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É necessário olhar para outras fontes de renda

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ARTES ARTS

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NAÇÃO state of the nation

PETRÓLEO oil

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A BAlAnçA de PAgAmentos

publicada pelo Banco Nacional de Angola (BNA), referente ao terceiro trimestre de 2020, mostra que 80,7% das exportações angolanas são de petróleo bruto, o que faz do sector o maior contribuinte para os cofres nacionais. Entretanto, em um ano, as receitas caíram quase 50%, o que resultou na contracção das exportações que se registou naquele período. Para o economista Fernando Heitor, esta é mais uma razão para os governantes fazerem tudo para se libertar desta grande dependência do crude. “Existem outras commodities no planeta, nas quais Angola devia concentrar-se mais em termos de produção e exportação e, com certeza, teria uma economia mais sustentável e robusta”, defendeu. Filomeno Vieira Lopes, também economista, diz que esta situação é a fotografia de um país que vive dependente de um produto, o que se traduz numa fragilidade de segurança geral, dado que o petróleo é uma mercadoria sujeita a uma tremenda volatilidade de preços. Na sua perspectiva, Angola teve uma política real de mero “impor-export”, o que nada tem a ver com um projecto de desenvolvimento económico, já que exporta um produto, mas importa todos os outros. Dados do Ministério das Finanças mostram que em 2016 foram exportados 53.906.745,00 barris, muito acima dos 35.042.001,00 barris de 2020. Até Junho de 2021, foram exportados 33.401.079,00 barris, o que é visto por muitos especialistas como o prelúdio de uma recuperação, embora o movimento mundial mostre uma tendência de diminuição das exportações desta commodity.

Uma indústria de incertezas

A indústria dos petróleos e gás está em decadência, com altos custos de produção, preço de venda em “queda livre” e blocos a fechar. Para a redução dos custos no médio e curto prazos,

É NECESSÁRIO OLHAR PARA OUTRAS FONTES DE RENDA

IT IS NECESSARY TO LOOK AT OTHER SOURCES OF INCOME

A contribuição de 11.394,4 milhões de dólares do sector petrolífero em 2020, quase metade dos 20.598,5 milhões de dólares de 2019, reforça a premente necessidade de Angola investir noutras fontes de receitas. The oil sector’s USD 11.394.4 million contribution to the GDP in 2020, almost half of 2019’s USD 20.598.5 million, drives home the pressing need for Angola to invest in other sources of revenue.

TEXTO TEXT LADISLAU FRANCISCO E JOSÉ ZANGUI the BAlAnce of PAyments

published by the Central Bank of Angola (BNA) for 3Q20 shows that 80.7% of Angolan exports were crude oil, making the sector the largest contributor to the national coffers. However, in one year, revenues fell nearly 50%, a result of the contraction of exports that took place in that period. For economist Fernando Heitor, this is one more reason for state officials to do everything in their power to free themselves from this great dependency on crude. “There are other commodities on the planet in which Angola should focus more, both in terms of production and exports, that would surely create a more sustainable and robust economy,” he defended. Filomeno Vieira Lopes, also an economist, says that the situation is a radiography of a country that depends on one product, which translates into a general sense of fragility, given that oil is a commodity subject to tremendous price volatility. In his opinion, Angola had a real policy of mere “import-export”, which has nothing to do with a project for economic development, since it exports one product but imports all the rest. Data from Ministry of Finance show that, in 2016, 53,906,745 barrels of crude were exported, far above the 35,042,001 barrels of 2020. By June 2021, 33,401,079 barrels were exported, which is seen by many experts as the prelude to a recovery, although the global movement shows a downward trend in exports of this commodity.

An industry of uncertainties

The oil and gas industry is in decline, with high production costs, a “free fall” selling price and blocks closing. To reduce costs in the medium and short term, specialists defend the promotion of national content and the identification of equipment that can be produced locally.

PETRÓLEO oil

especialistas defendem o fomento do conteúdo nacional e a identificação das rubricas de equipamentos que podem ser produzidos localmente. O engenheiro Pedro Godinho é de opinião que “o país ainda tem alguns anos para arrecadar receitas da actividade”, mas alerta para o facto de se tratar de um recurso não renovável, pelo que devem aproveitar-se as receitas actuais provenientes do petróleo para investir noutros sectores que possam alavancar a economia nacional. Na visão de Pedro Godinho, para a redução dos custos de produção, um dos desafios é a aposta no conteúdo local. Os custos de produção de petróleo em Angola são elevados, por ser um país de águas profundas. O empresário defende, por isso, a definição de um standard de equipamentos a utilizar, considerando que tais medidas podem reduzir os custos. Por exemplo, disse, uma porca, para chegar a Angola depois de encomendada no exterior, pode levar 30 dias a chegar, situação que leva muitos blocos a fechar por falta de equipamentos. “Há aqui um nicho de mercado que pode ser aproveitado por empresas prestadoras de serviços à indústria petrolífera. Precisamos de empresas que possam fabricar componentes…”, defendeu. Já José Oliveira, especialista em petróleo e gás, corrobora a tese de que os custos de produção de petróleo em Angola são muito altos e que os países mais desenvolvidos têm custos mais baixos. De acordo com Pedro Godinho, actualmente não há informação estatística recente sobre os custos de produção do barril de petróleo em Angola, sendo que nem a Agência Nacional de Petróleo e Gás nem a Sonangol a disponibilizaram. Entretanto, José Oliveira recorreu a dados de 2018, que apontam custos médios de produção de um barril de petróleo, em Angola, entre 35/40 dólares. Esse valor, referiu, é medido desde o primeiro dólar investido para estudos do solo, compra de equipamentos, perfuração, até ao primeiro barril que se conseguir. Os especialistas Pedro Godinho e José Oliveira apresentaram esta realidade durante um debate radiofónico promovido, recentemente, na LAC – Luanda Antena Comercial.

Energias renováveis são o futuro

Segundo a Eurosat, desde 1990 que o investimento nas energias renováveis e amigas do ambiente é crescente, com destaque para países como a Suécia, que já têm mais de 50% das suas energias provenientes destas fonte. Em completo acordo com os dados, o economista Fernando Heitor diz que o modelo energético com base no petróleo está a ficar cada vez mais obsoleto, pelos impactos negativos que provoca ao ambiente. No âmbito do Pacto Ecológico Europeu, que pretende reduzir em até 55% as emissões de gases com efeito de estufa até 2030, a União Europeia (UE) tem feito progressos internamente e pretende contribuir para o progresso a nível internacional, abordando as questões complexas e emergentes relacionadas com o Desenvolvimento Sustentável dos recursos naturais. Em África, apesar de haver uma Agenda da União Africana 2063, denominada “A África que Queremos”, que olha para questões pontuais como DesenEngineer Pedro Godinho is of the opinion that “the country still has a few years to raise revenues from the activity”, but he warns that this is a non-renewable resource, so the current revenues from oil should be used to invest in other sectors that can leverage the national economy. In Pedro Godinho’s view, to reduce production costs, one of the challenges is the investment in local content. The costs of oil production in Angola are high because it is a deep-water country. Therefore, the businessman defends defining equipment standard to be used, as well as its necessity and applicability, indicating that such measures can reduce costs. For example, he said, for a nut to arrive in Angola after being ordered abroad can take 30 days, a situation that leads many blocks to close for lack of equipment. “There is a market niche here that can be taken advantage of by companies providing services to the oil industry. We need companies that can manufacture components...”, he advocated. In turn, the Oil and Gas specialist, José Oliveira, corroborates the thesis that oil production costs in Angola are very high and that more developed countries have lower costs. According to Pedro Godinho, there is, at the moment, no recent statistical information on the production costs of a barrel of oil in Angola, and neither the National Oil and Gas Agency nor Sonangol made it available. However, José Oliveira used 2018 data, which estimated the average production cost of a barrel of oil, in Angola, between USD 35-40. This value, he mentioned, is measured from the first dollar invested in soil studies, equipment purchase, drilling, until the first barrel is achieved. The specialists Pedro Godinho and José Oliveira presented this reality during a recent radio debate promoted by the radio station LAC - Luanda Antena Comercial.

53.906.745,00

Barris de petróleo foram exportados em 2016, muito acima dos 35.042.001,00 barris de 2020, segundo o Ministério das Finanças Barrels of oil were exported in 2016, far above the 35,042,001 barrels of 2020, according to Ministry of Finance

80,7%

Das exportações angolanas no III Trimestre de 2020 foram de petróleo bruto, o que faz do sector o maior contribuinte para os cofres nacionais Of Angolan exports in 3Q20 were crude oil, making the sector the largest contributor to the national coffers

Renewable energies are the future

According to Eurosat, the investment in renewable and environmentally friendly energies has been growing since 1990, with emphasis on countries like Sweden, which already has over 50% of its energy coming from renewable sources. In complete agreement with the data, economist Fernando Heitor says that the petroleum-based energy model is becoming increasingly obsolete due to its negative impact on the environment. As part of the European Ecological Pact, which aims to reduce greenhouse gas emissions by up to 55% by 2030, the European Union (EU) has made progress internally and intends to contribute to progress at the international level by addressing the complex and emerging issues related to the Sustainable Development of natural resources. In Africa, although there is an African Union Agenda 2063, called “The Africa We Want”, which looks at specific issues such as Sustainable Development, Blue Economy and climate issues, 2014-founded through the African Climate Change Fund, few steps have been taken. In the case of Angola, the situation is similar to what is happening a little

NAÇÃO state of the nation

PETRÓLEO oil

FILOMENO VIEIRA LOPES AFIRMOU QUE “UMA ECONOMIA BASEADA MERAMENTE NA CAPTAÇÃO DE DIVISAS, PONTUALIZANDO UMA DEPENDÊNCIA EXTERNA DRAMÁTICA, É UMA ECONOMIA DE REJEIÇÃO ABSOLUTA AO DESENVOLVIMENTO DO SECTOR PRODUTIVO”. Filomeno Vieira Lopes affirms that “an economy based merely on capturing foreign currency, evidencing a dramatic external dependence, is an economy of absolute rejection to the development of the productive sector”.

volvimento Sustentável, Economia Azul e questões climáticas, através do Fundo Africano para as Alterações Climáticas, criado em 2014, poucos passos têm sido dados. No caso de Angola, a situação é parecida com a que se passa um pouco por todo o continente. O economista Filomeno Vieira Lopes entende ser culpa da estratégia do Executivo, que está preocupado em explorar, o mais possível, as reservas petrolíferas para compensar os campos de produção em declínio e chega ao ponto de invadir zonas antes reservadas à biodiversidade. “Não há noção de sustentabilidade, de protecção das gerações futuras. O ano 2050 é o limite para a produção de combustíveis fósseis”, recordou, defendendo ser necessário trabalhar para o desenvolvimento das energias renováveis o que, na sua perspectiva, também se traduz em impactos na descentralização económica e social. Já o economista Fernando Heitor afirmou que, actualmente, as apostas dos governos progressistas estão cada vez mais focadas em energias não poluentes. “Não adianta mais continuarmos tão agarrados a uma solução que tanto mal provoca à vida da natureza em geral, quando o ser humano já evoluiu bastante, a ponto de dispor de uma tecnologia e factores de produção melhores para a protecção ambiental”, defendeu. Ainda conforme o especialista, o país tem muito potencial para explorar as energias renováveis, mas falta inteligência e vontade política para ver essa oportunidade. “Exemplos em África não faltam. O mais recente bom exemplo nesse aspecto é o Rwanda. É nisto que dá dormir no conforto dos petrodólares”, criticou. Sobre o mesmo assunto, Filomeno Vieira Lopes afirmou que “uma economia baseada meramente na captação de divisas, pontualizando uma dependência externa dramática, é uma economia de rejeição absoluta ao desenvolvimento do sector produtivo”. O economista e docente universitário Josué Chilundulo defendeu que o país precisa de acelerar a diversificação da economia para reduzir a petro-dependência. Quando se fala da gestão eficiente e efectiva da política económica, afirmou, o país observa uma trajectória de perto de 20 anos de atraso, em relação aos desafios da reforma económica necessária, para passar a depender menos da volatilidade do sector petrolífero. Como consequência, apontou, o petróleo continua a ser o principal argumento para a base exportadora, para o financiamento do OGE e para o comportamento do crescimento económico (PIB). Josué Chilundulo lembra que Angola é o 13.º país com o pior ambiente de negócios, e, por isso, qualquer caminho para o sucesso implica uma correcção urgente desse indicador. Assim, será necessário “partir para uma reforma económica efectiva, que passa por uma maior qualidade na gestão das despesas públicas, na eliminação de barreiras burocráticas desnecessárias, que constrangem o ambiente de negócios, e numa requalificação do capital humano, tornando-o oportuno para as necessidades do mercado”. Em relação à diversificação da economia, afirmou que os passos que estão a ser dados são ainda “demasiado frágeis”. Pelo contrário, defendeu, “o país precisa de caminhar mais rápido e assumir um risco político necessário, sem o qual um futuro próspero do país continuará a ser adiado”. n throughout the continent. Economist Filomeno Vieira Lopes views it as the fault of the Government’s strategy, which is focused on exploiting the oil reserves as much as possible to compensate for the declining production fields, going so far as to invade areas previously reserved for biodiversity. “There is no notion of sustainability, of protecting future generations. The year 2050 is the limit for the production of fossil fuels,” he recalled, defending the need to work for the development of renewable energies which, in his view, also translates into impacts on economic and social decentralization. In his turn, economist Fernando Heitor affirmed that, nowadays, progressive governments are increasingly focused on non-polluting energies. “There is no point in continuing to cling to a solution that causes so much harm to the life of nature in general, when the human being has already evolved a lot, to the point of having much better technology and production factors for environmental protection,” he argued. Still according to the specialist, the country has a lot of potential to explore renewable energy, but lacks the intelligence and political willingness to take advantage of this opportunity. “There is no shortage of examples in Africa. The most recent good example in this respect is Rwanda. This is what you get for sleeping in the comfort of petrodollars,” he criticized. On the same subject, Filomeno Vieira Lopes affirms that “an economy based merely on capturing foreign currency, evidencing a dramatic external dependence, is an economy of absolute rejection to the development of the productive sector”. In turn, the economist and university professor, Josué Chilundulo, defended that the country needs to accelerate the diversification of the economy to reduce petro-dependence. When it comes to the efficient and effective management of economic policy, he said, the country has witnessed a trajectory of nearly 20 lost years, the time to have faced the challenges of the necessary economic reform, to become less dependent on the volatility of the oil sector. As a consequence, he pointed out, oil continues to be the main argument for the export base, for financing the General State Budget, and for the behavior of the country’s economic growth (GDP). Josué Chilundulo recalls that Angola is the 13th country with the worst business environment, and therefore any path to success implies an urgent correction of this indicator. Thus, it will be necessary “to start an effective economic reform, which passes through higher quality in the management of public expenses, elimination of unnecessary bureaucratic barriers that constrain the business environment and a requalification of the human capital, making it suitable for the market needs”. Regarding the diversification of the economy, he said that the steps being taken are still “too fragile”. On the contrary, he argued, “the country needs to move faster and take a necessary political risk, without which, the prosperous future of the country will continue to be delayed”. n

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