O mistério dos Deuses - Trecho

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Do Autor TRILOGIA O IMPÉRIO DAS FORMIGAS As Formigas Vol. 1 O Dia das Formigas Vol. 2 A Revolução das Formigas Vol. 3 TRILOGIA O CICLO DOS DEUSES Nós, os Deuses Vol. 1 O Sopro dos Deuses Vol. 2 O Mistério dos Deuses Vol. 3


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Bernard Werber

O Ciclo dos Deuses

O Mistério dos Deuses Volume 3

Tradução Jorge Bastos

Rio de Janeiro | 2014


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I. OBRA EM AMARELO: A VOLTA AO PARAÍSO

1. COM A CABEÇA NAS ESTRELAS

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onho. Estou sonhando. Estou sonhando que sou humano e que levo uma vida normal. Acorde... Permaneci com os olhos fechados, para me manter naquele mundo onírico. “Vamos, acorde!” Será que estou sonhando com alguém me mandando acordar ou alguém, de fato, está falando comigo? Apertei bem os olhos para me proteger dessa realidade à qual não quero voltar. No sonho, eu estava dormindo tranquilamente, no aconchego de uma cama de madeira escura, com lençóis brancos de algodão, num quarto de paredes azuis com fotografias do pôr do sol dependuradas. Pela janela, ouço o barulho do arranque de automóveis, o ronco dos ônibus a diesel, algumas buzinas irritadas e pombos arrulhando. Um rádio-despertador disparou. — Vamos, de pé!


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Será que isso é dentro da minha cabeça? Alguém me sacode com a mão. — Michael, acorde! Todos os elementos do sonho: os carros, ônibus e árvores foram arrancados e sumiram. Na rua, pegas de surpresa, as pessoas desapareceram com um ruído de sucção. Em seguida, os prédios, as casas, as estradas asfaltadas, as calçadas, os gramados, as florestas, a camada de terra e areia formando a epiderme do planeta foram aspirados, sobrando apenas uma esfera completamente lisa, como uma bola de bilhar. O planeta encolheu. Dei um salto acrobático para deixar meu minúsculo planeta e me movimentei a braçadas pelo vazio sideral, nadando entre as estrelas. — Vamos, acorde! Saí de uma realidade e entrei em outra. — De pé, Michael! Está atrasado! Lábios rosados se abriram, mostrando um túnel. No fundo dele, um palato, uma língua, dentes que brilhavam. Logo depois, a glote vibrando. — Por favor, movimente a boca, não durma de novo. Não temos muito tempo mais! Com os olhos bem abertos, vi a quem pertencia a boca. Uma mulher de rosto redondo e harmonioso, com cabelos castanhos torneados, o olhar bem vivo. Sorriu para mim, e eu a achei incrivelmente bonita. Esfreguei os olhos. Estava num quarto com o pé-direito alto e as paredes em pedra de cantaria. Os lençóis prateados eram de seda. Pude ver pela janela aberta uma montanha cujo cimo se perdia nas nuvens. Tudo estava bem calmo. O ar fresco tinha o cheiro bom de flores e de relva umedecida pelo orvalho. Nada de


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fotos do pôr do sol, nada de automóveis e nenhum rádiodespertador. Pronto, estou me lembrando. Eu me chamo Michael Pinson. Já fui mortal: médico anestesista, encarregado de doentes que eram tratados por mim. Fui anjo: responsável por três almas que apoiei durante sucessivas existências. Tornei-me deus (pelo menos aluno-deus). Tenho a meu encargo toda uma população que tento ajudar a sobreviver o maior tempo possível, através dos séculos. Estou em Aeden, em algum ponto do cosmo, na Escola dos Deuses, tentando ser o melhor de uma turma de 144 alunosdeuses concorrentes. Inspirei profundamente. As tantas peripécias que aconteceram comigo nos últimos tempos se atropelaram em minha mente. Lembrei-me de ter visto meu povo em grande dificuldade, de ter fugido e subido a montanha para descobrir que claridade era aquela a luzir nas brumas do topo. Ainda aquela mesma vontade de alçar minha consciência até uma dimensão que a ultrapassa... À minha frente, a mulher sublime mergulhou seus olhos escuros nos meus e acrescentou: — Nenhum minuto a perder, Michael. É preciso ir embora imediatamente! Encostei-me nos travesseiros e, enfim, consegui articular: — O que está havendo? — O que está havendo é que se passaram sete dias desde que você se foi. Nesses sete dias, o jogo da divindade continuou sem que você participasse. E dentro de uma hora será a final.


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Quando acabar, vamos saber qual aluno será declarado vencedor e terá o privilégio de subir aos Campos Elísios para conhecer o Criador em pessoa. É isso o que está acontecendo. A final da divindade hoje? Não, não é possível! O sonho se tornava pesadelo. — Mexa-se, Michael! Se não se aprontar em poucos minutos, todos os esforços terão sido inúteis. O seu povo vai morrer e você perderá. Um arrepio me percorreu a espinha. Bruscamente me dei conta de onde estava, de quem eu era e de tudo que eu tinha que fazer. Tive medo.

2. ENCICLOPÉDIA: 3 FASES

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trajetória de evolução de todas as almas se desenvolve em três fases: 1 — O medo. 2 — O questionamento. 3 — O amor. E todas as histórias voltam sempre a contar essas três etapas do despertar. Podem ocorrer na duração de uma vida inteira, em diversas reencarnações, ou acontecer num só dia, uma hora, um minuto. Edmond Wells, Enciclopédia dos saberes relativo e absoluto, tomo VI.


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3. CAFÉ DA MANHÃ

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eijo. A maravilhosa mulher à minha frente me deu um beijo leve e outro, em seguida, mais profundo. Era Mata Hari, a exdançarina franco-holandesa, acusada de espionagem, minha companheira em Aeden. — Rápido! É uma questão de segundos apenas. Lançou-me um ankh, o instrumento divino que nos permite produzir raios e observar os mortais. Pendurei no pescoço a joia que simbolizava o nosso poder e, enquanto rapidamente eu me vestia, ela explicou: — Hoje de manhã os centauros o trouxeram para a cama. Muita coisa aconteceu nesses sete dias de ausência. Ela me passou as sandálias de couro que eu calcei de qualquer jeito, pegou uma sacola e saímos às pressas, sem nem mesmo trancar a porta da casa. Do lado de fora, havia vento. Tomei a direção da porta oriental, a mesma dos Campos Elísios e dos palácios dos Mestres-deuses que tinham se encarregado da nossa formação até ali, mas Mata Hari me puxou pelo braço: — As aulas já acabaram. A final foi marcada no Grande Anfiteatro. Corremos pelas amplas avenidas da cidade de Olímpia. Estavam desertas. Não havia alunos-deuses, nem Mestresdeuses, nem quimeras, nem insetos e nem pássaros. Só ouvíamos de passagem o rumor das fontes antigas e o sacudir das folhas. A majestade do lugar mais uma vez me impressionou, com os jardins bem cuidados, as aleias floridas, os tanques esculpidos, as oliveiras nodosas: tudo ali era feérico.


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O céu tinha uma coloração escura, enquanto o chão era branco. O clarão de um raio traçou um risco na altura das nuvens escuras, mas não chovia. Tive uma sensação estranha. Uma sensação de fim de mundo. Como se uma catástrofe fosse subitamente acontecer. O vento aumentou suas rajadas. O frio se intensificou. Sinos começaram a bater. Mata Hari puxou-me ainda pelo braço e corremos juntos até perder o fôlego. Manhãs de inverno da minha última vida de mortal me vieram à memória. Minha mãe me puxava daquele jeito, me levando à escola, onde as provas de fim de ano me esperavam. Ela dizia: “Tenha ambição. Aposte nos objetivos mais altos. Desse modo, mesmo que chegue apenas à metade do caminho, já vai estar num ponto razoável.” O que acharia de tudo isso, se me visse no Olimpo, na prova final da divindade? Continuamos a correr por Olímpia. Na minha frente, os cabelos castanhos de Mata Hari esvoaçavam na borrasca. Sua silhueta miúda e musculosa me guiava por ruas a avenidas. — Rápido, Michael, já estão fechando as portas! Chegamos ao Grande Anfiteatro, monumental construção em pedra de cantaria. Alguns baixos-relevos representavam titãs lutando contra heróis armados de lanças e escudos. Dois centauros, em carne e osso, porém, controlavam a entrada principal. De braços cruzados, batiam no chão com os cascos, e jatos de vapor saíam das suas narinas, no ar gelado. Assim que nos viram, pegaram os olifantes e anunciaram nossa chegada. A pesada porta de carvalho rangeu e um Mestredeus barbudo, de dois metros e meio de altura, surgiu, com a cabeça coroada de folhas de vinha.


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— Michael Pinson! — exclamou Dioniso. — Realmente continua mantendo a fama: “Aquele que se espera.” Muitos já achavam que fosse perder a final. O Mestre-deus nos deu passagem e fechou atrás de nós o sólido portal. — Já começou? — perguntou Mata Hari, preocupada e sem fôlego. Dioniso cofiou a barba e piscou um olho em nossa direção. — Não, não, as portas já iam fechar, mas a partida ainda não começou. Têm, inclusive, uma boa hora pela frente, para tomarem o café da manhã tranquilamente. Vou deixá-los aos cuidados da senhorita. Uma semideusa apareceu, era a Hora Diké. Guiou-nos por corredores de mármore e pátios lajeados, até o refeitório do Anfiteatro. À direita, vinham de um bufê os odores dos bules de café, chá, leite e chocolate quente. Ao redor de uma mesa central grande, vi os demais alunosdeuses finalistas, fazendo sua refeição. Éramos 144 no início. Quando fugi para explorar o cume da montanha, mais da metade já havia sido eliminada, sem falar dos que foram assassinados pelo deicida. Naquele momento, éramos apenas 12. Reconheci: Georges Méliès, deus dos homens-tigres. Gustave Eiffel, deus dos homens-cupins. Simone Signoret, deusa dos homens-garças. Bruno Ballard, deus dos homens-falcões. François Rabelais, deus dos homens-porcos. Toulouse-Lautrec, deus dos homens-cabras. Jean de La Fontaine, deus dos homens-gaivotas. Édith Piaf, deusa dos homens-galos.


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Além deles, um rapaz de quem eu tinha esquecido o nome, pois não fazia parte do meu círculo de amizades. Era um lourinho gorducho que Mata Hari parecia conhecer. — É Xavier Dupuis, deus dos homens-tubarões — murmurou ela no meu ouvido. — No início, seu reino tinha um tamanho médio. Depois, ele conseguiu organizar uma aristocracia militar. Teve sucesso em confederar a seu redor todos os Estados vizinhos e está em pleno crescimento industrial. Suas cidades crescem e prosperam. Além disso, preocupe-se com ele, pois os tubarões estão tendo um rápido crescimento demográfico. Todos nos cumprimentaram. Nossos rivais, no entanto, estavam concentrados na partida que viria, como atletas antes dos Jogos Olímpicos. Um pouco isolado do restante dos jogadores, num canto, estava Raul Razorback, deus dos homens-águias. Seu rosto comprido como uma lâmina de faca, o olhar sombrio e sua placidez me eram bem familiares. Bebia café a pequenos goles, mas se levantou e veio falar comigo, assim que nos viu. Com a xícara na mão esquerda, estendeu-me a direita. Apenas olhei-a, sem responder. — Não vai me dizer que ainda está zangado, Michael. — Como não estaria? Você transformou a mensagem de tolerância do meu profeta em racismo contra meu povo! Franziu o cenho. Ele que sempre se mostrara fleumático, parecia estar nervoso. — Ainda essa história antiga. Não vai me dizer que leva isso a sério. Faz parte do jogo, Michael. São apenas mortais! E como o nome indica, “mortais” estão destinados a morrer. Nós, por outro lado, somos deuses. Estamos bem acima disso. Eles não passam de peças em um gigantesco jogo de xadrez. Quem vai chorar por um peão que foi eliminado pelo adversário?


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Simulou um gesto desenvolto e me estendeu a mão. — Você e eu fomos amigos. E sempre seremos — declarou. — Não são “peões”. São seres vivos, capazes de sofrer, Raul. Razorback afinal abaixou o braço, fixando-me ironicamente. — Você se coloca emocionalmente demais no jogo. Sempre teve uma visão ingênua da função divina. Quer sempre ser o “mocinho do filme”, Michael. Será sua perdição. O importante é ganhar e não ser o mais simpático. — Creio que seja meu direito não concordar com seu ponto de vista. Ele balançou os ombros e engoliu o restante do café, de uma só vez. — Os cemitérios estão cheios de heróis simpáticos, e os panteões transbordam de crápulas cínicos. São esses últimos, porém, que no final escolhem os historiadores que vão apresentar a versão oficial para as gerações futuras. Os “crápulas cínicos” podem, então, e graças à magia da propaganda, se tornar heróis fulgurantes. Estamos bem-situados aqui para uma visão objetiva de tais acontecimentos. — É nisso que somos diferentes, Raul. Você constata as injustiças, e eu me esforço para lutar contra elas. O olhar sombrio do meu rival em divindade brilhou de forma diferente. — Está esquecendo, Michael, que fui eu que lhe incentivei a se alçar até o continente dos mortos? Esqueceu o nosso lema dos tanatonautas, na época em que nossas almas deixavam nossos corpos e iam explorar o além? — “Juntos contra os imbecis.” — Isso, e também: “Em frente, rumo ao desconhecido.” É esse o sentido da nossa missão de alma: revelar o que ignoramos. Sem julgar, apenas observar e compreender. Sem escolher um lado, apenas avançar na direção do desconhecido. Nossa


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busca é a de procurar a realidade escondida atrás das aparências. Não buscamos ser “mocinhos”. Raul pronunciou essa última palavra com todo desprezo. Os demais nos ouviam sem participar. — Esqueceu o outro lema, de quando vivíamos no império dos anjos? “O amor como espada.” É em nome do amor que lutamos! — A divisa inteira rezava: “O amor como espada e o humor como escudo”. O humor é a capacidade de nos relativizarmos. Você sabe disso. Foi em nome do amor, ou de alguma religião ou pátria, que ocorreram os piores massacres. E muitas vezes foi em nome da sensação de derrisão que, finalmente, guerras terminaram e tiranos foram derrubados. O que aconteceu com o seu senso de humor, Michael? Raul Razorback foi se sentar e pegou uma fatia de bolo com frutas secas. — Desapareceu quando os homens-águias utilizaram o símbolo do suplício do meu profeta como sinal de cooptação. Meu símbolo era o peixe, e não um homem empalado! Ele me respondeu, enquanto mastigava: — Foi para que a sua mensagem perdurasse que fiz tal escolha. Era importante marcar os espíritos. Reconheça que a representação de uma tortura impressiona mais do que o desenho de um peixe. O tom da minha voz subiu: — Você assassinou o meu profeta! Aproveitou-se e deformou sua mensagem! — Você não passa de um pobre coitado, Michael. Não entende nada da grande História do mundo. Agarrei Raul pela garganta e derrubei-o no chão, estrangulando-o. Para minha grande surpresa, ele não se defendeu.


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Quando começou a tossir, Gustave Eiffel e Georges Méliès me puxaram. Ergueram-nos e nos afastaram um do outro. — Ei, a final é hoje! — exclamou Bruno Ballard. — Se querem brigar, façam por intermédio dos seus povos. Édith Piaf acrescentou: — De qualquer maneira, após a partida teremos um só vencedor, e os 11 outros serão eliminados. — Somos como gladiadores nos minutos antes dos jogos na arena — confirmou Xavier Dupuis. — Não vamos nos matar antes de ser dado o sinal. Mata Hari ajudou a arrumar minha toga. — Coma um pouco — sugeriu ela, estendendo-me um croissant. — Vai precisar de suas forças para a partida. Tomei um café. Todos nos entreolhávamos com desconfiança. Jean de La Fontaine tentou descontrair o clima: — Os mortais não se dão conta da sorte que têm... de não serem deuses! — E de ignorarem os mundos que estão além do seu entendimento — completou François Rabelais. — Às vezes, acho que preferiria não saber e não ter poderes tão importantes. Tanta gente nos venerando, é muita responsabilidade — admitiu Simone Signoret. — Dentro de algumas horas isso vai estar resolvido — resmungou Toulouse-Lautrec. Bebi ainda várias xícaras de café, até Mata Hari afastar o bule, me proibindo de continuar. — Pare, senão sua mão vai estar tremendo, sem conseguir controlar o raio divino. Ela me abraçou e senti a maciez do seu corpo, dos seus seios que se apertaram contra as minhas costas.


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— Ainda quero fazer amor com você — murmurou no meu ouvido. — Agora, aqui? — Isso mesmo, antes da partida. Depois, de qualquer maneira, será tarde demais. — Não sei fazer assim, às pressas. Ela me puxou por um comprido corredor lateral. — Vai aprender. Eu sou como as plantas: é preciso falar muito comigo e me molhar. Passamos por sucessivos corredores pintados de vermelho. Quando Mata Hari achou que já estávamos suficientemente longe dos outros, sem me soltar, se deitou diretamente no chão de mármore e ali, abraçados, começamos a nos beijar e acariciar. Ela tomou todas as iniciativas. Tornou-se o maestro de uma orquestra, tocando uma valsa horizontal, cuja cadência ela ditava. Quando afinal caímos, com a respiração entrecortada, um ao lado do outro, ela me passou um objeto embrulhado que tinha guardado na bolsa. — O que é? — Nossa ajuda. Afastei o tecido que protegia e vi a capa tão familiar da Enciclopédia dos saberes relativo e absoluto. — Continuei a escrever para que a herança não se perdesse. São tantos conhecimentos que corriam o risco de desaparecer... Retranscrevi de cor alguns fragmentos. Não se surpreenda, então, de voltar a vê-los, apesar de já ter tantas vezes estudado isso. Acrescentei outros, graças a descobertas feitas durante a sua ausência. Na primeira página, revi a lição que Edmond Wells achava ser a mais importante de todas. Aventura após aventura, ele a repetia constantemente. Mata Hari havia certamente modificado um pouco o estilo, mas o sentido milenar permanecia o mesmo.


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