ESTADO DE MINAS//PENSAR
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Mensageiros DO ABSOLUTO
Em A beleza salvará o mundo, Tzvetan Todorov revela o retrato pungente e radical de três grandes nomes da literatura: Oscar Wilde, Rainer Maria Rilke e Marina Tsvetaeva CIA DAS LETRAS/REPRODUÇÃO
ANDRÉ DI BERNARDI BATISTA MENDES
izer sobre o belo, dizer sobre a beleza é perdêla, é perder o espírito da “coisa”. O verbo não apreende,nãodefineasuaessênciapuramenteabstrata.Obeloestarrece,aterroriza,fulmina – antes de encantar – todos os sentidos e instaura, inaugura outras dimensões para o talespírito.Obeloésempreperturbador,abeleza cria desordem ao desconsiderar linhas e linhagens.Democrática,abelezaapontapara algoabsurdo.NolivroAbelezasalvaráomundo, Tzvetan Todorov vai direto ao ponto e questiona: como viver o absoluto, essa dimensão inerente a toda existência humana? Todorovresgata,reinventa,acordaalgoparecido a uma utopia ao iluminar o futuro com a luz insistente da alegria, ainda que paratantoapresenteahistóriadetrêsvidaspassionais – e trágicas. Todorov nos oferece três contundentesretratosaomostraraexperiência limítrofe de Oscar Wilde, Rainer Maria Rilke e Marina Tsvetaeva. O autor propõe uma reflexão profunda ao perguntar também: em que consiste uma vida bela e plena de sentidos? Quais os riscos desse empreitada? Oscar Wilde encontrou a decadência física e psíquica; Rilke enfrentou os abismos de uma profunda depressão; Tsvetaeva se matou, fulminada, cansada, talvez, ao buscar o inefável. “Exploradores do extremo”, estes verdadeiros artistas vivenciaram o absoluto no íntimo de suas existências e, como tantos outros, pagaram um alto preço por isso. As definições, os livros, toda palavra encontra o seu lugar sempre no passado. A vanguarda é o verdadeiro lugar da beleza. Encarar este sol exposto pode trazer consequências. O belo acata palavras como renovação, mas a beleza faz nascer também a loucura. Inadvertidamente tensos, aqueles três corações fulgurantes bateram repletos de desengrenagens. A beleza, eles descobriram, ao criar obras inesquecíveis, é um tipo de ferramenta absurda que articula melhorias. Toda beleza é cigana. O belo é sempre inapropriado para menores. A beleza devassa. Sendo assim, o êxtase (a beleza, o absoluto) nunca deixa cicatrizes. Baudelaire, no poema ‘‘O veneno’’, amplia essa dimensão poética e sempre perigosa: “Sabe o vinho vestir o ambiente mais espúrio/ com o seu luxo prodigioso.// O ópio dilata o que contornos não tem mais/ aprofunda o ilimitado”. Narcóticos e vinhos. A beleza é a mais pura água, já que o êxtase alarga o que já era abissal. Não se trata de uma meticulosa embriaguez, ou simples arroubo. Desde sempre, vem dos primórdios este nossoinstintofundador.Correta,comodeveríamos ser, a beleza nunca induz ao erro. Dizer é errar. Mais apropriado seria apenas sentir. Ver e ouvir. Os campos, a natureza, a alma obscura. Fernando Pessoa foi um dos que tambémpercebeuquetudoqueexistecarrega o peso de algumas simetrias. Obelo,nosensinaTodorov,buscaparceria econexão.Oinferno,nessecaso,nuncaéooutro, que se torna fonte de delícia e descobrimento. É preciso que uma coisa atice outra, e mais outra. Este tipo de luz (aquele sol exposto),estetipodeencontro(inerenteatodaexistência humana) às vezes torna-se excessivo, insuportável. Contudo, renitente, a beleza cresce, vive de celebrações e carinhos. A bele-
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A BELEZA NOS LEVA AO CENTRO NERVOSO DE NÓS MESMOS, A UM ‘LOCAL DE PLENITUDE’
O escritor irlandês Oscar Wilde fez da beleza seu evangelho e único suporte de uma existência marcada pela discriminação e preconceito za traz uma força propulsora que regenera. Não por acaso Todorov presta uma bela homenagem ao apresentar os seus mais que falíveis, os seus frágeis “heróis”. “Sei que a aspiração à plenitude à realização interior e a uma qualidade de vida superior faz parte dessa configuração, mas ignoro aonde ela deve me conduzir e que lugar ocupa a relação com o absoluto. É para descobri-lo que me engajei na presente investigação: esperando que o passado esclarecesse o presente.” Uno e múltiplo, o belo está entre as melhores coisas do mundo. Todorov escreve sobre extremos: liberdadesindividuais,faladetransformação,falade ilusões e fala de história. O absoluto produz precisão e justeza. Já na introdução Todorov explica que a beleza nos leva a “um lugar que não sabemos nomear”. A beleza nos leva ao centronervosodenósmesmos,noslevaaum sítio, a um “local de plenitude”.
DOR E DELÍCIA OlivrodeTodorovfalasobrea buscahumanapermanenteedolorosadoabsoluto. Ele analisa, de modo preciso e apaixonante, a existência desses três grandes personagens do mundo literário. Todorov mostra, amplia estes caminhos trilhados com dor e delícia.Poisobelorege,reverencia,reordenao inusitado, para logo em seguida, numa dialética estranha, promover o caos inicial. Motocontínuo, o belo nunca chega a ser autossuficiente. Toda filosofia e razão míngua ao tentardomaroquenãotemleiseestatutos.Abeleza é pura neblina, e sonho. Paradoxal, o belo provoca alívios e angústias.Fomequegerafome.Oquadro,opoema, ofilme,amúsica,aflor,umgestoamigo,uma palavra de carinho, os livros, tudo isso deixa em nós algo que continua, que nunca é extáticoemuitomenosdefinitivo.Abelezaésempre refutável.
FOTOS: JAIR AMARAL/EM/D. A PRESS
VOZ DAS RUAS/ O que é a beleza?
São dois pra lá, dois pra cá. Faz calor, depois faz frio. Mas nunca há injustiça nestes movimentos sempre precários, esquisitos. É raro, mas é possível encontrar algum tipo de beleza até no protocolo, no suposto ritual harmonioso que ostenta, que sustenta príncipes e princesas. Existe o belo na regra, na rigidez dos santos. A beleza forma uma frágil espiral, feita de fumaça, que se desfaz, assim, no vento. O desenho que se forma, bem de leve, ao acaso, é semprediversoeinusitado.Obeloartístico,o belo natural , o belo simplesmente belo. Não existe ainda uma teoria que dê conta de tamanho “peso”, exacerbado pelo mistério. Mas Todorov, em A beleza salvará o mundo,mostra,nomínimo,coragemparadiscordar,paraapontaralgumtipodesaídaexistencial ao sugerir que a beleza pode redimir. Todorovcontestaaviolênciae,emúltimaanálise, o mal. Todorov mostra, ao apresentar três biografiasfantásticas,pungentes,queépreciso,acimadetudo,construiroporvir.Todorov é enfático: “A beleza salvará o mundo. A frase de Dostoievski nunca foi tão atual. Pois é justamente quando tantas coisas vão mal em torno de nós que é necessário falar da beleza do planeta e do humano que o habita”. A beleza está nos olhos de quem ama? Tentar defini-la é esbarrar, é cair no precário essencial da dúvida. De Sócrates e Hegel, de Aristóteles a Kant, passando por Oscar Wilde, Rilke e Tsvetaeva. Como diria José Saramago, quecertamentetambémacreditavaqueabeleza pode salvar o mundo, a tribo dos imperfeitos,atribodossensíveishádesermaiordo que a dos muito ordinários. A BELEZA SALVARÁ O MUNDO De Tzvetan Todorov Editora Difel, 352 páginas, R$ 45
QUEM É QUEM
Oscar Fingal O'Flahertie Wills Wilde Nasceu em Dublim, em 16 de outubro de 1854. Morreu em Paris, em 30 de novembro de 1900. Defendia o belo como antídoto para os horrores da sociedade industrial. Morreu de um violento ataque de meningite (agravado pelo álcool e pela sífilis). O Retrato de Dorian Gray, seu único romance, é considerado um clássico da literatura inglesa.
Rainer Maria Rilke Nasceu em Praga, na República Tcheca, em 4 de dezembro de 1875. Morreu em Valmont, na Suíça, em 29 de dezembro de 1926. Foi um dos mais importantes poetas de língua alemã do século 20. Publicou, entre outros, O livro das horas; Os cadernos de Malte Laurids Brigge e Cartas a um jovem poeta.
Marina Tsvetaeva Nasceu em Moscou, em 26 de setembro de 1894. Morreu em Ielabuga, no Tartaristão, em 31 de agosto de 1941. Foi uma grande poeta e tradutora russa. Deixou uma obra poética que foi salva da destruição e do esquecimento por sua filha, Ariadna Efron. Durante o regime soviético permaneceu inédita até depois da Segunda Guerra, quando passou a ser publicada em folhas clandestinas. Tzvetan Todorov É historiador e ensaísta. Nascido em 1939, na Bulgária, vive na França, por opção, desde 1963. É diretor de pesquisas honorário do Centre National de Recherche Scientifique (CNRS). Publicou várias obras, entre as quais A literatura em perigo e Em face do extremo.
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“Beleza para mim são as árvores, a cidade limpa, a saúde da população e muita felicidade”
“Eu considero que é aquela frase: mais é menos. Beleza é simplicidade e naturalidade”
“Beleza é simplicidade, é o que cada um carrega dentro de si mesmo, é a paz interior. Beleza é reflexo do bem-estar”
■ Aparecida Matos, 52 anos, técnica de enfermagem
■ Carlos Lucchi, 50 anos, arquiteto
■ Vania Rodrigues, 52 anos, arquiteta
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