Alessandra França, 27 anos, dispara: “As pessoas não acreditam que o jovem é capaz”. no entanto, a paranaense modificou sua própria vida e de, até agora, mais de mil famílias.
A história de Isabel, um das primeiras clientes do Pérola, é dos coses de sucesso do banco. Foi apenas um empréstimo de R$ 400 que mudou completamente a vida da jovem de 26 anos. Na época, ela sustentava os dois filhos (de 5 e 8 anos) com uma renda de R$ 80 mensais do programa Bolsa Família do governo federal. Ela não trabalhava fora, porque assim gastaria quase tudo com transporte e pagamento de babá, sem ter certeza de que eles estariam tendo uma boa educação. Com o dinheiro que adquiriu do banco, ela reformou um carrinho de cachorro quente que ganhou de um tio e comprou o necessário para começar a vender lanche na porta do forró do bairro. Logo de início, começou a ganhar dez vezes mais: R$ 800. Mas então o forró fechou e surgiu concorrência, despencando as vendas de Isabel. Assim, ela percebeu que a comunidade precisava de frutas e verduras e, com o antigo débito quitado em dia, solicitou um novo crédito de R$ 1.000 para montar um hortifruti. Atualmente, o sacolão de Isabel fatura em média R$ 2.000 mensais. O suficiente para bancar a reforma da casa, fazer convênio médico para os filhos e receber de volta o marido, que tinha ido embora.
Banqueira dos pobres Por Raíza Tourinho Pouco mais de 340 páginas foi tudo que Alessandra França, 27 anos, precisou para modificar a vida de, até agora, mais de mil famílias. Quando tinha 16 anos, o livro “O Banqueiro dos Pobres”, que narra a bem-sucedida experiência de microcrédito implantada pelo Nobel bengali Muhammed Yunus, foi parar em suas mãos. Esse foi o combustível que a jovem “sonhadora, mas pé no chão”, como se define, precisava para materializar novos sonhos. Antes, no entanto, a paranaense modificou sua própria vida. Filha de um caminhoneiro e uma costureira, Alessandra cresceu na periferia de Sorocaba, interior paulista, e começou a tomar um caminho diferente da maioria dos jovens do bairro aos 14 anos, quando ingressou no curso de informática e cidadania de uma ONG da cidade, o Projeto Pérola. Tal como a concha que nomeia a instituição, Alessandra aos poucos foi revelando o seu brilho: foi a melhor aluna do curso e ganhou uma bolsa para estudar em uma escola particular. Apesar de se formar em marketing, estudar dois anos no exterior e fazer um MBA em gestão de pessoas, Alessandra nunca abandonou o projeto. Foi monitora, instrutora dos cursos, elaboradora dos conteúdos programáticos, passou ainda um ano na gestão financeira e, por fim, chegou a coordenação-geral, cargo no qual só saiu depois de quatro anos, quando conseguiu tirar o seu sonho do papel. Assim, depois de mais de sete anos com as palavras de Yunus ressoando dentro de si, Alessandra França tornou-se a banqueira mais jovem do Brasil, ao fundar o Banco Pérola – que, na verdade, é uma organização da sociedade civil de interesse público (Oscip). A iniciativa atua também em Sorocapa e contou com a crença do próprio projeto Pérola e da organização Artemísia. Hoje já é um modelo de sucesso, pronto para ser replicado em outros estados, como o exemplo em Tocantins. Dos 110 mil reais iniciais investidos para criar o banco, em 2009, o Pérola pulou para uma carteira de mais de meio milhão de ativos em mãos de microempresários entre 18 e 35 anos. O banco já beneficiou mais de 1.000 famílias e possui uma taxa de inadimplência invejável: apenas 2%, bem inferior à média de 7% dos bancos tradicionais.
Você é de uma família humilde, sem muitos recursos. Qual foi o momento que você percebeu que poderia transformar a realidade a sua volta? Sem dúvidas, o projeto me ajudou muito. Mas a minha família também foi importante, meus pais sempre foram empreendedores. Você já sentiu que a sua juventude atrapalha nos negócios? O tempo todo. Sofremos preconceito por sermos jovens diariamente. As pessoas não acreditam que o jovem é capaz. E o contrário? Já sentiu que ser diretora-presidente de um banco aos 27 anos é muita responsabilidade? Às vezes sinto. Tento dar uma parada, equilibrar um pouco as atividades. E acaba dando certo. Algum momento você desanimou? Dizer que eu nunca pensei em desistir, nem desanimei, é mentira. Tem momentos assim e não são poucos, mas fazem parte do ser humano. Tem que tirar forças e continuar. Como? Todos os empreendedores que aparecem pedindo apoio te motivam a continuar. Geralmente, os jovens de classes com menos poder aquisitivo têm poucas oportunidades e, portanto, raramente pensam em perspectivas maiores, como virar empreendedor. Você percebe isso? Realmente isso existe. É a falta de acreditar no potencial. A gente tenta mostrar exemplos de iniciativas semelhantes para que isso diminua. Queremos que as pessoas se espelhem umas nas outras. A grande maioria dos empreendedores clientes do Pérola são mulheres. Qual é a diferença entre o empreendedor masculino e o feminino? A gente percebe que a mulher que é mais persistente, não desiste fácil e tem mais compromisso. E qual é perfil dessas mulheres? Tem mulheres solteiras, mas a maioria tem filhos, mesmo sendo jovens. O que você diria às pessoas que tem um sonho e não sabe como realizá-lo? Acho que tem que primeiro acreditar no sonho. Depois fazer pequenos testes, que é o senso de realidade: ver se realmente existe público, se é um produto que o mercado vai aceitar... O primeiro passo é sonhar, depois fazer com que aquilo aconteça. Continue lendo no site...
As três palavras do título desse texto circulam os pensamentos diários de uma gaúcha, de Porto Alegre, que, aos 25 anos, acumula a experiência de desenvolver junto com outros jovens alguns dos maiores projetos de financiamento coletivo, engajamento social e empreendedorismo do país.
Engajar, colaborar e empreender Por Fábio Góis Bárbara Wolff Dick há dois anos vive no Rio de Janeiro. Mudou-se para capital fluminense para tocar em frente um projeto chamado Mineo, uma plataforma on-line que estimula a criação de uma comunidade de pessoas pensando e desenvolvendo produtos sustentáveis que solucionem problemas reais de forma colaborativa. Mas essa história começou há mais tempo... A designer gaúcha foi convidada por alguns amigos a abrir uma empresa que trabalhasse somente com tecnologia focada em engajamento e novas economias. “Essa ideia já existia na minha cabeça, mas nunca tinha tomado forma. Antes, essa área era mais difícil de ser mapeada e compreendida, mas desenvolver tecnologia com um foco de engajamento e inovação social parecia muito interessante para mim”, conta. A partir desse desejo e dedicando dias e noites em planejamento junto com os sócios, é que surge então a Engage, uma organização que desenvolve estratégias e ferramentas para se alcançar a solução ideal de engajamento para cada comunidade. “A Engage veio ao mundo para diminuir a lacuna entre a intenção e a ação”, explica Barbara. Eles trabalham com cidadania, produção colaborativa, novas economias e outras formas de inovação social. O conceito é bem objetivo: cada projeto surge a partir de um problema comum enfrentado por uma comunidade, depois é criada uma estratégia e, em seguida, é criado um software para promover a interação entre as pessoas. O que eles querem é devolver o poder às pessoas, a capacidade de decidir o que quer fazer, como quer fazer, o que consumir etc. O resultado já pode ser visto em um portfólio de projetos que inclui Sonho Brasileiro, Nós.vc, MateriaBrasil, Portal Impulso, Estaleiro Liberdade, entre outros. Um de mais destaque desta lista é o Catarse, o principal site de financiamento coletivo do Brasil. Os números falam por si. No Catarse já foram realizados 456 projetos bem sucedidos e 6.167.208 milhões de reais, até o momento, arrecadados para realização de projetos propostos pela própria sociedade. “Talvez as plataformas de crownsourcing ainda não tenham atingido o mainstream, mas é quase desnecessário questionar o sucesso dessa forma de financiamento. Afinal, mais de 400 projetos conseguiram nascer com recursos da multidão. Incrível, não?”, defende Bárbara. Em dezembro de 2012, a Engage lançou o Mineo, um dos principais focos de trabalho de Bárbara atualmente. Nessa plataforma, as pessoas podem publicar uma ideia de um produto, mas antes de desenvolvê-la, essa ideia vai ser validade, votada, comentada e aperfeiçoada
pela própria comunidade. O objetivo é criar produtos responsáveis, a partir de um produção sustentável e colaborativa, onde são usadas matérias-primas que tenham impacto positivo para o meio ambiente e para a sociedade. É o que eles chamam de processo de inovação aberto, onde todos colaboram e todos ganham. O resultado é a confecção de produtos de alto interesse público, vendável e onde todos que colaboraram com aquela ideia recebem um percentual das vendas. Conheça algumas opiniões de Bárbara: Qual o poder da internet nesse processo de criação coletiva? Na sua época, todas as mídias (impressa, TV e rádio) provocaram transformações sociais profundas. A internet tem a mesma característica, porém ela é a única que comunica em múltiplas direções. O que acha do atual momento dos jovens em relação ao modelo tradicional de negócios? Olha, temos uma geração com novas ferramentas e teremos resultados diferentes nos próximos anos. Muita coisa pode surgir. Mas acredito que isso seja também parte decepção com o mercado tradicional, ou uma crise moral com esse sistema econômico. Comigo, por exemplo, trabalhei alguns anos com o mercado mais tradicional de publicidade e software, e foi uma experiência incrivelmente estressante. Você trabalha estimulando o empreendedorismo. Para você, o que faz uma startup dar certo? Qualquer projeto tem uma chance muito maior de dar certo se as pessoas liderando os processos estiverem interessadas nesse sucesso de forma consciente. Ter o dinheiro é sempre a dor de cabeça para qualquer empreendedor? O dinheiro se torna uma questão no momento em que se vê na posse dele a solução para qualquer problema que surgir. Já vi projetos incríveis surgirem sem nenhum investimento financeiro, e projetos nem tão bons receberem alguns mil dólares e nem saírem do chão. Continue lendo no site...
“Precisamos nos enxergar como gestores da cidade. Quando tivermos um grupo efetivo cuidando das ações realizadas pelos Canteiros Coletivos, podemos considerar que o projeto estará implantado definitivamente”
canteiros coletivos Por Jessica Sandes Brincadeiras de pular muros, subir em árvores, andar de bicicleta, se esconder e pegapega fizeram parte infância da jornalista Débora Didonê. Ela mesma acredita que essa herança de criança, vivida na cidade de Joinville, em Santa Catarina, tem uma relação muito direta com o momento atual dela. É que, após concluir o curso de jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), foi morar em São Paulo em busca da carreira perfeita. “Queria construir minha vida lá. Era um local em que eu tinha como referência profissional. Achei que ia ficar pra sempre em São Paulo e falava isso com muita certeza”, conta. Mas o caso de amor entre a cidade e a jornalista, que trabalhou em festivais musicais e na Editora Abril, durou apenas oito anos. “Entrei em crise! O estilo de vida paulistano começou a me incomodar, era tudo automático, sentia falta dos encontros com os amigos, não tinha mais para onde expandir profissionalmente. Passei a repensar a vida”, lembra. Até que, em 2010, Débora resolveu voltar às origens, foi para Joinville, onde morou cerca de um ano com sua família, para estudar sobre as cidades que poderia viver. Nesse meio tempo viajou para Florianópolis, Curitiba, Rio de Janeiro e Salvador. Foi na capital baiana que tudo recomeçou... “A viagem deveria durar 15 dias, mas acabei ficando dois meses. Voltei pra Joinville só pra finalizar o ano”, conta Débora, que mudou para Salvador “na loucura”. Entre escolher apartamento para morar, pegar ônibus e procurar emprego, eis que surge o projeto Canteiros Coletivos. “Quando cheguei na cidade para morar foi um baque, percebi muita deficiência em estruturas básicas. Mas o lixo na rua me chamou atenção. Ao manifestar minha insatisfação, as poucas pessoas que eu conhecia diziam ‘Ah! É assim mesmo’. Não, não é. Eu precisava fazer algo para melhorar a situação”, disse Débora. Então, por meio das redes sociais, a jornalista participou de discussões e encontrou um grupo de pessoas que também se importavam com os problemas da cidade e propôs uma intervenção urbana no canteiro da avenida Reitor Miguel Calmon, mais conhecida como Vale do Canela.
O auge dos canteiros Criado em fevereiro de 2012, o projeto atua em diversos bairros da cidade de Salvador, sempre aos finais de semana. Atualmente, a iniciativa tem parceira com outras instituições, a exemplo do Escritório Modelo de Arquitetura, da Universidade Federal da Bahia (Ufba), em que os estudantes realizam atividades de pintura, recolhimento de entulhos e plantio de mudas na comunidade Gantois, na avenida Anita Garibaldi. “Nunca é um projeto só. Há um conglomerado de ações e atores sociais que se somam”, explica Débora. Uma dessas iniciativas busca investir no plantio de árvores nativas frutíferas que agregue informações aos jovens do projeto Bairro Escola Rio Vermelho. A ação pretende transformar o bairro do Rio Vermelho em um local reconhecido pela educação e pelo desenvolvimento de novas práticas de vivência entre os locais e seus moradores. Segundo a ativista, o maior desafio do projeto é ter a participação efetiva dos moradores das comunidades para que o trabalho dos canteiros seja preservado. Débora afirma que as pessoas já têm a consciência da importância de recuperar os espaços públicos e cuidar da cidade, o que falta é a percepção de que cada uma pode ser mobilizadora dessas ações e propor iniciativas sem acreditar que a responsabilidade de melhoria do município é toda do poder público. “Precisamos nos enxergar como gestores da cidade. Quando tivermos um grupo efetivo em cada comunidade, cuidando das ações realizadas pelos Canteiros Coletivos e também tomando iniciativas próprias, podemos considerar que o projeto estará implantado definitivamente”, defende Débora. Como ser que habita... A rotina de Débora é intensa. Ela confessa que, diariamente, gasta mais tempo com o projeto do que com as atividades ditas “‘obrigatórias” e geradoras de renda, pois defende que as pessoas precisam deixar os rótulos de lado e buscar a felicidade em sua essência, encarando a vida de uma forma mais leve. “O processo do crescimento de um projeto não implica, necessariamente, em um planejamento. O segredo é ir fazendo enquanto houver verdade nos fatos. Foi o caso dos Canteiros Coletivos”, declara. Continue lendo no site...
A psicóloga Débora Noal, de 32 anos, largou toda a carreira já construída no Brasil para enfrentar missões sociais pelo mundo, através da ONG Médico Sem Fronteiras
Mulher com alma de mundo Por Lise Lobo Engajada, sonhadora, desapegada e acima de tudo preocupada com o próximo, a psicóloga Débora Noal, de 32 anos, participa da ONG Médico Sem Fronteiras (MSF) e, segundo ela, vive cada dia em busca de um mundo menos violento e mais prazeroso. Natural de Santa Maria, Rio Grande do Sul, confessa que chegou a se questionar se seria melhor cursar medicina ou psicologia. Mas a dúvida foi cessada assim que trabalhou na recepção de um pronto socorro. “Eu gostava era da historia da costura da alma, mais do que da sutura do corpo”, relembra. Em sua trajetória de trabalho, Débora instalou o Centro de Atenção Psicossocial (CAPs) em duas cidades do interior de Recife; especializou-se em saúde da família, em Sobral, no Ceará; e concluiu o mestrado de gestão de saúde pública e coletiva em Aracajú, onde também se tornou funcionária da secretaria estadual de Saúde e foi convocada pelo MSF para sua primeira ação. Por que você escolheu a ONG Médico Sem Fronteiras? Descobri o MSF no início de 2008 e fui tomada de susto pela grandeza dessa humanidade que transbordava cuidado. Eu, até hoje, não acho que foi uma questão de escolha, acredito que encontrei aquela parte de mim capaz de mudar o mundo. Penso que essa mudança mundial se dá quando juntamos nosso quebra-cabeça interno e conseguimos enxergar o planeta, que parecia tão distante, bem aqui dentro da gente. Quais são os espinhos dessa flor chamada MSF? É muito bom receber um brilho no olhar, um sorriso, um abraço de alguém que antes estava envolto em sofrimento. Mas é complicado conhecer novas pessoas diariamente, mas no fim sentir falta de alguém que te conheça mais que seis meses. Quais países você já percorreu e como foram as experiências? Andei perambulando por mais de 35 países, mas trabalhei em oito. O Brasil, em que atuei na região serrana com os deslizamentos, em Tabatinga com imigrantes haitianos sem papéis e em Santa Maria; o Haiti, em 2008, onde prestei atendimento emergencial a pessoas que haviam vivenciado o furacão em Gonaives e precisei retornar, em 2009, para atender as vítimas de conflito armado e também em 2010 para auxiliar os sobreviventes de um terremoto; Guiné, com emergência nutricional; o Quirguistão, no conflito étnico entre
Uzbeques e Quirguizes; a Tunísia, no campo de refugiados de Shousha com 17.000 homens de todas as partes do mundo; a República Democrática do Congo, com as vítimas do conflito armado e em especial com as mulheres que sofreram abusos sexuais coletivos, vítimas de insanidades; e República Dominicana. O que você diria da troca de informações e aprendizados ofertados? Aprendi a compreender melhor as formas de ser feliz e como utilizar ferramentas simples e de resposta complexa, como a dança, o futebol e o cuidado para sublimar uma dor. Percebi diferentes conceitos de alegria, prazer, meta, dor, de família, e me convenci que a alienação também traz a felicidade individual, mas nem sempre a coletiva. O que falar da mulher e da profissional Débora Noal? Sou uma mulher de hábitos simples e com alma de mundo. E ainda uma profissional que acredita na construção de um planeta menos indigno através de técnica, afetividade e entrega. E por que a atração por questões sociais? Sempre fui inquieta, questionadora, e sempre me perguntei para que lado o mundo girava. Por que nunca para o lado das pessoas socioeconomicamente menos favorecidas? Então, fui militante estudantil, militei também por melhorias na saúde pública e feminista. Confesso que não perdi nenhuma destas pessoas que eu era, mas fui pintando e recortando todas elas pra me tornar eu! Quais os seus sonhos? Desejo sair na rua e não ter receio de receber uma insanidade humana, caminhar na praia de manhã bem cedinho sem ter de ouvir o receio das pessoas próximas pela violência. Dormir e acordar com uma sensação de estar leve. Desejo um futuro pleno de vida, sem muitos sonhos concretos, mas com muitas sensações. Continue lendo no site...
A baiana Elissama Menezes, com 21 anos de idade, conta experiĂŞncias marcantes no Greenpeace e sonha com o dia que pode ensinar o que aprendeu pelo Brasil.
Ambientalista no dia a dia Por Jessica Sandes Estudante de oceanografia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Elissama Menezes, apesar de ter apenas 21 anos, tem muita história pra contar. Desde a infância, a ativista demonstra possuir consciência da necessidade de proteger a natureza e realizar práticas sustentáveis. Segundo ela, o ambientalismo deve ser praticado diariamente, sem precisar de uma causa de grande repercussão. Elissama, que faz o percurso diário de bike do bairro onde mora, Marechal Rondon, no Subúrbio de Salvador até Ondina (local da faculdade), também é vegetariana, reaproveita a água da máquina de lavar, do banho e economiza energia com atitudes diárias. A baiana ingressou como ativista na ONG Greenpeace aos 16 anos e participou de grandes manifestações pelo Brasil. Quando você se percebeu envolvida com as questões ambientais? Desde pequena eu tinha uma preocupação com coisas mínimas, como desperdício de água, alimentos, gasto de energia. Li um livro que me marcou muito, chamado “O menino do dedo verde”. A história contava que onde ele tocava nascia uma flor, e eu me apaixonei. Comecei a me identificar muito com a questão, a ter uma dependência com a natureza e desenvolver pequenas ações de conscientização na escola e no meu bairro. Mas quando se sentiu uma ambientalista, de fato? Quando entrei no Greenpeace. Eu trabalhava no Forte São Marcelo, na Cidade Baixa [em Salvador], quando presenciei uma ação da organização, achei muito interessante e me cadastrei como voluntária. De lá pra cá, o que mudou? Na ONG tive a oportunidade de participar de treinamentos para aprender, por exemplo, a ser uma pessoa pacífica, a lutar pelo que quero sem violência e a usar a criatividade como ferramenta. Como foi a sua primeira ação fazendo parte do Greenpeace? A primeira foi quando eu tinha 18 anos, porque só podem participar das ações as pessoas maiores de idade. Foi em Brasília, pelo Código Florestal – a primeira contra o código, inclusive. As autoridades estavam votando a favor do documento e tentamos impedir. Foi violento e houve muita agressão.
Não ficou traumatizada? Não. Depois dessa ainda participei de outra violenta, no Rio de Janeiro, contra a empresa do Eike Batista, que estava construindo uma plataforma de petróleo em Abrolhos, onde as baleias Jubarte se reproduzem. Nos vestimos de baleias e nos acorrentamos na frente da empresa e eles continuaram o trabalho, ignorando o que estava acontecendo. Colocaram uma lona na tentativa de isolar a gente. Enfim, foi longo e bem cansativo. Tem alguma ação que te marcou? A que fui convocada para ficar embarcada no navio da organização, durante quatro meses. E na região Amazônica conhecemos muitas comunidades. Uma delas me chamou atenção, o Bailique. A comunidade era sustentável e os moradores só precisavam de orientações de como proceder com o aumento da população local. A ação fugiu do que algumas pessoas acham: que os ativistas do Greenpeace só procuram problemas. A viagem continuou depois dessa ação? Sim. Percorremos a costa do Brasil e fomos parar em São Luís, em uma mobilização pelo desmatamento e escravidão de pessoas na fabricação do ferro-gusa. Subimos na âncora do navio que transportaria toneladas do ferro e ficamos por dez dias. Foi quando nossos alimentos acabaram e tivemos que descer do local, a pedidos das autoridades. Porém, descobrimos que os mesmos não realizaram as solicitações que havíamos pedido. Então, paramos as atividades do porto de Itaqui por um dia e de fato bloqueamos a passagem do mesmo navio. Como gerou muito prejuízo, o assunto foi resolvido. De lá, fomos para Rio+20, Uruguai e Argentina. Como você vê seu futuro? Essa pergunta é difícil pra mim, porque eu tenho um desapego muito grande quando a questão é futuro. Quero ser professora do ensino médio. Professores têm um papel tão importante na vida de um cidadão. Eles conseguem ensinar muito mais do que apenas uma ciência. Eu sinto a necessidade de passar para outras pessoas o que eu aprendi! Continue lendo no site...
Manuela D’Ávilla é deputada federal, atualmente a única líder de partido na Câmara (PCdoB-RS) e tem a igualdade de direitos como uma de suas principais bandeiras na política.
Bendito fruto entre os homens Por Murilo Gitel Ela já foi apontada pela revista Época como uma das 40 personalidades com menos de 40 anos mais influentes do Brasil. O jornal inglês The Independent, por sua vez, lhe definiu como uma das principais líderes mundiais do futuro. Aos 31 anos de idade, a deputada federal Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) acumula uma série de realizações em sua trajetória, que acabam tornando difíceis as projeções de onde ainda poderá chegar. Atualmente, a parlamentar gaúcha é a única mulher líder de partido na Câmara Federal. Uma das homenageadas especiais do EcoD no Dia Internacional da Mulher, ela abriu espaço na sua concorrida agenda de compromissos para nos conceder esta entrevista. Como tem sido a experiência de ser a única mulher líder de partido na Câmara Federal? Sempre brincamos que o nosso partido tem cotas de representatividade masculina (risos), porque apesar de o Congresso ter apenas 8% de representatividade feminina, a nossa bancada tem 50% de mulheres. Nós não defendemos a participação das mulheres na política apenas no discurso, buscamos tal protagonismo na prática. Priorizar esse protagonismo é dar a elas o espaço para decisões no parlamento. A desproporção entre o número de parlamentares homens e mulheres te incomoda bastante? Sem dúvida. Quer dizer: 8 em cada 100 [mulheres] não têm visibilidade... As mulheres ainda não existem na política brasileira e isso é uma distorção da realidade. A política é uma das ferramentas da sociedade que nós ainda não transformamos. Em quase três décadas de redemocratização, melhoramos e modernizamos a economia, temos transformado a educação, quando praticamente incluímos todas as crianças no processo educacional, ensino superior (com Pró-Uni, Reuni), vamos transformar o acesso à cultura com o Vale Cultura, modificação da Lei Rouanet e reforma da Lei dos Direitos Autorais (que vamos fazer neste ano), mas ao mesmo tempo nem começamos a reforma política. Não faltam mulheres candidatas? Culpar as mulheres é o lado mais fácil. É complicado conseguir dinheiro para campanha ou ter que aguentar estruturas machistas. Temos que fazer uma reforma para que todos queiram participar da política a fim de transformála: homens e mulheres. Qual é o jovem, qual é a mulher que vai querer entrar na política quando os jornais passam o dia inteiro dizendo que ela não serve para nada, não passa de um lugar para fazer bandido?
O que a senhora propõe? Tem que haver formas de financiamento alternativo, porque geralmente os mesmos financiam as campanhas dos mesmos. Não é uma casualidade que as mulheres detentoras de mandato tenham relação, muitas vezes, com homens que possuam mandato. A questão financeira nesse sistema é determinante. É um círculo vicioso que perpetua os homens no poder. A senhora acredita em machismo no que diz respeito aos eleitores? Em última instância não, porque daí não teríamos tido uma presidenta da República. Mas há quem afirme que sem a influência do Lula as chances de Dilma vencer seriam reduzidas. Mas tivemos duas mulheres como as mais votadas nas últimas eleições: Dilma Rousseff e Marina Silva. Agora, que a nossa sociedade ainda é muito machista, eu concordo. Vai levar muito tempo para mudar. Não é da noite para o dia, porque é uma questão cultural. Todos nós temos algum viés preconceituoso em algum sentido. Leva tempo. Já houve alguma postura que tenha lhe constrangido no parlamento? Lá é sempre um tratamento adjetivado. Desde que fui eleita deputada sempre fui tratada como a “musa do Congresso nacional”. Às vezes há preconceitos de gênero. Isso não me incomoda muito porque qualquer mulher, em qualquer lugar, passa por isso. Se eu fosse garçonete, eu poderia ser assediada pelo meu patrão. O meu incômodo é igual ao das outras mulheres em boa parte do mundo em razão desse tipo de tratamento. Nos últimos anos, as Nações Unidas criaram uma agência para a equidade de gênero. Aqui no Brasil foi eleita a primeira presidente da história do país. Essas conquistas refletem os avanços da luta? Sim. São simbolismos. Existe uma geração, que é a minha, que ocupa espaços muito naturalizados e que às vezes não percebe a mudança cultural que está acontecendo, porque ela não é perceptível aos olhos. Aquela frase que a presidenta Dilma costuma dizer e que muitos não conseguem compreender, eu penso que é a que tem o maior valor: “Sim, a mulher pode!”. Continue lendo no site...
Raquell aprendeu a tricotar com as avós quando ainda era criança. Cresceu, fez faculdade de moda, modernizou a técnica e decidiu abrir seu próprio negócio. Mas tudo ali seria feito a mão: as de Raquell e as de presidiários que querem dar às suas vidas uma nova trama.
A moda transformadora Por Clara Corrêa Raquell é mineira. Aprendeu a tricotar com as avós quando ainda era criança. Cresceu transpondo para as lãs e agulha seus pensamentos e ideias. Apaixonada por roupas e influenciada pelas lembranças nas fábricas têxteis do pai e do avô, cursou faculdade de moda e decidiu abrir seu próprio negócio. Mas, ao contrário de outras estilistas de sua geração, Raquell decidiu que tudo ali seria feito a mão. Ela começou a trama da Doisélles misturando os ensinamentos milenares do crochê e tricô com as modelagens mais amplas e atuais. “Nada de casaquinho da vovó: a nossa trama é metida a moderninha”, dispara. Os fios que tecem camisas, vestidos e casacos vêm de sobras têxteis que seriam descartadas. Separados por tons e texturas, os fios voltam à vida peça por peça, em um trabalho manual e exclusivo. Mas a história da Doisélles não para por aí. As roupas da marca são feitas com a ajuda de presidiários. Segundo Raquell, o motivo disso beira o óbvio: “Quantas pessoas você conhece que sabem tricotar?”, pergunta. Ela precisava de mão de obra, eles precisavam de uma nova profissão. Assim Raquell treinou 40 homens condenados, que deixaram de lado a aparência bruta e se entregaram às cores e formas do tricô. “Vergonha eu tenho é de estar aqui”, diz um deles. Hoje a Doisélles tem uma unidade de produção na penitenciária Professor Ariosvaldo de Campos Pires, onde 18 detentos em regime fechado trabalham na produção dos peças. A cada três dias trabalhados, eles reduzem um dia de suas penas. Se esquivando de qualquer pretensão, Raquell diz que sua ideia não é competir com o crime. “O maior valor de um homem é a liberdade. Quando ela lhe é tirada por falta de merecimento, o seu maior bem passa a ser o tempo. Portanto me parece óbvio que ocupar essas mãos e mentes com trabalho digno é um caminho firme na ajuda do maior princípio que inspira o cárcere: a recuperação.”
Como moda, história e cultura se mesclam no seu trabalho? Sempre vi a moda além do corte, textura ou cor da roupa. Moda é comportamento, comportamento é cultura e cultura, por sua vez, é história. Quando crio uma coleção, nem quero saber qual a cartela de cor da tendência, nem que tipo de estrutura vai imperar. Eu crio como reflexo de um somatório de observações na mulher real porque, no final das contas, quem vai vestir a minha roupa é essa mulher real.
Você conta que aprendeu a fazer crochê e tricô muito cedo. Como a moda entrou nessa história? Na faculdade de moda, eu fazia todos os meus trabalhos em tricô e crochê, pois era imediato para mim transformar qualquer tema em tricô ou crochê. E vi que poderia dar uma leitura contemporânea a algo tão manual e tradicional. Foi aí que nasceu o produto a cara da Doisélles: fios mais grossos, em agulhas mais grossas. Pontos mais abertos, modelagens amplas.
Qual o papel das jovens mulheres nesse mundo cheio de desafios? Acho que esse mundo não precisa de grandes revolucionários. Essa ideia é utópica. O que esse mundo precisa é de pequenos revolucionários, pessoas que façam em seu micro universo uma micro revolução, seja ela qual for. Assim poderemos mudar alguma coisa. Estou fazendo a minha parte.
Qual a essência da Doisélles? A crença na transformação. Isso é o que move a Doisélles. Nosso produto é feito por pessoas que estão comprometidas com a mudança da vida delas e é consumida por pessoas que acreditam na mudança da sociedade. Como é a sua relação com os presidiários? Excelente. Conheço todos muito bem. Deixo as famílias me procurarem. São ótimos parceiros. É uma parceria onde todo mundo ganha: a empresa, o Estado, a sociedade e o preso. É uma solução harmônica para muitos problemas ditos insolucionáveis. Qual a importância da Doisélles na vida dessas pessoas? É uma empresa que olha para eles sem julgamento, sem estigma. Acho que isso deve ter muita importância na recuperação deles como cidadãos. Trabalhando, eles podem se sentir novamente inseridos no mundo, e não mais descartados e isolados no cárcere. Não relevo que eles tenham cometido um delito, muitas vezes gravíssimo. Mas eles estão pagando por isso. E enquanto pagam, estão tendo uma chance de, ao saírem, não voltar ao crime.
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