Con c u rso de Leit u r a “Sa be r l e r c om em oç ã o” 2012
Biblioteca Escolar
Com o objetivo de promover a leitura na EB 2, 3 D. António da Costa, os professores da Área Disciplinar de Língua Portuguesa, em parceria com a BE, promovem o Concurso “Saber Ler com Em oção”. 2012 – Regulamento –
1. Objetivos gerais a. Criar hábitos de leitura. b. Consolidar hábitos de leitura. c. Promover o texto literário. d. Valorizar o texto literário . 2. Destinatários a. Alunos dos 2.º e 3.º CEB da “nossa” escola. 3. Fases do concurso a. O(a) professor(a) da turma sele ciona os dois (2) melhores leitores de textos em voz alta. b. Os melhores leitores serão, então, propostos a concu rso. c. Aos candidatos selecionados será entregue, quinze dias antes da prova, pelos res petivos professores, uma comp ilação de 10 textos. d. Os alunos prepara rão em casa a leitura em voz alta dos referidos textos.
4. Dia do concurso a. Nos dias 08 e 09 de março de 2012, na BE, terá lugar a prova final. b. Os alunos selecionados na sala de aula pelos respetivos professores, apresentar-se-ão com a compilação de textos que lhes foi entregue, perante um júri composto por três professores. c. Os elementos do júri escolherão os textos a serem lidos por cada aluno(a). d. A leitura em voz alta será analisada de acordo com os parâmetros de um(a) bom(boa ) leitor(a) e registada em ficha própria. e. Em 08.03.2012, as provas decorrerão das 10:30 às 12:00 para os alunos do 5.º Ano de Escolaridade e das 15:3 0 às 17:00 para os alunos do 6.º Ano de Escolarid ade. f. Em 09.03.2012, as provas decorrerão das 10: 30 às 12:00 para os alunos dos 7.º, 8.º e 9.º Anos de Escolaridade. 5. Júri a. As diferentes leituras serão avaliadas por um júri const ituído por três professores. 6. Critérios de avaliação a. Correção b. Expressividade c. Fluência 7. Prémios a. Os nomes dos alunos vencedores serão divulgados na s emana a seguir àquela em que decorreu o concurso. b. Serão atribuídos, no final do ano le tivo, os prémios para os dois vencedores de cada ano de escolaridade. A BE em parceria com os Professores de Língua Portuguesa
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Concurso de Leitura – “Saber ler com emoção” 2.º Ciclo do Ensino Básico
2012
Alice Vieira Excerto do livro: Chocolate à chuva
Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada Excerto do livro: Uma visita à corte do rei D. Dinis
António Mota Excerto do livro: Pedro Alecrim
Jaime Cortesão Excerto do livro: O romance das ilhas encantadas
José Jorge Letria Excerto do livro: Lendas do mar
Luísa Ducla Soares Excerto do livro: Seis contos de Eça de Queirós
Luísa Ducla Soares Excerto do livro: Três histórias do futuro
Maria Alberta Menéres Excerto do livro: Ulisses
Sophia de Mello Breyner Andresen Excerto do livro: A fada Oriana
Sophia de Mello Breyner Andresen Excerto do livro: O cavaleiro da Dinamarca A Biblioteca Escolar em parceria com os Professores de Língua Portuguesa Almada, Ano Letivo de 2011-2012
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Concurso “Saber ler com emoção” – 2012
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Entretanto, pelo meio de todo o meu discurso, e apesar dos olhos ainda estarem meio piscos do sol, dou pela Isabel muito atarefada à procura de qualquer coisa dentro da tenda. Procu ro fazer-me desentendida e continuo a entusiasmar a multidão, vinda de todos os cantos para me aplaudir, obrigada, obrigada! —
Sim, hoje em dia devemos estar sempre atentos ao que
se passa à nossa volta! O inimigo espreita -nos! Não sei onde, mas espreita! —
Deve ser ali pela racha do muro — bichanou o Miguel ao
ouvido do Zé Pedro, mas não tão baixinho que eu não o ouvis se. Mas como os grandes oradores são imunes aos apartes dos pobres mortais, deitei-lhes apenas aquele ar de superioridade que tinha aprendido com todos os primeiros -ministros que têm passado pelo telejornal, e continuei: —
Já lá perguntava, e muito bem, a Leopoldina, criada da
minha madrinha, quando passava pelo quartel-general e olhava as guaritas sem soldados: «Minha senhora, minha senhora! E se o inimigo atacasse agora?!» Uma gargalhada da multidão fez -me travar. Ao meu lado a Teresa, que tem muito tento na língua, reprovou -me baixinho: —
Não é criada que se diz, é empregada doméstica!
O meu furor foi ao rubro. Não há nada que mais me irrite do que sentir ao vivo a estupidez dos mortais. —
Qual empregada doméstica, qual carapuça! A Leopoldina
trabalhava de manhã à noite, não tinha domingos nem feriados, ganhava uma miséria, não descontava para a caixa, nu nca teve férias — queres mais criada do que isto? A Isabel tinha já saído da tenda com um grande cartão de baixo do braço e ar bastante comprometido, olhando em volta. Comecei a notar que entre a multidão havia já quem disper sasse e se preparasse para deixar de me ouvir e optar por mais um mergulho na piscina. Não podia ser. A segurança do mundo ocidental, quero dizer, de Almornos, estava em jogo. Como nesta história de comícios há sempre um arzinho de rock para animar, ainda pensei socorrer -me da Cláudia.
—
Manda lá uma cantiga, anda!
Ela não se fez rogada e saltou logo para o meu lado: «Olha o robot é prò menino e prà menina ô ô.» Foi o desastre. A multidão mandou às urtigas a segurança do mundo ocidental, quero dizer, de Almornos, e desatou cada um a berrar para seu lado o que muito bem (ou muito mal) lhe vi nha à cabeça. —
É prò menino e prà menina, cada cor seu paladar!
—
Há fruta ó chicolate!
—
Vai um tirinho, ó freguês?
—
Ó louro, dá cá o pé! Chico Fininho! U U!
Até que veio o Sr. Ernesto perguntar se por acaso não teria caído alguma tenda e não estivéssemos todos a precisar, mais uma vez, da sua ajuda.
Alice Vieira
Assim acabou a rebelião de Almornos.
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A viagem, para grande desgosto do João, decorreu sem inci dentes. (...) Mas se a viagem foi calma, o mesmo não se pode dizer da chegada a Leiria! Desde o primeiro momento foi uma grande excitação. De resto, onde estivesse a corte do rei D. Dinis, era certo e seguro que reinava a alegria. Era uma corte divertidís sima! O rei gostava de viver rodeado de artistas, e no castelo havia todas as noites festas esplêndidas, lautos banquetes, e, como não podia deixar de ser, música e danças. Foi sem saudade que abandonaram os almocreves, homens sorumbáticos e demasiado preocupados com o seu negócio, pa ra se integrarem num grupo de jograis que se dirigia ao castelo tocando e dançando animadamente pelas ruas. Às portas e janelas havia muita gente a ver o desfile, num misto de curiosidade e inveja. Os jograis, as cantadeiras e as bailarinas que os acompanhavam eram jovens, vestiam roupas de cores garridas e avançavam com petulância, exibindo -se à luz do Sol como quem goza de grande liberdade . O facto de se mostrarem assim, diferentes, excitava a curi osidade da população. Mas excitava também a desconfian ça. Uma ou outra velha murmurava à passagem: —
Hum... São uns sem-vergonha!
—
Isto ofende a Deus!
A verdade é que, por serem os únicos home ns e mulheres do povo que afinal iam ao castelo, não para prestar serviços mas para confraternizar com a nobreza e com os próprios reis, dei xavam os outros roídos de inveja. O Orlando, a Ana e o João, como vinham de fora, mistura ram-se com eles sem grande problema. Bastou que começassem a dançar e foram aceites. O castelo ficava no topo de um morro arredondado, que se erguia abrupto dominando tudo em redor. O caminho para lá chegar era íngreme e serpentead o. Mas não lhes custou a subir. ―Vou ver o rei e a rainha santa em pessoa! Isto é bom de mais!‖, pensavam todos três.
O João, que apesar da sua estarolice era também de ideias fixas, continuava na esperança de de slindar a verdadeira his-
Isabel Alçada
Ana Maria Magalhães
tória do milagre das rosas.
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E o esforço que eu fiz para compreender as palavras novas que ouvia pela primeira vez, aula após aula! Os professores diziam: —
É muito fácil, não é verdade?
Toda a gente acenava com a cabeça. Mas não, não era nada fácil. Até o dicionário eu não sabia consultar. O tempo que eu demorei para descobrir que ALP ficava antes de ALT... Muitas vezes apeteceu-me desistir, ou então fazer de conta que as aulas não me diziam respeito. —
Hoje não tens nada para estudar? — perguntava minha
mãe, depois de desligar o televisor. —
Já vou, já vou... — dizia eu, aturdido por um sono pesa-
do que não queria desaparecer. Era a caminhada que me punha assim,
descobri mais
tarde em conversa com
o
Nicolau que
também se sentia assim. Aquela caminhada estafava-nos. E quando chovia, e a neve cobria a serra, era ainda pior. E não posso esquecer também os primeiros almoços na cantina, com a senha na mão, fechando os olhos para deixar pas sar à frente os grandalhões e os zaragateiros. Nos primeiros dias de aula nem cheguei a almoç ar porque não acertava com a hora de comprar a senha. E ninguém me avisara que era necessário comprá-la com antecedência. Para que não se rissem da minha ignorância, preferia calar-me e ficar sem almoço. Não tinha relógio. O pai prometera-me um, se passasse de ano, como de facto aconteceu. Recordo esses tempos com vontade de dar gargalhad as e não consigo concentrar-me. (...) Deito-me na cama. A mãe, sempre atenta a tudo, apaga a luz da sala. Entre os lençóis, ponho -me a pensar em muitas coisas ao mesmo tempo. Penso que o pai precisa de um médico muito competente para o curar de vez. Penso na mãe. E já sei que ela não vai dormir quase nada
Ant贸nio Mota
esta noite, sempre preocupada.
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O sol nascera enfim. Luzia ao longe o mar. Mas no fundo dos vales que iam dar à costa, grandes rolos de névoa desprendi am-se a custo e pouco a pouco dos braços verdes do arvoredo. Duas boas horas correra o cavaleiro pela brenha orvalhada e nem sombra de caça aparecera. Dom João Froiaz lembrou -se então de ir àquela garganta entre os dois montes, p or onde as águas desciam até unir-se ao mar. É certo, pensava ele, que só à tarde usavam os veados, quando fatigados das corridas ou dos dias mais quentes, iam lá matar a sede. Mas, pois, até à quela hora, por onde andara a caça não surgira, resolveu -se a procurá-la nas abas da ribeira. —
Mais devagar! Calai os cães! Tende -vos na descida! — di-
zia o cavaleiro para os homens, mal ouviu no silêncio da selva chalrar as águas que iam de pedra em pedra. — Talvez que na margem da ribeira esteja bebendo algum veado! Cautelosos e apoiando-se aos troncos, os homens desciam pela encosta. Mas apenas se ouvia mais esperta e fresca a voz das águas ou ramo solto que tombava. Já o cavaleir o e os seus homens, tendo chegado junto à beira-mar, desanimavam. Mas eis que um deles, o que ia à frente, estaca, e voltando atrás transtornado pelo espanto, exclama com voz surda: —
Chus! Calai-vos! Senhor, estranha caça tendes!
Lá no fundo, a trinta passos do mar, que não mais, via -se, de meio corpo na ribeira, que ali se misturava com as águas salgadas, e a cabeça sobre as plantas da margem, uma mulher deitada. Era uma mulher marinha, uma filha do Mar, que dormindo se esquecera no sossego doce da manhã. Já Dom Froiaz caladamente erguera o braço, dando sinal aos homens para fazerem alto. Depois deitou -se do cavalo abaixo. E, pé ante pé, com as maiores cautelas, dirigiu-se ao lugar onde a mulher marinha adormecera. Eis que, a meio caminho, um ramo estalou sob os seus pés. A mulher acordou; olhou à volta; e mal que viu o cavaleiro levantou-se de salto e abalou de corrida em direção ao mar. Mas as mulheres marinhas correm melhor nas ondas do que sobre o
chão. E Dom Froiaz, mais ligeiro do que os gamos da mata, foi-lhe no encalço e já quando ela molhava os pés nas ondas conseguiu deitar-lhe os braços e arrastá-la consigo para terra. De cabeleira solta e mal coberta com o seu vestido de al gas, a filha do Mar esbracejava inutilmente ent re as possantes mãos de Dom Froiaz. Mas — coisa estranha! — nem palavra de queixa se lhe ouvia! Por
fim
deixara
de
lutar.
Contentes,
os
monteiros
riam.
Dom Froiaz subiu para o cavalo, e, com o auxíl io dos seus homens, ergueu-a sobre a sela. E, sem tardar, maravilhado e sa -
Jaime Cortesão
tisfeito com tão nova caça, abalou direito a seu castelo.
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Castigo de sal No princípio de tudo, quem mandava na Terra era o Grande Deus das Águas, que era poderoso, justo e grave [...]. O Grande Deus das Águas tinha longas ba rbas feitas de algas e deslocava-se de um lado para o outro à proa de gigantescas ondas que, ao contrário dos barcos, não precisavam de remos, de velas ou de motores para se movimentar. Todos o respeita vam e temiam, tamanhos eram os seus poderes. De todos os seus filhos, o mais irrequieto e atrevido era a Água que por tudo e por nada amuava, tendo o reprovável hábito de invadir o espaço dos seus irmãos e de se apropriar do que lhes pertencia. —
Se não mudares de comportamento — avisou-a repetida-
mente o pai —, ainda terei de te dar uma liç ão de que não irás esquecer-te. Muda, pois, enquanto é tempo. Depois pode ser demasiado tarde. Mas a Água, que era irreverente e obstinada, pensava que as palavras do pai não passavam de palavras, isto é, de sons vagos e imprecisos que nunca se traduziriam em verdadei ros atos. A Água era bela e era doce. Quem a levasse aos lábios, l ogo matava a sede e tinha uma sensação de frescura que lhe inva dia todo o corpo. Mas a sua doçura era enganadora. Por trás dela havia teimosia e sofreguidão, cobiç a e muito pouco respeito pelo que era dos outros. No princípio, o pai, que era um bom educador, aplicou -lhe pequenos castigos, não a levando a passear com os irmãos, quando ela se portava mal. Muitas vezes, ela desobedecia só pelo prazer de desobedecer, imagi nando que, por haver muito poucas criaturas a habitar a Ter ra, tudo lhe seria tolerado e perdoado. Mas enganava-se. —
Tens o teu espaço para brincar, para crescer, para fazer
amizades, para correr e para saltar. Esse espaço é mais do que suficiente para ti. Portanto, não invadas o que pertence aos teus irmãos — advertia-a o pai, sem severidade, usando a sua
voz grave e ligeiramente rouca para lhe dar a ver que a nossa liberdade acaba onde começa a dos outros. Mas ela, uma vez mais, fez de conta que nada do que ouvira lhe dizia respeito e continuou a abusar, a abusar sem pre. Um dia, apanhando o Grande Deus das Águas a dormir a ses ta no terraço do seu palácio rochoso, decidiu pôr à prova a autoridade que limitava os seus excessos. E fê-lo de uma maneira que não deixava margem para dú vidas. Estendeu os braços e as pernas e invadiu a Terra, espraiando -se por continentes e ilhas. Quando o Grande Deus das Águas, ao acordar, soube do que tinha acontecido, ficou furioso. O seu camareiro-mor anunciou-lhe a presença de animais terrestres que vin ham protestar contra a invasão. Estavam muito descan sados a comer, a dormir ou a trabalhar a terra, quando a água doce deixou tudo inun da-
José Jorge Letria
do, arrastando na corrente colheitas e animais.
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Então, rapidamente, pegou no menino louro que dormia no berço de marfim e atirou-o para o pobre berço de verga. Pegou no seu filhinho moreno e, entre beijos desesp erados, deitou-o no berço real. Um homem enorme, com um manto negro, surgiu à porta do quarto, acompanhado de outros que erguiam lanternas. Olhou, correu para o berço de marfim, coberto de brocados, e arran cou de lá a criança, como quem arranca uma bolsa de ouro. De sapareceram com ela. O príncipe dormia no seu novo berço. A ama ficou imóvel em silêncio. Mas, de repente, gritos de alarme ecoaram pelo palácio. Travavam-se lutas nos pátios. A rainha, despenteada, quase nua, entrou no quarto, entre as aias, gritando pelo filho. Ao ver o berço de marfim com as roupas
desmanchadas,
caiu
cho rando.
Então,
muito
calada,
muito pálida, a ama descobriu o berço de verga. O príncipe lá estava, sorrindo, com os seus cabelos de ouro. Nesse instante ouviu-se novamente um grande clamor. Era o capitão dos guardas anunciando que o terrível pretendente ao trono tinha sido abatido, trespassado por flechas. Mas ai, também o principezinho estava mo rto, esganado por mãos ferozes! Ao ouvir estas palavras, a rainha, chorando e rindo ao mesmo tempo, ergueu nos braços o príncipe. Foi um espanto, uma aclamação! Quem o salvara? Quem? Junto do berço, lá estava ela, a escrava, que, para sal var o príncipe, entregara à morte o próprio filho. As duas mães abraçaram-se. Era preciso recompensar aquela mulher! Mas como? Que bol sas de ouro podiam pagar um filho? Então um velho teve uma ideia: —
Levem-na ao tesouro real para ela escolher as riquezas
que quiser. A rainha deu a mão à serva e levou-a até à sala do tesouro. Senhores, aias, soldados as seguiram, comovid os.
[...] Todos estavam ansiosos. Mas a ama não se movia... Olhava para o céu, além das grades, e pensava no seu menino, que lá devia estar. Já era tarde, o menino decerto chorava e procurava o seu peito. A ama sorriu e estendeu a mão. Que joia maravilhosa, que fio de diamantes, que pu nhado de rubis ia ela escolher? A ama estendeu a mão e agarrou um punhal! Era um punhal todo enfeitado com esmeraldas, que valia uma província. Agarrada ao punhal, gritou: —
Salvei o meu príncipe. Agora vou d ar de mamar ao meu
filho!
Luísa Ducla Soares
E cravou o punhal no coração.
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No século vinte e sete, na cidade de Alcochete, vivia o Sr. Roquete, que vendia sabonete. A cidade de Alcochete era uma bela cidade, com prédios de mil andares e fábricas aos milhares. Tinha jardins com árvores fingidas e flores de plástico, rampa de foguetõ es e outras atrações, entre elas uma praça de touros fenomenal, com touros de aço, telecomandados. Só havia um senão, na cidade de Alcochete... era um certo cheirete, que subia do antigo rio Tejo, transformado no maior cano de esgoto da Península Ibérica, e descia de um enorme chapéu de fumo das chaminés industriais. Por isso, o Sr. Roquete vendia tanto sabonete. Sabonete de limão para quem cheirava a alcatrã o. Sabonete de ananás para quem cheirava a aguarrá s. Sabonete de manjerico para quem cheirava a penico. Com o dinheiro dos sabonetes, o Sr. Roquete fi cou rico e comprou o que as pessoas ricas costumavam comprar: um pré dio para morar, um carro para andar, um foguetão para viajar. O prédio que comprou ficava num bairro moderno, onde os arranha-céus eram tao juntos que a luz do sol nem no verão lá conseguia chegar. Farto de escuridão, meteu-se no automóvel para dar um giro, mas era tal o trânsito que levou dois dias a percorrer as Avenidas Centrais e, quando finalmente quis estacionar, só arranjou lugar na vizinha cidade de Santarém. Irritado, saltou para o foguetão. Queria conhecer mundo, i ria viajar pelo ar. Em má hora o fez, porém, com tã o densa fumarada em toda a Terra, não chegou a ver nada e o que lhe va leu foi o radar para não chocar com milhões de outros foguetões. Como as pessoas ricas, mandou construir fábricas: uma fá brica de bifes em pó, outra de bombas invisíveis, outra de tecidos magnéticos que repeliam as nódoas... e mais três enormes chaminés começaram a esguichar fumo encarnado, preto, amarelo. O ar tornou-se tão irrespirável que as pessoas passaram a
usar máscaras de oxigénio. E quem diz as pessoas, diz os cães e os gatos de luxo, as vacas leiteiras, os porcos, os carneiros. Os outros animais iam a pouco e pouco morrendo, naturalmente. O fumo entrava nas casas, toldava tudo. Da porta já nã o se vislumbrava a janela... Até que, certo dia, ao sentar-se como habitualmente no cadeirão, o Sr. Roquete, num espanto horrorizado, verificou que
Luísa Ducla Soares
dali já não podia ver a televisão.
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Os ciclopes das outras ilhas acordaram estremunhados e dis seram uns para os outros: —
É o Polifemo que está a chamar por nós, e está a pedir
socorro. Temos de ir Iá ver o que é, temos de lhe acudir ! E levantaram-se todos, e deitaram-se todos ao mar, e chegaram todos à porta da gruta onde morava o Polifemo. Chega ram escorrendo água e frio e ansiedade. Disse um: — Metemos o pedregulho dentro! Responderam os outros: — Não, não. Olha que ele pode estar com um dos seus ataques de mau génio e nós é que sofremos. Vamos perguntar o que lhe está acontecendo, e depo is veremos. E assim fizeram. A conversa que se seguiu foi esta: —
Ó Polifemo, o que tens?
—
Ai meus irmãos, acudam-me, acudam-me!
—
O que foi, Polifemo?
—
Ai meus irmãos, acudam! Ninguém quer matar -me...
—
Pois não, Polifemo, ninguém te quer matar.
—
Não é isso, seus palermas! O que eu estou a dizer é que
Ninguém está aqui e Ninguém quer matar-me! —
Pois é, rapaz! É o que nós estamos a perceber muito
bem: ninguém está aqui e ninguém te quer matar ... —
Não é isso, seus idiotas!...
E não havia maneira de se entenderem uns com os outros. Quando os ciclopes perceberam que o Polifemo estava já muito zangado, dizendo sempre aquelas mesmas coisas que eles já tinham ouvido, escorrendo ainda água e frio se foram retirando para as suas cavernas das outras ilhas, comentando entre si: «Ora esta! Que ideia, no meio da noite cerrada acordar -nos assim para nos dizer que ninguém estava lá e ni nguém o queria matar... Coitado! Com certeza estava com alguma dor de den tes!» E lá se foram todos embora para as suas cavernas longe. U lisses estava radiante por ter tido aquela boa ideia de dizer que se chamava Ninguém. Embora entretanto ti vesse sofrido um enorme susto ao sentir ali tão perto tantos ciclo pes...
Mas como haviam eles de sair dali? Polifemo continuava a sua lamúria, agora mais calmo: «Não há dire ito! Fazerem-me isto a mim, que sou tão bonzinho! Pois deixem estar, que ama nhã nem um só homem sairá desta caverna. Só o meu rebanho é que sai!» Quando Ulisses ouviu isto, teve uma ideia: atar cada companheiro seu por baixo de cada ovelha, para assim no dia seguin te quando o rebanho abandonasse a caverna, os homens a aban donarem também sem perigo. E assim foi. Para ele, por não se poder atar a si próprio, guardou o carneiro mais lanzudo do rebanho a fim de se agarrar à sua lã quando passasse junto do
Maria Alberta Menéres
Polifemo.
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E, virando as costas, Oriana seguiu o seu caminho, mas enquanto se afastava ouviu o riso mau e sibilante da víbora: —
SSSSSSSSSSS.
Ao fim de muito andar chegou à casa do moleiro. A porta es tava aberta. Lá dentro estava tudo na maior desordem: as ga vetas e os armários abertos e vazios, o chão e os móveis co bertos de poeira, e havia por todos os lados coisas partidas. A casa parecia ter sido abandonada há muito tempo. O lume esta va apagado, os quartos cheios de teias de aranha. Oriana pegou numa vassoura e num trapo e começou a varre r e a limpar a casa. Então ouviu um ruído e uma voz que a chamou: —
Oriana!
Era um rato. —
Oriana, não vale a pena arrumares a casa. Já não vive a-
qui ninguém senão eu. O moleiro, a moleira e os seus filhos foram viver para a cidade. —
Ah! Mas porquê? — perguntou Oriana.
—
Um dia desapareceu um dos filhos mais novos, aquele
que tem caracóis pretos e que tem quatro anos. O moleiro e a moleira procuraram-no durante nove dias pela floresta toda sem o encontrar, e ao fim de nove dias o moleiro disse: —
O nosso filho perdeu-se na floresta, ou foi comido pelos
lobos, ou caiu ao rio, que o levou afogado para longe. Não vale a pena procurá-lo mais. Vamo-nos embora da floresta antes que torne a acontecer outro desastre. —
Há muito tempo que eu sentia que ia acontecer uma coi-
sa má — disse a moleira. — Ultimamente tudo me corria torto. Quando eu chegava a casa encontrava tudo desarrumado . Os meus filhos estavam sempre a cair ao rio e voltavam sempre para casa sujos, rotos e cheios de feridas. Vamos depressa em bora da floresta. E depois desta conversa o moleiro e a mulher fizeram as malas e as trouxas, puseram tudo numa carroça e foram com os filhos para a cidade. Por isso não vale a pena arrumares a ca sa. —
Foi tudo por minha culpa — suspirou Oriana —, fui eu que
os abandonei. Os filhos do moleiro caiam ao rio e voltavam pa ra casa sujos, rotos e feridos porque eu não tomava conta de les. Até que um se perdeu. Ai como é que eu hei de desfazer o mal que fiz? E dizendo isto Oriana pôs-se a chorar ao pé do lume apagado. —
É uma grande tristeza — disse o rato. — E foi realmente
tua a culpa. Oriana pegou na vassoura, dizendo: —
Apesar de tudo, vou acabar de arrumar e limpar a casa.
Quando chegou ao fim das limpezas, a fada despediu -se do rato e foi outra vez pela floresta fora. Pelo caminho havia pe dras que lhe magoavam os pés e tojos e matos que a picavam. Quando ela tinha asas, voava por cima dos caminhos maus e só pousava no chão os seus pés quando o chão estava coberto de musgo, de relva macia ou de areia fina. «Que difícil que é a vida dos homens», pensou ela. «Eles
Sophia de Mello Breyner Andresen
não têm asas para voar por cima das coisas más.»
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No meio do claustro corria uma fonte e em sua roda cresciam cravos e rosas brancas. No céu azul as andorinhas cruzavam o seu voo. E das colunas, do murmúrio da fonte, das flores, das pintu ras e das aves erguia-se uma grande paz como se os homens, os animais, as plantas e as pedras tivessem encontrado um reino de aliança e de amor. Nesta paz as forças do Cavaleiro cresciam dia a dia até que, ao cabo de cinco semanas de descanso, ele pôde despedir -se dos frades e continuar o seu caminho. Então dirigiu-se para Génova. Mas quando chegou ao grande porto de mar era já o fim de setembro e os navios que seguiam para a Flandres já tinham partido todos. Percorreu os cais, falou com os capitães, foi à casa dos armadores. A resposta que lhe davam e ra sempre a mesma: só daí a vários meses poderia arranjar navio para a Flandres. Primeiro o Cavaleiro ficou desesperado com estas notícias e durante dois dias não comeu nem dormiu. Mas depois recuperou o ânimo e resolveu seguir viagem por terra, a cavalo, até Bruges. Atravessou os Alpes, atravessou os campos, as planícies, os vales e as montanhas da França. Agora só parava para comer e dormir, ansioso de chegar antes do Natal à sua terra. Mas quando chegou à Flandres era já inverno e sobre os te lhados e os campos caía a primeira neve. O Cavaleiro dirigiu-se para Antuérpia e aí procurou o nego ciante flamengo, para o qual o banqueiro Averardo lhe tinha dado uma carta. Encontrou o negociante em sua ca sa, aquecendo as mãos à lareira, vestido com uma bela roupa de pano verde, larga e de bruada de peles pretas. O flamengo recebeu o viajante com grande amabilidade e convidou-o para ficar em sua casa. Mal se sentaram para jantar o Cavaleiro espantou -se com o paladar da comida que estava temperada com especiarias para
ele desconhecidas. O negociante riu-se, abanou a cabeça e disse: —
Vê-se que conheces mal o mundo novo.
Indignado com estas palavras, o Cavaleiro começou a narrar a sua viagem. Quando ele terminou o flamengo disse: —
Contaste uma bela história, mas daqui a pouco vai chegar
alguém que te contará histórias muito mais espantosas. De facto, passado pouco tempo, bateram à porta da casa, ouviram-se passos na escada, e depois penetrou na sala um homem alto e forte, de aspeto rude, pele queimada pelo sol e andar baloiçado. —
Este é um dos capitães dos meus navios — disse o negoci-
ante —. Voltou há dois dias duma viagem. O recém-chegado poisou em cima da mesa três pequenos co fres e disse: —
Aqui estão três amostras das mercadorias que trago.
O primeiro cofre estava cheio de pequenas pérolas, o segundo cofre estava cheio de oiro e o terceiro cofre estava cheio de pimenta. Espantou-se o Cavaleiro com aquilo que via, pois naquele tempo a pimenta era quase tão rara como o oiro. O dono da casa pôs mais lenha na lareira, serviu vinho aos seus hóspedes, e os três homens sentaram -se em frente do lume. Então, a pedido do negociante, o capitão com eçou a falar das suas viagens. Contou como desde muito novo tinha seguido a carreira de marinheiro viajando por todos os portos da Euro pa desde o mar Báltico até ao Mediterrâneo. Mas era sobretudo entre a Flandres e os portos da Península Ibérica que viajava. Um dia, porém, teve desejo de ir mais longe, de ir até às ter ras desconhecidas que surgiam do mar. Então resolveu alistar -se nas expedições portuguesas que navegavam para o sul à procura de novos países. Veio a Lisboa e aí embarcou numa ca ravela que partia a reconhecer e a explorar as costas de África.
Sophia de Mello Breyner Andresen A Biblioteca Escolar em parceria com os Professores de LĂngua Portuguesa
Almada, Ano Letivo de 2011-2012
Biblioteca Escolar
Concurso de Leitura – “Saber ler com emoção” 3.º Ciclo do Ensino Básico
2012
Luís Sepúlveda Excerto do livro: História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar
Maria Teresa Maia Gonzalez Excerto do livro: Noites no sótão
Sempé e Goscinny Excerto do livro: As aventuras do menino Nicolau
Susanna Tamaro Excerto do livro: Vai aonde te leva o coração
A Biblioteca Escolar em parceria com os Professores de Língua Portuguesa Almada, Ano Letivo de 2011-2012
Biblioteca Escolar
Concurso “Saber ler com emoção” – 2012
Almada, Ano Letivo de 2011-2012
O gato grande, preto e gordo estava a apanhar sol na vara nda, ronronando e meditando acerca de como se estava bem ali, recebendo os cálidos raios pela barriga acima, com as qu atro patas muito encolhidas e o rabo estendido. No preciso moment o em que rodava preguiçosamente o co rpo para que o sol lhe aquecesse o lombo ouviu o zumbido pr ovocado por um objeto voador que não foi capaz de identificar e que se aproximava a grande velocidade. Atento, deu um sa lto, pôs-se de pé nas quatro patas e mal conseguiu atirar-se para um lado para se esquivar à gaivota que caiu na varanda. Era uma ave muito suja. Tinha todo o corpo impregnado de uma substância escura e malcheirosa. Zorbas aproximou -se e a gaivota tentou pôr-se de pé arrastando as asas. —
Não foi uma aterragem muito elegante — miou.
—
Desculpa. Não pude evitar — reconheceu a gaivota.
—
Olha lá, tens um aspeto desgraçado. Que é isso que tens
no corpo? E que mal que cheiras! — miou Zorbas. —
Fui apanhada por uma maré negra. A peste negra. A mal-
dição dos mares. Vou morrer — grasnou a gaivota num queixume. —
Morrer? Não digas isso. Estás cansada e suja. Só isso. Por
que é que não voas até ao jardim zoológico? Não é longe daqui e lá há veterinários que te poderão ajudar — miou Zorbas. —
Não posso. Foi o meu voo final — grasnou a gaivota numa
voz quase inaudível, e fechou os olhos. —
Não morras! Descansa um bocado e verás que recuperas.
Tens fome? Trago-te um pouco da minha comida, mas não mo rras — pediu Zorbas, aproximando-se da desfalecida gaivota. Vencendo a repugnância , o gato lambeu-lhe a cabeça. Aquela substância que a cobria, além do mais, sabia horrive lmente. Ao passar-lhe a língua pelo pescoço notou que a resp iração da ave se tornava cada vez mais fraca. —
Olha, amiga, quero ajudar-te mas não sei como. P rocura
descansar enquanto eu vou pedir conselho sobre o que se deve fazer com uma gaivota enferma — miou Zorbas preparando-se
para trepar ao telhado. Ia a afastar-se na direção do castanheiro quando ouviu a gaivota a chamá-lo. —
Queres que te deixe um pouco da minha comida ? — suge-
riu ele algo aliviado. —
Vou pôr um ovo. Com as últimas forças que me restam
vou pôr um ovo. Amigo gato, vê -se que és um animal bom e de nobres sentimentos. Por isso, vou pedir -te que me faças três promessas. Fazes? — grasnou ela, sacudindo desaje itadamente as patas numa tentativa falhada de se pôr de pé. Zorbas pensou que a pobre gaivota estava a delirar e que com um pássaro em estado tão lastimoso ninguém podia de ixar de ser generoso. —
Prometo-te o que quiseres. Mas agora descansa — miou e-
le compassivo. —
Não tenho tempo para descansar. Promete -me que não
comes o ovo — grasnou ela abrindo os olhos. —
Prometo que não te como o ovo — repetiu Zorbas.
—
Promete-me que cuidas dele até que nasça a gaivotinha.
—
Prometo que cuido do ovo até nascer a gaivotinha.
—
E promete-me que a ensinas a voar — grasnou ela fitando
o gato nos olhos. Então Zorbas achou que aquela infeliz gaivota não só estava a delirar, como estava completamente louca. —
Prometo ensiná-la a voar. E agora descansa, que vou em
busca de auxílio — miou Zorbas trepando de um salto para o te lhado. Kengah olhou para o céu, agradeceu a todos os bons ventos que a haviam acompanhado e, justamente ao exalar o últ imo suspiro, um ovito branco com pintinhas azuis rolou junto do seu corpo impregnado de petróleo.
História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar “O fim de um voo” Luís Sepúlveda
Luís Sepúlveda A Biblioteca Escolar em parceria com os Professores de Língua Portuguesa
Almada, Ano Letivo de 2011-2012
Biblioteca Escolar
Concurso “Saber ler com emoção” – 2012
Almada, Ano Letivo de 2011-2012
Era o primeiro sábado de março. Como habitualmente, o Di nis viajou rumo a Alverca do Ribatejo para almoçar com os a vós maternos. No entanto, aquele era um dia especial, visto que a conversa prometia ser particularmente desgastante para avós e neto. O Dinis, pressionado pela mãe e pelos irmãos, estava tenta do a desistir do processo contra o pai, o que, de modo algum, agradava ao avô Tomé. —
Tu não vês que aquele gajo é um perigo, filho?! — insis-
tia o avô. — Que não te passe pela cabeça que ele vai mudar , ouviste? Um homem daquela idade não muda, garanto -te. Mesmo que a tua mãe esteja convencida de que ele vai cumprir as promessas que lhe fez, isso é tudo treta e da m ais reles, digo-to eu, que posso ser burro, mas já sou velho... Um gajo daqueles não tem emenda. Há de morrer assim e quem quiser que o ature. Menos pessimista, a avó Lina quis deitar água na fervura, procurando ir ao encontro dos pedidos da filha: —
Não digas isso ao rapaz, homem! Se a mãe dele lhe pediu
para se dar uma oportunidade àquele infeliz, talvez ela tenha as suas razões, e a gente deve respeitá -las, mesmo sem sabermos quais são. —
Lá vens tu com paninhos quentes, mulher... — reclamou
o marido. — De que é que estás à espera? De um milagre?... —
E porque não? Quem sabe se não se dará mesmo um mila -
gre e aquele desgraçado muda de vida, hã? Há que ter fé! Nin guém conhece o futuro... Há gente como ele que acaba por se endireitar. —
Qual endireitar, qual carapuça, Francelina! Aquilo não é
flor que se cheire. Nunca foi... Pode lá a gente confiar num brutamontes daqueles! —
Mas se é a nossa filha que assim quer, por que diabo não
haveremos de ter alguma esperança, homem?! — tornava a avó Lina, mirando o neto. —
Olhem, só vos digo uma coisa — atalhou o avô Tomé: — o
que eu não suporto mais é ter de ir outra vez a um hospital
buscar um dos meus netos ou a minha filha. Não esperem isso de mim, que eu já não tenho idade para aturar mais outra dose de brutalidade e estupidez. Não estou para isso, que raio! Se é isso que a vida me reserva, prefiro morrer, não entendes, mulher?! O Dinis, que se mantivera calado para não interromper os a vós a quem tanto devia e amava, resolveu dizer de sua justiça: —
Vocês sabem que o fulano teve a lata de dizer, lá no tri -
bunal, que eu só fui parar ao hospital porque andei à porrada na rua, não sabem? E ainda acrescentou que eu só o acusei por ciúmes da «boa relação» dele com a minha irmã... Um tipo que tem o descaramento de inventar desta maneira ou está borrado de medo ou é completamente doido. De qualquer maneira, já se viu que eu não consegui provar nada de nada. A minha mãe não é capaz de dizer a verdade, coitada, tem um cagaço dele que se pela. Por tudo isto, neste momento, não sei o que será melhor. Uma coisa é certa: ‘tou farto desta guerra, se querem saber. Não fui eu que a comecei e não há ninguém na minha casa que queira ou possa apoiar -me. Não tenho mais pachorra para esta porra, desculpa lá a linguagem, avó, mas eu ‘tou mesmo a chegar ao limite dos limites. — Depois de um silêncio prolongado, o Dinis repetiu, magoado e cansado de tanta luta inglória: — Farto dos pés à cabeça! Na viagem de regresso a Lisboa, o Dinis sentou -se a uma das janelas do comboio e, esforçando-se para não chorar da raiva que sentia, procurou concentrar-se na paisagem. Contudo, a sua dor era demasiado grande e até o corpo lhe doía, de tão contraído que estava. Naquele momento, talvez só um mergulho no mar o descontraísse, mas não tinha tempo nem vida para idas à praia, como as que alguns dos seus colegas do 12.º fazi am, antes mesmo de chegarem os dias de calor.
Noites no sótão “Capítulo 6” Maria Teresa Maia Gonzalez
Maria Teresa Maia Gonzalez A Biblioteca Escolar em parceria com os Professores de LĂngua Portuguesa
Almada, Ano Letivo de 2011-2012
Biblioteca Escolar
Concurso “Saber ler com emoção” – 2012
Almada, Ano Letivo de 2011-2012
Como eu tive Bom em Ortografia o Papá deu-me dinheiro para eu comprar o que quisesse, e à saída da escola todos os meus colegas foram comigo à loja para eu comprar uma lanterna, era mesmo isso que eu queria. Fiquei muito contente por a ter comprado, pois era uma lanterna muito engraçada, já a tinha visto na montra da loja sempre que ia para a escola. —
E o que vais fazer com a tua lanterna? — perguntou-me o
Alceste. —
Bem, ela é bestial para brincarmos aos detetives — res-
pondi. — Os detetives têm sempre uma lanterna para seguir as pistas dos bandidos. —
Sim — disse o Alceste — mas eu, se o meu pai me tivesse
dado tanto dinheiro para comprar qualquer coisa, eu teria pre ferido o mil-folhas da pastelaria, porque as lanternas usam -se, mas os mil-folhas são deliciosos. Todos os colegas desataram a rir e disseram ao Alceste que ele era tolo e que era eu quem tinha razão em comprar uma lanterna. —
Vais-nos emprestar a tua lanterna? — perguntou-me o Ru-
fus. —
Não — disse eu. — Se querem uma, tirem também Bom em
Ortografia, se forem capazes! E nós ficámos todos aborrecidos e não dissemos mais nada. Em casa, quando mostrei a lanterna à minha mãe, ela disse: —
Vejam só, que rica ideia! Pelo menos com isso não nos
dás cabo dos ouvidos. Vai fazer os teus trabalhos de casa. Subi para o meu quarto, fechei as janelas para ficar muito escuro e depois diverti-me a projetar aquela luz redonda por toda a parte: nas paredes, no teto, debaixo dos móveis e de baixo da minha cama, onde fui encontrar, lá no fundo, um ber linde de que há muito tempo andava à procura e que nunca teria conseguido encontrar se não tivesse a minha lanterna tão engraçada. Estava debaixo da cama, quando se abriu a porta do meu quarto, se acendeu a luz e a Mamã gritou:
—
Nicolau! Onde estás?
E quando me viu sair debaixo da cama, perguntou-me se eu tinha perdido a cabeça, e o que é que eu fazia às escuras debaixo da cama; e quando lhe expliquei que estava a brincar com a minha lanterna, ela disse-me que perguntava a si mesma onde é que eu ia buscar estas ideias, que eu a matava aos poucos, «Olha-me só em que estado te puseste», e «Vai já fazer os teus trabalhos de casa, depois brincas», e «O teu pai tem cada ideia». A Mamã saiu, eu apaguei a luz e fui trabalhar. É muito engraçado fazer os trabalhos de casa com uma lanterna, nem que sejam os exercícios de Aritmética! E depois a Mamã voltou ao meu quarto, acendeu a luz do teto e não ficou nada contente. —
Pensava que já te tinha dito para fazeres os teus traba-
lhos de casa e só depois brincares — disse-me a Mamã. —
Ia começar agora mesmo a fazer os meus trabalhos de ca-
sa — expliquei. —
Às escuras? Com essa pequena lanterna ridícula? Vai -te
fazer mal aos olhos, Nicolau! — gritou a Mamã. Então eu disse à Mamã que não era uma pequena lanterna ridícula, e que ela dava uma luz fabulosa, mas a Mamã não quis saber de mais nada e pegou na minha lanterna, e di sse que só ma daria quando eu tivesse acabado os meus trabalhos de casa. Tentei choramingar, mas sei que com a Mamã isso não dá resul tado nenhum, então resolvi o meu problema o mais rápido pos sível. Felizmente era um problema fácil e depressa calculei que a galinha punha 33,33 ovos por dia. Desci as escadas a correr até à cozinha e pedi à Mamã que me desse a minha lanterna. —
Está bem, mas vê lá se tens juízo. — disse-me a Mamã.
E depois chegou o Papá e eu fui dar-lhe um beijo...
As aventuras do menino Nicolau “A lanterna” Sempé — Goscinny
SempĂŠ Goscinny A Biblioteca Escolar em parceria com os Professores de LĂngua Portuguesa
Almada, Ano Letivo de 2011-2012
Biblioteca Escolar
Concurso “Saber ler com emoção” – 2012
Almada, Ano Letivo de 2011-2012
Partiste há dois meses e há dois meses, excetuando um po stal onde me comunicavas que ainda estavas viva, que não te nho notícias tuas. Esta manhã, estive parada durante muito tempo no jardim, diante da tua rosa. Apesar de o outono já ir avançado, destaca-se com a sua cor púrpura, solitária e arrogante, sobre o resto da vegetação já murcha. Lembras -te de quando a plantámos? Tinhas dez anos e leras há pouco tempo O Principezinho. Ofereci-to como prémio por teres passado de classe. Ficaste encantada com a história. As tuas personagens preferidas eram a rosa e a raposa; não gostavas nada do ba obá, da serpente, do aviador, nem de todos aqueles homens vazios e presunçosos que andavam a vaguear, sentados sobre os seus planetas minúsculos. Por isso, uma manhã, enquanto comí amos, disseste-me: «Quero uma rosa.» Quando te respondi que já tí nhamos muitas, disseste: «Quero uma que seja só minha, quero cuidar dela, fazê-la crescer.» Claro que, para além da rosa, também querias uma raposa. Esperta como todas as crianças, pediste a coisa mais simples antes da coisa quase impossível. Como poderia negar-te a raposa depois de te ter oferecido a rosa? Discutimos durante muito tempo e acabámos por nos de cidir por um cão. Na noite antes de o irmos buscar, não pregaste olho. De meia em meia hora, batias à porta do meu quarto e dizias: «Não consigo dormir.» Às sete da manhã, já tinhas tomado o pequeno-almoço, e já estavas lavada e pronta; de casaco ve stido, esperavas por mim sentada na poltrona. Às oito e meia, estávamos à porta do canil; ainda estava fechado. Tu, olhando por entre as grades, perguntavas: «Como hei de saber qual é o meu?» Havia uma grande ansiedade na tua voz. Eu sossegava -te, não te preocupes, dizia, lembra-te de como o Principezinho domesticou a raposa. Voltámos ao canil três dias a seguir. Lá dentro havia muitos cães — mais de duzentos! — e tu querias ficar com eles todos. Paravas diante de todas as jaulas e ficavas imóvel e absorta, aparentemente indiferente. Entretanto, os cães arremessavam-se contra as redes, ladravam, davam saltos, tentavam arrancar
as malhas com as patas. A encarregada do canil estava connosco. Para te estimular, mostrava-te os exemplares mais bonitos, julgando que eras uma menina como as outras : «Olha para aquele cocker», dizia. Ou então: «O que te parece aquele lassie?» Respondias com uma espécie de grunhido e continu avas a andar, sem a ouvir. Foi no terceiro dia daquela via-sacra que encontrámos o Buck. Estava numa das jaulas das traseiras, onde alojavam os cães
convalescentes. Quando
chegámos
diante
da grade, em
vez de correr para nós, como todos os outros, ficou sentado no seu lugar e nem sequer levantou a cabeça. «Aquele», exclamaste tu, apontando com um dedo. «Quero aquele cão, ali.» Lembras-te da cara estarrecida da mulher? Não conseguia pe rceber porque querias ficar com aquele cachorro tão feio. Sim, porque o Buck era pequeno de tamanho, mas, na sua pequenês, estavam incluídas quase todas as raças do mundo. A cabeça de lobo, as orelhas moles e baixas de cão de caça, as patas ágeis de um baixote, a cauda vaporosa de um raposinho e a pelagem negra e fulva de um dobermann. Quando fomos ao escritório para assinar os papéis, a empregada contou -nos a sua história. Tinha sido atirado de um carro, no início do verão. No voo fe rira-se gravemente e era por isso que uma das patas de trás pendia como morta. Agora, o Buck está aqui, ao meu lado. Enquanto escrevo, suspira de vez em quando e aproxima a ponta do nariz da mi nha perna. Já há algum tempo que o focinho e as or elhas estão quase brancos, nos olhos já se lhe pousou aquele véu que se pousa sempre sobre os olhos dos cães velhos. Comovo -me ao vê-lo. É como se aqui, ao meu lado, estivesse uma parte de ti, a parte que mais amo, aquela que, há muitos anos, soube escolher o hóspede mais infeliz e mais feio dos...
Vai aonde te leva o coração “Opicina, 16 de novembro de 1992” Susanna Tamaro
Susanna Tamaro A Biblioteca Escolar em parceria com os Professores de LĂngua Portuguesa
Almada, Ano Letivo de 2011-2012
Biblioteca Escolar
Concurso “Saber ler com emoção” 08.03.2012
Das 10:30 às 12:00
Biblioteca Escolar
5.º Ano de Escolaridade — Valores globais e totais
Almada, Ano Letivo de 2011-2012
Total
Professora Elisabete C.
Avaliaรงรฃo Global
Professora Dina D.
Professor Francisco D.
Biblioteca Escolar
1.ยบ
Lia Ramos
5.ยบ 5
N.ยบ 15
80,80 88,00 80,80
83,20%
2.ยบ
Catarina Oliveira
5.ยบ 4
N.ยบ 7
77,80 82,00 84,00
81,30%
3.ยบ
Maria de L. Mendes
5.ยบ 1
N.ยบ 18
82,00 70,00 80,00
77,30%
4.ยบ
Margarida Rodrigues
5.ยบ 5
N.ยบ 19
75,80 72,00 79,00
75,60%
5.ยบ
Raquel Pio
5.ยบ 7
N.ยบ 18
82,00 72,40 71,80
75,40%
6.ยบ
Gustavo Simรตes
5.ยบ 4
N.ยบ 11
70,80 81,00 70,80
74,20%
7.ยบ
Julieta Gonรงalves
5.ยบ 2
N.ยบ 9
70,60 68,00 75,00
71,20%
8.ยบ
Laura Duro
5.ยบ 3
N.ยบ 14
73,00 66,20 71,20
70,10%
9.ยบ
Inรชs Silva
5.ยบ 6
N.ยบ 11
71,60 68,00 70,40
70,00%
10.ยบ
Ana Catarina Falcรฃo
5.ยบ 2
N.ยบ 2
69,80 61,00 74,60
68,50%
11.ยบ
Daniela Ribeiro
5.ยบ 10 N.ยบ 4
63,50 69,60 70,60
67,90%
12.ยบ
Rodrigo Loures
5.ยบ 7
N.ยบ 19
84,00 50,00 69,00
67,70%
13.ยบ
Rita Rolla
5.ยบ 11 N.ยบ 23
74,80 57,40 69,80
67,30%
14.ยบ
Miguel Fevereiro
5.ยบ 10 N.ยบ 19
63,50 65,40 66,80
65,20%
15.ยบ
Rayssa da Silva
5.ยบ 8
N.ยบ 23
62,40 67,40 64,80
64,90%
16.ยบ
Alexandre Almas
5.ยบ 8
N.ยบ 1
63,20 62,10 64,10
63,10%
17.ยบ
Filipa Santos
5.ยบ 3
N.ยบ 7
62,80 64,00 51,00
59,30%
18.ยบ
Lรญvia Dias
5.ยบ 9
N.ยบ 13
67,00 60,80 47,90
58,60%
19.ยบ
Bruno Ferreira
5.ยบ 6
N.ยบ 2
69,00 54,00 49,30
57,40%
20.ยบ
David Silva
5.ยบ 11 N.ยบ 11
69,40 50,00 52,00
57,10%
21.ยบ
Margarida Sacramento
5.ยบ 1
N.ยบ 17
50,00 54,00 59,00
54,30%
22.ยบ
Eugรฉnia David
5.ยบ 9
N.ยบ 10
59,10 55,40 48,30
54,30%
Almada, Ano Letivo de 2011-2012
Biblioteca Escolar
Concurso “Saber ler com emoção” 08.03.2012
Das 15:30 às 17:00
Biblioteca Escolar
6.º Ano de Escolaridade — Valores globais e totais
Almada, Ano Letivo de 2011-2012
Biblioteca Escolar
Concurso “Saber ler com emoção” Alunos concorrentes — 6.º Ano de Escolaridade
Total
Avaliação Global
Professora Teresa Rafael
Biblioteca Escolar
Professora Joana Rosário
Das 15:30 às 17:00
Professor Eduardo Ramos
08.03.2012
1.º
Inês Freitas
6.º 3 N.º 14
89,00% 79,90% 91,50%
86,80%
2.º
Sofia Arantes
6.º 4 N.º 18
92,00% 79,90% 87,00%
86,30%
3.º
Duarte Guerreiro
6.º 7 N.º 9
75,00% 73,90% 80,00%
76,30%
4.º
Sílvia Lopes
6.º 7 N.º 23
82,00% 67,30% 73,20%
74,20%
5.º
Rodrigo Conceição
6.º 1 N.º 22
81,00% 70,90% 70,20%
74,00%
6.º
Francisco Conceição
6.º 5 N.º 10
78,00% 70,90% 72,00%
73,60%
7.º
Margarida Silva
6.º 5 N.º 20
80,00% 71,90% 68,40%
73,40%
8.º
Henrique Nunes
6.º 2 N.º 9
77,00% 70,90% 70,20%
72,70%
9.º
Leonardo Osório
6.º 8 N.º 14
75,00% 66,10% 70,20%
70,40%
10.º
Duarte Carvalho
6.º 1 N.º 11
72,00% 67,20% 70,40%
69,90%
11.º
Patrícia Rodrigues
6.º 4 N.º 13
83,00% 70,90% 46,00%
66,60%
12.º
Ânia Teixeira
6.º A N.º 1
60,80% 66,10% 53,40%
60,10%
13.º
Marta Cruz
6.º 8 N.º 17
58,60% 64,50% 55,40%
59,50%
14.º
Bárbara Mateus
6.º 3 N.º 2
43,20% 63,30% 64,80%
57,10%
Almada, Ano Letivo de 2011-2012
Biblioteca Escolar
Concurso de Leitura 2012 “Saber Ler com Emoção”
PARABÉNS, VENCEDORES !
1.º
2.º
3.º
Lia Ramos 5.º 5 — N.º 15 Catarina Oliveira 5.º 4 — N.º 7 Maria de Lemos Mendes 5.º 1 — N.º 18
1.º
2.º
3.º
Inês Freitas 6.º 3 — N.º 14 Sofia Arantes 6.º 4 — N.º 18 Duarte Guerreiro 6.º 7 — N.º 9
A Biblioteca Escolar em parceria com os Professore s de Língua Portuguesa
Almada, Ano Letivo de 2011-2012
Con c u rso de Leit u r a “Sa be r l e r c om em oç ã o” 2012