relação entre esforço, desempenho e resultados. Alguns funcionários possuem excelentes habilidades interpessoais, mas outros precisam de treinamento para melhorá-las. Isso inclui aprender a ouvir, a comunicar as ideias de maneira mais clara e a ser um membro mais eficaz na equipe (ROBBINS, 2002, p. 469).

Além das habilidades interpessoais e habilidades técnicas, é também possível desenvolver o raciocínio e a habilidade de identificação de problemas, de levantamento das causas, alternativas e soluções para ampliar a efetividade de uma equipe.

Acrescentamos que não existem procedimentos únicos para o alcance dos objetivos nas equipes, é preciso sempre uma atenção ao contexto, aos recursos disponíveis, ao tempo, à seleção dos membros, aos mecanismos que favorecem o desempenho, entre outros. Assim, na construção de uma equipe, é importante analisar os processos que ocorrem, determinar como o trabalho vem sendo realizado, analisar os papéis de cada um, a percepção que as pessoas têm em relação aos outros, os estereótipos e os conflitos.

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Depois da formação de uma equipe, é traçado pelos integrantes um projeto de trabalho que possibilitará responsabilidade, comprometimento e autonomia de cada um. Sendo assim, o comprometimento de todos com um propósito comum, o estabelecimento de metas específicas, a identificação dos níveis de conflito e a contribuição com a formação de pessoas como membro de uma equipe são pontos que precisam ser destacados.

Síntese Nesta aula, discutimos as dinâmicas dos relacionamentos que ocorrem nos grupos e nas equipes de trabalho. Na próxima aula, refletiremos sobre a importância das emoções e dos afetos no cotidiano do trabalho.

questÃo para reflexÃo Como preparar pessoas para serem membros de uma equipe?

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Leitura indicada ROBBINS, Stephen Paul. Comportamento organizacional. São Paulo: Prentice Hall, 2002.

Sites Indicados http://www.rh.com.br/ler.php?cod=4539 http://www.catho.com.br/estilorh/index.phtml?combo_ed=95&secao=200

ReferÊncias ALBUQUERQUE, Francisco José; PUENTE-PALACIOS, Katia Elizabeth. Grupos e equipes de trabalho nas organizações. In: ZANNELI, Jose Carlos; BORGES-ANDRADE, Jairo; BASTOS, Antonio Virgilio Bittencourt. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004.

ROBBINS, Stephen Paul. Comportamento organizacional. São Paulo: Prentice Hall, 2002.

SEGNINI, liliana. Educação e trabalho: uma relação tão necessária quanto insuficiente. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/spp/v14n2/9791.pdf Acesso em: 28 ago. 2012.


AULA 07 - EmoÇÕes, sentimentos e afe-

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Autora: Cláudia Vaz Torres

psicologia e comportamento

tos: DELIMITAÇÕES conceituais E repercussões no cotidiano do trabalho

Socorro, alguém me dê um

coração,

Que esse já não bate nem apanha

Por favor, uma emoção pequena,

Qualquer coisa

Qualquer coisa que se sinta,

________________________ ________________________ ________________________ algum que sirva ________________________ ________________________ Arnaldo Antunes[1] ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ Olá! ________________________ ________________________ ________________________ Nesta aula, iremos refletir sobre a importância das emoções, sentimentos e afe________________________ tos, na composição da nossa dimensão subjetiva e discutiremos sobre a importância ________________________ das emoções e afetos no cotidiano do trabalho. ________________________ ________________________ ________________________ Você conhece bem as suas emoções? ________________________ ________________________ Os afetos determinam o nosso comportamento? ________________________ ________________________ Quais afetos acompanham seus pensamentos e fantasias? ________________________ ________________________ Como conciliar as diferentes emoções com as obrigações do trabalho? ________________________ Tem tantos sentimentos, deve ter


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O que controla a sua emoção? É a cognição?

psicologia e comportamento

Qual a sua importância no estudo sobre as emoções?

Todos os nossos campos de estudo, trabalho, lazer, etc. são extremamente ricos em objetos, pessoas e situações que despertam reações afetivas, cognitivas e comportamentais. Falamos, então, em afeto, emoção, sentimento, mas antes de respondermos a essas perguntas, faz-se importante compreender o significado de cada termo. Até o século XIX, os termos emoção e sentimento eram utilizados de modo indiscriminado, atualmente, distinguimos esses termos de modo mais preciso. A emoção diz respeito a um estado agudo e transitório e o sentimento é um estado mais atenuado e durável, esclarece Bock, Furtado e Teixeira (1993). Gondim e Siqueira (2004) aprofundam a compreensão e esclarecem que não há consenso em relação às definições das diversas manifestações afetivas e resumem da seguinte forma os estados afetivo-emocionais que incluem as emoções e afetos:

Na maior parte das definições há forte associação das emoções com alterações fisiológicas e corporais desencadeadas por estímulos in-

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ternos ou externos que parecem não estar sob total controle consciente da pessoa. Os afetos abarcariam os sentimentos, os humores e os temperamentos, que teriam em comum sua maior persistência no tempo e sua relação com aspectos cognitivos. Os sentimentos não estariam relacionados à prontidão da ação tanto quanto as emoções, mas à interpretação subjetiva da situação que pela persistência do objeto na memória faria perdurar o afeto em relação a ele. O humor também seria um estado afetivo mais duradouro, mas não estaria relacionado especificamente a um objeto, repercutindo de modo significativo na maneira como a pessoa agiria em vários contextos de interação durante o período de permanência de seu estado afetivo. O temperamento, por sua vez, seria a manifestação de um estado afetivo individual persistente no tempo, pouco passível de modificação por fatores circunstanciais e que estaria incorporado nas características subjetivas de cada pessoa. (GONDIM; SIQUEIRA, 2004, p. 211)

Assim, depreendemos que os afetos estão presentes na vida da pessoa, constituem a nossa dimensão subjetiva e marcam a nossa relação com o outro. Porém, definir os estados afetivos tem criado divergências teóricas no que diz respeito à ênfase em determinados aspectos, como a influência da cultura na expressão das emoções e afetos. Henry Wallon, um importante teórico da Psicologia, destacou as manifestações da vida afetiva, como as emoções, os sentimentos e os desejos nos seus estudos sobre o desenvolvimento da pessoa humana numa perspectiva integrada. Para o autor, somos pessoas completas em que o afeto, a cognição e o movimento são interdepen-


conceito mais abrangente no qual se inserem manifestações ou expressões como a emoção. A emoção, para o autor, é uma atividade eminentemente social, que se nutre do efeito que causa no outro. As emoções possuem características específicas que as distinguem de outras manifestações da afetividade. São sempre acompanhadas de alterações orgânicas,

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dentes e participam das nossas relações. Na análise walloniana, a afetividade é um

como aceleração dos batimentos cardíacos, mudanças no ritmo da respiração, dificuldades na digestão, secura na boca. Além dessas variações no funcionamento neurovegetativo, perceptíveis para quem as vivem, as emoções provocam alterações na mímica facial, na postura, na forma como são executados os gestos. Acompanham-se de modificações visíveis do exterior, expressivas, que são responsáveis por seu caráter altamente contagioso e por seu poder mobilizador do meio humano.

No bebê, os estados afetivos são, invariavelmente, vividos como sensações corporais, e expressos sob a forma de emoções. Com a aquisição da linguagem diversificam-se e ampliam-se os motivos dos estados afetivos, bem como os recursos para sua expressão. Tornam-se possíveis manifestações afetivas como os sentimentos, que, diferente das emoções, não implicam obrigatoriamente em alterações corporais visíveis (GALVÂO, 2003, p. 61-62).

A análise walloniana sobre a emoção traz importantes elementos para que possamos compreender melhor o comportamento emocional, as situações de conflitos, as crises e identificar os fatores que provocam os conflitos, os posicionamentos das diferentes pessoas que acirram a crise, as nossas próprias reações e o que reduz a temperatura emocional. O exemplo a seguir ilustra essa ideia:

Confusão começou com discussão entre duas meninas; em outra oportunidade, teriam tentado pôr fogo no colégio “Porrada, porrada, porrada.” Foi em meio a esses gritos que os alunos da Escola Estadual Amadeu Amaral, no Belém, zona leste de São Paulo, começaram a depredar o colégio, por volta das 9h40 de ontem. Pedras e carteiras foram arremessadas nos vidros, portas arrombadas, tapas e socos fizeram os professores, acuados, se trancarem dentro de uma sala. A “rebelião” só terminou por volta das 12 horas com a entrada da Polícia Militar, acionada por vizinhos e funcionários da unidade. Em meio à correria, adolescentes de 5ª a 8ª séries choravam e gritavam e a diretora da escola desmaiou, segundo testemunhas. U., uma aluna de 15 anos que teria sido pivô da confusão, ficou levemente ferida. [...] Um professor, que pediu para não ser identificado, afirma que desde o início do ano os alunos têm quebrado janelas e até tentaram botar fogo na escola na segunda-feira passada [...] (REHDER,

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2008, s.p.)

Esse fato ocorrido numa sala de aula é apenas uma das situações que ocorrem em muitas outras escolas do país, mas que reflete uma situação de tensão emocional em que professores e alunos convivem com agressões verbais e físicas no ambiente escolar.

Reflita: Como enxergar e lidar com essa situação de modo mais objetivo? Por que os grupos apresentam um espaço propicio para manifestações emocionais coletivas?

Para Wallon, as emoções têm um poder de contágio e propiciam relações interindividuais nas quais se diluem os contornos da dimensão subjetiva de cada um. O poder contagioso e coletivo da emoção tem uma importância decisiva na coesão do grupo social, pois estabelece uma comunhão imediata, esclarece Galvão (2003). As imagens a seguir, também ilustram essa ideia:

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Nas revistas semanais ou em jornais, podemos encontrar relatos de experiências que evidenciam os benefícios das expressões das emoções na vida pessoal e profissional e os danos que podem advir quando guardamos tudo para nós mesmos por conta da dificuldade em expressar as angústias, o medo, a raiva etc., ou pelo receio de ser considerado frágil, imaturo, passional, etc. diante de uma repentina manifestação de emoções.

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negativas.

Embora exista o preconceito com relação à livre expressão das emoções, é importante enfatizar que as emoções permitem a comunicação interpessoal, a manutenção das relações, a interação social e a preparação para a ação diante de situações importantes para a nossa sobrevivência. Acrescentamos, porém, que nas pesquisas em Psicologia existem muitas divergências teóricas, uma delas em consequência da função que a emoção cumpre na vida da pessoa. As discordâncias com relação à ênfase nas funções biológica, psicológica ou social da emoção não são únicas, pois existem outros focos de divergência. Quanto a compreensão de como ocorre o processo emocional e o nível de consciência da resposta emocional, esclarecem Gondim e Siqueira (2004). As abordagens biológicas defendem que O cérebro, ao detectar subliminarmente por meio de algum mediador um determinado estimulo, desencadeia reações fisiológicas, tais como aumento dos batimentos cardíacos, sudorese e sensação de calor, que ao se tornarem conscientes fariam com que a pessoa procurasse interpretar o evento atribuindo estados afetivos: medo, tristeza, alegria, etc. (GONDIM; SIQUEIRA, 2004, p. 212).

A abordagem cognitiva incorporou alguns aspectos das teorias de origem biológica, mas enfatizou a emoção e o afeto como manifestações culturais que dependem dos contextos sociais. Nesta perspectiva, a excitação biológica, como as mudanças na frequência cardíaca, na respiração e na pressão sanguínea são importantes, mas é preciso analisar o modo como a nossa interpretação da situação influencia as nossas emoções, em termos de como percebemos o seu efeito no nosso bem-estar ou em nossos objetivos. Nesta abordagem, Glassman e Hadad (2008) esclarecem:

[...] as emoções atualmente desempenham um papel muito mais matizado em nossas vidas, em grande parte graças à influencia dos processos cognitivos. Através da interpretação perceptual e da memória das experiências passadas, avaliamos as situações para sentir não apenas medo ou prazer, mas também amor e tristeza, orgulho e vergonha. Como acontece com muitos fenômenos, o entendimento final da emoção pode envolver uma interação complexa de diferentes fatores - e os processos cognitivos certamente serão um fator.

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(GLASSMAN; HADAD, 2008, p. 222)

Assim, compreendemos que o modo como interpretamos o contexto tem um importante papel nas emoções e que essas diferenças estão muito baseadas na aprendizagem através das interações que ocorrem na cultura. Outras abordagens como a filosófica, comportamental e clínica adotam premissas específicas para a compreensão das emoções e afetos: - Abordagem filosófica - este tema é tratado desde a Antiguidade. Nesta abordagem, os filósofos partem da premissa de que o afeto implica uma ação sofrida e que a emoção está na base da formação moral. - Abordagem comportamental – baseada no estudo de eventos observáveis, enfatiza os fatores externos no desencadeamento das emoções. Para esta abordagem, as emoções são condicionadas. Glassman e Hadad (2008) citam como exemplo:

Um bebê recém-nascido pode instintivamente responder ao contato com o corpo da mãe, mas, mais tarde, essa resposta agradável torna-se associada ao rosto da mãe e, mais tarde ainda, a objetos da casa e, talvez, mesmo a própria casa. Os indivíduos que experimentam prazer ao escutar uma velha canção favorita experimentam

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emoções que se tornaram associadas ao estimulo condicionado da música. Mesmo quando vamos ao cinema, o condicionamento está envolvido (provavelmente através de um processo ordem mais elevada em nossas reações aos heróis, aos vilões e a várias situações intrigantes). (GLASSMAN; HADAD, 2008, p. 138)

Os teóricos desta abordagem acreditam que a aprendizagem é o principal fator para explicar as mudanças de comportamentos e, dependendo do tipo de resposta, isso envolve o condicionamento clássico que destaca que os estímulos condicionados vão eliciar respostas condicionadas ou o condicionamento operante que enfatiza a possibilidade de uma resposta voluntária mudar em função das consequências ambientais. O condicionamento clássico e o condicionamento operante estão interrelacionados no nosso comportamento, mas esta abordagem postula que a aplicação do condicionamento operante ao comportamento cotidiano consiste na modificação do comportamento. De qualquer modo, assim como os pensamentos, os sentimentos e os outros estados mentais internos não podem ser estudados empiricamente, portanto não têm lugar nesta abordagem. - Abordagem clínica – aborda as emoções como perturbações decorrentes da dinâmica psíquica inconsciente, centra a atenção nos processos psicopatológicos. O conceito abrange uma intricada rede de outros conceitos, como angústia, pulsão. O afeto é um estado emocional permanente e intenso que inclui toda a variedade de sentimentos e que estão presentes ao longo da nossa vida.


Leia um trecho do texto “O afeto no tempo” de Corrêa (2005). Disponível em: http://www.cbp.org.br/rev2806.htm

A partir deste ponto Lacan propõe reconsiderar outros textos de

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Freud sobre o afeto. A separação entre representação e quantidade (quantum) e a separação entre o intelectual e o afetivo criam dificuldades no seu entendimento. Lacan nos diz então que “algo no afeto é verdadeiro como um signo, quer dizer, ele é imediatamente compreensível” Laurent (1986). O afeto seria uma relação, um acesso direto ao verdadeiro independente da cultura, da época ou da língua. Existe sua expressão como as lágrimas na tristeza, o riso na alegria, embora esse riso possa também, em determinadas circunstâncias, expressar ferocidade, como é o caso dos chineses.

O ponto de partida para a compreensão do afeto pela psicanálise tem sido sempre a manifestação histérica. Em 1915 Freud disse que o afeto é um ataque histérico codificado, estabelecido e fixado na espécie. Daí possivelmente Lacan ter considerado o afeto como uma estrutura de ficção, como no sintoma histérico. Dito de outro modo, o sujeito histérico sabe que o afeto mais verdadeiro é faz-de-conta, é semblante. Esta questão coloca o próprio sujeito frente à suspeição sobre a verdade e não-verdade do próprio afeto. No seu conflito, é comum o histérico declarar as dúvidas sobre a autenticidade ou veracidade de seus afetos e até de suas paixões.

Em Televisão, Lacan (1973) ensina também que o afeto não é verdadeiro, ele é aquilo que deve ser verificado. Na experiência analítica precisamos fazer com que o afeto seja tomado como verdadeiro, isto é, explorar aquilo que no afeto tem a ver com o inconsciente. Mas, precisamos saber até que ponto um afeto procede do inconsciente. Para Lacan o afeto não é sentimento, como a angústia. Não sendo um sentimento é uma paixão, ou como está dito mais claramente: “o afeto é uma paixão da alma”, reforçando a diferença entre afeto e paixão.

Lacan (1973) nos diz então que o afeto traz algo para ser decifrado, compreendido e interpretado, o afeto não é sentimento, como podemos compreender a angústia. Não sendo um sentimento é uma paixão, ou como explica: o afeto é vivenciado como uma paixão da alma. Tal definição explica a diferença entre afeto e paixão. Nesta direção, compreendemos que o afeto permeia a nossa condição humana e pode ser percebido no nosso modo tão singular de expressar a nossa divisão, o nosso desassossego, a nossa falta, tudo que nos move e nos torna sujeitos desejantes.

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E no trabalho, como as emoções são vivenciadas? O trabalho, além de viabilizar a construção de um lugar singular para mulheres e homens, repercute também na subjetividade, à medida que dá origem a novas referências e atitudes frente à realidade. Na psicanálise, Freud (1930), no texto Mal-Estar na Civilização, revela que um dos aspectos que parece melhor caracterizar a civilização é a estima e o incentivo à atividade. Quando o homem descobriu que estava em suas mãos melhorar a sua sorte na terra e dominar a natureza através do trabalho, um outro homem que trabalhasse com ele ou contra ele passou a não ser mais indiferente, passou a ser um auxiliar na garantia de melhores condições de vida. “Esse outro homem adquiriu para ele o valor de um companheiro de trabalho, com quem era útil conviver.” (FREUD, 1930, p. 119). Deste modo, através das atividades humanas há um deslocamento de grande quantidade de componentes libidinais, agressivos e eróticos para a utilidade, obtenção de prazer e substituição do poder do indivíduo em prol de uma comunidade. Sabemos que, principalmente no contexto de trabalho, os aspectos afetivos sempre foram desconsiderados em prol da objetividade, da previsibilidade, da estabilidade e do controle. Neste contexto, pensar um espaço em que exista a espontaneidade, a impulsividade e a expressão de emoções tem sido possível nos dias de hoje, por conta da valorização da afetividade e da sua importância nas análises sobre motivação e satisfação no trabalho.

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Tornou-se um imperativo na contemporaneidade conhecer mais sobre as pessoas e os seus processos psicológicos. A nossa realidade, alicerçada nas bases aparentemente ilusórias da cultura do espetáculo e da visibilidade, exercem uma pressão, como esclarece Sibilia (2008) sobre as subjetividades, para que estas se projetem de acordo com os novos códigos e regras. Mas, as pessoas não mudam facilmente para se tornarem compatíveis com as engrenagens da cultura organizacional. Precisamos, então, sempre considerar que a prescrição de papéis, que cada pessoa inserida num contexto organizacional irá exercer, auxilia na lógica da racionalidade que prevalece nesses ambientes e que define o que, como e quando fazer, mas não assegura que as ações realizadas pelas pessoas serão bem feitas e bem-sucedidas. Isso ocorre porque as pessoas vivem um turbilhão de emoções construídas nas suas relações familiares, comunitárias, de lazer, trabalho, etc. e todos esses processos repercutem no seu fazer diário. Por isso, para analisarmos as repercussões das emoções, sentimentos e afetos no mundo do trabalho, importa refletir inicialmente sobre a relação entre cognição e afeto. A psicologia possui diferentes abordagens teóricas, uma delas é a cognitivista. Esta abordagem prioriza todos os processos envolvidos no conhecer (BASTOS, 2004). A atividade de conhecer inclui, de acordo com o autor, construção, organização e uso de conhecimento, algo que vai além do processamento, armazenamento e recuperação de informações e que envolve o raciocínio, julgamentos, afirmações, atribuições e interpretações. A cognição, então, não deve ser traduzida apenas, como atividade racional, intelectual e consciente. As abordagens cognitivistas têm um importante papel na análise da complexa relação entre contexto de trabalho e comportamento do trabalhador.


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Fonte das imagens: http://www.sxc.hu/

A partir das imagens, percebemos o quanto os conceitos cognitivos construídos a partir das ações humanas são necessários para a compreensão do comportamento. Para Bastos (2004), a importância que vem assumindo as variáveis cognitivas nos estudos sobre as organizações deve-se ao reconhecimento de que a natureza do ambiente ao qual o indivíduo responde é construída nos seus processos de interação social. Pesquisador da Universidade Federal da Bahia, Antonio Virgilio Bittencourt Bastos conduz um conjunto de pesquisas sobre cognição e organização. Ele esclarece que a ênfase nos processos cognitivos, ou no entendimento do que as organizações são, e os processos nelas envolvidos, não devem nos levar a uma visão simplista das complexas relações que unem a cognição humana e os processos constitutivos das organizações de trabalho, pois não existem relações simples e lineares, como também não há uma tecnologia cognitiva efetiva que ajude a lidar com os problemas organizacionais. Não há, então, como fixar modelos ou adotar manuais sobre como gerenciar cognições individuais e coletivas. Analisar em profundidade a cognição humana é um importante aspecto para a compreensão de vários fenômenos. Sobre esses fenômenos, Bastos (2004) esclarece:

Estes, vão desde as percepções individuais sobre eventos, passam pelas interações e seus conflitos no interior de díades e pequenos grupos de trabalho, pelas cognições e decisões das pessoas com poder gerencial de moldar regras e estruturas, e chegam até aos processos pelos quais o ambiente é percebido e interpretado e como tais percepções influem na formulação de planos, projetos e políticas, tidos como necessários para a sobrevivência e melhoria das organizações. (BASTOS, 2004, p. 203)

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124 Compreendemos com o autor que os estudos sobre a cognição humana possibilitam a compreensão sobre as percepções individuais, as interações, os conflitos, as lideranças, as relações de poder, as retaliações, etc. Os avanços nesse campo de estudo destacam que as pessoas são ativas na construção da sua realidade, interpretam o seu mundo, interagem, e não podem ser manejadas no ambiente organizacional na mesma lógica que os recursos materiais o são. A cognição e a emoção são processos imbricados e inseparáveis no contexto de uma organização e em todos os outros em que estejam presentes as ações humanas. A abordagem da cognição e do papel das emoções no campo dos estudos organizacionais ampliou o debate sobre as pessoas, os seus processos psicológicos e rompeu com a ideia da ênfase na racionalidade no ambiente de trabalho. Esses estudos promovem a compreensão do modo como o ambiente externo repercute nas manifestações afetivas e como há uma tentativa constante de neutralizar, normalizar, ajustar a expressão das emoções a diferentes situações sociais. Algumas emoções devem ser inibidas para garantir o bem-estar coletivo.

________________________ Você concorda que as emoções devem ser inibidas? ________________________ Quais manifestações afetivas devem ser inibidas? ________________________ ________________________ E a inveja, a raiva e o ciúme? ________________________ E, ainda, a hostilidade, a atitude de retaliação, a insegurança? ________________________ ________________________ ________________________ Como devem ser consideradas as manifestações afetivas no ambiente de trabalho? É ________________________ possível um trabalho emocional para compreender e redirecionar essas manifestações? ________________________ É possível padronizar a expressão das emoções no ambiente de trabalho para que todos ________________________ demonstrem alegria e satisfação? ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ Vamos analisar, então, as emoções a partir da HQ “Conveniências emocionais” e ________________________ de campos de estudo e pesquisa sobre o assunto: ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ “Conveniências emocionais” de Vinicius Mitchel disponível em oglobo.globo.com/blogs/ ________________________ gibizada/default.asp?a... ________________________ ________________________ A HQ “Conveniências emocionais”, as questões anteriores e tantas outras ques________________________ ________________________ tões são de interesse de estudiosos que discutem a afetividade no contexto do trabalho. As investigações sobre as condições de trabalho (físicas, temporais, sociais) e sua


zados na primeira metade do século XX. Nesses estudos, em que é apontada a visão mecanicista, há o esclarecimento de que o homem é avesso ao trabalho e o realiza com desagrado, tendo como incentivos, o dinheiro e o medo do desemprego. Para aqueles que não concordavam com a visão mecanicista, uma configuração adequada do ambiente de trabalho poderia tornar as pessoas mais felizes, produtivas e assíduas no trabalho e contribuir com o bem-estar físico e emocional de todos os envolvidos (GONDIM; SIQUEIRA, 2004)

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relação com a afetividade do trabalhador podem ser encontradas em estudos reali-

Nesse campo de investigação, alguns pesquisadores têm profundo interesse em conhecer como agem as pessoas emocionalmente inteligentes e como é possível aprender a controlar as emoções (GOLEMAN, 1995). Goleman (1995) analisou as habilidades que as pessoas emocionalmente inteligentes possuem como autoconsciência, automotivação, autocontrole, empatia e sociabilidade e reconheceu que essas habilidades são importantes na solução de problemas, na regulação de ações em diversos contextos, no conhecimento de si (inteligência intrapessoal) e na interação satisfatória com os outros. Saber lidar com emoções implica saber identificar o impacto das emoções no ambiente de lazer, familiar e de trabalho e tomar a iniciativa para saber responder às emoções conflitantes das pessoas de modo construtivo.

Para saber mais sobre a inteligência emocional, leia a entrevista de Daniel Goleman no endereço que está disponível a seguir: http://www.abrae.com.br/entrevistas/entr_gol.htm

A afetividade no contexto de trabalho Vamos iniciar nossa reflexão sobre o tema através da leitura do texto a seguir:

Emoções e manifestações afetivas discretas no trabalho

Emoções discretas no trabalho são definidas como manifestações afetivas de qualidades distintas. Entre elas estão, por exemplo, o medo, a raiva, a surpresa, a alegria, a tristeza e o asco. No Brasil, pouco se tem dado atenção aos estudos que são voltados para as emoções discretas no trabalho.

Uma pesquisa de Mendonça (2003), porém, vem avaliar uma outra manifestação afetiva discreta, a retaliação. Ele avaliou se a orienta-

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ção dos valores individuais, a percepção de justiça organizacional e

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retaliação, dentro da organização. A atitude de retaliação seria for-

a percepção e o julgamento da retaliação influenciam a atitude de mada por dois componentes, o afetivo e o conativo. O componente afetivo da atitude de retaliação se apoia na crença de que a injustiça provoca ressentimento e também no próprio sentimento de indignação para com a organização. Já o componente conativo inclui a tendência consciente para retaliar, sendo que, para a pessoa, esta é a maneira mais adequada para reparar uma injustiça.

Dentre as conclusões da pesquisa, contatou-se que a percepção e o julgamento da retaliação favorecem a atitude de retaliação. Porem, nesse aspecto, nem sempre os trabalhadores irão reagir com a mesma intensidade emocional às injustiças, pois nem todos a perceberão da mesma forma. Constatou-se também que pessoas com mais tempo na organização tendem a ter atitudes de retaliação.

A escolaridade pareceu não influenciar nessas atitudes, porém pessoas com maior grau de instrução percebem injustiças na empresa com mais rapidez e de forma mais aguçada. No entanto, mesmo as percebendo com mais clareza, elas não avaliam a retaliação como a melhor forma de reparação.

________________________ Outro aspecto constatado foi o de que cargos de chefia não apro________________________ vam a retaliação e tendem a perceber poucas injustiças, devido ao grau de comprometimento com a empresa e seus valores. Em rela________________________ ção aos aspectos individuais, pessoas que visam alcançar objetivos ________________________ apenas pessoais, dentro da empresa, estão mais propensas às atitu________________________ des de retaliação. ________________________ ________________________ Uma das limitações dessa pesquisa está no fato de que ela avalia a ________________________ retaliação apenas no plano cognitivo e não a atitude propriamen________________________ te dita, ou seja, ela analisa a propensão à retaliação, o que não é o ________________________ mesmo que analisar a retaliação na prática das empresas. Isso ocor________________________ re porque, mesmo agindo de forma coerente com nossos sentimen________________________ tos, nem sempre essa relação se estabelece de modo concreto, ainda ________________________ mais em organizações, onde não se permite quaisquer atitudes de agressão ou violência. ________________________ ________________________ ________________________ Fonte: Emoções e Afetos no Trabalho - Psicologia Organizacio________________________ nal - Atuação - Psicologado Artigos http://artigos.psicologado. ________________________ com/atuacao/psicologia-organizacional/emocoes-e-afetos-notrabalho#ixzz22dKczcfn ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ Uma perspectiva de estudo no campo da Psicologia sobre a afetividade é a teo________________________ ria sobre as atitudes, explicam Gondim e Siqueira (2004), que compreende as atitudes ________________________ como uma rede de sentimentos, crenças, tendências para agir em direção a pessoas, ________________________ grupos, ideias e objetos.


Psicologia e de outras áreas correlatas a investigar afetividade no contexto de trabalho. Ela também pode ser apontada como o principal eixo teórico responsável pelo conhecimento psicossocial aplicado ao trabalho durante o século XX, tendo como seus principais representantes os conceitos atitudinais denominados por: satisfação no trabalho, que diz respeito ao grau de contentamento com chefia, colegas, salário, promoções e trabalho realizado; envolvimento com o trabalho, que pode ser compreendido pelo nível de identificação com o trabalho realizado e o comprometimento

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Esta abordagem foi a que conseguiu levar maior número de pesquisadores em

organizacional afetivo, que são os afetos dirigidos à empresa empregadora (GONDIM; SIQUEIRA, 2004). Depreendemos com os autores que satisfação, envolvimento e comprometimento com o trabalho são vínculos que se relacionam entre si. O conceito de satisfação no trabalho envolve mais que grau de contentamento com chefia, colegas, salário, promoções e trabalho realizado. A satisfação no trabalho que resulta de experiências no meio organizacional e tem os seus desdobramentos na vida social da pessoa é um aspecto a ser destacado por ser um indicador de influências do trabalho na saúde mental, na relação entre trabalho e vida familiar e entre trabalho e vínculos afetivos. A satisfação no trabalho, afirmam Siqueira e Gomide Junior (2004), abrange um bem-estar semelhante à satisfação geral com a vida, estado de ânimo, otimismo e autoestima. Este conceito, assim como tantos outros que estudamos ao longo da disciplina, ________________________ possui as suas divergências, pois alguns consideram a satisfação no trabalho como ________________________ um conjunto de reações específicas a vários componentes do trabalho que produzem ________________________ graus diferentes de satisfação ou insatisfação. Outros aspectos também são considera- ________________________ dos como fontes de satisfação, como: relação com a chefia, com os colegas, atribuições ________________________ do cargo, o salário e as chances reais de promoção (GONDIM; SIQUEIRA, 2004). Para ou- ________________________ tros, a satisfação no trabalho incide na proximidade do trabalho com a casa, na carga ________________________ horária, nos benefícios, etc. De qualquer modo, é importante destacar que a satisfação no trabalho, que também diz respeito à natureza de um vínculo afetivo, promove melhor desempenho, mais produtividade e bem-estar. Para tratarmos desse assunto, convém uma reflexão sobre um ponto extremo que diz respeito ao sofrimento mental relacionado ao trabalho. As políticas internas da organização, a política de pessoal, a competitividade, as práticas gerenciais e de organização do trabalho produzem diferentes sentimentos, criam culturas e novos modos de subjetivação. Algumas vezes, as situações de medo, insegurança, incerteza, as retaliações, as injustiças, o individualismo em diferentes contextos que a pessoa está inserida produzem um mal-estar e em certas circunstâncias um sofrimento psíquico. Elizabeth Roudinesco (2000), psicanalista, esclarece que o sofrimento psíquico manifesta-se atualmente sob a forma de depressão.

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Atingido no corpo e na alma por essa estranha síndrome em que se

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mesmo, o homem deprimido não acredita mais na validade de ne-

misturam a tristeza e a apatia, a busca de identidade e o culto de si nhuma terapia. (ROUDINESCO, 2000, p. 13)

Para a autora, antes de buscar vencer o vazio refletindo sobre as causas da angústia, a pessoa trata as suas dores com receitas médicas. Sobre isso, ela acrescenta:

Quanto mais a sociedade apregoa a emancipação, sublinhando a igualdade de todos perante a lei, mais ela acentua as diferenças. No cerne desse dispositivo, cada um reivindica sua singularidade, recusando-se a se identificar com as imagens da universalidade, julgadas caducas. Assim, a era da individualidade substituiu a da subjetividade: dando a si mesmo a ilusão de uma liberdade irrestrita, de uma independência sem desejo e de uma historicidade sem história, o homem de hoje transformou-se no contrário do sujeito. Longe de construir seu ser a partir da consciência das determinações inconscientes que o perpassam à sua revelia, longe de ser uma individualidade biológica, longe de pretender-se um sujeito livre, desvinculado de suas raízes e de sua coletividade, ele se toma por senhor de

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um destino cuja significação reduz a uma reivindicação normativa. Por isso, liga-se a redes, a grupos, a coletivos e a comunidades, sem conseguir afirmar sua verdadeira diferença (ROUDINESCO, 2000, p. 13-14).

Depreendemos que nas suas relações, a pessoa procura evitar a angustia, através muito mais de estratégias de normalização e fuga que de enfrentamento do vazio que fulmina as relações sociais e afetivas. Discernir a evolução desse sofrimento e o modo como afeta o trabalho é um aspecto importante dos estudos sobre a psicopatologia do trabalho. Para muitas pessoas, o trabalho pode ser pesado, exaustivo, obrigatório e meio de sobrevivência, não há satisfação e prazer. Somado a isso, as políticas internas da organização de estruturação das práticas, as políticas de pessoal, a rotina massificante, as dificuldades nos relacionamentos, a ausência de momentos de lazer repercutem nas subjetividades e podem ocasionar problemas de ordem física, emocional ou social. Os problemas mais comuns são: estresse, irritabilidade, depressão, ansiedade, distúrbios de sono, etc. O trabalhador pode fazer muito por si mesmo no seu ambiente de trabalho, porém a organização deve preocupar-se com a qualidade de vida de todos os seus integrantes, desenvolvendo ações que promovam o bem-estar e crescimento profissional. Uma ação interinstitucional é necessária diante dos graves problemas de saúde que atingem os trabalhadores.


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Fiquemos, então, com o poema de Fernando Pessoa para refletirmos sobre os afetos e direcionamentos que damos a nossa vida:

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Vamos finalizar a nossa aula. Assista ao vídeo disponível em: http://www.youtube.com/

Se em certa altura Tivesse voltado para a esquerda em vez de para a direita; Se em certo momento Tivesse dito sim em vez de não, ou não em vez de sim; Se em certa conversa Tivesse tido as frases que só agora, no meio-sono, elaboro – Se tudo isso tivesse sido assim, Seria outro hoje, e talvez o universo inteiro Seria insensivelmente levado a ser outro também. Mas não virei para o lado irreparavelmente perdido, Não virei nem pensei em virar, e só agora o percebo; Mas não disse não ou não disse sim, e só agora vejo o que não disse; Mas as frases que faltou dizer nesse momento surgem-me todas, Claras, inevitáveis, naturais ,A conversa fechada concludentemente, A matéria toda resolvida... Mas só agora o que nunca foi, nem será para trás, me dói. O que falhei deveras não tem esperança nenhuma Em sistema metafísico nenhum. Pode ser que para outro mundo eu possa levar o que sonhei. Mas poderei eu levar para outro mundo o que me esqueci de sonhar? Saudações afetuosas!

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SÍntese Nesta aula, refletimos sobre a importância das emoções, sentimentos e afetos, parte integrante da nossa dimensão subjetiva e analisamos as manifestações afetivas no ambiente de trabalho. Na próxima aula, discutiremos sobre a motivação humana e as suas principais questões.

QUESTÃO para reflexão Como evitar que as pessoas não sejam manejadas no ambiente organizacional na mesma lógica que os recursos materiais o são?

Leituras indicadas Inteligência Emocional. Disponível em: <http://www.din.uem.br/ia/emocional/>. Acesso em: 16 jul. 2012. BISPO, Patrícia. Emoção e profissionalismo. Disponível em: <http://www.rh.com.br/

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Portal/Mudanca/Entrevista/4629/emocao-e-profissionalismo.html>. Acesso em: 16 jul. 2012. FORBES, Jorge. Solidão dos executivos: líderes. Disponível em: <http://www.jorgeforbes.com.br/br/contents.asp?s=23&i=54 SELIGMANN-SILVA, Edith. Psicopatologia no trabalho: aspectos contemporâneos. Disponível em: <http://www.prt18.mpt.gov.br/eventos/2006/saude_mental/anais/ artigos/Edith_Seligmann_Silva.pdf>. Acesso em: 16 jul. 2012

site indicado http://internativa.com.br/artigo_rh_06_06.html http://www.guiarh.com.br/pp128.htm http://www22.sede.embrapa.br/publicacoes/balsoc2000/ssmedt.htm http://www.msd-brazil.com/msd43/m_manual/mm_sec6_64.htm

referÊncias BASTOS, Antonio Virgilio Bitencourt. Cognição nas organizações de trabalho. In. ZANNELI, Jose Carlos; BORGES-ANDRADE, Jairo; BASTOS, Antonio Virgilio Bittencourt. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004.


ao estudo de Psicologia. São Paulo: Saraiva. 1993.

CORREA, Carlos Pionto. O afeto no tempo. Disponível em: <http://www.cbp.org.br/rev2806.htm>. Acesso em 17 ago. 2012

FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. Rio Janeiro: Imago, 1930.

GALVÂO, Izabel. Henry Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. Petrópolis, RJ: Vozes,

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BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias: uma introdução

2003.

GLASSMAN, Willian; HADAD, Marilyn. Psicologia: abordagens atuais. Porto Alegre: artmed, 2008.

GOLEMAN, Daniel. Inteligência emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995.

GONDIM, Sonia Maria Guedes; SIQUEIRA, Mirlene Maria Matias. Emoções e afetos no trabalho In: ZANNELI, Jose Carlos; BORGES-ANDRADE, Jairo; BASTOS, Antonio Virgílio Bittencourt. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004.

REHDER, Maria. Alunos brigam, trancam professores e quebram escola na zona leste de SP. Metropole. Estado de São Paulo. Disponível em: <http://txt.estado.com.br/editorias/2008/11/13/cid1.93.3.20081113.27.1.xml>. Acesso em: 26 mai. 2012.

SIBILIA, Paula. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

SIQUEIRA, Mirlene Maria Matias; GOMIDE JUNIOR, Sinésio. Vínculos do individuo com o trabalho e com a organização. In: ZANNELI, Jose Carlos; BORGES-ANDRADE, Jairo; BASTOS, Antonio Virgilio Bittencourt. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004.

ROUDINESCO, Elisabeth. Por que a psicanálise? Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.

[1]http://www.letras.com.br/arnaldo-antunes/socorro / Ouça: http://www.yehplay.com/musics/ArnaldoAntunes-Socorro/130239/

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AULA 08 - A motivaÇÃo no trabalho Autora: Cláudia Vaz “O alcance da promessa

O salto do desejo

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O agora e o infinito

Só o que me interessa”

(Lenine)

Olá!

Nas aulas anteriores, refletimos sobre a importância das emoções e afetos no cotidiano do trabalho. Nesta aula, discutiremos sobre a motivação, processo psicológico básico, que na complexidade da vida organizacional é assunto muito discutido por pesquisadores da psicologia organizacional, administração, entre outros. Para iniciarmos é preciso refletir sobre as seguintes questões: O que é motivação?

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A motivação é o que desperta, mantém, orienta e demarca o nosso comporta- ________________________ mento. É uma força que nos impulsiona a buscar, perseverar, sustentar, criar estraté- ________________________ gias para alcançar e atingir metas. A motivação é intrínseca, ou seja, é impulsionada internamente e constitui a base para buscar a novidade, o desafio, o envolvimento e a satisfação. Não resulta de treino, instrução, mas pode ser influenciada pela ação do outro. Como exemplo, podemos citar a situação de um aluno motivado em sala de aula que demonstra envolvimento no processo de aprendizagem, engaja-se nas tarefas, faz uso de estratégias, esforça-se, desenvolve novas habilidades, apresenta entusiasmo, e orgulha-se da superação dos desafios. Neste contexto, temos o estilo motivacional do/a professor/a que está, de acordo com as suas crenças, confiança e estratégias de ensino e motivação, interagindo com esse aluno e facilitando a sua autonomia.

Fonte: http://www.sxc.hu/photo/1195959

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A motivação envolve uma discussão sobre necessidade, que produz uma tensão, novos estímulos e ações, como também, é associada a outros conceitos como satisfação, comprometimento e envolvimento no trabalho que dificultam sua delimitação teórica no campo de estudos do comportamento organizacional. Gondim e Silva (2004) esclarecem que os conceitos citados acima estão relacionados à motivação, entretanto existem especificidades, pois satisfação, como analisado na aula anterior, refere-se ao nível de contentamento com as relações entre chefe e colegas, com o sistema de recompensas, remuneração e trabalho realizado. O envolvimento está atrelado à identificação e à afinidade com o trabalho realizado e o comprometimento organizacional refere-se aos afetos dirigidos ao trabalho e ao contexto organizacional. A motivação, para Gondim e Silva (2004), é definida como ação dirigida a objetivos, autorregulada, biológica ou cognitivamente, persistente no tempo e ativada por um conjunto de necessidades, emoções, valores, metas e expectativas.

MOTIVAÇÃO: ÊNFASE, FOCO, PERGUNTA E RESPOSTA Os seguintes aspectos: ênfase, foco, pergunta e resposta; envolvidos no conceito de motivação repercutiram na construção de teorias sobre esse processo psicológico. A ênfase envolve ativação, direção, intensidade e persistência como pontos

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importantes para compreender a motivação; o foco é o objeto de atenção; a pergunta envolve indagações a respeito da escolha do alvo, da intensidade da motivação e a resposta abrange o nível de compreensão que se deseja obter. De acordo com Robbins (2002), a motivação é um processo responsável pela intensidade, direção e persistência de esforços para o alcance de uma meta. Intensidade diz respeito à medida do esforço que a pessoa despende em direção aos objetivos da organização. A qualidade e a persistência são medidas que apontam quanto tempo uma pessoa consegue manter-se motivada para que os objetivos sejam atingidos. Nas décadas de 40, 50 e 60 desenvolveram-se importantes teorias da motivação: Teoria das Necessidades de Maslow (1943), Teoria das Necessidades (afiliação, poder e realização) de McClelland (1953), a Teoria ERC (existência, relacionamento e crescimento) de Aldefer (1969), a Teoria bifatorial de Herzberg, Mausner e Snyderman (1959), entre outras. As antigas teorias fundamentam as teorias contemporâneas sobre motivação e os conceitos ainda são utilizados para explicar a motivação.

TRÊS MODELOS DE CLASSIFICAÇÃO DAS TEORIAS DA MOTIVAÇÃO As teorias da motivação podem ser organizadas em três modelos de classificação, de acordo com os estudos de Gondim e Silva (2004), que esclarecem que o primeiro modelo da classificação divide as teorias da motivação em dois grupos: teorias de conteúdo que explicam a motivação a partir das necessidades/carências e teorias de processo que entendem a motivação como um processo de tomada de decisão que


são a Teoria de Maslow, a Teoria de McClelland, entre outras. As teorias motivacionais de processo explicam o processo pelo qual a conduta inicia-se, mantém-se e termina. Neste grupo, desponta a teoria de Vroom. O segundo modelo de classificação postula uma outra dimensão de diferenciação entre as teorias da motivação, em razão das referências ao reforço da conduta e à cognição. De acordo com esse modelo, é possível estabelecer uma relação entre a motivação e o que ocorre depois da ação (reforço) ou na mente da pessoa que decide

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abrangem as percepções, objetivos, expectativas e metas pessoais. As mais conhecidas

agir (cognição). O terceiro modelo de classificação enfatiza a motivação como uma teoria da ação. Vamos conhecer algumas dessas teorias que são mais referidas nos manuais que tratam do tema:

Teoria das Necessidades de Maslow - Teoria da Hierarquia das Necessidades (1943):

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como as necessidades fisiológicas e de segurança sejam satisfeitas e as necessidades sociais e de estima sejam motivadoras da conduta humana. A autorrealização para Maslow é o maior estágio que a pessoa pode alcançar. É sempre singular.

Figura 2 - Steve Ford Elliott

Fonte: http://www.sxc.hu/profile/SteveFE

Maslow procurou difundir o movimento da psicologia Humanista e conferir-lhe um grau de respeitabilidade acadêmica. Ele estudou uma pequena amostra de pessoas saudáveis psicologicamente a fim de determinar de que maneira diferiam das pessoas com saúde mental comprometida. A partir desse estudo, Maslow desenvolveu uma teoria da personalidade que enfatizava a motivação para crescer, desenvolver-se e realizar-se a fim de concretizar de modo pleno as capacidades e potencialidades humanas (SCHULTZ; SCHULTZ, 1981). O método de pesquisa e os dados de Maslow foram criticados em razão da pequena amostra pesquisada e dos critérios subjetivos de escolha dos sujeitos. Sobre isso, Schultz e Schultz (1981, p. 397) confirmam: “apesar da sua popularidade entre os lideres de negócio, a teoria tem um baixo grau de validade cientifica e uma aplicabilidade apenas limitada ao mundo do trabalho.”

Teoria ERC (existÊncia, relacionamento e crescimento) de Aldefer (1969) Aldefer, no final da década de 60, a partir da teoria de Maslow, redefiniu as cinco necessidades hierarquizadas e as agrupou em três (GONDIM; SILVA, 2004): Existência (E) - necessidades fisiológicas e de segurança.


Crescimento (C) - necessidade de autorrealização. Para Aldefer, não há uma hierarquia como foi apontada por Maslow, pois a motivação da conduta humana não obedece a um único sentido, o progressivo. As necessidades de nível baixo promovem o desejo de satisfazer as necessidades do nível mais alto; mas múltiplas necessidades operam ao mesmo tempo motivando a conduta humana e provocando sentimentos de frustração pela não satisfação da necessidade.

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Relacionamento (R) - necessidades sociais e de estima.

Teoria das Necessidades (afiliaÇÃo, poder e realizaÇÃo) de McClelland (1953) A teoria de McClelland afirma que há três tipos de necessidades: poder, afiliação e realização que são interrelacionadas e se apresentam em níveis de intensidade variados de acordo com o perfil psicológico da pessoa e os contextos dos seus processos de socialização. Gondim e Silva (2004, p. 151) esclarecem:

Quando a necessidade de auto-realização prepondera, a pessoa evidencia alta motivação para a auto-realização e a busca de sua autonomia, assumindo, inclusive, desafios realísticos no trabalho e lutando continuadamente pelo seu sucesso pessoal. Quando a necessidade mais forte é a da afiliação, a pessoa centra sua atenção na manutenção de seus relacionamentos interpessoais, muitas vezes em detrimento de seus interesses individuais. Estar mais próximo do outro e ser aceito por ele é o que orienta sua ação. Por último, quando a necessidade de poder é a que está mais desenvolvida, a pessoa se sente motivada pelo desejo de influenciar, reorientar e mudar as atitudes e as condutas alheias.

Percebemos que para compreender a motivação é preciso analisar os arranjos entre os três tipos de necessidades de McClelland que destacou ainda que o comportamento não é aleatório, está relacionado aos grupos, aos processos de socialização e à cultura.

Teoria bifatorial de Herzberg, Mausner e Snyderman (1959) Esta teoria foi formulada a partir da investigação sobre o que as pessoas desejam do seu trabalho, destacando o que promovia bem-estar ou mal-estar nesse contexto. Depois de categorizadas, as respostas foram separadas pela relação direta com a satisfação e insatisfação no trabalho. De acordo com Robbins (2002), as pesquisas de Herzberg apontam que o oposto da satisfação não é a insatisfação, pois a eliminação das características de insatisfação de um trabalho não o torna necessariamente satisfatório.

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[...] os fatores que levam a satisfação com o trabalho são diferentes

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torno do trabalho, como a qualidade da supervisão, a remuneração,

e separados daqueles que levam a insatisfação. [...] as condições em as políticas da empresa, as condições físicas de trabalho, o relacionamento com os outros e a segurança no emprego foram caracterizados por Herzberg como fatores higiênicos. Quando elas são adequadas, as pessoas não se mostram insatisfeitas, mas também não estão satisfeitas. (ROBBINS, 2002, p. 155)

A motivação das pessoas no trabalho, de acordo com Herzberg, deverá incidir nos fatores intrínsecos ao trabalho, ou seja, aqueles associados com o trabalho em si ou nos resultados diretos dele, como as oportunidades de crescimento pessoal, reconhecimento, responsabilidade e realização.

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Fatores higiênicos

Fatores de motivação

extrínsecos ao trabalho

intrínsecos ao trabalho

Política da empresa

Realização

Supervisão

Reconhecimento

Salários

O trabalho

Condições de trabalho

Responsabilidade

Relacionamento com os colegas

Crescimento

A teoria de Herzberg foi muito divulgada e, também criticada por vários motivos, como: não há uma medida geral para satisfação; as variáveis situacionais são ignoradas; não há relação entre satisfação e produtividade. A partir dos estudos de Kanfer que considerou as teorias de Maslow, Aldefer, McClelland, Herzberg como teorias baseadas no conceito de necessidade e insuficientes para a orientação da conduta humana, Gondim e Silva (2004) explicam que apenas a identificação da necessidade não promove a ação, pois às vezes a pessoa não dispõe de informações que a encaminhem para a satisfação da sua necessidade.

Podemos acreditar que uma pessoa apresente um desempenho ruim no trabalho porque não se sinta aceita por sua equipe e concluir que ela precisa suprir tal necessidade para melhorar sua performance, mas este reconhecimento não traz implícito quais seriam os passos para conseguir tal aceitação. (GONDIM; SILVA, 2004, p. 153)

As ações seriam sempre consequência de fatores internos e desse modo, não


não provocaria mudanças.

TEORIA DAS EXPECTATIVAS

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conseguiríamos redirecionar a motivação de uma pessoa, pois a intervenção externa

Uma teoria bem difundida e aceita é a Teoria das Expectativas de Vroom, visto que concebe a motivação como uma força de natureza emocional e consciente que é ativada no momento em que a pessoa é levada a escolher entre diversos planos de ação (GONDIM; SILVA, 2004). A força dessa escolha estaria relacionada às expectativas individuais e à avaliação subjetiva das consequências. Podemos citar como exemplo, uma pessoa que deseja uma promoção e constrói a expectativa que o resultado do seu trabalho resultará numa boa avaliação do seu desempenho, que esta avaliação irá oferecer-lhe recompensas e o alcance do que deseja. Para Gondim e Silva (2004), na teoria de Vroom, as pessoas decidem sobre suas ações de modo instrumental, maximizando o prazer e ganhos e minimizando as perdas e o desprazer. A escolha resultaria de três conceitos: Valência, Instrumentalidade e Expectância.

Sentimentos acerca dos resultados, importância atribuída Valência

aos resultados obtidos; “é o que faz com que uma pessoa sinta atração ou repulsa, por exemplo, por uma promoção” (GONDIM; SILVA, 2004, p. 153).

Instrumentalidade Expectância ou expectativa

Clareza da relação entre a ação a ser empreendida e a obtenção do resultado esperado; Relação percebida entre esforço e rendimento; clareza de que os esforços concretizarão os objetivos desejados (GONDIM; SILVA, 2004).

A valência, a instrumentalidade e as expectativas sofrem as restrições do ambiente, assim como é importante enfatizar que não há um princípio universal que explique a motivação das pessoas. Esta teoria procura compreender os objetivos de cada pessoa, a relação entre esforço e desempenho, desempenho e recompensa e recompensa e alcance de metas pessoais. Para o autor, uma pessoa irá esforçar-se bastante no trabalho se perceber que existe uma forte relação entre esforço e desempenho, desempenho e recompensa e recompensa e satisfação de metas pessoais. A relevância das teorias está em compreender o alcance e as limitações de cada uma delas, pois não são modelos que explicam universalmente o comportamento humano ou resolvem os problemas enfrentados numa organização quanto à satisfação, produtividade e comprometimento no trabalho.

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Figura 3 - Ophelia Cherry

Fonte: http://www.sxc.hu/profile/ophelia

As teorias fornecem subsídios importantes para a realização de intervenções efetivas com o objetivo de motivar as pessoas, como também refletir sobre o pacto que envolve a relação da pessoa com a organização, os vínculos e o desempenho.

As diferentes teorias motivacionais não podem ser concebidas como

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soluções fáceis para a compreensão da amplitude da disposição de determinada força de trabalho. A concepção da necessidade e integração de diferentes teorias, entendidas como complementos que auxiliam na visibilidade do quadro motivacional de determinado agrupamento humano, aparece apontar a tendência de os teóricos desse tema perceberem, cada vez mais, as diferentes facetas e circunstâncias que acompanham o fenômeno da motivação (GONDIM; SILVA, 2004, p. 173).

Identificar os fatores que são motivadores para as pessoas no ambiente do trabalho em determinada circunstância e intervir de modo efetivo é necessário, como também é importante estar atento à relação entre motivação e desempenho no trabalho, aspecto que envolve uma discussão sobre o significado do trabalho para a pessoa que o realiza, a história de vida, as identidades assumidas, o sistema de recompensas, as punições, as relações interpessoais, o estilo de liderança e a relação entre os objetivos pessoais e os organizacionais. Atualmente, as discussões sobre motivação e satisfação no trabalho foram ampliadas através das questões que envolvem o conceito de Qualidade de Vida no Trabalho. Este conceito baseia-se numa visão integral das pessoas, com ênfase no grau de satisfação da pessoa com a empresa, condições ambientais e promoção da saúde, origina-se da medicina psicossomática, que propõe uma visão integrada ou holística do ser humano. A promoção da Qualidade de Vida no Trabalho é estratégica, pois os impactos da baixa qualidade de vida do trabalhador na produtividade não podem ser desconsiderados. Um aspecto importante é a satisfação no trabalho que decorre, entre outras


SÍntese Nesta aula, analisamos a motivação humana, os modelos de classificação e as principais teorias. Percebemos que existem diversas concepções sobre o tema e que o estudo de cada uma das abordagens proporciona a compreensão do ser humano nas

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coisas, das relações interpessoais agradáveis e produtivas.

dinâmicas intrapessoais e interpessoais no mundo do trabalho.

Saudações afetuosas!

QUESTÃO PARA REFLEXÃO E você, está motivado para o estudo, o trabalho? O que mais proporciona o seu envolvimento e satisfação?

Leitura indicada GONDIM, Sonia Maria Guedes; SILVA, Narbal. Motivação no trabalho. In. ZANNELI, Jose Carlos; BORGES-ANDRADE, Jairo; BASTOS, Antonio Virgilio Bittencourt. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004.

Sites Indicados CARDOSO, Renê Fernando; ZACCARELLI, Sérgio B. Estratégias para Motivação e Desenvolvimento de Carreiras. Portal do Marketing, 02 ago. 2002. Disponível em <http://www.portaldomarketing.com.br/artigos/estrategias%20para%20 motivacao%20e%20desenv%20de%20carreiras.htm>. Maslow - www.maslow.org

ReferÊncias GONDIM, Sonia Maria Guedes; SILVA, Narbal. Motivação no trabalho. In: ZANNELI, Jose Carlos; BORGESANDRADE, Jairo; BASTOS, Antonio Virgílio Bittencourt. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004.

ROBBINS, Stephen Paul. Comportamento organizacional. São Paulo: Prentice Hall, 2002.

SCHULTZ, Duane; SCHULTZ, Sydney Ellen. História da psicologia moderna. São Paulo: Cultrix, 1981.

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