GRADUAÇÃO PROFISSIONAL
© 2014. Universidade Salvador – UNIFACS – Laureate International Universities É proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização. Graduação Profissional
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Sílvia Rita Magalhães de Olinda Graduação Profissional UNIFACS Coordenador Geral de EAD, GPRO e Extensão
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SUMÁRIO APRESENTAÇÃO - TÓPICOS ESPECIAIS EM FINANÇAS.............................................................................................................7 AULA 01 - ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA NAS EMPRESAS....................................................................................................9 AULA 02 - AS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS OBRIGATÓRIAS NO BRASIL............................................................... 21 AULA 03 - OS RISCOS NA ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E O RETORNO OBTIDO COM O PASSAR DO TEMPO ............................................................................................................................................................................. 37 AULA 04 - ORÇAMENTO, GESTÃO E DECISÃO DE CAPITAL.................................................................................................. 49 AULA 05 - O CUSTO DO CAPITAL E A GESTÃO DO SALDO DE CAIXA.............................................................................. 61 AULA 06 - O CAPITAL CIRCULANTE E AS POLÍTICAS DE CRÉDITO E COBRANÇA ...................................................... 73 AULA 07 - AS FONTES DE FINANCIAMENTO DE CURTO PRAZO........................................................................................ 83 AULA 08 - CRÉDITO DE CURTO PRAZO COM GARANTIA E GRAU DE ALAVANCAGEM FINANCEIRA ................. 93
TÓPICOS ESPECIAIS EM FINANÇAS
APRESENTAÇÃO - TÓPICOS ESPECIAIS EM FINANÇAS
Autor: Mário Rafael de Mello Chaves
Seja muito bem-vindo(a) às aulas da disciplina Tópicos Especiais em Finanças!
Esta disciplina abordará temas que certamente farão parte do seu cotidiano profissional, especialmente se você gerenciar as finanças de alguma organização. Para quem não exerce ou exercerá o papel de gestor financeiro corporativo, esse material servirá de base para que seja possível entender como funciona o sistema financeiro das empresas, e de que forma é possível colaborar para a constante melhora nos seus resultados. Em diversas situações expostas no decorrer das aulas, é possível também associar as finanças empresariais à vida pessoal, adquirindo assim um entendimento sobre como adquirir ganhos maiores e perdas menores, a partir dos recursos financeiros disponíveis. Este material é composto de 8 (oito) aulas, que explanam sobre: a nova função financeira nas empresas; as demonstrações financeiras obrigatórias no Brasil; a relação risco e retorno; o orçamento e o custo de capital; o caixa e as políticas de crédito e cobrança; as decisões de financiamento; e alavancagem financeira. Nas aulas 1 e 2, você entenderá o novo papel do gestor financeiro na organização; o quão relevante esse setor é para o desempenho geral da empresa; e quais foram as mudanças ocorridas na legislação brasileira no que concerne à apresentação e à divulgação das demonstrações financeiras. Nas aulas 3 e 4, você observará como as instituições consideram o valor do dinheiro, levando em consideração a sua desoneração ocorrida no tempo, bem como ocorrem as decisões do orçamento de capital. Nessas duas aulas, é possível estabelecer uma relação direta com algumas situações da sua vida pessoal. As aulas 5 e 6 explanam o custo da estrutura de capital, ajudando o gestor a definir quando utilizar capital próprio, e em quais situações o capital de terceiros trará melhores resultados. Nessas aulas, ainda é abarcada a necessidade da gestão de crédito eficiente, para que a organização não tenha futuros problemas de cobrança, e falta de recursos financeiros em caixa. As duas últimas aulas tratam das fontes de financiamento de curto prazo, que culminam por utilizar grande parte do tempo dos gestores financeiros em virtude de sua criticidade. Nessas aulas, são remontadas várias definições e aplicações citadas nas aulas anteriores, tais como investigar se o empréstimo/financiamento adquirido trouxe os resultados planejados/esperados. Como você pode ter visto até aqui, os temas tratados nesse material servirão, sobretudo, para que as melhores decisões sejam tomadas com base na realidade de cada corporação. Espero que você desfrute ao máximo de todo o conteúdo trabalhado; associe com a sua realidade profissional ou pessoal; e leia as bibliografias e sites indicados ao final das aulas, que possuem estudos de caso e análises de
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pesquisadores e profissionais da área financeira. Para uma melhor disseminação do conhecimento, e análise da realidade sob diversas ópticas, dialogue com seus colegas, profissionais ou não da área financeira com o objetivo de estabelecer um senso comum da realidade. Tenha uma excelente leitura, e um ótimo estudo!
EMPRESAS
Autor: Mário Rafael de Mello Chaves “O errado não é a criação de riqueza, mas o amor ao dinheiro por si só.”
9 topicos especiais em finanças
AULA 01 - ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA NAS
(MARGARETH THATCHER)
Olá! Seja muito bem-vindo(a) à disciplina de Tópicos Especiais em Finanças!
Nesta aula, estudaremos a função financeira na empresa e o papel do administrador financeiro. A partir do estudo desta aula, você será capaz de compreender o ambiente financeiro da empresa, entender a importância da administração financeira e identificar as novas funções do gestor financeiro.
Antes de iniciar a leitura desta aula, convido você a responder a seguinte pergunta: o que são finanças? Embora esse pareça ser um questionamento meramente simples, é preciso ter muita atenção ao respondê-lo, afinal as finanças envolvem não somente as empresas ou sistemas organizacionais, mas também o seu cotidiano, a vida de sua família, de seus amigos, vizinhos e, logicamente, de toda a sociedade. Segundo Gitman (2010, p. 3), “o termo finanças pode ser definido como a arte e a ciência de administrar o dinheiro”. Se observarmos com detalhe esta afirmação, podemos interpretar que o conceito dado remete ao trânsito do dinheiro entre as pessoas e empresas, através dos pagamentos, recebimentos, financiamentos e investimentos. O grande diferencial de quem alcança o sucesso financeiro está diretamente ligado à gestão dessas atividades. A administração financeira deve ser um exercício diário e dinâmico, em que cada indivíduo ou empresa precisa saber gerir os seus recursos financeiros. Como o foco de nossa disciplina é proporcionar um conhecimento sobre o ambiente financeiro empresarial, abordaremos em nossas aulas, apenas as finanças corporativas.
FINANÇAS EMPRESARIAIS Para falarmos deste tema, antes precisamos conhecer as formas jurídicas de organização e quais são as potencialidades e fragilidades destes tipos de negócio. O Quadro 1 define e diferencia essas empresas.
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Quadro 1- Diferenças entre as modalidades jurídicas de organização
FIRMAS INDIVIDUAIS
DEFINIÇÃO
SOCIEDADE POR COTAS
SOCIEDADE POR
(PARTNERSHIP)
AÇÕES
Como o próprio
Têm-se dois ou mais
É composta pelos
nome define, nesta
sócios e cada um tem
acionistas que
modalidade a empresa
sua responsabilidade
adquirem ações
pertence ao indivíduo
limitada e proporcional
ordinárias ou
e é comum para
às suas cotas de
preferenciais, através
pessoas com pequenos participação na
de seus corretores na
estabelecimentos.
bolsa de valores.
sociedade.
- Os proprietários têm responsabilidade limitada, o que garante que não - O proprietário recebe
- Pode captar mais
todos os lucros e
recursos do que as
assume todos os riscos;
firmas individuais;
- Custo baixo de
- Poder de
organização;
endividamento
PONTOS FORTES
do que investem; - Pode alcançar porte substancial com a venda de ações;
ampliado com a
- As participações
existência de mais
(ações) são facilmente
sócios;
transferíveis;
rendimento de pessoa
- Maior disponibilidade
física do proprietário;
- Duração longa;
de conhecimentos e
- Lucro incluído
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podem perder mais
e tributado na declaração de
- Independência; - Sigilo;
habilidades de gestão;
- Pode contratar administradores
- Lucro incluído e
profissionais;
tributado na declaração
- Facilidade de
de rendimento de
- Tem acesso mais
dissolução.
pessoa física dos sócios.
fácil a financiamento; - Pode oferecer planos de aposentadoria atraentes.
responsabilidade
PONTOS FRACOS
ilimitada e todo seu
- Impostos
patrimônio pode ser
geralmente mais
usado para pagar
altos, pois o lucro da
dívidas da empresa;
empresa é tributado, assim como os
- A capacidade
- Os proprietários
limitada de captação
têm responsabilidade
de recursos tende
ilimitada e podem ser
a restringir o
obrigados a saldar as
- Custos mais
crescimento;
dívidas de outros sócios;
elevados de
- O proprietário precisa
- A sociedade é
fazer de tudo um
dissolvida em caso de
- Sujeita-se à
pouco;
morte de um dos sócios;
regulamentação mais
- Difícil conferir
- Difícil liquidação e
aos funcionários
dissolução da sociedade. - Audiência de sigilo,
dividendos pagos aos proprietários;
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- O proprietário tem
organização;
intensa;
oportunidades de
pois os acionistas
carreira de longo prazo.
recebem relatórios anuais.
- Perda de continuidade em caso de morte do proprietário. Fonte: Adaptado de Gitman (2010)
Pode-se observar, neste quadro, que os proprietários das empresas têm a sua disposição alguns benefícios de acordo com o tipo de organização estabelecida, mas, em contrapartida, possuem desvantagens que podem lhe trazer muitos prejuízos. Cabe, então, aos administradores financeiros, o papel de manter a boa saúde financeira da instituição, com o intuito de não sofrer, de modo intenso, os efeitos negativos da modalidade jurídica inerentes ao negócio. Com relação à função do gestor financeiro, falaremos mais à frente, ainda nesta aula! O que é preciso compreender, neste momento, é que qualquer que seja a espécie jurídica da organização, toda a força de trabalho da empresa deve agir de modo integrado e em prol de sua eficiência financeira. Tome como exemplo o setor de compras de uma empresa, onde o funcionário responsável pela aquisição de matéria-prima para produção obtém diversos orçamentos com fornecedores. Para tomar a melhor decisão de compra, é necessário que esse funcionário analise as condições de pagamento propostas pelos fornecedores, bem como saiba quais são as possibilidades financeiras da sua organização. Da mesma forma ocorre com o setor comercial, afinal, para estabelecer uma política de vendas, é preciso ter ciência sobre a realidade financeira da instituição, assim como sobre as suas necessidades e prazos de pagamento. Dessa forma, você pode perceber que a administração financeira é uma atividade que deve ser desempenhada por todas as áreas da empresa e que é imprescindível que a sua função esteja bem definida para todos os empregados.
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12 FUNÇÕES DA ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA Toda administração financeira deve responder a questões como: de que forma e a quem conceder crédito? Quais os investimentos que devem ser realizados? Quais fontes de financiamento escolher? Qual o planejamento tributário mais favorável? Os projetos e atividades estão trazendo retorno para a empresa? Qual deve ser a política de formação de preços e de remuneração? A partir destes questionamentos, pode-se enxergar algumas funções financeiras. Segundo Lemes Júnior, Rigo e Cherobim (2010, p. 5): Existem inúmeros enfoques da administração financeira, destacando-se os de retorno, risco, liquidez, endividamento, eficácia operacional, alavancagem, valor fusões e aquisições, mercado financeiro, mercado de capital, mercados futuros e de opções.
Ainda conforme Lemes Júnior, Rigo e Cherobim (2010), as funções financeiras são agrupadas em duas grandes áreas: a controladoria e a gerência financeira. O Qua-
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dro 2 expõe a composição destes grupos.
Quadro 2 - Grupos de funções da administração financeira
ÁREAS
FUNÇÕES Administração de caixa Administração de crédito e cobrança Administração do risco Administração de câmbio
GERÊNCIA FINANCEIRA
Decisão de financiamento Decisão de investimento Planejamento financeiro Relações com acionistas e investidores Relações com bancos
Administração de custos e preços Auditoria interna Avaliação de desempenho Contabilidade Orçamento Patrimônio
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CONTROLADORIA
Planejamento Tributário Relatórios Gerenciais Sistemas de informação financeira Fonte: Adaptado de Lemes Júnior, Rigo e Cherobim (2010)
Você deve estar se perguntando: é obrigatório que todas as empresas tenham essas funções? E o que fazer, se a instituição não tiver porte ou sistema que possibilite essa gerência financeira, bem como o nível de controladoria desejável? A resposta é: não é preciso dispor de todas essas funções, assim como, caso implemente algumas delas, não é obrigatório permanecer com essa atividade. As funções financeiras devem surgir, permanecer, expandir ou desaparecer posteriormente, conforme a necessidade da organização. E, logicamente, isso ocorrerá de acordo com o porte da empresa, na- ________________________ tureza do negócio e estágio de desenvolvimento. ________________________ As funções financeiras ainda se dividem em curto e longo prazo. No Quadro 3, ________________________
você pode observar esta outra composição. As funções relacionadas no curto prazo ________________________ estão associadas às operações do dia a dia, e são responsáveis pelo fornecimento de ________________________ recursos financeiros para a liquidação das obrigações imediatas. Esta gestão de curto ________________________ prazo também é chamada de administração do capital de giro, sobre a qual falaremos ________________________ mais à frente. Já as funções de longo prazo são aquelas que envolvem as atividades de ________________________ financiamento de longo prazo, planejamento e orçamento.
Quadro 3 - Tempo das funções da administração financeira
TEMPO
FUNÇÕES Administração de caixa Administração de crédito
CURTO PRAZO
Administração das contas a pagar Administração das contas a receber Administração dos estoques Administração dos financiamentos de curto prazo
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Decisões de orçamento de capital LONGO PRAZO
Decisões de estrutura de capital Gestão de resultados Fonte: Adaptado de Lemes Júnior, Rigo e Cherobim (2010)
De modo complementar, Assaf Neto e Lima (2011) citam que as principais funções da administração financeira são: planejamento financeiro, controle financeiro, administração dos ativos e administração dos passivos. O planejamento financeiro descobre as possibilidades de crescimento e tenta minimizar os efeitos de suas fragilidades e ameaças. O controle financeiro aborda o desempenho da empresa. A administração dos ativos cuida da gestão do fluxo de caixa, buscando os melhores investimentos. E, para finalizar, a administração dos passivos abarca os financiamentos e estrutura de capital. Vimos, até aqui, que a administração financeira é uma atividade com funções relevantes, conforme o seu porte e tipo de negócio, e que depende da colaboração dos outros departamentos para efetivar os seus objetivos, bem como manter a solubilidade financeira da organização. Mas o questionamento que você deve estar se
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fazendo é: qual o papel do administrador financeiro? Teremos essa resposta na seção seguinte.
O PAPEL DO ADMINISTRADOR FINANCEIRO O número de responsáveis pelo departamento financeiro das organizações é definido de acordo com o tipo de negócio. “As funções financeiras são executadas por diversas pessoas, e a forma como estas estão organizadas depende do porte da empresa e das atividades por elas desenvolvidas”. (LEMES JÚNIOR; RIGO; CHEROBIM, 2010, p. 7). Isso demonstra que as empresas de grande porte possuem um número maior de funções, podendo abarcar todas que foram elencadas no Quadro 2. Em consequência desse fato, as grandes corporações precisam ter um número maior de administradores e diretores financeiros. O papel destes gestores também varia de acordo com o porte organizacional, todavia é fundamental “assegurar um melhor
e mais eficiente processo de cap-
tação (financiamento) e alocação (investimento) de recursos de capital”. (ASSAF NETO; LIMA, 2011, p. 11). No contexto atual, o administrador financeiro deve enxergar todo o ambiente empresarial, tendo como base a visão de que a organização é um sistema que requer estratégias para competir com os seus concorrentes e manter o seu crescimento. Segundo Hoji (2010), as principais atividades do administrador financeiro são: análise, planejamento e controle financeiro, além das decisões relativas a sua função. Essa posição é confirmada por Assaf Neto e Lima (2011, p. 11), que relatam que o gestor financeiro deve ter “uma postura mais questionadora e reveladora em relação ao
sariais”. São essas decisões que veremos a partir de agora, para conclusão desta aula.
DECISÕES FINANCEIRAS Digamos que você foi contratado por uma empresa de grande porte para atuar na área financeira. O diretor não descreveu o que você deveria fazer, contudo exprimiu que você seria o responsável pelos resultados positivos ou negativos deste setor.
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comportamento do mercado em geral e ao processo de tomada de decisões empre-
Neste momento, você deve estar se perguntando: quais seriam as minhas principais funções nesta posição? Certamente, você dirá que “é responsável direto pela criação de valor, pela saúde econômico-financeira e pela credibilidade no mercado financeiro e de capitais”. (LEMES JÚNIOR; RIGO; CHEROBIM, 2010, p. 7). Para alcançar esses objetivos, você, inevitavelmente, precisará tomar, constantemente, três decisões básicas: a decisão de investimento, a de financiamento e a de resultados. A decisão de investimento refere-se ao modo pelo qual a instituição destina os seus recursos entre os ativos circulantes e os ativos fixos, levando em consideração a sua liquidez. Segundo Hoji (2010, p. 7): As decisões de investimentos dizem respeito à destinação dos recursos financeiros para aplicação em ativos correntes (circulantes) e não corrente (realizáveis a longo prazo e ativos permanentes), considerando-se a relação adequada de risco e de retorno dos capitais investidos.
Como exemplos dessas decisões de investimento, podemos citar: a implementação de novas linhas de produção, aquisição de novas máquinas, reforma de instalações. As organizações de capital intensivo são as que mais realizam investimentos em ativos imobilizados. Já as empresas varejistas optam pelo estoque. A decisão de financiamento remete à combinação dos recursos próprios (capital dos acionistas) e de terceiros (capital de financiamento adquirido junto aos bancos), com o objetivo de adquirir os investimentos necessários a um baixo custo. Para Hoji (2010, p. 8): As decisões de financiamento são tomadas para captação de recursos financeiros para o financiamento dos ativos correntes e não correntes, considerando-se a combinação adequada dos financiamentos a curto e a longo prazos e a estrutura de capital.
Essa decisão também é chamada de decisão sobre estrutura de capital, uma vez que determina a composição anteriormente citada. As organizações que possuem acesso aos bancos internacionais têm preferência por obter recursos fora do país em virtude do baixo custo de capital, porém esses financiamentos têm maior risco cambial.
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A decisão de resultados, que também é conhecida como distribuição de lucros ou pagamento de dividendos, diz respeito à forma de remuneração dos acionistas e ao pagamento dos dividendos, com a definição do grau de retenção dos lucros, que serão necessários ao financiamento dos investimentos. Nessa decisão, as entidades: Buscam maneiras de devolver as sobras de caixa aos proprietários. Em empresas de capital fechado, isto pode significar apenas a retirada por parte dos proprietários de uma parcela de seus recursos na empresa. Em uma grande empresa negociada no mercado, isto envolverá o pagamento de dividendos ou a recompra de ações. (DAMODARAN, 2002, p. 24)
Como se pode observar, essas decisões são consideradas como os maiores desafios do administrador financeiro. No Quadro 4, é possível ver todos os questionamentos que devem ser realizados antes de se tomar qualquer uma dessas decisões.
Quadro 4 - Questionamentos a serem realizados antes das decisões financeiras
DEMONSTRAÇÃO FINANCEIRA
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QUESTIONAMENTOS
Onde estão aplicados os recursos financeiros? Quanto está aplicado em ativos circulantes? ATIVO DO BALANÇO PATRIMONIAL (INVESTIMENTO)
Quanto em ativos permanentes? Em quais? Qual a melhor composição dos ativos? Qual o risco do investimento? Qual o retorno do investimento? Quais as novas alternativas de investimento? Em quais novos ativos investir? Como maximizar a rentabilidade dos ativos existentes? O que deve ser descartado, reduzido ou eliminado, por não acrescentar valor?
De onde vêm os recursos? Qual a participação de capital próprio? Qual a participação de capital de terceiros? PASSIVO DO BALANÇO PATRIMONIAL (FINANCIAMENTO)
Qual o perfil do endividamento? Qual o custo de capital? E como reduzi-lo?
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Qual a estrutura de capital?
Quais as fontes de financiamento utilizadas e seus respectivos custos? Quais deveriam ser substituídas ou eliminadas? Qual o risco financeiro? Qual o sincronismo entre os vencimentos das dívidas e a geração de meios de pagamento? DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS DO EXERCÍCIO (RESULTADOS)
Os objetivos de venda estão sendo alcançados? Os preços praticados estão adequados? Quais os resultados obtidos? Como mantê-lo ou melhorá-los? Qual o crescimento das vendas? E dos custos? E das despesas? Qual a participação percentual dos custos e das despesas em relação às receitas? Qual a margem líquida de venda? Quais os custos e as despesas que podem ser reduzidos? As receitas obtidas estão compatíveis com os investimentos? Os lucros têm atingido as metas estabelecidas? Como são quando comparados com as melhores empresas do ramo?
Fonte: Adaptado de Lemes Júnior, Rigo e Cherobim (2010)
Como explanamos no início desta aula, essas decisões requerem a colaboração de todas as pessoas envolvidas nos outros processos e setores. Para visualizar melhor essa afirmação, pense nas seguintes situações: a área de produção informa que é necessário adquirir máquinas ou expandir a planta industrial; a área de marketing relata que é preciso realizar mais pesquisas, propaganda e aumentar pontos de distribuição; a área de compras realiza negociação de preço e prazo diretamente com os fornecedores e delibera sobre a quantidade em estoque.
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Observe que, se toda a organização não estiver integrada, o administrador financeiro terá decisões ainda mais complexas a definir. Pode-se dizer desta forma, que as funções financeiras se concretizam na organização, através das decisões vistas nesta aula (investimento, financiamento e dividendos). É possível afirmar, também, que elas são tomadas com base no comportamento das variáveis envolvidas (risco, retorno, capacidade de produção, dentre várias outras), bem como na(s) meta(s) da companhia, que precisam estar bem claras para os seus empregados. Não existe um padrão de decisão ou de resposta, haja vista que existe uma dependência de diversos fatores, que já foram citados: porte, natureza, tipo de negócio, estágio de desenvolvimento. A ideia que deve ser fixada é a de que o administrador financeiro deverá sempre efetuar o planejamento, o acompanhamento e o controle, almejando assegurar o cumprimento dos objetivos de sua empresa.
SÍNTESE Nesta primeira aula, vimos que a administração financeira é a gestão do dinheiro e, dentro das empresas, os administradores são responsáveis por gerar resultados positivos. Estudamos, também, que os gestores financeiros organizacionais têm grandes decisões em seu papel, tais como investimento, financiamento e resultados, além de cumprir as funções financeiras. Para finalizarmos esta etapa, remontamos que as
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decisões financeiras estão diretamente ligadas a múltiplos fatores, tais como: tempo, meta, estágio de maturidade do negócio, além dos tipos jurídicos de negócio (firmas individuais, sociedade por cotas e sociedade por ações), que foram apresentados no início da aula.
QUESTÃO PARA REFLEXÃO Baseado na leitura desta aula, responda: quais são as maiores decisões financeiras e como elas podem ser tomadas a partir dos demonstrativos financeiros? Logo após, pense de qual forma as funções financeiras devem existir na organização (formal ou informal, contínua ou descontínua)?
LEITURAS INDICADAS FEITOSA, Miguel Martins; SANVICENTE, Antônio Zoratto. Hierarquização das Decisões em Administração Financeira. Rausp, São Paulo, v. 14, n. 3, p. 101-123, julho/ setembro 1979. PALANTULLO, Vicente Lentini. O papel do administrador financeiro neste início do século XXI. Thesis, São Paulo, ano I, v. 2, p. 45-65, 2° Semestre, 2004.
<http://chronuswebopac.sebrae.com.br/OpacRepositorioCentral/paginas/ visualizadorDocumentos.zul>
REFERÊNCIAS ASSAF NETO, Alexandre; LIMA, Fabiano G. Curso de Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 2011.
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SITE INDICADO
DAMODARAN, Aswath. Finanças Corporativas Aplicadas. Porto Alegre: Bookman, 2002.
GITMAN, Lawrence J. Princípios de Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 2009.
HOJI, Masakazu. Administração Financeira e Orçamentária. São Paulo: Atlas, 2010.
LEMES JÚNIOR, Antônio Barbosa; RIGO, Cláudio Miessa; CHEROBIM, Ana Paula Mussi Szabo. Administração Financeira: Princípios, Fundamentos e Práticas Brasileiras. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
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RAS OBRIGATÓRIAS NO BRASIL Autor: Mário Rafael de Mello Chaves
“Os padrões não são eternos.”
(RAYMOND M. NAKAMURA)
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AULA 02 - AS DEMONSTRAÇÕES FINANCEI-
Seja bem-vindo(a) à segunda aula de Tópicos Especiais de Finanças!
Nesta segunda aula, estudaremos todas as demonstrações financeiras. A partir desta aula, você será capaz de saber como utilizar as demonstrações financeiras para fins gerenciais, e quais delas são obrigatórias, conforme o porte da empresa, após a atualização da Lei das Sociedades Anônimas ou Lei das Sociedades por Ações.
Se você estudou contabilidade, certamente viu que existem diversas demonstrações financeiras que são utilizadas pelos administradores financeiros. Segundo Lemes Júnior, Rigo e Cherobim (2010, p. 46), “as demonstrações financeiras são as prin- ________________________ cipais informações internas” da organização. Como você estudou na primeira aula, no ________________________ período de curto prazo, o gestor financeiro utiliza informações referentes ao volume ________________________ das vendas, preços, contas a pagar e a receber, tributos a recolher e outras despesas ________________________ e receitas possíveis. Já no longo prazo, os dados analisados dizem respeito às dívidas ________________________ adquiridas, à captação e aplicação de recursos, e negócios em perspectiva. Todas essas informações são verificadas nas demonstrações financeiras, que estudaremos a partir de agora.
DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS As demonstrações financeiras são regulamentadas pela Lei n° 6.404/1976, que foi posteriormente alterada pela Lei n° 10.303/2001, depois pela Lei n° 10.411/2002 e, por fim, pelas Leis n° 11.638/2007 e 11.491/2009. Essas últimas leis buscaram aproximar a estrutura e a apresentação das demonstrações financeiras das empresas brasileiras ao padrão internacional. A seguir, veja a tabela com “as principais alterações promovidas pela Lei n° 11.638/2007 e MP n° 449/2008, que trouxeram impacto nos procedimentos e práticas contábeis” (LEMES JÚNIOR; RIGO, CHEROBIM 2010, p. 50). Ressalto que a Medida Provisória (MP) n° 449/2008 foi convertida na Lei nº 11.491/2009.
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Principais alterações realizadas com a Lei 11.638/2007 e MP 449/2008.
1. Classificação do Ativo e do Passivo em “Circulante” e “Não Circulante”. 2. Extinção do grupo Ativo Permanente. 3. Restrição ao longo do exercício de 2008 e extinção, na data de 05/12/08, do subgrupo “Ativo Diferido”. 4. Criação do subgrupo “Intangível” no grupo Ativo Não Circulante. 5. Proibição da prática da reavaliação espontânea de ativo. 6. Aplicação, ao final de cada exercício social, do teste de recuperabilidade dos ativos (teste de impairment). 7. Registro, em contas de ativo e passivo, dos contratos de arrendamento mercantil financeiro. 8. Extinção do grupo Resultados de Exercícios Futuros. 9. Criação, no Patrimônio Líquido, da conta de “Ajustes de Avaliação Patrimonial”. 10. Destinação do saldo de Lucros Acumulados. 11. Alteração da sistemática de contabilização das doações e subvenções fiscais, anteriormente contabilizadas em conta de Reserva de Capital.
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12. Alteração da sistemática de contabilização dos prêmios nas emissões de debêntures, anteriormente contabilizados em conta de Reserva de Capital. 13. Extinção da classificação das Receitas e Despesas em Operacionais e Não Operacionais. 14. Substituição da Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR) pela Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) no conjunto das Demonstrações Contábeis obrigatórias para as companhias fechadas com patrimônio líquido superior a R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais) na data do balanço. 15. Obrigatoriedade da elaboração da Demonstração do Valor Adicionado (DVA) pelas Companhias Abertas. 16. Criação do Regime Tributário de Transição (RTT). 17. Implantação da apuração do Ajuste a Valor Presente de elementos do ativo e do passivo.
Além dessas mudanças, o IASB (International Accounting Standards Board) que define as normas e pronunciamentos da contabilidade internacional - que são as IFRS (International Financial Reporting Standards) - sugere que as demonstrações financeiras exprimam a posição financeira com suas modificações, assim como o seu desempenho, que servirá de base juntamente com todas as outras informações para a tomada de decisão. Segundo a Norma e Procedimento de Contabilidade NPC 27, “as demonstrações contábeis são uma representação monetária estruturada da posição patrimonial e financeira em determinada data e das transações realizadas por uma entidade no
sas demonstrações é informar a posição patrimonial e financeira da organização, bem como os seus resultados de gerenciamento e fluxo financeiro. No destaque abaixo, você pode observar as principais características das demonstrações financeiras descritas por Lemes Júnior, Rigo e Cherobim (2010, p. 51): Principais características das demonstrações financeiras 1. São relatórios anuais obrigatórios, elaborados com base na escrituração mercantil e
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período findo nessa data”. Com base nisso, é possível entender que o objetivo des-
abrangem o exercício social, exceto quando da constituição ou liquidação da empresa, se as datas não forem coincidentes com o início ou o final do exercício social. 2. Devem exprimir com clareza a situação do patrimônio da companhia e as mutações ocorridas no exercício social a que se referem. 3. Constituem uma forma de mostrar aos acionistas a percepção econômico-financeira e patrimonial da empresa no ponto de vista dos executivos e dos proprietários.
De acordo com Hoji (2010), todas as demonstrações contábeis devem ser publicadas com os valores do exercício referente, juntamente com o ano anterior. Segundo Lemes Júnior, Rigo e Cherobim (2010, p. 51), os documentos em destaque servem de complemento para as demonstrações contábeis. Constam das demonstrações financeiras, dependendo de cada empresa, três ou quatro relatórios, como segue: 1. Relatório do Conselho de Administração ou da Diretoria; 2. Notas explicativas; 3. Parecer do Conselho Fiscal; 4. Parecer dos Auditores Independentes, se o balanço geral for de empresa de capital aberto. Todas as empresas de grande porte são obrigadas a ter parecer de auditoria independente, que esteja registrada na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Através do Relatório do Conselho de Administração ou da Diretoria, a empresa transmite a sua mensagem sobre os maiores acontecimentos do exercício social. Não existe uma estrutura que deve ser seguida na elaboração do relatório, contudo ele deve exprimir com clareza o comportamento da instituição no que tange ao seu posicionamento e ações estratégicas e sociais. É preciso ter muita atenção ao analisar esse tipo de documento, pois eles podem ser construídos de forma tendenciosa. A seguir, você pode observar, a título de exemplo, a carta aos acionistas que consta no Relatório de Administração da Grendene S.A., relativa ao ano de 2012.
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Grendene - Relatório de Administração 2012 Ao completar 41 anos de resultados ininterruptos asseguramos uma rentabilidade sobre o Patrimônio Líquido de 23,8% (18,2% em 2011), com uma robusta geração de caixa proveniente das atividades operacionais de R$193,2 milhões (R$68,1 milhões em 2011). O lucro líquido obtido ficou acima dos R$400 milhões, pela primeira vez, constituindo novo recorde da Companhia e é equivalente a R$1,4266 por ação (R$1,0157 por ação em 2011). Com base nesse resultado, a remuneração aos acionistas na forma de dividendos somou R$293,5 milhões (R$219,5 milhões em 2011), R$0,976 por ação existente em 31 de dezembro de 2012 (R$0,73 em dezembro de 2011). Este valor por ação representou um dividend yield de 8,4% (8,5%, em 2011) se considerada a cotação média ponderada em 2012 e um payout de 71,1%. Desde a abertura de capital em outubro de 2004 já retornamos aos acionistas R$1,3 bilhão na forma de dividendos. Os resultados foram reconhecidos no mercado de capitais e a ação da Companhia cresceu 133% em 2012 com bom crescimento na liquidez que ao final do ano (dez/12) negociava em torno de R$4,7 milhões por dia e 913 negócios. O valor de mercado atingiu R$5,0 bilhões, 60% superior ao valor da companhia na abertura de capital em 2004 (R$3,1 bilhões). Nossos resultados em 2012 foram obtidos com a produção e venda de 185 milhões de pares em nossas 12 fábricas de calçados, todas elas localizadas no Brasil, sendo 139,7 milhões de pares consumidos no mercado interno, correspondentes a estimados 20% do consumo aparente no país e 45,3 milhões de pares exportados correspondentes a 40% das exportações brasileiras no período. Desta forma, segundo dados publicados pelo MDIC/ SECEX/ABICALÇADOS a Grendene pelo 10º ano consecutivo lidera com folga as exportações
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brasileiras de calçados evidenciando seu grande poder de competição nos mercados internacionais. Os investimentos na consolidação da marca e no relacionamento com os canais de distribuição, e a melhoria de processos internos de fabricação e desenvolvimento de produtos, continuaram os nossos principais focos de gestão em 2012. Ao longo de nossa história conquistamos expressiva liderança no setor de calçados e continuamos, apostando no fortalecimento de nossas marcas e crescimento no mercado interno e no mercado internacional, confiantes no futuro e no nosso potencial. Esta liderança vem sendo atestada por diversos avaliadores independentes que nos tem concedido inúmeros prêmios em reconhecimento à nossa capacidade de entregar resultados, inovação, crescimento, rentabilidade, sustentabilidade e responsabilidade social. Nos últimos 4 anos, de 2008 a 2012, apesar das crises internas e externas e da taxa de câmbio desfavorável, a Grendene obteve um crescimento médio composto de 10,8% a.a. na receita líquida, 15,7% a.a. no lucro líquido e 25,0% a.a. nos dividendos efetivamente pagos. Neste período alternamos anos de perda e ganho de market share (participação da Grendene no total de consumo aparente no mercado interno publicado pela Abicalçados). Em 2012, ano que avaliamos ter ganho market share de aproximadamente 5% em relação à 2011, nossa participação mais do que recuperou a fatia de aproximadamente 2% perdidos em 2011 relativamente à participação observada em 2007 (de 16% em 2007, para aproximadamente 20% em 2012).
com robusto crescimento na margem bruta, como era nosso objetivo, obtendo em 2012 margem de 46,9%, ainda melhor que a obtida em 2011 (3,6 p.p. superior) que foi recorde no período de 5 anos(2007-2011) de 43,3%, que por sua vez foi 270 bps, superior à margem obtida em 2010. Nos próximos anos a Administração tem a determinação de manter e se possível elevar o patamar das margens obtidas neste período, consolidando a tendência estabelecida. Como era nossa intenção controlamos o caixa líquido que ficou em R$735,9 milhões (queda de 8,6% vs. 2011) em função da elevação do pagamento de dividendos de R$92,0 milhões,
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Esta recuperação de market share ganha maior significância por ter sido conseguida
de R$183,5 milhões em 2011 para R$275,5 milhões em igual período de 2012 (R$87,2 milhões referente ao saldo de 2011 e R$188,3 milhões referentes às antecipações trimestrais do exercício de 2012). Entretanto, os dividendos referentes ao exercício de 2013, estimamos serem superiores ao montante distribuído referente ao exercício de 2012. Desta forma, o percentual sobre o lucro líquido do exercício de 2013 após a constituição de reservas legais, que será destinado à distribuição de dividendos, será de aproximadamente 65%. Na opinião da Administração, as ações empreendidas e os resultados obtidos em 2012 foram eficazes na disciplina de custos, e muito acertadas ao levar em conta a conjuntura econômica em nossas ações comerciais de curto prazo. Salvo correções pontuais não vemos necessidade de alterar nosso modelo de negócios adotado como estratégia para converter em realidade a Missão que norteia a organização: Fazer moda democrática, respondendo rapidamente às necessidades do mercado e gerando retorno atrativo para a Companhia e seus parceiros. Acreditamos que uma medida fundamental de nosso sucesso será a geração de valor para os nossos acionistas no longo prazo. Este valor será resultado direto de nossa habilidade de ampliar e fortalecer nossas marcas e manter altos volumes de produção, pois quanto maiores os volumes, e mais fortes e reconhecidas as nossas marcas, mais poderoso se torna nosso modelo de negócios. A nosso ver, marcas fortes estarão diretamente relacionadas com maiores receitas, maior lucratividade, maior giro dos produtos e ativos e, consequentemente, maiores retornos sobre o capital investido. Também acreditamos que a construção de marcas que tenham uma relação privilegiada com os clientes é um processo longo e cumulativo. Nos últimos 5 anos (2008-2012), entre muitos outros esforços, investimos R$636 milhões em publicidade e propaganda como forma de consolidar a construção de valor e nos próximos anos vamos buscar com ainda maior vigor a aproximação com os clientes finais da Grendene. Nossa crença é que o entendimento das necessidades deste cliente é fator fundamental para o sucesso de nosso modelo de negócios.
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Neste sentido, em 2012 a Grendene criou o Clube Melissa (ex-jelly), conforme noticiado em Fato Relevante de 16 de Julho de 2012, com o objetivo de desenvolver uma rede de franquias para a marca Melissa. A rede que contava com 42 franqueados quando foi divulgada a operação, possui em 31 de dezembro de 2012 63 lojas. Todas estas ações são coerentes com nossos Valores que destacam justamente os aspectos que temos recebido o reconhecimento público: Lucro, Competitividade, Inovação e Agilidade, e Ética. Por fim, é forçoso reconhecer que nestes 41 anos não nos faltaram o apoio decisivo e a confiança de fornecedores, clientes, parceiros, acionistas e especialmente milhares de colaboradores dedicados e comprometidos com nossa Visão de negócios e Valores. A todos queremos sinceramente agradecer e com eles compartilhar o sucesso obtido.
Após todas as alterações anteriormente citadas na Lei das Sociedades Anônimas, as organizações ficaram obrigadas a apresentar, no final de cada exercício social com duração de um ano, as seguintes demonstrações financeiras:
balanço patrimonial;
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demonstração do resultado do exercício; demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados; demonstração dos fluxos de caixa e; demonstração do valor adicionado, se companhia aberta.
Veremos, a partir de agora, quais os fundamentos e objetivos destas demonstrações.
BALANÇO PATRIMONIAL Certamente você já deve ter ouvido falar, ou deve ter lido alguma reportagem sobre divulgação e apresentação dos balanços patrimoniais. Se já estudou contabilidade, com certeza já viu essa demonstração. Por essa razão, faço-lhe a seguinte pergunta: o que seria um balanço patrimonial? Você estará correto se responder que essa é uma demonstração da posição sintética e estática numa determinada data. Pode-se comparar a uma foto dos resultados financeiros da entidade no período. Ressalto que, embora a maioria das organizações encerre os seus balanços em 31 de dezembro, não existe uma regra que determine essa data para o fim do exercício social. Para Gitman (2010, p. 43):
possui) contra seu financiamento, que pode ser capital de terceiros (dívidas) ou capital próprio (fornecido pelos proprietários e também conhecido como patrimônio líquido).
O agrupamento dessas contas (ativo, passivo e patrimônio líquido) propicia um maior entendimento por parte do analista sobre a situação financeira da empresa. Como regra, a apresentação dos ativos deve ocorrer em ordem decrescente pelo
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Essa demonstração equilibra os ativos da empresa (aquilo que ela
grau de liquidez; e pelo nível de exigibilidade para os passivos e patrimônio líquido. Para uma apresentação mais confiável, e um maior controle sobre o desempenho da entidade, os balanços são elaborados mensalmente e condensam no balanço anual. Quanto à estrutura das contas após a alteração da Lei Federal, o ativo passou a se subdividir em ativo circulante e não circulante; e o passivo em passivo circulante e não circulante. Conforme Hoji (2010, p. 244), no ativo circulante estão “todos os bens e direitos que podem ser convertidos em dinheiro no curto prazo”. Neste caso, curto prazo equivale até o final do exercício social seguinte. No ativo não circulante, estão os subgrupos do ativo realizável a longo prazo, dos investimentos, do imobilizado e do intangível. No passivo circulante, encontram-se as obrigações exigíveis em curto prazo. Já no grupo passivo não circulante estão os subgrupos das obrigações exigíveis após o
________________________ ________________________ tal próprio. Na Figura 1, você pode observar a composição de um balanço patrimonial ________________________ com mais detalhes. ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ exercício social seguinte. Na conta de patrimônio líquido, consta a destinação do capi-
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28 Figura 1 - Balanço Patrimonial
________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ Fonte: http://static.grendene.mediagroup.com.br/relatorio/818_2012%20-%20Relat%C3%B3rio%20da%20 Administra%C3%A7%C3%A3o%20-%20Portugu%C3%AAs.pdf ________________________ ________________________ ________________________ Para o conhecimento e o entendimento dos subgrupos pertencentes aos gru________________________ pos ativo circulante e não circulante, passivo circulante e não circulante e patrimônio ________________________ líquido, leia o texto sugerido no tópico “Leituras Indicadas” ou acesse os sites descritos ________________________ no tópico “Sites Indicados”. ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________
A Demonstração de Resultado do Exercício (DRE) almeja identificar o lucro ou prejuízo do exercício, que posteriormente é refletido na conta de patrimônio líquido. Segundo Assaf Neto et al (2011, p. 195), “o demonstrativo engloba as receitas, as despesas, os ganhos e as perdas do exercício, apurados por regime de competência independentemente, portanto, de seus pagamentos e recebimentos”. Vimos, há pouco, que o balanço patrimonial é uma demonstração estática. Já
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DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADO DO EXERCÍCIO
a DRE é uma demonstração dinâmica da companhia, uma vez que o fluxo de uma empresa pode mudar de um exercício para o outro, o que, logicamente, interfere na situação do patrimônio e no resultado do período. Essa demonstração financeira tem o faturamento como ponto de partida até a consolidação do lucro ou prejuízo da entidade no período apurado. Essa é uma característica importante da demonstração, pois permite que o gestor realize simulações aumentando ou diminuindo algumas variáveis em prol de sua decisão. Na Figura 2, você pode observar a composição de uma DRE com detalhes. Figura 2 - Demonstração de Resultado do Exercício
Fonte: http://static.grendene.mediagroup.com.br/relatorio/818_2012%20-%20Relat%C3%B3rio%20da%20 Administra%C3%A7%C3%A3o%20-%20Portugu%C3%AAs.pdf
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Para o conhecimento e o entendimento da composição da DRE, leia o texto sugerido no tópico “Leituras Indicadas” ou acesse os sites descritos no tópico “Sites Indicados”.
DEMONSTRAÇÃO DOS LUCROS OU PREJUÍZOS ACUMULADOS Esta demonstração tem o objetivo de expor a destinação dos lucros da empresa de forma integrada com o balanço patrimonial e o demonstrativo de resultado do exercício, os quais vimos anteriormente. Toda organização pode gerar lucros ou prejuízos. Quando se obtém lucro, a decisão tomada na Assembleia de Acionistas pode incorporá-lo ao capital social de forma parcial ou total como bonificação, distribuí-lo também de forma parcial ou total aos acionistas como dividendos, ou pode ainda compor outros ativos, tais como: investimento em máquinas e equipamentos, aplicações financeiras, estoque. Isso mostra, também, que o lucro retido na empresa não significa dinheiro em caixa. Na Figura 3, você pode observar a composição detalhada de uma DLPA.
Figura 3 - Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados
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Fonte: http://static.grendene.mediagroup.com.br/relatorio/818_2012%20-%20Relat%C3%B3rio%20da%20 Administra%C3%A7%C3%A3o%20-%20Portugu%C3%AAs.pdf
Para o conhecimento e o entendimento da composição da Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA), leia o texto sugerido no tópico “Leituras Indicadas” ou acesse o site descrito no tópico “Sites Indicados”.
DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA Como o próprio nome da demonstração explana, a Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) aponta os pagamentos e recebimentos efetuados pela instituição, ao mesmo tempo em que também registra os seus investimentos e financiamentos. Dessa forma, Assaf Neto e Lima (2011), classificam os fluxos de caixa em três categorias:
Fluxo de caixa de operações: pagamentos a fornecedores para produção e recebimento à vista de clientes por venda de produtos e serviços;
mentos de dividendos; Fluxo de caixa das atividades de investimento: atividades que resultam em aumento ou redução dos ativos de longo prazo que dão origem aos produtos e serviços.
Você deve estar se perguntando: existem diversas outras atividades, que não se encaixam nessas categorias, mas geram saídas no caixa. O que faço com elas? Segun-
31 topicos especiais em finanças
Fluxo de caixa das atividades de financiamento: recebimento de empréstimos e paga-
do Assaf Netoe Lima (2011, p. 198): As transações como depreciação, amortização e exaustão são meras reduções de ativos e por isso não afetam o caixa, não entrando na DFC. Também não entram na DFC eventuais estimativas de perdas prováveis com recebimento de clientes.
Na Figura 4, você pode observar a composição de uma DFC com mais detalhes.
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32 Figura 4 - Demonstração dos Fluxos de Caixa
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E, por fim, chegamos à última demonstração financeira obrigatória. Ressalto que, como já informei nesta aula, essa demonstração deve ser publicada apenas pelas sociedades por ações, cujas características vimos na primeira aula. Se a empresa estiver categorizada como firma individual ou sociedade por cotas, não é exigida a sua elaboração e apresentação. “Essa demonstração não é exigida pelas normas internacionais de contabilidade, mas é obrigatória para as companhias abertas no Brasil”. (HOJI, 2010, p. 260).
33 topicos especiais em finanças
DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO
A Demonstração do Valor Adicionado (DVA), em conjunto com a DLPA, que acabamos de ver, fornece informações complementares para a tomada de decisão gerencial. Ainda conforme Hoji (2010, p. 260): A DVA deve fornecer informações relativas à riqueza criada pela empresa e como elas foram distribuídas e a distribuição da riqueza criada deve ser detalhada, minimamente da seguinte forma:
a) Pessoal e encargos;
b) Impostos, taxas e contribuições;
c) Juros e aluguéis;
d) Juros sobre o capital próprio e dividendos e;
e) Lucros retidos/prejuízos do exercício.
A DVA é construída com base na DRE, tendo como diferença entre essas demonstrações, o fato de que a DRE foca no lucro do acionista, enquanto que a DVA enfatiza os ganhos sociais e econômicos. Isso pode ser evidenciado na afirmação de Assaf Neto e Lima (2011, p. 257): A empresa, de acordo com a sua atividade, cria riquezas em montantes muito superiores aos lucros que são de propriedade dos sócios e acionistas. A DVA identifica as riquezas criadas e a forma como elas são distribuídas para funcionários, governo, financiadores.
Você pode observar que essa demonstração financeira busca apurar qual destino está tendo o valor adicionado do negócio. Este valor agregado pode ser considerado o Produto Interno Bruto (PIB) da empresa. Na Figura 5, você pode observar a composição detalhada de uma DVA.
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Figura 5 - Demonstração do Valor Adicionado
Fonte: http://static.grendene.mediagroup.com.br/relatorio/818_2012%20-%20Relat%C3%B3rio%20da%20 Administra%C3%A7%C3%A3o%20-%20Portugu%C3%AAs.pdf
sugerido no tópico “Leituras Indicadas” ou acesse os sites descritos no tópico “Sites Indicados”. Tivemos nesta aula, a oportunidade de descobrir quais são as demonstrações financeiras obrigatórias em nossa país. Ao longo de sua carreira, certamente, você ouvirá falar muito a respeito delas, a não ser que ocorra mais alguma mudança na Lei da Sociedade por Ações. Embora algumas pessoas julguem que o conhecimento delas é desnecessário, uma vez que os contadores são responsáveis pelas suas elaborações, e
35 topicos especiais em finanças
Para o conhecimento e o entendimento da composição da DVA, leia o texto
responderão em juízo em caso de equívocos graves, é muito importante que os gestores compreendam as suas informações e dados retratados. Em nossas próximas aulas, você verá que sempre nos referiremos a alguma informação que no exercício profissional constará em alguma destas demonstrações. Daí surge a grande necessidade de entender e saber utilizar estas ferramentas.
SÍNTESE Vimos, nesta aula, que a Lei das Sociedades Anônimas sofreu algumas alterações nos últimos seis anos, visando adequar os procedimentos adotados pelas empresas brasileiras, no que tange à elaboração e apresentação das demonstrações financeiras, aos padrões internacionais de contabilidade. Vimos, também, que existem ________________________ algumas demonstrações que são obrigatórias, que o balanço patrimonial, a demons- ________________________ tração de resultado do exercício e a demonstração do fluxo de caixa são os principais ________________________ instrumentos utilizados pelos gestores. As outras duas demonstrações financeiras: de- ________________________ monstração dos lucros ou prejuízos acumulados e demonstração do valor adicionado ________________________ são ferramentas complementares à tomada de decisão. ________________________
________________________ ________________________ ________________________ QUESTÃO PARA REFLEXÃO ________________________ ________________________ Com base em nossa aula e na leitura dos materiais indicados, reflita sobre as ________________________ diversas funções das demonstrações financeiras e sobre as oportunidades que elas ________________________ proporcionam aos gestores. ________________________ ________________________ ________________________ LEITURA INDICADA ________________________ ________________________ IESDE BRASIL. Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA). Disponível: <http://concur________________________ sospublicos.uol.com.br/aprovaconcursos/demo_aprova_concursos/analise_das_demonstracoes_conta________________________ beis_05.pdf>. Acesso: 12 out. 2013. ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________
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SITES INDICADOS INSTITUTO DOS AUDITORES INDEPENDENTES DO BRASIL. Normas e Procedimentos de Contabilidade. Disponível: <http://www.ibracon.com.br/ibracon/Portugues/lisPublicacoes.php?codCat=3>. Acesso em: 12 out. 2013.
PORTAL DE CONTABILIDADE. Temáticas contábeis e de auditoria. Disponível: <http://www.portaldecontabilidade.com.br/tematicas002.php>. Acesso em: 12 out. 2013.
REFERÊNCIAS ASSAF NETO, Alexandre; LIMA, Fabiano G. Curso de Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 2011.
DAMODARAN, Aswath. Finanças Corporativas Aplicadas. Porto Alegre: Bookman, 2002.
GITMAN, Lawrence J. Princípios de Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 2009.
GRENDENE. Relatório da Administração 2012. Disponível em: <http://static.grendene.mediagroup.com. br/relatorio/818_2012%20-%20Relat%C3%B3rio%20da%20Administra%C3%A7%C3%A3o%20-%20 Portugu%C3%AAs.pdf>. Acesso em 18 de dezembro de 2013.
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HOJI, Masakazu. Administração Financeira e Orçamentária. São Paulo: Atlas, 2010.
INSTITUTO DOS AUDITORES INDEPENDENTES DO BRASIL. Normas e Procedimentos de Contabilidade. Disponível em: <http://www.portaldecontabilidade.com.br/ibracon/npc27.htm>. Acesso em: 12 out. 2013.
LEMES JÚNIOR, Antônio Barbosa; RIGO, Cláudio Miessa; CHEROBIM, Ana Paula Mussi Szabo. Administração Financeira: Princípios, Fundamentos e Práticas Brasileiras. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
FINANCEIRA E O RETORNO OBTIDO COM O PASSAR DO TEMPO Autor: Mário Rafael de Mello Chaves “Inflação é taxação sem legislação”
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AULA 03 - OS RISCOS NA ADMINISTRAÇÃO
(MILTON FRIEDMAN)
Seja bem-vindo(a) a mais uma aula dentro de nossa disciplina Tópicos Especiais de Finanças! Nesta terceira aula, estudaremos o valor do dinheiro no tempo e a relação do risco do negócio com o retorno obtido. A partir da leitura deste capítulo, você será capaz de identificar o melhor comportamento para o administrador financeiro no que tange à relação risco e retorno, bem como calcular o valor futuro e presente para determinadas situações financeiras.
Vimos, na Aula 1, que a gestão financeira remete ao gerenciamento do dinheiro e que é necessário que os administradores financeiros captem e aloquem este recurso em prol de seu aumento. Com base nisso, faço-lhe uma pergunta bem capciosa: qual o motivo principal que leva os gestores financeiros a reinvestirem o capital da organização? Imediatamente, você me responderia que seria para aumentar o patrimônio da empresa e dos acionistas, contudo este não é o argumento esperado! Suponha que uma empresa tem um alto volume de capital em caixa. Se este dinheiro não for aplicado em investimentos de curto ou longo prazo, o que acontecerá com ele? A resposta desse questionamento lhe dará base para entender o motivo principal da primeira indagação. É a partir deste assunto que iniciaremos nossa aula: o valor do dinheiro.
VALOR DO DINHEIRO Digamos que você é um gerente financeiro e dispõe de R$ 50.000,00 (Cinquenta Mil Reais) em caixa, o que dá para adquirir mais uma máquina de produção. Diante de outros custos que serão necessários para aquisição desta máquina, você opta por não realizar a sua compra. Um ano depois, com este mesmo valor em caixa, você se vê obrigado a comprar a máquina anteriormente citada e decide, então, entrar em contato com o fornecedor. Neste contexto, responda: o preço da máquina continuará o mesmo do ano anterior? Certamente, não! Isso ocorre, pois os preços sempre se alteram com o passar dos anos, em virtude de diversos fatores de depreciação. Essa é a primeira lição que você deve fixar quando estiver atuando como administrador financeiro: o dinheiro de hoje tem mais valor do que a mesma quantia de amanhã. Segundo Lemes Júnior, Rigo e Cherobim (2010, p. 103):
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Mesmo que não exista inflação, que os preços permaneçam constantes, que as necessidades das pessoas não mudem, a possibilidade de comprar um produto hoje, fazer um investimento hoje, desfrutar um serviço hoje; vale mais do que a mesma possibilidade amanhã. Essa é a Teoria da Preferência pela Liquidez.
É por essa razão que lhe perguntei no início desta aula, qual era o principal motivo para reaplicação de capital. É no investimento ou na aplicação dos recursos existentes que a organização recupera o valor perdido com o passar do tempo. O dinheiro é aplicado hoje, para ser remunerado a uma taxa de juros, que cubra todos os aspectos de remuneração do custo do dinheiro: recuperação do poder de compra daquele recurso, em função da inflação; remuneração pelo risco de não se receber o dinheiro de volta, ou no caso de títulos financeiros, remuneração pela dificuldade de revender esse papel no mercado e ainda a remuneração pelo risco de as taxas de juros básicas virem a mudar ao longo do período da aplicação. (LEMES JÚNIOR; RIGO; CHEROBIM, 2010, p. 104)
Você pode observar, nessa explicação, que temos dois valores facilmente iden-
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tificados: valor presente, que corresponde à quantia que dispomos para investimento (hoje); e o valor futuro, que se refere à quantia que será obtida com o investimento (amanhã). São essas duas informações que estudaremos a partir de agora.
VALOR PRESENTE VERSUS VALOR FUTURO Antes de iniciar a leitura deste tópico, quero deixar bem claro que as decisões financeiras são baseadas em ambos os valores. Isso quer dizer que existem técnicas de avaliação gerencial, que usam o valor presente para ponderar as suas decisões, concomitantemente em que existem técnicas que deliberam por meio da análise do valor futuro. “Embora o valor futuro e o valor presente resultem nas mesmas decisões, os administradores financeiros - por tomarem decisões no tempo zero - tendem a preferir as técnicas de valor presente”. (GITMAN, 2009, p. 148). Como vimos, o valor presente se refere ao valor futuro descontado de uma determinada taxa de juros, enquanto que o valor futuro representa o valor presente multiplicado pela taxa de juros no tempo. A partir dessas definições, podemos chegar as seguintes conclusões:
Subtraindo o valor futuro do valor presente é possível descobrir os juros cobrados na operação.
Dividindo o valor futuro pelo valor presente é possível identificar o fator de juros utilizado na operação.
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Multiplicando o valor presente pelo fator de juros é possível encontrar o valor futuro da operação.
Multiplicando o valor presente pela taxa de juros, que deve estar acrescida de uma unidade e potencializada em razão do tempo, também é possível encontrar o valor futuro da operação.
Dividindo o valor futuro pela taxa de juros, que deve estar acrescida de uma unidade e potencializada em razão do tempo, é possível encontrar o valor presente da operação.
Vamos praticar um pouco para compreender melhor esses cálculos? Então, suponha que hoje (30-12-X0) uma empresa receba a proposta de pagamento de uma dívida, através de um Certificado de Depósito Bancário – CDB, que pode ser resgatado em 30-12-X1. O valor de resgate, que é composto pelo valor principal com os juros é de R$ 200.000,00. O juro efetivo desta operação é de 22%. Qual o verdadeiro valor que pode ser recebido pela empresa, caso ela aceite a proposta?
Você também pode achar essas respostas na HP. Basta seguir os passos abaixo:
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f CLx 200000 CHS FV 1n 22 i PV
Caso não disponha da HP no momento, você pode utilizar o Microsoft Excel como instrumento, conforme pode ser observado na Figura 1.
Figura 1 - Cálculo do valor presente no Microsoft Excel
Fonte: O autor ________________________ ________________________ ________________________ Essa mesma empresa possui o valor de R$ 150.000,00 em caixa e analisa realizar ________________________ a sua aplicação em um fundo que rende a taxa de juros compostos de 2,45% ao mês. ________________________ Qual o montante que poderá ser resgatado, caso a empresa efetive essa aplicação fi________________________ nanceira e saque esse valor seis meses depois? ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ Você também pode achar essas respostas na HP. Basta seguir os passos abaixo: ________________________ ________________________ f CLx ________________________ ________________________ 150000 CHS PV ________________________ 6 n ________________________ ________________________ 2,45 i ________________________ FV ________________________ ________________________
Caso não disponha da HP no momento, você pode utilizar o Microsoft Excel como instrumento, conforme pode ser observado na Figura 2.
Figura 2 - Cálculo do valor futuro no Microsoft Excel
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Fonte: O autor
Observe que, na Figura 1, coloquei o período em anos, pois a taxa de juros era anual, todavia, na Figura 2, inseri o período em meses, em virtude de a taxa ser mensal. É muito importante que você observe a compatibilidade dessas informações quando estiver calculando, em qualquer das formas que exemplificamos. Caso o período esteja em anos e a taxa em meses, basta você transformar o período em meses. Do
mesmo modo, se o período estivesse em meses, e a taxa em anos, você transformaria ________________________ o período para anos. Como você pode observar, é com base nessas informações que os gestores financeiros analisam, correlacionam os dados com o planejamento financeiro da organização e, por fim, decidem sobre as ações a serem tomadas pela sua gestão. Você pode atentar ainda que o valor do dinheiro no tempo envolve estimativas e projeções, que não necessariamente podem ocorrer como planejado. Diante deste cenário, é preciso ter em mente que o gestor financeiro trabalha com riscos inerentes ao negócio e às operações, que podem corroer o seu planejamento e não oferecer o retorno esperado. Esses são os assuntos que veremos a partir da próxima seção.
RISCO E RETORNO
Em toda gestão financeira, existem riscos que tendem a confrontar com os planos traçados para a entidade. E isso ocorre em todo e qualquer nível da organização. A diferença principal é que existem riscos maiores e menores de acordo com a situação tratada. Segundo Gitman (2009, p. 203), “em sua acepção mais simples, risco é a chance de perda financeira. Ativos que apresentam maior chance de perda são considerados mais arriscados do que trazem uma chance menor”. Tudo isso expressa o fato de que quanto maior a certeza de retorno de um ativo, menor a possibilidade de variação no seu valor, bem como do seu risco. Para Damodaran (2002, p. 60), o risco “resulta da divergência entre os retornos reais e os retornos
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esperados”. Ainda segundo este autor, o risco é dividido em duas classes: riscos específicos (referentes ao investimento) e riscos de mercado (referentes a todo e qualquer investimento). Gerenciar essas possibilidades de fracasso é um dos grandes desafios dos gestores financeiros. Conforme Hoji (2010, p. 532), “a gestão de riscos é um processo por meio do qual são tomadas decisões de aceitar um perigo em potencial conhecido ou de minimizá-lo, com a utilização de instrumentos apropriados”. Já o retorno, definido por Assaf Neto e Lima (2011, p. 430) como sendo “o ganho, ou prejuízo, de um investimento feito em um determinado período”, é a principal informação utilizada pelos gestores para tomada de decisão, segundo Lemes Júnior, Rigo e Cherobim (2010). Você deve concordar com esta ideia, uma vez que antes de tomar qualquer decisão, você certamente avalia o tipo de ganho que será obtido. Da mesma forma, o gestor mensura minuciosamente os ganhos e expectativas e consolida uma opinião. Esse estudo ainda envolve a definição da incerteza, afinal, os retornos são obtidos em condições distintas do futuro. Para Lemes Júnior, Rigo, Cherobim (2010, p. 136), a incerteza “é a situação de dúvida ou insegurança de se obter um resultado, sem forma de quantificar as possibilidades de ocorrência das situações positivas ou negativas”. Todas essas variáveis interferem diretamente nas decisões estudadas na Aula 1, lembra? Lá, vimos que as principais decisões do gestor financeiro eram as decisões de
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investimento, financiamento e dividendos. Em todas elas, e especialmente em investimento, os gestores devem ponderar muito, antes de formar uma percepção sobre a alocação do capital da empresa. Dentro do contexto exposto, a gestão financeira utiliza um modelo de gerenciamento de riscos e de retorno, que, segundo Damodaran (2002, p. 56):
1. Deve proporcionar uma medida de risco que se aplique a todos os ativos, não sendo específica apenas a um deles.
2. Deve estabelecer claramente quais tipos de riscos são recompensados e quais não são, assim como fornecer um fundamento lógico para esta distinção.
3. Deve proporcionar medidas de risco padronizadas; isto é, um investidor diante de uma medida de risco para um ativo específico deve ser capaz de tirar conclusões a respeito de se o ativo está acima ou abaixo da média em termos de risco.
4. Deve traduzir a medida de risco em uma “taxa de retorno” que o investidor deve exigir como compensação por assumir o risco.
5. Deve funcionar bem não apenas ao explicar retornos passados, mas também ao prever retornos futuros.
Para entendermos melhor estes aspectos (risco e retorno), estudaremos individualmente cada um deles. Iniciaremos pelos tipos de risco e, logo em seguida, veremos o retorno.
TIPOS DE RISCO Logicamente, todo gestor financeiro não almeja obter perdas, e sim ganhos.
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Para isso, é imprescindível que os administradores lidem com a incerteza e com a insegurança. No Quadro 1, você pode observar os tipos de riscos existentes. Se você analisar atentamente, poderá ver que os riscos operacionais e financeiros são os mais importantes para os administradores financeiros, uma vez que são diretamente relacionados à empresa. Os riscos associados aos acionistas e aos que são de interesse comum destes dois envolvidos (empresa e acionistas) formam a segunda preocupação dos gestores financeiros. Embora esses riscos não afetem diretamente a operação e as finanças das organizações, eles podem ocasionar grandes perdas ao longo prazo, podendo incluir indiretamente a possibilidade de cobertura dos custos operacionais ou de quitação de suas obrigações financeiras.
Quadro 1 - Fontes de risco que envolvem as empresas e os acionistas
FONTE DE RISCO
DESCRIÇÃO
Riscos específicos da empresa A possibilidade de que a empresa não seja Risco operacional
capaz de cobrir os custos operacionais. Nesse risco, o nível é determinado pela estabilidade das receitas da empresa e pela estrutura dos custos operacionais. A possibilidade de que a empresa não seja capaz de fazer frente às obrigações financeiras. Nesse risco, o nível é
Risco financeiro
determinado pela previsibilidade dos fluxos de caixa operacionais e pelas obrigações financeiras de custo fixo da empresa.
Riscos específicos do acionista A possibilidade de que juros afetem Risco da taxa de juros
negativamente o valor de um investimento. A maioria dos investimentos perde valor quando a taxa de juros aumenta e ganha quando a taxa diminui. A possibilidade que um investimento não possa ser facilmente liquidado a um preço razoável. A liquidez é afetada de modo
Risco de liquidez
significativo pela extensão e profundidade do mercado em que um investimento costuma ser negociado.
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A possibilidade de que o valor de um investimento caia devido a fatores de mercado, tais como acontecimentos econômicos, políticos e sociais. Quanto mais
Risco de mercado
o valor de investimento reage ao mercado, maior o seu risco, e quanto menor a reação, menor o risco, por consequência. Riscos da empresa e do acionista A possibilidade de que algum evento imprevisto exerça efeito significativo sobre o valor de uma empresa ou de um investimento específico.
Risco de evento
Esses acontecimentos raros afetam, principalmente, grupos pequenos de empresas ou investimentos. A exposição dos fluxos de caixa esperados para o futuro à flutuação das taxas de câmbio. Quanto maior a chance de flutuações indesejadas da taxa de
Risco de câmbio
câmbio, maior o risco dos fluxos de caixa, portanto, menor o valor da empresa ou do investimento. A possibilidade de que uma mudança nos níveis de preços causada pela inflação ou
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deflação possa afetar negativamente os fluxos de caixa e o valor da empresa ou investimento. Normalmente, empresas ou investimentos cujos fluxos de caixa se Risco de poder aquisitivo
movam de maneira semelhante aos níveis gerais de preços apresentam baixo risco de poder aquisitivo, enquanto aquelas cujos fluxos de caixa não acompanhem os níveis gerais de preço apresentam elevado risco de poder aquisitivo. A possibilidade de que ocorram mudanças desfavoráveis na legislação tributária. As empresas e os investimentos que são
Risco tributário
sensíveis a alterações na legislação tributária são as instituições que sofrem um maior risco. Fonte: Adaptado de Gitman (2009)
Além destes riscos, existe ainda o risco moral, que corresponde ao comportamento ético dos agentes e administradores financeiros das organizações. Se você já estudou governança corporativa, certamente já leu também sobre a Lei Sarbanes-Oxley de 2002 e viu que o estabelecimento de um código de ética empresarial é importante para direcionar e determinar os padrões mais corretos dentro da empresa e da atividade empresarial.
Antes de começarmos a falar sobre retorno, responda-me: você já analisou o nível de retorno dos investimentos comparando-o aos riscos inerentes? Se sim, o que você achou? Vimos que em qualquer que seja o investimento realizado, sempre existirão riscos sob as suas mais diversas formas. “O quanto de risco se vai assumir depende do retorno esperado. É natural esperar que quanto maior o risco assumido, maior seja o retorno.” (LEMES JÚNIOR; RIGO; CHEROBIM, 2010, p. 7).
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RETORNO
Na Figura 3, você pode observar a relação entre o grau de riscos assumidos e o nível de retorno que pode ser obtido pelos investimentos. Ainda nessa figura, é fácil identificar que para um nível de 10%, é possível obter um retorno de 4%, e esses valores tendem a aumentar com a ampliação do grau de risco.
Figura 3 - Gráfico da relação entre Risco e Retorno
Fonte: O autor
No estudo do retorno de investimentos, existem três tipos que podem ser descritos da seguinte forma:
Retorno esperado: corresponde ao retorno que os investidores almejam para aplicar ou permanecer com o seu capital aplicado em determinado ativo. Retorno exigido: refere-se à remuneração mínima e tolerável pelo investidor. Retorno real: é o resultado obtido com a aplicação.
Dando continuidade às séries de perguntas, responda-me: você investe ou aplica o seu capital em qualquer ativo? Tenho certeza de que a sua resposta é não! Certamente, você analisa minuciosamente o custo-benefício e toma a sua decisão, conforme a sua estratégia financeira e principalmente de acordo com seu perfil de investidor. A partir da relação entre o risco e o retorno e dos tipos de retorno existentes, é possível definir os perfis existentes de administradores financeiros. Para Gitman (2009), os gestores financeiros possuem os seguintes tipos básicos de comportamento:
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46 Indiferente ao risco: caso o risco aumente, o retorno exigido permanece inalterado. Avesso ao risco: com o aumento do risco, exigem maior retorno em virtude de temerem os riscos. Propenso ao risco: a partir do aumento do risco, o administrador se dispõe a diminuir o retorno.
Logicamente, ser indiferente ao risco não é uma atitude plausível, uma vez que toda gestão financeira deve mudar as suas ações diante de uma ampliação dos riscos, o que não condiz com este perfil. Ser propenso ao risco também não é aconselhável ao administrador financeiro, afinal nenhuma organização gostaria de ter um retorno reduzido com a ampliação dos riscos. O ideal é que os gestores financeiros sejam avessos aos riscos, o que exige um aumento de retorno para o aumento dos riscos, o que pode ser correlacionado com a Figura 3, que foi tratada anteriormente. Como característica complementar, os administradores são, em sua maioria, conservadores e não, agressivos, visto que essa posição pode ter maiores possibilidades de perda. Se você já estudou o problema de agency, sabe que este comportamento é facilmente explicado por esta teoria.
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Espero que tenha compreendido bem esta aula. Para complementar o conteúdo estudado, leia as matérias disponíveis nos tópicos leituras e sites indicados. Esses assuntos serão abordados em alguns momentos de nossa próxima aula, que envolverá o orçamento de capital e a administração do capital de giro. Na próxima aula, veremos como diminuir as chances de um investimento fracassar, bem como manter um capital de curto prazo suficiente para que os riscos de insolvência financeira não se tornem realidade.
SÍNTESE Nesta aula, vimos que o valor do dinheiro sofre uma depreciação com o passar do tempo e que todo investimento realizado tem como objetivo o retorno do valor investido com um valor adicionado, correspondente à correção do tempo passado. Vimos, também, que toda operação possui seus riscos, que devem ser antecipadamente mensurados, afinal estes poderão gerar perdas de quaisquer tamanhos. Estudamos, ainda, que existem comportamentos diferentes diante dos riscos, mas os administradores financeiros das empresas devem ser avessos, uma vez que como o aumento do risco, o retorno deve ser maior.
QUESTÃO PARA REFLEXÃO Com base na leitura de nossa aula, pense nas diversas situações que podem ocasionar grandes perdas para a organização, levando em consideração os tipos de
LEITURAS INDICADAS CAMPOS, José Roberto. Risco moral é isso. ValorInvest, São Paulo, seção: crise financeira. Disponível em: http://www.valor.com.br/valor-investe/casa-dascaldeiras/2563944/risco-moral-e-isso. Acesso em: 09 mar. 2012.
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riscos que estudamos nesta parte da disciplina.
HALFELD, Mauro. O juro é o valor do dinheiro no tempo. Época, São Paulo, Edição 513, Disponível em: http://revistaepoca.globo.com/Revista/ Epoca/1,,EDG82357-9553,00.html. Acesso em: 14 mar. 2008.
SITES INDICADOS http://www.administradores.com.br/artigos/economia-e-financas/o-problema-dorisco-moral/26865/ http://economiaclara.wordpress.com/2009/11/30/o-que-e-risco-moral/
REFERÊNCIAS ASSAF NETO, Alexandre; LIMA, Fabiano G. Curso de Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 2011.
DAMODARAN, Aswath. Finanças Corporativas Aplicadas. Porto Alegre: Bookman, 2002.
GITMAN, Lawrence J. Princípios de Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 2009.
HOJI, Masakazu. Administração Financeira e Orçamentária. São Paulo: Atlas, 2010.
LEMES JÚNIOR, Antônio Barbosa; RIGO, Cláudio Miessa; CHEROBIM, Ana Paula Mussi Szabo. Administração Financeira: Princípios, Fundamentos e Práticas Brasileiras. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
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DE CAPITAL
Autor: Mário Rafael de Mello Chaves
“Somos ainda uma economia muito vulnerável. Temos ainda
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AULA 04 - ORÇAMENTO, GESTÃO E DECISÃO
problemas sérios. Por isso, não podemos brincar nessa parte, para que a gente não tenha um retrocesso.”
(LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA)
Olá! Chegamos, agora, à quarta aula de nossa disciplina Tópicos Especiais em Finanças!
Nesta aula, veremos as técnicas de orçamento de capital existentes para avaliar a aceitação ou não de projetos de investimento, bem como identificaremos qual gestão de capital de giro é mais adequada para as empresas. Após o estudo desta aula, você será capaz de decidir quais projetos de investimento podem ser aceitos diante de determinadas situações e, ainda, qual o momento exato e propício para aquisição de mais ou algum capital de giro. Na aula anterior, percebemos a importância de se ter uma gestão financeira que avalie o valor do dinheiro com o decorrer do tempo. Agora, devemos pensar, também, que o retorno de um investimento, na maioria das situações, não ocorre de modo rápido, integral e instantâneo. Todo investimento de longo prazo requer um desembolso considerável de ativos, que comprometem a organização por um determinado período de tempo, ao mesmo tempo em que impede o administrador financeiro de adotar certas ações. Neste contexto, surge o estudo do orçamento de capital, que estudaremos a partir de agora.
PROCESSO DE ORÇAMENTO DE CAPITAL Todo administrador financeiro necessita de informações que permitam avaliar o custo e o retorno de quaisquer investimentos de longo prazo. Expansão da planta industrial, pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, substituição de ativos, dentre outras alternativas, são projetos que exigem um alto grau de valor monetário de aplicação com a expectativa de um retorno futuro e gradativo. Sendo assim, pergunto-lhe: e aonde se insere o orçamento de capital nesse contexto? O orçamento de capital “é o processo de avaliação e seleção de investimentos de longo prazo condizentes com o objetivo empresarial de maximizar a riqueza dos proprietários.” (GITMAN, 2010, p. 326). Você consegue visualizar, agora, a relação do orçamento de capital com as decisões de investimento? Então, podemos avançar! Caso
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tenha alguma dúvida, retorne a leitura das aulas 1 e 3, mais especificamente, nos tópicos decisões de financiamento e valor do dinheiro no tempo! É notório que as instituições devem selecionar adequadamente os seus investimentos, o que faz com que os gestores tenham uma maior dedicação para análise e posterior tomada de decisão. Para isso, tem-se o instrumento orçamento de capital, que representa esta análise de investimentos para o subsídio da decisão final. Ratificando a ideia do autor anteriormente citado, Lemes Júnior, Rigo e Cherobim (2010) ainda descrevem as razões que validam esta ferramenta como elemento útil para a decisão de investimento na administração financeira, conforme pode ser observado na tabela destaque abaixo. 1 - Os resultados oriundos das decisões serão obtidos no longo prazo - ao abrir uma planta industrial com determinada vida útil, deve-se levar em consideração que todas as estimativas envolvidas na operação deverão ser mensuradas dentro do período de vida útil da fábrica. 2 - Os riscos relacionados são de alto nível - um desconhecimento do mercado e do setor específico podem provocar grandes perdas para a empresa, o que implica um criterioso estudo para dirimir ou atenuar certas ameaças do mercado. 3 - A hora certa para adotar a ação de investimento - esse é um grande dilema no meio empresarial, afinal esta não é uma receita de comida, que defina o ponto preciso para consumo. Existem teorias, que afirmam que o momento mais propenso para a alocação
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de recursos e consequente ação, ocorre nos períodos de crise ou baixa do mercado, o que favorece a entrada de investimentos com baixo custo, e estabelecem um crescimento mais rápido com a seguinte subida. A problemática reside nos fatos de que não é possível assegurar o tempo para o fim de uma crise, bem como garantir que ele retornará ao patamar anterior de crescimento. 4 - Uso da análise e da lógica para tomada de decisão - com o uso do orçamento de capital, a entidade tem a possibilidade de pensar em novas ações a serem adotadas com objetivo do ganho financeiro. 5 - Decisão de financiamento - para realizar determinados investimentos, é preciso que seja amplamente investigada a melhor alternativa de financiamento, que pode ocorrer desde a busca de novos sócios, até a captação de recursos fora do país, o que é facilmente possível ponderar por meio do orçamento de capital.
Você pode perceber que o orçamento de capital funciona como um programa para avaliação de investimentos, com o objetivo de seguir o planejamento estratégico empresarial, conforme corrobora Hoji (2010). O orçamento de capital busca responder se a maximização da riqueza do acionista será alcançada; se o(s) retorno(s) totalizará(ão) a saída de caixa para a pagamento do projeto, juntamente com a correção desejada pela administração, de acordo com o que vimos na Aula 3; e se os riscos já existentes no negócio serão ampliados podendo afetar a continuidade da operação, ou se trarão ganhos em outras áreas da companhia. Vale ressaltar que depois de aplicado o capital, torna-se difícil interromper o investimento ou revertê-lo, o que justifica uma minuciosa análise e responsabilidade por parte do administrador. Segundo Lemes Júnior, Rigo e Cherobim (2010, p. 161):
Há dois tipos de informações fundamentais à adoção das técnicas de orçamento de capital. Uma é a estimativa dos fluxos de caixa livres de cada projeto e a outra é a determinação do custo de capital a ser considerado para descontar esses fluxos.
Isso quer dizer que todo investimento tem um custo que deve ser recuperado
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em um dado tempo e que quanto maior o risco do projeto, maior será o custo do capital aplicado, o que está de acordo com o que estudamos na aula anterior, lembra? Lembra também de que existiam comportamentos diferentes entre os administradores diante dos riscos? Se sim, então me responda: qual deve ser a postura complementar dos gestores financeiros na elaboração do orçamento de capital? É mais adequado um perfil arrojado ou conservador? Antes de formular uma resposta, pense que jamais devemos menosprezar ou supervalorizar as saídas e entradas de caixa relativas aos investimentos. Isso quer dizer que muito arrojo tornará a organização propensa a grandes ganhos ou perdas. Em contrapartida, o teor conservador bloqueia a instituição de realizar grandes projetos, especialmente os inovadores, o que contraria o espírito empreendedor. Sendo assim, torna-se claro e evidente, o fato de que não existe uma postura exata na construção do orçamento de capital. Como foi dito anteriormente, não estamos tratando de uma receita para o sucesso, e sim de um instrumento que fornece apoio à decisão. Portanto, a postura a ser adotada deverá ser selecionada a partir de cada situação específica. Considerando o orçamento de capital como sendo a escolha dos investimentos, procedido da aplicação e respectiva mensuração de seus ganhos, podemos, então, estabelecer a importância e os benefícios gerados para a instituição. Para Damodaran (2002), o orçamento de capital é relevante para a organização, pois auxilia na decisão de troca de ativos ultrapassados, na blindagem da empresa perante aos efeitos do mercado, integra todas as ideias, estimula a criação de novas tecnologias, diminui os efeitos da concorrência, otimiza custos com a utilização dos mesmos recursos, além de ampliar a visão de mercado com vistas a tornar a companhia atenta às mudanças e às tendências de mercado. Dando continuidade ao nosso estudo, faço-lhe mais um questionamento: como você julga que decorre o processo de orçamento de capital? Ou seja, quais são as fases e o que são feitas nestas etapas para a elaboração do orçamento? Essas são as respostas que teremos no próximo subtópico.
FASES DO ORÇAMENTO DE CAPITAL O orçamento de capital é por si só um processo complexo, que depende da colaboração da direção empresarial, para que seja utilizado da forma correta. Para o seu pleno resultado, é necessário que o orçamento seja construído processualmente, após a sequência de cinco fases diferentes, porém correlacionadas, conforme descreve
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Gitman (2010, p. 327): 1. Geração de proposta. Propostas são feitas em todos os níveis organizacionais e revistas pelo pessoal financeiro. Aquelas que exigem grandes desembolsos são submetidas a um escrutínio maior do que as modestas.
2. Revisão e análise. Realizam-se revisões e análises mais detidas para avaliar a adequação e a viabilidade econômica das propostas. Uma vez concluída a análise, um relatório resumido é submetido aos tomadores de decisões.
3. Tomada de decisão. As empresas costumam delegar a tomada de decisões em investimentos de capital com base em tetos de valor. De modo geral, é necessário obter autorização do conselho de administração para dispêndios além de um determinado valor. Muitas vezes, os diretores de unidades produtivas recebem delegação para tomar as decisões necessárias para manter a linha em funcionamento.
4. Implementação. Depois da aprovação, os investimentos são realizados e os projetos, implementados. Os dispêndios em projetos de
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grande porte muitas vezes ocorrem por etapas.
5. Acompanhamento. Os resultados são monitorados e os custos e benefícios efetivos, comparados com as expectativas. Poderá ser necessário tomar algumas providências, se os resultados efetivos forem diferentes dos projetados.
A primeira etapa do processo de orçamento de capital envolve a criação e o surgimento de novas ideias, que possam ser transformadas em realidade. As grandes empresas estimulam em seus funcionários o senso da inovação e, por isso, promovem cursos, encaminham alguns integrantes para feiras e congressos do setor e há algumas delas, ainda, que oferecem prêmios para grandes ideias inovadoras. A segunda etapa abarca a avaliação das propostas com vistas a garantir o plano estratégico da companhia, bem como analisar a viabilidade econômica e financeira da proposta. Ainda nesta etapa, os projetos são comparados, e os seus retornos mensurados por meio de cálculos dos diversos índices de retorno de investimento, tais como: TIR, VPL, payback. Na terceira etapa, ocorre o comprometimento dos recursos com o(s) projeto(s). Como toda decisão é baseada em projeções, é muito importante que nesta etapa sejam considerados alguns desvios para mais ou para menos. Essa atitude visa construir, também, diferentes cenários nas entradas e saídas de caixa e alterar o custo de capital. Devem ser, ainda, levados em consideração, nesta etapa, aspectos como: qualidade, imagem, possibilidade de abertura de novos negócios ou ingresso em novos mercados. Na quarta etapa, ocorre a atividade que gera maiores problemas dentro de um projeto. Como toda implantação, podem ocorrer diversos imprevistos, que devem ser
Na quinta e última etapa, acontece o controle dos projetos, onde se observa se as propostas estratégicas foram alcançadas e se os resultados estão compatíveis com as projeções. Nem todas as empresas acompanham os resultados obtidos pelos projetos, o que é um grande erro. Afinal, a empresa pode ter um desempenho bem distante das previsões, ou quem sabe até perdas, e a administração desconhecer o fato. As etapas mais duradouras de todo o processo são as relacionadas à revisão e análise e tomada de decisão, uma vez que irão definir o rumo da organização.
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eficientemente sanados.
Você pode inferir que no processo de orçamento de capital é possível efetuar a análise de mercado, suprimentos, custos, tributos, preço ao consumidor, financiamento, fluxo de caixa e espaço físico. Todas essas análises permitem que a decisão tomada seja a mais acertada possível. No próximo subtópico, veremos, de forma breve, alguns métodos utilizados para avaliação de investimentos e projetos.
MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE INVESTIMENTOS Sabemos que a empresa pode realizar um investimento de capital para expansão, substituição, reforma, dentre vários outros motivos. Antes de revisarmos os métodos utilizados para a avaliação de investimentos, relembre e responda: quais são as naturezas de projetos existentes? Certamente, você dirá: independentes, dependentes, e mutuamente excludentes. Os projetos e investimentos independentes são aqueles ________________________ que não possuem relação com outros projetos ou investimentos e sua aceitação não ________________________ elimina a aceitação destes outros. Já os dependentes, como o próprio nome define, ________________________ exerce uma relação de dependência com outros projetos. Por fim, os mutuamente ex- ________________________ cludentes competem entre si, onde a aceitação de um, torna inviável a aceitação do ________________________ outro. ________________________ Revisando a análise e avaliação de investimentos, temos os métodos principais listados no Quadro 1.
Quadro 1 - Principais Métodos de Avaliação de Alternativas Econômicas
MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE
DEFINIÇÃO
INVESTIMENTO Método do Valor Presente Líquido
Determina o valor no instante inicial, subtraindo o fluxo de caixa líquido futuro, que é gerado por período no decorrer da vida útil do investimento, considerando uma taxa mínima de atratividade, e somando os valores descontados ao fluxo de caixa líquido do instante inicial.
Método do Valor Futuro Líquido
Estabelece o valor do fluxo de caixa no instante futuro, com o uso do mesmo raciocínio de cálculo do Valor Presente Líquido.
Método do Valor Uniforme Líquido
Transforma diversos valores diferentes com a utilização de uma taxa mínima de atratividade em valores uniformes.
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Método da Taxa Interna de Retorno
Determina a Taxa Interna de Retorno, que consiste na atualização dos fluxos de caixa líquidos do período segundo a esta própria taxa, anulando então o Valor Presente Líquido.
Método do Prazo de Retorno
Estabelece o tempo mínimo em que a soma dos fluxos de caixa líquido dos períodos seja igual ao valor do investimento no instante inicial. Fonte: Adaptado de Hoji (2010)
Ressalta-se que o investimento será aconselhável no primeiro método, caso o Valor Presente Líquido seja positivo, e na Taxa Interna de Retorno, se esta for superior à taxa mínima de atratividade. Lembre também de que a avaliação é mais confiável, quando você utiliza a combinação destes métodos. O que é preciso ter em mente também no estudo deste tema, é que é imprescindível que haja uma estabilidade na economia do país em que a empresa está inserida, bem como a organização deve ser capaz de estimar os seus fluxos de caixa. Os resultados não precisam ser exatos aos previstos, contudo quanto mais próximos da realidade futura, melhor e mais eficiente se torna a administração financeira. Estas projeções, além de conduzirem a empresa no orçamento de capital, como fora visto, também servirão de base para que a instituição formule as suas estratégias de
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curto prazo, visando gerir, da forma mais positiva, o seu capital de giro. Este será o assunto do nosso próximo tópico.
ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO Antes de entrar na universidade, tenho certeza de que você já ouviu muito o termo: capital de giro ou gestão do capital de giro. Se você já estudou planejamento financeiro, não tenho dúvidas também de que em determinado momento, você leu algum artigo, material ou capítulo de livro destinado a este assunto. Por este motivo, questiono: o que é o capital de giro e o que é a administração do capital de giro? Se você responder que o capital de giro representa o ativo circulante do balanço patrimonial e que a gestão deste capital refere-se ao gerenciamento da diferença entre o ativo circulante e o passivo circulante, respondo-lhe que estará absolutamente correto! Segundo Assaf Neto e Lima (2011, p. 632): ‘o conceito de capital de giro (ou de capital circulante) identifica os recursos que giram (circulam) várias vezes em determinado período’. Já a definição de capital de giro, atribuída pelo mesmo autor, ‘envolve basicamente as decisões de compra e vendas tomadas pela empresa, assim como suas mais diversas atividades operacionais e financeiras’.
No estudo da gestão de finanças, essa atividade é conhecida como administração financeira de curto prazo e que toma maior parte do tempo dos administradores financeiros. A razão para a ocorrência deste fato é que não é fácil:
Gerenciar cada elemento do ativo circulante (estoques, contas a receber, caixa e títulos negociáveis) e de seu passivo circulante (contas a pagar a fornecedores, despesas e empréstimos bancários a pagar) para atingir um equilíbrio entre rentabilidade e risco que contribua positivamente para o valor da empresa. (GITMAN, 2010, p. 546).
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O ciclo do capital de curto prazo é cíclico e é representado pela transição de caixa para estoques, de estoques para recebíveis, e de recebíveis para caixa novamente, com o intuito de pagar o passivo circulante. Não existe um nível ótimo definido para o ativo e passivo circulante, todavia é lógico que o primeiro sempre deve ser superior ao segundo em valor de capital, para uma empresa que almeje honrar as suas obrigações dentro dos prazos acordados. Nas situações em que as entradas de caixa são muito bem previsíveis, o capital de giro líquido exigido é muito menor do que quando comparado aos casos em que as organizações desconhecem as futuras entradas de caixa. Dentro desse contexto, surge o risco das entidades não conseguirem cumprir com a programação de seus pagamentos, o que faz com que diversas delas aumentem o seu capital de giro líquido, com a intenção de que não tenham um capital de giro líquido negativo, e se tornem insolventes diante de suas obrigações financeiras. No Quadro 2, é possível verificar as variações do ativo e do passivo circulante com relação ________________________ aos lucros e riscos da empresa. ________________________
________________________ ________________________ Quadro 2 - Variações do ativo e passivo circulante em relação ao lucros e riscos ________________________ ________________________ ________________________ QUOCIENTE VARIAÇÃO DO QUOCIENTE EFEITO SOBRE O LUCRO EFEITO SOBRE O RISCO Ativo Circulante ÷ Aumento Diminuição Diminuição ________________________ Diminuição Aumento Aumento ________________________ Ativo Total ________________________ Passivo Circulante ÷ Aumento Aumento Aumento ________________________ Diminuição Diminuição Diminuição Ativo Total ________________________ Fonte: Adaptado de Gitman (2010) ________________________ ________________________ ________________________ Como você pode observar no quadro acima, um aumento no ativo circulante, ________________________ além de aumentar o capital de giro líquido, diminui o lucro, que, por consequência ________________________ lógica, reduz o risco. No aumento do passivo circulante, os efeitos são contrários. Por ________________________ mais essa razão, o administrador financeiro deve ter muita atenção ao tomar as deci________________________ sões de compra e venda na empresa, afinal uma ação não planejada ou mal calculada ________________________ pode acarretar em um grande problema de curto prazo com efeitos no longo prazo. ________________________ ________________________ CICLO OPERACIONAL E CICLO DE CONVERSÃO DE CAIXA ________________________ ________________________ Antes de iniciarmos este estudo, responda: o que seria o ciclo operacional e o ________________________ ciclo de conversão de caixa? Para Assaf Neto e Lima (2011, p. 632), o capital de giro
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serve para “financiar seu ciclo operacional, o qual engloba as necessidades circulantes identificadas desde a aquisição de matérias-primas até a venda e o recebimento dos produtos elaborados”. Dessa forma, podemos deduzir que o ciclo operacional abarca dois componentes do ativo de curto prazo, que são os estoques e as contas a receber, conforme esquema apresentado na tabela destaque abaixo. Ciclo Operacional = Idade Média de Estoque + Prazo Médio de Recebimento
Dentro dessas definições, podemos também identificar a existência do tempo pelo qual o pagamento é realizado aos fornecedores e efetivamente a empresa recebe o valor dos produtos acabados pelos clientes. A este tempo, atribui-se o nome de Ciclo de Conversão de Caixa. Lembre-se de que o Prazo Médio de Pagamento é o tempo compreendido entre a compra e a efetiva saída do caixa da empresa. Na tabela destaque a seguir, você pode ver a composição deste novo conceito. Ciclo de Conversão de Caixa = Ciclo Operacional - Prazo Médio de Pagamento
A partir desta nova fórmula, é possível, então, estabelecer uma terceira equação, conforme tabela destaque abaixo.
________________________ Ciclo de Conversão de Caixa = Idade Média de Estoque + Prazo Médio de Recebimento ________________________ Prazo Médio de Pagamento ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ Para melhor entendimento destes termos, montamos um esquema de como ________________________ são estabelecidos esses ciclos na linha do tempo, conforme pode ser visto na Figura 1. ________________________ ________________________ Figura 1 - Linha do tempo dos ciclos financeiros ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ Fonte: O autor ________________________ ________________________
de Caixa alto não é favorável para empresa, pois isso configura uma demora no recebimento de capital. O ideal é que a empresa tenha um baixo ciclo, o que faz com que os passivos negociados sejam minimizados. Segundo Lemes Júnior, Rigo e Cherobim (2010), as instituições podem adotar as seguintes estratégias para diminuir o prazo do Ciclo de Conversão de Caixa:
Pagar os fornecedores com um tempo cada vez maior, sem ocasionar perda de crédito.
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Através de uma célere análise, você pode deduzir que um Ciclo de Conversão
Receber dos clientes em um tempo menor, sem ocasionar a possibilidade de perda de clientes, em virtude de uma cobrança dantesca. Aumentar a velocidade do giro de estoque, sem a perda de vendas provocadas por falta de produção.
Como você viu nas estratégias anteriormente apresentadas, não é possível falar em administração do capital de giro, sem mencionar os estoques e as contas a pagar e a receber. Nas próximas aulas, estudaremos esses assuntos com profundidade. Entretanto, dentro deste tema, ainda temos a Necessidade Líquida de Capital de Giro.
NECESSIDADE LÍQUIDA DE CAPITAL DE GIRO A necessidade Líquida de Capital de Giro representa a diferença entre o Ativo Circulante Operacional e o Passivo Circulante Operacional. Você deve estar se perguntando: e o que seria Ativo Circulante Operacional e Passivo Circulante Operacional? De acordo com Hoji (2010, p. 297), o “Ativo Circulante Operacional representa a aplicação natural de capital de giro, e o Passivo Circulante Operacional representa a fonte natural de capital de giro”. Você imaginou que fosse isso? Só que ainda temos também o Ativo Circulante Não Operacional e o Passivo Circulante Não Operacional, no qual a subtração destes valores, respectivamente, dá origem ao Saldo de Tesouraria. Você se arrisca a tentar atribuir uma definição a estas contas? Ainda, conforme Hoji (2010, p. 297), “o Ativo Circulante Não Operacional representa a aplicação de capital de giro em ‘atividades financeiras’, e o Passivo Circulante Não Operacional representa fonte de capital de giro de natureza não operacional”. Deixo bem claro que o Ativo Circulante, que vimos anteriormente, se divide em: Ativo Circulante Operacional e Ativo Circulante Não Operacional. Da mesma forma que o Passivo Circulante se divide em Passivo Circulante Operacional e Passivo Circulante Não Operacional. Diante desta explanação, temos as seguintes equações:
Necessidade Líquida de Capital de Giro = Ativo Circulante Operacional - Passivo Circulante Não Operacional Saldo de Tesouraria = Ativo Circulante Não Operacional - Passivo Circulante Não Operacional
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58 Se o Ativo Circulante Operacional for maior que o Passivo Circulante Operacional, isso quer dizer que a organização precisa de recursos financeiros para financiamento do giro dos negócios, cabendo a exceção caso a empresa esteja com o Ativo Circulante igual ou superior ao Passivo Circulante. Caso a empresa esteja com o Ativo Circulante Operacional menor que Passivo Circulante Operacional, isso representará um excesso de fontes naturais para aplicação financeira. Se o Ativo Circulante Não Operacional for maior que o Passivo Circulante Não Operacional, isso quer dizer que a instituição tem uma folga no curto prazo, a partir de suas aplicações financeiras. Em situação contrária, a entidade está utilizando recursos de terceiros para financiar as suas atividades operacionais. Uma forma de descobrir a Necessidade Líquida de Capital de Giro é utilizando a fórmula abaixo:
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A sigla “CF” quer dizer Ciclo Financeiro e “N”, o número de dias do período. Lembrando de que, para a organização, o resultado mais favorável é a redução desta necessidade, ou seja, quanto menor a Necessidade Líquida de Capital de Giro, melhor.
SÍNTESE Iniciamos esta aula discutindo o processo de orçamento de capital, bem como suas fases e importância para a organização. Logo após, vimos alguns métodos de avaliação de projetos e investimentos, que são utilizados no processo de orçamento de capital. Posteriormente, ingressamos na administração do capital de giro, onde revisamos alguns conceitos de planejamento financeiro, e vimos os ciclos financeiros que envolvem a gestão do capital de giro. Para finalizar, descobrimos o Ativo e o Passivo Circulante Operacional e Não Operacional, o Saldo de Tesouraria, e como calcular a Necessidade Líquida de Capital de Giro.
QUESTÃO PARA REFLEXÃO A partir da leitura de nossa aula, observe o balanço patrimonial contido na aula 2 e verifique se o capital de giro é satisfatório para o desempenho de curto prazo da organização. Reflita ainda sobre as diversas estratégias que a instituição pode adotar para melhorar os seus resultados, conforme o conhecimento adquirido em orçamento de capital.
SEGET. Seminário de Excelência em Gestão e Tecnologia. Disponível em: <http://www.aedb.br/seget/artigos11/35114611.pdf>. Acesso em 15 nov. 2013
SITES INDICADOS
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LEITURA INDICADA
http://www.administradores.com.br/artigos/administracao-e-negocios/tecnicas-de-orcamento-de-capital/38132/
http://www.ppgcontabilidade.ufpr.br/system/files/documentos/Dissertacoes/D015.pdf
REFERÊNCIAS ASSAF NETO, Alexandre; LIMA, Fabiano G. Curso de Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 2011.
DAMODARAN, Aswath. Finanças Corporativas Aplicadas. Porto Alegre: Bookman, 2002.
GITMAN, Lawrence J. Princípios de Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 2009.
HOJI, Masakazu. Administração Financeira e Orçamentária. São Paulo: Atlas, 2010.
LEMES JÚNIOR, Antônio Barbosa; RIGO, Cláudio Miessa; CHEROBIM, Ana Paula Mussi Szabo. Administração Financeira: Princípios, Fundamentos e Práticas Brasileiras. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
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DO SALDO DE CAIXA
Autor: Mário Rafael de Mello Chaves “Onde há uma empresa de sucesso, alguém tomou alguma vez uma decisão valente.”
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AULA 05 - O CUSTO DO CAPITAL E A GESTÃO
(PETER DRUCKER)
Seja bem-vindo(a) à quinta aula! Chegamos à segunda metade de nossos estudos! Vimos, na Aula 1, que o administrador financeiro possui a decisão de financiamento como uma de suas principais atribuições. Nas aulas seguintes, tratamos da atualização monetária do capital, em razão do tempo, bem como do retorno necessário para a viabilização de um investimento, não esquecendo o risco pertinente à escolha realizada. Nesta aula, veremos como ocorre a decisão de financiamento, apresentando e discutindo os diversos tipos de custo de capital existentes nesta função financeira. Prosseguindo, trataremos da administração do caixa e entenderemos por qual razão deve-se manter um saldo mínimo de capital na empresa. A partir da leitura desta aula, você será capaz de avaliar os custos de capital existentes e qual será a melhor decisão de financiamento na empresa, sempre ponderando o melhor nível de capital próprio e capital de terceiros. Estará apto, também, a identificar uma gestão eficiente do caixa com o estabelecimento de um relativo valor de capital.
Você já deve ter ouvido algum comentário, ou lido alguma reportagem a respeito de financiamento. Em razão disso, pergunto-lhe: por qual razão as empresas buscam financiamento? Esta indagação não possui somente uma resposta. Se você replicar que o principal motivo está baseado no fato de que, para se realizar projetos e investimentos de longo prazo, é necessário alto volume de capital, você estará correto. Se afirmar também que é preciso que a empresa tenha uma parte de capital próprio e outra de capital de terceiros para alavancar o seu negócio, não estará errado. Se disser, ainda, que o financiamento serve para que a empresa não se desonere, buscando utilizar o seu capital próprio como capital de giro, estará absolutamente certo. É com base nesse contexto que iniciaremos o estudo de nossa aula a partir do entendimento do custo de capital.
CUSTO DE CAPITAL Dentro da decisão de financiamento, o gestor financeiro possui grande relevância e um papel extremamente complexo. Afinal, o capital de terceiros sempre será devolvido com algum juro que, se mal avaliado, pode acarretar em um alto dispêndio de capital para a empresa. É muito importante realizar a análise do custo de capital nos financiamentos, para que estes fatores não provoquem resultados insatisfatórios para a organização. Segundo Lemes Júnior, Rigo e Cherobim (2010, p. 198), “o custo de capital
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é fundamental no desconto dos fluxos de caixa utilizados nas decisões de investimento de compra de ativos”. Cabe aqui a ressalva de que esse custo sempre representará o reflexo: do desenvolvimento da economia e do mercado; das decisões operacionais e financeiras da instituição, bem como do montante de capital financiado. Como você pode observar, cada financiamento proporciona um custo de capital diferente, o que torna a análise deste fator um elemento importante dentro da decisão de financiamento. Podemos dizer, então, que o custo de capital representa o retorno exigido pelos proprietários, no caso de capital próprio, e o retorno exigido pelas instituições financiadoras, no caso de capital de terceiros. (DAMODARAN, 2002). O seu cálculo pondera a necessidade de capital, a fonte do financiamento e o seu custo específico. O estabelecimento do custo de capital pode proporcionar para a instituição uma grande vantagem competitiva perante os seus concorrentes. Suponhamos que a empresa X tenha um custo de capital de 20%, enquanto que a empresa Y possui um custo de capital de 26%. Responda: qual empresa poderá aprovar um projeto que tenha uma rentabilidade de 21%? Se você disse que o projeto Y permite essa aprovação, você está equivocado. Nesta situação, somente o projeto X possibilita aceitar este projeto, uma vez que o retorno é superior ao custo de capital. Um segundo exemplo pode ser dado remontando a Taxa Interna de Retorno TIR, a qual vimos na Aula 4. Digamos que um projeto apresenta uma TIR de 15% e seu
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custo de financiamento é de 8%. Neste caso, como gestor financeiro, você aprovaria a execução do projeto? Com certeza você deve aceitar o investimento, uma vez que o custo é inferior à Taxa Interna de retorno. Sempre que o custo for superior à Taxa Interna de Retorno (caso adote esse índice como parâmetro), o projeto não deve ser aceito, pois o retorno financeiro real será menor que o custo de capital, o que representa um prejuízo ou perda financeira. Um terceiro exemplo fixará ainda mais a aplicação desse fator na gestão financeira. Imagine que uma empresa possui um custo de capital próprio de 18%, e de 14% para o custo de capital de terceiros. Se os projetos dessa organização possuem um custo de capital em torno de 14%, qual capital deve ser utilizado por essa empresa para financiar estes projetos? Se você respondeu: “capital de terceiros”, não fique inseguro, porque está correto. Contudo, há uma ressalva para esta situação, pois a companhia está usando a sua capacidade máxima de endividamento, e, futuramente, deverá utilizar uma pequena parte do capital próprio para não aumentar ainda mais o seu endividamento. Agora que vimos a aplicação deste conceito na administração financeira, vamos entender o que são esses custos e como eles são calculados. Antes de seguirmos, veja, a seguir, a fórmula geral do custo de capital.
ros sobre o capital de terceiros, somada à divisão dos dividendos pelo capital próprio. Observe que temos nos numeradores a remuneração do capital, enquanto que nos denominadores estão os valores de capital.
CUSTO DE CAPITAL DE TERCEIROS O custo de capital de terceiros pode ser considerado como sendo o retorno das
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A sigla “k” representa o custo de capital, que é obtido a partir da divisão dos ju-
operações de financiamento de longo prazo, após o desconto do Imposto de Renda (LEMES JÚNIOR; RIGO; CHEROBIM, 2010). É importante ressaltar que este custo deve ser calculado sempre após o Imposto de Renda, uma vez que os valores do fluxo de caixa devem ser reais e não nominais. O seu índice pode ser apurado por meio da equação a seguir:
O custo de capital de terceiros é apurado por meio da divisão dos juros pelo capital de terceiros descontado o imposto de renda. Ressalto que imposto de renda deve estar no formato decimal, para que a aplicação da fórmula forneça a resposta correta.
CUSTO DE CAPITAL PRÓPRIO Este custo configura como sendo retorno mínimo exigido pelos proprietários da empresa (LEMES JÚNIOR; RIGO; CHEROBIM, 2010). Relembrando a Aula 1, a legislação prevê que, na possibilidade de falência da corporação, os acionistas só poderão resgatar os seus direitos, depois de já ter quitado todos os seus débitos com terceiros. A equação deste custo de capital está expressa a seguir:
Para achar o custo de capital próprio, basta dividir os dividendos pelo capital próprio.
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CUSTO DOS LUCROS RETIDOS Podemos denominar este custo como sendo o retorno que os acionistas exigem sobre a retenção do lucro ou parte dele (LEMES JÚNIOR; RIGO; CHEROBIM, 2010). Representa o valor não distribuído aos proprietários por direito, oriundo de resultados financeiros positivos. Isso ocorre quando o retorno da utilização do lucro for superior ao custo de oportunidade dos acionistas. O custo dos lucros retidos, que também pode ser chamado de autofinanciamento, devido a essa reutilização do capital, deve ser igual ao custo das ações ordinárias.
CUSTO DE CAPITAL DAS DEBÊNTURES Esse custo é o valor pago com o desconto do imposto de renda aos proprietários de debêntures (LEMES JÚNIOR; RIGO; CHEROBIM, 2010). A sua equação está definida a seguir.
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É possível descobrir este custo através da soma do custo de um título livre de risco com o prêmio de risco de negócios e o prêmio de risco financeiro, descontado o imposto de renda. Ressalto que o imposto de renda deve estar em formato decimal, para que a resposta final esteja correta.
CUSTO MÉDIO PONDERADO DE CAPITAL Segundo Gitman (2009, p. 444), “o Custo Médio Ponderado de Capital reflete o custo futuro médio esperado dos fundos no longo prazo”. Ainda conforme o mesmo autor, “esse custo é obtido por meio da ponderação do custo de cada tipo específico de capital por sua participação na estrutura de capital da empresa”. O objetivo deste custo na gestão financeira é provocar uma remuneração maior para o proprietário, e menor para o financiador. Para efetuar o cálculo deste custo, basta multiplicar a participação na estrutura de capital (que deve estar em porcentagem) pelo custo de capital após o desconto do imposto de renda. Veja o exemplo da Tabela 1.
Fonte de
Custo de capital
Participação
financiamento
depois do IR
na estrutura de
Custo ponderado
capital (%) Capital próprio
0,168
45
7,56
Capital de
0,145
55
7,975
100
15,535
terceiros Total
Fonte: O Autor
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Tabela 1 - Cálculo do Custo Médio Ponderado de Capital
Observe, na tabela, que a participação na estrutura de capital serviu como peso para o cálculo do custo ponderado. É por essa razão que este custo tem essa denominação (custo médio ponderado). Nessa situação, o custo está em aproximadamente 15,5%. Você viu que o Custo Médio Ponderado de Capital busca proporcionar um ganho menor para o financiador, mas este custo tem ainda mais uma função: a de equilibrar o nível de endividamento e capital próprio. Afinal, caso a empresa utilize somente capital de terceiros, ela terá, em longo prazo, problemas de solubilidade financeira e, certamente, não terá acesso a mais financiamentos. Selecionado o melhor custo de capital para a operação de financiamento, o administrador financeiro retorna a sua atividade constante e rotineira, que é a de gerir o caixa proporcionando o melhor ciclo para a eficiência da empresa. Este será o assunto que veremos a partir da próxima seção.
ADMINISTRAÇÃO DO CAIXA Caixa, ou Disponível, compõe uma conta do ativo no balanço patrimonial. Lembra que vimos isso na Aula 2? Por fazer parte do subgrupo ativo circulante, o caixa possui liquidez imediata. O capital presente no caixa é mantido na tesouraria ou na conta corrente da empresa, para utilização em qualquer momento de sua rotina diária. Qualquer que seja o ativo da organização, um dia ele foi pertencente ao caixa, e certamente no futuro será transformado temporariamente em caixa. Segundo Lemes Júnior, Rigo e Cherobim (2010, p. 375): Junto aos valores que formam o Caixa são somados os recursos, eventual e momentaneamente ociosos, que estão aplicados no mercado financeiro, sob a denominação de títulos negociáveis, considerados como quase caixa pelas suas características de grande liquidez e risco minimizado.
A atividade de administração do caixa pode ser representada pela tesouraria, na qual reflete toda a política da corporação, que vai desde a compra até a venda e formação de estoques; e do investimento até a concessão de crédito. Isso quer dizer que o caixa da instituição deve estar concatenado com toda a sua filosofia e estratégia, permitindo, inclusive, que o gestor desta área atue ativamente na construção de novas políticas, almejando manter a solubilidade financeira. Para Hoji (2010, p. 111), “a
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administração eficiente do caixa (disponibilidades) contribui significativamente para a maximização do lucro das empresas”. Essa necessidade atribui ao gestor financeiro do caixa a importância de conhecer quais áreas, regiões e agentes que geram maiores entradas e saída de caixa. Ainda segundo Hoji (2010, p. 111): O tesoureiro, que é o executivo responsável pela administração do caixa, deve ter uma visão integrada do fluxo de caixa de sua empresa e interagir preventivamente junto a áreas geradoras de recebimentos e de pagamentos.
Isso configura como responsabilidade deste gestor, alertar e coordenar os agentes com o objetivo de evitar que a empresa tenha escassez de caixa e, concomitantemente, permitir que ela obtenha bons descontos em compras quando tiver excesso de caixa. Para prosseguir com nosso estudo, faço-lhe uma pergunta: por qual(is) motivo(s) as empresas deixam capital em caixa? Segundo a teoria Keynesiana existem três motivos que justificam este ato: a negociação ou transação, a precaução e a especulação (HOJI, 2010). Os dois primeiros motivos (negociação e transação) ocorrem quando a companhia deseja manter di-
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nheiro para necessidade de troca. Já a especulação acontece para proteger a riqueza da corporação.
MOTIVO DE TRANSAÇÃO Como você leu anteriormente, esta necessidade também pode ser denominada negociação. Para Assaf Neto (2011, p. 657), “o motivo de transação (ou negócio) é explicado pela necessidade que uma empresa apresenta de manter dinheiro em caixa para efetuar os pagamentos oriundos de suas operações normais”. Toda organização possui despesas correntes, que serão honradas conforme um cronograma previsto. Ainda conforme Assaf Neto (2011, p. 657), “o motivo de transação tem por finalidade cobrir as necessidades de caixa geradas pelos negócios normais da empresa”. Esse motivo possibilita que a empresa quite as suas obrigações dentro do período correto, e permaneça com a sua atividade operacional. Cabe a ressalva de que existem fatores que influenciam diretamente no estabelecimento do nível de caixa nessa motivação, que são eles: características dos negócios, extensão do ciclo operacional e sazonalidade. Essa motivação decorre em face da instabilidade do mercado, que ocasiona incerteza nos pagamentos e recebimentos do fluxo de caixa. Este fato gera a falta de sincronismo no caixa da empresa, o que torna necessária a manutenção de uma determinada quantia. O sincronismo das entradas e saídas, ocasionando saídas em período posterior à entrada, diminui a exigência de capital em caixa em virtude deste motivo.
Quantas vezes você teve uma despesa extra em seu orçamento pessoal? Provavelmente, em diversas situações, não é mesmo? E como você se comportou depois que teve essas despesas inesperadas? Hoje você acumula um fundo de reserva para suprir essas surpresas desagradáveis? Este motivo de necessidade de caixa explica exatamente esse fato, afinal é natural que ocorram: Despesas imprevistas e extraordinárias nos negócios empresariais
67 topicos especiais em finanças
MOTIVO DE PRECAUÇÃO
(variações inesperadas nas rendas e nos preços de alguns fatores de produção, insolvência de clientes e outras contingência), e, quanto maior for o saldo de caixa para enfrentar essas exigências monetárias inesperadas, tanto maior será a margem de segurança de atuação da empresa. (ASSAF NETO, 2011, p. 658)
Se você já teve a oportunidade de ver o orçamento de uma organização, possivelmente deve ter observado que sempre existe uma diferença entre o real e o orçado, onde o real é comumente maior, mesmo tendo cumprido todos os gastos exatamente como o orçado. Esse capital a mais no orçamento real é oriundo deste motivo. Ressalto que essa imprevisibilidade varia de acordo com o setor e natureza do negócio. Quanto mais voláteis a empresa e o mercado no qual ela está inserida, maior a necessidade de
capital em caixa. E quanto melhor a imagem da empresa perante o mercado, maior ________________________ será a sua possibilidade de conseguir crédito para a realização de um investimento, e ________________________ menor será a exigência de caixa.
MOTIVO DE ESPECULAÇÃO Esse motivo, embora exista, é o mais difícil de ser percebido entre as empresas, especialmente as de médio e pequeno porte. Isso ocorre, porque nem sempre as empresas possuem condições de acumular capital em caixa (que poderiam estar sendo utilizados de outras formas) para esperar uma situação proveitosa. (Lembra-se da relação risco e retorno que estudamos na Aula 3?) Diversas oportunidades de investimento atraentes costumam surgir de forma não prevista, sem dar tempo para a empresa buscar financiamento no mercado. Estas oportunidades somente podem ser aproveitadas com caixa. É o motivo de especulação. (ASSAF NETO, 2011, p. 658)
Como você pode observar, as grandes companhias é que possuem mais condições de analisar o mercado de modo amplo, e reservar um relativo capital em caixa com o objetivo de realizar/aproveitar a sua previsão de oportunidade (especulação). Vimos, até aqui, os motivos que ocasionam um acúmulo de caixa, contudo pergunto-lhe: qual o nível mínimo que deve ser mantido pelas empresas? Esse questionamento
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será respondido na próxima seção.
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SALDO MÍNIMO DE CAIXA Antes de iniciarmos esta seção, quero que você fixe a ideia de que a definição do saldo mínimo de caixa deve favorecer o aumento do valor da empresa. Uma das finalidades da gestão do caixa é manter um saldo mínimo de recursos que possa ser utilizado imediatamente em função da incerteza associada aos fluxos de recebimentos e pagamentos (principalmente recebimentos), pois caso os recebimentos previstos não se realizem conforme a previsão, poderiam ocorrer problemas de inadimplência temporária. (HOJI, 2010, p. 112)
Veja que a finalidade para a manutenção de um saldo mínimo de caixa é uma condensação dos motivos descritos por Keynes (transação e precaução). O argumento do último autor citado é ratificado por Assaf Neto:
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O objetivo geral da manutenção de um saldo mínimo de caixa é o de permitir que empresa possa corretamente saldar seus compromissos programados e manter, ainda, uma reserva de segurança de forma a cobrir suas necessidades de pagamentos imprevistos (não programados). (ASSAF NETO, 2010, p. 661).
Para o estabelecimento mínimo do volume de capital adequado em caixa, existem alguns modelos matemáticos que estimam esse montante. O problema é que diversas empresas não determinam esse saldo mínimo a ser utilizado, pois o seu capital de giro é insuficiente e, portanto, não permite que exista um saldo fixo em caixa. Essa é uma das grandes razões para a falência de inúmeras empresas. Antes de vermos a fixação do saldo mínimo em caixa, precisamos ponderar alguns fatores que interferem nesse resultado. No Quadro 1, é possível ver a relação desses fatores. Quadro 1 - Fatores que interferem na determinação do saldo mínimo de caixa
FATOR
DESCRIÇÃO Como temos visto em todas as nossas aulas, cada setor possui suas características essenciais para sobrevivência no mercado. Algumas destas já
Peculiaridade de cada setor de
fazem parte da cultura do mercado, podendo
atividade
também estar associadas à região na qual a empresa está inserida.
de caixa
é preciso que a administração financeira seja planejada, e que todas as suas entradas e saídas de caixa estejam previstas em seu orçamento. Essa gestão gera uma confiança maior no estabelecimento do montante de caixa.
Exigências de reciprocidade
Todos os bancos cobram uma tarifa para prestação
bancária
dos mais diversos serviços. Cabe ao gestor do caixa analisar as propostas realizadas pelo banco,
69 topicos especiais em finanças
Previsibilidade das entradas e saídas Como também temos visto em nossas aulas,
levando em consideração as perdas que a empresa terá perante o banco, caso não necessite pagar estes encargos ou tarifas. Às vezes é preferível pagar esses valores a aceitar as propostas realizadas pelas instituições bancárias. Capacidade de captar recursos
Como vimos no motivo da precaução, as empresas
próprios ou de terceiros
com crédito favorável no mercado possuem mais possibilidades de manter um saldo menor em caixa, enquanto as que têm menores chances de conseguir financiamentos devem ter capital em caixa em valor maior. As empresas que formam grupos corporativos usam dessa vantagem para diluir os seus caixas e não depender exclusivamente das instituições bancárias, onde uma empresa do grupo pode emprestar o seu dinheiro a outra do mesmo grupo.
Fonte: Adaptado de Lemes Júnior, Rigo e Cherobim (2010)
Para as peculiaridades de cada setor, podemos citar como exemplo a venda de carros. Por acaso, existe alguma loja que venda somente carros a vista? Este setor tem como característica principal a venda parcelada, que garante inclusive um número maior de vendas. A lei da oferta e da demanda também pode ser considerada neste fator. Afinal, diante de uma escassez de determinado produto, o seu preço certamente aumentará, o que tornará as condições mais rigorosas para a compra e a possibilidade de aquisição menos acessível. Para a exigência de reciprocidade bancária, podemos citar a proposta comum na qual o banco sugere que a empresa receba os seus créditos em tempo posterior ao do regime de caixa. Por exemplo, a empresa recebe o seu pagamento, mas o banco bloqueia este crédito por dois dias, para utilizar no mercado financeiro como aplicação. Para a empresa, é preciso avaliar os impactos gerados nesses dois dias, e deliberar se a isenção e a redução nas tarifas e encargos compensarão esse retardo em todos ou em parte de seus recebimentos. Como disse anteriormente, mais especificamente no início desta seção, existem modelos matemáticos que ajudam a determinar o valor ideal de capital em caixa. O critério mais simplório e muito difundido entre as organizações está descrito na expressão a seguir:
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O numerador é representado por todos os gastos da empresa no período, que são esperados dentro do ciclo operacional. Isto quer dizer que, caso uma entidade tenha seus dispêndios estimados durante o ano X no valor total de R$ 500.000,00 e seu giro de caixa neste mesmo ano X for de 5 vezes, o gestor deste caixa deve manter um saldo mínimo de R$ 100.000,00 no período. Com esta ação, ele possui toda probabilidade de honrar seus débitos no tempo estimado. As críticas existentes ao estabelecimento do saldo mínimo de caixa estão baseadas no motivo de precaução. Como você deve ter visto nesse exemplo, as incertezas não são ponderadas neste cálculo, o que torna necessário realizar alguns ajustes, considerando:
Os riscos inerentes ao fluxo de caixa (entradas e saídas); A queda no poder de compra da moeda (inflação) e; A sazonalidade operacional.
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Para atenuar essa fragilidade, o gestor pode trabalhar com espaços de tempo mais curtos. Isto permite realizar uma análise mais constante, diminuir os possíveis efeitos imprevistos, bem como ajustar o caixa da empresa aos novos cenários.
SÍNTESE Nesta aula, estudamos que as decisões de financiamento devem ser tomadas a partir de análise minuciosa do custo de capital. Determinar o nível de capital próprio e de terceiros é um grande desafio para o administrador, contudo, calcular os mais diversos custos de capital, especialmente o Custo Médio Ponderado de Capital, é uma atividade essencial para uma decisão mais acertada. Estudamos, ainda, a administração do caixa, entendendo os motivos pelos quais o gestor financeiro não deve deixá-lo sem saldo, bem como deve também preparar a empresa para possíveis imprevistos de liquidação imediata. Por fim, descobrimos como mensurar o saldo mínimo de capital que deve permanecer em caixa, levando em consideração os fatores que podem alterar esse montante e os ajustes que devem ser adotados para o cálculo do saldo mínimo de caixa.
A partir da leitura de nossa aula, pense em qual deve ser o modelo mais adequado de administração do caixa e de apuração dos custos de capital, com vistas à melhor decisão de investimento para o cumprimento dos objetivos estratégicos do sistema corporativo.
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QUESTÃO PARA REFLEXÃO
LEITURA INDICADA PIMENTEL, Renê Coppe; ALBANEZ, Tatiana. Custo de capital próprio e decisões de financiamento sob a perspectiva da teoria de market timing. XXXVI EnANPAD 2012. Rio de Janeiro: ISSN 2177-2576, ID FIN1917, 2012.
SITES INDICADOS http://www.ead.fea.usp.br/semead/5semead/Finan%E7as/Modelos%20de%20Administra%E7ao%20 de%20Caixa.pdf
http://www.cavalcanteassociados.com.br/utd/UpToDate449.pdf
REFERÊNCIAS ASSAF NETO, Alexandre; LIMA, Fabiano G. Curso de Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 2011.
DAMODARAN, Aswath. Finanças Corporativas Aplicadas. Porto Alegre: Bookman, 2002.
GITMAN, Lawrence J. Princípios de Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 2009.
HOJI, Masakazu. Administração Financeira e Orçamentária. São Paulo: Atlas, 2010.
LEMES JÚNIOR, Antônio Barbosa; RIGO, Cláudio Miessa; CHEROBIM, Ana Paula Mussi Szabo. Administração Financeira: Princípios, Fundamentos e Práticas Brasileiras. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
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LÍTICAS DE CRÉDITO E COBRANÇA Autor: Mário Rafael de Mello Chaves
“Nunca gaste seu dinheiro antes de recebê-lo”
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AULA 06 - O CAPITAL CIRCULANTE E AS PO-
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(THOMAS JEFFERSON)
Olá! Chegamos a nossa sexta aula! Espero que esteja gostando e aproveitando todo o conteúdo! Vimos, na aula passada, que o gestor do caixa administra o capital que possui liquidez imediata. Estudamos, também, que uma parte dos recursos que passam pelo caixa dá origem aos bens do ativo. Nesta aula, conheceremos as estratégias para a consolidação de uma gestão eficiente, na qual a empresa possa ter: uma maior garantia dos recebimentos de suas vendas, bem como uma maior probabilidade de que seus clientes quitem suas obrigações no prazo acordado. Com a leitura desta aula, você será capaz de entender como gerir os ativos circulantes de uma corporação, a partir da previsão de recebimentos. Antes de iniciarmos esta aula, convido você a responder um daqueles meus questionamentos capciosos? A pergunta é: de onde vem o lucro? Para melhorar o seu entendimento, faço a mesma indagação utilizando outras palavras: qual é a base originária do capital repassado aos sócios/proprietários/acionistas? Então, você já sabe a resposta? Se você avaliar com calma esse questionamento, verá que a resposta está baseada na geração de caixa. Esse é um assunto que já vimos na última aula e que retorna neste momento com uma análise mais acurada, considerando a oferta de crédito e a cobrança de recebimentos em prol do aumento na entrada de capital.
CAPITAL CIRCULANTE Estudamos, na Aula 4, que o ativo circulante, que também pode ser chamado de capital de giro ou capital circulante, é relativo aos recursos de curto prazo e, por isso, é necessário que a administração tenha habilidade para agir celeremente. Em virtude da grande instabilidade no mercado brasileiro que, como consequência, trouxe altas taxas de inflação no passado, os administradores financeiros do Brasil adquiriram notória expertise na gestão deste capital. A primeira lição que você deve compreender é que, para assegurar um gerenciamento mais eficiente, sempre deverão ser estabelecidas políticas de gerenciamento do capital circulante. A segunda é que essas políticas e diretrizes deverão ser constantemente revisadas para adaptação às transformações ocorridas nos ambientes nos quais a organização se insere. Segundo Lemes Júnior, Rigo e Cherobim (2010, p. 374):
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As políticas voltadas para a administração do capital circulante objetivam definir: a) o volume de investimentos necessários no total do capital circulante; b) a distribuição desses investimentos em caixa, valores a receber e estoques; e c) como serão financiados esses investimentos. As políticas relacionam-se sempre a um volume preestabelecido de vendas.
Isso quer dizer que os recursos financeiros disponibilizados no ativo circulante devem permitir que as três ações mencionadas pelos autores supracitados sejam possíveis de realizar. O volume de investimentos necessários no capital circulante refere-se ao valor mínimo que deverá ser exigido para que a empresa consiga executar o seu plano estratégico com vista à concretização de suas metas. A partir dessa premissa, faço-lhe uma pergunta: é melhor escolher poucos ativos com altas taxas de lucro líquido, ou é preferível selecionar um número maior de ativos com taxas menores de valor líquido? Para responder a essa pergunta, peço que observe o esquema em destaque. Retorno sobre o Investimento Total = Lucro Líquido: Ativo Total
Veja, nesse esquema, que quanto mais ativos você tiver (em valores monetá-
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rios), maior deverá ser o lucro líquido para que se tenha um retorno melhor. Na prática, os gestores devem sempre mensurar esse retorno antes de deliberar sobre o valor dos ativos que irão compor o capital circulante, porém é muito provável que ele opte por ativos com altas taxas de lucro líquido. Ainda dentro do estudo do volume de investimentos, tem-se o ciclo de conversão de caixa, conforme vimos na Aula 4, informando que quanto maior for esse ciclo, menos favorável isso é para a organização. Toda essa questão expõe o seguinte dilema para decisão do administrador financeiro: o valor de capital circulante deve ser muito enxuto ou mais flexível? Se a política adotada pela instituição prezar pela contenção de capital, o caixa deverá funcionar com recursos demasiadamente limitados, bem como as vendas poderão ser perdidas por uma baixa concessão de crédito e redução dos estoques. Já se a política imposta for mais flexível, a tendência é de que esses problemas não existam, contudo a rentabilidade da empresa será expressamente menor. Para estabelecer a distribuição dos investimentos em caixa, valores a receber e estoques, é preciso que o volume de investimentos necessários no total do capital circulante já tenha sido definido anteriormente. O setor e o mercado no qual a empresa está inserida também devem ser analisados antes de decidir essa distribuição. Isso é muito importante, pois a depender do setor e do mercado, existirão necessidades distintas de investimentos em proporções diferenciadas. Pense em termos percentuais e responda: como seria a distribuição de capital para investimento em empresas do setor varejista e de prestação de serviços? Certamente, você dirá que, para tomar uma decisão deste âmbito, é preciso conhecer também a economia do país, as particularidades do setor e as políticas da organização para poder definir essas parcelas. Se você deu essa resposta, estará absolutamente correto! Esse é mais um dilema para o administrador financeiro, afinal descobrir a por-
principalmente quando envolve um mercado instável. A última ação que pode ser realizada por meio das políticas de gerenciamento do capital circulante é a definição de como serão financiados os investimentos. Logicamente, a disponibilização de capital circulante dependerá das linhas de crédito e financiamento existentes para as empresas no país. Caso esse acesso seja difícil, o volume de investimentos no ativo circulante será baixo. Por essa razão, a política de gerenciamento interferirá na fixação deste volume, uma vez que o gestor precisará
75 topicos especiais em finanças
centagem certa de distribuição do capital circulante não é uma tarefa fácil e simplória,
avaliar o objetivo da empresa e os custos de capital para decisão de financiamento dos investimentos. Vimos, até aqui, que a definição e as políticas do capital circulante impactam de modo incisivo nas estratégias da organização. Ressaltamos, contudo, que os pagamentos e os recebimentos precisam ser realizados, impreterivelmente, dentro de seus prazos antecipadamente acordados. Esse será o foco de estudo de nossa próxima seção.
ADMINISTRAÇÃO DE RECEBIMENTOS E PAGAMENTOS Temos visto, em todas as nossas aulas, que as estimativas, os controles e as estratégias da organização ocorrem com base no fluxo de caixa da empresa. Você sabe que o fluxo de caixa é composto pelas entradas e saídas de dinheiro da companhia. Motivado por essa importância, a gestão financeira ganha mais uma responsabilidade em sua esfera de atividades: a administração dos pagamentos e recebimentos. Isso pode ser ratificado pela ideia de Gitman (2009, p. 566): “o recebimento, o processamento e a transformação em caixa de pagamentos recebidos de clientes e feitos a fornecedores é o foco da administração de recebimentos e pagamentos”. Uma das formas de gerenciar o fluxo de caixa de modo eficiente é acompanhando o float da organização. Segundo Assaf Neto e Lima (2011, p. 661), o “float são recursos pagos pelo devedor, mas que ainda não foram recebidos (creditados) pelo credor do pagamento. Quanto maior o float, mais elevado se apresenta o prazo de recebimento da empresa”. O float é extremamente relevante para auferir o ciclo de conversão de caixa, e a empresa pode utilizá-lo em seu favor. Você se arriscaria em dizer como isso poderia acontecer? Não? Então, veja o exemplo a seguir: Uma empresa recebe um float, o que quer dizer que não terá o crédito em sua conta corrente no prazo imediato. Essa mesma empresa pode utilizar a técnica do float em seus pagamentos, gerir esses créditos e débitos para não gerar perda de caixa! O gestor financeiro desta organização ainda pode utilizar os dias compreendidos entre o pagamento e a compensação para investir o seu capital no mercado financeiro de curto prazo.
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76 Como você pode observar, a solução para atenuar os efeitos de uma ineficiência de caixa é gerenciando o seu float. Segundo Gitman (2009), a gestão do float divide-se em três tipos, conforme pode ser visualizado no Quadro 1.
Quadro 1 - Tipos de Float
Float Float de postagem
Descrição Tempo compreendido entre o envio do pagamento e recebimento pelo credor.
Float de processamento
Espaço de tempo entre o recebimento pelo credor e o depósito em sua conta corrente.
Float de compensação
Tempo compreendido entre o depósito do pagamento e a disponibilização do capital para o credor, tal como o tempo de um cheque que é compensado pelas instituições bancárias. Fonte: Adaptado de Gitman (2009)
Diante dos três tipos de float que foram apresentados no quadro, a pergunta que lhe faço agora é: como acelerar os recebimentos e retardar os pagamentos da
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empresa? Essa é mais uma das grandes dificuldades encontradas pelos administradores financeiros. Afinal, gerir o fluxo de caixa, tendo as datas acordadas, já é uma tarefa bastante complexa. Então, imagine gerenciar este mesmo fluxo com entradas e saídas de capital em um espaço de tempo maior que o acordado? Em razão dessa dificuldade da gestão financeira, você verá, nos próximos tópicos, técnicas de utilização na gestão do float, almejando o ganho financeiro.
RAPIDEZ NA COBRANÇA Antes de prosseguirmos nesta seção, quero que você fixe a ideia de que a política de cobrança deve estar aliada à política de crédito. Isto quer dizer que: Não deve ser facilitada demasiadamente a concessão de crédito para, posteriormente, ter de aplicar rigidez na cobrança, ou vice-versa. Se já for esperada a dificuldade de cobrança no ato da concessão do crédito a determinados clientes, a avaliação do crédito deverá ser mais rigorosa.
(HOJI, 2010, p. 131).
Como vimos na Aula 1, a política financeira da empresa deve estar enraizada em todos os setores, afinal o setor de marketing pode ampliar o número de vendas com a visão de que está contribuindo positivamente. Porém, se eles não considerarem que o cliente pode não quitar a sua obrigação, ou pode ainda retardar esse pagamento, a
totalmente míope. O ideal é que, na hipótese de a equipe de vendas ser a responsável pela concessão do crédito e receber uma comissão sobre este montante, o pagamento desta comissão sobre as vendas deverá ser realizado somente após o pagamento do cliente. No caso do float de cobrança, uma ação que vise uma celeridade nas cobranças dos recebimentos, certamente, gerará uma redução neste intervalo, bem como no prazo médio de recebimento e, por consequência, no ciclo de conversão de caixa. As
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organização terá problemas de fluxo de caixa, e esta visão do setor de marketing será
técnicas para aceleração das cobranças estão listadas no Quadro 2.
Quadro 2 - Técnicas de cobrança aos devedores
Via de cobrança Via bancária
Mecanismo Cobrança simples
Descrição O banco recebe o borderô da empresa com todos os dados referentes à cobrança, e emite os títulos contra o devedor. Após o pagamento do devedor, a instituição bancária efetua o depósito na conta da empresa credora. Caso a empresa devedora não pague, a responsabilidade pela cobrança é da empresa credora, e não do banco.
Caução dos títulos
Os títulos emitidos pelo banco para a empresa credora representam garantias para tomada de empréstimos por essa mesma empresa.
Desconto dos títulos
O banco auxilia a empresa credora informando quais dos seus títulos tem baixo risco, e, portanto, servem para liquidar empréstimos que tenham sido ou possam ser adquiridos. Caso o título não seja pago pela empresa devedora, o banco desconta o valor do título da conta corrente da empresa credora.
Via carteira
É a forma mais antiga de cobrança e refere-se aos setores de cobrança que as empresas dispõem ou dispunham. Nesse mecanismo, as organizações possuem menores custos uma vez que não precisam de intermediários, contudo necessitam ter um amplo controle sobre os vencimentos e recebimentos. A área de cobrança precisa cobrar o cliente; receber o valor; identificar o crédito; e dar baixa na cobrança, verificando se o vencimento foi cumprido. Diversas empresas adotam essa metodologia, através da emissão de carnê de pagamento, onde o cliente precisa retornar à loja para quitação do valor e, por consequência, pode acabar consumindo mais produtos.
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Via representante
É a ação de carteira realizada por terceiros autorizados. Ocorre nos casos em que a empresa contrata um escritório para realizar as cobranças de seus pagamentos, em virtude da distância geográfica de seus devedores. Fonte: Adaptado de Lemes Júnior, Rigo e Cherobim (2010)
O recebimento dentro do prazo acordado é a situação ideal para a administração financeira da empresa credora, todavia atrasos e não recebimentos devem ser pontos de muita atenção da gestão. Para estes casos, a empresa deve possuir uma política bem estabelecida, que inclusive tenha sido divulgada para o cliente antes da compra. Vale lembrar que: Conforme o teor da seção sobre o sistema de pagamentos brasileiros, o Banco Central implantou, a partir de maio de 2002, o SPB Sistema de Pagamentos Brasileiro - via meio eletrônico, que tende a reduzir a importância dos floats, porque pagamentos e recebimentos ocorrem em tempo real. (LEMES JÚNIOR; RIGO; CHEROBIM, 2010, p. 379).
Nesse contexto de cobrança, cabe ainda a sinalização de que os clientes são di-
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ferentes e, portanto, é preciso que o administrador financeiro investigue o histórico de cada situação. Devedores com potencial de parceria e alta possibilidade de pagamento devem ser pressionados com maior precaução e menor pressão. Da mesma forma que valores ínfimos devem ser analisados para descobrir se os custos de cobrança serão maiores que o recebimento de capital. Se esse custo for maior, o equívoco ocorreu na concessão de crédito e só resta aguardar o devedor se dispor a pagar.
CONCESSÃO DE CRÉDITO A concessão de crédito envolve as variáveis: seleção, padrões, termos e monitoramento de crédito. A seleção trabalha com a escolha dos clientes que podem ser confiáveis, e, portanto, podem ter crédito em sua empresa. Nesta seleção são estabelecidos pela empresa credora, os padrões mínimos para que o cliente possa desfrutar do crédito concedido. Existe uma metodologia de avaliação para concessão de crédito chamada cinco Cs do crédito. Segundo Damodaran (2002), eles são compostos por:
Caráter: analisa-se o histórico do cliente para verificar se este cumpre com as obrigações financeiras e no vencimento correto. Capacidade: investiga-se a possibilidade de pagamento do cliente diante suas demonstrações financeiras, em especial, os fluxos de caixa. Capital: mensura-se a relação da dívida do cliente e seu patrimônio líquido. Colateral: descobre-se quais os bens e direitos que o cliente dispõe como garantias. Condições: analisa-se a economia, o mercado, o setor e as situações específicas que envolvem o cliente.
Como você pode observar, esta avaliação é extremamente ampla e criteriosa. Por esse motivo, a maioria das empresas lança mão dessa técnica e outras a usam somente para decisão de créditos com altos valores. Cabe aqui a ressalva de que é necessária uma grande expertise dos analistas financeiros para realizar este tipo de avaliação. Essa avaliação, porém, fornece maior garantia de que a empresa não terá problemas de cobrança e não recebimento de créditos no futuro. Outra técnica muito utilizada para concessão de credito é o scoring de crédito.
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O seu uso é aconselhável para as situações de baixo valor e alto volume, a exemplo dos cartões de crédito. O seu cálculo envolve conceitos estatísticos e pesos ponderados, que avaliam, eficientemente, se o cliente honrará o seu compromisso. Os erros ocasionados nessa avaliação são irrisórios e, portanto, não fragilizam essa técnica que vem sendo a mais barata e rápida para as empresas. Já os termos de crédito referem-se às condições impostas aos devedores na concessão do crédito. Você já deve ter observado que quando recebe um boleto para pagamento, nele constam: a data de vencimento; o local de pagamento; os descontos financeiros para quitação até um limite de tempo, bem como as multas, juros e encargos, caso ultrapasse o vencimento, não é mesmo? Esses são os termos de crédito. Cada instituição opta por escolher os seus termos, conforme as suas necessidades de caixa e relacionamento com os seus clientes. A última variável a ser analisada na concessão de crédito é o monitoramento do crédito. Como o próprio nome define, trata-se do controle de como o devedor está se comportando diante dos termos de crédito impostos. Como vimos na seção anterior, se o devedor não cumpre com o vencimento pactuado, a área de cobrança sofre as consequências desse erro e a empresa sofre perdas financeiras. Segundo Gitman (2009), existem duas técnicas muito utilizadas para o monitoramento do crédito: o prazo médio de recebimento e a idade das contas a receber. O prazo médio de recebimento é o número médio de dias pelo qual as vendas a crédito permanecem sem quitação. Veja o esquema a seguir:
Prazo médio de recebimento = Contas a Receber: vendas Médias Diárias
Esse índice serve como monitoramento, uma vez que quando comparado com a realidade de recebimento da empresa, indicará se os termos de crédito estão de acordo. Como exemplo, suponha que uma organização estipula os seus recebimentos em 45 dias. Se o gestor financeiro descobrir que a empresa está tendo um prazo médio de recebimento muito distante desse número (45 dias), é muito provável que os termos de crédito não estejam sendo seguidos e será necessária uma investigação para apontar as concessões de crédito que estão ocasionando problemas. Se este índice (prazo médio de recebimento) estiver aumentando, é preciso ainda que o gestor financeiro descubra a idade média das contas a receber. A idade das contas a receber informa o tempo no qual está ocorrendo a maior
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proporção de recebimentos. Basta que a empresa registre, em uma planilha, os recebimentos de alguns meses e a porcentagem destas quantidades. Dessa forma, o gestor financeiro poderá identificar os problemas que estejam interferindo em seus termos. Na Tabela 1 e na explicação seguinte, você poderá ver melhor como funciona esta análise.
Tabela 1 - Tabela de idade das contas a receber
Idade das contas a receber
Valor ainda não recebido
Porcentagem
Até 30 dias
R$ 150.000,00
67,14%
De 31 a 60 dias
R$ 45.000,00
20,14%
De 61 a 90 dias
R$ 21.000,00
9,4%
De 91 a 120 dias
R$ 5.400,00
2,42%
De 121 a 150 dias
R$ 2.000,00
0,90%
Total em 31/12/X0
R$ 223.400,00
100%
Fonte: O Autor
Considere essa tabela como sendo a mensuração de uma empresa sobre a idade de seus recebimentos. Suponha que ela tenha estabelecido um prazo de crédito de 30 dias a partir da data da compra. Observe que 67% dos valores a receber estão dentro dos termos de crédito. O problema reside nos 33% que estão atrasados e, em especial, nos 13% com 31 dias ou mais de atraso (idade mínima de 61 dias). É preciso
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que o administrador tome alguma ação para reverter este quadro e, também, para que os 20% com 1 a 30 dias de atraso não se acumulem aos saldos já atrasados. Esse fato, certamente, traria um grande problema para o setor de cobrança desta organização.
RETARDAMENTO DE PAGAMENTOS Como estudamos anteriormente, o float tende a favorecer a empresa quando falamos em pagamentos. Para Assaf Neto e Lima (2011), existe uma técnica muito usada e que é eficaz para o gerenciamento de float: o controle de pagamentos. Essa técnica visa utilizar os recursos enquanto as suas compensações não ocorrem, sem trazer prejuízos para o seu rating de crédito. É preciso que o gestor financeiro avalie também se existe algum desconto financeiro, que poderia ser concedido para pagamentos antecipados, e se esses descontos são maiores que os ganhos gerados pelas operações de alongamento do pagamento. Por diversas situações, é preferível pagar uma dívida com o desconto financeiro a recorrer ao mercado financeiro de curto prazo para angariar algum ganho antes da compensação. Da mesma forma, pode ocorrer o contrário, no qual é melhor lançar mão do desconto e usufruir do ganho gerado com a operação de float. Para as pequenas empresas, pagar as suas dívidas com desconto financeiro, mesmo que pareça muito positivo, não é possível em virtude da falta de alternativas de financiamento de curto prazo, o que culmina, por diversas vezes, em perdas de ganhos financeiros. Temos visto que o alongamento de pagamentos sem o prejuízo do rating é o mundo ideal no ambiente empresarial. Todavia, é preciso fazer dois alertas: essa prática pode ser mal vista pelos fornecedores; e o aspecto ético e legal pode ser ferido. Você sabe por quê? O primeiro alerta é pertinente, pois assim como você almeja ver a com-
quer dizer que a visão que você cria de seus clientes, a respeito do não pagamento na data exata, é a mesma visão que podem criar da sua empresa. O segundo alerta é mais amplo e abrange o cumprimento do contrato firmado, bem como o estabelecimento de fluxo de caixa artificial. Funciona da seguinte forma: as demonstrações dos fluxos de caixa que são apresentadas pelas empresas, conforme estudamos na Aula 2, embora pareçam favoráveis, podem ser fruto de um alongamento nos pagamentos. Esse cenário transparece uma realidade operacional
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pensação de seus créditos na data exata, o seu fornecedor tem o mesmo intuito. Isto
positiva, contudo, pode representar uma tentativa de manipulação de informações. Com o monitoramento dos dias das contas a pagar, é possível descobrir se esses retardamentos nos pagamentos afetam de forma considerável o fluxo de caixa. Por essa razão, é notório que o administrador financeiro deve ter muita atenção ao definir a sua política de pagamentos. Estudamos, até aqui, como conceder o crédito para os nossos clientes, e como efetuar as suas cobranças de modo a não gerarmos um prejuízo maior para a empresa. Mudando o foco, mas tratando do mesmo tema, lhe pergunto agora: poderemos conseguir crédito no mercado? Certamente, existirão empresas e instituições que poderão subsidiar esse benefício, porém: qual escolher? Na próxima aula, teremos as respostas para estas indagações.
SÍNTESE Nesta aula, descobrimos as políticas voltadas para a administração do capital circulante e que tipo de informações ele pode gerar para a organização. Entendemos o significado do float e de que forma ele pode ser favorável para a organização. Estudamos as diferentes modalidades de cobrança das contas a receber e vimos que as políticas de crédito devem ser muito bem definidas para que a empresa não tenha problemas de cobrança. Analisamos as variáveis da concessão de crédito e quais são as formas mais usuais na realidade empresarial. Por fim, fizemos uma revisão no estudo do pagamento de passivos e descobrimos que o alongamento dos débitos deve ser realizado com muita prudência.
QUESTÃO PARA REFLEXÃO A partir desta aula, você já é capaz de definir uma política eficiente de pagamentos e recebimentos. Sendo assim, pense em como as grandes corporações conseguem administrar essas duas contas sem ocasionar prejuízos no seu rating, bem como na concessão de crédito aos seus clientes.
LEITURA INDICADA SOUSA, Almir Ferreira; Chaia, Alexandre Jorge. Política de crédito: uma análise qualitativa dos processos em
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empresas. Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 07, n. 3, p. 13-25, julho/setembro 2000
SITES INDICADOS http://www.abradif.com.br/upload/portal/pt/departamentos/treinamento/ financeiro0301.pdf http://congressousp.fipecafi.org/artigos82008/115.pdf
REFERÊNCIAS ASSAF NETO, Alexandre; LIMA, Fabiano G. Curso de Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 2011.
DAMODARAN, Aswath. Finanças Corporativas Aplicadas. Porto Alegre: Bookman, 2002.
GITMAN, Lawrence J. Princípios de Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 2009.
HOJI, Masakazu. Administração Financeira e Orçamentária. São Paulo: Atlas, 2010.
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LEMES JÚNIOR, Antônio Barbosa; RIGO, Cláudio Miessa; CHEROBIM, Ana Paula Mussi Szabo. Administração Financeira: Princípios, Fundamentos e Práticas Brasileiras. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
DE CURTO PRAZO
Autor: Mário Rafael de Mello Chaves “A economia é uma virtude distributiva e consiste não em poupar, mas em escolher”.
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AULA 07 - AS FONTES DE FINANCIAMENTO
(EDMUND BURKE)
Olá! Essa é a sétima e penúltima aula de nossa disciplina. Espero que desfrute deste aprendizado da mesma forma como você fez até aqui.
Na aula passada, estudamos a administração de recebimentos e pagamentos, e as políticas existentes de crédito e cobrança. Vimos as diversas modalidades de cobrança, e as diferentes formas para a escolha da oferta de crédito, para que a empresa não tenha problemas futuros de cobrança. Nesta nova aula, teremos a oportunidade de conhecer as fontes de financiamentos e empréstimos de curto prazo, que são as operações com período inferior a um ano. Após a leitura desta aula, você poderá identificar as melhores formas de adquirir crédito para o financiamento do capital de giro, bem como entender como são tomadas as decisões de empréstimos e utilização dos créditos disponíveis no mercado. Temos visto, em nossas aulas, que o objetivo do gestor financeiro é manter uma ________________________ administração eficiente com vistas a sempre obter ganhos. Segundo Gitman (2009, p. ________________________ 582), “à medida que as empresas crescem, aumenta a sua necessidade de capital para ________________________ sustentar estoques e contas a receber”. O controle adequado dessas contas a rece- ________________________ ber foi abordado na Aula 6, contudo não mencionamos que existirão momentos nos ________________________ quais a administração não terá recursos financeiros de curto prazo. Nessa situação, ________________________ pergunto-lhe: o que fazer? A resposta está na busca de capital de terceiros, que não ________________________ será utilizado no longo prazo, como temos visto, mas sim no curto prazo. Esse será o ________________________ tema inicial de nossa aula!
CAPITAIS DE TERCEIROS DE CURTO PRAZO Nas aulas anteriores, vimos que o capital próprio, que é o recurso do proprietário ou dos acionistas, é representado pelo capital alocado no patrimônio líquido. O seu uso para financiamento de ativos circulantes ocorre na hipótese de implantação de grandes projetos, além de demandas relativas a urgências financeiras. Vimos também que o capital de terceiros, como o próprio nome define, refere-se aos recursos emprestados e, por essa razão, eles representam o endividamento da empresa. Diante do exposto, surge um novo questionamento: quais são as fontes de recursos de curto prazo que podem financiar o ativo circulante das empresas? Segundo Lemes Júnior, Rigo e Cherobim (2010), são os créditos comerciais e os créditos bancários. Estudaremos estas categorias separadamente nas próximas seções.
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CRÉDITO COMERCIAL Este crédito é fruto de negociações oriundas da empresa a partir de suas atividades de mercado. Os custos financeiros são específicos para cada negociação realizada, e suas fontes podem partir de: fornecedores, impostos e obrigações fiscais ou outros créditos operacionais. O crédito de fornecedores é considerado como sendo a fonte mais relevante dentre as opções existentes, uma vez que está ligado ao prazo de pagamento. Utilizar a alternativa de compra a prazo é uma das estratégias das empresas para conseguir alcançar resultados satisfatórios de curto prazo, e você sabe por quê? Conforme Hoji (2010), se você pensar como gestor financeiro e analisar criteriosamente esta indagação, identificará os seguintes motivos:
Adequação à necessidade - o valor do crédito disponibilizado é diretamente proporcional à necessidade real da empresa, afinal uma instituição que produz e vende um alto volume de produtos, certamente precisará também de um alto volume de compras, e como consequência, poderá ter um crédito maior junto aos seus fornecedores. Menores custos - a grande maioria dos fornecedores oferece custos menores de créditos que os bancos, o que torna essa fonte bem mais vantajosa. Logicamente, quanto maior for o prazo para pagamento, maior será o custo do capital que será pago pelo
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recurso / matéria-prima adquirida. Oferta de crédito - os fornecedores ofertam crédito para conseguir dar vazão aos seus recursos / matéria-prima. Rapidez na concessão do crédito - se você comparar as empresas fornecedoras com os bancos, verá, claramente, que elas são bem menos burocráticas. Além disso, o rigor na concessão do crédito pelos fornecedores é inferior, e ainda existe a vantagem de você negociar as penalidades de forma muito mais flexível.
Para entender essa situação na atividade empresarial, convido-lhe para ser o gerente financeiro de uma instituição de pequeno porte. Suponha que essa organização, em que você comanda o setor financeiro, almeja comprar 6000 peças de um produto. O problema reside no fato de que essa empresa está com problemas de fluxo de caixa, e nos próximos dois meses existirá uma escassez de capital. Dentro desse contexto, você sabe que precisa comprar esses produtos, mas precisa avaliar as condições oferecidas pelo fornecedor. O fornecedor, por sua vez, diz que, para compras à vista, o preço é de R$ 34,00 por unidade; R$ 35,70 para pagamento em 30 dias; e R$ 38,20 para pagamento em 60 dias. Diante de suas possibilidades, você avalia os custos do pagamento em 1 mês, em 2 meses e parcelado (à vista, 30 e 60 dias). Sendo assim, qual a melhor opção de compra se depois de dois meses a empresa não tiver mais problemas de fluxo de caixa? E se a crise ultrapassar esses 60 dias, qual atitude você tomará se tiver um crédito bancário disponível ao custo de 5,2% a.m.? Se você montar o fluxo de caixa desta empresa com base nos dados fornecidos, encontrará o seguinte resultado:
Tabela 1 - Fluxo de caixa
Opção de compra
Valor financiado
30 dias
R$ (204.000,00)
60 dias
R$ (204.000,00)
Parcelado
R$ (136.000,00)
Pagamento em
Pagamento em
30 dias
60 dias
R$ 214.000,00 R$ 71.400,00
TIR 5,00%
R$ 229.214,40
6,00%
R$ 76.404,80
5,67%
Fonte: O autor
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Com base nessas informações, é possível afirmar que, caso esta empresa não sofra problemas de caixa após os 60 dias previstos, é preferível efetuar esta compra com pagamento em 30 dias, uma vez que os juros são menores. Caso a probabilidade de continuidade na crise seja maior que os 60 dias, é mais aconselhável adquirir esses produtos de forma parcelada, já que o caixa está, e possivelmente estará, com escassez de capital para pagar de forma integral a compra em 30 dias. Para esta situação, você poderia deliberar por utilizar o empréstimo para pagamento deste parcelamento. O crédito de impostos e obrigações sociais corresponde ao recolhimento dos impostos, contribuições e obrigações sociais. Funciona da seguinte forma: toda empresa deve recolher esses valores ao governo, tais como: FGTS, IPI, PIS, COFINS, INSS, ICMS, ISS, IR. A oportunidade está no fato de que esse recolhimento tem um prazo para ocorrer, e esse prazo pode ser aproveitado pela gestão financeira como um crédito para a organização. Segundo Lemes Júnior, Rigo e Cherobim (2010, p. 433):
Uma vez que os bancos comerciais têm um float junto aos beneficiários desses recolhimentos, ou recebem deles algum benefício pelo serviço de recebimento, é possível negociar-se o recolhimento mediante alguma remuneração.
Isto comprova que é possível utilizar esse capital, inclusive para cobertura de despesas emergenciais. A má notícia hoje para o administrador financeiro é que o governo vem cada dia mais reduzindo esse prazo para recolhimento, o que culmina por diminuir o tempo de utilização deste crédito pelas empresas. Para acentuar ainda mais este cenário inoportuno, aos pagamentos efetuados em atraso incidirão encargos e correção. Nessa situação, surge o dilema do gestor em quitar esses impostos e obrigações ou investir para ganhos de curto prazo. Nessa situação, cabe uma análise específica do cenário e uma decisão bem respaldada do gestor financeiro. No grupo dos outros créditos operacionais, estão inseridos: o pagamento de salário, onde as empresas são obrigadas a creditar ao empregado até o quinto dia útil do mês seguinte ao trabalhado; o pagamento de adiantamento, quando é pedido como garantia de compra algum valor de caução para que a produção/venda seja realizada; as antecipações, quando a empresa solicita um pagamento antes da data de vencimento mediante um desconto financeiro inferior aos juros cobrados pelos bancos.
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CRÉDITOS BANCÁRIOS Antes de iniciarmos o estudo desta seção, quero que você me responda: o que seriam os créditos bancários e o que os caracterizariam como tal? Certamente, você dirá que é alguma operação realizada em conjunto com alguma instituição bancária, que envolve empréstimo e concessão de capital. Isso não está errado! Para Lemes Júnior, Rigo e Cherobim (2010, p. 434): A captação de recursos de curto prazo através de crédito bancário é operação de empréstimo e pode ser feita junto a bancos comerciais, sociedades de crédito financiamento e investimentos, as chamadas financeiras e os bancos de investimento. Há também as empresas de factoring, que não são consideradas instituições financeiras, como instituições financiadoras.
Lembro aqui que o financiamento é caracterizado pelo uso do capital para um fim específico, enquanto que o empréstimo é um capital de terceiro e de curto prazo, pelo qual o credor não terá domínio sobre a utilização do tomador. Por exemplo, quando você compra um carro ou uma casa, você financia junto ao banco, que, por sua vez, pagará ao proprietário o valor do bem adquirido por você. Em momento algum você
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recebe o capital, ou esse valor é destinado para um objetivo distinto do bem financiado. Já quando você quer fazer uma viagem ou uma festa de aniversário, e não dispõe de capital imediato, você busca um empréstimo perante a fonte mais próxima, menos burocrática e, provavelmente, de menor custo! Essa fonte lhe emprestará o capital sem exigir que você explane a razão da demanda pelo crédito, e sem controlar o que você construirá com o dinheiro emprestado. Não imagine, porém, que a operação de empréstimo seria uma forma de qualquer empresa aplicar um golpe nos credores. Para diminuir consideravelmente a possibilidade disto ocorrer, todo empréstimo segue condições que são definidas e acordadas por meio de um contrato com o credor. O tomador do empréstimo deve estar ciente dessas condições e, possivelmente, podem ser exigidos alguns avalistas pelos credores, que funcionarão como garantia de que o valor será pago, caso o tomador não quite esta obrigação. Os credores podem exigir ainda diversos documentos, registros e informações financeiras para firmar uma ação contundente de empréstimo. No Quadro 1, você pode observar os elementos presentes nos contratos firmados nas operações de crédito bancário.
Quadro 1 - Elementos constantes nos contratos de crédito bancário
Elementos
Descrição Configuram-se como todas as taxas, comissões, juros e despesas cobradas na operação. Algumas dessas
Custos da operação
cobranças podem ser efetuadas antes da efetiva concessão do empréstimo.
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Refere-se ao capital emprestado em moeda nacional. Pode-se estabelecer um valor limite, conforme as
Valor monetário do
necessidades do tomador, ou ainda de acordo com
empréstimo
um cronograma definido.
Encargos tributários
Representam os custos de tributos e impostos recolhidos ao governo.
Período da operação de
Expõe o período de pagamento das parcelas, ou dos
empréstimo
juros com ou sem o valor principal. Servem para diminuir ao máximo a possibilidade
Garantias
de o credor não receber o pagamento do empréstimo. Podem ser exigidos, ainda, pelo credor valores cauções referentes ao valor monetário do empréstimo. Fonte: Adaptado de Lemes Júnior, Rigo e Cherobim (2010)
Os empréstimos são uma boa opção de crédito bancário, contudo os bancos tentam proteger ao máximo as suas operações, com isso, pergunta-se: quais devem ser os cuidados a serem tomados para a obtenção de um empréstimo? Segundo Damodaran (2002), os principais cuidados são: analisar se os ganhos obtidos com a utilização do empréstimo realmente são maiores que o seu custo; verificar se o prazo de pagamento está de acordo com o fluxo de caixa da empresa; pesquisar a taxa de juros para selecionar a melhor opção do mercado; tentar negociar as despesas e comissões para que estes valores não aumentem consideravelmente o custo final do empréstimo. Ao adotar as medidas anteriormente citadas, o gestor financeiro blinda ao máximo a organização de possíveis perdas nessa operação de crédito. Porém, diante deste cenário, surge mais um questionamento: e quais são os tipos de crédito bancário existentes? Peço que você pare e pense um pouco quais são os produtos bancários sobre os quais você já ouviu falar e que podem se encaixar nesse contexto que estamos estudando. Segundo Lemes Júnior, Rigo e Cherobim (2010), podemos citar como principais, os seguintes tipos de operações de crédito bancário: descontos de títulos (que podem ser duplicatas, nota promissória ou ainda empréstimo por contrato), créditos rotativos, vendor e factoring. O desconto de títulos representa uma cessão de crédito para antecipação de recebimento pela empresa. Os títulos que ainda vencerão são negociados com os bancos no intuito de que este banco se torne o recebedor do crédito, mediante o seu pagamento ao fornecedor que negociou o título. O desconto de títulos, que pode ser uma duplicata ou uma nota promissória,
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tem como explicação o seguinte exemplo: uma empresa possui dois títulos de cobrança (um com vencimento em única data e outro com vencimento em duas parcelas) e resolveu tomar um crédito bancário junto ao banco comercial, transferindo o seu direito de recebimento destes títulos ao banco. Nessa situação, caso o devedor não quite a duplicata ou nota promissória, o banco pode debitar da conta da empresa que negociou o título. Ressalta-se que essa operação tem um custo elevado, o que não a torna a primeira opção das empresas. De acordo com Assaf Neto e Lima (2011), mesmo diante desse alto dispêndio de capital, essa modalidade traz para a empresa dois grandes benefícios: evitar cobranças a clientes; e ter uma consultoria com o banco, que seleciona os títulos confiáveis para negociação. O pagamento do título à empresa negociadora é efetuado já com o desconto da taxa previamente acordada diante do tempo de antecipação. No exemplo apresentado, a empresa receberia o pagamento pelos títulos negociados com um desconto simples, que seria maior para os casos em que a antecipação fosse de maior tempo. Veja, a seguir, a fórmula de desconto no valor deste título.
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df é o valor de desconto a ser imputado no valor do título N é o valor nominal da operação i é a taxa de desconto negociada junto ao banco comercial n é o período de dias ou meses antecipados
O empréstimo por contrato, que também é um desconto de título por estar ligado ao recebimento pelo banco de algum título futuro, serve para financiar o capital de giro. Nesta categoria de crédito existe o conhecido hot money, que, conforme Hoji (2010), atende às necessidades de curtíssimo prazo da empresa. Nessa situação, a empresa utiliza o crédito apenas por alguns dias para equilíbrio do fluxo de caixa e paga os encargos financeiros equivalentes ao período utilizado. Ressalto que existe a vinculação de um título para concessão deste crédito. Caso essa utilização se torne uma rotina, o que numa administração eficiente não deve ocorrer, o gestor financeiro deverá optar, então, pelo crédito rotativo. O crédito rotativo é uma espécie de conta corrente com limite de uso. Pode-se fazer uma analogia com a conta corrente de pessoa física em que se você utilizar muito o limite concedido pelo banco, certamente terá cada dia mais um alto valor a pagar, devido à alta taxa de juros cobrada pelo banco. Por essa razão, é importante que a empresa tenha a sua disposição este crédito, uma vez que ele é rápido e sem burocracia, contudo deve ser utilizado em casos céleres, emergenciais e com a garantia de que será possível efetuar a liquidação deste débito. Um outro tipo de crédito bancário é a operação de vendor. Antes de lhe explicar como ela é realizada, peço que você observe a figura a seguir, que retrata o fluxo
Figura 1 - Fluxo da operação de vendor
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desta operação.
Fonte: O Autor
O vendor, conforme Assaf Neto e Lima (2011), é um tipo de crédito bancário em que a empresa credora (fornecedor) vende de forma financiada ao seu cliente, e repassa este financiamento ao banco comercial. O banco comercial, por sua vez, paga à vista à empresa credora e aguarda o pagamento financiado da empresa devedora (comprador). Caso esta empresa devedora não pague ao banco, a empresa credora será responsabilizada por esta instituição. As vantagens desta modalidade para o comprador se fixam nos fatos de que não existe custo de financiamento, e como a empresa credora recebe o pagamento à vista pelo banco, é possível reduzir o preço da venda. Ao fornecedor existe a perspectiva de que o volume de vendas será aumentado. Para Lemes Júnior, Rigo e Cherobim (2010, p. 438), antes de fechar uma negociação de vendor: Os custos financeiros e os prazos devem então estar ajustados:
- Com o ciclo operacional e de caixa do comprador para possibilitar a quitação da operação, dentro dos prazos acordados.
- Com os custos financeiros e prazos da concorrência para tornar viável a operação e oferecer melhores condições do que a concorrência.
- Com os usos e costumes (ou estratégias) de vendas praticados pelo mercado, para que as operações sejam possíveis de serem realizadas.
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90 Cabe, aqui, a ressalva de que a empresa credora, isto é, o fornecedor, é o principal agente desta operação, e por este motivo ele é quem melhor pode definir os custos impostos e os prazos relativos ao pagamento. A última modalidade de crédito bancário que estudaremos, o factoring, não é concedida por bancos. Segundo Gitman (2009, p. 596), “o factoring envolve a venda, pura e simples, das contas a receber, com deságio, a uma instituição financeira”. A instituição que compra essas contas a receber nesta operação é chamada de factor, e “normalmente não é obrigado a pagar à empresa até o recebimento da conta ou até o último dia do período de crédito, o que ocorrer primeiro” (GITMAN, 2009, p. 596). Por ser uma operação que possibilita a conversão imediata de contas a receber em caixa, o factoring culmina em ter custos elevados, que incluem desconto sobre a antecipação e comissões. É importante frisar que caso ocorra o não pagamento do seu cliente, a empresa não será penalizada, e o factor terá que assumir o prejuízo. Em decorrência deste motivo, o factor sempre avalia as contas a receber que irá assumir na operação de factoring. A utilização de uma grande quantidade de contas a receber, nesta operação, pode deixar de exigir da empresa as atividades de crédito e cobrança que foram vistas na Aula 6, afinal, quem será responsável por avaliar essas circunstâncias será o factor.
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Vimos até aqui as fontes de financiamento de curto prazo sem garantia, contudo ainda existem as fontes que possibilitam garantia de recebimento ao credor. Quais seriam elas? Isso é o que veremos na nossa próxima e última aula!
SÍNTESE Nesta penúltima aula, remontamos o conceito de capital de terceiros, e vimos que ele não existe somente no longo prazo, e tampouco serve exclusivamente para investimentos e financiamentos desta mesma temporalidade. Estudamos no decorrer da disciplina, que existem fontes de recurso financiadoras de curto prazo dos ativos circulantes, que são os créditos comerciais e bancários. Os créditos comerciais são compostos pelos créditos de fornecedores, crédito de impostos e obrigações fiscais, e outros créditos operacionais. Já os créditos bancários são classificados em desconto de títulos - duplicatas, notas promissórias, empréstimos por contrato -, créditos rotativos, operações de vendor e factoring. Para finalizar, estudamos detalhadamente cada um desses créditos, e vimos as suas vantagens, custos, e outras informações necessárias para que o gestor financeiro possa deliberar sobre a opção de crédito de curto prazo.
QUESTÃO PARA REFLEXÃO Com base na leitura de nossa aula, pare por alguns minutos e reflita sobre a relação da oferta de crédito de curto prazo, ponderando que você seria o gestor financeiro de uma organização que busca crédito no mercado. Nesta sua concepção,
LEITURAS INDICADAS SANTOS, Lucas Maia; FERREIRA, Marco Aurélio Marques; FARIA, Evandro Rodrigues. Gestão Financeira de Curto Prazo: Características, Instrumentos e Práticas Adotadas por Micro e Pequenas Empresas. Revista de Administração da UNIMEP. São Paulo, v. 7, n. 3, p. 70-92, set./dez. 2009.
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analise os ganhos que cada setor adquire com essas operações.
ROCHA, Roseli de Anunciação Oliveira. A decisão de financiamento empresarial: aspectos a ponderar. Disponível em: <http://bdigital.unipiaget.cv:8080/jspui/bitstream/10964/62/1/A%20decis%C3%A3o%20 de%20financiamento%20empresarial.pdf>.
Gestão e Financiamento do Capital de Giro: um estudo no setor industrial de confecções em Campina Grande - PB. Disponível em: < http://www.aedb.br/seget/artigos08/358_GESTAO%20E%20FINANCIAMENTO%20DO%20CAPITAL%20DE%20GIRO.pdf>.
REFERÊNCIAS ASSAF NETO, Alexandre; LIMA, Fabiano G. Curso de Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 2011.
DAMODARAN, Aswath. Finanças Corporativas Aplicadas. Porto Alegre: Bookman, 2002.
GITMAN, Lawrence J. Princípios de Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 2009.
HOJI, Masakazu. Administração Financeira e Orçamentária. São Paulo: Atlas, 2010.
LEMES JÚNIOR, Antônio Barbosa; RIGO, Cláudio Miessa; CHEROBIM, Ana Paula Mussi Szabo. Administração Financeira: Princípios, Fundamentos e Práticas Brasileiras. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
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GARANTIA E GRAU DE ALAVANCAGEM FINANCEIRA Autor: Mário Rafael de Mello Chaves
“Nos investimentos, o que é confortável raramente é lucrativo.”
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AULA 08 - CRÉDITO DE CURTO PRAZO COM
(ROBERT ARNOTT)
Olá! Chegamos a nossa última aula da disciplina Tópicos Especiais em Finanças. Espero que você tenha absorvido todo o conteúdo das aulas anteriores para findar essa disciplina com um grande acréscimo de conhecimento.
Na aula anterior, descobrimos que não existem somente fontes de financiamento de longo prazo, mas também fontes de financiamento de curto prazo. Entendemos, no decorrer da aula, que elas possuem grande importância para a operação da empresa, e que existem fontes diferentes para cada situação específica da organização. Nesta última aula, teremos a oportunidade de conhecer como transformar as contas a receber em crédito, oferecendo, em contrapartida, ativos da empresa que funcionarão como garantia da operação. Estudaremos, ainda, a alavancagem financeira e suas aplicações na avaliação de desempenho das empresas. A partir desta aula, você estará apto a identificar a melhor alternativa para conseguir crédito utilizando as duplicatas a receber como garantia, bem como analisar se um financiamento é viável para a organização, levando em consideração a sua porcentagem na estrutura de capital e o ganho alavancado com a sua aquisição. Na aula anterior, verificamos que as instituições, quando em situação de escassez de capital circulante, recorrem às fontes de financiamento de curto prazo. As fontes de financiamento citadas, com a exceção da factoring, são fontes sem garantia. Isto quer dizer que a empresa não utiliza os seus ativos como garantia de recebimento. Segundo Gitman (2009, p. 594), “quando a empresa tiver esgotado suas fontes de financiamento de curto prazo sem garantia, pode recorrer ao financiamento de curto prazo com garantia”. É sobre esse assunto que iniciaremos esta aula.
FONTES DE RECURSOS FINANCEIROS DE CURTO PRAZO COM A GARANTIA DE ATIVOS Quando a organização esgotar todas as possibilidades de conseguir crédito barato e sem garantia, o administrador financeiro, impreterivelmente, necessitará buscar algum empréstimo de temporalidade curta, mas que exige alguma conta a receber ou estoque como garantia. Nessas operações, sempre existe um contrato de garantia que estabelece o ativo dado em garantia do empréstimo. Mesmo com essa proteção perante o credor, não existe uma garantia real de que este receberá o valor total do
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devedor, caso ocorra alguma inadimplência de sua parte. Os ativos, dados como garantia nestas operações, quase sempre compõem o grupo do circulante, uma vez que a sua conversão em capital é muito mais rápida que o não circulante. Por essa razão, conforme Gitman (2009, p. 595), “o credor de curto prazo costuma aceitar como garantia apenas os itens circulantes líquidos”. Uma outra característica muito importante para ser lembrada é de que os juros cobrados nessas operações são maiores que os empréstimos sem garantia. Como foi dito, os credores não julgam esse empréstimo menos arriscado, além do que é necessária muita negociação para que o credor e o devedor acordem qual ativo será escolhido como garantia. Por este motivo, os credores justificam que precisam também de uma remuneração maior para compensar o seu trabalho de avaliação dos bens do devedor. Na aula 7, vimos que existem dois tipos de crédito, e um deles era o crédito bancário, lembra? Esses créditos bancários, que são concedidos pelos bancos comerciais, também podem exigir garantias da empresa. Segundo Damodaran (2002), o administrador financeiro, antes de buscar qualquer capital com garantia nas financiadoras, deve, como regra, contatar esses bancos comerciais. Você sabe por quê? A resposta é simples! As financiadoras costumam conceder crédito nos casos em que todos os bancos comerciais rejeitam o financiamento. Isso quer dizer que o risco das financiadoras é amplamente maior e, em contrapartida, ela cobra elevadas taxas de desconto na conta a receber da empresa.
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Nesta aula , focaremos no estudo do desconto de duplicatas/cheques que, para Assaf Neto e Lima (2011, p. 114), “expressa basicamente, a negociação de um título representativo de um crédito em alguma data anterior à de seu vencimento”. Essa percepção do autor expõe que a empresa antecipa de forma ilusória o seu recebimento, uma vez que existirá um desconto no valor que for recebido. Na realidade, o mutuante é quem receberá o pagamento no valor total da conta. Vamos ver um caso prático para compreender melhor esse assunto? Suponha que você, como o administrador financeiro de uma entidade, informou ao banco que desejava realizar uma operação de desconto. O primeiro cheque tem o valor de R$ 2.000,00 e prazo de 43 dias. Já o segundo vale R$ 3.000,00 e poderá ser sacado em 54 dias. O banco lhe informou que realizava esta operação, e para isso cobraria uma taxa de desconto de 3% a.m.; IOF de 0,0082% a.d.; TAC de R$ 40,00; e custódia de R$ 1,00 por cheque. Ante o exposto, pergunto-lhe: qual será o valor pago pelo banco à sua empresa? E qual o custo efetivo mensal? Para o cálculo do valor a ser pago pelo banco, inicialmente, precisamos descobrir o prazo médio ponderado da operação dos cheques, que pode ser achado por meio do passo a passo a seguir. f REG 43 ENTER 2000 ∑+ 54 ENTER 3000 ∑+ g 6
calcular o desconto a ser aplicado pelo banco e o IOF da operação, veja: J = 5.000 x (0,03/30) x 49,6 = 248 IOF = 5.000 x 0,000041 x 49,6 = 10,17
Dessa forma, o valor de pagamento com todos os descontos é expresso da se-
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O prazo médio para esta operação é de 49,6 dias. A partir deste dado, você pode
guinte maneira: Valor dos cheques R$ 5.000,00 (-) Desconto R$ 248,00 (-) IOF R$ 10,17 (-) TAC R$ 40,00 (-) Custódia R$ 2,00 (=) Valor a ser pago pelo banco R$ 4.699,83
Já o cálculo do custo efetivo do desconto está expresso em:
Pronto! Você encontrou a taxa efetiva mensal da operação. Para Lemes, Rigo e Cherobim (2010), todo gestor financeiro, antes de tomar sua decisão sobre qual fonte de empréstimo de curto prazo contratar, deve utilizar esta taxa como referência. Fazendo comparações entre os diversos bancos, é possível definir qual é a melhor taxa de atratividade e proposta de empréstimo. Além das contas a receber, o estoque também pode ser dado como garantia em uma fonte de empréstimo. De acordo com Gitman (2009, p. 597), “seu valor de mercado costuma ser maior do que o contábil, sendo este a base para estabelecer o valor da garantia”. Isso quer dizer que os estoques são supervalorizados no mercado, e o seu valor contábil é inferior ao que o mercado está disposto a pagar. Cabe a ressalva de que o valor contábil é o montante considerado no ato do empréstimo. Estas características demonstram que o credor possui grandes vantagens na operação, podendo até vender os estoques pelo valor contábil, que é o menor valor possível, caso não ocorra o pagamento do devedor. Estoques com alta demanda e grande tempo de durabilidade são as maiores preferências para os credores que exigem garantias. Discutida a seleção das fontes de recurso de curto prazo, precisamos agora descobrir como utilizar a dívida da empresa para alavancar os seus resultados financeiros. Isto é, toda administração financeira deve tomar recursos emprestados de terceiros para operacionalizar o negócio, todavia deve ser um objetivo permanente da gestão,
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aplicar esse capital de modo a melhorar a taxa de retorno do patrimônio líquido. Esse será o assunto que veremos a partir da próxima seção.
ALAVANCAGEM FINANCEIRA Que tal construir um conceito para o termo alavancagem financeira? Tente entender o significado da primeira palavra, levando em consideração que esta interfere no capital dos proprietários. Como já estudamos anteriormente, toda empresa necessita de capital de terceiros para desempenhar seus processos, gerando, assim, o valor necessário para o pagamento deste capital, bem como o lucro que será destinado ao proprietário. Diante do exposto, podemos consolidar, de modo bem sintético, a definição de que a alavancagem financeira representa os efeitos originados (positivos ou negativos) sobre a rentabilidade do capital próprio com a utilização de capital de terceiros. Para Assaf Neto e Lima (2011, p. 293): Alavancagem financeira é o efeito causado por se tomar recursos de terceiros emprestados a determinado custo, aplicando-os em ativos a outra taxa de retorno: a diferença vai para os proprietários e altera, para mais ou para menos, o seu retorno sobre o patrimônio líquido. Em outras palavras, pela utilização de recursos de terceiros em sua estrutura de capital uma empresa pode modificar a rentabilidade do capital próprio.
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Na Figura 1, você pode vislumbrar os tipos de alavancagem financeira existen-
Figura 1 - Tipos de alavancagem financeira
Fonte: Adaptado de Hoji (2010)
Antes de entendermos esta figura, alerto que não devemos pensar no peso das variáveis (patrimônio líquido / capital de terceiros), mas sim nos seus resultados (aumento ou diminuição). Observe que, para a ocorrência de uma alavancagem financeira favorável, é necessário um aumento do patrimônio líquido, a partir de um menor nível de capital de terceiros. Já a alavancagem financeira, que não traz vantagem para a organização, está expressa no último tipo (desfavorável), no qual um alto nível de capital de terceiros reduz o patrimônio líquido, originando, assim, efeitos negativos
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para os proprietários. Para compreender melhor este conteúdo em uma situação prática, peço que veja o seguinte exemplo: uma empresa possui um ativo total de R$ 500.000,00 e analisa a possibilidade de financiá-lo totalmente com capital próprio, ou 60% com capital de terceiros e 40% com capital próprio. Guarde estas informações, que mais adiante precisaremos delas. Lembre que, na Aula 5, vimos no estudo do custo de capital que o retorno obtido deve ser superior a estes custos, o que pode ser confirmado por Hoji (2010, p. 191): O retorno do investimento é gerado pelos ativos, que são financiados pelo capital próprio e de terceiros. Portanto, para aumentar a riqueza dos acionistas ou sócios, o Retorno sobre o Ativo Total (RAT) deve ser superior ao custo do capital próprio e de terceiros.
Para se encontrar o Retorno sobre o Ativo Total e o Retorno sobre o Patrimônio Líquido (RPL), é necessário utilizar as fórmulas expressas a seguir.
A sigla LDIRAJ representa o Lucro antes do Imposto de Renda e dos juros; AT, o Ativo Total; LL, o Lucro Líquido; e PL, o Patrimônio Líquido. Retomando nossa situação prática, que foi citada há pouco, a empresa dispõe do seguinte Demonstrativo de Resultado para as duas opções mencionadas:
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Financiamento total com capital próprio
Financiamento com 60% de capital de terceiros e 40% com capital próprio
Lucro antes do Imposto de Renda e juros
200.000
200.000
(-) Imposto de Renda: 25%
(50.000)
(50.000)
(=) Lucro depois do IR e antes de juros
150.000
150.000
(-) Juros
0
(105.000)
(+) Imposto de Renda sobre juros: 25%
0
26.250
(=) Lucro Líquido
150.000
71.250
Diante do exposto, vamos calcular as rentabilidades em cada situação, a partir das fórmulas disponibilizadas nesta seção: RAT (capital 100% próprio) = 150.000 : 500.000 = 0,30 ou 30% RPL (capital 100% próprio) = 150.000 : 500.000 = 0,30 ou 30% RAT (capital próprio e de terceiros) = 150.000 : 500.000 = 0,30 ou 30% RPL (capital próprio e de terceiros) = 71.250 : 200.000 = 0,35625 ou 35,625%
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Para que a empresa possa analisar se o financiamento parcial com capital de terceiros é vantajoso, é necessário avaliar o Grau de Alavancagem Financeira da situação. Segundo Assaf Neto e Lima (2011), o GAF representa a medida que pondera a capacidade do capital de terceiros em gerar ganhos para o acionista/proprietário. Um GAF com resultado maior que 1 (um) é considerado favorável para a organização. Caso este GAF seja menor que 1 (um), a administração financeira da empresa deve reavaliar a possibilidade de financiamento com porcentagens diferentes de capital. Já se o GAF for exatamente igual a 1, a empresa não terá alavancagem financeira positiva e negativa, o que configura como alavancagem financeira nula. A fórmula do Grau de Alavancagem Financeira é uma divisão das rentabilidades do Patrimônio Líquido e do Ativo Total, veja:
GAF =
RPL RAT
Retomando mais uma vez a nossa situação prática, podemos calcular o GAF em cada uma das opções as quais a empresa analisa financiar o ativo. Na possibilidade da instituição financiar 100% do ativo com capital próprio, o GAF seria: GAF = 0,30 : 0,30 = 1
ria 60% do capital de terceiros e 40% de capital próprio, teríamos: GAF = 0,35625 : 0,30 = 1,1875
Observe que o GAF da segunda opção de estrutura de capital tem alavancagem favorável para a organização. Como o financiamento com 100% de capital próprio não trará uma alavancagem financeira favorável para a empresa, ele não é recomendado.
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Calculando o GAF dentro da outra possibilidade, em que a organização utiliza-
Observe que o GAF da estrutura mista de capital traz um retorno de 18,75% sobre o capital de terceiros em benefício do acionista/proprietário da empresa. Os administradores financeiros devem estar bem atentos a esta informação, afinal quanto mais elevada a capacidade para alavancar a rentabilidade do patrimônio líquido, maior será o risco financeiro nas decisões de financiamento das empresas. Findamos aqui a nossa última aula! Espero que você tenha compreendido todo o conteúdo que foi abordado no decorrer do nosso estudo. Para absorver ainda mais esses assuntos, leia os textos sugeridos no tópico Leituras Indicadas, ou acesse os sites descritos no tópico Sites Indicados das disponíveis nas aulas. Estes materiais lhe proporcionarão um maior aprendizado, a partir de estudos de caso e análises de profissionais financeiros, que certamente enriquecerão ainda mais o seu conhecimento. Desejo-lhe muito sucesso em sua jornada!
SÍNTESE Vimos, nesta última aula, que, ao esgotar as possibilidades de a empresa buscar crédito de curto prazo no mercado sem garantia, o seu administrador financeiro ainda pode recorrer ao crédito de curto prazo com a garantia de ativos. Observamos, também, que esse crédito pode ajudar muito na gestão financeira, contudo, possui um custo maior que os demais, e, por essa razão, é preciso analisar minuciosamente a taxa mensal do crédito para que a empresa não se desonere com o valor mais alto de mercado. Estudamos, ainda, que a alavancagem financeira é fruto do poder que a empresa possui de adquirir capital de terceiros e aplicá-lo à determinada taxa de retorno com o objetivo de incrementar o patrimônio líquido. Dentro desse contexto, foram apresentados os tipos de alavancagem financeira, e explanado que a do tipo favorável deve ter grau maior que 1 (um).
QUESTÃO PARA REFLEXÃO Com base em todo o conhecimento adquirido nas aulas, mais especificamente nos temas que foram tratados nesta última aula, reflita sobre as políticas que podem ser utilizadas para que as empresas equilibrem a sua estrutura de capital com um alto grau de alavancagem financeira, e uma menor dependência de crédito de curto prazo com garantia de ativos.
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LEITURA INDICADA Alavancagem financeira e rentabilidade: uma discussão sobre o comportamento de empresas do Sul do Brasil à luz das teorias financeiras. Disponível em: <http:// www.congressocfc.org.br/hotsite/trabalhos_1/190.pdf>. Acesso em: 17 dez. 2013.
SITES INDICADOS http://professormarcoaurelio.pro.br/alavafin.htmIndicar sites com conteúdo coerente com os assuntos abordados na aula. http://colunas.revistapegn.globo.com/extrememakeover/2010/10/21/descobrindoo-crescimento-por-alavancagem-financeira/ http://web.unifil.br/docs/revista_eletronica/terra_cultura/37/Terra%20e%20 Cultura_37-13.pdf
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REFERÊNCIAS ASSAF NETO, Alexandre; LIMA, Fabiano G. Curso de Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 2011.
DAMODARAN, Aswath. Finanças Corporativas Aplicadas. Porto Alegre: Bookman, 2002.
GITMAN, Lawrence J. Princípios de Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 2009.
HOJI, Masakazu. Administração Financeira e Orçamentária. São Paulo: Atlas, 2010.
LEMES JÚNIOR, Antônio Barbosa; RIGO, Cláudio Miessa; CHEROBIM, Ana Paula Mussi Szabo. Administração Financeira: Princípios, Fundamentos e Práticas Brasileiras. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
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