O Estado do Maranhão - 30/10/2010

Page 1

Vencedores do concurso de arte do TRT são divulgados

Cassas: “O Filho Pródigo” na visão de críticos de renome

Paulo Sérgio Morais ficou em primeiro lugar P. 3

Poeta maranhense lançará nova obra em breve P. 4

Alternativo alternativo@mirante.com.br

“A palavra, esse animal vivo, como disse Adélia Prado, não é um bicho assim tão fácil de controlar” José Everton Neto, na coluna Hoje É Dia de

O ESTADO DO MARANHAO · SAO LUIS, 30 de outubro de 2010 - sábado

Fabrício Carpinejar escritor, poeta e jornalista Convidado para a IV Feira do Livro de São Luís, o escritor Fabrício Carpinejar concede entrevista exclusiva para O Estado, na qual nega toda e qualquer forma de rótulo e diz buscar sempre a compreensão

Carpinejar:

embriagar pela escrita

Carla Melo Do Alternativo

P

oeta, cronista, jornalista e professor universitário, Fabrício Carpinejar é um dos convidados da quarta edição da Feira do Livro de São Luís. Com pouco mais de 10 anos de literatura e 15 livros publicados, o escritor proferirá palestra em São Luís, dia 18 de novembro. Nesta entrevista exclusiva a O Estado, o autor fala de sua carreira, crenças, da admiração pelo poeta José Chagas e, claro, da participação na Feira do Livro. O Estado - Como você lida com o “rótulo” atribuído pela crítica de ser um dos novos nomes da literatura nacional? Carpinejar – Rótulo é coisa de cerveja e eu aprendi que ele deve ser retirado sempre que ficar úmido (risos). O importante é o que está dentro, se é capaz de gerar no leitor uma embriaguês e criar nele uma boa ressaca. Trata-se de embriagar pelo conteúdo. Não me importo com tribos, sempre fui muito sozinho. O Estado - Como você trafega entre o seu “ser” poeta e “ser” cronista? Pergunta-se isso porque você admira o poeta José Chagas e ele afirma que fazer poesia é sempre mais fácil que escrever crônicas.... Carpinejar – Para mim é um processo tranqüilo, não separo os dois universos. A crônica não é difícil, é hesitação, vou compartilhar dúvidas, é uma autocrítica, a generosidade que vem do defeito. Já o meu poema segue uma seqüência, vai da segunda para a terceira e quarta e quinta ... como se fosse musical. A crônica representa mais o meu senso de humor. A crônica é temperamento; a poesia

é caráter. E os dois são coisas diferentes. O Estado - Além de José Chagas, existem outros escritores do Maranhão que você admira? Carpinejar – O Chagas é minha preferência eletiva. Conheci São Luís pelos poemas de Chagas e, embora nunca tenha estado aí é como se já conhecesse a cidade, seus telhados... Chagas me marcou desde quando li sua “Antologia poética”, lançada pela Topbooks. Acredito que ele antecipou muitas coisas. Fez Otávio Paz (poeta e ensaísta mexicano notabilizado por seu trabalho prático e teórico no campo da poesia moderna e que recebeu o Nobel de Literatura de 1990) antes dele mesmo... O Estado - Sua obra é muito difundida na internet, seu último livro (“www.twitter.com/carpinejar - A poesia em 140 caracteres”), nasceu no universo virtual. Como você vê a crença de que o livro, tal qual o conhecemos, desaparecerá? Carpinejar – Não acredito na extinção do livro, assim como não acredito na extinção da mesa, da cama, do abajur... O livro pressupõe o tato e isso é importante. O movimento nos faz cruzar todos os sentidos. É claro que o virtual vai ajudar, mas não temos que pensar somente no suporte, mas na leitura. Hoje, sem dúvida, as pessoas lêem e escrevem mais. O que temos que mudar é a idéia de que o livro tem de ser uma peça messiânica, coisa de museu, que deve ser reverenciado. O livro deve ser mais acessível, não deve estar preso à estante da casa... quem coleciona não lê. O livro deve ser vivido, estragado. Eu deixo os meus filhos rabiscarem, não devemos deixar que o livro seja como um

objeto de decoração. O Estado - Qual a diferença entre escrever um livro impresso e um virtual? Os diferentes suportes interferem em sua criação? Carpinejar – Não interferem não. A internet fez com eu me abrisse mais, há uma forte relação com o leitor, quebrou-se aquela solenidade, tudo acontece na hora. O leitor chega a emendar sua opinião com a minha... O Estado - Este contato serve para que você avalie seu trabalho? Carpinejar - Não, de jeito nenhum. Não fico fazendo isto de ver se gostaram ou não do meu trabalho. Isto não faz com eu exercite diferentes hipótese em meu texto, apenas acentuou a medição de perspectiva. O Estado - O jornalismo influencia seu trabalho como escritor? De que forma? Carpinejar – O jornalista ajuda o escritor. Não divido estas duas coisas, não crio uma guerra com isso. O jornalista ajuda quando ensina ao escritor aquela coisa de ouvir, de ser invisível, de fazer o contraponto. O escritor usa o que o jornalista não usa, arrecada as sobras... assim, um completa o outro. Eles co-existem e se ajudam bem como minha formação em letras também contribui muito. O Estado - Como será sua participação na Feira do Livro de São Luís? Carpinejar - Vou falar sobre os meus últimos três livros: “Mulher Perdigueira”, “Canalha!” e “www.twitter.com/carpinejar”. Falarei ainda do humor como forma de se libertar dos preconceitos e de como não confio no moralismo, mas na compreensão.

Bibliografia “As Solas do Sol” (Bertrand Brasil, 1998) “Um Terno de Pássaros ao Sul” (Escrituras Editora, 2000, esgotado) (Bertrand Brasil, 3ª edição, 2008), “Terceira Sede” (Escrituras, 2001) “Biografia de uma árvore” (Escrituras, 2002) “Trinta segundos” (Era o dito Editora, 2002) “Caixa de Sapatos” (Companhia das Letras, 2003) “Porto Alegre e o dia em que a cidade fugiu de casa” (Alaúde, 2004) “Cinco Marias” (Bertrand Brasil, 2004) “Como no Céu e Livro de Visitas” (Bertrand Brasil, 2005) “O Amor esquece de Começar” (Bertrand Brasil, 2006) “Filhote de Cruz Credo” (A Girafa Editora, 2006) “Meu filho, minha filha” (Bertrand Brasil, 2007, “Canalha!” (Bertrand Brasil, 2008) “Diário de um Apaixonado: sintomas de um bem incurável” (Mercuryo Jovem, 2008) “www.twitter.com/carpinejar” (Bertrand Brasil, 2009)

O escritor Fabrício Carpinejar nega todos os rótulos e busca a compreensão, não o moralismo


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.